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Pacto global
by AESabesp
Giuliana Chaves Moreira
Pesquisadora do Pacific Institute e Assessora de Gestão Corporativa da Água na Rede Brasil do Pacto Global.
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Crédito: Adaptado de UNICEF 43450 Lister.
Como o mundo pode
evitar a propagação de futuras pandemias?
Apandemia da covid-19 trouxe à tona problemas e desafios relacionados ao saneamento básico. Esta não é apenas uma crise global de saúde, mas também uma crise social que afeta a vida de milhares de pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade.
A lavagem das mãos, medida fundamental contra a covid-19, infelizmente ainda é inacessível para as 780 milhões de pessoas em todo o mundo que não têm acesso a uma fonte de água melhorada e as 2,5 bilhões que não têm acesso ao saneamento adequado.
Apesar de ocupar o nono lugar entre as 20 principais economias do mundo com base em seu PIB, no Brasil, aproximadamente, metade da população – 100 milhões de pessoas – vive sem saneamento adequado ou qualquer tipo de tratamento de esgoto, enquanto 35 milhões de brasileiros não tem acesso a água potável segura (SNIS, 2018 ). Água e saneamento são direitos humanos básicos , reconhecidos pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2010, que devem ser garantidos a todos os cidadãos, mas são negligenciados para metade da população no Brasil. Segundo o estudo Panorama da participação privada no saneamento, publicado em 2019, a necessidade de maior investimento em saneamento no Brasil é uma prioridade urgente. Para mudar esse cenário, seria necessário investir R$20 bilhões por ano. Esse patamar nunca foi atingido. Em 2016, por exemplo, foram investidos R$11,51 bilhões em saneamento, ou seja, 0,18% do PIB nacional, já em 2017 caiu para R$10,96 bilhões (a meta do PLANSAB para o setor é de 0,33% do PIB). Essa falta de acesso deixa a população brasileira ainda mais vulnerável diante da pandemia, já que limita a possibilidade de as pessoas seguirem os protocolos de segurança exigidos neste momento.
O saneamento precário se mostrou caro no Brasil, causando uma perda de R$100 milhões em 2017 devido a internações hospitalares de pacientes no Sistema Único de
Saúde (SUS) decorrentes de doenças causadas pela falta de saneamento básico e acesso à água de qualidade.
Para cada dólar investido em água e saneamento, economiza-se O recente relatório das Nações Unidas
Shared Responsibility, covid-19
(Responsabilidade Compartilhada, Solidariedade Global:
USD 4,3 em saúde global, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Recentemente, organizações ligadas ao setor privado de saneamento, reunidas em São Paulo, reforçaram a teoria da economia produzida por este investimento. Pelas contas do grupo, a universalização do saneamento básico no Brasil geraria uma economia anual de R$1,4 bilhão em gastos na área da saúde.
O total de mortes confirmadas no Brasil causadas pela covid-19 superou em 28 de abril os números da China, país onde o vírus foi identificado pela primeira vez. Segundo o Ministério da Saúde, neste dia o Brasil havia registrado 474 mortes, ultrapassando as 5 mil mortes e elevando o número de casos para mais de 70 mil no país.
Como outros países, o Brasil não estava preparado para enfrentar essa pandemia imprevisível. Acrescenta-se a esse contexto de insegurança global o fato de a população brasileira estar mais exposta em razão dos problemas estruturais do país.
Na Rede Brasil, desde o início da pandemia no país, temos procurado mobilizar o setor empresarial em projetos e iniciativas de apoio. Acreditamos que este é um dos caminhos para que esta situação seja enfrentada de forma não tão dura. Felizmente, temos visto uma série de novas ações de empresas sendo criadas no país em resposta à pandemia.
Exemplos como este mostram como o setor empresarial pode desempenhar um papel essencial no combate à pandemia, contribuindo com respostas imediatas e de curto prazo, pois é um grande detentor de poder econômico, um propulsor de inovações e tecnologias e um forte influenciador de diversas partes interessadas – governos, fornecedores, funcionários e consumidores. Assim, terá um papel ainda mais importante neste momento de retomada pós-covid. Global Solidarity: Responding to the socio-economic impacts of Respondendo aos impactos socioeconômicos da covid-19) fornece
uma análise das implicações da pandemia na Agenda 2030, e aponta que a implantação dos ODS será adversamente impactada em decorrência da desaceleração econômica
global prolongada que está sendo prevista. As pessoas que vivem em vulnerabili
dade serão as mais afetadas
pelos impactos negativos da covid-19, em especial as populações que vivem
100 milhões
em favelas, devido à alta densidade populacional e às más condições de saneamento. Uma das principais conclusões do relatório das Nações Unidas mencionado anteriormente, é que é necessário um esforço conjunto para que esta situação
35 milhões
Não têm acesso a água potável segura
adversa seja superada.
Se estivéssemos mais adiantados em nosso progresso para alcançar os ODS quando a pandemia começou, responderí amos à crise com mais resiliência. Infeliz
mente, não estávamos e corremos riscos de retroceder décadas de progresso. Do lado positivo, a pandemia apresenta uma enorme oportunidade para revisitar as es tratégias implementadas até o momento, repensar a forma como estamos agindo, construindo sistemas de saúde mais fortes, atendendo melhor às necessidades básicas e garantindo que menos pessoas vivam em extrema pobreza.
É vital que o mundo não se esqueça rapidamente dessa crise, mas tire lições dela
e reconstrua sociedades mais equitativas e sustentáveis. Todos os países devem trabalhar agressivamente após esta crise para garantir acesso sustentável à lavagem básica das mãos para os 40% da população mundial que ainda não têm acesso à água e ao saneamento, garantindo que ninguém seja deixado para trás.