Pedro Motta

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Fundação Armando Alvares Penteado Faculdade de Artes Plásticas Curso de Bacharelado em Educação Artística Habilitação em Artes Plásticas

Repúdio

Trabalho de Graduação Interdisciplinar, vinculado à disciplina Desenvolvimento de Projeto Integrado II, apresentado como exigência parcial para obtenção de certificado de conclusão de curso.

Aluno: Pedro Silas Motta Orientadora: Regina Johas

São Paulo, junho de 2009


MOTTA, Pedro Silas Repúdio. Pedro Silas Motta Trabalho de Conclusão de Curso - FAAP - São Paulo, 2009. 1. Proteção 2. Violência 3. Relacionamento 4. Convivência 5. Comportamento 6. Distanciamento 7. Roupas 8. Escultura 9. Geometria 10. Arquitetura 11. Modelagem industrial


Agradecimentos

Agradeço a todo corpo docente da FAAP, sempre atento e disposto a esclarecer as dúvidas que surgiram durante o processo de formação e a minha orientadora Regina Johas, que com paciência driblou as dificuldades do percurso. Agradeço aos novos amigos, que adquiri ao longo deste percurso: Henrique, Abraão, Leon... À Gabriela Kruguel que ouviu e viu minhas viagens e pirações, movidas por um eros absurdo e impulsivo. Algumas vezes sorriu e outras admirou. Meu muito obrigado ao Damião e ao Sérvolo, que me ajudaram na realização de meus trabalhos. A todos, meu muito obrigado de coração.



Sumário

1.0. Apresentação

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2.0. Coleção Repúdio

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2.1. Corpo Celeste / PEÇA I

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2.2.Corpo Ausente / PEÇA II

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2.1.1. Desenhos 2.1.2. Modelagens

2.2.1. Desenhos 2.2.2. Modelagens

2.3.Corpo Distante / PEÇA III

2.3.1. Desenhos 2.3.2. Modelagens

2.4.Grande Mãe / PEÇA IV

2.4.1. Desenhos 2.4.2. Modelagens

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3.0. Referências

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4.0. Trabalhos Anteriores

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5.0. Bibliografia

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1.0. Apresentação Meu trabalho final de graduação para o curso de Bacharelado em Artes Plásticas iniciou-se com o propósito de criar uma coleção de peças de roupa – esculturas para se vestir – inseridas nas interfaces do campo semântico existente entre a arte e a moda. A partir dessa intenção inicial criei uma coleção de roupas esculturais explorando o universo híbrido entre o corpo e a plástica. A coleção Repúdio, que é composta de quatro peças – “Corpo Celeste”, “Corpo Ausente”, “Corpo Distante” e “Grande Mãe”– é o resultado do meu processo de desenvolvimento do TGI (Trabalho de Graduação Interdisciplinar), no qual me apropriei de algumas idéias e referências das Artes Plásticas, junto à intenção de explorar os conceitos de distanciamento, violência, agressividade envolvimento, convivência e comportamento na sociedade atual.

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Algumas de minhas metas foram: desdobrar as possibilidades de configuração de formas geométricas e oferecer ao observador o contato com as inúmeras possibilidades de configuração através do desenho de uma forma-roupa em suas variantes na coleção, além de explorar aspectos das relações humanas em épocas de conflito e tensão social, como a que vivemos hoje. Considerando que a convivência entre as pessoas torna-se cada dia mais difícil, e que a arte deve propor modificar a sociedade, estas roupas esculturais, apresentadas na coleção ‘Repudio’, propõem uma reflexão crítica sobre a qualidade de vida e os modos de sobrevivência que temos escolhido num sistema globalizado como este em que vivemos.


2.0. Coleção Repúdio A proposta que gerou a coleção “Repúdio” partiu de um questionamento sobre a qualidade de vida que temos hoje, de como certas escolhas em relação a como vivermos juntos, em sociedade, passaram a determinar o nosso comportamento. “Repúdio” busca propor uma reflexão crítica sobre nossa necessidade de defesa e proteção, ou ainda sobre como lidamos com as outras pessoas, num contexto social marcado pela desigualdade, exclusão social e fome. Que tipo de vida em sociedade estamos construindo? Que tipo de agrupamentos se formam a partir das desigualdades? Qual o sentido, neste contexto, de insistirmos na idéia de proteção? As peças – roupas esculturais – da coleção “Repúdio” foram inspiradas em algumas referências históricas. Se, por um lado, a construção a partir de elementos da geometria foi fonte de referência (com especial destaque para o Balé Triádico, criado por Oscar Schlemmer, na Bauhaus, que trabalhou na construção dos figurinos a partir de formas geométricas), por outro lado, a apropriação de formas cortantes e pontiagudas e a memória das armaduras medievais como uma couraça (que, aqui, não só protege mas isola o indivíduo) procurou trazer um outro tipo de influência que problematizasse o processo de criação. Utilizando materiais como folhas de alumínio, latão, cobre, plástico, papéis e tecidos, usando técnicas como “bourragem”, modelagem industrial, costura, colagens e pintura, procurei estabelecer um paralelo entre o fazer arte e fazer moda. Ou seja, as etapas formadoras dos processos de criação na arte, ao lidar com linhas, desenho, formas, modelagem, colagem, tridimensionalidade são também processos que se aplicam nas etapas que constituem a criação na moda. Tenho uma formação profissional como designer de roupas, com conhecimento em modelagem industrial. A modelagem industrial é um sistema utilizado para dar forma ao plano, através de linhas, pences, e recortes. Faço os traçados do molde formando o desenho do modelo em um papel em branco. Após aplicar as pences e recortes, o que era então bidimensional passa a ser tridimensional: assim, a modelagem pode ser considerada um sistema de construção que dá volume ao plano. Diferente da escultura tradicional em que através do desgaste de um bloco homogêneo, de pedra ou mármore, se constitui a forma, neste processo de construção, semelhante à colagem, é possível se obter espaços vazios que vão surgindo como uma espécie de ausência de massas, em contraposição aos cheios. A montagem da peça final é feita a partir da união das partes, permitindo a mudança de direção tanto das linhas como da luz.

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CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA As obras ao longo moda e disciplinas

híbridas na Arte Contemporânea já foram bastante discutidas da história por intermédio das artes plásticas em relação à vice-versa. Mas para estabelecer ligações entre estas duas é importante fazer uma pequena contextualização histórica.

O fato do ser humano querer e necessitar cobrir o corpo ainda é uma questão que muitos teóricos analisam, atribuindo a esta ação diversas simbologias. Mas porque o ser humano usa roupas? Segundo LAVER, (1989:7) muitos são os motivos para o surgimento da roupa, desde um certo (...) “pudor, até a noção sofisticada de que eram usadas por motivos de exibição e mágica protetora”. A hipótese mais concreta a que se chegou é que a primeira “roupa” surgiu pela necessidade de proteger o corpo e foi justamente no momento em que o homem primitivo descobriu que poderia caçar os animais não só para obter a alimentação, mas também para obter a pele. Podemos considerar que o nascimento da moda, entretanto, só se deu no século XIV, onde pela primeira vez surge radicalmente um traje diferenciado para os dois sexos. Para os homens o curto e ajustado “gibão”, e para as mulheres os “vestidos”. O surgimento da moda está diretamente ligado á ascensão burguesa, classe social que necessita afirmar seu status pela aparência. As relações entre Moda e Arte vêm sendo tecidas recentemente, por historiadores e críticos, que discutem questões referentes a estes dois campos. Embora muitos artistas de um passado não muito distante tenham se unido a estilistas, ou simplesmente buscado um diálogo com a moda, ainda existe uma grande discussão se moda é arte. A moda começa a ter uma conotação artística com o estilista Charles Frederick Worth, considerado o pai da Alta Costura em meados do século XIX, tudo porque os modelos se tornam exclusivos assim como as obras de arte. A partir do século XIX, o costureiro passa a ter um certo respaldo e seu nome começa a aparecer como o de um pintor, as suas obras começam a ser assinadas e protegidas por lei assim como a dos artistas. No século XX, múltiplas são as ações e movimentos que demonstram o interesse recíproco entre o mundo da moda e o da arte. Grandes estilistas sempre dialogaram com artistas de seu tempo e esta relação sempre permeou estes dois campos, tendendo a crescer cada vez mais. Um dos primeiros estilistas a promover este tipo de troca foi o francês Paul Poiret, que pediu a Raul Dufy para criar estampas exclusivas para seus tecidos. Outro nome fundamental para a moda do século XX, foi Coco Chanel que trabalhou com Picasso e Jean Cocteau. Gustav Klimt desenhou tecidos e vestidos ricos em motivos decorativos referenciando a Art 12


Nouveau. Em suas obras a roupa torna-se parte importante na composição. Os futuristas misturam a exaltação do progresso engajando-se na arte-ação, onde Marinetti impõe a estética do efêmero. Giacomo Balla traduz em tecidos conceitos de sua pintura como linha-velocidade, formas-barulho e ritmos cromáticos, Alexander Rodchenko, artista russo, veste uma espécie de All Over “macacão produtivista”. Talvez o diálogo mais forte da moda com as artes plásticas, tenha acontecido com o Surrealismo. A estilista Elsa Schiaparelli contou com a colaboração de diversos artistas surrealistas, sobretudo Salvador Dalí, para produzir roupas extravagantes. As roupas de Schiaparelli traduziam de forma onírica o objetivo do movimento surrealista, de chocar a burguesia. Dalí desenha para ela vestidos de lagosta gigante, broche olho lacrimejante, televisão bracelete, maiôs com seios nas costas, bolsa telefone e o famoso chapéu sapato. Para esta estilista ainda Louis Argon e Elsa Triolet conceberam colares com comprimidos de aspirina. Ainda podemos ver esta troca com Lúcio Fontana, artista criador do Manifesto Espacial. Em suas telas dilaceradas, cortadas e cheias de fendas, ele simbolicamente e materialmente se livra da prisão da superfície plana. Junto com Bruna Bini e sobre os mesmos conceitos eles realizam vestidos que representam a fronteira entre exterior e interior, entre tecido e pele, entre vestuário e nudez. Na década de 60, Yves Saint Laurent lança sua coleção baseada na Pop Art e o movimento também se apropriam das imagens da moda. O mesmo estilista ainda homenageia Mondrian realizando uma coleção inteira com motivos geométricos. Andy Wahrol, na série “Fashion as Fantasy” transpõe para o vestuário vestidos em papel serigrafados. Pacco Rabanne apresenta o primeiro desfile de manequins negras com materiais contemporâneos, malhas de metal e plástico fazendo referência aos móbiles de Julio le Parc. Pioneiro no campo de produções de roupas “não-usáveis” Rabanne rompe com a estética moderna, transpondo para o vestuário uma discussão atual nas artes plásticas, a do rompimento com o suporte tradicional, abrindo caminho para uma legião de criadores que se aventurariam no campo da pesquisa de materiais alternativos. Neste incansável diálogo é possível observar o diálogo entre estas linguagens. É na trilha deste dialogo que a coleção “Repúdio” se fez. Com essa experiência, procuro demonstrar que é possível construir uma escultura de vestir através do processo de modelagem industrial, e criar com a geometria dos triângulos, retângulos e cubos, uma roupa escultural sem o caráter comercial da indústria da moda, permitindo uma liberdade total de criação sem a preocupação com tecido, conforto, cores e tendências ditadas por uma moda universal.

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2.1. Corpo Celeste / PEÇA I É talvez a mais lúdica das esculturas, tem uma estrela removível, e é a escultura mais fácil de se vestir por ter um fechamento com zíper nas costas, foi experimentalmente pintada de branco para que se pudesse observar a diferença de luz entre as esculturas.

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Memorial Descritivo Duas chapas de alumínio de 100 x 150 x 0,2 cms, rebite pop e pintura altomotiva. Dimensões da peça: 150 x 100 cms


2.1.1. Desenhos

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2.1.2. Modelagens

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2.2. Corpo Ausente / PEÇA II Também foi pintado de branco, permitindo a comparação com sua irmã corpo distante, para que se pudesse observar a diferença de luz em duas peças semelhantes, uma pintada e a outra não.

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Memorial Descritivo Duas chapas de alumínio de 100 x 150 x 0,2 cms, rebite pop e pintura altomotiva. Dimensões da peça: 150 x 100 cms


2.2.1. Desenhos

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2.2.2. Modelagens

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2.3. Corpo Distante / PEÇA III Tem as formas da modelagem da grande mãe, com seios pontudos, porém, na forma de um vestido tomara que caia, e com as pontas mais longas e em maior quantidade que qualquer outra escultura, tornando-se praticamente impossível de se aproximar do corpo.

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Memorial Descritivo Duas chapas de alumínio de 100 x 150 x 0,2 cms e rebite pop. Dimensões da peça: 150 x 150 cms

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2.3.1. Desenhos

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2.3.2. Modelagens

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2.4. Grande Mãe / PEÇA IV Recebe este nome por ter a maioria das informações, contidas nos desenhos iniciais, e deu inspiração para a elaboração das outras esculturas, não foi pintada para mostrar o material utilizado que é o alumínio, seus ângulos pontiagudos permitem uma variação de luz, que se torna nítida sem a pintura.

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Memorial Descritivo Três chapas de alumínio de 100 x 150 x 0,2 cms e rebite pop. Dimensões da peça: 200 x 200 cms 27


2.4.1. Desenhos

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2.4.2. Modelagens

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3.0.Referências

Balé da Bauhaus por Oskar Schlemmer O Balé Triadico transforma os atores em verdadeiras formas geométricas. Suas alegorias são realmente arquiteturas corporais. “Meus temas - a figura humana no espaço, seu movimento em funções estáticas, sentado, deitado, andando de pé - são simples como são universalmente validas. Além disso elas são inesgotáveis.” Oskar Schlemmer.

Lígia Clark - Bichos A geometria e a arte viva através dos “Bichos” de Ligia Clark. Clark coloca-nos que, numa exposição artística, a contemplação do publico diante da obra não há satisfazia mais, e tampouco para ela era suficiente uma arte elitizada e longe das pessoas( 1980).Ligia cria uma obra para ser recriada pelo seu publico que se torna o artista. Inventa esculturas fora dos padrões, constituídas de metal, articuláveis, manipuláveis, como um organismo vivo, que ganha e gera vida na relação entre ele, o”Bicho”, e o artista, que já não é mais um simples observador da obra.

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JuN Nakao A saia de Jun Nakao, um conjunto de tiras de papel vegetal e anel plástico compõem um sistema entre cabos e barras rígidas. Essa saia faz parte da coleção de verão de 2004, ano em que Nakao inspirado nos vestidos do século XIX revoluciona a moda, em um desfile com roupas de papel. Uma metáfora de origem. Delicadas armações, com requinte de bordados e rendas redesenham as estruturas dos vestidos.

Armaduras Medievais Antes do surgimento das armas de fogo, os guerreiros medievais, se vestiam com essas verdadeiras fortalezas portáteis, tanto para duelarem um contra o outro quanto para guerrear contra exércitos oponentes.

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4.0.Trabalhos Anteriores

Tanto na árvore de pintura como no trabalho com os piões há uma preocupação com o movimento, a espacialidade e a construção maquínica.

Árvore de Pintura - 2007 Motor elétrico, sucata e latas de tinta. Dimensões: 300 x 300 x 100 cms

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Sala dos Piões - 2007 Motor elétrico e cerâmica. Dimesões: 100 x 100 x 80 cms

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4.0. Bibliografia

ARCHER,Michael.Arte Contemporânea: uma história concisa.São Paulo: Martins Fontes, 2001. ARGAN, Giulio Carlo, Arte Moderna : Do Iluminismo aos movimentos contemporâneos: Tradução Denise Bottmann e Frederico Carotti. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. BÉNAIN, Laurence.Universo da Moda. Issey Miyake.São Paulo: Cosac e Naify, 1999. BREGÉ, Pierre.Universo da Moda. Yes Saint Laurent.São Paulo: Cosac e Naify, 1999. CABANE PIERRE, Marcel Duchamp. Engenheiro do Tempo Perdido. CALDAS, Dário. Universo da Moda: Curso on Line. São Paulo: Anhembi Morumbi, 1999. CAUQUELIM, Anne. Arte Contemporânea. Portugal:Rés Editora, 1997. KANDINSKY, Wassily.Do Espiritual na Arte. São Paulo: Martins Fontes,1996. KRAUS, Rosaline.Caminhos da Escultura Moderna. São Paulo. Martins Fontes, 2001. LAVER, James. A Roupa e a Moda: uma história concisa. 4º. Ed.São Paulo: Companhia das Letras. 1989. MACHADO, Arlindo, Arte e Mídia. Rio de Janeiro:Jorge Zahar, 2006 MULLER, Florence. Universo da Moda: Arte e Moda. São Paulo: Cosac e Naify, 2000. O´HARA, Georgina.Enciclopédia da Moda: de 1840 à DÉCADA DE 80.4º.Reimp.São Paulo: Companhia das Letras. 1992. STANGOS, Kikos. Conceitos da arte moderna. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2000. VIDEO BALÉ BAUHAUS, Releitura dos anos 70, cedido pelo professor Bocara.

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