Metodologias do Design

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Metodologias

do Design



Proposta de orcamento

O presente trabalho foi elaborado no âmbito da disciplina de metodologias do design, na qual foi solicitada a realização de um contacto com um designer e a elaboração de uma análise descritiva e crítica da metodologia utilizada pelo mesmo no concretização dos respetivos projetos profissionais. Seguindo a premissa proposta para o presente trabalho, decidimos alargar o escopo do mesmo. Assim, incluímos a análise da metodologia prosseguida por dois designers, com áreas de atuação distintas, conforme resulta da informação infra. Com isso pretendemos constatar de que forma a metodologia de um designer pode ser distinta, de forma a atender às especificidades do designer em si e/ou à área de atuação no ramo do design. Assim, ao longo do presente propomo-nos a analisar o percurso profissional de dois designers e a expor, de forma crítica e comparativa, a respetiva metodologia inerente ao processo criativo.

Projecto realizado por:

Cátia Ferreira 20150408

Adriano Coelho 20150166

Design E1 2015-2016


UPSTAIRS

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Manuel Vital é um designer português de 37 anos, que divide a sua atividade profissional entre as suas duas paixões: o design de produto e o design gráfico. A sua formação académica na área resume-se na frequência e conclusão de uma licenciatura em Design Industrial, no período compreendido entre 1996 e 2000, no IADE. Após a conclusão da licenciatura, Manuel Vital iniciou o seu percurso profissional na Protodesign, onde teve oportunidade de colaborar durante um ano com Marco Sousa Santos e José Viana. Seguidamente a esta experiência profissional em Portugal, Manuel Vital aventurou-se pelo estrangeiro, tendo trabalhado cerca

de dois anos na Alemanha. Assim, entre março e junho de 2002, esteve em Munique, onde colaborou com Benjamin Hopf e Constatin Wortmann, no atelier Buero Fuer Form. Avançando para Berlim, esteve cerca de quatro meses a trabalhar no atelier Vogt+Weizenegger, com Oliver Vogt e Herman Weizenegger. Posteriormente, embarcou numa longa colaboração com Werner Aisslinger, tendo desenvolvido projectos para a Vitra, Zanotta, Moroso, entre outras marcas de renome. De regresso a Portugal em 2005 estabelece-se por conta própria e em 2007 cria, em conjunto com Sara Gonçalves, o atelier Upstairs Design Studio, vocacionado para o Design Gráfico, Design de Produto

e Design de Ambientes, trabalhando para marcas de renome como a Lipton, Olá, Ben&Jerry’s, Nivea, Ana Aeroportos, Iglo, Leya e Galp, entre outras. Uma última nota ap-

IADE

A Upstairs venceu as três campanhas desenvolvidas pelo grupo Laureate Internacional, tendo desenvolvido toda a campanha para os suportes digitais. Esta campanha partiu da premissa da ligação emocional de uma tatuagem, tendo como slogan o seguinte: “deixa a tua marca”.

enas para referir que este designer foi premiado em 1.º lugar nas categorias de prémios revelação e blackcork, no Concurso Home Sweet Home, em 2014.

- Creative univercity


ANA – Aeroportos de Portugal

Azeite Galo embalagem

No âmbito da remodelação do Parque Infantil no Aeroporto de Lisboa, a proposta apresentada pela Upstairs foi a seleccionada. Esta proposta incluiu a remodelação de um playground para crianças, com design exclusivo, concebido integralmente pela Upstairs e incorporando uma área de preparação de comida.

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Manuel Vital

“Conhecer o cliente e fazer diferente...”

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Para Manuel Vital, a metodologia adotada num determinado projecto pode variar substancialmente dependendo da natureza do projeto em si e do conhecimento prévio que o designer e a sua equipa tenha do cliente. Concretamente quanto a este projeto específico, o primeiro passo consistiu numa reunião com o cliente, com o intuito de se compreender o briefing bem como de conhecer o cliente, a sua cultura e estratégia. Nesta fase, são esclarecidas as questões que possam surgir, bem como definidos prazos de entrega. De seguida, iniciou a fase de pesquisa, em sentido abrangente. Assim, foi analisado o histórico de design do cliente, pela sua imagem e cultura. Para além disso, o designer procurou ainda conhecer as estratégicas de design da concorrência direta. Com estas duas vertentes, o objectivo último consistiu na criação de um projeto que correspondesse à imagem e expectativa do cliente e que fosse, simultaneamente, diferenciador e criativo. Com a finalização da pesquisa necessária, inicia-se o processo criativo, com desenho e criação de várias maquetes e propostas rápidas. Estas maquetes e soluções são analisadas entre a equipa, para a discussão de alterações aos elementos constantes nessas propostas. As soluções escolhidas pela equipa foram apresentadas ao cliente em reunião presencial. Após o feedback do cliente relativo a essas propostas, foi decidida a solução que deveria ser finalizada. Para além disso, foram realizadas todas as alterações que entenderam necessárias, sempre tendo em conta os comentários do cliente a esse respeito. Essa proposta final foi remetida ao cliente para aprovação final. Com esta, segue-se a fase de artes finais, com a preparação dos ficheiros para impressão, incluindo uma última revisão para detecção de eventuais erros.


Pesquisa

Brainstorming

Criatividade

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Exigência

A Upstairs desenvolveu material de comunicação desta marca, nomeadamente, o seu icónico preçário.

Detalhe


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Filipa Serrão é uma designer portuguesa de 33 anos que se dedica, exclusivamente, ao design de interiores. O seu percurso académico iniciou com a frequência da licenciatura de arquitectura, na faculdade de arquitectura de Lisboa, tendo desistido no primeiro ano. Esta desistência deveu-se ao facto de a Filipa Serrão preferir trabalhar em pequena escala – algo que, como referiu, o curso de arquitectura, por respeitar à grande escala, não lhe permitia explorar. Na sequência dessa desistência, concluiu a licenciatura de design de interiores no IADE. Prosseguindo a sua paixão por design de interiores e reabilitação urbana, frequentou, entre setembro de 2005 a maio de 2008, o mestrado pré-bolonha de Recuperação e Conservação do Património Construído, leccionado no Instituto Superior Técnico. O seu percurso académico inclui ainda a conclusão do primeiro ano de Doutoramento em Estudos Avançados em Design, na faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa. Por sua vez, o seu percurso profissional iniciou após a conclusão do mestrado, tendo trabalhado em vários ateliers. No período compreendido entre fevereiro e abril de 2006, realizou um estágio curricular na empresa JWT – Departamento de Eventos, onde exerceu funções de designer, elaborando propostas de acções de eventos. Seguidamente, exerceu, desde junho de 2006 a junho de 2007, as funções de designer de interiores na filial portuguesa da empresa norueguesa Harold Tellez Arkitektkontor, elaborando projectos de arquitectura e de reabilitação de interiores. A partir dessa data, a Filipa Serrão constitui com o seu marido, Telmo Oliveira, constituíram a sociedade Neurónios com Imaginação, Lda., cuja marca é Upflat (doravante, abreviadamente designada por “Upflat”). O objecto social desta empresa prende-se, essencialmente, com a elaboração de projectos de design e de arquitectura de interiores. Atualmente, a designer trabalha exclusivamente nesta empresa. A par do funcionamento da Upflat, a designer trabalhou ainda em regime de freelance nas empresas My Souk – durante o período compreendido entre Janeiro de 2008 e abril de 2009 – e Mesaboardgames – desde abril de 2009 a Junho de 2010 – exercendo, em ambas as situações, funções de copywriter.

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Metodologia do trabalho Previamente à exposição da metodologia de cada um dos designers, queremos apresentar uma breve nota prévia que se prende com uma ideia base partilhada por ambos os designers. Com efeito, no decurso das entrevistas, ambos realçaram que existem projetos que permitem uma abordagem mais sistemática, baseada no conhecimento adquirido pela experiência prévia e, quando aplicável, no conhecimento do cliente em causa. Por outro lado, outros projectos requerem uma abordagem própria, taylor-made. Esta consideração pode ser considerada como sendo de senso comum, não obstante, estando a mesma relacionada com o tema do presente trabalho, não poderíamos de fazer uma referência à mesma. Posto isto, passaremos a apresentar uma sucinta descrição da metodologia prosseguida por cada um dos designers, tendo em conta os respectivos projectos específicos.

Filipa Serrão “Do geral para o concreto...”

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A metodologia utilizada pela Filipa Serrão e demais equipa na preparação, elaboração e concretização do projeto específico não difere da metodologia seguida no âmbito de outros projectos. Sucintamente, foram-nos indicadas as seguintes etapas do processo seguido pela Filipa:

Imagem do site www.upflat.pt Assim, após o contacto prévio realizado pelo cliente, a primeira fase consiste numa reunião presencial no local. Neste momento, é feito um levantamento das características do espaço, para elaboração da respetiva proposta. Para além disso, é ainda atendido pela designer as informações prestadas pelo cliente quanto às expectativas que tenha em relação ao espaço e quanto ao respectivo sentido estético. Essencialmente, procura-se conhecer o cliente e as ne-

cessidades deste. Seguidamente, é elaborado o que a designer apelida de “ante-projeto”, que consiste numa planta do imóvel, em formato digital, com uma proposta não exaustiva da renovação do espaço, bem como o orçamento. Este ante-projeto foi apresentado ao cliente, nas instalações da Upflat, tendo este aceitado as linhas gerais da renovação aí constantes e adjudicada à designer e respectiva equipa a realização da obra. Com a adjudicação, segue-se a

fase de elaboração do projecto propriamente dito. Com efeito, enquanto no ante-projeto é definido apenas a disposição dos vários elementos no espaço – disposição essa que pode sofrer alterações ao longo da elaboração do projecto – nesta fase parte-se do geral para o concreto. Tal implica a realização de um levantamento exaustivo do espaço, elaboração de todos os documentos associados à realização da obra (como sejam os mapas de quantidades, o mapa de

trabalhos, o caderno de encargos, entre outros), a definição de todos os pormenores do espaço, desde a escolha das cores ao tipo de materiais a utilizar. Foram apresentadas, em reunião, algumas soluções ao cliente em formato 3D, tendo sido por este seleccionado o conceito que foi implementado no projecto final. Após essa definição, a designer acompanhou todo o processo de execução da obra no local.


Levantamento

Planificação

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Pormenorização

Pragmatismo

Acompanhamento


Análise crítica

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No ponto anterior consta a súmula da metodologia prosseguida pelos designers – Filipa Serrão e Manuel Vital – aquando da preparação e concretização dos projetos específicos. De um modo geral, podemos considerar que as informações que nos foram prestadas por ambos não diferem das linhas essenciais da matéria leccionada a este respeito. Passaremos a expor cada uma das etapas da metodologia, fazendo referência às semelhanças e diferenças que entendemos existir na metodologia dos diferentes designers. Assim, poderá referir-se que o processo dos designers aqui em análise se inicia com um primeiro contacto com o cliente para uma correta compreensão do pretendido por este quanto ao projecto em causa. Essa compreensão, como referimos, deverá incluir não apenas as expectativas do cliente relativamente a esse projecto em causa, mas também deve passar pelo conhecimento do cliente, da área de negócio deste, da sua cultura e posicionamento do mercado. Dependendo da natureza desse projecto, poderão ser necessárias informações adicionais. Pense-se no caso do design de interiores (área de actuação da designer Filipa Serrão): neste caso, é absolutamente necessário que o primeiro contacto inclua o conhecimento do espaço em si. Não obstante o processo prosseguido pela Filipa Serrão incluir, impreterivelmente, o conhecimento e levantamento do espaço em causa, não podemos considerar que este aspecto constitui um elemento completamente diferenciador da metodologia prosseguida por Manuel Vital. Com efeito, ainda que o conhecimen-

to de um espaço físico não seja necessário para uma grande parte do trabalho desenvolvido por este designer, já foram por este realizados demais projetos que implicaram a renovação de um espaço e, consequentemente, o conhecimento e levantamento prévio desse espaço físico (nomeadamente, o projeto desenvolvido no Aeroporto Internacional de Lisboa). A segunda etapa da metodologia prosseguida pelos designers inclui a fase de

nos que a fase de pesquisa e de análise realizada pelo designer Manuel Vital é substancialmente superior à pesquisa conduzida por Filipa Serrão. Por outro lado, pelo que conseguimos apurar através dos vários projetos realizados por estes designers, Manuel Vital terá uma maior abrangência em termos de criatividade. Todavia, estas duas diferenças podem explicar-se pelo tipo de trabalho desenvolvido por cada um. Com efeito, a atividade

Por outro lado, ainda que a atividade desta profissional inclua a componente de criatividade, esta cinge-se ao universo do design de interiores. Manuel Vital, por outro lado, acaba por ter uma atividade profissional extremamente abrangente. Esse facto implica que este designer tenha de realizar pesquisas abrangentes de forma frequente, atendendo ao tipo de projecto que esteja a desenvolver. Como o próprio nos referiu, quando teve de

“One could sum up the whole business of designing at the systems level by the analogy with an explorer looking for hidden treasure. A new problem is like an unknown land, of unknown extent, in which the explorer searches by making a network of journeys. This network is not something that exists before he begins, he has to invent it, either before he starts or as he proceeds. Design methods are like the navigational tools and charts that he uses to plot the course of his journey so as to maintain some control over where he goes” Cf. JOHN CHRIS JONES, “design methods”, second edition with new prefaces and additional texts, 1992, p. 62

pesquisa e de elaboração de propostas iniciais, que serão apresentadas ao cliente e sujeitas a disc ussão. Na sequência do feedback prestado pelo cliente, poderão ser realizadas alterações à proposta inicialmente apresentada ou eliminadas algumas das propostas iniciais – no caso de terem sido apresentadas múltiplas propostas iniciais. Neste ponto, conseguimos identificar algumas diferenças entre os métodos dos dois designers em análise. Em primeiro lugar, parece-

profissional de Filipa Serrão cinge-se ao design de interiores. Consequentemente, esta profissional tem um vasto conhecimento dessa área de negócio, incluindo os materiais desenvolvidos pelos vários operadores relevantes no mercado da renovação de interiores. Essa considerável experiência especializada potencia uma diminuição da pesquisa que pudesse ser necessária caso o projecto fosse desenvolvido por um designer sem esse percurso profissional.

desenvolver uma garrafa, pesquisou o design de garrafas não só do mesmo mercado, mas também o design de garrafas de mercados distintos que tinham o mesmo target. Para além disso, o facto de este designer não ter o nível de especialização de Filipa Serrão, na medida em que concretiza projectos variados (mormente design gráfico e design de produto), denotamos uma grande potencialidade de exercício de criatividade. Por seu turno, as últimas


etapas da metodologia dos designers aqui em análise são similares. Neste ponto, ambos fizeram referência à discussão com o cliente das versões finais das propostas em causa, realização de últimas correcções e alterações de pormenor. Após a finalização da proposta, segue-se a fase da concretização/ implementação da mesma, que poderá passar pela im-

pressão de um determinado projecto ou mesmo no acompanhamento da obra até ao término da mesma. Face a todo o exposto supra, parece-nos que a metodologia seguida pelos designers em análise, sem prejuízo das diferenças assinaladas entre cada um desses métodos, compreende essencialmente as etapas do processo de design que foram referencia-

das no âmbito da disciplina “metodologias do design”. Da nossa parte, concordamos com o método prosseguido por cada um dos designers. Com efeito, parece-nos que ambos apresentam uma linha de actuação coerente com a actuação necessária para um bom design, sem ignorar as exigências atuais do mercado profissional, que exige a apresentação de um

resultado num curto espaço de tempo e, algumas vezes, a um preço que não comporta a exploração de vias que poderiam ser mais criativas e/ou inovadoras. Ambos expressaram a necessidade e a preocupação de atender aos interesses do cliente, sem olvidar a linha de estética e de rigor que pretendem assegurar.

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Conclusão

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Ao longo do presente trabalho procurámos expor e analisar criticamente a metodologia utilizada por dois designers com áreas de atuação distintas: Manuel Vital, designer com uma maior abrangência profissional, desde design gráfico ao design de produto, e Filipa Serrão, designer de interiores. Surpreendentemente, apurámos que, não obstante as diferentes áreas de atuação, não existem diferenças assinaláveis quanto à metodologia prosseguida por ambos. Com efeito, as etapas matriz do processo são respeitadas por ambos, ainda que no momento inicial da entrevista tenham refutado a ideia de que respeitavam um método no exercício da sua atividade profissional. As parcas diferenças que denotámos respeitam à natureza dos projetos que os designers executam, bem como à (in)existência de especialização numa determinada vertente do design. Em jeito de conclusão, podemos referir que os designers, independentemente da área de atuação, respeitam de um modo geral as etapas essenciais da metodologia do design.



www.upflat.pt www.upstairs.pt Cf. JOHN CHRIS JONES, “design methods”, second edition with new prefaces and additional texts, 1992


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