Ano XI. Edição 68. Abril a Junho de 2019
- VEÍCULO -
FENASAN 2019
Fotos: Ciete Silvério (Sabesp)
- OFICIAL -
Ponto de vista
Entrevista
Benedito Braga, presidente da Sabesp, aponta os Projetos da Companhia para a recuperação dos rios de São Paulo.
O superintendente da TG/Sabesp Carlos Eduardo Carrela aborda o impacto ambiental, tecnologia e investimento para a despoluição do Rio Pinheiros.
Fique por dentro do maior evento da AL no setor Em 2019, a edição especial do 30º Encontro Técnico AESabesp / Fenasan trará ações especiais, como o prestigiado Campeonato de Operadores.
EXPEDIENTE
EDITORIAL
Associação dos Engenheiros da Sabesp Rua Treze de Maio, 1642 Bela Vista - 01327-002 - São Paulo/SP Fone: (11) 3263 0484 Fax: (11) 3141 9041 www.aesabesp.org.br aesabesp@aesabesp.org.br
Prezados associados (as), conselheiros (as), diretores (as) e amigos (as) da AESabesp,
Órgão Informativo da Associação dos Engenheiros da Sabesp Fundada em 15/09/1986 Tiragem: 6.000 exemplares
Sob o tema central, “Os desafios da recuperação dos nossos grandes rios" e es-
Diretoria Executiva Presidente: Viviana Marli Nogueira de Aquino Borges Diretor Administrativo: Nizar Qbar Diretor Financeiro: Hiroshi Ietsugu Diretora Socioambiental: Márcia de Araújo Barbosa Nunes Diretor de Comunicação e Marketing: Agostinho de Jesus Gonçalves Geraldes Diretoria Adjunta Diretoria Cultural: Olavo Alberto Prates Sachs Diretoria de Esportes e Lazer: Evandro Nunes de Oliveira Diretoria de Polos Regionais: Antônio Carlos Gianotti Diretoria Social: Tarcísio Nagatani Diretoria Técnica: Luciomar Santos Werneck Conselho Deliberativo Presidente: Reynaldo Eduardo Young Ribeiro Membros: Abiatar Castro de Oliveira, Alceu Sampaio de Araujo, Alexandre Domingues Marques, Alzira Amancio Garcia, Carlos Alberto de Carvalho, Choji Ohara, Cid Barbosa Lima Junior, Eduardo Bronzatti Morelli, Gilberto Alves Martins, Gilberto Margarido Bonifácio, Helieder Rosa Zanelli, Ivo Nicolielo Antunes Junior, João Augusto Poeta, Maria Aparecida Silva de Paula, Richard Welsch e Walter Antonio Orsatti Conselho Fiscal Aurelindo Rosa dos Santos, Ivan Norberto Borghi e Yazid Naked Coordenadores Conselho e Fundo Editorial: Nélson César Menetti Membros: Antônio Carlos Roda Menezes, Benemar Movikawa Tarifa, Débora Soares, Luciomar Santos Werneck, Maria Lúcia Andrade, Sandreli Droppa Leta e Suely Matsuguma. Polos da RMSP: Rodrigo Mendonça Assuntos Institucionais: Ester Feche Guimarães Contratos Terceirizados: Abiatar Castro de Oliveira Cursos: Walter Antonio Orsatti Inovação: Luis Felipe Macruz Aposentados: Paulo Ivan Morelli Franceschi Comissão Organizadora do 30º Encontro Técnico AESabesp - Fenasan 2019 Presidente da Comissão: Olavo Alberto Prates Sachs Membros da Comissão Agostinho J. G. Geraldes, Alisson Gomes de Moraes, Alzira Amâncio Garcia, Antonio Carlos Roda Menezes, Eduardo Bronzatti Morelli, Gilberto Alves Martins, Iara Regina Soares Chao, Luciomar Santos Werneck, Maria Aparecida Silva de Paula, Mariza Guimarães Prota, Nélson César Menetti, Nilton Gomes de Moraes, Nizar Qbar, Paulo Ivan Morelli Franceschi, Reynaldo Eduardo Young Ribeiro, Rosangela Cássia M. de Carvalho, Sonia Maria Nogueira e Silva, Tarcisio Luis Nagatani, Viviana M. N. de A. Borges e Walter Antonio Orsatti. Equipe de apoio Maria Flávia S. Baroni, Maria Lúcia Andrade, Monique Funke, Paulo Oliveira, Rodrigo Cordeiro e Vanessa Hasson. Polos AESabesp da Região Metropolitana -RMSP Polo AESabesp Costa Carvalho: Ednaldo Carvalho Sandim Polo AESabesp Coronel Diogo: Rodrigo Mendonça Polo AESabesp Leste: Eduardo Alves Pereira Polo AESabesp Norte: Eduardo Bronzatti Morelli Polo AESabesp Oeste: Claudia Caroline Buffa Polo AESabesp Ponte Pequena: Rogério Welsel Polo AESabesp Sul: Antonio Ramos Batagliotti Polos AESabesp Regionais Polo AESabesp Baixada Santista: Zenivaldo Ascenção dos Santos Polo AESabesp Botucatu: Leandro Cesar Bizelli Polo AESabesp Caraguatatuba: Felipe Noboru Matsuda Kondo Polo AESabesp Franca: José Chozem Kochi Polo AESabesp Itatiba: Carlos Alberto Miranda Silva Polo AESabesp Itapetininga: Jorge Luis Rabelo Polo AESabesp Lins: Carlos Toledo Polo AESabesp Presidente Prudente: Gilmar José Peixoto Polo AESabesp Vale do Paraíba: Sérgio Domingos Ferreira Polo AESabesp Vale do Ribeira: Jiro Hiroi
pecial foco na despoluição do rio Pinheiros, essa edição nos remete ao grande impacto social gerado pela despoluição das águas dos principais rios de São Paulo: Tietê e Pinheiros. E dentro desse contexto, quantos especialistas técnicos da Sabesp conseguimos reunir nessas páginas! A começar pelo próprio presidente da Companhia, Benedito Braga, que argumenta em seu rico ponto de vista, que "a despoluição de rios é algo que vai muito além do saneamento". Vale dizer que este grande desafio, envolve as unidades da Diretoria de Tecnologia, Empreendimentos e Meio Ambiente e da Diretoria Metropolitana, além da Superintendência de Comunicação da Sabesp. Além dos artigos técnicos inerentes ao tema da Revista, ainda trazemos uma entrevista exclusiva para a Saneas, com o superintendente de Gestão de Projetos Especiais (TG), Carlos Eduardo Carrela, em conjunto com sua gerente, Andréa Ferreira, que mostra um panorama de perspectivas e investimentos na Recuperação do Rio Pinheiros, cuja participação da Sabesp foi oficialmente anunciada no Dia Mundial do Meio Ambiente, 05 de Junho, numa ação conjunta com o Governo do Estado, com a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente (SIMA), com empresas vinculadas ao estado- EMAE, DAEE, Cetesb e também conta com o apoio da PMSP. Como não poderia deixar de ser, destacamos, na edição, páginas dedicadas aos 30 anos de realização do maior evento técnico-mercadológico em saneamento ambiental da América Latina: o 30º Encontro Técnico AESabesp / Fenasan 2019, a ser realizado nos dias 17, 18 e 19 de setembro de 2019, no Pavilhão Branco do Expo Center Norte, sob o tema "30 Anos construindo o saneamento ambiental sustentável". Sua presença será fundamental! E nas páginas finais dessa Revista, na sessão Vivências, o leitor encontrará o nosso coordenador do Polo AESabesp Leste, Eduardo Alves Pereira, que possui uma boa parte da sua vida dedicada ao escotismo, com valores essenciais de respeito à natureza e às pessoas. Um grande abraço e uma boa leitura!
Produção Editorial: Textoscom Jornalista Responsável: Maria Lúcia Andrade - MTb. 16081 Colaboradores: Amauri Bernal e Leandra Massa Fotos: Equipe Estevão Buzato e acervo AESabesp Projeto visual gráfico e diagramação Neopix DMI contato@neopixdmi.com.br www.neopixdmi.com.br A AESabesp não se responsabiliza pela veracidade de conteúdo de anúncios e de artigos assinados.
Viviana Marli Nogueira de Aquino Borges Presidente da Gestão 2019-2021
ÍNDICE
08 Matéria Tema Os desafios da despoluição dos principais Rios de São Paulo
06 14 16
41
Ponto de vista Novas formas de pensar e fazer a recuperação dos nossos rios
Entrevista Impactos, tecnologias e investimentos para a recuperação do Rio Pinheiros
20
Universalização A luta pela universalização do saneamento no Brasil tem uma razão: saneamento é saúde
30 33
4
SANEAS
Abril a Junho de 2019
Artigo Técnico Estudo exploratório para estimativa da carga de aeração necessária para a manutenção do oxigênio dissolvido no rio Pinheiros de forma a conter a formação de maus odores.
Sistema de interceptação e captação de esgoto em galeria de água pluvial utilizando a válvula de tempo seco.
Modelo matemático de criticidade para linhas de coletores e interceptores de esgoto
30º Encontro Técnico AESabesp / Fenasan 2019
42
Será em São Paulo o maior evento em saneamento da América Latina
44
Novidades na premiação ”Jovem Profissional”
45
Sabesp formaliza apoio com estande e Campeonato de Operadores
47
Acontece no setor
49
Vivências A missão de ensinar o respeito à natureza e às pessoas
Momentos de Tecnologia AESabesp
Apresente sua empresa aos associados da AESabesp
Os Momentos de Tecnologia são palestras técnicas realizadas nas unidades da Sabesp, promovidas por empresas que desejam apresentar seus produtos e serviços aos nossos associados. Concorridas, estas apresentações contam com expressivo comparecimento de associados, técnicos da Sabesp e convidados do setor de saneamento ambiental. O número de palestras realizadas e de profissionais já treinados confirmam o sucesso dos Momentos de Tecnologia AESabesp.
320
7.900 participantes durante 10 anos
25
momentos de tecnologia realizados em 10 anos
média de participantes por palestra
Garanta a participação da sua empresa! Entre em contato: paulo.oliveira@aesabesp.org.br 11 3263 0484 ou 11 3284 6420
Visite nosso site
www.aesabesp.org.br
Acesse nossas redes sociais @aesabesp
/aesabesp
aesabesp
PONTO DE VISTA
Por Benedito Braga
Novas formas de pensar e fazer a recuperação dos nossos rios
Q Benedito Braga Presidente da Sabesp e Presidente Honorário do Conselho Mundial da Água Antes de assumir a presidência da Sabesp, Benedito Braga foi Secretário de Estado de Saneamento e Recursos Hídricos de São Paulo. Também é Professor Titular de Engenharia Civil e Ambiental na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), fez parte da Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Águas – ANA em Brasília desde sua criação em 2001 até 2009. Naquele período, foi membro do Comitê do Programa Hidrológico Internacional (PHI) da UNESCO, e Presidente do Conselho Intergovernamental do PHI desde 2014 – 2015. Ainda exerceu as funções de Assessor Especial na Secretaria de Saneamento e Energia de São Paulo e membro do Conselho de Administração da Empresa Metropolitana de Energia – EMAE entre 2010 e 2012. Participou do Think Tank sobre a Água e o Futuro da Humanidade da Fundação Gulbenkian, sediada em Lisboa, Portugal. Foi Presidente do Comitê Internacional do 6º Fórum Mundial da Água, realizado em 2012 em Marselha, França. Em 2002, recebeu o Crystal Drop Award da International Water Resources Association em reconhecimento à sua contribuição à gestão de recursos hídricos em nível mundial. Em 2009 recebeu a Honorary Membership da American Water Resources Association e o Prêmio Flavio Terra Barth da Associação Brasileira de Recursos Hídricos. Em 2011 recebeu o Honorary Diplomate da American Society of Civil Engineers pela ampla e destacada atuação na área de recursos hídricos. Benedito Braga é autor de mais de 200 artigos técnico-científicos e 25 livros e capítulos de livros no tema da gestão de recursos hídricos publicados em vários idiomas.
6
SANEAS
uando nos deparamos com questões
legais para o atendimento em áreas invadidas, princi-
complexas como a gestão do meio
palmente se forem de proteção ambiental.
ambiente, as opiniões se apresentam
O resultado é que as pessoas ficam com o acesso à
nas mais diversas tonalidades e ní-
água potável dificultado e despejam seus esgotos di-
veis de profundidade. Vão desde os mais radicais,
retamente nos córregos e rios. No volume - são cerca
que defendem o abandono total da civilização, até
de 3,7 milhões de pessoas na Capital e Região Me-
os que acreditam que os recursos naturais estão aí
tropolitana - é um desastre ambiental que só não é
para serem usados indiscriminadamente e não se
maior do que o flagelo humano que isso representa.
deve disciplinar seu uso.
As pessoas vivem com o esgoto nos pés das casas e
Mas há grupos pragmáticos que procuram fugir de idealismos e ideologias, buscando encontrar um caminho concreto e responsável para problemas urgen-
não contam com água potável, estando à mercê de uma série de doenças de veiculação hídrica. Fizemos grandes avanços com o Projeto Tietê.
tes relacionados ao bem-
Com investimentos de
-estar do ser humano e à
aproximadamente
conservação ambiental.
3 bilhões em 26 anos
Um caminho de sustentabilidade urbana. O saneamento é um tema
comum
nessas
discussões por ser um serviço que é essencial para as pessoas e que, ao mesmo tempo, é re-
Despoluição de rios é algo que vai muito além do saneamento
alizado através de obras que afetam diretamente
US$
ampliamos a coleta de 70% para quase 90% e o tratamento dos esgotos de 24% para 70% na RMSP. Para se ter uma ideia do que isso significa, o número de pessoas que passaram a ter tratamento de esgoto, 10 milhões, equivale à popula-
o meio ambiente, mesmo quando feitas com o míni-
ção da Suécia. O Projeto tem obras de excelência em
mo de desgaste e com contrapartidas que amenizem
engenharia como o ITi-7, um túnel de 7,5 quilômetros
danos.
que corre ao lado e abaixo do Tietê e que vai coletar o
No interior, onde o crescimento é gradual e mais
esgoto de 2 milhões de pessoas.
planejado, a Sabesp consegue atingir serviços com-
Mesmo assim, precisamos pensar diferente e mudar
paráveis aos dos países mais desenvolvidos com inter-
o modo de encarar o problema para poder acelerar os
venções pequenas no meio urbano. Já na Grande São
resultados. Um exemplo: a mancha de poluição do rio
Paulo e no Litoral, o crescimento desordenado é um
Tietê teve um recuo fantástico de 530 para 122 qui-
obstáculo enorme, mesmo com grandes investimentos.
lômetros nestes 26 anos de Projeto, mas o resultado é
Um exemplo da dificuldade é a instalação da liga-
visível apenas no interior. Aqui na Grande São Paulo,
ção de esgoto em casas de área de favela: é preciso
por conta da concentração urbana, ainda não conse-
muitas vezes quase desmontar o imóvel para fazer
guimos avançar com a mesma rapidez.
toda a estrutura subterrânea. Isso sem contar que em
Para atingirmos índices de coleta e tratamento de
muitos casos não há arruamento e, portanto, não há
esgoto próximos à universalização, precisamos da
onde passar as redes. Também existem as limitações
união de esforços de todos os órgãos governamentais
Abril a Junho de 2019
relacionados e do engajamento da população. Sob o comando
lançou em 2007 o Programa Córrego Limpo, que já despoluiu
do governador João Doria, elegemos a despoluição do rio Pinhei-
mais de 150 córregos na capital. Temos ainda o programa Se
ros como um símbolo dessa nova forma de pensar e de fazer. Já
Liga na Rede, que subsidia moradores de baixa renda para co-
há um esforço multidisciplinar nessa direção sob o comando da
nectarem suas residências à rede de coleta de esgotos, e o Água
Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente, que inclui Sabesp,
Legal, que leva abastecimento de água a habitações em regiões
Emae, Daee e Cetesb, além de outros órgãos do Governo do Esta-
de vulnerabilidade social numa atuação conjunta com prefeituras
do, prefeituras, empresas privadas e entidades da sociedade.
e Ministério Público.
Porque a despoluição de rios é algo que vai muito além do sa-
São projetos que, além do esforço de engenharia, envolvem
neamento. A questão do lixo, do descarte por parte do cidadão
uma complexa tecnologia social, buscando ganhos de qualidade
até a coleta e destinação realizadas pelas prefeituras, precisa de
de vida para as pessoas que mais precisam, enquanto são recu-
atenção especial. Assim como a limpeza e o desassoreamento de
perados os recursos naturais. Nesse aspecto, a Sabesp está im-
rios, a conservação de galerias de águas pluviais, o controle do uso
plantando novidades importantes para acelerar a recuperação de
e ocupação do solo, a fiscalização de fontes de poluição industrial
nossos rios urbanos como estações de tratamento de esgoto com-
e de áreas de preservação ambiental.
pactas, unidades de tratamento de esgoto operando diretamente
As pessoas também precisam se envolver diretamente no cuidado com os rios. Hoje há cerca de 150 mil imóveis na Capital e
nos córregos e a modalidade de contratação de serviços por performance, focando em resultados.
Região Metropolitana que têm rede de esgoto passando na frente
É uma nova maneira de se encarar o problema que não pres-
deles, mas não se conectam unicamente por falta de decisão dos
cinde das grandes obras, que foi o que fizemos até hoje. Mas a
proprietários. É o esgoto de quase meio milhão de pessoas, inclu-
solução final desse problema só será alcançada com o engajamen-
sive de bairros considerados “nobres”, que vai para as galerias de
to da sociedade em torno de um propósito, de uma grande causa
água pluvial e em seguida para córregos e rios.
comum. A Sabesp conhece o seu papel, a sua capacidade e a sua
Além do Projeto Tietê, que envolve também a recuperação do Pinheiros, a Sabesp, em parceria com a Prefeitura de São Paulo,
responsabilidade e saberá continuar cumprindo com aquilo que se espera dela, que é cuidar bem das pessoas e da natureza.
Abril a Junho de 2019
SANEAS
7
MATÉRIA TEMA
OS DESAFIOS DA DESPOLUIÇÃO DOS PRINCIPAIS RIOS DE SÃO PAULO T odas as grandes civilizações da história se desenvol-
veram ao redor de algum rio ou corpo d’água, incluindo toda a trajetória de evolução humana. Com
a maior metrópole do hemisfério Sul, São Paulo, não foi diferente. A história da cidade se desenhou ao redor dos dois principais rios do estado: O Rio Tietê e o Rio Pinheiros.
8
SANEAS
Abril a Junho de 2019
Tietê, uma vida dentro de São Paulo
formato temos nos dias atuais.
Com nascente a apenas 22 quilômetros do Oceano Atlânti-
A diferença de nível em seu percurso possibilitou a cons-
co, na cidade de Salesópolis, na Grande São Paulo, o Tietê
trução de diversas usinas hidroelétricas, aproveitando assim
é um rio de curso atípico, de drenagem endorreica, ou seja,
seu potencial energético.
o rio não faz sua foz no oceano e, em invés disso, corre para dentro do continente. O seu nome "Tietê" em língua tupi significa "rio verdadeiro" ou "águas verdadeiras", que nos remete a um sentido de vida desenvolvida em São Paulo, com algumas mudanças de destino, citadas no decorrer desta matéria. O rio Tietê abre caminho por 1100 quilômetros de leste a oeste em direção ao interior, sendo quase a extensão do estado todo de um extremo a outro, até desaguar no rio Paraná, divisa de São Paulo com Mato Grosso do Sul, marcando a paisagem urbana da capital paulista e de diversas outras cidades por onde passa, como Pirapora do Bom Je-
Rio Tietê costuma ser uma alternativa para o transporte da safra (Portal Alto Tietê).
sus, Ibitinga e Barra Bonita. Seu desenho natural era caracterizado por curvas sinu-
O rio Tietê ainda mantém quase todo seu trecho
osas que, em épocas chuvosas, tinha todo seu entorno
navegável,trechos que durante séculos foram explorados
inundado e transformado em área de várzea, fenômeno
como via de transportepor populações indígenas do estado
similar aos que ainda ocorrem em biomas como Pantanal
antes da colonização e ainda hoje essas hidrovias são ampla-
e Amazônia.
mente exploradas funcionando como alternativa às rotas ro-
O trajeto do rio foi fator de vantagem bem aproveitada pelos bandeirantes que se aventuraram em suas águas desbravando e levando desenvolvimento a cada rincão do interior do estado.
doviárias na escoação das commodities agrícolas produzidas nas regiões por onde o Tietê passa. Atualmente, o nosso Rio, que acena boas-vindas a muitos visitantes que entram na cidade São Paulo pelas estradas, está bem menos poluído do que já foi no passado, mas ainda é considerado morto em cerca 122 quilômetros, 12% de sua extensão, com condição mais crítica entre os municípios de Itaquaquecetuba e Cabreúva, passando pela Capital. A situação do rio melhorou bastante, apontam os especialistas em recursos hídricos, porque oito toneladas de esgoto sem tratamento deixaram de ser lançadas nos rios afluentes do Tietê, graças à ampliação da Estação de Tratamento de Esgotos de Barueri, que passou a tratar 12 m³/s de esgotos, o que corresponde ao volume gerado por
Foto do Arquivo Público do Est. de São Paulo/ Autoria: Joel Barreto, em 1971. Inspeção de obra com o então governador Laudo Natel e o então secretário de Obras, José Meiches.
5,8 milhões de pessoas, e demais investimentos da Sabesp (veja o artigo do presidente da Companhia, Benedito Braga, nesta edição).
O crescimento de São Paulo exigiu novas áreas próprias para a ocupação humana, sendo necessário usar de artifícios da engenharia moderna para a época para transformar o serpenteado do rio no traçado retilíneo e contínuo, projeto arrojado chamado de "Retificação do Tietê", cujo
Abril a Junho de 2019
SANEAS
9
MATÉRIA TEMA
Rio Pinheiros: uma referência na Região Metropolitana.
Para a ampliação das atividades da usina, a vazão do rio Tietê precisava ser regularizada e controlada. O rio Pinheiros, sendo o maior afluente do rio Tietê dentro da área urbana foi fundamental na escolha da engenharia para controlar a vazão na chegada a usina. A partir desse princípio, a Light decidiu construiruma barreira para represar as águas de um dos afluentes do rio Pinheiros, o rio Guarapiranga, e dessa forma nasceu o Reservatório Guarapiranga, que iniciou sua operação em 1908. Em 1923, o engenheiro norte americano contratado pela Light, Asa White Kenney Billings, viu no diferencial de nível entre o planalto paulista e nível do mar um potencial para
De topografia similar ao Tietê, o Rio Pinheiros também flui em sentido contrário ao mar. Com 25km de extensão o rio Pinheiros nasce da união da jusante dos rios Guarapiranga e Rio Grande e tem sua foz no rio Tietê.
a construção de uma usina que produzisse eletricidade com a queda d’água pelas encostas no maciço rochoso da Serra do Mar, e foi a partir de seus estudos e projetos de viabilidade batizados e conhecidos como “Projeto da Serra”
Nos tempos coloniais, o Rio Pinheiros foi chamado de "Juru-
ou “Plano Serra” que a Usina de Cubatão foi construída e
batuba", que em tupi significa “lugar com muitas palmeiras
passou a operar em 1926. Posteriormente a usina recebeu
jerivás”. Passou a ser chamado de Rio Pinheiros pelos jesuí-
o nome de Henry Borden.
tas, em 1560, quando eles criaram um aldeamento indígena de nome "Pinheiros".
Nos anos de 1924 e 1925, uma estiagem histórica deixou a cidade de São Paulo energeticamente vulnerável, reduzin-
Por ser bem sinuoso, os grandes lotes entre essas curvas
do o fornecimento de eletricidade no município em 30%,
do rio foram ocupadas inicialmente por chácaras, cujos pro-
justamente em um período em que a cidade era palco de
prietários foram atraídos pelo solo fértil e abundante em
uma intensa aceleração industrial. Foi então com o pensa-
água, características ideais para o cultivo de frutas, legumes
mento de deixar a cidade mais confortável e abundante na
e verduras que faziam o abastecimento do aldeamento de
questão do abastecimento energético que Billings se empe-
Santo Amaro e de São Paulo de Piratininga, atual área cen-
nhou em mais um projeto ambicioso para a engenharia da
tral da cidade.
época: a retificação do leito do rio Pinheiros e reversão de
Bem no início do século 20, a cidade passou a receber
seu sentido, conduzindo o fluxo do rio em direção à Serra
indústrias que demandaram grande quantidade de energia
do Mar para aumentar a produção de energia já existente.
elétrica. Foi a partir dessa demanda que entrou em opera-
Dessa forma, a partir de 1930 o rio Pinheiros viu seus
ção a maior usina hidroelétrica brasileira da época: a Usina
meandros transformados em um traçado reto e seu cur-
de Parnaíba, primeira usina brasileira construída pela Light,
so revertido, juntamente com a construção do reservatório
empresa responsável pelo abastecimento energético da ca-
Billings, das usinas elevatórias de Pedreira e Traição e da
pital paulista.
barragem reguladora Billings-Pedras.
Nos primeiros anos do século 20 pôde ser sentida uma in-
A retificação do leito do rio trouxe como consequência a
tensa transformação do cenário da cidade, que rapidamen-
extinção das inundações das várzeas, que frequentemente
te aumentava suas áreas industriais, exigindo ainda mais
molestavam os paulistanos daquela região. Na região de foz
da capacidade energética do município, que já não podia
do rio Pinheiros com o Tietê foi edificada a Estrutura de
atender tal necessidade apenas com usinas termoelétricas.
Retiro, obra com finalidade de separar a água dos rios nas
Trabalhando com as águas do rio Tietê para produzir ener-
possíveis inundações seguintes.
gia, as turbinas da Usina de Parnaíba exigiram um volume
Após a retificação do Pinheiros, a Light, detentora do
maior de água para incrementar a produção de eletricidade
contrato de concessão de energia da cidade, tinha em seu
que a cidade pedia com o crescimento das atividades indus-
contrato permissão para comercializar as áreas antes exis-
triais e precisou ser ampliada 10 anos após sua construção.
tentes entre os meandros do rio, e assim nasceram os bair-
10
SANEAS
Abril a Junho de 2019
ros-jardins: City Butantã, City Lapa e Alto de Pinheiros; lotes
Desde o ano de 1970 a Prefeitura da Cidade de São Pau-
generosos, com ruas curvas e avenidas largar e arborizadas.
lo juntamente com órgãos e entidades públicas e privadas
Esses bairros passaram a abrigar moradias de parte da elite
atuantes no segmento de infraestrutura ambiental têm
paulistana da época.
desenvolvido estudos de viabilidade para executar obras e
Nos anos seguintes, o reservatório Guarapiranga deixou
medidas com a finalidade de despoluir o rio, mas seja por
seu papel de controlar a vazão do Tietê e assumiu a impor-
negligência ou desinteresse dos poderes envolvidos, nenhu-
tante função de reservatório de abastecimento de água para
ma das iniciativas resultou em êxito.
a região metropolitana, além de regular as inundações de sua própria bacia. O intenso crescimento demográfico refletiu no rio aquilo que antes não era um problema. O volume de efluentes e demais resíduos resultantes da atividade humana já não eram capazes de ser depurados pelo corpo d’água da forma
Em 2001 a Prefeitura da capital testou um sistema de flotação que retiraria a maior parte dos resíduos sólidos de poluentes, elevando consideravelmente o nível de qualidade da água. O caso do tratamento por flotação testado no rio Pinheiros era constituído por quatro etapas:
que acontecia antes, quando a grande cidade era apenas
Tratamento preliminar: usava-se gradeamento e caixas de
um vilarejo, e devido aos efeitos da rápida e desenfreada
areia com a finalidade de coletar os objetos maiores que
urbanização, o rio passou a receber significante carga po-
boiavam na superfície e que pudessem impedir o correto
luidora produzida pela ocupação nas cercanias de seus cór-
funcionamento do sistema, como garrafas pet e sacolas
regos e também de municípios vizinhos à capital paulista,
plásticas, por exemplo; Injeção de coagulantes: produtos
graças ao fenômeno da conurbação, problemas esses então
químicos com propriedades coagulantes eram inseridos no
já vividos pelo rio Tâmisa, na capital inglesa e pelo Sena,
corpo d’água, unindo as partículas poluidoras em blocos
em Paris.
maiores; Microaeração/ flotação: os blocos de poluentes su-
O Rio Pinheiros, que era protagonista na história do de-
biam para a superfície num fenômeno chamado sobreleva-
senvolvimento da cidade e sediava eventos relacionados
ção, em forma de lodo ao mesmo tempo em que difusores
aos esportes de modalidades aquáticas como nado e remo
de ar lançavam microbolhas na água, aumentando o poder
e abrigou até uma piscina em suas margens, passou a de-
depurativo causado pelo processo biológico das bactérias
sempenhar um papel de grande calha de esgoto, assumindo
que decompõem a matéria orgânica presente; Remoção do
papel de antagonista em uma história de vergonha para a
lodo: a camada de lodo formada na superfície era removi-
cidade e seus moradores.
da com o uso de equipamentos próprios para dragagem e
Com a pavimentação de praticamente toda área perten-
dispostos em locais onde pudessem ser receber tratamento.
cente a bacia do rio, o solo tornou-se impermeável, levando
A ideia era limpar o rio para novamente levar seu fluxo
um volume maior de água para o rio durante as chuvas, tra-
até a represa Billings, de onde a água partiria em direção a
zendo de volta as enchentes do passado e causando assorea-
usina Henry Border em uma nova empreitada para outra vez
mento devido ao acumulo de areia, varrida para dentro do rio.
aumentar sua eficiência energética. As águas do rio tinham deixado de ser usadas para produzir energia na usina da serra por conta da sua carga de poluentes, então por exigência do governo só poderia voltar a essa função quando a poluição fosse expressivamente reduzida. Por dez anos essa tentativa de despoluir o rio funcionou de modo experimental e consumiu 160 milhões de dólares em investimento. Apesar de melhoras significativas na qualidade da água, os governos municipal e estadual decidiram interromper as atividades por não apresentarem a eficiência que esperavam, já que mesmo após esses anos atuando na
Cochos (para prática de natação) no Rio Pinheiros, 1932. (Centro Pró-Memória do Esporte Clube Pinheiros).
despoluição a água permanecia poluída com metais pesados, que não se aglomeravam ao lodo, além de outros pro-
Abril a Junho de 2019
SANEAS
11
MATÉRIA TEMA
blemas como o grande volume de lodo produzido - cerca
te em suas margens e promover consciência ambiental a
de 1000 toneladas por dia - e que já não tinha capacidade
quem trafega diariamente nas vias marginais.
de armazenamento nem tratamento, já que para tratar essa
Desde o começo do projeto a iniciativa privada se mos-
quantidade de lodo seria necessário construir um duto que
trou bem participativa, uma vez que as margens do rio
o levasse até a ETE Barueri, única estação com capacidade
foram divididas em trechos com responsabilidade de con-
para tratar essa magnitude de poluentes. Outra questão le-
servação atribuída à cada empresa parceira do projeto. Ao
vantada foi a impossibilidade de operar o sistema em épo-
todo foram mais de 300 mil mudas plantadas nos 26km de
cas de chuvas, uma vez que o rio precisa ser revertido para
margens, tendo 250 espécies diversificadas escolhidas por
controlar as cheias e assim dispersaria o lodo.
técnicos ambientais.
A Associação Águas Claras do Rio Pinheiros está engajada em causas que tratam a poluição em sua raiz, ou seja, não adianta tentar despoluir o rio em si, se seus córregos afluentes mantiverem seus níveis de contaminação. A diretora executiva da entidade, Stela Goldestein, em seu livro, “Rio Pinheiros e seu território: conhecer para transformar”, deduz: “cabe desenvolver uma nova cultura da água, no âmbito da sociedade e dos gestores públicos, e para isso cada uma das políticas setoriais que afetam as cidades precisa ser revista e reorientada”. A ambientalista afirma que os paulistanos não conhecem
Os benefícios do pomar erguido em plena marginal vão
o rio, levando a entender que a falta de conhecimento sobre
além do embelezamento estético e paisagístico, já que a ex-
os rios por parte dos cidadãosé fator agravante na banaliza-
tensa faixa desse jardim cheio de cores trabalha como um fil-
ção da constante degradação desses leitos d’água. É preciso
tro biológico natural, purificando parte do CO2 lançado no
conhecer e entender o funcionamento do rio".
ar das vias paralelas, reduzindo também a temperatura e o
Goldestein ainda atesta que a urbanização tem a característica de avançar e construir e quando atinge o rio, quer escondê-lo com obras de canalização: "talvez seja uma tentativa de neutralizar o mal odor exalado por ele juntamente com sua nata de lixo: "a ignorância sobre os assuntos hídricos acaba embutindo na mente das pessoas, principalmente as mais jovens, que não conheceram o rio limpo, que é natural ter um rio morto no meio da cidade". O conhecimento sobre a história do rio e sua importante participação no desenvolvimento sócio econômico da metrópole pode ajudar o desenvolvimento de consciência hídrica e o homem como parte integrante do meio em que vive, não como agente externo com poder de transformar o ambiente negativamente em detrimento de suas ambições sociais. Um outro projeto, dessa vez mais bem sucedido, entre a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo em ação conjunta com o EMAE (Empresa Metropolitana de Águas e Energia) agraciado como Projeto Pomar Urbano foi criado no ano de 1999 com a finalidade de devolver ao rio Pinheiros um fração da vida que um dia foi tão abundan-
12
SANEAS
Abril a Junho de 2019
ruído intenso provocado pelo tráfego de veículos na região.
Estado de êxito foi executada na região do rio: a Ciclovia
Sabesp anuncia plano de trabalho para a recuperação do Rio Pinheiros
Rio Pinheiros, inaugurada no ano de 2010. Seu percurso
No dia mundial do Meio Ambiente, 05 de Junho, a Sabesp
conta atualmente com mais de 20km de extensão, cobrin-
anunciou sua participação numa ação conjunta com o Go-
do a margem leste do rio quase na totalidade de seu com-
verno do Estado com a Secretaria de Infraestrutura e Meio
primento. A via serve como alternativa de deslocamento
Ambiente (SIMA) e com empresas vinculadas ao estado-
àqueles que buscam escapar dos frequentes engarrafa-
EMAE, DAEE, Cetesb e ainda com o apoio da PMSP, para a
mentos que se formam na marginal do rio. Além de ga-
recuperação do Rio Pinheiros.
Além do Projeto Pomar, outra iniciativa do Governo do
nhar em saúde e qualidade de vida, os usuários da ciclovia
O seu plano de trabalho envolve a implantação de intercepto-
podem acessar as áreas do pomar urbano já mencionado,
res, instalações de ETES compactas e uso de novas tecnologias.
proporcionando sensação de integração à natureza sem
Na entrevista a seguir, com o superintendente de Gestão de Pro-
sair da cidade, desfrutando das características de um gran-
jetos Especiais, Carlos Eduardo Carrela, e a sua gerente, Andréa
de parque linear.
Ferreira, a questão está abordada de forma abrangente.
Governo iniciou testes com ecobarcos para coleta de lixo no rio Pinheiros Uma ação inicial marcou o processo de recuperação do Rio Pnheiros, no Dia Mundial do Meio Ambiente, 05.06, com o início dos os testes com dois ecobarcos coletores de resíduos flutuantes, com operação prevista para 30 dias, nas proximidades da Usina de Traição, perto da Ponte Ary Torres. Nesse espaço, ecobarreiras foram implantadas pela EMAE e pela Sabesp, com a função de reter materiais flutuantes. De março até 05 de junho, já havia sido registrado o recolhimento de 133 toneladas de detritos. A primeira viagem no ecobarco foi tripulada pelo governador do Estado, João Doria; prefeito de São Paulo, Bruno Covas; secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente, Marcos Penido; presidente da Sabesp, Benedito Braga, e demais lideranças envolvidas com o Projeto. Na oportunidade, o governador João Dória declarou: “Quero reafirmar o compromisso do Estado de São Paulo, igualmente o compromisso da Prefeitura de São Paulo, na despoluição do Rio Pinheiros. Nosso projeto de despoluição completa do Rio Pinheiros estará concluído até dezembro 2022, trata-se de um projeto de quatro anos. O programa já começou. Uma parte dos recursos é do orçamento do Estado, e outra parte virá de recursos privados, a partir da concessão de algumas áreas para a exploração do transporte turístico de passageiros aqui no Pinheiros”. De acordo com informações da assessoria do Governo, o barco foi planejado exclusivamente para auxiliar na coleta de resíduos sólidos flutuantes, tendo uma largura de 2,80 metros por 7 de comprimento, altura de 2,75 metros e pesa 4 toneladas. Caso a tecnologia seja aprovada, a Emae vai avaliar a aquisição dos equipamentos no âmbito do projeto Novo Rio Pinheiros. Além dessa tecnologia, a empresa realizará também testes com outras embarcações de recolhimento de lixo superficial. A embarcação foi desenvolvida pela empresa nacional Ecoboat Soluções Ambientais.
Abril a Junho de 2019
SANEAS
13
ENTREVISTA
Impactos, tecnologias e investimentos para a Carlos Eduardo Carrela é engenheiro civil formado em 1979, graduado pela Universidade de Mogi das Cruzes e pós graduado em Engenharia de Saneamento Básico pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Começou sua carreira profissional na Sabesp como estagiário em 1978 acompanhando obras subterrâneas na área de saneamento. Na Sabesp, atuou nas áreas de Engenharia, gerenciando obras de grande porte e de Manutenção e Operação dos Sistemas de Distribuição de Água e Coleta e Tratamento de Esgoto da Região Metropolitana. Atualmente ocupa o cargo de Superintendente de Gestão de Projetos Especiais, na Diretoria de Tecnologia, Empreendimentos e Meio Ambiente da Sabesp.
recuperação do Rio Pinheiros
N
a Superintendência de Gestão de Proje-
revitalização e uma convivência agradável, teremos
tos Especiais (TG), integrada à Diretoria
impacto direto nas melhorias das condições do rio Tie-
de Tecnologia, Empreendimentos e Meio
tê, uma vez ser o Pinheiros um dos principais afluentes
Ambiente da Sabesp (T), são desenvol-
do Tietê.
vidos os grandes projetos da Sabesp, dentre eles o
3) Sob o aspecto paisagístico e também social,
Projeto Tietê, maior programa de saneamento am-
possibilidade de maior integração do rio à vida das
biental do país e o de Recuperação do Rio Pinheiros.
pessoas que ali vivem e das que por lá transitam, seja
Para discorrer sobre essa temática, a Revista Saneas
com melhores condições de utilização das ciclovias
traz uma entrevista de seu superintendente, Carlos
seja com desenvolvimento de outras oportunidades
Eduardo Carrela (*), em conjunto com sua gerente,
de exploração turística e de lazer das margens do rio
Andréa Ferreira (*).
e dos arredores. 4) Sob o aspecto econômico, além da exploração tu-
Saneas: Já é possível avaliar o impacto do programa
rística e de lazer das margens e arredores, um dos fatores
de despoluição do Rio Pinheiros para São Paulo?
positivos tende a ser a valorização imobiliária da região.
Carlos e Andréa: Primeiramente, é importante con-
Andréa Ferreira é administradora de empresas, formada pela Universidade Mackenzie e pós-graduada em Gestão de Projetos, pela Universidade de São Paulo - Fundação Carlos Alberto Vanzolini, com MBA em Gestão Empresarial, pela Universidade de São Paulo - Fundação FIA de Administração e Negócios. Na Sabesp, atuou atuou nas áreas comerciais e financeira e em diversos projetos coligados e está, desde 2007, na coordenação do planejamento e controle do Projeto Tietê. Atualmente ocupa o cargo de Gerente do Departamento de Planejamento e Controle da Superintendência de Gestão de Projetos Especiais da Sabesp.
14
SANEAS
textualizar o rio em toda a sua área de influência, o
Saneas: Por que ele foi eleito, dentro da Sabesp,
que chamamos de bacia hidrográfica, ou seja a qua-
como uma prioridade?
lidade da água do rio Pinheiros é resultado também
Carlos e Andréa: A Sabesp vem executando, desde
das condições de todos os seus afluentes, que juntos
1992, o Projeto Tietê, considerado o maior programa
compõem a bacia do rio Pinheiros, numa extensão
de saneamento do país, que consiste na implantação
territorial de 271 km² nos município de São Paulo,
da infraestrutura de coleta, transporte e tratamento
Taboão da Serra e Embu das Artes. Por outro lado,
de esgotos na RMSP.
o rio Pinheiros é um dos principais afluentes do rio Tietê, na bacia hidrográfica do Alto Tietê.
Especificamente na bacia do rio Pinheiros, já foram investidos aproximadamente R$ 2 bilhões para exe-
Assim, podemos enumerar diversos impactos posi-
cução da infraestrutura pesada, como o sistema de
tivos da despoluição do rio Pinheiros, mas vou desta-
interceptação ao logo das margens do rio, além de
car o que julgo principais:
coletores tronco e redes coletoras de esgoto em uma
1) Sob o aspecto do saneamento, melhoria da qua-
extensão de mais de 530 km de tubulações, possibi-
lidade de vida para os 3,3 milhões de pessoas que
litando que todas as intervenções complementares
vivem na bacia do rio Pinheiros. Saneamento com in-
atualmente em execução e as que serão executadas
dutor de desenvolvimento social e de saúde pública.
nos próximos anos sejam devidamente encaminhadas
2) Sob o aspecto ambiental, além de promover sua
Abril a Junho de 2019
para tratamento na estação de Barueri.
Diante deste cenário e considerando o rio Pinheiros como um
Carlos e Andréa: Atualmente estão em estudo todas as tecnolo-
dos ícones de São Paulo, ele reuniu características singulares e
gias disponíveis no mercado, sejam para implantação de coletores
fundamentais para torná-lo um marco de sucesso, a partir da
tronco priorizando as metodologias não destrutivas, sejam para im-
união de todos os esforços - Governo, Sabesp, CETESB, EMAE,
plantação de estações de tratamento de esgoto de áreas informais.
DAEE, sociedade civil e todas as entidades envolvidas. Saneas: Córregos canalizados que são afluentes do Rio PinheiSaneas: Sua operacionalização será simultânea com a pro-
ros podem conter ligações clandestinas de esgotos que nin-
gramação de despoluição do Rio Tietê, em andamento, está
guém vê. O Programa prevê equacionar este tipo de situação?
integrada aos projetos sustentáveis da Companhia ou terá
Carlos e Andréa: O sucesso do programa depende também da
um tratamento único e independente dos demais proces-
solução de situações como estas e prevê um plano de varredura
sos dessa natureza?
no sistema existente, para detecção e correção de irregularidades
Carlos e Andréa: Sim, sem sombra de dúvida. Sua operacionali-
operacionais nas diversas subbacias de esgotamento.
zação está integrada ao Projeto Tietê, às ações do Córrego Limpo e todas as iniciativas de sucesso da Companhia.
Saneas: Já existe um cronograma de investimentos e a avaliação de quanto tempo levará para se concluir o programa
Saneas: Coleta e tratamento de esgoto serão as bases de
de despoluição?
atuação no processo de despoluição do Rio Pinheiros?
Carlos e Andréa: O programa de ações e investimentos foi es-
Carlos e Andréa: As bases de atuação da Sabesp neste processo
truturado e estima a implantação das intervenções no horizonte
dizem respeito à coleta e tratamento de esgotos, no entanto, a
dos próximos três anos.
despoluição de rios é algo que vai muito além do saneamento, questões como gestão dos resíduos sólidos, limpeza e desasso-
Saneas: Há, por parte da população, uma conscientização e
reamento de rios, limpeza de galerias de águas pluviais, controle
um comprometimento com este Programa?
do uso e ocupação do solo, controle e fiscalização de fontes de
Carlos e Andréa: Como comentamos há pouco, a despoluição
poluição industrial e de áreas de preservação ambiental são igual-
de rios vai muito além do saneamento, é imprescindível que haja
mente importantes.
uma real sinergia entre todos os atores envolvidos, definindo res-
Adiciona-se a isso, como fator fundamental de sucesso para a
ponsabilidades e concatenando cronogramas de trabalho e inter-
melhoria efetiva da qualidade dos rios, o envolvimento de toda
faces de atuação conjunta para alcançarmos um resultado maior
a sociedade no descarte correto dos resíduos, na efetivação da
e neste contexto o envolvimento de toda a sociedade, seja por
conexão de seus imóveis à rede de esgotos da Sabesp e conscien-
meio de campanhas e programas de sensibilização, seja por meio
tização socioambiental. É preciso criar mecanismos para envolver
de ações pontuais, é fundamental. Não tenho dúvida de que na
a sociedade com esta causa, para se criar uma identidade inte-
medida em que haja transparência, esclarecimento, atualização e
grando os rios à paisagem urbana de maneira positiva.
publicidade das ações em curso no programa, a população será
Para isso, foi instituída uma Comissão Multidisciplinar de estudos, por meio da resolução SIMA nº 14, de 08 de março de 2019, que
uma grande apoiadora. Para tanto, precisamos contar com o importante trabalho dos meios de comunicação nesta empreitada.
tem por objetivo planejar, coordenar e acompanhar os trabalhos necessários para que os objetivos pretendidos sejam alcançados.
Saneas: No caso do Rio Pinheiros, existe a preocupação na manutenção e recuperação das áreas verdes do seu entorno?
Saneas: Quais as unidades da Sabesp estão desenvolvendo
Carlos e Andréa: Com certeza essa é também uma das linhas de
este Programa?
atuação do Comitê Multidisciplinar, pois de nada adianta termos
Carlos e Andréa: Sob a tutela do nosso Diretor-Presidente Be-
um rio despoluído se não tivermos um entorno que o valorize e
nedito Braga, o desafio lançado integrou diversas unidades da
o integre à sociedade.
Sabesp, estando mais diretamente envolvidas a Superintendência de Planejamento Integrado, unidades da Diretoria de Tecnologia,
Saneas: Qual é o investimento previsto para o referido Pro-
Empreendimentos e Meio Ambiente e da Diretoria Metropolita-
grama? Quais são as fontes desse recurso?
na, além da Superintendência de Comunicação e outras unidades
Carlos e Andréa: Do ponto de vista do saneamento, os investi-
indiretamente envolvidas.
mentos necessários estão inicialmente estimados em R$ 1 bilhão e serão viabilizados com recursos previstos no plano plurianual de
Saneas: Quais serão as tecnologias utilizadas?
investimentos da Sabesp. Abril a Junho de 2019
SANEAS
15
UNIVERSALIZAÇÃO
A luta pela universalização do saneamento no Brasil tem uma razão: saneamento é saúde
H
á dados que comprovam que em paí-
to de água potável, o resultado não é tão desolador:
ses cujo saneamento universal já é uma
83% dos brasileiros recebem água tratada em suas
realidade há praticamente erradicação
torneiras, mas ainda há 35 milhões de pessoas sem
da presença de doenças transmitidas
acesso a esse serviço.
por veiculação hídrica, ou seja, quase não há regis-
A ausência de saneamento básico pode causar
tros de doenças causadas por agentes patológicos
surtos de patologias como: esquistossomose, cólera,
presentes em água sem tratamento adequado para
febre tifóide, leptospirose, entre outras, muitas delas
consumo e também em esgoto que não recebe os
com o óbito como consequência.
devidos cuidados. Registros apontam que cerca de 43% dos brasileiros
revelam que para cada 1 dólar investido em infraes-
residem em cidades onde não há estrutura de para coleta
trutura de saneamento básico reflete em 4,3 dólares
e tratamento de esgoto. Quando consideramos apenas a
economizados em investimentos com saúde. A infor-
região norte, esse parcela da população chega a 90%.
mação só reforça que saneamento e saúde estão inti-
Ao avaliar os dados sobre serviços de abastecimen-
16
SANEAS
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS)
Abril a Junho de 2019
mamente ligados.
Nenhuma moradia deve ser excluída, seja urbana, rural ou isolada
51% utilizam meios alternativos. Vale ressaltar que uma fossa inadequada e o descarte de
Quando o assunto “universalização do saneamento básico no
efluentes in natura no ambiente rural podem trazer os mesmos
Brasil” entra em pauta, muitas vezes os domicílios rurais ficam
problemas, visto que uma fossa mal construída oferece riscos
a margem da discussão, talvez por conta da maior parcela da
de contaminação ao solo e aos lençóis freáticos, o que se torna
população estar concentrada em
situação agravante no meio rural, já
grandes centros urbanos, mas não
que o a água usada para consumo
há universalização sem a inclusão de
usualmente é extraída de poços e
áreas rurais e comunidades isoladas. A coordenadora da CT de Saúde e Saneamento em Comunidades Isoladas, Ana Lúcia Brasil, reuniu um conjunto de trabalhos para dar vida a um caderno técnico, uma espécie de cartilha para servir como um guia de soluções adequadas para que as comunidades isoladas do tratamento e reuso da água. “A ideia é que a publicação seja utilizada por quem decide no nível municipal sobre como ajudar essas comunidades, tanto para aquela da periferia da área urbana como o da zona rural”, ressaltou Ana Lúcia em um evento promovido pela
43% dos brasileiros residem em cidades onde não há estrutura para coleta e tratamento de esgoto
consumida sem nenhum tratamento prévio, além de ser utilizada também na irrigação do plantio. Existe uma urgente necessidade de colocar as comunidades rurais e isoladas dentro dos planos municipais de saneamento de cada cidade, delegando ao poder municipal a obrigação de levar políticas de inclusão a essas comunidades marginalizadas no questão do saneamento. É preciso que cada município disponha de corpo técnico especializado que possa orientar e conduzir os cidadãos rurais na construção de sistemas efetivos de saneamento, além de realizar visitas, inspeções e fiscali-
Associação Brasileira de Engenharia
zações periódicas com exames laboratoriais de qualidade da água
Sanitária e Ambiental - ABES, na capital paulista. O esgotamento sanitário é o item do conjunto do saneamento
e efluentes descartados a fim de acompanhar a manutenção do
considerado mais precário no país, em especial na região norte,
serviço. Se o assunto é a universalização, nenhuma moradia deve
onde 49% dos domicílios utilizam a fossa rudimentar e os outros
ser excluída, seja urbana, rural ou isolada.
Segundo a Fundação Nacional de Saúde – FUNASA, o Brasil apresenta um elevado nível de déficit nos serviços de abastecimentos em regiões rurais, conforme tabela: SITUAÇÃO DO SERVIÇO Déficit* SERVIÇO DE SANEAMENTO
Adequado Atendimento Precário
Sem Atendimento
Nº de domicílios
%
Nº de domicílios
%
Nº de domicílios
%
ABASTECIMENTO DE ÁGUA
5.224.326
64,6%
1.392.989
17,2%
1.474.988
18,2%
ESGOTAMENTO SANITÁRIO
1.387.456
17,1%
4.390.060
54,2%
2.314.786
28,6%
MANEJO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
2.180.154
26,9%
291.881
3,6%
5.620.268
69,5%
Fonte: Departamento de Engenharia de Saúde Pública da Funasa
Abril a Junho de 2019
SANEAS
17
UNIVERSALIZAÇÃO
AESABESP NA REUNIÃO TÉCNICA DE EPIDEMIOLOGIA AMBIENTAL No dia 3 de junho, a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental Seção São Paulo (ABESSP), juntamente com a Associação de Engenheiros da Sabesp (AESabesp), a Associação dos Profissionais Universitários da Sabesp (APU), e o Capítulo Latino Americano e Caribe da International Society for Environmental Epidemiology (ISEE/CAP), realizou a I Reunião Técnica de Epidemiologia Ambiental, Saneamento Ambiental e Carga Global de Doenças do Saneamento. O evento ainda contou com o apoio dos Comitês Alto Tietê e PCJ,da Associação Interamericana de Engenharia Sanitária e Ambiental (AIDIS) e da Aqualimp. A AESabesp foi representada por sua presidente, Viviana Borges, seu diretor cultural, Olavo Sachs e pela sua representante na Câmara Técnica de Saúde e Saneamento Rural, Sonia Nogueira. O encontro abordou os estudos epidemiológicos existentes com representantes de instituições técnicas e acadêmicas, explicando como utilizar esta metodologia no setor de saneamento. No debate, foram apresentados e discutidos dados de surtos do sistema de informações em saúde – DataSus, saneamento e de mudanças climáticas com dados epidemiológicos de saúde. A abertura foi feita por Roseane Maria Garcia Lopes de Souza, diretora da ABES-SP, que apresentou os objetivos da Reunião e lembrou que o tema foi inicialmente proposto como relevante na Câmara Técnica de Saúde Ambiental Comitês das Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, e que a proposta seria o uso dessa metodologia para classificar e orientar políticas públicas para melhoria do saneamento ambiental locais e regionais e a Política de Saneamento. Posteriormente, foi realizada a Mesa redonda: “Epidemiologia ambiental e saneamento ambiental”, com Viviana Borges - presidente da AESabesp, Telma de Cassia dos Santos Nery - médica sanitarista e do trabalho, representante do ISEE/CAP, e Francisca Adalgisa da Silva, -presidente da APU.
A médica Telma de Cassia dos Santos Nery (ao centro, ladeada pelas engenheiras Ana Lúcia Brasil/ABES e Sonia Nogueira/AESabesp) apresentou a ISEE/CAP Latino Americano e Caribe e discorreu sobre a possibilidade de pesquisas serem transformadas em políticas públicas para a melhoria da qualidade vida da sociedade. “Fizemos uma apresentação e divulgamos a Sociedade Internacional de Epidemiologia Ambiental. Temos seis capítulos e com representações na Europa, Leste Europeu, África, América do Norte e represento o Brasil, no capítulo Latino-Americano e Caribe. Aglutinamos grandes pesquisadores da epidemiologia ambiental e são estudados quais são os impactos do meio ambiente na saúde humana. Tentamos transformar nossas pesquisas em políticas públicas levando em consideração a saúde ambiental em cada país que estamos. Por exemplo, a poluição do ar, qualidade da água, são estudados e mostramos quais são os impactos na saúde humana”, deduziu. “É para isso que estamos aqui. Somos um dos organizadores, queremos que os estudos sejam considerados como necessidade de política pública. Os estudos são feitos em cada universidade, tem representação civil também e precisam ser informados para todos. Em nível de governo fundamenta uma política pública voltada para toda sociedade’’, concluiu. Na sequencia, Francisca Adalgisa da Silva, presidente da APU, discorreu sobre a importância de se reunir as informações no evento para uma política pública eficiente. “A oficina é fundamental para agregar informações. Temos muitos estudos e pesquisas que apontam cenários diferentes, mas que não convergem para uma política pública eficiente. Os debates, a integração dos profissionais, são importantes para reunir conhecimento e transmitir informação para a sociedade civil. Devemos mobilizar a população para conhecer mais sobre o tema de saúde pública que muitas vezes é negligenciando pela mídia pela falta de debate. Podemos ter uma saúde adequada para a população”, ressaltou.
18
SANEAS
Abril a Junho de 2019
Concluindo as apresentações da mesa, a presidente da AESabesp, Viviana Borges, destacou a importância da Câmara Técnica para discussão e realização das ações visando soluções para o tema, pelo fato de vivermos em um país de dimensões continentais e de grandes diferenças regionais, com a necessidade da universalização do saneamento. “Pensando de uma forma sustentável, temos um contraste em nosso país e tendo um surto de dengue com 80 óbitos no estado de São Paulo, um dos estados mais ricos do país com um problema de saúde pública, que deveria ser coisa do passado. É importante discutir, dar apoio para essas discussões técnicas e aprofundar nos índices e decidir quais ações serão tomadas para a melhoria da qualidade de vida”, afirmou.
Em prosseguimento à programação da Reunião Técnica, Paulo Junior Paz de Lima, da Associação Brasileira de Pesquisadoras e Pesquisadores pela Justiça Social (ABRAPPS), ministrou a palestra “Quais dados de saúde estão acessíveis – O uso de dados de surtos e doenças no DataSUS”, que apontou a facilidade de se encontrar vários tipos de dados em cada estado ou região do país no sistema. Sua apresentação foi um tutorial de como usar o sistema DataSUS e trabalhar os dados sócio-demográficos, dados de epidemiologia, dados de morbidade, dados de saneamento, como é feita a distribuição de lixo, esgoto, entre outros. Os dados podem ser colhidos por cada estado ou região. O agrupamento pode ser feito no próprio sistema e vai gerar os gráficos ou tabelas que podem ser baixadas no Excel.
Na sequência, João Paulo Machado Torres, professor do Instituto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ministrou a palestra “Mudanças climáticas e o impacto na saúde humana”, que discorreu sobre mudanças climáticas e saúde sob o ponto de vista do seu trabalho com pesticida que é constantemente usado na agricultura, nas residências e o recente estudo sobre tintas de navio. Para ele, o tema é um problema global e a saúde deve ser vista de forma única. “Espero que após abordagem da nossa reunião, possamos entender a saúde de uma forma única, reunindo a saúde humana, animal e ecossistemas. O ambiente não é formado só pelas questões naturais e sim pelo dia a dia, pois convivemos com substâncias tóxicas. Não existe uma situação onde a ciência não possa contribuir. A ciência está ao lado do ser humano, da natureza e as tecnologias precisam ser democratizadas”, pontuou Torres.
Fátima Marinho, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) e Tatiane M. Sousa, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ministraram a palestra “Saneamento e Carga Global de Doença no Brasil: como incorporar o fator saúde às avaliações de acesso a estruturas sanitárias no Brasil através da estimativa da Carga Global de Doença atribuível a estruturas sanitárias insuficientes no país”. Fátima Marinho abordou o método de estimativa de carga da doença no Brasil e no mundo. A especialista afirmou que existe um grande esforço dos colaboradores – são mais de dois mil pesquisadores pelo mundo para estimar a perda de saúde nos países - e que u grande número de pessoas enfrentam problemas que afetam a sua saúde, levando até a incapacitação física ou mental e a óbitos. “Hoje, muitas pessoas se aposentam por causa da depressão e dor nas costas. Precisamos ter políticas públicas para prevenir e promover a saúde dessas pessoas que acabam ficando incapacitadas. A carga de doença procura contribuir nas estimativas do impacto da piora ambiental e da exposição ao ambiente interno/externo e medir as mortes, os adoecimentos e na geração de incapacidade populacional”, concluiu Já Tatiane Sousa abordou a metodologia para avaliar o impacto da falta impacto da falta de saneamento de água, esgoto e coleta de resíduos sólidos sobre a saúde humana em determinadas regiões. “Trata-se de uma metodologia que tem diversos usos e que a gente pode refinar e aproximar o saneamento de saúde populacional”, finalizou. (Fonte: informações e imagens concedidas pela CT Comunidades Isoladas da ABES-SP) Abril a Junho de 2019
SANEAS
19
ARTIGO TÉCNICO Ana Lúcia Silva(1) Gerente da Divisão de Controle Sanitário do Médio Tietê - RMOC em Sistema de Saneamento da Divisão de Controle Sanitário Centro – RMOC da SABESP - Cia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo.
Luiz Yoshiaro Ito Engenheiro do Departamento de Execução de Projetos de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – TXE da SABESP - Cia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo. Américo de Oliveira Sampaio Coordenador de saneamento na Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo.
Américo de Oliveira Sampaio Coordenador de saneamento na Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo.
Endereço(1): Rua Adolfo Pardini, 555, Jd. Paraíso, Botucatu – São Paulo – SP - CEP: 18610-250 - Brasil - Tel: +55 (14) 3811-8295 - e-mail: anasilva@sabesp. com.br.
Estudo exploratório para estimativa da carga de aeração necessária para a manutenção do oxigênio dissolvido no Rio Pinheiros de forma a conter a formação de maus odores Resumo
e liberação de maus odores. A primeira, ou uma das
O presente estudo tem por objetivo estimar a potência
principais soluções adotadas para os casos interna-
de aeração necessária a ser aplicado em trechos do
cionais, similar ao que realizado no Estado de São
Rio Pinheiros, São Paulo – SP, para a manutenção da
Paulo, foi a implantação de sistemas de tratamento
concentração de oxigênio dissolvido (OD) acima de 1
de esgoto, inclusive avançados, cujo objetivo era o
mg/L e evitar a liberação de maus odores. Também
de remover a matéria poluidora e evitar a redução
apresenta uma modelagem matemática quanto ao ris-
dos níveis de OD. Os resultados não foram nada
co de liberação de gases eventualmente presentes na
animadores, uma vez que a condição de baixa oxi-
massa líquida desse rio, com foco no impacto à saúde
genação se dá por fatores inclusive físicos. Tratam-
humana. O trabalho baseia-se na metodologia de pes-
-se de obras de engenharia por onde massas d’água
quisa exploratória e visa estabelecer critérios, métodos
passam a transitar sem que as condições naturais
e técnicas para obtenção de informações e formula-
de reoxigenação sejam atendidas. Além das cargas
ção de hipóteses acerca do problema apresentado.
pontuais de poluição que podem até ser ponto ser
PALAVRAS-CHAVE: remoção de mau odor, aera-
removidas em estações de tratamento de esgoto na
ção forçada
capacidade máxima que a engenharia dispõe hoje de tratamento, há que se considerar a entrada de cargas
Introdução
difusas de poluição, extremamente complexas de se
O presente trabalho estudo tem caráter exploratório,
controlar. Portanto, a aeração artificial não se trataria
ou seja, foi trabalhado de forma a apresentar hipóte-
exatamente de um tratamento a mais, mas sim de
ses acerca de um objeto de estudo, sendo esse objeto
atribuir a esses canais uma funcionalidade que lhe
a proposição de alternativas para a contenção, mini-
foi retirada, que é encontrada na natureza em rios
mização ou mitigação da formação de maus odores
não alterados pelo homem. Nesses, a aeração se dá
no Rio Pinheiros, São Paulo – SP. Baseou-se na literatu-
pelo contorno natural, quedas d’água, desníveis, en-
ra técnica disponível sobre soluções similares aplicadas
tre outros fatores físicos que permitem gradientes de
em outros países, com relativo sucesso. A exemplo do
velocidade, misturas e consequentemente a oxigena-
que se observa no Rio Pinheiros, canais e rios retifica-
ção necessária para que na interação com o meio
dos como o Rio Tâmisa, no Reino Unido, ou o Canal
ambiente as concentrações mínimas de OD se man-
de Chicago, EUA (EPA, 2000; SHEEHAN et al, 1984),
tenham na massa líquida. A primeira aplicação de
a entrada de cargas de poluição antrópica e as baixas
aeração artificial, no mundo, teria sido em meados
velocidades apresentadas na configuração desses cor-
de 1940, no Lago Bret, Suíça. No Rio Tâmisa, como
pos hídricos propicia condições para que os níveis de
as ações de saneamento realizadas haviam sido insu-
oxigênio dissolvido mantenha-se abaixo do necessário
ficientes para revitalizar o rio, optou-se pela aeração
para assegurar a oxidação e a auto-depuração.
em pontos com depleção de OD através de barcas.
Dessa forma, a qualidade da água sofre uma alteração indesejável, e um dos sintomas é a formação
20
SANEAS
Abril a Junho de 2019
Algum tempo após o início da aeração voltou-se a observar o salmão.
Figura 1 – Sistemas de aeração forçada nos Rios Tâmisa, Rio Clyde (Escócia), Lago Baldegg (Suiça), Represa Douglas, Lago Richard B. Russel, Lago Amish e Reservatório Camanche (EUA).
Nos corpos d’água onde essa técnica vem sendo aplicada constata-se:
corpo de água. Como benefício incremental, termos uma melhoria da qualidade da água do rio Tietê, à jusante da Região Metro-
- Aumento da biodiversidade aquática;
politana de São Paulo. Também foi realizado um estudo, a partir
- Na Represa Douglas, EUA, o gás sulfídrico não foi mais obser-
de modelo matemático disponível no site da Agência Ambiental
vado a partir da manutenção da concentração de OD ≥ 5 ppm; - Diminuição dos teores de manganês, ferro, amônia, fósforo e sulfetos (40–80%) A eficiência na transferência do OD é de 45-90%, dependendo
Americana (EPA), para estimar e avaliar se na eventual presença de gases dissolvidos no Rio Pinheiros, a liberação e mecanismo de dispersão, uma vez que há presença maciça de veículos nessa região – risco à saúde pública.
da técnica aplicada.
Objetivo
Materiais e Métodos Desenvolvimento das hipóteses
O presente estudo apresenta uma estimativa da potência de ae-
Sulfetos são uma forma química do enxofre, gerada em aguas
ração necessária para garantir níveis de oxigênio dissolvido de
normalmente por falta de OD. Relatórios de qualidade da água
forma a manter o Rio Pinheiros em condições aeróbias. O objetivo
do Rio Pinheiros, disponíveis em sites da CETESB, demonstram
da manutenção do corpo d’água em condições aeróbias é princi-
a presença de sulfatos na massa líquida, os quais são reduzidos
palmente a redução da geração de odor através da liberação de
a sulfetos por reações biológicas e químicas, e produzem odor
gás sulfídrico. Trata-se de contribuição elaborada pelo presente
desagradável, similar a ovo podre. A liberação é acentuada em
grupo técnico e não relacionada a estudos definidos pela SA-
situações onde o pH é reduzido a menor que 8. Basicamente, ou
BESP. Seu objetivo é tão somente fornecer subsídios básicos que
simplificadamente, ocorrem quatro reações até a transformação
permitam uma avaliação bastante rudimentar da possibilidade
total do sulfeto em sulfato, sendo que duas dessas equações
de melhoria das características da qualidade da água do rio Pi-
ocorrem entre o sulfito e demais compostos presentes no meio
nheiros através de sua aeração, visando principalmente à redução
(equações químicas 3 e 4), e uma delas com o tiossulfato formado
de odor. Não deve ser entendido como um tratamento, mas sim
na equação 3. A equação de primeira ordem de tempo de reação
uma forma de aceleração do processo de autodepuração deste
do sulfeto durante a oxidação foi determinada empiricamente por
Abril a Junho de 2019
SANEAS
21
ARTIGO TÉCNICO
(1,0 kg de O2/Kg de HS-) é menor que a relação O2/DBO5 (1,3 kg
ALÉM SOBRINHO et al., conforme equação 1. HS + 3/2 O2 g SO3 + H –
-2
de O2/Kg de DBO5), os cálculos a seguir tratam da concentração
equação 1
+
de DBO5 no meio, variável esta relacionada a condição de auto-
SO3 -2 + ½ O2 g SO4-2
equação 2
depuração. Considerou-se ainda a manutenção de 1 mg/L como a
SO3 -2 + HS- + ½ O2 g S2O3-2 + OH-
equação 3
concentração mínima ideal a ser mantida ao longo de todo o rio.
Como os aeradores estarão distribuídos ao longo do canal, a concentração média será maior, já que ocorrerão picos de concentra-
S2O3 -2 + ½ O2 g SO4-2 + S
ção no local de maior liberação de oxigênio pelos equipamentos, e
equação 4
essa concentração decairá até o mínimo de 1 mg/L, sendo aumen-
Teoricamente, a relação de oxigênio necessário para oxidar sulfe-
tado novamente com a introdução forçada de mais oxigênio na
tos é de 1:1. A concentração de sulfeto é o fator limitante da reação,
massa líquida – Gráfico 1. A proposta, portanto, é de instalação
e determinante do tempo de reação. O gás sulfídrico (H2S) liberado
de unidades de aeração distribuídas ao longo do rio com o intuito
do meio aquático passa a ser gerado em casos de anoxia na coluna
de manter uma aeração forçada e assegurar a autodepuração.
d’água (falta de OD) e é perceptível ao ser humano, à distância, ln Ct / C0 = - K.tr
A distância entre as unidades de aeração foi estimada com base no modelo de STREETER e PHELPS (BEZERRA et al, 2008). Por esse
quando a concentração de sulfeto encontra-se acima de 2 mg/L.
modelo, a concentração de OD no rio versus o tempo pode ser
equação 5
estimada por meio da seguinte expressão:
Onde:
Ct = Cs - { (K1L0/(K2-K1))x(e –K1t – e K2t) + (Cs – C0) eK2t }
Ct = concentração inicial de S (mg/L) -2
C0 = concentração de S-2 (mg/L) no tempo t
equação 8
K = constante cinética de primeira ordem (min-1)
Onde: Ct: Concentração de OD no tempo;
tr = tempo de reação (min)
Cs: Concentração de OD de saturação; C0: Concentração de OD na mistura;
A aplicação da equação (1) aos resultados obtidos por ALÉM SOBRINHO et al permitiram determinar as seguintes constantes cinéticas: K1 = 0,0313 /min ou 1,879/h
K1: Coeficiente de desoxigenação; K2: Coeficiente de reoxigenação;
equação 6
t: tempo
K2 = 0,068 /min ou 0,407/h
L0: DBO de primeiro estágio no ponto de lançamento;
A DBO remanescente ao final de cada trecho foi estimada com
equação 7
base na equação abaixo: Utilizando a equação (1), temos que o tempo necessário para
L = L0.e –K1t
equação 9
oxidar 16 mg/L de sulfeto até a concentração de 2 mg/L é de 2,0
Onde:
a 2,5 h. A aeração das águas tem a eficiência máxima entre 85
L = DBO remanescente
e 90%. Nos testes realizados o tempo de operação ótima, com
Na simulação foi adotado para coeficiente de desoxigenação
remoções entre 70% e 85% de S-2, ocorre entre 40 e 50 minutos.
(K1) o valor de 0,30 d-1. Esse valor é maior que o de rios lim-
A injeção de ar atmosférico e oxigênio puro não fazem diferença
pos (0,09 – 0,21 dias-1) e corresponde ao valor do limite inferior
na eficiência de remoção de sulfetos.
para água resíduária fraca (0,30 – 0,40 dia-1). Já o valor do coeficiente de reoxigenação foi estimado com base na equação de
Cálculos para aeração do canal do Rio Pinheiros
O’CONNOR E DOBBINS (1958), conforme expressão abaixo: K2 = 3,73 V 0,5 H -1,5
equação 10
Onde:
Características adotadas do canal do Rio Pinheiros: Extensão: 25 km
V: Velocidade em m/s;
Largura média= 85 m
H: Profundidade em m.
Profundidade média= 4,5 m Vazão= 30 m3/s
A potência do sistema de aeração foi estimada adotando os seguintes parâmetros:
Tempo de residência= 3,7 dias Como a intenção é que o meio não se torne anóxico para que ocorra a liberação de H2S, e considerando que a relação O2/HS
-
22
SANEAS
Abril a Junho de 2019
- Vazão: Variável ao longo do rio; - DBO: variável ao longo do rio;
- Taxa de transferência de oxigênio para as condições padrão: No = 1,2 kg O2/cv.h;
xQ(m3/s)x3,6(s/h)=14,4xQ(kg O2/h) - Para manutenção do OD no rio entre 1 e 3 mg/L, Nec. O2=2(g/
- Temperatura do líquido no verão: 25 °C;
m )xQ(m3/s)x3,6(s/h)=7,2xQ(kg O2/h) 3
- Altitude do local em relação ao nível do mar: 720 m; - a: relação entre transferência de O2 para água residuária e para água limpa = 0,85 - b: relação entre o OD de saturação para água residuária e para água limpa = 0,95
Cálculos complementares – oxidação do sulfeto Adicionalmente, foi calculado o tempo e distância necessária para a oxidação de sulfeto em uma concentração inicial de 16 mg/L, até
- CSW: concentração de OD de saturação para água limpa na
a concentração final de 2 mg/L, a partir da qual, mesmo em situ-
altitude e temperatura de campo = 7,8 mg/L
ação anóxica não ocorreria liberação de gás sulfídrico em concen-
- CL: OD a ser alcançado no rio = 5,0 mg/L
tração perceptível. Para tanto, foi utilizada a equação de primeira
Para as condições de campo, tem-se:
ordem determinada empiricamente por ALÉM SOBRINHO et al –
N = N0. l
equação 11
equação 5. Aplicando as variáveis chega-se à distância necessária
para Ct = 16 mg/L de 316 metros. Como o rio possui cerca de 25 Onde:
km, a oxidação ocorreria em um pequeno trecho no início do rio.
λ: coeficiente de correção para condições de campo λ = [a (bCsw – CL) 1,024 T -20]/9,17
equação 12
Compostos orgânicos voláteis Os VOCs presentes em um meio aquoso podem ser liberados para
λ = 0,25
o ar, por vários mecanismos, adsorvidos e sedimentados, ou ain-
Logo, para as condições de campo:
da, biodegradados. A transferência da fase líquida para a gasosa
N = 0,25 x 1,2 = 0,30 kg O2/cv.h
através do arraste com ar através pode ocorrer pela aeração superficial ou por ar difuso (aeração sub-superficial). Vários traba-
A fim de avaliar o impacto da elevação de OD no rio sobre a
lhos técnicos têm estudado a volatilização dos VOC em sistemas
potência do sistema de aeração, foi feita simulação também para
de tratamento de esgoto através do arraste de ar. Consideran-
OD de 3,0 mg/L. Para essa nova condição, a taxa de transferência
do apenas as características similares entre os processos físicos e
de oxigênio para as condições de campo será de λ = 0,46. Logo,
químicos que podem ocorrer em ambos os meios, apresentamos
para as condições de campo:
estimativas para o que pode ocorrer no Rio Pinheiros a partir de
N = 0,46 x 1,2 = 0,55 kg O2/cv.h
NAMKUNG e RITTMANN (1987):
A necessidade de oxigênio foi estimada da seguinte forma:
V dS/dt = QS0 – QeS – QwS + Rbio + Rads + Rvol equação 13
- Para manutenção do OD entre 1 e 5 mg/L, Nec.O2=4(g/m3)
V = volume, m3 Gráfico 1: Variação do OD ao longo do rio a partir da aeração forçada
Abril a Junho de 2019
SANEAS
23
ARTIGO TÉCNICO
Rvol = - GHS/RT
S = concentração do VOC, g/m3
equação 18
t = tempo, dia Adsorção: a adsorção pode ocorrer através da capacidade que
Q = vazão de entrada, m3/dia S0 = Concentração inicial do VOC, g/m3
um composto orgânico tem de aderir a um sólido orgânico. A
Qe = vazãode saída, m3/dia
quantidade do composto removido via adsorção pode ser expres-
Qw = vazão de lodo, m3/dia
so por:
Rbio = taxa de acumulação do VOC por biodegradação, g/dia
Rads = - Qw.Xvw.q
equação 19
Rads = taxa de acumulação do VOC por adsorção, g/dia Rvol = taxa de acumulação do VOC por volatilização, fase ga-
Onde: Xvw= concentração dos sólidos orgânicos, (g SSV/m3)
sosa, g/dia Assumindo um sistema estacionário, ou vazão constante, temos
q = densidade do composto adsorvido (g/g SSV)
V dS/dt = 0 0 = Q (S0 – S) + Rbio + Rads + Rvol
equação 14
O particionamento na massa orgânica seguirá uma relação linear com a concentração:
Volatilização: A transferência do VOC entre a fase líquida e a
q = kp.S
gasosa pode ser modelada como um processo de quasi-equilíbrio, se considerarmos a aplicação de ar difuso. Um balanço de massa nos dá:
O coeficiente de partição kp (m3/g SSV) pode ser proporcional ao coeficiente de partição octanol/água, Kow (m3 H2O/m3 octa-
Rvol = - G(Pex – Pin) x (MW) RT
equação 15
nol), o qual é proporcional à hidrofobia do contaminante: kp = (6,3x10-7)foc. Kow
equação 20
Onde: Onde: foc= fração do VOC no sólido (g carbono orgânico/g sólido)
G = vazão de ar, m3/dia Pex = pressão parcial de saída do VOC, atm Pin = pressão parcial de entrada do VOC, atm R = constante universal dos gases (8,206 x 10-5 m3.atm/°K.mol)
Um alto valor de Kow indica que o composto é susceptível a adsorção. Para celulas biológicas, foc= 0,531, o que nos dá: kp = (3,345x10-7) Kow
T = temperatura absoluta, °K
equação 21
MW = peso molecular do VOC, g/mol Substituindo nas equações anteriores temos: Considerando Pin = 0, já que na entrada o composto usualmen-
Rads = - (3,345x10-7) Qw.Xvw. Kow
equação 22
te apresenta-se em concentrações baixas, temos: Rvol = - GPex x (MW)
equação 16
RT
Biodegradação: baseado na cinética de Monod, a taxa de reação biológica será: Rbio = - kXaSV/(Ks + S)
equação 23
Quando o gás deixa a fase líquida, a pressão parcial atinge um equilíbrio com a concentração solúvel (S): Pex = HS/ MW
Onde: equação 17
k = taxa máxima específica de utilização do substrato, g/g SSV.dia Xa = concentração células ativas, g SSV/m3
Onde:
Ks = constante de meia-velocidade de Monod, g/m3
H = constante da lei de Henry, atm.m3/mol. Quanto maior o valor de H, maior a tendência do composto em
Assumindo que a concentração dos VOCs no início é baixa, temos S < S0 << Ks, reduzindo a cinética de Monod para uma
se volatilizar. Compostos facilmente voláteis possuem H >= 0,001
relação de primeira ordem para S:
atm.m3/mol. Substituindo as duas equações anteriores, verifica-se
Rbio = - k1 Xa SV
equação 24
que a taxa de volatilização Rvol é linear à taxa de ar aplicado (G) e à concentração S no meio aerado, assim como à constante da
Onde:
Lei de Henry, H.
k1 = constante de reação biológica de primeira ordem (=k/ Ks),
24
SANEAS
Abril a Junho de 2019
Dispersão da pluma: Para a simulação da dispersão da pluma
m3/g SSV.dia A combinação de todos os mecanismos nos fornece um balan-
EPA, SCREEN3. O modelo utiliza uma distribuição gaussiana para
ço de massa para um único composto: 0 = Q (S0 – S) – (GH/RT) - (3,345x10-7) Qw.Xvw. Kow .S - k1 Xa SV
foi utilizado o modelo Screen Air Dispersion, disponibilizado pela
equação 25
cálculo da dispersão da pluma, e uma única fonte. O modelo fornece as concentrações máximas da fonte por ponto, área, flare e volume. Para o composto benzeno foi construída uma curva
Para um reator estacionário, desejando obter a concentração S, temos:
benzeno gás para uma área de um dos trechos do Rio Pinheiros.
S = (Q. S0)/Q + (GH/RT) + (3,345x10-7). Qw.Xvw. Kow .S + k1 Xa SV
- figura abaixo. Foi inserida a taxa em g/m2.s de formação de
equação 26
Considerou-se ainda uma altura de 10 metros entre a superfície da lâmina d’água e a pista da marginal Pinheiros. Não foi inserida qualquer informação sobre vento, o que pode tornar mais otimis-
Podemos considerar que as perdas de VOC por biodegradação
ta o resultado obtido.
e adsorção no Rio Pinheiros serão mínimas, sendo o mecanismo principal a volatilização devido as condições forçadas de aeração. Desta forma, Kow e k1 são igual a zero teremos então: S = Q. S0/ Q + (GH/RT)
equação 27
Volatilização e dispersão de gases Para os VOCs monitorados no Rio Pinheiros, temos as seguintes informações (EMAE, 2008): * valor adotado igual a 2 µg/L, embora o resultado analítico tenha sido <2 µg/L (limite do método). Este valor foi adotado já que não permite que se afirme a inexistência dos compostos no Rio Pinheiros. Conforme foi modelado para o Oxigênio dissolvido, o Rio Pinheiros foi dividido em 3 módulos com 3 vazões: Q1 = 1,47 m3/s
Figura 2 - Dispersão da pluma de benzeno calculada pelo modelo Screen Air Dispersion, disponibilizado pela EPA, SCREEN3.
Q2 = 5,15 m3/s Q3 = 11,41 m3/s
É importante salientar que os modelos aplicados apresentam
T = 298,15
uma série de limitações, que devem ser consideradas. Não existe
G = 709.206 m3/dia – aerador superficial de baixa rotação
limite de referência para o meio ambiente para os VOCs analisa-
R = 8,206 x 10-5 m3.atm/°K.mol
dos, com exceção do limite definido na União Européia para o
A tabela 3 apresenta os resultados para as vazões acima, e para
benzeno. Recomenda-se um estudo que avalie a pluma de dis-
os valores médios e máximo de concentração (mg/m3):
persão dos poluentes e uma análise de risco. Conforme pode ser
Os dados são coerentes com os de Namkung e Rittmann (1987)
observado na figura, o limite definido pela Legislação Européia, de
e de Pereira e Andrade (2000). Na tabela 4 abaixo temos os limites
5 µg/m3 seria atingido nos primeiros 100 metros, partindo-se da
toleráveis conforme a lei.
superfície da lâmina d’água.
Os estudos realizados por Roberts et al (1984) e Zambon et al
O resultado obtido indica, portanto, que poderão existir restrições
(2003) para difusores de ar apresentam uma menor capacidade
relacionadas a saúde ocupacional – operários que estejam atuando
de arraste de ar, embora esta ainda seja significativa nos resul-
próximos ao rio durante o período de aeração. Entretanto, esta aná-
tados de Roberts et al para alguns dos VOCs trabalhados nesta
lise deve ser refeita pois utilizei dados para o benzeno que não con-
simulação. Em Zambon et al (2003) verifica-se uma volatilização
dizem com a realidade - a análise do monitoramento atingiu o limite
entre 1,5 e 13% para o Tetracloreto de carbono, enquanto em Ro-
de detecção, e por isso usei esse limite. Entretanto, a concentração
berts et al (1984) este valor fica entre 50 e 75%. Os trabalhos de
desse composto no Rio Pinheiros deve ser menor do que a utilizada.
Zambon et al (2003) divergem razoavelmente dos resultados obtidos por Namkung e Rittmann (1987), Pereira e Andrade (2000)
Discussão dos resultados
e Roberts et al (1984).
A avaliação dos resultados deve passar ainda por uma análise da Abril a Junho de 2019
SANEAS
25
ARTIGO TÉCNICO Resultados
Aeração Na tabela 3 estão os resultados da simulação feita em planilha excell com base no modelo de Streeter-Phelps para manter OD no rio em entre 1,0 e 5,0 mg/L. O total é de 5.828 cv a ser aplicado. Tabela 3: Estimativa de potência do sistema de aeração para manutenção do OD no rio entre 1 e 5 mg/L Estação de aeração
Vazão (m3/s)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22
1,47 1,47 1,47 1,47 1,47 1,47 1,47 1,47 5,15 5,15 5,15 5,15 5,15 5,15 5,15 5,15 11,41 11,41 11,41 11,41 11,41 11,41
Profundidade Velocidade média média no trecho no trecho (m/s) (m) 0,011 0,011 0,011 0,011 0,011 0,011 0,011 0,011 0,24 0,24 0,24 0,24 0,24 0,24 0,24 0,24 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05
3,43 3,43 3,43 3,43 3,43 3,43 3,43 3,43 3,80 3,80 3,80 3,80 3,80 3,80 3,80 3,80 3,32 3,32 3,32 3,32 3,32 3,32
Distância entre estações (m)
Distância acumulada (m)
0 290 330 390 450 570 750 1,120 2,250 600 650 750 900 1,050 1,400 1,900 3,200 1,250 1,450 1,650 1,6950 2,450
0 290 620 1,010 1460 2030 2780 3900 6,450 7,050 7,700 8,450 9,350 10,400 11,800 13,700 16,900 18,150 19,600 21,250 23,200 25,650
DBO5,20 (mg/L) 29
42
53
DBO remanesNec. O2 (kg O2/h) cente (mg/L) 37,3 33,2 29,0 24,8 20,7 16,5 12,2 7,8 40,0 35,8 31,8 27,6 23,4 19,2 14,9 10,5 40 35,8 31,6 27,4 23,1 18,7
21,2 21,2 21,2 21,2 21,2 21,2 21,2 21,2 74,2 74,2 74,2 74,2 74,2 74,2 74,2 74,2 164,3 164,3 164,3 164,3 164,3 164,3
Potência (cv) 71 71 71 71 71 71 71 71 247 247 247 247 247 247 247 247 548 548 548 548 548 548 Total 5.828 cv
Tabela 4: Estimativa de potência do sistema de aeração para manutenção do OD no rio entre 1 e 3 mg/L Estação de aeração
Vazão (m3/s)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43
1,47 1,47 1,47 1,47 1,47 1,47 1,47 1,47 1,47 1,47 1,47 1,47 1,47 1,47 1,47 1,47 1,47 5,15 5,15 5,15 5,15 5,15 5,15 5,15 5,15 5,15 5,15 5,15 5,15 5,15 5,15 5,15 5,15 11,41 11,41 11,41 11,41 11,41 11,41 11,41 11,41 11,41 11,41
Profundidade Velocidade média média no trecho no trecho (m/s) (m) 0,011 0,011 0,011 0,011 0,011 0,011 0,011 0,011 0,011 0,011 0,011 0,011 0,011 0,011 0,011 0,011 0,011 0,024 0,024 0,024 0,024 0,024 0,024 0,024 0,024 0,024 0,024 0,024 0,024 0,024 0,024 0,024 0,024 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05 0,05
3,43 3,43 3,43 3,43 3,43 3,43 3,43 3,43 3,43 3,43 3,43 3,43 3,43 3,43 3,43 3,43 3,43 3,80 3,80 3,80 3,80 3,80 3,80 3,80 3,80 3,80 3,80 3,80 3,80 3,80 3,80 3,80 3,80 3,32 3,32 3,32 3,32 3,32 3,32 3,32 3,32 3,32 3,32
Distância entre estações (m)
Distância acumulada (m)
0 140 150 155 160 180 200 220 240 260 300 340 400 480 615 850 1,550 300 300 320 350 360 390 430 470 520 560 650 730 860 1,040 1,380 2,000 630 650 720 750 810 900 990 1,080 1,170 1,350
0 140 290 445 605 785 985 1,205 1,445 1,705 2,005 2,345 2,745 3,225 3,840 4,690 6,240 6,540 6,840 7,160 7,510 7,870 8,260 8,690 9,160 9,680 10,240 10,890 11,620 12,480 13,520 14,900 16,900 17,530 18,180 18,900 19,650 20,460 21,360 22,350 23,430 24,600 25,950
DBO5,20 (mg/L) 29
42
53
DBO remanesNec. O2 (kg O2/h) cente (mg/L) 37,3 35,3 33,4 31,4 29,5 27,5 25,4 23,3 21,2 19,1 17,0 14,9 12,7 10,5 8,2 5,8 40,0 38,1 36,1 34,1 32,0 29,8 27,8 25,7 23,6 21,5 19,4 17,2 15,0 12,8 10,6 8,2 40,0 37,9 35,8 33,6 31,5 29,3 27,1 24,9 22,7 20,5 18,2
10,6 10,6 10,6 10,6 10,6 10,6 10,6 10,6 10,6 10,6 10,6 10,6 10,6 10,6 10,6 10,6 10,6 37,1 37,1 37,1 37,1 37,1 37,1 37,1 37,1 37,1 37,1 37,1 37,1 37,1 37,1 37,1 37,1 82,2 82,2 82,2 82,2 82,2 82,2 82,2 82,2 82,2 82,2
Potência (cv) 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 67 67 67 67 67 67 67 67 67 67 67 67 67 67 67 67 149 149 149 149 149 149 149 149 149 149 Total 2,900 cv
viabilidade econômico-financeira. Os trabalhos analisados, com
Os custos envolvidos na implantação de aeração forçada no Rio
fundamentação na realidade de outros países, demonstram que
Pinheiros relacionam-se à aquisição de equipamentos de aeração,
apenas a melhoria dos processos de tratamento de esgoto, com
instalação dos mesmos e manutenção contínua. Para atingir um
avanços para tratamento terciário ou avançado não resolveram os
patamar de concentração de até 3 mg/L de OD, a potência insta-
problemas em canais e rios retificados, dentro do foco do presente
lada seria de 2900 cv. Comparativamente, seria a mesma potência
estudo: contenção de maus odores e manutenção dos níveis de
instalada para uma ETE para 1750 L/s, com sistema de lodos ativa-
concentração de OD. Diante disso, seria interessante apresentar
dos. Apenas a ETE Barueri trata atualmente 9500 L/s, por sistema
estudo que avaliasse os custos envolvidos para se atingir nas prin-
de lodos ativados. Em termos de retirada de lodo que será forma-
cipais estações de tratamento de esgoto da Região Metropolitana
do no processo, podemos estabelecer a mesma comparação uti-
de São Paulo até que o limite da capacidade de engenharia em
lizando para isso a potência de aeração instalada necessária para
entregar efluentes tratados da melhor qualidade possível. Dian-
oxidar a matéria orgânica. Na ETE Barueri, é correto afirmar que
te da impossibilidade de se mensurar esse custo, comparamos o
são gerados aproximadamente 5,4 vezes mais lodo (em volume)
custo da presente alternativa com o custo de implantação de uma
do que seria gerado na presente alternativa. Importante salien-
estação convencional.
tar que o projeto trata apenas da aeração, não sendo possível Abril a Junho de 2019
SANEAS
27
ARTIGO TÉCNICO
comparar o processo existente na ETE Barueri e o investimento e
■■ Para manter o OD no Rio Pinheiros entre 1,0 e 5,0 mg/L, serão ne-
custos exigidos, uma vez que nessa ETE ainda há outras unidades
cessárias 22 unidades de aeração distribuídas ao longo do mesmo. A
operacionais instaladas. De forma que a solução apresentada ain-
potência total das unidades de aeração será da ordem de 5.800 cv;
da apresenta a hipótese de ser menos onerosa. Apesar de não es-
■■ Para manter OD entre 1,0 e 3,0 mg/L no rio Pinheiros, serão ne-
tar atualizado, apresentamos levantamento de custos para 2010,
cessárias 43 unidades de aeração distribuídas ao longo do rio. A
quando este trabalho foi inicialmente elaborado.
potência total das unidades de aeração será da ordem de 2.900 cv;
O consumo com energia elétrica na ETE Barueri, da época deste estudo, era de aproximadamente R$ 721.000,00/mês.
■■ A DBO5 pode ser considerada a variável crítica e determinante da concentração de oxigênio dissolvido no meio. ■■ A aeração dos rios é uma alternativa aplicada em diversos países
Conclusão
onde se constatou a necessidade pelas características dos canais
Com base nos resultados podemos emitir as seguintes hipóteses:
e a não ocorrência de aeração natural, o que ocorre em rios Tabela 2 – Concentrações de VOC no Rio Pinheiros/vazão
* valor adotado igual a 2 μg/L, embora o resultado analítico tenha sido <2 μg/L (limite do método). Este valor foi adotado já que não permite que se afirme a inexistência dos compostos no Rio Pinheiros. Tabela 3 – Limites máximos toleráveis no ar para a concentração de VOC.
Tabela 4 – Limites máximos toleráveis no ar conforme legislação específica:
* EU: 0,005 mg/m3 no ar atmosférico
28
SANEAS
Abril a Junho de 2019
naturais. Torna-se, portanto, uma alternativa viável e factível,
■■ O aerador superficial, mesmo com gradeamento a montante, pode
técnica e economicamente considerando os dados aqui apre-
apresentar problemas operacionais em virtude da presença de sóli-
sentados, como solução para o Rio Pinheiros.
dos (fibras, plásticos, etc). No rio, esses problemas, provavelmente,
Com relação a formação e dispersão de gases orgânicos:
serão ainda maiores. Portanto, esse é um desafio a ser considerado;
■■ Embora possa ocorrer um arraste significativo de VOCs para o
■■ Na simulação não foi considerada a demanda bentônica. Se
ar atmosférico, as concentrações esperadas estão abaixo dos
adotarmos uma demanda bentônica de 1,5 g O2/m2.dia (THO-
limites de tolerância da legislação brasileira para a saúde ocu-
MANN & MUELLER (1987) a potência para atender a demanda
pacional (exposição de até 48 h).
bentônica será da ordem de 443 cv (((85m x 25.000m x 1,5 gO2/
A distância em que o limite europeu seria atendido é de aproxi-
m2.dia/24 h/dia)/1000 g/kg)/0,30 kgO2/cv.h) para elevarmos OD
madamente 100 metros a partir da fonte, para o composto ben-
até 5,0 mg/L. Para elevarmos OD até 3,0 mg/L a potência do
zeno. Entretanto, não foram considerados dados climatológicos
sistema de aeração será da ordem de 242 cv.
como o vento, por exemplo. Importante ainda considerar que:
■■ Os valores de vazão e de velocidade adotados provêm de uma simulação matemática com uso do software QUAL2E, cujos da-
■■ Em comparação aos dados de qualidade do ar de grandes me-
dos foram cedidos pela PI. O cenário simulado é para o ano de
trópoles brasileiras, em relação ao benzeno, verifica-se que não
2018, considerando o atingimento da meta de coleta de 90% e
são atendidos os padrões estabelecidos por lei (SOUZA, 2002) ■■ Nos trabalhos referenciados neste estudo as principais variáveis
de tratamento de esgotos, 100%. ■■ Os dados de DBO 5,20 utilizados na simulação foram extraídos do
que interferem na porcentagem de volatilização dos VOCs es-
relatório de Qualidade das Águas Superficiais da CETESB de 2010;
tudados são: (1) Tamanho do diâmetro da bolha, conforme a
■■ A concentração de sulfeto considerada neste tudo se refere aos
tecnologia aplicada; (2) Ocorrência de turbulência no meio; (3)
dados da década de 80, da Barragem de Pirapora. Não existem
Taxa/vazão de ar aplicado; (4) Profundidade da aplicação.
dados mais recentes a respeito.
Mais que uma revista, um projeto socioambiental. Conheça as oportunidades de participação. Anuncie na Saneas!
Ano XI. Edição 65. Abril a Julho de 2018
- VEÍCULO -
FENASAN 2018
- OFICIAL -
O LEGADO DOS 21 ANOS DA LEI DAS ÁGUAS O que trouxe esta maioridade plena para o desenvolvimento dos recursos hídricos no País
GARANTA SEU ESPAÇO PUBLICITÁRIO: 11 3263 0484 - 11 97515 4627 paulo.oliveira@aesabesp.org.br
29º Encontro Técnico AESabesp / Fenasan 2018 Participe do maior evento técnico-mercadológico em saneamento na América Latina, de 18 a 20 de setembro, no Expo Center Norte.
AESabesp e Messe Munchen Brasil estudam parceria entre a Fenasan e a IFAT
O sucesso do 8º Fórum Mundial da Água
A IFAT - maior Feira de Soluções Ambientais do mundo - terá a Fenasan como a sua porta de entrada da América e trará toda sua expertise.
A edição brasileira foi a maior da história desse evento que move o mundo em torno da água e da consciência ambiental.
Abril a Junho de 2019
SANEAS
29
ARTIGO TÉCNICO Paulo Rosa Santos Engenheiro Civil na Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – SABESP, Graduado em Tecnologia da Construção Civil e Engenharia Civil pela Universidade Mackenzie e Especialização em Saneamento Básico pela Universidade Cruzeiro do Sul.
Aluízio Martiniano Silva Gerente de Divisão na Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – SABESP, Graduado em Administração de Empresas pela Unesp e Pós Graduação em Gestão Empresarial pela Fecap.
Cláudio Henrique de Paula Técnico em Saneamento na Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo - SABESP, Graduado em Tecnologia de Gestão Financeira pela Universidade Uniban.
Sistema de interceptação e captação de esgoto em galeria de água pluvial utilizando a válvula de tempo seco Resumo
ção de parte das pessoas para a área periférica de São
O trabalho visa a instalação de uma válvula de desvio
Paulo tem sempre um viés ligado à falta de moradia
de fluxo de esgoto, dentro de galeria de águas plu-
e certa facilidade na aquisição de terrenos e imóveis
viais, direcionando o esgoto para o sistema de esgota-
com valores atrativos à população de baixa renda.
mento sanitário existente. O presente trabalho tem o
Com o crescimento desordenado das regiões peri-
objetivo de expor essa problemática existente através
féricas, surgem também as necessidades inerentes à
dos lançamentos irregulares de esgotos domésticos na
população como saúde, transporte, lazer, segurança
área da Unidade de Gerenciamento Regional Interla-
e o saneamento básico. A Companhia de Saneamen-
gos, mostrando a solução adotada com a utilização
to Básico de São Paulo - Sabesp, preocupada com a
de válvula para a captação desse esgoto em tempo
universalização do saneamento na região metropo-
seco (VTS) e direcionamento para a infraestrutura de
litana de São Paulo e também com o cenário mais
rede coletora existente para posterior tratamento na
recente de crise hídrica vivenciada, está investindo na
Estação Barueri.
preservação de nossos mananciais, com a expansão
PALAVRAS-CHAVE: Captação de esgoto, Válvula de tempo seco, Esgoto doméstico.
Objetivo A implantação do sistema de interceptação e captação
Alexandre Ribeiro Vieira
de esgoto em GAP (Galeria de água pluvial) tem como
Técnico de Saneamento na Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – SABESP, Graduado em Sistemas e Informática pelo Senac.
premissa, conhecer de forma sistemática a área onde
Endereço: Av. Interlagos, 6395 – Interlagos – São Paulo – SP – CEP: 04777001 – Brasil – Tel.: +55 (11) 5660-5014 – Fax: +55 (11) 96040-8290 – e-mail: paulorosantos@hotmail. com.
tação. Diante do exposto, pode-se calcular o volume a
se pretende instalar este sistema, visto que, todo o trabalho depende de informações obtidas através de mapas temáticos e vistorias por bacias, sub-bacias e micro-bacias, até chegar a um ponto único para a capser captado em cada setor, a fim de não sobrecarregar a válvula. Com a conclusão do sistema de Captação de Esgoto na Bacia do Córrego São José, afluente da Represa Guarapiranga, a UGR Interlagos conseguirá retirar aproximadamente ao final de 12 meses, 72.000 m³ de esgoto que antes seguia direto para o Manancial, passando a ser enviado para tratamento.
Introdução A região metropolitana de São Paulo possui uma população de 21 milhões de habitantes, com cerca de 3,8 milhões destes residindo na região Sul em bairros no entorno da represa Guarapiranga. O motivo da migra-
30
SANEAS
Abril a Junho de 2019
Figura 1: Esquemático do Sistema de Interceptação do esgoto em galeria de água pluvial.
do sistema de esgotamento e também na despoluição de corpos
Segunda etapa: planejamento / realização das ações neces-
d água.
sárias para eliminação dos lançamentos
Um grande aliado no avanço da despoluição dos principais ma-
No planejamento da execução, pensou-se nas adequações locais a
nanciais da região sul de São Paulo têm sido o Programa Córrego
realizar para melhor interceptação e captação do esgoto lançado
Limpo (convênio firmado entre a Sabesp e Prefeitura Municipal
irregularmente das áreas densamente ocupadas, tais como ajustes
de São Paulo), tendo como objetivo a despoluição das bacias de
nas caixas de inspeção das GAP previamente definidas, e/ou pro-
esgotamento dos principais afluentes das represas Billings e Gua-
longamento de redes coletoras necessárias para a interligação à
rapiranga. No entanto, o grande número de áreas densamente
infraestrutura existente.
povoadas, topografia acidentada e expansão crescente de fave-
Para a instalação da válvula de captação do esgoto, foi neces-
las têm trazido grandes desafios na implantação de um sistema
sário o estudo prévio do ponto ideal para a melhor eficiência de
ideal para afastamento e tratamento do esgoto gerado por estes
funcionamento e vazão a ser coletada. Através da vazão captada
núcleos, o que levou a Divisão de Operação e Manutenção de Es-
pela válvula, é possível a realização de análise para saber o quanto
goto e a Célula de Engenharia da UGR Interlagos a lançar mão de
de carga orgânica (Fósforo) está sendo deixada de lançar no corpo
um sistema simples, porém muito eficaz na captação de efluente
hídrico e, consequentemente, na represa Guarapiranga.
doméstico lançado em GAP, desviando-o para a rede coletora de esgoto em dia não chuvoso. O sistema de captação de esgoto doméstico em GAP trouxe resultados expressivos, eliminando o lançamento de esgoto bruto no corpo d´água e o direcionando para o sistema de redes coletoras existentes, por sua vez seguindo para tratamento na ETE Barueri.
Figura 2: Válvula de Captação de Esgoto em Tempo Seco. Na etapa de planejamento e realização das ações foi levantado também o custo da mão de obra e materiais necessários para a implantação da válvula de captação de tempo seco. Os orçamenFoto 1: Válvula de tempo seco aberta.
Foto 2: Válvula de tempo seco fechada.
Metodologia
tos são apresentados nas Tabelas 1 e 2, respectivamente.
Tabela 1: Orçamento de mão de obra necessária
Primeira Etapa: diagnóstico / mapeamento da área de estudo O diagnóstico consistiu em andar na área previamente delimita-
HR
VALOR/ HORA
QTD
SUBTOTAL
Líder
R$17,50
8
R$140,00
Encarregado
R$37,50
8
R$300,00
Operador de Retroescavadeira
R$11,50
8
R$92,00
Agente
R$11,50
8
R$92,00
8
R$624,00
da da bacia do córrego São José, para a detecção dos pontos contribuintes com esgoto em galerias de águas pluviais para posterior representação em mapas e realização dos estudos necessários para a mitigação do problema. Através de ferramenta de mapeamento Georreferenciado (ArcGIS), foi possível gerar mapas impressos para melhor análise e marcação dos pontos problemáticos para a realização dos estudos quanto ao melhor local de interceptação do esgoto originário das GAP e interligação ao sistema coletor existente.
Total mão de obra
Abril a Junho de 2019
SANEAS
31
ARTIGO TÉCNICO
Tabela 2: Orçamento de material necessário
VALOR UNITARIO
QTD
Líder
R$26,72
1
R$26,72
Encarregado
R$119,13
1
119,13
DESCRIÇÃO
A garantia da eficácia deste sistema está baseada na escolha do ponto certo para a captação do esgoto, além da manutenção
SUBTOTAL
da válvula, ocorrendo semanalmente e diariamente em períodos chuvosos, objetivando evitar possíveis travamentos no mecanismo de acionamento abertura/ fechamento da válvula, que prejudicaria seu funcionamento.
Operador de Retroescavadeira
R$20,00
Total material
1
20,00
1
165,85
O custo total para a implantação, considerando material e mão de obra, foram de R$789,85.
Outro ponto positivo com a instalação do sistema foi o notório volume de esgoto difuso captado e enviado para tratamento, deixando de ser lançado no córrego São José e, consequentemente na represa Guarapiranga.
Conclusão O método de interceptar e afastar o esgoto doméstico que es-
Resultados Esperados
coa através das galerias de águas pluviais, não tem como objetivo
Com a totalização das instalações das Válvulas, nas Galerias de
substituir o sistema convencional de redes coletoras de esgoto,
água pluvial, por onde escoa o esgoto oriundo dos núcleos infor-
porém, em situações onde a implantação deste sistema é extre-
mais desprovidos de sistema de esgotamento sanitário adequado,
mamente dificultada pelas situações adversas de aglutinação de
espera-se captar aproximadamente um montante de 73.000.000
moradias e topografia desfavorável, a instalação da Válvula de
de litros de esgoto bruto, desviando-o para o sistema de esgo-
Tempo Seco, traz um grande benefício no que diz respeito à di-
tamento Sabesp e enviando para tratamento. Isso significa que,
minuição de carga poluidora nos corpos hídricos, bem como a
teremos uma diminuição significativa da carga de Fósforo (P).
melhoria das condições ambientais ao redor.
Resultados Obtidos
ma descrita, enfatizamos que, o corpo hídrico beneficiado pela
A coleta de esgoto doméstico difuso através da utilização de vál-
ação (Represa Guarapiranga) é um dos principais mananciais da
vula de captação em tempo seco mostrou-se eficaz como alter-
região metropolitana, o qual beneficia cerca de 3,8 milhões de
nativa em um cenário onde há grande aglutinação de moradias
habitantes, seja para abastecimento ou lazer.
No caso apresentado na UGR Interlagos, além da melhoria aci-
sem controle construtivo e em área de geografia desfavorável,
O Projeto pode ser implantado por qualquer órgão ou empresa
onde se torna quase impossível a implantação de redes coletoras
do ramo de Saneamento, que atue em condições semelhantes ao
de esgoto sem a remoção de moradias por meio de urbanização
descrito neste trabalho e que tenha como desafio, interceptar e
pela Prefeitura Municipal de São Paulo.
afastar o esgoto em áreas onde não é possível a instalação imediata do sistema de esgotamento sanitário convencional. O gráfico da Figura 3 mostra a acentuada diminuição da carga de Fósforo, após a instalação da Válvula de Tempo Seco a montante da foz da represa Guarapiranga.
Figura 3: Gráfico de medições da carga de Fósforo
32
SANEAS
Abril a Junho de 2019
ARTIGO TÉCNICO Guilherme Akio Sakuma Tecnólogo Civil, graduado pela FATEC – São Paulo, com experiência de 22 anos em inspeção e recuperação de estruturas e tecnologia do concreto. Atualmente na Sabesp em São Paulo, no Departamento de Engenharia de Manutenção, atuando na área de inspeções civis.
Endereço: Rua José Rafaelli, 284 – Bairro Socorro – São Paulo –SP – CEP 04763-280 – Tel.: + 55 (11) 5683 3281 – Fax: +55 (11) 5683 3060 - email: gsakuma@ sabesp.com.br.
Modelo matemático de criticidade para linhas de coletores e interceptores de esgoto Resumo
Introdução
A manutenção dos coletores e interceptores ainda é
O Plano de Manutenção Preventiva de Coletores e
essencialmente direcionada para a manutenção corre-
Interceptores da Sabesp é um modelo de gestão de
tiva, ou seja, baseada em medidas interventivas em fa-
estruturas civis de esgoto baseado em inspeções de
ses muito avançadas do quadro patológico das estru-
diagnósticos e cadastramento do seu quadro patoló-
turas ou na ocorrência de sinistros relacionados. Esta
gico. É estruturado segundo índices de criticidade, ge-
sistematização onera os custos operacionais e corre-
rados por modelo matemático próprio, especialmente
tivos consideravelmente, sem mencionar os enormes
modelado para fornecer uma interpretação fidedigna
prejuízos à imagem da empresa.
do perfil estrutural das linhas de águas servidas. Os
Evidente, portanto, que urge a mudança do foco de
índices visam retratar não apenas seu nível de deterio-
manutenção corretiva para a preventiva no que toca
ração estrutural, mas correlacionado este a caracterís-
às linhas de esgoto.
ticas e aspectos deletérios de seu entorno, bem como
Com este objetivo, foi elaborado o Plano de Manu-
peculiaridades operacionais.
tenção Preventiva de Coletores e Interceptores em um esforço conjunto entre a Superintendência de Manu-
Objetivo
tenção Estratégica - MM e a Unidade de Negócio de
Ao Plano de Manutenção Preventiva de Coletores e
Tratamento de Esgoto da Metropolitana - MT, atual-
Interceptores da Sabesp compete, enquanto modelo
mente, em fase de implantação na MT.
de gestão de estruturas civis, dentre outras funções,
O Plano prevê a criação de um amplo cadastro do
oferecer uma hierarquização e priorização das estru-
quadro patológico das linhas de esgotamento sanitário,
turas no tocante a sua conservação e urgência de in-
ponderados segundo um modelo matemático que gera
tervenção, reduzindo drasticamente as intervenções
índices de criticidade, permitindo uma classificação hie-
corretivas e emergenciais na medida em que permite
rárquica de conservação das estruturas inspecionadas.
definir momentos de intervenção anteriores ao estado
O presente trabalho ambiciona explanar sobre a
crítico, geralmente caracterizado pelo colapso total ou
mecânica deste modelo matemático adotado para o
parcial de um trecho da linha. Esta alteração na políti-
referido plano.
ca da manutenção das redes de esgoto proporcionará
O diferencial do modelo é criar um índice de criti-
não apenas uma redução significativa nos custos de
cidade tripartido, de forma que cada subvalor é fo-
intervenção, mas também a manutenção da imagem
cado em uma natureza específica atuante nas linhas
da empresa perante a população, na medida em que
de águas servidas. Desta forma, foi criado um índice
a política de gestão preventiva naturalmente reduz a
intrínseco focado no material em si; outro extrínseco,
ocorrência de sinistros.
focado nos aspectos do entorno e, por fim; um operacional, focado em aspectos de operação.
Na questão econômico-financeira, pela Lei de Sitter, fica bem demonstrado que os custos relativos à manu-
Dentre as vantagens da análise tripartida, vale res-
tenção são bem mais onerosos conforme mais tardia
saltar a visualização mais condizente com a dinâmica
é a fase da intervenção evoluindo exponencialmente,
estrutural, influenciada pela sinergia de múltiplas vari-
na proporção de uma progressão geométrica de razão
áveis de naturezas distintas.
cinco, por esse motivo esta máxima da manutenção
PALAVRAS-CHAVE: modelo matemático; criticidade;
também é conhecida como regra dos cinco. Em suma,
hierarquização de estruturas; manutenção e conservação
a cada etapa da obra, a sua eventual retificação au-
de linhas de esgoto; plano de manutenção preventiva.
menta segundo uma curva exponencial de razão cin-
Abril a Junho de 2019
SANEAS
33
ARTIGO TÉCNICO
co, com relação a sua fase anterior (ver figura 1). O modelo matemático almeja retratar a condição de conservação da linha com o máximo possível de precisão e com reduzida subjetividade, de forma a ser reconhecido como uma ferramenta de modelagem digna de ser adotada para trabalhar com a enorme quantidade de dados, tipicamente coletados em vistorias com cadastramento do quadro patológico de estruturas lineares de águas servidas.
Metodologia Utilizada A metodologia se baseia no processamento dos dados coletados em vistorias de cadastramento do quadro patológico de condutores de esgoto e seus respectivos poços de visita associados (PVs). Sem o devido processamento, esse imenso banco de dados te-
Figura 1- Gráfico que representa a evolução de custos segundo uma curva exponencial, máxima conhecida como Lei de Sitter.
ria pouca serventia prática, na medida em que é extremamente complexo e difícil interpretar objetivamente enormes quantidades
diretamente relacionado com o nível de deterioração e conserva-
de cadastros de anomalias que variam qualitativa e quantitativa-
ção das estruturas em si, ou seja, relativos ao seu material, com-
mente, além de possuírem aspectos deteriorantes relevantes rela-
posição estrutural e quadro patológico específico atuante. Esta
cionados do ambiente, à diversidade de materiais e aos métodos
análise é particularizada e específica tanto para o condutor quan-
construtivos utilizados, sem mencionar os desgastes e fadigas de-
to para seus respectivos PVs.
correntes de vícios em sua operação.
O Grau de Relevância Extrínseca – GREx - consiste em um índice
Com este enorme desafio, o modelo matemático busca traba-
diretamente relacionado com as características de seu entorno e
lhar segundo uma exclusiva estrutura de índices tripartidos, visto
sua influência sobre os elementos e materiais de composição do
a natureza singular dos fatores a serem analisados. Cada um dos
sistema, tanto do condutor quanto de seus respectivos PVs. Inte-
índices se correlaciona a uma abordagem de natureza diversa,
rage com os valores de GRIn.
quais sejam, natureza intrínseca, natureza extrínseca e natureza
O Grau de Relevância Operacional – GROp - consiste em um
operacional. Os índices são analisados individualmente, de ma-
índice diretamente relacionado com aspectos de ordem operacio-
neira a retratar, com a máxima fidelidade possível, a condição da
nal, representando os problemas, dificuldades e agravantes ge-
estrutura quanto ao aspecto estrutural, operacional e espacial. To-
rados por fatores desta ordem ou que com ela influem. Interage
davia, a despeito de seu caráter separatista, os índices interagem
com o GREx e o GRIn.
uns com os outros, de maneira a refletir a real sinergia que de
A linha de águas servidas é composta de poços de visitas e con-
fato ocorre na natureza. Em suma, o modelo matemático busca
dutores. Para o modelo matemático, a unidade mínima de ins-
não apenas retratar o quadro patológico da estrutura através de
peção e avaliação se compõe de um conjunto composto de um
análises particularizada das suas principais influências atuantes e
trecho de condutor intercalado por um poço de visita em cada
distintas, mas busca simular a interação existente entre eles, na
uma de suas extremidades. Para o modelo, esta unidade mínima
medida em que a piora de um aspecto tende a acelerar a deterio-
de cálculo é chamada de sistema (ver figura 2).
ração de outro, em uma cadeia de deterioração cíclica e progressivamente perniciosa.
Grau de Relevância Intrínseca - GRIn
Para tanto, foram estabelecidos os seguintes índices de criticida-
O GRIn é um valor numérico puro representativo da condição es-
de segundo suas natureza bem distintas, porém correlacionados:
trutural e de conservação da estrutura propriamente dita. Rela-
1. Grau de Relevância Intrínseca (GRIn);
ciona-se diretamente com o quadro patológico dos condutores e
2. Grau de Relevância Extrínseca (GREx);
poços de visita.
3. Grau de Relevância Operacional (GROp).
O seu valor é calculado a partir de valores pré-estabelecidos em tabela específica (ver tabela 1), a partir da qual o inspetor define seu
O Grau de Relevância Intrínseca – GRIn - consiste em um índice
34
SANEAS
Abril a Junho de 2019
nível de intensidade (análise qualitativa), segundo características ca-
Figura 2- Definição de sistema ou “trecho” segundo considerado para o modelo matemático como unidade mínima de inspeção
talogadas que definem um determinado valor, chamado de fator de
ciais que reduzem ou eliminam a necessidade de acesso direto ao
intensidade de dano (Fi). Durante a inspeção também são registra-
poço de visita.
dos as causas prováveis da anomalia em questão, bem como o vo-
Vale observar que os dados coletados nos condutores e nos po-
lume de ocorrências do tipo ao longo da linha (análise quantitativa).
ços de visita são processados de forma específica pelo modelo
A inspeção visual dos condutores (coletores/interceptores) se dá
matemático, visto a singularidade destas estruturas que impõe
através da utilização de unidade remota de filmagem associado a
comportamentos e aspectos de conservação bem diferenciados.
circuito fechado de televisão (CFTV), que produz detalhado regis-
Realizadas as vistorias, o modelo matemático, especificamente
tro visual do trecho (fotografia e vídeos). Os poços de visita são,
elaborado para compilar todos os registros coletados, gera um va-
via de regra, vistoriados da maneira tradicional, ou seja, por meio
lor que representa o nível de conservação do trecho de condutor,
de inspeção visual direta, ou com a utilização de filmadoras espe-
bem como de seus poços de visitas associados, estes valores inter-
Tabela 1 – Tabela onde estão pré-cadastradas anomalias típicas com seus respectivos níveis de intensidade. Abril a Junho de 2019
SANEAS
35
ARTIGO TÉCNICO
mediários são chamados de GRIne (grau de relevância intrínseca do
Desta forma, os poços de visita são avaliados segundo seis fato-
elemento) e se referem ao GRIn de cada um dos elementos anali-
res pré-definidos, quais sejam:
sados no trecho, quais sejam, o condutor e os dois poços de visita.
1. Presença de lençol freático – fator relacionado com as influên-
Na sequência, o modelo determina um valor único para os poços de visita, fornecendo o chamado GRInf (grau de relevância intrínseca da família de PV). Finalmente, de posse destes valores é
cias do lençol freático com os elementos estruturais; 2. Tráfego do entorno – fator relacionado com as influências das vibrações e cargas oriundas do uso das vias do entorno;
calculado o valor que representa o trecho como um todo, o GRIn
3. Ocorrências de recalque no entorno - fator relacionado com a
do sistema (trecho composto do condutor e seus dois PVs). Para
frequência de ocorrências de recalque no entorno do elemento;
tanto, o modelo não calcula uma média, o que geraria distorções
4. Profundidade do PV - fator relacionado com as influências da
grandes e eventuais reduções dos valores do índice. Esta mecâ-
profundidade do PV no que tange a sua proteção às vibrações
nica seria perigosa para a segurança estrutural que poderia ostentar valores diluídos mais baixos que a realidade do seu quadro patológico real. Assim, o modelo efetua uma maximização dos
do entorno; 5. Tipo de solo do entorno - fator relacionado com as influências do tipo de solo na conservação dos elementos;
valores existentes, priorizando o mais alto e gerando um aumento
6. Aterro e compactações - fator relacionado com as influências e
proporcional aos demais valores calculados. Desta forma, não há
consequências dos aterros e compactações realizadas durante
redução de valor como seria esperado de uma média dos valores
a execução do PV.
dos índices componentes (Grine e Grinf).
Já os condutores são avaliados segundo seis fatores pré-definidos, quais sejam:
Grau de Relevância Extrínseca - GREx O Grau de Relevância Extrínseca (GREx) consiste em um índice diretamente relacionado com as características do entorno das estruturas e sua influência sobre os elementos e materiais de com-
1. Presença de lençol freático – fator relacionado com as influências do lençol freático com os elementos estruturais; 2. Tráfego do entorno – fator relacionado com as influências das vibrações e cargas oriundas do uso das vias do entorno;
posição do sistema, tanto do condutor quanto de seus respectivos
3. Ocorrências de recalque no entorno - fator relacionado com a
PVs. A exemplo do GRIn, também aqui é feita análise diferencia-
frequência de ocorrências de recalque no entorno do elemento;
da e específica do coletor e poços de visita, em virtude de suas
4. Profundidade do PV - fator relacionado com as influências da
diferenças estruturais, bem como a maneira diferente com que
profundidade do PV no que tange a sua proteção às vibrações
interagem com o ambiente.
do entorno;
Figura 3- Inspeção de linhas de esgoto com a utilização da tecnologia de filmagem robotizada com circuito fechado de televisão
Tabela 2 – Planilha que calcula os valores de GRIne e GRInf bem como o GRIn do sistema
36
SANEAS
Abril a Junho de 2019
Figura 4- Gráficos para a visualização dos valores de GRIne e do GRInf do condutor e poços de visita.
5. Tipo de solo do entorno - fator relacionado com as influências do tipo de solo na conservação dos elementos;
Grau de Relevância Operacional - GROp O Grau de Relevância Operacional (GROp) consiste em um índice
6. Aterro e compactações - fator relacionado com as influências e
diretamente relacionado com fatores de ordem operacional, re-
consequências dos aterros e compactações realizadas durante a
presentando os problemas, dificuldades e agravantes gerados por
execução do PV. Este fator é exclusivo dos condutores executa-
aspectos desta ordem.
dos pelo método escavado.
O GROp, a exemplo do GRIn e GREx, também se utiliza do con-
Cada um desses fatores é avaliado segundo critérios pré-defini-
ceito de “trecho” ou “sistema” para o cálculo. Lembrando que
dos tabelados. Estes fatores, via de regra, possuem quatro níveis
“trecho” é a menor unidade de classificação, constituindo um
de gravidade, ou seja, quatro níveis de condições organizados em
sistema isolado composto de um condutor, um PV a montante
ordem crescente de gravidade.
e outro a jusante deste. Contudo, diferentemente do cálculo de
A obtenção dos dados para o cálculo do GREx não exigirão,
GRIn e GREx, cujo cálculo do grau se dava pela interação entre as
no mais das vezes, inspeção específica, assim o procedimento de
notas individuais atribuídas a estes três elementos (condutor, PV
inspeção não será detalhado.
jusante e PV montante), o valor de GROp é atribuído ao sistema
Os dados devem ser obtidos através de consulta a cadastros de
ou “trecho” como um todo diretamente, assim a subdivisão em
informações, entrevistas com operadores do sistema e acesso a
condutores e PVs existentes nos outros demais índices, aqui é irre-
registros idôneos. Também poderá ser obtido através de vistoria
levante. No entanto, ainda assim, o trecho deverá ser subdividido
simples no local, ou seja, apenas a constatação descritiva da situ-
em sistemas isolados, a exemplo dos outros índices. Essa necessi-
ação real para posterior lançamento no programa. Vale lembrar
dade reside no fato de que o modelo matemático promove inte-
que deverá também ser lançado o valor do respectivo GRIn do
ração entre os índices, de forma que o valor de GROp, a princípio
sistema para o efetivo cálculo de interação. Assim, o modelo pro-
único, interage com o GRIn e com o GREx de cada sistema, pro-
cessa o valor do GRIn para a composição do valor final do GREx,
duzindo valores diferenciados baseados unicamente na interação
de modo que valores mais críticos do primeiro geram um valor
dos índices. Assim, em que pese o fato das características e fatores
mais crítico do segundo em virtude da interação das condições de
determinantes do GROp sejam potencialmente válidos para toda
conservação (ver tabela 3).
a linha, até porque a operação é geral e suas característica ao
Visando facilitar o lançamento dos dados, foi elaborado um
longo de toda sua extensão mudam pouco ou nada, ainda haverá
programa próprio programado em Access para o cálculo do GREx,
as diferenças derivadas das variações dos outros dois graus (GRIn
este programa se intitula GRECE e se presta tanto para o cálculo
e GREx) ao longo do trecho, o que induz valores sensivelmente
de GREx quanto do GROp (ver figura 5).
diferentes em cada sistema isolado considerado.
Abril a Junho de 2019
SANEAS
37
ARTIGO TÉCNICO Tabela 3 – Planilha do modelo matemático que calcula os valores relativos ao GREx.
Figura 5 – Programa GRECE que calcula e sopesa os parâmetros extrínsecos para o cálculo do valor dos GREx dos poços de visite e, posteriormente, o GREx do trecho. O mesmo programa se destina ao cálculo de GROp.
O valor do GROp será um número adimensional, puro, com
fatores do GROp, gerando valor baseado nas influências indiretas
duas casas decimais que representará seu grau de dano de na-
dos outros graus de relevância, ou seja, os três índices interagem en-
tureza operacional. Diferentemente dos outros dois índices, não
tre si, fornecendo um quadro dinâmico e mais próximo da realidade.
possui família nem valores separados para os PVs. Sua amplitude
Visto que o desempenho operacional é amplamente influen-
vai de 0 a 200, a exemplo dos demais graus de relevância, sem
ciado por seu diâmetro de serviço, o módulo trabalha segundo
subdivisão em famílias e, portanto, sem o valor intermediário do
três faixas relacionadas ao diâmetro em estudo. Assim, o primeiro
GROp de família, conforme já exposto.
parâmetro a ser preenchido é justamente o relativo às três faixas,
Em suma, os valores de GRIn e de GREx interagem com os demais
38
SANEAS
Abril a Junho de 2019
quais sejam:
1. diâmetros até 400 mm;
composição de outro, por questão de segurança do cálculo. Desta
2. diâmetros de 400 mm a 1200 mm;
forma, levantar os valores torna-se um fator que tende a reduzir
3. diâmetros acima de 1200mm.
os valores de determinado trecho, estimulando o cadastramento.
Este padrão de faixas foi baseado na Norma Técnica Sabesp -
Vale reforçar que a obtenção dos três índices oferece ao gestor
NTS 026 – Elaboração de Projetos - Coletores Troncos, Intercepto-
da estrutura uma visão ampla e precisa das várias naturezas atu-
res e Emissários por Gravidade, item 1.1 – Poços de Visita. Dessa
antes, com relação ao estado de conservação da linha, de maneira
forma, o restante do cálculo foi baseado na faixa do respectivo
que o ideal é sempre não medir esforços para a obtenção de todos
diâmetro, visto que se fundou em parâmetros e pesos específicos
eles (ver tabela 4).
do respectivo diâmetro.
De forma a facilitar a análise destes resultados são fornecidos,
Uma vez definido o diâmetro de trabalho, se procede à avalia-
pelo modelo matemático, gráficos que facilitam a visualização e
ção dos aspectos operacionais avaliados segundo os referidos sete
interpretação dos valores, bem como sua interação (ver figura 6).
fatores pré-definidos para a composição do GROp, quais sejam: 1. Contribuição – fator relacionado com a adequação do fluxo de
Classificação Final
esgoto médio real frente ao fluxo considerado no projeto original;
Considerando-se que os três índices possuem a mesma amplitude,
2. Refluxo – fator relacionado com a frequência de ocorrências de
qual seja, o valor de 200, é possível uma única classificação de
refluxos no trecho, ou seja, o retrocesso das águas servidas com
criticidade com os três índices simultaneamente. Esta metodologia
o consequente despejo destas nos pontos de captação;
permite uma comparação fidedigna dos parâmetros analisados,
3. Assoreamento - fator relacionado com a freqüência ou existência de ocorrências de assoreamento no interior do condutor;
sem distorção ou necessidade de transformação ou equivalências, mesmo sendo estes de natureza distintas.
4. Águas Pluviais - fator relacionado com a frequência, existência e intensidade das águas pluviais nos condutores do trecho;
Fase Atual de Desenvolvimento
5. Dependência a Órgãos Externos - fator relacionado com as
Atualmente o modelo matemático de criticidade de linhas de es-
dificuldades, procedimentos exigidos, tempo de trâmite, den-
goto está sendo adotado pelo Plano de Manutenção Preventiva
tre outros contratempos relativos aos órgãos fiscalizadores ou
de Coletores e Interceptores, gerido pela Unidade de Negócio de
agentes responsáveis pela liberação necessária para as opera-
Tratamento de Esgoto da Metropolitana – MT, com suporte da
ções de manutenção;
Superintendência de Manutenção Estratégica - MM e tem obtido
6. Profundidade da Rede - fator relacionado com as dificuldades inerentes de manutenção, inspeção e intervenção impostas por um trecho localizado em grande profundidade.
bons resultados. O modelo se adaptou, inclusive, para o recebimento de linhas, após alguns ajustes.
7. Distância entre PVs - fator relacionado com as dificuldades ine-
Segundo a MT o modelo se mostrou muito satisfatório como
rentes de manutenção, inspeção e intervenção impostas por um
ferramenta de gestão, na medida em que auxilia de forma ob-
trecho com número reduzido de PVs.
jetiva a tomada de decisões no que tange às intervenções e
Finalmente, como já relatado, o modelo matemático é alimen-
sua priorização.
tado via GRECE, o programa de processamento estruturado em Access para o cálculo do GROp.
Conclusões A obtenção de um modelo que reflita a realidade de linhas de
Análise dos Resultados
esgoto se apresenta como um desafio hercúleo, em virtude de
Como se pode observar, os valores dos três índices interagem en-
suas inúmeras influências degradantes e coexistentes, materiais e
tre si. Mais precisamente, o valor de GRIn compõe e influenciam
metodologias construtivas diversas, dificuldades de vistoria, além
nos valores de GREx e o valores destes dois, por sua vez, compõe
da dificuldade de interpretação da imensa quantidade de dados
e influenciam na composição do valor de GROp.
levantados nestas inspeções.
Nem sempre se dispõe de todos os índices simultaneamente,
O modelo matemático de criticidade de linhas de esgoto surge
neste caso, é admissível a obtenção de apenas um ou dois de-
como uma solução bem estruturada na medida em que fornece
les. Contudo, a não obtenção de um dos índices para o cálculo
análise tripartida com índices baseados em aspectos diversos com
de outro implica na sua máxima valoração quando utilizado para
considerável objetividade e precisão.
Abril a Junho de 2019
SANEAS
39
ARTIGO TÉCNICO Tabela 4 – Tabela resumo com classificação dos três índices de criticidade com suas respectivas classificações.
Figura 6 – Gráfico final comparativo entre os três índices de criticidade, segundo demonstrados na tabela 3.
No mais, vale salientar a louvável iniciativa da SABESP que toma
Unidos, a vistoria e análise das condições das linhas de esgoto são
a frente em atuar em questão tão complexa pró ativamente, em
obrigações legais, sujeitas a sanções severas para os municípios e
um esforço de reverter uma visão essencialmente corretiva para a
suas empresas de saneamento encarregadas que não cumprem o
preventiva, mesmo sem a existência da obrigação legal. Vale lem-
dispositivo legal.
brar que em muitos países desenvolvidos, a exemplo dos Estados
Tabela 5 – Tabela resumo com classificação dos três índices de criticidade e sugestão de medidas a serem adotadas conforme sua condição de deterioração.
40
SANEAS
Abril a Junho de 2019
30º Congresso Nacional de Saneamento e Meio Ambiente
30º Encontro Técnico AESabesp Fenasan 2019
30º ENCONTRO TÉCNICO AESABESP FENASAN 2019
Será em São Paulo o maior evento em saneamento da América Latina
C
omo ocorre em todos os anos, a AESabesp promoverá, em São Paulo-SP,
a grande metrópole de negócios do País, sua edição histórica dos 30 anos
de realização do maior evento técnico-mercadológico em saneamento ambiental da América Latina: o 30º Encontro Técnico AESabesp / Fenasan 2019, nos dias 17, 18 e 19 de setembro de 2019, no Pavilhão Branco do Expo Center Norte, sob o tema “30 Anos construindo o saneamento ambiental sustentável”. Espera-se uma participação de 20 mil pessoas entre congressistas e visitantes, vindas de todos os estados brasileiros e do exterior, dada a grande presença de expositores internacionais. A visitação à Feira Nacional de Saneamento e Meio
42
SANEAS
Ambiente - Fenasan será gratuita e aberta ao público
O público de visitantes e congressistas é com-
maior de 16 anos.
posto por profissionais do setor de saneamento,
O credenciamento de visitante pode ser feita desde
técnicos, difusores de tecnologias, acadêmicos,
já, no site do evento https://www.fenasan.com.br/
universitários, gestores, empresários e mem-
Depois basta retirar a credencial com o seu nome nos
bros da comunidade científica de todos os esta-
totens que serão disponibilizados na entrada.
dos brasileiros e do exterior.
Abril a Junho de 2019
AP
SENTAÇÕ
ES
RE
252
Para essa edição especial, a AESabesp bateu recorde de recebimento de trabalhos técnicos, totalizando 252 apresentações, que foram submetidas à comissão técnica avaliadora, para compor a grade de programação, a ser disponibilizada em agosto. Na cerimônia de encerramento do evento, prevista para as 17h00 do dia 19 de setembro, será feita a entrega do Troféu AESabesp/
Fenasan 2019, às empresas que se destacaram nas categorias: Melhor Estande, Inovação Tecnológica, Atendimento ao Cliente e, para a empresa que somar mais pontos nas três categorias: o Troféu Destaque Fenasan 2019. Como ocorre em todas as edições a Unidade da Sabesp com o maior número de trabalhos inscritos, será detentora do Troféu AESabesp Encontro Técnico. Também haverá a entrega do Troféu AESabesp, Jovem Profissional, ao vencedor desta categoria.
No mesmo piso da Feira, será dimensionada toda a estrutura do 30º Encontro Técnico AESabesp, onde serão realizadas mesas redondas, painéis, fóruns de discussões e apresentações de palestras técnicas, voltadas aos seguintes temas: • Desenvolvimento tecnológico e inovação • Educação ambiental • Eficiência energética • Gestão empresarial e empreendimentos no setor • Legislação e regulação • Manutenção eletromecânica • Meio ambiente • Mudanças climáticas • Produtos, materiais e serviços • Políticas públicas para a Universalização dos Saneamento • Recursos hídricos • Redução de perdas de água • Resíduos sólidos e reciclagem • Saúde pública • Sistemas de abastecimento de água / tratamento de águas superficiais e subterrâneas • Sistemas de coleta de esgoto / tratamento de esgotos e efluentes • Softwares e automação de sistemas Link para inscrição no Encontro Técnico AESabesp: https://www.fenasan.com.br/inscricao
Abril a Junho de 2019
SANEAS
43
30º ENCONTRO TÉCNICO AESABESP FENASAN 2019
Novidades na premiação ”Jovem Profissional”
A
AESabesp aposta no futuro do setor, por meio do incentivo técnico cultural, com a outorga do Prêmio Jovem Profissional AESabesp, na cerimônia de encerramento de
seu Encontro Técnico AESabesp/ Fenasan. Essa premiação atrai o interesse um grande número de jovens profissionais técnicos, com até 30 anos, de todo o País, que concorrem com os seus projetos voltados ao saneamento ambiental, geradores de soluções para a sociedade. A partir dessa edição especial de 30 anos, a grande premiação para o primeiro colocado foi mantida e para o segundo e o terceiro lugares foi incrementada: A avaliação do prêmio é dividida em duas etapas: na primeira, o candidato participa com seu trabalho, devidamente inscrito no Encontro Técnico, o qual é avaliado pela comissão técnica e recebe uma pontuação. Na segunda etapa, que irá ocorrer no dia 19 de setembro, durante o terceiro do Encontro Técnico, os dez traba-
SANEAS
estudo no valor de dez salários mínimos.
2º Lugar: Um tablet e um curso técnico gratuito da AESabesp (a escolher).
lhos selecionados com maior pontuação serão apresenta-
3º Lugar: Uma inscrição para o
dos em sessões de 15 minutos, pelos seus autores, para
Encontro Técnico de 2020 e um curso
uma banca de acadêmicos especialistas em avaliação de
técnico gratuito da AESabesp
teses, que estabelecerá o resultado final, para a premiação
(a escolher).
na cerimônia de encerramento.
44
1º Lugar: Subsídio para bolsa de
Abril a Junho de 2019
Sabesp formaliza apoio com estande e Campeonato de Operadores
N
a Reunião de Diretoria da Sabesp, realizada em 05 de junho, foi formalizado o apoio da Companhia à edição especial de 30 anos do maior evento técnico-mercadológico da
América Latina: 30º Encontro Técnico AESabesp/ Fenasan 2019, cuja realização será entre 17 a 19 de setembro de 2019, no Expo Center Norte/ Pavilhão Branco, em São Paulo-SP. Pelo fato de São Paulo ser o grande cenário de negócios no Continente, estima-se a circulação de mais de 20.000 visitantes vindos de todos os estados brasileiros e muitos países, inclusive na condição de expositores. A exemplo das edições anteriores, a Sabesp estará com um amplo estande e com o celebrado Campeonato
20 mil
visitantes Abril a Junho de 2019
SANEAS
45
30º ENCONTRO TÉCNICO AESABESP FENASAN 2019
de Operadores da Sabesp, disputado em uma arena especificamente preparada para essa ação, dentro da Fenasan. O sucesso do saneamento de São Paulo, em escala mundial, deve-se sobretudo aos profissionais que trabalham diuturnamente neste setor tão fundamental para a infraestrtutura do País. Por isso o Campeonato de Operadores (fotos da seleção de 2018) se constitui num dos grandes destaques da Fenasan, com técnicos operacionais de toda a Sabesp, tanto da Região metropolitana quanto do Interior, que mostram um verdadeiro show de competência e habilidade.
30º Encontro Técnico AESabesp - Fenasan 2019 (O maior evento técnico-mercadológico em saneamento ambiental da América Latina) Realização: AESabesp - Associação dos Engenheiros da Sabesp Data: 17 a 19 de setembro de 2019 Local: Expo Center Norte / Pavilhão Branco Rua José Bernardo Pinto, 333 - São Paulo - SP
46
SANEAS
Abril a Junho de 2019
Lideranças responsáveis pelo evento: ■■Eng. Viviana Borges - Presidente da AESabesp ■■Eng. Olavo Sachs - Diretor Cultural da AESabesp e Presidente da Comissão Organizadora do 30º Encontro Técnico AESabesp/ Fenasan 2019. ■■Eng. Luciomar Werneck - Diretor Técnico da AESabesp
Acontece no setor
As novidades em produtos, serviços e tecnologias no setor de saneamento e meio ambiente
V Simpósio sobre Automação em Saneamento A Sabesp, por meio da Diretoria de Tecnologia, Empreendimen-
leira das Empresas Estaduais de Saneamento – AESBE; Carlos Paio-
to e Meio Ambiente – T realizou no dia 19/3, no Espaço Vida
la, vice-presidente do Conselho Fiscal da Associação Internacional
no Complexo Ponte Pequena, a 5ª edição do Simpósio ISA/ Sa-
de Automação – ISA – Seção São Paulo, que na ocasião represen-
besp de Automação em Saneamento. O evento deste ano teve
tou o presidente da instituição, Júlio Takai e Edison Airoldi, diretor
um aumento de 15% no público participante, demonstrando
de Tecnologia, Empreendimentos e Meio Ambiente – T.
que o tema tem despertado interesse cada vez maior entre os
Além de assistir aos pronunciamentos de empresas e entidades
profissionais da área. Ao todo, foram 406 participantes, des-
presentes, o público também pode participar de uma exposição
tes, 257 são profissionais da Sabesp, ou seja, cerca de 60% do
com os últimos lançamentos do mercado de automação volta-
público presente.
da a soluções para o saneamento. Entre as empresas expositoras,
A cerimônia de abertura contou com os pronunciamentos de Ubiratan Pereira da Silva, Secretário Executivo da Associação Brasi-
marcaram presença a ABB, ARO, Endress+Hauser, Ladder, Novus, Schneider Electric, WAGO, WisePlant e Yokogawa.
Abril a Junho de 2019
SANEAS
47
ACONTECE NO SETOR
Limpeza Química de Difusores de Membrana
APP de Gestão de Efluentes A empresa Pacha -
Nos últimos anos os difusores de membrana
Inteligência
passaram por significativas melhorias, fican-
e Ambiental lançou
Hídrica
do cada vez mais diversificados. São vários os
o seu aplicativo de
tamanhos, materiais construtivos e estão mais
gestão de efluentes,
resistentes a compostos químicos e efeitos de
sendo
o
primeiro
micro-organismos.
aplicativo
gratuito
Mas segundo a expositora da Fenasan B&F
de gestão e cálculo
Dias, “é importante ter em mente que ser resis-
de eficiência de esta-
tente não é ser imune, portanto as membranas
ções de tratamento
continuam expostas a fatores químicos ou bio-
de efluentes.
lógicos (inorgânicos ou orgânicos) que podem
De acordo com
afetar diretamente no seu desempenho. O tipo
a empresa, no apli-
de efluente em que a membrana estará em
cativo, é possível o
contato durante seu trabalho, vai determinar
cálculo de eficiência
diretamente o tempo de vida útil dela”.
de ETE, ter acesso ao
Os compostos inorgânicos ou orgânicos
histórico dos relatórios inseridos, e também a agenda de eventos ambientais com
presentes no efluente do seu processo é que
atualizações constantes, possibilitando a integração do público aos mais diversos
podem causar a incrustação ou comatação das
eventos do setor.
membranas. Isso quer dizer que esses compos-
O aplicativo conta com o apoio inicial de empresas como a B&F Dias e a Argal
tos podem aderir tanto à superfície quanto aos
Química, que assim como a Pacha, acreditam na tecnologia como mecanismo de
poros da membrana, resultando em uma de-
auxílio à processos e disseminação de conteúdos.
terioração de seu desempenho, com diminuição da eficiência da transferência de oxigênio
Soluções “Turnkey” para Centros de Reservação
e, por conseguinte maior consumo energético. Para construir uma limpeza química com eficiência e custo reduzido, a B&F Dias desenhou e desenvolveu o B&F In Place Cleaning, um sistema de limpeza com tecnologia 100% nacional, testado e aprovado em sistemas de aeração por ar difuso em Estações de Tratamento de Efluentes de grandes empresas.
Distribuidora no Brasil da empresa CST Industries, a expositora da Fenasan, Tanks BR, propaga suas soluções soluções do tipo turnkey em centros de reservação. A empresa firma que “ao longo de 10 anos em território nacional, foram mais de 170 tanques instalados no Brasil ou 707 milhões de litros armazenados, o que equivale a capacidade de abastecer uma cidade com 4,72 milhões de habitantes”. O processo “turnkey” para centros de reservação engloba desde a concepção de projetos geotécnicos, estruturais e hidráulicos até a execução de terraplanagem, fundações, base, reservatórios, interligações hidráulicas, adutoras, drenagem, elétrica, automação e urbanismo.
48
SANEAS
Abril a Junho de 2019
VIVÊNCIAS
A missão de ensinar o respeito à natureza e às pessoas
N
esta edição, mostramos que os nossos profissio-
Saneas: Como o senhor conseguiu unir uma dedicação con-
nais técnicos também se voltam para o cultivo de
junta ao Escotismo e às Ciências Exatas em sua vida? As
valores que lhe trazem grande realização pesso-
duas atividades tem alguma coisa em comum?
al, como é o caso do tecnólogo e coordenador
Eduardo: No início você acredita que não exista muita relação
do Polo AESabesp Leste, Eduardo Alves Pereira, que também
entre as duas áreas, mas com tempo fui conhecendo mais o movi-
possui uma boa parte da sua vida dedicada ao escotismo. E
mento e vendo as semelhanças. Um exemplo claro é que as duas
para falar sobre tão rica vivência, ele concedeu essa entrevista
buscam melhores direitos para os cidadãos, conservar a natureza e
à Saneas:
um mundo melhor para todos, em que todos saibam seus deveres e direitos.
Saneas: Qual é a sua formação acadêmica? Poderia nos descrever como foi sua história dentro da Sabesp?
Saneas: Qual é a importância pessoal que essas duas esco-
Eduardo: Sou formado como Tecnólogo em Edificações, comecei
lhas tiveram em seu desenvolvimento humano?
minha trajetória na Sabesp há 22 anos como eletricista de manu-
Eduardo: Ambas me ajudaram muito, principalmente para acom-
tenção na ETA Rio Grande. Após alguns anos comecei a trabalhar
panhar o crescimento dos meus filhos, aprendendo a lidar e a res-
na manutenção da Sabesp Mooca, passei no concurso para tec-
peitar o tempo de cada um deles. No aspecto profissional inclusive
nólogo e fui trabalhar na operação de Água Leste na Sabesp de
colaborou para me tornar mais dinâmico, extrovertido e tolerante
São Miguel e hoje estou como tecnólogo, no Departamento de
(ter que lidar com aproximadamente 40 jovens ao mesmo tempo
Engenharia Operacional Leste.
não é fácil) e responsável, afinal você está ajudando a educar jovens que não são seus filhos.
Saneas: Mesmo sendo funcionário da Sabesp, o senhor também se dedica à pratica do Escotismo? Como é essa or-
Saneas: Em sua concepção, existem pontos comuns nas tra-
ganização?
jetórias de um Escoteiro e de um Tecnólogo?
Eduardo: Não é fácil conciliar as duas atividades, pois no movi-
Eduardo: Muitos pontos em comum, em um ou no outro não
mento somos todos voluntários e temos que nos organizar para
existe recompensa sem esforço e dedicação, nada se ganha e sim
montar as atividades e programações para os nossos jovens. E
se conquista. Aprender a trabalhar em grupo, desenvolver pro-
tendo um trabalho regular numa empresa, complica mais, pois só
jetos (sim crianças de todas as idade já desenvolvem projetos)
temos nossos tempos de folga das atividades profissionais para
aprender a liderar e aceitar opiniões de outras pessoas. Na idade
fazer isso e infelizmente temos que sacrificar um pouco de nosso
da faixa que mais atuei (lobinhos - grupos formados por jovens
tempo livre para que tudo dê certo. Mas até certo ponto, isso
entre 6 e 11 anos), eles são muito curiosos e abertos às novidades.
acaba te ajudando pois você sempre acaba achando um tempo
É uma fase ideal, para aproveitamos para passar a eles valores
disponível que acreditava não dispor.
como respeito à natureza, às pessoas e a si mesmos.
Abril a Junho de 2019
SANEAS
49
VIVÊNCIAS
Saneas: E como foi sua trajetória no escotismo. Como foi a entrada nesse universo e que posto foi alcançado? Eduardo: Bem, no início fui conhecer o escotismo apenas para levar meus filhos para participar do movimento a convite de meu amigo e tecnólogo da Sabesp, Laércio Souza (seus filhos também participam até hoje como chefes escoteiros). Então, acabei fazendo amizades com os demais pais e membros do grupo. E é aí que você conhece a realidade do movimento e suas dificuldades pois todos são voluntários e fazem a diferença na vida de muitos jovens, com isso eu resolvi me envolver inicialmente como pai de apoio ( acompanha os chefes escoteiros e ajuda nas demais atividades de manutenção, alimentação, transporte, etc). Naturalmente acabei fazendo cursos para me tornar chefe escoteiro e estou no movimento até hoje, trabalhando com a Alcatéia onde se encontram os lobinhos jovens de 6 Fogo de conselho escotismo
a 11 anos. Saneas: Na sua atuação com os “Lobinhos”, jovens de 6 a 11 anos que iniciam a descoberta do escotismo, quais são os valores repassados e que os senhor teve de volta com essa experiência? Eduardo: A grande dificuldade nessa idade é fazer com que eles aprendam trabalhar em grupo respeitando os valores e os demais amigos. Mas como são muito curiosos e criativos, aproveitamos essas características nas atividades. Quando as pessoas vêem isso de fora pensam somente ser um jogo para distrair a criançada, mas nada no movimento é feito sem um propósito ou uma lição a se aprender, pois nossa premissa é sempre ensinar na prática a dar o seu “Melhor Possível” em tudo na vida. Vale dizer ainda que no movimento e no voluntariado, acabamos recebendo muito mais do que doamos e isso é uma coisa que não se paga. Não existe nada mais maravilhoso e compensador do que você ver aquela criança que chegou toda tímida se tornar um adulto ou jo-
Passagem de lobinho
vem capaz para exercer o seu papel como um cidadão do mundo. Saneas: Gostaríamos que o senhor falasse especialmente aos mais jovens sobre a importância de valores transmitidos pelo Escotismo, como coletividade, disciplina, resiliência, entre outros. Eduardo: Você que gosta de um desafio e de ter amigos para compartilhar suas superações, sinta-se convidado a conhecer o movimento escoteiro. Não tenha dúvida que você irá gostar de participar e levará os valores transmitidos pelo escotismo para o resto de sua vida. Saneas: Atualmente, o senhor é coordenador do Polo AESabesp na Metropolitana Leste (ML). Os valores do escotismo colaboram para gestão de tamanha responsabilidade? Eduardo: Sim, no movimento aprendi a ser voluntário, organizar eventos, envolver e estimular as pessoas a trabalhar em conjunto com a finalidade
ALESP escoteiro
50
SANEAS
Abril a Junho de 2019
de beneficiar a todos!
PROMOÇÃO
ESTANDE VIP
ESTANDE PLUS
COMERCIALIZAÇÃO E ORGANIZAÇÃO
APOIO INSTITUCIONAL