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Sumário NOSSA CAPA
Pintura de IDO FINOTTI DIREÇÃO EDITORIAL Celso Machado REALIZAÇÃO Paulo Henrique Petri EDIÇÃO E PROJETO GRÁFICO Antonio Seara PESQUISA E REPORTAGEM Núbia Mota
MEMÓRIA
CORONEL HIPOPOTA
100 ANOS
TOMIE OHTAKE
6 8
COLABORAÇÃO Ademir Reis Adriana Faria Anaísa Toledo Antônio Pereira Carlos Guimarães Júlio César de Oliveira José Ferreira Neto Milson Silva Nara Sbreebow Renato Jales Renato Palumbo Oscar Virgílio CAPA (FOTOGRAFIA) Cleiton Borges FOTOGRAFIA Acervos pessoais Arquivo Público Municipal CDHIS (UFU) Close Comunicação Correio de Uberlândia Marcos Ribeiro REVISÃO Ilma de Moraes TRATAMENTO DE IMAGEM House Copiadora IMPRESSÃO Gráfica Breda AGRADECIMENTOS Ana Maria Porto Carlos Roberto Viola Close Comunicação Cristiane Finotti Cora Capparelli Julieta Carvalho Liliane Finotti Maria Ester Carvalho Maria Lúcia Porto Moacir Carvalho Moinho Cultural Nicolau Sulzbeck PROJETO EDITORIAL NÓS CONSULTORIA TELEFONE (34) 3229-0641 Rua Eduardo de Oliveira, 175 www.nosprojetos.com.br
NOSSAS EMPRESAS
CTBC 60 ANOS 10
VÔLEI
Norma Vaz
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1915 • A ESCOLA DA CIDADE
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O Liceu
ENTREVISTA
CLARIMUNDO CAMPOS 20
NÓS PROJETOS
História nas Escolas ARTISTA DA CAPA
Ido Finotti Patrocínio
Proponente Paulo Henrique Petri
30 34
Produção
Incentivo
Carta ao Leitor
N.S. DO CARMO
A primeira matriz 37 OSCAR VIRGÍLIO
Velhos poetas 40 COMÉRCIO
A Padaria Mecânica 48 TEATRO
Hino de Uberlândia 50
D
entre tantas bandeiras que o projeto Uberlândia de Ontem e Sempre tem abraçado, uma que nos enche de orgulho são as homenagens que temos prestados a figuras marcantes da vida de nossa cidade. Por mais singelas que elas sejam, como trazem na essência a legitimidade da importância e valor dos homenageados, ganham uma relevância significativa. Somos daqueles que acreditam que o valor do reconhecimento não está na riqueza do brinde ou troféu entregue, mas na autenticidade do reconhecimento ao valor da obra do homenageado.
CONSERVATÓRIO
Primeira faculdade 52 FUTEBOL
Velhos malandros 56 MODERNIDADE
Cidade neon 58 ARQUITETURA
Lina Bo Bardi 60 25 ANOS
SPC ESTÁ DE VOLTA 62
Assim como estamos fazendo nesta edição, de forma absolutamente simples, manifestar em nome daqueles que gostam de verdade de nossa cidade, nossa reverência a um de nossos maiores cronistas, Clarimundo Campos. Com um texto repleto de lições e comentários que nos levam a viajar por outros tempos e costumes, Clarimundo consegue como poucos prender nossa atenção. Perto de completar 100 anos, continua nos brindando com gostosas histórias de sua vida que o levou a colecionar tantos causos. Também trazemos nesta edição histórias de quem merece destaque nas histórias de Uberlândia, como o Coronel Hipopota, uma figura pra lá de criativa e marcante. Tem também uma matéria sobre Moacyr
CELSO MACHADO Engenheiro de histórias
Lopes de Carvalho, uma das grandes referências da comunicação uberlandense. Sobre Mário e Milton Porto, que deram contribuições marcantes no ensino uberlandense. A arte maravilhosa de Ido Finotti e a curiosa história da nossa primeira casa de “tolerância”. O destaque aos 100 anos de duas artistas notáveis, Tomie Ohtake e Lina Bo Bardi que, para o orgulho de todos nós uberlandenses, têm aqui em nossa cidade duas obras maravilhosas. As histórias de luta, de perseverança e de criatividade da CTBC, hoje Algar Telecom, que completa 60 anos nos envaidecendo por ser a única concessionária brasileira de telecomunicações a alcançar este marco. Mas tem mais, muito mais feito com carinho por uma equipe de colaboradores que nos ajuda a produzir semestralmente uma publicação que promove a história da cidade e que começa a fazer parte dela. Com vocês a edição número 6 do Almanaque “Uberlândia de Ontem e Sempre”. Tomara que vocês a recebam como sempre: com o mesmo carinho com que a produzimos!
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Almanaque UBERLÂNDIA DE ONTEM E SEMPRE
Ao lado: Cel. Hipopota, entre Jacy Cacy da Silva e Paulo Henrique Petri, apresentando programa de rádio ao vivo
1916-1982 MAXIMILIANO CARNEIRO
CORONEL HIPOPOTA O Papai Noel, Rei Momo e o Chacrinha do Triângulo
Acima: Na Rádio Educadora Ao lado: Hipopota como Rei Momo no carnaval de 1957
O
apelido veio do porte rechonchudo, que também rendeu a Maximiliano Carneiro os títulos de Papai Noel e de Rei Momo nos carnavais de rua de Uberlândia nos anos de 1950. Nos dias de folia, o Coronel Hipopota se vestia como manda a tradição e formava par romântico com o fotógrafo Oswaldo Naghettini, que se transformava em Oswaldina Del Fuego Assuncion Gonzales. O príncipe herdeiro era Dedeu, vivido por Amadeu Zardo. No Natal, Papai Noel não chegava na cidade de trenó, mas pelos trilhos da Mogiana. A carreata descia pela avenida Afonso Pena até a praça Tubal Vilela. O jornalista Paulo Henrique Petri,
colega do Coronel Hipopota na Rádio Educadora, lembra que o amigo era uma personalidade muito engraçada. Na emissora, onde começou em 1955, dividia seu tempo entre a diretoria comercial e o papel de animador sertanejo que apresentava os programas “Entardecer no sertão” e “Obrigado, Coronel”. Chegou a manter no ar na mesma época os programas “Nossa Fazenda”, “Alvorada Sertaneja”, “Telescópio Educadora”, “Telescópio Infantil” e “Charanga do Carnaval”. “Nos programas havia outros personagens representados por funcionários da rádio, como o Zé do Bode e o Juca 38. Quando a Educadora promovia shows, era ele quem animava o evento
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Almanaque UBERLÂNDIA DE ONTEM E SEMPRE
“No rádio, Hipopota lançou Pena Branca e Xavantinho” Sob o olhar do presidente praiano Décio Tibery (57/58), Hipopota brinca de boxeador também”, diz Petri. Hipopota tinha pinta de rico, mas era uma pessoa simples, sem grandes posses. O musicista Nicolau Sulzbeck, seu grande amigo, lembra-se do bom coração de Carneiro. “Era fantástico e muito lutador. Quando a irmã Johem Carneiro morreu, eu era gerente de um banco na praça Tubal Vilela e ele passou por lá para pedir dinheiro emprestado para o enterro”, diz Sulzbeck. “Se não me engano, quando soube da morte dela, estava fazendo um show e foi até o fim. Era, antes de tudo, um excelente profissional”, conta Paulo Henrique Petri. Em Goiânia, para onde mudou-se em 1964, trabalhou na TV e Rádio Anhanguera. Era considerado o Chacrinha Goiano, apesar de ter nascido na vizinha Araguari, em 3 de junho de 1916. Na década de 1970, a capital goiana parava para assistir na TV, ao seu programa de auditório “República Livre do Cerradão”, apresentado ao vivo, com farta distribuição de mandiocas, laranjas e bananas. Para os mais humildes que iam até o auditó-
rio, ele dava notas de dinheiro e moedas. O Coronel Hipopota também é lembrado como personagem importante na carreira de Pena Branca e Xavantinho. Foi ele quem lançou os irmãos cantadores e violeiros na rádio, em Uberlândia, sugerindo-lhes o primeiro nome artístico: Peroba e Jatobá. Carneiro formou-se em Filosofia e Matemática e era simpatizante do partido comunista. Em plena ditadura militar, a ideologia ficava evidente até no nome de um de seus programas, a “República Livre do Cerradão”, homenagem ao nome oficial do país de Fidel Castro depois da revolução socialista, República Livre de Cuba. O programa ficou no ar até 1982, quando o Coronel Hipopota morreu, atropelado, aos 66 anos. “Ele estava em uma feira livre com a mulher, quando foi colhido por uma bicicleta e bateu a cabeça no meio-fio. Morreu na hora”, conta o colega de Rádio Educadora, em Uberlândia, Abílio Segadães. Hoje, Maximiliano Carneiro é nome de rua em Uberlândia, em Goiânia e Anapólis(GO).
Na Rádio Educadora, com Agenor e Aníria Simão
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Almanaque UBERLÂNDIA DE ONTEM E SEMPRE
Hasteamento da bandeira do Brasil era feito todos os dias no pátio do Liceu
PAINEL feito com um milhão de pastilhas de vidro foi desenvolvido em São Paulo e trazido desmontado para Uberlândia
A
lém de uma invejável trajetória artística, ela traz consigo algo que também desperta uma “invejinha” saudável em boa parte das pessoas: um raro vigor físico e intelectual aos 100 anos de idade completados em 21 de novembro de 2013. Essa é Tomie Ohtake, artista visual de grandes obras espalhadas pelo país e com um painel assinado na cidade de Uberlândia, em uma das sedes da Algar Telecom - até há pouco tempo conhecida por CTBC - no alto da avenida Afonso Pena. Em 1998, executivos do Grupo Algar queriam dar um tom diferente ao Centro Adminis-
HOMENAGEM CENTENÁRIO
A ARTE DE TOMIE EM UBERLÂNDIA A artista plástica, que acaba de completar 100 anos, fez painel para a Algar Telecom
11 Ao lado, a artista em foto recente
trativo da CTBC. Concluíram que a melhor forma de trazer uma ambientação mais agradável era com a instalação de uma obra de arte em um dos principais corredores de acesso aos escritórios. Foi sugerido o nome de Tomie Ohtake. Após alguns contatos, a encomenda do painel foi feita para a artista, que visitou Uberlândia algumas vezes para conhecer a empresa e o local do painel. Sua proposta foi a de desenvolver um grande mosaico nas cores azul, verde e amarelo. O trabalho demorou alguns meses, foi desenvolvido em São Paulo e veio para Uberlândia totalmente desmontado. Durante as negociações, como o valor total da obra era relativamente alto, conta-se que, uma vez, Luiz Alberto Garcia, presidente do Grupo Algar, questionou a artista: “E se a gente resolver sair desse prédio? Como é que faço com esse painel?”. Tomie teria respondido: “Não se preocupe, eu faço outro para o senhor”. Ela já tinha 85 anos de idade na época. O painel do Centro Administrativo é considerado o primeiro do gênero assinado pela artista nipônica em Minas Gerais. Foi feito com um milhão de pequenas pastilhas de vidro, de um centímetro quadrado cada uma. A montagem artesanal foi feita em São Paulo por uma equipe que juntou cada peça em plataformas maiores, posteriormente transportadas para Uberlândia. A obra faz parte do cenário do Centro Administrativo há 16 anos.
Tomie Ohtake ao lado da mãe Kimi Nakakubo
Almanaque UBERLÂNDIA DE ONTEM E SEMPRE
As três gerações: Alexandrino Garcia, o filho Luiz Alberto Garcia e o neto Luiz Alexandre Garcia
1954-2014 TELECOMUNICAÇÕES/MEMÓRIA
CTBC 60 ANOS “Entramos em telefonia porque não podiamos falar para São Paulo. São Paulo era a praça principal. Levava até uma semana para fazer uma ligação. Fomos para o interior no rumo de São Paulo. Nunca esquecemos São Paulo” Por CELSO MACHADO
E
m 1986, Celso Machado, então assessor de relações públicas da CTBC gravou um depoimento com Alexandrino Garcia. Na ocasião, o empresário estava prestes de completar 80 anos e continuava à frente dos negócios da família, tendo como seu braço direito o filho Luiz Alberto Garcia. Esta entrevista faz parte do acervo do Centro de Memória da Algar. Dela derivaram inúmeros materiais de comunicação, livros e programas de educação a distância. Aqui, um resumo dos principais temas abordados por Alexandrino Garcia, que são a base da cultura corporativa do Grupo Algar.
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Almanaque UBERLÂNDIA DE ONTEM E SEMPRE
Moeda portuguesa de 1919, ano da chegada da família Garcia ao Brasil
Alexandrino Garcia com o telefone de serviço no setor de Operações da CTBC
AS DIFICULDADES DE FALAR AO TELEFONE “Eu era presidente da Associação Comercial em 1952 e nós tínhamos dificuldade de falar, não se falava aqui por telefone. Para se falar entre Uberlândia e Uberaba, por exemplo, levava-se de um dia a uma semana. Fomos nos movimentando e nomeamos uma comissão na Associação Comercial e a turma toda aceitou. Mas com a condição de eu ir na frente. Então liderei um movimento com uma turma de industriais e comerciantes e escolhemos encampar a Teixeirinha, nós compramos a Teixeirinha.” PRIMEIROS TEMPOS “Não tínhamos dinheiro, então, fomos tocando até arranjar tudo certinho. Começamos a traba-
lhar sem dinheiro, sem nada. Aqui tinha uma caminhonete Ford 29 que fazia o serviço de rua. Eu viajava aos domingos, sábado de noite, com esta caminhonete da Irmãos Garcia porque nós não tínhamos condução. Pegava a caminhonete, na sexta e no sábado depois do meio-dia e domingo era aquele batidão. Na segunda-feira tinha que entregar a caminhonete de novo. Eu subia nos postes. Fui um dos primeiros a emendar linhas por aqui.” FALAR COM SÃO PAULO Entramos em telefonia forçados pelas circunstâncias porque nós éramos comerciantes de automóveis, de postos de gasolina, máquina de arroz. Então, precisávamos da telefonia. Eu, era presidente da Associação Comercial. Naquele tempo
Comenda do Infante D. Henrique, símbolo dos laços sempre cultivados e da gratidão de Portugal
a Associação era quase uma segunda prefeitura, resolvia os problemas da cidade. Nós entramos em telefonia porque não podíamos falar para São Paulo. São Paulo era a praça principal. Como eu disse, levava um dia, ou uma semana pra fazer uma ligação. Então, fomos trabalhando e procuramos ir para o interior rumo a São Paulo. Nós nunca esquecemos de São Paulo. Era a nossa meta.” SERVIR A REGIÃO “Eu fui tomando gosto na telefonia. Mas era servir a região que eu me interessava. Sempre trabalhamos em benefício de alguém, de alguma coisa. Nós desenvolvemos a telefonia nessa região, trabalhando sempre com amor, porque eu gosto de telefonia até hoje. Assim, Uberlândia foi crescendo e a telefônica tem acompanhado. Como o trabalho que fizemos aqui no Triângulo foi crescendo, as cidades vizinhas vinham nos procurar, fazer negócio, resolver o problema delas. Assim fomos tocando e conseguimos entrar em São Paulo, em Goiás e até no Mato Grosso do Sul.” PROPAGANDA “Fizemos muitas cidades, que não tinham nem Correio, com o serviço local e interurbano. O telefone era a salvação de todo mundo. Não fazíamos propaganda, fazíamos era o serviço. Não dá para imaginar a satisfação de inaugurar telefonia onde não tinha nem telegrama. Nem telégrafo tinha.
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Almanaque UBERLÂNDIA DE ONTEM E SEMPRE
Luiz Alberto: herdeiro e primeiro sucessor no comando da Algar
LUIZ ALBERTO GARCIA
Uma lição de meu pai inesquecível
COMPANHEIRO
APOSENTADORIA
“Eu gostaria de ser visto como companheiro que sou. Com o que eu sou, não me considero maior que os outros, eu me considero igual aos outros, então, eu queria ser tratado como companheiro de trabalho.”
“Tinha feito meu cálculo de aposentar com 50 anos. Já tinha trabalhado bastante e tinha feito o pé de meia pra poder viver com a minha família. Não tinha mais ambição, mas quando surgiu a telefonia, aí embalamos de novo. O homem não tem limite pra parar. Tendo saúde e tendo vontade, ele deve trabalhar o quanto puder que o resultado é sempre o mesmo.”
ROTINA “Eu levanto de manhã, tomo café. Sete e meia estou aqui. Antes de tocar a sirene, eu chego aqui dentro. Trabalho o dia inteiro, saio pra ir nas outras empresas. Eu dou assistência porque nós temos uma empresa que trabalha 24 horas, 365 dias por ano, dia e noite, então, se é uma empresa ininterrupta depende de muita assistência. SUCESSO “Ser bem-sucedido é ter conforto necessário e poder ajudar todo mundo que precisar de nós. Acho que a riqueza é essa e a riqueza maior é a saúde, a vontade de trabalhar.”
“Queria ser visto igual a todos os outros no trabalho”
EDUCAÇÃO “Fazendo, aprende-se mais: tem que ver e ouvir, mas se você pegou e fez, então não esquece nunca mais.” SONHO “Eu tenho o sonho de ver o Brasil em primeiro lugar. O Brasil é o único país no mundo hoje que tem de tudo. Tem terras pra alimento, tem mineração, enfim, o Brasil tem tamanho, o Brasil tem tudo pra crescer, pra ser o primeiro.”
“O general Alencastro toda vida foi um homem muito reto que queria cumprir a lei. E a lei dizia ‘uma empresa em cada estado’. Ele ligou e falou: vou visitar vocês em Uberlândia. Pegamos um funcionário graduado e mandamos para o aeroporto para esperar o general. Ele já não achou bom quando chegou ao aeroporto e não achou o senhor Alexandrino. O funcionário trouxe ele para nossa sede. Levei para o salão nobre e tal e serve água, serve café e o papai não aparecia. Papai levou alguns minutos para aparecer na sala, cumprimentou o general e o general falou na bucha: ‘Pois é, seu Alexandrino, o senhor sabe que, agora, o concessionário do estado de Minas é a Telemig, aconselho o senhor a aproveitar para vender a sua empresa enquanto ela tem algum valor, porque depois não vai valer nada’. Papai engoliu em seco e disse pra ele: ‘General, eu tô velho, tenho a vida muito simples, não vivo da CTBC. Tenho outros negócios. Não se preocupe comigo, que tenho o suficiente para passar o resto da vida. Meu filho é engenheiro, fez curso na Suécia, o senhor vai dar emprego para ele. O senhor não se preocupe conosco não. Quando for a hora, nós entregamos a empresa para o senhor”.
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Almanaque UBERLÂNDIA DE ONTEM E SEMPRE
Brasil perde veterana do Uberlândia Tênis Clube que brilhou na seleção
1934-2014
NORMA VAZ Por ANTÔNIO PEREIRA
N
o último 31 de agosto, aniversário de Uberlândia, a cidade, o país e o mundo perderam Norma Vaz, aos 79 anos, uma das atletas mais versáteis do século passado, ídolo da torcida do Flamengo, com atuação no vôlei, no basquete e no atletismo e dona de vários títulos e medalhas durante as décadas de 1950 e 60. Norma foi sepultada no Rio de Janeiro, onde passou grande parte da vida. Nasceu em Uberlândia em 25 de abril de 1934. Era irmã do barbeiro Américo Vaz, que tinha um salão ao lado do Bar da Mineira na avenida Afonso Pena. Norma sempre gostou de esportes, principalmente do vôlei. Em 1949, aos 15 anos, participou do 16º Campeonato Nacional de Jogos Abertos, em Rio Claro (RJ), onde venceu 48 partidas, sagrando-se campeã por Uberlândia ao lado de Dorly Raniero, Lourdes Santos, Luzia Bedê, Dulce Silva, Idália Vaz, Hilda Guimarães, Dalva Santos, Tereza Álvares, Aparecida de Freitas, Nancy Raniero e Wilma Carrara. Era atleta amadora do Uberlândia Tênis Clube, em uma época de grandes sucessos esportivos da cidade. Pelo desempenho, foi convocada para a seleção mineira, ainda em 1949, e sagrouse campeã brasileira. Um ano depois, foi para a seleção brasileira com as colegas de Uberlândia Dorly Raniero e Dalva Santos. Como integrante do Clube de Regatas Icaraí, em 1950, participou, com outras moças da cidade de um quadrangular em Montevidéu, no Uruguai, e conquistou o título de campeã invicta. A partir de 1950, começou a ser observada pelos clubes cariocas, principalmente após ter se tornado campeã dos Jogos da Primavera, no vôlei, remo, basquete, natação e atletismo. Vasco, Tijuca e Fluminense disputaram a atleta, que, entretanto, escolheu o Flamengo. Também pela seleção brasileira, Norma participou dos Pan-americanos de 1955, 1959 e de 1963, quando se sagrou campeã. Em 1972, recebeu o título de Cidadã Carioca, outorgado pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
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Almanaque UBERLÂNDIA DE ONTEM E SEMPRE
D
urante 44 anos, Uberlândia teve um colégio que, além de ensinar como todos os outros, levou cultura, esporte e valores humanos aos alunos e tornouse um marco na história da educação no Brasil, com uma orquestra conhecida nacionalmente, além de promover na cidade shows com artistas brasileiros famosos e peças de grupos renomados de teatro. O Lyceu de Uberabinha, fundado em 1928, teve o nome grafado com “i” e tornou-se o Liceu de Uberlândia, quando a cidade mudou de nome em 1929. Ao longo dos anos, incorporou o curso primário em 1928 e a Academia de Comércio, em 1931, com cursos técnicos destinados ao ensino comercial. Em 1942, anexou o Ginásio Osval-
Abaixo: Hasteamento da bandeira do Brasil era feito todos os dias no pátio do Liceu
1928-1972 LICEU DE UBERLÂNDIA
UM ESPAÇO CULTURAL PIONEIRO NA CIDADE
A escola foi cinema, teatro e até salão de festas
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Almanaque UBERLÂNDIA DE ONTEM E SEMPRE
Acima: Fachada do Liceu, onde é hoje a Caixa Econômica próximo ao Fórum. Abaixo, os desfiles de rua do Cruz e nos anos seguintes a Escola Normal Mário Porto e o Jardim de Infância. A iniciativa de criar a escola foi de Antônio Vieira Gonçalves e de Mário de Magalhães Porto. Mas a figura central do colégio foi o pernambucano Milton de Magalhães Porto, que, se mudou para Uberlândia em 1931 para assumir a administração da instituição, função que exerceu até 1972, quando a escola fechou as portas. “Primeiro ajudava nas matrículas e, à noite, fazia aulas com tio Mário para tornar-se professor. Meu pai (Milton) não fez faculdade, estudou apenas até o ginásio. Mas era muito inteligente. Falava bem o inglês e o latim, porque estudou em colégio salesiano. Era autodidata”, lembra a filha Maria Lúcia Porto Rodrigues da Cunha. A escola foi montada na praça Osvaldo Cruz, onde hoje fica a agência da Caixa Econômica, ao lado do Fórum Aberlado Penna, no centro da cidade. No andar de cima, morava a família de Milton. Além de duas meninas nascidas em Uberlândia, havia o primogênito, Galba Gouveia Porto, o único filho pernambucano do casamento de Milton com Maria Fausta Gouveia Porto. “Meu pai veio na frente e deixou o Galba e minha mãe em Caruaru (PE). Oito meses depois, minha mãe veio”, conta Maria Lúcia. A escola inaugurou o primeiro ginásio coberto de Uberlândia, palco de comemorações, reuniões e shows. A Academia de Comércio, o Ginásio Osvaldo Cruz e a Escola Normal Mário Porto ficavam nas mesmas instalações e funcionavam em turnos diferentes. O prédio também chegou a abrigar um internato para filhos de fazen-
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Almanaque UBERLÂNDIA DE ONTEM E SEMPRE
As festas juninas no salão de festa do colégio
deiros que moravam distante da cidade. “O casarão era enorme. Como onde morávamos não havia cozinha, atravessávamos o pátio do colégio até o refeitório que dava para a rua Quintino Bocaiúva para almoçar. Brincávamos no quintal da escola”, disse Maria Lúcia. Todas as sextas-feiras, com aparelhagem própria, o ginásio se transformava em cinema. Ali se apresentaram grupos de teatro e artistas famosos, como o cantor Wanderley Cardoso, ícone da juventude nos anos 1960. Foi ali também, que em 1952, formou-se a Orquestra do Liceu, pela iniciativa do aluno do curso de con-tabilidade da Academia do Comércio, o húngaro Nicolau Sulzbeck. “Foi uma época fantástica na minha vida. O Liceu era o melhor colégio de Uberlândia. Como ainda não tinha o Uberlândia Clube e a cidade não tinha muita festa, era ali, naquele salão grande, que a gente se reunia”, disse Nicolau. Em 1972, sem ter como cumprir a série de exigências burocráticas do Ministério da Educação (MEC) para autorizar o funcionamento de escolas, Milton Porto decidiu por fechar o Liceu. “O Liceu era um colégio particular, mas não visava o lucro. Tanto que muitas pessoas que não tinha condição de pagar estudavam lá. No dia que fechamos, todo mundo chorava. Éramos uma grande família”, diz Ana Maria Porto Cunha, filha de Milton.
PERFIL
Mário de Magalhães Porto Formado em Direito e nomeado Promotor de Justiça de Frutal (MG) no governo de Antônio Carlos Ribeiro (1926-1930), Mário de Magalhães Porto foi transferido para Uberlândia, onde fundou o Liceu de Uberlândia e foi reitor do Colégio Estadual (Museu). Para se dedicar mais à reitoria, convidou o irmão Milton de Magalhães Porto para seu lugar no Liceu. Como bom orador, Mário Porto defendia a igualdade social e chegou a ser acusado de comunista pela oposição. A partir da década de 1930, quando Uberlândia ficou conhecida no país como a Pequena Moscou, o fundador do Liceu precisou fugir às pressas da cidade quando foi avisado que a Polícia Federal ia prendêlo. “Pegou os filhos e a mulher uma noite e foi de carro para Uberaba para tomar o trem no dia seguinte. Pegaram em Uberaba o mesmo trem em que a polícia chegou aqui em Uberlândia”, lembra a sobrinha Maria Lúcia.
No Rio de Janeiro, Mário Porto conseguiu proteção política e se tornou professor do Colégio Pedro II. Em 1944, fundou o Instituto Educacional Brasil América, que funciona até hoje à beira do Corcovado. Faleceu em 1950, como presidente da Federação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino, uma entidade que congregava as instituições escolares de ensino médio do país.
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Almanaque UBERLÂNDIA DE ONTEM E SEMPRE
PERFIL
O refeitório ficava aos fundos do colégio, próximo à rua Quintino Bocaíuva
Na quadra de esportes, as alunas uniformizadas durante a aula de educação física
Outra imagem dos famosos desfiles que tomavam as ruas de Uberlândia
Milton de Magalhães Porto Milton Porto trabalhava no cartório do pai, Leocádio Porto, ex-prefeito de Caruaru (PE), que teve os bens confiscados na Revolução de 1930. “Meu pai detestava política. Como perderam tudo, tio Mário o chamou para Uberlândia. Veio escondido do pai, com dinheiro que a madrasta e a tia arrumaram pra ele”, recorda Maria Lúcia, filha de Milton. Além de administrar o Liceu de Uberlândia, Milton Porto foi presidente da Fundação Universidade de Uberlândia entre 1969 e 1978. Recebeu o título de Cidadão Honorário e a Medalha Augusto César. Em 1974, recebeu a Comenda Santos Dumont e, em 1980, a Assembleia Legislativa lhe concedeu o título de Cidadão Honorário do Estado de Minas Gerais. Morreu em 30 de agosto de 1988, quando Uberlândia comemorava o centenário de sua emancipação.
SEMEADOR
DE PALAVRAS Entrevista NÚBIA MOTA PASSOS
ENTREVISTA CLARIMUNDO CAMPOS
“ O engenheiro agrônomo que domina como um mestre a crônica literária”
E
IVAN SANTOS
le nasceu no dia 21 de dezembro de 1915 em Porciúncula, que significa mínima porção, fica no noroeste fluminense e tem hoje pouco mais de 18 mil habitantes. Foi criado em Cachoeiro do Itapemirim (ES) e lá respirou os mesmos ares que Rubem Braga, único autor brasileiro a se tornar célebre por meio da crônica, gênero que não é recomendável a quem busca a posteridade. Mas, não é pela posteridade que, até hoje, Clarimundo Ferreira Campos, 98 anos, engenheiro agrônomo que domina como poucos a arte da crônica, escreve semanalmente para o “Correio de Uberlândia”. Ele não acredita que vai ser lido pelas novas gerações, mas não deixa de escrever, mesmo com a vista cansada e a falta de jeito com o computador. Gosta de escrever à mão mesmo, até o texto ficar como é preciso. Em Uberlândia, desde o dia 2 de fevereiro de 1948, o antigo hóspede do Hotel Colombo mora até hoje na primeira casa que comprou, há mais de 60 anos, no Lídice, quando se casou com Dalva Corrêa Campos, de 87 anos, com quem teve os filhos Antônio, Ana Luiza e Fernando e os netos Rodrigo, Iara, Jéssica e Natália. O bigode à Clark Gable foi esquecido em um passado distante, mas o estilo galanteador permanece. Um bate-papo com ele significa rir quase o tempo todo, pois encara a velhice como coisa natural da vida. Apesar das limitações do corpo, é possível viver de bom humor, manter-se produtivo e ter uma memória invejável.
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Almanaque UBERLÂNDIA DE ONTEM E SEMPRE
Na primeira vez que veio a Uberlândia, o senhor já chegou de malas prontas para morar? Não, vim antes. Vim com um americano. Almoçamos no Hotel Colombo e fomos para Goiás. Eu trabalhava em um programa de incentivo à produção da borracha para uma empresa do governo norteamericano. Foi durante a 2ª Guerra Mundial e eles tinham muita necessidade de borracha. Tiravam a borracha da mangabeira aqui do Cerrado, porque apenas da seringueira não dava. Fui indicado para o serviço pela Escola Superior de Agricultura (Viçosa), onde estudei. Quando veio morar aqui? Vim para Uberlândia mais tarde trabalhando em uma empresa chamada Sotreq. Entrei na Sotreq no Rio de Janeiro para trabalhar em Uberlândia. Cheguei, para ficar, no dia 2 de fevereiro de 1948.
Acima: O prefeito Tubal Vilela e Clarimundo
Como era a cidade? Era uma beleza de cidade. Milhões de vezes melhor do que a cidade de hoje. Morei cinco anos no Hotel Colombo, na avenida Afonso Pena, no terceiro andar, quarto 307. Montei um “esquartório”, com escritório e quarto, onde recebia os clientes. Comprei um telefone da Teixeirinha, número 1307. O número foi mudando, porque foi expandindo a rede, veio a CTBC, mas é a mesma linha que uso até hoje. O que fazia na Sotreq? Vendia tratores e maquinário pesado. Onde hoje é a avenida Getúlio Vargas havia um brejo. Vendi o primeiro trator para a prefeitura abrir a Getúlio Vargas, que, no início,se chamou avenida Rio de Janeiro.
Clarimundo Campos posa ao lado da caminhonete da Sotreq
“ Havia um tal de “sales kit”. Mas os fazendeiros queriam era apalpar. Sentir o cheiro da máquina”
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Almanaque UBERLÂNDIA DE ONTEM E SEMPRE
Por ser desconhecido, não teve dificuldades nas vendas? Havia naquela época um tal de “sales kit”, mas os fazendeiros queriam mesmo era apalpar a máquina, sentir o cheiro dela. Então convenci o Assis Figueiredo, que era cupincha do dono da Sotreq, Walther Moreira Salles, que vender por catálogo não dava. Ele aceitou a ideia e aluguei um depósito na João Pinheiro, onde fica a Unimed hoje. Se casou aqui? Não. Conheci aquela baixinha em Uberlândia, mas a família dela morava em São Paulo e nos casamos lá. Aqui, ela tinha um grupinho para ir ao cinema, umas meninas que trabalhavam no escritório do doutor Jacy de Assis, que ficava em frente ao Hotel Colombo, onde eu morava. Entrei nesse mesmo grupinho.
Acima: Clarimundo Campos trabalhou para o esforço de guerra Ao lado: Clarimundo Campos faz pose de galã com o bigode à la Clark Gable
O que o senhor fazia para se divertir, além do cinema? Tinha a zona boêmia. Era fácil de ir e pertíssimo. Eu saía do Hotel Colombo, onde hoje é a Riachuelo na avenida Afonso Pena, atravessava a praça da República (Tubal Vilela), chegava na Santos Dumont, onde começava a zona à esquerda e ia até a rua Guarani, hoje chamada de Professor Pedro Bernardo. Era hábito comum para os rapazes da época, não é? A zona era um lugar ótimo. Só mulheres bonitas e não existia essa história de doença venérea. A limpeza era total. Nem blenorragia (gonorreia) existia. Tinha violência na cidade? Não. Nos dez primeiros anos que
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Almanaque UBERLÂNDIA DE ONTEM E SEMPRE
“ Uberlândia não vai parar, não. Já está cheia de mazelas. Se bobear, fica como São Paulo ”
TRÊS VEZES CLARIMUNDO
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“Estranhei demais o jeito do povo do Cerrado. Custei muito para ser acolhido como gente de casa. Tive que provar que era o bom. O pé atrás decorria do fato de as pessoas imitarem as árvores, cuja casca é grossa, a fim de se defenderem do fogo anual que os fazendeiros punham no capim redondo. Porém, em matéria de namorar as meninas, eu metia a cara pra valer: sempre adorei beijá-las e amassá-las. Esta era a minha estratégia de ataque: comparecia aos footings nos quais flertava as bichinhas e acabava indo com uma delas ao cinema.” [Antes dos tempos modernos]
2
“Eu era molecote. Morava na roça, mas estudava no único ginásio de Cachoeiro de Itapemirim (ES). Enfrentava mais de uma légua, subindo e descendo morros, com sol ou com chuva. Nada sabia da vida. Porém, uma noite, logo após fazer xixi no terreiro, embaixo de um fantástico céu estrelado, tive o prazer de ouvir o meu Destino. Disse-me que eu deveria imitar o jeito de viver do meu pai: ser honesto, não mentir, ser franco sem ser rude, gozador sem ser ofensivo, ser do batente, viver cantando ou assobiando, ser pândego e alegre, e viver sempre cangado e ajoujado à lógica.” [Santo remédio: chá com fé]
3
“Já estou com saudade do tempo em que escrevinhar uma crônica era um brinquedo. Mas, tenho um modo de sair dessas enrascadas. É republicar as crônicas que estão em livros. Hoje, com a internet sabendo tudo quanto há, o jeito é resumir. Mesmo antes da web, eu não frequentava calhamaços. Sou fracote na informática, mas consigo quebrar um galho no computador, bicho que até ensina a gente.” [Tempo de ter saudade]
Acima: Clarimundo e a esposa Dalva
Ao lado: O Hotel Colombo, onde Clarimundo morou por cinco anos
morei aqui, mataram uma pessoa. Passaram fogo em um sujeito num posto de gasolina. Um acontecimento raro, muito comentado. O que acha da cidade hoje e como a imagina no futuro? Estão fazendo um novo cemitério, aumentando a área de domínio da cidade. Uberlândia não vai parar não. Mas está cheia de mazelas, se bobear fica como São Paulo. O senhor fez muita amizade entre os políticos? Quando cheguei, o prefeito era o José Fonseca e Silva, um sujeito sossegado e calmo. Lembro bem do Tubal Vilela e de Renato de Freitas, que foi um grande amigo. O senhor acompanhou a expansão do Cerrado durante o governo de Rondon Pacheco? Aqui, o que desenvolveu muito a agropecuária foi uma grama
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“A internet resolve tudo e ninguém está mais a fim de ler, a não ser um ou outro”
chamada braquiária, que pode ser plantada em qualquer terreno, em qualquer lugar. Depois o pessoal foi desmatando e plantando e a Camig ajudou a abrigar novas áreas, desmatou o Cerrado para as lavouras. A primeira e principal lavoura foi do arroz.
“Esquartório”: Clarimundo montou um escritório no quarto onde dormia no Hotel Colombo
Como começou a escrever? A primeira coluna que publiquei foi em agosto de 1940 no jornal da Escola de Agronomia de Viçosa, onde me formei em 1942. Eu acompanhei o Ivan (Santos) em todos jornais que ele ia. Em Uberlândia, comecei a escrever no “Correio de Uberlândia” em 1988, quando o jornal começou a ser diário. O senhor escreve há mais de 70 anos para jornais. O que acha da evolução da imprensa escrita? Quem escreve hoje precisa resumir muito. A internet resolve tudo e ninguém está mais a fim de ler muito. Mas, acho que os jornais e revistas ainda vão perdurar por um bom tempo. O senhor lê jornal todo dia? Leio a revista “Veja” e o Ivan Santos no “Correio de Uberlândia”. Gosto de ler a “Veja” porque sou contra a Dilma, não gosto dessa política de conversa fiada, que não resolve nada. Ivan Santos é seu grande amigo não é? Há quantos anos o conhece? O conheci na década de 70, quando eu escrevia no jornal da Agroceres. Depois, onde ele ia escrever, eu ia atrás. Acho o trabalho dele ótimo. Ele é inteligente e sabe tudo de política mesmo. Já quis ou já se envolveu com a atividade política? Nunca, nunca fui político. O que eu tenho obrigação de ter é a opinião. Seu texto geralmente trata de assuntos muito picantes. Já foi criticado pelos seus leitores?
Clarimundo em uma festa junina com os amigos da juventude
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Imagino que o jornal deve receber reclamações, algumas críticas contra o que escrevo, mas não me repassa. Mas, se há críticas, não estou nem aí. De onde tira inspiração para escrever suas crônicas? Aproveito as ideias. Agora quero escrever uma crônica sobre lutas. Rinha de galo é proibida, rinha de passarinho é proibida, no entanto esse tal de UFC não é proibido. Não é apenas porque o Anderson Silva quebrou a perna, mas aquilo é uma barbaridade. Gosto de esporte, mas aquilo não é esporte.
O casal Clarimundo e Dalva no dia do casamento em São Paulo
Mas parece que senhor gosta de escrever mais sobre o passado. É porque eu estou passado mesmo (risos). Tem alguma dica a dar para quem quer ser um bom escritor? Tive um professor que mandava ler Eça de Queiroz e outros bons autores. Não gosto de ler livro grossão não, aqueles calhamaços. O livro que mais gostei foi o “Um Boêmio no Céu”, de Cattulo da Paixão Cearese. O senhor foi boêmio? Nada. Eu nunca fui de gastar. Eu estudei às custas do meu pai e depois que me formei, comecei a trabalhar e a mandar dinheiro para ele. Em 2015, o senhor vai chegar aos 100 anos. Como se sente? Minha cabeça está melhor do que a do Schumacher (referindo-se ao acidente que deixou o piloto em coma), mas eu não sei se chego lá não. Estou com uma doença incurável chamada “veiera”. Mas é uma coisa natural da vida. A morte é ruim de pensar, porque deixamos tudo aí, mas depois que morremos, acabou. Viramos pó e não pensamos mais em nada. Duvido até que alguém ainda vá querer ler o que escrevo depois que eu morrer.
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Noca, proprietária do Lupanar da Cobra. O bordel ganhou este nome por ter sido construído com dinheiro obtido no jogo do bicho. No dia em que abriu, deu “cobra na cabeça”
UBERLANDICES
CADEIA E FOGO DE CANA A primeira Cadeia Pública de Uberlândia foi inaugurada com a prisão de uma mulher, mais precisamente de uma prostituta. Miquelina era umas das pioneiras na profissão da então São Pedro de Uberabinha, e foi presa depois de tomar um pileque. O fato, tão comentando na época, acabou por dar o nome de Miquelina à cadeia. Miquelina foi presa para que o prédio, inaugurado em 1891, na rua da Cota, hoje Dom Barreto, no Fundinho, fosse de fato utilizado. O segundo a entrar na história por ficar detido, na Miquelina, em 1908, foi Pachola, morador de rua e que também não dispensava a cachaça. Depois de um porre, foi preso tirando um cochilo no alpendre da casa de um coronel da cidade. Acabado o efeito do álcool e por se encontrar sozinho e trancado, ateou fogo à cadeia. Outra versão conta que Pachola foi incentivado por alguns moradores, que, desgostosos com as péssimas condições da cadeia, deram a ideia ao prisioneiro beberrão.
ANOS 1950 BOEMIA
FILHAS DE EVA
N
Por JÚLIO CÉSAR DE OLIVEIRA
a década de 1940, Getúlio Vargas, iniciou a Marcha para o Oeste, um novo processo de colonização do interior do país. Foram abertas estradas que interligariam a região do Triângulo aos estados de Goiás e Mato Grosso e consolidariam Uberlândia como polo comercial importante. Nos anos de 1950, com a política desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek, vultosos investimentos federais foram aplicados na região. A cidade tornou-se um entrecruzamento de estradas importantes ligando sul, norte, nordeste com o centro-oeste do país. A prosperidade econômica de Uberlândia na década de 1950, ampliada nos anos 1960 com a política de ocupação dos cerrados, atraiu muita gente em busca de negócios, trabalho e, em particular, de entretenimento. De acordo com o jornal “O Repórter”, Uberlândia, faz vinte anos tem seus cabarés. Empório do sudoeste goiano, encruzilhada de negócios, hospitaleira e bem servida de água, luz, esgoto, centro médico evoluído, é uma cidade onde o dinheiro circula. Os que realizam as suas transações durante o dia, quando as luzes acham a noite procuram
divertir-se, para desanuviar. Nem todos possuem bastante imaginação, para sonhar com o regresso ao lar e gozar a satisfação da família cujo conforto os bons negócios podem aumentar. Buscam o divertimento artificial e imediato. A festa sem data do cabaré. A volúpia sem amor das meretrizes” (1950, n. 1216, p. 2). Localizadas na rua Guarany (atual Professor Pedro Bernardes) e na Santos Dumont, essas casas que, de acordo com os jornais, “faziam a loucura dos velhos e a desgraça dos moços”, eram uma espécie de clube masculino. Tinham também a função de iniciar sexualmente os jovens e satisfazer os “incontroláveis” desejos sexuais masculinos evitando, assim, que fossem incomodadas as “mulheres honestas e as moças de família”. As cafetinas conheciam muito bem os bastidores da política local e contavam com o apoio de homens influentes e de policiais, a quem, em geral, pagavam boas propinas. As “filhas de Eva”, outra denominação usada pela imprensa da época para se referir às prostitutas, eram geralmente analfabetas e originárias de cidades menores da região ou da roça. Para não escandalizar a cidade, frequentavam, discreta e elegantemente, a última sessão dos cinemas com roupas e calçados comprados nas lojas A Goiana, Pernambucanas e O Mundo Elegante. Muitas se destacavam pela beleza. Outras sonhavam em mudar de vida e casar-se, o que poucas conseguiram realizar. Um desses raros matrimônios ficou registrado no romance autobiográfico “Lágrima Comprida”, de Ceres Alvim. A escritora relata que seu avô, comerciante respeitado da cidade, apaixonou-se por uma prostituta, deixou a família e passou a viver com ela. Aos poucos, entretanto, as próprias elites locais começaram a reordenar o espaço urbano. Nesse sentido, os bordeis começaram a ser fechados a partir da segunda metade dos anos 1950 e transferidos para a rua Engenheiro Azelli e para a Joaquim Cordeiro. No entanto, as “filhas de Eva”, depois de expulsas do “paraíso”, reproduzem, na Uberlândia de hoje, a “loucura de alguns velhos e a desgraça de certos moços”.
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O
advogado que levou seis tiros, saiu ileso e virou lenda. A mulher que lutou contra o regime ditatorial até a morte. O homem com mais de sete profissões e sua vocação para a caridade. O médico que acreditava na educação como um dos fatores fundamentais para o ser humano. São apenas alguns dos personagens que entraram na primeira edição do projeto História nas Escolas, realizado ao longo de 2013 em nove escolas da rede pública municipal de Uberlândia. Com apoio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais e patrocínio do Instituto Algar, a Nós Projetos Culturais propôs ao programa Algar Lê a realização de um projeto envolvendo educadores e
MORENO: Boi desenhado pelos alunos e que deu nome à comunidade e à escola
NÓS PROJETOS
HISTÓRIA
NAS ESCOLAS A memória como ferramenta agregadora Por NARA SBREEBOW
estudantes na realização de um minidocumentário sobre os patronos das suas próprias escolas. Técnicas de jornalismo cultural e audiovisual seriam as ferramentas para que eles pudessem contar o que viriam a descobrir. Aderiram também ao projeto o Centro de Memória e Pesquisa em Estudos Educacionais Julieta Diniz (Cemepe) e a Close Comunicação. No princípio, o projeto previa cinco minutos para a apresentação dos patronos das escolas inscritas: Carlos Tucci, Domingos Pimentel de Ulhôa, Eurico Silva, Jacy de Assis, Olga Del Fávero, Sebastião Rangel, Stella Saraiva Peano e Moreno, como era chamando um boi. Ilusão. Quando os 315 alunos entraram em cena, com a participação de mais de 30 educadores, o tempo limitado passou a ser motivo de “sofrimento” na ilha de
edição dos vídeos. O resultado, um documentário de 45 minutos foi apresentado em seção exclusiva no Cinemark e exibido em capítulos no programa “Uberlândia de Ontem e Sempre”. Uma história foi integralmente veiculada no “MGTV” da TV Integração, tão importante quanto redescobrir histórias valiosas, foi qualificar centenas de alunos para o universo da pesquisa e da informação. História nas Escolas terá sequência em 2014, em Uberlândia e, também, outras cidades mineiras, sempre com incentivo da Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais e patrocínio do Instituto Algar. A seguir, duas histórias fruto desse trabalho. Todas as demais estão no site www.uberlandiadeontemesempre.com.br.
Stella Saraiva
STELLA SARAIVA
MULHER VESTIDA DE SOL Por NARA SBREEBOW
H
á alguns meses, conversando com familiares de personagens que emprestam o nome às escolas de Uberlândia e fazem parte do projeto Histórias nas Escolas, fui tomada por encantamento quando soube sobre a vida de Stella Saraiva Peano. Na hora, me veio a mente a frase “Uma mulher vestida de sol”. A mesma expressão, se é que posso chamar assim, foi usada no livro do Apocalipse da Bíblia referindo a assunção de Nossa Senhora a “...gloriosa mulher vestida de sol....” e usado também como título no primeiro romance de Ariano Suassuna. Em ambos casos, as mulheres trazem consigo uma energia tão contagiante que mesmo passando pelo sofrimento, são repletas de tanto amor ao próximo que ultrapassam as barreiras do tempo. A nossa mulher vestida de sol nasceu em Araguari, em 17 de novembro de 1916. Quando adolescente, mudou-se com os pais para Uberaba, afim de ampliar os estudos e de lá para Ribeirão Preto, onde estudou no colégio de Irmãs Santa Úrsula. Nesta escola aconteceu a primeira manifestação pela igualdade social. Uma aluna interna confessou a Sttela, enquanto esperava os pais, que seria expulsa naquela dia porque tinha engravidado do padre, que também era professor. Stella, ainda muito nova, foi para o pátio e fez um comunicado na frente de todas as pessoas. Isso naquela época era considerado uma
afronta. Sendo assim, foi convidada a se retirar do colégio junto com a colega. Stella foi pra São Paulo continuar os estudos e lá entrou efetivamente na luta contra a ditadura de Getúlio Vargas. Revolucionária Esteve envolvida em revoltas, passeatas contra as formas de repressão aos direitos básicos do ser humano. Já casada com o Steban (italiano, naturalizado argentino), grávida foi perseguida por defender seus ideais. A amiga, Mirian Queiroz, lembra dela ter sido separada do filho ainda bebê. O menino ficou com o médico Guilherme e uma enfermeira. Nesse período, ela foi torturada pela ditadura de Getulio Vargas. Foi para o exílio. Passou por vários países da Europa, mas ficou a maior parte do tempo na Argentina. No início, ela e o marido foram sem o filho, anos mais tarde conseguiram levar o pequeno Rodolfo para Argentina. Não há muita precisão de datas, mas Stela deve ter ficado fora do País entre 1938 até meados da
década de 50. “O que os comunistas naquela época queriam?” Indaga Mirian Queiroz. “Igualdade! Era uma época que os empregados eram muito maltratados, passavam fome, trabalhavam em lugares insalubres não tinham o mínimo conforto, não tinham direito a férias, seguro saúde. A luta primordial era por esses direitos. Para os trabalhadores não restava nada além do trabalho. Ela pagou um preço alto por defender suas ideias, e as defendeu com dignidade até o fim de sua vida”. O Quintal da Minha Casa No período de exílio na Argentina, a sobrinha Fernanda Queiroz Egyto relembra sobre como a avó, mãe de Stella Saraiva teve notícias da filha. “uma vizinha, muito amiga da família estava escutando um programa de rádio da Argentina, em que uma radialista sempre falava um poema que se chamava O Quintal da Minha Casa. Nele ela dizia a rua da minha casa, a árvore..., citações que muito semelhantes a rua da sua casa em Uberlândia. E pela a entonação da voz, a descrição
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do jardim, a vizinha chegou a conclusão que se tratava de Stella. “Todo dia essa radialista abria o programa com novas situações, e a família chegou a conclusão que os relatos eram sobre os acontecimentos dela, do Rodolfo e o Tio Pedro (como Steban também era chamado pela família). Tudo dito entrelinhas, isso foi o que acalmou a nossa avó”. De volta à casa De volta ao Brasil, Stella se fez muito presente com os amigos e a família. Teve vários pseudônimos e pouquíssimas fotos, tudo para garantir sua segurança. Passada a ditadura de Getúlio de Vargas, anos mais tarde, Stella Saraiva também foi perseguida pelos governos militares responsáveis pelo golpe de 1964. Sua detenção aconteceu quando estava dando aula no Colégio Estadual de Uberlândia (conhecido como Museu). Foi abordada e presa na frente dos estudantes. A sobrinha Fernanda Queiroz Egyto conta que só não a levaram para o DOI-CODI em São Paulo em função de seu estado de saúde. Depois de um tempo reclusa, confirmado câncer avançado por várias partes do corpo, Stella pode viver na cidade, respondendo inúmeros processos, sendo vigiada constantemente. Até os últimos dias de sua vida, sempre lutou por seus ideais, ligados diretamente ao social, ao bem comum, a melhores condições de vida, emprego e dignidade. Além do legado de sua luta, de sua vida, Stella deixa para ser lembrado uma frase que pode explicar um pouco do que era suas ideias e ideais: “eu perdi um seio, eu perdi um dedo, eu perdi, um olho, e perdi um fígado. Mas que não me tirem a minha voz.”
Jacy de Assis, famoso por ter o corpo fechado
UM PATRONO
JACY DE ASSIS Jacy de Assis nasceu em Muzambinho, interior de Minas Gerais, em 1901. Com 14 anos, escrevia artigos para jornal e, aos 17, já fazia reportagens. Formou-se em Direito, foi aluno de Ruy Barbosa e começou a trabalhar. Seu primeiro cliente, em 1922, era de Muzambinho e queria recuperar um empréstimo que estava vencido há tempos e não tinha sido pago. Jacy partiu a cavalo para Cabo Verde, onde morava o devedor, vestido com o palato, uma grande capa para se proteger do frio e uma arma para se proteger de assaltantes na estrada. Ao chegar à cidade, procurou o devedor, que era farmacêutico. Disse que era advogado e vinha receber o dinheiro devido a seu cliente de Muzambinho. “Atravesse a rua e me espere na praça. Vou pagar o que devo lá mesmo”, disse o devedor. Ao atravessar a rua, Jacy pressentiu que havia alguém vindo por trás. Era o farmacêutico, armado, que desferiu contra o advogado todas as seis balas de seu revólver. Ao perce-
ber que não estava ferido, Jacy tirou sua arma da cintura, apertou o gatilho, mas o revólver não disparou. Ninguém entendia o que tinha acontecido. Um homem levara seis tiros e continuava são e salvo. O neto Marcos Assis, durante as entrevistas do História nas Escolas, contou que o avô guardara o palato com seis furos de bala durante muitos anos. “Perguntei a ele: como nenhum dos seis tiros lhe atingiu? O senhor correu e o palato abriu...” Ele disse “Isso mesmo, meu filho, ninguém fica parado esperando ser baleado”. A primeira bala do adversário havia acertado, também, o tambor do revólver de Jacy e emperrou a arma, o que acabou impedindo que ele matasse o farmacêutico. Jacy viveu 95 anos e era considerado imortal pelos moradores de Cabo Verde: o homem do corpo fechado, que tomara seis tiros e não morrera. Jacy de Assis aproveitou a fama para entrar na política.
Chegar aos 60 esbanjando vitalidade e com tamanha disposição, merece a nossa admiração. Nossa homenagem ao grupo Martins e a Algar Telecom, pelos 60 anos de vida e referência que se tornaram de empreendedorismo em Uberlândia e no Mundo.
NOSSO MAIOR PLANO É TE VER FELIZ!
Tela mostra as belezas das paisagens do Cerrado, que tanto chamavam a atenção de Ido Finotti
1899-1980 ARTISTA DA CAPA
UM PINTOR DO CERRADO
Ido Finotti retratou em sua obra a beleza das paisagens urbana e rural do Triângulo
I
do Finotti nasceu na cidade paulista de Espírito Santo do Pinhal em 1899. Era o segundo dos 13 filhos da italiana Tereza Berthossoli com César Finotti, marceneiro emigrado da Itália para o Brasil em 1880. Ido Finotti mudou-se para Uberlândia em 1923, onde morou até morrer, em 1980, aos 80 anos. Aos 12 anos, iniciou a vida profissional como aprendiz de pintor de paredes. Aos 19, mudou-se para Uberaba, onde aprendeu a técnica da pintura decorativa de interiores. Naquela época, era comum a pintura de natureza morta e paisagens nas paredes das salas de jantar e de visita das casas. Em 1924, durante a construção do prédio da Companhia Elétrica Clarimundo Carneiro, onde hoje fica a Oficina Cultural de Uberlândia, foi convidado para pintar algumas paredes do novo imóvel e decidiu mudar-se para Uberlândia com a esposa Adelina Cicci. Na cidade, Ido pintou também o altar da Catedral e da Igreja de Nossa Senhora das Dores. Finotti montou uma empresa, na qual trabalhavam 12 pintores e uma loja de tintas em sociedade com José Roquette. Em 1947, montou a Confeitaria Na
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Ao lado: Ido Finotti com Adelina na Confeitaria Na Hora. Abaixo: O quadro retrata as queimadas no Cerrado
OLHAR CRÍTICO
IDO FINOTTI RENATO PALUMBO DÓRIA*
F
Hora, na avenida Afonso Pena, onde instalou a única galeria de arte da cidade. Nela expunha as obras que fazia e, no fundo, montou um ateliê de pintura. “Lá, ele preparava as próprias tintas, as molduras, as telas. Pegava papelão nas lojas, punha nos cavaletes e falava: ‘Vamos pintar com o vovô’”, lembra a neta Cristiane Finotti. Autodidata, Ido Finotti se dedicava à leitura sobre pintores famosos. Das pescarias e dos passeios,
vinha a inspiração para pintar paisagens. Muitas vezes, utilizava a máquina fotográfica para fazer registros de cenas rurais e urbanas. Na capa desta edição, a extinta igrejinha de Nossa Senhora do Carmo foi eternizada pelas mãos do pintor. Em 1991, Ido Finotti teve seu nome imortalizado na galeria de arte do Teatro Grande Otelo, transferida em 1994 para o Centro Administrativo Municipal, onde funciona até hoje.
oi dentro de relativo isolamento que Ido Finotti desenvolveu suas próprias soluções estéticas, acabando por constituir um interessante acervo de imagens, hoje em algumas coleções na cidade, em geral, particulares. Imagens relevantes por comunicarem algo do universo estético e cultural da Uberlândia e do Triângulo Mineiro da primeira metade do século 20. Uma clara atenção com a paisagem regional, principalmente o Cerrado. Imagens bucólicas de ranchos e casas de fazenda, monjolos, margens de rios, caminhos floridos e cenas de queimadas. Indiferente ao debate progressista de Uberlândia da época, Ido Finotti produziu um tipo de pintura que pode ser entendido como parte dos esforços regionais pela busca de uma reconstituição do espaço rural, de onde vêm muitos dos habitantes. Uma pintura que retrata, portanto, a busca pela preservação e conservação das tradições. Ainda que vivendo em um ambiente urbano, Ido Finotti soube incorporar nas pinturas esta idealização do espaço rural. Como nas primeiras décadas do século 20, não existiam circuitos artísticos, com exposições regulares, museus ou galerias de arte, Finotti foi também pioneiro pelas exposições que ajudou a organizar, a partir de 1947, com a abertura da Confeitaria Na Hora, que foi fundamental por permitir o primeiro contato de muitos habitantes da cidade, incluindo crianças, com o universo das artes. * Doutor em Arquitetura e Urbanismo e mestre em História da Arte. Professor de História da Arte na Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e membro do Comitê Brasileiro de História da Arte (CBHA).
Uma programação pra entrar em sintonia com você. O Canal da Gente vem com muitas novidades em 2014. O que era bom vai ficar muito melhor. Prepare-se.
Maquete que está no Museu Municipal reproduz o Arraial de N. S. do Carmo e São Sebastião de Uberabinha
E
m 1846, Felisberto Alves Carrejo e Francisco Alves Pereira adquiriram, com doações dos moradores, 100 alqueires de terras da Fazenda Salto pertencente a Francisca Alves Rabelo, entre o ribeirão São Pedro, onde hoje é avenida Rondon Pacheco, e o córrego Cajubá, na época Córrego das Galinhas, onde está a avenida Getúlio Vargas. Em um terreno a parte, à margem direita do rio Uberabinha, mais tarde conhecido como Pasto da Santa, foi construída a Capela de Nossa Senhora do Carmo e São Sebastião. A capela, primeiro com uma torre, foi erguida no Largo da Matriz onde se encontra hoje o prédio da Biblioteca Municipal, denominada, desde 1951, praça Cícero Macedo. Ao redor do templo surgiram as primeiras casas do arraial de Nossa Senhora do Carmo e São Sebastião da Barra de São Pedro do Uberabinha. No terreno também foram sepultados os primeiros habitantes, por isso o local também era chamado de campo santo. O ponto escolhido para a edificação era um vasto capão de mato sem
1846 CAPELA DE NOSSA SENHORA DO CARMO
PRIMEIRA MATRIZ
Templo foi erguido no local onde está hoje o prédio da Biblioteca Municipal da cidade água. Para sanar o problema, Felisberto Carrejo construiu um rego d´água, que saindo do ribeirão São Pedro, acompanhava o declive do terreno, passando pelas atuais avenida Rio Branco, ruas Barão de Camargos, Marechal Deodoro até a praça Cícero Macedo. Resolvido o problema e com autorização do bispado de Goiás, inicia-se a construção da capela em 1846, concluída em 1853 com apenas 60 metros quadrados e feita de adobe e barro. Em 1861, a capela foi ampliada, ga-
nhou a segunda torre e passou a se chamar Matriz de Nossa Senhora do Carmo, abrigando até 1941 as principais atividades religiosas de Uberlândia. Em 1943, o prédio foi demolido para dar lugar à antiga Estação Rodoviária. Além de raríssimas fotografias e pinturas já do novo templo, como a de Ido Finotti que está reproduzida na capa desta edição do Almanaque, o que restou da igrejinha do século 19 foi a imagem de Nossa Senhora do Carmo, esculpida por
A REACÇÃO
TROCANDO O “C” PELO “B” Como a cidade não tinha prédios, ao longe se avistavam as torres da igreja um ateliê espanhol na primeira década do século 20. Hoje, protegida por uma redoma de vidro, a imagem está na Catedral de Santa Terezinha, na praça Tubal Vilela. Tombada como patrimônio histórico municipal em 2007, deverá ser transferida para o acervo do Museu De Arte Sacra da
Diocese de Uberlândia (MAS), com previsão ser ianaugurado ainda neste ano. Em 1943, quando a Igreja de Nossa Senhora do Carmo foi demolida, a escultura foi transferida para a Capela de Nossa Senhora do Rosário, no distrito de Miraporanga, onde hoje há uma réplica.
Pouco tempo depois de chegar a Uberabinha, ainda no início do século passado, Licydio Paes criou o jornal “A Reacção”, cuja tipografia e redação funcionavam na casa da família, na avenida Rio Branco. O periódico, com quatro páginas, além de tratar dos assuntos da cidade, parabenizava os aniversariantes da semana. Era um jornal praticamente feito a mão. As letras eram tipos móveis de chumbo, que ficavam em caixas separadas. Os textos e títulos se formavam pelas letras individualmente e o trabalho dos gráficos consistia em agrupar, um a um, os tipos móveis de chumbo, para formar o texto final do jornal. Numa ocasião, aniversariava na semana o poderoso coronel Cândido Rodrigues da Cunha. Uma homenagem ao aniversariante foi publicada pelo jornal. Quando estavam dobrando as páginas dos últimos exemplares da edição, chegou à oficina o delegado da cidade e deu uma surra de cassetete em Lycidio Paes e no também jornalista Amando Santos, obrigando-os a rasgar todos os exemplares que ainda restavam da edição que acabara de começar a circular nas ruas da cidade. Os dois jornalistas só foram entender o motivo da truculência policial algum tempo depois. Como as letras “b” e “c” ficavam bem próximas uma da outra nas caixas de tipos móveis, acabaram sendo trocadas ao compor o nome do aniversariante, que acabou sendo impresso como coronel Bandido Rodrigues da Cunha. Achando que era proposital, o coronel Cândido encomendou ao delegado a surra nos jornalistas.
AgRE SSÃO
MULHER ENTREgA O MARIDO TRAFICANTE pÁgIN A 3
quinta-fei ra | 5 de janeiro de 2012
ôNIBUS
ano 2 | nº 491
CORPO ESTRANHO
UBERLÂNDIA TERÁ MAIS 2 TERMINAIS URBANOS
FAMÍLIA ENCONTRA UM ALIEN NO SUCO
paulo augusto
pÁgIN A 4
cleIton borges
Polícia e Procon
foram acionados
Pela consumidor
a
BBB
SAI A LISTA DOS NOVOS BROTHERS DA gLOBO pÁgIN A 12
MARO ON 5
REVISTA COM A MISS BUMBUM VENDE BEM pÁgIN A 13
vôLE I
DIVulgaÇÃo
ATLETAS DO SESI VÃO À SELEÇÃO BRASILEIRA pÁgIN A 24
UNITRI ENCARA O TIjUCA NO RIO DE jANEIRO pELO NBB
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N
a década de 80, a imprensa escrita em Uberlândia era representada por quatro jornais: “Correio de Uberlândia”, “O Triângulo”, “Tribuna de Minas” e “Primeira Hora”. A cidade que na época não oferecia curso superior de Jornalismo, tinha no entanto mais jornais do que hoje. A exceção do “Primeira Hora”, todos os demais eram impressos tipográficamente. Os textos eram compostos à quente em linotipos e as fotografias e ilustrações por meio de clichês . O “TRIÂNGULO” foi criado em 1928 na cidade de Araguari pelo jornalista Ary de Oliveira, o mesmo que foi dono do “Correio de Uberlândia”. Depois foi para Uberaba, onde circulou por vários anos até que em fevereiro de 1956, Ary de Oliveira trouxe-o para Uberlândia. Tempos depois, Renato de Freitas, do PSD, adquiriu-o para fazer contraponto ao “Correio de Uberlândia”, cujos donos na época eram ligados a UDN. Renato deu uma pequena participação acionária aos funcionários mais antigos do “Triangulo”, Alberto de Oliveira, Alberto Gomide e Heli Fidelis . “O Triângulo” encerrou suas atividades em 2000. A “TRIBUNA DE MINAS” começou a circular no dia 13 de maio de 1966. A iniciativa da criação do jornal foi do Ruy do Nascimento. Suas oficinas ficavam na praça Doutor Duarte. Era
VERDINHO ESTREIA HOjE À NOITE NA COpA SÃO pAULO PágINA 18
gOLEIRO MARCOS DO pALMEIRAS VAI MESMO ApOSENTAR PágINA 20
IMPRENSA BONS TEMPOS
FORA DE CIRCULAÇÃO Nos anos 80 a cidade teve 4 jornais CELSO MACHADO
uma Sociedade Anônima que tinha o historiador Antônio Pereira da Silva como um dos integrantes. Ele foi o gerente do jornal e seu redator-chefe. No início participavam da redação, além de Antônio Pereira, o cônego Antônio Afonso, Antônio Couto de Andrade, Arthur Barros e o repórter Josué Borges. O jornal nunca conseguiu muita penetração na vida da cidade. Houve um período, uns poucos meses, em que foi realmente diário (os outros circulavam 3 vezes por semana). Ivan Santos começou a trabalhar na imprensa, aqui em Uberlândia, no Tribuna de Minas. O “PRIMEIRA HORA” foi lançado em 1982 pelo grupo ligado ao prefeito Zaire Rezende. Além de ser impresso em off-set, trouxe como editores jornalistas experientes com passagens pelo mais famoso jornal
econômico do Brasil, a “Gazeta Mercantil”. Provocou uma transformação enorme na imprensa escrita da cidade. Parou de circular em 1988. Em 7 de junho de 2010 foi lançado o “TUDOJÁ”, jornal diário popular. Começou com 3.000 exemplares de tiragem e chegou a 10.000 exemplares. Era vendido em bancas, não tinha assinantes e fazia promoções, brindes e ofertas. Mas não conseguiu quebrar a barreira que até hoje existe no meio empresarial, que pouco prestigia a mídia impressa. Em 30 de junho de 2012 parou de circular. Hoje, Uberlândia conta com um único jornal diário( circula de terça a domingo), o “Correio”. E um semanal, a “Gazeta de Uberlândia”, que mudou recentemente de proprietário e tem planos de também passar a ser diário.
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Almanaque UBERLÂNDIA DE ONTEM E SEMPRE
JOAQUIM RIOS
DÉCADA DE 1930 LITERATURA
POETAS
Por OSCAR VIRGÍLIO
O
s jornais de Uberlândia sempre lutaram pelo desenvolvimento, tanto econômico, como político, alfinetando, ora de forma enérgica, ora cautelosa, o comodismo de autoridades. Foi assim na República Velha e depois sob o Estado Novo, e durante a Segunda Guerra
Mundial. No entanto, apesar das asperezas, nos jornais foram abrigadas valiosas manifestações culturais, registrando-se discussões e polêmicas de alto nível e crônicas de sentido até hoje atual. E não faltou a poesia, fiel à métrica e à rima, como era de costume, na
época. Foi como se houvesse um esforço para que Uberlândia não esquecesse as suas origens simples e bucólicas, nem o valor da arte, especificamente, da literatura. O Almanaque resgata, ao acaso, entre tantos, o trabalho de poetas que marcaram as décadas de 1930 e 1940.
Joaquim Rios, natural de Campo Belo, foi professor e jornalista. Lecionou em Igarapava (SP) e Belo Horizonte. Ao ser nomeado defensor dativo em locais onde não havia advogados defendeu muitos réus pobres. Exerceu o cargo de Promotor Público. Aqui em Uberlândia militou, por vários anos, nos jornais, escrevendo a respeitada coluna “Assuntos Vernáculos” além de sátiras e poesias.
AGENOR PAES CIGARRAS
EM MINHA ALVORADA
Eil-as no esforço inútil de bizarras Cantigas, sibilantes, pelos ares, as várzeas alegrando, quais fanfarras, – as boêmias habitantes dos palmares! Confrangem-n’as, após aéreas farras, os dias de amarguras e pesares, mas, se não morrem em bando às algazarras tornam, de novo, sem destino e lares. E quando o sol explende das procelas Ei-las saudando à luz mais estridentes Em sibilos agudos, tagarelas. Assim vão pela vida imprevidentes Também cantando, os poetas como aquelas que mesmo no sofrer vivem contentes.
Solar querido. É cedo. A cozinheira
Agenor Paes
se levanta, a correr faz o café. E dentro em pouco, a casa toda inteira
Foi o fundador do jornal “A Tribuna”, em 1919. Além de ser um dos redatores, sabia tudo sobre jornal, da fase de composição manual, paginação, impressão, até a tão difícil elaboração dos clichês para ilustração. Nem mesmo a súbita paralisia que sofreu, impediu sua luta para manter o jornal, escrever e vencer enormes adversidades.
acorda e toda gente está de pé. Encilham o “picaço” , na cocheira, Para o avô que já está no canapé, Dando as ordens, com voz mui sobranceira, Causando pressa, reboliço até, Seguir, como é costume, p’ra fazenda. Vai assistir à ordenha . Em pouco, a calma, a casa é quase abandonada tenda, Onde a boa madrinha reza e canta, Pregando o bem , no que ela colhe a palma, Meiga, serena, carinhosa e santa.. Joaquim Rios
CLÓVIS CÉSAR
Desde os tempos do primário, Clóvis César se destava pela facilidade em redigir textos. Foi escolhido em1943 como bolsista pelo Rotary Clube, do curso de Contador da Academia de Comércio. Já estava então redigindo a coluna de esportes do “Estado de Goyas” e logo publicados poemas de surpreendente qualidade. Certa vez escreveu um artigo crítico intitulado “Casimiro de Abreu e sua Linguagem”, versando sobre certas licenças poéticas do autor, o que iniciou naquele jornal uma saborosa e madura polêmica com o veterano Licydio Paes, por fim encerrada com extrema elegância.
ROSEIRA Do lintel de minha rústica janela Uma roseira verde se entrelaça. Para mim não há mimo ou maior graça Do que a graça puríssima de vê-la desabrochar-se em lindas, alvas rosas, pelas manhãs de maio entre os fulgores Do sol, tanto serenas e formosas quanto gentís e plenas de frescores. Abro a janela e olho-as satisfeito Horas sem conta. É o milagre divino da perfeição da forma, é o peregrino esplendor do ideal e do perfeito. Quem a teria, aqui, enternecida, plantado? Penso! Quem a ela plantara nem por sonho talvez imaginara que grande bem fazia nesta vida. Ou plantara-na...não sei...talvez piedosaa alma que nesse mundo unicamente viera só por fazer-me assim contente E tornar-me a existência mais formosa. Clóvis César
HENRIQUE CAMPELO Nos cafés do centro, perto das redações dos jornais, onde se reuniam os habituais frequentadores para conversar, era comum estar o velho poeta e professor Henrique Campelo. Era um homem inteligente que entendia de tudo. Alguns o censuravam pelo estilo desprendido, mas na verdade o que sentiam era uma ponta de inveja da sua sensibilidade. Nas coleções dos jornais antigos é possível encontrar trabalhos dele.
BRINCANDO Não creio mais no teu amor. Não creio Nas tuas juras de sinceridade. Não creio que me falas a verdade, Pois o brinquedo nos teus olhos leio. Não creio que acarinhes em teu seio. Por mim, um sentimento de amizade, visto que não existe lealdade No teu amor do qual eu já descreio. Repito que não creio em tuas juras, Como não creio nessas mil venturas, Que me falas, sorrindo, e me enganando. Não chores! Creio em tudo que me dizes! E para que sejamos bem felizes Quero que creias... que eu...estou brincando. Henrique Campelo
ANÚNCIOS EM VERSOS No ainda reduzido cenário econômico de Uberlândia, os jornais recorriam a meios alternativos para fugir da cansativa repetição dos anúncios comuns. Uma forma de diversificar era apresentá-los sob a forma de notícia. Um tipo original muito apreciado era o anúncio em versos. Os autores eram considerados pessoas especiais. Se a verba da publicidade fosse mais generosa, saíam até burilados sonetos. Alguns destes textos estão no jornal “A Tribuna”, que tinha um plantel de vários colaboradores poetas, a começar pelo próprio diretor Agenor Paes.
A TRIBUNA (11/12/1938) Se vocês inda não viram Devem ir correndo. Vão...! Vão ver como refletiram Na nova orientação Os preços escandalosos, O desconto eletrizante, Os artigos mais pomposos Ali do MUNDO ELEGANTE. Todos nós já conhecemos O corte todo bacana E por isso nós queremos Confecções da SANTANA A TRIBUNA (2/11/1938) Se você quiser um vaso Bonito e original, Medite bem no seu caso, Vá à Galeria Crystal. Ali você encontrará Coisa que não há igual, Pois neste artigo aqui há Só a Galeria Cristal.
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Atiradores do TG 243 de Uberlândia-MG e TG de Araguari-MG prestam juramento à bandeira na praça Clarimundo Carneiro em 1939
Almanaque UBERLÂNDIA DE ONTEM E SEMPRE
ANOS 1960 SERVIÇO MILITAR
OS TIROS DE GUERRA
Jovens da cidade treinavam para as Forças Armadas no famoso TG-060
O
s jovens de Uberlândia, até o início da década de 1960, prestavam o serviço militar no Tiro de Guerra, como quase todos os jovens brasileiros depois de 7 de setembro de 1902, com a vitória da campanha movida por Olavo Bilac para adoção do serviço militar obri-
gatório. Em Uberlândia, segundo Milson José da Silva, capitão da reserva do Exército e estudioso do assunto, haviam dois Tiros de Guerra, o TG-243 e o TG-060. No jornal “O Progresso”, de Bernardo Cupertino, edição de 11 de fevereiro de 1911, é mencionado também o Tiro Brazileiro de Uberabinha ou Tiro 52, associação de iniciativa do professor Honório Guimarães
para fundar um clube de tiro, regulado por leis federais e com estatuto próprio, que poderia ser vinculado ao ministério da Guerra. Mas, com a extinção do TG-243, o Tiro de Guerra 60 tornou-se o único a preparar para a reserva militar centenas de jovens da cidade e da região. “Várias autoridades de hoje foram atiradores. Atuaram, quando a situação exigiu em socorro aos necessitados atingidos por calamidades, em períodos de cheias. Embora distante do teatro de operações da Segunda Guerra, participaram de várias campanhas, arrecadando em prol dos pracinhas que disponibilizaram suas vidas em defesa da democracia e da Pátria”, escreveu o capitão Milson, no livro “36º Batalhão de Infantaria Motorizado – Suas origens”. Um dos atiradores na década de 1930, na época com 16 anos, era o estudante do ginásio Juarez Alta-
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CATEDRAL
A PEDRA FUNDAMENTAL
Atiradores, sargentos, oficial instrutor do TG 243 e autoridades em 1935 fin, hoje desembargador Federal aposentado e ex-Reitor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), responsável pela criação da faculdade de Ciências Econômicas. Altafin chegou a ser convocado para a Segunda Guerra Mundial. “Estava no Rio de Janeiro, onde fazia os dois anos preparatórios para o vestibular da Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil. Um dia, recebi um telegrama de meu pai me comunicando que eu tinha sido convocado para a guerra e que deveria me apresentar à Unidade Militar de Juiz de Fora”, lembra o desembargador. Altafin se apresentou ao Exército, mas livrou-se da guerra gra-
ças aos caprichos da balança. Depois de mandar pesar o novo recruta, um capitão dispensou-o por estar magro demais. “Eu estava magro pela alimentação que fazia em pensões bem baratas, daquela época no Rio de Janeiro. Mas não sei se não fui pelo fato de ser realmente um adolescente magro ou o capitão quis me proteger, considerando minha condição de estudante pobre, vestibulando de Direito”, afirma. Em 5 de dezembro de 1961, o Ministro da Guerra, por meio da Portaria nº 2.726, extinguiu o Tiro de Guerra 60, com a instalação em Uberlândia da 3ª Companhia do 6º Batalhão de Caçadores.
Atiradores e sargento instrutor do TG 60 na frente do Tiro de Guerra em 1957
Dom Luiz Maria de Santana No dia 25 de junho de 1933, com a presença de dom Luiz Maria de Santana, então bispo de Uberaba, foi assentada a pedra fundamental da Matriz de Santa Terezinha do Menino Jesus. O templo foi idealizado desde meados de 1926, quando em 19 de setembro daquele ano, o pároco da igreja matriz de Nossa Senhora do Carmo, padre Albino Martins Figueiredo Miranda, celebrou a primeira festa em homenagem à santa com a ajuda dos festeiros Basílica Pacheco de Freitas, Benedita Pimentel de Ulhôa e Franklin Rodrigues de Morais Jardim. Com as barraquinhas festivas, como eram chamadas as festas, foi arrecadado dinheiro para construção do templo. O terreno na então rua Visconde do Rio Branco, hoje praça Tubal Vilela, foi comprado de José Camilo Júnior. A construção começou em 1939, mas a catedral só foi inaugurada em 25 dezembro de 1941, em comemoração ao aniversário de Jesus Cristo. O templo passou a ser a edificação mais alta da cidade naquela época.
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N
o dia 28 de junho de 1978, a exibição da cerimônia de abertura da Copa do Mundo da Argentina marcou a inauguração da TV Paranaíba, a primeira com transmissão 100% em cores de Minas Gerais e pioneira no interior brasileiro a operar com a recepção via-satélite. Uma semente ainda plantada por Nicomedes Alves dos Santos, um pecuarista visionário, dono da maior rede de cinemas do interior mineiro e sócio majoritário da Rádio Educadora, que deixou o legado ao filho Ary de Castro Santos e ao neto Ary de Castro Santos Júnior. Em 1969, com a morte de Moacyr Lopes de Carvalho, que desde
Inauguração: O prefeito Virgílio Gallassi e o ministro Quandt de Oliveir sob os olhares de João Pedro Gustin e Adriano Bailoni Júnior
1978 TV PARANAÍBA
A ERA DA TV 100% EM CORES
Nicomedes Alves dos Santos plantou a semente da primeira rede de TV no interior brasileiro a transmitir com recepção de sinal via satélite
Em 1975, com o empenho e apoio político de Rondon Pacheco, então governador de Minas, a criação da TV Paranaíba, foi autorizada 1955 administrou a Rádio Educadora, Nicomedes chamou o filho Ary de Castro Santos para assumir os negócios da emissora de rádio. “O Nicomedes já mexia com cinema nessa época e chamou meu pai para assumir a rádio. Meu pai era fazendeiro em Capinópolis e veio embora para Uberlândia assumir a gestão da rádio Educadora junto com os profissionais que já existiam. E aí começa uma nova fase da emissora e a ideia da TV Paranaíba”, afirmou Ary de Castro Santos Júnior. Em 1964, a inauguração da TV Triângulo, hoje TV Integração, acabou gerando um desequilíbrio político em Uberlândia, porque os veículos de comunicação defendiam os interesses de seus respectivos partidos. No meio impresso, por exemplo, o jornal, “Triângulo” era ligado ao Partido So-
cial Democrata (PSD) e o “Correio de Uberlândia” era vinculado à União Democrática Nacional (UDN). Na área radiofônica, a Rádio Difusora era do PSD e a Educadora da UDN. “Com a criação da TV Triângulo, o grupo do senhor Nicomedes, que era da UDN, começou a se movimentar, mas sem os parceiros da Rádio Educadora. O Nicomedes montou uma empresa com os filhos e genros, a Rede Mineira de Rádio e Televisão, com o Adib Chuerri como executivo. Foi ele também que trabalhou para conseguiu a documentação para que o governo desse a concessão para a TV Triângulo”, diz Ary . Em 1975, com a ajuda política de Rondon Pacheco, então governador de Minas de Gerais, empenhado neste propósito desde quando exerceu o ministério da Casa Civil, a criação da TV Paranaíba, ca-
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nal 10, foi autorizada. No dia 25 de fevereiro daquele ano foi assinado o contrato de concessão no Ministério das Comunicações, em Brasília, na época encabeçado pelo ministro Euclides Quandt de Oliveira, durante o governo de Ernesto Geisel. A inauguração aconteceu mais de três anos depois, em 28 junho de 1978. “O Nicomedes já havia morrido em 1972, os familia-res dele já haviam saído e o negócio passou a ser somente do senhor Ary. E eu entro nessa história como sócio minoritário nessa época. Minha mãe, Maria Lídia Hugueney Santos é a sócia majoritária. Construí o prédio da TV e estou aqui até hoje, há 35 anos”, diz Ary. Antes mesmo de entrar na TV Paranaíba, em 1982, o jornalista uberlandense Neilvado Silva, o Magoo, se
LUIZ FERNANDO QUIRINO, com Hafez Chacur (contatos da TV Paranaíba) no momento em que Roberto e Harvey (Móveis Finotti) assinavam o primeiro contato publicitário com a emissora
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“ Acho que a TV Paranaíba, canal 10, já nasceu predestinada ao pioneirismo” MAGOO
recorda do empenho do canal para conseguir a con-cessão, capturando imagens pela cidade desde o fim da década de 60. “Eu ainda era moleque e me lembro de ver um carro escrito TV Paranaíba, canal 10, mas a TV nem existia ainda. Acho que a Paranaíba já nasceu predestinada ao pioneirismo”, disse Magoo se referindo a primeira transmissão em cores de Minas Gerais e também por ser a primeira afiliada no Brasil da Rede Bandeirantes, passando a pertencer a Record desde 2003. “Todas as outras TVs tinha transmissão via micro-ondas, cheias de interferências. A Paranaíba, já com a recepção via-satélite, aprendeu e ensinou a fazer TV local”, completou o jornalista. No início, como não tinham programas locais, das 7h às 15h, quem já tinha TV em cores em casa via apenas o sinal de teste color bars, um conjunto de barras coloridas utilizadas como referência no ajuste de equipamentos de vídeo. Em baixo do vídeo, era escrito TV Paranaíba, canal 10, com a data, a hora e a temperatura. Mas mesmo assim, a população sintonizava para ouvir a Rádio Paranaíba, com uma seleção de músicas de alto nível e com qualidade de som não encontrada no rádio. A noite, eram transmitidos, entre outros, a série de faroeste americano Daniel Boone e o “Jornal Bandeirantes”. Tempos depois vieram os programas locais com Lalaide Manhães, a “Fazenda Paranaíba”, com Zé Reinaldo e Zé do Bode, “Debate Esportivo” com Camargo Neto e Cleudair Nery, além de quadros de sucesso da Rádio Educadora, como Balcão de Empregos com Dindinha. “Foi na Paranaíba, com apresentação do Jairo Silva, que aconteceu o primeiro debate político na TV brasileira pósregime militar. Tancredo Neves e Eliseu Resende concorriam ao governo de Minas e vieram a Uberlândia. Também em 1982, foi a primeira transmissão ao vivo durante a inauguração do Parque do Sabiá, com flashes a todo momento durante todo o dia”, disse Magoo.
Ary de Castro Santos assina concessão da TV
Ary de Castro Santos Júnior recebendo, na TV Paranaíba, a visita do então ministro das Comunicações Pimenta da Veiga
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A imagem cedida pelo Centro de Documentação da UFU mostra um entregador de pães durante o trabalho
DÉCADA DE 1930 COMÉRCIO
A PADARIA MECÂNICA
A primeira panificadora de Uberlândia a modernizar a produção com máquinas
O
s moradores de Uberlândia já tiveram o hábito de abastecer a cozinha e a despensa recorrendo ao comércio ambulante feito por donos de chácaras que, com gamelas sobre os ombros ou empurrando carrinhos de mão, vendiam frutas e verduras nas ruas. Pães e o leite eram vendidos em carroças de tração animal, de porta em porta ou deixados nos portais das casas dos clientes. Era assim também com a venda de carnes. Na rua Tiradentes, no Fundinho, a padaria Mecânica, do comerciante pratense Enéas de Oliveira Guimarães, a primeira da cidade a comprar
maquinário próprio, era umas das fornecedoras do pão quentinho para o café dos uberlandenses. Por volta das 6h, seis carroças saíam pela cidade fazendo as entregas. No fim da década de 1920, a população não chegava a 30 mil habitantes e muitos se conheciam, o que facilitava a vida dos entregadores que tinham sua relação de fregueses gravada na memória. O processo todo, de acordo com a filha de Guimarães, Isolina Cupertino, era demorado e começava ainda de madrugada, por volta das 2h, quando os funcionários, que moravam no fundo da padaria, começavam a preparar a massa para os
pães. “Era preciso esperar a massa crescer. Lembro dos tabuleiros enormes e dos fornos, ainda à lenha, que ficavam no fundo da padaria. Depois de assados, meu pai examinava os pães um a um”, lembra Isolina. O pasto próximo à padaria era alugado para guardar os cavalos. Os entregadores atrelavam os animais às carroças para as entregas, geralmente feitas das 6h às 9h. As vendas eram anotadas em cadernetas para cada cliente. No fim do mês, Isolina e a mãe, Julieta Cupertino, somavam o que cada cliente devia e o padeiro se encarregava de ir receber nas casas. No fim da década de 1930, Guimarães começou a modernizar a atividade e a Mecânica tornou-se a primeira padaria com máquinas na cidade. “Ele abandonou os fornos à lenha e comprou fornos a gás. Instalou máquinas para fazer a massa. Nesta época, acho que já havia outras quarto ou cinco padarias na cidade.” Com o comércio de pães, Eneás Guimarães criou os oito filhos. “Quando meu pai morreu, descobrimos que, todo dia, separava uma parte dos pães para doar para as famílias mais pobres”, relembra Isolina.
Desde
Moacyr Lopes de Carvalho (de óculos) com a esposa Julieta, Coronel Hipopota e o radialista J. Castro Sobrinho
Q
uem estudou em Uberlândia deve ter aprendido na escola que o hino da cidade foi escrito por Moacyr Lopes de Carvalho e Remi França, com música de Alírio França. As informações sobre o hino não passam muito disso. Escrita há 60 anos, a letra que exalta a cidade como “terra gentil que seduz” e que previa “tua marcha triunfal” foi oficializada como hino 16 anos depois de feita, exclusivamente, para a peça de teatro “Isto é Uberlândia”. Convidado pelo teatrólogo e maestro Alírio França e o sobrinho dele, Remi França, da Empresa Teatral França, Moacyr Lopes de Carvalho escreveu um musical que abordava os acontecimentos de Uberlândia na época, tendo como figura central um professor vindo da roça interpretado por Morais César. A letra do que hoje é o hino representava a apoteose da peça, com direção de Remi França. “Meu pai, Lindolfo França, em suas composições musicais, teve a
1953 UBERLÂNDIA COMO INSPIRAÇÃO
HINO NASCEU NO TEATRO
Letra e música eram da peça “Isto é Uberlândia” constante preocupação de escrever músicas sobre motivos uberlandenses e, herdando seu carinho e amor por Uberlândia, sempre acalentei o desejo de prestar também a minha modesta homenagem à minha terra”, disse o diretor Remi França em entrevista publicada no Correio de Uberlândia em 1953. Entre os cenários da peça, feitos pelo cenógrafo Pedro França, havia a praça da República, hoje Tubal Vilela, a avenida Afonso Pena com o famoso footing, o Praia Clube e o Clube Caba
Roupa. Os ensaios da orquestra aconteciam na sede da Câmara Municipal, onde hoje funciona o Museu Municipal, na praça Clarimundo Carneiro. A peça foi estreada às 20h, do dia 10 de outubro de 1953, no Cine Teatro Uberlândia, com 45 atores em cena, mais de 30 músicos e 2 horas e 40 de duração dividida em sete quadros. O Hino da Cidade foi oficializado pela Lei Municipal 1.672, de 21 de fevereiro de 1969. Sete meses depois, Moacyr Lopes de Carvalho morreu aos 55 anos.
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VERDÃO
CADEIA COMO CONCENTRAÇÃO
Raridade: programa da peça “Isto é Uberlândia”
AUTOR DO HINO
MOACYR LOPES DE CARVALHO O autor do hino de Uberlândia e também do hino do Uberlândia Esporte Clube (UEC), Moacyr Lopes de Carvalho, nasceu em Barbacena (MG) e se mudou para Uberlândia em 1936, com a mãe e os cinco irmãos, transferido do Banco Hipotecário. “Ele era um amante da cidade. Quando éramos pequemos, ele nos colocava no carro e nos levava para as partes altas, para mostrar como Uberlândia estava grande”, disse Julieta de Carvalho Santos, filha de Moacyr. Além de bancário, poeta e teatrólogo, Moacyr foi proprietário da Pensão Guanabara, do Hotel Rex, administrou a Rádio Educadora a partir de 1955 e foi eleito vereador de Uberlândia por dois mandatos. “Ele foi seminarista e conhecia a língua portuguesa e latina como ninguém. Sabia a ori-
gem das palavras. Uma época, a gíria dos jovens era bacana e eu falei isso em casa. Tomei uma bronca porque bacana vem de bacanal, derivada do deus Baco”, ressalta Julieta. Na Rádio Educadora, Moacyr foi responsável por trazer para cidade nomes como Dantas Ruas e Sérgio Martinelli, e tinha pela emissora dedicação exclusiva. “Lá em casa não se desligava o rádio. Se ele chegasse e estivemos ouvindo outra rádio, a casa caia. Ia dormir com rádio ligado e se a mamãe desligasse, ele brigava”, diz Julieta. Moacyr faleceu em setembro de 1969, um mês antes de fazer 56 anos. Em 20 de setembro de 1978, recebeu a Ordem do Mérito Jornalístico Moacyr Lopes de Carvalho da Associação de Imprensa do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba.
Na década de 70, o Uberlândia Esporte Clube tinha um time fantástico. Um dos maiores destaques era o ponta-esquerda Reis. O baiano veio do São Paulo, onde não ficou pelo comportamento fora de campo. Reis era o terror dos laterais adversários e a alegria da torcida do então Verdão. O problema é que ele fugia da concentração para curtir a zona boêmia e muitas vezes chegava no estádio Juca Ribeiro momentos antes do início do jogo. Isso criava um problemão para o técnico que tinha de puní-lo. Só que a torcida não queria saber o que o Reis fazia fora do campo e exigia sua presença no time. Certa vez, quando o técnico do Verdão era o famoso Evaristo de Macedo, Reis sumiu na véspera de um jogo importante. O time ficou concentrado a partir da quinta-feira e nada do Reis aparecer. Um membro da diretoria teve a ideia de procura-lo na zona boêmia da cidade. Lá ficou sabendo que Reis tinha bebido, aprontado e havia sido preso. Informado da ocorrência no sábado, Evaristo instruiu o dirigente de que ele combinasse com o delegado para que soltasse o Reis só as 2 da tarde do domingo. Reis então ficou “concentrado” na cadeia e foi liberado momentos antes do jogo. Para alívio do técnico e alegria da torcida que o viu dar mais uma de suas encantadoras apresentações. Reis fez história no futebol uberlandense e é lembrado com carinho por todos que o viram jogar. Encerrou a carreira em Goiás, jogando pelo time do mesmo nome, onde deu sequência á sua trajetória de bom jogador e péssimo atleta.
N
Primeira aula ministrada por uma professora norte-americana. A sister Marion Verhalen ficou na cidade por 20 dias em 1961
1957 CONSERVATÓRIO ESTADUAL
A ESCOLA DE MÚSICA E ARTES
A professora Cora Pavan Capparelli criou o primeiro curso superior de Uberlândia
o dia 13 de julho de 1957, em um apartamento de um prédio na avenida Afonso Pena, Cora Pavan Capparelli plantou a semente do que viria a ser o Conservatório Estadual de Música e a Faculdade de Artes, o primeiro curso de nível superior da cidade. A professora, que até então aplicava as aulas em casa, convidou outros professores e montou a escola. “Convidei um professor de música de Uberaba, o Alberto Frateschi, um de violão, que é o Remy Couto, o acordeonista Jean Carlo Bevilacqua, formado na Itália e o Michele Virno, que ainda não era formado e se formou pelo Conservatório”, diz Cora. Com o ministro da Educação Clóvis Salgado, Cora
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Almanaque UBERLÂNDIA DE ONTEM E SEMPRE
CRONOLOGIA
Angelino Pavan e o, então, governador de Minas Gerais, Rondon Pacheco conseguiu autorização para formar a primeira escola superior da cidade, chamada inicialmente de Conservatório Musical de Uberlândia, com curso superior, fundamental e médio. “Ficou assim uns sete anos, até que os cursos fundamental e médio se transformaram no Conservatório Estadual de Música, mantido pelo Governo do Estado, e o curso superior se transformou na Faculdade de Artes de Uberlândia, contando ainda com o curso de Artes Plásticas, que eu também fundei”, lembra Cora. Como eram poucos os alunos matriculados no curso superior e as mensalidades não cobriam as despesas para pagar e hospedar os professores que vinham de outras cidades, o que faltava era completado com o salário da fundadora, que também era professora de Geografia e História no Colégio Estadual e no Colégio Nossa Senhora. “Meu pai, Angelino Pavan, que também era secretário do Conservatório, me ajudou demais e me dava
1957 Conservatório Musical de Uberlândia é fundado em um apartamento na avenida Afonso Pena 1964 Cora Pavan Capparelli doa a escola ao governo do Estado de Minas Gerais 1969 O acervo dos cursos de nível superior foi doado para a Universidade de Uberlândia, federalizada anos mais tarde 1975 É feita a escolha do terreno para o atual prédio da escola 1976 Obra do prédio de 4.506 m2² de área construída é concluída 1980 É fundada a A Orquestra Sinfônica do Conservatório 1988 Cora Capparelli se aposenta
DIRETORAS
Padre Durval Gomes Garcia abençoa as instalações do Conservatório do 1º prédio
1957 a 1987 Cora Pavan Capparelli 1988 a 1991 Luíza Maria Fernandes 1992 a 1993 Gislaine Crosara Andraus 1994 a 1997 Luzélia Finotti Barreto 1998 a 2004 Mônica Debs Diniz 2004 aos dias atuais Mirtes Guimarães
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Primeiras alunas de Cora Pavan Capparelli
Sister Marion Verhalen, dos EUA, e as alunas do Conservatório de Música
O casal Adélia Oliveira e Agelino Pavan: pais de Cora Capparelli
uma quantia todo mês.” Depois do apartamento, o Conservatório Estadual Cora Capparelli teve outros endereços. Teve sede em um prédio na rua Tenente Virmondes, entre a Afonso Pena e Floriano Peixoto. Foi para a avenida João Pinheiro, mais tarde para Santos Dumont, 431, esquina com a Cipriano Del Fávero e com o desmembramento, em 1965, foi para a rua Santos Dumont, 357. Na década de 1970, como a escola já pertencia ao Estado, recebeu liberação de recursos para a construção do prédio atual, durante o mandato do governador Rondon Pacheco (1971-1975). O terreno foi uma doação, uma parte de Angelino Pavan e a outra da Prefeitura de Uberlândia, quando era prefeito Renato de Freitas. A obra foi concluída em 1976. “Quando terminou, vi que era pequeno para as necessidades que tínhamos, então fui até o governador pedir autorização para ampliar. Ele autorizou e passei mais três anos buscando recursos”, afirma Cora, que dirigiu o Conservatório até 1988, quando se aposentou. Hoje, a escola de música de quase 57 anos conta com mais de 4,5 mil m2 de área construída, 4.500 alunos, cerca de 180 professores, em torno de 40 funcionários na administração e mais de 92 salas de aula.
Conhecer o passado para entender o presente e planejar o futuro.
Assista "Uberlândia de Ontem e Sempre" aos sábados, às 14h30, com reprise as quartas-feiras, às 18h30 pela TV Universitária. E aos domingos, 20h, com reprise as terças-feiras, às 18h, quartas e sextas, às 23h pelo Canal da Gente. E a qualquer hora, inclusive os programas já exibidos, pelo site
www.uberlandiadeontemesmpre.com.br Patrocínio
Proponente Rosilei Ferreira Machado
Produção
Projeto
Incentivo
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Renato recebe de Paulo Henrique Petri e Carlos Magno a ilustração que o homenageou como o “goleiro das pontes inesquecíveis”.
EDIÇÃO 2 UM JOGO DE VIDA OU GOLE
VELHOS MALANDROS Homenagem ao goleiro das pontes inesquecíveis
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edição número 2 do racha dos velhos malandros, “um jogo de vida ou gole”, foi realizado dia 7 de novembro de 2013 no Cajubá Country Clube. Como sempre, contou com a presença e participação de figuras destacadas do futebol uberlandense e também de alguns que fizeram história no próprio esporte brasileiro. O homenageado de 2013 foi um desses atletas
que se destacaram em Uberlândia, mas que alcançaram também fama e prestígio junto as maiores torcidas brasileiras: Renato do Valle, o goleiro das pontes inesquecíveis. Renato veio jovem para o Uberlândia, trazido pela habilidade de um dos dirigentes do Verdão no fim dos anos 60, o Filhinho. Fez parte de uma equipe maravilhosa que era o terror dos times da capital que, para não terem que vir enfrentar o Verdão no Juca Ribeiro, criaram a famigerada tabela dirigida, aquela em que os times que es-
tavam em primeiro lugar jogavam todos os jogos no Mineirão. As atuações sempre seguras do jovem arqueiro o levaram para o Atlético Mineiro, onde jogou nos anos de 1970 e 71. Time pelo qual se sagrou, respectivamente, campeão mineiro e campeão brasileiro. Em 1972 foi para o Flamengo, onde sagrou-se campeão estadual duas vezes. Em 74 foi um dos goleiros da Seleção Brasileira que disputou a Copa do Mundo na Alemanha. Jogou pelo Fluminense de 1975 a 79, indo depois para o Bahia. Teve uma carreira internacional jogando no Al-Ahli. Tempos depois voltou para nossa cidade, que foi a escolhida para morar e viver. O encontro, que teve apoio do café Cajubá e da Cerveja Cerma, reuniu um grupo de amigos em momentos de descontração e recordações. Principalmente porque marcou singela mas autêntica homenagem, a uma das mais representativas personalidades de nossa vida futebolística.
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CASO DE POLÍCIA
PAGANDO A CARCERAGEM Dozinho contando suas histórias para Carlos Roberto Viola e Hamilton Bananeira
EM PÉ: Walter, Vilfredo, Paulo Henrique, Estrangão, Chicão Assis, Renato e Viola AGACHADOS: Fernandinho, Cuanga, Ramiro, Chicão Paraguaio e Edmundo
EM PÉ: Dante, Moacir, Celso, Banga, Renato, Celson e Marcelo Tannús AGACHADOS: Queiroz, Hugsmar, Gildo, Ivan Bites e Batista
Já houve um tempo em que a polícia de Uberlândia não tinha viaturas e para se deslocar rumo às raras ocorrências, era preciso tomar um táxi. Os custos da corrida ficavam por conta dos envolvidos nos crimes, assim como os outros gastos com a “hospedagem”. Era o que chamavam de pagar a carceragem. Certa vez, por causa de uma briga no bairro Patrimônio, a polícia se deslocou até o local de táxi, mas quando chegou, os brigões já tinha fugido do flagrante. Apenas uma testemunha muito falante quis colaborar com a polícia e disse tudo que tinha presenciado. Só que no fim do depoimento, o homem foi convidado a tomar o táxi de volta para a delegacia. Ao dizer que estava apenas próximo ao ocorrido e não tinha envolvimento nenhum com a briga, o policial retrucou: “Não podemos ficar no prejuízo. Alguém aqui vai ter que pagar a carceragem e vai ser você”.
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Avenida Afonso Pena e os famosos neons
1953 URBANISMO E MODERNIDADE
CIDADE NEON
A noite iluminada de cores de Uberlândia
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m 1952, quando o sonho de construir o Uberlândia Clube começou a dar os primeiros passos, o decorador Sérgio de Freitas queria para o clube uma iluminação jamais vista na cidade. Até hoje, as luzes de neon do Palácio Encantado, como era chamado, são as originais. Na época, não havia quem as fabricasse em Uberlândia. Para produzi-las Nicolau Sulzbeck associou-se a Morum Simão em 1953 e criou a loja Neon Sulsi, na avenida Afonso Pena, ao lado do Cine Avenida. Na loja funcionava a Elétrica Sulsi que também revendia material elétrico. No mezanino, montaram um laboratório para fabricar neon onde eram feitos os tubos e a serralheria. A matéria-prima, importada dos Estados Unidos, era comprada em São Paulo. Apesar de criada para atender o Uberlândia Clube, a Neon Sulsi prestava serviço para outras lojas, principalmente as vizinhas na avenida Afonso Pena. Foram tantos os luminosos, que Uberlândia acabou apelidada de Cidade Neon. “Naquela época
não existiam as placas de acrílico. Todo letreiro luminoso era feito de neon. Meu tio, Américo Sulzbeck, tinha uma fábrica de neon em São Paulo. Com a construção do Uberlândia Clube, eu também aprendi a fazer”, disse Nicolau. Em 1955, a sociedade foi desfeita e Sulzbeck montou a Neon Uberlândia na rua Bernardo Guimarães, depois transferida para a praça do Pioneiros, perto da ponte do Vau. A Neon Sulsi continuou em funcionamento. “Eu saía à noite contando os neons da cidade. Morava no Hotel Zardo, do pai de Nicolau, grande violinista. Era linda a cidade, muito tranquila e iluminada”, conta Mauro Nascimento, uberlandense residente em Brasília.
Igreja Espírito Santo do Cerrado está na rua dos Mognos, no bairro Jaraguá, na zona oeste de Uberlândia
ARQUITETURA CENTENÁRIO
ÚNICA OBRA MINEIRA DE LINA Famosa arquiteta ítalo-brasileira assina projeto da Igreja Espírito Santo do Cerrado
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esmo não sendo de amplo conhecimentao da população, Uberlândia é a única cidade mineira com uma obra assinada por uma das mais instigantes criadoras da arquitetura moderna, a italiana naturalizada brasileira, Lina Bo Bardi. O assunto já foi tratado na primeira edição do “Almanaque Uberlândia de Ontem e Sempre”, mas retorna em comemoração ao centenário da artista que deixou sua marca na cidade com o única igreja assinada por ela em todo o mundo: a igreja do Espírito Santo do Cerrado. O tempo projetado em 1976,
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surgiu quase por acaso, quando o desafio foi posto por um amigo de Lina, o artista plástico uberlandense Edmar de Almeida, do qual ela era hóspede. Edmar apresentou a arquiteta ao Frei Egydio Parisi e ao Frei Fúlvio, que mencionaram o desejo de construção de um templo dentro dos preceitos da ordem franciscana. Nasceu ali o envolvimento de Lina e a arquiteta passou a vir para a cidade com bastante frequência, entre os anos de 1975 e 1981, para acompanhar a obra. A igreja foi inaugurada em 6 de outubro de 1985, na rua dos Mognos 355, no bairro Jaraguá. Conjunto arquitetônico simples e de grande teor expressionista, essa é a única obra de Lina Bo Bardi em Minas Gerais, uma das principais justificativas para o tombamento. Pela importância arquitetônica, o local foi tombado como patrimônio pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico Artístico (Iepha-MG) em 1997, cinco anos depois da morte de Lina.
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Croqui desenhado por Lina Bo Bardi
PRINCIPAIS OBRAS Celebração na parte interna da igreja
1951 Instituto Pietro Maria Bardi, a “Casa de Vidro”, São Paulo 1958 Museu de Arte de São Paulo, São Paulo 1963 Casa da Cultura, Recife
Padre Márcio Antônio, pároco da igreja
Crianças brincam na obra do templo
ATIVISMO E BRASILIDADE
urante a 2ª Guerra Mundial, ainda vivendo na Itália, na década de 1930, em início de carreira, Lina Bo Bardi enfrentou um período de poucos serviços, chegando a ter o escritório bombardeado. Conheceu o escritor e arquiteto Bruno Zevi, com quem fundou a revista semanal “A cultura della vita”. Neste período, Lina ingressou no Partido Comunista
1976 Igreja do Espírito Santo do Cerrado, Uberlândia- Minas Gerais Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador 1990 Teatro Oficina, São Paulo
ITÁLIA
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Italiano e participou da resistência à ocupação alemã. Foi esse sentimento de vazio e a sensação de destruição uma das razões que fez com que ela, em 1946, já casada com o jornalista Pietro Maria Bardi, viesse para o Brasil, onde passou o resto da vida. Lina naturalizou-se brasileira em 1951 e faleceu em 20 de março de 1992, em São Paulo.
Sesc Pompéia - Fábrica , São Paulo 1992 Reforma do Palácio das Indústrias, São Paulo inconclusa 1996 Reforma do Teatro Polytheama, Jundiaí, 1986 concluído em 1996
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OS PRIMEIROS CDs “A Barata” e outros sucessos inspirados na velha feijoada de todos os domingos
VINTE E CINCO ANOS
O SPC ESTÁ DE VOLTA
Com Alexandre Pires, o Só Pra Contrariar retorna aos palcos
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Por ANAÍSA TOLEDO
ssim como semente que cai na terra, brotando linda flor, nascia no mundo do samba um grupo do interior.” A música “O samba não tem fronteiras”, que já virou tema de documentário sobre a história do Só Pra Contrariar, é considerada um dos primeiros sucessos do grupo. Em Uberlândia, no bairro Aparecida, foram jogadas as primeiras sementes inspiradas na saudosa banda Som 4 de Maria Aba dia e João Pires. Alexandre e Fernando já nasceram no palco e, entre um baile e outro, o amor pela música foi se tornando uma constante em suas vidas. De forma natural e sem grandes pretensões, os irmãos foram convidando um a um os integrantes do conjunto, que teve o nome inspirado no grande sucesso “Só pra contrariar” do grupo Fundo de Quintal. “Para nós foi uma grande honra eles terem colocado o nome de uma música nossa, a gente percebeu rápido que eles eram bons e que iriam longe”, diz Ronaldinho, do Fundo de Quintal.
Hamilton, Luisinho e Serginho
A primeira apresentação do grupo foi no Black Chic. A primeira temporada, no Coliseu em 1989
A primeira apresentação remunerada do grupo foi em Uberlândia, no Black Chic (que era de João Pires de sociedade com o Pai Nêgo) e em seguida no Tribuna . Aos poucos, os meninos foram conquistando fãs de carteirinha na cidade.“Quando o Joca me apresentou o grupo para tocar no Coliseu, eu não confiei muito, achava que teríamos prejuízo. A primeira apresentação foi um sucesso, assim como as outras que viriam. Naquela época, o que deu lucro para o Coliseu foi o Só Pra Contrariar. Tribuna, Praia, Coliseu, onde eles estavam, o público ia atrás,” lembra Peninha, antigo empresário do grupo. “A Barata”, inspirada nos velhos sambas de roda das feijoadas de domingo, apresentou o grupo ao país e quebrou
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ALEXANDRE E FERNANDO, em dose dupla desde o tempo das chupetas
as barreiras do eixo do samba, na época concentrado em Rio e São Paulo. “Grupo de samba do interior de Minas tocando a música da barata? Será que vocês contrariam mesmo?”, revela Fernando Pires, que afirma ter ouvido o trocadilho inúmeras vezes. Não demorou muito para o sucesso ir além das fronteiras do Triângulo Mineiro. Logo vieram as primeiras apresentações em TV aberta, os primeiros shows fora de casa e a gravação do primeiro disco. “Quando
Fernando e Alexandre Pires
eu vi os meninos pela primeira vez todos tinham o cabelo encaracolado e um bigodinho fininho, eu perguntei para o Alexandre a idade dele e quase não acreditei, ele tinha 16 anos”, diz a apresentadora Xuxa ao lembrar da primeira apresentação do grupo no programa dela. O grupo de amigos do interior de Minas Gerais, que brincava de samba no fundo do quintal do Pai Nego, conquistou os quatro cantos do Brasil. Ao todo foram 13 CDs gravados e inúmeras premiações nacionais e internacionais. Uma delas inesquecí-vel, o Grammy Latino recebido ao lado de grandes nomes da música internacional. Depois de 11 anos de
Juliano, Alexandre Popó e Luiz Fernando
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muito sucesso, uma proposta de carreira solo para Alexandre mudou o rumo da história e, aos poucos, fez com que alguns integrantes deixassem o Só Pra Contrariar. “Alguns fãs entenderam, outros não, foi um dos momentos mais difíceis da minha carreira, eu nunca consegui me desligar totalmente do grupo”, afirma Alexandre Pires. Muitos anos se passaram e em 2013, o reencontro tão esperado pelos fãs aconteceu: os meninos voltaram. Em uma turnê que comemora os 25 anos de fundação do grupo, o Só Pra Contrariar voltou aos palcos. “Na verdade, o Alexandre nunca saiu do Só Pra Contrariar e o Só Pra Contrariar nunca saiu do Alexandre, eles foram feitos um para o outro e tudo o que tocam é sucesso”, diz a cantora Alcione.
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Vista aérea da avenida Monsenhor Eduardo. Ao lado: projeto urbanístico feito pelo próprios moradores
DÉCADA DE 1980
MONSENHOR EDUARDO
Uma avenida sobre os trilhos da Mogiana
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Por RENATO JALES
uem passa pelo centro de Uberlândia com destino ao Distrito Industrial percorre mais de 2 km na avenida Monsenhor Eduardo, uma via de acesso rápido para circulação preferencial de automóveis. A construção da avenida, entretanto, foi motivo de uma intensa batalha entre os moradores do bairro Bom Jesus e a prefeitura da cidade em meados da década de 1980. Onde passa hoje a avenida Monsenhor Eduardo estava a estrada de ferro da Companhia Mogiana. Os trilhos da ferrovia conviveram pacificamente com os moradores durante décadas, em função do povoamento incipiente. Porém, depois do surto de industrialização e do crescimento demográfico vertigino-
so na década de 1970, a região foi densamente ocupada e o convívio com a Mogiana passou a ser sinônimo de mortes e prejuízos financeiros. “O trem pegou e cortou o pé do marido de uma amiga minha. Ele ficou aleijado até falecer. As casas trincavam”, afirma Maria Aparecida Rosa, moradora do bairro desde a década de 1960. Contra a ferrovia, os moradores decidiram partir para a ação direta. Passeatas, reuniões com a prefeitura e a ocupação da ferrovia pressionaram o poder público a construir um espaço para os moradores. As forças contrárias à mudança eram grandes. Muitas empresas usavam a ferrovia para o transporte de mercadorias e chegaram a ameaçar a sair da cidade e demitir centenas de
funcionários. Mas os moradores permaneceram na luta. Com o apoio da igreja católica, de outras associações de moradores e de sindicatos, os trilhos foram retirados em 1987. Wilma Ferreira de Jesus, também moradora, relembra que “os moradores queriam ali uma avenida arborizada com pistas estreitas porque há três escolas que praticamente margeiam a Monsenhor Eduardo”. Os moradores chegaram a produzir projetos urbanísticos (veja desenho). A apresentação de ideias foi organizada pela Associação de Moradores. Porém, nada foi implantado. A prefeitura no mandato de Paulo Ferola (1993-1996) decidiu reurbanizar para integrar o centro ao Distrito Industrial, privilegiando veículos particulares e ônibus, facilitando o transporte de mercadorias, ou seja, beneficiando os setores industriais e comerciais. “Disseram que o que estavam construindo ia ficar bom, era uma pista só para ônibus, para evitar acidentes. Eu tinha pernas antes da pista ali. Cadê minha perna?”, diz Maria de Lourdes batendo na perna amputada. Nova avenida, antigos traumas. A segurança e a sociabilidade sonhada ainda não vieram para os moradores do bairro Bom Jesus.
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Cartas dos Leitores
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uito bacana a iniciativa de homenagear jogadores que fizeram história no futebol uberlandense. E homenageá-los em vida. É sempre bom relembrar bons momentos e reverenciar aqueles que nos proporcionaram tantos momentos mágicos e nos encantaram com suas habilidades. O “racha dos velhos malandros” precisa acompanhar a periodicidade do “Almanaque” e também tornar-se semestral porque a lista de atletas que merecem ser homenageados, por tudo que representam na história futebolística da cidade é imensa.Aproveito para mandar o registro de um “cracaço”, que tinha uma habilidade excepcional e dribles desconcertantes tanto no futebol de grama quanto no de salão. Quem viu o Djalma (foto), carinhosamente apelidado de Arara, jogar não vai esquecer nunca da sua irreverência e maestria no trato com a bola. RAMIRO PEDRO
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omo é bom ter pessoas como vocês da Close, que fazem, através da Revista Almanaque, oportunidades de conhecer-mos e dar valor em que fez nossa história. Parabéns a vocês, Celso e Rosilei e equipe de colaboradores, pelo exemplo de cidadania e por resgatarem nossas origens. VILMAR MARTINS E TATIANA
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ostei muito do “Almanaque Uberlândia de Ontem e Sempre”, especialmente do “Senhor Uberlândia”... Virgílio Galassi é mais do que um personagem: é uma escola. Eu tive a alegria de assessorá-lo e o aprendizado para mim acabou por ser determinante para nortear meus passos na política. Ele sempre foi uma grande inspiração. Achei muito bacana também a homenagem a Rondon Pacheco (documentário produzido pela Nós Projetos) com um título raríssimo, que fala da delicadeza de sua presença na cena política naquele momento de ditadura, em
que ele pode superar-se a si mesmo e impor seu talento para construir uma das melhores gestões da história de Minas Gerais. Pela passagem de Rondon no governo, e pela ausência do Triângulo nas gestões futuras, a gente fica convencido (e até com pretensão de dizer) que, se Minas faz falta ao Brasil (e, por isso, queremos Aécio na presidência), o Triângulo faz muita falta a Minas Gerais porque é pouco aproveitado, para não dizer pouco reconhecido. NÁRCIO RODRIGUES
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qui em Brasília, descobri o canal de TV que passa os programas da Close. Aqui, na Sky, é o 183. Uma pessoa da nossa família, zapeando por acaso, me ligou no momento em que viu uma entrevista na qual uma pessoa contava sobre os primórdios do rádio e citou o meu pai Moacyr Lopes de Carvalho. Nossa ! Devo dizer-lhe que, desde que travamos conhecimento e soube do trabalho de vocês, gravo
pela Sky os programas produzidos por vocês, também da série “Triângulo das Geraes” e os assisto com muito prazer e alegria nos meus momentos de lazer. Mais uma vez, meus cumprimentos pela qualidade e sensibilidade também dessa produção. Transmito a minha alegria e emoção pela iniciativa, ao tempo em que envio os meus mais sinceros cumprimentos à equipe responsável pela publicação “Almanaque Uberlândia de Ontem e Sempre - Edição 6”, importante veículo para transmitir o legado de pessoas que contribuíram para o enriquecimento da história da nossa terra. Não tenho dúvidas de que publicações dessa natureza só podem partir de corações e mentes sensíveis - como os desse time de repórteres e jornalistas do qual você, Núbia e Celso Machado, fazem parte - profissionais da imprensa tão incomuns nos dias atuais. MARIA ESTER CARVALHO (filha de Moacyr Lopes de Carvalho)
de um jeito próximo e transparente.
Na Algar, o nós é sempre mais importante do que o eu. Nossos 21 mil talentos servem cerca de 2 milhões de clientes em todo o país. Algar. Um Grupo que fala no plural.
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