Adventist World Portugese - November 2019

Page 1

O MIS T ÉR IO D A MORT E /// POR TA-V OZES DE DEUS /// DEB AT E IN T ER NO

Exemplar avulso: R$ 2,96 | Assinatura: R$ 35,50

NOVEMBRO 2019

MINISTÉRIO DA PRESENÇA O TRABALHO DE CAPELANIA GANHA NOVAS DIMENSÕES


ZONA DE CONFORTO COMO ENCONTRAR CONSOLO NO ABRAÇO DE DEUS MARCOS DE BENEDICTO

Em algum momento da vida, todos nós precisamos de conforto, pois vivemos em um pedaço do Universo marcado por perdas, aflições e ferimentos. Escoriações físicas e emocionais são frequentes. Governantes perpetram bobagens, políticos enganam o povo, chefes maltratam funcionários, bandidos aterrorizam a sociedade, policiais matam inocentes, minorias sofrem discriminação, colegas fazem bullying, vulneráveis são explorados, cônjuges ferem seus parceiros, filhos desobedecem aos pais, crianças ficam doentes, todos perdem pessoas queridas. O sofrimento é um fato, não uma interpretação. Se o amargor caracteriza a realidade humana, o consolo faz parte da essência de Deus. Afinal, o Pai é chamado de “Deus de toda consolação” (2Co 1:3), Jesus é a personificação do consolo (Mt 11:28-30) e o Espírito Santo é descrito como o “Consolador” (Jo 14:16, 26; 15:26; 16:7). Por que um Deus tão grandioso Se apresenta com uma face tão sensível? Porque Ele é o Consolador. Deus nos conforta não simplesmente para nos conquistar, mas porque é amor. Não faz isso só por causa de nossa necessidade, mas de Sua natureza. Quem ama consola. Mesmo quando o povo de Deus erra, Ele o conforta. Em Lamentações 1, no contexto do exílio babilônico, Jeremias chorou porque Jerusalém havia se tornado um lugar desolado e ninguém a consolava. Mas o profeta poderia ter se lembrado de que, por meio de seu antecessor Isaías, Deus havia prometido

QUANDO AS CIRCUNSTÂNCIAS FAZEM VOCÊ CHORAR, DEUS CRIA MEIOS PARA SECAR SUAS LÁGRIMAS A FIM DE QUE VOCÊ VOLTE A VER A GLÓRIA DELE

consolar Judá. Deus abre o chamado “Livro da Consolação” (­Isaías 40–55) dizendo: “Consolem, consolem o Meu povo” (40:1, NVI), lindas palavras citadas no início do oratório “O Messias”, de Georg Händel. “Eu sou Aquele que os consola”, afirmou o Senhor (Is 51:12). Assim como Deus nos conforta, devemos consolar os outros, ensina o apóstolo Paulo (2Co 1:3-4). Isso deve ser feito pessoalmente ou por meio de ministérios específicos, como a capelania, tema da reportagem de capa. Se há pessoas que assolam e desolam, outras consolam. Confortar os aflitos é se identificar com eles. Em 2 Coríntios, apelando para conceitos da Bíblia hebraica, Paulo destacou o assunto da consolação. Ele usou várias vezes o verbo parakaleo, que tem o sentido de chamar para estar ao lado, socorrer e consolar. Curiosamente, Epiteto, um filósofo estoico contemporâneo do apóstolo, empregou o mesmo vocabulário para exortar os sofredores a deixar seu estado emocional alterado e voltar à ordem racional divinamente estabelecida. Paulo foi em outra direção. Ele sublinhou o consolo de Deus e proclamou o reino escatológico de Cristo, que estabelece uma nova ordem e ressignifica o sofrimento. O cuidado pastoral de Deus é exercido, em grande medida, por Sua proximidade. Às vezes, a simples presença já transmite conforto. “A presença do Pai acompanhava Cristo, e nada Lhe sucedia que o amor infinito não tivesse permitido para a bênção do mundo”, reflete Ellen White. “Aí residia o Seu e o nosso motivo de conforto. Quem está imbuído do Espírito de Cristo habita em Cristo. Tudo o que lhe sucede vem do Salvador que o rodeia com Sua presença. Nada pode atingi-lo sem a permissão do Senhor” (A Ciência do Bom Viver, p. 488-489). Você pode confiar no consolo atual e final de Deus, pois Ele limpará de seus olhos toda lágrima (Ap 7:17; 21:4). Quando as circunstâncias fazem você chorar, Deus cria meios para secar suas lágrimas a fim de que você volte a ver a glória Dele. ] MARCOS DE BENEDICTO é editor da Revista Adventista

2

R e v i s t a A d ve n t i s t a // Novembro 2019

Foto: Adobe Stock

EDITORIAL


Nov. 2019

No 1351

Novembro 2019

Ano 114

www.revistaadventista.com.br

Pu­bli­ca­ção Men­sal – ISSN 1981-1462 Órgão Ge­ral da Igre­ja Ad­ven­tis­ta do Sé­ti­mo Dia no Bra­sil “Aqui está a pa­ciên­cia dos san­tos: Aqui es­tão os que guar­dam os man­da­men­tos de Deus e a fé de Je­sus.” Apocalipse 14:12 E­di­tor: Marcos De Benedicto E­di­to­res As­so­cia­dos: Márcio Tonetti e Wendel Lima Conselho Consultivo: Ted Wilson, Erton Köhler, Edward Heidinger Zevallos, Marlon Lopes, Alijofran Brandão, Domingos José de Souza, Leonino Santiago, Marlinton Lopes, Maurício Lima, Moisés Moacir da Silva, Sérgio Alan Caxeta e Stanley Arco Projeto Gráfico: Eduardo Olszewski Foto da Capa: Adobe Stock

Adventist World é uma publicação internacional produzida pela sede mundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia e impressa mensalmente na África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Áustria, Brasil, Coreia do Sul, Estados Unidos e México v. 15, no 11 Editor: Bill Knott Editores associados: Lael Caesar, Gerald Klingbeil, Greg Scott Editores-assistentes: Sandra Blackmer, Stephen Chavez, Costin Jordache, Wilona Karimabadi (Silver Spirng, EUA); Pyung Duk Chun, Jae Man Park, Hyo-Jun Kim (Seul, Coreia do Sul) Tradutora: Sonete Costa Arte e Design: Types & Symbols Gerente Financeiro: Kimberly Brown Gerente Internacional de Publicação: Pyung Duk Chun Gerente de Operações: Merle Poirier

SUMÁRIO

12

19

24

Presença que faz diferença

Chamado divino

Verdadeiro ou falso?

O serviço de capelania é mais amplo e importante do que se imagina

Os profetas falam em nome de Deus

26

32

44

Entenda a Bíblia

Luz menor

Jesus nos ensinou a interpretar as Escrituras

A função do dom profético moderno

Agenda complexa

Conselheiros: Mark A. Finley, John M. Fowler, E. Edward Zinke Comissão Administrativa: Si Young Kim, Bill Knott, Pyung Duk Chun, Karnik Doukmetzian, Suk Hee Han, Yutaka Inada, German Lust, Ray Wahlen, Juan Prestol-Puesán, G. T. Ng, Ted N. C. Wilson

Desconfie dos profetas autoproclamados

As discussões e decisões da cúpula mundial da igreja

CA­SA PU­BLI­C A­DO­R A BRA­SI­LEI­R A Edi­to­ra da Igreja Adventista do Sétimo Dia

Ro­do­via Es­ta­dual SP 127 – km 106 Cai­xa Pos­tal 34; CEP 18270-970 – Ta­tuí, SP Fone (15) 3205-8800 – Fax (15) 3205-8900 SERVIÇO DE ATENDIMENTO AO CLIENTE LIGUE GRÁTIS: 0800 9790606 Segunda a quinta, das 8h às 20h Sexta, das 8h às 15h45 / Domingo, das 8h30 às 14h

2 EDITORIAL

22 SEMANA DE ORAÇÃO

42 MEMÓRIA

4 CANAL ABERTO

28 SEMANA DE ORAÇÃO

43 IGREJA

5 BÚSSOLA

30 SEMANA DE ORAÇÃO

47 EDUCAÇÃO

Zona de conforto

Diretor-Ge­ral: José Carlos de Lima

A opinião de quem lê

Diretor Financeiro: Uilson Garcia Re­da­tor-Che­fe: Marcos De Benedicto Ge­ren­te de Produção: Reisner Martins

História emocionante

Ge­ren­te de Ven­das: João Vicente Pereyra Chefe de Arte: Marcelo de Souza

6 ENTREVISTA

Não se devolvem originais, mesmo não publicados. As versões bíblicas usadas são a Nova Almeida Atualizada e a Nova Versão Internacional, salvo outra indicação. E­xem­plar avul­so: R$ 2,96 | Assinatura: R$ 35,50

Inimiga de todos

8 PAINEL

Datas, números, fatos, gente, internacional

Nú­me­ros atra­sa­dos: Pre­ço da úl­ti­ma edi­ção.

17 EM FAMÍLIA Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem prévia autorização escrita do autor e da Editora. Tiragem: 146.000

5477/40732

Onda de desemprego

Autores inspirados

À lei e ao testemunho

Antigos e novos

34 SEMANA DE ORAÇÃO Para nossos dias

36 SEMANA DE ORAÇÃO INFANTIL Mensageiros do Céu

Dormiram no Senhor

Dividindo para somar

Firme na rocha

48 PÁGINAS DE ESPERANÇA Leitora improvável

49 ESTANTE

Pão nosso de cada dia

50 ENFIM

Adeus, geleiras!

3


CANAL ABERTO VENTOS DE DOUTRINA

A matéria de capa de outubro nos lembra, como povo remanescente de Deus no tempo do fim, que nosso Timoneiro permanece com Sua mão bem firme ao leme da embarcação dos remidos, rumo ao Céu. Os faróis cintilantes que pontilham o mar bravio que ora atravessamos nos dão plena segurança de que logo vamos ancorar no porto seguro. Como integrante da igreja hoje militante e em breve triunfante, devo conclamar meus amados irmãos: avancemos, pois os sinais indicam que, não muito além, seremos abraçados pelo nosso rei Jesus. Samuel Kettle / Sumaré (SP)

NAVEGANDO PELA CRISE

Parabenizo a equipe da Revista Adventista pela matéria de capa de outubro. Foi maravilhoso o modo como o pastor Alberto Timm nos transportou ao passado, contextualizou o presente e nos direcionou ao futuro. Cláudia Moraes / Mesquita (RJ)

ESPÍRITO DE COMPETIÇÃO

Após ter lido na edição de outubro matérias importantes como “Momento crítico”, “Abra os olhos”, “Ventos de doutrina” e, especialmente, o artigo “Espírito de competição”, concluí que não estou sozinho. Lembrei-me de experiências de competição, rivalidade e supremacia que testemunhei no ministério. Esse espírito impede o crescimento do pastor e dos membros. O sentimento do qual precisamos é o de Cristo (Fp 2:3-8). Na igreja, nunca deveria haver competição santa. Pois, se é competição, já não é santa. Adolfo Victor Tito Rojas / São Paulo (SP)

não existe ninguém que não tenha sofrido crises pessoais, na família e no trabalho. O importante é não desvanecer diante delas, mas perceber que estamos r­ odeados de promessas, de apoio e conforto divinos. Já testemunhei que, quando estamos dentro do túnel escuro da crise, de repente surge a luz que nos ilumina e ajuda a enxergar o poder que nos está disponível. Léo Ranzolin / Estero, Flórida (EUA)

O editorial de outubro foi elaborado com excelência. Trata-se de um texto maduro, realista, encorajador e relevante para a igreja que enfrenta os desafios de uma sociedade secularizada, crítica mordaz e superficial no entendimento bíblico. Os efeitos desse contexto são percebidos também no meio adventista, afetando nossa identidade profética. Achei genial o trecho do texto que diz que somos uma igreja idealizada no Céu, mas localizada neste planeta onde prevalece o mal; um povo formado por cidadãos do futuro, mas ainda vivendo no presente. João Antônio Almeida (Jama) / Tatuí (SP)

MOMENTO CRÍTICO

Considerei inspiradoras as mensagens dos pastores Marcos e Erton na edição de outubro. Muitas vezes, as crises têm avassalado a liderança da igreja e as congregações. Além disso,

4

RETRATOS DA IGREJA

A matéria de capa de setembro foi muito elucidativa, pois tratou da pesquisa mais ampla já feita pela nossa denominação aqui na América do Sul.

Como líder da igreja, agora tenho mais subsídios para trabalhar com nossas congregações, visando fortalecer seus pontos positivos, minimizar suas fraquezas e aproveitar as oportunidades. A pesquisa acaba funcionando como um verdadeiro SWOT, ferramenta de gestão e análise estratégica. Que outros estudos sejam realizados! Donato Azevedo Filho / Marabá (PA)

ESPELHO

Achei muito relevante o editorial do pastor Marcos De Benedicto na edição de setembro. Ele destacou como as metáforas para a igreja utilizadas na Bíblia mostram o amor de Deus por Seu povo. O editorial também toca na questão de “olharmos no espelho” e vivermos de maneira autêntica. Glicênia Rodrigues Coelho / Cuiabá (MT)

TRADIÇÃO ORAL

A edição de agosto trouxe um artigo muito interessante sobre a tradição oral entre os adventistas africanos. A utilização da história oral é realmente muito importante para a preservação da memória da nossa igreja, em qualquer lugar do mundo, inclusive no ­Brasil. O arquivo da Revista Adventista (acervo.revistaadventista.com.br) também é uma ótima fonte e tem me ajudado muito nas minhas pesquisas do mestrado em História na UFPB. Tenho estudado a história do adventismo na Paraíba, e minha pesquisa tem sido enriquecida pelas entrevistas concedidas por membros de nossas igrejas mais antigas, como a que realizei com a irmã Serverina Freitas da Silva, no ­início de setembro. Ela é uma das fontes mais importantes da história do adventismo nesse estado. Não podemos permitir que nossa história seja esquecida! Daniel da Silva Firino / Bayeux (PB) Expresse sua opinião. Escreva para ra@cpb.com.br. ou envie sua carta para Revista Adventista, caixa postal 34, CEP 18270-970, Tatuí, SP.

Os comentários publicados não representam necessariamente o pensamento da revista e podem ser editados por questão de clareza ou espaço.

R e v i s t a A d ve n t i s t a // Novembro 2019


BÚSSOLA

HISTÓRIA EMOCIONANTE

A PRIMEIRA IGREJA ADVENTISTA EM SOLO SUL-AMERICANO FOI ORGANIZADA NA ARGENTINA E NESTE ANO ELA COMPLETA SEU 125O ANIVERSÁRIO ERTON KÖHLER

O

surgimento da obra adventista no território da Divisão SulAmericana tem uma história emocionante. Tudo começou em 1890, quando Jorge Riffel chegou à Argentina como missionário de sustento próprio. Ele havia imigrado para a Argentina pela primeira vez em 1880, mas, como teve dificuldades com a agricultura, decidiu mudar-se com a família para os Estados Unidos. Foi em terras americanas, em 1888, que ele conheceu a mensagem adventista e foi batizado. Enquanto a igreja estudava intensamente o tema da justificação pela fé e enfrentava grandes desafios, Deus estava plantando a semente que germinaria em solo sul-americano. Um ano antes, em 1887, um grupo de imigrantes alemães que havia fugido para a Rússia veio da região do Volga para tentar a vida na Argentina. Entre eles estavam Reinhard Hetze e sua família. A história das duas famílias se encontrou e foi o ponto de partida para o início da obra adventista na Argentina e na América do Sul. Após seu batismo, Jorge Riffel começou a enviar literatura adventista para Reinhard Hetze, despertando seu interesse pela mensagem. Vendo um ambiente positivo para compartilhar a mensagem adventista, Riffel decidiu voltar à Argentina para alcançar os demais imigrantes alemães na província de Entre Rios. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Novembro 2019

CELEBRAMOS NOSSO COMEÇO PREPARANDO MAIS GENTE PARA O FINAL Não demorou para que aproximadamente 60 pessoas se reunissem na casa de Hetze para estudar a Bíblia, registrando assim a primeira reunião adventista e o primeiro programa evangelístico em nosso território. Pouco tempo depois, Hetze foi batizado, seguido por sua família e outros conversos. Mesmo com forte oposição, não desanimaram. Pouco depois, mudaram-se para outra região perto dali, hoje conhecida como Aldeia Jacobi, e intensificaram o trabalho. Estudavam a Bíblia nas casas, batizavam cada sábado e faziam evangelismo. Na mesma época, a liderança da Igreja Adventista, em Battle Creek (EUA), começou a receber cartas da

Argentina falando sobre os resultados do trabalho. Vendo possibilidades de crescimento desse trabalho, decidiu destinar a segunda oferta mundial da Escola Sabatina, recolhida no final de 1890, ao começo da obra adventista no que chamaram de “Missão Sul-Americana”. Frank Westphal, o primeiro pastor, foi enviado para apoiar o trabalho, que avançava rapidamente. Poucos dias depois do encontro com os novos fiéis, ele organizou em 9 de setembro 1894 nossa primeira igreja, próximo da área rural de Crespo, onde está a igreja atual. Cinquenta anos depois do grande desapontamento, o movimento que parecia ter acabado se expandiu para o sul das Américas. Em 2019 completamos 125 anos desde que a pequena igreja foi organizada, com 36 membros. Essa “igreja mãe” deu origem às 28.341 congregações que temos hoje. O único pastor se multiplicou em 4.823 ministros, e alguns deles são descendentes das cinco gerações daquela igreja pioneira. Os primeiros 36 membros se transformaram em 2.523.015 adventistas. Somente nos últimos 50 anos, nosso número de membros cresceu, proporcionalmente, dez vezes mais que a população sul-americana. Buscamos a eternidade, mas sempre aprendendo de nossa história, da dedicação dos pioneiros, de sua confiança na direção divina, da profundidade bíblica e do foco intenso no cumprimento da missão. Por isso, a equipe da Divisão Sul-Americana foi a Crespo, onde participou de um culto de ação de graças pelos 125 anos de nossa primeira igreja. Tive o privilégio de apresentar uma mensagem bíblica, batizar Anália e Carmem, e dali nossa equipe já se espalhou por toda a Argentina para fazer parte de mil campanhas de evangelismo. Celebramos nosso começo preparando mais gente para o final. ] ERTON KÖHLER é presidente da Igreja Adventista para a América do Sul

5


ENTREVISTA

ANDRÉ OLIVEIRA

Shawn Boonstra

Filho de imigrantes holandeses que viviam no Canadá, Shawn Boonstra, de 50 anos, se afastou da igreja na adolescência e foi se reconectar à tradição adventista somente depois de se converter na universidade. Pastoreou igrejas em seu país e apresentou a versão canadense e internacional do programa televisivo Está Escrito. Desde 2013 é o orador e diretor do ministério radiofônico A Voz da Profecia, nos Estados Unidos. Acostumado a falar para grandes audiências em várias partes do mundo, ele também é autor de alguns livros. Um deles, O Mistério da Morte, está sendo lançado em português pela CPB.

INIMIGA DE TODOS

AUTOR DE LIVRO SOBRE A MORTE FALA A RESPEITO DE PERGUNTAS QUE INTRIGAM A HUMANIDADE E COMO A BÍBLIA PODE NOS OFERECER RESPOSTAS

Como surgiu a ideia de escrever O Mistério da Morte (Draining the Styx)? Há muito tempo sou fascinado pelas principais questões da vida. Por que estamos aqui? Como sabemos que nossa percepção do Universo é correta? Qual é o melhor jeito de viver? Essas foram as perguntas que me atraíram para os assuntos que estudei na universidade e sobre as quais tenho pensado desde os oito anos de idade. Qual tem sido sua experiência pessoal com a morte? Muito parecida com a da maioria das pessoas: perdi parentes e amigos. Quando isso ocorre, me pergunto: por que a vida precisa incluir capítulos tão dolorosos? Eu também tive uma doença 6

Por que as pessoas são tão fascinadas com a morte? Talvez porque todos sabemos que ela está se aproximando. Quando você é jovem, a morte é um fato interessante, algo que acontecerá algum dia. Contudo, quando você envelhece, percebe que a vida parece muito mais curta do que imaginava. Então você quer saber o que realmente vai acontecer quando fechar os olhos pela última vez. Que tipo de conforto esse livro pode trazer? Descobri que a Bíblia oferece explicações muito convincentes sobre a morte, respostas que fazem sentido e trazem esperança. A Bíblia descreve a morte como uma inimiga que nunca deveria ter se tornado realidade. Porém, as Escrituras também revelam por que a morte ocorre e qual é a solução de Deus para ela. Quando entendi essa questão, experimentei paz. Ainda choro quando alguém morre, mas não me entristeço como aqueles “que não têm esperança” (1Ts 4:13).

Como a consciência da morte pode afetar positivamente o estilo de vida? Nosso tempo é limitado (Sl 90:12). Por isso, desperdiçar a vida é uma grande tragédia. Saber o que ocorre quando alguém morre e entender o plano de Deus para a humanidade também remove de nós o medo da morte (Hb 2:14 e 15). Assim, podemos experimentar a liberdade de viver confiando Naquele que está no controle de tudo. ] R e v i s t a A d ve n t i s t a // Novembro 2019

Foto: Palmer Halvorsen – Voice of Prophecy

misteriosa em 2009 que me convenceu de que poderia ser meu fim. Quando você pensa que está diante do túmulo, isso o leva a valorizar as coisas que realmente importam.

No que a explicação bíblica se diferencia das visões mais populares sobre a vida após a morte? Desde o período intertestamentário e os primeiros séculos do cristianismo, elementos da filosofia grega se tornaram populares entre os defensores da fé judaico-cristã, o que em parte levou à grande confusão que temos hoje sobre o tema. Porém, o testemunho das Escrituras é fundamentado Naquele que esteve morto e vive para sempre, e em cujas mãos estão as chaves da sepultura (Ap 1:18). E o que a Bíblia diz é que além-túmulo a vida não é sombria nem etérea. O ser humano é integral, indivisível; não somos uma junção de corpo e alma. Por isso, a morte deve ser vista como um sono temporário até que sejamos despertados pelo nosso Criador.


adventistas.org

adventistasbrasil

adventistasoďŹ cial

adventistasbrasiloďŹ cial

iasd


PAINEL F AT O S

RECONHECIMENTO

De Manaus (AM), como capital mundial dos desbravadores, em 14 de setembro. Um monumento no anfiteatro de Ponta Negra com um relógio de sol e o triângulo da agremiação é uma homenagem aos trabalho dos 342 clubes da cidade.

Da empresa Sete Júnior, da Faculdade Adventista da Bahia, que foi classificada pelo segundo ano consecutivo como empresa de alto crescimento no 260 Encontro Nacional de Empresas Juniores (ENEJ), em Gramado (RS), no início de setembro. Em 2019, a Sete Júnior completou 20 anos prestando consultoria empresarial no Recôncavo Baiano.

SCB REPUDIA TERRAPLANISMO

47.705

pessoas foram batizadas em setembro em toda a Divisão Sul-Americana. O recorde histórico para o Batismo da Primavera superou a marca de 2015, quando 43.844 pessoas haviam sido batizadas.

8

Em nota oficial publicada no Portal Adventista, em outubro, a Sociedade Criacionista Brasileira (SCB) negou qualquer apoio à ideia de uma Terra plana. Apesar de não ter base científica nem bíblica, o terraplanismo tem ganhado força na internet e sido associado por alguns v ­ eículos de imprensa com movimentos religiosos e criacionistas. Na nota, a SCB ainda recomenda dois livros para comprovar que o criacionismo sério não tem que ver com terraplanismo: Inventando a Terra Plana (Unisa, 1999), de Jeffrey Burton, e Tempo Astronômico, Histórico e Profético (SCB, 2016), de Ruy Carlos de Camargo Vieira.

R e v i s t a A d ve n t i s t a // Novembro 2019

Fotos: Adventist Record / Henrique Rodrigues / FADBA

Da revista Adventist Record, por um artigo teológico a respeito do apóstolo Paulo e a misoginia; e das revistas Signs of the Times e Mums At The Table pelo design dos periódicos. As três publicações adventistas foram premiadas pela Australasian Religious Press Association (ARPA), em setembro, na cidade de Christchurch, na Nova Zelândia.

De Zoser Wilmar Ramos Amiquero, pelo Prêmio Nacional da Juventude. Amiquero é recém-formado em Educação Intercultural Bilíngue na Universidad Peruana Unión e ganhou um troféu e recompensa em dinheiro pelo projeto Educativa TV, na área de comunicação. Na premiação, em setembro, ele foi cumprimentado pela ministra da educação do Peru, Flor Pablo Medina, e pelo presidente do país, Martín Vizcarra Cornejo. A distinção é dada àqueles que se destacam com projetos que valorizam a cultura e a identidade nacional.


CURSO INOVADOR

EVENTO

35 ANOS DA CAMPAL DE MUTUTI Na Ilha do Mututi, uma das formações do arquipélago de Marajó (PA), é realizada há 35 anos uma das maiores campais adventistas do Norte do Brasil. Neste ano, nos dias 6 a 8 de setembro, 2 mil pessoas celebraram o crescimento do adventismo na região e sete pessoas foram batizadas no evento. Os participantes puderam conhecer o pastor Valter Resende, pioneiro da campal, e a lancha Luzeiro 29. A partir de 2020, o Unasp vai receber seus primeiros alunos de três novos cursos: Tecnólogo em Gastronomia, Gestão da Tecnologia da Informação e em Desenvolvimento e Gestão de Startups. Considerado o primeiro do Brasil nesse ramo, o curso de startups deve ajudar seus egressos a abrir negócios nas áreas de finanças, educação e alimentação, por exemplo, tendo como base o uso da tecnologia. Para saber mais sobre os 33 cursos de graduação do centro universitário, acesse unasp.br.

CALENDÁRIO OFICIAL O Dia da Campanha Quebrando o Silêncio (quarto sábado de agosto) e o Dia da Igreja Adventista do Sétimo Dia (22 de outubro) passaram a integrar o calendário oficial do Estado de São Paulo. A deputada estadual Damaris Moura é autora do primeiro projeto de lei. E o exdeputado estadual Gil Lancaster é o autor do segundo. Ambas as resoluções foram publicadas em outubro no Diário Oficial.

D ATA 21 A 24 DE NOVEMBRO

Dez mil jovens, que ficarão acampados em 8 mil barracas no estádio Mané Garrincha, são esperados para o Together Mission. O evento será realizado em Brasília (DF) e unirá seminários, workshops, feiras e tarefas práticas em vários pontos da capital federal. A proposta é oferecer para a juventude a oportunidade de ter uma experiência impactante de missão e voluntariado. Acesse o site togethermission.com.br.

Fotos: Unasp / Arquivo pessoal

ELEIÇÃO NA UNOB No dia 18 de outubro, o pastor Sérgio Alan Caxeta foi escolhido pela Comissão Diretiva da sede ­sul-americana da Igreja Adventista como o novo presidente da denominação para o noroeste do Brasil (União Noroeste Brasileira). Graduado em Teologia pela Faculdade Adventista da Bahia e mestre em Liderança pela Universidade Andrews (EUA), Caxeta tem 16 anos de ministério na região amazônica, trabalhando como pastor distrital, diretor de departamentos e administrador da igreja. Ele substitui o pastor Gilmar Zahn, que deixou a função por questões pessoais. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Novembro 2019

Ao longo dos anos, observei dois padrões em quem navega na internet. Todo mundo publicou fotos de família e acessou algum site de pornografia pelo menos uma vez na vida. Edward Snowden, ex-membro da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos, em entrevista à revista Veja (25 de setembro de 2019) sobre o acesso de governos e empresas aos conteúdos privados na internet. 9


GENTE

O L H A R D I G I TA L

BODAS DE VINHO (70 ANOS) Do pastor Orlando (95 anos) e Edda Ritter (93 anos), em agosto, numa celebração que reuniu familiares e amigos em Campo Grande (MS). Orlando e Edda se casaram na Igreja Central Paulistana, tendo como oficiante o pastor M ­ oysés Nigri. O casal, que serviu por 60 anos ao Unasp, campus São Paulo, tem quatro filhos, oito netos e quatro bisnetos. O pastor Ritter é autor do livro O Professor (CPB, 2014).

BODAS DE DIAMANTE (60 ANOS)

DOCUMENTÁRIO SOBRE PROFECIA

O Próximo Reino é a versão dublada em português do documentário australiano sobre as evidências históricas da profecia de Daniel 2 (disponível em feliz7play.com). São 28 minutos de entrevistas com especialistas que contextualizam esse texto fundamental para a fé adventista.

De Mário Antônio Pinto (80 anos) e Maria Custódio Pinto (84 anos), em Passa Quatro (MG), no início de setembro. A cerimônia foi realizada numa pousada pelos pastores Enoch de Oliveira e Sirley Vasquez. O casal tem dez filhos, 18 netos e quatro bisnetos.

BODAS DE OURO (50 ANOS) De Ismar Gomes da Silva e Terezinha Carla da Silva, no início de novembro, em Belo Horizonte (MG). O casal tem seis filhos, 11 netos e dois bisnetos.

150 mil

cópias da Bíblia de Estudo Andrews em inglês já foram vendidas desde 2010. Em setembro, foi lançada uma edição dela na versão NVI. 10

O IMPACTO DA ADRA Em exibição na TV Novo Tempo e disponível na plataforma feliz7play.com, as duas temporadas de 13 episódios da série Retratos: Histórias Não Contadas vão mostrar como o trabalho da Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA) tem mudado a vida de quem vive em situação de vulnerabilidade social na América do Sul.

4a posição.

Esse é o espaço que a Igreja Adventista ocupa no ranking de denominações religiosas que mais possuem templos na capital paulista. O levantamento do jornal Folha de S.Paulo mostrou também que houve uma expansão evangélica na cidade nos últimos 25 anos, especialmente na periferia.

R e v i s t a A d ve n t i s t a // Novembro 2019

Fotos: Arquivo pessoal / divulgação

De João Galdino de França e Gertrudes de Assis França, no fim de setembro. Eles são membros da Igreja Central da Praça, em Cacoal (RO). O casal tem um filho, cinco netos e oito bisnetos.


INTERNACIONAL

ÍCONE DA AUSTRÁLIA

ESCOLA DE MEDICINA EM RUANDA No dia 2 de setembro foi inaugurada a Faculdade de Medicina da Universidade Adventista da África Central, no campus de Kigali, em Ruanda. Quatro edifícios irão abrigar nove laboratórios, salas de aula, restaurante, dormitório de estudantes e residências para hóspedes. Depois de receber ofertas missionárias de todo o mundo, em 2016, agora a universidade vai contar com o apoio do governo ruandês para a construção do hospital universitário. Além de Ruanda, há escolas adventistas de medicina nos Estados Unidos, México, Argentina, Peru, Nigéria e Filipinas.

1,5 milhão de dólares

é o valor a ser destinado pela federação de empreendedores dos Estados Unidos (ASi, na sigla em inglês) para projetos evangelísticos ao redor do mundo, beneficiando, inclusive, o Brasil.

Depois de completar 90 anos no mercado de cereais que lidera há bom tempo na Austrália, a marca Weet-Bix agora está gravada numa moeda de dólar australiano. A coleção especial, que procura resgatar de maneira divertida elementos da cultura australiana, que vão de A a Z, tem o produto da empresa adventista Sanitarium ocupando a letra W. A cada ano, 2,4 bilhões de unidades do Weet-Bix são consumidas no país.

12 mil desbravadores

marcharam pelas ruas de Santo Domingo, na República Dominicana, para divulgar as atividades da agremiação e distribuir livros missionários.

45 milhões

de imagens e vídeos de conteúdo sexual envolvendo crianças foram identificadas nos Estados Unidos neste ano. Em 1998, esse número era em torno de 3 mil.

O celular é um membro fantasma do corpo, usado como um sinal

Fotos: Lisa Beardsley / Adventist Review

de que se está ocupado e indisponível, e existe como uma força viciante que promove a divisão da atenção entre aqueles que estão no mesmo espaço que você e aqueles que não estão.

Descrição da série fotográfica “Removed” (removido), produzida pelo norte-americano Eric Pickersgill, sobre a dependência gerada pelos smartphones. Ele retratou cenas cotidianas em que o celular costuma interromper a interação social. Disponível em removed.social/series.

Colaboradores: Abraham Bakari, Felipe Lemos, Jefferson Paradello, Luciana Santana Diniz, Marcos Paseggi, Maryellen Fairfax, Nexo Jornal, Prince Bahati, Rafael Brondani, Saiury Calcaño, The New York Times, Wiliane Passo e Yásmik Pari

R e v i s t a A d ve n t i s t a // Novembro 2019

11


CAPA

Foto: Adobe Stock

A presenรงa que faz diferenรงa

12

R e v i s t a A d ve n t i s t a // Novembro 2019


SEJA EM HOSPITAIS, ESCOLAS, PRISÕES OU APÓS TRAGÉDIAS, PASTORES E MEMBROS PODEM LEVAR CONFORTO POR MEIO DA CAPELANIA M ÁRCIO TONET TI

A

figura do capelão é quase tão antiga quanto a própria história do cristianismo e há séculos sua presença tem ajudado a levar paz em contextos de guerra e alívio em momentos de dor. Embora historicamente esse trabalho tenha se desenvolvido com mais força nas entidades civis e militares de internação coletiva, como presídios, hospitais, escolas e quartéis, o ministério da capelania ganhou, em épocas mais recentes, novas formas de expressão e passou a exercer influência em novos lugares. Por exemplo, até há pouco tempo, quase não se ouvia falar em capelania no contexto de desastres. Mas ultimamente estão surgindo até cursos e treinamentos sobre o tema, como foi o caso do seminário promovido na capital paulista nos dias 14 e 15 de outubro pela Associação de Capelania na Saúde (ACS), com o apoio do Mackenzie e da Sociedade Bíblica do Brasil. Entre os palestrantes esteve Lily Lam, conhecida por sua atuação em coordenar o trabalho de apoio de igrejas após o ataque terrorista de 11 de setembro e a passagem do furacão Harvey. A ideia foi mostrar como é possível servir às vítimas e equipes de socorro no contexto de tragédias que podem ocorrer em qualquer hora e lugar. Esse é apenas um exemplo de como a capelania expandiu fronteiras. O “ministério da presença”, como alguns têm chamado, se tornou quase onipresente. Ou seja, o trabalho do capelão hoje não se limita a uma capela nem a uma fé específica. “Em vez disso, os capelães são chamados a ministrar em contextos pluralistas para pessoas de diferentes crenças”, observa o pastor Mario Ceballos, líder do Adventist Chaplaincy Ministry (ACM), departamento da sede administrativa da Igreja Adventista em nível mundial. Refletindo essa tendência, em alguns lugares a “capela” tem sido substituída por “salas ecumênicas”, como a que existe desde 1981 no ­BarraShopping, na capital carioca, primeiro no país a implantar a ideia nesse tipo de ambiente. Um campo relativamente novo que vem sendo desbravado são os ENTRAR NO “PAÍS aeroportos. Hoje, mais de uma DAS LÁGRIMAS” NÃO centena deles ao redor do mundo contam com serviços de capeÉ ALGO SIMPLES. lania. “Oferecemos assistência mental, espiritual e social às CONSOLAR É UM pessoas que estão passando por MINISTÉRIO. O MAIS uma crise pessoal, que estão tendo problemas no trabalho ou DIFÍCIL TALVEZ que precisam apenas de alguém

R e v i s t a A d ve n t i s t a // Novembro 2019

com quem conversar. Estar disponível é o nosso principal dever”, diz a página oficial da Associação Internacional de Capelães da Aviação Civil (IACAC, na sigla em inglês). Num dos maiores aeroportos dos Estados Unidos, um jovem pastor adventista têm se dedicado a atender passageiros e funcionários. “A experiência de trabalhar num lugar em que o fluxo de pessoas é muito grande (24 milhões de passageiros ao ano e mais de 30 mil empregados) é único, emocionante, rápido e cheio de surpresas”, relata José Barrientos, líder de jovens de uma das sedes administrativas locais. Ele e outro ministro da mesma denominação integram a equipe de 16 capelães assistentes do programa Washington Airports Interfaith Chapels. Uma vez por mês, Barrientos ministra o serviço protestante em espanhol e inglês na capela local. Mas o trabalho que ele realiza desde 2007 é mais amplo. Uma vez na semana, o voluntário percorre os terminais a fim de identificar necessidades e visitar os funcionários em seus escritórios. Como é de se esperar, a maioria das pessoas contatadas não tem muito tempo, pois estão atrasadas, precisam cumprir horários ou não querem esperar. Por essa razão, geralmente um capelão de aeroporto não tem mais do que cinco minutos para interagir com alguém. “Nesse curto espaço de tempo, ele deve tratar de ser o apoio que a pessoa necessita porque há muita probabilidade de não voltar a vê-la”, observa o capelão adventista. No caso dos funcionários, é maior a possibilidade de continuar o contato. “Muitos se aproximam porque necessitam de conselhos. Outros porque estão passando por situações difíceis e querem que oremos em favor deles”, o pastor Barrientos conta. Entre 2012 e 2015, um ministério semelhante foi iniciado no aeroporto mais movimentado do Brasil. Nesse período, pastores e voluntários da igreja iam ao local três dias por semana e estabeleciam contato com muitas pessoas na capela do Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP). As demandas de uma “congregação” como essa são as mais diversas. “Vão desde as mais simples, como acalmar alguém que perdeu o voo, não recebeu a bagagem ou tem medo de viajar de avião, até as mais complexas, como confortar quem está viajando para sepultar um ente querido ou resolver um problema familiar”, conta o pastor Heber Mascarenhas, que liderou o projeto durante três anos. “De certo modo, às vezes um aeroporto é como um hospital. Ali há muita gente que precisa de cuidados”, Barrientos compara.

13


14

PROFISSIONALIZAÇÃO Para chegar a esse ponto, o nível de qualificação dos serviços de capelania, em geral, também passou a ser bem maior. “A capelania exige uma gama de conhecimentos e habilidades que precisam ser implantados em situações novas”, conforme advogou Janet Eccles na conclusão de um artigo publicado em 2014 no Journal of Pastoral Care & Counseling. Diante das novas demandas, nas últimas três décadas, o Ministério de Capelania Adventista têm investido em recrutamento, certificação e treinamento de capelães. A Universidade Andrews (EUA), por exemplo, oferece mestrado e doutorado com ênfase em capelania, já que, nos Estados Unidos, ter estudos avançados na área é um dos requisitos para quem quer ser reconhecido como capelão em instituições governamentais e da igreja. Ceballos, que também atua como professor adjunto e coordenador dessa área de concentração do Doutorado em Ministério na Andrews, explica que o programa se estendeu a outras regiões. Fora da América do Norte, o primeiro centro adventista de formação de capelães foi estabelecido no Hospital Adventista de Sydney, na Austrália. Logo depois, o Adventist Medical Center, em Manila, nas Filipinas, passou a oferecer o programa, denominado Clinical Pastoral R e v i s t a A d ve n t i s t a // Novembro 2019

Foto: Adobe Stock

ENCORAJAMENTO AO AFLITO No livro The Work of the Chaplain (Judson Press, 2006, p. 28), Naomi Paget e Janet McCormack escreveram: “Quando as pessoas experimentam desapontamento ou crise, geralmente respondem com medo, confusão e ansiedade. [...] Quando tudo parece sem esperança, o capelão traz a certeza da esperança, transmitindo encorajamento a alguém desesperado.” Uma das atribuições de um capelão é oferecer consolo. Porém, entrar no “país das lágrimas” não é algo simples. Myrtes Mathias, conhecida poetisa evangélica brasileira, expressou essa difícil tarefa nas seguintes palavras: “Consolar é um ministério. O mais difícil talvez.” E provavelmente nenhum contexto seja mais desafiador nesse sentido do que o de um hospital. No caso de uma instituição como o Hospital de Clínicas da Unicamp, em Campinas (SP), a maioria dos pacientes apresenta quadro clínico bastante delicado. Muitos estão em estado terminal ou realizam tratamentos prolongados. Justamente por isso, João Sílvio da Rocha, um dos capelães do HC há 34 anos, entende que o papel do capelão hospitalar seja o de ser um contraponto à má notícia, ainda que, em alguns casos, seja ele quem comunique o resultado de um diagnóstico inesperado ou, em situações O CONCEITO MODERNO mais extremas, a morte de alguém. “Quando olhamos pela ótica da fé, DE CAPELANIA existem esperança, perdão, graça, misericórdia, acolhimento, a mão TEM EXPANDIDO estendida e a possibilidade de recoFRONTEIRAS E SE meçar”, afirma o pastor evangélico. Nos últimos anos, surgiram muiEXPRESSADO DE NOVAS tos estudos sobre a importância da fé no tratamento. Em certo sentido, MANEIRAS NO ESPAÇO a medicina entendeu que precisa PÚBLICO de Deus. E, nesse ponto, a cartilha

A Medicina Precisa de Religião, compilada no início dos anos 1980 pelo pastor adventista ­Valquírio de Souza Lima, um dos pioneiros na sistematização da capelania hospitalar no país, já mostrava como a medicina e o apoio religioso podem caminhar de mãos dadas. De lá para cá, também ganhou força a tendência de uma medicina mais humanizada e integrativa. Tudo isso contribuiu para que houvesse maior abertura para o trabalho do capelão, promovendo integração com outras áreas. “Hoje a capelania é parte da equipe do hospital, assim como os médicos, enfermeiros, psicólogos e outros profissionais”, observa o pastor Rocha, referindo-se especialmente ao contexto em que atua. Em alguns lugares, esses “paramédicos espirituais” fazem parte da equipe clínica e têm acesso a prontuários. Como mostrou uma reportagem divulgada em maio no site Religion News Service, hoje existem mais de 10 mil capelães de assistência médica nos Estados Unidos, a maioria com mestrado, treinamento prático rigoroso e certificação do conselho que regula a atividade. Quase dois terços dos hospitais do país disponibilizam capelães.


Education. Hoje, a igreja também oferece treinamento especializado em capelania na Universidade Adventista da África, no Quênia, e no Seminário Teológico Adventista Interamericano. No caso da América do Sul, o mestrado profissional em Educação Pastoral Clínica é realizado no Sanatório Adventista de River Plate, na Argentina. “A capelania não é algo que se consegue sem educação. É necessário e indispensável educar-se para fazer esse trabalho. Atualmente, temos 240 pastores da América Central sendo treinados”, afirma o pastor Hiram Ruiz, líder do Public Campus Ministry (Ministério do Campus Público), departamento da sede da igreja para essa região. Esse investimento possibilitou que a Divisão Interamericana fortalecesse outra área da capelania que também tem se expandido em outras regiões do mundo: o serviço de apoio às necessidades intelectuais, sociais e espirituais daqueles que estudam e trabalham em instituições e organizações fora da igreja. Recentemente, por exemplo, um adventista passou a integrar o serviço de capelania de uma importante universidade da Inglaterra. Embora não se dedique exclusivamente a essa atividade, já que seu trabalho principal é como pastor de igreja, Obinnaya Iheoma integra a lista de capelães voluntários reconhecidos pela Universidade de Birmingham. Como em outras instituições educacionais seculares que oferecem esse tipo de serviço, a equipe é multi-religiosa: há líderes religiosos que atendem vários segmentos do cristianismo, bem como a comunidade judaica, budista, hindu e islâmica. O nigeriano, que em sua dissertação de mestrado em Teologia analisou como oferecer cuidado pastoral nesse tipo de ambiente pluralista, é quem representa e atende os estudantes adventistas. Em 1990, quando a liderança mundial da denominação tomou dois votos diante do aumento do número de estudantes sem vínculo com a educação adventista, a intenção era que cada campus universitário secular com presença adventista fosse visto como um campo missionário e que um capelão fosse comissionado e treinado para atender as necessidades desses estudantes. Além disso, previa-se

SERVINDO NA ESFERA PÚBLICA Corporativa ou individualmente, a igreja desenvolve muitas iniciativas de capelania fora do ambiente denominacional. Hoje, a maioria delas está concentrada nos Estados Unidos. Lá, de acordo com dados do Adventist Chaplaincy Ministries, existem cerca de 380 capelães adventistas que atuam em universidades, presídios, unidades de saúde,

que fosse organizada uma agremiação de universitários adventistas em cada campus, que a igreja local desse suporte a esse ministério e que os universitários fossem capacitados para o evangelismo. Seguindo a recomendação da igreja, o Ministério do Campus Público, na América Central, tem desenvolvido um trabalho forte no ambiente universitário. Uma evidência disso foi o evento que reuniu mais de 1,4 mil estudantes e profissionais adventistas no início de agosto na capital do Panamá. Um dos objetivos tem sido a multiplicação de agremiações e centros de influência que sejam reconhecidos pelas universidades e tenham permissão para atuar como redes de apoio social e espiritual. Para dar suporte a essas estruturas, existem mentores ou conselheiros que geralmente trabalham no próprio campus, o que facilita o trânsito. Um terceiro nível de atuação é o dos capelães, pastores da cidade que oferecem assistência religiosa regularmente. “Eles recebem orientação para o desenvolvimento do trabalho, já que o mais importante é aprender a ouvir os alunos, em vez de trazer uma agenda pronta”, ele acrescenta. Esse tipo de assistência pode ser muito mais abrangente e importante do que se imagina. “A capelania é, frequentemente, o primeiro porto de escala para estudantes de fé, bem como para estudantes sem religião, funcionários, alunos estrangeiros e aqueles que buscam um ouvido atento e prestativo”, complementa Obinnaya, mais conhecido por Obi na Universidade de ­Birmingham. Além de ajudar os alunos a resolver e responder questões existenciais e ligadas à fé, outra dimensão do trabalho de um capelão universitário é o apoio ao direito de crença, o que também lhe permite alcançar um público mais amplo. “Os capelães muitas vezes desempenham um papel importante na gestão de desafios relacionados à discriminação por crença, extremismo religioso e liberdade de expressão nos campi universitários. Por isso, seu trabalho é cada vez mais enquadrado por obrigações legais”, o nigeriano destaca.

corporações militares, órgãos governamentais e aeroportos, entre outros espaços. Além de receber apoio, esses pastores são credenciados pela igreja. Ou seja, apesar de trabalharem fora do contexto organizacional adventista, são ministros licenciados. “Na realidade, sem a credencial e o endosso da Divisão Norte-Americana, eles não podem trabalhar como capelães”, observa o pastor Mario Ceballos, líder mundial do departamento. Cerca de 90% desses capelães já são ordenados. Fora da América do Norte, o ACM tem registro de 20 capelães que trabalham nas forças armadas, em hospitais e instituições correcionais de seis países africanos (Quênia, Nigéria, África do Sul, Zâmbia, Malawi e Gana), um que atua nas Forças Armadas nas Filipinas e cinco que servem em instituições correcionais na Ucrânia.

R e v i s t a A d ve n t i s t a // Novembro 2019

A PARTICIPAÇÃO DA IGREJA Há um vasto campo a ser explorado, especialmente no Brasil. Embora hoje a igreja no país tenha mais de 220 capelães atuando nas redes hospitalar e educacional adventista, o trabalho externo de capelania ainda é pouco expressivo. Nesse aspecto, a atuação da igreja nas Américas do Norte e Central continua sendo o principal modelo. No contexto norte-americano, onde a capelania é uma profissão regulamentada e consolidada há décadas, o que ainda não é uma realidade do Brasil, muitos adventistas fizeram escola. 15


COMO SE ENVOLVER Atualmente existem mais de 9 mil instituições

nia em shoppings, aeroportos, universidades e outros ambientes públicos e privados.

Fique por dentro do que diz a legislação. Embora ainda não seja regula-

Amplie seus conhecimentos. Muitas ins-

mentada no Brasil, a atividade do capelão

de capelania no Brasil, segundo dados do Con-

tituições de ensino no Brasil oferecem

se enquadra na lei 9.982, de 14 de julho de

selho Federal de Capelania (CONFECAP), o que

cursos e seminários que ajudam na formação

2000. A própria Constituição, no artigo 5o,

dá uma ideia do trabalho que pode ser feito

de capelães e auxiliares de capelania. Para

inciso VII, garante a assistência religiosa,

em muitos lugares. A seguir, confira algumas

quem domina o inglês, a igreja também conta

mas, ao mesmo tempo, proíbe o proselitismo.

dicas de como se envolver nesse ministério.

com periódicos especializados. É o caso das

Onde quer que você atue, busque o

Entre em contato com um capelão e se

revistas The Adventist Chaplain e For God &

apoio da instituição. Trata-se de um

voluntarie para apoiar seu ministério.

Country, entre outros recursos oferecidos

passo fundamental para a estruturação do

no site adventistchaplains.org.

serviço de capelania.

Você também pode se envolver em ministérios da igreja que se dedicam ao trabalho de

Especialize-se. Alguns contextos de-

visitação a hospitais e asilos ou que oferecem

mandam conhecimentos específicos

área, há oportunidades dentro e fora

assistência religiosa no sistema prisional e

mais aprofundados. Por exemplo, para um

da igreja. Hoje há empresas que contratam

em comunidades terapêuticas.

capelão hospitar, a bioética é a ciência in-

capelães, além de, periodicamente, serem

Identifique outros espaços de atuação

terlocutora entre a teologia e a medicina.

abertos concursos públicos para preencher

na esfera pública. Em alguns lugares,

Não basta ter vocação, é preciso se preparar

vagas nessa área, especialmente na cape-

para essa atividade.

lania militar.

pode haver abertura para o serviço de capela-

Um dos casos mais emblemáticos é o de Barry Black, contra-almirante reformado que desde 2003 exerce o cargo de capelão do Senado norteamericano, onde pastoreia uma “congregação” de aproximadamente 7 mil pessoas, incluindo legisladores, funcionários e seus familiares. Algo que parece ser fundamental para o fortalecimento da capelania é a compreensão de que, embora ela seja uma área de especialização do ministério, os membros também podem desempenhar um papel importante de apoio ao trabalho pastoral. Movidos por essa visão, a cada sábado, membros de comunidades adventistas se voluntariam para ajudar no serviço de capelania do Hospital Silvestre, conforme conta o pastor Dener Silva, capelão da instituição localizada na capital carioca. Outra iniciativa é o projeto Doutores de Esperança, que nasceu na Igreja Adventista de Volta Redonda (RJ), em 2013. Hoje mais de 300 voluntários de cinco cidades do Rio de Janeiro e Brasília (DF) dedicam os fins de semana para levar alegria e motivação às pessoas em hospitais públicos e asilos. O diferencial do projeto não está na técnica de humanização em si, inspirada no filme Patch Adams: O Amor é Contagioso, mas no fato de que há uma equipe que oferece apoio espiritual. “Depois da apresentação dos clowns (palhaços), que ajudam a tornar o ambiente menos carregado, entra em cena o que chamamos de equipe de intercessão. De maneira respeitosa e sensível, eles ouvem os pacientes, oram com eles e deixam o livro missionário”, conta Carlos Anderson Pereira, um dos idealizadores do projeto. Na opinião do pastor Dener, as congregações locais poderiam contar com um núcleo de pessoas que tenham sensibilidade e compaixão para lidar com a dor do próximo; que gostem de visitar, aconselhar e ouvir. Um dos reflexos de iniciativas assim talvez fosse mais gente disposta a se capacitar para esse trabalho. Há também a possibilidade de contratação dos muitos formados em Teologia que estão disponíveis no território brasileiro. O músico e maestro Paulo Torres, que se tornou conhecido em todo o país por tocar semanalmente para os pacientes nos hospitais ao longo de mais de 20 anos, despertou para isso. Ao se mudar para os Estados Unidos, em 2017, Torres continuou atuando como voluntário em unidades de saúde na região da Flórida, mas decidiu dar um passo a mais. “No ano 16

Para quem pensa em seguir carreira na

passado, realizei um curso de 600 horas e visitei mais de três mil pacientes”, ele conta, lembrando que, no início, suas visitas eram mais sociais porque ele não sabia como oferecer apoio espiritual aos pacientes. Depois disso, Torres foi contratado em tempo integral como ministro da música do AdventHealth Daytona Beach e do A ­ dventHealth Palm Cost, um cargo inédito. Embora não exerça a função de capelão diretamente, ele acredita que o curso tenha ampliado sua visão de como lidar com o estado emocional e espiritual das pessoas, o que, aliado à música, pode ajudar a restaurar feridas do corpo e da alma. Ainda que os resultados do trabalho de capelania não sejam imediatos nem mensuráveis na maioria dos casos, o que talvez desestimule mesmo quem tem vocação para a atividade, esse ministério pode abrir muitas portas. “Ser capelão é uma maneira de evangelizar e obter acesso a lugares em que comumente um pastor não entra”, o pastor Hiram Ruiz sustenta. Apesar de o movimento moderno de capelania ter nascido a partir de uma forte ênfase na psicologia pastoral, não se pode perder de vista a dimensão redentiva dessa obra. O papel do capelão é mostrar a necessidade de salvação, sem se aproveitar de uma situação de vulnerabilidade para impor um sistema de crenças. É possível conciliar o lado humano da atividade com sua dimensão evangelística. Afinal, como expressou Eleny Vassão no livro Consolo, “não há verdadeiro consolo sem que haja evangelização”. ] MÁRCIO TONETTI é editor associado da Revista Adventista R e v i s t a A d ve n t i s t a // Novembro 2019


EM FAMÍLIA

ONDA DE DESEMPREGO

SAIBA O QUE FAZER SE VOCÊ ESTIVER ENTRE OS 12 MILHÕES DE BRASILEIROS QUE PERDERAM O TRABALHO TALITA CASTELÃO

S

eu chefe acabou de chamá-lo para comunicar que seus serviços não serão mais necessários. Um frio percorre sua espinha e um filme vem à sua mente: como pagar a escola dos filhos, o aluguel da casa e as compras do mês? Infelizmente, muitas famílias têm enfrentado dificuldades financeiras em virtude da onda de desemprego que afeta o país. Gerir uma família sem os recursos necessários acarreta problemas secundários e pode inclusive destruir a saúde e os relacionamentos. Nos últimos tempos, o fantasma do desemprego tem assombrado muitas famílias. Os índices revelam que a população desocupada gira em torno de 12 milhões de pessoas. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O bom sinal é que a taxa de desemprego recuou para 11,8% no trimestre encerrado em julho de 2019. A população ocupada ultrapassa os 93 milhões de pessoas. Este é o maior número desde 2012. Entretanto, houve aumento de trabalhadores informais e diminuição da renda média. Em tempos de crise, buscar se diferenciar é muito importante. Mesmo que o desemprego atinja diversos grupos sociais, o aumento da escolaridade ainda é diretamente proporcional à empregabilidade. E, mesmo que não garanta a inserção no mercado de trabalho, a conclusão do ensino superior traz vantagens, inclusive na questão salarial. Um estudo realizado pelo professor Sergio Firpo, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), indicou que trabalhadores com diploma chegam a ganhar até 5,7 vezes mais do que trabalhadores com outros níveis de escolaridade. Segundo ele, quem termina uma faculdade recebe em média R$ 4 mil, comparado a quem possui um ano de estudo, que ganha em média R$ 850. Quem vive o desemprego enfrenta considerável estresse físico e emocional. Quanto maior é a demora para a recolocação profissional, maiores são os danos. Não só a autoestima fica abalada, mas podem ocorrer episódios de angústia, ansiedade e depressão. Noites sem dormir, pressão alta, ganho de peso, queda de cabelo, infarto e até câncer podem atingir pessoas mais vulneráveis. Por isso, é recomendável que a pessoa adote alimentação balanceada, prática de atividade física e

Foto: Adobe Stock

É NOS MOMENTOS DE DIFICULDADES QUE O CASAL E A FAMÍLIA PODEM SE REINVENTAR

R e v i s t a A d ve n t i s t a // Novembro 2019

terapia durante o período de inatividade laboral. Outra sugestão que proporciona bem-estar é a prática de serviço voluntário, principalmente porque a pessoa sem emprego tende ao isolamento social. Claro que é normal ficar triste e com raiva durante o luto do emprego que “morreu”. Mas demorar-se nesse estado compromete ainda mais a vida que segue, pois será necessário rever os custos e fazer novo planejamento financeiro. Em alguns casos, é preciso se desfazer de algum bem e mudar de casa. Tudo isso pode gerar uma grande tensão na família. Em casa o desemprego chega a causar desavenças e separações. Às vezes, é o homem quem se sente mais desvalorizado. Ele começa a se achar menos viril ou menos admirado pela companheira, podendo com isso ter comportamento hostil para com ela. Outras vezes, é a mulher sem emprego que se sente sem atratividade e utilidade, inclusive diante dos filhos. Cobranças e críticas de ambos os lados são prejudiciais. Mas é também nesse momento que o casal e a família podem se reinventar. Com humildade, misericórdia e apreço, além da busca da ajuda divina, fica mais fácil enfrentar qualquer dificuldade. ] TALITA CASTELÃO é psicóloga clínica, sexóloga e doutora em Ciências

17


SEMANA DE ORAÇÃO | SÁBADO

INTRODUÇÃO

Porta-vozes TED WILSON como devemos interpretar a palavra profética. A semana será encerrada com

Suas criaturas. Antes que o pecado en-

uma mensagem extraída dos escritos de Ellen White, que enfatiza a Bíblia como

trasse neste mundo, Ele passeava e

única regra de fé e prática.

conversava com Adão e Eva no Jardim

O casal pastoral Marcos e Cláudia Blanco nos ajudarão nessa jornada diária

do Éden. Essa prática não foi mais possível após a

de reflexão. Eles trabalham no ministério editorial da Igreja Adventista há

queda, pois os seres humanos pecaminosos seriam

quase 20 anos. Marcos é pastor e atua como editor-chefe da Asociación Casa

consumidos pela presença divina.

Editora Sudamericana (ACES), na Argentina, e Cláudia é tradutora freelancer,

No entanto, por não querer nos abandonar, Deus

dona de casa e mãe. Ambos são ávidos leitores dos escritos de Ellen White e

criou outra maneira de transmitir Suas mensagens

têm traduzido e editado vários de seus livros em espanhol. O casal Blanco, que

especiais de amor, repreensão, advertência e instrução

vive em Buenos Aires, tem dois filhos: Gabriel (15) e Julieta (13).

ao Seu povo: o dom de profecia. Os profetas são tão

Quero incentivar você a reservar um tempo todos os dias desta semana especial

importantes que a Bíblia nos garante: “Certamente o

para o estudo e a oração. Estou certo de que o Senhor abençoará grandemente

SENHOR Soberano não faz coisa alguma sem revelar

a família da igreja mundial ao nos reunirmos para meditar sobre a fidelidade

o Seu plano aos Seus servos, os profetas (Am 3:7).

aos profetas como uma atitude de preparação para a breve vinda de Cristo. ]

O tema desta semana de oração é “Porta-vozes”. Ao longo desse período, todos os dias vamos considerar

TED WILSON é presidente mundial da Igreja Adventista. Você pode acompanhar o

questões como: por que Deus teria enviado profetas,

líder por meio das mídias sociais: Twitter (@pastortedwilson) e Facebook (fb.com.br/

as características de um autêntico mensageiro e

pastortedwilson)

18

R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Novembro 2019

ILustração: Xuan Le

D

eus sempre desejou Se comunicar com


Chamado divino OS PROFETAS FALAM EM NOME DE DEUS TED N. C. WILSON

I

magine se o primeiro rosto que você visse na vida fosse a face de Deus. Imagine se a primeira voz que ouvisse fosse a de Deus. Foi isso que aconteceu com Adão e Eva (Gn 2:7, 22). Quando eles abriram os olhos, viram o amorável rosto de Jesus, e as primeiras palavras que ouviram vieram de Sua voz melodiosa. Tudo era perfeito naquele lar-jardim maravilhoso. O casal desfrutava da companhia dos anjos, um do outro e do próprio Deus. Ellen G. White descreveu a cena: “O santo par não era apenas filhos sob o cuidado paternal de Deus, mas estudantes a receber instrução do Criador todo-sabedoria. Eram visitados pelos anjos e era concedido a eles comunhão com Seu Criador, sem nenhum véu protetor de separação” (Patriarcas e Profetas, p. 50). Porém, quando o pecado entrou no mundo, as coisas ficaram terríveis. Em vez de se alegrarem com o encontro com Deus, nossos primeiros pais fugiram aterrorizados e procuraram se esconder. No entanto, ninguém consegue fugir de Deus. Uma das muitas coisas que eles perderam naquele dia e uma das mais dolorosas foi o privilégio da comunicação direta e face a face com o próprio Deus. “Adão, em sua inocência, havia desfrutado ampla comunhão com seu Criador; mas o pecado pôs separação entre Deus e o homem, e unicamente a obra expiatória de Cristo poderia transpor o abismo e tornar possível a comunicação de bênçãos ou salvação do Céu à Terra” (Patriarcas e Profetas, p. 67). R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Novembro 2019

NÃO FOMOS ABANDONADOS Quando amamos alguém, queremos conversar com ele e passar tempo juntos. Nós que somos pais, ansiamos por compartilhar momentos com nossos filhos, seja trocando experiências, ensinando, incentivando ou oferecendo ajuda quando necessário. Queremos dar a eles o presente da convivência e da comunicação. Mais do que nós, Deus também deseja Se comunicar com quem Ele ama e criou. Jesus disse: “Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai de vocês, que está nos Céus, dará coisas boas aos que Lhe pedirem!” (Mt 7:11, NVI). Deus não abandonou Seu povo, deixando-o nas mãos do diabo. Uma vez que Ele não mais podia falar face a face com a humanidade caída, devido à barreira do pecado, nem ensiná-la como fazia anteriormente, criou outras formas de comunicar ao mundo Suas instruções salvadoras. A Bíblia identifica pelo menos nove maneiras usadas por Deus para Se revelar aos seres humanos: (1) anjos, (2) criação, (3) a nuvem/coluna de fogo, (4) Urim e Tumim, (5) sonhos, (6) voz vinda do Céu, (7) a direção do Espírito Santo, (8) o próprio Cristo e (9) os profetas. Embora Deus tenha usado todos esses métodos de comunicação, segundo o teólogo adventista T. Housel Jemison, “as maiores revelações da vontade de Deus para a instrução da igreja em todos os tempos foram dadas por meio dos profetas” (A Prophet Among You, 1955, p. 23), sendo Jesus o principal deles (Lc 24:19; Mt 13:57, 58). Deus envia profetas porque Se compadece do Seu povo (2Cr 36:15). O contexto dessa passagem é interessante. O reino de Judá havia perdido muito e estava na iminência de ser capturado e destruído por Babilônia. Após uma sequência de reis ímpios, Zedequias, o último monarca de Judá, juntamente com os chefes dos sacerdotes e o povo, praticou as “abominações dos gentios” e contaminou a casa que “Deus havia santificado em Jerusalém” (v. 14). Isso aconteceu a despeito de Deus ter enviado vários profetas, inclusive Jeremias, “que falava da parte do Senhor” (v. 12). E qual foi a resposta do povo de Israel? “Eles zombaram dos mensageiros de Deus, desprezaram as palavras dele e expuseram ao ridículo os seus profetas, até que a ira do Senhor se levantou contra o Seu povo, e já não houve remédio (v. 16). Desprezar as mensagens enviadas por Deus por meio dos Seus profetas é algo muito sério. Nesse caso, resultou na morte de jovens, homens, mulheres e idosos, até dos que buscaram refúgio no santuário de Deus. Os tesouros que ainda restavam no templo foram roubados e a casa de Deus foi incendiada. Os muros de Jerusalém foram derrubados e a cidade destruída. Os que sobreviveram foram levados cativos para Babilônia. 19


Infelizmente, muitas vezes os profetas de Deus e as mensagens que Ele enviou têm sido rejeitados. No entanto, Deus tem persistido em manter um canal de comunicação com Seu povo, que é a menina dos Seus olhos (Dt 32:10; Zc 2:8). DEUS ESCOLHE SERES HUMANOS Ao longo do tempo, Deus tem enviado mensagens vitais por meio dos Seus profetas. Ele escolheu pessoas comuns para ­representá-Lo. Gente que recebeu e transmitiu com fidelidade o que lhe foi confiado. Essas pessoas, sob a orientação do Espírito Santo, receberam a revelação de Deus, por meio de sonhos e visões, e a comunicaram em sua própria linguagem (2Pe 1:21). Os profetas têm desempenhado um papel imprescindível através da história, demonstrando que o ministério profético é uma bênção de Deus para Seu povo. No livro Mensageira do Senhor (CPB, 2001, p. 10), Herbert Douglass apresenta oito razões pelas quais Deus usou os profetas, em vez de utilizar recursos mais dramáticos como escrever nas nuvens ou falar por meio de trovões: 1. Os profetas indicaram e prepararam o caminho para o primeiro advento de Cristo. 2. Como representantes do Senhor, os profetas mostraram às pessoas que Deus valorizava tanto os seres humanos a ponto de escolher entre eles homens e mulheres para representá-Lo. 3. Os profetas eram uma lembrança contínua da proximidade e disponibilidade da instrução de Deus. 4. A presença do profeta colocava em teste a atitude do povo em relação a Deus. 5. As mensagens por meio dos profetas cumprem os mesmos propósitos que a comunicação pessoal com o Criador. 6. Os profetas demonstram o que a comunhão com Deus e a graça transformadora do Espírito Santo podem realizar nos seres humanos. 7. Os profetas ajudaram a comunicar o plano da salvação, pois Deus tem usado constantemente uma combinação do elemento humano e do fator divino para alcançar mais eficazmente a humanidade perdida. 8. O trabalho excepcional dos profetas é, principalmente, registrar a Palavra de Deus por meio da escrita.

de instrução, explicação, advertência, reprovação, encorajamento e planos futuros foram preservadas por meio da Palavra escrita. A Bíblia é uma coleção de mensagens de Deus para Seu povo e um registro de Sua atuação entre nós, tendo sido escrita pelos profetas durante quase 1.600 anos (de Moisés ao apóstolo João). O dom de profecia é uma das habilidades do Espírito listadas em 1 Coríntios 12, e a Palavra de Deus indica que esse dom não cessaria após a morte dos apóstolos, mas que se manifestaria também no tempo do fim (Ap 12:17; 19:10). Os adventistas do sétimo dia acreditam que Deus, em Sua sabedoria e compaixão, levantou um profeta para estes últimos dias. Embora não seja necessário mencionar aqui todos os testes que confirmam a veracidade do profeta, uma característica importante é que o verdadeiro mensageiro nunca contradiz aquilo que anteriormente foi transmitido por Deus (1Co 14:32; Is 8:20). Em todos seus escritos, cartas, sermões e mensagens, Ellen White concordou com a Bíblia e nunca contradisse seus ensinamentos. Milhões têm sido levados a Jesus por meio do ministério dela e outros milhões têm sido abençoados por encontrar ali orientação para a vida. Conselhos sobre saúde, educação, ministério e muito mais continuam a servir de guia para o povo de Deus em nossos dias. Advertências sobre coisas que estão por vir e instruções a respeito da melhor forma de se preparar para a vinda de Cristo são mensagens que beneficiam todos que levam a sério o ministério de Ellen White. Durante esta semana de oração, quero encorajá-lo a considerar o maravilhoso dom de sabedoria e compaixão que Deus nos deu por meio dos Seus profetas, e a lembrar as bênçãos que vêm de ouvir e obedecer Sua Palavra. “Crede no Senhor vosso Deus, e estareis seguros; crede nos Seus profetas, e prosperareis” (2Cr 20:20). ]

O DOM PROFÉTICO É UMA EVIDÊNCIA DE QUE DEUS VALORIZA E

ESCOLHE O SER HUMANO PARA PARTICIPAR DE SEU PLANO

DE SALVAÇÃO

TED WILSON é presidente mundial da Igreja Adventista. Você pode acompanhar o líder por meio das redes sociais: Twitter (@pastortedwilson) e Facebook (fb.com.br/pastortedwilson)

SUGESTÕES PARA ORAÇÃO 1. Ore pela habilidade oferecida pelo Espírito Santo para ouvir o que Deus está dizendo por meio dos Seus profetas. 2. Reflita sobre as bênçãos que Deus lhe concedeu por meio da motivação

O MINISTÉRIO PROFÉTICO É UM DOM Evidentemente, os profetas servem como um elo fundamental de comunicação entre Deus e os seres humanos. Muitas das Suas mensagens 20

das palavras proféticas. 3. Peça a Deus que coloque em sua mente uma compreensão clara do papel de Ellen White como profetiza para o tempo do fim.

R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Novembro 2019


MKT CPB | Fotolia

Livros | Bíblias | Hinários | Guias de Estudo | CDs DVDs | Revistas | Folhetos | Jogos | Brinquedos

CONHEÇA AS LIVRARIAS DA CPB ESPALHADAS POR TODO O BRASIL GOIÁS

PERNAMBUCO

SÃO GERALDO Av. Constantino Nery, 1212

SETOR CENTRAL Av. Goiás, 766

SANTO AMARO R. Gervásio Pires, 631

BAHIA

MATO GROSSO DO SUL

FADBA Rod. BR 101, km 197

CENTRO R. Quinze de Novembro, 589

AMAZONAS

MANAUS

(92) 3304-8288 / (92) 98113-0576

CACHOEIRA

(75) 3425-8300 / (75) 99239-8765 BAHIA

GOIÂNIA

(62) 3229-3830

CAMPO GRANDE (67) 3321-9463 MINAS GERAIS

SALVADOR

BELO HORIZONTE

(71) 3322-0543 / (71) 99407-0017

(31) 3309-0044 / (31) 99127-1392

NAZARÉ Av. Joana Angélica, 1039

CEARÁ

FORTALEZA

CENTRO R. Barão do Rio Branco, 1564

(85) 3252-5779 / (85) 99911-0304 DISTRITO FEDERAL

BRASÍLIA

ASA NORTE SCN | Qd. 1 | Bl. A | Lj. 17/23 - Ed. Number One

(61) 3321-2021 / (61) 98235-0008

CENTRO Rua dos Guajajaras, 860

PARÁ

BELÉM

MARCO Tv. Barão do Triunfo, 3588

(91) 3353-6130 PARANÁ

CURITIBA

CENTRO R. Visc. do Rio Branco, 1335 | Loja 1

(41) 3323-9023 / (41) 99706-0009

RECIFE

(81) 3031-9941 / (81) 99623-0043 RIO DE JANEIRO

SÃO PAULO

SANTO ANDRÉ

CENTRO Tv. Lourenço Rondinelli, 111

(11) 4438-1818 SÃO PAULO

RIO DE JANEIRO

SÃO PAULO

(21) 3872-7375

(11) 5051-1544

TIJUCA R. Conde de Bonfim, 80 | Loja A

RIO GRANDE DO SUL

PORTO ALEGRE

CENTRO R. Coronel Vicente, 561

(51) 3026-3538 SÃO PAULO

ENGENHEIRO COELHO

MOEMA Av. Juriti, 563

SÃO PAULO

SÃO PAULO

PRAÇA DA SÉ Praça da Sé, 28 | 5o Andar

(11) 3106-2659 / (11) 95975-0223 SÃO PAULO

SÃO PAULO

UNASP/EC Rod. SP 332, km 160 | Faz. Lagoa Bonita

VILA MATILDE R. Gil de Oliveira, 153

SÃO PAULO

SÃO PAULO

PARQUE ORTOLÂNDIA R. Pastor Hugo Gegembauer, 656

LOJA DA FÁBRICA Rod. SP 127, km 106

(19) 3858-1398 / (19) 98165-0008

HORTOLÂNDIA (19) 3503-1070

(11) 2289-2021

TATUÍ

(15) 3205-8905


SEMANA DE ORAÇÃO | DOMINGO

Autores inspirados

A MOTIVAÇÃO DO PROFETA PARA CUMPRIR SUA FUNÇÃO MARCOS E CL ÁUDIA BL ANCO

22

R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Novembro 2019

Ilustrações: Xuan Le

I

magine por um momento que você nunca tivesse ouvido falar do cristianismo. De repente, encontra um livro na rua que você pega e lê na capa: Bíblia Sagrada. Ali não há nada sobre o autor e certamente você se pergunta: “Quem o escreveu?” A primeira coisa que faço quando pego um livro, além de ler o título, é verificar seu autor. Como trabalho no ministério de publicações, sei exatamente onde encontrar essa informação: na ficha catalográfica da obra. Porém, isso não funciona com a Bíblia, pois, quando folheamos suas primeiras páginas, essa informação não consta ali. O que supõe o leitor que entra em contato com a Bíblia pela primeira vez? Certamente deve se perguntar como esse livro chegou até nós, como foi preservado e organizado. É provável que até um leigo em assuntos religiosos saiba que os cristãos afirmam que a Bíblia tem origem no próprio Deus. Mas isso significaria que ela caiu do Céu? Teria sido escrita por Ele ou o Senhor conta com redatores e editores? Ao abordar o fenômeno da inspiração da Bíblia, devemos tomar uma decisão importante: analisá-lo com base em pontos de vista alheios ao Livro Sagrado ou priorizar o que ele afirma sobre si mesmo? Creio ser justo considerar o que os autores desse livro afirmaram sobre ele. O apóstolo Paulo, um dos escritores mais prolíficos da Bíblia, afirmou sem rodeios que toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para a salvação (2Tm 3:16, 17). Na mesma direção, o apóstolo Pedro declarou que nenhuma profecia


da Bíblia é fruto de particular elucidação, “porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1:19-21). Essas duas passagens contêm informações ricas e profundas sobre a origem e a natureza da Bíblia. Elas revelam que: (1) as Escrituras tiveram sua origem em Deus e foi Ele que tomou a iniciativa e supervisionou o processo de Sua autorrevelação aos seres humanos; (2) a revelação ocorre por meio da inspiração (no grego, theopneustos); e (3) esse fenômeno se aplica a toda a Bíblia. Embora a ênfase desses textos esteja em Deus como o Autor da Bíblia, as passagens não indicam que Ele seja o escritor. Foram os escritores, os “homens santos” de Deus, que registraram a revelação sob “inspiração” divina. O a­ póstolo Pedro deixou claro que os seres humanos foram os agentes naturais desse processo, pois o registraram. Todavia, a fonte do conteúdo foi sobrenatural, pois era o próprio Deus. Ou seja, não foi do elemento humano que emergiram as explicações, exposições ou interpretações contidas nas Escrituras. O PROCESSO DA INSPIRAÇÃO A dúvida permanece: Como devemos compreender a relação entre o Autor divino e os escritores humanos? Que papel desempenha cada um desses atores? Como esse processo de revelação foi incorporado nas Escrituras? Mesmo quem faz uma leitura superficial da Bíblia pode perceber que ela não foi escrita num curto espaço de tempo, nem obedecendo a um mesmo padrão. Ao contrário, ela é o resultado do trabalho de cerca de 40 escritores que deixaram seu testemunho ao longo de quase 16 séculos, em três idiomas diferentes: hebraico, aramaico e grego. Uma abordagem mais acadêmica do livro sagrado mostraria que os muitos estilos literários resultam do número de autores e da diversidade de nível cultural deles. Então, como a Bíblia foi organizada? Os versos que analisamos rapidamente (2Tm 3:16 e 2Pe 1:21) declaram categoricamente que Deus “inspirou” as Escrituras. No entanto, esse termo é muito amplo para explicar como funciona, na prática, o método que Deus tem usado para comunicar e registrar Sua vontade: a escrita. Especialistas têm tentado entender como funciona o fenômeno da inspiração, com base nas declarações da própria Escritura. Embora nós, adventistas do sétimo dia, rejeitemos a teoria da inspiração mecânica ou verbal (não R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Novembro 2019

acreditamos que cada palavra da Bíblia tenha sido ditada pelo Espírito Santo), cremos que as palavras dos profetas foram influenciadas pelo processo de inspiração. O Espírito Santo guiou os profetas na escrita do texto sagrado, garantindo que as palavras escolhidas por eles expressassem fielmente a mensagem que receberam. Em outras palavras, os autores da Bíblia foram usados como escritores e não meras canetas de Deus. Apesar de os escritores bíblicos terem usado o veículo “imperfeito” da linguagem humana, a Palavra de Deus é o resultado final da revelação infalível, normativa e suprema da Sua vontade. Assim como a natureza divino-humana de Cristo é indivisível, na Bíblia é impossível separar o conteúdo e o veículo. Nesse fenômeno divinohumano, Deus gera informação e guia o processo da escrita sem anular a individualidade humana. Ele garante que o resultado de todo esse processo é confiável para Seu propósito. ]

NO FENÔMENO

DIVINO-HUMANO DA INSPIRAÇÃO, DEUS GERA

INFORMAÇÃO E

GUIA O PROCESSO DA ESCRITA

SEM ANULAR A

INDIVIDUALIDADE HUMANA

MARCOS BLANCO, doutor em Teologia, é redator-chefe da Asociación Casa Editora Sudamericana, na Argentina; CLÁUDIA BLANCO é tradutora freelancer

SUGESTÕES PARA ORAÇÃO

1. Ore por entendimento em relação às várias partes da Bíblia, a fim de que você tenha uma visão total das Escrituras. 2. Peça fé para confiar no processo de inspiração da Bíblia. 3. Louve a Deus pela variedade de mensagens que recebemos de Sua Palavra, incluindo parábolas, provérbios, poemas e profecias.

23


SEMANA DE ORAÇÃO | SEGUNDA-FEIRA

Verdadeiro ou falso?

DESCONFIE DOS PROFETAS AUTOPROCLAMADOS

O

que o senhor acha daquela mulher que afirma ser profetisa, cujas mensagens estão no YouTube?”, perguntou um irmão da igreja apreensivo, enquanto eu cumprimentava os membros após um culto de sábado de manhã. “Para ser honesto, nunca ouvi falar dela”, respondi. “Primeiro, deixe-me assistir aos vídeos, então terei condição de emitir uma opinião”, pedi a ele. Após assistir aos vídeos, percebi em todos e por meio de todos os relatos que aquela mulher não era uma profetisa verdadeira. Aliás, o YouTube deu visibilidade para muitos “profetas” autoproclamados. O que leva uma pessoa a afirmar que recebeu mensagens de Deus? Mais importante, como a igreja pode avaliar se alguém realmente está sendo usado por Ele? O fato de alguém receber mensagens de Deus o transforma automaticamente em profeta? Em primeiro lugar, é preciso ter em mente que Deus ainda quer Se comunicar conosco por meio de profetas. O apóstolo Paulo recomendou que não tratemos com desprezo as profecias, mas 24

que coloquemos à prova todas as coisas e fiquemos com o que é bom (1Ts 5:19-21). É um erro sério desprezar a verdadeira mensagem profética, seja aquela que Deus nos transmitiu no passado ou a que Ele quer comunicar ao Seu povo no tempo do fim. Em segundo lugar, Cristo advertiu sobre o surgimento de falsos profetas “vestidos de peles de ovelhas”, “mas que por dentro são lobos devoradores” (Mt 7:15, NVI). Pouco antes da segunda vinda de Cristo à Terra, eles tentariam enganar até os escolhidos (Mt 24:24). Por isso, a advertência do apóstolo João é tão clara: “Amados, não creiam em qualquer espírito, mas examinem os espíritos para ver se eles procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo” (1Jo 4:1, NVI). R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Novembro 2019


TESTES NECESSÁRIOS Quais são, então, as características de um profeta verdadeiro? A Bíblia declara que o fenômeno do surgimento de falsos profetas não seria restrito ao cristianismo atual. Isso já ocorreu entre o povo de Israel. Por exemplo, os contemporâneos de Jeremias (14:14) foram instruídos a usar o critério das profecias cumpridas como um teste de autenticidade: “Mas o profeta que profetiza prosperidade será reconhecido como verdadeiro enviado do Senhor se aquilo que profetizou se realizar” (Jr 28:9, NVI; ver Dt 18:21, 22). Tenha em mente que o ministério de um profeta vai muito além de predizer o futuro, e que algumas profecias são condicionais. Logo, se certas condições não forem cumpridas (Jr 18:7-10), isso pode implicar mudança do acontecimento previsto, como ocorreu com Jonas e a profecia sobre a destruição de Nínive (Jn 3:9 e 10). Outro teste é verificar a coerência interna da mensagem profética. Ela precisa estar em harmonia com o sistema de verdades reveladas, pois foi o mesmo Espírito que inspirou todas essas mensagens relacionadas. Por isso, a Bíblia forma um cânon sagrado (2Tm 3:16). Logo, novas revelações não podem contrariar o que já foi previamente dado (Is 8:20). O próprio Cristo recorreu às Escrituras, mostrando o que havia sido revelado sobre Ele (Lc 24:27), a fim de provar que Sua mensagem e Seu sacrifício como Messias eram verdadeiros. É evidente que a verdade é progressiva (novas verdades são reveladas ao longo do tempo), pois os profetas posteriores acrescentam ideias e detalhes ao que escreveram os profetas anteriores. Porém, de modo algum as novas mensagens podem contradizer o que foi mostrado por Deus no passado. Embora a mensagem seja mais importante do que o mensageiro, e os profetas sejam limitados como qualquer ser humano, Cristo disse que é preciso verificar a integridade do profeta: “Vocês os reconhecerão por seus frutos. Pode alguém colher uvas de um espinheiro ou figos de ervas daninhas? Semelhantemente, toda árvore boa dá frutos bons, mas a árvore ruim dá frutos ruins. A árvore boa não pode dar frutos ruins, nem a árvore ruim pode dar frutos bons. [...] Assim, pelos seus frutos vocês os reconhecerão!” (Mt 7:16-20, NVI). Ainda que leve certo tempo, um lobo esfomeado, disfarçado de ovelha no meio do rebanho, mais cedo ou mais tarde mostrará suas presas. Naturalmente, todo profeta verdadeiro também deve ter sua mensagem centrada em Cristo, o grande objeto da revelação divina, bem como reconhecer a natureza divino-humana Dele e exaltar Seu sacrifício pela humanidade (1Jo 4:2, 3). Além disso, o autêntico profeta de Deus é portador de mensagens atuais (2Rs 6:10-12) e práticas (não meras divagações e generalizações), que costumam chegar até ele através de meios sobrenaturais, como sonhos e visões (Nm 12:6), e que geram transformações positivas nos que aceitam essa revelação. No entanto, é bom lembrar que passar na prova de

TODA MENSAGEM

NOVA DEVE ESTAR EM HARMONIA

COM AS VERDADES REVELADAS

ANTERIORMENTE

R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Novembro 2019

fogo de um desses testes ou de vários deles não torna ninguém um profeta, assim como o rei Nabucodonosor não exerceu o ministério profético somente pelo fato de ter recebido uma visão de Deus (Dn 2). O PREÇO DO CHAMADO PROFÉTICO Durante os anos em que tenho servido na editora da Igreja Adventista na Argentina, recebi dezenas de manuscritos contendo supostas mensagens proféticas para a denominação. Alguns nos foram enviados apenas para que seu conteúdo fosse avaliado. Outros vieram com a suposta ordem divina para publicá-los imediatamente. Sendo negada essa possibilidade, uma série de pessoas nos condenaram à perdição eterna por não cumprirmos sua instrução. Descobrimos que a maioria desses pretensos profetas tem algo em comum: o desejo quase desesperado de serem reconhecidos como mensageiros de Deus. No entanto, quando examinamos a vida dos profetas bíblicos, percebemos que as coisas são exatamente o contrário: muitos deles resistiram inicialmente ao chamado (Jr 1:6; Is 6:5; Êx 4:10-15) ou pediram várias provas antes de aceitá-lo (Jz 6). A principal razão é que, via de regra, um profeta não é bem recebido (Jr 20:2; 1Rs 18). O “maior” de todos os profetas, João Batista, acabou tendo a cabeça oferecida em um prato de prata (Mt 11:11; 14:1-12). Essas experiências nos ensinam a “testar os espíritos” (1Jo 4:1), especialmente quando o pretenso profeta insiste que seja reconhecido como mensageiro de Deus. De fato, toda falsificação implica na existência de algo genuíno. Quanto mais sofisticada é a imitação, mais provas dá do valor de seu original. É por isso que Satanás tenta derrotar os profetas verdadeiros: ele conhece o valor das mensagens que vêm de Deus. Por isso, devemos “testar os espíritos”, mas sem sufocar a voz daqueles a quem o Espírito verdadeiramente usa. ]

SUGESTÕES PARA ORAÇÃO 1. Peça discernimento a Deus para saber quem realmente fala em nome Dele. 2. Ore por sabedoria divina, a fim de saber se você deve se associar ou não a um suposto profeta. 3. Examine em oração uma “nova verdade” que chamar sua atenção. E considere a possibilidade de Deus talvez não concordar com você.

25


SEMANA DE ORAÇÃO | TERÇA-FEIRA

Entenda a Bíblia ALBERTO R. TIMM

JESUS NOS ENSINOU A INTERPRETAR AS ESCRITURAS

N

a pessoa de Jesus encontramos um fenômeno excepcionalmente interessante. Ele era ao mesmo tempo o Mensageiro e a mensagem. Várias pessoas de Sua época O reconheceram como a maior revelação do Pai (Jo 14:9) e um grande profeta (Jo 6:14; Lc 7:16, 17; Jo 4:19). Cristo não era apenas o Revelador e a revelação, mas também o melhor Intérprete das Escrituras. Nos moldes da tradicional escola dos profetas, Ele era um grande Mestre da Torá. Mesmo em Sua infância, Jesus deixou os professores da lei sem palavras (Lc 2:47). Sua autoridade foi reconhecida tanto pelo povo de Israel (Mc 1:22) quanto pelos líderes religiosos de Jerusalém, que se dirigiram a Ele como o Mestre enviado por Deus (Jo 3:2). Embora Cristo não tenha vindo para modificar a fonte da revelação (a Lei), mas para c­ umpri-la (Mt 5:17), Sua missão era levar o verdadeiro significado das Escrituras ao povo que estava desviado, tanto do método de interpretação correto como da prática correta da religião. Prova disso é que no sermão da montanha Ele contrastou a compreensão religiosa de Sua época, 26

R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Novembro 2019


“foi dito” (v. 27), com o real sentido da revelação dada anteriormente, “mas Eu lhes digo” (v. 28). Como Cristo não foi apenas um grande professor e profeta, mas também nosso exemplo em todas as coisas, faríamos bem em seguir Seus princípios de interpretação bíblica. Porém, teria Ele deixado registrado esses princípios em algum de Seus discursos, ensinos ou ­parábolas? Penso que podemos aprender algo sobre isso se caminharmos com Ele pela estrada de Emaús. Aquela conversa que Cristo teve com dois dos Seus discípulos também pode iluminar nossa mente e fazer arder nosso coração. A HERMENÊUTICA DE JESUS Em Lucas 24, Cristo nos apresenta, de maneira prática e didática, alguns princípios de interpretação que já havia ensinado durante Seu ministério. O relato informa que dois discípulos estavam caminhando entristecidos de Jerusalém para Emaús. Eles estavam assim porque, com a recente morte de Jesus, haviam desaparecido todas as expectativas messiânicas. Cristo Se juntou a eles sem ser percebido. Ao ouvir deles a razão do desapontamento, disse: “Como vocês custam a entender e como demoram a crer em tudo o que os profetas falaram! Não devia o Cristo sofrer estas coisas, para entrar na Sua glória? E, começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes o que constava a respeito Dele em todas as Escrituras” (Lc 24:25-27, NVI). Podemos tirar vários princípios de interpretação profética dessa resposta. Sugiro alguns: 1. O princípio canônico. Cristo não confirmou a autenticidade de Sua missão messiânica à luz da realidade ao Seu redor, nem por meio da tradição judaica ou da filosofia grega, culturas que predominavam na época. Ao contrário, Ele usou “o que constava a respeito Dele em todas as Escrituras” (v. 27). Isso quer dizer que Ele usou a Bíblia para interpretar a própria informação bíblica. Ou seja, a Palavra interpreta a si mesma. O próprio Cristo estabeleceu a supremacia da Bíblia sobre a tradição (Mt 15:3-6), e outros escritores bíblicos ressaltam o fato de que as Escrituras têm preeminência sobre a filosofia (Cl 2:8; Pv 14:12; 1Tm 6:20) e qualquer outro empreendimento intelectual humano, como a ciência. O ponto é que o procedimento científico básico requer que nossas pressuposições hermenêuticas (interpretativas) derivem do que intentamos compreender. Logo, a dependência da filosofia para estabelecer pressupostos hermenêuticos teológicos implica ruptura com o R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Novembro 2019

princípio canônico. Em vez de seguir os pressupostos filosóficos, as bases da nossa interpretação devem emanar da própria Bíblia. 2. O princípio de unidade das Escrituras. Na primeira mensagem desta semana de oração, aprendemos que, embora a Bíblia tenha sido escrita por muitos autores e durante muitos séculos, ela é a Palavra de Deus em sua totalidade. Nesse sentido, existe uma unidade crucial e harmônica em suas partes (Mt 5:17; 2Tm 3:16). Ao referir-Se a Moisés (o Pentateuco) e a “todos os profetas”, Jesus usou em Sua explicação toda a Revelação conhecida na época (Bíblia Hebraica), reconhecendo assim o princípio da unidade das Escrituras. 3. O princípio cristológico. Uma razão de Jesus ter usado toda a Bíblia Hebraica para indicar “o que constava a respeito Dele em todas as Escrituras” foi porque toda a Bíblia realmente testifica Dele (Jo 5:39). O Novo Testamento endossa essa ideia, descrevendo Cristo como o cumprimento e a consumação das “promessas feitas aos nossos pais” (Rm 15:8). 4. O princípio do propósito salvífico. As Escrituras não foram escritas somente para satisfazer nossa curiosidade intelectual ou para servir de subsídio para ganharmos um debate a respeito da doutrina correta. Ao destacar que Ele era o cumprimento de todas as promessas das Escrituras, Cristo apresentou-Se como o Cordeiro de Deus (Jo 1:29) capaz de salvar. A revelação da Sua salvação é o propósito supremo das Escrituras e a ideia interpretativa fundamental quando a estudamos. Quando usou os princípios corretos da interpretação profética, Jesus quis que os dois homens na estrada para Emaús superassem seu desânimo espiritual e se regozijassem com as boas-novas do Cristo ressurreto que venceu a morte e oferece vida eterna. Ele alcançou Seu objetivo, pois, após estudar a Bíblia, eles admitiram: “Não estava queimando o nosso coração, enquanto Ele nos falava no caminho e nos expunha as Escrituras?” (Lc 24:32). Ao seguir esses princípios estabelecidos por Cristo, não apenas compreenderemos as verdades bíblicas, mas também permitiremos que Ele ilumine nosso coração com a salvação que as próprias Escrituras afirmam que Ele pode nos dar. ]

O PRÓPRIO CRISTO RECONHECEU A

SUPREMACIA DA BÍBLIA SOBRE A TRADIÇÃO E FILOSOFIA HUMANA

SUGESTÕES PARA ORAÇÃO 1. Estude a Bíblia procurando entender como o conteúdo das Escrituras está interligado. 2. Ore para que seu conhecimento sobre a salvação cresça e seu significado resulte em maior intimidade com Jesus. 3. Peça ao Espírito Santo um testemunho sobre o valor das Escrituras em sua vida, a fim de que você possa compartilhar isso.

27


SEMANA DE ORAÇÃO | QUARTA-FEIRA

À lei e ao testemunho COMO VIVER À LUZ DA PALAVRA PROFÉTICA

O

povo de Deus raramente teve um bom relacionamento com seus profetas. De fato, os que foram chamados muitas vezes relutaram para aceitar o ministério profético. Provavelmente eles tivessem consciência de que tanto o mensageiro como a mensagem são frequentemente rejeitados. Assim, comunicar a palavra profética de Deus sempre foi uma tarefa difícil. Jesus avisou que os cristãos de Sua época seriam maltratados como os profetas que os haviam antecedido (Mt 5:12). Por sua vez, quando sabatinado pelo Sinédrio judaico, Ele questionou Seus acusadores: “qual dos profetas os seus antepassados não perseguiram?” (At 7:52). Esse é o tipo de recepção que os profetas tinham que enfrentar. No entanto, a animosidade para com a palavra profética não era a única rejeição que os profetas sofriam nas mãos do povo de Deus. A oposição violenta geralmente resultava em indiferença e esquecimento da mensagem profética. Na sequência, isso levava o povo à ruína e apostasia. REAVIVAMENTO GENUÍNO Talvez no pior período de apostasia de Israel, Deus resgatou a mensagem profética do esquecimento, a fim de gerar um reavivamento espiritual. Assim, no tempo de Josias, durante a restauração do templo, Hilquias disse ao escriba Safã: “Encontrei o Livro da Lei no templo do Senhor” (2Cr 34:15). Isso soa até como uma história de ficção científica: a mensagem profética de Deus estava acumulando pó em algum canto abandonado do templo israelita! Ao ouvir o que havia no rolo profético, Josias reconheceu: “A ira do Senhor contra nós deve ser grande, pois os nossos antepassados não obedeceram à palavra do Senhor e não agiram de acordo com tudo o que está escrito neste livro” (v. 21, NVI). E o resto é história. Josias convocou todo o Israel para ouvir a Palavra. O rei e o povo renovaram sua aliança com Deus e celebraram talvez a Páscoa mais memorável de todos os tempos (2Cr 35:18). Aconteceu algo semelhante no tempo de Neemias, quando Esdras leu a lei perante o povo. Na mesma oportunidade (o primeiro dia do sétimo mês, talvez querendo repetir a experiência de Josias), “Esdras trouxe a Lei diante da assembleia. [...] Ele a leu em alta voz desde o raiar da manhã até o meio-dia. [...] E todo o povo ouvia com atenção a leitura do Livro da Lei” (Ne 8:2, 3). Três semanas depois, o 28

reavivamento continuou, pois os israelitas jejuaram, leram o livro da lei por três horas, confessaram seus pecados e adoraram o Senhor (Ne 9:1-3). O reavivamento foi seguido por uma reforma: eles se uniram a seus irmãos e juraram seguir a Lei de Deus (Ne 10:29). Prometeram não se misturar com as nações pagãs, guardar o sábado segundo o mandamento, ajudar outros, sustentar o templo e seus cultos e devolver dízimos e ofertas (v. 30-39). Tudo isso acontece quando tiramos o pó da Palavra profética e colocamos em prática a vontade de Deus. TIRANDO O PÓ De acordo com uma pesquisa mundial realizada pela igreja e divulgada em 2018 (disponível em https://bit.ly/2UaC6XE), 48% dos adventistas estudam a Bíblia diariamente. A estatística sugere um cenário de “copo meio cheio ou copo meio vazio”, dependendo de que perspectiva se olha. Porém, o fato é que temos espaço para melhorar nossos hábitos de leitura da Bíblia. Em meio às trevas deste mundo, as Escrituras podem trazer luz e esperança à nossa vida, nos ajudar a levar outros a Jesus e a iluminar nosso caminho para o Céu (2Pe 1:19). A tendência humana é confiar em sua própria inteligência, força ou sabedoria, esquecendo-se de que seu coração é enganoso (Jr 17:9). Assim, nossa única salvaguarda é confiar na Palavra profética (2Cr 20:20). Sim, as Escrituras podem reanimar nossa vida, tornar-nos sábios, trazer alegria ao nosso coração e nos dar uma atitude correta em relação à vida: “A lei do Senhor é perfeita; ela devolve à nossa alma as forças perdidas. A revelação da vontade de Deus é digna de confiança; ela dá sabedoria a quem estiver R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Novembro 2019


disposto a aprender. As ordens que Deus dá aos homens são sempre certas; quem obedece sente uma profunda alegria no coração. As regras de conduta do Senhor são bem claras e iluminam os nossos olhos” (Sl 19:7, 8, BV).

EM MEIO ÀS TREVAS DESTE MUNDO, A BÍBLIA TRAZ LUZ E

TRÊS PRINCÍPIOS DA SHEMA Poucos de nós, se houver alguém, estão isentos de um passado familiar disfuncional. Se rastrearmos o passado de nossa família, talvez não vamos precisar ir muito longe para descobrir alguém que se afastou do conselho divino e desencadeou relações interpessoais doentias. Tudo isso gera dor e sofrimento, mesmo quando a experimentação do amor de Deus nos traz cura e perdão. No entanto, ninguém precisa perpetuar esses modelos negativos herdados. É possível ter nosso caráter transformado e mudar a tendência de toda uma genealogia. Para tanto, é necessário, ao longo da vida, decidir romper com atitudes e padrões de comportamento negativos, a fim de viver segundo a palavra profética. Viver pela fé significa fazer a vontade de Deus, sem duvidar da Sua direção, mesmo que não compreendamos completamente Seu propósito. Como conseguimos isso? “Para viver na luz, é preciso estar onde ela brilha” (Testemunhos Para a Igreja, v. 4, p. 106). O segredo é permitir “ser por ela [luz] salvos, vivendo plenamente à sua altura e a transmitindo aos que se acham em trevas” (Testemunhos Para a Igreja, v. 2, p. 123). Quando decidimos iniciar nossa família, procuramos obedecer ao mandamento da Shema (oração hebraica) em nosso cotidiano: “Ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor. Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças. Que todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam em seu coração. Ensine-as com persistência a seus filhos. Converse sobre elas quando estiver sentado em casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se levantar. Amarre-as como um sinal nos braços e prenda-as na testa. ­Escreva-as nos batentes das portas de sua casa e em seus portões” (Dt 6:4-9, NVI). Esse texto abrange três princípios para manter a luz da palavra profética brilhando em nossa vida: (1) prioridades – Deus deve ­ocupar o primeiro lugar em nosso coração (v. 5), (2) tempo – devemos nos expor à Palavra de Deus, ler e falar sobre ela, de manhã até a noite (v. 6 e 7) e (3) influência – a Bíblia deve estar à mão e ser nossa principal referência para as decisões do dia a dia (v. 8 e 9). Criar esses hábitos pode alinhar nossas prioridades às de Deus, fazendo com Ele reine em nossa vida e em nosso lar.

ESPERANÇA,

ILUMINA NOSSO

CAMINHO PARA O CÉU E NOS AJUDA A LEVAR OUTROS PARA LÁ

a manifestação moderna do dom profético nos escritos de Ellen White. Isso é um privilégio porque, quase 2 mil anos depois de o cânon bíblico ter sido encerrado, temos orientação divina de como aplicar as Escrituras ao nosso contexto do tempo do fim. Como família, temos nos beneficiado da leitura e aplicação dos escritos de Ellen White. Obras como Mensagens aos Jovens e Cartas a Jovens Namorados nos incentivaram a orar inteligentemente por um casamento fundamentado no temor de Deus. Os livros Orientação da Criança, Educação e O Lar Adventista continuam a ser uma fonte de orientação sólida em meio a tantas teorias equivocadas sobre criação de filhos em destaque atualmente. Além disso, confiamos nos conselhos centenários da profetisa a respeito de alimentação e estilo de vida saudável. Aprofundar-nos nos livros Caminho a Cristo e O Desejado de Todas as Nações tem sido uma das experiências devocionais mais revigorantes de nossa jornada espiritual, enquanto Mente, Caráter e Personalidade nos ajuda a fortalecer nosso autocontrole e manter nossos pensamentos centrados em Deus. As aplicações homiléticas e de interpretação bíblica de Ellen White moldaram e fundamentaram nossos sermões, enquanto sua abordagem teológica singular continua a nos surpreender por sua profundidade e por manter unida nossa denominação ao longo dos anos. Embora continuemos a luta para seguir a orientação profética segura da Bíblia e dos escritos de Ellen White, existe toda uma geração de adventistas que precisa conhecer melhor esses materiais. A baixa taxa de leitura das novas gerações, somada à feroz concorrência das telas, torna ainda mais difícil este desafio. No entanto, no limiar da eternidade, neste mundo que está à deriva ao sabor de todo tipo de ventos de ideias e doutrinas, temos uma âncora segura na Palavra profética, bem como um mapa preciso para alcançar o porto seguro. Que a luz de Deus brilhe no nosso caminho e no caminho dos outros, até que a Estrela da Manhã apareça! ]

SUGESTÕES PARA ORAÇÃO 1. Ore ao Senhor sobre sua atitude pessoal em relação à Sua lei e o seu desejo de obedecer-Lhe. 2. Louve a Deus, no estilo dos salmos de Davi, pela luz orientadora que Ele proporciona para seu caminho.

ORIENTAÇÃO SEGURA Como adventistas, desfrutamos de duplo privilégio: temos não somente a Bíblia, que é nosso padrão de fé e prática,­mas também R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Novembro 2019

3. Peça ao Senhor resiliência e clareza da mente para suportar as provações e tentações.

29


SEMANA DE ORAÇÃO | QUINTA-FEIRA

Antigos e novos O DOM PROFÉTICO NÃO ESTÁ LIMITADO AO PASSADO

A

pós uma reunião da igreja, uma adolescente me perguntou clara e diretamente: “Por que Deus não fala comigo?” A resposta mais fácil seria dizer que Deus fala a cada um de nós por meio da Bíblia. Mas essa adolescente queria saber por que Deus não estava falando especificamente com ela. Muitos cristãos se questionam por que Deus não fala diretamente com eles hoje. Embora seja verdade que no passado Ele falou a nós por meio dos profetas e especialmente do Filho (Hb 1:1), podemos muito bem perguntar: por que Ele não fala conosco em nossos dias? Responder a essa pergunta implica considerar se o dom profético cessou com o fechamento do cânon bíblico, ou se desde aquele tempo Deus já levantou outros profetas e se o fará no futuro. 30

UM DOM DESAPARECIDO? Existem duas posições opostas em relação à validade do dom profético moderno. Um grupo acredita que dons espirituais como falar em línguas, profetizar e curar cessaram depois do tempo dos apóstolos. De acordo com essa visão, esses eram dons sobrenaturais destinados a funcionar como um sinal no contexto do nascimento da igreja cristã e da propagação inicial do evangelho. A interpretação oposta a essa é a da continuidade, que ensina que o Espírito Santo pode conceder dons espirituais a qualquer momento e para pessoas que não fizeram parte do grupo dos apóstolos. O cessacionismo nega a possibilidade de um ressurgimento dos dons, apelando ao princípio da sola Scriptura, insistindo em três proposições: (1) o fechamento do cânon (coleção) bíblico; (2) a autoridade suficiente e infalível da Bíblia; e (3) a perfeita adequação das R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Novembro 2019


Escrituras para guiar a igreja. Em outras palavras, eles creem que o testemunho concedido por meio do cânon bíblico, já fechado, seja suficiente para orientar a igreja até o tempo do fim. No entanto, além de ensinar a Palavra e comunicar a vontade de Deus como um ministério regular e sustentado, os profetas eram frequentemente enviados para cenários de crise. Em tempos de dificuldade, criados por causas externas ou por condições internas de apostasia, os profetas eram levantados para oferecer orientação segura e/ou para revelar algum ponto específico do plano da salvação. Alguns desses profetas não se tornaram parte do cânon, como Natã, Aías e Ido (2Cr 9:29). Porém, mesmo assim, aquilo que disseram ou escreveram foi normativo para as pessoas de seu tempo (2Sm 12:7-15), porque a autoridade dos escritos proféticos não reside em sua presença no cânon, e sim em sua inspiração. Com isso, é possível entender que o dom dos profetas não canônicos não foi dado para substituir o testemunho dos autores canônicos, e sim para satisfazer uma necessidade específica do povo de Deus. A questão é que aquilo que esses profetas, levantados para um contexto específico, disseram ou escreveram estava em harmonia com a revelação divina registrada no cânon. Este artigo não defende que sejam acrescentados escritos ao cânon bíblico, pois esse já foi encerrado há séculos, com as obras do apóstolo João. O ponto aqui é se Deus levantou outros profetas depois da conclusão da Bíblia e se Ele ainda pode fazer isso no presente ou no futuro. UM DOM DESEJADO O Novo Testamento concede um lugar de destaque ao dom de profecia em relação às demais habilidades concedidas pelo Espírito Santo. Paulo colocou esse ministério como o mais útil para a igreja em uma ocasião (Rm 12:6) e como o segundo mais importante em outras duas listas (1Co 12:28; Ef 4:11). Além disso, ele encorajou os crentes a desejar avidamente esse dom (1Co 14:1, 39), mesmo reconhecendo que o Espírito Santo distribui os dons como Ele deseja. Assim, Paulo ressaltou duas vezes que Deus nomeou profetas dentro da igreja (1Co 12:28; Ef 4:11) e afirmou que o povo de Deus no Novo Testamento havia sido estabelecido sobre o fundamento dos apóstolos e profetas (Ef 2:20). Esses profetas mencionados por ele são do período do Novo Testamento, porque, segundo o próprio Paulo, eles não tinham sido conhecidos pelas gerações anteriores (Ef 3:4, 5). R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Novembro 2019

Portanto, concluímos que essa manifestação do dom de profecia não se limitava ao cânon. UM DOM PARA O TEMPO DO FIM Jesus afirmou que apareceriam falsos profetas falando em Seu nome (Mt 7:15-23). Eles seriam ativos no tempo do fim, realizando sinais e maravilhas e tentando enganar até os eleitos (Mt 24:24). Cristo fez essa advertência porque a falsificação se manifestaria antes de Sua vinda, em contraste com o dom genuíno. Falando especificamente sobre o tempo do fim, Joel profetizou a abundante manifestação do Espírito de Deus sobre Seu povo. Essa efusão será manifestada nos jovens que terão visões, nos idosos que terão sonhos e nos filhos e filhas que profetizarão (Jl 2:28, 29). E como sabemos que o profeta Joel se referiu especificamente ao tempo do fim? Porque o contexto dessa profecia tem que ver com fenômenos cósmicos, como o escurecimento do sol e o surgimento da lua vermelha como sangue, bem como com desastres que são descritos enigmaticamente como “sangue, fogo e nuvens de fumaça”. Tudo isso deve preceder “o grande e terrível dia do Senhor” (v. 30, 31). O apóstolo Pedro aplicou a profecia de Joel à experiência do Pentecostes (At 2:16-21), que relaciona o dom de profecia ao de línguas. Por quê? A profecia de Joel sobre o dom profético do futuro foi mencionada no contexto das primeiras e últimas chuvas (Jl 2:23-32). As chuvas do outono, que permitiam que a semente germinasse e se enraizasse, foram chamadas de temporã; enquanto as da primavera, que amadureciam o grão e preparavam a colheita, eram chamadas de serôdia. O Antigo Testamento usa esse fenômeno do ciclo agrícola palestino como um símbolo do dom espiritual que Deus dá ao Seu povo por meio do Espírito (Os 6:3). Pedro e os apóstolos experimentaram a chuva temporã. Porém, a última chuva viria com mais poder no futuro. Hoje, enquanto nós, os remanescentes, esperamos a vinda de Jesus, somos convidados a experimentar a chuva final. Essa efusão do Espírito Santo será mais abundante que a anterior. Depois dela, “os seus filhos e suas filhas profetizarão, os seus velhos terão sonhos” e “seus jovens terão visões” (Jl 2:28). ]

JESUS ADVERTIU QUE NO TEMPO

DO FIM HAVERIA

FALSIFICAÇÕES DO DOM PROFÉTICO EM CONTRASTE

COM O GENUÍNO

SUGESTÕES PARA ORAÇÃO

1. Ore especialmente para compreender as profecias do Novo Testamento que tratam do nosso tempo. 2. Peça a Deus que guarde a verdade no seu coração, de modo que nunca seja enganado por nenhum tipo de falsificação. 3. Confesse a Deus sua decisão de confiar Nele para guiar e proteger você.

31


SEMANA DE ORAÇÃO | SEXTA-FEIRA

Luz menor A FUNÇÃO DO DOM PROFÉTICO MODERNO

M

uitas vezes me encontro com ministros de diferentes denominações durante as reuniões da Sociedade Bíblica Argentina. Em certa ocasião, um deles demostrou interesse pelo estado atual da Igreja Adventista. Ele conhecia nossas instituições educacionais e de saúde e expressou sua admiração pela forma como nossa igreja estava crescendo na América do Sul. Quando a conversa estava chegando ao fim, ele comentou casualmente: “Só lamento que vocês tenham Ellen White como profetisa.” De fato, essa é uma observação muito frequente entre nossos amigos evangélicos. Qual é exatamente o legado deixado por Ellen White para a Igreja Adventista? E que relevância seus escritos têm para nossa denominação atualmente? Tentaremos responder essas questões por meio deste artigo, não como uma resposta final, mas como um ponto de partida. 32

R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Novembro 2019


Califórnia (EUA), um dos grupos mais longevos do mundo, segundo reportagem de capa da revista National Geographic de novembro de 2005.

SEU LEGADO Negar o legado de Ellen White para os adventistas do sétimo dia seria como questionar a importância de Lutero para os luteranos ou de John e Charles Wesley para os metodistas. Realmente, seu valor excede o fato de ela ter estado, junto com José Bates e Tiago White, entre os fundadores do movimento que se tornou a Igreja Adventista. Seus escritos estabeleceram a base filosófica e teológica para a formação das nossas instituições educacionais e de saúde, que despertam certa admiração em nossos irmãos cristãos. Segundo George R. Knight, sem a visão, liderança e sacrifício pessoal de Ellen White e dos pioneiros, nossa igreja não existiria hoje (Meeting Ellen White, 1996, p. 59). Que paradoxo o fato de o pastor com quem me encontrei elogiar essas instituições, mas criticar a pessoa que lançou o fundamento delas! Ellen White não era apenas uma visionária resoluta. Ela também se considerava “mensageira de Deus” (Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 71), significando que seu chamado e missão desempenhavam um papel fundamental no surgimento e desenvolvimento da denominação. No entanto, essa afirmação não foi aceita automaticamente. De acordo com Theodore N. Levterov, os contemporâneos dela e as posteriores gerações de adventistas têm avaliado seus escritos e ministério, aplicando a eles os critérios bíblicos para aceitar um profeta (Accepting Ellen White: Early Seventh-day Adventists and the Gift of Prophecy Dilemma, 2016, p. 88, 89). Essa aceitação é expressa na crença fundamental número 18 da Igreja Adventista (ver o livro Nisto Cremos, CPB, 2018). Os escritos e ensinamentos de Ellen White abrangem uma série de questões atuais que podem ser apresentadas como evidências de sua relevância. Afinal, em mais de 70 anos de ministério, ela d ­ eixou 20 livros (não incluindo compilações), cerca de 200 folhetos e panfletos, mais de 5 mil artigos publicados em periódicos e 6 mil cartas datilografadas e manuscritos gerais. Um exemplo da relevância do que ela escreveu são seus conselhos sobre saúde física, mental e espiritual, o que tem feito dos adventistas de Loma Linda, na

ELLEN WHITE

ESTAVA CIENTE DE QUE SUA TAREFA

ERA TRANSMITIR A MENSAGEM

BÍBLICA AO POVO DE DEUS NO

TEMPO DO FIM

R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Novembro 2019

SUA MAIOR CONTRIBUIÇÃO Na tradução da obra de Ellen White do inglês para qualquer idioma, o tradutor precisa atentar para alguns detalhes. Entre eles está o fato de que a escrita de Ellen White apresenta inúmeras paráfrases e passagens bíblicas. Logo, é muito importante distinguir as palavras dela dos textos da Bíblia, a fim de traduzir as primeiras e transcrever as últimas de uma versão bíblica da língua-alvo. Essa peculiaridade de Ellen White indica como ela valorizava a Bíblia e tinha nas Escrituras a base de sua mensagem. Ela estava ciente de que sua tarefa era transmitir a mensagem bíblica ao povo de Deus no tempo do fim. Acima de tudo, é evidente que seus testemunhos são “uma luz menor” destinada a conduzir o povo à “luz maior” das Escrituras (Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 30). Ela admitia que suas mensagens estavam sujeitas à autoridade canônica das Escrituras; por isso, convidou seus ouvintes e leitores a estudar e praticar os princípios da Bíblia. Ela alertou para o erro de considerarem seus escritos um acréscimo à Palavra de Deus (Testemunhos Para a Igreja, v. 4, p. 246). Falando à assembleia mundial da igreja em 1909, a última da qual fez parte, segundo W. A. Spicer, ela teria levantado sua Bíblia diante dos delegados e dito: “Irmãos e irmãs, eu vos recomendo este Livro” (The Spirit of Prophecy in the Advent Movement, 1937, p. 30). Como adventistas do sétimo dia que vivem no século 21 e mais de cem anos após a morte da pioneira, a melhor maneira de honrarmos o legado de Ellen White é continuarmos sendo conhecidos como “o povo do Livro”, um povo que ama Jesus e exalta a Bíblia como padrão de fé e prática. ]

SUGESTÕES PARA ORAÇÃO 1. Ore para entender o que Deus tem para lhe dizer por meio dos escritos de Ellen White. 2. Peça ajuda ao Senhor para que você se dedique ao estudo renovado e diário da Bíblia. 3. Louve a Deus por ter oferecido ao Seu povo ampla revelação para nossa edificação espiritual e sobrevivência no tempo do fim.

33


SEMANA DE ORAÇÃO | SÁBADO

DEUS TEM ORIENTAÇÕES PARA SEU POVO NO TEMPO DO FIM ELLEN G. WHITE

N

a noite do dia 30 de abril de 1871, recolhi-me ao descanso muito deprimida mentalmente. Durante três meses eu havia estado em uma condição de grande desânimo. Em angústia de espírito, frequentemente orava por alívio. Implorei ajuda e força de Deus para que pudesse superar o forte desânimo que estava afetando minha fé e esperança, e tornando-me incapacitada para o trabalho. Naquela noite tive um sonho que produziu uma impressão muito feliz sobre minha mente. Sonhei que assistia a uma reunião importante na qual havia muita gente. Muitos estavam inclinados diante de Deus em súplicas fervorosas, parecendo contritos. Insistiam com o Senhor pedindo luz especial. Alguns pareciam estar com o espírito angustiado; seus sentimentos eram intensos. Com lágrimas e em voz alta suplicavam auxílio e luz. Nossos mais preeminentes irmãos faziam parte dessa impressionante cena. O irmão A estava prostrado no chão, aparentemente muito atribulado. Sua esposa estava sentada no meio de um grupo de indiferentes escarnecedores, com ares de quem desejava que todos entendessem que ela desprezava os que assim se humilhavam. Sonhei que o Espírito do Senhor pousou então sobre mim, e que me levantei no meio dos clamores e súplicas, e disse: O Espírito do Senhor Deus veio sobre mim. Sinto-me impelida a dizerlhes que devem começar a trabalhar individualmente por vocês mesmos. Estão olhando para Deus, desejosos de que faça por vocês a obra que Ele lhes deu para fazer. Se fizerem aquilo 34

que sabem ser seu dever, Deus lhes ajudará quando precisarem de auxílio. Deixaram de cumprir o que Deus lhes incumbiu de fazer. Invocam a Deus para que faça o seu trabalho. Se tivessem seguido a luz que lhes deu, Ele teria feito mais luz brilhar sobre vocês; mas, já que negligenciam seus conselhos, advertências e repreensões que lhes foram dados, como podem pretender que Ele lhes dê mais abundante luz e bênçãos para negligenciarem e desprezarem? Deus não Se equipara aos homens; Dele não se zomba. Tomei a preciosa Bíblia e agrupei em torno dela os diferentes Testemunhos Para a Igreja dados ao povo de Deus. Aqui, disse eu, estão discriminados os casos de quase todos. Os pecados que devem evitar estão neles apontados. Os conselhos que eles buscam podem ser encontrados aqui, apresentados para outros casos que definem situações semelhantes às suas. Deus Se tem agradado de dar-lhes preceito sobre preceito e regra sobre regra (Is 28:10). Mas não há muitos entre vocês que sabem realmente o que está contido nos Testemunhos. Vocês não estão familiarizados com as Escrituras. Se tivessem feito da Bíblia o objeto de seus estudos, com o propósito de atingir o padrão bíblico e a perfeição cristã, não necessitariam dos Testemunhos. É porque negligenciaram tomar conhecimento do Livro inspirado de Deus que Ele procurou alcançar vocês por meio de Testemunhos simples e diretos, chamando sua atenção para as palavras da inspiração que negligenciaram obedecer, e insistindo com vocês para que modelem a vida de acordo com seus ensinamentos puros e elevados. Por meio dos Testemunhos o Senhor Se propõe a advertir, repreender e aconselhar Seus filhos, e impressionar-lhes a mente com a importância da verdade de Sua Palavra. Os Testemunhos não estão destinados a comunicar nova luz, e sim a imprimir fortemente na mente as verdades da inspiração que já foram reveladas. Os deveres do homem para com Deus e seu semelhante estão claramente discriminados na Palavra de Deus, mas poucos de vocês se têm submetido em obediência a essa luz. Não se trata de escavar verdades adicionais; mas pelos Testemunhos Deus tem facilitado a compreensão de importantes verdades reveladas, e posto estas diante de Seu povo pelo meio que Ele mesmo escolheu, a fim de despertar e impressionar com elas sua mente, para que todos fiquem sem desculpa. Orgulho, amor-próprio, egoísmo, ódio, inveja e ciúme obscureceram o poder perceptivo, e a verdade que devia fazê-los sábios para a salvação perdeu seu poder de cativar e controlar a mente. Os mais essenciais R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Novembro 2019

Ilustração: Xuan Le

Para nossos dias


princípios da piedade não são compreendidos, porque não há fome nem sede de conhecimento bíblico, pureza de coração e santidade de vida. Os Testemunhos não têm por fim diminuir o valor da Palavra de Deus, e sim exaltá-la e atrair para ela as mentes, para que a bela singeleza da verdade possa impressionar todos. Além disso, eu disse: Como a Palavra de Deus se acha circundada por estes livros e folhetos, assim também Deus os circundou com reprovações, conselhos, advertências e encorajamento. Aí estão vocês com o coração angustiado, clamando a Deus por mais luz. Estou autorizada por Deus a declarar-lhes que nenhum raio mais dessa luz há de incidir sobre seu caminho através dos Testemunhos, até que façam uso prático da luz que já lhes foi concedida. O Senhor os tem circundado de luz; mas vocês não a têm apreciado, antes a espezinham. Enquanto uns a desprezam, outros a negligenciam ou a seguem indiferentemente. Poucos dispuseram o coração a obedecer a luz que Deus Se agradou dispensar-lhes. Alguns que receberam advertências especiais por meio dos Testemunhos esqueceram-se dentro de poucas semanas das admoestações que lhes foram feitas. A alguns os Testemunhos foram várias vezes repetidos; eles, porém, não os consideraram bastante importantes para ­levá-los a sério. Eles lhes pareceram loucura. Se tivessem apreciado a luz recebida, teriam evitado prejuízos e provações que vocês consideraram duros e severos. Tinham somente a si mesmos para culpar. Acabaram pondo sobre o próprio pescoço um jugo que acharam penoso suportar. Não era esse o jugo que Cristo lhes havia imposto. A solicitude e o amor de Deus tinham sido demonstrados em seu favor, mas seu coração egoísta, maldoso e incrédulo não pôde discernir Sua misericórdia e bondade. Prosseguiram agindo em sua sabedoria até que, subjugados por provações, perplexos e confusos, ficaram enredados nas ciladas de Satanás. Quando reconhecerem os raios de luz que lhes foram concedidos no passado, então a luz de Deus lhes será aumentada. Eu lhes mencionei o antigo Israel. Deus deu a ele a Sua lei, mas o povo se recusou a andar nela. Depois lhes deu cerimônias e ordenanças para que, celebrando-as, Deus fosse lembrado. Eram tão propensos a esquecê-Lo e às Suas reivindicações sobre eles que lhes cumpria conservar desperta a mente de modo a compreender o dever de obedecer e honrar seu Criador. Se tivessem sido obedientes e com amor guardado R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Novembro 2019

os mandamentos de Deus, o grande número de cerimônias e ordenanças não teria sido necessário. Se o povo que agora professa ser a “propriedade peculiar” de Deus (Êx 19:5) obedecesse a Seus requisitos especificados em Sua Palavra, não haveria necessidade de Testemunhos especiais para despertar nele o sentimento do dever e impressioná-lo acerca de sua pecaminosidade e do temível risco que corre ao negligenciar obedecer à Palavra de Deus. As consciências têm-se entorpecido porque a luz foi posta de parte, sendo negligenciada e desprezada. E Deus retirará esses Testemunhos do povo e o desproverá de força, e o humilhará. Sonhei que, enquanto eu falava, o poder de Deus se apossou de mim de maneira extraordinária e fiquei totalmente sem forças, mas não tive nenhuma visão. Imaginei que meu marido se levantou perante o povo e exclamou: “Esse é o maravilhoso poder de Deus. Ele tornou os Testemunhos um poderoso meio de alcançar as pessoas, e atuará mais poderosamente por seu intermédio do que tem feito até aqui. Quem estará ao lado do Senhor?” Sonhei que um bom número imediatamente se pôs de pé e respondeu ao chamado. Outros se assentaram em silêncio; alguns mostravam desprezo e zombaria; e uns poucos pareceram completamente impassíveis. Alguém se levantou ao meu lado e disse: “Deus a suscitou e deu-lhe palavras para dizer ao povo e ­atingir-lhe o coração como a nenhuma outra pessoa foram dadas. Ele formulou seus Testemunhos para resolver casos que têm necessidade de auxílio. Você deve ficar impassível às zombarias ou escárnio, às acusações e censura. A fim de ser um instrumento especial nas mãos de Deus, importa não se apoiar em ninguém, a não ser em Deus. Ele a constituiu o meio de comunicar Sua luz ao povo. Você deve diariamente suplicar forças Dele a fim de fortalecer-se, para que sua influência não obscureça a luz que Ele permitiu brilhar sobre Seu povo por seu intermédio. É objetivo especial de Satanás impedir que essa luz atinja o povo de Deus, que tanto necessita dela em meio aos perigos destes últimos dias. Seu êxito depende de sua simplicidade. Tão depressa dela se apartar, formulando os Testemunhos de modo a acomodá-los à índole das pessoas por eles visadas, o poder a abandonará. Quase tudo nesta época é enganoso e fictício. No mundo há grande quantidade de testemunhos que visam somente agradar e encantar momentaneamente, e para exaltar o ego. Seu testemunho tem cunho diferente. Ele atinge os pormenores da vida, impedindo que se extinga a fé vacilante e impressionando o coração dos crentes com a necessidade de fazer resplandecer sua luz diante do mundo. Testemunhos Para a Igreja, v. 2, p. 604-608. ] ELLEN G.WHITE, cofundadora da Igreja Adventista, atuou como mensageira inspirada por Deus durante 70 anos

SUGESTÕES PARA ORAÇÃO

1. Peça a Deus que o guarde na simplicidade e pureza da fé do seu primeiro amor por Ele. 2. Ore para identificar e rejeitar as distrações que podem estar atrapalhando sua comunhão com Deus. 3. Peça libertação espiritual para você e sua família.

35


SEMANA DE ORAÇÃO INFANTIL

Mensageiros do céU POR QUE DEUS ENVIOU OS PROFETAS?

PRIMEIRO SÁBADO

Volody e as bestas GUARDE ESTE TESOURO: “Certamente o SENHOR Soberano não faz coisa alguma sem revelar o Seu plano aos Seus servos, os profetas” (Am 3:7, NVI).

O

que é aquilo jogado no chão?”, pensou Volody, de dez anos de idade, que se abaixou para pegar um livro que alguém devia ter jogado. Na capa estava escrito: Bíblia Sagrada. O garoto ucraniano nunca tinha ido a uma igreja, mas já havia ouvido que o livro sagrado dos cristãos falava sobre milagres. E as coisas sobrenaturais o interessavam. Ele pegou aquela Bíblia, numa versão para criança, sem capítulos e versículos, e levou para casa. Nos dias seguintes, Volody leu porções do livro que tinha achado. Porém, o Deus da Bíblia ainda parecia muito distante, não alguém com quem um garoto poderia fazer amizade. Volody colocou a Bíblia de lado e não se preocupou muito com ela. Certo dia, enquanto esperava em uma fila para comprar pão para sua mãe, um cartaz chamou a atenção dele. “O que será isso?”, Volody perguntou curioso. No cartaz havia monstros estranhos e assustadores – alguns deles com mais de uma cabeça! Observando o cartaz mais de perto, ele viu que a Bíblia era mencionada. De acordo com o cartaz, aqueles monstros estavam relacionados com as profecias do livro bíblico de Daniel. “Eu não me interesso pela Bíblia, mas preciso aprender mais sobre esses monstros”, disse Volody para si mesmo. Além disso, o orador era norte-americano. As autoridades do governo haviam alertado: “Esses americanos são verdadeiros demônios!” Outros disseram: “Eles têm

36

chifres e rabos!” Volody não tinha nenhum outro meio de aprender, e estava determinado a descobrir a verdade. O garoto anotou o horário e o local da primeira reunião. “Preciso ver tudo isso por mim mesmo”, pensou. Quando chegou o dia, Volody encontrou o lugar, acomodou-se e esperou ansioso pelo início da palestra. Qual seria realmente a aparência do palestrante americano? Mas, quando o orador apareceu, ele não tinha rabo nem chifres. Na verdade, ele parecia normal. Volody assistiu a toda a conferência e descobriu que aqueles animais representavam algumas coisas importantes que aconteceriam no futuro. E que isso se chamava “profecia”. Como se aquelas notícias não fossem suficientes, o garoto ainda ouviu o orador falar sobre Jesus. Acontece que centenas daquelas profecias da Bíblia estavam relacionadas com Cristo. O americano falou que Jesus amava tanto as pessoas que morreu por todas – e isso incluía Volody. Ainda mais impressionante foi o fato de ele ter aprendido que Jesus irá voltar para levar as pessoas para o Céu. Por alguma razão, parecia que a Bíblia que Volody havia encontrado não incluía essa parte. Algum tempo depois, Volody encontrou uma Igreja Adventista na sua cidade e começou a aprender mais sobre profecias e a respeito de Cristo. Ele aceitou Jesus como seu Salvador e prometeu servi-Lo a despeito de qualquer coisa. Houve momentos em que

isso não foi fácil, mas Volody manteve sua promessa. Assistindo às palestras sobre profecia, o menino aprendeu bastante acerca do futuro, mas havia algo em seu próprio futuro que ele não conseguiu ver. Volody se tornou um pastor adventista e se mudou para os Estados Unidos. Até agora, os únicos americanos que ele viu com chifres e rabo

R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Novembro 2019

Ilustrações: Xuan Le

Randy Fishell


foi na época de Halloween, festa tradicional americana em que as pessoas usam fantasias.

sua opinião, por que Deus usa os profetas

Adaptação da história “Volody and the Weird Beasts”, de

Faça isto: Reúna alguns amigos e cochiche

Ellen Weaver Bailey, publicada na revista Guide de 23 de

uma mensagem no ouvido da primeira

abril de 2016.

pessoa (a mensagem não pode ser repe-

em vez de Ele mesmo dar a mensagem?

tida). Faça isso com todas as pessoas e Pense nisto: Por que Deus enviou os profetas? Você se

veja quão alterada a mensagem chegará

lembra de alguma profecia da Bíblia? Quem deu a men-

até a última pessoa. O que faz com que a

sagem? E era sobre o quê? Você gostaria de ser profeta?

mensagem do profeta não seja alterada?

Por que sim ou por que não?

Pergunte a seus pais ou para um parente como eles receberam uma mensagem que

Faça isto: Que tal uma brincadeira? Escreva exatamente

mudou a vida deles. Eles estão felizes

o que você acha que serão as primeiras palavras que

em fazer o que a mensagem disse que

você ouvirá amanhã depois que sair de casa. Então,

fizessem? Por que sim ou não?

preste bastante atenção e veja se acertou. Se sim, isso faz de você um profeta? Por que sim ou não? E que tal

SEGUNDA-F EIR A

ler a previsão de um profeta de verdade? Leia para um amigo a profecia sobre o rei Ciro em Isaías 45:1-3. Como seu amigo reagiu?

DOMINGO

Salva das metralhadoras GUARDE ESTE TESOURO: “jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1:21, NVI).

D

iane olhou para o cano das três metralhadoras. “Vamos encher vocês de buracos!”, gritou um dos guerrilheiros. Aquele país estava em conflito já havia algum tempo, e agora a menina estava vivendo esse conflito em primeira mão. Diane estava em um ônibus, retornando de uma visita ao orfanato. Na e­ scuridão antes do alvorecer, os soldados saíram da floresta para o meio da estrada de terra e pararam o veículo. “Você ouviu que eles bombardearam a torre de comunicação em São Luís?”, sussurrou um passageiro. “Sim, e lá no lado leste eles mataram algumas pessoas”, disse outro. Os soldados da guerrilha entraram no ônibus. “Saiam todos!”, ordenou um deles, enquanto os demais esperavam do lado de fora com metralhadoras. Um por um, os passageiros foram pulando do ônibus, pela saída de trás. Então chegou a vez de Diane e ela também pulou. Foi quando um soldado disse que iriam atirar nela. Naquele momento, Diane olhou para trás, para a porta traseira do ônibus, e viu uma R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Novembro 2019

senhora idosa, encurvada, parada na porta. De repente, ela ouviu uma voz calma dentro de sua mente dizendo: “Ajude aquela senhora idosa.” Corajosamente, Diane virou as costas para as metralhadoras e disse para a mulher: “Venha, senhora, deixe-me ajudá-la a descer.” Enquanto ela auxiliava aquela senhora, os guerrilheiros apenas a observavam perplexos. Diane continuou ajudando outros a descer do ônibus: crianças, uma mãe com seu bebê e outra idosa. Quando acabou, ela se virou para ver os soldados parados ali, com as metralhadoras penduradas ao corpo. Houve mais momentos dramáticos antes que o problema terminasse, mas nenhum dos passageiros perdeu a vida. Graças a Diane, que ouviu e obedeceu àquela voz suave, suas ações frustraram os planos maldosos dos soldados de tirar a vida dela. Moral da história: é sempre melhor seguir às instruções da voz de Deus. Adaptação da história “Guerrillas, Machine Guns, and God”, de Diane Aguirre, publicada na revista Guide de 12 de setembro de 2015.

Pense nisto: Em alguma ocasião, alguém pediu que você desse um recado. Esse recado era escrito ou falado? Você conseguiu cumprir a tarefa? Outra situação. Lembra-se de alguém que lhe deu uma notícia que você não queria ouvir? O que você fez? Na

A guerra que nunca aconteceu

GUARDE ESTE TESOURO: “Vocês os reconhecerão por seus frutos” (Mt 7:16, NVI).

M

ichel era um profeta. Pelo menos era isso que muita gente pensava. Um dia, ele escreveu, com muito cuidado, a seguinte profecia misteriosa: “Marte e o cetro estarão sobrepostos, Guerra calamitosa sob Câncer. Pouco tempo depois será ungido um novo Rei, Que trará paz à terra por um longo período”. O que significa essa profecia estranha? “Marte e o cetro”? Seria isso o fim de uma guerra quando todo mundo tivesse câncer? Quem seria esse “novo rei”? Essa não foi a primeira profecia de Michel, cujo sobrenome era Nostredame. Ele foi um médico francês que viveu de 1503 a 1566. Mais tarde, ficou conhecido apenas por Nostradamus. Nostradamus escreveu um livro contendo 942 profecias poéticas de quatro linhas chamadas 37


Resultados. A profecia precisa se cumprir (Jr 28:9). Jesus. O que o profeta diz sobre Jesus? Se for algo como: “Jesus era um bom professor, mas não era o Filho de Deus”, fuja dele! (1Jo 4:2). Você sabia? Um homem chamado Harold Camping, nos Estados Unidos, dizia saber a data da vinda de Jesus. Apesar de ele ter feito três previsões que não se cumpriram (6 de setembro de 1994, 21 de maio de 2011 e 21 de outubro de 2011), Harold conquistou vários seguidores. A Bíblia menciona alguns falsos profetas, inclusive um chamado Hananias. Você pode ler sua história em Jeremias 28:15-17. Pense nisto: Por que alguém que não é profeta afirma ser? Você acha que Satanás pode estar por trás de alguns falsos profetas? Como você reagiria se alguém lhe dissesse que é um profeta enviado por Deus?

T ERÇ A-F EIR A

Descobrindo o código DECORE ESTE TESOURO: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a Palavra da verdade” (2Tm 2:15).

Q

ue ped ra est ra n h a”, Pierre deve ter pensado. Era julho de 1799. Um homem chamado Pierre-­Françoise Boucha rd estava ajudando a reconstruir um forte antigo, perto da cidade de Rosetta, no Egito. De repente, ele percebeu no chão uma peça soterrada. Logo descobriu que era uma placa de pedra preta e que havia coisas escritas nela. Algum tempo depois, estudiosos começaram a analisar aquela placa de pedra preta que pesava uma tonelada e que tinha mensagens escritas em três idiomas: grego, demótico (uma língua

38

egípcia) e hieróglifo (um sistema de escrita com base em símbolos ou figuras). Os estudiosos ficaram muito entusiasmados, pois chegaram à conclusão de que aqueles três idiomas diferentes deviam estar contando a mesma história. Até aquele momento, ninguém havia descoberto o segredo para traduzir aquelas figuras egípcias muito antigas. Porém, usando os dois primeiros idiomas como “códigos”, finalmente eles conseguiram compreender os hieróglifos. Foi necessário muito tempo para traduzir todas as inscrições da Pedra de Roseta, mas valeu a pena. Graças a essa descoberta, o “código” dos hieróglifos egípcios da antiguidade foi finalmente decifrado. Assim como a humanidade precisou da Pedra de Roseta para compreender os hieróglifos, nós precisamos da informação certa para entender corretamente as profecias. Sem isso, acabamos nos desviando da orientação segura da Bíblia e fazendo interpretações muito estranhas. Abaixo seguem algumas dicas importantes para você compreender a profecia bíblica: Ore. Aceite a ajuda do Espírito Santo para entender o texto bíblico. Foi Ele quem inspirou os autores da Bíblia. Conheça sua Bíblia. Se você não entende um trecho específico das Escrituras, não se desespere. Conhecer a mensagem geral da Bíblia pode ajudar você a compreender as passagens mais difíceis. O centro da mensagem é que Deus ama você e quer levá-lo um dia para o Céu. Leia uma versão infantil. Bíblias na linguagem para crianças podem ter mais sentido para você. Peça ajuda. Procure alguém em quem você confia e que ame a Jesus para ajudar você com os trechos da Bíblia que não entende. Um pouco de cada vez. Não dá para aprender tudo da noite para o

R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Novembro 2019

Ilustrações: Xuan Le

quatrains. O livro, publicado em português como As Profecias, ainda é consultado e levado a sério por muitas pessoas. Como o exemplo que citamos, todas as previsões desse livro são muito estranhas. Por exemplo, você consegue descobrir o que a profecia acima está prevendo? Ao longo dos ­séculos, houve alguns palpites. Um dos mais recentes é que “Marte” seria aquele planeta do nosso sistema solar, e “cetro” significaria Júpiter. Supostamente, esses dois planetas ficariam “sobrepostos” ou “alinhados” no espaço, no dia 21 de junho de 2002. E então começaria uma guerra terrível. Mas isso não aconteceu. Na verdade, muitos especialistas concordam que as profecias de Nostradamus podem muito bem significar qualquer coisa que se queira que signifiquem. É importante lembrar que o principal trabalho de um profeta nem sempre é prever o futuro. Sua principal função é ser porta-voz de Deus, usando geralmente a palavra escrita e/ou falada para transmitir a mensagem que recebeu. Entretanto, como sabemos se alguém que se diz profeta realmente fala em nome de Deus? A seguir estão quatro dicas que o ajudarão a descobrir se a mensagem de determinado profeta vem do Céu ou de outro lugar. Bíblia. A profecia de um profeta moderno deve concordar com o que a Bíblia diz sobre o assunto (Is 8:20). Ação. A vida do profeta verdadeiro mostrará o fruto do Espírito (Gl 5:22, 23), como amor, bondade e domínio próprio. Em outras palavras, ele vai ser parecido com o Deus a quem ele revela.


dia. No tempo certo, Deus mostrará para você o que precisa entender. Você sabia? A mensagem da Pedra de Roseta parece ser um pouco chata. É uma cópia de um decreto comemorando o dia em que Ptolomeu V Epifânio se tornou rei egípcio. O Egito aparece em muitas profecias bíblicas, como a de Oseias 11:1, que fala da fuga dos pais de Jesus para salvá-lo da perseguição de Herodes. Pense nisto: Você já fez uma descoberta emocionante? Ela o ajudou de alguma forma? Como você se sente quando não consegue compreender alguma coisa? Você se lembra de alguma profecia bíblica fácil de ser entendida? O que ela significa para você?

Q U A R TA - F E I R A

A coragem de Cristal DECORE ESTE TESOURO: “Vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes Daquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz” (1Pe 2:9).

C

ristal (os nomes foram trocados) era muito brilhante. Na verdade, se notas significam alguma coisa, ela era a aluna mais inteligente da classe. Certo dia, porém, Cristal foi surpreendida pelas palavras do professor Campbell. “Você está muito acostumada a tirar boas notas. Então deixe-me dizer algo para você: vou fazer tudo o que posso para corrigir esse ‘problema’.” Surpresa, Cristal tentou descobrir por que o professor estava sendo tão rude com ela. Por ser uma das poucas alunas cristãs da sua escola pública, ela imaginou que talvez o senhor ­Campbell não concordasse com sua religião. Semanas se passaram, e o professor continuou a dificultar as coisas para Cristal. Certa vez na aula, o assunto discutido foi a origem da vida. A maior parte da turma parecia crer na teoria da evolução. Um dos alunos disse que acreditava na criação, mas não em seis dias literais e sim num processo de milhões de anos. Finalmente, Cristal falou. “Eu acredito no que a Bíblia diz sobre a criação”, disse ela. “Espera!”, interrompeu asperamente o senhor Campbell. “Você está tentando nos dizer que realmente acredita nessa tolice?” Cristal R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Novembro 2019

respondeu afirmativamente. “Se Deus é quem Ele diz ser, por que não seria capaz de criar o mundo em seis dias? Não é só porque não conseguimos entender esse tipo de poder que ele não existe”, argumentou a menina. “Isso é conversa tola”, ironizou o professor. “E os dinossauros? O que aconteceu com eles?”, completou o senhor Campbell. Quando Cristal explicou que acreditava no dilúvio bíblico e na arca de Noé, seu professor mais uma vez a ridicularizou: “Você realmente acredita nisso? Como pode ser tão estúpida?” Ele fez questão de sair no corredor da escola e chamar outros professores e alunos, gritando: “Vocês têm que vir aqui para ouvir sobre o que a Cristal acredita!” Logo a sala ficou cheia de professores e alunos, todos zombando da menina. Apesar de todos os problemas que o senhor Campbell continuou causando, as notas da Cristal continuaram sendo as melhores da classe. Por causa desse bom desempenho, ela faria o discurso no último fim de semana do período de aulas. Mais uma vez o diretor a chamou em particular e disse-lhe: “Cristal, agora eu sei que você é cristã, mas você não pode incluir uma oração no seu discurso. É contra a lei.” Porém, a estudante sabia que isso não era verdade. “Não, senhor Sheffield, a lei diz que posso fazer oração, desde que os funcionários da escola não me digam o que devo orar.” O diretor sabia que tinha sido derrotado. Quando o dia chegou, Cristal caminhou até o púlpito, curvou

a cabeça e orou. Depois de dizer “amém”, ela continuou e fez um discurso poderoso. Mais tarde, a estudante foi parabenizada pela família, pelos amigos e colegas de classe. Ela estava muito grata ao Deus que lhe havia criado e dado forças para permanecer fiel a Ele. Adaptação da história “Krystal’s Clear Conviction”, de Richard G. Edison, publicada na revista Guide de 11 de março de 2006.

Pense nisto: Alguma vez você já ouviu falar de Ellen White? O que sabe sobre ela? Compartilhe sua opinião no culto da sua família ou na Escola Sabatina. Faça isto: (1) Caminhe num parque ou faça uma trilha em meio à natureza. Procure ali pelo menos cinco coisas que o façam pensar que Deus realmente criou o mundo. (2) Nas próximas semanas, escreva alguns problemas que estão acontecendo em sua vida. Sozinho ou com a ajuda de um amigo, pesquise em busca de soluções para eles nos escritos de Ellen White. (3) Leia ou assista algo sobre a extinção dos dinossauros. O que você achou coincide com a explicação criacionista?

Q U I N TA - F E I R A

O sonho do sargento DECORE ESTE TESOURO: “Vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões” (Jl 2:28).

V

ários policiais de South Auckland, na Nova Zelândia, estavam cansados de ver tantos crimes em sua área. “O que podemos fazer para mudar isso?”, perguntavam-se uns aos outros. “E se pudéssemos dar algo para os réus primários lerem que os ajudasse a fazer melhores escolhas no futuro?”, sugeriu o 39


40

Adaptação da história “The Policeman’s Dream”, de Andrew McChesney, disponível em am.adventistmission.org.

Você sabia? Segundo nosso texto de hoje para memorizar, os sonhos ainda desempenham um papel importante no ministério profético. Tendo em vista que o trabalho de um profeta pode ir além de prever o amanhã, pois envolve ensino, pregação e sonhos, Deus pode um dia escolher você como profeta, ainda que não seja para adivinhar o futuro. Pense nisto: Como podemos saber se um sonho ou outra mensagem especial vem realmente de Deus? Já que o dom de profecia também inclui ensino e pregação, então todos os professores e pregadores também são profetas?

S E X TA - F E I R A

O sonho do cordão verde

DECORE ESTE TESOURO: “Estes são os que seguem o Cordeiro para onde quer que vá” (Ap 14:4).

E

llen estava desanimada. A menina de 15 anos amava Jesus, mas sentia que não era boa o suficiente para agradá-Lo.

Mais tarde, ela escreveu sobre seus sentimentos durante essa fase da vida. “Parecia-me que minha sorte estava fixada; que o Espírito do Senhor tinha me abandonado para não mais voltar.” Porém, numa noite, Ellen teve um sonho que a ajudou a ver as coisas a partir de outra perspectiva. No sonho, Ellen viu-se em profunda tristeza. “Se eu pudesse ver Jesus, Ele me ajudaria a me sentir melhor”, ela pensou. Só então apareceu um anjo no sonho. O anjo perguntou a Ellen: “Você quer ver Jesus? Ele está aqui, e você poderá vê-Lo se desejar. Leve tudo o que você possui e siga-me.” Claro que ela queria ver Jesus. Assim, no sonho, Ellen recolheu seus poucos pertences e seguiu o anjo. “Continue olhando para cima”, disse o anjo a Ellen, “senão você pode ficar tonta e cair”. Que sonho ela estava tendo! Seu coração parecia repleto de alegria enquanto seguia o anjo por uma escada íngreme. Por fim, Ellen estava diante de uma porta. “Deixe suas coisas aqui”, disse o anjo. Em seguida, ele abriu a porta... e ali estava Jesus. Ellen mal podia acreditar! De repente, caiu aos pés do Salvador. Jesus Se aproximou dela e, com um sorriso gentil, colocou Sua mão na cabeça dela dizendo: “Não tenha medo.” Ela estava muito alegre para conseguir falar. No sonho, Ellen parecia saber que iria alcançar a segurança e a paz do Céu. Os olhos amorosos de Cristo ainda estavam sobre ela. Foi essa experiência que a ajudou a entender que só viveria no Céu um dia se confiasse em Jesus. Em seguida, no sonho, o anjo-guia abriu a porta. Ellen e ele deixaram a presença de Jesus, mas algo havia mudado, algo maravilhoso demais para ser descrito. Porém, algo mais incomum ainda aconteceria. No sonho, o anjo lhe daria um cordão verde para colocar junto ao coração. “Quando você quiser ver Jesus, pegue o cordão verde e

R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Novembro 2019

Ilustrações: Xuan Le

sargento-chefe. Enquanto conversavam mais sobre o assunto, os policiais tiveram a ideia de fazer uma revista com histórias de criminosos que entregaram a vida a Jesus. O nome da revista seria Do Crime para Cristo. Todos estavam animados com a ideia de publicar aquele material, mas o departamento de polícia não tinha dinheiro para financiar o projeto. Certa noite, aquele mesmo sargento teve um sonho estranho. Nele havia uma mulher que ia dar à luz um bebê. Acima da mulher estavam escritas as palavras “adventista do sétimo dia”. De repente, o sargento acordou. “Preciso escrever o que eu acabei de sonhar”, disse a si mesmo. Depois de ter escrito o sonho, voltou a dormir. Na manhã seguinte, na delegacia de polícia, o sargento disse aos outros policiais o que entendia ser o significado do sonho: “Acredito que a Igreja Adventista do Sétimo Dia ‘dará à luz’ a este projeto da revista.” “Eu sou adventista”, disse entusiasmado um dos policiais, “e conheço uma igreja local que estaria interessada em ajudar.” Pouco tempo depois, o sargento se encontrou com o pastor Hurlow, líder da Igreja de Papatoetoe. “Sim. Nós gostaríamos de ajudar”, disse o pastor adventista com um sorriso. Porém, o ministro explicou que poderiam apenas elaborar o conteúdo da revista, pois sua congregação não tinha condições para financiar o projeto. No dia seguinte, uma mulher entrou na delegacia e pediu permissão para falar com o sargento-chefe. Ela disse: “Deus me enviou aqui. Eu não sei a razão, mas diga-me o que o senhor está fazendo pela comunidade.” O sargento lhe explicou sobre o projeto da revista. Aquela senhora disse que gostaria de doar algum dinheiro, mas pediu para primeiro falar com algumas pessoas e então dar uma resposta para ele. Alguns dias depois, a mulher voltou à delegacia com a doação de 10 mil dólares

neozelandeses, quantia suficiente para o primeiro número da revista. “Ah, eu tenho mais dinheiro para a próxima edição”, acrescentou a mulher. No primeiro número do periódico foram publicadas as histórias de Amós, fundador de uma grande gangue chamada Caçadores de Cabeça, e a conversão de uma mulher que deixou a vida do crime para seguir Jesus. Muitas pessoas já foram batizadas por influência da revista Do Crime para Cristo. Moral da história: quando Deus dá um sonho a alguém, Ele também ajuda a torná-lo realidade.


estique-o até o fim. Faça isso muitas vezes, porque você não quer que o cordão fique embaraçado”, disse o anjo. Para Ellen, o cordão verde representava confiança em Cristo. No sonho, Ellen colocou o cordão perto do seu coração e desceu alegremente a escada estreita. Durante a descida, ela louvou a Deus e testemunhou para todos que encontrou, dizendo para eles onde poderiam encontrar Jesus. Quando Ellen acordou, o mundo parecia mais brilhante e ela sentia uma paz que nunca havia experimentado antes. E foi tudo por causa de Jesus! Adaptação de Primeiros Escritos, de Ellen G. White, p. 79-81.

Pense nisto: Qual é o ponto principal do “sonho do cordão verde”? A vida e os escritos de Ellen White têm influenciado sua vida? Por que algumas pessoas escolhem não dar atenção às mensagens dela? Faça isto: Use um cadarço, fio de lã ou algo semelhante e faça seu “cordão verde”. Guarde-o onde possa ­ajudá-lo a se lembrar de que qualquer momento é uma boa hora para confiar em Jesus. Se quiser, cole sua promessa bíblica favorita nesse cordão. Corte um pedaço de cartolina com cerca de 17,50 cm de altura e 12,50 cm de largura. Corte uma porta que possa ser aberta, deixando 1,30 cm aproximadamente como a “moldura da porta”. Desenhe ou procure uma figura bonita de Jesus e ­cole-a do lado de trás da moldura da porta. Se desejar, você pode cortar uma janelinha na porta para que o rosto de Jesus apareça. Então, quando você abrir a porta, Jesus estará esperando você!

SEGUNDO SÁBADO

A incrível visão

DECORE ESTE TESOURO: “O testemunho de Jesus é o espírito de profecia” (Ap 19:10).

R e v i s t a A d ve n t i s t a // A d ve n t i s t Wo r l d // Novembro 2019

N

uma tarde de domingo em Lovett’s Grove, Ohio (EUA), Tiago White tinha acabado de fazer o sermão de um funeral. Ellen, sua esposa, parou na frente da pequena escola onde o funeral tinha sido realizado. Ela também queria falar algumas palavras de ânimo. Mas Deus tinha algo especial para aquele momento da história. De repente, Ellen entrou em visão, algo que já tinha acontecido muitas vezes com ela. Nessa oportunidade, Deus mostrou a ela cenas da batalha invisível que estava acontecendo entre Jesus e Satanás. Ela viu que Satanás tinha sido um anjo respeitado no Céu e como ele havia pecado e sido lançado na Terra. Enquanto Ellen permanecia em visão, as cenas passavam diante dela. Ela viu a morte de Jesus no Calvário e como o domingo substituiria o verdadeiro sábado. Foi mostrado a ela também como Satanás tentaria enganar as pessoas para que pensassem que os que morrem vão direto para o Céu. E que é possível falar com nossos queridos que já morreram. Finalmente, a visão de Ellen terminou depois de duas horas, mas não antes de Deus lhe dizer outra coisa. Ela deveria escrever essa visão que retrata o grande conflito entre o bem e o mal. Deus também lhe disse que Satanás tentaria impedi-la de compartilhar o que havia visto. Quando as pessoas saíram da escola naquele dia, algumas disseram: “Vimos umas coisas estranhas hoje.” Pouco depois, Tiago e Ellen White deixaram Ohio e foram para a cidade de Jackson, em Michigan, visitar alguns amigos, a família Palmer. Pouco depois de chegarem à casa deles, algo aconteceu com Ellen. Mais tarde, ela descreveu o ocorrido: “Uma estranha sensação de frio me tomou o coração, passou-me pela cabeça, e desceu-me pelo lado direito. [...] Procurei usar meus membros esquerdos, porém estavam de todo inúteis” (Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 100).

Satanás já estava tentando impedir que Ellen escrevesse a visão. Mas, graças à oração, ela melhorou lentamente. Mais tarde, ela escreveu: “Foi-me mostrado em visão que, no súbito ataque que sofri em Jackson, Satanás pretendia tirar-me a vida, a fim de impedir o trabalho que eu estava prestes a escrever; mas os anjos de Deus foram enviados para me socorrer” (Life Sketches of Ellen White, p. 163). “O Senhor ouviu e respondeu às orações de Seus filhos fiéis, e o poder de Satanás foi quebrado” (Spiritual Gifts, v. 2, p. 272). Por fim, Ellen conseguiu escrever toda a visão. Você pode ler essa impressionante mensagem no livro O Grande Conflito. Graças ao dom de profecia dado para Ellen White, hoje o povo de Deus do tempo do fim tem informação suficiente para se preparar para a volta de Jesus. Esse é um presente especial para a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Mas o conhecimento especial que recebemos não pertence somente a nós, ele foi dado para ser compartilhado com o mundo inteiro. Que privilégio incrível ter um papel a desempenhar, fazendo a diferença para outros, não só nesta vida, mas para sempre! Pense nisto: O que você faria se alguém lhe dissesse que o dom profético de Ellen White já não é mais importante? Quem você acha que foi mais importante na vida de Ellen White? Por quê? Faça isto: Compre ou peça a alguém que lhe dê o livro Caminho a Cristo, de Ellen White. Todas as noites, antes de dormir, leia alguns parágrafos para ajudá-lo a aprender a amar mais Jesus. Copie as frases de que você mais gostou e cole-as em pequenos cartões de cartolina. Plastifique esses cartões e os coloque num envelope especial. Deixe essas frases num lugar de fácil alcance para ler e reler quando precisar. Se quiser, escreva um diário e o ilustre com as descobertas que está fazendo na leitura dos escritos de Ellen White. ]

RANDY FISHELL foi editor da revista Guide

41


MEMÓRIA

Adriane Padilha Krüger Muniz, aos 27 anos, em Santiago, no Chile, vitima de intoxicação por dióxido de carbono. Natural de Alta Floresta (MT), era recémformada em Engenharia Civil e apaixonada pela vida no campo, animais, esportes e natureza. Deixa seus pais, Cláudia e Delcio Krüger, e dois irmãos. Jonathas Krüger Muniz, aos 34 anos, em Santiago, no Chile, vítima de intoxicação por dióxido de carbono. Natural de Piracicaba (SP), trabalhou na Associação Catarinense e depois como coordenador de Departamento Pessoal na sede sul-americana da igreja. Em 2016 casouse com Adriane e aceitou o convite para trabalhar como analista administrativo no setor de RH do Instituto Adventista de Tecnologia (IATec), em Hortolândia (SP). Deixa seu pai, Ademir, e duas irmãs. Amara dos Santos Lima, em Ribeirão Preto (SP). Batizada havia 50 anos, foi uma das pioneiras e membro da Igreja de Parque dos Servidores. Viúva de Jorge João de Lima, que morreu dois meses antes dela, teve oito filhos, 19 netos e dois bisnetos. Jorge João de Lima, aos 88 anos.

Frequentava a Igreja de Parque dos Servidores, mas mantinha sua carta de membro no Nordeste, onde foi um ativo missionário. Alice Carmem de Carvalho, aos 82 anos, em Divinópolis (MG), vítima de falência de múltiplos órgãos. Foi batizada em 1979 juntamente com sua família, quando migraram da capital paulista para Divinópolis. Serviu no ministério de assistência social e destacou-se por organizar com sucesso jantares beneficentes. Era uma mulher forte, determinada e fiel a Deus. Deixa o esposo, José, quatro filhos, nove netos e seis bisnetos. Ilma Pereira da Silva, 75 anos, em São Paulo. Nascida num lar adventista em Recife (PE), era membro da Igreja de Moema, na capital paulista. Deixa três irmãs, sobrinhos e familiares. Jonas Cruz, aos 103 anos, vítima de parada cardíaca. Foi ancião das Igrejas de Concórdia, em Belo Horizonte, e de São Benedito e Baronesa, em Santa Luzia (MG). Por muito tempo serviu no Coral de Sião e no Ministério Pessoal das igrejas pelas quais passou. Ele levou 613 pessoas ao batismo. Deixa quatro filhos, 13 netos, três bisnetos e um trineto.

Leandra Dreschler Nold, aos 56 anos, em Ribeirão Preto (SP), vítima de diabetes. Era membro da Igreja de Parque dos Servidores. Deixa o esposo, três filhos e netos. Maria do Carmo Barbosa, aos 85 anos, em Monguagá (SP), vítima de atropelamento. Maria vivia em Hortolândia (SP) e destacouse por ajudar na fundação de várias igrejas e por servir como diaconisa. Viúva, deixa um filho, uma neta e um bisneto. Maria da Conceição Santos, aos 104 anos. Natural de Tombos de Carangola (RJ). Foi uma das fundadoras da Igreja Central de Aimorés e pioneira do adventismo nessa região do leste de Minas Gerais. Serviu como zeladora da igreja, diaconisa e líder do ministério de assistência social. Por esforço pessoal, tornou-se organista da congregação e professora de órgão. Chegou a andar mais de 30 km para ministrar estudos bíblicos. Sua característica mais importante foi o amor pelos pobres e por aqueles que não conheciam a mensagem adventista. Foi casada com Francisco Aniceto dos Santos e teve três filhos e quatro netos. Matilde Ferreira de Oliveira, aos 87 anos, vítima de infecção

urinária, choque séptico e problemas cardíacos. Foi fundadora da Igreja de Ribas do Rio Pardo (MS). Missionária dedicada, por onde passou levou muitas pessoas ao batismo. Nelson Maia, aos 80 anos, vítima de trombose e complicações renais. Foi um colaborador incansável das igrejas adventistas de Senhor do Bonfim e Jacobina, na Bahia. Na antiga Missão BahiaSergipe, ele hospedou várias vezes líderes e pastores, bem como ajudou na construção e reforma de templos. Dificilmente faltava aos cultos de sábado, mas não chegou a ser batizado. Foi também prefeito das cidades baianas de Caldeirão Grande, na década de 1970, e Ponto Novo, nos anos 1980. Deixa a esposa, a educadora Floripes. Osmar Marques Vital, aos 86 anos, em São Paulo (SP), vítima de parada cardiorrespiratória. Batizado em 1965 pelo pastor Itamar de Paiva, foi um dos primeiros conversos ao adventismo em Itacoatiara (AM). Era membro da Igreja Central de Manaus. Destacou-se por sua fidelidade e generosidade para ajudar a construir igrejas e escolas e para colaborar na formação de pastores. Deixa a esposa, Filomena, quatro filhos, seis netos e três bisnetos.

“ B E M - AV E N T U R A D O S O S M O R T O S Q U E , D E S D E A G O R A , M O R R E M N O S E N H O R ” 42

(APOCALIPSE 14:13)

R e v i s t a A d ve n t i s t a // Novembro 2019


IGREJA Sede própria da Missão Nordeste Maranhense foi inaugurada em outubro na região metropolitana de São Luís. O novo território administrativo da igreja começou a valer em janeiro

DIVIDINDO PARA SOMAR Conheça as novas sedes adventistas no Brasil MAUREN FERNANDES

m dos quatro níveis administrativos da organização adventista são as chamadas Associações ou Missões, escritórios regionais responsáveis por um conjunto de congregações, escolas e instituições de saúde. Em 1993, o Brasil era dividido em 24 sedes, que atendiam a aproximadamente 665 mil adventistas espalhados pelo país. Mas, nas últimas duas décadas, o número de escritórios regionais saltou para 53, o que representou um crescimento de 120%, na comparação com dados de 2018. No mesmo período, o Peru, segundo maior país em número de adventistas na América do Sul, também dobrou o número de campos, passando de 6 para 12. Com o crescimento da igreja, a abertura de novas sedes administrativas acaba sendo uma necessidade. Por exemplo, em 2018, a Associação Maranhense (AMa) concentrava mais de 84 mil adventistas, distribuídos em mil congregações. Para atender de maneira mais eficiente a demanda, a solução encontrada foi dividir o território, criando a Missão Nordeste Maranhense (MNeM), em funcionamento desde janeiro na região metropolitana de São Luís (MA). Segundo

Foto: Bruno Mesquita

U

R e v i s t a A d ve n t i s t a // Novembro 2019

o pastor Ozeias Costa, secretário executivo da Igreja Adventista para a região Norte do país, estar mais perto das igrejas vai impulsionar o espírito missionário. O mesmo irá ocorrer em Minas Gerais e Mato Grosso a partir de janeiro de 2020. Ao perceber o potencial demográfico e econômico da região oeste do estado, a liderança da Associação Mineira Central (AMC), com sede em Belo Horizonte, identificou a possibilidade de abrir uma nova sede administrativa naquela região. A Missão Mineira Oeste (MMO), com sede em Uberlândia, no interior do estado, irá possibilitar que líderes e membros estejam mais próximos. De acordo com o pastor Leônidas Guedes, secretário executivo da Igreja Adventista para o Sudeste do Brasil, a expectativa é aumentar em 30% o número de templos, estabelecer cinco novas igrejas em cidades sem presença adventista e inaugurar duas novas escolas adventistas com capacidade para 800 alunos cada uma. No caso do Mato Grosso, a distância entre a sede administrativa e algumas igrejas, localizadas num raio de até 1.300 km, gerava dificuldades ainda maiores. Acompanhando o crescimento do agronegócio, o adventismo no estado também avançou fortemente em número e obteve estrutura financeira suficiente para dar novos passos. Decidiu-se então dividir a antiga Associação Mato-grossense (AMT) em duas novas sedes administrativas: a Associação Leste Mato-grossense (ALM) e a nova Missão Oeste Mato-grossense (MisOM), com sede na cidade de Várzea Grande. Segundo o pastor ­Alijofran Brandão, líder da denominação para a região CentroOeste, a educação adventista e a colportagem estudantil na região cresceram muito nos últimos anos e contribuíram para o progresso do campo. O campo que possui a nomenclatura de “Missão” ainda não tem completa autonomia e depende da instância superior (a União) para tomar decisões financeiras e administrativas. Em geral, uma Associação nasce como Missão e passa pelo mesmo processo. Segundo o secretário associado da Igreja Adventista na América do Sul, pastor Uesley Peyrl, conquistar autonomia para tornar-se Associação vai além do autossustento financeiro. “É preciso habilidade para resolver dificuldades e ter ampla visão evangelizadora”, ressalta. Em breve, essas três novas Missões devem se tornar Associações. ] MAUREN FERNANDES é jornalista e atua na equipe de assessoria de comunicação da sede sul-americana da Igreja Adventista

43


INTERNACIONAL

AGENDA COMPLEXA

O último Concílio Anual antes da assembleia de 2020 lidou com questões delicadas MARCOS DE BENEDICTO E MÁRCIO TONETTI

odo Concílio Anual que antecede uma assembleia mundial da igreja sempre gera expectativa. Afinal, é ali que se define a agenda da principal reunião administrativa da denominação, realizada a cada cinco anos. Mas o encontro dos cerca de 300 delegados que compõem o Comitê Executivo da Associação Geral, nos dias 11 a 16 de outubro, na sede da igreja, em Silver Spring, Maryland (EUA), também atraiu os olhares por causa de alguns temas polêmicos que seriam tratados. Entre os quase cem itens da agenda, incluindo o planejamento de ações evangelísticas, foi discutida, por exemplo, a proposta de igualar o percentual de dízimo que é repassado pelas Divisões à sede mundial, recurso usado para custear despesas operacionais e projetos missionários globais. Historicamente, a Divisão Norte-Americana, berço do adventismo, sempre contribuiu com uma porcentagem maior das arrecadações. Para se ter uma ideia, em 2012 ela repassava 8% do dízimo, enquanto as demais Divisões encaminhavam apenas 2%. Alguns líderes entenderam que era preciso corrigir essa disparidade. Por isso, já em 2011 o Comitê Executivo da Associação Geral votou a redução da contribuição norte-americana de 8% para 5,85%. O plano foi implementado gradualmente ao longo de um período de oito anos. Entretanto, desde 2018, a denominação tem buscado meios de implementar uma política que equilibre ainda mais as remessas. Na sessão de negócios do dia 14 de outubro, a maioria reconheceu a dívida histórica com a Divisão Norte-Americana e aceitou o novo plano. A meta é que até 2030 as 13 Divisões contribuam com a mesma porcentagem de dízimo (3%), sendo que a Divisão Norte-Americana deverá cair para esse patamar já em 2024. Além das questões financeiras, o Comitê Executivo também deliberou sobre a revisão de uma declaração de 1992 a respeito do aborto, na qual a igreja expôs pela primeira vez sua posição oficial sobre o tema. Antes de ser apresentado aos delegados em outubro, o

T

44

documento, intitulado “Declaração Sobre a Visão Bíblica de Uma Vida Não Nascida e Suas Implicações Para o Aborto”, passou por um longo processo. A nova versão (que pode ser lida no site da Revista Adventista: bit.ly/2W94JlS) reafirma a santidade da vida e reforça as bases teológicas do primeiro documento. Por outro lado, não entra em questões éticas, que, na opinião de alguns delegados, também poderiam ter sido abordadas. “O documento silencia sobre violência e estupro”, exemplifica o teólogo Jiri Moskala. O documento é apenas uma declaração e, portanto, não fará parte do Manual da Igreja. O próximo passo será a formulação de diretrizes a partir da declaração recém-votada. Embora isso possa ser importante para nortear o trabalho dos hospitais adventistas, os dados do departamento de Saúde da denominação mostram que é ínfimo o número de gestações interrompidas em nossos hospitais. Em 2016, por exemplo, foram 23 casos num universo de 38.951 partos. QUESTÃO MAIS DELICADA No entanto, o ponto mais sensível da agenda do concílio teve que ver com medidas em relação às entidades que não estão em harmonia com decisões tomadas em assembleia pela denominação. No encontro do ano passado, o Comitê Executivo votou um documento para tratar de questões de não conformidade dentro da igreja. Foi com base nele que, na reunião deste ano, os líderes da sede mundial apresentaram a proposta de recomendar “advertências” às

entidades que não estão seguindo os regulamentos denominacionais. Diante dos desdobramentos dessa discussão, que tem se arrastado nos últimos anos, a igreja atravessa um momento institucional difícil. O impasse gira em torno não apenas da questão da ordenação de mulheres ao ministério, mas também do fato de algumas ­Uniões terem deixado de ordenar homens. Na compreensão do pastor Ted W ­ ilson, presidente mundial da igreja, trata-se de uma situação de não conformidade ou não ­compliance, termo que entrou para o vocabulário da igreja e do mundo corporativo nos últimos anos. Isso levou a liderança a propor advertências a quatro entidades da Europa e duas da América do Norte. Depois de um intenso debate, foi aprovada (por 164 votos a favor e 124 contra) a proposta de recomendar uma “advertência” às Uniões da Dinamarca, Alemanha, Noruega e Suécia, que passaram a “comissionar” os pastores a fim de igualar a credencial deles com a das mulheres. Basicamente, há três diferenças entre a ordenação e o comissionamento: (1) a primeira credencial tem validade global, enquanto a segunda é válida no âmbito nacional; (2) somente o ministro ordenado pode ordenar outros pastores; e (3) o pastor comissionado não pode ser presidente. Isso significa que, se uma União apenas comissionar pastores, com o tempo ela terá problemas em sua rotina administrativa/ministerial. R e v i s t a A d ve n t i s t a // Novembro 2019


Uma nova declaração oficial sobre aborto, a redistribuição do repasse dos dízimos e advertências a algumas Uniões estiveram em pauta nas reuniões do último comitê executivo da igreja

Foto: Brent Hardinge

Por sua vez, 190 delegados disseram “sim” (contra 94 votos desfavoráveis) à proposta de uma “advertência” a duas sedes administrativas dos Estados Unidos que têm ordenado mulheres (a Columbia Union Conference e a Pacific Union Conference). Logo após o evento, a União do Norte da Alemanha publicou uma declaração explicando por que tem seguido esse procedimento. Para a liderança da União, a Associação Geral não seguiu os próprios critérios previstos no documento votado em 2018. “Portanto, continuaremos a promover e implementar a igualdade de pastores dentro da nossa igreja mundial”, termina o texto, que também recebeu o endosso da União do Sul da Alemanha. Isso sugere novas discussões. IMPASSE DE LONGA DATA Para o leitor que não tem acompanhado o assunto, é importante apresentar um pequeno histórico, até porque a transparência faz parte da tradição da igreja, que transmite suas principais reuniões (executivecommittee.adventist.org) e disponibiliza grande quantidade de documentos na internet (adventistarchives.org). No centro do impasse está a antiga questão da ordenação de mulheres ao pastorado, um tema relativamente “menor” na Bíblia que tem causado polêmica desde o século 19. Nos primeiros anos da Igreja Adventista, de acordo com um estudo da teóloga Kendra ­Haloviak Valentine, as mulheres faziam parte do ministério e tinham credenciais, embora não haja evidência de que após um período de “teste” elas fossem ordenadas. As mulheres seguiam o mesmo roteiro de preparo dos pastores e recebiam do dízimo. A igreja teve pastoras licenciadas desde pelo menos 1869, com S. A. Lindsay. Mas a questão não era um consenso. Por exemplo, no artigo “Woman’s Place in the Gospel”, publicado na Signs of the Times em 19 de dezembro de 1878 (p. 38), J. H. Waggoner R e v i s t a A d ve n t i s t a // Novembro 2019

questionou o papel de liderança da mulher como pastora. Em um artigo na Review and Herald de 26 de junho de 1866, Uriah Smith já havia argumentado que a ordem estabelecida na criação não podia ser “invertida” e que a mulher não deveria “usurpar” a autoridade do homem. Para Ellen White, a visão de ministério e ordenação devia ser mais ampla. Ela registrou em seu diário no dia 12 de março de 1891: “Na mente de Deus, o ministério de homens e mulheres existiu antes que o mundo fosse criado” (as palavras “de homens e mulheres” foram acrescentadas por ela em 1903). Em 25 de agosto de 1898, a pioneira escreveu na Signs of the Times: “Todos os que são ordenados para a vida de Cristo são ordenados a trabalhar pela salvação de seus semelhantes.” O verbo “ordenar”, em vários contextos e formas, aparece cerca de mil vezes nos escritos da autora. Em 1881, como registrado na Review and Herald de 20 de dezembro (p. 392), a igreja votou: ­“RESOLVIDO que as mulheres que possuem as qualificações necessárias para preencher essa posição podem, com perfeita propriedade, ser separadas pela ordenação para o trabalho do ministério cristão.” Não há evidência, porém, de que o voto tenha sido colocado em prática. Ellen White não pôde comparecer à reunião e seu silêncio sobre o assunto não deve ser entendido como endosso nem como reprovação. Em 9 de julho de 1895, na mesma revista, ela escreveu que as mulheres que desejassem consagrar parte de seu tempo às atividades ministeriais “deveriam ser separadas pela oração e a imposição de mãos”. Depois, o assunto ficou em grande parte adormecido, sem muitas

discussões, até que foi ressuscitado na década de 1970 e levado à votação na assembleia de Indianápolis (EUA), em 1990, e novamente em Utrecht, na Holanda, em 1995, com resultado negativo. Na assembleia de 2010, em Atlanta (EUA), foi proposto que a igreja fizesse um estudo oficial sobre o assunto. Depois de inúmeras reuniões e dezenas de estudos, o Comitê de Estudo Sobre a Teologia da Ordenação (TOSC, na sigla em inglês), composto por 106 homens e mulheres, apresentou seu relatório (adventistarchives.org/ordination) e o tópico foi votado na assembleia de San Antonio (EUA), em 2015. Por 404 votos (1.381 a 977), os delegados decidiram não autorizar que as Divisões pudessem escolher ordenar ou não mulheres ao ministério em seus respectivos territórios (bit.ly/1CrFcYH). Em 2015, depois desse voto, foi elaborado um documento (adventistarchives.org/172g.pdf) apelando para que todas as entidades e membros da igreja respeitassem “a decisão do órgão mundial em sessão”, a fim de evitar “fraturas e fragmentação”. Afinal, a denominação trabalha com base na interdependência, e não na independência. O apelo não obteve o efeito desejado. Para os que criticam a ordenação, um dos argumentos é que os sacerdotes do Antigo Testamento e todos os discípulos, anciãos e diáconos no Novo Testamento eram homens. Clinton e Gina Wahlen, autores do livro Women Ordination: Does It Matter? (Bright Shores, 2015), contrários à ordenação de mulheres, destacam que o termo “diaconisa”, por exemplo, nem aparece na Bíblia. “No Novo Testamento, somente os ofícios que requerem ordenação – apóstolo, diácono e ancião – são mencionados” (p. 25). Num dos capítulos, eles afirmam: “A ideia de um corpo sem cabeça é aterradora. [...] Todo corpo precisa de uma cabeça. Assim como o corpo humano precisa de uma cabeça para funcionar 45


apropriadamente, a igreja também precisa” (p. 55, 56). Essa é a ideia por trás da liderança espiritual do homem, a chamada “teologia da autoridade masculina”, cujas origens os defensores atribuem à Bíblia (1Co 11; Ef 5:22-25; 1Tm 2:11-14) e os oponentes classificam de uma invenção antibíblica recente importada do evangelicalismo para defender o velho patriarcalismo. De acordo com um documento preparado pelo seminário teológico da Universidade Andrews (EUA) em 2014, “qualquer forma de domínio [headship] reivindicada por um simples ser humano, seja homem ou mulher, usurpa o comando único de Cristo sobre a igreja”. Embora o assunto seja complexo, vale mencionar que Ellen White, em sintonia com o apóstolo Paulo (Ef 1:22; Cl 2:10), enfatizou que “Cristo é a única cabeça da igreja” (Manuscript Releases, v. 21, p. 274), papel que não cabe a nenhum homem/ministro (Signs of the Times, 27 de janeiro de 1890; O Grande Conflito, p. 51). Por outro lado, os defensores da teologia da liderança masculina apontam para 1 Coríntios 11:3, argumentando que Paulo estabeleceu uma ordem hierárquica: Deus Pai ⎯→ Cristo ⎯→ homem ⎯→ mulher. Nesse caso, o homem seria o líder funcional na esfera espiritual. Outro argumento é que a ordenação de mulheres atende uma agenda cultural, mina a autoridade bíblica e, no futuro, pode abrir caminho para a aceitação de pastores gays e transgêneros, como ocorreu em algumas igrejas protestantes. A resposta do lado oposto é que as duas coisas são distintas: enquanto a ordenação é uma questão funcional, a homossexualidade tem que ver com o rompimento da própria ordem da criação. Entre os argumentos daqueles que são favoráveis à ordenação, estão o fato de que o sacerdócio de todos os crentes no Novo Testamento é diferente do sacerdócio israelita e também do católico (Gl 3:28; 1Pe 2:5, 9; Ap 1:5, 6; 5:9, 10), o derramamento final do Espírito Santo em Joel 2:28-29 inclui homens e mulheres, e os apóstolos fizeram uma acomodação cultural em Atos 15 ao não impor o mandamento “perpétuo” da circuncisão (Gn 17:12-13) aos gentios, o que mostra a viabilidade de se ter dois padrões dentro da igreja (ordenação nas partes do mundo onde isso é aceito e não ordenação onde a prática é inaceitável). O contra-argumento é que a circuncisão, assim como a lei cerimonial, era um símbolo da realidade futura e chegou ao fim com a morte de Cristo na cruz. Além disso, os defensores da ordenação feminina ressaltam que Ellen White tinha credencial 46

ministerial, a mesma dos pastores ordenados. Há pelo menos seis cópias de suas credenciais, algumas com a palavra “ordenada” riscada, outras não. A primeira credencial dela que se conhece data de 1º de outubro de 1883. Em 18 de maio de 1911, falando de seu chamado profético, ela escreveu na Review and Herald: “Na cidade de Portland, o Senhor me ordenou como Sua mensageira.” Contudo, ela nunca foi ordenada pela igreja. AJUSTE DE FOCO Pa ra muitos, a ordenação de mulheres não é uma questão teológica, mas eclesiástica. Por isso, o dilema que ameaça dividir a igreja não valeria a pena. “Quando uma igreja entra em um caminho de advertência e repreensão de seu próprio povo e entidades por questões de tradição e regras, a história prediz o que vem a seguir: cisma e separação. As pessoas seguirão seu próprio caminho quando uma questão de consciência levá-las a discordar das regras da igreja”, expressou Denis Fortin, professor de Teologia na Universidade Andrews, em seu perfil no ­Twitter. Ao mesmo tempo, outros têm a percepção de que a “desobediência civil” dessas Uniões não poderia ficar sem resposta. Ordenação também tem que ver com ordem. Nas votações sobre o assunto, os resultados têm sido em torno de 60% contra a ordenação, representados basicamente pelo sul global (África, América Central e América do Sul), e 40% a favor dela, representados pelo norte global (América do Norte, Europa, Oceania e parte da Ásia). Em ambos os lados do debate há teólogos e membros inteligentes, consagrados e responsáveis. Portanto, rótulos como “conservadores” e “liberais” não se aplicam aqui, tampouco se justifica a noção ingênua de que os contrários à ordenação estejam fundamentados na Bíblia e os favoráveis sejam influenciados pela cultura. No livro Ordination

A MISSÃO DA IGREJA VALE MAIS DO QUE UMA CREDENCIAL of Women in Seventh-day Adventist Theology (Preporod, 2012), Jan Barna mostra que ambos os lados estão comprometidos com as Escrituras, embora sigam linhas hermenêuticas diferentes. Apesar disso, o tema deverá compor o pano de fundo das discussões da assembleia mundial de 2020 e influenciar os rumos da denominação. A Divisão Sul-Americana tem participado da discussão, mas evitado alimentar a polarização. “O tema é sensível, importante e deve ser avaliado, mas não queremos transformá-lo no primeiro item da nossa agenda”, comenta o pastor Erton Köhler, presidente da igreja para a América do Sul. “Quando a questão da ordenação se transforma no assunto mais importante para o ministério, a missão perde sua força.” Ele reconhece a complexidade da matéria e a diversidade cultural do adventismo, mas acredita que a igreja permanecerá unida e sairá mais forte dessa situação. O que precisamos é que a igreja, com espírito de oração e humildade, cresça em maturidade e supere esse impasse. Até porque o tema já está causando certo esgotamento e tem atrapalhado a agenda positiva da denominação. Se a igreja quiser receber o poder do Espírito Santo em plenitude para cumprir a missão até os confins da Terra, ela precisa mudar o foco e manter-se unida, para não perder o norte. O chamado divino ao ministério representa uma sagrada responsabilidade. Porém, a mensagem é mais importante do que o meio, e a missão da igreja vale mais do que uma credencial. ] MARCOS DE BENEDICTO, pastor e doutor em Ministério, é editor da Revista Adventista; MÁRCIO TONETTI, jornalista e mestrando em Teologia, é editor associado do periódico

R e v i s t a A d ve n t i s t a // Novembro 2019


EDUCAÇÃO Localizado a cerca de 20 km da cidade que foi sede do império, o Instituto Petropolitano Adventista de Ensino (IPAE) hoje é considerado uma escola modelo no município

FIRME NA ROCHA

Internato carioca completa 80 anos procurando manter vivo o elo entre a fé e o ensino FABIANA LOPES

ocalizado às margens da BR 040, no km 68, o Instituto Petropolitano Adventista de Ensino (IPAE) foi fundado ao lado de uma grande parede rochosa. É o cartão postal do campus e símbolo do propósito de educar com base nos firmes fundamentos da Palavra de Deus. Aberto em 1939, o internato carioca celebrou seus 80 anos de existência nos dias 4 e 5 de outubro.

Foto: IPAE

L

A instituição de educação básica que já formou mais de 4 mil estudantes hoje é considerada uma escola modelo na cidade histórica de Petrópolis, atraindo um número cada vez maior de alunos que residem na cidade. Atualmente, são 205 internos e 240 externos. Além de buscar excelência no ensino, o IPAE sempre procurou ter um foco missionário. Fruto da visão de pioneiros como John D. Hardt, primeiro diretor. Uma evidência disso é que, entre 1940 e 1950, o colégio teve um seminário no qual era oferecido um curso de Teologia com duração de dois anos. Isso também explica por que, nesse período, o nome da instituição mudou de Instituto de Ensino Agrícola de Petrópolis para Instituto Teológico Adventista. Um dos muitos fatos que marcaram a história do colégio octogenário foi a construção da igreja R e v i s t a A d ve n t i s t a // Novembro 2019

da instituição. O templo, c­ oncluído em 1972, foi o primeiro inaugurado em um internato adventista no Brasil. Maria Cândida Araújo Silva, de 87 anos, guarda lembranças de sua época como aluna. “É o meu colégio do coração! Se pudesse, eu voltaria no tempo para reviver tudo outra vez, pois nossa convivência era muito agradável”, ressalta. Maria foi batizada pelo pastor da igreja na época, T ­ ossaku Canada, que também liderou a escola em 1950. Foi ali que ela também conheceu Nelson Alves da Silva (in memoriam) e se casou com ele. A ex-aluna recorda que, em 1946, todos os 200 alunos eram adventistas. Alguns deles chegaram a se tornar professores do colégio, como foi o caso de José e Amélia Bispo, que lecionaram durante mais de 30 anos. O casamento e as bodas

de prata (25 anos) do casal foram realizados no próprio internato. “O IPAE foi um marco fundamental na minha formação moral, social e espiritual”, diz o professor. Alexandre Lopes é o administrador financeiro da sede da Igreja Adventista para a região central do estado (Associação Rio de Janeiro) e foi aluno do professor José Bispo. Para se manter fiel à guarda do sábado, ele saiu de casa aos 16 anos e foi estudar no internato adventista. Em 1990, Lopes ingressou no IPAE como “aluno industriário” (ou seja, trabalhava para pagar os estudos), algum tempo depois se tornou funcionário e, em seguida, foi transferido para o escritório da Voz da Profecia, em Botafogo. Atualmente, também é pastor e garante: “A influência dos professores e desse colégio foi fundamental na minha vida e na minha fidelidade a Deus.” Na instituição da qual também saíram muitos músicos e compositores, a exemplo de Fernando Rochael, Ozeias Reis, Ricardo Martins, Silmar Correia, Suzanne Hirle e Társis Iraídes, a programação comemorativa incluiu um musical, que envolveu mais de 300 vozes e a participação especial da Camerata de Petrópolis, e o lançamento do CD intitulado Marcas. Outro fato que marcou a data foram as homenagens aos pioneiros e apoiadores da instituição, como o empresário Milton Soldani Afonso, e a apresentação do quarteto Arautos do Rei. Robledo Moraes, 23º diretor do IPAE, destacou o fato de a programação, que reuniu mais de 2,5 mil pessoas, ter relembrado que “Deus esteve, está e estará cuidando desta instituição e a abençoando”. ] FABIANA LOPES é jornalista e atua como assessora de comunicação na sede da Igreja Adventista para a região central do Rio de Janeiro

47


PÁGINAS DE ESPERANÇA

LEITORA IMPROVÁVEL

COMO UM LIVRO MISSIONÁRIO ENTREGUE NO BRASIL CHEGOU A UMA FAMÍLIA QUE VIVE NO ORIENTE MÉDIO LUÍS EDUARDO

A

48

que moramos, até onde sabemos, somos somente cinco brasileiros. Passamos momentos agradáveis, conversamos bastante e, então, ela perguntou qual era o motivo de estarmos tão longe do Brasil e de nossa família. Expliquei, com todo o cuidado, usando com cautela as palavras, que temos um projeto com crianças e adolescentes (o clube de Desbravadores e Aventureiros) e que servimos à Igreja Adventista. Quando eu disse o nome adventista, no mesmo momento ela pediu licença e saiu, retornando logo em seguida com um livro na mão. Para nossa surpresa, vimos que o título era Tempo de Esperança. Imaginem a nossa reação! Então, ela contou como o exemplar daquele livro missionário chegou às suas mãos. Na última visita que realizou ao Brasil, em 2010, certo dia, enquanto andava de ônibus, uma senhora entregou algo ao tio, que a acompanhava. Ao lhe perguntar o que ele tinha ganhado, ele mostrou a literatura. Ao folhear o livro, viu que era da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Brasileira que vive na Jordânia há mais de três décadas teve contato com a literatura adventista por ocasião da última visita realizada ao seu país de origem, em 2010

Lembrou-se de que, no passado, seu pai lavava e passava roupas para funcionários e alunos de um colégio que pertencia à denominação. Ficou curiosa e pediu o livro ao tio. Maria levou o material para a Jordânia. E nos disse que guardava a obra com carinho e que, de vez em quando, lia o livro novamente. É emocionante lembrar como Deus nos guiou até aquela mulher em uma cidade de 2 milhões de habitantes. O fato é que Ele age através de pessoas que se dispõem a servi-Lo, alcançando assim povos “inalcançáveis”. Agiu por meio da pessoa que entregou o livro e por meio de quem nos levou até aquele lar muçulmano. Há uma frase, de autor desconhecido, que diz: “Missão é feita com os pés daqueles que vão, os joelhos daqueles que ficam e as mãos daqueles que doam”. ] LUÍS EDUARDO, nome fictício para preservar sua identidade, foi missionário na Jordânia

R e v i s t a A d ve n t i s t a // Novembro 2019

Foto: Adobe Stock

vida dos missionários transculturais pode ser “solitária” e com muitas privações. Inúmeras vezes indagamos: Por que o Senhor nos enviou para cá? Eu e minha família vivemos na Jordânia, país do Oriente Médio onde cerca de 97% da população é muçulmana. Estar num lugar em que a língua, a cultura, os costumes e a religião são tão diferentes é um grande desafio. Mas isso não é nada comparado às imensas barreiras que existem para conseguirmos pregar o evangelho. Aqui somos proibidos de falar abertamente sobre a Bíblia e Jesus. Não podemos distribuir nenhum tipo de literatura nem convidar as pessoas para visitar a igreja. E, se alguém se converter ao cristianismo, a família tem o direito de expulsar, deserdar e até matar. Às vezes, questionamos: Como fazer a diferença na vida das pessoas? Como alcançar este povo? Como compartilhar nossa fé? Ocorre que nos esquecemos de que somos canais de bênçãos usados pelo Mestre de várias maneiras. Quando isso não é possível, então Ele usa outras formas e pessoas, de um modo inimaginável. Com todo o zelo e cuidado, Deus nos mostrou isso através de algo muito especial. Certo dia fomos levados por uma amiga para visitar uma brasileira, a quem vou chamar de Maria, viúva de um árabe e que vive na Jordânia desde 1983. Ela ficou muito feliz em nos receber em sua casa e “praticar novamente o português”. Na cidade em


ESTANTE

PÃO NOSSO DE CADA DIA

SAIBA O QUE VOCÊ VAI ENCONTRAR NOS DEVOCIONAIS DE 2020 E CONHEÇA AS NOVIDADES PARA OS PRÉ-ADOLESCENTES E JOVENS NEILA OLIVEIRA, VINÍCIUS MENDES E WELLINGTON BARBOSA

U

ma conversa com um amigo, uma palavra de ânimo, esperança genuína para o coração. Certamente essas coisas fazem bem a qualquer pessoa, especialmente em dias tão turbulentos quanto os nossos. Essa é a experiência que o leitor provavelmente terá ao ler a Meditação Diária de 2020. De Coração a Coração foi escrita por Zinaldo Santos, pastor aposentado que trabalhou como líder de igrejas locais, evangelista e que por 23 anos foi editor da revista Ministério na CPB. O devocional é caracterizado por um estilo bastante intimista, que leva o leitor a imaginar uma conversa “olho no olho” com o autor, como se estivesse recebendo uma visita pastoral em casa. Com um tom positivo e motivador, o leitor é convidado a se apropriar das virtudes que o Senhor promete àqueles que se deixam ser conduzidos pelo Espírito. Para esses, os desafios do cotidiano serão apenas o palco no qual o poder de Deus se revelará de modo gracioso até que Sua glória seja vista em toda a Terra. Por sua vez, a meditação das mulheres traz como novidade para o próximo ano mensagens escritas

por dezenas de autoras brasileiras. Surpresas do Céu, assim como os devocionais femininos anteriores, tem como característica principal o compartilhamento de experiências edificadoras, de mulheres para mulheres. O produto é um projeto das sedes mundial e sul-americana da Igreja Adventista que, além de promover a nutrição espiritual das adventistas, se propõe a financiar o estudo de jovens carentes. Ao longo de mais de 20 anos, a iniciativa já ofereceu 2,2 mil bolsas para mulheres em 127 países. As duas novidades para 2020 têm que ver com as novas gerações. A antiga Inspiração Juvenil foi reformulada para Devocional Teen. Sueli Oliveira, Ariane ­Oliveira e Anne Lizie Hirle, editoras da área infantojuvenil da CPB, assinam a obra Quem é Deus?. O projeto é inovador e pensado especialmente para os ­pré-adolescentes. Por isso, o produto tem capa dura, encadernado em espiral, com cartela de adesivos e espaço para o leitor escrever suas impressões, como se fosse um diário. A ideia é refletir sobre o caráter e a personalidade de Deus, como Alguém bondoso, fiel, amigo, perdoador, paciente, santo, justo e verdadeiro.

E finalmente os jovens também terão um material específico, preenchendo uma lacuna no catálogo da editora. O material de estreia tem como título Inegociável e vai tratar de 52 valores que o jovem cristão precisa desenvolver. Temas como compromisso, firmeza de caráter, sabedoria e propósito são explorados com base no texto bíblico pelo pastor José Raimundo Venefrides. Conhecido por muitos como o “pastor Venê”, ele escreve com base em sua experiência de quase 30 anos de ministério para os jovens. ] NEILA OLIVEIRA, VINÍCIUS MENDES e WELLINGTON BARBOSA são editores de livros na CPB

DEVOCIONAL INFANTIL Com texto da educadora Selma Carvalho Fonseca e ilustrações do artista Thiago Lobo, Crescendo com Jesus é o devocional infantil para 2020. A partir da expectativa das crianças de se tornarem

é muito fácil adquirir seu devocional Acesse nosso site cpb.com.br ou ligue agora para 0800-9790606. Corra até uma CPB livraria ou nos chame no WhatsApp: 15 98100-5073 R e v i s t a A d ve n t i s t a // Novembro 2019

grandes rapidamente, o material reflete sobre o crescimento integral que os pequenos podem conseguir com e como Jesus. Elas vão aprender por que Cristo era amigo de Deus, sabia muitas coisas e muita gente gostava Dele.

Baixe também o aplicativo CPB

49


ENFIM

O NÍVEL DO MAR ESTÁ SUBINDO 2,5 VEZES MAIS RÁPIDO QUE O PREVISTO

AQUECIMENTO GLOBAL ESTÁ ACELERANDO O DEGELO DA CRIOSFERA GLAUBER S. ARAÚJO

V

ocê se surpreenderia se eu lhe dissesse que existem geleiras no continente africano? Com 18 anos, tive a oportunidade de escalar o monte Quênia (5.199 m) e admirar o que resta de sua geleira. Entretanto, devido ao aquecimento global, dentro de dez anos os turistas não mais conseguirão admirar essa maravilha da natureza. “Por mais distantes que certas geleiras, o Ártico ou a Antártida estejam, dependemos delas e somos influenciados por elas de inúmeras maneiras”, afirmou Hoesung Lee, diretor do Painel Intergovernamental sobre a Mudança do Clima. No mês de setembro, a entidade publicou um relatório chamando a atenção para a aceleração do degelo da criosfera – regiões da superfície terrestre cobertas permanentemente por gelo ou neve. Segundo o relatório, o nível do mar está subindo 2,5 vezes mais rápido que 50

o previsto. O fenômeno se deve não apenas ao degelo das calotas polares, ao pergelissolo e às geleiras, mas ao aumento da temperatura dos mares, causando a expansão de seu volume. Esse fenômeno afetará aproximadamente 200 milhões de pessoas, forçando 60% da população de áreas costeiras a se mudarem. O relatório estima que, com isso, a frequência, a intensidade e a magnitude de tempestades e furacões tropicais também aumentarão. Um dos fatores principais para essa crise ambiental iminente tem sido a emissão de gás carbônico. Estima-se que 37 bilhões de toneladas de dióxido de carbono sejam despejadas na atmosfera anualmente. Desse total, 20 a 30% são absorvidos pelos oceanos. Sob essa alteração química, os oceanos estão se tornando mais quentes e ácidos, inibindo o desenvolvimento biológico. O aquecimento dos oceanos também está afetando o fluxo de correntes marítimas, diminuindo a oxigenação e a distribuição de nutrientes para diversos ecossistemas marítimos. O relatório apela para uma redução urgente de gás carbônico, a proteção e a restauração de ecossistemas, e a exploração e uso cuidadoso de recursos naturais. Como cristãos, acreditamos que a Terra seja um tesouro que

GLAUBER S. ARAÚJO, pastor e doutorando em Teologia, é editor de livros na Casa Publicadora Brasileira

R e v i s t a A d ve n t i s t a // Novembro 2019

Foto: Adobe Stock

ADEUS, GELEIRAS!

Deus nos confiou para cuidar e preservar. O planeta está se deteriorando devido à ganância e ao consumismo do ser humano. É nosso dever defender a conservação da criação divina. O que pode ser feito para reverter esse quadro? Aqui estão algumas ideias: ▪ Procure conhecer mais sobre ecologia e ambientalismo. Passe mais tempo em meio à natureza, especialmente aos sábados. Você se sensibilizará mais pelo sofrimento da natureza. ▪ Adquira produtos mais ecológicos e menos poluentes. Se mais pessoas migrarem para opções menos poluentes, as empresas se sentirão forçadas a oferecer produtos mais ecológicos. ▪ Um dos oito remédios naturais que, como adventistas, valorizamos é respirar ar puro. Para isso, é importante que exista muita vegetação ao nosso redor. Dessa forma, incentive sua família e comunidade a cultivar plantas e árvores. ▪ Recicle, reutilize e reduza. Procure conhecer programas de reciclagem em sua região. Evite manusear recipientes de plástico. ▪ Seja vegetariano. Essa possivelmente seja a maior contribuição do adventismo à restauração do ecossistema. ▪ Opte por um estilo de vida mais simples. Você sofrerá menos tentação de ser consumista e sentirá maior satisfação pelo que Deus lhe concede. Essas sugestões são simples, mas podem fazer a diferença. Não destrua o ambiente; preserve-o! ]


MKT CPB | Adobe Stock

cpb.com.br |

WhatsApp

0800-9790606 | CPB livraria |

15 98100-5073

Pessoa jurĂ­dica/distribuidor 15 3205-8910 | atendimentolivrarias@cpb.com.br

/cpbeditora

Baixe o aplicativo CPB



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.