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ENFIM

ENFIM

FATOS

EM NOME DA PAZ SEGURANÇA DOS PACIENTES

O Hospital Adventista de São Paulo recebeu uma certi ficação de qualidade do Instituto Brasileiro de Excelência em Saúde (Ibes), de acordo com os padrões da Organiza ção Nacional de Acreditação (ONA). Na prática, isso significa que a entidade tem aperfeiçoado seus processos em relação à segurança dos pacientes.

Numa visita histórica aos Emirados Árabes Unidos, em 4 de fevereiro, o papa Francisco disse num encontro inter-religioso que as grandes tradições de fé precisam se unir para resistir à lógica da guerra. “Não há alternativa: construiremos o futuro juntos ou não haverá futuro”, discursou o pontífice para centenas de líderes islâmicos e judeus. No fim do encontro, Francisco e o xeique Ahmed el-Tayeba, líder sunita, assinaram uma declaração conjunta sobre fraternidade humana e luta pela paz mundial. Ambos lançaram também a pedra angular de uma nova igreja e mesquita que serão construídas lado a lado em Abu Dhabi. No dia seguinte, o papa celebrou uma missa para 135 mil fiéis. Estima-se que 9% dos 9 milhões de habitantes dos Emirados sejam cristãos. De algum modo, esse passo amplia as perspectivas do ecumenismo.

EM FAVOR DA SAÚDE

Com representação das instituições adventistas de ensino superior do Brasil, Argentina, Chile e Peru, foi criada a Rede Adventista SulAmericana de Educação Física, no fim de janeiro, durante um simpósio internacional sobre o tema, realizado no Unasp, campus São Paulo. A ideia é alinhar o ensino dessa disciplina na rede adventista, oferecendo uma abordagem mais integral, e executar o chamado Plano Mestre de Desenvolvimento da Saúde (PMDS).

AGORA É OFICIAL

Depois de 18 anos, o IASP passa a ser legalmente chamado de Unasp, campus Hortolândia. A integração oficial com os outros campi do centro universitário reforça o so nho de tornar o Unasp uma universidade. A placa de unidade do campus foi inaugurada durante o encontro geral de docentes da instituição, no fim de janeiro.

40 anos completou o ministério para nativos do Sul do Pacífico, em janeiro. Duzentas pessoas participaram de um acampamento na Austrália para celebrar a data.

Você tem que primeiro amar o desbravador e demonstrar esse amor. Assim, você o cativa e ele lhe obedece. Não é por força, é por amor.

EVENTO

Maria Lúcia de Souza, de 88 anos, explicando como lidera há quase 40 anos o Clube Luzeiros do Vale, de Jacareí (SP). Ela participou de todos os camporis sul-americanos.

NOVOS MÉDICOS

Em janeiro, a Universidad Peruana Unión formou sua primeira turma de Medicina com 29 estudantes, entre eles um brasileiro: Everson Dias Koch. Líderes sul-americanos da igreja e representantes da Universidade de Loma Linda, na Califórnia (EUA), acompanha ram a cerimônia de colação de grau.

OLHAR DIGITAL

BONS VALORES

Roller Peps é a nova animação infantil em 3D disponível na plataforma de vídeos feliz7play. com. A produção aborda questões como boas maneiras, meio ambiente, profissões, saúde e lealdade a Deus, sempre com a ideia de que é melhor dar o seu melhor do que procurar ser o melhor. A primeira série tem dez episódios de seis minutos e está disponível também na Lin guagem Brasileira de Sinais (Libras).

PARA TREINAR SEU INGLÊS

O documentário A Story of Perse verance (29 min) foi lançado no fim de janeiro para contar a história do início do adventismo no Reino Unido (youtube.com/ukhopetv).

A animação The Tuis tem a proposta de apresentar as 28 crenças adven tistas para as crianças. Os episódios de 11 min retratam o cotidiano de uma família das ilhas do Pacífico que vive no norte da Austrália. Os víde os são acompanhados de materiais para o culto familiar (thetuis.tv).

GENTE

NOMEAÇÃO

O ministério A Voz da Profecia tem nova voz. O pastor Gilson Brito foi nomeado no dia 15 de fevereiro como orador do tradicional pro grama radiofônico, que terá agora uma versão para a TV. Gilson, que substitui o pastor Ivan Saraiva, tem 53 anos, é casado com a professora Zena Mara e pai de duas filhas. Ele, que apresentava desde 2015 o progra ma Além dos Fatos na TV Novo Tempo, também acompanhará o quarteto Arautos do Rei por toda a América do Sul. A nova grade do programa estreia em julho.

(QUASE) BODAS DE DIAMANTE

Moisés Alves Ferreira e Conceição Maria Ferreira, moradores de Guaxupé (MG) e membros ativos da igreja há dé cadas, se preparavam para celebrar 60 anos de matrimônio no dia 23 de feve reiro. No entanto, ela descansou poucas semanas antes de completarem as bodas de diamante. Era sonho do casal que a celebração fosse noticiada na Revista Adventista. Apesar de a cerimônia não ter acontecido, familiares e amigos fizeram questão de enviar uma nota de homenagem ao casal, que deixou um legado para a igreja no município.

PESQUISADORA ADVENTISTA

Hongyu Qiu, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Loma Linda (EUA), receberá 3,7 milhões de dólares do National Heart, Blood & Lung Institute para continuar por mais quatro anos suas pesquisas sobre prevenção de doenças cardíacas. Ela descobriu recentemente uma molécula que desempenha papel protetor no coração. Cerca de 15,5 milhões de pessoas nos Estados Unidos sofrem de doenças cardíacas.

RECONHECIMENTO

Robert Kalaf receberá a Medalha da Ordem da Austrália (OAM) por seus serviços prestados à comunidade em Cooranbong, incluindo a construção de um centro médico, da vila comercial e uma propriedade industrial. Membro da Igreja do Avondale College, ele pretende vender suas empresas para dedicar mais tempo à famí lia e à ONG Eyes for India, entidade que ajudou, ao longo de dez anos, a recuperar a visão de 6 mil pessoas.

Acreditar que há um poder maior lá fora, que se importa conosco, nos faz ver as adversidades como algo temporário, fortalece a esperança e reduz o estresse, a tristeza e, consequentemente, a insônia.

Terrence D. Hill, professor da Escola de Sociologia da

Universidade do Arizona (EUA), coautor de uma pesquisa

publicada em janeiro no Journal for the Scientific Study of Religion, que mostrou o impacto positivo da religiosidade na qualidade do sono

47% dos norte-americanos millenials (20-34 anos) entrevistados pelo Instituto Barna acham que é errado testemunhar da fé cristã com o intuito de converter outros.

INTERNACIONAL

CHUVEIROS MÓVEIS

Em dezembro, o Serviço Comunitário Adventista (ACS, em inglês) de Nova York (EUA) inaugurou o veículo utilitário do ministério “Showers of Blessings” (Chuvas de Bênçãos). A van está servindo à população em situação de rua da Big Apple, com chu veiros móveis, toalhas limpas e roupas íntimas novas. O ACS de Nova York é liderado pelo pastor brasileiro Luis Biazotto.

NECESSIDADES ESPECIAIS

Atender as pessoas com algum tipo de deficiência tem sido uma das ênfases da Divisão Euroasiática da Igreja Adventista. Recentemente, os adventistas distribuíram mais de 2,5 tonela das de alimentos para moradores de Minsk, em Belarus (antiga Bielorrússia), que são portadores de necessidades especiais.

TV ADVENTISTA NO HAITI

Depois de dois anos de tentativa com várias empresas de TV a cabo, a Igreja Adventista inaugurou recentemente o Hope Channel Inter-America. Com sede em Martinica, a programa ção transmitida em francês vai chegar a outros países caribenhos, como o Haiti.

50 anos completou o projeto de escavações arqueológicas na região central da Jordânia. O programa, realizado em três sítios, tem beneficiado alunos da pós-graduação em Arqueologia Bíblica das Universidades Andrews e La Sierra (EUA).

108.971 membros tinha a Divisão Euroasiática em junho de 2017. Essa é a menor região administrativa da igreja em número de adventistas.

Não vá até a comunidade como um professor, mas como um aprendiz. Quando ouvimos as pessoas, passamos a apreciar sua cultura e valores. Dessa maneira, começamos a enxergá-las com novos olhos, e elas também passam a nos enxergar de modo diferente.

Wendy Jackson, professora do Avondale College, e uma das palestrantes do simpósio sobre missão urbana realizado na Austrália, no início de fevereiro

Colaboradores: Darla Martin Tucker, Fernanda Beatriz, Isadora Schmitt, Janelle Ringer, Jarrod Stackelroth, Kaara Baptiste, Kent Kingston, Márcio Tonetti, Mateus Teixeira, Mauren Fernandes, Michael Snyder, Religion News Service, Richard Daly, Thays Silva e Vania Chew

Os novos críticos

A igreja sempre teve dissidentes, mas agora, na era da internet, eles se tornaram mais agressivos e menos razoáveis

Marcos De Benedicto e Márcio Tonetti

Dissidências religiosas, com grupos, falas e gestos destoantes do esperado, não são um fenômeno novo. Na época de Jesus, havia diversos segmentos no judaísmo, como essênios, fariseus, saduceus e zelotes. Nas primeiras décadas do cristianismo, apesar da sólida teologia do núcleo apostólico, logo surgiram facções. Visões diferentes começaram cedo. A codificação da doutrina cristã não ocorreu sem disputas e rivalidades. Uma evidência é o número relativamente alto de tratados entre os “pais” da igreja com a palavra “contra” no título (por exemplo, Contra Heresias, de Irineu de Lyon). Mais tarde, em 1054, ocorreu o grande cisma, partindo a igreja em duas (a católica e a ortodoxa). Então, no século 16, a Reforma Protestante preparou o terreno para uma grande fragmentação. Se havia cerca de 1.600 denominações cristãs em 1900, hoje estima-se que ultrapassem 30 mil. De acordo com a World Christian Encyclopedia (Oxford University Press, 2001), o cristianismo mundial consiste de seis grandes blocos eclesiásticos, divididos em 300 tradições e mais de 33 mil denominações (v. 1, p. 12-18). A 3ª edição dessa enciclopédia, que deve ficar pronta em 2020, trará um total mais preciso.

Na arena religiosa, discordar nem sempre é ruim. Afinal, o adventismo nasceu como um movimento “dissidente”. Isto mesmo: assim como o cristianismo surgiu do judaísmo e o protestantismo veio da igreja medieval, os adventistas iniciaram um novo movimento dentro do protestantismo. Embora nenhum desses grupos tenha planejado a separação de sua religião/igreja-mãe, esse foi o resultado natural. O amor une, mas a verdade às vezes divide (Mt 10:34-38).

Essa é a leitura da Encyclopedia of Religious Controversies in the United States (ABC-CLIO, 2013), editada por Bill J. Leonard e Jill Y. Crainshaw: “No seu início, o adventismo representou um protesto contra a crença geralmente positiva nos anos 1840 de que a América iria redimir o mundo. Muitos adventistas identificaram a América como uma das forças más que se opõem aos santos cristãos no livro do Apocalipse. Assim, o movimento ofereceu uma alternativa ao otimismo civil religioso tão prevalecente nos Estados Unidos à época” (v. 1, p. 739). No meio da euforia com o futuro da nascente superpotência americana, os adventistas perceberam o perigo e, com base na Bíblia, escreveram sua própria narrativa escatológica.

Nesse caso, a “dissidência”, fundamentada na verdade, foi legítima e trouxe resultados positivos. Enraizado na Bíblia, o adventismo se vê como um movimento previsto na profecia (Ap 10:8-11; 14:6-12),

o qual surgiu no tempo certo como uma agência chamada por Deus para anunciar o dia do Senhor e ajudar a preparar o mundo para a chegada do Rei Jesus.

MUDANÇA DE PERFIL

Talvez pela forte tradição de valorizar a busca da verdade, o adventismo acabou atraindo pessoas inquiridoras. Para o bem e o mal, isso potencializou tanto o aprofundamento na fé quanto o questionamento da doutrina e da estrutura. À semelhança de outras denominações, tivemos nosso próprio quinhão de dissidentes.

Entre outros críticos e dissidentes que naufragaram na fé, podemos destacar a triste experiência de Dudley M. Canright (1840-1919), um jovem e respeitado pastor, vitorioso em memoráveis debates, que desejava ser um famoso pregador, se a mensagem “não fosse tão impopular”, e que deixou a igreja para se unir a outra denominação, mas morreu na solidão e no ostracismo.

John Harvey Kellogg (1852-1943), o notável médico de Battle Creek que operou 22 mil pacientes e escreveu cerca de 50 livros, foi outra celebridade que brilhou no início do adventismo, mas acabou abandonando a igreja. Além das ideias panteístas, tinha sonhos megalomaníacos de poder, querendo controlar a própria denominação. “Estou convencido de que a embarcação adventista do sétimo dia se fará em pedaços”, declarou, como registrado por Richard H. Utt em A Century of Miracles (Pacific Press, 1966, p. 4). Apesar dos conselhos de Ellen G. White para que mudasse de rumo, ele preferiu abandonar o barco do adventismo.

A dor da dissidência algumas vezes ultrapassou até a esfera adventista, com muitas manchetes na imprensa evangélica e secular no início dos anos 1980. Em 6 de novembro de 1982, por exemplo, o jornal The New York Times publicou um artigo sobre “as lágrimas e a ansiedade” do pastor Tom Pangborn, adventista de sexta geração, ao abandonar a igreja por causa de discordâncias doutrinárias. Aqueles eram os tempos das críticas do doutor Desmond Ford à doutrina do santuário e dos questionamentos da autoridade profética de Ellen G. White. Como em outras situações, a igreja superou os desafios e apresentou respostas sólidas. Se Pangborn houvesse esperado um pouco mais, talvez suas angústias tivessem se dissipado.

Bem, poderíamos falar de uma plêiade de outros desafetos do movimento, mas vamos citar apenas mais um: o brilhante e influente pastor Ludwig R. Conradi (1856-1939), um líder alemão com traços legalistas que chegou a ser presidente da Divisão Europeia e vice-presidente da Associação Geral, mas perdeu a fé no dom profético, teve a credencial retirada em 1931 e abandonou a igreja no ano seguinte para se tornar ministro batista do sétimo dia.

O que precisamos destacar ainda é que, com o advento da internet, surgiu também um novo tipo de dissidência. Agora indivíduos e movimentos questionadores com um baixo grau de apego à verdade e um alto nível de virulência transitam com frequência pelo mundo virtual para fazer ataques mais individualizados – o que, diga-se, não é exclusivo do adventismo. Alguns deles têm muito medo do ecumenismo, mas não têm o mínimo receio de danificar a unidade da igreja.

O espírito da crítica à igreja reflete o espírito da internet. Os novos críticos e dissidentes fazem seu trabalho usando páginas no Facebook, disseminam conteúdos em grupos do WhatsApp e mantêm canais no YouTube com nomes, diga-se de passagem, bastante característicos. Independentemente do meio, o tom quase sempre é provocativo e ofensivo.

As plataformas digitais deram voz às pessoas como nenhum outro meio de comunicação tradicional havia feito antes, o que representou, de um lado, uma conquista sem precedentes e, por outro, um novo espaço para a disseminação de tolices, conteúdo malicioso e muitas formas de violência. “Hoje, qualquer um pode postar suas frustrações pessoais, suas mágoas e difamações. Dá a impressão de que a resposta mais fácil para desavenças pessoais seja simplesmente postá-las

na internet”, ressalta o doutor Alberto Timm, diretor associado do White Estate (EUA) e um observador do cenário religioso

A reação ao que outros publicam não é menos inflamada. Na web, é mais comum ver críticas contra pessoas do que contra ideias. “Fico impressionada com a agressividade com que os usuários se expressam nesses ambientes”, afirma a psicóloga Kátia Oliveira, autora do livro Hiperconectados (Polo Printer, 2015). Basta navegar durante alguns minutos nas mídias sociais ou observar os comentários postados em sites de notícias para se dar conta de que poucos são os que conseguem manter o equilíbrio. Os haters, internautas que espalham discurso de ódio e atacam quem pensa diferentemente deles, crescem a cada dia.

O anonimato e a impessoalidade da rede parecem favorecer a atitude de quem defende suas opiniões com “unhas e dentes”. As pessoas se mostram mais “corajosas” para criticar on-line do que no mundo off-line. Segundo Kátia Oliveira, quanto mais impessoal é a comunicação na internet, maior tende a ser o nível de hostilidade, conclusão comprovada por estudos como o do pesquisador Adam G. Zimmerman na Universidade do Norte da Flórida (EUA).

“Os comentários agressivos na internet têm mais que ver com a raiva das pessoas do que com uma argumentação para mudar a mente das outras”, acrescentou em uma entrevista à BBC Brasil a psicóloga norte-americana Pamela Rutledge, diretora do Media Psychology Research Center (Centro de Pesquisas sobre Psicologia e Mídia), na Califórnia (EUA).

Todo esse cenário parece ter contribuído para a banalização da crítica e da dissidência na igreja. Se no passado os reformadores lutavam por mudanças com base em problemas reais e no profundo estudo das Escrituras, a causa de muitos “reformado res” de hoje é construída em torno de especulações, frustrações com a liderança religiosa e desavenças pessoais.

O perfil dos críticos e dissidentes mudou no que diz respeito ao método, mas não à essência. “As estratégias mudaram perceptivelmente, porém o espírito é o mesmo”, constata Timm. Enquanto os dissidentes do passado agiam mais em nome de grandes ideias coletivas, os de hoje tendem a defender causas comportamentais e individuais. Houve a customização da dissidência e também a banalização da crítica.

“Parece que a mesma atitude de desconfiança e desrespeito para com as instituições sociopolíticas acaba sendo projetada também sobre a igreja e sua liderança. Hoje, as falhas de um líder específico são atribuídas de forma generalizada a todos os líderes da denominação”, completa o teólogo.

A crítica tem seu papel na sociedade e na igreja. No entanto, a falta de bom senso e equilíbrio representa um problema. O hábito de sempre ver as coisas pelo lado negativo pode levar a pessoa a cultivar um amargo perfil crítico e, aos poucos, definhar espiritualmente, como escreveu Ellen G. White (Testemunhos Para a Igreja, v. 5, p. 145).

A paixão por criticar a igreja pode se tornar até mesmo uma forma de idolatria. Em seu livro Dear Church: Letters from a Disillusioned Generation (Zondervan, 2006), Sarah Cunningham afirmou que “a obsessão de viver em desespero sobre o que há de errado com a igreja institucionalizada se apodera da pessoa” e, assim, “a crítica se torna o que acabamos adorando” (p. 120). Ao chegar a esse ponto, passar da crítica para a dissidência geralmente é um pequeno passo.

Apesar de a igreja sempre ter lidado com os críticos e dissidentes, o clima de desconfiança e desrespeito generalizados para com as instituições hoje em dia trouxe novos desafios. Para Alberto Timm, que há vários anos tem estudado e escrito sobre o tema, uma das diferenças é que, no passado, depois de perder a confiança na igreja e em sua liderança, os críticos tendiam a abandoná-la e criticá-la de fora. Hoje, eles rotulam a igreja de apóstata e corrupta, mas querem ficar dentro dela e se ofendem se forem disciplinados. “Isso tem causado um impacto muito maior porque as críticas externas tendem a nos unir, mas as internas nos dividem”, sublinha.

RESPOSTA APROPRIADA

Embora os críticos e dissidentes sejam a minoria, eles fazem muito barulho e têm o poder de causar grande mal. Assim, é preciso saber lidar com a situação. Se você vê um motivo para discordar da igreja ou tem dissidentes em sua esfera de ação, como deve agir? As sugestões a seguir podem ser úteis.

1. Fale no fórum certo, da maneira certa, com o objetivo certo. O princípio ensinado por Jesus (Mt 18:15-16) ainda é válido: se o seu irmão errar contra você, primeiro converse em particular com ele, somente depois busque outras instâncias. Além disso, é importante manter a serenidade e falar a verdade com amor e respeito (Ef 4:15, 29; 1Pe 3:15-16). “Cristo mesmo nunca suprimiu uma palavra da verdade, mas sempre a proferiu com amor”, escreveu Ellen G. White (O Desejado de Todas as Nações, p. 353). Quem tem a verdade tem razão, quem não tem amor perde o coração. Por mais contracultural que seja, o adventismo tem uma cultura de paz e incentiva o diálogo nos fóruns corretos, que vão desde a igreja local até a sede mundial. O pastor Edilson Valiante, líder da área ministerial para a Igreja Adventista no estado de São Paulo, acredita que a apologética não seja a estratégia mais adequada para lidar com esses desafios e movimentos. Para ele, a atitude sábia de Gamaliel (At 5:33-39) continua sendo o melhor parâmetro. “Não devemos gastar o tempo que deveria ser empregado na missão para responder a essas pessoas. A chave é esclarecer a igreja. A ignorância é atrevida, mas a verdade liberta”, afirma. Ao longo de seus quase 40 anos de ministério, Valiante já se deparou com vários focos de dissidência no território paulista. Para ele, um dos maiores desafios para a igreja nessa região e em outras partes do Brasil e do mundo continua sendo o perfeccionismo. “Esse é um ‘fogo amigo’, mas se trata de um dos problemas mais destrutivos porque provoca o sentimento de que existe um adventista melhor do que o outro e, portanto, leva a igreja à desunião”, ele ressalta. 2. Siga um código de ética e não propague mentiras. Alguns dissidentes políticos promovem boicotes, outros fazem greve de fome, ainda outros silenciam, mas parece que a estratégia predileta dos dissentes religiosos é caluniar e fazer guerrilha moral na internet. Apesar dos diferentes graus de consequências, terroristas religiosos que destroem com a língua não são menos condenáveis do que os terroristas políticos que matam com bombas. Terroristas não têm ética, pois sua ideologia é matar. Já os cristãos precisam ter ética, pois sua teologia deve oferecer vida. Existe diferença entre a crítica que constrói e a que é feita para destruir reputações.

Além disso, vivemos uma epidemia de fake news, para usar o modismo do momento, e muitos não sabem discernir o que é verdade e o que é mentira. Essa expressão pode parecer menos grave do que fofoca, difamação e calúnia, mas é apenas um novo nome para uma prática antiga e detestável. Ainda bem que, em longo prazo, a verdade tem o poder de desbancar a falsidade. 3. Conheça a ideologia por trás dos ministérios e grupos dissidentes. Hoje, a igreja não tem apenas instituições e organizações oficiais, mas congrega muitos grupos e ministérios. Nem todos têm a mesma filosofia e os mesmos propósitos. Timm comenta: “Existem muitos ministérios de sustento próprio, que podem ser classificados em dois grupos: (1) os de apoio, que atuam em harmonia com a igreja e até têm representantes da própria organização em suas comissões diretivas; e (2) os independentes, que, como o próprio nome diz, trabalham independentemente da organização e competem com ela. Em seu discurso oficial, este grupo também alega estar apoiando a igreja; mas, na prática, acusa-a de apostasia. Eles colocam a si mesmos como os verdadeiros guardiões da verdade.” 4. Trate os dissidentes com respeito, mas con sidere a possibilidade de disciplina. Não caia na tentação de responder com som e fúria. Às vezes, a melhor estratégia é ignorar os insultos, embora certos casos possam exigir uma resposta à altura (Pv 26:4-5), talvez até judicial. Ao enfrentar dois dissidentes agitadores (Alexandre e Himeneu), o apóstolo Paulo preferiu entregá-los a Satanás (1Tm 1:20). “O problema deve ser tratado em dois níveis distintos”, aconselha Timm. “Em primeiro lugar, devemos indagar a nós mesmos que aspectos da crítica estão fundamentados em problemas reais e podem ser resolvido. Uma vez solucionados, devemos então lidar com os movimentos em si. Com um espírito conciliador, devemos esclarecer as dúvidas e dirimir as incompreensões que possam existir, dando-lhes a oportunidade de se reconciliarem com a igreja e sua liderança. Se continuarem nutrindo um espírito belicoso contra a igreja, eles são passíveis de disciplina eclesiástica como qualquer outro dissidente.” 5. Reconheça que quase sempre há uma nova chance de reconciliação. A abertura para o diálogo e o reconhecimento dos equívocos cometidos no passado podem curar as feridas e reaproximar os dissidentes. Um exemplo é o da Hungria, país em que a igreja se dividiu por razões políticas na década de 1970. Na época, 518 membros foram removidos por colaborarem com o Conselho de Igrejas Livres, organismo formado para representar os interesses comuns das pequenas denominações protestantes que mais tarde se tornaria uma ferramenta do Estado comunista. No entanto, posteriormente a liderança da igreja reconheceu que essa medida extrema havia sido um erro. Felizmente, depois de quatro décadas de tentativas de reconciliação, a assinatura de um documento em 2015 por líderes adventistas e representantes do grupo dissidente Kerak representou um passo importante na reunificação da igreja. 6. Tenha em mente que a teologia e as práticas da igreja são refinadas ao longo do tempo. Boa parte dos conflitos eclesiásticos tem que ver com visões diferentes sobre doutrinas. Isso vem

FICAR NA EMBARCAÇÃO DA IGREJA PARA CHEGAR AO PORTO DO MAR DE VIDRO É MAIS PRUDENTE DO QUE SE LANÇAR AO MAR DAS DISCÓRDIAS E CORRER O RISCO DE PERECER NO CAMINHO

desde a antiguidade. Em alguns casos, os “hereges” tinham razão e apenas estavam no lugar errado no momento errado. Mas, em muitos outros casos, eles estavam simplesmente equivocados e deveriam ter ouvido a voz da igreja.

O cristianismo do 2º século, emoldurado entre a era dourada dos apóstolos e as grandes sínteses teológicas do 3º e 4º séculos, com a codificação final do cânon do Novo Testamento e os primeiros concílios da igreja, representou um desses momentos de crise e redefinição, como avaliou Walter Wagner em After the Apostles (Fortress, 1994, p. 1). Em um livro recente analisando como o 2º século moldou o futuro da igreja, intitulado Christianity at the Crossroads (IVP Academic, 2018), Michael J. Kruger vai na mesma direção. Para ele, esse século transicional foi um dos mais críticos para a fé cristã. “A igreja estava fora do útero apostólico e tentava respirar pela primeira vez” (p. 1).

De igual maneira, o adventismo saiu da segurança dos pioneiros no século 19 para enfrentar um mundo de incertezas no século 20, com reflexos neste início de século 21. Enfrentando perigos à direita e à esquerda, muitos adventistas contemporâneos se esquecem de que os pioneiros, com muito estudo e oração intensa, estabeleceram os pilares teológicos da igreja, mas viveram em uma época de disputas e redefinições. Nem tudo era perfeito. Com o tempo, a igreja precisou aperfeiçoar suas crenças. Os chamados “adventistas históricos”, por exemplo, confundem o período de busca da ortodoxia e consolidação da doutrina com um cânon e então criticam os aperfeiçoamentos posteriores. Querer que o período inicial do adventismo seja normativo para a atualidade em todos os detalhes é o mesmo que fossilizar a igreja. 7. Saiba que a igreja continuará até o fim e cumprirá sua missão. Alguns dissidentes acusam a Igreja Adventista de ter se transformado em Babilônia e, portanto, acham que ela já caiu espiritualmente e fra cassará. Esse não era o pensamento de Ellen G. White, autoridade frequentemente invocada por eles (Testemunhos Para Ministros e Obreiros Evangélicos, p. 37). “Pretender que a Igreja Adventista do Sétimo Dia seja Babilônia é fazer a mesma declaração que faz Satanás, que é um acusador dos irmãos, acusando-os dia e noite perante Deus”, ela afirma (p. 42). Na verdade, a profetisa tinha um elevado conceito da igreja, enxergando-a como objeto do supremo cuidado divino (Atos dos Apóstolos, p. 12).

No fim dos tempos, haverá um peneiramento entre o povo de Deus (Am 9:9; Mt 13:30), fenômeno conhecido no meio adventista como “sacudidura” (Mensagens Escolhidas, v. 2, p. 380). A ideia é que, enquanto um grupo de fiéis permanecerá firme, outro grupo sairá da igreja por uma série de motivos, como falta de amor pela verdade, temor da perseguição religiosa e enganos satânicos miraculosos. Felizmente, o que fica é o trigo, enquanto o que sai é o joio.

TRAVESSIA SEGURA

Para concluir, é importante ressaltar que a crítica violenta, seguida da dissidência injusta, não vem de Deus. Ao contrário, ela surgiu com o anjo rebelde, que desencadeou uma grave crise no Universo. Há alguns anos, o colunista político norte-americano William Safire escreveu um livro intitulado The First Dissident (Random House, 1992), em que caracterizou Jó como o primeiro dissidente, no sentido de que ele questionou a maior Autoridade do Universo. Na verdade, o livro bíblico revela o primeiro dissidente, mas ele não é Jó; é Satanás, o arquiinimigo de Deus e de todos os fiéis. Portanto, todo dissidente deveria questionar seus motivos e alianças. A atitude de espalhar a discórdia e a desunião não caracteriza os filhos de Deus.

No fim, apesar das críticas e crises, a igreja vencerá, pela graça de Deus. No livro A Mão de Deus ao Leme, relançado pela CPB em 2018, Enoch de Oliveira usa a metáfora da igreja como um navio navegando num oceano agitado, mas guiado pelo Timoneiro celeste. “Tempestades, conflitos e dissidências sacodem por vezes a estrutura da igreja, trazendo a alguns temor e insegurança. O barulho da tormenta ameaça a ‘embarcação de Sião’. Mas Deus está no controle! Sua direção ao leme garante que a embarcação chegará a salvo nas magníficas praias do Céu” (p. 157). Ficar no navio para chegar ao porto do mar de vidro é mais prudente do que se lançar ao mar das discórdias e correr o risco de perecer no caminho. ]

MARCOS DE BENEDICTO, pastor e jornalista, é doutor em Ministério; MÁRCIO TONETTI, jornalista, está cursando o mestrado em Teologia

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VITÓRIA GARANTIDA

A VISÃO DO CAVALO BR ANCO E SEU CAVALEIRO VENCEDOR EM APOCALIPSE 19 REFORÇA QUE NOSSA SALVAÇÃO DEPENDE DE CRISTO

LESLIE N. POLLARD

Nossa casa fica próximo a uma reserva florestal, no Alabama. Pelo fato de algumas espécies de animais ou plantas estarem ameaçadas de extinção, o governo dos Estados Unidos acredita que a preservação desse habitat vá ajudar o ecossistema da área.

Certa manhã de domingo, decidi plantar melancia e melão, duas frutas de verão, para que minha neta, Genesis, então com dois anos, pudesse colher as frutas com o vovô e construir memórias duradouras.

Como à tarde eu iria viajar para participar do Concílio Anual na sede mundial da igreja, minha esposa sugeriu: “Pegue algumas caixas de papelão e coloque sobre as ervas daninhas. Quando você voltar, elas estarão mortas e será mais fácil arrancá-las.” Então peguei quatro caixas grandes, abri e coloquei sobre a grama.

Uma semana depois eu pensei: “Quero ver o que a falta de sol, chuva ou brisa fez com as ervas daninhas. Quando levantei a primeira caixa, vi uma cobra de aproximadamente 75 centímetros de cumprimento. Pensei: “É uma cobra-rei, um tipo não venenoso que nos protege contra roedores.”

Então meu instinto me disse: “É melhor conferir.” Assim, peguei uma tábua com 10 cm de largura, 1,5 cm de espessura e 1,2 metro de cumprimento. Posicionei-me a uma distância segura da cobra e aproximei a tábua dela. O réptil se enrolou na posição de bote e atacou aquele pedaço de madeira. Aproximei a tábua novamente e ela atacou outra vez. Quando ela deu o bote pela terceira vez, percebi sua boca branca como a neve. Reconheci ser uma cobra cottonmouth (boca de algodão), típica daquela reserva florestal.

Eu queria correr, mas não podia deixar a cobra ali. Imaginei minha neta brincando inocentemente e descalça no quintal. Então, peguei uma daquelas tábuas de 1,20 metro de cumprimento, mirei na cabeça da serpente, levantei a madeira como se fosse uma marreta e, com um golpe, atingi a cabeça da cobra.

INTRUSO ORIGINAL 7 a 12, por sua vez, é descrita a expulsão dele Uma serpente fez residência em um jardim chamado Éden. do Céu, na guerra que perdeu para Miguel; O animal não chegou como uma ameaça, mas apresentounos versículos 13 a 16, Satanás se volta contra se sedutoramente. Mesmo assim, ele atacou. O ataque da a mulher vestida do sol, mas ela é salva pela antiga serpente, chamada dragão e Satanás (Ap 12:9), entrou terra que engole a água que havia sido lanno coração e na mente de nosçada pelo inimigo; por sos primeiros pais, infectando a fim, o capítulo 12 terTerra com o veneno do pecado. mina com o dragão se

O pecado mata. Famílias. unindo a dois aliados Casamentos. Relacionamen(besta e falso profeta) tos. A paz. No entanto, nós, a para atacar o remahumanidade, resistimos em acreditar que o pecado seja O PROPÓSITO DA nescente da mulher. Porém, esse remanesmortal. Por 4 mil anos tentacente, depois de supemos nos salvar sozinhos do poder do pecado. Oferecemos ESCATOLOGIA ADVENTISTA rar a perseguição descrita no capítulo 13, é sacrifícios humanos e orações, visto em Apocalipse derramamos lágrimas, cons truímos monumentos, erigi NÃO É AMEDRONTAR 14:1-3 como vitorioso no monte Sião. mos altares. Por 4 mil anos, Será que os santos demos o melhor de nós, mas tudo foi inútil. AUDIÊNCIAS NEM ATACAR prevalecem porque são perfeitos? Não, eles

“Mas, quando chegou a pleprevalecem porque nitude do tempo, Deus enviou Seu Filho” para nos redimir OUTRAS DENOMINAÇÕES, são beneficiados pela vitória do Cordeiro (Gl 4:4). No Seu sangue, ver(Ap 12:11). O Cordeiro tido em uma cruz, estava o antídoto para o veneno da MAS ANUNCIAR QUE A vence e o adversário perde. Quando apaantiga serpente. Ele esmagou rentemente Satanás a cabeça da serpente ao carregar nossa cruz. O mal foi VITÓRIA DE CRISTO triunfa (Ap 11:7 e 13:7), ocorre um revés temvencido, o poder do inimigo porário para as duas foi quebrado, o título de propriedade do planeta Terra foi É NOSSA TAMBÉM testemunhas e para os santos – assim como recuperado. a aparente vitória de

Se nossa escatologia advenSatanás perante a cruz tista falhar em anunciar essa desmoronou diante do vitória, reprovará no teste das poder da ressurreiEscrituras. Pois a escatologia ção do Cordeiro crunão é tanto uma questão de cificado. comparar as manchetes jornalísticas diárias com os textos bíblicos, nem colocar os O SIGNIFICADO DA NOSSA ESCATOLOGIA eventos atuais em paralelo aos eventos da história, embora A vitória do Cordeiro é descrita com Ele, que isso tenha seu lugar. parecia ter estado morto, de pé (Ap 5:6). Isso

O propósito da escatologia, ou do estudo dos eventos trouxe esperança para o apóstolo João que, finais, também não é amedrontar audiências nem atacar pouco antes, havia se desesperado ao perceoutras denominações. A escatologia adventista significa vitóber que não havia ninguém que fosse digno ria: a Dele, não a nossa! Jesus e Sua vitória permanecem no de abrir os sete selos do livro (v. 2-4), a não centro da nossa mensagem final. “Agora, veio a salvação, o ser Cristo. Jesus é digno porque Ele ficou firme poder, o reino do nosso Deus e a autoridade do seu Cristo, onde Adão tropeçou. Que a mensagem advenpois foi expulso o acusador de nossos irmãos” (Ap 12:10). Nós tista proclame: “Cristo é digno!” anunciamos a vitória de Cristo e a derrota do nosso inimigo. Em Apocalipse 19:11-16, há outra visão com

Em Apocalipse, a ênfase está na vitória de Cristo e Seu tônica de vitória. Cristo sai do Céu galopando povo sobre o inimigo. Por exemplo, nos versos 4 e 5, ele um cavalo branco e usando vestes manchadas tenta devorar o Menino, Filho da mulher vestida do sol, mas de sangue. Essa imagem de vitória se torna a Criança escapa ao ser arrebatada para o Céu; nos versos mais poderosa quando percebemos onde ela

aparece no Antigo Testamento (Is 63:1-3). Ali está escrito que “aquele que vem de Edom” com “as roupas tingidas de vermelho” pisou o lagar sozinho. O derramamento de sangue que ocorreu no Getsêmani e no Calvário foi necessário para comprar o mundo caído.

Em Apocalipse 19, Jesus não é mais o Cordeiro ferido e ensanguentado do Calvário, e sim o Leão da tribo de Judá. A imagem do soldado tingido de carmesim, descrita por Isaías, é retomada em Apocalipse 19:11-13. A história do povo de Deus não é apenas de sangue, mas de vitória. O cavalo branco que aparece em Apocalipse 19 tem relação com o de Apocalipse 6:2. O evangelho que inicia com vitória terminará vitorioso.

Gosto particularmente do texto de Apocalipse 19:11, pois ali Jesus é apresentado como fiel e verdadeiro. Nós falhamos, mesmo em nossos melhores dias, mas Ele é fiel tanto no nome como no caráter. E a fidelidade Dele é nosso passaporte para a vida eterna. Satanás nos acusa: “eles não são dignos.” Mas Deus responde: “coloque na conta do Meu Filho.”

VESTES TINGIDAS DE SANGUE

João continuou utilizando a visão do soldado vestido de carmesim de Isaías. Ele viu as vestes Daquele que vem de Edom; porém, dessa vez, as manchas de sangue da vitória estão sobre Ele (v. 13). Ele não é retratado mais como a vítima, e sim como o vitorioso.

Gastamos muito tempo pregando sobre a justiça do manto branco, mas eu me alegro também com a vitória do manto vermelho. Nessa visão final, Cristo vem para estabelecer a justiça. O mundo é injusto. Exploração econômica, tráfico sexual, opressão de gênero, perseguição religiosa, exclusão de classes e morte de inocentes. Porém, Jesus vem para representar os injustiçados. Ele exclui os que são dignos e elege os que são desprezíveis. O Cavaleiro do cavalo branco nos lembra que todo poder corrupto será destruído, enquanto o remanescente será salvo e a justiça será estabelecida para sempre.

Concluo com as seguintes observações sobre o manto vermelho da vitória. 1. Em Apocalipse 19, a alusão a outro texto entra em cena. O único outro manto tingido de sangue mencionado nas Escrituras é o de José (Gn 37), utilizado por seus irmãos para enganar seu pai. Em contraste, o manto molhado no sangue de Jesus indica a transparência de Sua vitória. Ele lutou com total integridade. Não foi encontrado Nele nenhum engano. Ele é fiel e verdadeiro. Seu manto é um convite: “confie em Mim.” 2. Aquele manto vermelho-sangue aponta para a singu laridade da Sua vitória. A visão descreve um corcel branco como a neve, montado por um cavaleiro vestido de manto carmesim. Ele é escoltado por um exército de glória reluzente,

vestido com “linho finíssimo, branco e puro” (v. 14), sem nenhum respingo de sangue. Por que os cavaleiros celestiais não têm marca de sangue? Porque o único que verteu sangue por nós foi Cristo. Nossa vitória só existe por causa da vitória Dele. A batalha é do Senhor.

Deus é grande e forte o suficiente para proteger e guiar Sua igreja. Por isso, pare de visitar sites críticos, apontar o dedo e fazer acusações anônimas como se apenas você fosse o único adventista verdadeiro. Aqueles que estão aborvidos por uma lista infindável de “faça” e “não faça” se esquecem de que a Testemunha Verdadeira aconselha: compre de Mim ouro refinado pelo fogo (Ap 3:18). Portanto, em vez de apontar o dedo para outros, por que não voltar os olhos para Jesus e contemplar Sua face de misericórdia? 3. Aquele manto molhado em sangue aponta para Sua vitória completa. Nele vai bordado o título de Cristo: “Rei dos Reis, Senhor dos Senhores.” O Cavaleiro usa “muitas coroas”, pois tem direito ao governo universal. Um dia, todo joelho se dobrará diante Dele (Rm 14:11). Aquele manto vermelho de sangue também é um convite para louvá-Lo.

Com uma visão renovada sobre nossa escatologia, entendendo que ela é um vislumbre da vitória final, podemos testemunhar com mais ousadia. ]

LESLIE N. POLLARD, PhD, especialista em Novo Testamento, é reitor da Universidade Oakwood (EUA)

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