Associação dos Docentes da UFF
Aduff convoca encontro Pós II ENE para dia 7 de julho Atividade pós II Encontro Nacional de Educação acontece na Faculdade de Educação, no Gragoatá, às 9h e às 18h
Páginas 4 e 5 Seção Sindical do Andes-SN Filiado à CSP/Conlutas
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Mesa de abertura do II ENE em Brasília
Contra a homofobia no Brasil e no mundo Protesto no Rio logo após o assassinato de 49 pessoas em boate em Orlando repudia violência. Página 6
Reforma fiscal e DRU ameaçam educação e saúde Fotos: Valcir Araujo
Marcha em Defesa da Educação Pública, realizada em Brasília, no dia 16 de junho, marcou a abertura do II Encontro Nacional de Educação (abaixo); professores da UFF participaram da atividade
Medidas que o governo interino tenta votar (como a PEC 241, a reforma da Previdência, a DRU e o PLP 257) congelam salários, retiram direitos, impedem concursos públicos e, na prática, podem redefinir o tamanho e o modelo da educação pública e do SUS; as ameaças foram apontadas no II Encontro Nacional de Educação, que reuniu mais de duas mil pessoas em Brasília. No Rio, educadores convocam greve e mobilização geral para o dia 6 de julho em protesto contra o caos nos serviços públicos e a prioridade dada às Olimpíadas. Páginas 2 (Editorial), 3 e centrais
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Editorial
Jornal da ADUFF
AGENDA
Olimpíadas: quem paga a conta somos nós Os
30 de junho a 03 de julho – 61º Conad do Andes-SN com o tema central “Defesa dos Direitos Sociais, da Educação e Serviços Públicos”, na Universidade Federal de Roraima, em Boa Vista.
Julho 07 – Pós-II Encontro Nacional de Educação - ENE, no Auditório Florestan Fernandes/ Bloco D, Faculdade de Educação/UFF (Campus do Gragoatá). Das 9h às 11h e das 18h às 20h. 13 – Lançamento da Frente Política contra o Projeto “Escola sem Partido”, no auditório do IFRJ (Maracanã), às 10h.
Aconteceu Junho
O ‘estado de calamidade’ no Rio autoriza a adoção de “medidas excepcionais necessárias à racionalização de todos os serviços públicos essenciais, com vistas à realização dos Jogos Olímpicos picos, abrindo a possibilidade de manobras legais no âmbito do financiamento para garanti-los. Até mesmo o julgamento do impeachment de Dilma Roussef recebe pressão para que não ocorra durante “os jogos de confraternização universal”. A falta de provas contra a presidenta afastada
no processo acerca das pedaladas fiscais é agora assumida pela perícia técnica do Senado. A direção política da classe dominante está em crise aberta e as operações da Polícia Federal evidenciam a disputa pelo poder entre seus setores. Novas denúncias se alastram, como as realizadas, no âmbito da investigação apelidada de Lava Jato, pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, que atinge partidos como PMDB, PT, PCdoB, PSDB, PP, DEM; a da Operação Custo Brasil, sobre a fraude no empréstimo consignado de servidores federais; a Operação Turbulência e a Operação Boca Livre, sobre os desvios de recursos na (questionada) Lei Rouanet. A resposta à crise deve ser a reorganização da classe trabalhadora. Não vamos mais pagar esta conta! Convidamos à leitura dos artigos que tratam de momentos desta luta nas MOBILIZAÇÕES no Rio de Janeiro e em Brasília em 16 de junho, no II Encontro Nacional de Educação, nos movimentos OCUPA SUS e no ato em repúdio ao massacre de Oaxaca, no México.
30 – Ato “(Ingá)jadas” na Cantareira denuncia a cultura do estupro e dá visibilidade à falta de segurança para as mulheres na cidade. 28 – Sessão do Cine-Debate na Cantareira, com exibição do documentário “Acabou a Paz! Isso Aqui Vai Virar o Chile”, de Carlos Pronzato. 24 – Ato político-cultural em defesa da saúde pública, no Ocupa SUS, no Centro do RJ. Luiz Fernando Nabuco
trabalhadores da Educação do estado do Rio de Janeiro, em greve desde o dia 2 de março, denunciam a situação insustentável da administração estadual. As ocupações das escolas pelas (os) estudantes deram à luta maior força e nova cara. E não são estes os únicos sujeitos sociais a resistirem – nem mesmo o braço repressivo do Estado aguentou o sucateamento: a Polícia Civil também paralisou as suas atividades. A resposta do governo, contudo, segue a mesma: a conta da crise deve ser paga pelos trabalhadores, com salários atrasados ou parcelados; a população perambulando em busca de serviços essenciais, como aqueles que dizem respeito à inadiável sustentação da vida; segue a criminalização dos que lutam e o discurso publicitário que busca encobrir a degradação das condições gerais de existência da população fluminense, visando tranquilizar a mídia e o público estrangeiros, com malas prontas para o Rio de Janeiro. A onda de denúncias de corrupção, que ora, interessadamente, adquire maior altura, aponta como a Copa do Mundo, as Olimpíadas e outros “grandes eventos” ( Jogos Pan-Americanos, Jogos Militares) enriqueceram, ainda mais, grandes empreiteiras e financiaram o jogo eleitoral do atual “Estado Democrático e de Direito”. Sem dúvida, contudo, a prova de maior repercussão do prejuízo à classe trabalhadora da política dos megaeventos no Brasil parece ter vindo não dos críticos incansáveis, mas da versão oficial do estado, sob o governo do PMDB há quase uma década. Trata-se do decreto nº 45.692 de 17 de junho de 2016, que anunciou o “estado de calamidade pública”, no âmbito da administração financeira do estado do Rio de Janeiro, autorizando a adoção de “medidas excepcionais necessárias à racionalização de todos os serviços públicos essenciais, com vistas à realização dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio 2016. Em síntese, a ação do governo aprofundará o endividamento do Estado e buscará salvar os Jogos Olím-
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2 4 – Ato, no Largo do Machado, em solidariedade a estudantes, educadores e trabalhadores de Oaxaca, no México, onde no domingo (19) repressão policial a um protesto em defesa da educação pública matou pelo menos seis manifestantes e deixou 50 feridos. 16 – Dia de Defesa da Educação Pública com passeata no Rio e marcha em Brasília. 16 a 18 – II Encontro Nacional de Educação - ENE “Por um Projeto Classista e Democrático de Educação”, na UnB, em Brasília (DF). 14 – Assembleia Geral dos Docentes da UFF.
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Presidente: Gustavo França Gomes • 1º Vice-Presidente: Gelta Terezinha Ramos Xavier • 2º Vice-Presidente: Juarez Torres Duyaer • Secretário-Geral: Kate Lane Costa de Paiva • 1º Secretário: Douglas Ribeiro Barbosa • 1º Tesoureiro: Carlos Augusto Aguilar Junior • 2º Tesoureiro: Edson Teixeira da Silva Junior • Diretoria de Comunicação (Tit): Kenia Aparecida Miranda • Diretoria de Comunicação (Supl): Marcio José Melo Malta • Diretoria Política Sindical (Tit): Adriana Machado Penna • Diretoria Política Sindical (Supl): Bianca Novaes de Mello• Diretoria Cultural (Tit): Renata Torres Schittino • Diretoria Cultural (Supl): Ceila Maria Ferreira Batista • Diretoria Acadêmica (Tit.): Antoniana Dias Defilippo Bigogmo • Diretoria Acadêmica (Supl): Elza Dely Veloso Macedo
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Editor Hélcio L. Filho Jornalistas Aline Pereira Lara Abib
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Dinheiro ‘olímpico’ tem carimbo antisserviço público Passeata em defesa da Educação, dos serviços públicos e dos direitos ameaçados pelas reformas fiscal, da Previdência e trabalhista, no dia 16 de junho, data de mobilização nacional; na UFF, houve rodas de conversa, ato na Reitoria e outras atividades
Luiz Fernando Nabuco
Repasse federal para Olimpíadas é atrelado à adesão à PEC 241, que ameaça todo serviço público; educadores em greve querem mobilização geral dia 6 de julho Hélcio Lourenço Filho Da Redação da Aduff
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dinheiro que o presidente interino Michel Temer (PMDB) está repassando para o governo do estado do Rio de Janeiro é duplamente carimbado. Primeiro, porque será destinado a despesas com as Olímpiadas, como reconhece o próprio Palácio Guanabara.Segundo, porque traz consigo a marca ‘antisserviço público’,extensiva a todos os demais estados, ao ter sido usado como propulsor para o acerto final da renegociação das dívidas dessas unidades da federação com a União. A adesão ao acordo está atrelada à aplicação imediata, também pelos estados, das medidas previstas na proposta de emenda constitucional que fixa um teto para as despesas da União, a PEC 241. Em linhas gerais, a emenda limita por 20 anos o crescimento das despesas ao orçamento
anterior mais a atualização inflacionária. Para combater essa e outras ameaças e contestar as prioridades dadas aos recursos, o sindicato dos profissionais da Educação (Sepe-RJ) e outros setores do funcionalismo querem fazer de 6 de julho um dia de protestos e greve geral no Rio. A adoção de tal mecanismo de congelamento de gastos, sobre orçamentos magros votados em período recessivo, traz outras implicações. Con-
figura-se um orçamento que rompe com as obrigações constitucionais do poder público para as áreas sociais previstas na Constituição de 1988. A PEC permite que a administração federal, agora acrescida dos estados, reduza as receitas constitucionais destinadas a áreas como saúde e educação. Quadro agravado pela provável aprovação no Senado da DRU (que desvincula 30% do orçamento), dando mais liberdade orçamentária ao Planalto.
Não por acaso, a PEC 241 está sendo defendida casada com a redução de direitos na concessão da aposentadoria – a idade mínima pretendida pela Fazenda agora não seria mais de 65 anos, mas de 70. Não parece descontextualizada, portanto, a declaração do ministro da Saúde, Ricardo Barros, dada ao assumir a pasta, de que o Sistema Único de Saúde não cabe no PIB brasileiro. A aprovação da PEC 241
não parece ser tarefa fácil para o governo interino e só deverá ser pautada após o julgamento do processo de impeachment, previsto para a segunda quinzena de agosto. A negociação das dívidas dos estados, tratada no embalo dos Jogos Olímpicos no Rio, porém, traz embutida a ideia de que a emenda constitucional tem que ser aprovada – o que teria impacto sobre a vida de todos os trabalhadores.
SOS ESTADUAIS serão perdidos materiais coletados que são essenciais para a pesquisa e o desenvolvimento de inovações tecnológicas”, disse o docente.
Docente afirma que Uenf está em ‘coma induzido’ Universidades estaduais pedem socorro à sociedade; trabalho de décadas pode ser perdido, diz pesquisador Aline Pereira Da Redação da Aduff
S
ervidores do Rio de Janeiro têm denunciado a situação calamitosa do Estado, antes mesmo que o governador em exercício, Francisco Dornelles, o fizesse oficialmente, no último dia 17, para pagar despesas referentes aos Jogos Olímpicos. Resultado de gestões que privilegiaram com isenções fiscais bilionárias empresas automotivas e cervejarias e da queda de arrecadação dos royalties do petróleo, a dita falência do Estado revela sua face mais perversa ao atingir setores como Saúde e Educação. Uma vertente dessa decadência desponta no sucateamento promovido, em longo
prazo, por diferentes governos à Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf ), à Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e à Universidade Estadual da Zona Oeste (Uezo) – instituições que seguem em greve por condições básicas de trabalho, pelo pagamento em dia e por uma política de valorização dos servidores. O professor Marcos Pedlowski vê a Uenf em “coma induzido”. Paralisada há seis meses, nem as dívidas do ano passado foram liquidadas. “As atividades na Uenf estão sendo mantidas em nível do essencial para que não sejam perdidas duas décadas de pesquisas acumuladas”, disse à reportagem da
Aduff-SSind, afirmando que, se não fosse a greve em curso, “a situação já teria ultrapassado limites intoleráveis”. Marcos Pedlowski, na Uenf desde 1998, afirma que a pauta dos grevistas abarca questões essencialmente institucionais, como o aporte dos recursos para pagar seus fornecedores. “São reivindicações básicas e nem deveriam requerer uma greve. Entretanto, o mais grave é que, até agora, os representantes do governo do Rio de Janeiro sequer se deram ao trabalho de iniciar um processo sério de negociação. Aparentemente a única coisa que importa neste momento é a realização dos Jogos Olímpicos”, problematizou.
O docente diz que a falta de investimentos nas universidades estaduais atinge os três pilares da ação institucional que são ensino, pesquisa e extensão. O fornecimento de energia elétrica na Uenf, por exemplo, está garantido por decisão judicial, já que a dívida com a concessionária é de cerca de R$ 15 milhões. “Se a empresa recorrer e for atendida na Justiça, teremos uma catástrofe científica já que
Campanha SOS Uenf Por iniciativa do Comando de Greve, a comunidade da Uenf faz campanha em defesa da instituição. Para atrair a atenção da sociedade para os problemas da universidade, foram confeccionados adesivos, camisetas, canecas e outros materiais. Houve a adesão de 15 mil nomes em um abaixo-assinado em defesa da Uenf. O documento será entregue ao governador, em breve, juntamente com os representantes dos comandos de greve da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e da Universidade Estadual da Zona Oeste (Uezo), no Palácio Guanabara.
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Encontro tece reação às políticas que mercantilizam educação Declaração Política do II Encontro Nacional de Educação (ENE), apresentada na plenária final do evento em Brasília, indicou unidade entre os que defendem a educação pública e a construção de uma greve geral do setor
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om o tema “Contra o Ajuste Fiscal e a Dívida Pública – Por um Projeto Classista e Democrático de Educação”, o II Encontro Nacional de Educação (ENE), realizado na capital federal, entre os dias 16 e 18 de junho, reuniu mais de dois mil participantes na Universidade Nacional de Brasília (UnB). A primeira edição do encontro ocorreu no Rio de Janeiro (RJ), em 2014, pautando a luta contra o Plano Nacional de Educação (PNE) e em defesa dos “10% do PIB para educação pública e gratuita já”. A segunda – realizada em meio à crise
política e institucional no país, sob o governo do presidente interino e ilegítimo Michel Temer (PMDB), e num cenário de aprofundamento da precarização e da privatização na Educação – apontou para um novo processo de organização da luta em defesa da educação pública, com unidade e articulação entre os profissionais da área e estudantes, da construção de uma proposta democrática e classista para a Educação brasileira. A Aduff-SSind participou com uma delegação de professores e também contribuiu para o deslocamento a Brasília de estudantes da UFF. Entre as deliberações do II ENE está a realização de um Dia Nacional em Defesa da Educação Pública, em 11
de agosto, Dia do Estudante. O encontro indicou às entidades presentes a proposta de construção de uma greve da educação brasileira e, em unidade com outras categorias, de uma greve geral contra o ajuste fiscal e as medidas que retiram direitos dos trabalhadores. Essas e outras resoluções estão na Declaração Política do II ENE, aprovada de maneira consensual e unitária na plenária final do evento (o documento pode ser acessado em www. aduff.org.br) “A Declaração Política do II ENE norteia as ações para o próximo período, onde passamos a ter uma Coordenação de Luta em Defesa da Educação Pública, responsável pela tarefa de coordenar o esforço de unificação das lutas e de dar passos na construção de um projeto de educação democrática e classista. Como indicamos no documen-
to, essa construção deve ser feita na base, em seminários e debates realizados em todo o país”, ressalta o presidente do Sindicato Nacional dos Docentes (Andes-SN), Paulo Rizzo. O encontro foi aberto simbolicamente no dia 16, com a realização da Marcha Nacional em Defesa da Educação, que reuniu cerca de três mil pessoas na Esplanada dos Ministérios. Além das mesas de abertura e encerramento, o II ENE contou com grupos de trabalho para debater os eixos temáticos do encontro (Trabalho e Formação dos(as) Trabalhadores da Educação; Gênero, Sexualidade, Orientação Sexual e Questões Étnico-Racial; Financiamento; Avaliação; Gestão e Acesso e Permanência) e painéis temáticos organizados pelas entidades que participavam do evento.
Valcir Araujo
Lara Abib, enviada a Brasília Da Redação da Aduff
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Fotos: Valcir Araujo
Setor privado já detém 74% das matrículas da educação superior no Brasil Docente alerta para o avanço das instituições privadas sobre a educação básica pública por meio de organizações sociais Lara Abib Da Redação da Aduff
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II ENE reafirmou a necessidade de investimento de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) em educação pública e gratuita imediatamente e repudiou a transferência de recursos públicos para o setor privado prevista no Plano Nacional de Educação (PNE), propondo a extinção dos programas baseados nessa lógica e a incorporação dos estudantes à rede pública de ensino. O panorama da educação brasileira foi o tema da fala da professora Olgaíses Maués na mesa de abertura do encontro. “O projeto dos últimos governos, sem diferenças, foi e é o de privatização da Educação. Temos aí uma inversão do que a Constituição Brasileira diz em relação à educação, que ela é dever do Estado. A Lei de Diretrizes Básicas (LDB) coloca a educação como sendo dever da família. Isso faz toda a diferença na medida em que passa a responsabilidade para o privado, tirando do estado essa responsabilidade”, afirmou Maués. A professora que integrou o Comitê Organizador do II ENE pela direção
do Andes-SN também ressaltou que se, inicialmente, o foco da privatização era só a educação superior, hoje toda a educação básica brasileira está sendo privatizada. “São resultados dessa privatização, por exemplo, os oligopólios que estão se criando na rede de ensino privado. Já temos uma grande fusão – a maior do mundo –, a Króton e Anhanguera, que abarca um milhão de estudantes brasileiros no ensino superior. Agora esse grupo está negociando com um outro grande grupo, a Estácio de Sá. Se feito o negócio, vamos ter cerca de 1milhão e seiscentos mil estudantes nas mãos de um único grupo, o que representa um terço de todos os estudantes na educação superior privada. Vale ressaltar que a educação superior no Brasil tem 74% das matrículas nas instituições privadas. Isso representa mais de 5 milhões de estudantes que estão tendo que pagar por sua educação porque não há vagas nas instituições públicas. Os governos de FHC até o PT priorizam os recursos para o ensino privado”, disse. Em relação à educação básica, Olgaíses Maués chamou
Acima, mesa de abertura do II ENE; ao lado e abaixo, participação da delegação da Aduff-SSind; na página 4, a marcha em Brasília que abriu o evento
atenção para o número crescente de organizações sociais que estão ganhando contratos nos estados e nos municípios para a administração e para a gestão pedagógica, administrativa e financeira das escolas. “Isso significa que os conteúdos programáticos, os livros didáticos, a formação continuada dos professores passam pela gerência da iniciativa privada”, alertou.
ENE aprova ‘Frente Alternativa’ contra projetos do ‘Escola Sem Partido’
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lém dos ataques à Educação Pública através de corte de verbas, asfixia financeira, precarização e privatização, setores extremamente conservadores da sociedade brasileira também se organizam para apresentar projetos retrógrados com o intuito de esvaziar as salas de aula de conteúdo crítico e de impedir debates que questionam a reprodução de opressões na so-
ciedade, como a conversa sobre o machismo, o racismo e a homofobia nas escolas. É o caso do PL 877/2015 do “Escola Sem Partido”, vinculado a uma espécie de movimento virtual que serve de esteio para outras aberrações, como o “Escola Sem Gênero”. O II ENE, além de repudiar, em seu documento final, o PL 877/2015, também aprovou a criação de uma
frente composta por sindicatos, movimentos sociais e entidades estudantis para construir uma resistência organizada ao movimento Escola Sem Partido. “A ideia é que a gente organize um conjunto de ações, da produção de materiais, debates, atos públicos e até assistência jurídica a trabalhadores que têm sido atingidos por esse movimento, como já aconteceu
em Alagoas e no município de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro. É um primeiro passo, mas um passo importante que precisa ser dado”, explica Fabiano Faria, da direção nacional do Sinasefe (Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica), entidade que levou a proposta de criação da Frente ao encontro.
A transversalidade das pautas de combate às opressões ficou explícita no documento de Declaração Política do II ENE, que além do combate ao Projeto Escola Sem Partido também defende a educação pública, gratuita, de qualidade e laica, as políticas afirmativas de reparação e a defesa do uso do nome social para pessoas trans. (LA)
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Notas da Aduff
A nota em que a direção do Hospital Universitário Antonio Pedro (Huap), sob a recente gestão da Ebserh, comunica que aparelhos necessários para exames de trato digestivo foram furtados d a unidade no fim de semana de 11 e 12 de junho, mas não menciona que providências estariam sendo tomadas para solucionar o problema e regularizar o atendimento à população. Limita-se a informar que a Polícia Federal foi notificada e que foi aberta sindicância para apurar os fatos. A direção do hospital avaliou o valor dos aparelhos em R$ 600 mil. “A Ebserh tem a obrigação de zelar pelos equipamentos do hospital que foram cedidos, por contrato, para a empresa. Portanto, cabe à Reitoria exigir que se reponham imediatamente os aparelhos furtados para garantir a continuidade dos serviços de assistência prestados pelo Huap”, defende Gustavo Gomes, presidente da Aduff-SSind.
LGBTfobia: nem em Orlando, nem aqui
Luiz Fernando Nabuco
Cerca de 100 pessoas participaram de ato contra a homofobia no Centro do Rio, no dia 17 de junho, poucos dias após o massacre em uma boate em Orlando, nos Estados Unidos, que deixou 49 mortos. A manifestação condenou a violência contra homossexuais em Orlando e no Brasil. “Toda vez que um gay morre, morre uma parte
da gente. Quando morreram os homossexuais em Orlando, morreu uma grande porcentagem de mim, por isso que eu estou aqui”, disse Everton Lourenço, de 18 anos, ao explicar por que decidiu ir ao ato, que percorreu a avenida Rio Branco e foi encerrado no Ministério da Cultura, se juntando-se aos manifestantes do Ocupa Minc.
Protesto no ‘CUV’ Luiz Fernando Nabuco
Furto no Huap (cedido à Ebserh): quem se responsabiliza?
Ato dos técnicos no CUV sem quórum na quarta (29) defendeu a jornada de 30h, criticou o ponto eletrônico, o despejo do Sintuff e a exoneração
do diretor da Enfermagem do Huap, Enderson Castilho, eleito em 2011 com 80% dos votos, pelo superintendente da Ebserh, Tarcísio Rivello.
Projetos salariais I Senadores da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE) resolveram convidar o ministro do Planejamento em exercício, Dyogo Oliveira, para que explique a viabilidade orçamentária de pelo menos 14 projetos salariais referentes ao funcionalismo público federal, além dos que au-
mentam os subsídios dos magistrados e procuradores. Entre os 14 projetos está o que abrange os servidores da educação federal (PL 4251/2015). A iniciativa foi tomada enquanto analisavam os projetos referentes aos servidores do Judiciário Federal e do MPU, que acabaram aprovados.
Projetos salariais II A audiência será no dia 6 de julho. Os projetos salariais foram enviados ao Congresso Nacional no ano passado pela presidente Dilma Rousseff (PT). Alguns com acordo entre as respectivas categorias, outros não – caso da proposta que envolve os docentes das universidades públicas fede-
rais. Nenhum havia sido votado até o afastamento da presidente para a abertura do processo de impeachment. Todos foram aprovados no plenário da Câmara no dia 2 de junho, e, fora os do Judiciário e do MPU, ainda se encontram na Comissão de Constituição e Justiça do Senado.
Projetos salariais III O pedido de audiência é decorrente de resistência de senadores do PSDB em votá-los. O senador Tasso Jereissati disse na CAE que eles foram negociados e encaminhados sob uma realidade econômica cuja gravidade “se desconhecia”. O senador Romero Jucá foi às pressas para a sessão para defender os projetos. Dis-
se que todos estão dentro do orçamento e dos parâmetros do ‘ajuste fiscal’, pois preveem reposições abaixo da inflação. Chegou a falar como ex-ministro do Planejamento, cargo do qual se licenciou após denúncias de seu envolvimento no escândalo de corrupção na Petrobras investigado na operação Lava Jato.
Nem no México, nem aqui Um grupo de representantes de entidades civis brasileiras entregaram manifesto ao Consulado do México no qual condenam o que ocorreu em Oaxaca e responsabilizam os governos federal e estadual daquele país pela operação policial que reprimiu o protesto e ma-
tou pelo menos seis professores e estudantes. “Não aceitamos a repressão aos movimentos sociais, nem aqui, nem no México, nem em lugar nenhum do mundo”, disse Vitor Mariano, um dos militantes que entregaram o documento. A Aduff-SSind assina o manifesto.
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Cultura Sessão do Cine-Debate, na Cantareira
Por que é preciso ocupar as praças Cine-Debate da Aduff-SSind na Cantareira vai se consolidando como espaço para ver filmes e refletir sobre arte e sociedade Aline Pereira Da Redação da Aduff
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recisamos de maior articulação e mobilização... e elas começam nas ruas”, disse o professor Felipe Rivero Garvía, do Instituto de Matemática e Estatística da UFF, referindo-se às sessões do Cine-Debate da Aduff-SSind, que acontecem mensalmente na Praça Cantareira. “A rua é tratada como um espaço ruim, de criminosos. Causa medo. Mas temos que encontrar uma forma de reclamar esses locais públicos. Eles são das pessoas, é
quando começa a articulação real”, explicou, justificando a importância da iniciativa para fomentar o desejo em prol da organização coletiva. O Cine-Debate teve início durante a última greve da categoria, em 2015, e se manteve como atividade do conjunto de docentes da seção sindical, que se reúne para pensar temas, em geral, sociais, retratados por variadas produções, como a “A Educação Proibida” (2012), documentário de Germán Doin que questiona a escolarização moderna. Já foram exibidos,
entre outros, a “Doutrina de Choque” (2009), de Naomi Klein, que problematiza a relação entre o neoliberalismo, as crises econômicas, políticas e sociais; e “Da Servidão Moderna” (2009), de Jean-François Brient, que discute as formas de alienação do consumo e do trabalho. Houve sessões também para os premiados “Dois Dias, uma Noite” (2012), filme dos irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne, estrelado por Marion Cotillard, que aborda as relações coletivas e de trabalho na con-
temporaneidade; e “Pride” (2015), dirigido por Matthew Warchus, que conta a história real de um grupo de ativistas de gays e de lésbicas de Londres que, durante o governo neoliberal de Margareth Thatcher, apoiou a greve da União Nacional dos Mineiros em 1984. No dia 31 de maio, foi a vez de “Viagem à Venezuela”, produzido de forma independente, há uma década, pelos historiadores Danilo Spinola Caruso (IFRJ/UFF) e João Braga Arêas (Colégio Pedro II/UFF). Filmado em
janeiro de 2006, o filme marca posição e aborda as transformações iniciais em curso no país após a ascensão de Hugo Chávez ao poder. No mais recente encontro, na terça-feira (28), o filme exibido foi “Acabou a Paz, Isto Aqui Vai Virar o Chile!”, dirigido por Carlos Pronzato, que aborda a ocupação de mais de 200 escolas em São Paulo no segundo semestre de 2015, que impediu o fechamento de dezenas delas pela reestruturação promovida pelo governo de Geraldo Alckmin (PSDB).
Queda de parte do reboco no Gragoatá acende alerta para riscos Luiz Fernando Nabuco
Caso ocorreu na Faculdade de Economia, cujo prédio foi inaugurado há dois anos, e preocupa comunidade universitária Aline Pereira Da Redação da Aduff
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ma parte do reboco da marquise do bloco F, no campus da UFF no Gragoatá, rompeu-se e caiu no último dia 14 por volta do meio-dia. Não houve feridos, mas a comunidade acadêmica foi exposta a riscos. Parte do acesso principal ao prédio, inaugurado há cerca de dois anos, foi isolada, e a entrada deslocada para a lateral. “Na hora, estava conversando com um professor. Ouvimos um barulho. Vários pedregulhos caindo... Ficamos estáticos, não acreditan-
Em maio pedaços do reboco caídos, na Faculdade de Economia, no Gragoatá do no que estávamos vendo”, disse o estudante Antônio Matheus Sá, da Economia. “Felizmente, caiu em uma parte em que só tem plantas. Mas é preocupante que
um prédio tão novo passe por esse tipo de situação”, diz o graduando, referindo-se à queda do reboco, às rachaduras internas, à inundação do segundo andar e ao vaza-
mento na biblioteca setorial – esses últimos em 2015. A reportagem da Aduff-SSind contatou a Prefeitura do Campus, que indicou a Superintendência de Arquitetura
e Engenharia para responder. O representante da Saen, Daniel de Almeida, disse que o que ocorreu no “acabamento da marquise” não tem relação com questões estruturais ou planejamento da obra. Informa ainda que a empresa que a executou foi acionada para o reparo. Sobre as rachaduras e infiltrações, a Saen está, de acordo com Daniel, mapeando as ocorrências para solucioná-las. A docente Bianca Imbiriba Bonente, da Faculdade de Economia, diz que a comunidade vive uma situação de risco, que vai além do problema da marquise. Cita as chuvas que formaram pontos de alagamento e goteiras. Ela defende que se exija coletivamente as providências e os reparos necessários. “E se o pior acontecer?”, questiona.
Luiz Fernando Nabuco
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Mulheres reagem à insegurança no entorno da UFF Casos de tentativa de estupro e violência contra estudantes mobilizam mulheres contra ‘cultura do estupro’; Reitoria não se pronuncia Ato (Ingá)jadas aconteceu no dia 30 de junho; mulheres percorreram algumas ruas do bairro e disseram palavras de ordem contra a cultura do estupro
Aline Pereira Da Redação da Aduff
Luiz Fernando Na
m grupo de mulheres, a maioria estudantes da UFF, decidiu reagir e enfrentar o que elas chamam de ‘cultura do estupro’, cuja faceta mais violenta ronda o entorno da universidade em Niterói. A primeira iniciativa foi organizar uma passeata pelas ruas do Ingá. Prometem mais, enquanto não encontram respostas nem das autoridades, nem da administração central da Universidade Federal Fluminense, que até o fechamento deste texto, na quarta-feira (29), não havia se pronunciado – apesar das reportagens publicadas nos jornais “O Globo” e “O Fluminense”, decorrentes das denúncias do movimento que começa a se organizar. Uma das idealizadoras da manifestação ‘(Ingá)jadas’ conta que a iniciativa surgiu após a repercussão dos novos casos envolvendo estudantes da UFF. “Precisamos cada vez mais ocupar espaços da rua, das redes sociais e mostrar que não vamos nos silenciar diante de situações como essas”, conta Ana Miramar, que integra o coletivo “Mulherada”, criado para pensar ações em defesa das mulheres e que já organizou o ato “Mural Pelo Fim da Cultura do Estupro”, em maio deste ano, reunindo mais de 300 jovens que afixaram cartazes no Campo de São Bento. “Nos comunicamos com outros coletivos, como as "Cirandeiras", e também com alunas da UFF, centros acadêmicos, diretórios acadêmicos e formamos um grande grupo de luta”, explica Ana. Rodas de conversa sobre o tema estão sendo organizadas na universidade. “A importância da mobilização é levarmos e mo-
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tivarmos as mulheres a irem pras ruas e lutar”, diz Ana. Muitas estudantes da UFF têm manifestado medo de caminhar sozinhas no trajeto para a universidade, principalmente após os recentes relatos de violência. A perseguição diurna a uma estudante do curso de Direito no início de junho, somada a outras agressões a alunas da instituição no caminho para a UFF, aumentaram a preocupação e foram o estopim para mobilizar a comunidade para o problema, que parece mais grave no Ingá. As ruas Tiradentes, Lara Vilela, Visconde de Moraes e José Bonifácio são citadas como as mais perigosas no trajeto à instituição multicampi – Valonguinho, Gragoatá e Praia Vermelha são algumas das localidades da universidade em Niterói, que ainda oferece cursos no Ingá, no Centro e em Santa Rosa, além da sede administrativa em Icaraí. “É horrível andar na rua. Não estamos tranquilas e a sensação é de impotência”, disse Amanda Rezende, estudante do 7º período de Serviço Social da UFF. Ela conta que, no último dia 14 de ju-
nho, por volta das 20h, quando saía do campus do Gragoatá, um homem a seguiu com um pedaço de pau até a rua Passo da Pátria. “Andei rápido até alcançar um rapaz. Foi preciso que eu ficasse ao lado de uma pessoa que eu não conhecia, de outro homem, para que eu fosse respeitada como mulher”, disse a estudante. “Antes, o perigo era ser assaltada; hoje, temos medo que nossos corpos sejam violados, que sejamos tocadas sem nosso consentimento”, complementou. Ela diz conhecer muitas meninas que moram no bairro e que também estão com medo de sair às ruas. Andam em grupos e procuram pegar ônibus até mesmo para se locomover em distâncias curtas. É o caso de Nathália Pompeu, do segundo período de Desenho Industrial, que adota a estratégia para se proteger. Moradora da Região Oceânica, ela alterou seus hábitos por segurança no trajeto para a universidade. Antes, ela descia do ônibus no Ingá e seguia a pé para o campus da Praia Vermelha. Agora, evita andar sozinha e está sempre na companhia das amigas. “Procuro pegar ônibus
mesmo que seja para descer em um ponto depois, principalmente porque as ruas na saída da Praia Vermelha são escuras. Não vou mais a pé”, relatou. “Na faculdade, não passaram nada para a gente. O ônibus da instituição, o BusUff, demora muito para passar. Não é sempre que tenho como pegá-lo, porque, apesar de ter um horário fixo, ele demora muito, já esperei por ele mais de uma hora. Estamos com medo e não vimos, até o momento, nenhum pronun-
ciamento da Reitoria sobre o assunto”, disse. A reportagem da Aduff-SSind entrou em contato, por e-mail, com a Reitoria, a Vice-Reitoria e a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis da UFF para saber o que a administração central tem feito em relação à segurança nos campi da instituição e ainda para obter uma posição dos gestores acerca dos recentes casos de violência contra estudantes no trajeto para a universidade, mas não obteve resposta.
Enquanto isso, promotor ‘brinca’ com estupro coletivo Ao aplicar prova de acesso ao MP no Rio, promotor vê ‘conjunção carnal’ como melhor parte de estupro coletivo
Fica com a melhor parte de um estupro coletivo o homem que mantém a ‘conjunção carnal’. A afirmação é do promotor Alexandre Joppert, do Ministério Público do Rio, dita ao aplicar prova oral para acesso ao cargo de promotor. Gravado, áudio da cena foi divulgado nas redes sociais e no portal de “O Globo”. Ocorreu na exposição de questão em torno de estupro praticado por cinco homens contra uma mulher: enquanto alguns seguram a vítima, outro a arma, um mantém a conjunção carnal. “Fica com a melhor parte, dependendo da vítima”, disse o promotor. O caso gerou protestos nas redes sociais. A reportagem apurou que o promotor é autor de referências no concurso. “Ninguém passa sem ler seus livros”, disse outra advogada. (HDF)