Jornal da Aduff - Junho 2019

Page 1

Jornal da ADUFF

www.aduff.org.br

Junho de 2019

Todos contra o desmonte da Previdência e da Educação Públicas

F

Luiz Fernando Nabuco

Manifestação toma todas as pistas da av. Presidente Vargas, no dia 15 de maio

oram três grandes jornadas de manifestações em todos os estados do país em 30 dias, que no conjunto levaram milhões de pessoas às ruas nos dias 15 e 30 de maio e 14 de junho. A participação da Educação na greve geral de 14 de junho e nas demais mobilizações foi de dimensões poucas vezes vistas.

Na assembleia docente na UFF, constatou-se que as lutas contra a reforma da Previdência, que entra em fase decisiva, e pela revogação dos cortes nas universidades são não apenas possíveis como podem ter um desfecho vitorioso, apesar da difícil conjuntura do país. Para isso, no entanto, avaliaram, é preciso

investir na unidade com todos que queiram lutar contra tais projetos e ampliar e intensificar a participação de cada um e de todos. Novo dia de protestos foi convocado pelas centrais para 12 de julho.

Luta pela liberdade de organização sindical continua e inclui recadastramento de sindicalizados na Aduff

Mais da página 2 à página 12

Páginas 2 e 6


2

junho/2019 • www.aduff.org.br

Jornal da ADUFF Arte: Gilson Castro sobre foto de Luiz Fernando Nabuco

Editorial

Precisamos manter e ampliar a defesa conjunta da Previdência e da Educação Públicas no 2º Semestre

Em

janeiro deste ano iniciou-se um ciclo de ataques à democracia e aos direitos sociais como há muito não se via em nosso país. A derrota para todas aquelas e todos aqueles que lutam por uma sociedade mais justa foi enorme e é muito recente. Assim, apesar da necessidade histórica de seguir na luta, não sabíamos quanto tempo seria necessário para construir uma importante resistência. Hoje, após as manifestações de 8 de março, 15 e 30 de maio e a greve e atos de 14 de junho, avaliamos que se ainda não temos a força necessária para enfrentar este

período tão dramático, demos passos importantes. A despeito da onda conservadora que assola o país e parte significativa do mundo, da proximidade das eleições e do presidente seguir com uma aprovação que, mesmo decrescente, ainda é alta, centenas de milhares de pessoas foram às ruas em todos os estados defender a educação e a previdência públicas. Somem-se aos elementos adversos, campanhas de difamação e desinformação há anos promovidas pelos principais meios de comunicação contra os serviços públicos, os trabalhado-

res e as trabalhadoras da educação e a previdência, falsamente taxada como deficitária, e teremos a dimensão do quão significativos foram os enfrentamentos que fizemos no primeiro semestre de 2019. A unidade na luta e a articulação das pautas da educação e da previdência foram fundamentais para as jornadas de maio e junho. É o caminho que deve continuar a ser trilhado, a despeito das suas dificuldades. As diretorias do Andes-SN e da Aduff-SSind, respeitando as decisões de suas bases, têm incidido nesses termos nos diversos espaços que

constroem, a exemplo do Fórum Sindical, Popular e de Juventudes por Direitos e Liberdades Democráticas e do Fórum Sindical e Popular de Niterói. Entramos, neste segundo semestre, em um momento decisivo tanto para as universidades quanto para a manutenção de uma Previdência que, apesar de todos os seus problemas, é pública e solidária. No que tange às universidades, diversos reitores, inclusive o da UFF, anunciaram que se os cortes não forem revertidos será impossível dar continuidade às atividades. Em relação à Previdência, a proposta de reforma (ou de destruição, se quisermos chamar as coisas pelo nome que elas têm) entrará em breve em uma fase decisiva. Será preciso, portanto, que sejamos capazes de engendrar uma resistência significativamente maior se quisermos derrotar o projeto conservador, autoritário e de retirada de direitos em curso no país. Como destacamos em uma das matérias desta edição, no primeiro semestre a Aduff-SSind respondeu à interrupção ilegal do desconto em folha com muita luta, em articulação com outras entidades e movimentos. A categoria deve estar mobilizada para, agora, ser mais forte ainda. Não é fácil, mas é possível derrotar os projetos do governo Bolsonaro, que dia a dia vem sendo desmascarado, num movimento crescente de perda de apoio popular - como se verificou nos atos pró-governo, nitidamente pouco representativos e muito menores que os protestos contra a reforma da Previdência e em defesa da educação. O próximo grande dia de mobilização será em 12 de julho. Sigamos juntos e juntas nesta luta!

Recadastramento de docentes filiados à Aduff, medida preventiva contra ataques de Bolsonaro A contribuição sindical voluntária dos docentes filiados é a única forma de arrecadação financeira da Aduff

P

ara vencer os obstáculos que o governo tenta impor, além das ações judiciais, a Aduff-SSind preparou uma ficha de recadastramento para que os docentes sindicalizados possam autorizar outras formas de pagamento da contribuição sindical mensal e reafirmar a autorização para o desconto em folha. É uma medida preventiva para viabilizar a arrecadação sindical em caso de novos ataques do governo (veja como se recadastrar em www.aduff.org.br). Associação dos Docentes da UFF

Seção Sindical do Andes-SN Filiado à CSP/Conlutas

Junho / 2019 Biênio 2018/2020 Gestão: ADUFF Autônoma, Democrática e de Luta

A contribuição sindical mensal voluntária dos sindicalizados é a única forma de arrecadação da entidade, por meio da qual ela mantém a sua estrutura física, jurídica, seu corpo de trabalhadores, o plano de saúde coletivo contratado com a Unimed. Estrutura que atende às suas lutas em defesa da educação pública, da carreira docente, dos direitos trabalhistas, previdenciários e sociais e das liberdades democráticas e sindicais.

Sobre a mensalidade de abril A Aduff ficou sem arrecadação referente a abril porque o governo descumpriu a liminar e não consignou o desconto no contracheque. Por isso, quem ainda não o fez deve realizar o depósito da sua contribuição sindical do mês de abril através da conta: Itaú - Ag. 8938 CC. 04648-2 – CNPJ 27.768.225/000149. A Aduff solicita que o comprovante de depósito seja enviado para

a seção sindical (cadastro@aduff. org.br). O valor a ser depositado é o mesmo registrado no contracheque de março.

Dúvidas? Entre em contato! Em caso de dúvida sobre o recadastramento ou sobre o pagamento relativo à contribuição sindical de abril, entre em contato com a Aduff-SSind. Telefone: (21) 3617-8200 E-mail: aduff@aduff.org.br AduffZap: (21) 97276-2018.

Presidente: Marina Cavalcanti Tedesco • 1º Vice-Presidente: Waldyr Lins de Castro • 2º Vice-Presidente: Carlos Augusto Aguilar Junior • Secretária-Geral: Adriana Machado Penna • 1º Secretário: Isabella Vitória Castilho Pimentel Pedroso • 1º Tesoureiro: Bianca Novaes de Mello • 2º Tesoureiro: Edson Benigno da Motta Barros • Diretoria de Comunicação (Tit): Reginaldo Scheuermann Costa • Diretoria de Comunicação (Supl): Wilma Lucia Rodrigues Pessôa • Diretoria Política Sindical (Tit): Elizabeth Carla Vasconcelos Barbosa • Diretoria Política Sindical (Supl): Claudio Fernandes da Costa • Diretoria Cultural (Tit): Jairo Paes Selles • Diretoria Cultural (Supl): Ana Claudia Cruz da Silva • Diretoria Acadêmica (Tit.): Douglas Guimarães Leite • Diretoria Acadêmica (Supl): Jacira Maria Machado de Oliveira Editor Hélcio L. Filho Jornalistas Aline Pereira Lara Abib

Revisão: Renake das Neves Projeto gráfico e diagramação Gilson Castro

Imprensa imprensa.aduff@gmail.com Secretaria aduff@aduff.org.br

Sítio eletrônico www.aduff.org.br Facebook facebook.com/aduff.ssind

Rua Professor Lara Vilela, 110 - São Domingos - Niterói - RJ - CEP 24.210-590 Telefone: (21) 3617.8200

Twitter twitter.com/aduff_ssind Impressão Gráfica O Globo - 10 mil exemplares


Jornal da ADUFF

3

Junho/2019 • www.aduff.org.br

8 de maio de 2019 - Um dia que vai entrar para a história da UFF

Luiz Fernando Nabuco

UFF vai às ruas: não vai ter corte, vai ter luta NITERÓI

Um

dia para entrar para a história da UFF. Estudantes, docentes, técnicos e trabalhadores terceirizados participaram das manifestações de 8 de maio em todas as cidades nas quais a UFF possui campus. Foi a reação diante dos cortes e dos ataques do governo Bolsonaro à UFF e às demais instituições federais públicas de ensino. Diante dos protestos, o governo buscou se justificar, tentando minimizar os cortes de 30% e falando em contingenciar os recursos somente até setembro. Mas sob a condição de fazê-lo somente no caso de aprovação da reforma da Previdência. A ‘chantagem’ foi denunciada nos atos, que também exigiram a rejeição da reforma da Previdência. “Não vai ter corte, vai ter luta”, cantaram os manifestantes nos protestos, sinalizando que é nas ruas que é possível derrubar os projetos do governo Bolsonaro para a educação, a Previdência e o país. Leia mais da página 4 a 11.

FRIBURGO

ANGRA

MACAÉ

CAMPOS DOS GOYTACAZES

VOLTA REDONDA

SANTO ANTÔNIO DE PÁDUA

RIO DAS OSTRAS


junho/2019 • www.aduff.org.br

Jornal da ADUFF Fotos: Clever Felix

4

Docentes da UFF na passeata pela educação e contra a reforma da Previdência do dia 30 de maio, na av. Rio Branco, no Rio

Cortes na Capes aprofundam política de desmonte e entrada de empresas nas universidades “Por trás do projeto de desmonte da educação, existe um projeto ainda mais antigo: o de utilizar as universidades públicas para fomentar desenvolvimento tecnológico para empresas privadas”, Cláudio Ribeiro, do GT de Ciência e Tecnologia do Andes-SN Lara Abib Da Redação da Aduff

N

o início de maio, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) anunciou o corte de 3.474 bolsas de pós-graduação. Em junho, em novo anúncio, o governo Bolsonaro cortou mais 2.724 bolsas da Capes em todo o país. A decisão impede que estudantes selecionados para novas pesquisas recebam bolsas que já tinham verbas previstas em 2019. De acordo com os novos critérios do governo, programas de pós-graduação que tiveram nota 3 em duas avaliações consecutivas, ou que caíram de nota 4 para nota 3 no último ciclo, perderão 70% das bolsas, com exceção da Amazônia Legal (região Norte, Mato Grosso e Maranhão). Lá, os programas perderão ‘somente’ 35% das bolsas. O valor mensal para estudante no mestrado é de R$ 1,5 mil e R$ 2,2 mil no doutorado. Para Cláudio Ribeiro, professor da UFRJ que integra o Grupo de Trabalho de Ciência e Tecnologia do Andes-SN, o corte de bolsas afeta diretamente a possibilidade de democratização e popularização das pesquisas nas universidades. “Não é à toa que os debates das cotas começavam a chegar nas pós-graduações. O perfil das pós estava começando a mudar, num

processo de inclusão e democratização que começou primeiro na graduação”. Ele afirma ainda que muitos cursos com notas 3 têm essa avaliação porque são novos. “São cursos novos, em áreas novas de pesquisa ou de universidades novas que, às vezes estão começando a receber estudantes com perfil sócio-econômico mais baixo e que vão ter suas bolsas cortadas”, destaca.

Meritocracia e ranqueamento O docente também problematiza a lógica meritocrática dos cortes, através do ranqueamento dos programas. “É uma pegadinha: ou o governo destrói tudo, ou valoriza as pós-graduações ditas de excelência, criando uma falsa dicotomia entre as pesquisas em áreas consideradas de excelência, inovadoras ou ‘de ponta’ e as que seriam ‘menos relevantes’. Entretanto, a própria lógica de ranqueamento dos programas também é emblemática, o ranqueamento não é neutro. Os programas 6 e 7 – ditos de excelência – em geral trabalham com pesquisas muitas vezes voltadas para os setores dinâmicos do capital e que, inclusive, recebem financiamento diferenciado da Capes”, aponta.

Inovação empresarial Para Cláudio, o debate também passa pelo Novo Marco Legal de Ciência e Tecnologia, criado ainda

Manifestante durante ato em maio, no Rio

no Governo Dilma para regular a Emenda Constitucional 85 – que inseriu a categoria de ‘inovação’ na Educação. Ele explica que por trás do projeto de desmonte geral da educação pública, existe um projeto ainda mais antigo: o de utilizar as universidades públicas para fomentar desenvolvimento tecnológico para empresas privadas. "A inovação da EC 85 e do Marco Legal de Ciência e Tecnologia não é a inovação socialmente referenciada, mas de valor mercantil, fomentando a possibilidade de empresas gerarem inovação em suas cadeias

produtivas utilizando, para isso, estrutura e pessoal do setor estatal e público. Absurdos como a apropriação de patentes pelas empresas "parceiras" e a contratação de pessoal por fora da lógica pública dos concursos se consolida, inserindo mais uma forma de privatização das instituições de ensino superior. É preciso discutir e defender outra lógica de produção de pesquisa, como a defendida pelo Movimento pela Ciência e Tecnologia Públicas, do qual o Andes-SN faz parte, se quisermos manter a função social das nossas universidades”, finaliza.


Jornal da ADUFF

5

Junho/2019 • www.aduff.org.br

Decreto ameaça autonomia e retira de reitores prerrogativa sobre cargos de gestão Para o Andes-SN, Decreto 9.794/2019 é grave ataque do governo Bolsonaro à autonomia universitária que precisa ser combatido; docente da UFF diz que métodos de controle lembram ditadura Clever Felix

Lara Abib Da Redação da Aduff

E

Ato final na Cinelândia, na manifestação do dia 30 de maio, em defesa da Educação e contra a reforma da Previdência

‘Métodos remetem à ditadura’ De acordo com o professor do curso de Políticas Públicas da UFF de Angra dos Reis, Rafael Vieira, os métodos elaborados pelo decreto são muito próximos aos métodos da ditadura instalada no Brasil a partir do golpe de 1964. “Pesquisei durante três anos

os arquivos da Assessoria de Segurança e Informação da UFF que integrava o Serviço Nacional de Informações (SNI), criado pela ditadura para estabelecer a vigilância, o controle e a repressão nas instituições públicas. Era corriqueiro naquele período que os órgãos de segurança e informação fizessem levantamentos da vida pregressa de candidatos a cargos de chefia nas universidades, rejeitando os que fossem considerados contrários ao regime. Nas caixas de documentos da ASI-UFF, são frequentes as fichas de avaliação de professores -

Pesquisa mostra que mais de 70% dos estudantes de universidades federais são de baixa renda Estudo realizado pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) aponta que 70,2% dos estudantes das universidades federais brasileiras são de baixa renda, com renda familiar per capita de até 1,5 salário mínimo por mês. A pesquisa também apurou que as dificuldades financeiras são os motivos mais citados (32,7%) entre os estudantes que já pensaram em desistir da graduação. Mulheres somam 54,6% dos estudantes de graduação e mais de 50% têm idade entre 20 e 24 anos. Ainda de acordo com o levantamento divulgado em maio, 51,2% dos graduandos e graduandas se autodeclararam negros e negras. O aumento, tanto de alunos de baixa renda quanto dos que se declaram negros deve-se, principalmente, de acordo com os responsáveis pela pesquisa, à Lei de Cotas (Lei nº 12.711/2012), que reserva 50% das vagas para estudantes de escolas públicas e também garante reservas étnico-raciais. A V Pesquisa do Perfil Socioeconômico dos Estudantes das Universidades Federais coletou informações de estudantes de graduação em 63 universidades federais. O processo envolveu mais de 420 mil estudantes diretamente. (LA)

que serviam de base para a sua exclusão e perseguição”, destaca o docente. Alguns desses documentos foram digitalizados e podem ser lidos nos Anexos do livro “Atitudes de Rebeldia”, publicação do Grupo de Trabalho de História do Movimento Docente (GTHMD) da Aduff, que conta a história da ditadura na UFF e a resistência dos professores na universidade. O relatório final da pesquisa - que deu origem ao livro - foi escrito por Rafael, que alerta: “Não é possível naturalizar o contexto atual de aprofundamento dos ataques Luiz Fernando Nabuco

“Não mediremos esforços jurídicos e políticos para revogá-lo, pois ameaça as poucas conquistas democráticas que ainda perduram nas universidades, IF e Cefet", destaca a nota do Andes-SN.

às universidades, de restrições à liberdade de cátedra e de pensamento, e dos próprios mecanismos cambaleantes de democracia existentes. As universidades são um microcosmo de processos mais amplos que estão ocorrendo no país, e suas lutas não se dissociam de outras que ocorrem, num quadro de restrição a liberdades democráticas básicas, de ampliação das políticas de espoliação contra o que é público e comum, e de aprofundamento das políticas de terror e genocídio contra negros e pobres nos espaços de periferia”.

Concentração nas Barcas, em Niterói, para ida conjunta ao ato no Rio de 15 de maio

Luiz Fernando Nabuco

ditado em 15 de maio pelo governo de Jair Bolsonaro, o decreto 9.794/2019 determina, entre outras medidas, que indicações de pró-reitores, decanos, diretores e outros dirigentes das instituições universitárias deverão ser aprovadas pelo ministro chefe da Secretaria de Governo, cargo atualmente ocupado pelo general Luiz Ramos. A medida também institui o Sistema Integrado de Nomeações e Consultas (Sinc), plataforma eletrônica onde serão reunidas informações dos indicados, inclusive com investigações sobre sua vida pregressa, realizadas com o auxílio da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Na prática, o decreto dá ao governo o poder de vetar ou aprovar indicações, retirando a autonomia dos reitores de montar sua própria equipe. Para o Sindicato Nacional de Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), a medida é mais um ataque do governo Bolsonaro à autonomia universitária e à Constituição Federal, pois viola os artigos 5, 37 e 207 da Constituição, assim como as leis 5.540/1968 e 8.112/1990.

Atos de 15 de maio tiveram a presença de todos os campi da UFF


6

Jornal da ADUFF Luiz Fernando Nabuco

junho/2019 • www.aduff.org.br

Aduff enfrentou a MP contra os sindicatos defendendo a Previdência e Educação públicas Comunidades, da UFF e Aduff reagiram juntas aos ataques simultâneos do governo Bolsonaro à universidade, à Previdência Social e à liberdade sindical Hélcio Lourenço Filho e Aline Pereira Da Redação da Aduff

P

arecem evidentes as relações entre as medidas tomadas pelo governo federal ao se olhar a cronologia dos fatos. Nove dias antes e exatos dois meses à frente separam a edição da Medida Provisória 873, respectivamente, do envio da proposta de reforma da Previdência Social ao Congresso Nacional e do anúncio dos cortes de 30% nas verbas orçamentárias da UFF e das demais universidades públicas federais. O conteúdo da MP 873 foi um duro golpe na viabilidade financeira das entidades sindicais do país. A reforma da Previdência e os cortes na educação pública, que provocaram um levante entre os estudantes, têm os sindicatos en-

tre os seus maiores opositores. A reforma é apontada como o fim do direito à aposentadoria, enquanto os cortes de 30% no orçamento da universidade colocam em risco o seu pleno funcionamento. A Medida Provisória 873 dificultava muito a contribuição do trabalhador para a sua entidade sindical representativa. Proibia, inclusive, o desconto da mensalidade, autorizado pelo sindicalizado, na folha de pagamento, enquanto mantinha esse mecanismo para bancos e planos de saúde. O governo alega que quer eliminar a intervenção estatal na organização sindical. No entanto, chegou a estabelecer detalhes sobre como a cobrança deve ser feita. A MP foi associada por dirigentes sindicais à ameaça feita por Bolsonaro, a uma semana do segundo turno da eleição presidencial, no ano passado, de pôr fim ao ativismo sindical e social no Brasil. A medida provisória do presidente, porém, teve vida curta. Além de ter tido a validade suspensa por centenas de decisões judiciais, caducou no dia 28 de junho por falta de apreciação em 120 dias no Congresso Nacional. Apesar disso, criou gra-

ves problemas, além de desviar esforços sindicais para essa peleja. Na Aduff-SSind, o Ministério da Economia não procedeu o desconto das mensalidades de abril, desrespeitando uma decisão judicial. Outras entidades também tiveram as consignações cortadas. Ao instituir multa de R$ 20 mil por dia por desrespeito à sua decisão a favor da Aduff, o juiz federal Willian Douglas Resinente dos Santos criticou duramente o Ministério da Economia.“Será que a intenção é atrasar o andamento? (...) Verifico indícios de litigância de má-fé e recalcitrância diante da ordem judicial”, disse o magistrado.

Reação Sem os recursos da arrecadação referente a abril, a Aduff tomou medidas para assegurar o seu funcionamento e para buscar alternativas que permitam a contribuição de seus associados (ver texto na página 12). Todas a partir das discussões e análises desenvolvidas nas reuniões de diretoria, no Conselho de Representantes e nas assembleias. Contou com o apoio de seu quadro de funcionários e de muitos docentes. Em resposta aos ataques do

governo, lançou e participou simultaneamente de campanhas em defesa da liberdade sindical, da UFF, contra os cortes na educação e pela rejeição da reforma da Previdência. Produziu adesivos, panfletos, cartazes e faixas - parte deles junto com o Fórum Sindical e Popular de Niterói. Lançou, ainda, uma campanha na internet que busca dar visibilidade ao que se faz na universidade, além de organizar mais uma atividade 'UFF na Praça'. Atuou na construção dos atos em defesa da educação e da Previdência públicas dos dias 15 e 30 de maio e da greve geral de 14 de junho. Também jogou peso na organização dos atos do dia 8 de maio em defesa da UFF,provavelmente o maior dia de protestos da história da universidade, com notável protagonismo dos estudantes. A professora Maria Cecília Castro, do Colégio Universitário Geraldo Reis (Coluni) e mãe de uma aluna da escola, afirmou ter participado da manifestação porque acredita na universidade pública. “A UFF é nossa; não é de governo algum. Vamos lutar e não vamos nos calar para garantir educação de qualidade para os

Faixa da Aduff em defesa da UFF e da educação no ato em Niterói do dia 8 de maio

nossos jovens e as nossas crianças”, disse emocionada com o tamanho da mobilização. Sem apoio das lideranças do Congresso Nacional e sob pressão dos sindicatos, a MP 873 naufragou. Mas isso não significa que o problema está superado. No caso específico da Aduff, a entidade mantém disponibilizada uma conta bancária para que os sindicalizados que ainda não o fizeram possam quitar a mensalidade de abril. No âmbito geral, é provável que o governo federal encaminhe um projeto de lei com características similares ao Congresso.

Ameaças O que ficou evidente é que os sindicatos,mesmo com todas as suas dificuldades,atrapalham os planos do governo. Por isso, em face ao perfil do atual governo, tendem a ser alvos constantes de medidas que tentem inviabilizá-los. O caso da MP 873 demonstra que o melhor caminho para enfrentar isso é nas ruas e de forma associada às demais lutas. Afinal, os ataques às liberdades sindicais e democráticas e a direitos como educação e previdência públicas, não por acaso, andam juntos.


Jornal da ADUFF

7

Junho/2019 • www.aduff.org.br

Tramitação da 'reforma' da Previdência entra em fase decisiva na Câmara Fotos: Vanor Correa

Mudanças apresentadas pelo relator não alteram perfil de desmonte da Previdência pública, avaliam entidades sindicais e parlamentares da oposição

Docentes nas Barcas, na greve geral de 14 de Junho, de onde foram juntos ao ato no Rio

A

tramitação da emenda constitucional que altera radicalmente a Previdência Social no Brasil (PEC-6) entra na decisiva fase de votações na Câma-

ra de Deputados sem que as mudanças do relator alterem o seu perfil de desmonte do direito à aposentadoria para a classe trabalhadora. É o que avaliam entida-

des sindicais e sociais, que atuam na campanha pela rejeição da PEC-6/2019, e parlamentares da Oposição na Câmara. Percepção corroborada por pesquisado-

ras como a professora Sara Granemann, da UFRJ. Para ela, a desconstitucionalização mantida pelo relator permitiria ainda, num futuro próximo, a reintrodução de quase todos os supostos recuos do relator na proposta. A docente disse, durante debate no lançamento do Fórum pelos Direitos e Liberdades Democráticas no Rio de Janeiro, que a essência da proposta segue voltada para a transição de algo que é público para um modelo privado de Previdência. Embora o relator tenha excluído o regime de capita-

lização, disse, é clara a sinalização de que isso será retomado logo depois, ou até mesmo na votação no Plenário. Algo que, avalia, seria facilitado pela desconstitucionalização - que permitiria, por exemplo, ao presidente Jair Bolsonaro aumentar a idade mínima para aposentadoria do servidor até por medida provisória. É para impedir que isso se concretize, que a campanha contra a reforma da Previdência segue como pauta prioritária da Aduff-SSind e o Andes-SN, associada à luta em defesa da Educação pública. (HLF)

Fórum pelos Direitos e Liberdades Democráticas é lançado no Rio e destaca luta contra a PEC da Previdência

Sara Granemann fala no ato na Uerj

A

to político e debate sobre a luta contra a marcaram o lançamento do Fórum Sindical, Popular e de Juventudes por Direitos e Liberdades Democráticas no Rio de Janeiro, no cam-

pus Maracanã da Uerj, no dia 17 de junho. Na abertura, a professora Mariana Trotta, da UFRJ e da direção do Andes-SN, explicou que o fórum foi criado nacionalmente no dia 19 de

fevereiro, em São Paulo, com mais de 40 entidades sindicais, populares e de juventude. "Entendemos que, com a eleição de um candidato de extrema direita, era necessário aprofundar espaços de unidade da classe trabalhadora", disse. O evento teve exposições sobre a reforma da Previdência no Brasil e no Chile, com a professora da UFRJ Sara Grannemann e o advogado chileno Raul Devia. Cerca de 80 pessoas participaram, boa parte representando as suas entidades, entre elas a Aduff-SSind. "Temos que valorizar o que construímos, mas reconhecer que há muito a ser feito em termos de organização para barrar todos esses ataques que tentam destruir o conjunto dos nossos direi-

Marina Tedesco, presidente da Aduff, no lançamento do Fórum

tos, destruir nossa existência", disse a professora Marina Tedesco, presidente da Aduff. A professora Sonia Lúcio, também da UFF, lembrou que na luta contra a reforma da Previdência de 2003, no governo Lula, constituiu-se espaço conjunto de organização que permitiu uma grande capacidade de mobi-

lização e, mais tarde, se consolidou como o Fórum dos Servidores Federais no Rio. Sonia ressaltou a importância de constituir um novo fórum que agregue e mobilize, contando com algo que não se teve nessas dimensões em 2003: “Essa força tão importante e que é o futuro: os estudantes", disse.

Delegação da Aduff vai ao 64° Conad em meio às lutas contra reforma e pela Educação Zulmair Costa

C O professor Claudio Costa fala na assembleia docente

om o tema "Em defesa da educação pública, dos direitos sociais e das liberdades democráticas", o 64º Conselho do Andes acontecerá em Brasília entre 11 e 14 de julho, reunindo representantes de seções sindicais do país para a atualização do plano de lutas do Sindicato Nacional. A assembleia geral realizada pela Aduff-SSind no dia 18 de junho definiu a delega-

ção que participará do evento, que ocorrerá em meio às lutas nacionais contra a reforma da Previdência e pela reversão dos cortes nos orçamentos da Educação. A presidente da Aduff, Marina Tedesco, foi indicada pela diretoria como delegada da seção sindical no evento, com direito a voz e a voto. A assembleia definiu que serão enviados nove ob-

servadores, que têm que participar do Seminário Interno da Aduff, nos dias 5 e 6 de julho, na sede da seção sindical. A plenária propôs à Diretoria do Andes-SN a construção de um ato conjunto – com estudantes, docentes e demais servidores públicos – em Brasília, durante a realização do Conad, o que já está sendo organizado para 12 de julho. (Por Aline Pereira)


8

junho/2019 • www.aduff.org.br

Jornal da ADUFF

Quando a Educação e a Previdência públicas se encontram nas ruas Clever Felix

Mobilizações unem trabalhadores e juventude em três jornadas que levaram multidões às ruas para contestar os cortes orçamentários na Educação e a reforma da Previdência. Próximo grande ato unificado será dia 12 de julho Hélcio Lourenço Filho Da Redação da Aduff

O que ocorreu no Chile

Vanor Correa

om um adesivo da Aduff-SSind 'Eu Defendo a UFF ' colado ao peito, a estudante universitária Renata de Carvalho avança com a multidão pela avenida Rio Branco em direção à Cinelândia. Está acompanhada da filha, estudante secundarista. Renata não estuda na UFF. Sonha um dia estudar. Faz Cinema, na Estácio, mas, sem emprego fixo, relata as dificuldades que enfrenta para manter as mensalidades pagas em dia. Está inscrita no Enem, quando tentará passar para o curso de Cinema da Universidade Federal Fluminense "O melhor do país", avalia - e prosseguir nos estudos. A passeata em questão é a do dia 30 de maio, a segunda de uma série de três dias de manifestações em quatro semanas que levaram multidões às ruas em defesa da Educação Pública, contra os cortes orçamentários e pela rejeição à reforma da Previdência. A primeira grande mobilização foi no dia 15 de maio, que levou às ruas dos 26 estados do país e do Distrito federal a defesa da Educação e da Previdência Social públicas. A presença em massa de estudantes chamava a atenção. Entre eles, estava Sofi Louise, que cursa o nono ano na Escola Municipal Minas Gerais. É a filha de Renata. "Tudo isso que os ministros e o Bolsonaro estão fazendo e falando, esses absurdos, os cortes, chamando a gente de idiota, óbvio que a gente vai vir pra rua protestar", disse à reportagem. Ela se refere tanto ao presidente Jair Bolsonaro, que chamou os estudantes de "idiotas úteis" e "ïmbecis", quanto ao ministro da Educação, Abraham Weintraub, que disse que o que acontecia nas universidades era 'balbúrdia' e que os estudantes estavam sendo forçados a ir aos atos por professores. O governo, ao perceber o tsunami que percorria as salas de aulas e a juventude, de pronto tentou desqualificar os atos. Weintraub chegou a divulgar uma orientação aos pais para que não per-

Luiz Fernando Nabuco

C

nas ruas. A Aduff levou bandeiras, adesivos e faixas e muitos docentes caminharam juntos nas manifestações. O professor Francisco de Assis Palharini, diretor do Instituto de Psicologia da UFF, que foi aos atos para refutar os cortes orçamentários e as ameaças que pairam sobre o direito à aposentadoria, acredita que o principal motor da mobilização estudantil é a precarização das condições escolares. As pautas têm as suas especificidades, avalia, mas não se contrapõe. Com a experiência universitária que tem, considera absurda a ideia que o governo tentou emplacar. "Ninguém coage ninguém na universidade. A Universidade é livre, os alunos que estão aqui vieram por livre e espontânea vontade, não porque o professor pediu ou deixou de pedir para estar aqui, ele [o ministro da Educação] não sabe o que está falando", disse.

No alto, faixa da Aduff no ato de 30 de maio; no meio, ato na Presidente Vargas, no Centro do Rio, no dia 15; acima, também na Presidente Vargas, a greve geral de 14 de junho

mitissem que seus filhos fossem às ruas nos dias de paralisações na Educação. Essa ideia, porém, nem de longe passou pela cabeça da mãe da secundarista Sofi. "Foi a minha filha quem me convidou, eu não estava nem me programando para estar nessa manifestação. Mas a minha filha tem um pensamento lógico, que ela desenvolve por si mesma e uma identidade também que ela desenvolve por si mesma, ela é muito livre para pensar e se expressar, isso é algo que eu sempre prezei

na educação dela", disse Renata, que considera a defesa da Educação e da Previdência Social duas pautas associadas e que andam juntas. "Essa reforma da Previdência é desumana, assim como os cortes na Educação, como a gente vê [o que está acontecendo] com a UFF", explica.

UFF nos atos A participação da UFF nas passeatas foi muito grande. Há muito tempo não se via tantos docentes

A economista Sandra Quintela, que integra a Rede Jubileu Sul, também foi às manifestações para defender tanto a rejeição da reforma da Previdência quanto para apoiar a Educação pública. Pouco tempo antes dos atos e da greve geral de 14 de junho, lembrou, durante um debate, aspecto importante que envolve essas duas pautas. "A reforma da Previdência foi implementada no Chile em 1981. O [hoje] ministro da Economia do Brasil, Paulo Guedes, estava lá ajudando a implementá-la, colaborando com a ditadura sanguinária de Augusto Pinochet. Agora é interessante pensar que na mesma época, em 1981, quando foi privatizada a previdência, foi também privatizado o ensino superior do Chile", disse. Com os cortes orçamentários mantidos na Educação e com a reforma da Previdência entrando na decisiva fase de votações na Câmara, essas duas pautas de luta vão continuar a caminhar juntas nas mobilizações e atividades das campanhas que estão nas ruas. Mas já têm outro grande encontro marcado: dia 12 de julho, quando devem voltar a ocorrer manifestações em todo o país para contestar os cortes no ensino e defender o direito à aposentadoria. Convocados pelas centrais sindicais e estudantis, os atos devem voltar a unir e levar às ruas os trabalhadores e a juventude, como a estudante Sofi, que afirma não se intimidar com as agressões verbais do governo. "Não vão nos calar e estamos provando isso [nas ruas]", disse.


Jornal da ADUFF

9

Junho/2019 • www.aduff.org.br

Acelerou contra um ato pacífico após 15min de bloqueio da via A solidariedade é mais forte que a intolerância, afirmam manifestantes sobre caso do atropelamento contra ato na greve geral em defesa do direito à aposentadoria e à educação

2

1

6

5

4

3

Fotos: Samuel Tosta

Fotos mostra o momento que o motorista avança e passa por cima da perna de uma professora. As imagens da violência circularam por todo o país Hélcio Lourenço Filho Da Redação da Aduff

U

m ato criminoso de ódio e intolerância. Assim dirigentes da Aduff-SSind e do Andes-SN definiram o atropelamento ocorrido na manhã do dia 14 de junho, em Niterói, durante manifestação pacífica, na qual, afirmaram, o que se defendia era o direito à vida com dignidade, com Previdência Social e Educação públicas asseguradas. Naquela manhã da greve geral, na avenida Marquês do Paraná, um motorista em um fox vermelho placa LSB 1696 avançou com o carro sobre manifestantes que haviam bloqueado a via cerca de 15 minutos antes. Ficaram feridas duas professoras e três estudantes, estes com leves escoriações. Os casos mais graves, das professoras Marinalva Oliveira, da UFRJ e ex-presidente do Andes-SN, e da professora da UFF Kate Paiva, do Colégio Universitário Geraldo Reis e ex-diretora da Aduff-SSind, foram atendidos, respectivamente, nos hospitais Icaraí e Azevedo Lima. Ambas foram liberadas no

mesmo dia, mas seguem em tratamento médico e sentem dores em decorrência do atropelamento.Mas a velocidade com que o motorista arrancou - posteriormente identificado como o fisioterapeuta André Luiz da Cunha Serejo - poderia ter deixado vítimas graves. “Eu estava atrás da faixa, panfletando, e quando vi, o carro estava muito próximo, em alta velocidade. Consegui pular para o lado, mas não foi o suficiente para evitar o atropelamento, mas suficiente para não ser esmagada. Fui atingida e caí de costas, batendo a cabeça”, relatou Marinalva numa rede social. “Esta postagem é apenas para esclarecer o que ocorreu e como estou passando, pois não consigo responder a todxs. Logo nos encontraremos naquele lugar de sempre: NAS RUAS!”, ressaltou .

‘Desumanização’ A professora Marina Tedesco, presidente da Aduff, disse em entrevista ao vivo na TV, no programa SBT Rio, gravada posteriormente no local do acidente, que nada justifica um ato criminoso e bárbaro como esse. “Era uma

manifestação pacífica contra a reforma da Previdência, que é rejeitada pela maioria da população brasileira, segundo as pesquisas”, afirmou. A docente disse ainda, à TV, que a intolerância e o ódio vêm sendo alimentados no país por políticas antissociais e que um dos que promovem isso é o próprio presidente da República.

‘Não foi acidente’ Segundo Kate, não foi um acidente. “Ele avançou para cima da gente deliberadamente”, relatou à reportagem do Jornal da Aduff, assinalando que quem faz isso contra

pessoas paradas está pensando em matá-las. “Foi bem expressivo da época que a gente está vivendo, desse culto ao ódio contra todo mundo que luta por uma causa, o ódio às pessoas que pensam diferente. Acho que existe um incentivo a esse tipo de coisas quando o governo persegue a militância, quando o governo persegue o professor, quando o governo diz que direitos indígenas não importam, quando o governo diz que quilombolas valem menos do que tantas arrobas”, criticou. Nas redes sociais, incluindo o Facebook da Aduff,

houve milhares de mensagens comentando o caso parte de apoio, mas outra parte de ódio e incentivo à violência. Porém, para Kate, a força da solidariedade supera as ameaças e ela diz se sentir feliz por estar no “lado certo da história”. “A gente é maior do que o medo, recebi tanta mensagem carinhosa, todo mundo se mobilizou, acolheu, tem muito carinho do lado de cá. É isso que a gente tem que mostrar, quando a gente fala de construir uma sociedade mais justa, igualitária, a gente está falando disso”, disse.

Bloqueio durava 15min e já se negociava liberação da rua quando motorista acelerou contra as pessoas Protestavam contra PEC que pode elevar em mais de 10 anos tempo para aposentadoria O motorista André Luiz da Cunha Serejo, que fugiu sem socorrer as vítimas, se apresentou no dia seguinte à delegacia para prestar depoimento. O delegado alegou que não o prendeu porque não havia mais flagrante. O caso foi registrado como tentativa de homicídio, mas o indiciamento dependia de novos depoimentos. O carro dele já havia sido apreendido pela polícia em um condomínio em São Gonçalo, após informação repassada ao Disque Denúncia. A placa do carro e a imagem do motorista foram identificadas por meio das fo-

tos divulgadas pela reportagem do Jornal da Aduff, postadas nas redes sociais e na página da entidade na internet. Manifestantes e jornalistas que estavam no local relatam que a via havia sido bloqueada por cerca de 15 minutos e já se negociava a sua possível liberação quando o motorista avançou sobre as pessoas, atropelando cinco delas. Com o bloqueio da rua e portando faixas, os manifestantes protestavam contra uma reforma que, caso seja aprovada, pode levar muita gente a ter que trabalhar até dez anos a mais para usufruir do direito à aposentadoria.


10

Jornal da ADUFF

Junho/2019 • www.aduff.org.br

NOTAS DA ADUFF

Solidariedade aos trabalhadores terceirizados da UFF A Aduff-SSind decidiu realizar uma campanha de solidariedade permanente, material e política, a trabalhadoras e trabalhadores terceirizados que sofrem com atrasos nos salários e com riscos constantes de demissão. As doações de alimentos nãoperecíveis e de itens de higiene pessoal devem ser entregues na sede da entidade (Rua Prof. Lara Vilela, 110 - São Domingos, Niterói).

Cortes e demissões

Participação docente

Com os reiterados cortes no orçamento da Universidade, a administração da UFF não está honrando os pagamentos relativos à prestação de serviços terceirizados, como segurança e limpeza. Mais de 1/3 dos trabalhadores terceirizados já foram demitidos. Quem fica, sofre com os atrasos. Também convivem com o medo da demissão e com o aumento de trabalho gerado pela demissão dos colegas.

A presidente da Aduff-SSind, professora Marina Tedesco, convida os docentes a participarem da campanha. "Atrasos nos salários e demissões de terceirizados não são situações novas na UFF, mas estão se agravando. Além de lutar para reverter esses cortes, a Aduff se solidariza com os trabalhadores terceirizados sem salário e/ou demitidos. A Aduff corrobora com as ações de solidariedade que já estão acontecendo em toda a Universidade e se soma como ponto de coleta e de entrega de doações", destaca a docente. Fotos: Luiz Fernando Nabuco

Feijoada solidária no Coluni Uma atividade para entrar para a história do Coluni. A comunidade do Colégio Universitário da UFF Geraldo Reis tomou a iniciativa de arrecadar recursos para ajudar trabalhadoras e trabalhadores terceirizados da instituição em decorrência do atraso nos seus salários, a maioria da Croll, mas também da Singular, além dos demitidos da Lusa. A feijoada realizada no dia 1° de junho, no pátio do próprio colégio, reuniu muita gente. "É um ato de solidariedade de trabalhador para trabalhador", disse o diretor do Coluni, Charleston José de Sousa Assis.

A Chapa 2 - "Todos os Cantos" venceu, em maio, a eleição para o Diretório Central dos Estudantes da UFF. Obteve 6.328 votos contra 4.067 dados à Chapa 1 - "Na luta É Que a UFF se Encontra”. A diretoria da Aduff-SSind parabeniza a gestão eleita, ressalta o papel histórico da entidade estudantil para a Universidade Federal Fluminense e destaca a importância da unidade entre os três segmentos da Universidade - estudantes, técnicos e docentes - nas lutas em defesa da UFF e da educação pública.

Universidades estaduais Docentes, técnicos e estudantes consideraram uma vitória a rejeição da Comissão Parlamentar de Inquérito contra as universidades públicas estaduais que o PSL tentou instituir na Assembleia Legislativa do Rio. A proposta do deputado Alexandre Knoploch (PSL) foi derrotada por 31 votos a 16, “Conseguimos mobilizar os três segmentos da Uerj, o que foi fundamental para derrotar uma CPI totalmente equivocada, que configuraria mais perseguição do que inquérito para apurar irregularidades”, disse Deborah Fontenelle, vice-presidente da Associação de Docentes da Uerj (Asduerj).

‘Contas não esperam’ O vigilante Luís Carlos dos Reis, da Croll, disse ter ficado feliz com a solidariedade, num momento difícil na vida destes trabalhadores."As contas não esperam o salário atrasado", disse. O evento teve o apoio da Aduff e do Sintuff, além de doações de docentes e pais. Os recursos arrecadados foram destinados aos terceirizados do Coluni e da creche.

‘É só o começo’

Salários sob ameaça

Fotos: Luiz Fernando Nabuco

A organização ficou a cargo da Comissão de Mães, Pais e Responsáveis. "A feijoada está servindo para fazer essa solidariedade, mas também está integrando o Coluni", disse Nicete Reis, da comissão. Enquanto trabalha no evento, ela explica que a ideia também é buscar iniciativas que amenizem os impactos dos cortes orçamentários e façam a defesa do Coluni e da UFF. "A gente sabe que os nossos filhos aqui estão tendo uma educação de qualidade", diz, ressaltando que a intenção é dar continuidade a esse movimento. "Essa é só a primeira ação", afirma.

DCE Fernando Santa Cruz

Imagens da feijoada solidária no Coluni, que teve apoio da Aduff

O presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, remarcou o julgamento das ações que contestam pontos da Lei de Responsabilidade Fiscal, entre eles o artigo que permite a redução de salários de servidores, para 21 de agosto. Na prática, o que os onze ministros do STF vão decidir é se 25% dos salários dos servidores pode, eventualmente, serem redirecionados para pagar juros ou amortizações da dívida pública, recursos que ao final acabam alimentando o sistema financeiro.


Jornal da ADUFF

11

Junho/2019 • www.aduff.org.br

UFF Campos em luta para garantir estrutura para universidade Comunidade universitária procura soluções para a retomada das obras do campus ‘Beira Rio’; contêineres utilizados como salas de aulas devem ser retirados no final de 2019 Lara Abib Da Redação da Aduff

D

No entendimento de estudantes, técnicos e docentes, os valores altíssimos de aluguel pagos durante 10 anos pelos contêineres garantem a permanência dos módulos. Comissão tripartite foi formada para intensificar a relação e os diálogos com a Reitoria da UFF, o Conselho Universitário, a prefeitura de Campos e outros atores.

Emenda de bancada Em razão das grandes mobilizações na UFF Campos, a Universidade foi procurada pela bancada de deputados federais do Rio de Janeiro com o objetivo de negociar uma emenda no Congresso para a retomada das obras do campus Beira Rio. No dia 11 de junho, o reitor da UFF se reuniu com os deputados federais Wladimir Garotinho (PRP), Talíria Petrone (PSOL) e Chico

D’Ângelo (PDT) para debater o tema. Estudantes, técnicos e professores reivindicam que nova reunião aconteça, dessa vez em Campos e com a presença da comunidade acadêmica da Universidade, para tratar do assunto. “Estamos numa situação extrema e precisamos de uma reunião com o reitor aqui em Campos, com toda a comunidade acadêmica. Até porque, se a emenda sair mesmo, não é dádiva de ninguém, é conquista de uma comunidade universitária aguerrida e um paliativo diante de um cenário desolador de cortes orçamentários e de anos de promessas de conclusão das obras”, destaca a professora Ana Costa, que integra a comissão tripartite formada a partir do fórum dos três segmentos para pensar a estrutura da Universidade. A UFF Campos conta

com 8 cursos de graduação, 3 pós-graduações Lato Sensu e 2 mestrados acadêmicos, somando mais de 3,7mil integrantes entre estudantes, professores e técnicos. “É evidente que as emendas parlamentares não são a solução ideal para o financiamento da Universidade pública, como os contêineres também nunca foram a solução ideal para os problemas de estrutura da UFF Campos. O que a gente quer emergencialmente é garantir a permanência da Universidade. Nossa luta é para continuar existindo, em defesa de uma Universidade pública, gratuita e de qualidade, com orçamento público adequado para garantir seu funcionamento e com estrutura apropriada que acomode as atividades de ensino, pesquisa e extensão”, finaliza a docente.

Fotos: reprodução internet

ocentes, estudantes e técnicos-administrativos da UFF de Campos dos Goytacazes estão mobilizados para debater e propor soluções para os problemas de estrutura da instituição, que se agravaram mais recentemente com o corte de 30% no orçamento da Universidade Federal Fluminense. No início de maio, a comunidade ‘uffiana’em Campos foi comunicada pela Reitoria da UFF de que os três contêineres instalados na Universidade seriam retirados do campus, já que a empresa responsável pelo aluguel dos módulos queria encerrar os serviços por atraso nos pagamentos. Perplexa com a notícia, a comunidade da UFF Campos se mobilizou e o prazo de retirada dos módulos foi negociado entre empresa e a Reitoria e estendido para dezembro de 2019. Alugados de maneira provisória em 2009, os contêineres completam 10 anos na instituição. Eles abrigam mais de 20 salas de aulas, laboratórios de pesquisa e secretarias de

cursos, sendo responsáveis por grande parte da estrutura da Universidade. Foram trazidos para a UFF até que os dois prédios do campus ‘Beira Rio’ ficassem prontos. As obras, inicialmente previstas para serem concluídas em 2012, estão paradas há pelo menos seis anos. Depois de tanto tempo de espera, o campus novo é chamado pelos estudantes de ‘Terra Prometida’. No dia 15 de Maio - Greve Nacional da Educação, reunião do Fórum dos Três Segmentos de Campos chegou a agregar mais de 500 pessoas no pátio da Universidade para pensar soluções para as questões de estrutura. A maior preocupação é que a UFF Campos se fragmente e se fragilize com a retirada dos contêineres. A comunidade universitária é contra a remoção da UFF para outros espaços e defende que só é possível retirar os contêineres quando houver garantias de que as obras inacabadas do campus Beira Rio serão retomadas e de que pelo menos um dos dois prédios previstos no projeto do Reuni para a UFF Campos fique pronto.

Mobilização evitou a retirada imediata dos contêineres, mas impasse continua

Assembleias comunitárias na UFF Campos: forte participação

Contêineres instalados no campus da UFF em Campos dos Goytacazes


12

junho/2019 • www.aduff.org.br

Jornal da ADUFF Fotos: Luiz Fernando Nabuco

“Ciência na Quinta” vai expor trabalhos e defender pesquisa e educação públicas Aduff participa da organização com a SBPC e outras entidades da atividade de 7 de julho e convida a comunidade acadêmica a fazer, neste dia, a defesa da educação pública

A

Associação dos Docentes da UFF (Aduff-SSind), Seção Sindical do Andes-Sindicato Nacional, participará das atividades na Quinta da Boa Vista pelo Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador, 7 de julho. A defesa da educação e da pesquisa públicas e a rejeição aos cortes orçamentários nestas áreas tendem a marcar o “Domingo com Ciência na Quinta”, feira de ciências organizada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) em parceria com uma série de outras entidades e instituições, entre elas a Aduff. A diretoria da Aduff-SSind

convida a comunidade universitária da UFF a participar do evento, que acontece das 10h às 15h, no dia 7. A seção sindical assegurará estrutura necessária para a apresentação de trabalhos, cujas inscrições estavam abertas até o dia 21 de junho. Além da feira, a atividade também contará com apresentações musicais e pronunciamentos curtos de representantes da comunidade científica. Em 2018, o evento contou com mais de 130 stands de diversas instituições de Ciência, Tecnologia, Educação e Saúde, com público estimado de mais de duas mil pessoas. A Aduff participou.

Assembleia da comunidade acadêmica da UniRio rejeitou a nomeação que desrespeitou a eleição democrática

Aduff repudia nomeações de reitores não eleitos e se solidariza com UniRio, UFMT e UFGD A democracia e a vontade da maioria das comunidades universitárias estão sendo desrespeitadas, afirma direção da Aduff

A

Estudantes do Coluni no ato de 8 de maio, em Niterói

diretoria da Aduff-SSind divulgou nota repudiando nomeações de reitores que não participaram ou não foram os mais votados em consultas às comunidades acadêmicas nas universidades públicas federais brasileiras. A crítica refere-se às reitorias da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). Na UniRio, um golpe interno pôs em primeiro lugar na lista tríplice um indicado do

presidente Jair Bolsonaro e o vencedor da consulta à comunidade acadêmica em segundo. Na UFMT, o presidente nomeou o segundo colocado na consulta à comunidade acadêmica. E na UFGD, o governo, por meio de uma suposta indicação pró-tempore, nomeou uma interventora. “Apesar das nomeações nestas três instituições serem fruto de processos diferentes, o resultado é o mesmo: completo desrespeito à vontade da maioria da comunidade universitária e à própria democracia”, diz um trecho da nota. O texto asso-

cia os mecanismos legais que permitem que essas nomeações antidemocráticas aconteçam a heranças de períodos autoritários, que certos segmentos da sociedade e o próprio governo tentam restabelecer A Seção Sindical do Andes-SN na UFF reitera seu compromisso com a luta pela democracia, autonomia universitária e direito das comunidades acadêmicas de escolherem seus reitores e suas reitoras e se solidariza com as comunidades da UniRio, UFMT e UFGD.”Seguiremos na luta”, finaliza a nota.

Pela vida das mulheres: nota da Aduff sobre o estupro no Gragoatá e a questão da segurança nos campi

O

espancamento seguido de estupro de uma aluna da UFF, no final de maio, é mais um grave caso de violência contra as mulheres que pode ter sido facilitado pelo estado de abandono dos campi da universidade em decorrência dos seguidos cortes nos orçamentos das instituições de ensino federais. É o que afirma a direção da

Aduff-SSind, em nota na qual se solidariza com a vítima e disponibiliza assistência jurídica para ampará-la. O estupro ocorreu, durante período de aula, em um dos banheiros do Bloco A do campus do Gragoatá, em Niterói. A aluna foi socorrida por uma colega de outro curso e recebeu assistência do Programa de Atendimento às Vítimas de Vio-

lência do Hospital Universitário Antonio Pedro (Huap). O crime está sob a investigação da Polícia Civil. “Não é de hoje que a direção desse sindicato vem denunciando os efeitos danosos da política de cortes de verbas às universidades, implementada ao longo desses últimos anos – em 2019 estão na ordem dos 30%. Apontamos em

diferentes notas e documentos que tais cortes de recursos afetariam diretamente a segurança dos campi, provocando danos irreparáveis à vida da comunidade acadêmica, sobretudo das mulheres. Somadas a isso, as demissões dos terceirizados e a precarização extrema daqueles que permanecem na ativa contribuíram sobremaneira para a situação

de insegurança que os campi experimentam hoje”, diz trecho da nota. O documento da Associação dos Docentes da Aduff destaca ainda a importância de a comunidade acadêmica participar tanto da luta contra os cortes de verbas, quanto das iniciativas em defesa da segurança nos campi e pela vida das mulheres.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.