M E T A S P A R A O N O V O A N O /// E D U C A Ç Ã O A M B I E N T A L /// A L Ó G I C A D O S Á B A D O /// P E R F I L D E U M C A P E L Ã O
JANEIRO 2018
DISCURSO RADICAL
Exemplar avulso: R$ 2,67 | Assinatura: R$ 32,00
POR QUE OS ENSINOS CONTRACULTURAIS DE JESUS CONTINUAM DESAFIADORES
EDITORIAL
REVISTA ADVENTISTA INCORPORA CONTEÚDO INTERNACIONAL E MULTIPLICA A TIRAGEM MARCOS DE BENEDICTO
Vivemos em tempos de grandes incertezas e mudanças. Em momentos assim somos desafiados a apostar na criatividade, na inovação e na superação. E nada melhor do que aproveitar a virada do ano para sonhar com transformações. A mudança de calendário é uma boa oportunidade para zerar certos hábitos e iniciar novos padrões de comportamento. Por isso, as pessoas gostam de elaborar listas de promessas, que são fáceis de fazer, mas difíceis de cumprir. A maioria das decisões de ano-novo pode ser resumida em coisas para fazer “mais” e outras para fazer “menos”. Entre as resoluções do tipo “mais” estão exercitar mais, ler mais, voluntariar-se mais, ser mais consciente, viajar mais, poupar mais, doar mais, orar mais, ler mais a Bíblia, agradecer mais, confiar mais, passar mais tempo em contato com a natureza, “curtir” mais a família. Entre as resoluções do tipo “menos” estão comer menos, preocupar-se menos, gastar menos, assistir menos TV, perder menos tempo, procrastinar menos, ser menos perfeccionista, criticar menos, errar menos. As listas de resoluções variam de pessoa para pessoa, mas todas deveriam incluir aquilo que dá sentido à vida: amor, esperança, fé, integridade, paz, respeito, serviço... Precisamos viver para glorificar a Deus e melhorar o mundo. Quando fazemos o que é correto e com amor, a vida ganha relevância. O foco no dever resulta em atribuição de significado, e o significado cria emoção, que gera motivação, que leva à ação, que traz satisfação. Nesse nível, você não faz algo para viver, mas vive para fazer algo. Entretanto, as mudanças vão além do âmbito pessoal. Aproveitando a passagem de ano, estamos promovendo uma
O TRADICIONAL PERIÓDICO ADVENTISTA TERÁ MAIS DE 160 MIL EXEMPLARES MENSAIS GRAÇAS À LIDERANÇA VISIONÁRIA DA IGREJA
MARCOS DE BENEDICTO é editor da Revista Adventista
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NOVO ANO, NOVOS PROJETOS
reformulação na Revista Adventista, que passará a publicar matérias da Adventist World, periódico mantido pela Associação Geral. As duas revistas têm o mesmo propósito, o mesmo públicoalvo e uma linha editorial parecida. Por isso, a ideia de uni-las já vinha sendo discutida há algum tempo. Mas como fazer isso sem que a tradicional Revista Adventista perdesse sua identidade? A solução foi incorporar o conteúdo da Adventist World dentro do projeto gráfico do nosso periódico. A partir de agora, a revista terá um toque mais internacional, inclusive com uma coluna assinada pelo presidente mundial da igreja. A unificação das revistas exigiu também ajustes na Revista Adventista. As seções Boa Pergunta e Bem-estar, por exemplo, serão preparadas pelos colaboradores da Adventist World, assim como a matéria sobre as crenças fundamentais. A seção para as crianças, uma novidade, poderá ser traduzida ou preparada pela nossa equipe. O sistema de distribuição também mudou. A Revista Adventista será patrocinada pela Casa Publicadora Brasileira, as Uniões e as Associações, sendo entregue nas igrejas. A essas instituições o nosso profundo agradecimento. Assim, a tiragem subiu para mais de 160 mil exemplares! Você pode pedir seu exemplar ao pastor local. No entanto, quem quiser garantir sua revista poderá fazer a assinatura. Não deixe de receber essa bênção espiritual. Com um design moderno e arejado, a revista ficou mais leve. Houve um aumento no número de seções, equilibrando melhor temas teológicos e inspiracionais, porém as matérias estão mais enxutas. E a ideia é incluir assuntos para jovens e crianças, a fim de fortalecer as famílias e motivar as novas gerações. Nosso compromisso é continuar trabalhando duro para entregar aos leitores uma boa publicação. Com a revista repaginada e o senso do dever cumprido em 2017, nossa equipe lhe deseja um feliz 2018. ]
Jan. 2018
No 1329
Janeiro, 2018
Ano 113
www.revistaadventista.com.br
Publicação Mensal – ISSN 1981-1462 Órgão Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia no Brasil “Aqui está a paciência dos santos: Aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus.” Apocalipse 14:12 Editor: Marcos De Benedicto Editores Associados: Márcio Tonetti e Wendel Lima Conselho Consultivo: Ted Wilson, Erton Köhler, Edward Heidinger Zevallos, Marlon Lopes, Alijofran Brandão, Domingos José de Souza, Geovani Souto Queiroz, Gilmar Zahn, Leonino Santiago, Marlinton Lopes, Maurício Lima e Moisés Moacir da Silva
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Um novo jeito de viver
O futuro do planeta e das pessoas
No ritmo de Deus
Os súditos do reino de Deus devem ser humildes e pacificadores
Projeto Gráfico: Eduardo Olszewski Ilustração da capa: Carl Bloch
Adventist World é uma publicação internacional produzida pela sede mundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia e impressa mensalmente na África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Áustria, Brasil, Coreia do Sul, Estados Unidos e México v. 14, no 1 Editor: Bill Knott Editores associados: Lael Caesar, Gerald Klingbeil, Greg Scott Editores-assistentes: Sandra Blackmer, Stephen Chavez, Costin Jordache, Wilona Karimabadi (Silver Spirng, EUA); Pyung Duk Chun, Jae Man Park, Hyo-Jun Kim (Seul, Coreia do Sul) Gerente Financeiro: Kimberly Brown Gerente Internacional de Publicação: Pyung Duk Chun
A educação ambiental tem que vir acompanhada do combate à pobreza
A lógica do sábado pode redefinir a rotina da vida
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Legado ecológico
Voando para meu passado
Mentor de missionários
O perdão de Deus e as consequências das escolhas humanas
Conheça a história do capelão universitário que inspirou muitos alunos
Ellen White via a natureza como um presente de Deus que precisa ser cuidado
Arte e Design: Types & Symbols
SUMÁRIO
Gerente de Operações: Merle Poirier Conselheiros: Mark A. Finley, John M. Fowler, E. Edward Zinke Comissão Administrativa: Si Young Kim, Bill Knott, Pyung Duk Chun, Karnik Doukmetzian, Suk Hee Han, Yutaka Inada, German Lust, Ray Wahlen, Juan Prestol-Puesán, G. T. Ng, Ted N. C. Wilson
2 EDITORIAL
32 VISÃO GLOBAL
42 COMUNICAÇÃO
Rodovia Estadual SP 127 – km 106 Caixa Postal 34; CEP 18270-970 – Tatuí, SP Fone (15) 3205-8800 – Fax (15) 3205-8900
4 CANAL ABERTO
34 NOVA GERAÇÃO
43 SOLIDARIEDADE
SERVIÇO DE ATENDIMENTO AO CLIENTE LIGUE GRÁTIS: 0800 9790606 Segunda a quinta, das 8h às 20h Sexta, das 8h às 15h45 / Domingo, das 8h30 às 14h
5 BÚSSOLA
35 PRIMEIROS PASSOS
44 EDUCAÇÃO
6 ENTREVISTA
37 PERSPECTIVA
45 MEMÓRIA
8 PAINEL
38 BEM-ESTAR
46 EM FAMÍLIA
17 GUIA
39 BOA PERGUNTA
47 PÁGINAS DE ESPERANÇA
28 DEVOCIONAL
40 RETRATOS
50 ESTANTE
30 MINHA HISTÓRIA
41 LIBERDADE RELIGIOSA
CASA PUBLIC ADOR A BRASILEIR A Editora da Igreja Adventista do Sétimo Dia
A opinião de quem lê A escolha certa
Diretor-Geral: José Carlos de Lima Diretor Financeiro: Uilson Garcia
Hora de recomeçar
Redator-Chefe: Marcos De Benedicto Gerente de Produção: Reisner Martins Gerente de Vendas: João Vicente Pereyra
Datas, números, fatos, gente
Chefe de Arte: Marcelo de Souza Não se devolvem originais, mesmo não publicados. As versões bíblicas usadas são a Nova Almeida Atualizada e a Nova Versão Internacional, salvo outra indicação. Exemplar avulso: R$ 2,67 | Assinatura: R$ 32,00
Cuide da sua saúde no verão Natureza imperfeita
Números atrasados: Preço da última edição. Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem prévia autorização escrita do autor e da Editora.
Tiragem: 160.000
Novo ano, novos projetos
5824/37495
O rugido do leão
Avance sem medo
Conhecer a Deus pessoalmente Enfrentando o calor
O instinto da compaixão Ambiente saudável Lei sem legalismo
O drama da seca na Bolívia
Evangelho na tela
Mais do que alimento Formação pastoral Dormiram no Senhor Precisa-se de férias Caminho a Cristo
Segredos revelados
Proibido pregar
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CANAL ABERTO ASSIM QUIS DIZER O SENHOR
Os leitores da Revista Adventista estão sendo agraciados com boas matérias teológicas, a exemplo do artigo da capa e do editorial da edição de dezembro. O principal objeto de disputa no conflito cósmico entre Deus e Satanás é a correta interpretação das Escrituras. Satanás tem sua própria hermenêutica, cuja base é contrariar e contrafazer tudo o que Deus cria ou planeja fazer. Desde o jardim do Éden, o inimigo tem confrontado o “Assim diz o Senhor” (Gn 3:4), contrariando qualquer doutrina ou ensino bíblico. Essa é a razão para a existência de milhares de denominações religiosas no cristianismo. Graças a Deus pelo fato de o adventismo ter uma “luz menor”, o dom profético de Ellen White, para nos auxiliar na interpretação da Bíblia, a “luz maior”. Manuel Xavier de Lima / Engenheiro Coelho (SP)
DO OUTRO LADO DO MUNDO
Identifiquei-me com a história relatada na edição de dezembro sobre a influência que o livro Ainda Existe Esperança exerceu na vida de uma pessoa no Japão. Esse também foi o livro que um dia alguém deixou na garagem da minha casa e mudou completamente minha vida. Meu sentimento é de gratidão! Teka Isabel / Via Facebook
E O NATAL?
Esperava mais espaço para uma reflexão sobre o Natal na última edição da Revista Adventista. O texto “Natal sem Cristo”, publicado na última página do periódico, parece expressar o que senti quando folheei a edição. Não há nada mais bonito e confortante do que no fim do ano ver imagens, ler artigos e escutar músicas sobre o Natal. É como se descansássemos na esperança de um Salvador que sabe quanto sofremos durante o ano e que nos lembra de que é Emanuel, Deus conosco. Márcio Gomes Basso / São Paulo (SP)
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RAÍZES DA NOSSA HISTÓRIA
O antigo Israel foi incentivado a olhar para o passado a fim de lembrar da maravilhosa atuação de Deus na história do Seu povo. Foi o que a Revista Adventista de dezembro fez ao entrevistar o pastor Link. Como leitor me senti privilegiado em ter acesso a essas informações históricas, fruto de uma pesquisa acadêmica impecável. Espero que essa dissertação de mestrado seja traduzida para o português e que vire um livro muito em breve! Renato Gross / Via e-mail
SETENTA VEZES SETE
Fiquei um pouco preocupado com alguns argumentos expressos pelo Dr. Roy Adams no artigo “Setenta vezes sete”, na edição de dezembro. Embora ele tenha emitido conceitos importantíssimos e ilustrado a importância do perdão com histórias bem impactantes, deu a entender que a ordem do Mestre de perdoar não se aplica a todos os casos, além de i nsinuar que, dependendo da gravidade da ofensa, o perdão não é
necessário e a vingança pode ser aceitável. Ele ainda citou um texto de Ellen White fora do contexto para justificar seus argumentos. Ainda que concordemos com ele de que a oferta do perdão não isenta o culpado de responder perante a Justiça, ele se esqueceu de enfatizar que a vingança pertence a Deus (Rm 12:9; Hb 10:30) e não a nós, que precisamos descansar na certeza de que o Juiz de toda a Terra fará justiça no tempo certo (Gn 18:25). Dário Gonçalves / São José dos Pinhais (PR)
AUTORIDADE EM XEQUE
Foi excelente a ilustração utilizada na introdução do artigo “Autoridade em xeque”, da edição de novembro. Essa história é um bom exemplo de como o orgulho pode nos cegar a ponto de querermos impor nossas ideias e vontades sem respeitar os outros. Percebo isso em algumas pregações ministradas por voluntários em que existe a tentativa de impor uma ideia sem fundamento doutrinário, o que apenas confunde os ouvintes e lhes debilita as crenças. Por isso, creio ser lamentável que poucas famílias tenham acesso à Revista Adventista, muitas vezes por falta de recursos. José Somolinos Herrero / Itapemirim (ES)
A IMPORTÂNCIA DA REVISTA
É um privilégio receber esta revista relevante. Agradeço também por “polirem” meus comentários, tornando-os mais sintéticos. Oro para que o Senhor desperte Sua igreja para a importância dessa revista. Lamento por tão poucos membros e líderes locais terem acesso a ela. Espero em breve ver outra edição como a de outubro, que em grande parte foi dedicada a um tema teológico abrangente. Paulo Roberto dos Santos / Hortolândia (SP) Expresse sua opinião. Escreva para ra@cpb.com.br. ou envie sua carta para Revista Adventista, caixa postal 34, CEP 18270-970, Tatuí, SP.
Os comentários publicados não representam necessariamente o pensamento da revista e podem ser editados por questão de clareza ou espaço.
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BÚSSOLA
A ESCOLHA CERTA
AO COMEÇAR O NOVO ANO, DECIDA FICAR AO LADO DO SENHOR, MESMO QUE SEJA NECESSÁRIO PAGAR UM ALTO PREÇO ERTON KÖHLER
A
Foto: Fotolia
o ouvir o nome de Moisés, o libertador, muitas histórias familiares possivelmente venham à sua mente. E ao escutar o nome de Tutmés III, o grande faraó, quais são suas lembranças? Talvez o máximo que você conheça sobre ele seja o que um professor de história falou na escola. Mas as duas histórias, além de importantes, estão relacionadas entre si. Vamos começar por Moisés. Desde pequenos, ouvimos a história do menino que nasceu condenado à morte e foi colocado no rio Nilo em um cestinho. Com essa atitude, Joquebede cumpriu a lei egípcia que exigia o sacrifício dos meninos no Nilo, “o qual era adorado como deus pelos egípcios, na suposição de que suas águas tivessem poder para conferir fertilidade e garantir vida longa”. A filha de faraó encontrou o bebê “como se fosse um presente do deus Nilo, em resposta às suas orações” (Dicionário Bíblico Adventista, p. 915). A partir desse encontro, ele foi preparado para a vida real e o seu próprio nome já indicava isso. Quando sua mãe adotiva o escolheu (Êx 2:10), ela possivelmente estivesse seguindo a tradição egípcia de incorporar a palavra més a nomes reais como Tutmés, Ramsés e outros. No dia a dia, esses nomes costumavam ser abreviados para “Mósis” ou apenas “Més”. Moisés passou apenas 12 anos com sua mãe biológica recebendo uma educação que o protegeu “de ser exaltado e corrompido pelo pecado e tornar-se soberbo em meio ao esplendor e à extravagância da vida na corte” e “nunca perdeu as piedosas impressões recebidas na juventude”. “Tão grande era o seu respeito pela fé dos hebreus que ele não encobria o seu parentesco pela honra de ser herdeiro da família real” (História da Redenção, p. 108-109). Anos depois, “foi instruído pelos anjos de que Deus o havia escolhido para ser o libertador dos filhos de Israel” (História da Redenção, R e v i s t a A d ve n t i s t a // Janeiro 2018
p. 108). Quando tinha 40 anos (At 7:23), ele entendeu que havia chegado a hora de escolher entre a fé e o trono. Seus primeiros 40 anos foram passados com os reis da 18a dinastia egípcia: Tutmés I, Tutmés II e a rainha Hatshepsut, filha de Tutmés I. De acordo com a cronologia sugerida pelo Dicionário Bíblico Adventista, ela é a “filha de faraó” mencionada em Êxodo 2:5-10. Diferentes fontes históricas indicam que, quando morreu Tutmés I, Hatshepsut tinha cerca de 24 anos. Casou-se então com seu meio-irmão Tutmés II, seguindo o costume do antigo Egito, que recomendava aos membros da família real casarem entre si. Após a morte de Tutmés II, a história tomou outro rumo. Nesse tempo, Moisés vivia no palácio, mas se recusava a adotar a religião egípcia, causando desconforto à família real. “Talvez o possível temor de que ele tomasse a coroa tenha levado os sacerdotes de Amom a conduzirem uma revolução do templo vários anos antes, colocando no trono um filho ilegítimo de Tutmés II, o marido falecido de Hatshepsut” (Dicionário Bíblico Adventista, p. 915).
Surgiu então o outro personagem: Tutmés III, o faraó escolhido para reinar no lugar que poderia ter sido de Moisés. Foi um grande líder político, levando o Egito a um de seus períodos mais destacados. Nesse período, ao que consta, oprimiu duramente os escravos hebreus. Moisés e Tutmés III eram dois líderes dentro do mesmo palácio. Ellen White deixa claro que “Moisés era o grande favorito das hostes de faraó” (História da Redenção, p. 108). Por isso, o ambiente no palácio se tornou difícil, apressando a decisão de Moisés “de se aliar a seus desprezados conterrâneos e tentar libertá-los da opressão egípcia” (Dicionário Bíblico Adventista, p. 916). As histórias tomaram rumos diferentes. Tutmés III continuou no palácio e Moisés fugiu para o deserto, encontrando abrigo em Midiã (Êx 2:15). Nos 40 anos seguintes, Tutmés III morreu e Moisés foi chamado de volta ao Egito, para trocar “o cajado de pastor pelo bordão de Deus” (História da Redenção, p. 111). Dois líderes, duas escolhas e dois destinos. Um lutou pelo poder, o outro aceitou o chamado para o serviço; um escolheu o povo do Egito, o outro o povo de Deus; um escolheu o palácio, o outro o deserto; um escolheu exaltar o próprio nome, o outro o nome de Deus; um escolheu oprimir, o outro libertar. Resultado: um tem o nome na história, o outro na eternidade. A múmia de Tutmés III foi encontrada em 1889 já danificada, e a visitei alguns meses atrás, exposta no Museu do Cairo, Egito. Moisés, porém, foi ressuscitado e está no Céu. Ele fez a escolha certa (Hb 11:24-25). Ao começar este novo ano, decida ficar ao lado do Senhor, mesmo que seja necessário pagar um alto preço. O tempo e a eternidade mostrarão os resultados. ] ERTON KÖHLER é presidente da Igreja Adventista para a América do Sul
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ENTREVISTA
MÁRCIO TONETTI
Flávia Lopes de Oliveira Pinheiro
O calendário nos situa no tempo, divide passado e presente, marca o ritmo da vida e delimita não apenas o começo dos meses e anos, mas também de nossos projetos e realizações. Ele igualmente influencia nossa disposição de fazer uma autoavaliação. Restringir esse balanço a um momento no ano não é o ideal, mas certamente podemos aproveitar o início de um novo ciclo para analisar o que foi feito, o que não saiu do papel e o que é necessário para estabelecer metas mais factíveis. É sobre esse assunto nossa entrevista com a psicóloga Flávia Lopes de Oliveira Pinheiro, especialista em neuropsiCOMO AVALIAR O ANO QUE PASSOU E ESTABELECER METAS cologia pela Universidade de São Paulo (USP).
HORA DE RECOMEÇAR MAIS REALISTAS PARA OS PRÓXIMOS 365 DIAS
Parece ser comum as pessoas passarem por períodos de depressão ou experimentarem crises existenciais entre o fim e o início de cada ano. Por quê? Idealizamos muito o futuro e nós mesmos. Muitas vezes, essa idealização é sinônimo de frustração. Não que devamos ter pensamentos negativos e deixar de planejar e sonhar. No entanto, temos a tendência de querer controlar os acontecimentos. Ao perceber que as coisas fogem do controle, precisamos ter cuidado para não distorcer as experiências vividas, concentrando-nos exclusivamente no que deu errado. 6
De que maneira podemos aliviar a ansiedade diante do desconhecido? Concentrar-se no presente é o primeiro passo. A ansiedade é uma sensação de aprisionamento ao futuro e de congelamento nas possíveis insatisfações. Por isso, não podemos exagerar nossas expectativas em relação ao futuro, seja positiva ou negativamente. Nesse período, as pessoas se propõem a realizar mudanças em várias áreas. Por que a maioria desiste logo ou fica apenas no nível das intenções? Queremos a realização dos nossos desejos de maneira rápida. E, quando a meta exige maior dedicação e determinação, a probabilidade de desistência é maior. O fato é que, ao estabelecer objetivos, geralmente vislumbramos a alegria da conquista, mas nem sempre temos noção do preço a ser pago.
Como estabelecer planos mais realistas? Planos e metas reais estão intimamente relacionados às pessoas que conhecem melhor sua realidade e a si mesmas. Alguns têm mais facilidade de gerenciar o tempo do que outros. Essa é uma questão simplesmente de disciplina e organização? O tempo é nosso bem de maior valor! Para gerenciá-lo, é preciso, sim, disciplina e organização, mas também saber o que é prioritário. As metas de longo e médio prazo são importantes, mas o que dizer dos alvos e prioridades de cada dia? Pensar neles pode nos ajudar a manter o foco no que é essencial? A grande pergunta dentro da pergunta é: O que é essencial? Cada um de nós terá uma reposta. Ao nos depararmos com pessoas com pouco tempo de vida, temos um vislumbre do que é realmente essencial. A correria da vida e os sonhos podem nos cegar. Por isso, vale aqui o conselho de Salomão: viver sem Deus é vaidade (Ec 1:2), correr atrás do vento (Ec 2:11). Ele descobriu por experiência própria que o essencial é viver de acordo com o temor do Senhor (Ec 12:13). ] R e v i s t a A d ve n t i s t a // Janeiro 2018
Foto: William de Moraes
Como lidar com esse tipo de frustração e renovar o ânimo, em vez de viver preso ao passado? Primeiramente, não devemos ser perfeccionistas. Aceitar que tentativa e erro fazem parte da aprendizagem nos liberta da exigência de sucesso absoluto e da obrigatoriedade de sentir-se feliz sempre. Igualmente, é fundamental ter consciência de que o passado é um tempo que não volta mais.
MKT CPB
r e s a a Aprend de Deus o m o d r o m
re trimest e e t s e d -s batina ira. Aprofundeom a S a l o e c da Escstração financ r sabiamente o ã ç i ini ive AL re adm prenda a v ara você. b o s a a áp trat oe Deus d assunt e e u s s q e n aquilo
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PAINEL F AT O S
O L H A R D I G I TA L
TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS
DESCOBERTO NAS ESCRITURAS O registro mais antigo de um eclipse solar está na Bíblia (na conhecida passagem de Josué 10:12 e 13). Essa foi a conclusão de um estudo realizado por pesquisadores britânicos com base em antigos escritos astronômicos da Babilônia, estelas (pedras com inscrições) do Egito dos faraós e modernos cálculos da maquinaria celeste. Segundo eles, o fenômeno descrito no Antigo Testamento aconteceu em 30 de outubro de 1207 a.C. sobre a antiga Canaã.
157.000.000 é a população do campo da Turquia-Irã servida por apenas quatro igrejas locais.
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PRÊMIO PUBLICITÁRIO Intitulada “Na Internet o Perigo se Disfarça”, a campanha de conscientização promovida pela rede educacional adventista no Rio Grande do Sul foi premiada em duas categorias do 27o Mídia F estival, organizado pela Associação dos Profissionais de Propaganda de Campinas (APP). As peças, que incluem o vídeo de um experimento social realizado num shopping da capital gaúcha, podem ser acessadas no seguinte endereço: educacaoadventistars. com.br/perigodisfarcado.
NOVO SERIADO Gente Cuidando de Gente é o título da série que pretende retratar o cotidiano de pessoas que vivem o cristianismo de maneira prática. Com produção da Magic Estúdios, a mesma empresa que produziu o média-metragem A Esperança Não Morre, o novo seriado está disponível no portal de vídeos feliz7play.com.
D ATA 16 A 20 DE JANEIRO
Será realizado o 24o Encontro de Músicos no Unasp, campus Engenheiro Coelho (SP), evento que atrai cantores, instrumentistas, diretores de grupos musicais, estudantes, professores e regentes de todo o Brasil. Para obter mais informações, acesse: adv7.in/L7. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Janeiro 2018
Fotos: Loma Linda University Health / Fotolia
Em novembro, a Universidade de Loma Linda (EUA) celebrou os 50 anos de seu programa de transplante de órgãos. A instituição adventista se tornou referência no transplante de rim, pâncreas, fígado, córnea, medula óssea e células estaminais. Ela também entrou para a história da medicina ao fazer o primeiro transplante cardíaco bem-sucedido num recém-nascido, em 1985.
2a CORRIDA MEXA-SE PELA VIDA
EVENTOS
1o SEMINÁRIO NACIONAL DE IMUNIDADE TRIBUTÁRIA
Mais de 500 pessoas participaram do evento esportivo em Florianópolis (SC) no dia 26 de novembro. A corrida foi realizada na Avenida Beira-Mar Continental, ponto turístico da capital catarinense, e envolveu pessoas de todas as idades.
Juristas, líderes religiosos e estudantes de Direito se reuniram em Brasília (DF) no dia 6 de dezembro para tratar do tema, que é objeto de consulta pública no site do Senado (acesse: adv7.in/La). Promovido pela sede sul-americana da igreja, em parceria com o Tribunal Administrativo de Recursos Fiscais do Distrito Federal (TARF/DF), o evento ressaltou os aspectos constitucionais da imunidade tributária (prevista no artigo 150) e a contrapartida social oferecida por entidades religiosas.
O sentimento de crítica é como um carvão na mão. Aceso, ele queima você; apagado, ele te suja.
Fotos: Vanessa Arba / Damaris Moura / Daniel Goncalves / Eduardo Dutra
23a CONFERÊNCIA NACIONAL DA ADVOCACIA
Odailson Fonseca, diretor de comunicação da sede paulista da igreja, no Twitter
TED ADVENTISTA Pela primeira vez na história do evento, um dos maiores da área jurídica no mundo, o tema da liberdade religiosa foi abordado em uma palestra realizada pela advogada Damaris Moura. Durante a programação, que aconteceu nos dias 27 a 30 de novembro na capital paulista, também foi organizado paralelamente pela OAB/SP o 1o Encontro de Comissões de Direito e Liberdade Religiosa do Brasil. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Janeiro 2018
Temas como liderança, desenvolvimento, empreendedorismo, música, saúde, felicidade, cultura, valores e engajamento foram discutidos em duas conferências promovidas no formato TED. Uma na Faculdade Adventista da Bahia (Fadba), que contou com o apoio do Sebrae e da Secretaria de Educação do município de Cachoeira (BA), e outra em Toowoomba, Queensland (Austrália), que reuniu mais de 800 pessoas num fim de semana. 9
MEMBRO DO CONSELHO
PREMIADOS Miriam Shirley da Silva, copresidente da Publicis, terceira maior agência do país, recebeu o Prêmio Caboré, um dos troféus mais importantes da propaganda brasileira, na categoria Profissional de Mídia. Ela é membro da Igreja Adventista de Moema, na capital paulista.
Paulo de Tarso Costa, diretor da ADRA no Rio Grande do Sul, recebeu a medalha da Defesa Civil Nacional, concedida a personalidades e entidades civis ou militares que tenham prestado serviços relevantes ao país.
Mark Webster, que atuou como diretor da ADRA na Austrália por seis anos e atualmente coordena o escritório da agência na Ásia, recebeu troféu do Conselho Australiano para o Desenvolvimento Internacional (ACFID, na sigla em inglês). Ele contribuiu para o estabelecimento do Programa Australiano de Cooperação de ONGs e de uma rede de agências humanitárias que capacita outras entidades não governamentais para responder a emergências.
BODAS DE DIAMANTE (60 ANOS) De Antônio e Maria de Souza Mattos, em cerimônia realizada no dia 2 de novembro na Igreja de Alto Jequitibá (MG) pelo pastor Gilberto Basílio. O casal tem cinco filhos, sete netos e três bisnetos. Ele é colportor e trabalha até hoje.
As redes sociais estão corroendo as bases fundamentais de como as pessoas se comportam consigo mesmas e com as outras.
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No fim de novembro, Martin Kuhn, reitor do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), passou a fazer parte do Conselho de Reitores que representa o segmento das universidades e centros universitários no país.
30.143
É O NÚMERO DE EVANGELISTAS E PASTORES ADVENTISTAS EM ATIVIDADE AO REDOR DO MUNDO.
NOVA FORMAÇÃO Fernando Menezes Júnior será o novo segundo tenor dos Arautos do Rei. Ele substituirá Társis Iraídes, que cantou no quarteto por 18 anos e irá assumir a capelania universitária da Faculdade Adventista da Bahia (Fadba). Até o fechamento desta edição ainda não havia sido anunciado o substituto do pastor Milton Andrade (baixo), que depois de quase 13 anos no ministério também deixará o grupo para atuar como pastor em Hortolândia (SP).
Há um século, os três principais ramos do cristianismo estavam predominantemente concentrados na Europa. Hoje, como mostrou um novo levantamento do Pew Research Center, o Velho Continente reúne protestantes católicos
12 % 24 %
77 %
cristãos ortodoxos
Chamath Palihapitiya, ex-executivo do Facebook, em um fórum da Escola de Negócios de Stanford (EUA) no início de novembro
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Janeiro 2018
Fotos: Arquivo pessoal / ADRA Brasil / Australian Council for International Development /
GENTE
INTERNACIONAL
DOAÇÃO DE BICICLETAS Quatrocentas crianças que não têm acesso ao transporte escolar na região de Uribia, La Guajira (Colômbia), foram presenteadas. Promovido pelo segundo ano consecutivo, o projeto desenvolvido pela igreja, em parceria com empresas privadas, já doou mil biciletas para famílias carentes da comunidade localizada no norte do país.
CAMPORI NA MONGÓLIA O primeiro evento desse tipo realizado no país asiático reuniu 120 desbravadores no novo centro de treinamento da igreja em Bayanchandmani. Durante a programação, que teve a participação de um clube norte-americano, oito desbravadores foram batizados.
IMPACTO NA VENEZUELA
Fotos: Fernando Verduzco / Divisão Interamericana
Cerca de 35 mil adventistas tiraram férias do trabalho por uma semana para atuar como voluntários. Clínicas odontológicas, check-ups médicos, doação de sangue, corte de cabelo, visitas a hospitais, distribuição de refeições, reflorestamento, concertos musicais, atividades esportivas, doação de medicamentos, limpeza de parques e sessões de oração foram algumas das ações realizadas na comunidade. Estima-se que 500 mil pessoas tenham sido beneficiadas.
CONQUISTA HISTÓRICA Em novembro, o senador Floyd Morris (dir.) se tornou o segundo cego a alcançar o mais alto nível acadêmico na Universidade das Índias Ocidentais, em Kingston (Jamaica), em sete décadas de existência da instituição. Além de conquistar o título de doutor em Filosofia, há cinco anos ele também fez história como o primeiro deficiente visual a presidir o Senado do país caribenho.
44% dos europeus
pensam que o papel mais importante da mulher é cuidar da casa e da família, segundo pesquisa recente realizada na União Europeia.
LIVRO SOBRE ELLEN G. WHITE Stories from Sunnyside: Ellen White in Australia, 1891–1900 (Histórias de Sunnyside: Ellen White na Austrália, 1891–1900) é o título da obra que revela novos detalhes do ministério da pioneira adventista no país. Escrito por Marian de Berg, o livro publicado pela Signs Publishing, editora adventista da Austrália, mostra o impacto exercido por Ellen G. White na comunidade em que viveu e seu papel fundamental no estabelecimento do adventismo e das obras de publicações, educacional e de saúde.
Fontes: Adventist World, Beth Morrow, Daniel Gonçalves, Jarrod Stackelroth, Jéssica Fontella, Felipe Lemos, Fernando Verduzco, Lucas
Nascimento, Mairon Hothon, Márcio Tonetti, Maritza Brunt, Michaela Truscott, Miguel Ángel Criado, Nigel Coke, Shirley Rueda, Wendel Lima e Wiliane Passos
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CAPA
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um novo jeito de viver
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AS BEM-AVENTURANÇAS DO SERMÃO DA MONTANHA CONTINUAM SENDO TÃO ATUAIS E REVOLUCIONÁRIAS COMO NO 1O SÉCULO
Ilustração: Gustave Doré
MARCOS BLANCO
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uando viu a multidão de desfavorecidos que O seguia, Jesus subiu ao monte, esperando descer à profundeza do coração daquelas pessoas. Ele sentou-Se e passou a ensinar-lhes, dizendo: “Felizes são os que não possuem nada...” (ver Mt 5:1-12). Quem são esses que, não possuindo nada, são felizes? Essa definição alternativa de felicidade soa tão revolucionária agora como na época em que foi proferida. Nos tempos de Jesus, os líderes religiosos criaram uma religião formalista, construída sobre aparências e disputas de poder, afastada de toda verdadeira piedade. Em nome de Deus se oprimia e desprezava o próximo. A religiosidade das pessoas era julgada pela fachada e privava da esperança da salvação grupos que, por sua condição social, familiar ou econômica, não satisfaziam os padrões de fariseus, saduceus e outros líderes religiosos. Em meio a essa grande confusão e escuridão espiritual, Jesus decidiu lançar as bases do reino que tinha vindo estabelecer. Ele começou descrevendo quem Deus considera bem-aventurado: (1) os pobres de espírito, em oposição aos ricos em fama e dinheiro; (2) os que choram arrependidos, em contraste com os que se orgulham de seus pecados; (3) os mansos e humildes, em contraposição aos que utilizam a religião para fazer valer seus direitos pela força; (4) os que têm fome e sede de justiça, em contraste com os que têm se saciado com a injustiça; (5) os misericordiosos e compassivos, diferentemente dos que apenas buscam apontar erros e exigem castigos; (6) os de coração limpo, em oposição aos que retocam sua imagem, mas estão podres por dentro; (7) os que são perseguidos por causa de Cristo, em contraste com os perseguidores que atuam em seu próprio nome. Mais de 2 mil anos depois, o chamado para abandonar uma religião formalista e cultivar uma espiritualidade autêntica continua reverberando a partir daquele desconhecido monte da Palestina. Ellen White, pioneira adventista, escreveu que os súditos do reino de Deus são conhecidos por seu caráter e conduta, e, ainda que não sejam perfeitos, iniciou-se neles uma obra que os tornará aptos para herdar a eternidade (O Maior Discurso de Cristo, p. 8).
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Nos tempos de Jesus, os líderes religiosos criaram uma religião formalista, construída sobre aparências e disputas de poder, afastada de toda verdadeira piedade
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A CONTRARREVOLUÇÃO DA PAZ A violência está à flor da pele na sociedade, desde os protestos pela reivindicação de salários e a defesa dos direitos da mulher até a queda de governos impopulares. Por outro lado, as nações mais poderosas do planeta seguem travando guerras em nome dos direitos humanos, mas em muitos casos há motivações econômicas por trás de intervenções militares que usam o discurso da ajuda humanitária para justificar sua violência. Em agosto de 2011, inúmeras manifestações no Reino Unido geraram desordem pública e saques. No meio daquela confusão, um homem negro de 29 anos, pai de quatro filhos, Mark Duggan, foi morto no bairro de Tottenham por causa de disparos da Polícia Metropolitana de Londres. No dia seguinte, outros tumultos se estenderam para outras áreas da capital inglesa, resultando em mais vandalismo, assaltos e 35 policiais feridos. Um vídeo feito por uma testemunha dessas mobilizações retrata um rapaz ferido no rosto, de quem outros jovens se aproximam aparentemente para ajudá-lo. Porém, enquanto alguns fingem prestar-lhe auxílio, outra pessoa rouba o celular e a carteira do ferido. O que vemos nesse caso é violência e agressão em estado puro, não apenas contra o sistema ou a ordem social, mas também entre os próprios jovens. Hoje, as novas gerações têm crescido numa cultura de violência. Esse fenômeno não é alimentado apenas pelas mídias, como filmes e videogames, mas também pela publicidade. Uma das marcas mais famosas de jeans, a Levi’s, teve que suspender uma de suas campanhas na Inglaterra porque incitava o protesto violento, mostrando o lado “legal” da agressividade. Por outro lado, os princípios do reino de Deus são opostos a essa lógica. O Antigo Testamento R e v i s t a A d ve n t i s t a // Janeiro 2018
Ilustração: Gustave Doré
POBRES DE ESPÍRITO Como conciliar a ideia de não ser e não ter algo com a ideia de possuir felicidade? O fato é que é possível ser rico sendo pobre e possuir tudo sem ter nada. Não é a conta bancária que define isso, mas a atitude interior. É por isso que voto de pobreza não tornará necessariamente alguém rico. Em resumo, são ricos os que possuem coisas, e pobres os que são possuídos e dominados por elas. Ser pobre de espírito não é ser alguém medíocre, mas ter clara percepção de suas limitações. Exatamente por enxergar essa distância que o separa do ideal, o pobre de espírito tende a ser humilde, pois sabe que muito lhe falta. Em comparação com os demais, ele não se vê com superioridade (Fp 2:3-5) e não age para receber elogios. Diante da realidade de seu pecado e da incapacidade de se aproximar de Deus, sente solidão, carência espiritual e busca a Deus com humildade. Em contrapartida, por acreditar que tem tudo, o “rico de espírito” é egocêntrico e orgulhoso. Satisfeito como um glutão, ele vive com permanente “indigestão” de tanto admirar a si mesmo. A advertência para a igreja de Laodiceia é uma patética descrição de quem se encontra nessa situação (Ap 3:17, 18). Na parábola do fariseu e o publicano (Lc 18:9-14) encontramos o mesmo alerta. O fariseu foi orar no templo, mas estava tão cheio de orgulho que, em vez de suas orações subirem ao Céu, elas não saíram dele mesmo (Lc 18:11). O fariseu expressou gratidão não pelo que Deus fez na vida dele, mas pela santidade que ele mesmo adquiriu (v. 11). Sua gratidão era da boca para fora. Por sua vez, ainda que o publicano não tenha expressado a palavra “gratidão”, sua atitude de agradecimento demonstrava que ele entendia a salvação como algo que não merecia (v. 13). Jesus afirmou que, naquele dia, quem desceu justificado foi a pessoa mais improvável: o publicano (v. 14). Deus habita com o contrito e abatido de espírito (Is 57:15), e o sacrifício que Ele aceita é o coração arrependido (Sl 51:17).
O Príncipe da Paz teve seus embaixadores em diferentes épocas e espera de nós a mesma postura pacífica diante deste mundo violento
nos dá uma definição bem interessante de Deus: “O Senhor é paz” (Jz 6:24). E, como Ele é paz, não responde com mais agressão à violência da humanidade rebelde. Ao contrário, para solucionar o problema, Deus enviou o “Príncipe da paz” (Is 9:6). O profeta Isaías foi quem melhor apresentou um vislumbre do plano original para o povo de Israel e este mundo. Quando o Messias viesse, estabeleceria uma era de paz, em que os instrumentos de violência e guerra seriam convertidos em símbolos de paz. Inclusive a ordem natural seria afetada pela presença da shalom no reino messiânico (Is 11:6). Ainda que essas profecias não tenham ocorrido por ocasião da primeira vinda de Cristo, tendo sido reservadas para a segunda, desde a encarnação de Jesus a humanidade tem testemunhado a maior contrarrevolução da história: uma revolução pacífica. Esse Galileu de Nazaré derrotou a violência com a paz, tornando-se o maior anti-herói das versões violentas de protesto. Ele continua convocando um exército de pacificadores (Mt 5:9), gente disposta a combater o mal com o bem, a quebrar o ciclo da vingança, a oferecer a outra face e a andar a segunda milha (Mt 5:38-44). O LEGADO DO SERMÃO DO MONTE Leon Tolstói, um dos maiores escritores russos, leu o Sermão do Monte e ficou profundamente impactado pela mensagem pacificadora do Mestre. Tolstoi escreveu de maneira contundente um livro sobre esse sermão: O Reino de Deus Está Dentro de Vocês, que foi traduzido para o inglês. Meio século depois, um asceta hindu chamado Mahatma Gandhi leu a obra do escritor russo e decidiu viver literalmente segundo os princípios do maior discurso de Cristo. O filme Gandhi apresenta uma interessante cena em que o pacifista indiano explica sua filosofia ao missionário presbiteriano Charlie Andrews. Caminhando juntos por uma cidade sul-africana, encontraram-se, de repente, com alguns jovens gângsters que bloqueavam a passagem. O reverendo Andrews observou os deliquentes por um momento e decidiu fugir. Gandhi o deteve. “O Novo Testamento não diz que, se um inimigo bate na face direita, você deve oferecer a esquerda?”, questionou o indiano. Andrews se queixou, pois pensava que a expressão era figurada. “Não tenho certeza”, respondeu Gandhi. “Suspeito que Ele quis dizer que tem que ser valente, estar disposto
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Ser pobre de espírito não é ser alguém medíocre, mas ter clara percepção de suas limitações
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a receber um soco, vários socos para demonstrar que não haverá retribuição nem fuga. E, quando alguém faz isso, desperta algo na natureza humana, algo que faz que seu ódio diminua e seu respeito aumente. Creio que Jesus entendia isso e percebeu que funcionava.” Sem disparar nenhum tiro, profundamente enraizado na mensagem pacificadora do Sermão do Monte, Gandhi começou uma das maiores revoluções da história. Anos mais tarde, um pastor norte-americano, Martin Luther King Jr, estudou a vida de Gandhi e decidiu pôr em prática a filosofia dele nos Estados Unidos. Passou a defender os direitos dos seus compatriotas afrodescendentes, que eram considerados cidadãos de terceira classe. Muitos de seus colegas negros o abandonaram porque ele não queria usar a violência. Depois de ser golpeado na cabeça várias vezes e de receber outro choque elétrico com o bastão do carcereiro, Luther King se questionou se o pacifismo era eficiente. Porém, ele não cedeu à agressão. E foi a essa persistência pacífica que os historiadores atribuem o ponto da virada desse período de conflitos raciais nos Estados Unidos. O movimento pelos direitos civis ganhou mais apoio popular depois que o chefe da polícia Jim Clark ordenou que seus soldados atacassem manifestantes negros desarmados em Selma, no Alabama. Aquelas vítimas da violência usaram a estratégia de Jesus, Tolstoi, Gandhi e Martin Luther King Jr. O fato é que o Príncipe da Paz teve Seus embaixadores em diferentes épocas e espera de nós a mesma postura pacífica diante deste mundo violento. Se somos um reino de sacerdotes (Êx 19:6; 1Pe 2:9), devemos tratar as pessoas segundo a bênção sacerdotal (Nm 6:24-26), porque essa é a verdadeira sabedoria da vida, que é não marcada por inveja, amargura nem divisão, mas por imparcialidade, misericórdia e autenticidade (Tg 3:13-18). ] MARCOS BLANCO é pastor, doutorando em Teologia, editor da Revista Adventista em espanhol e redator-chefe da Aces
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GUIA
CUIDE DA SAÚDE NO VERÃO OITO REMÉDIOS NATURAIS PODEM FAZER DIFERENÇA TAMBÉM NA ESTAÇÃO MAIS QUENTE E ESPERADA DO ANO ÁGATHA LEMOS
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um tempo em que os recursos tecnocientíficos para o cuidado da saúde estão cada vez mais sofisticados, a boa notícia é que mudar o estilo de vida custa menos para o bolso do que se imagina. E o verão, estação em que os dias são mais longos e convidativos para a prática do exercício físico e de uma alimentação mais leve, pode ser uma boa época para aderir de vez a oito hábitos saudáveis, acessíveis e sem contraindicação.
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ÁGUA Ela dilui e transporta substâncias, está presente em toda atividade celular e entre outras coisas garante a manutenção da temperatura por meio da produção do suor. Sugestão de consumo: 30 ml de água diária para cada quilo de peso. AR PURO Fundamental para a vida, a respiração profunda acalma e promove uma adequada circulação sanguínea. Respirar ar puro ajuda a aumentar a resistência às infecções, melhora o rendimento intelectual e reduz a irritabilidade.
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Ilustração: Marta Irokawa
LUZ SOLAR Apesar da importância da prevenção do câncer de pele, não é preciso viver se escondendo do Sol. Na hora e na medida certa, os raios solares trazem benefícios para o metabolismo, sistema circulatório, respiratório e endócrino, além de combater bactérias.
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ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL Alimentos processados, gorduras animais e gorduras trans, açúcar, sal e cereais refinados trazem prejuízos à saúde. Prefira alimentos integrais ou crus, nutritivos e ricos em fibras, capazes de regular o funcionamento intestinal.
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EXERCÍCIO FÍSICO O exercício reduz as tensões, a pressão arterial, o colesterol e as gorduras; aumenta a disposição para as atividades diárias, melhora a qualidade do sono, ajuda a controlar o peso e previne doenças cardíacas e psicológicas. DOMÍNIO PRÓPRIO Nem todo mundo tem um vício ou compulsão, mas precisa desenvolver o autocontrole para evitar comportamentos nocivos e tornar a existência mais equilibrada.
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DESCANSO A vida só é produtiva se o descanso intercala a rotina. O descanso diário é o sono. Se ele for precedido de um banho quente, oração e luzes apagadas, tende a ter mais qualidade. Você também não pode abrir mão do sábado como reparo semanal e das férias como descanso anual.
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CONFIANÇA EM DEUS O corpo e a mente são fortalecidos pela fé no Deus que nos ama e sabe perfeitamente como funcionamos. Saúde não é mera ausência de enfermidades, mas bem-estar integral, e isso inclui a espiritualidade. ] ÁGATHA LEMOS é editora associada da revista Vida e Saúde
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SUSTENTABILIDADE
o futuro do planeta e das pessoas 18
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PARA CONSCIENTIZAR COMUNIDADES POBRES, A PRESERVAÇÃO AMBIENTAL PRECISA ANDAR DE MÃOS DADAS COM O DESENVOLVIMENTO DA ECONOMIA LOCAL
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NOEMI DURÁN
Fotos: Noemi Durán
lguém disse que cuidar do meio ambiente é um luxo para ricos. Essa afirmação, um tanto contundente, tem certa dose de verdade. Preocupar-se com espécies ameaçadas de extinção, pensar globalmente no planeta e no bem-estar das futuras gerações são temas que ocupam a mente de muitas pessoas atualmente, mas não daquelas que vivem em condição de extrema pobreza. Se garantir o pão de cada dia para sua família for uma luta; se sua casa não tiver eletricidade nem saneamento básico; se seu trabalho, isso se você tiver um, for instável ou mal remunerado; se você não tiver acesso à assistência médica quando seus filhos ficam doentes, provavelmente você não vá gastar muito tempo pensando nos problemas ambientais. Além disso, se você morar em uma região com alta criminalidade, certamente estará mais preocupado com seu futuro do que com o futuro do planeta. A REALIDADE DE HONDURAS Infelizmente, essa é a realidade de muita gente em países da América Central, como Honduras. Testemunhei essa condição em primeira mão enquanto fazia minha pesquisa doutoral em Biologia numa região rural do sul de Honduras. Analisei o comportamento reprodutivo das tartarugas-marinhas da espécie olive ridley que se aninham na praia de Punta Ratón, uma pequena vila de pescadores localizada na costa hondurenha que é banhada pelo oceano Pacífico. Antes da minha primeira viagem de pesquisa, meu professor da Universidade de Loma Linda, na Califórnia (EUA), que já trabalhou em Honduras por muitos anos como diretor da ONG Protector (turtleprotector.org), me alertou sobre a dificuldade de conscientizar a comunidade local acerca da conservação da tartaruga-marinha. Por séculos, comunidades hondurenhas consumiram e comercializaram os ovos desses animais, e não estavam dispostos a abandonar esse recurso tão valioso. Para mim, parecia claro que mudar esse Punta Ráton: uma pequena vila de quadro tinha que ver apenas com enconpescadores no sul de Honduras trar uma forma de explicar para eles que, se as taxas de exploração dos ovos fosse mantida, as tartarugas desapareceriam. Foi então que cheguei ao meu campo de pesquisa e me deparei com o seguinte quadro: havia cerca de 200 casas de um quarto, construídas com estacas, barro e plástico e ocupadas por famílias numerosas, cujas crianças aparentavam ter mais idade do que na realidade, devido à desnutrição. Logo descobri que a pesca artesanal, a maior fonte de renda em Punta Ratón, não é suficiente para sustentar as famílias. R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Janeiro 2018
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MUDANÇA DE PERSPECTIVA Então compreendi a razão pela qual os pescadores querem receber por seu trabalho diariamente, e porque, depois de uma boa pescaria, gastavam todo o seu lucro na mesma noite. Num lugar em que a vida é tão incerta, eles se acostumaram a não planejar o futuro. Nessas circunstâncias tão desfavoráveis, como eu poderia convencêlos a cuidar dos ovos da praia para que os bebês tartarugas pudessem incubar, nascer, cumprir seu papel ecológico fundamental no ecossistema marinho e voltar 15 a 20 anos depois para botar mais ovos? Ao redor do mundo, muitas pessoas que trabalham com a preservação ambiental têm lidado com os mesmos dilemas, especialmente nos países em desenvolvimento. No entanto, essas mesmas comunidades com sérias desigualdades sociais podem se engajar no cuidado da natureza na medida em que entendam que uma postura mais sustentável não apenas beneficia o planeta em longo prazo, mas tem impacto quase que imediato na qualidade de vida da própria comunidade. É o que mostrou um estudo do pesquisador Hiremagalur Gopalan, professor da Universidade de Delhi, na Índia, publicado na revista Environmental Health Perspectives, em 2003. Segundo dados do estudo “Poverty, Health & Environment”, financiado pela ONU e outras entidades internacionais 20
Chapman em sua tese doutoral na Universidade de Loma Linda (EUA). E, para combater os mosquitos transmissores de doenças, a comunidade recorria à queima do plástico do lixo nas casas e nos quintais, criando assim uma fumaça tóxica. Esse tipo de círculo vicioso em que um problema ambiental é “resolvido” criando-se outro impacto na natureza é muito comum em comunidades pobres. Também em Punta Ratón os pescadores sofrem com a falta de peixes por causa da pesca indiscriminada. E qual foi a “solução” que encontraram? Intensificar as atividades usando redes mais agressivas, que R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Janeiro 2018
Foto: Noemi Durán
em 2008, os casos de diarreia que atingem 5 A maioria delas come só uma vez por dia, uma refeição milhões de pessoas anualmente no mundo composta por arroz, feijão e algum peixe ou frango, quando elas têm sorte. Não é de admirar, portanto, que eles aproe levam 30% delas à morte, em sua maioria veitem qualquer coisa comestível daquele ambiente: frutas poderiam ser evitados, se essas comunidades tivessem acesso à água potável e ao saneamento silvestres, lagartos, moluscos e ovos de tartaruga-marinha. básico. Por sua vez, se o carvão e a madeira Foram necessárias umas poucas semanas ali para que usados para cozinhar fossem substituídos por eu entendesse que o estilo de vida caracterizado pelo lema “trabalhar hoje para comer amanhã” não era um sinal de métodos mais ecológicos, muitas doenças respiratórias seriam evitadas. Além disso, o reflopreguiça nem irresponsabilidade daquela comunidade, e restamento ajudaria na manutenção da saúde sim uma estratégia de sobrevivência. do solo e reduziria a erosão, melhorando assim Honduras não é apenas um país pobre, mas também peria produtividade da agricultura e diminuindo goso. Em 2010, a nação registrou o maior índice de homicídios os efeitos de algumas catástrofes naturais. do mundo. O tráfico de drogas e as gangues são problemas sérios nas cidades grandes. Nas comunidades rurais, como No caso da vila de Punta Ratón, em 2015, Punta Ratón, é comum brigas terminarem em assassinatos 52% das famílias tinham pelo menos um parente doente com diarreia, infecções respipor arma de fogo e facas. Mortes precoces por falta de assisratórias, anemia, malária e dengue, segundo tência médica também eram recorrentes, assim como grávilevantamento realizado por Carizma Amila das que perdiam seus filhos, jovens que morriam de câncer por falta de diagnóstico rápido e pessoas que poderiam ter sobrevivido se tivessem um Comunidade local ajudou a construir uma transporte para chegar ao incubadora para ovos de tartaruga-marinha hospital mais próximo.
matam também os peixes pequenos e capturam tartarugas e outros animais, agravando assim o problema.
A CHAVE DO SUCESSO É ENTENDER A CULTURA LOCAL, ENVOLVER A COMUNIDADE NO PROJETO E INCENTIVAR OS NATIVOS A PARTICIPAR DO PROCESSO DECISÓRIO
CONSCIENTIZAÇÃO DA COMUNIDADE Nas últimas décadas, muitas vozes têm afirmado que a única maneira efetiva de quebrar o círculo vicioso entre pobreza e exploração ambiental é criar programas que tratem desse duplo problema simultaneamente. Os especialistas também afirmam que o envolvimento direto das comunidades locais nos projetos de conservação é fundamental para o sucesso dessas iniciativas em longo prazo. Abordo essa questão num capítulo do livro Entrusted: Christians and Environmental Care, lançado pela Universidade Adventista de Montemorelos, no México, em 2013. Esse é o modelo mais moderno de educação ambiental, uma abordagem que combina conservação da natureza e desenvolvimento da economia local. Tudo isso levando em conta a cultura daquela comunidade e incentivando a população nativa a se engajar diretamente nas ações. A maioria dos projetos de conservação acontece em colaboração com uma ONG, mas esses projetos não podem ser realizados como se fossem uma imposição externa. Seja trabalhando com a fabricação e comercialização sustentável de produtos locais ou explorando o ecoturismo como fonte de renda e preservação, a chave do sucesso é fazer com que a comunidade se sinta dona do projeto. Na América Central, alguns exemplos de projetos de conservação da tartaruga-marinha seguiram o modelo de conservação com base na comunidade. Um deles está em atividade desde 1987. É o Refúgio da Vida Selvagem Ostional, na Costa Rica, uma praia de nidificação (formação de ninhos) em massa para tartarugas-marinhas olive ridley. Ali milhares de tartarugas fêmeas se agregam para botar milhões de ovos por vários dias consecutivos. Como os primeiros ovos ali depositados seriam destruídos pelas tartarugas que viriam na sequência, a comunidade de Ostional recolhe e comercializa somente os ovos depositados no início de cada temporada de nidificação. Porém, eles também protegem as tartarugas, limpam e vigiam a praia e atuam como guias turísticos para os visitantes. Não é viável reproduzir exatamente esse modelo em locais como Punta Ratón, porque lá a taxa de nidificação não é suficiente. Porém, o princípio básico ainda é válido: (1) as comunidades locais devem se envolver nos projetos de conservação e ter poder decisório sobre eles; e (2) precisam receber algum benefício financeiro com isso. A pesquisa de Chapman revelou que as pessoas de Punta Rotón desejam R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Janeiro 2018
trabalhar para a conservação das tartarugas por meio do ecoturismo (oferecendo acomodação, refeição para os turistas e servindo de guia nas visitas às praias de nidificação). Contudo, falta a elas condições de infraestrutura, logística e treinamento para que isso aconteça. A Universidade de Loma Linda e a ONG Protector têm oferecido ajuda a essa comunidade de Honduras, concentrando-se não apenas na conservação da natureza, mas também no cuidado com a saúde humana e no desenvolvimento da comunidade. Periodicamente, equipes de estudantes e professores de medicina, enfermagem e odontologia têm visitado Punta Ratón para oferecer cuidado médico, seminários sobre a conservação da tartarugamarinha, oficinas de culinária saudável e de gestão de pequenos negócios. Embora ainda existam muitos desafios, como conseguir que a comunidade assuma a responsabilidade pelos projetos e obtenham apoio e participação do governo local, já foram feitos avanços importantes. Agora que a comunidade local está mais aberta às inciativas externas, permitindo pesquisas científicas, a conscientização ambiental aumentou e as pessoas estão mostrando interesse, especialmente no ecoturismo. Quando cheguei a Punta Ratón pela primeira vez, pensei que teria de convencer as pessoas sobre a importância do cuidado com o ambiente. Após seis anos trabalhando ali, minha perspectiva mudou. Ainda acredito que um estilo de vida sustentável e respeitoso é bom tanto para o planeta como para as pessoas que o praticam. Mas cheguei à conclusão de que não posso impor essa visão aos outros, especialmente sobre quem está sofrendo com a pobreza e a violência. Como já descobri em muitas outras áreas da minha vida, a melhor abordagem a seguir é o exemplo de Jesus. Ele primeiro alimentou e curou as pessoas, só então abordou outras questões. Deus nos encarregou como g uardiões da criação (Gn 1:28; 2:15), mas recebemos igualmente a responsabilidade de cuidar dos necessitados (Dt 15:11; Is 58:10; Mt 25:34-40; Tg 1:27; 1Jo 3:17). Uma abordagem abrangente que contemple a diminuição da pobreza e a conservação da natureza parece ser não apenas a maneira mais efetiva de atuar com educação ambiental, mas também a maneira mais cristã de fazer isso. ] NOEMI DURÁN é PhD em Biologia e diretora da filial do Instituto de Pesquisa em Geociência da sede Intereuropeia da Igreja Adventista
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NISTO CREMOS
No ritmo de Deus
A LÓGICA DO SÁBADO É A MELHOR ALTERNATIVA PARA A ROTINA DA VIDA
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GERALD KLINGBEIL
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Foto: Sasin Tipchai
uitos de nós abrigamos a ilusão do crescimento contínuo. Todo mês, os mercados financeiros observam cuidadosamente os números importantes do crescimento da taxa de emprego e do Produto Interno Bruto (PIB). Empresas como Apple e Samsung investem bilhões de dólares para lançar tecnologias inovadoras que produzirão mais vendas — e crescimento. Seguindo essa lógica, a inovação cria crescimento, e crescimento gera inovação. Talvez todos sejamos tentados a ser engolidos pela ideia do crescimento constante. No contexto da igreja, somos levados a agir assim em relação aos nossos relatórios sobre números de membros e contribuições financeiras. É verdade que observar esses dados faz parte da avaliação da nossa caminhada como igreja, porque representa a salvação de milhares e até milhões de pessoas. Porém, será que o crescimento constante faz parte do plano de Deus?
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REDESCOBERTA Quando Deus terminou de criar nosso planeta, Ele convidou Sua criação, incluindo Adão e Eva, para descansar. O sábado foi o clímax das atividades criadoras Dele. Naturalmente, deve ter sido maravilhoso observar Deus colocar as estrelas, a Lua e o Sol em sua órbita e observar, de boca aberta, como os animais começaram a tomar forma e a passear pelo jardim. Mas foi o sábado que reuniu tudo isso. O atarefado Criador parou, descansou, abençoou e Se encontrou com Sua criação no sétimo dia (Gn 2:2, 3). Adão e Eva aprenderam mais com o descanso do que com toda a atividade da criação. “Deus viu que um repouso era essencial para o homem, mesmo no paraíso”, escreveu Ellen White (Patriarcas e Profetas, p. 48). “Ele necessitava pôr de lado seus próprios interesses e ocupações durante um dia dos sete, para que pudesse, de maneira mais ampla, contemplar as obras de Deus, e meditar em Seu poder e bondade”, completa a pioneira adventista. “Mesmo no paraíso” é uma declaração surpreendente. O ritmo 6+1 de Deus não se destinava apenas à humanidade pós-queda, já cansada, extenuada e doente pelo pecado, mas foi pensado para a criação perfeita, que refletia um Criador perfeito. Esse ideal de Deus depois permeou as orientações que Ele deu para Israel no contexto da organização do Seu povo como nação. Após a libertação do Egito, o povo de Israel recebeu leis que refletiam o ritmo projetado por Deus. O texto de Levítico 25:2 apresenta o conceito importante de um descanso sabático para o cultivo da terra. O solo fazia parte da criação de Deus e também precisava do descanso sabático. Israel foi instruído de que a cada sete anos a terra deveria descansar, ou seja, deveria cessar a semeadura, poda, fertilização, remoção de pedras ou ervas daninhas (Êx 23:10-12). A terra produziria seguindo seu próprio ritmo, e Deus supriria o necessário (Lv 25:6). O povo de Deus deveria confiar completamente Nele para prover o sustento diário, e o ritmo 6+1 de Deus devia se tornar uma lembrança semanal e anual da graça divina. As leis que regulavam a escravidão e o pagamento de dívidas eram outra maneira de compreender o ritmo 6+1 crucial da vida. Tanto em Israel, como no antigo Oriente Próximo, o indivíduo podia vender a si ou a um membro da família para trabalhar para um credor a fim de quitar um débito. Seis anos de trabalho escravo
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pagariam qualquer dívida, mas no sétimo ano todo escravo hebreu devia ser liberado (Êx 21:2; Dt 15:12). Deuteronômio vai além e explica o verdadeiro espírito do ciclo 6+1: “E, quando o fizer, não o mande embora de mãos vazias. Dê-lhe com generosidade dos animais do seu rebanho e do produto da sua eira e do seu tanque de prensar uvas. Dê-lhe conforme a bênção que o Senhor, o seu Deus, lhe tem dado” (Dt 15:13, 14). A mordomia bíblica sobre o tempo, pessoas, terra e até os animais sempre incluiu uma aliança comunitária diante de Deus. Ou seja, a responsabilidade de testemunhar de maneira tangível para o próximo o cuidado do Senhor na própria vida. Portanto, a lógica atual do maior, melhor, da maioria e do mais rápido não é o método de Deus.
AO PARAR, DESCANSAR E DESFRUTAR DE COMPANHEIRISMO, VOCÊ ABENÇOA A SI E AO MUNDO.
REAPRENDIZADO Quando Israel acampou na base do monte Sinai e se preparou para encontrar-se com o Senhor, o povo foi informado de que Deus tinha nobres ideais para ele: “Vocês serão para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa” (Êx 19:6). Isso significava que a própria estrutura social de Israel (reino) deveria ser moldada por essa relação especial com Deus, de permanente acesso (sacerdotal) à Sua presença. Cada sábado semanal, cada sétimo ano, cada jubileu (sete vezes sete anos) devia lembrarlhes desse estilo de vida privilegiado. Cuidar da terra, dos seus empregados, dos animais e até dos estrangeiros vivendo próximo a eles fazia parte do ritmo 6+1 de Deus. Para entrar nesse ritmo, o povo deveria estabelecer novos hábitos. Um bom hábito, como exercício físico regular ou o culto pessoal matutino, tem um efeito poderoso sobre nós, porque nos ajuda a viver de modo mais saudável e produtivo por muito tempo. Por sua vez, um mau hábito, como perder tempo em frente à TV ou prejudicar nosso corpo com um estilo de vida artificial e sedentário, resulta em autodestruição. A adesão ao ritmo 6+1 de Deus, que inclui o sábado semanal, é extensivo a muitos outros aspectos da vida e possibilita que Deus reprograme nossa mente enferma pelo pecado a fim de enxergarmos além da nossa própria natureza egoísta. Vivenciar a lógica do sábado nos liberta do apelo competitivo e consumista do nosso tempo. Ao parar, descansar e desfrutar de companheirismo, você abençoa a si e ao mundo. ] GERALD KLINGBEIL é editor associado da Adventist World
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DOM DE PROFECIA
Legado ecológico ELLEN G. WHITE FOI UMA DEFENSORA DO CUIDADO DA NATUREZA, MAS ELA NÃO VIA A CAUSA AMBIENTAL COMO UM FIM EM SI MESMA CINDY TUTSCH
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Foto: Nathan Anderson
lguns se perguntam se Ellen G. White se preocupava com ecologia, reciclagem, contaminação e os efeitos do materialismo. Seus escritos provam que sim. Embora a pioneira do adventismo tenha vivido a maior parte da vida no século 19, antes de o plástico ser inventado, do potencial nuclear ser explorado e de produtos químicos contaminarem mares, rios e riachos, ela era uma grande defensora da necessidade de cuidar do planeta. Sua consciência ambiental vinha de duas fontes: das Escrituras e da inspiração direta de Deus. Ellen G. White adotou uma abordagem abrangente para sua vida e missão. Para ela, o cuidado do meio ambiente não era diferente do cuidado com os seres humanos. Ela enfatizou que a natureza não apenas nutre o senso da glória de Deus, mas também proporciona descanso e alegria para pessoas de todas as idades (O Lar Adventista, p. 153). Produzir o próprio alimento não foi o único motivo pelo qual Ellen G. White falou das vantagens da vida no campo (Conselhos Sobre Saúde, p. 266; A Ciência do Bom Viver, p. 264). Para ela, as crianças que têm a oportunidade de plantar, cuidar de animais e observar as maravilhas da natureza em um ambiente bonito têm vantagens tanto educacionais como espirituais (Testemunhos Para a Igreja, v. 6, p. 195; A Ciência do Bom Viver, p. 370). Porém, como Ellen G. White praticava o que pregou sobre ecologia? Ela gostava de jardinagem e praticava caminhadas, além de acampar nas montanhas e participar de piqueniques em família. Além disso, defendeu tratamentos naturais como a hidroterapia, massagem e outras práticas que ajudam a promover a saúde integral. A pioneira também amava as flores e muitas vezes estabeleceu paralelos entre o mundo botânico e o Criador da diversidade. Convencida R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Janeiro 2018
de que Deus quer que nos “deleitemos nas belas coisas de Sua criação, e que nelas vejamos uma expressão do que Ele deseja fazer em nosso favor” (Mensagens Escolhidas, v. 2, p. 356), ela cuidadosamente plantava canteiros de flores e, todos os sábados, tinha buquês frescos em sua mesa de jantar. Ela ensinou que a natureza é um presente de Deus para nós e que Seu propósito é que cuidemos dela e a preservemos como resposta à Sua graça (A Ciência do Bom Viver, p. 365). O interesse de Ellen G. White pelo meio ambiente é igualmente refletido em sua ênfase na dieta vegetariana balanceada. Para ela, a prática do vegetarianismo não apenas resulta na melhoria da saúde, mas oferece uma solução prática para combater a fome no mundo por meio do uso mais eficiente dos grãos e outras plantações. Além disso, não foi somente a saúde da humanidade que a levou a defender a dieta vegetariana, mas também a preocupação com os animais. Referindo-se à crueldade nos matadouros, ela escreveu: “Os animais veem e ouvem, amam, temem e sofrem” (A Ciência do Bom Viver, p. 315).
A PIONEIRA DO ADVENTISMO ENSINOU QUE A NATUREZA É UM PRESENTE DE DEUS PARA NÓS E QUE SEU PROPÓSITO É QUE CUIDEMOS DELA E A PRESERVEMOS COMO RESPOSTA À SUA GRAÇA
RESTAURANDO A CRIAÇÃO Ellen G. White também relacionou a ecologia à comissão evangélica quando afirmou: “[Homens e mulheres] devem cooperar com Deus na restauração da saúde à terra, para que seja para o louvor e glória do Seu nome” (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 1, p. 1112). De fato, para ela, a administração cuidadosa dos recursos do planeta é um dever importante. Muito antes da ganância pelo petróleo dominar a política mundial, antes da contaminação alarmante da água, ar e terra, Ellen G. White reconheceu a necessidade de água pura e ar f resco (Mensagens Escolhidas, v. 2, p. 456). Ela também compreendeu os efeitos maléficos da poluição química e sonora (A Ciência do Bom Viver, p. 365). Muitas vezes ela falou sobre os benefícios de morar no campo, até de caminhar por ele, pois oferece paz, quietude e descanso, elementos essenciais para a saúde física e mental (O Lar Adventista, p. 136, 139; Conselhos aos Professores, Pais e Estudantes, p. 187). Embasada nas Escrituras, Ellen G. White incentivou constantemente os cristãos a rejeitar o materialismo e a ter uma vida simples, a fim de obter recursos para apoiar os missionários e cuidar dos pobres (A Ciência do Bom Viver, p. 287). Por isso, ela estimulou as famílias a viver dentro de sua renda e a não acumular coisas desnecessárias (O Lar Adventista, p. 396). Pesquisas recentes têm mostrado a importância do contato com a natureza para o desenvolvimento moral. No entanto, Ellen G. White escreveu sobre o assunto há mais de 100 anos. Ela acreditava que se, intencionalmente, mostrarmos Deus como o Criador, o próprio mundo natural oferecerá oportunidades
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de um aprendizado mais profundo dos princípios espirituais (Testemunhos Para a Igreja, v. 3, p. 376, 377; Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes, p. 54, 55). Assim, a ecologia não é um fim em si mesma. Um meio ambiente preservado indica a apreciação de Deus pelo que é belo. Na visão de Ellen G. White, o respeito pela criação deveria incluir o respeito pelo Criador. Ela reconheceu que os direitos humanos estão enraizados na doutrina da criação. Infelizmente, o pecado fraturou o relacionamento da humanidade com Deus, de uns com os outros e com a natureza. Mas, motivados pela graça de Deus, devemos procurar restaurar integralmente essas três dimensões. Ellen G. White falou da aprovação de Deus a “governos que protegem, restauram, aliviam, mas nunca apreciam a opressão. O pobre deve ser especialmente tratado com gentileza. [...] Deve-se cuidar dos oprimidos, e nenhum portador da imagem de Deus deve ser colocado aos pés de outro ser humano. Deve-se utilizar a maior gentileza e liberdade possíveis para com os outros, pois também foram comprados pelo sangue de Cristo” (Manuscript Releases [Ellen G. White Estate, 1990], v. 3, p. 37, 38). Por causa do pecado, Adão e Eva perderam o ambiente do Éden, iniciando, então, o processo de degradação do meio ambiente pelo materialismo e ganância, que levaram ao desrespeito pela beleza e recursos limitados da terra. Como cristãos, não apenas aguardamos a restauração final do planeta ao seu estado original, mas também honramos a Deus hoje quando cuidamos responsavelmente da criação. ] CINDY TUTSCH foi diretora associada do Patrimônio Literário de Ellen G. White, localizado em Silver Spring, Maryland (EUA)
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VIDA ADVENTISTA
Voando para meu passado
VINTE E CINCO ANOS DEPOIS, AO TENTAR ENTRAR NO CANADÁ, UMA TOLICE COMETIDA NA MINHA JUVENTUDE QUASE FRUSTROU TUDO
N
os últimos seis meses viajei por 25 países e não tive nenhum problema com a imigração, até chegar ao Canadá. Meu plano era visitar uma escola adventista missionária para coletar histórias para o site Adventist Mission. O agente da imigração pareceu um pouco desconfortável enquanto examinava meu passaporte no aeroporto de Edmonton, em Alberta. Ele colocou um grande selo vermelho no meu formulário e informou que eu precisava passar por uma inspeção mais detalhada. Em outro setor do aeroporto, um segundo agente passou minha bagagem pelo raio X e disse: “Então você já teve problemas com a imigração no passado?” “Não que eu saiba”, respondi, tentando imaginar o que teria provocado aquele comentário. O agente olhou meu passaporte e ficou por um longo tempo com os olhos fixos na tela do seu computador. Finalmente, ele se voltou para mim e disse: “O que você me diz sobre 17 de março de 1992?” Foi quando descobri sobre o que ele estava falando. Aquele foi o dia em que eu roubei um avião nos Estados Unidos e voei para o Canadá. VOLTANDO A 1992 Nasci e fui criado numa família missionária, mas sem desenvolver um relacionamento pessoal com Jesus. Meus pais se divorciaram e voltaram para os Estados Unidos quando eu tinha 15 anos. Foi quando me tornei um adolescente irritado e egoísta. 26
Depois de terminar o ensino médio, f iz min ha mat rícula no Walla Walla College, no estado de Washington, e imediatamente me inscrevi em um curso de aviação. Sempre quis ser piloto, e logo estava voando sozinho em um avião Cessna 152 de dois lugares. Lá nas nuvens, eu me sentia no topo do mundo! Em solo, porém, minha vida era mais complicada. Eu era áspero com meus pais e não lhes obedecia. Além disso, fiz algumas amizades que Deus não podia abençoar. Nessa época, quase sempre eu só pensava em mim mesmo. Após um ano, tranquei a faculdade, mas ainda não podia voar porque não havia completado minhas horas de voo e o curso já estava pago. No dia 16 de março de 1992 tomei um Cessna 152 no Aeroporto Regional de Walla Walla para um voo-treino. Voando alto, por cima daquela região agrícola exuberante, reclamava para mim mesmo das “injustiças” sofridas nos meus 19 anos de vida. Considerei acabar com tudo. Então, apontei o “nariz” do avião para a direção oposta à minha casa. Quatro horas mais tarde, o indicador de combustível mostrava que
o tanque estava vazio. Para piorar, eu não tinha a mínima ideia de onde pousar. O panorama de rios, lagos e colinas cobertas de florestas compunha o cenário abaixo de mim. Procurei por clareiras e, de repente, avistei uma pequena pista de pouso. Depois de aterrissar e estacionar ao lado de um hangar trancado, eu quis saber onde estava. Anoitecia e uma brisa gelada começou a soprar. Minha jaqueta era leve demais para me proteger daquele frio. E eu tinha apenas 5 dólares no bolso. Enxerguei um telefone público por perto e disquei “0” para uma ligação gratuita para a telefonista. Do outro lado me respondeu uma voz feminina com sotaque britânico. Expliquei que estava perdido e perguntei se ela podia me dizer de onde eu estava ligando. Incrédula, a mulher me perguntou como alguém podia não saber onde estava. Então me disse que aquele telefone público estava em Trail, Columbia Inglesa. Conclui que minha nova vida começaria no Canadá. Dormi no avião e, na manhã seguinte, gastei quase todo o meu dinheiro com o café da manhã em um McDonald’s próximo. Então caminhei 13 km até a cidade de
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ANDREW MCCHESNEY
DEUS ME PERDOOU, MEUS PAIS ME PERDOARAM E RECEBI O PERDÃO DE OUTROS TAMBÉM, MAS O CANADÁ GUARDOU O REGISTRO DO MEU ERRO
Rossland e, tremendo de frio, liguei para a polícia. Um policial foi me buscar e, quando soube que eu tinha cruzado a fronteira sem passaporte nem autorização, me levou direto para a cadeia. Minha mãe chegou à tarde para me levar para casa. Seu rosto estava vermelho de tanto chorar e seu olhar era de angústia. Ela havia passado a noite toda preocupada, sem dormir, imaginando que o avião tivesse caído. Os funcionários da faculdade haviam avisado a polícia sobre meu desaparecimento e uma busca para me achar tinha sido iniciada naquela manhã. As autoridades canadenses me liberaram sem cobrar fiança e o Walla Walla College também não cobrou multas. 25 ANOS DEPOIS Desde 1992, eu não tinha voltado ao Canadá. E muitas coisas ocorreram nesses 25 anos. Terminei a faculdade e trabalhei durante 17 anos em um jornal na Rússia, do qual fui editor-chefe por oito anos. Em 2006, pela primeira vez procurei conhecer Jesus e fui batizado. Depois disso, procurei meus pais e outras pessoas que eu tinha ofendido, para pedir perdão. Entrei em contato com o Walla Walla College e reembolsei o prejuízo. Enfim, comecei uma nova vida. Contudo, ali estava eu barrado na imigração do aeroporto de Edmonton, sendo questionado sobre 1992. “Eu era um jovem tolo”, respondi ao agente. “O que fiz foi estúpido”, completei. O agente fez mais perguntas e vasculhou minha bagagem. Depois, enquanto eu fechava minhas malas, ele caminhou até outro agente da imigração e falou baixinho com ele. Eu orei.
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Quando voltou, ele me olhou por um momento e carimbou meu passaporte autorizando minha entrada. Agradeci ao agente. Perguntei se eu teria que passar por entrevistas semelhantes todas as vezes que visitasse o país. Ele disse que talvez sim, porque meu nome continuaria no sistema. As consequências acompanham cada ação. A Bíblia diz que aquilo que o ser humano semeia, ele colhe (Gl 6:7, 8). Em março de 1992, eu semeei egoísmo. Um quarto de século mais tarde continuo colhendo os resultados daquela tolice. Deus me perdoou, meus pais me perdoaram, e recebi o perdão de outros também, mas o Canadá guardou o registro do meu erro. Nenhuma quantidade de perdão — mesmo de Deus — pode mudar a realidade de que enfrentamos as consequências de nossas ações. Comecei uma nova vida quando entreguei meu coração a Cristo, mas descobri com essa experiência que meu passado vai me seguir até que Jesus volte, faça novas todas as coisas e apague os meus erros dos registros do Céu (Is 65:17). ] ANDREW MCCHESNEY é editor do Informativo Mundial das Missões da Igreja Adventista
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DEVOCIONAL
N AT U R E Z A
LONGE DE REFLETIREM O CARÁTER DE DEUS, AS DISTORÇÕES NO MUNDO NATURAL EXPÕEM O PLANO DESASTROSO DAQUELE QUE TENTOU USURPAR O DOMÍNIO DO PLANETA SCOTT CHRISTIANSEN
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bserve o escorpião. Ele foi cuidadosamente projetado para ser formidável e perigoso. Ele tem o corpo coberto por um revestimento blindado, pinças fortes para agarrar suas presas e ferrão rápido como relâmpago que injeta um veneno excruciantemente doloroso. Após a morte de sua presa, ou até que ela perca os movimentos, o escorpião devora quase tudo, seja um inseto, uma larva ou um rato. Para a maioria das pessoas, o escorpião é uma criatura repugnante. Sua própria existência é um problema e levanta questões desconfortáveis: o escorpião foi criado por Deus? Para responder a essa pergunta usando apenas a Bíblia e a lógica, eu usaria um argumento de unificação geral sobre o assunto do pecado, sofrimento e a degeneração acelerada do nosso meio ambiente. Começaria meu argumento destacando que a Bíblia afirma que Deus é amor e essa é a essência do Seu caráter. Então, que tipo de mundo um Deus assim criaria?
PRINCÍPIO ORGANIZADOR DA CRIAÇÃO Em Jó 38:6 e 7 lemos os seguintes questionamentos: “E os seus fundamentos, sobre o que foram postos? E quem colocou sua pedra de esquina, enquanto as estrelas matutinas juntas cantavam e todos os anjos se regozijavam?” O texto se refere à criação do mundo. Se a nova criação fosse incoerente com o caráter de Deus, os anjos não teriam respondido com cânticos. Ao contrário, ficariam consternados. Assim, o mundo, como originalmente criado, devia ser coerente com o caráter de Deus; o amor era o seu princípio organizador. Concluo que, em um mundo assim, doar era a base da sua essência; nele, em cada interação, tudo transmitiria uma bênção; e o tirar não fazia parte da base de sua existência.
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IMPERFEITA O
Temos um vislumbre disso em Gênesis 1:29 e 30, onde lemos que, naquele mundo novo e perfeito, todos os animais se alimentavam de plantas. Não era plano de Deus que suas criaturas recém-criadas tirassem vidas. Por isso, em Isaías 11 encontramos a descrição surpreendente sobre a terra recriada: o leão e o cordeiro deitarão juntos. Ursos vão pastar e os leões comerão palha. Será muito diferente. O texto promete: “Não se fará mal nem dano algum em todo o Meu santo monte” (v. 9). Um mundo onde o amor é o princípio organizador, em cuja base de existência nada fere ou mata, é radicalmente estranho para nós. Esse é um mundo no qual não há ameaças e até mesmo os sistemas biológicos básicos (como o sistema digestório do urso) diferem fundamentalmente do que vemos ao nosso redor atualmente.
Satanás não pode criar, pois somente Deus é o Criador, mas ele certamente pode perverter e realizar
DOMÍNIO DO EGOÍSMO Como, então, o mundo criado perfeito tornou-se tão oposto ao caráter de Deus? A Bíblia relata uma história cativante que responde a essa pergunta. Curiosamente, essa história está em estilo não linear, como encontramos no livro de Apocalipse. A história começa em Ezequiel 28 com uma descrição extensa de Lúcifer, que era formoso, sábio e coberto de joias e ouro. Lúcifer não era apenas um anjo; o verso 14 afirma que ele foi ungido como querubim cobridor. Não conhecemos a hierarquia celestial, mas Lúcifer ocupava uma posição muito importante. Por exemplo, se Deus fosse o rei, talvez pudéssemos dizer que Lúcifer era o primeiro-ministro. Lúcifer era perfeito até que um dia se encontrou iniquidade nele; ele se tornou orgulhoso e convencido (Ez 28:14-17). A história continua em Isaías 14:13 e 14 (NVI), onde Lúcifer diz: “Subirei aos céus; erguerei o meu trono acima das estrelas de Deus; […] serei como o Altíssimo.” Para Lúcifer, não era o bastante ser o primeiro-ministro; ele queria ser o rei. Assim, o que fez Lúcifer? Começou a primeira campanha política, recrutando anjos para o seu lado. Como em qualquer campanha política, ele atacou o caráter do seu oponente.
mudanças na criação
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Começou também a articular seu plano para uma administração superior no Universo; ele apresentou um modelo diferente, cujo princípio organizador é o egoísmo. Lemos que “houve, então, uma guerra nos céus” (Ap 12:7). Porém, essa palavra “guerra” (do grego polemos) significa não apenas “guerra” e “batalha”, mas “discussão” e “contenda”. É a raiz das palavras “polêmica” e “política”. Portanto, inicialmente essa foi uma batalha de ideias opostas, e Lúcifer – agora denominado Satanás – foi bem-sucedido, conseguindo muitos aliados; ele convenceu um terço dos anjos do Céu (v. 4).
Satanás perdeu sua campanha e foi expulso do Céu, junto com os anjos que se aliaram a ele (v. 7-9). É aqui que todas as coisas fazem sentido, porque na Terra ele venceu Adão e Eva e tomou como espólio a única coisa que realmente possuía: o domínio que Deus havia dado a eles. Satanás se tornou o “príncipe” deste mundo (Jo 12:31, NVI). Aqui, ele tinha tanto o poder como a oportunidade de continuar sua campanha e a realização de seu plano. Satanás não pode criar, pois somente Deus é o Criador, mas ele certamente pode perverter e realizar mudanças fundamentais na criação. Assim, começou a mostrar para o Universo que o seu plano funcionaria brilhantemente. No entanto, eis o problema de Satanás: seu plano é um desastre completo. O mundo organizado em torno do egoísmo resultou em morte, destruição e sofrimento. Em vez de avançar para o estágio de igualdade com Deus, o resultado foi o declínio de todas as coisas. Esse é um plano terrível, não apenas porque o egoísmo colapsa sobre si mesmo, mas porque resulta em consequências extremas para o meio ambiente e para a humanidade. ESPERANÇA NO FUTURO O que vemos ao nosso redor – conflito, fome, doenças e desastres naturais – são as consequências desse plano desastroso. Deus permitirá que ele continue até que Satanás não tenha sequer um argumento de que seu plano é melhor e que o caráter de Deus está manchado. Até lá, somos chamados a ser exemplos vivos do reino de amor de Deus, transmitindo bênção em cada interação, proclamando e defendendo Seu caráter para um mundo egoísta. ] SCOTT CHRISTIANSEN é evangelista da Associação do Norte da Inglaterra e autor do livro Planet in Distress
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MINHA HISTÓRIA
O RUGIDO DO LEÃO A AVENTURA DE UM CASAL NUMA MADRUGADA CONGELANTE NAS SAVANAS DA ÁFRICA DO SUL
D
“
DICK DUERKSEN
epressa! Estou ouvindo um leão e precisamos ir!” Minha esposa, Brenda, e eu estávamos visitando nossos novos amigos na África do Sul, próximo ao Parque Nacional Krueger. Eram 5 horas da manhã, hora de levantar. Pegamos nossas câmeras fotográficas e entramos na Land Rover. Fazia um frio capaz de congelar o fogo; por isso, os cobertores adicionais no veículo aberto tornavam a viagem mais confortável e aconchegante. Bebemos chocolate quente e nos aconchegamos ainda mais nos cobertores quentinhos, tentando não cair da caminhonete enquanto o motorista atravessava os riachos e passava pelos arbustos. – Pare! – disse ele, pressionando o freio até o fim. – Escute! Escutamos. O silêncio nos envolveu, fazendo com que o ar daquele momento que antecede a alvorada parecesse ainda mais frio. Então ouvimos o rugido. Uma. Duas. Três vezes. Quatro vezes. Cinco. Um som terrível que sacudiu a Land Rover e estremeceu o chão ao nosso redor. – Mais perto! – disse ele. Brenda sugeriu que essa era uma boa hora para voltarmos para casa e tomar o desjejum. Conferi minhas câmeras mais uma vez e aguardei, na esperança que eu tivesse calma suficiente para manter os animais bem focalizados. 30
Foi quando a caminhonete começou a se mover vagarosamente, quase em silêncio, encostando numa árvore de acácia para que pudéssemos ver o leão enorme que estava deitado na grama e chamando pelo nascer do sol. Nosso veículo parou e o motor foi desligado. Coloquei minha lente teleobjetiva contra o encosto de um assento e apontei em direção ao animal na grama. O primeiro leão rugiu novamente. Dessa vez sua voz combinava com o barulho dos mecanismos da minha câmera. Ainda estava escuro e tão frio que cada rugido produzia uma grande nuvem de vapor branco. Brenda se esforçava para não tremer e comprometer o foco da câmera. Eu soltava minha respiração lentamente, esperando que pelo menos um frame resultasse numa foto perfeita daquele belo animal. Foi então que aquela fera olhou para nós. Sua juba tinha um brilho avermelhado refletindo o sol que nascia; e sua respiração era um vulcão ativo. R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Janeiro 2018
Foto: Dick Duerksen
– Olhe para o leste – disse nosso motorista. O segundo leão parecia ainda maior que seu irmão, com um alaranjado brilhante pela luz do sol. Ele se exibia entre os arbustos como se fosse o dono do mundo. O primeiro parou de rugir e olhou para seu irmão. Pareciam gatinhos se preparando para rolar um sobre o outro na grama. Em vez de se agarrarem, o segundo deitou e abraçou o primeiro leão. Tudo naquele encontro dizia que eram os melhores amigos. – Olhe para o norte – sussurrou o motorista. Lá vinha o terceiro animal, ainda mais majestoso do que os outros dois, empinando sobre suas passadas em direção à reunião do alvorecer. – Eu nunca tinha visto isso em todos esses anos em que vivo por aqui! – disse nosso amigo. – Normalmente os machos grandes matam um ao outro e assumem a liderança, mas esses três ainda são os melhores amigos! Eu tinha trocado minhas lentes teleobjetivas longas por uma mais curta e estava usando baterias e espaço de armazenamento enquanto continuava gravando aquela cena fraternal. Três leões rolando e brincando juntos como gatinhos alaranjados gigantes, sob a luz de uma manhã gelada. Poucos minutos depois, o terceiro leão rosnou, levantou-se e lentamente caminhou em direção à nossa Land Rover. – Não se mexam! – sussurrou o motorista. Não nos mexemos tanto quanto trememos. Ele caminhou para a direita, na direção da minha esposa, diminuiu o passo, olhou levemente para cima, e então foi para frente, na direção do leito seco de um rio. Pouco depois, os outros dois irmãos o seguiram, passando silenciosamente por nós, como se não existíssemos. R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Janeiro 2018
Brenda respirou outra vez. Tinha segurado o fôlego por aqueles instantes e então pôde dar um suspiro que misturava medo, alívio e a pura alegria da aventura. – Eles não nos comeram! – ela sussurrou aliviada. Aquilo quebrou a tensão do momento. E todos respiramos, rimos e agradecemos a Deus por esse vislumbre da vida na nova Terra testemunhado nas savanas africanas. Um leão rugiu a distância. Mudando de cenário, imagino outro quadro. – Daniel! – chamou o rei Dario para dentro da profunda cova dos leões. – Você está bem? Será que seu Deus o protegeu? – Sim, meu Rei! – respondeu Daniel, enfiando a mão na juba preta de um leão gigante. – O meu Deus enviou Seu anjo e fechou a boca dos leões! – Ah, sim. Sabia que Ele faria isso! – sorriu o rei. – O Deus Criador é assim. Transforma uma noite de terror em uma noite de amor fraternal com o grande leão. ] DICK DUERKSEN é pastor e um contador de histórias em Portland, Oregon (EUA)
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VISÃO GLOBAL
O
Avance sem medo DEUS SEMPRE ESTÁ COM SEU POVO DIANTE DE GRANDES TRAVESSIAS TED WILSON
ano-novo sempre oferece um novo começo. Muitas vezes esse é um período de reflexão sobre o passado e um olhar renovado para o futuro, na esperança de que um ano melhor esteja à nossa frente. No entanto, a menos que comecemos 2018 com Deus, o Autor dos novos começos, teremos poucas chances de obter sucesso. Ele nos deixou promessas preciosas em Sua Palavra: “Não fiquem lembrando das coisas passadas, nem pensem nas coisas antigas. Eis que faço uma coisa nova. Agora mesmo ela está saindo à luz; será que voces não o percebem? Eis que porei um caminho no deserto e rios nos lugares áridos” (Is 43:18, 19). Deus sempre tem uma solução quando parece não existir nenhuma. UM DILEMA Um momento crucial da história do povo de Israel ilustra poderosamente esse ponto. Em Êxodo 14, encontramos os israelitas em um dilema aparentemente impossível de ser resolvido. Eles pensavam ter deixado a escravidão para trás. Porém, quando acamparam diante do Mar Vermelho, o brilho das armas e o movimento rápido das carruagens do Egito que vinham a distância encheram o coração deles de temor. “Pois teria sido melhor para nós servir os egípcios do que morrer no deserto” (Êx 14:12), gritaram para Moisés. Com o Mar Vermelho à frente, montanhas altas dos lados e seus opressores se aproximando atrás deles, não tinham para onde ir. Haviam se esquecido de que Deus os havia conduzido e protegido até ali por meio de uma nuvem durante o dia e uma coluna de fogo à noite (Êx 13:21).
Foto: Ian Froome
NÃO TEMA AS CONSEQUÊNCIAS No entanto, Moisés, não se havia esquecido da providência de Deus. Ellen White, profetisa e pioneira adventista, escreveu em Patriarcas e
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R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Janeiro 2018
Profetas, na página 284, que ele “ficou grandemente perturbado por seu povo manifestar tão pequena fé em Deus, embora tivesse, repetidamente, testemunhado a manifestação de Seu poder em favor deles. […] Na verdade, não havia possibilidade de salvamento, a menos que o próprio Deus interviesse para os livrar. Mas, tendo sido levados àquela situação em obediência à instrução divina, Moisés não tinha receio das consequências. Sua resposta calma e afirmativa ao povo foi: ‘Não tenham medo; fiquem firmes e vejam o livramento que o Senhor lhes fará no dia de hoje, porque vocês nunca mais verão esses egípcios que hoje vocês estão vendo. O Senhor lutará por vocês; fiquem calmos’ (Êx 14:13, 14)”. Moisés não estava com medo. Ele sabia que era plano de Deus que o povo estivesse ali. Ele obedeceu ao Senhor, deixou as consequências com Ele, e Deus os livrou de maneira grandiosa. O mesmo pode acontecer conosco hoje, como indivíduos e como igreja. Enquanto permanecermos fiéis à vontade Dele revelada na Bíblia e nos escritos de Ellen G. White, não precisamos temer nenhuma circunstância. Sob Sua proteção, Ele nos mostrará o caminho em cada dificuldade. O PODER DE DEUS O texto de Isaías 43 se refere a Deus como Criador, Redentor e Libertador, e faz menção ao episódio de livramento no Mar Vermelho como uma prova do poder maravilhoso de Deus para nos livrar hoje: “Não tenha medo, porque Eu o remi; Eu o chamei pelo seu nome; você é Meu. Quando você passar pelas águas, Eu estarei com você; quando passar pelos rios, eles não o submergirão; quando passar pelo fogo, você não se queimará; as chamas não o atingirão. […] Assim diz o Senhor, que preparou um caminho no mar e uma vereda nas águas impetuosas; que fez sair os carros e os cavalos, o exército e a força, e eles jazem ali e jamais se levantarão; estão extintos, apagados como um pavio. Não fiquem lembrando das coisas passadas, nem pensem nas coisas antigas. Eis que faço uma coisa nova. Agora mesmo ela está saindo à luz. Será que vocês não o percebem? Eis que porei um caminho no deserto e rios nos lugares áridos” (v. 1, 2, 16-19). Não precisamos temer nossa jornada. Passaremos pelas travessias que existem pela frente se considerarmos as inúmeras promessas da R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Janeiro 2018
Palavra. Elas nos lembram dos grandiosos feitos de Deus no Mar Vermelho e nos animam a olhar adiante para Sua poderosa obra em nós.
EM FRENTE AO
UM CONVITE No início deste novo ano, convido você a seguir a direção de Deus e a avançar com fé e confiança. Guardemos no coração esta conhecida citação, seguida de um lembrete sobre o que Deus quer que façamos: “Nada temos a recear no futuro, a não ser que nos esqueçamos do caminho pelo qual Deus nos tem conduzido. [...] Somos agora um povo forte, se pomos nossa confiança no Senhor, pois estamos a tratar com as poderosas verdades da Palavra de Deus. Tudo temos que agradecer. Se andamos na luz, como resplandece ela sobre nós, procedente dos vivos oráculos divinos, teremos grandes responsabilidades, correspondentes à grande luz a nós conferida por Deus. Temos muitos deveres a cumprir, porque fomos feitos depositários da verdade sagrada, a ser dada ao mundo em toda a sua beleza e glória. Somos devedores a Deus por todas as regalias que Ele nos confiou para embelezarmos a verdade com a santidade de nosso caráter, e comunicarmos a mensagem de exortação, consolo, esperança e amor àqueles que estão nas trevas do erro e pecado” (Testemunhos Para Ministros e Obreiros Evangélicos, p. 31). Irmãos e irmãs, Jesus está voltando em breve. Vocês estão bem com Ele? Se não, agora é o tempo de reivindicar a promessa de 1 João 1:9: “Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.” Você está desanimado? Olhe “para o lugar em que pela última vez você viu a luz” (A Ciência do Bom Viver, p. 250), lembrando que “Aquele que começou boa obra em vocês há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus” (Fl 1:6). Avance com fé e coragem no programa Envolvimento Total dos Membros, compartilhando o amor de Deus e proclamando ao mundo que Jesus em breve voltará! Maranata! ]
MAR VERMELHO, MOISÉS NÃO ESTAVA COM
MEDO. ELE SABIA
QUE ERA PLANO DE DEUS QUE O POVO ESTIVESSE ALI
TED WILSON é o presidente mundial da Igreja Adventista
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NOVA GERAÇÃO
NÃO BASTA TER SANGUE ADVENTISTA CORRENDO EM SUA VEIA SE O SANGUE DE JESUS NÃO SIGNIFICA MUITO PARA VOCÊ 34
CONHECER A DEUS PESSOALMENTE APESAR DE PERTENCER À QUARTA GERAÇÃO DE ADVENTISTAS DE MINHA FAMÍLIA, SÓ AGORA ENTENDI QUE PRECISO TER UMA EXPERIÊNCIA INDIVIDUAL COM DEUS CAROLINA RAMOS
Estou cercada de netos dos pioneiros adventistas, missionários que vieram para esse lugar com muitas incertezas e pouco dinheiro e conhecimento do idioma local. Eles se estabeleceram aqui porque Deus os enviou para cá. Mas será que seus descendentes hoje também se sentem chamados para uma missão? A conclusão a que cheguei é que, se você não teve um encontro pessoal com Deus, não importando quanto sangue adventista corre em suas veias, é provável que o sangue de Jesus não tenha nenhum significado para sua vida. Despertei para isso estudando a Bíblia e orando sozinha. Entendi que Deus tinha um enorme desafio para mim: acordar para o fato de que eu precisava experimentar um relacionamento diário com Ele e que poderia ajudar outros jovens de famílias tradicionais adventistas a despertar também. Você pode estar enfrentando outras dificuldades em sua igreja hoje, mas o chamado de Deus para você é o mesmo: é pessoal. Como professora da classe da Escola Sabatina dos adolescentes, meu sonho é que meus alunos tenham uma experiência espiritual de primeira mão. Que aceitem o desafio de Deus para eles: fazer parte, quem sabe, da última geração de adventistas. Espero que, assim como seus antepassados, eles também conheçam Jesus pessoalmente. ] CAROLINA RAMOS estuda tradução, ensino da língua inglesa e educação musical na Universidade Adventista del Plata, na Argentina
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Foto: Arquivo pessoal
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e perguntarem aos meus vizinhos sobre a história de nossa cidadezinha, provavelmente vão dizer que tudo começou há uns 200 anos. Mais do que isso, dirão que aqui é uma terra de pioneiros. Apesar de ter apenas 6 mil habitantes, o município de Libertador San Martín, localizado numa província central da Argentina, leva o nome de um grande líder da independência do país. Para o contexto adventista, sua importância é ainda maior. A cidade sedia uma universidade, um hospital e um colégio da igreja. E a poucos quilômetros daqui está localizada a primeira igreja adventista da América do Sul. Essa foi uma região abençoada pelo esforço de fiéis pioneiros que estabeleceram instituições que preparariam missionários para servir ao redor do mundo. Algo peculiar dessa localidade é a grande quantidade de adventistas. A maioria da população professa nossa fé. Por isso, todas as lojas fecham aos sábados. E, em vez de enfrentar oposição quanto à própria crença, os alunos são incentivados pelos professores a fazer a vontade de Deus. Embora seja muito confortável viver num local em que a maioria das pessoas pertence à sua religião e onde as três gerações anteriores da sua família têm morado, isso pode se tornar uma espada de dois gumes. Deixe-me explicar. Como estou prestes a terminar meus estudos e pretendo deixar esse lugar protegido, vejo a importância de ter um relacionamento em primeira mão com Deus.
PRIMEIROS PASSOS
PERGUNTE A VOCÊ MESMO ▸ Quando oro, estou disposto a aceitar a resposta de Deus, não importando qual seja? ▸ Como minha fé pode se tornar semelhante à de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego?
TRÊS MANEIRAS DE ORAR 1 E screva suas orações – e respostas – em um caderno especial.
ENFRENTANDO O CALOR
A HISTÓRIA DE TRÊS JOVENS HEBREUS QUE FORAM JOGADOS NUMA FORNALHA WILONA KARIMABADI E RANDY FISHELL
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rei mal podia acreditar no que tinha acabado de ouvir! Realmente, havia três jovens que se recusaram a obedecer à sua ordem de adorar a grande estátua de ouro? Não sabiam eles que o castigo para aquela desobediência era morrer na fornalha ardente? “Tragam esses jovens aqui!”, ordenou Nabucodonosor. Logo, os três jovens estavam diante do rei. “Sadraque, Mesaque e AbedeNego! É verdade que vocês não adoraram a estátua de ouro que construí?” Era verdade, mas o rei estava dando outra chance para eles. “Se desta vez vocês se prostrarem e adorarem a estátua, serão perdoados. Mas, se não adorarem, serão jogados dentro do fogo!” Nabucodonosor ficou mais surpreso com o que ouviu em seguida: “Nosso Deus pode nos proteger”, os três explicaram. “Porém, mesmo que Ele não nos salve, nós não vamos nos curvar diante da sua estátua”, acrescentaram.
Ilustração: Xuan Le
“Eu clamo a Ti, ó Deus, pois Tu me respondes” (Sl 17:6, NVI).
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2 P esquise na Bíblia algumas orações, procure decorá-las e peça a Deus que faça você se lembrar delas quando precisar. 3 P rocure a letra de um hino de que você goste e leia para Deus como se fosse uma oração.
O rei Nabucodonosor ficou muito bravo. “Joguem esses rapazes na fornalha ardente!”, ordenou ele. Em seguida, o rei levou outro susto. Quando ele olhou para dentro da fornalha, os três jovens estavam muito bem. E, quando Nabucodonosor observou melhor, viu uma quarta Pessoa no fogo: era Jesus! O rei tinha visto o suficiente. “Tirem Sadraque, Mesaque e AbedeNego do fogo”, ele mandou. Os três amigos haviam enfrentado o fogo e confiado em Deus, não se importando com o que poderia acontecer. Leia na Bíblia essa história maravilhosa em Daniel capítulo três. ] WILONA KARIMBADI é editora-assistente da Adventist World e RANDY FISHELL é autor de livros infantis
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PERSPECTIVA
O INSTINTO DA COMPAIXÃO
CRESCEM AS EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS DE QUE CRIANÇAS E ANIMAIS TÊM UM IMPULSO PARA A SOLIDARIEDADE SANDRA BLACKMER
Foto: Erik Cid
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uando Tempestade, o cão golden retriever inglês de seis anos de Mark Freeley, mergulhou na costa de Long Island, em Nova York (EUA), o dono não entendeu a atitude do animal. Foi então que ele percebeu que um filhote de cervo estava lutando no mar para flutuar. “O Tempestade está tentando salvar aquele bichinho”, dizia Freeley no vídeo que viralizou nas redes sociais e que foi reportado pelo jornal The Washington Post, em 18 de julho de 2017. O cachorro agarrou o animalzinho pela boca e o levou de volta à praia. Após soltá-lo, ele cutucou seu corpo e apalpou suas pernas, como se quisesse ter certeza de que o cervo estava bem. A equipe de socorro foi acionada e transportou o filhote de cervo para uma reserva natural próxima dali, a fim de que o bicinho se recuperasse completamente. Segundo o jornal The New York Times, o feito heróico do cão Tempestade em Port Jefferson rapidamente o tornou uma celebridade nas redes sociais. Alguns têm dúvida sobre a motivação de Tempestade para resgatar aquele filhote de cervo, mas seu dono acredita que ajudar é parte da natureza do cachorro. Um artigo da revista Psychology Today, de junho de 2013, sugere que, com base num corpo crescente de pesquisas científicas realizadas com crianças pequenas e animais, é possível perceber um instinto compassivo nos seres humanos e nos bichos. O que os pesquisadores têm entendido é que, mesmo neste mundo egoísta R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Janeiro 2018
EM CADA UM DE NÓS AINDA HÁ, MESMO QUE EM PEQUENA ESCALA, UM REFLEXO DA BONDADE DAQUELE QUE NOS CRIOU e competitivo, “o primeiro impulso de adultos e crianças é ajudar os outros”. É verdade que faríamos isso para receber benefícios próprios, como aumentar nosso nível de felicidade e melhorar nossos índices de saúde. Cientistas sociais, por sua vez, têm demonstrado que a compaixão é contagiosa e que atos de generosidade e bondade tendem a gerar uma corrente do bem, um conceito que não é novidade para a maioria de nós. Contudo, de onde viria esse “instinto” de ajuda? A maior parte dos cientistas vai se reportar à teoria evolucionista de Darwin, enquanto cristãos, como os adventistas, tendem a enxergar nessa inclinação humana um resquício de nossa semelhança original com Deus. Isso explicaria, por exemplo, por que, após tragédias e catástrofes
naturais, um exército de pessoas, religiosas e céticas, se apresenta na linha de frente para ajudar os mais necessitados. Talvez porque em cada um de nós ainda haja, mesmo que em pequena escala, um reflexo da bondade Daquele que nos criou. Creio que hoje esse instinto de compaixão pode ser nutrido e desenvolvido ao contemplarmos Cristo em Sua Palavra. Até que Jesus volte à Terra, viveremos neste mundo que, de longe, não reflete perfeitamente o caráter amoroso de Deus; porém, mesmo assim, podemos ter a certeza de que Seu Espírito ainda está entre nós, impulsionando aqueles que estão sensíveis à Sua influência a ajudar os necessitados. ] SANDRA BLACKMER é editora associada da Adventist World e Adventist Review
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BEM-ESTAR ALÉM DE SUA RELAÇÃO COM A SAÚDE E A LONGEVIDADE, OS HÁBITOS DE CONSUMO TÊM OUTRA DIMENSÃO COMUMENTE IGNORADA: O IMPACTO NO MEIO AMBIENTE
AO PRATICAR O ESTILO DE VIDA NATURAL, NÃO APENAS PODEMOS VIVER MAIS, MAS HONRAR A DEUS PRESERVANDO O PLANETA QUE ELE CRIOU PARA NOSSA HABITAÇÃO PETER LANDLESS E ZENO CHARLES-MARCEL
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cuidado da saúde tem sido um aspecto amplamente enfatizado pelos adventistas desde o fim do século 19. Por meio de Ellen G. White, Deus revelou orientações claras de como viver mais e melhor. Essa mensagem foi legada à igreja para ser uma bênção tanto para os membros da denominação como para o mundo. Primeiramente, a mudança beneficiaria os próprios adventistas, que, como afirmou Uriah Smith, precisavam efetuar mudanças urgentes em seu modo de vida, já que muitos estavam à beira da invalizez pelo ritmo incessante e intemperança (Ellen G. White: The Progressive Years, v. 2, p. 119). Assim, ao promover a reforma de saúde, os adventistas estariam em melhores condições para sair e realizar a missão que lhes fora confiada. Ellen G. White escreveu: “Nosso 38
testemunho ainda precisava ser dado, e teria influência” (Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 279). Felizmente, hoje, em algumas partes do mundo, os adventistas do sétimo dia são mais longevos e vivem, em média, de sete a nove anos a mais do que a população em geral, como demonstrou o primeiro Estudo da Saúde Adventista, realizado com adventistas de Loma Linda, na Califórnia (EUA). Há alguns anos, a “vantagem adventista” ganhou repercussão nas páginas de revistas como a Time e a National Geographic. Certamente, a prática dos princípios revelados por Deus tem exercido uma forte influência sobre outras pessoas em muitos lugares. No entanto, além do impacto direto na saúde e na longevidade, o estilo de vida adventista tem outra dimensão que não pode ser ignorada: seus reflexos positivos para
PETER LANDLESS é cardiologista e diretor do Ministério da Saúde da sede mundial adventista em Silver Spring, Maryland (EUA); ZENO CHARLES-MARCEL é clínico geral e diretor associado do Ministério da Saúde da sede mundial
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Foto: Fotolia
AMBIENTE SAUDÁVEL
o meio ambiente. Depois de trabalhar conosco em um projeto de saúde, Martin Doblemeier, renomado diretor de cinema, enviou-nos um e-mail elogiando o trabalho da igreja em promover o bemestar e o cuidado do meio ambiente. Historicamente, a Igreja Adventista do Sétimo Dia tem praticado e defendido o vegetarianismo tanto por razões teológicas e filosóficas como ambientais. Em relação ao primeiro aspecto, cremos que o cuidado integral do corpo pode resultar no aprimoramento da consciência espiritual, clareza mental e maior abertura das intrincadas células cerebrais às impressões e instruções do Espírito Santo. Quanto ao segundo motivo, vários estudos mostraram que a produção e o consumo de carne geram um nível maior de emissão de gases de efeito estufa do que a produção vegetal. Outras pesquisas, incluindo a que resultou no livro Impact of Meat Consumption on Health and Environmental Sustainability (Impacto do Consumo de Carne na Saúde e na Sustentabilidade Ambiental), também concluíram que a redução da pecuária será importante para garantir a segurança alimentar no futuro, uma vez que os níveis de consumo atuais são insustentáveis. Além disso, deveríamos nos preocupar também com a maneira como os animais são tratados em nossa cadeia alimentar e quanto à necessidade de contribuirmos para reduzir a poluição ambiental. Deus Se preocupa com essas questões (Jn 4:11; Ap 11:18). Podemos honrá-Lo se fielmente administrarmos o corpo que Ele nos deu e o meio ambiente que criou para nossa habitação. ]
BOA PERGUNTA
LEI SEM LEGALISMO
QUAL É O SIGNIFICADO DA FRASE “DEBAIXO DA LEI” EM ROMANOS 6:14 E 15? ÁNGEL MANUEL RODRÍGUEZ
Foto: Lightstock
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ssa expressão é usada por Paulo nos dois versos mencionados para estabelecer uma conexão entre determinada compreensão da lei em relação ao pecado e à graça, e para qualificar o significado negativo da frase “não debaixo da lei”. Devemos ter em mente que a discussão sobre a lei ocorre no contexto da controvérsia de Paulo com falsos mestres que promoviam a observância da lei para propósitos pessoais específicos. Consideremos dois pontos: 1. Pecado, lei e graça. Em Romanos, Paulo esclarece que todos os seres humanos estão sob a lei do pecado e que a única maneira de experimentar a liberdade é por meio da fé em Cristo (Rm 3:19-24). Nessa condição de escravidão ao pecado, a lei desempenha um papel negativo (Rm 7:7-12). No entanto, o pecado não é mais o mestre dos que colocam sua fé em Cristo, porque eles “já não estão debaixo da lei, mas debaixo da graça” (Rm 6:14, NVI). Contextualmente, estar “debaixo da lei” é estar sob o domínio do pecado e não sob o domínio da graça. Graça e lei são contrastadas negativamente. Se estar sob a graça significa estar sob o poder redentor de Deus por meio da morte do Seu Filho, estar debaixo da lei é buscar a aceitação de Deus por meio da submissão à lei. Isso, por si só, significa que a pessoa está sob o poder do pecado e não da graça porque, para Paulo, cada ser humano violou a lei de Deus e está sob sua maldição ou condenação (Gl 3:10). A observância da lei não tem poder expiatório; não pode nos libertar do poder do pecado porque é incapaz de devolver vida aos pecadores (v. 21). Na verdade, devido à condição pecaminosa da humanidade, a lei, usada indevidamente pelo pecado, incentiva-os a pecar (Rm 7:8, 9), embora,
em si, a lei seja boa (v. 12). O que a humanidade necessita é da graça de Deus por meio da fé em Cristo. Estar debaixo da lei, procurando ser aceito por Deus por meio dela, é viver sob sua condenação e, consequentemente, sob o poder do pecado (Rm 3:21, 28). 2. Não debaixo da lei. Paulo levanta uma pergunta e dá a resposta: “E então? Vamos pecar porque não estamos debaixo da Lei, mas debaixo da graça? De maneira nenhuma!” (Rm 6:15, NVI). Agora o apóstolo estabelece limites às possíveis implicações da frase “não estamos debaixo da lei”. Isso não significa que a vida cristã seja caracterizada pela ilegalidade. Os crentes certamente não estão sob a obrigatoriedade de obedecer à lei para ser justificados, mas eles desejam “obedecer de coração [sinceramente e com todo o ser] à forma de ensino [os ensinamentos que moldam a vida cristã] que lhes foi transmitida” (v. 17). A vida cristã não exclui a obediência à vontade de Deus, mas a coloca em sua própria perspectiva com respeito à graça. A fé em Cristo não “anula a lei”, mas “confirma a lei” (Rm 3:31, NVI) para que agora, pelo poder da graça de Deus, “a exigência da lei se cumprisse em nós, que não vivemos segundo a carne, mas segundo o Espírito” (Rm 8:4). A lei não é mais o recurso de aceitação diante de Deus, mas um guia santificador para a vida cristã. ] ÁNGEL MANUEL RODRÍGUEZ, pastor, professor e teólogo aposentado, foi diretor do Instituto de Pesquisa Bíblica
ESTAR DEBAIXO DA LEI, PROCURANDO SER ACEITO POR DEUS POR MEIO DELA, É VIVER SOB SUA CONDENAÇÃO E, CONSEQUENTEMENTE, SOB O PODER DO PECADO
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RETRATOS Na comunidade de Achica Abajo, no altiplano boliviano, a ADRA ajudou a mudar a realidade de mais de 200 famílias atingidas pela seca e pela falta de saneamento básico por meio da instalação de reservatórios de água potável, bem como de fossas ecológicas. Antes, os moradores eram obrigados a buscar água em locais insalubres, o que os tornava vulneráveis a diversas enfermidades. Fotografia: Migue Roth (www.espacioangular.org) para a ADRA América do Sul
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LIBERDADE RELIGIOSA
PROIBIDO PREGAR Cerca de um ano e meio depois de ter sido aprovada a lei que restringe a evangelização na rússia, tribunais já julgaram dezenas de processos especialmente contra pessoas e organizações cristãs MÁRCIO TONETTI
ede da Copa do Mundo de 2018, a Rússia tem sido palco de frequentes disputas travadas no campo da liberdade religiosa. Esse direito humano fundamental foi colocado em jogo por uma lei sancionada pelo presidente russo em julho do ano passado. Cerca de um ano e meio depois, a legislação mostrou ser mais do que um pacote de medidas para reforçar a segurança pública e proteger os cidadãos contra o terrorismo. Uma das consequências tem sido a restrição às atividades missionárias consideradas ilegais, razão pela qual dezenas de casos já foram parar nos tribunais.
Foto: Fotolia
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Recentemente, a Forum 18, organização norueguesa de direitos humanos que atua em defesa da liberdade religiosa, divulgou uma lista envolvendo 193 casos registrados contra pessoas e organizações ligadas a diversos segmentos religiosos, especialmente cristãos, entre julho de 2016 e julho do ano passado (para ver a lista completa, acesse: adv7.in/L5). Do total, 143 resultaram em condenações iniciais, sendo que em 140 deles foram impostas multas. Segundo o dossiê, a maioria dos réus é de cidadãos da Rússia. No entanto, estrangeiros também foram processados (desses, cinco foram deportados). O relatório cita, inclusive, casos de membros e igrejas adventistas que tiveram que pagar multa ou dar explicações à justiça por distribuir literatura, identificar incorretamente o nome
da denominação em materiais ou receber missionários estrangeiros. São variados os motivos das ações ajuizadas com base na nova lei. Segundo dados do Slavic Center for Law and Justice, organização não governamental que busca proteger a liberdade religiosa na Rússia, mais de 30% dos casos estão relacionados ao desempenho de atividades sem identificar o nome completo da denominação (conforme cadastrado pelo governo), 56% à violação das regras para o trabalho missionário e 14% às infrações cometidas por estrangeiros. No fim de novembro, os reflexos da lei anti-evangelismo foram discutidos por advogados, ativistas de direitos humanos, bem como por representantes do governo, do Ministério da Justiça e de diversas denominações religiosas na
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Por mais que a Rússia não apareça na maioria dos rankings mundiais de intolerância religiosa, os reflexos da nova lei têm sido vistos como um retrocesso à liberdade de crença no país
Câmara Pública, em Moscou. Relatórios apresentados durante a reunião proposta pela comissão liderada por Oleg Goncharov, adventista n omeado neste ano para o setor do órgão consultivo do Kremlin responsável por promover o diálogo interétnico e inter-religioso, mostraram que a maioria das sentenças resultou de interpretações equivocadas. Quase metade delas (48%) foi aplicada a pessoas físicas, apesar de a definição de “atividade missionária” na nova lei russa se referir a “associações religiosas” e de a Constituição russa assegurar o direito de cada cidadão expressar livremente suas crenças. Como resultado, os participantes do debate pretendem solicitar à Suprema Corte russa explicações sobre a aplicação da lei, sugerir que as agências estatais promovam programas educacionais, seminários, conferências e reuniões para esclarecer a questão, e encaminhar à Duma (Câmara dos Deputados da Rússia) proposta de mudanças na legislação. ] MÁRCIO TONETTI é editor associado da Revista Adventista (com informações da Divisão Euroasiática e da Adventist Review)
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COMUNICAÇÃO
Vista como grande aliada na evangelização, a TV tem recebido novos investimentos da igreja em diversas partes do mundo MÁRCIO BASSO GOMES
primeira transmissão de um programa de TV adventista aconteceu nos Estados Unidos no dia 25 de março de 1956. Idealizado e apresentado pelo pastor George Vandeman, o It Is Written (Está Escrito) também foi a primeira atração cristã em cores da história da televisão americana. Seis décadas depois dessa iniciativa pioneira, a igreja ao redor do mundo conta com 46 canais que transmitem programações em 57 idiomas. Um dos últimos colocados no ar foi o Canal 11 da Samoa Americana. Vista como grande aliada na evangelização, a TV tem se fortalecido inclusive em países como a China, onde recentemente foi inaugurado um novo estúdio em Taipei, no estado de Taiwan. Desde 2007, quando começou a operar,
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Construção de um novo estúdio de TV na Suécia deve profissionalizar a produção audiovisual e ampliar a influência da mensagem adventista na região
o Hope Channel chinês já produziu mais de 500 programas, muitos deles transmitidos pela TV pública taiwanesa. E a partir de 2011 ele começou a ter sua programação em tempo integral no ar. A produção audiovisual também será uma das ferramentas que a igreja pretende usar por ocasião da campanha evangelística que será realizada neste ano na terra do sol nascente. Para esse momento, o Hope Channel do Japão, em parceria com 25 profissionais, sendo 13 de centros de mídia do Brasil, Austrália, Índia, Filipinas e Ásia Central, produziu 130 vídeos. ÚLTIMAS NOVIDADES Nas Ilhas Fiji, o Hope Channel é o único canal cristão de TV que funciona 24 horas por dia no arquipélago da Oceania. Em 1º de novembro, ele começou a transmitir em sinal aberto através da plataforma digital Walesi. De acordo com John Tousere, diretor do canal, a TV adventista terá o potencial de alcançar 94% da população de aproximadamente 900 mil pessoas. “Fiji está começando a transição do sinal analógico para o digital. Como nossa TV já transmite em sinal digital, o futuro do Hope Channel Fiji é bastante promissor”, acrescenta o pastor Williams Costa Jr., líder mundial do departamento de Comunicação da Igreja Adventista. Um pouco mais para a esquerda do mapa, na Austrália, o programa At the Table (À Mesa) também começou a ser transmitido em sinal aberto. A atração, que vai ao ar todos os sábados pelo Canal 10, é veiculada igualmente na Nova Zelândia, além de estar disponível no YouTube, Facebook e no site oficial do programa (thetabletv.com). SONHO REALIZADO É da pequena cidade de Hörby, no sul da Suécia, que a mensagem adventista é também transmitida 24 horas por dia, 7 dias por semana, para suecos, noruegueses e dinamarqueses, tanto nos idiomas locais quanto em inglês. O sinal vai ao ar através da LifestyleTV, emissora mantida totalmente por doações. No mês de novembro, a LifestyleTV recebeu autorização para construir um novo estúdio, de 950 m². A obra, prevista para ser inaugurada em agosto, servirá para substituir o atual estúdio, que há 12 anos fica na sala de uma casa. “Sonhamos com este dia e por ele oramos durante muitos anos”, afirma Claus Nybo, fundador e líder da LifestyleTV. “A internet está em expansão, mas a TV ainda é um veículo de muita expressividade. Quando a TV surgiu, todo mundo dizia que o rádio iria desaparecer. Porém, ele continua firme e forte até hoje, assim como jornais, revistas e livros”, Costa Jr. lembra. Por isso, a tendência é que a igreja continue investindo nessa mídia para levar esperança através da telinha. ] MÁRCIO BASSO GOMES é jornalista (com informações da ANN, Adventist Review e Adventist Record)
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Foto: LifeStyleTV
EVANGELHO NA TELA
SOLIDARIEDADE Em Pacaraima (RR), a igreja ampliou sua estrutura para oferecer não apenas assistência básica, mas desenvolvimento às pessoas que fogem da crise na Venezuela
MAIS DO QUE ALIMENTO Campanha realizada pela igreja há duas décadas tem buscado se renovar, indo além da assistência básica para atender de maneira mais ampla as necessidades humanas MÁRCIO TONETTI
cada ano, o projeto Mutirão de Natal desafia a igreja a envolver mais voluntários, aumentar as arrecadações, usar a criatividade e ir além da doação de cestas básicas que proporcionem uma ceia digna para famílias sem condições financeiras. Embora combater a fome tenha sido o objetivo inicial do projeto, criado em 1994 na Igreja Adventista do Botafogo, na capital carioca, nos últimos anos a campanha agregou outras formas de assistência. “Temos procurado oferecer não apenas cestas básicas
Foto: Fabrício Gomes
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para famílias carentes, mas também promover o desenvolvimento das famílias beneficiadas pela campanha”, explica o pastor Everon Donato, coordenador sul-americano do Mutirão de Natal. Em 2017, além da meta de arrecadar 6 mil toneladas de alimentos (cerca de 20% a mais que em 2016), algumas ações ampliaram o atendimento e incluíram grupos que nem sempre são lembrados nesta época do ano. Por exemplo, em Pacaraima (RR), município localizado na fronteira do Brasil com a Venezuela, foi inaugurado um espaço que será utilizado pela Ação Solidária Adventista (ASA) para atender pessoas que fogem da crise que afeta o país vizinho. A intenção é oferecer a eles aulas R e v i s t a A d ve n t i s t a // Janeiro 2018
de português e culinária saudável, bem como cursos voltados para a geração de trabalho e renda. O primeiro a ser oferecido será na área de panificação. Em Manaus, a estrutura da ASA também será usada para promover programas de capacitação para haitianos que vivem na capital do Amazonas. No caso de São Paulo, doações mensais de cestas de alimentos foram feitas ao longo de todo o ano pelo Instituto Base Gênesis aos refugiados que vivem na maior cidade brasileira. Somente no dia 20 de dezembro, 120 delas foram entregues com o apoio do Unasp, campus São Paulo, de uma igreja local e da Comunidade Árabe Aberta. No dia 17 de dezembro, cerca de 200 crianças, a maioria
árabe, participaram de um programa especial juntamente com seus familiares. Além de lanches e brincadeiras, pelo segundo ano consecutivo, elas receberam presentes doados por funcionários da empresa de telecomunicações Oi. Ainda em São Paulo, a família de um cadeirante que vivia em condições precárias recebeu mais do que alimento. Na periferia da Vila Andrade, bairro nobre da zona sul, o Natal de 11 pessoas será diferente. Com o apoio de empresas, igrejas e escolas, voluntários entregaram para a família uma casa nova, toda mobiliada. Ampliando as fronteiras do Mutirão de Natal, funcionários da sede administrativa da igreja para os estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais (União Sudeste Brasileira) igualmente se mobilizaram e organizaram uma gincana que resultou na arrecadação de 29 mil reais que beneficiarão 50 famílias refugiadas no Líbano. Já numa comunidade ribeirinha de Costa do Aruanã (AM), onde foram entregues 133 kits de higiene bucal, 300 brinquedos, 1,2 mil peças de roupas e 100 cestas básicas, algumas famílias beneficiadas participaram de uma classe bíblica. A meta é plantar uma igreja na localidade. Embora o Mutirão de Natal hoje faça parte do calendário oficial da igreja (não só no Brasil, mas em outros sete países do continente) e até mesmo de alguns municípios, como é o caso de Bragança Paulista (SP), os maiores desafios talvez ainda sejam torná-lo um programa permanente (que não se limite aos últimos meses do ano) e mais abrangente (que promova o desenvolvimento humano). ] MÁRCIO TONETTI é editor associado da Revista Adventista
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FORMAÇÃO PASTORAL Depois de formar a primeira turma, seminário teológico paranaense pretende reestruturar currículo para oferecer complementação acadêmica nas áreas de administração e capelania escolar CAROLINA PEREZ
Dos 37 alunos que se
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uatro anos depois de ter deixado o filho no seminário do Instituto Adventista Paranaense (IAP), a catarinense Márcia de Souza Veiga refez o trajeto de quase 700 quilômetros para acompanhar o momento histórico da formatura da primeira turma do curso de Teologia da instituição localizada em Ivatuba (PR). Realizada no dia 17 de dezembro, a cerimônia histórica reuniu cerca de 800 familiares, professores, representantes do Seminário Latino-Americano de Teologia (Salt) e líderes da igreja no continente. As regiões sul e centro-oeste do Brasil foram as que mais contrataram os pastores recém-graduados. Porém, parte do grupo também irá servir à igreja em outros estados e no Paraguai. Apesar da dificuldade existente hoje para absorver um número maior de pastores que se graduam nos seminários adventistas espalhados pelo país, dos 37 formandos da primeira turma, 27 foram chamados para atuar como capelães de escolas, pastores distritais, assistentes de evangelismo e na área da colportagem. 44
graduaram na primeira turma do curso de Teologia do IAP, 27 foram chamados para atuar em diversas áreas da igreja
MUDANÇAS NO CURRÍCULO A partir deste ano, o curso de Teologia do IAP pretende efetuar mudanças curriculares que ampliarão a formação pastoral. O seminário, que reúne atualmente 180 estudantes e abrirá a quinta turma com 50 matriculados, passará a oferecer complementação acadêmica nas áreas pastoral, de gestão e capelania educacional. Ao matricular-se, além de cursar as matérias fixas da grade curricular, o aluno poderá optar em qual linha deseja se aprofundar. O pastor Márcio Costa, coordenador do curso, explica que o projeto tem o objetivo de atender às demandas atuais da igreja. “Queremos que os alunos que desejam trabalhar na área administrativa ou na capelania educacional tenham base e suporte para fazê-lo da melhor forma possível. Hoje, a graduação não oferece noções básicas de administração nem de capelania educacional”, explica. Antônio Carlos Tavela, coordenador da pastoral escolar para os três estados da região sul, acrescenta que o processo de aprendizagem levará em conta duas dimensões do ministério educacional. “O pastor poderá atuar tanto na sala de aula como professor de Bíblia e de ensino religioso quanto na gestão do desenvolvimento espiritual da escola”, destaca o educador, que após 20 anos de experiência na área escolar admite a importância de preparar melhor os pastores das escolas. A busca por excelência acadêmica tem gerado bons resultados. Em novembro, o seminário adventista do Paraná recebeu nota 5 na avaliação do MEC (Ministério da Educação), pontuação máxima atribuída a cursos superiores. ] CAROLINA PEREZ é assessora de comunicação do Instituto Adventista Paranaense (IAP)
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Foto: Renato Sampaio
EDUCAÇÃO
MEMÓRIA
Ana Rita Sertão Meira, aos 84 anos, em Mogi Mirim (SP). Desde seu batismo em 1966, em São Caetano do Sul (SP), pelo pastor Rodolfo Gorski, Ana Rita se destacou por sua dedicação à igreja. Foi uma das pioneiras do adventismo em Mauá, na região metropolitana de São Paulo. Levou muitas pessoas ao batismo, incluindo esposo e filhos. Deixa o esposo, Gabriel, quatro filhos, netos e bisnetos. Benedito Bispo da Silva, aos 80 anos, em Feira de Santana (BA), vítima de câncer no pâncreas e no fígado. Foi batizado em 1972 por influência do programa de rádio A Voz da Profecia, e por 35 anos serviu como ancião da Igreja Central de Junco, em Jacobina (BA). Levou muitas pessoas ao batismo por meio de estudos bíblicos e pregações. Deixa a esposa, Ilda, com quem foi casado por 49 anos, três filhos biológicos e três adotivos, nove netos e um bisneto. Berneval Batista de Oliveira, aos 88 anos, em Umuarama (PR), vítima de insuficiência respiratória. Batizado havia 41 anos, serviu como ancião e diácono de igrejas em Umuarama (PR) e na capital paulista. Havia seis anos convivia com o mal de Alzheimer. Deixa a esposa, Ruth, filhos e netos.
Corsino Viana de Brito, aos 55 anos, em Goiânia (GO), vítima de latrocínio. Maranhense da cidade de Riachão, serviu à igreja como preceptor no Unasp, campus Hortolândia (SP) e trabalhou como pastor distrital em várias cidades do Brasil. Deixa a esposa e cinco filhos. Elohá de Jesus Cardoso Furtado, aos 90 anos, em Porto Alegre (RS), vítima de falência dos rins. Batizada havia 63 anos, foi membro da Igreja Central de Pelotas (RS), onde serviu na assistência social. Deixa quatro filhos, netos e um bisneto. Jetro Fernandes de Carvalho, no Rio de Janeiro. Natural de Mossoró (RN), graduou-se em Medicina na Universidade Federal de Pernambuco em 1956. Especialista em cirurgia geral e video-laparoscópica, trabalhou em hospitais de Belém, Recife e Rio de Janeiro. Foi diretor do Hospital Adventista de Belém e serviu também no Hospital Adventista Silvestre, no Rio. Recebeu homenagens da Prefeitura e Câmara Municipal de Recife e da Assembleia Legislativa fluminense. Destacou-se também como escritor, pregador e líder de igreja. Jetro considerava o exercício da medicina um ministério para trazer bem-estar às pessoas. Foi ancião da Igreja Central de Recife e das Igrejas de Botafogo e Barra da Tijuca, no Rio. Deixa a esposa, Naara, e um casal de filhos.
José Luiz da Silva, aos 82 anos. Batizado havia quase 60 anos, serviu por 15 anos à Marinha do Brasil, carreira que trocou pela colportagem. Foi o pioneiro do adventismo na região de Brumado (BA), na década de 1960, onde hoje existem cinco igrejas. Lá conduziu ao batismo aquela que seria sua esposa, Eloísa Meira, bem como os pais e os dez irmãos dela. Missionário dedicado, José Luiz tinha como lema “o tempo conspira contra nós”. Deixa três filhos. Manoel Alves de Morais, aos 72 anos, em Nova Iguaçu (RJ), vítima de sepse pulmonar. Era membro da Igreja de Santa Marta, em Belford Roxo (RJ). Serviu como diácono e destacou-se por sua honestidade e dedicação à família. Foi casado por 51 anos com Raimunda Vieira de Morais, que faleceu quatro meses depois dele, aos 73 anos, vítima de câncer. Mesmo morando numa região rural de difícil acesso, o casal se esforçou para educar os filhos na igreja. Raimunda foi diaconisa e professora do ministério infantil. No culto familiar diário, Raimunda lia a Lição da Escola Sabatina para o esposo, que já estava com a visão bem comprometida por causa de um glaucoma. O casal deixa cinco filhos, sendo um deles pastor (um sonho da mãe) e 11 netos.
Leny Peixoto, aos 80 anos, em São Paulo (SP), vítima de falência múltipla dos órgãos. Foi membro da Igreja Central Paulistana ao longo de 50 anos e trabalhou no Hospital Adventista de São Paulo por mais de três décadas. Deixa uma filha e um neto. Maria José Alves Vieira, aos 75 anos, em Caruaru (PE), vítima de câncer. Batizada havia 41 anos, era membro da Igreja de Vila Kennedy, na qual atuou na secretaria, recepção, ministério infantil, clube de desbravadores e diaconato feminino. Deixa irmãos e familiares. Silas de Souza, aos 96 anos, em Boa Esperança (MG), vítima de parada cardíaca. Batizado havia 76 anos, destacou-se por sua integridade e consagração. Gostava de escrever e pregar. Deixa filhos, netos, bisnetos e trinetos. Therezinha Unglaub, aos 79 anos, em Artur Nogueira (SP). Destacouse por sua vida de oração e dedicação à missão adventista. Com o apoio do esposo, levou muitas pessoas ao batismo. Viúva de Hermínio Unglaub, exlíder de colportagem, deixa quatro filhos, sendo três deles servidores da igreja.
“ B E M - AV E N T U R A D O S O S M O R T O S Q U E , D E S D E A G O R A , M O R R E M N O S E N H O R ” R e v i s t a A d ve n t i s t a // Janeiro 2018
(APOCALIPSE 14:13)
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EM FAMÍLIA
PRECISA-SE DE FÉRIAS
NÃO BASTA SAIR DO AMBIENTE DE TRABALHO, VOCÊ TEM QUE SE DESCONECTAR DA SUA ROTINA TALITA CASTELÃO
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FAMÍLIA, AMIGOS E SAÚDE NÃO SÃO RIQUEZAS NAS QUAIS INVESTIMOS APENAS PARA USUFRUIR NA APOSENTADORIA
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Macedo, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Segundo ele, cada pessoa tem um tempo necessário para repor suas condições de calma, concentração e foco. Disso também depende o desempenho no trabalho, pois o profissional que não descansa tende a ser ansioso e inseguro. Então, o que você escolhe? Passar as férias pensando no trabalho ou fazendo algo novo e revigorante, no seu ritmo e intensidade próprios? Talvez você pense que o trabalho defina você e tenha medo de se afastar dele a fim de olhar para si de outro prisma. Mas lembre-se de que família, amigos e saúde são riquezas que trabalho nenhum pode conquistar. Esse é o tipo de investimento que não podemos usufruir somente na aposentadoria. O ano mal começou, mas você pode escolher como ele vai terminar: escravizado pela rotina do trabalho sem pausa, ou livre, inclusive para trabalhar. Depende de você; não custa parar e pensar nisso. ] TALITA CASTELÃO é psicóloga clínica, sexóloga e doutora em Ciências
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Foto: Fotolia
ano mal começou e já estamos a todo vapor! Ninguém gosta de parar. E, se gosta, não sabe. E se sabe, não para. Essa não parece a descrição da vida de muita gente? Uma correria sem fim para lugar nenhum? Para o túmulo, talvez! Não estou sendo trágica. Quando você não para, a vida para você. Mais do que descanso, as férias são necessárias para manter o bem-estar físico e mental. O projeto Holiday Health Experiment, uma iniciativa desenvolvida pelo instituto britânico Nuffield Health em parceria com a agência de viagem suíça Kuoni, ajudou a esclarecer o impacto que diferentes tipos de férias têm sobre a saúde. O estudo de caso confirmou que tirar férias contribui para reduzir a pressão arterial, minimizar o estresse, melhorar a qualidade do sono e trazer rejuvenescimento ao corpo. Apesar de todos esses benefícios, nem todo mundo consegue fazer uma pausa. Muitos saem do ambiente de trabalho, mas o trabalho não sai deles. Continuam checando e-mails da empresa, atendendo ligações comerciais ou “adiantando” atividades profissionais. Tudo isso realmente atrapalha a parada tão necessária. Mas quanto tempo se deve parar? Um estudo feito na Espanha pela Randstad, empresa especializada em recursos humanos, mostrou que 62% das pessoas entrevistadas precisavam de pelo menos uma semana para se desconectar totalmente do trabalho. Os 38% restantes necessitavam de duas ou mais semanas para sair do ar. Entre o público pesquisado, as mulheres com ensino superior e de 25 a 34 anos se mostraram as mais resistentes ao processo de desaceleração. E isso se explica em grande medida pelas novas tecnologias, que podem transformar a vantagem da mobilidade numa corrente de aprisionamento ao trabalho. Se você é um profissional do tipo que não para nunca, muito cuidado! Hormônios como a adrenalina e o cortisol podem desencadear sérios problemas de saúde como a baixa da imunidade, diabetes, problemas cardíacos e até depressão. Isso é o que adverte o doutor Antônio Vasconcellos
PÁGINAS DE ESPERANÇA
CAMINHO A CRISTO
A MULHER QUE DESCOBRIU SOZINHA A MENSAGEM ADVENTISTA LENDO A BÍBLIA E UM LIVRO DE ELLEN WHITE ARIANE M. OLIVEIRA
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Foto: William de Moraes
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ocê estará no grupo de catequisação da comunidade?” Foi a partir dessa pergunta que a vida da capixaba Maria Aparecida Módolo começou a mudar. Aparecida até tinha Bíblias abertas nos salmos 23 e 91 em casa, mas nunca havia se interessado pela leitura da Palavra de Deus. “Como vamos evangelizar, se não conhecemos a Bíblia? Seremos cegos guiando outros cegos!” Foi assim que, com seu jeito direto, ela respondeu ao convite. Essa situação acabou despertando nela o desejo de conhecer a Deus. Naquela madrugada, em lágrimas, ao abrir a Bíblia que havia ganhado do padre, ela começou a entender que as Escrituras são o caminho a Cristo. O contato com a Palavra mudou a mulher vaidosa, de temperamento forte e sem papas na língua. Maria passou a praticar e pregar o que aprendia. Foi por isso que os líderes de sua antiga denominação a repreenderam por ensinar “igual aos crentes”, atitude que serviu de gota d’água para que ela deixasse aquela comunidade e continuasse sua busca por Deus sozinha. Por causa da sua mudança de comportamento não faltaram convites para que visitasse outras igrejas. Porém, ela preferiu esperar para decobrir por meio da Bíblia qual era o caminho verdadeiro. Seu compromisso pessoal de viver o que lia na Palavra a levou a abrir mão de vender alguns itens em seu movimentado comércio de produtos alimentícios em Cariacica (ES). Certo dia, entrou em seu estabelecimento um homem distinto, que R e v i s t a A d ve n t i s t a // Janeiro 2018
O CONTATO COM A BÍBLIA MUDOU A MULHER VAIDOSA, DE TEMPERAMENTO FORTE E SEM PAPAS NA LÍNGUA
percebeu Maria estudando a Bíblia e perguntou se ela era cristã. “Não tenho religião”, respondeu ela. “Você vai ser adventista do sétimo dia”, disse de forma enfática o homem, que ela descobriu posteriormente ser o pastor adventista local. “Se for a verdade, eu serei”, completou a comerciante. Foi então que o ministro deixou com ela duas séries de estudos bíblicos, material que Maria respondeu em uma semana. Com receio de ser incompreendida pela família, Maria começou a frequentar a igreja adventista em segredo. Até que, numa sexta-feira, uma amiga evangélica disse algo que abalou suas certezas. “Você vai sair de uma idolatria e cair em outra. Os adventistas idolatram Ellen White.”
No sábado pela manhã, Maria foi à igreja. Naquele dia o pregador levou vários livros de Ellen White para o púlpito, mas sequer abriu a Bíblia. Maria saiu de lá se questionando se não seria verdade o que havia ouvido sobre o adventismo. Novamente ela orou fervorosamente a Deus pedindo respostas. Na manhã seguinte, no meio dos escombros de uma obra no quintal da sua casa, ela encontrou o livro Caminho a Cristo, de Ellen White. O livro estava velho e com várias partes grifadas. Maria ainda não sabe como aquele livro foi parar ali, mas a leitura dele lhe trouxe conforto por confirmar a mensagem da Bíblia. Maria foi batizada e três meses depois seu esposo e os dois filhos também. Passados 22 anos, centenas de pessoas foram evangelizadas e uma grande igreja estabelecida com a ajuda dela. Maria continua firme no caminho da fé, vivendo para que por meio dela outros também encontrem Cristo. ] ARIANE M. OLIVEIRA é graduada em Pedagogia, autora e editora de livros infantojuvenis na CPB
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PERFIL
MENTOR DE MISSIONÁRIOS RICHARD CARLSON NUNCA LIDEROU UMA IGREJA, MAS AO LONGO DE 42 ANOS DE MINISTÉRIO FORMOU INÚMEROS DISCÍPULOS LISANDRO STAUT
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o início do século 16, um missionário espanhol chamado Bartolomeu de Las Casas ouviu do frei Antônio de Montesinos o célebre “Sermão do Advento”, no qual ele defendia a dignidade dos indígenas. O profundo impacto daquela pregação levou Las Casas a mudar de atitude e também a pregar contra o modo exploratório com que se catequizava os nativos. A partir de então, ele defendeu uma colonização pacífica das Américas do Sul e Central, que fosse realizada por lavradores e missionários. O lema de Las Casas era “conquistar a mente com razões, e ganhar a vontade com motivações, gentilmente, graciosamente”. Quase 300 anos depois, em 1971, um jovem missionário adventista que servia no Peru, terras que também já estiveram sob o domínio espanhol, embora não soubesse, repetia os mesmos ideais de Las Casas. Ao instruir seus estudantes sobre a abordagem missionária, Richard Carlson sempre enfatizou: “Você deve conquistá-los com seu amor e ir com a atitude de querer aprender, sem pensar que tem tudo para oferecer a eles.” Essa quebra de paradigma cultural se tornou a marca do ministério de mais de quatro décadas do querido pastor Rich, como é conhecido um dos vice-presidentes do Union College, uma tradicional faculdade adventista do Nebraska, no meio-oeste dos Estados Unidos. DEDICAÇÃO À CAPELANIA Do casamento com Kenna Lee, Richard teve três filhos e oito netos. Ele mesmo não nasceu exatamente numa família adventista. “Meus pais se tornaram adventistas quando eu tinha apenas um ano de idade, então o adventismo 48
é tudo o que eu conheci.” Além do irmão que também é pastor e líder de uma sede administrativa da igreja, e alguns parentes na Noruega que também são adventistas, Carlson não teve o privilégio de ter outros familiares da mesma fé, o que não o impediu de sentirse vocacionado para o ministério, ainda no ensino médio. Ele estudou Teologia no próprio Union College e brinca que nunca foi um “pastor”, pois sempre atuou como capelão no contexto educacional. No entanto, nunca faltaram ovelhas para Rich pastorear. “Fui contratado ainda na faculdade e chamado para ser o capelão do Colégio Maplewood, em Minnesota. Desde então, sou capelão há 42 anos.” Com uma vida toda dedicada à capelania, função que em algumas culturas é vista apenas
como uma etapa inicial do ministério pastoral, Rich Carlson novamente foge à regra. “Quando comecei, praticamente não sabia o que um capelão fazia; porém, isso foi tudo que fiz ao longo da vida”, confessa antes de acrescentar: “E não me arrependo nem um segundo!” A explicação para tanta dedicação a esse ministério é simples. “Adoro trabalhar com os alunos. Eles são vivos, abertos e estão sempre procurando significado para a vida”, celebra Rich. É difícil saber quantos alunos foram pessoalmente tocados pelo ministério de Rich Carlson, mas conversamos com alguns que escolheram seguir os mesmos passos do capelão. “Ele é muito mais do que um modelo espiritual para mim. É um amigo que sempre pensou em mim como uma colaboradora, e, apesar da minha inexperiência, ele andou comigo na minha caminhada de fé”, lembra Anna Bennet, que hoje é capelã associada da Southern Adventist University, no Tennessee. O acompanhamento que recebeu na faculdade é um modelo R e v i s t a A d ve n t i s t a // Janeiro 2018
O PASTOR RICH ACONSELHA QUE OS JOVENS NÃO CRITIQUEM A IGREJA, MAS SUGERE, POR SUA VEZ, QUE A IGREJA ESTEJA ABERTA ÀS MUDANÇAS
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Janeiro 2018
para o trabalho que ela realiza hoje. “Ele foi um mestre para mim, ensinando-me a beleza de uma vida profundamente enraizada na dinâmica da Palavra de Deus, desempenhando um papel fundamental como mentor. Hoje uso essa referência para aconselhar pessoas no meu ministério com os jovens”, testemunha Anna. Para ela, a grande marca do ministério de Rich foi despertar nos alunos “a fome e a sede de um relacionamento autêntico e frutífero com Deus. Uma espiritualidade que não esteja limitada aos programas religiosos, mas enraizada na vida cotidiana”. Evidentemente, os tempos mudaram e com eles o perfil dos jovens e a abordagem que se utiliza com eles; porém, enganam-se aqueles que pensam que Rich olha para a geração atual com pessimismo. “Vemos boas crianças em ambos os momentos, mas há muito mais interesse em estar envolvido hoje do que quando comecei”, compara. NOVOS LÍDERES E MISSIONÁRIOS Uma das fortes ênfases do trabalho de capelania desenvolvido por Richard Carlson foi a mobilização de jovens em projetos missionários transculturais de curta duração, e xperiência que ele mesmo viveu como estudante da faculdade que hoje ajuda a liderar. “Fui responsável pelo programa de missão estudantil do Union College por 35 anos e enviei centenas de missionários estudantes. Realizei mais viagens de missão do que posso contar”, fala com satisfação. Fruto dessas viagens missionárias, Lauren Block atualmente trabalha como profissional de saúde em Bismarck, em Dakota do Norte (EUA). “Estive em Pucallpa, no Peru, em 2009 e 2010 e em Iquitos, na Amazônia peruana, em 2012”, conta Lauren. “O pastor Rich me deu o empurrão que eu precisava para ser bem- sucedida no campo missionário”, reconhece. Para ela é fácil descrever as qualidades de quem a ajudou a crescer: “Ele sempre foi um exemplo muito consistente e positivo da graça, paciência e cristianismo prático.” Quando questionado por que essas experiências são tão importantes para os alunos, Carlson explica: “Sem oportunidades assim, os alunos não se sentiriam valorizados e não teriam a chance de servir a Deus usando os dons que Ele lhes concedeu. Essa é uma forma eficaz de capacitá-los.” Outro aluno que seguiu os passos do mestre foi Michael Paradise, pastor dos jovens da Igreja de College View, em Lincoln, também no Nebraska.
Ele avalia como riquíssima a oportunidade que teve de auxiliar Rich na capelania do campus nos quatro anos em que estudou no Union College. Na opinião de Michael, a maior contribuição de Rich não foi a criação de programas de voluntariado, e sim a formação de líderes. “O modelo de trabalho implementado por ele visa treinar jovens para liderar outros jovens nos ministérios que existem no campus. Ele os capacita para servir; por isso, os estudantes se beneficiam tanto desse treinamento ao longo da vida”, pondera. “Aprendi muito com sua sabedoria e compaixão. Desde que me formei, meu respeito pelo seu ministério só cresceu”, elogia o ex-aluno. Ao analisar sua trajetória e a realidade do mundo atual, o pastor Rich tem um recado para os jovens e outro para a igreja. “Para os jovens eu digo: não ataquem a igreja, porque senão vocês não terão influência para fazer as mudanças necessárias e ajudar a igreja a avançar para o próximo nível. E para a igreja eu digo: abra sua mente e seu coração para a próxima geração. Os jovens serão tão confiáveis quanto a geração anterior, se a igreja estiver disposta a realizar as mudanças necessárias para nosso crescimento”, aconselha Carlson. Com um PhD em Administração Educacional com ênfase em Psicologia, o pastor Richa rd Carlson conhece bem uma máxima do mundo corporativo que afirma que “a cultura sempre vence a estratégia”. Por isso, ao vislumbrar o futuro da igreja, ele entende que mais importante do que enfatizar estratégias é criar uma cultura de formação de novos líderes e de jovens que tenham espírito missionário. É isso que ele tem procurado fazer nos últimos 42 anos. ] LISANDRO STAUT é jornalista e aluno do mestrado em Teologia na Universidade Andrews (EUA)
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ESTANTE
SEGREDOS REVELADOS COM BASE EM PESQUISA SÓLIDA, COMENTÁRIO SOBRE O LIVRO DE DANIEL COMBINA ANÁLISE RICA DO TEXTO E BOAS APLICAÇÕES PARA OS DIAS DE HOJE VINÍCIUS MENDES
A
o longo dos séculos, o livro de Daniel tem sido fonte de fé e esperança para o povo de Deus. A obra retrata os desafios e os livramentos experimentados por quatro jovens deportados de Jerusalém para a corte babilônica. De maneira paralela e entrelaçadamente com a história deles são revelados os grandes desdobramentos do quadro profético. Seguindo o método historicista de interpretação da Bíblia, os adventistas sustentam consistentemente que Daniel foi escrito pelo próprio profeta no 6o século antes de Cristo. Afirmam que os relatos apresentados na obra são verídicos e assumem que os movimentos proféticos apresentados no livro revelam o desenrolar histórico do poder imperial no mundo, culminando com o estabelecimento definitivo do reino de Deus (Dn 2:44). A partir dessa perspectiva, o erudito de origem judaica Jacques Doukhan, no recém-lançado livro em português Segredos de Daniel (CPB, 200 páginas), apresenta seu inovador comentário sobre essa obra bíblica fundamental para o adventismo. Inovador não porque fuja da interpretação tradicional
DOUKHAN DESTACA O QUE DE FATO SALTA AOS OLHOS APÓS UMA LEITURA ATENTA E ESPIRITUAL DO LIVRO DE DANIEL: DEUS ESTÁ NO CONTROLE DA HISTÓRIA HUMANA
adventista, mas porque enriquece nosso olhar ao apresentar várias nuances das línguas originais. Nos capítulos narrativos, o autor pinta, em cores vívidas, o cenário em que a história ocorreu. Nos trechos proféticos, o rebuscado conhecimento de Doukhan realça a beleza e o poder da mensagem do livro, relacionando esse texto sagrado com o quadro geral das Escrituras. A sólida formação acadêmica de Doukhan e sua vinculação étnica com o povo judeu permitem que ele transite entre obras acadêmicas do universo secular, cristão e judaico. Em cada capítulo, o leitor pode conferir três partes básicas: (1) introdução contextual, em que aspectos histórico-linguísticos são explicados; (2) interpretação do texto, em que são feitas aplicações espirituais pertinentes; e (3) apresentação de uma estrutura narrativa para se entender a organização do capítulo em questão. Em Segredos de Daniel, o leitor percebe que esse livro bíblico é entremeado com fios de passado e futuro, narrativa e profecia, fé e esperança. Doukhan destaca o que de fato salta aos olhos após uma leitura atenta e espiritual de Daniel: Deus está no controle da história humana. Por isso, Seus filhos podem confiar em Sua providência amorosa e enfrentar com humildade e segurança qualquer tipo de oposição e perseguição (Dn 7:27). ]
J
TRECHO
esus era divino e humano. Mas a natureza da humanidade de Cristo é um dos assuntos mais debatidos entre os adventistas do sétimo dia. Era Ele semelhante a Adão antes ou depois da Queda? A resposta a esta pergunta é de suma importância, pois se acha diretamente relacionada com a nossa compreensão da salvação. Ambos os pontos de vista apelam para os escritos de Ellen White em busca de apoio. Como devemos interpretar o que ela disse a respeito do tema? O autor analisa os comentários de Ellen White a partir de um enfoque cronológico. Ele coletou todas as declarações que ela fez sobre o assunto e examinou a maneira como ela expandiu ou focalizou sua perspectiva. Whidden pediu aos defensores de ambas as posições que lhe enviassem todas as declarações de Ellen White que, segundo eles, tratam dessa questão, e as compilou num alentado apêndice. Só esse apêndice já vale o livro.
“Daniel é uma obra religiosa que fala em nome de Deus e revela a visão celestial; ao mesmo tempo, é uma obra histórica que faz referências ao passado, presente e futuro. Além disso, é um livro de orações que emanam de um homem que treme diante de seu Criador [...]. O religioso e o místico, o cientista e o filósofo, o judeu e o gentio, todos se sentem atraídos por seu conteúdo. O livro de Daniel é universal e merece a atenção de todos.”
Leia este livro com a mente e o coração abertos.
VINÍCIUS MENDES é pastor e editor de livros denominacionais na CPB
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R e v i s t a A d ve n t i s t a // Janeiro 2018
MKT CPB | Lighstock
Ande em SEUS passos
ISBN 85-345-0872-0
9 788534 508728
ELLEN WHITE E A HUMANIDADE DE CRISTO Woodrow W. Whidden Jesus era divino e humano. Mas a natureza da humanidade de Cristo é um dos assuntos mais debatidos entre os adventistas do sétimo dia. Era Ele semelhante a Adão antes ou depois da queda? A resposta a esta pergunta é de suma importância, pois se acha diretamente relacionada com a nossa compreensão da salvação. Ambos os pontos de vista apelam para os escritos de Ellen White em busca de apoio. Como devemos interpretar o que ela disse a respeito do tema? Leia este livro com a mente e o coração abertos.
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O MAIOR DISCURSO DE CRISTO
CAMINHO A CRISTO Ellen G. White
Ellen G. White Ao iniciar seu ministério, Jesus reuniu as multidões numa colina verdejante e fez uma apresentação magistral dos princípios e objetivos do seu reino. O sermão da montanha, como ficou conhecido, começa com as bem-aventuranças, a ideia da alegria divina e perfeita, um modo de vida que vai além das circunstâncias externas. Este livro – curto, cativante e poderoso – pode ser considerado um comentário inspirado do maior sermão de Jesus.
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O amor de Deus é descrito neste livro de forma surpreendente. Seu raio de ação se estende a todas as idades, etnias e classes sociais. Seu objetivo é eliminar as barreiras que limitam o crescimento humano e conduzir as pessoas a uma extraordinária experiência de vida com Cristo.
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RESERVE UM
MOMENTO [MEDITAÇÕES 2018]
Um Dia Inesquecível
Amor Eterno
Pensando Bem...
Meditações Diárias – Alberto Timm
Meditação da Mulher – autores diversos
Inspiração Juvenil – Felippe Amorim
MEDITAÇÃO OFICIAL DA IGREJA
Começe cada dia experimentando o carinho e a graça de Deus
MKT CPB | Fotolia
ADQUIRA JÁ!
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Caixinha de Surpresas Devocional das Crianças – Creriane Nunes Lima e Thiago Lobo
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