EM FAMÍLIA
MASCULINIDADE TÓXICA OS ESTEREÓTIPOS DO HOMEM INSENSÍVEL E VIOLENTO LEVAM A COMPORTAMENTOS INADEQUADOS E CAUSAM SOFRIMENTO TALITA CASTELÃO
e alguém lhe pedisse que descrevesse um homem, que coisas você falaria? Talvez viesse à sua mente a ideia de que um homem de verdade seja forte, não chore, goste de futebol, vista azul, não demonstre seus sentimentos, fuja de compromisso e nunca perca uma oportunidade de fazer sexo. Infelizmente, esses conceitos perpassam a história e constituem na prática o que chamamos de masculinidade tóxica. Desde pequenos os garotos vão ouvindo coisas sobre os homens que impactam a vivência da própria masculinidade. É como se existisse, veladamente, uma cartilha a ser seguida para que um garoto se torne um homem com H maiúsculo. Mas você já se perguntou quem criou isso ou que impactos esses conceitos geram na autoestima masculina e nos relacionamentos? A masculinidade que se sustenta na violência, agressão e brutalidade ainda é muito valorizada em nossa sociedade. Ela remete a tempos antigos em que a hegemonia do homem era refletida num patriarcado de dominação, políticas de poder e negação de direitos. De igual modo, a demonstração de emoções, sensibilidade e empatia pelos homens foi relacionada à fraqueza e feminilidade. É triste constatar que muita gente pensa desse jeito ainda hoje. Não apenas homens, mas também mulheres. Resultado: todos sofrem com isso. Homens pagam um preço alto quando vivenciam a masculinidade tóxica, podendo inclusive perder a própria vida. Afinal, é o reforço desse tipo de comportamento que faz com que os homens liderem as mortes no trânsito, morram de câncer de próstata devido ao preconceito e à resistência em procurar ajuda médica, sofram com acidentes de trabalho ao ignorarem a proteção adequada e se coloquem em risco ao revelar um comportamento competitivo e briguento. Isso é o que demonstra o relatório “Masculinidades e saúde na região das Américas”, divulgado pela Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da
Foto: Adobe Stock
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R e v i s t a A d ve n t i s t a // Agosto 2020
AS EXPECTATIVAS SOCIAIS DISTORCIDAS SOBRE OS HOMENS ELEVAM AS TAXAS DE SUICÍDIO, HOMICÍDIO, VÍCIOS, ACIDENTES E SURGIMENTO DE DOENÇAS CRÔNICAS
Saúde (OPAS/OMS) no fim do ano passado. Nas Américas, um em cada cinco homens morre antes dos 50 anos por causas ligadas à masculinidade tóxica. As expectativas sociais distorcidas sobre os homens elevam as taxas de suicídio, homicídio, vícios, acidentes e surgimento de doenças crônicas. A ideia de que o homem precisa sempre estar no controle também é bastante difundida. E o homem que divide as tarefas domésticas, carrega as compras ou cuida do bebê é chamado, muitas vezes, de molenga ou dominado pela mulher. Como se fosse demérito ser um homem responsável. A masculinidade tóxica também justifica que homens exerçam domínio sobre outros homens considerados mais fracos. Exercer esse tipo de comportamento faz mal a quem está por perto, mas traz muita infelicidade a quem age desse modo. Afinal, não existe um super-homem que não precise de acolhimento e apoio emocional ao longo da vida. Finalmente, vale ressaltar que a masculinidade e os homens não são intrinsecamente tóxicos. É a distorção de alguns valores e o estabelecimento de estereótipos que estragam o que há de melhor em ambos. ] TALITA CASTELÃO é psicóloga clínica, sexóloga e doutora em Ciências
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