AW Portuguese - May 2018

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M I S S Ã O E T E C N O L O G I A /// H I S T Ó R I A S D E C O N V E R S Ã O /// P Ú B L I C O M A I S A M P L O /// O B Ê B A D O E O E N D E M O N I N H A D O

Exemplar avulso: R$ 2,84 | Assinatura: R$ 34,00

MAIO 2018

SINTONIA COM DEUS

FATOR FÉ

EM MEIO A TANTOS RUÍDOS, ENCONTRE A FREQUÊNCIA CERTA

A TENDÊNCIA ATUAL DA PSICOLOGIA É PROCURAR ENTENDER O IMPACTO DA ESPIRITUALIDADE NA SAÚDE MENTAL


TERAPIA DIVINA DEUS PODE SER CONSIDERADO O MAIOR PSICÓLOGO DO UNIVERSO MARCOS DE BENEDICTO

Inicialmente vista com desconfiança pela religião, a psicologia cresceu com certo ar de rebeldia contra ela, mas hoje se aproxima da espiritualidade (outro nome da religião) como uma aliada. Sendo que a matéria de capa trata do crescente diálogo entre essas duas áreas e que vivemos na época das terapias, quero convidá-lo a ver Deus como um Psicólogo que pode tratar seus traumas de maneira eficaz. Mais do que uma figura de apego, Deus não é uma simples ferramenta psicológica; Ele é a fonte da cura. Nessa perspectiva, destaco sete aspectos sobre quem Deus é e o que Ele faz: Título: o Psicólogo dos psicólogos. Ainda no começo da Bíblia, Deus Se apresenta como o Médico que nos cura (Êx 15:26), título que poderia ser parafraseado como o Psicólogo que nos restaura. Além disso, o verbo grego sozo, usado cerca de cem vezes no Novo Testamento, significa tanto “salvar” quanto “curar”. A cura divina é integral. Capacitação: empatia infinita. Se Deus fosse indiferente, como ensinavam algumas correntes filosóficas e teológicas, então Ele não poderia sentir nem amar. Mas na Bíblia Deus é retratado como tendo emoções e sentimentos. O próprio Deus Se apresenta assim (Êx 34:6-7). Além disso, Jesus entende nossas fraquezas e pode Se compadecer de nós (Hb 4:15-16),

MAIS DO QUE UMA FIGURA DE APEGO, DEUS NÃO É UMA SIMPLES FERRAMENTA PSICOLÓGICA; ELE É A FONTE DA CURA

o que implica empatia. O melhor é que Deus tem uma capacidade infinita de esquadinhar nossa mente e nossa história (Sl 139:1-2). Só de olhar para nós Ele sabe o que sentimos. Equipe: dois assistentes. Deus trabalha em equipe e tem dois ajudantes altamente habilitados: Jesus e o Espírito Santo. Assim como o Pai é o “Deus de toda consolação” (2Co 1:3), ambos também recebem o título de “Consolador” (Jo 14:16, 26; 16:7). Jesus foi ungido para curar os corações partidos, consolar os tristes e libertar os oprimidos (Is 61:1-3; Lc 4:18). Atendimento: 24 horas. Deus está sempre disponível e nos incentiva a buscá-Lo de todo o coração (Jr 29:11-13). Ele não apenas espera você no “consultório”, mas envia o Espírito Santo para fazer terapia em sua casa. E você pode também contar com atendimento on-line gratuito o tempo todo. Linha terapêutica: psicologia positiva. Esquecendo os erros do passado (Mq 7:18-19; Hb 10:17), Deus aconselha você a concentrar-se no que é bom, positivo, verdadeiro, nobre, correto, puro, amável, excelente (Fp 4:8). Em outras palavras, coloque o foco na felicidade, e não na infelicidade. Especialidade: todos os traumas. Por exemplo, para reduzir a ansiedade, um dos problemas psicológicos mais comuns da atualidade, Jesus apresenta o cuidado amoroso de Deus (Mt 6:25-34). Sobre Ele podemos lançar todas as nossas preocupações (1Pe 5:7). Técnica favorita: diálogo. A oração é o meio de compartilharmos nossas inquietudes com Deus. Em Salmos, mais do que hinos, encontramos corações que se abriram ao grande Psicólogo da alma. Esses relatos (às vezes alegres, ora angustiados) retratam verdadeiras “terapias” no divã de Deus. A psicologia tem seu lugar e pode ser efetiva. Mas, como sugere esta miniteoria, Deus é o maior de todos os psicólogos. ] MARCOS DE BENEDICTO é editor da Revista Adventista

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R e v i s t a A d ve n t i s t a // Maio 2018

Foto: Lightstock

EDITORIAL


Mai. 2018

No 1333

Maio 2018

Ano 113

www.revistaadventista.com.br

Pu­bli­ca­ção Men­sal – ISSN 1981-1462

SUMÁRIO

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E­di­to­res As­so­cia­dos: Márcio Tonetti e Wendel Lima

Mente e espírito A psicologia está descobrindo o papel da religião na saúde emocional

Mudança de vida

Paraíso 2.0

Conselho Consultivo: Ted Wilson, Erton Köhler, Edward Heidinger Zevallos, Marlon Lopes, Alijofran Brandão, Domingos José de Souza, Geovani Souto Queiroz, Gilmar Zahn, Leonino Santiago, Marlinton Lopes, Maurício Lima e Moisés Moacir da Silva

Órgão Ge­ral da Igre­ja Ad­ven­tis­ta do Sé­ti­mo Dia no Bra­sil “Aqui está a pa­ciên­cia dos san­tos: Aqui es­tão os que guar­dam os man­da­men­tos de Deus e a fé de Je­sus.” Apocalipse 14:12 E­di­tor: Marcos De Benedicto

Projeto Gráfico: Eduardo Olszewski Ilustração da Capa: Fotolia

Adventist World é uma publicação internacional produzida pela sede mundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia e impressa mensalmente na África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Áustria, Brasil, Coreia do Sul, Estados Unidos e México v. 14, no 5 Editor: Bill Knott Editores associados: Lael Caesar, Gerald Klingbeil, Greg Scott Editores-assistentes: Sandra Blackmer, Stephen Chavez, Costin Jordache, Wilona Karimabadi (Silver Spirng, EUA); Pyung Duk Chun, Jae Man Park, Hyo-Jun Kim (Seul, Coreia do Sul) Tradutora: Sonete Costa Arte e Design: Types & Symbols Gerente Financeiro: Kimberly Brown Gerente Internacional de Publicação: Pyung Duk Chun Gerente de Operações: Merle Poirier

Conheça seis jornadas de fé contadas a partir de várias regiões do mundo

Ao longo da história, a humanidade tem sonhado com uma sociedade justa

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Apoio inesperado

Imunoterapia espiritual

Duelo com o diabo

Os escritos de Ellen G. White já foram publicados por editoras não adventistas

A guarda do sábado e nosso consumo de entretenimento

Culto em que um bêbado libertou um endemoninhado

Conselheiros: Mark A. Finley, John M. Fowler, E. Edward Zinke Comissão Administrativa: Si Young Kim, Bill Knott, Pyung Duk Chun, Karnik Doukmetzian, Suk Hee Han, Yutaka Inada, German Lust, Ray Wahlen, Juan Prestol-Puesán, G. T. Ng, Ted N. C. Wilson

CA­SA PU­BLI­C A­DO­R A BRA­SI­LEI­R A Edi­to­ra da Igreja Adventista do Sétimo Dia

Ro­do­via Es­ta­dual SP 127 – km 106 Cai­xa Pos­tal 34; CEP 18270-970 – Ta­tuí, SP Fone (15) 3205-8800 – Fax (15) 3205-8900

2 EDITORIAL

36 NOVA GERAÇÃO

43 IGREJA

SERVIÇO DE ATENDIMENTO AO CLIENTE LIGUE GRÁTIS: 0800 9790606 Segunda a quinta, das 8h às 20h Sexta, das 8h às 15h45 / Domingo, das 8h30 às 14h

4 CANAL ABERTO

37 PRIMEIROS PASSOS

44 LITERATURA

Diretor-Ge­ral: José Carlos de Lima

5 BÚSSOLA

38 PERSPECTIVA

45 MISSÃO

39 BEM-ESTAR

47 MEMÓRIA

40 BOA PERGUNTA

49 EM FAMÍLIA

28 VIDA ADVENTISTA

41 RETRATOS

50 ESTANTE

34 VISÃO GLOBAL

42 CULTURA

Terapia divina

A opinião de quem lê

Diretor Financeiro: Uilson Garcia

Paz verdadeira

Re­da­tor-Che­fe: Marcos De Benedicto

6 ENTREVISTA

Ge­ren­te de Produção: Reisner Martins Ge­ren­te de Ven­das: João Vicente Pereyra

Vanguarda tecnológica

Chefe de Arte: Marcelo de Souza

8 PAINEL

Não se devolvem originais, mesmo não publicados. As versões bíblicas usadas são a Nova Almeida Atualizada e a Nova Versão Internacional, salvo outra indicação. E­xem­plar avul­so: R$ 2,84 | Assinatura: R$ 34,00

Antes perdido, agora achado

Nú­me­ros atra­sa­dos: Pre­ço da úl­ti­ma edi­ção. Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem prévia autorização escrita do autor e da Editora.

Tiragem: 157.000

Datas, números, fatos, gente, internacional

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Unidade e autoridade da igreja – parte 2

A quinta porta

Rápido e para lugar nenhum Cuidado da família Hábitos e emoções Fonte da piedade

Ajuda após a tempestade

Líderes capacitados Maná renovado

Ponto de encontro

Dormiram no Senhor Depressão pós-parto

Largura e profundidade

Costumes em debate

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CANAL ABERTO O EVANGELISTA DAS MULTIDÕES

A MULHER NOS TEMPOS DA BÍBLIA

Fiquei feliz em ler o perfil do pastor Billy Graham na revista de abril. Cresci em um lar batista e senti a influência desse pastor na minha família. Quando ele esteve no Brasil, na década de 1970, pregando no Maracanã, fomos vê-lo. Foi um culto evangelístico e cristocêntrico maravilhoso. Muito justa a homenagem.

Ficou ótima a matéria de capa da edição de março, porque situou muito bem o papel da mulher no contexto bíblico. Parabéns aos editores por pautarem mais uma vez um tema contemporâneo! Como sugere o artigo, a Bíblia não é responsável nem pela violência machista contra a mulher nem pelos desequilíbrios da ala radical do feminismo. Na teologia que valoriza a literalidade de Gênesis e sua ­conexão com a criação da vida na Terra, não há nenhum indício de superioridade do homem em relação à mulher.

Magda Lessa / Via e-mail

Manuel Xavier de Lima / Engenheiro Coelho (SP)

LEGADO

Na edição de abril, o pastor Erton refletiu sobre a vida de Billy Graham e citou uma frase do filho do evangelista mostrando que o pregador era coerente em casa e na vida pública. Isso me chamou a atenção, porque me lembrou do que realmente importa na vida. No meu ministério tenho três prioridades: Deus, família e igreja. O fato é que, ao priorizar Deus no meu ministério, minha família e as igrejas que pastoreei foram abençoadas. Infelizmente, temos pessoas nas igrejas que ainda precisam entender qual é o verdadeiro legado. Adolfo Tito / São Paulo (SP)

MUDANÇAS NA REVISTA

Sou leitora da Revista Adventista há mais de 40 anos e sempre apreciei e divulguei a revista. Sou a favor de mudanças e inovações; porém, tenho percebido certo exagero em alguns aspectos: (1) excesso de propaganda e páginas com muita ilustração, o que toma espaço de material edificante; (2) páginas com fundo escuro, o que dificulta a leitura de quem tem problemas visuais; (3) poucos autores nacionais; e (4) a adoção de um estilo mais jornalístico. É preciso resgatar o propósito da revista: publicar mais artigos doutrinários, sobre profecias, missão e estilo de vida adventista. Noemi Pinheiro / Maringá (PR)

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Desde minha infância, a Revista Adventista tem sido presença marcante em meu lar. Tenho acompanhado suas mudanças há meio século. Porém, acho que as alterações mais recentes deixaram uma lacuna. Falo de seções como Boa Pergunta e BemEstar. Eram espaços importantes de esclarecimentos de dúvidas quanto à Bíblia e ao cuidado com a saúde. Estamos no tempo do fim, e não podemos perecer por falta de conhecimento. Lenita Souza / Via e-mail

A unificação dos periódicos foi um pedido da liderança da igreja, com o objetivo de alcançar um público maior. É difícil agradar a todos, mas a equipe está se esforçando para isso. Ainda estamos em fase de ajustes, e os comentários são úteis para a gente aperfeiçoar a revista e entregar aos leitores um produto de qualidade e que represente bênçãos espirituais. Com relação ao estilo dos textos, cremos que a linguagem jornalística ajudou no crescimento da tiragem. Porém, os que preferem artigos terão mais matérias nessa linha agora. Nas próximas edições, procuraremos equacionar melhor o conteúdo nacional e o internacional. Ao mesmo tempo, contamos com a ajuda imprescindível dos líderes das Associações e igrejas para que a revista chegue rapidamente aos leitores.

O PAPEL DA LEI

Veio em boa hora a resenha do livro Sem Lei Não Tem Graça, na edição de março. Os seres humanos tendem a se esquecer de que, antes que Deus registrasse Sua lei moral na Bíblia, tudo na natureza já era regido por leis que visavam à harmonia. Se assim não fosse, o Universo seria um caos e não poderia existir. José Somolinos Herrero / Itapemirim (ES)

APRENDA A OUVIR DEUS

A matéria de capa de fevereiro foi uma bênção. Na minha opinião é de extrema importância falar sobre o papel da disciplina no desenvolvimento da espiritualidade. Precisamos estar mais atentos para ouvir a voz de Deus. Wiris Siqueirao / Japoatã (SE)

CORREÇÃO

Na nota sobre a inauguração do novo auditório da CPB, na edição de abril (p. 9), ao contrário do que foi informado, um dos batizados não é funcionário da editora, e sim prestador de serviço. Expresse sua opinião. Escreva para ra@cpb.com.br. ou envie sua carta para Revista Adventista, caixa postal 34, CEP 18270-970, Tatuí, SP.

Os comentários publicados não representam necessariamente o pensamento da revista e podem ser editados por questão de clareza ou espaço.

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BÚSSOLA

PAZ VERDADEIRA

NESTE MUNDO EM PERMANENTE CONFLITO, É NOSSO DEVER BUSCAR, RECEBER E COMPARTILHAR A PAZ QUE SÓ CRISTO PODE DAR ERTON KÖHLER

screvo estas palavras ainda impactado pelas imagens do terror. Apesar de já estar profetizado, é difícil ver o aumento da intolerância, a violência perdendo o controle e a opressão do politicamente correto aterrorizando pessoas e tirando a liberdade de crer e defender nossa fé. As cenas do possível uso de armas químicas na Síria ainda são muito fortes em minha mente. São homens, mulheres, crianças e idosos tentando respirar, em meio aos escombros, enquanto outros tentam ajudar, abanando e jogando água. Um completo desespero! Pior ainda é ver outros países tentando resolver a guerra com mais guerra. A Síria é o país mais perigoso do mundo, segundo o Global Peace Index (Índice de Paz Global). Esse anuário, coordenado pela revista inglesa The Economist, mede o nível de paz, bem como a realidade dos conflitos domésticos e internacionais em andamento, a proteção e a segurança da sociedade e o grau de militarização em 163 países e territórios. Porém, mesmo a Islândia, considerada a nação mais pacífica do mundo pelo Index, não desfruta de completa e permanente paz.

Foto: Lightstock

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NÃO HAVERÁ PAZ VERDADEIRA ENQUANTO AS PESSOAS LUTAREM PELAS CONQUISTAS EXTERIORES QUE NÃO COMECEM COM A TRANSFORMAÇÃO INTERIOR Há apenas uma fonte de paz verdadeira: a que foi garantida por Jesus (Jo 14:27). Nenhum índice pode medir esse tipo de paz, porque ela não está ligada à ausência de problemas, mas à presença de Cristo. Afinal, Ele não disse que o mundo ficaria sem doenças, guerras, crises familiares, econômicas ou morais; apenas garantiu uma paz que enfrenta qualquer desafio com esperança. “Não há outra base de paz senão essa. A graça de Cristo recebida no coração subjuga a inimizade;

afasta a contenda e enche de amor o coração. Aquele que se acha em paz com Deus e seus semelhantes não se pode tornar infeliz”, descreve Ellen White. “O coração que se encontra em harmonia com Deus compartilha da paz do Céu, e difunde ao redor de si sua bendita influência” (O Maior Discurso de Cristo, p. 28). Jesus também lembrou que são “bem-aventurados os pacificadores” (Mt 5:9). Na mesma página, Ellen White completou: “Os seguidores de Cristo são enviados ao mundo com a mensagem de paz. Qualquer ser humano que, pela serena, inconsciente influência de uma vida santa, revela o amor de Cristo; qualquer ser humano que, por palavras ou ações, leva outro a abandonar o pecado e entregar o coração a Deus é um pacificador”. Isso não significa uso de armas nem conflitos de rua. Tem que ver com o cumprimento de nossa missão. Compartilhamos a paz por meio da Palavra de Deus, do testemunho pessoal e de uma vida exemplar. Por outro lado, não podemos nos esquecer de que nunca haverá paz verdadeira enquanto os homens lutarem pelas conquistas exteriores que não comecem com a transformação interior. Os ditadores podem ser derrubados, novos direitos podem ser conquistados e ideias podem ser impostas, mas o coração continuará dominado pelo pecado, e o mal ressurgirá de outra forma. Essa paz é ilusória e passageira. Diante de um mundo em permanente convulsão, em que os fatos e as notícias negativas se repetem todos os dias perto e longe de nós, precisamos buscar, receber e compartilhar a paz que só Cristo pode dar. ] ERTON KÖHLER é presidente da Igreja Adventista para a América do Sul

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ENTREVISTA

WENDEL LIMA

Juan Rafael Prestol-Puesán

Para o pastor dominicano Juan Rafael Prestol-Puesán, diretor financeiro da sede mundial adventista, a igreja na América do Sul não se destaca apenas em sua ousadia missionária, mas no investimento que faz em tecnologia. Prova disso é que esta entrevista foi concedida no Instituto Adventista de Tecnologia (Iatec), em Hortolândia (SP), única instituição do gênero na igreja. Nos dias 25 e 26 de março, Prestol participou de um encontro de líderes da área financeira (veja página 9). Nesta entrevista, ele fala de quanto é estratégico o uso da tecnologia para se comunicar com um campo missionário de 7,5 bilhões de pessoas.

TESOUREIRO DA SEDE MUNDIAL DA IGREJA FALA SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA AMÉRICA DO SUL NA EXPORTAÇÃO DE SOLUÇÕES DIGITAIS PARA A MISSÃO ADVENTISTA produtos, estabelecer parcerias e encontrar soluções.

Por que o senhor escolheu o ­Brasil para sediar esse encontro mundial? A igreja na América do Sul está na vanguarda em várias áreas, inclusive na tecnológica. Aqui os programas de folha de pagamento, contabilidade e de gestão de secretaria das congregações já funcionam bem e por isso têm sido exportados. Esta instituição, o Iatec, por exemplo, é única. Aqui 150 funcionários trabalham exclusivamente para servir à igreja na área tecnológica. Portanto, ao trazer os líderes para cá, esperamos abrir portas, apresentar 6

O trabalho colaborativo pode economizar tempo e dinheiro da igreja? Certamente! Desde 2002, quando eu era tesoureiro da sede norteamericana da igreja, já procurava fazer parcerias com a equipe da sede sul-americana, com o objetivo de compartilhar soluções tecnológicas. Eu acreditava que os recursos desenvolvidos para a igreja pudessem ser feitos já prevendo sua utilização global. Esses produtos embrionários hoje estão mais desenvolvidos e disponíveis sobre outra base técnica, porque a tecnologia mudou muito; porém, sua aplicação continua a mesma, pois a gestão da igreja é semelhante em qualquer parte do mundo. Portanto, nosso papel como líderes é administrar esse processo de mudança e adaptação. Como a igreja tem investido em tecnologia em outras regiões do globo? Nosso investimento depende das condições de infraestrutura tecnológica do país. Estamos vivendo a quarta revolução industrial, mas isso tem ocorrido com velocidade e intensidade distintas ao redor do

mundo. Onde a infraestrutura de internet é incipiente e cara, esse processo ocorre mais lentamente. Porém, a tendência mundial é criar mais redes de conexão. Estima-se que em pouco tempo cerca de 90% da população mundial de alguma forma tenha acesso à web. Quanto é estratégico o uso da tecnologia digital para a missão adventista? É vital. O que ocorre é que a tecnologia antes aplicada à guerra e à ciência, agora está sendo utilizada para o consumo. Isso está personalizando e individualizando o uso dessas tecnologias, especialmente nos centros urbanos, em que as pessoas vivem mais ocupadas. Por isso, precisamos entender melhor como chegar a essas pessoas para dizer-lhes que há esperança e que Jesus virá em breve. Creio que esses recursos façam parte dos planos de Deus para o desfecho da história humana de pecado. Por outro lado, não corremos o risco de colocar toda a nossa esperança na tecnologia? A tecnologia pode se tornar um deus. E a Bíblia é clara quando afirma que não devemos ter outros deuses a não ser o Senhor (Êx 20:3). Porém, para usarmos a tecnologia sem nos entregar a ela, nossos valores devem guiar essa utilização. ] WENDEL LIMA é editor associado da Revista Adventista

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Foto: Daniel Oliveira

VANGUARDA TECNOLÓGICA


C O M PA R T I L H E

SEGREDOS DO B E M - E S TA R E M O C I O N A L 26 E 27 DE MAIO

adventistas.org

adventistasbrasiloficial

adventistasbrasil

adventistasoficial

iasd


PAINEL F AT O S

ATENDIMENTO AOS ROMEIROS

A graça que você recebeu deve ser estendida a outros. Menos pedras e mais graça.

Bassey Udoh, presidente da União do Leste da Nigéria (ENUC), falando para mais de 15 mil adventistas reunidos por ocasião do lançamento oficial da campanha evangelística “Pentecostes 2018”

Colocando as diferenças e crenças de lado, voluntários adventistas ofereceram apoio aos milhares de participantes da maior festa católica do Espírito Santo. Além de distribuir mais de mil garrafas de água, eles entregaram 400 exemplares do livro O Poder da Esperança. Depois da festividade, o grupo ainda ajudou a fazer a limpeza das ruas. A ação se espelhou na iniciativa de jovens paulistas, que têm organizado feiras de saúde para atender romeiros que fazem longas peregrinações à Catedral de Aparecida, no interior do estado.

BENEFÍCIOS DO VEGETARIANISMO Proteínas animais aumentam em até 60% as chances de problemas cardiovasculares, enquanto as vegetais reduzem em até 40% esse tipo de doença. A pesquisa realizada pela Escola de Saúde Pública da Universidade de Loma Linda, analisou dados de 81 mil pessoas. A conclusão do estudo foi publicada em abril no International Journal of Epidemiology.

VISTA AOS CEGOS Voluntários do projeto “Eyes for India”, promovido pelo ministério It Is Written (Está Escrito), realizaram 1.672 cirurgias de catarata na remota vila florestal de Hardiakol, localizada no estado mais populoso do país. Os pacientes foram atendidos num templo hindu. Além de restaurar a visão, a equipe médica presenteou os pacientes com exemplares do livro Caminho a Cristo no idioma hindi e um livreto de saúde. 8

O grafite faz parte da paisagem de muitas cidades e começa a ser reconhecido como arte em alguns lugares. Por dominar essa forma de expressão, um pastor da Nova Zelândia decidiu criar o ministério dos grafiteiros. Tulaga Aiolupotea treina adolescentes e jovens que são fãs dessa técnica, mostrando como eles podem comunicar o evangelho na linguagem das ruas. Com isso, o pastor adventista já conseguiu transformar ex-pichadores em missionários e se aproximar de tribos urbanas que não seriam alcançadas de outra maneira. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Maio 2018

Fotos: Ayanne Karoline / Written News /Adventist Record

PREGANDO POR MEIO DA ARTE


EVENTOS

O L H A R D I G I TA L

SERIADO PARA ADOLESCENTES ENCONTRO INTERNACIONAL Gestores financeiros das treze grandes divisões territoriais da igreja ao redor do mundo se reuniram no Instituto Adventista de Tecnologia (Iatec), em Hortolândia (SP), nos dias 25 e 26 de março, para tratar de investimentos em tecnologia. O encontro serviu para, sobretudo, apresentar os produtos e soluções tecnológicas que têm sido desenvolvidas no Brasil e na Bolívia. O objetivo é exportar para outras regiões do globo a tecnologia desenvolvida aqui para a igreja brasileira e sul-americana. Tecnologia que pode facilitar e baratear os processos da denominação nas áreas de gestão de finanças, pessoas, educação, venda de literatura e administração da secretaria da igreja.

D ATA 26 DE MAIO

Pelo 11o ano, a campanha de distribuição de literatura levará milhares de adventistas às ruas para entregar o livro O Poder da Esperança. Apesar de a maior distribuição estar prevista para essa data, o material continuará sendo entregue ao longo do ano. No Brasil, a expectativa é a distribuição de 19 milhões de exemplares do livro missionário em 2018.

“A extrema direita e a extrema esquerda têm uma coisa em

Foto: Daniel Oliveira / divulgação

comum: elas estão unidas em criticar a igreja.”

Mark Finley, evangelista, durante reunião do Comitê Executivo na sede mundial, em Silver Spring, Maryland (EUA), no início de abril

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Lançada no início de abril, a nova série, intitulada -10 A Vida Não é Um Jogo, vai abordar a relação dos adolescentes com a tecnologia. Os dez episódios irão mostrar como a rotina de um grupo de adolescentes se transforma depois que um deles decide participar de um jogo on-line. Disponível no feliz7play.com, a produção foi feita pela Seven Filmes.

YOUTUBER ADVENTISTA Com mais de 41 mil inscritos no canal do YouTube, quase 170 mil seguidores no Facebook e outros milhares no Instagram, Murilo Ribeiro, de 26 anos, se tornou um influenciador das novas gerações na Argentina. Há três anos, quando ainda cursava a graduação em Design de Mídia Digital, ele se descobriu como youtuber e, desde então, tem usado a web para apresentar a visão bíblica a respeito de diversos temas que envolvem a vida dos jovens e adolescentes.

20.000

é o número estimado de batismos realizados no Haiti durante a campanha evangelística que movimentou o país caribenho no primeiro trimestre. No dia 7 de abril, mais de 15 mil pessoas compareceram ao estádio Sylvio Cator, em Porto Príncipe, para celebrar os resultados. 9


GENTE

BATISMO DE UMA CENTENÁRIA

“Mais importante do que a semente produzir frutos é o envolvimento pessoal do semeador. As estatísticas, ideias e os seminários só têm valor se cada membro se envolver diretamente na missão de sair para espalhar a semente da verdade.”

Erton Köhler, líder da igreja na América do Sul, no Twitter

BODAS DE CHUMBO (68 ANOS)

LEGADO ARQUEOLÓGICO

Fundador e editor da Archaeological Diggings, importante revista de arqueologia bíblica publicada na Austrália, o pastor David Down morreu no dia 16 de março, apenas três semanas antes de completar seu centésimo aniversário. Além de ter criado o periódico, em 1994, depois de se aposentar ele realizou conferências sobre arqueologia do Oriente Médio e Egito em vários lugares, inclusive na Ópera de Sydney.

BODAS DE OURO (50 ANOS) De Wilson Modro e Maria José Modro, em cerimônia realizada pelos pastores João Batista de Oliveira e William Soares da Silva, no dia 18 de fevereiro, na Igreja Adventista de Conchal (SP). Adventista de berço, Wilson é neto de João Modro, primeiro adventista da cidade do interior paulista. O casal tem três filhos e quatro netos.

Foto: Daniel Gonçalves / Adventist Record / Keila Trejo

Lorena Furtado de Marafigo aceitou a mensagem adventista e foi batizada aos 102 anos em cerimônia realizada na Igreja Central de São Joaquim, no dia 21 de março. Ela conheceu a mensagem adventista por meio de sua cuidadora e da TV Novo Tempo.

De Ruy Dutra Barreto e Marina Ribeiro Barreto, no mês de fevereiro, em cerimônia realizada pelos pastores Jaire Oliveira e Itaniel Silva em Brasília (DF). O casal, que frequenta a Igreja do Lago Sul, trabalhou no Unasp, campus Hortolândia (SP), e no Instituto Adventista Paranaense (IAP). Eles têm cinco filhas, seis netos e sete bisnetos.

APOSENTOU-SE Depois de 48 anos de serviços prestados à igreja, sendo mais de 40 na América Central, o pastor Israel Leito, ao centro, presidente da Divisão Interamericana, anunciou a aposentadoria no fim de março. Nos 25 anos em que esteve à frente da sede administrativa, a igreja nessa parte do globo passou de 1 milhão para 3,7 milhões de membros, e de 60 para 150 campos. Também foi durante sua gestão que nasceu o Seminário Teológico Interamericano (IATS).

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INTERNACIONAL

“Estamos postando conteúdo nas mídias sociais todos os dias úteis.” Mario Šijan, diretor da Znaci Vremena, editora adventista da Croácia, a respeito do investimento que tem sido feito em novos meios de divulgação da literatura adventista. Além de disponibilizar seus títulos nas livrarias das principais cidades croatas e no site da Amazon, a instituição tem adaptado conteúdos para as redes sociais e contado com a apoio dos 50 maiores influenciadores digitais do país na divulgação dos materiais.

Não podemos ficar alheios às tragédias e experiências da sociedade em que vivemos. Vyacheslav Demyan, diretor do Hope Channel na Ucrânia, durante uma programação especial realizada em Kiev por ocasião do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto (27 de janeiro)

NOVA RÁDIO EM LONDRES Depois de meses de planejamento e testes, a programação da Adventist Radio London (ARL) foi ao ar no dia 8 de abril. A emissora adventista buscará atingir a população multicultural de Londres e especialmente os millennials. Além da equipe de sete pessoas responsável pela produção, apresentação e gerenciamento da rádio, voluntários ajudarão a produzir alguns programas.

ATAQUE TERRORISTA Duas pessoas morreram e oito ficaram feridas depois que terroristas abriram fogo contra a Igreja Adventista do Quetta, no Paquistão, no dia 15 de abril. O Estado Islâmico assumiu a autoria do ataque. Em nota, a liderança da igreja na região condenou o ato de violência e expressou condolências às famílias das vítimas, além de enfatizar que a denominação têm buscado promover a paz e ações humanitárias. Atualmente, o país concentra 12 mil adventistas.

345.000

é o número estimado de pessoas que saíram de Porto Rico por ocasião da devastação provocada pelo Furacão Maria, incluindo aproximadamente 2 mil adventistas. Apesar das perdas sofridas pela igreja na região, a universidade e o hospital adventista continuaram funcionando.

Vamos considerar o pedido da igreja para que nossas

Foto: Fotolia

instituições de educação não realizem exames aos sábados.

Yoweri Museveni, presidente de Uganda, em postagem no Twitter, depois da visita do pastor Ted Wilson e de outros líderes africanos à sua residência

Colaboradores: Abraham Bakari, Ayanne Karoline, Cassie Matchim Hernandez, Felipe Lemos, Helen Pearson, James Ponder, Jhenifer

Costa, Lee Dunstan, Libna Stevens, Márcio Tonetti, Marcos Paseggi, Sam Davies e Wendel Lima

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CAPA

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A tendência da psicologia é reconhecer a dimensão espiritual do ser humano e

buscar compreender como a religião pode ajudar no cuidado da saúde mental ALBERTO NERY

O Foto: Fotolia

bras de arte, sinfonias, grandes construções, veículos e equipamentos de alta tecnologia... Essas conquistas podem ser consideradas algumas das grandes realizações da humanidade. No entanto, para a pioneira do adventismo Ellen G. White, “tratar com mentes humanas é a mais bela obra em que já se ocuparam os homens” (Mente, Caráter e Personalidade, v. 1, p. 3). Essa nobre e complexa tarefa é compartilhada por diferentes profissionais. Médicos, professores e pastores, por exemplo, contribuem para a compreensão, o desenvolvimento e o cuidado das faculdades mentais. Porém, a psicologia é, por vocação, a ciência que mais se dedica a esse fim.

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E é exatamente por seu interesse no comportamento, pensamento e nas emoções humanas que, nas últimas décadas, os psicólogos têm lançado um olhar renovado e mais positivo sobre uma das principais características do ser humano: a espiritualidade. Esse movimento de aproximação entre a ciência psicológica e a religião é promissor; porém, para que ele ocorra, algumas barreiras de ambos os lados precisam ser superadas. DESAFIOS PARA A RELIGIÃO A promoção de um diálogo entre as duas áreas enfrenta desafios. Por um lado, o uso religioso da psicologia desmereceria a plausibilidade científica dessa ciência. Em contrapartida, adotar uma visão psicologizante de todos os fenômenos religiosos pode reduzir a espiritualidade humana a simples mecanismo de defesa psicológico, comportamento aprendido ou psicopatologia. Para evitar esses dois extremos, é preciso atentar para algumas questões ao adentrar nessa sensível zona de intersecção entre ciência e religião. Em primeiro lugar, a ideia de que psicologia e religião são campos conflitantes dificulta, por exemplo, que inúmeros transtornos psíquicos e emocionais sejam tratados como doença. Dessa maneira, em alguns círculos cristãos qualquer transtorno acaba sendo visto como possessão e a ansiedade e depressão como evidências de “falta de fé”. É verdade que, do ponto de vista bíblico-teológico cristão, as doenças ou desequilíbrios são consequências do pecado, da condição de separação entre o ser humano e Deus. Porém, seria difícil creditar a causa de um câncer ou diabetes à falta de fé, ainda que, em última instância, essas enfermidades sejam resultado da condição pecaminosa da humanidade. Se por um lado essa separação radical entre psicologia e religião é problemática, por outro, a apropriação religiosa dessa ciência também é um erro. É possível falar numa leitura ou perspectiva cristã da psicologia, mas não em “psicologia cristã”, pois assim seriam transpostos todos os limites do método científico que zelam pela neutralidade. Um exemplo dessa perspectiva equivocada é esperar que a psicologia ofereça recursos para a mudança de um comportamento considerado pecaminoso à luz da religião. Outro erro é tentar sustentar com base na psicologia ou por meio de qualquer outra ciência um ponto de vista religioso. Embora a crença possa ser subsidiada pelo pensamento racional, não pode depender exclusivamente dele. “Creio porque é absurdo”, foi a conclusão de Tertuliano ainda nos primórdios da era cristã, quando surgiram os primeiros esforços para defender a fé cristã por meio da filosofia grega. Em outras palavras, a fé perde sua função ou necessidade se ela não é exercida para acreditar no que é inacreditável.

“As pessoas precisam da psicoterapia para organizar sua mente de tal forma que a energia que o ato religioso produz reverbere amplamente pelo seu corpo e por sua mente, a fim de gerar um estado saudável.” Esdras Vasconcellos, professor do Instituto de Psicologia da USP

CONGRESSO NO UNASP O curso de Psicologia do Unasp, em São Paulo, também reconhece a importância desse debate. Por isso, organizou um congresso para seus alunos, em março, com dois pesquisadores que são referência no assunto: os doutores Esdras Vasconcellos, da USP, e Kenneth Pargament, da Bowling Green State University (EUA). Segundo Vivian Araújo, coordenadora do curso, o evento ofereceu embasamento para que os universitários entendessem cientificamente como integrar espiritualidade e psicoterapia. “Isso é possível, é importante, mas tem que ser feito com fundamentação. É preciso fazer essa integração com o respeito e a ética que a religião e a psicologia merecem”, esclareceu. “É muito frequente pacientes religiosos e não religiosos trazerem questões espirituais para a consulta. Chega o momento em que a pessoa pergunta de religião. Então, como sou religioso, respondo sobre religião sem fazer proselitismo. Isto é, sem induzir nem doutrinar a pessoa na religião”, diferencia Belisário Marques, o primeiro adventista a se graduar em Psicologia no Brasil e um dos precursores do

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curso do Unasp. Ele ressalta que a eficácia da psicoterapia depende da competência e da ética do psicólogo e não de sua crença. “Essa ideia de que tenho que consultar um terapeuta por causa da religião é errada. Posso consultar qualquer terapeuta, desde que seja competente e tenha referência. Não devo me limitar ao preço da consulta, mas procurar pela qualificação da pessoa”, reforça.

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DESAFIOS PARA A CIÊNCIA Do lado dos cientistas, por sua vez, seria um erro tentar minimizar ou ignorar o fenômeno religioso. Embora a ciência não seja capaz de avaliar a existência ou não de Deus, é inegável que a crença Nele é um fenômeno real e com impactos significativos na vida de quem crê e na sociedade como um todo. Portanto, não cabe à psicologia tentar provar a existência ou não existência de Deus, e sim ­procurar entender os mecanismos cerebrais, cognitivos e emocionais que proporcionam ao ser humano uma relação com qualquer coisa que ele chame de sagrado.


Foto: LightStock

Além disso, é importante que os psicólogos estudem as crenças e práticas religiosas, pois várias delas têm sido associadas à diminuição de comportamentos negativos para a saúde, como consumo de álcool e drogas e a promiscuidade sexual. Sem contar que, de acordo com o psiquiatra Harold Köenig, os grupos religiosos acabam atuando como rede de suporte em diferentes situações (Medicina, Religião e Saúde [L&PM, 2012]). E esse senso de pertecimento comunitário é fundamental para a promoção e o cuidado da saúde mental, pois proporciona acolhimento e motivação para enfrentar as dificuldades da vida. Isso é o que defendem Rose Murakami e Claudinei Campos num artigo da Revista Brasileira de Enfermagem, de março-abril de 2012. A respeito da contribuição das práticas e crenças religiosas no enfrentamento positivo de situações de estresse, ansiedade e outros transtornos psicológicos, o norte-americano Kenneth Pargament é uma autoridade (The Psychology of Religion and Coping [Guilford Press, 1997]). Ele criou um método de acolhimento e encorajamento R e v i s t a A d ve n t i s t a // Maio 2018

“Existe uma lacuna na forma por meio da qual os profissionais de saúde mental têm abordado seus pacientes; a espiritualidade tem sido negligenciada por anos. Felizmente, esse cenário começou a mudar, e temos aprendido novas e empolgantes maneiras de integrar a espiritualidade à psicoterapia.” Kenneth Pargament, professor da Bowling Green State University (EUA)

do uso dos recursos espirituais no cuidado de saúde mental chamado “Terapia que Integra a Espiritualidade” (Spiritually Integrated Psychotherapy: Understanding and Addressing the Sacred [Guilford Press, 2007]). Para ele, reconhecer que a espiritualidade faz parte da integralidade de cada paciente é algo que o terapeuta não pode ignorar. 15


Viktor E. Frankl, em seu famoso livro Em Busca de Sentido, já havia afirmado que a religião é fonte de significado para a vida e fator determinante no fortalecimento das faculdades mentais. Como sobrevivente dos campos de concentração nazistas, sua teoria sobre a psiquê humana leva em conta sua própria experiência dramática (Em Busca de Sentido [Vozes, 2008]). O que muda agora é que, além de reconhecer os fenômenos religiosos como legítimos, mais e mais psicólogos passam a lançar um olhar positivo sobre a espiritualidade humana, como algo que precisa ser respeitado e cuja função pode ser potencializada como recurso de cura. Portanto, não cabe ao psicólogo julgar a experiência religiosa do paciente. Isso é vetado inclusive pelo Código de Ética do Conselho Federal de Psicologia no Brasil, podendo resultar em sérias censuras para o profissional que o desrespeitar. Sendo assim, o psicólogo deve tentar compreender a religiosidade do cliente à luz da história de vida, dos valores e do contexto cultural e social de quem o procura. Ao mesmo tempo, deve também

encorajar seus pacientes a fazer um uso saudável dos próprios recursos religiosos e espirituais. Da perspectiva bíblico-cristã, a noção de que existe um funcionamento integrado entre as faculdades físicas, mentais e espirituais é fundamental para a construção de uma antropologia adequada (Gn 2:7; Pv 12:18; 17:22; 23:7; Mt 6:22, 23; 1Co 6:19). Do ponto de vista da psicologia contemporânea, o reconhecimento dessa integração é cada vez mais importante na promoção e no cuidado da saúde mental. É a ciência e a religião encontrando seus pontos de convergência. Quem ganha é o ser humano. ] ALBERTO NERY, graduado em Teologia, é psicólogo clínico, doutorando em Psicologia Social pela USP e professor do curso de Psicologia do Unasp

DE LONGA DATA

O interesse da psicologia pela religiosidade humana vem desde a época em que o moderno estudo da psiquê estava sendo estruturado. Conheça alguns dos principais pensadores que se debruçaram sobre o tema. WILHELM WUNDT (1832-1920). Considerado um dos

THÉODORE FLOURNOY (1854-1930). Assim como

pais da psicologia e criador do famoso Laboratório de

o americano William James, ele estava interessado

Leipzig, em 1879, dedicou três volumes de sua obra

na compreensão da origem e do funcionamento da

Völkerpsychologie ao estudo da religião e da mitologia.

religiosidade na mente humana. Acreditava que a

WILIAM JAMES (1842-1910). Autor do clássico The Varieties of Religious Experience, ele e outros nomes

espiritualidade de alguém poderia estar associada tanto à saúde como à doença.

como Stanley Hall, Edwin Starbuck e James Leuba

CARL JUNG (1875-1961). Defendia que a experiência

fizeram parte da escola norte-americana de psicologia

religiosa sempre é algo verdadeiro e indiscutível para

da religião. Esse grupo foi influenciado pelo contexto

a pessoa que a vivencia, sendo capaz de se tornar uma

dos grandes reavivamentos do século 19 a estudar, por exemplo, a

fonte de vida, sentido e beleza para o ser humano.

conversão religiosa.

VIKTOR E. FRANKL (1905-1997). Apresentou a visão

SIGMUND FREUD (1856-1939). Nos livros Totem e

mais positiva quanto à experiência religiosa. Para

Tabu (1913), O Futuro de Uma Ilusão (1927) e Moisés

ele, o inconsciente humano não é formado apenas

e o Monoteísmo (1939), ele partiu da visão evolucio-

de elementos instintivos, mas também espirituais.

nista e racionalista da época para classificar a religião

Sua teoria, a logoterapia, parte do pressuposto de

como uma ilusão necessária para que o ser humano

que, para tratar o ser humano como um todo, é preciso considerar

superasse suas inseguranças e angústias.

sua espiritualidade.

OSKAR PFISTER (1873-1956). Discípulo de Freud, o

Na relação entre psicologia e religião, três grandes posturas têm sido

pastor luterano se tornou uma das figuras importantes

assumidas: (1) subserviente, quando os conhecimentos da psicologia

da psicanálise em seu tempo e via nessa linha psicológica

são usados como ferramentas da religião; (2) combativa, quando a

uma ferramenta de auxílio na libertação do sofrimento,

psicologia critica as ideias religiosas; e (3) compreensiva, quando se

tanto de pacientes religiosos quanto descrentes.

procura por meio do método científico ter uma visão mais ampla a

Fontes: “Psicologia da Religião, Psicologia da Espiritualidade: Oscilações Conceituais de uma (?) Disciplina em Psicologia e Espiritualidade”, de Geraldo José Paiva, em Psicologia e Espiritualidade (Paulus, 2005), de Mauro Martins Amatuzzi (org.); As Ciências das Religiões (Paulus, 1999), de Carlo Prandi e Giovanni Filoramo; Cartas Entre Freud & Pfister 1909-1939 (Ultimato, 2009), de Ernst Freud e Heinrich Meng (orgs.); Cartilha Virtual Psicologia e Religião (USP, 2018), de Wellington Zangari e Fátima Regina Machado (orgs.); Psicologia e Religião (Vozes, 1978), de Carl Jung; A Presença Ignorada de Deus (Sinodal, 2007), de Vitor Frankl; “A Inclusão dos Excluídos?: Um Paradoxo na Historiografia da Psicologia da Religião”, em Multitextos CTCH, ano 2, no 1, 2013, de Jacob Belzen

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Fotos: Wikimedia

respeito do fenômeno religioso.


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Ellen White: Mulher de Visão Arthur L. White

Ellen White: Mulher de Visão é a mais ampla e detalhada biografia da autora publicada em língua portuguesa. Produzida por seu neto Arthur L. White, a obra permite visualizar aspectos interessantes e reveladores de sua personalidade no papel de esposa, mãe, avó, conselheira, líder e fiel mensageira do Senhor.

101 Perguntas Sobre Ellen White e Seus Escritos William Fagal

Neste livro, o pastor William Fagal, diretor associado do Ellen G. White Estate, dá respostas instigantes a 101 das perguntas feitas com maior frequência, muitas delas bastante controversas. De forma didática, ele expõe diversos mitos e apresenta ao leitor a verdade sobre essa autora que inspira gerações.

Mensageira do Senhor Herbert E. Douglass

Com este livro conheceremos um pouco mais sobre o ministério profético de Ellen G. White. Durante 70 anos ela trabalhou como a mensageira do Senhor escrevendo, pregando, aconselhando, viajando, advertindo e encorajando. Aprecie este material que irá enriquecer sua biblioteca.

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ESPIRITUALIDADE

MUDANÇA DE VIDA S E I S J O R N A D A S D E F É C O N TA D A S A P A R T I R DE VÁRIAS REGIÕES DO MUNDO

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Foto: Lightstock

O

s caminhos utilizados por Deus para trabalhar no coração das pessoas são mais numerosos do que os grãos de areia em uma praia. O apóstolo Paulo exclamou: “Quão insondáveis são os Seus juízos, e inescrutáveis os Seus caminhos!” (Rm 11:33). Quando pensamos que sabemos o que esperar de Deus, Ele faz algo completamente surpreendente e totalmente fora da “caixa”. Acima de tudo, o que certamente nos constrange é a compaixão e a tolerância que Ele demonstra pela humanidade rebelde, e até onde Ele vai para nos salvar (2Co 5:14). É essa iniciativa salvadora e persistente de Deus que você verificará nos próximos seis breves relatos vivenciados por pessoas de várias ­regiões do planeta. Elas compartilham um pouco de sua jornada de fé, contando como encontraram esperança em Jesus num mundo marcado por desilusão e confusão. Esperamos que essas histórias revelem a você o amor completo e imensurável do Deus a quem servimos.


Sakhile venceu sua antipatia pelos cristãos e conseguiu entender o livro de Daniel. Hoje ele cursa Teologia na Cidade do Cabo, África do Sul

DOS ESPÍRITOS PARA JESUS

Foto: Arquivo pessoal

C

resci acreditando na intervenção dos espíritos dos meus ancestrais. Porém, quando me mudei de uma província montanhosa para uma cidade próxima a Johannesburgo, passei a morar e trabalhar numa comunidade cristã. O problema é que encontrei ali um povo que professava o cristianismo, mas era muito rude. Eles me disseram que minhas crenças tradicionais africanas não tinham nenhum valor. Desenvolvi antipatia pelos cristãos e comecei a ler livros que criticavam a Bíblia. Passei a fazer perguntas capciosas aos meus colegas cristãos, questionamentos que levaram alguns deles até a perder a fé. Contudo, alguém me mostrou Isaías 8:19 e 20, texto em que Deus condena a consulta aos mortos. Aquilo mexeu comigo, mas ainda assim continuei lutando contra os cristãos. Sou eletricista bem qualificado e trabalho com correntes elétricas pesadas. Certo dia, tomei uma descarga de alta tensão. Fui jogado ao chão e ouvi uma voz discreta que perguntava: “Quem salvou sua vida?” Eu sabia que estaria morto se não fosse um milagre de Deus. Naquele momento aceitei Cristo, e pedi perdão por ter perseguido Seu povo. Desde então, minha vida mudou completamente. No dia seguinte abandonei o consumo de fumo e de bebida, e comecei a entender quanto Deus é poderoso. Comprei uma Bíblia e passei a estudá-la e a orar. Além disso, rompi com as antigas amizades. Interessei-me pelo livro de Daniel, mas não encontrava alguém que me explicasse. Então, pedi a dois amigos cristãos que jejuassem comigo por três dias para que eu achasse as respostas que procurava. Um mês depois, um deles me falou sobre um estudo a respeito de profecias que era transmitido pela TV. Acompanhei o curso e compreendi a atuação de Deus na história. Fiz questão de ir a uma biblioteca para conferir o que me ensinaram. A Bíblia começou a ter sentido para mim, e minha fé foi fortalecida. Eu não sabia que aqueles estudos eram oferecidos pelos adventistas; por isso, continuei frequentando minha igreja, em que os líderes não R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Maio 2018

sabiam me explicar a respeito do livro de Daniel nem a respeito do sábado e do verdadeiro dom de línguas. Comecei a orar pedindo instrução e pedi um sinal a Deus. O senhor Mahlangu e a senhora Xaba apareceram em casa em resposta à minha oração. Foi assim que me uni ao movimento adventista. ] SAKHILE NXUMALO está cursando o primeiro ano da faculdade de Teologia, no Helderberg College, na África do Sul

DA DECEPÇÃO PARA A FÉ

E

ra para eu estar no carro com meus pais naquele dia. Como um prêmio, eles tinham permitido que eu faltasse às aulas para ir com eles fazer um test-drive num carro novo. Mas, quando chegou a hora, de repente e sem razão entrei em pânico. “Não posso ir no carro com eles hoje”, foi a impressão que tive. Por ter me comportado muito mal durante o trajeto, fui deixada na escola. Minha desistência foi providencial. Um caminhão atingiu o carro dos meus pais, esmagando o banco traseiro e empurrando o veículo num barranco abaixo com nove metros de altura. Meus pais sobreviveram e se recuperaram do acidente, mas eu teria morrido. Fui criada em um lar religioso e com boa educação moral, mas cresci rejeitando a religião devido às experiências negativas que tive com meus pais. 19


DE DJ A PREGADOR

Jamie Jean Schneider Domm tocava oboé em igrejas cristãs para ganhar um dinheiro extra, mas sua busca era por respostas racionais e uma comunidade acolhedora

Na minha formação, religião havia sido a causa de dor e justificativa para abusos. Na época do acidente, eu estava com dez anos. Àquela altura eu tinha um forte sentimento de que existia algo ou Alguém que cuidava de mim. Recebi uma Bíblia de presente da minha avó na antiga versão King James, e tentei lê-la como um livro comum, mas fiquei frustrada, e a joguei no fundo de uma gaveta. Porém, me senti inclinada a guardá-la, pois sabia que era sagrada. O ponto da virada foi quando eu estava na faculdade e por meio da internet aprendi sobre várias religiões. Eu era uma estudante nota dez, cursando microbiologia e música, mas me debatia com as falhas que via nas teorias científicas que me ensinavam. E, para levantar um dinheiro extra, eu tocava oboé nas igrejas. Certa ocasião toquei numa igreja adventista e gostei muito do sermão que falava sobre não confiar em pessoas, mas comprovar todas as coisas à luz da verdade. Aquela comunidade era muito amigável e pela primeira vez fui convidada para um “junta-panelas”. Fiz amizade com o filho do pastor, e tivemos longas conversas a respeito de Bíblia e religião. Fiz perguntas difíceis e recebi respostas lógicas. Posteriormente, mudei-me para o estado de Maryland a fim de cursar uma pósgraduação e lá fui batizada na Igreja de Spencerville, em Silver Spring. Eu tinha vindo de um lugar em que a religião era associada à dor e aos contos de fadas. Por isso, eu precisava de algo mais do que retórica; necessitava de um fundamento sólido como a rocha. Algo compatível com a ciência, mas que pudesse explicar o amor Daquele que sempre guiou minha vida. ] JAMIE JEAN SCHNEIDER vive em Virgínia, nos Estados Unidos

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Foto: Arquivo pessoal

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a Jamaica, getting a buss é uma gíria usada para quem está começando a carreira como DJ. Para muitos jovens jamaicanos, essa é a única maneira de sair da pobreza em direção à riqueza e fama. Porém, esse caminho costuma ser marcado pela violência, imoralidade sexual e consumo de drogas. Aos 20 anos, Ricardo McCalla passou a ser conhecido como “Bling” (joia de ostentação), e se destacava como alguém promissor nas danceterias de Skibo, comunidade rural de Portland, na Jamaica. Com alta taxa de analfabetismo e desemprego, era pouco provável que saísse alguém notável dali. Portanto, a comunidade tinha orgulho do seu artista. Em 2002, ele estava pronto para um grande avanço em sua carreira: gravar seu primeiro álbum. Dois dias antes de iniciar a gravação, ele subiu ao palco para mais uma apresentação. Na vida de McCalla, havia uma influência positiva: sua mãe era adventista e o advertia sobre os riscos de seu estilo de vida frenético. Incentivado por ela, ocasionalmente ele frequentava a igreja, mas sem a intenção de ser batizado. No entanto, a influência que recebia em casa ajudou o garoto a perceber que precisava de Cristo. Certo sábado à noite, McCalla deixou o palco bêbado e “apagou” na cama. Na manhã seguinte, ele acordou vomitando e mal conseguia ficar em pé. Foi quando ouviu a voz de sua mãe orando: “Querido Deus, o Senhor me deu esse menino, mas não consigo conduzi-Lo. Leve-o, Jesus!” Pensando que sua mãe estivesse orando para que ele morresse, McCalla ficou muito irritado e profundamente perturbado. Ele conta que, de repente, uma luz brilhante o circundou. A luz começou a se mover, e ele ficou aterrorizado por entender que estava testemunhando o Espírito Santo desistindo dele e o deixando. Foi então que o rapaz suplicou a Deus que não o abandonasse. “Naquele momento percebi que precisava entregar minha vida a Deus. Senti que era uma decisão de vida ou morte”, conta o jovem.


Ricardo McCalla, sua esposa Nuvia e seus três filhos. Deixou a carreira promissora que o tiraria da pobreza na Jamaica para cursar Teologia

Oportunamente, estava sendo realizada uma série evangelística na Igreja de Skipo e, para aquela manhã de domingo, estava marcado um batismo no rio. Sem informar sua mãe, McCalla foi à igreja e disse que queria ser batizado. O pastor revisou com ele as crenças adventistas e orou com o jovem. McCalla foi batizado naquela mesma manhã! A comunidade se aglomerou no local do batismo para testemunhar, incrédula, a entrega a Cristo daquele homem de quem se orgulhavam e que havia estado bêbado no palco na noite anterior. Ninguém foi mais surpreendido que a mãe dele. “Ela chorou bastante e ficou muito feliz porque Deus havia respondido sua oração”, relembra McCalla. Após seu batismo, ele aprendeu a ler bem, se tornou líder na igreja local e se casou. Hoje, ele e a esposa, Nuvia, têm três filhos. Ele está estudando Teologia na Universidade do Norte Caribenho e deve se graduar em 2020. “Nunca vou me envergonhar do evangelho. Não posso fazer isso, depois do que Deus fez para transformar minha vida”, promete o ex-DJ. ]

A segunda situação ocorreu com minha filha na escola. Após dez anos de casamento, todos na minha família frequentavam a igreja, menos eu. Minha filha mais velha estava no ensino fundamental enfrentando dificuldades quanto à guarda do sábado. O estresse chegou a afetar suas notas. Minha esposa sugeriu que transferíssemos nossa menina para uma escola adventista. Apesar da longa viagem diária, fizemos esse esforço. A diferença foi imediata e as notas dela melhoraram. Eu comecei a olhar a igreja e a escola com maior interesse. No entanto, a vida se tornou mais complicada. Devido a crises e conflitos no trabalho, precisei pedir demissão. Essa foi a terceira dificuldade. Nesse período muito difícil, minha esposa sugeriu que eu estudasse a Bíblia com um pastor. Aprendi mais sobre Deus, e o Espírito Santo encheu meu coração com amor e paz. Logo fui batizado na Igreja Adventista junto com minha filha. A vida continua a apresentar muitos desafios. Porém, quando olho para trás, posso dizer que verdadeiramente Deus é bom. Pouco a pouco, o Senhor me dirigiu para mais perto Dele e Ele ainda está comigo. ]

LAWRIE HENRY é roterista e produtor que trabalha no departamento de Estudos em Comunicação na Universidade Adventista do Norte Caribenho, na Jamaica

BYUNG GWAN CHOI é ancião da Igreja de Gyomunri, em Seul, Coreia do Sul

DO BUDISMO PARA O ADVENTISMO

Fotos: Arquivo pessoal

F

ui criado num lar que seguia as crenças e rituais do confucionismo e do budismo. No entanto, quando me matriculei em uma universidade cristã, percebi as diferenças dentro da cultura das igrejas. Ali também conheci MyeongAe, uma fiel adventista com quem me casaria algum tempo depois. Com MyeongAe, comecei a frequentar a igreja aos sábados e a sentir que estava praticando a verdadeira adoração. MyeongAe e eu nos casamos em 1981, mas meus pais foram totalmente contra. O conflito foi tão grande que convenci minha esposa a não mais frequentar a igreja. Algum tempo depois, nos mudamos para longe da casa dos meus pais e, embora MyeongAe tivesse voltado a frequentar a igreja, continuei a seguir a religião da minha família. Três momentos de crise me aproximariam novamente do adventismo. Primeiro, MyeongAe ficou muito doente quando nosso segundo filho estava para nascer. Nunca vou me esquecer da preocupação e das orações fervorosas do pastor e de sua esposa no hospital, antes da cirurgia dela. MyeongAe se recuperou e nosso filho nasceu com saúde. Passei a ter uma opinião positiva sobre a Igreja Adventista, mas minha fé ainda era frágil. R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Maio 2018

Byung Gwan Choi e a esposa, MyeongAe. Oposição da família budista, doença da esposa e desemprego fizeram parte de sua jornada até a fé adventista

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N

atália Tatarczuch, de 24 anos, estuda sociologia e psicologia em Cracóvia, na Polônia. Ela gosta de jogar squash, ouvir música e assistir a filmes. Há dois anos, ela nunca havia ouvido falar da Igreja Adventista. Isso mudou quando ela assistiu ao filme Até o Último Homem. Inicialmente, o que ela mais gostou da produção dirigida por Mel Gibson foram os efeitos especiais. Ela também se identificou com a história de Desmond Doss, o não combatente norte-americano que se tornou herói na Segunda Guerra Mundial. “Admiro pessoas que ousam ser diferentes”, explica Natália, que é conhecida pelos amigos por seu inconformismo. Ela contou que ouviu o termo “adventista” pela primeira vez assistindo ao filme e que o repetiu várias vezes em sua mente para depois poder pesquisar sobre esse grupo religioso. E foi o que fez. Ao trocar e-mails com um pastor adventista local, Natália foi convidada para uma reunião que, na verdade, era um estudo bíblico. No princípio, Natália teve dificuldade de mudar suas crenças e, para ela, adotar o estilo de vida adventista parecia um fardo. “No entanto, algum tempo depois concluí que estava faltando algo em minha vida, e que eu precisava colocar Deus como prioridade”, reconhece a estudante. Apesar de ter ficado constrangida com o fato de não saber como acompanhar a liturgia adventista, ela conta ter sido recebida com muito carinho pelos adventistas. Natália foi batizada no dia 27 de janeiro de 2018. Ela enfrenta mais desafios do que a maioria dos universitários. “Sofro de epilepsia há 18 anos, mas a doença me aproximou de Deus”, revela. “Não compreendo essa doença e ainda luto contra ela, mas isso me tornou uma pessoa mais forte”, declara a garota, que diz contar com o A jornada de Natália até o batismo iniciou apoio fundamental dos pais, com o filme Até o Último Homem mesmo após sua adesão a outra denominação cristã. Na Polônia, os jovens adventistas promoveram amplamente e criativamente o filme que conta a história de Desmond Doss. Eles postaram fotos no Facebook sobre o não combatente adventista e imprimiram em camisetas slogans como “Desmond salvou 75. Jesus salvou a todos”. A própria Natália se considera uma entre os que foram salvos. Agora, ela entende que achou a “peça que faltava no quebra-cabeça” de sua vida. ]

DE MÃO EM MÃO A revista que você tem em mãos não está aí por acidente. Não importa se você seja um leitor habitual ou ocasional da Adventist World, o objetivo do Espírito Santo é o mesmo: abrir seus olhos; aquecer seu coração; ­conectá-lo com um grupo de cristãos que ora, adora a Deus, testemunha Dele e espera a breve volta de Jesus. Essa revista foi criada com um propósito específico. Uma equipe de escritores, editores, designers gráficos, tradutores, gerentes de expedição e caminhoneiros ao redor do mundo trabalhou com dedicação para levar essa revista até você. Fizemos isso para que você experimentasse profunda satisfação ao se relacionar com Jesus. O próprio Cristo disse que estaria presente onde “dois ou três” se reunissem em nome Dele (Mt 18:20). E cada edição desta revista conecta você a milhares de pessoas. A revista em suas mãos não foi feita só para você. Enquanto estiver lendo as histórias que edificam a fé, os artigos devocionais e as notícias sobre o que o Espírito Santo está fazendo no mundo, certamente você se lembrará de alguém que necessita de espera nça ta nto quanto você. Por isso, você pode fazer parte desse maravilhoso processo que começou na mente do Espírito, lendo essa revista e na sequência doando-a para alguém que aprecia. ] BILL KNOTT é editor da revista

MAREK RAKOWSKI é secretário executivo da sede polonesa da Igreja Adventista em Varsóvia

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Adventist World

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Foto: Grzegorz sroga

DO CINEMA PARA A IGREJA


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NISTO CREMOS

Paraíso 2.0 AO LONGO DA HISTÓRIA, A HUMANIDADE TEM PROCURADO IDEALIZAR E CONSTRUIR UMA SOCIEDADE EM QUE HABITA A JUSTIÇA

N CLÁUDIA MOHR

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MUNDO IDEAL: ILHA UTÓPICA NO PACÍFICO SUL Há mais de 500 anos, Thomas More, estadista e humanista inglês, escreveu o livro Utopia, termo grego que significa “lugar nenhum”. A obra conta a história de Raphael Hythlodeus, um marinheiro que delira sobre a perfeição da distante ilha chamada Utopia. Ela teria mais de 320 quilômetros de comprimento e suas cidades são magníficas. Todos os moradores falam a mesma língua. Lá não existe dinheiro nem poder. E a cooperação é a base da convivência. More tinha seus próprios motivos para escrever o livro. Na verdade, Utopia era um modelo inverso da Inglaterra de sua época. Ele idealizou uma sociedade diferente, em que não houvesse as desigualdades de seu tempo, marcada por um capitalismo abusivo e a pobreza da população do campo. O livro emprestou seu nome a todo um gênero de literatura, arte e música. R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Maio 2018

Foto: Chen Hu

o princípio, Deus criou os céus, a terra, os seres humanos e o paraíso: o jardim do Éden. Um lugar fantástico, onde nada faltava e havia perfeita harmonia. Porém, de modo trágico o pecado tornou esse lugar inacessível. Lentamente ele caiu no esquecimento e finalmente desapareceu da Terra. Contudo, o anseio pelo paraíso nunca morreu. Povos de todos os tempos e regiões do planeta têm sonhado com esse lugar e tentado resgatá-lo.


MUNDO DISTANTE: GUERRA NAS ESTRELAS Até o século 19, os autores descreviam como seu destino ideal as ilhas distantes ou os locais de difícil acesso. Mas, depois que todo o globo foi mapeado, a concretização do paraíso foi deslocada para o futuro e o espaço. Esse novo gênero de literatura e arte é conhecido como ficção científica. Nascido em 1828, o francês Júlio Verne é considerado por muitos o pai da ficção científica. Verne foi quem colocou, pela primeira vez, processos científicos e técnicos no centro da literatura. Muitos de nós conhecemos alguns dos heróis criados por ele, como capitão Nemo e seu Nautilus; Phileas Fogg e o professor Lidenbrock. MUNDO VERMELHO: SOCIALISMO E COMUNISMO Karl Marx, contemporâneo de Júlio Verne, criou um modo muito diferente de redescobrir o paraíso. Nascido em Trier, Alemanha, em 1818, Marx se tornou um filósofo e teórico social mundialmente famoso. As ideias fundamentais do socialismo e do comunismo, de uma sociedade mais igualitária, tiveram como base seu trabalho. Idealizou-se um paraíso na Terra. Todavia, a história mostra que as principais tentativas de Estados comunistas e socialistas terminaram em desastre. Em vez de paraíso, o sonho de igualdade levou à ditadura. Em 1989, o muro que dividia a Alemanha em duas desmoronou, levando consigo todas as ideias de igualdade forçada. MUNDO TECNOLÓGICO: MEGALÓPOLE NEOM Uma das últimas ideias para criar um ­paraíso na Terra é chamada Neom. O príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman bin Abdulaziz Al Saud pretende levantar até 2025 a primeira fase dessa megalópole. O empreendimento altamente tecnológico abrangerá regiões desérticas da Arábia Saudita, Jordânia e Egito. Medindo 26,5 mil km2, Neom custará 500 bilhões de dólares. A cidade será inovadora e ultramoderna; um centro de ciência, negócios e prosperidade, com novas leis e impostos. Com uma megaestrutura industrial e digital, a cidade será equipada com estradas de tráfego rodoviário autônomo, com drones para transportar passageiros e sistemas de tráfego de autoaprendizagem. O plano é que tudo isso seja movido por energia eólica e solar e que todos os habitantes e coisas de Neom estejam digitalmente conectados. É possível que alguém questione a viabilidade desse projeto. Será que realmente fará justiça R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Maio 2018

ao nosso desejo por um mundo melhor? Até agora, todas as tentativas de estabelecer uma utopia tecnológica não funcionaram.

O PARAÍSO NÃO É UM SONHO DE FÉRIAS EM UMA ILHA DISTANTE; NEM UMA VIAGEM ESPACIAL, MUITO MENOS FANTASIAS ABSURDAS DE IGUALDADE OU ALTA TECNOLOGIA. O PARAÍSO É A AUSÊNCIA DO PECADO

MUNDO DESTRUÍDO: FASCÍNIO PELA DISTOPIA Com a queda do comunismo e do socialismo caíram também as grandes utopias sociopolíticas. Os escritores utópicos se aposentaram, pois há um grande pessimismo em relação ao futuro desde o fim do século 20. Em lugar da utopia, foi instalada a distopia. O medo em relação a uma sociedade tecnológica dominada pelas máquinas tem alimentado o imaginário contemporâneo. Desse momento histórico surgiram obras como 1984, de George Orwell, e Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Na Hollywood do século 21, florescem os filmes da distopia. O mundo está desiludido e destroçado. O paraíso não é encontrado aqui e agora, e muito menos no futuro. NOVO MUNDO: JERUSALÉM CELESTIAL Contudo, uma coisa é certa. A busca humana pelo paraíso continua. Temos que admitir que o mundo novo não está disponível na Terra, mas há esperança. A Bíblia nos fala sobre a vinda de um mundo novo. No fim do primeiro século, décadas após a ascensão de Cristo, João, o discípulo amado, teve visões acerca do futuro. Quando estava na ilha de Patmos, ele viu uma nova sociedade, o paraíso restaurado (Ap 21:2, 5). Deus criará o único mundo realmente novo. O paraíso não é um sonho de férias em uma ilha distante; nem uma viagem espacial, fantasias absurdas de igualdade ou alta tecnologia. O paraíso é a ausência do pecado (Ap 21: 27). É a presença de Deus que garante a alegria suprema. O encontro com Deus, face a face, como foi no Éden, será o suficiente para nos realizar (Ap 22:3, 4). Todos os que anseiam por esse lugar melhor estão convidados a acreditar nisso e a atender o convite da Bíblia: “O Espírito e a noiva dizem: ‘Vem!’ E todo aquele que ouvir diga: ‘Vem!’ Quem tiver sede, venha” (Ap 22:17). ] CLÁUDIA MOHR trabalha no departamento de relações públicas da Igreja Adventista na Alemanha

Para ter acesso a um resumo em texto, áudio e vídeos das 28 crenças fundamentais adventistas, acesse: adventistas.org/pt/institucional

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DOM DE PROFECIA

Apoio inesperado AO LONGO DA HISTÓRIA, CRISTÃOS EM GERAL TÊM APRECIADO E DIVULGADO OS ESCRITOS DE ELLEN G. WHITE DENIS KAISER

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s escritos de Ellen G. White foram uma bênção para mim. E certamente milhões de pessoas ao redor do mundo podem dizer o mesmo. Porém, pelo fato de ela ter afirmado ser inspirada por Deus e por ter se recusado a adicionar seus escritos ao cânon bíblico, isso criou em mim certo desconforto de compartilhar seus livros para outros cristãos. Consequentemente, fiquei surpreso de encontrar histórias de pessoas de diferentes tradições cristãs que apreciaram a mensagem da pioneira adventista e divulgaram suas obras na comunidade cristã mais ampla e na sociedade em geral.

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Reprodução: Ellen G. White Estate

CAMINHO A CRISTO Quando o manuscrito de um pequeno livro de Ellen White sobre a vida cristã foi apresentado à liderança ministerial adventista, em julho de 1891, imediatamente os líderes discutiram como aquele material poderia ser divulgado para uma audiência mais ampla possível. Segundo um artigo de Tim Poirier na Adventist Review de 14 de maio de 1992, George B. Starr, que havia trabalhado com o famoso evangelista cristão Dwight L. Moody, em Chicago, em 1875, sugeriu oferecer o manuscrito a Fleming H. Revell, cunhado de Moody e editor cristão naquela cidade. Revell estabeleceu uma editora independente em 1870, após perceber a necessidade de livros que tratassem da aplicação da fé cristã ao cotidiano. A sugestão de Starr foi interessante por pelo menos dois motivos. Primeiro, Revell se tornou o editor mais importante de livros evangélicos da América do Norte e sua editora foi incorporada em 1992 pelo Baker Publishing Group. Segundo, ele havia publicado em 1889 o livro Seventh-Day Adventism Renounced (Renunciando o Adventismo do Sétimo Dia), obra de Dudley M. Canright, ex-pastor adventista, que criticou duramente Ellen White e as crenças da igreja.

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Na época, Ellen White ficou satisfeita com a ideia e ofereceu o manuscrito a Revell, que aceitou e publicou o livro. De acordo com Arthur L. White, ele o considerou uma obra espiritual prática, “singularmente útil” e apta a “orientar o inquiridor, a inspirar o jovem cristão e a confortar e incentivar o crente maduro” (Ellen G. White: The Australian Years, 1891-1900, v. 4, p. 36). Resultado: conforme Tim Poirier, rapidamente Caminho a Cristo se tornou campeão de vendas, chegando à sétima edição no primeiro ano de circulação, em 1892 (Adventist Review, de 14 de maio de 1992, p. 14). Revell gostou do contato que teve com Ellen White e cogitou publicar outros livros dela. Foi o fato de ter sido publicado numa editora evangélica que facilitou que Caminho a Cristo chegasse a um público mais diverso.

AS PRIMEIRAS EDIÇÕES DO LIVRO CAMINHO A CRISTO CHEGARAM A UM PÚBLICO MAIS AMPLO E DIVERSO PORQUE FORAM PUBLICADAS POR UMA EDITORA EVANGÉLICA

PUBLICAÇÃO NA HUNGRIA Um ano após a publicação do livro Caminho a Cristo nos Estados Unidos, Ludwig R. Conradi, líder da Igreja Adventista na Europa, enviou um exemplar da obra de Ellen White a József ­Szalay, proeminente pastor de tradição reformada e editor de um jornal na Áustria-Hungria. Como a maioria do povo da Hungria, ele não era realmente convertido. Szalay achou que deveria fazer mudanças no texto e acrescentar explicações. Conradi pediu para analisar um capítulo com as mudanças e explicações feitas por Szalay a fim ver se aprovava a versão alterada. Segundo relatou o próprio Conradi na Review and Herald de 9 de janeiro de 1894, depois de Szalay terminar de traduzir o primeiro capítulo, ele respondeu para o pastor adventista: “Não posso mudar nada, pois é tão bom, tão preciso, uma frase flui da outra de modo que os homens não podem mudar nem uma palavra. O Senhor pode usar muito essa obra para a edificação dos santos.” Após o livro ter sido publicado, conforme registrou Jeno Szigeti na Adventist Review de 3 fevereiro de 1983, Szalay divulgou a obra em seu jornal: “Nunca li qualquer obra escrita melhor que essa; nenhuma outra que aborde a vida espiritual e o cristianismo prático de forma tão completa e tão claramente! Recomendo a todos, realmente a todos. Meus irmãos cristãos, se alguém não tem condição de comprar esse livro de qualquer outra forma, venda seus casacos para comprá-lo. Vale a pena o sacrifício. Se alguém não possui nem um casaco, mas tem o forte desejo de possuir esse livro, eu irei enviá-lo gratuitamente, pagando por ele com o fundo missionário.” DESTAQUE NA SÉRVIA Outro episódio curioso foi a publicação em sérvio do livro Educação, de Ellen White, em 1912. Lançado originalmente pela editora adventista Pacific Press nove anos antes, de

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alguma forma o livro chamou a atenção do educador Paja Radosavljevic (1879-1958), nativo da Sérvia e amigo íntimo do inventor Nikola Tesla (1856-1943). Na época, Radosavljevic era professor-assistente de pedagogia experimental e diretor de um laboratório pedagógico na Universidade de Nova York (EUA). Mais tarde, ele se tornou um reformador preeminente da educação americana e líder na área de pedagogia e psicologia experimental. Fascinado com as ideias do livro Educação, Radosavljevic fez uma tradução literal do material e acrescentou três capítulos curtos, nos quais adaptou os princípios da obra ao contexto de seu país natal e da Igreja Ortodoxa da Sérvia. Surpreendentemente, Radosavljevic assumiu a autoria do livro sem mencionar Ellen White. Caso tivesse feito isso, seus leitores poderiam ter se interessado por outras obras da autora. Apesar de sua conduta antiética, os ensinos do livro alcançaram muitas pessoas. ALCANCE MAIOR Nós, como adventistas do sétimo dia, cremos que as visões e sonhos de Ellen White foram autênticas manifestações do dom de profecia moderno (Ap 12:17; 19:10). Embora boa parte de sua obra visasse ao público adventista, existem livros dela que foram pensados para uma audiência mais ampla, como a série Conflito dos Séculos e os livros Parábolas de Jesus e Caminho a Cristo. Aqueles que não pertencem à nossa comunidade religiosa podem não concordar quanto à inspiração de Ellen White, mas certamente podem apreciar a espiritualidade profunda que vem de seus escritos. Perceber esse potencial pode nos incentivar a compartilhar seus livros. ] DENIS KAISER, PhD, é professor-assistente de História da Igreja na Universidade Andrews (EUA)

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VIDA ADVENTISTA

Antes perdido, agora achado O REFUGIADO AFEGÃO AJUDADO PELA ADRA SÉRVIA QUE SOBREVIVE COSTURANDO E SONHA EM SER ESCRITOR KIMI-ROUX JAMES E IGOR MITROVIC

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COMO MILHARES DE PESSOAS, ELE FUGIU DO TALIBÃ E DA CRISE FINANCEIRA E DE SEGURANÇA

ENCONTRANDO ESPERANÇA Nem tudo estava perdido. Por meio de um amigo, Nazari soube da existência de um centro comunitário da ADRA em Borca, a poucos quilômetros de Belgrado. “Conheci Yasin e Karim, funcionárias da ADRA Sérvia, que me explicaram os serviços que a agência humanitária adventista oferecia”, relembra o jovem, que passou a frequentar aquele espaço. O instrutor da ADRA que o mentoreou percebeu que ele era introvertido e não se comunicava em outro idioma a não ser sua língua materna, o farsi. Com a ajuda de um tradutor, Yasin e Karim

trabalharam com Nazari para que ele aprendesse mais idiomas e desenvolvesse outras habilidades. Ele ingressou no ensino superior e passou a praticar esportes. Iniciou também um curso de costura que o ajudou a se aperfeiçoar como alfaiate. “Os funcionários da ADRA me ajudaram quando ninguém mais me ajudou. Aqui fiz amigos para o resto da vida”, reconhece Nazari. Um ano se passou e agora ele trabalha como voluntário da ADRA, ensinando outros refugiados a costurar. Nazari também está trabalhando em um livro de poesias que será publicado on-line e por uma editora local. Assim como ele, outros refugiados também buscam reencontrar esperança e refazer seus sonhos. A ADRA atua na Sérvia e em 130 países para poder ajudar essas pessoas, seja em projetos de resposta imediata ou em programas de desenvolvimento de longo prazo. ] KIMI-ROUX JAMES é especialista em comunicação, marketing e desenvolvimento da ADRA Sérvia; IGOR MITROVIC é o diretor da agência humanitária no país

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Foto: ADRA

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ois anos. Esse foi o tempo que Massih Nazari, de 18 anos, levou para chegar à Sérvia, após ter fugido de Cabul, capital do Afeganistão, sua cidade natal. “Amo meu país”, explicou o jovem que morava com seus pais e irmãos. Ele havia terminado seus estudos, já tinha produzido alguns textos ficcionais e sonhava em ser escritor, quando sua cidade foi abalada por grande instabilidade. As expectativas de Nazari foram despedaçadas. O que antes era um lugar cheio de paz e harmonia se viu tomado por violência e crise econômica. Ele teve que fugir sozinho. “Não sou de desistir, mas as condições de vida foram piorando, e se tornou muito difícil encontrar emprego”, justificou. Ele decidiu deixar sua terra e família para viajar em condições precárias até chegar à Sérvia meses depois. Com ele, mais de 4 mil afegãos, incluindo homens, mulheres e crianças, também encontraram refúgio nesse país do leste europeu. A crise econômica e as ameaças do Talibã fizeram milhares de pessoas migrarem. “Como refugiado, você perde tudo. Eu simplesmente queria algo melhor”, explica. Nazari desejava entrar na Europa ocidental, mas todas as fronteiras da Sérvia estavam fechadas até segunda ordem do governo. Enquanto isso, nos subúrbios na capital sérvia, Belgrado, Nazari encontrou acomodação por vários meses num albergue. Porém, sem trabalho, ele não tinha esperanças.


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DEVOCIONAL

Imunoterapia espiritual A GUARDA DO SÁBADO PODE NOS AJUDAR A REPENSAR NOSSO CONSUMO DE ENTRETENIMENTO E O USO DO TEMPO

Mais tarde, quando comecei a viajar extensivamente, a tentação se tornou mais sutil. Em todos os quartos de hotel havia um aparelho de televisão, um maior que o outro, com centenas de opções de canais. Depois foi a tentação em relação à TV HD (alta definição). O diabo sabia que aquela era minha fraqueza; por isso, me perguntei: Para que ele inventa tentações novas se as antigas ainda funcionam? Após tantos anos, a tentação ainda existe para mim; é como a bebida para muitos ex-alcoólatras. De fato, hoje a TV perdeu muito terreno para tecnologias mais sofisticadas. Mesmo com uma pitada de culpa, gastamos muito tempo nas redes sociais, assistindo inúmeros clipes no YouTube ou acompanhando tuítes de hora em hora. No fim, acabamos racionalizando tudo isso com um ar de inevitabilidade dizendo que agora a vida é assim.

Foto: Daniel Von Appen

RON E. M. CLOUZET

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or vários anos eu sofri com um vício: assistir persistente e indiscriminadamente à televisão. Se a TV estivesse ligada, eu estava grudado nela. Desperdicei incontáveis horas em troca de bem pouco benefício. Há alguns anos, porém, quando vi meus dois filhos pequenos voltarem da escola e se jogarem no sofá com os olhos grudados na TV (era um aparelho básico, porque nunca ousei ter TV a cabo), concluí que eles acabariam exatamente como eu a menos que fizesse algo a esse respeito. Após consultar minha esposa, nós nos livramos da TV naquela mesma noite. O resultado é que nossos filhos aceitaram bem nossa decisão e se tornaram mais disciplinados na realização das lições de casa, além de que isso favoreceu que nos reuníssemos regularmente para os cultos familiares à noite.

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TEMPO DE REFLEXÃO A guarda do sábado pode nos ajudar a repensar o fluxo dessa rotina repetitiva e talvez sem muito sentido e proveito. A observância do sábado foi um refúgio para mim durante todos aqueles anos de vício em TV. Fui criado por pais que levavam esse mandamento muito a sério. Portanto, mesmo na época em que eu desperdiçava mais tempo com isso, ainda assim eu esperava ansiosamente pelo sábado. Em casa, a partir do pôr do sol de sexta e nas 24 horas seguintes, eu não ligava a TV. Por isso, o sábado era meu antídoto para a escuridão. E que diferença fazia! Eu tinha mais tempo para ler a Bíblia e meditar em sua mensagem. Era nesses momentos que eu experimentava o perdão de Deus pelo mal uso de um presente assim tão precioso como o tempo. Era no sábado que minha alma descansava e encontrava sentido num Deus que me amava a despeito da minha insistência em desperdiçar tempo com ­secularismo e fantasia. Há uma razão para Deus ordenar que santifiquemos o sábado (Êx 20:8): Ele fez o sábado para Sua criação (Mc 2:27). Este planeta foi feito para nós. Nosso corpo foi planejado da maneira que é para nosso benefício. Logo, o sábado foi feito para nós. Dependemos dele assim como não vivemos sem o pulsar do coração. GÊNESE DO SÁBADO E por que Deus teve a ideia de estabelecer o sábado? Bem, segundo Gênesis, na sextafeira Ele terminou a Criação (Gn 1:31-2:1). Depois de ter preparado um habitat adequado para o ser humano, a última ação criadora de Deus naquela semana inicial foi trazer Adão e Eva à vida (Gn 1:26, 27). Ele os fez à Sua imagem: seres dotados de espiritualidade e liberdade de escolha. Logicamente, o casal passou seu primeiro dia de existência com Deus conhecendo melhor seu Criador. Pense nisto: Adão, Eva e Deus no jardim. Que começo maravilhoso para a existência! Só posso imaginar esse primeiro casal inebriado de alegria, explorando a criação e aprendendo em primeira mão com Jesus, seu Criador (Cl 1:15-17). Acredito que, ao aproximar-se o fim daquele R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Maio 2018

O sábado foi uma criação divina para uma necessidade humana. É uma criação tão fundamental que Ele a perpetuou no quarto mandamento

primeiro sábado, o Filho de Deus tinha mais uma surpresa para eles, agora em forma de convite: “que tal passarmos esse dia juntos na próxima semana?” E, desde então, tem sido dessa maneira: Deus nos convida e nós nos alegramos. Essa é a gênese do sábado. O dia sagrado nunca foi uma invenção dos judeus nem dos ocupados moradores dos centros urbanos, que começam a se despertar para a necessidade de um dia livre a cada semana. O sábado foi uma criação divina para uma necessidade humana (Gn 2:1-3). É uma criação tão fundamental que Ele a perpetuou no quarto mandamento (Êx 20:8-11). Todos temos a grande necessidade de nos relacionar com Deus, de descansar Nele e deixar de lado os fardos de nossa rotina diária. A palavra hebraica no Antigo Testamento para esse repouso é shabbat. Ela significa não apenas “descansar”, mas também “cessar”. Mesmo que não estejamos

cansados, mesmo que tudo o que fizemos de domingo a sexta tenha sido útil e bom, quando chega o pôr do sol de sexta-feira devemos cessar nossa rotina (Lv 23:32). Isso contribui para que desenvolvamos uma sintonia espiritual importante. Guardar o sábado é como ouvir a música que enleva a alma a perceber coisas que não enxergaríamos enquanto vivemos neste mundo. Quando minha esposa e eu nos mudamos dos Estados Unidos para o norte da Ásia, ficamos impressionados com a densidade de pessoas que transitam pelos metrôs, trens e calçadas de metrópoles como Tóquio, Seul e Hong Kong. Ao observar essas multidões, entendi melhor a desesperadora necessidade humana por paz interior. Evita-se o contato visual. Quase todos estão concentrados no seu celular, enquanto a vida simplesmente acontece e não é vivida. E o que faz meu coração pesar é imaginar que apenas uma pequena porcentagem desses milhões de pessoas sabe que existe um Deus amoroso que controla o Universo. O sábado bíblico é parte da resposta que essas multidões buscam. É o antídoto para nossa vida agitada. “Parem de lutar! Saibam que Eu sou Deus!", escreveu o salmista (Sl 46:10). “A Teu respeito diz o meu coração: ‘Busque a minha face!’ A Tua face, Senhor, buscarei", completa outro salmo (Sl 27:8). Para que se entreter quase até a morte, quando a paz verdadeira está à disposição? Por que passamos dias inteiros insistindo em viver do nosso modo, quando, instintivamente, sabemos que isso não vai funcionar? O descanso está disponível para você e para mim, e deixar de lutar, tratando o sábado como o tempo santo que ele é, tornará o restante acessível (Hb 4:4-9). ] RON E. M. CLOUZET é secretário ministerial da Divisão do Pacífico Norte-Asiático, com sede na Coreia do Sul

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MINHA HISTÓRIA

Duelo com o diabo O CULTO EM QUE UM BÊBADO LIBERTOU UM ENDEMONINHADO

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DICK DUERKSEN quele estava sendo um dia normal de culto até que Raul Grandão entrou. Tudo estava acontecendo conforme o esperado. Os músicos tocavam habilmente, no ritmo certo, para que a congregação cantasse em adoração a Deus. As crianças esperavam ansiosamente pelo momento especial da história. Um casal idoso olhava os pequenos, relembrando como era cuidar de três crianças com menos de sete anos de idade durante o culto. A paz enchia a sala. Então, Raul Grandão invadiu a igreja como um búfalo bravo. Seus gritos anunciavam sua chegada bem antes de abrir as portas. O alvoroço da sua entrada parou tudo. As crianças estavam aterrorizadas, encolhidas na segurança do colo dos pais. A maior parte da congregação tentou continuar cantando, mas era difícil louvar mais alto que a voz do Grandão. Os músicos? Não mudaram o ritmo. Seu dever era muito mais importante do que a chegada do Raul Grandão. O pastor, conhecendo muito bem aquele homem, ficou sentado, orando silenciosamente, e esperou para ver como o Espírito Santo agiria. Raul Grandão, com seu hálito de deixar qualquer um bêbado, também estava louvando a Deus. Alto. Muito alto! “Jesus é nosso Rei, nosso Redentor, nosso Salvador, nosso 32

Irmão”, cantava ele, acabando-se em lágrimas. “Sou um pecador, mas Jesus me ama mesmo assim”, continuava Grandão, com a fala arrastada pelo efeito do álcool. Um casal de diáconos o conduziu para a lateral do templo, como um barco que puxa um navio enorme por meio de um canal estreito. Várias vezes os diáconos já haviam lidado com aquela situação. O demônio rum parecia trazer à tona o pior de Raul Grandão. Embora suas palavras glorificassem a Deus, sua vida era alimentada pelas drogas e não pelo amor de Deus. Raul Grandão seguia a orientação dos diáconos, ainda proclamando a bondade de Deus com rugidos bêbados, enquanto eles o levavam para uma das fileiras do fundo. Logo a normalidade do culto foi restabelecida. R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Maio 2018


Foto: Leroy Skalstad

EMBATE ESPIRITUAL Sem interrupção por poucos minutos. Então, Armando chegou. Ele não tinha uma casa de verdade, morava debaixo da ponte perto da igreja. Seus únicos amigos formavam uma gangue de traficantes de drogas e assassinos. Armando tinha cicatrizes, era bravo, forte e perigoso, um homem a ser evitado a todo custo. Até aquele dia, uma “igreja” nunca esteve na sua lista de lugares a ser visitados. Armando irrompeu pelas portas gritando blasfêmias contra tudo o que é divino. – Eu sou o diabo! – proclamava ele. Daquele momento em diante as coisas pioraram, aterrorizando a congregação e transformando o culto em um palco de demônios. O pastor, que já havia visto Armando repreender outras pessoas embaixo da ponte, baixou a cabeça e começou a orar silenciosamente com o fervor do apóstolo Paulo: “Agora é Sua vez, Senhor! O inimigo está aqui nos desafiando a levantar e lutar contra ele. Ou a correr e nos esconder. Eu clamo pelo Teu Espírito Santo para que venha com total poder ao nosso culto agora, Senhor. Se o inimigo nos declarar guerra, por favor, mostra-nos a Tua paz!” O pastor esperou ansioso para ver o que o Espírito faria. Quase imediatamente houve uma agitação lá no banco do fundo, onde Raul Grandão estava sentado com os diáconos. Ele, ainda com hálito de embriagado, se levantou cambaleante, encontrou suas pernas e marchou silenciosamente na direção de Armando, como uma cobra atrás de um rato. Raul Grandão não é chamado assim por acaso. Ele é mais alto do que todos. Parece um caminhão grande e se movimenta como se tivesse a missão de “limpar a estrada”. Todos se afastaram para dar espaço enquanto ele avançava na direção de Armando, que sentiu sua presença se aproximando e virou o rosto na direção de Raul. – Você não vai mais blasfemar contra meu Jesus nesta casa de culto! – desafiou o Grandão. Aquilo despertou o pior de Armando, que continuou com seu palavreado cheio de ódio, mas dessa vez jogando tudo isso na cara de Raul. Nada daquilo o deteve. Ele permanecia em pé, a apenas alguns centímetros do “diabo”. Grandão agarrou Arnaldo pelos ombros e ordenou ao inimigo que o deixasse naquele momento! Armando, quase desmaiando com o bafo de Raul, gritou ainda mais alto. Assim, Grandão soltou os ombros de Armando e, com suas mãos gigantescas, apertou as bochechas de seu oponente. – Saia desse homem agora mesmo! – gritou Grandão, nariz a nariz com Armando e com os demônios que tinham se apossado da vida daquele homem. A batalha barulhenta, poderosa, demoníaca e divina, deixou a igreja paralisada por 20 minutos. Os demônios de Amando tentaram gritar mais alto que os comandos de Raul Grandão, mas a conexão dele com Jesus ficava mais forte a cada grito dos demônios. De repente, como ocorreu algumas vezes há muitos séculos na Galileia, os demônios fugiram. Fraco, como se os demônios tivessem levado seus ossos, Armando desabou nos braços receptivos de Raul Grandão. Então, sóbrio R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Maio 2018

A BATALHA BARULHENTA, PODEROSA, DEMONÍACA E DIVINA, DEIXOU A IGREJA PARALISADA POR 20 MINUTOS

como se tivesse bebido apenas da “água da Vida”, Grandão abraçou Armando como a um bebê recémnascido. – Ele agora é nosso – gritou bem alto Raul Grandão, enquanto pastor, diáconos, idosos, pais, crianças e várias visitas correram para participar da comemoração. Os músicos começaram a tocar um ritmo mais vivo com notas mais agudas. E todos passaram a cantar juntos uma nova música: “A Canção dos Redimidos”. LIÇÕES PARA TODOS Quando ouvi essa história, fiquei impressionado e cheio de perguntas. “Será que isso realmente aconteceu?”; “Será que Armando e Raul Grandão são de verdade ou personagens criados pelos contadores de história?” Porém, logo eu soube que a história é verdadeira e eles são pessoas reais. Então, me surgiram mais perguntas: “Por que o pastor ficou sentado quieto, orando, em vez de pular no meio deles e resolver os problemas?”; “Quanto aquela igreja estava sintonizada com o Espírito Santo para ser uma comunidade acolhedora, para receber um bêbado e um endemoninhado?” E a pergunta mais importante de todas: “Como posso ajudar minha igreja a ser como essa congregação?” ] DICK DUERKSEN é pastor e mora em Portland, Oregon, nos Estados Unidos

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VISÃO GLOBAL

Unidade e autoridade da igreja – parte 2 TRABALHAR JUNTOS PARA CUMPRIR A MISSÃO DE CRISTO TED WILSON

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da igreja mundial, da Associação Geral, dos regulamentos das Divisões ou dos estatutos. No entanto, a Comissão Executiva da Associação Geral, formada por representantes do mundo todo, votou: “Os regulamentos da Associação Geral serão seguidos estritamente por todas as organizações do campo mundial. O trabalho de cada organização será administrado em total harmonia com os regulamentos da Associação Geral e das Divisões, respectivamente” (General Conference Working Policy [2016-2017], B 15 10, p. 73). VERDADES ETERNAS Um grupo de pessoas pode argumentar também que a igreja mundial não tem legitimidade para forçar uma conformidade. Sejamos bem claros: a igreja como um todo, incluindo suas unidades individuais, opera com base em verdades eternas, princípios bíblicos, valores espirituais e a ética celestial, que estão além de qualquer aspecto legal terreno. A igreja é governada pelo Espírito Santo, e nossa missão e crenças fundamentais recebemos das mãos de Deus. Como resultado da direção do poder do Espírito Santo, a igreja, seus líderes, instituições, organizações e membros são movidos por atitudes colegiadas aprovadas pelo Céu e que tenham como foco a missão do movimento adventista delineada na Palavra de Deus e no Espírito de Profecia. Independentemente de opiniões, há uma submissão à liderança de Deus como expressa pela igreja mundial e suas deliberações, como um corpo representativo dos adventistas de todas as partes da Terra. Quando qualquer organização, como parte do corpo de Cristo, determina seu próprio caminho, contrariando R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Maio 2018

Foto: Rawpixel

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ocê confere a seguir o resumo da segunda parte da palestra apresentada pelo pastor Ted Wilson na conferência de líderes da sede mundial da igreja, em Lisboa, Portugal, em 6 de fevereiro de 2018. Foram mantidos elementos do estilo oral. O que é verdadeira unidade? Ela vem de uma submissão sincera a Deus, aos nossos colegas de ministério e aos membros da igreja. E isso ocorre quando trabalhamos juntos, instruídos pela Palavra, pelos escritos de Ellen G. White e pelo Espírito Santo. Depois de um item ter sido cuidadosamente revisado pela igreja mundial e as devidas decisões terem sido tomadas, a unidade resultante desse processo supera, em muito, todas as convicções pessoais. E supera qualquer “direito” legal que possa ser exercido. As obrigações morais e espirituais para com Deus, Sua igreja e a unidade dela para o cumprimento da missão superam, em muito, qualquer opinião legal ou independente de algum membro, grupo de membros ou organização dentro do corpo geral da igreja. Alguns podem argumentar que uma organização da igreja devidamente registrada como entidade legal está fora do alcance das decisões


a vontade de todo o corpo, essa organização obstinada e independente está trabalhando contra a vontade de Deus para a união de Sua igreja em favor da missão. Como Jesus disse: “Minha oração não é apenas por eles. Rogo também por aqueles que crerão em Mim, por meio da mensagem deles, para que todos sejam um, Pai, como Tu estás em Mim e Eu em Ti. Que eles também estejam em Nós, para que o mundo creia que Tu Me enviaste. Dei-lhes a glória que Me deste, para que eles sejam um, assim como Nós somos um” (Jo 17:20-22). Que oração maravilhosa Cristo fez por nós do movimento adventista destes últimos dias, um grupo globalmente diverso, mas unido em Cristo e em Sua missão para a igreja! A suposição de que pode haver unidade na diversidade pode ser mal utilizada para mascarar intenções de abrir um caminho de divisão em nome da diversidade. Passagens como João 17, 2 Coríntios 13:11, Filipenses 2:1-4 e Atos 2:46 não defendem a “falsa” unidade, permitindo que várias partes do corpo ajam como desejam sob pretensa unidade. Em uma seção intitulada “Unidade na diversidade”, Ellen G. White escreveu: “Os obreiros de Deus devem se unir uns aos outros com amorável simpatia e confiança. Aquele que diz ou faz qualquer coisa que tenda a separar os membros da igreja de Cristo está anulando os desígnios de Deus. Disputas e dissensões na igreja, o nutrir suspeitas e incredulidade, é desonroso para Cristo. […] A verdadeira religião liga os corações, não somente com Cristo, mas uns aos outros, na mais terna união” (Testemunhos Para a Igreja, v. 9, p. 145). Esse espírito de autossacrifício e humildade genuína que nasce da conexão com Cristo é o que cada um de nós necessita para diminuir a tendência que todos temos de defender nossas opiniões e convicções pessoais em face às ações votadas pelo corpo da igreja remanescente de Deus na Terra. UM MURO DE EVIDÊNCIAS Os que se opõem ao cumprimento das ações do corpo geral da igreja, operando como assembleia ou Comissão Executiva da Associação Geral no terreno da “consciência”, precisam reconhecer que existe um muro de evidências na Bíblia e nos escritos de Ellen G. White indicando que o pensamento individual deve ser submetido às decisões do corpo maior. Ellen White, por exemplo, escreveu: “Tem havido sempre na igreja os que estão constantemente inclinados à independência individual. R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Maio 2018

Parecem ser incapazes de compreender que a independência de espírito é susceptível de levar o agente humano a ter demasiada confiança em si mesmo e em seu próprio discernimento, de preferência a respeitar o conselho e estimar altamente a maneira de julgar de seus irmãos, especialmente os que se acham nos cargos designados por Deus para guia de Seu povo. Deus investiu Sua igreja de especial autoridade e poder, por cuja desconsideração e desprezo ninguém se pode justificar; pois aquele que assim procede despreza a voz de Deus” (Atos dos Apóstolos, p. 163 e 164). A profetisa adventista também ofereceu instruções profundas para todos: “Quando, numa assembleia geral, é exercido o juízo dos irmãos reunidos de todas as partes do campo, independência e juízo particulares não devem ser obstinadamente mantidos, mas renunciados. Nunca um obreiro deve considerar virtude a persistente conservação de sua atitude de independência, contrariamente à decisão do corpo geral. Deus ordenou que os representantes de Sua igreja de todas as partes da Terra, quando reunidos numa Assembleia Geral, devem ter autoridade” (Testemunhos para a Igreja, v. 9, p. 260 e 261). Nunca nos esqueçamos da verdadeira missão da igreja que é alcançar o mundo com o evangelho eterno por meio de um movimento de reavivamento e reforma, missão para as cidades, ministério de saúde abrangente, envolvimento total dos membros, e outras iniciativas que poderão contribuir para a conclusão da obra de Deus por meio do Seu poder. Ellen White também escreveu que “a igreja de Cristo é o agente designado por Deus para a salvação dos homens. Sua missão é levar o evangelho ao mundo” (Caminho a Cristo, p. 81). Devemos nos unir para cumprir essa missão. Devemos sempre nos lembrar do objetivo de Deus em relação à unidade em Sua igreja enquanto enaltecemos a Cristo e Suas três mensagens angélicas: “Façam todo o esforço para conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Ef 4:3). O poder de Cristo sobre cada um de nós como igreja e nossa submissão a esse poder é o que nos ajudará a compreender a necessidade espiritual da unidade da igreja e a autoridade bíblica. Quando essa unidade plena for realidade, cumpriremos a missão de Deus de proclamar a segunda vinda de Jesus. ]

A VERDADEIRA UNIDADE VEM

DA SUBMISSÃO

SINCERA A DEUS, AOS NOSSOS COLEGAS DE

MINISTÉRIO E AOS MEMBROS DA

IGREJA, QUANDO TRABALHAMOS JUNTOS NA MISSÃO

TED WILSON é presidente mundial da Igreja Adventista. Você pode acompanhar o líder por meio das redes sociais: Twitter (@pastortedwilson) e Facebook (fb.com.br/pastortedwilson)

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NOVA GERAÇÃO

DEUS USA NOSSOS COMENTÁRIOS MAIS DESPRETENSIOSOS PARA TOCAR CORAÇÕES CÉTICOS

A EXPERIÊNCIA DE UMA COLPORTORA ESTUDANTE NA CIDADE ARGENTINA COM O MAIOR ÍNDICE DE SUICÍDIO DO PAÍS CAROLINA RAMOS

Uma hora mais tarde, recebi uma ligação telefônica de uma senhora agitada, que estava desesperada para encontrar alguém que pudesse responder às suas perguntas sobre a Bíblia. Ela havia encontrado meu contato naquele livreto e eu era a pessoa que poderia ajudá-la. Nós duas choramos quando ela me contou sua história. Mas suas lágrimas se tornaram em alegria quando ela falou da paz que sentiu quando soube que Deus estava no controle de tudo. Combinamos de nos encontrar todas as tardes de sábado para estudar a Bíblia. Naquele primeiro dia, antes de ir embora, ela me disse: “Meu esposo ficou surpreso quando você disse que a Bíblia tinha salvo sua vida. Ele ficou imaginando o que teria acontecido com você.” Deus usa nossos comentários mais “inocentes” para tocar corações céticos. O verão passou e, certo dia, antes de eu voltar para casa, fui visitar aquele casal. Levei de presente àqueles meus amigos dois dos meus livros preferidos: O Desejado de Todas as Nações e O Grande Conflito, ambos de Ellen G. White. Eles me convidaram para o jantar e também me presentearam. A senhora havia feito uma pequena Bíblia de cartolina decorada com a seguinte inscrição: “Muito obrigada por nos apresentar a Bíblia.” Percebi novamente que a Palavra de Deus ainda está “viva e ativa” e “não acorrentada” (Hb 4:12; 2Tm 2:9). Todos os dias, centenas de pessoas, jovens e idosos, trabalham no ministério da colportagem. Milhares de histórias já foram testemunhadas, muitas das quais ouviremos somente na eternidade. Todas elas começam com Jesus batendo à porta do nosso coração. Você já respondeu ao chamado Dele? E já bateu em alguma porta hoje? ] CAROLINA RAMOS estuda tradução, ensino de inglês e educação musical na Universidade Adventista del Plata, na Argentina

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R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Maio 2018

Foto: Arquivo pessoal

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i nd a m e le m b r o d e minha oração naquela manhã: “Senhor, por favor, me ajude a encontrar as pessoas que mais necessitam do Senhor, e mostre-me alguém com quem eu possa estudar a Bíblia.” Eu havia decidido colportar durante aquele verão. A mim foi designada uma cidade isolada, no sul da Argentina, famosa por seus campos de petróleo, ventos fortes, paisagem desértica e o mais alto índice de suicídio do país. Próximo ao meio-dia, eu havia chegado à casa número quatro e ainda não tinha conseguido falar com ninguém. Fui para a residência do lado e esperei impacientemente. Por fim, um homem abriu a porta. Ele mostrou interesse pelos livros sobre saúde, mas hesitou quando perguntei se poderíamos orar juntos. Ele disse que a esposa era religiosa, mas que ela não estava ali no momento. Disse ainda que tinham passado por dificuldades financeiras e que não tinham dinheiro para comprar livros. Dei a ele um livreto sobre as principais verdades bíblicas no qual estavam registrados meu nome e telefone. Quando eu estava indo em direção à porta, vi uma Bíblia aberta. Com um sorriso otimista, eu disse: “Estou feliz que o senhor tenha uma Bíblia! Esse livro salvou minha vida.” Ele fechou a porta e comecei a andar novamente na estrada de cascalho.

A QUINTA PORTA


PRIMEIROS PASSOS

RÁPIDO E PARA LUGAR NENHUM ASSIM COMO NÃO EXISTE A MÁQUINA DO MOVIMENTO PERPÉTUO, NÃO HÁ PECADOR QUE SEJA BOM O SUFICIENTE PARA IR AO CÉU WILONA KARIMABADI

Ilustração: Xuan Le

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ocê é bom o suficiente para merecer o Céu? Má notícia: não, e nunca será! Boa notícia: foi por isso que Jesus morreu por você! As feridas nas mãos e nos pés Dele provam que o preço da sua entrada no Céu já foi pago. É a bondade Dele, não a nossa, que nos torna herdeiros da vida eterna. Um exemplo da Física nos ajuda a entender nossa insuficiência. Não seria bom se você nunca mais tivesse que ligar seu computador na tomada nem carregar a bateria de seu celular? Há séculos, as pessoas têm tentado criar uma máquina que não perca energia. Mas certas leis da natureza que conhecemos mostram que é impossível criar a máquina do “movimento perpétuo”, porque tudo na Terra tende a perder energia, velocidade e parar. Tentar ser uma pessoa boa o suficiente para ir para o Céu é

Má notícia: você nunca vai ser bom o suficiente. Boa notícia: Foi por isso que Jesus morreu por você

R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Maio 2018

como apostar que um dia teremos a máquina do movimento perpétuo. A Bíblia diz que nossos melhores esforços são imundos (Is 64:6). E então, devemos desistir? Sim e não. Devemos perder a esperança em nossa bondade e confiar no impossível que Jesus fez e faz em nós e por nós. Isso se chama graça e tem o poder de nos tornar mais agradecidos e obedientes a Deus. Essa troca que Jesus fez conosco (2Co 5:21) fica mais clara na história de Chang Young. “Patrão, daqui um mês e Chang Young volta para China. Antes de ir, eu treina novo empregado para patrão”, disse baixinho o funcionário chinês. Chang Young havia trabalhado por muitos anos para seu patrão rico. Por que esse anúncio súbito? “Ah, eu acho que você quer se casar”, disse o patrão. “Eu pago para a moça vir para cá”, ofereceu o homem. “Não! Eu volto China para ficar”, respondeu Chang Young. “Mas Chang Young, por que você quer voltar para a China?”, o patrão insistiu surpreso. “Patrão, eu vou China para morrer.” Chocado, o homem perguntou: “Você está doente? Vou pagar o melhor médico para você!” “Não! Mas eu morro daqui um mês e quatro dias”, completou Chang Young. O patrão não conseguia acreditar no que estava ouvindo. “Patrão, em meu país, eu tenho irmão. Ele tem esposa e filhos. Eu não tenho família. Meu irmão agora em prisão. Ele sentenciado para morrer em um mês e quatro dias. Em meu país, irmão pode morrer por irmão. Eu vou China, morrer por irmão.” Jesus entregou Sua vida por você. Sirva a Ele agora e agradeçaLhe no Céu! ] WILONA KARIMBADI é editora-assistente da Adventist World Fonte: adaptação da história “Um Mês e Quatro Dias para Viver”, de Elva B. Garner, extraída do livro Guide’s Greatest Grace Stories (Review and Herald, 2008), organizado por Lori Peckham

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PERSPECTIVA

CUIDADO DA FAMÍLIA

AS TAXAS DE DIVÓRCIO E DE LARES MONOPARENTAIS ENTRE OS ADVENTISTAS NÃO SÃO MUITO DIFERENTES DA SOCIEDADE EM GERAL GERALD A. KLINGBEIL

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EM PESQUISA DA SEDE MUNDIAL DA IGREJA, 43% DOS ADVENTISTAS DISSERAM QUE QUASE NÃO TÊM CONTATO COM A BÍBLIA EM FAMÍLIA realizado em 2013 no território de nove Divisões da igreja. Das quase 25 mil pessoas entrevistadas, 17% declararam nunca fazer o culto familiar; 12% se reúnem para adorar a Deus em casa menos de uma vez por mês e outros 14% o fazem uma vez por semana. No total, 43% dos entrevistados disseram que quase não têm contato com a Bíblia em família. Os números sugerem que esse não seja um fenômeno regional, mas global. Lembro-me de que, por causa das ocupações da vida, às vezes eu não conseguia chegar em casa antes que minhas três filhas fossem para a cama. Agradeço minha esposa por “manter a tocha” nesses momentos em nosso lar. Duas

vezes ao dia nos reuníamos para passar tempo com Jesus em família. Não sou estatístico, e não sei se existe uma relação direta entre a irregularidade na realização do culto familiar e o risco de perda da próxima geração de adventistas. Contudo, como pastor e educador, sei que o tempo investido individual e coletivamente com a Palavra viva de Deus sempre traz restauração e nos aproxima do Pai e uns dos outros. O culto familiar requer compromisso e criatividade. E precisa ser apropriado à idade dos nossos filhos. Não é um substituto para as conversas honestas nem o momento de “ganhar” uma discussão. É a hora de convidar o Espírito Santo a Se sentir em casa: em nosso coração, em nossos relacionamentos e no lar. Penso que o próximo dia 15 de maio pode ser uma grande oportunidade de começar ou recomeçar a prática do culto familiar, fazendo desse momento uma bênção para nós e os outros. ] GERALD A. KLINGBEIL é editor associado da revista Adventist World

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Foto: Thinkstock

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dia 15 de maio é importante. É a data em que a comunidade global lembra da célula básica da sociedade. Definido pela Organização das Nações Unidas (ONU), o tema anual para a celebração do Dia Internacional da Família, que ocorre há 25 anos, trata de questões como educação, bem-estar e inclusão. No entanto, apesar desses esforços, tenho visto que não têm caído as taxas de divórcio, famílias monoparentais e violência doméstica. Como comunidade religiosa temos falado por meio da campanha Quebrando o Silêncio em favor dos que sofrem diversos tipos de abusos. Porém, não podemos enxergar esse projeto apenas como um slogan ou programa, mas uma atitude de protesto e participação em face da dor alheia. Na verdade, essa é uma forma de ecoar a voz profética de Deus registrada por autores do Antigo Testamento, como ­Isaías e Amós, os quais falaram em favor dos órfãos, das viúvas, dos estrangeiros e pobres. Tenho orgulho do programa Quebrando o Silêncio, mas me preocupo com as famílias adventistas. Nossas taxas de divórcio e de lares monoparentais não são muito diferentes da sociedade em geral. Esses problemas não são apenas de nossos vizinhos. No ano passado, o departamento de Arquivos, Estatísticas e Pesquisa da sede mundial da igreja publicou alguns resultados, um estudo importante


BEM-ESTAR

A REVISTA TIME IDENTIFICOU A GUARDA DO SÁBADO COMO UM DOS FATORES DE LONGEVIDADE DOS ADVENTISTAS DE LOMA LINDA (EUA)

HÁBITOS E EMOÇÕES

O ESTILO DE VIDA SAUDÁVEL TEM IMPACTO DIRETO NA SAÚDE EMOCIONAL, E ISSO TEM QUE VER COM DIETA EQUILIBRADA, EXERCÍCIO FÍSICO E DESCANSO ADEQUADO PETER N. LANDLESS E ZENO L. CHARLES-MARCEL

esde seu início, a Igreja Adventista do Sétimo Dia tem enfatizado significativamente as questões de saúde e bem-estar. Em 1863, por exemplo, Ellen G. White, uma das fundadoras dessa denominação, recebeu uma visão importante, que apresentava uma perspectiva abrangente de saúde e integradora entre corpo, mente e espírito. Uma visão anterior recebida por ela, em 1848, já havia tratado especialmente sobre os perigos do tabaco. A pioneira escreveu que essa mensagem havia sido dada porque o conhecimento dos primeiros adventistas sobre o tema ainda não estava completo. O fato é que um estilo de vida saudável tem um impacto integral sobre nossa saúde, afetando inclusive nossas emoções. A reeducação de hábitos pode não apenas prolongar a vida, prevenir e curar

Foto: Hao Ji

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doenças, mas nos capacitar para servir mais e melhor a Deus e ao próximo. Na verdade, o próprio serviço abnegado melhora nosso bem-estar físico e emocional. Quando pensamos nos remédios naturais que Deus nos deu, vemos que existem muitas implicações para nossa saúde física e emocional. A dieta vegetariana equilibrada, por exemplo, também pode melhorar nosso humor. Um estudo apresentado na reunião deste ano da Associação Americana de Neurologia mostrou que pessoas idosas que estavam seguindo uma dieta com baixo teor de sódio estavam menos propensas a sofrer com depressão. Esses resultados são importantes, pois a depressão se torna mais comum à medida que envelhecemos. A chamada dieta DASH, de prevenção à hipertensão e à qual esses idosos foram submetidos, prioriza a ingestão de vegetais e

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frutas, grãos integrais, castanhas e gorduras não saturadas, além de produtos lácteos com baixo teor gorduroso e pequena quantidade de carne vermelha. Pesquisas científicas de fôlego têm mostrado uma forte conexão entre a dieta vegetariana balanceada e a prevenção de doenças emocionais. O exercício regular moderado também melhora o humor e a sensação de bem-estar, e pode proteger contra a depressão. Esses efeitos são mais óbvios durante a atividade. O corpo produz endorfina, substância que eleva o ânimo e reduz a dor. O e ­ xercício também melhora nossa habilidade de planejar, pensar e resolver problemas, aguça a curiosidade e retarda a manifestação da demência. Por sua vez, o descanso adequado nos torna mais eficientes e permite que pensemos mais claramente. Padrões de sono saudável estão associados com menos obesidade, diabetes tipo 2, ansiedade e depressão. A revista Time, de 26 de fevereiro deste ano, identificou a guarda do sábado como um dos fatores de longevidade dos adventistas de Loma Linda (EUA). Em resumo, um estilo de vida saudável melhora o humor e as emoções, promove a longevidade, a espiritualidade e o bem-estar. Nossa saúde deve ser canalizada para servir a Deus como condutores de Sua graça ao mundo sofredor. ] PETER LANDLESS é cardiologista e diretor do Ministério da Saúde da sede mundial adventista em Silver Spring, Maryland (EUA); ZENO CHARLES-MARCEL é clínico geral e diretor associado desse mesmo ministério

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BOA PERGUNTA

O QUE SIGNIFICA A EXPRESSÃO “MISTÉRIO DA PIEDADE” EM 1 TIMÓTEO 3:16? O.G.T ÁNGEL MANUEL RODRÍGUEZ

passagem em questão é comumente considerada um breve hino do cristianismo, que trata de Cristo, Sua encarnação, ascensão, proclamação de Sua mensagem e como a Terra e o Céu reagiram ao sacrifício Dele. É a partir dessa ênfase sobre a proximidade de Deus em Cristo que o “mistério da piedade” deve ser entendido. Vamos às expressões do texto. 1. Piedade e mistério: no Novo Testamento, a palavra “mistério” significa algo oculto que foi revelado aos crentes, ainda que não em sua plenitude (Cl 1:25 e 26). Por sua vez, a palavra “piedade” é a vida que se vive em gratidão ao que Cristo fez. No entanto, a expressão “mistério da piedade” não significa “o mistério que é, ou consiste, de piedade”, mas o mistério que torna a piedade possível, o próprio fundamento da vida cristã: o ministério salvífico de Cristo. 2. Vida de Jesus: o hino em questão começa com o pronome ­masculino no singular “Ele”, referindo-se ao mistério como Jesus e Sua obra de salvação (Cl 1:27). Esse glorioso mistério, escondido em Deus, “apareceu em um corpo” ou em carne. O mistério é a maravilhosa obra de Deus Se tornando humano para nos levar para perto Dele, o que inclui também a ressurreição de Jesus. Implícita no hino está a crueldade da morte do Filho. O tipo de morte Dele parecia ser a negação de quem Jesus dizia ser. Porém, a ressurreição, realizada por meio do poder do Espírito (Rm 1:3, 4), vindicou Cristo como Redentor

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ÁNGEL MANUEL RODRÍGUEZ, pastor, professor e teólogo aposentado, foi diretor do Instituto de Pesquisa Bíblica da sede mundial da igreja

PAULO ESTÁ FALANDO SOBRE O MISTÉRIO QUE TORNA A VIDA PIEDOSA POSSÍVEL: O MINISTÉRIO SALVÍFICO DE CRISTO

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Ilustração: Lightstock

FONTE DA PIEDADE

do mundo. Após a ressurreição, veio a ascensão de Cristo, seguida por Sua presença entre os anjos. Eles viram o Príncipe vitorioso retornar para o Pai (Ap 5:12). 3. Proclamação e resposta: há uma dupla resposta à encarnação, uma na Terra e outra no Céu. Na Terra, o mistério desvendado é então proclamado para todos os povos como cumprimento da missão da igreja à qual o mistério foi confiado. O mistério revelado por Deus pertence à humanidade, porque todos anseiam aceitação e perdão uns dos outros, mas sobretudo da parte de Deus. O hino enfatiza também a resposta positiva na Terra ao ministério de Jesus: “o mundo acreditou” Nele. No Céu, por sua vez, a resposta à encarnação ocorreu na ascensão de Cristo. O Jesus ressurreto foi recebido na plenitude de Sua glória, glória que pertencia a Ele antes da criação do mundo. O hino é introduzido pela declaração “não há dúvida”, ou seja, o que está sendo determinado é inquestionável. O texto coloca a teologia a serviço da vida cristã. O hino apela para que respondamos em gratidão com uma vida piedosa ao que Deus fez por nós. Ele é a fonte que torna a piedade possível. ]


RETRATOS

Adventistas da região nordeste do estado de Nova York (EUA) ajudam nos mutirões de reconstrução de Dominica, nação insular do Caribe devastada pelo furacão Maria em 2017 Foto: David Lopez (Maranatha Volunteers International)

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CULTURA

Congresso pioneiro realizado em universidade africana discutiu práticas como o pagamento de dote e a poligamia, além de falar sobre o impacto da urbanização sobre a estrutura familiar africana

Congresso pioneiro discute tradições familiares africanas à luz da visão Bíblica sobre o casamento COSTIN JORDACHE

continente africano ainda mantém muitas tradições antigas relacionadas ao casamento. Na região sul de Moçambique, por exemplo, ainda é comum o noivo pagar o dote à família da mulher com quem pretende se casar. No fim dos anos 1990, Nelson Mandela, ex-presidente da África do Sul, deu 55 cabeças de gado como dote para a família de Graça Machel, moçambicana com quem se casou. Recentemente, um programador sulafricano chegou a desenvolver um aplicativo para calcular o “preço da noiva”. Nas culturas em que esse tipo de prática ainda é comum a cerimônia do lobola (como também é chamado o dote de casamento) chega a ter, para muitas mulheres, mais importância do que a cerimônia de casamento. Na realidade, em algumas dessas comunidades a união matrimonial não é registrada em cartório nem tem cerimônia religiosa. Esses e outros costumes foram debatidos num evento que abordou a relação entre cultura e tradições profundamente enraizadas em toda a África e o ponto de vista bíblico em relação às famílias. Realizada no início de março

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CONFLITO COM A CULTURA “A cultura é muito importante para todos nós, independentemente da nossa origem. Geralmente é a nossa cultura que dá o rumo para o que fazemos, como nos comportamos, como tomamos decisões e como vivemos”, afirmou Elaine Oliver, uma das organizadoras da iniciativa. Apesar de reconhecer a importância da cultura, o evento procurou se posicionar a respeito de questões que estão fortemente enraizadas em algumas comunidades africanas e conflitam com os valores bíblicos. É o caso da poligamia, tradição (e norma) em algumas partes da África. O evento reforçou a posição adventista quanto ao princípio da monogamia. Ao falar sobre o tema, o teólogo africano Ron du Preez defendeu que esse é o plano original e ideal de Deus para o casamento. No entanto, há questões que têm desafiado a igreja e gerado discussão, como o batismo de homens casados com várias mulheres. Um dos pontos discutidos foram as implicações éticas envolvidas. Por exemplo, o impacto sobre a esposa que “pode ficar” e as que vão ser mandadas embora, sendo marginalizadas pela sociedade e, em alguns casos, proibidas de se casarem novamente. Tendo em vista a complexidade de se discutir questões fortemente enraizadas na cultura africana, os palestrantes foram teólogos nativos com conhecimentos profundos sobre a cultura local. ] COSTIN JORDACHE é editor de notícias da Adventist World R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Maio 2018

Foto: Adventist Review

COSTUMES EM DEBATE

na Universidade Adventista da África, localizada a cerca de uma hora de Nairóbi (Quênia), a 1ª Conferência Panafricana sobre Dinâmica das Relações Familiares foi promovida pelo Ministério da Família da sede mundial, em parceria com líderes do departamento das Divisões Centro-Leste Africana (ECD), Centro-Oeste Africana (WAD) e Sul-Africana Oceano Índico (SID). Falando a respeito do lobola, Jongimpi Papu, secretário ministerial da Associação do Cabo, na África do Sul, destacou aspectos positivos e negativos da prática. Ele considerou que o costume não é, especificamente, proibido nem defendido na Bíblia. “Se fosse para o lobola ser praticado hoje, seria praticado de tal maneira que seu significado original seria mantido e fossem evitados os abusos potenciais”, ponderou.


IGREJA

LÍDERES CAPACITADOS

Programa ajuda membros das congregações locais a entender o funcionamento da organização e a exercer papel ativo nas decisões da igreja LIBNA STEVENS

tema da liderança tem recebido forte ênfase não apenas no mundo corporativo, mas também no contexto da igreja. Além de formar novos líderes, a denominação tem buscado criar uma nova cultura de liderança. Esse objetivo levou uma das sedes continentais da igreja a desenvolver um programa de capacitação.

Foto: Libna Stevens – Inter-American Division News

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A iniciativa é voltada basicamente para quem participa das mesas administrativas ou comissões da igreja. “O programa tem o objetivo de equipar os membros para cumprir suas responsabilidades. Queremos ajudá-los a compreender os princípios das diretrizes de governança da organização. Uma comissão tem a responsabilidade de tomar decisões, e é muito importante que seus membros compreendam o processo”, afirma Balvin Braham, assistente da presidência que coordena o treinamento. Israel Leito, presidente da igreja no território, acrescenta que a visão que tem sido enfatizada é a de que a igreja não é dirigida por uma pessoa, mas por uma

comissão. Segundo ele, nem sempre quem participa da tomada de decisões compreende plenamente seu papel. “Muitas vezes, há membros que não entendem o que estão votando”, ele afirma. Por isso, o programa se propõe a ajudá-los a compreender sua função, estar cientes de sua responsabilidade e desempenhar papel ativo nas decisões. “Os membros das mesas administrativas são os responsáveis pela organização. Os administradores apenas agem em favor deles. Queremos que os membros das mesas sejam capazes de apoiar a administração no cumprimento da missão”, Braham frisa. O curso faz parte de uma série de treinamentos promovidos pelo

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Curso desenvolvido on-line e presencialmente na Divisão Interamericana tem ajudado os membros da igreja que atuam como delegados nas reuniões administrativas a entender melhor seu papel

Segmento de Desenvolvimento em Liderança da Divisão Interamericana e inclui palestras sobre aspectos como a estrutura organizacional adventista, regulamentos e modelo de gestão. Além das capacitações presenciais, o projeto também oferece aulas na web. As transmissões são feitas a partir da sede da igreja para esse território, localizada em Miami, Flórida (EUA). No curso on-line também são respondidas questões submetidas pelos participantes ao longo do programa. O plano é que líderes regionais igualmente ofereçam treinamento para os integrantes de comissões das igrejas locais. Ao longo do mês de abril, várias capacitações foram realizadas em mais de 20 mil igrejas e grupos espalhados por esse território, que abrange México, Caribe, América Central e cinco países mais ao norte da América do Sul. ] LIBNA STEVENS é diretora-assistente do departamento de Comunicação da Divisão Interamericana

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LITERATURA

MANÁ RENOVADO Lição da Escola Sabatina ganha novo design e recursos que tornarão o estudo da Bíblia mais agradável e proveitoso ANDRÉ OLIVEIRA

igreja na América do Sul tem feito um esforço especial para ajudar os membros a aproveitar cada vez mais a lição da Escola Sabatina, tendo em vista sua importância para o estudo da Palavra de Deus. Um dos movimentos para alcançar esse objetivo é o projeto Maná, iniciado em 2012, que busca incentivar as pessoas a fazer a assinatura da Lição e a estudar diariamente seu conteúdo. Assim como o maná no deserto, a Lição está disponível a todos, mas cada um precisa colher e comer o pão espiritual. No deserto, o maná era renovado a cada dia. Nesse mesmo espírito, a Casa Publicadora Brasileira procura renovar e aprimorar a qualidade do conteúdo e dos aspectos gráficos da Lição da Escola Sabatina. Neste ano, foi lançado um novo design para a Lição de Adultos e Jovens. O novo projeto gráfico prioriza o conforto na leitura. Com uma fonte de texto mais leve e ao mesmo tempo assimétrica, transmite uma

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Além das mudanças gráficas, que deixaram o texto mais arejado, o material ganhou novos espaços para anotações. O auxiliar do professor também foi reorganizado com o propósito de tornar mais interativo o estudo em classe 44

informalidade ao texto e convida o leitor, de forma amigável, a uma interpretação e análise do conteúdo apresentado. As ilustrações internas passam a ter um papel real de introdução ao tema, juntamente com o título e o verso para memorizar, que ganhou mais destaque e que anteriormente fazia parte da lição de sábado à tarde. Essas ilustrações também estão em sua maioria menos descritivas e mais conceituais, representando o pensamento do tema da semana e não um ponto específico do estudo. Grandes mudanças também foram feitas na parte auxiliar do professor. Com mais espaço e um texto mais arejado, é possível fazer anotações junto ao texto e em perguntas como na seção “Aplicação”. As seções estão bem organizadas, deixando claros, os quatro passos no estudo da lição em classe: (1) Motivação, (2) Compreensão, (3) Aplicação e (4) Criatividade e atividades práticas. Tudo isso com o objetivo de que o estudo da lição em classe seja mais interativo. A capa da lição também foi reestruturada. Com um fundo branco que deixa em evidência o titulo geral “Lição da Escola Sabatina” e o logo da igreja, é possível uma fácil identificação pelo leitor. A imagem isolada e ao mesmo tempo avançando seus limites indica um tema mais dinâmico e atual para o estudo do trimestre. O estilo da ilustração foi levemente modernizado, retratando a atualidade da igreja sem perder a solidez dos seus princípios e doutrinas com base na Palavra de Deus. Mas tudo isso só tem sentido quando as pessoas tomam em suas mãos esse pão espiritual e se alimentam dele a cada dia. Histórias de pessoas que fazem sacrifício para não deixar faltar o maná espiritual em seu lar são um exemplo a ser seguido. ] ANDRÉ OLIVEIRA é editor da Lição da Escola Sabatina na CPB R e v i s t a A d ve n t i s t a // Maio 2018


MISSÃO Em sua terceira edição, evento reuniu 150 pastores e caravanas expressivas do Norte e Nordeste do Brasil

PONTO DE ENCONTRO

Congresso de missão urbana em São Paulo se torna espaço para interação de ministérios de todo o Brasil WENDEL LIMA

om 730 participantes, oito palestras plenárias e 18 workshops ao longo de três dias, o congresso de missão urbana Compassion está se tornando uma referência para os que buscam encontrar novos caminhos para a evangelização das cidades. O interesse por trocar ideias e ser inspirado a respeito de ministérios que atendem demandas emergentes do contexto urbano é o que atraiu caravanas de todas as regiões do Brasil, nos dias 13 a 15 de abril, ao Colégio Adventista de Vila Matilde, na zona leste de São Paulo.

Foto: Michelle Martins

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A contribuição do evento vai além de reunir jovens teólogos, como Marcelo Dias e Tiago Arrais; grandes oradores, como Odailson Fonseca; ou líderes mundias da igreja, como o pastor Ernesto Douglas Venn. O mérito do evento está também em ter privilegiado a apresentação de ministérios que estão sendo realizados nas igrejas locais e em centros de influência de todo o país, dando, assim, visibilidade e voz a essas iniciativas R e v i s t a A d ve n t i s t a // Maio 2018

que tratam de temas transversais e que desafiam a igreja para além de sua agenda institucional. “O Compassion nasceu da necessidade de oferecer treinamento prático que incentivasse os membros a trabalhar em algum ministério urbano, ainda que numa área não contemplada pelos nossos departamentos tradicionais”, explica o pastor Jair Miranda, organizador do evento. Ele destaca que na edição de 2018 participaram 150

pastores de várias regiões do Brasil e líderes de todos os níveis administrativos da igreja. Além disso, no sábado, dia 14, a hastag #Compassion2018 alcançou o 7º lugar no Brasil no trend topics do Twitter. Neste ano, o foco do congresso foi o discipulado das diversas gerações. “Nós só temos a ganhar se soubermos conduzir essas gerações juntas, usando o que cada uma delas tem de melhor em experiência e habilidade para cumprir a missão do Senhor”, resumiu o pastor Aguinaldo Guimarães, líder dos adventistas das regiões norte e leste da capital paulista, sede administrativa anfitriã do evento. O pastoreio de pessoas de diversas faixas etárias, por exemplo, foi contemplado no workshop do doutor em Biologia Flávio ­K rzyzanowski Júnior, que lidera um ministério de acolhimento para homoafetivos na Igreja Central Paulistana; na apresentação de Vinícius e Emerson Metzker, que trataram do potencial evangelístico da prática esportiva; no seminário da enfermeira Jaqueline Menon, que abordou o discipulado de grupos com deficiências específicas; e na palestra de Silvana Cazonato, que tratou sobre ministérios para idosos, como a organização de um clube sênior. Nas palavras do pastor Douglas Venn, coordenador mundial da iniciativa Ministério Para as Cidades, uma das exigências da evangelização urbana é estar atento à diversidade de públicos e necessidades, e procurar atendê-los como Jesus faria. Aliás, conhecer melhor os desafios urbanos e pensar em como responder a eles será o tema do Compassion 2019, marcado para os dias 30 de maio a 2 de junho. ] WENDEL LIMA é editor associado da Revista Adventista (com informações da jornalista Michelle Martins)

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MEMÓRIA

Almir Ramos da Silva, aos 74 anos em São Carlos (SP), vítima de câncer. Batizado em 1982 na Clínica Adventista de São Roque (SP), foi membro de igrejas em Suzano e Serra Negra, onde desempenhou várias funções de liderança, sendo na maior parte do tempo ancião dessas congregações. Deixa a esposa, dois filhos e sete netos. Antonio Ribeiro da Silva, aos 79 anos, em Jales (SP), vítima de pneumonia e parada cardiorrespiratória. Serviu como diácono e professor da Escola Sabatina na Igreja de Jales (SP). Também ajudou na construção da sua igreja e no ministério de assistência social. Vivia para auxiliar familiares e amigos. Deixa a esposa, um filho e dois Redação netos. Dalton Alves Designer Pereira de Mesquita, aos 87 anos, em CQ São João de Meriti (RJ), vítima de pneumonia. Foi ancião, Marketing tesoureiro e diácono da Igreja do Éden. Era conhecido também por suas apresentações de gaita na igreja. Foi um dos pioneiros das Igrejas de Éden 2, Vila Norma e da Bacia, todas em São João de Meriti. Em 1984, Dalton trabalhava como instrutor bíblico e foi por influência de uma série bíblica ministrada por ele ao longo de 95 noites que uma Igreja do Pentecostes do Sétimo Dia tornou-se na Igreja

Adventista do Sétimo Dia do bairro da Bacia. Deixa a esposa, Selma, três filhos, quatro netos e dois bisnetos. Flora Lopes Costa, aos 88 anos, em Cotia (SP), vítima de insuficiência respiratória. Paulistana e batizada havia 52 anos, era membro da Igreja de Vila Rio Branco, onde serviu por vários anos como diaconisa. Deixa três filhos e um neto. João de Oliveira Barbosa, aos 81 anos, vítima de infarto do miocárdio. Frequentava a Igreja Central de Pariquera-Açu, no Vale do Ribeira (SP). Batizado na adolescência, desde 1986 era assinante da Revista Adventista, periódico que colecionava e que lhe serviu de base para o preparo de muitos sermões. Trabalhou em vários ministérios da igreja, como o de jovens, Escola Sabatina e ancionato. Chegou a colportar por alguns anos. Gostava de ministrar estudos bíblicos e cantar em quartetos. Nas reuniões familiares, sempre lembrava a todos sobre a importância de estarem prontos para a vinda de Jesus. Deixa a esposa, Hosana, com quem foi casado por 57 anos, três filhos, quatro netos e uma bisneta. Lídio Arcanjo de Novais, aos 85 anos, em Brasília (DF), vítima de complicações de um AVC. Natural de Paratinga (BA), foi batizado

no Distrito Federal, onde ajudou na fundação das Igrejas Central de Taguatinga e de Taguatinga Norte. Lídio trabalhou como pedreiro na edificação do Congresso Nacional e de alguns prédios de ministérios em Brasília, por ocasião do projeto de construção da capital federal do então presidente Juscelino Kubitschek. Era conhecido pelo perfeccionismo e esmero com o qual se dedicava ao trabalho, pela honestidade nos negócios e pela fé na breve volta de Cristo. Deixa a esposa, Alaida, com quem teve seis filhos (um deles falecido em janeiro), 17 netos (um deles também falecido em janeiro) e oito bisnetos. Lucas Sabóia Lucena, aos 18 anos, vítima de assassinato, quando saía de casa para o trabalho. Lucas trabalhava como menor aprendiz na Associação Amazônia Ocidental, em Porto Velho (RO). Era membro da Igreja da Liberdade, na capital rondonense. Atuante na igreja, ele gostava muito de cantar. Deixa pais e familiares. Osmar Pedro Borges Ceconi, aos 67 anos, em Sapiranga (RS), vítima de câncer. Graduado em Letras, trabalhou no Tribunal Regional do Trabalho, como professor de Língua Portuguesa no Colégio Adventista de Porto Alegre e instrutor bíblico da Igreja da Floresta. Foi um intelectual, lia muito, gostava de escrever e cultivar a terra. Homem generoso, de fé, coragem e

visão, tinha a Bíblia como livro predileto. De espírito missionário, Osmar ajudou na plantação e na construção de várias igrejas nas cidades de Piratini, Alvorada, Sapiranga e Porto Alegre. Tinha paixão pela pregação e a ministração de estudos bíblicos. Deixa a esposa, três filhos e dois netos. Ramiro Batista Lima, aos 89 anos, em Curitiba (PR), vítima de mal de Alzheimer. Natural de Pesqueira (PE), foi batizado aos 21 anos de idade num rio. Em 1952 mudou-se para o interior do Paraná numa viagem de 15 dias em pau de arara. Ali trabalhou arduamente desbravando as inóspitas matas virgens. Dezesseis anos depois foi morar em Curitiba, onde ajudou a fundar a Igreja de Jardim Itamarati, na qual permaneceu até sua morte. Deixa nove filhos, 23 netos e 12 bisnetos. Tully Nagel, aos 88 anos, vítima de infecção generalizada. Era o irmão mais velho do pastor Ruy Nagel, ex-presidente da sede sulamericana da igreja. Natural de Jaguari (RS), tornou-se proprietário e administrador da Tully Nagel Engenharia. Ele foi um dos fundadores da Igreja da Floresta, em Porto Alegre, onde serviu por muitos anos como ancião. Foi também um dos fundadores da Famg (Federação Adventista da Mocidade Gaúcha) e um dos construtores de sua sede social e esportiva. Testemunhou de sua fé por onde passou. Viúvo, deixa cinco filhos e 11 netos.

“ B E M - AV E N T U R A D O S O S M O R T O S Q U E , D E S D E A G O R A , M O R R E M N O S E N H O R ” R e v i s t a A d ve n t i s t a // Maio 2018

(APOCALIPSE 14:13)

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DEPRESSÃO PÓS-PARTO

AS GESTANTES QUE PASSAM POR ISSO PRECISAM SER TÃO CUIDADAS QUANTO SEUS BEBÊS TALITA CASTELÃO

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asceu! Tristeza ou alegria? Sempre associamos o nascimento de uma criança a um momento festivo, cercado por familiares, amigos e presentes. Mas muitas mães não se sentem felizes com o nascimento do filho. E se for um caso de depressão pósparto, ela não tem culpa disso. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a depressão pós-parto uma doença grave que afeta até 15% das mamães. Muitas vezes a família não compreende que essa condição precisa ser encarada com seriedade e tratamento adequado, pois as consequências são significativas para a mãe e a criança. Quem desenvolve a depressão pós-parto experimenta geralmente uma tristeza profunda, melancolia, irritação, cansaço, incapacidade de se conectar emocionalmente com o filho e dificuldade em prestar os cuidados básicos ao recém-nascido. Esse quadro pode durar dias ou meses, aparecendo imediatamente após o nascimento ou nas semanas seguintes. Ter um filho gera tensão emocional Redação e estresse mesmo quando a gravidez é desejada. Além disso, alterações nas taxas de estrogênio e progesterona, hormônios femininos, também contribuem para que o quadro se instale. Designer Um estudo da Universidade de Brown (EUA) mostrou que quando as mães já têm alguma prévia alteração de humor e também quando os filhos nascem prematuros, necessitando ser assistidos em unidades CQ de terapia intensiva (UTI), a incidência de depressão pós-parto pode até dobrar. O estudo contemplou 724 mães de bebês que ficaram mais Marketing de cinco dias em UTIs. A doutora Katheleen Hawes, coordenadora da pesquisa, destaca a importância de uma avaliação mais global sobre a saúde das gestantes. Seria importante identificar quais delas são mais suscetíveis à depressão pós-parto, principalmente nos casos em que o nascimento não ocorre como esperado. No Brasil, uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) que entrevistou quase 24 mil mães revelou que, em cada quatro brasileiras,

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TER UM FILHO GERA TENSÃO EMOCIONAL E ESTRESSE MESMO QUANDO A GRAVIDEZ É DESEJADA

R e v i s t a A d ve n t i s t a // Maio 2018

mais de uma apresenta sintomas depressivos em um período de até 18 meses após o parto. Esse estudo também revela a influência de fatores econômicos e sociais para o problema. Em casos mais dramáticos pode acontecer a psicose pós-parto, quadro clínico capaz de levar a mãe ao suicídio e até mesmo a atentar contra a vida do bebê. Felizmente, a incidência do transtorno é rara: um ou dois casos em cada mil gestantes. Vale destacar que o apoio da família é primordial no tratamento da depressão pós-parto, sobretudo o auxílio do companheiro da mulher. A mãe não deve ser julgada como “desnaturada” nem cruel. Em muitos casos será preciso o acompanhamento de um psicoterapeuta, além do uso de antidepressivos. É importante lembrar que esse tipo de adoecimento pode ocorrer com qualquer mulher, mesmo que aparentemente saudável. Por isso, a mamãe precisa de suporte e compreensão para conseguir encarar a doença e nutrir emocional e fisicamente o filho. ] TALITA CASTELÃO é psicóloga clínica, sexóloga e doutora em Ciências

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ESTANTE

LARGURA E PROFUNDIDADE

ENCICLOPÉDIA OFERECE VASTOS RECURSOS SOBRE A PESSOA, OS ESCRITOS E AS IDEIAS DE ELLEN G. WHITE DIOGO CAVALCANTI

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a era da tecnologia, da informação instantânea e da superficialidade, há um clamor por contexto, calma e ­reflexão. Não há como construir um conhecimento verdadeiro se ele for calcado em leituras fragmentadas e apressadas. Sem dúvida, hoje esse é um dos maiores desafios para os leitores de Ellen G. White (1827-1915). Antes de se formar uma opinião precipitada sobre ela e seu pensamento a respeito de qualquer tema, é preciso verificar o que ela escreveu e captar sua intenção, considerando o mundo em que vivia. O lançamento da Enciclopédia Ellen G. White (CPB, 2018, volume único, 1.568 páginas), previsto para junho, se apresenta como resposta a essa necessidade. Organizada por Denis Fortin e Jerry Moon e escrita com a participação de mais de 180 especialistas de todo o mundo, é a maior obra de referência sobre o assunto. Dividida em quatro seções, oferece seis artigos de peso, mais de 500 verbetes biográficos (sobre as pessoas para as quais Ellen escreveu), mais de 800 verbetes

A OBRA É UMA REFERÊNCIA QUE SE SOMA AOS CLÁSSICOS DO ADVENTISMO COMO FONTE OBRIGATÓRIA PARA ENTENDER MELHOR QUEM SOMOS E O QUE CREMOS 50

temáticos e quatro apêndices, contendo infográficos sobre a ancestralidade de Ellen White e a relação entre seus escritos. Nos verbetes temáticos, achamse análises sobre publicações de Ellen White, os lugares que visitou e temas abordados por ela, tão variados como grandes questões teológicas, movimento da carne santa, reforma do vestuário, seguros, ingestão de queijo, animais de estimação, política e humor. Ao fim, há também os apêndices dos arquivos de documentos de todas as cartas e manuscritos da autora. Uma série de mapas indica as localidades mais significativas em seus escritos. Uma extensa cronologia detalha eventos de sua vida. Também se encontra na Enciclopédia uma coleção de fotos antigas de Ellen White e sua família, bem como de pessoas, objetos, publicações e instituições apresentadas nos verbetes. À versão em português foram acrescentados 39 verbetes relacionados ao contexto do adventismo brasileiro, como informações a respeito de obras especiais, livros missionários e de colportagem, separatas e outros materiais publicados no país. Também houve um cuidado especial com a comunicabilidade do conteúdo, ao oferecer a tradução de títulos e nomes de instituições e organizações, sem perder de vista o original. A Enciclopédia Ellen G. White já nasce como um clássico do adventismo e surge em uma época

TRECHO

“Seus textos dão evidências de que havia nela intenções teológicas ao escrever. O uso da Bíblia em seus escritos é notado por sua dedicação às Escrituras e pela ênfase na importância da Palavra para nossa vida” (p. 302).

crucial da história da denominação. Nessa obra, o leitor encontra largura e profundidade sobre centenas de assuntos e, com isso, tem a chance de compreender melhor quem foi Ellen, qual foi seu chamado e o que seus escritos disseram em seu tempo e têm a nos ensinar hoje. ] DIOGO CAVALCANTI é pastor, jornalista e coordenador editorial de livros na CPB

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