XVII CONGRESO INTERNACIONAL DE GALICIA E NORTE DE PORTUGAL DE FORMAIÓN PARA O TRABALLO A formación, a orientación, e o emprego no recoñecemento, avaliación e certificación de competencias profesionais adquiridas en contextos formais, non formais e informais
NA ROTA DOS LIVROS DIGITAIS ON THE DIGITAL ROUTE OF BOOK’S Bento, Marco macbento@hotmail.com Universidade do Minho Coelho, Sónia soniagabrielacoelho@hotmail.com Centro de Emprego e Formação Profissional do Porto
RESUMO Uma das competências da formação profissional é a de consolidar leitores. A prática de leitura é uma aposta social e um ataque ao analfabetismo funcional. Assim, ler, é um processo mental de construção de significados, com base num texto escrito. O pleno desenvolvimento da personalidade, o ideal da educação, o fim último e pleno da educação apenas se poderá alcançar por métodos educativos propícios, como a experiência vivida e de leitura, a liberdade de pesquisa, o desenvolvimento do espírito crítico, a elaboração de regras, a resolução de problemas, o trabalho em equipa, a cooperação e a iniciativa. O digital constitui um desafio a este entendimento da leitura, porque o seu contexto de comunicação implica o uso de novos textos, na medida em que se trata de textos multimodais, de natureza interativa, em rede, situados em contextos de significação também eles renovados por serem marcadamente ativos, tangíveis, móveis e corporizados. Neste artigo apresentamos o desenho, metodologia e os resultados do projeto “Na rota dos livros digitais”, que visava a dinamização de leitura digital na formação profissional nos cursos do Centro de Emprego e Formação Profissional do Porto. ABSTRACT One of the training skills is reader’s consolidation. The practice of reading is a social commitment and an attack on functional illiteracy. So, reading is a mental process of building meanings based on a written text. The full development of personality, the ideal of education, the ultimate and full purpose of education, could only be achieved, by propitious educational methods as lived experiences and reading, freedom of research, the development of critical thinking, rules development, problems resolution, teamwork, cooperation and initiative. The digital represents a challenge to this understanding of reading, because its digital communication context implies the use of new texts, to the extent that it is multimodal text, with interactive nature, network based, located in meaning contexts also renewed because they are markedly active, tangible, movable and embodied. In this paper, we present the design, methodology and results of the project "On the route of digital books" aimed at the digital read-boosting vocational training at the Centro de Emprego e Formação Profissional do Porto. Palabras-chave: Leitura digital; formação profissional; novas tecnologias.
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Keywords: Digital reading; professional qualification; new technologies. Ámbitos Temáticos: 4. FORMACIÓN E ORIENTACIÓN AO LONGO DA VIDA
1. INTRODUÇÃO Escrever é isto: Comover para desconvocar A angústia e aligeirar O medo, que é sempre Experimentado nos povos Como uma infusão de laboratório Cada vez mais sofisticada. Eu penso que o escritor Com mais sucesso é aquele Que protege os homens do medo: Por audácia, Delírio, Fantasia, Piedade Ou desfiguração. Agustina Bessa-Luís Na rota dos livros digitais foi o nome escolhido para este projeto, como mote para narrar um percurso profissional, um quotidiano do ensino profissional com adultos que participaram num processo de mudança individual e coletiva. Este projeto pretendeu provar que se pode crescer, uma vez que o desenvolvimento se verifica na própria cultura e na aceitação de outras culturas, ainda que se encontrem nos limiares da guetização, onde eventualmente possam não existir referências físicas estáveis ou onde as figuras que preconizam a vinculação familiar possam estar quase extintas. A sociedade, entendida como uma organização viva, a escola e a formação estão em constantes mudanças, o que nos levanta diversas questões, dúvidas, inconstâncias, levandonos muitas vezes a percorrer caminhos novos. Então, torna-se emergente caminhar e abraçar novos desafios com o intuito de crescermos como pessoas e como profissionais para construir um conhecimento experimentado e reflexivo que é essencial para nos tornarmos mais assertivos. Este projeto teve como premissa promover a leitura em adultos que estão a frequentar cursos de educação e formação de adultos e em contextos economicamente desfavorecidos. Tentamos explorar o processo ensino-aprendizagem através do sucesso educativo dos mesmos, correlacionando as metodologias praticadas com os saberes já adquiridos. Entendemos que a mais-valia deste projeto se prendeu, sobretudo, com o fato de existir um relacionamento afável e empático, onde foi enfatizado o trabalho entre pares, o que permitiu o sucesso nos resultados. Consideramos que o modo como foi desenvolvido este projeto de leitura permitiu que se percorresse um caminho novo e que a mestria se encontra na capacidade criativa de utilização do digital. Após a leitura do livro de Luís Sepúlveda, O velho que lia romances de amor (1999), permitiunos descobrir a importância de se adquirirem duas das mais importantes valências dos seres humanos: ler e escrever, conduzindo ao desenho deste projeto de intervenção.
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Freire (1967) refere-nos que o aprendizado da escrita e da leitura é como uma chave com que o analfabeto inicia a sua introdução no mundo da comunicação escrita, mas também no mundo e com o mundo.
2. CONTEXTUALIZAÇÂO Constatamos que o analfabetismo de jovens e adultos é um grave problema em Portugal (UNESCO, 2013), correspondendo, em parte, ao insucesso do sistema educativo do nosso país e a determinados fatores que condicionam a possibilidade de alguns cidadãos poderem ir à escola, tais como o contexto de pobreza, as discriminações étnicas, entre outros. Também é óbvio que podemos referir que as consequências imediatas desta incapacidade de ler, escrever e contar ultrapassam o foro pessoal, repercutindo-se também a nível social, económico e político (Lopes, 2006). Porém, consideramos que a promoção da leitura e da leitura digital poderá ser uma mais-valia para estimular os formandos. Deste modo, uma das competências da formação profissional é a de consolidar leitores (Duarte, 2013). A prática de leitura é uma aposta social e um ataque ao analfabetismo funcional. Assim, ler, é um processo mental de construção de significados, com base num texto escrito (Griswold, 2005). O pleno desenvolvimento da personalidade, o ideal da educação, o fim último e pleno da educação apenas se poderá alcançar por métodos educativos propícios, como a experiência vivida e de leitura, a liberdade de pesquisa, o desenvolvimento do espírito crítico, a elaboração de regras, a resolução de problemas, o trabalho em equipa, a cooperação e a iniciativa. Ler também é ver informação representada por meio da escrita, do som, da arte, dos sentidos, numa infinidade plataformas (Griswold, 2005). A leitura é uma experiência pessoal e do quotidiano representativa para cada pessoa. A leitura de cada um é de si mesmo, incapaz de ser a do outro, tornando-se no encanto que é a leitura. Por meio da leitura e de nossa visão de mundo, conseguimos o domínio da palavra, trocamos ideias e conhecimentos, sendo possível entender o mundo que nos rodeia e todo o seu contexto. Se definirmos a leitura como o ato de estar conectado com a do outro, receber e enviar informações, entrar e discutir a realidade do outro, então alcançamos um nível superior de entendimento da leitura (Griswold, 2005). Por tudo isso, é fundamental que o formador tenha sensibilidade para perceber as dificuldades dos formandos e intervenha de maneira satisfatória, levando-os à construção de significado da leitura. Perante este contexto, também sabemos que vivemos numa realidade em que a leitura vive uma mutação para a era digital, na qual ler em ecrãs se tornou uma enorme tendência, devido ao uso diário nos computadores pessoais, mas acima de tudo nos smartphones, que crescem exponencialmente. (Griswold, 2005; Polanka, 2012) O aumento da propensão da leitura em ecrãs revela que a leitura digital está a conquistar o seu espaço em todas as idades (Polanka, 2012). Numa perspetiva diacrónica, as grandes mudanças na tecnologia literária têm circulado em torno de durabilidade, usabilidade e facilidade de reprodução. A bem sucedida fusão desses fatores poderia difundir esta através do potencial da inovação de utilização de dispositivos móveis (Cameron e Bush, 2011), principalmente, porque se distinguirem de outras tecnologias aor serem portáteis, multimédia, podendo cada um ler o que quer, onde quer e quando quer. Se, por um lado, se lê cada vez mais, há estudos que comprovam haver um claro declínio ao longo do tempo do prazer da leitura de obras literárias (Livingstone e Haddon, 2014). Verificamos que cada vez mais se torna fundamental adequar o conceito de leitura ao suporte digital. Assim, uma forma de o fazer é compreender que ao falarmos de leitura não nos referimos apenas à leitura do texto, mas também da imagem, do vídeo e do som, seja a tudo que é multimédia.
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Este contexto é multifacetado, no que se refere a linguagens e meios disponíveis para comunicar, pois referimo-nos ao vídeo, ao som, à imagem e à palavra, não deixando de parte a relação que se pode estabelecer entre cada uma destas linguagens e que dão origem a um conjunto de outras linguagens de comunicação, que poderão ser lidas pelos nossos sentidos (Damásio, 2001). Conforme refere Damásio (2001), o domínio da linguagem escrita sobre a imagem na produção do conhecimento está ligado certamente a limitações tecnológicas, já que o avanço das tecnologias acaba por determinar o fim da hegemonia do texto na produção cultural. Operam-se grandes mudanças na forma como a comunicação flui e no conjunto de linguagens que são providenciadas pelos novos suportes, algo que só não aconteceu antes por questões tecnológicas e que reconfiguram novos contextos de abordagem ao conceito da leitura. A leitura em suporte digital, não está dissociada do conceito de leitura de outras três ideias: linguagem, comunicação e conhecimento. Seja escrito, em voz alta, com recurso à perspetiva ou ainda com recurso a imagens, pela internet ou numa aplicação, o objetivo foi e será sempre comunicar um conhecimento da forma mais fiel possível. O desafio é então o de retirar o máximo potencial pedagógico do extraordinário universo de dispositivos informativos, comunicacionais e lúdicos a que os formandos acedem diariamente através dos seus próprios dispositivos digitais. Assim reiteramos a ideia primordial em que o digital constitui o maior desafio ao processo de entendimento da leitura, porque o seu contexto de comunicação implica o uso de novos textos, na medida em que se trata de textos multimodais, de natureza interativa, em rede, situados em contextos de significação também eles renovados por serem marcadamente ativos, tangíveis, móveis e corporizados. Surge a necessidade da formação profissional proceder a mudanças nas metodologias de ensino e aprendizagem o que, por sua vez, deverá ser refletido nas práticas pedagógicas e nas formas de comunicação e interação entre formador e formando. Por essa razão, numa sociedade tecnocêntrica, a leitura não está confinada ao livro ou à biblioteca, esta e a própria aprendizagem ocorrem em múltiplos contextos por via das interações sociais e de conteúdos, através de dispositivos digitais móveis e tecnológicos (Waard, 2014).
3. METODOLOGIA A metodologia utilizada no desenvolvimento deste projeto de intervenção foi a de um estudo de caso de formandos dos quais eramos os próprios formadores, facilitando a observação e recolha de dados observáveis. Os estudos de caso, na sua essência, parecem herdar as características da investigação qualitativa. Esta parece ser a posição dominante dos autores que abordam a metodologia dos estudos de caso. Neste sentido, o estudo de caso rege-se dentro da lógica que guia as sucessivas etapas de recolha, análise e interpretação da informação dos métodos qualitativos, com a particularidade de que o propósito da investigação é o estudo intensivo de um ou poucos casos (Yin, 2005). A vantagem do estudo de caso é a sua aplicabilidade a situações humanas, a contextos contemporâneos de vida real (Dooley, 2002). O desenvolvimento de projetos de investigação constitui uma componente difícil quando se realizam estudos de caso, pois, ao contrário de outras estratégias de investigação, os projetos de estudo de caso não foram ainda sistematizados (Yin, 2005).
a. Problema O Centro de Emprego e Formação Profissional do Porto (CEFPP) situa-se num bairro bastante problemático e isolado do resto da cidade do Porto. Esta situação de isolamento que leva à
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estigmatização tem repercussões na socialização, nas aprendizagens e proporcionou um desinvestimento escolar nas últimas gerações. Há uma forte correlação entre o insucesso e/ou abandono e a atitude dos ascendentes que se desligaram da escola, permitindo o desinvestimento uma vez que a obrigatoriedade de frequência nos cursos de formação, uma vez que todos eles são beneficiários de subsídios atribuídos pelo estado, ou seja, a opção da frequência no curso de educação de adultos não se assume pelo voluntariado mas, pelo contrário, pela da obrigatoriedade. Assim, partimos do problema do contexto educativo desfavorável e desmotivador da formação de adultos no CEFPP, no qual os formandos não só não estão motivados para a formação, como não têm hábitos de leitura ou qualquer gosto para o fazer.
b. Questão de partida Assim, perante o problema de partida, levantámos a seguinte questão: Poder-se-á estimular o gosto pela leitura num contexto educativo tão específico como aquele que se encontra o CEFPP?
c. Objetivos gerais Para tentarmos responder à questão levantada foram definidos os seguintes objetivos a atingir: 1. Promover a leitura de livros digitais na sala de aula; 2. Promover a leitura de livros digitais autónoma; 3. Formar Leitores críticos; 4. Promover o gosto pela leitura literária; 5. Motivar os formandos para a formação.
d. Objetivos específicos: a. Despertar o prazer de ler; b. Criar hábitos de leitura; c. Desenvolver competências de escrita e de interpretação; d. Cativar para outros saberes; e. Desenvolver as várias manifestações artísticas; f. Desenvolver a capacidade criativa; g. Desenvolver a opinião crítica; h. Refletir sobre outras realidades e culturas; i. Envolver a comunidade educativa no ato de ler.
e. Público-Alvo O público-alvo definido para a implementação deste projeto de leitura digital foram as turmas de Educação e Formação de Adultos (EFA) B3 de Canalizações (n=2 turmas – 40 formandos) numa primeira fase do projeto (1.º ano), para depois se estender a mais 4 turmas de EFA do CEFPP (n=6 turmas – 120 formandos). O público-alvo caracteriza-se por serem adultos numa situação de desemprego e com pouca escolaridade, estando a realizar a formação para obter a qualificação profissional equivalente ao 9.º ano de escolaridade. As idades situam-se entre os 18 e os 50 anos.
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f. Dinamização do projeto O Projeto de Leitura foi apresentado às turmas, no início de setembro de 2013 para ser desenvolvido em dois anos, sendo que no primeiro ano em 2 turmas específicas de EFA B3 de Canalizações e com uma utilização menos digital do livro. Num segundo ano o processo digital foi intensamente introduzido e alargada a intervenção às restantes 4 turmas. O grupo de trabalho para este projeto foi constituído pela equipa fomentadora da ideia (três formadores de áreas distintas das componentes Sociocultural e Científica), mas sempre com a colaboração de diversos formadores que respondiam com a execução de atividades nas suas práticas letivas.
g. Descrição do projeto O ponto de partida para o projeto foi o de ir personalizando o contexto educativo partindo dos saberes já adquiridos e das leituras efetuadas, sabendo, à partida, que o contexto social e humano dos formandos lhes conferiam experiências e saberes consideravelmente diferentes dos nossos. Valorizamos os seus saberes e gerimo-los com flexibilidade, partindo sempre duma visão humanista. Considerando que o modus vivendi dos formandos está condicionado enormemente à visão um pouco redutora que eles têm sobre o próprio mundo, sobre a escola e sobretudo porque eles constituem uma a panóplia de indivíduos desestruturados: indivíduos de etnia cigana; ex-reclusos; ex-toxicodependentes e outros ainda consumidores; vítimas de violência doméstica e vítimas de abandono parental. Contudo, todos têm um ponto em comum: uma predisposição para tornar suportável o seu dia-a-dia. Quando o grupo de futuros canalizadores começaram a frequentar o curso, entre 2013/2014, mostraram alguma resistência, porque aos sentimentos de impotência gerados no percurso escolar que tinham fracassado, juntou-se também a perceção de que nem a formação nem os diplomas que podem obter lhes podiam proporcionar uma situação social e profissional melhor ou mais estável. De maneira a reverter estes sentimentos propusemos a continuação do projeto de leitura mas numa versão digital para o segundo ano, que pressupunha mais atividades práticas interativas. A primeira abordagem relativamente ao projeto teve como ponto de partida explicar que era nossa pretensão levá-los a ler e demostrar que a leitura é uma mais-valia na vida em sociedade. Então sugerimos que cada formando escolhesse um escritor da sua preferência ou que conhecesse com o propósito de criar um pseudónimo literário. Após esta escolha, cada formando teria que abrir uma conta no facebook e preencher o perfil (bibliográfico e biográfico) tendo em conta a escolha do seu pseudónimo. Este momento levou a que os formandos pesquisassem sobre informação e a colocassem corretamente nos locais pretendidos, levando-os a adquirir digital skills e competências literárias, já que teriam de conhecer o escritor selecionado e os seus dados. Este processo levou alguns meses, já que dentro desta etapa, os formadores exploraram toda a informação sobre os diferentes autores, biografias e bibliografias, levando os próprios formandos a selecionar e preparar apresentações de alguns textos que nunca pensaram ler. Outra etapa sempre monitorizada pelos formadores, foi a de avaliação da informação introduzida nos perfis de cada formando. Pois validar a informação tornou possível que todos os formandos pudessem conhecer os restantes escritores e a sua bibliografia generalizada. Em todo este processo estava implícito a interação social entre os diversos pseudónimos pela rede social facebook, levando a explorar competências de escrita e regras de interação digitais. É importante referir que todos os perfis estavam protegidos no seu acesso e associados à página oficial do projeto de leitura e ao grupo de trabalho denominado “Amor de Perdição”. O
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grupo de trabalho teve esse tema devido ao facto de pretendermos através da obra “Amor de Perdição” de Camilo Castelo Branco dinamizar todo o projeto de leitura digital desta mesma obra literária. O projeto foi e continua a ser dinamizado através da rede social facebook, porque é a rede social mais utilizada em Portugal e está sempre disponível nos próprios telemóveis dos formandos, o que permitiu que cada um faizesse a gestão do seu trabalho de acordo com a sua disposição, localidade, disponibilidade e horário (aprender em qualquer hora e qualquer lugar). Quatro vezes por mês, que poderiam ser ou não uma vez por semana, eram criados eventos descritos como tarefas de trabalho, apelativos e de fácil resolução e execução com o intuito de explorar a obra literária referida. Os formandos tinha a possibilidade de ler excertos da obra na própria página oficial do projeto no facebook. Todos os formandos e formadores que aderiram ao projeto tinham que fazer obrigatoriamente um perfil e ler em formato digital o livro que estava a ser objeto de trabalho a fim de poderem resolver e acompanhar as tarefas. Assim apresentamos alguns exemplos de tarefas propostas aos formandos na exploração da obra literária de Camilo Castelo Branco, “Amor de Perdição”: a) Utilizar a ferramenta Wordle (http://www.wordle.net/) para elaborar uma nuvem de palavras (brainstorming) à volta da palavra “amor”. b) Utilizar o resumo da obra “Amor de Perdição” disponível na página oficial do projeto no facebook para selecionar um conjunto de imagens pertinente e adequada ao resumo da obra e publicá-las. c) Utilizar a aplicação prezi para elaborar a bibliografia e/ou biografia do autor Camilo Castelo Branco. d) Usar a criatividade e, no programa Paint ou outro de edição de imagens, para construir uma nova capa e um novo título para o livro “Amor de Perdição”. e) Fazer uma superprodução independente, de capa feita à mão, digitalizar e guardar em ficheiro word. f) Procurar sítios da internet sobre o autor e a obra e publicar com um resumo desse mesmo sítio da internet. g) Consultar ilustrações da obra, fazer uma montagem e publicá-la. h) Comentar os textos produzidos por outros formandos. i) Ler criticamente os excertos das obras apresentando as suas opiniões. j) Partilhar pensamentos incorporando a sua personagem. k) Emitir um texto de opinião sobre outro perfil do grupo e das personagens da obra em análise. l) Construir um friso cronológico de imagens da obra literária em análise. Existem muitas mais atividades e uma vez que o projeto prossegue o seu desenvolvimento por iniciativa dos próprios formandos, o gosto pela leitura utilizando a rede social do facebook tornou-se uma forte componente dentro da formação profissional no CEFPP. A exploração do ponto de vista social de interação entre os 120 formandos sobre os mais diversos assuntos só poderia acontecer desde que tivessem o cuidado de o fazer encarnando a personagem que tinham criado, tornando a rede social num momento também divertido pela atualidade dos assuntos escritos, mas em contextos e com expressões de cada um dos autores que as proferia. Este ponto leva-nos a perceber que os formandos tiveram que estudar muito bem o seu pseudónimo para poderem emitir determinadas expressões, frases ou pensamentos.
4. Resultados da intervenção Através da observação de comportamentos, de testes de avaliação formativa, das conversas escritas na rede social, da forma como os formandos viviam alguns destes momentos
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entusiasticamente, podemos retirar algumas conclusões preliminares, que apresentamos neste artigo. Assim, a leitura em sala de aula passou a ser uma realidade, foram lidas mais de 30 obras distribuídas pelos mais diversos formandos, grande parte apresentadas pela equipa do projeto, mas alguns dos formandos começaram a criar uma espécie de biblioteca para irem emprestando livros uns aos outros, fosse formato de papel ou em formato digital. Conseguimos que se fizesse colaborativamente um estudo intensivo com este público-alvo de uma obra literária, já evidenciada neste artigo, mas comprovado pelos resultados de testes de módulos de Linguagem e Comunicação ou de Cidadania, comprovando resultados positivos na interpretação desta obra. A leitura tornou-se não uma ação realizada em formação, mas cada vez mais de forma autónoma, os formandos leram em casa os jornais, as revistas, alguns livros e traziam para a formação com a motivação de quem consegue ler e interpretar o que leu, manifestando de forma crítica as conclusões das suas leituras. Deste modo, através de expressões como “ler até é engraçado”, “percebi o que estou a ler” ou “estou a gostar de ler” atingimos um outro objetivo do projeto que era promover o gosto pela leitura e motivá-los para a formação. Neste campo é justificado pelo menor absentismo quando se desenvolve o projeto de leitura, até porque pensamos que ao dar sentido ao que aprendiam, atribuindo pequenos objetivos a atingir e funcionalidade para o seu quotidiano, garantiam um sentido de pertença e de envolvimento em algo que não lhes é dado em termos social: integração. Os resultados têm sido observados pela interação tanto entre os vários formandos como dos formadores no próprio projeto. Diariamente os membros do grupo de trabalho vão à página oficial do projeto partilhar informação relacionada com o seu perfil e são recolhidas expressões que evidenciam conhecimento do que leem e do gosto pelo que leem.
5. O projeto de leitura além-fronteiras - IACOBUS Os resultados preliminares do projeto por serem tão positivos, não só pela diminuição de absentismo formativo, mas pelo aumento do gosto pela leitura e de aumento de aquisição de competências de leitura e escrita, foi-nos endereçado um convite para uma candidatura a um projeto além-fronteiras, o IACOBUS. Após a candidatura ao projeto IACOBUS e com a sua aceitação, relatamos a experiência de partilha entre portugueses e galegos. O objetivo central no processo de intervenção IACOBUS era o de apresentar o Projeto de leitura digital na formação profissional galega, nomeadamente no Centro Indalecio Pérez Tizón (IES), em Tui, ao qual foi atribuído o título “O encontro entre a literatura portuguesa e a galega”, de forma a criar e consolidar leitores através da rede social facebook e também conhecer as dinâmicas de trabalho dinamizadas no Centro IES. Esta experiência decorreu entre os dias 31 de agosto a 4 de setembro de 2015. A estadia começou com uma visita ao centro profissional, promovida pelo Sr. Diretor Carlos Jiménez, na qual foi possível ver e conhecer as instalações do centro e equipa de formadores. De seguida participamos numa série de reuniões onde o centro IES evidenciou as metodologias utilizadas no seu centro, nos seus cursos e em particular na área da literatura. Foi realizada uma visita à biblioteca para aferir os livros disponíveis para o efeito, uma vez que um dos objetivos continua a ser a de apostar na leitura para combater o analfabetismo funcional e consequentemente a pobreza de linguagem. Após esta pequena visita guiada, em que verificamos a disponibilidade de recursos para a dinamização do projeto, reunimos com um grupo de formadores para uma explicação do projeto e sensibilização do uso das tecnologias disponíveis pelos próprios alunos, ou seja a utilização do facebook em contexto formativo. Depois foi formado um grupo de trabalho constituído por formadores de línguas e foram
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explorados alguns autores galegos assim como abordagens metodológicas à análise textual, caracterização de personagens e comparação com os autores portugueses. Nos dias seguintes trabalhamos com o formador de literatura galega, Manuel Rosende que mostrou e explicitou como é que exploravam em termos didáticos a literatura nos planos curriculares e projetos transdisciplinares, nomeadamente com o Agrupamento de Escolas de Muralhas do Minho. Assim realizamos formação aos formadores sobre como poderiam implementar o projeto e realizamos algumas das tarefas já desenvolvidas em Portugal, como a interação no perfil do projeto e análise dos autores propostos no mesmo, nomeadamente Camilo Castelo Branco. Também elaboração uma apresentação onde revelaram os resultados das próprias atividades e refletimos sobre a dinâmica do projeto. Verificaram ainda a potencialidade de acompanhar na sala o que os formandos efetuam fora da sala de formação, em trabalho de campo, onde a informação e a imagem podem estar a ser visualizadas por todos sem se deslocarem ao local onde está a decorrer o trabalho do projeto. Ficou também definido que seriam trabalhados os seguintes autores galegos: Rosalia de Castro; Camilo José Cela; Gonzalo Torrente Ballester, nesse mesmo Centro IES. Os formadores envolvidos neste projeto destacaram, no final, as múltiplas possibilidades que o mesmo pode trazer à formação, possibilitando uma série de tarefas e aprendizagens que até há pouco tempo teriam que ser realizadas em várias disciplinas, com vários dispositivos e com um tempo de preparação e execução muito superior. Sendo um projeto de leitura foi valorizado o seu cariz transversal com todas as áreas de saber, promovendo a inter e multidiscipliraridade. Foi destacado também a importância de ultrapassar a ponte que ainda separa o norte de Portugal e a Galiza no que concerne as questões culturais, sociais e literárias. Concluídos os trabalhos, os formadores galegos ficaram com acesso ao projeto para o poderem monitorizar e acompanharem as atividades desenvolvidas em Portugal. Acordamos que iríamos, através do facebook do projeto partilhar, explorar e trocar conteúdos para aplicarmos em ambos os lados da fronteira. Como conclusão verificou-se que seria, extremamente importante, que um formador e ou turma visitasse o CEFPP, para efetuar uma pequena visita e participar em aulas de literatura portuguesa e que pudesse acontecer o processo inverso, uma turma do CEFPP visitasse o Centro IES, em Tui.
6. CONCLUSÃO Partimos de um processo de mudança social e tecnológico em que ler não é mesmo hoje. Assim, a adaptação de leitura para o contexto digital é aqui explorado utilizando a plataforma e rede social facebook, de forma a promover o gosto pela leitura e assim integrar adultos em contexto formativo e socialmente desfavorecidos. O processo de desenvolvimento e aplicação deste projeto de leitura digital foi até ao momento conseguido nos seus intuitos, pela promoção da leitura e da inclusão e gosto pela formação profissional de adultos. Poder-se-á chamar a este projeto de leitura digital uma formação em contexto, ou seja, uma formação que se centra nas pessoas que se comprometem com a mesma, onde a formação e a acção se completam, tornando-se indissociáveis numa dinâmica que visa também a mudança das práticas profissionais e, sobretudo, na mudança de realidades relacionadas com o públicoalvo. A formação em contexto é um processo integrado e flexível que visa também a mudança, mas mais a longo prazo, embora neste caso tenha sido um processo que rapidamente atingiu patamares de sucesso literário. Para além disso, todos os parceiros tiveram a possibilidade de mudar as sua práticas e também a forma de ver este processo formativo pela própria instituição.
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Em suma, e como como afirma Fernando Pessoa, “da minha janela vejo o mundo” e num olhar pudemo-nos permitir trabalhar com outros formadores em prol de mudanças significativas nos cursos do CEFPP, mas acima de tudo na criação de novos hábitos, novos métodos e novas competências de leitura em formandos envolvidos em contextos desfavoráveis. Mas é nesta mesma realidade que se contruíram criticamente novos leitores.
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