D E S C A N S O D I G I TA L /// M E N S A G E I R A D O S E N H O R /// F R U S T R A Ç Ã O N O C A M P O M I S S I O N Á R I O /// E VA N G E L I S TA D E P O I S D O S 9 0
Exemplar avulso: R$ 2,84 | Assinatura: R$ 34,00
JUNHO 2018
A DIETA DO FUTURO
O REGIME QUE VOCÊ ESCOLHE PODE FAZER BEM PARA O PLANETA
EDITORIAL
PROCURAR VIVER BEM NO PRESENTE É UM MODO DE HONRAR A VIDA DO FUTURO MARCOS DE BENEDICTO
O mundo parece estar cada vez mais interessado em vida saudável, embora a prática não corresponda ao ideal. Nunca se falou tanto em dietas e bem-estar. Por exemplo, no início do ano, com a ajuda de especialistas, a revista U.S. News & World Report apresentou um ranking das 40 melhores dietas para 2018 (veja mais em: adv7.in/Pc). Para figurar nas primeiras posições, a dieta teria que ser fácil de ser seguida, nutritiva, segura, efetiva para a perda de peso e protetora contra diabetes e doenças do coração. As cinco primeiras colocadas foram: (1) a dieta DASH, cuja ênfase está nos alimentos que ajudam a baixar a pressão arterial; (2) mediterrânea (empatada com a DASH), que inclui frutas, vegetais, cereais integrais, castanhas e óleo de oliva, entre outros produtos; (3) flexitariana, uma espécie de vegetarianismo flexível, permitindo o consumo ocasional de carne; (4) vigilantes do peso, regime que valoriza o controle de calorias; e (5) mind, que privilegia alimentos saudáveis para o cérebro e, teoricamente, ajuda a evitar o mal de Alzheimer. A dieta vegetariana ficou na décima posição (empatada com a da fertilidade). O interessante é que, em vários aspectos, todas essas dietas se aproximam do vegetarianismo e de alguns grupos de alimentos enfatizados há muito
A VIDA É UM DOM DE DEUS, NÃO UMA CONQUISTA HUMANA, AINDA QUE COM O REGIME IDEAL
tempo pela Igreja Adventista. Além de fazer bem para a pessoa, o consumo mais consciente tem levado em conta igualmente o impacto no meio ambiente, como revela a matéria de capa. Embora seja irreal esperar que todo mundo vá se preocupar com a alimentação saudável, os novos hábitos já estão mexendo com o mercado. Por exemplo, a Nestlé, maior companhia de alimentos do mundo, e a Kraft Heinz, a quarta maior, já revelaram seus planos de investir em novas linhas de produtos mais saudáveis. O desempenho em 2017 forçou essas gigantes, entre outras, a prestar mais atenção ao desejo do consumidor e a repensar seu cardápio de ofertas. Do ponto de vista bíblico, quando olhamos para a criação e a nova criação, vemos um mundo perfeito, com regime vegetariano e sem degradação ambiental. O plano original de Deus era que o ser humano pudesse comer da árvore da vida e viver eternamente. A localização da árvore da vida no meio do jardim (Gn 2:9), lembrete da nossa finitude e símbolo da nossa dependência, indica sua posição central em termos de geografia e teologia. Isso significa que a vida é um dom de Deus, não uma conquista humana, ainda que com o regime ideal. Obedecer é fundamental, como indica a localização da árvore do conhecimento do bem e do mal igualmente no meio do jardim (Gn 2:9), a qual serviu de teste para os primeiros representantes da humanidade (Gn 2:16-17; 3). Porém, o que garante mesmo a vida eterna é outra árvore (madeiro da cruz) fincada no meio do planeta, a qual nos devolveu o direito de ter acesso à árvore da vida, que se encontra no paraíso de Deus e cujas folhas servem para a cura das nações (Ap 22:2). Enquanto o dia da dieta original não chega, temos que viver de maneira responsável, antecipando essa realidade gloriosa. ] MARCOS DE BENEDICTO é editor da Revista Adventista
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R e v i s t a A d ve n t i s t a // Junho 2018
Foto: Fotolia
CARDÁPIO ORIGINAL
Jun. 2018
No 1334
Junho 2018
Ano 113
www.revistaadventista.com.br
Publicação Mensal – ISSN 1981-1462 Órgão Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia no Brasil “Aqui está a paciência dos santos: Aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus.” Apocalipse 14:12 Editor: Marcos De Benedicto Editores Associados: Márcio Tonetti e Wendel Lima Conselho Consultivo: Ted Wilson, Erton Köhler, Edward Heidinger Zevallos, Marlon Lopes, Alijofran Brandão, Domingos José de Souza, Geovani Souto Queiroz, Gilmar Zahn, Leonino Santiago, Marlinton Lopes, Maurício Lima e Moisés Moacir da Silva Projeto Gráfico: Eduardo Olszewski Ilustração da Capa: Fotolia
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O custo ambiental do seu prato
Quem foi Ellen White?
O dom de profecia
Mensageira do Senhor para o seu tempo e o nosso
A revelação de Deus nos ajuda a diferenciar o certo do errado
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Desabafo de uma missionária
Estoque divino
Da resistência ao testemunho
O que você come tem impacto na saúde do planeta
Adventist World é uma publicação internacional produzida pela sede mundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia e impressa mensalmente na África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Áustria, Brasil, Coreia do Sul, Estados Unidos e México v. 14, no 6 Editor: Bill Knott Editores associados: Lael Caesar, Gerald Klingbeil, Greg Scott Editores-assistentes: Sandra Blackmer, Stephen Chavez, Costin Jordache, Wilona Karimabadi (Silver Spirng, EUA); Pyung Duk Chun, Jae Man Park, Hyo-Jun Kim (Seul, Coreia do Sul) Tradutora: Sonete Costa Arte e Design: Types & Symbols
A vida no campo missionário tem mais lutas do que vitórias
Gerente Financeiro: Kimberly Brown Gerente Internacional de Publicação: Pyung Duk Chun Gerente de Operações: Merle Poirier
SUMÁRIO
As mil peças que foram encontradas depois de 60 anos na África
A história da portuguesa teimosa que se tornou uma grande missionária
Conselheiros: Mark A. Finley, John M. Fowler, E. Edward Zinke Comissão Administrativa: Si Young Kim, Bill Knott, Pyung Duk Chun, Karnik Doukmetzian, Suk Hee Han, Yutaka Inada, German Lust, Ray Wahlen, Juan Prestol-Puesán, G. T. Ng, Ted N. C. Wilson
CASA PUBLIC ADOR A BRASILEIR A Editora da Igreja Adventista do Sétimo Dia
34 PRIMEIROS PASSOS
41 INTERNACIONAL
4 CANAL ABERTO
35 PERSPECTIVA
42 IGREJA
A opinião de quem lê
SERVIÇO DE ATENDIMENTO AO CLIENTE LIGUE GRÁTIS: 0800 9790606 Segunda a quinta, das 8h às 20h Sexta, das 8h às 15h45 / Domingo, das 8h30 às 14h
5 BÚSSOLA
Pedras para a nova geração
Diretor-Geral: José Carlos de Lima
6 ENTREVISTA
Diretor Financeiro: Uilson Garcia Redator-Chefe: Marcos De Benedicto
Shabat digital
Gerente de Produção: Reisner Martins
8 PAINEL
Gerente de Vendas: João Vicente Pereyra Chefe de Arte: Marcelo de Souza
Datas, números, fatos, gente, internacional
Não se devolvem originais, mesmo não publicados. As versões bíblicas usadas são a Nova Almeida Atualizada e a Nova Versão Internacional, salvo outra indicação. Exemplar avulso: R$ 2,84 | Assinatura: R$ 34,00
17 ENTENDA
O alcance da SBB
29 NOVA GERAÇÃO
Números atrasados: Preço da última edição. Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem prévia autorização escrita do autor e da Editora.
Tiragem: 158.000
2 EDITORIAL
Cardápio original
Rodovia Estadual SP 127 – km 106 Caixa Postal 34; CEP 18270-970 – Tatuí, SP Fone (15) 3205-8800 – Fax (15) 3205-8900
5842/38214
Deixem as crianças virem a Mim
32 VISÃO GLOBAL Dom vital
O testemunho de Clifford Quem deve viver e quem deve morrer?
36 BEM-ESTAR
Vida temperante
37 BOA PERGUNTA
Pacto de amor e lealdade
38 RETRATOS
O drama das crianças em Bangladesh
39 LIBERDADE RELIGIOSA Intolerância no México
40 HISTÓRIA
Implicações globais Hora do balanço
44 SOCIEDADE
Refúgio para os venezuelanos
45 MEMÓRIA
Dormiram no Senhor
46 INSTITUCIONAL Vale a pena crescer
47 EM FAMÍLIA Você está louca?
50 ESTANTE
Milagres em Aparecida
Adventismo no velho continente
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CANAL ABERTO PSICOTERAPIA E ESPIRITUALIDADE
DIREITOS IGUAIS
Importantíssimo o artigo de capa de maio. Não podemos realmente dissociar o estudo da mente e a espiritualidade, pois ambos produzem impacto profundo em nossa existência. Algo que não pode ser negado pela ciência. Alexandro Garcia Gomes Alves / Costa Rica (MS)
MENTE E ESPÍRITO
A matéria de capa da Revista Adventista de maio está excelente. É gratificante saber que, numa cultura marcadamente materialista, a psicologia está buscando o auxílio da religiosidade para promover cura. Por outro lado, devemos ficar atentos, pois, assim como Deus comunica poder por meio da mente, Satanás procura manipular o ser humano e levá-lo à prática escravizadora do mal. Manuel Xavier de Lima / Engenheiro Coelho (SP)
TERAPIA DIVINA
Sempre que leio a seção Canal Aberto, fico torcendo para ter mais mulheres participando. Em maio, fiquei feliz por isso ter acontecido. Destaco também a mensagem do editorial. Que a ação do Espírito Santo possa nos trazer a verdadeira paz! Ivaldo Bunak / Campo Mourão (PR)
REVISTA NA UNIVERSIDADE
Em meados de maio, apresentei um seminário na disciplina Imprensa e Impressos do mestrado em História da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) sobre a Revista Adventista. Na graduação, eu havia pesquisado a respeito da historicidade de Jesus. E fiz isso inspirado numa notícia da revista que destacava um TCC apresentado na USP acerca da guarda do sábado. Agora, na minha dissertação, pretendo pesquisar a respeito 4
da chegada e do desenvolvimento da Igreja Adventista na Paraíba. Daniel da Silva Firino / Bayeux (PB)
MUDANÇAS NA REVISTA
Na Revista Adventista de abril tivemos oito artigos mais extensos e de fôlego, enquanto que, da parte do conteúdo nacional, contei três matérias compactas. Percebo que pessoas conservadoras têm preferência por materiais longos e profundos, e os leitores contemporâneos e apressados, por sua vez, preferem ler algo mais sintético. Acredito que os editores da revista têm trabalhado para agradar “gregos e troianos", e que Deus está cuidando desse processo de integração. Rudolf Harder / Aracaju (SE)
Estou gostando muito da nova proposta da revista, especialmente dos artigos da Adventist World. O conteúdo da edição nacional foi muito enriquecido com essa contribuição internacional. Reinaldo Cordeiro Neto / Cascavel (PR)
Ao contrário de muitos comentários anteriores, eu só tenho o que elogiar na nova proposta da Revista Adventista. Tanto o design quanto as matérias estão excelentes. Os artigos estão mais profundos e resgatando nossa história e essência como adventistas. É emocionante ver que nossos irmãos de qualquer parte do mundo vivem dilemas parecidos com os nossos. Juliana Coutinho Oliveira / São Paulo (SP)
O editorial da Revista Adventista de março de 2018 acolheu o materialismo dialético, o progressismo e o marxismo para justificar no texto as diferenças entre os homens e as mulheres. Culpou o patriarcalismo e o Talmude e celebrou, ainda que indiretamente, uma data recheada de um conteúdo anticristão e ateísta. A busca da igualdade material e legal produziu uma sociedade perdida, iludida e confusa. Ao citar a Unesco, o editorial confere credibilidade a um organismo completamente tomado por pessoas que escolhem o que há de pior para a educação. Salva-se o último parágrafo. Esse sim condigno ao pensamento de um cristão. Bastaria ele para introduzir o excelente trabalho da matéria de capa. Ênio Xavier / Via e-mail
Obrigado por sua apreciação da matéria de capa e pelo comentário referente ao editorial! O fato de o editorial mencionar a óbvia opressão da mulher ao longo da história não significa acolher “o materialismo dialético, o progressismo e o marxismo”. Para reconhecer os efeitos do pecado, não precisamos dessas ferramentas. O mesmo vale para a estatística da Unesco. O objetivo não foi validar ou criticar a política do organismo, mas apenas mencionar um dado sobre alfabetização. Um detalhe: não há contradição entre o teor da matéria de capa e o do editorial. A última frase do artigo diz: “Embora alguns continuem vendo a Bíblia como um livro machista, ela tem muito a nos ensinar sobre o valor e o papel da mulher.” E o editorial afirma: “Se a discriminação contra o gênero feminino ainda persiste, a culpa não é da Bíblia.”
Expresse sua opinião. Escreva para ra@cpb.com.br. ou envie sua carta para Revista Adventista, caixa postal 34, CEP 18270-970, Tatuí, SP.
Os comentários publicados não representam necessariamente o pensamento da revista e podem ser editados por questão de clareza ou espaço.
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BÚSSOLA
PEDRAS PARA A NOVA GERAÇÃO
CRIAR UMA EXPERIÊNCIA ESPIRITUAL SÓLIDA HOJE É TER UMA VISÃO DE FUTURO ERTON KÖHLER
história da libertação de Israel é impressionante. Porém, é ainda mais marcante observar o pessimismo do povo, a paciência de Deus e a perseverança dos líderes durante os 40 anos de peregrinação pelo deserto. O povo estava às portas da Terra Prometida. Moisés havia morrido em um funeral solitário. Mas o que pareceu um final triste foi apenas o começo de outra história muito mais emocionante e eterna. Ele perdeu a Terra Prometida, mas ganhou a Nova Jerusalém. Sua vida foi uma lembrança de que, se perdermos alguma coisa na Terra por servir a Deus, teremos uma recompensa no Céu. Josué passou a ser o novo líder e, desde seus primeiros dias, Deus confirmou que permanece ao lado daqueles a quem chama. Quando Moisés começou, Deus abriu o Mar Vermelho para a saída do Egito. Quando Josué começou, Ele abriu o rio Jordão para a entrada na Terra Prometida. Para cada líder, Deus abre as águas e confirma Sua escolha. Quando Moisés estendeu a mão, as águas do Mar Vermelho se abriram; já o Jordão se abriu quando aqueles que levavam a arca colocaram o pé na água. Foi
Foto: Lightstock
A
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AS NOVAS GERAÇÕES PRECISAM DE “PEDRAS” QUE SIRVAM DE MEMORIAIS DA CONDUÇÃO DE DEUS À FRENTE DE SEU POVO algo muito maior do que os líderes e o povo eram capazes de fazer ou imaginar. Estavam aprendendo a confiar, avançar e ousar. A travessia do Jordão foi impressionante. As águas que vinham de cima pararam e formaram uma barreira. Os sacerdotes entraram, esperaram no meio e só saíram quando todos haviam terminado de passar. No fim, Deus pediu que fossem recolhidas 12 pedras como símbolo da libertação. Não era apenas um pedido, mas uma visão de futuro. Ele estava pensando nas gerações seguintes (Js 4:6-7).
Como família, igreja e educadores, precisamos refletir sobre o tipo de pedras, ou marcas, que estamos deixando para os mais novos. Esse legado vai ajudá-los no futuro a continuar lembrando do Senhor? Nesse processo, a família tem o papel mais importante. Se os pais forem coerentes, intencionais e oferecerem uma educação com valores realmente cristãos, colocarão pedras que durarão por toda a vida. Como igreja também temos ferramentas fundamentais, como a rede educacional adventista, os clubes de Desbravadores e Aventureiros e o Ministério da Criança e do Adolescente. Eles têm material de apoio relevante, linguagem apropriada, líderes comprometidos e os valores de nossa fé. Por isso, podem fazer grande diferença positiva. Já os professores têm as maiores oportunidades de moldar os mais novos. Possivelmente eles passem mais tempo diário com os alunos do que os próprios pais dos estudantes. Contudo, para que contribuam com pedras de valores sólidos, precisam entender que sua missão vai além de informar e educar. Precisam transformar vidas nessa fase em que a mente ainda é mais maleável. Assim como havia uma nova geração que estava para entrar na Terra Prometida e precisava daquelas pedras, hoje temos outra geração perto de entrar na nova Terra e que também precisa de “pedras” que sirvam de memoriais da condução de Deus. Afinal, se Cristo não voltar em 20 anos, como sustentarão sua fé e valores? Por isso, faça o que estiver ao seu alcance para ajudar crianças, adolescentes e jovens que estão ao seu redor a construir uma experiência espiritual sólida. ] ERTON KÖHLER é presidente da Igreja Adventista para a América do Sul
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ENTREVISTA
MÁRCIO TONETTI
Débora Bonazzi
Por atuar há mais de 17 anos em grandes empresas do segmento de mídia e tecnologia, Débora Bonazzi tem uma visão ampla sobre a relação das pessoas com a cultura digital. Um dos aspectos defendidos por ela é o maior equilíbrio entre o tempo on e off-line. Para a publicitária adventista, a ideia do “shabat digital”, um tempo para se desconectar das ferramentas tecnológicas, parece ser uma tendência hoje. Nesta entrevista, ela reforça o fato de que a mensagem do sábado parece ganhar ainda mais relevância nesta época em que algumas pessoas começam a reagir ao excesso de velocidade.
SHABAT DIGITAL
Antigamente, as coisas estavam em caixas bem definidas: a compra estava no shopping, o conteúdo secular e o resultado do jogo estavam na TV, as notas estavam no boletim que ficava na escola ou na gaveta em casa. Hoje, quase tudo está no celular. No mesmo dispositivo que usamos para ler o texto bíblico durante o sermão, podemos ver o resultado do jogo que está sendo transmitido pela TV naquele instante. A linha é muito tênue...
Como a tecnologia mudou a maneira de as pessoas se relacionarem com o tempo? A tecnologia trouxe e continuará trazendo muita conveniência. Comprar uma passagem, ir ao banco ou pedir um táxi são facilidades que ela oferece. Nesse sentido, a tecnologia nos adiciona tempo. Por outro lado, se não tivermos consciência do que estamos fazendo em nossos celulares, nosso tempo será minado, sem nem mesmo percebermos.
A expressão “shabat digital” tem se popularizado nos últimos anos com o surgimento de movimentos como o “Sabbath Manifesto” e “Digital Detox”, que nasceram nos Estados Unidos. O que esses grupos pregam? Esses movimentos defendem a pausa da tecnologia por um período (pode ser por horas, dias, viagens desconectadas, etc.) e atividades que conectem as pessoas e proporcionem momentos de relacionamento na vida real. Muito parecido com o que defendemos para o sábado, não é verdade?
Como a lógica da conexão ininterrupta tem desafiado os adventistas em relação à guarda do sábado?
A mensagem do sábado tende a atrair esse público? Talvez esta seja uma grande oportunidade para nós. Nunca
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se discutiu tanto a pausa e nunca ela foi tão necessária como agora. Como o próprio repouso sabático pode ajudar a mudar a maneira de nos relacionarmos com a tecnologia? O sábado é uma enorme oportunidade que temos para refletir sobre o assunto. Um verdadeiro presente. Não quero defender a bandeira de que devemos guardar o celular trancado na gaveta aos sábados (a menos que a pessoa decida fazer isso), mas sim que aproveitemos essas horas para buscar o equilíbrio e o uso consciente. Neste mundo tão dependente de internet, qual é o caminho para conseguir se desligar da tecnologia sem assumir uma postura anti-tecnológica? Recomendo sempre buscar o equilíbrio. Duas dicas para começar: (1) Ter consciência de quem está no comando: eu ou o celular? Tenha a certeza de que é você. (2) Ter seus lugares e momentos sagrados. Combine com você mesmo, com sua família, com seu(sua) namorado(a), com seus amigos ou com seus colegas de trabalho quais serão os momentos em que todos estarão 100% concentrados na vida real e em que seu celular vai estar descansando um pouco... e você também. ] MÁRCIO TONETTI é editor associado da Revista Adventista
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Foto: Arquivo pessoal
A CULTURA MODERNA E A TECNOLOGIA DESAJUSTARAM A RELAÇÃO DO HOMEM COM O TEMPO. MAS MUITOS HOJE QUEREM DESACELERAR, E A MENSAGEM DO SÁBADO PODE SER A RESPOSTA QUE ELES BUSCAM
PAINEL F AT O S
AJUDA DO CÉU Devido à falta de estrutura rodoviária, nos últimos 43 anos os habitantes de Wetap, uma comunidade remota de Papua-Nova Guiné, foram privados de serviços básicos como escolas e hospitais. Porém, a construção de uma pequena pista permitiu que uma aeronave do Serviço de Aviação Adventista (AAS, na sigla em inglês) pousasse pela primeira vez na aldeia, levando ajuda. Desde 1964, esse ministério de apoio tem transportado missionários e materiais para construção de igrejas, escolas e hospitais em regiões isoladas do planeta.
TEMPLO PARA OS RIBEIRINHOS
NOVAS LIVRARIAS
Com 500 m² de área construída (foto), a primeira livraria da Casa Publicadora Brasileira na região Norte do país abriu as portas no início de maio, em um ponto estratégico de Belém (PA). A nova unidade foi estabelecida ao lado da Igreja do Marco, comunidade adventista que congrega 1,8 mil membros, em frente ao Instituto Adventista Grão Pará e nas proximidades do Hospital Adventista de Belém. No fim do mês, a CPB também inaugurou a livraria de Manaus (AM), uma estrutura de 700 m² que terá um papel estratégico na distribuição de literatura para a região amazônica. 8
DIA DO ADVENTISTA Depois de entrar para o calendário do Estado de São Paulo, a data também foi estabelecida oficialmente na capital paraense. Em Belém, o Dia do Adventista será igualmente comemorado em 22 de outubro. Aprovada em abril, a lei foi resultado do reconhecimento do trabalho da igreja na cidade, que concentra quase 18 mil adventistas.
37%
das pessoas batizadas, rebatizadas ou que se tornaram membros da igreja no continente sul-americano por profissão de fé no ano passado tinham entre 13 e 30 anos de idade
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Fotos: Alex Simões / Adventist Aviation Services / Leonardo Leite / Fotolia
A primeira igreja estabelecida por meio do projeto Amazônia de Esperança foi inaugurada no fim de abril na comunidade de Fazenda Grande, localizada a aproximadamente três horas de lancha de Manaus. Construído com a ajuda de doações, o templo congrega vinte pessoas. Em 2018, a denominação pretende implantar oito igrejas como essa em comunidades ribeirinhas do Amazonas.
EVENTOS
A IGREJA NA COMUNIDADE
ENCONTRO DA SOCIEDADE CRIACIONISTA Reunidos pela primeira vez na sede da entidade, em Brasília (DF), os integrantes dos oito núcleos da SCB dialogaram sobre os rumos da sociedade criacionista no país. Um dos objetivos para os próximos anos é ter uma filial em cada estado e multiplicar os centros criacionistas. A organização sem fins lucrativos, que atualmente conta com mais de 500 associados, também apresentou o plano de lançar novos materiais em 2018, incluindo dois DVDs e a compilação digital do acervo da Folha Criacionista.
Desde que a Semana Adventista entrou para o calendário oficial do município de Olímpia, no interior de São Paulo, há oito anos, a data tem sido marcada por diversas ações. Neste ano, foram realizados mais de 30 projetos, incluindo feira de saúde, corrida de rua, plantio de espécies nativas, reforma de uma casa e campanha de combate à dengue. No período de 28 de abril a 6 de maio, eles ainda doaram sangue, distribuíram livros nos semáforos, organizaram um concurso de redação em escolas públicas e conscientizaram os alunos sobre o problema do abuso e da violência infantil.
O extremista não aceita que o outro tenha outra religião. O L H A R D I G I TA L John Graz, referência mundial na defesa da liberdade religiosa, em entrevista ao Portal Adventista durante sua passagem pelo Brasil, no fim de abril
D ATA S 20 A 24 DE JUNHO
O GAiN (Global Adventist Internet Network) vai reunir profissionais adventistas da área de comunicação de oito países sul-americanos na sede da Novo Tempo, em Jacareí (SP). Acompanhe a transmissão do evento em gain. adventistas.org/2018
Foto: Suellen Timm
29 DE JUNHO A 1O DE JULHO
Será realizado na sede sul-americana da igreja, em Brasília (DF), o 4o Congresso da Associação de Médicos Adventistas, intitulado “Curar e salvar”. Entre os convidados estarão os médicos Harold Köenig, psiquiatra americano conhecido mundialmente, e Jhony de la Cruz, oncologista da Clínica Good Hope (Peru), além do teólogo Alberto Timm. Para se inscrever, acesse: medicosadventistas.org. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Junho 2018
FESTIVAL DE FILMES Promovido há 18 anos pela sede da igreja na América do Norte, o Sonscreen Film Festival tem incentivado a produção audiovisual de profissionais e estudantes adventistas. Neste ano, o evento teve 225 trabalhos inscritos, dos quais 11 foram premiados. O vencedor de melhor filme do festival foi o curta-metragem Sisterly, um documentário sobre o autismo (acesse: goo.gl/kw7Wfq), dirigido por Nina Vallado, da Universidade Andrews (EUA). 9
GENTE
As timelines das redes sociais não deveriam ser
AMPLO LEGADO Ao longo de cinco décadas de ministério, V. Bailey Gillespie se dedicou a entender o universo dos jovens e a encontrar maneiras de discipular as novas gerações. Foi com esse objetivo que o professor da Universidade La Sierra (EUA) liderou o estudo “Valuegenesis”, realizado com estudantes da rede educacional adventista de vários países. Esse importante pesquisador adventista morreu no dia 7 de maio, aos 75 anos, depois de lutar contra um câncer no fígado.
um espaço em que todos podem exalar ódio ou dizer qualquer coisa sem consequência. Mas essa é uma questão de educação, sobre a qual ainda temos uma longa caminhada a ser feita.
Natália Leal, jornalista e subeditora da Agência Lupa, em entrevista ao Portal Adventista sobre fake news
ASSASSINADO NO SUDÃO DO SUL
Agoyo Robert, funcionário da ADRA que atuava num projeto que oferece assistência na área de saúde a milhares de sudaneses, morreu depois que um grupo atirou contra o carro em que ele viajava. Desde 2013, pelo menos 98 pessoas que desenvolviam trabalhos humanitários na região foram assassinadas.
BODAS DE DIAMANTE (60 ANOS) De Arlindo de Souza e Geralda Lemes de Souza, em cerimônia realizada pelo pastor João Ricardo Halama na Igreja Central de Boituva (SP). Adventistas há 53 anos, eles têm seis filhos, oito netos e sete bisnetos.
Gerente de Jornalismo da Rede Novo Tempo de Comunicação desde 2013, o jornalista Wagner Cantori agora será diretor de conteúdo da emissora. Mestre em Divulgação Científica e Cultural e doutor em Multimeios pela Unicamp, ele coordenará a produção de materiais para diferentes mídias e buscará estabelecer pontes com profissionais e tendências de mercado.
Segundo o Pew Research Center, o número de americanos que acreditam em Deus caiu de 92% em 2007 para 80% em 2017. No entanto, 72% dos não crentes acreditam em um poder superior, de acordo com uma pesquisa que ouviu 4,7 mil pessoas em dezembro. 10
No Brasil, o número de clubes de desbravadores (9.054) já é maior que o de congregações adventistas (9.006). Outros dois países do continente (Equador e Paraguai) também já alcançaram essa marca.
92% 2007
ACREDITAM EM DEUS
80% 2017
ACREDITAM EM DEUS
ACREDITAM EM UM PODER SUPERIOR
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Junho 2018
Fotos: ANN / Novo Tempo / Arquivo pessoal
NOVA FUNÇÃO
INTERNACIONAL
A educação adventista me proporcionou uma aprendizagem integral, que me ajudou a equilibrar vários aspectos da minha vida.
BATISMO NA COREIA Alejandro Hernández, engenheiro espanhol que trabalhou como gerente de engenharia na organização dos Jogos Olímpicos de Inverno em Pyeongchang, na Coreia do Sul, aceitou a mensagem adventista e foi batizado em fevereiro, um dia antes do fim da competição mundial.
GAIN NA EUROPA
Jerald Pelayo, universitário adventista que obteve a primeira colocação no exame de Licenciatura em Medicina das Filipinas. Nos últimos doze anos, Pelayo é o quarto estudante de medicina adventista a alcançar a primeira colocação no exame nacional. Ele também ficou com o primeiro lugar no exame nacional de enfermagem, em 2011.
2 anos, 1 mês e 6 dias
foi o tempo gasto por William Aukland, da Austrália, para parafrasear a Bíblia. Ele começou o projeto aos 74 anos, inspirado em um artigo da revista Adventist World sobre um agricultor que copiou seis vezes a Bíblia a mão. A paráfrase se chama O Presente e contém cerca de um milhão de palavras.
Uma pesquisa realizada com ex-adventistas da África, América do Sul, Europa e América do Norte mostrou como a igreja reagiu à decisão deles de abandonar a denominação. Veja os principais aspectos citados pelos entrevistados:
Realizada no fim de março em Valência, na Espanha, a edição europeia do Global Adventist Internet Network (GAiN) recebeu 120 participantes. Promovido pelas Divisões Transeuropeia e Intereuropeia, o evento ofereceu treinamento na área de mídia e espaço para diálogo e colaboração em projetos de comunicação.
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Fotos: Northern Asia-Pacific Division / Tor Tjeransen
25%
INTERPRETANDO DANIEL Uma peça intitulada “Segregos de Daniel” foi apresentada em oito cidades da Letônia por um grupo de 24 jovens atores e mais de 35 músicos, técnicos, figurinistas, cineastas e fotógrafos. Produzida pela sede administrativa da igreja no país, a dramatização que deu vida ao personagem bíblico e chamou a atenção para sua mensagem profética foi acompanhada por mais de 4,5 mil pessoas.
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Colaboradores: Carolyn Azo, Edward Rodriguez, Felipe Lemos, Kimberly Luste Maran, Lóren Vidal, Lucas Rocha, Márcio Tonetti, Mauren
Fernandes, Murilo Pereira, Priscila Baracho, Suellen Timm, Thays Silva, Teresa Costello e Wendel Lima
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Foto: Fotolia
O CUSTO AMBIENTAL DO SEU PRATO 12
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OS HÁBITOS ALIMENTARES TÊM QUE VER COM SAÚDE, ESPIRITUALIDADE E SUSTENTABILIDADE ÁGAT H A L E MOS
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esta época em que a saúde se tornou um valor, muitas das mensagens que enviamos ou recebemos têm que ver com vida saudável. As dietas são alguns dos conteúdos mais compartilhados. Mas será que elas realmente funcionam? Será que podemos aderir a toda dica de saúde publicada? Quais são os impactos do estilo de vida sobre nosso corpo, sobre a saúde dos animais e do planeta? O 7º Congresso Internacional de Nutrição Vegetariana, que ocorreu no fim de fevereiro em Loma Linda, na Califórnia (EUA), trouxe algumas novidades no que diz respeito à “dieta do futuro”. Engana-se quem pensa que estejamos falando de um aglomerado de receitas. Longe disso, trata-se de uma tendência mais ampla e mais prática para o dia a dia. A dieta do futuro é aquela que também se interessa pela sustentabilidade. Sendo assim, trata-se de uma dieta sustentável porque leva em consideração a saúde das pessoas e do planeta, mas também o contexto cultural e econômico. A implementação desse tipo de dieta, apesar de necessária, deve ser específica para uma população, pois ela não é um conceito fixo que se aplica genericamente a toda a humanidade. As peculiaridades das populações e suas regiões devem ser analisadas antes de se propor mudanças, as quais precisam ser viáveis para que façam sentido em diferentes localidades do mundo. A COMIDA E O PLANETA Os discursos em favor do meio ambiente ecoam há décadas. Partindo de organizações não governamentais ou das próprias lideranças mundiais, o que se pede é mais consciência ecológica, a fim de que os recursos naturais não se esgotem em nosso tempo nem no das gerações vindouras. Em geral, as pessoas concordam quanto à necessidade de evitar a poluição, o desmatamento e de organizar seletivamente o lixo. Mas o que vem chamando a atenção são as novas abordagens em torno da responsabilidade socioambiental. De acordo com Ujué Fresán, pesquisadora da Escola de Saúde Pública da Universidade de Loma Linda, a sustentabilidade é uma das chaves mais importantes para se manter a saúde das populações e do planeta. Sua afirmação se refere, inclusive, à escolha do que comemos. “Comida e meio ambiente estão entrelaçados e uma coisa afeta a outra. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Junho 2018
A mudança climática, por exemplo, está trazendo enchentes, desertificação e secas, que influenciam na segurança dos alimentos. Ao mesmo tempo, a produção e o consumo de alimentos têm um impacto enorme no meio ambiente”, explica. No quesito comida, outros aspectos ainda pesam. A produção em escala industrial de determinados alimentos provoca muitos danos à natureza. É o caso da agropecuária, que ocupa mais da metade das terras cultiváveis do mundo. Tanto para a pastagem do gado como para a plantação de grãos que alimentam bovinos, áreas imensas são desmatadas. Além disso, esses animais produzem gases poluentes à atmosfera. Isso significa que reduzir o consumo de carne, especialmente a vermelha, além de ser uma estratégia de prevenção de doenças, ajuda a cuidar do planeta? A resposta é sim. Contudo, algumas dúvidas surgem. Em uma sociedade ideal, que entenda e atenda aos apelos em relação à dieta e ao planeta, haveria comida para todos se retirássemos do cardápio a carne? Seria necessário desenvolver técnicas que fortalecessem o solo? Precisaríamos nutrir as plantas para torná-las mais resistentes ou seria inevitável aumentar ainda mais o uso de agrotóxicos? De acordo com Ujué Fresán, o espaço que poderia ser usado para produzir alimentos vegetais para alimentar as pessoas está sendo ocupado pela agropecuária industrial. “De fato, se todos parassem de consumir carne e o grão usado para criar gado fosse destinado para o consumo humano direto, isso se traduziria em terra arável suficiente para produzir cereais para alimentar 1,4 bilhão de pessoas. Ao redor do mundo, cerca de 850 milhões de pessoas passam fome. Portanto, desistir de comer carne é suficiente para alimentar esse contingente mais de uma vez e meia! Nesse caso, o enriquecimento do solo e o aumento do uso de agrotóxicos não 13
“A produção de comida gera muito estresse à bioesfera. Assim, a escolha do que comemos afeta não apenas nosso corpo, mas também a sociedade de modo geral.” FRANK B. HU, UNIVERSIDADE HARVARD (EUA)
seriam necessários. No entanto, algumas técnicas, como a rotação de culturas e oferecer inimigos naturais para as pragas poderiam ajudar na fertilidade do solo e contribuir para a diminuição do uso de produtos químicos”, destaca a pesquisadora.
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de seguir uma dieta sustentável. Políticas devem ser implementadas para que as pessoas saibam a respeito disso, e para facilitar o acompanhamento de tal dieta. “Uma das formas de ampliar esse conhecimento, e provavelmente aquela com maior repercussão sobre as pessoas, é a mídia. Da mesma forma que as empresas privadas fazem merchandising de seus produtos, por meio da TV, dos jornais ou até mesmo dos meios de transporte, os governos poderiam expandir essa importante questão, que afeta todo o mundo”, ressalta. Em março, a revista Forbes trouxe à tona o espantoso crescimento da dieta sem carne.
“A dieta com base em plantas é mais saudável para o corpo e mais amigável aos animais e ao planeta”. UJUÉ FRESÁN, UNIVERSIDADE DE LOMA LINDA (EUA)
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Junho 2018
Foto: Daniel Fazio
O QUE FAZER? As medidas que deveriam ser tomadas pelas políticas públicas dos países deixam de ser eficazes devido ao conflito de interesses que elas promovem. De um lado, o lobby da indústria de alimentos é muito forte; de outro, os hábitos arraigados pelo gosto pessoal e cultural não ajudam a produzir as mudanças necessárias. Contudo, cada dia mais, não só as pessoas, mas as instituições de saúde e a própria ciência se interessam por um estilo de vida que reduza o consumo, fortaleça a economia e ajude na prevenção de doenças. Nesse sentido, alguns países já começam a enrijecer suas leis, aumentando os tributos sobre alimentos insalubres. Embora os obstáculos sejam grandes quando se trata de mudança de estilo de vida, algumas iniciativas podem favorecer a sociedade, motivando-a a deixar de lado alguns produtos. Para tanto, o preço sempre será determinante. Sendo assim, uma alternativa seria reduzir os preços de alimentos saudáveis e sustentáveis e implementar impostos para os produtos prejudiciais à saúde. Isso já ocorre no México, que desde 2014 aumentou em 10% a taxa de impostos sobre as bebidas mais açucaradas. A medida se deu porque o México é o maior consumidor de refrigerante per capita do mundo. Por esse e outros fatores, 70% de seus adultos e 30% de seus adolescentes estão acima do peso, com problemas de diabetes, pressão alta e outras doenças. A iniciativa, que já serve de exemplo, tem conseguido baixar o nível de consumo de refrigerantes no país, ao passo que o consumo de bebidas mais saudáveis vem aumentando ali. Semelhantemente, Noruega e França estão na lista dos países que impõem uma taxação extra sobre bebidas com açúcar. Mas não é só isso. Os meios de comunicação também podem contribuir para a promoção de um imaginário social que chame a atenção para a alimentação sustentável e sua relação com a preservação do planeta. Ujué Fresán destaca que as pessoas não vão mudar suas escolhas alimentares se não estiverem conscientes da importância
Com base na empresa de dados e estatísticas GlobalData, o periódico anunciou que 70% da população mundial está abandonando o consumo da carne e que o número de veganos nos Estados Unidos cresceu 600% nos últimos três anos. Publicações desse tipo, além de informar, ajudam as pessoas a refletir sobre a importância e a razão desse fenômeno. HÁBITOS SUSTENTÁVEIS Se, de um lado, o que comemos afeta até mesmo o planeta; de outro, a alimentação não é tudo na vida. Mesmo que sua dieta seja boa, ela não é o bastante para garantir que você seja saudável. Não adianta apenas comer os melhores alimentos se você ainda negligencia outras exigências do corpo, da mente e do espírito. Diante disso, a dieta do futuro é aquela que promove equilíbrio integral do ser humano, individual e coletivamente. O estilo amigável de viver beneficia você, mas também exerce respeito sobre os animais e colabora para a preservação do planeta. E o mais interessante é que isso não faz parte apenas de discursos ideológicos, éticos, filosóficos ou religiosos. Desta vez é a ciência que está apontando a direção em que a humanidade deve ir para uma existência longeva e de qualidade. “Chegará um momento na medicina em que, ao entrar no consultório, a primeira pergunta do médico será: ‘O que você come? Como é sua rotina? Que tipo de consumo você faz?’”, acredita Frank Hu, coordenador da Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard (EUA). Diagnósticos elaborados com base no estilo de vida indicarão que a saúde e a longevidade, bem como o cuidado com o planeta, são consequências da vida de pessoas que fazem escolhas sustentáveis em todas as esferas. A despeito da enorme variedade de recursos tecnocientíficos capazes de oferecer saúde, a maneira mais eficaz de ser saudável é a adoção de hábitos sustentáveis. Esse conceito nos desafia a analisar o impacto do nosso estilo de vida sobre a preservação do planeta.
14%
“A emissão de gases do efeito estufa resultantes de dietas vegetarianas é cerca de 30% menor do que a das dietas não vegetarianas.” JOAN SABATÈ, UNIVERSIDADE DE LOMA LINDA (EUA)
Tudo o que consumimos deixa marcas sobre nosso corpo, mas também sobre o lugar em que habitamos. A verdadeira condição de bem-estar integral não está apenas na ausência de doenças, mas num conjunto de fatores que coexistem e colaboram para que estejamos em harmonia conosco, com o próximo e com nosso habitat. Afinal, não é possível ser saudável em um ambiente que já não dispõe de recursos indispensáveis à boa sobrevivência. ] ÁGATHA LEMOS, jornalista e mestre em Ciência, é editora associada da revista Vida e Saúde
dos
brasileiros (29 milhões de pessoas) se identificam como vegetarianos. Em
Foto: Edgar Castrejon
2012, eles eram 8% da população nacional FONTES: SOCIEDADE VEGETARIANA BRASILEIRA (SVB) E IBOPE INTELIGÊNCIA (ABRIL 2018)
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MÁRCIO TONETTI
Fonte: Assessoria de comunicação da SBB (maio 2018)
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CRENÇAS
Ellen White falando aos delegados da assembleia da Associação Geral em 1901, em Battle Creek, Michigan (EUA)
QUEM FOI ELLEN WHITE?
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llen G. White, mulher com dons espirituais notáveis, que viveu a maior parte da vida no século 19 (18271915), ainda hoje causa um impacto revolucionário sobre milhares de pessoas em todo o mundo por meio de seus escritos. Ela escreveu mais de 5 mil artigos para revistas e 40 livros. Hoje, incluindo as compilações de suas 50 mil páginas manuscritas, mais de 100 títulos estão disponíveis em inglês. Ellen White é uma das escritoras mais traduzidas da história da literatura. Entre os escritores americanos, de ambos os gêneros, ela é a mais traduzida. Caminho a Cristo, sua obra-prima sobre a vida cristã vitoriosa, foi publicada em mais de 165 idiomas. Sua vasta produção literária abrange temas como religião, educação, relações sociais, evangelismo, profecia, publicações, saúde e nutrição. A Igreja Adventista do Sétimo Dia crê que Ellen White foi mais que uma escritora talentosa. Ela foi escolhida por Deus como mensageira especial a fim de chamar a atenção do mundo para a Bíblia e ajudar as pessoas a se prepararem para a segunda vinda de Cristo. Desde os 17 anos de idade até sua morte, 70 anos mais tarde, Deus deu a ela centenas de visões e sonhos proféticos. Em duração, essas visões variavam em menos de um minuto a cerca de quatro horas. Ela escreveu segundo o 18
conselho e informações que recebia para compartilhar com outros. Por essa razão, os adventistas do sétimo aceitam seus escritos como inspirados. Até leitores casuais reconhecem sua qualidade excepcional. No entanto, os adventistas do sétimo dia não creem que seus escritos devam substituir a Bíblia. A Palavra de Deus é o padrão pelo qual tudo é julgado e recebemos o Espírito Santo para iluminar os ensinos das Escrituras. Ao ler as próximas páginas, você aprenderá mais sobre a vida e obra dessa mulher notável que cumpriu todos os requisitos de um profeta verdadeiro encontrados na Bíblia, e que ajudou a fundar a Igreja Adventista. ] ARTHUR L. WHITE (1907-1991), neto da pioneira, foi diretor do Patrimônio Literário de Ellen White por mais de 40 anos
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Foto: Ellen G. White Estate
MAIS DO QUE UMA ESCRITORA TALENTOSA, ELA FOI A MENSAGEIRA DO SENHOR NÃO APENAS PARA SEU TEMPO. SEUS ESCRITOS CONTINUAM TENDO RELEVÂNCIA HOJE, AJUDANDO A PREPARAR O POVO DE DEUS PARA O ENCONTRO COM ELE
A luz menor indicando a luz maior
DURANTE TODO SEU MINISTÉRIO, ELLEN G. WHITE PROCUROU LEVAR AS PESSOAS À BÍBLIA. SUA VOZ E SEUS ESCRITOS SEMPRE ECOARAM ESSE PROPÓSITO
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Foto: Ben White
jovem de 17 anos, franzina e com sérios problemas de saúde, pegou uma Bíblia da família, pesada, segurou-a acima da cabeça e começou a citar suas passagens. Ela estava em visão. Um dos objetivos dessa experiência foi chamar a atenção das pessoas para o valor e a importância das Escrituras. Isso aconteceu bem no início dos 70 anos de ministério exercidos por Ellen G. White, período em que ela repetidamente recomendou e promoveu a Bíblia como a Palavra de Deus. REVELAÇÃO E INSPIRAÇÃO A Bíblia não é um livro qualquer. O Espírito Santo inspirou autores humanos enquanto escreviam, revelando a eles a verdade eterna de Deus que os profetas deviam apresentar ao povo, em suas próprias palavras. Pedro declarou o seguinte: “Jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1:21, NVI). Alguns escritores bíblicos, antes de tentar comunicar a mensagem de Deus, incluíram pesquisas cuidadosas. Lucas, escritor do terceiro evangelho, é um exemplo disso (Lc 1:1-3). O mesmo Espírito que inspirou os autores bíblicos também revelou a ela Sua mensagem por meio de muitas visões e sonhos proféticos. Ela usou suas palavras e, algumas vezes, fez pesquisa cuidadosa para que a apresentação da mensagem divina fosse fiel. Essa apresentação era primeiro oral e depois escrita para sua geração e para as gerações futuras. Assim, o mesmo Agente Divino atuava nas duas instâncias, com apenas um propósito: reconectar as pessoas a Deus e apresentar a elas Seus atos salvadores. R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Junho 2018
É importante notar que as obras de Ellen White não acrescentam nada de novo ao cânon bíblico – aos 66 livros das Escrituras, como Isaías, Daniel, Amós, João e outros. Esses são chamados de profetas canônicos. Muitos profetas, como Natan, Elias, Ana, entre outros, cujas palavras não foram incluídas no cânon como livros separados, são chamados de profetas não canônicos. No entanto, todos eles foram usados por Deus para um propósito, em tempo e lugar especial. Deus chamou Ellen White para preparar o povo do tempo do fim para os eventos finais da história, que se aproximam rapidamente, e para usá-lo para o avanço do Seu reino. GUIA PARA A LUZ MAIOR Ellen White escreveu mais de 5 mil artigos para periódicos e cerca de 40 livros. Mesmo assim, ela considerava sua obra como sendo “uma luz menor para guiar homens e mulheres à luz maior”, que é a Bíblia (Evangelismo, p. 257). Assim, a riqueza de seus escritos, abordando vários temas espirituais e relacionados ao estilo de vida, não intenta substituir a Bíblia nem diminuí-la, e sim “exaltá-la e atrair para ela as mentes” (Testemunhos Para a Igreja, v. 5, p. 665). Em muitos de seus escritos ela usou repetidamente a seguinte frase: “a Bíblia, e ela tão somente” deve ser nossa regra de fé, nosso conselheiro, nosso credo, o elo, etc. Foi da Bíblia que ela recebeu o conhecimento sobre o Criador, Deus Onipotente, que amoravelmente
Se entregou pela raça humana e que virá outra vez para completar o plano de salvação. Ellen White generosamente compartilhou essas boas-novas por meio de obras escritas, sermões, apresentações, e, com sua vida. Sua obra cristocêntrica deve ser vista pelo prisma do amor eterno de Deus e do tema do grande conflito entre Cristo e Satanás, do qual Cristo é o vencedor. Embora essas contribuições inestimáveis para a igreja não substituam a Bíblia nem devam ser consideradas como regra de fé para o crente, elas não devem ser desprezadas como não essenciais ao crescimento e desenvolvimento espiritual. Por meio do seu incansável ministério e vida, Ellen White não apenas valorizou a Bíblia, mas também incentivou muitos a fazer o mesmo. Além da sua profícua produção literária, ela exaltou Cristo em todos seus sermões e apresentações, para grandes e pequenos públicos, na América do Norte, Europa e Austrália. Durante seu último discurso numa assembleia da Associação Geral, em 1909, ela ergueu sua Bíblia e fez um apelo poderoso: “Irmãos e irmãs, eu recomendo a vocês este Livro” (The Spirit of Prophecy in the Advent Movement, 1937, p. 30). Em nossa vida cotidiana, como responderemos ao seu apelo? ] ANNA GALENIECE, doutora em Ministério, é professora associada de Teologia Aplicada e diretora da filial do Patrimônio Literário de Ellen G. White na Universidade da África, em Nairóbi, Quênia
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Construindo sobre base sólida F
ui criado em uma região remota, ao sul do México. Nossa janela para o mundo era uma pequena igreja rural, onde congregavam menos de 50 pessoas. Quando um pastor adventista nos visitava e pregava em nossa congregação, o que era raro, sua presença era motivo de grande alegria. Em uma dessas ocasiões ouvi, pela primeira vez, um sermão sobre Ellen G. White. Logo tive o primeiro contato com o livro Caminho a Cristo. Depois de estudar cuidadosamente esse clássico, nasceu em mim o desejo de conhecer embro-me dos dois presentes que ganhei no meu batismo: melhor essa autora. Mais tarde, li outros a Bíblia e um exemplar de O Grande Conflito. Concluí livros de sua autoria. Complementar o que aquele era um livro importante, pois recebi de presente estudo da Bíblia com esses livros me predo meu pastor. Comecei a lê-lo todas as noites, e não podia parou para o que me tornaria em quase conter as lágrimas ao perceber a fé dos 40 anos de serviço à igreja. grandes reformadores. Lembro-me de Visto que atuei como secretário de orar a Deus pedindo que Ele me toruma sede administrativa adventista, uma das minhas reponnasse ao menos a metade do que foram sabilidades era promover a leitura dos livros de Ellen White aqueles cristãos. Aquele foi o primeiro entre os membros de nossa igreja. Eu apresentava seminários livro que li de Ellen White. Desde então, li toda a série O Cone respondia perguntas sobre sua vida e obra. Essa era uma fonte de grande alegria e crescimento pessoal. Mais tarde, flito dos Séculos. Ela fortaleceu minha como diretor do Centro de Pesquisa Ellen G. White da Divicaminhada com Cristo, tornando a são Interamericana, eu tinha maiores responsabilidades e Bíblia viva de um modo que não conapreciava ainda mais minha função. sigo explicar. A obra Patriarcas e ProAtualmente sou octofetas me ajudou a ver que as histórias genário e tenho observado do Antigo Testamento foram imporcomo as pessoas que leem a tantes não apenas no passado, mas Bíblia e creem no ministésão também nos meus dias. Devido à rio de Ellen White tendem a influência dos escritos de Ellen White, viver os princípios ensinavejo Jesus mais claramente e meu amor dos nas Escrituras e compelas Escrituras aumentou. partilham sua fé e espeEu não estava acostumado a ter uma rança no retorno de Jesus. vida devocional. Portanto, foi como Além disso, são morse o dom profético segurasse minha domos fiéis de seu corpo, mão, como a de um cristão bebê, e talentos, tempo e dos seus começasse a me ensinar a compreenrecursos. São bons vizider a Bíblia. Eu não estaria onde estou nhos que abençoam todos espiritualmente se não fossem os preao seu redor. ] ciosos escritos dos profetas de Deus, inclusive de Ellen White. ]
Vejo Jesus mais claramente
FRANCISCO FLORES está
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aposentado e mora em
MARCO TOPETE é coordenador assistente do
Montemorelos, Nuevo Leon,
ministério de Publicações na Associação do Sul
México
da Califórnia (EUA)
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Fotos: Arquivo pessoal
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Uma cosmovisão cristã ampla T
enho sido abençoada pelo discernimento do dom profético de Ellen White. Desde muito jovem, seus escritos inspirados iluminaram meu caminho, ajudando-me a tomar boas decisões. Ela moldou minha visão de mundo. Por meio de sua obra, aprendi que o serviço altruísta é a chave para a verdadeira felicidade. Ela fez com que eu visse claramente que Satanás é real e poderoso, mas pode ser vencido, diariamente, por Cristo; que Deus tem grandes o longo da minha vida, os escritos expectativas para mim; e que a construção do de Ellen White têm enriquecido minha caminhada espiritual. Eles tamcaráter é a prioridade bém confirmaram minha fé. Ao estumáxima. Eu também adotei seu código de dar a Bíblia, eu percebia as mensagens que Ellen recebia de Deus, como a luz vestimenta: simples e de boa qualidade. menor que iluminava Sua Palavra. Quando eu ainda era bem nova na Seus conselhos me igreja, li, entre outros livros de Ellen anima ra m a muda r meus hábitos alimenWhite, Conselhos Sobre o Regime Alimentar, como requisito de um curso tares aos 16 anos de idade. Desde então, estou livre de terríveis dores de cabeça. É impressionante como as pesquide liderança. Fiz muitas mudanças no meu estilo de vida e logo percebi sas recentes estão confirmando o que ela escreveu há mais melhora na saúde. de um século! Seus escritos me incentivaram a Por sua vez, o livro Educação mudou minha opinião sobre criação de filhos. orar por um companheiro apropriado, Como mãe e dona de casa, tive o privilégio de ficar com com “o sincero propósito de honrar minhas filhas, em tempo integral, quando elas eram pequee agradar a Deus”. Pedi a Deus um nas. Esse livro me explicou a importância de ensinar noshomem comprometido com a missão, puro, que amasse a Deus e a quem sos filhos “no caminho em que devem andar” (Pv 22:6). Eu as ensinei sobre Jesus e, desde muito pequenas, elas apreneu pudesse admirar. Fiz de Cristo meu deram a amá-Lo. Conselheiro. Também aprendi sobre a importância da educação advenFiquei impressionada quando soube tista. Minhas filhas frequentaram nossas escolas das séries que, no dia do julgamento, Deus me perguntará: “Onde estão os filhos que iniciais à universidade. Foram até missionárias em outro país. Mais tarde, após ler os livros Evangelismo e O Colportor lhe dei para educar para Mim?” Por Evangelista, me envolvi na distribuição de literatura. Muiisso, escolhi uma profissão que me tas vezes, os colportores evangelistas têm acesso a pessoas permite ficar em casa com eles. Agora, estou desfrutando desse privilégio. ] em lugares onde nem os pastores têm. Fui impressiona pelo que Ellen White disse ao seu esposo, Tiago, sobre as instruções de Deus: “Deves começar a publicar um pequeno jorCLÁUDIA BLATH é tradutora profissional e mora com o esposo, Marcos, e os dois filhos, Gabriel e nal” e o Senhor vai providenciar os recursos (O Colportor Julieta, em Buenos Aires, Argentina Evangelista, p. 1). Que impressionante a fé que eles tiveram!
Reflexões sobre o dom profético
Fotos: Arquivo pessoal
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CURIOSIDADES SOBRE ELLEN WHITE
▪ O assunto preferido de suas palestras era temperança. ▪ Ela amava falar sobre o amor de Deus. ▪ Seu hino predileto era “Meu Divino Protetor” (“Jesus, Lover of My Soul”, no título em inglês), número 97 do HASD. ▪ Seu prato preferido era cardos-verdes e batatas. ▪ Teve uma irmã gêmea. ▪ Nasceu em 26 de novembro de 1827. ▪ Foi batizada por imersão aos 14 anos de idade. ▪ Escreveu mais de 5.000 artigos e 40 livros. ▪ Cursou só até o terceiro ano do ensino fundamental. ▪ Seu primeiro livro, intitulado Primeiros Escritos, foi publicado em 1851. ▪ Morreu pouco tempo depois de sofrer uma fratura no quadril. ▪ Fez chapéus para a loja de seu pai. ▪ Teve quatro filhos, sendo que dois deles morreram ainda jovens. ▪ Suas últimas palavras foram: “Eu sei em quem eu creio”. ▪ Gostava dos passeios de charrete em dias de sol. Fontes: Testemunhos Para a Igreja, v. 4, p. 290; Advent Review and Sabbath Herald, 6 de junho de 1893 e 13 de dezembro de 1906 (Hinário Adventista no 97); Carta 8, 28 de janeiro de 1902
Essa foi uma grande lição para mim, de que o Senhor sempre provê. E realmente Ele abençoou nossa família. Meu crescimento espiritual como adventista foi, em parte, graças aos escritos de Ellen White. Sua obediência ao chamado de Deus me animou a também seguir as pegadas de Jesus. ] JAMIELA OLIPHANT trabalha na filial do programa
Às vezes, nossa experiência com os presentes que Deus nos dá é marcada por sons, gestos, gostos e pelo que vemos. Em alguns casos, eles acabam se tornando a memória que temos desses dons e moldando toda nossa vida. Lembramo-nos do sabor dos pratos das datas especiais; dos hinos que nos dão coragem quando proclamamos a ressurreição; do abraço de um amigo que nos ensinou sobre a graça de Jesus por meio de seu exemplo. Para mim, o presente do dom profético dado por Deus a este movimento que amo sempre estará associado às primeiras horas da manhã e ao som de água corrente. Quando eu tinha 15 anos de idade, senti meu coração sendo “estranhamente aquecido” pelo Espírito. Todos os dias, ao ir para escola, eu passava alguns minutos ao lado de uma pequena cachoeira perto de nossa casa, lendo as Escrituras e o livro Caminho a Cristo, de Ellen White. Deixava que o som da água corrente bloqueasse todos os outros ruídos da minha vida de adolescente. Como foi dito certa vez por um homem sábio, descobri que “a mesma voz que falava comigo pelos escritos de Ellen White falava por meio das páginas das Escrituras”. Uma voz gentil e convidativa que me ensinou a entregar minha vida a Jesus e a crer que minha salvação está Nele. Ali, ao lado do riacho, guardei as seguintes palavras na memória, e elas têm me servido por mais de 45 anos: “Consagrem-se a Deus pela manhã; façam disto sua primeira tarefa. Seja sua oração: ‘Toma-me, Senhor, para ser Teu inteiramente. Aos Teus pés deponho todos os meus projetos. Usa-me hoje em Teu serviço. Permanece comigo, e permite que toda minha obra se faça em Ti’” (Caminho a Cristo, p. 70). Ao crescer na fé e na compreensão da Bíblia e dos escritos de Ellen White, concluí que a mesma voz convidativa também poderia me aconselhar e que, como discípulo de Jesus, havia muita coisa que eu precisava aprender. Passei a valorizar não apenas os retratos que Ellen White fez do incomparável Cristo, mas também seu testemunho claro e direto sobre a importância de permitir que o evangelho chegue ao fundo do meu coração e ao meu estilo de vida. Quando eu lia palavras que mexiam com minha consciência e me chamavam ao dever, eu curvava a cabeça e agradecia a Jesus por não deixar Seu povo do tempo do fim sem uma testemunha do Seu poder transformador. Com muita alegria, ao longo da minha vida tenho observado outros que trilharam essa mesma jornada, descobrindo por eles mesmos o valor desse presente. Incline sua cabeça, seja ao lado de uma cachoeira ou de uma mesa, e agradeça ao Senhor por esse dom infindável! ]
“Meals on Wheels” (Refeições sobre Rodas) na África do Sul
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BILL KNOTT é editor da revista Adventist World R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Junho 2018
Foto: Ellen G. White Estate
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O dom de profecia ALÉM DE SE COMUNICAR COM A HUMANIDADE POR MEIO DOS PROFETAS, DEUS DEIXOU PRINCÍPIOS CLAROS EM SUA PALAVRA QUE NOS AJUDAM A DIFERENCIAR OS VERDADEIROS DOS FALSOS MENSAGEIROS GERHARD PFANDL
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INSPIRAÇÃO Em 2 Timóteo 3:16, o apóstolo Paulo escreveu que toda a Escritura é inspirada por Deus. Muitas vezes, os escritores bíblicos afirmavam ter registrado as exatas palavras ditas por Deus, fazendo declarações como: “Falou mais Deus a Moisés 24
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Foto: Tachina Lee
pós a queda de Adão e Eva no Jardim do Éden, o dom de profecia se tornou um meio de comunicação importante entre Deus e a humanidade. Ao longo do Antigo Testamento encontramos uma longa lista de fiéis mensageiros do Senhor que instruíram, aconselharam e, frequentemente, repreenderam e admoestaram os israelitas e seus reis (1Sm 13:13, 14; 1Rs 18:21; Jr 7). O dom profético não cessou com Malaquias, último profeta do Antigo Testamento. Embora tenha havido um intervalo de 400 anos entre Malaquias e o nascimento de Jesus, o dom de profecia se tornou outra vez evidente no período do Novo Testamento. Os autores e várias outras pessoas mencionadas no Novo Testamento possuíam o dom de profecia (Lc 1:67; Mt 11:13, 14; At 13:1; 15:32; 21:8-10). Paulo escreveu aos Efésios que o dom de profecia permaneceria na igreja “até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus” (Ef 4:13). No entanto, lemos no livro do Apocalipse que a igreja remanescente do tempo do fim tem “o testemunho de Jesus” (12:17), que, na explicação do próprio João, é o “dom de profecia” (Ap 19:10; 22:9). Assim, não devemos nos surpreender com o fato de, nos tempos modernos, Deus ter chamado e ainda poder chamar pessoas para ser Seus profetas. Os adventistas do sétimo dia creem que Ellen White possuía o dom de profecia genuíno.
e lhe disse [...]” (Êx 6:2); “O Espírito do Senhor fala por meu intermédio, e Sua palavra está na minha língua” (2Sm 23:2); “A mim me veio a palavra do Senhor, dizendo [...]” (Jr 2:1), etc. A palavra “inspiração” descreve, principalmente, a maneira ou método usado por Deus para comunicar Sua verdade aos profetas. Muitas vezes Deus usa sonhos e visões (Nm 12:6); outras vezes Ele fala face a face (v. 7 e 8) ou, simplesmente guia os escritores por meio do Espírito Santo para que o que eles escreverem esteja em harmonia com Sua vontade. Assim, o apóstolo Pedro declarou: “Nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1:21). A palavra “moveu” é traduzida em Atos 2:2 como “vento impetuoso” (phero, em grego) que desceu sobre os crentes no Pentecostes. Atos 27:15 se refere a um navio arrastado (phero) pelo vento, fazendo com que os marinheiros perdessem o controle do barco. Portanto, em 2 Pedro 1:21, a palavra phero indica que os escritores bíblicos eram levados pelo Espírito assim como os navios eram levados pelo vento. Eles estavam sob Seu controle. TESTANDO OS PROFETAS Devido ao aparecimento de falsos profetas ao longo da história, Deus deu alguns critérios para que reconhecêssemos os que são verdadeiros. Os mais importantes são: 1. Concordância com a Bíblia. O que o verdadeiro profeta diz tem que estar e deve estar em perfeita harmonia com revelações anteriores da vontade de Deus (Is 8:20). Esse item é verdadeiro em relação a Ellen White, pois todas as suas mensagens estão em harmonia com as Escrituras. Constantemente, ela citava textos bíblicos e a eles se referia, além de recomendar as Escrituras para todos. 2. Cumprimento da profecia. O que o profeta prediz deve acontecer (Dt 18:21, 22). A exceção são as profecias condicionais (Jr 18:7-10), como vemos na história de Jonas. Embora o trabalho de Ellen White não consistisse primordialmente em prever o futuro, ela fez uma série de previsões que foram cumpridas de maneira notável. Por exemplo, em 24 de março de 1849, a pioneira escreveu sobre umas batidas misteriosas na casa das irmãs Fox, em Hydesville, Nova York, iniciadas em 1848: “Vi que as batidas misteriosas em Nova York e outros lugares eram o poder de Satanás, e que essas coisas seriam cada vez mais R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Junho 2018
O QUE O VERDADEIRO PROFETA DIZ DEVE ESTAR EM PERFEITA HARMONIA COM REVELAÇÕES ANTERIORES DA VONTADE DE DEUS
comuns, abrigadas em vestes religiosas, a fim de distrair os enganados e fazê-los se sentirem em segurança maior e a atrair a mente do povo de Deus tanto quanto possível para essas coisas e levá-lo a duvidar dos ensinos e do poder do Espírito Santo” (Primeiros Escritos, p. 43). Um ano mais tarde ela escreveu: “Foi-me mostrado que, por essas pancadas e pelo magnetismo, esses mágicos modernos procurariam ainda explicar todos os milagres operados por nosso Senhor Jesus Cristo [...]” (p. 59). Cem anos depois, em 1948, o Centennial Book of Modern Spiritualism in America (Livro do Centenário do Espiritismo Moderno na América) declarou: “O espiritualismo, com seus sinais, maravilhas, visões e dons da cura, era a religião dos apóstolos, dos pais pós-apostólicos e dos cristãos primitivos” (p. 115). E acrescentou: “Um médium predisse o nascimento de Jesus, cuja breve vida na Terra foi repleta de realizações que muitos chamavam de milagres, mas na realidade eram fenômenos espirituais” (p. 68). 3. O teste do pomar. A vida do profeta verdadeiro deve apresentar evidências do seu chamado. Em Mateus 7:16, Jesus disse: “Pelos seus frutos os conhecereis”. Esse teste leva tempo. Ellen White viveu e trabalhou por 70 anos sob os olhos críticos de milhares de pessoas, a maioria céticas, desconfiadas, incrédulas e, em alguns casos, abertamente hostis. Ela viajou extensivamente e viveu vários anos na Europa e Austrália, mas o fruto de sua vida de dedicação comprova sua sinceridade, seu zelo e sua piedade cristã. Ela foi fundamental no estabelecimento de hospitais, escolas e da obra de publicações adventistas. F. M. Wilcox, editor da Review and Herald e um dos associados de Ellen White, escreveu em 1933: “Sua vida e experiência cristã correspondiam aos princípios puros, simples e dignos do evangelho de Cristo e, como todo profeta verdadeiro, os princípios da verdade que ela ensinava aos outros eram exemplificados em sua própria vida” (The Testimony of Jesus, 1944, p. 35). A direção de Deus para os adventistas do sétimo dia, por meio do dom de profecia, tem sido uma bênção para muitas pessoas, para a igreja e suas instituições. ] GERHARD PFANDL, natural da Áustria, serviu como pastor, instrutor bíblico, secretário de campo e diretor associado do Instituto de Pesquisa Bíblica. Hoje desfruta de uma aposentadoria ativa, em Burtonsville, Maryland (EUA), onde está engajado em sua congregação local
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VIDA ADVENTISTA
Foto: JS Daniel
DESABAFO DE UMA MISSIONÁRIA
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A VIDA ALÉM-MAR NÃO É GLAMOROSA. ELA RESERVA MAIS LUTAS DO QUE VITÓRIAS KELSEY BELCOURT
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elsey, você pode falar sobre sua experiência missionária?” Engoli em seco, esperando que meu rosto não denunciasse meu nervosismo. Na hora me vieram várias cenas à mente. Bebês mortos, crianças abandonadas e famintas, minha impressão de que nunca seria capaz de atender aquela imensa demanda de necessidades, uma dinâmica complicada e angustiante. Não seria animador compartilhar nada daquilo. Lembrei também da paciente com tuberculose, sem família, mas bem-humorada, hospitalizada havia muito tempo. Ela tinha sido uma inspiração. Decidi falar sobre ela. “Está bem”, disse hesitantemente, começando a montar um arquivo no PowerPoint cheio de imagens. Porém, o restante, bem, tentei sufocar minhas emoções. Deixei para lidar depois com elas. Eu estava de volta ao meu país, por apenas algumas semanas, antes de retornar à África. Por isso, me esforcei para sorrir, sobreviver à apresentação e contar uma história inspiradora para a igreja. As pessoas me agradeceram. PALAVRAS GUARDADAS NO CORAÇÃO Vários meses mais tarde retornei permanentemente para os Estados Unidos, e desmoronei. Dessa vez não aceitei um convite para falar na Escola Sabatina. “Contar minha história?”, pensei. Estou traumatizada! Não acreditava que alguém desejasse realmente ouvir minha história. As caixas de papelão onde nossas luvas eram descartadas eram utilizadas pelas parteiras como caixões improvisados para enterrar bebês pelos quais ninguém chorava. O garoto R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Junho 2018
epiléptico de 12 anos de idade, para o qual tivemos que dar alta, ficou na rua, porque seus pais o abandonaram e não havia nenhum serviço social de amparo. Só depois de um ano percebi que uma mãe solteira que não pôde ficar com seu bebê por causa de seu patrão, era, na verdade, uma jovem da zona rural que trabalhava como prostituta. Eram essas histórias que eu tinha para contar. Creio que as pessoas também não gostariam de ouvir a respeito de eu não ter conseguido ajudar nossa empregada doméstica a alimentar seus sobrinhos que passavam fome, até que o diretor financeiro do nosso hospital me encorajou a desviar, para ela, um pouco de manteiga de amendoim e leite em pó. Seria possível que gostariam de ouvir acerca de todas as pessoas que morreram porque não tínhamos materiais básicos, como bolsas de sangue e tubos? Ou sobre quanto ficavam exaustos e frustrados os missionários recém-chegados ao se depararem com a indisposição dos missionários mais velhos em andar a segunda milha? E, somadas a todas essas dificuldades, havia ainda o desafio de angariar recursos para nossa organização e lidar com a complicada dinâmica dos relacionamentos interpessoais entre os missionários. A verdade é que o campo missionário atrai personalidades fortes com opiniões igualmente fortes, e isso torna difícil a convivência. As pessoas que estavam confortavelmente sentadas nos bancos da igreja queriam que eu apresentasse um relatório missionário bonito enquanto que, na África, meus amigos continuavam sofrendo,
passando fome e tendo dificuldades de relacionamento? Para mim, o fracasso havia sido pesado demais, invasivo demais. Percebi que a compreensão que a igreja tem sobre missão transcultural é muito romântica. Não conseguia lidar com aquilo. Nunca havia me sentido tão inútil diante das necessidades que pareciam impossíveis de ser resolvidas. Por isso, meus dois anos seguintes foram de luta. Tentei usar responsavelmente meus recursos, mas às vezes ficava preocupada se encontraria banheiros sem descarga automática no Ocidente. Não estava pronta para voltar para o campo missionário. Meus pais haviam se divorciado e alguns bons amigos haviam morrido. O senso de inutilidade que senti na África, estava, de algum modo, se repetindo em meu coração. Estava naufragando por causa do peso da tristeza e dos problemas de saúde, enquanto o mundo ao meu redor aparentemente era abastado o suficiente para minhas necessidades egoístas. O CUIDADO DE DEUS Certo dia, enquanto eu voltava para casa após um sermão de sábado a respeito do amor de Deus, olhei para o céu e gritei zangada: “Deus, se o Senhor realmente Se importa comigo, envie hoje à noite alguém em quem confio, para me dar um abraço.” “Espera! O que estou dizendo?”, gaguejei chocada. Que audácia dizer isso para Deus, o Rei do Universo! Parecia o discurso de Satanás, na tentação do deserto: “Se Tu és o Filho de Deus...” (Mt 4). Porém, Deus respondeu minha oração. Minha amiga Shama chegou 27
O EXEMPLO DE CRISTO Jesus viveu para amar os outros e cuidar deles. Por isso, sempre acreditei que o ministério ideal resultava em satisfação por uma vida de serviço. Porém, mesmo o amor tendo triunfado ao final, até a perfeição parece ter fracassado. E se, no ministério, o sucesso verdadeiro às vezes aparenta fracasso? Imagino quanta tristeza Jesus sentiu quando soube da morte de Seu primo na prisão (Mt 14:10-13) e do Seu amigo Lázaro (Jo 11:34-36); indesejado quando as autoridades da província dos 28
gadarenos pediram a Ele que fosse embora quando Seu maior desejo era curar os feridos (Mc 5:17); desapontado e frustrado por Suas intenções serem repetidamente malinterpretadas (Lc 9:54-56; Jo 6:15); e profundamente ferido pela traição dos que eram mais próximos a Ele (Jo 18:17). Sua história de sofrimento alcançou o clímax quando aqueles a quem veio salvar se voltaram contra Ele e O deixaram morrer em meio à culpa e vergonha (Sl 69:20, 21). Definitivamente, isso não se parece com sucesso! Portanto, quando vejo minha história através da história de Jesus, ela passa a ter sentido. Sou um ser humano desanimado que passou
necessário. Porém, não é glamoroso nem romântico. Lá, cada pessoa é a mesma que é em sua terra natal, embora viver fora da própria cultura torne mais evidentes nossos fracassos e defeitos. Talvez algumas concepções errôneas sobre os missionários que servem em outros países seja devido às histórias espetaculares que eles contam para que a igreja fique tranquila quanto ao avanço do evangelho. No entanto, a realidade é que os missionários nem sempre conseguem ver que o reino de Deus está avançando; e muitas vezes eles necessitam de um incentivo. Ainda que agora eu não possa voltar para o campo missionário,
QUANDO VEJO MINHA HISTÓRIA ATRAVÉS DA HISTÓRIA DE JESUS, ELA PASSA A TER SENTIDO
por uma multidão de emoções negativas. Jesus veio para ficar aqui comigo, ver o que eu estava passando, e para ser meu Irmão mais velho em meio ao sofrimento da humanidade. Por meio da Sua história, posso receber a fé e a esperança que não vêm de mim e compreender que, mesmo aparentemente fracassada e imersa na dor, há um quadro maior de triunfo que Deus prometeu trabalhar na minha vida. Afinal, esperança tem que ver com aquilo que ainda não posso ver (Rm 8:24). Ir para o campo missionário transcultural é importante e
estou aprendendo muito com o tempo que passei lá. A participação na missão não é um mero projeto, mas um modo de ser, resultante do trabalho que Cristo realiza em meu coração para que Sua história possa brilhar por meio dele. História que inicialmente pode ser marcada por vergonha e fracasso, mas que, por fim, será de restauração e triunfo do amor abnegado. ] KELSEY BELCOURT, enfermeira e mestra em Enfermagem Clínica de Família pela Universidade da Califórnia (EUA), serviu na América do Sul e África
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Ilustração: Hermann Clementz (1852-1930)
sem avisar naquela tarde de sábado. Ela ficou comigo a semana inteira. Ofereceu carinho, ajuda no serviço de casa e ouviu minha história. Por que Deus respondeu a uma oração esbravejada? Estaria Ele somente esperando que eu expressasse o que realmente estava guardado no meu coração? Mais tarde, Deus enviou outros amigos que me ajudaram a entender que não tem problema ficar triste devido à morte e ao abandono. Que muitas vezes ouvir histórias é tão útil quanto ter um material médico de socorro. Que devido à pecaminosidade humana, até nosso desejo sincero de ajudar os outros pode criar confusão e desentendimento. Entretanto, apesar de nossas deficiências, Deus atende os desejos de nosso coração. Ele nos desafia a receber a plenitude Dele, a fim de que ensinemos outros a fazer o mesmo. O tempo passou e tive uma oportunidade de compartilhar o que aprendi. Estava numa campal e era sábado à tarde quando encontrei uma pessoa que eu conhecia e que não encontrava havia muito tempo. Eu a cumprimentei no saguão e percebi que queria conversar. Ela havia acabado de chegar do campo missionário. “Verdade?”, perguntei. “E as pessoas pedem que você conte sua história mesmo você estando completamente traumatizada?” Ela respondeu de maneira que se podia ver o susto em seus olhos. “Isso também aconteceu comigo quando voltei da África”, confessei. “Todos queriam ouvir sobre tudo o que eu tinha feito, mas eu estava tão traumatizada com minha experiência que sentia não ter nada para contar.” Ela sorriu. “Mas, se você quer contar, estou pronta para ouvir”, completei. E ela me contou sua história durante várias horas. Era diferente da minha, mas os assuntos eram similares: o sentimento de inutilidade e despreparo para amar e servir a outros. Nenhuma história fantástica para contar, dificuldade para trabalhar com outros missionários e a sensação de fracasso.
NOVA GERAÇÃO
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Foto: Arquivo pessoal
s crianças corriam pelo saguão, conversando animadamente, enquanto procuravam as salas de artesanato para sua idade. Eu estava tão ansiosa quanto elas para ver quanta criatividade desabrocharia naquele mês. Estávamos planejando decorar vasos de flores, plantar neles as flores da primavera e criar marca-páginas com ponto-cruz. Porém, eu sabia que as crianças sempre traziam ideias malucas para nossas atividades. Todos os meses minha igreja realiza um programa chamado “Igreja Mão na Massa”, uma espécie de Escola Cristã de Férias que dura somente um sábado à tarde. Nosso tema para o ano é “Heróis da Bíblia”. Com criatividade, os voluntários contam histórias, cantam com as crianças e organizam as mesas para que elas brinquem de artesanato. O bairro em que nossa igreja está localizada tem o maior número de famílias monoparentais e o pior índice de saúde da região. Nosso objetivo com o projeto é atender essas famílias em dificuldades e tentar conectá-las a nós e a Jesus. Faço trabalhos manuais com crianças e adolescentes de 10 a 13 anos de idade. Eles vêm de várias culturas: são
ESSE PROJETO É DIFÍCIL E CANSATIVO. É PRECISO SAIR DA ZONA DE CONFORTO PARA INTENCIONALMENTE SE RELACIONAR COM AS FAMÍLIAS DE UMA COMUNIDADE PROBLEMÁTICA R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Junho 2018
DEIXAI VIR A MIM OS PEQUENINOS A IGREJA BRITÂNICA QUE ABRE SUAS PORTAS PARA BRINCAR E FAZER BAGUNÇA COM AS CRIANÇAS DO BAIRRO LYNETTE ALLCOCK
ingleses, brasileiros e migrantes do leste europeu. Eles conversam comigo sobre seus passatempos e sonhos. Às vezes, fazem perguntas sobre as histórias da Bíblia e a respeito de Deus. Um desses adolescentes é o Davi (nome fictício), de 13 anos. Ele vem de um lar monoparental e tem alguns problemas mentais e emocionais, inclusive transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. Davi é divertido e criativo, e me alegro em ver quanto ele progrediu. Há alguns anos, quando ele passou a frequentar nossas atividades, era muito difícil envolvê-lo no programa. Davi se negava a participar dos grupos de artesanato e preferia ficar isolado com seu tablet. No entanto, quase imperceptivelmente ele começou a mudar. O garoto percebeu que os voluntários se importavam com ele e se abriu para conhecer Jesus e as crianças que participavam regularmente do projeto. Agora, ele participa feliz no meu grupo de artesanato, trazendo novas ideias, como fazer animais estranhos com limpadores de cachimbo e pompons. Ele é muito inventivo. Gosta de me desafiar a pensar em atividades próprias para meninos cheios de energia, em vez de só pensar nos interesses das meninas, o que é muito mais fácil para mim. A “Igreja Mão na Massa” é barulhenta e bagunçada. É difícil e cansativo tocar esse projeto. Às vezes é difícil sair da nossa zona de conforto e intencionalmente visitar as famílias da comunidade em vez de simplesmente ficar com as pessoas que já conhecemos. No entanto, apesar dos desafios, a “Igreja Mão na Massa” sempre me lembra de como Jesus Se alegra com a simplicidade e o entusiasmo das crianças, e quanto deseja que elas O conheçam. Afinal, delas é o reino do Céu (Mt 19:14). ] LYNETTE ALLCOCK, graduada na Southern Adventist University (EUA), mora em Watford, Inglaterra, onde produz e apresenta programas para a Rádio Adventista de Londres
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MINHA HISTÓRIA
Estoque divino
A HISTÓRIA DE MIL PEÇAS QUE FICARAM GUARDADAS POR 60 ANOS NUMA LOJA DE CONSTRUÇÃO NO ZIMBÁBUE
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DICK DUERKSEN
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500 parafusos necessários. Mas as mil porcas não estavam. À PROCURA DAS PEÇAS Victoria Falls tem 37 mil habitantes e uma loja de ferragens bem pequena onde talvez possam ser encontrados um martelo ou dois, mas não mil porcas. O superintendente da construção procurou em todas as cidades vizinhas, mas sem sucesso. A solução foi pedir ajuda para Moisés, um zimbabuano alto que havia sido contratado para trabalhar com a equipe. Por falar a língua local, ele era a pessoa mais indicada para tentar a sorte na loja de materiais de construção de Victoria Falls. A missão era impossível. Por isso, os dois homens oraram fervorosamente. Um parafuso de referência pesava no bolso de Moisés, quando ele entrou na lojinha e pediu R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Junho 2018
Foto: Fotolia
alicerce estava pronto e os voluntários a caminho. Logo, mais de mil crianças teriam uma escola nova em Vitoria Falls, no Zimbábue. O aço pré-cortado destinado à construção dos prédios do colégio haviam sido despachado de Minnesota (EUA). Os contêineres, lotados com 27 tamanhos diferentes de aço e todos os parafusos e porcas necessários, viajaram durante 19 horas por terra até o porto de Baltimore, em Maryland, e, de lá por mar até Durban, na África do Sul. Não havia vagas suficientes para as crianças em Victoria Falls e, embora pudessem frequentar a escola até o terceiro ano, até aquele momento não era possível avançar nos estudos. Doze caminhões despejaram 12 contêineres em M khosana e, imediatamente, os trabalhadores começaram a empilhar o material embaixo das mangueiras. As peças e ferramentas precisavam ficar onde o acesso fosse rápido. Estava tudo lá, exceto mil porcas de aço. O arquiteto havia projetado os prédios com janelas de estrutura de aço, as quais deveriam ser fixadas à parede por quatro parafusos. Esse é um projeto simples, que voluntários experientes podem montar sozinhos e rapidamente. Os materiais das janelas estavam todos lá, inclusive os
permissão para falar com o homem mais experiente daquele estabelecimento. Um africano idoso se arrastou até o balcão empoeirado e perguntou como poderia ajudar. “Eu trabalho para os voluntários que estão construindo uma escola nova em Mkhosana, na estrada para o aeroporto, sabe? A escola adventista grande que será construída no local de onde tivemos que espantar os elefantes”, explicou Moisés. “Já vi a placa, mas não acho que vão conseguir construir a escola em duas semanas como estão dizendo”, respondeu o homem. “Vai ser um desafio, mas acho que pode ser feito”, reafirmou Moisés. “Porém, nós temos um problema”, completou Moisés, mostrando o parafuso de aço brilhante que tinha no bolso. “Para fixar as janelas nas paredes da escola, precisamos de mil porcas que encaixem neste parafuso. O senhor tem para nos vender?” O senhor idoso pegou o parafuso e ficou olhando atentamente para a peça. Em seguida, o repassou para um dos atendentes mais jovens da loja. “Os americanos são loucos”, disse o idoso. “Os ingleses usam o sistema métrico, mas os americanos inventaram suas próprias medidas. Esse é um parafuso padrão, e há anos não vejo nada parecido. Não tenho aqui parafuso nem porca do sistema métrico que possa servir para o trabalho. Sinto muito.” Então começou uma pequena confusão. Todos queriam falar sobre as porcas, os parafusos, sistemas métricos americanos e ingleses e comentar se os adventistas iriam terminar a escola nova em duas semanas. Moisés então os interrompeu: “Senhor, pode fazer um grande favor para mim? Procure em sua loja e veja se, talvez, não tenha mil porcas padrão que encaixem nesses parafusos. Por favor!” MILAGRE NO FUNDO DA LOJA O pedido provocou gargalhadas estridentes, mas o idoso aceitou procurar no fundo da loja. Muito mais tarde o homem voltou ao balcão, olhou bem nos olhos de Moisés e disse: “Vou lhe contar uma história.” “Há 60 anos, um fazendeiro rodesiano [antiga região de fronteira entre Zâmbia e Zimbábue] veio a esta loja e me pediu que encomendasse mil parafusos número 12, tamanho padrão. Exatamente o parafuso que você me deu. Concordei e enviei uma carta para um fornecedor norte-americano. O fornecedor fechou o negócio, mas exigiu que comprássemos os parafusos e as porcas. O fazendeiro concordou e fizemos o pedido. Quando finalmente a caixa chegou, entrei em contato com o fazendeiro. Ele veio à cidade duas semanas depois e me disse que só queria os parafusos. Por isso, pude ficar com as porcas que sobraram.” Todos se amontoaram ao redor do homem enquanto ele colocava várias caixinhas de papelão branco sobre o balcão e pegava duas porcas que se encaixaram no parafuso original. “Essas porcas estão na prateleira do meu quarto dos fundos há mais de 60 anos, só amontoando poeira. Nunca mais me lembrei delas, até hoje”, acrescentou o comerciante idoso. O silêncio envolveu a loja, enquanto Moisés pagava pelas porcas. Lá em Mkhosana, Bob, o supervisor, ainda estava R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Junho 2018
DOZE CONTÊINERES FORAM DESPEJADOS EM MKHOSANA. ESTAVA TUDO LÁ, EXCETO MIL PORCAS DE AÇO
orando. “Mil porcas de tamanho padrão, senhor”, disse Moisés com um sorriso quando entregou as peças ao supervisor. Todos começaram a falar ao mesmo tempo de como imaginavam o trabalho que os anjos do estoque celestial tiveram para garantir aquelas porcas na obra de Mkhosana. “Imagine, os anjos sabiam que ia faltar as porcas; por isso, há 60 anos, eles convenceram um fazendeiro a comprar mil porcas padrão número 12. Só as porcas. Sem os parafusos”, comentou alguém. “Pior ainda”, disse outro, “eles tiveram que arrumar um fornecedor americano que só vendia os parafusos com as porcas! E o fazendeiro ainda concordou em pagar pelos dois.” “Como será que os anjos impediram que os funcionários da loja vissem aquelas caixas na prateleira? Imagino quantos anjos estavam ali hoje, observando o homem tirar as teias de aranha e direcionar a luz da lanterna para as caixas”, acrescentou um terceiro voluntário. O silêncio encheu a sa la, enquanto todos pensavam em porcas, parafusos e anjos. “Se os anjos protegeram essas porcas por 60 anos”, disse Moisés, “acho que posso confiar a Ele meus problemas. Até os que ainda não conheço!” ] DICK DUERKSEN é pastor e mora em Portland, Oregon, nos Estados Unidos
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VISÃO GLOBAL
O ESPÍRITO DE PROFECIA FOI CONCEDIDO PARA NUTRIR O MOVIMENTO DE DEUS NOS ÚLTIMOS DIAS. POR ISSO, OS ESCRITOS DE ELLEN G. WHITE SÃO MAIS NECESSÁRIOS AGORA DO QUE NUNCA TED WILSON
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Foto: Ryoji Iwata
Dom vital
illiam era engenheiro, fazendeiro e administrador. Nascido na Irlanda, imigrou para os Estados Unidos por volta de 1870. Ele e a esposa, Isabella, moravam na Filadélfia, onde William trabalhava como engenheiro na construção de locomotivas. Depois de alguns anos, mudaram-se para o oeste, para a região das sequoias, ao norte da Califórnia. Ali ele foi trabalhar no desmatamento. Mais tarde, o casal se estabeleceu próximo a Healdsburg, onde William se tornou produtor de frutas, criador de gado e proprietário de uma loja na zona rural. O casal teve quatro filhos: William Jr., Ray, Natanael e Walter. Em algum momento, Isabella se tornou adventista do sétimo dia, mas seu esposo, embora prezasse pelos valores morais, não estava interessado em religião. Em 1905, foram armadas algumas tendas próximo a Healdsburg para as reuniões campais dos adventistas. Isabella e os filhos compareceram aos encontros. Ela convidou o esposo para acompanhá-los no culto de sábado. Para sua alegria, ele aceitou. Enquanto William estava sentado sob a tenda, uma pregadora começou a falar da maravilhosa verdade sobre Jesus, destacando que todo pecador necessita de um Salvador e de permitir que Ele transforme sua vida. A pregadora fez um apelo sincero e, para a surpresa e alegria de Isabella, William se levantou e foi à frente, entregando seu coração ao Senhor. Por um ano, ele estudou a preciosa mensagem adventista e começou a fechar sua loja aos sábados, confiando a Deus seu futuro. William foi batizado e, mais tarde, se tornou o primeiro ancião da igreja de Healdsburg. Cristo transformou sua vida. William e Isabella Wilson foram meus bisavós, e a pregadora que falou tão eloquentemente sobre Jesus era Ellen G. White. Após a morte de Tiago, Ellen se mudou para Healdsburg e morou perto do colégio que hoje é conhecido como Pacific Union College. Meu avô, Natanael, lembrava-se das visitas de Ellen White à sua casa, quando era menino, e da maneira carinhosa com que ela contava histórias para ele e seus irmãos, que costumavam se assentar aos pés dela. A família Wilson deve muito do seu conhecimento da preciosa mensagem do advento à atividade direta, prática e evangelística de Ellen White. Por esse motivo, para nós, como família, os escritos proféticos têm um valor ainda mais pessoal. Hoje tenho muitas razões para acreditar sinceramente no ministério profético de Ellen White, mas especialmente porque enaltece Jesus. Ela escreveu: “Nossa fé aumenta ao contemplarmos Jesus, que é o centro de tudo que é atraente e amorável. Quanto mais contemplarmos o celestial, tanto menos veremos de desejável e atraente no terreno. Quanto mais constantemente fixarmos o olhar da fé em Cristo, em quem se centralizam nossas esperanças de vida eterna, tanto mais crescerá nossa fé” (Nos Lugares Celestiais, p. 128).
O ESPÍRITO DE PROFECIA Alguns podem questionar por que os escritos de Ellen G. White são denominados de “espírito de profecia”. Segundo Apocalipse 19:10, o “testemunho de Jesus é o espírito da profecia”. O “testemunho de Jesus” é Sua mensagem profética para Seu povo, enviada a Seus profetas ao longo dos séculos. Em Efésios 4:11-13, vemos que o dom de profecia permaneceria na igreja até o fim dos tempos. O fato de o testemunho de Jesus ou “espírito de profecia” ser mencionado em conexão com a igreja remanescente de Deus no tempo do fim (Ap 12:17) indica que Jesus falaria de maneira especial para Seu povo nos últimos dias. Esse Espírito é o mesmo que inspirou os profetas de Deus, no passado, com mensagens para Seu povo. INSTRUÇÕES VINDAS DO CÉU Na Igreja Adventista do Sétimo Dia, aceitamos Ellen White como profetisa moderna e serva do Senhor. Esta igreja não estaria onde está sem a orientação especial dada por Deus por meio dessa profetisa. No entanto, não consideramos seus escritos como sendo parte da Bíblia ou igual a ela. Como Ellen White afirmou, os escritos do espírito de profecia devem levar à Bíblia. Contudo, eles não são menos inspirados, pois procederam do mesmo Espírito que inspirou os autores bíblicos, sendo, portanto, o testemunho de Jesus. “Por meio de Seu Santo Espírito, a voz de Deus nos tem vindo continuamente em advertências e instruções, para confirmar a fé dos crentes no Espírito de Profecia”, escreveu Ellen White (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 41). O dom de profecia foi concedido para nutrir e suprir o movimento de Deus nos últimos dias com as instruções divinas. Esses conselhos foram e são fundamentais no estabelecimento do ministério de publicações, bem como das áreas de educação, saúde, assistência humanitária e das instituições de comunicação. Eles orientam o trabalho administrativo, pastoral, evangelístico e missionário da igreja. O espírito de profecia oferece instrução em quase todos os aspectos da vida, abrangendo o campo teológico, bem como o estilo de vida, a saúde pessoal, a família, o lar, os jovens, as relações interpessoais, a administração dos recursos pessoais e muito mais. Como resultado da instrução do dom profético, a Igreja Adventista do Sétimo Dia não é apenas mais uma denominação, mas um movimento nascido no Céu, com um propósito R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Junho 2018
especial: proclamar a mensagem de Apocalipse 14:6-12. O espírito de profecia é um dos maiores presentes concedidos pelo próprio Cristo à Igreja Adventista do Sétimo Dia. É exatamente por esse motivo que o intento do inimigo é destruir a influência da Bíblia e do dom profético moderno. Ellen White escreveu: “Será ateado contra os testemunhos um ódio satânico. A operação de Satanás será perturbar a fé das igrejas neles, por esta razão: Ele não pode achar caminho tão livre para introduzir seus enganos e prender as pessoas em suas mentiras se as advertências e repreensões e conselhos do Espírito de Deus forem atendidos” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 48). UMA DAS MAIORES AMEAÇAS Uma das maiores ameaças contra o espírito de profecia não é, necessariamente, a animosidade, mas a indiferença. Muitos membros estão familiarizados com ele, mas não leem, e simplesmente o ignoram. O inimigo sabe que, se conseguir fazer com que o povo de Deus olhe para si e para suas opiniões em vez de olhar para Cristo, o resultado será desavença, desunião e ansiedade. Essa é uma das suas melhores ferramentas contra a missão da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Fomos chamados para espalhar a Palavra de Deus com todo seu poder, por meio da instrução do Espírito Santo. Nesse chamado divino seremos confrontados por pessoas que discordarão de nossa mensagem e missão. Talvez sejamos tentados a desanimar com a apatia de pessoas de dentro da igreja. Mas, não importa o que enfrentarmos, não devemos trabalhar de maneira independente, separados da igreja. Permaneça unido à sua igreja local e à sua família mundial, apesar das imperfeições. Mantenha o Senhor e Sua missão sempre à sua frente. Enalteçamos Cristo e Sua Santa Palavra. Creiamos no dom profético. Ao fazermos isso, sob a orientação do Espírito Santo, experimentaremos o reavivamento e a reforma. Deus fará Sua obra de preparação completa do Seu povo para os eventos que já estão muito próximos. O espírito de profecia é tão importante hoje como no tempo em que foi escrito. É edificante, preciso, instrutivo e poderoso, pois nos leva a Cristo e à Bíblia. É realmente o testemunho de Jesus. ]
UMA DAS MAIORES AMEAÇAS CONTRA O ESPÍRITO DE
PROFECIA NÃO É
NECESSARIAMENTE A ANIMOSIDADE, MAS A
INDIFERENÇA
TED WILSON é presidente mundial da Igreja Adventista. Você pode acompanhar o líder por meio das redes sociais: Twitter (@pastortedwilson) e Facebook (fb.com.br/pastortedwilson)
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PRIMEIROS PASSOS
NÃO IMPORTA A IDADE, VOCÊ PODE FAZER DISCÍPULOS DE CRISTO ONDE ESTIVER LINDA KOH
C
lifford estava muito feliz. “Mamãe, mamãe! Quero falar de Jesus para nossos vizinhos!”, ele exclamou muito animado. “Que maravilha, meu filho! Mas como você vai fazer isso?”, perguntou a mãe. “O pastor da nossa escola disse que podemos criar um pequeno grupo em nossa casa e convidar nossos amigos e vizinhos para vir. Posso fazer isso?”, o menino implorou. Clifford e a mãe se sentaram para planejar o que fariam. “Vamos começar com comida”, disse o garoto. A mãe concordou. Clifford ficaria responsável pelas histórias da Bíblia e ensinaria os hinos da Escola Sabatina. A primeira reunião seria na sexta-feira à noite. “Vamos orar sobre o assunto e pedir que Jesus nos dê ideias brilhantes para evangelizar nossos amigos e vizinhos”, disse a mãe com um sorriso. Eles fizeram convites interessantes e foram, de porta em porta, convidando as crianças do bairro para o pequeno grupo do Clifford. A sexta-feira finalmente chegou. Clifford voou para a porta
LINDA KOH é diretora do Ministério da Criança na sede mundial adventista
“Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus (Mt 5:16)"
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R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Junho 2018
Ilustração: Xuan Le
O TESTEMUNHO DE CLIFFORD
quando a campainha tocou pela primeira vez. Quando abriu a porta, três meninas estavam sorrindo para ele. A campainha continuou soando por um tempo. “Estou muito feliz porque vocês vieram ao meu pequeno grupo. Sejam bem-vindos! Nós vamos aprender sobre meu Eterno Amigo, Jesus, que ama muito a todos vocês”, disse Clifford alegremente aos 15 visitantes que ele recebeu no primeiro encontro. Duas semanas se passaram e mais crianças se uniram ao grupo. Depois de alguns meses, um total de 28 crianças estavam frequentando fielmente as reuniões em sua casa. “Eu amo as histórias de Jesus. Muito obrigado por me ensinar”, disse Franco, um novo amigo de Clifford. “Posso ver que Jesus está tentando mudar minha vida para melhor”, completou. “Isso é muito bom, Franco! Vou orar por você. Se você aceitar Jesus como seu Amigo especial, Ele pode fazer você ser melhor na escola, o que vai deixar seus pais muito felizes”, respondeu Clifford, confiantemente. Clifford continuou a testemunhar de Jesus para as crianças do seu bairro. Quando falava de Jesus com os outros, sua luz brilhava cada vez mais entre seus vizinhos. ]
PERSPECTIVA
QUEM DEVE MORRER E QUEM DEVE VIVER?
O QUE OS CARROS SEM MOTORISTA ME ENSINARAM SOBRE JESUS MARCOS PASEGGI
Foto: Denys Nevozhai
É
u m p e s adelo r e c or rente. Você se torna frágil, velho ou doente. Os outros começam a tomar decisões em seu nome. Você se torna o que outra pessoa decide que você será. Você se sente menos que um ser humano, mas não pode fazer nada a esse respeito. As pessoas temem o dia em que perderão o controle. Esse talvez seja o motivo para que muitos fiquem mais nervosos quando embarcam num avião do que quando colocam as mãos no volante do seu carro. Não importam as estatísticas, achamos que no carro os imprevistos podem ser administrados, mas na poltrona do avião nos sentimos impotentes. Como os carros sem motorista se tornaram uma possibilidade plausível, os especialistas discutem as questões éticas envolvidas no uso de automóveis dirigidos por computador. Quando o carro é conduzido por um ser humano, o motorista tende a reagir por instinto. Porém, se um veículo é guiado por uma inteligência artificial, em caso de acidente, é possível programar qual vida será preservada. Segundo Abigail Beall, num artigo publicado no site da revista New Scientist, em 13 de outubro de 2017, nos R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Junho 2018
CRISTO NOS DEU LIBERDADE DE ESCOLHA, DEVOLVENDO-NOS A VERDADEIRA AUTONOMIA carros sem motorista esse controle seria transferido para um computador com configurações pré-determinadas. Um “botão ético” poderia ajudá-lo a configurar o carro para sacrificar você ou os outros passageiros. Três programações estariam disponíveis: “totalmente altruísta” (colocando a vida dos outros em primeiro lugar), “totalmente e goísta” (sua vida antes da dos outros) ou a opção “imparcial”. No entanto, conforme explicado por Beall, esse não seria um plano infalível, porque todos podem escolher a mesma opção, seja imparcial ou de autoproteção máxima. E mais, quem assumiria a responsabilidade pela vida ou morte de outra pessoa? A Bíblia nos revela que a autonomia humana foi perdida há
muito tempo. O livro sagrado nos conta que, na queda moral do Éden, nossos primeiros pais renunciaram ao direito da livre escolha e se colocaram nas mãos de um inimigo que configurou a destruição da humanidade. A autonomia foi perdida. Alguém começou a tomar as decisões. E foram eliminadas as perspectivas de sobrevivência. Contudo, “o povo que caminhava em trevas viu uma grande luz” (Is 9:2), porque na “plenitude do tempo, Deus enviou Seu Filho” (Gl 4:4-5). Isso ocorreu para que Deus nos salvasse de nossa configuração “totalmente egoísta” e destinada à destruição. Tendo colocado nossa vida acima da Dele, Ele não foi “imparcial”, mas enviou Seu Filho no modo “totalmente altruísta”. Cristo nos deu liberdade de escolha, devolvendo-nos a verdadeira autonomia. O fato é que nem Ele pode escolher por nós. Por isso, Ele coloca diante nós a vida e a morte, a bênção e a maldição (Dt 30:19). ] MARCOS PASEGGI é editor associado da revista Adventist World
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BEM-ESTAR
CERCA DE 80% DO TOTAL DE 1,1 BILHÃO DE FUMANTES DO MUNDO VIVEM EM PAÍSES DE BAIXA E MÉDIA RENDA
AO LONGO DE SEUS MAIS DE 150 ANOS DE HISTÓRIA, A IGREJA AJUDOU MILHARES DE PESSOAS A ABANDONAR O TABACO E OUTRAS SUBSTÂNCIAS TÓXICAS. MAS ESSE TRABALHO PRECISA CONTINUAR SENDO FEITO PETER N. LANDLESS E ZENO L. CHARLES-MARCEL
O
s f u nd ador e s d a Igreja Adventista do Sétimo Dia adotaram uma ênfase prática na prevenção de substâncias que causam dependência. Em 1820, José Bates, um dos pioneiros do adventismo, deixou de consumir tabaco, álcool, chá-preto e café. Depois da visão que recebeu em 1848, também Ellen White passou a falar enfaticamente sobre os perigos dessas substâncias. Assim como José Bates e Tiago White, ela já incentivava a melhora da qualidade de vida e o bem-estar geral antes mesmo de a igreja ser oficialmente organizada em 1863. Em seu período formativo, a Igreja Adventista apoiou e defendeu a temperança, incentivando os membros e a sociedade em geral a apoiar a causa. Ellen White era favorável, inclusive, à proibição dessas susbtâncias. Por isso, incentivou 36
todos a usar sua influência e poder de voto em favor de mudanças na legislação. “Devemos votar pela proibição?”, ela perguntou certa vez. “Sim”, respondeu. E completou: “Talvez vou chocar alguns se disser que, se necessário, vote pela proibição no sábado, se não puder fazê-lo em nenhum outro dia” (Arthur L. White, Ellen G. White: The Lonely Years, 1876-1891, v. 3, 1984, p. 160). Em 1881, a pioneira reiterou: “Há uma causa para a paralisia moral que existe na sociedade. Nossas leis mantêm um mal que está minando seus próprios fundamentos. Muitos deploram os erros que sabem existir, mas consideram-se isentos de qualquer responsabilidade na questão. Não pode ser assim. Toda pessoa exerce uma influência na sociedade” (Temperança, p. 253). Desde seu surgimento, a Igreja Adventista tem ajudado ativamente as pessoas a abandonar o
PETER LANDLESS é cardiologista e diretor do Ministério da Saúde da sede mundial adventista em Silver Spring, Maryland (EUA); ZENO CHARLES-MARCEL é clínico geral e diretor associado desse mesmo ministério
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Foto: Brittany Perry
VIDA TEMPERANTE
fumo. Na primeira instituição adventista de saúde, o Instituto Ocidental de Reforma da Saúde, fundado em 1866, o tabaco já era proibido. A Universidade de Loma Linda foi a primeira escola de medicina dos Estados Unidos a proibir o fumo, em 1905. Além disso, os profissionais de saúde adventistas desenvolveram atividades para ajudar as pessoas a abandonar essa substância, começando com o “plano para deixar de fumar em 5 dias”, em 1958. Esse programa foi substituído pelo programa “Breathe Free” (Liberdade Para Respirar), que foi totalmente revisado em 1984. O programa australiano “Quit Now” (Pare Agora), criado em 1995, incluiu uma terapia de reposição da nicotina. Ademais, em 2014, a igreja lançou um programa on-line, a versão 2.0 do programa “Breathe Free”, que emprega entrevistas motivacionais e, se necessário, inclui intervenções farmacológicas (para saber mais, acesse: breathefree2.com). Por ano, o tabaco mata mais de 7 milhões de pessoas no mundo. A maioria dos óbitos é resultado do consumo de cigarro. Porém, cerca de 890 mil mortes são de fumantes passivos. Cerca de 80% dos 1,1 bilhão de fumantes do mundo vivem em países de baixa e média renda. Esses dados mostram que nosso trabalho não está concluído. Nós temos as ferramentas. Portanto, vamos trabalhar! ]
BOA PERGUNTA
PACTO DE AMOR E LEALDADE QUAL É O SIGNIFICADO DAS OFERTAS DE CEREAIS EM LEVÍTICO 2? ÁNGEL MANUEL RODRÍGUEZ
Foto: Fotolia
S
e comparada às ofertas sacrificais em Levítico, a oferta de cereais é singular pelo fato de não envolver sangue. Um estudo sobre as instruções levíticas de como essa oferta devia ser oferecida nos ajuda a compreender seu significado e implicações teológicas. 1. Natureza da oferta. O termo hebraico minkhah significa “presente” ou “tributo” oferecido a um superior (Gn 32:14, 19; 1Sm 26:19). Em Levítico, esse é um termo técnico para a “oferta de cereais” voluntária, oferecida crua (Lv 2:1-3) ou cozida (v. 4-10, 14, 15) como homenagem ao Senhor da aliança. Se fosse crua, era feita de semolina de trigo acompanhada de azeite de oliva e incenso, símbolos de bênçãos, alegria e dedicação a Deus (Dt 11:14; Is 61:3; Sl 141:2). O sacerdote queimava sobre o altar um punhado de semolina misturada ao azeite e incenso, como um memorial. A farinha podia ser assada na forma de um bolo espesso (Lv 2:4) ou preparada como biscoitos finos. Outra possibilidade era cozinhá-la em uma espécie de frigideira (v. 6; cf. Lv 1:6) ou fritá-la em uma panela coberta (v. 7). O último tipo de oferta de cereal cozido era oferecido na primeira colheita de cevada (v. 14; cf. Êx 9:31). A cabeça do grão verde era assada, acrescentando-se o azeite e o incenso sobre o cereal. 2. Significado. A oferta simbolizava um ato de gratidão e alegria, homenagem e adoração ao Senhor
da aliança. Consistia no reconhecimento de que Deus era o Senhor e Provedor abundante para Seu povo. A porção queimada no altar, chamada “memorial” (Lv 2:2), não era apenas um símbolo representando a oferta total, mas também significava que Seu povo não havia se esquecido da bondade do Senhor. Segundo, era considerada “um aroma agradável ao Senhor” (v. 2, NVI), ou seja, quando a oferta era inalada por Deus, Ele não somente a aceitava, mas também aceitava o adorador como um parceiro de aliança, não como inimigo (v. 13). Terceiro, a farinha oferecida crua, inalterada pelo homem, expressava a bondade de Deus. Por sua vez, a farinha cozida mostrava a disposição dos adoradores de consagrar seu trabalho ao serviço de Deus. Quarto, a exclusão do fermento, símbolo de pecado e morte (1Co 5:6-8; Mt 16:6, 11), sugere que Deus não queria que nenhum agente fermentador alterasse espiritualmente a relação dos Seus seguidores com Ele. Quinto, pelo fato de essa ser uma refeição vegetariana, sugere-se que, talvez, essa oferta fosse uma referência à dieta originalmente planejada para o homem (Gn 1:29, 30). Nesse caso, indicava a volta do ser humano à dieta do Éden e para o futuro, quando humanos e animais coexistirão pacificamente (Is 11:6-9; 65:25). Finalmente, como a oferta envolvia o grão do qual é feito o pão, nos lembra que Jesus é o pão da vida que nutre nossa espiritualidade e preserva nossa existência física (Jo 6:35). Devemos honrá-Lo como Senhor de nossa vida. ] ÁNGEL MANUEL RODRÍGUEZ, pastor, professor e teólogo aposentado, foi diretor do Instituto de Pesquisa Bíblica
ESSAS OFERTAS SIMBOLIZAVAM UM ATO DE GRATIDÃO E ALEGRIA, HOMENAGEM E ADORAÇÃO AO DEUS DA ALIANÇA
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RETRATOS
Mais da metade dos 65 milhões de refugiados no mundo são crianças. Nos vastos assentamentos de Bangladesh, elas também são maioria. Por meio da ADRA, a igreja tem oferecido apoio a milhares de famílias que vivem em situação de extrema pobreza no país Foto: Arjay Arellano (ADRA Internacional)
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LIBERDADE RELIGIOSA
Adventistas que foram expulsos de suas comunidades e tiveram suas casas destruídas compartilharam seu testemunho durante evento que reuniu 4 mil jovens mexicanos
INTOLERÂNCIA NO MÉXICO Perseguição aos cristãos no país também atinge adventistas LIBNA STEVENS
a Lista Mundial da Perseguição divulgada no início do ano pela organização Portas Abertas, o México apareceu na 39ª posição no ranking dos 50 países mais intolerantes aos cristãos. De acordo com o levantamento, no ano passado, integrantes das comunidades indígenas de Chiapas e Jalisco que se converteram ao cristianismo enfrentaram sanções econômicas, negação do acesso a serviços básicos e até expulsão da comunidade. De acordo com a entidade que monitora os p aíses com maiores restrições governamentais e hostilidade social à liberdade de crença, cristãos chegaram a ser presos sem razão e sofreram maus-tratos psicológicos. A Igreja Adventista tem se mobilizado para atender vítimas da intolerância nessas regiões. Entre os perseguidos estão, inclusive, adventistas. Em março, Agustin Alvarez, membro da igreja, e outros três moradores da comunidade de San Miguel Chiptip, no estado de Chiapas, foram forçados pela população local a deixar suas casas depois de frequentarem uma série evangelística em outra localidade. Segundo Ignácio Navarro, presidente da Igreja Adventista
Foto: Miriam Clemente, Chiapas Mexican Union
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em Chiapas, as esposas e filhos foram forçados a permanecer em Chiptip. “Essas famílias estavam aprendendo as verdades da Bíblia, o que deixou alguns irritados”, informa. Depois que a igreja apelou aos moradores ao longo de nove dias, os homens foram reunidos às suas famílias, mas, pelo fato de suas casas terem sido destruídas, tiveram que encontrar outro lugar para viver. “Estamos trabalhando com as autoridades municipais e estaduais, apelando para que as leis que garantem a liberdade religiosa sejam cumpridas”, conta o líder da igreja no estado. Essa não é a primeira vez que Alvarez e sua família foram forçados a deixar a comunidade de Chiptip. Depois que aceitaram a mensagem adventista, há quatro anos, eles foram condenados ao ostracismo e tiveram que se mudar para uma localidade vizinha. Apesar disso, m antiveram-se firmes na fé e dispostos a compartilhar a mensagem do evangelho. Além de atender necessidades básicas dessas pessoas, os escritórios administrativos regionais, em parceria com a sede mundial da igreja, disponibilizaram recursos para que elas reconstruam a vida. Em visita recente a Chiapas, o pastor Ted Wilson, líder mundial dos adventistas, animou as famílias que estão sofrendo perseguição por causa de sua fé. “Vocês são verdadeiros gigantes para Jesus porque aceitaram a verdade completa e estão decididos a morrer por ela. Meu coração se alegra ao ver sua fidelidade à Palavra de Deus”, ele expressou. Vítimas da intolerância religiosa compartilharam seu testemunho durante um evento estadual que reuniu mais de 4 mil jovens no Centro de Convenções Polyforum, em Tuxtla Gutiérrez, no dia 24 de março. “Queremos que esses irmãos saibam que por trás deles está uma igreja mundial que eles têm uma grande família de mais de 20 milhões de pessoas e que são bem-vindos em nossa igreja”, disse Navarro. As famílias receberam Bíblias, presentes e orações durante o programa. Segundo o pastor Ignácio Navarro, por influência do testemunho dessas pessoas, outras três famílias da comunidade de Chiptip decidiram apoiá-los e estão interessados em aprender mais sobre suas crenças. ] LIBNA STEVENS é diretora-assistente do departamento de Comunicação da Divisão Interamericana
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HISTÓRIA
Evento realizado em universidade adventista da Alemanha discutiu os dilemas enfrentados pela igreja na Europa ao longo de sua história e como ela pode ser relevante hoje KERSTIN MAIWALD E CHIGEMEZI-NNADOZIE WOGU
ob quais circunstâncias o adventismo foi estabelecido no Velho Continente? Quais dilemas enfrentou e ainda enfrenta? E como ele pode ser relevante hoje? Essas e outras questões nortearam a terceira edição do simpósio internacional promovido pelo Instituto de Estudos Adventistas da Universidade Adventista de Friedensau, na Alemanha, com o objetivo de discutir os “Contornos do Adventismo Europeu”. Realizado no fim de abril, o evento reuniu acadêmicos adventistas de vários países do continente e de fora dele. As apresentações abordaram fatores históricos, teológicos, sociológicos e missiológicos que se colocaram diante da igreja no passado e a desafiam hoje. Quando o adventismo começou a estabelecer raízes na Europa, os primeiros conversos se depararam com forte resistência. Foram presos, espancados e perseguidos por causa de sua fé. Como minoria religiosa, eles enfrentaram um dilema: abraçar as leis e sanções do governo ou permanecer leais a Deus e confrontar as autoridades. Muitos permaneceram firmes na fé e, como resultado, tornaram-se mártires.
S
DILEMAS ATUAIS Hoje, apesar de ainda existirem restrições à liberdade religiosa em algumas partes da Europa, a igreja no continente enfrenta novos desafios, como o secularismo, o pós-modernismo e o ateísmo. A mudança na paisagem europeia provocada pelo grande fluxo migratório é outra questão emergente que se coloca diante da igreja. Paralelamente aos problemas culturais, teológicos e missiológicos, o contínuo declínio do adventismo na Europa tem exigido respostas da liderança da denominação. Como foi sugerido no simpósio, assim como os pioneiros, que buscaram tornar o adventismo relevante para o contexto europeu, hoje a igreja precisa estar disposta a praticar o evangelismo orientado para as necessidades e a contextualização crítica, além de ter abertura para o diálogo. ] KERSTIN MAIWALD e CHIGEMEZI-NNADOZIE WOGU são pesquisadores do Instituto de Estudos Adventistas da Escola de Teologia da Universidade de Friedensau, na Alemanha
Pela terceira vez, acadêmicos se reuniram na Universidade Adventista de Friedensau a fim de discutir como frear o declínio do adventismo na Europa 40
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Foto: Universidade Adventista de Friedensau
O ADVENTISMO NO VELHO CONTINENTE
De acordo com Denis Fortin, um dos palestrantes convidados para o simpósio, a identidade do adventismo na Europa foi moldada pela situação histórica específica que o continente vivia: a união entre Igreja e Estado (igrejas estatais) e o ressentimento antirreligioso. Ao falar sobre o legado do “adventismo europeu”, o professor de Teologia Histórica da Universidade Andrews (EUA) considerou que “os adventistas do continente contribuíram crucialmente para a compreensão do adventismo como um complemento para outros cristãos, em vez de um substituto”. Por sua vez, Rolf J. Pöhler, professor de Teologia Sistemática na Universidade Adventista de Friedensau, explicou que a experiência dos adventistas europeus em seus respectivos países teve uma influência decisiva no adventismo local. Ele lembrou ainda a providência multifacetada de Deus e Sua bênção sobre o adventismo europeu. E enfatizou: “No futuro, pode haver um adventismo mais diferenciado, o que pode ajudar a garantir a existência do adventismo na Europa.”
INTERNACIONAL No Concílio da Primavera também foram celebrados os 15 anos do Hope Channel, que conta com 50 canais ao redor do mundo e está em franca expansão em regiões como o leste da África e as ilhas Fiji
IMPLICAÇÕES GLOBAIS Os principais destaques da primeira reunião do comitê executivo da denominação em 2018 EQUIPE DA ADVENTIST REVIEW E ANN
uas vezes ao ano, a sede mundial adventista, localizada em Silver Spring, Maryland (EUA), recebe líderes das 13 grandes regiões administrativas da denominação para discutir projetos, tomar decisões e avaliar sua caminhada. Além de tratar de questões burocráticas, a reunião do comitê executivo é um momento para reafirmar as bases e o propósito da igreja.
Foto: Brent Hardinge
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No Concílio da Primavera de 2018, realizado nos dias 10 e 11 de abril, deu-se ênfase na importância de a igreja se manter fiel à Palavra de Deus. Como resultado, foi votada uma declaração que traz diretrizes para avaliar iniciativas que têm surgido com o objetivo de apoiar o trabalho da igreja. “Elogiamos aqueles que, antes de se unirem a qualquer iniciativa ou movimento, avaliam se tais movimentos estão de acordo com a vontade revelada de Deus (At 17:11)”, expressa o documento. Apesar de reconhecer a importância dos ministérios de apoio, a liderança da denominação reforçou a necessidade de essas iniciativas estarem em harmonia com suas
crenças fundamentais, entenderem sua mensagem e missão proféticas, exaltarem Jesus e viverem Seus ensinamentos. PRESTAÇÃO DE CONTAS Os números apresentados no encontro mostraram, por exemplo, que a igreja encerrou 2017 com saldo positivo. Juan Prestol-Puesán informou que, no período, a denominação atingiu um superávit de 1,6 milhão de dólares, resultado de fatores como a alta da economia americana, o crescimento do dízimo na América do Norte e taxas de câmbio mais estáveis, além dos cortes nas despesas operacionais da sede administrativa mundial. Isso possibilitou que a igreja investisse
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neste ano 8 milhões de dólares a mais na missão. Parte dos recursos canalizados pela igreja ajudou no plantio de 80 igrejas e na abertura de 15 centros de influência em cidades com mais de 1 milhão de habitantes. Além da prestação de contas, o comitê executivo votou a destinação de 2,2 milhões de dólares para os recursos que apoiam a pregação na Janela 10/40, uma das regiões mais desafiadoras do planeta para a evangelização. A liderança mundial da igreja também esteve reunida para escolher novos líderes. Elie Henry foi nomeado para a presidência da Divisão Interamericana, região que concentra o maior número de adventistas do planeta, e irá substituir o pastor Israel Leito, que permaneceu na função por 25 anos e se aposentará em agosto. Com a aposentadoria de Fred Hardinge, o psiquiatra norueguês Torben Bergland também foi eleito para ocupar o cargo de diretor associado do departamento de Saúde da igreja mundial. Outro item da agenda global foram os projetos para o próximo ano. Uma das novidades anunciadas durante o encontro foi o novo livro missionário, que abordará um tema bastante relevante para a atualidade. Intitulada Esperança Para a Família, a obra foi escrita por Willie e Elaine Oliver, diretores mundiais do Ministério da Família, que completará 100 anos em 2019. “Estamos chegando perto de distribuir meio bilhão de livros em pouco mais de uma década. Muitos homens, mulheres e crianças foram alcançados por meio desses pregadores silenciosos”, ressaltou o pastor Ted Wilson, líder mundial da igreja. Apesar dos números impressionantes da campanha, a intenção é que a entrega de literatura se torne parte da cultura dos membros. “Se cada adventista presenteasse uma pessoa por semana com um livro, cerca de 1 bilhão de exemplares seriam distribuídos ao longo de um ano”, calculou o pastor Almir Marroni, diretor mundial de Publicações. ] Com informações de BETH THOMAS e MÁRCIO BASSO GOMES
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IGREJA
HORA DO BALANÇO Relatórios apresentados na comissão diretiva da igreja apresentam avanços e desafios WENDEL LIMA
iderar pessoas e organizações não é fácil, sobretudo quando se tratam de 2,5 milhões de fiéis, milhares de templos, centenas de escolas e dezenas de instituições espalhadas por oito países sul-americanos. Essa complexidade se torna mais evidente nas discussões e decisões de uma comissão diretiva da sede sul-americana da Igreja Adventista. Por isso, nos últimos anos, esses encontros semestrais têm sido marcados por momentos de oração em grupo, leitura da Bíblia, batismos e testemunhos, a fim de que os líderes não percam de vista a dimensão espiritual do trabalho que realizam. Reunidos nos dias 4 a 8 de maio, em Brasília (DF), cerca de cem líderes da denominação apresentaram relatórios, lançaram novos materiais e projetos, e discutiram temas importantes para a caminhada da igreja.
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DÍZIMOS E OFERTAS No relatório da tesouraria, apesar dos números positivos de crescimento do último ano, a reflexão foi em outra direção. O pastor Marlon Lopes, diretor financeiro da sede sul-americana da igreja, falou sobre quanto podemos crescer em fidelidade. Ele mostrou que, dos 2,5 milhões de adventistas sul-americanos, apenas 1 milhão são dizimistas e 800 mil são ofertantes regulares (pactuantes). Nas contas do tesoureiro, numa situação hitpotética em que todos os membros fossem dizimistas e pactuantes, R e v i s t a A d ve n t i s t a // Junho 2018
Fotos: Gustavo Leighton
LANÇAMENTOS Na área de materiais, a denominação apresentou várias novidades, como o aplicativo 7me. Por meio dele é possível pedir transferência para outra congregação, verificar como o orçamento de sua igreja tem sido administrado e devolver pelo app seu dízimo e oferta, ganhando assim em praticidade e segurança. Os líderes frisaram que, no passado, os dízimos e ofertas eram entregues na forma de produtos do campo, depois em moeda e dinheiro e, agora, por meio de transações digitais. O sistema que serve de base para o 7me já tem sido utilizado pela igreja em outras regiões do mundo. Vale lembrar que as doações podem continuar a ser entregues nos templos por meio dos envelopes e em dinheiro. Na área da educação, as novidades são que o cuidado com a saúde será tratado como um tema transversal no PMDE (Plano Mestre de Desenvolvimento Espiritual) em 2019. Na temática do criacionismo, por sua vez, um kit
educativo com livros, revistas, DVDs e maquetes foi preparado para equipar as escolas. E, na área de história da igreja, a série de desenhos animados O Presente de Nick deve ensinar valores importantes para as crianças, a partir do resgate de detalhes curiosos da infância de Ellen White. Os líderes também conheceram em primeira mão a Bíblia Missionária, uma edição em que estudos bíblicos e guias para pequenos grupos foram organizados no rodapé das páginas, trazendo assim mais agilidade para o instrutor. À comissão foi dada também a oportunidade de folhear a revista Liberdade, um periódico institucional que apresenta a visão e o trabalho da Igreja Adventista na área de liberdade religiosa; e a versão atualizada do portfólio Esperança Viva, material que tem sido usado para explicar às autoridades aquilo em que a denominação acredita e como atua na América do Sul. Na área de evangelismo, duas produções em vídeo darão suporte para as ações do próximo ano. O filme Agora Vejo será utilizado no projeto Reencontro de 2019, que visa à reaproximação com as pessoas que abandonaram a igreja. E, para a Semana Santa, a aposta é numa websérie com capítulos de 15 minutos, chamada Renascidos. O roteiro vai trabalhar histórias reais de perdão, arrependimento e libertação.
Brasília (DF): comissão diretiva da igreja com cem líderes sul-americanos. Em pauta, a apresentação de relatórios, lançamento de materiais e projetos e a discussão acerca de temas importantes para a caminhada da igreja. No detalhe, lançamento da Bíblia Missionária
haveria dinheiro suficiente para dobrar o número de Associações/Missões, estabelecendo assim mais 1.934 distritos pastorais. Seria possível, por exemplo, manter quase 500 missionários na Janela 10/40, bem mais dos que as 25 famílias enviadas há poucos anos. Por sua vez, o emprego dessas ofertas adicionais na linha de frente ajudaria, por exemplo, a financiar a mensalidade de 10 mil alunos, a compra de 1 milhão de Bíblias e a construção de cinco novas escolas (para 500 estudantes) por mês. Lopes enfatizou que precisa ficar mais claro para os membros o impacto missionário de suas doações. O sociólogo Thadeu Silva, que dirige o departamento de estatísticas da igreja, observou que, quando se trata de doações voluntárias, a confiança na instituição receptora e a clareza de como os valores são usados pesam muito na decisão do doador. Por sua vez, o pastor Herbert Boger vê nesses números também uma questão espiritual. Ele mencionou que o levantamento de algumas associações têm mostrado que até 90% dos que abandonaram a igreja não eram dizimistas. Aproveitando a discussão, o pastor Erton Köhler destacou que a sede sul-americana tem diminuído seus custos operacionais. Ele apelou para que isso ocorra em todos os níveis administrativos da denominação. “Deus só vai nos dar mais recursos se os usarmos no lugar certo. Poderíamos deixar o dinheiro rendendo no banco, mas quando Jesus voltar não vamos apresentar balanços, e sim pessoas salvas para o reino.” Para incentivar a liberalidade dos membros, dois projetos foram aprovados: a adoção do livro Conselhos sobre Mordomia, de Ellen White, como livro do ano pelo Ministério da Família; e o lançamento de uma campanha de orientação financeira para os jovens, intitulada Valores de José. A ideia é promover o empreendedorismo e a fidelidade financeira entre as novas gerações. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Junho 2018
PERDA DE MEMBROS Outro relatório que provocou reflexão foi o apresentado pelo secretário executivo da igreja para a região, pastor Edward Heidinger. Ele destacou que o fluxo de entrada e saída de membros impacta na identidade da igreja. Ou seja, tão importante quanto saber quantos estão entrando ou saindo é conhecer quem está entrando na igreja e dela saindo. O drama é pensar que, somente no ano passado, 200 mil pessoas tiveram seus nomes removidos dos registros da denominação e que, em alguns dos recentes anos, não houve crescimento líquido de membros. “Em apenas um ano removemos 60 mil pessoas por desaparecimento. Como descuidamos dessas pessoas? Por que elas saíram com menos de cinco anos de batismo e nem ao menos sabemos onde estão?”, instigou o pastor Erton. “Não vamos tirar o pé do acelerador da missão, mas fazer ajustes para cuidarmos melhor.” Os números positivos ficaram por conta dos relatórios de voluntariado e do departamento de comunicação. Em 2013, 79 jovens sul- americanos estavam servindo em projetos de curta e longa duração; em 2016, o número subiu para 431 voluntários. No campo da comunicação, o portal de vídeos Feliz 7 Play, em dez meses de atividade, conquistou 631 mil usuários. A plataforma colaborativa de vídeos tem alcançado não apenas os jovens, mas internautas acima de 50 anos, que se interessam especialmente por sermões. ] WENDEL LIMA é editor associado da Revista Adventista (com informações dos jornalistas Felipe Lemos e Mauren Fernandes)
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SOCIEDADE
REFÚGIO PARA OS VENEZUELANOS
O Brasil é a principal porta de entrada dos imigrantes que fogem da crise humanitária que afeta o país vizinho. Saiba o que a ADRA tem feito para ajudar centenas de famílias que estão vivendo em situação crítica JULIA BIANCO
odos os anos, milhares de pessoas são obrigadas a deixar seu país de origem devido a perseguições políticas, raciais, religiosas, guerras e outros tipos de ameaça aos direitos humanos. Segundo dados do ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), até o fim de 2016, uma em cada 113 pessoas em todo mundo se encontrava nessa condição. Desde o ano 2000, quando a ONU instituiu o Dia Mundial do Refugiado (21 de junho), a data tem chamado a atenção para os desafios que acompanham o intenso fluxo migratório que está mudando a paisagem demográfica ao redor do globo.
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Nos últimos anos, o Brasil recebeu mais de 126 mil pedidos de refúgio. Em 2017, a maior parte deles foi feita por venezuelanos. De acordo com relatório da ONU, mais de 1 milhão de pessoas já deixaram o país vizinho, fugindo da crise de abastecimento de alimentos, do colapso dos serviços públicos e de uma inflação galopante. 44
Roraima é a principal porta de entrada desses imigrantes. Estimase que a capital, Boa Vista, já tenha recebido 40 mil venezuelanos, o equivalente a cerca de 10% dos habitantes da cidade. Esse aumento inesperado da população gerou uma crise no estado. Os abrigos estão lotados e vários imigrantes vivem em situação de rua.
O governo federal está tomando medidas para distribuir os refugiados no território nacional e promover ações de assistência, mas são necessários reforços. A ADRA Brasil é uma das entidades que estão apoiando as autoridades governamentais no auxílio aos refugiados. Em parceria com a OFDA, organização do governo norte-americano responsável pelo atendimento a desastres, a agência humanitária adventista reuniu recursos para oferecer assistência imediata a esse grupo por meio da entrega de colchões, roupa de cama, chinelos, kits de higiene pessoal e de cozinha. Além disso, serão realizadas atividades de promoção de saúde e higiene. A ADRA também irá disponibilizar um caminhão pipa que abastecerá essas famílias no período de estiagem e uma ambulância para auxiliar no sistema de saúde local. Ainda assim, existe o sentimento de que muito mais precisa ser feito. “Estamos vivendo uma situação de emergência. Os venezuelanos chegam ao Brasil em situação de extrema necessidade: sem dinheiro e sem lugar para ficar. Em alguns casos, chegam até sem sapatos ou roupas. Dentro dos abrigos, muitas vezes não há nem colchões e eles dormem no chão. Estamos tomando medidas para melhorar as condições de vida deles, mas há muito a ser feito e precisamos de apoio. Precisamos que as pessoas se mobilizem, orem e doem”, afirma Dalva Silva, coordenadora do projeto da ADRA. A agência humanitária adventista tem capacidade para atender 4,5 mil pessoas, mas o número de refugiados venezuelanos aumenta a cada dia. Para saber mais sobre o projeto e fazer doações, acesse adra.org.br. ] JULIA BIANCO é assessora de comunicação da ADRA na América do Sul
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Junho 2018
Foto: ADRA Brasil
Parceria entre a ADRA e uma agência governamental americana possibilitará a destinação de 600 mil dólares para assistência a 1,5 mil famílias venezuelanas nos próximos seis meses. Na foto, abrigo em Pacaraima (RR)
MEMÓRIA
Ambrolina Santos, aos 93 anos, vítima de insuficiência respiratória.
Central da cidade e mostrou
em Formosa. Deixa a esposa,
cuidado por seus irmãos de fé.
Josefina, seis filhos, 16 netos
Deixa seis filhos, 19 netos, 15
e 12 bisnetos.
bisnetos e uma trineta. Maria Lúcia Faustino da Silva,
Sales dos Santos,
aos 65 anos,
aos 57 anos, em
em São Paulo
Hortolândia (SP),
(SP), vítima de
vítima de câncer.
câncer e infecção
Batizada havia
generalizada.
36 anos, era membro da Igreja
Lutava havia cerca de três anos
Central da cidade, à qual servia
trinetos.
contra a doença, mas sem perder
no Clube de Desbravadores.
o otimismo e a fé. Foi ancião e
Ajudou a fundar o Clube
Antonio Vaz, aos
líder de vários ministérios nas
Guardiões do Horto. Mesmo
igrejas em que congregou na
enferma, havia concluído os
capital e no interior paulista.
requisitos da classe de líder,
Trabalhou no Unasp, campus
mas não teve chance de ser
Engenheiro Coelho, e em
investida. Deixa o esposo,
outras instituições da igreja.
Antônio Carlos, e dois filhos.
Batizada havia 45 anos, serviu à igreja nos ministérios infantil e de assistência social. Era membro da Igreja Cohab Nova, em Cáceres (MT). Deixa cinco filhos, 13 netos, 25 bisnetos e 11
80 anos, vítima de infecção generalizada. Era membro da Igreja Central de Castro (PR), na qual serviu como diácono. Deixa seis filhos, 12 netos e seis bisnetos. Carlos Bispo de
Excelente pai, marido exemplar e missionário dedicado, que levou
Osvaldo Mendes
dezenas de pessoas ao batismo.
de Quadros,
Deixa a esposa e três filhos.
aos 88 anos, vítima de infarto
Felisbina da Silva
enquanto
Kümpel, aos 84
dormia. Na
anos, vítima de
juventude mudou-se de Mata
insuficiência
(RS), sua cidade natal, para
respiratória.
a capital gaúcha a fim de
Natural de Lagoa
estudar Direito. Ali foi batizado
dos Três Cantos (RS), e de
em 1952 na Igreja Central de
família pioneira do adventismo
Porto Alegre. Numa época em
no Brasil, dedicou boa parte de
que havia poucos advogados
sua vida ao ministério infantil e
adventistas, por muitos anos
sete netos e um bisneto.
secretaria da igreja. Era membro
Osvaldo trabalhou em favor
da Igreja de Santa Bárbara do
dos membros da igreja e pela
Cira de Oliveira
Sul. Deixa cinco filhos, dez netos
Associação Sul-Rio-Grandense.
e três bisnetos.
Na igreja serviu como professor
Almeida, de 89 anos, vítima de AVC. Batizado havia 54 anos, frequentava o grupo do Setor Alvorada, em Bom Jardim de Goiás (GO). Ajudou a fundar e construir várias igrejas na região. Deixa a esposa, Izabel, quatro filhos,
Bagno, aos 95 anos, vítima de problemas cardíacos. Batizada havia mais de 60 anos, serviu com dedicação na assistência social da igreja e como chefe das diaconisas no período em que morou em Juiz de Fora (MG). Em 1996, mudou-se para Itapeva (SP), onde frequentou a Igreja
da Escola Sabatina, ancião e José de Jesus
líder do Ministério Pessoal e
Alves Pereira,
de Mordomia Cristã. Deixa dois
aos 77 anos,
filhos e cinco netos.
em Formosa (GO), vítima de
Paulo Henrique
parada cardíaca.
Felau, aos 82
Conhecido como Zé Cordeiro, foi
anos, em Barra
batizado em 1970. Era membro
Velha (SC), vítima
da Igreja de Vila Verde e ajudou
de pneumonia.
na construção de vários templos
Serviu na igreja
como diácono. Deixa a esposa, Leonilda, seis filhos, três netos e quatro bisnetos. Siegfried Ostermayer, aos 87 anos, em Joinville (SC), de morte natural. Nascido na Baviera, na Alemanha, foi um dos pioneiros da Igreja da Alvorada, em São Paulo. Viveu por 44 anos em Joinville, onde frequentou a Igreja Central e ajudou a estabelecer a Igreja do Saguaçu. Deixa a esposa, Teresinha, três filhos e quatro netos. Sirlene Sá Labanca, aos 77 anos, em Vitória da Conquista (BA), vítima de problemas cardíacos. Era professora aposentada e frequentava a Igreja Central da cidade, comunidade em que servia como professora da Escola Sabatina, corista e Anjo da Esperança. Viúva, deixa quatro filhos, 11 netos e quatro bisnetos. Silvano Borges, aos 55 anos, em São Paulo (SP), vítima de malária. Foi pastor e líder do Ministério Jovem. De espírito alegre e aventureiro, realizou em janeiro o sonho de ir como missionário voluntário para Moçambique, na África, onde contraiu a doença que o vitimou. Deixa dois filhos.
“ B E M - AV E N T U R A D O S O S M O R T O S Q U E , D E S D E A G O R A , M O R R E M N O S E N H O R ” R e v i s t a A d ve n t i s t a // Junho 2018
(APOCALIPSE 14:13)
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INSTITUCIONAL
VALE A PENA CRESCER
OS JOVENS PRECISAM VENCER O MEDO DE ASSUMIR RESPONSABILIDADES. E OS ADULTOS PODEM AJUDÁ-LOS NISSO CARLOS CAMPITELLI
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OS CONFLITOS GERACIONAIS SÃO UM OBSTÁCULO PARA O CRESCIMENTO DA IGREJA alguns conselhos para adultos e jovens. Para os adultos, eu digo: 1. Confiem nos jovens. Ellen White escreveu que os mais novos precisam do apoio dos mais experientes na caminhada cristã (Educação, p. 289). Eles precisam de liberdade para dirigir atividades da igreja: eventos, processos e projetos. 2. Acompanhem os jovens. Estejam próximos deles para acompanhar com paciência seu desenvolvimento. Haverá equívocos e precipitação, mas eles podem acertar mais do que errar. Não os condenem nem desanimem. Ajudem-nos a corrigir a rota, quando necessário. 3. Façam uma autorreflexão. Reflitam sobre sua espiritualidade. Apesar de sua experiência de anos de igreja, sua caminhada tem sido marcada pelo consumo de religião ou por dedicação a multiplicar novos discípulos?
Por sua vez, os jovens devem atentar para o seguinte: 1. Parem de comer “papinha”. Vivência da religião é muito mais do que ir ao templo uma vez por semana. É preciso buscar alimento sólido na Palavra e doar-se pela causa do evangelho, cuidando do pobre, do órfão, da viúva e de quem está preso (Mt 25:31-46), sendo e fazendo discípulos de Cristo. 2. Tenham sua própria experiência. Não é possível quebrar recordes olímpicos apenas calçando os tênis do Usain Bolt. Vocês precisam experimentar, por si mesmos, viver em obediência a Deus, e acreditar que Cristo pode voltar na sua geração. 3. Façam uma autorreflexão. Isso os ajudará a controlar o ímpeto pela mudança e a humildemente reconhecer que os mais velhos podem colaborar para que vocês enxerguem e aprendam coisas que lhes custariam muitos erros. Vale a pena crescer! ] CARLOS CAMPITELLI é o líder do Ministério Jovem da sede sul-americana da Igreja Adventista
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Junho 2018
Foto: Lightstock
m março de 2012, a TV norte-americana ABC News contou a história de Stanley Thornton. Diariamente o homem de 31 anos chegava do trabalho, v estia-se com roupa de criança e ficava abraçado à mulher que contratou para cuidar dele como um bebê. Ela lhe dava uma mamadeira e o conduzia ao berço, onde ele brincava com ursinhos de pelúcia. A justificativa do rapaz de 1,67 metro e 130 quilos foi que ele gostaria de voltar ao período da sua vida em que sentiu mais segurança e recebeu mais carinho. Apesar de esse ser um caso extremado, muitos jovens têm apresentado um comportamento semelhante: eles temem crescer e assumir a responsabilidade por isso. Contudo, a Bíblia nos orienta a deixar o “leitinho” (Hb 5:13-14; 1Co 3:1-3), pois o tempo passa, e precisamos viver cada fase da existência de acordo com a vontade de Deus (Sl 103:13-15; Ec 12:1-7). Por isso, para ter uma vida plena é preciso que a maturidade emocional e espiritual acompanhe o desenvolvimento biológico. O ponto é que os conflitos geracionais são um dos obstáculos para o crescimento da igreja. De um lado, os adultos dizem que os mais jovens não conhecem a Bíblia, são rebeldes e não se comprometem com a pregação do evangelho; enquanto da parte dos jovens existe a reclamação de que os mais experientes estão desatualizados, são legalistas e não confiam nos mais novos. Essa tensão toda gera descontentamento, desunião e atrasa o retorno de Cristo à Terra. Na tentativa de minimizar conflitos e contornar essa situação, quero dar
EM FAMÍLIA
VOCÊ ESTÁ LOUCA?
SAIBA O QUE É GASLIGHTING, UMA FORMA SUTIL DE ABUSO, CUJAS PRINCIPAIS VÍTIMAS SÃO AS MULHERES TALITA CASTELÃO
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ocê deve estar louca e precisa se tratar! Relaxa porque eu só estava brincando e não aconteceu nada! Isso é coisa da sua cabeça... Não exagere!” Quem tem ouvido alguma dessas frases com certa frequência pode estar sendo vítima de gaslighting. O termo em inglês, que não tem tradução oficial, é usado para descrever uma forma de violência emocional, em que o abusador, por distorcer o relato e a interpretação de situações e fatos, faz com que a vítima duvide da própria memória e sanidade. A expressão foi inspirada no filme Gaslight, de 1944. A trama consiste na tentativa do esposo em deixar a esposa insana para se apoderar de sua fortuna. Com essa intenção, o personagem prepara as lâmpadas de gás (gaslights) para ligarem e desligarem de forma alternada. Todas as vezes que a mulher dele percebe essa alteração, o esposo diz que ela está vendo coisas, o que a deixa bastante confusa e perturbada. Na vida real, o gaslighting não é praticado somente por maridos. Esposas, chefes, filhos, amigos ou qualquer outro tipo de relacionamento interpessoal podem ser prejudicados por essa prática abusiva. Nem sempre o gaslighting será intencional, mas sempre provocará tristeza, raiva, frustração e outros agravos psicológicos. Como a manipulação vem de alguém próximo, não somente a vítima passa a desconfiar de si mesma, como também aqueles que estão por perto. O livro The Gaslight Effect (Morgan Road, 2007), de Robin Stern, terapeuta e psicanalista do Centro de Inteligência Emocional da Universidade Yale (EUA), alerta para alguns sinais que podem indicar se você está sendo vítima de gaslighting. Os sintomas incluem a dúvida sobre si mesmo; a sensação de ser sensível, de estar confuso ou louco; sempre pedir desculpas ao parceiro; não se sentir feliz, apesar das coisas boas que acontecem na vida; formular desculpas para justificar o comportamento do abusador para familiares, amigos e para si mesmo;
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Foto: Fotolia
PRATICAR O GASLIGHTING É LITERALMENTE FAZER O OUTRO ENLOUQUECER
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Junho 2018
sentir que algo está errado sem saber exatamente o que é; dificuldade em tomar decisões fáceis; desânimo e desesperança; e a sensação de que não consegue fazer nada certo e de que não é tão confiante ou descontraído como no passado. Praticar o gaslighting é literalmente “fazer o outro enlouquecer”. As pessoas que agem assim causam reações desagradáveis, mas nunca assumem a responsabilidade por sua conduta e menosprezam as consequências de suas palavras sobre os outros. As mulheres ainda são as maiores vítimas, mesmo as assertivas e autoconfiantes. E o casamento ainda é o espaço de maior vulnerabilidade para essas companheiras, que acabam se tornando silenciosas e passivas, sem condições de expressar os próprios sentimentos. A crença velada, mas socialmente aceita, de que “as mulheres são loucas” ajuda nesse condicionamento. Por isso, devemos estar atentos para “desligar o gás” dessa atitude abusiva. ] TALITA CASTELÃO é psicóloga clínica, sexóloga e doutora em Ciências
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PERFIL
DA RESISTÊNCIA AO TESTEMUNHO
APÓS DÉCADAS RESISTINDO A UM CONTATO COM OS ADVENTISTAS, ANA FOI MILAGROSAMENTE CONVENCIDA E, AOS 96 ANOS, CONTABILIZA TER LEVADO MAIS DE 100 PESSOAS AO BATISMO THIAGO BASÍLIO*
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EMIGRAÇÃO E O MILAGRE Em 1959, Ana emigrou para o Brasil com a família (o marido, Augusto, e os filhos Adelina, Domingos e João Luiz na barriga). Pouco tempo depois de chegar aqui, ela teve uma surpresa: seu irmão, Manuel Lopes, foi batizado na Igreja Adventista. Novamente ela ouviu falar desse grupo religioso que lhe trazia maus sentimentos. Como demonstração de seu desconforto e insatisfação, Ana não compareceu à cerimônia. Um claro “boicote” à decisão do irmão. No entanto, o tempo foi passando e, como um grande roteirista, Deus interveio, introduzindo o fator surpresa em sua mecânica rotina, na tentativa de captar a atenção dessa filha teimosa. Um grande baque desestabilizou a família: o pai recebeu um diagnóstico de câncer no esôfago em estágio terminal. O pai de Ana se entregou nas mãos de Deus e
convidou uma amiga adventista para que fosse orar por ele. Aquela amiga clamou pela cura do homem, e as palavras de fé proferidas por ela ecoam até hoje na memória dos familiares. Passaram-se seis meses, um ano, dois, cinco anos e o pai permaneceu vivo, com saúde. Após 15 anos ele morreu de velhice, por causas naturais. Evidentemente o ocorrido intrigou muitos de seus familiares que, aos poucos, foram se interessando pela mensagem e pelo povo adventista. Ana ainda relutava, mas a atuação de Deus por meio daquele milagre havia sensibilizado ela também. Estudou mais sobre a doutrina bíblica do sábado e em 1964 ela decidiu ser batizada. Seu “caminho para Damasco” foi mais longo que o de Paulo, mas sua dedicação missionária pós-conversão lembra um pouco a do apóstolo. EM TODO TEMPO E EM QUALQUER LUGAR A rotina mecânica obteve novo sentido por causa de seu empenho missionário. São inúmeras R e v i s t a A d ve n t i s t a // Junho 2018
Foto: Renan Lima
A
v ida de Paulo é u m rotei ro hollywoodiano perfeito, porque aventuras, reviravoltas, sofrimento, desafios, eventos sobrenaturais são componentes que dão um tom fictício completo à biografia de um dos maiores nomes do cristianismo. Isso mostra como as situações atípicas e surreais são eficientes em ganhar nossa atenção e fascínio. O fato é que essa lógica de valorização do atípico, incomum, modifica nossa maneira de observar o cotidiano. O dia a dia acaba passando despercebido, por ser mecânico e enfadonho. Assim, acabamos ignorando a bênção divina que existe na manutenção da rotina. A vida é o cotidiano e é nele que Deus Se manifesta como Diretor do “longa-metragem” da nossa existência. Nesse processo, assim como fez com Paulo na estrada para Damasco, às vezes Ele adiciona o improvável para nos mostrar que o clímax da nossa trajetória ainda está por vir. Basta entendermos as evidências do Seu chamado. Experiência semelhante teve Ana Barbosa. Relutante, ela teve que contemplar o milagre para finalmente permitir que o Senhor fizesse dela uma evangelista. Nascida em 1922, no vilarejo português de Arcozelo, a 15 km da cidade do Porto, Ana por muito tempo demonstrou forte resistência à mensagem adventista. A indisposição era tamanha que certo dia ela chegou a brigar com uma amiga por ela ter tocado no tema. Contudo, as circunstâncias da vida mudam, e nós podemos mudar com elas também.
SEU “CAMINHO PARA DAMASCO” FOI MAIS LONGO QUE O DE PAULO, MAS SUA DEDICAÇÃO MISSIONÁRIA PÓS-CONVERSÃO LEMBRA UM POUCO A DO APÓSTOLO
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Junho 2018
as histórias de pessoas que foram positivamente influenciadas por Ana. Ela passou a dedicar as tardes de sábado e alguns dias da semana para ministrar cursos bíblicos e distribuir folhetos. Entre tantos relatos, Ana se recorda muito bem de um episódio. Certa mulher enfrentava a resistência do marido para conseguir estudar a Bíblia com Ana. Ele, inclusive, ameaçava matar a esposa. Ana ajudou na construção da Igreja de Vila Nova Ana orou muito por aquela Cachoerinha, na zona norte de São Paulo. Por sua família. Passaram-se os influência, inúmeras pessoas passaram a adorar nesse local dias e ela corajosamente retornou àquela casa. Para sua surpresa, o homem estava no portão aguarmesmo aos 96 anos de idade e com dando Ana e seu marido com um tronco de limitações de audição e locomomadeira em mãos. Ele apenas os avisou que fosção. Em 54 anos de adventismo, sem embora se não quisessem apanhar. Ana levou mais de 100 pessoas Prudentemente, Ana se afastou e começou ao batismo. No fim de 2017, ela a orar. De repente, o homem passou a esboçar colheu seu fruto mais recente: sua mais serenidade e a se distanciar. Ele largou funcionária, que colabora nas atio pedaço de madeira e liberou a entrada da vidades domésticas, também decicasa. Não era um simples “efeito especial”. Da diu seguir Jesus. mesma forma que Deus usou Seu poder para “Conheci a Igreja Adventista livrar Paulo e Silas da prisão, Ana crê que o há 40 anos por meio da irmã Ana, Senhor enviou um anjo para preservá-los. Mais minha mãe espiritual. Ela foi à do que isso, para ajudar aquela família a ser nossa casa ajudar na limpeza, após transformada. Todos foram batizados! uma grande enchente na região. Por esse e outros motivos, Ana procurou não Mulher linda, temente a Deus e perder nenhuma oportunidade de falar sobre o supercarinhosa”, resume Neide amor de Deus, fosse em clínicas médicas, com Prado, na área de comentários do os familiares, no supermercado, no cabeleiPortal Adventista, embaixo da posreiro. Por onde passava, ela praticava, de fato, tagem de uma notícia sobre Ana o “ide por todo o mundo, pregai o evangelho Barbosa. “Agradeço a Deus por ter a toda criatura” (Mc 16:15), verso bíblico que conhecido a Igreja Adventista por norteia seu ministério. Ela entendeu que não meio dela”, declarou também Lúcia precisava esperar por circunstâncias surpreHelena, na mesma página virtual. endentes para testemunhar. Essa era a percepPara Ana, cada relato desses ção de Paulo também, de levar a mensagem em vale tanto quanto um Oscar. São todo tempo e em qualquer lugar. evidências de que sua coroa da justiça está guardada, pois, assim FRUTOS DO TESTEMUNHO como Paulo, ela tem combatido o bom combate e guardado a fé. ] O empenho missionário de Ana a levou a colaborar com sua comunidade religiosa. A tradicional Igreja de Vila Nova Cachoeirinha, na zona THIAGO BASÍLIO é jornalista, mestre em Divulgação Científica e Cultural pela Unicamp norte de São Paulo, contou, literalmente, com e professor do curso de Jornalismo do Unasp sua mão de obra. Voluntariamente ela ajudou na construção do local de reuniões e conduziu *As informações deste texto foram extraíinúmeras pessoas para que ali fossem adorar. das de um relato escrito por Ana Lúcia Ivo, Anos e anos de dedicação, e o trabalho misneta de Ana Barbosa. sionário ainda permanece vivo em sua rotina, 49
ESTANTE
MILAGRES EM APARECIDA A HISTÓRIA DE CONVERSÃO DO PASTOR LUÍS GONÇALVES E DE COMO ELE CUMPRIU A PROMESSA DE PLANTAR UMA IGREJA NUM CENTRO CATÓLICO DE PEREGRINAÇÃO WELLINGTON BARBOSA
A
nualmente milhões de pessoas saem de diferentes partes do Brasil e do mundo em direção a Aparecida (SP). A cidade de 40 mil habitantes, a 170 km da capital paulista, é um dos destinos religiosos mais visitados da América Latina. Ali está o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, reconhecida pelos católicos como padroeira do Brasil. Foi nesse contexto predominantemente católico que um excatólico cumpriu uma promessa: estabelecer a primeira igreja adventista da cidade. Essa é a história contada pela obra Promessa Cumprida (CPB, 2018, 160 páginas), escrita pelo pastor e jornalista Diogo Cavalcanti, coordenador de livros denominacionais da editora. Tecida com habilidade, a narrativa do livroreportagem mostra como o plantio dessa igreja está relacionado com a experiência de fé do ex-catequista Luís Gonçalves, hoje apresentador da TV Novo Tempo e evangelista da sede sul-americana da Igreja Adventista. A história começa com a conversão do pastor Luís Gonçalves ao adventismo. Contrariando a família e seu antigo líder religioso, o jovem decide pelo batismo e aceita o convite do pioneiro do televangelismo no Brasil, pastor Alcides Campolongo, para ser instrutor bíblico na cidade de São Paulo. Após algum tempo trabalhando como evangelista, e depois de ter conduzido dezenas de pessoas a Cristo, Luís fez três promessas: “O Senhor converte minha 50
família, e eu prometo estabelecer a Igreja Adventista em Aparecida. O Senhor converte minha família, e prometo formar uma equipe de evangelismo com meus irmãos. O Senhor converte minha família, e prometo um dia pregar Sua Palavra em Roma” (p. 21, 22). Alguns podem questionar esse tipo de prática na experiência cristã e, de fato, nem sempre Deus atua dessa maneira. Contudo, na trajetória de fé do pastor Luís Gonçalves, o Senhor, em Sua soberania,
TRECHO
“As mais de duas mil pessoas acompanhavam os passos do primeiro a ser batizado. Era o cabeludo, o ex-adventista que o missionário encontrou numa rodinha. Vestido com uma túnica batismal, Arlindo descia os degraus do tanque. Aproximou-se do pastor, que tomou sua mão para batizá-lo. Em alguns instantes, fechou os olhos e ouviu as palavras: ‘Eu te batizo em nome do Pai, em nome do Filho e em nome do Espírito Santo.’”
decidiu atender seu pedido. E coube ao evangelista cumprir sua parte no acordo. Das três promessas, só falta Luís realizar uma série evangelística em Roma. Cada passo na tarefa de plantar a primeira congregação adventista na capital nacional da fé católica foi dado com fé, ousadia, sacrifício e oração. A soma desses elementos resultou em uma série de milagres. Quem poderia imaginar que uma igreja adventista nasceria dentro de uma fábrica de imagens religiosas? Como um destacado líder espiritualista local se tornaria o membro mais fiel dessa igreja? Por que um jogador de futebol profissional, com uma carreira brilhante pela frente, deixaria tudo para ser um missionário? As respostas para essas perguntas e tantas outras histórias impressionantes são encontradas em Promessa Cumprida. Esse é o tipo de livro que prende a atenção do começo ao fim. E é a prova de que não existe desafio evangelístico insuperável quando nos submetemos a Deus. ] WELLINGTON BARBOSA é pastor, mestre em Teologia e trabalha como editor da revista Ministério na CPB
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Junho 2018
“Amor e disciplina própria unem a família.” Ellen G. White
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(Mente, Caráter e Personalidade, v. 1, p. 213)
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