ADUFF SSind
TCU aponta irregularidades em obras da UFF no Gragoatá
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II Encontro dos Campi Fora da Sede: unidade veio para ficar FOTOS: LUIZ FERNANDO NABUCO
Associação dos Docentes da UFF
Seção Sindical do ANDES-SN Filiado à CSP/CONLUTAS
Setembro (2ª quinzena) de 2015 Reitoria diz que comissão investigará casos
Luta contra ‘ajuste fiscal’ leva 15 mil a marcha em SP
Encontro ocorreu em Friburgo
Ocupação do MEC: docentes cobram avanços na negociação
JESUS CARLOS
Docentes participam de marcha nacional em São Paulo que reuniu 15 mil trabalhadores contra ‘ajuste fiscal’ – apoiado pelo PT, PMDB e PSDB – e novo pacote do governo que suspende concursos, tenta acabar com o abono permanência e corta mais recursos dos serviços públicos; em Brasília, professores precisam ocupar o MEC para que ministro prometa receber movimento grevista
ARQUIVO ANDES-SN
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Manifestação nacional em SP na Av. Paulista contesta tanto as medidas do governo, quanto a oposição conservadora que as apoia; no MEC, em Brasília, docentes ocuparam por algumas horas a entrada do gabinete do ministro Renato Janine, que se comprometeu a receber as representações sindicais dos docentes e as dos estudantes
com o a t s i v Entre Mello y e n d Si reitor a7 Págin
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Setembro (2ª quinzena) de 2015 • www.aduff.org.br
Jornal da ADUFF
AGENDA
Editorial
Setembro 29 – Assembleia Geral dos Docentes, às 15h, na quadra da Educação Física/ Campus do Gragoatá
medidas de “austeridade”, através das quais o capital é desonerado e os trabalhadores pagam a conta da crise. Em que a Presidência da República cede a todas as chantagens políticas e entrega ministérios sociais – como o da Saúde – ao grupo de Eduardo Cunha. Em que o ministro da Educação aceita tirar qualquer referência à discussão de gênero dos debates sobre diretrizes curriculares, para contentar a “bancada da Bíblia”. Em que prosperam nos legislativos propostas de censura explícita ao trabalho docente, como aquelas apelidadas de “Escola sem Partido”. Tempos difíceis estes em que, após quase quatro meses de greve, é necessário realizar atos quase diários na Esplanada dos Ministérios e ocupar o gabinete de um ministro da Educação omisso para conseguir uma resposta formal sobre o reajuste salarial e um compromisso com reuniões no Ministério do Planejamento e com o ministro Janine, como ocorreu semana passada em Brasília, após ações de uma caravana de docentes de todo o país nos dias 23 e 24 de setembro.
Tempos difíceis estes em que o reitor da UFF, após quase quatro meses de greve, durante os quais se negou a receber os movimentos, desprezou o funcionamento dos conselhos superiores da instituição e tentou minimizar os impactos dos cortes orçamentários na vida da universi-
Diante destes tempos difíceis, temos pelo menos duas certezas: a primeira, os ataques aos direitos dos trabalhadores e à universidade pública vão continuar; a segunda, a resposta precisa ser coletiva e teremos que levar adiante lutas cada vez mais amplas
dade, ainda queira acusar a Aduff-SSind de “falta de respeito” pelas mobilizações coletivas que promoveu no espaço público da universidade, em busca de efetivas negociações da pauta interna da categoria. Em entrevista ao Jornal da Aduff, além das tentativas de desqualificar o movimento grevista, Sidney Mello afirma que as obras “não estão paradas” e apresenta como exemplo a promessa de entrega do prédio do Biomédico (que segundo o relatório de gestão 20062014 já teria sido entregue) ainda este ano e o segundo prédio da computação (que segundo o mesmo relatório deveria ter sido inaugurado no primeiro semestre deste ano) no ano que vem. Sobre os prédios da Biologia, Química, Iacs, Farmácia e as situações de carência absoluta de espaço em Rio das Ostras, Campos, Macaé, Angra, Friburgo, Pádua, entre outras obras paradas, o que teria a dizer? E lembremos que são obras, em sua maior parte, decorrentes de projetos do Reuni, que deveria ter sido concluído em 2012 e cujo atraso é, portanto, muito anterior aos cortes orçamentários deste ano. Aliás, sobre essas obras,
o Tribunal de Contas da União já notificou a UFF, através de Acórdãos, sobre irregularidades f lagrantes. Este jornal também acompanha essa situação. Diante destes tempos difíceis, temos pelo menos duas certezas: a primeira é a de que os ataques aos direitos dos trabalhadores em geral e à universidade pública em particular, vão continuar; a segunda é a de que a resposta precisa ser coletiva e que teremos que levar adiante lutas cada vez mais amplas. Uma disposição que os docentes estão demonstrando ao longo de toda a greve e que precisarão manter para além da greve, pois as condições de trabalho nas Federais tendem a se deteriorar ainda mais. E que precisa se ampliar para lutas do conjunto da classe trabalhadora. Nossa participação em meio a 15 mil pessoas que acompanharam a marcha dos lutadores e lutadoras, no último dia 18 em São Paulo, e no encontro realizado no dia seguinte, demonstram que também nessa direção podemos dar uma contribuição relevante. Já está passando da hora de construirmos uma greve geral contra as políticas do “ajuste fiscal” no país.
Aconteceu 24 – Ato no MEC, em Brasília. Docentes ocupam o 8º andar do Ministério da Educação, onde fica o gabinete do ministro Renato Janine.
Ato no MEC, no DF
23 – Dia Nacional de protestos contra e paralisações dos servidores públicos federais, com atividades nos estados e em Brasília. Ocupação do Ministério da Fazenda pelo MTST. 21 – Palestra Auditoria de gente humana, cidadã e social Com Maria Lúcia Fattorelli e Maria de Fátima Pinel, no auditório do SindiPetro. 18 e 19 – ”Marcha Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras”, em São Paulo, reúne cerca de 15 mil manifestantes contra o ‘ajuste fiscal’ e a Agenda Brasil; “Encontro Nacional de Lutadores”, organizado pela CSP-Conlutas, Andes-SN e outras entidades sindicais e sociais, debaute pauta comum em defesa de direitos. 17 – Assembleia Geral dos Docentes, que deliberou pela continuidade da greve na UFF.
Cine-debate na Cantareira
16 – Cine-Debate da greve, na Praça da Cantareira: “Da Servidão Moderna”, de Jean-François Brient. 11 e 12 – Encontro dos campi da UFF fora de sede, em Friburgo.
Presidente: Renata Vereza – História/Niterói • 1º Vice-Presidente: Gustavo França Gomes– Serviço Social/Niterói • 2º Vice-Presidente: Juarez Torres Duayer – Arquitetura • Secretário-Geral: Elizabeth Carla Vasconcelos Barbosa – Puro • 1º Secretário: Isabella Vitoria Castilho Pimentel Pedroso – Coluni • 1º Tesoureiro: Wanderson Fabio de Melo – Puro • 2º Tesoureiro: Edson Teixeira da Silva Junior – Puro • Diretoria de Comunicação (Tit): Paulo Cruz Terra – História/Campos • Diretoria de Comunicação (Supl): Marcelo Badaró Mattos – História/Niterói • Diretoria Política Sindical (Tit): Sonia Lucio Rodrigues de Lima – Serviço Social/Niterói • Diretoria Política Sindical (Supl): Wladimir Tadeu Baptista Soares – Faculdade de Medicina • Diretoria Cultural (Tit): Ceila Maria Ferreira Batista – Instituto de Letras • Diretoria Cultural (Supl): Leonardo Soares dos Santos – História/Campos • Diretoria Acadêmica (Tit.): Ronaldo Rosas Reis – Faculdade de Educação • Diretoria Acadêmica (Supl): Ana Livia Adriano – Serviço Social/Niterói
Biênio 2014/2016 Gestão ADUFF em Movimento: de Luta e pela Base
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empos difíceis estes em T que o governo federal anuncia a cada dia mais
O Encontro Nacional de Lutadores, realizado em São Paulo, aprovou o ‘Outubro de Luta’, com manifestações nos estados e paralisações nos estados.
Twitter twitter.com/aduff_ssind Impressão Forma Certa (6.000 exemplares)
LUIZ FERNANDO NABUCO
Tempos difíceis… saída está na luta coletiva
FOTO: LUIZ FERNANDO NABUCO/ARTE SOBRE FOTO: GIL CASTRO
Outubro
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‘Não vamos pagar a conta’
Docentes em greve em frente ao MEC, no dia da ocupação
Com marcha nacional em SP, atos e ocupações em Brasília, servidores e outros trabalhadores defendem direitos e rejeitam medidas do ‘ajuste fiscal’ Da Redação da Aduff
eve protesto nacional T conjunto com cerca de 15 mil trabalhadores em São
Paulo e atos e ocupações nos ministérios do Planejamento e da Educação, em Brasília. A sequência de manifestações ocorridas de 18 a 24 de setembro, com participação de docentes em greve, expuseram a insatisfação e a resistência de quem vive de seu trabalho às medidas do governo decorrentes da crise econômica –
que reduzem recursos dos serviços públicos, cortam direitos trabalhistas e sociais e são apontadas como transferência disfarçada de dinheiro público para setores empresariais e financeiros privados. Em São Paulo, os cerca de 15 mil manifestantes que ocuparam a av. Paulista e percorreram quase cinco quilômetros até a Praça da República, não só criticaram o ‘ajuste fiscal’ do governo Dilma (PT), como o papel cumprido por outros seto-
res como o PMDB de Renan Calheiros (AL) e Eduardo Cunha (RJ) e o PSDB de Aécio Neves (MG). O ato convocado pela CSP-Conlutas (Central Sindical e Popular), pelo Fórum dos Servidores Federais e pelo Sindicato Nacional dos docentes (Andes-SN), entre dezenas de entidade, defendeu uma ‘saída’ dos trabalhadores para a crise. O tema foi debatido no encontro realizado no dia seguinte, na qual se apontou a necessidade de
unir forças dos diversos setores que não se alinham com o governo e tampouco apoiam as reações conservadoras que pedem mais medidas contra os direitos sociais e trabalhistas. O encontro indicou a realização de uma jornada de manifestações unificadas em outubro, como parte da construção desse movimento, no qual a mobilização nas universidades se insere. Em Brasília, na semana seguinte, professores e estudantes em greve apoiaram o ato dos trabalhadores sem-teto, do MTST, realizado no Ministério do Planejamento. Também se uniram a
outros setores do funcionalismo e, na sexta-feira (24), o Comando Nacional de Greve docente, do Andes-SN, ocupou por cinco horas a entrada do gabinete do ministro Renato Janine, representado por 16 professores. Após quatro meses de greve de docentes, técnicos e estudantes nas universidades federais, Janine não recebeu os representantes do movimento. Diante da ocupação, o ministro acabou aceitando marcar uma reunião para o dia 5 de outubro. Até lá, a pressão para que o governo ceda e de fato negocie vai continuar.
Servidores criticam novo pacote, que mira RJU e serviços públicos o final de 2014, a políA tica de austeridade fiscal do governo Dilma le-
vou à perda de direitos trabalhistas, previdenciários e sociais – mudanças na regra de concessão de benefícios como seguro-desemprego e de pensão por morte de cônjuge; restrições ao acesso ao abono-salarial, ao auxílio-doença e ao seguro-defeso; corte de verbas bilionárias da Saúde e da Educação. Agora, os ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento) anunciam um novo pacote econômico, com corte de mais R$26 bilhões no orçamento de 2016. O Executivo propõe ainda o aumento de tributos, o adiamento do reajuste
salarial do funcionalismo, o fim do abono permanência e a suspensão de concursos públicos. As medidas vão na contramão do que vem sendo defendido pelos servidores na campanha salarial. No dia 3 de setembro, representantes do MEC reafirmaram a existência de 9.638 cargos vagos e que ainda aguardavam a liberação de mais 4.090 vagas para a realização de concursos públicos para a carreira do magistério superior. Também disseram haver cerca de 5 mil vagas para técnico-administrativos. Na ocasião, o ministério negou a intenção de contratar docentes por Organizações Sociais. Ainda com as negocia-
ções em curso, ao apresentar esse novo pacote econômico, o Executivo recua em relação aos concursos públicos e indica que qualquer reajuste não será concedido em janeiro de 2016, mas apenas em agosto do próximo ano. As recentes medidas propaladas por Levy indignaram a muitos servidores. “Recebi com muita revolta e perplexidade essa notícia do ‘novo pacote de maldades’ do governo. Eles radicalizaram o projeto de desmonte da universidade pública, passando por cima de um conjunto de negociações com os servidores, que diziam respeito ao salário, mas também à infraestrutura da universidade. A luz no fim do túnel está em nossa capacidade
de se organizar e enfrentar as adversidades que se colocam”, disse a professora Wilma Pessôa, do curso de Sociologia, na assembleia da categoria no último dia 17. A professora Claudia March, do Instituto de Saúde Coletiva da UFF, criticou a tentativa de acabar com o abono permanência – benefício concedido ao servidor que já tem o direito de se aposentar, para que permaneça desempenhando suas funções no serviço público federal. “O fim do abono, mais do que economizar, é uma tentativa de extinguir o Regime Jurídico Único, até porque o governo diz que não vai mais fazer concursos. Nossa tarefa é a de enfrentamento a esse projeto, e
ela se faz mais necessária do que nunca”, disse. Professores afirmaram que diante do cenário adverso é preciso aglutinar forças com outras categorias do funcionalismo. “Olhamos para frente e o cenário é difícil. Nossa pauta de reivindicações é extensa e não será evidentemente atendida como gostaríamos. Falávamos isso desde o início, há alguns meses, denunciando que o governo privilegia o pagamento da dívida pública e o lucro para os grandes bancos. Precisamos acumular força para enfrentamos juntos o futuro que está posto”, disse Gustavo Gomes, professor da Escola de Serviço Social e diretor da Aduff-SSind.
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Campi fora da sede apostam na luta conjunta
II Encontro dos Campi Fora da Sede na UFF em Friburgo; ao lado, detalhes do evento sensual e pautou a Carta de Comunidades universitárias dos campi fora da sede Nova Friburgo, documento fazem em Friburgo o 2º Encontro e reafirmam que síntese do evento. “Estamos aqui construindo identidade luta comum para enfrentar expansão precarizada, política. Não estamos destecida na greve, veio para ficar vinculando o encontro dos campi fora da sede da luta Hélcio Lourenço Filho tras, se constatou que a greve mais geral [da universidade] Da Redação da Aduff foi o solo fértil que permitiu e do ensino superior”, disse nascer essa unidade, mobili- a professora de Rio das Osorganização e atuação zação e consciência de que tras Cristina Brites. conjunta de docentes, assim é melhor para cobrar O II Encontro teve a parestudantes e técnicos dos respostas e soluções para ne- ticipação de estudantes, docampi da UFF fora da sede cessidades comuns, decor- centes e técnicos de Camveio para ficar. É a vontade e rentes de uma expansão pre- pos, Rio das Ostras, Pádua, o desafio que ficam eviden- carizada – seja da Reitoria, Macaé, Volta Redonda, Antes a partir do que se falou e das administrações locais ou gra dos Reis, além de Friaprovou no II Encontro do do governo. burgo e Niterói. “Isso daqui setor, que reuniu mais de 150 A perspectiva de que essa é uma prova de que a nospessoas na UFF em Fribur- luta específica não está des- sa unidade está muito forgo, nos dias 11 e 12 de se- colada do contexto mais ge- te e vai continuar”, disse a tembro. Um mês e meio após ral da defesa da educação estudante Camila Messali, o encontro de Rio das Os- pública também foi con- de Campos, que defendeu condições para permanência nos cursos. “Assistência estudantil não é assistencialismo, a gente não quer castelo de cristal, a gente pede o que é nosso direito”, disse.
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O segundo dia do encontro em Nova Friburgo foi dedicado a um debate que reuniu docentes e estudantes da UFF com professores e estudantes da rede municipal e estadual de educação, com a participação de representantes do Sepe-RJ, no qual se apontou para um trabalho conjunto de articulação, estudo e construção de mobilizações. Veja a cobertura desse debate e mais sobre o II Encontro dos Campi Fora da Sede em www.aduff.org.br
Fórum Permanente Das resoluções aprovadas, destacam-se a formação do Fórum Permanente dos Campi da UFF Fora da Sede, a partir dos comandos de greve. A ideia é construir “instâncias de mobilização, articulação e sistematização de informações que contribuam para qualificar o projeto de expansão” da universidade. Também se apontou a criação de comissões de trabalho no interior desse fórum, que, articuladas com os Grupos de Trabalho da Aduff-SSind, teriam como objetivo “levantar dados e fazer análises propositivas, para que sejam divulgadas e auxiliem as mobilizações” – abarcando aí a política de assistência estudantil, con-
dições de trabalho, ensino, pesquisa e extensão e os projetos pedagógicos dos cursos. O encontro destacou a necessidade de seguir apoiando os trabalhadores terceirizados. A prioridade para o pagamento de compromissos referentes a salários e benefícios dos terceirizados é uma das proposições dirigidas ao reitor da UFF, Sidney Mello, criticado por não receber os comandos de greve. Os participantes também defenderam a revisão dos planos diretores, com participação da comunidade acadêmica. Os pontos levantados na Carta de Rio das Ostras, pauta referente a reivindicações dos campi fora da sede e do Coluni entregue ao Comitê Gestor, foram ratificados e será cobrado um posicionamento oficial da reitoria sobre eles. Data e local do terceiro encontro já foram definidos. Será em Campos dos Goytacazes, em novembro. As comunidades acadêmicas de Oriximiná e Iguaba Grande serão convidadas a participar. “Em nenhum momento antes ocorreu um momento de união dos campi fora da sede [como agora], isso é fundamental se a gente pensar que a UFF foi a unidade que mais se expandiu no Brasil e que a interiorização dessa expansão é precariedade”, ressaltou Paulo Terra, professor de Campos. Presidente da Aduff SSind, Renata Vereza classificou o que está acontecendo de revolucionário. “Vocês estão conseguindo fazer algo que até hoje a administração não conseguiu fazer: efetivar a multicampia”, disse, ao defender boas e equânimes condições de trabalho e estudo em todos os campi. “Temos que formar bem esses alunos, temos que ter estrutura, temos que ter professor, temos que ter biblioteca, temos que ter laboratório”, frisou. A professora Tânia Chaves, da Fonoaudiologia de Friburgo, destacou o avanço que esse movimento representa para a organização dos campi fora da sede e corroborou com a defesa da continuidade desse processo. “Nós não vamos parar por aqui. Conhecer a história de todos, entender que as [necessidades] são comuns, torna a gente mais forte”, sintetizou.
Jornal da ADUFF
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Demanda da greve, Coluni inicia debate sobre Projeto Pedagógico LUIZ FERNANDO NABUCO
Mobilização combate precarização no Colégio Universitário minado com relação às demais estruturas da universidade, ao ponto de participar das atividades que unem os campi fora da sede contra a precarização. Boa parte dos professores, terceirizados e sem direitos trabalhistas respeitados, não são do quadro efetivo da UFF. Entre as reivindicações
relacionadas à infraestrutura, está a finalização das obras no refeitório, na quadra de esportes e nos laboratórios, e a instalação de aparelhos de ar condicionado e projetores multimídias nas salas de aula. As obras estão paralisadas e sem previsão de retomada por conta do ‘ajuste fiscal’ aplicado pelo governo federal.
CORREÇÃO Esclarecimento sobre os professores da EBTT
Assembleia docente no dia 17 de abril: demandas do Coluni estão na pauta da greve Niara Aureliano Da Redação da Aduff
studantes e responsáveis E devem ser convidados para compor comissão de
construção do Projeto Político Pedagógico (PPP) do Colégio Universitário Geraldo Reis (Coluni), de acordo com decisão de reunião realizada pelos docentes no dia 11 de setembro. Cerca de 50 pessoas, entre professores e técnico-administrativos, participaram da reunião. Após exposição dos detalhes do processo de construção do PPP, docentes se
integraram aos Grupos de Trabalho (GTs) que avaliarão dados e propostas acerca dos aspectos pedagógicos, administrativos, financeiros e institucionais da escola. Visando construir um PPP com participação de toda a comunidade escolar, além de professores e funcionários técnico-administrativos, pais e alunos também devem integrar a comissão que irá elaborar o documento que alinha os objetivos pedagógicos e gestão escolar da instituição. “Toda a comunidade será chamada a participar através do encaminhamento de su-
gestões e reivindicações por via de textos, formulários e até mesmo desenhos, bem como através de intervenção oral nas muitas reuniões públicas que teremos”, afirmou Charleston Assis, professor do departamento de História. Considerado um avanço obtido graças à mobilização e ao movimento grevista, as discussões acerca do PPP do Coluni deverão destacar necessidades da escola, entre elas as referentes à infraestrutura. Outro aspecto que vem sendo ressaltado na greve é o isolamento do Coluni, que se sente discri-
Na edição da segunda quinzena de agosto, em texto sobre a greve e o Coluni, o Jornal da Aduff afirmou que existem profissionais do Colégio Universitário que não são professores, mas concursados EBTT que não têm licenciatura, como psicólogos e assistentes sociais. Em relação àquelas afirmações, queremos corrigi-las e ressaltar que todos os profissionais da carreira de EBTT lotados no Coluni são docentes habilitados em licenciaturas, sendo que muitos deles já estavam em exercício em diferentes órgãos da UFF muitos anos antes da criação do colégio. Há, segundo os dados oficiais da universidade, 62 professores efetivos da carreira de EBTT (um deles na antiga carreira de 1º e 2º graus). Foram todos lotados no Coluni, de forma a garantir que suas vagas sejam aproveitadas pelo colégio. Mais de 30 estão em exercício na unidade (Colégio e Creche) e os demais mantiveram o exercício nos órgãos a que já estavam vinculados antes da criação do colégio. As carências efetivamente existentes de docentes do quadro efetivo no Coluni não decorrem dessa situação e cabe à administração superior da UFF buscar supri-las com novos concursos públicos, de forma a garantir a qualidade do trabalho no colégio.
TCU vê irregularidades em obras da UFF no Gragoatá Relatório do TCU aponta superfaturamento e cita prejuízo por atraso em obras; Reitoria diz que comissão analisará casos
Tribunal de Contas da O União identificou irregularidades nas obras do Ins-
tituto de Química e de Biologia e do Instituto de Artes e Comunicação Social, na Praia Vermelha e no Gragoatá, apontando indícios de superfaturamento milionário na construção de uma das edificações. Segundo o Relatório de Auditoria TC 014.043/2012-2, relativo ao Acórdão 2257/2015, disponível na página eletrônica do órgão, a construção do Instituto de Química, nos termos do contrato 25/2010, teria custado R$ 2.791.328,64 a mais para a instituição – equivalente a 16,40% do valor total contratado. O TCU também afirma que aproximadamente R$ 152 mil, conforme o contrato 13/2010, foram gastos desnecessariamente durante as obras do Instituto de Biologia. O tribunal criticou
a ausência do projeto básico do Instituto de Artes e Comunicação Social, que não foi encaminhado com a documentação completa. Faltaram os relatórios de sondagem e a descrição do terreno. De acordo com o Relatório de Auditoria TC 014.043/2012-2, os setores responsáveis da UFF foram notificados para se pronunciar quanto ao “superfaturamento por pagamento indevido de despesas relativas a atraso na execução da obra”; “ausência de termo aditivo formalizando alterações das condições inicialmente pactuadas”; sobre o projeto básico “deficiente ou desatualizado”; em relação à “inadequação ou inexistência dos critérios de aceitabilidade de preços unitário e global”; e ainda porque o “orçamento está em desconformidade com as disposições da Lei de Diretrizes Orçamentárias”,
não acompanhado das composições de todos os custos unitários. O TCU afirma que os atrasos nas obras levaram ao pagamento de meses adicionais de administração local, onerando os cofres públicos – uma empresa teria embolsado indevidamente R$ 969.448,18. Os profissionais citados em relatório do TCU foram ouvidos em audiências, quando apresentaram suas defesas pertinentes aos contratos que fiscalizavam. Porém, apenas um, dos cinco que expuseram suas justificativas, teve as explicações acolhidas parcialmente. O Tribunal de Contas, em sessão do dia 9 de setembro, determinou a “aplicação de multa e a conversão do processo em tomadas de contas especial para fins de ressarcimento dos prejuízos, se forem confirmados” e, se for o caso, que se “efetue o
desconto integral ou parcelado da dívida nos vencimentos, salários ou proventos dos responsáveis”. A auditoria do TCU ocorreu de 27 de agosto a 6 de setembro de 2012, quando fiscalizava ações referentes à expansão nas instituições de ensino superior do Rio. Antes, portanto, dos cortes orçamentários do ‘ajuste fiscal’.
Reitoria promete apurar irregularidades A equipe de imprensa da Aduff-SSind entrou em contato, por e-mail, com representantes da administração central. A direção da seção sindical recebeu ofício do chefe de gabinete da reitoria, José Rodrigues, em que ressalta que a auditoria do TCU foi realizada na gestão anterior – de Roberto Salles, na qual o atual reitor, Sidney Mello, era vice-reitor.
O chefe de gabinete destaca que a sentença não é a definitiva. “O desfecho do processo depende ainda da defesa por parte dos envolvidos e da própria instituição”, observa. E informa que o atual reitor constituiu comissão para análise das obras auditadas pelo TCU. “Encaminhou, ainda, para o presidente do Conselho de Curadores, a solicitação para que a Auditoria Técnica da UFF realize uma auditagem especial dessas obras, a fim de resgatar a verdade dos fatos. Quaisquer indícios relativos a irregularidades em obras serão rigorosamente apurados”, diz o ofício. A reportagem sobre o caso no TCU pode ser lida em: http://portal.tcu.gov. br/imprensa/noticias/ obras-na-universidade-federal-fluminense-sao-fiscalizadas-pelo-tcu.htm.
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Jornal da ADUFF
NOTAS DA ADUFF Distância... A Pró-Reitoria de Graduação da Universidade Federal Fluminense, sob a responsabilidade do professor Renato Crespo, tem levado adiante a pretensão de expandir a modalidade de ensino a distância na instituição. O ofício encaminhado aos coordenadores de curso no dia 22 de maio passado tinha o objetivo de dar “continuidade à implementação da proposta de utilização das disciplinas do Consórcio Cederj nos cursos presenciais da UFF”. No prazo de uma semana, esses docentes deveriam preencher a documentação, conforme a resolução do CEP nº103/2015 e a Instrução de Serviço Prograd nº 002/2015, que orientam os procedimentos para o uso de disciplinas semipresenciais do Consórcio Cederj nas graduações da universidade.
...que nos separa O problema é que muitos docentes observam que a simples e imediata substituição de disciplinas presenciais por disciplinas a distância não atende às propostas pedagógicas dos cursos. Talvez se encaixem, ressaltam, na pretensão do governo de expandir vagas sem contratar professores e técnicos correspondentes às necessidades, de suspender concursos e de acabar com o abono permanência.
Cidade certa
Uma clínica do barulho...
rofessoras e estudantes que fazem estágio na Clínica de FonoaudioloP gia da UFF em Friburgo, que funciona
precariamente adaptada em casa alugada na cidade, defendem mudar de local e, de preferência, ocupar espaço dentro da universidade. A demanda é parte das reivindicações dos campi fora da sede, cujas comunidades universitárias vêm se organizando e realizou o II Encontro do setor justamente nesse agradável município serrano do Rio de Janeiro. Recentemente, obtiveram do diretor da unidade, Amauri Favieri, a sinalização de que isso seria possível – e prometem acompanhar os trâmites para que isso se concretize. Outra conquista, esta já assegurada segundo a administração local, é a calibragem de
aparelhos de trabalho, os audiômetros, adquiridos em 2013 mas até hoje não utilizados a espera desse serviço. O problema é que embora a clínica seja equipada com as cabines necessárias para tais exames, o barulho dos veículos que passam na avenida em frente produz ruídos que os inviabilizam. Equipe do Jornal da Aduff esteve na clínica para reportagem que será publicada em breve. Na foto acima, o flagrante de um caminhão em considerável velocidade que passa em frente ao local – deixando forte rastro de barulho. Tanto que, em certos momentos da entrevista com a professora Claudia Silva, a reportagem teve que pedir a ela que repetisse o que dissera, pois sua voz fora engolida pelo ronco de algum motor.
Onde está Sidney Pouco visto na universidade nos últimos meses, o reitor Sidney Mello esteve em Friburgo, ao lado do vice Antonio Claudio, para inauguração de laboratórios para uso da Odontologia, Biomedicina e Fonoaudiologia – embora docentes desta última ressalvem que as características desses laboratórios não atendam ao curso. A estrela do evento, porém, foi o microscópio eletrônico de varredura, equipamento de ponta recém-adquirido. Os laboratórios em questão foram constituídos a partir basicamente de recursos de projetos. Não foi dessa vez, ainda,
que o esperado Laboratório da Biomedicina foi entregue à comunidade universitária. Quando o Comitê Gestor esteve na unidade, em maio, o pró-reitor de Administração, Neliton Ventura, disse acreditar que em pouco mais de um mês ele estaria pronto. Desta vez, o diretor da unidade, Amauri Favieri, disse à reportagem que a expectativa é de que dentro de mais um mês as obras estejam concluídas. Em tempos de cortes orçamentários, não faltaram defesas durante o evento em Friburgo das polêmicas parcerias com o setor produtivo privado.
O reitor e a crise
A coluna errou na edição passada ao colocar o professor Marcio Malta, o Nico, na UFF em Rio das Ostras. Embora o professor tenha apreço especial por essa cidade da Região dos Lagos, cabe uma correção na informação: Nico é da UFF em Campos. Ele é autor das caricaturas, como a acima, da campanha do Andes-SN na qual filósofos pedem ao ministro Renato Janine que negocie. Também colabora com o Jornal da Aduff.
Último a falar no churrasco em Friburgo, o reitor fez referências diretas à Aduff e críticas indiretas à greve e às cobranças para que negocie a pauta interna de reivindicações. “Não sou provedor, eu não sou o caixa do governo”, alegou. Disse que a união entre reitoria e diretores de unidades está dando bons resultados. “Internamente nós queremos o que vimos aqui hoje, a construção de laboratórios...”. Disse que trabalha por uma “Universidade Federal Fluminense de olho no futuro”. E distinguiu a UFF de outras para enfrentar a crise. “Se unirmos agora
todo nosso capital humano, vamos dar um salto enorme que outras universidades do Brasil não têm capacidade de assumir”. Não disse diretamente o que isso significa em termos de recursos e orçamento, mas sinalizou: “[Defendemos uma universidade] pública, laica e gratuita, mas [temos] um entendimento que nossas indústrias têm que caminhar com o conhecimento de nossas universidades e não compradas de fora. Algumas pessoas preferem usar iPhone, o ideal seria ter um telefonezinho como os russos têm o deles”.
A missão Eleito pela comunidade acadêmica para o cargo, o diretor da UFF em Friburgo disse, na inauguração dos laboratórios, que os diretores de unidade devem representar o reitor. “Nossa missão aqui é representá-lo e a gente pensa que
representá-lo da melhor forma possível é estruturar a unidade da melhor forma possível”, disse Amauri, ao elogiar o trabalho da atual gestão, principalmente “na equalização das condições estruturantes dos polos do interior”.
Contra o assédio A luta contra o assédio moral no local de trabalho obteve um resultado surpreendente na Universidade de Campinas (Unicamp). Após denúncias dos sindicatos e três meses de discussões, o reitor José Tadeu Jorge assinou Termo de Ajuste de Conduta com o Ministério Público do Trabalho que prevê que a universidade receberá denúncias diretamente na Diretoria Geral de Recursos Humanos. Segundo o sindicato dos trabalhadores da Unicamp, a universidade será multada “caso permita a humilhação de trabalhadores”. O TAC menciona ainda a realização de uma pesquisa semestral entre os técnicos e docentes para aferir a qualidade de relacionamento entre chefias e subordinados. Os processos investigatórios devem correr com preservação e acompanhamento da possível vítima, e ser acompanhados pelos sindicatos (STU e Adunicamp).
Campo privado O estado do gramado do Maracanã chama atenção. É péssimo, ainda mais para uma ‘arena’ em que se gastou perto de R$ 1,5 bi públicos para Copa – em dias recentes anteriores ao ‘ajuste fiscal’, quando quem gritava contra a prioridade dos gastos apanhava da PM nas ruas. O motivo é simples: privatizado, é alugado até para peladas.
Em que mundo... O tom da maioria dos discursos em Friburgo, ouvidos por pouco mais de 40 pessoas, no qual supostos avanços nos campi do interior foram exaltados, contrastou com outro evento de perfil bem diferente que ocorrera alguns dias antes no mesmo local: o II Encontro dos Campi Fora da Sede, onde cerca de 150 professores, estudantes e técnicos, de todas as oito cidades onde a UFF está presente, debateram os problemas que vivem essas unidades desde a expansão do Reuni e que se agravaram com os cortes orçamentários. A professora Priscila Starosky, do departamento da Fonoaudiologia, citou o Encontro dos Campi Fora da Sede ao falar na atividade, após solicitar espaço para isso ao reitor. Disse que todo avanço é bem-vindo, mas destacou que há muitos problemas a serem resolvidos, como o déficit de professores e as limitações de logística.
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LUIZ FERNANDO NABUCO
‘As obras não estão paradas’, diz reitor Em entrevista ao Jornal da Aduff, Sidney Mello afirma que obras não estão paradas e que cortes atrapalham, mas não impedem funcionamento da UFF. Diz que está aberto ao diálogo, mas que relações estão ‘estremecidas’, não sabe quando receberá representantes sindicais e que Comitê Gestor o representa e tem poderes ‘absolutos’ O reitor da Universidade Federal Fluminense, Sidney Mello, concedeu entrevista ao Jornal da Aduff. Não estava prevista. Ocorreu em meio a um recente churrasco no campus da UFF em Friburgo, na Região Serrana do Rio, quando eram inaugurados laboratórios. Foram 16 minutos de conversa em pé, gravada, em alguns momentos ríspida – como quando o reitor pôs em dúvida se o repórter seria fiel às palavras dele. Não permitiu ser fotografado. Respondeu a todas as perguntas, entre elas os questionamentos sobre não receber os comandos de greve. Criticou a Aduff-SSind e, de tabela, a paralisação. Ao defender o Comitê Gestor, disse ser a favor dos colegiados. Mas minimizou a falta de reuniões do Conselho Universitário. A seguir, os principais trechos da entrevista ao jornalista Hélcio Lourenço Filho (a íntegra está em www.aduff.org.br). JORNAL DA ADUFF - Eu sou jornalista da Aduff. Pode dar uma palavrinha? SIDNEY MELLO - Depende... Bem, eu pergunto e o sr. responde como quiser. A primeira pergunta é como o sr. vê o problema dos cortes [no orçamento]? Todo corte eu vejo como extremamente lamentável, como todo cidadão brasileiro. Então eu não vejo de forma distinta porque eu sou reitor. Talvez eu veja de forma mais acentuada por ser reitor, do impacto forte para o ensino do país. Vejo como todo cidadão, da pior forma possível. Eu acho que a prioridade deve ser a educação, a despeito de qualquer limitação de recursos no país. O sr. vê dificuldade para o funcionamento da universidade diante desses cortes e com a perspectiva de mais cortes [em 2016]? É evidente que eu vejo dificuldades, mas não vejo impossibilidade de colocar a universidade funcionando. Nós já tivemos situações até muito mais agressivas de falta de recursos para a universidade e conseguimos, de forma unida,
de forma coesa, vencer esses obstáculos. A Reitoria tem alguma avaliação de qual vai ser o impacto em termos de cortes na UFF? Nós já divulgamos isso no conselho universitário. Todo o nosso orçamento tem sido divulgado para Aduff, sistematicamente. A Aduff é que quer ter a sua versão dos fatos, não a versão que nós colocamos, que é a versão verdadeira. Alguma perspectiva, por exemplo, de retomada das obras? Sim. Nós vamos pagar agora as obras do Instituto Biomédico, que não haviam sido pagas. Vamos reinaugurar o Instituto Biomédico, de preferência ainda esse ano, e vamos logo no início do ano que vem inaugurar a computação. O secretário de Ensino Superior declarou numa reunião no MEC que só uma obra no país estaria parada por falta de recursos... Nós não paramos as obras. Parar uma obra significa desativar o canteiro de obras. Isso teria um custo muito grande para nós, então não desativamos o canteiro de obras, nós simplesmente mantivemos algumas obras em condições mínimas, a partir de negociações com os empreiteiros. E a gente está com a perspectiva de que vamos conseguir recursos, não esmorecemos diante da perspectiva de recursos. Oficialmente as obras não estariam paradas? Oficialmente as obras não estão paradas. Mas na prática estão... Não, algumas obras têm gente no canteiro. Mas num ritmo muito lento. É claro, porque você só vai fazer na medida em que... É falta de recursos ou um problema interno da universidade? Não, é sempre a limitação de recursos para você colocar as obras [em andamento]. Pergunto isso porque a declaração do secretário do MEC acaba jogando nas costas dos reitores a responsabilidade [pela paralisação das obras], não? Não, não, depende de como ele vê. Nenhum reitor em sã consciência vai desativar um canteiro de obras, destratar uma obra.
Uma coisa que é muito cara aos comandos de greve é que não haverá contratações via organizações sociais. A Reitoria descarta isso? Eu já falei que qualquer movimento nesse sentido vai passar pelo Conselho Universitário, vai ser motivo de discussão com a comunidade. Mas qual é a opinião do reitor? A minha opinião é que de fato [essas] organizações vieram como alternativas do governo. Não necessariamente é algo que encontra ressonância nas universidades. Tanto é que não foram facilmente acolhidas pelas universidades e a Federal Fluminense continua nesse debate. A minha opinião em si tem pouco efeito. Mas é importante, não? As pessoas tendem a querer que o reitor seja o fiel signatário do que pensa todo mundo na universidade. Sou uma pessoa eleita pela universidade. Mas justamente por ser eleito existe uma cobrança dos comandos de greve de conversar com o senhor. Pretende conversar com os comandos de greve? Eu administro a universidade a partir de um comitê gestor, não administro sozinho. Existe um comitê, um conselho de gestores, que são as pessoas que têm interlocução efetiva dentro da execução da política da universidade. Elas estão orientadas pelos elementos que nos levaram à eleição, que fizeram com que as pessoas votassem na gente e esses elementos continuam presentes, eles não se alteraram. É uma forma de atuação política coletiva. Agora, recentemente a Reitoria anunciou que estaria suspendendo as negociações. Isso prossegue assim ou existe a intenção da Reitoria do diálogo? Com certeza. A Reitoria estará sempre aberta ao diálogo, desde que respeitem as nossas instituições, as nossas organizações, o direito de ir e vir das pessoas. No momento em que isso foi transgredido, nós suspendemos as negociações, nós não podemos consensuar a partir de falta de respeito. Sempre que houver falta de respeito, nós vamos suspender as negociações. Mas a falta de respeito seria
O reitor e o vice na UFF em Friburgo, na inauguração de laboratório o que, por exemplo? Colocar, no mastro da bandeira, a bandeira da CSP Conlutas, por baixo a bandeira da universidade. A ocupação do jardim da Reitoria sem um documento expresso... Chegou a haver um diálogo com o pró-reitor Túlio [que integra o Comitê Gestor], em relação à autorização... Diálogo às 17h, às 16h não é [diálogo]. Até porque a posição da reitoria é encaminhar ao Comitê Gestor as negociações. O sr. não acha que, a essa altura, nesse momento, não seriam questões menores para se romper uma tentativa de diálogo? Eu não estou dizendo que não vamos reabrir, eu estou só dizendo que a partir daquele momento nós suspendemos. Existem danos, tivemos depredações no nosso espaço, foi pichado o banheiro, foi fechado o centro de artes, as programações daquele dia foram totalmente paralisadas, tivemos danos no jardim da [reitoria]. Mas não houve nenhum obstáculo para a entrada [no Centro de Artes]... Mas ninguém se sentiu à vontade para entrar ali, tinham fogos, uma movimentação. Você sabe que ninguém de lá é afável, ninguém de lá conversa como eu estou conversando com você. Eu não tenho nem tanta confiança se você vai reproduzir exatamente o que eu estou dizendo. Não está havendo respeito, eu sou sindicalizado, hoje tem muita gente que não é sindicalizado na universidade, eu sou sindicalizado, sempre respeitei a Aduff e a Aduff, por algum acaso, resolveu mais recentemente romper com o nível de cordialidade que existia nas relações. Uma delas foi assumir para si o comando de greve e fazer as manifestações sem o controle total delas. E o
que houve na reitoria nesse dia foi falta de controle político. Com relação a esse problema do banheiro, parece que foi uma pichação no espelho, que a Aduff não sabe quem fez... Mas não interessa para mim, ela que fez a convocação... O sr. tem conhecimento que a Aduff enviou um documento no qual [observa desconhecer a autoria], mas se responsabiliza [pela limpeza]? Sim, é irrisório. No dia seguinte, a Luso Brasileira foi lá e limpou o banheiro, o custo do banheiro em si vai ser cobrado da Aduff e os outros custos que evidentemente se desdobraram dessa ocupação. Mas não houve depredação nenhuma... Houve. Tem buraco no chão, colocaram banheiro químico dentro do campus, sem solicitação, sem um pedido de fato. Se eu faço isso no espaço da Aduff, vocês vão chamar a polícia. Eu sou sindicalizado, mas se eu abrir aquela porta e colocar um banheiro químico no jardim da Aduff, vocês vão chamar a polícia – quem é esse cara que está querendo colocar aqui dentro banheiro químico sem pedir permissão? Mas o banheiro químico depois foi negociado com o pró‑reitor Túlio. O sr. acha que ele errou em negociar? Nada foi negociado comigo. O sr. acha que o [pró-reitor] errou em negociar naquele momento? Túlio não me passou nenhuma negociação. Túlio não reconhece nenhuma negociação. Com relação ao Conselho Universitário, há também uma crítica pelo fato de não haver quórum, de só ter havido uma reunião este ano e da ausência do reitor, que é presidente. Isso é um problema? Continua na página 8
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Continuação
Eu acho que é um problema a universidade estar paralisada, querer que os professores que participem do CUV, que alguns não estão mobilizados o suficiente nem para ir ao CUV. E é ainda mais problemático querer me responsabilizar pelas ausências do CUV. Eu não fui ao CUV algumas sessões, algumas eu viajei pelo governo, pela Capes, recentemente. Fui a uma reunião da Andifes para tratar de recursos, todas as últimas quartas-feiras do mês são as reuniões ordinárias da Andifes, você pode checar. Nós estamos num movimento ainda de acomodação de coisas. Acomodação da gestão... Não, acomodação de coisas em nível de assumirmos. Teve uma greve e os professores não vão ao conselho, o que eu posso fazer? Mas essa questão é de antes da greve, não? Só uma reunião este ano com quórum... É? Pergunta aos professores, não a mim, eu sou o presidente do conselho. O sr. foi vice na gestão passada. Eu mesmo presenciei uma sessão em que o ex-reitor [Roberto Salles] fez críticas até de uma certa forma duras da sua gestão. Como sr. vê isso? Eu acho que ele é livre para fazer crítica a quem quiser, quando quiser. Ele é um professor da casa e ele pode fazer o que ele quiser. Ficou estremecida as relações de uma gestão com a outra? Eu não tenho estremecimento nenhum de nada, nem com a Aduff, eu sou sindicalizado, não tenho estremecimento com ninguém. Então podemos anunciar aqui que o sr. vai receber o comando de greve? Não, não. Antes eu vou ter que avaliar os danos que a universidade teve de fato, e voltar a colocar isso na mesa, porque existem danos, tivemos um desgaste muito grande para a Aduff, no meio dos professores. Mas os comandos de greve não envolvem só a Aduff... Mas a Aduff é que chamou para essa reunião e perdeu o controle dela. Eu vou repetir, o reitor é uma pessoa eleita que trabalha com um grupo de pessoas, de forma coordenada. Você falar com o Comitê Gestor é a mesma coisa que falar com o reitor. O Comitê Gestor tem poder de decisão? Tem poder de decisão. Absoluto.
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Modelo para Levy, Espanha reduziu salários e demitiu servidores Criticada por brasileiros e espanhóis, declaração do ministro sobre crise espanhola na qual famílias perderam casas para bancos - mostra até onde pode ir o ajuste fiscal Aline Pereira Da Redação da Aduff
“Vocês sabem o que aconteceu com a Espanha?”, perguntou a professora Nina Tedesco, do Curso de Cinema e Audiviosual da UFF, na assembleia do último dia 10. “Arrocho econômico, demissão dos funcionários públicos – que se achavam estáveis, que tinham assumido compromissos para uma vida, e que foram varridos. Índice de desemprego de aproximadamente 20% – taxa que aumenta ainda mais entre os jovens”. Ela se referia à recente declaração elogiosa do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, à política econômica de austeridade fiscal da Espanha, que, para ele, deve ser tomada como referência de sucesso para o Brasil. A declaração de Levy indignou quem conhece de perto as consequências do ‘ajuste fiscal’ na Espanha. É o caso de Aline Cury, 39 anos, brasileira naturalizada espanhola, há mais de dez anos. “O ‘ajuste’ nos levou à redução dos salários e aumento da jornada para funcionários públicos, aumento do imposto de renda, imposto sobre propriedade, congelamento de pensões, cortes em investimentos na saúde e educação, retirada da gratuidade de medicamentos básicos, fechamento de urgências médicas, entre outros malefícios para a população”, relata. Fotógrafa e design, ela ainda procura por trabalho e diz que a política de austeridade econômica europeia não pode ser tomada como modelo. “No início da crise europeia, em 2009, perdi o meu emprego. A empresa aplicou um ‘Expediente Regulatório de Emprego’, medida que lhe permite demitir sem ter prejuízos, reduzindo o número de funcionários pela metade. E a situação econômica só piorou, com aumento de impostos e dos preços da comida, transporte público, luz, água e gás”, diz. Para ela, é evidente o empobrecimento da Espanha. A população em situação de rua aumentou, o desemprego é alarmante. “O governo diz que o país tem gera-
do emprego, mas é mentira. Como a Espanha é destino turístico, principalmente no verão acontecem mais contratações. Entretanto, não se revela que essas vagas são temporárias e com remuneração, muitas vezes, inferior ao salário mínimo oficial”, conta. “Há ofertas de emprego, com carga horária de 40h semanais, por 450 euros. Algumas amigas trabalham de forma precarizada e recebem entre 8 e 10 euros a hora de trabalho, embora a lei afirme que não se possa pagar menos de 21,62 euros por ela. Fato é que o governo faz vista grossa para beneficiar empresários”, complementa. Segundo Aline Cury, o custo de vida é muito alto no país e os salários pagos não correspondem às necessidades básicas da população. Para que se tenha uma ideia, o aluguel na Espanha vale em média 500€. E o transporte urbano é caro: um bilhete de trem, ida e volta, da região de Caldes d´ Estrac, onde mora, para Barcelona – 43km distantes – custa 8,20€ (R$36). Uma simples viagem de ônibus não sai por menos de 2,15€ (R$9). A população sofre as consequências do sucateamento dos serviços públicos. “Meu sogro perdeu uma ajuda que recebia do governo para cuidar da esposa, hoje incapaz – o que pesou muito, já que a pensão como aposentado é muito baixa. Ambos necessitam dos hospitais, mas o número de funcionários e médicos foi reduzido, seto-
res inteiros fecharam e eles aguardam cerca de cinco horas por atendimento”, diz, revelando cenário comum aos brasileiros, mas inexistente na Espanha até a adoção das medidas aplaudidas por Levy. É um ‘austericídio’, diz professor espanhol O espanhol Luis Felipe Rivero Garvía fez o caminho inverso de Aline. Hoje, vive no Brasil e leciona no Departamento de Análise, do Instituto de Matemática e Estatística da UFF. E também tem visão crítica da política fiscal do país, que despejou famílias, endividou trabalhadores. Muitos, afirma, quando têm um teto, não conseguem arcar com as contas de luz, e ficam sem água quente ou calefação durante o rigoroso inverno (com temperaturas de -5ºC), sem dinheiro para comida ou remédios. “Os cortes no orçamento social não melhoram a situação da população. A austeridade é realmente um ‘austericídio’ porque leva a sociedade a uma situação ruim, desigual e limite. As experiências da Grécia ou da Espanha são muito ruins e o Brasil deveria recusar esse modelo, onde o lucro é privatizado e as perdas são socializadas”, problematiza. Ele explica que as dívidas desses países continuam aumentando, sendo um negócio bem lucrativo para bancos e grandes empresas, que se beneficiam com a redução das condições e dos direitos dos trabalhadores. “Na Espanha, houve redução
de 10% no salário dos funcionários públicos. Eles não receberam o 13º salário em 2012. No setor privado, uma contrarreforma do emprego foi aprovada privilegiando as empresas. Os trabalhadores podem ser demitidos por ficar doentes por oito dias em um período de dois meses consecutivos ou 20 dias em um período de quatro meses não consecutivos, mesmo que tenham atestado médico”, revela. Segundo o docente, essas medidas draconianas não pouparam a Educação, com demissão de docentes. “Em 2011, foram embora cerca de 2.500 professores no ensino médio e fundamental. Em 2012, 600 professores universitários de 20 horas, somente na Cataluña, ficaram sem trabalho”, conta. “A política fiscal espanhola ocasionou o aumento do valor das inscrições (matrículas), a redução das bolsas para os alunos e de custeio dos livros, dos cursos de idiomas no exterior (que passaram de 22 milhões de euros em 2012 para 450 mil em 2013)”, diz. “Outro agravante foi o aumento da quantidade de alunos por aula na educação básica e média, o que provocou a sobrecarga do horário de trabalho desses professores, acabando com o limite máximo de 25 e 21 horas de aula, respectivamente no ensino básico e no ensino médio, conforme a lei. Esses horários passaram a ser o mínimo que os docentes precisam ficar nas aulas”, acrescenta. Felipe Rivero também afirma que houve um corte de 37%, entre 2010-2013, no orçamento dos projetos de pesquisas. Em 2011, diminuíram as bolsas de pós-doc de 640 para 300 – redução de mais de 50%. “Elas foram criadas para que os pesquisadores espanhóis destacados pudessem voltar para o país com uma estabilidade, mas muitos deles tiveram que sair de novo. É absurdo o caso de uma pesquisadora em Física que, depois de cinco anos com uma bolsa pós-doc, não conseguiu um emprego na Espanha, obtendo uma vaga na Nasa. Como uma pesquisadora tem lugar na Nasa e não na Espanha?”, questiona.