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ENFIM
MULHER SUBMISSA SAIBA COMO O APÓSTOLO PAULO LIDOU COM AS RELAÇÕES DESIGUAIS DE SEU TEMPO
NORMAN YOUNG
ão apenas duas pala
Svras! Mas elas têm justificado abusos ao longo do tempo e acusações mais recentes de que Paulo teria sido misógino, ou seja, odiava as mulheres.
“Submeter” e “cabeça” aparecem juntas em Efésios 5:22 e 23. Porém, o verbo “submeter” não está nos manuscritos gregos, mas a ideia é corretamente assumida no verso 21 por meio do termo “sujeitar” (ver Cl 3:18). Esse versículo marca uma transição na argumentação de Paulo e afirma que a sujeição/submissão deve ser mútua, ainda que expressa em diferentes formas.
Na Antiguidade, especialmente na cultura greco-romana, há várias evidências de que havia desigualdade de gêneros, conforme isso é entendido hoje. De modo geral, o esposo governava a casa e a esposa o obedecia. O filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.) reflete esse pensamento (Política, 1.1260a;
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1.1254b) e Plutarco (46-120 d.C.) também, com a ressalva de que o domínio do homem sobre a mulher não deveria ser como de um dono sobre sua propriedade (Advice to the Bride and Groom, 142E).
Judeus contemporâneos de Paulo, como Filo de Alexandria (20 a.C.-50 d.C.) e Flávio Josefo (37-100 d.C.) ecoavam a visão helenista a respeito das mulheres. Filo entendia que a esposa deveria servir o esposo, não coagida por violência, mas para cumprir seu papel (Hypothetica 7.3). Por sua vez, Josefo escreveu que em todos os aspectos a mulher é inferior ao homem e que deve se sujeitar a ele, pois Deus deu ao marido o direito de governar (Contra Apion, 2.201).
Ao ler essas declarações, podemos imaginar que Paulo tenha reproduzido acriticamente o pensamento de seu tempo. Porém, a leitura atenta do texto nos mostra que não. O significado dos versículos 21 a 24 e 25 a 33 é modelado pela menção frequente de Cristo e Seu relacionamento com a igreja. Em ambas as seções, a maneira pela qual Cristo ministrou à igreja é como o marido deve tratar sua esposa e vice-versa. Como comentou Ellen White, pioneira adventista, se o marido é grosseiro, egoísta e opressor, não deve ser respeitado como o “cabeça” do lar,
PAULO NÃO REPRODUZIU ACRITICAMENTE A VISÃO DA SUA ÉPOCA SOBRE AS MULHERES
pois não lidera com o espírito de Cristo (O Lar Adventista, p. 117).
Quando nos voltamos para as orientações de Paulo aos maridos, várias coisas se destacam. Primeiro, 131 palavras são dirigidas aos esposos e apenas 48 às esposas. O apóstolo se concentrou em advertir os que detinham o poder no seu tempo. Segundo, ele menciona “amor” seis vezes nos versos 25 a 33. Terceiro, o exemplo de Cristo define a natureza desse amor. Jesus Se doou por Sua igreja, a fim de torná-la santa e sem defeito.
O argumento de Paulo é que o marido deve amar seu próprio corpo (a esposa), e dela cuidar assim como Cristo nutre e mantém o corpo Dele (a igreja). Ao relacionar a esposa com o corpo do marido, o apóstolo enfatizou a unidade orgânica do casal (ver Gn 2:24), como se a mulher fosse o “alter ego” do esposo (v. 28).
Conforme mencionou o teólogo John McVay no fórum da revista Spectrum em 2017, se Paulo quisesse ter enfatizado o domínio/ chefia do homem sobre a mulher, teria usado os verbos “governar” ou “obedecer”, que não ocorrem em Efésios 5:21-33; e poderia ter citado o texto de Gênesis 3:16 em vez de Gênesis 2:24.
Por fim, com base na definição que Paulo dá para amor em 1 Coríntios 13, como uma atitude paciente, altruísta, não violenta e humilde, é razoável concluir que ele confrontou as relações desiguais entre esposos e esposas de seu tempo com os valores de Cristo. Não deveríamos fazer o mesmo? ]
NORMAN YOUNG é teólogo e professor
emérito do Avondale College, na Austrália
Revista Adventista // Dezembro 2019
Foto: Adobe Stock