A I G R E J A N O L I V R O D E A T O S /// N E G Ó C I O S D O R E I N O /// P R E C U R S O R D A E D U C A Ç Ã O /// A M I S S Ã O D O S M É D I C O S
Exemplar avulso: R$ 2,84 | Assinatura: R$ 34,00
JULHO 2018
SINTONIA COM DEUS VISÃO SOBRE O FIM EM MEIO A TANTOS RUÍDOS, ENCONTRE A FREQUÊNCIA CERTA
O EQUILÍBRIO ENTRE A EXPECTATIVA DO FUTURO E A RESPONSABILIDADE NO PRESENTE
SEM ESPECULAÇÃO A MANEIRA CERTA DE ESTUDAR AS PROFECIAS RELACIONADAS COM O FIM MARCOS DE BENEDICTO
Nascido do sonho de ver Jesus voltar nas nuvens, o adventismo tem a escatologia em seu DNA. Contudo, essa ênfase não significa especulação a respeito do fim nem marcação de datas, e sim uma firme esperança com base nas promessas do livro sagrado. Pelo menos deveria ser assim. Devido à sua centralidade para nossa fé, a escatologia, tema da matéria de capa desta edição, foi objeto de dezenas de estudos apresentados numa grande conferência realizada em junho na cidade de Roma. Dentro desse espírito, veja sete regras úteis para entender melhor a mensagem bíblica sobre o futuro. 1. Preste atenção na intertextualidade. Os autores do Novo Testamento fizeram intenso uso das profecias do Antigo Testamento. Por exemplo, o Apocalipse é um mosaico de citações, alusões e ecos de Daniel, Ezequiel, Isaías, Zacarias e outros profetas. Por isso, tente descobrir de onde vêm as ideias, as imagens e os símbolos do livro. 2. Examine o tipo de profecia. Como regra, as profecias clássicas são condicionais e locais, enquanto as profecias apocalípticas são incondicionais e universais. Se o foco dos profetas clássicos (como Isaías e Jeremias) era a transformação da realidade de sua época, a ênfase dos profetas apocalípticos (como Daniel e João) estava no cronograma divino para o mundo no tempo do fim.
O SENSO DE IMINÊNCIA E EXPECTATIVA É BÍBLICO, MAS É PRECISO FUNDAMENTAR A ESPERANÇA NA REVELAÇÃO DA PALAVRA DE DEUS
3. Fique de olho na reinterpretação. Muitas promessas feitas a Israel são reinterpretadas no Novo Testamento e aplicadas ao povo de Deus reunido em torno do Messias. Em certos aspectos, o que era local passa a ser universal e o que era literal se torna espiritual. Essa universalização inclui o próprio conceito de Israel e da “terra” como herança do povo de Deus. 4. Mantenha o foco no fator central. Cristo é o centro de todas as profecias e a personificação do reino de Deus. Por isso, analise de que maneira o conteúdo da profecia se relaciona com a vida e o ministério Dele. 5. Considere o presente e o futuro. O Novo Testamento apresenta o reino de Deus em dois estágios (já e ainda não). O reino já foi inaugurado com a primeira vinda de Jesus, mas a consumação dele está no futuro, com a segunda vinda. É importante manter esse equilíbrio. 6. Evite a “atomização”. As profecias relacionadas com o fim do mundo não estão desconectadas da história da salvação. Portanto, considere o plano completo de Deus para a humanidade. A volta de Jesus não acontecerá num vácuo; ela está ligada a tudo que ocorreu antes. 7. Tire o olhar do calendário. Muitos grupos tentam marcar datas para a volta de Jesus e especulam quanto ao cumprimento dos últimos eventos, o que é um erro. Ao perceber os sinais, olhe para cima e aguarde Aquele que está voltando. Sonhar com o fim e o novo começo faz parte da essência da nossa fé. O senso de iminência e expectativa é bíblico, mas é preciso fundamentar a esperança na revelação da Palavra de Deus. Embora muitos cristãos sejam movidos pelo sensacionalismo, escatologia de jornal pode ser pior do que ausência de escatologia. Por isso, escatologize da maneira correta. ] MARCOS DE BENEDICTO é editor da Revista Adventista
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R e v i s t a A d ve n t i s t a // Julho 2018
Foto: LightStock
EDITORIAL
Jul. 2018
No 1335
Julho 2018
Ano 113
www.revistaadventista.com.br
Publicação Mensal – ISSN 1981-1462 Órgão Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia no Brasil “Aqui está a paciência dos santos: Aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus.” Apocalipse 14:12 Editor: Marcos De Benedicto Editores Associados: Márcio Tonetti e Wendel Lima Conselho Consultivo: Ted Wilson, Erton Köhler, Edward Heidinger Zevallos, Marlon Lopes, Alijofran Brandão, Domingos José de Souza, Geovani Souto Queiroz, Gilmar Zahn, Leonino Santiago, Marlinton Lopes, Maurício Lima e Moisés Moacir da Silva Projeto Gráfico: Eduardo Olszewski Foto da Capa: Fotolia
Adventist World é uma publicação internacional produzida pela sede mundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia e impressa mensalmente na África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Áustria, Brasil, Coreia do Sul, Estados Unidos e México v. 14, no 7 Editor: Bill Knott Editores associados: Lael Caesar, Gerald Klingbeil, Greg Scott Editores-assistentes: Sandra Blackmer, Stephen Chavez, Costin Jordache, Wilona Karimabadi (Silver Spirng, EUA); Pyung Duk Chun, Jae Man Park, Hyo-Jun Kim (Seul, Coreia do Sul) Tradutora: Sonete Costa Arte e Design: Types & Symbols Gerente Financeiro: Kimberly Brown
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Um olhar para o futuro
CNPJ missionário
Paz na tribulação
A escatologia adventista equilibra a esperança futura e a responsabilidade no presente
Conheça empreendedores que uniram sua religião ao próprio negócio
Nosso testemunho pode animar outras pessoas que sofrem
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Na galeria dos pioneiros
O bebê de Frank
Ministério da cura
A história do precursor da educação superior adventista
Gerente Internacional de Publicação: Pyung Duk Chun Gerente de Operações: Merle Poirier
SUMÁRIO
Como um parto mudou a história do primeiro campori internacional
Conselheiros: Mark A. Finley, John M. Fowler, E. Edward Zinke Comissão Administrativa: Si Young Kim, Bill Knott, Pyung Duk Chun, Karnik Doukmetzian, Suk Hee Han, Yutaka Inada, German Lust, Ray Wahlen, Juan Prestol-Puesán, G. T. Ng, Ted N. C. Wilson
O médico que há três décadas tem integrado o exercício da medicina à missão
CASA PUBLIC ADOR A BRASILEIR A Editora da Igreja Adventista do Sétimo Dia
Rodovia Estadual SP 127 – km 106 Caixa Postal 34; CEP 18270-970 – Tatuí, SP Fone (15) 3205-8800 – Fax (15) 3205-8900
2 EDITORIAL
32 VISÃO GLOBAL
41 JUVENTUDE
SERVIÇO DE ATENDIMENTO AO CLIENTE LIGUE GRÁTIS: 0800 9790606 Segunda a quinta, das 8h às 20h Sexta, das 8h às 15h45 / Domingo, das 8h30 às 14h
4 CANAL ABERTO
34 PRIMEIROS PASSOS
42 LITERATURA
35 PERSPECTIVA
45 MEMÓRIA
36 BEM-ESTAR
46 PÁGINAS DE ESPERANÇA
37 BOA PERGUNTA
47 EM FAMÍLIA
17 GUIA
38 RETRATOS
50 ESTANTE
28 VIDA ADVENTISTA
39 INTERNACIONAL
Sem especulação A opinião de quem lê
5 BÚSSOLA
Diretor-Geral: José Carlos de Lima
Além do sofrimento
Diretor Financeiro: Uilson Garcia Redator-Chefe: Marcos De Benedicto
6 ENTREVISTA
Gerente de Produção: Reisner Martins
A expectativa do fim
Gerente de Vendas: João Vicente Pereyra Chefe de Arte: Marcelo de Souza
8 PAINEL
Não se devolvem originais, mesmo não publicados. As versões bíblicas usadas são a Nova Almeida Atualizada e a Nova Versão Internacional, salvo outra indicação. Exemplar avulso: R$ 2,84 | Assinatura: R$ 34,00
Datas, números, fatos, gente, internacional Férias com os filhos
Números atrasados: Preço da última edição.
Resposta inesperada
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem prévia autorização escrita do autor e da Editora. Tiragem: 158.000
5843/38353
29 NOVA GERAÇÃO Game over
Trabalho conjunto
Talentos para Jesus
Violência espelhada Saúde emocional Lugar de reunião e revelação Colheita na Mongólia
Nosso campo é o mundo Esperança em meio à crise
Dormiram no Senhor Vocação para a colportagem Quando a esperança morre
Povo da saúde
Sem distrações
40 FINANÇAS
Investimento coerente 3
CANAL ABERTO A DIETA DO FUTURO
Curiosamente, a edição de junho da revista, cuja capa trata da dieta do futuro, também trouxe uma matéria sobre quem foi Ellen White, escritora norte-americana que falou muito a respeito de saúde e nutrição. Chama a atenção o fato de a dieta alimentar ser pauta de discussão global. Não por acaso, pois Deus, desde a criação, tem nos dado princípios de saúde. E esses princípios estão esculpidos nas crenças adventistas. O ponto é que precisamos seguir essa orientação sobre saúde e levar para nossa comunidade esse ideal de vida saudável. Alexandro Garcia Gomes Narcizo Alves / Costa Rica (MS)
ECOLOGIA
A propósito da reportagem de capa da edição de junho, penso que a Revista Adventista poderia publicar mensalmente uma página sobre meio ambiente e ecologia a partir de uma perspectiva bíblica e dos escritos de Ellen G. White. Valcir Gois / Via e-mail
PEDRAS PARA A NOVA GERAÇÃO
Fico sempre muito impressionado com a qualidade e o rico teor teológico das mensagens do pastor Erton, na seção Bússola. Como o nome da seção indica, o texto de junho dele destaca, mais do que nunca, que nossa juventude necessita ouvir o claro “Assim diz o Senhor”. Percebo que nossos jovens estão confusos, porque não estamos erigindo as “pedras” que podem servir de memoriais para que eles saibam distinguir o que é certo do errado. Com tristeza vemos nossas igrejas sendo invadidas por bocas, unhas, olhos e cabelos coloridos. Os trajes estão ficando cada vez mais curtos e apertados, e a frequência ao cinema se tornando uma opção a mais na agenda dos jovens. Afinal, pode ou não pode? Estamos devendo posicionamentos claros para nossa juventude. José Luís Costa / Ribeirão Preto (SP)
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ELLEN G. WHITE
Excelentes os artigos da edição de junho. Destaco a matéria “Quem foi Ellen White?” Os adventistas devem ser gratos a Deus porque Ele usou Sua mensageira para abrir novos horizontes para esse movimento mundial. Além de sua teologia apocalíptica, a pioneira influenciou nossa igreja para adotar o vegetarianismo e um estilo de vida saudável. Foi também inspiração para que os irmãos Kellogg se tornassem pioneiros no mercado de cereais matinais. Sem dúvida, o ministério de Ellen White tem abençoado a igreja, e seu legado será para a eternidade. Léo Ranzolin / Estero, Flórida (EUA)
ESTOQUE DIVINO
Linda e impressionante a história sobre a providência divina relatada na seção Minha História de junho. Com 60 anos de antecedência, Deus supriu as necessidades de um projeto missionário no interior da África, onde as coisas tendem a ser mais difíceis e demoradas. Minha única observação é quanto ao trecho: “Imagine, os anjos sabiam que as porcas iriam faltar; por isso, há 60 anos, eles convenceram um fazendeiro a comprar mil porcas padrão número 12.” Creio que alguns leitores podem interpretar esse trecho,
pensando que os anjos têm presciência, atributo que é exclusivo de Deus. Josildo Isidio de Melo / São Paulo (SP)
MANÁ RENOVADO
A respeito da matéria “Maná renovado”, de maio, gostaria de fazer um elogio e uma crítica. O elogio é para a nova diagramação da Lição da Escola Sabatina, que está fantástica, facilitando muito o estudo da Bíblia. A crítica é quanto à supressão do Informativo Mundial das Missões, material que proporcionava nossa aproximação com as experiências de irmãos ao redor do mundo. Lamento também que tantos adventistas negligenciem o estudo desse material tão rico. Giliarde Esperandio / Navegantes (SC)
NOVA PROPOSTA
Creio que, com as mudanças implementadas a partir de 2015, nosso querido periódico nacional chegou ao século 21. A revista está mais dinâmica, com design moderno e, o mais importante, oferecendo uma visão mais ampla aos adventistas brasileiros de que fazemos parte de uma família global. Faço apenas algumas observações: (1) o noticiário nacional poderia tratar menos de iniciativas institucionais e mais do que ocorre nas igrejas locais, porque elas são a base da organização adventista; (2) creio que poderia haver maior participação dos nossos professores de teologia, com a abordagem de temas bíblicos; e, por fim, (3) não vejo problema com o número de propagandas, pois não se trata da divulgação de qualquer produto, e sim de recursos para nosso crescimento espiritual. Parabéns pelas inovações! Renato Gross / Curitiba (PR) Expresse sua opinião. Escreva para ra@cpb.com.br. ou envie sua carta para Revista Adventista, caixa postal 34, CEP 18270-970, Tatuí, SP.
Os comentários publicados não representam necessariamente o pensamento da revista e podem ser editados por questão de clareza ou espaço.
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Julho 2018
BÚSSOLA
ALÉM DO SOFRIMENTO
NOS PIORES MOMENTOS, DEUS COSTUMA DAR AS MELHORES RECOMPENSAS ERTON KÖHLER
Foto: Johannes Plenio
O
s grandes homens de Deus nunca tiveram vida fácil. Para realizar Sua obra, eles passaram por grande sofrimento, enfrentaram duras provas, mas permaneceram fiéis, vendo o invisível (Hb 11:27). Paulo é um dos exemplos. Deus permitiu que ele enfrentasse muitas provações, mas transformou todas em oportunidades. Sua prisão em Roma é uma delas. Sem enfrentá-la, como teria conseguido falar a tantas pessoas importantes, expandindo o evangelho de maneira mais rápida? Roma era considerada a metrópole do mundo, onde poucos davam atenção à história de Jesus. Porém, segundo Ellen G. White, “em menos de dois anos, o evangelho teve acesso da modesta casa do prisioneiro aos recintos imperiais” (Atos dos Apóstolos, p. 461-462). Quando o apóstolo foi levado à execução, poucos o acompanharam. Contudo, mesmo na hora da morte ele fez questão de perdoar seus executores e animar os cristãos. “Ao encontrar-se no lugar do martírio, não viu a espada do carrasco nem a terra que tão logo haveria de receber seu sangue; olhou, através do calmo céu azul daquele dia de verão, para o trono do Eterno” (p. 511-512). Ele conseguiu ver Deus por trás do sofrimento e encarar a dificuldade como oportunidade. A história de João também é impressionante. Nos dias de perseguição da igreja primitiva, ele R e v i s t a A d ve n t i s t a // Julho 2018
DEUS SABE COMO TRANSFORMAR APARENTES INJUSTIÇAS EM BÊNÇÃOS SEM MEDIDA foi uma voz forte. “Quando a fé dos cristãos lhes parecia vacilar sob a feroz oposição que eram forçados a enfrentar, o idoso e provado servo de Jesus lhes repetia com poder e eloquência a história do Salvador crucificado e ressurgido” (p. 568). No entanto, enquanto a igreja se fortalecia, os opositores se enfureciam. Por isso, João também foi convocado a Roma e exposto a falsas acusações. “Porém, quanto mais convincente era seu testemunho, mais profundo o ódio de seus opositores” (p. 569). Enquanto isso, “a mão do Senhor se movia invisível no meio das trevas” (p. 581). A crise era uma oportunidade especial para os grandes milagres de Deus. Condenado ao martírio, João foi colocado dentro de um caldeirão
de óleo fervente, “mas o Senhor preservou a vida de Seu fiel servo, da mesma forma que preservou a dos três hebreus na fornalha ardente” (p. 570). Foi exilado, então, em Patmos para ser silenciado. Mas foi ali que ele “recebeu a mensagem cuja influência devia continuar a fortalecer a igreja até o fim dos tempos” (p. 581). Olhando para esses heróis da fé, podemos lembrar que Deus sempre dá “as batalhas mais difíceis aos soldados mais fortes”. Muitas vezes Sua obra é realizada “em meio a tempestades de perseguições, oposição atroz e acusações injustas” (p. 574), mas é preciso “repousar em Deus na hora mais escura, embora dolorosamente provado e sacudido pela tempestade, sentir que nosso Pai está ao leme. Somente os olhos da fé podem ver para além das coisas temporais e apreciar com acerto o valor das riquezas eternas” (p. 575). Aprenda a confiar no Deus que vê além do sofrimento. Ele sabe como transformar aparentes injustiças em bênçãos sem medida. Sua mão se move silenciosamente através da história e no momento certo sempre se manifesta. ] ERTON KÖHLER é presidente da Igreja Adventista para a América do Sul
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ENTREVISTA Wilson Paroschi
ANDRÉ OLIVEIRA
Em 166 anos de produção da Lição da Escola Sabatina, é a primeira vez que um teólogo brasileiro escreve o guia de estudo que é utilizado pela igreja ao redor do mundo. Neste trimestre, com a ajuda do pastor Wilson Paroschi, os adventistas vão se debruçar sobre o livro de Atos. PhD em Novo Testamento pela Universidade Andrews (EUA), por mais de 30 anos foi professor da Faculdade de Teologia do Unasp. Porém, desde o início deste ano, ele tem lecionado no seminário teológico da Southern Adventist University, no Tennessee. Em visita a Roma para participar da 4a Conferência Bíblica Internacional, em meados de junho, Paroschi concedeu esta entrevista a respeito da expectativa dos primeiros cristãos em relação à volta de Jesus.
A EXPECTATIVA DO FIM
Havia uma expectativa escatológica entre os primeiros cristãos? Os apóstolos testemunharam Jesus ascender ao Céu e os dois anjos assegurando-lhes de que Ele voltaria. Em Atos, há várias indicações de que eles acreditavam que Jesus voltaria em breve, talvez numa questão de dias. Isso trouxe uma série de dificuldades para a igreja, mas Deus interveio para fazer com que os cristãos saíssem de Jerusalém e iniciassem a missão de pregar a todo o mundo (At 1:8). 6
De que maneira essa visão escatológica impactou a vida da igreja? De várias formas. Logo após o Pentecostes, a igreja de Jerusalém perdeu muito de sua motivação missionária, achando que sua missão mundial já estivesse concluída, ou quase terminada. Por essa causa, eles venderam e partilharam seus recursos, o que acabou empobrecendo a igreja e comprometendo o investimento na evangelização de outras regiões. Deus teve que levantar uma perseguição para que os cristãos saíssem de Jerusalém (At 8) e usassem as próprias igrejas gentílicas (como Antioquia da Síria) para patrocinar o início das missões de Paulo. O estudo de Atos pode nos ajudar na preparação para o clímax da história humana? Jesus deixou dois legados escatológicos para a igreja: a promessa de que Ele voltará logo e a missão de levar o evangelho a todo o mundo. Esses dois legados podem parecer contraditórios, visto que o cumprimento da missão requer tempo. Porém, é no equilíbrio
desses dois conceitos que reside a vitalidade da igreja. A ênfase unilateral no primeiro levaria ao fanatismo, ao passo que o abandono da fé na breve volta de Jesus nos faria perder toda e qualquer motivação para a missão. Precisamos de ambos: estar prontos como se Jesus fosse voltar hoje, mas trabalhar como se Ele ainda fosse demorar cem anos. Como uma correta expectativa em relação ao fim pode ajudar a igreja? Embora a data dos eventos finais dependa unicamente do plano soberano de Deus (Mc 13:32; cf. At 3:19-21; 17:30-31), se acharmos que temos tempo de sobra até a volta de Jesus, haveremos de negligenciar o preparo necessário para o encontro com o Senhor e perder a motivação para a missão. Deus, porém, não precisa de nós para a pregação do evangelho. Ele tem mil maneiras de fazê-lo sem a nossa colaboração (Lc 19:39-40). Mas envolver-se na missão é desfrutar do alto privilégio de ajudar a consolidar a vitória de Cristo no Calvário, povoando Seu reino e contribuindo para que a obra destrutiva de Satanás seja menor. Além disso, poucas coisas são tão eficientes para nos manter espiritualmente fervorosos como o envolvimento na missão. ] R e v i s t a A d ve n t i s t a // Julho 2018
Foto: Arquivo pessoal
AUTOR DA LIÇÃO DA ESCOLA SABATINA SOBRE O LIVRO DE ATOS EXPLICA COMO UMA VISÃO ESCATOLÓGICA EQUIVOCADA ATRAPALHOU O COMEÇO DA IGREJA
Semana Jovem 21-28/julho
adventistas.org
adventistasbrasiloďŹ cial
(data sugestiva)
adventistasbrasil
adventistasoďŹ cial
iasd
PAINEL F AT O S
IGREJA NO PORÃO
INFLUÊNCIA DO SÁBADO Mais de cem membros de outra denominação aceitaram a mensagem adventista e foram batizados em Papua-Nova Guiné no início de junho. O fato ocorreu depois que um influente membro da congregação começou a estudar a Bíblia e foi tocado pela mensagem do quarto mandamento. Ao ele aceitar esse princípio bíblico e ser batizado, cerca de 80% dos membros da comunidade decidiram seguir seus passos. O local usado durante a Segunda Guerra Mundial para esconder dezenas de judeus das forças de ocupação na Hungria foi transformado em um centro comunitário adventista. Inaugurado no dia 15 de maio em Budapeste, o Centro da Juventude Duna tem sido o ponto de encontro de aproximadamente 30 pessoas. Abre de domingo a sexta, das 16h às 20h, e aos sábados, até a meia-noite.
2.000 Bíblias
foram distribuídas desde 2015 por um casal norte-americano que decidiu servir como missionários em Papua-Nova Guiné depois de se aposentar do ministério.
As pessoas estão mais dispostas a ouvir você compartilhar sobre a Bíblia quando a comida está envolvida. Segundo a Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (Hemoam), os adventistas são os que mais doam sangue no estado. Esse fato rendeu homenagem à igreja durante sessão solene realizada no Dia Mundial do Doador de Sangue (14 de junho). Por meio do projeto Vida por Vidas, já foram doadas mais de 14 mil bolsas de sangue. 8
Sualua Tupolo, chef adventista que já serviu governadores da Samoa Americana e que atualmente apresenta um programa culinário no Hope Chanel e desenvolve um ministério na comunidade da Southwestern Adventist University
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Julho 2018
Fotos: Trans-European Division News / Adventist Record / Dhyeizo Lemos
HOMENAGEM NA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA
19.000 pessoas
foram batizadas como resultado de uma série evangelística de três semanas realizada no fim do primeiro semestre na Tanzânia.
EVENTOS
4O EVANGELIBRAS O evangelismo exclusivo para surdos foi transmitido nos dias 13 a 16 de junho pela internet. Um dos atrativos deste ano foi a tradução do filme Libertos para a Linguagem Brasileira de Sinais (Libras). Além disso, o público pôde acompanhar as reflexões do pastor Douglas Silva, primeiro pastor surdo na América do Sul graduado em Teologia.
PRIMEIRA FEIRA DE SAÚDE NA ARMÊNIA Realizada na cidade de Alaverdi, um polo de mineração, o evento recebeu mais de 200 pessoas ao longo de três dias. A iniciativa foi destaque em uma emissora de TV local e contou com o apoio até mesmo de policiais, que, depois de passarem pelos estandes onde foram oferecidos diversos serviços gratuitos, incentivaram pedestres a fazer o mesmo. Vários moradores também se inscreveram para participar de um clube de saúde mantido pela igreja local.
SIMPÓSIO DE LIBERDADE RELIGIOSA
D ATA
Foto: Fotolia / Damaris Moura Kuo / Gustavo Leighton
8 A 12 DE AGOSTO
O evento promovido na capital paulista pela União Central Brasileira, em parceria com a Associação Brasileira de Liberdade Religiosa e Cidadania (Ablirc) e a Comissão de Direito e Liberdade Religiosa da OAB-SP, reuniu diversos defensores do direito de crença. A programação fez parte das ações alusivas ao Dia Estadual da Liberdade Religiosa (25 de maio). Um dos convidados foi Ganoune Diop, líder mundial de liberdade religiosa da Igreja Adventista. As comemorações deste ano incluíram uma extensa agenda de visitação a autoridades e um congresso sobre o tema na Câmara de Vereadores.
800 médicos
voluntários de todo o mundo. Esse é o total de profissionais da saúde que a Rádio Mundial Adventista (AWR, na sigla em inglês) espera reunir para uma missão de curta duração nas Filipinas neste mês. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Julho 2018
Nessa data, a capital da Coreia do Sul será palco do GAiN (Global Adventist Internet Network), evento que deve reunir profissionais e entusiastas das áreas de comunicação e tecnologia de todo o mundo (acesse: gain.adventist.org/2018). Com o tema “Mission First”, o congresso será realizado paralelamente ao Congresso Internacional de Missão, que espera receber 4 mil missionários de sete países.
Um evangelho que exclua os fracos e os deficientes é incompleto.
Hesron Byilingiro, presidente da União de Ruanda (uma das sedes administrativas da igreja no país), durante um programa no qual os adventistas doaram 15 cadeiras de rodas para pessoas com necessidades especiais 9
GENTE
NOMEAÇÕES
BODAS DE DIAMANTE (60 ANOS)
De Elbert Kuhn, para gerenciar projetos e estratégias em nível global no Serviço Voluntário Adventista. Como coordenador sul-americano dessa área, função que desempenhou por dois anos e quatro meses, ele fortaleceu o envio de voluntários para várias partes do mundo. Antes de assumir o cargo na Divisão Sul-Americana, trabalhou como missionário durante 10 anos na Mongólia.
De João e Lenita Marquardt, em cerimônia realizada no fim de maio na Igreja Adventista do Jardim Alvorada, em Campo Mourão (PR), pelo pastor Richard Figueredo, neto do casal. Eles têm três filhos, dez netos e quatro bisnetas.
De Gláucia Korkischko, nova líder do Ministério da Criança e do Adolescente para a América do Sul. Graduada em Pedagogia e pós-graduada em Psicopedagogia, ela tem vasta experiência na área de educação como professora, orientadora escolar, coordenadora pedagógica e diretora de escola. A pedagoga substitui Graciela de Hein, que se aposentou.
ROTEIRO MISSIONÁRIO
Por meio de um concurso, a Adventist Mission está incentivando jovens de 18 a 25 anos a produzir filmes de um minuto relatando suas experiências no campo missionário. Os curta-metragens devem ser enviados até 31 de agosto por meio do site adventistmission.org/ filmcontest.
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De Holbert Hein e Noêmia Hein, na Igreja de São João Benedito Novo (SC), no início de maio, em cerimônia realizada pelos pastores Salésio Silva, Edson Tarcio Cussô e Harri Voos. O casal tem cinco filhos e seis netos. De Antônio Leôncio dos Santos e Rute Lima dos Santos, no início de março. O casal mora em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, e tem dois filhos e quatro netos.
APP SOLIDÁRIO Idealizado por funcionários da ADRA na República Tcheca, o aplicativo Husky: The Savior tem ajudado na captação de recursos para atender crianças sírias refugiadas. Com quase 1,5 mil downloads, o game lançado em abril está disponível para os sistemas operacionais Android e iOS. A instalação é gratuita, mas a ferramenta incentiva o jogador a realizar compras no app e a assistir aos vídeos patrocinados que geram receita para os programas da agência humanitária.
NOVA TEMPORADA Os 12 novos episódios do Vlog da Gi, canal do NT Kids, foram trabalhados no formato de estudos bíblicos e exploram curiosidades, fatos históricos e textos bíblicos que explicam como surgiu o livro sagrado, como Deus inspirou os profetas, quem descobriu os manuscritos e como a Bíblia foi traduzida e chegou até os nossos dias, entre outras questões. Apresentado por Giovana Rossi, de 11 anos, o vlog tem mais de 156 mil visualizações. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Julho 2018
Fotos: DSA André Azevedo / arquivo pessoal
O L H A R D I G I TA L
BODAS DE OURO (50 ANOS)
INTERNACIONAL
Estamos falando sobre a maior geração de jovens da história humana.
CENTRO DE INFLUÊNCIA NO VIETNÃ No espaço de sete andares, inugurado no fim de maio, em Hanói, capital vietnamita, irá funcionar uma livraria, uma loja de alimentos saudáveis, escola de idiomas e música, a sede nacional da ADRA e duas congregações. Trata-se do primeiro centro de influência aberto pela igreja no país asiático.
Allan Martin, pastor do Younger Generation, ministério da Igreja Adventista de Arligton, no Texas, no simpósio "Reaching Millennial Generations", realizado na Universidade Andrews (EUA), em abril
NOVA CLÍNICA ODONTOLÓGICA Patrocinado pelo Hospital Adventista de Hong Kong, o projeto foi inaugurado na República Democrática Popular do Laos. Autoridades governamentais foram prestigiar a cerimônia de inauguração da primeira clínica odontológica do país asiático a oferecer tecnologia de imagem 3D.
PARCERIA NO ENSINO
Fotos: AndrewMcChesney / Sahmyook University
A Sahmyook University, instituição adventista na Coreia do Sul, terá um papel estratégico no fortalecimento da rede de ensino da igreja no país. Além de promover projetos de intercâmbio e compartilhar recursos e tecnologia com alunos e professores da educação básica, a instituição conduzirá o programa de ensino de valores em 25 escolas adventistas espalhadas pela nação.
A igreja de Deus chegará ao seu destino e os portões do inferno não prevalecerão contra ela.
16 igrejas de Ulan Bator, capital da Mongólia, se reuniram e organizaram uma série evangelística que foi apresentada pelo pastor Ron Clouzet, coordenador da área Ministerial na Divisão do Pacífico Norte-Asiático.
Mark Finley, evangelista e assistente do presidente mundial da Igreja Adventista, em discurso no Concílio da Primavera, realizado no mês de abril, em Silver Spring, Maryland (EUA)
Colaboradores: Abraham Bakari, Andrew McChesney, Boldizsár Ócsai, Carolyn Azo, Divya Joseph, Gracia Nanagulyan, Hannah Gallant,
Heather Reifsnyder, Kimi-Roux James, Krisztina Sándor, Leisa O’Connor, Mauren Fernandes, Márcio Tonetti, Onesphore Yadusoneye, Prince Bahati, Solomon Paul e Wendel Lima
R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Julho 2018
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CAPA
UM OLHAR
PARA O FUTURO CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE ESCATOLOGIA DISCUTE INTERPRETAÇÃO BÍBLICA E AS IMPLICAÇÕES PRÁTICAS DAS PROFECIAS EDUARDO RUEDA
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Fotos: Fotolia / Costin Jordache
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scatologia é o nome que se dá para o Instituto de Pesquisa Bíblica (BRI, em inglês) da sede mundial da Igreja Adventista, fosse sediada na estudo dos eventos que antecedem capital italiana. Nos dias 11 a 21 de junho, o evento o fim do mundo. É a área da teologia reuniu 375 teólogos e administradores adventistas que se detém sobre as profecias bíblide todas as partes do mundo, dos quais 121 aprecas de longa duração e que procura interpretar as visões e os sinais que sentaram suas pesquisas. Ao longo de dez dias, dez palestrantes conduziram os tópicos principais, estão diretamente relacionados à volta de Jesus e ao em forma de plenárias; e os outros 111 oradores se pleno estabelecimento do reino de Deus na Terra. dividiram em subsessões e dois painéis temáticos. Para os que estão familiarizados com o texto Os congressistas também participaram de quabíblico, quando se pensa em escatologia, uma tro tours acadêmicos pelos principais pontos hisdas primeiras imagens que devem vir à mente é a da famosa estátua do sonho de Nabucodonosor tóricos de Roma relacionados à origem e desenvolvimento do cristianismo. A Via Ápia, estrada (Dn 2), em que cada metal da imagem representava pela qual Paulo chegou à capital do império; a um império subsequente que dominaria a região prisão Marmetina em que, segundo a tradição, o do Mediterrâneo. O que a história nos revela é que apóstolo foi confinado; as catacumbas e o Coliseu, Babilônia, Média-Pérsia, Grécia e Roma tiveram onde cristãos entregaram a vida por amor ao evanseu período de glória, mas foram finalmente supegelho, fizeram parte do itinerário. radas, cada uma a seu tempo, exatamente como Na sessão de abertura, o pastor Ted Wilson, havia sido predito. presidente mundial da denominação, deu o tom Dos quatro impérios, porém, o romano é o único das reuniões. Ele leu, em italiano e inglês, o texto que ainda, de certa forma, sobrevive. Na estátua, de 2 Pedro 3:3, 4, 9 e 12, em essa continuidade parcial é indicada que o apóstolo prediz para pelo fato de os pés, feitos de “ferro os últimos dias o surgimento misturado com barro” (Dn 2:43), serem de incrédulos e escarnecedouma extensão das pernas de ferro. A res quanto à vinda de Cristo. Roma dos césares teve fim com sua Wilson desafiou os particiqueda e fragmentação em 476 d.C., sob pantes do evento a reforçar a invasão dos bárbaros. No entanto, o sua convicção no iminente império de ferro continuou a existir retorno de Jesus, compromedurante a Idade Média como poder tendo-se com a missão de prepolítico-religioso e, desde o fim do parar um povo para enconséculo 18, como poderes separados trar Jesus. “Que privilégio é na Europa moderna. “O DIA DO SENHOR ESTÁ ser um adventista do sétimo Diante desse resgate histórico, é dia! Aguardando e abreviando inegável observar o papel-chave que PRÓXIMO. VIVEMOS NOS a segunda vinda de Cristo”, Roma e seu legado desempenham no cenário dos eventos finais, muito ‘DIAS DE NOÉ’ (MT 24:37). concluiu, antes de anunciar o conhecido hino “We Have This mais se consideramos que foi sob o POR ISSO, VOCÊS DEVEM Hope” (“Oh! Que Esperança”, domínio desse império que Jesus e Hinário Adventista, 469). os apóstolos pregaram e escreveram DAR À TROMBETA O Os dias que se seguiram acerca das promessas mais contunpresenciaram um evento com dentes a respeito do estabelecimento SONIDO CERTO, NÃO O SEU múltiplas ênfases, tão variado final do reino de Deus. PRÓPRIO SOM.” como a mistura de nacionalidades e etnias representadas, mas LOCAL EMBLEMÁTICO Ted Wilson, presidente mundial da Todo esse panorama tornou ainda que, no fim das contas, inspiigreja, no sermão pregado no sábado, rou todos com um profundo mais significativo que a 4ª Conferência dia 16 de junho senso de unidade teológica. Bíblica Internacional, organizada pelo
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NOSSA ESPERANÇA ESCATOLÓGICA.”
Ekkehardt Mueller, teólogo alemão, em sua palestra plenária a respeito de escatologia e o método historicista 14
INTERPRETAÇÃO SEGURA Ao longo dos dez dias de conferência, observou-se nas diversas preleções e nas conversas informais três ingredientes essenciais para uma hermenêutica saudável das profecias: (1) respeito ao texto bíblico; (2) compromisso com o método historicista;
Kwabena Donkor, teólogo africano e um dos diretores associados do BRI
e (3) consideração para com a diversidade de opiniões, guardados os devidos limites. Nos últimos anos, a tendência entre os estudiosos do Apocalipse tem sido de enfatizar mais o aspecto literário do texto, ou seja, o que o livro em si tem para dizer, do que a relação desse conteúdo com a história, o que se ressaltou bastante no passado. Em certo sentido, essa atitude é positiva, pois é preciso deixar que a Bíblia fale por si mesma. Por outro lado, é necessário não levar isso ao extremo, a ponto de desconsiderar a história como elemento interpretativo. Predições como as da estátua do sonho de Nabucodonosor (Dn 2) evidenciam claramente uma linearidade temporal da profecia, o que demonstra a necessidade de se recorrer aos registros históricos para compreendê-la. Ao mesmo tempo, porém, é fundamental respeitar a diversidade de opiniões. Uma vez que o quadro geral das profecias ainda não está completo, porque muitas delas ainda estão por se cumprir, não podemos ser dogmáticos quanto a cada pormenor. Isso abre espaço para certa flexibilidade na interpretação, desde que não se ignore os marcos estabelecidos pela aplicação do consagrado método gramáticohistórico (que considera a inspiração, originalidade e fidelidade da Bíblia). O que passar desse limite pode ser perigoso. AS DUAS DIMENSÕES DO REINO Uma das principais preocupações dos organizadores do evento foi discutir as implicações práticas da escatologia, como sua relação com a ética, a missão e a responsabilidade social. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Julho 2018
Fotos: Costin Jordache
PARÂMETROS IMPORTANTES Na primeira plenária da conferência, o teólogo Ángel Manuel Rodríguez, ex-diretor do BRI e atualmente aposentado, destacou o fato de que a escatologia adventista não está fundamentada em teorias políticas, cosmogonias ou cosmologias modernas, nem em ficção científica, mas na revelação bíblica. Segundo ele, “nossa visão do futuro do cosmos é resultado da Palavra de Deus, por meio da qual Ele compartilhou conosco Seu plano para a criação”. Afirmou ainda que a visão adventista de futuro é, por natureza, fundamentada e centralizada na pessoa de Jesus. Para Kwabena Donkor, diretor associado do BRI, no que se refere à forma, nossa escatologia é historicista. Seu conteúdo está atento à crescente piora das circunstâncias da existência humana sob o domínio do pecado, até a intervenção e restauração divinas. O agente dessa escatologia, Deus, é sobrenatural e transcendente, e seu foco não está neste mundo, mas na existência vindoura. Tais elementos são incompatíveis com outros modelos escatológicos e outras tendências no pensamento teológico, como, por exemplo, a evolução teísta, que tenta conciliar o relato bíblico e a teoria da evolução. Em sua conferência, o alemão Frank Hasel também lembrou que um outro modo de definir a escatologia adventista é dizer o que ela não é. Na sua fala sobre como interpretar as profecias, Hasel, que também é diretor associado do BRI, alertou contra a “hermenêutica do sensacionalismo”. Segundo ele, “JESUS CRISTO, COM algumas interpretações extremadas geram SUA VIDA, MORTE mais seguidores de pessoas do que estudantes da Palavra. Ele acrescentou ainda que a E RESSURREIÇÃO, esperança bíblica é mais do que mero otimismo, pois está centrada na ação de Deus É O CENTRO DE e não na potencialidade humana.
“PARA OS ADVENTISTAS DO SÉTIMO DIA, A INTERPRETAÇÃO DO RELATO DA CRIAÇÃO EM GÊNESIS É TÃO INTRINCADAMENTE LIGADA À SUA ESCATOLOGIA QUE, SEM ELA, ESSA ESCATOLOGIA SIMPLESMENTE DESAPARECERIA.”
Fotos: Costin Jordache
Para uma igreja que se enxerga como um movimento profético, é de se esperar que a escatologia esteja no centro de sua evangelização. Essa foi a análise apresentada pelo missiólogo Marcelo Dias, professor do Unasp. Ele destacou que as crenças no julgamento divino, na segunda vinda de Cristo e na restauração final moldaram a missiologia adventista, dando à pregação da igreja um tom de urgência e à nossa participação na missão de Deus um dever imperativo. Negligenciar a missão, portanto, equivaleria a negar nossa identidade. No entanto, uma vez que a escatologia lida, sobretudo, com a expectativa futura, é comum identificar que os que enfatizam de maneira equivocada o preparo para a volta de Jesus tendem a negligenciar sua responsabilidade social. Wagner Kuhn, missiólogo brasileiro que leciona na Universidade Andrews (EUA), observou que “interpretações equivocadas sobre os eventos finais levam a uma ênfase exagerada em assuntos espirituais e no Céu”, impedindo-nos de responder biblicamente às necessidades contemporâneas. Remwil Tornalejo, professor do AIIAS, universidade adventista nas Filipinas, reconheceu esse problema. Na sua apresentação, ele disse que a chave para equilibrar a percepção de presente e futuro encontra-se na “teologia do reino de Deus”. Um exame detalhado das Escrituras evidencia que o reino de Deus se apresenta em duas dimensões: uma presente e a outra futura e eterna. É o que, na teologia, é conhecido como a tensão entre o “já” e o “não ainda”. A proclamação de Jesus, em Sua primeira vinda, de que o reino de Deus era chegado confirma isso (Mc 1:15). Estudiosos como J. A. T. Robinson, Joachim Jeremias, Ethelbert Stauffer e C. H. Dodd consideraram que o reino de Deus, como visto no ministério de Jesus, foi uma espécie de “escatologia realizada”. Esses e outros intérpretes, contudo, levaram essa visão ao extremo, defendendo que o reino de Deus não tem que ver com a vinda futura do Messias e a restauração do mundo, mas apenas com um sistema ético e moral estabelecido por Cristo em Sua primeira vinda. Segundo essa “A ESCATOLOGIA perspectiva, o reino de Deus seria apenas uma nova ordem ADVENTISTA É UMA social, guiada pelos ensinos de Jesus, mas conquistada por VISÃO BÍBLICA DE esforços humanos. UM FUTURO MAIS Entretanto, ignorar o aspecto vindouro do reino ou superenGLORIOSO PARA O fatizar sua dimensão presente leva também a interpretações COSMOS E PARA A equivocadas, como ocorreu, no contexto latino-americano, com HUMANIDADE.” a Teologia da Libertação. Em Ángel Manuel Rodríguez, teólogo interpretações como essa, a preaposentado e ex-diretor do BRI ocupação com a justiça social se R e v i s t a A d ve n t i s t a // Julho 2018
torna mais importante que aspectos espirituais da mensagem bíblica, como a conscientização a respeito do pecado e a pregação acerca da salvação. Por sua vez, a visão mais equilibrada e plausível não é a de uma escatologia já concretizada, e sim inaugurada. Portanto, vivemos a realidade de um reino que já foi inaugurado, mas cujo estabelecimento completo ainda se dará no futuro. Desse modo, as dimensões presente e futura do reino de Deus não são contrastantes, mas coexistentes. RESPONSABILIDADE SOCIAL Nessa direção, Petras Bahadur, diretor do Centro de Relações entre Adventistas e Muçulmanos da sede mundial da igreja, destacou a importância de demonstrar amor na proclamação da derradeira mensagem de advertência ao mundo. Citando Ellen White, ele lembrou que, em última análise, a pregação final do evangelho eterno “é uma revelação do caráter do amor divino” (Parábolas de Jesus, p. 415). Profetas e apóstolos, bem como o próprio Jesus, escreveram e pregaram sobre a responsabilidade social do povo de Deus (Am 5:18, 24; 2Pe 3:3-18; Tt 2:11-14). Os capítulos 23 a 25 de Mateus (principalmente a parábola das ovelhas e dos bodes) são um exemplo emblemático disso, pois mostram que a expectativa futura dos que servem a Deus está diretamente relacionada com o exercício da ética do reino agora. Remwil Tornalejo conclui: “Como igreja, somos chamados a estar mais ativamente envolvidos em nossa responsabilidade social, enquanto ansiamos pela consumação do glorioso reino de Deus. Temos uma missão no presente em antecipação ao futuro.” Além de cuidar das pessoas, a compreensão correta sobre o reino de Deus nos leva também a preservar o meio ambiente. Por isso, os que olham para o juízo final que virá sobre este planeta por meio do fogo como uma permissão para negligenciar o cuidado com a natureza ignoram textos bíblicos que indicam o zelo de Deus por 15
ao lado do Coliseu. Visitas aos lugares históricos de Roma ajudaram os participantes a entender melhor o contexto do Novo Testamento e do início da igreja cristã
Sua criação e a responsabilidade “UMA COMPREENSÃO humana para com o que foi criado. Segundo Abigail Rael Wells, proCLARA DAS EXPOSIÇÕES fessora de Hebraico na Universidade Andrews, “passagens escatológicas ESCATOLÓGICAS DE incluem uma imagem da Terra restaurada e rejuvenescida, em vez de ELLEN WHITE PODE NOS aniquilada e recriada do nada. Até AJUDAR A APRECIAR mesmo as imagens de fogo consumidor no fim dos tempos não impliMELHOR A MANEIRA cam que o planeta será totalmente consumido.” Wells destacou três conTRIUNFANTE DE DEUS textos na narrativa bíblica em que CONDUZIR OS ASSUNTOS Deus confia ao homem a responsabilidade de cuidar do meio ambiente: HUMANOS E SEU na criação, após o primeiro pecado do ser humano e depois da restauAMOROSO CUIDADO ração futura da Terra. Ademais, o relato da criação, as leis sabáticas PARA CADA UM DE NÓS.” dadas ao antigo Israel e as descriAlberto Timm, teólogo brasileiro ções da nova Terra demonstram e diretor associado do Patrimônio a contínua necessidade de cuidado com o meio ambiente. Portanto, conLiterário de Ellen G. White (White clui Wells: “a escatologia pressupõe Estate) e demanda o cuidado ecológico no presente, em vez de se opor a isso.” Warren Trenchard, professor da Universidade La Sierra (EUA), chamou a atenção para o fato de que, “assim como a maioria dos cristãos, os adventistas do sétimo dia têm historicamente apresentado pouco interesse em assuntos ecológicos”. Entretanto, para ele, assim como justificamos a mordomia do cuidado com a saúde como uma não destruição do corpo (templo do Espírito Santo), também deveríamos encarar nossa responsabilidade com a preservação da Terra. Planeta que, junto com a humanidade, um dia também será finalmente redimido (Rm 8:22, 23). Na tentativa de aproximar ainda mais a escatologia da realidade prática, Thomas Shepherd, também professor na Universidade Andrews, procurou analisar os links que Paulo estabeleceu entre a expectativa do futuro e o cotidiano dos cristãos. Entre as conclusões de Shepherd está 16
BALANÇO Ao analisar os resultados do evento, o teólogo brasileiro Elias Brasil, que desde 2015 dirige o BRI, disse que a conferência foi importante para promover a unidade doutrinária da igreja e a esperança escatológica bíblica de que em breve teremos um mundo melhor. “Houve uma unidade muito grande nas apresentações. Evidentemente que, num evento dessa natureza, existem opiniões divergentes num ponto ou outro, mas estou impressionando com o foco dos teólogos adventistas na mensagem e missão da igreja”, avalia. Para ele, outro ponto alto do encontro foi a escolha do lugar. Mantendo o critério de realizar as conferências sempre em locais relacionados ao contexto bíblico (os primeiros encontros foram em Israel e na Turquia), Elias Brasil disse que Roma apresenta uma riqueza histórica privilegiada, o que ajuda os pesquisadores a conhecer melhor o ambiente do Novo Testamento e do cristianismo primitivo. “Visitar esses lugares foi uma inspiração, pois eles evocam a memória de tantos cristãos que deram sua vida pelo evangelho”, conclui. Além de reafirmar convicções, fomentar troca de ideias e oferecer novos insights para a elite teológica da Igreja Adventista, um dos grandes legados da conferência bíblica em Roma foi trazer para mais perto o que, por vezes, parece estar tão distante. Isso pode nos ajudar a entender que, embora nosso olhar esteja no futuro, nossos pés precisam estar firmados no presente e nossas mãos trabalhando pelo estabelecimento final daquele reino “que não será jamais destruído”, mas que “subsistirá para sempre” (Dn 2:44). ] EDUARDO RUEDA é pastor, mestre em Teologia e editor dos livros de Ellen G. White na CPB. Ele e mais três editores participaram da 4a Conferência Bíblica Internacional, em Roma
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Foto: BRI
Teólogos na frente do Arco de Constantino,
o fato de que a escatologia traz implicações éticas para aquele que entra num relacionamento salvífico com Cristo. A noção de que Cristo ressuscitou e, portanto, está vivo, associada à consciência de que Ele voltará, deve exercer um efeito moral na vida do crente, motivando-o a manter a santidade em todas as esferas da vida. Para ilustrar o impacto que isso pode ter na vivência adventista, ele lembrou que os pioneiros manifestaram ao mesmo tempo grande fervor pela pregação sobre a volta de Jesus e claro engajamento com questões de sua época, como a reforma de saúde e o debate em torno do fim da escravatura.
GUIA
FÉRIAS COM OS FILHOS MESMO SEM AULAS NA ESCOLA, AS CRIANÇAS PODEM CONTINUAR APRENDENDO
DIVERSÃO EM FAMÍLIA
“
Nossa família gosta de andar de bicicleta e caminhar no parque. Depois do exercício físico, sentamos
na grama, tiramos os chinelos e tomamos sorvete ou água de coco. É uma delícia!
ANNE LIZIE HIRLE
Nesses momentos, vale a pena pensar em todas as bênçãos que Deus nos
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escanso e lazer. É isso que as crianças esperam ter a cada período de férias. Porém, a pausa nas aulas não significa necessariamente interrupção no aprendizado. As férias têm um papel fundamental no desenvolvimento infantil. Por meio das brincadeiras, elas absorvem informações e amadurecem sem perceber. Para ajudar os pais, separei algumas dicas do que fazer com os filhos nas férias, bem como o testemunho de algumas famílias que procuram passar esses momentos juntos.
proporciona, como o convívio em família e as belezas da natureza.
Gabriel (7)
“
Meus filhos gostam muito de cozinhar. Essa atividade gera bagunça e sujeira, mas é uma ótima maneira de
fazer as crianças comerem melhor.
1
Também estamos tentando produ-
6
”
Sarah Bertolli, mãe da Giovanna (4) e do
zir uma horta. E eles gostam muito!
”
Flávia Pinheiro, mãe da Maitê (7) e do Gabriel (12)
“
7
2
Gostamos de acampar em família no terraço de casa, com barraca e tudo. Nossos filhos amam! Além
disso, eles sempre gostam de participar da Escola Cristã de Férias, na qual aprendem
8
mais sobre Deus enquanto se di-
3
vertem e participam de gincanas em equipe.
”
Sandra Ferreira Barbosa, mãe da Gabriela (7) e do Felipe (12)
9 4
10
“
Nas férias, gostamos de viajar para conhecer lugares diferentes. Também aproveitamos para visitar
ambientes ao ar livre, como parques e praças, e descansar bastante.
5
”
Daniela Prado, mãe da Giovana (7) e do Gabriel (11)
6 Escrever uma carta para um 1 Aprender brincadeiras da época
Ilustrações: Marta Irokawa
2 3 4 5
dos pais e avós. Plantar sementes e acompanhar o desenvolvimento da planta. Encenar uma história bíblica para a família e/ou os amigos. Organizar os brinquedos e separar alguns para doação. Acampar dentro de casa (barraca com lençóis).
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amigo ou parente que mora longe e enviá-la pelo correio. 7 Experimentar, em família, ficar um dia longe do celular e da TV. 8 Visitar um ponto turístico da cidade. 9 Fazer um brinquedo de material reciclado. 10 P reparar uma surpresa para alguém da família.
“
Estamos ensinando nossos filhos e os coleguinhas do prédio a deixar a TV de lado. Para isso, começamos
a ensinar algumas brincadeiras antigas. A escolha da vez é pular elástico.
”
Patrícia Santos, mãe da Gabriela (3), do Eduardo (8) e da Ana Clara (13)
Fonte: revista acadêmica Pediatrics, janeiro de 2012
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EMPREENDEDORISMO
CNPJ MISSIONÁRIO
QUANDO A RELIGIÃO E OS NEGÓCIOS SE UNEM NO MESMO PROPÓSITO, QUEM GANHA É A MISSÃO. CONHEÇA ALGUNS EMPREENDEDORES QUE REPENSARAM A LÓGICA DO MERCADO
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magine um mundo em que os negócios e a religião fossem realmente unidos, em que a fé em um futuro melhor fossem a visão que conduzisse tanto os negócios como a religião. Que tipo de perguntas seriam feitas nas salas de reuniões dessas organizações? Qual seria o efeito se os princípios encontrados nos ensinamentos de Jesus de fazer aos outros aquilo que queremos que eles nos façam (Mt 7:12, NVI) fossem semeados no coração da cultura organizacional e as pessoas respeitassem umas às outras, independentemente da hierarquia? Provavelmente aqueles que anteriormente se concentravam simplesmente nos alvos organizacionais direcionados à satisfação das necessidades básicas procurariam explorar e compreender pessoalmente as necessidades reais das pessoas e se concentrariam no desejo explícito de criar um cotidiano prazeroso na experiência humana. 18
Considere o exemplo de Steve Wheen, designer inglês que começou plantando flores e fazendo jardins em miniatura nos buracos que se espalhavam pelas calçadas de Londres. Nos lugares em que antes as pessoas se desviavam para evitar os buracos, elas agora param para tirar fotografias e desfrutar do cenário. Wheen afirma que o projeto nasceu com o objetivo de não apenas evitar o perigo, mas de “criar momentos de felicidade inesperados”. Conscientemente ou não, Wheen estava cumprindo a regra de ouro do Sermão do Monte. As diretrizes contidas nos ensinamentos de Jesus são muito mais profundas do que fazermos apenas o mínimo uns pelos outros. Embora esse seja um bom começo, é menos provável que as pessoas parem, pensem e se envolvam com a mensagem, com produtos e serviços ou umas com as outras. Se Wheen tivesse simplesmente colocado uma placa alertando para a existência de buracos, já teria sido um gesto louvável. Muitos seriam avisados e talvez teriam apreciado a utilidade do aviso e seguido seu caminho. Mas o que cativou a atenção das pessoas foi a beleza inesperada da criação de Deus, em um jardim brotando de buracos escuros e sujos. Um ato simples, criativo e atencioso da bondade humana fez com que pessoas ocupadas parassem e se maravilhassem com a cena diante delas. R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Julho 2018
Ilustrações: AW
JA R ED TH UR MON E DA N IEL BRUNE AU
ASSUMINDO OS RISCOS Uma premissa comum tanto para os negócios como para a religião é a disposição de assumir riscos. O proprietário de uma pequena empresa investe em uma localização estratégica antes de qualquer retorno. Um pastor consagrado muda com sua família para uma comunidade sem presença adventista, crendo que, se construir relacionamentos e for um bom vizinho, poderá plantar uma igreja para a glória de Deus. Um investidor capitalista emprega seu dinheiro em vários investimentos de risco na esperança de que pelo menos um será bem-sucedido. A fé em um futuro melhor leva pessoas tanto da religião como dos negócios a acreditar que vale a pena assumir riscos pelo potencial da recompensa. Semelhantemente, Ellen G. White escreveu: “Lembrem-se de que Cristo tudo arriscou! Para a nossa redenção o próprio Céu esteve em jogo” (Parábolas de Jesus, p. 196). O risco que Ele assumiu não foi por um momento de alegria, mas com o propósito de estabelecer a base para uma eternidade feliz. Isso é algo que deve nos fazer parar e pensar, em completo deslumbramento. Temos tanto valor que Deus arriscou tudo para que tivéssemos a oportunidade de viver felizes com Ele eternamente. Aos olhos de Deus, a recompensa valeu o risco. De acordo com a regra de ouro de Jesus, viver no mundo dos negócios e da religião implica riscos. Nem todos apreciarão nosso desejo de ir além das expectativas. No entanto, Cristo enfatizou: “Amem os seus inimigos” (Mt 5:44), um imperativo realmente difícil para a humanidade. Por exemplo, neste mundo altamente competitivo, muitas vezes as organizações comerciais assumem que um ritmo muito acelerado de mudanças em todos os aspectos dos negócios dificulta a adesão a uma declaração de missão planejada que expõe explicitamente sua intenção de fazer o bem ao mundo. No entanto, segundo Len Sherman, professor na Columbia Business School, “é precisamente devido ao ambiente de mudança rápida dos negócios, e não apesar dele, que as empresas necessitam de uma ideologia de ancoragem para orientá-las”. O conceito de uma ideologia de ancoragem se torna ainda mais forte quando reconhecemos que as Escrituras não oferecem apenas uma ideologia; elas oferecem verdades que ancoram e dão vida, informando exatamente a maneira pela qual devemos viver e conduzir nossos negócios. Assim, a declaração de missão da regra de ouro do Sermão do Monte o desejo de glorificar a Deus em todos os aspectos da vida se tornam nosso norte inabalável. Quando sentimos o amor transformador de Deus, que é capaz de criar beleza até nos buracos mais escuros de nossa vida, vivemos a regra de ouro, organicamente, em toda interação humana. Nosso objetivo não será fazer simplesmente o mínimo para os outros, mas desejaremos altruisticamente ir além de suas expectativas: “Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos Céus” (Mt 5:16). Quão diferente o mundo se moveria se a lógica empresarial e a religiosa fossem genuinamente ancoradas no princípio do R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Julho 2018
“RELIGIÃO E OCUPAÇÃO NÃO SÃO DUAS COISAS SEPARADAS; SÃO UMA” ELLEN G. WHITE, PARÁBOLAS DE JESUS, P. 187.
“façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam”! Mesmo que a bondade não seja recíproca, comece e nunca deixe de plantar flores nas lacunas da vida das pessoas. ] JARED THURMON é diretor de estratégia e inovação dos Ministérios da Adventist Review; DANIEL BRUNEAU é doutor e diretor de inovação na ARtv
Espírito empreendedor ma pesquisa realizada pela Universidade Bentley (EUA) revelou que 66% dos millennials, geração nascida entre 1980 e 1995, querem começar seu próprio negócio. Muitos pioneiros adventistas também se destacaram pelo perfil empreendedor. Uriah Smith, por exemplo, patenteou o modelo de uma perna artificial. Por sua vez, Joshua Himes foi o gênio do marketing por trás do movimento milerita. John Harvey Kellogg inventou vários tipos de equipamentos para e xercício, usados até hoje. E. A. Sutherland e sua equipe do Madison College criaram 30 produtos derivados da soja. A lista é longa. Inspirados neles, alguns amigos e eu começamos a sonhar com novas formas de fazer negócios de maneira que não fosse apenas um agente de transformação social,
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mas uma influência espiritual para o mundo. Foi assim que nasceu a Comunidade Hyvecamp. O objetivo do projeto é que empresários contribuam com seu conhecimento, prática, influência e recursos financeiros para remodelar a sociedade. Depois da conversão, um ex-roqueiro punk desenvolveu, por exemplo, um creme removedor de tatuagem. Em 2017, ele foi o vencedor de um dos concursos do Hyvecamp que buscam incentivar esse novo modelo de negócio, no qual, quanto maior for o número de pessoas evangelizadas por eles, mais lucrativa se tornará a empresa e mais pessoas serão beneficiadas espiritualmente. Um dos maiores obstáculos que enfrentamos foi superar o estereótipo de que negócio e religião sejam incompatíveis. Os cristãos medievais desenvolveram equivocadamente a ideia de que a busca pela riqueza é inerentemente mundana e que a espiritualidade verdadeira está associada à pobreza monástica. Mas o pensamento da Reforma Protestante foi que, embora o amor ao dinheiro seja a raiz de todos os males, a riqueza também é uma ferramenta poderosa que pode ser usada para o bem. Semelhantemente, Ellen White escreveu: “O desejo de acumular riquezas é um sentimento inato de nossa natureza, nela implantado pelo nosso Pai celestial, para fins nobres” (Conselhos Sobre Mordomia, p. 148). ] JESSE ZWIKER é um dos fundadores da Hyvecamp Internacional (hyvecamp.com). Ele e a família moram em Heidelberg, na Alemanha
Testemunho orgânico A 20
bbotsford, cidade da província canadense de Colúmbia Britânica, pertence a uma região premiada por sua produção de maçãs. Foi ali que, há alguns anos,
eu e Stan Smith, meu sogro e sócio, fundamos a padaria Silver Hills. Começamos produzindo uma linha especial de pães que usava purê de maçã como adoçante para diabéticos. Parte da matéria-prima utilizada nos produtos era importada do Chile. Com o tempo, a empresa passou a valorizar mais a produção local. O empreendimento nasceu com o propósito de valorizar a agricultura sustentável e resgatar a confiança das pessoas em alimentos bons e limpos. Com isso em mente, criamos a linha de alimentos orgânicos One Degree Organic Foods. Em cada rótulo, o consumidor é informado sobre a origem do produto, quem foram os fornecedores da matéria-prima. Ela foi lançada oficialmente na Expo West, uma das principais feiras de alimentos naturais e orgânicos do mundo, realizada anualmente em Anaheim, na Califórnia (EUA). Diante de um público de mais de 70 mil pessoas, estávamos entusiasmados para avaliar como seria a aceitação dos alimentos One Degree pelo público. Quinze minutos depois da abertura da exposição, a organizadora responsável pelo Nexty Award, famoso prêmio atribuído à melhor exposição, parou em nosso estande para degustar nossos produtos e conhecer nosso sistema de rastreabilidade da “fazenda para a mesa”. Usando o celular para ler o QR Code na embalagem de um produto, ela teve acesso a um vídeo e fotos que mostravam todos os agricultores que tinham produzido a matéria-prima do pão que estava degustando. Ao ter essa experiência, ela arregalou os olhos e disse: “Não sabia que vocês eram capazes de fazer isso!” Então, começou um fluxo constante de juízes visitando nosso estande, e rapidamente fomos nomeados entre os 51 semifinalistas do prêmio Nexty Award. Oito semanas depois, vencemos a prestigiada premiação que serviu de catalizador para a rápida aceitação dos nossos produtos pelos principais varejistas do setor. Para documentar cada um dos ingredientes em nossa rede de suprimentos é necessário planejamento cuidadoso, agenda robusta de viagens e vasta rede de agricultores. Em visita à maior fazenda orgânica do Canadá, eu e minha esposa, Sandra, conhecemos o casal Juergen e Faranak Borchers, que trabalhava na administração da propriedade. Rapidamente desenvolvemos amizade. Pouco tempo depois, ambos se candidataram para trabalhar em nossa empresa e foram contratados. Logo que conhecemos Juergen e Faranak, percebemos certa abertura para falar de assuntos espirituais e os convidamos para ir à igreja. R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Julho 2018
Não demorou para que também aceitassem estudar a Bíblia conosco. Em agosto de 2015, o casal foi batizado durante um encontro da Associação Adventista de Empresários e Profissionais Liberais da América do Norte, em Spokane, Washington. Embora seja compensador ver a reação dos clientes ao degustar nossos produtos pela primeira vez e conhecer nossos agricultores orgânicos, nada se compara à alegria de compartilhar, em nossa esfera comercial, a verdade sobre a verdadeira Fonte de vida. Os alimentos orgânicos One Degree têm sido uma plataforma para falar de Cristo ao mercado. ] DANNY HOUGHTON, sócio fundador e vice-presidente de vendas da One Degree Organic Foods, vive com a família em Lynden, Washington (EUA)
O destino da minha vida m 2012, meu esposo, Aaron Machewane, que gerencia a empresa de engenharia civil da família, foi abordado por um ancião da nossa igreja, em Johanesburgo, que procurava parceiros para abrir uma emissora de TV adventista. Conhecendo minha paixão pelo evangelho, ele também me perguntou se eu estaria interessada e eu respondi que sim. Algum tempo depois, o projeto se tornou realidade. As primeiras transmissões foram ao ar no dia 1º de março de 2013. Decidi deixar a medicina para me dedicar integralmente ao projeto. Sem nenhum conhecimento de mídia, eu sabia que, para realizar esse trabalho, dependeria unicamente da ajuda do Senhor. Como manter a TV no ar sem programas e somente com ajuda financeira externa? Esperávamos que as pessoas fizessem doações, mas logo concluímos que, embora estivessem entusiasmadas com o canal, elas não doariam muito. Após muita oração, o Senhor nos impressionou a usar os recursos de nossa empresa para manter o canal. Subitamente sentimos paz de espírito. Assumimos todos os riscos e deixamos com Deus as consequências. Aprendi que, quando o Senhor nos dá um desafio em Sua missão, não devemos desanimar ao ver que as pessoas não c ompreendem ou não apoiam nosso chamado. O autor do roteiro da nossa vida nos dá forças e supre todas as necessidades. Foi assim que me tornei a fundadora da Life Destiny TV (TV Destino da Vida), um canal via satélite dirigido por adventistas leigos na África do Sul. O sinal da emissora alcança todo o continente africano. Além disso, transmitimos ao vivo pela internet para alcançar o mundo com o evangelho. Se comparada aos países vizinhos, a África do Sul permanece relativamente não evangelizada, e nossa esperança é causar impacto por meio dessa plataforma. ]
E
Campo missionário singular or dois anos fui missionária em um dos grupos de pessoas menos evangelizadas do mundo. Seus nativos são extremamente céticos em relação a qualquer coisa relacionada a Deus e à fé. A maioria nem crê na Sua existência e fala um idioma distinto. Eles são um dos povos mais saudáveis, atléticos e inteligentes do planeta. Nesse grupo, quase todas as necessidades terrenas são satisfeitas. Consequentemente, essas pessoas não sentem falta de Deus. Para tornar o desafio ainda maior, os números não estavam a meu favor. Eu era a única cristã adventista em uma população de cerca de 2 mil habitantes. Essa proporção é maior do que a da Janela 10/40. Esse campo missionário era a Escola de Administração da Universidade Harvard (EUA).
P
CHARLOTTE MHLONGO é médica, empresária e fundadora da Life Destiny TV R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Julho 2018
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APOIE SEU MINISTRO
Pense em uma universidade secular de prestígio como sendo um campo missionário intocado. Lá não há instrutores bíblicos nem pastores. A maioria dos nativos adota o ateísmo. Raramente, ou nunca, Deus é o assunto das conversas. Minha experiência representa um campo missionário muito maior, formado por um grupo de pessoas às quais a Sociedade Nicodemos chama de “ricos, mundanos e cultos”, os RMCs, conforme a sigla que costumamos usar para identificá-los. A Sociedade Nicodemos é um ministério que procura compartilhar o evangelho com esse público. Cremos que os RMC precisam de Jesus, mas eles têm sido evangelisticamente negligenciados e exigem uma abordagem diferente. Oferecemos um curso de como viver nossa fé naturalmente e autenticamente em todos os aspectos da vida, e como ter uma conversação espiritual proativa e intencional que resulte em estudos bíblicos. O desafio é que esse é um grupo de difícil acesso. Para chegar até ele é necessário ser um intelectual e uma testemunha de credibilidade. Em resumo, quem pertence ao grupo dos RMC e se converte de todo o coração ao adventismo passa a ser o melhor recurso para levar a mensagem do amor de Deus a esse grupo seleto. Precisamos de mais adventistas que exerçam influência no meio acadêmico em áreas como saúde, administração, direito, ciências, engenharia e artes para evangelizar. Para isso, é necessário equipar os profissionais adventistas e incentivar os jovens a seguir carreira nessas áreas. Isso significa expandir a definição de campo missionário para além do lugar em que, para evangelizar, é necessário um passaporte. ]
Pastor, professor, médico, enfermeiro . . . Ao longo de mais de um século de adventismo, essas profissões de ajuda ao próximo foram muito importantes entre os adventistas do sétimo dia e receberam uma parcela desproporcional de atenção e estima. Para conseguir emprego na organização em qualquer uma dessas profissões, o preparo requeria muita viagem, pois o ministério do testemunho e a obra médico-missionária estavam se expandindo em ritmo acelerado em todo o mundo. Pais zelosos orientavam seus filhos a escolher profissões que os mantivessem intimamente ligados à missão da igreja. Os jovens reconheciam esses chamados como uma maneira de expressar seu compromisso pessoal no cumprimento da grande comissão. Nas primeiras décadas de nossa história, uma surpreendente e alta porcentagem de egressos da educação adventista escolhia essas profissões e frequentemente os periódicos adventistas mencionavam com admiração os homens e mulheres que, com sacrifício, serviam ao Senhor e Seu povo nessas áreas. No entanto, nos últimos 25 anos, aproximadamente, a igreja tem valorizado e assimilado uma grande variedade de carreiras profissionais disponíveis para os jovens adventistas. O “ministério” não é mais uma categoria reservada para os que são pagos pelo dízimo ou empregados pelas instituições da igreja. A redescoberta do modelo bíblico, cujo exemplo principal é o trabalho que foi desenvolvido por Paulo como construtor de tendas, hoje legitima o ministério e testemunho de milhões de adventistas que não procuram nem desejam ser contratados pela igreja. No mercado real de bens e serviços, em que cada vez mais as profissões se relacionam com a cultura, tecnologia, agricultura e indústrias emergentes, as pessoas estão descobrindo que podem transformar quase todos os tipos de ocupações em ferramentas evangelísticas. O ministério não é definido pela fonte de onde sai o salário, mas pela paixão e comprometimento de cada arquiteto, juiz, engenheiro e artista. Muitos membros da igreja estão cuidando dos negócios do Senhor como empreendedores, inovadores e fornecedores de produtos que a cultura necessita e deseja. As coisas que criam e os serviços que oferecem os colocam em contato com milhões de pessoas que esperam por serviços de qualidade, líderes éticos e adventistas fiéis que podem oferecer orientação moral para o mercado. Os adventistas de todos os lugares devem se unir a esses “ministros” com a seguinte oração: “Consolida a obra de nossas mãos” (Sl 90:17, NVI). ]
CYNTHIA HEIDI é consultora administrativa e uma das fundadoras do ministério Sociedade Nicodemos (nicodemussociety.org)
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BILL KNOTT é editor da revista Adventist World R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Julho 2018
MKT CPB | William Moraes/Fotolia
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DEVOCIONAL
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SIERRA BRUNEAU
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enho paixão por voar, pois é uma mistura de movimento, aventura e descoberta, coisas que evocam alegria e senso de liberdade. Wilbur Wright, um dos pioneiros da aviação, descreveu essa experiência com as seguintes palavras: “A sensação, acima de qualquer coisa, é da mais perfeita paz associada a uma agitação que tensiona seus nervos ao extremo” (The Wright Brothers, p. 126). Lembro-me de, em 2016, estar com meu esposo em uma situação exatamente assim. Ao embarcarmos em um voo de Tóquio (Japão) para Bangkok (Tailândia), fomos informados de que havia dado uma pane no sistema central de computação da companhia. Sete horas mais tarde, ao receber permissão para decolar, o capitão anunciou que havia um tufão em nossa rota. Teríamos que desviar cerca de 650 quilômetros ao sul. Fomos assegurados de que teríamos um voo seguro, mas que balançaria um pouco. Eu me considero uma passageira tranquila, mas esse voo testou meu limite. Rapidamente descobri que a definição de “balançar um pouco” do capitão era completamente diferente da minha. A sensação se assemelhava mais a uma queda constante do que a um voo. Devido à turbulência, o avião sacudiu durante seis horas e a vibração dos objetos se movendo do lugar ressoava em toda a cabine. Eu queria dormir. No entanto, minha mente girava com pensamentos sobre o que aconteceria dentro de um tufão a 10,6 mil metros de altitude. Fechei os olhos e comecei a orar por proteção e descanso. Durante minha oração, veio uma cena à minha mente. Vi uma terrível tempestade, bem semelhante à que acontecia lá fora. O vento era tão forte que deixava o mar em fúria. Ouvi o barulho do barco rachando ao despencar de uma onda monstruosa. Havia temor nos olhos dos homens a bordo. Logo vi outra cena: um homem dormindo tranquilamente no convés, enquanto a tempestade sacudia tudo acima. Era exatamente o que eu desejava.
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Foto: Ethan Sykes
PAZ NA TRIBULAÇÃO
NOSSO TESTEMUNHO PODE ANIMAR OUTROS, NÃO APENAS DEPOIS QUE A PROVAÇÃO PASSAR, MAS ENQUANTO ESTIVERMOS TENTANDO SOBREVIVER A ELA
Ouvi as palavras ditas por Cristo aos Seus discípulos como se falassem diretamente para mim: “Por que vocês estão com tanto medo? Ainda não têm fé”? (Mc 4:40, NVI). A palavra “ainda” sugere situações prévias nas quais a fé deveria ter sido desenvolvida. No entanto, frente à provação, os discípulos esqueceram-se do Todo-poderoso. Cristo espera que nos lembremos de como Ele nos dirigiu, cuidou e abençoou ao longo da nossa caminhada. Durante a turbulência, eu confiei nos engenheiros, pilotos e máquinas e não Naquele que está “sustentando todas as coisas por Sua palavra poderosa” (Hb 1:3, NVI). Mas quando me lembrei do que Cristo disse aos Seus discípulos, e a mim, senti ser um lembrete sobre quem Ele era. Senhor de tudo! Só então consegui dormir tranquilamente. EM MEIO À TRIBULAÇÃO Todos enfrentamos situações que parecem intransponíveis. Às vezes, sufocados pelo desânimo e temor, buscamos desesperadamente uma solução. Muitas vezes, toda a nossa confiança é colocada no dinheiro, remédios e até em nosso plano de recuperação. Confiamos na nossa própria força e lutamos até que todos os recursos sejam exauridos ou até sermos vencidos pelo cansaço. É em momentos de grande fraqueza como esses que Satanás procura semear a desconfiança e a descrença em nosso coração. Duvidamos de que Deus veja nosso sofrimento, ou que ouça nossas orações. Como os discípulos no barco sobre o lago de Genezaré, perdemos de vista o Pai que cuida de cada uma das nossas necessidades.
O CONHECIMENTO DE COMO O PAI NOS DIRIGIU NO PASSADO FORTALECE NOSSA FÉ NO PRESENTE
RECONHECIMENTO CELESTIAL As escrituras estão cheias de heróis da fé, pessoas que perseveraram e venceram provas e tribulações. Abraão, Jacó, Elias, Jó e outros são uma grande inspiração. Semelhantemente, ouvimos testemunhos maravilhosos de amigos e familiares que venceram grandes provações e, assim como os israelitas, puderam ver claramente a direção de Deus. Mas e aqueles que ainda estão passando pela tribulação? Como eles estão permitindo que sua fé seja moldada agora, neste momento? Qual pode ser o testemunho dessas pessoas? As Escrituras também relatam períodos de dúvida e fraqueza na vida de cada herói da fé. Abraão mentiu ao confiar em si mesmo. Jacó teve medo. Elias fugiu. Jó questionou. No entanto, Cristo, o Autor e Consumador da nossa fé, levou-os a depender Dele. Sua promessa é que, em toda provação, Ele “não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar” (1Co 10:13, NVI). Podemos experimentar essa mesma dependência da fé. Ellen White escreveu: “Essas coisas não foram escritas simplesmente para que pudéssemos lê-las e admirá-las, mas para que a mesma fé que na antiguidade operava nos servos de Deus possa operar em nós. De maneira não menos evidente
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do que Ele operava naquele tempo, fará hoje, onde quer que haja corações de fé que sejam os condutores de Seu poder” (Educação, p. 256). Podemos sentir paz pelo próprio fato de Ele permitir que passemos por tribulação e em saber que Ele nos oferece não apenas a força para vencer, mas que tem fé de que vamos resistir. Nossas provações se tornam um reconhecimento celestial à nossa fé. Desde aquele voo, em 2016, meu esposo e eu já enfrentamos provações muito piores. Nem sempre me sinto em paz. Mas, depois de ser traída pela autoconfiança, aprendi a recorrer à fé e lembro-me de Jesus e do Seu cuidado constante. Muitas vezes eu recordo a ocasião em que dormi durante a tempestade. Então sou lembrada de que posso testemunhar sobre a paz perfeita enquanto meus nervos estão tensos ao extremo. Nosso testemunho pode animar outros não apenas depois que a provação passar, mas enquanto estivermos tentando sobreviver a ela. Podemos incentivar outras pessoas com o que a prova está nos ensinando ao mostrar como nossa fé está crescendo e como o Pai está trabalhando em nós. “Como testemunhas de Cristo, cumpre-nos dizer o que sabemos, o que nós mesmos temos visto e ouvido e sentido. Se estivemos a seguir a Jesus passo a passo, havemos de ter qualquer coisa bem positiva acerca da maneira por que nos tem conduzido. Podemos dizer que como Lhe temos provado as promessas e as achado fiéis. Podemos dar testemunho do que temos conhecido da graça de Cristo. É esse testemunho que o nosso Senhor pede de nós, e por falta do qual está o mundo a perecer” (O Desejado de Todas as Nações, p. 340). ] SIERRA BRUNEAU é gerente financeira de uma empresa e tesoureira de igreja. Ela mora perto de Atlanta, na Georgia (EUA)
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HISTÓRIA
HISTORIADOR, ESCRITOR PROLÍFICO E AMIGO DOS ALUNOS, MAHLON ELLSWORTH OLSEN TAMBÉM DEIXOU UM VASTO LEGADO COMO PRECURSOR DA EDUCAÇÃO SUPERIOR ADVENTISTA JOHN WESLEY TAYLOR V
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ahlon Ellsworth Olsen havia perdido o emprego. A comissão administrativa do Union College, em Lincon, Nebraska (EUA), o despediu no início de 1923, após “29 anos de trabalho sincero, eficiente e comprometido”, como descreveu J. L. Show, tesoureiro da Associação Geral na época. O que ele faria então? E por que foi demitido? Mahlon Olsen, filho de Ole Andres Olsen, presidente da Associação Geral entre 1888 e 1897, distinguiu-se academicamente, tornando-se o segundo adventista a receber um título de doutorado. Sua tese intitulada “A Evolução da Prosa Bíblica”, defendida na Universidade de Michigan (EUA), em 1909, mais tarde foi condensada e publicada pela denominação em formato de livro. 26
Mas as realizações de Olsen não se limitaram à área acadêmica e à preparação para seus muitos anos de serviço exemplar realizados durante toda a vida. Quando criança, Olsen se sentia muito confortável quando a pioneira Ellen G. White visitava sua casa, em Green Bay, Wisconsin (EUA), e em Christiana (Oslo), Noruega, depois de seu pai aceitar o chamado para liderar a organização adventista na Escandinávia. Parecia que Ellen e o esposo, Tiago, compreendiam tão bem suas necessidades que mesmo seus tios e tias preferidos “não ganharam tão completamente nosso coração e afeições como Tiago e Ellen White”, escreveu Olsen (Much-Loved Books, 1952, p. 56, 57). Quando seu pai se tornou presidente da Associação Geral e se mudou com a família de volta para os Estados Unidos, Mahlon encontrou um novo e maravilhoso mentor em Goodloe Harper Bell, um professor de inglês. Pelo resto da vida, Bell compartilhou com Olsen suas alegrias e ideias sobre literatura inglesa e
americana e, em particular, sobre a obra de W ordsworth, poeta preferido de Bell. Entre a formatura no Battle Creek College, em 1894, e a virada do século, Olsen trabalhou como secretário para seu pai, ainda na presidência da Associação Geral, aprofundou seus estudos em inglês na Universidade de Michigan e escreveu seu primeiro artigo para a Adventist Review, o primeiro dos quase 300 que levaram seu nome nos periódicos adventistas. Durante a primeira década no novo século, Olsen ajudou A. B. Olsen, seu irmão médico, em um projeto de saúde na Inglaterra. A revista Good Health (Boa Saúde), lançada por eles em novembro de 1901, chegou a 75 mil assinaturas, em 1906. Ela se tornou a revista de saúde de maior circulação na GrãBretanha, disponível nas principais bibliotecas públicas do país. No mesmo ano, foram publicados dois livros pelos irmãos Olsen: Good Health (Boa Saúde), sobre psicologia e assuntos afins, e One Hundred Hygienic Food
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Foto: Adventist Digital Library
Na galeria dos pioneiros
Recipes (Cem Receitas de Alimentos Higiênicos), um livro de receitas. Olsen também publicou seu próprio livro, intitulado Outof-Doors (Ao Ar Livre). Sua defesa dos benefícios das caminhadas e corridas continuam em voga mais de um século depois. Olsen dedicou seu livro a Theodore Roosevelt, presidente dos Estados Unidos (1901-1909), apreciador da vida ao ar livre e a quem admirava. Seu livro alcançou grande popularidade e, quatro anos mais tarde, foi republicado nos Estados Unidos. A carreira acadêmica de Olsen começou realmente no Washington Foreign Mission Seminary, escola que nasceu nas proximidades de Washington, DC, com o objetivo de formar missionários. Simultaneamente, ele aceitou o desafio de escrever o que apareceria, 16 anos mais tarde, como A History of the Origin and Progress of Seventhday Adventists (História da Origem e Progresso dos Adventistas do Sétimo Dia). Lydia Christensen, filha de um pastor dinamarquês, cursava uma das matérias ensinadas por Olsen, porque queria aprender inglês. Ela também foi sua aluna particular. Eles aprenderam muito mais do que inglês, o suficiente para concluir que passariam o resto da vida crescendo juntos. C asaram-se em 1910. No período de cinco anos, a família aumentou com o nascimento de Alice, Olan e Yvonne. Em 1917, Olsen se mudou para Massachusetts, a fim de dirigir a escola South Lancaster Academy, seguindo o rastro de Bell, seu mentor. No ano seguinte, a escola passou a se chamar Lancaster Junior College (atual Atlantic Union College). Olsen enfatizou o ensino prático, como hidroterapia, carpintaria e costura, além de promover atividades missionárias. Ele serviu lá até 1920, quando se mudou para o Union College para liderar o departamento de inglês. A demissão abrupta, em 1923, o deixou sem entender os motivos.
Acredita-se que a principal razão de sua demissão tenha sido por questões políticas, e não ideológicas. Rochelle Philmon, colega de departamento e também professora de inglês, aparentemente queria administrar o setor sozinha. Talvez um motivo mais plausível tenha que ver com certos questionamentos sobre a leitura requerida por Olsen em suas aulas de inglês. NOVO DESAFIO Goodloe Harper Bell e os educadores do Walla Walla College e da Keene Academy haviam feito pequenas tentativas para desenvolver escolas por correspondência. Ainda estava funcionando a Escola por Correspondência Frederick Griggs’s Fireside, fundada em Washington, DC, em 1909, cujo diretor era W. E. Howell. Em 1923, líderes da igreja convidaram Olsen para dirigir Fireside. Existem algumas possíveis explicações para esse convite: (1) talvez, na memória deles, Olsen fosse um promotor da escola por correspondência; (2) Olsen tinha sólidas credenciais acadêmicas; (3) J. L. Shaw, tesoureiro da Associação Geral, estava muito convencido do valor de Olsen; (4) talvez ele estivesse disponível; ou (5) porque Deus o estava preparando para o cargo que então precisava ser preenchido. Olsen chegou a Washington e começou a trabalhar com muito entusiasmo. No fim de 1927, Fireside havia se tornado a escola adventista com o maior número de matrículas. Em 1930, ano em que o nome de Fireside foi substituído por Home Study Institute (HSI), 2.711 alunos se matricularam, representando mais de 50 países. Logo foram abertas filiais na Ásia, Índia, Austrália, América do Sul e Europa. Para Olsen, o único lugar seguro para os jovens era nas escolas adventistas, e o HSI devia ajudar os que estavam “impedidos temporariamente de frequentar uma faculdade em regime de internato” (Review and Herald, 11 de maio de 1933, p. 19). Outras faculdades adventistas nem sempre eram flexíveis. Em 1942, o Emmanuel Missionary College (EMC) solicitou uma bolsa para George Vandeman a fim de que ele pudesse se concentrar nos estudos naquela escola. Os 23 anos sob a liderança de Olsen transformaram o HSI em uma instituição que educava o aluno do ensino fundamental à faculdade, e servia todo o campo mundial. ANOS DEPOIS (1946-1952) A aposentadoria, aos 73 anos de idade, favoreceu Olsen com mais tempo para escrever. Seu último projeto importante, que terminou
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POR ACREDITAR QUE AS ESCOLAS FOSSEM O ÚNICO LUGAR SEGURO PARA OS JOVENS, ELE BUSCOU AMPLIAR O ACESSO À EDUCAÇÃO ADVENTISTA
apenas algumas semanas antes da sua morte, culminou na publicação da obra Much-Loved Books (Livros Mais Amados), um exame das obras literárias de Lutero, Wordsworth, Thoreau, Whittier, entre outros, incluindo um capítulo sobre Tiago e Ellen White. O livro defendia o estudo da Bíblia, não como literatura excelente apenas, mas como a Palavra de Deus que transforma vidas. A aposentadoria também permitiu que Olsen lecionasse literatura para cursos de pós-graduação no Washington Missionary College (atual Universidade Adventista de Washington). Frequentemente, os alunos visitavam seu professor, ouvinte compreensivo com quem eles gostavam de conversar. Em 1952, Olsen passou silenciosamente para a história. Mas sua influência vive por meio de sua obra como promotor de saúde, pioneiro da educação superior adventista, historiador da igreja, escritor prolífico e amigo dos alunos. ] JOHN WESLEY TAYLOR V é diretor associado do departamento de Educação na sede mundial da igreja, em Silver Spring, Maryland (EUA)
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VIDA ADVENTISTA
Resposta inesperada DEUS NEM SEMPRE RESPONDE COMO ESPERAMOS, MAS SUA ATUAÇÃO COSTUMA SURPREENDER MARITZA BRUNT
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Emiko (ao centro) com seu “pai” adotivo, Roy, e seu antigo pastor, Danny Milenkov (à esq.)
As coisas logo pioraram. Na presença de Emiko e dos pais, Glenda, a irmã de Graham, o convidou a aceitar Jesus como seu Salvador. Graham respondeu positivamente e logo depois fechou os olhos pela última vez. Embora muito triste, a família de Graham foi confortada por saber que ele havia aceitado Jesus. Por outro lado, Emiko não tinha certeza. Confusa, ela retornou ao Japão, mas o Espírito Santo havia tocado em seu coração ao ver o noivo encontrar paz em meio ao sofrimento. Sabendo o quanto Emiko estava sofrendo, Roy começou a enviar e-mails para ela. Emiko estava impressionada com a bondade de Roy e decidiu ficar perto dos seus “pais” adotivos. Enquanto Emiko estava na Austrália, Roy e a esposa, Kathleen, continuaram orando por ela e
respondendo suas perguntas espirituais. Emiko começou a frequentar a igreja com eles e também aceitou assistir a uma série evangelística. Emiko entregou o coração a Jesus e pediu o batismo. Hoje, ela está de volta ao Japão e frequenta uma igreja adventista perto de sua casa. Ela diz que agora guarda no coração a esperança de que poderá passar a eternidade no Céu com Jesus, e com Graham também. “Os caminhos de Deus não são os nossos caminhos. Ele tem milhares de maneiras de fazer coisas das quais não temos conhecimento. Mas Seu caminho, não importa quão estranho possa parecer, é sempre o melhor”, Roy afirma. ] MARITZA BRUNT é editora assistente da revista Adventist Record, em New South Wales, na Austrália
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Foto: Adventist Record
G
raham, filho de Roy Olsen, não frequentava a igreja por mais de dez anos, e parecia não haver esperança que um dia ele pudesse voltar. Depois de orar por muitos anos, Roy suplicou a Deus: “Por favor, Senhor, faze o que for preciso para trazer meu filho de volta para um relacionamento de amor contigo.” Pouco depois de Roy ter orado, Graham foi diagnosticado com câncer de intestino. A família ficou chocada. Eles não haviam orado por isso. Graham foi submetido à cirurgia para remover um pedaço do intestino. A operação foi bem-sucedida, mas, algum tempo depois, foi descoberta uma metástase alojada no fígado. Dessa vez, a quimioterapia não funcionou. Graham decidiu fazer uma viagem ao Japão, onde conheceu a jovem Emiko. Depois de retornar para a Austrália, Graham e Emiko continuaram se comunicando. Vários meses depois, Graham foi ao Japão novamente e pediu Emiko em casamento. Ela aceitou. No entanto, a essa altura, o câncer de Graham já estava em estado avançado, e ele foi hospitalizado no Japão. Os médicos conseguiram estabilizar seu estado, a fim de que ele pudesse voltar para a Austrália e realizar a última etapa do tratamento. Emiko foi com ele, permanecendo ao lado de sua cama de dia e de noite.
NOVA GERAÇÃO
GAME OVER
AS REFLEXÕES DE UM MÉDICO EVANGELISTA AFRICANO QUE SOBREVIVEU A UM GRAVE ACIDENTE DE CARRO
O
h, nããããããão!” Esse foi o grito agudo que escapou dos meus lábios, como que quebrando o ar noturno em mil fragmentos. Meu mundo estava mergulhado na escuridão e eu, de olhos fechados, esperava o pior, resignado à minha sorte. De repente, a buzina do meu carro soou incessantemente, arrancando-me do meu estupor temporário. Estava vivo! Naquela noite, eu dirigia para casa após participar de uma reunião evangelística na Igreja Nova Vida, em Nairóbi, capital do Quênia. Quase que automaticamente, tomei a rota costumeira para casa enquanto refletia silenciosamente sobre os eventos do dia. Porém, ao entrar em um cruzamento, dei de frente com os faróis de um carro vindo na contramão, a toda velocidade e imprudentemente. Não havia tempo para reagir, desviar ou sussurrar uma oração curta e desesperada. Sabia que era meu fim. Não seria possível sobreviver a uma colisão frontal. Os airbags do meu carro inflaram, o para-brisa ficou destruído, o motor foi arrancado e os faróis ficaram
Foto: Arquivo pessoal
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SEMPRE PENSEI QUE NO MOMENTO DA MINHA MORTE TERIA PELO MENOS DOIS SEGUNDOS PARA MURMURAR UMA RÁPIDA ORAÇÃO CONFESSANDO MEUS PECADOS R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Julho 2018
FREDERICK KIMANI
quebrados. Um estrago digno de perda total. Contudo, por um milagre, sobrevivi àquele acidente sem um arranhão. O outro motorista, que estava completamente bêbado, fugiu, mas foi mais tarde capturado pela polícia. Sempre pensei que no momento da minha morte teria pelo menos dois segundos para murmurar uma rápida oração confessando meus pecados, implorando ao Senhor para Se lembrar de mim no Seu reino, como o ladrão na cruz (Lc 23:42). Reconheci a dura realidade: muitos de nós nunca terão esse luxo. Por quê? A Bíblia nos lembra de que nossa vida se dissipa rapidamente como a neblina (Tg 4:14) e que nossa existência voa (Sl 90:10). Devido à brevidade e imprevisibilidade da vida, somos exortados a viver cada dia como se fosse o último. O que para alguns pode soar clichê, na verdade, levanta uma pergunta fundamental: Vale a pena arriscar sua vida? Trocar prazeres transitórios pela recompensa eterna, que é sem comparação (2Co 4:17)? Na minha infância, o jogo Super Mário me proporcionou muitas horas de diversão. O personagem do videogame possuía muitas “vidas”, possibilitando assim que eu corrigisse meus erros e tentasse mais de uma vez resgatar a princesa e receber o prêmio. Porém, meu coração batia descontroladamente quando me restava apenas uma “vida”, porque sabia que aquela seria minha última chance de vencer, antes das temidas palavras aparecerem na tela: game over (fim de jogo). Ter sobrevivido àquele acidente me lembrou de que estamos vivendo nossa última vida. Nosso tempo está rapidamente se esgotando. Cada segundo de vida é um presente do Senhor, pois Ele não quer que ninguém pereça sem ter experimentado o arrependimento (2Pe 3:9). O game over da nossa existência acontecerá por ocasião da nossa morte ou do retorno de Cristo; porém, os que confiam no Senhor poderão contar com muitas “vidas” na eternidade. Que todos estejam determinados a jogar o jogo da vida de tal modo que alcancem o prêmio (1Co 9:24)! ] FREDERICK KIMANI, natural de Nairóbi, no Quênia, é médico
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MINHA HISTÓRIA
Acampamento internacional reuniu 16 mil desbravadores numa antiga área militar no Colorado (EUA)
O bebê de Frank
COMO A DEDICAÇÃO DE UM IDOSO OBSTETRA ADVENTISTA ABRIU AS PORTAS PARA A REALIZAÇÃO DO PRIMEIRO CAMPORI INTERNACIONAL DE DESBRAVADORES
E
ra uma vez, em 1984, em uma terra muito distante, os Estados Unidos. Um grupo de líderes da Igreja Adventista decidiu criar o primeiro campori internacional de desbravadores. Eles tomaram a decisão sem saber que Deus já estava à frente dos preparativos. O local escolhido foi um vale no Estado do Colorado, o antigo acampamento Tenth Army Division, que havia sido derrubado pelo exército norteamericano. O “acampamento Hale” não existia mais, mas havia espaço suficiente para 6 mil desbravadores montarem suas barracas, realizar atividades de ordem unida e celebrar em cultos que reunissem adolescentes de diversas culturas. Os líderes da igreja pediram que eu coordenasse a logística do evento. A orientação era montar uma infraestutura gigante, fazer com que tudo funcionasse durante oito dias e, depois, limpar a área, deixando-a como se nada tivesse sido realizado ali. Em poucas semanas formei uma equipe de líderes de desbravadores que sabia mais do que eu a respeito de infraestrutura de acampamento. Logo a estimativa do número de acampantes subiu de 6 para 14 mil. Estava tudo sendo encaminhado, até que o líder dos desbravadores da América do Norte me ligou. 30
O DOCUMENTO QUE FALTAVA “Dick,” começou ele. “Acabei de receber uma carta extensa do Departamento de Serviços Sociais do Colorado. Essa gente está dizendo que devemos ter registro para cuidados infantis antes de realizarmos o campori. Estou enviando o pacote para você. Resolva isso.” Aquele momento parecia perfeito para orar. Reuni minha família e a equipe de planejamento, a fim de pedirmos a Deus um milagre. Recebemos pelo correio o pacote com as orientações do Departamento de Serviços Sociais do Colorado. Um manual de 250 páginas, com uma inscrição que precisava ser corretamente preenchida. O documento era assinado por um tal de senhor Frank. Não havia a menor possibilidade de atendermos R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Julho 2018
Foto: Dick Duerksen
DICK DUERKSEN
aquela longa lista de exigências. Eles inclusive exigiam a média de um banheiro para cada sete crianças, o que nos custaria arranjar 2 mil unidades portáteis! Precisávamos de um milagre. Liguei para o Colorado, marquei uma entrevista com o senhor Frank, tomei um avião e aluguei um carro para chegar ao escritório dele, no centro da cidade de Denver. Durante todo o caminho, eu orava: “Senhor Deus, não há a menor possibilidade de realizarmos esse campori sem Sua intervenção. Por favor, tome minhas palavras e meu espírito. Que fique claro que sou Seu representante nessa reunião. Por favor, mostre Seu poder hoje.” MILAGRE INESPERADO O elevador do prédio estalou e gemeu enquanto me levava para o quarto andar. O edifício era escuro e frio, e eu estava deprimido e com medo. Bati na porta e orei. A porta zuniu e eu caminhei até a mesa da recepcionista. “Estou aqui para falar com o senhor Frank. Meu nome é Dick Duerksen. Sou o responsável pelo campori de desbravadores no acampamento Hale.” A recepcionista me olhou fria e longamente, fazendo com que me sentisse inconveniente. “Frank,” ela gritou. “Ele está aqui.” Meu coração gelou quando um homem mal-humorado, gigante, parecido com um urso e com uma barba preta enorme, acenou para que fosse até sua escrivaninha. Aquilo não iria dar certo. “Senhor?”, orei. “Regras são regras”, reafirmou Frank, depois de eu ter lhe explicado tudo sobre os camporis de desbravadores e mostrado nosso planejamento para aquele evento. “Não podemos flexibilizar as regras. Não importa quantas crianças você tenha ou o que elas venham fazer aqui.” Meu coração estava partido. “Deus, onde está o Senhor?” Frank levantou-se para se despedir. “Como é mesmo seu sobrenome? Duerksen?” Respondi que sim. “Dick D uerksen.” Foi quando me perguntou se tinha algum parente em Denver. Eu tinha um tio médico que havia ajudado no parto de milhares de bebês, na Guiana Inglesa e nos estados da Califórnia e Colorado. Muitas dessas pessoas amavam o tio Eddie. Outras, nem tanto. “Sim”, sussurrei. “Tenho um tio aqui, o tio Eddie.” Ele então me perguntou: “O doutor Edward Duerksen é seu tio?” Com suas botas de cowboy, jeans surrados, camisa do oeste e barba preta gigante, Frank estava a poucos centímetros do meu rosto. “Sim, senhor!”, eu sorri enquanto a mão gigante do senhor Frank apertava a minha. “Sente-se”, disse ele. “Há cerca de um ano, minha esposa e eu estávamos tendo um bebê, esperávamos um menino, e o doutor Edward Duerksen era nosso médico. O bebê chegou adiantado, num parto muito complicado para minha esposa e nosso filho. Não sabíamos se eles viveriam.” Naquele momento, o homem gigante como um urso, que me assustou tanto, estava sentado diante de mim, apertando minhas mãos enquanto grandes lágrimas escorriam de seus olhos. “O doutor Edward Duerksen improvisou uma cama para ele, no quarto de hospital em que estava minha esposa. Ele dormiu lá por três noites, até estar convicto de que minha R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Julho 2018
“EU TINHA UM TIO MÉDICO QUE HAVIA AJUDADO NO PARTO DE MILHARES DE BEBÊS [...] MUITAS DESSAS PESSOAS AMAVAM O TIO EDDIE. OUTRAS, NEM TANTO” esposa e o bebê ficariam bem. Ele é adventista do sétimo dia como você, não é?” Confimei, acrescentado que meu tio também era desbravador. O senhor Frank riu e me disse para acompanhá-lo. Ao caminharmos pelo escritório, em todas as mesas e biombos, ele me apresentava como “sobrinho do doutor Duerksen”, até chegarmos à sala da chefe daquela repartição pública. “Dona Elizabeth, este é Dick Duerksen, do campori de desbravadores no acampamento Hale. Ele é sobrinho do meu médico, doutor Duerksen. Eles têm um plano maravilhoso para esse campori aqui e acho que devemos aprovar o plano exatamente como está.” Naquela noite, liguei para meu tio Eddie e contei-lhe essa história. Ele chorou. Então disse: “Dick, só no ano passado, provavelmente eu tenha dormido em colchonetes em uns 30 quartos de hospitais diferentes. Já pensou? Talvez Deus ainda possa usar um velho homem como eu!” Eu e ele choramos juntos. Hoje, na autorização do Departamento de Serviços Sociais do Colorado pendurada na parede do meu escritório, ao lado da minha escrivaninha, está escrito: “Concedida a autorização para que o acampamento Hale, no Colorado, funcione como acampamento residência para 18 mil crianças, entre 9 e 16 anos, no período de 19 de julho de 1985 a 19 de julho de 1987.” ] DICK DUERKSEN é pastor e mora em Portland, Oregon (EUA)
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VISÃO GLOBAL
Trabalho conjunto
TED WILSON
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tarefa parece quase impossível e, na verdade, é, se depender apenas de nós. Como levar as boas-novas sobre Cristo e Seu breve retorno aos 120 milhões de habitantes do Japão, onde cerca de 1% da população é cristã, entre os quais somente 15 mil são adventistas? No entanto, os líderes da igreja no Japão decidiram avançar em oração e, com ousadia, planejaram realizar em maio mais de 160 séries evangelísticas em todo o país. Várias dessas séries ocorreram em Tóquio, a região metropolitana mais populosa do mundo, com 37 milhões de habitantes. As três mensagens angélicas foram proclamadas todas as noites em auditórios que variavam, em tamanho, de igrejas a pequenos grupos. Detalhe interessante: a maior parte das séries foi dirigida por oradores japoneses. Um evento dessa natureza no país foi inédito e exigiu muito planejamento. A estratégia foi treinar primeiramente os evangelistas, realizando 29 programas-piloto. O sucesso da 32
Pastor Guenji Imayhuki, missionário brasileiro, realiza batismo no centro de influência Tokai, em Kakegawa. Espaço em que se reúnem 60 adventistas foi reformado com dinheiro das ofertas missionárias globais de 2015
iniciativa mostrou que o evangelismo público ainda pode ser um método eficaz, mesmo na cultura japonesa contemporânea. A ideia também foi atrelar as pregações bíblicas aos seminários sobre saúde. O problema é que nenhuma das emissoras de rádio contatadas pelos organizadores aceitou transmitir os programas produzidos pela Rádio Mundial Adventista para a campanha. No Japão, as rádios evitam vincular sua grade a qualquer conteúdo religioso, ainda que seja uma mera menção à igreja ou hospital de uma denominação. R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Julho 2018
Fotos: Andrew McChesney
CONHEÇA DUAS EXPERIÊNCIAS DE EVANGELISMO URBANO QUE UNIRAM A PROMOÇÃO DE UM ESTILO SAUDÁVEL COM A PREGAÇÃO PROFÉTICA
No entanto, Deus abriu outra porta. Desde 2000, a igreja transmitia um programa modesto pela rádio Nikkei, de ondas curtas. Foi essa emissora que aceitou veicular as propagandas e os programas da campanha de saúde, criando, inclusive, gratuitamente, um site especial para o evento. Além disso, a rádio Nikkei transmitiu os programas da série por um valor bem abaixo do mercado. Em novembro de 2017, foi realizada a primeira veiculação do programa “Saúde para Todos os Dias”. Dois meses depois, sete estações comunitárias FM também estavam transmitindo os programas em Tóquio. Desde então, o público ouvinte do site da Nikkei saltou para 30 mil pessoas. A mensagem de saúde, mais uma vez, abriu as portas para a campanha de evangelismo, derrubando preconceitos. DO OUTRO LADO DO MUNDO Enquanto esses eventos estavam ocorrendo no Japão, do outro lado do mundo, um grande entusiasmo tomou conta da comunidade adventista de Connecticut. A região conhecida como Nova Inglaterra, no nordeste dos Estados Unidos, é um desafio evangelístico. No entanto, combinando paixão e planejamento, os adventistas das Associações do Sul e Norte da Nova Inglaterra se uniram para pregar a mensagem adventista. Por meio do projeto CHAT – Community Health Advocate Training (Treinamento para Defensores da Saúde da Comunidade) – os membros foram capacitados para trabalhar continuamente no que Ellen White nomeou como o método de Cristo, abordagem que contempla aproximação das pessoas, identificação e atendimento de suas necessidades. O lançamento da iniciativa atraiu pastores e membros para a Igreja de Connecticut Valley, em South Windsor. Em seu discurso, Saud Anwar, prefeito da cidade, pediu a ajuda dos adventistas. Ele, que é médico, disse que entrou na vida política para melhorar a saúde da comunidade. Ao se dirigir ao grupo, mencionou a diferença que a igreja fez em Loma Linda, na Califórnia, onde a expectativa de vida da população foi elevada. “Aqui em South Windsor, estamos também trabalhando em favor do envelhecimento saudável”, disse Saud Anwar, ao enfatizar que desejava repetir na cidade os resultados de Loma Linda. Como preparo para esse trabalho, os adventistas realizaram, em maio, um treinamento de fim de semana, denominado O Grande Conflito da Saúde. A ideia foi lembrar os volutários da relação entre o estilo de vida adventista e a R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Julho 2018
proclamação das três mensagens angélicas (Ap 14:6-12). Mais de cem membros, de 22 congregações da região, estão envolvidos nessa iniciativa de missão urbana com base no cuidado com a saúde. Os voluntários têm procurado experimentar uma metodologia de trabalho que leve em conta a orientação bíblica, os escritos de Ellen G. White e estudos sociológicos para a compreensão dessa região metropolitana. Um projeto que pode acabar servindo de referência para a igreja na América do Norte e ao redor do mundo.
SEJA NO JAPÃO
FATOR DE UNIDADE Seja no Japão ou nos Estados Unidos, um importante fator de unidade é quando membros, igrejas e sedes administrativas têm uma visão clara do seu chamado. De que possuem a tarefa especial de proclamar ao mundo as três mensagens angélicas, associando essa mensagem a um estilo de vida saudável. Jesus fez uso dessa combinação e nosso sucesso será garantido se seguirmos a mesma proposta, em submissão ao Espírito Santo. Há sempre um lugar para quem deseja testemunhar de Cristo, independentemente de sua idade, gênero ou cultura. Nessa direção, Ellen White, mensageira do Senhor, escreveu que a pregação do evangelho não será concluída enquanto homens e mulheres comuns não se unirem aos pastores em seu trabalho. Na visão da pioneira, cabe aos líderes da denominação organizarem os membros como um grande exército e treiná-los para que trabalhem em favor de seus amigos e vizinhos. Ela advertiu que a salvação de pecadores requer esforço intenso e pessoal, e que nenhum tempo deve ser perdido com mera satisfação própria por aqueles que vivem no limiar do reino. “Quem buscará a Deus sinceramente, Dele obtendo força e graça para conduzir-se como Seu fiel obreiro no campo missionário? (Testemunhos Para a Igreja, v. 9, p. 116, 117). ]
OU NOS ESTADOS UNIDOS, UM IMPORTANTE
FATOR DE UNIDADE É QUANDO MEMBROS,
PASTORES E SEDES ADMINISTRATIVAS TÊM UMA VISÃO CLARA DO SEU CHAMADO
TED WILSON é presidente mundial da Igreja Adventista. Você pode acompanhar o líder por meio das redes sociais: Twitter (@pastortedwilson) e Facebook (fb.com.br/ pastortedwilson)
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PRIMEIROS PASSOS
IDEIAS PARA SERVIR ▪ Limpe o lixo da sua comunidade. ▪ Em lugar de presentes de aniversário, peça doações para os pobres. ▪ Visite os idosos no asilo. ▪ Seja voluntário em um abrigo para animais.
TALENTOS PARA JESUS AS CRIANÇAS TAMBÉM PODEM TER SEU PRÓPRIO MINISTÉRIO JARED THURMON
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lguns adultos pensam que as crianças só devem ser crianças. Elas devem brincar, ir à escola e ficar quietas quando os grandes estão trabalhando, falando ou tomando decisões. Porém, essas pessoas podem estar enganadas. As crianças podem fazer o que os adultos fazem e, às vezes, até melhor que eles. De fato, Jesus chamou a todos para participar de Sua missão. Ele pode tornar todos nós Suas testemunhas, inclusive as crianças. Diante de uma tarefa tão grande e difícil, não podemos desprezar a contribuição dos pequenos. Imagine quantas pessoas no mundo ainda não ouviram sobre o amor de Jesus! As crianças podem nos ajudar a dar essa boa notícia. A Bíblia às vezes chama nossas habilidades ou talentos de dons espirituais. O problema é que nem sempre a gente consegue identificálos; por isso, precisamos de ajuda. Que tal perguntar para seus pais, amigos, parentes, pastor ou professor quais são seus dons espirituais,
“Ninguém o despreze pelo fato de você ser jovem, mas seja um exemplo para os fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza” (1Tm 4:12)
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na opinião deles? Faça um exercício você mesmo: pense no que gosta de fazer, no que faz bem e naquilo que você faz que deixa as pessoas felizes. Quando você descobrir, estará pronto para usar isso num ministério para Jesus. Digamos que você tenha o dom de cantar. Quem você acha que seria abençoado por esse dom? Talvez você seja um bom jogador de futebol. Será que há um modo de usar esse talento para falar de Jesus aos outros? Você é bom em matemática? É um bom leitor? As pessoas dizem que você tem um sorriso bonito? Tudo isso e muito mais pode ser usado para falar de Jesus aos outros. Foi principalmente para esse fim que Deus nos deu os dons, para que fossem compartilhados e abençoassem mais pessoas. Depois de descobrir seus dons, procure amigos que também querem usar as próprias habilidades para Jesus. Trabalhe com eles, e logo perceberá que estará tocando corações, contagiando um a um, e fazendo diferença na sua casa, escola, cidade e mundo. Se ao crescer você continuar usando seus talentos, descobrirá que o mundo inteiro é um campo missionário. ] JARED THURMON é diretor de estratégia e inovação da Adventist Review TV
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Ilustração: Xuan Le
▪ Ajude a limpar o quintal do vizinho.
PERSPECTIVA
VIOLÊNCIA ESPELHADA O CÉREBRO HUMANO TALVEZ NÃO SEPARE MUITO BEM A REALIDADE DA FICÇÃO SUSAN ALLEN
Foto: Rohit Choudhari
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evido à sequência de tragédias com armas de fogo em escolas dos Estados Unidos, li recentemente nas redes sociais muitas postagens debatendo sobre o controle de armas no país. O ponto é que, na minha opinião, não estamos enxergando o verdadeiro problema. Como chegamos a essa situação em que esses fatos não mais são eventos isolados? Não creio que o problema esteja nas armas nem em quantas balas elas possam carregar. O problema está mais relacionado com a banalização do assassinato, do tiroteio, da tortura e da violência em nossa sociedade. Talvez nosso cérebro esteja sendo treinado para a violência. Como foi que perdemos a sensibilidade em relação ao valor da vida? R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Julho 2018
Os que vivem nas chamadas sociedades modernas e civilizadas podem ser tentados a olhar para os jogos realizados no Coliseu romano como diversões bárbaras e sanguinárias. No entanto, tenho minhas dúvidas quanto à nossa sociedade ser muito diferente, considerando que os filmes bárbaros e sanguinários exibidos hoje são classificados como entretenimento. O mesmo pode ser dito dos videogames, cujos jogos repletos de violência fisgam as crianças por horas a fio. Por meio deles, os pequenos participam ativamente do tiroteio e da matança dos oponentes da tela. Muitos pensam que o cérebro humano possa separar a realidade da ficção. Porém, pesquisas científicas têm provado o contrário. No livro The Empathic Brain (O Cérebro Empático), de 2011, o neurocientista belga Christian Keysers fala sobre seus estudos a respeito dos neurônios “espelho”. Apesar de a pesquisa ser muito extensa para ser explicada aqui, em resumo, Keysers diz que essas células do cérebro interpretam o que alguém estiver assistindo como: “suas ações se tornam minhas ações”. Em outras palavras, nosso cérebro interpreta o que é visto
EM VEZ DE EXPOR NOSSOS FILHOS À VIOLÊNCIA DE FILMES E JOGOS, DEVEMOS LEVÁ-LOS A EXPERIMENTAR EMPATIA NO SERVIÇO AO PRÓXIMO
na televisão e videogames como se nós estivéssemos realizando a ação. Como escreveu Ellen White, pioneira adventista, “pela contemplação somos transformados” (O Lar Adventista, p. 330). Portanto, qual é a resposta? Tomar as armas de todos talvez não resolva o problema. Sugiro que, em vez de nos entreter com games violentos e assistir a filmes dessa natureza, devemos ocupar nosso pensamento com coisas boas, amáveis, nobres e verdadeiras (Fp 4:8). Além disso, deixemos que nossas crianças experimentem as bênçãos de servir ao próximo. Leve seus filhos para ajudar a limpar a casa de um idoso ou para ser voluntários num albergue para desabrigados. Já é tempo de a humanidade dar as mãos para propagar o bem na vida dos outros. Ao fazer isso, criaremos um mundo melhor para nós e nossos filhos. ] SUSAN ALLEN é coordenadora do doutorado em Enfermagem na Universidade Andrews (EUA)
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BEM-ESTAR
MUITOS NECESSITAM DE MEDICAMENTO PARA BAIXAR A PRESSÃO ARTERIAL. MAS AS MUDANÇAS NO ESTILO DE VIDA SÃO ESSENCIAIS NO CONTROLE E ATÉ NA REVERSÃO DA DOENÇA
ESSA PREOCUPAÇÃO TAMBÉM FAZ PARTE DA MENSAGEM ADVENTISTA PETER N. LANDLESS E ZENO L. CHARLES-MARCEL
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emos a impressão de que, para muitos adventistas, os cuidados com a alimentação parecem ser mais importantes do que a preocupação com a saúde emocional. No entanto, desde o princípio de nossa denominação, a ênfase adventista na saúde tem se distinguido por sua abordagem integral, por levar em conta o bem-estar físico, mental, espiritual, social e emocional. Cremos que tão importante quanto falar do impacto físico dos oito remédios naturais é falar sobre os benefícios emocionais desses hábitos e incentivar a vivência de relacionamentos saudáveis e do apoio social. Nesse contexto, a confiança em Deus ganha ainda mais importância, pois nos ajuda a manter o equilíbrio mesmo quando estamos quebrantados. O que as 36
pesquisas científicas robustas têm mostrado é que, quando o estilo de vida adventista é corretamente experimentado, há benefícios físicos e emocionais. Atualmente, os problemas de saúde mental são a principal causa de inabilidade, ou seja, o principal fator de incapacitação das pessoas para o trabalho e a vida. A depressão, por exemplo, afeta 300 milhões de pessoas ao redor do mundo. O transtorno afetivo bipolar, por sua vez, faz outros 60 milhões de vítimas. A estimativa também é de que 50 milhões de pessoas sofram de demência, número que deve triplicar nos próximos 30 anos. Psicoses como a esquizofrenia são outras formas de doenças mentais e caracterizadas pela distorção do pensamento, percepção, emoções, linguagem e comportamento. Hoje há no mundo 23 milhões de
PETER LANDLESS é cardiologista e diretor do Ministério da Saúde da sede mundial adventista em Silver Spring, Maryland (EUA); ZENO CHARLES-MARCEL é clínico geral e diretor associado desse mesmo ministério
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Foto: Chad Madden
SAÚDE EMOCIONAL
esquizofrênicos. E, se falarmos de custos monetários, a ansiedade e a depressão custam 1 trilhão de dólares por ano para a economia global. O Ministério da Saúde da sede mundial da Igreja Adventista tem levado a sério esse tema. No início deste mês de julho, o psiquiatra norueguês Torben Bergland se uniu à nossa equipe como diretor associado. Ele reforça o excelente trabalho prestado pelos doutores Carlos Fayard e David Williams, ambos diretores associados honorários desse departamento. Junto a outros especialistas, eles dedicam tempo e esforço na conscientização dos adventistas a respeito de saúde mental. Esse trabalho diminui os estigmas e preconceitos em relação a essa temática, além de resultar na produção de materiais para a igreja. Assim como Jesus veio para que nossa vida seja abundante (Jo 10:10), a igreja pode trabalhar em conjunto a fim de que o máximo de pessoas desfrutem de bem-estar emocional. ]
BOA PERGUNTA
LUGAR DE REUNIÃO E REVELAÇÃO QUAL ERA A FUNÇÃO DO PROPICIATÓRIO LOCALIZADO ACIMA DA ARCA, NO SANTUÁRIO ISRAELITA? ÁNGEL MANUEL RODRÍGUEZ
arca da aliança era uma caixa em que ficavam guardadas as tábuas dos Dez Mandamentos (Êx 25:21, 22). O propiciatório era uma placa de ouro puro, sobre a qual estavam dois querubins, formando uma peça apenas (Êx 26:34). Os querubins estavam um de frente para o outro, olhando para baixo e com as extremidades das asas estendidas para cima (Êx 25:20). De certo modo, o propiciatório era a tampa da arca, embora tivesse função e propósito próprios. 1. Local de expiação. A palavra hebraica para propiciatório (kapporet) está etimologicamente relacionada ao verbo kipper (“expiar, fazer expiação”), sugerindo que provavelmente ela signifique “lugar de expiação”. Durante o Dia da Expiação (Yom Kippur), o sangue do sacrifício era aspergido sobre o propiciatório e diante dele, a fim de remover os pecados do Lugar Santíssimo (Lv 16:14-16). Isso era necessário porque por meio do sistema sacrifical Deus expiava os pecados do povo, transferindo-os para o bode Azazel (v. 10, 21, 22). O kapporet era o local em que, com base no sangue sacrifical, Deus garantia o perdão, aceitando a oferta em vez de exigir a vida dos pecadores. 2. Local de reunião e revelação. O kapporet também era símbolo supremo da presença de Deus entre Seu povo. A glória de Deus era visivelmente manifestada entre os querubins e, naquele local, Ele falava com Seus servos (Êx 25:22), a fim de revelar Sua vontade como o Senhor da aliança. Para os israelitas, o tabernáculo era a tenda de reunião ou encontro com o Senhor, ainda que esse acesso fosse mediado
Ilustração: Fotolia
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por sacrifícios e sacerdotes. Enquanto os sacerdotes entravam diante de Deus com as ofertas que representavam a alegria, gratidão e os pecados do povo, o Senhor, entronizado acima do kapporet, respondia oferecendo aceitação, certeza do perdão e bênçãos. 3. Quartel-general cósmico. O kapporet apontava ainda para um Deus que interage com os seres humanos neste mundo de pecado e impureza. No Lugar Santíssimo, local em que o Céu tocava a Terra de maneira singular, Deus Se fazia presente, encontrava-Se com o povo e com ele falava. Agora, no santuário celestial, Cristo intercede por nós diante do trono do Pai. É de lá que Deus administra o Universo e continua a realizar a expiação. ] ÁNGEL MANUEL RODRÍGUEZ, pastor, professor e teólogo aposentado, foi diretor do Instituto de Pesquisa Bíblica
PARA OS ISRAELITAS, O TABERNÁCULO ERA A TENDA DE REUNIÃO OU ENCONTRO COM O SENHOR, AINDA QUE ESSE ACESSO FOSSE MEDIADO POR SACRIFÍCIOS E SACERDOTES
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RETRATOS
Série evangelística do ministério Está Escrito dos Estados Unidos resultou no batismo de 71 pessoas em Ulan Bator, capital da Mongólia, em março. No século 13, Kublai Khan, líder da dinastia Yuan, teria pedido que os missionários cristãos voltassem ao país para ensinar mais pessoas sobre o evangelho Crédito: ministério Está Escrito
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INTERNACIONAL Evento foi realizado no Mountain View College, na cidade de Valência, nas Filipinas
SEM DISTRAÇÕES
Congresso que recebeu 16 mil pessoas nas Filipinas marcou a vida da juventude adventista na Ásia TERESA COSTELLO E JADE YERRO-SORENO
ormado por 7 mil ilhas, o arquipélago das Filipinas é um dos mais bonitos do continente asiático. Destino de muitos turistas, essa região foi palco de um evento que marcou a juventude adventista. Durante cinco dias, mais de 16 mil jovens foram desafiados a deixar de lado os dispositivos eletrônicos e outras distrações para fazer novos amigos, desenvolver novas habilidades e aprofundar o relacionamento com Deus.
Foto: Southern Asia-Pacific Division
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Realizado pelas Uniões Central e Sul das Filipinas nos dias 9 a 14 de abril, o congresso teve uma agenda intensa, que começava com um culto às 5h da manhã. Além de devocionais e palestras sobre questões ligadas ao cotidiano dos jovens, eles participaram de atividades físicas, ações sociais, como doação de sangue, e aprenderam habilidades práticas, como a fabricação de detergente. No entanto, um dos destaques foi uma câmara de oração. Mais de 800 voluntários se reuniram de hora em hora para orar pelo evento, pelos participantes e pelos 4 mil
pedidos de oração recebidos ao longo da programação. Alguns permaneciam até três horas no ambiente, intercedendo pelos colegas. Para que a agenda de oração fosse mantida por 24 horas, enquanto os jovens dormiam, a equipe de segurança e os organizadores do evento também se reuniam para orar. Outro destaque da programação foram as palestras e reflexões proferidas por convidados como Dan Smith, da Califórnia; Baraka Muganda, ex-líder mundial da juventude adventista; e Jobbie Yabut, diretor do Ministério Jovem
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da Divisão do Pacífico Sul-Asiático, que reforçaram a necessidade de maior conexão com Deus. Eles enfatizaram que isso ajuda o jovem a fazer escolhas positivas, o que acaba resultando em bênçãos para si mesmo, a igreja e o mundo. Para muitos participantes, interagir com outros jovens adventistas foi um lembrete de que eles fazem parte de algo maior, o que ajudou a fortalecer sua fé. “Saber que temos ao nosso lado uma comunidade amorosa torna a caminhada cristã muito mais fácil”, disse Anthony Stanyer, um dos líderes presentes no evento. Para os organizadores, o trabalho com a juventude das duas Uniões resultou numa valiosa troca de novas ideias e métodos para o ministério jovem. No entanto, ver os jovens se relacionando com Deus e com os outros foi o que mais os inspirou. “A convivência com esse enorme grupo e a alegria de ver nossos jovens assumindo responsabilidades de liderança e desenvolvendo uma caminhada com Cristo foi inestimável”, disse Jemsly Lantaya, diretor do Ministério Jovem da União Sul das Filipinas. “Com todos esses jovens participando, lembro-me dos festivais sagrados dos tempos bíblicos, quando os israelitas de diferentes regiões se reuniam. Cada um aqui teve o propósito de mostrar a comunhão cristã e demonstrar como será a reunião do futuro, um dia, no Céu”, completou Von John Sanchez, líder dos jovens da União Central das Filipinas. ] TERESA COSTELO, consultora editorial do departamento de Comunicação da Divisão do Pacífico Sul-Asiático e editora da revista Outlook; JADE YERRO-SORENO, secretária do departamento de Comunicação e produtora do centro de mídia da União Sul das Filipinas (com colaboração de Edward Rodriguez)
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FINANÇAS
INVESTIMENTO COERENTE Igreja reafirma compromisso de fazer aplicações financeiras condizentes com seus princípios
EQUIPE DA ANN E DA ADVENTIST WORLD
ma das regras básicas para quem quer investir bem e de maneira segura é diversificar as aplicações. A igreja também leva isso em conta ao gerenciar as finanças e buscar otimizar os recursos para o cumprimento da missão. No entanto, em março, a liderança mundial da denominação parou para avaliar o tipo de aplicação que vem sendo feito pela igreja. Os líderes da denominação reafirmaram o compromisso de fazer investimentos coerentes com os princípios bíblicos. No escritório da sede mundial, em Silver Spring, Maryland (EUA), há um setor responsável pela carteira de investimentos da igreja e um comitê que administra as aplicações financeiras e gerencia os recursos direcionados à Associação Geral pelas sedes administrativas ao redor do mundo, fundos de aposentadoria e instituições.
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A declaração votada recentemente pela liderança mundial da denominação expressa que o Comitê de Gerenciamento dos Investimentos procura investir esses recursos de maneira cuidadosa e profissional. Como regra geral, a igreja segue a “Regra do investimento prudente”, cujo foco é “manter uma carteira de investimentos altamente diversificada, usando diferentes estratégias de investimento, com base na informação mais profissional e segura que pudermos obter”. Ao revisar as práticas de investimentos, o comitê considerou que devem ser mantidos os critérios de seleção adotados pela igreja, que excluem investimentos em empresas envolvidas com as indústrias de álcool e tabaco, jogos de azar, pornografia, produtos cárneos e bebidas cafeinadas. “Recomendamos que o Comitê de Gerenciamento dos Investimentos da Associação Geral garanta que todas as exclusões e investimentos sejam coerentes com o uso de produtos e serviços e de acordo com nossas práticas prescritas, mantendo os princípios adventistas do sétimo dia”, afirma. Considerando a posição histórica dos adventistas em favor da não combatência, a liderança da igreja também recomendou que o comitê avalie todos os investimentos potenciais e disponíveis, a fim de excluir empresas cuja receita derive em maior ou menor grau da fabricação e venda de armas, veículos de combate, munições e outros mecanismos de guerra. Para Timothy Aka, tesoureiro associado e responsável pelos investimentos da igreja mundial, a liderança adventista tem a responsabilidade de garantir que as aplicações e estratégias financeiras da organização sejam coerentes com os princípios e compromissos do adventismo. “Esse é o processo vigente que continua sendo de vital importância para o setor de investimentos da Associação Geral”, reforça. “No espírito dessa declaração e como um processo contínuo, a sede mundial da igreja procurou eliminar tais investimentos incongruentes e preservar suas responsabilidades fiduciárias”, Aka conclui. ] R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Julho 2018
Foto: Brandon Roberts/GC Communication
Em reunião na sede mundial adventista, líderes da denominação discutiram parâmetros para as aplicações financeiras da igreja, evitando que a organização se torne acionista de empresas cujos produtos e serviços contrariem seus valores
JUVENTUDE
NOSSO CAMPO É O MUNDO Mais de 1,2 mil jovens são inscritos em projetos missionários durante evento no Amazonas TATIANE LOPES
lhando do alto era possível ver um grande público perfeitamente organizado em 360 graus. Um palco inovador transmitiu, em quatro telas de LED verticais, o primeiro Campori de Jovens da região noroeste do Brasil, que atraiu 12 mil pessoas de Rondônia, Acre, Roraima e Amazonas. O que cada participante pôde encontrar ali foi bem mais do que cinco dias de bons sermões e boa música. Gabriela Pinheiro tinha 27 anos quando decidiu deixar a vida confortável na capital paulista e seguir rumo à Guiné-Bissau (África) como missionária voluntária. Ali a advogada conheceu um médico, que hoje é seu esposo, e juntos decidiram ser missionários no interior do Amazonas. Há mais de dois anos eles estão na região como voluntários permanentes. O casal participou do campori numa das diversas “praças das missões”. O desafio era contar aos jovens que por ali passavam como é o trabalho prático no campo missionário. Bruna Vasconcelos, jovem amazonense de 20 anos, passou por todos esses ambientes preparados para impactar os jovens sobre a importância do voluntariado. “Esse contato que
Foto: Unob
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tivemos com missionários que estão na ativa foi de extrema importância. Ter visto e ouvido alguém deixar toda a estabilidade e se submeter a condições difíceis de moradia e até de alimentação, mas sair de lá transformado e com uma visão diferente do mundo, foi fundamental para minha decisão”, afirma Bruna, que se prepara para ter uma experiência transcultural no Chile. Ela faz parte do grupo de 1,2 mil jovens que se inscreveram no evento para ser missionários de curta duração, dentro e fora do Brasil. Com o tema “Nosso campo é o mundo”, toda a programação teve o foco voltado para o envio. “A elaboração das provas, as atividades propostas, tudo foi planejado para levar o jovem a refletir sobre a necessidade de sair e pregar”, conta o pastor Lelis Souza, organizador do evento. Em um dos sermões, Gary Blanchard, líder mundial da juventude adventista, convidou cada participante a “viver perigosamente para Jesus”, dedicando sua vida a ser missionário. Palestras realizadas pelos convidados, como o pastor Elbert Kuhn, que viveu mais de dez anos na Mongólia e foi nomeado recentemente secretário associado e gerente de projetos e estratégias do Serviço Voluntário Adventista mundial, igualmente despertaram os participantes para a necessidade de levar a mensagem a toda nação, tribo, língua e povo. Como incentivo, as tão conhecidas provas e atividades de um campori foram realizadas em diversas “praças” c onstruídas especialmente para proporcionar o contato dos jovens com a realidade das missões. Em uma delas, foram fixadas 193 bandeiras. Era possível saber, por exemplo, o número de habitantes e de adventistas de cada país. Já na “praça das religiões” podia-se ver número de adeptos das tradições de fé mais influentes do mundo e ter ideia do desafio que ainda existe para alcançar regiões em que os cristãos são minoria. ] TATIANE LOPES é jornalista
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Foto: Mairon Hothon
No campori realizado no Instituto Adventista AgroIndustrial (IAAI), em Rio Preto da Eva (AM), todas as atividades e apresentações tiveram como foco o despertamento para as necessidades do campo missionário
LITERATURA
ESPERANÇA EM MEIO À CRISE MÁRCIO TONETTI
s vésperas do dia 26 de maio, o clima no Brasil era de instabilidade, escassez e pânico. A greve dos caminhoneiros parou o Brasil, mas não impediu que milhares de adventistas saíssem para distribuir o livro missionário. Apesar das condições desfavoráveis, o projeto se manteve.
À
A falta de combustíveis exigiu ajustes. Alguns que haviam planejado ações em comunidades mais distantes precisaram se concentrar em localidades mais próximas. Porém, o que parecia ser uma enorme barreira acabou sendo uma oportunidade para servir. Na região de Ipatinga (MG), por exemplo, voluntários de um centro de influência distribuíram centenas de livros e refeições para caminhoneiros que estavam parados na BR-381. Numa ação semelhante, outro grupo doou alimentos, cobertores, agasalhos, água, produtos de higiene e livros para grevistas que se encontravam às margens da rodovia Washington 42
Luiz, no interior de São Paulo, e da BR-101, em Santa Catarina. Outros usaram meios de transporte alternativos para levar literatura. Em Imperatriz (MA), 20 ciclistas pedalaram cerca de 40 quilômetros para alcançar um pequeno povoado. ABORDAGENS VARIADAS Como nos anos anteriores, diversas ações acompanharam a distribuição de literatura. O Hospital Adventista de Belém (PA), por exemplo, promoveu uma grande Feira Vida e Saúde na capital paraense, oferecendo atendimento odontológico e clínico, além de orientações sobre bem-estar.
A cerca de 45 quilômetros de Macapá (AP), 700 famílias ribeirinhas que vivem na comunidade de Ilha de Santana, às margens do rio Amazonas, também receberam o livro missionário
Em Goiânia (GO), comerciantes da região central da cidade foram surpreendidos com um café da manhã preparado pelos voluntários para quem havia saído cedo de casa sem o desjejum. Já na capital mato-grossense, um grupo de mulheres foi ao Hospital do Câncer de Cuiabá para oferecer massagem, maquiagem e outros cuidados às mães de crianças que sofrem com a doença. Em Campo Grande (MS), 150 alunos do Colégio Adventista Jardim dos Estados fizeram apresentações musicais na praça de alimentação de um dos maiores shoppings da cidade e presentearam 600 pessoas com exemplares do livro O Poder da Esperança. O Espaço Novo Tempo Imperatriz (MA) também usou uma estratégia interessante para se aproximar dos moradores. Para que os livros chegassem aos prédios, a comunidade visitou esses locais antecipadamente para identificar o número de apartamentos e endereçar os livros em envelopes personalizados. Assim, 22 prédios R e v i s t a A d ve n t i s t a // Julho 2018
Foto: Leonardo Leite
A greve dos caminhoneiros parou o Brasil, mas não impediu que milhares de adventistas distribuíssem o livro missionário de norte a sul do país
Foto: Ronaldo Jorge Ferreira
foram alcançados e mil exemplares foram distribuídos. Embora alguns tenham chamado a atenção pela criatividade, como em São José, na grande Florianópolis (SC), onde a ideia foi colocar uma “geladeira missionária” no meio de uma importante avenida com a frase “Você tem sede de saber?” e, em Belém (PA) e Juazeiro (BA), cidades em que foi usado um trio elétrico para promover o Impacto Esperança, o livro missionário deste ano chamou a atenção pelo tema em si. Michelson Borges, coautor da obra e editor da Casa Publicadora Brasileira, acredita que a ênfase na saúde emocional tornou mais fácil a aceitação do material. “Há muita gente sofrendo dos males de que o livro trata. Oro a Deus para que os leitores encontrem muito mais do que um lenitivo para as doenças emocionais”, ressalta. VERSÕES PERSONALIZADAS Além do tema mais próximo da realidade das pessoas, a campanha deste ano trouxe duas novidades. Uma delas foi a adaptação do livro missionário para as crianças, algo inédito na história do projeto Impacto Esperança. “Além de tornar o conteúdo mais acessível, a intenção foi produzir um material que pudesse ampliar a participação dos pequenos na campanha de distribuição de literatura”, afirma Anne Lizie Hirle, editora da CPB que fez a adaptação do texto para a linguagem dos quadrinhos. Outra novidade foi a edição especial com capa personalizada para motociclistas. José Edinaldo da Silva, fundador de dois motoclubes, foi um dos primeiros a receber o material, que será distribuído pelos mais de 1,5 mil integrantes do Adventist Motorcycle Ministry (AMM) e por outros ministérios voltados para esse público. “Na mesma hora compartilhei fotos do livro com os colegas do meu motoclube. Eles gostaram muito da iniciativa e também estão na expectativa de R e v i s t a A d ve n t i s t a // Julho 2018
Ciclistas da cidade de Imperatriz (MA) pedalaram 40 quilômetros para distribuir 300 livros num povoado em que residem apenas seis adventistas
receber um exemplar”, conta Edi, como é mais conhecido o morador de Boituva (SP). A ideia é presentear motociclistas especialmente em eventos direcionados para esse público, a exemplo do Brasília Capital Moto Week, maior encontro de motociclistas da América Latina, que será realizado este mês. INVESTIMENTO NO PROJETO Poucos programas têm mobilizado a igreja como o Impacto Esperança. Na opinião do líder mundial de Publicações, pastor Almir Marroni, que participou da distribuição em maio no Brasil, a iniciativa ajudou a resgatar a participação da igreja na evangelização por meio da página impressa, tarefa que ao longo do tempo foi delegada aos colportores. “Desde que foi introduzido esse programa, percebe-se a volta aos primeiros intentos da igreja de evangelizar com literatura. Assim como no passado, hoje essa obra não está concentrada nas mãos dos colportores apenas, mas cada adventista é um potencial distribuidor de literatura”, ressalta. Corporativa e individualmente a igreja tem se envolvido. Neste ano, somente uma igreja em Belém (PA) adquiriu 30 mil exemplares do livro missionário e convocou todos os membros a sair às ruas. Outro exemplo é o do empresário Ricardo Correa, de Capivari, no interior de
São Paulo, que atua no segmento de móveis hospitalares. Além de fixar suportes em pontos de ônibus, nos quais são colocados livros missionários para que as pessoas peguem um exemplar e levem para casa, desde 2015, ele e a esposa, Clélia, colocam um exemplar do livro missionário em cada mesa de cabeceira que produzem para hospitais. O casal contou seu testemunho em um evento realizado na sede da CPB, em Tatuí (SP), no fim de maio. Inspirados no exemplo do casal, logo depois da programação os mais de 500 servidores da matriz da editora saíram às ruas de dois municípios vizinhos para entregar cerca de 25 mil exemplares de O Poder da Esperança. Em mais de uma década de Impacto Esperança, muitas histórias de conversão influenciadas pela literatura já vieram à tona. Um exemplo recente é o de Ilda Preslak, batizada em abril deste ano. Foi por meio de um livro missionário, recebido em novembro do ano passado enquanto fazia uma caminhada, que a moradora de Pato Branco (PR) teve contato com a mensagem adventista. O pastor Erton Köhler acredita que resultados maiores ainda virão. “Creio nos frutos, mas também creio nas sementes”, sublinha. ] MÁRCIO TONETTI é editor associado da Revista Adventista (com informações de Anne Seixas, Daniel Gonçalves, Denise Saturnino, Fernanda Beatriz, Jenny Vieira, Juliana Muniz, Simone Joe e Suellen Timm)
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Este livro apresenta uma série de respostas pertinentes aos desafios interpretativos do livro de Daniel. O autor, reconhecido erudito de origem judaica, lança luz sobre muitos aspectos das profecias desse importante livro bíblico.
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Nos relatos históricos e nas profecias, vemos um Deus de amor que trabalha continuamente em favor de Seu povo. Neste livro, você vai conhecer os detalhes da vida e obra do profeta Daniel, que foi amado e honrado pelo Céu acima de qualquer outro mortal.
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MEMÓRIA Adalto Severino de Castro, aos 72 anos, vítima da doença de Chagas. Nascido num lar adventista, era membro da Igreja Central de Ribeirão Preto (SP) havia 25 anos. De espírito missionário, serviu como chefe dos diáconos, assistente do som e diretor patrimonial da igreja por mais de dez anos consecutivos. Deixa esposa, um casal de filhos e um casal de netos. Ana Margareth do Carmo Silva, aos 52 anos, vítima de linfoma. Era membro da Igreja do Parque dos Servidores, em Ribeirão Preto (SP). Batizada em 1992, fez da pregação do evangelho sua principal motivação de vida, levando várias pessoas ao batismo. Na igreja, ela trabalhou em vários ministérios, como o da mulher, dos adolescentes, da música, evangelístico e diaconato feminino. Deixa o esposo, Renildo, dois filhos e dois netos. Augusto Luiz de Oliveira, aos 92 anos (em 2015), e Josefa Livina de Oliveira, aos 94 anos (em 2017), ambos em Campo Grande (MS). Nascidos no agreste de Pernambuco, aprenderam a mensagem adventista por influência dos pais. Migraram posteriormente para São Paulo (1948) e Mato Grosso do Sul (1955), onde foram líderes na Igreja Central de Campo Grande. Deixam quatro filho, 12 netos e 16 bisnetos.
Dalgimir dos Santos Quevedo, aos 51 anos, em Porto Alegre (RS), vítima de infarto. Nascido em lar adventista, por 23 anos, com a ajuda de sua esposa, liderou o Coral de Adolescentes do Instituto Adventista Cruzeiro do Sul (IACS), em Taquara (RS). Durante esse período, mais de 2 mil adolescentes estiveram sob sua liderança e encontraram nele um conselheiro espiritual. Deixa a esposa, Ana Maria, e um filho.
Geny de Oliveira Dourado, aos 92 anos, em Vitória (ES), vítima de enfarto. Dedicou sua vida à organização adventista, trabalhando como instrutora bíblica e secretária do ministério A Voz da Profecia e da Associação Espírito-Santense. Depois de aposentada, ainda serviu como diaconisa e no ministério de assistência social da Igreja Central de Vitória. Deixa o esposo, Antônio, quatro filhos, seis netos e duas bisnetas.
Estanislau Silvio Carnovali, aos 92 anos, vítima de infecção pulmonar. Paulistano e nascido num lar católico, conheceu a mensagem adventista depois de casado e com três filhos, por meio da sua sogra. Foi batizado em 1961 na Igreja da Penha, na Zona Leste de São Paulo, pelo pastor Alcides Campolongo. Ajudou na construção do prédio dessa igreja e foi ancião dessa comunidade por 38 anos consecutivos. Também serviu como professor da Escola Sabatina, líder do Ministério da Saúde local e organizador de cursos antitabagistas. Deixa a esposa, Ruth, cinco filhos, sete netos e seis bisnetos.
Jaime Braz Bueno, aos 50 anos, vítima de gripe H1N1. Natural de Curitiba (PR), começou sua carreira militar em 1986 e entrou para a reserva do Exército em 2014, na função de 2o sargento. Na igreja, destacouse como líder local e regional do clube de desbravadores nas cidades paranaenses de Castro, Cascavel e Curitiba. Deixa três filhos.
Filomena Iolanda de Oliveira, aos 73 anos, em São Paulo (SP), vítima de falência de múltiplos órgãos. Batizada havia 34 anos, serviu como diaconisa na Igreja de Peri Alto. Sempre foi muito solidária para com os necessitados. Deixa esposo, dois filhos, três netos e dois bisnetos.
Jorcerite Cândido da Silva, aos 88 anos. Nascido em Jaraguá (GO), foi batizado quando juvenil, juntamente com sua família. Levou dezenas de pessoas ao batismo e, nas décadas de 1950, 70 e 80, ajudou a fundar igrejas e escolas adventistas em Jaraguá (GO), Rio Maria e Redenção (PA). Judith Guiotti Moreno, aos 97 anos, em Palmital (SP), vítima de um AVC. Durante 62 anos ela viveu a fé adventista,
mostrando fidelidade aos princípios da mordomia cristã e assiduidade aos cultos na igreja. Seu testemunho coerente inspirou sua filha, Shirlei Weck, a trabalhar como obreira da organização adventista até a aposentadoria. Deixa cinco filhos, dez netos e quatro bisnetos. Laurita Francisca das Neves, aos 73 anos, em Jaú (SP), vítima de câncer. Baiana de Caitité, foi batizada havia apenas dois anos. Era membro da Igreja do Astória, em Tatuí (SP). Deixa cinco filhos e 14 netos. Misael Lima Barreto, aos 73 anos, em Hortolândia (SP), vítima de AVC. Nascido em lar adventista, Misael trabalhou como advogado em várias instituições e sedes administrativas da igreja, como a Missão Baixo-Amazonas, Associação Paulista, Unasp, campus Hortolândia (SP), União Central Brasileira e Divisão SulAmericana. Aposentado desde 2009, atualmente ele presidia o IDE-GO, a filial brasileira do ministério de apoio norteamericano Gospel Outreach. Deixa a esposa, Edméia, quatro filhos e netos. Videlina Pereira dos Santos, aos 80 anos, em Salvador (BA), vítima de câncer de mama. Baiana de Irecê, foi batizada em 1962. Era membro da Igreja de Morro do Chapéu. Deixa o esposo, Sebastião, com quem foi casada por 59 anos, nove filhos, 15 netos e três bisnetos.
“ B E M - AV E N T U R A D O S O S M O R T O S Q U E , D E S D E A G O R A , M O R R E M N O S E N H O R ” R e v i s t a A d ve n t i s t a // Julho 2018
(APOCALIPSE 14:13)
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PÁGINAS DE ESPERANÇA
VOCAÇÃO PARA A COLPORTAGEM
UM SONHO MUDOU A VIDA DE UMA MULHER E, POR MEIO DELA, CENTENAS DE VIDAS ESTÃO SENDO TRANSFORMADAS CIDA SOUZA
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COM O DINHEIRO DA COLPORTAGEM, ANTÔNIA JÁ AJUDOU A ERGUER MAIS DE DEZ TEMPLOS campanhas de venda de literatura. Aliava a nova ocupação com a profissão de professora, que já exercia havia mais de 30 anos. Certa noite, após refletir sobre a necessidade que sentia de uma mudança em sua vida, pediu a Deus uma solução e adormeceu. Sonhou que estava em um terreno vazio e que não conseguia se mover. Quanto mais tentava andar, mais afundava em um lamaçal. Foi então que um homem, que ela descreve como um anjo, lhe entregou o que parecia ser um pequeno galho de uma árvore e disse: “Pegue esse galhinho e vá! É sua única solução. Vá e conte ao mundo!” O que inicialmente parecia algo sem sentido foi interpretado posteriormente como uma resposta às suas preces. Dias depois, estudando a Lição da Escola Sabatina, Toinha observou que o ramo que tinha visto em sonho se assemelhava ao símbolo da Casa Publicadora Brasileira (CPB), editora da igreja. Nessa época, ela havia sido convidada para trabalhar no hospital da cidade. Ao mesmo tempo,
sentia o chamado de Deus para a colportagem. A questão lhe trouxe dúvidas, mas ela fez a escolha que falava mais ao seu coração. “Decidi dedicar meus dias à c olportagem. Sou feliz porque sei que estou contando do amor de Jesus. Sou apaixonada por Cristo e pela colportagem”, afirma. Na bagagem, além de livros, Toinha carrega muitas histórias missionárias, sempre contadas com emoção. Enfrentou muitos desafios colportando em lugares perigosos. Entretanto, nada a fez desistir. Há 26 anos ela é colportora credenciada de tempo integral. Sua vida é uma inspiração. Já trabalhou em vários estados do Nordeste e, por onde passa, deixa pessoas batizadas ou estudando a Bíblia. Além disso, tem contribuído financeiramente para a construção de igrejas. Toinha é recordista de vendas no Ceará, mas trabalha por amor à missão. “Não saio de uma cidade sem visitar toda a comunidade. Um dia vou encontrar muitas pessoas no Céu, pessoas que ajudei a levar para lá”, acredita. Histórias assim mostram que Deus ainda continua recrutando homens e mulheres para a missão por meio da página impressa. ] CIDA SOUZA é jornalista e trabalha como assessora de comunicação na sede administrativa da Igreja Adventista para o Ceará
R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Julho 2018
Foto: Cida Souza
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ntônia Rosa da Conceição Batista, de 75 anos, acumula experiências em várias áreas. Técnica em enfermagem, ela também trabalhou como professora e costureira. No entanto, é na colportagem que a cearense, natural do município de Milagres, deposita sua maior paixão. Apesar da idade, ela ainda se dedica à atividade e não faz planos de se aposentar. Tudo começou quando a filha mais velha decidiu ingressar na colportagem. Entusiasmada com a experiência, a jovem convidava constantemente a mãe para participar da equipe. Porém, Toinha, como é mais conhecida, achava que não levava jeito para aquele trabalho. Sua visão mudou depois que ela foi visitar a filha numa cidade em que a moça estava colportando. Ao chegar lá, alguns integrantes do grupo a convidaram para sair e vender livros. Toinha se prontificou em acompanhá-los. Na primeira casa em que ela entrou, uma mulher ficou maravilhada com a literatura oferecida. Contou-lhe sobre uma doença grave que tinha, que já havia realizado alguns tratamentos sem êxito e que havia sonhado com uma senhora lhe apresentando exatamente aquele exemplar sobre saúde. Livro vendido, pensamentos a mil na cabeça da Toinha. Ela nem imaginava que, também com um sonho, descobriria uma nova vocação. Toinha vendeu três obras e voltou para casa. A partir daí começou a participar eventualmente de algumas
EM FAMÍLIA
QUANDO A ESPERANÇA MORRE
AS TENTATIVAS DE SUICÍDIO ENTRE ADOLESCENTES NOS ESTADOS UNIDOS DOBRARAM EM UMA DÉCADA. ENTENDA ESSA EPIDEMIA TALITA CASTELÃO
Foto: Fotolia
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assunto é muito t riste, mas merece atenção. O número de suicídios entre adolescentes dobrou nos últimos dez anos. A pergunta que se levanta é: por que cada vez mais gente jovem perde a esperança na vida? Dados publicados num artigo de junho da revista Pediatrics mostram que houve elevação no número de internações de adolescentes (12-17 anos) por tentativa de suicídio, nos Estados Unidos, entre 2008 e 2015. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), essa tendência também foi verificada em outros países, inclusive no Brasil. A estimativa é de que a cada 40 segundos uma pessoa se suicida, e que até 2020 deve aumentar em 50% a incidência anual desse tipo de morte, índice que já é maior do que os casos de homicídio e mortes em situações de guerra. Quem tenta o suicídio está em grande sofrimento e não o faz por uma escolha simplista, mas por experimentar uma dor tão intensa que a morte parece ser a “solução” definitiva para um problema temporário. Porém, quem se sente devastado emocionalmente não enxerga outra saída. Numa cartilha preventiva ao suicídio, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) destaca três características comuns a quem atenta contra a própria vida: (1) ambivalência – querer morrer e viver ao mesmo tempo; (2) impulsividade – decorrente de eventos negativos no cotidiano; e (3) rigidez – pensamentos e sentimentos desequilibrados, de que é tudo ou nada. Além disso, há uma visão negativa sobre si mesmo, o mundo e o futuro. A pessoa acredita que o problema seja insuportável, inescapável (não tem saída) e interminável (não terá fim). O resultado final depende de vários fatores associados, mas geralmente a pessoa passa pela contemplação do ato suicida, elabora uma estratégia para se matar e, por fim, parte para uma ação efetiva de autodestruição. No caso dos adolescentes, o suicídio ocorre principalmente motivado por fatores relacionados à sua fase da vida. São frequentes os problemas R e v i s t a A d ve n t i s t a // Julho 2018
É IMPORTANTE AJUDAR, SEM ESQUECER QUE A RESPONSABILIDADE PELA VIDA É DO PRÓPRIO SUICIDA
emocionais na família (separações, brigas, falta de diálogo e de espaço para expor as emoções, etc.), uso de drogas e álcool, bullying no ambiente escolar, histórico de abuso emocional e físico, depressão ou outros transtornos mentais que alterem a percepção da realidade. É comum o adolescente abandonar amigos e atividades sociais de que antes gostava, perder o interesse em hobbies ou nos estudos, apresentar agitação, agressividade ou isolamento, falar sobre morte e falta de propósito na vida, fazer uma carta de despedida, ter feito anteriormente tentativa de suicídio e experimentar forte sentimento de solidão, impotência e desesperança. Alguns fatores podem funcionar como protetores: fortalecimento da autoestima, suporte familiar e de uma rede de apoio, religiosidade e sentido para viver, ausência de transtorno mental, flexibilidade e capacidade de resistir à frustração, adaptabilidade positiva e assistência terapêutica. Por fim, vale a pena divulgar que o Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece atendimento de emergência e gratuito a quem tem ideação suicida e deseja conversar (ligar 188 ou acessar cvv.org.br). É importante ajudar, sem esquecer que a responsabilidade pela vida é do próprio suicida. ] TALITA CASTELÃO é psicóloga clínica, sexóloga e doutora em Ciências
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PERFIL
MINISTÉRIO DA CURA O MÉDICO ADVENTISTA QUE HÁ TRÊS DÉCADAS TEM INSPIRADO OUTROS A INTEGRAR MEDICINA E MISSÃO
N
a infância, Dorival Duarte sempre sonhou vestir-se de branco, mas não imaginava que um dia todos os integrantes da família usariam jaleco e estetoscópio. Natural de Castelo, um pequeno município localizado a pouco mais de 150 quilômetros de Vitória (ES), o médico capixaba cresceu na liberdade do campo, na propriedade rural dos avós. Ali ele morava e adorava a Deus, pois na “fazendinha do vovô Joaquim” funcionava a única igreja adventista do município. Hoje, Dorival passa a maior parte do tempo na Liberdade, bairro da capital paulista onde fica o Hospital Adventista de São Paulo (HASP). Desde 2007 na direção clínica da instituição, sua trajetória começou ali em 2001. Cursar medicina foi um sonho quase impossível que se tornou real graças a Deus. Foi Ele quem colocou essa vocação no jovem Dorival, abriu portas de maneira inesperada e concedeu-lhe a possibilidade de pagar os estudos vendendo livros. Influenciado por Daniel, o irmão mais velho que se tornaria médico cirurgião e colega de trabalho no HASP, o caçula da família de seis filhos não desejava apenas estudar medicina. Seu grande sonho era graduar-se numa escola adventista, já que os quatro irmãos mais velhos haviam estudado no Edessa (Educandário 48
Espírito-Santense Adventista) e falavam das boas experiências que tiveram no internato. Porém, nos anos 1970, assim como hoje, não havia uma instituição de ensino superior da denominação que oferecesse esse curso no país. Para alcançar o objetivo, Dorival precisaria cruzar fronteiras. Ele estava disposto a pagar o preço e fez um voto. Ao completar 21 anos, a mãe havia lhe dado uma Bíblia de presente. No ano seguinte, enquanto fazia o ano bíblico pela primeira vez, ele anotou a data na contracapa do livro sagrado: 09/07/1978. O registro foi acompanhado de uma oração. Se Deus lhe concedesse a oportunidade de estudar Medicina numa universidade adventista, aceitaria o primeiro chamado que surgisse para servir em instituições de saúde da igreja.
Algum tempo depois, Dorival soube que o decano da Escola de Medicina da Universidade de Loma Linda (EUA) estaria na Igreja do Botafogo, no Rio de Janeiro, numa apresentação do quarteto americano The King’s Heralds. Sem hesitar, ele foi ao local, conversou com o professor e soube que seriam necessários cerca de 22 mil dólares anuais para custear o curso. Para se ter uma ideia das cifras, hoje esse curso custa 220 mil reais anuais, algo em torno de 18 mil reais por mês, sem contar despesas com moradia, alimentação e livros. O sonho teria que esperar. Mas nem tanto, pois Dorival recebeu do mesmo professor a informação que mudaria sua vida: ele poderia estudar no México a um custo bem menor. Por isso, em 1980, Dorival embarcou para a Universidade de Montemorelos, onde estudar Medicina hoje custa 13,5 mil dólares anuais, incluindo alimentação e R e v i s t a A d ve n t i s t a // Julho 2018
Foto: Ellen Lopes
MÁRCIO BASSO GOMES
Foto: HASP
DORIVAL SE ESPECIALIZOU EM INFECTOLOGIA E CURSOU MESTRADO NA MESMA ÁREA. ALÉM DISSO, BUSCOU FORMAÇÃO TEOLÓGICA PARA AMPLIAR SEU TRABALHO COMO MÉDICOMISSIONÁRIO
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Julho 2018
moradia. Nas férias, o jovem capixaba também fazia o dever de casa. Vendia livros em Porto Rico, na Califórnia (EUA) e no Brasil para pagar os estudos. Ao concluir a graduação, Dorival cumpriu a promessa feita nove anos antes. Em 1987, quando estava no segundo ano da residência médica, o Hospital Adventista Silvestre, no Rio de Janeiro, o chamou para ser médico de dedicação exclusiva. Ele aceitou imediatamente porque sabia a origem do convite feito pelo doutor Gideon da Costa Marques, então diretor da instituição. Toda a vida profissional de Dorival foi dedicada ao Hospital Silvestre e ao Hospital Adventista de São Paulo, onde há 11 anos ele exerce a função de diretor clínico. Dorival se especializou em infectologia na Universidade Nacional Autônoma do México (Unam) e cursou mestrado na mesma área na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Além disso, buscou formação teológica para ampliar seu trabalho. “Estudei várias matérias do curso de estudos teológicos que o Unasp oferece, sem nenhuma pretensão pessoal, apenas para ampliar conhecimentos”, conta. No entanto, em reconhecimento pelas três décadas de serviços prestados à organização, a igreja decidiu ordená-lo ao ministério. “Sou profundamente grato por essa distinção”, afirma. Desde o início de sua trajetória, esse casamento entre medicina e teologia fez dele um médicomissionário. As palavras de Ellen G. White resumem sua visão: “O ministério evangélico é necessário a fim de dar permanência e estabilidade à obra médico-missionária; e o ministério necessita da obra médico-missionária para demonstrar a operação prática do evangelho. Nenhuma das duas partes da obra é completa sem a outra” (Testemunhos Seletos, v. 2, p. 527). O ministério de Dorival também não seria completo sem outro casamento, com sua esposa Sônia. Quando se conheceram, ambos cursavam Medicina na Universidade de Montemorelos. Casaram-se em 1988, no Rio de Janeiro, logo depois de terem concluído a residência médica: ela em pediatria e ele em clínica médica. Natural do Peru, Sônia se especializou em neonatologia e dedicou praticamente toda a vida profissional ao cuidado de recém-
Dorival Duarte trabalha no HASP há 17 anos, e desde 2007 é o diretor clínico da instituição
nascidos em UTIs. Nas palavras de Dorival, Sônia também exerce a profissão “com muita competência num envoltório de amor a seus pequenos pacientes e a seus pais”. O amor que Dorival e Sônia nutrem um pelo outro e pela profissão também influenciou os filhos: Dorival Jr., de 28 anos, e Rafael, de 25. O pai menciona os filhos com orgulho. Dorival Jr. é cirurgiãogeral e cursa especialização em urologia. Rafael, o caçula, irá concluir Medicina no fim do ano. Além de seguir a profissão dos pais, os filhos mantêm o mesmo espírito missionário deles. Quando cursou Medicina na PUC-SP, o filho mais velho ministrou estudos bíblicos a uma colega de classe, Tábata, que aceitou o batismo e, posteriormente, se casou com ele. Dorival se sente um homem realizado, mas nunca deixou de sonhar. Nos últimos anos, trabalhou pela implantação de uma agremiação de médicos adventistas. Assim, em 2013, com o apoio da família e de outros profissionais, foi um dos fundadores da Associação dos Médicos Adventistas (AMA), entidade que realizou seu 4º congresso nacional no início de julho e que tem inspirado e motivado médicos adventistas a, assim como ele, aceitar o chamado para o ministério de restaurar vidas de maneira completa. ] MÁRCIO BASSO GOMES é jornalista
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ESTANTE
POVO DA SAÚDE
LIVRO EXPLICA O DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA ÊNFASE ADVENTISTA NUM ESTILO DE VIDA SAUDÁVEL NERIVAN SILVA
E
mbora os adventistas do sétimo dia sejam conhecidos pelo seu cuidado com a saúde e o investimento que fazem na promoção de um estilo de vida saudável, seja por meio de sua mídia, hospitais ou clínicas denominacionais, poucas pessoas sabem, inclusive entre os próprios membros da igreja, a razão dessa ênfase e como ela ganhou corpo ao longo da história. Evidentemente, o desenvolvimento do trabalho médico-missionário dos adventistas foi marcado por esforço e visão, mas também por dificuldades financeiras, oposição e impasses administrativos. Ellen G. White, porta-voz divina dessa mensagem de saúde e principal promotora da causa, manifestou o desejo de que essa história fosse registrada. Em seu testamento, datado de 12 de fevereiro de 1912, ela pediu que fosse publicado um livro que contasse sobre o envolvimento dela com o movimento de reforma da saúde entre os adventistas. Depois de sua morte, os depositários de seus escritos começaram a trabalhar no material. Clarence C. Crisler iniciou o processo, mas coube a Dores Eugene Robinson (1879-1957) produzir a maior parte da obra. Ele foi secretário editorial de Ellen White, compilador e editor dos livros dela, bem como esposo de Ella, neta da pioneira. Como fontes de pesquisa, ele se valeu das cartas entre Ellen White e seu esposo, Tiago, bem como da correspondência trocada entre outros líderes da igreja, além da 50
consulta aos arquivos denominacionais e periódicos da época. Setenta e cinco anos depois de sua primeira edição, o livro The Story of Our Health Message ganha sua versão em português, com o título Revolução na Saúde (CPB, 2018, 328 p.). O impulso para sua publicação no Brasil foi a realização do 4º Encontro Nacional de Médicos Adventistas, em Brasília (DF), no fim de junho. Com seus 38 capítulos, o livro destaca a experiência de muitos pioneiros adventistas com a mensagem de saúde a contribuição significativa deles para o desenvolvimento do trabalho médicomissionário da denominação e o testemunho de médicos que confiaram na orientação divina quanto à veracidade dos princípios de saúde revelados. O material apresenta também o contexto de alguns fatos importantes, como a visão sobre a reforma de saúde, recebida por Ellen White em 6 de junho de 1863. Essa revelação divina veio num momento em que os pioneiros estavam sobrecarregados e exaustos, e oravam por restauração. O livro ressalta ainda como essa mensagem que procura equilibrar corpo e mente para glorificar a Deus foi incorporada à doutrina da igreja e motivou o estabelecimento de instituições e publicações de saúde. Revolução na Saúde pode motivar todos que desejam ter uma vida saudável e despertar em muitos jovens a vocação médicomissionária. É também um lembrete para o povo que vive no
TRECHO
O doutor H. S. Lay, um médico adventista, “ficou profundamente impressionado com a precisão factual dos princípios de fisiologia, higiene, alimentação e terapêutica que estavam no alicerce do que Ellen White relatou da visão. Ele sabia que o conhecimento dela acerca desses princípios não havia sido adquirido de fontes humanas” (p. 58). tempo do fim de que somos herdeiros de uma orientação preciosa, uma das melhores pontes entre a mensagem adventista e a sociedade contemporânea. ] NERIVAN SILVA é pastor, jornalista e editor da Revista do Ancião
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