Jornal Aduff-SSind/Maio -02/ 2016

Page 1

Seção Sindical do Andes-SN Filiado à CSP/Conlutas

Entrevista com Renata Vereza, que deixa a presidência da Aduff

Maio (2ª quinzena) de 2016 www.aduff.org.br

8

6

Cine-Debate terá sessão no dia 31 de maio Será exibido na Cantareira documentário “Viagem à Venezuela”, seguido de debate com os diretores do filme

Luiz Fernando Nabuco

Professora avalia como foi a gestão “Aduff em Movimento: de Luta e pela Base”

Luiz Fernando Nabuco

Associação dos Docentes da UFF

Niko

Governo interino assume sob rejeição e com pressa em cortar direitos Músicos tocam na ocupação do Palácio Capanema, sede do recém-extinto Ministério da Cultura no Rio, contra o governo Temer, que anunciou recuo e disse que vai recriar a pasta

excludente. Fórum dos servidores defende reação e propõe organização da mobilização e de protestos. Respostas à atual conjuntura vão estar pautadas no Encontro Nacional de Educação, que ocorre em junho, em Brasília. Páginas 2, 3 e 6

do Nabuco Luiz Fernan

Reformas da Previdência e dos direitos trabalhistas, privatizações e redução do setor público são anunciadas como urgentes pelo governo Temer. Carta do setor das universidades federais do Andes afirma que vigora desrespeito à democracia, ao povo e compromisso com política

Docentes elegem diretorias da Aduff e do Andes-SN para mandato de 2 anos Votação na UFF para as direções da AduffSSind e do Andes-SN

Debate no sindicato reúne gerações no lançamento do caderno sobre ditadura e resistência na UFF

Páginas centrais


2

Maio (2ª quinzena) de 2016 • www.aduff.org.br

EDITORIAL

Tempos sobrios: a luz está na luta

N

ão foram precisos mais do que alguns dias do presidente interino à frente do cargo para que se confirmassem todas as previsões mais pessimistas sobre as razões e o sentido de classe das manobras que afastaram Dilma Rousseff da Presidência da República. Por mais que o governo do PT executasse, desde o ano passado, um programa de ajuste fiscal que contrariava seu discurso de campanha em 2014 e atacava frontalmente os direitos dos trabalhadores, não conseguiu recuperar a confiança das frações dirigentes da classe dominante brasileira. A opção pelo impeachment, articulada via representações políticas corrompidas no Congresso, suporte no Judiciário e grande propaganda midiática, responde a um projeto de aceleração e aprofundamento da retirada de direitos dos trabalhadores do setor público e privado, como receita para retomar a acumulação em tempos de crise capitalista severa. Por isso as primeiras medidas anunciadas pelo governo foram um plano de privatizações generalizadas, a fixação e ampliação da idade mínima para a aposentadoria, o corte de recursos em programas sociais e nos serviços públicos em geral, aumento de impostos etc. No plano institucional, o fechamento dos ministérios que visavam combater opressões, o retorno da cultura ao Ministério da Educação, a subordinaAssociação dos Docentes da UFF

ção da Previdência à Fazenda, tudo isso deixa evidente o tamanho do retrocesso na concepção de gestão pública. A distribuição do primeiro escalão reforça as piores impressões: um ministério exclusivamente de homens, com justificativas meritocráticas indisfarçavelmente misóginas, todos brancos, sete deles acusados nas investigações da Lava-Jato, alguns empresários ou gestores de grandes corporações que ali estão para defender seus interesses econômicos diretos e muitos oligarcas da velha política que atravessaram todos os governos desde os anos 1980 se revezando em cargos em troca de apoio aos governantes de plantão. Não nos fará nenhum bem tentar dourar a pílula: temos pela frente tempos sombrios, ou melhor, já estamos mergulhados neles. Nessas situações, a única saída possível está na organização e na luta unificada em torno de um programa de defesa dos direitos dos trabalhadores. O caminho nos é apontado pelo protagonismo dos estudantes que ocupam centenas de escolas por todo o país, dos grevistas da educação, dos desempregados que lutam pelo direito ao trabalho, assim como dos servidores estaduais já atacados em seus direitos e proventos por governos que atrasam vencimentos e cortam aposentadorias – mas mantém os subsídios às grandes empresas e o

pagamento religioso das dívidas com o sistema financeiro –, em lutas que estão explodindo pelo Brasil. Mas é preciso ir além e unificar os movimentos dispersos para fazer frente a ataques generalizados como os previstos no programa de retrocessos representado pelo governo Temer. Em nosso sindicato nacional e na nossa seção sindical, passamos recentemente por eleições diretas que renovam as direções e atestam a vitalidade democrática e a disposição para a luta da entidade representativa dos docentes do ensino superior. Com participação nos espaços coletivos de discussão, deliberação e mobilização, todos nós podemos contribuir para que as novas direções mantenham-se imersas e fortalecidas pela categoria docente. Força na luta!

Fim da gestão A gestão que neste número do jornal se despede da direção da Aduff-SSind espera ter contribuído com seu trabalho para manter a tradição combativa desta seção sindical. Buscamos fundamentalmente manter abertos os canais de diálogo com os docentes e as docentes de toda a universidade, tendo particular atenção pelas demandas das unidades fora da sede, pois somos todos e todas passageiros de um mesmo barco, que esperamos poder conduzir de uma forma mais democrática.

Neste sentido, nos enfrentamos cotidianamente contra os rumos antidemocráticos que a administração superior da UFF tem imprimido à gestão da universidade, conforme o episódio da “aprovação” da Ebserh deixou evidente. Também no plano nacional apostamos na saída da luta conjunta e participamos da mais longa greve da história do setor das federais do Andes-SN, em 2015, sempre procurando representar a posição da maioria docente. Lamentavelmente, a greve foi longa demais, em razão da intransigência do governo, já comprometido com a pauta do ajuste fiscal. Mas, por outro lado, vivemos as maiores assembleias da história da Aduff-SSind e pudemos constatar como a renovação de quadros pela qual passou a universidade nos últimos anos nos brindou com camaradas de trabalho universitário e mobilização docente que são a maior garantia de que nossa disposição de defesa da universidade pública se manterá por muitos anos. Por fim, no que diz respeito à comunicação do sindicato, procuramos avançar nos espaços de diálogo constante com a categoria. Ampliamos a equipe de jornalistas e renovamos os meios de comunicação, procurando conectar e potencializar os veículos – página na internet co atualização constante, Facebook, boletim eletrônico e este Jornal da Aduff. O jornal passou a ser publicado quinzenalmente, com uma tiragem maior e a distribuição ficou mais ágil, com a implantação de displays em todas as unidades da universidade. Temos a certeza de que ainda há muito o que fazer, neste campo da comunicação sindical como em outras áreas de atuação do sindicato, mas apostamos na participação do conjunto da categoria para continuar avançando. Pois em tempos sombrios como estes o sindicato, que é sempre fundamental, se torna imprescindível.

Jornal da ADUFF

AGENDA Maio 23 - Assembleia de posse da diretoria eleita da Aduff-SSind, a partir das 18horas, na sede do sindicato. 31 - Cine-Debate da Aduff, na Praça da Cantareira, no Gragoatá, exibe “Viagem à Venezuela” entre 18h e 20h30.

Junho 4 e 5 - Segundo encontro do Curso Nacional de Formação Política e Sindical do ANDES-SN, com o tema “Formação econômica, política e social do Brasil e da América Latina”, em Porto Alegre (RS).. 16 - Dia nacional de protestos e paralisações do funcionalismo público federal, convocado pelo Fórum dos Federais, em defesa dos direitos dos trabalhadores, contra o PLP 257/2016 e a reforma da Previdência. 16 a 18 - II Encontro Nacional de Educação, na Universidade de Brasília (DF), reunindo representantes de movimentos sociais, estudantes e trabalhadores da educação. 30 - Início do 61º Conad, em Boa Vista (RR), com o tema “Defesa dos direitos sociais, da educação e serviços públicos”.

Aconteceu Maio 19 - Estudantes ocupam o CAP da Uerj; dezenas de escolas estaduais permanecem ocupadas por secundaristas no Rio, em defesa da escola pública. 18 - Ato dos servidores públicos estaduais lança a campanha “Luto Pelo Rio”, em frente à Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). 16 - Manifestantes ocupam o Palácio Gustavo Capanema, sede do Ministério da Cultura no Rio, em protesto o governo interino de Michel Temer. 14 e 15 - Reunião do Setor das Instituições Federais de Ensino Superior (Setor das Ifes) em Brasília.

Presidente: Renata Vereza – História/Niterói • 1º Vice-Presidente: Gustavo França Gomes – Serviço Social/Niterói • 2º Vice-Presidente: Juarez Torres Duayer – Arquitetura • Secretário-Geral: Elizabeth Carla Vasconcelos Barbosa – Puro • 1º Secretário: Isabella Vitoria Castilho Pimentel Pedroso – Coluni • 1º Tesoureiro: Wanderson Fabio de Melo – Puro • 2º Tesoureiro: Edson Teixeira da Silva Junior – Puro • Diretoria de Comunicação (Tit): Paulo Cruz Terra – História/Campos • Diretoria de Comunicação (Supl): Marcelo Badaró Mattos – História/Niterói • Diretoria Política Sindical (Tit): Sonia Lucio Rodrigues de Lima – Serviço Social/Niterói • Diretoria Política Sindical (Supl): Wladimir Tadeu Baptista Soares – Faculdade de Medicina • Diretoria Cultural (Tit): Ceila Maria Ferreira Batista – Instituto de Letras • Diretoria Cultural (Supl): Leonardo Soares dos Santos – História/Campos • Diretoria Acadêmica (Tit.): Ronaldo Rosas Reis – Faculdade de Educação • Diretoria Acadêmica (Supl): Ana Livia Adriano – Serviço Social/Niterói

Seção Sindical do Andes-SN Filiado à CSP/Conlutas

Edição concluída em 21-05-2016 www.aduff.org.br

Biênio 2014/2016 Gestão ADUFF em Movimento: de Luta e pela Base

Editor Hélcio L. Filho Jornalistas Aline Pereira Lara Abib

Projeto Gráfico Luiz Fernando Nabuco Diagramação Gilson Castro

Imprensa imprensa.aduff@gmail.com Secretaria aduff@aduff.org.br

Sítio eletrônico www.aduff.org.br Facebook facebook.com/aduff.ssind

Rua Professor Lara Vilela, 110 - São Domingos - Niterói - RJ - CEP 24.210-590 Telefone: (21) 3617.8200

Twitter twitter.com/aduff_ssind Impressão Gráfica O Globo - 10 mil exemplares


Jornal da ADUFF

Maio (2ª quinzena) de 2016 • www.aduff.org.br

3

Luiz Fernando Nabuco

Mudança na Previdência pode fazer mulher trabalhar até 19 anos mais Governo interino de Michel Temer começa com anúncios de propostas que retiram direitos e desmontam setor público; Fórum dos Federais e Andes-SN convocam reação e já propõem atos e paralisações em 16 de junho

Hélcio Lourenço Filho Da Redação da Aduff

O

governo que começou dizendo que a reforma pretendida para a Previdência Social não mexeria em direitos adquiridos, mas ‘apenas’ com os das futuras gerações, já defende abertamente mudanças que, se aprovadas, podem levar a mulher trabalhadora a ter que contribuir por até 19 anos mais para se aposentar. A reforma constitucional defendida pelo ministro da Fazenda do governo interino de Michel Temer (PMDB), Henrique Meirelles, prevê a fixação de idade mínima para homens e mulheres poderem requerer o direito à aposentadoria. “A idade mais comum em outros países para isso hoje é 65 anos”, disse em uma das muitas entrevistas que deu logo após o vice-presidente assumir a presidência provisoriamente, até o julgamento do processo de impedimento aberto pelo Senado Federal contra a presidente Dilma Rousseff (PT). O governo não dá detalhes. Não diz, por exemplo, se essa idade mínima pretendida inclui servidores públicos, que já são submetidos à barreira da faixa etária, mas em parâmetros mais baixos que esse. Fala ainda em uma regra de transição que, naturalmente, orbita em torno do tamanho das perdas para quem já contribui para Previdência. Hoje, pode-se ingressar no regime previdenciário geral a partir dos 16 anos de idade. Uma mulher que trabalhe des-

Apresentação artística na ocupação do Ministério da Cultura no Rio, que defende a saída de Temer da Presidência de essa idade poderá se aposentar após 30 anos de trabalho e contribuição para o sistema. Caso os 65 anos sejam fixados como requisito para o benefício, só poderá se aposentar após 49 anos de trabalho, quase duas décadas a mais.

Homens brancos Pela lei, Temer assumiu interinamente a presidência, mas age como se não fosse mais sair da cadeira que conseguiu arrancar da presidente eleita – o que, é notório, é o mais provável até aqui. A composição de um ministério restrito a homens brancos, sem mulheres ou negros, gerou certo constrangimento e muitas críticas. A extinção de determinadas pastas também, entre elas as da Igualdade Racial e Mulheres, da Cultura e da Previdência Social – que pela primeira vez em cerca de cem anos de sua história deixa de existir. Agora, é uma secretaria na Fazenda – e está sob controle de Meirelles. A defesa das reformas trabalhistas e previdenciária não difere muito do que o governo petista já vinha propondo. O ritmo acelerado que Temer

tenta impor, porém, chama a atenção. O presidente interino também assinou medida provisória que tenta instaurar um novo ciclo de privatizações – por meio das chamadas parcerias com o setor privado. A insatisfação com o governo é visível. A reação de setores organizados também já é palpável, mas incipiente e ainda fragmentada. Há manifestações contra o governo em diferentes cidades todos os dias. Em pelo menos 14 delas, artistas e outros manifestantes ocuparam as sedes estaduais do extinto Ministério da Cultura – personalidades do mundo das artes se revezam em declarações contra o governo interino, que no sábado (21) anunciou que recriaria a pasta da Cultura. Em Brasília, o Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais se reuniu e fez um chamado à reação mobilizada conjunta. Propôs reforçar as mobilizações imediatas no Congresso Nacional contra o PLP 257/2016, o projeto de lei complementar enviado por Dilma em regime de urgência capaz de congelar

salários e desmontar o setor público. E a construção de um dia nacional de protestos, de preferência envolvendo também os servidores municipais e estaduais, contra a reforma da Previdência, o desmonte do Estado e o ataque aos direitos dos trabalhadores. A data apontada é 16 de junho.

Encontro de Educação A proposta foi gestada na reunião do Setor das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) do Andes-SN, ocorrida nos dias 13 e 14, na sede do Sindicato Nacional dos docentes, também em Brasília. Carta saída da reunião faz críticas duras ao governo interino e defende a realização de atos e paralisações no dia 16.“A composição do governo Temer, claramente excludente, como demonstra a ausência de mulheres e negros, envolve setores mais conservadores à frente dos ministérios cujos interesses de banqueiros, latifundiários e empresários estão representados nas medidas que serão adotadas no próximo período e que prejudicam ainda mais a classe trabalhadora. Destaca-se que

vários de seus ministros estão envolvidos em escândalos de corrupção e citados na Operação Lava-Jato”, diz trecho da nota, que, mais adiante, conclama os docentes à luta: “Diante do cenário que se apresenta, é fundamental que nossa categoria envide esforços na construção de mobilizações para enfrentar todos os ataques aos direitos sociais e trabalhistas, em conjunto com demais setores da classe trabalhadora (...).Também conclamamos o conjunto dos trabalhadores da educação e estudantes para fortalecimento do II Encontro Nacional de Educação, que será realizado entre os dias 16 e 18 de junho em Brasília, cuja abertura será com uma grande marcha que marcará o Dia Nacional de Luta em defesa da Educação Pública, gratuita, socialmente referenciada, classista e democrática”, defende o documento, que ao final faz um chamado à unidade: “É o momento de unificar as lutas sociais contra os ataques aos direitos da classe trabalhadora e em defesa dos serviços públicos e de qualidade para toda a população!”.


4

Maio (2ª quinzena) de 2016 • www.aduff.org.br

Jornal da ADUFF

LANÇAMENTO NA ADUFF Fotos: Luiz Fernando Nabuco

Caderno sobre ditadura contesta visão de repressão branda na UFF Atividade no sindicato lançou o caderno “Ditadura e Resistências – A Rebeldia dos Professores da UFF. Do Golpe de Estado à Formação da Aduff-SSind” Aline Pereira Da Redação da Aduff

“O

impacto do período ditatorial sobre a universidade só não foi ainda mais destrutivo porque houve luta por parte dos professores, estudantes e servidores que resistiram ao golpe de Estado e à ditadura empresarial-militar subsequente”. Assim começa a quarta parte do caderno temático publicado pela Aduff-SSind, que resgata a oposição da comunidade da Universidade Federal Fluminense ao cerceamento das liberdades democráticas em passado recente brasileiro. “Ditadura e Resistências – A Rebeldia dos Professores da UFF. Do Golpe de Estado à Formação da Aduff-SSind” é baseado em pesquisa documental e também em relatos de docentes ainda vinculados à universidade, ex-professores e estudantes da instituição, que retratam a memória de aproximadamente três décadas na academia.

Lista de cassados A obra aborda a formação do sindicato docente e inclui a lista dos professores da UFF cassados durante o período militar. De acordo com o professor Wanderson Melo, coordenador do projeto, outro número já está em fase de elaboração, aprofundando as discussões sobre o tema, que já permitem aos pesquisadores chegarem a algumas conclusões.

Imagens do lançamento do caderno sobre a ditadura, a UFF e a seção sindical na sede da Aduff-SSind Uma delas é a de que os ideais de modernização e de repressão devem ser pensados de forma interligada durante essa fase ditatorial do Brasil. De acordo com Rafael Barros Vieira, colaborador desse caderno temático, é possível discordar de autores que afirmam que o regime militar foi paradoxal, porque, a despeito da repressão, teria sido modernizante ao possibilitar a expansão das universidades. “Nossa conclusão é oposta, porque essa face modernizadora vem a reboque de um projeto maior, que visava formar mão de obra barata para trabalhar na expansão indus-

trial brasileira, associado ao modelo de repressão para silenciar vozes dissonantes”, observa o pesquisador.

‘Não foi loucura’ Para ele, a ditadura não pode ser tomada como “loucura aquartelada que viola direitos humanos”. As diversas formas de violência praticadas pelos agentes da repressão estavam relacionadas a implementação de um projeto de poder, que estava ligado a uma dada concepção de universidade. “Depois do AI-5 (1968), chega um documento de brigada militar alertando para a necessidade

de se fazer a reforma universitária, que era de interesse do governo, e a Reitoria teria que colaborar porque existia a ameaça de intervenção ainda mais forte na instituição”, conta Rafael. Outra conclusão relevante sobre a ditadura na UFF contesta interpretações de que a atuação violenta na universidade fluminense teria sido muito mais branda se comparada à de outras instituições de ensino superior, como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Não podemos trabalhar com tipos antagônicos. Discordamos dessa abordagem, porque houve

uma série de episódios de repressão na UFF, com cassações, desaparecimentos e torturas”, afirma Rafael. Ele lembrou os emblemáticos casos de Ivan Mota Dias e de Fernando Santa Cruz, ambos estudantes da UFF, perseguidos e mortos pelos militares. “Importante que a geração que não conheceu esse período tenha noção do que foi a ditadura no Brasil”, disse. “A repressão não era somente externa, mas também interna”, aponta, destacando o papel da vigilância institucional, com agentes infiltrados atuando no processo de policiamento da comunidade acadêmica.

Em 27 caixas do órgão ligado ao SNI, documentos que mostram a tentativa de controle Documentos secretos e ultrassecretos, porém, seguem inacessíveis Parte dos documentos analisados pertencia ao Arquivo Geral da UFF e integravam um conjunto de 27 caixas da Assessoria de Segurança e Informação – ASI da instituição. Esse órgão era ligado ao Sistema Nacional de Informação e existia em cada autarquia federal. “Na UFF, a ASI vigorou entre 1971 a 1987. Houve, informalmente, dois assessores – de 1971 a 74 e outro de 1974 a 1979; e a partir de 1979, o reitor, junto com uma funcionaria de ASI, fizeram essa atuação”, disse Rafael à reportagem da Aduff-SSind. “A principal função dessas assessorias, a partir de 1979, era tentar controlar os movimentos sociais que atuavam no espaço da universidade. Havia persegui-

ção direta e intensa sobre os grupos de esquerda, com proibição de se reunir no âmbito universitário, buscando controlar principalmente as associações de docentes. Na UFF, a partir de 1984, vimos que a Aduff se tornou o centro desses documentos”, conta o pesquisador. De acordo com ele, a ASI buscava dificultar a articulação dos contestadores à ordem na universidade. Transmitia informações ao Ministério da Educação e tentava distorcer a pauta dos movimentos docente, reduzindo-a estritamente às pautas salariais, a exemplo do que ainda acontece. “São cerca de 10 mil documentos, mas sabemos que eles não correspondem à totalidade, porque só analisamos os confidenciais e reservados. Os secretos

e os ultrassecretos – que versam sobre acordos com militares, com empresas e governos – não puderam ser acessados”, diz. Para o pesquisador, esses documentos ocultos também são fundamentais para auxiliar a compreensão desse passado. “Sabemos que um malote esteve com um antigo assessor de segurança e informação da UFF. A quantidade de documentos secretos e ultrassecretos era maior. No Brasil, a UFF, a Universidade Federal de Minas Gerais e a Universidade de Brasília são as três únicas instituições que têm essa documentação do ASI parcialmente completa. A grande maioria foi destruída”, lamenta. (AP)


Jornal da ADUFF

“O impacto do período ditatorial sobre a universidade só não foi ainda mais destrutivo porque houve luta por parte dos professores, estudantes e servidores que resistiram ao golpe de Estado e à ditadura empresarial-militar subsequente”

5

Maio (2ª quinzena) de 2016 • www.aduff.org.br

Universidade mantém marcas da ditadura na forma como é gerida, afirmam docentes Cessão do Huap à Ebserh, ‘aprovada’ em sessão do CUV sob cerco policial e sem que conselheiros tivessem direito a voz e voto, é citada como exemplo Hélcio Lourenço Filho Da Redação da Aduff

O

que viveu o período da ditadura na UFF, disse que as marcas da violência invisível perduram até hoje na universidade e afastam os docentes do seu papel social. Novo presidente da Aduff-SSind, Gustavo Gomes, que integra a nova geração de professores da universidade, disse que a gestão que iniciará seu mandato vai se deparar com uma conjuntura difícil e temerosa, mas que as palavras dos que enfrentaram a ditadura é um incentivo para seguir lutando. “Essa atividade presta uma justa homenagem a [essas pessoas]. Mas ouvir a história de coragem de vocês no período ditatorial nos estimula na defesa dos direitos”, disse. Fotos: Luiz Fernando Nabuco

s anos da ditadura civil-militar deixaram marcas até hoje na vida institucional e na gestão da universidade pública. A constatação permeou avaliações e depoimentos no lançamento do caderno sobre a ditadura e a UFF. O processo de cessão do Hospital Universitário Antonio Pedro (Huap) à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) foi citado como exemplo. O caso teve aspectos que lembram tempos sombrios do passado, afirmaram alguns docentes. O contrato foi firmado pela Reitoria sem que a comunidade universitária fosse consultada, e mesmo a suposta

decisão no Conselho Universitário se deu por cima de uma liminar judicial, fora das dependências da universidade e com o local cercado por forças policiais.Nem conselheiros tiveram direito à voz. A votação teve a peculiaridade de só permitir o voto favorável à Ebserh. “O que é isso? Isso é uma gestão democrática? A gente percebe aí os elementos do autoritarismo, da ditadura no ambiente universitário”, disse o professor Wanderson Melo, professor da UFF em Rio das Ostras. Ele observou que a isso somam-se os movimentos conservadores que tentam cercear até a liberdade docente. “Está na pauta de 2016 a luta pela liberdade de ensinar”, disse. O professor Edson Benigno,

A atividade de lançamento teve debate, homenagem a professores que lutaram pelas liberdades na ditadura e confraternização ao final

Violência invisível não pode ser desprezada, diz professor e ex-estudante da UFF Lançamento reuniu várias gerações na sede da Aduff-SSind “Ditadura e resistências – A rebeldia dos professores da UFF. Do Golpe de Estado à Formação da Aduff-SSind” é um trabalho que se insere nos esforços realizados pela Comissão da Verdade do Andes-SN. É fruto do projeto “Memórias da Ditadura na UFF”, criado em outubro de 2013 como parte integrante do Grupo de Trabalho de História do Movimento Docente da Aduff-SSind (GTHMD), sob coordenação de Wanderson Melo, professor da UFF em Rio das Ostras e que integrou a gestão da seção sindical que encerra seu mandato em maio, e contribuição do pesquisador Rafael Vieira. O lançamento da publicação, seguido de confraternização na sede da Aduff, aconteceu no dia 11 de maio, reunindo professores de diferentes gerações da universidade, que dialogaram com os expositores Lérida Povoleri e Edson Benigno da Motta Barros, respectivamente professores dos cursos de Economia e de Engenharia da UFF. Eles fizeram declarações emocionadas sobre o período em que militaram contra a ditadura no Brasil, relembrando fatos importantes vividos na instituição.

‘Vigilância permanente’ A professora Lérida mencionou a dificuldade de se viver em permanente vigilância, inclusive, no local de trabalho. Lembrou o clima de desconfiança e a ameaça velada que pairavam à época. Contou, por exemplo, o constrangimento ao tentar buscar o ‘atestado ideológico’, documento necessário para garantir a renovação de seu contrato de trabalho em uma instituição de ensino. Em uma das muitas tentativas de obter a notificação de bons antecedentes, ela ouviu de um funcionário do Departamento de Ordem Política e Social que deveria retornar ao Dops, desacompanhada, ao final da tarde de uma sexta-feira. “Avisei no meu local de trabalho, fui à Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Fui a Dom Eugenio Salles. Todos tinham que saber o que estava acontecendo, caso eu não aparecesse”, recordou. “Não me prenderam, mas levei uma esculhambação do delegado, que queria saber de que corrente eu era...”, diz. Ela revela que não

conseguiu o atestado ideológico, mas que, ainda assim, teve o contrato renovado, pois a secretária encaminhou os trâmites burocráticos sem maiores questionamentos. “Éramos vigiados. Sobrevivemos, mas foram tempos muito ruins”, afirmou a docente.

‘Marcas até hoje’ Edson Benigno, estudante de Engenharia na UFF durante os ‘anos de chumbo’, também compartilhou um pouco de suas memórias entre o período de 1966 e 1973. “Havia uma forte vontade de punir; há marcas que ficam até hoje. Existia a violência do pau de arara e mil outras coisas; mas não podemos desprezar aquela violência invisível. Mais do que a violência física, ela exerceu um poder deletério contra o qual lutamos até hoje. A desarticulação de atores sociais – aluno que não reconhece aluno, professor que não sabe a importância do papel que exerce na universidade”, problematizou. “Como é bom não estar na ditadura. Conviver com o sussurro, com as entrelinhas era muito difícil”, afirmou.


6

Maio (2ª quinzena) de 2016 • www.aduff.org.br

Jornal da ADUFF

Notas da Aduff Cine-Debate

Visita subterrânea O ministro da Saúde do governo interino, Ricardo Barros, foi ‘perseguido’ por um grupo de servidores do Into (Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad), na quinta-feira (19). Os trabalhadores se comunicavam pelo celular, subiam e desciam andares atrás do ministro,que conseguiu escapar dos profissionais. Barros é do mesmo partido do governador em exercício, Francisco Dornelles, o PP, e estava acompanhado do secretário estadual de Saúde, Luiz Antonio Teixeira.

Passado condena Como o Into é federal, soou o alarme entre os servidores sobre possível articulação entre os governos federal e estadual para aplacar a crise da rede de saúde do estado por meio de algum acordo entre as duas esferas. Já circula nos corredores a informação de que o nome que as partes deram para isso seria integralização das duas redes. O maior temor dos servidores são medidas que precarizem mais as condições de trabalho e privatizem e terceirizem a gestão. Deputado pelo PP, Barros foi, no ano passado, o relator do Orçamento da União escolhido pelo governo Dilma. Ao justificar cortes que inviabilizam o funcionamento da Justiça do Trabalho até o fim do ano, praticamente defendeu a extinção do órgão: disse que a JT é cara demais e existe para beneficiar os trabalhadores.

Fotos: Luiz Fernando Nabuco

“Viagem à Venezuela” é a próxima atração do Cine-Debate, atividade que acontece mensalmente na Praça Cantareira com o apoio da Aduff-SSind. Na terça (31), entre 18h e 20h30, os participantes poderão assistir a esse filme independente, sem fins lucrativos, produzido pelos historiadores Danilo Spinola Caruso (IFRJ/UFF) e João Braga Arêas (Colégio Pedro II / UFF), que se propõem a discutir as transformações causadas pela Revolução Bolivariana no país. Após a exibição, haverá um debate com os diretores e os produtores da película. O evento está no Facebook (https://www.facebook.com/ events/1218333324864544/).

Plano de saúde: pesquisa continua

Abraço aos livros

O término do contrato com a empresa Nova Rio e a perda de 53 funcionários terceirizados foi o estopim para o ‘abraço’ simbólico promovido pela Comissão de Bibliotecários e Arquivistas da UFF à Biblioteca Central do Gragoatá (BCG), no dia 5 de maio. Os trabalhadores terceirizados faziam atendimento e balcão nas unidades. “A chefia queria colocar a gente para

assumir o posto dessas pessoas, mas só a BBC do Gragoatá atende – entre curso de graduação, pós-graduação, mestrado e doutorado – 90 cursos; é uma quantidade de trabalho enorme. O MEC avalia os cursos o tempo todo e os departamentos cobram que as bibliografias estejam em dia, que material ‘x e y’ estejam na base correta; a gente não pode simplesmente descer

para atender, temos demandas própria de trabalho, além de ter formação para trabalhar com informação e não em atendimento e balcão”, explicou Gilda Alvarenga, bibliotecária da Biblioteca Central há oito anos. A manifestação denunciou os problemas de infraestrutura das bibliotecas. O ato teve o apoio do Sintuff e participação e divulgação da Aduff-SSind.

Encontro da Educação: em junho, em Brasília

II Encontro Estadual de Educação, no Rio: preparação para o evento nacional O II Encontro Nacional de Educação acontece entre os dias 16 e 18 de junho, na Universidade de Brasília (DF), reunindo representantes de movimentos sociais, estudantes e trabalhadores da educação básica e da educação superior de

todo o país em defesa de um projeto classista e democrático para o setor. O Andes-SN é um dos organizadores do evento, que conta com os seguintes eixos temáticos de discussões: Financiamento; Trabalho e Formação dos Trabalhadores da Educação;

Acesso e Permanência; Gênero, Sexualidade, Orientação Sexual e Questões Étnico-raciais; Gestão e Avaliação. É possível fazer a inscrição pela internet (https:// ene2016.org/inscricoes/). A Aduff-SSind levará uma representação à atividade.

A pesquisa sobre plano de saúde continua e a direção da Aduff-SSind pede aos docentes que ainda não a responderam que o façam. A pesquisa decorre de solicitações de docentes. O objetivo é saber a opinião dos professores sobre plano de saúde. Dos que já são contemplados pelo convênio com a Unimmed, quer saber como avaliam o serviço. Como esse plano não admite mais a inclusão de novos associados, a Aduff-SSind também quer saber de quem não tem plano – ou tem, mas fora do convênio do sindicato – se há interesse em um eventual novo convênio. A breve pesquisa está sendo feita pela internet e pode ser acessada pela página da Aduff (ou em ht t p://goo.gl /forms/ WoFHMjf TJG).

Algemas de Rafael Os olhares se cruzaram, s em t ro c a de p a l av r a s . A mãe de Rafael Braga, Adriana, não pode abraçar o f ilho na segunda audiência de instrução do segundo julgamento do jovem catador de latinhas. Negro e morador da Vila Cruzeiro, favela do Complexo do A lemão, ele foi condenado após ser preso ‘portando’ duas garrafas de desinfetantes, sem potencial explosivo, na manifestação do dia 20 de junho de 2013, a maior daquela jornada de protestos no Rio. Rafael estava em liberdade condicional e acabou preso por policiais da UPP próximo de casa quando ia comprar pão. Foi acusado de associação com o tráf ico. A defesa af irma que tudo foi armado. Na audiência, o advogado do rapaz solicitou que lhe fossem retiradas as algemas. O juiz não permitiu. Rafael, que não tem contra ele quaisquer acusações que envolva ato violento, assistiu algemado ao depoimento de um dos policiais que o prenderam. Na entrada do fórum, cerca de cem manifestantes promoviam um sarau por sua liberdade. Nova audiência ocorre dia 6 de junho.


Jornal da ADUFF

ENTREVISTA

Maio (2ª quinzena) de 2016 • www.aduff.org.br

7

Renata Vereza, presidente da Aduff-SSind na gestão 2014-2016

Sindicato mais próximo dos docentes

A

professora Renata Vereza, da História da UFF, deixa a presidência da Aduff-SSind com a avaliação de que a gestão “Aduff em Movimento: de Luta e pela Base”, que coordenou o sindicato de 2014 a 2016, obteve bons resultados em aspectos como a continuidade da aproximação com o conjunto dos docentes, na integração sindical com os campi fora de Niterói e em avanços na área de comunicação. Tudo isso em meio a um período de intensas lutas que, acredita, prosseguirá na próxima gestão. Mas não hesita ao afirmar que muita coisa ficou por fazer – as pernas são curtas para muitas tarefas, observa. A seguir, trechos da entrevista ao Jornal da Aduff (a íntegra está em www.aduff.org.br). JORNAL DA ADUFF - O que você destacaria como melhor ou melhores aspectos e resultados nesses dois anos? E o que ficou faltando? RENATA VEREZA – Primeiro, foi a aproximação com a base, a gente deu continuidade a esse processo. Acho que conseguimos melhorar a comunicação de uma forma geral, isso é um aspecto bem positivo. Melhoramos os nossos veículos de comunicação de forma geral. Não só em qualidade, como em quantidade e de veículos de comunicação que a gente está conseguindo utilizar. E de termos conseguido integrar melhor os professores dos campi fora da sede. É uma conquista muito grande ter essa integração, a gente tem uma gestão nova com mais representação de fora da sede, que tem a ver com esse trabalho, que é muito importante. O que fica faltando? Acho que mais coisa do que a gente fez. Sempre fica faltando, as pernas são curtas para tantas tarefas e foram dois anos de muitas lutas. A aceleração das lutas nesses últimos dois anos foi impressionante e acho que é uma tendência. A próxima gestão vai também optar por isso. Tivemos uma greve muito longa, a [luta con-

Professora cita aproximação com a base da categoria, integração com os campi fora da sede e avanços na comunicação como pontos destacados da gestão

tra] a Ebserh… Enfim, o senso de democracia na universidade, no país, um conjunto de coisas. Não conseguimos, nessa aproximação com os docentes fora da sede, gerar estruturas mais permanentes do sindicato [nessas regiões] e isso era um projeto nosso, que a gente não conseguiu dar conta. Eu acho que de tudo, isso seja o que tenha me deixado mais frustrada. A greve do ano passado teve boa adesão e participação, mas também foi polarizada com algumas assembleias tensas e com parcela dos docentes tentando organizar o movimento para suspendê-la. Além da postura do reitor de não receber as representações sindicais. Como avalia esse processo, quase oito meses depois? Foi a grave mais longa já feita na UFF. A gente está vivendo uma polarização do país e a universidade não está fora e é natural que os docentes que são contrários se organizem inclusive para poder se ouvir. Mas eu acho que as assembleias se estabeleceram como um espaço de decisão. Mesmo quem estava contrário entendeu que é o espaço da assembleia, que não é outro espaço, que não é o conselho universitário, que é o espaço da assembleia docente, do sindicato, que a gente decide sobre o movimento grevista. Talvez eles não dimensionem isso como vitória. Mas não se começou e não acabou a grave em outros fóruns, foi na assembleia do sindicato. Assembleia com 576 professores: em nenhum fórum na universidade em tempo algum se reuniu tantos docentes num mesmo espaço, mesmo que antagonizando, mesmo com situações de tensão, exercitando o direito democrático de ter posições diferentes, mas de alguma forma todos ali estão legitimando

aquele espaço. Isso é muito importante. Foi uma greve com uma quantidade imensa de atividades, com respostas muito pequenas em relações as conquistas, enquanto que em 2012 a gente teve um retorno maior. Dessa vez, por uma conjuntura maior, que é a do país, de endurecimento das propostas conservadoras, neoliberais, a gente teve uma resposta muito pequena. O governo não nos recebeu, a Reitoria não recebeu – é uma pena que a nossa Reitoria não receba os seus professores, ou receba só aqueles que tem a convicção do âmbito dela. A universidade é de todos, uma vez que se propõe a ser Reitoria, tem que receber todos. Da mesma forma que nós recebemos todos os professores no sindicato, todos os professores tem voz e voto numa assembleia. A greve foi frustrante nos resultados, mas tinha que ser feita [diante] do corte absurdo na educação, que inviabilizou vários setores na universidade. Enfim, se o movimento docente não se posiciona ele estaria assinalando que está tudo bem. Você costuma dizer que a administração da UFF não conseguiu implantar ainda a multicampia. Explique melhor isso. E até que ponto esses dois anos foram importantes para que a organização sindical ganhasse mais corpo nos campi fora da sede? A administração da UFF não promove fóruns que permitam que os professores e o seu conjunto entendam e pertençam à Universidade Federal Fluminense. As reuniões sempre em Niterói, há uma hierarquização em relação a isso. O professor ter que mandar documentação para Niterói. Se a gente esta pensando em multicampia, não pode haver

essa hierarquia de sede e filial, os espaços dentro da universidade tem que ser equivalentes e tem que se buscar uma integração. Eu acho que nesse sentido o nosso trabalho foi muito bom, porque agora os docentes se conhecem, a gente permitir, criar espaços, criar fóruns que docentes de diferentes unidades possam estar juntos e possam debater e dialogar. Acho que demos um pontapé [inicial] nesse processo. Também tivemos um processo interessante com o Coluni, inserir o colégio no mapa da universidade e inserir esses docentes também na universidade para que eles possam estar atuando e também fazer parte da pauta do sindicato sempre. A Aduff-SSind lançou uma cartilha sobre o assédio moral na universidade. Até que ponto o sindicato atuou e pode atuar no combate ao assédio moral no trabalho? A gente entende que a forma mais eficaz de combater o assédio moral é com informação. A cartilha vem com esse sentido, ela não é um material acabado, novas questões vão chegar ao sindicato, mas a gente combate o assédio moral primeiramente com a informação. A gente sempre forneceu e sempre vai fornecer o auxílio jurídico. Mas até para que o docente saiba se precisa do auxílio jurídico ou não ele precisa ter informação do que é o assédio moral. Até porque muitas vezes ele se constrange, mas ele não tem dimensão de que aquilo é assédio moral.

Um dos maiores embates do sindicato nestes dois anos foi a campanha contra a cessão do Hospital Universitário Antonio Pedro à Ebserh, o que acabou sendo implantado pela Reitoria após sessão polêmica e questionada do Conselho Universitário. Até que ponto essa questão seguirá em pauta? Ele segue em pauta porque os problemas no hospital universitário não desapareceram como um toque de mágica das promessas da Ebserh. É uma demonstração de como a ausência de democracia é nociva na universidade. Todo o processo que foi feito de maneira arbitrária, passando por cima da vontade da comunidade sem que essa fosse consultada.Tudo isso mostra que todo esse processo está permeado, não sei se com esse avanço conservador, mas sem sombra de dúvida com a falta de transparência das instituições. E vai continuar em pauta porque tem leitos no hospital sendo fechados, toda semana no jornal sai um problema. A Ebserh não foi a solução e sabíamos disso. O processo de privatização dos espaços não é um projeto de governo, é um projeto de Estado. Esse projeto independe do governo. O governo PT está suspenso e o problema de privatização está sendo acentuado. O novo ministro da educação tem relação com os grandes grupos educacionais. É um projeto neoliberal para as universidades, para o ensino público e que a gente vem alertando.


Maio (2ª quinzena) de 2016 • www.aduff.org.br

Fotos: Luiz Fernando Nabuco

8

Jornal da ADUFF

Diretoria eleita para a Aduff-SSind Biênio 2016/2018 “Democracia e Luta: Em Defesa dos Direitos Sociais, do Serviço Público e da Democracia Interna”

Docentes elegem novas direções da Aduff e do Andes-SN Diretoria eleita da AduffSSind toma posse tendo como desafio imediato organizar a defesa da universidade pública e de direitos frente a medidas já sinalizadas pelo governo interino Da Redação da Aduff

O

s docentes da UFF elegeram a próxima diretoria da Aduff-SSind, nas votações realizadas nos dias 10 e 11 de maio. O pleito aconteceu simultaneamente ao do Sindicato Nacional (Andes-SN). Em ambos os processos, chapas únicas disputavam a eleição e vão ter pela frente mandatos de dois anos (2016/2018). Também foram definidos os representantes da categoria no Conselho de Representantes – 34 professores eleitos, entre titulares e suplentes. A nova diretoria da Aduff-SSind, que terá como presidente o professor Gustavo Gomes, assume a partir do dia 23 de maio. Já a posse da direção do Andes-SN acontece durante o 61º Conad, no final de junho. Ao todo, 538 professores votaram na eleição da Aduff-SSind, em 40 urnas distribuídas pelos campi de Niterói e fora da sede. Destes votos, 499 foram dados à Chapa 1, 16 em branco e 23 nulos. A eleição do Andes-SN teve a participação de 9.807 votantes – dos quais

8.891 assinalaram chapa única (90,66 %); 623, em branco (6,35%); e 293, nulos (2,99%). A votação foi realizada em todo do território nacional. A presidente eleita, Eblin Farage, professora do Serviço Social da UFF, assumirá o cargo pela primeira vez . Para o cargo de secretário-geral, foi eleito Alexandre Galvão Carvalho, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb). A Comissão Eleitoral da Aduff-SSind disse que as eleições ocorreram sem incidentes e agradeceu a contribuição de todos que ajudaram no processo eleitoral. O total de votantes, mesmo que considerado aquém do que seria possível e desejável, superou os números da eleição passada. A participação de professores dos campi fora da sede foi significativa, como a da professora Raimunda Soares, da UFF em Rio das Ostras. “Avalio que hoje, mais do que nun-

ca, é primordial a participação docente, nesse momento de legitimação de um grupo que vai estar à frente do sindicato, no fortalecimento cotidiano do próprio sindicato. Sempre votei nas eleições sindicais. Não é momento de a História acontecer pela mídia, temos que participar ativamente disso, incorporando as manifestações de esquerda no nosso cotidiano”, disse. A apuração das eleições na Aduff-SSind, na quinta-feira (12), coincidiu com a data de posse interina de Michel Temer (PMDB) na Presidência da República. Já em seu primeiro discurso, Temer disse que duas de suas prioridades são a reforma da Previdência e mudanças nas leis trabalhistas. É nessa conjuntura adversa, que os novos representantes sindicais iniciam o mandato tendo o desafio de enfrentar a agenda conservadora governista.

Presidente: Gustavo França Gomes 1º Vice-Presidente: Gelta Terezinha Ramos Xavier 2º Vice-Presidente: Juarez Torres Duyaer Secretário-Geral: Kate Lane Costa de Paiva 1º Secretário: Douglas Ribeiro Barbosa 1º Tesoureiro: Carlos Augusto Aguilar Junior 2º Tesoureiro: Edson Teixeira da Silva Junior Diretoria de Comunicação (Titular): Kenia Aparecida Miranda Suplente: Marcio José Melo Malta Diretoria de Política Sindical (Titular): Adriana Machado Penna Suplente: Bianca Novaes de Mello Diretoria Cultural (Titular): Renata Torres Schittino Suplente: Ceila Maria Ferreira Batista Diretoria Acadêmica (Titular): Antoniana Dias Defilippo Bigogmo Suplente: Elza Dely Veloso Macedo

Conselho de Representantes – CR – Biênio 2016/2018 Fac. de Educação - Feuff Titular: Eliane Arenas Mora Suplente: Zuleide Simas da Silveira

Fac. de Nutrição Titular: Katia Ayres Monteiro Suplente: Enilce de Oliveira Fonseca Sally

Fac. de Administração e C. Contábeis – EST Titular: Claudio Roberto Marques Gurgel Suplente: Selma Alves

Inst. de Matemática e Estatística Titular: Luis Felipe Rivero Garvía Suplente: Viviana Ferrer Cuadrado

ESR – Campos dos Goytacazes Titular: Leonardo Soares dos Santos Suplente: Matheus Thomas da Silva Esc. de Arquitetura e Urbanismo – RA Titular: Glauco Bienenstein Suplente: Luiz Renato Andrade Bittencourt Silva Inst. de Saúde Coletiva Titular: Claudia March Frota de Souza Suplente: Armando Cypriano Pires IACS Titular: Fabián Rodrigo Magioli Núñez Suplente: Guilherme Nery Atem Rio das Ostras – IHS Titular: João Claudino Tavares Suplente: Paula Martins Sireli Fac. de Economia Titular: Victor Leonardo Figueiredo Carvalho de Araujo Suplente: Nazira Correia Camely

Eblin e Gustavo em reunião na campanha; no alto, professora vota no Gragoatá

IEF – Educ. Física e Desportos Titular: Martha Lenora Queiroz Copolillo Suplente: Claudia Foganholi Alves

Coluni Titular: Maria Cecilia Sousa de Castro Suplente: Gisele dos Santos Miranda Infes - PCH - Santo Antonio de Pádua Titular: Ivan Ducatti Suplente: Diego Chabalgoity Inst. de Computação Titular: Izabel Leite Cafezeiro Suplente: Marco Antonio Monteiro Silva Ramos Campus Nova Friburgo – Inst. de Saúde Titular: Priscila Starosky Suplente: Gilson Saippa de Oliveira ICHF Titular: Tatiana Silva Poggi de Figueiredo Suplente: Renata Rodrigues Vereza Volta Redonda – ICHS Titular: Catharina Marinho Meirelles Suplente: Ana Paula Todaro Taveira Leite


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.