AW Portuguese - April 2018

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E N T R E O S Í N D I O S /// C U R A D E T I A G O W H I T E /// C A R T A S P E R S O N A L I Z A D A S /// O P A S T O R D A A M É R I C A

Exemplar avulso: R$ 2,84 | Assinatura: R$ 34,00

ABRIL 2018

O EFEITO DA RESSURREIÇÃO SINTONIA COM DEUS EM MEIO A TANTOS RUÍDOS, ENCONTRE A FREQUÊNCIA CERTA

A VITÓRIA DE CRISTO SOBRE A MORTE ABRIU AS PORTAS PARA A TRANSFORMAÇÃO DA HUMANIDADE


EDITORIAL

O SEPULCRO VAZIO MARCOS DE BENEDICTO

Quando lemos um livro ou assistimos a um filme, torcemos para que o herói seja o vencedor e a história tenha um final feliz. Os bons roteiros sempre apostam nessa fórmula porque ela corresponde à lógica do instinto, ao padrão de valores e ao senso de justiça da maioria. Seria um anticlímax o herói morrer sem um propósito maior e sem esperança de retorno. O roteiro da vida perfeita de Jesus também não poderia terminar no sepulcro, nem o sonho que Ele anunciou ficar preso numa tumba. Porém, a ressurreição do Salvador foi incluída na história não apenas para atender aos cânones da ficção, pois as razões teológicas e os significados existenciais desse evento central da mensagem cristã transcendem a imaginação do melhor roteirista. Por ser tão fundamental, a historicidade da ressurreição é frequentemente atacada pelos céticos. Mas não há como contestar os documentos do Novo Testamento. O testemunho de todos é unânime: Jesus morreu e voltou a viver, como disse que aconteceria (Mc 8:31; 9:31; 10:34; Jo 2:19). Se os primeiros cristãos não acreditassem na ressurreição, eles não teriam sido transformados e não mudariam o mundo, como indica a matéria de capa desta edição. Para eles, a ressurreição é um fato, não um mito nem uma ilusão. Por isso, Paulo disse que, se tirarmos a ressurreição e a garantia de vida eterna do cristianismo, nossa fé se tornará inútil (1Co 15:13-17). Quem não crê na ressurreição não pode crer em Jesus. Felizmente, a igreja cristã conhece bem sua história e o fundamento de sua fé.

SE VOCÊ ESTÁ EM CRISTO, JÁ PERTENCE AO REINO DA VIDA E DA IMORTALIDADE

A ressurreição de Jesus não foi apenas um fenômeno particular que ocorreu numa encruzilhada do planeta, numa curva do tempo, e ficou por isso mesmo. Amostra e garantia da ressurreição que vem pela frente, ela é um evento com reflexo no futuro da humanidade. A ressurreição é a validação da identidade de Jesus, a comprovação do poder de Cristo sobre a morte, o elemento diferenciador do Fundador do cristianismo, a evidência de que nossa fé não é vazia, o fim do salário do pecado, a vitória do bem sobre o mal, a reversão do axioma que torna todos em pó, a promessa de transformação num piscar de olhos, a certeza de glória após a humilhação, o motivo para voltar a sorrir depois de uma perda, um convite para olhar além das lágrimas. Embora a morte seja o “último inimigo a ser destruído” (1Co 15:26), ela já foi vencida. Por isso, Paulo menciona a “graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, e manifestada, agora, pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus, o qual não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho” (2Tm 1:9b-10). No pensamento do apóstolo, permeado pelo conceito de duas eras (já e ainda não, ou era presente e era futura), nós já pertencemos ao reino da vida e da imortalidade. Jesus entrou no vale escuro da morte, mas saiu vitorioso, deixou para trás o túmulo vazio e tem transformado a existência de milhões de pessoas com a promessa da ressurreição. Ele pode ressuscitar você também – no sentido literal e metafórico. Se você está morto em suas emoções, sonhos e propósitos, saiba que o Jesus que derrotou o reino da morte pode devolver-lhe a vida! ] MARCOS DE BENEDICTO é editor da Revista Adventista

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R e v i s t a A d ve n t i s t a // Abril 2018

Foto: Fotolia

SAIBA POR QUE A RESSURREIÇÃO DE JESUS É FUNDAMENTAL PARA SEU FUTURO


Abr. 2018

No 1332

Abril, 2018

Ano 113

www.revistaadventista.com.br

Pu­bli­ca­ção Men­sal – ISSN 1981-1462 Órgão Ge­ral da Igre­ja Ad­ven­tis­ta do Sé­ti­mo Dia no Bra­sil “Aqui está a pa­ciên­cia dos san­tos: Aqui es­tão os que guar­dam os man­da­men­tos de Deus e a fé de Je­sus.” Apocalipse 14:12 E­di­tor: Marcos De Benedicto E­di­to­res As­so­cia­dos: Márcio Tonetti e Wendel Lima Conselho Consultivo: Ted Wilson, Erton Köhler, Edward Heidinger Zevallos, Marlon Lopes, Alijofran Brandão, Domingos José de Souza, Geovani Souto Queiroz, Gilmar Zahn, Leonino Santiago, Marlinton Lopes, Maurício Lima e Moisés Moacir da Silva Projeto Gráfico: Eduardo Olszewski Foto da capa: Fotolia

Adventist World é uma publicação internacional produzida pela sede mundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia e impressa mensalmente na África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Áustria, Brasil, Coreia do Sul, Estados Unidos e México v. 14, no 4 Editor: Bill Knott Editores associados: Lael Caesar, Gerald Klingbeil, Greg Scott Editores-assistentes: Sandra Blackmer, Stephen Chavez, Costin Jordache, Wilona Karimabadi (Silver Spirng, EUA); Pyung Duk Chun, Jae Man Park, Hyo-Jun Kim (Seul, Coreia do Sul)

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Metamorfose espiritual

Cura em meio à neve

Remetente: Ellen G. White

O impacto da ressurreição de Cristo na humanidade

Tiago White se recuperou de um derrame caminhando e pregando

Apesar de pessoais e centenárias, as cartas da pioneira continuam sendo atuais

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Luz na escuridão

Três sinais gráficos

O evangelista das multidões

Lições sobre o ponto final, de exclamação e interrogação

Ninguém falou para tantas pessoas sobre Cristo como Billy Graham

A muçulmana que sonhou que precisava ir a uma igreja segurando uma vela

Tradutora: Sonete Costa Arte e Design: Types & Symbols Gerente Financeiro: Kimberly Brown

SUMÁRIO

Gerente Internacional de Publicação: Pyung Duk Chun Gerente de Operações: Merle Poirier Conselheiros: Mark A. Finley, John M. Fowler, E. Edward Zinke Comissão Administrativa: Si Young Kim, Bill Knott, Pyung Duk Chun, Karnik Doukmetzian, Suk Hee Han, Yutaka Inada, German Lust, Ray Wahlen, Juan Prestol-Puesán, G. T. Ng, Ted N. C. Wilson

2 EDITORIAL

30 NOVA GERAÇÃO

40 MISSÃO

Ro­do­via Es­ta­dual SP 127 – km 106 Cai­xa Pos­tal 34; CEP 18270-970 – Ta­tuí, SP Fone (15) 3205-8800 – Fax (15) 3205-8900

4 CANAL ABERTO

31 PRIMEIROS PASSOS

41 EVANGELISMO

SERVIÇO DE ATENDIMENTO AO CLIENTE LIGUE GRÁTIS: 0800 9790606 Segunda a quinta, das 8h às 20h Sexta, das 8h às 15h45 / Domingo, das 8h30 às 14h

5 BÚSSOLA

33 PERSPECTIVA

43 SAÚDE

Diretor-Ge­ral: José Carlos de Lima

6 ENTREVISTA

35 BEM-ESTAR

45 MEMÓRIA

36 BOA PERGUNTA

46 EM FAMÍLIA

26 MINHA HISTÓRIA

37 RETRATOS

47 INSTITUCIONAL

28 VISÃO GLOBAL

39 LIBERDADE RELIGIOSA

50 ESTANTE

CA­SA PU­BLI­C A­DO­R A BRA­SI­LEI­R A Edi­to­ra da Igreja Adventista do Sétimo Dia

O sepulcro vazio A opinião de quem lê Legado

Diretor Financeiro: Uilson Garcia

Ministério nativo

Re­da­tor-Che­fe: Marcos De Benedicto

8 PAINEL

Ge­ren­te de Produção: Reisner Martins Ge­ren­te de Ven­das: João Vicente Pereyra

Datas, números, fatos, gente, internacional

Chefe de Arte: Marcelo de Souza Não se devolvem originais, mesmo não publicados. As versões bíblicas usadas são a Nova Almeida Atualizada e a Nova Versão Internacional, salvo outra indicação. E­xem­plar avul­so: R$ 2,84 | Assinatura: R$ 34,00

O caminhão de bombeiros Unidade e autoridade da igreja

Nú­me­ros atra­sa­dos: Pre­ço da úl­ti­ma edi­ção.

O poder da entrega

José descobre a verdade Criativos como o Criador Mais detalhes

Submissão ao Pai

Reinauguração de igreja no Egito Decisão histórica

Além do pão e da água A Bíblia para todas as tribos Do outro lado da tela Dormiram no Senhor O desafio da convivência

O chamado ao sacerdócio Deus no comando

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem prévia autorização escrita do autor e da Editora.

Tiragem: 157.000

5840/37748

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CANAL ABERTO VOZ SINGULAR

Da edição de março da Revista Adventista, destaco o perfil a respeito de Del Delker. Tive o privilégio de graduar-me com a Del em 1958 no antigo La Sierra C ­ ollege (EUA). Quando me aposentei em 2003, durante uma confraternização na sede mundial da igreja, fui agraciado com a biografia de Del Delker contendo uma dedicatória da cantora. Isto era parte de seu ministério: usar sua habilidade na língua inglesa para encorajar as pessoas com pequenos bilhetes. Em 2005, depois de ter visitado o Brasil e sofrido uma queda, ela nos escreveu: “Estou ansiosa de passar a eternidade com vocês.” Por meio da voz, ela também comunicou esperança. Cantando em vários idiomas, Del Delker marcou gerações. Prova disso é um dos meus netos, de 11 anos, que sempre pede para escutar o CD dela no carro. Espero passar a eternidade com essa inspiradora mensageira da música sacra. Léo Ranzolin / Estero, Flórida (EUA)

POR TODA A VIDA

Parabenizo a visão missionária da Revista Adventista. Nas últimas edições foi dedicado espaço para projetos e ações de missão e voluntariado, tanto de longo quanto de curto prazo. Destaco a reportagem “Por toda a vida”, em março. É a igreja em movimento, vivendo a essência dos ensinos deixados por Jesus. Ellen White escreveu que essas mobilizações em favor do próximo fortalecem a igreja, e que “o verdadeiro cristão trabalha para Deus, não por impulso, mas por princípio; não um dia ou um mês, mas toda a vida” (Obreiros Evangélicos, p. 84). Elbert Kuhn / Brasília (DF)

UM DEUS EM TRÊS PESSOAS

Felicito a revista pelo artigo “Um Deus em três Pessoas”, publicado em março. Destaco que, apesar de ser um artigo curto, a linguagem é clara, simples, e o conteúdo é teologicamente profundo. As citações bíblicas e dos escritos de Ellen G. White apresentadas no material confirmam, de fato, a doutrina bíblica da Trindade. Faço apenas uma ressalva. Um dos textos usados pelo autor (1Jo 5:7) não tem

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sua autenticidade confirmada pela crítica textual. Apesar de não contrariar o ensino bíblico sobre a Trindade, esse trecho deve ter sido acrescentado posteriormente (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 7, p. 746). À semelhança de outros trechos bíblicos que podem não ter feito parte dos originais, esse também aparece entre colchetes em várias versões da Bíblia. Sem minimizar o valor desse artigo, entendo que devemos cuidar para não tentar defender a verdade com argumentos frágeis. Dario Gonçalves / São José dos Pinhais (PR)

Mantivemos a referência ao texto de 1 João 5:7 porque o autor a utilizou em inglês e algumas versões bíblicas consideram esse verso como válido, apesar de muito provavelmente não ter pertencido ao texto original. Porém, sua observação procede. Felizmente, a argumentação do autor do artigo não teve como base esse verso duvidoso, e sim inúmeras referências bíblicas confiáveis.

março. Do primeiro, destaco a habilidade da equipe do Hope Channel da Nova Zelândia em usar a arte para evangelizar. Por sua vez, da coluna da doutora Talita Castelão, chamou-me a atenção o fato de que o cérebro de quem escuta os lamentos também é afetado em suas conexões. Creio que, mais do que nunca, é preciso ter o espírito de Paulo para contextualizar (1Co 9:19-23) a mensagem e a esperança que ele nutria (2Co 4:17) para lidar com o desânimo. Paulo Roberto dos Santos / Hortolândia (SP)

MUDANÇA NA REVISTA

Acredito que a integração da Revista Adventista com a Adventist World não é benéfica para os leitores em geral. Por exemplo, em março, apenas 40% dos conteúdos da revista foram de notícias e artigos de colaboradores do Brasil. Precisa haver uma proporção mais adequada. Creio que nossos colaboradores nacionais devem ter primazia. Esses materiais podem falar mais ao coração dos leitores brasileiros. Por isso, sugiro que haja uma discussão mais ampla sobre essa questão. Tércio Sarli / Campinas (SP)

Concordo plenamente com o descontentamento de Ezekiel Figueira a respeito da integração das duas revistas, publicado em fevereiro. Foi “cruel” perder colunistas como Silmar Cristo e Wilson Paroschi. Discordo daqueles que acham que, com o tempo, a maioria dos leitores vai se acostumar com a nova proposta. Creio que teremos decepções, assim como já ocorria com o atraso na entrega da Adventist World nas igrejas. Além disso, os exemplares vinham em número insuficiente. Será que agora esses problemas irão persistir? Elita Marlem Costa / Goiânia (GO)

Expresse sua opinião. Escreva para ra@cpb.com.br. ou envie sua carta para Revista Adventista, caixa postal 34, CEP 18270-970, Tatuí, SP.

GOLPE DE MESTRE

Achei fantásticos os artigos “Golpe de mestre” e “Pensamento negativo”, em

Os comentários publicados não representam necessariamente o pensamento da revista e podem ser editados por questão de clareza ou espaço.

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BÚSSOLA

LEGADO

DOIS HOMENS CÉLEBRES, DOIS CAMINHOS OPOSTOS ERTON KÖHLER

oucas semanas atrás, o mundo perdeu dois homens que deixaram um legado para o século 21. Ambos tinham capacidades especiais e as usaram em caminhos totalmente diferentes. Um decidiu levar as pessoas ao Senhor e outro escolheu afastá-las Dele. Depois de uma longa luta contra o câncer, o grande evangelista Billy Graham descansou no dia 21 de fevereiro, aos 99 anos de idade. Foram mais de seis décadas de um ministério muito produtivo. Poderoso pregador, ele foi também grande escritor e respeitado conselheiro. Publicou 25 livros e exerceu grande influência sobre diversos presidentes norte-americanos. Recebeu várias homenagens: uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood, a Medalha Presidencial da Liberdade (a maior condecoração civil dos Estados Unidos), a Medalha de Ouro do Congresso e Cavaleiro Honorário na Ordem do Império Britânico. De acordo com o instituto de pesquisas Gallup, Billy Graham esteve na lista dos homens mais admirados do mundo mais de 60 vezes em sua vida. A cerimônia fúnebre foi realizada debaixo de uma tenda branca, que lembrava as tendas usadas nas cruzadas feitas por ele em seus primeiros anos de ministério. Cerca de 2.300 convidados ouviram as últimas mensagens e homenagens. O sermão foi feito por Franklin, filho e sucessor,

Foto: Fotolia

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AS SEMENTES QUE VOCÊ PLANTAR NESTA VIDA DEFINIRÃO SEU DESTINO NA ETERNIDADE com uma breve reflexão sobre João 3:16 e um apelo. Mas todos se emocionaram ao ouvi-lo dizer: “O Billy Graham que o mundo viu na televisão, o Billy Graham que o mundo viu nos estádios, foi o mesmo Billy Graham que vimos em casa. Não havia dois Billy Grahams.” Em suas cruzadas, organizadas desde 1948 em estádios, parques e outros locais públicos, Billy Graham alcançou uma audiência direta de quase 210 milhões de pessoas em 185 países. Em 14 de março morreu Stephen Hawking. Aos 21 anos, foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica, doença degenerativa que paralisou progressivamente seus músculos. Segundo seu médico, ele viveria apenas mais três anos, mas viveu outros 55 anos e se tornou um renomado cientista.

Infelizmente, dedicou a vida e o conhecimento científico que possuía para defender que o Universo não teve início por ato de criação, além de ridicularizar a existência de Deus. Ele dizia: “Antes de entendermos a ciência, o lógico era acreditar que Deus criou o Universo. Mas agora a ciência oferece uma explicação mais convincente. [...] Não há nenhum Deus. Sou ateu. A religião crê em milagres, mas eles não são compatíveis com a ciência.” Apesar de todos os seus conflitos com Deus, ele reconhecia: “Estamos ficando sem espaço e os únicos lugares a ser encontrados são outros mundos. É hora de explorar outros sistemas solares. Espalhar-se pode ser a única coisa que vai nos salvar de nós mesmos. Estou convencido de que os humanos precisam sair da Terra.” Hawking, sem querer, acabou incentivando a confiança nas promessas divinas. Afinal, foi o Senhor quem profetizou o estado de calamidade do planeta, antes do fim, e apontou o caminho único para deixá-lo. Esta não é a grande descoberta de Hawking, mas a grande esperança dos cristãos. A promessa foi anterior a ele: “seremos arrebatados [...] entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares” (1Ts 4:17). Ellen White é ainda mais específica: “Livres da mortalidade, alçarão voo incansável para os mundos distantes” (O Grande Conflito, p. 677). O legado desses homens deve provocar uma reflexão. O que você está fazendo com os talentos que Deus lhe deu? Seu exemplo, suas palavras, seu ensino e influência estão sendo usados para aproximar pessoas do Céu ou para tirá-las de lá? Você está usando sua capacidade para fortalecer a causa de Deus ou enfraquecê-la? Use seus talentos para o Senhor, lembrando que as sementes que você plantar nesta vida definirão seu destino na eternidade. ] ERTON KÖHLER é presidente da Igreja Adventista para a América do Sul

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ENTREVISTA

MÁRCIO TONETTI

Miraldo Fág-Tanh

Os primeiros esforços da Igreja Adventista para alcançar populações nativas brasileiras foram feitos na década de 1920. Um século depois, existem mais de 9 mil indígenas adventistas, segundo o último censo do IBGE. Apesar disso, nosso contato com esses grupos ainda é tímido: o Brasil tem quase 900 mil índios de 305 etnias e 274 idiomas. Nesta entrevista, o pastor Miraldo Fág-Tanh, nativo da etnia guarani que hoje trabalha entre indígenas na fronteira do Brasil com a Venezuela, fala como tornar a missão adventista mais relevante entre essas comunidades.

O PASTOR INDÍGENA QUE TEM SE DEDICADO A TRADUZIR O EVANGELHO PARA DIFERENTES TRIBOS

Quando a mensagem adventista chegou a essa região? No lado venezuelano, missionários norte-americanos chegaram ali em 1911. Porém, do lado brasileiro, a igreja estabeleceu contato por volta de 1950 e os primeiros batismos ocorreram 20 anos depois. Neste mês, a comunidade Bananal comemora 50 anos de adventismo. Hoje há aproximadamente 350 pessoas morando nessa comunidade e quase todas são adventistas. Eles mantiveram costumes que não ferem os princípios adventistas e realizam os cultos no idioma local. Esses irmãos têm evangelizado outras comunidades e etnias. 6

As igrejas também são vistas como uma ameaça à cultura indígena. O que fazer para mudar essa visão? Nenhuma religião tem o direito de obrigar alguém a abandonar suas práticas culturais. Quando se respeita esse princípio, não há perda de identidade cultural nem etnocídio. O evangelho precisa ser apresentado com a “roupa” daquela cultura, sem cair no sincretismo, respeitando a decisão de cada um.

Além de você, outros nativos cursaram Teologia nos últimos anos. Qual é o potencial disso para o futuro? Os pastores Alex Alfredo Alves da Silva, da etnia taurepang, e Gustavo Soares, da etnia tucano, integram esse grupo. No entanto, precisamos de mais nativos que estudem e voltem às suas aldeias para pregar o evangelho. Não temos ainda um ministério específico para os nativos no Brasil, como ocorre na Austrália, por exemplo. No futuro, esses pastores poderão liderar uma iniciativa nessa direção.

Como a igreja tem trabalhado entre os índios? Historicamente priorizamos a assistência social. Esse método continua importante porque ainda hoje essas etnias carecem de acesso a serviços de saúde e educação. No entanto, temos avançado no sentido de realizar ações de longo prazo e que valorizem a cultura nativa, contextualizando assim a mensagem sem comprometer o evangelho.

Mais de um terço da população indígena brasileira vive nas cidades. Nossa mensagem também tem chegado a essas “tribos urbanas”? Em alguns lugares, sim. Em Goiânia, os adventistas visitam casas que abrigam nativos que estão ali em busca de tratamento de saúde. Além disso, vários indígenas que se deslocam para estudar em universidades federais também têm sido auxiliados pelas igrejas locais.

Qual é sua abordagem missionária? Por ser nativo, isso em si já cria alguns vínculos e facilita a aproximação. Mas também procuro conhecer a origem de cada povo, identificar suas necessidades e amá-los. Além disso, busco reconhecer como Deus tem se manifestado nessas culturas. Não levamos Deus a lugar nenhum porque Ele já está lá.

Quais são os maiores desafios para tornar a missão mais efetiva entre os índios? Ter voluntários dispostos a viver nas aldeias. Ser missionário em países sem presença adventista é importante, mas temos muitos indígenas no Brasil perecendo sem conhecer a verdade. ] MÁRCIO TONETTI é editor associado da Revista Adventista

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Foto: Arquivo pessoal

MINISTÉRIO NATIVO



PAINEL F AT O S

Os milagres não são uma violação

CENTRO DE INFLUÊNCIA NA ÍNDIA

das leis da natureza. O que Deus faz é intervir no mundo que Ele criou.

Lee Strobel, escritor norte-americano ex-ateu, em entrevista ao site Religion News Service

O primeiro projeto dessa natureza implantado no país de 1,3 bilhão de habitantes irá funcionar na cidade de Bangalore, também conhecida como “Vale do Silício da Índia”. O objetivo é abrir portas para o evangelho na capital e maior cidade do estado de Karnataka. O espaço de quatro andares conta com salas para atendimento médico, farmácia, academia, auditório para seminários, área gourmet e livraria.

TESTEMUNHO PARA O MUNDO

Quinze adventistas morreram quando um raio atingiu a Igreja de Gihemvu, em Ruanda. Outras 130 pessoas que assistiam ao culto ficaram feridas e foram atendidas em hospitais da região. Líderes do governo compareceram ao funeral coletivo realizado em 11 de março, um dia depois da tragédia.

3.431.661 downloads de exemplares da Bíblia foram registrados no Brasil no ano passado, o que representou um crescimento de 128% em relação a 2016

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D ATA 12 A 26 DE ABRIL

Nesse período será realizado o “Mutirão do IR do Unasp”. Pessoas que receberam até 60 mil reais em 2017 e precisam declarar o Imposto de Renda receberão assistência gratuita nos três campi do Unasp. Professores e alunos de Ciências Contábeis irão atender a comunidade nos dias 12, 19 e 26 no campus São Paulo, no dia 15 no campus Engenheiro Coelho, e nos dias 15, 16 e 22 no campus Hortolândia. Essa iniciativa colocou o Unasp no “radar” da revista Exame, que anualmente divulga locais em que os contribuintes podem receber assistência gratuita para acertar as contas com o leão.

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Fotos: Narendra Rao / Divisão Centro Leste Africana / Divisão Pacífico Norte-Asiático

FATALIDADE

Voluntários adventistas aproveitaram os Jogos Olímpicos de Inverno, realizados nos dias 9 a 25 de fevereiro, em Pyeongchang, na Coreia do Sul, para testemunhar a atletas e turistas. Além de distribuir 5 mil exemplares da versão em inglês do livro Caminho a Cristo, eles ofereceram serviço de massagem aos competidores.


EVENTOS

Fotos: Allana Ferreira / Daniel Oliveira / Novo Tempo

CERIMÔNIA DE INAUGURAÇÃO TEMPLO DE CONTÊINER Inaugurada no fim de fevereiro em Florianópolis (SC), a igreja é a primeira construída pelos adventistas em Santa Catarina usando esse tipo de estrutura. Além do custo-benefício, outro ponto positivo desse modelo é o tempo de construção. A igreja do Morro do Horácio, que tem capacidade para 90 pessoas, foi levantada em apenas três meses.

No dia 12 de março, foi inaugurado o novo auditório da Casa Publicadora Brasileira. O evento, que reuniu líderes de vários níveis administrativos da igreja, foi marcado pelo batismo de duas pessoas, sendo uma delas um servidor da instituição. Além do espaço com 574 poltronas, o complexo de 1.551 m² inclui estúdio, salas de edição e controle de áudio, camarim, depósito e dois apartamentos. A nova estrutura será usada não apenas para os cultos diários com os mais de 500 servidores da matriz, em Tatuí (SP), mas também para reuniões administrativas e eventos relacionados aos ministérios de publicações, educação e Escola Sabatina.

1O MIDIATEC

IGREJA NO IRAQUE Depois de vários anos de conflitos, que forçaram as igrejas adventistas no Iraque a fechar suas portas, um novo templo foi inaugurado no fim de fevereiro em Erbil, capital da região do Curdistão iraquiano. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Abril 2018

O treinamento promovido nos dias 16 a 18 de março pela sede sulamericana da igreja, em parceria com a Rede Novo Tempo de Comunicação, reuniu mais de 330 pessoas de todo o Brasil em Jacareí (SP). O objetivo foi oferecer capacitação técnica para a transmissão de cultos e mostrar como as igrejas locais podem ampliar o alcance de seus conteúdos na internet. O evento colocou os participantes em contato com pessoas experientes na área e ministérios que prestam consultoria às igrejas que pretendem investir em transmissões mais profissionais. As palestras do 1o MídiaTec podem ser assistidas no seguinte endereço: adv7.in/NH. 9


Se não for você, quem será? Se não for agora, quando será?

O L H A R D I G I TA L

GENTE

EM UM MINUTO

Fundador de grupos e construtor de igrejas, escolas e centros comunitários em Goiás, Clodoaldo Brito de Oliveira foi homenageado pela Igreja do Setor Sul, em Goiânia (GO), ao completar 100 anos no dia 2 de fevereiro. Casado com Isabel Álvares Oliveira, de 97 anos, eles têm três filhas, sete netos e sete bisnetos.

Um dos homens mais idosos do Brasil é adventista. Morador de Rio das Ostras (RJ), Moacir Gonçalves de Jesus completou 117 anos no dia 8 de março. Membro da Igreja Adventista do bairro Nova Cidade, ele conheceu a mensagem adventista por meio da neta e foi batizado em outubro de 2015.

CONTRIBUIÇÃO TEOLÓGICA

Adam Grześkowiak, pastor adventista polonês, foi reconhecido recentemente no país por sua contribuição à literatura bíblica. Seu livro “At the Feet of Gamaliel…” (Acts 22:3): Application of Jewish Exegesis in 1 Corinthians (“Aos Pés de Gamaliel ...” (Atos 22:3): A Aplicação da Exegese Judaica em 1 Coríntios) foi considerado o estudo mais importante entre as 91 publicações acadêmicas analisadas por um grupo de teólogos.

Explicar as crenças fundamentais adventistas em vídeos de até 60 segundos é a proposta do norteamericano Phil Vecchiarelli. Desde setembro do ano passado, quando lançou seu canal no Youtube, ele compartilha dois vídeos por semana. Com o apoio dos membros da igreja na divulgação, as mensagens do pastor da Califórnia têm alcançado até mesmo o público não cristão.

51% dos adultos

norte-americanos acreditam que os milagres da Bíblia aconteceram conforme descritos e 38% já experimentaram pessoalmente um milagre, de acordo com uma pesquisa feita pelo jornalista Lee Strobel, em parceria com o Instituto Barna, e publicada em seu novo livro, intitulado The Case for Miracles: A Journalist Investigates Evidence for the Supernatural (O Caso dos Milagres: Um Jornalista Investiga Evidências do Sobrenatural). R e v i s t a A d ve n t i s t a // Abril 2018

Fotos: Arquivo pessoal / Marta Palla /

CENTENÁRIOS

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Conrad Vine, diretor da AFM (Adventist Frontier Missions), em sermão no Unasp, campus Engenheiro Coelho (SP), buscando motivar jovens a encarar o desafio de pregar em territórios inalcançados pelo evangelho


INTERNACIONAL

763

é o número de instituições adventistas de saúde ao redor do mundo, incluindo: 441 clínicas e ambulatórios 180 hospitais 121 asilos e outros centros para aposentados 21 orfanatos e lares para crianças

50 mil Bíblias

devem ser distribuídas para estudantes de escolas adventistas do Sul do Pacífico. A iniciativa faz parte do projeto World Changers Bible (Bíblia dos Transformadores do Mundo), lançado em 2013 e que já distribuiu mais de 225 mil exemplares do livro sagrado.

ATENDIMENTO NA SAÚDE Diante do crescimento epidêmico de doenças crônicas ligadas ao estilo de vida nas ilhas do Pacífico, a ADRA da Austrália e a organização Adventist Health lançaram neste ano uma campanha que pretende atender 10 mil pacientes com diabetes tipo 2 e outras pessoas com risco de desenvolver a doença. A intenção é equipar as igrejas locais para realizar avaliações de saúde na comunidade e atuar especialmente na prevenção desse tipo de enfermidade.

CONVIDADA DE HONRA A rainha do arquipélago de Tonga participou de um café da manhã de oração que reuniu 400 mulheres no Queen Salote Memorial Hall, em Nuku’alofa. Mais da metade das participantes do evento organizado pelo Ministério da Mulher da sede da igreja na região não era composta por adventistas.

Cerca de 900 mil pessoas sofrem de epilepsia no Malawi, o que levou três neurocirurgiões adventistas a estabelecer um programa de tratamento da doença no país africano

6.770 pessoas

Fotos: Adventist Record / Brent Hardinge

foram beneficiadas em Phoenix, no Arizona (EUA), por 3,3 mil voluntários que doaram mais de 40 milhões de dólares para atendimento médico, dentário, oftalmológico e outros serviços

A história adventista é potencialmente rica, estruturada, profunda e ampla. Não é a história de uma dúzia de pessoas apenas.

David Trim, diretor do departamento de Arquivos, Estatísticas e Pesquisas da sede mundial da igreja, durante reunião de teólogos e historiadores adventistas em Silver Spring, Maryland (EUA)

Colaboradores: ADRA Internacional, Adventist World, Allana Ferreira, Andrew McChesney, Daniel Gonçalves, Daniel Kluska, Francis

Matos, Jefferson Paradello, Kimi-Roux James, Márcio Tonetti, Prince Bahati, Tatiane Virmes e Tracey Bridcutt

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CAPA

ME TA MOR F O S E

Foto: ThinkStock

ESPIRITUAL 12

R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Abril 2018


A VITÓRIA DE CRISTO SOBRE A MORTE INICIOU UM MOVIMENTO DE TRANSFORMAÇÃO QUE LEVARÁ A HUMANIDADE A SE TORNAR NO QUE FOI PLANEJADA PARA SER GERALD A. KLINGBEIL

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m 2016, 23 milhões de pessoas em todo o mundo concluíram que precisavam de uma mudança drástica. Segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica e Estética, elas decidiram fazer algum tipo de procedimento ou cirurgia, que foi desde intervenções na face à correção da flacidez abdominal. Esse número significativo equivale à população de países como Taiwan e Camarões. Para se ter ideia, somente nos Estados Unidos, em 2016, o mercado de produtos e serviços de beleza e estética ultrapassou os 62 bilhões de dólares de faturamento. Isso representa um gasto médio de 191 dólares ao ano por norteamericano; algo assombroso se considerarmos o que essa quantia pode comprar em várias regiões do globo. Ao redor do mundo, até 2020, esse segmento deve representar um mercado de 675 bilhões de dólares. A busca por mudança não é um fenômeno novo. Desde a queda moral de Adão e Eva, a humanidade almeja transformação. Talvez seja esse um anseio pelo Éden perdido ou o reconhecimento de que fomos feitos para mais do que apenas trabalhar, comer e dormir. R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Abril 2018

Ao longo da história, muitas tentativas ocorreram para mudar a sociedade. Gênesis 11, por exemplo, relata o plano dos construtores anônimos de uma torre que queriam tomar o próprio futuro em suas mãos. “Vamos construir uma cidade, com uma torre que alcance os céus. Assim nosso nome será famoso e não seremos espalhados pela face da Terra” (Gn 11:4). Uma cidade, uma grande construção cujo topo alcançasse o céu e um reconhecimento que fosse construído por eles mesmos: foi nesses elementos que apostaram os edificadores da Torre de Babel a fim de gerar mudança em seus dias. Mais tarde, líderes poderosos mudaram sua época conquistando nações vizinhas e construindo impérios. Controle e poder se tornaram a moeda necessária para que a transformação acontecesse. Foi assim com Alexandre o Grande, Aníbal, Genghis Khan, Napoleão Bonaparte, Stalin e Hitler. Todos tentaram construir algo completamente novo, conquistando e destruindo o antigo, na esperança de que seus empreendimentos durassem “mil anos”. Mas nenhum deles conseguiu. OUTRO CAMINHO O comunismo caiu, o fascismo alemão também, e nosso mundo ainda está cambaleando com todos os “ismos” propostos para mudar nossa história. No entanto, para transformar o mundo, o Carpinteiro de Nazaré tomou um caminho diferente. Jesus nunca Se envolveu com os jogos do poder. Ele não ansiava por controle. De fato, voluntariamente Ele Se fez nada ao Se tornar humano e experimentar nossa sorte (Fp 2:6-8). Seu caminho para a transformação O levou consistentemente em direção à rude cruz plantada em uma colina, fora de Jerusalém. Nesse caminho Ele tocou leprosos e abraçou pecadores, curou doentes com feridas físicas e emocionais. EncontrouSe com as pessoas onde elas estavam – em um poço na hora mais quente do dia, em uma piscina cheia de pessoas que esperavam um milagre, nas estradas e caminhos que atravessavam a Palestina e na casa de um fariseu. O ministério relativamente curto de Jesus mudou o mundo para sempre. Quando Ele falava sobre o reino de Deus, quem O ouvia era levado a enxergar o Criador. E enquanto Ele revelava o Pai celestial, Seus ouvintes sentiam o coração pulsar forte por um futuro que não conseguiam nem imaginar. Jesus os ouvia e eles se sentiam acolhidos e compreendidos. 13


É verdade também que muitos não entendiam todas as implicações de Suas palavras e ações. Foi por isso que gritaram “Hosana nas alturas” e “bendito é o que vem em nome do Senhor”, citando um salmo messiânico muito conhecido (Sl 118:26; Mt 21:1-10). Por saberem que somente um rei poderia tornar realidade a visão radical de Jesus foi que O receberam em Jerusalém, antes da Páscoa, com as honras de um monarca. Não perceberam que as maiores batalhas do reino que Ele proclamava ainda seriam travadas numa cruz e outras repetidas vezes no coração humano. A Bíblia nos conta que rapidamente a alegria deles se tornou em decepção. Traído por Judas e ilegalmente condenado por um Sinédrio impostor que não cumpria suas próprias regras, o Jesus desfigurado apresentado por Pilatos foi rejeitado pela multidão. Muitos dos que haviam gritado “Hosana nas maiores alturas” no início da semana, no fim dela vociferavam: “Crucifica-O!” Não era aquele tipo de rei que desejavam. Por isso, a aclamação vibrante se transformou em frenesi assassino. O comportamento dos discípulos de Jesus também não foi muito melhor que o da multidão. Após terem passado mais de três anos numa convivência próxima e pessoal com o Mestre, um de Seus seguidores O vendeu aos Seus inimigos. Outro, embora O conhecesse, O negou três vezes; e os demais simplesmente fugiram, muito assustados para se lembrarem do que Ele havia dito sobre o que iria acontecer.

A E SC URIDÃO DA C RUC IFIX ÃO SE T OR NOU O E SPL ENDOR

NA CRUZ No caminho para o Calvário, Jesus não foi ajudado pelas pessoas de perto, e sim por um estranho: Simão de Cirene (Mt 27:32). Soldados pregaram Cristo no rude madeiro e Ele agonizou, ligando o Céu à Terra. Isso não foi um show elaborado. O Deus-Homem, carregando nossos pecados e afligido pela natureza destrutiva do pecado, ouviu os sussurros funestos de Satanás dizendo que aquele era o fim de tudo. “Satanás torturava com cruéis tentações o coração de Jesus”, escreveu Ellen White. “O Salvador não podia enxergar para além dos portais do sepulcro. A esperança não Lhe apresentava Sua saída da sepultura como vencedor, nem Lhe falava da aceitação do sacrifício por parte do Pai. Jesus temia que o pecado fosse tão ofensivo a Deus que Sua separação houvesse de ser eterna” (O Desejado de Todas as Nações, p. 753). A escuridão cobriu o sol e aqueles que se reuniam ao pé da cruz ouviram o clamor angustiado de Jesus, expressando Sua sensação de desamparo (Mt 27:46). Silêncio envolveu o ar. Onde estava Deus? Onde estava a justiça? Onde estava a graça? Deus estava pendurado numa cruz. O último “está consumado” de Jesus (Jo 19:30) nos lembra o plano idealizado muito antes da criação. 14

“Muito antes que Ele estabelecesse os fundamentos da Terra, já pensava em nós e nos escolheu como alvo do Seu amor”, escreveu Eugene Peterson na paráfrase do texto bíblico de Efésios 1:4 e 5 (A Mensagem). “Há muito tempo Ele decidiu nos adotar em Sua família, por meio de Jesus Cristo”, completa o teólogo. As Escrituras nos dizem que naquele momento, aparentemente o mais sombrio da história da Terra, dois homens decidiram permanecer ao lado de Jesus, apesar de isso ter significado tornar pública a posição deles. José de Arimateia, membro abastado da sociedade judaica e discípulo secreto de Jesus, ofereceu seu próprio túmulo. Ele estava acompanhado de Nicodemos, aquele que havia se encontrado com Jesus encoberto pela noite (Jo 19:38-42). Ambos não temeram o ritual de purificação ao manipularem o corpo sem vida de Jesus no dia de preparação, antes do sábado. Ambos ofereceram o seu melhor: uma tumba nova e 34 quilos de uma mistura dispendiosa formada por mirra e aloés. Um sepultamento digno de rei. R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Abril 2018

Foto: Eberhard Grossgasteiger

DA R E S SUR R EIÇ ÃO


Foto: LightStock

O INÍCIO DE ALGO NOVO Aquele sábado pós-crucifixão deve ter oferecido pouco descanso e alívio para os seguidores de Jesus. Todas as esperanças deles se transformaram em desapontamento. Todas as suas expectativas foram arrancadas, todos os seus sonhos desapareceram. Jesus estava morto em uma tumba fria, cercada por soldados romanos. As horas do sábado passaram vagarosamente. Os discípulos, enlutados e aflitos, desconheciam o fato de que o mundo mudaria para sempre. Um terremoto violento acompanhou o anjo que desceu para rolar a pedra que fechava a entrada da tumba. Tomados pelo medo, os soldados rastejaram no pó enquanto Jesus ressuscitava bem cedo naquele domingo. Quando o Deus-Homem ressuscitou, a natureza se curvou e reagiu. Os que encontraram a tumba vazia e ouviram a afirmação do anjo “Não temas” (Mt 28:5) contaram aos que permaneciam abatidos que o Senhor estava vivo. Assim, vagarosa e quase imperceptivelmente, a esperança cresceu e superou o desapontamento e o medo. Fico maravilhado com a transformação que a cruz de Jesus provocou neste mundo. A escuridão da crucifixão se tornou o esplendor da ressurreição. Fez com que discípulos deprimidos, temendo pela própria vida, se tornassem ousados proclamadores da salvação garantida pela ressurreição do Senhor. É por isso que o livro bíblico de Atos se tornou uma crônica desses homens e mulheres cujo coração, antes vazio, passou a arder por Jesus (Lc 24:32).

(Jo 21:5, 6). Instantaneamente, João reconheceu o Mestre e Pedro imediatamente se jogou na água para nadar até a praia. Os discípulos tiveram trabalho para tirar a rede do mar. Eles pegaram 153 grandes peixes (v. 11). Jesus os convidou para um agradável desjejum. Depois de dividir os pães e peixes e comer com os discípulos, Ele olhou para Pedro e fez a pergunta que importava: “Simão, filho de João, você Me ama mais do que estes”? (v. 15). Pedro pode ter se perguntado como o amor dele por Jesus poderia competir com o sentimento dos demais em relação ao Mestre. Jesus fez a mesma pergunta três vezes.

A GRANDE PESCARIA Então, após a ressurreição, houve uma grande pescaria (Jo 21). Pedro, Tomé, Natanael, Tiago, João e dois outros discípulos tinham voltado para a Galileia e saíram para pescar. Isso é o que muitas vezes fazemos quando somos confrontados com grandes problemas. Voltamos para o que conhecemos; voltamos aos lugares familiares. Porém, após uma longa noite no lago, não tinham fisgado nada. Foi quando viram Alguém que acenava da praia: “Filhos, vocês têm algo para comer?” Quem usaria um termo carinhoso como esse para falar com estranhos? Eles balançaram negativamente a cabeça. “Lancem a rede do lado direito do barco e vocês encontrarão” R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Abril 2018

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UM MOVIMENTO TRANSFORMADOR Logo após esse encontro com Jesus, Pedro assumiu a liderança do movimento cristão. E os primeiros discípulos avançaram. Capacitados pelo derramamento do Espírito Santo, o pequeno grupo de líderes, na maioria ignorantes, passou a pregar ousadamente a respeito de Jesus. Eles cresceram em número, em graça e em comunhão (At 2:42-47; 4:32, 33). Esse crescimento transformador também incluiu a compreensão de uma nova teologia. Pedro e os primeiros judeus crentes ainda precisavam cruzar um enorme abismo teológico. Eles teriam que entender que Deus estava convidando não apenas Israel, Seu povo escolhido, mas todos os gentios para andar no Caminho (At 9:2; 19:9, 23; 22:4). A experiência de Pedro na casa de Cornélio foi o início da transformação dessa mentalidade (At 10). A graça de Deus é inclusiva. O Salvador veio para salvar pecadores, a despeito de sua etnia ou filiação religiosa. A obra do Espírito Santo não está limitada pelas fronteiras que estabelecemos em nossa mente e equivocadamente julgamos terem sido ordenadas por Deus. A manhã da ressurreição marcou somente o início de um movimento que valorizou a transformação em lugar da estagnação. E a transformação continua. Dois mil anos depois, Deus ainda está nos convidando para participar desse movimento que não somente afirma que Ele ressuscitou, mas que em breve voltará. Por isso, enquanto esperamos, precisamos ser transformados, de dentro para fora (2Co 5:17). Ora vagarosamente, ora dramaticamente. É pelo poder transformador de Deus que podemos nos tornar naquilo que fomos criados para ser: uma bênção para quem ainda está em dúvida ou à procura do Caminho. ]

RENOVAÇÃO DA ESPERANÇA BILL KNOTT

Como pastor e editor, muitos me perguntam qual é minha história bíblica preferida. Para falar a verdade, já dei respostas diferentes para essa questão em várias fases da minha vida. Pelo fato de meu pai, um irmão e um tio se chamarem Davi, o confronto entre o pequeno pastor israelita e o gigante Golias foi minha primeira história favorita. Depois, aos dez anos de idade, quando passei meu irmão mais velho Davi em altura e peso, meu personagem bíblico preferido passou a ser Zaqueu: o baixinho que não queria ser percebido. Naquele encontro com Jesus em Jericó, o Mestre foi capaz de ver o publicano lá em cima, solitário na árvore. Isso mexeu comigo numa época em que eu não tinha certeza se alguém estava me percebendo. Na juventude, já trabalhando como pastor, minha história predileta era a série de três parábolas de Lucas 15: a moeda perdida, a ovelha perdida e os filhos perdidos. Como outros estudantes da Bíblia, encontrei nessas três histórias sobre graça “o evangelho dentro dos evangelhos”. No entanto, nos últimos 20 anos, outro relato da biografia de Cristo tem cativado minha imaginação. Meu encanto por esse texto tem duas razões: o relato é incrível em si e serve de metáfora poderosa de como a igreja pode recuperar sua alegria e esperança enquanto espera o retorno de Cristo. Refiro-me aos dois discípulos no caminho para Emaús (Lc 24). Essa história, minha favorita no contexto da ressurreição de Jesus, ocorreu em meio às sombras do fim da tarde, período do dia que mais aprecio. Em resumo, ela trata de dois discípulos de Cristo que, por estarem tristes e desanimados com a morte do Mestre, decidiram caminhar juntos e conversar. Eles queriam encontrar consolo ao compartilhar lágrimas e desabafos, enquanto buscavam entender juntos o que havia ocorrido. Nesse contexto, Jesus apareceu e caminhou alguns quilômetros com eles, o suficiente para ministrar um estudo bíblico completo sobre a missão do Messias. Enquanto andava com aqueles discípulos, mais uma vez o Mestre cumpriu Sua promessa de estar onde dois ou três estivessem reunidos em Seu nome (Mt 18:20). E, como era de se esperar, a presença de Cristo mudou para sempre a história daqueles homens, bem como a de milhões de pessoas. Para mim, essa é a história fundacional da igreja. Ela me diz mais do que a conversão de 3 mil pessoas no Pentecostes (At 2), porque fala de dois crentes que, acompanhados por Jesus, se comprometeram a caminhar juntos enquanto avançavam para o poder revelador da Sua ressurreição. Hoje também, a vitória de Cristo sobre a morte ainda é um convite para uma jornada de apoio mútuo e de esperança que se renova. ]

GERALD A. KLINGBEIL é editor associado da revista Adventist World

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BILL KNOTT é editor da revista Adventist World R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Abril 2018

Foto: LightStock

Três vezes a resposta que recebeu foi afirmativa. Gosto mais da terceira resposta de Pedro: “Senhor, Tu sabes todas as coisas e sabes que Te amo” (v. 17). Em outras palavras, o discípulo disse que não conseguia representar na frente de Cristo. Jesus conhecia seu coração, seu passado e todas as coisas.


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HISTÓRIA DA IGREJA

Cura em meio à neve A VISITA DO CASAL WHITE A UMA CIDADEZINHA NO INTERIOR DE MICHIGAN RESULTOU EM RESTAURAÇÃO PARA TIAGO E A IGREJA LOCAL BERNARD ANDERSEN E BETH THOMAS

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R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Abril 2018

Foto: Center for Adventist Research

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penas uma semana antes do Natal de 1866, Tiago White ainda se recuperava de um derrame sofrido havia 16 meses. Dessa vez, ele estava se tratando da maneira que sua esposa, Ellen, havia aconselhado. Tiago havia feito tratamentos com hidroterapia e outros remédios naturais na instituição de saúde Nosso Lar na Montanha, uma clínica dirigida pelo doutor James Jackson, em Dansville, Nova York (EUA). Porém, Ellen não estava contente com os resultados. Tiago não estava se exercitando. Temendo que ele nunca se recuperasse caso continuasse inativo, Ellen escolheu marcar uma série de palestras, levando o esposo com ela. A pioneira escreveu: “Para conseguir recursos para nossa viagem, tirei meus tapetes de tiras de pano e os vendi. [...] Com o dinheiro apurado da venda dos tapetes, comprei uma carroça coberta e preparei-me para a viagem, colocando na carroça um colchão para papai [Tiago] se deitar” (Mensagens Escolhidas, v. 2, p. 306). Acompanhados por seu filho Willie, então com 11 anos, os White deixaram sua casa em Battle Creek, no meio de um rigoroso inverno para viajar por 145 quilômetros (Testemunhos Para a Igreja, v. 1, p. 103, 104). O destino deles era Wright, uma pequena comunidade agrícola no oeste de Michigan. Não parecia uma decisão muito sábia viajar para longe com Tiago em uma situação tão delicada. No entanto, Ellen se surpreendeu que o marido tivesse suportado bem o trajeto e chegou lá com uma aparência melhor de que quando tinha saído de Battle Creek (p. 104).


TERAPIA DO EXERCÍCIO E. H. Root havia convidado a família para se hospedar na sua fazenda. Quando viajavam pelo estado de Michigan, Wright era como um segundo lar para os White, e o amor que tinham pelos membros dali e a hospitalidade com que eram recebidos faziam daquele vilarejo o lugar perfeito para a nova fase da ­recuperação de Tiago. Ellen acompanhava o marido de perto. Todos os dias ela o incentivava a caminhar, ainda que no inverno. Certo dia, quando havia caído muita neve, a pioneira pediu ao irmão Root um par de botas emprestado. Ela calçou as botas e percorreu meio quilômetro afundando na neve. Ao voltar, Ellen pediu que o marido desse um passeio, mas ele respondeu que não teria como fazer isso naquelas condições climáticas. “Oh, sim, você pode!”, respondeu a esposa. “Por certo você pode seguir meus rastros.” Tiago concluiu que, se uma mulher podia andar na neve, ele também conseguiria e foi (Mensagens Escolhidas, v. 2, p. 307). A saúde de Tiago começou a melhorar vagarosamente e, após 18 meses de intenso cuidado, além de uma dose saudável de pressão para voltar ao púlpito e pregar, ele se recuperou. A doença do pioneiro havia abalado sua família e a igreja como um todo. Por mais de um ano, Ellen e Tiago se afastaram do ministério público. E Ellen sentia que Satanás não tinha interesse no retorno deles. Por isso, em uma das reuniões em Wright, ao perceber que o marido havia conseguido pregar com clareza durante uma hora, ela se levantou e em lágrimas testemunhou de sua alegria (Testemunhos Para a Igreja, v. 1, p. 571). O DESAFIO DA MISSÃO Por que os White escolheram a comunidade de Wright? Teria sido a hospitalidade dos irmãos ou o ar puro e fresco? Talvez, mas, acima de tudo, havia um importante trabalho a ser realizado pela congregação local. E era exatamente esse impulso missionário que Tiago necessitava para retomar seu ministério. A Igreja de Wright foi estabelecida três anos antes da formação da Associação de Michigan e cinco anos antes da organização da Associação Geral. Tudo começou ali em 1858 pelo trabalho de Joseph B. Frisbie. Apesar da resistência do clero local, as séries evangelísticas dele foram bemsucedidas. De uma escola, as reuniões migraram

R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Abril 2018

O EXERCÍCIO FÍSICO NA NEVE E A PREGAÇÃO PÚBLICA AJUDARAM TIAGO WHITE A SE RECUPERAR DE UM DERRAME

para um espaço maior, um celeiro cedido por um dos supervisores do distrito municipal. No fim dos seminários, foram batizadas pessoas suficientes para começar uma nova igreja. No entanto, quando os White chegaram, no inverno de 1866, Ellen escreveu que a igreja estava desunida e tomada por um “espírito mundano”. No entanto, os membros estavam famintos de alimento espiritual e ouviram com grande atenção o casal White. Tiago pregava aos sábados e domingos de manhã por cerca de 40 minutos, enquanto Ellen falava às tardes por uma hora e meia (Testemunhos Para a Igreja, v. 1, p. 570 e 571). Os White passaram seis semanas com a Igreja de Wright, incentivando seus membros por meio de ensinamentos bíblicos, instruções sobre a reforma dos princípios de saúde e vestimenta, e criando um plano para a benevolência sistemática (devolução de dízimos e ofertas). Os membros confessaram seus erros entre si, a unidade foi restaurada e a congregação floresceu. Talvez não tenha sido sem razão que a primeira reunião campal dos adventistas do sétimo dia tenha sido realizada em Wright, apenas dois anos após a passagem do casal White pela região, conforme registrou A. W. Spalding no livro Origin and History of Seventh-day Adventists, v. 2, p. 9. A princípio, Tiago sugeriu uma campal grande, que reunisse fiéis que moravam em todos os estados banhados pelos Grandes Lagos do norte do país, mas já era muito tarde para planejar um evento desse porte. A alternativa foi organizar três reuniões regionais menores: uma para adventistas do oeste de Michigan, Wisconsin e Illinois; outra para os que viviam no leste de Michigan, Nova York e Canadá; e outra para quem morava no sul de Michigan, Indiana e Ohio. Aquela primeira campal regional foi tão bem-sucedida que eventos desse porte acabaram se tornando o padrão para as Associações da Igreja Adventista. Hoje, se você visitar a Igreja de Wright, em Michigan (EUA), encontrará membros fiéis e ativos, envolvidos na missão, 160 anos após a congregação ter sido estabelecida. Aquele lugar ainda é um local de cura e restauração. ] BERNARD ANDERSEN é membro emérito do Ministério da Herança Adventista e primeiro-ancião da Igreja de Wright, em Michigan (EUA); BETH THOMAS é editora freelance e mora em Laurel, Maryland (EUA)

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DOM DE PROFECIA

Remetente: Ellen G. White

AS CARTAS PESSOAIS DA PROFETISA ADVENTISTA FORAM ESCRITAS HÁ MAIS DE UM SÉCULO, MAS CONTINUAM ATUAIS E ÚTEIS PARA TODOS

NOTAS 1 Uma semana antes, em outra carta, ela escreveu que eles haviam ficado até depois da uma da manhã

Carta 9 21 de dezembro de 1851 Saratoga Springs, Nova York (EUA) Caros irmão e irmã Dodge: Tenho uns poucos momentos livres e vou empregá-los escrevendo a vocês. Por um curto período não estive bem de saúde, mas estou muito melhor agora. Às vezes, Tiago e eu nos sentimos quase esgotados. Poucas vezes nos deitamos antes das onze horas ou meia-noite; 1 não temos um momento ocioso. Não fosse pela força que recebemos diariamente de Deus, não suportaríamos. Louvado seja o Senhor, pois temos um Sumo Sacerdote compassivo e gentil, que pode ser tocado com a sensibilidade de nossas enfermidades. Não esperamos ter descanso aqui. Não, não! O caminho para o Céu é de cruz. A estrada é estreita, mas avançaremos com alegria sabendo que, antes de nós, o Rei da glória trilhou esse mesmo caminho. Não reclamaremos das dificuldades da estrada, mas seremos humildes seguidores de Jesus, seguindo Suas pegadas. [...] Portanto, quando passarmos por provas, não vamos murmurar. Os queridos filhos de Deus sempre passaram por elas, e cada provação que suportamos aqui nos tornará mais ricos em glória. Anseio pelo sofrimento. Se eu pudesse, não iria para o Céu sem sofrimento, e ali ver Jesus que tanto sofreu para nos comprar uma herança tão preciosa; e ver os mártires que entregaram a vida pela verdade e por Jesus. Não, não! Deixe que eu seja aperfeiçoada pelo sofrimento. Desejo participar com Cristo dos Seus sofrimentos, porque, se o fizer, sei que participarei com Ele em Sua glória. Jesus é nosso Modelo. Estudemos para que nossa vida seja o mais semelhante possível à vida de Cristo. Minha alma clama pelo Deus vivo. Meu ser anseia por Ele. Sim, por refletir perfeitamente Sua amorável imagem. Anseio ser totalmente consagrada a Ele. Ah, como é difícil deixar que o querido eu morra!

preparando a The Adventist Review and Sabbath Herald (Carta 5, 1851). 20

R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Abril 2018

Foto: Keith Misner

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tualmente, o Patrimônio Literário Ellen G. White preserva mais de 5 mil cartas escritas pela pioneira adventista. A igreja tem se preoucupado em tornar conhecidos esses documentos. Por isso, publicou, em 2014, a obra The Ellen G. White Letters and Manuscripts With Annotations (Cartas e Manuscritos de Ellen White com Anotações), que contém todas as cartas e manuscritos que conhecemos de Ellen White escritos no período de 1845 a 1859, incluindo seus primeiros diários. No ano passado, o livro de quase mil páginas ganhou uma versão em espanhol. Outro volume, que está sendo preparado em inglês, trará as cartas que ela escreveu entre 1860 e 1863, período em que a Igreja Adventista foi oficialmente organizada. A carta que você lerá a seguir foi endereçada a Caroline Dodge e publicada pela primeira vez na íntegra por ocasião do lançamento do primeiro volume (p. 319-321). Conheça seu conteúdo.


Podemos nos alegrar em um Salvador completo, Aquele no mar, terei coragem. Pois a música celestial me que nos salva de todo pecado. Podemos permanecer ao lado encantou de tal maneira que me unirei ao coral. de Deus e dizer diariamente: “Já não vivo eu, mas Cristo Eu irei, deixa-me ir”. 3 Minha alma está voando vive em mim, para desejar e cumprir somente a Sua boa para a glória. vontade.” A Deus seja a glória. Sei que minha vida está Queridos irmão e irmã, não me esqueci do escondida com Cristo, em Deus. tempo que passamos juntos na Conferência em Ergueram-se as cortinas e eu vi a preciosa recompensa Milton (Nova York). 4 Que o Senhor os fortaleça entregue aos santos. Provei das alegrias do mundo vindouro, e os ajude a atravessar cada prova, para que saiam e para mim este mundo perdeu seu valor. Minhas afeições, vitoriosos. Devemos ser vencedores pelo sangue interesses, esperanças, meu tudo está no Céu. do Cordeiro e pela palavra do Almejo ver o Rei em Sua beleza, o Amado da nosso testemunho. [...] minha alma. Céu, doce Céu! “Anseio estar lá; e Na próxima terça ou quartaELLEN G. WHITE SABIA QUE O ao pensar que já está perto, deixa-me impaciente feira estaremos saindo para a CAMINHO PARA O CÉU É DE CRUZ. pelo aparecimento de Cristo”. 2 [...] Conferência em Camden (Nova POR ISSO, ELA NÃO ESPERAVA Tenhamos fé, fé viva em Deus, e amemos uns York). Se Jesus comparecer à HERDAR A ETERNIDADE SEM aos outros como Deus nos amou. Somos muito festa (e eu creio que Ele irá), PASSAR POR SOFRIMENTO hábeis em ver os erros dos outros, e não tão rápivamos ter uma reunião marados em descobrir os nossos. Se, diariamente, cada vilhosa. Sei que, se formos um de nós estudasse a si mesmo para se aprehumildes como devemos ser, sentar aprovado diante de Deus, buscássemos como glorise percebermos de onde vem nossa força, e se ficar a Deus com sinceridade, não fazendo nossa vontade, tivermos fé viva, Deus fará maravilhas por nós não satisfazendo a nós mesmos, estou certa de que seríae Seus passos grandiosos serão vistos entre nós. mos mais fortes e floresceríamos na videira. [...] Esta noite Tiago [...] está muito ocupado revisando a prova a voz do anjo pareceu soar em meus ouvidos muito forte e da revista, ajudado pela irmã Annie Smith. 5 Por clara: Prepare-se, prepare-se, prepare-se, para que não seja isso, tenho um pouco de tempo para escrever. Esta pesada na balança e achada em falta. noite, após o sábado, escrevi à luz de vela, com meus Cristo terá uma igreja sem mancha ou ruga ou nada semeolhos ardendo. Por essa razão, perdoem minha letra. lhante para apresentar a Seu Pai, e ao nos conduzir através Tenham coragem! Não deixem que nada os desendos portões perolados da cidade dourada, Ele olhará o que coraje nem desanime. Lembrem-se de que estamos foi adquirido pelo Seu sangue, Seus filhos redimidos, verá quase no lar. Envio meu carinho a todos os irmãos e o fruto do penoso trabalho de Sua alma e ficará satisfeito. irmãs em Michigan, especialmente aqueles a quem Almejo ver meu querido Jesus cuja face ilumina a gloriosa já conheço. Diga-lhes que tenham ânimo [...]. cidade; Aquele a quem os anjos adoram, e ao se curvar coloQuerido irmão e irmã, escrevam-nos. Ficarecam suas coroas brilhantes diante Dele, tocam suas harpas mos felizes em receber notícias de vocês e dos douradas e enchem o Céu com a preciosa música dos cânirmãos e irmãs em Jackson (Michigan). Tiago e ticos do Cordeiro. eu enviamos nosso amor a vocês e a todos os que A linguagem da minha alma é: “Embora as águas sejam amam a Jesus. Apressada e com amor. escuras e as ondas encapeladas, se Jesus permite a tempestade

2 Frases extraídas do hino “I Long to Be There”

Deus), de 1849. Veja Early Advent Singing, de

setembro de 1851. Assim, quando Ellen White

(Desejo Estar Lá), publicado pela primeira vez

James R. Nix, para mais informação sobre a

escreveu sobre seu encontro com os Dodges

entre os adventistas guardadores do sábado

história da publicação desse hino.

na “Conferência em Milton”, não ficou claro a

por Tiago White em Hymns for Second Advent

qual evento ela se refere.

Believers (Hinos Para os Que Creem no Segundo

4 Abram Dodge e sua esposa, ainda recém-

Advento), em 1852. Para saber mais sobre a

casados, na companhia de outros crentes,

5 Annie Rebekah Smith, de 23 anos de idade,

história da publicação desse hino, veja o livro

fizeram a longa viagem de Jackson, Michigan,

havia sido integrada havia pouco tempo à

Early Advent Singing, de James R. Nix.

a Camden, Nova York, para assistir à Conferên-

equipe da Review, como assistente editorial. Em

cia nos dias 20 a 22 de junho de 1851. Não é

carta escrita um mês antes, Ellen White falou

3 Frases extraídas do hino “What Heavenly

certo se eles também assistiram à Conferência

sobre Annie Smith: “Ela é exatamente a ajuda

Music” (Oh! Que Música Celeste), incluída no

em West Milton, no fim de semana seguinte.

de que precisávamos. É um apoio para Tiago e

primeiro hinário de Tiago White, Hymns for God’s

Foi anunciada uma próxima conferência para

o ajuda muito. Podemos deixá-la na produção

Peculiar People (Hinos para o Povo Peculiar de

West Milton, três meses depois, de 19 a 21 de

da revista para estar mais com o rebanho.”

R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Abril 2018

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VIDA ADVENTISTA

COMO UMA MUÇULMANA ENCONTROU APOIO NUMA PEQUENA COMUNIDADE ADVENTISTA PLANTADA NUMA REGIÃO DE 5 MILHÕES DE PESSOAS NÃO EVANGELIZADAS INDIA HAYES

C

om a cabeça coberta e uma vela na mão, ela entrou no pequeno espaço em que realizávamos nosso culto. Aquela jovem senhora muçulmana estava preocupada, sozinha e segurava as lágrimas enquanto contava sua história para a recepcionista, lá no fundo. 22

Amina (pseudônimo) e seu esposo haviam chegado recentemente à cidade, como refugiados. Seu esposo continuou a viagem até a Inglaterra em busca de trabalho, e havia vários dias ela não tinha notícias dele. Não sabia como

entrar em contato com o esposo nem o que fazer diante da situação. Na noite anterior, sexta-feira, Amina teve um sonho muito real. Nele, alguém disse que na manhã seguinte ela devia comprar uma vela e ir a uma igreja pedir ajuda. Assim, na manhã seguinte, Amina comprou a vela, mas não tinha a menor ideia de onde encontraria uma igreja. Portanto, ela tomou um táxi e pediu que a levasse a uma igreja. Foi assim que ela chegou à nossa porta.

R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Abril 2018

Foto: Pran Thiramethanon

Luz na escuridão


de costume, exceto por um celular que tocou durante o sermão. Só no sábado seguinte soubemos quem havia ligado.

NÃO FOSSE PELA CORAGEM E DETERMINAÇÃO MISSIONÁRIA DOS JOVENS, MUITOS LUGARES DA JANELA 10/40 AINDA NÃO TERIAM PRESENÇA ADVENTISTA

Estávamos realizando o culto no templo de uma igreja evangélica, que alguns meses antes havia permitido que realizássemos nossas reuniões aos sábados, já que suas reuniões aconteciam aos domingos. Amina acendeu sua vela antes do início do culto, e foi convidada a ir à frente durante o momento de oração. Mesmo sem conhecer sua história, nosso pequeno grupo se ajoelhou ao redor dela, orando fervorosamente pelo que parecia ser uma grande necessidade. Enquanto pedíamos ao Senhor que a ajudasse e que desse a ela Sua paz, lágrimas de gratidão rolavam pela face de Amina. O culto continuou como R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Abril 2018

RESPOSTA ÀS ORAÇÕES No sábado seguinte, durante o momento dos anúncios, um dos membros de nossa igreja compartilhou o testemunho de Amina. Então tomamos conhecimento de que a chamada telefônica da semana anterior havia sido do seu esposo. Ele estava bem. Nossas orações de intercessão haviam sido respondidas. Pode ser que nunca mais vejamos Amina, mas provavelmente ela não se esqueça da oração que encheu seu coração com a paz de Deus. A semente foi plantada. JOVENS NA LINHA DE FRENTE Somos um grupo singular em uma cidade com mais de 5 milhões de pessoas não evangelizadas. Há poucos anos não havia nenhuma igreja adventista na região. Também somos uma minoria estatística na Igreja Adventista. Com 35 anos de idade, sou um dos membros mais velhos de minha congregação. Nossos anciãos, líderes de música, tesoureiros, oradores e todos os que participam são, na maioria, estudantes universitários na faixa dos 20 anos. Nossos membros podem ter pouca idade, mas naquele dia concluí que, se não fosse por aqueles jovens, hoje não haveria igreja adventista nessa parte da janela 10/40. Consequentemente, Amina não teria encontrado em nossa comunidade a ajuda que buscava. A seara é verdadeiramente grande, mas os trabalhadores são poucos. Oremos para que o Senhor envie mais pessoas para os campos não evangelizados. ] INDIA HAYES, pseudônimo, é missionária no Oriente Médio e Norte da África

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DEVOCIONAL

Três sinais gráficos COMO AS EXPERIÊNCIAS DA VIDA SE ASSEMELHAM AO PONTO FINAL, DE INTERROGAÇÃO E EXCLAMAÇÃO?

E

u gosto de cereal com leite de soja sem açúcar e ponto final. Meu nome é Werner Dullinger, sou pastor adventista e tenho uma esposa e dois filhos. Ponto final. Às quintas-feiras, meu supermercado abre às 9 horas e ponto final. Todas essas afirmações são verdadeiras, mas não estou tão ligado a elas, com exceção de minha esposa e filhos, a ponto de não mudar de ideia nem hábito.

WERNER DULLINGER 24

R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Abril 2018


Contudo, à medida que envelheço, percebo que os pontos de interrogação se tornam mais frequentes. Bem diferente de quando era mais jovem, e tinha respostas na ponta da língua e certezas para quase tudo. Minha perspectiva era nitidamente dividida entre preto e branco. Porém, o aprendizado da vida me mostrou que existem muitas questões abertas. Isso fez com que algumas das explicações antigas já não se encaixassem mais num jeito de pensar mais complexo, inclusive alguns aspectos da minha fé. Não vejo isso como ruim nem ameaçador. Posso viver com pontos de interrogação, mas não somente com eles. Descobri também que a vida oferece algo mais. É aqui que entra em cena o ponto de exclamação, cuja função valorizo cada vez mais à medida que o tempo passa. O ponto de exclamação no fim de uma sentença comunica mais emoção e conectividade do que o ponto final. Imagine dizer que a seleção do seu país ganhou a Copa do Mundo de futebol ou que acabou de comprar um Porsche 911 sem usar um sinal de exclamação! Você não gostaria de transmitir somente informação, mas emoção. Por isso, digo que os pontos de exclamação dão mais sentido à minha vida, fazendo com que ela compense ser vivida.

Para viver nossa religiosidade com satisfação é preciso resgatar o que inicialmente nos

Foto: Luke Stackepoole

motivou

O PONTO DE EXCLAMAÇÃO BÍBLICO Na Bíblia há um ponto de exclamação. Ele não é um sinal gráfico e sim uma palavra. “Amém” é um termo hebraico que significa “ter certeza”. Ele é usado em diferentes situações. As pessoas costumam dizer “amém” quando aceitam a validade de um juramento (Nm 5:22; Dt 27:15; Jr 11:5) ou quando respondem a uma bênção (1Cr 16:36; Ne 8:6). No Novo Testamento, essa palavra é frequentemente usada como a conclusão de uma doxologia ou oração (1Co 14:16). A vida ganha sentido quando dizemos “amém” a alguém ou para alguma causa. Precisamos de pelo menos um ponto de exclamação para dar sentido à existência. Nas Escrituras, por exemplo, vemos muitas pessoas que encontraram seu ponto de exclamação e decidiram se comprometer com algo maior do que elas mesmas (2Co 1:19 e 20). Para elas, dizer “amém” para um chamado de Deus foi o equivalente a dizer “sim” ou pontuar sua resposta com um sinal de exclamação. R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Abril 2018

Se olharmos da perspectiva de Deus, vamos perceber que nós somos o ponto de exclamação Dele. Nossa salvação e bem-estar é o maior investimento do Pai que nos ama. Jesus demonstrou isso ao encarnar e pagar o imenso preço da nossa redenção (Fp 2:6-8). Nele o Eterno enfrentou a morte para que pudéssemos ter a vida eterna. Cristo não apenas enfrentou a morte, mas aceitou a cruz, um dos mais cruéis tipos de morte da Sua época. Mesmo tendo esse sofrimento como destino, Jesus manteve Seu plano de salvar este mundo rebelde e perseverou até que Seu sonho se tornasse realidade. É exatamente por causa da segurança e da liberdade que o ato da cruz concede a todo aquele que o aceita que cada filho redimido tem as melhores condições para buscar o ponto de exclamação da sua vida, a causa para a qual ele possa dizer “amém”. O diplomata sueco Dag Hammarskjöld, a segunda pessoa a o ­ cupar o cargo de secretário-geral das Nações Unidas (1953-1961), morreu

em um acidente aéreo na Zâmbia, onde iria iniciar as negociações para pôr fim a uma guerra civil sangrenta. Em seu livro Markings, publicado postumamente em 1964, ele expressou a seguinte ideia: “Não sei quem nem por que fez a pergunta; não sei quando ela foi feita. Nem me lembro de ter respondido. Mas, em algum momento, respondi ‘sim’ a Alguém e, desse momento em diante, tive a certeza de que a existência tinha significado e, portanto, minha vida de autorrenúncia tinha um objetivo.” A vida é feita dessa descoberta: de identificar a questão para a qual, do fundo do coração, podemos dizer ‘sim’. É quase como estar apaixonado e sentir aquele “friozinho na barriga”. Você se lembra das coisas loucas que fez por amor? Como dirigir uma motocicleta por quatro horas, debaixo de uma tempestade, só para ficar 60 minutos com ela? Penso que nenhum relacionamento pode sobreviver se perder esse tipo de sentimento. Porém, só é possível manter e aprofundar esse sentimento se você estiver sonhando seus próprios sonhos e não os de outra pessoa. Por isso, se você quer viver sua vida, religião e vocação com plena satisfação é preciso resgatar o que o motivou no início da caminhada. Não importa se somos membros de igreja, professores, pastores ou administradores com uma vida cheia de compromissos. A questão é que essa reforma é necessária. Foi pela luz abrangente do “sim” de Deus que Ele nos falou por meio de Jesus, para que nós também pudéssemos responder “sim” para Ele, sem medo nem reservas. O “sim” de Deus motiva o nosso “sim” de autoentrega, em busca de significado e propósito. Portanto, diga “sim”! ] WERNER DULLINGER é presidente da Igreja Adventista para a região sul da Alemanha

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MINHA HISTÓRIA

O caminhão de bombeiros OS MÉDICOS MISSIONÁRIOS QUE CONSEGUIRAM REALIZAR O SONHO DE SERVIR LONGE DE CASA

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DICK DUERKSEN

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outra: um sonoro “sim”. Aquela seria a primeira de muitas viagens consecutivas para países da América Latina. Miller era um piloto muito cuidadoso, que tinha habilidade para pousar em qualquer lugar: estradas de terra, pistas curtas e até em aeroportos convencionais. Seu avião estava sempre lotado com médicos voluntários e caixas de materiais e medicamentos. Sempre havia espaço para mais um vidro de remédio, um par de muletas ou uma enfermeira ansiosa por servir. VIAGEM PARA LONGE O doutor Miller voou por 40 anos, liderando regularmente viagens missionárias e o atendimento médico para moradores do alto das montanhas do México. “Porém, R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Abril 2018

Foto: Thinkstock

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que você quer ser quando crescer?” – “Quero ser médico missionário adventista”, respondeu Donald Miller. Esse sempre foi seu desejo e ele dedicou a vida para alcançar esse objetivo. Miller foi bem nos estudos; tão bem que foi aceito na Universidade de Loma Linda (EUA). Após a graduação, recém-casados, ele e a esposa, Wilma, começaram a se planejar para a vida no campo missionário. “Realmente não importa para onde vamos”, disse o doutor Miller. “Onde quer que Deus necessite de nós, é lá que queremos estar.” O casal iniciou sua carreira médica e começou a pagar o financiamento que havia contratado para custear os estudos. “Esse período foi muito difícil para papai e mamãe”, disse Gordon, filho deles. “Tudo que realmente queriam era ser missionários além-mar, mas estavam presos ao trabalho missionário no seu próprio país.” Certo dia chegou o convite de um amigo de Miller, que também era médico e piloto de avião, e que havia comprado uma pequena aeronave. O amigo dele precisava de ajuda para uma viagem missionária de curta duração para o México. A resposta do doutor Miller não poderia ter sido


nosso desejo ainda era servir como médicos missionários num lugar longe dos Estados Unidos”, lembra-se Wilma. Ela conta que eles se aposentaram mais cedo para fazer isso como voluntários onde Deus indicasse. Logo após a aposentadoria eles iniciaram o tão sonhado trabalho humanitário além-mar, atuando principalmente no sudeste da Ásia. “Viajamos muitas vezes ao Camboja e servimos em campos de refugiados. Essas eram as melhores viagens”, disse Wilma. “Tratamos fraturas e distribuímos remédios, alimentos e abraços para as crianças. Muitas delas eram órfãs... Como não podíamos dar um lar amoroso para elas, nos esforçamos para que tivessem a melhor assistência médica do mundo”. “Papai sempre carregava balas de hortelã nos bolsos e as crianças logo passaram a chamá-lo de, ‘doutor Bala’, revela o filho dele, Gordon. Certo dia, os guardas do campo de refugiados chamaram o doutror Miller, pedindo que ele atendesse uma emergência com duas crianças cambojanas: uma menina e seu irmão mais novo. “Apesar de estar com a perna fraturada, a menina caminhou por vários dias até ter a certeza de que seu irmãozinho estaria em segurança”, conta Wilma, esposa de Miller. Aquela garotinha magrinha e seu irmãozinho ainda menor conquistaram o casal de médicos. A garota havia sido espancada e sua perna estava destroçada. Seu irmãozinho estava aterrorizado, com medo de tudo e de todos. A fim de restaurar a perna da garotinha, o doutor Miller usou peças quebradas de um carro para tensionar a região afetada e colar corretamente seus ossos. Durante esse período de recuperação, o irmãozinho dormiu embaixo do berço dela. Dias depois, o “doutor Bala” deu ao garotinho um caminhãozinho vermelho de bombeiros. O presente era simples, mas carregado de amor. O menino o apertou contra o peito e, em seguida, voltou para debaixo da cama da irmã. Algumas semanas mais tarde, o casal Miller retornou para os Estados Unidos. MUITO TEMPO DEPOIS Pensando em dar ao pai um “presente perfeito”, Gordon Miller, agora um médico também, disse aos pais que os levaria para assistir ao Show do Ar, em Paris, na França. Extravagante? Talvez. Mas ver as centenas de aviões nessa apresentação sempre fora um grande sonho do velho pilotodoutor. Miller aceitou a oferta do filho e começou a fazer os planos. No entanto, pouco antes da viagem, ele teve um ataque cardíaco e morreu. Wilma não mais quis ir ao show em Paris, não sem o esposo! “Nós precisamos ir, mãen”, insistia Gordon. “Papai estava ansioso por essa viagem, e mesmo não estando conosco, teria gostado que você fosse”, argumentou o filho. Ao saírem do aeroporto, em Paris, a memória que Wilma guardava do Camboja determinou sua escolha do táxi. “Papai teria escolhido um motorista de táxi asiático”, disse Wilma a Gordon, apontando para um jovem em pé ao lado de um carro. “Onde você foi criado?”, Wilma perguntou quando já estavam dentro do carro. “Camboja”, respondeu o R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Abril 2018

DEPOIS DE APOSENTADOS, DONALD E WILMA MILLER SERVIRAM EM CAMPOS DE REFUGIADOS NO CAMBOJA ATENDENDO CRIANÇAS

motorista. “Você morava em algum dos campos de refugiados?”, continuou ela. “Sim, minha irmã mais velha foi adotada por uma família francesa, mas minha outra irmã e eu ficamos perdidos nos campos por vários anos até que finalmente ela nos encontrou.” Wilma procurou no fundo de sua bolsa e encontrou uma foto amassada. Ela mostrou a imagem ansiosamente ao motorista. “Você conheceu esse homem? Ele é meu esposo, e trabalhamos juntos com os refugiados. Ele era médico. Um bom médico”, detalhou a passageira. O motorista observou a foto, dirigiu o carro para o acostamento, parou e tirou um pacotinho de debaixo do seu assento. “Sim, conheci o doutor Miller”, disse o taxista cambojano, desenrolando o pacote e mostrando para que Wilma pudesse vê-lo. “O doutor Miller era meu amigo. Ele me deu esperança.” Na mão do motorista estava um caminhãozinho vermelho de bombeiro, bem usado. “Muitas vezes me questionei se nossa vida havia sido útil para alguém”, diz Wilma Miller. “Então, Deus me levou a Paris e me mostrou um caminhãozinho de bombeiro. Acho que fizemos o que Deus gostaria que fizéssemos.” ] DICK DUERKSEN é pastor e mora em Portland, Oregon (EUA)

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VISÃO GLOBAL

SUBMISSÃO À PALAVRA DE DEUS E HUMILDADE NO TRATO COM O SEMELHANTE SÃO O CAMINHO PARA OS ADVENTISTAS SE UNIREM TED WILSON 28

R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Abril 2018

Foto: GV Olsen

Unidade e autoridade da igreja

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ocê confere a seguir o resumo da primeira parte da palestra apresentada pelo pastor Ted Wilson na conferência de líderes da sede mundial da igreja, em Lisboa, Portugal, em 6 de fevereiro de 2018. Foram mantidos elementos do estilo oral. Que privilégio poder colocar nossa atenção nesta conferência de liderança naquele que é o único desejo de Jesus, segundo João 17: a unidade de Sua igreja em torno do propósito da missão. O tema “A necessidade espiritual de unidade da igreja e a autoridade bíblica para cumprir a missão de Deus” é uma forte lembrança de que a vontade de Cristo é que Sua igreja seja unida, assim como Ele e o Pai são um. Esse senso de unidade emanando da Trindade é impressionante. O Pai, o Filho e o Espírito Santo sempre estão unidos e realizando seu trabalho juntos, sem nenhuma diferença de opinião: Eles são Um. Estavam unidos na criação (Gn 1:26); no batismo de Cristo (Mt 3:1617); no Monte da Transfiguração (Mt 17:5); na cruz (Mt 27:50-54); e assim por diante. As três Pessoas da Trindade sempre estão unidas nas decisões que tomam. É por isso que a vontade de Deus para Sua igreja é que ela esteja em harmonia com a


vontade e direção Dele. Salmo 133 compartilha essa esperança com o povo de Deus: “Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos! [...] É como o orvalho do Hermom, que desce sobre os montes de Sião. Ali ordena o Senhor a Sua bênção e a vida para sempre” (v. 1 e 3). O DESEJO DE DEUS Deus, falando por meio de Davi, expressou Seu enorme desejo de que o povo Dele seja unido. Essa unidade não é mera manifestação simbólica de “companheirismo”, mas uma verdadeira fusão de propósito, missão e dever que vem somente se estivermos concentrados na vontade de Deus. E sempre que nos afastarmos desta fórmula, nossa “unidade” estará incompleta e se tornará desunião. Só podemos alcançar verdadeira unidade se, humildemente, nos submetermos às instruções de Deus dadas por meio da Bíblia e dos escritos inspirados de Ellen G. White. Quando lançamos mão da oração e do estudo das Escrituras, Deus abre as portas para que as discussões tenham a direção do Céu, ajudando assim Sua igreja a descobrir como avançar no maior desafio confiado aos seres humanos que vivem no tempo do fim: proclamar Cristo e Suas três mensagens angélicas. Ellen G. White declarou: “Em sentido especial os adventistas do sétimo dia foram postos no mundo como vigias e portadores de luz. A eles foi confiada a derradeira mensagem de advertência a um mundo a perecer. Sobre eles incidiu a maravilhosa luz da Palavra de Deus. Foram incumbidos de uma obra da mais solene importância: a proclamação da primeira, segunda e terceira mensagens angélicas. Nenhuma obra há de tão grande importância. Eles não devem permitir que nenhuma outra coisa lhes absorva a atenção” (Testemunhos Para a Igreja, v. 9, p. 19). NOSSA MAIOR NECESSIDADE Nossa maior necessidade é nos aquietar e conhecer nosso Deus e Sua vontade. Muitas vezes, em nossas tentativas de realizar o que, em nosso conceito, é o que Deus deseja de nós, falhamos em atentar para o conselho Dele: “Aquietai-vos e sabei que Eu sou Deus” (Sl 46:10). Ao tentar encontrar nosso próprio caminho para a unidade, sem nos aquietarmos e ouvirmos a direção de Deus, acabamos provocando desordem e disfunção. No processo de descobrir a vontade de Deus, devemos ter submissão a Ele e Sua Palavra, respeito pela organização da igreja que Ele estabeleceu e humildade para nos aquietarmos e R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Abril 2018

identificar as instruções de Deus. No fim, a humildade é a grande chave para a unidade. A Santa Palavra de Deus nos lembra: “Sem mais, irmãos, despeço-me de vocês! Procurem aperfeiçoar-se, exortem-se mutuamente, tenham um só pensamento, vivam em paz. E o Deus de amor e paz estará com vocês” (2Co 13:11, NVI). Como é importante “ter um só pensamento”! Essa mensagem também é reforçada em Filipenses 2:2-4. Paulo escreveu: “completem a minha alegria, tendo o mesmo modo de pensar, o mesmo amor, um só espírito e uma só atitude. Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos. Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros.” Ter o “mesmo modo de pensar” ou “estar em acordo” é uma qualidade daqueles que manifestam “humildade de mente”, a submissão tão necessária às decisões tomadas pelo corpo da igreja. É claro que só podemos ter essa humildade quando aceitamos o espírito de Cristo (Fp 2:5). Essa foi a prática da igreja cristã primitiva. Agindo com seriedade e humildade de espírito, os primeiros cristãos permitiram que o Espírito Santo tomasse controle total deles. O resultado dessa postura pode ser verificada em Atos 2:46: “Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam suas refeições com alegria e singeleza de coração.” Devido à sua dedicação a Deus, humildade e simplicidade de coração, eles viviam em comum acordo. Esse é o resultado da verdadeira submissão a Deus e assim será Sua igreja ao terminar a grande proclamação das três mensagens angélicas. O Manual da Igreja tem alguns conselhos preciosos a respeito da unidade. Na página 61, por exemplo, os adventistas são aconselhados a “fazer todo o esforço para evitar tendências que os dividam e tragam desonra à sua causa. [...] A igreja deve desencorajar as ações que prejudiquem a harmonia entre seus membros e deve estimular consistentemente a unidade”. Isso é possível quando a Palavra de Deus é priorizada e a humildade da igreja cristã primitiva é experimentada em nossos dias. ]

HUMILDADE É A GRANDE CHAVE

PARA A UNIDADE

TED WILSON é presidente mundial da Igreja Adventista. Você pode acompanhar o líder por meio das redes sociais: Twitter (@pastortedwilson) e Facebook (fb.com.br/ pastortedwilson)

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NOVA GERAÇÃO

AQUELE TUFÃO QUE ENFRENTAMOS NAS FILIPINAS PODERIA TER VARRIDO NOSSOS SONHOS, MAS NÃO CONSEGUIRIA ABALAR NOSSA FÉ

A CONFIANÇA EM DEUS NOS AJUDA A ENXERGAR BELEZA NA TEMPESTADE E SIGNIFICADO EM MEIO AO CAOS BEERSHEBA MAYWALD

do tufão num culto com voluntários do ministério GROW. Em uma colina, com vista para o lago Taal, falamos sobre entrega a Deus. Aquele grupo de jovens profissionais, que costumava planejar e ter tudo sob controle, estava refletindo a respeito do poder da renúncia. Enquanto ouvia os testemunhos, compreendi a razão pela qual render-se a Deus é tão importante e me uni a eles naquela jornada de renúncia. Por algum motivo me lembrei de nossa viagem a Palawan. Sentimos a direção e proteção de Deus desde o início do percurso, apesar do pneu furado, da espera de três horas na estrada, do dia chuvoso e das águas revoltas. Ainda assim conseguimos ver beleza no céu que escurecia, sentimos paz no mar agitado e esperança em apenas um raio dourado do sol. O tufão poderia ter varrido nossos sonhos e esperanças, mas não conseguiria abalar nossa fé em Deus. Além disso, ter vivido aquela ­experiência com outros amigos fortaleceu nossos vínculos e criou um novo sistema de apoio. Quando olho para trás, percebo que só quando nos entregamos é que vemos a beleza da tempestade. Na entrega, encontramos significado e propósito em meio ao caos. É fato que ninguém gosta de se submeter; porém, é preciso. A vida do rei Davi nos ensina sobre entrega. Por ter sido ungido para ocupar o trono de Israel, ele facilmente poderia ter tomado o lugar de Saul. Contudo, ele esperou o tempo de Deus. Davi acreditava que o Senhor estava trabalhando por ele e por meio dele. No silêncio e na entrega, ele experimentou paz ao confiar no Deus vivo (Sl 16:11). Quero isso para mim também! ] BEERSHEBA MAYWALD, natural de Tamil Nadu, na Índia, ela cursa mestrado em religião e Novo Testamento no Instituto Internacional Adventista de Estudos Avançados, nas Filipinas

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R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Abril 2018

Foto: Arquivo pessoal

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céu escureceu quase que instantaneamente. Os últimos raios alaranjados do sol desapareceram atrás de nuvens cinzas gigantes. Os ventos gelados e a chuva forçaram os 20 jovens viajantes a se juntarem em busca de calor. Nossos pequenos barcos balançavam perdidos na percussão rítmica das ondas. Fazendo seu melhor para navegar no escuro, os barqueiros se dirigiram diretamente para o porto. Poucas semanas antes daquela tempestade, o entusiasmo enchia o ar enquanto planejávamos a viagem para Palawan. Essa ilha é uma das maiores das Filipinas e conhecida por ser um paraíso de areias brancas, água azulturquesa e por oferecer ótimas condições para o mergulho. Era uma maravilhosa maneira de escapar do estresse da vida acadêmica. Com tudo pago, partimos em oração e com muitas expectativas. Porém, naquele momento, em vez de apreciar os penhascos de pedra calcária e mergulhar nas lagoas cor de jade, estávamos indo contra um tufão que havia surgido sem o menor alarme. Poucos sábados mais tarde, pude compartilhar essa experiência diante

O PODER DA ENTREGA


PRIMEIROS PASSOS

JOSÉ DESCOBRE A VERDADE HAVIA MAIS DO QUE ASSOMBRAÇÃO EM UMA CASA ABANDONADA NUMA FLORESTA DA RÚSSIA WILONA KARIMABADI

Ilustração: AW Joseph

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que moravam naquele lugar, na verdade, eram falsificadores de dinheiro... Um dos criminosos foi revistar o lugar em que José estava dormindo e encontrou ali a mala do vendedor. Abriu-a, tirou uma Bíblia e murmurou: “O que é isso?” Desapontado, remexeu outra vez e encontrou outra Bíblia. Confuso, tentou outras três vezes, e não encontrou nada mais além de Bíblias. “Esse homem deve ser santo para carregar tantas Bíblias”, pensou o falsificador. Cuidadosamente, ele recolocou aqueles exemplares na mala e voltou para sua oficina clandestina. Com as mãos atadas, José ouviu os três homens cochichando entre si. “Estivemos conversando”, disse o criminoso mais alto, “e achamos que você deve ser um homem excepcionalmente bom”. Ele pausou e continuou: “Decidimos que você não vai ser morto se prometer não contar a ninguém o que viu aqui.” Na verdade, José não tinha visto muita coisa; por isso, deu sua palavra que manteria silêncio. Somente muitos anos mais tarde e a milhares de quilômetros daquela velha cabana foi que José se sentiu livre para contar a história. Naquela noite, de um modo muito surpreendente, a Bíblia, a poderosa espada da verdade (Ef 6:17; Hb 4:12), ajudou a libertar José (Jo 8:32). ]

osé ouviu o som de passos subindo a escada. Cansado por ter trabalhado o dia inteiro vendendo Bíblias, ele havia encontrado abrigo para passar a noite naquela casa abandonada, no meio de uma floresta na Rússia. Porém, alguns barulhos estranhos e coisas esquisitas o estavam mantendo acordado. Quando olhou de um canto da sala no andar de cima em direção à escada, apareceu-lhe uma figura branca, semelhante a um fantasma. “Vem comigo”, chamou a figura. Como não acreditava em fantasmas, José resolveu descobrir a verdade. Quando ele pulou da cama para verificar o que era aquilo, a figura desceu a escada rapidamente. No fim da escada, ele estendeu a mão para agarrar aquele Fonte: “The Haunted House”, em Junior Guide, de 13 de agosto de 1958, p. 12. vulto, mas, de repente, o chão se abriu e José sentiu-se no ar, em queda livre. Era um alçapão! WILONA KARIMBADI é editora-assistente No porão havia mais dois homens. Eles pegaram José da Adventist World e amarraram suas mãos. Enquanto o vendedor de Bíblias ficou ali sentado, sem saber o que fazer, a figura estranha se levantou e tirou uma corrente pendurada no ombro. Quando o lençol branco foi removido, Num mundo com tantas vozes e fontes de informação é difícil José descobriu que debaixo encontrar a verdade. Porém, você pode sempre contar com a dele havia um homem grande. Olhando ao redor, ele perceBíblia para o afastar das mentiras e o aproximar da verdade. beu que havia uma pequena É ela que desmascara Satanás, o pai do engano (Jo 8:44) impressora. Os “fantasmas” R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Abril 2018

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PERSPECTIVA

CRIATIVOS COMO O CRIADOR

A CRIATIVIDADE É UM DOM DE DEUS E DEVE SER USADA PARA HONRÁ-LO E ABENÇOAR O MUNDO TERRY BENEDICT

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ecentemente apresentei uma série de seminários sobre como descobrir seus dons e propósito. Sempre me impressiona o fato de que, após essas palestras, dois grupos distintos de pessoas me procuram para conversar: os que agradecem por alguém finalmente reconhecer que a criatividade é um dom de Deus, e os que estão em conflito, pois desejam saber como descobrir seus dons, paixão e propósito. A realidade é que essa “receita” é simples. Quando voltamos para Gênesis, vemos que a primeira tarefa confiada por Deus a Adão exigiu criatividade: dar nome aos animais (Gn 2:19). É curioso notar que a criatividade de Deus não acabou quando Ele terminou a criação do mundo, mas ela fluiu por meio de Adão. Fomos criados à imagem R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Abril 2018

e semelhança de Deus, e Ele nos doou geneticamente Sua capacidade criativa. A frase “para ver como este os chamaria” nos diz muito sobre a natureza de Deus e do ser humano criado à Sua imagem. Deus deu liberdade para que a escolha de Adão quanto ao nome dos animais fosse definitiva. Isso nos mostra que Ele está mais disposto a fazer uma parceria conosco e ver Sua criatividade fluir por meio de nós do que controlar todo o processo a fim de que o resultado seja perfeito. O Criador dotou cada um com facetas diferentes do Seu espírito criativo, a fim de que realizemos propósitos específicos. Como em um prisma, Sua luz branca passa através de nós, resultando em uma cor singular. Dotados com

DEUS PREFERE FAZER UMA PARCERIA CONOSCO E VER SUA CRIATIVIDADE FLUIR POR MEIO DE NÓS A CONTROLAR TODO O PROCESSO A FIM DE QUE O RESULTADO SEJA PERFEITO

“plena capacidade artística” (Êx 31:3), podemos realizar grandes coisas com tinta sobre uma tela, por meio da lente de uma câmara, ou ainda com sons, palavras e ideias. Ele nos concede oportunidades para ver quão intencionalmente usamos esse espírito criativo a fim de servir aos outros e honrá-Lo. Como resultado, quanto mais exercitamos nosso espírito criativo de maneira positiva e responsável, melhor manifestamos o propósito do Criador para a humanidade. A inspiração por meio da arte é fundamental no plantio de sementes que transformam, enriquecem e salvam vidas. Ela nos ajuda a compreender, por exemplo, a importância de colaborar para que crianças descubram e desenvolvam seus dons a fim de ocuparem o lugar certo na missão de Deus e promoverem o crescimento de Seu reino. Nossa tarefa é liderar pelo exemplo, causando um impacto positivo na vida dos artistas, ao incentivar, inspirar e levá-los a usar os talentos que receberam do Criador no serviço de sua comunidade local e da humanidade em nível global. No próximo Dia Mundial da Arte, 15 de abril, lembre-se disso! ] TERRY BENEDICT foi o produtor do filme Até o Último Homem, longa-metragem que conta a história do não combatente adventista Desmond Doss

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Conheça histórias de pessoas que foram protegidas por Deus em meio à guerra

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BEM-ESTAR

AQUELE QUE VIVE SEM CONHECER O FUNCIONAMENTO DO PRÓPRIO CORPO E DAS LEIS QUE GOVERNAM SUA SAÚDE É COMO UM BARCO À DERIVA NO MAR

MAIS DETALHES NEM SEMPRE É POSSÍVEL ESMIUÇAR OS ASSUNTOS AQUI ABORDADOS SOBRE SAÚDE, MAS PROCURAMOS PREZAR POR INFORMAÇÕES CONFIÁVEIS QUE ORIENTEM NOSSOS LEITORES PETER N. LANDLESS E ZENO L. CHARLES-MARCEL

Foto: Garrett Sears

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esde que foi criada, em 2006, esta coluna sobre saúde da Adventist World tem o propósito de oferecer conteúdo informativo, responsável, atual e claro. Ao longo do tempo, ela recebeu nomes diferentes; porém, devido à integração, neste ano, com a Revista Adventista, a coluna passou a ser chamada de “Bem-estar”. Por meio deste espaço, procuramos transmitir informações úteis e precisas, respondendo a perguntas de ­leitores ou abordando assuntos relevantes e mais abrangentes. Nesse processo, muitas vezes é necessário usar alguns termos técnicos. Contudo, procuramos sempre tornar a linguagem acessível ao público em geral e dentro do limite de 500 palavras. É exatamente por causa dessas limitações que vários leitores e especialistas na área de saúde nos questionam

se não poderíamos ter dado mais detalhes numa matéria ou outra. Nem sempre é fácil priorizar os pontos mais importantes de cada tema, mas é o que temos tentado fazer. Quanto à escolha dos temas, bem como sua abordagem, nossa coluna segue as diretrizes de trabalho da sede mundial da Igreja Adventista, as quais nos orientam a liderar o Ministério de Saúde da denominação com base na Bíblia, nos escritos de Ellen White e nas evidências científicas no campo da saúde, aplicadas de acordo com a cosmovisão bíblica-cristã (Working Policy of the General Conference of Seventh-day Adventists, 2016, p. 355-369). É importante ressaltar que partimos de fontes seguras, pois a internet hoje torna disponível muita informação, mas também desinformação sobre saúde. ­Lembre-se de que, se alguma coisa soa muito boa para ser verdade, provavelmente não seja verdade!

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Todos precisamos ser vigilantes e cuidadosos com relação à confiabilidade das informações sobre saúde que consumimos e compartilhamos. Isso inclui, por exemplo, evitar passar para frente dados que não foram confirmados ou ignorar conselhos inspirados ou evidências científicas que não nos são convenientes. Como igreja, devemos “manejar bem a Palavra da verdade”, seja ela bíblica ou científica, conscientes de que o conhecimento humano é progressivo. Alguns nos perguntam também por que enfatizamos a relação entre o mecanismo das doenças e o estilo de vida. Ellen White orientou que é necessário haver um “conhecimento prático da ciência da vida humana”. Por isso, ela aconselhou que o ensino da fisiologia para as crianças deveria ser uma prioridade. Para a pioneira adventista, viver sem ter noção do funcionamento do corpo, bem como das leis naturais que regem o organismo, é tão desastroso como um barco que fica à deriva no mar (Conselhos Sobre Saúde, p. 38). O ponto é que temos uma âncora, um leme e uma bússola confiáveis. Aquilo que Deus nos revelou ­continua a ser confirmado pelos estudos na área de saúde. Isso apenas nos lembra que Ele é fiel, e nós devemos segui-Lo com confiança. ] PETER LANDLESS é cardiologista e diretor do Ministério da Saúde da sede mundial adventista em Silver Spring, Maryland (EUA); ZENO CHARLES-MARCEL é clínico geral e diretor associado desse mesmo ministério

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BOA PERGUNTA isso, a vontade Dele deve ser respeitada. Mesmo a agonia da cruz e a própria morte não poderiam quebrar o relacionamento filial de Cristo com Seu Pai. Em resumo, quando Jesus usou o termo aramaico Abba, Ele destacou que Seu relacionamento com o Pai era de tamanha dependência que estava disposto a se submeter a Deus. Como Filho de Deus, Cristo era a melhor pessoa para revelar que Seu Pai realmente Se importava com os pecadores, a ponto de acompanhá-Lo na cruz.

É VERDADE QUE A PALAVRA ABBA NO NOVO TESTAMENTO SIGNIFICA “PAPAI”? ÁNGEL MANUEL RODRÍGUEZ

sado três vezes no Novo Testamento (Mc 14:36; Rm 8:15; Gl 4:6), o termo abba não tem o sentido de “papai”. Abba é a transliteração da expressão aramaica que significa “o pai”. Era usado por crianças e adultos para se referir ao chefe da família, demonstrando assim uma ligação profunda com ele. O termo aramaico é utilizado geralmente como um vocativo (“o pai”), mas também assume a forma enfática (“pai”). No livro de Marcos, o termo é traduzido para o grego como ho pater, “o Pai”, sugerindo que a expressão aramaica abba era tão importante a ponto de ser empregada mesmo nas orações faladas em grego. Para que o sentido teológico dessa expressão fique mais claro, é preciso analisar brevemente suas três ocorrências.

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1. INTIMIDADE E OBEDIÊNCIA No Antigo Testamento, o termo “Pai” era usado para se referir a Deus, enquanto o povo de Israel era identificado como filho Dele. Porém, a expressão em si normalmente não era aplicada para Deus, nem mesmo o termo abba parece ter sido comumente usado pelos judeus para se referir a Ele. No caso de Jesus, encontramos um ser humano Se apropriando do título “Filho”, chamando Deus de “Abba, Pai” e ensinando os discípulos a fazer o mesmo (Mt 6:9). O termo aramaico também aparece na oração agonizante de Jesus no Getsêmani (Mc 14:36). Portanto, essa expressão enfatiza intimidade e mostra que Jesus via Deus como Seu Pai, e vice-versa (Mc 1:11). O texto transmite pelo menos duas ideias principais. Primeiro, Deus é um Pai cuidadoso e poderoso o suficiente para livrar Seu Filho de qualquer situação. Segundo, esse Pai é sábio o bastante para fazer o melhor por Seu Filho e pelos que Ele representa. Por

ÁNGEL MANUEL RODRÍGUEZ, pastor, professor e teólogo aposentado, foi diretor do Instituto de Pesquisa Bíblica da sede mundial da igreja

JESUS MOSTROU QUE SEU RELACIONAMENTO COM O PAI ERA DE TAMANHA DEPENDÊNCIA QUE ELE ESTAVA DISPOSTO A SE SUBMETER A DEUS

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Foto: Fotolia

SUBMISSÃO AO PAI

2. REDENÇÃO E CAPACITAÇÃO As duas outras passagens em que o termo ocorre (Gl 4:6 e Rm 8:15) indicam que chamar Deus de “Abba, Pai” se tornou significativo para os primeiros cristãos. Paulo usou essa expressão quando escreveu para as igrejas que falavam grego. O termo era importante, pois enfatizava a figura de um Deus amoroso, que busca adotar pecadores em Sua família. O apóstolo explica que, por meio do Espírito, recebido no batismo, os crentes são capacitados a se submeter a Deus e a chamá-Lo de “Abba, Pai”. Essa nova condição possibilita que os cristãos formem uma família cujo Pai é alguém que ama profundamente a humanidade. Em Gálatas, Paulo enfatizou a filiação dos crentes com base na obra redentora de Jesus, enquanto que em Romanos o destaque é para o fato de que a adoção nos capacita a ser guiados pelo Espírito Santo. Sendo assim, o termo Abba nos lembra de que Deus Se importa conosco, nos sustenta e é digno de confiança. E, se somos Seus filhos, temos uma herança eterna. ]


RETRATOS Adventistas, governantes e lĂ­deres comunitĂĄrios se reuniram em Tatalea, no Egito, para reinaugurar o segundo templo adventista mais antigo do paĂ­s, que foi recentemente reformado Fotografia: Samuel Britton

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Peçam e receberão


LIBERDADE RELIGIOSA

Denmark Valmores (à esq.): sua fidelidade à guarda do sábado se tornou um exemplo de fé na sociedade filipina e um caso emblemático para os tribunais

DECISÃO HISTÓRICA

O estudante adventista de Medicina das Filipinas que obteve na mais alta corte do país o direito de realizar prestação alternativa EQUIPE DA DIVISÃO DO PACÍFICO SULASIÁTICO E ADVENTIST REVIEW

ão é apenas no Brasil que os estudantes que guardam o sábado enfrentam dificuldades para realizar provas e outras atividades acadêmicas em horário alternativo. À semelhança do que acontece aqui, muitos países também não têm leis federais específicas nessa área, o que dá margem para que as instituições de ensino interpretem de diferentes maneiras esse tipo de caso. Recentemente, o dilema de um estudante da Escola de Medicina da Universidade Estadual Mindanao foi parar na mais alta corte das Filipinas. Embora a Constituição do país garanta a liberdade religiosa e o arquipélago esteja entre os países com os menores índices de restrições governamentais ao direito de crença, Denmark

Foto: Southern Asia-Pacific Division News

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Valmores vinha enfrentando problemas para ter acesso à prestação de atividades em horários alternativos. O problema começou em 2014, quando algumas de suas aulas e exames foram transferidos para o sábado. Por perder uma das provas, o estudante adventista chegou a ser reprovado numa das matérias. Buscando uma solução pacífica, ele dialogou com professores e o diretor da Faculdade de Medicina, e fez vários pedidos formais à universidade solicitando a realização de um exame especial. Além disso, encaminhou seu certificado de membro da Igreja Adventista, assinado pelo diretor do departamento de Relações Públicas e Liberdade Religiosa da sede administrativa adventista local. Apesar de todas essas tentativas, o estudante não obteve resposta positiva. O passo seguinte foi buscar a assistência da Comissão de Educação Superior. Depois de analisar o caso, o órgão federal emitiu um parecer que foi encaminhado ao presidente da universidade. Por sua vez, ele repassou o documento para o diretor da Faculdade de Medicina e a um representante do corpo docente. Mesmo assim, não foi tomada nenhuma providência para solucionar o caso. Esse silêncio levou Denmark a buscar ajuda nos tribunais. Quatro anos depois de entrar com a ação judicial, o Supremo Tribunal Federal das Filipinas tomou decisão favorável ao estudante adventista, declarando que “as instituições educacionais estão obrigadas a salvaguardar a liberdade religiosa de seus alunos” e que, para isso, devem adequar suas atividades caso elas entrem em conflito com o direito de crença garantido pela Carta Magna. A decisão histórica, que repercutiu nacionalmente, gerou uma importante jurisprudência no arquipélago do Pacífico Sul. “O caso de Denmark Valmores provavelmente venha a ser discutido nas escolas de Direito. Como resultado, a próxima geração de advogados estará informada sobre o que é a guarda do sábado”, afirma Neil Abayon, advogado do estudante adventista. Ele também acredita que a decisão solidifica a identidade dos adventistas como um povo que observa o sábado como dia sagrado. ] 39


MISSÃO Em Vitória (ES), voluntários distribuíram frutas gratuitamente numa feira de produtos orgânicos e oraram com quem foi presenteado

Voluntários de todo o mundo dedicaram 24 horas para saciar a fome e a sede de milhares de pessoas. Mas a intenção é que o espírito do Global Youth Day não se limite a uma data MARCOS PASEGGI

uas das necessidades humanas mais básicas se tornaram a força motriz por trás de um dia sem precedentes de envolvimento da juventude adventista com a comunidade. Da Austrália à Argentina e da Índia à Islândia, um exército de voluntários distribuiu refeições e água potável, além de livros, abraços, orações e músicas nas ruas, orfanatos e asilos durante o Global Youth Day (Dia Mundial do Jovem), celebrado no sábado 17 de março.

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A data instituída em 2013 tem ganhado força a cada ano. Os números deste ano ainda não estavam disponíveis até o fechamento da edição. Mas na comparação entre 2013 e 2017 é possível perceber que houve um salto considerável no engajamento. Se no primeiro ano foram registrados 52 projetos em 78 cidades de 21 países, no ano passado foram 16,6 mil projetos em 412 cidades de 124 países. No entanto, a intenção da liderança da igreja é fazer com que o espírito do Global Youth Day não se limite a uma data. “Queremos que a GYD seja um estilo de vida, não um evento”, sublinha Pako Mokgwane, líder associado do Ministério Jovem na sede mundial adventista. Esse é o objetivo dos alunos do Instituto 40

Adventista Paranaense (IAP), localizado em Ivatuba (PR), que visitaram uma casa de recuperação de dependentes químicos e a Casa da Gestante de Maringá no dia 17 de março, mas pretendem continuar realizando diversas ações para impactar as comunidades ao redor da instituição. Neste ano, a maioria das ações não teve que ver com doação de sangue, embora também tenha incluído esse gesto de solidariedade. A principal ênfase foi a distribuição de alimento e água. Já na sexta-feira, centenas de jovens goianos se reuniram para fazer pães caseiros que foram entregues para pessoas carentes de Aparecida de Goiânia (GO). Em Gravataí (RS), o lanche foi acompanhado

MARCOS PASEGGI é correspondente da Adventist Review (com informações de Ariston Júnior, Ayanne Karoline, Carolina Félix, Elaine Oliveira, Monique dos Anjos e Willian Vieira)

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Foto: Tathiane Mendes

ALÉM DO PÃO E DA ÁGUA

do livro missionário. Na capital do Espírito Santo, a criatividade dos jovens adventistas chamou a atenção de quem passou pela feira de produtos orgânicos do bairro Jardim da Penha. Na “Barraca das Gentilezas”, eles distribuíram frutas gratuitamente para pessoas que se dispusessem a praticar ações de solidariedade e compaixão. Outras iniciativas também marcaram a data. Em Recife (PE), mais de 3 mil jovens distribuíram água de coco, garrafas de água mineral e rosas para mulheres no Parque Dona Lindu, no bairro de Boa Viagem. Já em Salvador (BA), o destaque foi a distribuição de sopa, mingau e pão em comunidades carentes. Moradores de Catu, na região metropolitana, igualmente foram surpreendidos com um desjejum preparado pelos voluntários. Houve ainda a distribuição de protetor solar e água em praias do litoral. Em outros lugares, os voluntários foram além. Por exemplo, no Zimbábue (África) eles ajudaram a melhorar as condições de saneamento básico de uma comunidade. Já no Sri Lanka, foram distribuídos purificadores de água. A proposta é que no próximo ano os esforços sejam direcionados para o ministério das prisões. A ideia é que eles “adotem” um detento. No entanto, diferentemente dos anos anteriores, eles serão desafiados a começar o trabalho no início do ano. Os líderes também esperam colocar uma ênfase mais forte na Semana de Oração Jovem, que nos últimos anos foi lançada no sábado do GYD. “Queremos encorajar pelo menos 100 mil igrejas locais a realizar a programação. Será um impulso evangelístico para que nossos esforços se tornem mais intencionais”, Mokgwane ressalta. ]


EVANGELISMO

A BÍBLIA PARA TODAS AS TRIBOS Sede da igreja no sul do Brasil produz estudos bíblicos segmentados a fim de contextualizar o evangelho para diferentes públicos JÉSSICA GUIDOLIN

razielle Arias é empresária, mas sua paixão nas horas vagas é o ciclismo. Moradora da cidade catarinense de Palhoça, há três anos ela se reúne com amigos duas a três vezes na semana para pedalar. Mas o que era hobby se tornou ministério. Depois de ter contato com um estudo bíblico específico para ciclistas, Grazielle passou a compartilhar o material por meio da internet. Sua primeira iniciativa foi postar uma foto do conteúdo em um aplicativo que ciclistas e

Foto: Divulgação

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corredores utilizam para registrar suas atividades físicas. Na postagem, ela sugeriu que aqueles que desejassem estudar a Bíblia de maneira diferente entrassem em contato com ela. Não muito confiante, Grazielle adquiriu apenas cinco unidades do estudo para enviar, caso alguém demonstrasse interesse. Para sua surpresa, em menos de 24 horas havia cem solicitações. Esse método já resultou em 460 estudos enviados para todo o Brasil e até para outros países. Como ela também compartilha o link da versão on-line do estudo, o número de pessoas que já foram alcançadas é bem maior. A empresária, que desenvolve com seus familiares um projeto de distribuição de literatura sobre duas rodas em ­regiões de difícil acesso, é uma das pessoas que estão fazendo uso do novo material produzido pela Igreja Adventista no Sul do Brasil com o objetivo de alcançar diferentes “tribos”. Com uma diagramação diferenciada, o conteúdo envolve o universo do interessado com a parte técnica e histórica, ao mesmo tempo que fala da Bíblia. Os estudos personalizados também foram usados pelos integrantes do AMM (Adventist Motorcycle Ministry) de Maringá (PR), que durante 12 semanas reuniram integrantes de outros motoclubes para estudar a Bíblia. “Os recursos visuais e a abordagem do estudo são sensacionais. Isso trouxe segurança na hora de apresentar nossa mensagem para eles”, avalia Rodrigo Beraldo, diretor do AMM na cidade paranaense. “Precisamos buscar a Deus, mas de uma forma que gostamos e não de maneira imposta. O estudo é excelente”, elogia Aramis Teixeira, neurocirugião que integra o AMM em Foz do Iguaçu (PR) e está estudando Além da versão a Bíblia com adventistas por meio do impressa, estão novo material. disponíveis na O pastor Mitchel Urbano, líder de internet os slides evangelismo da igreja no Sul do Brasil, dos temas de cada afirma que o objetivo principal da iniciaestudo bíblico tiva é alcançar as pessoas onde elas estão, falando a linguagem delas. “Chamamos isso de contextualização. Pegamos a mensagem do evangelho, sem esvaziar sua essência, e contextualizamos para o universo delas. Já temos estudos bíblicos para motociclistas, corredores, advogados, ciclistas, surfistas, médicos e profissionais de saúde”, explica. Para a produção dos materiais, Mitchel contou com parceiros preparados que estão inseridos em cada contexto. É o caso do pastor Clemente Ramos Júnior, autor da série para surfistas. Aproveitando suas horas vagas, ele surfa há 17 anos. O material tem chegado a diferentes locais do Sul do Brasil. Entretanto, não se limita a essa região. Para quem se interessar pelo conteúdo, é possível acessá-lo na internet por meio dos seguintes endereços: usb.adventistas.org ou evangelistasdeelite.com.br. ] JÉSSICA GUIDOLIN é jornalista e assessora de comunicação da sede da Igreja Adventista para o Sul do Brasil

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SAÚDE

DO OUTRO LADO DA TELA Apresentadores da TV Novo Tempo usam influência para incentivar estilo de vida saudável por meio de corrida de rua SUZAENY LIMA

na Terra foi uma adolescente que procurou fazer escolhas certas. Não foi fácil. Como qualquer outra pessoa que passa por essa fase da vida, ela também sofreu com a pressão de grupo. Foram as boas referências que a ajudaram a permanecer firme em seus propósitos. Uma das pessoas que a influenciaram positivamente foi Glauce Cunha, apresentadora da TV Novo Tempo. “A maneira de se expressar e as ideias que ela compartilhava me inspiraram muito, a ponto de eu trocar os desenhos animados pelo Caixa de Música”, relata a jovem que hoje tem 21 anos e cursa Medicina.

Foto: Laís Rios

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Há 13 anos à frente do programa, Glauce se emociona ao pensar no fato de que faz parte da vida dos telespectadores de maneira tão especial. “Quando eu era adolescente, também tive pessoas que foram referência para mim e sei o quanto isso é importante”, afirma. Encurtar a distância entre quem está em frente às câmeras e aqueles que estão do outro lado da tela foi a maneira que a Rede Novo Tempo de Comunicação encontrou de ampliar sua influência e demonstrar na prática os valores R e v i s t a A d ve n t i s t a // Abril 2018

que divulga. No dia 12 de março, a emissora adventista realizou a primeira edição da “NT Run”, corrida de rua que reuniu mais de 2 mil pessoas de várias regiões do Brasil em Jacareí (SP), cidade-sede da emissora adventista. Anderson Oliveira, Ellen Fonseca, Eilson Pereira e Águida Carvalho, de Divinópolis (MG), viajaram cerca de 500 quilômetros para participar da prova. Eles treinam juntos e participam de competições com o objetivo de divulgar a mensagem de saúde adventista.

Nesse tipo de evento, costumam distribuir frutas para os participantes, mostrando que, além da atividade física, a alimentação saudável é fundamental para se viver mais e melhor. “Quando vimos na TV que iria acontecer a primeira corrida da Novo Tempo, pensamos na mesma hora: ‘temos que ir’”, conta Ellen. Para Célia Grace, organizadora do evento e gerente de marketing da Novo Tempo, o evento alcançou bons resultados. “Não imaginava colocar tanta gente na rua. O clima de alegria era contagiante”, avalia. Os primeiros colocados receberam troféus e todos os que completaram o percurso de três ou seis quilômetros ganharam medalhas. Além disso, a “NT Run” também ofereceu aos atletas um cuidado especial, com massagem para relaxamento muscular ao fim do percurso. Antônio Tostes, diretor da Rede Novo Tempo, acredita que a corrida foi uma forma de se aproximar do público e da comunidade. “Nós pregamos sobre ter boa saúde e precisamos colocar em prática esses princípios. Os cantores e apresentadores da Novo Tempo são as pessoas mais próximas da comunidade. Então eles participam, tiram fotos, dão abraços e isso é um grande incentivo não só para os participantes da corrida em geral, mas especialmente para nós”, conclui. ] SUZAENY LIMA é jornalista e apresentadora do programa televisivo Revista Novo Tempo

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MEMÓRIA

Daniel Gassul, aos 91 anos, em Olímpia (SP). A vida dele se confunde com a história do adventismo em Peruíbe (SP), onde serviu como ancião por mais de 40 anos, vindo assim a influenciar gerações de adventistas. Nos últimos anos vivia em Olímpia, onde procurou evangelizar pessoas num dos parques aquáticos mais visitados do Brasil: Thermas dos Laranjais. Viúvo, deixa filha, netos e bisnetos. David Schimidt Batista, aos 83 anos, em Curitiba (PR), vítima de leucemia mieloide aguda. Sempre muito ativo nas igrejas em que passou, serviu como ancião, diretor de congregações e tesoureiro. Foi membro das Igrejas Central de Curitiba e de Vista Alegre, e ajudou a fundar as Igrejas do Portão e de Vila Aurora, ambas também na capital paranaense; e a Igreja da BR 277, em Morretes (PR). Viveu para Deus e sua família. Viúvo, deixa três filhos, seis netos e uma bisneta. Edson Nogueira da Paixão, aos 51 anos, em Campo Grande (MS), vítima de choque séptico. Batizado em 2000, trabalhou com dedicação no Clube de Aventureiros e Desbravadores como diretor e instrutor de várias agremiações na capital mato-grossense. Deixa a esposa, Elaine, com quem foi casado por 16 anos.

Faustino Nunes da Silva, aos 84 anos, vítima de AVC. Batizado havia 37 anos, trabalhou por 15 anos no Unasp, campus Engenheiro Coelho (SP). Na década de 1980, ajudou na fundação da Igreja do Jardim São Marcos, em Campinas (SP). Depois de aposentado, frequentou a Igreja do Parque dos Trabalhadores, em Artur Nogueira (SP), comunidade à qual serviu como professor da Escola Sabatina. Deixa a esposa, filhos, netos e bisnetos. Francisco Pereira de Almeida, aos 88 anos, vítima de pneumonia. Nascido na Bahia, foi carinhosamente apelidado de Jabuti. Batizado havia mais de 60 anos, trabalhou como colportor e fundou igrejas em seu estado natal. Nos últimos anos, ajudou a evangelizar a cidade de Alta Floresta (MT), onde morava. Deixa a esposa, seis filhos, 15 netos e quatro bisnetos. Israel Victor Kauffman, aos 19 anos, vítima de mal súbito. Nascido num lar pastoral adventista, serviu como desbravador e voluntário no projeto Missão Calebe. Deixa os pais e duas irmãs. Ivo Aguiar, aos 74 anos, em São Caetano do Sul (SP), vítima de câncer no intestino. Nascido num lar adventista, ele se dedicou à liderança do ministério da Escola Sabatina. Destacou-se também

pelo compromisso com sua família, especialmente no cuidado com a sogra, que esteve acamada por 17 anos. Joel Joaquim de Souza, aos 52 anos, em Engenheiro Coelho (SP), vítima de traumatismo crânio-encefálico por causa de uma queda. Era natural do Rio de Janeiro e abraçou a fé adventista na infância. Destacou-se desde a juventude como dedicado líder de igreja. Trabalhava ultimamente como diácono na Igreja do Unasp, campus São Paulo. Deixa a esposa e um filho. José Luiz dos Santos, aos 79 anos. Batizado havia 26 anos, era membro da Igreja Central de Januária (MG). Serviu como diácono até seu penúltimo sábado de vida. Deixa a esposa e um filho. Luiz Carlos Franco Matiazi, vítima de câncer de próstata. Era ancião da Igreja de Manoel Ribas (PR) e o único adventista da família. Deixa dois filhos. Maria Emília Lopes Pimenta, aos 74 anos, em Manaus (AM), vítima de falência de múltiplos órgãos. Batizada havia 65 anos,

deixa duas filhas, cinco netos e seis bisnetos. Maria Rodrigues, aos 87 anos, vítima de falência de múltiplos órgãos. Era membro da Igreja de Jardim Iguaçu, em Maringá (PR). Pioneira adventista em sua família e membro fiel por mais de 70 anos, sofreu perseguições e provas junto de seu esposo, Severino. O casal ajudou a construir igrejas e a evangelizar pessoas em vários estados do país. Matriarca amada, deixa nove filhos, 35 netos e 26 bisnetos. Silvanira Teixeira da Silva Passos, aos 85 anos, vítima de câncer de mama. Batizada havia 40 anos, foi a primeira adventista de sua família. Era membro da Igreja de Vicente de Carvalho, no Guarujá (SP). Destacou-se por servir no diaconato feminino e na assistência social da igreja. Viúva, não deixa filhos biológicos, mas vários afilhados do coração. Vinícius Mendonça Modro, aos 17 anos, em Conchal (SP). Deixa pai, mãe e dois irmãos. Young Bae Ji, aos 45 anos, em São Paulo (SP), vítima de febre amarela. Era pastor da Comunidade Coreana Bom Retiro-Newstart. Deixa a esposa e duas filhas.

“ B E M - AV E N T U R A D O S O S M O R T O S Q U E , D E S D E A G O R A , M O R R E M N O S E N H O R ” R e v i s t a A d ve n t i s t a // Abril 2018

(APOCALIPSE 14:13)

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EM FAMÍLIA

O DESAFIO DA CONVIVÊNCIA

VIVER EM COMUNIDADE NÃO É FÁCIL. PORÉM, CADA UM CONTRIBUI PARA A SAÚDE OU ADOECIMENTO DO GRUPO TALITA CASTELÃO

T

NEM SEMPRE É FÁCIL CONVIVER COM GENTE, MAS É COM GENTE QUE TEMOS QUE CONVIVER

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Sendo totalmente verdadeiro, você cuida das pessoas ou seus objetivos são mais importantes? Suas palavras ajudam a construir ou destruir? Você gostaria de ser tratado com a mesma medida de misericórdia com que lida com os demais? Numa reunião em que você não está presente, o que acha que as pessoas falam a seu respeito? Se você fosse outra pessoa, gostaria de conviver com alguém como você? O que sua família nuclear sente por você? E a família maior, a igreja? Nem sempre somos o que deveríamos ser. Por vezes fazemos coisas das quais não nos orgulhamos. Porém, não devemos nos conformar com isso, achando que os relacionamentos são sempre inseguros e que na vida impera a lógica do “salve-se quem puder”. Esse não é o certo e nunca será. Talvez seja o momento de acreditar que é possível construir uma nova realidade. Importar-se com as pessoas traz um sentimento grandioso de paz interior. Percebemos que estamos dando certo na vida e isso gera bem-estar. Por isso, vamos, aos poucos, nos humanizando e cuidando uns dos outros, como tem que ser em toda família. ] TALITA CASTELÃO é psicóloga clínica, sexóloga e doutora em Ciências

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oda família faz parte de uma família maior. E essa comunidade mais ampla também precisa ser cuidada, apoiada e nutrida. Caso contrário, seus integrantes adoecem ou até morrem. Não a morte morrida, mas a morte matada, não esquecida e que dilacera a alma. Nem sempre é fácil conviver com gente, mas é com gente que temos que conviver. Já vi um adesivo de carro que dizia algo mais ou menos assim: “Quanto mais conheço as pessoas, mais gosto do meu cachorro.” Também gosto de cachorro, mas ainda prefiro gente. Apesar disso, entendo a frase do adesivo. Tem gente com pedigree humano da mais alta qualidade, que acolhe, perdoa, compreende e não faz “cachorrada”, no sentido figurativo da palavra. Outros, por sua vez, vivem mordendo e rosnando, às vezes até atacando como um cão bravo. Tem gente que é pior: não ladra, mas morde bem dolorido. Na vida em comunidade, não podemos ignorar que as pessoas são prioridade. Então, por que será que descuidamos disso às vezes? Pode algum objetivo, ainda que nobre, justificar alguma atitude fria e sem consideração por alguém? Claro que não! Viver em comunidade é um desafio diário. E cada um de nós contribui para a saúde ou adoecimento dela. Pensando sobre essa responsabilidade, você pode dizer com tranquilidade que faz seu melhor? Que não trata as pessoas como coisas, sendo cruel, maledicente e vingativo? É muito triste perceber que também ferimos e machucamos, mas a reflexão honesta pode mudar todo esse cenário, até porque posso romper com um ciclo nocivo. Se semeio ventos, colho tempestade, nunca bonança.


INSTITUCIONAL

O CHAMADO AO SACERDÓCIO

DESDE OS TEMPOS BÍBLICOS, DEUS DESEJA QUE SEU POVO VIVA À ALTURA DE SUA NOBRE VOCAÇÃO EVERON DONATO

Foto: LightStock

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eus sempre viu Seu povo como u ma nação de sacerdotes (Êx 19:6). De acordo com o Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, esse chamado divino era um convite para viver a alta vocação de servir ao Senhor por meio da oração, louvor e sacrifícios. No contexto de rebelião contra Deus, isso significaria ser uma ponte entre Deus e o mundo caído, atuando como instrutores, pregadores e profetas: expoentes da verdadeira religião (v. 1, p. 638). Contudo, por causa da dureza de coração do povo de Deus, o ministério sacerdotal ficou limitado temporariamente aos levitas (Êx 28:1; 32:26). A validade desse sistema sacerdotal judaico perdurou até a primeira vinda de Jesus à Terra, quando foi sacrificado o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1:29). A partir desse sacrifício, todos os que aceitam Cristo como Senhor e Salvador recebem o privilégio de atuar como sacerdotes diante Dele (1Pe 2:5 e 9; Ap 1:5, 6; 5:9 e 10). A maior parte da igreja no período apostólico entendeu isso e viveu de acordo com sua vocação (At 2:42-47). Assim como os sacerdotes do Antigo Testamento foram designados, entre outros motivos, para ensinar os estatutos de Deus (Lv 10:11), abençoar as pessoas (Nm 6:23-27) e oferecer sacrifícios (Lv 17-18), os cristãos agora são chamados a oferecer “sacrifícios espirituais”, como ações de graças e louvores (1Pe 2:5; Rm 12:1), fazer o bem e compartilhar bênçãos com a humanidade (Hb 13:15 e 16). Dessa maneira R e v i s t a A d ve n t i s t a // Abril 2018

A VOCAÇÃO SACERDOTAL IMPLICA LOUVAR E OBEDECER A DEUS, BEM COMO TESTEMUNHAR AO PRÓXIMO

a igreja se faz a continuidade do Israel de Deus (Bíblia de Estudo Andrews, p. 1619). O problema é que, até o século 16, em grande medida essa visão do sarcerdócio universal de todos os crentes foi ofuscada e distorcida. Foi a ênfase de Martinho Lutero de que todo cristão era sacerdote de alguém e que todos eram sacerdotes uns dos outros que ajudou a romper a divisão tradicional entre clero e leigos. Essa nova postura, apesar de posteriormente ter alimentado também o individualismo e o senso de independência da cultura protestante, visava ao companherismo mútuo. Num seminário ministrado em 2005, o teólogo adventista R ­ ussell Burrill procurou sintetizar a posição de Lutero quanto a esse tema:

(1) por meio do batismo e da fé, todos os cristãos têm a mesma posição e acesso diante de Deus; (2) não há outro mediador entre nós e Deus senão Cristo; (3) cada cristão assume o ofício de sacrifício, ou seja, dedica-se a louvar e obedecer a Deus, bem como a testemunhar de sua fé ao próximo. Não sem razão, no século 19 Ellen G. White passou a ecoar esse princípio bíblico e protestante. Ela ressaltou ser um erro fatal pensar que a participação na missão seja uma atribuição somente do pastor ordenado (O Desejado de Todas as Nações, p. 822). Acrescentou que o engajamento pessoal de cada discípulo é fundamental para seu próprio crescimento espiritual (p. 141). Por isso, a maior contribuição que o ministério remunerado pode dar para a igreja é capacitar os membros para o trabalho (Serviço Cristão, p. 58). Desse despertamento espiritual depende a conclusão da pregação global do evangelho. É por isso que a letargia missionária justificada por todo tipo de desculpas tem atrasado a volta de Jesus. É hora de aceitar que todo discípulo é sacerdote e todo sacerdote está envolvido na missão. ] EVERON DONATO é o líder do departamento de Ministério Pessoal da sede sul-americana da Igreja Adventista

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PERFIL

O EVANGELISTA DAS MULTIDÕES

BILLY GRAHAM FALOU DE CRISTO PARA MAIS PESSOAS E EM MAIS LUGARES DO QUE QUALQUER OUTRO PREGADOR NA HISTÓRIA FERNANDO DIAS

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todas as noites, até que, durante um sermão sobre Romanos 5:8, o pastor Ham fez o apelo para que os ouvintes se entregassem a Cristo indo à frente. Enquanto o coral cantava “Tal Qual Estou”, Billy se levantou e se juntou às mais de 300 pessoas que se dirigiam para o meio da tenda. Sem saber muito sobre como ter uma vida cristã, ele se converteu em novembro de 1934, aos 16 anos. Um inusitado interesse pelo estudo o levou para o Instituto Bíblico da Flórida, em Tampa. O sotaque de interiorano sulista e a formação escolar fraca não ajudavam a tornar o jovem seminarista um bom pregador. Ele tinha preparado e memorizado seus primeiros quatro sermões quando um de seus professores o escolheu para pregar em uma igreja próxima. Em sua primeira vez ao púlpito, Billy Graham gastou todo o conteúdo dos quatro sermões em apenas oito minutos. Parecia

PESSOAL EM LARGA ESCALA Entre 1947 e 2010, Billy Graham realizou 417 cruzadas evangelísticas em tendas, estádios, parques ou na rua. O público somado de R e v i s t a A d ve n t i s t a // Abril 2018

Foto: Greg Schneider

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queles fanáticos convenceram papai a fazer cultos aqui na fazenda”, o jovem Billy resmungou ao perceber o despertar religioso do pai. Aos 15 anos, o filho mais velho de Morrow e William Franklin Graham estava mais interessado em namorar, e às vezes com mais de uma moça ao mesmo tempo. Na escola ele estudava pouco e brigava muito. Não havia espaço para religião na vida de William Franklin Graham Jr., nascido em Charlotte, Carolina do Norte, em 7 de novembro de 1918. Parecia pouco provável que o rapaz tivesse algum futuro na vida além de continuar cuidando de gado. Quando o evangelista Mordechai Ham armou uma tenda de circo em Charlotte e iniciou uma série de pregações evangelísticas, o fato só atraiu a atenção de Billy porque ele soube que um grupo de arruaceiros planejava agredir o pregador. Albert McMakin, funcionário da fazenda, desafiou o amigo: “Por que você não vai lá para ouvir o pregador boxeador?” “Ele é boxeador?”, interessou-se Billy, que não queria perder a oportunidade de ver uma briga. O evangelista não era boxeador, mas falava com convicção contra o pecado e apelava para uma entrega a Cristo. Algo na mensagem compeliu o jovem Billy a ir à tenda

que o jovem não teria futuro como orador. Mas, em pouco tempo, ele estava pregando nas ruas para um público considerável. Em 1941, após ­graduar-se, trocou a calorenta Flórida pelo gelado Illinois a fim de obter um bacharelado reconhecido no ­Wheaton College. Lá ele conheceu Ruth Bell, filha de médicosmissionários que haviam trabalhado na China. Ruth e Billy foram casados entre 1943 e 2007, quando ela faleceu. Depois da graduação e do casamento, Graham assumiu o pastorado de uma igreja na região de Chicago. Mas ele não se contentava em pregar apenas para a congregação local. Logo arrecadou dinheiro, comprou um programa de rádio e formou uma parceria com o cantor George Bervely Shea, que o acompanhou por 69 anos. Graham pregava tanto fora que teve que renunciar ao pastorado de sua igreja para se dedicar ao evangelismo público.


Foto: billygraham.org

BILLY GRAHAM NÃO CONSIDERAVA SEU MODELO UM “EVANGELISMO EM MASSA”, MAS EVANGELISMO PESSOAL EM LARGA ESCALA

todos esses encontros foi de aproximadamente 210 milhões de pessoas. Tendo pregado em 185 países, Graham foi um dos poucos evangelistas a falar em lugares hostis ao cristianismo, como a Coreia do Norte, China, Israel e nas antigas Alemanha Oriental e União Soviética. Antes de ir a uma cidade, sua equipe trabalhava para que os membros das igrejas locais convidassem amigos não cristãos para o evento. Após a pregação, que sempre focalizava Cristo como a solução para os problemas da vida, um coral ou solista cantava uma música de entrega. Enquanto Graham convidava as pessoas a irem à frente e se decidirem por Cristo, conselheiros cristãos se aproximavam dos novos convertidos e os orientavam a fazer uma oração de entrega a Deus. Enquanto tudo isso acontecia, pessoas intercediam para que o Espírito Santo atuasse. Ele não considerava seu modelo um “evangelismo em massa”, mas evangelismo pessoal em larga escala. CONSELHEIRO ESPIRITUAL Além das cruzadas evangelísticas, Graham escreveu 33 livros, entre eles A Segunda Vinda de Cristo, e foi orador de programas de rádio e televisão. Em 1951 iniciou a World Wide ­Pictures, produtora pioneira de filmes cristãos. Mesmo sendo uma referência em evangelismo público, Graham nunca deixou de ser uma testemunha pessoal eficaz de Cristo, aproveitando inclusive oportunidades para falar sobre espiritualidade com grandes autoridades. Uma vez, em Londres, Graham se encontrou com o primeiro-ministro Winston Churchill. “Sou um homem sem esperança”, confessou Churchill. Imediatamente Graham começou a falar sobre a segunda vinda de Cristo e orou para que Churchill tivesse esperança em Jesus. Em outra ocasião, ao pressentir que o general Dwight Eisenhower poderia se tornar o próximo presidente dos Estados Unidos, Graham o procurou para conversar com ele sobre Deus. As conversas resultaram na conversão de ­Eisenhower, que na presidência instituiu o Desjejum Nacional de Oração, oportunidade anual de um culto público com o alto escalão do governo. Graham foi o orador que mais vezes pregou nesses encontros e tornou-se conselheiro espiritual de todos os presidentes norteamericanos desde então. CONTATO COM OS ADVENTISTAS Billy Graham, que era batista, faleceu em 21 de fevereiro de 2018, aos 99 anos. Fez vários amigos

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adventistas durante a vida, sendo que alguns ajudaram seu ministério. O evangelista E. E. ­Cleveland colaborou com Graham na luta contra a discriminação racial e foi conhecido como “o Billy Graham negro”. Na Biblioteca da Universidade de Loma Linda há parte da correspondência trocada entre Graham e H. M. S. Richards, orador do ministério A Voz da Profecia. O teólogo adventista Loren Dickson sistematizou numa dissertação o método evangelístico de Graham, que evangelistas adventistas como Mark Finley e Alejandro Bullón reproduziram com sucesso. Rajmond Drabowski, comunicador adventista, serviu como motorista de Graham durante uma campanha na Polônia, e os pastores adventistas Walter Arties e Wintley ­Phipps cantaram durante os apelos de Graham. Mark A. Kellner, jornalista adventista e colunista de grandes jornais norte-americanos, atribui sua conversão do judaísmo para o cristianismo a uma pregação de Graham na televisão. Segundo Alejandro Bullón, foi Billy Graham quem o fez ver que os adventistas, que faziam campanhas evangelísticas em tendas, podiam fazê-las em estádios. O empreendedorismo e exemplo de Graham mostram que uma pregação cristocêntrica, o evangelismo pessoal aliado a grandes eventos, histórias de conversão, programas de rádio e TV, livros e filmes cristãos são ferramentas eficazes para alcançar pessoas para Deus. ] FERNANDO DIAS é pastor e editor dos livros de Ellen G. White na CPB

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ESTANTE

DEUS NO COMANDO

CLÁSSICO SOBRE A HISTÓRIA DO MOVIMENTO ADVENTISTA GANHA NOVA EDIÇÃO ATUALIZADA JESSICA MANFRIM

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arc Bloch, historiador francês de origem judaica, dizia s e r p o s s ível t e r “uma experiência religiosa que nada deva à história”. Bastaria uma iluminação interior para crer em Deus. Mas isso não seria possível para crer no Deus dos cristãos: “O cristianismo é, por essência, uma religião histórica” (Apologia da História, p. 57 e 58). Bloch acertou. Contudo, além de histórico, o cristianismo é uma religião de “historiadores”, de gente que olha para os acontecimentos a fim de identificar a atuação de Deus ao longo do tempo. Foi o que fizeram, por exemplo, Estêvão (At 7:2-53), Paulo (At 22) e Lucas (Lc 1:1-4). Ellen G. White, pioneira e profetisa adventista, escreveu que identificar a liderança de Deus na trajetória de Sua igreja inspira confiança Nele e o progresso da missão (Eventos Finais, p. 72). Por reconhecer a importância da recapitulação histórica para a consolidação da fé de um movimento, a CPB está relançando um clássico da história do adventismo em língua portuguesa: A Mão de Deus ao Leme (CPB, 2018, 365 p.). Escrito pelo pastor Enoch de Oliveira e publicado originalmente em 1985, o livro é fruto dos estudos

O LIVRO FAZ UMA ANÁLISE CONTEXTUAL DO SURGIMENTO DO ADVENTISMO NO SÉCULO 19 E APONTA RAZÕES HISTÓRICAS E PROFÉTICAS PARA A CONSOLIDAÇÃO DO MOVIMENTO 50

de mestrado do seu autor na Universidade Andrews (EUA). Falecido em abril de 1992, o pastor Enoch foi um apreciado pregador e destacado líder da denominação, chegando a ser presidente da sede sul-americana da igreja e um dos vice-presidentes da sede mundial. A obra, agora em sua versão revisada, apresenta biografias e estatísticas atualizadas. O livro se propõe a fazer uma análise contextual do ambiente em que surgiu o adventismo no século 19, bem como apresentar algumas explicações históricas e proféticas para a origem e consolidação do movimento. Na primeira parte da obra, o autor mostra como a herança teológica da Reforma Protestante e a cultura de respeito à liberdade religiosa nos Estados Unidos criaram um contexto favorável para o surgimento do movimento milerita. O pastor Enoch também discorreu sobre a experiência do desapontamento em 1844, bem como sobre as crises e os períodos de crescimento da igreja ao longo de sua história. A segunda parte da obra é dedicada à biografia de cinco pioneiros do adventismo, enquanto a terceira seção destaca líderes do movimento que, apesar de terem dado grande contribuição, acabaram abandonando a fé adventista. Na quarta parte, por sua vez, o livro discorre a respeito da liderança dos presidentes mundiais da igreja, desde John Byington e Tiago White até Jan Paulsen e Ted W ­ ilson. Os dados desta seção foram atualizados pelo pastor e historiador Eugenio Di Dionisio.

TRECHO

“Em seu início, a igreja se resumia a um pequeno grupo de piedosos estudantes das profecias, sobreviventes do naufrágio milerita. (...) Entretanto, sob o poderoso impulso do Espírito Santo, aqueles homens e mulheres de fé transformaram um começo tímido e vacilante em um caudaloso movimento profético” (p. 11) O relançamento de A Mão de Deus ao Leme viabiliza o acesso das novas gerações da igreja a esse clássico do adventismo, cujo principal objetivo é mostrar que, por trás de datas, números, fatos e biografias, existe um Deus que está no comando da história e da igreja. ] JESSICA MANFRIM é revisora-assistente de livros na CPB

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*Promoção válida dos dias 2/4/18 a 20/5/2018

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“Seja seu primeiro objetivo tornar o lar aprazível.” Ellen G. White

(O Lar Adventista, p. 24)

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