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PERSPECTIVA
O CULTO NÃO SERÁ MAIS O MESMO O IMPACTO DO NOVO CORONAVÍRUS EM NOSSO MODO DE SER IGREJA
GERALD KLINGBEIL
Já não vou à igreja há muitas semanas. Isso não é algo que se espera ler nesta revista. E, pelo fato de ter nascido e crescido numa família adventista, ir ao templo aos sábados de manhã faz parte do meu DNA há mais de 50 anos.
A pandemia mudou tudo isso. Ou nem tudo. Aqui em casa, por exemplo, há oito anos temos um grupo de estudo da Bíblia às terças-feiras à noite, que reúne de 10 a 15 pessoas. Porém, nesse período de quarentena, temos estudado com 30 pessoas virtualmente, por meio do aplicativo Zoom.
Embora muitos de nós ainda estejamos impedidos de nos reunir presencialmente, de alguma forma estamos experimentando parte da dinâmica do cristianismo primitivo. As reuniões virtuais têm preenchido o vazio deixado pelas restrições relacionadas com a Covid-19.
Nesse aspecto, nos assemelhamos aos primeiros cristãos. Os historiadores do cristianismo concordam em declarar que, durante a maior parte dos dois primeiros séculos após a morte de Cristo, a fé cristã foi vivida em igrejas domiciliares. Por exemplo, Atos 12:12 descreve um encontro de oração interecessora na “casa de Maria” pela libertação de Pedro. Por sua vez,
Paulo incluiu muitas saudações a indivíduos que organizavam cultos domésticos (1Co 16:19; Cl 4:15; Fl 2; Rm 16:5, 23). As igrejas domiciliares tinham a vantagem de proporcionar um espaço com mais intimidade, segurança e culturalmente apropriado.
Ao refletir sobre a pandemia e como ela pode nos ajudar a reconsiderar o que é adoração, permitam-me fazer quatro comentários sobre o momento atual: 1. A adoração não se restringe ao sábado de manhã. Ela não é apenas uma atividade litúrgica, bem-estruturada e restrita ao templo. Nós adoramos – individual e corporativamente – porque reconhecemos nossa necessidade de um Salvador. Apesar de sabermos disso, a pandemia tornou isso mais evidente. A adoração é uma forma de pensar e uma atitude, não um momento. 2. O culto precisa ter intimidade. Pequenos grupos virtuais ou presenciais oferecem essa vantagem em relação ao culto no templo. Embora eu goste muito do som do órgão e da harmonia dos corais, ainda dou mais valor à oportunidade de conhecer as alegrias e as lutas dos meus companheiros de adoração. 3. A adoração em grupos menores é um incentivo ao cuidado mútuo. É mais fácil eu assumir responsabilidade pela minha espiritualidade e cooperar para a edificação do outro participando de uma reunião domiciliar. Nesses contextos, a presença e a ausência das pessoas podem ser percebidas. Minha impressão é que precisamos de mais intimidade e responsabilidade no culto adventista e menos formalidade e distância. 4. As igrejas nos lares podem ser uma tendência. Talvez, quando a crise da Covid-19 estiver aparecendo apenas no espelho retrovisor, os cultos terão se fortalecido. Isso já ocorre onde há sérias restrições à liberdade religiosa e pode se tornar uma alternativa viável também para grandes centros urbanos, onde o preço dos imóveis é muito alto.
O que estou redescobrindo é que a igreja, com ou sem prédios, tem que ver essencialmente com viver com Deus e em união com os irmãos no senso de comunidade e de missão. ]
GERALD KLINGBEIL é editor associado da Adventist World