V O Z IN C O NF U ND Í V E L /// A C O L HIME N T O A O S R E F U G I A D O S /// O S 1.2 6 0 A N O S D A P R O FE CI A /// D O C U ME N T O D E C O NFO R MID A D E
Exemplar avulso: R$ 2,96 | Assinatura: R$ 35,50
JANEIRO 2019
NO RUMO CERTO
O IMPACTO DO CLUBE DE DESBRAVADORES NO FUTURO DAS NOVAS GERAÇÕES
A IMPORTÂNCIA DO INÍCIO OS COMEÇOS SÃO DECISIVOS PORQUE DEFINEM A VISÃO, INDICAM O PROCESSO E INFLUENCIAM O FIM MARCOS DE BENEDICTO
Nossa vida é cheia de começos e fins, ambos essenciais para o que ocorre no intervalo. Se o começo não fosse importante, a gente começaria pelo meio. Por isso, o primeiro livro da Bíblia, o Gênesis, termo grego que traduz a complexa e rica palavra hebraica bereshit (“no princípio”), começa com Deus, a síntese da perfeição e a garantia de um ótimo fim. A raiz de bereshit é rosh (“cabeça”, “superior”, “principal”), termo usado também na expressão Rosh Hashanah (literalmente, “a cabeça do ano”), que marca o início do ano judaico. Assim, o nome bereshit não indica apenas o “primeiro” numa sequência cronológica, mas também referese a um fundamento para tudo que vem depois. Muitas pessoas notáveis reconhecem a importância de um bom começo em sua trajetória. Em uma matéria publicada em dezembro, o site da BBC perguntou: “O que algumas das pessoas mais b em-sucedidas do mundo têm em comum?” Entre elas estão Jeff Bezos, fundador da Amazon e o homem mais rico do planeta; Sergey Brin e Larry Page, criadores do Google; Jimmy Wales, o nome por trás da Wikipédia; Will W right, criador do jogo SimCity; Beyoncé, uma das artistas mais bem pagas da indústria musical; e Gabriel García Márquez, prêmio Nobel de Literatura, falecido em 2014. A resposta é que todos eles estudaram sob o método Montessori, “um sistema de aprendizagem que estimula a criatividade num ambiente colaborativo, sem notas ou provas”. O método é centrado no estudante e não no professor. Aqui vale lembrar que não há consenso sobre a real vantagem do sistema Montessori, criado pela médica e
A OPORTUNIDADE DE INICIAR DE NOVO É UMA BÊNÇÃO QUE DEUS NOS OFERECE TODOS OS DIAS E TODOS OS ANOS
educadora italiana Maria Montessori (1870-1952) e hoje adotado por cerca de 25 mil escolas em todo o mundo. Mas esses personagens atribuem ao método uma influência decisiva no estágio inicial de sua vida. A ideia de que um ambiente criativo na infância ajuda no desenvolvimento da criança tem amplo apoio da ciência. Nos cinco primeiros anos de vida, o cérebro cresce a um ritmo acelerado, e os valores aprendidos nessa fase têm enorme impacto no futuro. As influências definidoras continuam nos anos seguintes. Por isso, a Bíblia determina: “Ajude seu filho a formar bons hábitos enquanto ainda é pequeno. Assim, ele nunca abandonará o bom caminho, mesmo depois de adulto” (Pv 22:6, Bíblia Viva). E Ellen G. White assinala: “A educação começa com o bebê, nos braços da mãe.” A educação na infância é essencial porque, nessa fase, “a mente é mais susceptível de receber impressões, e as lições dadas são lembradas” (Orientação da Criança, p. 26). Reconhecendo esse fator, a Igreja Adventista criou um recurso espetacular para a formação dos pequenos: o Clube de Desbravadores (além dos aventureiros), tema de capa desta edição. Desde a década de 1950, com ênfase nos aspectos físicos, culturais, sociais e espirituais, o clube vem ajudando a moldar o caráter de milhões de crianças e adolescentes. Do estágio de “Amigo” até o de “Líder”, os desbravadores aprendem muitas habilidades que os preparam para a vida e a eternidade. Ao ler a matéria, você certamente entenderá melhor por que essa é uma das iniciativas mais bem-sucedidas da igreja para a fase inicial da vida. Assim, valorize os começos, ainda que humildes e caóticos. E, se o ano que passou não foi bom para você, experimente um recomeço. A oportunidade de iniciar de novo é uma bênção que Deus nos oferece todos os dias e todos os anos. Feliz 2019 e ótimo novo ciclo! ] MARCOS DE BENEDICTO é editor da Revista Adventista
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R e v i s t a A d ve n t i s t a // Janeiro 2019
Foto: Adobe Stock
EDITORIAL
Jan. 2019
No 1341
Janeiro 2019
Ano 114
www.revistaadventista.com.br
Publicação Mensal – ISSN 1981-1462 Órgão Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia no Brasil “Aqui está a paciência dos santos: Aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus.” Apocalipse 14:12 Editor: Marcos De Benedicto Editores Associados: Márcio Tonetti e Wendel Lima Conselho Consultivo: Ted Wilson, Erton Köhler, Edward Heidinger Zevallos, Marlon Lopes, Alijofran Brandão, Domingos José de Souza, Gilmar Zahn, Leonino Santiago, Marlinton Lopes, Maurício Lima, Moisés Moacir da Silva e Stanley Arco Projeto Gráfico: Eduardo Olszewski Foto da Capa: William de Moraes
Adventist World é uma publicação internacional produzida pela sede mundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia e impressa mensalmente na África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Áustria, Brasil, Coreia do Sul, Estados Unidos e México v. 15, no 1 Editor: Bill Knott Editores associados: Lael Caesar, Gerald Klingbeil, Greg Scott Editores-assistentes: Sandra Blackmer, Stephen Chavez, Costin Jordache, Wilona Karimabadi (Silver Spirng, EUA); Pyung Duk Chun, Jae Man Park, Hyo-Jun Kim (Seul, Coreia do Sul) Tradutora: Sonete Costa Arte e Design: Types & Symbols Gerente Financeiro: Kimberly Brown
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Puro, bondoso e leal
A profecia dos 1.260 anos
Crianças migrantes
Os valores aprendidos pelos desbravadores podem salvar uma geração
Os aspectos legais que marcaram o começo e o término do período de perseguição religiosa
Trinta milhões delas são refugiadas e 17 milhões estão na condição de deslocamento
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Os refugiados batem à porta
Eles escolheram o caminho mais difícil
Percepções equivocadas
Como a Europa poderia responder à crise migratória atual?
Gerente Internacional de Publicação: Pyung Duk Chun Gerente de Operações: Merle Poirier Conselheiros: Mark A. Finley, John M. Fowler, E. Edward Zinke Comissão Administrativa: Si Young Kim, Bill Knott, Pyung Duk Chun, Karnik Doukmetzian, Suk Hee Han, Yutaka Inada, German Lust, Ray Wahlen, Juan Prestol-Puesán, G. T. Ng, Ted N. C. Wilson
SUMÁRIO
O ministério de apoio que atua em campo de refugiados
Respostas para as principais críticas ao documento de conformidade
CASA PUBLIC ADOR A BRASILEIR A Editora da Igreja Adventista do Sétimo Dia
Rodovia Estadual SP 127 – km 106 Caixa Postal 34; CEP 18270-970 – Tatuí, SP Fone (15) 3205-8800 – Fax (15) 3205-8900
2 EDITORIAL
32 BOA PERGUNTA
41 MISSÃO
4 CANAL ABERTO
33 DOM DE PROFECIA
42 EVANGELISMO
5 BÚSSOLA
34 BEM-ESTAR
43 INOVAÇÃO
35 NOVA GERAÇÃO
45 SOLIDARIEDADE
36 PRIMEIROS PASSOS
46 MEMÓRIA
19 PERSPECTIVA
37 RETRATOS
47 EM FAMÍLIA
20 MINHA HISTÓRIA
38 INTERNACIONAL
49 ESTANTE
28 VIDA ADVENTISTA
39 IGREJA
50 ENFIM
A importância do início
SERVIÇO DE ATENDIMENTO AO CLIENTE LIGUE GRÁTIS: 0800 9790606 Segunda a quinta, das 8h às 20h Sexta, das 8h às 15h45 / Domingo, das 8h30 às 14h
A opinião de quem lê
Diretor-Geral: José Carlos de Lima
A palavra mais relevante
Diretor Financeiro: Uilson Garcia
6 ENTREVISTA
Redator-Chefe: Marcos De Benedicto Gerente de Produção: Reisner Martins
Até que Ele volte
Gerente de Vendas: João Vicente Pereyra
8 PAINEL
Chefe de Arte: Marcelo de Souza Não se devolvem originais, mesmo não publicados. As versões bíblicas usadas são a Nova Almeida Atualizada e a Nova Versão Internacional, salvo outra indicação. Exemplar avulso: R$ 2,96 | Assinatura: R$ 35,50
Datas, números, fatos, gente, internacional A porta dos fundos
Números atrasados: Preço da última edição.
Salvos na neve
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem prévia autorização escrita do autor e da Editora. Tiragem: 155.500
5824/39241
Entre os refugiados
Registro confiável
Olhando para o alto
Fazer o bem faz bem Evangelismo da amizade Não tenha medo
Socorro na Indonésia Gestão da saúde
Investimento em liderança
Desafio à beira-mar Pedal missionário
O troféu da educação
Auxílio em meio às cinzas Dormiram no Senhor Emocionalmente estável
Pontencialize seu testemunho O silêncio da virada
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CANAL ABERTO OS “ANOS OCULTOS” DE JESUS Achei excelentes o editorial e o artigo de capa da edição de dezembro sobre a discrição de Jesus em relação à vida pública durante Sua infância e juventude. Nossa querida revista está cada vez mais surpreendente, com matérias interessantes e bem elaboradas. Sobre esse assunto, vale lembrar também que a ocultação pública da infante vida do Menino-Deus parace ter obedecido à orientação rigorosa da educação judaica (Dt 6:4-9). Penso que isso representa uma eficaz e milenar lição para os pais de todos os tempos. Em vez de expor os filhos e alimentar o sempre perigoso ego juvenil, nosso foco na infância deve estar na edificação discreta do caráter dos pequenos. Dessa maneira, depois que eles assumirem a vida pública, poderão ser tão bem-sucedidos quanto o Mestre. Manuel Xavier de Lima / Engenheiro Coelho (SP)
GENEALOGIAS DE CRISTO
Na matéria de capa de dezembro, os autores não explicaram a diferença entre a genealogia de Mateus e Lucas. Creio que uma é a genealogia de José e a outra de Maria. Existe alguma explicação além dessa? Gentil Cardoso / Guarulhos (SP)
Alguns acreditam que essas diferenças sejam evidência de que a Bíblia contém erros. No entanto, os judeus eram muito cuidadosos com seus registros, principalmente com as genealogias. A melhor explicação (embora não a única) é a de que Mateus e Lucas seguem duas linhagens diferentes (ou seja, Mateus apresenta os antepassados de José, enquanto Lucas apresenta os de Maria). O Comentário Bíblico Adventista discute o assunto no volume 5, especialmente nas páginas 793-796. Lucas (3:23) informa que Jesus era filho de José, “como se cuidava”. Isso indica que, conforme os registros oficiais, José era o pai “legal” de Jesus, embora não fosse o pai biológico. 4
O NOME ACIMA DE TODOS OS NOMES Gostaria de agradecer ao pastor M arcos De Benedicto o presente de Natal dado aos leitores da Revista Adventista. Falo do seu editorial de dezembro. Eu o li e, em seguida, reli com minha esposa. Sorvemos cada palavra que remete ao amigo Jesus, nosso Senhor e Salvador. O texto é uma obra de arte. Tem grandiosidade poética. Sem dúvida, Cristo é o maior e melhor presente desta tão bonita época do ano! Márcio Gomes Basso / Jacareí (SP)
ATITUDE CORRETA
Ótima reflexão do pastor Erton na edição de dezembro. O texto trouxe três princípios que, se forem seguidos ao lidarmos com os que erram publicamente, aproximarão mais as pessoas de Cristo em vez de afastá-las. Não podemos nos esquecer de que, ao pé da cruz, somos todos pecadores. Samuel Anério / Nova Iguaçu (RJ)
Parabéns ao pastor Erton Köhler pelo texto oportuno publicado na
seção Bússola de dezembro. Sua sensibilidade é tocante. Que Deus tenha misericórdia de nós, assim como nós temos de nossos companheiros nesta jornada rumo à eternidade. Ivan Stabnov / Via site
A VITÓRIA DO AMOR
A matéria de capa de novembro nos ofereceu um novo olhar a respeito do conceito de teodiceia, nos ajudando assim a conciliar a crença no caráter amorável de Deus com a realidade deste mundo marcado pela existência do mal e da dor. No entanto, fica uma pergunta: E quando Deus causou a “dor”? Por exemplo, Ele aleijou Jacó (Gn 32:31-32)? Sim, mas evitou um mal maior: Esaú não mataria um irmão que manquejava. O mesmo eu diria sobre a tempestade que Ele enviou contra o navio em que estava Jonas, o profeta que fugiu (Jn 1:4). Por meio dessa tempestade, Deus salvou os mais de 120 mil habitantes de Nínive. Josildo Isídio de Melo / São Paulo (SP)
FONTE DE PESQUISA ACADÊMICA
Gostaria de parabenizar a equipe da Revista Adventista pelo ótimo trabalho editorial que realizam e por disponibilizarem o importante acervo histórico do periódico na internet (acervo.revistaadventista.com.br). Esse acervo foi fundamental para que eu pudesse fundamentar meu projeto de pesquisa para entrar no mestrado em História da UFPB. Pretendo pesquisar sobre a história da Igreja Adventista na Paraíba. Daniel Firino / Bayeux (PB)
Expresse sua opinião. Escreva para ra@cpb.com.br. ou envie sua carta para Revista Adventista, caixa postal 34, CEP 18270-970, Tatuí, SP.
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BÚSSOLA
A PALAVRA MAIS RELEVANTE A ESPERANÇA FAZ PARTE DA VISÃO PROFÉTICA PARA O TEMPO EM QUE VIVEMOS ERTON KÖHLER
bservando o mundo em que vivemos, que palavra você usaria para descrever nossa situação? Existem várias possibilidades, mas certamente “crise” estaria no topo da lista. Ela está na política, nos valores morais, na ecologia, no cenário financeiro e nas questões corporativas, profissionais, existenciais, familiares e espirituais. Com a expansão da internet, das redes sociais, das fake news e da irresponsabilidade virtual, o potencial de crises tornouse ainda maior. Sem dúvida, essa é a palavra do momento. No entanto, para um estudante da Bíblia, “esperança” é uma palavra ainda mais relevante. Afinal, crise se enfrenta com esperança (Hc 3:17-19). Ela deve estar no centro das atenções de alguém que conhece a visão profética para o tempo em que vivemos. O pastor Amim Rodor vai mais longe e reconhece que “o resumo da confissão adventista é encontrado na palavra ‘esperança’”. Há muito conteúdo transmitido pelas poucas letras desta palavra, que aparece cerca de 290 vezes na Bíblia e 4.406 vezes nos escritos de Ellen G. White. Esperança representa a maior expectativa do mundo; lembra a mensagem da segunda vinda de Cristo, descrita cerca de 2 mil vezes em toda a Bíblia; indica a identidade dos adventistas, que não nasceram de uma grande
Foto: Thiago Lobo (montagem sobre Adobe Stock)
O
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A PALAVRA ESPERANÇA É UM FIO DE OURO QUE LIGA SENTIMENTOS, MENSAGENS E EXPECTATIVAS IMPORTANTES DO POVO ADVENTISTA decepção, mas de uma esperança renovada; era a característica dos pioneiros adventistas, ilustrada por Tiago White ao concluir sua mensagem na primeira revista adventista (The Present Truth) com a expressão “na esperança”; e é a marca dos projetos missionários desenvolvidos hoje em toda a Divisão Sul-Americana. Realmente, essa palavra é um fio de ouro que liga sentimentos, mensagens e expectativas muito importantes. Sua força aparece também no hino que representa a unidade e identidade da Igreja Adventista ao redor do mundo. Com certeza você já cantou ou pelo menos ouviu o hino “Oh! Que Esperança!”. Ele
foi cantado pela primeira vez na assembleia da Associação Geral de 1962, realizada na cidade San Francisco e que teve o mesmo tema. Foi também a base da mensagem de abertura apresentada pelo pastor R. R. Figuhr, presidente mundial da igreja de 1954 a 1966, e que também havia sido presidente da Divisão Sul-Americana, de 1941 a 1950. Wayne Hooper, que era parte da equipe de A Voz da Profecia americana, compôs o hino especialmente para esse encontro mundial, mas seu impacto foi tão forte que passou a ser cantado pela igreja ao redor do mundo. Acabou sendo também o único hino oficial de cinco assembleias gerais. Além de 1962, foi repetido em 1966, 1975, 1995 e 2000. Nossa unidade e identidade estão construídas sobre essa esperança. Mas o conselho bíblico vai além de simplesmente conhecer a força, o valor ou o significado da palavra “esperança”. O desejo do Senhor, apresentado pelo apóstolo Paulo, é que sejamos “ricos de esperança” (Rm 15:13). E, para isso que isso realmente aconteça durante este ano, quero convidá-lo a investir tempo na leitura das Meditações Diárias Nossa Esperança. Tive a oportunidade de escrever esse devocional e creio que, pelo poder do Espírito Santo, o contato com suas mensagens bíblicas, testemunhos marcantes e histórias poderosas vai tornar cada leitor mais “rico de esperança”. Nossos pés estarão na Terra, mas nossos olhos serão levados ao Céu, apegados à certeza da breve volta de Jesus. Tire seus olhos da crise e coloque seu coração no pensamento de que o Senhor logo virá. Que essa esperança alegre nosso coração (ver Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja, v. 9, p. 287)! Viva cada dia de 2019 alimentado por este sentimento que vem do Senhor. ] ERTON KÖHLER é presidente da Igreja Adventista para a América do Sul
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ENTREVISTA
MURILO PEREIRA
Neumoel Stina
Depois de 35 anos de ministério como pastor distrital, presidente de Associação, diretor de internato e orador do ministério A Voz da Profecia, o pastor Neumoel Stina concluiu seu ciclo como funcionário assalariado da igreja em dezembro. Tendo servido por muitos anos no território paulista, nos últimos sete anos ele foi o pastor sênior do Unasp, campus São Paulo. Foi também na capital paulista que ele recebeu em novembro o título de Cidadão Paulistano. Para um público mais amplo, talvez a principal marca de seu ministério tenha sido a utilização de sua inconfunEX-ORADOR DO PROGRAMA A VOZ DA PROFECIA FALA dível voz para pregar sobre a breve volta de SOBRE AS LIÇÕES DE SEU MINISTÉRIO, PLANOS PARA A Jesus. Nesta sucinta entrevista, ele olhou para APOSENTADORIA E SUA CONVICÇÃO NA VOLTA DE JESUS o passado, a fim de agradecer, e para o futuro, a fim de compartilhar seus planos e convicções.
ATÉ QUE ELE VOLTE
Todo grande evangelista parece ter tido uma forte experiência pessoal com Deus. Foi assim com o senhor também? Fui criado por pais piedosos e sempre estive muito ligado à igreja 6
O tema da volta de Jesus é um dos seus preferidos como pregador e comunicador, e marcou sua passagem por A Voz da Profecia. Por quê? Eu amo pregar esse tema. Tem sido assim desde meus 16 anos e pretendo fazer isso até a volta de Jesus. Minha passagem pelo programa A Voz da Profecia foi marcante para mim. Preguei em todos os cantos do Brasil e América do Sul e em várias partes do mundo. Acompanhado do quarteto Arautos do Rei, falei para multidões e sentia uma emoção especial toda vez que
via centenas de pessoas manifestando sua entrega a Deus e sendo batizadas. Há 46 anos prego que Jesus voltará, e Ele ainda não veio. Meus pais já inclusive descansam nessa esperança. Porém, eu ainda tenho a convicção de que Ele virá em nossa geração. Nós O veremos! Como o senhor enxerga o cuidado de Deus em sua vida? Deus sempre me abençoou em tudo o que fiz. Penso até que, se tivesse escolhido outra carreira, como piloto de avião, Ele teria me abençoado da mesma forma. Ele não cuidou de mim porque sou pastor, mas porque Deus tem prazer em abençoar todos os Seus filhos. Por isso, eu O glorifico! Quais são seus planos daqui para a frente? Sempre cuidei da minha família e as pessoas se surpreendem de como consegui, ao longo desses anos, preparar tantos sermões, livros e DVDs e ainda não descuidar dos de casa. O segredo foi aproveitar bem cada retalho de tempo. Porém, agora terei mais tempo para minha esposa, filhos e netos. E para alguns hobbies também. Não sou aquele velhinho que está entregando o bastão, mas apenas trocando o microfone de mão. Continuarei a fazer aquilo de que gosto e com mais intensidade ainda. ] R e v i s t a A d ve n t i s t a // Janeiro 2019
Foto: Jefferson Pita
Sua relação com o evangelismo pelo rádio vem de longa data. Sim. Minha mãe foi batizada por influência do pastor Roberto Rabello e do programa A Voz da Profecia quando faltavam três meses para eu nascer. Crescendo na igreja, depois fui batizado aos 12 anos e preguei meu primeiro sermão aos 16, sobre a volta de Jesus. Por surpresas que Deus nos faz, muito mais tarde fui nomeado para ser orador desse programa radiofônico (1997-2002). Também como pastor distrital e depois líder de departamento na Associação Paulista Oeste, sempre procurei utilizar o rádio para pregar o evangelho.
e sentindo claramente a presença de Jesus comigo. Porém, algo especial ocorreu quando decidi cursar Teologia. Eu havia terminado o ensino médio, servido ao Exército e estava trabalhando como assistente financeiro de uma grande empresa. Numa sexta-feira à tarde, tentei me inscrever para o vestibular, mas descobri que o prazo já havia terminado. Então fui para uma praia na represa de Salto Grande, em Americana (SP). Estava sozinho, com aquela tensão forte dentro de mim e ventava muito. No meio daquele vendaval, ouvi uma voz muito clara. Creio ter ouvido Deus me dizer que deveria avançar com o plano de ser pastor. Não seria fácil, mas Ele estaria comigo. Voltei para o escritório, liguei para o colégio e 35 anos depois estou aqui encerrando meu ministério formal.
adventistas.org
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PAINEL F AT O S
CENTRO DE APOIO A REFUGIADOS E MIGRANTES Inaugurado em dezembro, o CARE vai oferecer serviços de orientação jurídica, agendamento de solicitação de refúgio, acompanhamento psicológico, tradução de currículos, aulas de português e ligações internacionais gratuitas para refugiados e migrantes que vivem em Manaus (AM). O projeto será desenvolvido pela regional da ADRA Brasil, em parceria com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), o Fundo de Populações das Nações Unidas (UNFPA), a União Europeia e a prefeitura.
CERTIFICAÇÃO INTERNACIONAL O atendimento oferecido pelo Hospital Adventista de Manaus (HAM) colocou a instituição no mesmo patamar de hospitais do Canadá, Estados Unidos e Europa. Esse padrão de qualidade foi reconhecido por meio da Certificação Internacional Canadense, entregue à instituição adventista no ano em que ela completou quatro décadas de existência. Inédita no estado, a acreditação é uma das mais conceituadas em âmbito internacional.
DIA ESTADUAL DA MISSÃO CALEBE
A data foi instituída oficialmente no calendário do Maranhão por meio do Projeto de Lei 10.948, aprovado em novembro. O Dia Estadual da Missão Calebe será celebrado no último sábado de julho.
A classe bíblica do Jardim Finotti, em Uberlândia (MG), encerrou o ano com a formatura de 50 alunos e o batismo de 16 deles. A igreja local tem buscado trabalhar em parceria com a TV Novo Tempo, a fim de alcançar os espectadores da emissora que desejam estudar a Bíblia. Ao longo dos últimos seis meses, o projeto contou com o apoio do pastor Arilton Oliveira, diretor da Escola Bíblica e apresentador do programa Bíblia Fácil.
HOMENAGEM À ADRA
No início de dezembro, o escritório da ADRA Brasil no Rio de Janeiro recebeu o Diploma de Honra ao Mérito, título concedido pela Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros Militar do estado. A homenagem, que foi realizada durante o lançamento de um novo plano de assistência em desastres, deve aproximar a agência humanitária de outras entidades que oferecem apoio em situações de emergência.
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Fotos: Fernando Borges / HAM / Joelton Oliveira / ADRA
TRABALHO INTEGRADO
O L H A R D I G I TA L
A cosmovisão é
COMBATE ÀS FAKE NEWS
o software que
NOVA TEMPORADA A disseminação de notícias falsas na rede tem se tornado um problema cada vez mais crônico que também afeta a igreja. Com o objetivo de conscientizar as pessoas sobre as implicações da dissiminação de boatos, a sede adventista sul-americana criou uma página na internet que reunirá cards, vídeos, artigos e notícias que tratam do tema. Acesse: adv.st/fakenews.
Resultado de 240 dias de gravações em oito países sul-americanos, as novas histórias do Provai e Vede para 2019 já estão disponíveis no feliz7play.com, portal de vídeos da igreja. Uma das novidades para o próximo ano foi a inclusão de 12 histórias relatadas pelo pastor Alejandro Bullón no livro Crescendo em Graça.
administra nossa vida e o mapa que orienta nossa trajetória no mundo.
Kevin J. Vanhoozer, professor de pesquisa em Teologia Sistemática na Trinity Evangelical Divinity School, falando aos participantes do simpósio “Transformando as Cosmovisões: Fidelidade à Bíblia em uma Era Pluralista”, realizado na Universidade Andrews (EUA)
Fotos: Divulgação / Trinity Evangelical Divinity School
E-COMMERCE ADVENTISTA Criado em 1998, quatro anos depois do nascimento da Amazon, maior loja on-line do mundo, o site adventistbookcenter.com foi uma das primeiras plataformas de comércio eletrônico desenvolvidas pela Igreja Adventista. O 20o aniversário da loja virtual, que hoje é acessada por pessoas de mais de 165 países, foi comemorado em outubro.
De cada cinco brasileiros, um já estuda fora da sala de aula. Refletindo essa tendência, a educação adventista tem 55 polos de ensino a distância e outros dez estão previstos para ser abertos em 2019.
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Janeiro 2019
ESTUDO BÍBLICO PARA AS NOVAS GERAÇÕES Previsto para ser lançado em janeiro pelo setor de Web da Rede Novo Tempo de Comunicação, o app A Jornada será um estudo bíblico no formato de game em 3D. O conteúdo das sete fases do jogo foi produzido pela Escola Bíblica e abordará temas do Gênesis ao Apocalipse. Além de ensinar os princípios bíblicos de maneira lúdica, o aplicativo terá recursos para promover a interação com outros usuários da ferramenta.
O Japão atingiu o recorde de quase
70 mil
centenários, sendo que 88% são mulheres. O número de pessoas com mais de 100 anos tem crescido há 48 anos consecutivos no país.
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Eugene Peterson, conhecido escritor e editor da Bíblia A Mensagem, o qual morreu no dia 22 de outubro
A maturidade não pode ser apressada, programada nem consertada. Não há anabolizantes disponíveis para crescer em Cristo mais rapidamente. Atalhos impacientes nos levam aos becos sem saída da imaturidade.
GENTE
D ATA S
ALUNO PREMIADO
8 A 13 E 15 A 20 DE JANEIRO
Diogo Rodrigues da Silva, do Colégio Adventista de Esteio (RS), foi um dos três premiados na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica. Promovida há 21 anos por profissionais ligados à Sociedade Astronômica Brasileira e por engenheiros da Agência Espacial Brasileira, a competição envolveu cerca de 700 mil alunos de 8 mil escolas públicas e particulares.
BODAS DE NEVE (67 ANOS)
De Germano José dos Santos, de 95 anos, e Diolina Pina Santos, de 89, em cerimônia realizada no dia 22 de dezembro na Igreja do Parque Ipê, comunidade adventista que eles fundaram na capital paulista. Adventista há cinco décadas, Germano é leitor assíduo da Revista Adventista desde 1989. O casal têm sete filhos, 32 netos e 11 bisnetos; todos permanecem na igreja.
Barretos, no interior paulista, será palco de um dos maiores encontros organizados pela igreja no continente. O 5o Campori de Desbravadores sulamericano espera reunir cerca de 100 mil jovens e adolescentes de oito países. Em função do número histórico de participantes, o evento terá duas edições, algo inédito (leia a reportagem da p. 12).
15 A 19 DE JANEIRO
Acontece o 25o Encontro de Músicos do Unasp, campus Engenheiro Coelho (SP). O evento reunirá cantores, instrumentistas, regentes, sonoplastas, estudantes e outras pessoas envolvidas com a música na igreja ao redor do Brasil. Além de assistir palestras e concertos, os participantes poderão se inscrever em diversas oficinas e cursos.
3,4 bilhões de pessoas,
quase metade da população mundial, vivem abaixo da linha da pobreza, segundo novo levantamento divulgado pelo Banco Mundial.
Do pastor Davi Marski, que também completou 60 anos de adventismo, e Ruth, em cerimônia realizada em Campinas (SP) pelos pastores Enildo do Nascimento, genro do casal, e os irmãos Artur e Paulo, que também são filhos do pioneiro Geraldo Marski. Eles serviram à igreja por 40 anos nos estados do Paraná e São Paulo e, desde que se aposentaram, vivem em Hortolândia (SP). 10
De Bruno Leopoldo Schäffer e Laci Diemer Schäffer. Adventista há 25 anos e membro na igreja que ajudou a plantar em Novo Hamburgo (RS), o casal tem três filhos (Helena, Bruno e Rosana) e três netos (Tiago, Eduardo e Diego). R e v i s t a A d ve n t i s t a // Janeiro 2019
Fotos: Arquivo pessoal
BODAS DE OURO (50 ANOS)
INTERNACIONAL
55.000
SIMPÓSIO DA ONU ASSISTÊNCIA AOS NATIVOS Há 50 anos, a ONG internacional Sulads tem atuado em comunidades remotas, promovendo o acesso à educação e assistência médica. Para comemorar os resultados de cinco décadas de trabalho, 400 voluntários que representam a entidade ao redor do mundo se reuniram no Mountain View College, nas Filipinas, país em que a ONG nasceu, em 1969. A data foi celebrada com apresentações culturais, visitas às escolas missionárias mantidas pela ONG e uma missão médico-odontológica realizada numa tribo local.
2.000 chilenos
participaram do congresso jovem realizado simultaneamente em sete cidades do país. Além de acompanhar palestras, eles distribuíram livros e realizaram ações sociais na comunidade.
Treze estudantes do Avondale College, na Austrália, representaram a igreja em um simpósio sobre liderança promovido pela Organização das Nações Unidas em Bangkok, capital da Tailândia. Pessoas de 300 universidades espalhadas por quase 90 países participaram do evento que busca colocar estudantes em contato com pessoas que desenvolvem projetos humanitários e capacitá-los para fazer a diferença nas comunidades em que vivem.
foi o número de participantes da segunda fase do Estudo Adventista de Saúde, realizado pela Universidade de Loma Linda, que mostrou que a obesidade e o consumo de carne são importantes fatores de risco para o desenvolvimento do diabetes tipo 2.
Um levantamento feito pelo Pew Research Center mostrou onde estão as maiores concentrações de pessoas sem filiação religiosa:
América do Norte 59 milhões
Europa 135 milhões
Oriente Médio e Norte da África 2,1 milhões Ásia-Pacífico 858,5 milhões América Latina e Caribe 45,4 milhões
África Subsaariana 26,5 milhões
Fotos: Adventist Record
RECONCILIAÇÃO Depois da declaração conjunta assinada em 2015, duas cerimônias de ordenação em massa realizadas no fim de outubro representaram um novo passo na reaproximação de um grupo de dissentes na Hungria. A divisão histórica na igreja húngara aconteceu em 1975, em meio a um protesto de jovens pastores e outros membros sobre a colaboração dos líderes da igreja local com o Council of Free Churches (Conselho de Igrejas Livres). Esse organismo, formado para representar os interesses comuns das pequenas denominações protestantes, mais tarde se tornaria uma ferramenta do Estado comunista. Nos últimos anos, a liderança da igreja e do grupo KERAK se dispuseram a dialogar, perdoar os erros do passado e desenvolver a compreensão mútua. Colaboradores: Anne Seixas, Felipe Lemos, Fernanda Beatriz, Joy Caballero-Gadia, Marcely Seixas, Márcio Tonetti, Mauren Fernandes,
Natasha Pujols, Priscila Baracho, Victor Hulbert, Wendel Lima e Willian Vieira
R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Janeiro 2019
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CAPA
Foto: Leonidas Guedes – DSA
puro, bondoso e leal COMO O CLUBE DE DESBRAVADORES TEM CONTRIBUÍDO PARA O DESENVOLVIMENTO DOS INTEGRANTES E A FORMAÇÃO DE IGREJAS MAIS MADURAS E RELEVANTES 12
Giselly Abdala Ludtke e Noemi Pacheco Almeida R e v i s t a A d ve n t i s t a // Janeiro 2019
Foto: Douglas Pessoa
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arda, faixa, ordem unida, acampamentos, pés enlameados, trilhas e aventuras. Essas são algumas imagens que vêm à mente quando pensamos nos desbravadores e que possivelmente ganharão a internet nos próximos dias durante a cobertura do maior campori da história da igreja na América do Sul, que reunirá quase 100 mil pessoas de oito países em Barretos, no interior de São Paulo (para acompanhar o evento, acesse camporidsa.org/pt). Mas nenhum desses símbolos e ações é um fim em si mesmo. Por trás de cada um deles estão princípios que têm ajudado meninos e meninas a cumprir seu papel na sociedade e na igreja. Nos encontros semanais, crianças e adolescentes de 10 a 15 anos aprendem a ler e interpretar o mundo através das lentes do evangelho e a praticar ideais de pureza, bondade, lealdade e serviço. Um clube nasce para ensinar crianças e adolescentes não apenas a interagir com a natureza e respeitá-la, mas a manter o coração na Palavra de Deus e os olhos voltados para o próximo. Assim tem sido no alto da favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, onde os domingos ganharam sons e paisagens diferentes para a garotada. Desde que o Clube de Desbravadores Comunitá-Rocinha iniciou as atividades ali, há dois anos, novas atividades e descobertas passaram a fazer parte da rotina da periferia carioca. Fundado pelo casal de diretores Gabriela Alves e Harrison Marques, o clube é parte do projeto social Comunitá, que nasceu há 17 anos e oferece gratuitamente oficinas esportivas, além de aulas de música, teatro e inglês para os pequenos moradores da comunidade. O trabalho conjunto entre a ONG e o clube abriu caminho para uma atuação mais efetiva no local. Gabriela conta que mesmo as trilhas e os passeios mais simples geram euforia nas crianças. Isso porque muitas delas têm um universo bastante restrito. A maioria não conhece o mundo que existe fora da Rocinha. Seu universo é o espaço doméstico ou, no máximo, a vizinhança. Além disso, a diretora explica que a vivência em um ambiente que estimula e cobra o respeito para com seus pares e superiores tem ajudado a melhorar a vida em comunidade. O acesso ao conhecimento é outro aspecto que tem contribuído para a mudança de perspectivas. Os horizontes dessas crianças e adolescentes se ampliam quando elas cumprem os requisitos das “especialidades” que desafiam os desbravadores a ter noções básicas sobre fauna, flora, cultura, artes manuais, métodos de sobrevivência, entre outros temas. “As especialidades trazem novos conhecimentos e têm despertado neles a descoberta de gostos e talentos. E, a partir disso, vem o sentimento de novas possibilidades”, comenta Gabriela. “Na época em que vivemos, todos estão expostos a muitas informações, mas a maior parte A vocação delas é de pouco valor real, e as social dos especialidades são um diferencial, principalmente quando desbravadores tiram o jovem do lugar-comum está amplamente e o elevam a um degrau acima”, complementa Juliana Assis, entrelaçada com psicóloga clínica e gestora social. sua vocação Nessa escalada, o degrau missionária acima não é apenas cognitivo, R e v i s t a A d ve n t i s t a // Janeiro 2019
Há dois anos, o clube da Rocinha tem buscado ajudar cerca de 40 crianças e adolescentes a superar as dificuldades sociais
mas também espiritual, isto é, a vocação social dos desbravadores está amplamente entrelaçada com a vocação missionária. “IR AONDE DEUS MANDAR” Esta é uma frase que todo bom desbravador sabe de cor e que reflete a entrega e a certeza de que em cada lugar que se chega há uma missão a cumprir. Dulcinea Figueredo, tesoureira do Clube Kadosh, conta que até meados de 2011 a presença adventista no bairro Jardim Vila Formosa, na cidade de São Paulo, era inexpressiva. “Começamos um grupinho na garagem da minha casa, mas os moradores da comunidade raramente aceitavam o convite para participar das reuniões”, lembra. Houve inúmeras tentativas de engajamento, mas pouco resultado. A solução encontrada para quebrar as barreiras foi estabelecer um clube de desbravadores. Certa manhã, entre brinquedos infláveis e tendas armadas na praça para oferecer atendimento médico e orientação jurídica gratuitos, eles disponibilizaram um estande com fichas de inscrição para o novo clube. Ao fim do dia, dezenas de formulários haviam sido preechidos, marcando o nascimento do clube de desbravadores e de aventureiros Kadosh. De origem hebraica, o termo significa “santo”, “especial”, “separado para uma missão dada por Deus”. De fato, eles são. “Aqui funciona assim: começamos a trabalhar com as crianças da comunidade quando elas estão com seis anos. Depois de passarem pelo clube de aventureiros, elas permanecem no clube de desbravadores até os 15 anos de idade”, conta Dulcineia, que também é conselheira de uma unidade de meninas de 10 a 12 anos. A liderança do Kadosh cuida, atualmente, de mais de 70 crianças e adolescentes como se fossem filhos. O grupo é acompanhado de perto com visitas mensais, doação de roupas, sapatos e brinquedos, além de outras formas de assistência. 13
Não demorou até que a aproximação se convertesse em um campo aberto e livre para o evangelismo. Ao vivenciarem os gestos de amor desinteressado, foi mais fácil àquelas famílias crerem no amor de Cristo. “As crianças saem dos aventureiros ambientadas. Quando se tornam desbravadoras, elas recebem estudos bíblicos e muitas decidem ser batizadas. É assim que evangelizamos”, conta Dulcinea. Dezenas de famílias foram alcançadas através de ações do clube. Assim, o tímido e inexpressivo grupo que se encontrava na garagem de uma casa logo se converteu em uma igreja em que 70% dos membros são desbravadores, aventureiros ou seus familiares. Dulcineia garante que, se a igreja e o clube fechassem as portas, a comunidade sentiria profundamente. “Nós abrimos as portas para crianças e famílias que estão à margem da sociedade, fazendo com que eles se sintam amparados”, afirma. Ela acredita que, afinal, é nisto que se fundamenta a razão de existir dos Desbravadores: ser missionário, amigo de todos e ir aonde Deus mandar. A história do Clube Kadosh é a história de muitos outros espalhados pelo país. Segundo o líder sul-americano de Desbravadores e Aventureiros, pastor Udolcy Zukowski, os clubes são uma das maiores portas de entrada para a igreja. Para ele, isso ocorre devido ao grande número de não adventistas que participam das atividades, somado aos profundos e fortes laços de amizade estabelecidos ali e que se estendem aos familiares desses meninos e meninas.
RECONHECIMENTO PÚBLICO Ao redor do país, o compromisso dos desbravadores com a sociedade é reconhecido na esfera pública. Dezenas de homenagens solenes já foram prestadas nas Câmaras Municipais e Assembleias Legislativas.
SERVOS DE DEUS E AMIGOS DE TODOS São os amigos, também, que permanecem ao lado e incentivam – ainda que não saibam – os novos na fé a prosseguir na caminhada cristã. Isso porque, como explica a psicóloga Juliana Assis, a fase que eles vivem dentro dos clubes é crucial para a tomada de decisões importantes. 14
Em alguns estados, o Dia dos Desbravadores também passou a fazer parte do calendário oficial. É o caso do Mato Grosso do Sul, Pará, São Paulo, Pernambuco e Ceará. Além disso, há a intenção de um projeto de lei propondo o Dia Nacional dos Desbravadores. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Janeiro 2019
Foto: Leonidas Guedes – DSA / Sandro Nascimento – Alep
Além de ser uma poderosa ferramenta evangelística, o clube de desbravadores tem ajudado a manter os jovens na igreja e a formar uma nova geração de líderes
“Como estão engajados em atividades e grupos que fazem com que sua visão de mundo vá além de coisas fúteis e triviais, esta experiência na adolescência traz um impacto muito mais positivo do que teria se não houvesse essa oportunidade”, afirma. Os números confirmam que o ministério dos Desbravadores e Aventureiros tem desempenhado um papel importante na conservação dos membros. Segundo dados levantados pelo departamento sul-americano, dos 31.624 jovens que deixaram a igreja em 2016, apenas 625, isto é, 1,97%, haviam sido ativos em um clube. Outro indicador que chama a atenção é que, se no mesmo período 11,65% dos jovens batizados se desvincularam da denominação, apenas 0,58% dos que eram desbravadores fizeram o mesmo. Em números absolutos, isso equivale a dizer que, a cada mil desbravadores batizados, somente seis deixaram a igreja. Além da amizade, o constante estímulo ao estudo da Bíblia é outro fator que contribui para o fortalecimento da espiritualidade dessas crianças e adolescentes. Para se ter uma ideia, durante o maior campori da história da igreja no continente serão distribuídas cerca de 100 mil Bíblias aos participantes do evento. Em todo o país, clubes de desbravadores desenvolvem projetos, concursos e atividades que incentivam a garotada a conhecer a Deus mais de perto através de uma experiência diária com o Livro Sagrado. Ao tomar gosto pela Palavra de Deus e buscar compreendê-la mais profundamente, eles podem experimentar um encontro pessoal e íntimo com o Salvador.
“Posso ser sincera? Eu não gostava nada da Bíblia”, revela timidamente Hellen Rocha, desbravadora de 12 anos. Ela faz parte do Clube Guepardo, em Guaianases, zona leste da capital paulista. A garota descobriu o clube por meio de uma vizinha, aos 10 anos de idade. Desde então, nunca se afastou. A menina de cabelos longos e sorriso fácil confessa que a leitura nunca foi sua grande paixão. Mas, em uma das reuniões semanais do clube, foi lançada a competição “Quem Sabe, Prova”. O livro-texto era Gênesis. Curiosa, ela topou o desafio sem saber bem o que esperar. Por meio do concurso, um dos mais antigos realizados pela sede da igreja para a zona leste de São Paulo, crianças e adolescentes são desafiados a ler um livro previamente escolhido e absorver o máximo que puderem. Os vencedores são premiados com barracas, mochilas, aparelhos de som e viagens. Hellen, que não tinha familiaridade nenhuma com a Bíblia e conhecia pouco de seus relatos, embarcou profundamente nas histórias de Gênesis. A garota conta que desconhecia a grandeza das experiências de personagens como Abraão e José, e que a cada página se encantava com o que lia. Quando menos percebeu, Hellen finalizou o livro. Além de ter conquistado o quarto lugar em nível regional, a adolescente foi batizada no dia da prova.
HISTÓRIA DOS DESBRAVADORES As raízes do Clube de Desbravadores remontam à criação da Sociedade dos Missionários Voluntários, em 1907, pela Igreja Adventista. Em 1929, o nome pathfinder ("desbravador") foi usado pela primeira vez em uma programação de jovens da igreja. Em 1946, o pastor John Hancock criou um programa semanal com os jovens e fundou o primeiro clube de desbravadores no mundo, em Riverside, na Califórnia (EUA). Em 1950, já com símbolos e hino criados, o clube foi oficializado em nível mundial pela Associação Geral da Igreja Adventista. No Brasil, a ideia foi disseminada pelo pastor Henry Feyerabend, que veio como missionário do Canadá para Santa Catarina. O líder de Jovens utilizou material em inglês que havia trazido de seu país e começou a visitar as igrejas de Santa Catarina falando sobre a importância
Foto: Leonidas Guedes – DSA
do clube de Desbravadores. Assim, do início de 1959 até
LIDERANÇA E SERVIÇO Para permanecer exercendo influência na vida desses jovens, a filosofia do Clube de Desbravadores é a de que o ensino deve ocorrer em todo o tempo, em todo lugar e em todas as situações da vida. Além disso, deve ser prático. Por isso, o currículo do clube inclui habilidades úteis para a vida. “A ideia de dissociar teoria e prática não é típica da forma de os antigos hebreus transmitirem o conhecimento. É um modo mais ocidental, de herança grega. A educação a que Cristo Se submeteu em Seu lar e a que Ele ofereceu aos Seus discípulos sempre foi essencialmente prática. Ensina-se e aprende-se fazendo”, diz o documento da Divisão Sul-Americana sobre a filosofia dos Desbravadores. Assim, quanto mais caminham sobre as pegadas da verdade, mais se tornam parecidos com ela. O pastor Udolcy Zukowski ressalta que esse modus operandi, que incentiva à ação, é um fator importante para a formação de líderes. “Se um desbravador estiver em um acampamento, por exemplo, e começar a chover, ele terá que resolver esse problema de alguma forma, ser proativo. É assim, nessas situações de crise, Hoje o Brasil que se desenvolvem grandes líderes”, comenta. tem 256,5 mil Confirmando essa realidade, desbravadores os dados da igreja no continente mostram que os cargos de lidedistribuídos em rança hoje são ocupados majoritamais de 9 mil riamente por pessoas que já foram clubes membros de um clube. Segundo o levantamento, 90% dos pastores, R e v i s t a A d ve n t i s t a // Janeiro 2019
1960 ele fundou sete clubes. Na mesma época, também nasceu no território paulista o clube Pioneiros, oficializado pelo pastor Wilson Sarli em 1961. Então com 14 anos de idade, Auristela Solano, hoje com 73, foi uma das integrantes do clube fundado em Ribeirão Preto. “Nos reunimos pela primeira vez no pátio de uma escola. Éramos umas 15 pessoas, entre meninos e meninas”, ela relembra. Ao fim dessa fase de experimentações, com o amadurecimento do programa, foi celebrado o 1º Campori da Divisão Sul-Americana, organizado pelo pastor Cláudio Belz, em Foz do Iguaçu (PR), nos dias 28 de dezembro de 1983 a 4 de janeiro de 1984. Hoje o Brasil tem mais de 9 mil clubes e a meta para os próximos anos é ter um clube por igreja.
86% dos líderes de pequenos grupos e 75% dos anciãos tiveram essa experiência. A cada clube aberto, dezenas de meninas e meninos se desenvolvem física, mental e espiritualmente. São juvenis, adolescentes e jovens que aprendem a alinhar o coração ao coração do Pai, em pureza, bondade e lealdade. E assim seguem delineando igrejas mais maduras, solidárias e missionárias. ] GISELLY ABDALA LUDTKE é jornalista e atua como assessora da ADRA na Associação Paulistana; NOEMI PACHECO ALMEIDA cursa a graduação em Rádio e TV no Unasp, campus Engenheiro Coelho (SP)
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NISTO CREMOS
A profecia dos 1.260 anos
ENTENDA POR QUE A RELAÇÃO ENTRE IGREJA E ESTADO É MAIS IMPORTANTE PARA A COMPREENSÃO DESSE PERÍODO PROFÉTICO DO QUE OS EVENTOS MILITARES N I C H O L A S P. M I L L E R
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Foto: William Krause
período profético de “um tempo, dois tempos e metade de um tempo” (Dn 7:25) tem sido compreendido historicamente pelos adventistas como um período de 1.260 anos que ocorreu durante a Idade Média. Antes da Revolução Francesa, os pensadores cristãos expressaram uma série de pontos de vista de quando foi o início e o fim desse período. Mas, com a ascensão de Napoleão e o exílio e cativeiro do papa pelo general francês Berthier, houve um momento raro de uma quase unanimidade profética entre os expositores protestantes, que declararam que esse período terminou em 1798 d.C. Depois disso, era uma questão de voltar na linha do tempo para descobrir o ponto de início, que seria 538 d.C. (Ernest R. Sandeen, The Roots of Fundamentalism, 1978). No entanto, com a diminuição do choque e da clareza dos eventos da década de 1790, alguns estudiosos não conseguiam ver um evento decisivo em 538 d.C. que correspondesse à clareza do exílio e morte do papa na prisão. Alguns concluíram que o início foi marcado quando o terceiro chifre de Daniel 7 foi arrancado, fato ocorrido quando Belisário, general de Justiniano, venceu os ostrogodos, em 538.
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O problema era que essa “derrota” aparentava um pouco anticlimática, pois envolvia a quebra do cerco ostrogodo a Roma, por Belisário. O evento foi apenas uma etapa de um conflito em curso que continuou por pelo menos duas décadas. Na década de 540, os ostrogodos reconquistaram Roma e foi necessário expulsálos outra vez. Os ostrogodos só foram completamente vencidos em 553 d.C. Então, o que tornou a batalha de 538 profeticamente tão mais importante e decisiva que as vitórias similares na década de 540 e a batalha final de 553? A falta de uma resposta clara fez com que alguns argumentassem que o ano 538 não tinha significado inerente, e que ele foi escolhido simplesmente devido à relação conveniente com o fim decisivo em 1798. Isso levou alguns estudiosos, inclusive adventistas, a deixar de ver a profecia dos 1.260 anos como tendo uma aplicação histórica literal, passando a enxergá-la como um número simbólico. Essa abordagem também ganhou terreno em relação a alguns outros períodos de tempo proféticos, como os encontrados na quinta e sexta trombetas de Apocalipse 9. Neste artigo, argumento que, em vez de considerar os eventos militares, devemos considerar a criação e dissolução das estruturas legais. Creio que essa abordagem jurídica ofereça uma base mais segura para o assunto, e talvez para outros períodos de tempo proféticos. ABORDAGEM TRADICIONAL Os pioneiros do adventismo adotaram a profecia como parte da herança historicista. A maioria dos expositores proféticos relacionou o tempo do início dos 1.260 anos com vitórias militares de Roma, até que os três chifres de Daniel 7:8, 20 e 24 foram finalmente arrancados pelo chifre pequeno. Isso é demonstrado em vários trabalhos escritos, a exemplo da obra intitulada Daniel and the Revelation (Daniel e o Apocalipse), de Uriah Smith, e o Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia sobre o livro de Daniel. Os escritos de Ellen G. White são uma exceção. No livro O Grande Conflito, ela escreveu: “No século VI o papado se tornou firmemente estabelecido. Fixou-se a sede de seu poderio na cidade imperial e declarou-se ser o bispo de Roma a cabeça de toda a igreja. O paganismo cedera lugar ao papado. O dragão dera à besta ‘o seu poder, e o seu trono, e grande poderio’
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(Ap 13:2). E começaram então os 1.260 anos da opressão papal preditos nas profecias de Daniel e Apocalipse (Dn 7:25; Ap 13:5-7). Aqui, Ellen White se concentrou no momento do empoderamento da autoridade legal. No entanto, alguns estudiosos adventistas começam a pensar nos 1.260 anos em termos de períodos de tempo gerais ou até simbólicos, não estando preocupados excessivamente com o início específico do tempo do fim. Essa mudança pende para uma posição simbólica ou idealística em relação aos períodos de tempo do Apocalipse, começando a desconectar o Apocalipse da história atual. Esse método seria muito diferente da abordagem sobre as profecias de Daniel e Apocalipse expressa pelos nossos pioneiros, ou apresentada no livro O Grande Conflito. OUTRA INTERPRETAÇÃO Um estudo cuidadoso de Daniel 7:24-26 e algumas passagens proféticas relacionadas revelam que os eventos decisivos dos momentos finais dos 1.260 anos devem ser compreendidos primordialmente por eventos legais, não militares. Uma vez que esse quadro legal seja compreendido e reconhecido o seu devido peso, torna-se mais claro como o evento de 538 está relacionado ao evento de 1798. Em síntese, o Código Justiniano, concluído em 534, “promulgou como lei o cristianismo ortodoxo”, colocando o papa como cabeça formal da cristandade; ordenou que todos os grupos cristãos se submetessem à sua autoridade e deu a ele o poder civil de sentenciar à morte os hereges (Will Durant, The Age of Faith, p. 112). No entanto, esse código não foi legalmente promulgado, nem sancionado até o fim do cerco a Roma, em 538. Belisário, o general de Justiniano, tinha entrado na cidade sem oposição, no fim do ano 536, mas pouco depois os ostrogodos voltaram e sitiaram Roma. Aproximadamente um ano depois, o cerco foi quebrado e Belisário assumiu o controle de Roma e de seus arredores. Só então o código que atribuía poderes ao papado pôde ser realmente executado por Belisário, além das fronteiras de Roma. A Guerra Gótica continuou até 553, quando, finalmente, os ostrogodos foram expulsos. Porém, essas batalhas e cercos posteriores não anularam o sistema do poder papal que havia entrado em vigor em 538. Mesmo quando Roma caiu outra vez no poder dos godos, estes não controlaram o papado, que na época já estava 17
atuando fora de Roma. Em sua tese doutoral, o teólogo Jean Zukowski afirmou que, “depois de 538, o papado nunca mais foi submetido ao controle dos reis ostrogodos” (p. 160). Estabelecido como cabeça da cristandade pelo Código Justiniano, o sistema papal passou a ter o controle sobre a vida e a morte dos hereges. Esse decreto permaneceu em vigor no Ocidente por mais de mil anos, dando grande impulso nas revoluções dos séculos 11 e 12. Ele formou a base legal de muitos estados modernos. Sua influência se estendeu até as revoluções dos séculos 18 e 19, quando o código e seu caráter religioso foram explicitamente rejeitados. Essas revoluções seculares começaram com a Revolução Francesa, que levou à captura e ao exílio do papa Pio VI pelo general Berthier, em 1798. Nesse caso, a substituição do Código Justiniano, de cunho religioso, pelo Código Napoleônico, de cunho secular, também foi mais importante que o evento políticomilitar da captura e exílio do papa. Esse código secular foi implementado pelo famoso projeto de lei número 8, de 15 de fevereiro de 1798, no qual o general Berthier declarou Roma como república independente. Consequentemente, foi suprimida qualquer outra autoridade temporal, emanada do antigo governo papal. Creio que esse foco nos fatos legais, e não nos acontecimentos militares, é justificado e até requerido pelas passagens bíblicas ao redor do período dos 1.260 anos. Embora o fato de os três chifres terem sido arrancados seja realmente importante e ligado ao surgimento do chifre pequeno, o texto bíblico não enfatiza a questão militar como fator decisivo no tempo da profecia dos 1.260 anos. Ao contrário, o verso-chave é Daniel 7:25, onde diz que os santos “lhe serão entregues nas mãos, por um tempo, dois tempos e metade de um tempo”. O momento-chave relacionado ao período de tempo não é algo realizado pelo chifre pequeno para conquistar ou se afirmar; mas o foco está no tempo em que foi “dada” certa autoridade e domínio ao chifre pequeno. Essa profecia seria mais bem cumprida por um ato legal outorgando outra autoridade, que foi exatamente o que o Código Justiniano fez. Assim, a igreja de Roma recebeu autoridade por uma combinação de eventos legais, 18
OS EVENTOS DECISIVOS DOS MOMENTOS FINAIS DOS 1.260 ANOS DEVEM SER COMPREENDIDOS PRIMORDIALMENTE POR EVENTOS LEGAIS, NÃO MILITARES
eclesiásticos e militares. Os godos permaneceram em Roma e na Itália antes da chegada de Belisário, em 536. O papa Silvério havia sido escolhido pelo rei godo Teodato. Por sua vez, Justiniano escolheu a dedo o diácono romano Vigílio para ser o papa. Em 537, Belisário enviou o papa Silvério para o exílio e colocou Vigílio em seu lugar. O papa Vigílio foi o primeiro com lealdade inquestionável a Justiniano e a seu novo código, que se tornou efetivo pela primeira vez. Há um paralelo claro e simétrico com o período de 1.260 anos, se considerarmos que ele começa com o exílio do papa e sua substituição por outro escolhido a dedo pelo imperador sob os auspícios de um novo código legal (o Código Justiniano), e termina com o exílio do papa e o código religioso sendo substituído por uma norma secular (o Código Napoleônico). ENFOQUE LEGAL A história das relações entre Igreja e Estado é extremamente útil para a compreensão da profecia. A remoção dos três chifres representa um processo histórico durante o período de 470 a 550 d.C. Mas as sanções legais podem oferecer um limite de tempo mais preciso. Por essa razão, creio que a Bíblia, quando lida com períodos históricos na profecia, com frequência focaliza os decretos legais. Visto pelo prisma legal, o evento de 538 então se destaca como um verdadeiro suporte para o evento de 1798. Considerar uma estrutura legal de interpretação profética não é sugerir que a visão tradicional dos eventos miliares e batalhas sejam irrelevantes, mas que a relevância desses eventos é principalmente a de ajudar a demarcar o início e o fim dos regimes governamentais e legais. Ela oferece uma interpretação da profecia mais unificada, historicamente fundamentada no mundo real. Não seria esse um enfoque apropriado para um Livro e um Deus menos preocupado com a força e coerção, e mais com as demonstrações entre as formas de governo com base nos princípios contrastantes do amor e poder? ] NICHOLAS P. MILLER, PhD, é professor de história da igreja no seminário teológico da Universidade Andrews (EUA)
R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Janeiro 2019
PERSPECTIVA
A PORTA DOS FUNDOS
DEVEMOS NOS ALEGRAR COM OS QUE ENTRAM NA IGREJA, MAS TAMBÉM DEVERÍAMOS NOS PREOCUPAR COM OS QUE SAEM DELA GERALDO A. KLINGBEIL
Foto: Andrew Seaman
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urante o último Concílio Anual do Comitê Executivo da Associação Geral, realizado em Battle Creek, Michigan (EUA), David Trim, diretor do departamento de Arquivos, Estatísticas e Pesquisa, apresentou o relatório estatístico anual. Entre os muitos números descrevendo a realidade de uma igreja que cresce, houve um número que, mais uma vez, me deixou abatido. Segundo informou Trim, 42% dos membros estão deixando a igreja. E, aparentemente, esses números não incluem as perdas por morte. Podemos ignorar essas estatísticas em meio a outras discussões apaixonadas. Mas não devemos. Imagine, neste momento, a sua congregação, seja ela grande ou pequena. Pode ser que você pertença a uma igreja pequena, no norte da Alemanha, com 50 membros. Estatisticamente, 20 desses 50 abandonarão a igreja nos próximos anos. Talvez você pertença a uma congregação grande e animada em São Paulo ou em Nairóbi, no Quênia, com 2 mil membros. Oitocentos deles vão desaparecer. Tente pensar em 20 cadeiras vazias ou imagine o tamanho do espaço de 800 cadeiras vazias. Meu coração dói quando imagino essa imagem em minha congregação local. Além das estatísticas relatáveis, esses números representam pessoas que, por qualquer que seja a razão, decidiram que o adventismo não é mais para elas. Não me compreendam mal. Eu R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Janeiro 2019
SE QUEREMOS PENSAR ESTRATEGICAMENTE, PRECISAMOS DAS PESQUISAS. MAS, ALÉM DELAS, PRECISAMOS DE PAIXÃO PARA VENCER ESSE DESAFIO não acho que ser membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia significa estar no caminho direto para o Céu. Deus ainda está falando ao coração daqueles que saíram e, felizmente, muitos retornarão. No entanto, o que me afeta é o fato de passarmos por cima desses números. Si m, a le g r a mo -nos com 1.352.931 novos membros que se uniram à igreja em 2017, mas será que sofremos pelos 563.205 que desapareceram? Os motivos para seu desaparecimento podem ser variados. Alguns foram batizados, mas não discipulados realmente. Outros são feridos por nós, os membros antigos. Os conflitos interpessoais os empurram para fora pela porta de trás da igreja. Como pai de adolescentes e de uma jovem, preocupo-me particularmente com os jovens que perdemos depois que se formam na faculdade. Por que temos dificuldade para ajudá-los a encontrar um lar espiritual?
Cada vez mais os pesquisadores adventistas realizam estudos de qualidade sobre essa triste realidade. Se queremos pensar estrategicamente, precisamos das pesquisas. Mas, além delas, precisamos de paixão para vencer esse desafio. Se você quer fazer parte da solução, estão a seguir quatro sugestões práticas que podem ajudar a conter a maré. Primeiro, conheça pessoalmente os membros da sua igreja, especialmente os novos. Mostre interesse por eles. Segundo, ajude a liderança da sua igreja a discipular os membros novos. Fazer discípulos não é um trabalho exclusivo do pastor ou do ancião. A igreja local é o marco zero para o discipulado. Terceiro, dedique uma atenção especial aos adolescentes e jovens da sua congregação. Conheça-os pelo nome; fale com eles; ouça suas preocupações e dúvidas sobre a igreja; seja um conselheiro. Finalmente, comece um diário de oração que aborde especificamente aqueles que nos deixaram. A intercessão é o recurso de Deus para nos deixar conectados ao mundo ao nosso redor. Quando você orar, ouça a voz suave do Espírito Santo sussurrando ao seu coração maneiras criativas de trazer para casa os que se afastaram. ] GERALD KLINGBEIL é editor associado das revistas Adventist Review e Adventist World
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MINHA HISTÓRIA
Salvos na neve COMO DEUS IMPEDIU QUE DUAS FAMÍLIAS MORRESSEM CONGELADAS NO MEIO DE UMA NEVASCA
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caminho para Bodie é uma linha cinza e fina serpenteando o lado leste do lago Tahoe, ao norte da Califórnia, nos Estados Unidos. A cidade está a 2.554 metros de altitude porque, em 1859, alguns mineiros ambulantes descobriram ouro embaixo de um arbusto. Eles espalharam a notícia e, rapidamente, nasceu no deserto uma cidade com cerca de 7 mil habitantes, duas igrejas e 65 bares. Hoje, Bodie é uma “cidade fantasma”, formada por um grupo de prédios em “decadência”, designada como parque estadual da Califórnia. Bodie é um ótimo lugar para se perder. No verão, os cerca de 200 mil visitantes que passam pelo local tropeçam nos monturos de sálvias e famílias de cascavéis, tudo para ver os prédios que parecem como se os moradores fossem voltar a qualquer momento. Já no inverno, a cidade fica vazia, sob toneladas de neve e habitada por apenas dois guardas florestais. Minha primeira visita a Bodie foi em um dia cinzento de fevereiro e eu tinha me esquecido de que era inverno. Segui cegamente o conselho do meu amigo e professor de biologia, Don Hemphill, que disse: “Dick, você precisa ir a Bodie. Você vai amar!” O pai de Don havia operado uma empresa de transporte naquela cidade. Então, achei que podia confiar no seu conselho. 20
DESVIO DE ROTA Don não me disse nada sobre o inverno naquele lugar. Estávamos em quatro pessoas no carro, voltando felizes de uma conferência bíblica, quando vimos a placa que informava que Bodie ficava a 16 km. Bert, eu e nossas esposas, Donna e Brenda, escolhemos seguir o conselho de Don e visitar a cidade fantasma. Nosso mapa mostrava uma estrada estreita indo colina acima. O mapa estava certo, mas tínhamos esquecido que era inverno. Oito quilômetros depois, nosso carro escorregou na neve, quebrou o gelo espesso e ficou preso em um riacho congelado que cruza a estrada para Bodie, na base de um platô. Era muito longe para caminhar de volta até a estrada principal sem congelar nossas pernas, e ainda faltavam outros oito quilômetros para chegarmos ao destino. Quando a neve começou a cair das nuvens escuras naquela manhã R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Janeiro 2019
Foto: Dick Duerksen
DICK DUERKSEN
de domingo, oramos muito. As mulheres preferiram ficar no carro. Brenda estava praticando seu espanhol, enquanto Donna tricotava uma manta. O aquecedor do veículo mantinha as duas em temperatura confortável. Da segurança do interior do carro, Brenda e Donna acenaram para nós em sinal de incentivo, enquanto prometíamos que logo estaríamos de volta para “salvá-las”. Bert e eu amarramos os cadarços de couro de nossas botas de caminhada, colocamos nossas luvas e começamos a caminhar colina acima, esperando encontrar um guarda florestal que tivesse um telefone. Já passava das três horas da tarde quanto Bert e eu admitimos que estávamos perdidos, caminhando em círculos na neve que caía rapidamente e já alcançava nossos joelhos. Estávamos indo lentamente a lugar nenhum, no meio de uma tempestade que tornava impossível enxergar nossas mãos em frente ao rosto. Nossos pés congelaram como um bloco de madeira. Nossos cílios se enroscavam como enormes zíperes de gelo. Nossas luvas, casacos e botas falharam no teste da nevada de Bodie. Estávamos morrendo de frio. “Eu não consigo continuar”, murmurei e cai sobre a neve. Bert ouviu e despencou do meu lado. Nós oramos pelas nossas esposas, agradecemos a Deus pela vida boa que tivemos, demos um aperto de mão e “morremos”. O congelamento é uma maneira indolor de partir. Mas Deus havia Se lembrado do inverno e prometeu a ressurreição. “Dick, Levanta!”, gritou Bert ao meu ouvido. Sentei-me, jogando neve em todas as direções e olhando diretamente para os olhos espantados de Bert. “Obrigado por me acordar”, ele disse. “Não fui eu”, respondi. “Acordei quando você gritou para eu me levantar.” “Não. Você acabou de gritar para eu me levantar.” “Não, foi você.” Interrompemos a discussão, e ficamos sentados em um silêncio congelante. Deus havia acordado nós dois exatamente no mesmo momento. Ficamos ali parados, lado a lado na nevasca, fazendo uma prece de gratidão e implorando a Deus que nos guiasse em segurança. Depois, juntamos nossos braços e nos arrastamos até a rua principal e vazia de Bodie. Dentro da lanchonete da cidade, vimos um fogão de 150 anos, jornal e uma lata de querosene. Eu quebrei a janela para acender um fogo no fogão. Vinte minutos mais tarde, quando nossos artelhos começaram a descongelar, um guarda apareceu e nos levou para seu escritório. “Esperem até o chefe da guarda ver vocês”, o jovem policial murmurou. “Vocês quebraram a janela. O velho vai ficar bravo”, completou. O velho guarda chegou rapidamente, enfurecido pela nossa presença e pronto para empurrar sobre nós todo o poder das leis da Califórnia. Assentamo-nos no chão, o mais próximo que podíamos do aquecedor, aguardando o castigo. “Vocês não sabem que é crime quebrar janelas das propriedades do Estado? Afinal, por que estão aqui? Não sabem que Bodie é fechada no inverno?”, ele disparou. R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Janeiro 2019
NOSSOS PÉS CONGELARAM COMO UM BLOCO DE MADEIRA. NOSSOS CÍLIOS SE ENROSCAVAM COMO ENORMES ZÍPERES DE GELO. NOSSAS ROUPAS FALHARAM NO TESTE DA NEVADA DE BODIE. ESTÁVAMOS MORRENDO DE FRIO “Agora nós sabemos, mas nosso amigo Don Hemphill disse que nós tínhamos que visitar Bodie. Nem pensamos que era inverno”, respondi. O guarda mudou o semblante e sentou-se no chão ao nosso lado. “Vocês conhecem Don Hemphill?”, ele perguntou. “Ele é um grande amigo meu. Vocês sabiam?”, disse a autoridade. O guarda se esqueceu da janela quebrada enquanto contava várias histórias sobre o amigo em comum. Quando finalmente fez uma pausa para respirar, contamos a ele que nossas esposas haviam ficado no meio da estrada, dentro do carro. Ele fez duas ligações e imediatamente um guincho se colocou a caminho para resgatar as mulheres, e um hotel foi reservado para elas passarem a noite. Como já estava escuro, Bert e eu tivemos que permanecer na cidade fantasma e esperar até a manhã seguinte para descer a colina. Passamos grande parte da noite orando e agradecendo a Deus por ter nos livrado da morte. Na manhã seguinte, oramos novamente ao reencontrar Brenda e Donna. “Eu acho que Deus ajuda vocês mesmo quando fazem coisas estúpidas”, disse o velho guarda ao nos despedirmos. Lembramos do que Jesus disse em uma colina na Galileia: “Quando vocês saem de cena, há mais de Deus e do Seu governo” (Mt 5:3, A Mensagem). ] DICK DUERKSEN é pastor e mora em Portland, Oregon (EUA)
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CRISE HUMANITÁRIA
CRIANÇAS MIGRANTES
ASHLEY EISELE
V
icent estava com apenas três anos de idade quando seu pai saiu de casa, em Gana, na África, a fim de buscar um recomeço para sua família na Itália, no continente europeu. Sua mãe seguiu o pai quando Vicent estava com cinco anos. Ela deixou o menino e seu irmão mais novo com uma tia. O garoto sabia que seus pais estavam trabalhando duro para que tivessem um futuro melhor, e sua tia cuidava bem dele e do irmão. Mesmo assim, Vicent sentia saudade dos pais. “Meus amigos tinham seus pais por perto, mas os meus estavam longe”, disse ele. Todas as semanas a tia levava os dois garotos aos cultos de uma igreja, mas não era a Igreja Adventista, comunidade religiosa que Vicent costumava frequentar com seu papai e sua mamãe. “Não conseguia me sentir em casa”, ele lembra. Quando Vicent estava com 13 anos, seu pai retornou para Gana e finalmente o levou para sua nova vida em Palermo, na ilha italiana da Cicília. Os primeiros meses na Itália foram empolgantes, mas depois a adaptação se tornou muito difícil. O garoto não falava o idioma e não conhecia ninguém além de sua família. Na escola, somente uma criança tinha a mesma cor de sua pele. UM ENTRE MILHÕES Vicent é um dos 30 milhões de crianças que atualmente vivem fora do seu país natal, segundo
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Foto: ADRA International
TRINTA MILHÕES DELAS SÃO REFUGIADAS E OUTROS 17 MILHÕES ESTÃO DESLOCADOS DENTRO DO SEU PRÓPRIO PAÍS. CONHEÇA UMA HISTÓRIA DE SUCESSO DA ADRA ITÁLIA ENTRE OS IMIGRANTES DE GANA
informações divulgadas pelo Unicef no início de 2018. De acordo com relatório divulgado pela mesma ent idade em 2017, em dez a nos (2005-2015) havia dobrado o número de crianças refugiadas. Além disso, 17 milhões de crianças entram numa estatística adicional dos chamados deslocados, ou seja, são aquelas que tiveram que deixar suas casas por causa de violência ou conflitos, mas que ainda permanecem em seu país de origem. São “refugiadas” dentro do território que deveria abrigá-las. Ainda que tecnicamente se apliquem termos distintos para classificar a situação dessas crianças, o fato é que elas foram forçadas a deixar o próprio lar, seja por guerras, intolerância religiosa e étnica ou devido à fome e desastres naturais. Quer sejam chamadas de refugiadas ou deslocadas, elas são na verdade apenas crianças. DESAFIOS TRANSITÓRIOS Por isso, cada passo na jornada migratória desses pequenos pode ser devastador e doloroso, porque a travessia não termina quando chegam ao novo lugar. Eles precisam ir superando os traumas da ruptura e ir recomeçando mesmo diante do desconhecido e da insegurança. Do outro lado desse drama humanitário estão as comunidades e sociedades que recebem os refugiados. Mesmo os países que têm as melhores intenções, sofrem com isso, pois alguns deles já lidam com problemas internos de sua própria população, como escassês de alimentos e água potável. Diante do fardo adicional trazido pelos migrantes, a tensão pode aumentar. Sem falar de quando a presença dessas populações migratórias começa a mudar o cenário das cidades e sinalizar o encontro e/ou choque de culturas diferentes. Dag Pontvik trabalha para a Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA) na Itália, o braço humanitário da Igreja Adventista. Ele diz que, no contexto de acolhimento dessas crianças refugiadas, todos têm um papel importante nessa fase, vista como crítica. “Para integrar essas pessoas, especialmente os pequenos, temos que ir além da oferta de cuidados físicos, como abrigo e alimento. Temos que ouvir as crianças. Temos que ajudálas a encontrar-se, oferecer ajuda psicológica e valorizar sua espiritualidade.” R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Janeiro 2019
O programa pós-escolar parece uma solução simples, e realmente é. Mas também é um ambiente seguro e de afirmação, em que as crianças podem fazer novos amigos, compartilhar suas histórias com outras crianças, nutrir sua autoconfiança e encontrar apoio social e espiritual – algo que falta em muitos programas para refugiados.
Vicent, de 16 anos. Um refugiado de Gana que foi ajudado pela ADRA na Itália quando era criança. A agência oferece ensino do idioma local, reforço escolar e atividades com o Clube de Desbravadores
Embora o garoto Vicent não falasse o idioma local quando chegou à Itália, ele sabia inglês. Foi confortado pelos professores que conversavam com ele em sua língua materna e sentiu-se aceito ao ensinar seu idioma para colegas de classe que queriam aprender. No entanto, ele conta que não se sentiu “em casa” outra vez, até começar a frequentar a Igreja Adventista de Palermo. Ele relembra que ouviu Deus lhe dizendo que deveria ir à igreja, pois o Senhor tinha algo precioso para ele lá. Além dos cultos aos sábados, realizados em um prédio utilizado pelas congregações italiana e ganesa, Vicent encontrou na igreja um programa organizado pela ADRA que mudaria sua vida. A agência humanitária tem uma parceria com a igreja local para oferecer um programa pós-escolar para imigrantes. Ali, eles assistem aulas de italiano, recebem reforço escolar e se envolvem mais com o novo país, participando das atividades culturais e recreativas dos desbravadores.
AVANÇANDO COMO FAMÍLIA Quando o irmão mais novo de Vicent terminou o ensino básico em Gana, ele se uniu ao restante da família na Itália, inclusive conheceu seu novo irmãozinho. Finalmente sua família estava completa outra vez e prosperando em sua nova vida. Agora, com 16 anos, a timidez de Vicent é coisa do passado. Com voz forte e sorriso confiante, ele contou sua história para um grupo de líderes humanitários e religiosos num fórum sobre crianças refugiadas, realizado em outubro, em Roma. Vicent disse que a história dele é de superação e sucesso. Por isso, ele deseja ajudar outras crianças refugiadas a ter a mesma experiência. Quando perguntaram onde Vicent encontrava forças para continuar, ele respondeu sem titubear: “Em Deus.” Dag Pontvik, que trabalha para a ADRA Itália falou no fórum sobre a importância de capacitar jovens como Vicent e investir em pessoas, mesmo quando voluntários e funcionários das agências humanitárias são tentados a julgar o potencial de alguém com base em sua etnia, origem ou religião. “Mesmo nós que trabalhamos nessa área podemos errar ao agir com base em estereótipos, ao tentar categorizar alguém pelo fato de essa pessoa vir da África ou do Oriente Médio. Em vez de observar as diferenças, nosso primeiro pensamento deve ser que cada indivíduo é um filho de Deus.” ] ASHLEY EISELE é diretora associada de comunicação da ADRA Internacional
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CRISE HUMANITÁRIA
OS REFUGIADOS BATEM À PORTA COMO UM CONTINENTE HISTORICAMENTE CRISTÃO, COMO A EUROPA, PODERIA RESPONDER À CRISE MIGRATÓRIA ATUAL?
Foto: ADRA Serbia
JOÃO MARTINS
P
“
or favor! Não nos deixem ser vítimas de outro genocídio. Tire-nos de lá”, suplicou Sheik Munir às autoridades locais. Ele era o líder da comunidade yazidi no campo de refugiados Petra Olympus, próximo ao sopé do Monte Olimpo, em Atenas, na Grécia. O inverno estava se aproximando, e as pessoas refugiadas naquele espaço desde a primavera não conseguiriam sobreviver à estação mais fria do ano apenas com barracas frágeis. Àquela altura, o topo das montanhas já estava coberto de neve.
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O campo de refugiados ali servia de abrigo transitório para 1,2 mil pessoas, incluindo 500 crianças, que estavam esperando havia oito meses para se reencontrarem com suas famílias na Alemanha. “Meu povo já sofreu mais de 70 genocídios”, continuou Munir. “No ano passado sofremos mais um, no Iraque. Foi terrível. Tão horrível como viajarmos pelo mar. Não nos deixem morrer aqui!” Com a instabilidade milita r e política no Oriente Médio e Norte da África, e a seca e fome na região do Sahel, em 2015 e 2016, 1,5 milhão de pessoas arriscaram a vida fugindo para a Europa em busca de segurança e estabilidade. Desde então, tem cabido aos europeus lidarem com esse problema. Enquanto alguns acham que é uma questão de solidariedade, outros enxergam essa imigração como uma ameaça à economia e cultura europeia.
Muitas pessoas deixam sua terra natal por causa da intolerância religiosa e não são recebidas ou são hostilizadas na Europa porque sua religião é vista como uma ameaça
A REALIDADE DOS NÚMEROS As estatísticas do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) indicam que o número de pessoas forçadas a fugir de casa tem aumentado dramaticamente desde a Segunda Guerra Mundial. Em 2017, 68,5 milhões de pessoas no mundo estavam nessa condição. O que representa mais do que toda a população da França. As pessoas que migram partem especialmente de três países: Síria (6,3 milhões), Afeganistão (2,6 milhões) e Sudão do Sul (2,4 milhões). E 85% desses refugiados têm como destino países em desenvolvimento, como a Turquia (3,5 milhões). Se considerada a proporção de refugiados em relação ao número de habitantes, o país mais generoso é o Líbano. Com uma população de 6 milhões de pessoas, está hospedando um milhão de refugiados. Em comparação, toda a Europa, excluindo a Turquia e incluindo os países que não pertencem à União Europeia, acolhe 2,4 milhões de pessoas, sendo que sua população é de 741 milhões.
(geralmente o islamismo), que é a condição que os vitimiza, é percebida como uma ameaça para o continente de tradição judaico-cristã. Mesmo quando milhares e milhões de pessoas se deslocam por causa de conflitos armados, a causa dessas guerras geralmente é religiosa. Isso pode ser percebido na Síria, Afeganistão e Sudão do Sul, além dos recentes problemas com a etnia rohingya em Mianmar, que tem migrado para Bangladesh. Os ya zidis, g r upo ét nicoreligioso do Curdistão citado no início da matéria, são um exemplo claro desse tipo de violência. Eles têm sido perseguidos há séculos e foram vítimas de genocídio porque adotam princípios religiosos diferentes. O fato é que a incompreensão ou não aceitação da religião do outro é vista muitas vezes como justificativa para as perseguições.
PERSEGUIÇÃO RELIGIOSA O desrespeito à liberdade religiosa é uma das causas mais comuns pelas quais as pessoas fogem de sua terra natal. E, para piorar, o refugiado que teve que fugir de sua pátria por causa de sua crença tende a também ser olhado com desconfiança e hostilidade no país para o qual pede asilo, exatamente por causa de sua fé. Na Europa, por exemplo, a religião dos refugiados
PACIFICADORES Diante desse quadro dramático, qual seria o papel dos seguidores de Cristo? Em Mateus 5:9, no contexto do Sermão da Montanha, Jesus nos chama a ser pacificadores. Os cristãos devem exercitar esse traço de caráter, por exemplo, com aqueles que chegam às
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fronteiras do seu país. Nesse caso, mais do que tolerar a religião diferente do refugiado, os cristãos devem mostrar solidariedade aos grupos minoritários, que têm pouco ou nenhum apoio social. A Palavra de Deus é clara: “Erga a voz em favor dos que não podem defender-se, seja o defensor de todos os desamparados” (Pv 31:8, NVI). Por isso, as comunidades que estão recebendo refugiados devem construir pontes que proporcionem o aprendizado do idioma e dos costumes locais. Quando ocorre verdadeira integração, esse processo promove paz e tolerância, além do acesso do refugiado ao mercado de trabalho. A ordem dada ao povo de Israel, quando sua nação foi estabelecida, também serve para nós hoje: “Amem os estrangeiros, pois vocês mesmos foram estrangeiros no Egito” (Dt 10:19, NVI). No contexto atual, a Europa, continente historicamente cristão, tem a oportunidade singular de demonstrar tolerância, solidariedade e respeito pela dignidade humana. Como cristãos temos uma responsabilidade adicional de exercitar o respeito por aqueles que deixaram tudo para trás a fim de garantir a própria sobrevivência e segurança. Sheik Munir e seu povo não passaram o inverno no sopé do Monte Olimpo. A Grécia tem muitos quartos de hotel vazios durante a baixa estação, e o trabalho de colaboração entre a ADRA, a ONU e o governo da Grécia realocou os refugiados. A seu tempo eles receberam asilo de outros países europeus e reencontraram a família na Alemanha. Felizmente para essa comunidade, a Europa não falhou em viver de acordo com seus fundamentos cristãos. Para conhecer, por exemplo, o trabalho de um centro comunitário da ADRA para refugiados em Belgrado, na Sérvia, acesse adra.org.rs. ] JOÃO MARTINS é o diretor executivo da ADRA Europa
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CRISE HUMANITÁRIA
MÉDICOS DEDICAM CARREIRA PARA AJUDAR REFUGIADOS NA EUROPA, ORIENTE MÉDIO E ÁFRICA PENNY BRINK 26
O
que a Grécia, o Iraque e Uganda têm em comum? Nos últimos anos, esses países, entre outros, sofreram com um fluxo de refugiados que criou uma enorme demanda de serviços básicos para pessoas desabrigadas. Para responder a essas necessidades, a Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA) e o ministério de apoio Adventist Help fizeram parcerias para prestar socorro médico nesses três países. O fato é que os movimentos migratórios ao redor do mundo têm mudado a dinâmica das missões mundiais.
Conte-nos sobre os projetos para refugiados nos quais esteve envolvido. A Adventist Help teve seu início na Grécia, na ilha de Lesbos, em 2015, em um ônibus de prontosocorro próximo à praia em que os refugiados ancoravam seus barcos. Depois oferecemos também assistência médica a comunidades vulneráveis de refugiados em Atenas. Em 2017, fizemos parceria com a ADRA Iraque para estabelecer um hospital de campanha ao leste da cidade de Mossul, onde
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Foto: AdventHelp/ADRA
Eles escolheram o caminho mais difícil
Michael von Hörsten e Friedrich, seu irmão mais velho, ambos médicos, e Hilde e Leah Camacho, casal de médicosmissionários portugueses, seguiram o caminho menos percorrido em relação à carreira profissional. Eles mudam-se conforme as necessidades levantadas pelo fluxo migratório. Juntos, já serviram na Europa, Oriente Médio e agora na África. Confira abaixo a entrevista com Michael von Hörsten, um dos fundadores da Adventist Help.
prestamos ajuda para deslocados que fugiam dos conflitos com o Estado Islâmico. Em apenas um ano, mais de 50 mil pessoas foram atendidas ali. Agora estamos trabalhando em Uganda, na África, onde refugiados estão tendo seus direitos humanos desrespeitados, como ocorre com outros delocados ao redor do mundo.
O MENINO-DEUS NECESSITOU DE ABRIGO
Qual é a importância do projeto de vocês para essa região? A ADRA tem trabalhado extensivamente com os refugiados desta região, atuando em vários assentamentos. Porém, a demanda por serviços médicos aqui é enorme, pois o sistema de saúde do país já estava sobrecarregado antes da crise migratória. Em parceria com a ADRA, estamos construindo uma hospital de emergência para 100 leitos, com ambulatório, pronto-socorro e centro cirúrgico. ]
Acabamos de passar o período em que a maioria dos cristãos comemora o nascimento de Jesus. Talvez esta seja a oportunidade de contar a história que acompanha todas as cenas de calor e amizade. Em minha imaginação, vejo a figura de José, Maria e a Criança fugindo pela porta de trás de sua casa, no momento em que os soldados do rei começam a bater na porta da frente. Talvez não tenha sido assim. Eles poderiam estar viajando a alguns quilômetros da cidade, quando o terrível clamor começou a soar naquela noite em Belém. Embora tenham escapado da tragédia, certamente não deixaram de sentir tristeza, pois, qual de nós, como pais, não sentiríamos pavor se nos dissessem que pegássemos nossos pequenos e fugíssemos para salvar a vida? Embora digamos que todo mundo ama os bebês, lembremos que antes de aquele Bebê ter nascido em pele humana, já estava profetizado que Ele seria desprezado e rejeitado, uma Criança de dores (Is 53:3), que não seria recebida por Seu povo (Jo 1:11). Não havia lugar para Sua mãe na estalagem e não havia lugar para Ele em toda a Terra. E assim, para essa Criança salvar Sua vida, teve que fugir para uma terra estrangeira e pagã. Esse é o lado escuro do Natal e talvez seja o antídoto da Bíblia para todos os conceitos vagos de paz e harmonia que festejamos no fim de cada ano. Vemos que o diabo fez de tudo para tornar miserável a vida de Jesus. Trabalhou para tornar Sua paternidade escandalosa e Sua sobrevivência inviável. Toda essa conspiração contra Cristo torna ainda mais impressionante Sua mensagem de liberdade, confiança e paz. Assim como a Criança de Belém, milhões delas correm risco hoje. Elas fogem da dor, da guerra e da fome. Pautamos os ministérios para refugiados nesta edição a fim de ajudar nosso leitores a olhar como Cristo para Seus pequeninos (Mt 25:40). Eles precisam de abrigo e esperança. ]
PENNY BRINK é escritora e editora freelance na África do Sul
BILL KNOTT é pastor e o editor da Adventist World
Entre tantos lugares necessitando de ajuda, por que escolheram Uganda? Em 2017, Charles Aguilar, diretor da ADRA Uganda, nos convidou a ir ao país para fazer uma avaliação para um possível hospital de campanha similar ao que temos no Iraque. Uganda tem o terceiro maior número de refugiados do mundo: 1,5 milhão. E uma das maiores lacunas na assistência aos refugiados da região é a ajuda médica. Por que tantas pessoas estão migrando para lá? Porque é um país estável, pacífico e que faz fronteira com o Sudão do Sul e com a República Democrática do Congo, dois países com um dos maiores índices de violência étnica do mundo. Some-se a isso a crise alimentar no Congo e o peso adicional de doenças infecciosas como a malária, o Ebola, e o acesso precário à assistência médica. O assentamento de refugiados Kyaka 2 é uma das principais áreas de acolhimento dos imigrantes procedentes do leste do Congo. A população atual do assentamento é de 80 mil pessoas, mas pode chegar a 100 mil nos próximos meses. Muitas delas chegam ali apenas com a roupa do corpo. O governo aloca cada família (geralmente formada pela mãe e os filhos) num pedaço de terra para viver, no qual eles constroem pequenas cabanas de barro. Toda a infraestrutura é bem limitada. É preciso viajar horas para chegar aos hospitais mais próximos. Por isso, se uma criança contrai malária ou uma mãe entra num trabalho de parto complicado, é grande a chance de elas morrerem. No campo de refugiados a situação é dramática. A assistência médica é limitada e insuficiente para o número de pessoas. Muitas crianças sofrem de desnutrição severa. Vi famílias caminhando atrás da máquina niveladora que usamos para preparar o terreno no qual estamos construindo o hospital de campanha, a fim de encontrar raízes para comer. Falei também com um garoto de 13 anos que viu toda a sua família sendo morta por pessoas empunhando facões. Essas histórias são comuns e a chance de eles voltarem para casa é mínima.
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VIDA ADVENTISTA
CONHEÇA O TRABALHO QUE A IGREJA TEM REALIZADO NO LÍBANO, REGIÃO QUE CONCENTRA UMA DAS MAIORES DENSIDADES DEMOGRÁFICAS DO ORIENTE MÉDIO JEFF SCOGGINS
Q
uando eu era criança, morei durante alguns anos em Beirute, no Líbano. Mas, depois disso, passei 35 anos sem retornar ao país. Recentemente, tive a oportunidade de viajar para Beirute novamente para as reuniões da Missão Global. Lá pude ver alguns dos trabalhos que a igreja recomeçou na região, após a guerra que se arrastou por tanto tempo. Tudo está mudado. Em muitos aspectos, Beirute mudou para melhor. Já não há veículos queimados, edifícios marcados por buracos de balas e as feridas cavernosas dos morteiros incendiados. Outra vez encontramos vidros de verdade nas janelas, sem ter à frente as pilhas de sacos de areia. As noites eram tranquilas. Em vez de dormir com o barulho das metralhadoras e as explosões de foguetes, adormeci com o barulho normal do tráfego e das construções. Por outro lado, o trabalho da igreja no Líbano e no Oriente Médio em geral ainda tenta se recuperar. 28
A CRISE Além da guerra atual na Síria, o Líbano, que faz fronteira com a Síria, está enfrentando uma crise de refugiados. Há muitos anos não há disponibilidade de dados do censo em Beirute, mas é razoável dizer que o número de refugiados pode ter dobrado ou até triplicado a população da cidade. Embora certamente essa seja uma crise para as pessoas feridas por perder suas casas e ter sido forçadas a fugir para salvar a vida, é também uma oportunidade de mostrar o amor de Deus para um grupo de pessoas que morava em um país totalmente resistente às boas-novas do evangelho. Temos um período de tempo limitado para alcançar o maior número possível de pessoas
que poderão levar a boa notícia de volta para seu país, assim que termine a guerra na Síria. No Líbano, poucas pessoas estão aproveitando essa oportunidade. Quando cheguei em Beirute, um táxi me levou ao campus da Universidade Adventista do Oriente Médio. Lá me deparei com dezenas de famílias de refugiados. Entrei num pequeno auditório para ver o que estava acontecendo e percebi que estava sendo apresentado um relatório sobre assistência aos refugiados. Missionários e pioneiros da Missão Global nessa região haviam realizado um seminário para imigrantes. Ao perceber que havia muitos casos de depressão profunda entre refugiados, eles decidiram oferecer um seminário sobre o tema. Os voluntários não tinham ideia se os refugiados responderiam ao convite, mas, para surpresa de todos, famílias inteiras compareceram e compartilharam suas lutas.
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Foto: Howard Scoggins
Entre os refugiados
Como eu havia perdido o seminário propriamente dito, tive que me contentar em ouvir os relatos dos missionários de como o Espírito Santo havia guiado aquele encontro.
EMBORA O DINHEIRO SEMPRE SEJA UM DESAFIO, O MAIOR PROBLEMA ENFRENTADO PELA IGREJA NO ORIENTE MÉDIO É A FALTA DE RECURSOS HUMANOS
O QUE ESTÁ ACONTECENDO AGORA? Além de trabalhar com as famílias de refugiados individualmente, muitos adventistas estão atuando no Centro Adventista de Aprendizado, em Bourj Hammoud, bairro armênio da capital libanesa que concentra uma das maiores densidades demográficas do Oriente Médio. Esse centro de influência consiste numa escola para filhos de refugiados, que oferece cursos gratuitos de inglês e árabe. Visitei o centro que está localizado no último andar de um prédio residencial. Após o culto dos funcionários, ouvimos as vozes eufóricas das crianças que subiam a escada correndo. Elas dirigiram-se diretamente para o terraço, em vez de ir para as salas de aula. Os professores estavam à porta que dá acesso à cobertura do prédio, batendo as mãos para saudar as crianças que corriam para seus lugares. Depois de serem organizadas por séries e em fila única, cantaram empolgados “Deus é Tão Bom”, oraram e foram liberados para ir para a sala de aula. Eles têm a sorte de estar em uma escola de verdade, e sabem disso. Há uma longa lista de espera para matrículas porque o local só pode acomodar cerca de 80 alunos. Como aquelas crianças não vêm de lares com tradição cristã, perguntei se a escola tinha dificuldade para ensinar as crenças adventistas. Um professor respondeu: “Temos total liberdade sobre o que ensinamos. Se alguém não gostar, não precisa vir. Há muitos que estão prontos para preencher uma vaga.” As aulas são todas fundamentadas na Bíblia. Por exemplo,
Estudantes que frequentam o Centro Adventista de Ensino começam cada dia com um momento devocional antes das aulas R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Janeiro 2019
os professores ensinam matemática aos alunos do primeiro ano usando a história da criação. Entre os refugiados, receber uma educação em inglês é considerado um grande presente, porque acreditam que saber inglês seja a chave para uma vida melhor. No entanto, como muitas famílias são completamente analfabetas, a escola ensina as crianças a ler e escrever no idioma nativo, o árabe, o que melhora ainda mais sua vida em casa. NECESSIDADE DE VOLUNTÁRIOS O projeto do Centro de Aprendizado Adventista tem sido bemsucedido graças a líderes dedicados como Alexis Hurd-Shires, fundador e administrador do programa. Há planos de implantar o projeto em outros locais, mas há outro desafio mais urgente. O prédio que abriga a escola está previsto para ser demolido no prazo de aproximadamente um ano, a fim de abrir espaço para a construção de prédios novos. Beirute não é uma cidade em que o custo de vida é baixo. Hurd-Shires estima que o custo da mudança para outro ambiente deve chegar a 100 mil dólares. Embora o dinheiro sempre seja um desafio, o maior problema enfrentado pela escola e outros projetos da sede da igreja para o Oriente Médio e o Norte da África é a falta de recursos humanos. Nessa parte do mundo, as oportunidades são ilimitadas, mas são poucas as pessoas dispostas a aproveitá-las. Há necessidade extrema de voluntários consagrados, com fluência no inglês e preparados para lecionar, bem como de pessoas que aprendam árabe e plantem igrejas entre os refugiados. Para saber mais sobre o trabalho da Missão Global, acesse o site adventistmission.org/globalmission. ] JEFF SCOGGINS é diretor de planejamento da Missão Global na sede mundial da Igreja Adventista, em Silver Spring, Maryland (EUA)
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VISÃO GLOBAL
Percepções equivocadas
COMO O DOCUMENTO DE CONFORMIDADE VOTADO PELA IGREJA TEM SIDO INTERPRETADO E O QUE ELE REALMENTE DIZ MARK FINLEY
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EQUÍVOCO 1: O documento é um exagero da
Associação Geral para centralização de poder. FATO: A intenção do documento é permitir que 30
a entidade mais próxima à questão de não conformidade trate do assunto. Em vez de centralização de poder, está incentivando o contrário. Ele determina que todas as questões de não conformidade com os regulamentos devem ser resolvidas em nível local. Se isso não for possível, o próximo nível administrativo da igreja deve se envolver com o assunto. Por exemplo, se a igreja local tem um problema de não conformidade com um regulamento votado, a Associação local tem a responsabilidade de trabalhar com a igreja para resolver o assunto. Se a não conformidade for um desafio que a Associação não consegue, nem irá resolver, a União pode se envolver para trabalhar em uma solução. E isso deve acontecer em todos os níveis da organização da igreja. EQUÍVOCO 2: O documento usa
métodos de coerção não bíblicos. FATO: O documento faz exatamente o oposto. Ele declara: “Os administradores que lidam com qualquer questão de descumprimento devem exercer o devido processo cristão, o que incluirá
muita oração e diálogo” (p. 2, linha 35). O documento foi concebido para ser redentor e não punitivo. O objetivo não é punir as entidades não conformes, mas estabelecer um processo pelo qual as questões de descumprimento possam ser resolvidas. Ele segue um padrão bíblico de reconciliação e resolução conforme descrito em Mateus 18. EQUÍVOCO 3: O documento é uma
abordagem autoritária e severa para solução de problemas. FATO: O documento prevê a tolerância. Ele permite aos administradores da entidade em descumprimento um período de 60 dias para diálogos mais amplos e oferece soluções para a situação desafiadora (p. 2, linha 14). Ao contrário de um mandato ditatorial e autoritário, o documento garante um processo de colaboração e procura encontrar soluções para os problemas de descumprimento. Alguns podem achar que 60 dias seja um período curto para uma questão muito complexa, mas a delimitação de tempo incentiva o diálogo e facilita a solução do problema.
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Foto: Golubovy
ocê já percebeu que, às vezes, pessoas honestas podem enxergar o mesmo evento de maneira diferente? A percepção sobre um evento pode variar muito. Ainda é possível que uma percepção equivocada repetida muitas vezes possa se tornar realidade em nossa mente. Como todos somos humanos, às vezes isso acontece na igreja. Alguns equívocos sobre o documento “Respeito e Prática para com as Decisões das Assembleias da Conferência Geral e do Comitê Executivo da Associação Geral”, votado recentemente no Concílio Anual de 2018, tem se espalhado amplamente nas mídias sociais. Alguns exageraram ao afirmar que a Associação Geral deseja controlar o que acontece na igreja local, e que ninguém consegue se livrar dos seus tentáculos controladores. O documento foi chamado de “papal”, “antiprotestante” e “não bíblico”. Além de não ser verdadeiro, isso é lamentável. Consideremos sete percepções equivocadas sobre a atual discussão a respeito do documento votado pelo Comitê Executivo da Associação Geral no Concílio Anual de 2018:
As “advertências” e “repreensões” propostas são destinadas a permitir que as entidades considerem a seriedade do descumprimento de uma praxe votada pela igreja mundial e as incentivem a voltar para a harmonia com a igreja mundial. Qualquer advertência, repreensão ou outra consequência deve ser votada pelo Comitê Executivo da Associação Geral com representação global. EQUÍVOCO 4: O voto de autoridade final em
relação às consequências cabe ao Comitê Executivo da Associação Geral, em Silver Spring, Maryland, Estados Unidos. FATO: O documento é claro: “Se a organização mais próxima da questão não for capaz de resolver a questão de descumprimento e o Comitê de Revisão de Conformidade da Associação Geral tiver recomendado as consequências, somente o Comitê Executivo da Associação Geral e/ou a Associação Geral em assembleia têm a autoridade para executar a recomendação (p. 3, linhas 27-30).
OS REGULAMENTOS NÃO DITAM O QUE CREMOS, MAS DEVEM NORTEAR AS AÇÕES DOS LÍDERES DA IGREJA. OS LÍDERES DA IGREJA TÊM A RESPONSABILIDADE ÉTICA DE CUMPRIR AS DECISÕES TOMADAS EM CONJUNTO PELOS REPRESENTANTES DA IGREJA MUNDIAL
EQUÍVOCO 5: Esse documento muda a cultura
da Igreja Adventista do Sétimo Dia e inibe a liberdade de consciência. FATO: Quando alguém escolhe agir contrariamente aos regulamentos votados pelo corpo organizacional, usualmente há consequências. Os regulamentos não ditam crenças individuais; no entanto, devem dirigir as ações dos líderes. O documento votado no Concílio Anual não muda a cultura da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Ele preserva a integridade da estrutura organizacional e as ações votadas pelo corpo mundial. A cultura da Igreja Adventista do Sétimo Dia será mudada somente se os votos da Associação Geral em assembleia e seu Comitê Executivo não forem cumpridos. Se cada entidade desde a igreja local, Associações, Uniões e Divisões não respeitar as decisões da igreja corporativa, esta será levada ao caos organizacional, à fragmentação, desunião e ao congregacionalismo. EQUÍVOCO 6: A Associação Geral não tem
nenhuma entidade para supervisionar suas atividades e ações. FATO: A Associação Geral responde ao seu Comitê Executivo. Por isso, relatórios são apresentados regularmente nas reuniões do Concílio da Primavera e do Concílio Anual. Além disso, a Associação Geral é regularmente auditada no cumprimento dos regulamentos financeiros por uma empresa de auditoria independente e muito respeitada. R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Janeiro 2019
EQUÍVOCO 7: O documento não é
bíblico. Ele coloca os regulamentos acima das Escrituras e, portanto, é contrário à Reforma Protestante porque viola a liberdade de consciência. FATO: A organização da igreja é um princípio fundamental nos ensinos do Novo Testamento. A igreja é mantida unida pelo Espírito Santo por meio de um compromisso comum com Cristo, a mesma crença nos ensinos bíblicos, a paixão pela missão e uma igreja mundial organizada. Se qualquer um desses itens é sutilmente desvirtuado, a igreja inteira é colocada em perigo. Sem a organização da igreja, o congregacionalismo correrá desenfreado. Assim como nos dias dos juízes, “cada qual fazia o que achava mais reto” (veja Jz 17:6; 21:25). Os regulamentos da igreja nunca ditam nem suplantam a consciência das pessoas. Os membros são livres para seguir os ditames da sua consciência. Haverá momentos em que as pessoas honestas verão as coisas de maneira diferente.
Os regulamentos são acordos sobre a maneira com que a igreja irá atuar. Eles determinam como funciona uma família internacional, global. Os líderes da igreja têm a responsabilidade ética de cumprir as decisões tomadas em conjunto pelos representantes da igreja mundial na assembleia da Associação Geral. Se as ações da assembleia da Associação Geral ou do Comitê Executivo fizerem pouca diferença, todo o sistema de governança da igreja será questionado. Os regulamentos não são ensinos bíblicos imutáveis e não devem ser elevados acima das verdades bíblicas. Eles são princípios operacionais que os delegados da Associação Geral em assembleia e o Comitê Executivo podem mudar, e já mudaram algumas vezes. Mas a mudança de qualquer regulamento aprovado pela assembleia da Associação Geral ou de votos tomados pelo Comitê Executivo deve ser realizada pelo mesmo corpo em que foram votados. Se um grupo representativo de líderes desejar que um regulamento seja reexaminado, pode apelar ao Comitê Executivo da Associação Geral. ONDE A BATALHA NÃO ESTÁ A percepção equivocada nunca é um benefício. Ela nos leva a agir pelo medo em um mundo de ilusão. Pior ainda, ela nos dissuade da missão da igreja, que é viver e pregar o evangelho para cumprir a missão de Cristo. Crer em percepções equivocadas nos faz lutar onde a batalha não está, em vez de concentrar nossas energias espirituais e atenção para alcançar as pessoas perdidas e preparar homens e mulheres para a vinda de nosso Senhor. Que o Cristo vivo encha nosso coração e dirija nossa mente para o que realmente importa: pessoas salvas pela eternidade no Seu reino. ] MARK FINLEY, evangelista, foi vicepresidente da Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia
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BOA PERGUNTA
A FRASE “EM NOME DO PAI, E DO FILHO, E DO ESPÍRITO SANTO” É UMA ADIÇÃO POSTERIOR AO TEXTO DE MATEUS 28:19? ÁNGEL MANUEL RODRÍGUEZ
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s antitrinitarianos usam esse argumento para neutralizar uma porção da evidência bíblica que é prejudicial à opinião deles. Uma resposta curta à pergunta é que essa frase é parte do texto de Mateus no original grego. O argumento que alguns têm usado para contrariar essa ideia não é historicamente confiável, tornando difícil entender por que ainda é usado por eles. Para entender melhor a questão, precisamos considerar pelo menos três fatores: 1. Evidência grega. Há muitos manuscritos gregos do evangelho de Mateus. A evidência textual é inquestionável: todos esses manuscritos incluem a frase “em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”, o que mostra que ela é parte do texto original. Além disso, todas as traduções antigas do Novo Testamento preservam a interpretação do grego. Questionando essa evidência, alguns argumentam que as citações gregas de Mateus 28:19, encontradas nos escritos dos pais da igreja, especialmente nos de Eusébio de Cesareia (263-339 d.C.), não incluem a frase trinitária. A verdade é que Eusébio citou Mateus de várias maneiras. Já foi demonstrado que ele usou nove vezes a expressão “vão e façam discípulos em todas as nações”; dezesseis vezes a frase “vão e façam discípulos em todas as nações em Meu Nome”; e cinco vezes ele citou o texto bíblico como encontramos atualmente em Mateus. A conclusão óbvia é que Eusébio conhecia o original grego do texto de Mateus e ocasionalmente omitia partes da passagem que eram irrelevantes para o assunto em pauta. Essa era sua prática comum quando citava as Escrituras. 2. Evidências no hebraico. Para argumentar que a fórmula trinitariana não é original, alguns se referem à tradução para o hebraico do livro de Mateus que não inclui a frase. Ela diz: “Então, Jesus aproximou-Se deles e disse: Foi-Me dada toda autoridade no Céu e na Terra. Portanto, vão e ensine-os a obedecer a tudo o que Eu os ordenei.” Devem ser ditas várias coisas sobre essa leitura. Primeiro, essa tradução é uma obra apologética judaica, não cristã, intercalada com comentários anticatólicos. Além de ser polêmica, a obra intitulada Eben Bohan (“The Touchstone”), escrita por Shem-Tob ben-Isaac
ÁNGEL MANUEL RODRÍGUEZ, pastor, professor e teólogo aposentado, foi diretor do Instituto de Pesquisa Bíblica
AO CONTRÁRIO DO QUE AFIRMAM OS ANTITRINITARIANOS, A FORMA CANÔNICA DE MATEUS 28:19 É TOTALMENTE CONFIÁVEL E FAZ PARTE DO TEXTO ORIGINAL
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Foto: Lightstock
REGISTRO CONFIÁVEL
bem-Shaprut, é tardia, pois foi escrita em 1380. Essa leitura de Mateus 28:19 não é apoiada por nenhum manuscrito grego. Terceiro, a tradução omite muitas outras porções do texto de Mateus. Finalmente, note que ela também omite a Comissão Evangélica. Portanto, não é uma testemunha confiável do texto original de Mateus. 3. Interpretação crítica. A erudição crítica argumenta que a frase sobre o batismo encontrada nessa passagem bíblica não é original no sentido de não ter vindo do próprio Jesus. Uma abordagem altamente crítica dos evangelhos procura encontrar no texto as palavras originais ditas por Jesus e diferenciá-las do que Mateus colocou em Sua boca. Uma vez que, em Mateus, segundo eles, Jesus nunca abordou a questão do batismo e da evangelização do mundo e que não há muita coisa no evangelho sobre o Pai e o Espírito Santo, Jesus não disse o que Mateus afirma que Ele disse. Eles deduzem que a fórmula batismal não foi o que Jesus ensinou aos Seus discípulos, mas o que a comunidade de Mateus estava praticando. Dessa perspectiva, Mateus simplesmente teria legitimado a prática da igreja colocando-a nas palavras de Jesus. Fundamentada no método históricocrítico de interpretar a Bíblia, essa interpretação é inconsistente com o que o texto bíblico declara de maneira explícita e é construída em especulações impossíveis de provar. A forma canônica de Mateus 28:19 é totalmente confiável e faz parte do texto original de Mateus. ]
DOM DE PROFECIA
Olhando para o alto CONSELHOS INSPIRADOS PARA COMEÇAR BEM O NOVO ANO
ELLEN G. WHITE
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as, agora, [os patriarcas] aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial. Por isso, Deus não Se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto lhes preparou uma cidade” (Hb 11:16). Desejo-vos um feliz ano novo. O ano velho com sua carga de recordações passou para a eternidade. Que todo pensamento e todo sentimento agora sejam de lembrança do amor de Deus. Reunamos uma lembrança após outra. [...] A evidência que temos do cuidado e amor de Deus por nós é expressa nas lições que Cristo deu a Seus discípulos com base nas coisas da natureza. [...] O olhar não deve se demorar sobre a deformidade, sobre a maldição, mas sobre as riquezas da graça de Cristo que tem sido provida tão generosamente para que vivamos neste mundo, e cumpramos nossa parte na grande trama da humanidade, sem, contudo, que sejamos do mundo. Considerando as provisões feitas para nós, as mansões que Jesus nos foi preparar, e falando sobre o bendito lar, esquecemo-nos dos aborrecimentos e aflições desta vida. Parecemos respirar a própria atmosfera daquele país melhor, a pátria celestial. Ficamos aliviados e confortados; mais do que isso, regozijamonos em Deus. Não poderíamos conhecer os graciosos propósitos de Deus para conosco a não ser pelas promessas, pois é somente por elas que sabemos o que está preparado para aqueles que O amam. Como as flores na sábia disposição de Deus estão constantemente extraindo as propriedades do solo e do ar para se desenvolverem em belos botões e flores e exalarem sua fragrância para o deleite dos sentidos, assim será conosco.
Foto: Chuttersnap
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O ANO VELHO COM SUA CARGA DE RECORDAÇÕES PASSOU PARA A ETERNIDADE. QUE TODO PENSAMENTO, TODO SENTIMENTO, AGORA SEJAM DE LEMBRANÇA DO AMOR DE DEUS
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Extraímos das promessas de Deus toda a paz, o conforto e a esperança que desenvolverão em nós os frutos da paz, alegria e fé. Ao trazer essas promessas a nossa vida, sempre as comunicamos à vida dos outros. Apropriemo-nos, portanto, dessas promessas. [...] São semelhantes às preciosas flores no jardim de Deus. Devem despertar nossa esperança e expectativa e levar-nos a uma firme fé e confiança em Deus. Devem fortalecernos em tribulações e ensinar-nos preciosas lições de fé em Deus. Nessas preciosas promessas, Ele Se retira da eternidade para nos conceder um lampejo do eterno e imensurável peso de glória. Aquietemo-nos, pois, em Deus. Confiemos serenamente Nele e O louvemos por ter nos dado tais revelações de Sua vontade e propósitos, para que não edifiquemos nossas esperanças nesta vida, mas mantenhamos o olhar na direção do alto, voltado à herança de luz, e vejamos e sintamos o impressionante amor de Jesus (Carta 27, 1886). ] Trecho extraído do devocional intitulado Olhando para o Alto (1982), p. 2
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BEM-ESTAR
FAZER O BEM FAZ BEM
FOMOS CRIADOS PARA SERVIR. E CUIDAR DOS REFUGIADOS É UMA FORMA DE CUMPRIR ESSE PROPÓSITO PETER N. LANDLESS
atual crise migratória é algo que deve, de fato, nos sensibilizar. A situação das crianças refugiadas, por exemplo, atingiu o maior nível desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Estima-se que cerca de 50 milhões delas tenham sido deslocadas em decorrência de guerras, conflitos e pobreza. Os países mais afetados são Síria, Iêmen, Iraque e o sul do Sudão. O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) estima que a cada dois segundos, aproximadamente, uma pessoa seja forçada a abandonar o lugar em que vive. Em todo o mundo, 68,8 milhões de pessoas foram deslocadas à força, e mais de um terço desse grupo está na condição de refugiado. Ao serem deslocadas, uma grande quantidade de pessoas enfrenta inúmeros desafios, e muitos desses desafios estão relacionados à saúde. Comumente ocorrem
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doenças e morte sob tais circunstâncias, e muitas dessas casualidades resultam de causas evitáveis como desnutrição e doenças infecciosas, como sarampo, pneumonia, diarreia e malária. Acidentes e traumas são acrescentados às dificuldades da vida de um refugiado. As prioridades para enfrentar esse desafio são prover abrigo, alimentos adequados e nutritivos, água potável, saneamento básico, programas de vacinação e assistência de saúde em geral. Esses serviços são oferecidos pelos países anfitriões, pelo ACNUR e por outras organizações humanitárias, incluindo as agências que prestam assistência em desastres e as organizações de base religiosa. A Igreja Adventista do Sétimo Dia trabalha nesses locais difíceis e desafiadores, principalmente por meio da Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA) e entidades como a Adventist Help. A ADRA
tem sido muito ativa em todo o mundo, atendendo os refugiados e pessoas deslocadas internamente. Portanto, você pode ajudar os refugiados e pessoas deslocadas por meio de várias iniciativas da igreja que oferecem oportunidades de serviço e necessitam de jovens dispostos e outras pessoas comprometidas com o ministério de cura e cuidado de Jesus. Há espaço para profissionais da saúde e de muitas outras áreas. Temos testemun hado em primeira mão a gratidão dos que servem. Dinheiro não pode comprar a experiência de ver os olhares e sorrisos expressando apreciação além das palavras. Sabemos que estamos mais próximos de Jesus em nossa caminhada diária com Ele quando as coisas que partem Seu coração também sensibilizam o nosso. Quando Jesus viu a multidão, teve compaixão daquelas pessoas (Mt 9:36). Lembre-se de que você foi salvo para servir. Mesmo que deseje se preparar melhor para essa tarefa, você já pode aproveitar as oportunidades que surgirem hoje para doar tempo e recursos, além de orar pelas multidões que deixaram para trás a família, a pátria e, muitas vezes, a dignidade. Há um retorno recíproco para aqueles que servem. As pessoas que se voluntariam para servir outros sofrem menos de problemas como ansiedade e depressão. Servir até melhora nosso sistema imunológico. Que recompensa maravilhosa haverá apenas por fazer a coisa certa! ] PETER LANDLESS é cardiologista e diretor do Ministério da Saúde da sede mundial adventista em Silver Spring, Maryland (EUA)
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Foto: AdventHelp/ADRA
AS PESSOAS QUE SE VOLUNTARIAM PARA SERVIR OUTROS SOFREM MENOS DE PROBLEMAS COMO ANSIEDADE E DEPRESSÃO
NOVA GERAÇÃO
EVANGELISMO DA AMIZADE público estava com os olhos fixos nos músicos. As pessoas pareciam nem respirar ouvindo o pianista e a cantora colocarem sua alma na música, produzindo uma suave harmonia. O local não era um teatro imponente, capaz de manter a plateia atenta, mas uma simples sala de estar. Meu namorado e eu fomos convidados por Andy para assistirmos a esse concerto numa casa. Embora a cantora fosse conhecida da maioria, nunca tínhamos ouvido sobre ela nem visto suas apresentações na televisão. Mas conhecíamos o Andy, e confiávamos nele. Por isso, havíamos decidido aceitar o convite para estar ali. Pessoas de todas as idades e origens se apertavam naquela sala de estar despretensiosa, reunidos pelo amor à música. Nós rimos e suspiramos ao ouvir as histórias por trás das canções. Uma delas havia sido composta para uma campanha anti-bullying. Outra foi inspirada no sobrinho autista da cantora. Cantamos juntos, alegremente desafinados, algumas canções conhecidas. Mesmo não nos conhecendo, nos unimos naquela noite por apreciarmos a música.
Foto: Arquivo pessoal
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SERÁ QUE NESTE ANO ALGUÉM VAI ENCONTRAR JESUS PORQUE CONHECE VOCÊ?
OS RELACIONAMENTOS SÃO UMA FERRAMENTA PODEROSA PARA ALCANÇAR PESSOAS PARA CRISTO LYNETTE ALLCOCK
Mais tarde, conversando com meu namorado, revelei que havia ficado impresisonada. A experiência daquela noite havia sido um retrato do que é a comunidade da igreja: um grupo de pessoas, vindo dos vários caminhos da vida, atraídos para a companhia uns dos outros, porque amam Jesus e estão concentrados em algo maravilhoso. Pode ser que nos encontremos com estranhos, mas podemos nos unir porque compartilhamos o amor a Deus. “Além disso, por que, então, fomos ao concerto?”, meu namorado perguntou enquanto falávamos sobre isso. Não fomos ao concerto porque conhecíamos a cantora. Fomos porque conhecíamos o Andy. E, pelo fato de conhecermos esse rapaz, fomos expostos a algo que tocou nosso coração. Conhecemos pessoas que vieram para a igreja pela amizade com alguém. Pais que fizeram amizade em uma creche administrada pela igreja e começaram a frequentar a Escola Sabatina. Famílias que decidiram estudar a Bíblia depois de uma conversa com vizinhos adventistas. Uma aluna adolescente que trouxe os pais à igreja onde foi realizado o recital da sua escola de música. Jovens que se interessaram pelo cristianismo em conversas nas lanchonetes ou apenas por conviver com amigos que conhecem Jesus. Lembrei-me da história bíblica de Natanael e Filipe. Quando Filipe contou ao seu amigo que ele havia encontrado o Messias, “Jesus de Nazaré, filho de José”, Natanael exclamou: “Nazaré? Pode vir alguma coisa boa de lá”? Imagino Filipe sorrindo. “Venha e veja”, ele disse (Jo 1:45, 46, NVI). Natanael encontrou Jesus porque conhecia Filipe. Ao refletir sobre esta história e em nossa experiência no concerto na sala de estar, pensei: quero me tornar o tipo de pessoa que leva outras para o Criador da música, do amor e da própria vida. Será que neste ano alguém vai encontrar Jesus porque conhece você? ] LYNETTE ALLCOCK é estudante e mora em Watford, Reino Unido, onde produz e apresenta programas para a Rádio Adventista de Londres
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NÃO TENHA MEDO
A GRAÇA DE DEUS E A ESPERANÇA QUE ELE COLOCA EM NOSSO CORAÇÃO NOS LIBERTAM DE NOSSOS MAIORES TEMORES KIM PECKHAM
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m dia desses eu tive medo de uma sacola de supermercado. A sacola estava sobre a grama e, quando tive o primeiro vislumbre dela voando na minha direção, pensei que fosse um animal que estivesse vindo me atacar. Foi constrangedor. Especialmente quando penso no meu amigo Sam. Ele é adventista recém-batizado. O Sam já passou por situações horrorosas, mas parece que nunca fica assustado. Eu creio em Jesus, mas me assusto com qualquer coisa. A Bíblia diz: “Mesmo quando eu andar em um vale de trevas e morte, não temerei perigo algum” (Sl 23:4, NVI). Não consigo nem andar até meu carro sem sentir medo. Certo dia fomos visitar uns amigos que moram em uma cabana, na montanha. Foi uma visita maravilhosa. Nossos amigos nos mostraram onde tinham visto um urso. A noite já tinha coberto a montanha quando minha esposa e eu saímos para voltar para casa. Uma trilha cortava a floresta escura até o nosso carro. Conversávamos como costumamos conversar, mas falávamos alto. Então decidimos cantar. Cantamos como se nossa vida dependesse daquilo porque nos lembramos dos ursos. Esperávamos que o barulho os assustasse antes que pudessem sentir o cheiro de quanto éramos apetitosos para comer!
“Mesmo quando eu andar em um vale de trevas e morte, não temerei perigo algum” (Sl 23:4, NVI)
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Os cristãos não precisam ter medo de nada. Mas, o que sabemos e o que sentimos são duas coisas totalmente diferentes. Imagine um garoto que encontra uma cobra. Se ela é venenosa, ele deve saber que tem de ir para longe dela. Mas se ele sabe que ela é inofensiva, pode ser que a pegue na mão para brincar. O nível do seu medo depende do quanto sabe sobre a cobra. Podemos desaprender a ter medo. Pelo menos daquilo que conhecemos. Isso acontece quando aprendemos que podemos confiar em Deus para nos proteger. Mas crer em Jesus não elimina todos os medos. O medo é parte do problema do pecado, o que traz meu amigo Sam de volta à minha memória. No ano passado, Laura, esposa dele, teve que ir para o hospital. O médico lhe deu más notícias. Sam olhou para sua querida esposa ali, deitada na cama, dormindo, e sentiu um medo como nunca havia sentido antes. Sam sentou-se ao lado de Laura e segurou a mão dela. Houve um tempo em que ele não soube como lidar com seu medo. Mas sua fé lhe deu uma dica. Enquanto segurava a mão dela ele orou e repetiu essa atitude até o dia em que Laura estava bem o suficiente para voltar para casa. Quando se trata de medo, os cristãos têm uma vantagem especial. O fato de termos experimentado a graça de Deus muitas vezes diminui nossos temores. Também temos a oração, à qual podemos recorrer quando o medo sobrevém. Além disso, podemos nos apegar à esperança, que nos ajuda a ver além do nossos maiores medos. Mas todos nós, mesmo os corajosos como Sam, estamos esperando pelo dia em que não mais teremos nada a temer. ] KIM PECKHAM é redator publicitário e vive com a esposa, Lori, e o filho, Reef, em Sharpsburg, Maryland (EUA)
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Ilustração: Xuan Le
PRIMEIROS PASSOS
RETRATOS
Cenário de destruição em Palu, uma das cidades atingidas pelo terremoto e o tsunami que deixaram mais de 400 mortos na Indonésia no fim de setembro. A ADRA foi uma das organizações humanitárias que responderam ao desastre, oferecendo assistência aos sobreviventes. Fotografia: Ralfie Maringka/ ADRA Indonésia
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INTERNACIONAL Conferência mundial foi organizada pela Adventist Health International, pelo Consórcio de Líderes da Educação Médica Adventista (Consortium of Adventist Medical Education Leaders), pelos departamentos de Saúde e Educação da sede mundial adventista e pelo Instituto de Saúde Global da Escola de Saúde da Universidade de Loma Linda
GESTÃO DA SAÚDE
Conferência global promovida a cada dois anos pela Universidade de Loma Linda busca ajudar a fortalecer clínicas e hospitais da igreja nos países em desenvolvimento LARRY BECKER
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ais de 300 líderes adventistas de 44 países participaram da 8ª Conferência Global de Saúde promovida pela Universidade de Loma Linda com o objetivo de apoiar clínicas e hospitais da igreja nos países em desenvolvimento.
Realizado nos dias 18 a 21 de outubro, em Loma Linda, na Califórnia, Estados Unidos, o evento discutiu desafios práticos da administração dessas instituições espalhadas pelo mundo. Um dos convidados para falar sobre gestão hospitalar foi Lowell Cooper, que presidiu o conselho administrativo da Escola de Saúde da Universidade de Loma Linda por 15 anos. Além de discutir questões gerenciais, a conferência também reforçou o propósito pelo qual a igreja tem estabelecido clínicas e hospitais ao longo de sua história. “Frequentemente, somos forçados a lutar pela sobrevivência, em vez de nos tornar o que Deus deseja que nossos hospitais e clínicas se 38
tornem. Nosso objetivo é ajudar todas essas instituições a crescer e se tornarem fortes”, disse Richard H. Hart, presidente do departamento de Saúde da Universidade de Loma Linda na abertura do evento. A Igreja Adventista do Sétimo Dia administra 175 hospitais e 450 clínicas espalhadas ao redor do mundo. “Frequentemente me perguntam por que a Escola de Saúde da Universidade de Loma Linda se esforça para ajudar essas instituições internacionais. A resposta é que muitas mães, filhos e famílias são salvos todos os dias nesses hospitais. Essas instituições também oferecem emprego, treinamento para profissionais de saúde
EVENTOS ANTERIORES A primeira Conferência Global de Saúde foi realizada em Honduras, em 2010, e abordou as necessidades específicas dos líderes da área de saúde na América Latina. A conferência tem sido realizada anualmente desde 2012. Nos anos pares, o evento acontece em Loma Linda. Já nos ímpares são realizadas conferências regionais, como as que aconteceram na República Dominicana, Costa do Marfim e Zâmbia. A conferência mundial de 2016 abordou questões relacionadas a recursos humanos e ao desafio de formar equipes nas instituições internacionais que enfrentam limitações financeiras e de recursos sociais. As palestras específicas abordaram a filosofia da remuneração, orçamento e cargos de controle; o custo da rotatividade de funcionários e a necessidade de uma relação eficiente com os servidores. Na conferência de 2018, os líderes dos hospitais da Índia e Belize declararam que avanços importantes aconteceram nos recursos humanos de suas instituições, graças à informação que receberam dois anos antes. ] LARRY BECKER atua na equipe de Notícias da Universidade de Loma Linda
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Foto: Loma Linda University Health News
e dão visibilidade à Igreja Adventista em muitos lugares do mundo”, Hart enfatizou.
IGREJA
Por meio de eventos como o que ocorreu na Austrália, seminários e um programa de consultoria em liderança, a igreja no sul do Pacífico quer tornar mais efetivo o trabalho de preparar pessoas para que assumam responsabilidades na igreja
INVESTIMENTO EM LIDERANÇA
Programa desenvolvido na região sul do Pacífico busca fortalecer a formação de novos líderes EQUIPES DA ADVENTIST RECORD E ADVENTIST REVIEW
ormada pela Austrália, Nova Zelândia, Papua-Nova Guiné e algumas ilhas, a Divisão do Sul do Pacífico concentra cerca de 420 mil adventistas, 2 mil igrejas, três universidades e grandes instituições como o Hospital Adventista de Sydney, construído em 1903, e a Sanitarium, uma das maiores indústrias de alimentos da denominação no mundo. Em setembro, pessoas que lideram toda essa estrutura se reuniram na cidade australiana de Wahroon com o propósito de discutir estratégias para a formação dos líderes do futuro. A igreja entende que há necessidade de ampliar as ações visando identificar e capacitar novas pessoas para assumir funções de liderança. “É fundamental que a igreja permaneça relevante na sociedade, garantindo que nossos líderes tenham competência, conhecimento, experiência e agilidade para liderar em ambientes diversos e em constante mudança. Para alcançar esse objetivo é preciso haver intencionalidade e clareza nos processos e estratégias”,
Foto: Adventist Record
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disse Dean Banks, gerente de Desenvolvimento de Pessoas e Liderança da Divisão do Sul do Pacífico. Na ocasião, também foi apresentado o resultado de uma pesquisa realizada com mais de 200 líderes que atuam no território, que buscou identificar os principais desafios para formar novos líderes. Uma das realidades percebidas foi a necessidade de maior apoio nas várias funções que envolvem gerenciamento de pessoas. Diante disso, a Divisão do Sul do Pacífico pretende construir um sistema com mais eficiência para identificar e desenvolver futuros líderes com capacidade para responder aos novos desafios da sociedade e da igreja. Buscando dar um passo mais concreto nessa direção, a igreja formou um grupo de consultores em liderança e passará a avaliar o processo de treinamento de novos líderes. No início de novembro, a Divisão Sul do Pacífico também lançou uma série de temas voltados para o desenvolvimento da liderança profissional. A intenção é realizar seminários presenciais e a distância ao logo de 12 meses, alcançando inclusive os líderes que trabalham em regiões mais remotas. Serão abordados temas como a comunicação na liderança, gerenciamento de oportunidades de crescimento e o desenvolvimento da cultura da orientação eficaz. O seminário de novembro abordou como identificar e desenvolver futuros líderes para a Igreja Adventista, e foi apresentado por Peter Hartnett, gerente de RH da Sanitarium. “Compreendemos que nossos líderes têm pouco tempo e grandes responsabilidades. Mas nossa mensagem para eles é que, se estiverem preparados para aprender, vamos oferecer as oportunidades. Essa é a maneira de valorizarmos e capacitarmos nossa equipe para que seja responsável, motivada e produtiva”, finalizou Dean Banks. ] Equipes das revistas Adventist Record e Adventist Review
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MISSÃO Com uma população de 450 mil pessoas, Santos é a cidade do litoral paulista que tem a menor proporção de adventistas por habitantes
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DESAFIO À BEIRA-MAR
A presença adventista em algumas cidades do litoral paulista ainda é pequena, mas a igreja tem buscado se tornar relevante nesses lugares ISADORA SCHMITT CACCIA
o fim de 2014, a igreja no estado de São Paulo entendeu que precisava realizar uma nova divisão de território a fim de atender melhor algumas regiões específicas. Com a criação da Associação Paulista Sudeste (APSe), sede administrativa que abrange as regiões do ABCD Paulista e da Baixada Santista, a evangelização de cidades litorâneas com pouca presença adventista passou a receber maior ênfase. Uma das maneiras de ampliar a influência da igreja na região foi abrir novas escolas. Há quatro anos, a região contava apenas com Redação o Colégio Adventista de Santos. Porém, em 2015 foi inaugurada uma nova unidade em Praia Grande que já tem mais de 800 aluDesigner nos. O objetivo para os próximos quatro anos é a criação de outro colégio no Guarujá. Somado a isso, a denominação investiu nos projetos que CQ já vinham sendo realizados pela ADRA nos municípios de Cubatão, Itanhaém e Bertioga. Marketing Os três núcleos que atendem 420 crianças em situação de vulnerabilidade social têm ajudado a mudar a realidade de algumas comunidades. Apesar disso, o litoral paulista continua sendo um campo missionário desafiador. Santos é o município com menor presença do adventismo nessa região. Lá existem apenas
Foto: Adobe Stock
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dois templos, que congregam pouco mais de mil membros em meio a uma população de 450 mil habitantes. A secularização é uma das barreiras para se chegar às pessoas da cidade, que está na lista das que oferecem mais qualidade de vida e, segundo o último censo do IBGE, é a 17ª mais rica do país e a 6ª no ranking dos municípios com maior Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM). “Devido à forte secularização no estilo de vida dos moradores da cidade, o evangelho encontra um pouco mais de resistência ali”, afirma o pastor Emílio Abdala, líder do departamento de Evangelismo da sede administrativa da igreja no estado. Isso tem demandado estratégias mais contextualizadas. Além das igrejas Central de Santos e Vila São Jorge, nos últimos anos foi estabelecida também uma home church, que funciona num espaço alugado no centro da cidade. Há ainda um grupo que se reúne há mais de dez anos no bairro da Ponta da Praia. Em virtude do alto custo e da dificuldade de encontrar imóveis na cidade, a congregação ainda não possui sede própria. Para o pastor Oliveiros Ferreira, líder da igreja para essa região do estado, a cidade de Santos é uma das prioridades do programa de evangelismo da Associação Paulista Sudeste. Por isso, uma nova congregação está sendo plantada no Morro São Bento, bairro histórico que concentra cerca de 42 mil moradores. “Já alugamos um salão e temos planos para a compra de um imóvel. A ideia é consolidar um trabalho que servirá de referência para o trabalho nos outros morros de Santos. A Igreja Central da cidade e alguns pastores também estão estabelecendo um clube de desbravadores no local”, o pastor Oliveiros relata. Alvo de Missão Global da Divisão Sul-Americana, Santos já foi palco de grandes campanhas evangelísticas, realizadas nos últimos anos com o apoio de estudantes de Teologia. Também foram contratados um capelão para desenvolver um trabalho mais estratégico no colégio e um líder associado do departamento de Evangelismo. O pastor Oliveiros acredita que a abordagem das missões urbanas seja um pouco diferente de décadas atrás e, por isso, a igreja precisa diversificar as abordagens para ser relevante em contextos como esse. “Apesar das barreiras, tenho certeza de que a mensagem de salvação vai impactar muitas pessoas e vidas serão transformadas nesta maravilhosa cidade”, ele conclui. ] ISADORA SCHMITT CACCIA é jornalista e atua como assessora de comunicação da Associação Paulista Sudeste
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EVANGELISMO
Ministério iniciado em 2018 já reúne 454 ciclistas do Brasil, Argentina e Estados Unidos SABRINA TAVARES GIROTTO
m 2018, a produção de bicicletas no Brasil cresceu 49,8% em relação ao ano anterior, segundo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares. A estatística reflete o aumento do número de adeptos do transporte sobre duas rodas no país. Além de movimentar o mercado ciclístico, essa tendência tem criado oportunidades para o ministério Seven Bikers, que nasceu em fevereiro por iniciativa do ciclista Heber Girotto, de Hortolândia (SP). Ele decidiu utilizar os passeios com os amigos nos fins de semana como um meio de evangelizar. “Um dos nossos
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principais objetivos é fortalecer a amizade e oferecer àqueles com quem entrarmos em contato uma experiência de vida com Cristo”, ele explica. Apesar de ter começado há pouco tempo, o grupo cresceu e conquistou ciclistas de outros lugares, formando uma rede que já envolve pessoas de 29 cidades espalhadas por oito estados brasileiros, além de participantes da Argentina e dos Estados Unidos. Lanei Poll foi um dos primeiros a se conectar com o projeto. Ele já pedalava com um grupo de amigos semanalmente em Jundiaí (SP) e ficou interessado em conhecer o ministério Seven Bikers depois de ouvir Sérgio Simonato, colega de pedal, falar sobre a iniciativa. Também foi por meio de Sérgio, membro da igreja em Indaiatuba, que Júlio Vieira, outro ciclista do interior de São Paulo, passou a integrar o ministério. “O grupo crescia a cada semana e isso me fazia querer ir à igreja para encontrá-los”, relata. Com o tempo, ele também se interessou pela mensagem adventista e passou a frequentar a Escola Sabatina. Depois de estudar a Bíblia, o ciclista decidiu ser batizado no mês de julho. Hoje ele lidera um grupo de 84 integrantes do Seven Bikers em Indaiatuba. NOVOS PROJETOS Considerada pela ONU um dos meios de transporte mais sustentáveis do planeta, a bicicleta é utilizada por cerca de 7% dos brasileiros, como revelou uma pesquisa sobre mobilidade urbana realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O mesmo levantamento mostrou que o Brasil tem mais bicicletas que carros. Atento a essa tendência, o ministério dos ciclistas adventistas tem buscado atrair essa parcela representativa da população que pedala por hobby ou que usa esse meio de transporte no dia a dia. As metas são ousadas. “Queremos ser a maior rede de ciclistas ao redor do mundo, impactando a vida das pessoas e de comunidades em que o acesso do evangelho sem a bike é restrito”, afirma Lanei Poll, que hoje é responsável pela divulgação do projeto. Para que o ministério funcione de maneira organizada, cada participante é incentivado a realizar um cadastro e a emitir a carteirinha de identificação que traz dados do ciclista e da bicicleta, o que também é uma medida de Foi por meio do segurança. O site oficial do ministério ministério (sevenbikers.com.br) também informa dos ciclistas como fazer parte do grupo ou estabeadventistas que lecer um núcleo do Seven Bikers na Júlio conheceu igreja local, além de oferecer a opção de a mensagem downloads de estudos bíblicos persoadventista e foi nalizados. O próximo passo será lançar batizado. Hoje um aplicativo com funções específicas ele é líder do maior grupo de para evangelismo sobre duas rodas. ] participantes do projeto Seven Bikers
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SABRINA TAVARES GIROTTO é estudante de Jornalismo
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Foto: Adonai Bento
PEDAL MISSIONÁRIO
INOVAÇÃO Auditado pela Caixa Econômica Federal, o CPBedu premiou pelo segundo ano consecutivo 40 educadores da rede adventista que têm buscado fazer a diferença na vida dos alunos
O TROFÉU DA EDUCAÇÃO
Iniciativa tem reconhecido o trabalho de professores adventistas que buscam usar a criatividade em sala de aula e integrar fé e ensino THIAGO BASÍLIO
ducar é uma arte que Ângelo Bernardes domina com maestria e criatividade. Buscando sempre inovar e tornar a aprendizagem mais significativa, ele passou a usar jogos educativos na sala de aula. Mais do que isso: em parceria com outros professores, começou a desenvolver games como proposta pedagógica no Instituto Adventista Pernambucano de Ensino (IAPE). “Pesquisei formas de aprendizagem e a gamificação foi a que achei mais completa e personalizável”, conta o professor de Filosofia e Ensino Religioso.
Foto: Daniel de Oliveira
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A iniciativa esteve entre os projetos premiados no início de dezembro pela Casa Publicadora Brasileira. Bernardes foi o vencedor de uma das cinco categorias do Prêmio CPBedu, cuja cerimônia de entrega de troféus aconteceu na sede da editora, no dia 3 de dezembro, em Tatuí (SP). Promovido pelo segundo ano consecutivo, o projeto tem buscado valorizar boas ideias e maneiras eficazes de integrar fé e ensino em todos os níveis da educação básica. No ano passado, mais de 700 projetos foram cadastrados e analisados. “Fazemos um programa como esse para estimular o professor a usar sua criatividade, R e v i s t a A d ve n t i s t a // Janeiro 2019
vibrar em sala de aula, ir além do óbvio, do comum, e, assim, educar da melhor maneira. Propostas como essa elevam o nível da educação adventista”, destaca o pastor Erton Köhler, líder da igreja na América do Sul. O pastor José Carlos de Lima, diretor-geral da CPB, acrescenta que “o prêmio também incentiva a utilização criativa do material didático adventista que, desde que começou a ser produzido, em 1982, tem se destacado como uma notável frente evangelística”. Para Tarcísio Goese, professor de Música e Artes, “saber que um projeto fez diferença na vida dos alunos é de valor incalculável”. Como reconhecimento pelo trabalho que ele e
outros 39 finalistas realizaram, a CPB entregou, além de troféus, um cartão valepresente no valor de 2 mil reais. Além desse montante, os vencedores de cada categoria receberam mais 4 mil reais. Cerca de 600 pessoas prestigiaram a cerimônia de entrega dos prêmios. A programação, cheia de surpresas e efeitos audiovisuais, emocionou, pois “celebrou o amor dos nossos professores por seus alunos”, conforme resumiu o pastor Edgard Luz, líder sul-americano do departamento de Educação. “Reconhecer o papel do educador adventista é essencial para o aprimoramento da qualidade do nosso sistema educacional”, complementou Alexander Dutra, gerente da CPB Educacional. Porém, o que coroou o evento não foi a entrega dos troféus, mas o batismo de Marilda Isabel Ferreira da Silva. Ela não passou pelos bancos escolares da rede, mas os valores da mensagem adventista a alcançaram por meio da advogada Alessandra Gonzalez, e do esposo, Cristiano, que, por sua vez, conheceram a igreja através da educação adventista. Em 2015, indo do Rio de Janeiro para Petrópolis, o casal passou em frente ao Instituto Petropolitano Adventista de Ensino (IPAE), e decidiu desviar o trajeto para conhecer a instituição. Lá eles se impressionaram com o conteúdo dos livros didáticos. Era o que procuravam para a educação das duas filhas. Além de matriculá-las numa escola adventista, eles hoje são membros da igreja. “Para nós, a educação é uma oportunidade de levar a Palavra de Deus e a mensagem de esperança”, enfatiza o pastor Lima. Essa é uma oportunidade que o professor pode desfrutar cotidianamente no seu ministério, e por isso merece incentivo e reconhecimento. ] THIAGO BASÍLIO é jornalista, mestre em Divulgação Científica e Cultural pela Unicamp e trabalha no Portal da Educação na CPB (com colaboração de Camila Torres)
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Ellen White: Mulher de Visão Arthur L. White
Ellen White: Mulher de Visão é a mais ampla e detalhada biografia da autora publicada em língua portuguesa. Produzida por seu neto Arthur L. White, a obra permite visualizar aspectos interessantes e reveladores de sua personalidade no papel de esposa, mãe, avó, conselheira, líder e fiel mensageira do Senhor.
101 Perguntas Sobre Ellen White e Seus Escritos William Fagal
Neste livro, o pastor William Fagal, diretor associado do Ellen G. White Estate, dá respostas instigantes a 101 das perguntas feitas com maior frequência, muitas delas bastante controversas. De forma didática, ele expõe diversos mitos e apresenta ao leitor a verdade sobre essa autora que inspira gerações.
Mensageira do Senhor Herbert E. Douglass
Com este livro conheceremos um pouco mais sobre o ministério profético de Ellen G. White. Durante 70 anos ela trabalhou como a mensageira do Senhor escrevendo, pregando, aconselhando, viajando, advertindo e encorajando. Aprecie este material que irá enriquecer sua biblioteca.
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SOLIDARIEDADE
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Distribuir refeições, cestas básicas, roupas e kits de higiene foi uma das formas encontradas pelos adventistas para oferecer ajuda às cerca de 600 famílias afetadas pelo incêndio que destruiu um bairro da periferia de Manaus
AUXÍLIO EM MEIO ÀS CINZAS
Como a igreja respondeu ao segundo maior incêndio da capital amazonense PRISCILA BARACHO
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Foto: Fernando Borges
ocalizado na zona sul da capital amazonense, o bairro Educandos é um dos mais antigos da cidade. De acordo com dados do último censo do IBGE, mais de 15 mil pessoas vivem na comunidade que, à semelhança de outros bairros de grandes centros urbanos, cresceu sem a estrutura necessária para abrigar seus moradores. Na noite do dia 17 de dezembro de 2018, o bairro localizado às margens do rio Negro teve sua história marcada por um incêndio. Redação Era cerca de 20 horas quando tudo começou. Suelen Nunes estava em casa com o esposo, as duas filhas, o irmão e a mãe. Quando ouviDesigner ram os vizinhos gritando, perceberam que algo grave estava acontecendo. Em poucos minutos, as chamas consumiram a casa e tudo que CQ a família tinha levado anos para adquirir. A história também se repetiu com Diana, Marketing outra moradora. Ela residia com mais seis familiares no lugar precário em que, a cada cheia do rio Negro, era preciso andar por meio de pontes de palafitas, para acessar as ruas convencionais. Ao contrário de Suelen, Diana ainda conseguiu resgatar uma bolsinha com os documentos e alguns poucos utensílios domésticos. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Janeiro 2019
O incêndio que devastou a comunidade é considerado o segundo maior registrado na cidade, de acordo com a Defesa Civil do estado do Amazonas. Cerca de 600 famílias ficaram desabrigadas. Diante da situação caótica dos moradores, os membros das igrejas adventistas locais que já estavam envolvidos no programa Mutirão de Natal também se mobilizaram para ajudar quem precisava se reerguer das cinzas. Os templos abriram suas portas para arrecadar água potável, alimentos, roupas e itens de higiene pessoal. A regional da ADRA Brasil no Amazonas também se envolveu para prestar a ajuda necessária. O líder da agência humanitária na região, Bradley Mills, visitou o local para ver de perto a realidade e estudar um plano de ação junto ao município. A ADRA cadastrou as famílias mais afetadas pela tragédia e cada uma recebeu um cartão com créditos para comprar utensílios domésticos e outros artigos de primeira necessidade. Mais de 200 famílias foram beneficiadas diretamente com essa ação. Os voluntários adventistas passaram dias preparando kits de higiene, separando roupas e montando cestas básicas. Tudo para amenizar a dor e angústia de quem perdeu o pouco que possuía. Magda Santos, militar da aeronáutica, foi uma das pessoas que participaram dessa força-tarefa em favor das vítimas do incêndio. “Fiquei feliz por poder ajudar no momento em que essas pessoas mais precisaram de ajuda”, sublinha. “Em um momento de dor como esse, a única maneira de ajudar a aliviar o sofrimento das vítimas é encontrar pessoas que se preocupem e ajudem os afetados”, destacou o pastor Sérgio Alan, líder da igreja para as regiões norte e centrooeste do Amazonas. Até o fechamento desta edição, mais de mil peças de roupas tinham sido arrecadadas, além de itens como toalhas de banho, jogos de lençóis, alimentos não perecíveis e itens de higiene pessoal. ] PRISCILA BARACHO é jornalista e atua como assessora de comunicação da Igreja Adventista para a região central do Amazonas
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MEMÓRIA
Ady Anna Ludwig Dourado, aos 83 anos, em Vila Velha (ES), vítima de esteatose hepática (gordura no fígado). Gaúcha da cidade de Não-Me-Toque, era filha do pastor Godofredo Ludwig e viúva do doutor Jessé Dourado. Trabalhou como professora e secretária em internatos como o extinto ENA e no Edessa, além de escolas em regime de externato, como os Colégios Adventistas de Vila Velha e do Ibes, no Espírito Santo. Deixa três filhos, oito netos e cinco bisnetos. Ana Cláudia Almeida de Souza, aos 49 anos, em Salvador (BA). Batizada em 1986, logo ficou conhecida na região sul da Bahia por seu empenho no Ministério Jovem. Em 1991, fundou o primeiro clube de aventureiros da Bahia, e uma das primeiras agremiações do Brasil: Clube Estrelas da Aurora, em Itabuna. Por muitos anos atuou como diretora e coordenadora regional dos desbravadores. Em 2008, foi líder de uma das primeiras equipes do projeto Missão Calebe no país. Mais recentemente estava servindo como diretora da congregação de Pernambués, em Salvador (BA). Deixa três filhos adultos. André Guilhem, aos 87 anos, em Curitiba (PR), de morte natural. Filho de imigrantes
espanhóis, foi batizado na infância junto com seus pais e oito irmãos, por influência de um colportor que visitou sua família no sítio em que viviam. Era um homem de poucas palavras, mas cujo exemplo cristão foi contundente. Enquanto teve boa saúde, foi diácono por muitos anos na Igreja de Pinhais (PR). Era solteiro e irmão mais novo do falecido pastor Manoel Guilhem Filho. Antonio Rocha de Araújo, aos 81 anos, em Guarulhos (SP), vítima de infarto. Batizado em 1981, na Igreja de Vila Galvão, em Guarulhos, ele ajudou na construção da Igreja de Jardim Tranquilidade, onde serviu como diácono. Por dois anos frequentou a Igreja da Penha, na capital paulista. Fez um longo trabalho missionário em Crisópolis (BA), onde ajudou a plantar uma igreja. Na cidade de Bragança Paulista deu sua contribuição nas Igrejas Central e do Parque dos Estados. Foi fiel em seus dízimos e ofertas e se orgulhava de ser adventista. Deixa a esposa, Maria da Conceição, dois filhos, sete netos e dois bisnetos. Aurélio Francisco de Oliveira, aos 102 anos, em São José dos Campos (SP), vítima de câncer de próstata. Foi tesoureiro da Igreja Central da cidade por vários anos. Deixa dois filhos, oito netos e 21 bisnetos. Dulce-Leila Abreu dos Santos, aos 53 anos, vítima de acidente automobilístico. Ela trabalhava
como médica na cidade de Cândido Sales (BA) e já havia atuado no norte de Minas Gerais. Procurava servir à igreja com palestras sobre saúde nas congregações e colaborava com o clube de desbravadores. Era filha do pastor Dido Pereira dos Santos. Deixa o esposo e um filho. Edina Maria de Oliveira Arena, aos 58 anos. Serviu como diaconisa e destacou-se como esposa, mãe e avó dedicada. Elina C. Dorneles, aos 24 anos, em Campinas (SP), vítima de parada cardiorrespiratória durante breve cirurgia. Natural de Goiânia (GO), era formanda em Letras e Tradutor e Intérprete no Unasp, campus Engenheiro Coelho. Deixa o pai (pastor Vanderlei Dorneles), a mãe (Lucienne) e seu irmão mais novo (Weber) Izilda Barros do Nascimento, aos 78 anos, em Tatuí (SP), vítima de mal de Alzheimer (doença com a qual convivia havia 17 anos). Natural de Jandaia (GO), serviu à Casa Publicadora Brasileira por 18 anos. Destacou-se por sua dedicação à família. Deixa o esposo, José (com quem foi casada por 53 anos), dois filhos e três netos.
Sílvio Barbosa dos Santos, aos 87 anos, em Alfenas (MG), vítima de falência de múltiplos órgãos. Filho de família adventista pioneira na região sul de Minas Gerais, era membro da Igreja Central de Poços de Caldas, onde serviu como tesoureiro por mais de 20 anos. Viúvo, deixa três sobrinhos, sendo um deles o pastor Márcio Nastrini, editor na CPB. Sueli Moreno Ferreira, aos 66 anos. Era membro da Igreja Central de Praia Grande, no litoral paulista. Destacou-se como uma pessoa amigável, além de excelente esposa, mãe e avó. Vercy Martins Colaço, aos 59 anos, vítima de câncer. Natural de Santa Maria do Oeste (PR) e filho de pioneiros do adventismo local, ele apoiou a construção de igrejas na região. Era sogro do jornalista Márcio Tonetti, editor associado da Revista Adventista. Deixa a esposa, Lúcia, três filhos e cinco netos. William Costa Machado, aos 37 anos. Era membro da Igreja Central de Praia Grande, no litoral paulista. Serviu como diretor do clube de desbravadores e destacou-se por sua dedicação como esposo e pai.
“ B E M - AV E N T U R A D O S O S M O R T O S Q U E , D E S D E A G O R A , M O R R E M N O S E N H O R ” 46
(APOCALIPSE 14:13)
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EM FAMÍLIA
EMOCIONALMENTE ESTÁVEL VOCÊ NÃO PODE SE LIVRAR DE ALGUNS TIPOS DE SENTIMENTO, MAS PODE EVITAR QUE ELES DESEQUILIBREM SUA VIDA TALITA CASTELÃO
Foto: Adobe Stock
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ocê já perdeu o controle alguma vez? Perder a linha com algum acesso de ira muitas vezes parece algo incontrolável. Mas será possível virar o jogo e usar as emoções em seu favor? Tristeza, raiva e medo são emoções que, quando sentidas de forma intensa, parecem superar nossa capacidade de raciocínio. Mas há alternativas possíveis de enfrentamento para preservar nosso bem-estar físico e emocional. Foi James Gross, um psicólogo da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, quem propôs um modelo explicativo sobre a experiência subjetiva dos sentimentos. Gross acredita numa trajetória de cinco fases que podem ser alteradas de modo a produzir um resultado diferente. A primeira consiste na decisão de encarar ou evitar um cenário emocional. É bem verdade que, na maioria das vezes, agimos automaticamente, repetindo comportamentos que aprendemos ao longo da vida. Mas a tomada de decisão é sempre possível. É como decidir descansar depois de um dia de trabalho ou sair com os amigos. Sempre há ganhos e perdas em cada uma das opções. Após a tomada de decisão vem a fase de tomar uma atitude, como, por exemplo, pedir moderação a um vizinho que está exagerando no barulho. Mas nem sempre os eventos podem ser modificados. Nesse caso, será preciso administrar o evento concentrando em algo diferente. O indicado seria mesmo tomar providências antes que uma situação chegue a um estágio crítico. Na terceira fase provavelmente seja tarde demais para modificar a situação. A recomendação de Gross é voltar a atenção para algum aspecto positivo, tentar um breve afastamento ou até uma distração. Se numa reunião de trabalho você é tomado pela raiva, pode ir ao banheiro lavar o rosto ou ir tomar água para mudar um pouco de foco. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Janeiro 2019
REGULAR AS EMOÇÕES NÃO É O MESMO QUE EVITÁ-LAS. NINGUÉM ESTÁ LIVRE DE SOFRER GOLPES EMOCIONAIS INESPERADOS
A quarta etapa pode ser entendida como um exercício de “autodistanciamento”, no qual se pensa novamente na situação da perspectiva de uma terceira pessoa. Você pode, inclusive, contar para si mesmo sobre o que causou incômodo como se fosse um observador imparcial. O objetivo nessa fase é evitar a ruminação, pois ela aumenta a agressividade e a frustração, o que pode favorecer os sintomas de depressão. Por fim, é preciso reconhecer e aceitar as coisas que não podem ser mudadas, mas sem reprimir os sentimentos. Afinal, controlar as emoções não é o mesmo que evitá-las. Ninguém está livre de sofrer golpes emocionais inesperados. Muitas de nossas reações imediatas são influenciadas por traços de personalidade, experiências pessoais e até aspectos culturais. Por isso, é recomendável administrar nossas reações sempre pensando no resultado final que queremos obter. E, quando não for possível seguir essas etapas numa situação, é importante não desistir de treinar os sentimentos, pensamentos e ações para eventos futuros. ] TALITA CASTELÃO é psicóloga clínica, sexóloga e doutora em Ciências
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“Seja seu primeiro objetivo tornar o lar aprazível.” Ellen G. White
(O Lar Adventista, p. 24)
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Foto: Daniel de Oliveira
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ocê vai à casa de um irmão da igreja. Ali encontra familiares e amigos dele que não são adventistas. Vocês começam a conversar sobre os problemas de cada um e, espontaneamente, o assunto acaba em religião. Deus parece soprar em seu ouvido que aquele encontro pode se transformar numa reunião de pequeno grupo. Depois de retrucar mentalmente, você ouve a resposta divina: “Sim! Aqui e agora!” Imediatamente você toma sua Bíblia Missionária e procura no índice um roteiro de encontro para pequeno grupo com um tema adequado para o momento. Após ler para os presentes o texto bíblico introdutório, você faz as perguntas para discussão e reflexão. As pessoas opinam e perguntam. Você termina o encontro orando pelas necessidades de cada um. Na prática, ocorreu uma reunião de pequeno grupo de amigos para estudar a Palavra de Deus. No fim do encontro, alguém procura você e revela ter curiosidade sobre o livro do Apocalipse. Você não é um especialista em profecias, mas não se intimida e oferece para ele o curso bíblico “Apocalipse: Revelações de Esperança”. Mesmo sem ter muito conhecimento prévio sobre o assunto, você entrega a ele regularmente uma lição impressa do curso e complementa o conteúdo com base nas informações adicionais da Bíblia Missionária. Basta ler a primeira pergunta de R e v i s t a A d ve n t i s t a // Janeiro 2019
cada lição nas duas últimas páginas da Bíblia Missionária, procurar a passagem indicada, e ler a nota explicativa junto à passagem e a próxima pergunta do estudo. Por causa de sua linguagem simbólica, nada melhor do que estudar o Apocalipse com a ajuda de recursos visuais. Por isso, você toma um smartphone, baixa gratuitamente o aplicativo Apocalipse RA (para Android e iOS, no Google Play e App Store, ou em apocalipse.com/app), e, por meio desse recurso, mira a câmera do celular nos desenhos quadriculados que estão no guia de estudo do aluno e na Bíblia Missionária. Por meio da tecnologia de realidade aumentada, vocês veem pela tela do smartphone, em animações em 3D, os anjos tocando trombetas, o santuário celestial, a cidade santa e as bestas do Apocalipse, além de outras visões detalhadas no estudo. Se seu amigo faz uma pergunta difícil, também não é problema. Há no material notas esclarecendo as passagens de interpretação mais controvertida.
Baixe o app Apocalipse RA e direcione a câmera do seu smartphone para a imagem ao lado
A Bíblia Missionária é leve e fácil de manusear (mede 14 × 21 cm), e está disponível em capa dura ou flexível (luxo). Os cursos bíblicos “Ouvindo a Voz de Deus” (com 27 lições sobre temas doutrinários) e “Apocalipse: Revelações de Esperança” (versão reformulada, com 21 lições, do experimentado “Seminário Revelações do Apocalipse”) estão dispostos em cadeia ao longo da Bíblia. Roteiros para reuniões de pequenos grupos, notas sobre textos controvertidos, diagramas, tabelas, mapas e cronologia complementam os recursos do material. Enfim, nunca foi tão fácil instruir seus amigos e familiares com base na Bíblia e “apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a Palavra da Verdade” (2Tm 2:15). ] FERNANDO DIAS é pastor e editor dos livros de Ellen G. White na CPB. Ele foi um dos editores da Bíblia Missionária
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ENFIM
O SILÊNCIO DA VIRADA
COMBINAR BARULHO E SILÊNCIO É UMA DELICADA ARTE QUE DEVEMOS PRATICAR TODOS OS DIAS DO ANO JÚLIO LEAL
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PRECISAMOS SER CRIATIVOS E PROATIVOS DIANTE DOS NOVOS (E VELHOS) DESAFIOS das novas tecnologias. O fato é que as pessoas estão se posicionando, e aos poucos vemos quão distantes estamos daqueles que julgávamos próximos de nós. A era dos extremos (ainda) está aí. Opções políticas e ideológicas à la carte aproximam pessoas com gostos e opiniões afins, mas, ao mesmo tempo, distanciam outras, inclusive amigos e familiares, talvez sem necessidade alguma. Cresce a quantidade de politizados não polidos, como se firmeza e ternura fossem incompatíveis. Muitos até já fizeram suas apostas e preveem guerras de foice para o novo ano por motivos defensáveis ou não. Deveríamos, então, perder a esperança? Não. Não se soubermos ser criativos e proativos diante dos novos (e velhos) desafios. Criativos como os que inventaram fogos de artifício sem ruído para o Réveillon de 2018 em Florianópolis (SC), a fim de não espantar os animais. Proativos como os que trarão de Israel a tecnologia que ajudará o sertão a
virar “mar”, conforme a profecia nordestina do século 19. Criativos como os fazedores de memes que instigam o pensamento ou, pelo menos, o riso. Proativos como os que arregaçam as mangas e trabalham para ajudar pessoas com necessidades diferentes das suas. Criativos como os que criticam. Proativos como os que agem para que não haja críticas justificadas. Criativos como os que desenvolvem soluções. Proativos como os que as implementam. Criativos como os silenciosos que combatem o mal. Proativos como os barulhentos que promovem o bem. O Céu é assim: silencioso e barulhento. Lá há festas quando um pecador se arrepende (Lc 15:10). Há também serafins que cobrem o rosto em silêncio quando, diante do alto e sublime trono, adoram o Senhor de maneira reverente e solene (Is 6:1-3). No Céu há perfeita ordem e vibrante dinamismo. Sob o nosso Sol também há tempo e espaço para muita coisa, como dizia Salomão (Ec 3:1-8). Queira Deus que o quanto antes vejamos Jesus voltar e que até lá Ele nos ensine a contar os nossos dias, equilibrando razão e emoção, para assim alcançarmos coração sábio (Sl 90:12). ] JÚLIO LEAL é pastor, doutor em Educação e editor de livros didáticos na Casa Publicadora Brasileira
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estas são eventos barulhentos. Quando a alegria extravasa, costuma quebrar não só o protocolo, mas também o silêncio. Aliás, cerimônias e protocolos são coisas pensadas por gente organizada e ordeira, não necessariamente por pessoas alegres. Fim de ano e começo de ano pedem celebração, reencontro, confraternização, coisas muito apreciadas pela “turma do barulho”. Quem gosta de festa, música e alegria, porém, nem sempre entende a necessidade de um período de silêncio. Contudo, o sossego e a paz são indispensáveis na vida, mesmo para quem não se importa com a quantidade de decibéis propagando-se pelo ar ou com o sono do bebê do vizinho. Som alto, alvoroço e um profundo silêncio se misturaram de modo singular quando um coro de anjos saudou o menino Jesus na manjedoura do primeiro Natal. Aquela noite feliz foi grandiosa, não exatamente silenciosa, como supõe certa canção tradicional (“Silent Night”). O som daquelas boas-novas ecoa até hoje, por diferentes latitudes, renovando-se a cada manhã, como as misericórdias do Senhor (Lm 3:22, 23). Para o Brasil, 2018 não foi um ano, digamos, silencioso, pois trouxe um clima de agitação política sem precedente. Alguns creem que o que ocorreu aqui – à semelhança da Primavera Árabe e da ação dos “coletes amarelos” em Paris – foi um fenômeno sociológico inédito, sem grandes lideranças populistas, mas protagonizado pelas massas, apoiado no incrível poder mobilizador
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