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CRCEA-SE – Precursor em Tecnologia de Controle de Tráfego Aéreo
Tecnologia eficiente tem sido um dos principais condicionantes para atividades críticas necessárias ao bem-estar e ao progresso social. Entre elas destaca-se o Tráfego Aéreo, que ora figura como vetor de desenvolvimento, ora como um instrumento de medida do nível de evolução já logrado.
Por Luiz GUSTAVO Domingues Pereira 2º Sargento Controlador de Tráfego Aéreo
No sentido de medida, o recente nível de atividade aérea atesta a relevância da região sudeste na economia nacional. Segundo o Centro de Gerenciamento da Navegação Aérea (CGNA) – em 2020, pelas regiões de São Paulo e Rio de Janeiro – que, sozinhas, correspondem a mais de 15% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional – passou, no ano de 2019, um volume de tráfego de mais de 912 mil movimentos. Vale lembrar que se situam nessas capitais sete dos 12 principais aeródromos do País e, entre elas, a ponte aérea Rio-São Paulo, quarta rota mais voada do mundo, com mais de 39 mil partidas que atenderam a 3,6 milhões de passageiros no período. Comparativamente, a soma do volume de tráfego das Terminais São Paulo e Rio de Janeiro correspondeu a mais da metade do volume total das dez principais do Brasil, tendo sido também 80% maior do que o movimento da Região de Informação de Voo Brasília (FIR-BS), a principal do País.
Acompanhando essa expressiva demanda, existe, ainda, um fator gerador de complexidade: o tamanho do espaço aéreo. Considerando-se apenas a região de São Paulo, no período houve 660 mil movimentos em 55,7 mil km², contra os 503 mil movimentos em 1,41 milhões de km² da FIR-BS. Em termos de aeronave por km², os céus paulistas apresentam uma densidade quase 40 vezes maior.
Outra característica da região contribui igualmente para essa complexidade: a curta distância entre três dos quatro principais aeroportos brasileiros – Guarulhos, Congonhas e Viracopos. Pelo ponto de vista de planejamento, monitoramento e demais ações necessárias ao controle de tráfego aéreo, tem-se aí um cenário ímpar no contexto nacional, pois, em uma região de descidas e subidas – momentos críticos para a operação aérea – essa proximidade faz com que a maioria dos perfis de voo desses aeroportos acabem por influenciar significativamente uns aos outros. Assim, o maior movimento do País inserido na região mais densa em trajetórias gera uma carga de trabalho deveras exigente em termos de cruzamentos, volume e constância. Tal cenário torna-se ainda mais desafiador em períodos que envolvem o verão, pois, nessas épocas, pilotos necessitam desviar suas aeronaves dos perfis previstos com frequência para evitar formações meteorológicas prejudiciais à navegação aérea, cabendo à habilidade dos controladores de tráfego aéreo a imediata reorganização dos céus de modo a manter a segurança e a eficiência das operações.
Esse panorama de alta demanda em um contexto de complexidade desafiadora não é de hoje. Desde a popularização do meio aéreo como modal de transporte, a região mantém o status de primeira em demanda. Em uma linha que vai da época de criação do Campo de Marte, em 1929, e do Aeroporto Santos-Dumont, em 1936, até os dias atuais, os aeroportos das Terminais Rio e São Paulo sempre foram destinos de elevada conveniência por motivos logísticos e econômicos. Tornou-se necessário, então, implementar ferramentas robustas e inovadoras para permitir o atendimento a um fluxo cada vez mais vigoroso de aeronaves sem que os níveis requeridos de eficiência e desempenho da segurança operacional fossem comprometidos.
Nessa visão, foi instalado, em 1962, no Aeroporto de Congonhas, o ASR-3, primeiro radar do Brasil – e da América do Sul. Atualizações se sobrevieram, marcadas pela adoção de equipamentos para treinamento de manutenção, bem como os sistemas de tratamento e visualização de dados (STVD) Thomson (em suas duas versões) e o X-4000 - com suas inovações - cada um, à sua época, empregando as soluções de tecnologia da informação mais eficientes do momento.
Atualmente, encontra-se em uso nos Controles de Aproximação (APP) de São Paulo e Rio de Janeiro o Sistema Avançado de Gerenciamento de Informações de Tráfego Aéreo e Relatórios de Interesse Operacional (SAGITARIO), alimentado por nove radares em cada região, como também uma robusta rede de sítios de comunicações ar-solo em VHF baseada em mais de dez instalações amplamente modernizadas. Os respectivos salões operacionais totalizam mais de 35 consoles operacionais munidos de telas de visualização de situação aérea, equipamentos de comunicação, apresentação de cartas, dados meteorológicos, impressoras de fichas de voo, periféricos e suas necessárias redundâncias.
Há, ainda, em sede um simulador de tráfego aéreo composto por 11 posições de controle e dez de pilotagem de simulação. Importante destacar também os avanços alocados às Torres de Controle, como o Controle Total da Informação de Tráfego Aéreo (sistema TATIC) e a adoção de Comunicação por meio de Enlace de Dados (DCL), que, substituindo a voz por dados durante a transmissão de autorizações, otimiza tempo e carga de trabalho de pilotos e controladores. Tudo para tornar o espaço aéreo seguro e rápido para quem dele precisa, seja para resolver assuntos triviais do dia a dia, seja para colocar em curso ações que mudarão o mundo.
E a marcha da tecnologia não para. Constantes aperfeiçoamentos dos sistemas atuais e implementações de novos, como, por exemplo, o Sistema de Gestão de Chegadas (AMAN - ferramenta de sequenciamento de aeronaves), modernização de casas de força (KF), aprimoramento de acessos e sistemas de vigilância, além de empreendimentos diversos para o futuro.
Abraham Lincoln dizia que, se lhe fossem dadas duas horas para cortar uma árvore, utilizaria uma e meia para afiar seu machado. Sintonizados nesse pensamento, prosseguimos nossa missão, fazendo com que o progresso seja não apenas um conceito, mas uma realidade.
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