4 minute read
Cap 13: As mulheres sempre trabalharam
As mulhere s sempre trabalharam
Irene Rocha nasceu em uma pequena localidade chamada Igarapé Grande, no Maranhão. Era 1943, e graças ao trabalho dos pais no ramo de farmácia, ela e os 12 irmãos puderam ter uma vida confortável, e acesso à educação. Quando concluiu a etapa escolar disponível onde morava, partiu para Teresina, PI, e, depois, para São Paulo, onde cursou magistério; sempre estudando em colégios particulares.
Advertisement
Foi através de uma prima, com quem ela morou por cerca de quatro anos, que Irene conheceu Zirnaldo Rocha, com quem ela se casou anos depois. Também sozinho em São Paulo, ele tinha interesse em aprender sobre a Bíblia, desde que dividiu apartamento com alguns estudantes de Teologia.
Assim que terminou o magistério, Irene foi para Bahia onde moravam os futuros sogros, com a intenção de assumir uma vaga de professora até a data do casamento, marcado para uns seis meses à frente. Neste período, Zirnaldo, que havia ficado em São Paulo, decidiu ser batizado, mas Irene só tomaria a mesma decisão cerca de dois meses após o casamento, ocorrido em 1966.
Morando na Bahia, atuando como professora enquanto Zirnaldo trabalhava em uma fábrica, a vida seguia tranquila até que ele começou a expressar o sonho de estudar Teologia em Recife, no ENA (Educandário Nordestino Adventista). Já com dois filhos, partiram para o desconhecido, confiantes que poderiam contar com o salário fruto do trabalho de Irene, enquanto Zirnaldo se dedicava aos estudos. Era 1971 e, para auxiliar a renda familiar, nas férias ele vendia livros na colportagem.
Em 1975 veio o primeiro chamado para o Recife, e eles mudaram de distritos pastorais algumas vezes, na mesma cidade, até que Zirnaldo assumiu a direção de um departamento na sede regional da igreja, chamada Missão Nordeste. Irene foi convidada para atuar na gerência administrativa da Clínica Adventista na cidade, onde teve a oportunidade de se aproximar um pouco mais da área de interesse desde a infância.
Na época em que Irene nasceu, os farmacêuticos tinham uma atuação mais ampla no atendimento de doenças e acidentes, sendo muitas vezes o único suporte de saúde em uma região. Ainda criança, Irene começou a sonhar em ser uma médica, mas isto nunca foi realizado. Entretanto, atuando em diversos setores da clínica, não especificamente atendendo pacientes, ela pode vivenciar um pouco dos avanços que a medicina havia adquirido naqueles anos. Esta experiência se somou ao sonho, e foi extremamente relevante anos depois, no ministério desenvolvido no estado do Espírito Santo.
Tanto nas igrejas de Recife quanto em Belo Horizonte, por onde passaram, Irene teve um comportamento bastante atuante como esposa de pastor; sempre foi envolvida em atividades ligadas ao Departamento Jovem e, principalmente, as Dorcas - departamento que antigamente coordenava as ações sociais dos adventistas e que, atualmente, se chama Ação Solidária Adventista. Sempre bastante criativa e animada, Irene desenvolvia gincanas e outras atividades que pudessem mobilizar os membros em grupos. Em Belo Horizonte, Irene voltou à sala de aula e se tornou Técnica em Nutrição.
Chegando a Vila Velha, ES, Irene notou que havia uma sala da igreja que não estava sendo utilizada. Inicialmente projetada para atender as crianças do Rol do Berço, estava vazia porque as mães utilizavam outro espaço no templo que, por ser cercado por vidros, permitia a elas que assistissem aos cultos enquanto cuidavam das crianças.
Irene teve a ideia de iniciar um trabalho médico-missionário, com apoio das dorcas, e desta forma, por algum tempo as pessoas da comunidade puderam ter atendimento com clínico geral, pediatra e ginecologista. Pouco tempo depois, Irene trabalhou como nutricionista no Hospital Adventista de Vitória.
Quando foram transferidos de distrito, Irene assumiu a Secretaria de Ação Social a convite da prefeitura, e iniciou um relevante trabalho na área de combate à desnutrição infantil. Entre 1976 e 1993 a LBA (Legião Brasileira de Assistência) coordenava um trabalho nacional, realizado nas sedes municipais, para redução dos índices de mortalidade infantil, ocasionados pela pobreza e desnutrição, e era Irene quem implantava as iniciativas na cidade.
Não demorou muito para que a oficialização iminente do Ministério da Mulher se tornasse notícia no Brasil. A sede mundial da Igreja havia definido diretrizes orientando a todas as associações e uniões para terem uma líder dedicada em tempo integral ao trabalho feminino. Era, enfim, a formalização da iniciativa que, por volta de 1900, havia sido interrompida com a morte da idealizadora, Sarepta Henry.
Irene foi convidada a assumir a liderança do MM na Associação Espírito Santense, inicialmente atuando como voluntária, durante nove meses. Havia uma dificuldade de entendimento e certa oposição por parte de alguns líderes no início do trabalho, mas não havia como negar que as mulheres sempre trabalharam para Deus.
Porém, por parte das mulheres, Irene recebia entusiasmo e interesse em aprender em cada lugar que passava. A cada programa realizado era maior o número de participantes, e as mulheres passaram a coordenar programas também nas igrejas locais. Irene percorria o Estado realizando congressos, seminários e palestras, levando especialistas convidados, e entregando materiais de apoio para as mulheres.
Da mesma maneira que demorou para que Irene fosse assalariada pelo trabalho, custou também para ter um orçamento para as ações, e, muitas vezes ela precisou recorrer a caronas para estar em eventos previamente agendados. A criatividade inata e aprimorada nos anos de ministério era a principal ferramenta para os grandes encontros, sempre com encenações, cores e movimento.
Perto da aposentadoria, quando deixou de ser líder do Ministério da Mulher, Irene assumiu a Secretaria Executiva da Ouvidoria Parlamentar da Câmara dos Deputados no Espírito Santo. Mesmo assim, nunca deixou de participar de eventos ligados ao Ministério da Mulher, inclusive no exterior.
Em 2005, após a jubilação (aposentadoria) do esposo, o casal passou a se dedicar integralmente à família.