Revista Saneas - ed. 70

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Ano XI • Edição 70 • Outubro a Dezembro de 2019

ENERGIAS RENOVÁVEIS: Brasil avança nas alternativas limpas

30º ENCONTRO TÉCNICO FENASAN 2019 Uma edição para a história do Saneamento no Brasil

VISÃO DE FUTURO PNRS: destinação final de resíduos ainda é um grande desafio para o Brasil

PONTO DE VISTA Poluição difusa: especialistas falam sobre o problema que atinge as águas dos rios brasileiros



EXPEDIENTE

Associação dos Engenheiros da Sabesp Rua Treze de Maio, 1642 Bela Vista - 01327-002 - São Paulo/ SP Fone: (11) 3263 0484 Fax: (11) 3141 9041 www.aesabesp.org.br aesabesp@aesabesp.org.br Órgão Informativo da Associação dos Engenheiros da Sabesp Fundada em 15/09/1986 Tiragem: 6.000 exemplares Diretoria Executiva Presidente: Viviana Marli Nogueira de Aquino Borges Diretor Administrativo: Nizar Qbar Diretor Financeiro: Hiroshi Ietsugu Diretora Socioambiental: Márcia de Araújo Barbosa Nunes Diretor de Comunicação e Marketing: Agostinho de Jesus Gonçalves Geraldes Diretoria Adjunta Diretoria Cultural: Olavo Alberto Prates Sachs Diretoria de Esportes e Lazer: Evandro Nunes de Oliveira Diretoria de Polos Regionais: Antônio Carlos Gianotti Diretoria Social: Tarcísio Nagatani Diretoria Técnica: Luciomar Santos Werneck Conselho Deliberativo Presidente: Reynaldo Eduardo Young Ribeiro Membros: Abiatar Castro de Oliveira, Alceu Sampaio de Araujo, Alexandre Domingues Marques, Alzira Amancio Garcia, Carlos Alberto de Carvalho, Choji Ohara, Cid Barbosa Lima Junior, Eduardo Bronzatti Morelli, Gilberto Alves Martins, Gilberto Margarido Bonifácio, Helieder Rosa Zanelli, Ivo Nicolielo Antunes Junior, João Augusto Poeta, Maria Aparecida Silva de Paula, Richard Welsch e Walter Antonio Orsatti Conselho Fiscal Aurelindo Rosa dos Santos, Ivan Norberto Borghi e Yazid Naked Coordenadores Conselho e Fundo Editorial: Nélson César Menetti Membros: Ana Paula Vieira Rogers, Antônio Carlos Roda Menezes, Benemar Movikawa Tarifa, Débora Soares, Luciomar Santos Werneck, Sandreli Droppa Leta e Suely Matsuguma. Polos da RMSP: Rodrigo Mendonça Assuntos Institucionais: Ester Feche Guimarães Contratos Terceirizados: Abiatar Castro de Oliveira Cursos: Walter Antonio Orsatti Inovação: Luis Felipe Macruz Aposentados: Paulo Ivan Morelli Franceschi Comissão Organizadora do 30º Encontro Técnico AESabesp Fenasan 2019 Presidente da Comissão: Olavo Alberto Prates Sachs Membros da Comissão Agostinho J. G. Geraldes, Alisson Gomes de Moraes, Alzira Amâncio Garcia, Antonio Carlos Roda Menezes, Eduardo Bronzatti Morelli, Gilberto Alves Martins, Iara Regina Soares Chao, Luciomar Santos Werneck, Maria Aparecida Silva de Paula, Mariza Guimarães Prota, Nélson César Menetti, Nilton Gomes de Moraes, Nizar Qbar, Paulo Ivan Morelli Franceschi, Reynaldo Eduardo Young Ribeiro, Rosangela Cássia M. de Carvalho, Sonia Maria Nogueira e Silva, Tarcisio Luis Nagatani, Viviana M. N. de A. Borges e Walter Antonio Orsatti. Equipe de apoio Ana Paula Vieira Rogers, Maria Flávia S. Baroni, Monique Funke, Paulo Oliveira, Rodrigo Cordeiro, Suely Melo e Vanessa Hasson. Polos AESabesp da Região Metropolitana - RMSP Polo AESabesp Costa Carvalho: Patrícia de Fátima Goularth Polo AESabesp Coronel Diogo: Rodrigo Pereira Mendonça Polo AESabesp Centro: Patrícia Barbosa Taliberti Polo AESabesp Leste: Eduardo Alves Pereira Polo AESabesp Norte: Eduardo Bronzatti Morelli Polo AESabesp Oeste: Claudia Caroline Buffa Polo AESabesp Ponte Pequena: Rogério Welsel Polo AESabesp Sul: Antonio Ramos Batagliotti Polos AESabesp Regionais Polo AESabesp Baixada Santista: Zenivaldo Ascenção dos Santos Polo AESabesp Botucatu: Leandro Cesar Bizelli Polo AESabesp Caraguatatuba: Pedro Rogério de Almeida Veiga Polo AESabesp Franca: José Chozem Kochi Polo AESabesp Itatiba: Carlos Alberto Miranda Silva Polo AESabesp Itapetininga: Jorge Luis Rabelo Polo AESabesp Lins: Carlos Toledo da Silva Polo AESabesp Presidente Prudente: Gilmar José Peixoto Polo AESabesp Vale do Paraíba: Sérgio Domingos Ferreira Polo AESabesp Vale do Ribeira: Jiro Hiroi Produção Editorial Foco21 Comunicação Jornalista Responsável Ana Paula Vieira Rogers – MTB 27666 anarogers@foco21comunicacao.com Colaboradores Cássia Cunha, Cristiane Pinto, Jéssica Marques e Suely Melo Fotos Equipe Estevão Buzato e acervo AESabesp Projeto visual gráfico e diagramação Neopix DMI contato@neopixdmi.com.br www.neopixdmi.com.br A AESabesp não se responsabiliza pela veracidade de conteúdo de anúncios e de artigos assinados.

EDITORIAL

Um ano para a história o saneamento Prezados associados (as), conselheiro (as), diretores (as) e amigos da AESabesp: 2019 foi um ano de fortes emoções. Celebramos os 33 anos da AESabesp e realizamos o 30ºª do Encontro Técnico Fenasan, que trouxe debates de altíssima qualidade, uma feira com recorde de participação – mais de 200 expositores e 21 mil visitantes – apresentando tecnologia e inovação e impulsionando os negócios do setor, e uma série de homenagens e celebrações que deixarão esta edição para sempre em nossas memórias e corações. Um evento que se consolida cada vez mais como um dos gigantes do setor na América Latina. Este Encontro Técnico Fenasan marcou ainda grandes legados, como a criação de um Polo Avançado AESabesp no Vale do Silício, na Califórnia (EUA), o lançamento do Compêndio AESabesp e o lançamento do Museu Água em São Paulo, realizações que estarão na linha de frente de nossas iniciativas em 2020. Nesta edição da Saneas você vai conferir depoimentos e destaques do evento e uma entrevista exclusiva com Marcos Penido, Secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo, que foi o convidado especial para ministrar a Palestra Magna do 30º Encontro Técnico Fenasan 2019. Penido ressalta a importância de nosso evento e conta sobre a atuação da Secretaria em ações como a despoluição do Rio Pinheiros. Na reportagem de capa sobre energias renováveis, trazemos entrevistas com especialistas sobre o panorama do Brasil e três artigos técnicos que apresentam grandes cases do setor. Vocês também poderão conferir nesta edição uma reportagem sobre a destinação de resíduos. Preparamos um raio-X do país, com uma reflexão sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos. E trazemos ainda uma discussão de grandes especialistas do setor sobre poluição difusa. Nesta última edição de 2019, gostaria de agradecer a todos vocês por estarem conosco ao longo do ano, por estamos juntos tornando cada vez mais atuante a nossa querida AESabesp e o setor de saneamento no Brasil. Esperamos que em 2020 a Associação dos Engenheiros da Sabesp realize muito mais em prol do saneamento, da saúde e da qualidade de vida das pessoas, sempre alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. E que vocês estejam conosco nessa trajetória! Boa leitura e Boas Festas a todos! Nos vemos em 2020! Viviana Marli Nogueira de Aquino Borges Presidente da Gestão 2019-2021


ÍNDICE

Entrevista O avanço do Brasil nas energias renováveis

Energias Renováveis Brasil avança nas alternativas limpas

Inovação ETE MOGI MIRIM O primeiro sistema de geração de energia solar do setor de saneamento do Brasil

06 Artigo Técnico

Artigo Técnico

Eficiência Energética: distribuição do sistema São Lourenço aproveitamento energético por obras de setorização e instalação de bomba funcionando como turbina (BFT)

Avaliação do potencial energético de uma microturbina instalada em paralelo com válvulas redutoras de pressão (vrps) em redes de distribuição de água

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Uma edição para a história do Saneamento no Brasil

4

Saneas

10

Artigo Técnico

Sustentabilidade e Eficiência Energética na ETE-Mogi Mirim

19

30º Encontro Técnico Fenasan 2019 33

O 30º Encontro Técnico Fenasan em depoimentos

Galeria de fotos

34 36

Confira alguns dos destaques das mesas redondas Entrevista especial: Marcos Penido

Visão de futuro

Ponto de vista

Vivências

PNRS: destinação final de resíduos ainda é um grande desafio para o Brasil

Poluição difusa: especialistas falam sobre o problema que atinge as águas dos rios brasileiros

Entre a música e o saneamento Conheça a banda UGRs

42

07

45

25

38 39

50


Momentos de Tecnologia AESabesp

Apresente sua empresa aos associados da AESabesp

Os Momentos de Tecnologia são palestras técnicas realizadas nas unidades da Sabesp, promovidas por empresas que desejam apresentar seus produtos e serviços aos nossos associados. Concorridas, estas apresentações contam com expressivo comparecimento de associados, técnicos da Sabesp e convidados do setor de saneamento ambiental. O número de palestras realizadas e de profissionais já treinados confirmam o sucesso dos Momentos de Tecnologia AESabesp.

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MATÉRIA DE CAPA

ENERGIAS RENOVÁVEIS: Brasil avança nas alternativas limpas

Confira nesta reportagem especial um panorama das energias renováveis no Brasil, com entrevista e três artigos técnicos trazendo exemplos do que tem sido feito por todo o país, como o Projeto Sustentabilidade e Eficiência Energética na ETE-Mogi Mirim.


ENTREVISTA

O avanço do Brasil nas energias renováveis Por Suely Melo

O

Brasil tem cada vez mais conquistado

O Brasil apresenta um fator de capacidade médio

espaço no cenário das energias renová-

anual de 42% e na época de “safra dos ventos”, o fator

veis e tem grande potencial para seguir

de capacidade médio mensal pode alcançar os 60%. O

avançando, se o governo continuar in-

fator de capacidade médio mundial está em torno de

vestindo. A afirmação é do professor Alcy Monteiro

25%. O nordeste e o sul brasileiro apresentam as carac-

Junior, da Universidade Federal do Tocantins, estudio-

terísticas ideais para a produção de energia eólica: vento

so reconhecido deste tema. Leia a seguir a entrevista

unidirecional, constante e com velocidade estável. No

com o especialista, que traz um panorama do país.

dia 6 de junho de 2019, 17% da energia consumida no Sistema Interligado Nacional veio das eólicas, com fator

Alcy Monteiro Junior Possui graduação em Sistemas Elétricos pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Tocantins (2010), Pós-graduação lato Sensu em Gestão Pública (2011) e mestrado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Minas Gerais (2014). Atualmente é Professor do Magistério Superior, no curso de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Tocantins. Atuando principalmente nos seguintes temas: energia solar fotovoltaica, qualidade de energia elétrica, eficiência energética, harmônicos.

Revista Saneas: Pode fazer um panorama das energias renováveis no Brasil?

de capacidade de 75,5% e geração de 10.677 MW. O Brasil está em 8º lugar no Ranking mundial de ca-

Alcy Monteiro Junior: As fontes de energia reno-

pacidade instalada de energia eólica. Em 2012, éramos

váveis provêm de recursos inesgotáveis ou que po-

o 15º colocado. Esse avanço da energia eólica no Brasil

dem ser repostas a curto ou médio prazo, esponta-

resultou em mais de 200 mil postos até o momento.

neamente ou por intervenção humana. Estas fontes

Onde, a cada MW instalado, são abertos mais 15 pos-

encontram-se já em difusão em todo o mundo e a sua

tos de trabalhos.

importância tem vindo a aumentar ao longo dos anos,

A biomassa é uma das fontes para produção de ener-

representando uma parte considerável da produção

gia com maior potencial de crescimento nos próximos

de energia mundial.

anos. Tanto no mercado internacional quanto no inter-

Dentre as fontes renováveis de energia, no Brasil

no, ela é considerada uma das principais alternativas

tem-se como destaque a energia hídrica, que é respon-

para a diversificação da matriz energética e a conse-

sável por 60,9% da matriz energética brasileira, com

quente redução da dependência dos combustíveis

uma potência instalada de 106,5 GW. A energia hídrica

fósseis. Dela é possível obter energia elétrica e biocom-

é considerada como um dos processos mais eficientes e

bustíveis, como o biodiesel e o etanol, cujo consumo

menos poluidores de produção de energia elétrica. Por-

é crescente em substituição a derivados de petróleo,

tanto, a sua construção resulta em um alagamento de

como o óleo diesel e a gasolina. Para a produção de

grandes áreas que poderiam ser utilizadas para outros

energia elétrica utiliza-se matéria de origem vegetal para

fins econômicos, além dos impactos ambientais causa-

produzir energia (bagaço de cana-de-açúcar, álcool, ma-

dos no processo de construção da usina/reservatório.

deira, palha de arroz, óleos vegetais, dentre outras).

A energia eólica atualmente representa 8,6% da ma-

A energia elétrica gerada a partir de biomassa entre

triz energética brasileira, com uma potência instalada de

os meses de janeiro e dezembro de 2018 é de 26.441

15,3 GW distribuída em 613 parques eólicos em 12 es-

GWh, que permite atender à demanda de uma cidade

tados da federação. Essa potência instalada é suficiente

como Ribeirão Preto (SP) até o ano de 2032. A produ-

para abastecer 26,1 milhões de residências por mês, o

ção foi superior em 1% em relação a 2017, quando

que representa cerca de 78 milhões de habitantes. Con-

foram gerados 21.565 GWh.

siderando leilões já realizados e contratos firmados no

A principal matéria-prima desta energia limpa é a

mercado livre, o Brasil terá cerca de 21,5 GW de capaci-

cana-de-açúcar, que representa 82% desta produção

dade eólica instalada até 2023. (ABEEólica,2019).

energética – 21.565 GWh. O restante é proveniente de

Outubro a Dezembro de 2019

7


ENTREVISTA

restos de madeira, palha entre outros. Estes números fazem parte

perdas e a diversificação da matriz energética.

do levantamento da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (UNI-

Com o objetivo de reduzir os custos e tempo para a conexão da

CA), com base em dados preliminares da Câmara de Comercializa-

microgeração e minigeração; compatibilizar o Sistema de Compen-

ção de Energia Elétrica (CCEE).

sação de Energia Elétrica com as Condições Gerais de Fornecimento

O maior produtor desta energia limpa é o Estado de São Pau-

através da Resolução Normativa nº 414/2010 da ANEEL (BRASIL,

lo, com 44,7% (11.248 HWh), seguido por Mato Grosso do Sul

2010); aumentar o público alvo; e melhorar as informações na fatu-

(16,2%), Minas Gerais (12,04%) e Goiás (10,04%).

ra, a ANEEL publicou a Resolução Normativa nº 687/2015 revisando

A energia por biomassa é limpa e desafoga um pouco o sistema

a Resolução Normativa nº 482/2012 (BRASIL,2015).

elétrico nacional, que é mantido pelas usinas hidrelétricas (60,9%).

O potencial brasileiro para energia solar está entre os maiores do

Atualmente, de acordo com o Balanço Energético Nacional (BEN)

mundo. A região Nordeste apresenta os maiores valores de irradia-

da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a energia gerada por bio-

ção solar global, com a maior média e a menor variabilidade anual

massa representa 8,5% da matriz energética brasileira, superior a

entre todas as regiões geográficas. Os valores máximos de irradia-

mundial que é de apenas 2,3%. Em 2017, números mais recentes,

ção solar no país são observados na região central da Bahia (6,5

das 367 usinas de cana brasileiras, 57%, isso é, 206 exportam ener-

kWh/m²/dia), incluindo, parcialmente, o noroeste de Minas Gerais.

gia para o Sistema Elétrico Nacional (SIN). Desde 2013, o setor mais

Durante todo o ano, condições climáticas que conferem um regime

exporta para o sistema, na porcentagem de 60% exportado e 40%

estável de baixa nebulosidade e alta incidência de irradiação solar

para consumo interno.

para essa região semiárida (INPE,2017).

Desde 17 de abril de 2012, quando entrou em vigor a Resolução

A irradiação média anual brasileira varia entre 1.200 e 2.400

Normativa ANEEL nº 482/2012, o consumidor brasileiro pode gerar

kWh/m²/ano, bem acima da média da Europa, mas há no mundo

sua própria energia elétrica a partir de fontes renováveis ou cogeração

regiões com valores acima de 3.000 kWh/m²/ano, como Austrália,

qualificada e inclusive fornecer o excedente para a rede de distribui-

norte e sul da África, Oriente Médio, parte da Ásia Central, parte da

ção de sua localidade. Trata-se da micro e da minigeração distribuídas

Índia, sudoeste dos EUA, além de México, Chile e Peru.

de energia elétrica, inovações que podem aliar economia financeira, consciência socioambiental e autossustentabilidade (BRASIL,2012). Os estímulos à geração distribuída se justificam pelos potenciais benefícios que tal modalidade pode proporcionar ao sistema elétri-

A geração solar fotovoltaica no Brasil, desde a entrada em vigor a Resolução Normativa ANEEL nº 482/2012, teve um grande avanço no quantitativo de unidades consumidoras com geração distribuída e a potências instalada dessas unidades geradoras.

co. Entre eles, estão o adiamento de investimentos em expansão

O crescimento da geração solar fotovoltaica no Brasil, a partir de

dos sistemas de transmissão e distribuição, o baixo impacto am-

2015, chegou a um patamar de crescimento superior a 200%. Em

biental, a redução no carregamento das redes, a minimização das

setembro de 2019, o Brasil alcançou o marco histórico de 1.112,1

8

Saneas


MW de geração solar fotovoltaica através de micro e minigeração

fortemente o potencial de redução de preços ao cliente final.

distribuída e 2.253,4 MW de geração centralizada, totalizando uma

A ANEEL propôs que consumidores que já possuem sistemas ins-

potência operacional total de 3.365,5 MW. Sendo responsável por

talados passassem para o modelo de compensação proposto na Al-

1,3% da matriz energética brasileira (ABSOLAR, 2019).

ternativa 5 a partir de 2030. Estes consumidores teriam um aumento considerável no valor da conta de energia a ser paga após 2030,

Revista Saneas: Quais são as fontes de energias renováveis

em função da queda do valor do crédito de energia. Considerando

mais promissoras no Brasil?

o tempo médio de todos os sistemas já instalados e quantos anos

Alcy Monteiro Junior: No Brasil, a energia solar fotovoltaica e

de vida útil ainda terão após o gatilho de 2030, estima-se que estes

a energia eólica têm tudo para continuar crescendo se o governo

prossumidores1 deixariam de economizar aproximadamente R$ 7,5

federal continuar dando incentivo. A geração solar fotovoltaica vem

bilhões adicionais na conta de energia, impactando fortemente o

apresentado um crescimento anual na média de 200%.

retorno de investimento.

Revista Saneas: Algo mais que considere importante destacar

vel sobretudo pela venda, dimensionamento e instalação dos siste-

neste tema?

mas de GD, atua hoje em uma condição de altíssima competividade

Alcy Monteiro Junior: A proposta de ajuste regulatório para a

e baixas margens. A queda na demanda afetará a sobrevivência de

geração distribuída, apresentada pela Agência Nacional de Energia

milhares de empresas e emprego.

A cadeia de integração com mais de 10 mil empresas é responsá-

Elétrica (ANEEL) no dia 15 de outubro de 2019, pode causar um

A comparação do mercado brasileiro com outros mercados re-

enorme retrocesso ao País e inviabilizar a modalidade que permitiu

quer especial atenção, uma vez que cada um possui seu tamanho

aos brasileiros gerar e consumir a própria eletricidade em residên-

e suas particularidades. Apesar disto, independente das característi-

cias, comércios, indústrias e propriedades rurais.

cas de mercado e da regulação dos outros locais analisados, nenhu-

Com base em documentos publicados pela agência reguladora

ma das mudanças regulatórias que ocorreram infligiram o direito

sobre a Resolução Normativa nº 482/2012, que traz como proposta

adquirido daqueles sistemas instalados anteriormente. A ANEEL

a chamada “Alternativa 5”, tanto para geração distribuída remota

tem usado o argumento que em outros países também ocorreu a

quanto para a local, a proposta traz um grande desequilíbrio para o

mudança das resoluções. Porém, todos os países adotaram o mode-

consumidor e para as empresas do setor e favorece os monopólios

lo quando a geração distribuída chegou ao menos a 5% da matriz

da distribuição de energia.

energética. O Brasil atualmente tem pouco mais de 1% da matriz

A mudança drástica proposta pela ANEEL pode reduzir em mais de 60% a economia do cidadão que investe na geração de sua própria energia elétrica limpa e renovável.

energética na modalidade geração distribuída para a compensação de energia elétrica. A simultaneidade entre geração e consumo das instalações será

Outro ponto de alerta é a proposta de reduzir o prazo de vigên-

um fator fundamental para a viabilização dos projetos, uma vez que

cia das regras, de 25 anos para 10 anos, para quem já investiu na

o valor dos créditos oriundos da energia injetada na rede poderá

geração distribuída. Pela nova proposta da ANEEL, consumidores

ser altamente impactado. Os estabelecimentos que terão o menor

com geração distribuída em operação teriam as condições mantidas

impacto serão os comércios, industrias, órgãos públicos que têm

apenas até 2030.

seu consumo de energia elevado justamente no horário que tem a

Atualmente, geração distribuída solar fotovoltaica é muito pe-

produção de energia solar fotovoltaica.

quena e está muito abaixo das potencialidades do Brasil. Dos mais

Autoconsumo remoto é uma das 3 novas modalidades da gera-

de 84,2 milhões de consumidores cativos brasileiros, menos de 146

ção distribuída criadas pela ANEEL em 2015 e permite que o con-

mil (0,18%) possuem a tecnologia.

sumidor instale seu sistema gerador em local diferente do local de

As mudanças propostas na Análise de Impacto Regulatório – AIR

consumo, desde que ambos estejam em sua titularidade e dentro

n°003 da ANEEL impactam fortemente a atratividade do investi-

da área de concessão da mesma distribuidora. Com a possível mu-

mento, podendo implicar numa redução de aproximadamente

dança da resolução, a geração remota será severamente penaliza-

50% no crescimento esperado do mercado.

da. A Alternativa 5 inviabilizará o investimento em praticamente

O ganho de escala do setor tem sido fundamental para a queda

todos os estados da federação.

de preços de sistemas de geração. A redução de demanda nesta fase inicial do mercado reduz a eficiência da cadeia, diminuindo

1

Produtores e consumidores de energia.

Outubro a Dezembro de 2019

9


PONTO DE INOVAÇÃO VISTA

ETE Mogi Mirim O primeiro sistema de geração de energia solar do setor de saneamento do Brasil Por Cristiane Pinto

O

Presidente do Conselho Deliberativo da

de responsabilidade do Serviço Autônomo de Água e

AESabesp, Reynaldo Young, esteve em

Esgoto de Mogi Mirim (SAAE).

Mogi Mirim/SP, para promover o Pro-

Reynaldo Young ressalta que o tipo de gestão empre-

grama de Integridade da Sabesp sobre

gado na ETE representa um ótimo exemplo de gestão

a prevenção de atos lesivos contra a administração

empresarial uma vez que “a Sabesp indica parte dos

pública. Na ocasião, ele participou da visita técnica na

representantes ao Conselho de Administração, para a

Estação de Tratamento de Esgotos da cidade, que conta

Diretoria e, quando houver previsão no seu estatuto

com o primeiro sistema de geração de energia solar do

social, a companhia também poderá fazer indicações

setor de saneamento do Brasil, inaugurado em julho.

para integrar parte da gestão da empresa. Esse modelo

A unidade é operada pelo Serviço de Saneamento de Mogi Mirim (SESAMM), uma sociedade de propósito

10

Saneas

compartilha as decisões e responsabilidades, trazendo mais agilidade na obtenção de resultados”, afirma.

específico (SPE) formada pela Sabesp, GS Inima Brasil e

Segundo ele, a gestão por meio de SPEs não precisa

ECS Operações. Entretanto, vale destacar que a distri-

se limitar aos sistemas de tratamento de esgotos e ain-

buição de água e a coleta de esgotos do município são

da prevê vantagens para outros municípios brasileiros


que decidirem por esse modelo de gestão. “As SPEs possibilitam

Atualmente, a ETE tem capacidade para tratar 150 litros de esgoto

optar por um modelo de associação público-privado em que a so-

por segundo, mas, a partir de setembro do ano que vem, esse valor

ciedade se beneficia rapidamente de seus resultados e, principal-

passará a ser de 225 l/s. “A estação opera em plena capacidade desde

mente, do sucesso que se alcança em função de uma adequada

o primeiro dia, e este volume é acompanhado online pelo SAAE Mogi

gestão empresarial”.

Mirim”, enfatiza Young.

Reynaldo Young também ficou bem impressionado com a novi-

O processo de tratamento de esgoto da ETE é o tradicional, de

dade tecnológica da estação. “A ETE Mogi Mirim possui um sistema

lodos ativados com aeração prolongada e que ultimamente tem

de geração de energia elétrica fotovoltaico, acompanhado de um

alcançado bons resultados como já atestados pela agência regu-

sistema de gestão de energia, que permite que a estação consi-

ladora local. “Os benefícios foram observados após os primeiros

ga gerenciar minuto a minuto o consumo de energia”, explica. A

meses de operação com a limpeza do rio Mogi Mirim e a melhoria

energia é produzida pela captação de luz solar feita pelos 1066

de sua classificação, ao final de 2012, de acordo com relatórios da

módulos que foram instalados nos telhados e ao redor da unidade.

Cetesb. O índice de tratamento do município passou de zero para

Eles fornecem 606 MW/h de energia limpa, que suprem em 30 % o

65%”, finaliza.

consumo de energia da estação. A SESAMM investiu R$ 1,7 milhão

Leia artigo técnico sobre a ETE na página 25.

na implantação do sistema.

Outubro a Dezembro de 2019

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PONTO DE ARTIGO VISTA TÉCNICO

Edson Sene da Costa Ciro Cesar Falcucci Lemos Alessandro Muniz Paixão Aurélio Fiorindo Filho Tarcísio Luis Nagatani Paulo César Lemes Rocha

Eficiência Energética: distribuição do Sistema São Lourenço aproveitamento energético por obras de setorização e instalação de Bomba Funcionando como Turbina (BFT) Resumo

Introdução

Nos sistemas de abastecimento de água há poten-

OPORTUNIDADE

ciais hidro energéticos que permitem a geração de

Desde 2014, a Unidade de Negócio Oeste - MO tem

energia elétrica e a otimização dos setores de abaste-

como entrada de novos projetos o Fórum de Proces-

Ivan Carlos Storer

cimento, por meio do emprego de soluções inovado-

sos e Apoio, por exemplo: Água, Esgoto, Qualidade,

Geraldo Juncione

ras, como o emprego de bombas funcionando como

Serviços e etc. Os Fóruns acompanham as análises crí-

turbinas (BFT).

ticas da MO bem como os planos de ações e também

Silvio Tadashi Yamagutti Antonio Alexandre Magnanini

Sandra Stringhini Bruno Pereira Toniolo

Esta inovação implantada na Unidade de Negó-

propõem projetos.

cio Oeste- MO, da Sabesp, em 2017, no Reserva-

No Fórum água de abril/2015 concluiu-se que era

tório Tamboré, que garantiu a geração de energia

preciso investir na melhoria da eficiência energética e

de 90 kwh. Projeto este desenvolvido em parceria

geração de energia onde fosse possível.

com o Banco de Desenvolvimento Alemão o KfW

Este Fórum é coordenado pela área de Engenharia

que promove também investimentos no Brasil para

da MO e está alinhado com os Objetivos Estratégicos

expansão de energias renováveis e a empresa KSB

da MO (ver figura 1), além de ser prática do Sistema

(fornecedora de bombas), e a Universidade de Bun-

de Trabalho da MO para promover o envolvimento e a

deswehr em Munique.

interação dos empregados de diversas áreas visando ao

A implantação deste piloto permitiu a definição da

alto desempenho e à inovação.

concepção de novas instalações, este trabalho tem

O Fórum Água visualizou que é possível economizar

por objetivo apresentar a implantação do BFT e os po-

dinheiro aumentando a eficiência energética e também

tenciais projetos similares na unidade MO.

aproveitar a energia residual hoje desperdiçadas no sis-

A eficiência energética também foi estudada por se-

tema de abastecimento de água.

torização que consiste em desativar as instalações que

Neste Projeto será possível gerar energia elétrica me-

consomem energia elétrica (bombas) mediante as-

diante aproveitamento da energia residual da água que

sentamento de tubulações, permitindo a interligação

entra nos reservatórios da MO, entre os processos Adu-

destas regiões, a um setor próximo, que tenha uma

ção e Reservação.

piezométrica suficiente para promover o abastecimento por gravidade.

O sistema de abastecimento é composto de diversas adutoras entregando água em diversos reservatórios, sendo que cada adutora atende vários reservató-

AUTORES: Edson Sene da Costa, Ciro Cesar Falcucci

rios, porém o sistema é dimensionado para abastecer

Lemos, Alessandro Muniz Paixâo, Aurélio Fiorindo Fi-

o mais alto deles, e então, em todos menos um, o

lho, Tarcísio Luis Nagatani, Paulo César Lemes Rocha,

mais alto, sobra energia que é dissipada em forma de

Silvio Tadashi Yamagutti, Antonio Alexandre Magnani-

calor, devido ao estrangulamento da válvula de entra-

ni, Ivan Carlos Storer, Geraldo Juncione, Sandra Strin-

da dos reservatórios.

ghini e Bruno Pereira Toniolo.

Quando uma adutora abastece vários reservatórios, para não ter desperdício de energia (porque o bom-

12

Saneas

PALAVRAS-CHAVE: Abastecimento de Água, Eficiên-

beamento é dimensionado para o mais alto), seria

cia Energética e Bomba Funcionando como Turbina.

possível, somente se todas as válvulas de entradas tra-


balhassem totalmente abertas, porém seria impossível de se ope-

quistar mercados e novos negócios”, 7 “Fortalecer a imagem da

rar porque toda a água do sistema iria para os reservatórios mais

Sabesp”, 9 “Gerar impacto socioambiental positivo” e 10 “Gerar

baixos, por isso é que se tem uma válvula de controle na entrada

lucro” (ver figura 1). Este desafio de aproveitamento da energia residual nas entradas

de cada reservatório. A solução então é instalar bombas funcionando como turbina (BFT)

dos reservatórios é compartilhado pelas outras Unidades de Negó-

na entrada de todos os reservatórios, assim em vez de graduar a vál-

cios da distribuição e também por todo o setor de saneamento no

vula de controle (dissipando energia) será instalado um BFT na entrada

Brasil e no mundo. Os participantes do Fórum de Água constataram que era pos-

de cada reservatório gerando energia que hoje é desperdiçada. O Projeto proposto contribui para a redução da conta de energia

sível aumentar a eficiência energética oriunda da entrada de

elétrica, porque esta energia gerada será medida e entregue à Con-

água nos reservatórios e utilizando a prática do processo decisó-

cessionária de energia e vendida, assim o valor será descontado nas

rio em grupo por meio do Brainstorming, analisaram as possibi-

outras plantas da MO, dessa maneira, executando-se todas as obras

lidades de atuação. Para aprofundar os estudos, os trabalhos foram divididos em 2

propostas neste trabalho, será possível “zerar” as contas de energia

grupos de trabalhos (GT), sendo um de hidráulica e outro de elétri-

elétrica da Unidade de Negócio Oeste - MO.

ca, somando são catorze funcionários da MO e mais cinco funcio-

com seis dos Objetivos Estratégicos como a seguir: 2 “Implantar

nários de outras superintendências parceiras. A coordenação dos

novas tecnologias”, 4 “Aperfeiçoar processos”, 6 “Manter e con-

trabalhos ficou com a MOE.

Pessoas einovação

Processos

Cliente e Sociedade

Sustentabilidade

A notoriedade deste Projeto é evidenciada pelo alinhamento

8

9

10

Garantir a disponibilidade hídrica

Gerar impacto socioambiental positivo

Gerar Lucro

5

6

7

Satisfazer o cliente

Manter e conquistar mercado e novos negócios

Fortalecer a imagem da Sabesp

3

4

Assegurar a qualidade dos serviços

Aperfeiçoar processos

1

2

Promover desenvolvimento profissional e pessoal

Implantar novas tecnologias

Figura 1: Mapa Estratégico (fonte: Intranet Sabesp, Abril/19). Outubro a Dezembro de 2019

13


PONTO DE ARTIGO VISTA TÉCNICO

Os estudos foram amplamente discutidos por todos e por fim

zona baixa e outra parte é bombeada para a zona alta. A proposta

chegou-se a um plano de ação, baseados na missão, visão e valores

aqui é em vez de bombear para a zona alta, assentar tubulações

e diretrizes estratégicas.

de um outro reservatório por gravidade, solução não apontada nas literaturas porque as análises eram feitas pontualmente apenas por

Objetivo

setor como se fosse um mundo isolado.

O abastecimento é condição primordial ao atendimento da vida,

Já uma Bomba Funcionando como Turbina (BFT) é aplicada nas en-

da saúde e do funcionamento das cidades. A implantação destas

tradas dos reservatórios setoriais, aproveitando o residual de energia

obras regularizará o fornecimento de água da região e proporcio-

existente, visto que quando a água entra num reservatório ela perde

nará também, o atendimento aos centros industriais e comerciais,

toda a sua energia residual, assim a BFT retirará e transformará esta

melhorando as condições socioeconômica das localidades, e redu-

energia antes dela se dissipar. Também as BFT’s são aplicadas numa

zindo o consumo de energia elétrica mediante o aproveitamento do

adutora quando é necessário reduzir a pressão na adutora, hoje são

potencial energético do Sistema São Lourenço.

instalados as chamadas Estruturas de Controle (EC), porém a energia

O principal aproveitamento energético que se pode ter é des-

não é aproveitada, o ideal seria uma BFT para gerar energia.

ligar as elevatórias de distribuição de água para as Zonas Altas e abastecer esta região mediante assentamento de tubos de um setor

Benefícios esperados

próximo que tenha uma piezométrica suficiente para que se possa

Estas obras de adução, reservação e distribuição de água de nove

desligar as bombas das zonas altas e assim efetivamente reduzir o

setores de abastecimento e instalação de BFT que maximizarão

custo com a energia elétrica. Nos setores clássicos a água entra no

o aproveitamento do Sistema Produtor São Lourenço, proporcio-

reservatório, perde toda a energia e depois sai por gravidade para a

nando eficiência na gestão do serviço de abastecimento, com re-

Tabela 1: Elevatórias desativadas por Setorização Elevatória a Ser Desativa

Qual Setor ou Sub-adutora passará a abastecer a região

Potência a Desativar (kwh)

Situação

Jandira ZA

Sub-adutora Jandira Mirante via São Lourenço

350

Concluída

1- Itapevi-Centro ZA

Novo Setor Itapevi-Santa Cecília

220

Em andamento

2-Barueri-Tupã ZA

Novo Setor Barueri Vale do Sol

175

Em projeto

3-Barueri Tamboré ZA

Novo Setor Genesis

1275

Em andamento

4-Nove Boosters em Itapevi

Novo Setor Itapevi-Santa Cecília

420

Em andamento

5-EEA Carapicuíba Vila Dirce

Sub Adutora Carapicuíba via São Lourenço

510

Em projeto

6-Booster Fazendinha

Novo Setor Genesis

540

Em andamento

7-Booster Imperial, Sergipe e Poços

Novo Setor Genesis

420

Em andamento

Total

3.910

Tabela 2: Implantação de Bombas Funcionando como Turbina (BFT) Modalidade do aproveitamento energético

Potência a Recuperar (kwh)

Situação

Barueri-Tamboré

Entrada de reservatório

90

Concluído

8-EC-1

Controle de pressão na adutora – Interligação com Baixo Cotia

450

A licitar

9-EC-2

Controle de pressão na adutora – Interligação com Cantareira

1030

A licitar

10-Barueri-Vale do Sol

Entrada de reservatório

70

A licitar

11-EC-3

Controle de pressão na adutora Carapicuíba-Centro

640

A licitar

12-Genesis

Controle de pressão na adutora Genesis

120

A licitar

Local a ser implantada

Total

14

Saneas

2.400


gularidade adequada, redução de energia, redução de perdas e

Dentre os reservatórios da MO escolhemos o Reservatório Barueri-Tamboré porque tem grande vazão e uma pressão de entrada con-

capacidade de expansão futura. Haverá a regularização do abastecimento de água em nove se-

siderável, sendo assim um excelente potencial de aproveitamento.

tores de abastecimento nos municípios de Itapevi, Jandira, Barueri,

Após consenso com os parceiros alemães da escolha do reserva-

Carapicuíba e Santana de Parnaíba que são abastecidos pelo Sis-

tório, o GT de hidráulica, em agosto/2016, executou a modelagem

tema Produtor São Lourenço, beneficiando 1.100.000 (um milhão

matemática da operação e o resultado foi que é possível instalar um

e cem mil) habitantes e possibilitará também a desativação de 21

BFT com vazão 400 litros por segundo e com um aproveitado de

estações de bombeamento.

carga de 30 metros de coluna de água (mca), escolhida a bomba que melhor se adequa a este ponto de trabalho o ganho foi de 90 kwh.

A ideia

Foi definido uma regra operacional para o funcionamento da

A fonte inspiradora é o estudo minucioso do Ciclo do Saneamento

válvula de controle e da turbina com uma tabela de como será a

ver figura 2, onde se percebe os pontos em que existem energia resi-

operação durante as 24 horas do dia com os resultados hora a hora.

dual, são eles: na entrada das estações de tratamento de água (ETA),

De posse resultados hidráulicos que mensuram os ganhos, em

na entrada dos reservatórios setoriais e na rede de distribuição.

Ciclo do Saneamento

Cidade

novembro/2016, o GT de elétrica fez um benchmarking na Eletropaulo que apresentou os casos em que compram energia de geradores locais e se mostraram muito interessados em comprar a energia, bem como nos orientou em vários aspectos do projeto para uma melhor aceitação da energia que será gerada. Que foram

Grades Rede de distribuição

Esgostos Represa

Reservatório

Rio

Decantador

atendidos e o projeto de interligação foi concluído e entregue em setembro/2017. Hoje o processo adução reservação está totalmente separado do

Captação

processo Distribuição, conforme a figura 3, Floculação Decantação Filtração

Figura 2: Ciclo do Saneamento (fonte: site PNQS, Abril/17).

Para o projeto piloto da Bomba Funcionando como Turbina (BFT), o

Adução

grupo desenvolveu uma parceria com a Universität der Bundeswehr em Munique, escola fundada em 1973. Também faz parte da parceria um fabricante de bombas a KSB. Desta maneira o trabalho

Válvula de controle (Dissipa energia)

Reservação

Figura 3: Processos de Adução/Reservação atual (sem BFT) - (fonte autoral, Abril/17).

é inédito na Sabesp, poderemos compartilhar o conhecimento dos parceiros que estão mais tempo estudando esta nova tecnologia. A aplicação de BFT’s na distribuição é possível quando há pres-

A água para entrar no reservatório passa por uma válvula de controle que dissipa a energia excedente.

sões e vazões compatíveis para geração de energia, ou seja, onde

Junto com a implantação do BFT foi executado um by-pass de

há energia sendo dissipada, como por exemplo, nas entradas dos

maneira que a água passará pela BFT primeiro e depois entrará no

reservatórios, e nas válvulas reguladoras de pressão (VRP’s), opta-

reservatório por baixo ao mesmo tempo que vai para a distribuição,

mos por implantar o piloto de entrada dos reservatórios; porque

o que maximizará o ganho e haverá uma integração adução/reser-

esta modalidade está num avançado estágio de tecnologia e efici-

vação/distribuição, ver figura 4.

ência, futuramente serão implantados pilotos substituindo as atuais válvulas reguladoras de pressão por BFT’s, porém neste caso a tecnologia ainda está em desenvolvimento, não se tem um domínio completo da aplicação.

Outubro a Dezembro de 2019

15


PONTO DE ARTIGO VISTA TÉCNICO

Adução Distribuição Reservação BTF (gera energia)

Figura 4: Gestão integrada adução/reservação/distribuição, otimizada e unificada pelo BFT - (fonte autoral, Abril/17).

Região a ser abastecidada pelo reservatório apoiado Região a ser abastecidada pelo reservatório elevado Região Intermediária

Para isso foram instalados controladores lógicos programáveis e conversores de frequência no BFT (ver figura 5) que também será

Figura 6: Exemplo de setorização Zonas alta e baixa e área de VRP (fonte: Sabesp-MP-2016).

interligado a um medidor de vazão que transmitirá a vazão que será corrigida para mais ou para menos, conforme previsto na modelagem matemática.

Reservatório Elevado

Reservatório Superficial

Zona Alta

Simplesmente hoje recuperamos uma energia que era desper-

Figura 7: Setor clássico com Zona Baixa e Zona Alta (fonte: SabespMP-2016).

diçada e no projeto piloto o ganho foi de 90 kwh (ver figura 5), então o indicador será Valor Medido dividido pelo Valor Previsto o

Zona Baixa

resultado deverá ser maior ou igual a 80%. Conforme descrito anteriormente este projeto piloto aproveitou a energia residual que temos em 90% de nossos reservatórios e que hoje são dissipadas na válvula de controle dos reservatórios setoriais.

Eficiência energética por setorização

Reservatório Superficial

Booster com inversão de frequência

Já no processo de Setorização ( ver figura 6) o piloto ocorreu na

Zona Alta

EEAT de Jandira-Centro que bombeava para o Reservatório Jandira-Mirante que foi interligado ao Sistema Produtor São Lourenço

Zona Baixa

(SPSL) mediante execução de Sub-Adutora em diâmetro de 800

Q in

Q out

mm, e consequentemente eliminando a elevatória visto que com

1) Isolation valve pressure side

2) Electromagnetic insertion meter

Po Omegwerhouse a 90kw 300-300 A no Poweminal r

3) Flange connection DN300 ANSI standard

4) Flange connection DN350 ANSI standard

A) Flow measurement B) Butterfly valve (existing)

Figura 5: BFT completa com by-pass, medidor de vazão, gerador e CLP- (fonte: KSB - Bombas).

16

Saneas

5) Isolation valve suction side

Figura 8: Evolução do setor clássico eliminando a torre e adotando inversor de frequência (fonte: Sabesp-MP-2016).


a construção pelo Sistema Produtor São Lourenço (SPSL) da Sub-adutora Jandira Mirante com extensão de 821 metros e diâmetro de 800 mm (32”). Nos setores clássicos (ver figuras 7 e 8) a água entra no reservatório, perde toda a energia e depois sai por gravidade para a zona baixa e outra parte é bombeada para a zona e alta. A proposta aqui é em vez de bombear para a zona alta, assentar tubulações de um outro reservatório por gravidade, solução não apontada inicialmente porque as análises eram feitas pontualmente e não com um enfoque para o sistema produtor como um todo.

Resultados obtidos Implantada a BFT Barueri-Tamboré em Abril/2018 houve a economia de R$ 25.000,00 por mês na conta da energia elétrica, confir-

Tabela 3: Custos estimados obras por Setorização Obra de Setorização

Qual Setor ou Zona de Pressão que passará a abastecer a região

Custo Estimado (R$ x 1000)

Sub-adutora Jandira Mirante via São Lourenço

Reservatório Jandira-Mirante

Concluído

Novo Setor Barueri Vale do Sol

Tupã Zona Alta e Derivação Tupã

9.000,00

Novo Setor ItapeviSanta Cecília

Itapevi ZA e Setor Sapiantã e área de nove boosters existente

17.000,00

Novo Setor Genesis

Barueri-Tamboré Zona Alta

63.000,00

Sub Adutora Carapicuíba via São Lourenço

Carapicuiba Vila Dirce

21.000,00

Total

110.000,00

mando que podemos prosseguir com as outra cinco BFT’s estudadas (ver Tabela 4).

A economia de energia prevista com as obras é de 2.815.200

Tabela 4: Custos estimados de Bombas Funcionando como Turbina (BFT) BFT a implantar

Modalidade do aproveitamento energético

Custo Estimado (R$ x 1000)

Barueri-Tamboré

Entrada de reservatório

Concluído

EC-1

Controle de pressão na adutora – Interligação com Baixo Cotia

5.500,00

EC-2

Controle de pressão na adutora – Interligação com Cantareira

11.000,00

Barueri-Vale do Sol

Entrada de reservatório

1.000,00

EC-3

Controle de pressão na adutora Carapicuíba-Centro

8.000,00

Genesis

Controle de pressão na adutora Genesis

3.000,00

Total

kwh/mês que gera uma economia de R$ 13 milhões por ano. Pay-back para as ações de Setorização é de 8,2 anos.

29.000,00 Figura 9: Vista da BFT Tamboré (entrada de reservatório(fonte: Sabesp-2018).

A geração de energia prevista com as obras é de 1.725.000 kwh/ mês que gera uma arrecadação de R$ 8 milhões por ano. Pay-back para as ações de BFT’s é de 3,7 anos. Implantada a Sub-adutora Jandira-Mirante pelo Sistema Produtor São Lourenço (SPSL) e houve a economia de R$ 50.000,00 por mês na conta da energia elétrica, com o desligamento da EEAT Mirante Zona Alta, confirmando o sucesso da operação e encaminhando as outras quatro obras de setorização (ver tabela 3).

Figura 10: Vista da BFT Tamboré (vista para o logradouro) (fonte: Sabesp-2018).

Outubro a Dezembro de 2019

17


PONTO DE ARTIGO VISTA TÉCNICO

BFT é automatizada, passando a ser operada remotamente Desde o dia 31/07/19, a BFT, localizada no reservatório Tamboré

de energia elétrica, embora este aproveitamento pudesse ser em forma de “ilha”, uso interno, nem que fosse apenas para iluminar o pátio do centro de reservação.

passou a ser operada pelo Centro de Controle Operacional – CCO,

Este trabalho muda o enfoque quando avaliamos não apenas

localizado na sede da Companhia na Costa Carvalho no bairro de

um ponto do setor de abastecimento, mas sim o sistema produtor

Pinheiros, dessa maneira então melhorando a operação da BFT sem

como um todo, esse nível maior de abrangência faz com que você

influenciar na operação da água, conforme Figura 11 e 12.

pense na real necessidade de ter uma estação de bombeamento,

Para a automação da BFT foram necessários os esforços de vá-

seria possível desativá-la mediante uma obra de setorização? Assim

rios profissionais de diversas áreas da Sabesp como: Unidades de

buscamos a desativação definitiva de quantos estações elevatórias

Negócio (MO), e de Produção de Água da Metropolitana (MA), da

forem possíveis pelo processo de setorização. A entrada em opera-

Superintendência de Manutenção Estratégica (MM) e da fabricante

ção do Novo Sistema Produtor São Lourenço, com certeza, impul-

KSB; também contribuíram para o desenvolvimento do projeto de

sionou este avanço.

automação, profissionais da Siemens (fabricante de equipamentos

Tão importante quanto foi a busca por novas tecnologias, bus-

elétricos), da ENEL (concessionária de energia elétrica) e outros pres-

cando parcerias com empresas do setor privado e nas universida-

tadores de servicos.

des, inclusive fora do país, culminando com a instalação do BFT ou mini hidrelétrica como vem sendo nomeada pela mídia.

Conclusões/recomendações

Buscar soluções sustentáveis e inovar fazem parte do pensamen-

Um primeiro passo na eficiência energética foi a adoção de inverso-

to da Sabesp. Esse sentimento é um grande aliado em nossa missão

res de frequência. Isso pode ser percebido quando verificamos sua

de universalizar o saneamento e contribuir na melhoria da qualida-

vasta aplicação em nosso parque de elevatórias.

de de vida da população.

Porém esses estudos podem ter sido feitos de maneira pontual, uma vez que se tinha uma estação de bombeamento se buscava o melhor ponto de operação. Já a energia que se dissipava nas en-

GLOSSÁRIO

tradas dos reservatórios sequer era comentada, talvez por não se

CLP – Controlador lógico programável BFT – Bomba

ter uma legislação que regulasse a interação com a concessionária

Funcionando como Turbina

8

Garantir a disponibilidade Hídrica

Abastecimento de água Automação Eficiência energética Redução de perdas

Figura 11: BFT passa a ser operada pelo Centro de Controle Operacional CCO) (fonte: Sabesp-2019)

18

Saneas

Figura 12: Telas do sistema de controle do funcionamento da BFT (fonte: Sabesp-2019)


ARTIGO TÉCNICO

Anderson Augusto Serodio Engenheiro Eletricista (2008). MBA em Automação Industrial pelo PECE Poli-USP (2019). Engenheiro da SABESP - Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo desde 2012. Tel: +55 (11) 33869820 - e-mail: aserodio@ sabesp.com.br

Andrea Regina Venancio da Silva Engenheira Civil (2003). MBA em Gestão Estratégica e Econômica de Projetos pela FGV (2009) e MBA em gestão empresarial pela FIA (2017). Gerente de Divisão de Controle de Perdas da Unidade de Negócios Oeste da SABESP - Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo. Tel: +55 (11) 3838-6300 - e-mail: andreasilva@ sabesp.com.br.

Antonio Boalor Leite Ramos Engenheiro Civil (2013). Técnico em Serviços de Saneamento da SABESP - Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo desde 1992. Tel: +55 (11) 38386363 - e-mail: abramos@ sabesp.com.br

Iara Regina Soares Chao Engenheira Civil (1987). Especialista em controle de poluição pela Faculdade de Saúde Pública da USP (1994) e mestre em engenharia hidráulica e sanitária pela Escola Politécnica da USP (2006). Engenheira da SABESP - Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo desde 1998. Tel: +55 (11) 33889422 - e-mail: ichao@ sabesp.com.br Endereço: Rua Costa Carvalho, 300 – Pinheiros – São Paulo – SP – CEP: 05429-900 – Brasil – Tel: +55 (11) 3386-9820 e-mail: aserodio@sabesp. com.br

Avaliação do potencial energético de uma microturbina instalada em paralelo com Válvulas Redutoras de Pressão (VRPS) em redes de distribuição de água Resumo

de distribuição de água, com o objetivo de gerar uma

Este trabalho tem por objetivo avaliar o potencial de

perda de carga localizada de forma a reduzir a pressão

microgeração e o aproveitamento da energia elétrica,

na rede à sua jusante. A redução de pressão nas redes

através da instalação de uma microturbina em paralelo

de distribuição, através do uso de VRPs, é uma das prin-

com válvulas redutoras de pressão (VRP) de redes de

cipais ações de combate às perdas reais, uma vez que a

distribuição de água. Verificou-se que a microturbina

pressão da rede influencia o número e a vazão de vaza-

tem capacidade de gerar energia elétrica a partir do

mentos. No entanto, a energia dissipada por esse proces-

fluxo de água em tubulações de água tratada e, desta

so é totalmente desperdiçada sem qualquer aproveita-

forma, atender a demanda de energia dos dispositivos

mento energético. É importante ressaltar que quando há

eletrônicos utilizados no monitoramento e controle da

grande variação de vazão na tubulação há necessidade

rede hidráulica. Essa tecnologia sustentável pode trazer

de modular a pressão à jusante da VRP ao longo das

inúmeros benefícios aos sistemas de abastecimento de

horas do dia, através da implementação de um equipa-

água, dada a possibilidade de instalação de equipa-

mento eletrônico previamente programado denominado

mentos de controle e monitoramento em tempo real

controlador de VRP. O controlador de VRP atua, através

que visam melhorar a operação e a qualidade dos servi-

de válvulas solenoides, diretamente sobre o circuito hi-

ços prestados à população.

dráulico da cabeça da VRP. Sua função é ajustar a pressão à jusante, conforme a necessidade, podendo atuar

PALAVRAS-CHAVE: microturbina, microgeração, rede

com modulação por tempo, por vazão ou pela pressão

de distribição de água, vrp, eficiencia energética, fontes

do ponto crítico. Além de modular a pressão na saída da

renováveis de energia.

VRP, os controladores eletrônicos possuem canais para sensores de pressão à montante e à jusante da VRP e

Introdução

para monitoramento de vazão da rede. O monitoramen-

As crescentes inovações tecnológicas dos últimos

to dos parâmetros hidráulicos gera dados que são ar-

anos, associadas às necessidades de equacionamento

mazenados pelo controlador de VRP em um datalogger

das questões econômicas e socioambientais, impulsio-

interno. Controladores de VRP que possuem sistema de

naram a busca por eficiência energética e novas formas

telemetria disponível transmitem os dados monitorados,

de produção de energia que proporcionem melhoria

e armazenados em seu datalogger, para a aplicação de

dos serviços e a universalização do saneamento básico.

supervisão do próprio sistema. Instalados em poços de

Nesse contexto, tem crescido no meio técnico o concei-

visita nos passeios ou na própria via, os controladores

to de aplicação de microgeração, que é a produção de

eletrônicos em geral não possuem energia de concessio-

energia em pequena escala e próxima ao local de consu-

nária disponível e dependem de baterias para operarem

mo, como uma ferramenta imprescindível de uso racio-

normalmente. A vida útil das baterias não recarregáveis

nal de energia e auto sustentabilidade, a fim de atingir a

varia conforme a atuação de controle através de válvulas

máxima eficiência energética das instalações com a me-

solenoides, bem como o monitoramento de parâmetros

lhor gestão de recursos e minimização de desperdícios.

hidráulicos e a transmissão de dados. A fim de reduzir o

As válvulas redutoras de pressão (VRPs) são dispositi-

consumo de energia da bateria e prolongar sua vida útil,

vos mecânicos instalados em pontos estratégicos da rede

os controladores de VRP são configurados para transmiOutubro a Dezembro de 2019

19


PONTO DE VIVÊNCIAS ARTIGO VISTA TÉCNICO

tir os dados monitorados em intervalos bastante espaçados, normal-

de 10 mca exigida pelo fabricante.

mente de seis em seis horas. Essa escassez de energia dada ausência

■■ Vazão superior à 0,5 l/s em quase a totalidade das horas do dia;

de recarga da bateria dos controladores de VRP é um dos principais

■■ O controle de pressão à jusante da VRP é realizado por um con-

entraves e um fator impeditivo ao monitoramento em tempo real.

É nesse contexto de limitação de energia das baterias que foram prospectadas alternativas de microgeração de energia, pelo apro-

trolador eletrônico, que garante a modulação de pressão variável ao longo do dia, porém exige disponibilidade de energia elétrica. Essa necessidade de energia elétrica.

veitamento local da energia dissipada pelas VRPs, com a capacidade de suprir a demanda de consumo energético dos controladores

2. ESCOLHA E CARACTERÍSTICAS DA MICROTURBINA PARA O

de VRP e da instrumentação associada. Essa alternativa de uso

TESTE PILOTO EM ESCALA REAL

racional de energia pode trazer inúmeros benefícios e melhorias

Para a escolha da microturbina geradora avaliou-se entre os vários

nos serviços prestados à população, graças à possibilidade de con-

modelos existentes no mercado, os que causariam menos impactos

trole otimizado da pressão na rede e monitoração dos parâmetros

operacionais. Verificou-se que pequenas turbinas com capacidade

operacionais em tempo real que concede, sempre que necessário,

de microgeração para consumo local podem ser instaladas em sé-

rapidez na intervenção e manutenção do sistema de abastecimen-

rie, seccionando a rede de distribuição à montante da VRP, ou em

to de água.

paralelo com a VRP, facilitando a instalação e manutenção da própria microturbina. Optou-se pela utilização do modelo que não exi-

Objetivo

ge o corte de tubulação por ser menos invasivo e, portanto, menos

Avaliar o potencial de microgeração de uma microturbina em paralelo

problemas operacionais em sua implantação.

com uma VRP, instalada em rede de distribuição de água, o aproveita-

As condições de trabalho exigidas e as características técnicas da mi-

mento da energia gerada e seus impactos operacionais de instalação.

croturbina avaliada no teste piloto seguem abaixo, conforme tabela 1.

Metodologia e atividades desenvolvidas

ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS

A metodologia adotada consistiu na avaliação do comportamento de uma microturbina hidrogeradora através de um teste piloto em escala real, implantado em paralelo com uma VRP de 150 mm. A VRP em questão está localizada na Rua Matão, Cidade Universitária da USP, pertencente à Unidade de Negócios Metropolitano Oeste da SABESP - Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo. O teste piloto foi iniciado em 06 de novembro de 2018 e finalizado em 08 de maio de 2019, totalizando pouco mais de seis meses de testes. 1. ESCOLHA DA VRP De maneira geral, a definição de uma VRP adequada para ins-

Tipo de gerador

Brushless

Tensão nominal de saída

12 Vcc

Corrente máxima de saída

2A

Potência máxima

25 W

Capacidade permitida para bateria

9 – 45 Ah

Tensão mínima da bateria

10,5 V

Pressão nominal máxima

100 mca (PN10)

Vazão mínima

0,5 1 /s

Grau de proteção

IP68

Diâmetro das conexões hidráulicas

BSPP 1”

Peso

2,5 kg

talação de uma microturbina hidrogeradora, do mesmo modelo

Dimensões

130x145x195 mm

que a utilizada no teste piloto deste trabalho, deve atender os

Saída digital

Status de atuação da microturbina

Conexões elétricas

Conectores militares de engate rápido

Temperatura de trabalho

-20 a +60 °C

Umidade de trabalho

10 a 90%

seguintes requisitos: ■■ Diferença de pressão entre montante e jusante da VRP de no mínimo 10mca; ■■ Vazão mínima de 0,5 l/s; ■■ Existência de equipamento de medição que exija fonte de energia para alimentação.

3. FORMAS E ADEQUAÇÃO DA INSTALAÇÃO

A VRP Matão foi escolhida por atender os requisitos mínimos

A microturbina foi instalada em paralelo com a VRP Matão, con-

mencionados pelo fabricante, conforme abaixo:

forme figura 1. Foram utilizados dois colares de tomada, sendo um

■■ A VRP em estudo reduz a pressão de 70 mca à montante para 30

à montante e outro à jusante, para realizar o by-pass na qual a

mca à jusante, garantindo uma diferença manométrica mínima

20

Saneas

microturbina foi instalada.


Figura 1: Instalação da microturbina

e também o aproveitamento da energia por parte do controlador da VRP Matão. A microturbina do teste piloto é composta por um dispositivo hidrogerador, uma eletroválvula e uma bateria. O dispositivo hidrogerador é responsável por gerar eletricidade a partir de um fluxo de água em um diferencial de pressão gerado pela VRP e essa energia gerada é responsável por carregar a bateria estacionária de 12V. A eletroválvula atua a fim de evitar o desgaste desnecessário do dispositivo hidrogerador, permitindo a passagem de água pela microturbina ape-

(Fonte: Adaptado de https://tecnoturbines.com/turbinas-cargade-bateria/ picoturbina)

nas quando há a necessidade de gerar energia para recarregar a bateria. Quando a bateria está totalmente carregada a eletroválvula fecha o by-pass impedindo o fluxo de água pelo dispositivo hidrogerador.

Outra forma de instalar a microturbina, sempre em paralelo com

Há duas condições na qual a eletroválvula se abre e permite que

a VRP, é através das tomadas de pressão no próprio corpo da VRP,

a microturbina atue dando início à recarga da bateria, como mos-

conforme figura 2.

tra a figura 3: ■■ Início programado: a eletroválvula se abre permitindo a atuação

Figura 2: Instalação da microturbina através das tomadas de pressão da VRP (Foto: Autor)

da microturbina quando a tensão da bateria estacionária de 12 V estiver há 5 minutos abaixo da tensão 12,5 Vcc (V3 da figura 3); ■■ Início imediato: a microturbina é ativada imediatamente, através da abertura da eletroválvula, no momento em que a tensão da bateria estacionária de 12 V estiver abaixo da tensão 12,2 Vcc (V2 da figura 3); É importante ressaltar que por se tratar de equipamento importado, várias condições precisaram ser adaptadas à nossa realidade. Foram necessárias adaptações que blindassem tanto as conexões elétricas como também a bateria estacionária de 12 V, pois os poços de visita eventualmente podem sofrer inundações. Independentemente da forma de instalação, seja por colares de tomada na tubulação à montante e jusante da VRP ou através das próprias tomadas de pressão no corpo da VRP, os conectores militares de engate rápido para conexões elétricas facilitam a instalação e eventuais manutenções. Da mesma forma, a instalação

A instalação da microturbina do teste piloto na VRP Matão, re-

hidráulica da microturbina num by-pass paralelo à VRP também

alizada com colares de tomada, tem como vantagem, em relação

favorece a mão-de-obra para instalação e manutenção, quando

à instalação da figura 2, permitir que a microturbina seja instalada

comparada às tecnologias em que são instaladas diretamente na

na parede do poço de visita, mantendo a microturbina e seus aces-

rede, em série com a VRP, e dependem de seccionamento da rede

sórios elétricos afastados da tubulação hidráulica.

hidráulica. O acondicionamento do equipamento na parede do poço de visita foi uma alternativa muito bem recebida pela equi-

4. FUNCIONAMENTO DO EQUIPAMENTO E ADAPTAÇÕES NE-

pe operacional, pois blindou o equipamento contra intempéries

CESSÁRIAS AO MODO OPERACIONAL

e contra possíveis danos ou acidentes quando da necessidade de

Para atingir os objetivos propostos neste trabalho, a microturbina

manutenção da rede hidráulica. Na figura 4 é retratada a adapta-

instalada na VRP Matão foi conectada ao controlador eletrônico

ção realizada no teste piloto para instalação da microturbina e seus

da VRP em substituição à bateria que o alimentava. Desta forma

acessórios numa caixa UMA - Unidade de Medição de Água, fixada

foi possível analisar o potencial de microgeração da microturbina

na parede do poço de visita para maior proteção do conjunto.

Outubro a Dezembro de 2019

21


PONTO DE ARTIGO VISTA TÉCNICO

Figura 3: Gestão de tensão da bateria (Fonte: Adaptado de https://tecnoturbines. com/turbinas-cargadebateria/picoturbina)

pelo reaproveitamento de energia desperdiçada pelas VRPs pode trazer inúmeros benefícios e melhorias operacionais e dos serviços prestados à população. Em pleno funcionamento a microturbina hidrogeradora do teste piloto conseguiu gerar 25 W de potência com tensão de 12 V. Para alcançar esta capacidade de geração a VRP Matão atendeu às exigências de vazão mínima de 0,5 l/s e queda de pressão sobre a VRP de no mínimo 10 mca. Para armazenamento da energia elétrica gerada foi utilizada uma bateria estacionária recarregável de 12 V e 9 Ah, capaz de alimentar o controlador de VRP com maior autonomia e permitir que as transmissões de dados fossem realizadas Figura 4: Instalação da microturbina na VRP Matão (Foto: Autor)

a cada dez minutos. Atualmente, para alimentar os controladores de VRP, são utilizadas baterias internas não recarregáveis com vida útil de no má-

Resultados obtidos

ximo dois anos, para monitoramento contínuo e transmissão dos

Verificou-se através dos resultados obtidos na realização do teste

dados a cada seis horas. Com a instalação de uma microturbina na

piloto na VRP Matão que essa tecnologia tem grande potencial e

VRP a energia disponível para consumo por parte do equipamento

pode consolidar-se como um meio eficaz de aproveitamento de

controlador de VRP é maior, não havendo mais necessidade de

fontes renováveis de energia e oferta de novos serviços com base

manutenção do controlador eletrônico de VRP para substituição da

na energia disponibilizada. Além de permitir o controle de pressão à

bateria interna não recarregável.

jusante da VRP e a monitoração dos parâmetros de pressão e vazão

Outra vantagem propiciada pela utilização da microturbina na

em tempo real, essa alternativa de uso racional de energia local

VRP Matão foi a diminuição do período de transmissão de da-

22

Saneas


dos de 6 em 6 horas para intervalos 10 em 10 minutos. Com

mento da microturbina é cíclico. No gráfico nota-se que o nível da

esse menor intervalo de tempo na transmissão de dados o moni-

bateria inicia o dia pouco acima de 12,5 V. Nas primeiras horas do

toramento ocorre praticamente em tempo real, possibilitando a

dia a curva apresenta uma leve inclinação, que corresponde à des-

detecção de anomalias nos equipamentos e rede hidráulica com

carga da bateria estacionária da microturbina. Essa descarga, visu-

antecedência, senso assim a gestão operacional se torna muito

alizada através da diminuição sutil do nível de tensão, é consequ-

mais eficiente por antecipar ações e possibilitar maior rapidez nas

ência do consumo de energia pelo controlador de VRP, alimentado

tomadas de decisão.

pela bateria estacionária da microturbina hidrogeradora. No mes-

Na tela de supervisão do controlador de VRP, mostrado na figura

mo gráfico é possível notar que às 5:00 horas da manhã, posição

5, verifica-se que os parâmetros de volume “Flow Total” e vazão

indicada na figura 6 pela barra vertical vermelha, o nível de tensão

“Flow Rate” estão com valores nulos devido ao fato de que no pe-

indica 12,3 V. Esse nível de tensão está acima dos 12,2 V, condição

ríodo de realização do teste piloto não havia um instrumento para

responsável por abrir a eletroválvula e permitir a atuação imediata

medição de vazão no local. Com esse sistema de recarga de bateria

da microturbina, mas pela programação de fábrica da microturbina

esse seria um dos parâmetros que poderiam ser monitorados com

hidrogeradora, a eletroválvula também é aberta na condição em

a oferta de energia propiciada pela microturbina hidrogeradora. A

que o nível de tensão da bateria permanece por 5 minutos abaixo

pressão à montante está representada por “Pin” e a pressão à ju-

de 12,5 V. Respeitada esta condição, o dispositivo hidrogerador

sante por “Pout”. Na mesma tela, exibida na figura 5, o parâmetro

envia um sinal para abertura da eletroválvula, e é neste momento

com o rótulo de “Battery External” representa a informação do

que tem início a atuação da microturbina e consequentemente a

nível da bateria da microturbina, monitorada e transmitida pelo

recarga de sua bateria. Essa recarga através da atuação da micro-

controlador da VRP.

turbina é representada pelo salto do nível de tensão do gráfico da

Com o monitoramento do nível da bateria através da aplicação

figura 6, que sai de 12,3 V para um nível de tensão entre 14,5 V e

do controlador de VRP os dados puderam ser disponibilizados na

15 V. Esse nível de tensão mais elevado representa a tensão impos-

base de dados da aplicação de supervisão e utilizados para verifi-

ta pela microturbina para recarga da bateria estacionária de 12 V.

cação do tempo de atuação da microturbina.

Quando a bateria se encontra completamente recarregada o dis-

O gráfico da figura 6 apresenta o nível de tensão da bateria da

positivo hidrogerador envia um sinal para fechamento da eletrovál-

microturbina durante um dia de operação. Para exemplificação foi

vula e há uma queda repentina do nível de tensão. Essa queda re-

adotado o dia 09 de janeiro de 2019, porém poderia ser qualquer

presenta o fechamento da eletroválvula, que interrompe o fluxo de

outro dia ao longo do período de testes, uma vez que o comporta-

água pelo dispositivo hidrogerador impedindo sua atuação. Neste Figura 5: Aplicação do controlador de VRP Vectora (Fonte: Adaptado da aplicação do controlador de VRP Vectora)

Outubro a Dezembro de 2019

23


PONTO DE ARTIGO VISTA TÉCNICO

instante o nível de tensão baixa de aproximadamente 15 V, que é

da VRP e a instrumentação associada eram alimentados por bateria

a tensão de recarga imposta pela microturbina, para um valor de

interna e não recarregável com transmissão dos dados monitora-

tensão entre 12,5 V e 13 V, que corresponde ao nível de tensão da

dos a cada 6 horas a fim garantir uma vida útil da bateria de até

bateria completamente carregada.

2 anos, a microturbina ofereceu maior autonomia de energia com

Essa dinâmica de atuação da microturbina hidrogeradora e seus

sua bateria estacionária recarregada sempre que necessário pelo

acessórios é cíclica, como pode ser observada pelo tempo que se

dispositivo hidrogerador. Além da maior eficiência operacional, as

segue, onde o nível de tensão do gráfico da figura 6 novamente é

microturbinas hidrogeradoras garantem ainda um ganho ambien-

rebaixado lentamente até o fim do dia, onde novamente por volta

tal, pois substituem as baterias não recarregáveis, de menor vida

de 12,5V a eletroválvula é reaberta e a microturbina reativada para

útil, por baterias estacionárias recarregáveis, diminuindo o consumo

dar início a uma nova recarga da bateria estacionária.

de matéria não renovável.

Do gráfico da figura 6 nota-se que a microturbina atuou por pouco tempo ao longo das 24 horas do dia, permanecendo inativa

Conclusões e recomendações

a maior parte do tempo. Desta análise, dado o período de tempo

A microgeração de energia em redes de distribuição de água para

em que a microturbina permanece inativa, conclui-se que a bateria

consumo no local traz, além de melhorias operacionais, como apre-

estacionária da microturbina pode alimentar mais dispositivos além

sentado neste trabalho, uma solução que atende aos conceitos de

do controlador de VRP.

eficiência energética, uma vez que a microgeração de energia elétrica faz uso de uma fonte de energia que seria desperdiçada no

Análise e discussão dos resultados

processo, através da redução de pressão imposta pela VRP, trazendo

A microturbina avaliada neste teste piloto tem como característica

benefícios econômicos e sócio ambientais na busca de melhor com-

a simplicidade na instalação, pois não necessita do seccionamento

petitividade no mercado globalizado.

da tubulação da rede de distribuição. A autossuficiência energética,

Dada a disponibilidade de um excedente energético propiciado

oriunda do aproveitamento da energia que seria desperdiçada pela

pela utilização da microturbina, torna-se possível a instalação de

quebra de pressão da VRP, pôs fim à limitação de energia elétrica

instrumentação para análise físico-química para a monitoração da

e garantiu a gestão operacional mais eficiente, com monitoração

qualidade da água em pontos estratégicos da rede de distribuição,

de dados operacionais praticamente em tempo real e transmissão

como também sensores de ruído e demais sensores utilizados no

destes dados em intervalos de 10 minutos, alcançando o objetivo

controle de perdas de água .

principal deste trabalho. Se anteriormente o controlador eletrônico Figura 6: Nível da bateria da microturbina na aplicação do controlador de VRP (Fonte: Adaptado da aplicação do controlador de VRP Vectora)

24

Saneas


ARTIGO TÉCNICO

Carlos Roberto Ferreira Engenheiro Civil pela Escola de Engenharia Kennedy. Mestre em Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP). Consultor da COPASA-MG. Doutorando em Hidráulica e Saneamento na EESC/ USP. Gerente de Operação da Ambient Ribeirão Preto. Diretor Presidente da SESAMM S/A. Engenheiro Civil com MBA em Gestão de Negócios pela FIA – USP, Pós-Graduação em Administração de Marketing pela Faculdade FITO. Atualmente como Gerente da Divisão de Operação de Esgoto da Unidade de Negócio Oeste (MOEE) - SABESP

Sustentabilidade e Eficiência Energética na ETE-Mogi Mirim tratamento de esgoto do município de Mogi Mirim,

Introdução/ Justificativa

interior de São Paulo, têm a gestão da energia elétrica

Segundo pesquisadores, o surgimentos do planeta Ter-

como prioridade estratégica. Com suas metas de efici-

ra datam aproximadamente 4,5 bilhões de ano, e nes-

ência e sustentabilidade, a gestão sobre a energia elétri-

tes longos períodos, houveram muitas mudanças para

ca se dá desde a concepção do projeto, com a seleção

que o planeta se tornasse habitável, e as eras foram

de equipamentos de alta eficiência, layout, busca de

divididas em Pré Cambriano, Paleozóica, Mesozóica

autossuficiência, até as práticas cotidianas de gestão,

e Cenozóica e foi nesta última que surgiu o homem.

como o acompanhamento de consumo, melhorias de

Assim como o Planeta, o homem passou por fases de

processos e atualização de software e equipamentos.

transformações: Primatas, Australopiteco, Homo Habilis, Homo Erectus, Homo de Neandertal até chegar

Objetivo

ao Homo Sapiens. Para chegar até o momento atual,

Apresentar ações de sustentabilidade no âmbito socio-

os seres humanos têm feito grandes avanços como

econômico e ambiental para o setor de saneamento,

desenvolvimento de tecnologia complexa para criar

sendo este de responsabilidade elevada para a preser-

ferramentas para ajudar as suas vidas e permitir outros

vação e continuidade da vida humana.

avanços na cultura. Fatos marcantes se apresentam no desenrolar da história como a Agricultura, a invenção

Etapas de Desenvolvimento

de máquinas na Revolução Industrial e a Revolução Tec-

■■ Concepção do projeto da Estação de tratamento

nológica que estamos vivenciando.

de esgoto de Mogi Mirim:

O uso da eletricidade como energia é vital no mun-

No ano de 2008, a prefeitura de Mogi Mirim iniciou

do do humano moderno, sendo impensável a vida sem

o processo de contratação de uma empresa para

esse recurso. Existem diversas fontes de energia elétrica

realizar o tratamento de esgoto do município, e a

como Hidráulica, Gás Natural, Petróleo, Carvão, Nucle-

SESAMM – Serviços de Saneamento de Mogi Mirim

ar, Biomassa, Eólica, Geotérmica, Marítima, Biogás e

S/A foi concebida, tendo em seu quadro societário as

Solar. Algumas com grande potencial de impacto nega-

empresas GS Inima Brasil; SABESP e ECS Operações.

tivo ao meio ambiente e outras, de origem sustentáveis.

Todo projeto foi idealizado e projetado de forma a

A evolução das fontes de energia elétrica está relacio-

garantir com eficiência operacional, atendendo todos

nada ao aquecimento global que tem preocupado e

os requisitos necessários.

impactado substancialmente a vida no planeta.

A SESAMM é responsável pela complementação da

No setor de saneamento a energia elétrica é um dos

implantação do sistema de afastamento de esgoto e a

principais insumos do processo de tratamento e distri-

implantação e operação da estação de tratamento de

buição de água e efluentes, por isso está diretamen-

esgoto (ETE). Com essas atribuições, a idealização e im-

te relacionada com os resultados e desempenho dos

plantação de todo sistema foi com base na mitigação

prestadores de serviço. Além disso, a principal fonte

de recursos no ato da instalação, sejam eles financeiros

da matriz energética brasileira, a hidroelétrica, possui

ou naturais e prospectando os impactos futuros.

crescente risco de sofrer alterações na produção devido

A ETE foi construída em uma região onde pode apro-

às crises hídricas recorrentes, notadamente na região

veitar o relevo para que o esgoto chegue sem a neces-

Sudeste do país.

sidade de elevatórias. A única existente no sistema de

Neste contexto, a SESAMM - Serviços de Saneamen-

afastamento é dentro da própria unidade de tratamen-

to de Mogi Mirim S/A, concessionária responsável pelo

to e com isso, é possível um acompanhamento mais

Outubro a Dezembro de 2019

25


PONTO DE ARTIGO VISTA TÉCNICO

frequente e as manutenções e operação acontece sem ocasionar

ajustes são realizados no decorrer do ano de acordo com o nascer e

tantos problemas e custos. O fluxo do esgoto em processo de trata-

por do sol e desta forma, tudo acontece automaticamente.

mento ocorre por gravidade, havendo o bombeamento apenas na estação elevatória de esgoto e estação elevatória de lodos.

■■ Avanço Tecnológico:

Os equipamentos seguem o mesmo princípio para seleção. A

No processo de tratamento do esgoto é gerado um lodo que na

escolha dos motores foi de alto rendimento e contemplando con-

SESAMM é desidratado através de centrífuga. O equipamento se-

versores de frequência para obter o menor consumo energético.

lecionado para aquisição foi o Decanter Centrífuga marca Andritz modelo DTL C30 devido aos variáveis recursos para ajustes e tec-

■■ Aperfeiçoamento Operacional:

nologia inovadora no motor, reduzido consumo de energia elétrica.

Em 14 de junho de 2012, o esgoto chegou à ETE e iniciou o pro-

Isto ocorre devido a existência de dois motores, onde um impulsiona

cesso operacional. Desde o início foram implantadas medições de

o outro. O motor primário rotaciona o tambor e através de polias,

vários parâmetros operacionais realizadas entre 7h e 30min às 8h

fornece energia para motor secundário responsável pela rotação

de cada dia com o intuito de controlar qualquer desvio existente,

da rosca, desta forma, este equipamento tem um menor consumo

ocasionando em ações de correções mais eficazes e ágeis. O con-

energético comparado a outros equipamentos do mesmo porte.

trole de vazão de tratamento e consumo de energia elétrica está entre os parâmetros controlados.

As mudanças na iluminação do arruamento não ficaram restrito ao temporizador. As lâmpadas de vapor de sódio foram substituídas

A modalidade de tratamento da ETE-Mogi Mirim é de lodo ativa-

por LED. Elas possuem uma excelente expectativa de durabilidade

do com aeração prolongada. A tecnologia escolhida foi o Biorreator

que pode chegar a 100.000 horas funcionando, significando 11

Orbal da Siemens devido ao baixo consumo energético. Em cada

anos aproximadamente; são extremamente duráveis também pelo

reator biológico, foram instalados três equipamentos que operam

motivo de serem construídas com componentes altamente resisten-

com referência de uma tabela horária, oferendo possibilidade de

tes e que podem suportar até mesmo as condições mais adversas;

programação a cada 20 minutos. Com essa flexibilidade, é possível

a eficiência é outra vantagem da lâmpada LED que diz respeito à

ajustar o funcionamento pensando em economia de energia elétri-

economia em amplo sentido. Esse modelo de lâmpada é capaz de

ca e eficiência de tratamento. Durante as 24 horas, o esgoto que

transformar quase 90% da energia utilizada em luz. Ao contrário,

chega à ETE apresenta cargas variáveis e desta forma, podemos

as lâmpadas incandescentes aproveitam apenas cerca de 20% da

programar o funcionamento do sistema de aeração, injetando mais

energia empregando em iluminação, com os outros 80% transfor-

ou menos oxigênio de acordo com a carga. Outra forma de ajuste é

mados em calor; A maioria das lâmpadas fluorescentes convencio-

limitar a rotação dos orbais em períodos de estiagem ou chuvosos,

nais contêm materiais, como o mercúrio e que é bastante perigoso

com consequência à redução de consumo elétrico.

para o meio ambiente, sendo que a lâmpadas LED não contêm

Da mesma forma que os aeradores, as bombas de recirculação de

materiais tóxicos e são 100% recicláveis, o que consequentemente

lodos que apresentam alto consumo, operam através de tabela ho-

diminui a emissão de carbono em até um terço. O longo período de

rária. Durante as 24 horas do dia, está programada o desligamento

vida operacional mencionado, também significa que uma lâmpada

no horário de ponta que tem duração de três horas, e durante a ma-

LED pode economizar materiais de produção de até 25 lâmpadas

drugada por um período de uma hora. Na alteração desta forma de

incandescentes – e isso sem falar no baixo consumo de energia

operação foram avaliados os impactos que ocorreriam para o sistema

elétrica. Um grande passo para um futuro mais verde.

operacional e as alterações na qualidade do esgoto tratado. Após pe-

A última e maior inovação da SESAMM foi a implantação de uma

ríodo de monitoramento, concluindo que não houve nenhum fator

usina de energia fotovoltaica (UFV). A ETE-Mogi Mirim é a primeira

negativo para todo sistema, a ETE opera desta forma há seis anos.

estação de tratamento de esgoto no Brasil a utilizar energia solar

A iluminação do arruamento da unidade também recebeu aten-

para tratar esgoto. Consolidando todo olhar sustentável que a em-

ção. Ao iniciar as atividades, a iluminação era controlada por foto-

presa tem em todos seus processos com alto nível de automação e

célula e as vezes, havia falhas em seu acionamento, mantendo as

controles, utilizando água de reuso na unidade para os processos,

lâmpadas acesas por algumas horas durante o dia, necessitando de

este projeto extraordinário vai além da economia de recurso finan-

intervenção humana para o desligamento. A opção para resolução

ceiros, os benefícios para a humanidade são imensuráveis, mostran-

deste problema foi substituir as fotocélulas por temporizador. Os

do que é possível, com boa gestão e vontade, uma ETE operar de

26

Saneas


forma sustentável nos âmbitos socioambiental e financeiro. Para garantir que a energia seja gerada de maneira mais susten-

Característica do projeto • Originalidade

tável possível, a estação é suplementada por um sistema fotovoltai-

(O projeto possui um tema ou metodologia distinta de ou-

co instalado nos telhados dos prédios, no solo entorno da estação e

tros projetos já implantados pela empresa?)

na forma de Carport, ou seja, os módulos fotovoltaicos além de ge-

Sim - Qualquer projeto, aquisição de novos equipamento, mu-

rar energia, servem de cobertura para os carros no estacionamento

danças de processos que são realizados na ETE , é fundamental

da SESAMM. O espaço ocupado pelos módulos totaliza uma área

avaliação do consumo energético para não elevarmos a utilização

de 2.124,54 m² e a usina produz aproximadamente 612.474 KWh

deste recurso.

por ano da energia elétrica geral necessária para o tratamento do esgoto da estação, energia suficiente para abastecer aproximada-

• Efetividade

mente 370 unidades habitacionais.

(Quais foram os principais resultados qualitativos já alcançados

São 1.066 módulos fotovoltaicos que somam uma potência de

pelo projeto, ou esperados no curto, médio e longo prazo?)

402,375 kWp e promovem um fornecimento limpo de energia para

O objetivo desta gestão é embutir em cada membro da equipe, esse

a estação. A geração de energia é obtida através da irradiação solar

olhar criterioso com relação aos recursos naturais, é mudança de

em contato com as placas fotovoltaicas, que a captam e transfor-

cultura, que seja ampliada para fora dos portões da empresa. Isso

mam em energia elétrica.

faz parte do cotidiano dos membros da SESAMM que veem opor-

Os módulos fotovoltaicos utilizam uma das mais modernas tec-

tunidades constantes de melhorias no processo e amplia o compro-

nologias, a PERC. A sigla PERC vem do inglês Passivated Emitter

metimento da equipe com as operações usuais. O monitoramento

and Rear Cell (Emissor passivo e célula traseira). A tecnologia de

diário identifica rapidamente desvios do processo que surgiram no

células PERC define uma arquitetura de células solares que difere

dia anterior, promovendo ações rápida sem impactar as metas e

da arquitetura de células padrão que está em uso há três décadas

indicadores da empresa.

em todo mercado mundial. A tecnologia PERC tem uma eficiência

O uso da energia solar é extremamente benéfico, porque essa

muito maior, o que resulta em uma redução de área ocupada pelos

é uma fonte renovável de energia e sem poluição. Assim, além de

módulos fotovoltaicos e uma geração mais eficiente de geração de

reduzir a emissão de gás carbônico na atmosfera, não há a elimi-

energia. Os módulos fotovoltaicos com a tecnologia PERC tem as

nação de outros resíduos tóxicos na natureza. Por esse motivo, a

seguintes características:

população tem, cada vez mais, observado esses aspectos e cobrado

• Potência máxima disponível no mercado brasileiro;

ações das empresas para serem mais sustentáveis. Uma outra ra-

• Potência de 375Wp por modulo e eficiência de 18,92%;

zão para esse grande investimento, é a própria economia envolvida

• Redução do efeito Hot Spot;

no processo como um todo. Apesar de se necessitar de um maior

• Baixo coeficiente de temperatura;

investimento inicial para a compra e a instalação de painéis de cap-

• Módulos divididos em barramentos.

tação da luz solar, os retornos econômicos da utilização dessa fonte

Para realização do projeto de energia solar fotovoltaica foi efetu-

de energia são bastante significativos e uma vez que esses painéis

ado um investimento da ordem de R$ 1,8 milhões que beneficiará a

requerem pouquíssima manutenção, o que os garante vida longa,

estação de tratamento de esgoto da SESAMM com uma produção

a vantagem financeira passa a ser ainda mais vultosa, já que o cus-

de energia limpa e de alta durabilidade. O projeto cumpre todas as

to do investimento Com relação a substituição das lâmpadas do

normas da Resolução Normativa 482/687 da ANEEL - Agência Na-

arruamento, foram realizados estudos para efetivação do projeto.

cional de Energia Elétrica, que estabelece as condições gerais para

Foi necessário substituição de luminárias e realizado estudo para

o acesso de microgeração e minigeração distribuída aos sistemas de

mensurar qual lâmpada obteríamos o melhor retorno. Essas infor-

distribuição de energia elétrica. Conforme a RN 482/687, o projeto

mações estão apresentadas na tabela 1.

foi construído com as especificações técnicas e normativas da con-

O maior e mais significativo projeto da Gestão de eficiência

cessionaria de energia elétrica Elektro.

energética da SESAMM é a UFV. Ela está dividida em 08 setores

Data do projeto

conforme tabela 2 que mostra a produção mensal de cada sistema

Início: 09/09/2008 - em andamento

e as totalizações. Os dados apresentados são de projeto e estamos em período de

Outubro a Dezembro de 2019

27


PONTO DE ARTIGO VISTA TÉCNICO

Tabela 1

28

Saneas


Tabela 2 Estacionamento administrativo

Mês

Estacionamento colaborador

Prédio Des. Oeste

Prédio Des. Leste

Prédio administrativo

Talude Superior

Talude Inferior

Solo recepção

Total Mensal

Janeiro

2.132,1

2.131,1

4.171,5

4.171,5

14.110,6

13.200,5

13.200,5

932,6

54.051,3

Fevereiro

1.884,2

1.884,2

3.686,6

3.686,6

12.477,6

12.094,1

12.094,1

824,2

48.631,5

Março

1.983,8

1.983,8

3.881,5

3.881,5

13.150,3

13.423,5

13.423,5

867,8

52.595,7

Abril

1.815,0

1.815,0

3.551,2

3.551,2

12.043,6

13.254,3

13.254,3

793,9

50.078,5

Maio

1.563,6

1.563,6

3.059,3

3.059,3

10.392,1

12.197,1

12.197,1

684,0

44.715,9

Junho

1.473,5

1.473,5

2.883,0

2.883,0

9.803,1

12.073,3

12.073,3

644,5

43.307,0

Julho

1.621,7

1.621,7

3.173,0

3.173,0

10.785,4

13.116,2

13.116,2

709,4

47.316,4

Agosto

1.887,2

1.887,2

3.692,5

3.692,5

12.532,1

14.325,3

14.325,3

825,5

53.167,5

Setembro

1.867,1

1.867,1

3.653,0

3.653,0

12.378,4

12.978,6

12.978,6

816,7

50.192,5

Outubro

2.169,2

2.169,2

4.244,2

4.244,2

14.369,5

14.155,3

14.155,3

948,9

56.455,7

Novembro

2.223,0

2.223,0

4.349,5

4.349,5

14.712,9

13.847,7

13.847,7

972,4

56.525,5

Dezembro

2.198,4

2.198,4

4.301,4

4.301,4

14.547,3

13.464,1

13.464,1

961,6

55.436,6

Total

22.818,8

22.818,8

44.646,4

44.646,4

151.302,9

158.129,7

158.129,7

9.981,5

612.474,1

aprovação pela concessionária, realizando testes de performance

• Potencial de Replicabilidade

para aprovação e startup do sistema. Os resultados parciais obti-

(O projeto pode ser implantado, considerando as especifici-

dos confirmam os valores previsto em projeto da geração de ener-

dades locais, em outra unidade do mesmo grupo ou em ou-

gia para o sistema.

tras operações de saneamento?)

A geração da UFV está apresentada na tabela 3 com dados

Sim - Algumas iniciativas são de fáceis implantações, sem custo ele-

comparativos de consumo de energia elétrica da ETE-Mogi Mirim,

vado, como é o caso do monitoramento, é uma questão de planeja-

tendo como base o ano de 2018, correspondendo uma autossu-

mento de trabalho, análise crítica dos resultados e tomada de ação.

ficiência de 37%.

Cada processo operacional, dentro de suas especificidades, deve ser analisado uma forma de reduzir consumo, pois sempre há melho-

Tabela 3

rias a realizar. A iluminação do arruamento e a UFV são replicáveis Mês

Consumo mensal ano referência 2018

Previsão mensal de geração

em qualquer processo, não apenas em saneamento. Pode-se im-

Janeiro

130.270

54.051

plantar inclusive em residências, desde que haja um estudo robusto,

Fevereiro

122.170

48.632

embasado em especificações técnicas, pois há uma variedade de

Março

139.990

52.596

opções no mercado, o que nem sempre é algo que realmente apresenta o retorno esperado.

Abril

142.387

50.079

Maio

145.022

44.716

Junho

139.536

43.307

• Sustentabilidade

Julho

154.094

47.316

(O projeto está alinhado às diretrizes de sustentabilidade/

Agosto

140.702

53.168

responsabilidade social da empresa?)

Setembro

135.626

50.193

Sim - A holding GS Inima Brasil que a SESAMM é integrante, tem

Outubro

133.207

56.456

suas diretrizes bem definidas com relação a sustentabilidade e res-

Novembro

119.686

56.526

ponsabilidade social. Em sua Missão ela determina que “...Em suas

Dezembro

120.247

55.437

unidades operacionais, têm como meta principal prestar o melhor

Total

1.622.937

612.474

serviço com eficiência, qualidade e soluções sustentáveis.” E em seus Valores “...Fundamentados em objetivos sólidos, temos como premissa a valorização da vida, cumprindo com nosso papel social de forma sustentável e transparente.....” E essa gestão de processos e projetos vão ao encontro das diretrizes da empresa.

Outubro a Dezembro de 2019

29


PONTO DE ARTIGO VISTA TÉCNICO Gráfico 2: histórico e monitoramento.

(O projeto faz parte do plano de trabalho/metas dos colabo-

projeto e durante este período, há o planejamento para saudar as

radores envolvidos?

parcelas com a economia gerada na conta de energia elétrica.

Sim - Temos como indicador de processo na certificação ISO9001:2015 e como meta para PLR para os colaboradores do se-

(O projeto depende de outros parceiros (stakeholders) para

tor operacional, onde o consumo energético da ETE-Mogi Mirim

a sua execução?)

não ultrapasse 0,35kwh/m³ tratado, conforme segue gráfico 2 que

Sim – apenas para a UFV que a instalação foi realizada por um

apresenta o histórico e monitoramento.

parceiro especializado em sistemas fotovoltaico e a concessionária elétrica que receberá energia excedente gerada durante o dia

(O projeto possui recurso financeiro específico e aprovado no

e retornará com crédito para a ETE em período que não estiver

orçamento geral da empresa?)

gerando ou gerando quantidade insuficiente para manter o sistema

Sim – o planejamento financeiro se dá no início do segundo se-

em operação.

mestre de cada ano, onde são levantadas todas as necessidades da empresa. O consumo energético está entre os maiores custo ope-

(O projeto possui um procedimento/sistema contínuo de mo-

racional de uma estação e tratamento de esgoto, por esse motivo,

nitoramento e avaliação de resultados?)

o controle efetivo deste recurso é fundamental. Com relação a UFV

Sim – O processo de monitoramento que faz parte da gestão dos

foi realizado um financiamento a longo prazo para concretizar este

processos da ETE, os indicadores da Certificação ISO 9001:2015 e

30

Saneas


um portal da ABB em nuvem, onde é possível acompanhar todo

Todos nós, ao consumirmos energia da rede elétrica, contribuímos

histórico de geração desde o primeiro dia de operação e identifi-

com a emissão de gás carbônico (CO2), conhecido pelos seus efei-

ca placas que possam estar danificadas e desta forma, não geram

tos nocivos ao meio ambiente. O Brasil é privilegiado, por contar

energia elétrica.

com uma matriz energética composta majoritariamente por usinas hidrelétricas. Ainda assim, a energia gerada por essas usinas não

Impactos

pode ser considerada 100% limpa, já que a decomposição da ma-

• Impacto Social

téria orgânica nas áreas alagadas produz gases metano e CO2. Pior

(O projeto trouxe melhorias no relacionamento ou reduziu

ainda é quando falta chuva e temos que acionar as termelétricas,

seus riscos no âmbito social, isto é, com usuários, ONG´s, co-

mais caras e altamente poluentes. No gráfico 3 é apresentado um

munidade em geral?)

comparativo de emissão de CO2 nas diversas matrizes, consideran-

Sim – recebemos visitantes da sociedade civil, membros de ONG’s

do o consumo anual de energia elétrica da SESAMM.

e a relação que a empresa tem com os recursos naturais são assuntos abordados durante a visita, desta forma, a sociedade civil tem

Gráfico 3

a oportunidade de conhecer o compromisso que a SESAMM tem com a preservação da vida e que não está restrito ao consumo de energia elétrica. Com esse olhar, quando o usuário vai efetuar o pagamento de sua conta de água, ele tem total conhecimento do bem que que a empresa faz para o ecossistema. (O projeto atuou para prevenir ou remediar situações que desrespeitam os direitos humanos?) Sim – todo cidadão tem direito a vida, há uma vida digna. A SESAMM busca exercer seu trabalho de forma a reduzir custos, podendo oferecer aos cidadãos a universalização do saneamento. Em um país com tanta desigualdade, em que observamos em pleno século XXI, mortes proveniente por falta de saneamento, a disseminação do trabalho realizado com eficiência como é o caso da SESAMM, fa-

(O projeto causou algum impacto positivo no ecossistema local?)

cilita a replicabilidade do compromisso com a gestão, onde o maior

Sim – Com o uso racional de energia elétrica, há maior disponibili-

beneficiário é a população.

dade deste recurso para os usuários da concessionária local. A geração anual da UFV é o suficiente para abastecer aproximadamente

• Impacto Ambiental

370 unidades habitacionais.

(O projeto promoveu a redução do consumo e uso sustentável de recursos naturais e materiais?)

(O projeto contribuiu para o aumento da eficiência energéti-

A matriz energética do país é a hidrelétrica que necessita de gran-

ca e/ou sobre outras ações de prevenção e mitigação associa-

des áreas inundadas para formar represas e gerar energia. Com

das às mudanças climáticas?)

a crise hídrica que especialmente a região sudeste vem sofrendo

Sim – todo trabalho é sobre eficiência energética, sendo o grande

nos últimos anos, é preocupante o futuro deste recurso. A gestão

foco desta gestão, minimizar os impactos negativos causados pelo

no consumo e a geração de energia elétrica por radiação solar são

uso excessivo de energia elétrica. A instalação da UFV tem um peso

ações imprescindíveis para o futuro, pois cada vez mais, a humani-

maior, pois estaremos utilizando aproximadamente 35% de ener-

dade se torna dependente deste recurso para o conforto e manu-

gia elétrica produzida de forma limpa, sem impacto negativo às

tenção da vida.

mudanças climáticas.

(O projeto causou algum impacto positivo sobre a redução da

(O projeto promoveu ou prevê a redução de custos e/ou au-

poluição (ar, solo, hídrica, sonora, entre outras)?)

mento da receita (no curto, médio e longo prazo)? )

Outubro a Dezembro de 2019

31


PONTO DE ARTIGO VISTA TÉCNICO

Sim – Considerando consumo energético do ano de 2012 em

Gráfico 4

comparação ao ano de 2018, obtivemos uma redução de 25% na energia elétrica consumida. Para o ano de 2019, está sendo incorporado a UFV que representará uma redução de 35% na energia elétrica fornecida pela concessionária. Durante o período do financiamento, as prestações serão pagas com a redução no custo da conta de energia e após a quitação total, há a expectativa de via útil do sistema é na casa de 100% do período inicial ou podendo prolongar ainda mais, desta forma teremos aproximadamente mais de 10 anos gerando energia elétrica limpa e praticamente sem custo. O projeto realizou a prestação de contas por meio de indicadores de desempenho? Sim – Temos indicadores para a certificação ISO-9001:2015 conforme gráfico 3 já apresentado anteriormente e Controle com metas conforme gráfico 4 são apresentados o consumo de energia elétrica, em mural para os

Geração de valor

colaboradores e em visitas da sociedade civil, onde este assunto é

• Engajamento e Construção Participativa

abordado buscando disseminar a importância do uso consciente

(O projeto envolveu as demais partes interessadas (stakehol-

de energia elétrica bem como consumo racional de água para mi-

ders) na sua construção, implementação e avaliação? )

nimizar os efeitos do aquecimento global.

Sim – Toda área que está envolvida no projeto ou aquisições de equipamentos, as decisões são tomadas em esferas maiores de

(O projeto contribuiu positivamente para melhoria da ima-

acordo com o valor de investimento. Para os ajustes operacionais,

gem e relacionamento da empresa seja com clientes, acio-

as decisões são em esferas menores, porém os resultados obtidos

nistas, fornecedores ou outras instituições do setor?)

são apresentados, avaliados e mensurados em reuniões gerenciais

Sim – A responsabilidade social e financeira que envolve toda

do alto escalão da empresa e reportado aos acionistas.

gestão de energia elétrica repercuti de forma ampla. Impossível imaginar a vida moderna sem energia elétrica e como a matriz

(O projeto permitiu que funcionários participassem de sua

energética do Brasil é em grande parte a hidrelétrica, com as cres-

condução e execução, além de serem incentivados a partici-

centes crises hídricas que temos passado, há um interesse elevado

par do mesmo, ainda que não estivessem diretamente rela-

em conhecer processos eficazes para replicar em outras empresas

cionado à sua área?)

e seguimentos. A implantação da UFV na SESAMM sendo a pri-

Sim – no grupo há um engajamento no que diz respeito ao traba-

meira estação de tratamento de esgotos a produzir energia elé-

lho em equipe. O olhar de cada funcionário em cada etapa do pro-

trica fotovoltaica tem trazido muitos contatos e solicitações de

jeto faz com que tenhamos a contribuição de cada profissional em

visitas, onde temos a oportunidade de divulgar o nome da SE-

suas respectivas áreas. Desta forma, evitamos erros e retrabalho,

SAMM, consolidando a marca como uma empresa que tem como

pois a avaliação é criteriosa desde a concepção.

foco primordial, a manutenção da vida com qualidade, executando sua atividade principal que é tratar esgoto com elevadíssima

• Comunicação

eficiência, utilizando em seus processos, menos recursos naturais,

(O projeto, seus resultados e impactos, foram comunicados

substituindo água potável por água de reuso, consumindo ener-

para todos os envolvidos e partes interessadas? )

gia elétrica de forma consciente e eficiente e finalmente, gerando

Sim – São comunicados em diversas formas para as partes interes-

energia elétrica através do sistema fotovoltaico, uma energia lim-

sadas. Em reuniões gerencias, através de relatórios mensais onde

pa e com menor custo.

32

Saneas


ENCONTRO TÉCNICO/ FENASAN

30º Encontro Técnico Fenasan 2019 UMA EDIÇÃO PARA A HISTÓRIA DO SANEAMENTO NO BRASIL Fenasan 2019:

21mil visitantes

Compartilhamento de conhecimento, tecnologia e inovação e exitoso ambiente de negócios, somados a muita emoção nas homenagens e confraternizações, marcaram o maior evento de saneamento e meio ambiente da América Latina. Outubro a Dezembro de 2019

33


ARTIGO ENCONTRO TÉCNICO TÉCNICO/ FENASAN

O 30º Encontro Técnico / Fenasan 2019 em depoimentos

A

30ª edição do Encontro Técnico e da Fenasan da AESabesp superou nossas expectativas. Foi um grande esforço adicional para realizar uma edição maior que as anteriores e trazer novidades comemorativas para celebrar a edição festiva. São muitos os voluntários e colaboradores que cuidam de tantos detalhes com dedicação Viviana Borges que cada vez mais contagia outros Presidente da a se envolverem e ajudar. Creio AESabesp que cumprimos nossa vontade de oferecer para o setor de saneamento oportunidades de evolução e desenvolvimento tecnológico sustentável para o benefício da população, melhorando sua condição de saúde e qualidade de vida. Recebemos muitos agradecimentos pelo carinho depositado em cada pequena ação. É um prazer trabalhar para esta entidade e uma honra presidir uma associação tão exitosa. Foi uma satisfação compartilhar com presidentes das gestões anteriores, diretores e membros da AESabesp e tantos associados e parceiros na realização dos 30 anos seguidos de sucesso progressivo do Encontro Técnico e Fenasan.

P Luciomar Werneck Diretor da Fenasan 2019

34

Saneas

A

Associação dos Engenheiros da Sabesp tem desenvolvido trabalho muito exitoso, contínuo e a cada ano maior e melhor ao longo de 30 anos. O papel de possibilitar a troca de conhecimentos e experiências entre os profissionais de saneamento tem sido exemplarmente cumprido pela AESabesp, assim como ela tem tornado possível, por meio da Fenasan, a aproximação entre as Edison Airoldi Diretor de Tecnologia, empresas de engenharia consultiva Empreendimentos e e as empresas de fornecimento de Meio Ambiente máquinas, materiais e insumos de saneamento com os profissionais do setor. Com isso, levando as inovações e o estado da arte para os profissionais da Sabesp e, também, para os de todo o Brasil. O encontro deste ano de 2019 teve, como sempre, imenso sucesso e foi especial pois marcou os 30 anos. Uma conquista a ser celebrada. Parabéns à AESabesp por sua trajetória! E que a nossa AESabesp continue proporcionando aos profissionais e às empresas do setor de saneamento mais, maiores e melhores eventos a cada ano.

ara nós, sanitaristas, a Fenasan é um dos eventos mais aguardados ao longo do ano. Para mim, como diretor responsável pela feira e sendo essa minha primeira vez, foi muito especial. E se tornou mais especial ainda por ser sua 30ª edição, uma comemoração marcante. Também fui tomado de uma enorme apreensão, devido à grande responsabilidade de conduzir um evento deste porte. São muitos expositores, como foi dito no encerramento, mais de 200. Fomos visitados por representantes de mais de 25 países. A quantidade de empregos diretos e indiretos que são gerados a partir da feira e outros números foram recordes nessa edição. Porém, tudo se torna mais fácil quando você chega preparado e apoiado por uma equipe extremamente comprometida e competente. Meus colegas de diretoria e a comissão da Fenasan e Encontro Técnico garantiram essa conquista como um verdadeiro time. Diversos foram os momentos marcantes nessa 30ª Fenasan, desde a merecida homenagem aos nossos eternos presidentes, com seus nomes nas vias do pavilhão, à entrega das placas de agradecimento por suas gestões no novo espaço criado, Amigos da Água. O Campeonato de Operadores tem crescido bastante e chamado a atenção de muita gente. É bonito ver a determinação dos competidores para conquistarem suas provas. Melhor é ver ao final o reconhecimento desses valorosos profissionais do saneamento. Confesso que estou ansioso para a próxima edição e suas novidades. Nos vemos na 31ª Fenasan/Encontro Técnico.


E

stou trabalhando diretamente na organização do Encontro Tecnico há 13 anos, desde o 17º Encontro, que ocorreu no ano de 2007, ocasião em que, por coincidência, também ocupava o cargo de diretor cultural pela primeira vez. Um Encontro Tecnico nunca é igual ao anterior e sempre temos o sentimento de que poderíamos fazer melhor e maior o do próximo ano. Sim, sempre tivemos a preocupação de aumentar o tamanho do Encontro Técnico e da Fenasan, pois a feira é, sem dúvida, o que possibilita a execução de um evento deste porte, não perdendo com o crescimento a qualidade do mesmo. Falamos que nossos associados, expositores, congressistas e visitantes não são “mal acostumados” e sim “bem acostumados” e exigem que nossa Fenasan e Encontro Técnico sejam cada vez mais cheios de novidades, sem perder a qualidade dos temas apresentados. Dizemos que a preparação do Encontro Técnico se assemelha a uma escola de samba, que se prepara o ano todo Olavo Alberto para sua apresentação na apoteose e, quando termina o desfile, já está pensando no evento do próximo ano. Nós Prates Sachs não podemos nos dar este luxo e pensarmos no evento do próximo ano só no final do evento, pois devido à grande Diretor Cultural e Presidente quantidade de feiras de negócios que ocorrem na cidade de São Paulo, que ultrapassa 200, responsáveis por mais da Comissão Organizadora de 50% das Feiras que ocorrem em todo o Brasil, não conseguiríamos a data desejada para o próximo ano. do Encontro Técnico O 30º Encontro Técnico deste ano coroou a sequência ininterrupta de um evento que iniciou com apenas 14 AESabesp trabalhos e 8 expositores nas dependências cedidas pela CETESB e Sabesp e culminou nesta edição em 180 trabalhos expostos e 200 expositores presentes. Inovar com qualidade é uma característica deste evento, que é considerado o maior da América Latina no segmento Saneamento Ambiental, e isto só foi possível com investimento em prospecções em outros eventos mundiais que visitamos no Chile, Israel, Portugal, Alemanha, Itália e França. Ideias como: balcões de informações trilíngues, aplicativos feitos exclusivamente para o evento, espaço para empreendedores e inovações serem apresentadas pelos seus mentores, criação do mascote “Engenhoso”, formatação de auditórios dentro do recinto da feira e a consolidação do espaço para a apresentação das equipes operacionais de suas habilidades desenvolvidas em seu dia a dia (prática adaptada em quase todas as feiras que visitamos), ajudaram a chegar ao estágio a que chegamos. Resta-nos agora um grande desafio, o de fazer um evento melhor que o deste ano, pois o grau de exigência e expectativa de nossos “clientes”, que vêm de todo o Brasil e de vários países, é grande. Para isto estamos fazendo prospecções em novas feiras com a Wefetc, em Chicago, e iniciaremos nossas atividades no mais novo polo da AESabesp localizado no Vale do Silício, na Califórnia, para trazermos novidades para o 31º Encontro Técnico Fenasan 2020, que já esta programado para os dias 15, 16 e 17 de setembro no Expo Center Norte, Pavilhão Branco. Mas nada disso seria possível sem a competente equipe de associados, conselheiros, expositores e voluntários que nos ajudam todos os anos dedicando parte do seu tempo a inúmeras, objetivas e principalmente produtivas reuniões, 0 que é o segredo do nosso sucesso.

A

AESabesp mais uma vez demonstrou sua força e visão de futuro ao promover esta grande feira. A 30ª edição contou com um número recorde de expositores, que trouxeram tecnologias de ponta e de vanguarda Paulo Massato para o setor de Diretor Metropolitano saneamento. A presença da Sabesp maciça dos engenheiros demonstra que a feira já é um sucesso brasileiro. Possui um encaminhamento para novas linhas de intercâmbio com feiras internacionais. Só tende a crescer. A trigésima edição foi um evento acima dos anos anteriores no ponto de vista tecnológico. A AESabesp contribui para o engrandecimento do setor de saneamento e para a Sabesp cumprir a sua missão de melhorar a qualidade de vida e do meio ambiente de modo sustentável. Em nome da Presidente Viviana Borges, parabenizo todos os diretores da AESabesp. O nosso reconhecimento pelo trabalho realizado para o 30º Encontro Técnico/Fenasan.

A

Sabesp está em 373 cidades do Estado de São Paulo e esse número vem aumentando continuamente com novos municípios contratualizando os serviços de saneamento por parte da Companhia, dada a excelência dos serviços oferecidos. Temos já cerca de 300 municípios com serviços universalizados, ou seja, com 100% da população atendida pela Sabesp com abastecimento de água, coleta e tratamento dos esgotos. E estamos investindo Ricardo Borsari forte para chegar à universalização de todos Diretor de Sistemas os nossos municípios até 2030. Regionais da Sabesp Mas essa expansão contínua e qualidade dos serviços só é possível com um corpo técnico que tenha a mesma excelência, a mesma visão de crescimento e de esforço contínuo para servir bem aos nossos clientes. Se a Sabesp é a melhor companhia de saneamento do País e hoje uma das maiores do mundo, é porque conta com uma equipe de alto nível e a AESabesp tem um papel fundamental nesse aspecto, apoiando a formação, a motivação e o aperfeiçoamento dos nossos profissionais. O Encontro Técnico AESabesp/Fenasan, que chegou este ano à sua 30ª edição, é um exemplo dessa atuação tão importante. Parabenizamos à AESabesp pelo belo trabalho no Encontro Técnico 2019 e esperamos continuar sempre contando com essa importante parceria para promover e divulgar o que há de mais moderno e mais importante na área de saneamento ambiental. Outubro a Dezembro de 2019

35


ARTIGO ENCONTRO TÉCNICO TÉCNICO/ FENASAN

36

Saneas


Outubro a Dezembro de 2019

37


ENCONTRO TÉCNICO/ FENASAN

Confira alguns dos destaques das mesas redondas do 30º Encontro Técnico Segurança de barragens no setor de recursos hídricos e saneamento

Perspectivas do marco legal do saneamento

Participaram do debate o engenheiro do DAEE (Departamento de

Com coordenação da presidente da AESabesp, Viviana Borges, e

Águas e Energia Elétrica), José Augusto Mendes; o presidente do

moderação do presidente da ABES – Associação Brasileira de En-

Comitê Brasileiro de Barragens, Carlos Henrique de Medeiros; e a

genharia Sanitária e Ambiental, Roberval Tavares de Souza, a mesa

superintendente de manutenção estratégica do departamento de

teve participação de Geraldo Melo Correa, chefe de gabinete da Se-

Engenharia de Manutenção em Segurança de Barragens na Sabesp,

cretaria Nacional de Saneamento do Ministério do Desenvolvimento

Wongsui Tung. A mesa redonda foi moderada por Ricardo Borsari,

Regional, Percy Soares Neto, da Abcon - Associação Brasileira das

Diretor de Sistemas Regionais da Sabesp, que ressaltou que as barra-

Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto, e

gens são fundamentais para garantir o abastecimento de água, mas

Marcus Vinícius Neves, presidente da AESBE, Associação Brasileira

o momento é de esclarecer à sociedade quais são os procedimentos

das Empresas Estaduais de Saneamento Básico. Com um dos temas

de segurança, frente ao pânico instaurado após os acidentes.

mais importantes de 2019, os participantes debateram sobre a qualidade do sistema de saneamento no Brasil, políticas públicas e as

Saneamento 4.0 – como as novas tecnologias podem melhorar o uso e prevenir as perdas de água

formas de investimento por parte de empresas públicas e privadas.

Durante a mesa redonda que contou com a moderação de Paulo

A mesa redonda reuniu um grande público no palco 4º do 30º En-

Massato (Sabesp), palestras de Paulo Ferreira (fundador da AESa-

contro Técnico/Fenasan 2019. Para apresentar as fases do projeto

besp e professor de Engenharia da Universidade Mackenzie), Bene-

Novo Rio Pinheiros e explicar sua relevância para a população da

mar Tarifa (Sabesp), Karla Bertocco (especialista em saneamento e

Região Metropolitana de São Paulo, a AESabesp convidou Maycon

ex-presidente da Sabesp) e Mario Zigovski (gerente de planejamento

Abreu, superintendente da Unidade de Negócio Leste, que atuou

estratégico da Sanepar) e auditório lotado, foram abordados as tec-

como moderador; Edison Airoldi, diretor de Tecnologia, Empreendi-

nologias e sistemas de soluções que são empregados na indústria

mentos e Meio Ambiente da Sabesp, e Ronaldo Camargo, diretor-

4.0, como big data, realidade aumentada, manufatura aditiva, cloud

-presidente da Emae. Com um investimento estimado de R$ 1,5 bi-

computing, robôs autônomos, simuladores, sistemas de integração

lhão, o projeto prevê elevar o índice de coleta de esgoto da área total

horizontal e vertical de toda a cadeia produtiva, internet das coisas

da bacia do Pinheiros, que hoje é de 89%, para 94%, já em 2022;

e segurança cibernética. Ou seja, a principal novidade trazida é a

em relação ao índice de tratamento, deve sair dos atuais 55% para

automação de diversos processos dentro de uma empresa, hoje o

94%. Fazem parte do projeto o tratamento da água dos afluentes

maior desafio é incluir em todas as etapas dos serviços oferecidos no

do rio, desassoreamento, coleta e destinação correta dos resíduos

saneamento essa tendência global da nova era digital.

sólidos e a revitalização das suas margens.

38

Saneas

Despoluição do Rio Pinheiros


ENCONTRO TÉCNICO/ FENASAN

Entrevista especial: Marcos Penido Por Ana Paula Vieira Rogers

Marcos Penido Secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo

C

onvidado para ministrar a Palestra Magna

Revista Saneas: O senhor participou do Encontro

do 30º Encontro Técnico Fenasan 2019,

Técnico/Fenasan em setembro, ministrando a Pa-

o Secretário de Infraestrutura e Meio

lestra Magna e participando de painel. Quais são

Ambiente do Estado de São Paulo, Mar-

suas impressões sobre o evento e como as discus-

cos Penido, abordou as perspectivas do saneamento

sões ocorridas podem contribuir para a melhoria

ambiental no Estado de São Paulo. Neste contexto, co-

do saneamento no país?

mentou sobre o novo marco regulatório do saneamen-

Marcos Penido: Foi com muita satisfação que parti-

to, um dos assuntos mais debatidos nos últimos dois

cipei da 30ª edição do Congresso Nacional de Sanea-

anos no Brasil e cujo Projeto de Lei estava previsto para

mento e Meio Ambiente e da Feira Nacional de Sane-

votação ainda este ano (informação até o fechamento

amento e Meio Ambiente, onde tive a oportunidade

desta edição).

de apresentar um pouco sobre a nova Secretaria de

Nesta entrevista, o secretário aprofunda estes temas e discorre sobre a importância das discussões promovi-

Infraestrutura e Meio Ambiente, assim como o projeto Novo Rio Pinheiros.

das pelo evento, além das perspectivas para o sanea-

Anualmente, a organização do evento promove de-

mento e o meio ambiente no Estado de São Paulo em

bates, palestras e encontros para fomentar a evolução

2020. Leia a seguir:

do saneamento ambiental no Brasil. Essa troca de infor-

Outubro a Dezembro de 2019

39


ENCONTRO TÉCNICO/ FENASAN

mações e experiências que acontecem durante os dias do evento são fundamentais para o desenvolvimento de todos profissionais que vivenciam o setor. Revista Saneas: A despoluição do Rio Pinheiros é uma das prioridades no Estado de São Paulo. Como tem sido a atuação da Secretaria? Quais são os maiores desafios a médio e longo prazo? E de que forma a sociedade está sendo ou será envolvida nesse processo? Marcos Penido: A Secretaria coordena o programa Novo Rio Pinheiros, que tem o objetivo de revitalizar este símbolo da cidade de São Paulo por meio da união dos órgãos públicos e da sociedade. A meta é reduzir o esgoto lançado em seus afluentes, melhorar a qualidade de suas águas e integrá-lo à cidade. Por ser um rio urbano, a água não será potável, nem terá possibilidade de natação. No entanto, espera-se a melhora do odor, abrigo de vida aquática e, com isto, trazer a população de volta às suas margens. O rio Pinheiros tem 25 afluentes principais, dos quais nove deles considerados totalmente saneados. As sub-bacias dos demais estão parcialmente saneadas e são objeto de intervenções dos 14 processos de contratações estruturados pela Sabesp e terão obras de mais de R$ 1,5 bilhão para a sua despoluição. As obras devem começar no início de 2020 e atender 3,3 milhões de pessoas. Também haverá adoção de inovações tecnológicas em áreas de habitações irregulares. Outro ponto importante será a adoção do contrato de performance, em que a empresa fica responsável por todas as obras de ampliação e adequação do sistema de esgoto e sua remuneração depende do resultado. A EMAE já iniciou o desassoreamento e desaterro de 1,2 milhão m³, com investimento de R$70 milhões, para aprofundar o rio e melhorar a qualidade da água. Mensalmente chegam em média de 500 toneladas de resíduos no rio sendo: 40% vegetação aquática, 40% plásticos (pets, embalagens em geral), 20% pneus, madeiras, isopor e demais resíduos. Por isso, a participação ativa da população é fundamental nesse projeto. Atitudes como não jogar óleo diretamente nos ralos, separar o lixo reciclável,

A colaboração de todos é crucial para termos um rio limpo”

não descartar resíduos nas vias e ligar a residência na rede de esgoto são muito importantes para o sucesso desse empreendimento. Por meio de diversas ações de conscientização ambiental nos bairros e escolas vamos mostrar para a população da bacia do rio que a

Marcos Penido: O PL 3261/19, que está em tramitação e discussão

colaboração de todos é crucial para termos um rio limpo.

na Câmara dos Deputados, possui pontos importantes e relevantes para o cenário do saneamento básico nacional. Esperamos que com

Revista Saneas: O saneamento está no centro das discussões

o novo marco regulatório os serviços de saneamento tenham metas

no país, com o PL 3261, em análise na Câmara dos Deputados

de expansão, metas de redução de perdas na distribuição de água

e que seguirá em breve para votação. Como o senhor vê o

tratada e metas de qualidade para uma melhor prestação do serviço

texto deste PL e os impactos para o saneamento?

que reflita na melhora da qualidade de vida da população.

40

Saneas


Revista Saneas: O Ministério da Economia fez o estudo “Re-

Marcos Penido: A Secretaria tem o objetivo de conduzir de forma

flexões sobre IPOs minoritários nas companhias estaduais

sustentável o desenvolvimento socioeconômico em todo o território

de saneamento básico (CESBEs)”, que classifica empresas

de São Paulo, por meio de uma gestão sistêmica das Políticas Esta-

estaduais como deficitárias, o que não é o caso de todas as

duais de Meio Ambiente e Infraestrutura.

empresas. Como promover esta discussão reconhecendo as

Podemos destacar o planejamento do território paulista por

empresas eficientes, como é o caso da Sabesp - e outras, in-

meio do Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) integrando os re-

dependentemente se públicas ou privadas?

cursos hídricos, saneamento e meio ambiente, com respeito ao uso

Marcos Penido: Promover um amplo debate com todas as partes

múltiplo das águas. A fiscalização da qualidade ambiental, com

interessadas no setor de saneamento, envolver Estado, municípios,

ênfase na interface do meio urbano e rural. O fomento do uso

sociedade civil, usuários, prestadores de serviços, fornecedores e

dos recursos minerários e à geração de energia em sintonia com

reguladores é essencial para o desenvolvimento sustentável desse

desenvolvimento econômico sustentável e a modernização admi-

serviço fundamental para a população. Por meio do Conselho Es-

nistrativa da pasta.

tadual de Saneamento (CONESAN), que é um órgão estratégico,

As vertentes de atuação da SIMA se convergem. É uma experiên-

consultivo e deliberativo, buscamos estimular debates, audiências e

cia extremamente empolgante, o desafio é grande, mas a sinergia é

consultas públicas nas regiões metropolitanas para a mobilização e

total, pois os assuntos se completam. O nosso tripé é o desenvolvi-

integração do setor.

mento, agilidade e responsabilidade, mas sempre com transparência. Nosso dever é o de ser o indutor do crescimento sustentável no

Revista Saneas: Quais são as perspectivas e prioridades da

Estado de São Paulo.

atuação da Secretaria em 2020?

Outubro a Dezembro de 2019

41


VISÃO DE FUTURO

PNRS: destinação final de resíduos ainda é um grande desafio para o Brasil Por Suely Melo

Heliana Kátia Tavares Campos Engenheira Civil, com Especialização em Engenharia Sanitária e Ambiental e Mestre em Desenvolvimento Sustentável. Participou de eventos em resíduos sólidos no Brasil e no Exterior, publicou 10 capítulos de livros, 33 artigos, 26 trabalhos técnicos e ministrou diversos cursos na área. Dirigiu os Serviços de Limpeza Urbana de Belo Horizonte e do Distrito Federal quando liderou o encerramento do Lixão da Estrutural. Foi a idealizadora pelo Unicef do Fórum Nacional “Lixo e Cidadania” e da Campanha “Criança no Lixo nunca mais. Atualmente é coordenadora nacional da Câmara Temática de Resíduos Sólidos da ABES e vice-presidente da Seção DF da entidade e atua como consultora autônoma.

42

Saneas

A

de Resíduos Sólidos – PNRS foi um

Custos dos serviços x tarifas dos usuários

grande avanço para o Brasil. No en-

Na opinião de Kátia Campos, os custos dos serviços de

tanto, há aspectos pouco claros que

limpeza urbana e manejo dos resíduos são bastante

dificultam a definição exata sobre as responsabili-

razoáveis, principalmente se comparados aos dos servi-

dades compartilhadas, classificadas em muitas leis

ços de abastecimento de água, esgotamento sanitário

europeias como responsabilidades estendidas dos

e mais ainda de energia e telefonia. Neste contexto,

geradores. A afirmação é da engenheira Heliana

ela ressalta que “a ausência de cobrança de taxas e ta-

Kátia Campos, coordenadora da Câmara Temática

rifas pelos serviços prestados na gestão dos resíduos é

de Resíduos Sólidos da Associação Brasileira de En-

um fator estrangulador para o setor. Com cobrança do

genharia Sanitária e Ambiental – ABES.

custo médio de R$ 10 por pessoa por mês poderíamos

edição, em 2010, da Política Nacional

Para a especialista, a existência de um plano nacional

ter uma melhora significativa no setor”, defende. “Os

“com definições claras de metas, responsabilidades e

investimentos na implantação dos serviços são reduzi-

apoios intergovernamentais poderia apoiar toda a na-

dos, comparados aos seus custos de operação. Portan-

ção com objetividade no cumprimento da lei, mas não

to, se um determinado município diz não ter recursos

foi concluído e encontra-se suspenso”. Outro aspecto

para implantar um aterro, sem cobrar adequadamente

importante neste cenário, de acordo com Kátia, é a

pelos serviços prestados, dificilmente terá condições de

ausência de técnicos qualificados que respondam aos

operá-lo”, explica a engenheira.

desafios do setor nos três níveis de governo, principalmente nos governos municipais. “Em geral os profissio-

O papel da população

nais do setor são autodidatas e aprendem trabalhando

E tem mais. Kátia vê como fator preponderante nesta

na área, devido à insuficiência de capacitação formal,

questão o papel cultural da população. Segundo ela,

em especial, de nível superior”, frisa.

o custo mais expressivo, que representa cerca de 50%


do orçamento para a gestão dos resíduos, é gasto na varrição das ruas. “Uma parte

Como inovar?

significativa dos resíduos ali encontrados é lançada pelas pessoas, causando grande prejuízo financeiro aos municípios”, destaca. “Da mesma forma, resíduos dispostos

Kátia Campos explica que o uso de tec-

em locais indevidos, fora do horário das coletas, acabam causando prejuízos e custos

nologias mais inovadoras para a limpe-

adicionais à coleta de resíduos soltos, como também à saúde pública pela atração de

za urbana e manejo dos resíduos ainda

vetores causadores de várias doenças”, alerta.

é muito incipiente no Brasil. “O uso de

Ainda de acordo com a especialista, mesmo em cidades onde a coleta é realizada

veículos elétricos para coleta teve início

diariamente, de segunda a sábado, há quem disponibilize resíduos no domingo ou

recentemente e está em teste”, diz.

depois que a coleta foi realizada. “A separação adequada e a disponibilização dos re-

“Por outro lado”, ressalta ela, “equipa-

síduos em dias e horários previstos podem contribuir enormemente com os princípios

mentos para varrição, limpeza, poda, e

da lei. Priorizando a redução, a reutilização e a reciclagem já teríamos um enorme

pintura de meio fio mecanizados têm

ganho para reduzir o volume de rejeitos a serem aterrados”, afirma.

sido implantados e podem em muito melhorar as condições de trabalho dos

O case do Distrito Federal

garis e a produtividade na limpeza ur-

Um dos maiores exemplos no Brasil na questão de destinação de resíduos está no

bana”. “Quanto ao tratamento, têm

Distrito Federal, onde havia até o ano passado (2018) o maior lixão da América Latina

sido implantados sistemas de aprovei-

e segundo maior do mundo. O Lixão da Estrutural deu lugar ao primeiro aterro sa-

tamento de biogás em aterros sanitá-

nitário da história da capital do Brasil, com inclusão dos catadores como prestadores

rios e o Rio de Janeiro está trabalhando

de serviços públicos na coleta seletiva e na triagem dos recicláveis. O Aterro Sanitário

com uma unidade de biometanização,

de Brasília fica em Samambaia. A desativação do lixão, que foi coordenada por Kátia

em caráter piloto, operando com 50

Campos, à época presidente do Serviço de Limpeza Urbana – SLU/DF, foi premiada

toneladas por dia”, conta.

no ISWA 2018 (International Solid Waste Association), realizado, em outubro do ano

Além disso, de acordo com a enge-

passado, em Kuala Lumpur, na Malásia, e apresentada no Forum on The Community

nheira, tem sido incrementado o uso

of Shared Mankind and International Rule of Law, em Beijing, na China.

do combustível derivado dos resíduos

Além do Distrito Federal, de acordo com os últimos dados publicados do Sistema

(estes sendo os rejeitos da triagem do

Nacional de Informações do Governo Federal - SNIS, referentes ao ano de 2017, os

material da coleta seletiva, sem valor

Estados de Santa Catarina e Espírito Santo, seguidos pelo Rio Grande do Sul, foram

de comercialização como recicláveis

os que mais encerraram seus lixões e ampliaram a disposição em aterros sanitários.

por estarem contaminados com ou-

“Em geral foram utilizados aterros compartilhados por diversos municípios para aten-

tros resíduos, mas como grande poder

dimento a esta demanda, o que é uma tendência mundial”, esclarece Kátia. “Mesmo

calorífero) e o uso de pneus nos fornos

nos Estados Unidos, país rico, tem havido cada vez menor quantidade de aterros que

de cimenteiras. “Esta atividade forta-

recebem cada vez mais rejeitos de maior número de municípios”, complementa.

lecerá em muito a redução de rejeitos enviados a aterros”, acredita. Ela des-

Números do Brasil

taca ainda que tem proliferado no Bra-

Também são de 2017 os dados de disposição final de resíduos sólidos urbanos no

sil, e Brasília tem sido exemplo, a con-

Brasil, divulgados no último relatório da ABRELPE - Associação Brasileira de Empresas

tratação de cooperativas e associações

de Limpeza Pública e Resíduos Especiais. A pesquisa mostra que o índice de disposição

de catadores como prestadores de ser-

final adequada de Resíduos Sólidos Urbanos – RSU no país ficou na casa dos 59,1%

viços públicos tanto para a coleta sele-

do montante anual encaminhado para aterros sanitários. As unidades inadequadas,

tiva como para o manejo dos materiais

segundo o relatório, como lixões e aterros controlados (solução intermediária entre o

coletados. “Estas são tendências que

lixão e o aterro sanitário, com o intuito de reduzir os impactos ambientais causados

poderão mudar radicalmente o cená-

pelo acúmulo de lixo em áreas sem qualquer tratamento para efluentes líquidos e

rio da gestão dos resíduos urbanos no

preparação do solo), estão presentes em todas as regiões do país. E receberam mais de

Brasil”, conclui Kátia.

80 mil toneladas de resíduos por dia, com um índice superior a 40%. As regiões com os maiores desafios, neste sentido, são Norte e Nordeste (veja o quadro na pg.44). Outubro a Dezembro de 2019

43


ARTIGO TÉCNICO

CENÁRIO DOS RESÍDUOS NO BRASIL

REGIÃO NORTE Os 450 municípios da região Norte geraram, em 2017, a 15.634 toneladas/ dia de RSU, das quais aproximadamente 81,3% foram coletadas. Dos resíduos coletados na região, 65,3%, ou 8.295 toneladas diárias, foram direcionados para lixões e aterros controlados. Naquele ano, foram aplicados pelos municípios da região uma média mensal de R$ 8,17 por pessoa na coleta de RSU e demais serviços de limpeza urbana. O mercado de serviços de limpeza urbana da região movimentou quase R$2,1 bilhões no ano.

REGIÃO NORDESTE A Região Nordeste, com seus 1.794 municípios produziram, em 2017, a quantidade de 55.492 toneladas/dia de RSU, das quais aproximadamente 79,1% foram coletadas. Destes resíduos coletados, 64,6% ou 28.351 toneladas diárias, foram para lixões e aterros controlados. Os municípios da região aplicaram uma média mensal de R$ 8,66 por pessoa na coleta de RSU e demais serviços de limpeza urbana, e esse mercado movimentou no ano na região quase R$ 6,45 bilhões.

35,6%

34,7% 29,7%

35,4% 32,7% 31,9%

40% 34,8%

72,4%

25,2% REGIÃO CENTRO-OESTE A Região Centro-Oeste é composta por 467 municípios, que, em 2017, geraram 15.519 toneladas/dia de RSU. Destas, aproximadamente 92,8% foram coletadas e 60% correspondentes a 8.641 toneladas diárias, foram encaminhados para lixões e aterros controlados. Foram aplicados uma média mensal de R$ 6,27 por pessoa na coleta de RSU e demais serviços de limpeza urbana, e este mercado na região movimentou quase R$ 1,26 bilhão naquele ano.

17,2%

70,2%

REGIÃO SUDESTE

18,2% REGIÃO SUL Em 2017, os 1.191 municípios da região Sul produziram, a quantidade de 22.429 toneladas/dia de RSU, das quais aproximadamente 95,1% foram coletadas. Dos resíduos coletados na região, 29,8% ou 6.356 toneladas diárias, foram parar em lixões e aterros controlados. Os municípios da região Sul aplicaram uma média mensal de R$ 8,20 por pessoa na coleta de RSU e demais serviços de limpeza urbana, que movimentou quase R$ 3,3 bilhões.

11,6%

11,6%

Segundo a ABRELPE, em 2017, os 1.668 municípios do Sudeste geraram 105.794 toneladas/dia de RSU. Destas, aproximadamente 98,1% foram coletadas, dos quais, 27,6%, o equivalente a 28.606 toneladas diárias, foram encaminhados para lixões e aterros controlados. Os municípios da região Sudeste aplicaram em 2017, uma média mensal de R$ 13,43 na coleta de RSU e demais serviços de limpeza urbana, cujo mercado da região movimentou quase R$ 15,4 bilhões.

Disposição final (toneladas/ dia) em %

44

Saneas

Aterro Sanitário Aterro Controlado Lixão


PONTO DE VISTA

Por Suely Melo

Luiz Fernando Orsini de Lima Yazaki Engenheiro civil e pós-graduado pela Escola Politécnica da USP, é consultor especializado em planos, projetos e pesquisas nas áreas de recursos hídricos, qualidade da água, drenagem e manejo de águas pluviais urbanas.

Mônica Ferreira do Amaral Porto É Assessora da Presidência na SABESP – Cia. de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, e Professora Sênior do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Como Professora Titular da Escola Politécnica da USP na área de Engenharia Ambiental, obteve seus títulos de Mestrado, Doutorado e LivreDocência na EPUSP. Foi Chefe do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da EPUSP e Presidente do Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul – CEIVAP; Foi Diretora Presidente da Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica; Presidente da Associação Brasileira de Recursos Hídricos e Secretária Adjunta de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo.

Poluição difusa: especialistas falam sobre o problema que atinge as águas dos rios brasileiros Apesar dos impactos negativos na biodiversidade e na saúde da população, o tema ainda é pouco discutido no país e, consequentemente, ações efetivas para tentar solucionar a questão também são mínimas, segundo especialistas. Os exemplos positivos estão no Distrito Federal, no Estado do Rio de Janeiro e na mais recente novidade do Estado de São Paulo, que tem colocado a questão em destaque: a despoluição do Rio Pinheiros

A

poluição ambiental é um dos mais

de combustível, óleos e graxas deixados por veículos,

graves problemas da atualidade no

poluentes do ar entre outros. “Os principais poluentes

Brasil. Dentre os diversos tipos de po-

que são assim carreados são sedimentos, matéria orgâ-

luição está a difusa, que é gerada pelo

nica, bactérias, metais como cobre, zinco, manganês,

escoamento superficial da água em zonas urbanas

ferro e chumbo, hidrocarbonetos provenientes do pe-

e rurais. É oriunda de atividades que depositam po-

tróleo, tóxicos, como os pesticidas, e os poluentes do

luentes de forma esparsa sobre a área de contribui-

ar que se depositam sobre as superfícies”, ilustra. “Nas

ção da bacia hidrográfica. Apesar da importância e

áreas rurais, os poluentes carreados são principalmente

dos impactos negativos na biodiversidade e na saú-

sedimentos, fertilizantes orgânicos e químicos e defensi-

de da população, o tema ainda é pouco discutido

vos agrícolas”, completa Mônica Porto.

no país, e consequentemente ações efetivas para

De acordo com a especialista, é difícil evitar o carre-

tentar solucionar a questão também são mínimas,

amento destas cargas poluidoras para os corpos hídri-

segundo especialistas. Os exemplos positivos estão

cos. “Nas áreas urbanas, a carga difusa é usualmente

no Distrito Federal, no Estado do Rio de Janeiro e

transportada pela rede de drenagem pluvial e, como o

na mais recente novidade do Estado de São Paulo,

volume escoado durante as chuvas é muito grande e

que tem colocado a questão em destaque: a Des-

sua ocorrência é esporádica, estas cargas se tornam de

poluição do Rio Pinheiros. Na área rural, a expe-

difícil tratamento”, justifica. “Já nas zonas rurais, Môni-

riência de sucesso está na recuperação das matas

ca destaca que a preservação da mata ciliar é uma das

ciliares nos arredores do reservatório de Itaipu.

formas mais efetivas de controle, pois ela representa

A engenheira Mônica Porto, professora da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – Poli/USP, explica

uma barreira física entre o escoamento sobre as áreas agrícolas e os cursos d’água.

que nas áreas urbanas, a origem da poluição difusa é

O engenheiro Luiz Fernando Orsini Yazaki acrescenta

bastante diversificada. Contribuem, segundo ela, a abra-

que alguns especialistas incluem nessa relação (no cená-

são e o desgaste das ruas pelos veículos, lixo acumulado

rio urbano) a poluição dos esgotos que são lançados na

nas ruas e calçadas, resíduos orgânicos de pássaros e

rede de drenagem e que chegam aos rios mesmo quando

animais domésticos, atividades de construção, resíduos

não está chovendo. É a chamada carga de tempo seco. Outubro a Dezembro de 2019

45


ARTIGODE PONTO TÉCNICO VISTA

Orsini sublinha que este tipo de poluição não é evitável, mas pode ser reduzida e controlada, como demonstram muitos países que conseguiram despoluir seus rios urbanos. “Reduzir a poluição hídrica significa rios, lagos e orlas marítimas mais limpos, maior disponibilidade de água para abastecimento, restauração de ecossistemas, revitalização da paisagem, novas áreas de lazer, valorização imobiliária, atração de novos negócios e muito mais. Água poluída significa perder esses benefícios”, esclarece o engenheiro. Mônica Porto aponta outras formas de aumento das cargas poluidoras transportadas pelas redes de drenagem urbana: ligações clandestinas de esgotos, efluentes de fossas sépticas, vazamentos de tanques enterrados de combustível, restos de óleo lubrificante, tintas, solventes e outros produtos tóxicos despejados em sarjetas e bueiros. “As cargas difusas produzem impactos negativos importantes no meio aquático e na saúde humana, alterando habitats, produzindo efeitos tóxicos para o ecossistema e para o homem, trazendo contaminação por organismos patogênicos, causando eutrofização, além do prejuízo estético quando da presença de resíduos sólidos, óleos e graxas, entre outros”, alerta a professora.

Panorama da poluição difusa no Brasil O problema da carga difusa, segundo Mônica Porto, é pouco tra-

Rio Pinheiros logo após a chuva

tado no Brasil, particularmente, nas zonas urbanas. “Há formas de redução da chegada dessas cargas aos corpos d’água por meio,

deve ser uma prioridade. Ele defende que para despoluir os rios não

por exemplo, de retenção nos piscinões ou construção de wetlands,

basta coletar e tratar os esgotos. “É preciso também um manejo

mas são muito pouco utilizadas em nosso país”, ressalta.

adequado das águas pluviais. “Evitar que as redes de drenagem

Outro exemplo do que é pouco utilizado no país, conforme a

transportem para os rios a poluição difusa. A Lei de Saneamento

especialista, é o controle da produção de sedimentos em obras

prevê o tratamento das águas pluviais, mas isso não tem sido previs-

civis, o que tem acarretado grande assoreamento dos rios, com

to nos planos e projetos de saneamento”, salienta. “Uma honrosa

consequências graves no manejo de rios urbanos. ”Agravam-se

exceção é o Distrito Federal onde, para se obter outorga de lança-

as enchentes, aumenta o custo de manutenção de galerias de

mento de águas pluviais, é necessário prever um volume adicional

drenagem, além do prejuízo para o ecossistema. No caso das

de reservação para o abatimento da carga difusa”, aponta.

zonas agrícolas, já há iniciativas bastante exitosas, como é o caso

Orsini explica ainda que a gestão do saneamento no Brasil é seg-

da recuperação das matas ciliares no entorno do reservatório de

mentada. De acordo com ele, as cidades, em geral, possuem uma

Itaipu”, destaca.

entidade responsável pelo abastecimento de água e pela coleta e

Luiz Fernando Orsini também reitera que esta questão não é

tratamento dos esgotos; outra entidade cuida da drenagem e uma

considerada pela grande maioria dos gestores de saneamento

terceira do lixo. “Não dialogam entre si. É um sistema desarticulado

no país. Por aqui, segundo ele, o tema tem sido tratado quase

tentando resolver problemas integrados por natureza”, critica.

que somente pela academia e pouco tem sido feito de prático

As consequências: o lixo e os esgotos não coletados acabam na

para amenizar o problema. “Pelo que me consta, não existem

rede de drenagem que desagua nos corpos hídricos, poluindo-os.

ações planejadas com o objetivo específico de reduzir a poluição

“Destaco que pouca importância é dada para as perdas nas redes

difusa”, diz.

coletoras de esgotos. Discute-se muito as perdas nos sistemas de

O engenheiro enfatiza que o Brasil ainda tem um enorme défi-

distribuição de água, mas não existe preocupação com os esgotos

cit de serviços de esgotamento sanitário e que reduzir este déficit

que, no caminho entre a ligação predial e a estação de tratamento,

46

Saneas


vai parar na rede de drenagem”, complementa.

Existem também, de acordo com Luiz Fernando Orsini, algumas

Para ilustrar, Orsini informa que nas regiões onde o sistema de

iniciativas de sucesso no controle da poluição difusa, como o Pro-

saneamento é mais evoluído são adotados sistemas integrados de

grama Córrego Limpo na cidade de São Paulo, e parques lineares,

gestão, como os serviços hídricos integrados dos países europeus.

como da cidade de Indaiatuba, entre outras. “Mas, infelizmente,

“Nesses países uma única entidade é responsável pela gestão de

são ações isoladas. Muitas delas não estão institucionalizadas como

todo o ciclo hídrico urbano, e pela recuperação e preservação dos

políticas públicas permanentes”, lamenta.

corpos hídricos. Cuida do abastecimento de água, da coleta e do

Na visão da professora Mônica Porto, o Estado de São Paulo tem

tratamento de esgotos e de águas pluviais tendo como objetivo

se preocupado muito com a recomposição de matas ciliares, o que

final a qualidade das águas dos rios, lagos, orlas marítimas e aquí-

tem efeito benéfico direto no controle da carga difusa de origem

feros subterrâneos”, exemplifica. “Se quisermos reduzir a poluição,

agrícola. “Nas cidades são poucas as ações efetivas já implantadas,

é essencial evoluirmos para um sistema desse tipo”, conclui Orsini.

mas percebe-se uma grande preocupação com o problema dos resíduos sólidos nos rios”, salienta.

Regiões mais afetadas e o que tem sido feito para amenizar o problema

Os rios brasileiros

As regiões mais afetadas pela carga poluição difusa no Brasil, se-

Conforme explicam os especialistas, não existe um monitora-

gundo Luiz Fernando Orsini, são aquelas densamente urbanizadas

mento sistemático da poluição difusa no Brasil. Orsini aponta

e, nas áreas rurais, as que desenvolvem atividades agropastoris.

que algumas medições realizadas em bacias urbanas da Região

Ele afirma que existem iniciativas importantes e que precisam ser

Metropolitana de São Paulo mostram que, no início das chuvas

disseminadas. Como exemplos, o engenheiro cita algumas cidades,

a concentração de poluentes pode aumentar até mais de dez

como as da Região dos Lagos no Estado do Rio de Janeiro, “que

vezes em relação à concentração de base do rio. “Medições fei-

estão operando sistemas de captação de águas pluviais com enca-

tas pela Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica em 2009

minhamento das chamadas vazões de tempo seco e de parte das

no Rio Pinheiros mostraram que nas épocas de chuvas a carga

águas de primeira chuva para a estação de tratamento de esgotos”.

difusa chega a representar até mais de 50% da carga poluidora

Essa medida, de acordo com Orsini, contribuiu para a redução drás-

do rio”, frisa.

tica da poluição da lagoa de Ararauama. Medida similar foi também

Mônica Porto afirma que é possível medir a carga poluidora que

adotada no passado na cidade de Santos, no Litoral de São Paulo.

chega a partir da origem difusa. Mas que varia bastante a quanti-

“A Prefeitura e a Sabesp decidiram conduzir parte das águas dos

dade e o tipo de poluente aportado, pois depende diretamente do

canais que drenam a cidade para o emissário submarino”, lembra.

tipo de ocupação da bacia, do relevo, da intensidade da chuva e de

“Essa iniciativa reduziu consideravelmente a poluição despejada na

práticas de limpeza urbana. “Assim, é muito difícil estabelecer um

orla marítima, contribuindo para aumentar os índices de balnea-

percentual. O que se pode dizer, com certeza, é que as cargas di-

bilidade, atraindo turistas que haviam desistido de frequentar as

fusas são de magnitude bastante importante, também porque são

praias e colaborando significativamente para a revalorização da orla

fonte de toxicidade”, reforça a professora.

e revitalização econômica do município”, pontua.

O papel da população e como conscientizá-la Cenário do Estado de São Paulo

Mônica Porto e Luiz Fernando Orsini concordam quanto à impor-

Para Orsini, a situação do maior estado do Brasil “é parecida com

tância basilar da população nesta questão.

a do resto do país e, em certa medida, até mais grave, pois a con-

Segundo a professora, boa parte dos resíduos que se encontram

centração populacional é maior e as atividades econômicas mais

sobre o solo em áreas urbanas são de responsabilidade direta da

intensas, o que significa que suas bacias hidrográficas são mais

população. “Lixo, produtos tóxicos de limpeza, tintas, solventes,

antropizadas”, frisa. Por isso, nas palavras dele, é uma novidade

sedimentos podem ser reduzidos se a população estiver consciente

positiva ver que essa questão está sendo considerada no projeto de

que tudo irá ser arrastado pela chuva e chegará aos rios”, afirma.

despoluição do Rio Pinheiros e, também no Programa Várzeas do

“Já há várias décadas, as cidades americanas indicam, junto às bo-

Tietê. “São iniciativas pioneiras no Brasil e certamente contribuirão

cas de lobo para a drenagem urbana, que, todo o lixo que entra

para uma nova etapa do saneamento no país”, acredita.

por ali terminará por ser lançado ao rio. Uma das frases muito co-

Outubro a Dezembro de 2019

47


ARTIGODE PONTO TÉCNICO VISTA

muns que se vê escrita nesses locais é “only rain down the drain”

diretamente impactado pela degradação dos recursos hídricos. Exige

(apenas chuva pelo ralo, em tradução livre). A população precisa ser

também, segundo ele, atuação no planejamento urbano, no con-

instruída sobre esse problema para saber como agir e quais são as

trole ambiental, na educação da população e participação pública.

consequências das suas ações”, ilustra.

“Um conjunto de ações que atua nas suas causas contribui para

Orsini reforça que a população deve cuidar da disposição ade-

a redução da poluição difusa: controle da poluição do ar, melhoria

quada do lixo e, quando possível, assegurar que seus esgotos estão

na limpeza urbana e redução das perdas do sistema de coleta de

sendo dispostos na rede coletora pública.

esgotos”, diz Orsini. “Na prática, essas ações não são suficientes para

“Os projetos de despoluição de sucesso, como algumas das

eliminá-la por completo. Por melhor que seja, por exemplo, a varrição

ações do Programa Córrego Limpo empreendido pela Sabesp, em

das ruas, sempre haverá resíduos difíceis de serem removidos; por

conjunto com a Prefeitura de São Paulo, mostram que a participa-

mais eficiente que seja a rede de esgotos, sempre haverá perdas que

ção pública no planejamento, implantação e operação do empre-

acabam nas redes de drenagem”, avalia. “Estima-se que o índice de

endimento é fundamental”, reafirma. “Para que os objetivos sejam

perdas mínimo em redes de esgotos convencionais, com excelente

alcançados é preciso que as pessoas assumam essas ações como

padrão de construção e de manutenção, é cerca de 5%”, completa.

suas, como se o espaço público fosse uma extensão de suas pró-

Orsini argumenta que em países onde as águas urbanas são

prias casas”, ressalta. Mas o trabalho de conscientização, conforme o engenheiro, é, por vezes, complexo e deve ser realizado por equipes de profissionais habilitados, com experiência em mobilização social, e envolver a participação ativa de líderes comunitários. “Lembro que é dever do poder público ficar sempre atento. Não basta convencer a população a não jogar lixo nas ruas, é preciso também não deixar que isso aconteça”, enfatiza.

Ele conta uma experiência pessoal “No bairro em que eu moro, por exemplo, certa ocasião a Prefeitura instalou grande quantidade de lixeiras. Cerca de uma lixeira a cada 50 m. O lixo jogado nas ruas praticamente desapareceu. Com o tempo essas lixeiras foram se estragando e quase todas sumiram. Não havia, e não há, qualquer preocupação com a sua manutenção. O lixo voltou. As ruas estão imundas e quando chove as galerias ficam lotadas de resíduos. Uma medida simples e barata permitia que a população cuidasse melhor da cidade e contribuía para a redução da poluição difusa. O lixo que era depositado nas lixeiras hoje vai para o Rio Pinheiros, com as graves consequências que conhecemos”.

Principais tecnologias e inovações para tratamento dessas águas Para os especialistas, é possível reduzir drasticamente esse tipo de poluição. Orsini, informa que existe tecnologia para isso e vem sendo empregada com muito sucesso em cidades de diversos países. Na visão do engenheiro, a redução da poluição exige uma gestão integrada dos diversos componentes do saneamento: coleta e tratamento de esgotos; drenagem e manejo de águas pluviais e manejo dos resíduos sólidos, além do sistema de abastecimento de água,

48

Saneas

Ponto de descarte de lixo na Av Vinte Três de Maio, centro de São Paulo


limpas, além do alto padrão de limpeza urbana, as águas pluviais passam por sistemas de tratamento antes de serem lançadas nos corpos hídricos receptores. “Esse tratamento pode ser realizado junto às fontes do escoamento superficial, ou em locais estratégicos da rede de drenagem. No primeiro caso, são utilizados dispositivos de filtragem e infiltração projetados dentro do conceito da ‘invariância hidráulica’, também conhecido como ‘drenagem sustentável’ ou ‘medidas compensatórias’. No segundo caso, as águas pluviais são tratadas em estações de tratamento, que podem ser exclusivas para águas pluviais ou junto com os esgotos em estações convencionais. Em geral, nesses países, são adotadas as duas medidas em conjunto”, exemplifica. O engenheiro destaca ainda que a preservação das áreas de proteção permanente (APPs) e parques lineares também contribuem para a redução da poluição difusa, pois funcionam como uma espécie de filtro entre as áreas geradoras de cargas difusas e

Captação de tempo seco em Cabo Frio, RJ

os corpos d’água. No ponto de vista da professora Mônica Porto, a exemplo do que citou Orsini, o controle da poluição difusa deve ser feito por meio de ações sobre a bacia hidrográfica, de modo a se ter redução das cargas poluidoras antes do lançamento da drenagem no corpo receptor. “Este tipo de controle é alcançado pela adoção de um conjunto de medidas capazes de reduzir o potencial poluidor das águas de drenagem, chamadas de melhores práticas de gestão das cargas difusa (do inglês, Best Management Practices, ou BMP’s)”, explica. Segundo ela, é um controle baseado em práticas como educação da população e cuidados gerais com a limpeza da cidade, e em estruturas de controle, construídas para este fim. Usualmente, segundo a especialista, prevê-se um misto dessas medidas. Medidas não-estruturais: aquelas relativas a programas de prevenção e controle da emissão dos poluentes. “São medidas de planejamento urbano, ordenando a ocupação da área, espaços livres entre outros. Além disso, tais medidas incluem alertas à popu-

Poluição do Rio Tietê em Pirapora do Bom Jesus

lação sobre a disposição de resíduos”, diz Medidas estruturais: aquelas construídas para reduzir o volume e/ou remover os poluentes do escoamento. “São medidas estrutu-

“Para melhorarmos as condições dos nossos rios é preciso, em pri-

rais a construção de bacias de detenção, colocação de pavimento

meiro lugar, rever e atualizar o sistema institucional de gestão do

poroso, uso de áreas ou canais cobertos de vegetação para infil-

saneamento, integrando todas os serviços que contribuem para a

tração, obras de retenção de sedimentos nos locais em construção

melhoria da qualidade das águas e do meio ambiente”, explica.

e criação de banhados ou alagadiços. Nas zonas rurais, a medida

“Existem tecnologia e soluções de engenharia para isso. Muitas

mais eficaz é a recuperação das matas ciliares, associada ao contro-

iniciativas de sucesso no Brasil e no exterior comprovam essa afir-

le de sedimentos em estradas vicinais, e qualquer outra forma que

mativa. Os benefícios são muitos. Temos que parar de fazer o que

reduza a erosão do solo”.

sempre fizemos e não tem dado certo, e partir para soluções mais

Para finalizar, Orsini destaca que há muito trabalho pela frente.

evoluídas”, finaliza

Outubro a Dezembro de 2019

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PONTO DE VIVÊNCIAS VISTA

Entre a música e o saneamento Conheça a banda UGRs, formada por Evandro Vale de Almeida e outros funcionários da Sabesp Por Cristiane Pinto

V

ocê conhece a UGRs Band? Bom, se você é fun-

na Sabesp. Em 1999, ele ganhou um concurso de karaokê e foi

cionário da Sabesp da região que abrange a Uni-

convidado a ser vocalista em uma banda de rock. “Dois anos mais

dade de Negócio Sul, provavelmente sim, e até já

tarde, a banda se desfez e eu passei a cantar em bailes, festas de

dançou e se divertiu com as músicas tocadas pela

casamento e formaturas. Paralelamente, participava de bandas de

banda. A UGRs Band é formada pelos funcionários da UGR San-

classic rock”, conta.

to Amaro Evandro Vale de Almeida e Bruno Cesar Febraio, voca-

Quando chegou à UGR Santo Amaro, em 2016, Evandro encon-

listas; Filipe Slobodticov e Maurício Christo, na bateria; Edmilson

trou um pessoal que gosta de tocar e, então, montaram a UGRs

de Lima Bonfim, percussão; Julio Cesar Faustino Silveira, con-

Band, uma banda cover de estilo musical variado. “A música é uma

trabaixo; Adão Antônio Fernandes e Anderson Luiz dos Santos,

linguagem universal, que junta pessoas com gostos muito diferen-

violão; e João Luiz Moraes Rodrigues, técnico de som. “O nosso

tes, na busca por mostrar a sua arte. Foi um grande desafio fazer

núcleo sempre nos incentiva e tocamos em datas comemorati-

decolar a primeira versão da UGRs Band. O Filipe só conhecia mú-

vas, como dia das mães, festas de fim de ano, por exemplo”, ex-

sica gospel; o Edmilson e o Julio eram mais ecléticos; o Adão sabia

plica Evandro Vale de Almeida, tecnólogo na UGR Santo Amaro.

tudo de MPB; o Bruno era fã de música sertaneja e eu, de pop e

Tecnólogo em Construção Civil/Obras Hidráulicas pela FATEC-SP,

rock nacional e internacional. A música fez com que estas pessoas

Evandro está na companhia desde 2002, quando trabalhou no Polo

com gostos bem diferentes pudessem tocar e alegrar os funcioná-

de Manutenção de Embu das Artes. Foi transferido para São Ber-

rios da UGR Santo Amaro”, diz. “Para mim, fazer parte da banda é

nardo dois anos depois e ficou por lá durante 12 anos. “Em Santo

importante para relaxar e passar bons momentos cantando”.

Amaro, trabalho com o planejamento e controle de perdas na distribuição de água”. A história dele com a música começou pouco antes de entrar

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Saneas

Evandro é casado com a Roberta há 14 anos e eles têm um filho de 10, o Gustavo. Nos momentos de lazer, eles gostam de ir à praia, praticar snorkelling e fazer churrascos com a família.


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31ยบ Congresso Nacional de Saneamento e Meio Ambiente

31ยบ Feira Nacional de Saneamento e Meio Ambiente


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