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Ano XIII – Nº 54 – Janeiro a Março de 2015
Enfrentamento
da crise
hidrica na RMSP
Com exceção de muita chuva, não existe uma solução única para o enfrentamento da crise hídrica na Região Metropolitana de São Paulo. Porém existem alternativas e modelos a serem seguidos.
Jerson Kelman fala sobre a crise hídrica
Fenasan 2015 em novo espaço
Veja a sessão “Ponto de Vista”
O enfrentamento da crise hídrica, mesmo no pior cenário imaginado, é abordado diretamente na entrevista com o presidente da Sabesp, Jerson Kelman.
Em função do crescimento do nosso Encontro Técnico/Fenasan, a edição de 2015 ocupará o Pavilhão Vermelho do Expo Center Norte, o maior espaço desse complexo, nos dias 4, 5 e 6 de agosto.
O abastecimento da macrometrópole paulista, com foco na crise hídrica, na aplicação do Plano Diretor de Aproveitamento de Recursos Hídricos e na necessidade de um planejamento pós crise.
Editorial Prezado(a)s Associado(a)s, Esta 1ª edição da Revista Saneas de 2015 aborda, como tema principal, a crise hídrica que tem castigado o sudeste brasileiro, com destaque especial para a Região Metropolitana de São Paulo, um dos locais de nosso país onde o ano hidrológico 2013/2014 apresentou índices pluviométricos fortemente desfavoráveis, principalmente na bacia de contribuição do Sistema Cantareira, o qual vimos praticamente seco. Esse quadro que afetou a vida de milhões de pessoas motivou discussões sobre mudanças climáticas, consumo, investimentos e alternativas de abastecimento pode ter o seu lado positivo, no que se refere à ampliação da consciência para o uso racional da água, mudanças de hábitos de consumo e a busca de novas tecnologias. Contudo, apesar do consumo de água neste final de verão diminuir e as fortes chuvas terem começado no mês de março, ainda estamos em uma situação de alerta, pois com a entrada do outono as precipitações tendem a diminuir e a água acumulada nos reservatórios pode ser insuficiente para atravessarmos o chamado período seco deste ano. Além de alternativas para o enfrentamento desta crise hídrica esta edição da Revista Saneas aponta a opinião de especialistas e também traz artigos técnicos relacionados ao tema. Igualmente, destaca a perspectiva da realização do nosso Congresso Técnico e Fenasan 2015, o maior evento técnico-mercadológico da América Latina, e um hobby muito peculiar na sessão “Vivências”, que finaliza a Revista com curiosidades sobre nossos associados. Uma boa leitura a todos! Eng. Reynaldo E. Young Ribeiro Presidente da AESabesp
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Saneas
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Índice
Expediente Saneas é uma publicação técnica da Associação dos Engenheiros da Sabesp Tiragem: 10.000 exemplares Diretoria Executiva Presidente: Reynaldo Eduardo Young Ribeiro Vice-presidente: Viviana Marli Nogueira de Aquino Borges 1º Secretário: João Augusto Poeta 2º Secretário: Aram Kemechiam 1º Diretor Financeiro: Walter Antonio Orsatti 2º Diretor Financeiro: Nelson Cesar Menetti Diretoria Adjunta Cultural: Sonia Maria Nogueira e Silva Esportes: Evandro Nunes de Oliveira Marketing: Paulo Ivan Morelli Franceschi Polos: Antônio Carlos Gianotti Projetos Socioambientais: Maria Aparecida Silva de Paula Social: Viviana Marli Nogueira de Aquino Borges Técnica: Olavo Alberto Prates Sachs Conselho Deliberativo Antonio Carlos Gianotti, Benemar Movikawa Tarifa, Carlos Alberto de Carvalho, Cid Barbosa Lima Junior, Dejair José Zampieri, Evandro Nunes de Oliveira, Gilberto Alves Martins, Iara Regina Soares Chao, Ivan Norberto Borghi, Luciomar Santos Werneck, Maria Aparecida Silva de Paula, Paulo Ivan Morelli Franceschi, Rodrigo Pereira de Mendonça, Rogélio Costa Chrispim e Sonia Maria Nogueira e Silva Conselho Fiscal Gilberto Margarido Bonifácio, Helieder Rosa Zanelli, Nelson Luiz Stabile
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matéria Especial
O que nos reserva o destino: haverá água em nosso futuro?
21 entrevista O enfrentamento da crise, pela ótica do presidente da Sabesp, Jerson Kelman 23 Ponto de Vista O abastecimento da macrometrópole paulista e a crise hídrica 29 história Saboó: 50 anos de história e de bons serviços artigoS técnicoS 31 Automação no controle de pressão em boosteres e vrps em tempo real com o ponto crítico utilizando sistema gprs, reduzindo perdas e consumo de energia 34 Inovação no processo de cobrança de créditos vencidos em saneamento: o caso dos núcleos de baixa renda 41 Recuperação de volumes e valores – caça fraudes e combate a irregularidades – contribuição na redução do índice de perdas no município de Franca 43 Diretoria de Projetos Socioambientais Grande aprovação do Curso de Gestão Eficaz de Projetos 45 26º Encontro Técnico AESabesp / Fenasan 2015 Investimentos e expansão em 2015 47 Acontece no setor 48 Lançamento Livro “Ecologia de reservatórios e interfaces”, em formato digital 49 Vivências Nilton Moraes: guiado pela paixão pelos velhinhos possantes
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Conselho Editorial - Jornal AESabesp e Revista Saneas Coordenador: Luciomar Santos Werneck Colaboradores: Benemar Movikawa Tarifa, Luiz Yukishigue Narimatsu, Nivaldo Rodrigues da Costa Jr e Paula Rosolino CoordenadorA de Assuntos Tecnológicos Marcia de Araújo Barbosa Nunes Comissão Organizadora do 26º Encontro Técnico AESabesp Fenasan 2015 Presidente da Comissão: Gilberto Alves Martins Coordenador da FENASAN: Olavo Alberto Prates Sachs Coordenadora do Encontro Técnico AESabesp: Sonia Maria Nogueira e Silva Membros da Comissão: Antonio Carlos Roda Menezes, Iara Regina Chao, Ivan Norberto Borghi, João Augusto Poeta, Maria Aparecida S. Paula, Mariza Guimarães Prota, Nélson César Menetti, Paulo Ivan Morelli Franceschi, Reynaldo Eduardo Young Ribeiro, Rodrigo Pereira de Mendonça, Tarcisio Luiz Nagatani, Walter Antonio Orsatti Equipe de Apoio: Maria Flávia da Silva Baroni, Maria Lúcia da Silva Andrade, Monique Funke, Paulo Oliveira, Rodrigo Cordeiro, Vanessa Hasson POlos AESabesp da Região Metropolitana - RMSP Coordenador dos Polos da RMSP: Rodrigo Pereira de Mendonça Polo AESabesp Costa Carvalho e Centro: Sérgio Luiz Caveagna Polo AESabesp Leste: Antonio Carlos Roda Menezes Polo AESabesp Norte: Eduardo Bronzatti Morelli Polo AESabesp Oeste: Claudia Caroline Buffa Polo AESabesp Ponte Pequena: Fernandes Hayashi da Silva Polo AESabesp Sul: Antonio Ramos Batagliotti POlos AESabesp Regionais Diretor de Polos: Antonio Carlos Gianotti Polo AESabesp Baixada Santista: Zenivaldo Ascenção dos Santos Polo AESabesp Botucatu: Leandro Cesar Bizelli Polo AESabesp Caraguatatuba: Sidney Morgado da Costa Polo AESabesp Franca: Mizue Terada Polo AESabesp Itatiba: Carlos Alberto Miranda Silva Polo AESabesp Lins: João Luiz de Andrade Areias Polo AESabesp Presidente Prudente: Gilmar José Peixoto Polo AESabesp Vale do Paraíba: Sérgio Domingos Ferreira Órgão Informativo da Associação dos Engenheiros da Sabesp Jornalista Responsável Maria Lúcia da Silva Andrade – MTb. 16081 REDAÇÃO Ednaldo Sandim e Lúcia Andrade PROJETO VISUAL GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Neopix Design neopix@neopixdesign.com.br | www.neopixdesign.com.br Associação dos Engenheiros da Sabesp Rua Treze de Maio, 1642, casa 1 Bela Vista - 01327-002 - São Paulo/SP Fone: (11) 3284 6420 - 3263 0484 Fax: (11) 3141 9041 aesabesp@aesabesp.org.br www.aesabesp.org.br
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Campanha
RE Livro
Reuso de livRos técnicos
O objetivo desta ação é suprir a necessidade de uma demanda educacional, social e financeira, ao propor o reaproveitamento dos livros de engenharia, cujos preços não estão ao alcance da população estudantil desprovida de poder aquisitivo.
Quantidades significativas de livros poderão ser retiradas pela AESabesp mediante agendamento através do email acima.
Os agentes receptores (Bibliotecas Públicas do Estado de São Paulo) selecionados, serão comunicados por escrito e deverão adotar a forma mais conveniente, de acordo com suas prioridades. As alternativas para essa retirada são:
Para a triagem do material, contamos com a bibliotecária Isabel Amato, que atuará especificamente para esta Campanha. Posteriormente à triagem e à catalogação do material recebido durante a Campanha, a bibliotecária fará uma pesquisa entre as Universidades Públicas, que, por e-mail, manifestarem o interesse em receber a doação dos livros, objeto dessa Campanha da AEsabesp.
pRemiAção
Se você quiser ser um doador de livros, poderá nos comunicar pelo e-mail relivro@aesabesp.org.br. Se preferir, você também poderá levar sua remessa à sede da AESabesp.
Instituições que desejarem receber doações dos livros catalogados, podem se cadastrar através do e-mail relivro@aesabesp.org.br.
A AESabesp, se compromete a fazer os registros desses repasses, bem como incentivar doadores em todo o Estado, disseminando esta Campanha nas escolas de engenharia, nas empresas expositoras da Fenasan e nas bibliotecas públicas.
Como funciona?
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Retirar pessoalmente na sede da AESabesp;
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Retirar nos Polos Regionais da AESabesp no interior de São Paulo, situados nas Unidades da Baixada Santista, Botucatu, Caraguatatuba, Franca, Itatiba, Lins, São José dos Campos e Presidente Prudente;
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Solicitar a entrega pelo Correio.
Os 5 associados que mais arrecadarem livros técnicos da grade de engenharia e outras áreas relacionadas (arquitetura, meio-ambiente, serão contemplados com os seguintes prêmios:
1º
ingressos e Jantar para 2 pessoas para o show sAmpA - o musical
4º
um par de convites para o Jantar dançante Aesabesp 2015
2º
um fim de semana em pousada na praia ou no campo (2 diárias + café da manhã)
5º
ingressos para 2 pessoas para peça teatral ou musical em atrações da época da premiação
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um tablet dell venue 7
Início: 02 de fevereiro Encerramento: 03 de agosto Entrega dos prêmios: 05 de agosto, no Estande da AESabesp, durante a FENASAN 2015
Rua Treze de Maio 1642 - casa 01 Bela Vista - CEP 01327-002 - São Paulo - SP vv1`
www.aesabesp.org.br relivro@aesabesp.org.br
matéria tema
O QUE NOS RESERVA O DESTINO:
HAVERÁ
AGUA EM NOSSO FUTURO? Março a Julho de 2015
matéria tema Na mitologia grega, as Moiras eram as três irmãs que determinavam o destino, tanto dos deuses, quanto dos seres humanos. Eram descritas como três mulheres lúgubres, responsáveis por fabricar, tecer e cortar aquilo que seria o fio da vida de todos os indivíduos. Durante o trabalho, as moiras faziam uso da Roda da Fortuna, que era representada pelo tear utilizado para se tecer os fios. As voltas da roda posicionavam o fio do indivíduo em sua parte mais privilegiada (o topo) ou em sua parte menos desejável (o fundo), explicando-se assim os períodos de boa ou má sorte de todos. As Moiras eram filhas de Nix (a noite) e, na Ilíada, representavam uma lei que pairava sobre deuses e homens, pois nem Zeus estava autorizado a transgredi-la sem interferir na harmonia cósmica. O mito grego predominou entre os romanos, mas os nomes das divindades caíram em desuso. Entre eles eram conhecidas por Parcas chamadas Nona, Déci-
ma e Morta, e tinham respectivamente as funções de presidir a gestação e o nascimento, o crescimento e desenvolvimento, e o final da vida; a morte. Como em um círculo místico, os discursos iniciais e atuais sobre a crise do abastecimento de água na RMSP se encontram. E o que antes soava como uma afirmação ou profecia: “Não irá faltar água!”, retorna no momento atual como um revérbero de aparência funesta: “Preparemo-nos para o pior”. Tanto a afirmação, parte da fala do governador Geraldo Alckmin durante o debate do 1º turno na TV Globo em 30 de setembro de 2014, quanto a declaração do presidente da Sabesp, Jerson Kelman, em seu discurso de posse no dia 9 de janeiro deste ano, por mais incrível que possa parecer, guardam simetria entre si. Isso porque a empresa de saneamento paulista vem travando uma árdua batalha para garantir o abastecimento da RMSP e isso em um cenário que, como indicam os níveis dos reservatórios, só faz piorar a cada dia. Até aqui, as soluções apresentadas em caráter emergencial não tem surtido o pleno efeito desejado. Mas especialistas são unânimes em afirmar a solução no momento que de fato precisamos é a chuva! Muita chuva!
COMO CHEGAMOS AO FUNDO Afirma Bini que em 2014 entramos na fase “fria” do As chuvas de verão de 2013-2014 na região do Sisteciclo, marcada por acumulados anuais menores de prema Cantareira ficaram 70% abaixo da média. “Analisando uma série de dados a partir de 1961 no Estado cipitação. “Seu principal efeito é na região mais central de São Paulo, essa foi a pior seca”, diz Marcelo Seludo Brasil, com menos chuvas”, explica. Houve também a formação de um sistema de alta chi, meteorologista do Centro Nacional de Monitopressão bem em cima da região Sudeste, atingindo ramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), parte do Nordeste e Centroligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. As causas -Oeste. Trata-se de um fenôespecialistas são debatidas pelos especialistas meno que bloqueou ventos são unânimes em e ainda não há consenso. da Amazônia e impediu que Segundo o meteorologista a umidade chegasse aos níafirmar a solução Willians Bini, da Somar Meteoroveis mais altos da atmosfera e no momento que de formasse as nuvens. Foi como logia, a seca atual não é decorrenfato precisamos é a se pusessem uma barreira no te apenas da pouca chuva do últimeio de um rio: a água (ou o mo verão. Para ele, o país está sob chuva! Muita chuva! ar, no caso da atmosfera) foi a influência de um ciclo climático, desviada para os lados. Num sistema do tipo, o ar previsto para a segunda década do século 21, chamado desce em forma de espiral do céu para o solo, onde de Oscilação Decadal do Pacífico (ODP). Diferente do El encontra temperaturas mais altas que provocam a Niño ou La Niña, que costumam durar pouco (entre um evaporação das gotículas de água. “É extremamente e três anos), a ODP tem duração média de 20 a 30 anos.
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matéria tema rara a intensidade desse sistema de alta pressão (neste ano) e também a persistência - durou mais de 40 dias”, informam os técnicos do Cemaden. Segundo os meteorologistas, não é possível prever se irá se repetir um ano tão atípico como o passado. As causas poderiam estar no aquecimento global ou no desmatamento da Amazônia, mas ainda não há comprovação científica da relação da seca com o aumento do desmatamento. Porém, um relatório divulgado no dia 30 de outubro do ano passado pelo pesquisador Antônio Nobre, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST), concluiu que a falta de chuvas que ocorreu principalmente no Sudeste, é uma consequência indireta da diminuição da quantidade de árvores. Isso teria impedido o fluxo da umidade entre o Norte e o Sul do Brasil, pelos chamados “rios voadores” - grandes massas de umidades responsáveis pelas chuvas. Sem a cobertura vegetal, a transferência da umidade do solo para a atmosfera é interrompida. Dessa forma, os rios voadores, que são transportados pelos ventos da Amazônia para o restante do país, não teriam “realizado a viagem”, causando escassez hídrica. O estudo ainda aponta que desde o início da década de 1970 até 2013, o desmatamento progressivo e a extração madeireira destruíram 762.979 quilômetros quadrados de floresta, uma área equivalente a duas vezes o território de Alemanha. Os resultados, porém, ainda não são conclusivos e não é possível traçar cientificamente uma relação direta entre o desmatamento e a estiagem. Com relação ao aquecimento global, Marcelo Seluchi, do Cemaden, afirma não ser possível cravar que o prolongamento do sistema de alta pressão e a seca tenham sido resultado disso. Para ele, pesquisas mostram, na verdade, tendência de a estação chuvosa continuar com bom volume nos próximos anos. Mas ela deve ser mais curta e com chuvas concentradas. E isso pode ter efeitos ruins: “Em vez de seca, o que pode acontecer são enchentes, desastres naturais. Isso faz parte de um conjunto de mudanças climáticas, não dá para apontar uma culpa. Provavelmente, a questão das chuvas concentradas tem relação com aumento de temperaturas”. Isso explicaria, por exemplo, as tempestades que tem se abatido sobre a RMSP, mas que tem se concentrado em áreas distantes do Sistema Cantareira. Elas causam transtorno, mas não ajudam a recuperação do manancial.
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Há também outros fatores que influenciam na crise hídrica de São Paulo. Segundo Ricardo de Camargo, professor da USP, não se pode falar apenas das chuvas quando se analisa as razões para a crise hídrica de São Paulo. “A demanda por água superou em muito a oferta nos últimos anos no Brasil. A gente tira muito mais do que repõe.” Orivaldo Brunini, pesquisador do Instituto Agronômico (IAC), de Campinas afirma que o Sistema Cantareira está num processo de redução nos últimos 20 anos. Afora o aumento de consumo de água, ele cita maior impermeabilização do solo e menor preservação dos mananciais como fatores que afetam a recuperação do volume dos reservatórios. Muitas são as teorias que tentam explicar a atual crise, o que pode fazer pensar que talvez fosse possível antevê-la. Porém, Marcelo Seluchi, do Cemaden, explica que não é possível prever com muitos meses de antecedência sistemas de alta pressão como o que ocorreu no verão passado. Já para Neide Oliveira, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a seca em si não era uma surpresa. “O problema (a estiagem) vem desde 2013, quando o nível das chuvas também foi baixo. Deveriam já montar uma estratégia para evitar a falta de água”, afirma. O meteorologista Willians Bini, da Somar Consultoria, que atende empresas do setor energético, diz que a seca atual não é decorrente apenas do último verão de pouca chuva e que há alguns anos se formava um cenário meteorológico caótico. “Há pelo menos dois ou três anos, variando por região, estamos com chuvas abaixo da média registrada nos verões dos últimos 30 anos.” No Sudeste, dos últimos 36 meses, 32 tiveram chuvas abaixo do normal, conclui. Sobre a falta de chuvas, a Sabesp já havia informado que além do ano hidrológico 2013-2014 ter apresentado índices pluviométricos fortemente desfavoráveis na bacia de contribuição do Cantareira”, a estiagem veio associada às temperaturas médias elevadas, as mais altas registradas nos últimos 70 anos. “Foi a pior seca desde que as medições dos institutos de meteorologia começaram, há 84 anos. Em dezembro de 2013, foi registrado índice 72% menor que a média. Em janeiro e fevereiro de 2014 choveu cerca de 65% menos que o normal”, afirmou a Companhia em nota. Estaríamos então a mercê dos eventos climáticos e, como na Roda da Fortuna, predispostos a boa e a má sorte, inclusive no que diz respeito ao clima? O
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matéria tema professor de hidrologia e recursos hídricos da Universidade de Campinas (Unicamp), Antônio Carlos Zuffo, diz que um sistema hídrico não pode considerar apenas os volumes de chuva médios, porque eles nunca ocorrem. E existem medidas de gestão para enfrentar situações atípicas. Para ele, após a seca histórica, foi ignorada uma ferramenta chamada de “curva de aversão ao risco”, que estabelece limites de vazão de acordo com o volume dos reservatórios. “Continuaram tirando mais água do que deveriam até abril. Isso acelerou a crise”, avalia Zuffo. O pesquisador também diz que era possível ampliar a produção de água de reúso a partir do tratamento de esgoto. “Só tirando os lançamentos de esgoto já teríamos uma melhora na aparência e no cheiro dos rios. Depois do tratamento, eles deixariam de ser poluídos e haveria novas fontes de água na própria capital”.
A Sabesp informa que desde 2012 realiza o projeto Aquapolo, “que elevou em 13 vezes o volume de água de reúso fornecido pela empresa”. O governador Geraldo Alckmin anunciou, em 5 de novembro, um plano para usar o esgoto tratado para abastecer a represa de Guarapiranga e o Rio Cotia. A obra tem previsão de entrega para dezembro de 2015. Em Audiência de Sustentabilidade, promovida pela AESabesp, o professor titular da USP e diretor do Centro de Referência em Reuso de Água (CIRRA), Ivanildo Hespanhol, demonstrou algumas técnicas utilizadas e destacou o sistema de BioMembranas (ver maior detalhamento no item Membranas Filtrantes no final da matéria) como o principal recurso para o reuso no momento. A técnica baseia-se na utilização de membranas que possuem a espessura de uma folha de papel e servem como filtro para conter impurezas e diversas substâncias.
PARA SAIR DO POÇO: AS SOLUÇÕES PARA CRISE HÍDRICA EM SÃO PAULO Para quem se pergunta se existe a dança da chuva, a resposta é sim, existe! Muito embora os resultados relacionem-se apenas ao imaginário coletivo daqueles que a realizam. Ao longo da história da humanidade, diversas culturas desenvolveram algum ritual desse tipo - incluindo os antigos egípcios, os maias e os astecas. As versões mais estudadas, entretanto, são as das tribos de índios nativos da América do Norte, especialmente nas regiões mais secas. “É possível que os xamãs antigos entendessem exclusivamente de padrões do clima e, assim, soubessem a hora certa de realizar a cerimônia para obter o efeito desejado”, afirma Darlene O’Cadiz, professora do Departamento de Teatro e Dança da Universidade do Estado da Ca-
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lifórnia (EUA) e autora do livro Dance and a cultural diversity. No caso de São Paulo, essa com certeza ainda não é uma das alternativas consideradas. Não há uma saída mágica. Há, porém, ações de curto, médio e longo prazo e que têm sido consideradas por alguns e até pelo governo do Estado como soluções (veja quadro mais adiante). Apesar do mito de que somos o país com maior quantidade de água do planeta, é importante lembrar que a maior parte da água doce no Brasil concentra-se na região Norte que possui baixa densidade demográfica. Já a região sudeste e em especial São Paulo, possui a maior densidade demográfica do país e a água tem de ser trazida de longe.
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O EXEMPLO QUE VEM DE FORA
O Sudeste brasileiro tem sido castigado pela pior escassez hídrica de todos os tempos e que vem afetando milhões de pessoas e despertando discussões sobre mudanças climáticas, consumo, investimentos e alternativas de abastecimento. O que parece uma triste novidade por aqui, já aconteceu em outros lugares do mundo que também enfrentam ou enfrentaram desafios semelhantes, envolvendo seca, desperdício e excesso de consumo. Veja alguns exemplos e as soluções mundo afora:
Califórnia, Estados Unidos Lençol freático e água de reuso O lençol freático da região de Orange County, no Sul do Estado, onde fica a Disneylândia, chegou ao limite nos anos de 1960. Para que a população de cerca de 3 milhões de habitantes tivesse água, o governo começou em 1976, a tratar o esgoto que, purificado, era injetado no lençol freático. O processo evita que o aquífero seja contaminado pela água do mar — que poderia tornar as reservas salobras — e ajuda a reposição da fonte que permanece com uma quantidade de água constante. O tratamento de água inclui hoje as mais avançadas técnicas de purificação, feitas por meio de membranas e desinfecção com raios ultravioleta.
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Cidade do Cabo, África do Sul Guerra ao desperdício Com 450 mil habitantes, Khayelitsha, a 20 km da Cidade do Cabo, é uma das maiores “townships” (como são chamadas as comunidades carentes sul-africanas) do país. Em meados dos anos 2000 descobriu-se que o equivalente a uma piscina olímpica era perdida por hora devido a vazamentos na rede de água. Os encanamentos domésticos, muitos dos quais deficientes e incapazes de resistir a alta pressão de bombeamento eram os principais responsáveis pelas perdas de água. Como resultado, um elevado consumo de água e também uma gigantesca inadimplência. Sem falar que a Cidade do Cabo vive sob constante ameaça de falta d’água. Em 2001, um projeto-piloto de US$ 700 mil atuou em duas frentes: a reforma de encanamentos ruins e o controle da pressão da água fornecida a fim de evitar os vazamentos. O projeto custou menos de US$ 1 milhão, de acordo com um relatório do governo da Cidade do Cabo, e o investimento foi recuperado em menos de seis meses. Aliada a uma campanha de conscientização para evitar desperdícios a iniciativa permitiu, segundo o consórcio 2030 Water Resources que Khayelitsha economizasse 9 milhões de metros cúbicos de água por ano, equivalente a US$ 5 milhões.
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matéria tema Cidade do México Novos aquíferos Enrique Peña Nieto, presidente do Mexico afirmou em junho da ano passado que 35 milhões de habitantes no país têm pouca disponibilidade de água, tanto em qualidade como em quantidade. A própria capital, a Cidade do México, padece com a grave escassez, onde uma combinação de fatores - como grande concentração populacional, esgotamento de rios e tratamento insuficiente da água devolvida ao solo - causa extrema preocupação. No ano de 2009, partes da cidade foram submetidas a um racionamento de água após uma forte seca; e autoridades ouvidas pela imprensa local afirmam que, naquele ritmo, a cidade poderia não ter água o suficiente em 2030. A alternativa no caso da Cidade do México são aquíferos identificados no ano 2013, cuja viabilidade está sendo estudada. Poços estão sendo perfurados para confirmar a existência das fontes subterrâneas de água e também avaliar sua qualidade para consumo humano. As autoridades dizem que até 2016 será possível determinar se os aquíferos serão ou não uma opção viável de abastecimento para a megalópole. A perfuração, a 2 km de profundidade, no entanto, deve sair muito mais cara do que perfurações de fontes mais próximas à superfície. O professor da Universidade Autônoma Metropolitana na Cidade do México e estudioso da questão da água, David Barkin, acredita que o plano mexicano pode não ser concretizado por causa dos altos custos envolvidos na exploração do aquífero. Segundo ele, há outra questão que é a forma como as autoridades tratam a água disponível atualmente: “É obsceno” - citando desperdícios, construções residenciais em áreas que deveriam servir para armanezanamento de água natural e problemas de planejamento.
Cingapura A nova água Cerca de 30% da água potável do país asiático é reciclada - ou seja, veio do esgoto. O programa começou de forma experimental em 1974, permaneceu fechado durante décadas por seus altos custos, e foi retomado em 1998. Por ter fontes escassas, o país ainda importa água da Malásia, em um acordo assi-
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nado até 2061. A água reciclada, chamada NEWater (em português algo como NOVÁgua), passa por um processo de filtragem por membranas e desinfecção com raios ultravioleta, além de uma técnica comum de remoção de resíduos. A maior parte do produto vai para indústrias e uma porcentagem menor - entre 40% a 30% - chega às torneiras. Cingapura pretende que até 2060, 55% da água potável do país tenha origem na reciclagem. O país possui também duas usinas de dessalinização da água do mar — a última aberta em 2013 — que contribuem com até 25% da água usada no país.
Israel Economia em cada gota Conhecido internacionalmente como o país com o mais avançado manejo de água, Israel localiza-se em uma área desértica. As fontes naturais são escassas para suprir a demanda dos cerca de 2 bilhões de metros cúbicos necessários para toda a população. Apesar disso, tem uma agricultura desenvolvida e raramente passa por crises hídricas. Não se trata de uma, mas da combinação de diversas estratégias, centralizadas pelo governo e que garantem os bons resultados. No início do século XX, quando a prioridade do Estado era a agricultura, os fazendeiros desenvolveram um tipo de irrigação mais econômica, intitulado irrigação por gotejamento. A técnica consistia em direcionar a água apenas para as raízes das plantas, evitando-se encharcar todo o solo ao redor. Também foram desenvolvidas no país técnicas de reúso sofisticadas, com o uso de membranas e processos químicos. Atualmente de 80% a 90% dos esgotos são tratados e reutilizados. Israel conta ainda com uma das maiores usinas de dessalinização do mundo, em Ashkelon, inaugurada em 2005 e produtora de 13% de toda a água doméstica consumida no país. Os níveis de perdas por vazamento são semelhantes ao da União Europeia, de 10%, e todas as crianças são educadas na escola a economizarem a água dentro das casas.
Japão Encanamentos duplos Em 1964, depois de uma grande seca, o país implantou o reúso de água em todas as indústrias de Tóquio
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matéria tema e Nagoya. Na década de 1980, o reúso tornou-se a opção também para o consumo doméstico nas grandes cidades: a água é utilizada para descargas, limpeza e para derreter neve. E há cerca de dez anos todos os prédios com mais de 10.000 metros quadrados construídos em Tóquio devem ser equipados com sistemas de tratamento e reúso de água. Em Osaka e Fukuoma, a regra vale para os prédios maiores que 5.000 metros quadrados desde 2003. Há encanamentos duplos — para água potável e água de reúso — que são também usados em prédios comerciais e públicos.
Londres, Inglaterra A água que vem do mar Não obstante ser conhecida pela garoa e neblina constantes, chove menos em Londres que em Roma, na Itália, Dallas, nos Estados Unidos, ou Istambul, na Turquia. Com uma grande população e com suas fontes de água impróprias para o consumo — como o rio Tâmisa — a cidade de Londres passou por períodos frequentes de escassez de água até os anos 2000, com reservatórios secos e racionamentos. Após um estudo oficial verificar se valia a pena transportar água do Norte do país ou usar outras técnicas, a cidade abriu em 2010 sua primeira usina de dessalinização — por estar perto do mar, essa foi a opção considerada mais econômica. Ao custo de 250 milhões de libras, a usina pode fornecer água para 1 milhão de pessoas — mas seu uso principal deve ocorrer em períodos de seca.
Nova Iorque Proteção de mananciais Nova Iorque, uma das maiores cidades do mundo, iniciou nos anos 1990 um amplo programa de proteção aos mananciais de água, para prevenir a poluição nessas nascentes e, assim, evitar gastos volumosos com tratamento ou busca de novas fontes de abastecimento. Terras foram adquiridas pelo governo nas nascentes de água, com o objetivo de proteger sua vegetação e garantir que os lençóis freáticos continuassem a ser alimentados. O projeto também previu a assistência financeira às comunidades rurais nessa região em troca de cuidados com o meio ambiente e a mitigação da poluição nos mananciais. Graças a essas iniciativas, a vida útil de seus mananciais foi ampliada em décadas.
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Assim como Perth, na Austrália (veja adiante), o programa também envolveu campanhas pela redução do consumo. Pelos dados oficiais o consumo per capita da cidade era de 204,1 galões de água por dia em 1991 e caiu para 125,8 galões/ dia em 2009.
Pequim Transposição de água Listada pela ONU entre os 13 países com grave falta d’água, a China conta com 21% da população mundial, mas tem apenas 6% da água potável do planeta. Pequim é uma das cerca de 400 cidades do país que enfrentam obstáculos de abastecimento, com uma população crescente, a capital já consome mais água do que tem disponível em seus reservatórios. Secas prolongadas, crescimento populacional, poluição e expansão industrial fizeram com que diversos rios chineses secassem. A aposta para enfrentar a questão está em um projeto multibilionário da Companhia de Água de Pequim para redirecionar rios, o Projeto de Desvio de Água Sul-Norte, cuja primeira etapa deve ser concluída neste ano. Bilhões de metros cúbicos de água deverão ser transportados do sul ao norte (mais árido) anualmente ao longo de uma distância superior à que separa o Oiapoque do Chuí (extremos do Brasil), a um custo que deve superar os US$ 60 bilhões.
Perth, Austrália Dessalinização Entre as metrópoles da Austrália, Perth é a “cidade mais seca”. A presidente da Western Australia Water Corporation, Sue Murphy, em entrevista a rede BBC, em junho de 2014, disse que as mudanças climáticas ocorreram mais rápido e antes do que era esperado no oeste do país. “Nos últimos 15 anos, a água de nossos reservatórios foi reduzida para um sexto do que havia antes” declarou. A solução foi construir duas grandes estações para remover o sal da água coletada no Oceano Índico e torná-la potável. Metade da água que hoje abastece Perth provém do mar. Os ambientalistas criticam o processo por ser caro e demandar muita energia e os moradores sentiram o impacto em suas contas de água, que dobraram de valor nos últimos anos.
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matéria tema Também está em andamento experimentos com o sistema Gnangara, a maior fonte hídrica subterrânea da região. Perth injetou durante dez anos a água que foi usada pela população, já tratada nos aquíferos subterrâneos. O solo arenoso filtra naturalmente a água que depois é extraída para ser consumida pela população ou usada na irrigação agrícola. Considerado bem-sucedido, o teste se transformou em um programa oficial: a meta é obter 7 bilhões de litros por ano. Para Mia Davies, ministra de Água e Florestas do Leste da Austrália, é preciso agir e não se pode apenas esperar que chova: “Com um clima mais seco, precisamos ser menos dependentes da chuva, por isso apoiamos estes projetos”. Simultaneamente foi realizada uma campanha pelo uso racional da água, o que fez com que a demanda por água hoje seja 8% menor do que em 2003, apesar de a população ter crescido mais de 30%.
Texas, Estados Unidos Injeção de água O Sul e Oeste do Estado são extremamente secos e com áreas desérticas. O uso de água reciclada para irrigação de parques e plantações teve início em meados do século XX. Em 1985, El Paso, a cidade mais seca do Texas, começou a tratar o esgoto e a injetar essa água de volta no aquífero Hueco Bolson. Após a purificação, feita por processos químicos que incluem ozônio e carbono, o produto é misturado à água pura do aquífero — o que impede que ele seque. Estima-se que a água reciclada injetada no aquífero demore até dois anos para ser utilizada novamente. Atualmente, 6% do líquido consumido na cidade é reciclado, número que deve aumentar para 15% até o fim da década. No fim de 2012 em Big Spring, uma área que viu todos os seus reservatórios secarem nos últimos anos, recebeu uma central de reciclagem que custou 12 milhões de dólares. Já em 2013, eram injetados cerca de 8 milhões de litros de água purificada por dia nos reservatórios da cidade — o uso geral da população é de cerca de 150 milhões de litros. As autoridades esperam que, até 2060, 10% da água usada pelo Estado venha de usinas de reciclagem.
Windhoek, Namíbia Reaproveitamento da água A capital da Namíbia, circundada pelos desertos da Na-
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Água preciosa
Segundo a ONU, até 2025, dois terços da população mundial enfrentarão dificuldades com a falta d’água. Mais de 1 bilhão de pessoas que moram em cidades poderão viver com menos de 100 litros por dia – limite da ONU para uma vida saudável – e mais de 3 bilhões terão falta d’água por um mês a cada ano, de acordo com um estudo na Nature Conservancy.
míbia e do Kalahari, sofre com o clima seco e a pouca água das suas fontes evapora rapidamente. O cenário de desolação, porém, fez com que fosse a pioneira no tratamento de esgoto e reúso como água potável. A água de descargas e pias começaram em 1968, a ser tratadas e misturadas à água pura dos reservatórios, que segue para as torneiras da cidade. Windhoek criou parâmetros de purificação de água, aceitos hoje pela Organização Mundial de Saúde e União Europeia. A aceitação da população veio por meio de uma longa campanha publicitária.
Zaragoza, Espanha Conscientização e metas Nos anos 1990 secas severas deixaram milhões de espanhóis temporariamente sem água. Um relatório da Comissão Europeia aponta que o maior problema no país não costuma ser a falta de chuvas, e sim “uma cultura de desperdício de água”. Zaragoza, cidade ao norte da Espanha, enfrentou o problema com uma ampla campanha de conscientização em escolas, espaços públicos e imprensa pelo uso eficiente da água e o estabelecimento de metas de redução de consumo. Dos cerca de 700 mil habitantes, 30 mil se comprometeram formalmente a gastar menos água. Houve, ainda, incentivos para a compra de apa-
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relhos domésticos econômicos (chuveiros, vasos sanitários, torneiras e máquinas de lavar louça eficientes, cujas vendas aumentaram em 15%); melhoria no uso da água em edifícios e espaços públicos, como parques e jardins; e cuidados para evitar vazamentos no sistema. Em 1997 foi estabelecida uma meta: cortar o consumo doméstico de água em mais de 1 bilhão de litros água no prazo de um ano. A meta foi plenamente atingida. De acordo com a Comissão Europeia, antes
da campanha apenas um terço das casas de Zaragoza praticava medidas de economia de água; ao final da campanha, já eram dois terços. Apesar do aumento no número de habitantes o consumo total caiu. “O projeto mostrou que é possível lidar com a falta d’água em um ambiente urbano usando uma abordagem economicamente eficiente, rápida e ecológica”, diz o 2030 Water Resources Group, consórcio que reúne ONGs, governos, ONU e empresas em busca de soluções ao uso da água no mundo.
A dessalinização adotada por muitos países como Cingapura, Israel, Inglaterra e Austrália, por exemplo, não seria em um primeiro momento, uma opção coerente para São Paulo, já que não se trata de uma cidade costeira e os custos da produção fariam com que a conta triplicasse. Seria também uma solução de longo prazo e baseada em obras. O Brasil tem um enorme patrimônio de água doce e essa seria a opção mais viável se comparada ao uso da água do mar. Ao mesmo tempo, já se fala em recorrer ao uso emergencial de água usada
(como em Cingapura, Israel, Japão, por exemplo): o governo paulista anunciou planos de construir uma Estação de Produção de Água de Reúso na zona sul de São Paulo (Veja quadro com as principais obras previstas). Quanto ao uso de água subterrânea (casos como o da Califórnia e Texas nos EUA, Cidade do México e Perth na Austrália) não é exatamente uma novidade, na verdade já é uma realidade para diversas cidades brasileiras, mas, por serem importantes reservas de água para o futuro, seu uso deve ser racional. Os especialistas afirmam
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matéria tema que temos pouco conhecimento a respeito de ENQUANTO ISSO ... nossos aquíferos. Eles precisam ser melhor estuPor aqui os especialistas concordam que não exisdados e mais bem cuidados, já que há locais em te uma saída única e rápida para a crise hídrica da que podem estar contaminados, como é o caso RMSP. Ações de prevenção e que ajudariam a evinas cidades em que os postos de gasolina comtar crises futuras demandam tempo e investimento, não apenas do governo, mas da sociedade como um prometem o solo quando seus reservatórios de todo. A seguir destacamos algumas alternativas — combustível vazam solo adentro ou no interior umas mais viáveis que outras — de soluções a curto em que uso de agrotóxicos permeiam os solos e e longo prazo para o abastecimento de São Paulo. alcançam os lençóis freáticos. Cuidar melhor de nossos mananciais seria a opção mais adequada para a realidade paulista, Implantação de um rodízio de água muito embora seja uma solução de longo prazo O rodízio do abastecimento de água é praticamene que deveria ter sido implementada há muitos te um consenso entre autoridades e especialistas: anos atrás. Para muitos especialistas, São Paulo trata-se de uma medida extrema. A interrupção e estaria avançando sobre outras fontes de água retomada do abastecimento produz golpes no sissem cuidar da água que tem disponível atualtema de distribuição o que acarreta vazamentos e maior perda de água. Além disso, a população mente. Como mostrado anteriormente, a ideia dos chamados pontos de rede, poderiam ficar sem de Nova York foi pensar nos recursos que eles água mais do que o tempo previsto, isso porque até tinham disponíveis e cuidar deles, ao invés de ina água retornar a esses pontos já seria iniciado o vestir em obras. próximo corte. Para Ivanildo Hespanhol, diretor do Em São Paulo, o governador Geraldo AlckCentro Internacional de Referência em Reúso de min, também planeja, a exemplo de Pequim, Água (Cirra), da Universidade de São Paulo, o rodízio mas guardadas as devidas proporções uma deve ser realmente a última transposição. A obra deverá alternativa, porque prejudica a interligar o Sistema CantaCuidar melhor de nossos qualidade da água. Em condireira à bacia do rio Paraíba do Sul. O projeto esbarra em ções normais de abastecimenmananciais seria a opção uma polêmica: o Paraíba do to, os tubos em carga (com mais adequada para Sul é a principal fonte de água) mantém um pressão poa realidade paulista, abastecimento do Estado do sitiva, o que impede a entrada muito embora seja uma Rio de Janeiro. O custo estide potenciais contaminantes solução de longo prazo por fissuras que possam existir mado é de R$ 500 milhões nas tubulações. “Como a rede (veja quadro). e que deveria ter sido apresenta trincas e vazamenVamos chover no molhaimplementada há muitos do, ou melhor, no seco. Mas tos, acaba aspirando a carga anos atrás. o que todos os países citados poluidora do solo. Quando a nesta matéria têm em coágua volta a percorrer esse túmum, além da escassez hídrica, é um trabalho de nel, leva as impurezas junto com ela”, explica. educação da população. Em alguns casos, como o Todavia, o diretor metropolitano da Sabesp, de Israel, a educação supera as campanhas ponPaulo Massato, afirmou, em 27.01, que, num cetuais e o valor da água é ensinado na escola. nário extremo, a companhia poderá chegar a um Ao se falar de campanhas de conscientização, rodízio “drástico” na região metropolitana: “para se pressupõe-se duas coisas: a primeira é que haja transganhar mais do que já economizamos hoje, seriam necessários dois dias com água e cinco dias sem parência sobre a realidade a ser enfrentada e a seágua”, afirmou, durante o anúncio da ampliação da gunda é que ela seja (como previsto na Constituição adutora Guaratuba para o sistema Alto Tietê. da República) de responsabilidade do poder público.
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A redução de perdas de água tratada Segundo a Companhia de Saneamento Básico de São Paulo, a Sabesp, o índice de perdas físicas (volumes de água que não são consumidos, por serem perdidos em vazamentos) da água tratada em São Paulo está em torno dos 20%. Para o programa de redução de perdas da companhia, iniciado em 2009 e que deverá ser estendido até 2020, serão investidos ao todo R$ 7 bilhões, investimento proveniente de Capacitação de profissionais do Programa Corporativo de financiamentos Redução de Perdas, realizada no do Banco NacioCentro de Treinamento da Sabesp. nal de Desenvolvimento, o BNDS (2009 a 2012) e da Agência japonesa de Cooperação Internacional, a JICA (2013 a 2020). Apesar de ser
melhor do que a média brasileira, estimada em cerca de 40%, a meta da Companhia é chegar a 16% até 2020. A principal causa de perdas são os vazamentos em tubulações, que muitas vezes acumulam décadas de uso, prejudicando o sistema. Alcançar índices menores é uma tarefa árdua e cara, isso porque implica na substituição de redes e ramais e no controle da pressão. “Mas chegamos a um ponto em que não tem de onde trazer água. A alternativa mais barata não está mais disponível”, afirma Antônio Carlos Zuffo, professor da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). É importante, no entanto, dizer que não existe perda zero. Diferentemente de outras atividades, como a indústria de produção de bens de consumo, por exemplo, no saneamento as perdas são inerentes aos sistemas de distribuição, havendo um nível de perdas aceitável por não ser economicamente viável sua redução. Assim, mesmo nos melhores sistemas do mundo, como no Japão e na Alemanha, por exemplo, as perdas físicas estão em torno de 7%; já no Reino Unido em 16%; e na França, em 26% (fonte: Swam 2011)
Novos hábitos Um erro comum é imaginar que São Paulo é uma região com farta disponibilidade de recursos hídricos. Embora o Brasil detenha 12% das reservas de água doce do planeta, a maior parte desses recursos encontra-se na região Norte do país. Especialistas dizem que a primeira coisa que deve ser feita é reduzir o consumo de água e mudar a “cultura de abundância”. Outro engano é acreditar que os grandes vilões do consumo de água potável são a indústria e a agricultura. Segundo José Carlos Mierzwa, professor do departamento de engenharia hidráulica e sanitária da Escola Politécnica da USP, “a parte de água de nossos reservatórios destinada à agricultura é irrelevante,
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apenas 3%. Para a indústria, vão outros 17% e os 80% restantes são de uso urbano”, afirma. Fechar o registro enquanto se ensaboa ao tomar banho, ou a torneira ao se escovar os dentes ou fazer a barba já é um bom começo. Mas é preciso fazer mais e evitar lavar carros com frequência ou mesmo preferir varrer a calçada com vassoura ao invés de utilizar a mangueira. A rega de plantas é outro exemplo e também deve ser feita de preferência com o regador. Ações como estas fazem parte da conscientização que deve ocorrer, segundo os especialistas, por meio de campanhas permanentes e também nas escolas em que o ensino deve incluir a educação ambiental.
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matéria tema Multa A medida que sobretaxa a conta de água para quem aumentar o consumo criou controvérsia, pois no entendimento da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB - SP) e da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste), com base na Lei Federal 11.445/07, que estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico e para a política federal de saneamento básico no país, a multa só poderia ser aplicada após o governo decretar o racionamento. Embora tenha sido inicialmente barrada na Justiça, voltou a valer a partir do dia 14 de janeiro, após o governo de São Paulo derrubar a liminar concedida pela justiça às instituições. A partir da conta de fevereiro de 2015, passam a ser cobrados 40% de multa para quem consumir até 20% a mais do que a média entre fevereiro de 2013 e janeiro de 2014. Quem ultrapassar 20% dessa média será multado em 100% sobre o gasto com água, que representa metade da conta. Os outros 50% são referentes ao serviço de coleta de esgoto. A meta do governo é reduzir 2,5 metros cúbicos por segundo de consumo. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) negou que a medida seja uma multa ao consumidor. Ele define o ônus como “tarifa de contingência”. Com a medida, a multa será aplicada da seguinte maneira: um consumidor que, em média, gasta 10 m³ de água receberá conta 20% mais cara se utilizar entre 10,1 m³ e 12 m³ em um mês. Caso gaste acima de 12,1 m³, irá pagar 50% a mais.
Bônus Entre fevereiro e outubro de 2014, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, a Sabesp,
concedeu bônus de 30% na conta de clientes que economizassem 20% ou mais de água em relação à média de consumo entre os 12 meses que vão de fevereiro de 2013 a janeiro de 2014. A medida foi adotada para estimular a redução no consumo. Desde novembro, o desconto gradual passou a ser dado para os imóveis que reduzirem o consumo entre 10% e 20%. O desconto foi prorrogado até o fim de 2015. Segundo a Sabesp, 80 % dos consumidores reduziram o consumo.
Equipamentos economizadores Outra iniciativa é trocar equipamentos hidráulicos nas residências e espaços públicos por aqueles que consomem menos água, tais como torneiras de fechamento rápido, caixas acopladas para bacias sanitárias e descargas com dupla botoeira (sólidos e líquidos). Estima-se que em torno de 70% do consumo de uma residência aconteça nos banheiros. As bacias sanitárias são ainda as grandes vilãs no consumo de água doméstico. As mais antigas foram projetadas para eliminar 20 litros de água cada vez que a descarga é acionada. Desde 1982, uma norma brasileira recomenda que os vasos usem apenas 6 litros. Hoje, praticamente só são comercializados vasos com o volume reduzido, mas existem edificações antigas que mantém ainda os velhos equipamentos. A redução de impostos sobre esses equipamentos pode ser um grande incentivo para a substituição dos mesmos nas residências.
Despoluição dos rios Tietê e Pinheiros Não é difícil encontrar alguém que não questione a utilização das águas desses dois rios da região metropolitana. Na opinião de especialistas não é, até o momento, uma opção considerada viável. Para eles, além da qualidade da água ser ruim, os rios recebem muita poluição difusa, aquela que é carregada pela chuva que ‘lava’ a cidade, contendo às vezes poluentes altamente tóxicos e até metais pesados. Já existe, porém, o Sistema Alto Tietê, que capta água perto da cabeceira do rio, com melhor qualidade, que abastece a zona Leste de São Paulo e municípios como Mogi das Cruzes, Poá e Suzano.
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Despoluição dos rios Tietê e Pinheiros
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Exploração do Aquífero Guarani Na década de 1990, o geólogo uruguaio Danilo Anton propôs o nome Aquífero Guarani para a grande quantidade de água subterrânea que identificou abrangendo partes dos territórios do Uruguai, Argentina, Paraguai e principalmente Brasil, com uma extensão total de 1.182.000 quilômetros quadrados. Algumas cidades do interior de São Paulo, como Ribeirão Preto e São Carlos, se beneficiam dessa fonte, mas ela é inviável para os moradores da metrópole, que está a mais de 200 quilômetros do ponto onde é possível captar água. Sob o solo da capital, o aquífero fica a mais de 1.000 metros de profundidade. Especialistas afirmam que a região metropolitana está sobre uma formação rochosa e, apesar de existirem alguns depósitos de água armazenados em fendas dessas rochas, a quantidade é pequena para abastecer da cidade.
Praticamente todos os mananciais que poderiam ser explorados em termos técnicos e econômicos já estão sendo utilizados. O consenso é que se protejam aqueles que estão sendo utilizados. Tratar o esgoto da população que vive próximo dos mananciais e proteger as áreas verdes restantes ao redor deles, em especial a mata ciliar, são essenciais para manter a qualidade da água. O problema com grandes obras é que levam tempo e demandam altíssimos investimentos. A água está cada vez mais longe, logo, cada vez mais cara.
Seguindo o exemplo dos países citados anteriormente nessa matéria e também a opinião de especialistas: o reúso da água é a melhor opção para resolver a crise hídrica. Trata-se de recolher a água que já foi usada e utilizá-la novamente. Há várias formas de fazê-lo: o mais simples é tratar a água que escorre pelo ralo do chuveiro ou da máquina de lavar, por exemplo, e destiná-la para fins não potáveis, como limpeza de pisos, irrigação de áreas verdes ou fontes decorativas. Mas, também, é possível purificar o que vai para o esgoto tanto para fins não potáveis como para o consumo final como alguns países já fazem. O processo pode ser reproduzido em casas, condomínios, indústrias ou, idealmente, na rede de tratamento de esgoto de uma cidade inteira. Um exemplo atual, na grande São Paulo, é o projeto Aquapolo Ambiental. Trata-se de uma parceria público-privada entre a Sabesp e a Odebrecht Ambiental dedicada à produção de água de reúso para fins industriais. A parte líquida do esgoto da estação de tratamento do ABC, localizada nos limites entre São Paulo e São Caetano do Sul, é tratada e consumida pelo polo petroquímico da região. Aproximadamente 400 milhões de reais foram investidos no projeto, dos quais a maior parte (60%) gasto com a construção da rede que leva a água por 17 quilômetros até o local onde ela é utilizada e o restante com o tratamento da água. A Sabesp também fornece água de reuso para a prefeitura que a utiliza para a limpeza urbana.
Transposição Paraíba do Sul
Filtração por membranas
O projeto do governo paulista de transferir para o Sistema Cantareira a água do Rio Paraíba do Sul, que abastece mais de 11 milhões de pessoas no Estado do Rio de Janeiro, pode fornecer 5 metros cúbicos por segundo (m³/s) a mais para o reservatório de São Paulo e abastecer de 1,5 milhão a 2 milhões de pessoas. É, aparentemente, viável, mas não resolve o problema em longo prazo. Isso porque a população cresce a cada ano e continua a consumir mais do que deveria. A preocupação, segundo os especialistas, não deveria estar em trazer mais água para São Paulo e sim o em avaliar se essa água está sendo usada de forma adequada e rever a nossa relação com ela.
A filtração por membranas é um procedimento físico de separação de partículas através de membranas semi-permeáveis. Existem 4 tipo de tecnologias, dependendo do tamanho das partículas/moléculas que têm que ser removidas: Microfiltração, Ultrafiltração, Nanofiltração e Osmose Reversa. A Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EPUSP), por meio de seu Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária (PHD) e do Centro Internacional de Referência e Reúso de Água (CIRRA), dirigido pelo prof. dr. Ivanildo Hespanhol, desenvolve pesquisas na área de uso racional da água e reúso. O
Construção de reservatórios
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Reúso
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matéria tema emprego dos processos de separação por membranas tem ganhado muita importância. Entre as principais vantagens dessa tecnologia, estão a invariável qualidade da água produzida, livre da
utilização de produtos químicos, a facilidade de automação e a necessidade de espaço reduzido. A Sabesp a tem adotado em algumas Estações de Tratamento de Esgoto.
OBRAS, PRAZOS E CUSTOS O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin divulgou em novembro de 2014 um pacote de obras avaliadas pelo governo em R$ 3,5 bilhões. No total, as obras podem levar mais de dois anos para serem concluídas.
A LIÇÃO DE CASA: MUDANÇA DE HÁBITOS Para reduzir o consumo de água, uma das providências pode ser a revisão do sistema hidráulico de casas e edifícios. Assim é possível identificar possíveis
Veja as obras previstas no pacote sugerido por Alckmin: Obra
Justificativa
Valor
Prazo
Interligação do reservatório de Jaguari (Bacia do Paraíba do Sul) ao Atibainha (Sistema Cantareira)
Aumentar a oferta no Sistema Cantareira, o mais afetado pela estiagem, captando água do Rio Paraíba do Sul. Proposta divulgada em março de 2014.
R$ 830 milhões
14 meses
Barragens Pedreira (divisa dos municípios Campinas/Pedreira, rio Jaguari) e Duas Pontes (município de Amparo, rio Camanducaia)
Construção de duas novas represas deve beneficiar mais de 5 milhões de habitantes na região das bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Proposta divulgada em maio de 2014.
R$ 760 milhões
30 meses
Sistema Adutor Regional de água bruta para as bacias do Rio Piracicaba, Capivari e Jundiaí
Levar a água dos reservatórios das barragens Pedreira e Duas Pontes para outros 14 municípios, atendendo cerca de 3 milhões.
R$ 397 milhões
18 meses
Interligação do Rio Pequeno com o Reservatório Rio Grande, na represa Billings
Aumentar a oferta de água no Sistema Rio Grande, que abastece a região do ABC, e reduzir área atendida pelo Cantareira.
R$ 500 milhões
24 meses
Estação Produtora de Água de Reúso (EPAR) para reforço do Sistema Produtor Guarapiranga
Aumentar a disponibilidade hídrica em 14% no Sistema Guarapiranga, mediante tratamento de esgoto captado na altura da Ponte Transamérica, no Rio Pinheiros, em São Paulo. Proposta divulgada em novembro de 2014.
R$ 250 milhões
12 meses
Estação Produtora de Água de Reúso (EPAR) para reforço do Sistema Baixo Cotia
Aumentar a disponibilidade hídrica em 100% do Sistema Baixo Cotia também com água de esgoto tratado. Proposta divulgada em novembro de 2014.
R$ 275 milhões
18 meses
Adutora Emergencial Jaguari-Atibaia para reforço da captação de Campinas
Aumentar a oferta de água no ponto de captação de Campinas no Rio Atibaia, em períodos de baixa vazão.
R$ 150 milhões
9 meses
Perfuração de poços em área de afloramento do Aquífero Guarani e adução para bacias PCJ
Reforçar o abastecimento em cidades da bacia Piracicaba, Capivari e Jundiaí com a perfuração de 24 poços profundos em áreas de afloramento do Aquífero Guarani, um dos maiores mananciais de água doce do mundo. Proposta divulgada em novembro de 2014.
R$ 350 milhões
24 meses
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matéria tema vazamentos. No caso de prédios, um bom método é separar os hidrômetros de cada apartamento, para determinar com mais clareza quem está gastando mais. O trabalho exige mão de obra qualificada. A segunda medida possível é a troca de peças tradicionais por modelos que economizam. Conheça equipamentos indicados: ■■ Arejador: Rosca interna adicionada à torneira que permite a passagem de água e ar ao mesmo tempo e torna a vazão constante. Em caso de torneiras de alta pressão, a economia chega a 90%. Custa em média15 reais. ■■ Torneira com fechamento automático: Fica aberta por um curto período de tempo, permitindo diminuir o consumo em 20%. Custa cerca de 135 reais. ■■ Torneira com fechamento eletrônico: Equipamento regulado por sensor, que economiza o dobro de uma torneira automática. Pode custar em torno de 400 reais. ■■ Válvula de descarga automática para mictório: Equipamento instalado em banheiros masculinos e
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que dispensa o acionamento manual. A economia é de 50% em relação a uma descarga convencional. Custa em média 135 reais. ■■ Caixa d’água acoplada a bacia sanitária: Libera apenas seis litros de água por descarga, reduzindo o consumo em 50%. Custa cerca de 110 reais. ■■ Regulador de vazão: Diminui a quantidade de água liberada pelo chuveiro. É recomendado para sistemas com aquecimento central. Economiza 60%. Custa 15 reais. ■■ Chuveiro elétrico: embora seja considerado um vilão no consumo de energia, o chuveiro elétrico apresenta um consumo de 4 litros de água por minuto contra 8,7 litros do solar (consumo 118% maior) e 9,1 litros do sistema a gás (mais 128%) e 8,4 litros do boiler elétrico (+110%). Isso deve ao fato de que a água aquece mais rapidamente em um chuveiro elétrico do que em outros sistemas. Há chuveiros de vários preços, mas é possível adquirir uma ducha ao custo de 30 reais.
Equipamento Convencional
Consumo
Equipamento Economizador
Consumo
Economia
Bacia com caixa acoplada
12 litros/descarga
Bacia VDR
6 litros/descarga
50%
Bacia com válvula bem regulada
10 litros/descarga
Bacia VDR
6 litros/descarga
40%
Ducha (água quente/fria) até 6 mca
0,19 litros/seg
Restritor de vazão 8 litros/min
0,13 litros/seg
32%
Ducha (água quente/fria) 15 a 20 mca
0,34 litros/seg
Restritor de vazão 8 litros/min
0,13 litros/seg
62%
Ducha (água quente/fria) 15 a 20 mca
0,34 litros/seg
Restritor de vazão 12 litros/min
0,20 litros/seg
41%
Torneira de pia até 6 mca
0,23 litros/seg
Arejador vazão cte (6 litros/min)
0,10 litros/seg
57%
Torneira de pia 15 a 20 mca
0,42 litros/seg
Arejador vazão cte (6 litros/min)
0,10 litros/seg
76%
Torneira uso geral/tanque até 6 mca
0,26 litros/seg
Regulador de vazão
0,13 litros/seg
50%
Torneira uso geral/tanque 15 a 20 mca
0,42 litros/seg
Regulador de vazão
0,21 litros/seg
50%
Torneira uso geral/tanque até 6 mca
0,26 litros/seg
Restritor de vazão
0,10 litros/seg
62%
Torneira uso geral/tanque 15 a 20 mca
0,42 litros/seg
Restritor de vazão
0,10 litros/seg
76%
Torneira de jardim 40 a 50 mca
0,66 litros/seg
Regulador de vazão
0,33 litros/seg
50%
Mictório
2 litros/uso
Válvula automática
1 litro/seg
50%
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Arquivo pessoal
entrevista
O presidente da Sabesp, Jerson Kelman, também é membro do Conselho Curador da Fundação Brasileira de Desenvolvimento Sustentável - FBDS, do Comitê Científico da Semana Mundial da Água em Estocolmo, da Academia Nacional de Engenharia - ANE, do Conselho Superior de Infraestrutura da Federação da Indústria do Estado de São Paulo - FIESP, da Força Tarefa sobre Segurança Hídrica da Global Water Partnership - GWP e da Organisation for Economic Co-operation and Development OECD.
O enfrentamento da crise, pela ótica do presidente da Sabesp, Jerson Kelman A partir de 10 de janeiro, o eng. Jerson Kelman assumiu a presidência da Sabesp. Com foco na atual crise hídrica, concedeu à Saneas a seguinte entrevista: tal como está ocorrendo, é de 0,4%. Ou seja, tem Saneas: Quando o senhor adverte que deveum tempo de recorrência de 250 anos. Obviamente, mos estar preparados para o pior, qual é o trata-se de uma evento raríssimo. cenário de maior temeridade? Jerson Kelman: Do ponto de vista hidrológico, o Saneas: Muitos moradores da RMSP alegam pior cenário, ao meu ver, seria algo da ordem de que não foram avisados com clareza sobre a 80% das vazões afluentes no ano passado; ou seja, gravidade dessa crise antes das eleições. E nós devemos estar preparados para que nos memuitos são contra às multas pelo uso acima ses que nos separam até dezembro ocorra alguma do padrão de consumo. O senhor avalia estas coisa ainda pior do que aconteceu ano passado. reclamações como justas? É uma hipótese extremamente conservadora. É Jerson Kelman: Embora a situação dos mananciais o pior cenário. Não deve acontecer, mas temos antes das eleições fosse ruim, a expectativa era de que estar preparados. Portanto, é essencial que se que com o início do ano hidrológico, em outubro, cumpram os prazos previstos para as obras de reesta situação se reverteria. Ainda assim, algumas forço de adução na Região Metropolitana, princimedidas preventivas foram adotadas. Por exemplo, palmente a ligação da Billings com o Sistema Alto a instituição pela Sabesp do incentivo econômico – Tietê, o reforço da Billings com o Guarapiranga o bônus – para diminuição e a ampliação da ETA ABV. do consumo. É também essencial, para é essencial que se Entendo que é preciso que não sejamos forçados que ocorra uma evolução a adotar o rodízio, que a cumpram os prazos regulatória para que numa população não esmoreça previstos para as obras situação de escassez hídrie continue economizando de reforço de adução na água como está econoca seja possível alocar a Região Metropolitana, água prioritariamente para mizando agora. Graças a principalmente a abastecimento das cidades. esse esforço, hoje estamos Uma ideia seria a Arsesp produzindo cerca de 70% ligação da Billings com permitir que a Sabesp codo que produziríamos em o Sistema Alto Tietê, condições normais. bre dos consumidores uma o reforço da Billings pequena quantia destinacom o Guarapiranga e a Saneas: Entre as causas da a um fundo de reserva ampliação da ETA ABV. da crise: condições clicriado para “indenizar” aos irrigantes localizados a matológicas, adminismontante dos mananciais tração do abastecimento pelo “não uso” da água numa situação de crise. e padrões de consumo da população, qual tem Certamente, essa solução seria bem menos customais peso em sua escala de valores? Jerson Kelman: Sem dúvida nenhuma as condisa para os clientes da Sabesp do que trazer água de locais cada vez mais distantes. ções climatológicas são as mais relevantes. A atual Sobre a cobrança extra para quem consoafluência ao Sistema Cantareira é disparada a pior da história. A probabilidade de acontecer a seca, me acima da meta, trata-se de uma maneira
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entrevista indireta de sinalizar que os direitos individuais do consumidor não podem se sobrepor ao direito coletivo à segurança hídrica, nos limites impostos pelas condições naturais. Saneas: Como será o processo de articulação de informações sobre a crise hídrica com mais transparência? Jerson Kelman: O site da Sabesp já publica diariamente um boletim sobre a situação dos mananciais e as áreas e horários em que é feita a gestão da pressão. Apesar disso, tive notícia de algumas reclamações sobre a maneira de informar o estoque de água nos reservatórios do Sistema Cantareira. Para clarificar ainda mais esse assunto, determinei que o percentual de armazenamento fosse expresso como percentual do volume útil, como vem sendo feito, e também como percentual do volume total, que é o volume útil mais a reserva técnica. No comitê de gestão da crise de energia elétrica de 2001, aprendi que só é possível alcançar a solidariedade da população quando se é transparente. Tenho firme convicção que esse deve ser o comportamento da Sabesp. Saneas: Em relação ao risco da reserva técnica do Sistema Cantareira ser esgotada, quais são as principais medidas atualmente trabalhadas para garantir os níveis de abastecimento em um futuro próximo? Jerson Kelman: É preciso a todo custo evitar que os reservatórios fiquem completamente vazios. Atualmente, estamos retirando 14 m³/s do Sistema Cantareira, em lugar da retirada normal de 32 m³/s. Portanto, uma redução de 18 m³/s ou 56%. Trata-se de um esforço significativo, muito mais intenso do que o realizado no ano passado. Planejamos retirar menos ainda nos próximos meses, quando os sistemas produtores do Alto Tietê e do Guarapiranga estiverem em condições de socorrer mais ainda o Cantareira. A simulação da evolução do estoque ao longo de 2015 - supondo um cenário conservador para as afluências e levando em consideração o cronograma de obras emergenciais de 2015 que permitirá a redução da vazão no túnel 5 – revela que, nessas condições, o rodízio seria
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desnecessário. É claro que se as obras atrasarem ou se a natureza nos oferecer uma hidrologia ainda pior do que a adotada no cenário, tudo muda. Dito isso, apesar do rodízio se configurar como um evento de baixa probabilidade, temos que estar preparados para a sua ocorrência. Nesse sentido, a Metropolitana já identificou cerca de 300 pontos críticos – tipicamente grandes hospitais, penitenciárias e centros de hemodiálises - que não podem ser submetidos ao rodízio por razões óbvias. Por precaução, há um intenso trabalho sendo realizado para que estes locais possam não ser submetidos ao improvável rodízio. Saneas: Os engenheiros da Sabesp têm sofrido algumas tentativas de desmoralização na mídia (ex: um artigo do jornal O Estado de São Paulo insinuou que seus engenheiros não passariam num exame de avaliação do ensino médio). Qual o nível de confiança que o senhor deposita no corpo técnico da Companhia? Jerson Kelman: Tenho uma longa carreira administrando diferentes instituições em que o corpo técnico desempenha papel relevante. Quero dizer que estou muitíssimo bem impressionado com a qualificação técnica dos profissionais da Sabesp. Não é por sorte, e sim por competência, que a Sabesp é empresa líder em saneamento da América Latina. Saneas: Existem rumores que se estuda a privatização da Sabesp. Eles têm fundamento? Jerson Kelman: O Governo de São Paulo detém 51% das ações da Sabesp. Ou seja, é o acionista controlador. Não tenho nenhuma notícia de que tenha intenção de se desfazer deste controle.
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Foto: Ricardo Ribeiro
Ponto de Vista
Eng. Alceu Guérios Bittencourt Presidente da ABES Seção São Paulo
Eng. Carlos Alberto Amaral de Oliveira Pereira Diretor Técnico da Cobrape
O ABASTECIMENTO DA MACROMETRÓPOLE PAULISTA E A CRISE HÍDRICA Por Alceu Guérios Bittencourt e Carlos Alberto Amaral de Oliveira Pereira O cenário da crise hídrica que se abateu sobre meiro estudo de abastecimento integrado feito a Região Sudeste do Brasil e suas repercuscom tal abrangência territorial, e que vem sensões para os sistemas de abastecimento de do usado como referência para a discussão de água da RMSP e de importante parcela do inmedidas para enfrentamento da crise de escasterior do estado devem estimular a reflexão a sez hídrica, buscando avaliar como os efeitos da respeito de um dos mais complexos e multifacrise alteram as conclusões e proposições aprecetados problemas a serem enfrentados pelos sentadas pelo Plano, e de que modo condiciogovernos estadual e municipais de São Paulo: nam o planejamento daqui para frente. a garantia do abastecimento de água, em voDe partida, pode-se afirmar que a água nessa região está mais cara. A ocorrência, a lume e qualidade, a uma população crescente partir de dezembro de 2013, de registros de e às atividades econômicas que tendem a se precipitações e de vazões afluentes aos maexpandir. A água, todos sabemos, é essencial não somente à vida, mas também à indústria, nanciais significativamente inferiores aos vaao agronegócio, ao comércio e aos serviços, lores mínimos até então verificados fez alteraou seja, é um insumo indispensável ao bem rem-se todos os padrões de dimensionamento. estar, ao processo de desenPara uma mesma demanda será necessária maior capacivolvimento econômico e à A elevação do custo ampliação dos rendimentos dade de agora em diante. da água cria forte das famílias. Por outro lado, a crise, estímulo, aliado à O enfrentamento da crise além de obrigar a antecimobilização que a mobilizou esforços exceppação de investimentos e a crise provoca, às adoção de outros não previscionais da Sabesp, dos servivárias ações que ços municipais e dos govertos, traz uma série de alteraproduzem economia nos nos três níveis, que têm ções nas condições que fopossibilitado a manutenção ram consideradas pelo Plano. do abastecimento, ainda que com restrições. A partir da mudança de hábitos de consumo: É lógico que neste momento as ações de curmuito do aprendizado de uso racional pela poto prazo concentrem as energias de todos, pulação permanecerá, e a adoção de equipamas não se deve perder de perspectiva o dementos economizadores e de medição indivisenvolvimento de uma estratégia de longo dual em condomínios será acelerada. Também prazo vinculada à segurança hídrica de uma a adoção de técnicas de menor consumo na região que participa de forma expressiva na indústria e na agricultura será intensificada. composição do PIB Nacional. A elevação do custo da água cria forte Neste texto apresenta-se um resumo do estímulo, aliado à mobilização que a crise Plano Diretor de Aproveitamento de Recursos provoca, às várias ações que produzem ecoHídricos para a Macrometrópole Paulista, o prinomia e preservação de fontes existentes,
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PONTO DE VISTA e reduzem a demanda por novas. Entre essas, destacam-se a redução de perdas nos sistemas de abastecimento, o combate a fraudes, o tratamento de esgotos e outras ações de despoluição, a preservação e recuperação de mananciais e o estímulo ao reúso e ao aproveitamento primário de águas de chuva, por residências, estabelecimentos comerciais, indústrias e agronegócio. A crise deverá ainda estimular a necessária evolução para uma efetiva gestão integrada do uso dos recursos hídricos, o que também aponta para maior eficiência no uso dos sistemas existentes. Particularmente, deverá ocorrer a há tanto tempo necessária revisão da relação do setor elétrico com os demais usuários, o que trará maior prioridade ao abastecimento humano, como legalmente previsto. Resumidamente, pode-se afirmar que diversos fatores de economia e racionalização deverão resultar em menores demandas efetivas, com relação ao considerado anteriormente pelo planejamento. Por outro lado, a capacidade para assegurar o aten-
dimento a uma determinada demanda terá que ser maior do que o anteriormente considerado.
O Plano da Macrometrópole O Governo do Estado de São Paulo desenvolveu, no período entre 2008 e 2013, o Plano Diretor de Aproveitamento de Recursos Hídricos para a Macrometrópole Paulista, que ficou a cargo das Secretarias de Saneamento e Recursos Hídricos, de Planejamento e Desenvolvimento Regional e de Meio Ambiente. O Plano, contratado pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), pautou-se pelos conceitos de segurança hídrica e aproveitamento integrado de recursos hídricos. Foram estudados cenários de desenvolvimento econômico sustentável, para um horizonte de planejamento de 2035, realizando uma minuciosa análise da situação, atual e futura, das disponibilidades hídricas, da evolução das demandas e das alternativas para o equacionamento do suprimento de água bruta.
Hidrografia Principal da Macrometrópole
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PONTO DE VISTA Demandas 2008 - por Tipo de Uso da Água e por UGRHI Envolvida
O território da Macrometrópole, estudado de acordo com o recorte apresentado na ilustração a seguir, abrange uma área aproximada de 52 mil quilômetros quadrados, com uma população superior a 30,8 milhões de habitantes, distribuídos em 180 municípios, que demandava, em 2008, uma vazão da ordem de 223 m3/s para o atendimento ao conjunto das necessidades para o abastecimento urbano, a indústria e a agricultura irrigada. A gestão dos recursos hídricos na região é atribuída a 8 UGGRHI – Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos: Paraíba do Sul; Litoral Norte; Piracicaba/Capivari/Jundiaí – PCJ; Alto Tietê; Baixada Santista; Mogi Guaçu; Tietê/Sorocaba; Ribeira de Iguape e Litoral Sul. As análises evidenciaram que a configuração das estruturas hidráulicas na região da Macrometrópole hoje existente não dispõe de capacidade para, no médio e longo prazos, suprir as vazões necessárias ao atendimento do aumento da demanda projetada, especialmente na ocorrência de situações – como a que atualmente atravessamos – hidrologicamente desvaforáveis. O estudo estimou, em um cenário tendencial, uma demanda de recursos hídricos da ordem de 283 m 3/s em 2035, ou seja, um acréscimo da ordem de 60 m3/s, distribuídos nas UGRHIs, conforme a tabela acima. O Plano Diretor fez uma profunda e meticulosa análise das alternativas existentes e recomendou soluções que compreenderam, entre outras, a adoção de um programa de controle e redução de perdas, a implantação de ações de gestão e controle operacional de demandas e o estímulo ao reúso de água. Mas isso não basta para o atendimento às demandas futuras. O estudo mostrou, claramen-
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te, através da modelagem matemática do balanço hídrico regional, a necessidade da ampliação da capacidade de reservação de água bruta, mediante a implantação de projetos de novos sistemas produtores de água e de instalação de dispositivos hidráulicos que aumentem a confiabilidade e a flexibilidade operacional do sistema.
Curvas de Projeção da Demanda Total nos Cenários Tendencial, com Ações de Gestão e Controle Operacional das Demandas e com intensificação do Crescimento Brasileiro
Para a expansão dos sistemas, o Plano da Macrometrópole propôs 10 arranjos alternativos de investimentos, resultantes da combinação da utilização de diferentes fontes de suprimento hídricos. Essas alternativas, apresentadas na tabela a seguir, garantem o suprimento hídrico previsto no cenário tendencial para o ano de 2035, e, a preços de 2012. Os orçamentos variaram entre R$ 4,6 bilhões e R$ 10,8 bilhões, a preços de dezembro de 2012, de acordo com a maior ou menor complexidade das obras que compuseram cada uma das soluções selecionadas.
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PONTO DE VISTA Demandas Médias Atendidas por Arranjo (m3/s)
A Agenda Institucional No decorrer dos estudos, ficou fortemente caracterizado que o aumento da relação demanda/oferta hídrica provocará uma ampliação das disputas e dos conflitos pelo uso dos recursos hídricos. De modo geral, os conflitos tendem a se intensificar a partir de fenômenos que possuem diferentes raízes, entre as quais: a ampliação da concentração populacional, os processos de uso e ocupação de solo – especialmente os conduzidos sem bases técnicas, observados em territórios de contribuição de mananciais de abastecimento; os déficits de saneamento básico, particularmente os índices de perdas nos sistemas públicos e privados de abastecimento de água e a cobertura dos serviços de tratamento de esgotos sanitários; a destinação inadequada de resíduos sólidos; entre outros.
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A identificação desses conflitos e de seus potenciais equacionamentos constituiu fator fundamental para que o Plano Diretor da Macrometrópole também direcionasse as suas abordagens para o processo de gestão dos recursos hídricos na região. A grande quantidade de pontos de captação nessa região, em situação de relativa escassez hídrica e crescentes demandas, configura uma dinâmica e complexa situação que para ser administrada exige um aparato institucional e técnico ainda a ser viabilizado política e financeiramente. De um lado, o Plano Diretor da Macrometrópole traçou alternativas de possíveis arranjos institucionais, capazes de articular os principais atores envolvidos e de formular e pactuar soluções para os problemas de gestão das disponibilidades e demandas hídricas regionais. Por outro lado, qualificou os instrumentos
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Ponto de Vista de gestão requeridos, envolvendo estudos hidrológicos, balanços hídricos, cenários de desenvolvimento regional, estimativas de custos e benefícios, planos de contingência em escala regional, sistemas de monitoramento e avaliação por indicadores, sistemas de suporte às decisões, etc.. Nesse novo ambiente institucional, estariam reunidas as condições para o enfrentamento e o encaminhamento de deliberações a respeito de questões tais como: ■■ a necessidade e a localização de novos mananciais para fazer frente ao aumento da demanda, na medida em que recentes períodos críticos de chuvas demonstraram o grau crescente de riscos do atual sistema de abastecimento, quando da ocorrência de estiagens mais prolongadas; ■■ a incorporação de formas diferenciadas de gestão das demandas, com vistas à racionalização e à maior eficiência na utilização de recursos hídricos e da aplicação de tecnologias voltadas ao reúso de águas; ■■ uma abordagem diferenciada de problemas relacionados à proteção dos mananciais da Macrometrópole, tal como iniciado pelos Programas Guarapiranga, Tietê e Manancias, implementados com financiamentos do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento, com a delimitação das áreas de mananciais e a elaboração dos respectivos PDPA – Planos de Desenvolvimento e Proteção Ambiental. ■■ a ampliação da coleta e do tratamento de esgotos, a fim de reduzir a poluição dos cursos d’ água, ampliando-se as expectativas de melhorias substantivas de promoção da qualidade de mananciais, submetidos a elevadas cargas de poluição, pontuais e difusas, como, por exemplo, as represas Billings e Baixo Cotia e diversos outros aproveitamentos de menor porte no interior do território da Macrometrópole; ■■ a importância de integração efetiva da gestão da quantidade e da qualidade dos recursos hídricos das UGRHIs sob análise e, particularmente, de promover a articulação entre a gestão dos recursos hídricos com o ordenamento territorial e o planejamento urbano, com a aplicação de instrumentos para o controle do uso e da ocupação do solo;
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■■ a introdução de instrumentos mais sofisticados para estudos de balanço hídrico e apoio às discussões sobre concessões e renovações das outorgas de direito de uso da água; ■■ a densificação da rede de monitoramento hidrométrico e de qualidade da água, permitindo a configuração de uma base de dados mais representativa da região e melhores condições para o processo de alocação de águas, principalmente na ocorrência de eventos críticos; ■■ a pactuação dos planos de contingência, de âmbito regional, articulando atribuições e responsabilidades entre os principais atores envolvidos; ■■ a promoção de canais de comunicação com os municípios inseridos na região, com as Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos – UGRHIs, com outros estados da Federação e com as instituições integrantes do Governo Federal com atribuições vinculadas aos recursos hídricos da Macrometrópole paulista. ■■ a utilização, o monitoramento e a regularização das outorgas relativas aos aproveitamentos de mananciais subterrâneos, na medida em que, atualmente, estima-se que na RMSP cerca de 10 m3/s sejam extraídos de mais de 8.000 poços, muitas vezes, sem o devido registro e fiscalização.
O Planejamento pós-crise O planejamento tem que ser dinâmico, adaptando-se sempre ao contínuo mudar de condições em que evolui a vida em sociedade. A severa crise que se está enfrentando força que os instrumentos de análise e previsão sejam revisados, de modo a apontar as opções mais econômicas, que atendam adequadamente às necessidades de fornecimento de água a essa importante região, que concentra a maior parte da população e da produção do estado. Estudos detalhados apontarão com mais precisão as melhores opções, mas, como citado ao início, pode-se preliminarmente afirmar que uma série de mudanças de condições e estímulos deverão promover ações que reduzam a necessidade efetiva de novas fontes, como a mudança de padrões de consumo, o uso racional, o aproveitamento de águas pluviais, o réuso, a redução de perdas, o combate
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Ponto de Vista a fraudes, o tratamento de esgotos, a preservação de mananciais e a melhor alocação, como efeito do avanço da gestão integrada dos recursos hídricos. Isso indica que as demandas efetivas na Macrometrópole nos próximos anos deverão evoluir em algum espaço intermediário entre o cenário tendencial e o de ações de controle operacional. Em direção contrária, no entanto, a mudança da referência de dimensionamento, e a evidência da acentuação dos eventos extremos no clima, indicam a necessidade de maior capacidade de reserva. Em uma primeira aproximação, pode-se dizer, então, que os efeitos contrários se compensam, e que as conclusões e proposições do Plano da Macrometrópole continuam aplicáveis. A mais abrangente delas é a verificação de que essa região possui fontes de água superficiais suficientes para atender às necessidades adicionais, em qualquer horizonte de planejamento visível, desde que se faça a gestão integrada de seu aproveitamento. As fontes superficiais são a base para o atendimento dos acréscimos de demanda. As demais, subterrâneas, de reúso, e economias por redução de consumo, redução de perdas e fraudes, e outras, serão complementos importantes. A mesma constatação vale para a macrorregião que abrange a Macrometrópole paulista, o estado do Rio de Janeiro e o sul de Minas Gerais, que tem suficientes vazões regularizadas para atender as demandas projetadas, e, caso seja necessário, tem condições de ampliação das vazões regularizadas disponíveis. Outra conclusão importante é a necessidade de ampliação da reservação de água bruta na região, particularmente nas bacias do PCJ. Essa região, severamente atingida pela crise atual, teria plenas condições de atendimento se dispusesse de capacidade de regularização de vazões, o que poderá ser provido pelas represas de Pedreiras e Duas Pontes, e respectivo sistema adutor regional, cuja implantação já foi definida pelo Governo Estadual. Em consequência das constatações acima, a discussão da renovação da outorga do Sistema Cantareira deverá mostrar que, atendidas as necessidades das bacias do PCJ e das parcelas das bacias formadoras do Cantareira no estado de Minas Gerais, não há porque deixar de utilizar a máxima capacidade do Sistema Cantareira para abastecer a RMSP, o que
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se mostra a mais econômica alternativa para a operação da região, providas as condições de gestão integrada indispensáveis à melhor utilização dos recursos hídricos regionais de agora em diante. As simulações mostram a necessidade, após 2020, de um novo grande sistema provedor de água bruta para a região. As opções estudadas apontam para transposições de bacias, do rio Juquiá, da represa do Jurumirim, ou da bacia do Paraíba do Sul, como as mais viáveis. De todo modo, como um grande sistema costuma consumir de cinco a dez anos para ser implantado, é necessário dar início imediato à discussão sobre as opções e aos trabalhos de estudos de viabilidade e projetos básicos das alternativas mais adequadas. Em complemento, constatado claramente o aumento do valor da água para abastecimento, os estímulos econômicos ao uso racional e ao combate aos desperdícios deverão ser potencializados por políticas públicas que estimulem a gestão de demandas, a redução de perdas, o uso racional, o reúso, e a alocação mais eficiente dos recursos hídricos. Pela mesma lógica, deverão ser promovidos o tratamento de esgotos e a preservação de mananciais, até agora colocados em segundo plano pela sociedade, como mostrou a falta de reação à recente invasão e destinação a ocupação habitacional de uma das últimas áreas remanescentes com cobertura vegetal nos mananciais da zona sul da RMSP. A crise vem sendo enfrentada por um conjunto de medidas, desde ajustes operacionais, a aproveitamentos de grande porte, como o Sistema Produtor São Lourenço, as barragens Duas Pontes e Pedreira, e o sistema adutor do PCJ e a interligação Jaguari – Atibainha. Outras intervenções e políticas públicas de promoção de ações de economia e eficiência terão que ser discutidas nos próximos meses e anos. É necessário que essa discussão seja feita amplamente com a sociedade, a partir dos Comitês de Bacia e de todo o Sistema de Gestão de Recursos Hídricos, com os poderes dos municípios e estados envolvidos e com a União, particularmente a Agência Nacional de Águas, de modo a estabelecer as bases de um planejamento justo e equilibrado, capaz de assegurar a segurança hídrica e as condições de desenvolvimento de toda essa importante região.
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Saboó: 50 anos de história e de bons serviços Em um bairro, localizado em parte na zona central e noutra parte na zona noroeste da cidade de Santos, é que está localizada uma importante área da Unidade de Negócio da Baixada Santista da Sabesp, a Divisão de Manutenção e Eletromecânica ou simplesmente Saboó. O nome popular, Saboó, tem relação com o bairro onde a unidade fica. De origem indígena, significa “pouca vegetação”, em decorrência da vegetação escassa da encosta dos morros da região. Esta unidade tem um importante motivo para celebrar o início de 2015, pois no último mês de fevereiro completou 50 anos. Sua criação antecede a da própria Sabesp (oficialmente criada em 1º de novembro de 1973, pelo então governador Laudo Natel, a partir da fusão de oito empresas) e data de 1965, como parte do Departamento de Obras Sanitárias da Secretaria de Serviços e Obras Públicas do Estado. Em 1969, passou a pertencer à Companhia de Saneamento Básico da Baixada Santista (SBS), por meio de Decreto Estadual 50.770, de 13/11/1968. Para se ter ideia da importância da Saboó é preciso saber o que ela faz e como funciona. A unidade tem como missão garantir o perfeito funcionamento
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de todo o sistema de saneamento da Baixada Santista, seja por meio de manutenções preventivas ou por meio de manutenções corretivas. As sub-áreas da unidade e suas respectivas atividades macro são: ■■ Cloração: combate a vazamentos de cloro, em situações de emergências, desenvolvimento de projetos e confecção de peças para sistemas de cloração; ■■ Mecânica: manutenção e recuperação de equipamentos de bombeamento, válvulas, comportas, redutores, dosadores, aeradores etc, em captação, distribuição e tratamento de água e esgoto nos nove municípios que compõe a Baixada Santista; ■■ Elétrica: tem como atribuições manter e corrigir o sistema de funcionamento e bombeamento de
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história
todas as unidades operacionais (captações, tratamento de água e esgoto, EEE, EEAs, Boosters etc); ■■ Instrumentação: atua na área de qualidade e de produção, no tratamento de água e no de esgoto, com instalações e manutenções preventivas e corretivas em equipamentos analíticos, como por exemplo, analisadores de cloro, flúor/cor, PH e turbidímetros, reservatórios, adutoras e VRPs (Válvula Reguladora de Pressão); ■■ Radiocomunicação: faz as instalações e manutenções em rádios de viaturas Sabesp, em rádios modem, em instalações de estações de água e esgoto,
tanto para comunicação, como para monitoramento remoto; ■■ Automação: área mais recente da unidade foi formada pela necessidade de desenvolvimento tecnológico e é onde se realiza o treinamento de profissionais para atuarem no serviço; ■■ Controle de Energia Elétrica: recebe todas as contas da concessionária e realiza estudos de demanda e controle. Colaboração: Miriam Santiago Santos (Analista de Gestão da RS)
artigo técnico Erivaldo da Rosa Lima Formado em Engenharia de Controle e Automação, cursando pósgraduação em redes e telecomunicações, trabalha na Sabesp há 13 anos sempre na área de manutenção eletromecânica, atualmente exerce a função de encarregado de manutenção elétrica.
AUTOMAÇÃO NO CONTROLE DE PRESSÃO EM BOOSTERES E VRPs EM TEMPO REAL COM O PONTO CRÍTICO UTILIZANDO SISTEMA GPRS, REDUZINDO PERDAS E CONSUMO DE ENERGIA Por Erivaldo da Rosa Lima RESUMO Nas circunstâncias atuais distribuir água para a população não é o suficiente, é necessário efetuar o controle no abastecimento, evitando excessos de pressão ou falta de água. Para auxiliar nesse controle é utilizado à automação e software supervisório, estabelecendo parâmetros operacionais a fim de manter o sistema pressurizado de acordo com faixas de horários. Utilizando o controle por malha aberta, ou seja, bombear a água em função da pressão de recalque utilizando o booster ou reduzir a pressão de água em função da jusante da VRP, não garante o controle de pressão no ponto crítico. Baseado nesse modelo de controle, a Divisão Eletromecânica Leste iniciou o projeto de monitorar o ponto crítico, obedecendo ao critério de controle de malha fechada, garantindo o abastecimento. Atendendo os requisitos de inovações tecnológicas, implantou conversores de frequência em boosteres e atuadores elétricos em VRPs utilizando os recursos técnicos do CLP (Controlador Lógico Programável), sendo todo o sistema controlado e supervisionado remotamente pelo COD_Leste, tornando possível realizar a automação de sistemas de saneamento. A transmissão dos dados entre o Booster ou VRP e seus pontos críticos são realizados via sistema celular utilizando o sistema GPRS, com redução de perdas nos setores implantados.
INTRODUÇÃO Para garantir a distribuição de água de forma controlada a Unidade de Negócios Leste-ML por meio da Divisão Eletromecânica Leste - MLLN instalou monitoramento nos pontos críticos de boosteres e VRPs (válvulas redutoras de pressão).
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Para que o sistema de abastecimento de água na distribuição atinja o objetivo final (consumidor) com melhor eficiência operacional, foi necessário utilizar recursos tecnológicos como conversores de freqüência, CLPs (Controladores Lógicos Programáveis), Sistema de Supervisão e Controle e Monitoramento do Ponto Crítico.
OBJETIVO Com o objetivo de reduzir as perdas de água no sistema de distribuição e o consumo de energia elétrica em Boosteres (Unidades de Reforço para Bombeamento de Água), foram realizadas inovações tecnológicas. Os Boosteres e VRPs utilizavam controle de pressão por meio do recalque e jusante chamados controle de malha aberta, ou seja, controlando a pressão, mas não garantindo excesso ou falta de pressão. Assim foi implantado o monitoramento em tempo real do ponto crítico, para controle do sistema utilizado no abastecimento.
MATERIAIS O primeiro conversor de freqüência instalado na Unidade de Negócios Leste-ML foi no ano de 1997 com mão-de-obra própria, em um Booster de 7,5 CV, com controle de pressão fixo. Em 2007, foi realizada a instalação de conversores de freqüência em todos os boosteres da ML. Em 20 VRPs foram instalados atuadores elétricos para controle de pressão e painéis com CLP energizados e transmissão de dados via celular utilizando o sistema GPRS. Para melhorar o controle foram instalados painéis de monitoramento de pressão nos pontos críticos e transmitidos os dados em tempo real via sistema celular utilizando a tecnologia GPRS para o ponto de abastecimento.
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artigo técnico METODOLOGIA A partir do momento que se tornou inviável o acompanhamento in-loco (nos locais) do sistema de abastecimento para cada setor, foi adotado o DOA (Diretrizes Orientadoras para Automação), participação ativa em grupos de automação e comissão de quadros elétricos ministrados pela Unidade Corporativa de Tecnologia atualmente TOE, e cursos voltados para aplicação de conversores de freqüência e CLP (Controladores Lógicos Programáveis) utilizando sistema de controle por variáveis de processo. Inicialmente para a implantação do sistema de automação de sistemas de saneamento, foi priorizados o monitoramento das pressões e o controle on-off (liga/desliga) de bombas remotamente. À medida que foi evoluindo a tecnologia fomos aplicando, sempre buscando inovação de mercado, a aplicação dos conversores de freqüência foi possível atingir grandes resultados. Com a parceria entre a Manutenção e a Operação foi estabelecido limites de controle de operação dos sistemas de abastecimento. Uma vez que o modelo exato de um sistema físico nunca se acha disponível, as características dos sistemas físicos de controle em malha fechada devem ser razoavelmente insensíveis aos parâmetros do modelo matemático usado no projeto do sistema. Além disso, as características físicas de um processo possivelmente mudarão com o tempo e as condições ambientais como temperatura, unidade e
altitude. O sistema de controle por malha fechada tornou-se viável, visto que o sistema transmite em tempo real os dados do último ponto atendido, ao chegar às informações o sistema compara com o valor desejado e faz o ajuste no sistema de acordo com o tempo de resposta, reduzindo perdas e consumo de energia.
RESULTADOS Os resultados obtidos na redução no consumo de energia elétrica atingem 33% a menos de kW comparado antes e um mês depois da ação, transformando em moeda nacional, equivale uma economia de 15 mil reais por mês, conforme gráfico na figura 1.
Figura 1: Gráfico comparativo de Redução no Consumo de Energia
Os índices de perdas foram reduzidos para 15% nos setores atendidos pelos Booster.
Figura 2: Gráficos de controle antes e após controle pelo ponto crítico
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artigo técnico
Figura 3: Tela da VRP e Gráfico com o controle pelo ponto crítico
Houve também melhoria nos gráficos de controle conforme figura 2. Os índices de perdas foram reduzidos para 46% nos setores atendidos pela VRP Bahe Macedo no setor de Suzano, houve também melhoria nos gráficos de controle conforme figura 3. Um grande resultado obtido não-mensurável que é necessário ressaltar, foi o aumento na satisfação pessoal e o ganho no capital intelectual que toda a equipe conseguiu obter.
que poderão reduzir as potências dos motores, favorecendo a redução no consumo de energia e sistemas subaproveitados.
CONCLUSÃO Para garantir a sustentabilidade e caminhar para a universalização do saneamento ambiental, contribuímos em utilizar os recursos que já havia na Unidade, como por exemplo, os painéis de controle e supervisão, aplicando os conversores de freqüência, reduzindo o consumo de energia e as perdas de água no sistema de distribuição, pois estes recursos estão cada vez mais escassos, e com isso obtivemos uma grande eficiência operacional. Portanto podemos chamar esse projeto de Projeto Sustentável, visto que estamos enviando a água na medida certa, evitando altas pressões e falta de água.
RECOMENDAÇÃO Para a melhoria futura nesse projeto, é recomendável utilizar o controle por ponto crítico dos setores como parâmetro operacional e redimensionar os boosteres e setores de alta pressão, visto
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artigo técnico Ivone Dias Sato Tecnóloga em Processamento de Dados pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, Especialista em Análise de Sistemas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Mestranda em Engenharia de Produção pela Universidade Nove de Julho (UNINOVE). Atualmente é professora do ensino superior da Universidade Nove de Julho e analista de gestão da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP). Rosangela Maria Vanalle Engenheira de Produção Química pela Universidade Federal de São Carlos, Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Doutora em Engenharia Mecânica/EESC pela Universidade de São Paulo e pós-doutorado pela Universidad Complutense de Madrid. Atualmente é professora pesquisadora da Universidade Nove de Julho (UNINOVE). Wagner Cezar Lucato Engenheiro Mecânico pela Escola de Engenharia Mauá, Economista pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul, especialista em Comércio Exterior pela Fundação Getúlio Vargas SP, Mestre em Administração de Empresas pela Universidade Guarulhos, Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Metodista de Piracicaba. Atualmente é professor pesquisador da Universidade Nove de Julho (UNINOVE) e sócio gerente da Profit Providers Consultores Associados SC Ltda.
INOVAÇÃO NO PROCESSO DE COBRANÇA DE CRÉDITOS VENCIDOS EM SANEAMENTO: O CASO DOS NÚCLEOS DE BAIXA RENDA Por Ivone Dias Sato, Rosangela Maria Vanalle, Wagner Cezar Lucato RESUMO A recuperação de créditos vencidos é um desafio para todas as empresas prestadoras de serviços e para que este processo cumpra sua missão de cobrar e recuperar receita financeira, todas as tarefas devem ser estruturadas adequadamente, visando alta produtividade e recuperação financeira efetiva. No setor público de saneamento, a busca por soluções inovadoras no processo de cobrança para a recuperação de crédito tem sido baseada em projetos que alcançam dois resultados relevantes: o gerenciamento e recuperação de créditos vencidos e a manutenção da carteira de clientes, pois o inadimplente é um ex-cliente, que ao resolver suas pendências pode voltar a ser um consumidor dos produtos e serviços da empresa. O controle da evasão de receitas e da inadimplência é um fator determinante para o equilíbrio econômico-financeiro das organizações, porém é necessário o desenvolvimento de operações e processos sustentáveis junto com a sociedade e comunidades para as quais os produtos e serviços são destinados, efetivando, o equilíbrio social. Neste contexto, o objetivo deste estudo é demonstrar que a mudança dos processos convencionais de cobrança, principalmente em núcleos de baixa renda, é fundamental para que melhores resultados sejam alcançados tanto em termos de recuperação financeira como para recomposição da base de clientes.
INTRODUÇÃO O Brasil é o país com a maior disponibilidade de água doce do mundo, mas São Paulo tem reservas escassas. O Estado de São Paulo, que ocupa 2,4% do território nacional, detém cerca de 20% da população e é responsável por mais
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de um terço do PIB brasileiro, tem apenas 1,6% da água. Por essa razão, cuidar dos recursos hídricos é estratégico. (GESP, 2011) Segundo Oliveira et al. (2011), a situação do saneamento brasileiro é trágica. Somente 44% da população brasileira têm acesso à rede de esgotamento sanitário e 78,6% tem acesso à água tratada. Do total de esgoto gerado, apenas 29,4% é tratado. 107 milhões de brasileiros não têm acesso à rede de esgotamento sanitário, 134 milhões não têm os esgotos de suas casas tratados, 40 milhões não têm acesso à água tratada e 8 milhões nem sequer têm banheiro. Outro fator determinante para o setor é o tema perdas, pois os índices de perdas elevados são conseqüência de uma infra-estrutura física de má qualidade e, também, de uma deficiente gestão dos sistemas. (SNIS, 2008) De acordo com o GESP (2011), existem dois tipos de perdas: ■■ reais: são aquelas decorrentes de vazamentos da tubulação. ■■ aparentes: são aquelas provocadas por erros de medição de volumes, fraudes e erros comerciais. Os prejuízos, neste caso, são de ordem financeira, uma vez que há consumo e não há faturamento. Segundo Moraes et al. (2007), a perda aparente num Sistema de Abastecimento de Água é a incapacidade da organização (operadora do sistema) de contabilizar a água disponibilizada para os usuários. Os fatores que provocam tal incapacidade são: (i) falha do cadastro comercial; (ii) falha na sistemática de faturamento e cobrança; (iii) problemas no parque de hidrômetros; (iv) imprecisão nas medições; e (v) política de combate à fraude e ligações clandestinas ineficientes.
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artigo técnico Relacionado ao tema perdas está o conceito de sustentabilidade que, atualmente, está no dia-a-dia das empresas que atuam no mercado, sejam elas de pequeno ou de grande porte. Segundo Labodová (2004), tornar um empreendimento sustentável significa diminuir o impacto de uma companhia de maneira economicamente viável, utilizando abordagens preventivas em conjunto com princípios de melhoria continua. Fresner e Engelhardt (2004) destacam três dimensões nas quais as empresas devem focar: a social, a ecológica e a econômica, que complementam o conceito de Labodová. No caso do saneamento, a sustentabilidade envolve a busca do equilíbrio entre a eficiência econômica (redução da inadimplência e da evasão de receitas) e a função social do serviço prestado (a água consiste em um bem essencial para a vida e a dignidade humana). Com relação às perdas aparentes ligadas a faturamento e cobrança, para Zschornack et al. (2010), não é de hoje que a inadimplência tem se mostrado como um problema crônico das empresas públicas, pois os mecanismos de cobrança se limitam ao que a lei permite. Além do mais, os próprios órgãos públicos são grandes devedores, o que inviabiliza um procedimento de cobrança padrão. Ainda segundo Zschornack et al. (2010), em muitos casos, a concessão de descontos ou outras facilidades de negociação acabam por ser classificadas como provável renúncia de receita, impedindo que políticas mais efetivas sejam adotadas, ao contrário do que ocorre na iniciativa privada, onde há grande autonomia do credor. Com esse cenário só resta a utilização criativa dos mecanismos legais, de forma que se possam conciliar as pressões por eficiência na arrecadação oriundas dos controladores com as imposições legais dos órgãos fiscalizadores. O controle da evasão de receitas e da inadimplência é um fator determinante para o equilíbrio econômico-financeiro de qualquer organização (SANTOS 2003). Há maior dificuldade em cobrar e recuperar créditos nas regiões carentes e de baixa renda, devido às condições precárias de sobrevivência das famílias que ali habitam. As soluções inovadoras no processo de cobrança e recuperação de crédito têm sido baseadas em pro-
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jetos de alto desempenho que devem alcançar dois resultados muitos importantes: o gerenciamento e recuperação de créditos vencidos e a ampliação e, ou, manutenção da carteira de clientes. O inadimplente, muitas vezes, é um ex-cliente, que ao resolver suas pendências financeiras pode voltar a ser um consumidor dos produtos e serviços da empresa e, com isso, aumentar o faturamento da mesma. (SATO et al., 2011) Considerando todos estes aspectos, este artigo analisa e discute como a inovação e as mudanças nos processos convencionais para cobrança de clientes inadimplentes em núcleos de baixa renda podem alcançar resultados significativos.
METODOLOGIA A metodologia que suporta este trabalho foi baseada e desenvolvida por meio de pesquisa bibliográfica e pautada na literatura atual dos temas abordados: saneamento básico, inadimplência, cobrança e núcleos de baixa renda. Também foi realizado um estudo de caso com o objetivo de analisar o impacto da mudança do processo de cobrança em núcleos de baixa renda. Devido à complexidade da área de atuação da Sabesp e do grande número de clientes a empresa está organizada em Unidades de Negócio (UN) e para a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) existem cinco UNs. A área selecionada para este piloto foi o Jardim Keralux, localizada na região leste da cidade de São Paulo, pertencente a UN Leste da Sabesp. A seleção desta localidade se deu com base nas informações contidas nos sistemas comercial e financeiro da empresa. Para a área escolhida, foram levantados dados relativos ao estoque de débitos existentes antes da ação de cobrança diferenciada e depois da realização, medindo, entre outras variáveis, a satisfação dos clientes atendidos.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Nessa etapa do presente trabalho faz-se uma revisão na literatura atual que trata dos temas objetos deste estudo: saneamento básico, inadimplência, cobrança e núcleos de baixa renda.
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artigo técnico O SETOR DE SANEAMENTO E A SABESP O setor de saneamento básico do Estado de São Paulo compreende o sistema de produção e distribuição de água, bem como a coleta, o afastamento e o tratamento do esgoto sanitário. Para cuidar deste sistema complexo de saneamento existe a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, a Sabesp, que é uma empresa de economia mista responsável pelo fornecimento de água, coleta e tratamento de esgotos de 364 municípios do Estado de São Paulo. Em número de clientes, pode ser considerada como uma das maiores empresas de saneamento do mundo. São 27,2 milhões de pessoas atendidas, quase duas vezes a população da Bélgica, com 99% de índice de atendimento urbano com abastecimento de água, 81% de índice de atendimento urbano com coleta de esgotos e 75% de índice de tratamento de esgotos coletados. (SABESP, 2011) De acordo com o Ministério das Cidades (CIDADES, 2011), a sustentabilidade dos serviços de saneamento, seria assumida pelo menos a partir de quatro dimensões: a ambiental, relativa à conservação e gestão dos recursos naturais e à melhoria da qualidade ambiental; a social, relacionada à percepção dos usuários em relação aos serviços e à sua aceitabilidade social; a da governança, envolvendo mecanismos institucionais e culturas políticas, com o objetivo de promoção de uma gestão democrática e participativa, pautada em mecanismos de prestação de contas; e a econômica, que concerne à viabilidade econômica dos serviços. Em saneamento, o universo de clientes, geralmente composto por toda uma cidade ou estado, é outro fator prejudicial, haja vista o volume elevado de clientes inadimplentes. Como o processo de terceirização da cobrança é encarado, muitas vezes, com maus olhos pelos órgãos fiscalizadores, a cobrança acaba sendo realizada de uma forma inadequada (MORAES et al., 2007). Outro fator que influencia a inadimplência é o sistema tarifário. De acordo com o Decreto 41.446/96, que dispõe sobre o regulamento do sistema tarifário dos serviços prestados pela Sabesp, em seu artigo 2º: “As tarifas de serviços de água e esgoto serão calculadas, considerando-se as di-
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ferenças e peculiaridades de sua prestação, as diversidades das áreas ou regiões geográficas e obedecendo-se os seguintes critérios: (i) categorias de uso; (ii) capacidade de hidrômetro; (iii) característica de demanda e consumo; (iv) faixas de consumo; (v) custos fixos e variáveis; (vi) sazonalidade e (vii) condições sócio-econômicas dos usuários residenciais.” (JUSBRASIL, 2011). Dentre estes critérios destacam-se as faixas de consumo, ou seja, uma tabela progressiva onde quanto maior o consumo, maior será o valor cobrado pelo metro cúbico consumido; e as condições sócio-econômicas dos usuários, ou seja, dependendo da situação do cliente, pode ser oferecida a tarifa social. De acordo com o Plano Nacional de Saneamento Básico – PLANSAB, do total de 34 concessionárias de serviços de saneamento no Brasil, 13 (38%) possuem uma tarifa social explícita. E, além disso, verifica-se que os usuários cadastrados nessa categoria representam uma pequena parcela do total de clientes residenciais (em torno de 5% ou menos), pois além de outros critérios para ter direito ao benefício, o usuário precisa estar adimplente, mas, se não for dada à pessoa a possibilidade de parcelamento de sua dívida, este critério é inaceitável, posto ser limitante do acesso ao programa social daqueles que mais necessitam: a situação de inadimplência geralmente deriva das mesmas dificuldades financeiras que fazem necessário o acesso à tarifa social. (CIDADES, 2011)
RECUPERAÇÃO DE CRÉDITO EM SANEAMENTO O risco de crédito é tão antigo quanto os empréstimos em si, e a inadimplência é o principal fator que aflige qualquer instituição com fins lucrativos (GUIMARÃES, 2006). As perdas comerciais consideradas não recuperáveis geradas pela inadimplência estão relacionadas a dois grupos de fatores. O primeiro se refere à qualidade da gestão da empresa e à sua capacidade de recuperar contas a receber. O segundo grupo diz respeito a um conjunto de fatores de ordem institucional, jurídica, econômica e social os quais estão fora do controle gerencial da empresa. (SABESP, 2009) Outros fatores de natureza jurídico-institucional e econômico-social também influenciam de forma importante o comportamento da inadimplência,
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artigo técnico como os núcleos de pobreza existentes em muitos municípios operados, em que é impossível a adoção de políticas eficazes para redução da inadimplência. (SABESP, 2009) O ciclo de cobrança na Sabesp é o período compreendido entre a disponibilização dos dados dos imóveis devedores, execução e conclusão das ações de recuperação de créditos vencidos. Existem duas modalidades de cobrança: ■■ Administrativa: serviços voltados à recuperação de créditos vencidos por meio de ações de cobrança administrativa e de serviços de engenharia de corte do fornecimento de água, supressão da ligação por débito, restabelecimento e religação do fornecimento de água; ■■ Judicial: serviços de cobranças amigáveis e judiciais, voltados à recuperação de créditos vencidos de natureza tarifária e de serviços oriundos de ligações inativas (sem abastecimento) e de processos de ligações irregulares, bem como de ligações ativas que não podem sofrer interrupção do fornecimento de água. A cobrança judicial envolve a prática de atos processuais em procedimentos comuns ou especiais no patrocínio de cobrança ou execução de créditos inadimplidos, por meio de ações judiciais adequadas para cada caso. Nos núcleos de baixa renda, como favelas e comunidades carentes, nenhuma destas modalidades é realmente eficaz. As ações coercitivas como o corte no abastecimento, levam muitos clientes à irregularidade. Já as ações judiciais são comprometidas pela falta de documentação que vincule o cliente ao imóvel devedor. As empresas, para sobreviverem e crescerem, necessitam introduzir novidades tecnológicas e organizacionais ao longo da sua vida (BARBIERI E ÁLVARES, 2003).
NÚCLEOS DE BAIXA RENDA: A POBREZA EM SÃO PAULO E O ÍNDICE PAULISTA DE VULNERABILIDADE SOCIAL (IPVS) A classificação de indivíduos e famílias segundo suas condições de vida tende a ser realizada por meio da negação, ou seja, são pobres aqueles que, por exem-
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plo, não dispõem de uma renda mínima necessária à subsistência ou têm atendimento deficiente de suas necessidades básicas. (FERREIRA et al., 2006) Recentemente, incorporou-se à discussão sobre a pobreza a concepção de vulnerabilidade social de pessoas, famílias ou comunidades. Nesse sentido, vulnerabilidade é uma noção multidimensional, uma vez que afeta indivíduos, grupos e comunidades, em planos distintos de seu bem-estar, em diferentes formas e intensidades. (FERREIRA et al., 2006) A vulnerabilidade de um indivíduo, família ou grupos sociais refere-se a sua maior ou menor capacidade de controlar as forças que afetam seu bem-estar, isto é, a posse ou o controle dos recursos requeridos (ativos) para o aproveitamento das oportunidades propiciadas pelo Estado, mercado ou sociedade. (KATZMAN et al., 1999) Desenvolvido pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados – SEADE, o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS) é um indicador que consiste em uma tipologia derivada da combinação entre duas dimensões – socioeconômica e demográfica –, que classifica o setor censitário do IBGE em seis grupos de vulnerabilidade social, conforme a tabela 1. (SEADE, 2011) Este indicador, aliado às informações internas da organização e aos dados populacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE subsidia a tomada de decisão em relação à criação de projetos inovadores na recuperação de créditos vencidos em núcleos verticais de baixa renda. De acordo com o HABISP (2011), somente na Região Leste do Município de São Paulo existem 297 favelas, sendo que 110 (37%) delas estão classificadas nos grupos 5 ou 6 do IPVS. Em relação aos loteamentos irregulares, são 381 na região, 71 (18%) deles está no grupo 5 ou 6 do IPVS. Já os núcleos verticais, que são 225 entre CDHU, COHAB e Cingapura, não há detalhamento do indicador IPVS. Levando-se em consideração que este indicador tem como base o Censo Demográfico IBGE de 2000, a situação desta população tende a ter piorado dos últimos anos.
ESTUDO DE CASO O presente estudo de caso avalia a negociação dos débitos em aberto dos clientes da empresa de saneamen-
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artigo técnico Tabela 1: Grupos do IPVS fonte: SEADE(2011) Grupo
Dimensões
IPVS
Socioeconômica
Ciclo de Vida Familiar
1
Muito Alta
Famílias Jovens, Adultas ou Idosas
Nenhuma Vulnerabilidade
2
Média ou Alta
Famílias Idosas
Vulnerabilidade Muito Baixa
Alta
Famílias Jovens e Adultas
Média
Famílias Adultas
4
Média
Famílias Jovens
Vulnerabilidade Média
5
Baixa
Famílias Adultas e Idosas
Vulnerabilidade Alta
6
Baixa
Famílias Jovens
Vulnerabilidade Muita Alta
3
Vulnerabilidade Baixa
to in loco, ou seja, na moradia do cliente, com revisão de débitos, parcelamento dentro das condições dos clientes, redução de perdas e aproximação da Sabesp com a sociedade.
HISTÓRICO DA ÁREA ESCOLHIDA O Jardim Keralux faz parte da Subprefeitura de Ermelino Matarazzo, atendido pela Unidade de Negócio Leste da SABESP e se trata de um loteamento irregular que está em processo de regularização junto a Prefeitura Municipal de São Paulo. De acordo com HABISP (2011), um loteamento irregular são lotes que não podem ser regularizados por não atender às legislações de parcelamento e uso do solo. Apesar de o morador ser adquirente, não tem garantida a posse do imóvel. Soma-se a essa irregularidade a moradia auto-construída e os baixos níveis de renda das famílias. Na cidade de São Paulo, esses loteamentos totalizam 92,64 km2 - cerca de 6,14% do município. Uma empresa chamada Keralux S/A Revestimento Cerâmicos, desativada em 1978, era proprietária de aproximadamente 90% da terra em que se estrutura o Jardim Keralux desde 1996. Estima-se que existam cerca de 1400 lotes irregulares distribuídos em cinco glebas, conforme a figura 1 (HABISP, 2011). Ainda conforme a HABISP (2011), o Índice de Vulnerabilidade Social da área média (grupo 4 - com forte presença de chefes jovens e de crianças pequenas), fato que reafirma a necessidade de uma ação diferenciada de cobrança na localidade.
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Mapa temático glebas do Jd. Keralux. Fonte: HABISP (2011)
IDENTIFICAÇÃO DE NECESSIDADE E DESCRIÇÃO DA PRÁTICA A região leste da Capital de São Paulo tem elevados índices de inadimplência junto a Sabesp, atualmente em 35% ao mês, e uma significativa evasão de receitas, em torno de 9% ao ano. Visando redução da evasão de receitas, mudança da cultura da população e redução da inadimplência, diante da dificuldade de recuperação de receitas, com clientes que apresentam dificuldades financeiras, por habitarem em núcleos de baixa renda, a Sabesp, na Unidade de Negócio Leste, através de sua equipe de cobrança, implementou um projeto piloto para a prática denominada Negociação in loco em abr/2010. Nesta ação, além da confirmação da situação financeira do cliente com evidências fotográficas, são efetuadas a análise, a proposta de solução e a negociação dos débitos em aberto, de acordo com as condições do cliente em seu imóvel, sem que o mesmo precise sair de casa para ir à Sabesp.
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artigo técnico O objetivo principal da Negociação in loco no Jd. Keralux foi dar condições para que o cliente pudesse negociar seus débitos e diminuir o índice de inadimplência na região, tornando o cliente adimplente, diminuindo perdas e aproximando a Sabesp da sociedade. Em levantamento inicial, realizado em fev/2010, para planejamento das ações foram identificados 1.868 imóveis com débito, 8.155 contas que representavam R$ 469.337,00 em valores históricos e R$ 646.822,00 em valores atualizados, que faziam parte do estoque de débitos da UN Leste da Sabesp. De acordo com a FNQ (2008), a organização necessita identificar onde está com relação a seus clientes e mercados. Em um segundo momento, ela precisa conhecer as necessidades e expectativas dos seus clientes atuais e potenciais, bem como dos ex-clientes. Sendo assim, após os levantamentos iniciais, foi realizado um trabalho em campo de conhecimento de área e de apresentação do empregado (fiscal negociador) para o líder comunitário local. O trabalho foi iniciado com visita porta a porta com o objetivo de conversar com o cliente, levantar sua situação socioeconômica e negociar os débitos. Dentre os imóveis com débitos, para atuação da Negociação in loco, foram selecionados aqueles que tinham nº de contas maior ou igual a três. Foram 464 imóveis, os quais representavam R$ 409.838,00 em valores históricos e R$ 571.054,00 em valores atualizados, com a estimativa de execução do projeto em cinco meses. No decorrer das ações de cobrança, muitos clientes que, inicialmente, não tinham sido selecionados para visita de negociação, recorreram à equipe para efetivar acordos de parcelamento em atendimento às suas necessidades. Este fato fez com que o tempo total para atuação na localidade aumentasse em um mês, perfazendo seis meses no total. Os custos envolvidos no projeto resumiram-se em mão de obra de um fiscal negociador (nível técnico) para as visitas de negociação; um técnico para análise e elaboração de propostas de redução/ negociação e efetivação de acordos de parcelamento; material para impressão do acordo de parcelamento e da primeira parcela; e um veículo automotivo para deslocamento até o domicílio do cliente.
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OPERACIONALIZAÇÃO DA ATIVIDADE Para a operacionalização da atividade é emitida a ficha de Levantamento Socio-econômico (LSE), juntamente com informações de cadastro, histórico de cobrança e valores atualizados, provenientes do sistema de informação corporativo da Sabesp, com os quais o fiscal negociador da unidade de cobrança vai a campo, visita o imóvel e em conversa com o cliente coleta as informações necessárias, fotografa o imóvel e propõe negociação ao cliente. Caso seja possível atender as necessidades do cliente de imediato, o fiscal negociador retorna com as informações de negociação já acordadas com o cliente, efetiva o acordo de parcelamento em sistema de informação corporativo e retorna ao imóvel levando o acordo juntamente com a primeira parcela para pagamento pelo cliente, colhendo sua assinatura e fotografando os documentos necessários para negociação de débitos (RG, CPF e documento do imóvel). Diante de situações muito críticas e débito elevado, na impossibilidade da negociação imediata, com base nas informações e evidências trazidas pelo fiscal, a equipe interna da unidade de cobrança analisa o caso, e utilizando-se dos procedimentos internos da Sabesp (Gerenciamento de Cobrança, Atendimento ao Cliente e Deliberações de Diretoria), elabora propostas para solução do problema, tais como: abatimento de juros e multa, redução do débito na tarifa social (tarifa diferenciada para cliente de baixa renda que corresponde a cerca de 30% da tarifa normal), revisão de contas altas causadas por vazamentos no imóvel, entre outras soluções, para adequação do débito à realidade do cliente. Neste caso, são avaliadas várias situações junto ao cliente, tais como: quantidade de residências abastecidas pela ligação de água em questão; quantidade de pessoas que habitam tais residências e a coerência entre este nº e o consumo mensal medido; renda familiar no imóvel; trabalho formal e informal; condições e disponibilidade para pagamento de parcelas de acordo de parcelamento bem como contas mensais de consumo. As avaliações originam orientações diversas repassadas aos clientes, tais como: formas de verificação de possíveis vazamentos internos, Uso Racional da Água e valorização do produto, necessidade de atenção e con-
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Figura 2 – Redução do estoque de débitos dos imóveis envolvidos no processo entre fev e dez/10
trole de datas de vencimento e pagamento de parcelas para evitar o rompimento de acordos e aumento do débito, necessidade de manutenção de informações cadastrais junto à Sabesp, necessidade de atualização de dados referentes ao cadastramento de tarifa social, entre outras; para que o cliente possa se manter adimplente com a Sabesp e, consequentemente, manter o fornecimento de água em seu imóvel.
RESULTADOS Em seis meses de trabalhos efetivos em campo, com a visita em 464 imóveis, alcançamos o resultado de 332 acordos de parcelamento efetivados, com análise e revisão de débito, representando 71,5% de sucesso em negociação, e valor de R$ 582.972,00 atualizados, reduzidos do estoque de débitos. O estoque de débitos dos imóveis selecionados para visita de negociação, que no levantamento inicial era de R$ 571.054,00, sofreu uma redução de cerca de 50% até dez/2010, perfazendo R$ 286.803,00 atualizados, conforme apresentado na figura 2. O diferencial neste processo de cobrança é a questão da oferta da possibilidade de parcelamento de débitos e/ou regularização da ligação de água junto à Sabesp, em sua “porta”, sem que o cliente tenha que se deslocar de sua residência, o que tem encantado os clientes. O processo de Negociação in loco, tem trazido também resultados diversos além de resultados financeiros, tais como, a manutenção de clientes e a reabilitação de clientes inativos com a Sabesp. Além
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de promover maior grau de satisfação dos clientes quanto aos serviços prestados pela empresa, melhorando assim sua imagem perante a comunidade. Os resultados de maior relevância com o processo de negociação in loco em núcleos de baixa renda foram: ■■ Maior satisfação dos clientes e sociedade, pela solução de seu problema, com facilidade e a comodidade de não sair de casa, além da devolução da dignidade por não ter de pedir água emprestada, e ter sua própria ligação novamente (palavras do cliente); ■■ Satisfação dos empregados com resultados positivos e solução aos problemas dos clientes; ■■ Satisfação das lideranças locais, bem como prefeituras e subprefeituras; ■■ Bons resultados para a UN Leste e Sabesp, com maior rentabilidade e resultados financeiros positivos; ■■ Imagem positiva da Sabesp.
CONSIDERÇÕES FINAIS Com a inovação e as mudanças no processo de cobrança para núcleos de baixa renda, percebeu-se que a iniciativa da Sabesp, de ir até o cliente, é realmente um diferencial de sucesso. Sendo assim, a ação poderá ser estendida aos terceiros que atuam no segmento de cobrança para a empresa, além de repasse a outras áreas da Sabesp, as quais poderão aplicar esta prática objetivando resultados positivos e satisfação do cliente.
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artigo técnico Everton Verissimo Ferreira Administrador – Formado Pela Universidade Luterana do Brasil (2012) – Franca – Técnico em Gestão, RGFF-1 Setor administrativo e Comercial de Franca. Welton de Araujo Cintra Junior Bacharelando Administração Publica – Universidade Federal de São João Del Rey – São João Del Rey MG, Bacharelando em Direito – Universidade de Franca – UNIFRAN – Franca-SP – Técnico em Gestão – Auditor Sistema de Gestão de Qualidade (ISO 9001) – Bannas Qualidade/ Brisoti Consultoria e Treinamento – Auditor Sistema de Gestão Ambiental (ISO 14001) – SQS Consultores Associados. Ricardo Faleiros de Sousa Administrador, formado pelo Centro Universitário UNIFACEF (1995) Franca-SP, MBA Gestão Empresarial Centro Universitário UNIFACEF (2005) Franca-SP. Gerente de Setor – Setor Administrativo e Comercial de Franca – RGFF-1. Rui Engracia Garcia Caluz Engenheiro Civil, formado pelo Instituto Politécnico de Ribeirão Preto da Instituição Moura Lacerda (1979) R. Preto; Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho (1994) - UNIFRAN Franca; Especialização em Engenharia Saúde Pública - USP - São Paulo; Especialização em Gerência de Cidade (2000) - FAAP - Ribeirão Preto São Paulo; Gerente Departamento Distrital de Franca - SP.
RECUPERAÇÃO DE VOLUMES E VALORES – CAÇA FRAUDES E COMBATE A IRREGULARIDADES – CONTRIBUIÇÃO NA REDUÇÃO DO ÍNDICE DE PERDAS NO MUNICÍPIO DE FRANCA Por Everton Verissimo Ferreira, Welton de Araujo Cintra Junior Ricardo Faleiros de Sousa, Rui Engracia Garcia Caluz
RESUMO O presente trabalho visa apresentar os resultados obtidos com a busca, constatação e cobranças de irregularidades e fraudes no município de Franca, principalmente ocorrências com hidrômetros, supressões e ramais. Apresenta valores recuperados em m³ e R$, com o intuito de demonstrar a eficiência do trabalho da equipe de campo e de apuração de valores/cobrança, bem como os valores e/ou volumes efetivamente recuperados após a finalização de todo o processo. E a quantidade de acertos comparados com o total de suspeitas investigadas. A cidade de Franca vem a tempos buscando a redução dos índices de perdas, e a apuração, a cobrança e a ação rotineira de caça fraudes / constatação de irregularidades, é parte importante de todo este processo, sem os quais os atuais índices (144 l/r/d dez/13) não teriam sido atingidos.
INTRODUÇÃO A cidade de Franca está localizada na região noroeste do Estado de São Paulo, tem atualmente 318.640 habitantes (censo oficial de 2010), com estimativa do IBGE de 336.734 mil habitantes para no ano de 2013, e conta com 120.946 ligações de água e 118.469 ligações de esgoto (Sabesp jan/14), conta com 100% de água tratada e 100% de coleta de esgotos, 100% esgoto tratado. Franca é uma cidade tipicamente industrial, que abriga o pólo calçadista no estado de São Paulo, caracterizando-se por uma indústria curtumeira muito forte e um parque industrial
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mais voltado para o calçado masculino, o IDHM da cidade é de 0,780 (Atlas Brasil 2013 PNUD), e o PIB per capta é de R$ 17.802.99. Atualmente Franca conta com um índice de perdas de 144 L/ramal. dia, sendo que as áreas operacionais da Sabesp buscam uma redução deste valor a fim de melhorar seu desempenho operacional assim como atuar no sentido de disponibilizar maior quantidade de água a ser consumida (estoque regulador), pois o sistema produtor está em seu limite máximo.
OBJETIVOS O objetivo deste trabalho é relacionar as ações executadas pela equipe interna e de campo com relação à verificação, constatação, apuração e regularização de fraudes e/ou irregularidades nas ligações de água no município de Franca, relacionando os valores recuperados em volume (m³) e financeiros (R$), ainda a assertividade da equipe quando comparados o volume de vistorias X irregularidades/fraudes constatadas. Ainda apresentará o recebimento efetivo destas constatações, após a conclusão do processo com a efetiva baixa das contas com a cobrança dos valores apurados.
MATERIAIS E métodos Para a realização das ações aqui descritas foram usados os seguintes métodos e práticas operacional: ■■ Acompanhamento mensal de Verificações de irregularidades/fraudes;
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artigo técnico
■■ Acompanhamento de apuração de irregularidades e/ou fraudes comprovadas; ■■ Acompanhamento de Baixa de contas com valores de irregularidades e/ou fraudes: ■■ Verificação e acompanhamento de volumes faturados após regularização da situação; ■■ Comparação de valores e volumes faturados antes e pós regularização.
RESULTADOS Durante o ano de 2013, todas as suspeitas de fraudes e/ ou irregularidades foram acompanhadas 1365 ao todo. Foram levantados todos os valores apurados em cada uma das fraudes e/ou irregularidades comprovadas no total de 1032. Após a verificação/constatação/apuração de valores, acompanhou-se o pagamento efetivo das contas cujas cobranças ocorreram.
Após a consolidação de todos os resultados chegou-se aos seguintes valores: ■■ Volume recuperado total 28.238m³ ■■ Valor recuperado total R$ 171.696,63 ■■ Porcentagem verificações X constatações = 76% Principais irregularidades e/ou fraudes constatadas: ■■ Supressão violada = 473 ■■ Corte violado = 355 ■■ Irregularidades em hidrômetros = 201
CONCLUSÃO O trabalho realizado pela equipe do setor administrativo e comercial, conclui-se como de relevante importância, contribuindo sobremaneira para a redução dos índices de perdas na cidade de Franca, bem como para a recuperação de valores.
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Diretoria de Projetos Socioambientais
Grande aprovação do Curso de Gestão Eficaz de Projetos Nos dias 03, 04, 10, 11, 17 e 18 de marco, a Associação dos Engenheiros da Sabesp-AESabesp, por meio de sua Diretora de Projetos Socioambientais, realizou um curso de Gestão Eficaz de Projetos, ministrado pela equipe da Consultoria Regina Ramos - Centro de Capacitação Profissional. Esse curso teve como objetivo fornecer subsídios conceituais e práticos sobre os fatores de sucesso e fracasso de um projeto, definição de escopo, bem como a estruturação das etapas fundamentais e necessárias para que o Projeto tenha êxito. O público foi formado por profissionais gestores e líderes de projetos, cuja atuação deve atender aos Clientes Internos e Externos das organizações, garantindo uma performance eficaz e evolução considerável para atuarem no mercado. Também foi fundamentada no curso a aplicação de técnicas para estimular a liderança e exercer um papel de educador para que os colaboradores que compõem a formação de uma equipe tenham uma atuação eficaz e em sintonia com as exigências dos Clientes.
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A metodologia utilizada, nessas ações, ativa e participativa com conteúdos atualizados em sintonia com o mercado, aplicação de jogos e dinâmicas estruturadas que são trabalhadas com feedbacks estruturados pelos consultores, desenvolvendo testes para que o participante faça sua autoavaliação e possa traçar um caminho rumo ao seu autodesenvolvimento. O plano de trabalho desenvolvido para o curso Gestão Eficaz de Projetos seguiu os seguintes tópicos: ■■ Gestão da Mudança: com abordagem de temas como contextualização do mundo, onde o participante é conduzido a refletir sobre os desafios de gerenciar a si mesmo aceitando as diferenças da equipe. ■■ Tendências organizacionais e a evolução do conceito de liderança: na Gestão dos Projetos apresenta as exigências atuais do mercado, estilo de liderança e as habilidades que influenciam na gestão de projetos.
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Diretoria de Projetos Socioambientais ■■ Gestão Eficaz dos Projetos–Integração das Competências: onde são discorridos os temas planejamento e organização com definição de metas, comunicação do projeto, além da importância de manter a equipe motivada. ■■ Gestão Eficaz dos Projetos – Modelos de projetos: são apresentadas as cinco fases do projeto, ferramentas de gestão além dos fatores de sucesso e fracasso de um projeto e também é demonstrado softwares colaborativos que facilitam o acompanhamento e monitoramento das diversas fases do projeto. ■■ Gestão Eficaz dos Projetos – Marketing: onde são discorridos os temas de processo de vendas, parcerias e precificação do projeto. Segundo a Diretora de Projetos Socioambientais, Maria Aparecida Silva de Paula, responsável pela estruturação do curso com a consultora Regina Ramos, “foi gratificante para a AESabesp abrir essa turma
que frequentou cerca de 1 mês o curso formado. Recebemos durante esse período vários feedbacks positivos, o que nos permite concluir que o mercado tinha essa lacuna e nós conseguimos entender e organizar esse atendimento”.
Segue as impressões de alguns participantes do curso: Curso dinâmico, produtivo e esclarecedor” Miriam Simão (Instituto Cultural Luiz Telles)
O conteúdo e a dinâmica do curso atenderam plenamente as minhas expectativas” Francisco José (SAAE – Guarulhos)
O curso apresentou-se surpreendente, oferecendo o que foi proposto. É absolutamente recomendável” Márcia M. Marques (Restor)
O curso foi uma experiência enriquecedora que veio preencher várias lacunas do meu conhecimento anterior, proporcionando a motivação e o preparo necessário para gerenciar projetos” Rosana Telles (Instituto Cultural Luiz Telles)
O curso Gestão de Projetos nos fêz reconhecer padrões, analisá-los e nos preparou para lidar com as dificuldades e percalços, inclusive com a nossa mudança interna” Ceci Bueno de Caprio
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26º Encontro Técnico AESabesp / Fenasan 2015
INVESTIMENTOS E EXPANSÃO EM 2015
Aumento de público e de expositores levam o maior evento em saneamento ambiental, na América Latina, para nova área em 2015 Com uma visitação de 19.000 pessoas (2000 a mais do que em 2013), exposição de 248 estandes (em 2013 foram 220), apresentação de 80 trabalhos técnicos, 8 mesas redondas e 3 minicursos, o Encontro Técnico AESabesp – Fenasan 2014 superou todas as expectativas e consolidou a sua posição como o maior evento técnico-mercadológico da América Latina, em saneamento ambiental. Em função desse crescimento, em 2015, sua realização será no Pavilhão Vermelho do Expo Center Norte, o maior espaço desse complexo, nos dias 4, 5 e 6 de agosto. O tema central de 2015 será “A crise da água e suas consequências no sec XXI”. Até o momento, a Fenasan conta com mais de 200 expositores confirmados, entre empresas nacionais e internacionais. Além de otimizar as negociações desse mercado, a Feira tem como principal objetivo difundir as tecnologias em uso, bem como as inovações tecnológicas e todas as ações importantes para o saneamento ambiental. Para corresponder a essa expectativa, a AESabesp irá estruturar um Forum de Tecnologias trazidas pelos expositores.
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A AESabesp irá dispor uma ilha de orientação em português e inglês e em seu estande prestará informações sobre os benefícios oferecidos pela entidade e a captação de projetos que pode ser concebidos em sua Carteira de Projetos Socioambientais, com investimentos em suas execuções.
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26º Encontro Técnico AESabesp / Fenasan 2015 Encontro Técnico 2015 já tem mesas definidas O 26º Encontro Técnico AESabesp, a ser realizado nos mesmos dias da Fenasan 2015, já conta, até o fechamento desta edição, com seis mesas redondas definidas, com participação de grandes expoentes do setor de saneamento e meio ambiente. São elas: ■■ A crise da água e suas consequências no século XXI (conferência na abertura do Congresso); ■■ Dessalinizaçao como alternativa para abastecimento; ■■ Água de reúso para fins potáveis e recarga de aquiferos e mananciais; ■■ Impactos dos eventos climáticos nos recursos hídricos para o desenvolvimento econômico; ■■ Universalização do saneamento e mobilização social em comunidades de baixa renda; ■■ As consequências das explorações desordenada das águas subterrâneas em tempos de escassez de água. Além das respectivas mesas redondas, serão apresentados minicursos de especialização, palestras institucionais e palestras técnicas dos trabalhos aprovados e palestras magnas.
Inscrição de trabalhos técnicos para o Congresso Lembramos que a inscrição de trabalhos técnicos para serem apresentados no Congresso, deverá ser feita impreterivelmente até o dia 06 de abril de 2015. O período de avaliação será entre 07 de março a 27 de abril, para que a comunicação de aceite ou recusa aos autores seja feita até 04 de maio de 2015 e o prazo para manipulação de arquivos até 15 de maio de 2015.
Todas as questões referentes a esse envio estão disponibilizadas no site: www.fenasan.com.br
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Acontece no setor Grundfos cria oficina de treinamentos
A Grundfos estruturou uma nova oficina de serviços, com espaço dedicado a treinamentos de manutenção e operação. A mesma conta com quatro bancadas de montagem, desmontagem e treinamento, e uma para testes de bombas, bem como uma ponte rolante específica para o manuseio das bombas em reparo, além de um sistema de pressurização demo para uso durante os treinamentos da rede de assistência técnica. O espaço abriga um setor de estoque de peças com mais de 100 kits de degaste por modelo de bombas.
Mizumo é premiada com o Green Building 2014 Tendo a sustentabilidade como política e objeto de atuação, a Mizumo – ganhadora do Prêmio AESabesp na Fenasan 2014, como melhor estande, pelos critérios de elaboração e práticas sustentáveis adotados pela Diretoria de Projetos Socioambientais - recebeu o Prêmio Green Building 2014 Marcas de Destaque. Com 28,26 % das indicações, a empresa foi a primeira colocada na categoria Sistema de Tratamento e Reúso de Água, o que demonstra a qualidade e os benefícios que as soluções possuem e proporcionam às instalações sanitárias.
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Clean apresenta Analisador de Vapores Tóxicos TVA2020 A Clean Environment Brasil lançou essa ferramenta de campo portátil, que utiliza tanto a tecnologia de Detecção por Ionização de Chama (FID) e a tecnologia de Detecção por Foto Ionização (PID). Tecnologia Dupla FID/PID. De uso fácil e simplificado, sua habilitação para comunicação pode ser feita via “bluetooth” e não necessita de software para PC.
Metal Work lança grampo pneumático
Esse grampo é dividido basicamente em duas partes: mecânica e pneumática. Para a manutenção do atuador pneumático, basta desmontar os dois parafusos transversais, que prendem o atuador à parte mecânica, para fazer a troca das guarnições do embolo e dos cabeçotes, sendo que a haste do cilindro permanece fixa à parte mecânica do grampo. O sistema de regulagem do ângulo é integrado ao cilindro, não sendo necessário o reset eletrônico do sensor. O sensor indutivo apresenta conector M12 x 1 com 4 pinos, articulação do conector de 0º a 90º, LED vermelho indica posição 0º, LED amarelo indica posição de abertura do grampo, que com a regulagem pode variar de 25º a 135º. Já o cilindro é composto por cabeçotes em alumínio, camisa em alumínio anodizado, embolo em alumínio, haste em SAE 1045 cromado e retificado, vedação em NBR e bucha guia de aço com revestimento de bronze e PTFE. Pressão mínima de trabalho 6 bar e pressão máxima de trabalho 8 bar.
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Lançamento
Livro “Ecologia de reservatórios e interfaces”, em formato digital No dia 14 de março, foi lançado o livro “Ecologia de reservatórios e interfaces”, somente em formato digital, em PDF, e baixado gratuitamente pelo link http://ecologia.ib.usp.br/reservatorios/. No site apresentado, também é adicionada uma base de dados que facilita a busca e o acesso ao livro integral e mesmo aos seus capítulos individuais. Este livro foi organizado pelos grupos de pesquisa dos Laboratórios de Limnologia, do Departamento de Ecologia, do Instituto de Biociências, da Universidade de São Paulo e da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de Sorocaba. Na liderança da pesquisa se encontra o prof. dr. Marcelo Luiz Martins Pompêo (foto), professor do Departamento de Ecologia, do Instituto de Biologia da USP- Universidade de São Paulo e colaborador da Revista Saneas, inclusive responsável pela matéria tema da edição nº 40, na qual
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discorreu sobre os procedimentos e a importância da aplicação da limnologia ao meio ambiente e, por consequência, na estrutura do setor de saneamento básico. Composto por 30 capítulos, o livro, de acordo com os organizadores, “é uma tentativa de integrar os conhecimentos no intuito de mostrar a necessidade de estudos multi e interdisciplinares para a maior compreensão da estrutura, função e dinâmica dos reservatórios”. Por meio de alguns estudos de casos, os capítulos buscam discutir sobre a ecologia de reservatórios, do ponto de vista teórico, mas também apresentar questões aplicadas relacionadas ao monitoramento e manejo, sem se esquecer da proteção e recuperação da qualidade das águas dos ecossistemas aquáticos continentais.
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Vivências
Nilton Moraes: guiado pela paixão E PELOS VEÍCULOS possantes
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om muita propriedade e toda aquela descontração que lhe é peculiar, o nosso associado, eng. Nilton Gomes de Moraes, discorre sobre o seu hobby de colecionador de carros, que contempla histórias de vida, fatos e dados inusitados. Confira nesta entrevista:
Saneas: Quando o senhor começou a trabalhar na Sabesp, qual é a sua atual função e como o setor de saneamento foi escolhido para fazer parte da sua vida profissional? Moraes: Quando nasci, meu pai já trabalhava na Sabesp e sempre me transmitiu o orgulho e a importância do saneamento. Entrei efetivamente na empresa em 1992, através de seu primeiro concurso, como desenhista em uma unidade de apoio em Poá. Desde então passei por diversas funções dentro da UN Leste, até que em 2007 vim para a Diretoria de Sistemas Regionais. Aqui atuei como Gerente no Departamento de Operação e Manutenção e no Departamento Comercial. Atualmente me encontro em um dos mais importantes projetos voltados para o futuro da Sabesp que é o SiiS, gerenciando as Informações Gerenciais Comerciais ou Business Inteligence (BI). Saneas: Como associado da AESabesp, qual é sua avaliação da representatividade que esta entidade possui, em relação aos interesses dos engenheiros da Sabesp? Moraes: A AESabesp tem ganhado, ano após ano, uma importância impar no setor de saneamento, refletindo diretamente em benefício de seus sócios. A grandiosidade de eventos como a Fenasan marca ainda mais a posição de nossa entidade. Não podemos ainda nos esquecer dos eventos sociais que sempre promovem o convívio entre os sócios e suas famílias bem como são excelentes oportunidades de networking.
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Saneas: Seus amigos o apontam como um colecionador de carros antigos. Descreva um pouco como é a sua coleção e os motivos que o levam a mantê-la. Moraes: Comecei com este hobby depois que escutei da minha esposa: ou a moto ou eu !!! (quase isso)... É claro que depois disso vendi a moto (nem gostava tanto dela assim) e passei a projetar a montagem de uma réplica de um Porsche 356. Em 2007 cheguei na Sabesp feliz da vida dizendo que tinha comprado um Brasilia 77 e quase me internaram. Essa Brasilia foi a doadora do chassis e da mecânica para meu projeto. No meio
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Vivências da construção acabei aproveitando uma oportunidade única que me apareceu: a aquisição de um fusca 1974 que foi viatura da polícia civil e estava largado em um galpão em Jaguariúna a mais de 20 anos!!! Também possuo um Opala Diplomata coupê que tem mais opcionais que muito carro de luxo de hoje em dia, além de um motor enorme de 6 cilindros em linha. Desses 3 “brinquedos” não há como não gostar... Para manter um carro novo é fácil: a cada 10 mil km você leva na concessionária e faz revisão... Já o carro antigo 50% é com o mecânico, mas o restante é com você: tem que cuidar muito!!! Saneas: Existe algum carro antigo de sua preferência? Moraes: Sem qualquer dúvida a “baratinha de polícia” é o meu xodó... Além de ter a mesma idade que eu ele ainda possui aproximadamente 95% de originalidade. Para se ter uma ideia, nem a entrada para o rádio no painel foi cortada, está como saiu de fábrica.
originais para essas raridades. Isso também acaba se transformando em sua grande compensação, pois vira uma caça ao tesouro de gente grande. O prazer que dá em encontrar aquela arruela especial da série xyz que se encaixa exatamente em seu lugar é inenarrável! Outra coisa que anima bastante á o enorme assédio de outros antigos mobilistas querendo saber detalhes ou até mesmo comprar meus brinquedos. Sempre digo: não estão à venda, mas pode olhar que é grátis!!! Saneas: Existe alguma entidade que concentra colecionadores como o senhor? Moraes: Existem várias entidades nesse setor (algumas nem tão confiáveis) que concentram normalmente colecionadores por modalidade: uns colecionam fuscas, outros Pumas, uns Mavericks, tem até clube do Fiat Tipo! É preciso antes de se filiar a alguma fazer uma busca completa pra saber sobre a idoneidade desta entidade.
Saneas: Qual é a sua sensação em arrumar e preservar um carro antigo? Moraes: Gosto muito de coisas antigas e acredito que preservar um objeto ou, como no meu caso, um carro é preservar a história de nosso país e principalmente nossas próprias memórias. Saneas: Qual é a compensação e a dificuldade de se manter um hobby como esse? Moraes: A principal dificuldade é encontrar peças
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Saneas: Onde os curiosos podem ver os modelos de sua coleção? Moraes: Às quartas feiras, quando ocorre o rodízio de placa do meu carro de uso, sempre estou com o Opala ou o Fusca aqui no SiiS no Limão. Dependendo dos compromissos dá para vê-los estacionados na Ponte ou na Costa Carvalho. O Porschinho não dá pra vir trabalhar, pois ainda não possui a capota conversível, talvez daqui a algum tempo eu a coloque.
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VENhA PArA A
MAior FEirA do SETor dA AMériCA lATiNA!
04 a 06 de agosto de 2015 Pavilhão Vermelho Expo Center Norte São Paulo - SP Durante a Fenasan 2015 os visitantes terão a oportunidade de conhecer as novidades em produtos e serviços de mais de 240 empresas nacionais e internacionais do setor de saneamento ambiental. Paralelamente, será realizado o 26º Congresso Nacional de Saneamento e Meio Ambiente - Encontro Técnico AESabesp, que reúne os maiores expoentes técnicos do setor, em palestras e mesas redondas.
www.fenasan.com.br
Tema Central:
A crise da água e suas consequências no século XXi
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Apoio
Organização e comercialização
11 3056 6000 | fenasan@acquacon.com.br Apoio institucional ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE GEOLOGIA DE ENGENHARIA E AMBIENTAL
Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo