B Í B L I A D I G I T A L /// A T I T U D E S S A U D Á V E I S /// M O L D U R A D O S S A L M O S /// B O A S - N O V A S P A R A O I S L Ã
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JULHO 2019
POLARIZAÇÃO NO ADVENTISMO SINTONIA COM DEUS EM MEIO A TANTOS RUÍDOS, ENCONTRE A FREQUÊNCIA CERTA
REFLEXOS DA CONFERÊNCIA BÍBLICA DE 1919
EDITORIAL
PARA OS ADVENTISTAS, A CONFERÊNCIA BÍBLICA DE 1919 CONTINUA SERVINDO DE ALERTA SOBRE OS RISCOS DA POLARIZAÇÃO MARCOS DE BENEDICTO
Em 28 de junho de 1919, na Sala dos Espelhos do Palácio de Versalhes, durante uma conferência, as potências europeias assinaram um tratado de paz em Paris que encerrou oficialmente a Primeira Guerra Mundial. Alguns dias depois, em uma conferência bíblica na área metropolitana de Washington (DC), a Igreja Adventista iniciou um debate que explodiu uma “guerra mundial”. Estou usando um exagerado jogo de palavras, mas aquele encontro de fato criou uma polarização. Cem anos depois, o evento ainda tem eco e relevância. A conferência, que durou de 1º de julho a 1º de agosto (em duas fases) e incluiu 65 administradores, editores e professores de Teologia (sendo três mulheres), era um reflexo da guerra ideológica testemunhada no mundo evangélico entre liberais (modernistas) e conservadores (fundamentalistas). Antes do incendiário evento, alguns já vinham pedindo uma reunião para alinhar o pensamento da igreja sobre certos temas. Por exemplo, em 29 de janeiro de 1917, numa carta a Arthur G. Daniels, W. C. White expressou sua preocupação com o excesso de temas bélicos nos periódicos da igreja. Para ele, os pensadores adventistas se enquadravam em duas categorias: (1) ortodoxos, mas entediantes e não progressistas, e (2) progressistas e interessantes, mas não ortodoxos. Será que a igreja poderia produzir uma visão mais ampla do que os comentários sobre os acontecimentos da época? Um grupo inicial selecionou quase 70 tópicos que poderiam ser discutidos. Entretanto, além dos temas escatológicos, um dos assuntos que pautaram
EM GERAL, NEM OS LIBERAIS NEM OS FUNDAMENTALISTAS TÊM RAZÃO, POIS O EQUILÍBRIO NÃO ESTÁ NOS EXTREMOS
a discussão foi a natureza da inspiração dos escritos de Ellen White. Presidente mundial da igreja por mais tempo (22 anos), Daniels frisou que não gostaria de dizer sequer uma palavra que pudesse diminuir a confiança no dom profético, mas deixou claro que rejeitava a ideia de que Ellen White fosse a única intérprete das Escrituras. No lado oposto do espectro, outros cortejavam o conceito de inspiração verbal, defendendo que Deus teria ditado as mensagens para Ellen White, crença que a própria profetisa rejeitava (O Grande Conflito, p. 7-9). Para se ter uma ideia do espírito que se seguiu, basta citar um episódio. J. S. Washburn, que em 1912 havia escrito uma carta a Daniels dizendo que o considerava um de seus melhores amigos, voltou a escrever em 1922: “Por anos, minha confiança em você vem morrendo lentamente e agora está morta.” Somente poderia ser restaurada “por um milagre direto de Deus”. Motivo? Segundo ele, Daniels estava minando a confiança no Espírito de Profecia. Convertido por John N. Andrews aos 11 anos, batizado por Tiago White aos 12, sobrinho de George Butler, uma entrevista com Ellen White no currículo, boa parte da Bíblia gravada na memória, Washburn c onsiderava-se o suprassumo do adventismo histórico. Para ele, com seu viés inerrantista da inspiração, a conferência foi uma coisa terrível. Contudo, estava errado. No fundo, a polarização no adventismo não começou em 1919 nem terminou nesse ano, mas essa data ficou na história como o momento em que a igreja olhou para si mesma, como num jogo de espelhos, e percebeu que ela tem mais de uma face. Hoje uma coisa está clara: via de regra, nem os despreocupados “pecadores” liberais nem os furiosos “santos” fundamentalistas têm razão. O equilíbrio não está nos extremos. ] MARCOS DE BENEDICTO é editor da Revista Adventista
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R e v i s t a A d ve n t i s t a // Julho 2019
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O ANO QUE NÃO TERMINOU
Jul. 2019
No 1347
Julho 2019
Ano 114
www.revistaadventista.com.br
Publicação Mensal – ISSN 1981-1462 Órgão Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia no Brasil “Aqui está a paciência dos santos: Aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus.” Apocalipse 14:12 Editor: Marcos De Benedicto Editores Associados: Márcio Tonetti e Wendel Lima Conselho Consultivo: Ted Wilson, Erton Köhler, Edward Heidinger Zevallos, Marlon Lopes, Alijofran Brandão, Domingos José de Souza, Gilmar Zahn, Leonino Santiago, Marlinton Lopes, Maurício Lima, Moisés Moacir da Silva e Stanley Arco
Adventist World é uma publicação internacional produzida pela sede mundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia e impressa mensalmente na África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Áustria, Brasil, Coreia do Sul, Estados Unidos e México v. 15, no 7 Editor: Bill Knott Editores associados: Lael Caesar, Gerald Klingbeil, Greg Scott Editores-assistentes: Sandra Blackmer, Stephen Chavez, Costin Jordache, Wilona Karimabadi (Silver Spirng, EUA); Pyung Duk Chun, Jae Man Park, Hyo-Jun Kim (Seul, Coreia do Sul) Tradutora: Sonete Costa Arte e Design: Types & Symbols Gerente Financeiro: Kimberly Brown Gerente de Operações: Merle Poirier Conselheiros: Mark A. Finley, John M. Fowler, E. Edward Zinke Comissão Administrativa: Si Young Kim, Bill Knott, Pyung Duk Chun, Karnik Doukmetzian, Suk Hee Han, Yutaka Inada, German Lust, Ray Wahlen, Juan Prestol-Puesán, G. T. Ng, Ted N. C. Wilson
Editora da Igreja Adventista do Sétimo Dia
Rodovia Estadual SP 127 – km 106 Caixa Postal 34; CEP 18270-970 – Tatuí, SP Fone (15) 3205-8800 – Fax (15) 3205-8900
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De volta a 1919
Mandamento para os pais e os filhos
Amor que restaura
A honra é algo que se concede e se conquista
O cuidado de Deus na mensagem adventista de saúde
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O centro da gravidade
Um burrito
Conexão Islã
Pastor e mendigo dividem lanche e experimentam a proteção de Deus
Saiba o que une e divide cristãos e muçulmanos
2 EDITORIAL
28 VIDA ADVENTISTA
40 HISTÓRIA DA IGREJA
4 CANAL ABERTO
32 DOM DE PROFECIA
41 SOCIEDADE
5 BÚSSOLA
34 RETRATOS
42 ENTENDA
35 BOA PERGUNTA
43 PÁGINAS DE ESPERANÇA
36 NOVA GERAÇÃO
48 EM FAMÍLIA
20 ESTILO DE VIDA
37 PRIMEIROS PASSOS
49 ESTANTE
24 DEVOCIONAL
38 PERSPECTIVA
50 ENFIM
26 VISÃO GLOBAL
39 MEMÓRIA
O ano que não terminou
SERVIÇO DE ATENDIMENTO AO CLIENTE LIGUE GRÁTIS: 0800 9790606 Segunda a quinta, das 8h às 20h Sexta, das 8h às 15h45 / Domingo, das 8h30 às 14h
A opinião de quem lê Sementes
Diretor-Geral: José Carlos de Lima Diretor Financeiro: Uilson Garcia
6 ENTREVISTA
Redator-Chefe: Marcos De Benedicto
Versão digital
Gerente de Produção: Reisner Martins
8 PAINEL
Gerente de Vendas: João Vicente Pereyra Chefe de Arte: Marcelo de Souza
Datas, números, fatos, gente, internacional
Não se devolvem originais, mesmo não publicados. As versões bíblicas usadas são a Nova Almeida Atualizada e a Nova Versão Internacional, salvo outra indicação. Exemplar avulso: R$ 2,96 | Assinatura: R$ 35,50 Números atrasados: Preço da última edição.
Saúde completa
Seu futuro ficou para trás
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem prévia autorização escrita do autor e da Editora. Tiragem: 147.500
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A importância da doutrina do santuário para nossa experiência de fé
Gerente Internacional de Publicação: Pyung Duk Chun
CASA PUBLIC ADOR A BRASILEIR A
12 Conheça as implicações da Conferência Bíblica realizada há 100 anos
Projeto Gráfico: Eduardo Olszewski Foto da Capa: James White Library / Andrews University
5843/40262
SUMÁRIO
Siga o método de Cristo
Fogão de barro
Ellen White ontem e hoje Campori no México Ritual de adoração
Em busca da verdade Um mês para aproveitar
Quando a dieta saudável faz mal
Curando há sete décadas Milagre no semi-árido
As mudanças na TV Novo Tempo O alto-falante
Ócio sem culpa
Sonho e realidade O cálculo da Previdência
Dormiram no Senhor
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CANAL ABERTO MUDANÇA PARA A CIDADE
A matéria de capa da edição de junho traz uma importante reflexão sobre o desafio da evangelização das grandes cidades. Porém, eu gostaria de sugerir uma visão alternativa à linha de raciocínio que contrasta vida no campo e missão urbana, como se esses tópicos estivessem em “tensão” ou oposição. Nos escritos de Ellen White, como foi apresentado na matéria, há dois conjuntos de textos enfatizando as duas coisas: missão urbana e vida no campo. Se ambos os aspectos eram uma urgência naquela época, hoje são ainda mais. Não precisamos abrir mão de uma coisa para ter a outra. Essas realidades podem se complementar e se potencializar. Assim como na economia a cidade depende do campo, e o campo se beneficia da cidade, no evangelismo uma visão integradora só traz benefícios. Guilherme Silva / Tatuí (SP)
ENTRE O CAMPO E A CIDADE
Muito oportuna a abordagem da matéria de capa de junho sobre a transformação do nosso mundo, de um contexto predominantemente rural para o urbano, e as respectivas implicações dessas mudanças para o cumprimento da grande comissão evangélica (Mt 28:18-20). A missão urbana é prioridade por causa da pequena representatividade de adventistas nas grandes cidades europeias e da chamada Janela 10/40. A complexidade e as barreiras dessa tarefa só podem ser superadas pela onipotência Daquele que nos deu essa ordem. Josildo Isídio de Melo / São Paulo (SP)
A matéria de capa de junho parece ser uma contradição ao imperativo de Ellen White para sairmos das cidades. Mas não é, pois a profetisa apresenta a mudança para o campo como o ideal para fugir da corrupção urbana, sem que isso signifique esquecer a missão nas cidades. Se 55% da população mundial estão nas cidades, além da ação humana, certamente Deus usará os meios de comunicação para alcançar essas pessoas. Imagine quando vier a plenitude do Espírito Santo! Manuel Xavier de Lima / Engenheiro Coelho (SP)
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A matéria de capa de junho é uma excelente apresentação da necessidade de a igreja estar preparada para levar a última mensagem de misericórdia de Deus a um mundo caído. Afinal, no coração do evangelho eterno (Ap 14:6-12; 18:4) há o apelo para que as pessoas saíam de uma cidade espiritual (Babilônia). Como embaixadores da Nova Jerusalém, devemos testemunhar a todos e em todos os lugares. Por sua vez, a respeito da entrevista “O ser de Deus”, concordo com o pastor Marcos Blanco sobre a necessidade de nossa teologia ser realmente construída com base no princípio Sola Scriptura. Luvercy Penedo Ferreira / São Paulo (SP)
NOTA SUPRIMIDA
O pastor Douglas Silva, que é surdo, e eu realizamos uma pesquisa sobre Eliphalet M. Kimball, primeiro missionário adventista entre os deficientes auditivos. Em parceria com Merle Poirer, ajudamos na elaboração do artigo “Mãos que pregam”, publicado em junho. Porém, na edição brasileira não colocaram a primeira nota de referência, indicando que a pesquisa inicial é de nossa autoria. Somos do Brasil e gostaríamos muito que a nota
com nossos nomes também estivesse na versão brasileira. André Barbosa de Oliveira / São Paulo (SP)
A LOUCURA DA PREGAÇÃO
Parabenizo a revista pelo brilhante editorial de maio e as 14 perguntas formuladas para reflexão. Destaco também o inspirado artigo de capa “A loucura da pregação”. Os sermões precisam voltar a ser “uma força unificadora e transformadora”, com base na pessoa de Cristo. José Valdir Sella / Guarujá (SP)
NOVO CÂNTICO
Ao ler a seção “Vida Adventista”, em maio, perguntei a mim mesmo: “Até que ponto precisamos renovar a música?” Seria bom oferecer aos leitores o que Ellen White escreveu em Mensagens Escolhidas, v. 2, no capítulo “A Doutrina da ‘Carne Santa’”, e refletir sobre as implicações desses conselhos para nossos dias. Cláudio Guimarães / Belém (PA)
A ARQUITETURA TAMBÉM PREGA
Concordo com o colega Derli Jr. que o espaço reduzido da entrevista de abril não me permitiu esclarecer o que quis dizer com “padrão mínimo” para a arquitetura de nossa igrejas. Definitivamente não estava falando sobre “fachadismos, vidros espelhados e volumes pós-modernistas”, como entendido por Derli; ao contrário, minha intenção seria reduzir custos com efeitos estéticos e funcionais altos. É possível ter projetos mais simples e, ainda assim, com coerência arquitetônica expressiva, alinhada e ordeira. Ricardo Rossi / São Paulo (SP) Expresse sua opinião. Escreva para ra@cpb.com.br. ou envie sua carta para Revista Adventista, caixa postal 34, CEP 18270-970, Tatuí, SP.
Os comentários publicados não representam necessariamente o pensamento da revista e podem ser editados por questão de clareza ou espaço.
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BÚSSOLA
SEMENTES
A MISSÃO PRECISA SER PARA TODOS E EM TODOS OS LUGARES ERTON KÖHLER
ra apenas mais um dia no ministério de Cristo. Como sempre, multidões queriam ouvir Suas palavras e experimentar Seus milagres. Mas dessa vez eram tantos que o barco precisou ser afastado da praia. Nesse contexto, vendo a planície de Genesaré em dias de plantio e colheita, Jesus apresentou a Parábola do Semeador (Mt 13:1-23). Uma ilustração missionária preciosa, com três destaques especiais. ▪ O semeador saiu a semear. Ele é o personagem principal da parábola. Normalmente enfatizamos a qualidade do solo ou o resultado da semente, mas, se o semeador não tivesse saído, nada teria acontecido. Podemos aprender uma lição: muitas vezes, gastamos tempo demais filosofando e discutindo sobre os tipos de solo e os resultados da semente, quando deveríamos colocar o melhor de nossos esforços em preparar mais semeadores, pois, quanto mais gente envolvida, mais frutos serão colhidos. ▪ Algumas sementes não deram resultado. Dos quatro tipos de solo mencionados por Jesus, três tinham condições impróprias. O primeiro estava à beira do caminho, o segundo era rochoso e o terceiro estava repleto de espinhos. Em todos esses, a semente não deu o resultado esperado, mas o semeador tentou alcançar todos. O último solo era bom. Ao apresentar essa
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QUANTO MAIS ESPALHARMOS A SEMENTE, MAIS ENCONTRAREMOS SOLOS FÉRTEIS E CORAÇÕES PREPARADOS
realidade, Cristo Se referia primeiramente a Seu próprio ministério. Hoje também somos desafiados a espalhar sementes em todos os lugares por meio de movimentos que sejam simples, ousados, relevantes e abrangentes. Não podemos ficar limitados a ideias complexas e métodos caros, que busquem alcançar somente o solo ideal. ▪ No solo fértil a semente se multiplicou. Ela deu fruto “a cem, a sessenta e a trinta por um” (v. 8). Jesus esperava uma grande colheita e a mediu com números. Ele os utilizou tanto na apresentação quanto na explicação da parábola (v. 8 e 23), lembrando que não precisamos
ter medo de usá-los para medir o alcance e o crescimento da missão, desde que não sejam um fim em si mesmos. Devemos evitar os extremos da “numerolatria” e da “numerofobia”. Porém, com equilíbrio, consagração e dedicação, precisamos buscar os grandes resultados que o Senhor garante aos semeadores, pelo poder do Espírito Santo. Há muitas maneiras de cumprirmos a missão de semeadores hoje. Mas uma das que mais me impressionam é a distribuição de livros missionários. Eles são como as sementes, que vão a qualquer lugar e alcançam todo tipo de coração. Poucas semanas atrás, o Impacto Esperança deixou isso ainda mais claro. Em 2018, participei da entrega dos livros em Unaí (MG). Lá encontrei o Marcelo, de muletas e vivendo um momento difícil de sua vida. Oramos juntos, pedi seu contato e o entreguei aos voluntários do projeto “Um Ano em Missão” que trabalhavam na cidade. Em novembro, tive a alegria de fazer seu batismo. Em 2019, participei do Impacto Esperança na região central de Brasília. Ao passar dentro de um conjunto comercial, escutei alguém dizendo “feliz sábado”. Procurei quem havia falado e encontrei a Sandy. Afastada da igreja, ela estava trabalhando numa loja de celulares. Conversamos, oramos e na mesma tarde ela foi a um programa religioso e está frequentando os cultos novamente. Essas sementes terão uma grande colheita. Ellen White garante que “mais de mil se converterão brevemente em um dia, a maioria dos quais reconhecerá haver sido primeiramente convencida através da leitura de nossas publicações” (Evangelismo, p. 693). Precisamos continuar lançando as sementes, confiando que o Senhor fará grandes coisas. ] ERTON KÖHLER é presidente da Igreja Adventista para a América do Sul
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ENTREVISTA
MÁRCIO TONETTI
Bobby Gruenewald
Além de ter sido considerado pela revista Fast Company um dos 100 norte-americanos mais criativos nos negócios, Bobby Gruenewald já foi chamado de “Gutenberg” da era digital. Sua vocação empreendedora e interesse pela divulgação da Bíblia resultaram na criação do YouVersion, aplicativo mais usado pelos leitores das Escrituras no mundo. Em junho, Bobby esteve pela primeira vez no Brasil, que é o segundo na lista dos países com maior número de usuários do app. Além de palestrar no 15o Fórum de Ciências Bíblicas realizado pela Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) em Barueri (SP), ele participou do lançamento de uma edição especial da Bíblia que CRIADOR DO APP DA BÍBLIA MAIS USADO NO MUNDO traz cerca de 2 mil QR Codes, unindo o físico FALA DE COMO A TECNOLOGIA TEM AJUDADO A ENGAJAR ao digital. Foi nesse contexto que ele conceNOVOS LEITORES DO LIVRO SAGRADO deu a entrevista a seguir.
VERSÃO DIGITAL
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vidas por causa de seu poder e significado inerentes. Por isso, acredito que nossos esforços devam ser para conectar as pessoas às Escrituras, independentemente do formato. Como entusiasta de tecnologia, você ainda lê a Bíblia em papel? Curiosamente, eu coleciono Bíblias impressas em várias línguas e versões. Mas meu engajamento pessoal com a Bíblia é quase exclusivamente digital. Fale um pouco sobre o acesso ao aplicativo em países fechados ao cristianismo. Para citar apenas um exemplo, entre muitos, no Oriente Médio um homem está usando o YouVersion para apresentar a Palavra de Deus aos refugiados sírios e iraquianos. O app tem sido um meio de levar a Bíblia para regiões aonde, de outro modo, não poderíamos ir. Você acredita que a tecnologia seja vital para a missão? Eu busco encorajar as pessoas a ver a tecnologia como uma ferramenta para a proclamação do evangelho, não a única. Existem outros recursos e mais ferramentas surgirão. Se as pessoas continuarem perguntando como podem usar as novas tecnologias para evangelizar, Deus certamente mostrará novas possibilidades. ] R e v i s t a A d ve n t i s t a // Julho 2019
Foto: Mateus Seiji – SBB
Como nasceu o YouVersion? Inicialmente, criamos um site que funcionou tecnicamente, mas não levou ao engajamento que esperávamos. Então, decidimos adaptar o site para dispositivos móveis e o tráfego na web aumentou. Nessa época, Steve Jobs também anunciou a criação da App Store, o que nos motivou a desenvolver um aplicativo da Bíblia. Ele foi um dos primeiros 200 apps gratuitos disponibilizados na loja virtual da Apple. Graças às diversas parcerias e ao apoio das sociedades bíblicas ao redor do mundo, dez anos depois o YouVersion contabiliza 375 milhões de downloads.
De que maneira o mundo digital mudou a experiência das pessoas com o livro sagrado? O compartilhamento é uma das experiências mais significativas. Quando os usuários expõem as Escrituras por meio do aplicativo e das redes sociais, eles também ajudam a trazer gente para essa realidade. Há um grande poder em experimentar as Escrituras em comunidade. Hoje também não necessitamos mais estar em casa para ler as Escrituras, pois as carregamos no bolso em todos os lugares. Por outro lado, existem desvantagens? Alguns conseguem usar os recursos digitais para tirar mais proveito de seu tempo com as Escrituras, mas outros têm dificuldades com as distrações do ambiente virtual. Por isso, preferem criar um espaço em que possam se concentrar totalmente na conexão com Deus. Também há o pensamento de que a Bíblia digital seja menos sagrada? Séculos atrás, quando a Bíblia ainda era lida em pergaminho, alguns rejeitaram a ideia de imprimila no formato de livro. Da mesma forma, algumas pessoas hoje têm resistido à ideia de a Bíblia ser oferecida no formato digital. Porém, sabemos que a Palavra de Deus muda
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PAINEL F AT O S
PATRIMÔNIO HISTÓRICO
ASSOCIAÇÃO DE CIENTISTAS A Associação Filipina de Cientistas Adventistas (PASA, na sigla em inglês) foi oficialmente estabelecida durante a 1a Conferência Nacional de Cientistas Adventistas, realizada nos dias 20 e 21 de maio em Palawan. O objetivo da entidade é motivar e capacitar cientistas adventistas a usar sua profissão para a missão da igreja.
O tombamento do antigo imóvel que pertenceu à família Hort, decretado no início de junho pela Prefeitura de Brusque (SC), deve representar um passo importante na preservação do edifício ligado ao início do adventismo no Brasil. Nesse local foi aberto o primeiro pacote com literatura adventista que chegou ao país na década de 1880. A partir de agora, o Casarão São Joaquim não poderá sofrer alterações estruturais nem arquitetônicas.
A falta de tempo pode não destruir nossas convicções, mas destrói nossos valores e inverte nossas prioridades.
11%
foi quanto aumentou o percentual de dízimo da Divisão do Pacífico Sul em 2018, maior crescimento em uma década.
E D I TA L
Valdecir Lima, pastor e professor aposentado, falando sobre a necessidade de gastarmos tempo em oração e estudo da Bíblia durante semana de oração realizada na CPB nos dias 3 a 7 de junho
9% dos adventistas
que participaram da Pesquisa Global de Membros da Igreja 2017– 2018 admitiram ter feito uso de bebidas alcoólicas e 3% deles disseram ter usado tabaco no último ano. 8
Nos termos do Regulamento Interno da União Centro-Oeste Brasileira, fica convocada a 4a Assembleia Ordinária da União CentroOeste Brasileira da Igreja Adventista do Sétimo Dia, inscrita no CNPJ no 07.121.135/0001-54, a ser realizada nos dias 18 e 19 de setembro de 2019, tendo início às 8h do dia 18, no hotel Grand Mercure, localizado na SHN Q 5 Bloco G - Asa Norte, Brasília (DF), para tratar dos seguintes assuntos de sua competência: (1) receber as novas Associações e Missões organizadas durante o quinquênio anterior; (2) apreciar e aprovar os relatórios do presidente, do secretário-executivo, do tesoureiro/CFO, dos secretários dos departamentos e serviços e dos administradores das Missões e instituições da União; (3) eleger, para um mandato de cinco anos, os secretários dos departamentos e serviços, os membros da Comissão Diretiva da União; (4) eleger os administradores das missões, para um mandato de dois anos e seis meses; (5) elaborar planos para o melhor desenvolvimento da obra, em harmonia com os regulamentos e as deliberações da Divisão; e (6) deliberar e aprovar outros assuntos propostos pela Comissão Diretiva. Brasília (DF), 9 de junho de 2019 Alijofran L. Brandão, presidente Matheus Leite Tavares, secretário-executivo
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Fotos: Divulgação / Bienvenido D. Mergal
Convocação da 4a Assembleia Ordinária da União Centro-Oeste Brasileira
EVENTOS
CELEBRANDO A LIBERDADE
DESAFIOS URBANOS
No Dia Estadual da Liberdade Religiosa (25 de maio), o direito de crença foi o tema do sermão em cem igrejas da capital paulista e motivo do encontro que envolveu 2 mil membros da igreja, representantes de outras tradições religiosas e autoridades como o presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Eduardo Tuma, e o desembargador Francisco Giordani no Unasp, campus São Paulo. As celebrações deste ano também foram marcadas por uma sessão solene realizada na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo no dia 27 com a presença do doutor Ganoune Diop, secretário-geral da Associação Internacional de Liberdade Religiosa (IRLA).
O Compassion, considerado o maior evento de missão urbana no contexto adventista brasileiro, em sua 4a edição reuniu mais de 500 pessoas nos dias 30 de maio a 2 de junho na capital paulista. A iniciativa tem contribuído para pensar estratégias e divulgar projetos e ministérios relevantes para a evangelização das cidades. Nas oficinas foram discutidas temáticas como discipulado de novas gerações, abertura de centros de influência e testemunho para classes altas da sociedade. Centenas de pastores, além de líderes sul-americanos e mundiais da igreja, participaram do evento.
O L H A R D I G I TA L
Fotos: Divulgação / Vanessa Moraes /Danúbia França / Lia Castro
SÉRIE PARA O INSTAGRAM
CONCÍLIO MINISTERIAL Realizado em Foz do Iguaçu (PR) nos dias 18 a 22 de junho, o evento recebeu 1,2 mil pessoas, entre palestrantes, pastores e suas esposas. Com ênfase no discipulado, a programação foi marcada por batismos, testemunhos, workshops e debates sobre o plano de ação da igreja na região Sul do Brasil para os próximos cinco anos. Paralelamente, também ocorreu o encontro da AFAM (Área Feminina da Associação Ministerial) da União Sul-Brasileira, que não promovia um evento interestadual há sete anos. Outra novidade foi um aplicativo por meio do qual os participantes puderam responder questionários de pesquisas e acompanhar todas as informações do concílio. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Julho 2019
Estreou no dia 28 de junho a série cinematográfica produzida exclusivamente para a rede social o n-line que mais tem engajado jovens e adolescentes. Inédita no mundo cristão, a produção adventista sul-americana pretende transmitir valores bíblicos por meio de um roteiro envolvente. Gravada pela Belluna Filmes em cenários como o Oásis de Huacachina, no deserto peruano de Ica, 144 será dividida em cinco temporadas. Os 144 episódios de até um minuto estão sendo divulgados diariamente no perfil oficial do projeto: @serie144. 9
GENTE
Ken Micklethwaite está na vanguarda de um tratamento revolucionário que pode trazer a cura para o câncer no sangue. O médico adventista de Sydney, que foi entrevistado recentemente pela versão australiana do programa 60 Minutes (para assistir em inglês, acesse bit. ly/2WIaPNB), tem desenvolvido novas formas de terapia com células imunes modificadas (as chamadas T-CAR) e reduzido o custo do tratamento, que não saía por menos de meio milhão de dólares.
100 milhões é o número de pessoas que a Sociedade Bíblica Americana pretende engajar com a Bíblia até 2026.
1o lugar
é a posição ocupada por Springfield-Holyoke, no estado norte-americano de Massachusetts, na lista das dez cidades mais “pós-cristãs” da América, segundo levantamento do Instituto Barna.
BODAS DE OURO (50 ANOS) De Eliseu Santos e Ana Maria de Souza Santos, em cerimônia realizada na Igreja Adventista Central de Uruguaiana (RS). Adventistas há 40 anos, eles sempre foram muito envolvidos em diversas frentes missionárias. O casal tem dois filhos (Marcelo e Leonardo) e dois netos (Arthur e Lorena).
De José Carlos Guerra e Jaci Torres Guerra, em cerimônia realizada pelo pastor Vitor Nascimento na Igreja Adventista do bairro Candeias, em Vitória da Conquista (BA). O casal, que trabalhou na CPB, tem dois filhos. 10
CENTENÁRIA O Espírito Santo é o segundo estado brasileiro onde as pessoas vivem mais, de acordo com o IBGE. A expectativa de vida média dos capixabas é de 78,2 anos, mas há pessoas que vão muito além disso. É o caso de Arminda Galvão da Silva, adventista que completou 106 anos de idade em 18 de maio. Amigos e familiares se reuniram na Igreja Central de Guarapari, comunidade que ela frequenta, para celebrar o aniversário com um culto de ação de graças.
Doar não é exclusividade de quem tem poder aquisitivo, mas, sim, de quem tem comprometimento com o próximo.
José Luiz Setúbal, filho de um dos fundadores do Banco Itaú que doou mais de 20% de seu patrimônio bilionário e se dedica a engajar outras pessoas de alto poder aquisitivo na prática da filantropia, em entrevista à revista Veja, na qual destacou que os ricos no Brasil doam pouco
1,9 milhão
de dólares australianos foi o valor arrecadado em uma década pelo projeto “25.000spins”, que promove passeios ciclísticos beneficentes. Mais da metade desse montante foi doado para a ADRA.
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Fotos: Arquivo pessoal
DESCOBERTA REVOLUCIONÁRIA
INTERNACIONAL
EXÉRCITO DE EVANGELISTAS
A DIETA DA IGREJA Uma pesquisa realizada pela igreja com mais de 63 mil pessoas de todo o mundo mostrou que os hábitos alimentares dos adventistas é bastante diversificado, como revelam os números a seguir: 5%
14%
32%
11%
A missão de paz da ONU na Somália (África), um dos países com mais ataques terroristas do mundo, está abrindo portas para a igreja. Entre os soldados enviados pelas Nações Unidas para minimizar a violência no país há adventistas do Burundi que param para adorar a Deus aos sábados. Apesar das ameaças constantes e do fato de o templo em que se reuniam ter sido destruído, eles se mantêm fiéis à sua fé. Como resultado, foram batizados vários militares que antes criticavam os adventistas .
24%
14%
5.400
foi o número de mosquiteiros distribuídos por profissionais da saúde adventistas no Sudão com o intuito de combater a malária, principal causa de morte no país. Segundo dados da OMS, semanalmente mais de 77 mil pessoas são infectadas pelo mosquito.
veganos
consomem carne algumas vezes na semana
vegetarianos
pescovegetarianos
comem carne apenas uma vez na semana ou menos
consomem carne quase diariamente
Olhando para o passado, devemos encarar o futuro com esperança. O tempo está se esgotando, mas o trabalho que estamos Foto: East Central Africa Division
4.212.049
era o número de membros da Divisão Centro-Leste Africana até 31 de março.
fazendo hoje está abrindo uma nova maneira de fazer missão.
Blasious Ruguri, presidente da igreja na Divisão CentroLeste Africana, na cerimônia de inauguração de uma nova sede administrativa na Tanzânia
Colaboradores: Betina Pinto, Danúbia França, Jarrod Stackelroth, Jéssica Guidolin, Lucas Rocha, Márcio Tonetti, Marcos Paseggi, Paola Mora Zepeda, Prince Bahati, Tracey Bridcutt, Vanessa Moraes, Vania Chew e Wendel Lima
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mbora grande parte da história da origem da Igreja Adventista do Sétimo Dia no século 19 tenha sido examinada, pouco tem sido escrito a respeito do desenvolvimento do adventismo no século 20. Um evento crucial para entender esse período pós-morte de Ellen White, e que está completando cem anos, é a Conferência Bíblica de 1919, realizada de 1º de julho a 1º de agosto em dois momentos: a conferência principal (1 a 19 de julho) e uma série de reuniões dirigidas aos professores de Teologia (19 de julho a 1º de agosto). Para os que participaram desse encontro, provavelmente tenha sido somente mais uma das muitas reuniões denominacionais em que estiveram. Prova disso é que a maioria das pessoas que tomaram parte na conferência não deixou nenhum registro sobre o evento. Porém, o significado do que ocorreu ali teria impacto nas décadas seguintes da história do adventismo, algo que seria reconhecido somente mais tarde. CLIMA QUENTE Em meio ao calor sufocante do verão de Takoma Park, na região metropolitana de Washington (EUA), 65 educadores, editores, administradores e outros formadores de opinião da igreja se reuniram para conversar. A realização de conferências bíblicas não era algo novo para os adventistas, mas, em 1919, pela primeira vez um evento dessa natureza foi realizado para discutir os temas mais controversos do adventismo. 12
A. G. Daniells, então presidente mundial da denominação, queria apresentar um quadro amplo para os participantes. Por isso, o comitê organizador fez com que apenas pessoas convidadas participassem, a fim de que houvesse um clima de liberdade para expressar as opiniões. Essa foi também a primeira reunião de eruditos adventistas nos idiomas bíblicos para discutir a etimologia de palavras bíblicas em hebraico, aramaico e grego. Vários desses participantes estavam familiarizados com as pesquisas acadêmicas da época, inclusive com publicações em francês e alemão, e conheciam tendências de seu tempo, como o chamado “método histórico-crítico” para a interpretação da Bíblia. Alguns dos presentes tinham pós-graduação em Teologia e História. Com tanta coisa em jogo, não é de admirar que Clifton L. Taylor, um professor que lecionava no Canadá, tenha registrado em seus diários que, durante as reuniões, “armas de alto calibre [...] disparavam ataques verbais” ao debater as questões. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Julho 2019
Fotos: Adobe Stock / Andrews University - James White Library
CAPA
UMA DAS MAIS IMPORTANTES CONFERÊNCIAS BÍBLICAS DA IGREJA FOI REALIZADA HÁ CEM ANOS, MAS A POLARIZAÇÃO TEOLÓGICA EVIDENCIADA NAQUELA REUNIÃO CONTINUA MICHAEL W. C A MPB ELL
GUERRA E PROFECIA Durante o discurso de abertura, Daniells salientou que a Conferência Bíblica de 1919 era um eco de reuniões semelhantes organizadas por cristãos conservadores. As chamadas “conferências proféticas”, organizadas pelos que se descreveriam como “fundamentalistas”, tiveram muito sucesso em atrair “FUNDAMENTALISTAS” a atenção dos norte-americanos para a segunda vinda de Cristo. E “PROGRESSISTAS” Vários dos principais líderes ESTAVAM BEM MAIS adventistas participaram dessas reuniões. O próprio Daniells PRÓXIMOS UNS DOS disse que esses cristãos conserOUTROS DO QUE vadores estavam fazendo o trabalho que os adventistas deveriam ESTAVAM DISPOSTOS estar realizando. A ADMITIR. PORÉM, Os Estados Unidos atravessavam um período de rápidas COM O CALOR e intensas mudanças culturais: DO DEBATE, SE a nação estava deixando de ser predominantemente protesAFASTARAM tante, anglo-saxã e branca. Além MUTUAMENTE disso, a Primeira Guerra Mundial R e v i s t a A d ve n t i s t a // Julho 2019
(1914-1918) e a pandemia de gripe em 1918 lançaram por terra as aspirações modernistas de progresso humano. Os fundamentalistas aproveitaram esse mal-estar social para chamar a atenção das pessoas para o fato de que Jesus voltaria em breve. Isso ocorreu principalmente nas grandes cidades, numa escala sem precedentes. Francis M. Wilcox, editor da Review and Herald na época, avaliou que essas conferências proféticas protestantes foram um momento importante na história do cristianismo, comparáveis à divulgação das 95 teses de Lutero sobre justificação pela fé. Wilcox, que disse ter se sentido à vontade nessas reuniões, ainda que discordasse de alguns conceitos teológicos expostos nas conferências proféticas, ressaltou que os cristãos conservadores tinham que manter suas convicções sobre a autoridade das Escrituras e os perigos do modernismo. Nessa direção, Daniells e outros líderes adventistas entenderam que, se nossa denominação se unisse teologicamente, a conferência de 1919 poderia ser a primeira de muitas outras que 13
chamariam a atenção do mundo para a iminência do retorno de Cristo. Assim, as três mensagens angélicas seriam pregadas e a missão concluída.
DEFINIÇÃO DE TERMOS ▪ Fundamentalismo: Neste artigo, o termo se refere ao movimento teológico que se originou no cristianismo norte-americano no início da Primeira Guerra Mundial, em resposta às novas correntes teológicas que surgiram com força nesse período. Em especial, se levantou contra o “método histórico-crítico” de estudo da Bíblia, que minava a confiança na inspiração e veracidade das Escritu-
IMPASSE NA INTERPRETAÇÃO ras. Por sua vez, o fundamentalismo enfatizava a interpretação literal da Bíblia A maior parte dos impasses tinha que ver com (literalismo bíblico). A Igreja Adventista é considerada “fundamentalista” no diferentes interpretações em relação à escasentido de que constrói suas doutrinas e práticas na Bíblia, mas não no sentido tologia adventista (doutrina do fim dos temde interpretar literalmente as Escrituras sem prestar atenção a uma exegese pos). Hoje, muitos daqueles debates podem ser contextual da passagem. vistos como sem grande importância teoló▪ Progressistas: É uma tendência ideológica (não teológica em particular) que gica, mas naquela época representavam duas promove ideias “avançadas”, em oposição às posições mais tradicionalistas. maneiras antagônicas de se entender o texto bíblico, o que chamamos de hermenêutica. ▪ Inspiração verbal: Geralmente está associada à teoria da inspiração mecânica Um grupo, autodenominado “progressista”, ou “teoria do ditado”. Isso implica que todas as palavras das Escrituras, incluindo enfatizava o contexto histórico da Bíblia e os pontos das vogais hebraicas, foram ditadas pelo Espírito Santo. Esse modelo dos escritos de Ellen White. Para eles, o sigconsidera o profeta “pena” ou o copista do Espírito Santo. Os adventistas rejeitam nificado de um evento tinha maior imporesse modelo, mas acreditam que, em certos casos, o processo de revelação e tância que a determinação de uma data hisinspiração alcançou as palavras dos profetas. Ou seja, por influência do Espírito tórica específica. Foi por isso que estudiosos Santo, as próprias palavras do profeta expressaram de modo confiável a mencomo W. W. Prescott questionaram se o ano sagem que receberam. 538 era a data mais precisa para começar a contagem da profecia dos 1.260 dias proféticos. Os “progressistas” acreditavam que a Palavra de Deus havia sido inspirada “verbalmente”, mas não que ela Sua cabeça “girava como um redemoinho”, à fosse sem erros (inerrante) quanto aos detalhes cronológicos, numérimedida que se cansava das divergências. cos, históricos ou linguísticos. Eles desenvolveram uma hermenêutica mais flexível, mais aberta a revisões, o que se mostrou uma vantagem DOM PROFÉTICO EM DEBATE para estudos posteriores. Em meio a essas discordâncias acaloradas sobre Uma segunda abordagem hermenêutica foi representada pelos “traa hermenêutica adventista, não é surpresa consdicionalistas” adventistas, que enfatizavam a crença de que a Bíblia tatar que “tradicionalistas” e “progressistas” e os escritos de Ellen White tinham a mesma autoridade, tendo sido apelaram para os escritos de Ellen White a fim ambos “inspirados verbalmente”. Alguns “tradicionalistas”, como B. G. de resolver seus desentendimentos. Embora Wilkinson, se sentiam desconfortáveis com “progressistas” como Presos textos dela fossem citados com frequência cott, que questionavam datas bem estabelecidas desde Guilherme Miller, durante a Conferência Bíblica de 1919, eles como o ano 538. Esse grupo olhava os escritos inspirados de maneira foram discutidos em quatro momentos espemais literal e acreditava que quem questionasse datas da escatologia cíficos. Em um deles, Daniells se mostrou preadventista, mesmo as mais insignificantes, punha em jogo a interpreocupado com o fato de que alguns participantação consolidada pela igreja. tes não estivessem familiarizados com o dom profético. Assim, em 16 de julho ele apresenNa verdade, os dois grupos tinham muito mais em comum do que qualquer um dos lados estava disposto a admitir. Ambos acreditavam tou um testemunho pessoal de como o minisna verdadeira profecia preditiva, na historicidade da Bíblia, na necessitério de Ellen White havia impactado sua vida. dade de lutar contra o cristianismo modernista e liberal e que as EscriO líder acreditava que, se alguns dos particituras foram inspiradas “verbalmente”. pantes conhecessem melhor sua história, não o O comitê organizador permitiu que ambas as partes apresentassem criticariam, como fizeram outros, dizendo que seus pontos de vista, porque havia um consenso entre os participantes ele não era um adequado defensor do ministéde que o adventismo não perderia nada com uma investigação cuidario profético de Ellen White. Quando a confedosa sobre a própria fé. Afinal, o “povo do Livro” só poderia ser benerência terminou, um grupo de 28 educadores ficiado por uma compreensão mais profunda da verdade. Apesar disso, se reuniu em torno de Daniels para fazer-lhe discordâncias foram geradas, porque personalidades fortes estavam algumas perguntas adicionais de como interenvolvidas no debate. pretar os escritos de Ellen White. Esse seria o primeiro debate importante acerca do signifiNo fim das reuniões, ficou claro que eles haviam discutido “uma grande quantidade de temas complexos”. Até mesmo o pastor Daniells se sentiu cado do dom profético de Ellen White depois de sua morte, quatro anos antes, em 1915. sobrecarregado com o número de assuntos em pauta, a ponto de, a certa altura do evento, ele ter desejado poder “ir até o rei do norte e os dois animais O que incomodava esses educadores era com chifres num balão de ar quente” e se livrar das questões controversas. que havia dois pontos de vista óbvios, mas 14
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contrastantes, sobre o modo de interpretar os escritos de Ellen White, que estavam se tornando evidentes dentro da igreja. Embora tanto “progressistas” quanto “tradicionalistas” acreditassem que os escritos dela eram inspirados, “progressistas” como Prescott e Daniells também alegavam, por experiência pessoal, que Ellen White nunca havia afirmado que seus escritos eram infalíveis em cada pequeno detalhe. Alguns dos “tradicionalistas” mais jovens, porém, influenciados pelo crescente movimento fundamentalista histórico, sustentavam que os escritos dela eram infalíveis e de importância equivalente à das Escrituras. Com isso, eles foram longe demais, contrariando a própria visão de Ellen White a respeito de seu ministério profético. Para a pioneira, os escritos dela foram dados para conduzir homens e mulheres à Bíblia. Ao reconhecer essas duas abordagens, os educadores pediram que Daniells publicasse um panfleto para ajudar a esclarecer o dilema. Os professores imaginavam que seriam questionados pelos alunos em sala de aula a respeito da questão. Daniells respondeu que a melhor maneira de resolver isso era formar um comitê. Infelizmente, não há evidências de que tal comissão tenha sido estabelecida. O problema era que o debate hermenêutico subjacente com relação a Ellen White não desapareceria, e se destacaria acima de qualquer outro dentro do adventismo, ao longo do século 20. Até hoje, porém de maneira mais sutil, as visões diferentes sobre a hermenêutica adventista criaram uma tensão teológica que continua a existir na igreja. LEGADO DO EVENTO A Conferência Bíblica de 1919 ilustra o perigo da polarização teológica. O significado real dessa reunião histórica é nos lembrar da crescente divisão que estava surgindo no adventismo, e isso foi claramente manifestado nos debates. Os autodenominados “progressistas” e os “tradicionalistas” estavam muito mais próximos uns dos outros do que os dois grupos percebiam. No entanto, por causa do calor do debate, eles se afastaram mutuamente. Às vezes, um de meus professores no seminário teológico dizia para os alunos que deveria haver um 11º mandamento na Bíblia: “Não farás teologia contra o teu próximo.” Embora os líderes da igreja em 1919 tenham visto a importância de promover discussões sinceras a fim de se chegar à unidade teológica, infelizmente, parece que o efeito foi contrário. Não há indícios de que os dois lados tenham continuado a dialogar após a reunião. Passaria uma geração até que, outra vez num período pós-guerra, outra Conferência Bíblica importante ocorresse em 1952. Estudar essas reuniões de 1919 também nos ajuda a entender um período transitório difícil para PARA SOBREVIVER a igreja, em que a denominação E PROSPERAR, aprendia a lidar com a ausência de Ellen White. Os problemas que O ADVENTISMO envolvem a natureza e a autoriDO FUTURO DEVE dade dos escritos dela surgiram juntamente com os debates ENCONTRAR sobre como interpretar a profecia UMA ORTODOXIA bíblica. Os dois grupos articularam abordagens hermenêuticas EQUILIBRADA E diferentes, especialmente quanto REFLEXIVA ao modo de relacionar os escritos R e v i s t a A d ve n t i s t a // Julho 2019
A REDESCOBERTA A abertura mostrada pela igreja em 1919 para discutir os assuntos que nos dividem é elogiável. Porém, isso só ficou claro mais tarde. Os registros dos debates (mais de 1.300 páginas) ficaram perdidos por décadas, até serem descobertos por Donald Yost em 1974. Cinco anos depois (em 1979), a revista Spectrum publicou parte do material e ajudou a redefinir o perfil da historiografia adventista. A partir de então, as interpretações sobre a importância da conferência têm variado de acordo com o perfil de cada estudioso. Alguns a elogiam, outros a consideram uma espécie de traição do adventismo. Projetada como um evento educacional, na tentativa de unificar certos pontos de vista, especialmente na área de escatologia, a conferência permitiu a exposição de perspectivas diferentes, revelou a influência do fundamentalismo sobre alguns segmentos do adventismo e representou um novo estágio na área de hermenêutica (como interpretar os escritos sagrados). Embora os participantes não imaginassem que estivessem realizando um evento histórico, o fato é que a conferência acabou sendo um marco importante no desenvolvimento da teologia adventista. As reuniões ajudaram a confirmar que a compreensão da verdade é realmente progressiva.
Da Redação
de Ellen White com a Bíblia. Essas questões não foram resolvidas há cem anos, e continuam a ser objeto de debates. No âmago desse dilema está a compreensão a respeito da natureza da inspiração. Em 1919, pela primeira vez “progressistas” e “tradicionalistas” entraram em confronto. Contudo, o que a igreja precisava era mais diálogo, e não menos, como acabou ocorrendo posteriormente. Imagino que teria havido menos polarização se os participantes tivessem procurado entender uns aos outros e ampliado os canais de diálogo. Se os adventistas puderem aprender com esse encontro histórico, buscarão hoje construir pontes e curar feridas. Para sobreviver e prosperar, o adventismo do futuro deve encontrar uma ortodoxia equilibrada e reflexiva, tal qual sugerida por líderes como Prescott, Daniells e W. C. White na Conferência Bíblica de 1919. Até que isso ocorra, a igreja continuará a viver à sombra desse evento definidor. ] MICHAEL W. CAMPBELL, doutor em História, é professor associado de Teologia na Southwestern Adventist University, em Keene, Texas (EUA)
PARA SABER MAIS ▪ Livro 1919: The Story of Adventism’s Struggle with Fundamentalism (Pacific Press, 2019), 137 p., de Michael W. Campbell. ▪ Relatório da Conferência Bíblica, realizada em Takoma Park (DC), em 1919. Disponível em https://bit.ly/16zXuIC. 15
COMPORTAMENTO
NÃO BASTA EXIGIR QUE OS FILHOS OBEDEÇAM AO QUINTO MANDAMENTO; OS PAIS PRECISAM SER DIGNOS DE HONRA HELGI JÓNSSON
Q
uando eu era criança, tive que aprender os Dez Mandamentos na escola. Precisei decorar e recitar esses preceitos para minha classe. O colégio nos oferecia uma versão resumida dos mandamentos, mas meu pai me incentivou a aprender a versão completa, conforme está na Bíblia. Nunca fui bom para memorizar as coisas como um 16
papagaio, mas me familiarizei com aqueles valores. Na época, não me preocupei muito com seu significado, apesar de achar razoáveis aqueles princípios bíblicos. Contudo, durante a adolescência percebi que um dos mandamentos se destacava para mim. Os primeiros quatro tinham que ver com minha relação com Deus e os seis restantes com os seres humanos. Porém, um deles especifica quem são essas pessoas: os pais. Apesar de o mandamento especificar a quem eu deveria honrar, a ideia de honra para mim era vaga. Além disso, o quinto mandamento é acompanhado de uma promessa de longevidade. Por quê?
NOVA PERCEPÇÃO Anos mais tarde, após terminar meu curso de medicina e começar a trabalhar como residente em psiquiatria, passei a notar a quantidade significativa de pessoas que não haviam tido um bom relacionamento com os pais. Elas nunca tinham sido amadas nem tiveram a certeza de que poderiam contar com aqueles que as colocaram no mundo. Aprendi também nesse período, tendo contato com teorias de psicanalistas como John Bowlby, Mary Ainsworth e outros, que os relacionamentos estabelecidos no início da vida têm impacto no restante de nossa existência. Lembro-me da primeira vez que li sobre Enoque no livro Patriarcas e Profetas, de Ellen White.
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MANDAMENTO PARA OS PAIS E OS FILHOS
A pioneira adventista escreveu acerca de como o nascimento de Matusalém mudou Enoque e o levou para mais perto de Deus. Enoque compreendeu melhor seu relacionamento com Deus quando percebeu a dependência que seu filho tinha dele (p. 84). Como pais, somos os representantes de Deus diante dos nossos filhos. Se por um lado é responsabilidade deles nos honrar (Êx 20:12), por outro lado é nosso papel sermos dignos de honra. Devemos educá-los de modo que se sintam motivados a nos amar e confiar em nós. Por meio do livro Orientação da Criança, Ellen White nos ensina: “O método divino de governo é um exemplo de como as crianças devem ser disciplinadas. Não há opressão no serviço do Senhor, e não deve haver opressão no lar nem na escola. [...] Que a bondade seja a lei do lar e da escola”. Pais e mães, vocês devem representar no lar o caráter de Deus. Devem exigir obediência. Não como uma tormenta de palavras, mas de modo calmo e amável. Devem estar tão plenos de compaixão que seus filhos sejam atraídos para vocês” (p. 259). Não devemos perder a paciência com nossos filhos, tratá-los injustamente e esperar que sigam nosso exemplo. Ainda que não possamos ser responsáveis por todas as decisões futuras deles.
POR CAUSA DE SUA PLASTICIDADE, O CÉREBRO HUMANO É UM ÓRGÃO “PERDOADOR”, QUE TEM A CAPACIDADE DE APRENDER, SUPERAR E MUDAR
O DESENVOLVIMENTO DO CÉREBRO Estudos científicos recentes têm mostrado que o ambiente em que a criança passa sua primeira infância e as relações que estabelece nesse período vão ter forte impacto em sua saúde física e mental na fase adulta. As pesquisas CDC-Kaiser, por exemplo, do Centro para Prevenção e Controle de Doenças (cdc. gov), nos Estados Unidos, têm mostrado isso desde o fim da década de 1990. Negligência, violência e falta de harmonia em casa podem gerar várias enfermidades crônicas. As experiências negativas vivenciadas precocemente podem também comprometer o desenvolvimento neurológico da criança, trazendo-lhe problemas sociais, emocionais e cognitivos. Pesquisas como essa indicam uma realidade preocupante e a necessidade de termos um cuidado redobrado com a primeira infância (0-6 anos). O fato é que o desenvolvimento do cérebro humano é demorado. Diferentemente das ovelhas que costumam nascer aqui no meu país, a Islândia, no início de abril, quando começa o verão, e já ficam em pé e se tornam independentes de seus pais em poucos meses. Segundo o neurocientista David Eagleman, há poucas décadas pensávamos que a maturação
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do cérebro estivesse completa no fim da infância, mas hoje sabemos que esse processo se estende até os 25 anos (The Brain: The Story of You, p. 14). O cérebro se desenvolve rapidamente nos primeiros anos, passando por alguns platôs de crescimento até que, na adolescência, assim como ocorre com o restante do corpo, recebe um novo impulso para seu desenvolvimento. É nessa fase que a pessoa desenvolve o pensamento abstrato e as habilidades sociais. Portanto, nossos filhos precisam de nós durante todos esses anos, ainda que não saibam nem reconheçam isso. Se os tratarmos com muito amor e eles nos honrarem como pais, terão vida longa, conforme promete o quinto mandamento. Não sou um pai perfeito e você pode confirmar isso com meu filho. Na verdade, nenhum de nós é, porque todos temos histórias passadas que nos influenciam a ser quem somos. Todos cometemos erros e precisamos de perdão, mas temos nosso Pai perfeito, que fez nosso cerébro com certa plasticidade, a fim de que nos adaptássemos às experiências positivas e negativas. Podemos dizer que essa plasticidade faz do nosso cérebro um órgão “perdoador”. É possível aprender coisas novas, superar outras e mudar o rumo da nossa vida (The Brain: The Story of You, p. 18). E saber disso me dá esperança. Então, além de ser uma inspiração para seus filhos (se tiver algum), quando encontrar alguém que não consegue confiar em outras pessoas, quem sabe por causa de experiências vividas na infância, procure ser seu “pai” ou sua “mãe”. Sendo amoroso, você pode ajudá-lo a mudar a maneira de pensar e a descobrir, por meio de você, Aquele que é digno de toda honra e confiança. ] HELGI JÓNSSON é psiquiatra e diretor do Ministério da Saúde na Divisão Transeuropeia da Igreja Adventista. Ele e sua família vivem na Islândia
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ESPIRITUALIDADE
AMOR QUE RESTAUR A O CUIDADO DE DEUS POR MEIO DA ADOÇÃO DE ATITUDES SAUDÁVEIS QUE ELE MESMO NOS RECOMENDOU Sou apaixonado por cuidar da minha saúde e condicionamento físico. Por isso, fico feliz em ajudar outros a desenvolver o mesmo estilo de vida. Ser uma influência positiva na vida de outros é uma das maiores bênçãos que nós cristãos podemos receber.
Linda Spady Idaho (EUA)
E Washington (EUA)
A
profissão de dentista pode ser estressante. Amo meu trabalho, mas não é fácil se dividir entre a administração de um negócio e lidar com os casos clinicamente difíceis. Por isso, todos os dias, logo após o trabalho, faço corrida ou vou à academia. Essa é a maneira de liberar endorfinas e diminuir o estresse. Faço exercícios porque gosto de como me sinto mental e fisicamente após suar um pouco. Para algumas pessoas, porém, fazer exercício é uma luta. Uma forma de torná-lo divertido é estabelecer um desafio pessoal. Em abril, tive a chance de correr a Maratona de Boston e agora no verão (hemisfério norte) vou escalar o Monte Rainier. O melhor exercício é aquele que você mais aprecia fazer, seja correr ou apenas caminhar no parque. Meus amigos e eu gostamos muito de organizar caminhadas. Esses encontros ajudam nossa igreja a crescer, pois as pessoas da comunidade anseiam o companheirismo. E toda igreja necessita de membros ativos e saudáveis. 18
Foto: Joshua Cloete / Bob Spady
Calvin Kim
m muitos aspectos, minha infância foi cheia de risos, amor e consciência a respeito da bondade de Deus. Ao mesmo tempo, várias coisas assustadoras e dolorosas aconteceram comigo. Como resultado, comecei a sofrer de ansiedade. Para lidar com meus medos, tornei-me perfeccionista. Inconscientemente, eu acreditava que precisava fazer tudo certo para agradar quem estivesse à minha volta. Temia falhar e não estar à altura das expectativas dos outros. No entanto, Deus está me libertando do medo e me ensinando que Ele me ama a despeito de qualquer coisa. Deus não me ama por causa do que faço, e sim por causa de quem Ele é e do valor que vê em mim. Sou muito grata pelos amigos e familiares que me ajudam a lembrar disso. Nosso Deus é amoroso e gentil. Ele quer transformar nosso medo em coragem. Nossa ansiedade pode ser perturbadora, mas Sua presença nos acalma, consola e traz paz.
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Errone Kemp
Nova York (EUA)
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artrite reumatoide pode ser incapacitante. Eu ainda me lembro de como fiquei assustada quando fui diagnosticada com essa doença. Tinha muito cansaço e dor nas articulações. Os remédios ajudaram um pouco, mas não o bastante. Foi então que decidi mudar minha dieta. Comecei a comer mais frutas, vegetais e leguminosas, evitando grãos refinados e produtos derivados do leite. Depois abandonei o único tipo de carne que eu comia: peixe. Em pouco tempo, comecei a recuperar a energia para estudar e caminhar. Um curso de pósgraduação é muito trabalhoso e, às vezes, é difícil preparar as refeições ou comer adequadamente fora de casa. Porém, estou descobrindo que, se eu falar com Deus sobre o que devo comer, Ele me ajuda a organizar minha agenda e a fazer melhores escolhas no supermercado. Deus também ajudou Daniel e seus amigos a fazer boas escolhas alimentares na corte babilônica. Os alimentos criados por Ele têm um enorme potencial de cura. Sinto-me amada por saber que Deus Se importa com meu bem-estar.
Sarah de Almeida e Silva Chade, África
Foto: Errone Kemp / Joshua Pazvakawambwa
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iquei aterrorizada em saber que iria para o Chade. Tinha visto muitos médicos missionários, especialmente na África, se sentirem sobrecarregados, solitários e desanimados. Questionei a Deus sobre isso. Finalmente, quando obedeci ao chamado Dele e fiz planos de servir no Hospital Adventista Bere, pensei que estivesse destinada a me sentir miserável, solitária e solteira pelo resto da vida. Mas eu estava errada. Não vou mentir que está sendo muito difícil servir no Chade. O calor é intenso, quando há greve no hospital preciso atender sozinha os pacientes, tive inúmeras crises de malária, e por isso pensei algumas vezes em desistir. Contudo, é doloroso ver o tremendo sofrimento de muitos à minha volta: crianças morrendo de malária, mães enterrando seus bebês recém-nascidos e meninas abusadas sexualmente que nem têm consciência de que são vítimas. Porém, Deus tem me sustentado. Gostaria que a vida de missionária fosse mais fácil, que mais pessoas servissem. Enquanto isso não acontece, procuro lembrar que, para mim, é melhor ser uma agente de cura do que ter uma vida fácil. Cristo deu Sua vida para que fôssemos curados. E Deus promete em Isaías 58 que, se dedicarmos nossa vida aos outros, nós também seremos restaurados. Na África, eu experimento um pouco dessa restauração. E ficarei aqui até que Ele me chame para outro lugar. R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Julho 2019
MARCAS DO POVO DE DEUS BILL KNOTT
“Se falarmos de fé, esperança e coragem, nossa alma será fortalecida, e nossa esperança, coragem e fé aumentarão. Busquemos esse grande dom do Sol da Justiça, para que Ele resplandeça da nossa vida sobre os outros”, escreveu Ellen White (Este Dia com Deus, p. 73). Com a edição deste mês, a Adventist World começa uma série falando sobre como Deus está conduzindo Seu povo. Demos a essa série o nome de “A igreja à qual desejo pertencer”. Por isso, a cada mês, durante um ano, vamos destacar uma qualidade específica do povo de Deus no tempo do fim. Não faltam críticos para castigar a igreja de Deus, pois realmente temos fraquezas visíveis em nosso testemunho para o mundo. Porém, queremos incentivar nosso povo com uma mensagem de esperança, que gere crescimento e nos ajude a enxergar possibilidades. Começamos pela mensagem de saúde, característica distintiva dos adventistas, a qual há mais de 150 anos tem abençoado milhões de pessoas. Muitos recebem tratamento e cura em nossos hospitais e nossas clínicas. Outros conhecem e adotam um estilo de vida mais saudável por influência de nossos seminários, cursos e eventos para a comunidade. Existem também aqueles que são cuidados por profissionais de saúde adventistas, os quais apresentam e praticam uma visão mais abrangente de saúde, pelo fato de relacionarem o bem-estar integral do ser humano à própria religião. A mensagem positiva e vivificante da nossa igreja, sabiamente descrita por Ellen White como “o braço direito do corpo” (Advent Review and Sabbath Herald, 20 de junho de 1899), responde a uma das maiores necesssidades da vida moderna, oferecendo a homens e mulheres mais alegria e realização. Ao ler esta edição, ore para que você e aqueles a quem você ama prossigam para o futuro que Deus tem reservado para Seu povo: uma igreja chamada para compartilhar a plenitude e restauração que encontra em Cristo. ] BILL KNOTT é editor da revista Adventist World
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ESTILO DE VIDA
Saúde completa CERTAMENTE QUEM NOS CRIOU SABE COMO NOS MANTER SAUDÁVEIS BANGWATO SIKWA-RAMABU ortanto, se o Filho os libertar, vocês de fato serão livres” (Jo 8:36, NVI). " Será que uma espiritualidade robusta pode tornar alguém de fato livre até mesmo das doenças? Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), saúde é mais do que ausência de doença; é o bem-estar completo. Mesmo que a dimensão espiritual não esteja incluída na definição da OMS, junto com as dimensões física, emocional e social do ser humano, estudos sobre a relação entre espiritualidade e saúde têm indicado que o fator espiritual não pode ficar de fora dessa equação do bem-estar. CORPO Frequentemente utilizamos nossa condição física para definir nossa saúde. Por isso, consideramos doenças do corpo e a dor como a meaças para a saúde. E procuramos, por meio da adoção dos bons hábitos e rejeição dos maus, preservar nossa qualidade de vida. Mas a ênfase primária na saúde física não pode nos levar a minimizar o impacto da espiritualidade no corpo. Um estudo publicado por Harold G. Koenig, no International Scholarly Research Network Psychiatry, em dezembro de 2012, mostrou que certos grupos religiosos desfrutam de vida mais longa e saudável do que a sociedade em geral. 20
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Foto: Ben White
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Foi identificada também uma relação entre espiritualidade saudável e prevenção/retardamento de doenças como hipertensão, c âncer, mal de Alzheimer e problemas cardíacos. A questão é descobrir por que isso acontece. Três mecanismos foram destacados: comportamentos saudáveis, apoio social e adesão à prática espiritual. Constatou-se que o fator mais importante é a adesão às normas convencionais de uma comunidade espiritual e sua prática de saúde. Os adeptos de denominações com diretrizes rígidas de estilo de vida, como a Igreja Adventista do Sétimo Dia, tendem a viver de modo mais saudável e por mais tempo, segundo um artigo do doutor Koenig e de mais três pesquisadores publicado na primeira edição de 2000 do Journal of Social and Clinical Psychology. O fato é que a adoção de normas religiosas costuma levar as pessoas a adquirir hábitos mais saudáveis, como a abstenção de substâncias nocivas. Ellen White, pioneira adventista, enfatizou a relação entre saúde física e espiritual com a seguinte observação: “Ninguém que professe piedade considere com indiferença a saúde do corpo e se iluda com o pensamento de que a intemperança não é pecado e não afetará sua espiritualidade. Existe uma estreita afinidade entre a natureza física e a moral” (Conselhos Sobre Saúde, p. 67). AMBIENTE Embora o adágio “a limpeza existe lado a lado com a santidade” não esteja na Bíblia, é usado por muitos para indicar que Deus Se interessa pela salubridade do ambiente em que vivemos. Ele demonstrou isso dando inúmeras instruções ao povo de Israel a fim de que, especialmente no período em que passaram em peregrinação no deserto, eles evitassem doenças por meio de contaminação. O Senhor também orientou Seu povo para que se banhasse antes de se encontrar com Ele nas convocações sagradas. O respeito a um Ser sobrenatural que zela pela limpeza gera nos seus adoradores um espírito de cuidado pelo ambiente em que vivem. SOCIABILIDADE Ellen White destacou também o impacto da interação social sobre a saúde física: “Perdemos muito, em nossas relações como cristãos, devido à falta de simpatia de uns para com os outros. Aquele que se fecha consigo mesmo não está preenchendo o lugar a que o Senhor o designou. O devido cultivo dos traços sociais de nossa natureza leva-nos a ter simpatia pelos outros, R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Julho 2019
ESTUDOS CIENTÍFICOS TÊM INDICADO QUE O FATOR ESPIRITUALIDADE NÃO PODE FICAR DE FORA DA EQUAÇÃO DE BEMESTAR DO SER HUMANO
sendo um meio de nos desenvolvermos e tornarmos mais fortes para o serviço de Deus” (Caminho a Cristo, p. 101). Via de regra, as comunidades religiosas oferecem laços de amizade que formam redes de apoio, o que colabora para conter a epidemia atual de isolamento e solidão das sociedades contemporâneas. Nesse contexto de alta competitividade e superficialidade dos relacionamentos, muitos se sentem vulneráveis, como se tivessem que enfrentar a vida sozinhos. As estruturas sociais podem ruir, mas a consciência espiritual muitas vezes é o único alicerce que subsiste. Embora a Bíblia fale sobre Deus como nosso principal apoio (Sl 27:10), até Jesus Se cercou de amigos (Mt 12:49). EMOÇÕES A mente controla todas as nossas decisões e ações. Novamente segundo definição da OMS, a saúde mental é entendida como um estado de bem-estar, no qual cada indivíduo consegue desenvolver seu potencial, lidar com as tensões normais da vida, trabalhar produtivamente e contribuir com sua comunidade. Entre as principais patologias que comprometem esse bem-estar, estão a depressão, o estresse, a dependência química, os distúrbios alimentares e o suicídio.
O psiquiatra Harold Koenig, professor da Universidade de Duke (EUA), tem se destacado como um dos principais pesquisadores sobre a interface entre espiritualidade e saúde. Ele liderou uma equipe que fez uma revisão sistemática dos estudos científicos quantitativos na área publicados entre 1972 e 2010. A revisão demonstrou que a espiritualidade provocou um efeito positivo na psiquê dos pacientes, servindo de contraponto ao malestar gerado por pensamentos suicidas, ansiedade, depressão e outras doenças psiquiátricas. As pessoas com inclinação espiritual, independentemente de sua tradição religiosa, apresentaram emoções mais positivas, mais autocontrole e geralmente uma pontuação elevada no índice de felicidade. ESPIRITUALIDADE Espiritualidade saudável tem que ver com encontrar paz emocional quando reivindicamos as promessas bíblicas (Jo 14:27). Por isso, a comunhão com Deus é essencial nesse processo. Não sabemos completamente como a oração funciona ou como utilizar seu poder, mas a maioria de nós aceita e realiza, ainda que sem entender, ligações telefônicas que unem pessoas separadas por um oceano. Hoje o conhecimento sobre a importância do estilo de vida para a saúde e longevidade está sendo comprovado pela ciência, mas os adventistas já sabem há muitos anos quão sérias são as escolhas relacionadas com a alimentação, com a escolha do companheiro(a) para a vida, com consumo de mídia, atividade física, etc. E essa experiência também está disponível para qualquer pessoa que tomar para si as palavras de Jesus: “Agora que vocês sabem essas coisas, felizes serão se as praticarem” (Jo 13:17, NVI). ] BANGWATO SIKWA-RAMABU é diretor do Ministério de Saúde na Divisão África do Sul-Oceano Índico da Igreja Adventista
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NISTO CREMOS
O centro da gravidade
MARTIN G. KLINGBEIL
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A
quilo que era absolutamente inesperado e impensável estava ocorrendo bem diante dos olhos deles. Soldados babilônicos, fortemente armados, prontos para a destruição feroz, forçavam a entrada no templo construído por Salomão e começavam sua terrível e profana tarefa de derrubar o santuário. Em seguida, atearam fogo que destruiu completamente o primeiro templo, em 586 aC. Por cinco séculos, esse prédio edificado sob a orientação divina havia sido o “centro da gravidade” para o povo judeu, o pulso de sua religião, o ponto focal da sua economia e, mais importante, o local da habitação do seu Deus. Os animais foram sacrificados no seu altar, os sumos sacerdotes haviam entrado no lugar santo e santíssimo do templo e os rituais realizados. Certamente o povo de Israel cantou sobre a suposta indestrutibilidade do templo. O profeta Jeremias havia advertido sobre essa ilusão: “Não confiem nas palavras enganosas dos que dizem: ‘Este é o templo do Senhor, o templo do Senhor, o templo do Senhor!’” (Jr 7:4, NVI). O local que representava a presença de
Deus e prefigurava o plano da salvação, que em cada canto e recanto apontava para o Messias, havia se transformado num amuleto da nação. A superstição e o fanatismo reinavam supremos, mas tudo caiu junto com os muros do templo. PONTO CENTRAL É interessante notar que o centro dos Salmos, livro que nos fornece um corte transversal da fé israelita e da teologia bíblica, está fundamentado nesses eventos trágicos. Esses poemas nos fornecem um relato dessa experiência junto com outros trechos históricos das Escrituras (2Rs 25; 2Cr 36; Jr 52). O Salmo 74, por exemplo, traz uma descrição comovente e detalhada da destruição do santuário (v. 1-11), deixando o leitor com as perguntas: “por quê?” e “até quando?” (v. 9-10). O Salmo 73, por sua vez, relaciona o santuário com a justiça de Deus (teodiceia). No verso 17, que está no centro do livro dos Salmos, o salmista toca nessa questão crucial para a compreensão do sofrimento humano e do caráter de Deus. É no santuário que as dúvidas sobre a justiça de Deus são resolvidas, tanto geográfica como teologicamente. Se você observar, perceberá R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Julho 2019
Foto: Robert Bye
O SANTUÁRIO É A MOLDURA DO LIVRO DE SALMOS, PORQUE SEU SIGNIFICADO TEM QUE VER COM A EXPERIÊNCIA DE FÉ COMO UM TODO
que a segunda metade do Salmo 74 é um poema sobre Deus como o Juiz que eventualmente corrigirá todos os erros e trará libertação ao Seu povo, mesmo depois do exílio babilônico. Isso aconteceria no “tempo certo”, segundo o Salmo 75:2, uma resposta às perguntas “por quê?” e “até quando?” do Salmo 74. A cena do julgamento do Salmo 75 é concluída com outra imagem do santuário, quando o poder dos ímpios é derrubado (v. 10). Por que o santuário é tão importante? Salmos 73 a 75 nos mostram que ele é o epicentro estrutural do livro. E que, por sua vez, está relacionado ao centro teológico do Saltério (localizado entre os livros 2 [Sl 42-72] e o livro 3 [Sl 73-89]). O santuário e seu significado funcionam como uma moldura do livro de Salmos, aparecendo no início e no fim da coletânea. A MOLDURA O Salmo 1:3 descreve a justiça como plantada à beira de correntes de água e os justos como plantados nos recintos do templo. Segundo a teóloga Dragoslava Santrac, num artigo publicado no Journal of Adventist Theological Society em 2014, essa imagem é claramente atrelada à linguagem do santuário do Antigo Testamento (cf. Êx 15:17; Is 32:2; Sl 46:4; 65:9; 92:12-14; Jr 17:7-13; Ez 47:12). De igual modo, a parte final dos Salmos também está repleta de ecos da linguagem do santuário. No Salmo 150:1-2, um duplo grito de “aleluia” indica de onde vem o louvor final da coletânea. O louvor humano é transportado para as cortes celestiais, para o santuário de Deus. Embora a palavra godesh no hebraico possa se referir ao santuário terrestre, o paralelismo com “Seu magnífico firmamento” (v. 1), destaca a dimensão cósmica e escatológica desse louvor final, usando uma linguagem associada com a criação (Gn 1:6). Os “feitos poderosos” correspondem à ideia de que os atos históricos de Deus vão desde a criação à recriação. Em Salmo 150:3-5, há uma sequência interessante de instrumentos musicais: “trombeta, alaúde e harpa” (cf. Lv 25: 9; 1Cr 15:16). O salmista passou dos instrumentos usados predominantemente no santuário para os que eram utilizados em outras circunstâncias, principalmente na celebração de vitórias: “tamborim, instrumentos de cordas, flautas e címbalos” (cf. Êx 15:20; 1Sm 18.6; 2Sm 6:5).
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PARA OS ADVENTISTAS, A MENSAGEM DO SANTUÁRIO É MAIS DO QUE UM “AMULETO DA SORTE” QUE OS PROTEGE DO ERRO E OS DISTINGUE DOS EVANGÉLICOS
A dança (Sl 149:3) está igualmente associada a essas manifestações de alegria festiva, e essa expressão corporal deverá acompanhar a procissão que se moverá do santuário celestial para as cortes cósmicas. A dupla repetição dos “címbalos” (Sl 150:5), com a qualificação adicional de “sonoros” e “altissonantes”, anuncia um clímax na sinfonia final dos Salmos que introduz a declaração universal do verso 6: “Todo ser que respira louve ao Senhor.” A palavra hebraica aqui para “fôlego” é neshamah, que se refere primordialmente à humanidade (Gn 2:7), mas também pode ser usada para os demais seres criados por Deus (Gn 7:22). O Salmo 150 descreve uma p rocissão cósmica, que sai do santuário celestial e enche de louvor o Universo. Uma cena que, de acordo com Ellen White, retrata os momentos finais do grande conflito entre o bem e o mal (O Grande Conflito, p. 678). Conforme o teólogo Richard M. D avidson, num artigo escrito em 1970, mas ainda não publicado, o santuário, tanto o terrestre como o celestial, serve de moldura teológica para o livro de Salmos. Os salmistas, entre alegria e tristeza, louvor e dor, sempre retornam ao santuário para encontrar conforto, reorientação e, acima de tudo, salvação (disponível em https://works.bepress.com/ richard_davidson). O que a mensagem do santuário significa para os adventistas do sétimo dia no século 21? É possível que ela tenha se tornado um “amuleto da sorte” para mostrar que temos a doutrina correta e nos distinguimos dos evangélicos? Ou que tenha sido esquecida numa série desatualizada de estudos bíblicos? Para os salmistas, o santuário era o centro da gravidade, porque contava a história da salvação a partir do ministério do Messias. No santuário terrestre e celestial é possível encontrar libertação (Sl 25–34), justiça (Sl 11), a resposta para nossas orações e dúvidas (Sl 5, 73), vivência comunitária (Sl 120–134), celebração de festas (Sl 23) e muito mais. A mensagem do santuário contempla a experiência de fé como um todo; por isso, ainda tem o que nos dizer no século 21. ] MARTIN G. KLINGBEIL, doutor em Letras, é professor de Antigo Testamento e Estudos sobre o Oriente Médio Antigo na Universidade Adventista do Sul (EUA)
PARA SABER MAIS
adventistas.org/pt/institucional/crencas
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DEVOCIONAL
A VENÇA A ANSIEDADE E O MEDO CONFIANDO NAQUELE QUE ESTÁ NO CONTROLE DA HISTÓRIA E CONHECE O AMANHÃ
maioria dos psicólogos concorda em declarar que pensar demais no passado pode levar à depressão, que se fixar demasiadamente no presente gera estresse e que se preocupar muito com o futuro é uma das causas da ansiedade. Para mim é difícil imaginar como qualquer indivíduo, dentro de um corpo e uma mente apenas, pode lidar com as três situações ao mesmo tempo. De fato, na prática, nossa maior preocupação é quanto ao futuro. E concentrar-se nas incertezas do amanhã acaba gerando em nós ansiedade e medo.
SEU FUTURO FICOU PARA TRÁS 24
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Foto: Clem Onojeghuo
HENSLEY MOOROOVEN
Ninguém sabe como será a próxima década, século ou milênio. No entanto, muitos escritores já deram palpites ou fizeram ensaios a respeito do amanhã, num exercício de futurologia. Por exemplo, Lynn Lobash, que é gerente do Departamento de Serviços ao Leitor da Biblioteca Pública de Nova York (EUA), selecionou 11 livros que apresentam tendências acerca do futuro. No site especializado Business Insider, ele apresentou algumas dessas previsões: (1) os refugiados sírios de hoje serão executivos daqui dez anos; (2) trocaremos os hospitais na Terra por um tratamento num lar espacial; (3) até 2025 devemos ter lentes de contato habilitadas para a internet; e (4) em 2030 estaremos prontos para transportar seres humanos até Marte. PERSPECTIVA Muitas vezes a ansiedade e o medo ofuscam nossa perspectiva a ponto de não conseguirmos mais enxergar que nosso Deus é fiel e está diante de nós, pronto a nos guiar e lutar nossas batalhas. Imagine que você esteja em pé do lado de fora da sua casa, cercado por uma neblina tão espessa que não consegue ver o outro lado da rua. Já pensou em quanta água é necessária para criar um cobertor pesado de neblina que o isole completamente do seu mundo? Entre 50 e 100 ml apenas. Algo como um copo pequeno. O volume total de água contido em um cobertor de neblina com 64 metros de extensão e um metro de profundidade não enche um copo comum. Como isso pode ser possível? Primeiro, a água evapora, e o vapor resultante se condensa em gotículas minúsculas que permeiam o ar. Um copo comum com água dispersa cerca de 400 bilhões de gotículas suspensas no ar, formando um manto impenetrável que bloqueia a luz e nos causa arrepios. É exatamente isso que acontece com as experiências dolorosas e difíceis. É isso que acontece quando a ansiedade e o medo se instalam. E há alguma palavra de incentivo da parte do Senhor? Ao ouvir a Bíblia em áudio, percebi algo curioso: em pelo menos três passagens, o profeta escuta R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Julho 2019
Quando confiamos em Deus, nosso futuro é história
a voz de Deus atrás de si. Vamos às citações: (1) “Os teus ouvidos ouvirão atrás de ti uma palavra, dizendo: Este é o caminho, andai por ele” (Is 30:21); “Levantou-me o Espírito, e ouvi por detrás de mim uma voz de grande estrondo, que, levantando-se do seu lugar, dizia: Bendita seja a glória do Senhor” (Ez 3:12); e (3) “Achei-me em espírito no dia do Senhor, e ouvi, por detrás de mim, grande voz, como de trombeta” (Ap 1:10). ORIENTAÇÃO A pergunta que pede resposta é: “Por que Deus falaria por trás?” Em algumas culturas, falar por trás de uma pessoa é considerado um gesto de indelicadeza. A visão ocidental sugere que o passado está atrás de nós e o futuro à frente. No entanto, a visão judaica e de outras culturas orientais caracteriza-se pelo oposto: como já vivemos o passado, ele está à nossa frente. Por outro lado, o futuro, que ainda é desconhecido para nós, está atrás. É sobre as incertezas do futuro, as quais nos causam ansiedade e medo, que Deus fala, assegurandonos de que nosso futuro está em Suas mãos. Portanto, por meio da confiança em Deus, podemos dizer que nosso futuro é história!
O contexto imediato dos três versos referidos acima mostra claramente que Isaías, Ezequiel e João estavam extremamente preocupados com a situação do povo de Deus daquele tempo. Por causa dessa angústia profunda que experimentaram, eles devem ter questionado se Deus realmente estava no controle da história. Todos necessitavam urgentemente de orientação e incentivo. Por isso, os profetas ouviram por trás deles a voz tranquilizadora Daquele que conhece o futuro. Somente quando ouvimos essa voz é que podemos avançar com confiança. Precisamos parar a fim de escutar Seu Espírito. Mas como é possível ouvir a voz de Deus? Sempre que você abre sua Bíblia, entra na sala em que o Senhor o encontra pessoal, íntima e poderosamente. Com base nas minhas experiências, passei a compreender que a melhor maneira de ouvir a voz de Deus é por meio da leitura (ou escuta) diária da Bíblia, memorização das Escrituras e meditação sobre o texto sagrado. Deus nos ensina a reconhecer Sua voz por meio da Palavra escrita. Ele a usa para sintonizar nosso ouvido espiritual com o que é verdadeiro, a fim de que rejeitemos o que é falso. Para se certificar de que está vivendo sob a direção da Sua voz, é preciso que você cresça continuamente no conhecimento da Palavra. Lembre-se de que nada em nossa vida pega Deus de surpresa. Mesmo em meio aos problemas pessoais, desafios nos relacionamentos, tensões financeiras, conflitos familiares, decepções profissionais e eventos sociais caóticos, Deus ainda fala por trás. Encontre hoje um lugar em que possa abrir a Bíblia e entrar na presença de Deus, a fim de ouvi-Lo e responderLhe com fé e em oração. ] HENSLEY MOOROOVEN, natural das Ilhas Maurício, é um dos subsecretários da sede mundial da Igreja Adventista, em Silver Spring, Maryland (EUA)
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VISÃO GLOBAL
A REEDUCAÇÃO DO ESTILO DE VIDA TEM QUE VER COM A MENSAGEM DE DEUS PARA O MUNDO NO TEMPO DO FIM TED WILSON 26
H
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Foto: Rawpixel
Siga o método de Cristo
á mais de um século, a Ig r eja Advent i s t a do Sétimo Dia é conhecida por promover um estilo de vida saudável e enfatizar uma visão abrangente sobre saúde, que contempla o bem-estar físico, mental e espiritual do ser humano. Guiados por princípios bíblicos e os conselhos inspirados de Ellen White, incentivamos hábitos como a alimentação saudável, exposição ao sol e ar puro, bem como a prática regular de exercício físico e o repouso adequado. Além disso, incentivamos a abstinência do consumo de cigarro, álcool, drogas ilícitas, cafeína e carne. Muitas dessas orientações de saúde se tornaram populares nas últimas décadas, especialmente no que se refere à dieta vegetariana. Uma mensagem recentemente publicada no Twitter pela Produce for Better Health Foundation, uma organização norte-americana sem fins lucrativos, confirma isso. “Se você deseja que seu alimento o faça #maisfeliz, #maissaudável, e melhor em geral: coma vegetais”, dizia
a postagem. Essa fundação disponibiliza em seu site (fruitsandveggies.org) receitas e informações nutricionais que incentivam as pessoas a se unirem a esse movimento. Essa é uma bandeira hasteada pelo adventismo há mais de um século! Contudo, para que sejamos fiéis a esse chamado de abençoar a sociedade com a promoção de um estilo de vida saudável, devemos usar tão somente o método de Cristo (Mt 9:35). A ajuda Dele contemplava as dimensões física, mental, social e espiritual do ser humano. Por isso, servir hoje o mundo por meio da mensagem adventista de saúde tem que ver com apresentar o Médico dos médicos como Aquele que traz restauração completa em todas as áreas da vida. No livro A Ciência do Bom Viver (p. 143), Ellen White nos lembra que existem muitas pessoas que estão clamando pela libertação do pecado, de seus vícios e maus hábitos, p rocurando algo que lhes proporcione saúde, vida e paz. “É preciso uma grande obra de reforma, e é unicamente mediante a graça de Cristo que a obra de restauração física, mental e espiritual se pode efetuar”, escreveu a mensageira do Senhor. Na sequência então, ela descreve como Cristo trabalhava para proporcionar cura integral: “Unicamente o método de Cristo trará verdadeiro êxito ao aproximar-se do povo. O Salvador misturava-Se com os homens como uma pessoa que lhes desejava o bem. Manifestava simpatia por eles, ministrava-lhes às necessidades e granjeava-lhes a confiança. Ordenava então: ‘Segue-Me’ (Jo 21:19).” SERES COMPLETOS É um privilégio seguir os passos de Cristo para levar esperança e restauração a este mundo. Somos abençoados por reconhecermos que Deus nos criou completos, uma unidade integrada de corpo, mente e espírito. Muito antes de a preocupação com a saúde se tornar moda, o Criador já mostrava cuidado nesse aspecto por Suas criaturas (3Jo 2). Ele quer que compreendamos que somos criaturas complexas, formadas à Sua imagem, por meio de Sua mão e fôlego (Gn 1:26-27). Nosso magnífico Criador quer que tenhamos a melhor saúde e prosperemos por meio de nosso relacionamento com Ele e pelo serviço aos outros. Por isso, espera que sigamos Seu exemplo de compaixão (Mt 9:35-38). O ministério Dele deve ser o nosso. Ele chama cada um de nós a participar do programa da sede mundial da igreja, Envolvimento Total de Membros. Na prática, significa que todos, R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Julho 2019
em todo lugar, podem fazer algo pela causa do Mestre. Devemos alcançar toda criatura (Mc 16:15), o que inclui as zonas rurais e os aglomerados urbanos, onde 55% da humanidade já vivem neles, e nos quais 70% dos seres humanos devem morar até 2050, segundo a ONU.
AJUDAR AS
GRANDE OPORTUNIDADE Ao nosso redor existem pessoas perguntando o que devem comer, beber e como devem viver. O interesse atual por mais qualidade de vida é uma grande oportunidade de testemunhar. Ellen White escreveu que o ministério médicomissionário está ligado à pregação do evangelho assim como a mão e o braço estão em relação ao corpo. Eles são complementares (Medicina e Salvação, p. 237). Afinal, Jesus disse que veio para que a humanidade tivesse vida em abundância (Jo 10:10). O ministério de saúde integral está intimamente ligado à mensagem bíblica sobre quem Deus é, à justificação pela fé em Cristo, à proclamação das três mensagens angélicas e à santidade do sábado. Está relacionado também com a doutrina do santuário, que ilustra o processo de salvação, o qual precisamos estudar e ensinar com seriedade, já que neste exato momento Cristo está no verdadeiro santuário celestial intercedendo por nós. Estamos vivendo no tempo do fim e creio firmemente que Jesus voltará em breve. Agora, mais do que nunca, devemos usar a mensagem de saúde de todas as formas possíveis para levar as pessoas ao pé da cruz. Fomos chamados a participar do poderoso movimento de Deus, sem precedentes, que ajudará o mundo a encontrar saúde completa – física, mental, social e espiritual. Você aceitará hoje o chamado Dele? ]
PESSOAS A TER SAÚDE INCLUI APRESENTARLHES O MÉDICO DOS MÉDICOS,
AQUELE QUE TRAZ
RESTAURAÇÃO EM TODAS AS ÁREAS DA VIDA
TED WILSON é presidente mundial da Igreja Adventista. Você pode acompanhar o líder por meio das mídias sociais: Twitter (@pastortedwilson) e Facebook (fb.com.br/ pastortedwilson)
PARA SABER MAIS Acesse o site health.adventistchurch.com/comprehensive-health-ministry
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VIDA ADVENTISTA
Fogão de barro SOLUÇÃO MAIS ECOLÓGICA OFERECIDA PELA ADRA TEM TRAZIDO MAIOR COMODIDADE E SEGURANÇA PARA OS REFUGIADOS DO SUDÃO DO SUL KIMI-ROUX JAMES
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V
amos, crianças! Não podemos parar”, disse Fátima (nome fictício). Seus filhos de 9 e 7 anos de idade andavam atrás dela, tentando acompanhar seu ritmo. “Estou cansado, mamãe”, gritou o filho mais velho. “Está bem, vamos descansar”, disse a mãe. Ela encontrou uma 28
rocha plana para se sentar. Com seu filho de 2 anos firmemente amarrado contra o coração, certificou-se de que o bebê estava seguro. Exaustos devido ao calor, seus outros dois filhos se jogaram no chão para recuperar o fôlego. Embora tensa e muito ansiosa, ela só podia sorrir ao olhar para seus filhos. “Estamos quase chegando, crianças, quase lá!” Fátima, com 29 anos, não era mais cidadã do Sudão do Sul, mas uma refugiada com seus três filhos, fugindo dos soldados que perseguiam pessoas semelhantes a ela, que se opunham ao governo.
VIAGEM QUASE SEM FIM Mais uma vez, Fátima e seus filhos recuperaram as forças para caminhar. A estrada para lugar nenhum parecia interminável, mas aquele era o caminho para a liberdade. A mãe pensava consigo mesma: prefiro que meus filhos enfrentem a vida como exilados a enfrentar um sofrimento sem fim. Os dias se tornaram semanas, e finalmente Fátima cruzou a fronteira com a Uganda, instalando-se no campo de refugiados Maaji II. “É aqui que ficaremos, por enquanto”, Fátima disse aos filhos. “Vamos depressa, precisamos construir uma casa de barro.” O alimento era escasso, mas felizmente a ACNUR providenciava uma refeição diária para Fátima e os demais refugiados. Não era muito, mas os mantinha vivos. “Preciso buscar lenha. Fique aqui com seus irmãos. Preciso entrar na floresta e procurar madeira para fazer fogo”, ela orientou seu filho mais velho. As estatísticas não são claras, mas os relatórios indicam que as mulheres e crianças que se aventuram nas florestas em busca de
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Fotos: ADRA
NÚMEROS ASSUSTADORES Muitas pessoas fugiram do seu país devido à violência dos conflitos tribais. A guerra civil começou em dezembro de 2011 e se intensificou novamente dois anos depois. Os noticiários estimam que mais de 383 mil pessoas tenham morrido nesse contexto, metade delas por causa de epidemias e fome. O A lto Com issa r iado da s Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), ao compilar seu relatório no outono de 2017, estimou que cerca de 1 milhão de refugiados do Sudão do Sul tinham atravessado a fronteira da Uganda. Desde então, o número aumentou para 2 milhões, e agora essa crise de refugiados já é considerada a terceira maior do mundo, só perdendo para o caos que vivem a Síria e o Afeganistão.
A CRISE DE REFUGIADOS NO SUDÃO DO SUL JÁ É CONSIDERADA A TERCEIRA MAIOR DO MUNDO, SÓ PERDENDO PARA O CAOS QUE VIVEM A SÍRIA E O AFEGANISTÃO
PARA SABER MAIS adrauganda.org
lenha ou carvão para preparar as refeições correm mais riscos de sofrer abuso e agressão do que seus colegas homens. No entanto, se querem sobreviver, eles não têm muita escolha. Os refugiados do assentamento estavam acostumados a buscar lenha na floresta, mas logo a Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA) apresentou-lhes um método novo e mais efetivo de cozinhar. SOLUÇÃO PARA COZINHAR A ADRA, que trabalha em parceria com a ACNUR, foi nomeada para ajudar os refugiados do Sudão do Sul, suprindo-lhes os itens necessários. A agência humanitária adventista tem doado para os refugiados um fogão que poupa energia. Essa é uma maneira de trazer mais comodidade para eles no preparo da refeição, bem como de oferecer uma alternativa mais ecológica que exponha menos as mulheres e crianças ao risco de buscar lenha na floresta. Jerry Kiwanuka, agente de proteção ambiental da ADRA Uganda, foi o principal responsável pelo treinamento no campo de Maaji II. “Comparado ao fogão convencional, esse emite menos quantidade de fumaça e minimiza o corte de árvores para obter lenha ou carvão para cozinhar”, explica. O fogão é retangular, construído com terra e água, comporta duas panelas por vez e não é portátil. Jerry ressalta que as vantagens desse utensílio doméstico justificam sua adoção porque 90% dos refugiados aceitam utilizar a solução oferecida pela ADRA. A ideia, originalmente testata em 2004 pelo Ministério de Energia e Desenvolvimento Mineral de Uganda, tem alcançado mais pessoas vulneráveis graças ao trabalho da ADRA. Em fevereiro, 30 pessoas da comunidade Mokolo Leste, a maioria mulheres, receberam treinamento. No campo de refugiados Maaji II, desde agosto de 2017, 18 mil sudaneses já foram treinados.
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AJUDA PARA FÁTIMA Kiwanuka conheceu Fátima em um desses grupos de treinamento. Ela contou a ele como chegou a Uganda. “Meus três filhos e eu fomos forçados a deixar o Sudão do Sul devido à tortura implacável das forças governamentais, que nos acusavam constantentemente de que estávamos escondendo rebeldes. Muitas pessoas foram torturadas e muitas perderam a vida”, relatou a refugiada naquela oportunidade. Ela disse a Kiwanuka que havia abandonado o esposo porque ele escolheu ficar cuidando da propriedade da família apesar dos desafios que teria de enfrentar. “Não sei se ele está vivo”, disse Fátima. Ela agradece o fogão novo, pois desde que chegou ao assentamento vinha usando o fogão tradicional de três pedras, que consome rapidamente a madeira. “Eu não gostava de ir à floresta procurar madeira, mas não tinha escolha”, completa. “Ainda coleto madeira nas florestas vizinhas, mas não preciso ir lá tão frequentemente. O fogão não requer muito trabalho nem produz muita fumaça quando cozinho. Estou orando para que, em breve, eu não precise ir procurar madeira na floresta”, conclui. Outra opção de baixo consumo de energia que também tem sido utilizada pelos refugiados é o briquete de carvão, uma pasta compacta que funciona como substituto do carvão vegetal e da madeira. “Estamos trabalhando continuamente com a Fátima e treinando outros refugiados para garantir que suas necessidades na cozinha sejam supridas, e para ajudá-los a ter mais consciência ambiental”, disse Kiwanuka. Desde que a ADRA começou a atuar em Uganda, foram construídos mais de 3,2 mil fogões nas aldeias locais e campos de refugiados. ] KIMI-ROUX JAMES trabalha nas áreas de comunicação, marketing e desenvolvimento da ADRA
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MINHA HISTÓRIA
Um burrito
O PASTOR QUE ENCONTROU UM HOMEM DOENTE NUM BECO ESCURO E O CONVIDOU PARA JANTAR
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DICK DUERKSEN
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escuros são lugares seguros. Só precisamos ter certeza de que O estamos seguindo e não correndo na frente Dele.” O MENDIGO No meio do caminho, o pastor Luís viu um morador de rua encostado ao lado de um prédio abandonado. O homem estava vestindo uma jaqueta muito fina para o frio daquela noite. Ele usava um boné puxado para baixo a fim de se proteger do vento. Seus sapatos sujos eram insuficientes também para aquecer seus pés. R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Julho 2019
Foto: TJ Dragotta
“
le ordenou a Seus anjos que o guardem para onde quer que você vá” (Sl 91:11, A Mensagem). O pastor Luís havia viajado para uma cidade a duas horas de distância da sua casa. A princípio, era para ser uma viagem rápida à sua loja preferida de rosquinhas. Ele estacionou sob um semáforo e caminhou por um beco que o levava à loja, já salivando ao pensar naqueles doces. O beco estava escuro, mas o pastor Luís é daqueles cristãos que se sentem à vontade quando encontram novos amigos em lugares perigosos. Ele nunca tem medo, pois sempre vai aonde o Espírito Santo o guia. “Oro constantemente para que Deus me ajude a encontrar as pessoas com quem Ele marcou o encontro”, diz o ministro. “Quando caminhamos com Deus, até os becos
O homem estava visivelmente doente. Um tumor horrível saía do seu abdômen, pendurado como a tromba de um elefante jovem. A cena era repugnante. “Você está bem?”, perguntou Luís. “Estou bem”, respondeu o homem. “Não, você não está bem. Está doente. Como posso ajudá-lo?” “Não se preocupe, estou bem”, continuou o desconhecido, sem se afastar do pastor, como se quisesse prosseguir a conversa com o ministro. “Mas você não está com saúde, está?” “Na verdade, não. Saí do hospital ontem, mas vou ficar bem. Obrigado!”, informou o sem-teto. “Você está com fome? Posso comprar algo pra você comer?” O pastor Luís estava se sentindo culpado por não poder ajudar alguém que, obviamente, estava precisando de um pouco de amor, carinho e um bom sanduíche. “Não. Não quero desperdiçar seu tempo. O senhor estava a caminho de algum lugar”, completou o desconhecido. “Não”, respondeu o pastor Luís. “Eu é que estou incomodando, talvez até desperdiçando seu tempo.” “Está tudo certo, moço”, disse o homem de rua. “Vou comer alguma coisinha mais tarde. O senhor é um homem bom por ter parado para falar comigo.” “Ei, há alguns carrinhos de comida bem na esquina, ali em cima”, Luís tentou de novo. “Venha jantar comigo. Um daqueles carrinhos faz uma comida mexicana incrível. Os burritos são muito bons.” O homem fez uma pausa de um minuto, e logo concordou em acompanhar o ministro. No caminho, os dois homens falaram um pouco mais sobre a saúde do sem-teto e da sua internação no hospital, mas não perguntaram o nome um do outro. O PEDIDO Eles saíram do beco escuro e chegaram ao carrinho de comida mexicana. “O que você quer comer?”, perguntou o pastor Luís. “Escolha o que quiser que eu pago”, garantiu o ministro. O homem recusou novamente e disse que não precisava de nada, mas Luís não desistiu. “Vamos lá”, incentivou, “peça alguma coisa de que você gosta!” “Está bem. Peça um burrito para mim”, sorriu o homem, agradecido. “É o suficiente.” Luís aproveitou e pediu vários burritos, alguns tostados, e algo para beberem. Enquanto esperavam pela comida, continuaram conversando sobre o beco frio, a chuva que estava vindo, a necessidade de medicamentos para dor e todas as outras coisas sobre as quais amigos conversam. De repente, eles foram interrompidos por um tumulto na rua, perto da loja das rosquinhas preferidas do pastor Luís. Várias motocicletas possantes, com guidões que alcançavam o céu como chifres de búfalos bravos e motores que rosnavam como tigres furiosos encostaram por ali. Sentados nelas, motociclistas vestidos de preto acenavam com espingardas para a multidão. O pastor Luís e seu amigo faminto assistiram àquilo horrorizados enquanto o caos se transformava em um furacão de terror. Janelas quebradas, alarmes de carros disparados, rosquinhas queimadas em fogões abandonados. Tudo acabou minutos depois e o bando saiu em direção ao próximo alvo. R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Julho 2019
“TUDO QUE O PASTOR LUÍS CONSEGUIA OUVIR ERA A VOZ DE UM HOMEM MUITO DOENTE, SORRIDENTE E MORADOR DE RUA”
O LIVRAMENTO “Seu pedido está pronto”, disse o dono do carrinho. O pastor Luís virou-se lentamente, percebendo que, se não tivesse parado para conversar com o morador de rua, estaria em pé na loja de rosquinhas no momento em que os motociclistas apareceram. Ele estaria no centro do perigo e talvez não tivesse sobrevivido. “Um burrito. Dê os outros três para meu novo amigo. Um tostado e uma bebida. Está bom pra você?” Agradecido, o morador de rua pegou a comida e a guardou nos bolsos do casaco. Virouse para seu novo amigo e disse: “Obrigado pelos burritos, pastor Luís!” Então, caminhou de volta para o beco escuro. O pastor Luís ficou plantado ao lado do carrinho de comida, pensando que não sabia o nome daquele homem e que também não lhe havia dito seu nome. Não havia como aquele morador de rua saber quem era o ministro. Os sons do tumulto dos motociclistas foram rapidamente substituídos pelo barulho das sirenes dos carros da polícia, dos bombeiros e das ambulâncias. Mas tudo que o pastor Luís conseguia ouvir era a voz de um homem muito doente, sorridente e morador de rua: “Obrigado pelos burritos, pastor Luís!” ] DICK DUERKSEN é pastor e mora em Portland, Oregon (EUA)
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DOM DE PROFECIA
Ellen White ontem e hoje
EMBORA A PIONEIRA ADVENTISTA TENHA FALECIDO HÁ MAIS DE CEM ANOS, ELA ESCREVEU TANTO PARA AS PESSOAS DO SEU TEMPO COMO PARA AS GERAÇÕES FUTURAS
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urante seus 70 de ministério público, Ellen White foi usada poderosa e impressivamente por Deus para ajudar no desenvolvimento da Igreja Adventista do Sétimo Dia, movimento religioso que ela enxergava como tendo origem e missão proféticas. Para começar, vale lembrar que o dom profético já existia muito antes do início do ministério de Ellen White, e seus escritos nunca adicionaram nada à Bíblia. Para ela, as Escrituras deviam ser aceitas como a revelação autoritativa e infalível da vontade de Deus (O Grande Conflito, p. 8). Ela recomendava a todos os seus leitores que aceitassem a Palavra de Deus como regra de fé e prática (Primeiros Escritos, p. 78), pois seus escritos não tinham o objetivo de comunicar “nova luz” e sim “imprimir fortemente na mente as verdades da inspiração” que já haviam sido reveladas (Testemunhos Para a Igreja, v. 2, p. 605).
Foto: DragonImages
ANNA M. GALENIECE
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O crescimento do número de membros da Igreja Adventista no século 19 trouxe consigo muitas bênçãos e também desafios. As lutas para se navegar nesse começo conflituoso renderam grandes dividendos, mas não foi um caminho fácil. Deus usou Sua mensageira para impulsionar Sua igreja em todas as frentes de ação. Segundo uma metáfora utilizada muitas vezes por Uriah Smith, pioneiro adventista contemporâneo de Ellen White, ela atuou como um piloto dando instruções para um tempo perigoso (The Advent Review and Sabbath Herald, 13 de janeiro de 1863, p. 52). Em seus esforços contínuos para exaltar a Cristo, Ellen White escreveu Caminho a Cristo (1892), um pequeno livro, mas extremamente interessante, e o mais traduzido de sua autoria; O Desejado de Todas as Nações (1898), uma obra-prima sobre a vida de Cristo; e Parábolas de Jesus (1900), livro que apresenta uma seleção das histórias e ensinos mais apreciados do Mestre. Essas obras reforçam a natureza divina e eterna do Salvador e O retratam como um Ser autoexistente, a própria manifestação da plenitude da Divindade (Evangelismo, p. 614). Sua doxologia sobre Cristo, repetida muitas vezes, contém uma declaração cristalina sobre quem foi e é Jesus: “Cristo era Deus, essencialmente e no mais alto sentido. Ele estava com Deus desde toda a eternidade, Deus sobre todos, bendito para todo o sempre” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 247). Apesar dos ataques de críticos e céticos do seu tempo, e de outras épocas, a vida, o ministério e os escritos de Ellen White têm dirigido a atenção das pessoas para Deus e Sua Palavra. Seu legado para a igreja têm inspirado e motivado os adventistas a equilibrar o desenvolvimento teológico com o numérico ao redor do mundo, a evangelizar grupos étnicos não alcançados, a criar instituições inovadoras de saúde, a oferecer educação de qualidade, a publicar livros e revistas relevantes e a ministrar a jovens, crianças e famílias inteiras que se preparam para o retorno de Cristo à Terra.
OS ESCRITOS DE ELLEN WHITE OFERECEM RESPOSTAS PARA AQUELES QUE BUSCAM SIGNIFICADO E PROPÓSITO NA VIDA, ESPECIALMENTE QUANDO SÃO LIDOS PELO PRISMA DO GRANDE CONFLITO ENTRE O BEM E O MAL
MENSAGEM PARA TODAS AS GERAÇÕES Os desafios e as oportunidades que vivemos hoje tornam essencial que Deus ainda fale ao Seu povo. O plano Dele de nos salvar, revelando Sua verdade imutável, não mudou. Embora os métodos para se chegar às gerações atuais sejam diferentes, Deus sempre foi ao encontro das pessoas onde elas estão, no seu nível de compreensão e receptividade. Ao longo da história, o Senhor teve Seus mensageiros. Ele nunca deixou Seus filhos sem instrução. O propósito e a função dos profetas de Deus foi sempre oferecer orientação ao Seu povo e mantê-lo fiel, apesar das diferenças de cultura e cosmovisão (Pv 29:18; Ef 4:13-14). Foi assim com os profetas bíblicos e também com Ellen White, porque o mesmo Autor inspirou todos eles (2Pe 1:21). Embora a pioneira adventista tenha falecido há mais de cem anos, ela escreveu tanto para as pessoas do seu tempo como para as gerações futuras. Ellen White tinha a certeza de que seus R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Julho 2019
escritos continuariam a falar, cumprindo o propósito deles enquanto o tempo durasse (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 55). Os contemporâneos de Ellen White precisavam retornar para a Bíblia, e a geração atual precisa mais ainda. A verdade fundamental de Cristo, como revelada nas Escrituras e reiterada nos escritos dela, nunca se tornará obsoleta; será sempre a verdade presente (2Pe 1:12). É por isso que toda cultura e etnia, de qualquer tempo e lugar, devem ser expostas às boasnovas de Deus, a fim de que possam decidir entre a vida e a morte, a bênção e a maldição (Dt 30:19-20; Hb 3:13, 15). A percepção de que talvez os escritos de Ellen White foram suplantados por alternativas contemporâneas não deve desencorajar os escolhidos de Deus de ler e proclamar a mensagem de Cristo, conforme revelada na Bíblia e nos escritos de Ellen White. A mensagem que ela recebeu de Deus oferece respostas para aqueles que buscam significado e propósito na vida, especialmente quando lida pelo prisma do grande conflito entre o bem e o mal. Os que valorizam as instruções de Deus são beneficiados na vida aqui e agora e na existência futura. As críticas e interpretações distorcidas a respeito dos escritos de Ellen White continuarão a existir, mas o legado da pioneira foi preservado para as novas gerações, a fim de que as pessoas valorizem mais a Bíblia e interiorizem a mensagem da Palavra de Deus. A verdade bíblica eleva nosso pensamento e comportamento, torna nossa vida mais significativa e as decisões mais acertadas. E, à medida que experimentamos esse crescimento em Cristo, somos motivados pelo Espírito Santo a viver com os outros o que aprendemos. ] ANNA M. GALENIECE é professora associada no seminário teológico na Universidade Andrews (EUA)
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RETRATOS
Líderes e desbravadores montam acampamento para a abertura do 1o Campori da União Mexicana de Chiapas, em meados de abril. Com 10,6 mil acampantes, evento foi o maior realizado este ano pela Igreja Adventista na América Central. Foto: Daniel Gallardo (Divisão Interamericana)
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BOA PERGUNTA
RITUAL DE ADORAÇÃO QUAL ERA O OBJETIVO DAS OFERTAS QUEIMADAS? ÁNGEL MANUEL RODRÍGUEZ
Foto: Adobe Stock
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expressão “oferta queimada” é a tradução da palavra hebraica ‘olah (“uma oferta ascendente”). Esse nome sugere que a vítima sacrificial era completamente queimada sobre o altar e a fumaça subia ao céu na direção de Deus. A oferta queimada era o sacrifício mais comum no período patriarcal (Gn 8:20; 22:7). Dois aspectos merecem comentários. 1. Ocasião e procedimento. Todo israelita devia levar uma oferta para ser queimada ao Senhor como “adoração voluntária” (Lv 1:2). A oferta voluntária devia ser oferecida ao Senhor após o cumprimento de um voto. Era uma expressão espontânea de devoção pessoal, alegria e gratidão ao Senhor. Mas ela também era exigida nos holocaustos diários (Nm 28:3-8), dos sábados (v. 9, 10), das luas novas (v. 11-14) e durante as festas (v. 17-25; Lv 23:10-14, 17-21; 16:3). As ofertas queimadas também eram exigidas em combinação com as cerimônias de purificação (Lv 12:6; 14:19; 15:13-15; Nm 6:11, 14; 15:22-26; Lv 5:7-10). O procedimento exigido das pessoas que ofereciam esse sacrifício incluía a imposição das mãos sobre a cabeça do animal (Lv 1:4) e que ele fosse morto (v. 5) e cortado em pedaços (v. 6), bem como lavadas as suas vísceras e pernas (v. 9). O sacerdote realizava o ritual do sangue (v. 5) e colocava a vítima sobre o altar (v. 8). O couro era dado ao sacerdote oficiante (7:8), mas o animal inteiro era queimado no altar. A vítima sacrificial era um cordeiro, carneiro ou novilho. Em alguns casos eram aceitas rolas ou pombas.
2. Propósito. As ofertas queimadas eram aceitas pelo Senhor em lugar do ofertante “para fazer expiação por ele” (Lv 1:3, 4). Em outras palavras, a aceitação do indivíduo era determinada se o Senhor aceitava ou não a oferta como um meio de expiação. Através da imposição de mãos, o ofertante transferia simbolicamente suas imperfeições para a vítima sacrificial, que não tinha defeito (v. 3; tamîm, “completo”, “inteiro”, “sem defeito”). A vítima funcionava como um substituto do ofertante. Em 1 Samuel 7:1-10 e 13:12 as ofertas queimadas estão associadas à ideia de “súplica a Deus”, expressão comumente empregada no contexto do desagrado ou ira de Deus (Êx 32:11; 1Rs 13:6; 2Rs 13:4). As pessoas que suplicavam a Deus estavam buscando Seu favor ou aceitação (Zc 8:21, 22), e Ele mostrava a elas favor e graça (Ml 1:9; Sl 119:58). O sentido aqui é que o próprio Deus deixa de lado Seu descontentamento e aceita os pecadores arrependidos. As ofertas queimadas eram um ato de adoração, expressando gratidão, alegria e total dedicação a Deus. Considerando que os seres humanos estão sempre necessitados de perdão, elas também funcionavam como meio de expiação/propiciação. Esse sacrifício resolvia muitas das necessidades espirituais do ofertante. Como hoje Deus nos aceita por meio do sacrifício expiatório de Cristo, podemos ofertar-Lhe todo o nosso ser com alegria e gratidão como sacrifício espiritual (Rm 12:1). ] ÁNGEL MANUEL RODRÍGUEZ, pastor, professor e teólogo aposentado, foi diretor do Instituto de Pesquisa Bíblica
AS OFERTAS QUEIMADAS ERAM UM ATO DE ADORAÇÃO, GRATIDÃO, ALEGRIA E TOTAL DEDICAÇÃO A DEUS, ALÉM DE MEIO DE EXPIAÇÃO
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NOVA GERAÇÃO
CONTINUO PEDINDO AO SENHOR QUE ME DIRIJA AO ENCONTRO DE OUTRAS PESSOAS QUE O ESTEJAM BUSCANDO
EM BUSCA DA VERDADE MINHA EXPERIÊNCIA DE TESTEMUNHAR PARA UM AMIGO DENTRO DE UM TEMPLO NO NORTE DA ÍNDIA BEERSHEBA JACOB
Subimos alguns lances de escadas e deixamos nossos sapatos num balcão. Não quis andar descalça, pois fazia frio. Enquanto eu admirava as intrincadas esculturas de madeira do templo, em poucos minutos o frio amorteceu meus pés. Então saímos para o pátio do templo, no intuito de contemplar a pitoresca vista da cordilheira do Himalaia. Aquele cenário deslumbrante nos invadiu, trazendo paz. Meus amigos tomaram uma refeição servida no próprio templo, enquanto eu os esperava e pensava nas perguntas que vinham fazendo: “Como chegamos a Deus? Quem é Deus? O que é salvação?” Todos os anos, milhões de indianos fazem peregrinação, sacrifícios e votos na busca por Deus, pela verdade, paz e prosperidade. Durante o jantar da noite anterior, meu amigo Sikh, sabendo que eu tinha cursado um mestrado em religião, me perguntou: “O que é Deus e como podemos chegar a Ele?” Eu não estava pronta para essa conversa. Não sou espontânea por natureza. Mas, num segundo, milhares de pensamentos encheram minha mente e orei para ser simples e concisa. Então perguntei quem ele pensava ser Deus. Disse-lhe que acreditava que Deus é um ser pessoal que nos criou, nos ama e nos dá família e amigos. Que Ele veio até nós por meio do Seu Filho Jesus, que morreu para nos salvar. Fiquei maravilhada com a maneira de Deus ter me ajudado a responder ao meu amigo. Seus olhos refletiam a sinceridade de sua busca. Não havia sinais de orgulho nem sarcasmo. Percebi que Deus estava agindo na mente de Sikh, quando meu amigo se lembrou do primeiro verso bíblico que havia aprendido na escola adventista, bem como da história de Jesus e do mandamento sobre o sábado. Aquele dia, no topo da montanha, no pátio do templo de Tara Devi, orei para que nosso Pai celestial Se tornasse real para meu amigo. Continuo pedindo ao Senhor que me dirija ao encontro de outras pessoas que O estejam buscando. ] BEERSHEBA JACOB, graduada pelo Instituto Adventista Internacional de Estudos Avançados, nas Filipinas, serve a Deus na Índia
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Foto: Arquivo pessoal
W
"
a hegu r u, wa hegu r u, obrigado, Jesus.” Essas palavras me chamaram a atenção quando o trânsito foi interrompido na estrada para Manali, uma estação na montanha em Himachal Pradesh, Índia. Primeiro, não entendi muito bem o significado da frase de louvor – no siquismo, religião que mescla hinduísmo e islamismo, é uma referência ao Deus poderoso, algo como “Senhor maravilhoso”. Porém, à medida que se passaram os dias, Deus me ajudou a perceber o que o Espírito Santo estava fazendo na vida de Sikh. Um grupo de amigos de infância havia planejado uma viagem para Manali e Shimla, em fevereiro. A maioria deles tinha estudado numa escola adventista, e mais tarde cursaram engenharia em Puducherry. Pedi para ir com eles, pois havia algum tempo estava planejando visitar o norte da Índia. Começamos animados nossa viagem de quatro dias, a fim de escapar do calor de Chennai para desfrutar da neve de Himachal. No terceiro dia, visitamos o famoso templo Tara Devi, a 11 km de Shimla. Foi uma viagem longa numa estrada íngreme e de curvas fechadas. Fiquei enjoada e me esforcei ao máximo para manter meus olhos fora da pista. Paramos várias vezes ao longo do caminho, a fim de visitar templos e igrejas. Em visita a Tara Devi, chegamos a esse lugar famintos, cansados e zonzos. Eu queria entender por que aquele templo era tão importante.
PRIMEIROS PASSOS
UM MÊS PARA APROVEITAR DIARIAMENTE FAÇA UMA COISA BOA PARA SUA SAÚDE AO LONGO DE SUAS FÉRIAS WILONA KARIMABADI
1
7 Coma uma banana.
Coma um vegetal verde.
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9
Faça oito exercícios abdominais.
14
15
Dê 14 saltos com as pernas juntas.
Pela manhã leia sua Bíblia por 15 minutos.
21
Esteja na cama a partir das 21 horas.
16
3
4
Coma uma fruta vermelha.
Durma por oito horas esta noite.
10
11
Não se esqueça de beber muita água.
17
Experimente comer um legume diferente.
Aprenda a fazer picolé com suco de frutas.
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24
Escreva num pequeno diário como você está se sentindo.
Coma uma fruta e faça um suco dela.
Brinque ao ar livre por meia hora, se o clima permitir.
28
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Ore para que Jesus faça de você a pessoa que Ele deseja.
Ilustração: Xuan Le
2
Faça uma caminhada de 20 minutos, acompanhado de um adulto.
Tome um desjejum bem reforçado.
Faça algum tipo de exercício que você gosta por 30 minutos.
Pratique um esporte com bola diferente.
Aprenda a fazer uma salada ou um pão.
18 Não se esqueça de beber água.
25
Antes de começar seu dia, leia um devocional para crianças.
5 Faça algo bom por alguém.
12
Coma uma fruta que nunca provou.
19 Separe um tempo para alongar seus músculos.
26
Faça uma lista com 26 coisas pelas quais você é grato.
6 Descanse no sábado!
13 Descanse no sábado!
20 Desfrute do descanso sabático!
27 Descanse no sábado!
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Coma uma salada de frutas com seus sabores preferidos.
“Acaso não sabem que o corpo de vocês é santuário do Espírito Santo que habita em vocês que lhes foi dado por Deus, e que vocês não são de vocês mesmos? Vocês foram comprados por alto preço. Portanto, glorifiquem a Deus com seu próprio corpo” (1Co 6:19, 20, NVI). WILONA KARIMABADI é editora-assistente da revista Adventist World R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Julho 2019
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PERSPECTIVA
QUANDO A DIETA SAUDÁVEL FAZ MAL SAIBA O QUE É ORTOREXIA, O DISTÚRBIO ALIMENTAR QUE PODE SE TORNAR PREJUDICIAL MELISSA PEREAU
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O termo foi criado pelo médico norte-americano Stephen Bratman em 1996. O quadro costuma evoluir de vigilância inicial em relação à dieta tornando depois a alimentação cada vez mais restritiva. Pacientes com ortorexia não comem em restaurantes com outros, são muito rígidos nos itens que selecionam no mercado e estabelecem padrões ritualizados de preparação e consumo dos alimentos. Eles gastam também muito tempo pesquisando sobre alimentos e as substâncias que são inseridas neles no processo de industrialização. Há uma relação importante entre a ortorexia, a anorexia e o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Até 30% dos pacientes com anorexia têm TOC também. Pacientes com ortorexia demonstram ter habilidades limitadas no processamento de informações e na resolução de problemas em testes neuropsicológicos. Além disso, assim como as pessoas que apresentam anorexia e TOC, eles têm
problemas de memória, planejamento e capacidade de transferência de uma tarefa para outra. À medida que o campo da psiquiatria avança, esperamos compreender melhor as causas neurobiológicas implícitas da ortorexia. Pessoas com ortorexia costumam verificar compulsivamente os ingredientes do que estão comendo, evitam comer o que não consideram “saudável” ou “puro” e se mostram angustiados nas situações em que ficam “sem opção”. Elas também restringem a quantidade e o tipo de alimentos que ingerem, correndo o risco de ficar desnutridas. Muitas delas perdem peso rapidamente e em grande quantidade. Como resultado, esses pacientes podem acabar arcando com danos permanentes à saúde, como osteoporose, insuficiência renal e infertilidade. Além disso, são afetados em seu sistema imunológico, na sua estabilidade emocional e na autoestima. Aquela minha paciente só caiu em si quando revisamos juntas seus exames laboriatoriais. Foi então que ela começou a chorar: “Nunca quis que isso acontecesse. Só queria ser saudável.” Precisamos estar atentos a esse e outros distúrbios. ] MELISSA PEREAU é psiquiatra e trabalha no Centro de Medicina Comportamental da Universidade de Loma Linda, na Califórnia (EUA)
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Foto: Dose Juice
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paciente de 14 a nos sentada à minha frente insistia que sua decisão de se tornar vegana não estava relacionada com o fato de ter sido intimidada por ser “gordinha” ao longo do ensino fundamental. Ao contrário, ela citou várias razões relacionadas aos direitos dos animais e ao desejo de ser mais saudável. Nada era saudável nessa aluna nota dez, com perda severa de músculos, membros esqueléticos, abdômen protuberante e suspeita de insuficiência hepática. Ela me lembrava aquelas imagens dramáticas de crianças subnutridas. Essa adolescente era diferente de qualquer outro paciente com distúrbios alimentares que eu já havia encontrado. Isso foi há quase dez anos. Desde essa época, já encontrei no Programa de Distúrbios Alimentares do Centro de Medicina Comportamental da Universidade de Loma Linda, na Califórnia (EUA), vários doentes com ortorexia – um distúrbio alimentar causado pela obsessão por se alimentar saudavelmente. O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) não reconhece formalmente essa obsessão como um distúrbio alimentar específico. Porém, ao compreender os sintomas, os sinais de alerta e as consequências desse comportamento para a saúde, os profissionais de saúde mental podem tratar melhor os pacientes que apresentam ortorexia.
AQUELA MINHA PACIENTE DE 14 ANOS SÓ CAIU EM SI QUANDO REVISAMOS JUNTAS SEUS EXAMES LABORATORIAIS
MEMÓRIA
Adão Luís Pereira, aos 74 anos. Ajudou dezenas de pastores a se graduarem, pagando os estudos deles. Era membro da Igreja Central de Vila Velha (ES). Deixa a esposa, Suzana (com quem foi casado por 50 anos), um filho e dois netos. Alvina Maria Dias, aos 91 anos, em Bofete (SP), vítima de falência de múltiplos órgãos. Batizada havia 74 anos, participava ativamente da igreja local, especialmente das campanhas de recolta. Deixa o esposo, Fernando, dois filhos, seis netos e quatro bisnetos. Antônio Alves de Souza, aos 86 anos, em Juazeiro (BA), vitima de AVC e insuficiência respiratória. Natural de Ipu (CE), era membro ativo da Igreja Central de Juazeiro, comunidade em que viveu seus 46 anos de adventismo. Tonhão, como era conhecido, foi um exemplo de missionário e sacerdote espiritual no lar. Destacou-se por ajudar no plantio de mais de 30 igrejas no Vale do São Francisco. Mesmo em seus últimos dias, já com a saúde bastante debilitada, ministrava estudos bíblicos semanais para 11 famílias. Áurea de Camargo Nascimento, aos 94 anos, em Tocantinópolis (TO). Batizada havia 77 anos, frequentou por muitos anos
a Igreja de Avanhandava, na zona rural de Monte Azul Paulista (SP). Manteve firme sua fé no breve retorno de Cristo. Viúva, deixa oito filhos, 24 netos, 36 bisnetos e quatro trinetos. Cidelena Orioli Lopes Bronze, aos 63 anos, em São Paulo, vítima de câncer. Liderou por muitos anos as unidades infantis da Escola Sabatina na Igreja do Riacho Grande Batistini, em São Bernardo do Campo (SP). Sempre tratou as crianças e adolescentes como filhos adotivos, demonstrando amor, preocupação e cuidado. Tudo isso com um doce sorriso. Deixa o esposo, Gérson, três filhos e uma neta. Elias Ferreira, aos 68 anos, em Londrina (PR), vítima de complicações do mal de Alzheimer. Nascido em lar adventista, amava a Deus acima de todas as coisas. Durante muitos anos foi ancião da Igreja Central de Londrina, onde também atuou na área patrimonial e na Escola Sabatina. Deixa a esposa, Regina, duas filhas e dois netos. Jesus Brito, aos 87 anos, em São José do Rio Preto (SP), vítima do mal de Alzheimer, Parkinson e pneumonia. Trabalhou por vários anos como colportor nas décadas
de 1970 e 1980. Foi membro de igrejas em Araçatuba e Lins, e ajudou a fundar a Igreja de Promissão, também no interior paulista. Atuou como líder do Ministério Jovem e organizou vários congressos para a juventude do oeste paulista. Era conhecido como o “poeta das igrejas”. Grande pregador, leu a Bíblia inteira 86 vezes e levou muitas pessoas ao batismo. Deixa a esposa do segundo casamento, Wanda Merce, três filhos, cinco netos e uma bisneta. Marcos da Silva Porto, aos 53 anos, em Culturama (MS), vítima de câncer. Serviu à igreja como ancião, professor e diretor da Escola Sabatina e líder do Ministério Pessol e Jovem. Deixa a esposa, duas filhas e um neto. Santilina Werlich Lenz, aos 102 anos. Era filha de Bernardo Werlich e Lídia Boell, pioneiros do adventismo em Bom Retiro (SC). Conheceu a mensagem adventista com seis anos de idade, quando seus pais foram batizados. Em 1936, casou-se com Rudolfo Lenz. Destacou-se por sua fidelidade nos dízimos, gosto por distribuir folhetos e atuação no ministério de assistência social da igreja. Será lembrada por sua confiança em Deus, amor ao próximo e dedicação à missão. Deixa seis filhos, 19 netos, 26 bisnetos e 13 trinetos. Síria Lino Campos, aos 89 anos, vítima de pneumonia. Natural
de Conceição da Aparecida (MG), foi batizada em 1942 pelo saudoso pastor Emanuel Ost. Era membro da Igreja de Itaim Paulista, em São Paulo (SP). Fiel adventista e gostava de cantar. Deixa o esposo, José, sete filhos, quatro enteados, 30 netos e 36 bisnetos. Valdomiro dos Reis, aos 83 anos, em Sales (SP), vítima de câncer de pâncreas. Gaúcho de Carazinho, foi o segundo filho do casal Rodolfo dos Reis e Izabel Gomes dos Reis. Na infância, seu irmão e ele foram acometidos por meningite e acabaram sendo desenganados pelos médicos. Seus pais intercederam fervorosamente pelos filhos, prometendo a Deus que, se sobrevivessem, seriam dedicados à causa do evangelho. Ambos foram curados. Mais tarde, esses dois, mais um irmão, se tornaram pastores. Valdomiro estudou no IACS e se graduou em Teologia em 1962, no antigo IAE, atual Unasp, campus São Paulo. Serviu no ministério pastoral por 51 anos, sendo 23 deles no Norte, 15 no CentroOeste, sete no Nordeste, quatro no Sudeste, um no Sul e um ano em Moçambique, na África. Foi especialista na área de mordomia cristã, tendo publicado alguns livros sobre o tema. Destacou-se por ser pai amoroso e presente. Deixa a esposa, Erlinda Marquart (com quem foi casado por 55 anos), três filhos e quatro netos.
“ B E M - AV E N T U R A D O S O S M O R T O S Q U E , D E S D E A G O R A , M O R R E M N O S E N H O R ” R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Julho 2019
(APOCALIPSE 14:13)
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CURANDO HÁ SETE DÉCADAS O Hospital Adventista do Pênfigo, em Campo Grande (MS), se tornou conhecido por ser uma referência na área dermatológica, mas hoje atende 20 especialidades CHARLISE ALVES
história do Hospital Adventista do Pênfigo, em Campo Grande, está bastante entrelaçada com a da cidade sul-mato-grossense. A instituição que completa 70 anos em 2019 deu nome a bairros e logradouros. Além disso, o legado de médicos e gestores que por ali passaram também é reconhecido e lembrado no município.
A
A comemoração dos 70 anos do Hospital Adventista do Pênfigo incluiu uma feira de saúde na comunidade e uma corrida de rua. A intenção foi mostrar que seu papel vai além do tratamento de doenças 40
Por exemplo, o nome de Gunter Hans, que liderou a instituição adventista por 14 anos, é prestigiado em departamentos de grandes hospitais e universidades, e identifica uma conhecida avenida de Campo Grande. Além de viabilizar a construção de uma moderna e ampla estrutura hospitalar com 60 leitos, equipada com centro cirúrgico, radiologia e gabinete dentário, nas décadas de 1960 e 1970 o ilustre dermatologista investiu em uma escola e em uma capela com o objetivo de oferecer atendimento integral aos pacientes. Outra grande contribuição do doutor Gunter foi a adaptação da fórmula da pomada à base de piche que era usada no tratamento do fogo selvagem. Esse trabalho, feito em parceria com pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), melhorou a segurança e a tolerância ao medicamento. Foi nesse mesmo período que o HAP deu um passo importante para se tornar uma referência internacional na área dermatológica. Nessa época, estudos científicos já mostravam que o fogo selvagem era uma doença autoimune, mas a medicina ainda dava os primeiros passos no tratamento da doença. Ao introduzir a corticoterapia, a instituição inovou o método e, gradualmente, passou a ser procurada por pessoas de diversas regiões do Brasil e até de outros países. Ao longo de sete décadas de existência, a instituição, que teve início com a busca incessante do pastor Alfredo Barbosa para encontrar a cura e aliviar o sofrimento da esposa, Áurea, vítima da doença conhecida popularmente como fogo selvagem (cientificamente denominada de pênfigo foliáceo), cresceu e se modernizou. Com a diminuição da incidência de pênfigo, os médicos perceberam a necessidade de transformar o hospital dermatológico em hospital geral. Hoje a instituição oferece atendimento em mais de 20 especialidades. Atualmente o HAP também é referência em ortopedia na região de Campo Grande. Em 2007, a igreja adquiriu a unidade que fica no centro da cidade (antiga maternidade Pró-Matre). A Unidade Matriz também foi reformada com o objetivo de ampliar o atendimento. Além disso, foram inaugurados outros serviços na Unidade Centro e áreas de Diagnóstico por Imagem, com reformas significativas nas recepções, pronto atendimento e internações nas duas unidades. Em 70 anos de história, 26 diretores médicos e administrativos passaram pelo HAP. Alguns deles foram homenageados durante um culto de ação de graças realizado no fim de maio. A instituição também celebrou a data promovendo o estilo de vida saudável por meio de uma feira de saúde e de uma corrida que reuniram cerca de 1,5 mil pessoas. “É muito bom saber que o hospital faz parte de Campo Grande e que ambos cresceram juntos para benefício da saúde da população”, afirma Everton Martin, diretor administrativo da instituição. ] CHARLISE ALVES é jornalista e atua como assessora de comunicação do Hospital Adventista do Pênfigo
R e v i s t a A d ve n t i s t a // Julho 2019
Foto: Hospital Adventista do Pênfigo
HISTÓRIA DA IGREJA
SOCIEDADE Além de Juazeiro, na Bahia, o projeto da Maranatha irá beneficiar outras comunidades brasileiras em que esse ministério de apoio plantou igrejas. A organização calcula que cada poço custará, em média, 15 mil reais
MILAGRE NO SEMI-ÁRIDO
Perfuração de poços artesianos trará esperança de desenvolvimento para comunidades da região Nordeste do Brasil HERON SANTANA
uando a água surgiu na torneira, o sorriso se abriu no rosto do estudante Lucas Conceição Rolim, de 10 anos. Morador do povoado Campestre, em Juazeiro (BA), na região do semiárido, o menino cresceu acostumado com as consequências da estiagem. Água na cisterna, só quando chovia, ou quando o carro-pipa visitava o povoado, vendendo o recurso quando a economia das famílias permitia comprar. Agora, com o poço artesiano perfurado tão perto de casa, o período de escassez deve ficar para trás. “Vou tomar o melhor banho da minha vida”, disse Lucas, sem tirar os olhos da água.
Foto: Heron Santana
Q
A perfuração do poço artesiano foi uma iniciativa da organização sem fins lucrativos Maranatha Volunteers International, em parceria com as sedes regionais da igreja e a ADRA. Inaugurado no dia 18 de junho, o poço vai beneficiar cerca de 100 famílias do povoado. “Eu chegava a juntar dois meses do dinheiro que ganho para pagar a água do carro-pipa”, conta a dona de casa Maria Lúcia Alves, beneficiária de um programa de transferência de renda do Governo Federal. O contexto de seca prolongada ajuda a entender o impacto do poço artesiano na qualidade de vida dos moradores da comunidade. O semiárido integra a Região Hidrográfica Atlântico Leste, uma das 12 R e v i s t a A d ve n t i s t a // Julho 2019
regiões hidrográficas que orientam o planejamento e gestão dos recursos hídricos. Porém, é a que possui a segunda menor disponibilidade hídrica do Brasil. “Não ter água aqui é a diferença entre a vida e a morte para as pessoas, o gado e a lavoura”, afirma Elmer Barbosa, diretor da Maranatha no Brasil. “Assim, cada metro perfurado traz a esperança de um milagre de Deus”, ele acrescentou. Planejada para alcançar 80 metros de profundidade, a perfuração do poço artesiano de Campestre só atingiu o objetivo aos 166 metros, mais que o dobro da média de profundidade dos poços da região. A dificuldade para chegar até a água acabou sendo recompensada pela qualidade de um
recurso sem quantidades significativas de sais dissolvidos, o que torna a água salobra, devido ao contato com as rochas cristalinas do subterrâneo. “No tempo de seca, a gente passava de seis a sete meses sem água, e agora tem essa água doce e boa!”, comemora o agricultor Deilson Vieira Rolim. Para o pastor local, Tadeu Maniçoba, o esforço da igreja em colaborar com o projeto torna a boa-nova do evangelho uma experiência prática de vida. “O povoado percebeu que a igreja não está presa entre quatro paredes. Ela sai para cuidar das pessoas e salvar vidas”, afirma. A experiência bem-sucedida com o primeiro poço perfurado no Brasil pela Maranatha animou os idealizadores da iniciativa. Marcos Pinheiro, representante do ministério de apoio presente na inauguração, disse que a organização pretende perfurar de 10 a 15 poços no Nordeste até o próximo ano, sempre conectando a igreja na execução. “Queremos ajudar a igreja nesta ligação com a comunidade”, disse. “Queremos ver muito mais poços perfurados para beneficiar pessoas com a chance de uma vida melhor”, completa o pastor Stanley Arco, líder da denominação na Bahia e Sergipe e apoiador do projeto. O acesso à água é apenas um começo para o desenvolvimento social e humano. Por isso, o abastecimento dessas comunidades também abrirá novas oportunidades para projetos da ADRA. “A seca dificulta a realização de projetos de desenvolvimento comunitário. Agora vai ser possível planejar ações para continuar beneficiando comunidades como a de Juazeiro”, ressalta Luiz Fernando Ferreira, diretor da ADRA Brasil Regional Bahia. ] HERON SANTANA é jornalista e atua como líder de comunicação na sede da Igreja Adventista para os estados da Bahia e Sergipe
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ENTENDA
AS MUDANÇAS NA TV NOVO TEMPO MÁRCIO TONETTI
S
e você é fã do canal adventista, provavelmente tenha notado que, desde o início do mês, a programação da emissora mudou significativamente. Algumas atrações ganharam mais tempo ou mudaram de horário, enquanto outras saíram do ar. Também há mais conteúdo inédito e programações ao vivo no horário em que os brasileiros mais assistem TV. Porém, a maior mudança foi no modelo da grade, que passou a seguir o padrão da TV aberta. Esses e outros ajustes foram resultado de pesquisas realizadas ao longo de quase um ano por empresas de consultoria em comunicação, que identificaram a necessidade de a emissora se adequar mais à rotina dos brasileiros. Confira, a seguir, as principais novidades que vêm por aí na telinha.
MADRUGADA É nessa faixa horária que se registra a maioria dos casos de suicídio. Por isso, a ideia de preencher a madrugada com reprises de sermões e de outros programas com conteúdo mais religioso foi oferecer apoio emocional e espiritual a quem precisa de ajuda em um
MANHÃ E TARDE
NOITE
FIM DE SEMANA
A emissora investiu especialmente em
Para o horário nobre da TV brasileira (18h à
Aos sábados e domingos, a programação será
atrações para as crianças (com a criação
meia-noite) foram reservados os programas
diferente. Tia Cecéu e Viaje Comigo, por exemplo,
do programa Planeta Gil & Cris) e o pú-
inéditos. Não haverá reprises nessa faixa horária.
serão exibidos nesses dias. A nova grade tam-
blico feminino. De manhã, elas poderão
Além de produzir 58h30 de programação inédita
bém traz uma nova atração para as manhãs de
continuar acompanhando o Vida & Saúde
na semana (antes eram 40h), a NT irá dobrar
domingo (7h às 7h30). Trata-se do Longeviver,
de segunda a sexta, mas agora com uma
o número de horas semanais de programas
programa que espera alcançar homens e mulhe-
hora de duração. Já na parte da tarde, a
ao vivo (de 10 para 24). Pensando no público
res com mais de 50 anos das classes A e B. ]
novidade será o Entre Família, que irá
universitário, também irá veicular programas
ao ar de segunda a sexta (das 14h30 às
mais filosóficos (como Origens, Evidências e
Fontes: Rede Novo Tempo de Comunicação,
16h) e, de maneira descontraída, abordará
Teólogos) depois das 23h, horário em que a
Agência Fiocruz de Notícias e Mídia Dados
assuntos ligados à família.
maioria retorna da faculdade.
Brasil 2018
MODELO LINEAR
A NT seguia o padrão adotado pelas TVs por assinatura. Ou seja, o horário de veiculação
SEGUNDA A SEXTA
SEGUNDA A SEXTA
SEGUNDA A SEXTA
SEGUNDA A SEXTA
SEGUNDA A QUINTA
dos programas geralmente
7h30 às 8h
9h às 10h
14h30 às 16h
16h30 às 17h
18h às 18h45
variava. Por isso, os telespectadores tinham dificuldade de
6a9 anos
ABC
NOVO
+35
anos
C
+35
anos
C
NOVO
+50
anos
25 a 34
C
anos
C
NOVO
acompanhar as programações e isso limitava a fidelização do público. Agora, algumas atrações serão veiculadas
SEGUNDA A QUINTA
SEGUNDA A QUINTA
SEGUNDA A QUINTA
SEGUNDA A QUINTA
SEGUNDA A SEXTA
ao longo da semana sempre
20h30 às 21h
19h30 às 20h30
21h às 21h30
21h30 às 22h
23h30 à 00h
no mesmo horário. Veja os principais exemplos:
+35
anos
C
+35
anos
C
+35
anos
C
NOVO
+35
anos
BC
+35
anos
C
Para ficar por dentro de todas as mudanças, acesse: novotempo.com/novidades
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Ilustrações: Adobe Stock
momento crítico da vida.
PÁGINAS DE ESPERANÇA
O ALTO-FALANTE
USANDO UM ANTIGO EQUIPAMENTO DE SOM PARA ATRAIR A ATENÇÃO DAS PESSOAS, VOLUNTÁRIOS JÁ DISTRIBUÍRAM MAIS DE 200 MIL FOLHETOS ERNESTO GERALDO BUSSACARINI
E
Foto: Arquivo pessoal
m junho de 1969, deixamos a cidade de São Paulo para residir em Hortolândia, a 110 km da capital do estado. Hoje a cidade tem cerca de 222 mil habitantes, mas na época era apenas uma vila perto do então IASP, conhecida pelo nome de Jacuba (do tupi-guarani y-acub, “água quente”). Havia uma única igreja, recém-construída, com cerca de 120 membros. O pastor Ernesto Roth foi o primeiro a dirigir essa congregação, e na primeira comissão de nomeações escolheram a mim e ao irmão Silvio Carnassale para dirigir o trabalho missionário, função que exercemos por seis anos consecutivos. Ao ser-me apresentada a sala missionária, encontrei ali um equipamento de alto-falante para propaganda em carro. O Sr. João Zanardi me informou que o Sr. Redy Ávila o havia doado para o uso da igreja. Como não sabiam o que fazer, ele ficou ali por dois anos. Haveria algum uso para o equipamento? Em 1972, a irmã Lídia Carnassale Gadine vendeu um apartamento em Santos e deu uma boa oferta com o objetivo de fundar uma nova igreja. Localizamos três lotes no Jardim Santa
UM SIMPLES ALTO-FALANTE NAS MÃOS DO ESPÍRITO SANTO TEM GRANDE PODER DE COMUNICAÇÃO R e v i s t a A d ve n t i s t a // Julho 2019
Euzébio Ventura, Dalvo Gonzaga Lima, Ernesto Bussacarini (centro) Benedito de Leme e João Henrique Moreira Soares: propaganda sonora, muitas histórias para contar e vários batismos para contabilizar
Izabel, no Bairro Rosolém, e o valor quitou a entrada. Graças a valorosos irmãos, o saldo foi pago em dez parcelas mensais. O irmão Paulo Felao iniciou o evangelismo com palestras. Doze irmãos desse grupo levaram convites impressos aos moradores vizinhos. Mas que decepção! Contava-se 5 ou 6 visitas em cada palestra. Fiquei preocupado. O que fazer? Foi quando veio a ideia: e se usássemos o alto-falante? Gravei uma fita-cassete, montamos o equipamento em cima do meu carro e, no sábado à tarde, rodamos o bairro anunciando a reunião de domingo à noite. A grande surpresa: o salão ficou lotado, com mais de cem pessoas, várias delas em pé! Pouco tempo depois, o irmão Alberto Reichert, que tinha uma oficina no Jardim Campos Verdes, resolveu transformar o barracão numa igreja. Com a notícia do sucesso do equipamento de altofalante móvel, ele pediu que ajudássemos na divulgação. Uma nova fita-cassete foi gravada, o bairro foi todo visitado com a propaganda sonora falando da reunião. Na semana seguinte, encontrei o Sr. Reichert e perguntei como tinha sido a frequência. “Irmão Ernesto”, ele disse, “veio tanta gente que lotou o salão e muitos tiveram que assistir pelas janelas.” Isso me deu a certeza de que um simples alto-falante nas mãos do
Espírito Santo tem grande poder de comunicação. Em 1984, fui residir em Artur Nogueira. Logo comecei a trabalhar no departamento missionário da Igreja de Lagoa Bonita (hoje Unasp, campus Engenheiro Coelho). Lá adquiri meu equipamento de som móvel. O primeiro uso dele foi na divulgação do curso para deixar de fumar em cinco dias. O cine Rossetti lotava! Em 1988, voltei a residir em Hortolândia e o trabalho com o autofalante móvel foi incrementado com a distribuição de folhetos. Enquanto o carro passa chamando a atenção das pessoas, um ou dois colaboradores caminham ao lado distribuindo folhetos com a mensagem. Em 2018, esse ministério do alto-falante completou 30 anos, com mais de 200 mil folhetos distribuídos! São muitas histórias lindas ocorridas e vários batismos realizados. Louvo a Deus por essas bênçãos. Completei 86 anos e, enquanto Deus permitir, continuarei proclamando a vinda de Jesus. E não poderia deixar de agradecer aos quatro valorosos auxiliares que me acompanham nesse trabalho: Benedito de Leme, Dalvo Gonzaga Lima, Euzébio Ventura e João Henrique Moreira Soares. ] ERNESTO GERALDO BUSSACARINI, membro da Igreja Adventista desde 1960, frequenta a Igreja Central de Hortolândia (SP)
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MISSÃO GLOBAL
CONEXÃO IGREJA REALIZA CONFERÊNCIA PARA CRIAR PONTES COM O ISLAMISMO, A SEGUNDA MAIOR RELIGIÃO DO MUNDO Ma rcos De Benedicto
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ISLÃ
A
lcançar pessoas secularizadas é um desafio. Porém, alcançar indivíduos altamente religiosos pode ser um desafio ainda maior. Se os secularizados não mais precisam de Deus, os ultrarreligiosos têm uma ideia tão rígida sobre Ele que não aceitam rever seus conceitos. Assim, a conversão em ambos os extremos se torna difícil. É na categoria dos muito religiosos que se encaixam os muçulmanos. E foi para discutir sobre a melhor forma de se relacionar com esse vasto grupo e beneficiá-lo com a mensagem do evangelho que a Igreja Adventista organizou uma conferência num país do Oriente Médio nos dias 10 a 13 de junho. O evento, que reuniu 260 pessoas de todo o mundo, foi o primeiro do gênero e incluiu a visita a uma mesquita, cujo líder espiritual foi muito cortês e demonstrou bom conhecimento da nossa teologia. O objetivo é sair do convencional e ir além dos estereótipos.
Com aproximadamente 1,8 bilhão de fiéis (24% da população mundial), o islamismo é a segunda maior religião do planeta, perdendo apenas para o cristianismo (2,4 bilhões, 33%). O crescimento do islamismo tem sido fenomenal, até pelo fator biológico das grandes famílias, mas nem sempre suplanta o ritmo de expansão do cristianismo. Por exemplo, na África subsaariana marcada pelo animismo das religiões tradicionais do continente, ambas as religiões eram minorias em 1900, tendo juntas menos de 25% da população, e hoje são grupos robustos. Porém, se o islamismo cresceu mais de 20 vezes na região nesse período, indo de 11 milhões para 234 milhões de adeptos em 2010, o cristianismo cresceu quase 70 vezes, chegando a 470 milhões de fiéis na região no mesmo período, segundo o Pew Forum on Religion & Public Life (Islam and Christianity in Sub-Saharian Africa, p. i). Seja como for, no ritmo atual, calcula-se que em 2060 as duas religiões estarão praticamente empatadas, com 3 bilhões de adeptos cada. O cristianismo é predominante na Europa, nas Américas e no sul da África, enquanto o islamismo prevalece no Oriente Médio, no norte da África e em partes da Ásia. A estatística ainda favorece o cristianismo, mas a geografia beneficia o islamismo. Embora a geografia em si não seja um conceito religioso, ela influi na adesão religiosa, especialmente no que diz respeito ao mundo islâmico. Por isso, não
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Foto: Adobe Stock
surpreende constatar que 93% dos árabes pertencem ao islamismo, que teve origem com Maomé na Península Arábica, localizada no Oriente Médio. Em certo sentido, o Alcorão, com seus 114 capítulos (suras ou suratas) e 6.326 versículos, ajudou a sistematizar e ressignificar a vida dos árabes do deserto. Hoje, no mundo sem fronteiras, o Islã ainda obtém vantagem do conceito de “reterritorialização” geográfica e ideológica. Maomé (c. 570-632) nasceu em Meca e morreu em Medina, os lugares mais sagrados do islamismo, motivo pelo qual fazer uma peregrinação (Hajj) a Meca é um dever de cada muçulmano. Em 610, aos 40 anos, segundo a tradição islâmica, Maomé teve a primeira revelação verbal de Deus e começou a pregar o monoteísmo num contexto marcado pela idolatria. Devido à perseguição aos primeiros muçulmanos, o profeta e seus seguidores se mudaram em 622 para Medina (então chamada Yathrib), “a cidade iluminada”, num evento conhecido como Hégira. Essa data marca o início do calendário (lunar) islâmico. Estamos agora no ano 1440 AH (Ano da Hégira). Para os muçulmanos, Maomé, visto como possuidor de todas as virtudes, é o último mensageiro de Deus e o maior de todos os profetas. Sua mensagem é considerada o clímax e a perfeição de todas as revelações anteriores, a luz para a humanidade (Alcorão 21:107; 39:33). A questão é que, antes de o islamismo florescer no deserto e dominar boa parte do mundo, reivindicando o exclusivismo de Alá e de seu mensageiro, o cristianismo já pregava seu Deus e o único Salvador do mundo no mesmo espaço. Se o primeiro dos cinco pilares do islamismo diz que “não há outro Deus além de Alá, e Maomé é o seu profeta”, os cristãos proclamam que “o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor” (Dt 6:4) e anunciam que “não há salvação em nenhum outro”, exceto Jesus (At 4:12). Assim, como estabelecer pontes? PARALELOS E DIFERENÇAS Há evidentes paralelos entre o islamismo e o cristianismo. No caso do adventismo, as semelhanças são ainda maiores, pois ambos os movimentos se abstêm das carnes “impuras” (Lv 11) e de álcool, se preocupam com a santidade e enfatizam a modéstia no vestuário. Mais do que um sistema de crenças, ambos são um estilo de vida. Mas, ao mesmo tempo, existem diferenças. Os pontos de contato e de divergência ocorrem em níveis mais profundos. Para começar, podemos mencionar os livros sagrados das três grandes religiões monoteístas originadas com Abraão. Na obra Exegetical Crossroad: Understanding Scripture in Judaism, Christianity and Islam in the Pre-Modern Orient (De Gruyter, 2018), editado por Georges Tamer e outros, lemos sobre essa herança em comum: “O judaísmo, o cristianismo e o islamismo não só compartilham o amplo espaço geográfico e o contexto multicultural de suas respectivas origens no Oriente, mas também numerosas características intrínsecas às suas constituições. Mais especificamente, são religiões de revelação, entendida primariamente como comunicação. De fato, a narrativa fundacional de cada uma dessas três religiões é caracterizada por um ato de comunicação. No judaísmo, Deus dá a Moisés, na conversação, as duas tábuas da Torá; no cristianismo, a Palavra de Deus é encarnada como um ser humano comunicante; no Islã, o Alcorão, que inclui as palavras divinas, é comunicado oralmente. Essas três ‘religiões mundiais’ são, portanto, religiões da palavra” (p. 1). Apesar disso, há diferenças. Como código eterno, o Alcorão (“recitação”) tem o ambicioso alvo de ser dirigido a toda a humanidade para guiá-la em todas as áreas da vida. É considerado a revelação das próprias R e v i s t a A d ve n t i s t a // Julho 2019
palavras de Deus, sem mistura de palavras humanas. Existe como foi revelado ao profeta, sem a troca de uma letra sequer. Se a Bíblia é um livro inspirado escrito por seres humanos, o Alcorão é considerado um texto exclusivamente divino. Em certo sentido, ele não está em paralelo com a Bíblia, que é a Palavra de Deus, mas com Cristo, que é o Verbo encarnado. Naturalmente, aqui há um choque de autoridade. Por outro lado, se a Bíblia apresenta Israel como o pai de 12 tribos descendentes de Abraão, o Alcorão apresenta Ismael como o pai de 12 príncipes descendentes do patriarca. O diferencial bíblico, além da linhagem em si, é que o maior descendente de Abraão, Jesus Cristo, morre para abençoar e salvar o mundo. Enquanto no islamismo a salvação vem por méritos humanos, ainda que Alá seja repetidamente descrito no Alcorão como misericordioso, no cristianismo ela vem pela intervenção divina efetuada por um Deus de amor e graça. Outra área em que se nota uma intersecção entre cristianismo e islamismo é a expectativa sobre o fim do mundo. Ambas as religiões enfatizam o preparo para o juízo final. Logo na primeira surata do Alcorão (“A Abertura”), Deus é apresentado como o “Soberano do Dia do Juízo” (1:4). O julgamento será de acordo com as obras (99:6-8). Assim como a Bíblia, o Alcorão está cheio de referências escatológicas. O fim é visto como iminente (16:77; 20:15; 22:1; 54:1-3). Algumas das descrições mais poéticas do Alcorão se referem ao dia do juízo e aos fenômenos astronômicos que o acompanharão, quando “as estrelas forem extintas” e “as montanhas estiverem dispersas” (81:1-14). Contudo, há diferenças nos detalhes e na concepção geral sobre o reino de Deus. O Alcorão está repleto de referências a um conflito cósmico (mais de cem suratas), mas não oferece uma narrativa coerente, o que o adventismo faz. Stephen J. Shoemaker, autor de The Apocalypse of Empire (University of Pennsylvania Press, 2018), está convencido de que “o Islã primitivo foi um movimento movido pela crença escatológica urgente que focalizava a conquista ou libertação da terra santa 45
bíblica”. Para ele, Maomé era um “proCRISTIANISMO E ISLAMISMO feta escatológico, cujos primeiros seguidores acreditavam que o fim do mundo TÊM MUITOS PARALELOS chegaria muito em breve”. O apocaliptismo e a escatologia imperial faziam E A AMBICIOSA MISSÃO parte da matriz do islamismo. “A expectativa escatológica iminente era geneDE CONQUISTAR O MUNDO ralizada no Oriente Próximo no tempo da gênese do Islã, assim como era a COM SUA MENSAGEM, MAS crença de que a restauração definitiva do governo divino viria por meio do TAMBÉM APRESENTAM triunfo apocalíptico de um império no fim dos tempos” (p. 9). Essa narrativa DIFERENTES COSMOVISÕES justificava a expansão imperial. Mas sabemos que o paraíso sonhado pelo Islã somente ocorrerá com a volta de Jesus. Por fim, podemos mencionar a concepção da própria Divindade. Tanto os cristãos quanto os muçulmanos aceitam um só Deus. O Alcorão testifica muitas vezes de seu monoteísmo estrito (20:14; 35:3; 112:1-4). Mas, novamente, as semelhanças são superficiais. Por isso, se no início o islamismo foi considerado apenas uma vertente do judaísmo e do cristianismo, ele logo passou a ser tratado como uma religião rival. O primeiro grande teólogo cristão a criticar o Islã foi João de Damasco (676-749). Filho de uma importante família síria, radicado em um mosteiro perto de Jerusalém, ele tinha amplo conhecimento do Islã e não aliviou em suas críticas à então religião emergente. João iniciou o último capítulo da segunda parte de sua obra Fonte do Conhecimento falando contra a “superstição dos ismaelitas, que até hoje prevalece e mantém as pessoas no erro, sendo um precursor do Anticristo” (ver orthodoxinfo. com/general/stjohn_islam.aspx). Ele atribuiu a “heresia” de Maomé a um monge ariano, pois, na visão islâmica, Jesus é apenas um profeta, mas não divino. Cristo não teria morrido na cruz, porque Deus O levou para o Céu, enquanto outra pessoa foi crucificada no Seu lugar. Em sua tese de doutorado defendida na Western Michigan University em 2013 sobre o Cristo alcorânico, Brian C. Bradford conclui que “o Jesus encontrado no Alcorão é quase igual ao Jesus dos textos não bíblicos que existiam antes de Maomé ter recebido suas revelações” (p. 173). Por sua vez, em seu livro The Quranic Jesus (De Gruyter, 2019), Carlos A. Segovia contabiliza 39 versos sobre Jesus (Isa) no corpo alcorânico (p. 26-54) e detecta algumas camadas na complexa cristologia do livro sagrado, que vão “além do simples chamado ao monoteísmo” (p. 25). É como se a visão islâmica sobre Jesus tivesse nascido na “periferia” do cristianismo (p. 21) e tentasse retratá-lo como um Messias puramente humano, e não o Filho de Deus. É claro que a negação da Trindade e da divindade de Cristo pelos muçulmanos cria um abismo teológico entre o islamismo e o cristianismo, alterando a natureza da salvação. Para eles, o Espírito Santo é o anjo Gabriel, e Jesus, embora tivesse um status especial e seja descrito no Alcorão como possuindo 17 atributos singulares, era apenas o filho de Maria (4:171). Enfim, há certa ambivalência na teologia islâmica a respeito da figura de Cristo. A única menção de Ellen White ao islamismo, encontrada em The Home Missionary (setembro de 1892, parágrafo 4), critica exatamente esse aspecto: “O maometismo tem seus conversos em muitas terras, e seus defensores negam a divindade de Cristo. Deveria essa fé ser propagada, 46
e os advogados da verdade não manifestar intenso zelo para derrotar o erro e ensinar às pessoas a preexistência do único Salvador do mundo?” Então ela fala da necessidade de “apresentar Jesus ao mundo em Sua natureza divina e humana”. MÉTODOS Que os cristãos veem a necessidade de levar os muçulmanos a uma compreensão mais profunda sobre Jesus, entre outros aspectos, não resta dúvida. Mas como atingir a massa de pessoas que vivem em países com forte controle político e cujas tradições unem as famílias à religião de origem? Como cumprir a missão de alcançar cada povo (Mt 28:19-20) se o Islã também tem a missão de converter todo o mundo à sua fé (Alcorão 2:143; 6:19; 7:158; 8:38-39; 9:33; 21:107)? Afinal, por volta do ano 628, Maomé enviou embaixadores e cartas a vários reis e governantes convidando-os a se tornarem muçulmanos. Os conceitos islâmicos de da’wa (“convite”, “chamado”) e tabligh (“transmissão”) se assemelham à ideia cristã de missão. Portanto, temos um choque de missões. O primeiro aspecto a ser destacado é que, para obter sucesso, os adventistas precisam aplicar o método amistoso de Cristo em escala global. Tal abordagem, conforme descrita por Ellen White em A Ciência do Bom Viver (p. 143), envolve aproximação, amizade, serviço, confiança e convite. Ou seja, o caminho é o da paz, do respeito e do amor, não o da crítica, da soberba e do ódio. Isso inclui comunidades e centros de influência para oferecer ajuda real, inclusive para os refugiados. Na história do convívio entre os cristãos e os muçulmanos, há capítulos tristes de confrontos e violência por culpa dos dois lados. A partir da 1ª Cruzada, ordenada pelo papa Urbano II, em 1095, as relações entre as duas religiões sofreram um terrível abalo, com reverberações políticas, religiosas e psicológicas que ainda perduram. A teologia do Islã se tornou mais rígida, a mentalidade mais intolerante e a cultura mais estéril. No Islã, desde Maomé, política e religião sempre caminharam juntas, mas, em face do “inimigo” R e v i s t a A d ve n t i s t a // Julho 2019
cristão, as duas se uniram ainda mais. A identidade passou a ser oferecida pela religião, cuja ligação com o Estado nunca sofreu um processo de questionamento sério, como o cristianismo enfrentou no Ocidente. O Alcorão não é um grito de guerra, mas tem várias passagens violentas, revelando o exclusivismo do Islã e a intransigência para com os incrédulos, considerados inimigos (2:190-193; 3:85; 5:33; 9:89). Isso inflamou em muitos fiéis o ódio ao mundo cristão. Hoje, o extremismo, que não caracteriza a essência do Islã, mas é explorado pelos fundamentalistas militantes com base em certos traços originais da religião, se tornou um problema para os moderados. Depois dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, a imagem do Islã ficou ainda mais arranhada e sua ideologia fragmentada. Assim, evangelizar o mundo islâmico não é tarefa fácil e leva tempo. A palavra “cristianismo” é geralmente um entrave para essa aproximação, avalia Petras Bahadur, diretor do Centro Global para as Relações entre Adventistas e Muçulmanos. O islamismo precisa ver que o adventismo tem algo diferente a oferecer, incluindo, se preciso, o sacrifício, mas não o espírito de dominação. O modelo da “missão supremacista” precisa dar lugar ao modelo da “missão sacrificial”, como era no início da igreja cristã. A melhor abordagem não é a aproximação com espírito de superioridade nem de inferioridade, mas com abertura e respeito. O segundo aspecto que merece destaque é o uso coerente do método estratégico de Paulo, que foi um revolucionário na missão e na teologia. O apóstolo empregou a contextualização para criar pontes e se identificou com todos para ganhar o maior número possível de pessoas (At 17:15-34; 1Co 9:19-22). Paulo afirmava as pessoas dentro da cultura delas para transformar a cultura dentro delas. Ao se aproximar dos muçulmanos, o cristão precisa entender, entre outras coisas, o grande respeito que eles têm pelos lugares sagrados, a separação entre gêneros no espaço religioso e o significado de compartilhar uma refeição. O teólogo Jon Paulien, um dos palestrantes da conferência, chegou a dizer que os adventistas precisam iniciar uma nova fase evangelística: a missão nos termos do público-alvo, e não em nossos termos. Afinal, o conteúdo é mais importante do que a embalagem. Obviamente, a contextualização tem limites. Não podemos flexibilizar tanto a ponto de perdermos a mensagem. Um exemplo de contextualização eficaz é o ministério on-line sobre os sonhos de origem divina (dreamsofisa.org/pt). Os muçulmanos valorizam os sonhos e estima-se que 1/3 dos que se tornam cristãos toma essa decisão depois de Jesus aparecer-lhes enquanto dormem. O terceiro aspecto que deve ser enfatizado é o método de empoderamento dos discípulos. Em Atos 4, diante dos desafios da perseguição, eles oraram pedindo poder para realizar maravilhas em nome de Jesus e anunciar o evangelho com ousadia (v. 29-31). Em seguida, todos ficaram cheios do Espírito Santo. O mesmo pedido deve ser feito hoje. Para um trabalho dessa magnitude, é preciso orar por sabedoria sobrenatural, ousadia incomum e poder miraculoso. Assim como os ventos sopram constantemente naquela região, os ventos do Espírito Santo precisam soprar sobre aquelas paisagens. Em paralelo aos pontos mencionados, é necessário mostrar racionalmente, e com base na revelação da Bíblia, que o cristianismo/adventismo tem o verdadeiro evangelho. De acordo com Imran Aijaz, em seu livro Islam: A Contemporary Philosophical Investigation (Routledge, 2018), “o fideísmo antirracionalista domina o pensamento islâmico contemporâneo”. Mais que isso: “Muitos muçulmanos hoje veem a filosofia com suspeita, se é que não rejeitam totalmente sua operação no domínio da religião” (p. 76). Apesar disso, para muitos, a racionalidade da nossa fé tem seu apelo. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Julho 2019
A aproximação ao Islã deve ser feita por meio de muitas abordagens, incluindo a disponibilização de materiais na internet. Não se deve pensar apenas no aspecto apologético, mas também no apoio prático. Para Jon Paulien, Ellen White articulou duas visões complementares para o adventismo: uma focalizando a exclusividade da mensagem (apocalíptica) e a outra destacando a inclusão das pessoas (curadora). Embora o Islã seja um sistema fechado, ele também sofre influências da cultura secular. Preservar sua identidade entre os jovens que têm acesso à internet e aos meios de comunicação ocidentais não é fácil. Além disso, dentro do próprio Islã há correntes feministas que, com base no Alcorão, têm reivindicado a igualdade entre os sexos. Essas tendências podem facilitar a aceitação do evangelho. No fundo, ninguém é especialista nesse tipo de missão, a não ser o Espírito Santo. O Islã é um mistério e o trabalho é feito em um território não mapeado. Por isso, precisamos de oração e sabedoria em todo o processo. Hoje, islamismo e adventismo são dois movimentos com identidades fortes, cosmovisões distintivas e missões definidas. Se um dia os dois vão se encontrar e massas islâmicas vão aceitar a mensagem bíblica, somente Deus sabe. Como disse G. T. Ng, secretário executivo mundial da Igreja Adventista, “Deus tem estado trabalhando invisivelmente e sem a nossa permissão”. Como exemplo, ele cita o fato de que somente em dezembro de 2018 houve 1,8 milhão de visitas ao site oficial de Ellen White (ver whiteestate.org), a maioria da chamada Janela 10/10, onde predomina o islamismo. “O trabalho é difícil, mas não impossível, pois é Deus que o realiza”, sublinha Petras Bahadur. “A missão que Deus nos deu não está limitada a uma área geográfica nem a um grupo étnico”, completa Oscar Osindo, diretor associado do Instituto de Missão Mundial da Igreja Adventista. Enquanto isso, nossa tarefa é levar o evangelho a todos os povos. ] MARCOS DE BENEDICTO, doutor em Ministério, é redator-chefe da Casa Publicadora Brasileira
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EM FAMÍLIA
ÓCIO SEM CULPA AS PESSOAS VIVEM FAZENDO MIL COISAS E NÃO SABEM LIDAR COM AS HORAS VAGAS
O
que está acontecendo com as pessoas? Por que “fazer nada” causa tanto mal-estar em nossos dias? Todo mundo já ouviu dizeres populares como “Tempo é dinheiro”, “Deus ajuda quem cedo madruga” e “Mente vazia é oficina do diabo”. Fazer, fazer, fazer! Corremos tanto para lá e para cá, envolvidos em tantas coisas, que desaprendemos o básico: fazer nada. Pode parecer irônico, mas fazer nada hoje em dia é uma verdadeira arte. Não estou falando de preguiça, e sim de se permitir desligar e repousar. Acredite, quem consegue “fazer nada” de vez em quando tem mais saúde mental. Conheço gente que se sente culpada quando não está fazendo nada. E isso faz todo sentido em nosso tempo. Vivemos numa época sem habilidade para lidar com o ócio, o vazio, a falta. Não aguentamos a angústia da ausência das pessoas e coisas, da não satisfação constante, do tédio, do buraco profundo da alma que precisa ser “tampado” custe o que custar. Ao mesmo tempo, negamos qualquer conceito que aponte para um absoluto e abraçamos a relatividade, volatilidade e descartabilidade contemporâneas. Se por um lado há ganhos, sem dúvida também temos perdas. Quando você não se permite parar e vive sobrecarregado de afazeres, aumenta não apenas o cansaço, mas também o estresse e a ansiedade. Com o tempo, pode ter sintomas físicos e emocionais como irritação, tonturas, gastrite, ganho de peso, falha de memória, insônia e falta de libido. De acordo com a International Stress Management Association (ISMA-BR), 70% dos brasileiros economicamente ativos sofrem com estresse. A sensação de sempre estar devendo algo pode levar nosso corpo e mente a um colapso. 48
DESACELERAR DEVE SER UM TREINO DIÁRIO PARA QUEM QUER TER QUALIDADE DE VIDA, E NÃO APENAS NAS FÉRIAS
A psicóloga Angélica Neris, especializada no bem-estar emocional, explica que um estilo de vida cheio de excessos não é sinônimo de qualidade de vida, mas sim o indício de que uma bomba-relógio pode explodir a qualquer momento. Se não considerarmos essa realidade, poderemos ser surpreendidos por uma doença que nos obrigue a desacelerar. Férias são muito bem-vindas para uma pausa na rotina. Mesmo assim, há pessoas que conseguem encher esse período de atividades a ponto de não relaxar. Se resolvem viajar, por exemplo, passam o dia correndo para visitar todos os lugares possíveis, sem se permitirem usufruir verdadeiramente do lugar. Contudo, não é preciso esperar as férias para ter algum descanso. Desacelerar deve ser um treino diário para quem quer ter qualidade de vida, e não apenas nas férias. A melhor dica é perceber o próprio corpo e a mente, dando-lhes o que for necessário, sem culpa. Se a gente acostumar a fazer uma coisa de cada vez, não vai cometer excessos. E, se a ordem for fazer nada, que seja! ] TALITA CASTELÃO é psicóloga clínica, sexóloga e doutora em Ciências
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TALITA CASTELÃO
ESTANTE
SONHO E REALIDADE
EM AUTOBIOGRAFIA, KARI PAULSEN, ESPOSA DE EX-LÍDER MUNDIAL DOS ADVENTISTAS, CONTA COMO SUPEROU FRUSTRAÇÕES E FOI SURPREENDIDA PELA FÉ ANDRÉ OLIVEIRA
K
a ri cresceu nu m vale tranquilo no leste da Noruega, mas foi criada em um lar conturbado pelas desavenças entre seus pais. Ela conviveu com o medo e as tensões da Segunda Guerra Mundial. Por causa do conflito, faltavam alimentos, roupas e calçados para ser trocados pelos cupons fornecidos pelo governo. Nesse contexto, as pessoas tinham que ser criativas para sobreviver à escassez. A mãe de Kari era excelente costureira. Muitas vezes, ela transformava em peças novas as roupas usadas, desgastadas e que haviam se tornado pequenas para seus filhos. Esses episódios ensinaram a Kari uma lição, expressa num provérbio inglês, que a acompanharia por toda a vida: “É preciso cortar a roupa de acordo com a quantidade de pano disponível.” Isso significa que é preciso ressignificar as situações adversas a fim de que se tornem uma experiência significativa. Desde cedo, a dor e o sofrimento foram companheiros íntimos da jornada de Kari. Diagnosticada com um problema cardíaco de nascença, a previsão dos médicos foi que ela
O SOFRIMENTO PODE SER VISTO A PARTIR DA PERSPECTIVA DO SERVIÇO A DEUS E AO PRÓXIMO
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não passaria da adolescência. Ela foi a primeira pessoa do seu país a ser submetida a um processo cirúrgico no Hospital da Universidade de Oslo. Durante o longo e doloroso período de recuperação, ela se voltou para Deus e prometeu que, se o Senhor a curasse daquela enfermidade, ela se tornaria cristã. Kari mal podia imaginar que Deus não apenas preservaria sua vida, mas a guiaria por uma estrada de aventuras e milagres. Por intermédio de uma tia que vivia numa cidade vizinha, ela conheceu a Igreja Adventista. Kari teve que ir morar com outra tia, pois foi expulsa de casa pelo pai, que não aceitava que ela se aproximasse dos adventistas. Depois de completar os estudos bíblicos, ela decidiu ser batizada. Ao concluir o ensino médio, foi trabalhar numa clínica adventista na Suécia. Alguns meses depois, saiu para colportar a fim de custear os estudos universitários. Então seguiu para o seminário teológico adventista na Dinamarca, onde conheceu Jan Paulsen, um estudante de Teologia norueguês que se tornaria seu esposo e posteriormente presidente mundial da Igreja Adventista (1999-2010). Após o programa de estudos teológicos, Kari Paulsen e seu esposo serviram à Igreja Adventista por mais de 50 anos, na Noruega, Gana, Nigéria, Inglaterra e na liderança mundial da denominação. Em sua autobiografia, Contra as
TRECHO
“Você não tem escolha! Não adianta se lamentar por aquilo que gostaria de ter. Não importa o que a vida lhe entregar, você tem a oportunidade de pegar essa matéria-prima e a transformar em algo significativo” (p. 10). Expectativas (CPB, 173 p.), lançada recentemente, ela conta detalhes de sua inspiradora história de fé, resiliência, sacrifícios e superação, escrita pela graça de Deus e no tempo Dele. Dividida em 15 capítulos curtos, a obra traz relatos comoventes das experiências da família Paulsen, seja enfrentando problemas de saúde, provações financeiras, guerra e outras dificuldades de um ministério transcultural. É uma leitura que enriquece, pois nos ajuda a ver o sofrimento a partir da perspectiva do serviço a Deus e ao próximo. ] ANDRÉ OLIVEIRA é pastor e editor da Lição da Escola Sabatina dos adultos
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ENFIM
DAQUI PARA A FRENTE, O TRABALHADOR TERÁ QUE ESPERAR MAIS PARA SE APOSENTAR E RECEBERÁ UM BENEFÍCIO MENOR POR ISSO
A REFORMA DO SISTEMA PREVIDENCIÁRIO É POLÊMICA, MAS A NECESSIDADE DE PLANEJAR A APOSENTADORIA É CONSENSO ELIAS TEIXEIRA DA SILVA
O
Brasil passa por u m grande debate sobre seu sistema previdenciário. É evidente que existem questões político-partidárias em jogo também, mas não há como negar que a população brasileira está envelhecendo, e isso é um fenômeno mundial. Ao analisar os dados disponibilizados pelo Banco Mundial, em 2017, podemos verificar que a expectativa de vida em vários países tem aumentado. Na década de 1980, por exemplo, um brasileiro vivia em média 62 anos, enquanto que em 2017 a expectativa era de 75 anos (data.worldbank.org/ country/brazil). Quando se trata dos adventistas, a julgar pelos estudos sobre longevidade e estilo de vida realizados há décadas na Universidade de Loma Linda (EUA), pode-se esperar que vivamos um pouco mais do que a população em geral. 50
A pergunta que muitas pessoas têm feito, e isso não se restringe aos idosos, é como se preparar para uma velhice mais longa. Pode a aposentadoria trazer felicidade? O preparo financeiro é um dos elementos mais importantes nessa equação. E isso tem que ver com o nível de controle que você pretende ter em relação à sua aposentadoria. Ou seja, quando, como, em que circunstâncias você gostaria de deixar de trabalhar formalmente? Em função do envelhecimento da população e das possíveis reformas previdenciárias, algo que se deve levar em conta nesse planejamento daqui para a frente é que o trabalhador precisará esperar mais tempo para se aposentar e receberá um benefício menor quando parar. Portanto, precisará complementar sua renda, a fim de manter seu custo de vida atual ou até mesmo sua dignidade. Infelizmente, a cultura previdenciária e de poupança do brasileiro segue muito baixa. Segundo matéria do jornal Valor Econômico de 6 de março, a taxa de poupança no Brasil (14,5% do PIB) é bem inferior à de outros países emergentes, como Índia (28,5%) e China (45%). Em geral, o brasileiro espera que sua aposentadoria seja financiada
ELIAS TEIXEIRA DA SILVA, mestre em Auditoria Internacional e Gestão de Empresas, é o diretor administrativo e de investimentos do IAJA (previdência privada da igreja)
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O CÁLCULO DA PREVIDÊNCIA
pelo sistema estatal (INSS), e que décadas de contribuição resultem numa renda que cubra seu orçamento mensal. Porém, como o rendimento médio do trabalhador fica bem abaixo do teto do INSS, muitos não se atentam para o fato de que receberão menos do que imaginam. Quando descobrirem isso, pode ser tarde demais. Para fazer um bom planejamento, você precisa ter três fontes de renda no futuro: aposentadoria estatal (INSS), previdência privada e economias poupadas ao longo da vida. E, quanto mais cedo começar a poupar, menos precisará desembolsar por mês para formar essas reservas. Por exemplo, para você ter uma renda de mil reais a partir dos 65 anos, considerando uma taxa real de juros de 4,5% ao ano, basta poupar 167 reais por mês durante 35 anos. Mas, para ter a mesma renda com apenas 15 anos de contribuição, você terá que guardar 655 reais a cada mês. Ao falar da necessidade de poupar, Ellen White, pioneira adventista, escreveu que deveríamos guardar economias mensalmente e não mexer nesse valor, a não ser por uma emergência relacionada à saúde (O Lar Adventista, p. 396). Esse conselho centenário tem se mostrado cada vez mais atual. ]
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