Uma publicação do Pueri Domus Escolas Associadas • Ano 4 • nº 14 • Novembro / Dezembro / Janeiro
Lévi-Strauss
As contribuições de um dos principais pensadores do século 20
Estereótipos
O retrato do jovem dentro da escola nas telinhas de TV
Inadimplência
Soluções eficientes para não fechar as contas no vermelho
ÁGEIS E CONECTADOS, ELES dedicaM sua atenção a vários temas AO MESMO TEMPO. Como RETER A ATENÇÃO E educar esse novo exército de nativos digitais?
Geração 1
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Entrevista: James R. Flynn, Os testes de Q.I. e a evolução do nosso cérebro
editorial
sumário CAPA
Como reter a atenção do aluno
Resgate por méritos Nos últimos anos, temos visto uma verdadeira avalanche de conceitos, há tempo difundidos pelas organizações privadas, deslizar em ritmo um tanto acelerado sobre a esfera pública no que tange à parametrização de resultados e à construção de modelos de gestão eficientes. A última movimentação nesse sentido ocorreu recentemente em São Paulo na adoção da meritocracia para a construção de um plano de carreira dos docentes do sistema público de ensino. Trocando em miúdos, o professor que desejar ascender profissionalmente deverá agora passar pelo crivo de seus superiores, que terão em mãos indicativos sobre assiduidade, pontualidade e aproveitamento. Por trás da empreitada, o intuito de melhorar a qualidade e, sobretudo, tornar atraente aos olhos de milhares de jovens recém-formados nas universidades uma profissão que é tida como a base de muita coisa, mas que desde o século passado carece de maior reconhecimento, inclusive em termos financeiros. A meritocracia consta de qualquer cartilha de gestão moderna, porém é algo novo nas escolas brasileiras e difícil ainda de ser assimilado. No entanto, torna-se fundamental à medida que discutimos os ajustes constantes e necessários nos mais variados sistemas de avaliação, os quais fornecem boa base de dados que, se bem traduzidos, podem colaborar para o aprimoramento das próprias instituições. Afinal, quando falamos em Enem, por exemplo, que instituição conseguiria bom resultado no exame com o índice de absenteísmo de um único docente chegando à casa das 30 faltas por ano, segundo números de 2008 da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo? Certamente, o caminho a percorrer será longo, envolve o processo de formação dos docentes e está recheado de discussões. Mas uma coisa é certa: as metodologias oriundas da área administrativa vieram para ficar. Aliadas a outros fatores, promoverão o resgate do papel histórico do educador diante das novas gerações e do emaranhado de recursos tecnológicos de que dispomos, o que deve ser a bandeira de todo e qualquer grupo preocupado com os rumos deste país. Boa leitura! Guilhermino Figueira Neto Diretor-Geral do Pueri Domus Escolas Associadas
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INADIMPLÊNCIA
Dicas eficazes para contornar o problema
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Radar
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estudo de caso Colégio Maria, Jaboticabal (SP)
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história do mantenedor Terezinha Leardini Branco
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comportamento Como a mídia retrata o jovem na escola
entrevista James R. Flynn
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gestão/marketing A sustentabilidade nos modelos de gestão
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indicação de leitura
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Sala de aula Claude Lévi-Strauss
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Opinião João Luís de Almeida Machado
EXPEDIENTE A Super Escola é uma publicação do Pueri Domus Escolas Associadas.
Conselho Editorial Altamar Roberto de Carvalho (Diretor Pedagógico) Carlos Eduardo Ferrari (Gerente de Marketing) Guilhermino Figueira Neto (Diretor-Geral) Maísa Dóris (Gerente Nacional de Comunicação Corporativa - Grupo SEB)
Coordenador-Geral: Carlos Eduardo Ferrari Projeto Editorial: Trama Comunicação Diretora de Redação: Leila Gasparindo MTb: 23.449 Editora: Helen Garcia MTb: 28.969 Editor Assistente: Adriano Zanni MTb: 34.799 Reportagens: Adriano Zanni, Juliana Lanzuolo, Larissa Leiros Baroni, Paulo Camargo e Simone Bernardes
Revisão: Márcia Menin Projeto Gráfico: Arthur Siqueira Designer: Arthur Siqueira e Rodnei Medeiros Produção Gráfica: André Vieira Fotolito e Impressão: EGM Gráfica e Editora LTDA. Tiragem: 20.000 Contatos: Publicidade: carlos.ferrari@pdea.com.br Redação: superescola@tramaweb.com.br
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Entrevista
JAMES R. FLYNN
Nosso cérebro também evoluiu? Um dos mais renomados filósofos contemporâneos discute a formulação dos testes de Q.I. e até que ponto eles são suficientes para mensurar a inteligência humana
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ma década ou, até mesmo, um ano é o bastante para que novas tecnologias substituam aparelhos ou recursos que não chegam sequer a “envelhecer” nas prateleiras. Sem falar na informação, que, a cada minuto, torna-se um tanto desatualizada, e no volume de conhecimentos que o mercado exige de nós. As crianças estão mais atentas e a mente humana parece ter se desenvolvido substancialmente, a uma velocidade espantosa. Em uma era em que a reciclagem e o conhecimento são essenciais para o sucesso, será que ainda é possível mensurar o nível de inteligência?
A Super Escola conversou com James R. Flynn, um dos mais renomados filósofos da atualidade, professor e autor do livro O que é inteligência? Além do efeito Flynn, para saber sobre a eficácia dos
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testes de quociente de inteligência (Q.I.) e outros fatores que devem ser levados em conta quando o assunto é lógica e capacidade de raciocínio. Logo no início da entrevista, o estudioso ressaltou que o “efeito Flynn”, contido na nomenclatura da obra, é apenas um termo que foi associado a um acontecimento animador: o século XX assistiu a ganhos enormes em Q.I. de uma geração para outra. “Para garantir que eu não receba um diagnóstico de megalomania, esclareço que o rótulo foi cunhado por Herrnstein e Murray, autores de The bell curve, e não por mim. Nunca fiz estudos sobre as tendências do Q.I. ao longo do tempo baseados em testes. Entre aqueles que aferiram os ganhos de Q.I., Reed Tuddenham foi o primeiro a apresentar evidências convincentes usando amostras de âmbito nacional: comparou os escores de testes mentais de soldados
norte-americanos da Primeira e Segunda Guerras Mundiais e encontrou ganhos enormes. Se eu tivesse pensado em conectar um nome ao fenômeno, teria sugerido o dele”, disparou o autor. A melhora significativa nos resultados dos testes de Q.I. aplicados hoje tem deixado os psicólogos bastante inquietos. Em seu livro, o senhor defende que eles sejam reformulados. Por quê? Os testes de Q.I. não são inúteis. Eles comparam indivíduos da mesma faixa etária, que compartilham uma cultura, em seus desempenhos acadêmicos. Mas apenas isso não é suficiente para traçar parâmetros evolutivos.
PERFIL:
Professor emérito na Universidade de Otago, na Nova Zelândia e ganhador da medalha de ouro da instituição por sua diferenciada carreira em pesquisa. Em 2007, a International Society for Intelligence Research o nomeou distinguished contributor of the year.
o fato de nossa pontuação nos testes de q.i. superar a de nossos antepassados não significa que eles eram deficientes mentais
Podemos dizer que a cada geração o ser humano vem utilizando sua inteligência de forma diferente ou o cérebro adquiriu novos mecanismos de raciocínio? O potencial cerebral, em sua concepção, é o mesmo. Isso não muda ao longo dos anos. Nossos
antepassados eram tão capazes de lidar com os problemas do dia a dia como nós. No entanto, o que nos distingue são os recursos que temos para exercitar melhor a memória e as faculdades mentais. Provavelmente, a forma como desenvolvemos me-
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Os testes têm sido incapazes de mensurar a sintetização de ideias? A pontuação não pode ser tomada por seu valor nominal ao longo do tempo. O fato de nossa pontuação superar a de nossos antepassados não significa que eles eram deficientes mentais. Até porque nós vivemos em uma época em que as pessoas se beneficiam de espetáculos científicos que liberam nossa mente para atacar os problemas hipotéticos e abstratos.
lhor nossas habilidades reflete o novo tipo de exercício mental que fazemos. O cérebro é como um músculo que enrijece ao pegarmos peso. As crianças também estão mais espertas. Parece que elas absorvem com mais facilidade o conhecimento. A que fatores o senhor atribui esse quadro? Atualmente, o que se nota é que as crianças aprendem alguns conteúdos escolares com mais facilidade porque são mais estimuladas. Trata-se de uma necessidade reconhecida pela própria sociedade, na qual a lógica e o raciocínio são cobrados e instiSUPER ESCOLA 5
Entrevista
JAMES R. FLYNN
gados com mais veemência. Isso não significa que as crianças de hoje sejam mais talentosas do que eram as do passado. O conhecimento chega mais rápido e para mais pessoas. Até que ponto isso reflete diretamente na qualidade intelectual do indivíduo? Já comentei a respeito de nossa qualidade intelectual. O que vale reiterar é que, em minha opinião, os videogames, os
O QuE É Inteligência? Além do efeito Flynn James R. Flynn 216 páginas Editora Artmed Preço sugerido: R$ 48
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desenhos animados e demais programas exibidos na televisão têm hoje um enredo e uma trama mais bem elaborados, o que nos desafia a pensar de forma mais complexa até nos momentos de lazer. O nível de cobrança é outro. Em sua obra, o senhor comprova, com pesquisas feitas em mais de 30 países, que há um ganho de inteligência com o passar dos anos. Como é possível chegar a essa conclusão? Bem, o ganho habitual que verificamos pelos testes de Q.I. Wechsler é de 3 pontos por década e talvez obtenhamos o dobro em matrizes progressivas de Raven, outra metodologia de análise. O estudo também permite comparar a evolução do nível de inteligência entre países com realidades socioculturais distintas, como Brasil e Argentina, por exemplo. São diversas as correlações que podemos traçar. Em geral, esse avanço quanto ao “ganho” de inteligência no transcorrer dos anos é decorrente também da democratização do acesso a instrumentos de cultura e educação e do próprio nível cumulativo de informação ao qual as novas gerações são constantemente expostas. Diferentemente do que se imaginava há alguns anos, o cérebro adulto é dotado de neuroplasticidade. Evidências comprovam que possuímos a habilidade de modificar a estrutura e funções dele em resposta a certas experiências. O
que podemos fazer para exercitar a capacidade cerebral? Esteja interessado em ideias e mantenha o cérebro ativo na velhice lendo, aprendendo coisas novas, fazendo palavras cruzadas e quebra-cabeças. São dicas que podem parecer banais, mas que efetivamente produzem efeitos consideráveis. Diante de um cenário tão diferente, se comparado às décadas anteriores, ainda é possível medir a inteligência? Há duas maneiras de obter resultados em termos de inteligência. Uma é utilizar os testes de Q.I. para medir o desempenho acadêmico de crianças da mesma faixa etária. A outra é descrever a história cognitiva – como meu livro faz – para traçar os novos desenvolvimentos de nossas habilidades ao longo do tempo. O fato é que nossa vantagem sobre nossos ancestrais é relativamente uniforme em todas as idades, do berço à sepultura. Saber se esses ganhos persistirão no século XXI é algo problemático, pelo menos para as nações desenvolvidas, mas não há dúvida de que eles dominaram o século XX e de que sua existência e tamanho eram bastante inesperados. O simples fato de terem ocorrido gera uma crise de confiança: como podem esses ganhos tão grandes ser ganhos em inteligência? Ou as crianças de hoje seriam muito mais espertas que seus pais ou – pelo menos em certas circunstâncias – os testes de Q.I. não seriam boas medidas da inteligência. Os paradoxos começam a se multiplicar e ainda temos muito a refletir.
RADAR
O plenário da Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei que exige nível superior, com licenciatura, dos professores que atuam na educação básica – Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. A proposta, entretanto, prevê a contratação de profissionais com apenas o Ensino Médio para a Educação Infantil em locais onde não existirem professores com nível superior. A matéria aprovada retirou do texto final o dispositivo que permitia ao MEC estabelecer nota mínima no Enem como pré-requisito para ingresso em cursos de graduação para formação de docentes. O texto da deputada Ângela Amin, aprovado na forma do substitutivo do deputado Iran Barbosa, segue agora para votação no Senado.
Conectados A pesquisa “Kids Expert 2008”, encomendada pelo canal infantil Cartoon Network, mostra que 60% das meninas e 55% dos meninos entre 7 e 15 anos ficam de 30 minutos a quatro horas por dia conectados à internet. A mesma pesquisa, que ouviu mais de 6.500 crianças, revela que elas passam boa parte do tempo em programas de mensagens instantâneas e redes sociais, como Orkut, Twitter e Facebook, conversando com amigos e visitando álbuns de fotos. Shutterstock
Sinergia Em 7 de dezembro, segunda-feira, personalidades da área educacional se reuniram para debater o tema “A escola pública e as parcerias com a iniciativa privada”. O encontro, que aconteceu no Hotel Transamérica, em São Paulo (SP), foi organizado pelo Núcleo de Apoio à Municipalização do Ensino (Name), empresa do Grupo SEB (Sistema Educacional Brasileiro). Participaram do evento autoridades como o ministro da Educação, Fernando Haddad, o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, o presidente do Grupo SEB, Chaim Zaher, além do jornalista Gilberto Dimenstein e do ex-secretário da Educação do Estado de São Paulo Gabriel Chalita.
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“Nós não vamos fazer nenhuma mudança na educação sem o professor ou contra o professor.” A frase é da secretária de Educação Básica, Maria do Pilar Lacerda, durante coletiva na sede do MEC, em outubro, e faz referência aos programas de formação inicial e continuada voltados aos professores da rede pública.
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Projeto de lei
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COMO RETER A ATENÇÃO DO ALUNO
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Como educar jovens de uma geração que parece falar outra língua? O primeiro passo pode ser tentar compreendê-los melhor
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les são digitais, ágeis e conectados, dedicam sua atenção a vários temas simultaneamente, gostam de trabalhar em grupo, priorizam a linguagem das imagens, veem o mundo como um videoclipe e, talvez por isso, não conseguem se concentrar em um mesmo assunto por muito tempo. Alguns os chamam de geração Y; outros, de geração Net. O nome não importa: o certo é que estão logo aqui, em nossas salas de aula. São os alunos de hoje, com os quais a escola ainda não aprendeu a lidar. O diagnóstico desse novo desafio vivido pelos educadores
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Geração
tem sido dado por pesquisadores das mais distintas vertentes. Em recente passagem pelo Brasil, o psicólogo norte-americano Howard Gardner, da Universidade de Harvard, chamou a atenção para o abismo entre o que se passa na vida dos jovens e o que acontece na escola. Nas palavras do pesquisador, conhecido mundialmente por ter desenvolvido a Teoria das Inteligências Múltiplas, ao entrar em uma instituição escolar, o jovem sente-se como em um túnel do tempo, no qual volta cem anos, para tentar aprender com um professor que fala uma língua diferente da sua.
Para quem acha a opinião exagerada, basta prestar atenção aos sintomas desse verdadeiro “mal du siécle” da educação contemporânea: abandono (na rede pública), indisciplina, desinteresse e, no final das contas, problemas de aprendizagem. “Um número importante de jovens e adolescentes não se apropria dos conteúdos que lhes transmitimos. São jovens acostumados a ser bombardeados por constantes estímulos dos meios de comunicação e situações nas quais sempre acontece alguma coisa. Longe de encontrarem uma relação entre o que ocorre fora e dentro da escola, eles acabam por descobrir que o que se ensina na escola tem pouca relevância para sua vida”, afirma a pesquisadora Cristina Alonso Cano, da Universidade de Barcelona, uma estudiosa do assunto. O que autores como Gardner e Cristina propõem, em última instância, é que é preciso dar nova dimensão a situações cada vez mais presentes em sala de aula. Enquanto na escola que predominou até o fim da década de 1970 era habitual a leitura de longos e densos textos e as aulas seguiam rigorosamente o mesmo esquema – professores falando, alunos ouvindo –, hoje os docentes sentem dificuldade de manter os alunos concentrados e de fazê-los ler com atenção textos simples. Isso não ocorre porque estamos sempre diante de jovens “que não querem nada com nada”, como muitas vezes pensa o pro-
O que é a Teoria das Inteligências Múltiplas? Criada por Howard Gardner em 1985, a Teoria das Inteligências Múltiplas é uma alternativa ao conceito de inteligência como capacidade inata, geral e única, que permite aos indivíduos um desempenho maior ou menor em qualquer área de atuação. A insatisfação de Gardner com a ideia de quociente de inteligência (Q.I.) e com visões unitárias de inteligência, que focalizam sobretudo as habilidades importantes para o sucesso escolar, levou-o a redefinir a inteligência à luz das origens biológicas da competência para resolver problemas. Por meio da avaliação das atuações de diferentes profissionais em diversas culturas e do repertório de qualidades dos seres humanos na busca de soluções, culturalmente apropriadas, para seus problemas, Gardner trabalhou no sentido inverso ao desenvolvimento, retroagindo para eventualmente chegar às inteligências que deram origem a tais realizações. Psicólogo construtivista muito influenciado por Jean Piaget, Gardner distingue-se de seu colega de Genebra por este afirmar que todos os aspectos da simbolização partem de uma mesma função semiótica, enquanto ele sustenta que processos psicológicos independentes são empregados quando o indivíduo lida com símbolos linguísticos, numéricos, gestuais ou outros. Segundo Gardner, uma criança pode ter desempenho precoce em uma área (o que Piaget chamaria de pensamento formal) e estar na média ou mesmo abaixo dela em outra (o equivalente, por exemplo, ao estágio sensório-motor). Ele sugere ainda que as habilidades humanas são organizadas não de forma horizontal, e sim vertical, e que, em vez de haver uma faculdade mental geral, como a memória, talvez existam modos independentes de percepção, memória e aprendizado em cada área ou domínio, com possíveis semelhanças entre as áreas ou domínios, mas não necessariamente uma relação direta.
fessor – embora isso também aconteça. O que se passa pode ser entendido como a necessidade de vencer um abismo geracional, na visão de Cristina Alonso Cano. Em poucas palavras, enquanto nós, adultos, fomos letrados em uma sociedade analógica, os jovens cresceram em um ambiente digital, com todas as consequências que podem advir desse fato: a enorme facilidade de acesso rápido à informação, os recursos linguísticos não verbais e multimídia, os estímulos à interação em redes sociais, apenas para ficar nos exemplos mais óbvios.
Inteligências Múltiplas ao redor do Mundo. no mais novo livro do escritor, publicado pela Artmed, Gardner é coautor de ensaios a respeito do tema em parceria com Jie-Qi Chen, Seana Moran, entre outros colaboradores.
Vale a pena refletir, por exemplo, sobre o papel das redes sociais. O crescimento vertiginoso de redes como Orkut, Facebook e Twitter, que promovem o encontro entre pessoas pelos mais diferentes tipos de afinidade, deve ser minuciosamente acompanhado por qualquer pessoa que queira entender melhor o universo dos jovens e participar dele, como é o caso do professor. “Certamente, os alunos de hoje acessam mais redes sociais do que leem livros, e isso precisa ser levado em conta na escola”, defende Howard Gardner. Livros são solitários; redes são essencialmente SUPER ESCOLA 11
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COMO RETER A ATENÇÃO DO ALUNO
ao dinamismo do oceano de informações pelo qual as novas gerações navegam. Segundo ele, pesquisas mostram que os jovens não conseguem reter a atenção por mais de oito minutos em um mesmo assunto. Dessa maneira, as aulas tradicionais estão mesmo fadadas ao fracasso.
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participativas. O que combina mais com os jovens? Não é preciso pensar muito. Para nós, os analógicos, comparar livros e redes digitais pode parecer um sacrilégio, um sintoma de insanidade que clama por um exorcista, como se faria na Idade Média. No entanto, é preciso encarar as coisas como elas são. É mais fácil encontrar a cabeça de seu aluno em um encontro virtual do que na biblioteca, mergulhada em livros. Não se trata de ignorar a importância da leitura e do livro nem de deixar de estimular a leitura, mas de recontextualizá-la nesse universo que assusta e fas-
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cina. Tornar a leitura um prazer coletivo fará mais sucesso do que apresentá-la como exercício solitário do pensamento, certamente. Futurismo ou não, o fato é que uma nova maneira de pensar o mundo e o conhecimento está em pauta. “Educar no século XXI exige que trabalhemos com múltiplas linguagens, e formar leitores e autores em um mundo digital implica a necessidade de educar com base na multiplicidade de linguagens e multialfabetismos”, diz Gardner. Para o autor, a escola e as próprias salas de aula deveriam ser reformatadas para atender
“As crianças de hoje vivem um meio de aprendizado não linear, e essa não linearidade acaba por criar resistência à antiga organização fordista da escola, minando de certo modo a cumplicidade que deveria haver entre os alunos e ela”, avalia o educador e escritor Paulo Bedaque. “Nossos alunos frequentam escolas que basicamente funcionam como as de um século atrás; eles não têm como escolher a própria trajetória, enquanto lá fora o mundo oferece essa flexibilidade”, compara. Por isso, diz, a prática escolar mostra que aulas de uma hora ou mesmo de 50 minutos não são eficientes como antes. Até porque, chama a atenção, a noção de tempo também é relativa: 10 minutos para os jovens de hoje têm um significado diferente do que para os adultos. “O tempo psicológico não é o mesmo para uma criança de hoje e para outra que viveu há algumas décadas”, considera. Para quem lamenta tudo isso, cuidado. Há muito de virtude nesse novo mundo. A agência holandesa de comunicação Kesie trabalhou por uma década justamente sobre as diferenças geracionais para tentar entender o que ocorre com os jovens de hoje. O resultado gerou um li-
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E=M 2 *C
conexão
Uma aula na velocidade da Fórmula 1
De repente, uma mola do carro de Rubens Barrichello solta e se choca contra a cabeça de Felipe Massa, que, inconsciente, perde o controle do carro e bate em alta velocidade. Qual a velocidade da peça? Qual foi sua trajetória? Por que, nas imagens da televisão, parece que a mola está indo para trás, mas na verdade vai para a frente, em velocidade menor do que a do carro de Massa? É similar a uma notícia de jornal, veiculada no mundo todo e lida por quase todos os jovens. Mas não é. Trata-se de uma aula de Física recentemente apresentada nas unidades Pueri Domus Aldeia da Serra e Itaim pela professora Vivianne Moraes Alves, prendendo a atenção de dezenas de jovens de Ensino Médio que aprendiam muito, sem perceber, sobre as leis do movimento. Quem pensa que a utilização de um episódio real e de interesse do aluno foi a única estratégia dessa aula de sucesso engana-se. O mote foi apenas o primeiro passo. Uma lousa eletrônica com recursos interativos on-line, a montagem de grupos de discussão e a variação de ritmos de trabalho foram outros ingredientes empregados pela professora que mostram, na prática, como a escola pode acompanhar as mudanças e levar os jovens a se concentrar, se motivar e aprender. Para a professora Vivianne, a necessidade de repensar a dinâmica da aula é um dado da realidade, contra o qual não adianta lutar. “É evidente que uma aula não pode ter um único ritmo”, ensina. Ilustrando na prática as ideias formuladas por Gardner, a aula dada por ela incorpora três elementos cruciais para uma nova perspectiva de educação das gerações atuais: dinamismo, múltiplas linguagens, participação. É como se fossem muitas aulas em uma só, sempre com intensa atividade do grupo. “Os jovens gostam muito de participar, e isso deve sempre ser levado em conta pelo professor”, afirma a docente, que também é autora de materiais didáticos do Pueri Domus Escolas Associadas.
vro premiado, cujo título pode ser traduzido como Geração Einstein: mais ágeis, mais rápidos e mais sociais. Para os realizadores do estudo, essa geração nasceu em uma época de prosperidade, o que lhe incutiu confiança no futuro e em suas possibilidades pessoais. Nesse trabalho, detalhado por Cristina Alonso Cano em um evento em São Paulo, a agência aponta algumas características que ajudam a entender por que os jovens pensam tão diferente e que também lhes abrem as portas do futuro. Por exemplo, eles estão acostumados com a incerteza e com a mudança. Colaboram e compartilham ideias naturalmente. Necessitam expressar o que pensam e sentem. Valorizam a amizade e dão importância aos sentimentos. Estão acostumados a resolver problemas e a encontrar o que buscam de forma fácil e rápida. Não apenas consomem informação, como os indivíduos das gerações anteriores, mas também mudam e disseminam informações. Por tudo isso, a agência espera um grande protagonismo e mudanças importantes e positivas no comportamento social nas próximas décadas, quando seremos liderados por esses que hoje mal compreendemos e tentamos educar. Que tal pensar sobre isso? SUPER ESCOLA 13
estudo de caso
COLÉGIO MARIA, jaboticabal (SP)
O desafio de abrir as portas
Projeto convida os pais a se colocar no lugar dos filhos nos bancos da sala de aula. Além de estreitar a relação entre a escola e a família, a iniciativa contribui para o desenvolvimento educacional dos alunos
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inha confiança na escola é ainda maior.” Assim a funcionária pública Daniela Ribeiro Amaral, 39 anos, define a sensação que carrega consigo depois de deixar a última reunião de pais promovida pelo Colégio Maria, de Jaboticabal (SP), em outubro. Mãe de Nicole, aluna do 6º ano do Ensino Fundamental II, ela faz parte de um grupo de 120 pais que aceitaram o convite para conhecer um pouco mais de perto as ferramentas e métodos que os professores da escola associada ao Pueri Domus utilizam em sala de aula nas mais diversas disciplinas. É a primeira vez que a instituição adota a iniciativa, cuja propos-
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ta é estreitar ainda mais a relação entre a família e a escola. Além de ter acesso às notas e aos relatórios das atividades dos filhos no último bimestre, os pais foram convidados a conhecer melhor o universo em que os estudantes estão inseridos ao interagir com os professores em uma aula especial que teve como tema “Como educar meu filho no olho do furacão?”. Segundo Maria Teresa Montans Bellodi Gerbasi, diretora e mantenedora do Colégio Maria, as atividades para os pais foram planejadas cuidadosamente e direcionadas conforme o estágio em que seus filhos se encontram na escola. Com os pais dos alunos da Educação Infantil, por exemplo, “A metamorfose da borbole-
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ta” foi o assunto que permeou a reunião. Em conjunto, eles exploraram a importância das etapas da vida de uma borboleta como analogia às transformações naturais que todo ser humano vivencia. No Ensino Fundamental I, foram trabalhados dois temas: “A geometria e seu contexto”, que mostrou como os alunos são levados a compreender a disciplina por meio da face humana e suas alterações, explorando aspectos do humor, e “A dança da cadeira com tabuada”, na qual os ensinamentos da matemática foram apresentados de maneira lúdica, divertida e instrutiva.
tiveram contato com as dinâmicas existentes no planeta mediante experiências físico-químicas simples que mostraram os movimentos das placas tectônicas e sua interferência nas alterações climáticas e no relevo. Além disso, assistiram a vídeos e fizeram a leitura de mapas e charges sobre o contexto da guerra e seu reflexo no mundo contemporâneo, na aula “Como aprender sobre a Primeira Guerra Mundial”.
légio Maria e os professores contaram com uma ajuda especial na elaboração das atividades do Ensino Médio: os próprios alunos. Eles foram divididos em equipes, que atuaram desde a recepção até a despedida dos pais. “Ao estabelecermos essa relação entre os responsáveis, os filhos e a escola, nós interferimos positivamente na educação e desenvolvimento dos alunos. Todos têm a ganhar”, pontua a mantenedora.
Já os pais dos alunos do Ensino Médio debateram sobre os “Gêneros narrativos com aplicação no conto ‘Um apólogo’, de Machado de Assis”. Durante a aula, os convidados tiveram contato com as diversas formas de construção textual, do gênero descritivo ao dissertativo, e com o uso de aperfeiçoamentos estilísticos para a redação nos vestibulares.
E foi pensando nesse resultado que Alberto Serra Filho, assessor pedagógico do Pueri Domus Escolas Associadas e que atende escolas nos Estados do Ceará, Macapá, Maranhão, Piauí, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e São Paulo, propôs a atividade ao Colégio Maria. A iniciativa foi tão bem-aceita que Alberto e os outros assessores poderão levar a proposta para as outras instituições associadas ao PDEA que tiverem interesse.
“Foi desafiador e ao mesmo tempo muito significativo poder mostrar com transparência o trabalho desempenhado por toda a equipe do colégio. Abrir as portas com transparência e seriedade auxilia na construção de uma escola mais participativa tanto do ponto de vista de gestão como do modelo pedagógico”, afirma Maria Teresa. Juntos na construção do futuro A equipe pedagógica do Co-
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Os responsáveis pelos alunos do Ensino Fundamental II, ao estudarem “A estrutura do planeta Terra”,
“Além de fortalecer a proposta da escola perante os pais e a comunidade, a instituição se mostra preparada para formar o cidadão do século XXI, ao colocar o aluno como protagonista de sua história. Ele deixa de ser mero espectador e passa a ser colaborador na construção de seu conhecimento”, defende Serra Filho.
mercado
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Possíveis soluções
para risco real Gestão escolar pode minimizar prejuízos financeiros causados pelas altas taxas de inadimplência no setor educacional
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inda que a inadimplência represente uma das principais vilãs das instituições de ensino do país, sua incidência já está incorporada à realidade da gestão de escolas de todos os níveis. No Brasil, a Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenen) estima índice de 15%, em média, com a recorrência de mais de 500 mil alunos inadimplentes. Mesmo que a taxa sofra grande influência das universidades, a contribuição dos demais estabelecimentos não é pequena. Em São Paulo, por exemplo, o índice de mensalidades em atraso nos ensinos Fundamental e Médio, entre janeiro e setembro de 2009, foi de 9,09%. O número é
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0,86 ponto percentual maior do que o indicador do mesmo período do ano anterior. O panorama paulista também descreve a situação nacional, que, em menor ou maior proporção, atinge todos os Estados. O aumento dos casos de inadimplência, segundo o presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo (Sieeesp), Benjamin Ribeiro da Silva, foi intensificado com a crise econômica mundial. “Em casos de dificuldades financeiras, a educação é a primeira conta a ser deixada de lado”, relata. Em sua opinião, a atitude é favorecida pela legislação. “A falta de pagamento da conta de
Em São Paulo, o índice das mensalidades em atraso nos ensinos médio e fundamental foi de 9,09% entre janeiro e setembro de 2009
Para Silva, a diminuição dos casos de inadimplência só será efetiva com a transformação da realidade. “Atualmente, é preciso concluir o ano para conseguir romper o contrato com o mau pagador, uma espera que intensifica ainda mais as dívidas e os prejuízos para a instituição de ensino. O ideal seria que esse prazo fosse reduzido para, pelo menos, seis meses”, sugere o presidente do Sieeesp. No entanto, como essa transformação não depende única e exclusivamente dos gestores, o gerente executivo da Consultoria Educacional Meira Fernandes, Vanderlei Ferreira Machado, sugere que o setor não limite seus esforços a essa temática. Apesar de não existir nenhum método que exclua em definitivo a inadimplência nas gestões escolares, ele garante que há muitas ações in-
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telefone resulta no corte da linha. No entanto, a não quitação da mensalidade escolar não permite a proibição da entrada do aluno no colégio ou na universidade”, compara.
ternas que podem minimizar os prejuízos financeiros. “O segredo está na organização de uma gestão mais estratégica”, enfatiza. De um lado, ações diretas para a “punição” dos maus pagadores. De outro, medidas indiretas capazes de minimizar a proliferação dos índices de inadimplência. O primeiro passo, porém, está na seleção dos futuros alunos. “Antes de fechar o contrato de prestação de serviço, é preciso consultar o perfil financeiro do possível cliente. Só assim se pode identificar se ele terá ou não condições de cumprir com o pagamento”, relata Machado. O vice-presidente da Confenen, Paulo Antônio Gomes Cardim, partilha com o consultor a opinião e cita o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) como alternativa nesse processo. “A própria confederação mantém um banco de dados para que as instituições consultem o perfil de seu futuro
pagador. Caso prefiram, também podem recorrer ao SPC”, aponta. Os riscos de inadimplência, de acordo com o professor de finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Ricardo Araújo, são maiores quando os pais dos alunos já possuem dívidas no mercado. “É preciso ainda considerar a renda da família. Os gastos com a educação não podem ser superiores a 20% dessa receita”, explica.
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www.confenen.com.br
As ações de prevenção também incluem campanhas que estimulem a adimplência. É o que aponta o gerente da Meira Fernandes. “É fundamental que as instituições incentivem os pais dos alunos a pagar as mensalidaSUPER ESCOLA 17
mercado
inadimplência
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to, é importante ter as fichas cadastrais dos alunos sempre atualizadas”, aponta.
des em dia. Por que não dar descontos para aqueles que quitarem o pagamento antes do prazo ou adiantarem a anuidade?”, recomenda. Ele também aponta o uso de mensagens por celular como lembrete do vencimento da próxima fatura. “Isso pode evitar a incidência de atrasos por descuido.” Acompanhamento de perto Paralelamente à prevenção, é preciso ainda monitorar a situação de todos os inadimplentes. “O contato com os pais deve ser realizado a partir do quinto dia do atraso, reiterado no 15º e também no 30º”, afirma Machado, que destaca o aumento das dificuldades de negociação com o decorrer do tempo. “As primeiras duas cobranças devem ser relacionadas por e-mail ou carta. Quando a dívida completar um mês, o ideal é que o contato seja mais intimista, isto é, por telefone. Para isso, no entan-
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Caso a dívida complete 90 dias, as instituições de ensino podem incluir o nome dos pais dos alunos nas listas de maus pagadores. “A medida deve, sim, ser recorrida, desde que o consumidor seja comunicado por carta registrada”, diz Machado. “Muitos consumidores, para preservarem seu nome na praça, recorrem à negociação ou até mesmo à quitação da dívida. Dessa forma, além de trazer resultados efetivos, a atitude é amparada pela legislação”, acrescenta.
setor contábil. “O ideal é que todas as escolas trabalhem com uma margem no fluxo de caixa compatível com a média nacional ou regional de inadimplência no setor”, recomenda Araújo. Segundo o professor de finanças, os lucros não podem ser inferiores ao índice de mensalidades em atraso. “É preciso prever os riscos e se antecipar a eles”, acrescenta.
No fim do ano, outra medida que pode favorecer a escola é a não renovação do contrato de prestação de serviço. “Se identificada a dificuldade no cumprimento dos pagamentos, é recomendável que a instituição não prolongue essa relação. Caso contrário, os prejuízos financeiros poderão ser ainda maiores”, diz Silva.
Repassar os custos única e exclusivamente para os pais que pagam a mensalidade em dia, no entanto, pode não ser a solução mais eficiente. Isso porque a medida esbarrará em outro grande desafio do setor: a concorrência. “O aumento no valor da anuidade pode levar bons pagadores a procurar opções mais baratas”, afirma Machado, que sugere a adoção de seguros institucionais. “Em casos de desemprego, por exemplo, o benefício auxiliará tanto aluno como instituição. Além do mais, o valor da iniciativa é muito pequeno, cerca de R$ 18 anuais, importância que pode ser facilmente incorporada na mensalidade ou na matrícula”, descreve.
Quem paga o prejuízo? Não é novidade que a inadimplência se reverta em prejuízos financeiros para instituições de ensino. Portanto, as estratégias da gestão também devem incluir o
Outro quesito que não pode ser esquecido nesse processo é a qualidade do ensino. “Afinal, não é só o preço que segura um aluno dentro de uma instituição”, conclui Machado.
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história do mantenedor
terezinha leardini branco
O mesmo quadro,
múltiplas paisagens
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Toda obra de um grande artista pode ser observada de muitas perspectivas. A trajetória de Terezinha Leardini Branco não foge a esse contexto. Com experiências de vida diversificadas, a pedagoga revela como é possível transformar realidades
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intor, escultor, arquiteto e engenheiro, Leonardo da Vinci foi, sem dúvida, um dos talentos mais versáteis do Renascimento. Talvez essa mesma versatilidade tenha inspirado uma educadora da região da Grande São Paulo a “emprestar” o nome do artista ao colégio que dirige. A trajetória de Terezinha Leardini Branco ligada à educação começou ali mesmo, em Mauá (SP), em uma acanhada e improvisada sala de aula. “Lembro-me do meu primeiro dia. Cheguei feliz à escola que se resumia a um único cômodo. Lá, fui apresentada a uma professora também chamada Terezinha. Até hoje consigo vê-la em meus pen-
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samentos, ensinando crianças de 1º a 4º anos, tamanha foi sua dedicação”, relembra, emocionada. Logo que Mauá foi escolhida pelo governo do Estado para receber sua primeira escola pública, Terezinha conheceu um colega de classe. Ambos tinham apenas 8 anos naquela época. “Ele vinha assistir às aulas com a roupa toda engomada e calçado com sapatos, enquanto a grande maioria tinha os pés descalços. Era um contrassenso, mas aquele menino me ensinou, desde cedo, que a vida poderia ser diferente daquela realidade.” Aos 15 anos, Terezinha foi trabalhar em uma indústria e
transferiu os estudos para o período noturno. Durante o tempo livre, no horário de almoço, passou a redigir cartas para os funcionários do chamado “chão de fábrica”, muitos deles migrantes das regiões Norte e Nordeste que tentavam a sorte em São Paulo. Poucos sabiam escrever o próprio nome; assinavam os holerites com o polegar. “Essa situação foi se arraigando em mim tão fortemente que montei dentro da indústria, com a ajuda de um amigo, uma escolinha para alfabetização dos operários. Nada nem ninguém jamais conseguiu superar a sensação que tive ao ver aquelas pessoas esbranquiçadas pelo pó de zinco que ensa-
Era o impulso que faltava para que ela se dedicasse de vez ao magistério. Nas viagens para Santo André, onde cursou pedagogia, o mesmo menino dos tempos de infância continuava a acompanhá-la. Não demorou muito e a amizade tornou-se namoro e, então, casamento. Depois de formada, era preciso arregaçar as mangas e levar adiante a missão em que acreditava. Lecionou por meses em uma escola estadual muito similar àquela de sua infância, com pouca infraestrutura, cercada por ruas de barro e enchentes que dificultavam a vinda dos alunos nos meses mais chuvosos. Passado algum tempo, o marido, que trabalhava em uma indústria de pneus, recebeu proposta de estágio em terras italianas. Com um filho de 4 meses, Terezinha lançou mão de seu costumeiro ímpeto, arrumou as malas e partiu rumo ao país da bota. No Velho Continente, conheceria de perto a metodologia criada por Maria Montessori há mais de cem anos. “Fiz um curso de especialização e em seguida fui convidada para dar aulas em uma escola que era um antigo monastério de Milão. Foi lá que Montessori pessoalmente montou a escola com seu método, logo depois de ter iniciado os trabalhos em Roma. Tenho recordações muito agradáveis dessa época”, diz.
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cavam, com suas camisas e calças rotas, assinarem pela primeira vez o nome nos recibos de pagamento”, comenta a educadora.
De volta às origens No fundo, Terezinha sabia que ainda tinha uma missão a cumprir no Brasil: montar a própria escola e levar adiante ensinamentos e princípios de vida que, de alguma forma, contribuíssem para a formação cidadã. Após alguns anos, o estágio do marido se encerrou e ela pôde retornar ao país para concretizar o sonho. “Fomos crescendo feito bambu. Da pequena pré-escola com 400 m² passamos para um prédio com 4.800 m². Fomos os pioneiros no trabalho com inclusão de crianças especiais, com ensinamentos que eu trouxe também da Itália.” Em 2001, o Colégio Leonardo da Vinci se associou ao Pueri Domus Escolas Associadas. “Após uma longa pesquisa entre os materiais didáticos e programas educacionais oferecidos no mercado, a opção se revelou em perfeita consonância com a filosofia e linha de trabalho que adotamos, baseada no construtivismo. Sem dúvida, foi uma excelente escolha, que nos ajudou, e muito, a aumentar o prestígio que o Colégio Leonardo desfruta dentro do Grande ABC”, conta a educadora. Nos últimos seis anos, Terezinha vem travando, com sucesso, uma violenta batalha contra
o câncer. “Como eu digo, é uma doença que gostou tanto de mim que não quer me largar. Já passei por duas cirurgias grandes, sessões de quimioterapia e administração de medicamentos fortes, perda de cabelo etc.”, revela. O abatimento natural que decorre de uma situação como essa, entretanto, não tem lugar no dia a dia da educadora. Questionada sobre a receita para manter acesa a paixão pela educação e pela vida, ela diz: “Nada me abala. Toda manhã pinto meu rosto, me arrumo bem bonitinha, pego meu carro e venho para a escola, que é minha terapia, minha alegria. São meus alunos que me energizam. São meus professores e funcionários que me levam sempre para frente e para o alto. O Colégio Leonardo da Vinci é uma grande realização pessoal, que só acredito que atingi quando caminho sozinha pelas escadas e corredores em finais de semana e ouço o som de meus passos me saudarem: ‘Oi, Terê’”. Sem contar que aquele menino dos tempos de infância, todo arrumadinho, com roupas engomadas, continua sempre a seu lado, há exatos 53 anos, dos quais 36 de casamento.
Envie a sugestão de sua história para o e-mail: superescola@pdea.com.br
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Comportamento
como a mídia retrata o jovem na escola
Quando a vida imita a arte Frequentemente a mídia traz à tona personagens cujos comportamentos causam polêmica entre pais e professores. Como lidar com os efeitos desse retrato estereotipado no cotidiano da sala de aula?
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á pouco tempo, foi o adolescente Zeca – temperamental, de família rica, que no colégio adotava uma postura agressiva com os professores e colegas. Agora, é a vez de Rafaela – menina prodígio, contestadora, que, por conviver muito mais com adultos do que com crianças de sua faixa etária, chega a inibir a própria mãe com comportamentos considerados precoces. Ambos os personagens compõem as últimas tramas da novela das oito da Rede Globo de Televisão e, embora tenham características bastante diferentes, são motivo de polêmica entre pais e educadores, pois reproduzem na telinha um suposto retrato do que ocorre no cotidiano da sociedade. Maria Cristina Palma é mestre em linguagem e pesquisadora do Núcleo de Estudos de Telenovelas da Universidade de São
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Paulo e explica por que abordagens como essas causam tanto impacto na sociedade. “A televisão é o meio de comunicação de massa de maior penetração em todas as classes sociais e a novela é um gênero ficcional que trabalha estereótipos com o intuito de provocar a reflexão sobre determinados temas. Ou seja, ao assistir a situações-limite de conflito propostas pelos folhetins, o telespectador pode avaliar e ponderar certos comportamentos sem ter vivido aquela situação, apenas pelo imaginário.” A origem de comportamentos como os do jovem Zeca, por exemplo, pode estar em uma família que não estabelece limites. “Há pais que incentivam tais atitudes, chegam a recompensar os filhos sem nenhum senso de respeito pelas pessoas, e o professor acaba sentindo os efeitos dessa falta de educação, quando determinados valores deveriam vir de berço”, alerta
Roberto Malacrida, publicitário e professor da Universidade Metodista de São Paulo. O personagem de Caminho das Índias serviu para caracterizar claramente o bullying nas escolas. Para a coordenadora do Ensino Médio do Pueri Domus, Unidade Itaim, Ana Lúcia Parro, as abordagens podem ser um ponto de partida para que esses temas sejam discutidos em família, entre amigos ou nas escolas. “Incluímos na grade curricular do Pueri, para os alunos do Ensino Médio, a disciplina Mídias, que busca exatamente comparar informações de diferentes meios a fim de formar alunos críticos e não passivos diante dessa exposição permanente que nos colocam os meios de comunicação”, conta.
Compreende todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de poder. Fonte: Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia).
A televisão dita comportamento? Personagens e situações como os abordados nas novelas podem ser instrutivos se forem encarados como modelos que devemos ou não seguir. “Não haverá prejuízo na relação professor-aluno, nem entre pais e filhos, se houver clareza e coerência nos papéis e intervenções de cada um, ensinando e aprendendo a estabelecer limites”, afirma Ana Lúcia. Maria Isabel Andriani é professora de História no Ensino Fundamental I da rede pública de São Bernardo do Campo (SP) e conta que seus alunos comentavam sobre a conduta de Zeca, reconheciam seu mau comportamento e até se mos-
travam consternados quando ele passava impune. Ela considera construtivo quando a televisão exibe exemplos para serem abordados em sala, mas acha que seria mais conveniente se eles frisassem o lado moralmente correto. “Muitas vezes, o que é mostrado é uma escola que não existe. Exagera-se na aparência e nas condutas ruins em vez de evidenciar bons comportamentos”, completa. Em meio aos estereótipos trazidos pela mídia, há que se observar a repercussão desses exemplos e de que maneira eles refletem diretamente na sociedade. Maria Cristina Palma recomenda que a escola aproveite a oportunidade e discuta as situações colocadas nos folhetins justamente para desconstruir criticamente o que é mostrado pelo estereótipo. Maria Isabel Andriani vai ao encontro dessa sugestão e diz que usa muito a TV tanto para demonstrar exemplos como para evidenciar os pontos positivos de informação que ela traz. “É muito útil quando são exibidas imagens de outras culturas e hábitos, pois posso trabalhar conteúdos de minha disciplina. Na época de Caminho das Índias, os hábitos e costumes dos indianos chocaram o 5º ano. E agora é a vez de Jerusalém despertar o interesse deles por novos povos e culturas”, complementa. A respeito do poder que a TV exerce na sociedade, a professora SUPER ESCOLA 23
Comportamento
como a mídia retrata o jovem na escola
justifica: “Tudo o que é visual registra melhor. O ideal, então, seria que tivéssemos mais conteúdo informativo na TV, já que ela está vinculada ao lazer e o telespectador absorve mais facilmente”. Efeitos contemporâneos A presença dos meios de comunicação no dia a dia da população é maciça e o avanço da tecnologia contribui para que a informação chegue ao espectador ou leitor quase ao mesmo tempo em que os fatos acontecem. “Esse ritmo acelerado faz com que as pessoas busquem um
resultado também imediato, que lhes dê sucesso, um bom emprego e condições de consumo. Por isso, o objetivo passou a ser o diploma e não mais o processo de aprendizagem como um todo”, afirma Marli dos Santos, jornalista e professora da pós-graduação lato sensu em Comunicação Jornalística da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Marli e Roberto Malacrida concordam que não se podem atribuir tais situações de indisciplina a uma influência da mídia. Para eles, a televisão é uma indústria cultural que recorre a estereótipos para trabalhar questões que ocorrem na sociedade; caso contrário, não causariam identificação nem polêmica. Sugestões de conduta Para Maria Isabel, o professor deve auxiliar os pais na imposição de limites e noções de certo e errado quando depararem com posturas semelhantes às de Rafaela ou às de Zeca.
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“A TV tanto informa como desinforma. Cabe a nós filtrarmos a programação à qual as crianças têm acesso e chamar a atenção delas para os bons exemplos, canalizar o lado crítico dos personagens para o bem e não para o mal”, aconselha a professora.
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Outra possibilidade, além do diálogo e sem precisar optar por atividades recorrentes valendo nota, é retomar com essa geração certos valores que se perderam com o tempo.
Parabéns a todos os participantes! Chegamos ao final da 2ª Olimpíada Conhecimentos em Ação, Pueri Domus Escolas Associadas. É com satisfação que agradecemos o empenho de todos que participaram desse evento. É sempre motivador perceber o envolvimento das escolas, dos professores e dos alunos. Seguem os vencedores: Vencedores Nível 1 Aluna Mariana de Melo Albanaz – Escola Favo de Mel, Petrópolis/RJ Professora Ana Cleide da S. José – Colégio Luce Prima, São José dos Campos/SP Escola Escola Favo de Mel, Petrópolis/RJ Nível 2 Aluno Leonardo Diego Madona Vaz – Colégio Maria Imaculada, Jacareí/SP Professores Alessandra Godoi – Escola Alegria de Crescer, Capivari/SP Viviane Sampaio – Colégio Geração Raízes, Araçatuba/SP José Arnaldo Junior – Colégio Luce Prima, São José dos Campos/SP Escola Centro Educacional Gênesis, Espírito Santo do Pinhal/SP Nível 3 Aluna Talissa Oliveira Generoso – Escola Pueri Domus, Araraquara/SP Professores Mônica A. F. Araújo – Colégio Cecília Caçapava Conde, Caçapava/SP Hilton Bruno P. Viana – Escola Aquarela, Macapá/AP
Conhecimentos Olimpíada Pueri Domus Escolas Associadas
Escola Escola Pueri Domus, Araraquara/SP
gestão/marketing
a sustentabilidade nos modelos de gestão
verde
o que não sai DE
Moda A sustentabilidade deixou de ser um diferencial para entrar de vez no DNA das organizações. É o que garantem consultores de mercado. Mas qual o limite entre o simples discurso e a adoção de práticas em prol do meio ambiente?
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uando mudamos para a chácara onde hoje funciona a Viverde, percebemos que a qualidade de vida de nossa família e o crescimento de nossos filhos se deram de maneira muito agradável e que a natureza do local e os animais contribuíram para isso. Então, surgiu a ideia de uma escola voltada para questões ambientais e que tivesse também um modelo de gestão completamente sustentável.”
Assim Sérgio Leite da Silva, proprietário e diretor financeiro da Escola Viverde, parceira do Pueri Domus Escolas Associadas (PDEA), localizada em Bragança Paulista, município distante 89 quilômetros da capital, descreve os motivos que impulsionaram não apenas a criação da instituição, mas também a incorporação dos princípios sustentáveis ao DNA do modelo de gestão.
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Nesse sentido, a trajetória da Viverde pode ser considerada, de certa forma, vanguardista, sobretudo no cenário educacional, onde boas práticas em favor do meio ambiente tendem, em geral, a estar mais vinculadas aos ensinamentos difundidos em sala de aula, ou seja, ao projeto pedagógico propriamente dito. Fundada em 1991, antes mesmo da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, que foi realizada no Rio de Janeiro e ficou conhecida mundialmente como Eco-92, a escola teve de romper paradigmas para levar adiante a proposta. O mais interessante é que, naquele momento, nem sequer tinha-se conhecimento sobre o termo “sustentabilidade”. “Hoje, somos vistos pela comunidade como a única ‘ecoescola’ da região e a precursora em discutir essas questões ambientais. Levamos anos para obter esse reconhecimento. Muitas instituições de ensino realizam ações apenas de maneira isolada para divulgar a marca a seu público, mas realmente não se aprofundam na questão da sustentabilidade. Compram latas de coleta seletiva enormes e coloridas, mas se esquecem de trabalhar com os alunos e a população do entorno para a exata compreensão da temática”, avalia Sérgio. Ele faz questão de exemplificar o compromisso da Viverde com o meio ambiente por meio de iniciativas na esfera administrativa que incluem, por exemplo, a instalação de uma estação de tratamento de esgoto com a utilização de bactérias anaeróbias.
ASSIM COMO A PREOCUPAÇÃO, NO PASSADO, COM OS PROCESSOS DE QUALIDADE, A SUSTENTABILIDADE GANHARÁ OS MESMOS CONTORNOS ROBERTO GONZALEZ, PROFESSOR DE GOVERNANÇA CORPORATIVA
Elas são responsáveis pela eliminação dos poluentes gerados pelos dejetos jogados diretamente nas águas do ribeirão que abastece a escola. “Outra medida refere-se à captação da água da chuva, que supre, em grande parte, a quantidade de água utilizada para limpeza dos estábulos, irrigação da horta, das calçadas, áreas de lazer e outras dependências. Criamos também ecopontos para coleta de todo e qualquer tipo de material reciclável”, complementa o proprietário. Na agenda do dia Para Roberto Gonzalez, professor de governança corporativa da Trevisan Escola de Negócios e consultor em sustentabilidade, ainda existe muito discurso e pouca prática empresarial, mas o fato positivo é que as companhias começaram a ser cobradas por ter posturas alinhadas com o discurso. “Assim como a preocupação com os processos de qualidade, que antigamente eram vistos com certo receio e como algo que só aumentava os custos, tornando-se posteriormente um assunto comum no dia a dia de qualquer organização, acredito que o mesmo ocorrerá com a sustentabilidade. O primeiro passo, para qualquer empresa, SUPER ESCOLA 27
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a sustentabilidade nos modelos de gestão
A gerente sênior da BDO Consultoria, Patrícia Centeno, especialista em projetos na área, acredita que o cenário está mudando, já que muitos empreendedores agora percebem que a incorporação da responsabilidade socioambiental a sua dinâmica de trabalho é importante para assegurar a sobrevivência em um universo cada vez mais competitivo. “A criação de linhas especiais de crédito para a implantação de programas desse tipo também vem ajudando muito. E vários compreenderam que o investimento de hoje pode ser a economia de amanhã: um programa de redução no uso de recursos hídricos ou de energia, por exemplo, se paga na medida em que as contas de água e luz serão barateadas”, diz. Outras vantagens que podem ser citadas são a captação de talentos do mercado e a melhoria no relacionamento com diversos públicos estratégicos (stakeholders), como clientes, fornecedores e parceiros. “Mas existem armadilhas, como, por exemplo, uma organização colocar em prática algo apenas porque seu concorrente o faz. Ou elaborar um projeto sustentável apenas sob o prisma do marketing, sem o engajamento de outros setores. É um erro que pode ser fatal”, alerta Gonzalez. O desafio do século Cansada de discursos em prol do meio ambiente, mas que não se traduziam em práticas efetivas,
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de qualquer setor, é inserir de vez o tema nas pautas do conselho de administração”, avalia.
Na Mundo Verde, em Hortolândia, 80% de todo o material utilizado é reciclável
Katilene Marangoni decidiu lançar mão do empreendedorismo e investir na criação de uma escola de Educação Infantil que tivesse uma proposta diferenciada. Em setembro de 2009, a Eco Escola Mundo Verde, localizada em Hortolândia, no interior de São Paulo, abria suas portas para a comunidade. “Ao saber que estava grávida do meu segundo filho, veio-me à mente a preocupação com a educação dele no futuro. Ao visitar várias escolas da região, percebi que nenhuma atendia aos meus anseios. Estava farta de ser ‘enganada’ por instituições que me vendiam uma coisa e me entregavam outra. Acredito que, em alguns casos, existe uma diferença grande entre o projeto pedagógico no papel e a prática que o dia a dia com suas surpresas nos traz”, diz Katilene. A proposta da Mundo Verde tem chamado a atenção de diversas famílias, até mesmo de municípios vizinhos, como Campinas e Vinhedo. A instituição tem como filosofia o chamado “princípio básico da ecologia”. Cerca de 80% de todo o material utilizado tanto na área pedagógica como na administrativa da
escola é reciclável. A meta é atingir 100% já em 2010. “Os animais que participam das atividades, por exemplo, foram introduzidos por uma veterinária da cidade, em aulas de conscientização, informando a importância de cada um no ecossistema. Isso ocorre com tudo o que trabalhamos. Os projetos são feitos de maneira que as crianças entendam que elas podem contribuir para o bem-estar do mundo em que vivem em ações do cotidiano. Os pais também nos ajudam muito, sugerindo ideias e participando de reuniões na escola. É uma gestão mais participativa”, aponta Katilene. Ela afirma que a incorporação da sustentabilidade ao gerenciamento dos negócios é o grande desafio para os administradores neste início de século. “O que diferencia uma organização da outra é a coerência entre o que se fala e o que se executa. A educação de uma criança, principalmente na primeira infância, é algo de muita responsabilidade. Estamos construindo conceitos que servirão de base para o futuro das próximas gerações. Daí tamanha responsabilidade.”
Educação Infantil MATERNAL
Conheça o mais novo lançamento da Coleção Conhecimento de mundo para Educação Infantil do Pueri Domus Escolas Associadas. O livro trabalha três eixos básicos: • Identidade, • Meio Ambiente e • Meio Social. Tem como diferencial, além das orientações aos educadores, orientações às famílias para que possam acompanhar o processo pedagógico desenvolvido com seus filhos.
www.pdea.com.br / ea@pdea.com.br Tel.: (11) 3512-2444 / Fax.: (11) 5182-4983
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indicação de leitura
laNÇamentos
A história na escola: autores, livros e leituras Autores: Helenice Aparecida Bastos Rocha, Luís Reznik e Marcelo de Souza Guimarães Editora: FGV Nº de páginas: 352 Preço: R$ 48,00 A obra, que é resultado de pesquisas desenvolvidas pelo grupo Oficinas de História, faz uma análise abrangente sobre autores e livros de história adotados em salas de aula em diferentes épocas e enfoques. Dessa forma, os autores propõem a reflexão sobre a diversidade de leitores, os usos dos livros didáticos e o saber escolar, entendido como uma construção histórica, ou seja, um produto de seu tempo, que guarda muito do contexto em que foi elaborado. Tecnologias que educam: ensinar e aprender com as tecnologias de informação e comunicação Autores: Fábio Câmara Araújo de Carvalho e Gregório Bittar Ivanoff Editora: Pearson Education Nº de páginas: 192 Preço: R$ 42,00
Educação hoje: novas tecnologias, pressões e oportunidades Autor: Pedro Demo Editora: Atlas Nº de páginas: 144 Preço: R$ 38,00 Voltar o olhar dos professores para o desafio da alfabetização diante das novas tecnologias. Essa é a proposta de Pedro Demo, indicada tanto para educadores que desejam ingressar nessa “nova onda” como para aqueles que buscam alimentar processos de formação permanente. Com linguagem objetiva e didática, o autor oferece subsídios para recriar a formação pedagógica dos docentes mediante os desafios que se apresentam.
Com uma linguagem clara e prática, os autores, conectados com os atuais desafios do mundo acadêmico, apresentam ferramentas tecnológicas capazes de apoiar o aprendizado colaborativo e orientam os professores a estabelecer estratégias de ensino modernas que incentivem os alunos a se comprometer com o estudo. Educação a distância sem segredos Autoras: Rita de Cássia Guarezi e Márcia Maria de Matos Editora: Ibpex Nº de páginas: 146 Preço: não informado Os conceitos da educação a distância, os processos de implantação do sistema, suas diferentes versões e as perspectivas para o futuro do método de ensino são alguns dos temas abordados na obra. As autoras também destacam a redefinição dos papéis do educador na chamada “sociedade do conhecimento”.
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Educação e desenvolvimento no Brasil Autor: Paulo Nathanael Pereira de Souza Editora: Integrare Nº de páginas: 144 Preço: R$ 33,90 Buscar respostas para questões que parecem insolúveis no método aplicado à educação no Brasil é a proposta de Paulo Nathanael em seu novo livro. Dentre outros temas, ele debate sobre a educação como um dos setores mais importantes para o desenvolvimento de uma nação e propõe o investimento em um sistema educacional de qualidade tanto nos ensinos Fundamental e Médio como na universidade.
sala de aula
claude lévi-strauss
Cidadão do
Mundo Assim podia ser visto Claude Lévi-Strauss, um dos intelectuais mais influentes do século XXI. Fundador da Antropologia Estruturalista, o pensador deixou importantes contribuições que até hoje se estendem à sala de aula
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riado em Paris, ele nasceu em Bruxelas, na Bélgica, em 28 de novembro de 1908. Membro de família judia francesa, dedicou-se a compreender a grande máquina simbólica que reúne todos os planos da vida humana, da estrutura familiar às crenças religiosas, das obras de arte às maneiras de se comportar à mesa, talvez motivado por essa miscigenação de raças que sempre rondou suas origens. Claude Lévi-Strauss, falecido em 1º de novembro de 2009, aos 100 anos de idade, foi um dos intelectuais mais influentes do século XX. Pensador cosmopolita que jamais se contentou em apenas se debruçar sobre livros e manuscritos, ou mesmo em trancafiar-se em bibliotecas, bebeu diretamente da fonte.
Uma das provas é seu desembarque no Brasil, nos anos 1930, quando aceitou convite para lecionar na recém-criada Universidade de São Paulo (USP), estadia que lhe possibilitou realizar trabalhos de campo no Mato Grosso e na Amazônia com diversas tribos indígenas. “A principal contribuição propiciada pelo pensamento de Lévi-Strauss consiste na construção de um método que busca identificar os fundamentos universais que possibilitam a vida social. Em sentido mais amplo, a formação do indivíduo – sua educação – passa necessariamente pela compreensão de todas as dimensões da realidade histórica à qual pertence. No tocante às práticas pedagógicas, talvez possamos identificar uma contribuição mais indireta, mas, sem dúvida, ainda muito presen-
te nos dias de hoje”, afirma Roger Campato, docente do curso de Filosofia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. Outro importante aspecto levantado por seus estudos diz respeito às estruturas elementares do parentesco. Lévi-Strauss as compreendia como “os sistemas nos quais a nomenclatura permite determinar o círculo de parentes”. Segundo o pensador, o casamento constitui uma espécie de parentesco. Ele o divide em duas categorias: a dos cônjuges possíveis e a dos cônjuges proibidos. Por meio de tais estruturas elementares, são definidas as classes e determinadas as relações. No tocante às diferenças existentes entre estruturas elementares e estruturas complexas de parentesco, o antropólogo põe em xeque o verSUPER ESCOLA 31
sala de aula
claude lévi-strauss
dadeiro alcance da oposição entre cultura e natureza. No livro em que tais questões são discutidas, Lévi-Strauss reconhece as contribuições proporcionadas pelos estudos de Rivers, outro importante intelectual, para quem “a natureza do sistema de parentesco depende da forma da estrutura social, mais do que das diferenças da origem da população”. Em síntese, o estruturalismo de Lévi-Strauss rejeita a ideia de que o ser humano seja totalmente livre para realizar suas escolhas, inclusive aquelas relacionadas com o casamento. “Nesse sentido, o comportamento é condicionado pela sociedade na qual o indivíduo encontra-se inserido. Essa tese é corroborada pelas pesquisas que lidam com as regras que norteiam o matrimônio em diferentes sociedades”, reitera Campato. Para Mariza Werneck, do Departamento de Antropologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a obra do antropólogo francês não vai desaparecer com sua morte. De acordo com a pesquisadora, que o entrevistou em 1995, em Paris, para a composição de sua tese de doutorado, os anos em que passou no Brasil, de 1935 a 1939, transformaram a formação de Lévi-Strauss. “Ele sempre dizia que a forma de pensar do índio não é inferior à forma de pensar na ciência. Apenas diferente”, explicita a antropóloga. Em solos tupiniquins, Lévi -Strauss teve estadias esporádicas entre os índios das tribos
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suas pesquisas sobre as tribos indígenas abriram o caminho para outros etnógrafos brasileiros roger campato docente DA universidade presbiteriana mackenzie
bororos, nambiquaras e cauaíbes, experiências que o orientaram definitivamente como profissional de antropologia e que o levaram a escrever O pensamento selvagem, uma de suas mais importantes obras. “Para a academia brasileira, seu maior feito talvez seja o modelo de investigação etnográfica. Lévi-Strauss dizia que a distância entre objeto e observador deve ser preservada, a fim de impedir uma descrição enviesada, produzida à luz de concepções pré-formuladas. Para a compreensão adequada do que está sendo analisado, é imprescindível que o pesquisador estabeleça com o objeto relações pautadas pela solidariedade, pela reciprocidade. Suas pesquisas sobre as tribos indígenas abriram o caminho para outros etnógrafos brasileiros”, complementa Campato. Uma vida dedicada aos mitos Outro ponto bastante comentado da obra deixada por Lévi-Strauss diz respeito à criação e interpretação dos mitos criados pelo homem. Muitos de seus ensaios acerca do tema serviram como trampolim para mergulhos profundos em outras áreas, como a linguística, as ciências políticas e a própria comunicação.
Grosso modo, para o pensador do século XX, o mito constitui uma espécie de procedimento discursivo cuja finalidade reside em apresentar uma explicação que seja capaz de organizar coerentemente o contexto social que o forjou. A rigor, estaríamos diante de um relato que trata do vínculo do humano com o natural, determinando o papel a ser desempenhado pelo indivíduo. Nesse simbolismo, encontram-se prescritos comportamentos que condicionam a inserção do homem em um grupo e, por conseguinte, sua constituição como pessoa. “A despeito de efetuar uma ruptura com o real, o mito, na visão do antropólogo, ao incorporar oposições binárias presentes nas diversas formas de sociedade, permite a reconciliação com o existente”, analisa Campato. Assim, Lévi-Strauss sustenta, desde a reflexão sobre o tabu do incesto, que o impulso sexual, por exemplo, pode ser regulado graças à cultura. Por esse ângulo, o homem não mantém relações indiscriminadas, mas as pensa previamente para distingui-las. Nesse momento, ele perde sua natureza animal e se transforma em ser cultural. As regras pelas quais as unidades da cultura se combinam não seriam produto da invenção humana e a passagem do animal natural ao animal cultural – por meio da aquisição da linguagem, da preparação dos alimentos, da formação de relações sociais etc. – segue leis já determinadas por sua própria estrutura biológica.
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O que se aprovou hoje, tendo por base os conteúdos, foi como abordar os conteúdos. [...] A ênfase deixa de ser na memorização e passa a ser na capacidade de compreensão dos fenômenos da natureza, por exemplo. Ministro Fernando Haddad em 13 de maio de 2009
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Você pode confiar num programa educacional que sempre acreditou nisso. Pueri Domus Escolas Associadas. Há 40 anos à frente do seu tempo.
Referência em educação de qualidade
opinião
artigo
O novo Enem revoluciona o Ensino Médio? Por João Luís de Almeida Machado
A
grande mídia tem propagado aos quatro ventos que o novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), criado para, quem sabe, futuramente substituir os vestibulares como critério de seleção para as universidades, constitui uma verdadeira revolução. Calma lá! Cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém, como nos diz o sábio provérbio popular.
João Luís de Almeida Machado é editor do portal Planeta Educação e doutor em Educação pela PUC-SP; professor universitário e pesquisador; autor do livro Na sala de aula com a sétima arte: aprendendo com o cinema (Editora Intersubjetiva).
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Mas daí a pensar que automaticamente isso acarretará modificações estruturais nas escolas brasileiras, sobretudo nas redes públicas, é ir além do próprio sonho, saindo dos limites da sensatez e embarcando em autêntica utopia.
Revoluções por decreto não existem. A própria adoção do termo, já desgastado pelo tempo, é errônea nesse caso, pois não se configura, com tais mudanças e reformas previstas, sequer uma esperada virada de mesa na educação brasileira, quanto mais na sociedade.
O novo Enem cria, por certo, demandas que não existiam. Cobra dos professores uma série de posturas que antes não lhes eram regulares, comuns, peculiares. Estipula a necessidade de leitura e atualização constante pelos estudantes (e, em contrapartida, pelos educadores com os quais estarão trabalhando). Propõe, por meio de suas questões, o desenvolvimento do raciocínio, da capacidade de relacionar e ir além da simples memorização de fórmulas e dados.
É certo que a implantação desse novo modelo de avaliação dos saberes relativos ao Ensino Médio como elemento para o ingresso dos estudantes em universidades públicas e privadas, com considerável adesão já a partir deste ano, constitui inovação necessária, preconizada e esperada por muitos educadores, entre os quais me incluo.
A interdisciplinaridade (ou, ao menos, a multidisciplinaridade) entra em cena. Ir “além dos muros da escola” (título de uma excelente produção do cinema francês sobre educação, premiada em Cannes) com viagens, leituras, filmes, exposições, músicas, poesia, artes plásticas, navegação por sites com conteúdo inteligente e desafiador, entre outras ações, se torna necessário.
É certo que tudo isso é grandioso se analisarmos a realidade e os problemas que envolvem o Ensino Médio público no país, sempre visto como “preparação para o vestibular”. As redes privadas já se mexem e pretendem implementar linha de ação que busque preparar seus alunos para essa nova demanda. Mas, ainda assim, com tal perspectiva, muitas delas erram o alvo, porque assumem essa nova “atitude” de olho apenas nos resultados, sem ir além de forma proposital. Extrapolar a concepção vigente e entender que os saberes não são dissociados, que as áreas têm relações diretas e indiretas é outro desafio. Reunir os conhecimentos em grupos como Ciências Humanas, Matemática e Ciências da Natureza, Linguagens e Códigos é mudança importante, que traz qualidade à educação. Isso sem contar que aproximar e tornar regular o trabalho cooperativo entre os professores, separados em suas “caixinhas do conhecimento”, verdadeiros compartimentos de saber, como já dizia Paulo Freire, será ainda tarefa das mais árduas.
DPZ
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