Pior orçamento em investimentos desde 2004
Educação, saúde e demais serviços públicos e políticas sociais são alvos de Bolsonaro. Página 2, 3, 6 e 7
Liminar derruba adiamento de parcela salarial, mas congelar salários é meta do governo. Página 3 Luiz Fernando Nabuco
Mourão: 'Vamos desmanchar o Estado' Luiz Fernando Nabuco
Associação dos Docentes da UFF Jornal da ADUFF
Seção Sindical do Andes-SN Filiado à CSP/Conlutas
Lançamento da Frente em Defesa da Educação Pública, Gratuita, Inclusiva e Democrática’, em Niterói: unidade para enfrentar os projetos de Bolsonaro
Assembleia da Aduff elegeu a delegação ao Congresso do Andes-SN, que debaterá em janeiro os desafios diante do novo governo
Ato na Faculdade de Direito da UFF contra as ações policiais na universidade, no período das eleições; decisão do STF reafirmou autonomia universitária, que terá que ser novamente defendida em 2019
UFF resiste e reage para defender democracia, direitos e educação pública, gratuita e democrática Comunidade da UFF teve papel destacado, em 2018, na defesa das liberdades democráticas, dos direitos sociais e da autonomia pedagógica e universitária. Categoria docente avalia, em debates e assembleias, que desafios em 2019 serão muito maiores e participação precisará se multiplicar, assim como a unidade de todos os que rejeitem as ameaças de retrocessos. Leia nas páginas 2, 3, 6 e 7
Zulmair Rocha
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Editorial
A luta que a história nos exige Docentes da UFF podem se cadastrar no serviço, enviando mensagem para o número (21) 97276-2018. Por meio de listas de transmissão, o docente receberá boletim semanal com informações de interesse da categoria, o que inclui comunicados de atividades e sobre ações jurídicas.
App Aduff
E
screver um editorial neste momento histórico é um desafio. Sabemos que se trata do início de um período absolutamente singular na história do país, pois acaba de assumir, via voto popular, um governo autoritário, admirador da ditadura, que faz apologia da tortura, difunde todo tipo de discurso de ódio e defende medidas ultraneoliberais. Ao mesmo tempo, este governo, que fez sua campanha em cima de fake news moralistas e conservadoras, não apresentou durante a campanha um programa detalhado do que exatamente pretende fazer. Temos visto esta estratégia, que se alia a lançar ideias que, ao serem criticadas, são desmentidas, em outras partes do mundo. O objetivo é manter uma cortina de fumaça que tire a atenção dos ataques aos direitos da população e dificulte a organização da luta. Contudo, essa desinformação intencionalmente fomentada não pode nos impedir de iniciarmos a mobilização já. As bandeiras históricas do Andes-SN e da Aduff-SSind, tais como a defesa da democracia, dos direitos humanos, do direito à organização sindical e popular e de uma sociedade mais justa (para a qual os serviços públicos são fundamentais) estão ameaçadas, ainda que não tenhamos conhecimento de que forma os recém-empossados pretendem agir para efetivar suas declarações.
As bandeiras históricas do Andes-SN e da Aduff-SSind, tais como a defesa da democracia, dos direitos humanos, do direito à organização sindical e popular e de uma sociedade mais justa (para a qual os serviços públicos são fundamentais) estão ameaçadas No que tange à universidade pública e seus docentes, o novo governo e a base que o sustenta têm sido explícitos. No Manifesto à Nação, documento lançado pela bancada evangélica antes do segundo turno, defende-se uma universidade baseada na meritocracia e em provas difíceis, que seja a recompensa pela “persistência e escolha em estudar”. Em um país brutalmente desigual como o Brasil, quem conseguirá passar nesses vestibulares? Quem poderá escolher seguir estudando? Ao contrário do que acontece hoje, a classe trabalhadora voltará a pagar por uma universidade onde seus fi-
lhos e filhas não conseguirão estudar. O trabalho docente pode ficar ainda mais intenso e precário. O Manifesto à Nação defende um aumento do número de orientandos de pós-graduação, pois avalia que 8 é um número baixo. O Programa de Governo critica o “pouco” tempo que os professores e professoras brasileiras ficam em sala de aula. Temos visto membros do governo defenderem de forma ferrenha o fim da estabilidade de servidores públicos e, mais recentemente, que a Retribuição por Titulação não componha a aposentadoria. Ademais, o esforço do governo para implementar projetos que visam a amordaçar a educação em nível nacional irá se intensificar. O momento é duro e complexo, mas acreditamos que temos muito a contribuir com as lutas que a conjuntura exige a partir de nossa longa trajetória de atuação classista e autônoma, que não nos impede de fazer as alianças necessárias, como se pôde ver no Ocupa Brasília e na greve geral de 2017, na qual o Andes-SN foi um dos grandes articuladores. Ao mesmo tempo, é fundamental que todos os professores e professoras fortaleçam o sindicato via filiação e, principalmente, participação em suas diversas atividades. É luta que a história exige de nós e temos certeza que o Andes-SN e a Aduff-SSind estarão à altura de tamanho desafio.
Aduff lança aplicativo gratuito próprio, desenvolvido especialmente para a seção sindical dos docentes da UFF. O serviço já está em funcionamento e terá acompanhamento da carreira docente, notícias, comunicados, agenda e calendários acadêmicos e chat para falar com a seção sindical.
BOLETIM ONLINE Escreva para cadastro@aduff.org.br e peça a inclusão do seu endereço eletrônico em nossa mala direta. Receba o Boletim da Aduff por e-mail, com notícias e outras informações relevantes.
PLANTÃO JURÍDICO SEDE Plantão Jurídico na sede - O Plantão Jurídico na sede da Aduff, em Niterói, acontece todas as sextas-feiras, quando os professores de Niterói e dos campi nos demais municípios podem buscar assessoria ou solicitar o ingresso de ações. O atendimento ocorre no período de 9h às 13h, por ordem de chegada.
PLANTÃO JURÍDICO ITINERANTE O plantão jurídico itinerante acontece, conforme a demanda dos filiados, em todas as cidades em que a UFF possui campi. A data das visitas da equipe jurídica do sindicato são divulgadas com antecedência pelos meios de comunicação da Aduff - em especial o AduffZap.
Presidente: Marina Cavalcanti Tedesco • 1º Vice-Presidente: Waldyr Lins de Castro • 2º Vice-Presidente: Carlos Augusto Aguilar Junior • Secretária-Geral: Adriana Machado Penna • 1º Secretário: Isabella Vitória Castilho Pimentel Pedroso • 1º Tesoureiro: Bianca Novaes de Mello • 2º Tesoureiro: Edson Benigno da Motta Barros • Diretoria de Comunicação (Tit): Reginaldo Scheuermann Costa • Diretoria de Comunicação (Supl): Wilma Lucia Rodrigues Pessôa • Diretoria Política Sindical (Tit): Elizabeth Carla Vasconcelos Barbosa • Diretoria Política Sindical (Supl): Claudio Fernandes da Costa • Diretoria Cultural (Tit): Jairo Paes Selles • Diretoria Cultural (Supl): Ana Claudia Cruz da Silva • Diretoria Acadêmica (Tit.): Douglas Guimarães Leite • Diretoria Acadêmica (Supl): Jacira Maria Machado de Oliveira
Dezembro de 2018 Biênio 2018/2020 Gestão: ADUFF Autônoma, Democrática e de Luta
Editor Hélcio L. Filho Jornalistas Aline Pereira Lara Abib
Revisão: Renake das Neves Projeto gráfico e diagramação Gilson Castro
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Servidores e serviços públicos são alvos do novo governo Ao final de 2018, decisão do STF suspendeu efeitos da MP que adiava parcelas salariais; mas congelamento, fim da estabilidade e de direitos de servidores são ‘metas’ já anunciadas por Bolsonaro
Ato contra Bolsonaro no Centro do Rio, ainda na campanha eleitoral: governo ultraliberal e de extrema direita ataca funcionalismo antes mesmo da posse Hélcio Lourenço Filho Da Redação da Aduff
P
ouco antes do fim de seu mandato, Michel Temer sofreu no Supremo Tribunal Federal a sua segunda derrota na tentativa de adiar a aplicação das parcelas de reajustes obtidos por categorias de servidores públicos em 2016 ou 2017. A liminar do ministro Ricardo Lewandowski, na Ação Direta de Inconstitucionalidade 6004, suspendendo a eficácia da Medida Provisória 849/2018, assegura o pagamento aos servidores e contraria a política de congelamen-
to salarial que se tenta impor ao funcionalismo. A parcela das alterações na tabela salarial dos docentes do magistério federal, prevista para agosto de 2019, também é contemplada pela decisão. Com a liminar, fica suspenso o adiamento para 2020 das parcelas salariais programadas por lei para 2019. A decisão de Lewandowski refere-se à ação de inconstitucionalidade ajuizada pela Associação Nacional dos Médicos Peritos da Previdência Social. O ministro ressalta que a entidade remete nas suas argumentações
a outra medida provisória, a MP 805/2017, que caducou ao não ser votada dentro do prazo constitucional no Congresso Nacional e que já havia perdido a eficácia por uma liminar deferida pelo próprio Lewandowski. A MP 805 aumentava, ainda, a alíquota previdenciária dos servidores de 11% para 14%, o que também foi anulado por aquela liminar.
Orçamento O orçamento da União para 2019, o terceiro sob as restrições da Emenda Constitucional 95, contempla os recursos necessários a esses reajustes
parcelados. No entanto, não há previsão de recursos para a revisão salarial anual ou para novas reestruturações salariais de servidores. Logo após a eleição presidencial, integrantes da equipe de transição e o próprio presidente eleito, Jair Bolsonaro, defenderam o congelamento salarial, o fim da estabilidade nos serviços públicos e de supostos ‘privilégios’ do funcionalismo. Os discursos, mesmo que muitas vezes desencontrados e fragmentados, convergem para diagnóstico e política definidos: o de que um
dos grandes problemas do país são os servidores públicos e que é preciso reduzir o setor ao máximo. Isso reforça uma constatação: se as lutas para deter o congelamento salarial, o fimda estabilidade e o atrofiamento das políticas públicas já eram imprescindíveis com a emenda do ‘teto dos gastos’ (EC 95), agora, diante do novo governo, são ainda mais decisivas e urgentes. Até mesmo para a própria obrevivência de serviços públicos como a educação, a saúde e a seguridade social.
Terceiro orçamento após EC 95 prevê menor investimento público desde 2004 Diante da maior asfixia fiscal sobre os serviços públicos da história do país, campanha defende revogação da chamada emenda do ‘teto dos gastos’
A
previsão orçamentária para a União em 2019, aprovada pelo Congresso Nacional, é a mais baixa para investimentos públicos, em termos reais, desde 2004. No terceiro ano sob as restrições da Emenda Constitucional 95, os investimentos públicos somam R$ 155,8 bilhões no projeto aprovado.
Deste valor, R$ 119,6 bilhões referem-se às estatais, a maior parte à Petrobrás. Para os demais órgãos públicos, a autorização orçamentária para investimentos é de R$ 36,2 bilhões, 22% inferior ao previsto para 2018 (R$ 46,5 bilhões). Em quase uma década e meia, apenas em 2004 o valor reservado
para investimentos foi mais raquítico: R$ 34,2 bilhões, em cifras atualizadas. A EC 95 impõe um teto ao orçamento de 20 anos, até 2036, com possível revisão aos dez anos de vigência. Ao longo de todo esse período, as despesas primárias não podem ultrapassar as do ano anterior, admitindo-
-se somente a correção pela inflação. É a maior previsão de asfixia fiscal nos orçamentos públicos da história do país. A Aduff-SSind e o Andes-SN, que lutaram pela não aprovação da EC 95, agora participam da campanha por sua revogação. O teto de gastos, porém, não existe para o pagamen-
to de juros e amortizações e rolagem das dívidas públicas. O orçamento da União de 2019 destina R$ 1.424 trilhão para isso, quantia reservada para ser consumida pela transferência de recursos públicos para o mercado financeiro privado, o que representa 42% de um orçamento de R$ 3,38 trilhões. (HDF)
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Aduff divulga balancetes de junho e julho de 2018
A diretoria da Aduff-SSind divulga, nesta edição, o balancete referente aos meses de junho e julho de 2018, como parte da política de transparência na gestão da entidade.
Balancete de julho de 2018
Balancete de junho de 2018 Contribuição de Associados
349.214,74
Contribuição de Associados
346.569,44
Receita Operacional
349.214,74
Receita Operacional
346.569,44
Receita Financeira Resgate Saldo bancário anterior Devoluções Saldo caixinha anterior RECEITAS Ordenados 13º Salário INSS FGTS Vale-transporte Férias Assistência Médica Contribuição sindical Despesas com pessoal
5,60 120.015,37 2.014,49 400,00 34,92 471.685,12 58.388,86 2.748,61 29.313,54 5.899,96 4.400,90 6.544,45 7.297,71 0,00
Receita Financeira
6,71
Resgate Saldo bancário anterior
6.159,13
Devoluções
6.300,00
Saldo caixinha anterior RECEITAS Ordenados 13º Salário INSS FGTS Vale-transporte Férias Assistência Médica Contribuição sindical Despesas com pessoal
114.594,03
365,24 359.400,52 56.329,44 29.633,55 6.188,19 4.385,95 5.485,35 0,00 102.022,48
Despesas tributárias ( IRF, PIS etc )
9.218,74
Despesas tributárias ( IRF, PIS etc )
8.965,78
Despesas bancárias
1.122,35
Despesas bancárias
1.003,30
Honorários advogado
12.500,00
Honorários advogado
12.500,00
Honorários contador
992,54
Honorários contador
973,08
Outros Prestadores de Serviços por PF
2.254,00
Outros Prestadores de Serviços por PF
Despesas com veículo
2.884,80
Despesas com veículo
450,00
Despesas de Cartório
1.102,76
Despesas de Cartório
26,00
Material de escritório
2.681,87
Material de escritório
2.384,90
Telefone, água, luz, internet
3.185,75
Telefone, água, luz, internet
4.801,49
Imprensa (divulgação, assinaturas, diagramação, jornais, gráficas etc)
61.175,23
Imprensa (divulgação, assinaturas, diagramação, jornais, gráficas etc)
3.270,60
38.306,03
Correios
5.392,60
Correios
Material de consumo copa/cozinha
2.683,81
Material de consumo copa/cozinha
1.621,36
Desp.com material permanente (imóvel,computadores,ar, telefonia etc)
6.563,60
Desp.com material permanente (imóvel,computadores,ar, telefonia etc)
8.477,22
AG descentralizada / Sindicato itinerante
5.431,00
AG descentralizada / Sindicato itinerante
Projeto Revolução Russa
3.099,20
Projeto Revolução Russa
Eleições Diretoria (biênio 2018-2020)
31.585,05
Reuniões e eventos promovidos pela ADUFF
2.213,72
Participação da ADUFF em reuniões da ANDES, SPF (diárias, passagens etc.)
5.340,87
1.630,00
Reuniões e eventos promovidos pela ADUFF
1.671,38
Participação da ADUFF em reuniões da ANDES, SPF (diárias, passagens etc.)
16.086,93
Festa 40 anos ADUFF
CONAD
50.986,69
CONAD
Festa Posse Diretoria 2018/2020
10.107,00
Festa Posse Diretoria 2018/2020
Outras Despesas
236.608,51
Fundo Único ANDES-SN
69.842,95 5.587,44
Doações a Entidades e Movimentos Sociais
24.838,60
CSP-CONLUTAS
13.689,22
Repasse a Entidades
113.958,21
TOTAL GERAL DAS DESPESAS
465.160,75
Disponibilidades Saldo de caixinha Saldo em Conta Corrente de movimento Saldo aplicado Saldo em Conta Corrente conta Greve Saldo aplicado Saldo em Conta Corrente conta FGTS /OBRA Saldo aplicado
365,24 6.159,13 787.434,69 0,00 608.296,76 0,00 211.721,44
22.612,96
Eleições Diretoria (biênio 2018-2020)
Festa 40 anos ADUFF
ANDES-SN
33,10
11.448,46 15.112,61
Ciencia na Praça Outras Despesas ANDES-SN Fundo Único ANDES-SN
616,00 61,21 135.965,48 69.313,89 5.545,11
Doações a Entidades e Movimentos Sociais
13.207,44
CSP-CONLUTAS
13.585,52
Repasse a Entidades
101.651,96
TOTAL GERAL DAS DESPESAS
339.639,92
Disponibilidades Saldo de caixinha Saldo em Conta Corrente de movimento Saldo aplicado Saldo em Conta Corrente conta Greve Saldo aplicado Saldo em Conta Corrente conta FGTS /OBRA Saldo aplicado
364,99 19.395,61 791.020,22 0,00 608.296,76 0,00 212.631,38
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30 anos sem Chico Mendes No debate promovido pela Aduff, dois militantes contemporâneos de Chico Mendes no Acre, Dercy Teles e Osmarino Amâncio, apontam retrocessos na defesa da Amazônia e dos povos da floresta e alertam: ‘essa luta é de todos’
que estão acontecendo", complementou a palestrante.
Aline Pereira Da Redação da Aduff
M
Povos da floresta Dercy apontou as necessidades da população da flo-
‘Após derrota, latifúndio ressurge’
Osmarino: nada a comemorar nesses 30 anos
Dercy: a questão da Amazônia é de todos
resta, indígena e ribeirinha na Amazônia. Conclamou a classe trabalhadora rural e urbana à união frente à atual conjuntura que, avaliou, tende ao acirramento nos próximos meses. Para ela, o momento exige indignação – coragem para enfrentar as lutas que virão e esperança em dias melhores. "Sobrevivi a duas ditaduras - a dos militares e a dos homens", disse a palestrante. Ela foi uma das primeiras mulheres a ser presidente de um sindicato rural no Brasil, eleita em 1982. "Mulheres só participavam [do movimento] se fossem viúvas, do contrário era só o homem que se associava. Consegui que-
brar esse paradigma", constatou Dercy, que também foi responsável pelo projeto de alfabetização de adultos e a escolarização nos seringais. “O capitalismo é selvagem e inescrupuloso quando se trata do ser humano. Se não tiver sustentabilidade para nós humanos, o resto não se sustentará”, disse. “A questão da Amazônia não é minha ou de quem vive lá. É a maior floresta do mundo e a maior reserva de água doce do planeta. Então, ela é questão dos brasileiros e de todo o mundo. Deve ser preocupação de todos nós, principalmente da juventude, que deve se aprofundar melhor nesses fatos
Em seguida, Osmarino Amâncio analisou a conjuntura política, expôs algumas histórias da luta que travou, ao lado de Chico Mendes, pela defesa da floresta e da sobrevivência dos povos ribeirinhos. “Não temos o que comemorar nesses 30 anos sem Chico Mendes. O latifúndio no Acre sofreu uma derrota, mas hoje ressurge; fazendeiros e madeireiras lucram”, afirmou o palestrante, que também integra a CSP-Conlutas e milita no movimento sindical do Acre há 40 anos. Ele criticou a lei das florestas públicas, sancionada por Lula da Silva em 2006, que, na prática, permite a exploração da área por empresas privadas. Para Osmarino, essa foi uma das grandes traições do Partido dos Trabalhadores (PT), além de não ter fei-
Fotos: Cléver Felix/ LDGNews
ais uma forma de resistência contra a história de violência no campo e na cidade, que marca este país desde que foi invadido pelos colonizadores. Assim, Adriana Penna e Edson Benigno ambos os diretores da Aduff - reafirmaram a importância da atividade promovida pela seção sindical no auditório da Faculdade de Economia em referência aos 30 anos da morte de Chico Mendes. Dois militantes contemporâneos e companheiros de Chico Mendes participaram do debate: a ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Xapuri-Acre) Dercy Teles e o militante do Movimento Seringueiro Osmarino Amâncio. No evento “A Atualidade da Questão Agrária e o Movimento Seringueiro – 30 anos sem Chico Mendes” foram discutidos o legado do seringueiro, sindicalista e ativista político brasileiro assassinado em 1988; a permanente luta pela reforma agrária, pela defesa da floresta, e a resistência dos chamados povos da floresta pela sobrevivência em face do avanço dos interesses do agronegócio na região Norte.
to a reforma agrária. "Essa lei foi arrumada e aprontada pela Monsanto; em 22 dias foi apresentada e aprovada. Sequer tivemos tempo de discutir", contou o sindicalista. O sindicalista ainda criticou a atuação da então ministra do Meio Ambiente (2003-2008) Marina Silva [nascida no seringal e liderança política no Acre, ao lado de Chico Mendes, nos anos 80] nesse processo. "Cerca de 76 milhões de hectares foram leiloados e a Marina preparou toda a logística para o grande capital", disse. De acordo com Osmarino, Chico Mendes não pode ser lembrado como um ecologista ou um ambientalista. Isso seria associá-lo a um nicho de mercado que obtém vantagens a partir de uma "economia-verde", a exemplo do que tem feito algumas organizações não governamentais (ONGs), entre elas, disse, a WWF. "A natureza é a nossa sobrevivência", disse, emocionado.
Debate promovido pela Aduff nos 30 anos sem Chico Mendes
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Campanha detém projeto da mordaça na educação, mas batalha recomeça em 2019 Frente Nacional Escola Sem Mordaça é relançada em meio à mobilização que levou ao arquivamento do projeto na Câmara
A
pós mais de dois anos da campanha contra os projetos que tentam censurar e restringir os debates e a prática pedagógica nas escolas e universidades, a versão apresentada na Câmara dos Deputados foi detida ao final de 2018. A proposta, cujo teor gerou dezenas de projetos similares nos estados e municípios, não foi aprovada na comissão especial que a analisava e, com isso, foi arquivada. Após as tentativas de votá-lo esbarrarem na obstrução dos parlamentares contrários, articulados com as entidades da educação e dos movimentos sociais, o presidente da comissão, deputado Marcos Rogério (DEM-RO), encerrou os trabalhos do colegiado. “O arquivamento desse projeto, na conjuntura em que estamos vivendo, é uma vitória gigantesca para os movimentos sociais e para os setores da educação. É uma vitória para todos e todas que lutam defendendo a diversidade. Principalmente para os professores e professoras, já que o PL significa a criminalização do trabalho docente”, disse a professora Caroline Lima, 1ª secretária do Andes-SN, em declaração à reportagem do Sindicato Nacional da categoria. Toda a tramitação foi acompanhada de perto pelos movimentos contrários à censura nas escolas, como o Andes-SN e a Frente Nacional Escola Sem Mordaça, entre outros. Para o professor Fernando Penna, da Faculdade de Educação da UFF e do Movimento Por Uma Escola Democrática, que integra a frente, o arquivamento do projeto deteve o objetivo deles de ao menos aprová-lo na comissão, mas é apenas uma etapa desta luta. Penna participou do debate ‘Como Falar Sobre o
Projeto Escola Sem Partido’, promovido pela Aduff, ao lado do professor Diogo Salles, em dezembro, no dia nacional em defesa da educação pública, gratuita, laica e democrática. “O Escola Sem Partido é um projeto de escola que tenta destruir a dimensão educacional e o alvo que eles escolheram para isso é destruir a figura do professor com uma campanha de ódio ao professor”, disse à reportagem. O êxito do movimento pela democracia na educa-
ção, porém, terá que voltar a ser defendido em 2019, ressalta. Tanto porque o projeto pode ser retomado em fevereiro, quando deputados e senadores eleitos assumem seus mandatos, quanto porque há mais de uma centena de projetos similares pelo país afora. Além disso, os efeitos da campanha contra o professor já estão nas salas de aula. Foi o que suscitou, por exemplo, a aula pública coordenada pela professora Amanda Mendonça, da
constrangedoras e de mais ameaça do que eu”, relatou à reportagem do Jornal da Aduff. Na avaliação da docente, esse temor na prática pedagógica, com a autocensura, é também perceptível nas universidades. “Muita gente está revendo seus currículos, o que vai dar na disciplina, para evitar algum tipo de discussão”, disse.
Faculdade de Educação da UFRJ, sobre Educação Brasileira. Ela explica que teve suas aulas gravadas por um estudante, sem a sua autorização, e que por isso resolveu, em conjunto com outros professores, realizar a atividade para debater o assunto. “A gente precisa de alguma maneira estabelecer um diálogo sobre esse tema. A partir do meu caso, eu tive vários relatos de outros professores que não quiseram tornar público, mas que tiveram situações até mais
Frente Escola Sem Mordaça
Luiz Fernando Nabuco
Hélcio Lourenço Filho Da Redação da Aduff
Plenária que reuniu os três segmentos da comunidade universitária, na Frente Antifascista na UFF
‘Frente Antifascista da UFF’ reúne os três segmentos para defender democracia
P
ela democracia, em defesa da universidade pública e contra o fascismo, estudantes, docentes e técnicos-administrativos da Universidade Federal Fluminense (UFF) constituíram a “Frente Antifascista da UFF”. Criada a partir de plenária dos três segmentos convocada pela Aduff, pelo
Sintuff e pelo DCE, a Frente defende a unidade da comunidade acadêmica para enfrentar o crescimento dos discursos de ódio no Brasil e as políticas privatistas, de retirada de direitos e de criminalização dos movimentos sociais defendidas por Jair Bolsonaro (PSL) já na campanha presidencial. Do final de outubro a
dezembro de 2018, foram realizadas três reuniões da Frente, que organizou a Mosca - Mostra de Cultura e Arte Pela Democracia, iniciativa que reuniu apresentações musicais, de grafite, de poesia e debates em torno do tema (página 12). Em 2019, os encontros da Frente serão retomados no início do ano letivo. (LA)
Uma semana antes do fracasso do projeto Escola Sem Partido, os movimentos contrários a ele relançaram, numa atividade na própria Câmara, a Frente Nacional Escola Sem Mordaça, da qual fazem parte, entre outras entidades, o Andes-SN, o Sinasefe e a Fasubra. A movimentação é parte da preparação da campanha que lutará pela educação pública em 2019. Em Niterói, logo depois, foi lançada a Frente em Defesa da Educação Pública, Gratuita, Inclusiva e Democrática. A atividade ocorreu na sede da Aduff-SSind, que apoia e participa da iniciativa. Para a professora da UFF Marina Tedesco, a Nina, dialogar com a realidade do aluno é um princípio para qualquer disciplina que não pode ser esquecido. A docente observou, durante debate sobre o tema, que o que eles rotulam como doutrinação é o que os setores democráticos chamam de educação. Ela assinalou que o próprio presidente eleito, Jair Bolsonaro, reconheceu que o ‘kit gay’, que jamais existiu, teve impacto relevante em sua campanha, o que demonstra a capilaridade desse tipo de discurso, que precisa ser combatido. “Talvez a gente tenha aqui uma oportunidade de refundar a luta pela escola pública e pela educação de qualidade”, ponderou.
Jornal da ADUFF
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Reação arranca decisão pró-democracia no STF Decisão que proibiu ações policiais nas universidades foi considerada uma vitória da defesa da autonomia e da luta antifascista, que enfrentará governo de extrema direita em 2019 Zulmair Rocha
Hélcio Lourenço Filho Da Redação da Aduff
U
ma intensa batalha foi travada nas universidades públicas na semana que antecedeu o segundo turno da eleição presidencial, na qual as liberdades democráticas, o direito de expressão e a própria autonomia universitária estavam em disputa. As reações das comunidades universitárias e de parte da sociedade civil às mais de 20 ações policiais autorizadas por juízes da Justiça Eleitoral, num mesmo dia, em campi de todas as regiões do país, levaram a Procuradoria-Geral da República e o Supremo Tribunal Federal a, finalmente, pautarem algo que já vinha ocorrendo de forma recorrente, mas diluída. “Em 40 anos, nós nunca vivemos algo como o que está acontecendo. Estamos vivenciando ameaças dentro das universidades, é inadmissível”, disse a professora EblinFarage, secretária-geral do Andes-SN (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior), em entrevista coletiva à imprensa, organizada por entidades da educação. Cerca de 72 horas após a eleição, os ministros do STF decidiram, por unanimidade, que as ações policiais eram inconstitucionais. “As práticas descritas na peça inicial da presente arguição contrariam a Constituição, contrariam o Brasil como Estado Democrático de Direito. Não há direito democrático sem respeito
Ato em frente à Faculdade de Direito da UFF, em Niterói: defesa da autonomia e das liberdades democráticas
às liberdades. Não há pluralismo na unanimidade. A única força legítima a invadir a universidade é das ideias livres e plurais”, disse a ministra Cármen Lúcia ao proferir o seu voto na ação, na qual o Andes-SN ingressou como amicus curiae. Ela já havia deferido liminar com igual teor sobre o caso pouco antes da votação do segundo turno.
O peso de tal decisão da corte judicial máxima do país é evidente no momento em que ganham força teses conservadoras na sociedade e em que assume a Presidência da República um capitão reformado adepto ao ‘Escola Sem Partido’. No entanto, essa disputa em torno da democracia e da autonomia universitária parece longe de terminar.
Poucas semanas depois, o presidente do STF, Dias Toffoli, retirou de pauta a ação na qual a constitucionalidade do projeto ‘Escola Sem Partido’ seria posta à prova. Disse preferir aguardar os desdobramentos no Legislativo. Ao que tudo indica, haverá mais e novas batalhas a serem travadas nos campi, nas ruas, praças e nos tribunais.
‘Quem tem sindicato não está sozinho’ Campanha lançada pela Aduff auxilia docentes em casos de perseguição e assédio Lara Abib Da Redação da Aduff
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campanha permanente da Aduff-SSind “Quem tem sindicato não está sozinho” tem como objetivo orientar e acompanhar docentes que possam ser vítimas de assédio,perseguição ou violência em seus locais de trabalho. Além de um material com orientações de como proceder em casos de arbitrariedades, produzido com a assessoria da equipe jurídica da Aduff e do Andes-Sindicato Nacional, a campanha também disponibiliza o número (21) 98166-0549 para receber denúncias e dar orientações específicas a docentes. “A Aduff-SSind e o Andes estão na
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luta com os docentes combatendo as diferentes tentativas de amordaçar a educação, em defesa da liberdade de cátedra e da autonomia universitária. Além de dar ampla divulgação às garantias constitucionais e legais que protegem a atividade docente, também disponibilizamos o número de celular para que a categoria tenha aces-
so direto ao seu sindicato, registrando qualquer tipo de ameaça, intimidação ou perseguição. Ninguém solta a mão de ninguém, quem tem sindicato não está sozinho”, ressalta a presidente da
Aduff-SSind e professora do curso de Cinema da UFF, Marina Tedesco. Além da linha telefônica, a assessoria jurídica da Aduff-SSind realiza atendimentos presenciais todas as sextas-feiras, de 9h às 13h, na sede da entidade (rua Prof. Lara Vilela, 110, São Domingos – Niterói) e periodicamente em todos os campi fora da sede, com datas debatidas em assembleias descentralizadas e divulgadas pelos meios de comunicação da Aduff.
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Ao Museu Nacional, com carinho
Estudantes do Coluni/UFF reproduzem em miniatura peças emblemáticas do museu, destruído por incêndio, e refletem sobre a situação por que passa a educação e a cultura no país
Trabalhos desenvolvidos pelos estudantes do Coluni sobre o Museu Nacional Aline Pereira Da Redação da Aduff
E
studantes e docentes do Colégio Universitário Geraldo Reis (Coluni/UFF) encontraram forma criativa, sensível e multidisciplinar de viver o luto pelo incêndio que, há aproximadamente três meses, destruiu a maior parte dos 20 milhões de documentos e de peças históricas, paleontológicas e arqueológicas do Museu Nacional, o mais antigo do país. Há algumas semanas, alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental - sob a coordenação de professores das disciplinas de História, Ciências, Português e Inglês recriaram peças emblemáticas do prédio bicentenário, ícone do patrimônio histórico e imaterial do país. Reproduziram em miniaturas o gato mumificado, a réplica do T-Rex, o meteorito de Bendegó, a esquife da múmia de Sha-Amun-Em-Su, a réplica do Pterossauro, todos feitos em argila e materiais recicláveis. Dedicaram-se ainda à reconstrução do crânio de Luzia, fóssil humano mais antigo do Brasil, com aproximadamente 12 mil anos, encontrado pelos pesquisadores nos escombros do Museu, poucos dias após a tragédia. Subordinado à Universida-
de Federal do Rio de Janeiro, o Museu Nacional enfrentava processo de sucateamento imposto pelos governantes às instituições públicas de ensino e de fomento à pesquisa, asfixiadas pelos cortes de recursos públicos, agravados com a Emenda Constitucional 95 – a do teto dos gastos públicos para as próximas duas décadas. “Aquele museu era extremamente importante no processo de aprendizagem de estudantes de todas as idades, principalmente nossos alunos do Ensino Fundamental. Por isso, dar aula na semana seguinte [ao incêndio] foi quase impossível. Propor uma atividade em conjunto era uma forma de viver o luto que passamos”, explica Giovanna de Abreu Antonaci, professora substituta de História. “Estamos chocados. Não só pelo acervo, mas também pelo descaso que os governantes têm com um patrimônio tão importante para a humanidade”, complementa a docente. De acordo com Karine Fernandes, professora de Ciências Biológicas que também coordenou a atividade, o objetivo era problematizar a perda inestimável desse acervo para a Humanidade e para a produção da Ciência no país. “No dia da mostra, os alunos
de todos os segmentos estiveram presentes e foi muito legal ver a curiosidade, a vontade deles em interagir escrevendo cartas aos funcionários do Museu Nacional. Uma das estudantes disse que não teve a oportunidade de visitar o Museu Nacional e que aquela era a chance de conhecer um pouco do que tinha nele”, conta a docente que atua na escola desde 2014.
Legado às novas gerações Giovanna defendeu a permanente construção e preservação da memória e da ciência. “Fazer esse trabalho foi um processo coletivo de compreensão do tanto que havia no Museu e ainda sobre quanta ciência nós conseguimos desenvolver no país”, disse. Assim como a colega de História, a professora Karine defendeu a conscientização dos
estudantes acerca da realidade e também a integração da comunidade escolar. Para ambas, a realização dessa atividade pode ser entendida como uma forma de posicionamento político em meio às tentativas de sucateamento das instituições públicas. É ainda uma forma de resistência à campanha de desqualificação da administração central da UFRJ, a quem setores conservadores buscaram responsabilizar pela tragédia. “Foi uma forma de demonstrar total apoio aos professores, pesquisadores, mediadores e técnicos que investiram anos de trabalho nessa instituição, apesar de todas as dificuldades causadas pela redução de investimento público em áreas como Educação, Cultura e Saúde. À UFRJ, nosso total apoio”, complementou Karine Fernandes.
Comissão aprova parecer que rejeita criação de agência dos museus e mantém Ibram A comissão mista do Congresso Nacional que analisa a Medida Provisória 850/2018 aprovou parecer que rejeita a criação da Agência Brasileira de Museus e mantém o Ibram (Instituto Brasileiro de Museus). A medida foi editada pelo presidente Michel Temer logo após o incêndio no Museu Nacional, no Rio, em meio a uma campanha que secundarizava os cortes orçamentários e tentava responsabilizar a gestão pública pelo ocorrido. O texto aprovado, no entanto, prevê a criação de fundação privada para arrecadar e gerir recursos para o setor. O parecer da MP, da senadora Lídice da Mata (PSB-BA), terá que ser votado nos plenários do Senado e da Câmara a medida caducará se não for aprovada até 18 de fevereiro de 2019. Às vésperas da votação na comissão, ocorrida no dia 11 de dezembro, a relatora chegou a dizer que se o governo discordasse do parecer deveria tentar derrubá-lo. No entanto, foi fechado um acordo dentro da comissão em torno da criação da fundação. Não há garantias sobre o que ocorrerá, porém, nos plenários. Pelo projeto de lei de conversão apresentado à MP 850/2018, ficaria a cargo da fundação buscar entendimento formal com a UFRJ, responsável pelo Museu Nacional, para "colaborar na reconstrução e modernização" da instituição, incluindo a restauração e recomposição do acervo. (HLF)
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Cessão do Huap à Ebserh volta a ser questionada Diretor não explica ofício enviado pela Reitoria à Procuradoria que afirmava que o hospital poderia fechar em decorrência do não cumprimento do contrato pela Ebserh Aline Pereira Da Redação da Aduff
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Audiência O assunto foi pautado na audiência pública convocada pela Comissão de Saúde da Câmara dos Vereadores da cidade, realizada no dia 13 de novembro, em um mini-auditório do Hospital Universitário. Acalorada, reuniu professores e técnico-administrativos, terceirizados e celetistas da Ebserh e foi presidida pelo vereador Paulo Eduardo Gomes (Psol). A mesa foi composta por Pedro Rosa e Izabel Firmino, respectivamente coordenador-geral e delegada de base do Sintuff no Huap; Tarcísio Rivello, atual Superintendente da Ebserh no Huap; Fátima Siliansky, professora da UFRJ e ex-diretora do Hospital Universitário Prof. Alberto Antunes (Hupaa-Ufal), da Universidade Federal de Alagoas; e Wladimir Tadeu, professor, médico no Antônio Pedro
O professor e médico Wladimir Tadeu criticou o contrato, que faz\ do Huap uma filial da Ebserh
Fotos: Luiz Fernando Nabuco
então reitor da UFF, Sidney Mello, afirmava em ofício de 9 de fevereiro de 2018 que há risco de o hospital universitário não mais conseguir garantir assistência à população, pois "o contrato com a Ebserh [Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares] vem sendo desrespeitado em vários pontos, sendo os principais a reposição da força de trabalho, a reabertura de serviços e a ampliação de leitos". No entanto, apesar da gravidade e do interesse público no assunto, mesmo 10 meses depois de ter sido endereçado a Paulo Eduardo Neves Villar, procurador da Procuradoria Seccional Federal em Niterói, o documento não foi publicizado. Na página da instituição, até o fechamento da reportagem, não havia qualquer menção ao documento mencionado, pelo qual o magnífico também lamenta a omissão da Ebserh e do Ministério da Educação no que tange ao cumprimento do controverso contrato firmado entre a empresa e a universidade, sob críticas de boa parte da comunidade acadêmica em 2016.
O professor Waldyr de Castro, vice-presidente da Aduff, defendeu, na audiência, a rescisão do contrato
e ex-diretor da Aduff-SSind. Compareceram ainda a deputada federal eleita Talíria Petrone (Psol); o vereador do Rio de Janeiro Babá (PSol); representantes do Conselho Municipal de Saúde; do Diretório Acadêmico de Medicina da UFF; do mandato da deputada estadual Enfermeira Rejane (PCdoB) e do Sepe-Niterói. A Aduff-SSind foi representada pelo professor Waldyr de Castro, que defendeu a revogação do contrato com a Ebserh - empresa que, de acordo com ele, não toma a saúde humana como direito, mas sim pela ótica mercadológica. O diretor da Aduff criticou a lógica empresarial que avança nas instituições públicas e lembrou que parte significativa da comunidade acadêmica alertou a administração central para os perigos de assinar um contrato com a Ebserh.
Autonomia universitária A professora Fátima Silansky (UFRJ) criticou o modelo da Ebserh e disse a autonomia universitária
está ameaçada. Afirmou que, no atual contexto político e econômico, qualquer prática que acene à privatização e que ameace a autonomia universitária deve ser combatida. O médico e professor Wladimir Tadeu disse que o reitor da UFF tem elementos suficientes para rescindir o contrato com a Ebserh, nos termos legais. Ele criticou o fato de Sidney Mello ter feito campanha alegando que não iria aderir à Ebserh, pouco antes de assumir o mandato (2014-2018). Para ele, o artigo primeiro da lei da Ebserh já indica que ela não deveria ser assinada por nenhum reitor. “Ali está claro que a Ebserh é empresa estatal de intervenção econômica, para prestação de serviço com finalidade lucrativa", afirmou o docente. Wladimir considerou ainda que, ao contratar a Ebserh, a UFF perdeu a autonomia universitária. "O hospital sai da autarquia federal e é cedido para empresa pública de direito privado. Torna-se filial da Ebserh, como diz a lei".
Superintendente nega problemas O professor Tarcísio Rivello disse que há falácias acerca do que envolve a Ebserh. Para ele, o hospital permanece como unidade referenciada e, portanto, não foi privatizado. Citou dados como o aumento no número de atendimentos de 749 mil para 787 mil, considerando os anos de 2009 e 2017, respectivamente. Segundo o docente, há "falsas narrativas e o Huap se mantém 100% público". Ele ainda previu mais de 800 mil atendimentos em 2019 e afirmou que as pessoas têm que "parar de olhar pelo retrovisor". Entretanto, não explicou os motivos que levaram o reitor da UFF a enviar o ofício supracitado ao Procurador Paulo Eduardo Neves Villar. Após ser questionado pelo vereador Paulo Eduardo Gomes, o diretor do hospital e também superintendente da Ebserh, alegou não saber sobre o envio do ofício em questão à procuradoria. "Duvido que o Sidney Mello tenha encaminhado esse ofício sem a sua anuência", disse o parlamentar.
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NOTAS DA ADUFF Fotos: Luiz Fernando Nabuco
Docentes nas confraternizações da Aduff Professoras, professores e seus convidados participaram das festas promovidas pela Aduff-SSind para os sindicalizados, em dezembro. Em Niterói, cerca de 300 pessoas estiveram no Clube Regatas do Gragoatá. A noite foi animada pela Banda Prata Preta e pelo DJ Bochecha. Em Campos dos Goytacazes, o encontro foi no Soma+Lab e teve a apresentação do grupo de samba Palma Contra Palma e recreação infantil para a criançada com "Perninha e Xapoquito". Em Rio das Ostras, a confraternização ocorreu no Restaurante Carcará. Docentes e convidados cantaram e dançaram com as cantoras Renata Cabral e Micha, além da roda de samba puxada de improviso na festa. Confraternizações em dezembro em Niterói, Rio das Ostras e Campos
Novos conselheiros da Aduff Docentes que disputaram as eleições complementares ao Conselho de Representantes da Aduff tomaram posse no dia 21 de dezembro. A professora Adriana Penna, secretária-geral da Aduff, que conduziu a cerimônia, destacou a importância da participação neste momento de incertezas diante da conjuntura política conservadora. “Podemos ter nossas críticas ao sindicato, que também tem suas contradições; mas quem constrói a seção sindical somos todos nós”, disse, defendendo a unidade. Foram eleitos os seguintes conselheiros: Luiz Fernando Rojo Mattos (titular) e Ligia Maria de Sou-
za Dabul (suplente), pelo Instituto de Ciências Humanas e Filosofia - ICHF; Pedro Paulo da Silva Soares (titular) e José Antonio Silva Ribas (suplente), pelo Instituto Biomédico; Sávio Freire Bruno (titular) e Amary Nascimento Junior (suplente), pela Faculdade de Veterinária; Fernando Roberto de Freitas Almeida (titular) e Victor Leandro Chaves Gomes (suplente), pelo Instituto de Estudos Estratégicos em Relações Internacionais - Inest; e Diego Chabalgoity (titular) e Fernanda Fochi Nogueira Insfran (suplente), pelo Instituto do Noroeste Fluminense de Educação Superior - Infes/Pádua.
Agenda e calendário 2019
Créditos públicos
A agenda da Aduff para 2019 tem como tema a defesa da democracia e dos direitos sociais. "Multiplicar a mobilização de 2018 é o desafio para 2019, tendo as universidades públicas como polos de resistência democrática, abertas e aliadas aos segmentos da sociedade civil que rejeitam as práticas de violência, de ódio, de censura e de preconceito", diz trecho da apresentação. A agenda ficou pronta no início da segunda quinzena de dezembro, quando começou a ser enviada aos sindicalizados pelos Correios. Quem não recebê-la pode entrar em contato com a secretaria via e-mail (aduff@aduff.org.br) ou pelo telefone (21) 3617-8200. Já o calendário de mesa será remetido aos sindicalizados em janeiro.
O PLP 459/2017 não foi apreciado no Plenário da Câmara em 2018. A proposta já passou pelo Senado (PLS 204/2016) e envolve autorização para transações financeiras entre bancos privados e entes públicos. "É um projeto que visa dar legalidade a uma série de operações e manobras para transferir recursos públicos para bancos privilegiados, além de imensos prejuízos às finanças públicas", diz trecho de documento explicativo elaborado pela Auditoria Cidadã da Dívida (ACD). A auditora fiscal Maria Lúcia Fatorelli, coordenadora da entidade, acompanhou a tramitação e defendeu a rejeição. "Estavam com tudo armado para votar, mas não conseguiram. Em fevereiro, a Câmara retoma os trabalhos e o PLP estará na pauta. Mas não ganhamos só dois meses. Há muito mais conhecimento e conscientização sobre os danos desse esquema", avaliou.
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Jesiel Araujo/Sintuff - gentilmente cedida
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Docentes vão ter que se posicionar, diz Kabengele sobre negros na universidade
Professor da USP, em palestra na UFF, alerta para os riscos que pairam sobre as políticas que levaram estudantes negros e negras às universidades públicas
Kabengele, durante palestra na Universidade Federal Fluminense: defesa das cotas e da escola pública
Aline Pereira Da Redação da Aduff
“N
ão há perspectiva de sociedade menos racista sem que haja justiça social”, disse o antropólogo brasileiro-congolês Kabengele Munanga para uma plateia lotada de servidores e estudantes da UFF, em novembro, quando se celebra a Consciência Negra. O primeiro docente negro da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo – instituição em que se doutorou em Ciências Sociais (Antropologia Social) em 1977 – é um dos nomes mais expressivos para falar das questões concernentes à população afro-brasileira. O convidado problematizou o racismo – endêmico, estrutural e institucionalizado no país que completou, em 2018, 130 anos da abolição da escravatura. É também o ano em que um candidato afeito aos discursos preconceituosos em relação aos indígenas, negros e quilombolas foi eleito à Presidência da República no Brasil – último país das Américas a abolir a escravidão. “O racismo envenena o cotidiano das relações”, afirmou. “É como um iceberg. Vemos a ponta, mas não enxergamos a base”, complementou. O docente desconstruiu o mito da ‘democracia racial’ – uma possível harmonia entre europeus, negros e índios, cuja miscigenação levaria à
‘meta-raça’ – apresentada por Gilberto Freyre, autor do clássico “Casa Grande & Senzala” (1933).
Raça Kabengele defendeu a adoção do termo ‘raça’ porque serve como categoria de análise que dá conta de um imaginário histórico e político. Para ele, é uma construção política, sociológica e ideológica. “Abandonar a ‘raça’ ou substituí-la por ‘etnia’ não vai erradicar o racismo à brasileira”, disse. “Intelectual não define negro no Brasil, mas o policial o faz muito bem”, ironizou, apontando que tal categoria também é apropriada pelo prisma da dominação que foi alimentado, ao longo dos anos, por dada concepção de branqueamento. Para o acadêmico, ‘etnia’ é eufemismo, pois o corpo é tomado como um instrumento de dominação simbólica e material nas relações contemporâneas que se estabeleceram principalmente até a metade do século 20. O nazismo, e a busca incessante pela pureza da ‘raça ariana’, bem como o holocausto seriam exemplos de como racismo pode ser tomado sob aspecto biológico. Segundo o antropólogo, algum tempo depois, a Unesco quis ‘abafar’ a raça na ciência para resolver a questão. “Mas as raças existem no imaginário social. Posso ser, por exemplo, um acadêmico, mas fora do contexto, o que conta é a geografia da minha cor”, problematizou.
Kabengele palestrou sobre "O Papel da Universidade na Luta Contra o Racismo e Defesa das Políticas Afirmativas", em atividade organizada por várias instituições, entre elas o Instituto de Estudos Comparados em Administração de Conflitos (InEAC/UFF) e o Sindicato dos Trabalhadores em Educação da UFF (Sintuff ). O convidado considerou que é também preciso pensar porque o termo raça retornou como “novidade científica” no ano 2000. De acordo com ele, é justamente nesse momento em que surgem duas conquistas necessárias em termos de políticas públicas para a ascensão social dos negros – o Estatuto da Igualdade Racial (PL 3198/2000) e da Lei de Cotas (PL 73/1999). Isso, disse, levou à reação da mídia comercial e de intelectuais contrários à “subversão” dos status quo. “Sabemos do poder que eles têm para a formação da opinião pública”, afirmou Kabenguele, criticando certa Literatura que apostou em meritocracia e que tentou deslegitimar as cotas. “A universidade é lugar do pluralismo do pensamento, mas de que lado devemos nos colocar? A questão racial é também social e não apenas classista. Todos os problemas são sociais. Nenhum defensor das cotas está contra as melhorias em escolas públicas”, disse. Segundo Kabengele, pesquisas re-
centes indicam que o desempenho dos alunos cotistas – como na pioneira Uerj – é semelhante ao dos não cotistas.
Autonomia Para o acadêmico, a conjuntura dos próximos anos exigirá posicionamento dos professores em relação ao acesso e à permanência dos jovens estudantes negros que chegam cada vez mais às instituições pública de ensino superior – sonho distante antes dos anos 2000, de acordo com ele. O antropólogo se referia ao fato de o presidente eleito, Jair Bolsonaro, ter defendido a redução ou o fim do sistema de cotas nas instituições públicas e alegar não ter qualquer dívida histórica com as minorias, por nunca ter ‘escravizado ninguém’. Reivindicou a defesa da autonomia acadêmica contra o racismo, a homofobia, o machismo, pela política de inclusão e contra as opressões. “Não podemos prever a duração [dessa luta], mas temos muita contribuição a dar nesse processo”, disse o docente, que alegou ter ficado feliz com o convite feito por um curso de Segurança Pública. “É importante que se defenda o que entendemos por segurança pública em um país que não protege os mais pobres e cujas estatísticas apontam que de cada três jovens mortos nas periferias, dois são negros. A cada 23 minutos, há uma morte negra”, disse.
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Fotos: Luiz Fernando Nabuco
1ª Mosca na UFF: arte e cultura em defesa da democracia
Mostra organizada pela Frente Antifascista na UFF ocorreu em novembro e reuniu estudantes, técnicos e docentes Lara Abib Da Redação da Aduff
“D
ecidimos realizar o festival ainda em 2018 para reunir forças entre nós. 2019 será um ano muito duro; será o segundo ano da PEC 55 que retirou recursos da Educação e o primeiro ano do governo Bolsonaro. É urgente conformar um campo político de resistência muito forte e coerente na universidade para dar conta de enfrentar os ataques do governo que vão vir, certamente”, ressalta o estudante de Geografia Bruno Araújo, integrante da diretoria do DCE-UFF, uma das entidades organizadoras da 1° Mosca. A Mostra de Cultura e Arte pela Democracia foi a primeira atividade realizada pela Frente Antifacista da UFF, que conta com a participação da Aduff-SSind, do Sintuff e do DCE-UFF. Criada no final de outubro, a Frente defende a unidade da comunidade acadêmica para enfrentar o crescimento dos discursos de ódio no Brasil e as políticas privatistas, de retirada de direitos e de criminalização dos movimentos sociais defendidas pelo governo eleito de Jair Bolsonaro (PSL).
‘Ditadura nunca mais’ A abertura oficial do evento aconteceu na noite do dia 27 de novembro, no teatro do DCE Fernando Santa Cruz, em mesa de debate com o tema "Ditadura Nunca Mais, Lembrar Para Não Esquecer", que contou com a participação de Ludmila
Vários momentos da Mostra de Cultura e Arte pela Democracia na UFF, organizada pela Frente Antifascista
Gama Pereira, pesquisadora do livro "Atitudes de Rebeldia", elaborado e produzido pelo GT de História do Movimento Docente (GTHMD) da Aduff-SSind. A publicação, que resgata a memória da universidade e as experiências de resistência da comunidade ‘uffiana’ na época da ditadura, foi relançada no evento. Também participou do debate o professor da Faculdade de Geociências da UFF e integrante da diretoria da Aduff-SSind, Edson Benigno. Benigno foi presidente do DCE-UFF na gestão de 1967, interrompida em 13 de dezembro de 1968 pelo AI-5, que marcou o início do período mais duro da ditadura empresarial-militar no Brasil. “Às vezes ficamos tão pulverizados em nossos institutos, departamentos e salas de aulas que esquecemos de conversar entre nós, esquecemos que somos uma comunidade acadêmica. Tanto a Frente Antifascista da UFF quanto a 1° Mosca são tentativas de tornar mais orgânica a unidade entre os três segmentos da UFF e de construir a resistência necessária para possibilitar a continuidade da nossa
existência enquanto comunidade acadêmica numa universidade pública, gratuita, laica e de qualidade”, ressaltou na abertura do evento a presidente da Aduff-SSind, Marina Tedesco.
Grafite, poesia e música A programação da 1° MOSCA contou com atividade de revitalização e grafitagem do prédio do DCE, batalha de poesia comandada pelo “Slam Praça Preta”, oficinas diversas no campus do Gragoatá, inauguração da exposição "Arte Enxame" e
apresentações musicais de mais de 20 artistas “uffianos”. O evento foi encerrado com shows de “Samba que Elas Querem” e dos rappers Chinaski e MC Choice.