E F E I T O S D A C A F E Í N A /// B E N E F Í C I O S D A O R A Ç Ã O /// C O M P I L A Ç Õ E S C O N F I Á V E I S /// A M O R T E S I L E N C I A D E L D E L K E R
Exemplar avulso: R$ 2,84 | Assinatura: R$ 34,00
MARÇO 2018
O PODER DAS MULHERES SINTONIA COM DEUS
MEIO A TANTOS RUÍDOS, ENCONTRE A FREQUÊNCIA CERTA AEM INFLUÊNCIA FEMININA NOS TEMPOS BÍBLICOS ERA MAIOR DO QUE SE IMAGINA
EDITORIAL
SE A DISCRIMINAÇÃO CONTRA O GÊNERO FEMININO AINDA PERSISTE, A CULPA NÃO É DA BÍBLIA MARCOS DE BENEDICTO
Se você fosse fazer um levantamento das 100 mulheres mais importantes da história, quem você incluiria? Caso fosse enumerar dez mulheres de destaque na Bíblia, quem entraria na sua lista? E se fosse nomear cinco mulheres com um papel decisivo em sua vida, quem você escolheria? Ainda bem que não precisamos limitar a um pequeno grupo o número das mulheres que abençoaram o mundo e nossa existência, pois elas são incontáveis. Entretanto, no mês em que é celebrado o Dia I nternacional da Mulher, podemos relembrar o papel feminino no livro sagrado, tema da matéria de capa desta edição. Estudos e achados arqueológicos recentes têm demonstrado que as mulheres tinham um espaço destacado nos tempos bíblicos e no início do cristianismo. A impressão é de que os homens tinham autoridade formal, enquanto algumas mulheres conquistavam poder informal. Apesar da alta estima que a Bíblia dedica à mulher, o judeu ortodoxo fazia uma controvertida oração diária agradecendo por não ter nascido mulher, além de gentio e escravo (Talmude Babilônico, Menahot 43b; Talmude Palestino, Berakhot 9d). A explicação é que, assim, o religioso teria mais tempo para se dedicar ao aprendizado das coisas espirituais, uma vez que a mulher estava dispensada de parte dos preceitos exigidos dos homens. No entanto, o sentido discriminatório mais superficial foi o que se popularizou. Por isso, em protesto, um livro de orações (siddur) feito na Idade Média para uma noiva rica inverteu o pensamento: “Bendito sejas Tu, Senhor nosso Deus, Rei do Universo, porque me criaste mulher e não homem!” A história dessa tríplice oração judaica é reconstruída por Yoel Kahn no livro The Three Blessings (Oxford University Press, 2011). Longe do universo bíblico, o patriarcalismo escreveu uma longa e lamentável história de abuso da mulher. No início do século 20, Dorothy
DEUS SEMPRE TEM SIDO MAIS JUSTO, BONDOSO E INCLUSIVO DO QUE SEU POVO. PRECISAMOS APRENDER COM ELE
MARCOS DE BENEDICTO é editor da Revista Adventista
2
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2018
Foto: Bruce Mars
DIREITOS IGUAIS
Sayers perguntou no título de um livro de ensaios: “As mulheres são humanas?” Isso pode parecer absurdo, mas reflete o questionamento da autora sobre o tratamento desumano dado à mulher em muitas culturas na época e até hoje. A discriminação acabou gerando três ondas de reações feministas (fim do século 19, anos 1960/1970, década de 1990 para cá). Apesar dos excessos e extravagâncias, são inegáveis alguns avanços em direção à igualdade. Em 1997, por exemplo, a média mundial da representação feminina nos parlamentos era de 12%. Em 2015, pulou para 23%. Nas Américas, o número de mulheres nas casas legislativas chegou a 27% em 2015. Esse fenômeno está causando uma rápida mudança na sociedade. Contudo, isso não quer dizer que a situação das mulheres esteja tranquila. Em muitos países, há uma enorme disparidade em relação ao estudo. Segundo a Unesco, dois terços dos 750 milhões de adultos analfabetos no mundo são do sexo feminino. Em algumas culturas e religiões, ainda prevalece a ideia de que a mulher não pode atingir o mesmo grau de sabedoria, santidade, liderança, autoridade e status que o homem. Nas últimas décadas, o mundo evangélico também tem se envolvido em uma forte polarização sobre o papel da mulher na liderança. Ao estudar a melhor maneira de valorizar as mulheres e engajá-las na vida da igreja, é importante fazê-lo com humildade, respeito e espírito de unidade. Ao longo da história, Deus sempre tem sido mais justo, bondoso e inclusivo do que Seu povo. Precisamos aprender com Ele. ]
Mar. 2018
No 1331
Março, 2018
Ano 113
www.revistaadventista.com.br
Publicação Mensal – ISSN 1981-1462 Órgão Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia no Brasil “Aqui está a paciência dos santos: Aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus.” Apocalipse 14:12 Editor: Marcos De Benedicto Editores Associados: Márcio Tonetti e Wendel Lima Conselho Consultivo: Ted Wilson, Erton Köhler, Edward Heidinger Zevallos, Marlon Lopes, Alijofran Brandão, Domingos José de Souza, Geovani Souto Queiroz, Gilmar Zahn, Leonino Santiago, Marlinton Lopes, Maurício Lima e Moisés Moacir da Silva Projeto Gráfico: Eduardo Olszewski Foto da capa: LightStock
Adventist World é uma publicação internacional produzida pela sede mundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia e impressa mensalmente na África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Áustria, Brasil, Coreia do Sul, Estados Unidos e México v. 14, no 3 Editor: Bill Knott Editores associados: Lael Caesar, Gerald Klingbeil, Greg Scott Editores-assistentes: Sandra Blackmer, Stephen Chavez, Costin Jordache, Wilona Karimabadi (Silver Spirng, EUA); Pyung Duk Chun, Jae Man Park, Hyo-Jun Kim (Seul, Coreia do Sul) Arte e Design: Types & Symbols
12
18
22
Mulheres nos tempos da Bíblia
O paradoxo da oração
Um Deus em três Pessoas
Saiba como elas já exerciam influência na sociedade da época
Muito se fala sobre o poder da prece, mas poucos o experimentam
O que a Bíblia diz sobre o Pai, o Filho e o Espírito?
24
26
48
Novas compilações
Golpe de mestre
Voz singular
Como obras de arte têm sido usadas para alcançar pessoas secularizadas
Del Delker tocou muita gente por meio do rádio e nas séries evangelísticas
Os livros de Ellen White publicados após sua morte também são confiáveis
Gerente Financeiro: Kimberly Brown Gerente Internacional de Publicação: Pyung Duk Chun Gerente de Operações: Merle Poirier Conselheiros: Mark A. Finley, John M. Fowler, E. Edward Zinke
SUMÁRIO
Comissão Administrativa: Si Young Kim, Bill Knott, Pyung Duk Chun, Karnik Doukmetzian, Suk Hee Han, Yutaka Inada, German Lust, Ray Wahlen, Juan Prestol-Puesán, G. T. Ng, Ted N. C. Wilson
2 EDITORIAL
32 VISÃO GLOBAL
41 IGREJA
Rodovia Estadual SP 127 – km 106 Caixa Postal 34; CEP 18270-970 – Tatuí, SP Fone (15) 3205-8800 – Fax (15) 3205-8900
4 CANAL ABERTO
34 NOVA GERAÇÃO
42 MISSÃO
SERVIÇO DE ATENDIMENTO AO CLIENTE LIGUE GRÁTIS: 0800 9790606 Segunda a quinta, das 8h às 20h Sexta, das 8h às 15h45 / Domingo, das 8h30 às 14h
5 BÚSSOLA
35 PRIMEIROS PASSOS
43 EDUCAÇÃO
36 PERSPECTIVA
44 PÁGINAS DE ESPERANÇA
37 BEM-ESTAR
45 MEMÓRIA
17 GUIA
38 BOA PERGUNTA
47 EM FAMÍLIA
28 DEVOCIONAL
39 RETRATOS
50 ESTANTE
CASA PUBLIC ADOR A BRASILEIR A Editora da Igreja Adventista do Sétimo Dia
A opinião de quem lê Igrejas acomodadas
6 ENTREVISTA
Diretor-Geral: José Carlos de Lima
Falso energético
Diretor Financeiro: Uilson Garcia Redator-Chefe: Marcos De Benedicto
8 PAINEL
Gerente de Produção: Reisner Martins
Datas, números, fatos, gente, internacional
Gerente de Vendas: João Vicente Pereyra Chefe de Arte: Marcelo de Souza Não se devolvem originais, mesmo não publicados. As versões bíblicas usadas são a Nova Almeida Atualizada e a Nova Versão Internacional, salvo outra indicação. Exemplar avulso: R$ 2,84 | Assinatura: R$ 34,00
A guarda do sábado e as crianças Aprenda com as falhas
Números atrasados: Preço da última edição. Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem prévia autorização escrita do autor e da Editora.
Tiragem: 158.000
Direitos iguais
5839/37669
30 MINHA HISTÓRIA Milagre na gráfica
Guiados pela Palavra Incendiando a juventude O sobrevivente
Onde estão eles?
Viva sem pressão Uma árvore, dois galhos Evangelho entre os carajás
Unidade na diversidade Por toda a vida Paixão pelo ensino Historinhas que transformam Dormiram no Senhor Pensamento negativo
O papel da lei
40 LIBERDADE RELIGIOSA Caminho para a paz
3
CANAL ABERTO APRENDA A OUVIR DEUS
Simplesmente maravilhoso o artigo de capa de fevereiro. É possível desenvolver bons hábitos devocionais e negligenciar o essencial: ouvir a voz de Deus. Que desastre é quando o pai não escuta seu filho adolescente, um cônjuge não ouve o outro, o político ignora a voz rouca do povo, o mestre se recusa a escutar seu aprendiz, o patrão não atenta para seu empregado e o religioso não sabe ouvir Deus. Que a profissão de fé do povo judeu (Dt 6:4) seja a nossa também! Manuel Xavier de Lima / Engenheiro Coelho (SP)
NÃO É BOM ESTAR SÓ
Parabenizo a revista pela excelente matéria intitulada “Não é bom estar só”, na edição de fevereiro. Por ter acabado de noivar, foi muito bom saber que, apesar de o casamento ser celebrado de maneiras diferentes ao redor do mundo, o objetivo de ter companherismo é um só. Tomé Abel Guias / Cacoal (RO)
VEM E VÊ
Fiquei feliz em saber sobre a temporada de 2018 da série Provai e Vede na revista de fevereiro. Assistir a esses vídeos é um dos momentos mais aguardados por mim a cada culto de sábado. Fico encantada com os testemunhos de nossos irmãos, porque essas histórias me fortaleceram num momento difícil. Após superar essa crise, prometi a Deus que mandaria minha história para que também fosse retratada na série. Ainda não consegui isso, mas quem sabe uma hora dê certo. Quero testemunhar do cuidado de Deus por nós. Magda Lessa / Por e-mail
RELATO IMPRESSIONANTE
A Revista Adventista de fevereiro está recheada com excelentes matérias para nosso tempo. Fiquei impressionado com a seção “Minha história”, escrita por Dick Duerksen, a ponto de 4
World resulte num maior alcance do periódico e para que a igreja se prepare melhor para a volta de Cristo. Luiz Soares Ferreira / Por e-mail
INOVAÇÕES
Parabenizo a revista pelas inovações feitas em 2018. Gostei das novas seções, da distribuição do conteúdo e das mudanças no design. Que Deus continue a usar esse ministério! Túlio Santos Caldeira / Londrina (PR)
VERIFICAÇÃO DE CITAÇÕES
me perguntar se essa experiência foi real ou apenas uma estória. João Antônio de Almeida / Tatuí (SP)
Muito útil a indicação de como verificar se uma citação atribuída a Ellen White é realmente dela e se o contexto da frase apoia o sentido que está sendo dado ao texto. Quem já não desconfiou de uma citação creditada à pioneira? Josildo Isidio de Melo / São Paulo (SP)
REVISTA NAS BANCAS
Fiquei muito contente com a nova diagramação da revista e o conteúdo mais abrangente e global por conta da parceria com a Adventist World. Penso que agora nossa revista adquiriu maturidade para competir de frente com grandes periódicos evangélicos brasileiros. Por conta dessa melhoria, acredito que seria extremamente interessante se a CPB colocasse essa revista nas bancas. Já é tempo de termos uma publicação adventista séria circulando também fora das igrejas. Leandro Paixão / Por e-mail
PARCERIA BEM-VINDA
Quando me desvinculei da igreja na adolescência, tive contato com as revistas da CPB que minha tia assinava. Ao ser reintegrado à igreja, o primeiro material a que tive acesso foi a entrevista com um arqueólogo reconhecido mundialmente, publicada na Revista Adventista. Depois me tornei assinante assíduo da revista e faço de tudo para tê-la em mãos e incentivar outros a fazer o mesmo. Oro para que a bemvinda parceria com a revista Adventist
FALSAS CITAÇÕES
Gostei muito da seção Guia de fevereiro sobre falsas declarações atribuídas a Ellen G. White. Gostaria de ter acesso ao TCC que o autor tomou como base para a matéria. Fernanda Sá / Por e-mail
ESFORÇO VÁLIDO
Parabenizo cada instituição e sede administrativa da igreja que está envolvida nesta grandiosa tarefa de fazer a Revista Adventista chegar ao maior número possível de lares. Da primeira edição de 2018, destaco a matéria “Voando para meu passado”. Seu conteúdo confirma que nosso pecado há de nos achar (Nm 32:23). O tipo de semente que se planta determina a colheita. Paulo Roberto dos Santos / Hortolândia (SP)
Expresse sua opinião. Escreva para ra@cpb.com.br. ou envie sua carta para Revista Adventista, caixa postal 34, CEP 18270-970, Tatuí, SP.
Os comentários publicados não representam necessariamente o pensamento da revista e podem ser editados por questão de clareza ou espaço.
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2018
BÚSSOLA
IGREJAS ACOMODADAS
AS MUDANÇAS SOCIOECONÔMICAS SÃO POSITIVAS, MAS NÃO DEVEMOS NOS ACOSTUMAR COM O CONFORTO E ESQUECER NOSSA MISSÃO ERTON KÖHLER
estabilidade e o conforto ainda vão enfraquecer o crescimento da igreja na América do Sul.” Havíamos acabado um seminá rio para líderes com a equipe da Divisão Sul-A mericana, e o professor, convidado de uma de nossas universidades norte-americanas, fez essa provocação. Para ele, a estabilidade e o conforto foram grandes inimigos do crescimento da igreja do primeiro mundo. Sua análise foi direta: “Quanto mais confortáveis são as casas, com conexão rápida à internet, aparelhos de ar-condicionado e TV com múltiplas opções, mais exigentes as pessoas se tornam e menos envolvidas em atividades externas. Elas vão se concentrando mais em seus próprios interesses, e a igreja deixa de ocupar um papel central.” Na visão dele, os países do Hemisfério Sul ainda têm muitas dificuldades que afetam seu desenvolvimento, mas que facilitam a pregação do evangelho. O professor deixou, porém, um alerta: “Fiquem atentos, pois a realidade também está mudando rapidamente por aqui.”
A
Foto: Lightstock
"
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2018
A PROSPERIDADE ECONÔMICA ACELERA O AVANÇO DA IGREJA OU INTENSIFICA SUA ACOMODAÇÃO? Foi uma conversa intrigante, que me fez pensar sobre o assunto. Realmente o perfil econômico e social de alguns países sul-americanos está mudando. As pessoas estão mais exigentes e sofisticadas, em busca de qualidade e conforto. Mas precisamos avaliar: a prosperidade está acelerando o avanço da igreja ou intensificando nossa acomodação? Seremos vítimas naturais desse processo ou poderemos ser uma exceção? Para alguns, seria mais seguro se pudéssemos parar no tempo e fugir dessa tendência. Porém, diante da rapidez das mudanças, só nos resta pedir a Deus sabedoria para modernizar sem mundanizar e manter os princípios sem perder
a relevância. Por isso, devemos avaliar permanentemente onde estamos e como deveríamos estar. Essa reflexão é fundamental para evitar o que Thom Rainer, escritor, pesquisador e pregador norteamericano, apresenta como os cinco grandes riscos de uma igreja que começa a lutar apenas pela própria estabilidade. Segundo ele: ▪ Uma igreja acomodada não é uma igreja em missão. A própria natureza da grande comissão nos impulsiona a estar em constante movimento e renovação. ▪ O conforto é inimigo da obediência. As histórias de pessoas fiéis na Bíblia mostram que, para obedecer, é preciso sair da zona de conforto. ▪ Igrejas acomodadas não atingem suas comunidades. Se uma igreja busca apenas estabilidade, ela não está disposta a fazer as mudanças necessárias para impactar a comunidade. ▪ Igrejas acomodadas não criam novos grupos. Não surgem novas atividades, projetos nem ministérios. É uma igreja que olha somente para o próprio umbigo. ▪ Membros de igrejas acomodadas buscam apenas suas preferências. Sua prioridade é manter o conforto, sem mexer no que estão acostumados. Não podemos aceitar a simples tradição ou a boa acomodação. Quando Jesus precisou alcançar o mundo de Seus dias, convocou Seu povo para estudar, dialogar e orar intensamente. Enviou o Espírito Santo para agir poderosamente e, como resultado, “tremeu o lugar onde eles estavam reunidos” (At 4:31). A igreja saiu de seu conforto, foi ao encontro das pessoas, cumpriu a missão de forma poderosa e teve um crescimento explosivo. A fórmula continua sendo a mesma: somente “uma igreja que trabalha é uma igreja viva” (Ellen White, Medicina e Salvação, p. 332). ] ERTON KÖHLER é presidente da Igreja Adventista para a América do Sul
5
ENTREVISTA
MARIANA VENTURI
Ross Grant
Não é novidade que nossas escolhas resultam em saúde ou doença. Porém, para entender como os hábitos alteram nosso organismo em nível bioquímico, e ao longo de anos, foi fundado há uma década o Australasian Research Institute. O doutor Ross Grant, que é o CEO dessa instituição sediada no Hospital Adventista de Sydney, fala nesta entrevista sobre um estudo científico recente, dirigido por ele, que aponta alguns malefícios da cafeína. Ross Grant é PhD em Bioquímica e professor nas Universidades de Sydney e de New South Wales, na Austrália.
FALSO ENERGÉTICO
de açúcar, cafeína e carne vermelha geram o estresse oxidativo. E o que dizer do efeito específico da cafeína? Ela bloqueia a adenosina, um receptor que dá o “alarme” para que os vasos sanguíneos se dilatem e liberem mais nutrientes quando a célula tem baixa de energia. A questão é que a cafeína fica “na porta da célula” bloqueando a entrada desse reforço de nutrientes.
Qual é a relação da cafeína com doenças degenerativas e o envelhecimento? Um dos principais fatores de envelhecimento é o estresse oxidativo, processo que produz mais radicais livres do que o organismo consegue lidar. Essas móleculas são como gangues rebeldes que vandalizam nossas células e geram doenças degenerativas. Para combater essa ação, precisamos dos antioxidantes, substâncias que produzimos ao dormir cedo e ingerir frutas e vegetais frescos, por exemplo. No estudo mais recente que publicamos, identificamos que a falta de sono, o estresse e o consumo 6
Como explicar então a sensação de despertamento do consumo de cafeína? Trata-se de uma falsa energia. Por bloquear a adenosina, o corpo entende que a célula não está cansada, quando na verdade está. Ao tomar uma xícara de café, por exemplo, os vasos sanguíneos encolhem, a dor de cabeça vai embora e a sensação é de alívio e revitalização. O problema é que você tem um cérebro cansado, que será ainda mais exigido porque não recebeu o fluxo sanguíneo que precisava. Um outro estudo de 2015 verificou que a cafeína reduz o fluxo sanguíneo no córtex pré-frontal, justamente a parte do cérebro responsável pela criatividade, tomada de decisões e os relacionamentos. E quanto aos estudos que apontam os benefícios do café? A maconha e o ópio também
apresentam benefícios quando usados medicinalmente. Mas isso não serve para o dia a dia. Ambas as substâncias são paliativas. O ponto é que o consumo da cafeína tem que ver com nosso estilo de vida sobrecarregado e de pouco sono: queremos nos sentir bem, a despeito de nossas escolhas erradas. Acontece que o consumo prolongado (ou às vezes até curto) de qualquer droga traz malefícios que não compensam os benefícios. Se você quer viver bem, o caminho é ter uma dieta saudável, dormir bem e praticar exercício físico. É interessante notar que Ellen White já havia alertado no século 19 sobre os riscos das bebidas cafeinadas. Sim, considero isso extraordinário! Ela teve a primeira visão sobre a reforma de saúde em 1863 e, em 1905, foi publicado o livro A Ciência do Bom Viver. O curioso é que uma pesquisa divulgada em 2011 mostrou que houve aumento significativo e global de mortes por doenças cardiovasculares após 1900. Deus revelou Sua mensagem de saúde no momento certo e aqueles que levam isso a sério têm experimentado longevidade e qualidade de vida. O que você faz para ficar desperto nos plantões noturnos? Tomo água e caminho. Não preciso de café. ] MARIANA VENTURI é jornalista e vive em Sydney, na Austrália
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2018
Foto: Hospital Adventista de Sydney
BIOQUÍMICO QUE DIRIGIU ESTUDO CIENTÍFICO NA AUSTRÁLIA EXPLICA A RELAÇÃO ENTRE O CONSUMO DE CAFEÍNA E A PRODUÇÃO DE RADICAIS LIVRES
Participe desta semana especial numa igreja adventista mais prĂłxima de vocĂŞ!
20 a 31 de março
adventistas.org
adventistasbrasiloficial
adventistasbrasil dventistasbrasil
iasd
adventistasoficial
PAINEL
INAUGURAÇÃO
F AT O S
VACINAS COMESTÍVEIS
Inaugurado no início de janeiro, o novo prédio do Hospital Adventista de Estelí, na Nicarágua, tem três andares e conta com equipamentos modernos, dez apartamentos e 20 leitos. As novas instalações da única instituição particular de saúde da cidade foram construídas com o apoio da Universidade de Loma Linda (EUA), da Adventist Health International, das sedes administrativas regionais da igreja e de outros doadores.
Encontrar novas formas de prevenir doenças autoimunes tem sido o foco das pesquisas de William Langridge, professor de bioquímica do Departamento de Saúde da Universidade de Loma Linda (EUA). Há mais de dez anos ele tem estudado como sintetizar vacinas em batatas e tomates. Seu objetivo é encontrar uma fórmula capaz de ajudar a prevenir o aparecimento e a progressão do diabates tipo 1. Porém, para ser testado com segurança em humanos, o método ainda depende de aprovação da agência governamental norte-americana responsável pela autorização do uso de novos medicamentos.
PALESTRA NA ONU Jonathan Duffy, presidente da ADRA Internacional, foi um dos convidados para falar no quarto simpósio anual sobre a função da religião e das organizações religiosas em assuntos internacionais. Reunidos em 22 de janeiro na sede das Nações Unidas, em Nova York (EUA), os participantes discutiram soluções para garantir a segurança e a dignidade das famílias deslocadas e refugiadas ao redor do mundo, uma das ênfases do trabalho da ADRA em regiões como Bangladesh e Iraque. 8
Premiado no início de fevereiro como melhor filme estrangeiro num prestigiado festival de cinema polonês, o longa-metragem Hacksaw Ridge, que conta a história de Desmond Doss, levou Natalia Tatarczuch a ter o primeiro contato com a fé adventista. Depois de assistir ao filme duas vezes, a jovem polonesa teve a curiosidade de saber mais sobre a religião do soldado que se recusou a usar armas durante a 2a Guerra Mundial e, mesmo assim, salvou dezenas de combatentes. Pesquisando na internet, ela encontrou o endereço de uma igreja adventista e passou a frequentá-la. No mês passado, Natália foi batizada em Cracóvia. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2018
Fotos: Ansel Oliver / Inter_american Division News / UN Web TV / Trans-European Division News
DUPLO TROFÉU
Tenho a chance de compartilhar Cristo
EVENTOS
e Sua mensagem com os investidores num momento em que eles estão tomando decisões importantes na vida.
Wojciech Orzechowski, empresário polonês, ao falar de como aproveita seus seminários sobre investimentos em imóveis para testemunhar de sua fé
PELA PRIMEIRA VEZ NO BRASIL
75%
Realizado no Instituto Petropolitano Adventista de Ensino (Ipae), em Petrópolis (RJ), no dias 25 a 27 de janeiro, o retiro internacional da Outpost Centers International (OCI), uma rede de ministérios e projetos missionários com atividade em mais de 50 países, reuniu participantes de Zâmbia, Honduras, Chile, Malásia, Indonésia, Alemanha, Polônia, Argentina, Peru e Estados Unidos, além do Brasil. Os mais de 120 ministérios desenvolvidos pela OCI apoiam o trabalho da igreja por meio da educação, serviço comunitário, saúde, evangelismo e mídia.
foi o quanto cresceu o número de visualizações dos vídeos da igreja na América do Sul em 2017, em comparação com o ano anterior
Eu era um adolescente quando vi Billy Graham D ATA
Foto: Trans-European Division News / OCI International Retreat
16 A 18 DE MARÇO
Será realizado na sede da TV Novo Tempo, em Jacareí (SP), o 1o MídiaTec. O evento é voltado para líderes de comunicação e técnicos de áudio e vídeo das igrejas locais. O objetivo é apresentar novidades, tendências e sugestões, inclusive de conteúdos, para a transmissão de cultos. Atualmente, mais de 1,8 mil igrejas adventistas em oito países do continente transmitem sua programação pela internet. Para se inscrever, acesse: adv.st/midiatec.
pregar no Estádio Nacional de Lima. Naquela noite, ele me fez acreditar que os adventistas também podiam sair das tendas e fazer evangelismo num estádio.
Alejandro Bullón, evangelista, ao comentar a influência do pastor norte-americano que morreu aos 99 anos no fim de fevereiro
2 milhões de dólares
serão destinados pela Adventist Mission neste ano para financiar novos centros de influência urbanos na Alemanha, França, Estônia e Hungria
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2018
9
A organização da igreja não é um fim em si mesma, mas existe para servir à missão. É sempre um meio para um fim maior.
GENTE
Mark Finley, evangelista, na 11a Cúpula de Liderança Global, realizada em Lisboa (Portugal) nos dias 6 e 7 de fevereiro
O L H A R D I G I TA L
BODAS DE DIAMANTE (60 ANOS)
DOCUMENTÁRIO
De Ciro Franco e Irene Rodrigues de Moraes Franco, em 16 de janeiro, em Valparaíso de Goiás (GO). A cerimônia foi realizada pelo pastor Sidney Heber Franco, filho do casal. Eles têm três filhos, cinco netos e três bisnetos.
BODAS DE OURO (50 ANOS) De Paulo Coelho Jeske e Neusa Ribeiro Jeske, em cerimônia realizada pelo pastor Derli Agostini, no dia 21 de janeiro, em Goiânia (GO). O casal frequenta a Igreja do Colmeia Park, em Jataí, onde ele serve como diretor da Escola Sabatina e ela como tesoureira. Eles têm dois filhos e três netas.
A experiência do repouso no sábado é o tema do documentário Rest (Descanso). Filmado em vários países, o vídeo de 1 hora e 17 minutos de duração procura mostrar a dimensão existencial e transcultural da mensagem do sábado. A produção envolveu 13 centros de mídia ao redor do mundo e está disponível no Feliz7Play, portal adventista de vídeos. Acesse: adv7.in/MT.
Aos 84 anos de idade, o oftalmologista Howard Gimbel nem pensa em se aposentar. Apesar da idade, ele ainda realiza, em média, 20 cirurgias por dia em sua clínica em Calgary, Alberta, no Canadá. Reconhecido mundialmente, o médico adventista foi homenageado recentemente com a mais alta condecoração civil do país.
6,7 mil estudos bíblicos foram oferecidos pela Rádio Novo Tempo no ano passado
10
AO VIVO NO YOUTUBE A TV Novo Tempo agora também está disponível 24 horas por dia na plataforma de vídeos do Google. A programação da emissorra adventista começou a ser transmitida ao vivo no YouTube no fim de janeiro. Somente nos primeiros dias o canal recebeu mais de 300 mil acessos. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2018
Fotos: Loma Lynda Medial University Medial Center / Jefferson Paradello
CIRURGIÃO OCTOGENÁRIO
INTERNACIONAL
SERVIÇO RELEVANTE
A TODA LÍNGUA O governo de Ruanda elogiou o trabalho dos adventistas em favor da comunidade. Os membros têm dedicado o último domingo do mês para desenvolver projetos de saúde e ações como limpeza de espaços públicos e plantio de árvores.
NOVA REVISTA A Escola de Teologia da Universidade Adventista da França, campus Adventiste du Salève, lançou a primeira edição da revista Servir. O periódico publicado em francês tem o objetivo de incentivar a pesquisa e reflexão teológica.
2.500 presos
Fotos: Rwanda Union Mission / Governo das Ilhas Fiji
estão sendo evangelizados pela Igreja Adventista de Newlife em Nairobi, capital do Quênia. Desde 2012, quando foi iniciado o trabalho na prisão, cerca de mil detentos foram batizados
Antes de eu tomar uma decisão, ajoelho-me e pergunto ao Senhor: ‘Isso é correto aos Teus olhos?’
No Oriente Médio e Norte da África, o livro Caminho a Cristo, que já foi traduzido para mais de 165 idiomas, ganhou versões em árabe, farsi, turco, curdo, inglês e francês. No início de fevereiro, a igreja também lançou uma nova edição em árabe dos cinco volumes da série “O Conflito dos Séculos”. A arte das capas da versão atualizada foi produzida pela CPB.
91
americanos morrem todos os dias em decorrência de overdose de opioides (medicamentos)
AUDIÊNCIA GLOBAL Um programa de rádio apresentado em uma emissora de rádio do Burundi (África) tem ampliado seu alcance por meio do WhatsApp. Além de cobrir todo o território nacional, a programação transmitida todos os sábados tem chegado a ouvintes de outros lugares graças à internet.
George Konrote, presidente das ilhas Fiji, em entrevista concedida poucos dias antes de falar para 500 jovens de 13 países em um congresso realizado no arquipélago. Konrote é adventista
Colaboradores: Adventist World, Andrew McChesney, Assane Kabore, Francis Matos, Héctor Alvarado Araúz, James Ponder, Kimi-Roux
James, Márcio Tonetti, Nigel Coke, Suzaeny Lima e Wonha Kim
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2018
11
CAPA
EMBORA A CULTURA OCIDENTAL VEJA O “EMPODERAMENTO” DAS MULHERES COMO UMA CONQUISTA RECENTE, NOVOS ESTUDOS TÊM MOSTRADO QUE ELAS JÁ EXERCIAM INFLUÊNCIA EM VÁRIAS ÁREAS NO CONTEXTO DO ANTIGO TESTAMENTO CHRISTIE G. CHADWICK
12
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2018
A
mulher NOS TEMPOS DA BÍBLIA
E
Foto: LightStock
EM 2017, O TERMO “FEMINISMO” FOI ELEITO PELO DICIONÁRIO Merriam-Webster como “palavra do ano”. O interesse dos internautas pelo tema parece ter sido reflexo das diversas manifestações que ganharam repercussão internacional, como a Marcha das Mulheres (que levou milhares às ruas depois das afirmações polêmicas de Donald Trump) e os protestos de celebridades contra abusos sexuais cometidos por famosos de Hollywood. Não é de hoje que as mulheres lutam por direitos iguais, reconhecimento, espaço e respeito. No fim do século 19, elas começaram a se mobilizar, reivindicando o direito ao voto, educação e trabalho. Hoje, apesar de ainda existirem desigualdades entre os sexos, as mulheres têm desempenhado um protagonismo maior, ocupando posições de destaque em várias áreas. O “empoderamento” feminino (para usar o neologismo que se popularizou nos últimos anos) é o tema do momento. Mas, embora a tendência da maioria das pessoas seja a de ver o protagonismo das mulheres como uma conquista recente do mundo ocidental, seu poder e influência também podem ser vistos em períodos anteriores. Apesar da imagem estereotipada que alguns têm da mulher na cultura dos tempos bíblicos, estudos etnográficos e arqueológicos recentes têm ajudado a desconstruir alguns mitos. Na realidade, se quisermos ter uma compreensão mais ampla da condição da mulher no Antigo Testamento, precisamos considerar quanto do retrato feminino no período vem da Bíblia e de outras fontes primárias e quanto é fruto de pressuposições do mundo ocidental moderno. Uma leitura superficial favorece um retrato limitado e distorcido da vida das mulheres no período monárquico de Israel. Por outro lado, se fizermos um estudo aprofundado, acompanhado de uma análise interdisciplinar, perceberemos que seu valor e influência foram muito além da esfera doméstica.
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2018
13
NA ESFERA DOMÉSTICA Em um artigo publicado em março de 1991 na revista Biblical Archaeologist, Carol Meyers afirma que, na sociedade do Antigo Oriente Próximo, o contexto doméstico envolvia aspectos econômicos, sociais, educativos e até mesmo políticos e religiosos. Nessa cultura, a casa era economicamente autossuficiente e independente. O retrato advindo do texto bíblico demonstra que a mulher era respeitada como autoridade dentro de casa. Um exemplo foi Abigail, esposa de Nabal, a quem seus servos informaram e obedeceram sem questionar, mesmo quando ela foi contra a determinação do próprio marido (1Sm 25:14, 18-19). Outra evidência da autoridade feminina tem que ver com o fato de que, na maioria dos casos, era ela quem escolhia o nome dos filhos. Porém, o desenvolvimento histórico e o progresso tecnológico parecem ter mudado essa condição. De uma unidade doméstica economicamente independente, passou-se a valorizar o trabalho que resultava em maior contribuição econômica, algo que, nas sociedades modernas, sempre foi exterior ao âmbito doméstico e, ao longo dos séculos, tem sido dominado pelo sexo masculino. A partir do período helenístico, isso causou uma depreciação do poder econômico da mulher, diminuindo sua influência e autoridade dentro e fora da casa, conforme analisou W. C. Trenchard no livro Ben Sira’s View of Women: A Literary Analysis (1982, p. 57, 94). Outro aspecto interessante é que, no contexto do Antigo Testamento, frequentemente as mulheres eram associadas ao preparo de alimentos. Tamar foi chamada para assar bolos para seu irmão Amnom (2Sm 13:8); a viúva de Sarepta estava prestes a preparar o último bocado de pão quando 14
Elias foi ao seu encontro (1Rs 17:12). Esse era apenas um dos passos no complexo processo de produção do principal item da dieta israelita antiga. O relato bíblico indica que, no plantio e colheita, ambos os sexos tomavam parte (Rt 2:8-9). No entanto, segundo Carol Meyers, o processamento do grão e a produção do pão ficavam a cargo das mulheres (Rediscovering Eve: Ancient Israelite Women in Context, 2013, p. 128). O fato de terem sido encontrados implementos e instalações para moer e assar em casas da época evidencia que o trabalho era feito no âmbito doméstico. Também foram achadas estatuetas e pinturas que retratam mulheres no processo de moer o grão e preparar a massa. Porém, durante o período helenístico, as ferramentas manuais começaram a ser substituídas por moinhos mais eficientes, movidos por animais. Por volta desse mesmo período, o pão passou a ser produzido fora de casa, em padarias especializadas, tirando das mãos das mulheres parte do valor econômico da produção de comida, além de isolá-las, já que a atividade geralmente era realizada com outras integrantes da comunidade. A tecelagem também é retratada dentro e fora da Bíblia como uma atividade feminina desenvolvida em conjunto. Por demandar tempo e habilidade, tinha alto valor econômico (Pv 31:13, 19, 21-22, 24), que também diminuiu a partir do período helenístico, com a invenção tecnológica do tear duplo. FORA DE CASA Em 1 Samuel 8, por exemplo, vemos que o trabalho da mulher não estava limitado ao âmbito doméstico. De acordo com Nahman Avigad, diversos selos encontrados por aqueólogos estampavam nomes de mulheres, o que oferece pistas de seu papel em transações econômicas e políticas (Corpus of West Semitic Stamp Seals, 1997, p. 30 e 31). Três mulheres com grande poder político e religioso são descritas nas Escrituras: Maaca, rainha-mãe que foi deposta pelo próprio filho (1Rs 15:13); Atalia, que se fez rainha em lugar dos netos e estabeleceu um templo a Baal em Jerusalém (2Rs 11:1-20); e Jezabel, que reinou ao lado de Acabe e estabeleceu o culto a Baal em Israel (1Rs 18; 21:1-15). NA MÚSICA Elas também tinham participação no canto e na música instrumental. Apenas para citar alguns exemplos, mulheres cantaram e tocaram instrumentos ao receber o exército R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2018
Foto: LightStock
SE QUISERMOS TER UMA COMPREENSÃO MAIS AMPLA DA CONDIÇÃO DA MULHER NO ANTIGO TESTAMENTO, PRECISAMOS CONSIDERAR QUANTO DO RETRATO FEMININO NO PERÍODO VEM DA BÍBLIA E DE OUTRAS FONTES PRIMÁRIAS E QUANTO É FRUTO DE PRESSUPOSIÇÕES DO MUNDO OCIDENTAL MODERNO
de Israel depois da vitória contra os filisteus (1Sm 18:6-7). A canção de Ana, relatada no capítulo 2 de 1 Samuel, evidencia que algumas também eram compositoras. Em um estudo sobre sexo, gênero e música, T. W. Burgh demonstrou a participação ativa de mulheres em performances musicais no Egito, Mesopotâmia, Fenícia, Filístia e Israel (Listening to the Artifacts: Music Culture in Ancient Palestine, 2006, p. 44-105). Ou seja, essa prática parece ter sido bem aceita culturalmente tanto no contexto israelita quanto fora dele.
SABEDORIA FEMININA Atos de sabedoria são igualmente associados à figura feminina no texto bíblico. Abigail, esposa de Nabal, é uma que recebe esse título (1Sm 25:3). Joabe busca uma mulher sábia em Tecoa para convencer Davi a levar Absalão de volta a Jerusalém (2Sm 14:2). Nos capítulos seguintes, vemos que uma mulher de Abel Bete Maacá negocia com ele em favor da cidade, desempenhando o papel de uma anciã influente (2Sm 20:15-22). Outro exemplo é o da rainha de Sabá, que viajou para testar a sabedoria de Salomão com “perguntas difíceis” (1Rs 10:1). Na cultura hitita, segundo D. P. Wright, mulheres de idade também eram consideradas sábias e responsáveis pela instrução das mais jovens, educando as novas gerações em práticas rituais (The Disposal of Impurity
Foto: LightStock
in the Priestly Writtings of the Bible with Reference to Similar Phenomena in
NA RELIGIÃO Hittite and Mesopotamian Cultures, 1984, p. 36-38, 102, 246). Apesar de não haver sacerdotisas no sistema ritual e religioso tradicional israelita, as mulheres não eram excluídas do processo de adoração e sacrifício. Ana foi ao templo sozinha para pedir a Deus um filho (1Sm 1:9-12). Depois de ter sua oração atendida, ela levou Samuel ao templo para os rituais de dedicação e do voto nazireu (v. 24 e 25). No mesmo período, há menção a mulheres que trabalhavam na entrada do templo. Apesar de a Bíblia não detalhar quais eram suas funções e tarefas (1Sm 2:22), o verbo hebraico utilizado nesta passagem (tsov’ot) é o mesmo usado para descrever a função dos levitas em seu serviço no templo (Nm 4:23; 8:24). Considerando o lugar das mulheres no culto de Israel, P. Bird sugere que elas preparavam as refeições sacrificiais (Ancient Israelite Religion, 1987, p. 406). Durante os séculos seguintes do período do Primeiro Templo, igualmente foi permitido o acesso das mulheres às áreas públicas do edifício sagrado. Elas também tinham liberdade para consultar os profetas (1Rs 14:2-3; 2Rs 4:22-23). Além disso, era comum sua participação em atividades rituais e em festivais religiosos, como indicado pela expectativa do marido da sunamita de que ela procurasse o “homem de Deus” (Eliseu) em um dia religioso. Contudo, conforme Ziony Zevit, as evidências arqueológicas sugerem que as mulheres estavam mais envolvidas com o culto doméstico do que com o oficial centralizado no templo (The Religions of Ancient Israel: a Synthesis of Parallactic Approaches, 2001, p. 554 e 555). O papel da mulher no período A imagem da mulher como propriedade monárquico de Israel antigo A MULHER DESSE m asculina, limitada ao ambiente doméstico, parece ser, portanto, significasem poder político ou comercial, parece vir de tivamente diferente do retrato PERÍODO TINHA um tempo posterior ao retratado nas descrições geral imaginado nos dias de hoje da época dos reis de Israel e Judá. Provavelmente sobre aquele período. A mulher AUTORIDADE E seja proveniente do período helenístico. dessa época tinha autoridade e Assim, se levarmos em conta o contexto históricopresença dentro e fora de casa, PRESENÇA DENTRO cultural do Antigo Oriente Próximo, o retrato apreem praticamente todas as esferas E FORA DE CASA, sentado a respeito das mulheres no texto bíblico é da vida diária: social, religiosa e muito positivo. Embora alguns continuem vendo política. A mulher tinha poder EM PRATICAMENTE a Bíblia como um livro machista, ela tem muito a para realizar transações comernos ensinar sobre o valor e o papel da mulher. ] cias (Pv 31), negociar questões TODAS AS ESFERAS DA militares (2Sm 20:15-22), goverVIDA DIÁRIA: SOCIAL, CHRISTIE G. CHADWICK, doutora em Arqueologia Bíblica e História nar (1Rs 15:13; 21:8-11; 2Rs 11:1-3) do Antigo Oriente pela Universidade Andrews (EUA), é professora e participar de rituais religiosos RELIGIOSA E POLÍTICA no seminário teológico do Unasp, campus Engenheiro Coelho (SP) (1Sm 1:24-25; Jr 7:18). R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2018
15
MKT CPB | Fotolia
cpb.com.br |
0800-9790606 | CPB livraria |
15 98100-5073
/casapublicadora
GUIA
A GUARDA DO SÁBADO E AS CRIANÇAS
DICAS PARA NÃO TORNAR O DIA SAGRADO O MAIS TEDIOSO DA SEMANA WENDEL LIMA
O
Ilustrações: Fotolia
sábado foi idealizado por Deus para ser um dia agradável (Is 58:13). Porém, apesar de crer na doutrina do correto dia de guarda, é provável que muitos adventistas não tenham uma experiência significativa com o dia sagrado (Mc 2:27). E quando isso ocorre, se há crianças na família, elas acabam crescendo com uma impressão distorcida sobre o propósito do sábado, encarando-o como o dia do “não pode”. Para fazer dessa prática semanal uma bênção é preciso refletir sobre a teologia do sábado e envolver toda a família no planejamento e execução das atividades desse dia. A pioneira Ellen G. White escreveu que o sábado deveria ser o momento mais agradável da semana (Orientação da Criança, p. 532) e que, nesse período, os pais teriam que atentar especialmente para o cuidado dos filhos (p. 533). O que você pode fazer? CRIE UMA TRADIÇÃO Estabeleça um “ritual” interessante para o início do sábado. Faça uma comida exclusiva para o culto de pôr do sol e envolva seus filhos na preparação dessa refeição; incentive as crianças a escolher as músicas que gostam e selecione as histórias bíblicas mais adequadas para essa oportunidade. Orem de mãos dadas e aproveitem a ocasião para reconciliar e reconsagrar sua família.
(Sl 19:1) e as crianças podem descobrir isso de maneira divertida ao ar livre. Caminhadas para observar a fauna e a flora podem ser uma boa opção. Ajude as crianças a atentar para a variedade de sons, formas, cheiros e texturas, e relacione essas informações com a Bíblia. Atividades mais ativas também são bemvindas, como “caça ao tesouro” e a construção de uma maquete de uma história bíblica usando recursos naturais.
SELECIONE AS ATIVIDADES Envolva as crianças em jogos bí blicos, que podem ser de tabuleiro, além de questionários e enigmas para que aprendam mais sobre Deus. O mais recomendado é que seus filhos elaborem os próprios jogos. Você pode se surpreender com o resultado!
SIRVA AO PRÓXIMO As crianças amam ajudar os outros. Vocês podem visitar asilos e orfanatos para presentear as crianças e idosos com itens de higiene pessoal, brinquedos ou cartões. Nessas ocasiões, os fi lhos podem ajudar na confecção dos materiais, ou mesmo cantando e ensinando. Colegas dos filhos também podem ser convidados para experimentar o sábado com a família de vocês.
EXPLORE A NATUREZA A natu reza revela mu ito sobre Deus R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2018
ESTUDE A BÍBLIA O sábado é o momento mais oportuno para pesquisar na Bíblia. Incentive seus filhos a sublinhar textos-chave, a responder um breve questionário que ajude na compreensão das passagens e a conversar sobre como podem aplicar o que aprenderam. Filhos mais velhos podem manter um diário com seus pensamentos e sentimentos sobre o que leram. ] Fonte: artigo "Torne o sábado um dia deleitoso" de Linda Koh. Disponível em notítcias.adventistas.org WENDEL LIMA é editor associado da Revista Adventista
17
ESPIRITUALIDADE
O PARADOXO DA
ORAÇÃO FRANK M. HASEL
18
REALMENTE FUNCIONA? Lembro-me de uma aluna que ouviu uma de minhas palestras sobre o “ABC da oração bíblica”. Cerca de três semanas mais tarde ela me encontrou e estava zangada e agitada com o que eu havia dito sobre a oração. “Isso não funciona! O que o senhor nos disse não é verdade!”, ela exclamou. Quando perguntei o que tinha acontecido, ela me contou sua história. A jovem dividia um apartamento com outra colega, cujos hábitos de ordem e limpeza eram bem diferentes. Sua colega deixava pilhas de louça suja em cima da pia por vários dias. Em vez de tentar melhorar seu relacionamento com a colega, ela começou a orar para que a outra fosse mais ordeira. Dessa maneira, ela não mais teria que ser paciente, e a outra pessoa se acomodaria ao seu estilo de organização. Não é errado orar pelos outros. Afinal, é isso que fazemos quando oramos pelas conversões e transformações. Mas, em última análise, será que nossas orações, embora frequentemente disfarçadas com uma capa de santidade, não estão fundadas em motivos errados? Será que nossas orações muitas vezes não estão pintadas de egoísmo em vez de serem motivadas por amor genuíno pelos outros? Posso orar pela conversão do meu cônjuge porque, assim, minha vida será mais fácil. Posso pedir a Deus coisas específicas, pois me acostumei a certo estilo de vida e não consigo ser feliz com menos. Posso orar por saúde porque tenho medo da dor e não quero viver R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2018
Foto: Diana Simumpande
EMBORA A MAIORIA DOS CRISTÃOS TENHA OUVIDO FALAR SOBRE O PODER DA ORAÇÃO, POUCOS EXPERIMENTARAM SEUS BENEFÍCIOS
T
odos nós já ouvimos sobre a importância da oração. Ouvimos histórias de como uma prece removeu o medo e trouxe esperança, ou de como subjugou as forças demoníacas e transformou a vida de pessoas e o curso de eventos. Sabemos que a oração dá força para resistir às tentações, que ela nos ajuda a ser mais efetivos no trabalho para Deus e que é tão essencial para a vida, quanto a respiração. Sabemos tudo sobre a oração! No entanto, muitas vezes não oramos. O paradoxo da oração é que, embora necessitemos dela desesperadamente, muitas vezes evitamos orar. Ficamos cansados da rotina tediosa de pedir a Deus, vez após vez, que nos ajude a realizar desejos. Usamos frases repetitivas que se tornaram rasas e vazias. Perdemos nossa ligação com Deus. Intelectualmente, sabemos que podemos pedir-Lhe qualquer coisa, pois para Ele nada é impossível, mas, na prática, demonstramos não confiar Nele.
A oração centrada em Deus permite que sejamos honestos com nós mesmos e com Ele
debilitado por doenças. Talvez posso até orar por sucesso na causa de Deus porque, se minha oração se tornar realidade, minha influência será fortalecida. ORAÇÕES ANTROPOCÊNTRICAS Frequentemente, nós é que estamos no centro de nossas orações, não Deus. Muitas vezes a usamos como uma máquina espiritual automática de vendas, visando ao “eu quero ter”. Mas, em vez de estar centradas nas coisas, nossas orações precisam estar centradas em Deus. Procurar desfrutar da presença de Deus na oração é muito mais importante que as coisas que Ele nos dá. Precisamos redescobrir a oração que agrada a Deus. Esse tipo de oração começa com nossa comunhão pessoal com Ele e não com nossa lista de desejos e pedidos. Quando nossos desejos não estão ancorados em um relacionamento vivo com Ele, refletem mais nossos anseios e ideias sobre bem-estar do que a vontade de Deus. Mas, quando compreendemos que o relacionamento com Ele e a busca do Seu caráter são o eixo central da oração, ela ganha um R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2018
19
não rebaixa Deus ao nível humano. Ao contrário, nos eleva à Sua presença. A oração não muda Deus. Ela nos transforma. A oração centrada em Deus permite que nos tornemos honestos com nós mesmos e com Ele. Na luz do Seu amor e da Sua santidade começamos a ver nosso íntimo, nossos desejos e nossas necessidades de modo diferente. Compreendida dessa maneira, a oração se torna a expressão principal do nosso amor por Deus. VISLUMBRES DO SEU AMOR Quando vamos a Ele em oração, não temos um currículo para nos apresentar nem um histórico de realizações impressionantes. Tampouco temos amor e sabedoria exemplares que nos recomendem como merecedores e O obriguem a ser favorável para conosco. Então, por que Deus responde nossas orações? Segundo Paul David Tripp, a resposta é simples: “Porque o próprio Deus é a razão da Sua resposta. A esperança para a oração não está nas qualidades de quem ora, mas no caráter e plano de Deus que está ouvindo” (A Shelter in the Time of Storm: Meditations on God and Trouble, 2009, p. 53). Deus responde às nossas orações porque Ele é amor e nos ama com todo carinho. Além disso, Ele Se alegra em nos dar muito mais do que podemos compreender e pedir. Em primeiro lugar, Deus nos dá a bênção da Sua presença. Com esse tipo de relacionamento de oração com Deus, saboreamos o tempo passado na presença do nosso Criador e Redentor. Infelizmente, nos acostumamos à oração mental e instantânea. Nossa cultura não favorece o ritmo de vida que naturalmente cultiva a oração que toma tempo. Passar tempo orando significa aprender a esperar. O ritmo de vida atual é muito mais ajustado pelo micro-ondas e McDonald’s. Quando levamos nossa lista de oração a Deus,
Foto: Josh Applegate
foco totalmente novo. Começamos a pensar e orar a partir perspectiva de Deus e passamos a ver nossos pedidos, desejos e circunstâncias por meio dos Seus olhos. Foi isso que os personagens bíblicos fizeram com êxito. Eles deixaram um exemplo a ser seguido. Quando uma grande multidão de inimigos ameaçava destruir o reino de Judá, e o rei Josafá não sabia como vencer forças tão poderosas, ele não iniciou sua oração descrevendo a grande necessidade de ajuda ou pedindo a Deus que fizesse alguma coisa. Ao contrário, ele se concentrou em Deus, nas Suas habilidades e na Sua fidelidade. Depois de falar sobre Seus atos salvadores ao longo da história (2Cr 20:5-12), ele terminou sua oração dizendo: “Nossos olhos estão postos em Ti” (v. 12). Em vez de se concentrar nas dificuldades à sua frente, Josafá se concentrou Naquele que é o Mestre até de nossas dificuldades. Quando pensamos conscienciosamente sobre o caráter de Deus, Suas qualidades e habilidades, e expressamos nossa adoração a Ele, nossas orações são preenchidas com novo fôlego espiritual. Elas ganham um elemento de reverência e admiração. Nossos problemas não mais são o centro das orações, e sim Deus. Esse tipo de oração
DEZ TEXTOS BÍBLICOS IMPORTANTES SOBRE Se o Meu povo, que
ouves a minha voz; de
se chama pelo Meu
manhã Te apresento
nome, se humilhar, e
a minha oração e fico
orar, e Me buscar, e se
esperando (Sl 5:1-3).
converter dos seus
20
maus caminhos, então,
Eu Te invoco, ó Deus,
Eu ouvirei dos Céus,
pois Tu me respondes;
perdoarei os seus
inclina-me os ouvidos
pecados e sararei a sua
e acode às minhas
terra (2Cr 7:14).
palavras (Sl 17:6).
Dá ouvidos, SENHOR,
Ora, se vós, que sois
às minhas palavras e
maus, sabeis dar boas
acode ao meu gemido.
dádivas aos vossos
Escuta, Rei meu e
filhos, quanto mais
Deus meu, a minha
vosso Pai, que está nos
voz que clama, pois
Céus, dará boas coisas
a Ti é que imploro.
aos que Lhe pedirem?
De manhã, SENHOR,
(Mt 7:11).
R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2018
esperamos receber Suas respostas em questão de segundos. Quando pedimos, queremos instantaneamente: “Dá-me paciência, Senhor! E, por favor, dá-me paciência agora!” Enquanto fizermos “McOrações” rápidas e egoístas, elas não causarão o impacto profundo que resulta apenas da oração perseverante. Jesus não viveu em uma cultura de ritmo tão acelerado como o nosso, mas Ele enfrentou uma época até mais desafiadora. Ele teve somente três anos para completar Sua missão. Uns poucos meses de ministério significavam que muita gente não seria curada, nem instruída ou disciplinada. Mas, no fim de Sua vida, Jesus ainda pode declarar: “Está consumado”. Talvez Ele não tenha realizado tudo o que poderia. No entanto, realizou tudo o que era necessário. Nos momentos tranquilos de comunhão com Seu Pai, a oração ajudou Jesus a discernir Suas prioridades. Passar tempo em oração, na companhia de nosso Criador e Salvador, também exercerá um profundo impacto em nossa existência. Quando começamos a nos encontrar regularmente com Deus em oração, nós mudamos. Nossos valores mudam. Algumas coisas que pareciam tão importantes se tornam menos significativas e perdem seu fascínio, enquanto outras ganham novo significado. Passamos a ver as pessoas de modo diferente. A oração na presença de Deus é o meio mais satisfatório de obter um coração puro. Ela nos dá nova direção e motivação para ver as coisas da perspectiva de Deus. Ao orarmos assim, damos a Deus a maravilhosa oportunidade e permissão para nos moldar à Sua imagem. ] FRANK M. HASEL, natural da Alemanha, é diretor associado do Instituto de Pesquisa Bíblica na sede mundial da Igreja Adventista
ORAÇÃO Perto está o SENHOR
fraqueza; porque não
sede pacientes na
de todos os que O
sabemos orar como
tribulação, na oração,
invocam, de todos os
convém, mas o mesmo
perseverantes
que O invocam em
Espírito intercede por
(Rm 12:10-12).
verdade (Sl 145:18).
nós sobremaneira, com
Então, Me invocareis,
gemidos inexprimíveis
Não andeis ansiosos
(Rm 8:26).
de coisa alguma; em tudo, porém, sejam
passareis a orar a Mim, e Eu vos ouvirei (Jr 29:12).
Amai-vos cordialmente
conhecidas, diante
uns aos outros com
de Deus, as vossas
Por isso, vos digo que
amor fraternal,
petições, pela oração e
tudo quanto em oração
preferindo-vos
pela súplica, com ações
pedirdes, crede que
em honra uns aos
de graças (Fp 4:6).
recebestes, e será assim
outros. No zelo,
convosco (Mc 11:24).
não sejais remissos;
Todos os textos bíblicos
sede fervorosos de
foram extraídos da
Também o Espírito,
espírito, servindo
versão Almeida Revista e
semelhantemente,
ao Senhor; regozijai-
Atualizada.
nos assiste em nossa
vos na esperança,
ACIMA DE TUDO APESAR DAS MUITAS VOZES QUE NOS DISTRAEM NESTE MUNDO AGITADO E BARULHENTO, DEUS ESTÁ DISPOSTO A OUVIR E RESPONDER NOSSAS ORAÇÕES BILL KNOTT
Quarenta anos atrás, na primeira noite de sextafeira que passei em Paris, escrevi estas linhas do terceiro andar de um albergue juvenil lotado: “Acima do tocador de fita na outra cama, procuro o Senhor. Em algum lugar, muito acima desta cidade iluminada em neon, o Espírito Santo espera ouvir e responder com prazer”. Como outras pequenas rajadas de prosa, elas refletem peças-chave da minha educação adventista: o hábito da oração ao receber o sábado, a confiança de que minha oração é significativa para um Deus gentil e as distrações que frequentemente acompanham até mesmo os momentos cheios de oração da minha vida. O “leitor de cassetes na outra cama” que um colega de quarto, descuidado, ativou no meu momento devocional se tornou um símbolo potente ao longo dos anos para todas as coisas que tornam desafiadora e vital a experiência da oração. No entanto, a verdade é que não mais posso fingir que as distrações sejam todas causadas por outros. A capacidade de me distrair da minha conversa mais importante parece infinita, ou pelo menos, sem fim. Fragmentos do trabalho de ontem, preocupações com o dia seguinte, a cacofonia das vozes que emergem do fluxo de notícias no meu smartphone, a perda de foco quando alguma tarefa urgente e esquecida empurra minhas intercessões e pedidos. Tudo isso conspira para me manter longe do tempo calmo e sem pressa com Jesus de que meu coração e meu corpo precisam. Décadas depois, ainda procuro o Senhor – nas noites de sexta-feira, em todas as manhãs, durante todo o dia – acima das muitas partes da minha vida que me desviam facilmente. Isso pode, de fato, ser o maior aprendizado dos anos: que a fé perdura e que Deus é paciente. Essa graça continua a me estender o privilégio de falar com meu Criador. Encontre algum lugar sem aglomeração e silencioso para iniciar uma conversa crucial com o Senhor. Ele sempre está ansioso para ouvir e responder. ] BILL KNOT é editor das revistas Adventist World e Adventist Review
R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2018
21
NISTO CREMOS
Um Deus em três Pessoas COMO A BÍBLIA APRESENTA O PAI, O FILHO E O ESPÍRITO SANTO? NORMAN GULLEY
22
Cristo sabia que Ele era igual ao Pai (Fp 2:6). Infinito e onipotente, “Cristo era, essencialmente e no mais alto sentido, Deus” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 247). “Ao falar de Sua pré-existência, Cristo levou a mente de volta a eras não datadas. Ele nos assegura que não existiu um tempo em que não estivesse na companhia do Deus eterno” (Signs of the Times, 29 de agosto de 1900). Companheirismo significa relacionamento de um com o outro. Quando esteve na Terra, Cristo foi confrontado pelos fariseus sobre Sua idade. Ele disse a eles: “Eu afi rmo a vocês que antes que Abraão existisse, Eu Sou” (Jo 8:58). Comentando essa afirmação, Ellen G. White escreveu: “Houve silêncio na vasta assembleia. O nome de Deus, dado a Moisés para expressar a ideia da presença eterna, havia sido reivindicado como Seu pelo Rabino galileu. Declarara ser
Foto: Johny Goerend
A
doutrina da Trindade, uma das 28 crenças fundamentais adventistas, é uma verdade bíblica ainda pouco entendida pela maioria dos cristãos. Em realidade, a existência de um só Deus que ao mesmo tempo é uma unidade de três pessoas coeternas é um mistério que desafia a lógica humana. Embora alguns questionem a divindidade de Cristo e considerem o Espírito Santo simplesmente como uma força ou energia que emana da mente de Deus, não é isso que encontramos nas páginas da Bíblia, como você verá a seguir. As Escrituras identificam o Messias como “Deus Forte” e “Pai da Eternidade” (Is 9:6). Ecoando essas palavras, Ellen G. White escreveu: “[...] Cristo foi de fato glorificado com aquela glória que tinha com o Pai desde toda a eternidade” (Atos dos Apóstolos, p. 38, 39).
R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2018
Aquele que tem existência própria, Aquele que tinha sido prometido a Israel, ‘cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade’ (Mq 5:2) (O Desejado de Todas as Nações, p. 469, 470). “Autoexistência” significa ter vida original, não derivada de nenhum outro ser. A divindade de Cristo é a certeza de vida eterna para o crente (O Desejado de Todas as Nações, p. 530). Quando Lázaro morreu, Jesus declarou a Marta: “Eu Sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em Mim [...] não morrerá eternamente” (Jo 11:25). Ellen White comentou: “Em Cristo há vida original, não emprestada, não derivada. ‘Quem tem o Filho tem a vida (1Jo 5:12). E o Espírito Santo? Precisamos reconhecer que Ele é tanto uma pessoa como o próprio Deus, e que “o Pai, o Filho e o Espírito Santo [são] os santos dignitários do Céu” (Seventh-day Adventist Bible Commentary, 1956, v. 5, p. 1110; ). Ellen G. White expressou essa verdade fundamental com palavras semelhantes ao dizer que Deus, Cristo e o Espírito Santo são “os eternos dignitários celestiais” (Evangelismo, p. 616). A PROMESSA DO ESPÍRITO Próximo de deixar Seus discípulos, Jesus os confortou com as seguintes palavras: “Eu pedirei ao Pai, e Ele lhes dará outro Conselheiro para estar com vocês para sempre, o Espírito da verdade. O mundo não pode recebêLo, porque não O vê nem O conhece. Mas vocês O conhecem, pois Ele vive com vocês e estará em vocês. Não os deixarei órfãos; voltarei para vocês” (Jo 14:16-18, NVI). Dois capítulos adiante, Cristo acrescentou: “É para o bem de vocês que Eu vou. Se eu não for, o Conselheiro não virá para vocês; mas, se Eu for, Eu O enviarei” (Jo 16:7, NVI). Então, Cristo nomeou algumas das responsabilidades do Espírito Santo (v. 8-11). Nos versos seguintes, Ele continuou dando ênfase à vinda do Espírito Santo: “Tenho ainda muito que lhes dizer, mas vocês não o podem suportar agora. Mas, quando o Espírito da verdade vier, Ele [pronome pessoal] os guiará a toda a verdade” (v. 12, 13). Nesses dois capítulos Cristo falou de duas pessoas: Cristo e o Espírito da verdade. O Espírito Santo é o Representante e Sucessor de Cristo na Terra.
R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2018
FUNÇÕES DA TERCEIRA PESSOA DA TRINDADE Foi necessária uma pessoa divina para dar vida humana a Cristo (Mt 1:20), o autor do Antigo Testamento e do Novo Testamento (At 28:25-27; 2Pe 1:20, 21). Conforme narra o livro de Atos, o Espírito Santo, terceira pessoa da Trindade, também foi o administrador da igreja: guiando (At 8:29; 10:19, 20; 11:12, 28; 13:2-4; 16:6, 7; 20:23, 28); preenchendo a mente dos cristãos (At 4:8, 31; 8:17; 9:17; 10:44, 45; 11:15, 24; 13:9, 52; 19:6), concedendo outras línguas (At 2:4), ensinando (Jo 14:26), fazendo lembrar as palavras de Cristo (Jo 14:26), confortando (At 9:31) e sendo testemunha (At 5:32). Ele intercede (Rm 8:26), pode ser ofendido (Ef 4:30), santifica (1Pe 1:2; cf. Jo 17:17), produz o fruto do Espírito (Gl 5:22, 23), presenteia os membros da igreja com dons para os vários ministérios (1Co 12:4-11) e traz o Cristo ressurreto para viver em Seus seguidores (Jo 17:26; Gl 2:20, 4:19; Ef 3:17; Fp 2:13). No encerramento do Concílio de Jerusalém, os líderes reconheceram o Espírito Santo como uma pessoa, dizendo: “Pareceu bem ao Espírito e a nós não impor a vocês nada além das seguintes exigências necessárias” (At 15:28). Paulo afirmou: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus [cf. Jo 3:16], e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vocês” (2Co 13:14). E João reforça que “há três que dão testemunho no Céu: o Pai, a Palavra e o Espírito; e esses três são um” (1Jo 5:7, ARA). Nas Escrituras, cada pessoa da Trindade é chamada de Deus. O Pai chama Cristo de Deus (Hb 1:3, 8) da mesma forma que Cristo apresenta as credenciais do Pai (Jo 8:42). Semelhantemente, vemos o apóstolo Pedro dizendo a Ananias que, ao mentir ao Espírito Santo, ele não mentiu aos homens, mas a Deus (At 5:3, 4). Assim, os escritos inspirados definem Deus como três pessoas na Trindade, uma comunhão de amor, autoexistência, não emprestada, nem recebida, mas com vida original. ]
NAS ESCRITURAS, CADA PESSOA DA TRINDADE É CHAMADA DE DEUS. O PAI CHAMA CRISTO DE DEUS DA MESMA FORMA QUE CRISTO APRESENTA AS CREDENCIAIS DO PAI
NORMAN GULLEY, professor emérito da Southern Adventist University, serviu como pastor, missionário e professor. Ele mora com a esposa em Collegedale, Tennessee (EUA)
23
DOM DE PROFECIA
Novas compilações
AS OBRAS DE ELLEN G. WHITE PUBLICADAS DEPOIS DE SUA MORTE SÃO TÃO VÁLIDAS E CONFIÁVEIS QUANTO AS QUE FORAM IMPRESSAS QUANDO ELA AINDA VIVIA ALBERTO R. TIMM
E
llen White foi uma das escritoras mais prolíficas de todos os tempos. Ela deixou uma mina extremamente grande e valiosa de livros, artigos, cartas e material não publicado. Na época de sua morte, em 1915, somente 24 livros de sua autoria haviam sido impressos, e dois estavam quase prontos para a publicação. Ao longo dos anos, foram publicadas muitas novas compilações e, mais recentemente, obras condensadas e edições na linguagem de hoje. Alguns questionam a validade e confiabilidade dessas novas publicações. Para eles, somente os livros publicados durante o tempo de vida de Ellen White são de valor real e devem ser levados a sério. Portanto, é crucial que compreendamos a natureza e o propósito dessas novas publicações. COMPILAÇÕES Duas razões principais levaram os curadores do Patrimônio Literário de Ellen G. White a preparar novas compilações de seus escritos. A primeira é que essas produções eram o desejo e a provisão da própria autora. Em 1912, em seu último testamento (publicado no livro Mensageira do Senhor, de Herbert Douglass, p. 569-572), ela concedeu aos responsáveis pelo seu patrimônio a responsabilidade de publicar compilações de seus manuscritos. Os escritos de Ellen White não deviam ser guardados em segurança no seu patrimônio, mas deviam continuar falando às pessoas, pois “meus escritos falarão sem cessar” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 55). Em suas próprias palavras, “os assuntos levados diante do povo devem ser reapresentados repetidas vezes. Os artigos publicados logo são esquecidos pelos leitores. Eles devem ser reunidos, republicados em forma de livro, e colocados diante de crentes e descrentes” (O Outro Poder, p. 96). O mesmo princípio foi aplicado aos seus escritos
24
R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2018
Foto: Stefan Schweihofer
não publicados. Ela explica: “Escrevi muita coisa no diário que tenho mantido em todas as minhas viagens que deve ser apresentada ao povo” (Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 32). A segunda razão para a preparação de novas compilações teve que ver com as necessidades e desafios emergentes da igreja. Alguém pode argumentar que todos os crentes devem estudar os escritos de Ellen White por si mesmos. Esse é o ideal. Mas, da perspectiva prática, nem todos têm o tempo e o conhecimento para dominar a enorme obra escrita dela. As compilações podem ajudar os leitores a encontrar em um único livro as principais citações sobre determinado tema. Se os leitores quiserem conferir no original de onde a citação foi extraída, podem fazê-lo acessando o site egwwritings.org. Alguns leitores podem questionar se as cartas pessoais deveriam ser incluídas nessas compilações. Precisamos nos lembrar de que muitos dos livros do Novo Testamento são cartas abertas (ou epístolas) para igrejas específicas e até cartas pessoais. Se as cartas não puderem ser usadas em uma compilação de escritores inspirados, então muito do Novo Testamento também precisaria ser descartado, o que é totalmente impensável.
NOVAS COMPILAÇÕES DOS ESCRITOS DE ELLEN G. WHITE CONTINUAM SENDO PUBLICADAS COM O OBJETIVO DE TORNAR SUA OBRA MAIS ACESSÍVEL E COMPREENSÍVEL AO MUNDO CONTEMPORÂNEO
CONDENSAÇÕES E EXTRATOS As condensações mais importantes dos livros originais de Ellen White são os cinco volumes da Série Conflito dos Séculos. O livro Patriarcas e Profetas foi condensado e publicado como Os Escolhidos; Profetas e Reis, como Os Ungidos; O Desejado de Todas as Nações, como O Libertador; Atos dos Apóstolos, como Os Embaixadores; e O Grande Conflito, como Os Resgatados. O conteúdo de alguns livros missionários menores, publicados para distribuição em massa, foram extraídos de livros maiores de Ellen G. White. Por exemplo, A Grande Esperança (2012) foi extraído de O Grande Conflito; e Em Busca de Esperança (2017), de História da Redenção. Em ambos os casos, é chamada a atenção dos leitores para os livros originais. As condensações e extratos ou separatas (seleção de capítulos ou trechos) nunca devem ser considerados substitutos dos livros originais de onde deriva seu conteúdo. Seu objetivo é (1) oferecer um vislumbre do conteúdo básico desses livros a um preço mais acessível, e (2) alcançar uma geração ocupada que nunca compraria ou leria o livro original. Alguém pode racionalizar dizendo que é muito melhor que se leia pelo menos trechos de um determinado livro do que não ler nada do seu conteúdo. LINGUAGEM DE HOJE Os escritos de Ellen White já existem há mais de cem anos e refletem o estilo literário daquela época. Ao longo do tempo, algumas palavras usadas por ela tiveram seu significado
R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2018
modificado. Por exemplo, ela usou a palavra “intercurso” no sentido de socialização, em vez de intimidade (Testemunhos Para a Igreja, v. 2, p. 123), e a palavra “agradável” com o sentido de delicadeza em vez de bondade (Fundamentos da Educação Cristã, p. 15). Portanto, como tornar seus escritos mais populares e compreensíveis para a nova geração que desconhece aquela linguagem? Uma tentativa foi lançar o Caminho a Cristo na linguagem cotidiana, mais simples, publicado como Caminho Para Cristo (1981). Mais recentemente, outros livros foram atualizados com o português mais moderno, como o livro Educação, que em 2016 teve uma tiragem especial por ocasião dos 120 anos da rede educacional adventista no Brasil, e os já mencionados Os Escolhidos (2015), Os Ungidos (2015), O Libertador (2016), Os Embaixadores (2017) e Os Resgatados (2018). Todas essas publicações — compilações, condensações, extratos e as edições na linguagem de hoje — têm o objetivo de tornar os escritos de Ellen White mais acessíveis e compreensíveis ao nosso mundo contemporâneo. Sempre que a linguagem é atualizada, é cuidadosamente revisada por leitores competentes para garantir que o pensamento permaneça o mesmo do original. Esse processo é realizado com a suposição de que o Espírito Santo deu aos profetas a mensagem divina que eles expressaram em sua linguagem humana própria (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 15-23). Como já destacado, nenhuma dessas adaptações destinase a substituir os livros originais, e recebem títulos novos para que sejam ainda mais distinguidos. ] ALBERTO R. TIMM é diretor associado do Patrimônio Literário de Ellen G. White na sede mundial da Igreja Adventista, em Silver Spring, Maryland (EUA)
25
VIDA ADVENTISTA
COMO O DIRETOR DE UM CANAL DE TV DA NOVA ZELÂNDIA TEM USADO A ARTE PARA EVANGELIZAR PESSOAS SECULARIZADAS JAMES STANDISH
E
ra um dia quente de agosto, em Paris. Esse é o tipo de clima que faz com que as pessoas procurem um lugar para se sentarem em alguma lanchonete e peçam um copo com água Perrier bem gelada. Mas não era isso que estava acontecendo. Ao contrário, uma multidão envolvendo gente de todas as partes do mundo esperava, em pé, em um grande pátio, sob o calor escaldante do meio-dia. Eles não aguardavam uma atriz de cinema, tampouco um evento esportivo, político ou religioso. Nessa tarde sufocante, a multidão se acotovelava para entrar no Museu do Louvre. 26
Como um visitante comentou: “A coleção de arte do Louvre é épica, mas a fila também é. Levamos horas para conseguir entrar.” Filas longas para apreciar grandes obras de arte são comuns. Seja para conhecer a Galeria Nacional em Londres, o Museu Metropolitano de Arte, em Nova York, ou a Galeria dos Ofícios de Florença. Obras famosas atraem multidões. Isso levou Neale Schofield, mestre em Arte e Religião pela Universidade de Londres, a elaborar estratégias para alcançar os apreciadores da arte. Tendo em vista que muitas das obras tão valorizadas pelas sociedades seculares modernas foram criadas para comunicar verdades espirituais profundas, seu objetivo era levar as pessoas a redescobrir os segredos por trás dessas expressões artísticas e, assim, poder apresentar ao público o maior Artista.
Foi com esse propósito em mente que o direitor do Hope Channel da Nova Zelândia desenvolveu um programa de TV inovador, intitulado Golpe de Mestre (Masterstroke, no original em inglês). A série documental investiga algumas das mais famosas e interessantes artes religiosas da história. Numa época em que muitos não sabiam ler, a arte foi usada como base para a compreensão de Deus. Portanto, a lógica do programa é resgatar esses elementos que se escondem nas imagens. Produzidos em parceria com a equipe do centro de mídia de Sydney, os episódios buscam mostrar o contexto da produção de pinturas conhecidas (para assistir aos vídeos, acesse: adv7.in/ME). “A mensagem de cada programa é que, por trás dessas obras de arte, visualizamos coisas mais espetaculares do que a beleza encontrada
R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2018
Foto: Masterstroke
Golpe de mestre
NUMA ÉPOCA EM QUE MUITOS NÃO SABIAM LER, A ARTE FOI USADA COMO BASE PARA A COMPREENSÃO DE DEUS
em todas as cintilantes galerias deste mundo”, Schofield afirma. Com uma abordagem inovadora, a série levanta questões instigantes. Por exemplo: por que Rembrandt retratou a si mesmo como o “Filho Pródigo”? Ou por que Caravaggio pintou sua própria cabeça no lugar da de Golias? Além disso, o seriado revela detalhes curiosos da vida de artistas como Vincent van Gogh, o pintor holandês que planejava ser pastor protestante, mas que, em um momento de forte depressão, cortou a própria orelha. Como suas ideias religiosas influenciaram sua arte? Como seu relacionamento com Deus se transformou ao longo da vida? Que segredos de suas pinturas podem ser desvendados ao conhecer a história do autor? São perguntas desse tipo que Neale Schofield traz à reflexão. Porém, o seriado não se limita aos nomes mais conhecidos. Em um dos episódios, Schofield conta a história de Artemisia Gentileschi, primeira mulher aceita na Academia de Belas Artes de Florença, na Itália, a mesma pela qual passou Michelangelo. Embora sua carreira artística hoje seja bastante reconhecida, ela sofreu com a indiferença e a rejeição do mundo artístico de sua época por ser mulher, além de ter passado pela humilhação de ver a autoria de seus quadros atribuída a seu pai e outros artistas masculinos. Artemisia viveu grandes dramas pessoais. Em 1611, por exemplo, foi estuprada por um homem poderoso, que acabou ficando impune. Depois de denunciar o agressor, Artemisia ainda teve que suportar o fato de ser questionada abertamente pela sociedade. Inspirada nas Escrituras, sua arte procurava expressar uma verdade fundamental: a de que o Deus da Bíblia não faz acepção de pessoas. Sua justiça se aplica até ao rico, poderoso e famoso. Uma lição tão importante hoje como foi há quatro séculos, quando ela pintou suas obras-primas. Com aproximadamente 28 minutos de duração, os vídeos são gravados em um cenário que imita uma galeria de arte. O apresentador da série conta que as réplicas que aparecem em cada episódio foram feitas por artistas com habilidades técnicas fora do comum. Também foram produzidas animações que deram vida a algumas das pinturas mais conhecidas da história. Os recursos audiovisuais, o cenário das gravações e o estilo contemporâneo de narração dão ao programa um caráter moderno e atrativo.
R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2018
PÚBLICO SINGULAR A série evangelística apela para um público que os adventistas dificilmente alcançam por meio de outros métodos. “Desde que foi transmitida a primeira série, recebi mensagens do mundo inteiro. É interessante notar que o público é muito diferente de todos com os quais trabalhamos. Muitas pessoas que nos escrevem têm elevado poder aquisitivo e alto nível educacional”, Schofield relata. Uma das respostas mais interessantes veio de um colégio particular bastante elitizado, em Melbourne, Austrália. “Incrivelmente, um professor da escola encontrou Golpe de Mestre na internet e está usando a série na sala de aula. A arte está nos conectando com um público que dificilmente é alcançado”, observa Schofield. Para ele, a lógica do método é ir até as pessoas, encontrar pontos em comum e, então, falar do amor de Cristo naquele contexto. NOVOS PLANOS Já foram filmadas duas temporadas da série Golpe de Mestre e há planos de complementar os programas de TV com um livro e outros materiais que relacionem arte e evangelho. “Precisamos usar todos os recursos disponíveis para evangelizar nosso mundo agonizante. A série foi planejada para alcançar pessoas que suportam enfrentar filas nos dias mais quentes apenas para apreciar a beleza de grandes obras de arte. Queremos apresentar a essas multidões exaustas e acaloradas de nossas grandes cidades a revigorante fonte de água viva”, Schofield conclui. Ele encontrou uma forma eficaz de tornar o evangelho relevante para esse público. ] JAMES STANDISH é advogado e administra uma empresa de consultoria especializada em relações governamentais e mídia nos Estados Unidos
27
DEVOCIONAL
MARTIN G. KLINGBEIL
28
E
u havia observado aquele cartaz ao longo de todo o semestre. Ele havia sido fixado em vários pontos da universidade, inclusive nos banheiros. Por isso, era difícil evitá-lo. Na parte superior, escrita em letras garrafais, lia-se a seguinte frase: “Quando o fracasso NÃO é uma opção”. Por haver muitos outros cartazes ao redor disputando minha atenção, eu não havia lido todo o texto, mas de algum modo sua mensagem me atingiu. Quando, finalmente, decidi ler tudo, descobri que se tratava de uma campanha promovida pelo Serviço de Apoio a Deficiências, cujo papel é ajudar alunos com necessidades especiais a superar suas limitações e obter sucesso.
R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2018
Foto: Thinkstock
NUMA SOCIEDADE OBCECADA PELO SUCESSO, AS NOVAS GERAÇÕES ESTÃO DEIXANDO DE APRENDER COM OS FRACASSOS
No fundo da minha mente, sempre que me deparava com o enunciado, pairava uma pergunta incômoda sobre a frase inicial. Ela me fez pensar em uma realidade mais ampla: o fato de a sociedade atual, obcecada por realização, ter transformado o sucesso no principal objetivo da vida. Não se toleram falhas! Lembro-me de ter conversado com uma amiga sobre a criação de adolescentes (temos dois em casa). Durante a conversa, ela disse que a pior coisa para suas filhas era a possibilidade de falharem em alguma coisa. Nas notas na escola, nos esportes, no namoro e até no clube de desbravadores — temos que ser bem-sucedidos em tudo, mesmo diante de grande custo emocional.
O reconhecimento saudável das falhas nos torna mais dispostos a perdoar e ajuda a desenvolver a empatia cristã
IMPLICAÇÕES PSICOSSOCIAIS Um estudo realizado recentemente na Alemanha mostrou que, de cada sete estudantes com notas boas, um era enviado pelos pais para aulas de reforço, acrescentando à agenda já muito cheia uma rotina diária de horas e horas de aulas extras. Segundo a pesquisa que revelou a obsessão dos pais pelo sucesso dos filhos, o que as crianças aprendem não é mais álgebra ou gramática, necessariamente, mas a ideia de que continuamente têm de levar para casa resultados excelentes. Se não conseguem, precisam de ajuda, pois de outra forma estarão colocando em risco seu progresso acadêmico e social. Psicólogos especializados em crianças têm advertido sobre o aumento do número de casos de depressão, ansiedade e até de Síndrome de Burnout em pessoas com idade cada vez menor. Os especialistas sugerem que parte do problema possa ser que as novas gerações não estão aprendendo a lidar com as falhas, o que gera uma enorme carga de insegurança. Assim, quando lhes sobrevêm falhas inevitáveis e desapontamentos, estão despreparadas para gerenciar as crises. Isso, obviamente, não deve ser visto como incentivo à mediocridade e d esestímulo à busca pela excelência. Ao contrário, é um convite à reflexão diante da lógica do
R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2018
sempre mais e melhor. Deveríamos procurar um modo mais saudável de aprender a gerenciar a vida, inclusive as questões relacionadas à vida eterna. PERSPECTIVA TEOLÓGICA A Bíblia está cheia de pessoas que falharam. Moisés matou o egípcio e, contrariando a ordem de Deus, feriu a rocha. Por sua vez, Davi falhou em controlar seus desejos em relação a uma mulher casada. Pedro, além de ter negado seu Mestre, cortou a orelha de Malco, servo do sumo sacerdote. Paulo perseguiu os primeiros seguidores de Jesus e, mais tarde, teve que encarar o completo fracasso de sua vida pregressa ao ser confrontado pelo próprio Cristo na estrada de Damasco. A lista é grande! Na realidade, foram exatamente as falhas que levaram essas pessoas aos braços do amável Salvador. Ao longo do caminho, esses heróis da Bíblia aprenderam duas coisas fundamentalmente
importantes. Primeira: quando falho, reconheço que preciso confiar menos em minhas realizações e mais no poder da graça de Deus: “Então, Ele me disse: A Minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo” (2Co 12:9). A falha é um passo na direção do perdão e na busca de forças para a superação em Cristo. Por outro lado, quando o fracasso não é uma opção, pode ser que eu crie uma imagem distorcida da justiça de Deus. O seg u ndo aspecto é que, quando falho, tenho a oportunidade de me tornar mais compassivo com as pessoas ao meu redor. Considerando a experiência de Pedro, Ellen White comentou: “Lembrando sua própria fraqueza e queda, devia tratar as ovelhas e cordeiros entregues a seu cuidado com a mesma ternura que Cristo tivera com ele” (Atos dos Apóstolos, p. 516). O reconhecimento saudável das falhas nos torna mais dispostos a perdoar e ajuda a desenvolver a empatia cristã. Por ta nto, neste mu ndo de pecado, falhar é uma possibilidade. Não é uma opção pela qual eu busque ou lute voluntariamente, mas uma opção que, mais cedo ou mais tarde, cruzará meu caminho. Não tenho que me pressionar a sucessos constantes, me deprimindo ao primeiro fracasso. De modo idêntico, reconheço que não tenho que pressionar meus filhos a ser super realizadores. Eles devem saber que têm nossa permissão para falhar, que podem crescer aprendendo com seus erros e que a graça divina prevê tudo isso. Oro para que eu possa agir dessa maneira quando receber o próximo boletim escolar dos meus filhos. ] MARTIN G. KLINGBEIL é diretor associado do Instituto de Arqueologia na Southern Adventist University, em Collegedale, Tennessee (EUA)
29
MINHA HISTÓRIA
Milagre na gráfica
A RESPOSTA DIVINA A UM GRUPO QUE QUERIA IMPRIMIR MATERIAIS EVANGELÍSTICOS EM CUBA, MAS QUE NÃO SABIA COMO CONSERTAR A MÁQUINA IMPRESSORA
H
DICK DUERKSEN ernán tem uma pequena gráfica na sua casa, em Quito, capital do Equador. Embora imprima muitos materiais para o comércio local, seu trabalho favorito é imprimir materiais evangelísticos da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Sempre que possível, ele escapa de seu escritório para dar estudos bíblicos ou falar em reuniões evangelísticas. Quando a sede administrativa da igreja no Equador (União Equatoriana) foi convidada a distribuir literatura e a realizar evangelismo em Cuba, Hernán imediatamente se apresentou como voluntário. Ele sempre havia sonhado ser missionário, e estava tendo a oportunidade de viver esse sonho. Por vários meses, ele assumiu trabalhos extras e trabalhou até tarde da noite a fim de conseguir o dinheiro necessário para cobrir as despesas da viagem. Desejoso de fazer seu melhor em Cuba, Hernán aproveitava os intervalos no trabalho com a gráfica para se preparar para as palestras. No dia da viagem, ele se ajoelhou com sua família ao lado das máquinas de impressão e fez uma oração em favor das pessoas que viajariam para Cuba e daqueles com quem teriam contato. Hernán passou todo o tempo de voo entre Quito e Havana revisando suas anotações e sonhando com os novos amigos que faria durante as reuniões. “Nada de 30
trabalhos gráficos. Nesse período vou me dedicar inteiramente ao evangelismo”, ele pensou. Nos dois dias seguintes ao da sua chegada, Hernán passou preparando a sala das reuniões e montando os materiais que seriam distribuídos na cidade. Em vez de conhecer pontos turísticos, ele se reuniu com os membros da igreja da região a fim de orar pelo trabalho. IMPREVISTO Certa manhã, ele estava tomando o desjejum quando ouviu alguém chamá-lo pelo nome. “Hernán, estou tão feliz por você ter vindo com a equipe do Equador”, expressou o presidente da Missão Cubana, vestido em um elegante terno cinza, enquanto caminhava em direção à mesa para cumprimentálo. “Estou muito grato por você R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2018
Foto: Thinkstock
estar aqui. Preciso de sua experiência no escritório da missão”, acrescentou. “Em que posso ajudar?”, perguntou Hernán. “Estamos com um problema terrível. Acabei de ser informado que você é um gráfico e sabe como consertar impressoras. Precisamos de você. Nossa impressora é muito antiga e funcionou bem por muitos anos. No entanto, hoje, ela se recusou a trabalhar. Mas precisamos que ela funcione imediatamente para acabar de imprimir os cursos bíblicos de A Voz da Profecia que você e os outros evangelistas usarão durante este mês. Estou grato a Deus por tê-lo enviado a Cuba para nos ajudar”, afirmou o líder local. Hernán se levantou vagarosamente, com a mente em turbulência. “Vou ver o que posso fazer”, disse sorrindo. Ao mesmo tempo, tentando esconder a frustração, pensou: “Eu vim a Cuba para fazer evangelismo, não para consertar impressoras!” O corpo de Hernán estremeceu ao me contar o que aconteceu naquele dia. “Deus havia mantido aquela impressora antiga funcionando por mais de 35 anos, mas então os rolos não estavam puxando o papel. Quando chegamos à sala da impressora, os funcionários se alegraram e pediram por um milagre”, relembra. O visitante do Equador tentou todas as soluções que podia imaginar, mas sem sucesso. Já quase a ponto de desistir, ele disse: “Se nós a desmontarmos completamente, talvez consigamos consertá-la.” Era a última esperança. Logo a antiga e fiel impressora se tornou um esqueleto de ferro. Suas engrenagens e parafusos estavam espalhados por toda a sala, parecendo um ferro-velho de impressoras. Hernán e seus quatro assistentes adolescentes permaneceram entre as peças, suando por conta do calor e umidade excessivos. Finalmente, depois de algum tempo, Hernán chamou a atenção dos auxiliares: “Está faltando uma pequena alavanca. Por isso, a máquina não consegue ser alimentada com papel. A peça não está aqui, e não sei como fazer outra.” Foi quando o presidente da sede administrativa local entrou na sala e se assustou com o que viu. “Ah, não! Ela está destruída! E precisamos imprimir os cursos bíblicos, mas, e agora? Em vez de consertar, você destruiu nossa impressora!”, ele afirmou em tom sério. Calmamente, Hernán explicou sobre a alavanca que estava faltando, e disse que, em sua opinião, a única coisa a fazer era orar. “Nós vamos orar e, em seguida, vou começar a montar a máquina”, ele falou. Contudo, a reação dos demais foi inesperada. “Quando eu disse que precisávamos orar, todos eles foram embora, me deixarando sozinho com uma impressora quebrada”, recorda. Sem entender, Hernán se ajoelhou e orou sozinho entre as peças da máquina espalhadas pelo chão. Algum tempo depois, todas as pessoas voltaram para a sala. Mas, dessa vez, tinham o rosto lavado, o cabelo penteado, e todos estavam vestidos com camisas limpas. “O presidente olhou para mim e disse: ‘Agora estamos prontos para orar. Hernán, você começa!’” R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2018
HERNÁN ABRIU OS OLHOS, LEVANTOU-SE E OLHOU PARA O CHÃO. ALI, EXATAMENTE ENTRE OS SEUS PÉS, ONDE MINUTOS ANTES NÃO HAVIA NADA ALÉM DO CHÃO SUJO DE CIMENTO, ESTAVA A PEÇA QUE FALTAVA Porém, Hernán, sem camisa e todo suado, não conseguia nem mesmo orar naquele momento. Estava temeroso de ter destruído a impressora e, ao mesmo tempo, chateado com o rumo que a situação havia tomado. Então, o líder da igreja e os outros funcionários oraram fervorosamente. Quando concluíram as orações, Hernán abriu os olhos, levantou-se e olhou para o chão. Ali, exatamente entre os seus pés, onde minutos antes não havia nada além do chão sujo de cimento, estava a peça que faltava! Naquela noite, depois que Hernán e os demais remontaram e lubrificaram o equipamento, todos foram ver a impressora funcionando outra vez. Ninguém respirava enquanto Hernán colocava a bobina de papel na impressora “consertada”. A impressão saiu péssima. “As primerias páginas saem sempre assim”, ele observou, enquanto girava os mostradores, ajustava os rolos e orava silenciosamente ao Gráfico celestial. “Vamos ver o que acontece agora”, ele completou. Quando a impressora imprimiu perfeitamente uma lição do curso bíblico A Voz da Profecia, a sala se encheu de louvor e ação de graças! ] DICK DUERKSEN é pastor e mora em Portland, Oregon (EUA)
31
VISÃO GLOBAL
os 77 anos, Thomas Jefferson já havia realizado mais do que a maioria, mas ainda havia algo que desejava concretizar. Cu idadosa mente, ele reuniu os itens necessários para o projeto: uma lâmina afiada, cola e seis volumes do Novo Testamento em inglês, francês, latim e grego. Após colocar os objetos em uma superfície plana, começou o meticuloso trabalho de cortar o que considerava ser as partes relevantes dos evangelhos. Então, agrupou sua seleção, contando uma história cronológica, fundamentada na história da vida de Jesus, Suas parábolas e ensinos morais. Deixou para trás, no material de origem, os elementos com os quais, pela razão, não podia concordar ou acreditava serem adornos acrescentados mais tarde, como os milagres e a ressurreição. A isso chamou de “coisas impossíveis, ou superstições, fanatismo e fatos fabricados”, conforme escreveu em uma carta endereçada a William Short Monticello.
Guiados pela palavra
DEUS CONTINUA FALANDO POR MEIO DA REVELAÇÃO ESCRITA, MAS PRECISAMOS NOS APROXIMAR DELA COM HUMILDADE E DISPOSIÇÃO PARA OUVIR SUA VOZ TED WILSON
32
A BÍBLIA DE JEFFERSON Concluído em 1820, esse livro artesanal com 84 páginas ficou conhecido como a “Bíblia de Jefferson”, embora tenha sido intitulado originalmente The Life and Morals of Jesus of Nazareth Extracted Textually from the Gospels in Greek, Latin, French, and English (A Vida e Moralidade de Jesus de Nazaré Extraídas Textualmente dos Evangelhos em Grego, Latim, Francês e Inglês). O terceiro presidente dos Estados Unidos foi bem-educado e dotado em múltiplas áreas, tendo sido o autor principal da Declaração de Independência dos Estados Unidos. Jefferson R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2018
Foto: Hugh Talman/Smithsonian’s – National Museum of American History
A
era deísta. Desse modo, insistia que a verdade religiosa deve se sujeitar à autoridade da razão humana, negava que a Bíblia é a Palavra de Deus e rejeitava as Escrituras como fonte de doutrina. Jefferson via a Bíblia pela ótica iluminista, aceitando somente as coisas que podiam ser explicadas por meio da visão naturalista ou científica. Ao compilar The Life and Morals of Jesus, Jefferson acreditava que estava preservando os ensinos puros de Cristo e retirando invenções desnecessárias que foram acrescentadas posteriormente. Essa prática do Iluminismo do século 18 tem sido amplamente utilizada hoje. O método histórico-crítico continua colocando a razão humana acima da revelação divina, descartando a intervenção sobrenatural e procurando encontrar sentido por meio de pressupostos e entendimentos humanistas. Embora os que adotam o método histórico-crítico hoje não mais utilizem lâmina e cola para agrupar sua versão própria das Escrituras como Jefferson fez, o resultado é o mesmo: uma versão humanista mal construída de um livro divinamente inspirado. A HERMENÊUTICA PROTESTANTE Em contraste com o método histórico-crítico, o método protestante de interpretação bíblica usado por Martinho Lutero e outros reformadores tem sido utilizado pela Igreja Adventista do Sétimo Dia desde o início do movimento. Esse também parece ter sido o modo com que os próprios escritores da Bíblia interpretaram as Escrituras: comparando texto com texto. O método histórico-bíblico (também conhecido como método histórico-gramatical) assume que há um Deus Criador que está ativo ao longo da história humana e admite que “toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça” (2Tm 3:16). Ele reconhece que “enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto” (Jr 17:9, ARA). Portanto, a razão humana não pode ser colocada como juiz, acima da Palavra de Deus. Quando Deus criou os seres humanos, Ele os dotou de racionalidade, dando-lhes a habilidade de observar, analisar e tirar conclusões. Assim, por meio da oração, orientação do Espírito Santo e razão santificada, submetida a Deus, podemos ser capazes de ter uma clara compreensão das Escrituras. PRIMEIRA E PRINCIPAL TAREFA A inspiração divina diz: “O primeiro e mais elevado dever de todo ser racional é aprender R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2018
OS QUE ADOTAM O MÉTODO HISTÓRICO-CRÍTICO HOJE NÃO MAIS UTILIZAM LÂMINA E COLA PARA AGRUPAR SUA VERSÃO PRÓPRIA DAS ESCRITURAS COMO THOMAS JEFFERSON FEZ, MAS O RESULTADO É O MESMO: UMA VERSÃO HUMANISTA MAL CONSTRUÍDA DE UM LIVRO DIVINAMENTE INSPIRADO
das Escrituras o que é a verdade, e então andar na luz, animando outros a lhe seguirem o exemplo. Devemos dia após dia estudar a Bíblia, diligentemente, ponderando todo pensamento e comparando passagem com passagem” (O Grande Conflito, p. 598). Somos ainda instruídos como compreender as Escrituras: “A linguagem da Bíblia deve ser explicada de acordo com o seu óbvio sentido, a menos que seja empregado um símbolo ou figura. […] Se os homens tão-somente tomassem a Bíblia como é, e não houvesse falsos ensinadores para transviar e confundir-lhes o espírito, seria realizada uma obra que alegraria os anjos, e que traria para o redil de Cristo milhares de milhares que ora se acham a vaguear no erro” (O Grande Conflito, p. 599). Finalmente, somos admoestados a usar nossa mente enquanto estudamos as Escrituras, mas sempre com espírito humilde e disposição para aprender, dependendo de Deus para ter sabedoria. Ellen White escreveu: “Cumpre-nos exercer todas as faculdades da mente no estudo das Escrituras, e aplicar o intelecto em compreender as profundas coisas de Deus, tanto quanto possam fazer os mortais; não devemos, contudo, nos esquecer de que a docilidade e submissão da criança é o verdadeiro espírito do aprendiz. As dificuldades encontradas nas Escrituras jamais podem ser dominadas pelos mesmos métodos que se empregam em se tratando de problemas filosóficos. Não nos devemos empenhar no estudo da Bíblia com aquela confiança em nós mesmos com que tantos penetram nos domínios da ciência, mas sim com devota dependência de Deus, e sincero desejo de conhecer Sua vontade. Cheguemo-nos com espírito humilde e dócil para obter conhecimento do grande Eu Sou. De outro modo, anjos maus nos cegarão a mente, endurecendo-nos o coração para que não sejamos impressionados pela verdade” (O Grande Conflito, p. 599). Uma das minhas passagens favoritas da Bíblia encontra-se em João 1:1: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”. A Palavra de Deus é poderosa. Deus fala por meio dessa coleção de escritos sagrados produzidos há tanto tempo. Através dos séculos, idiomas, lugares e culturas, a imutável verdade é proclamada por meio de Sua Palavra revelada, a Bíblia. Embora não adoremos a Bíblia como uma relíquia religiosa, adoramos o Deus da Bíblia, cuja voz ainda pode ser claramente ouvida hoje. ] TED WILSON é o presidente mundial da Igreja Adventista. Acompanhe o líder pelo Twitter (@pastortedwilson) e Facebook (fb.com/pastortedwilson)
33
NOVA GERAÇÃO
"
CRISTO PRECISA SER REAL, TANGÍVEL E PESSOAL NO COTIDIANO DOS JOVENS, NÃO APENAS UMA FIGURA HISTÓRICA DA ANTIGUIDADE SOBRE A QUAL SE OUVE AOS SÁBADOS 34
INCENDIANDO A JUVENTUDE COMO UMA DAS MAIORES IGREJAS DO QUÊNIA CONSEGUIU DINAMIZAR A ESPIRITUALIDADE DOS SEUS JOVENS FREDERICK KIMANI
era apresentado pelo âncora do telejornal de uma das principais emissoras de TV da cidade. Entre as sessões de louvor e adoração, personalidades adventistas eram entrevistadas para falar sobre sua caminhada espiritual. O maratonista adventista Abel Kirui, medalhista olímpico, foi uma das celebridades entrevistadas. Sua forte convicção sobre não correr aos sábados foi uma inspiração para que os jovens permanecessem fiéis aos seus valores. Em outro culto, entrevistamos a sobrinha de Chinua Achebe, prolífico escritor africano indicado ao Prêmio Nobel de Literatura. Ela falou sobre o encontro da família com o adventismo e o lado espiritual quase desconhecido do seu tio famoso. Além disso, o culto jovem recebia a participação de músicos e terminava com um sermão atrativo e cristocêntrico. Ao investir nesses programas, nosso objetivo foi inspirar os jovens a se tornarem ativos em sua jornada espiritual particular. Cristo precisa ser real, tangível e pessoal na vida cotidiana deles, não apenas uma figura histórica da antiguidade sobre a qual se ouve aos sábados. Por pertencer à terceira geração de adventistas na família, frequentar a igreja aos sábados era um quadradinho a mais a ser preenchido na minha lista semanal de atividades rotineiras, até que finalmente compreendi a necessidade de uma mudança de paradigma em meu modo de pensar. A religião de rotina deve ser transformada em um estilo de vida de adoração, que impacta ativamente cada área de nossa vida ao longo de toda a semana. Isso inclui morrer diariamente para nossos próprios desejos a fim de viver por Cristo o tempo todo. Um apóstolo Paulo do século 21 desafiaria os adventistas do sétimo dia a se transformarem em adventistas dos sete dias. Ele resumiu assim: “Ofereçam-se em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês” (Rm 12:1, NVI). Como um sacrifício pode se tornar “vivo” quando seu único propósito é a morte? Ser adventista do sétimo dia é isso. ] FREDERICK KIMANI é médico e vive em Nairóbi, capital do Quênia (África) R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2018
Foto: Arquivo pessoal
A
lô! Quem fala é o pastor da sua igreja. Você foi indicado para ser o vice-diretor de jovens.” Gelei! Como esperavam que alguém de 23 anos de idade liderasse os jovens de uma congregação de 3 mil membros? Minha igreja é uma das 50 congregações adventistas que servem aos 6,5 milhões de habitantes da região metropolitana de Nairóbi, capital do Quênia (África). Rapidamente, minha mente buscou dezenas de desculpas. À semelhança de Moisés diante da sarça ardente, eu me sentia despreparado para esse enorme desafio de liderança. Sem dúvida, havia outros membros da igreja mais experientes e qualificados para o cargo. Apesar de me mostrar relutante no início, acabei aceitando o convite. O maior desafio que minha comunidade enfrentava era atrair outros jovens para a igreja, captar a atenção deles e mantê-los envolvidos nas atividades. Como em muitos outros lugares do mundo, frequentemente nossa igreja estava lotada durante os cultos do sábado pela manhã, mas poucos assistiam aos programas da tarde. Como poderíamos competir com o fascínio que a sociedade pós-moderna oferece? Sentimos que precisávamos abraçar métodos não convencionais e inovadores que fossem relevantes para as novas gerações e, ao mesmo tempo, produzissem maturidade espiritual. Nosso anseio era incendiar os jovens com uma paixão por Cristo. Então, iniciamos um culto diferente, intitulado “Incendiado”. Com uma hora e meia de duração, o programa
PRIMEIROS PASSOS
O SOBREVIVENTE
A HISTÓRIA DO HOMEM QUE PASSOU QUATRO MESES À DERIVA NO OCEANO PACÍFICO WILONA KARIMABADI E RANDY FISHELL
"
Ilustração: Xuan Le
Ó
D e u s, e u n ã o e s t o u aguentando mais”, disse Timmi-Ti, ofegante. “Se o Senhor vai me salvar, precisa ser logo!” Tudo começou em Bora-Bora, uma das ilhas mais belas da Polinésia Francesa. O barco de Timmi-Ti havia saído de lá carregado de melancias, bananas e mamões. O mercado para o qual os produtos seriam levados ficava em outra ilha, a cerca de um dia de viagem de barco. Ele ainda estava a uma boa distância do destino quando os dois motores da embarcação (o principal e o reserva) pararam de funcionar. Sem ter remos a bordo, Timmi-Ti começou a pensar em como seria resgatado. De repente, ele ouviu o som de um avião. Agitou furiosamente a camisa na tentativa de ser visto pelos tripulantes da aeronave, mas ela continuou o voo. Chegou o pôr do sol e Timmi-Ti ainda continuava à deriva. Ele tinha poucos itens a bordo: uma pequena tesoura, um pedaço de corda, uma vara longa, um lápis e algumas folhas de papel. Os dias R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2018
“Aquele que habita no abrigo do Altíssimo[...] pode dizer ao Senhor: ‘Tu és o meu refúgio e a minha fortaleza, o meu Deus, em quem confio’” (Sl 91:2, NVI)
passavam e não aparecia nenhum sinal de resgate. Quando as frutas acabaram, Timmi-Ti usou a tesoura, a vara e a corda para pegar algum peixe. Os dias se tornaram semanas, e ele continuava orando pelo resgate. Às vezes, tubarões rodeavam seu barco, mas Deus o manteve em segurança. Timmi-Ti sabia vários versos da Bíblia de cor e os recitava regularmente. A essa altura, sua pele estava queimada do sol, seus olhos, vermelhos, e seus lábios, rachados e sangrando. Timmi-Ti estava semimorto. Ele já estava perdido havia mais de quatro meses. Então, em meio à neblina da manhã do dia 154 do seu pior pesadelo, ele viu uma montanha que saía do mar. Seria possível? Havia terra à vista? De repente, ele sentiu uma corrente que o carregava para outra direção. Rapidamente, amarrou uma ponta da sua camisa no barco e pulou na água. Ele nadou até a praia puxando o barco com os dentes. Quando chegou mais perto da praia, Timmi-Ti viu gente. Porém, ao chegar em terra, desmaiou. As pessoas o rodearam e rapidamente levaram aquele homem exausto para o hospital. Timmi-Ti havia estado à deriva por cerca de 2 mil quilômetros, tendo sido levado à Samoa Americana. Quando voltou para casa, descobriu que até havia sido feito um funeral para ele. Imagine o choque quando esse homem voltou para sua aldeia, em Bora-Bora! Suas primeiras palavras ao reencontrar seu povo foram: “Se eu não tivesse decorado tantos versos da Bíblia, não teria conseguido resistir por tanto tempo.” ] WILONA KARIMBADI é editora-assistente da Adventist World e RANDY FISHELL é autor de livros infantis (adaptação do texto de Dorothy Aitken publicado na edição de 7 de julho de 1970 da revista Guide)
35
PERSPECTIVA
ALÉM DE ORAR PELOS QUE UM DIA DEIXARAM A IGREJA, DEVEMOS SER IMPULSIONADOS PELA DOR DA PERDA A VIVER UM CRISTIANISMO MAIS AUTÊNTICO GLENN TOWNEND
V
oltar a uma igreja e comunidade que você pastoreou ou frequentou é sempre uma experiência emocionante. É animador ver que membros valorosos, que trabalharam com você em vários eventos evangelísticos e comunitários, ainda estão servindo fielmente a Deus da melhor maneira possível. Igualmente satisfatório é ver ex-adventistas que um dia você visitou, mas não demonstraram o mínimo interesse em retornar para a igreja, agora vivem como discípulos de Jesus, completamente comprometidos. Também é uma alegria ver pessoas que você batizou e deixou como bebês na fé, agora participando da comissão da igreja e liderando ministérios como a Escola Sabatina infantil. É maravilhoso ver aqueles com quem você estudou a Bíblia e apresentou seminários, mas que nunca se decidiram pelo batismo, agora se alegrando na verdade de Cristo e comprometidos em ajudar outros a encontrar nova vida por meio da fé em Jesus. Gostaria de parar de escrever aqui, agradecer a Deus e permanecer nessas histórias acima, mas esse não é o quadro completo. Infelizmente, também há aqueles dos quais você se lembra com carinho e que não mais estão ali. Após perguntar, você descobre que alguns morreram e esperam pela alegria de ver Jesus. Outros foram transferidos para uma nova igreja. Mas a história de alguns parte seu coração. 36
ENQUANTO ORAMOS PELOS OUTROS, PRECISAMOS ORAR POR NÓS MESMOS, A FIM DE PERMANECERMOS FIRMES ATÉ O FIM, POIS A VIDA NA IGREJA PODE SER UMA MONTANHA-RUSSA EMOCIONAL Há aquele professor da Escola Sabatina que era excelente na formação de grupos, em estudar as Escrituras com as pessoas, mas que decidiu deixar de frequentar a igreja depois que espalharam calúnias sobre ele. Ou aquela mulher que criou um curso de exercícios físicos, atraindo a participação de muitas pessoas da comunidade, e que não mais frequenta a igreja porque a comissão fez todo o possível para impedir seu ministério devido às roupas que as pessoas usavam enquanto se exercitavam. E as crianças com as quais cresci participando do Clube de Desbravadores e da Escola Sabatina, agora são advogados, arquitetos e empresários de sucesso,
GLENN TOWNEND é presidente da sede da Igreja Adventista para a região do Sul do Pacífico
R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2018
Foto: Xan Griffin
ONDE ESTÃO ELES?
que não estão mais lá? Parece que ninguém sabe o por quê. Há ainda o doutor, o mecânico, a florista, mas nenhum deles acha a igreja interessante. Alguns são agnósticos; outros simplesmente saíram. Ver essas coisas machuca. Eles representam 50% do total de adventistas no mundo, que estatisticamente já não estão associados a nós. A igreja local é muito fluida. O poder da Palavra de Deus e do Espírito transforma vidas que são desafiadas com a degradação de relacionamentos, dívidas, trabalho tedioso, abuso do companheiro, reação de ciúmes de um amigo. Mas, às vezes, fragilidades humanas afetam os outros e dão às pessoas um motivo para deixar a igreja. Há muita dor latente dentro da igreja, pois muitas das pessoas que costumavam estar nela, não estão mais. Alguns são nossos filhos ou filhas, primos, irmãos, irmãs, tios, pais, mães, melhores amigos. Não ter mais essas pessoas na igreja nos machuca. Oramos e sabemos que Deus ouve e age, mas Ele nunca escolhe forçar a vontade daqueles que são muito mais amados por Ele do que por nós. Sabemos disso, mas, mesmo assim, dói. Enquanto oramos pelos outros, precisamos orar por nós mesmos, para permanecermos firmes até o fim (Mt 24:13), pois a vida na igreja pode ser uma montanha- russa emocional. De que outro modo podemos lidar com esse tipo de dor? Além de orar, podemos escolher ser diferentes. Vamos usar a dor da perda para nos impulsionar a ser mais autênticos: ouvir, orar, apoiar e aconselhar uns aos outros sem julgar ninguém (Mt 7:1, 2; Rm 13:8; Cl 3:13). É isso que significa ser discípulo de Jesus. Esse é o tipo de igreja que todos nós estamos procurando. ]
BEM-ESTAR
VIVA SEM PRESSÃO CADA VEZ MAIS A MEDICINA TEM DEMONSTRADO A IMPORTÂNCIA DO ESTILO DE VIDA NA PREVENÇÃO E CONTROLE DA HIPERTENSÃO, UM MAL SILENCIOSO QUE COLOCA EM RISCO A VIDA DE MILHÕES DE PESSOAS PETER N. LANDLESS E ZENO L. CHARLES-MARCEL
Foto: Thinkstock
U
m problema silencioso tem ameaçado a vida de um número cada vez maior de pessoas em todo o mundo: a hipertensão. O agravante é que muitas delas sequer sabem que sofrem desse mal e que, por causa disso, apresentam risco elevado de problemas cardíacos, acidente vascular cerebral e doenças renais. Até a década de 1970, a hipertensão era considerada um problema principalmente de países ricos. Porém, nos últimos 40 anos, o cenário mudou. Um estudo publicado em 2015 pela revista médica britânica The Lancet, com o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS), mostrou que nações em desenvolvimento, principalmente na Ásia e África, passaram a concentrar o maior número de hipertensos. Em quatro décadas, a quantidade de pessoas com pressão arterial elevada quase dobrou, chegando a 1 bilhão. A despeito da educação em saúde e esforços de conscientização em todo o mundo, somente 57% dos hipertensos sabem que têm o problema, 40% tratam a doença
e 13% a mantêm sobre controle. Essa disparidade entre o número de pacientes com pressão alta, o acesso ao tratamento e o controle da pressão arterial é maior em países com renda média e baixa. Esses números são alarmantes e merecem consideração e ação intencional. Recentemente, a American Heart Association e o American College of Caridiology reduziram o número que indica quando uma pessoa é considerada hipertensa, na tentativa de promover ação mais precoce. Espera-se que o maior impacto ocorra na população com menos de 45 anos. O alerta não apenas para os Estados Unidos, mas para o mundo, é que precisamos administrar e diminuir a pressão arterial com ênfase especial nas abordagens sem drogas. Nos últimos anos, houve um crescimento notável de artigos, análises e recomendações relacionados ao controle da hipertensão, e a mensagem principal tem sido o papel-chave desempenhado pelas intervenções e abordagens relacionadas ao estilo de vida. Isso inclui:
R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2018
MUITOS NECESSITAM DE MEDICAMENTO PARA BAIXAR A PRESSÃO ARTERIAL. MAS AS MUDANÇAS NO ESTILO DE VIDA SÃO ESSENCIAIS NO CONTROLE E ATÉ NA REVERSÃO DA DOENÇA ▪ Perda de peso e manutenção do peso ideal/índice e massa corpórea. ▪ Exercício diário. ▪ Abandonar o fumo. ▪ Evitar o álcool. ▪ Dieta rica em vegetais, frutas, grãos integrais, castanhas e gorduras não saturadas. ▪ Evitar carne vermelha, gorduras saturadas e carboidratos refinados (bolos, bebidas açucaradas e doces). ▪ Reduzir o consumo de sal. Muitos necessitam de medicamento para baixar a pressão arterial. Mas as mudanças no estilo de vida são essenciais no controle e até na reversão da hipertensão. O termo “reversão” deve ser usado com cuidado porque, embora as mudanças no estilo de vida ajudem a alcançar o alvo desejado, elas precisam ser mantidas por toda a vida. Não causa admiração o fato de todas as mudanças no estilo de vida descritas acima serem intrínsecas à mensagem de saúde adventista. Mas podemos exercer maior influência em nossas comunidades promovendo a saúde e o bem-estar por meio de programas que ajudem a identificar fatores de risco. Incentivar caminhadas, organizar grupos para a prática de exercícios, ensinar sobre nutrição saudável, compartilhar esperança e mostrar como viver de maneira plena. Tudo isso pode ser feito por meio de um ministério da saúde integral. ] PETER LANDLESS é cardiologista e diretor do Ministério da Saúde da sede mundial adventista em Silver Spring, Maryland (EUA); ZENO CHARLES-MARCEL é clínico geral e diretor associado desse mesmo ministério
37
BOA PERGUNTA salvar tantos quanto seja possível. Da mesma forma, ao testemunhar sobre o que Deus está fazendo entre eles, muitos judeus descrentes não persistirão na descrença, mas, pelo poder de Deus, serão enxertados outra vez (v. 23).
QUAL É O SIGNIFICADO DA EXPRESSÃO “TODO O ISRAEL SERÁ SALVO” EM ROMANOS 11:26? ÁNGEL MANUEL RODRÍGUEZ
frase tem sido interpretada de maneiras diferentes. Para alguns, ela se refere à nação como um todo, mas não a cada pessoa individualmente; outros acreditam que se aplique a todos os judeus vivos na terra de Israel quando Cristo voltar. Como sempre, precisamos prestar muita atenção no contexto da passagem e nos ensinos de Paulo sobre o Israel fiel. Dois pontos devem ser considerados:
A
1. ISRAEL ENDURECIDO Falando de como as pessoas são salvas e representando o povo de Deus no Antigo Testamento, Paulo usou a imagem da oliveira. Com a vinda do Messias, alguns judeus haviam quebrado alguns galhos naturais, enquanto alguns gentios (galhos rebeldes) haviam sido enxertados (Rm 11:17-21). No verso 25, Paulo explicou a lógica dos galhos quebrados e o endurecimento de alguns judeus. Os outros judeus constituem o remanescente fiel que aceitou Jesus como o Messias (v. 5 e 6). O endurecimento não definitivo demonstra que Deus ainda está trabalhando com eles. Ele não os rejeitou (v. 1 e 2). Nessa passagem, o mistério discutido por Paulo não é apenas o endurecimento de alguns judeus, mas o fato de que, durante seu endurecimento, está em curso uma missão voltada para os gentios: “Até que chegue a plenitude dos gentios” (v. 25). A ideia é que o endurecimento não ocorre “até”, mas enquanto os gentios estão sendo evangelizados. A expressão “plenitude dos gentios” significa que Deus está trabalhando para
ÁNGEL MANUEL RODRÍGUEZ, pastor, professor e teólogo aposentado, foi diretor do Instituto de Pesquisa Bíblica
A GRAÇA SALVÍFICA DE DEUS POR MEIO DA FÉ NO MESSIAS, ANUNCIADA A ABRAÃO, HOJE ESTÁ DISPONÍVEL UNIVERSALMENTE AOS QUE DEPOSITAREM SUA FÉ EM CRISTO
38
R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2018
Foto: Lightstock
UMA ÁRVORE, DOIS GALHOS
2. TODO O ISRAEL Quem é Israel nessa passagem? Alguns argumentam que, em Romanos, Paulo usou o termo para se referir especificamente ao Israel étnico. Mas nitidamente não é esse o caso. Em R omanos 9:6 ele declarou: “Pois nem todos os descendentes de Israel são Israel”. Ser israelita é mais do que ter uma identidade étnica. Antes, é ter a fé de Abraão, “o pai de todos os que creem” (Rm 4:11). Na compreensão de Paulo sobre a justificação pela fé, esse é o conceito central: “Estejam certos, portanto, de que os que são da fé, estes é que são filhos de Abraão. Prevendo a Escritura que Deus justificaria os gentios pela fé, anunciou primeiro as boas-novas a Abraão: Por meio de você todas as nações serão abençoadas” (Gl 3:7, 8). A graça salvífica de Deus por meio da fé no Messias, anunciada a Abraão, hoje está disponível universalmente aos gentios que também depositarem sua fé em Cristo. Com base no contexto, a palavra “assim”, ou “dessa maneira” (houtos), ˉ indica que Deus irá salvar “todo o Israel” preservando um remanescente fiel, buscando abrandar os que estão endurecidos e enxertando os gentios por meio da proclamação do evangelho. Portanto, a frase refere-se ao verdadeiro Israel de Deus que incorporou os crentes gentios que têm a fé de Abraão (Gl 6:16). ]
RETRATOS
Integrante da etnia carajá, na Ilha do Bananal (TO), maior ilha fluvial do mundo. Recentemente, voluntários do projeto Um Ano em Missão realizaram ações sociais e evangelísticas nas tribos da região Fotografia: Rafael Acosta
R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2018
39
LIBERDADE RELIGIOSA
CAMINHO PARA A PAZ
Apesar dos recentes acordos entre o governo e grupos rebeldes, a Colômbia ainda tem feridas abertas que a religião pode ajudar a curar BETTINA KRAUSE
D
esde o fim da década de 1950, a Colômbia tem sofrido frequentes agitações e ondas de violência devido aos confrontos entre grupos rebeldes de esquerda e milícias de extrema direita e o governo. Esses conflitos foram marcados pelo uso indiscriminado de tortura, assassinatos e tomada de reféns. Um dos reflexos foi o envolvimento de grupos dissidentes na produção e comércio em larga escala de cocaína para financiar suas atividades, o que alimentou o surgimento de chefes poderosos do tráfico e a violência. Segundo estimativas do Centro Nacional de Memória Histórica da Colômbia, ao longo de cinco décadas mais de 5 milhões de colombianos foram expulsos de suas casas e aproximadamente 220 mil pessoas foram mortas, a maioria civis. 40
Porém, o acordo de paz assinado há pouco mais de um ano entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) parece ter aliviado as tensões no país. No ano passado, o número de pessoas deslocadas, por exemplo, caiu mais de 70%, de acordo com dados do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur). Conforme divulgaram órgãos ligados ao governo, a quantidade de mortes motivadas diretamente pelos conflitos também diminuiu significativamente. Apesar do cenário mais otimista, ainda há feridas abertas e, consequentemente, grandes desafios para a paz. Por isso, no fim do ano passado, líderes cristãos de várias partes do mundo se reuniram em Bogotá a fim de estabelecer conversas multilaterais e discutir caminhos para dissipar a hostilidade. Durante uma reunião com Guillermo Rivera Flórez, ministro do Interior da Colômbia, Ganoune Diop, diretor mundial de Assuntos Públicos e Liberdade Religiosa da Igreja Adventista, disse que as minorias religiosas podem cumprir um papel importante na pacificação do país. “O diálogo inclusivo, que atrai vozes de todas as partes da sociedade colombiana, ajudará a promover uma paz mais robusta e duradoura”, enfatizou Diop, que também representa a denominação na Conferência de Secretários das Comunhões do Mundo Cristão. Para ele, não pode haver shalom (palavra hebraica para paz, cujo significado engloba a ideia de totalidade) sem ampla participação de todos os setores da sociedade, incluindo a voz dos segmentos religiosos minoritários. Segundo o líder adventista, esses grupos têm encontrado dificuldade para ser ouvidos na esfera pública. Embora desde o início dos anos 1990 a Colômbia se considere um país laico, o catolicismo ainda mantém certos privilégios, sendo a religião de 80% da população. “Os grupos religiosos minoritários, incluindo a Igreja Adventista na Colômbia, estão ansiosos para ser parceiros produtivos na formação de uma sociedade pacífica, mais estável e inclusiva”, Diop concluiu. ] BETTINA KRAUSE é diretora de comunicação do Departamento de Assuntos Públicos e Liberdade Religiosa na sede mundial da Igreja Adventista
R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2018
Fotos: International Religious Liberty Association
Ganoune Diop destacou que ouvir as minorias religiosas pode ajudar a pacificar a Colômbia por mais tempo
IGREJA
UNIDADE NA DIVERSIDADE Liderança da igreja se reúne em Portugal para discutir o desafio de manter uma denominação mundial unida no mesmo propósito
Grupo ressaltou questões como submissão à Palavra, autoridade da igreja e a participação de jovens na liderança
EQUIPE DA ADVENTIST REVIEW
debate sobre a unidade da igreja, tema que tem ocupado a agenda da denominação na atualidade, foi a tônica da 11ª Cúpula de Liderança Global, realizada em Lisboa, Portugal, nos dias 6 e 7 de fevereiro. Buscando um “diálogo aberto, franco e honesto”, tendo como base a Bíblia, os escritos de Ellen White e a história do adventismo, a reunião administrativa possibilitou que o assunto fosse discutido com profundidade sob diferentes perspectivas.
Foto: Joana Costa – Hope Channel Portugal
O
Ao refletir sobre o apelo de Cristo à unidade, registrado no capítulo 17 do livro de João, o pastor Ted Wilson, líder mundial dos adventistas, argumentou que “a submissão à Palavra de Deus, a oração e a liderança do Espírito Santo são fundamentais para a unidade do movimento adventista”. A r tu r Stele, u m dos v icepresidentes da igreja mundial, completou dizendo que a igreja pode verdadeiramente celebrar a diversidade de dons, serviços e ministérios somente quando vive em harmonia. Essa foi a realidade da igreja apostólica. Tendo isso em vista, Michael Ryan, presidente do Comitê de Supervisão da Unidade da Associação Geral, disse que
“é fundamental que a liderança entenda, valorize e proteja o dom da unidade”. Já o pastor Tom Lemon, outro vice-presidente, frisou a importância de a igreja estar unida na “fidelidade, submissão e lealdade” para cumprir a missão. Para ele, lealdade é seguir cumprindo a missão apesar da incerteza, escassez e oposição imediata, em vez de usar esses mesmos fatores para defender obstinadamente pontos de vista pessoais. Ligado a esse ponto, também foi discutida a questão da autoridade da igreja. Ella Simmons, que também atua como vice-presidente da denominação em nível mundial, ressaltou que, no exercício de sua função, a
R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Março 2018
igreja sempre precisa se certificar de que está alinhada com a fonte de sua autoridade e de que está sendo guiada pelo Espírito Santo. A liderança mundial da igreja se mostrou sensível ao fato de que existem outras questões subjacentes que igualmente merecem atenção. Uma delas tem que ver com a necessidade de equilibrar a estrutura centralizada e as diferentes necessidades da igreja ao redor do mundo. “Devemos dedicar tempo para abordar o envolvimento das novas gerações na liderança, a estrutura da igreja e o melhor modelo para servir nossa unidade e missão, e o papel da liderança para fortalecer nossas crenças fundamentais nos tempos pós-modernos”, sugere o pastor Erton Köhler, líder sul-americano da igreja. Ele acredita que esses e outros temas são e continuarão sendo de fundamental importância na caminhada da igreja. Para Köhler, mais do que resolver os problemas atuais, a sede mundial da igreja precisa igualmente investir em pessoas com visão equilibrada e foco claro. “O futuro da igreja está diretamente relacionado à qualidade de seus líderes”, enfatiza. ] 41
MISSÃO
POR TODA A VIDA Projetos missionários de curta duração do Unasp incentivam universitários a fazer do voluntariado um estilo de vida MAIRON HOTHON
té poucos anos, o envolvimento numa missão de curta duração no exterior era uma experiência acessível para poucos no contexto adventista brasileiro. Nos últimos anos, porém, esse quadro tem sido outro: as viagens internacionais se tornaram financeiramente mais viáveis, muitos jovens têm procurado aprender inglês, hoje o serviço voluntário faz diferença no currículo profissional e os internatos têm procurado incentivar o engajamento nesses projetos como parte de seu programa acadêmico. No Brasil, o Unasp é uma das instituições da igreja que estão realizando um dos trabalhos mais sólidos nesse sentido. Somente nas últimas férias de verão, cerca de 100 alunos e funcionários dos campi de Engenheiro Coelho e São Paulo embarcaram para servir por algumas semanas na China, Índia, Tailândia, Peru e Guiné-Bissau. Por ano, o centro universitário envia, em média, 300 alunos para projetos no exterior. “Quando falamos em missões de curta duração, ou seja, aquelas que são realizadas durante as férias, estamos fazendo um projeto de longo prazo, pois voltamos nos anos seguintes a fim de continuar o trabalho. As missões mais curtas são uma forma de despertar nos voluntários a necessidade de servir em projetos mais longos e de experimentar a prática do cristianismo”, comenta o pastor Marcelo Dias, diretor do Núcleo de Missões e Crescimento de Igreja (Numci), no campus Engenheiro Coelho. “Normalmente, a escolha dos lugares e da época depende do clima, da estabilidade do país e da necessidade apresentada pela igreja local”, complementa Marcelo Dias. Durante duas semanas, a equipe de 18 voluntários trabalhou na cidade de Kunming, capital da província de Yunnan. A cidade tem 2 milhões de habitantes e apenas 2 mil adventistas, que congregam em três templos e diversas
A
42
casas nas montanhas. Os brasileiros realizaram feiras de saúde, palestras antitabagistas numa empresa de mineração, organizaram atividades recreativas com as crianças numa praça e ajudaram a concluir a construção do restaurante vegetariano, que servirá de centro de influência adventista local.
MUDANÇA DE PERSPECTIVA “Existe uma vida antes e depois da missão. Na missão você faz amigos, aprende e se sente útil. A gente descobre que ser feliz não é ter, mas fazer algo que transforme o ambiente para melhor”, resume sua experiência Giulianna Verano, estudante de Jornalismo. Ela, que já dedicou dois anos como professora de inglês e espanhol nas Ilhas M arshall, na Oceania, e nas Ilhas Galápagos, no Equador, este ano ajudou por 15 dias numa escola adventista internacional em Bangkok, na Tailândia. Outra universitária que também tomou gosto pelas missões foi Marianna Hidalgo. Com passagens pela Amazônia brasileira, Paraguai e Albânia, ela completou na China sua sexta participação nesse tipo de projeto. “Quero muito contribuir em uma missão mais longa em algum país da Janela 10/40, a região menos evangelizada do mundo”, conta a estudante de Pedagogia e Teologia, que já planeja o que fazer depois da graduação. Ao longo do semestre letivo, Marianna também participa de projetos locais. Para ela, missão é um estilo de vida. ] MAIRON HOTHON é jornalista e assessor de comunicação da reitoria do Unasp
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2018
Foto: Mairon Hothon
Pela primeira vez, universitários do Unasp são enviados para a China. As missões de curta duração ajudam a formar missionários de dedicação exclusiva
EDUCAÇÃO Pastores Odailson Fonseca e Rubens Silva (à dir.) desafiaram os 2 mil professores a encarar a profissão como um ministério
facilmente compreensíveis por qualquer um”, exemplificou, incentivando os congressistas a fazer o mesmo.
PAIXÃO PELO ENSINO
Professores do sul do Brasil participam de congresso com ênfase na valorização da profissão de educador JÉSSICA GUIDOLIN
riscila Mariano e Maria Rodrigues são professoras. Mais do que a profissão em comum, a história delas se cruzou lá trás, numa sala de aula. Priscila foi alfabetizada por Maria, e agora segue os mesmos passos da professora veterana. “Maria foi uma das professoras que cuidaram de mim com muito carinho. Foi ela quem plantou esse amor pela alfabetização”, reconhece Priscila, que leciona no Instituto Adventista Cruzeiro do Sul (Iacs), em Taquara (RS). Maria também elogia a colega de magistério e diz que, apesar de ter colaborado para que a ex-aluna descobrisse sua vocação, a realização profissional de Priscila se deve à sua dedicação ao ensino.
Foto: Mauro Jacoby
P
O amor pela profissão e a correta motivação para a vida foram alguns dos tópicos abordados nas palestras ministradas por Clóvis de Barros Filho num congresso quinquenal que reuniu 2 mil professores da rede educacional adventista, em Foz do Iguaçu (PR), no início de fevereiro. Filósofo e professor da Escola de Comunicação da USP, ele é um dos palestrantes mais requisitados no Brasil no meio corporativo. “Quando você ama as pessoas e percebe que elas dependem de R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2018
você para pensar melhor e para serem melhores, então não precisa de nenhum artifício para se manter motivado na profissão. O amor é o elemento motivador da vida”, resume o doutor. Na oportunidade, o professor também disse que considera Jesus Cristo o maior educador e pensador da história. “Jesus foi um sábio, e não parou de usar recursos didáticos incríveis, como as parábolas. Histórias que Ele contava para tornar Seus ensinamentos mais
MOTIVAÇÃO E VOCAÇÃO Além de oferecer motivação por reconhecer o trabalho dos professores, o objetivo do encontro foi gerar reflexão sobre a vocação de lecionar. “Tenho muito orgulho do meu trabalho e prazer de estar em sala de aula. Mas, ao pensar em Jesus como meu exemplo, reafirmei minha vocação. Refleti que sobre qual legado tenho deixado para meus alunos, se tenho ajudado a salvar pessoas”, avalia Rosângela dos Santos, professora do Colégio Adventista de São Borja (RS), que há 27 anos trabalha em sala de aula. “Os professores são os principais atores do processo educacional. Por isso, esse evento foi planejado para tocar o coração deles, a fim de que eles também toquem o coração dos alunos”, explicou o pastor Rubens Silva, organizador do evento e diretor da rede educacional adventista na região Sul do Brasil. Na abertura do evento, os professores se emocionaram com uma dramatização marcada pelo uso da tecnologia, que levou o grupo a refletir na missão da educação adventista. Durante o evento, os congressistas acompanharam devocionais com o pastor O dailson Fonseca e assistiram às palestras da neurocientista Rosana Alves e do educador Renato Gross. Representantes da igreja em nível nacional e mundial marcaram presença, além de líderes da CPB Educacional, segmento da editora da igreja responsável pela produção dos livros didáticos e paradidáticos da rede. ] JÉSSICA GUIDOLIN é jornalista e assessora de comunicação da Igreja Adventista para a região Sul do Brasil
43
PÁGINAS DE ESPERANÇA
HISTORINHAS QUE TRANSFORMAM
REVISTA INFANTIL QUE ENSINA BRINCANDO LEVA FAMÍLIA INTEIRA A MUDAR DE VIDA ANNE LIZIE HIRLE
44
GABRIEL E SEUS PAIS FORAM BATIZADOS EM 2015 EM UMA CERIMÔNIA REALIZADA NO PARQUE GRÁFICO DA CPB, EM TATUÍ (SP) e os três passaram a frequentar os cultos da Igreja Adventista. Gabriel também entrou para o Clube de Desbravadores, agremiação em que fez amigos e entendeu melhor o que significava seguir Jesus. Contudo, foi em agosto de 2015 que essa história teve um capítulo importante. Gabriel, então com 11 anos, e seus pais protagonizaram um momento atípico no parque gráfico da Casa Publicadora Brasileira (CPB), editora que produz a revista, em Tatuí (SP). Ali eles foram batizados pelo pastor José Carlos de Lima, diretor-geral da instituição. A cerimônia foi acompanhada de perto por dezenas de funcionários da CPB, incluindo a jornalista e pedagoga Sueli Ferreira de Oliveira, editora do Nosso Amiguinho. Após conhecer a história do Gabriel, ela
foi surpreendida com o momento do batismo. “Isso é o maior presente que qualquer editor pode ter. É o melhor resultado do nosso trabalho”, disse emocionada (veja o batismo em http://bit.ly/2BLukoY). Ao lado do tanque estava a coleção de revistas do Gabriel, algumas já com as páginas amassadas e desgastadas pelo uso. Cada uma delas representa uma sementinha lançada em solo fértil. Hoje, quase três anos depois, os ensinamentos que Gabriel aprendeu na revista agora o ajudam em suas decisões de adolescente. Ele e a família frequentam a Igreja de Jardim Silveira, em Barueri (SP), e ainda recebem a visita do colportor Paulo César. Em 2016, abriram as portas de sua casa para os encontros de um pequeno grupo. Crianças, jovens, adultos ou idosos, Deus têm a maneira certa de alcançar cada um; seja por meio de um livro, folheto ou revista infantil. O importante é que tudo isso seja dedicado a Ele como ferramenta de salvação. ] ANNE LIZIE HIRLE é editora-assistente da revista infantil Nosso Amiguinho
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2018
Foto: Arquivo CPB
U
m a r ev ist a i n fa nt i l, uma visita inesperada e três vidas transformadas. Essa é a história de Gabriel dos Santos, de Barueri (SP). Tudo começou quando Paulo César Franco, colportor há mais de 20 anos, visitou a escola em que o garoto estudava. Depois de preencher um formulário, Gabriel recebeu em sua casa a visita do representante de periódicos adventistas. Seus pais, Cleonice e Sidney, gostaram muito do conteúdo da revista Nosso Amiguinho e fizeram a assinatura para um ano. O valor gasto no periódico poderia ter sido empregado em outras necessidades da casa, mas a família não mediu esforços para que Gabriel usufruísse de tudo o que a revista ensinava. A cada mês, o garoto aguardava ansioso pela chegada do seu exemplar. Na companhia dos personagens da Turma do Nosso Amiguinho, ele aprendia por meio de histórias, atividades, receitas e curiosidades. Logo ele e a família dele começaram a perceber que aquela revista não trazia apenas conteúdos educativos. Nos anos seguintes, Paulo César continuou visitando a família, que sempre renovava a assinatura da revista. Em uma dessas visitas, ele se ofereceu para estudar a Bíblia com Gabriel e seus pais. Eles aceitaram o convite, começaram uma série de estudos. “Aprender sobre Deus é a melhor coisa que podemos carregar para o resto da vida”, conta a mãe. Aos poucos, a vida daquela família foi mudando. O pai parou de beber,
MEMÓRIA
Alice Rodrigues dos Santos, aos 76 anos, em João Amaro (BA), vítima de falência de múltiplos órgãos. Batizada havia 60 anos, era membro da Igreja Central de João Amaro, onde servia como diaconisa e participava assiduamente de pequenos grupos. Juntamente com seu esposo e um casal de amigos, foi pioneira do adventismo na região que hoje conta com dez congregações. Analfabeta e lidando com as sequelas de três AVCs, não deixou de recitar versos bíblicos e hinos preferidos. Apesar de ter passado os últimos quatro anos numa cadeira de rodas, continuou a frequentar os cultos na igreja. Deixa o esposo, 12 filhos, 24 netos e três bisnetos.
Narcizo Raul Liedke Filho, e duas filhas.
Beatriz Morales, aos 89 anos, vítima de infarto. Professora aposentada, atuou no Colégio Adventista de Londrina, Paraná.
Enoch Lemos, aos 73 anos, vítima de falência de múltiplos órgãos. Mineiro de Teófilo Otoni (MG), abraçou a fé adventista ainda na infância. Era ancião da Igreja de Paciência, no Rio de Janeiro. Deixa a esposa, Maria, e um filho.
Berenice Coutinho Liedke, aos 66 anos, em São Paulo, vítima de uma agressiva leucemia. Graduada em Música no Conservatório Dramático Musical de São Paulo em 1972, ao longo de 48 anos ela lecionou nos três campi do Unasp, onde formou a atual geração de violinistas da igreja. Foi membro das Igrejas Central de Vitória e das Igrejas do Unasp, campus São Paulo, Engenheiro Coelho e Hortolândia. Foi professora e spalla da Orquestra Sinfônica do Unasp, em Hortolândia. Deixa o esposo, pastor
Brenner da Silva Novaes, aos 21 anos, em Cravinhos (SP), vítima de acidente automobilístico. Natural de Brasília (DF), foi batizado em 2005 e estava cursando o último ano de Teologia no Unasp, onde havia participado da publicação de um estudo pioneiro sobre a relação entre o adventismo e as histórias em quadrinhos. Era conhecido por ser muito prestativo, atencioso e sorridente, sempre servindo às pessoas próximas a ele. Comunicativo, ministrava estudos bíblicos e desde a adolescência levava pessoas ao batismo. Deixa o pai, a mãe e uma irmã.
Hilda Guimarães de Melo, aos 92 anos, em Lages (SC), vítima de diabetes. Batizada havia mais de 40 anos, era membro da igreja central da cidade, na qual se destacou por sua disposição missionária. Deixa filhos, netos e um bisneto. João Varonil Kuntze, aos 81 anos, em Bom Retiro (SC), vítima de parada cardiorrespiratória.
Iniciou seu trabalho na Igreja Adventista nos anos 1960. Por décadas serviu como pastor nas áreas ministerial e educacional em Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Amazonas e Pará. Levou centenas de pessoas a seguir a Cristo. Deixa a esposa, cinco filhos e oito netos. Jorge Lucien Burlandy, aos 79 anos, em Cozumel, no México, vítima de parada cardiorrespiratória. Graduado em Teologia em 1962, no antigo IAE, atual Unasp, campus São Paulo, ele trabalhou como pastor distrital em Belém e Santarém (PA), Rio de Janeiro (RJ) e Brasília (DF); e serviu como secretário ministerial, secretário executivo e presidente da Associação Paulista Sul, secretário ministerial da União Central Brasileira e diretor da Faculdade de Teologia do Unasp, campus Engenheiro Coelho, onde se aposentou em 2003. Deixa a esposa, Ednice, quatro filhos e nove netos. Júlia Maria de Jesus, aos 86 anos, em Santos (SP), vítima de falência de múltiplos órgãos. Batizada havia 55 anos, mesmo sem saber ler ou escrever, aprendeu hinos e sabia de memória vários textos da Bíblia. Deixa irmãos e sobrinhos. Rosa Pereira de Araújo, aos 88 anos, em Lambari do Oeste
(MT), vítima de parada cardiorrespiratória e insuficiência renal, decorrentes de diabetes. Batizada aos 12 anos, acompanhou o surgimento da Igreja de Canaã, em 1965, no sítio de sua família. Em várias ocasiões, Rosa chegou a andar mais de 50 quilômetros para ministrar estudos bíblicos na comunidade rural. Na igreja, serviu como diaconisa-chefe e líder do Ministério Pessoal, Ministério Infantil e assistência social adventista. Deixa 12 filhos, 36 netos, 53 bisnetos e um trineto. Valdeci Arcanjo Novaes, aos 57 anos, em Brasília (DF), vítima de infarto. Natural de Damianópolis (GO), foi batizado na década de 1970 e mais recentemente era membro da Igreja de Taguatinga Norte (DF), cuja construção ajudou a financiar. Era conhecido por sua generosidade, carisma, liderança e amor incondicional pela família, em favor da qual se doava com o espírito de abnegação de Cristo. Deixa quatro filhos e um neto. Vardelina Dias de Oliveira, aos 80 anos, em São Gabriel (RS). Batizada em 1995, era membro da Igreja do bairro Menino Jesus. Viúva, deixa seis filhos, 23 netos e 21 bisnetos.
“ B E M - AV E N T U R A D O S O S M O R T O S Q U E , D E S D E A G O R A , M O R R E M N O S E N H O R ” R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2018
(APOCALIPSE 14:13)
45
MKT CPB | Fotolia
cpb.com.br |
0800-9790606 | CPB livraria |
15 98100-5073
/casapublicadora
EM FAMÍLIA
PENSAMENTO NEGATIVO
ELE AFETA SUAS EMOÇÕES, PREDISPÕE SEU CORPO ÀS DOENÇAS E PREJUDICA QUEM ESCUTA SUAS RECLAMAÇÕES TALITA CASTELÃO
Foto: Fotolia
Q
uando você vê um copo pela metade, acha que ele está quase cheio ou quase vazio? Quando alguém lhe conta sobre um novo projeto, você se empolga ou diz que não vai dar certo? Quando pensa em como será sua vida nos próximos anos, se sente feliz ou sem esperança? Saiba que sua fala e pensamentos influenciam seu cérebro, a ponto de afetar de maneira positiva ou negativa suas emoções e reações do organismo. Parece mentira ou exagero, mas não é. O hábito de se queixar todo o tempo pode lhe fazer muito mal. Não só a você, mas àqueles que estão ao seu redor. Não significa que não deva expressar suas emoções, mas não deixe que a reclamação se torne o centro das suas conversas, pois provavelmente você venha a se sentir muito pior a cada dia. E isso tem que ver com o funcionamento do cérebro. A todo instante o cérebro está produzindo sinapses, que são os processos de comunicação entre as células nervosas (neurônios). Normalmente, essa comunicação é mediada por um neurotransmissor e resulta numa espécie de caminho neural. Em outras palavras, a cada queixa, o cérebro é inundado com negatividade, o que fortalece as redes neurais que predispoem ao adoecimento emocional. O mais curioso é que o cérebro de quem escuta os lamentos alheios também é afetado em suas conexões. Por isso, é comum ficar exausto após ouvir uma pessoa reclamar por longo tempo. Essa empatia pelo problema do outro é gerada pelos chamados “neurônios espelhos”, que liberam no cérebro de quem ouve as reclamações os mesmos neurotransmissores produzidos no organismo de quem está reclamando. Em 2014, pesquisadores da Universidade de Aalto, na Finlândia, desenvolveram um tipo de mapa corporal das emoções e mostraram como partes específicas do corpo reagem a sentimentos como raiva, medo, tristeza e desprezo. Nosso corpo é afetado por emoções que podem prejudicar a memória, o sistema imunológico e cardiovascular, além R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2018
CONVIVA MAIS COM PESSOAS QUE SÃO GRATAS E CRIE UM NOVO CAMINHO NEURAL EM SEU CÉREBRO POR MEIO DA GRATIDÃO
de predispor doenças como o câncer, ansiedade e depressão. Isso não significa que não devamos ser empáticos com as angústias alheias, porém atentos para a necessidade de evitar que a negatividade se torne um hábito. Em contrapartida, agradecer em vez de reclamar libera grande quantidade de dopamina, neurotransmissor que gera prazer, estimula o bem-estar e fortalece o caminho neural para desfrutar alegria, contentamento e felicidade. A dopamina age no sistema de recompensa cerebral e também fortalece a autoestima. A gratidão também estimula a liberação de outra importante substância produzida no hipotálamo, a ocitocina. Além de promover o afeto e a tranquilidade, ela reduz o medo e a ansiedade. Se você é o tipo de pessoa que vive com um “corvo” pousado no ombro, sempre achando que nada dá certo na vida, arrisque-se a criar um novo caminho em seu cérebro por meio da gratidão. Experimente conviver mais com pessoas gratas, que não vivem se queixando o tempo todo. Evite a negatividade e seja um agente de saúde emocional para si mesmo e os demais. ] TALITA CASTELÃO é psicóloga clínica, sexóloga e doutora em Ciências
47
PERFIL
VOZ SINGULAR
A CONTRALTO DEL DELKER, FALECIDA EM JANEIRO, MARCOU GERAÇÕES DE ADVENTISTAS AO CANTAR NO RÁDIO E EM CAMPANHAS EVANGELÍSTICAS JOÊZER MENDONÇA
48
Enquanto morava na cidade de Oakland, na Califórnia, e trabalhava para uma companhia de ônibus, Del Delker recebeu uma ligação telefônica do escritório do ministério A Voz da Profecia. Curiosamente, por três vezes ela rejeitou a proposta, pois não pretendia se mudar para Los Angeles, no sul do estado. Porém, após o quarto convite, ela decidiu aceitar, acreditando que Deus estava abrindo portas. RÁDIO E SÉRIES EVANGELÍSTICAS Seu início na equipe de A Voz da Profecia não foi animador. Ela realizava muitas atividades de escritório e cantava menos do que gostaria. Por isso, imaginou que seu futuro seria voltar para Oakland, ingressar na universidade adventista e se casar com um jovem que sonhasse ser pastor. Mas, seguindo o conselho de um dos locutores da rádio, Elmer Walde, ela permaneceu ali (Del Delker, p. 32).
Três anos depois de chegar a Los Angeles, Del Delker foi convidada pelo compositor e arranjador Wayne Hooper para cantar no programa de rádio e a se apresentar com o quarteto The King’s Heralds, o Arautos do Rei americano. Pelos 50 anos seguintes, ela foi intérprete de muitas músicas de Wayne Hooper. Aliás, a última apresentação pública de Del Delker foi em 2007 durante o culto realizado em memória de Hooper. Del Delker marcou a trajetória da música adventista pelo seu destacado pioneirismo como cantora dos programas evangelísticos de rádio e também por seu brilhantismo no uso da tecnologia de microfones, o que favorecia seu canto suave e elegante. Ela também soube mesclar seu repertório entre hinos tradicionais, como “Sob Suas Asas” e “Dia a Dia”, e canções evangélicas dos anos 1960 e 1970 que hoje são clássicos cristãos, como “Foi Assim”, “Lado a Lado” e “Tocoume”. Aliás, quando lhe perguntaram sobre a gravação do repertório gospel daquela época, ela R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2018
Foto: DSA
A
rdella tinha três anos de idade quando fez sua primeira apresentação musical em público. Segundo o escritor Kenneth Wade, no livro Del Delker (Pacific Press, 2002, p. 7), ela havia se perdido de sua mãe, que foi assim informada pelo gerente de um banco local: “Sua filha está cantando em frente ao banco, e as pessoas estão dando dinheiro para ela!” Ardella V. Delker, ou simplesmente Del Delker, cresceu e cantou por cinco décadas, tornando-se uma intérprete amada por várias gerações de adventistas que ouviram sua bela voz de contralto. “Del tinha a habilidade de pregar um sermão por meio de uma canção. É por isso que já ouvi várias pessoas dizerem que ouvi-la era experimentar um pouco do Céu”, disse Shawn Boonstra, orador e diretor do ministério de rádio A Voz da Profecia nos Estados Unidos, após o falecimento de Del Delker, em 31 de janeiro, aos 93 anos, na Califórnia (EUA). No entanto, o sonho musical da adolescente Del não tinha que ver com igreja. Ela queria ser cantora de bandas que tocavam em concursos de dança da época, e até chegou a realizar parcialmente seu desejo ao se apresentar para soldados norte-americanos durante a 2ª Guerra Mundial. Embora houvesse estudado numa escola da denominação e sua mãe fosse adventista, Del Delker só foi batizada em março de 1947, aos 23 anos. Após seu batismo, ela começou a cantar nas transmissões do programa The Quiet Hour e a participar de reuniões campais da igreja, onde cantava “The Love of God” (“Sublime Amor”, HASD, 31), cântico que se tornaria a marca registrada do seu ministério.
disse: “Tudo o que precisa ser dito é que as músicas gospel são eficazes. Não entro em discussão com quem prefere as músicas clássicas. Eles estão no seu direito. Mas eu digo a eles: não agridam o que está dando aos outros inspiração, encorajamento e despertar espiritual. Não deprecie uma ferramenta que o Senhor usou e está usando” (Review and Herald, maio de 1970, p. 16, 17). De 1982 a 1985, Del Delker fez parceria em campanhas de evangelismo com o músico Hugh Martin, renomado autor da melodia do clássico natalino “Have Yourself a Merry Little Christmas” (“Tenha você um alegre Natal”), então recém-convertido ao adventismo. Em 2001, com quase 80 anos, Del Delker convidou Hugh Martin para juntos regravarem essa música, desta vez, com o título “Have Yourself a Blessed Little Christmas” (“Tenha você um abençoado Natal”).
Ela soube usar bem a tecnologia dos microfones, o que favoreceu seu canto suave e elegante
Foto: Adventist Research Center
DEL DELKER TINHA A HABILIDADE DE PREGAR UM SERMÃO POR MEIO DE UMA CANÇÃO
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2018
ALCANCE INTERNACIONAL Conhecida pelo seu bom humor e dedicação integral ao ministério musical evangelístico, Del Delker gravou 40 álbuns adultos e infantis em 15 diferentes idiomas. Ela participou ativamente de programas radiofônicos pioneiros dos adventistas no Brasil, cantando, com boa dicção, solos em português e acompanhando o quarteto Arautos do Rei. Del Delker esteve em diversas celebrações e congressos evangelísticos no país, como o evento de 15 anos do programa televisivo Fé Para Hoje, comemorado em 1976, em Guarulhos (SP). O compositor Mário Jorge Lima, que cantou naquela oportunidade com o VP-76, grupo ligado ao ministério A Voz da Profecia, conta que “ela veio na companhia de um dos maiores músicos da igreja nos Estados Unidos na época, o pianista e maestro Jim Teel. Ambos foram corteses conosco e brincamos muito nos bastidores. Uma dupla perfeita, ótimos em suas performances e simples no contato com todos”. É notável como a voz de Del Delker marcou também a vida de tantos brasileiros: “Ouvi muito seus discos em minha infância. Especialmente nos cultos de pôr do sol. Uma bela voz”, conta a cantora adventista Élen Souto. “Tive o prazer de ouvi-la ao vivo no programa de 50 anos de A Voz da Profecia. O álbum que ela gravou com o quarteto Arautos do Rei, em 1974, é uma das trilhas sonoras da minha infância.
A canção ‘Transmitir’, que ficou conhecida como corinho jovem, foi uma das primeiras músicas que cantei”, revela Ribamar Reis Filho, adventista que vive em São Luís (MA). O alcance da voz de Del Delker, que tocou corações e mentes de pessoas de vários países, foi muito além do que poderiam indicar suas performances infantis ou seus sonhos adolescentes. A jovem que tinha medo de cantar diante de uma multidão precisou depois lutar contra o orgulho que lhe assediava após ouvir que seu talento havia impactado alguém. Mas ela reconhecia que sua voz era somente um instrumento na missão de Deus e se alegrava com o resultado de seu ministério musical. Por isso, Del Delker enfatizou certa vez: “Não posso converter ninguém. É o evangelho que faz isso.” ] JOÊZER MENDONÇA é doutor em música pela Unesp e professor na PUC-PR
49
ESTANTE
O PAPEL DA LEI
SEM CAIR NUMA ABORDAGEM LEGALISTA, LIVRO APRESENTA O SIGNIFICADO E A RELEVÂNCIA DOS DEZ MANDAMENTOS PARA A SOCIEDADE ATUAL GLAUBER ARAÚJO
E
mbora Einstein não pretendesse que sua teoria da relatividade geral provocasse mudanças filosóficas e morais, parece que a melhor palavra para descrever a maneira como as pessoas pensam e se comportam 100 anos depois seja relativismo. Embora a maioria dos filósofos critique o relativismo moral, isto é, a ideia de que não existe um padrão moral absoluto, a sociedade e a cultura contemporânea, em geral, não apenas se simpatizam com esse conceito, mas o promovem. Na sociedade pósmoderna, poucos têm disposição para obedecer ou se submeter às regras impostas por uma autoridade ou instituição. Para muitos, obediência é sinônimo de restrição à liberdade. Nos dias de hoje, a necessidade de regras é interpretada como tirania, opressão e totalitarismo. Qualquer critério ou norma preestabelecida é questionada. Ironicamente, o antigo slogan “é proibido proibir”, que iniciou essa onda de liberalismo, ainda aponta para o paradoxo que existe em qualquer sociedade na qual o indivíduo é senhor de si mesmo e não presta conta a um superior: faço o que desejo, mesmo que fi ra o direito do outro.
EMBORA SEJAM APARENTEMENTE CONTRADITÓRIAS, A JUSTIÇA DE DEUS E SUA GRAÇA SE COMPLEMENTAM NA LEI DE DEUS
50
Mais do que nunca, uma compreensão clara e relevante da importância da lei de Deus é necessária para a sociedade moderna. Diferentemente dos caprichos defendidos pela individualidade humana, os Dez Mandamentos revelam a norma absoluta à qual todo ser humano deve se conformar. Transcendendo geografias, gerações e contextos, a lei de Deus se sobrepõe a qualquer relativismo moral que o ser humano possa ter fabricado. Além de apontar para a justiça divina, ela revela um aspecto sobre Deus que poucos percebem: Sua graça. Embora sejam aparentemente contraditórias, a justiça de Deus e Sua graça se complementam na lei de Deus. Com esse objetivo, a CPB está lançando o livro Sem Lei Não Tem Graça (2018, 156 p.), no qual os autores Ivan Saraiva e Milton Andrade discutem, de maneira atraente e estimulante, o significado e a relevância dos Dez Mandamentos para a sociedade atual. Cada capítulo revela um aspecto novo sobre o mandamento divino. Enriquecido por experiências pessoais e a contribuição de estudiosos da Bíblia, cada mandamento é discutido de maneira a atrair o leitor para a necessidade e os benefícios obtidos por meio da obediência constante à lei de Deus. Considerando que nos últimos anos a Bíblia tem sido alvo de crítica e censura, uma obra que defende a moralidade bíblica e apresenta sua relevância diante dos problemas da sociedade atual é não somente bemvinda como também necessária.
TRECHO
“A lei revela o erro, a graça transforma o pecador. A lei mostra a sujeira, a graça limpa. A lei revela o ‘não’ que protege, a graça revela o ‘sim’ que salva. A lei foi escrita pelo dedo de Deus, a graça foi escrita com o sangue de Jesus” (p. 156).
Para os que desejam apresentar o Decálogo de uma forma contemporânea e relevante a seus amigos e familiares, esta obra certamente servirá como uma boa introdução. ] GLAUBER ARAÚJO é pastor, mestre em Ciências da Religião e editor de livros denominacionais na CPB
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Março 2018
MKT CPB | Fotolia
SEMANA SANTA
ADQUIRA PRODUTOS COM DESCONTOS ESPECIAIS
CONHECER JESUS É TUDO
FOI POR VOCÊ
R$ 16,70
A PAIXÃO DE CRISTO
CAMINHO A CRISTO
R$ 1,80
GUERRA NO CÉU
R$ 10,00
R$ 17,70
R$ 21,40
JESUS TU ÉS A MINHA VIDA
MILAGRES DE CRISTO
TRANSFORMADOS POR SEU AMOR
PELO SANGUE DO CORDEIRO
SALVAÇÃO PARA TODOS
O FIM DO COMEÇO
EVENTOS FINAIS
PROJETO SUNLIGHT
QUANDO TUDO FALHA
VIDA DE JESUS
R$ 11,90
R$ 26,40
R$ 13,80
R$ 15,90
R$ 19,70
R$ 17,60
R$ 25,60
R$ 9,15
PROMOÇÃO VÁLIDA DE 14 DE FEVEREIRO A 1O DE ABRIL
(LUXO)
R$ 11,80
(AUDIOLIVRO)
R$ 14,25
MKT CPB | Fotolia
1
2
3
4
5
Patriarcas e Profetas
Profetas e Reis
O Desejado de Todas as Nações
Atos dos Apóstolos
O Grande Conflito
EM CRISTO É POSSÍVEL ENCONTRAR A VITÓRIA E A VERDADEIRA LIBERDADE
cpb.com.br |
0800-9790606 | CPB livraria |
15 98100-5073
/casapublicadora