Jornal Aduff-SSind abril 2016

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Associação dos Docentes da UFF

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EDITORIAL Luiz Fernando Nabuco

Eleições para Aduff e Andes-SN acontecem nos dias 10 e 11 de maio

Seção Sindical do Andes-SN

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Análise da direção da Aduff-SSind sobre a decisão da Câmara referente ao impeachment de Dilma

Filiado à CSP/Conlutas

Abril de 2016

Gustavo, candidato a presidente da chapa única para eleição da Aduff

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Luiz Fernando Nabuco

Ilustração: Gilson Castro

PLP 257 é considerado projeto de maior impacto contra os serviços públicos desde as reformas de FHC na década de 1990

Reitoria não explica como contou votos que ‘deram’ Huap à Ebserh

Zulmair Rocha

Comunidade acadêmica fica sabendo pelo jornal “O Globo” que diretorgeral foi contemplado pela Ebserh com cargo de superintendente após brigar para ceder hospital à empresa

Votação inconclusa e sem contagem de votos no dia 16 de março

Páginas 5

Estudantes ocupam escolas para defender educação pública Páginas 4 e 5


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Jornal da ADUFF Luiz Fernando Nabuco

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Editorial

AGENDA Abril 30 - Reunião conjunta dos Grupos de Trabalho Verbas e Fundações do Andes-SN; na sede regional de SP, das 9h às 17h. Maio 1º - Dia Internacional dos Trabalhadores. No Rio, ato classista e da esquerda será no Parque Madureira, às 15h. 10 e 11 - Eleições para as próximas diretorias do Andes-SN e da Aduff-SSind.

Aconteceu Abril 16 - II Encontro de Educação do Rio de Janeiro, na UFRJ. 14 - Dia nacional de protestos dos servidores. No Rio, servidores em greve ocuparam a Secretaria de Fazenda do Estado. 9 e 8 - Seminários nacionais sobre precarização do trabalho docente e sobre terceirização nas instituições de ensino superior, promovidos pelo Andes-SN, em Fortaleza (CE). A Aduff participou. 7 - Dia Mundial da Saúde: passeata foi do Maracanã ao Hospital Universitário Pedro Ernesto.

Nada a comemorar, tudo a lamentar, muito pelo que lutar

N

os últimos anos, o Andes-SN e a Aduff-SSind vêm construindo, através do debate nas bases da categoria docente, um enfrentamento consciente a diversas políticas implementadas pelo governo federal comandado pelo Partido dos Trabalhadores. Desde 2003, primeiro ano do mandato de Lula, quando a (contra)reforma da Previdência que ele encaminhou ao Congresso Nacional, retirando direitos especialmente dos servidores públicos, foi aprovada a toque de caixa, apesar da greve que fizemos para enfrentá-la. E continuamos enfrentando o desmanche da carreira docente e das condições de trabalho nas universidades, em greves nas federais como as de 2005, 2012 e 2015. Denunciamos o Reuni, pois, apesar de defensores intransigentes da expansão das universidades públicas e, inclusive, do direito de acesso universal ao ensino superior, percebemos naquela política a intenção de precarizar as condições de funcionamento das instituições. O que de fato se verificou nos últimos anos, com as carências de infraestrutura e de profissionais para dar conta das centenas de milhares de novos estudantes ingressantes, agravando-se nos últimos dois Associação dos Docentes da UFF

anos com a falta absoluta de recursos para a mínima manutenção das instituições. Combatemos desde o início a entrega dos hospitais universitários à empresa de direito privado Ebserh, o que na UFF nos foi imposto recentemente, como sabemos, à custa do respeito pela democracia interna da instituição. E continuamos nas ruas contra as medidas de arrocho do “ajuste fiscal”. Na última quinta-feira, dia 14 de abril, participamos em Brasília do ato convocado pelas entidades de servidores públicos das três esferas, para repudiar o PLC 257/2016, enviado pelo Executivo ao Congresso, que aponta para a possibilidade de congelamento salarial dos servidores, redução de vencimentos e demissões, conforme o cumprimento ou não das metas do ajuste fiscal. No entanto, nossa posição de combate a todas essas medidas destrutivas para a universidade pública e os direitos duramente conquistados pela classe trabalhadora está longe de nos colocar entre aqueles que comemoraram o deprimente espetáculo televisivo fornecido pelos deputados reunidos em Brasília no último fim de semana para aprovar o pedido de impeachment da presidente da Repú-

blica. Nada a comemorar, porque não se trata de um impedimento sustentado por crimes de responsabilidade comprovados, nem tampouco do resultado de uma vontade popular expressa em votos ou em mobilizações transformadoras, mas no reflexo parlamentar da opção de frações expressivas da classe dominante brasileira por substituir este governo que parece não servir mais aos seus interesses. Podem parecer patéticos os deputados dedicando seus votos aos familiares, Deus, municípios de origem, grupos de amigos etc.. Centenas deles acusados de corrupção, improbidade administrativa e outros crimes, mas portando-se ali como arautos da moralidade pública e do combate à corrupção. É revoltante perceber que quem conduziu o rito legislativo é réu por crime de corrupção, com abundância de provas documentais, mas continua sentado na cadeira da presidência da Câmara pelas manobras espúrias no Conselho de Ética do parlamento e pela “falta de pressa” dos juízes do Supremo Tribunal Federal em julgar seu processo. Ainda mais absurdo é estar solto e na função de representante do povo um fascista que exalta o assassino torturador Brilhante Ustra.

Cabe refletir, entretanto, que se o espetáculo é patético e revoltante, seus efeitos vão muito além do espetacular. São esses parlamentares que votam e continuarão votando para demolir nossas conquistas democráticas e direitos trabalhistas. A oposição que precisamos lhes mover é oposição ao golpe parlamentar para trocar um governo eleito por outro ilegítimo, mas também a oposição a todo golpe contra a universidade pública, contra nossos direitos previdenciários, contra a livre organização e manifestação dos movimentos sociais, contra os cortes orçamentários que atingem os serviços públicos mais essenciais à população (como saúde e educação), contra a retirada de direitos trabalhistas, contra todos os golpes, em suma, que eles vêm aplicando com esse governo, que agora está por um fio, e pretendem aplicar ainda mais aceleradamente com o próximo. Que a revolta com o show de horrores da Câmara dos Deputados nos leve à luta, junto com os servidores estaduais que já vivem os atrasos e suspensões de pagamentos que rondam sobre nossas cabeças e os estudantes das escolas públicas, que as ocupam para reinventá-las e reinventar a educação pública. Estejamos com eles. C

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Lançamento de caderno sobre a ditadura e a UFF O caderno "Ditadura e Resistências - A Rebeldia dos Professores da UFF: do Golpe de Estado à Formação da Aduff-SSind" terá lançamento em Niterói, na sede da Aduff, no dia 11 de maio, a partir das 18h. A publicação é fruto do projeto "Memórias da Ditadura na UFF", criado em outubro de 2013 como parte integrante do Grupo de Trabalho de História do Movimento Docente (GTHMD) da Aduff-SSind, sob coordenação de Wanderson Melo e contribuição de Rafael Vieira. Haverá confraternização ao final, com coquetel.

Presidente: Renata Vereza – História/Niterói • 1º Vice-Presidente: Gustavo França Gomes – Serviço Social/Niterói • 2º Vice-Presidente: Juarez Torres Duayer – Arquitetura • Secretário-Geral: Elizabeth Carla Vasconcelos Barbosa – Puro • 1º Secretário: Isabella Vitoria Castilho Pimentel Pedroso – Coluni • 1º Tesoureiro: Wanderson Fabio de Melo – Puro • 2º Tesoureiro: Edson Teixeira da Silva Junior – Puro • Diretoria de Comunicação (Tit): Paulo Cruz Terra – História/Campos • Diretoria de Comunicação (Supl): Marcelo Badaró Mattos – História/Niterói • Diretoria Política Sindical (Tit): Sonia Lucio Rodrigues de Lima – Serviço Social/Niterói • Diretoria Política Sindical (Supl): Wladimir Tadeu Baptista Soares – Faculdade de Medicina • Diretoria Cultural (Tit): Ceila Maria Ferreira Batista – Instituto de Letras • Diretoria Cultural (Supl): Leonardo Soares dos Santos – História/Campos • Diretoria Acadêmica (Tit.): Ronaldo Rosas Reis – Faculdade de Educação • Diretoria Acadêmica (Supl): Ana Livia Adriano – Serviço Social/Niterói

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Fevereiro (2ª quinzena) de 2016 www.aduff.org.br

Biênio 2014/2016 Gestão ADUFF em Movimento: de Luta e pela Base

Editor Hélcio L. Filho Jornalistas Aline Pereira Lara Abib

Projeto Gráfico Luiz Fernando Nabuco Diagramação Gilson Castro

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Seminário debate desafio de deter avanço da precarização do trabalho docente Lara Abib , enviada a Fortaleza (CE) Da Redação da Aduff

desafios que estão postos para o sindicato nacional em relação à precarização do trabalho docente e à organização sindical: essa é a discussão principal deste evento. Debatermos como o Andes-SN pode organizar aqueles que estão precarizados através das mais diversas formas de contratação”, disse o presidente do Andes-SN, Paulo Rizzo, na mesa de abertura do Seminário Nacional sobre Precarização do Trabalho Docente, realizado em Fortaleza (CE), entre os dias 8 e 9 de abril. Rizzo lembrou que se as universidades públicas ainda realizam concursos, o mesmo não pode ser dito da educação básica. “Não há um estado do país que faça concurso para professor. Essa é uma realidade que tende a se aprofundar em todo o serviço público. Quando o Estado se coloca nessa posição de arrochar como nunca, e a ordem hoje é enfrentar a crise por meio do processo de corte no serviço público, a tendência é o aumento da terceirização e da flexibilização. O Andes-SN não é, por definição, o sindicato dos professores com contrato formal

Estevão Ribeiro

“Os

de trabalho; é o sindicato de todos os professores de instituições federais de ensino superior. Por isso deve estar pronto para enfrentar essa realidade e organizar os trabalhadores na luta por melhores condições de trabalho”, frisou. A professora substituta Linnesh Ramos, da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), destacou a necessidade de espaços como o do seminário nacional para discutir a situação dos trabalhadores com contratos precarizados nas universidades e reivindicou a resolução aprovada no 35°Congresso do Andes-SN de realização

de uma campanha específica de filiação de professores substitutos, temporários e do ensino a distância. “No que diz respeito aos professores substitutos a gente tem uma dificuldade tremenda de se encontrar. São vários professores que têm vários contratos na universidade, que não são apenas contratos com instituições de ensino superior, muitos dão aulas em escolas, existe uma gama de contratos empregatícios, então isso dificulta na hora de marcar uma assembleia, de marcar uma reunião para conhecer as especificidades de cada um. Há emergência do Andes-SN se de-

bruçar sobre essas especificidades na tentativa de organizar esses trabalhadores. A aprovação de uma campanha específica de filiação no último congresso foi uma grande vitória nesse sentido. Temos que trazer esses professores para a luta. Não vamos conseguir superar essa situação sem a participação e o protagonismo efetivo desses trabalhadores”, disse. No plenário, a professora de Geografia Isabella Vitória, do Coluni, relatou a situação do Colégio Universitário da UFF, que funciona desde 2006 e tem na maior parte de sua história uma presença grande de força de trabalho de professores terceirizada – bolsistas da FEC (Fundação Euclides da Cunha) –, além de profissionais cedidos pelo estado. Em 2013, observa, houve o primeiro concurso direcionado à contratação de professores efetivos para o colégio. “Nessa organização inicial do colégio, a direção da escola e a Reitoria da universidade organizavam um projeto em que selecionavam professores recém-licenciados para serem bolsistas da FEC, atuando no colégio. Esses professores recebiam 11 bolsas por ano e não contavam com direitos trabalhistas. Nós dividíamos as mesmas responsabilidades, mesmo a gente sendo professor efetivo, recebendo cinco, seis vezes mais e eles numa situação extre-

mamente precária. Depois da greve de 2015, conseguimos reduzir o número de professores nessa situação”, contou. A docente Sônia Lúcio Lima, do curso de Serviço Social da UFF, parabenizou a iniciativa do Andes-SN de realizar o seminário. Ela narrou um debate realizado pela Aduff-SSind, na greve de 2015, sobre as mudanças no trabalho docente na Europa, na América Latina e no Brasil. A mesa contou com a presença de professores da Espanha, Portugal e Chile. “Ao final do debate, nós chegamos a conclusões importantes. A primeira é que o nível de precarização do trabalho docente nesses países é absolutamente mais aprofundado que no Brasil. Isso nos levou a uma segunda conclusão: que provavelmente uma das razões para isso é que aqui nós temos o Andes-SN. Em Portugal, por exemplo, a carreira de professor não existe mais, as pessoas trabalham por edital, são pesquisadores com trabalho renovado de dois em dois anos. Parece-me que é alguma coisa que nos diz respeito como um todo e temos que valorizar e fortalecer: firmar a necessidade desse sindicato como instrumento que tem assegurado condições mínimas de trabalho. Outros países apontam que nós temos pela frente condições cada vez mais duras e precárias”, finalizou a docente.

Aduff-SSind lança cartilha sobre assédio moral no seminário sobre precarização do trabalho docente O lançamento da cartilha produzida a partir de contribuições de docentes que participam do Grupo de Trabalho e Seguridade Social da Aduff-SSind aconteceu na manhã do dia 8 de abril, após a primeira mesa do Seminário Nacional sobre Precarização do Trabalho. A publicação se amparou em textos desenvolvidos pelo escritório de advocacia “Wagner Advogados Associados” e contou com a contribuição da pesquisadora Simone Silva, do Laboratório de Ética nas Relações de Trabalho e Educação – Laberte-Bioetica-UFRJ. “Participando desse evento a gente vê o quanto a precarização está presente na universidade e como esse processo de

trabalho hostil e de uma disputa interna absurda esconde por trás um grande número de adoecimentos e assédio moral. Na UFF, acompanhando o setor jurídico do sindicato, a gente viu como é difícil para o professor reconhecer o assédio, prová-lo e conseguir lutar contra ele. Ficou muito clara a importância do sindicato nessa luta”, ressaltou, no evento, a professora Elizabeth Barbosa, da UFF em Rio das Ostras e diretora da Aduff-SSind. Em breve, a seção sindical disponibilizará o conteúdo da cartilha no repositório do Andes-SN para que outras seções sindicais possam imprimir e distribuir o mate- Cartilha da Aduff sobre assédio moral, que será disponibilizada rial em suas universidades. a outras entidades para impressão

Luiz Fernando Nabuco

Debate sobre precarização e terceirização foi promovido pelo Andes-SN em Fortaleza; professores da UFF participaram


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Geovany Zuqueto, estudante secundarista do Colégio Estadual Gomes Freire Luiz Fernando Nabuco

Entrevista

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‘A ocupação está mudando nossas vidas’, diz secundarista

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paralisação das escolas estaduais fluminenses já dura mais de 45 dias. Na pauta de reivindicações estão os salários, atrasados e defasados, e a reversão do avançado processo de deterioração que a educação enfrenta em tempos de ‘ajuste fiscal’. Em meio a isso, surge o movimento de ocupação das escolas pelos estudantes – uma ação que, para muitos, é uma lição de solidariedade e conscientização sobre a importância da escola pública, gratuita e de qualidade. Mas não para por aí. Os estudantes estão conseguindo trazer para a defesa da escola alunos que eram taxados de ‘baderneiros’ ou ‘vândalos’ e que ficavam à margem do processo educativo. Também promovem debates e “aulões”, que, segundo o estudante Geovany Zuqueto, de 17 anos, do Colégio Estadual Gomes Freire de Andrade, na Vila Cruzeiro, no Complexo do Alemão, estão sendo funda-

mentais para a preparação dos alunos para o Enem e – principalmente – para uma nova vida. A seguir, a entrevista concedida ao jornalista Hélcio Lourenço Filho, do Jornal da Aduff, durante o II Encontro de Educação do Rio de Janeiro, que aprovou apoio político e material às ocupações e à greve. JORNAL DA ADUFF:Você estuda em que escola, como foi a ocupação? GEOVANY ZUQUETO: Eu estudo no Colégio Gomes Freire de Andrade, na Penha, área de risco, próximo da comunidade da Vila Cruzeiro, no Complexo do Alemão. Agora faz quatro semanas que ocupamos a escola. Eu não estava no momento, mas foi no turno da manhã.Eu sabia que seria ocupado nesse dia, pois tinha tido uma assembleia que decidiu que seria ocupado na segunda.Discutimos na sexta-feira, eu participei da assembleia.Estava cheia,nos [dois] turnos. Na primeira assembleia de 300 alunos foram cinco contra; na segunda não teve nenhum voto contra. A segunda assembleia tinha cerca de 100 alunos ou até mais. Eu não falei nas assembleias, mas eu já militava. Fizemos um mês de protesto na rua

Geovany, ao lado de colega, fala no II Encontro de Educação do Rio antes de ser ocupada. A gente fez os protestos junto com o Sepe [Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do RJ]. Antes desse um mês de mobilizações, você já militava no movimento estudantil? Não militava, eu não tinha participação nenhuma. E como é que está sendo essa novidade? Uma experiência totalmente perfeita. Eu nunca fui tão envolvido na política como hoje em dia. Eu estou amando essa sensação de ser revolucionário. Você já tinha pensado nisso? Nunca pensei em participar desses movimentos. Quando houve, quando começou a acontecer, foi quando eu comecei a pensar, por que não? Eu comecei a pesquisar, comecei a entender a fundo o movimento e comecei a participar. E antes desse período bem curto que você está vivendo, como você via esses movimentos de greve, de manifestação? Você via meio distante, como é que você fazia?

Eu apoiava,mas apoiava na minha casa. Eu sempre achei lindo uma pessoa ir para a rua lutar pelos seus direitos, por aquilo que acredita. Sempre concordei com isso, sendo que não participava dos atos. E hoje em dia eu participo de tudo. Você mora com os seus pais? Como eles estão vendo isso? Moro com os meus pais. No começo eles ficaram um pouco distantes. Nossa, meu Deus! Eles ficaram preocupados, como é a reação de todos os pais. Mas um filho sempre sente quando o pai sente orgulho de um filho lutando pela educação. Meus pais têm em torno de 50 anos. Eu moro, como eu te falei, dentro da comunidade da Vila Cruzeiro e tenho muitos amigos, que, por consequências da vida, decidiram entrar para o crime e tudo mais. E os meus pais verem que eu estou lutando pela educação, mesmo morando dentro de uma comunidade, meio que lutando contra a ordem na qual todo pobre vem a ser bandido. Acho que isso se

torna orgulho para eles. E essa experiência que você diz estar gostando muito, está mudando sua vida? Sim, acho que está mudando muito a minha vida. Em questão de maturidade, de você não passar a julgar antes de conhecer. É o que está acontecendo muito, as pessoas julgam antes,um preconceito, né? Você começa a entender os lados, você começa a dizer qual combina mais com você. Como é a vida na escola? Você estuda lá desde quando? Há três anos. Estou no ter ceiro ano, fiz o ensino médio lá. Antes eu estudava numa escola municipal, a Leonor Coelho Pereira. Estudei lá desde o CA. No Gomes só tem o ensino médio. Como é que você avalia a situação da escola? É uma escola com muita dificuldade? Como era o dia a dia dela antes da ocupação? Comparando com outras escolas, é um pouco melhor regida, mas que também tem problemas

Continua na página 5

“Queremos educação de qualidade”, diz aluna do ‘Ocupa Iepic’ Aline Pereira Da Redação da Aduff

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qui falta material, falta papel higiênico no banheiro. Nossa alimentação é controlada e em pouca quantidade. O feijão é aguado e não podemos repetir. As salas de aula não são climatizadas, porque desligam o ar-condicionado. Fazem o mesmo com os bebedouros e, por isso, tomamos água quente. Lutamos por melhores condições para a escola, queremos educação de qualidade”, disse uma estudante do primeiro ano

à reportagem da Aduff-SSind, no mesmo dia da ocupação da 12ª escola estadual no Estado do Rio, em 7 de abril. Em 18 de abril, já eram 72 escolas ocupadas em 23 cidades. Ela é uma das integrantes do movimento “Ocupa Iepic”, formado por alunos do Instituto de Educação Professor Ismael Coutinho. Os estudantes elaboraram uma pauta de reivindicações, que inclui melhorias na infraestrutura, segurança, revitalização e climatização; passe-livre estudantil irrestrito; gestão autônoma; prestação de contas; fim da opressão

e do preconceito. Eles são solidários à greve dos educadores da rede estadual, iniciada em 2 de março e que, em 6 de abril, ganhou a adesão de outros setores. Curiosa reivindicação dos estudantes é a “hidro-honestidade”. Segundo eles, a direção do Iepic teria divulgado, na véspera da ocupação, que não haveria aula porque não teria água na escola, que amanheceu fechada. Eles alegam que eventual falta de água nunca foi motivo para suspender as aulas. “A direção estava temendo a ocupação do Iepic. Chegamos bem cedo, pulamos

o muro e abrirmos a cisterna, que estava cheia”, conta uma aluna. O movimento “Ocupa Iepic”tem recebido apoio de professores da escola, de docentes e de discentes de outras escolas da rede estadual em greve e de movimentos sociais, da Aduff-SSind e do Sintuff. “Estou muito emocionada em ver o amadurecimento dos estudantes, estamos unidos por uma luta em defesa da educação pública, que está falida”, conta Renata Oliveira, professora de História há 12 anos no Iepic. Doações podem ser feitas na própria escola.


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Reitor não diz como contou votos que ‘aprovaram’ fazer do Huap filial da Ebserh Primeiras medidas da ‘nova administração’: restringir acesso de sindicatos e suspender internações de pacientes com câncer

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em a Reitoria, nem a Secretaria-Geral dos Conselhos Superiores da UFF retornaram a reiteradas tentativas da reportagem do Jornal da Aduff-SSind de obter resposta a duas perguntas: 1) como a Reitoria concluiu que 53 conselheiros votaram a favor do convênio com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh),

na reunião do Conselho Universitário do dia 16 de março, já que não houve contagem de votos?; 2) Por que a nota da Reitoria não menciona votos contrários, já que é de conhecimento público que havia discordância e polêmica? A reportagem enviou mensagens eletrônicas e entrou em contato por telefone com a secretária do reitor, que infor-

mou que a mensagem havia sido encaminhada para o chefe de gabinete, professor Alberto Di Sabbato – que não retornou nem as ligações nem o e-mail. A sessão do CUV está sendo questionada pela Aduff-SSind, que não reconhece o suposto resultado. A votação sobre a cessão do Hospital Universitário Antonio Pedro

à Ebserh, na reunião realizada fora das dependências da UFF, não chegou a ser concluída. Não houve contagem. Há, inclusive, vídeos que provam isso. Ao assumir o Huap, a primeira medida da ‘nova administração’ foi restringir o acesso dos sindicatos ao hospital. Pouco depois, anunciou a suspensão das internações de pa-

cientes com câncer, alegando falta de medicamentos. No mesmo período, a comunidade acadêmica ficou sabendo, pelo jornal “O Globo”, que o professor Tarcísio Rivello, diretor do hospital por dez anos e que ‘brigou’ para defender a Ebserh, foi contratado pela empresa como superintendente do hospital.

Projeto é ataque brutal aos serviços públicos, dizem servidores sobre PLP 257

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ervidores públicos federais, assim como municipais e estaduais, vêm atuando, por meio de suas entidades sindicais, para impedir que o PLP 257/2016, batizado de projeto antisserviço público, seja aprovado no Congresso Nacional. Os sindicatos da categoria classificam o projeto como um ataque brutal ao setor. Representantes de centrais sindicais foram recebidos pelo ministro Ricardo Berzoini, da Secretaria de Governo da Presidente da República, e defenderam o

Entrevista (Continuação página 4) muito graves que não podemos esquecer e estamos nas ruas lutando, ocupando, por esses motivos bem graves que estão sendo esquecidos. Uma das reivindicações das ocupações é a eleição direta para diretor. Vocês têm discutido isso? Sim. Porque os alunos junto com os professores é que conhecem as dificuldades da escola no dia a dia. Então é bem digno nós votarmos, escolher quem nos rege. É absolutamente justo, deve haver a votação entre a comunidade estudantil e os professores para decidir quem vai ser o diretor. Vocês já pensavam sobre o direito de eleger a direção ou isso era algo que ninguém comentava? Ninguém comentava. Isso não era visível para os estudantes, isso era fechado entre a Seeduc [Seretaria Estadual de Educação] e a direção. Os alunos e os professores não participavam. Quando surgiu a ocupação, quando surgiu essa ideia, começou a [ter apoio] e está para ser votado, a Alerj vai se decidir isso. Você tem dormido na escola? Dorme muita gente? Sim, tenho. Dorme em torno

Pelo pagamento de aposentados, servidores estaduais em greve ocupam a Secretaria de Fazenda do Rio arquivamento da proposta. O ministro respondeu que considerava possível des-

membrar o projeto – separando a parte que trata do refinanciamento da dívida dos

estados dos demais itens que atingem diretamente os serviços público e os servidores. Berzoini, no entanto, não concordou em retirar sequer a urgência do projeto – o que faz com que ele tenha que ser aprovado até o início de maio. A movimentação dos servidores e sindicatos, no entanto, associada à crise política no Congresso, conseguiu ao menos impedir que a proposta fosse aprovada na primeira quinzena de abril na Câmara. No entanto, o projeto é defendido tanto pelo governo quanto

pela chamada oposição de direita. Caso seja aprovado, poderá levar ao congelamento salarial nas três esferas de governo, à suspensão de concursos públicos e praticamente impede qualquer expansão dos serviços públicos. “É uma revisão da lei que vai endurecer mais ainda o uso do dinheiro [público] para qualquer coisa que não seja pagar a dívida”, afirmou a professora Juliana Fiúza, do Serviço Social da Uerj, durante debate sobre o tema.

‘A ocupação está mudando nossas vidas’, diz secundarista de 30 a 35 alunos, até mais. Acaba muita gente se conhecendo. Sim. A gente pode se considerar irmãos [aponta para um colega que não conhecia antes da ocupação]. É uma amizade, nunca houve essa integração tão forte entre os alunos. E não só do nosso colégio, mas também de outros. A gente tem amigos agora, relacionamento e tudo mais. E nesses dias desse movimento todo, tem alguma coisa que te marcou muito? Essas noites que você passou lá, essas atividades da ocupação? Acho que o que me marcou mais foi que a gente conseguiu mudar a opinião e a mente de muita gente, que ia para a escola antigamente para destruir, para quebrar e eram considerados os vândalos da escola. Hoje em dia, são as pessoas que mais lutam e que se dedicam à limpeza, à cozinha e tudo mais. E a gente conseguiu mudar outra coisa: não existem baderneiros na escola, existem pessoas que, infelizmente, por algum ato, estão fazendo coisas ruins e que podem fazer coisas boas. São colegas de vocês. Você era

um deles? Será que esses alunos não estão fazendo diferente porque agora fazer isso acaba sendo a forma de ir contra a ordem: “nós estamos cuidando da escola”. Será que esse sentimento não cresceu entre os alunos, um sentimento de rebeldia, mas uma rebeldia de construir a escola e não de destruí-la? Não, eu não era um deles. Não, eu acho que não. Esse sentimento de rebeldia não existe. Acho que começou a surgir uma forma de conhecimento, acabar a ignorância e começar a entender o processo da escola, o que seria a escola e começar a entender mais e começar a ajudar. Você acha que faltava mais informação? Sim. Porque até então nós tínhamos apenas um tempo de Filosofia e Sociologia na escola. Um dos projetos da escola é acabar com Sociologia e Filosofia, que são as duas matérias que te fazem pensar. Eu obviamente sou contra isso. E nesse processo de ocupação tem tido muito debate sobre esses temas? Sim, a gente faz aulões. A

gente faz sempre debates sobre opressões e tudo mais. E o pessoal está bem envolvido na política e na forma de cidadania de modo geral. Você acha que, nesse um mês de ocupação, você teve mais envolvimento com a discussão sociológica e filosófica do que no dia a dia de aula comum? Sim, muito mais. Você vai fazer o Enem? Eu quero fazer Engenharia Elétrica. Parece que tem uma declaração do secretário da educação dizendo que a escola… “A escola estadual nunca foi e nunca vai ser um aprovador do Enem”. Eu achei essa declaração péssima, ridícula. Como você se sentiu e como acha que seus colegas se sentiram em relação a essa declaração? A gente se sentiu muito ameaçado e esquecido, porque foi dito que nós somos incapazes. E nós não somos incapazes, nós somos muito capazes. Essa concepção de que vocês são capazes, você já tinha ela antes e agora se sente mais seguro disso? Sim. Eu acho que a gente começou a conquistar algo através

dessa ocupação e mostrou que toda luta que é feita não é em vão e nós vamos ter vitórias. Você espera passar para alguma universidade pública? Sim para UFRJ, Uerj. E você acha que tem alguma chance disputando com alunos de escolas particulares? Não, no dia a dia comum não. Mas nós estamos fazendo aulões e somos capazes sim. Está tendo muita pressão de alunos que querem desocupar? Não. Na nossa escola não, mas em outras escolas sim. Na nossa escola foi voto unânime. Então o nosso apoio está bem geral. Você é dá Vila Cruzeiro. Seus pais trabalham? Sim, são trabalhadores. Meu pai é motorista de uma pedreira e minha mãe é cuidadora de criança. Eles têm segundo grau completo? Não, o meu pai não. A minha mãe sim. A gente começou a conversar com o meu pai. Minha irmã também, ela faz faculdade na Uerj de Direito e a gente conseguiu conversar com ele e agora ele decidiu a voltar a estudar.


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A Comissão da Verdade do Andes-SN lançará no 61° Conad, que acontece em junho em Boa Vista (RR), um Caderno Especial sobre todo o trabalho desenvolvido pela comissão desde 2013. Segundo Antônio José da Costa, 1° vice-presidente da Regional Norte I e um dos coordenadores da comissão, as discussões do seminário nacional, ocorrido em 2015, e dos encontros regionais serão sistematizadas no documento restauração da memória histórica. O lançamento foi conf irmado pela direção do Andes-SN às vésperas de 1º de abril, nos 52 anos do golpe militar.

‘Ditadura, sim’ A 72 horas da votação sobre o impeachment na Câmara, Julio Perez, de 47 anos, segurava uma faixa na qual se pedia a intervenção militar no país. Ele foi um dos cerca de 60 manifestantes pró-impedimento do governo que caminhavam pela av. Presidente Vargas e cruzaram com a ocupação que os servidores faziam da Secretaria de Fazenda, na noite de quarta-feira (14). Indagado pelo repórter sobre as críticas que muitos fazem do contrassenso de alguém ir para rua protestar por um regime no qual os protestos estão proibidos, disse que não. “Nos tempos do regime militar você tinha liberdade, podia andar às 4 horas da manhã nas ruas”. Do carro de som, alguém discursava sobre o PT: “Eles são socialistas, são marxistas e não têm pátria, a pátria deles é a ideologia”.

Conta outra Pegou mal a Reitoria usar como argumento para desalojar o Sintuff da sede que ocupa há anos no Valonguinho a justificativa de que é uma entidade privada ocupando espaço público. Afinal, a Reitoria acabara de entregar o controle de todo o Hospital Universitário Antonio Pedro à Ebserh, uma empresa estatal, mas de direito privado e que poderá fechar contratos com outras empresas privadas para uso do Huap.

Jornal da ADUFF

Notas da Aduff No Dia Mundial da Saúde, rechaço à privatização via Ebserh e OS

Minha escola...

Fotos: Luiz Fernando Nabuco

Ditadura, não

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Os modelos de gestão terceirizada e privatizada dos hospitais públicos foram os principais alvos do protesto que marcou o Dia Mundial da Saúde no Rio de Janeiro. No já tradicional ato de 7 de abril, no Maracanã, de onde os manifestantes caminharam até o Hospital Universitário Pedro Ernesto, as organizações sociais e a Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares) foram muito

criticadas. A entrega do Hospital Universitário Antonio Pedro à Ebserh foi mencionada. O modelo terceirizado foi apontado como uma porteira aberta para a corrupção na saúde, além da precarização do trabalho e declínio da qualidade do atendimento – quase todas as OS em atuação no Rio estão envolvidas em denúncias de corrupção.

Ocupa Tudo I Estudante de Administração na UFRJ e da coordenação da Anel (Associação Nacional dos Estudantes Livres), Rafael Dias disse à reportagem do Jornal da Aduff que as 45 ocupações de escolas secundarias da rede estadual de ensino estavam muito bem consolidadas. E que a sua avaliação é de que mais 20 escolas seriam ocupadas na semana seguinte, mas que poderia errar, como já errara na semana anterior, porque estava sendo cauteloso na estimativa. A declaração foi dada no sábado (16), durante o II Encontro de Educação do Rio de Janeiro. Na segunda à noite, já havia 72 escolas ocupadas.

Ocupa Tudo II Os estudantes secundaristas foram a sensação do II Encontro de Educação. A serenidade dos relatos que fizeram impressionou a muitos. As declarações de amor à escola emocionaram. Assim como a sinceridade e o encanto com a descoberta de que, ao se mobilizarem juntos, tem voz.

Ocupa Tudo III Pelos relatos de alguns estudantes e professores, a Secretaria Estadual de Educação está numa verdadeira cruzada para destruir essa descoberta dos secundaristas e derrotar o movimento. Após cada ocupação, uma equipe da secretaria vai ao local e tenta convencer os alunos a desistir. Os argumentos usados, segundo os relatos, não são nada pedagógicos. Por outro lado, a solidariedade e o apoio de pais, vizinhos da escola, professores, estudantes, movimentos sociais e sindicais não param de crescer.

Sugestão de uma servidora: lançar a campanha visite a escola em que você um dia estudou para levar apoio às ocupações. Ela só está esperando a ocupação de sua antiga escola para fazer isso.

Apoio ao Sintuff A diretoria da Aduff-SSind divulgou nota de apoio ao Sintuff, na qual condena a tentativa do reitor da UFF, Sidney Mello, de despejar, via ordem judicial, a entidade que representa os técnicos-administrativos da sede que ocupam há anos no campus Valonguinho, em Niterói. A nota associa o fato a uma série de outros acontecimentos que ferem a democracia interna na universidade, entre eles a entrega do Hospital Universitário Antonio Pedro à Ebserh. “A exemplo do que vem ocorrendo em todos os níveis de governo no país, entendemos que essa ameaça é um evidente constrangimento à liberdade e ao direito de organização sindical dos trabalhadores”, diz trecho da nota.

Vai ter crise Seis meses de governo Michel Temer (PMDB-SP) separam a provável abertura de processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff (PT) do julgamento final. Antes mesmo de sentar na cadeira para qual não foi eleito, Temer já está com a popularidade quase tão baixa quanto a de Dilma. A segunda e definitiva votação no Senado exige dois terços dos votos dos senadores para que o afastamento se confirme. Resta saber como estará o país e Temer até lá, provavelmente meados de novembro.

Só o começo “É só o começo, vai ficar pior”. Frase de um policial militar que fazia a ‘guarda’ da porta de entrada da Secretaria de Fazenda do Estado do Rio, no Centro da cidade, durante a manifestação e a ocupação promovida por servidores públicos estaduais em greve, no dia 14 de abril.


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Divulgação

CULTURA

Fotos: Luiz Fernando Nabuco

Com Opera dos Vivos, debate na UFF aborda indústria cultural Professor da USP e diretor da Companhia do Latão, Sergio de Carvalho participou do debate no Cine Arte-UFF Lara Abib Da Redação da Aduff

“R

esolvi filmar porque sentia que era o trabalho mais maduro do grupo, fruto da nossa trajetória. São quatro peças, quatro histórias, personagens de uma que entram na outra. É um trabalho muito difícil de sair, com 20 pessoas na produção, que já percorreu o país, já foi para fora. Sentia que ela poderia morrer. No teatro, quem viu, viu. Quem não viu, não vai ver. Embora o filme não dê conta do que é a peça – é outra experiência –, a ideia era fazer ela durar um pouquinho mais, driblar a efemeridade do teatro”, disse o dramaturgo e professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) Sérgio de Carvalho, na exibição realizada no Cine Arte-

-UFF, no dia 31 de março, de dois dos quatro filmes inspirados na peça Ópera dos Vivos. A atividade debateu aspectos da indústria cultural no Brasil. Os filmes, construídos a partir do roteiro do espetáculo teatral homônimo, recebem os nomes dos quatro atos da peça. Na sessão de lançamento no cinema da UFF foram exibidos o primeiro, Sociedade Mortuária” (filmado no assentamento ‘Todos os Santos’, em Canindé, Ceará, com o apoio participação da comunidade do local) e o último,‘Morrer de Pé’. Compõem ainda a obra os filmes ‘Tempo Morto’ e ‘Privilégio dos Mortos’. A peça e o filme discutem a indústria cultural no Brasil. No ano passado, o texto do espetáculo também foi lançado

em livro de mesmo nome, publicado pela editora Expressão Popular. Ópera dos Vivos é um dos trabalhos mais importantes da Companhia do Latão, grupo teatral de São Paulo que trabalha com a reflexão crítica sobre a sociedade atual, dirigida desde sua origem, em 1997, por Sérgio de Carvalho. De acordo com o dramaturgo, os filmes produzidos em parceria com diretores do coletivo ‘Filmes do Caixote” e a peça são coisas muito diferentes. “A produção audiovisual não é mero registro do espetáculo teatral, é outra obra completamente nova. Principalmente em termos de linguagem. Nosso teatro é um teatro muito da ordem da imaginação.

O palco está vazio e a gente fala assim ‘vê aquela estrela a oeste do polo’ e aí todo mundo têm que imaginar um céu estrelado. O cinema tem essa presença da visualidade muito forte, o dentro do quadro costuma estar muito forte”, disse. Para Sérgio, o problema do cinema brasileiro não é produção, é circulação do que é produzido. “Isso aqui é um luxo, exibir nosso filme numa sala de cinema como essa, depois realizar um debate. Estou muito feliz e muito honrado, porque é muito difícil de acontecer com qualquer filme, mesmo com filmes feitos com grandes investimentos de capital. As pessoas produzem cinema para circuitos de festi-

vais, para vender na televisão. Investe-se uma dinheirama na produção e depois esse filme não é exibido. São raros os filmes que rompem esse formato. O sucesso do ‘Que horas ela volta’, por exemplo, foi algo extraordinário, fora da curva. Normalmente os filmes brasileiros ficam duas semanas em cartaz, quando muito, e depois desaparecem”, problematizou. A exibição de ‘A Ópera dos Vivos’ foi uma atividade do Grupo Mundos do Trabalho-UFF e do Cine Arte-UFF e contou com apoio do Niep-Marx, núcleo interdisciplinar de discussão sobre cultura com um viés marxista e foco em teatro dialético.

Resposta a bilhete lembra que ‘papais’ também existem O bilhete da escola era dirigido à ‘mamãe’; resposta de professora da UFF viralizou nas redes e fomentou debate Aline Pereira Da Redação da Aduff

O

que era para ser a repetição de um certo senso-comum com relação à maternidade e ao papel da mulher, em um caso envolvendo uma professora da UFF ganhou outros contornos, repercutiu nas redes sociais e até nos meios de comunicação comerciais e deu margem a se debater a desigualdade entre os gêneros. O bilhete, enviado pela escola na agenda de um aluno, pedia que as crianças levassem ingredientes para fazer uma salada de frutas e, assim, comemorar a chegada do outono.

Até aí, nada demais. O problema é que a mensagem era dirigida única e exclusivamente à “Mamãe”. O caso ocorreu em março, mês em que se comemora o Dia Internacional das Mulheres. A ‘mamãe’ em questão era a professora Kate Lane de Paiva, mãe de Jorge e de Francisco, respectivamente com 6 e 4 anos. A resposta de Kate ao bilhete tocou no problema: "Entendo que muitas vezes é a mãe quem se encarrega das tarefas domésticas e dos filhos, mas precisamos lembrar que ‘papais’ também são responsáveis e que muitas crianças são criadas por outros membros da família, como avós, tios, tias etc. As-

sim, seria uma maneira de não repetirmos esse discurso que só responsabiliza a mãe/mulher pelo cuidado com a casa e os filhos (as)", argumentou. O caso ganhou ampla repercussão nas redes sociais, surpreendendo até mesmo Kate Lane, que é professora de Artes no Colégio Univer-

sitário Geraldo Reis/ Coluni, da Universidade Federal Fluminense. “Fiquei muito surpresa com a forma como essa história viralizou. Mas o que me surpreendeu mais ainda foram os comentários ofensivos, de gente que não entendeu o teor da mensagem. É muito difícil desconstruir

o papel da mãe, figura muito sacralizada em uma sociedade machista”, conta a docente, que já foi contatada pela Record e pela Globo para participar de programas televisivos. “Recusei porque tenho divergências políticas com essas empresas”, disse. No entanto, Kate tem atendido às solicitações das mídias alternativas e de blogues. No dia em que conversou por telefone com a reportagem do Jornal da Aduff, contou ter respondido a várias mensagens que manifestavam apoio à iniciativa. "Algumas outras mães disseram que vão fazer o mesmo em relação aos bilhetes que recebem da escola dos filhos. Dirigir-se apenas à mãe e não ao responsável, sequer é pedagógico” avaliou.


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Jornal da ADUFF Fotos: Luiz Fernando Nabuco

Eleições para Aduff-SSind e Andes-SN ocorrem nos dias 10 e 11 de maio Eleição também definirá os docentes que vão integrar o Conselho de Representantes Da Redação da Aduff

A

chapa “Democracia e Luta, em Defesa dos Direitos Sociais, do Serviço Público e da Democracia Interna” disputará a eleição para a diretoria da Aduff-SSind, biênio 2016/2018. É a única inscrita. Ela traz o professor Gustavo Gomes, da Escola de Serviço Social, como candidato a presidente, Gelta Xavier, da Faculdade de Educação, como vice, Kate Lane Paiva, na secretária-geral, e Carlos Augusto Aguilar Junior, como tesoureiro, os dois últimos docentes do Coluni (colégio federal da UFF). Segue, ao final deste texto, a lista completa dos candidatos à direção da seção sindical e ao Conselho de Representantes (CR) da Aduff-SSind – que também será definido na eleição. A professora Elizabeth Barbosa, representante da atual diretoria na Comissão Eleitoral, destaca a importância de a categoria participar desse processo e ressalta que a eleição dos representantes ao conselho deverá ter uma complementação em breve. “Nesse primeiro momento, 17 unida-

des indicaram representantes para concorrerem ao CR do sindicato. Assim que a nova direção assumir, deverá publicar novo edital para eleger representantes no restante das unidades. É importante que todos os institutos e unidades se mobilizem para garantir representação e participação na luta sindical”, disse.

Urnas nos campi A votação será realizada nos dias 10 e 11 de maio, em todos os campi da UFF, em locais designados pela Comissão Eleitoral (CE). São eleitores todos os docentes da UFF filiados à Aduff que se sindicalizaram até o dia 15 de março de 2016. De acordo com o Regimento Eleitoral, a identificação do associado será feita mediante qualquer documento de identidade. Caberá à Comissão Eleitoral compatibilizar os horários para votação com os horários de funcionamento da unidade ou departamento onde funcionarão as seções eleitorais. O mapa com os horários e locais das urnas será divulgado em breve pela CE.

Gustavo, candidato a presidente da Aduff, em assembleia no ano passado

Professora da UFF é candidata a presidente do Andes-SN As eleições para a próxima direção da Aduff-SSind e do Conselho de Representantes da entidade sindical acontecem simultaneamente com a votação nacional para a diretoria do Andes-SN. Todos os eleitos estarão à frente de seus cargos para o biênio 2016/2018. A chapa “Unidade na Luta” foi a única inscrita durante o 35º Congresso do Andes-SN, realizado em janeiro deste ano, em Curitiba. À frente da chapa estão a professora Eblin Farage (UFF), candidata a presidente; e os professores Alexandre Galvão, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), candidato a secretário-geral; e Amauri Fragoso de Medeiros, da Universidade Fede- Eblin, professora da UFF: candidata à ral de Campina Grande (UFCG), candidato presidência do sindicato nacional a tesoureiro do Andes-SN.

Chapa para Diretoria da ADUFF-SSind – Biênio 2016/2018: “Democracia e Luta: Em Defesa dos Direitos Sociais, do Serviço Público e da Democracia Interna” Presidente: Gustavo França Gomes 1º Vice-Presidente: Gelta Terezinha Ramos Xavier 2º Vice-Presidente: Juarez Torres Duyaer Secretário-Geral: Kate Lane Costa de Paiva 1º Secretário: Douglas Ribeiro Barbosa 1º Tesoureiro: Carlos Augusto Aguilar Junior 2º Tesoureiro: Edson Teixeira da Silva Junior Diretoria de Comunicação (Titular): Kenia Aparecida Miranda Suplente: Marcio José Melo Malta Diretoria de Política Sindical (Titular): Adriana Machado Penna Suplente: Bianca Novaes de Mello Diretoria Cultural (Titular): Renata Torres Schittino Suplente: Ceila Maria Ferreira Batista Diretoria Acadêmica (Titular): Antoniana Dias Defilippo Bigogmo Suplente: Elza Dely Veloso Macedo

Conselho de Representantes – CR – Biênio 2016/2018 Fac. de Educação - Feuff Titular: Eliane Arenas Mora Suplente: Zuleide Simas da Silveira

Fac. de Administração e C. Contábeis – EST Titular: Claudio Roberto Marques Gurgel Suplente: Selma Alves

ESR – Campos dos Goytacazes Titular: Leonardo Soares dos Santos Suplente: Matheus Thomas da Silva Esc. de Arquitetura e Urbanismo – RA Titular: Glauco Bienenstein Suplente: Luiz Renato Andrade Bittencourt Silva Inst. de Saúde Coletiva Titular: Claudia March Frota de Souza Suplente: Armando Cypriano Pires IACS Titular: Fabián Rodrigo Magioli Núñez Suplente: Guilherme Nery Atem Rio das Ostras – IHS Titular: João Claudino Tavares Suplente: Paula Martins Sireli

Fac. de Economia Titular: Victor Leonardo Figueiredo Carvalho de Araujo Suplente: Nazira Correia Camely IEF – Educ. Física e Desportos Titular: Martha Lenora Queiroz Copolillo Suplente: Claudia Foganholi Alves Fac. de Nutrição Titular: Katia Ayres Monteiro Suplente: Enilce de Oliveira Fonseca Sally Inst. de Matemática e Estatística Titular: Luis Felipe Rivero Garvía Suplente: Viviana Ferrer Cuadrado Coluni Titular: Maria Cecilia Sousa de Castro Suplente: Gisele dos Santos Miranda

Infes - PCH - Santo Antonio de Pádua Titular: Ivan Ducatti Suplente: Diego Chabalgoity Inst. de Computação Titular: Izabel Leite Cafezeiro Suplente: Marco Antonio Monteiro Silva Ramos Campus Nova Friburgo – Inst. de Saúde Titular: Priscila Starosky Suplente: Gilson Saippa de Oliveira ICHF Titular: Tatiana Silva Poggi de Figueiredo Suplente: Renata Rodrigues Vereza Volta Redonda – ICHS Titular: Catharina Marinho Meirelles Suplente: Ana Paula Todaro Taveira Leite


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