Boletim adufpb 148 outubro 2016

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BoletimADUFPB

EDIÇÃO

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OUTUBRO/2016

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - JOÃO PESSOA - PARAÍBA www.adufpb.org.br - adufpb@terra.com.br

Frente Paraibana Escola Sem Mordaça divulga nota sobre a MP do Ensino Médio A Frente Paraibana Escola Sem Mordaça, da qual a ADUFPB faz parte, divulgou nota à sociedade repudiando a proposta de reforma do Ensino Médio imposta pelo Governo Federal por meio da Medida Provisória 746/16. Uma das críƟcas que a enƟdade faz é ao fato de não ter havido qualquer consulta à sociedade, e principalmente aos profissionais de educação, para elaboração das mudanças, ficando evidente a intenção do governo de arƟcular essa iniciaƟva com as demais ações de desmonte dos serviços públicos e de confisco dos direitos. Em relação ao conteúdo da MP, a Frente Paraibana criƟcam a formação de um modelo mais ligeiro e heterônomo, que

reduz a possibilidade de atuação da escola como espaço para o exercício da cidadania plena, críƟca e autônoma. SOBRE A FRENTE - A Frente Paraibana Escola Sem Mordaça foi lançada no dia 11 de agosto, em aƟvidade com palestra e debates realizada no Centro de Vivência do campus I da UFPB. A iniciaƟva é fruto de uma proposta nacional que tem como objeƟvo mobilizar a sociedade contra os projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional e criam o mecanismo da “Escola sem ParƟdo”, censurando o livre debate em sala de aula. Leia a nota na íntegra na página 2.


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FRENTE PARAIBANA EM DEFESA DA ESCOLA SEM MORDAÇA

A contrarreforma do ensino médio pela MP 746/16 O atual Governo Federal, no exercício pleno de sua ilegiƟmidade, busca impor, mais uma vez, mordaças à Educação e à Escola brasileiras, ao tomar a iniciaƟva de editar a Medida Provisória (MP) 746/16, com a finalidade de introduzir profundas - e graves - alterações no Ensino Médio, úlƟma etapa da Educação Básica. Sem a pretensão de apresentar uma análise exausƟva da MP 746/16, gostaríamos de destacar, nessa primeira abordagem, alguns aspectos bastante preocupantes nela conƟdos. Em primeiro lugar, cabe um registro severamente críƟco à forma adotada pelo Governo para tratar da temáƟca. O caráter imposiƟvo da adoção de um instrumento como a MP é claramente anƟdemocráƟco. Mudanças no sistema educacional não podem prescindir, sob qualquer hipótese, de um debate prévio amplo, que envolva, na condição de protagonistas, os profissionais da educação e os estudantes, por intermédio de seus movimentos próprios e de suas enƟdades representaƟvas. Por conseguinte, nesse procedimento, fica evidente a intenção governamental de, uma vez mais agindo autoritariamente, arƟcular essa iniciaƟva com as demais ações de desmonte dos serviços públicos e de confisco de direitos da imensa maioria da população brasileira, em favor de uma políƟca claramente voltada para os interesses da representação social do capital renƟsta, das quais são exemplos, o PLP 257/2016/ PLC 54/2016, a PEC 241/2016(ajuste fiscal e confisco de direitos), dentre outros. E, desse modo, fica níƟda a primeira mordaça trazida pela MP: a da exclusão, daqueles que são efeƟvamente, os sujeitos da sua efeƟvação, do debate e do subsequente processo decisório sobre os desƟnos do Ensino Médio no Brasil. No que tange, especificamente, à análise do conteúdo da MP, as medidas de alteração da atual configuração do Ensino Médio apontam, niƟdamente, para uma formação educacional ainda mais aligeirada e heterônoma, minimizando, ainda mais, a possibilidade de atuação da escola como espaço de qualificação para o exercício de uma cidadania plena, críƟca e autônoma, ao organizar a reparƟção do tempo pedagógico entre as cinco áreas de conteúdo (Linguagens, Ciências Sociais, Ciências Naturais, MatemáƟca e Formação Profissional, essa úlƟma, trazida pela MP como a grande inovação valorizadora do Ensino Médio), de acordo com o “contexto” no qual a escola se insere. Seria esse contexto a retomada dos velhos “arranjos produƟvos locais” dos PCN e, portanto, da subordinação exclusiva às demandas do mercado? O tempo integral das Escolas de Ensino Médio, na visão trazida pela MP, será construído a parƟr de seu direcionamento pelos interesses dos setores sociais dominantes do mercado, reintroduzindo, de modo aprofundado, a lógica, já presente no Plano Nacional de Educação atualmente em vigor, de que as

parcerias público-privadas(PPP) conformam “novo” modelo de educação pública. Tal modelo, a vigorar no contexto de vigência das medidas trazidas pela PEC 241- o congelamento dos invesƟmentos públicos por 20 anos inclusive em Educação - significará que os invesƟmentos para a ocorrência do tempo integral nas escolas públicas do Ensino Médio poderão vir das PPP, com desƟnação e conteúdos estabelecidos pela parte invesƟdora - a iniciaƟva privada. Se acrescentarmos, aos elementos já mencionados acima, a reversão da obrigatoriedade do ensino de artes e educação İsica trazida pela MP, podemos ver que ela representa, em moldes atualizados, uma retomada do modelo educacional dual, velho conhecido nosso - lembremo-nos da ConsƟtuição Federal de 1937 e da Lei 5692/1971- no qual o desƟno do estudante está definido em seu nascimento e a escola seria nada além de um instrumento de reforço dessa fatalidade: aos (filhos dos) ricos, a preparação para o exercício da liderança na sociedade, aos (filhos dos) pobres, um adestramento para o exercício dócil do trabalho de interesse do capital - e, de acordo com a MP e em clara consonância com a proposta de redução da maioridade penal, isso deve acontecer tão cedo quanto possível (no início do Ensino Médio, aos 14, 15 anos de idade). E, aqui, se exibe, em toda sua pujança, a segunda mordaça da MP: a condenação à impossibilidade de qualquer mobilidade social que pudesse ser catalisada pela escolarização. Ainda em termos do conteúdo da MP, cabe, por fim, mencionar os termos e as propostas absolutamente desrespeitosos em relação à aƟvidade do magistério e aos Cursos de Licenciatura, ao ser proposta a insƟtucionalização da admissão de pessoas com notório saber para ministrar aulas. A docência, na condição de profissão, exige formação específica para seu desempenho. Num chiste, que seria cômico se não fosse trágico, é possível dizer que, afinal, programas como o “Amigos da Escola” – patrocinado pela fundação Roberto Marinho, das Organizações Globo -, dentre outros, estará fazendo a escola, no novo Ensino Médio trazido pela MP 746/16. E, nessa perspecƟva, é possível idenƟficar uma terceira mordaça da MP: sobretudo para os docentes uma mordaça que reúne desprofissionalização, desqualificação e, consequentemente, precarização do seu trabalho. Portanto, sem prejuízo da necessidade de aprofundamento das análises sobre o tema, esta Frente posiciona-se frontalmente contra a MP 746/16, manifestando seu REPÚDIO ao referido documento legal. Em 27/09/2016 FRENTE PARAIBANA EM DEFESA DA ESCOLA SEM MORDAÇA

Boletim produzido pela ASCOM/ADUFPB. Jornalistas responsáveis: Renata Ferreira e Ricardo Araújo. Revisão: Nana Viscardi.


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