Jornal Aduff-SSind, 1° quinzena de Julho 2015

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Assembleia Geral dos professores Dia 13, segunda-feira, 15h no auditório do ICHF, bloco P, Gragoatá.

Seção Sindical do ANDES-SN Filiado à CSP/CONLUTAS

Julho (1ª quinzena) de 2015

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Em reunião com Planejamento, servidores voltam a cobrar respostas à pauta Valcir Araujo

ADUFF SSind

Acompanhe a agenda das atividades pelo blog da greve

Luiz Fernando Nabuco

Associação dos Docentes da UFF

Valcir Araujo

Mais setores param e greve no serviço público ganha força BRASÍLIA. Caravana defende

Greve dos docentes atinge 40 instituições federais de ensino; seguridade social entra em greve e escolas federais também vão parar; funcionalismo prepara marcha a Brasília para 2ª quinzena de julho; pressão reúne os o t A . I Ó R sobre governo aumenta E NIT tos para n e m g e s s trê reitor o m o c o g exigir diálo

Luiz Fernando Nabuco

educação pública e rejeita cortes e privatização


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Jornal da ADUFF

Editorial

Há alternativas!

(mas só com muita resistência e luta)

F

echamos a última semana sob lidade. Como educadores, não pode­ os influxos políticos de um re­ mos nos calar ante essa situação. Por trocesso abominável. Porém, a roda­ outro lado, o avanço da pauta da direi­ viva não para de girar, e iniciamos ta reacionária no Congresso Nacional uma nova semana revigorados por tem se combinado cada vez mais com uma mensagem clara de que, sim, a retirada de direitos dos trabalhado­ há alternativas. res e a aprovação de todas as medidas O país acordou ainda menos de­ de “austeridade” do ajuste fiscal do go­ mocrático na quinta-feira, dia 2 de verno federal. As bancadas “da bala”, julho, depois que um golpe regimen­ “da bíblia” e da “cerca” são todas unâni­ tal do presidente da Câmara dos De­ mes em defender tal pauta. É no bojo putados, Eduardo Cunha, permi­ da reação a essas políticas que nossa tiu a aprovação da PEC da redução greve vem se construindo. Já o reca­ da maioridade penal que havia do do povo grego tem repercussões sido rejeitada na véspera. internacionais. Tende a ser A mensagem Domingo, 5 de julho, um reforço ao alerta que porém, fomos (o tentamos levar adian­ veio do berço mundo todo) dor­ te aqui – no nosso da democracia mir confiantes de espaço da greve na antiga, a Grécia, com a educação superior que outro cami­ nho é possível vitória incontestável da – de quão danosas e a mensagem são as consequên­ veio do berço da resistência às políticas de cias da “austerida­ democracia anti­ ‘austeridade’ e aos seus de” para a maioria ga, a Grécia, com desastrosos efeitos da população. a vitória incontestá­ E no ponto em que sociais vel da resistência às po­ estamos, postos todos os líticas de “austeridade” e aos obstáculos, até que estamos seus desastrosos efeitos sociais. nos saindo bem com nossa greve. Os Mas, o que nossa greve tem a ver que diziam que a greve acontecia em com as manobras de Eduardo Cunha momento errado, já que diante do e a vitória do povo grego no referen­ ajuste fiscal não teríamos nenhuma do? Tudo. O que a juventude de nosso chance de conquistas salariais, agora país precisa é de menos prisão e mais acompanham com atenção o notici­ educação: pública, gratuita e de qua­ ário, depois do anúncio do Ministério

do Planejamento de uma proposta de reajuste para todo o funcionalismo. Para quem afirmava que a gre­ ve não decolaria, é difícil admitir que agora sejam já cerca de 40 seções sin­ dicais em greve, com a greve nacional generalizada dos técnico-adminis­ trativos e as dezenas de instituições vivendo greves estudantis, ao que se soma o anúncio de greves em várias categorias do funcionalismo federal. Para todos aqueles que entoaram a velha cantilena de que a greve esvazia a universidade, deve ser preciso fazer muito esforço para tapar a vista ante as centenas de atividades de greve (den­ tro dos campi e nas ruas) que já acon­ teceram e continuam acontecendo em todas as unidades da UFF, em Niterói e fora da sede. Para um reitor como o nosso, “desaparecido”, que se recusa a re­ ceber trabalhadores e estudantes em greve em sua universidade e se es­ conde atrás de um “comitê gestor”, em pose de rainha da Inglaterra, deve ser estranho ler em todos os grandes veículos de comunicação as declarações do novo reitor da UFRJ, que não teme fazer o debate público sobre o desastre dos cortes no orça­ mento das instituições e trata a gre­ ve como sinal positivo de vitalidade da universidade. Até aqui, portanto, estamos avan­ çando e demonstrando que vale a pena

lutar, mas ainda não conquistamos efe­ tivamente garantias de atendimento de nossa pauta. A proposta do MPOG é absolutamente insuficiente, pois sequer representa uma reposição das perdas salariais decorrentes da inflação pro­ jetada pelo próprio governo. O MEC nos recebeu, mas não se comprome­ teu com nenhum item de nossa pauta e os cortes de verbas por enquanto es­ tão mantidos. Nas UFF, o tal “comitê gestor” recebeu os comandos depois de muita pressão, mas sequer se compro­ meteu a retirar as ações judiciais que in­ viabilizam uma relação realmente de­ mocrática com as entidades represen­ tativas dos três segmentos. Por isso, as assembleias gerais dos docentes da UFF das últimas semanas repudiaram a postura do MEC, rejei­ taram a proposta do MPOG e cobra­ ram da reitoria a abertura efetiva de negociações em torno da pauta inter­ na. E apostaram na ampliação da luta. O ato de 1º de julho em Niterói, com passeata, debate e arraial da greve foi avaliado por todos como um sucesso. O esforço para uma participação ex­ pressiva na caravana a Brasília e nas atividades de mobilização nacional lá construídas pelo conjunto dos servi­ dores, foi recompensado com um ato de proporções significativas. Não à “austeridade”! Há alternati­ vas! Nos ensinam os gregos. Sigamos ensinando nós, com nossa luta.

Agenda de atividades Sexta, 10 de julho

Segunda, 13 de julho

UFF em Niterói 10h - Plenária unificada dos três segmentos Local: Campus do Gragoatá UFF em Friburgo 9h - Café da manhã e roda de conversa com terceirizados Varanda do Casarão 10h30min - Discutindo a terceirização com os docentes Corpo a corpo com os professores que estiverem no campus 13h30min - Cinema e Debate Exibição do documentário “Privatização e Distopia do Capital”, de Silvio Tendler Local: Sala de aula a definir

15h - Assembleia geral de greve dos docentes da UFF. Auditório do ICHF, Bloco P, campus do Gragoatá.

Quinta, 16 de julho UFF em Rio das Ostras Aulão de Greve: “Reggae: ritmo, história e política”. Com o prof. Márcio Malta (UFF/ Campos dos Goytacazes) e DJ Gustah (estudante de História UFF/Campos). Às 16h, no auditório do Puro, com violão e discotecagem. Em seguida ao debate, haverá um baile.

Terça, 21 de julho Reunião de negociação no Ministério do Planejamento

Presidente: Renata Vereza – História/Niterói • 1º Vice-Presidente: Gustavo França Gomes­– Serviço Social/Niterói • 2º Vice-Presidente: Juarez Torres Duayer – Arquitetura • Secretário-Geral: Elizabeth Carla Vasconcelos Barbosa – Puro • 1º Secretário: Isabella Vitoria Castilho Pimentel Pedroso – Coluni • 1º Tesoureiro: Wanderson Fabio de Melo – Puro • 2º Tesoureiro: Edson Teixeira da Silva Junior – Puro • Diretoria de Comunicação (Tit): Paulo Cruz Terra – História/Campos • Diretoria de Comunicação (Supl): Marcelo Badaró Mattos – História/Niterói • Diretoria Política Sindical (Tit): Sonia Lucio Rodrigues de Lima – Serviço Social/Niterói • Diretoria Política Sindical (Supl): Wladimir Tadeu Baptista Soares – Faculdade de Medicina • Diretoria Cultural (Tit): Ceila Maria Ferreira Batista – Instituto de Letras • Diretoria Cultural (Supl): Leonardo Soares dos Santos – História/Campos • Diretoria Acadêmica (Tit.): Ronaldo Rosas Reis – Faculdade de Educação • Diretoria Acadêmica (Supl): Ana Livia Adriano – Serviço Social/Niterói

Biênio 2014/2016 Gestão ADUFF em Movimento: de Luta e pela Base

Editor Hélcio L. Filho Jornalistas Aline Pereira Lara Abib

Projeto Gráfico Luiz Fernando Nabuco Diagramação Gilson Castro

Imprensa imprensa.aduff@gmail.com Secretaria aduff@aduff.org.br

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Valcir Araujo

Caravana a Brasília defende fim dos cortes na educação

Caravana em Defesa da Educação Pública percorre a Esplanada dos Ministérios, no dia 7 de julho em Brasília

Da Redação da Aduff

A

Caravana em Defesa da Edu­ cação Pública reuniu, segundo os organizadores, cerca de cinco mil pessoas em Brasília, na terça-feira (7), e percorreu a Esplanada dos Ministérios levando faixas, bandei­ ras e palavras de ordem que con­ tradizem o discurso usado pelo go­ verno federal para justificar o cor­ te de R$ 9,4 bilhões no orçamento do setor. “Que contradição, a Pátria Educadora precariza a educação”, cantaram os manifestantes, numa referência ao lema escolhido pela presidente Dilma para o seu segun­ do mandato. O ‘clima’ da greve nas instituições federais de ensino mar­ cou o ato público. O protesto e o manifesto entre­ gue ao Ministério da Educação, de­ finido na véspera na Reunião Na­ cional da Educação Federal, ques­ tiona ainda o dinheiro público di­ recionado para o financiamento de cursos privados e as políticas de pri­ vatização via organizações sociais ou Ebserh, a empresa criada para administrar hospitais. Servidores e estudantes destacaram que os re­ cursos do Fies poderiam ser melhor empregados se investidos na cria­ ção de vagas, com infraestrutura e pessoal adequado, nas universida­ des públicas. Os docentes, técnico-adminis­ trativos e estudantes reivindica­ vam ser recebidos pelo ministro da

Educação, Renato Janine Ribeiro. Mas foram ‘recepcionados’ por po­ liciais militares e seguranças que cercavam as entradas do ministé­ rio. “Muito ruim sermos recebidos assim, com policiamento em frente ao ministério. Isso já indica que o governo não está aberto ao diálogo com a categoria. E se assim perma­ necer, teremos que radicalizar nos­ sas ações e mobilização com os ser­ vidores públicos federais, porque só através da unidade conseguiremos pressionar o governo”, disse Kate Paiva, professora do Coluni, que in­ tegrou a delegação da Aduff-SSind que participou da marcha. “O mi­ nistro e o secretário se recusaram a receber o movimento grevista. Permitiram que os representantes do Andes-SN e da Fasubra proto­ colassem um documento, [mas fo­ ram] ambos acompanhados de dois seguranças”, relata Nina Tedesco, professora de Cinema na UFF. A caravana foi organizada pelas entidades sindicais nacionais dos trabalhadores do setor – Andes­ -SN, Fasubra e Sinasefe – e de es­ tudantes (Anel, Esquerda da UNE e Fatec). A delegação da Aduff foi composta por cerca de 25 profes­ sores, além de estudantes, cujo des­ locamento à capital federal teve o apoio do sindicato. “Avalio que o ato foi muito bonito, com pessoas que vieram de várias partes do país. Não sei se fomos a maior delega­ ção, mas, com certeza, fomos uma das mais animadas”, resumiu Nina.

Planejamento levará a Dilma impasse na negociação com servidores Valcir Araujo

“Que contradição, a Pátria Educadora precariza a educação”, cantaram cerca de 5 mil manifestantes, que contestaram as privatizações, defenderam a greve e criticaram Janine por não receber movimento

Reunião no Planejamento, no dia 7 O secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça, disse que levará ao ministro da pasta, Nelson Barbosa, e à própria presidente da República, Dilma Rousseff (PT), a rejeição do conjunto do funcionalismo federal à contraproposta salarial apresentada pelo governo, com base em acordo plurianual. Os servidores disseram ao secretário designado para coordenar as negociações que querem discutir tendo como parâmetros acordo anual e patamar de reposição bem superior aos 5,5% oferecidos para janeiro de 2016. Voltaram a cobrar, ainda, respostas para os demais pontos da pauta de reivindicações. Realizada na terça (7), foi a primeira reunião do Planejamento com as entidades sindicais do funcionalismo, que integram o Fórum dos Federais, após o governo apresentar a contraproposta que fixa previamente quatro parcelas anuais como parâmetros de reajuste de janeiro de 2016 a janeiro de 2019 (5,5%, 5%, 4,75% e 4,5%, totalizando 21,3% daqui a quatro anos). O sindicato Nacional (Andes-SN) participou da reunião.

O secretário insistiu na proposta plurianual, mas não descartou a possibilidade de o governo recuar com relação a isso ou flexibilizá-la com cláusulas de revisão. Disse ainda, contrariando a reunião anterior, que a discussão sobre benefícios e outros itens não está condicionada à concordância com relação ao reajuste salarial. Os servidores cobraram uma resposta rápida para questão salarial. Propuseram que a próxima reunião ocorra na terça-feira (14), mas Mendonça argumentou que isso não seria possível. Disse que iria levar essas questões não só ao ministro, mas também à presidente Dilma, que viajará à Rússia. Sugeriu, então, o dia 21, data que poderá ser antecipada. O resultado da reunião naturalmente não agradou aos servidores. A proposta salarial, considerada rebaixada, parece, inclusive, ter lançado mais setores à paralisação. De todo modo, dirigentes sindicais observam que as reações do governo demonstram que as greves incomodam e que o desfecho dessa disputa segue em aberto.


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Jornal da ADUFF

Docentes rejeitam contraproposta do governo e greve continua Assembleia manteve greve e avaliou que as negociações com governo e mesmo a proposta apresentada, que ainda não contempla reivindicações, decorrem do movimento grevista Aline Pereira Da Redação da Aduff

ocentes reunidos em D assembleia rejeitaram a contraproposta salarial do

governo, mantiveram a gre­ ve na UFF e aprovaram ini­ ciativas para pressionar mais a presidente Dilma e a Rei­ toria. A oferta do Ministério do Planejamento não agra­ dou a maioria dos professo­ res e foi considerada inad­ missível porque “ignora as perdas salariais dos últimos cinco anos e projeta uma derrota para os próximos quatro anos”, como afirma trecho da carta do Comando Local de Greve Docente da UFF à assembleia do dia 2. O governo propôs prefi­ xar os índices de reajuste para os próximos quatro anos, em parcelas aplicadas em janei­ ro com base nos recursos dos seguintes percentuais sobre a folha de pagamento: 5,5% em 2016; 5% em 2017; 4,75% em 2018 e 4,5% em 2019, sem­ pre em janeiro. O funcionalis­ mo defende reajuste linear de 27,3% para 2016, índice que, acrescido de ganho real de 2%, repõe as perdas acumuladas desde 2010. Além disso, o Executi­ vo não tratou das outras rei­ vindicações, como data-base, política salarial permanente com correção das distorções e reposição das perdas; retirada dos projetos que atacam direi­ tos trabalhistas e previdenci­ ários, paridade entre ativos e aposentados. “Se aceitarmos

essa proposta, aceitaremos as perdas futuras que ela impõe. Esse aumento não repõe a in­ flação e as perdas pretéritas, estimadas por entidades re­ presentativas do funcionalis­ mo público em 25%”, disse Victor Araújo, professor da Economia/Niterói. “Temos que rejeitar a proposta não só pela condição salarial, mas porque não apresenta hori­ zontes em relação às condi­ ções de trabalho. Lutamos contra a destruição da uni­ versidade e da educação pú­ blica”, disse Elizabeth Barbo­ sa, docente do Serviço Social/ Rio das Ostras e dirigente da Aduff-SSind, que salientou que as reuniões com o gover­ no e a proposta em si já são resultado greve, que começou com 18 seções sindicais e, após um mês, conta com quase 40.

Manifestação do dia 1º começou no Huap: não à Ebserh

Cadê o reitor? Os docentes aprovaram que seja solicitada ao reitor, Sidney Mello, a indicação de membros da administração central, com efetiva autono­ mia de negociação e delibera­ ção, para receber o Comando Local de Greve para dar iní­ cio às negociações com os três segmentos da UFF. Criticaram muito o fato de o reitor não receber os repre­ sentantes dos Comandos Lo­ cais de Greve para dialogar, mesmo após 30 dias de para­ lisação. “Ele foi eleito pela co­ munidade acadêmica e quem se coloca à frente é o Comitê Gestor. O reitor parece despre­ zar o movimento grevista. E o

desprezo é a forma mais per­ versa de lidar com o outro. E nós não somos invisíveis”, dis­ se Francine Helfreich, profes­ sora do Serviço Social/Niterói. Gustavo Gomes, professor do Serviço Social/ Niterói e dire­ tor da Aduff-SSind, disse que o reitor deveria estar presen­ te diante da crise. “A primeira atitude deveria ser debater de­ mocraticamente com a comu­ nidade acadêmica, expondo a real situação para técnicos, alu­ nos, professores e terceirizados. O corte no orçamento da UFF é de 47% em relação ao inves­ timento de capital; a precarie­ dade das condições de trabalho tende a aumentar; várias obras

não têm prazo para serem con­ cluídas; o contrato de 25% dos terceirizados vai ser cancelado – hoje, temos 1.500 funcioná­ rios nessas condições na uni­ versidade”, disse.

Encaminhamentos aprovados Outros encaminhamentos também foram discutidos e aprovados: intensificar o envio de cartas e comunicados aos parlamentares, solicitando que se manifestem no Congresso contra os cortes na Educação e a ameaça de contratação de professores por organizações sociais (OS); propor ao Co­ mando Nacional de Greve

(CNG) o contato com reito­ res que se posicionam contra essa política para a educação para formar uma frente; in­ dicar ao Comando Local de Greve a redação de um docu­ mento para discutir a questão do calendário acadêmico na universidade; enviar comuni­ cados aos jornais denunciando a postura antidemocrática do reitor; realizar vigílias durante as possíveis reuniões entre os representantes do Comando Local de Greve e a reitoria. A próxima assembleia acontece no dia 13 de julho, segunda-feira, às 15h, no Ins­ tituto de Ciências Humanas e Filosofia – ICHF/ Bloco P.

Luiz Fernando Nabuco

Servidores do INSS e das escolas federais decidem parar; greve no Judiciário ‘derrota’ no Senado proposta do governo

Passeata e busca de diálogo com a população, no dia 1º

Mais setores do funcio­ nalismo decidiram entrar em greve, dando corpo à campa­ nha unificada. Após seis anos sem participar das greves, os trabalhadores do INSS para­ ram agências da Previdência na terça (7). A saúde federal também tende a parar. Os professores e técnico­ -administrativos das esco­ las federais de ensino básico e profissional, representados pelo Sinasefe, param a partir do dia 13. Os setores da ad­

ministração organizados na Condsef indicaram o início da greve para o dia 22 próximo, data em que se articula mar­ cha a Brasília. Os técnico-administra­ tivos das universidades fe­ derais estão em greve desde 28 de maio – há paralisação, segundo a Fasubra, em 60 instituições. Os servidores do Judiciário Federal e do MPU estão para­ dos desde 10 de junho. No dia 30, reuniram quase dez mil no

entorno do Senado para pres­ sionar e aprovar projeto de re­ estruturação salarial que prevê reajuste médio na carreira de 56%, parcelado em seis vezes até 2017. Utilizando-se os pa­ râmetros do governo de índi­ ce sobre o conjunto da folha salarial, corresponderá a um reajuste médio de 30% na re­ muneração. O governo diz que vai vetá-lo. O resultado dessa disputa tende a ter influência direta sobre todo o funcionalismo.

Luiz Fernando Nabuco

Greve unificada dos servidores ganha corpo com novas adesões


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Lara Abib Da Redação da Aduff

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a tarde do dia 1° de ju­ lho, os três segmentos da UFF, - em greve desde o dia 28 de maio -, organi­ zaram atividades conjuntas que duraram cerca de nove Passeata em Niterói e o ‘Arraiá’ na Reitoria horas para exigir que Sidney so, a comunidade acadêmica das pessoas da janela quan­ Mello, reitor da UFF, rece­ da UFF dialogou com a po­ do puxou “bate na palma da besse o movimento grevista pulação através de panfleta­ mão quem defende a edu­ e negociasse a pauta interna gens e músicas que convo­ cação” e “tira a tesoura da de reivindicações com técni­ cavam para a defesa da edu­ mão e defende a educação”, cos, professores e estudantes. cação pública, gratuita e de em alusão aos cortes do go­ A manifestação, que con­ qualidade e contra o ajuste verno. Entretanto, quando a tou com mais de 300 pessoas fiscal do governo e o corte passeata chegou à sede ad­ – de Niterói e da UFF fora no orçamento da Educação. ministrativa da universida­ da sede –, saiu do Hospital A avenida do hospital, de, a porta da reitoria estava Antônio Pedro (Huap) e foi recebeu um “buzinaço” de trancada com correntes. até a reitoria da universida­ apoio. Em Icaraí, os mani­ Comissão formada por de com o objetivo de entre­ festantes pediram e ganha­ integrantes dos três seg­ gar a pauta interna unificada ram uma salva de palmas mentos, após muita pres­ dos três setores. No percur­

‘Ajuste’ pode criar novo ‘padrão’ de financiamento para educação, diz Leher

Debate sobre a crise na universidade reuniu entidades nacionais dos três segmentos e reitor eleito da UFRJ, Roberto Leher Hélcio Lourenço Filho Da Redação da Aduff

No debate organizado pelos comandos de greve so­ bre a crise nas universidades, o novo reitor da UFRJ fez um alerta a quem acredite que o aperto é passageiro ou conjun­ tural. “Isso vai virar um novo padrão de financiamento [das universidades públicas]”, disse o professor Roberto Leher, no

evento que reuniu estudantes, docentes e técnico-adminis­ trativos, ao defender a mobili­ zação contra essa política. Ele criticou o uso de re­ cursos públicos para financiar o setor privado da educação. “O Fies está sendo repassado não mais para empresas edu­ cacionais, mas para fundos de investimento controlados pelo capital financeiro”, disse. O presidente do Andes­ -SN, Paulo Rizzo, defen­

Debate reúne docentes, técnicos e estudantes

deu fortalecer o movimento para “enfrentar a crise mais profunda que a universidade brasileira sofreu em toda a sua história”. Ele disse ainda que a profundidade da cri­ se deve ser medida não pe­ los aspectos agora visíveis, mas pelas saídas que estão sendo apontadas para ela. E afirmou que os reitores têm obrigação de dizer que do jeito que está não é possível administrar as universidades. Marco Júnior, dirigente da Fasubra, alertou que a ter­ ceirização extrapola os car­ gos extintos e avanças sobre outros setores. Disse ainda que o fortalecimento da gre­ ve passa pelas pautas locais. As estudantes Naiara, da Anel, e Maiara, da Esquer­ da da UNE, também parti­ ciparam da mesa do debate – ambas destacaram a neces­ sidade de lutar por políticas que permitam a permanên­ cia do estudante na univer­ sidade. A reitora da Unifesp, Soraya Smaili, não pode comparecer.

Luiz Fernando Nabuco

são, acabou sendo recebida por pró-reitores do Comitê Gestor. O dia de manifestações também teve debate na en­ trada do Cine-UFF – o local não foi liberado pela Reito­

ria – sobre a crise na uni­ versidade pública brasileira. Ao final, a comunidade uni­ versitária confraternizou no ‘Arraiá da Greve’, embalada pelo forró do conjunto Sota­ que do Nordeste. Luiz Fernando Nabuco

Em ato, UFF quis saber: ô reitor, cadê você!?

Luiz Fernando Nabuco

Luiz Fernando Nabuco

‘Greve na UFF’ pressiona reitor, debate crise na universidade e confraterniza no forró

Reunião com Comitê Gestor, no dia 1º

Comandos de greve são recebidos pelo Comitê Gestor, mas sem o reitor A manifestação conjunta do dia 1º de julho fez o Comitê Gestor voltar a receber os comandos de greve, após os pró-reitores, pressionados, determinarem a abertura dos cadeados que trancavam a porta de acesso à Reitoria. O reitor, porém, mais uma vez estava ausente. A reunião durou pouco mais de uma hora e não avançou em relação às negociações. O Comitê Gestor apresentou documento em que diz que o reitor quer dialogar, mas condiciona a realização de qualquer audiência com o magnífico ao estabelecimento de um cronograma de trabalho, primeiramente, com os representantes da reitoria. “Uma pessoa isolada não tem varinha de condão para resolver todos os problemas da instituição; pró-reitores definem as políticas e as colocam em prática”, disse José Rodrigues, chefe de gabinete.

Docentes, técnicos e estudantes em greve compreendem que é importante que o reitor da universidade se apresente para dialogar/negociar com o movimento paredista. “O reitor é a figura política eleita. O momento de greve é um momento político”, disse a professora Renata Vereza, presidente da Aduff-SSind. A professora Eblin Farage, também criticou a postura do reitor. “É a primeira vez na história da UFF que o reitor da Universidade não recebe o Comando de Greve. Não queremos desmerecer o Comitê Gestor, mas vocês não foram eleitos; foram indicados para as pró-reitorias. Aliás, podemos até discutir a inclusão de mais um ponto de pauta em nossas reivindicações: que o Comitê Gestor, a partir de agora, seja escolhido pela comunidade acadêmica por meio do voto”, disse. (AP)


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Jornal da ADUFF

NOTAS DA ADUFF Breu da crise O escurinho do debate na entrada do Cine-UFF fez al­ guns lembrarem que a crise na universidade levou a dívidas com a Ampla, a empresa de energia, que atrapalha a con­ clusão de algumas obras. No polo de Nova Friburgo, onde os três segmentos estão em greve, a clínica de Fonoaudio­ logia, que funciona numa casa alugada na cidade, ficou fecha­ da por cerca de 40 dias devi­ do ao atraso no pagamento da conta de luz, só normalizado no dia 1º de julho. A informa­ ção que circulava no campus era que o valor da conta em atraso estava em R$ 400,00.

Sem graça

Como diz José Simão, o Brasil é o país da piada-pron­ ta. Pena que muitas vezes de mau gosto: a luz da clínica da fonoaudiologia de Friburgo foi cortada no dia seguinte à visita do Comitê Gestor da UFF ao campus da região Serrana Fluminense.

Sem luz

Pela educação pública

O presidente do Andes-SN, o sindicato na­ cional dos docentes, Paulo Rizzo, teve que falar no escuro durante o debate sobre a crise nas uni­ versidades, na entrada do Cine-UFF, promovido pelos três segmentos em greve na instituição: do­ centes, estudantes e técnicos. Além de não per­ mitir o uso do auditório, a Reitoria deixou os ma­ nifestantes no escuro por um período, só permi­ tindo que as luzes fossem acessas após insistência Parte da delegação da Aduff-SSind que participou da Caravana a Brasília em dos sindicatos. Defesa da Educação Pública.

Por que não foi?

Grécia

A ausência do reitor da UFF, Sidney Mello, na reunião do Pleno da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Nível Superior (Andifes), em junho, continua sendo motivo de críticas na universidade. O não comparecimento do reitor num momen­ to de crise como o atual ficou sem explicação.

Reitor contra o ditador

As redes sociais não perdem tempo. Logo após o povo grego votar em plebisci­ to contra os planos de austeridade da ‘Troi­ ka’, anunciavam que o presidente da Câma­ ra, Eduardo Cunha, estava de malas pron­ tas para Grécia, onde asseguraria um novo plebiscito...

O novo reitor da UFRJ, Ro­ berto Leher, foi muito aplau­ dido quando disse em seu dis­ curso de posse que vai propor cancelar o título de ‘doutor honoris causa’ concedido em 1972 ao ditador Médici.

Contra a redução da idade penal De ensaio do fotógrafo Marcelo Moura contra a redução da maioridade penal

Profissionais do Núcleo de Estu­ dos da Saúde do Adolescente da Uni­ versidade do Estado do Rio de Janei­ ro (Nesa/Uerj), responsável pela aten­ ção integral à saúde de meninos e me­ ninas de 12 a 18 anos, elaboraram ma­ nifesto contra a PE C 171/1993, que propõe a redução da maioridade pe­ nal. A equipe multidisciplinar se ba­ seia em estudos científicos para afir­ mar que a “área responsável pelas ava­ liações de risco e tomada de decisões em longo prazo, é uma das últimas re­ giões cerebrais a amadurecer” – o que explicaria a curiosidade, a impulsi­ vidade e a agressividade comuns na adolescência. Elas têm a força

Durante o ato realizado por professores, técnicos e estudantes grevistas da UFF nos gramados da reitoria, no dia 1º, duas representantes de cada segmento estiveram no gabinete do reitor para ne­ gociar a pauta unificada da categoria. Foram recebidas pelo Comitê Gestor, cons­ tituído por pró-reitores da gestão de Sidney Mello, que parecem ter assumido o pro­ tagonismo frente às questões políticas na instituição. De um lado, seis homens pela administração central. Do outro, seis mulheres aguer­ ridas, reivindicando dialogar com o ausente reitor eleito.

Chaplin e Dilma A ‘peça’ publicitária utilizada pelo Palá­ cio do Planalto nas redes sociais para divul­ gar o Plano de Proteção ao Emprego ge­ rou uma avalanche de críticas. Mas também houve quem assinalasse que o uso da famosa imagem de Charles Chaplin nas engrena­ gens de uma máquina era bem apropriada. Em “Tempos Modernos”, de 1936, Carlitos é um operário submetido ao trabalho pra­ ticamente escravo em uma fábrica, que ao final acaba fechada. É também confundido com um líder sindicalista de esquerda e é preso e perseguido por isso. O Planalto ti­ rou a peça do ar e divulgou nota explican­ do que o fez por considerá­-la inapropriada. O Programa de Proteção ao Emprego pre­ vê a redução salarial em 30%, e de jornada, para supostamente evitar demissões. Meta­ de dessa redução salarial seria devolvida ao trabalhador pelo FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador).

Eles ressaltam que não defen­ dem a impunibilidade de adolescentes in­ fratores, mas afirmam que o Estado “não está sendo capaz de ‘recuperar’ adolescen­ tes que foram abandonados e excluídos desde a sua infância e que são triplamen­ te penalizados pela violência social, pela exploração e por medidas restritivas de sua liberdade, em ambientes superlotados e insalubres. Cabe ao Estado estabelecer alternativas de reintegração social, edu­ cacional, cultural e em saúde, ampliando as possibilidades de apoio a aqueles que se encontram em situação de maior vul­ nerabilidade”, afirma o documento (cuja íntegra está em http://www.nesa.uerj.br/ download/maioridade_penal_2015.pdf). Arbitrariedade O ex-presidente e mi­ nistro do Supremo Tribunal Federal Ayres Britto criti­ cou a manobra regimental do presidente da Câmara, deputado, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com a qual conseguiu votar e aprovar a redução da maioridade pe­ nal, menos de 24 horas após a matéria ter sido rejeitada. Ao programa Roda Viva, da TV Cultura, disse ainda que entende que a questão da maioridade está entre as cláusulas pétreas, que só po­ dem ser modificadas em re­ formas constitucionais.


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Greve de ‘ocupação’ espalha cine-debates na UFF Exibição de filmes quase sempre provocam debates sobre temas associados à greve e às relações de trabalho; ou simplesmente agregam quem está na luta em defesa da universidade pública

Lara Abib Da Redação da Aduff

esde o início da paralisação, os D professores da UFF defendem um movimento grevista de ocupa­

ção dos espaços da universidade. A tática é combater o vazio deixado por uma reitoria que não negocia e por um governo que não respon­ de às demandas da categoria com a ampliação e o fortalecimento de es­ paços de diálogo. Nesse contexto, os cine-debates têm ganhado destaque na greve deste ano. Fixo, itinerante, em auditório ou ar livre, há sempre quem passe, pare e fique até o final. Foi o que aconteceu na manhã do dia 30 de junho, no pilotis do Blo­ co D/Gragoatá, quando os professo­ res Demian Melo e Zuleide de Sil­ veira exibiram o filme belga “Dois Dias, Uma Noite”, dirigido pelos ir­ mãos Dardenne. Cerca de 20 pesso­ as acompanharam a vida de Sandra, jovem mãe e casada, que descobre a possibilidade da perda do emprego após um período em licença médica. Individualismo, competição entre os trabalhadores e desemprego, retrata­ dos no filme foram problematizados no debate que veio a seguir, dialo­ gando com questões próprias do co­ tidiano da universidade. As exibi­ ções, sempre de um novo filme, es­ tão acontecendo toda a semana, no mesmo local.

Exibição de filme durante a greve no campus da UFF no Valonguinho, em Niterói No mesmo dia, à noite, no Valon­ versidade para o público. Esse lugar te pode escolher o tema do filme de guinho, outro grupo de professores é um espaço de produção e sociali­ acordo com o que está sendo deba­ exibiu ‘Chaos’, um filme de Étienne zação de conhecimento; deve estar tido na semana, ou dialogando com Ghys Lorenz e Jos Leys. De acordo aberto à sociedade e não fechado em questões específicas dos campi”. Felipe Rivero, professor do curso de muros, principalmente em período E não é só em Niterói que as Matemática e um dos organizado­ de greve”, ressaltou. sessões estão acontecendo. No dia res do evento, o filme, ao contrário Desde o ínico da greve, a pro­ 8 de julho, em Rio das Ostras, o do que acontece na maioria das exi­ fessora Tatiana Poggi, em conjunto cine­-debate, organizado pelos pro­ bições, não foi escolhido pela capa­ com professores da História, Mate­ fessores Rodrigo Cazes e Wander­ cidade de discussão que o tema pro­ mática e Física realiza cine-debates son Mello, exibiu “ABC da Gre­ porciona. “Para quem não é da área, semanais e itinerantes pela universi­ ve”, documentário de Leon Hirsz­ nem sempre é fácil entender as apli­ dade, no período da noite. “A gente man sobre movimento operário no cações práticas da matemática. Esse faz embaixo dos prédios para cha­ ABC Paulista. Na quinta-feira (9), é um filme que explica a teoria do mar atenção de quem está passando. em Nova Friburgo, o filme da vez é caos, o efeito borboleta, os sistemas É uma atividade legal porque chama “Privatização e Distopia do Capi­ dinâmicos. A ideia era abrir a uni­ atenção dos alunos e porque a gen­ tal”, de Silvio Tendler.

Filme belga provoca debate sobre precarização do trabalho Não é a primeira vez que “Dois Dias, Uma Noite”, em que Sandra tem que convencer seus colegas de trabalho a abrir mão de um bônus para que ela não seja demitida, é exibido numa atividade de mobilização na UFF. Durante uma paralisação no campus Volta Redonda, também foi ponto de partida para um debate sobre a precarização e o aviltamento das relações de trabalho. Para a professora Renata Vereza, presidente da Aduff-SSind que participou do debate em Vol-

ta Redonda, “Dois dias, Uma Noite” permite muitas discussões interessantes, sendo uma delas o individualismo como ideologia do capital. “Há um incentivo aos projetos individuais e não aos coletivos. Isso é muito conveniente para quem manda, porque juntos, nós temos muita força. Por outro lado, dizer que não podemos fazer nada aplaca a nossa consciência e diminui a nossa inserção na coletividade. Os direitos que ainda temos são resultado de um processo coletivo de lutas”, avaliou.

Na recente exibição no campus Gragoatá, o professor Demian Melo abordou as diferentes dinâmicas que o desemprego assume no capitalismo desde a sua origem. “O início do filme discute isso. Nos anos 80, quando começa a ocorrer um processo de transferência das plantas industriais dos países centrais do capitalismo para a Ásia, muitos sociólogos, inclusive com visão etnocêntrica, começaram a defender a ideia do fim do trabalho e do proletariado. Não observaram a dinâmica global de transferência

dessas plantas para regiões com mão de obra mais barata”, disse. A professora Zuleide de Silveira disse que o ‘tempo’ é um dos aspectos fundamentais do filme. “A trabalhadora tem dois dias e uma noite, isto é, um final de semana, para reverter a situação adversa em que se encontra. É o tempo individual dela, o tempo de descanso, o tempo com a família que entra em conflito com o tempo do capital, muito mais veloz”, disse.

Sarau da Greve no Mar de Tethys “Não há outro caminho se não pela ação humana para enfrentar o que quer nos desumanizar”, disse Jonathan, aluno do curso de História, durante sarau realizado ao final da tarde da terça-feira (7). O evento da greve, realizado ao redor do Mar de Tethys, lendário barco que, há anos, está “ancorado” próximo ao bloco B, no campus do Gragoatá, reuniu cerca de 50 pessoas. Foi possível apreciar as charges do professor Márcio Malta, o Nico; os registros fotográfi­ cos de algumas atividades de greve feitas pelo repórter-fotográfico Luiz Fer­ nando Nabuco; os primeiros acordes da estudante de violino e professora do curso de História/Niterói Tatiana Poggi; música irlandesa, e ainda as canções interpretadas por Nathy Cristo. Houve também leitura dramatizada das duas primeiras cenas de “A Revolução na América do Sul” (1961), de Augusto Boal, interpretadas pelos professores Kênia Miranda e José Rodrigues e pelos estudantes Daniel e Alice. E teve, ainda, muita poesia.


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Greve em Volta Redonda contesta cortes e evasão Professora diz que cortes no orçamento já comprometem pesquisas; estudantes acampam no campus para exigir alojamento, bandejão e bolsas, problemas comuns a quase todos os campi do interior João Marcos Coelho

Niara Aureliano free-lancer para o Jornal da Aduff

corte no orçamento das univer­ O sidades federais preocupa cada vez mais estudantes e professores

da Universidade Federal Fluminen­ se (UFF) em Volta Redonda. Cor­ te nas bolsas de iniciação científica destinadas aos campi do interior, nas ajudas de custo para viagens a con­ gressos e simpósios e nas bolsas des­ tinadas a estudantes de outros mu­ nicípios devem comprometer ainda mais a formação dos alunos e o tra­ balho docente na UFF, aumentando a evasão nos campi da cidade. Durante o ‘Arraiá da Greve’, na quarta-feira (1º), professores e es­ tudantes do Aterrado comentaram que o impacto da redução está se intensificando na UFF. “O corte atacou Volta Redonda. Havia um programa da Reitoria até ano pas­ sado, que distribuía bolsas de ini­ ciação científica para os campi do interior, mas está acabando, fazen­ do com que os alunos daqui tenham que concorrer a um processo geral com outros campi para conseguir bolsas, prejudicando a produção e transmissão de conhecimento cien­ tífico no interior”, afirmou Roberto Preu, professor do Departamento de Psicologia. Segundo o Comando de Greve

Cartaz dos estudantes no acampamento no Aterrado, na UFF em Vota Redonda: reivindicações comuns à maioria dos campi Estudantil, que acampa na entrada do campus do Aterrado desde o iní­ cio de junho, após o corte de R$ 9,4 bi da Educação as bolsas emergen­ ciais destinadas aos estudantes que moram em outras cidades e bolsas de pesquisa e extensão passaram a ser suspensas. “Antes quem era assis­ tido por alguma bolsa, não tem mais essa renda. Se não tem onde comer e onde morar, fica complicado perma­ necer na universidade”, disse Alice Tavares, graduanda em Psicologia. Dentre as reivindicações dos es­

tudantes, está a manutenção das bolsas emergenciais enquanto se aplica medidas efetivas de comba­ te à evasão, que, para os estudan­ tes, é a construção do bandejão e do alojamento no campus do Aterra­ do. Os estudantes exigem reunião imediata com o reitor Sidney Mello para negociação das pautas estu­ dantis. “Queremos começar um di­ álogo aberto para apresentação for­ mal das nossas reivindicações com a Reitoria. Até então, não fomos atendidos”, completou Alice.

O corte de 30% do orçamento da UFF também está prejudican­ do pesquisas e integração de co­ nhecimentos acadêmicos no país. Para a professora do curso de Di­ reito, Carla Appollinário, todas as pesquisas já estão comprometidas de forma direta na universidade. “Desde a graduação, incentiva­ mos a participação dos alunos nas atividades acadêmicas. Desde o ano passado, não recebemos mais o apoio da Reitoria para partici­ par de congressos, como ajudas no custeio das passagens, alimenta­ ção, tendo que procurar meios pró­ prios para conseguir participar. A participação dos alunos fica sacri­ ficada, já que há cortes ou atrasos nas bolsas. Eles têm bons artigos, são aprovados nos congressos, mas não há verbas para garantir a par­ ticipação”, salientou. Para o sociólogo e professor do Departamento Multidisciplinar do Aterrado Gustavo Bezerra, a res­ posta à reitoria e ao governo deve ser a intensificação da greve para conseguir as vitórias que reivindi­ cam os professores e estudantes. “Precisamos intensificar a greve em todos os campi, convencer nos­ sos colegas, estudantes e técnicos a aderir, e assim arrancar nossas rei­ vindicações. Não podemos aceitar estes cortes na Educação”, finalizou o professor em greve.

Falta até passagem para ir trabalhar, diz terceirizada de Volta Redonda máximo que podemos fazer é Segundo a trabalhadora, os pro­ -alimentação referente a janeiro, não muitos trabalhadores terceirizados “O um dia de paralisação quan­ fissionais terceirizados estão sofren­ recebi o valor das férias de novembro na UFF, isso quer dizer que precisa do os nossos salários e vales atrasam, do com os atrasos constantes de pa­ do ano passado e o dissídio de mar­ de gente, tem lugar pra trabalhar, ço do ano passado. O dissídio deste ano também não tem previsão de re­ cebimento. Até o nosso FGTS está atrasado desde junho e não recebe­ mos sequer uma previsão”, lamentou. Para Tatiana, os atrasos são refle­ xo da terceirização, que só cresce. “Há

mas não abrem concurso, contra­ tam como trabalhador terceiriza­ do. Acho que deveria ter concurso com a quantidade de vagas que a universidade precisa, porque falta muito servidor e professor”, finali­ zou Tatiana. (NA)

‘Arraiá da Greve’ no dia 1º: mais fotos na página da Aduff no Facebook

João Marcos Coelho

gamentos de salários e direitos traba­ lhistas, escancarando os problemas da terceirização: “A UFF afirma que a única empresa com a qual está em dia é a empresa em que eu trabalho, mas nossos salários estão sempre atrasan­ do. Ainda estou recebendo meu vale­

João Marcos Coelho

quando não temos sequer a passagem pra vir trabalhar. Mas nós terceiriza­ dos não podemos fazer greve”, lamen­ tou a profissional terceirizada Tatiana, ao dizer que não pode se juntar à greve dos técnico-administrativos da UFF, iniciada no mês de maio.

Estudantes acampados em Volta Redonda: luta por alojamento e para permanecer na UFF


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