Jornal do Concelho - Julho 2012

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ANO XXIX- Nº. 357 Mês de Julho de 2012

O CONCELHO DE VILA VELHA DE RÓDÃO Registo de Imprensa - Nº 108771

Publica-se na última semana de cada mês

Mensário Regionalista Fundador: DOMINGOS ALVES DIAS

PUBLICAÇÕES PERIÓDICAS Castelo Branco TAXA PAGA

Depósito Legal Nº. 4032/84

Director JOSÉ FAIA P. CORREIA

Número Avulso: 0,80

Redacção: Avª. Almirante Reis, Nº. 256 - 1º. esqº. 1000-058 LISBOA - casacvvrodao@sapo.pt - www.ccvvrodao.no.sapo.pt - Telem. 967 018 215 - NIB: 003500630008193433011

30 Anos ao serviço do nosso Concelho

Vila Velha de Ródão é “ESCOLA JRA DO ANO 2012”

BODAS DE OURO SACERDOTAIS DO REVERENDO PADRE ANTÓNIO ESCARAMEIA (Pároco em Ródão desde 1973, acumula idênticas funções no Fratel e nos Perais) O Senhor é um exemplo que os seus paroquianos não podem deixar de seguir” Prof. Jorge Gouveia

Jovens repórteres recebem prémios JRA no Dia do Agrupamento

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projeto Jovens Repórteres Para o Ambiente (JRA), uma iniciativa da Associação Bandeira Azul da Europa (ABAE) acaba de distinguir o Agrupamento de Escolas de Vila Velha de Ródão com o galardão “Escola JRA do Ano 2012”. O prémio foi atribuído ao grupo dos jovens repórteres de Vila Velha “pela qualidade do conjunto de reportagens publicadas ao longo do ano”. O mesmo concurso distinguiu ainda em junho, o trabalho “Air Quality in Vila Velha de Ródão” com o 2º lugar do prémio “MELHOR REPORTAGEM JRA EM INGLÊS”. Recorde-se que um grupo de alunos de 9º ano da Escola Básica 2/3 de Vila Velha de Ródão tem vindo a desenvolver um projeto intitulado “Ambiente: Presente e Futuro” que valeu três distinções consecutivas de “Reportagem do Mês”, de fevereiro a maio . Ao todo o projeto somou 4 distinções para as suas reportagens, uma das quais em língua inglesa, o que contribuiu para a atribuição do prémio final de escola do ano. Todos os meses, desde fevereiro, este grupo publicou mensalmente uma ou duas reportagens subordinadas ao tema do ambiente. O projeto, que começou no ano letivo passado, tem vindo a apresentar os resultados à população através do jornal da escola “Gente em Ação”, da imprensa regional, de uma página de Facebook e da plataforma online “Jovens Repórteres Para o Ambiente”. O concurso apresenta três categorias: artigo, foto e vídeo. A equipa de VVR apresentou trabalhos nas duas primeiras. A professora responsável pelo grupo, refere a este propósito que “ não

Editorial

concorremos com os nossos melhores trabalhos, porque um dos critérios do concurso inclui o limite de 3500 carateres. Para uma reportagem, que é por princípio um texto com um grau de desenvolvimento considerável, é muito pouco.” A mesma professora refere ainda que “para além dos prémios, a qualidade do trabalho ficou provada pela pertinência dos temas e relevância para a população”. Do lado dos alunos, o jovem Ricardo Farinha mostrase “muito satisfeito por fazer parte deste projeto, porque os jovens também devem participar e intervir na vida da sua região.” Também Ana Rita Nunes refere: “durante estes anos a trabalhar neste projeto vemos, neste prémio, reconhecido o nosso esforço e dedicação. O trabalho conjunto foi bastante bom pois pudemos enriquecer ainda mais as nossas reportagens e tornálas ainda mais interessantes. Gostei muito de fazer parte deste projeto.” Este grupo de repórteres escolares realizou um total de sete reportagens que abrangeram vários aspetos ambientais: “Respiração mais difícil em VVR”, “Qualidade do Ar” (prémio de fevereiro e 2º lugar nacional para a versão em Inglês), “Indústria sim! Mas a cumprir a lei!” (prémio março), “Ministério do Ambiente não reconhece validade a estudo ambiental”, “Envelhecimento e indústria impedem desenvolvimento”, “Descargas poluentes comprometem a qualidade da água do Tejo” (prémio abril) e “Biodiversidade em perigo”. MAIS INFO EM : http:// www.facebook.com/#!/ ambiente.presenteefuturo

Trabalho na Pág. 6

foto: agrupamento de escolas de VVR

O Prof. Luis Costa, Drª. Maria do Carmo Sequeira, o homenageado Reverendo Padre Escarameia e o sr. João Mendes

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Rev. Padre António Escarameia, Pároco de Vila Velha de Ródão, Fratel e Perais, depois das comemorações jubilares dos seus 50 anos de sacerdócio, em consagração a que presidiu D. Antonino Dias, Bispo da Diocese de Portalegre e Castelo Branco, foi homenageado pela paróquia da sede do concelho, no passado dia 8. A homenagem iniciou-se com uma missa bastante concorrida, na igreja matriz da Vila, a que se seguiu o almoço, servido no ginásio do Agrupamento de Escolas e compartilhado por mais de 200 convivas. Cont. Pág. 2

LAGAR DE VARAS DE VILA V. RÓDÃO

PATRIMÓNIO CULTURAL DE INTERESSE MUNICIPAL Pág. 5 e 7

FEIRA DE GASTRONOMIA E ATIVIDADES ECONÓMICAS “Aqui há cultura, história, natureza, flora, paisagens espetaculares, gastronomia tradicional…”

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Maria do Carmo Sequeira

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“QUADROS DA VIDA RURAL NO TERRITÓRIO Pág. 7 DE RÓDÃO”


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O CONCELHO DE VILA VELHA DE RÓDÃO

JULHO DE 2012

INDÚSTRIA, SIM! MAS A CUMPRIR A LEI População de Vila Velha de Ródão questiona qualidade ambiental do ar e pede respostas

Cinza e cheiro desagradável por identificar preocupam população

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qualidade do ambiente está cada vez mais no centro das preocupações das populações. Em Vila Velha de Ródão têm-se ouvido algumas vozes de inquietação com a qualidade do ar que se respira. Alguns cidadãos, em nome individual ou coletivo, manifestaram já as suas dúvidas junto de entidades competentes. A população interroga-se sobre uma cinza preta e gordurosa que, por vezes, cobre o chão e todas as atenções se viram para a indústria presente no concelho. Nas ruas, ouvem-se cidadãos criticar o mau cheiro e o fumo, a existência de unidades fabris que arruínam qualquer hipótese de investimento no turismo e a consequente desertificação da região. Em resposta aos anseios da população, a Câmara Municipal contrata um estudo com o objetivo de avaliar a qualidade do ar, estabelece contatos com as empresas, dirige diversas queixas junto das entidades que tutelam o ambiente, sem obter quaisquer resultados e promove uma sessão de esclarecimento público. Alguns cidadãos em nome individual solicitam a diversos grupos parlamentares que interpelem o Ministério do Ambiente sobre este problema, iniciativa também tomada pela edilidade. Apesar das críticas dos cidadãos, são também eles a reconhecer a importância das grandes unidades fabris na economia local, na manutenção de postos de trabalho, na fixação da parte da população residente e na sobrevivência de outras empresas que dependem e prestam serviços às maiores. A CELTEJO diz assegurar a sua preocupação ambiental através da monitorização contínua das emissões gasosas e controle diário dos efluentes líquidos. A AMS – GOMA CAMPS SA. é vista como uma unidade modelo que desenvolve um “processo limpo” de produção. A CENTROLIVA – INDÚSTRIA E ENERGIA SA., apesar dos contactos efetuados, optou por não prestar esclarecimentos. Contudo, queixas de cidadãos junto do SEPNA obtiveram deste organismo fiscalizador da GNR a informação de que foram levantados “autos de notícia por contraordenação por falta de monitorização dos parâmetros das partículas”.

Queixas originam estudo

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existência de um abaixo-assinado com cerca de 400 assinaturas e as vozes que se fizeram ouvir junto da Assembleia Municipal dão conta do agravamento da poluição atmosférica nos últimos dois anos e conseguiram que a Câmara Municipal solicitasse ao Departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa um estudo de avaliação da qualidade do ar no município, cujos resultados foram apresentados na Assembleia Municipal de 29 de abril de 2011 e à população, no dia 26 de janeiro, numa sessão pública dirigida aos munícipes. O referido estudo aponta as partículas PM10 como responsáveis pelos únicos valores excedentes registados em dois locais de Ródão, entre 2 a 8 de março e 25 de março a 18 de abril de 2011. Para os restantes poluentes, monóxido de carbono (CO), ozono (O3), dióxido de azoto (NO2) e dióxido de enxofre (SO2), os valores medidos não ultrapassam os limites estipulados pelo Dec. Lei nº102/2010. As conclusões deste estudo referem ainda que “as emissões das fontes industriais terão tido uma influência decisiva nos valores medidos”. O mesmo poderá ser confirmado num quadro (ver imagem) retirado do relatório técnico do Quadro de Referência Ambiental do Plano Regional de Ordenamento do Território – Centro (2005). Este gráfico reporta-se aos dados de 2003 e identifica Vila Velha de Ródão como “zona de actividade industrial considerável” onde se verificam emissões entre 500 e 600 toneladas/ano do poluente PM10. Maria do Carmo Sequeira, Presidente da Câmara, assegurava nesta altura que “em relação ao estudo, e assim que tivesse a sua versão definitiva, a Câmara o encaminharia para o Ministério do Ambiente e para a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro.” Ainda segundo a mesma responsável, “a Câmara não tem capacidade para intervir, são estas entidades que deverão agir.” Apesar de os resultados do estudo demonstrarem a existência de poluentes, não foi possível determinar a sua origem, pelo que a edilidade solicitou à Universidade Nova de Lisboa (UNL) a continuação da monitorização com o objetivo de conseguir

informação científica fundamentada para, caso se verifique haver motivos de preocupação, avançar para uma queixa mais dirigida. Neste sentido, os técnicos da UNL estão a proceder à compilação de dados junto das empresas para aferir se os resíduos se enquadram nos valores definidos pela legislação. Contactado pelo “Gente em Ação”, um dos subscritores do abaixoassinado, Cristiano São Pedro, refere uma grande preocupação com o agravamento do mau cheiro e com as “partículas sólidas pretas” que cobrem o chão. O mesmo cidadão refere que o objetivo da iniciativa não é pôr em causa a existência de indústria na vila, mas sim saber se estão a ser cumpridas as normas previstas por lei e se os graus de poluição não ultrapassam os limites a partir dos quais a saúde pública é posta em causa. Um inquérito feito pelos alunos promotores deste projeto, aplicado sob anonimato a 58 habitantes da vila, refere que 93% consideram a qualidade do ar que respiram Má (41%) ou Muito Má (52%). Quando questionados sobre se o ar traz malefícios para a saúde, 74% responde afirmativamente, enquanto 19% manifesta dúvida. Contactado pelos alunos, o gestor de qualidade da CELTEJO, Manuel Gonçalves, refere que “o facto de uma substância química produzir mau cheiro não significa necessariamente que seja prejudicial à saúde, sobretudo se as concentrações em que surge são baixas”, dando como exemplo os compostos de enxofre, facilmente percetíveis pelo olfato humano, mas inofensivos. Rui Berkemeier, fundador e coordenador do Centro de Informação de Resíduos da QUERCUS, refere, a este propósito, que “o mau cheiro quase permanente é originado pelos processos de tratamento da madeira que libertam compostos de enxofre e mercaptanos”.

Atividade industrial fiscalizada

Fernando Ferreira, professor da EB2/3 de Vila Velha chama a atenção precisamente para a concorrência: “É preciso não esquecer que estas são empresas que produzem riqueza líquida, quer a nível local quer a nível internacional. Estas empresas acrescentam mais-valias a produtos transacionáveis internacionalmente, concorrendo no mercado global onde há países com um quadro legislativo sem regras ao nível laboral e ao nível ambiental.” Acrescenta ainda que “esta é uma fileira [fileira do papel] que nós dominamos: Portugal é líder na produção e na tecnologia desde a matéria-prima até ao produto final, tanto em termos de estação fabril como em termos tecnológicos.”

Câmara Municipal toma posição

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m janeiro último, a Câmara Municipal emitiu um comunicado à população, com o intuito de informar os munícipes sobre as diligências efetuadas até à data, junto das empresas visadas e das autoridades competentes. Pode ler-se no comunicado que a Câmara considera que, além de as suas diligências não terem produzido efeito porque não houve resposta por parte dos visados, ainda se assistia à data, a um “significativo agravamento” da poluição atmosférica. Face à ausência de respostas, a autarquia convoca os responsáveis das empresas para uma reunião que classifica de “final” onde transmite os pontos que a seguir se transcrevem: “- entendemos intolerável a situação que se verifica no domínio ambiental em geral e, em especial, a emissão de partículas; - consideramos esgotados todos os prazos razoáveis, propostos pela Câmara Municipal, para a resolução deste problema, devendo as empresas encontrar uma solução imediata e definitiva; - a repetirem-se estas situações, exigiremos do Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território, a adopção das medidas necessárias ao seu impedimento, independentemente das suas consequências.”

Casa das Artes cheia em Sessão de esclarecimento

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Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDR-Centro), a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e o Instituto Nacional da Água (INAG) controlam periodicamente as emissões gasosas e efluentes líquidos, fazendo depender do bom funcionamento das unidades fabris a emissão de licenças ambientais. Contudo, a população não tem acesso aos dados resultantes dos processos de controle da qualidade do ar e da água. Apesar do estudo encomendado pela autarquia, segundo Paulo Santos, responsável pelo serviço de Águas, Saneamento e Ambiente, a Câmara Municipal não verifica regularmente “a qualidade do ar na zona, pois não faz parte das suas competências.” O mesmo responsável camarário refere ainda que a autarquia “ não dispõe dos meios técnicos para proceder a essa verificação.” Paulo Santos sublinha, no entanto, a preocupação da Câmara com a qualidade do ar: “Já temos contactado as empresas da região, no sentido de saber se estão a ser cumpridas as regras relativamente às emissões para a atmosfera.” Hugo Oliveira, responsável pelo sector de segurança e ambiente da AMS – GOMA CAMPS, refere que há “algum controle interno, mas não temos meios técnicos para o fazer com muito rigor”. Por isso, as medições são feitas por laboratórios acreditados, que se deslocam periodicamente à empresa para recolha e análise de amostras. O mesmo responsável afirma que há várias razões para a eficácia da AMS no controle da poluição: “por um lado temos um processo mais limpo, por outro temos equipamentos modernos que são sujeitos a verificações e ajustes periódicos. Estes ajustes permitem controlar a queima e torná-la mais eficiente.” No mesmo sentido da população, que parece ilibar a AMS da poluição visível em Vila Velha de Ródão, Hugo Oliveira alerta: “nas empresas em que o equipamento é mais velho, é mais difícil proceder a esse controle. Por outro lado, há empresas cujos processos não são tão limpos.” Também a CELTEJO apresenta o cuidado com o ambiente como um “ponto de honra”, afirmando ser uma empresa com “certificação ambiental”. Desde o início da laboração que a fábrica “possui instalado equipamento para tratamento dos efluentes líquidos e das emissões gasosas, de modo a minimizar o seu impacto no meio ambiente, quer no rio Tejo, quer no meio envolvente.” Segundo Manuel Gonçalves, a CELTEJO tem feito um esforço no “investimento em tecnologias mais eficazes e complementares” para responder às preocupações ambientais, mas também para aumentar a eficácia energética dentro da própria empresa, o que a torna economicamente viável.”

om uma mesa presidida por Maria do Carmo Sequeira, presidente da Câmara, e composta por Luís Pereira, vice-presidente, António Carmona, presidente da Assembleia Municipal e, na qualidade de investigador da Universidade Nova de Lisboa e coordenador do estudo, Francisco Ferreira, a Casa das Artes encheu no passado dia 26 de janeiro para uma sessão de esclarecimento. A Presidente da Camara começou por fazer a resenha daquilo que o município tem feito no sentido de resolver o problema. Assumiu a sua impotência, alegando ter esgotado todas as tentativas de resolução da situação o que deu origem ao pedido à UNL para a segunda fase do estudo. Após solicitação de um munícipe, Francisco Ferreira apontou o prazo de um a dois meses para a obtenção de resultados e informou que os técnicos se encontram em fase de recolha de dados sobre as partículas finas, onde a legislação europeia incide. Outro munícipe alerta para a presença de poluentes na cadeia alimentar, enquanto uma terceira intervenção salienta a disparidade de números entre Vila Velha de Ródão (VVR) e Vila de Rei no que toca a doenças do aparelho respiratório, apresentando VVR um número substancialmente mais elevado de ocorrências para um número aproximado de habitantes.

Cont. Pág. 7


JULHO DE 2012

LAGAR DE VARAS RESGATADO ÀS SILVAS DÁ LUGAR A NÚCLEO MUSEOLÓGICO DO AZEITE

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um processo que vem desde 2007 com a aquisição do velhíssimo e degradado Lagar de Varas, no Cabeço das Pesqueiras, em Vila Velha de Ródão, a autarquia inaugurou um interessante espaço museológico, que enriquece a sede do concelho com mais um motivo de atração turística, ao mesmo tempo que, em conjugação com o desenvolvimento de outros pólos ligados ao azeite, ajuda a promover este produto, cuja

qualidade, mais uma vez, foi recentemente reconhecida, acrescentando 2 medalhas de ouro ao seu palmarés. A reconstrução, montagem e organização do Museu foram financiadas pelo FEDER e contou com o apoio da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro e da Comunidade Intermunicipal da Beira Interior Sul. Proporcionando, com objetividade,

mais valias para o concelho, a autarquia ajuda a dar mais um passo no sentido da dinamização económica, e, indiretamente, a potencializar a criação mais postos de trabalho. O lagar de varas agora transformado em museu tem características peculiares, mostrando como, durante séculos, a azeitona se transformava no precioso líquido dourado, hoje, como no passado, uma riqueza para a nossa terra.

Lagar de Varas – Património Cultural de Interesse Municipal

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mbora não se conheçam as datas da sua construção, os testemunhos materiais revelam que são bastante antigos, porque estudos referentes à história do azeite em Portugal identificam esta margem do Tejo como centro produtor e consumidor deste produto alimentar já na Idade Média. O Lagar de Varas de Vila Velha de Ródão foi adquirido pela autarquia em 2007 e em 2011 deu-se início a sua requalificação. Teve uma comparticipação do programa Mais Centro de 1 milhão de euros. Documenta todas as fases históricas do fabrico do azeite: desde o uso da energia humana e animal até ao recurso da força hidráulica e da mecânica. O Lagar de Varas é constituído por um edifício construído em alvenaria típica da região (xisto e quartzito), com os seguintes

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O CONCELHO DE VILA VELHA DE RÓDÃO

espaços: receção/sala da fornalha , tulhas, moinho de tração animal, estábulo, sala das varas, sala das duas prensas de vara, tanque das tarefas, moinho hidráulico e prensa hidráulica vertical e roda de água vertical. No piso superior do Lagar de Varas está patente

FEIRA DE GASTRONOMIA E ATIVIDADES ECONÓMICAS “Aqui há cultura, história, natureza, flora, paisagens espetaculares, gastronomia tradicional…” Maria do Carmo Sequeira Presidente da Câmara

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Feira deste ano marcou pontos no que respeita à cultura, porque assim o quis a autarquia, como podemos deduzir das palavras da dinâmica Presidente da Câmara na abertura do certame, acima transcritas. Mas, no seu discurso de abertura, a autarca foi mais longe ao afirmar que a aposta numa estratégia de desenvolvimento permitirá reforçar Ródão nos mercados nacionais e internacionais com produtos como o azeite, os queijos, os enchidos, os presuntos e o mel, para além da promoção na área do turismo, passível de crescimento face ao rico património natural, histórico e cultural da região. Já o Presidente da Assembleia Municipal, António Carmona, com a autoridade moral de quem nasceu e trabalha no concelho, aproveitando a presença do Diretor Geral das Atividades Económicas, pediu ao governo para mudar as suas políticas relativamente ao interior, como foi a introdução de portagens e a substituição do comboio por antiquadas automotoras, afirmando com veemência “não ser possível que fique mais caro levar os nossos produtos a Lisboa do que a Madrid, se for por auto-estrada”, e terminando com um pedido: “deixem-nos viver com dignidade na terra que nos viu nascer e da qual não queremos sair”. Porque contra factos não há argumentos, Mário Lobo, Diretor Geral das Atividades Económicas, nada mais tinha a acrescentar, a não ser destacar o papel da autarquia de Ródão que não baixa os braços apesar dos tempos difíceis que correm!

a exposição permanente: O Azeite: Oiro de Ródão, onde é apresentada uma perspetiva territorial enquadrada em todo o tipo de património associado à produção do azeite existente no concelho com testemunhos históricos e atuais.

Contin. da Pág. 6 “Da CELTEJO não saem fumos, sai só vapor de água”, afirma Cândida Correia, engenheira da empresa presente na sessão, e acrescenta “há uma monitorização contínua na RÓDÃO POWER”. Dois extrabalhadores desta unidade fabril asseguram a existência do equipamento necessário ao tratamento dos efluentes líquidos e gasosos e confirmam a sua monitorização. No entanto, a mesma fonte questiona o argumento apresentado, referindo que “não pode sair vapor de água daquela chaminé, porque a queima ronda os 1000 graus centígrados, quando chega à chaminé vem na ordem dos 150, 200 graus e passa por um electrofiltro elétrico que não admite humidade.” A experiência de anos de trabalho neste sector leva também estes ex-trabalhadores a ter opinião sobre os poluentes fabris. Segundo eles, o agravamento da poluição atmosférica, através da libertação de um “pó acinzentado”, poderá ter tido origem numa avaria ou na deficiente manutenção do “equipamento [que estaria] carenciado de algumas reparações, nomeadamente ao nível da captação de poeiras que eram lançadas na atmosfera”. A mesma fonte sublinha: “quando há uma avaria não há hipótese: há gazes e poeiras que têm que ir para a rua durante algum tempo até a avaria seja reparada”.

O atento fratelense quem estará ele a ouvir?

“QUADROS DA VIDA RURAL NO TERRITÓRIO DE RÓDÃO” “NO TEMPO DA IMPLANTAÇÃO DA REPÚBLICA”

A Ferreira e Hugo Oliveira (AMS GOMA-CAMPS) estão de acordo: “Não poluir é impossível. Na verdade, o que o Homem tem que fazer é minimizar, controlar o impacto da sua acção sobre o ambiente e, ao mesmo tempo, fazer com que o sistema ecológico consiga recuperar desses impactos”, afirma o responsável pela segurança e ambiente da AMS. Fernando Ferreira acrescenta: “O progresso tem os seus custos. Estas empresas têm que existir, se não fosse aqui seria noutro lado. As pessoas preocupam-se com a poluição quando é à sua porta. Como dizem os ingleses not in my backyard, isto é, não no meu quintal”.

“Not in my backyard”

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s queixas dos cidadãos, mais ou menos esclarecidas, parecem focar-se em duas ideias principais: a biomassa polui mais que o papel; as duas centrais de biomassa têm características diferentes. Uma fonte, que prefere manter o anonimato, refere a este propósito que a central de biomassa da RÓDÃO POWER tem electrofiltros, enquanto a que CENTROLIVA possui apenas chuveiros que lavam as cinzas e que não evitam a emissão de “partículas pretas e gordurosas” para a atmosfera, para além de resíduos na água. Quando analisada a questão do custo/benefício, Fernando

O QUE SÃO PM 10?

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ão partículas inaláveis, em suspensão, que provêm de cinzas, fuligem e outras partículas produzidas por combustão. Os efeitos nocivos na saúde humana poderão manifestar-se ao nível do aparelho respiratório e dependem mais do tamanho e grau de toxicidade das partículas, do que da sua concentração. Considera-se limite legalmente permitido a emissão de 50 microgramas por metro cúbico de ar.

Dr.ª. Maria José Araújo Martins publicou, muito recente, em edição da Câmara Municipal de Vila Velha de Ródão e integrada na coleção vida & memórias de uma comunidade da Biblioteca José Baptista Martins, um dos mais interessantes trabalhos sobre a história do nosso concelho. Embora respeitante a um período muito restrito da vida nacional, nele se retrata como os quatro anos mais próximos do 5 de Outubro de 1910 foram verdadeiros “anos da brasa”, mesmo numa comunidade pequena e pobre do interior, dando-nos também uma ideia de como, nesta, era o viver desses tempos. A publicação vem na continuidade das celebrações do primeiro centenário da implantação da República e teve a sua génese na exposição “No tempo da implantação da República – Quadros

da vida rural”, levada a cabo na Biblioteca Municipal e comissariada pela Dr.ª. Maria José. A autora considera que muito “ficou de fora” neste livro, mas ele possibilita que “se possam abrir novos percursos de pesquisa e de conhecimento”. Até porque, dizemos nós, se trata de um trabalho de grande rigor.


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