Revista Saneas - ed. 74

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Ano XI • Edição 74 • Outubro a Dezembro de 2020

34 ANOS

31º ENCONTRO TÉCNICO AESABESP

COMPÊNDIO AESABESP

PRÊMIO JOVEM PROFISSIONAL

Um sucesso que deixa legados

Edição de 30 anos eternizada em livro

Conheça os trabalhos dos ganhadores do Prêmio



EXPEDIENTE

EDITORIAL

Associação dos Engenheiros da Sabesp Rua Treze de Maio, 1642 Bela Vista - 01327-002 - São Paulo/ SP Fone: (11) 3263 0484 Fax: (11) 3141 9041 www.aesabesp.org.br aesabesp@aesabesp.org.br 34 ANOS Órgão Informativo da Associação dos Engenheiros da Sabesp Fundada em 15/09/1986 Tiragem: 6.000 exemplares Diretoria Executiva Presidente: Viviana Marli Nogueira de Aquino Borges Diretor Administrativo: Nizar Qbar Diretor Financeiro: Hiroshi Ietsugu Diretora Socioambiental e Cultural: Márcia de Araújo Barbosa Nunes Diretor de Comunicação e Marketing: Agostinho de Jesus Gonçalves Geraldes Diretoria Adjunta Diretoria Técnica: Olavo Alberto Prates Sachs Diretoria de Esportes e Lazer: Evandro Nunes de Oliveira Diretoria de Polos Regionais: Antônio Carlos Gianotti Diretoria Social: Tarcísio Nagatani Diretoria Inovações: Luciomar Santos Werneck Conselho Deliberativo Presidente: Reynaldo Eduardo Young Ribeiro Membros: Abiatar Castro de Oliveira, Alceu Sampaio de Araujo, Alexandre Domingues Marques, Alzira Amancio Garcia, Carlos Alberto de Carvalho, Choji Ohara, Cid Barbosa Lima Junior, Eduardo Bronzatti Morelli, Gilberto Alves Martins, Gilberto Margarido Bonifácio, Helieder Rosa Zanelli, Ivo Nicolielo Antunes Junior, João Augusto Poeta, Maria Aparecida Silva de Paula, Richard Welsch e Walter Antonio Orsatti Conselho Fiscal Aurelindo Rosa dos Santos, Ivan Norberto Borghi e Yazid Naked Coordenadores Conselho e Fundo Editorial: Nélson César Menetti Membros: Ana Paula Vieira Rogers, Antônio Carlos Roda Menezes, Benemar Movikawa Tarifa, Débora Soares, Luciomar Santos Werneck, Sandreli Droppa Leta e Suely Matsuguma. Polos da RMSP: Eduardo Bronzatti Morelli Polo dos Aposentados: Nélson César Menetti Assuntos Institucionais: Ester Feche Guimarães Cursos: Walter Antonio Orsatti Inovação: Luis Felipe Macruz Comissão Organizadora 32º Encontro Técnico AESabesp/ Fenasan 2021 Presidente da Comissão: Luciomar Santos Werneck Diretor do Encontro Técnico AESabesp: Olavo Alberto Prates Sachs Diretor da Fenasan: Luciomar Santos Werneck Membros da Comissão Agostinho J. G. Geraldes, Alisson Gomes de Moraes, Alzira Amâncio Garcia, Antonio Carlos Roda Menezes, Eduardo Bronzatti Morelli, Gilberto Alves Martins, Maria Aparecida Silva de Paula, Mariza Guimarães Prota, Nélson César Menetti, Nilton Gomes de Moraes, Nizar Qbar, Rodolfo Baroncelli, Sonia Maria Nogueira e Silva, Tarcisio Luis Nagatani e Walter Antonio Orsatti Equipe de apoio Ana Rogers, Bruno Bolívia, Maria Flávia da Silva Baroni, Milena Mendes Tojo e Silva, Monique Funke, Paulo Oliveira, Suely Melo, Vanessa Hasson e Wanderley Pavão Junior Polos AESabesp da Região Metropolitana - RMSP Polo AESabesp Centro: Patrícia Barbosa Taliberti Polo AESabesp Coronel Diogo: Rodrigo Pereira Mendonça Polo AESabesp Costa Carvalho: Patricia de Fatima Goularth Polo AESabesp Leste: Eduardo Alves Pereira Polo AESabesp MT: Edmilson Barbosa Prado Polo AESabesp Norte: Eduardo Bronzatti Morelli Polo AESabesp Oeste: Benedito Silva Polo AESabesp Ponte Pequena: Rogério Welsel Polo AESabesp Sul: Antonio Ramos Batagliotti Polos AESabesp Regionais Polo AESabesp Baixada Santista: Zenivaldo Ascenção dos Santos Polo AESabesp Botucatu: Leandro Cesar Bizelli Polo AESabesp Caraguatatuba: Pedro Rogério de Almeida Veiga Polo AESabesp Franca: José Chozem Kochi Polo AESabesp Itatiba: Carlos Alberto Miranda Silva Polo AESabesp Itapetininga: Jorge Luis Rabelo Polo AESabesp Lins: Carlos Toledo da Silva Polo AESabesp Presidente Prudente: Gilmar José Peixoto Polo AESabesp Vale do Paraíba: Sérgio Domingos Ferreira Polo AESabesp Vale do Ribeira: Jiro Hiroi Produção Editorial Foco21 Comunicação Jornalista Responsável Ana Paula Vieira Rogers - MTB 27666 anarogers@foco21comunicacao.com Colaboradores Clara Zaim, Jéssica Marques, Murillo Campos, Rhayana Araújo e Suely Mello Fotos Equipe Estevão Buzato e acervo AESabesp Projeto visual gráfico e diagramação Neopix DMI contato@neopixdmi.com.br www.neopixdmi.com.br

Depois de todos os desafios de 2020, este ano traz, somado ao aprendizado de todas as mudanças que o mundo viveu, a esperança por mais saúde e mais consciência ambiental. Essas premissas, que são parte da missão da AESabesp, alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela ONU, refletem-se em nossas iniciativas e do setor em geral. Foi assim no 31º Encontro Técnico AESabesp, que realizamos de 24 a 26 de novembro, sucesso de realização que mobilizou equipes de profissionais do setor de saneamento, de eventos, comunicação e marketing e de TI, além de especialistas, diretores e conselheiros da Associação e voluntários. Fizemos história e abrimos caminho para novas formas de conexão com associados e público em geral, como você verá nesta edição. E já começamos a organização da edição 2021, com a abertura do período de inscrição de trabalhos técnicos. E os avanços não param. Com elementos como o Novo Marco Regulatório, os avanços tecnológicos e a atuação destacada em função da pandemia de covid-19, o Saneamento passou a prioridade na pauta de discussões do país. O setor se transforma para as novas demandas, como traz a nossa reportagem especial de capa, aperfeiçoando os serviços para alcançar a universalização. Começamos o ano com boas notícias! Boa leitura e muita saúde!

Viviana Borges Presidente da AESabesp

A AESabesp não se responsabiliza pela veracidade de conteúdo de anúncios e de artigos assinados.

Outubro a Dezembro de 2020

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ÍNDICE

Capa: Um olhar para o futuro: o saneamento em transformação

12

31º Encontro Técnico AESabesp Resiliência, qualidade técnica e uma edição histórica em um ano de grandes desafios

05

Prêmio Jovem Profissional AESabesp 2020

Oportunidade e reconhecimento

Capa: Entrevista “É um novo momento, com desafios e oportunidades, e tenho certeza de que a Sabesp será protagonista”, diz Adriana Manicardi

Capa: Ponto de vista Curso de regulação tarifária Tecnologia aliada ao enfrentamento Professor Rui Cunha de possíveis Marques fala sobre crises o sucesso do curso

17

O novo profissional do Saneamento

4

Saneas

25

08 Curso de regulação tarifária Curso de Professor Rui regulação Cunha Marques tarifária fala sobre o

22

Artigos Técnicos

Aplicação e recuperação de catalisador CoreShell magnético no processo de remoção fotocatalítica de selênio

Compêndio: edição de 30 anos eternizada

12 20

Capa: Especial

07

sucesso do curso realizado durante Rui o 31º Professor Cunha Encontrofala Técnico Marques sobre o sucesso do curso AESabesp

12 10

Vivências Gestão dos riscos e eficiência das elevatórias de água do sistema adutor metropolitano de São Paulo

40

Encontro Técnico AESabesp: três décadas de evolução

48


31º ENCONTRO MATÉRIA DE CAPA TÉCNICO

31º ENCONTRO TÉCNICO AESABESP:

resiliência, qualidade técnica e uma edição histórica em um ano de grandes desafios Diante de um atípico e desafiador 2020, em meio à pandemia de covid-19, modelos de eventos precisaram ser reinventados. Neste cenário, a AESabesp inovou e se destacou. Investiu na criação de uma plataforma digital exclusiva e realizou com sucesso a 31ª edição do maior congresso de saneamento e meio ambiente da América Latina. E o melhor, sem perder uma das principais marcas do evento presencial: a qualidade técnica dos debates e trabalhos apresentados

N

os três dias de programação do Encontro Técnico AESabesp 2020, estiveram reunidos mais de 70 especialistas do Brasil e do exterior, que abordaram em 12 mesas redondas e 5 painéis grandes temas do setor.

A palestra magna de abertura foi ministrada por Leo Hel-

ler, ex-relator especial da ONU sobre o direito à água e ao saneamento e pesquisador da Fiocruz. Mais de 500 pessoas acompanharam ao vivo a apresentação de Heller, que detalhou o panorama do saneamento pelo mundo. O evento teve 98 trabalhos técnicos, em uma edição que teve recorde de submissões de trabalhos, e 6 palestras institucionais. Foram destaques na programação desta edição o curso online “Regulação tarifária para saneamento”, com o professor Rui Cunha Marques, da Universidade de Lisboa, Portugal (leia entrevista na página 10), e o lançamento do Compêndio AESabesp – 30º Encontro Técnico (confira reportagem na página 8). A plataforma do encontro reflete este sucesso: foram 2.171 cadastros, 3.714 visitantes, 19 países presentes, 182 cidades brasileiras, 62.272 mil páginas visualizadas e 182 perguntas realizadas pelo público no chat. Outubro a Dezembro de 2020

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31º ENCONTRO TÉCNICO

Ficamos muito honrados com o nível das apresentações e com a presença de importantes executivos, gestores e técnicos das empresas de saneamento e governo nos trabalhos técnicos, na palestra magna, nas mesas redondas, nos painéis e nas apresentações dos finalistas no Prêmio Jovem Profissional no Congresso da AESabesp. O valor do saneamento básico alcançou um novo patamar e vemos muito trabalho pela frente. A AESabesp ajudou a fundar a AESAN, Associação dos Especialistas do Saneamento, que em 2021 deve estar conosco na organização do 32º Encontro Técnico e FENASAN 2021. Tivemos discussões importantes que trouxeram o tema “Saneamento ambiental: inclusão social para a cidadania” e o momento impactante dos finalistas e premiação do Campeonato de Operadores da Sabesp, que se realizou de forma inovadora e obteve muita disputa. Enfim, cumprimos o desafio como forma de contribuir para o desenvolvimento do setor de saneamento ambiental. Agradeço aos nossos patrocinadores e ao importante apoio da Sabesp e a todos que garantem o sucesso deste evento.

Em primeiro lugar gostaria de parabenizar a Diretoria da Aesabesp e o comitê organizador do 31º Encontro Técnico AESabesp pela organização do evento, primorosa, mesmo em tempos de “Pandemia” como o que vivenciamos atualmente. Temas de grande relevância para o saneamento, para as empresas e para a nossa população foram discutidos em nível bastante alto, nos instigando a assumir novos desafios. A manutenção do nosso Campeonato de Operadores demonstrou de forma clara a nossa capacidade de inovação e adaptação a cenários, em princípio, muito adversos. Mais uma vez tive a honra de participar, e espero que em 2021 estejamos juntos presencialmente para construirmos um evento ainda melhor.

Viviana Borges Presidente da AESabesp

Com a inclusão do Tema Resíduos Sólidos Urbanos no Encontro Técnico, a AESabesp traz uma oportuna contribuição na construção da Política Nacional de Resíduos Sólidos. A discussão qualificada entre especialistas do setor deixou claro que não há mais espaço para adiamentos. Temos que enfrentar os desafios técnicos, econômicos e ambientais com a máxima urgência”.

João Paulo Tavares Papa Assistente executivo da Sabesp. Moderou a mesa “Resíduos sólidos urbanos: os aterros estão no final de sua vida útil. E agora?”

Foi uma mesa redonda de alto nível, trazendo a realidade da questão das cidades-esponja, que não é uma única solução, mas é uma solução importante, deixamos isso claro, assim como também temos outros tipos de alternativas. Somente soluções de microdrenagem não vão resolver os problemas da cidade, precisamos realmente ainda das soluções de macrodrenagem, e isto ficou claro na discussão da mesa. Outra questão é a valorização da engenharia nacional, um evento como o 31º Encontro Técnico AESabesp mostra uma engenharia pujante, que deve ser valorizada e respeitada, ponto que vejo na importância deste congresso.

6

Saneas

Ricardo Borsari Diretor Metropolitano da Sabesp moderador da mesa “Indicadores das empresas de saneamento”

O encontro Técnico da AESabesp 2020 incluiu em sua agenda uma sessão dedicada a Indicadores, tema de crescente importância para mensurar a eficácia, eficiência, o cumprimento de regras e metas e a sustentabilidade de empresas. Adicionamos alguns outros temas relevantes para a definição de indicadores, como aqueles ligados à equidade social (relevante num serviço essencial como o saneamento básico) e aos riscos operacionais e segurança hídrica (crescentemente presentes no saneamento básico, em função das mudanças climáticas e da crescente variabilidade hidrológica). A Sabesp vem crescentemente usando contratos de performance, inclusive em obras de expansão e melhoria dos seus sistemas, onde indicadores são centrais na mensuração dos resultados esperados e na remuneração dos contratados. O NDB New Development Bank (Novo Banco Desenvolvimento, também conhecido como Banco dos países BRICS) apresentou neste encontro uma inovação importante, que vem sendo desenvolvida em conjunto com a Sabesp: o uso de indicadores de performance como motores de um financiamento ao plano de investimentos em capital da empresa. Alguns programas integrantes do Plano de Investimento da Sabesp foram selecionados, e os recursos de um empréstimo com o NDB serão desembolsados de acordo com indicadores e metas previamente definidos. Assim, o NDB estará apoiando a Sabesp na expansão e melhoria dos serviços, em linha com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável - ODS, incentivando a empresa a alcançar as metas e alinhando financiamento e planejamento para a geração de resultados concretos. Esse modelo de financiamento poderá ser replicado e ajudar o Brasil e outros países membros dos BRICS a enfrentar o desafio do saneamento de forma mais ágil, criativa e com foco nos resultados.

Vitor Aly

Thadeu Abicalil

Secretário Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras de São Paulo - Integrou a mesa redonda “Cidadesesponja: novas soluções para drenagem urbana”

Executivo-sênior do New Development Bank - participou como palestrante da mesa Indicadores de empresas de saneamento


PRÊMIO JOVEM PROFISSIONAL AESABESP:

Leia reportagem completa

oportunidade e reconhecimento Edição 2020 teve recorde de submissões de trabalhos técnicos, com 7 finalistas na premiação

“A

AESabesp mais uma vez cumpre o seu papel como incentivadora de novos talentos no meio acadêmico e profissional no segmento de saneamento

ambiental, proporcionando a realização de sonhos a tantos jovens em formação ou recém-formados”. Assim avalia a química Maria Aparecida S. Paula, idealizadora e

coordenadora do Prêmio Jovem Profissional AESabesp, sobre a importância da 7º edição da premiação. Neste ano, foram 7 finalistas, “que deram muito trabalho para a banca avaliadora”. O 31º do Encontro Técnico teve recorde de submissões de trabalhos. Maria Aparecida conta com orgulho que foram avaliados 248 trabalhos “de altíssima qualidade” com aprovação de 204 válidos, que se distribuíram em 98 apresentações orais e pôsteres. Na busca de novas possibilidades de ampliar as oportunidades

esforços feitos e também a valorização do meu potencial como pro-

dos participantes desta edição, a AESabesp firmou parceria com a

fissional. Assim, o prêmio tem grande impacto na minha carreira

Fundação Escola de Sociologia Política de São Paulo – FESPSP, que

tanto como um estímulo pessoal, que me faz querer buscar novos

proporcionou bolsas de estudos para os 5 primeiros finalistas. Além

desafios, como uma excelente oportunidade de desenvolvimento

disso, o 1º lugar ganhou mais uma bolsa de estudo no valor de R$

profissional, graças à bolsa de estudos dada como prêmio.”, res-

12.464,00; o 2º colocado, um smartphone no valor de R$ 2.000,00,

salta Maria Eduarda Kounaris Fuziki – 1º lugar na premiação, com

e o 3º lugar ganhou uma inscrição para o 32º Encontro Técnico.

o trabalho: “Aplicação e Recuperação de Catalisador Core-Shell

Os vencedores foram Maria Eduarda Kounaris Fuziki (1º lugar), Élida Pereira Matos (2º lugar) e Iury Antonio R. F. de Carvalho (3º lugar).

Magnético no Processo de Remoção Fotocatalítica de Silênio”. “Ser uma das finalistas do Prêmio Jovem Profissional AESabesp é uma ótima experiência, pois permite o processo de aprendiza-

Experiência enriquecedora

gem, identificando os pontos de melhorias a serem desenvolvidos.

“Primeiramente, eu gostaria de parabenizar a AESabesp pela rea-

A oportunidade traz consigo o reconhecimento e a possibilidade

lização do Prêmio Jovem Profissional, uma iniciativa que estimula

de compartilhar os conhecimentos adquiridos, contribuindo para

o desenvolvimento tecnológico e científico voltado para questões

melhoria no saneamento. A participação no prêmio é uma ótima

práticas e demandas da sociedade, por meio da valorização dos

oportunidade para meu desenvolvimento profissional e pessoal.

profissionais envolvidos no processo. Participar do prêmio foi uma

Acredito que foi minha primeira participação de muitas que vi-

experiência única, que me permitiu apresentar o trabalho desen-

rão”, frisa Élida Pereira Matos - 2ª colocada com o trabalho “Ges-

volvido ao longo do meu mestrado na Universidade Tecnológica

tão dos Riscos Eficiência das Elevatórias de Água do Sistema Adu-

Federal do Paraná (UTFPR) - Campus Ponta Grossa. Sem dúvida,

tor Metropolitano de São Paulo”.

ser premiada com o primeiro lugar representa reconhecimento dos

Leia os artigos das duas primeiras colocadas nesta edição.

Outubro a Dezembro de 2020

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31º ENCONTRO TÉCNICO

COMPÊNDIO 30º ENCONTRO TÉCNICO: EDIÇÃO ETERNIZADA Livro destaca a edição histórica de 30 anos do maior congresso de saneamento e meio ambiente da América Latina. A publicação, resultado da parceria entre a Associação e a BBEditora, está disponível.

D Leia aqui a obra em PDF

estaque da programação do 31º En-

de sucesso em mais de três décadas, a Associação

contro Técnico AESabesp, o Compên-

dos Engenheiros da Sabesp lança o Compêndio

dio 30º Encontro Técnico AESabesp foi

AESabesp 30 anos. É um grande prazer ver este

lançado no segundo dia do evento, 25

trabalho, fruto da dedicação de tantos profissionais

de novembro. O livro fala sobre a edição histórica

competentes e engajados, ser concluído”, disse Vi-

de 30 anos do maior congresso de saneamento e

viana Borges, presidente da AESabesp, na ocasião

meio ambiente da América Latina – 30º Encontro

do lançamento.

Técnico AESabesp/Fenasan 2019.

O Compêndio é editado em inglês e português. O

A obra é resultado da parceria entre a Associa-

livro apresenta dados importantes do setor, pesqui-

ção dos Engenheiros da Sabesp – AESabesp e a

sas complementares e indicadores. Também traz um

BBEditora.

panorama dos trabalhos técnicos do 30º Encontro

Estiveram presentes no lançamento a presiden-

Técnico AESabesp/Fenasan, realizado em 2019.

te da AESabesp, Viviana Borges, o coordenador

“A AESabesp trabalha há 34 anos pelo desen-

do Conselho e Fundo Editorial da entidade, Nelson

volvimento do setor de saneamento, pela saúde e

César Menetti, os diretores Olavo Sachs (diretor téc-

pela qualidade de vida das pessoas, sempre pro-

nico e do 31° Encontro Técnico) e Luciomar Wer-

movendo o conhecimento, novas tecnologias e a

neck (Inovações), os coordenadores e membros da

inovação. O Compêndio é uma celebração desta

Comissão Organizadora do evento Maria Apa-

trajetória de sucesso. Uma parte importante da me-

recida Silva de Paula, Walter Orsatti, Sônia

mória da Associação, representada em seus even-

Nogueira, Alzira Garcia e Mariza Prota (co-

tos, poderá ser preservada. Ao mesmo tempo, a

ordenadoras das relatorias na 30ª edição

publicação ajudará a narrar a evolução dos estudos

do Encontro Técnico), além de Renata

e avanços na área de saneamento no país”, deta-

Hernandes, diretora da BBEditora.

lhou Viviana Borges.

“Com o olhar voltado para o futuro,

Na oportunidade, Renata Hernandes, diretora

mas sempre celebrando a trajetória

da BBEditora, falou sobre a oportunidade de fazer parte do projeto. “A gente sabe da importância do saneamento e do meio ambiente, tanto para a questão da economia quanto para a questão da sociedade como um todo. Então, para a BBEditora é muito importante mais uma vez fazer parte desse projeto junto a vocês”, disse. “Em 2018, tivemos a honra de fazer o projeto de 30 anos da entidade e esse ano estamos entregando, mesmo que virtualmente, esta edição de extrema importância para o país e para o setor como um todo”, ressaltou Renata.

8

Saneas


Colaboradores voluntários da organização do livro

Livro discute o Novo Marco Saneamento Adriano Candido Stringhini, diretor de

Alzira Amâncio Garcia

Gilberto Alves Martins

Luciomar dos Santos Werneck

Mariza Guimaraes Prota

Gestão Corporativa da Sabesp, e o advogado Tales José Bertozzo Bronzato participam como autores do livro “O Novo Marco Regulatório do Saneamento Básico: Lei Federal nº 14.026/2020”,

Nélson César Menetti

Maria Aparecida Silva de Paula

Olavo Alberto Prates Sachs

Sonia Maria Nogueira e Silva

coordenado por Augusto Neves Dal Pozzo e publicado pela editora Revista dos Tribunais (RT). Os especialistas integram a seção 5 da obra e assinam o texto intitulado “Camisa 10: O Novo Marco Legal do Saneamento; um olhar

Walter Antonio Orsatti

Viviana Marli Nogueira de Aquino Borges

para o futuro e as oportunidades de sinergia; exercício da titularidade; inte-

Simbolicamente, foi feita a entrega virtual do primeiro exemplar do livro para Nel-

Walter Antonio Orsatti e Viviana Marli Nogueira de Aquino Borges.

son César Menetti, coordenador do Con-

Também decisivo foi o trabalho dos

selho e Fundo Editorial da AESabesp. “Um

relatores convidados para o desenvolvi-

livro inovador com o registro documental

mento do Compêndio: Alisson Gomes de

de nosso trigésimo Encontro Técnico e Fe-

Moraes, Ana Maria de Oliveira Hamada,

nasan 2019. Fruto de um trabalho de dedi-

André Luís Sotero Salustiano Martim, An-

cação e entrega de nossos colaboradores,

tonio Carlos Roda Menezes, Eliana Guar-

que se esforçaram, praticamente por um

da, Eliane Ninomiya Martignago, Erasmo

ano, para a obtenção de um produto de

Gomes Santos Junior, Francismeire Ana

qualidade”, pontuou Menetti.

dos Santos Costa, Gilberto Berzin, Gisele

resse local e interesse comum”. Uma visão integrativa e modelos contratuais e societários”. O novo Marco do Saneamento também foi debatido em uma mesa redonda durante o 31º Encontro Técnico AESabesp.

Sinopse: O saneamento básico é fundamental para a vida em coletividade.

“Não foi somente transcrição das pa-

Machado Mota, Jorge Luiz Viana da Silva,

lestras. O time formado pela AESabesp e

José Marcius Marson Guidi, Lara Dias de

BBEditora também pesquisou indicadores

Jesus e Sousa, Luciane de Assunção Sil-

atingido um nível intermediário de de-

de referência mundial para a complemen-

va, Luciano Carlos Lopes, Lupe Marleny

senvolvimento econômico e social sem

tação das valiosas discussões das mesas re-

Balderrama Balderrama, Luisa Mendes

dondas e painéis. Neste trabalho, tivemos

Brasil, Olívia Gavioli Mateus, Gonçalves

ter se ocupado desse fundamental se-

variadas contribuições. Dentre elas, as da

Michelan, Patricia Barbosa Taliberti, Patri-

BBEditora como a Renata Hernandes e An-

cia Moreno Fernandes, Sandra Ely Santos,

drea Glayce”, completou o coordenador.

Sandreli Droppa Leta e Vanessa Laise Al-

coletivo que possa advir, encontra-se

meida Rodrigues.

orientado na proteção da qualidade de

Os colaboradores voluntários da orga-

Não existe nação no planeta que tenha

tor. O propósito de sua universalização, mais do que qualquer outro benefício

nização do livro foram Alzira Amâncio

Na ocasião, Viviana Borges anunciou

Garcia, Gilberto Alves Martins, Luciomar

ainda o lançamento do Compêndio 31º

dos Santos Werneck, Mariza Guimaraes

Encontro Técnico AESabesp. Também vir-

Prota, Nélson César Menetti, Maria Apa-

tualmente, foi realizada a assinatura do

tável, que permita uma condição de

recida Silva de Paula, Olavo Alberto Pra-

contrato com a BBEditora para a edição

vida exaltadora.

tes Sachs, Sonia Maria Nogueira e Silva,

2020 do livro.

vida das pessoas, com a consolidação de um ambiente abundante e susten-

Outubro a Dezembro de 2020

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31º ENCONTRO TÉCNICO

CURSO DE REGULAÇÃO TARIFÁRIA NO 31º ENCONTRO TÉCNICO: SUCESSO DE REALIZAÇÃO Rui Cunha Marques, professor da Universidade de Lisboa, destaca o envolvimento dos alunos com o tema e a importância da estrutura tarifária para sustentabilidade social e ambiental

M

ais uma inovação exitosa do gran-

Na entrevista, a seguir, o especialista português des-

de sucesso que foi a 31ª edição do

taca o amplo interesse dos profissionais pelo assunto e

Encontro Técnico AESabesp: o curso

a necessidade de uma estrutura tarifária adequada para

online sobre regulação tarifária no

promover a sustentabilidade financeira das companhias

saneamento, ministrado pelo Prof. Doutor Rui Cunha

e aumentar a cobertura dos serviços de água e esgoto.

Marques, da Universidade de Lisboa, Portugal. A iniciativa foi fruto da parceria da

Revista Saneas - Qual análise você faz da realiza-

AESabesp com a Associação para a

ção do curso “Regulação Tarifária para o Sanea-

Formação e Desenvolvimento em

mento”, promovido online durante o 31º Encon-

Engenharia Civil e Arquitectu-

tro Técnico AESabesp? Quais foram os principais

ra (FUNDEC), Universidade de Lisboa e o Instituto Superior Técnico de Lisboa (IST). As aulas, realizadas entre os dias 24 e 26 de novem-

Saneas

foram muito positivos. O tema é da maior importância e muito atual no presente contexto da prestação dos serviços de saneamento no Brasil. O curso focou, principalmente, no desenho e mode-

cas nacionais e internacio-

lação tarifária dos serviços de saneamento. Salientou

nais de modelação tarifária

que, na definição do sistema tarifário, naturalmente o

dos serviços de saneamento.

nível tarifário, ou seja, os valores monetários das ta-

De acordo com Marques, esse

rifas são fundamentais, mas também é importante a

tema é extremamente relevante

estrutura tarifária, notadamente, para enviar a mensagem certa ao mercado.

curso proporcionou experiências para

A estrutura tarifária é determinante para se atingir,

os alunos lidarem melhor com os desa-

por um lado, a sustentabilidade financeira, isto é, a re-

fios de regulação.

10

Rui Cunha Marques - A análise e o balanço do curso

bro, abordaram boas práti-

e atual no cenário brasileiro e o

Por Murillo Campos

tópicos discutidos nas aulas?

cuperação dos custos de prestação dos serviços, mas,

“Os participantes foram munidos de conhe-

por outro lado, também para alcançar a sustentabili-

cimentos e habilidades que lhe permitem desenhar e

dade social, promovendo a inclusão social e a susten-

modelar sistemas tarifários ou, pelo menos, dar contri-

tabilidade ambiental, incentivando a moderação do

buições relevantes neste escopo, na definição dos usu-

consumo de um recurso, que é escasso e valioso. Além

ários, no número e dimensão das faixas de consumo e

disso, o sistema tarifário deve também ser dotado de

dos níveis de subsídio”, afirma.

transparência e simplicidade administrativa.


Revista Saneas - Como foi a receptividade e interação dos

País. É natural que exista o interesse de profissionais do setor em

alunos com o assunto?

participar de eventuais novas edições do curso.

Rui Cunha Marques - A receptividade foi muito boa, com diversas perguntas e questões práticas. Mesmo considerando que o

Revista Saneas - Como você vê o atual cenário da regulação

curso foi lecionado virtualmente, que nunca é o mesmo do que

tarifária no Brasil e quais habilidades os integrantes do seg-

efetuado presencialmente, houve uma grande interação e envol-

mento precisam buscar para lidar com os novos desafios?

vimento dos alunos.

Rui Cunha Marques - Houve progressos, notadamente, nos últimos dois anos, mas existe ainda uma trilha grande para percorrer.

Revista Saneas - Qual a importância da capacitação e aper-

Em diversos prestadores de saneamento, os sistemas tarifários não

feiçoamento profissional em relação a este tema, levando

são ainda os mais adequados, possuindo estes uma grande capa-

em consideração as mudanças do Novo Marco Legal do Sa-

cidade de melhoria e otimização.

neamento no Brasil?

Note-se que quando se fala de estrutura tarifária, pelo menos

Rui Cunha Marques - É muito relevante, sobretudo tendo em

globalmente, não se está a discutir o aumento de tarifas, está-

consideração que o novo Marco Legal do Saneamento do Brasil

-se apenas a procurar desenhar uma estrutura tarifária que dê

reforça o papel dos contratos e da regulação

um melhor incentivo e sinal aos usuários,

por contrato e este foi um tópico muito de-

permitindo mais arrecadação e alcançando os

batido no curso, notadamente a definição

objetivos de sustentabilidade, seja financeira,

das tarifas no ambiente contratual, tendo em

social ou ambiental.

consideração a existência de uma regulação por agência, discricionária, e uma regulação por contrato. Revista Saneas - Como os aprendizados obtidos no curso podem ser aplicados no dia a dia pelos participantes?

Estas iniciativas de capacitação, não tenho dúvidas, dão grandes contribuições para a melhoria da qualidade do setor do saneamento no Brasil.”

É muito frequente ainda se encontrarem sistemas tarifários com pagamentos de consumos mínimos, um número muito elevado de faixas de consumo e com dimensões inadequadas, valores tarifários em algumas faixas inadequados e com relação entre si ruim, e com os tipos de usuários que não são os

Rui Cunha Marques - Os participantes fo-

mais adequados. Estes sistemas tarifários pre-

ram munidos dos conhecimentos e habilida-

cisam ser alterados e otimizados.

des que lhe permitem desenhar e modelar sistemas tarifários ou, pelo menos, dar contribuições relevantes neste escopo, na defini-

Revista Saneas - Além da realização do curso, você foi tam-

ção dos usuários, no número e dimensão das faixas de consumo

bém um dos palestrantes da mesa redonda “Indicadores das

e dos níveis de subsídio.

empresas de saneamento” no 31º Encontro Técnico. Como você avalia a iniciativa da AESabesp em propiciar ambien-

Revista Saneas - Ao que você relaciona esta ampla adesão de

tes de discussões e conhecimentos para os profissionais de

alunos pelo tema e o que representa este sucesso para você?

saneamento?

Rui Cunha Marques - Naturalmente, fico satisfeito e agradeço a

Rui Cunha Marques - Muito positiva. Foi uma honra participar

organização pelo convite e parabenizo a AESabesp pela pertinên-

da mesa redonda sobre indicadores de desempenho das empresas

cia do curso. Estas iniciativas de capacitação, não tenho dúvidas,

de saneamento, um tema também muito importante para o setor

dão grandes contribuições para a melhoria da qualidade do setor

do saneamento.

do saneamento no Brasil.

O Encontro Técnico foi um grande sucesso, com ilustres convidados e apresentadores, muito importante para a capacitação

Revista Saneas - Existe a possibilidade da abertura de novas

e aprendizagem dos participantes sobre as boas práticas e ino-

turmas, futuramente?

vações no saneamento. Foi mais uma grande contribuição que a

Rui Cunha Marques - Penso que sim. O tema é muito relevante,

AESabesp ofertou ao setor de saneamento no País. Um verdadeiro

eu diria dos mais importantes e prioritários do saneamento no

serviço público.

Outubro a Dezembro de 2020

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MATÉRIA DE CAPA

Um olhar para o futuro: o saneamento em transformação O setor de saneamento está trabalhando constantemente para aperfeiçoar os serviços e promover a universalização. Com elementos como o Novo Marco Regulatório, os avanços tecnológicos e a atuação destacada em função da pandemia de covid-19, o Saneamento passou a prioridade na pauta de discussões do país. Por Murillo Campos e Rhayana Araújo

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Saneas

Nesta reportagem especial, mostramos como estas transformações estão ocorrendo, as perspectivas e oportunidades para o setor e os impactos para a sociedade.


A nova revolução digital do saneamento Internet das Coisas, Inteligência Artificial, integração de sistemas... o setor de saneamento entrou de vez na era das tecnologias da Indústria 4.0. O objetivo é estreitar o relacionamento e melhorar a experiência dos clientes com os serviços de água e esgoto, essenciais para a qualidade de vida das pessoas. Além do mais, as inovações – cada dia mais necessárias – surgem com a missão de ajudar no alcance das metas de universalização do saneamento até 2033, conforme estabelecido no novo marco regulatório do setor. Conversamos com especialistas da Sabesp para saber o que já é realidade no atendimento da companhia e como a empresa vem atuando para se consolidar na nova revolução digital.

Alceu Segamarchi Junior

Diretor de Tecnologia, Empreendimentos e Meio Ambiente da Sabesp Revista Saneas - O que se espera de mudanças e impactos em relação à inovação com a implantação do Novo Marco Legal do Saneamento? Alceu Segamarchi Junior - Com o novo Marco Legal do Saneamento, a expectativa geral criada no setor é de que as atuais lacunas de atendimento, especialmente, aos setores mais frágeis da sociedade serão agora conduzidas com compromissos e metas mais precisas no sentido da inclusão e da universalização. Esses objetivos já fazem parte do planejamento estratégico da Sabesp, os quais podem ser alavancados com a adoção de tecnologias inovadoras e inclusivas. O objetivo concreto da gestão da inovação na Sabesp é a melhoria contínua dos serviços prestados, o aumento da eficiência dos processos operacionais, a redução das pressões exercidas ao meio ambiente e sua recuperação, a inclusão digital no relacionamento com os clientes, aspectos esses fundamentais para se atingir a universalização e enfrentar a concorrência decorrente do novo Marco Legal. Revista Saneas - Quais tecnologias a Sabesp vem aplicando em seus serviços e de qual forma elas estão contribuindo para melhorar o atendimento e experiência dos clientes? Alceu Segamarchi Junior - A Sabesp sempre esteve na vanguarda na prestação de serviços de saneamento e sempre se preocupou em melhorar o atendimento e relacionamento com seus clientes. A transformação digital é fundamental para melhorar

este quesito e já é uma realidade na companhia. Utilizamos uma série de tecnologias dotadas da Internet das Coisas (IoT) para proporcionar aos clientes uma experiência positiva e diferenciada no relacionamento com a empresa. Podemos citar a medição de consumo utilizando IoT, onde os clientes podem acessar os dados via aplicativo e realizar a gestão do consumo. E a hidrometria inteligente, em que o cliente pode acompanhar seu consumo a qualquer momento e receber orientações técnicas para melhor planejar suas despesas e detectar possíveis perdas ou desperdícios. A transparência no relacionamento com o cliente é um objetivo central, que pode acompanhar os dados dos mananciais de abastecimento público, integrar-se com agências de atendimento virtuais dotadas de inteligência artificial, proporcionando uma grande interatividade por meio das plataformas mobile e de relacionamento social. Revista Saneas - E quais iniciativas e novidades a Companhia vem desenvolvendo para aplicação nos próximos anos? Alceu Segamarchi Junior - Além das iniciativas de relacionamento com o cliente que proporcionam uma experiência positiva de interação, vistas acima, temos também sendo implementadas plataformas digitais de pagamento de contas, acessíveis aos clientes que não tem ou não querem ter acesso à rede bancária. Outras iniciativas no âmbito operacional são o uso de nanobolhas como auxiliares e otimizadores de processos de tratamento

Outubro a Dezembro de 2020

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MATÉRIA DE CAPA

de esgoto, de córregos e de mananciais, o uso de veículos aéreos não tripulados – VANTs para os levantamentos topográficos em obras e empreendimentos, ou mesmo para a coleta e transporte de amostras de água para as análises físico-químicas. Além disso, temos ainda o uso de fibras óticas internas às tubulações da Sabesp para veicular dados de tecnologia da informação em geral, a detecção de perdas por meio de processos digitais de correlação e com sensores internos às tubulações, sensores remotos de parâmetros de qualidade da água, dentre muitos outros. Revista Saneas - Como você avalia a cultura de inovação dentro das companhias de saneamento no Brasil, atualmente? Alceu Segamarchi Junior - Historicamente, o setor de saneamento no Brasil sempre sofreu influência do mercado, da indústria e dos fornecedores, o que, não raro, induz as empresas a adquirirem tecnologia de forma reativa e pontual, sem dispor de ferramental adequado de gestão e análise de resultados, submetendo-se muitas vezes a aquisição de inovação resultante de um modismo, em que tudo gira em torno de adotar essa ou aquela tecnologia supostamente salvadora. Isso acarreta um risco maior de insucessos, com desperdício de tempo e recursos. A nova cultura da inovação que a Sabesp preconiza é fruto de um modelo de gestão em que a empresa de saneamento seja a protagonista e indutora do mercado de saneamento no desenvolvimento e adoção de soluções tecnológicas inovadoras de forma eficiente e centrada em resultados para os desafios específicos das companhias. Revista Saneas - Há um grande desafio no setor de levar os serviços de água e esgoto para todas as pessoas, especialmente aquelas de regiões rurais e mais vulneráveis. Qual o papel da inovação neste contexto? Alceu Segamarchi Junior - As inovações são fundamentais com certeza, porém devem ser associadas ao custo-benefício oferecido. Atualmente, temos uma grande gama de tecnologias que podem ser aplicadas, porém muitas vezes temos um impacto muito grande nos custos envolvidos diante do regime tarifário regulado, que inviabilizam sua aplicação. Então, precisamos encontrar soluções inovadoras que venham ao encontro dessa visão sistêmica. Nesse sentido, a inovação não necessariamente é algo disruptivo, impactante, até porque o setor de saneamento, assim como as demais “utilities”, é altamente intensivo em recursos para a implantação e operação dos sistemas, então não pode existir a lógica da tecnologia “descartável” que ocorre em outros setores. Ou seja, as transformações devem decorrer da cultura da criatividade para o desenvolvimento de soluções muitas vezes simples, mas eficazes. No conceito de gestão tecnológica que a Sabesp adota, com estímulo a “open innovation”, a energia criativa pode estar no lado de fora da empresa, e é lá que vamos buscá-la para desenvolver soluções que possam viabilizar o atendimento aos segmentos mais vulneráveis da sociedade de forma efetiva e com menores custos.

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Saneas

Revista Saneas - Apesar de essencial, o saneamento básico, muitas vezes, ainda não é reconhecido no dia a dia da população. De qual forma o uso da tecnologia pode ajudar a melhorar a percepção das pessoas sobre a importância do setor? Alceu Segamarchi Junior - Não diria exatamente que não é reconhecido, pois sua ausência ou deficiência atinge frontalmente a dignidade das pessoas, e isso é amargamente percebido de imediato. Então, talvez quem mais reconheça sua importância são exatamente os setores mais fragilizados da sociedade que não tem pleno acesso aos serviços. Para esses, talvez a mais rudimentar solução, ao ser implementada, poderá fazer toda a diferença. A indiferença quanto à importância dos serviços de saneamento pode ocorrer nos setores menos vulneráveis da sociedade. Nesses casos, a percepção da importância pode ser aumentada pela melhoria das características dos serviços prestados com foco no atendimento ao cliente, na antecipação de seus problemas, na confiabilidade dos serviços, no atendimento individualizado e na otimização da experiência do cliente com os serviços prestados. Para isso, as tecnologias podem nos ajudar na interface entre a população e as companhias de saneamento, seja em ampliar o relacionamento, como também nos aspectos de educação social e ambiental para conscientização dos benefícios coletivos proporcionados pelos serviços de saneamento. Revista Saneas - Quais lições a crise do novo coronavírus trouxe ao setor no ramo tecnológico e o que ficará de aprendizado no pós-pandemia? Alceu Segamarchi Junior - Não há dúvidas que o saneamento está diretamente e nevralgicamente associado à saúde pública, de maneira que a qualidade dos serviços prestados proporciona melhoria quase instantânea dos indicadores como mortalidade infantil, quantidade de internações nos hospitais, perdas de horas de trabalho e melhora das condições de saúde em geral. Notadamente, durante a pandemia em que o sistema de saúde é exigido ao extremo, com elevadas taxas de ocupação dos leitos nos hospitais, a contribuição do saneamento se fez presente, pois haveria uma demanda ainda maior por leitos hospitalares provocada por doenças de veiculação hídrica. A higiene pessoal e a higienização dos ambientes são uma condição prioritária no combate à evolução do contágio, onde se demonstra a importância da presença do saneamento. Soluções tecnológicas relativas ao atendimento em condições de isolamento social também se fizeram presentes e permitiram o enfrentamento da crise: os atendimentos em plataformas virtuais à distância, a continuidade das atividades das empresas em regime de teletrabalho, com forte demanda por serviços tecnológicos de informação e de dados, o acesso transparente às informações, todos esses elementos puderam ser otimizados com a utilização da tecnologia.


Monica Porto

Diretora de Sistemas Regionais da Sabesp Revista Saneas - No que a Companhia já

Revista Saneas - Quais tecnologias a Sa-

avançou no contexto de inovação no

besp vem aplicando em seus serviços

atendimento ao público nos últimos

nas cidades do interior e litoral de

anos e quais as expectativas para os

São Paulo e de qual forma elas estão contribuindo para melhorar

próximos?

o atendimento e experiência dos

Monica Porto - A Sabesp tem uma

clientes?

superintendência específica que faz a

Monica Porto - Estamos em fase de

gestão comercial e de relacionamento

contratação de um sistema que possi-

com os clientes, onde são desenvolvidas

bilitará a análise qualitativa de amostras,

e implantadas ações corporativas que vi-

examinando os seguintes parâmetros:

sam a melhoria constante do atendimento.

Potencial Óxido Redução (Redox), Potencial

Já temos implantado em toda companhia o aplicativo Sabesp Mobile, responsável por dis-

Hidrogeniônico (pH), Temperatura, Turbidez, Cloro Residual Livre, Condutividade e Residual de Fluoretos, em todas as etapas do processo do tratamento de

ponibilizar diversos serviços aos clientes, agências móveis em todas as Unidades de Negócio, que facilitam o

água, garantindo a mesma qualidade da nossa água, só que com

deslocamento para atender nosso cliente em ambientes fora da

mais agilidade.

empresa, além de atendimento presencial em postos públicos,

As análises serão feitas por instrumentação de forma online,

como Poupatempo e Agiliza.

onde um Controlador Lógico Programável – CLP, espécie de es-

Outros destaques com o advento da pandemia são a maior dis-

trutura parecida com um computador comum, capacitado com

ponibilidade dos serviços na agência virtual, a melhoria nos siste-

inteligência artificial emitirá todos os parâmetros a serem analisa-

mas telefônicos URA, que permitem um atendimento eletrônico

dos, permitindo controlar todo sistema de dosagens das estações

ágil sem intervenção de atendentes, e podemos citar também o

e outros periféricos a distância.

Sabesp Fácil, uma ferramenta que faz o gerenciamento de docu-

Outro exemplo é a solução da Internet das Coisas (IoT), atra-

mentos para a realização dos atendimentos.

vés da utilização de sensores (Tags) em pontos estratégicos com

Para o futuro, estamos planejando a contratação de atendi-

computadores, tablets e celulares. Podemos fazer o monitora-

mento via WhatsApp, a habilitação de cartão de crédito e/ou apli-

mento em tempo real de serviços individualizados da operação,

cativos como PicPay para pagamento de contas. Além do atendi-

diagnósticos e ações para os eventos dos sistemas de telemetria,

mento presencial com agendamento de horário, a implantação

telemedição, automação e também para gestão, controle e acom-

de quiosques de atendimento e já estamos testando como piloto

panhamento das solicitações de serviços geradas pelos canais de

o sistema Net@, sistema comercial que agilizará o processo de

relacionamento com os clientes, agências comerciais, setores

atendimento ao cliente e ampliará a quantidade de serviços nos

operacionais (serviços e manutenção) e aplicações corporativas da

canais virtuais.

Sabesp. Tudo isso funcionando 24 horas por dia, inclusive nos feriados e finais de semana.

Revista Saneas - Há um grande desafio no setor de levar

Podemos citar ainda o SAP Plant Maintenance (SAP PM),

os serviços de água e esgoto para todas as pessoas, espe-

módulo do sistema de gestão, capaz de gerenciar todas as

cialmente aquelas de regiões mais afastadas e vulneráveis.

atividades de manutenção eletromecânica nas nossas plantas

Como a tecnologia pode ajudar a garantir o acesso desta

de água e esgotos, incluindo informações, notificações, ma-

população ao saneamento?

nutenção corretiva e preventiva e reparos, entre outras me-

Monica Porto - A Sabesp, contando com o avanço e utilização de

didas, que têm como foco manter um sistema técnico ideal.

novas tecnologias cada vez mais, pode otimizar tempo e recursos,

Atualmente, estamos com um projeto piloto na Unidade de

já que a inovação tecnológica permite a operação e monitoramen-

Negócio de Itatiba.

to remotos em tempo real dos nossos sistemas, mesmo nos locais

É importante ressaltar que as inovações não param, a tecnolo-

mais distantes das sedes ou sistemas isolados. Nossos colabora-

gia é a nossa maior aliada, pois ela nos traz agilidade, eficácia e

dores estão sendo capacitados constantemente para poder serem

eficiência econômica, sempre com foco no nosso cliente.

realocados para funções estratégicas nas áreas de operação.

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MATÉRIA DE CAPA

Revista Saneas - O que se espera de mudanças e impactos

Revista Saneas - Apesar de essencial, o saneamento bá-

em relação à inovação com a implantação do novo Marco

sico, muitas vezes, ainda não é reconhecido no dia a dia

Legal do Saneamento?

da população. De qual forma a tecnologia pode ajudar

Monica Porto - O novo marco atribui à Agência Nacional de

a melhorar a percepção das pessoas sobre a importância

Água e Saneamento Básico (ANA) a competência para instituir

do setor?

normas de referência para a regulação dos serviços públicos de

Monica Porto - Temos um bom exemplo na Sabesp de como a

saneamento básico. As normas devem estabelecer padrões de

tecnologia pode ajudar as pessoas a perceberem melhor o traba-

qualidade e eficiência na prestação dos serviços, bem como so-

lho que executamos para levar água tratada para suas casas e reti-

bre a regulação e a padronização dos contratos, além de instituir

rar os esgotos, encaminhando-os para as estações de tratamento,

metas de universalização dos serviços e redução das perdas de

visto que todas as nossas obras ficam enterradas.

água, entre outros.

Nos tapumes das obras, estamos inserindo um QR Code, que

E é com esta responsabilidade que necessitamos cada vez mais

possibilita escanear esse código com a câmera do seu próprio

de agilidade, ganhos de qualidade, produtividade e conhecimento

celular e imediatamente o interessado será direcionado para um

dos processos que envolvem nossas atividades. Para isso, as tecno-

filme que mostra como está sendo feita a obra da sua rua, do

logias de automação industrial podem e devem ser aplicadas aos

seu bairro, o estágio em que se encontra, valores investidos, po-

sistemas de saneamento básico.

pulação beneficiada etc. Essa tecnologia possibilita à população

Diante deste cenário, a Sabesp vem investindo em inovações e tecnologias que contribuirão para atendimento às metas com

perceber e visualizar todo o trabalho que realizamos para levar qualidade de vida para todos.

relação a sermos cada dia mais eficientes, ágeis e por consequên-

Outro exemplo é a detecção de vazamento, onde por meio

cia mais competitivos, nos mantendo na posição de liderança no

da tecnologia, com gerenciamento de plantas e redes, além de

setor de saneamento no País.

equipamentos hidráulicos de última geração, GSI e soluções móveis, com diversos tipos de sensores e sistemas acústicos e até imagens via satélite, nos permitem encontrar o local exato da perda de água, diminuindo o desperdício e preservando o meio ambiente. Revista Saneas - Quais lições a crise do novo coronavírus trouxe ao saneamento o que ficará de aprendizado no pós-pandemia? Monica Porto - A Sabesp não parou seu trabalho, uma vez que prestamos um serviço essencial, fundamental em qualquer situação em especial em momentos de crise de saúde pública. Nos municípios atendidos pela companhia realizamos, em conjunto com o Governo do Estado e as prefeituras, várias ações de higienização em torno de hospitais e locais de grande aglomeração, doações de caixas d’água para a população mais vulnerável e instalação de lavatórios em pontos estratégicos. É importante destacar, principalmente, que essas ações nos mostraram que a tecnologia, aliada ao pensamento estratégico e bons profissionais, nos permitiram continuar atendendo nossos clientes em todas as suas demandas com o uso de plataformas digitais, que estão à disposição de todos via celular ou computador. A tecnologia aliada aos processos de saneamento vai permitir que toda a organização esteja sempre ativa, otimizando a entrega de bens e serviços a fim de proporcionar a continuidade e consistência para servir sempre e cada vez melhor a população do Estado de São Paulo.

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Saneas


CAPA MATÉRIA DE CAPA ENTREVISTA

“É um novo momento, com desafios e oportunidades, e tenho certeza de que a Sabesp será protagonista”, diz Adriana Manicardi Superintendente de Suprimentos e Contratações Estratégicas da Sabesp comenta o que esperar de mudanças na cadeia produtiva do setor com o Marco Legal e as expectativas da companhia

O

novo Marco Legal do Saneamento prevê a atração de bilhões em investimentos para o atingimento das metas de universalização até 2033. Um dos setores mais impactados será o de ges-

tão de suprimentos e contratações, por conta da necessidade de manutenção e expansão da infraestrutura brasileira a fim de ampliar a cobertura e a qualidade dos serviços de água e esgoto no País. Em entrevista à Revista Saneas, a superintendente de Suprimentos e Contratações Estratégicas da Sabesp, Adriana Manicardi, comenta as expectativas do mercado com os novos

Por Murillo Campos

investimentos, a importância da qualificação de fornecedores e as perspectivas de atuação da companhia. Leia a seguir.

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CAPA MATÉRIA DE CAPA ENTREVISTA

Revista Saneas - O que muda na cadeia de suprimentos e

Paulo, com a presença de representantes de importantes entida-

contratações com o Novo Marco Legal do Saneamento?

des do mercado financeiro e fornecedores.

Adriana Manicardi - Com a entrada do novo Marco Legal do Sa-

Essas práticas estão cada vez mais relevantes e não vejo como

neamento, o setor de saneamento receberá grandes investimentos.

“moda”, nem como algo que envolve as empresas de grande por-

Segundo estudo realizado pela Associação Brasileira das Concessio-

te, mas como tendências que vieram para ficar, que tenderão a ser

nárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon), em

cada vez mais incorporadas aos contratos.

parceria com a KPMG, os valores devem chegar a R$ 753 bilhões,

O segundo ponto que considero uma questão extremamente de-

sendo R$ 255 bilhões para recuperação das redes existentes, ou

licada é a análise do risco de toda a cadeia. Na Sabesp, já tivemos

seja, R$ 57,9 bilhões por ano até 2033.

experiências negativas, onde um conjunto de fornecedores depen-

Esses investimentos movimentarão toda a cadeia de suprimentos do setor, gerando empregos diretos e indiretos, sem contar todos os benefícios ambientais e de saúde que serão promovidos

diam todos de um mesmo fornecedor de matéria-prima ou insumo. É o que chamo de “fornecedor da segunda camada”. Gerir todo esse processo, criando e ampliando a cadeia é algo extremamente relevante para que toda a de-

pela universalização. Quando observamos ainda o estudo,

manda possa ser atendida, com qualidade e

identificamos que o setor da construção civil

regularidade, contribuindo para as metas da

é o maior impactado, representando 65%

universalização.

da demanda, seguido do setor de tubulações (13%), equipamentos (9%) e elétrica/ A&C (9%). Nesse sentido, as perspectivas são de crescimento de todos os segmentos que compõem

As perspectivas são de crescimento de todos os segmentos que compõem a cadeia de suprimentos do setor.”

Revista Saneas - Como você avalia a qualificação dos fornecedores do setor, atualmente? Adriana Manicardi - Podemos segmentar os

a cadeia de suprimentos do setor. No entanto,

fornecedores em materiais/equipamentos e

podemos ter impactos relativos à capacidade

obras/serviços. No caso de materiais e equi-

de atendimento e preços, caso a cadeia não esteja totalmente

pamentos, temos um processo muito bem estabelecido de quali-

estruturada para o crescimento que ocorrerá.

ficação de fornecedores, o que resulta na aquisição de produtos de qualidade reconhecida. A Sabesp é referência nesse processo,

Revista Saneas - Diante da nova lei, como as empresas de-

cujo banco de fornecedores qualificados é adquirido por outras

vem preparar para o fornecimento de produtos e serviços

companhias operadoras para seleção de fornecedores nos proces-

a fim de contribuir com a universalização dos serviços de

sos de contratação.

água e esgoto até 2033?

Mesmo com esse processo bem estabelecido, trabalhamos for-

Adriana Manicardi - As empresas devem se preparar para este

temente na busca de ampliar o número de fornecedores sempre,

salto que o setor irá dar com o investimento. Notamos que as enti-

buscando maior competividade e regularidade no abastecimento

dades e associações que abarcam os fornecedores desse segmento

de nossas unidades de negócio.

têm se debruçado em identificar e avaliar as oportunidades de ex-

Quando falamos de qualificação de fornecedores que envolvem

pansão e necessidades de investimentos no aumento da capacida-

obras e serviços, a natureza do desafio é outra. Por envolver alocação

de produtiva.

de mão de obra, a qualificação está diretamente ligada à capacitação

Destaco dois pontos importantes. Um deles é que esses ges-

e preparação dos profissionais envolvidos na prestação dos serviços.

tores estabeleçam um modelo de gestão que os torne “elegí-

As empresas precisam investir em aumentar o nível de qualifica-

veis” a pleitear investimentos para a expansão de seus negó-

ção da mão de obra e criar mecanismos de redução da rotatividade

cios a juros mais competitivos. Empresas que possuam boas

dos profissionais de serviços operacionais. Com a expansão dos ser-

práticas ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em

viços, reter essa força de trabalho qualificada deverá ser um grande

inglês) poderão obter benefícios no momento de discutir li-

desafio das empresas.

nhas de crédito.

Nosso objetivo é ampliar ainda mais nosso quadro de forne-

Esse assunto foi discutido recentemente no Simpósio de Forne-

cedores qualificados. O processo de qualificação é permanen-

cedores, realizado em parceria da Sabesp com a ABES Seção São

temente aberto, ou seja, a qualquer momento um fornecedor

18

Saneas


Custo da universalização do saneamento no Brasil Fonte: Abcon e KPMG

que tenha interesse em

As especificações técnicas

fazer parte dos nos-

e termos de referência

sos certames pode entrar em contato conosco. Todas as informações

são

encontradas no site da Sabesp. Acreditamos

R$255 bi

R$753bi

para recomposição da depreciação

o uso de madeira de po-

luição sonora, coleta seletiva e uso racional de água e energia. Todos es-

que

quanto mais fornece-

R$498bi

dores qualificados, maior

para novos investimentos

o estímulo para o desenvolvimento de uma cadeia de qualidade, e principalmente, ganhamos em com-

Revista Saneas - Neste contexto de

tentáveis, em especial, reflorestamento,

de investimentos até 2033

petitividade.

trazem conceitos sus-

ses aspectos são monitorados e acompanhados durante a execução dos contratos, observando todos os requisitos legais relacionados.

R$144 bi

A Sabesp também

para água

R$354 bi

gestão da cadeia de suprimentos e contratações, o que a Sabesp vem fazendo

para esgoto

para garantir atendimento eficiente aos

de logística reversa para embalagens de produtos químicos e

seus clientes?

contratos de permutas

Adriana Manicardi - A Sabesp mantém o diálogo

para sucatas de hidrômetros, que minimizam o descarte

permanentemente aberto com seus fornecedores, entidades e associações representativas na busca de identificar necessidades

aplica os conceitos

de materiais e contribui com economias para a companhia.

e requisitos das partes, visando trabalhar o aprimoramento dos

O constante aprimoramento desse processo nos estimula a

processos de contratações, seja no desenvolvimento de novas

cada vez mais buscar inovações tanto nos produtos como nos

qualificações, termos de referências e editais.

processos. Um exemplo disso é o trabalho em desenvolvimento

O novo Regulamento Interno de Licitações e Contratações abriu portas para o desenvolvimento de novas modelagens de contra-

para a qualificação de tubos para esgotos que utilizam resíduos de PVC do processo de fabricação de tubos.

tações, aproximando ainda mais os interesses da companhia na

Outra novidade é o enfoque no desenvolvimento de novas

busca de melhor desempenho e qualidade dos fornecedores, com

modelagens para contratação. Já desenvolvemos a modelagem

melhores condições de competividade.

de contratação de conjunto motobombas, considerando a projeção de gasto de energia elétrica no período, permitindo a

Revista Saneas - Quais as medidas e novidades adotadas pela

aquisição de equipamentos mais eficientes e com menor im-

companhia para assegurar boas práticas de fornecedores em

pacto ambiental.

prol dos padrões de qualidade e de responsabilidade ambiental? Adriana Manicardi - A Sabesp possui um sistema de compras

Revista Saneas - Quais as perspectivas da Sabesp dentro

sustentáveis que envolve vários requisitos avaliados em todo o

deste mercado para os próximos anos diante do novo mar-

processo. Isso começa na pré-qualificação dos fornecedores,

co regulatório?

onde verificamos o processo produtivo, desde a matéria-prima

Adriana Manicardi - A Sabesp tem perspectivas positivas com a

até a finalização do produto, considerando aspectos relaciona-

implantação do novo Marco Legal. Será uma grande alavanca para

dos à responsabilidade socioambiental, riscos toxicológicos dos

o setor, considerando as metas de universalização e os investimen-

produtos e combate ao trabalho forçado e o não emprego de

tos previstos. É um novo momento, com desafios e oportunidades,

mão de obra infantil.

e tenho de que certeza a Sabesp será protagonista.

Outubro a Dezembro de 2020

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CAPA MATÉRIA DE PONTO CAPA DE VISTA

Tecnologia aliada ao enfrentamento de possíveis crises

O Por Rhayana Araújo

20

Saneas

Sistema Nacional das Indústrias de

para os próximos anos, a Revista Saneas conversou

Equipamentos para Saneamento Bá-

com a presidente da entidade, Estela Testa.

sico e Ambiental - Sindesam conduz

O setor de saneamento tem um compromisso com

informações atualizadas ao mercado

o desenvolvimento do país nos próximos anos. Se-

de saneamento básico e dialoga tecnicamente com

gundo Estela, as metas de universalização de água e

todos os interessados em inovações tecnológicas

esgoto tratados, cujo plano é atingir essa marca em

na preservação ambiental. Para falar mais sobre

2033, trazem uma responsabilidade maior de inves-

as perspectivas e desafios do setor de saneamento

timentos para que o Brasil seja um lugar em que a


Sobre o Sindesam Por meio de Guia de Compras do Sindesam, o mercapopulação seja beneficiada com saneamento e água tratada. Isso já considerando os efeitos da pandemia de Covid-19 sobre a economia e o setor. Estela afirma que, apesar da crise econômica e ambiental pela qual o mundo passa, o Brasil vai conseguir avançar no setor. “As projeções da Secretaria Nacional de Saneamento do Ministério do Desenvolvimento Regional - MDR mostram que nos próximos 15

do brasileiro pode contatar as melhores empresas de equipamentos para saneamento do Brasil. O guia visa oferecer uma fonte de consulta atualizada e ágil para projetistas, engenheiros e técnicos de aplicação, instalação, operação e manutenção de equipamentos, bem como para profissionais sanitaristas especializados na prevenção e no controle ambiental.

anos serão investidos entre R$ 500 bilhões e R$ 700 bilhões no

Outra opção importante de atualização, é o Guia de

setor de saneamento no Brasil. Esses recursos vão desenvolver ain-

Máquinas Datamaq, no site www.datamaq.org.br,

da mais a nossa indústria e nossa capacidade de gerar tecnologia.

para encontrar informações de toda a indústria de

Além disso, vão permitir a criação de milhares de postos de tra-

equipamentos do Brasil, inclusive do setor de sanea-

balho. Claro que a crise provocada pela Covid-19 deu uma freada

mento ambiental.

na nossa economia, mas tenho certeza de que nos próximos anos vamos retomar com força a atividade econômica no Brasil”, frisa. Sobre a crise desencadeada pela pandemia do novo coronavírus, a especialista observa que a economia não foi prejudicada só no Brasil, mas desacelerou no mundo inteiro. “Mas

adversos. Aprendemos muito com tudo o que vivemos em 2020

já estamos vendo sinais de retomada em alguns países. Para o

e creio que a sociedade também passou a olhar o saneamento

setor de saneamento, há um ponto relevante a ser destacado:

básico e os profissionais da área como fundamentais para ajudar

a importância que o investimento nessa área tem para o com-

na solução de crises sanitárias”, destaca.

bate a doenças como a covid-19”, relata.

A presidente do Sindesam afirma, categoricamente, que a

A crise sanitária revelou que o saneamento é parte de

tecnologia é uma arma poderosa para se encontrar soluções

uma cadeia importante para garantir a saúde pública. Es-

que impactem positivamente sobre questões como poluição

tela pontua que populações que vivem em locais sem es-

das águas e preservação ambiental. “O Brasil tem indústrias,

trutura de saneamento e água tratada ficam mais expostas

instituições, universidades, órgãos e pesquisadores empe-

a doenças e essa vulnerabilidade tem

nhados em desenvolver tecnolo-

reflexo quando se vive uma situação

gias para a área de saneamento.

tão dramática como a pandemia que

Basta acreditarmos no nosso po-

enfrentamos em 2020.

tencial e investirmos mais, que va-

Indagada sobre de que forma o profissional do setor de saneamento deve se preparar para o enfrentamento de possíveis outras crises, Estela Testa diz que é necessário para o setor entender sobre as novas tecnologias que vão impactar no dia a dia daqui para frente. “Precisamos trabalhar com uma visão mais ampla analisando sempre cenários futuros para que tenhamos soluções mais rápidas, quando enfrentarmos crises como a atual. A pandemia deste ano mostrou que temos capacidade para nos adaptarmos a cenários

mos colher resultados relevantes

Eu acredito na tecnologia como uma ferramenta imprescindível para avançarmos no tratamento de água e esgoto no Brasil e também na preservação da nossa natureza

nos próximos anos. Eu acredito na tecnologia como uma ferramenta imprescindível para avançarmos no tratamento de água e esgoto no Brasil e também na preservação da nossa natureza. No Brasil, temos toda tecnologia de primeira linha encontrada no mundo e o Sindesam está preparado pra qualquer fornecimento que os players do Saneamento possam precisar”, finaliza.

Outubro a Dezembro de 2020

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CAPA MATÉRIA DE CAPA ESPECIAL

O novo profissional do Saneamento A Revista Saneas ouviu Monica Porto, Professora Dra. e diretora de Sistemas Regionais da Sabesp, e Adriano Stringhini, diretor de Gestão Corporativa da Sabesp, que falaram sobre o tema em um painel do 31º Encontro Técnico AESabesp, realizado em novembro de 2020

D Por Rhayana Araújo

22

Saneas

iante da crise causada pela pandemia

dou as perspectivas de atuação do profissional de

de covid-19, vários setores necessitam

saneamento básico face ao cenário atual. O debate

se readaptar para o enfrentamento

teve participação de Monica Porto, professora Dra. e

das dificuldades desencadeadas e se

diretora de Sistemas Regionais da Sabesp, e Adriano

prepararem para outras crises que possam surgir. E

Stringhini, diretor de Gestão Corporativa da Sabesp.

o profissional do setor de saneamento básico é um

Uma das questões mais debatidas é o fato de que

dos que precisam enfrentar estes desafios. Diante do

existem outros contornos na profissão, além da questão

cenário, a Revista Saneas ouviu dois especialistas do

tecnológica, e é necessário mostrar ao profissional do

setor, que explanaram as principais mudanças signifi-

setor de saneamento que essa é uma área que precisa

cativas de formação e prática que os profissionais do

ter um envolvimento social expressivo. O profissional do

futuro vão enfrentar.

futuro não deve ter só formação tecnológica, precisa ir

Um dos painéis do 31º Encontro Técnico AESabesp – realizado de 24 a 26 de novembro - abor-

além, principalmente numa carreira que tem um impacto social e econômico forte.


neamento de uma forma completa e de

Segundo Monica Porto, há uma grande demanda por competências cognitivas no Fórum Econômico Mundial, mas também há uma demanda na competência socioemocional. E, de acordo com Monica, esse desenvolvimento de competências é muito importante quando se tem um mundo cada vez mais globalizado e interconectado. E, por isso, é necessário que os profissionais tenham uma formação mais ampla, para que eles trabalhem em equipes multidisciplinares. Monica Porto também afirma que, ao

Quanto mais se estuda, mais a pessoa tem a tendência de defender aquilo que estudou sem levar em consideração especificidades das situações, mas é necessário estar aberto.”

maneira interdisciplinar e que é necessário também falar sobre esgoto. Quem trabalha no setor de saneamento tem essa missão de transformação de pensamento e de enxergar que tudo está integrado. O diretor de Gestão Corporativa da Sabesp pontua, ainda, que o profissional tem que estar aberto e apto a ouvir outras experiências de forma interdisciplinar e enxergar as diferentes visões de outras áreas. “É muito natural ser dominado pelo

longo do tempo, os profissionais que

ego e quanto mais se estuda, mais a pes-

estão sendo formados hoje vão ter suas

soa tem a tendência de defender aquilo

carreiras modificadas, vai ser algo dinâmi-

Adriano Stringhini trouxe uma ideia de

que estudou sem levar em consideração

co nas próximas décadas. “Não sabemos

propósito para a profissão - que é fomen-

especificidades das situações, mas é ne-

como serão as questões como transfor-

tar a transformação organizacional, para

cessário estar aberto”.

mação digital e as próprias relações no

a melhoria da qualidade de vida e do meio

Em síntese, o profissional do futuro

ambiente de trabalho. Isso tudo vai exi-

ambiente. “Essa transformação é muito

do setor de saneamento precisa ser vi-

gir do profissional um nível de adaptação

importante para o enfrentamento de pos-

sionário, criativo, comunicativo e ágil na

muito grande. É uma questão de desa-

síveis crises no futuro”.

resolução de problemas. Além de levar

prender e reaprender”, pontuou.

Ele afirma que, atualmente, tem se dado

em consideração os fatores socioeconô-

A professora frisa, ainda, que uma das

muita prevalência à água e cada vez mais a

micos envolvidos no setor e, por isso, ter

habilidades importantes que se destaca

sociedade está tomando consciência disso,

uma formação mais humanizada, para

hoje em dia - e vai ser cada vez mais valo-

graças aos professores da área que sempre

que a competência socioemocional seja

rizada no futuro - é o profissional demons-

destacam a importância de enxergar o sa-

reforçada.

trar agilidade na solução de problemas. E, neste quesito, os engenheiros têm vantagem. “O engenheiro é treinado para resolver problemas, a gente já tem aí um treinamento desde os primeiros anos do curso de desenvolver essa competência de resoluções, o que mostra um cenário positivo na carreira deste profissional no futuro”, disse. Porém, uma das preocupações levantadas por Monica são as habilidades de comunicação e de negociação. “As nossas escolas brasileiras ainda não preparam os engenheiros na totalidade quando se trata de questões que eles precisam no futuro. As competências de criatividade, comunicação e negociação precisam ser inseridas nos cursos e defendo que devemos integrar esses ensinamentos desde o início da formação”, finaliza a professora.

Outubro a Dezembro de 2020

23


CAPA MATÉRIA DE CAPA ESPECIAL

Cintia Fornazari: adaptação e inovação Com 27 anos em Treinamento e Desenvolvimento em empresas nacionais e mul-

Quais os pontos positivos e negativos do home office?

tinacionais de diversos segmentos e

Trabalhar em casa tem muitos pontos positi-

atuando como gestora de Desenvol-

vos, como mais tempo para a família, flexibili-

vimento Organizacional, Cintia For-

dade na agenda, melhor alimentação, não usar

nazari aborda as possíveis mudan-

transporte público, entre outros. Entretanto as

ças desencadeadas pela pandemia

dificuldades ainda não são poucas: problemas

de covid-19 na rotina do profissional

de conectividade e tecnologia, instabilidade de

de Saneamento.

energia, falta de contato com as pessoas do

A atual crise sanitária desencadeada

trabalho, interrupções da vida caseira, falta de

pela pandemia de Covid-19 ocasionou mu-

espaço adequado e até mesmo o exercício da

Cintia Fornazari

danças na rotina em diversas empresas, com o

liderança. Isso tudo faz com que a continuida-

Gestora de Desenvolvimento Organizacional

home office, por exemplo. Essa será uma con-

de do Home Office dependa muito do segmen-

dição permanente ou acabará com a chegada

to e área de atuação do profissional, pois não é

da vacina?

para todo tipo de empresa. Pense em fábricas,

Vivemos um momento sem precedentes. Fo-

por exemplo.

ram muitas mudanças rápidas, adaptações de última hora e uma transformação imensa na

Como o profissional do setor de sanea-

forma de trabalhar, como a adoção de novas

mento deve se preparar para enfrenta-

tecnologias e o home office. Na verdade, esse

mento das mudanças globais, tais como

é um desejo antigo de muitas corporações.

mudanças climáticas, crises hídricas e pan-

Até mesmo o grande guru da administração,

demias, como a covid-19?

nosso querido Peter Drucker, visionariamente

Como qualquer outro profissional que vive

já afirmava lá em 1989 que “sair de casa para

nesse planeta, humanizando-se cada dia mais!

o escritório é uma coisa obsoleta”. Então, po-

Mantendo-se informado e atualizado. O profis-

demos olhar para isso como uma nova reali-

sional de saneamento cuida de gente: o mate-

dade sim. Mas vale analisar com mais cuidado

rial fim de trabalho desse profissional é só um

alguns pontos relevantes.

– gente! Para enfrentar as mudanças que virão,

Mesmo com a chegada da vacina, que vai

e elas virão, não se pode afastar o olhar do hu-

fazer com que muitos voltem ao modelo ante-

mano. Todas as crises que você me questiona

rior, não podemos deixar de lado essa nova re-

envolvem pessoas. O que faz com que as en-

alidade: o coronavírus exigiu de todos nós no-

genharias que trabalham o saneamento, cada

vos hábitos e novas rotinas, novas maneiras de

vez mais, precisem entender que conscientizar

relacionamentos. E, para alguns setores, isso

e sensibilizar a população deve fazer parte do

pode sim vir a ser permanente para o mundo

negócio em si, e não de cargos, funções ou

corporativo. Positivo, até! É uma vida nova.

atuações profissionais isoladas.

Precisaremos a cada dia mais nos adaptar,

Enfrentar o novo requer novas habilidades e

sermos ousados e inovadores. O insucesso é

atitudes. Liderança Mobilizadora e Inteligência

certo para aqueles que não entenderem isso

Emocional serão comportamentos fundamen-

de uma vez. Para muitas empresas o home

tais para essa virada de chave.

office veio para ficar sim.

24

Saneas


ARTIGO TÉCNICO

Maria Eduarda Kounaris Fuziki (1,2) Graduada em Engenharia Química (2017) pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e Mestre em Engenharia Química (2019) pela mesma instituição, atualmente é Doutoranda do Programa de Pós- Graduação em Engenharia Química da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Tem experiência em pesquisa na área de Fotocatálise, Adsorção e Tratamento de Efluentes. Foi aluna de Iniciação Científica em Projeto da Sanepar/Fundação Araucária com enfoque no tratamento de água para remoção de metais pesados. Daniele Toniolo Dias (1) Graduada em Física-Bacharelado (1998, UEPG), Mestre (2001) e Doutora (2005) em Física pela UEM. Professora Associado e chefe administrativa no Departamento Acadêmico de Física da UTFPR-PG. Coordenadora do Laboratório multidisciplinar de Propriedades Termo-Ópticas (LAPTO), tem experiência em Espectroscopia Fotoacústica (PAS) e Difusividade Térmica (OPC/T2F) de Materiais. É docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica/Engenharia Química (PPGEM/PPGEQ) da UTFPR-PG. Rodrigo Brackmann (1) Professor Adjunto do Departamento de Química e professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos (PPGTP) da UTFPR, campus Pato Branco. Atua principalmente na área de Catálise Heterogênea com ênfase em síntese de catalisadores para aplicações energéticas e ambientais. Engenheiro Químico graduado pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), mestre e doutor em Engenharia Química pela COPPE - Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Giane Golçalves Lenzi

(1)

Professora Adjunta da Universidade Federal do Paraná (UTFPR) Campus Ponta Grossa. Membro permanente dos Programas de Pós-graduação em Engenharia Química e Engenharia de Produção da UTFPR. Graduação (2001), Mestrado (2004) e Doutorado (2008) em Engenharia Química na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Tem experiência em Catálise Ambiental, Sustentabilidade, Síntese e Caracterização de Catalisadores Metálicos, Bimetálico; tratamento de efluentes sintéticos e industriais por processos oxidativos avançados.

Aplicação e recuperação de catalisador Core-Shell magnético no processo de remoção fotocatalítica de selênio Resumo

ingestão excessiva ou deficiente de Se pode afetar o

A poluição de corpos d‘água por selênio (Se) é preo-

crescimento normal do cabelo

cupante pelos perigos que a ingestão excessiva desse

perma

elemento traz aos organismos vivos. A fotocatálise

trações de selênio em tecidos de peixes jovens podem

heterogênea permite remover íons do selênio pre-

acarretar deformidades espinhais e craniofaciais 7. Nos

sentes em solução aquosa, porém, a separação do

seres humanos, a intoxicação crônica por Se (selenose)

fotocatalisador ao final do processo ainda representa

pode causar queda de unhas e cabelos, fadiga, irrita-

uma limitação para aplicação desse processo em larga

ção e problemas nervosos 3. Alguns estudos realizados

escala. Os fotocatalisadores core-shell sintetizados no

com um grupo de residentes de uma cidade no norte

presente trabalho (CoFe2O4@TiO2) se mostraram mag-

da Itália sugerem que o consumo a longo prazo de

neticamente separáveis, o que é uma melhoria para

água contendo altos níveis de Se(VI) pode estar rela-

a recuperação e reuso dos catalisadores. Além disso,

cionado ao aumento da incidência de certos tipos de

os fotocatalisadores se mostraram bastante ativos

câncer e doenças neurodegenerativas

para fotorredução do selênio, sendo possível atingir

motivo, é recomendado que a ingestão de selênio por

mais de 90% de remoção em 2 min de iluminação em

um ser humano adulto não ultrapasse o limite de 400

vários testes. O planejamento experimental utilizado

µg/dia 11.

6

5

e a qualidade do es-

desses animais, enquanto que altas concen-

8–10

. Por esse

permitiu compreender como os fatores pH, tempera-

Em solução aquosa, o Se é mais comumente encon-

tura de calcinação e percentual de isopropóxido afe-

trado como íons inorgânicos – seleneto (Se2-), selenito

tam o percentual de remoção de selênio.

(SeO32-) e selenato (SeO42-)

PALAVRAS-CHAVE: Fotocatálise Heterogênea, Remoção de Metal Pesado, Catalisador CoFe2O4@TiO2.

12–14

– que são considera-

dos mais tóxicos que as formas orgânicas de Se, como selenometionina 3. Além disso, a contaminação por Se em ambientes aquáticos é ainda mais alarmante

Introdução

devido à sua capacidade de bioacumulação na cadeia

O selênio (Se) é um elemento traço, presente natural-

alimentar 2. Assim, o Ministério da Saúde brasileiro es-

mente em rochas, solo e alimentos

, cuja ingestão

tabeleceu a concentração de 0,01 mg L-1 como sendo

em pequenas quantidades é essencial para os orga-

a concentração máxima permitida de selênio em água

nismos vivos

. Em grandes quantidades, porém, o

para padrão de potabilidade 15. O problema é que cer-

Se pode ser prejudicial. Em roedores, por exemplo, a

tas atividades humanas, como mineração, agricultura

1–3

3,4

Outubro a Dezembro de 2020

25


ARTIGO TÉCNICO

e queima de combustíveis fósseis têm afetado o ciclo natural do

• Síntese dos fotocatalisadores, iniciando-se pela síntese do mate-

selênio, levando a um aumento de sua concentração em determi-

rial core magnético (CoFe2O4), seguida de seu recobrimento com

nadas áreas

a camada shell (TiO2), obtendo-se, assim, uma estrutura core-

, como em regiões próximas a usinas a carvão

.

2,16

7,17

A fotocatálise heterogênea, então, surge como uma alterna-

-shell;

tiva para remoção do Se da água, superando certas limitações

• Caracterização dos fotocatalisadores por diferentes técnicas: di-

apresentadas por outras tecnologias de remediação do selênio

fratometria de raios X (DRX), microscopia eletrônica de varredu-

. A fotocatálise tem como princípio o uso de um fotocatalisa-

ra (MEV), espectroscopia por energia dispersiva de raio X (EDS),

dor (semicondutor) que, ao absorver fótons com energia igual ou

medidas de adsorção-dessorção de N2 associada ao modelo de

maior que seu band gap, produz pares de elétrons/lacunas (e /h )

Brunauer, Emmet e Teller (BET), determinação do ponto de carga

18

-

+

capazes de promover reações redox de substâncias adsorvidas em sua superfície

. No caso do selênio, a fotocatálise heterogê-

19,20

nea permite reduzir as formas Se(IV) e Se(VI) a selênio elementar – Se(0), removendo, assim, esse elemento do meio aquoso 18.

zero (PCZ) e espectroscopia fotoacústica (PAS); • Realização de testes de fotólise e de adsorção dos íons selenito; • Realização de testes de fotorredução do Se(IV), empregando-se os fotocatalisadores sintetizados.

Estudos realizados a esse respeito indicaram que o processo pode

• Aplicação de planejamento composto central rotacional e meto-

ser realizado usando dióxido de titânio como fotocatalisador, sob

dologia de superfície de resposta na análise dos efeitos de parâ-

condições de pH ácido e com a adição de ácido fórmico

. Os

metros de síntese (percentual de precursor de TiO2 e temperatu-

trabalhos a esse respeito, no entanto, limitaram- se à utilização de

ra de calcinação) e de parâmetro operacional (pH da solução) na

21

fotocatalisadores na forma de partículas finas em suspensão 26

18,21–

. O emprego de catalisadores nessa forma garante uma grande

área superficial disponível para reações e diminui as limitações de

remoção do Se(IV); • Realização de testes de separação magnética e de fotoestabilidade.

transferência de massa e fóton apresentadas por catalisadores imobilizados

, mas acarreta maiores custos e gasto de tempo

27

nas etapas posteriores de separação do catalisador

Metodologia

. Assim, há

Reagentes empregados na síntese dos fotocatalisadores: ni-

espaço ainda para melhoria do processo de separação do fotoca-

trato de cobalto (Co(NO3)2.6H2O, 98% Synth), nitrato de ferro

talisador empregado na remoção do selênio. Recentemente, o uso

(Fe(NO3)3.9H2O, 98% Synth), isopropóxido de titânio (IV) 97% (Al-

de catalisadores com núcleos magnéticos tem ganhado espaço,

drich), ácido cítrico anidro, 99,5% (Perquim), monoetilenoglicol

pois eles combinam a grande área superficial dos catalisadores em

(99,5%, Dinâmica) e etanol absoluto, (≥99,9, Honeywell).

28

suspensão e a facilidade da separação magnética 29–31. Assim, no presente trabalho, fotocatalisadores magnéticos core-shell, CoFe2O4@TiO2, foram sintetizados pela combinação

Síntese dos fotocatalisadores (1) A primeira etapa da síntese consistiu do preparo material core,

de metodologias sol-gel e aplicados à fotorredução de selênio. A

a ferrita de cobalto (CoFe2O4), escolhida como núcleo do fotoca-

técnica de planejamento experimental (planejamento composto

talisador em virtude de suas excelentes propriedades magnéticas,

central rotacional) foi aplicada a esse estudo, sendo avaliados os

que são preservadas mesmo quando o material é aquecido (até

efeitos da concentração de isopropóxido de titânio usado na sín-

1000°C)32,33. O preparo da ferrita se deu pelo Método de Pechi-

tese, da temperatura de calcinação e do pH da solução durante

ni, com pequenas adaptações. Inicialmente, os precursores me-

a fotocatálise.

tálicos – Co(NO3)2.6H2O e Fe(NO3)3.9H2O – foram misturados em água na proporção estequiométrica Co:Fe de 1:2. À essa solução

Objetivos

de íons metálicos (M) foi adicionado ácido cítrico (AC), na razão

O presente trabalho teve como objetivo geral a aplicação do fo-

estequiométrica AC:M de 3:1. A mistura foi aquecida a 60ºC e

tocatalisador magnético CoFe2O4@TiO2 à fotorredução do Se(IV),

assim permaneceu durante 30 minutos, sob agitação constante.

com a finalidade de remover esse contaminante da água, bem

Após esse tempo, etileno glicol (EG) foi adicionado, na proporção

como a avaliação da possibilidade de reutilização do fotocatalisa-

mássica de 40:60 de EG:AC, e a mistura foi mantida à 85ºC até a

dor. Para concretização do objetivo geral, foram considerados os

formação de uma resina polimérica escura, de tom avermelhado.

seguintes objetivos específicos:

Por segurança, todo procedimento de síntese da resina polimérica

26

Saneas


foi realizado dentro de uma capela. Uma vez formada, a resina foi

N2 e os dados foram analisados com base no modelo proposto por

então transferida para um cadinho e calcinada a 400°C por 5h,

Brunauer, Emmet e Teller (modelo BET). Antes da análise, as amos-

realizando-se um aquecimento lento a uma taxa de 1 °C min .

tras foram tratadas a 150 ºC por 3 h sob vácuo para remoção

Ao final da calcinação, deixou-se o material resfriar naturalmente

de água dos poros. As medidas de adsorção foram conduzidas a

até atingir a temperatura ambiente e, por fim, ele foi triturado e

77 K utilizando equipamento Quantachrome Instruments, modelo

armazenado para a etapa seguinte.

NOVA touch LX2, e o software TouchWin versão 1.0 para análise

-1

de dados. (2) As partículas de ferrita sintetizadas foram, então, recobertas

O experimento dos 11 pontos, por sua vez, foi empregado para

com uma camada dióxido de titânio (TiO ), um semicondutor

determinação do ponto de carga zero dos fotocatalisadores. Nos

não tóxico, quimicamente estável e de baixo custo já amplamen-

testes, 11 Erlenmeyers contendo, cada um, 50 mL de água des-

te reconhecido por sua atividade fotocatalítica

. A síntese da

tilada tiveram seu pH ajustado para diferentes valores (2, 3, 4, 5,

camada shell foi realizada por uma metodologia sol-gel basea-

6, 7, 8, 9, 10, 11, 12), pela adição de soluções de HCl e NaOH.

da no trabalho de Li et al. (2008)36, tendo-se como precursor do

Cerca de 50 mg de amostra (fotocatalisador) foram adicionados a

TiO2 o isopropóxido de titânio (IV). Cerca de 100mg de partículas

cada Erlenmeyer. As suspensões foram mantidas em um agitador

magnéticas (CoFe2O4) foram dispersas em 40 ml de uma mistura

orbital a 25 ºC e 150 rpm por 24h. Após esse tempo, determinou-

de isopropóxido de titânio e etanol, com concentração de iso-

-se o pH final das amostras. Por meio de um gráfico pH final versus

propóxido conhecida (% de Isop.). Essa suspensão foi sonicada

pH inicial, foi possível determinar o PCZ como sendo a média dos

por 8 minutos e, em seguida, 12 ml de uma mistura de etanol e

valores de pH final que tendem a um mesmo valor, independente-

água ultrapura (5:1 v/v) foram adicionados, gota a gota, à sus-

mente do valor inicial de pH 37.

2

34,35

pensão, sob constante agitação. A agitação foi mantida por 12h,

Finalmente, a técnica de espectrometria fotoacústica foi utiliza-

a 200rpm e 25 ºC. Após esse tempo, o precipitado foi separado

da para determinação do band gap e espectros de absorção das

magneticamente, com um ímã de neodímio, seco em uma estufa

amostras de fotocatalisadores. As medidas foram realizadas em

e, em seguida, calcinado em uma dada temperatura (T). A taxa

laboratório, com auxílio do seguinte aparato experimental: lâm-

de aquecimento usada na calcinação foi de 1ºC min-1 e a cada

pada de arco de xénon de 1000 W (66926, Newport Corporation/

100°C, a temperatura era mantida constante por 30min. Ao se

Oriel); monocromador (74100, Newport Corporation/Oriel); ajus-

atingir a temperatura final de calcinação desejada para o material,

tador mecânico (SR540, Stanford Research Systems) para modular

T, essa condição era mantida por 5h. Ao término desse período, o

o feixe de luz; célula fotoacústica de laboratório em alumínio com

material era deixado para resfriar naturalmente.

dimensões de até 10 mm de diâmetro e 1,5 mm de espessura e com janela de quartzo transparente de 6 mm de diâmetro e 2

Caracterização dos fotocatalisadores

mm de espessura; microfone capacitivo (4953, Brüel & Kjaer) de

As fases cristalinas dos materiais sintetizados foram determina-

12 mm de diâmetro, com ganho de 50 mV/Pa, uma frequência

das pela técnica de difratometria de raios X (DRX), realizada em

de resposta entre 3 e 10 kHz, posicionado a 15 mm da câmara;

equipamento MiniFlex 600 (corrente de 15 mA e tensão de 40

amplificador lock-in (SR830, Stanford Research System). Os espec-

kV), com radiação Cu Kα (λ = 1,5406 Å). Os difratogramas foram

tros fotoacústicos foram obtidos de 23 Hz e registrados entre 225

registrados em intervalo de varredura de 2θ = 5 – 90º, em modo

e 700 nm. Os dados foram adquiridos usando um computador

step scan, com passo de 0,05º e tempo por passo de 2 segundos.

pessoal, e os espectros de PAS foram normalizados em relação ao

A morfologia e topografia superficial dos fotocatalisadores

sinal do carvão.

foi determinada por microscopia eletrônica de varredura (MEV) e também por meio de espectros de EDS (Energy Dispersive X-

Testes fotocatalíticos

-Ray Spectroscopy), obtidos microscópio eletrônico de varredura

Uma vez sintetizados e caracterizados, os fotocatalisadores foram

Tescan, Vega 3 LMU equipado com detector de energia dispersiva

aplicados na fotorredução de Se(IV) em testes que avaliaram os

(EDS) Oxford, AZTec Energy X-Act.

efeito de parâmetros de síntese dos fotocatalisadores (% de Isop.

Para determinação da área superficial dos fotocatalisadores fo-

e T) e de um parâmetro operacional (pH) no percentual de remo-

ram realizadas medidas experimentais de adsorção/dessorção de

ção de selênio do meio aquoso. Os experimentos foram realizados

Outubro a Dezembro de 2020

27


ARTIGO TÉCNICO

em uma câmara fotocatalítica de corpo metálico, equipada com

Tabela 1: Ensaios fotocatalíticos realizados conforme planejamento

uma lâmpada de vapor de mercúrio de 250 W. A temperatura

composto central rotacional de três fatores (α = 1,68)

durante os ensaios foi controlada com auxílio de um banho ul-

Ensaio

T (°C)

% Isop. (v/v)

pH

tratermostático (Tágua=20 ºC) e a mistura da suspensão foi ga-

1

381 (-1)

8,0 (-1)

2,61 (-1)

2

619 (+1)

8,0 (-1)

2,61 (-1)

3

381 (-1)

17,0 (+1)

2,61 (-1)

µg L-1) e ácido fórmico (50 µL de ácido fórmico 85%), com pH

4

619 (+1)

17,0 (+1)

2,61 (-1)

ajustado entre 2 e 5. Após a adição do catalisador, a suspensão

5

381 (-1)

8,0 (-1)

4,39 (+1)

foi mantida no escuro por 30 minutos, antes que a lâmpada fosse

6

619 (+1)

8,0 (-1)

4,39 (+1)

ligada. Amostras foram coletadas ao longo do tempo de exposi-

7

381 (-1)

17,0 (+1)

4,39 (+1)

8

619 (+1)

17,0 (+1)

4,39 (+1)

9

300 (-α)

12,5 (0)

3,50 (0)

da concentração de selênio por espectrofotometria de absorção

10

700 (+α)

12,5 (0)

3,50 (0)

atômica com geração de hidretos (HG-AAS). Para estimativa do

11

500 (0)

5,0 (-α)

3,50 (0)

erro, foram consideradas as cinco replicatas do ponto central do

12

500 (0)

20,0 (+α)

3,50 (0)

13

500 (0)

12,5 (0)

2,00 (-α)

14

500 (0)

12,5 (0)

5,00 (+α)

15

500 (0)

12,5 (0)

3,50 (0)

ferindo apenas pela ausência de radiação (lâmpada desligada) no

16

500 (0)

12,5 (0)

3,50 (0)

teste de adsorção e pela não adição do fotocatalisador no teste de

17

500 (0)

12,5 (0)

3,50 (0)

fotólise. Por fim, um teste de fotoestabilidade do catalisador foi re-

18

500 (0)

12,5 (0)

3,50 (0)

19

500 (0)

12,5 (0)

3,50 (0)

rantida por um agitador magnético, operando em alta velocidade de agitação. Em cada teste, 0,0250 g de fotocatalisador (0,1 g L-1) foram suspensos em 250 mL de solução de Selênio (IV) (500

ção à radiação, filtradas com filtros de seringa (poros de 0,22 μm), diluídas em solução de HCl 10%, de modo a adequar sua concentração à curva de calibração, e armazenadas para determinação

planejamento experimental, com 95% de confiança no teste t de Student. Também foram realizados testes de adsorção e de fotólise em condições experimentais similares às descritas anteriormente, di-

alizado em cinco ciclos consecutivos de fotocatálise de 10 minutos cada um, replicando-se as condições do teste do que apresentou o melhor resultado de remoção. Ao término de cada ciclo, uma determinada quantidade de padrão de Se(IV) e de ácido fórmico

Resultados obtidos

era adicionada à suspensão, com o intuito de se reestabelecer a concentração inicial de selenito para o início de um novo ciclo.

Caracterização dos catalisadores Observando-se a Figura 1a, nota-se que o aumento do % de Isop.

Planejamento Experimental

durante na síntese fez com que a cor dos fotocatalisadores se tor-

O planejamento de experimentos orientou tanto a síntese dos

nasse mais clara, enquanto que a elevação da temperatura de calci-

fotocatalisadores como a realização dos testes fotocatalíticos, de-

nação fez com que os catalisadores apresentassem uma coloração

terminando o valor dos parâmetros % de Isop. (percentual de

mais amarelada/amarronzada. De qualquer modo, os fotocatali-

isopropóxido usado na síntese), T (temperatura de calcinação)

sadores core-shell CoFe2O4@TiO2 sintetizados apresentaram cores

e pH (pH da solução usada no teste de fotocatálise). Optou-se

muito diferentes da ferrita de cobalto (Figura 1b) e do TiO2 (Figura

por um planejamento do tipo composto central rotacional, que

1c) puros.

permite a elaboração de modelos de segunda ordem para a resposta, a construção de superfícies de resposta e a otimização das condições de operação 38,39. Com base no planejamento, foram realizados 19 ensaios de fotocatálise, conforme descrito na Tabela 1. Os resultados foram analisados no software Statistica da StatSoft®.

28

Saneas


distribuído na superfície analisada da amostra. Isso sugere um bom recobrimento das partículas magnéticas com a camada de TiO2, excetuando-se pequenas falhas ou regiões de camada shell menos espessa, indicadas pela presença de um ponto de maior concentração de ferro e cobalto no canto inferior direito da amostra.

Figura 1: Fotografias de: (a) Fotocatalisadores core-shell CoFe2O4@TiO2 sintetizados segundo planejamento composto central de dois fatores (α = 1,44); (b) Material core (CoFe2O4); (c) Material shell (TiO2).

A imagens de MEV (Figuras 2 e 3) revelaram o aspecto poroso e rugoso da superfície dos fotocatalisadores, que, aparentemente,

Figura 4: Mapeamento da concentração elementar superficial de amostra

não sofreu uma influência marcante do % de Isop. (Figura 2) nem

de fotocatalisador CoFe2O4@TiO2 (12,5% de Isop. e 500°C) por EDS.

da temperatura de calcinação (Figura 3) Nos difratogramas de raios X (Figura 5), foi possível identificar para o material core (Figura 5d) os picos característicos da ferrita de cobalto em espinélio (ICSD 00-022-1086), localizados nos valores de 2θ iguais a 30.1° (2 2 0), 35.4° (3 1 1), 37.0° (2 2 2), 43.0° (4 0 0), 53.4° (4 2 2), 56.9° (5 1 1) e 62.6º (4 4 0). Quanto ao dióxido de titânio, observou-se que os catalisadores calcinados em temperaturas menores ou iguais a 500°C apresentaram predominantemente a fase anatase do TiO2 (ICSD 01-071-1167), indicada no difratoFigura 2: Imagens de MEV de partículas de fotocatalisadores com a

grama pelos picos localizados em 25.3° (1 0 1), 37.7° (0 0 4), 48.0°

mesma temperatura de calcinação (500°C) e diferentes percentuais de

(2 0 0), 53.8° (1 0 5), 55.0° (2 1 1), 62.6° (2 0 4) e 68.6° (1 1 6).

isopropóxido: (a) 5%, (b) 12,5% e (c) 20% (ampliação de 5000x)

Já catalisadores calcinados em temperaturas maiores apresentaram grande quantidade de rutile (ICSD 01-076-0318), relacionada aos picos em 27.4° (1 1 0), 36.1° (1 0 1), 39.2° (2 0 0), 41.2° (1 1 1), 44.0° (2 1 0), 54.3° (2 1 1) e 56.6° (2 2 0). Após o recobrimento das partículas com TiO2, ocorreu uma redução considerável na intensidade dos picos característicos da ferrita (Figura 5 d), restando apenas um sinal bastante reduzido do pico de CoFe2O4 em torno de 35º (Figura 5 a-c).

Figura 3: Imagens de MEV de partículas de fotocatalisadores com o mesmo volume de isopropóxido (12,5%) e diferentes temperaturas de calcinação: (a) 300°C, (b) 500°C e (c) 700°C. (ampliação de 5000x)

As imagens obtidas por EDS (Figura 4), por sua vez, revelaram que o elemento titânio (Ti) se encontra quase que uniformemente

Outubro a Dezembro de 2020

29


ARTIGO TÉCNICO

Figura 5: Difratogramas de (a-b) fotocatalisadores CoFe2O4@TiO2 produzidos a partir de soluções com diferentes percentuais de isopropóxido de titânio (IV) e calcinados a 500°C; (d) da ferrita de cobalto; e de (e-g) fotocatalisadores CoFe2O4@TiO2 produzidos a partir de solução com 12,5% de isopropóxido de titânio (IV) e calcinados em diferentes temperaturas.

Os difratogramas sugerem, ainda, que a elevação da temperatura de calcinação de 300 a 700 °C (Figura 5 e à g) provocou um aumento na cristalinidade das amostras, evidenciado pelo estreitamento dos picos, bem como favoreceu a formação da fase de rutile (Figura 5-g). Os valores de tamanho médio de cristalitos (Tabela 2) – calculados pela Equação de Scherrer – e os dados de percentual de fases do TiO2 (Figura 6) – determinados pela Equação de Spurr – confirmam essas observações. Tabela 2: Tamanho médio dos cristalitos calculado a partir da equação Figura 6: Percentual de anatase e de rutilo nas amostras de CoFe2O4@TiO2

de Scherrer para diferentes fases. AMOSTRA

Tamanho médio dos cristalitos (nm) Anatase (101)

Ferrita de cobalto (400°C)

17,6

-

-

CoFe2O4 (359°C, 7,25%)

18,6

12,2

-

CoFe2O4 (641°C, 7,25%)

55,1

26,9

98,0

ram áreas menores. Por outro lado, não foi possível identificar uma

CoFe2O4 (359°C, 17,75%)

26,2

8,8

-

tendência muito clara para a propriedade ponto de carga zero (PCZ

CoFe2O4 (641°C, 17,75%)

54,3

54,9

84,6

– Tabela 3) das amostras. Os valores de PCZ variaram entre 6,69 a

CoFe2O4 (300°C, 12,5%)

22,1

7,5

-

CoFe2O4 (700°C, 12,5%)

58,0

49,5

95,9

CoFe2O4 (500°C, 12,5%)

28,1

36,1

56,4

CoFe2O4 (500°C, 5,0%)

19,7

28,2

-

CoFe2O4 (500°C, 20,0%)

21,3

23,0

-

30

Saneas

Rutilo (110)

Os valores de área superficial específica dos fotocatalisadores (Ta-

CoFe2O4 (113)

bela 3) variaram bastante, entre 14 e 130 m2 g-1. Maiores % de Isop. contribuíram para obtenção de áreas superficiais mais extensas, enquanto que amostras calcinadas em T mais altas apresenta-

7,41, com valor médio de 7,03.


Tabela 3: Valores de área superficial específica e ponto de carga zero

entre 400 e 500 nm, causando o deslocamento da banda de absor-

(PCZ) para diferentes fotocatalisadores.

ção na direção dos comprimentos de onda mais longos (redshift). Esse comportamento está possivelmente relacionado a alterações

Catalisador

estruturais causadas pelo aquecimento do material, uma vez que

Área superficial (m² g-1)

PCZ

tais catalisadores foram produzidos usando quantidades iguais do

T (ºC)

% Isop. (v/v)

359

7,25

78

6,78

641

7,25

14

7,41

359

17,75

119

6,75

-VIS, foi possível encontrar a energia de band gap conforme é mos-

641

17,75

17

7,31

trado na Figura 8, pela interseção com o eixo x com a reta dada

300

12,50

130

7,35

pela Equação (1):

700

12,50

51

7,06

500

12,50

29

6,69

500

5,00

40

7,07

na qual Eg é a energia do gap, hν é a energia do fóton e A é o co-

500

20,00

51

6,95

eficiente de absorção. Os resultados de band gap são apresentados

500

12,5

24

7,09

na Tabela 4.

500

12,5

26

6,91

precursor de dióxido de titânio e, portanto, devem ter um teor de TiO2 semelhante. Além disso, com base nos espectros fotoacústicos na região UV-

(α(hν))2 = A (hν –Eg)

Equação (1)

Os efeitos do % de Isop. e T no sinal fotoacústico (PA) estão evi-

Ao comparar os resultados de PAS para o gap band (Figura 8), per-

denciados nas Figuras 7a e 7b, respectivamente. Para catalisadores

cebem-se dois tipos de comportamento. Para as amostras C5, C7,

produzidos em uma mesma temperatura de calcinação (500 °C), o

C9, C12 e C13, observou-se que o sinal formava um pico mais am-

aumento do % de Isop. causou um aumento no sinal da banda de

plo e plano, com um único valor de band gap bem definido (veja,

absorção ampla localizada entre 225 e 400 nm e uma diminuição

tipicamente, o gráfico C5 inserido na Figura 8). No entanto, para

no sinal a partir de 400 nm (Figura 7a). Já em amostras produzi-

as amostras C6, C8 e C10 (amostras calcinadas em temperaturas

das com o mesmo % de Isop. (Figura 7b), o aumento de T afetou

maiores), os espectros apresentaram um pico mais definido, mas

fortemente a intensidade do sinal em torno de 350 nm, que fica

com vários valores de band gap (veja, como exemplo, o gráfico C6

mais baixo para temperaturas de calcinação mais altas. Além disso,

inserido na Figura 8), provavelmente causado por diferentes transi-

valores maiores da variável T parecem intensificar o sinal do ombro

ções e mudanças no tamanho das partículas em regiões do espec-

Figura 7: (a) Comparação do sinal fotoacústico de amostras calcinadas a 500°C; (b) comparação do sinal fotoacústico de amostras produzidas utilizando-se solução com 12,5% (v/v) de isopropóxido de titânio.

Outubro a Dezembro de 2020

31


ARTIGO TÉCNICO

foi limitada. Quando a lâmpada foi ligada, porém, ficou nítida a significância da fotocatálise para o processo, dado que houve um aumento acentuado na remoção, que atingiu o valor de 90% em apenas 5 minutos de exposição à radiação (lado direito da Figura 9). Em seguida, realizou-se um teste de fotólise (Figura 10), que indicou que a redução do selênio na ausência do fotocatalisador é desprezível, o que, novamente, comprova a ocorrência da fotocatálise do Se.

Figura 8: Comparação dos espectros fotoacústicos normalizados

tro visível. A amostra C11 (12,5% de Isop. e calcinada a 500°C), por sua vez, apresentou um comportamento intermediário entre esses dois grupos (amostra C11 inserida no centro da Figura 8). Os valores de band gap das amostras variaram entre 2,43 e 3,47 eV,

Figura 9: Remoção (%) de Se(IV) ao longo do tempo, com 60 min de

o que é próximo dos valores encontrados na literatura para o TiO2

adsorção no escuro seguido de 60 min de fotocatálise. Fotocatalisador

(3,2 eV) e o CoFe2O4 (2,31 eV) puros 40.

CoFe2O4@TiO2 produzido com solução de 12,5% de isopropóxido de titânio e calcinado a 500°C. Concentração de catalisador=0,1g.L-1,

Tabela 4: Valores de band gap dos fotocatalisadores determinados pelo

pH=3,5.

método linear. Catalisadores Método Linear Eg (eV)

T (ºC)

% Isop. (v/v)

359

7,25

2,99

641

7,25

2,43; 3,06; e 3,47

359

17,75

3,10

641

17,75

2,46; 2,96; e 3,49

300

12,50

3,11

700

12,50

2,54; 3,06; e 3,48

500

12,50

2,89; 2,97; e 3,44

500

5,00

2,97

500

20,00

3,07

Figura 10: Remoção (%) de Se(IV) ao longo do tempo por fotólise.

A partir desses resultados, foram realizados testes fotocatalíticos seguindo o planejamento experimental de 3 fatores (ver metodologia), cujos resultados estão resumidos na Tabela 5. Na tabela são apresentados os percentuais de remoção em 2 min de fotocatálise, realizados logo após 30 min de adsorção no escuro. Os dados de

Testes fotocatalíticos

adsorção não indicados correspondem a valores negativos próximos

Quanto à atividade dos fotocatalisadores, inicialmente, foi realizado

a zero, provavelmente decorrentes de erros na diluição ou leitura

um teste preliminar de adsorção (60 min) seguida de fotocatálise

das amostras. Após 2 min de fotocatálise, a remoção de Se variou

(60 min) (Figura 9) com o intuito de se avaliar a relevância da fo-

de 1,1% a 99,1%, dependendo das condições empregadas. Ao

tocatálise para remoção do selênio. Apesar de ser possível notar

término dos testes fotocatalíticos, observou-se uma mudança na

uma certa remoção por adsorção (lado esquerdo da Figura 9), esta

cor da suspensão, que se tornou levemente alaranjada.

32

Saneas


Tabela 5: Resultados de remoção de Se(IV) para 19 ensaios em condições determinadas pelo planejamento de três fatores (α = 1,68). Remoção (%) após 30 min de adsorção no escuro e após 2 minutos de iluminação. Ensaio

T (°C)

% Isop. (v/v)

pH

1

381 (-1)

8,0 (-1)

2

619 (+1)

3

Remoção de Se (IV) (%) 30 min de Adsorção

2 min de Fotocatálise

2,61 (-1)

39,7

96,3

8,0 (-1)

2,61 (-1)

-

4,3

381 (-1)

17,0 (+1)

2,61 (-1)

3,0

99,1

4

619 (+1)

17,0 (+1)

2,61 (-1)

-

2,9

5

381 (-1)

8,0 (-1)

4,39 (+1)

-

92,4

6

619 (+1)

8,0 (-1)

4,39 (+1)

6,6

4,3

7

381 (-1)

17,0 (+1)

4,39 (+1)

15,8

89,0

8

619 (+1)

17,0 (+1)

4,39 (+1)

5,1

1,1

9

300 (-α)

12,5 (0)

3,50 (0)

86,6

96,1

10

700 (+α)

12,5 (0)

3,50 (0)

1,4

4,2

11

500 (0)

5,0 (-α)

3,50 (0)

23,6

85,7

12

500 (0)

20,0 (+α)

3,50 (0)

29,0

89,4

13

500 (0)

12,5 (0)

2,00 (-α)

17,8

49,2

14

500 (0)

12,5 (0)

5,00 (+α)

30,9

55,7

15

500 (0)

12,5 (0)

3,50 (0)

22,6

76,8

16

500 (0)

12,5 (0)

3,50 (0)

-

78,5

17

500 (0)

12,5 (0)

3,50 (0)

-

84,4

18

500 (0)

12,5 (0)

3,50 (0)

38,65

85,8

19

500 (0)

12,5 (0)

3,50 (0)

13,90

82,7

A temperatura de calcinação (T) do catalisador apresentou o

Quanto ao pH da solução, nota-se a remoção tende a ser maior

efeito mais significativo, conforme comprova a curva de remoção

em valores de pH mais próximos a 3,5 e diminui à medida que se

fotocatalítica (Figura 11a). A análise dos resultados fotocatálise em

afasta desse valor, sugerindo a existência de um pH ótimo para fo-

2 min (Figura 11d) evidencia que o aumento fator T provocou uma

torredução do selênio.

diminuição não-linear nos percentuais remoção do selênio. Além

Analisando-se os resultados da fotorredução do Se(IV) pela abor-

disso, é interessante notar que a diferença de remoção entre os

dagem do planejamento experimental, constata-se que são signifi-

catalisadores calcinados à 300 para 500 ºC só é notada nos tempos

cativos para a remoção desse contaminante apenas a temperatura

iniciais dos testes, sendo que, ao final de 40 minutos de iluminação,

de calcinação (efeitos linear e quadrático) e o pH da solução (efeito

os dois fotocatalisadores têm resultados semelhantes.

quadrático), para um nível de confiança de 95%. Os efeitos dos

Já o percentual isopropóxido de titânio em etanol (v/v) não teve

demais fatores, ao contrário, não se mostraram significativos para o

grande impacto na eficiência dos fotocatalisadores (Figura 11b).

percentual de remoção em 2 min de fotocatálise, conforme mostra

Mesmo ao se quadruplicar o % de Isop. (de 5% para 20%), a va-

o gráfico de Pareto (Figura 12). Isso está de acordo com o que já

riação na remoção em 2 min foi mínima (de 85.7% para 89.4%

havia sido contatado pelas curvas de remoção (Figura 11).

- Figura 11e).

Outubro a Dezembro de 2020

33


ARTIGO TÉCNICO

Figura 11: Curvas de remoção (%) de Se(IV) ao longo do tempo para: (a) Fotocatalisador 12,5% de Isop., pH=3,5 em diferentes temperatura de calcinação; (b) Fotocatalisador T = 500 °C, preparado com diferentes % de Isop. em pH=3,5; (c) Fotocatalisador 12,5% de Isop., T = 500 °C em diferentes pHs; e Remoção em 2 minutos de fotocatálise para: (d) Fotocatalisador 12,5% de Isop., pH=3,5 em diferentes temperatura de calcinação; (e) Fotocatalisador T = 500 °C, preparado com diferentes % de Isop. em pH=3,5; (f) Fotocatalisador 12,5% de Isop., T = 500 °C em diferentes pHs. Concentração de fotocatalisador = 0,1g L-1

As superfícies de resposta (Figuras 13a à 13c) permitem visualizar os efeitos de cada fator. Nota-se, por exemplo, a pequena influência do percentual de isopropóxido de titânio na remoção de Se(IV) (Figuras 13a e 13b), a combinação dos efeitos linear e quadrático negativos da temperatura (Figura 13a) e o efeito quadrático negativo do pH (Figura 13b). Considerando-se os dois fatores mais significativos (T e pH), conclui-se a melhor condição de operação consiste no uso de fotocatalisador CoFe2O4@TiO2 calcinado em temperaturas menores (próximas a 300°C) e em valores de pH em torno de 3.5 (Figura 13c). Quanto à qualidade do modelo quadrático ajustado, a análise da tabela ANOVA (Tabela 5) indica que tanto o modelo (p = 0,0003 Figura 12: Gráfico de Pareto com efeitos padronizados, Variável:

< 0,05 e F(calculado) = 13,40 > F0.05,9.9(tabelado) = 3,18) quanto a falta de

Remoção (%) após 2 min de fotocatálise, 19 ensaios, MQ erro

ajuste (p = 0,0045 < 0,05 e F(calculado) = 23,62 > F0.05,5.4(tabelado) = 6,26)

puro=14,883.

são significativos. Desse modo, o modelo permite a avaliação quali-

34

Saneas


Figura 13: Superfícies de resposta para remoção (%) de selênio após 2 minutos de fotocatálise: (a) em função de temperatura de calcinação e do % de isopropóxido de titânio; pH=0; (b) em função do % de isopropóxido em etanol usado na síntese e o pH da solução usada no teste de fotocatálise; T=0; (c) em função do pH da solução usada na fotocatálise e da temperatura de calcinação (°C); % Isop.=0; MQ do Erro Puro=14,77413. Fatores são apresentados como variáveis codificadas.

tativa da resposta do sistema, porém não se mostra adequado para

tremos dos três fatores. O valor de R2 para o modelo é de 0,9306 e

realização de previsões precisas, principalmente em valores mais ex-

o valor de R2 ajustado encontrado foi de 0,8611.

Outubro a Dezembro de 2020

35


ARTIGO TÉCNICO

Tabela 5: Tabela ANOVA para remoção de selênio após 2 minutos de fotocatálise

Fatores

Soma quadrática

Graus de liberdade

Média quadrática

F

p

Modelo

24263,71

9

2695,97

13,4

0,0003

(1) pH (L)

1,74

1

1,74

0,117

0,749528

pH (Q)

2385,72

1

2385,72

160,838

0,000223

(2) % de Isop. (L)

0,08

1

0,08

0,005

0,946170

% de Isop. (Q)

8,97

1

8,97

0,605

0,480262

(3) T (ºC) (L)

19705,02

1

19705,02

1328,458

0,000003

T (ºC) (Q)

2688,23

1

2688,23

181,233

0,000176

(1) por (2)

8,00

1

8,00

0,539

0,503436

(1) por (3)

18,60

1

18,60

1,254

0,325435

(2) por (3)

2,00

1

2,00

0,135

0,732073

Resíduos

1810,84

9

201,20

Falta de ajuste

1751,71

5

350,34

23,619

0,004543

Erro puro

59,33

4

14,83

Total da soma quadrática

26073,87

18

Separação e reuso dos fotocatalisadores

nessas propriedades, pelo aumento do tempo necessário para se-

As partículas compostas exclusivamente por ferrita de cobalto

paração do fotocatalisador. Ainda assim, as partículas puderam

(core) se mostraram fortemente magnéticas (Figura 14a), poden-

ser magneticamente separadas em 11 min de ação do mesmo

do ser separadas com facilidade em cerca de 1 min de ação de um

ímã (Figura 14b).

campo magnético (ímã de neodímio - aproximado de 0,5 Tesla a

Quanto ao reuso do fotocatalisador, o teste de fotoestabilidade

5mm, com força capaz de levantar 69kg de ferro). Após o reco-

indicou pouca perda na eficiência da remoção, mesmo após cinco

brimento com a camada shell de TiO2, observou-se uma redução

ciclos consecutivos de fotocatálise (Figura 15). Além disso, a Figura

Figura 14: (a) Separação magnética de partículas de CoFe2O4 em água por ação de um imã.; (b) Separação magnética de partículas de CoFe2O4 recobertas com TiO2 dispersas em água por ação de um imã. Catalisador com 12,5% de Isop. e calcinação a 700°C.

36

Saneas


15 mostra a mudança do aspecto do fotocatalisador depois dos cin-

dado o que se tem registrado na literatura quanto à formação de

co ciclos, que passou a apresentar uma coloração alaranjada escura.

rutile em temperatura maiores que 600°C 42,43. A formação de rutile pode ser responsável, inclusive, pela coloração amarelada/amarronzada apresentada pelos catalisadores calcinados em temperatura maiores (Figura 1a). Isso porque no caso pigmentos amarelos a base de TiO2 dopado com Co e outros metais de transição como Cr e Cd, aqueles constituídos pela fase rutile costumam apresentar coloração mais intensa 44. Além disso, a caracterização também indicou que o aumento da temperatura provocou uma diminuição considerável na área superficial específica (Tabela 3) e um aumento no valor de band gap (Tabela 4) dos fotocatalisadores, duas alteração indesejáveis para o processo fotocatalítico. Isso justifica a acentuada queda

Figura 15: Concentração de Se(IV) ao longo de cinco ciclos de

no percentual de remoção de Se(IV) observada para catalisadores

fotocatálise.

calcinados em temperatura elevadas (Figuras 11a, 11b e 13a). O pH apresentou uma influência bem definida no percentual de remoção de Se(IV), com a existência de um ponto ótimo em valores

Análise e discussão dos resultados

próximos a 3,5 (Figura 13b). Com base nos dados de PCZ determi-

Os fotocatalisadores sintetizados (CoFe2O4@TiO2), além de ativos

nados experimentalmente, a superfície dos fotocatalisadores se en-

para fotorredução do Se(IV), se mostraram magneticamente sepa-

contrava positivamente carregada em todos os testes fotocatalíticos

ráveis e reutilizáveis sem grandes perdas para eficiência do processo,

realizados, o que favoreceu a adsorção dos ânions selenito na super-

conforme ficou demonstrado nos testes de separação magnética

fície fotocatalítica 21. Entretanto, era de se esperar que a remoção

(Figura 14) e de reuso dos fotocatalisadores (Figura 15). Entretanto,

seria máxima no menor pH, condição em que a concentração de

existe ainda a necessidade de aprimoramento para tornar possível

cargas positivas na superfície é maior. A existência de um ponto óti-

a aplicação prática desses fotocatalisadores. Nota-se, por exemplo,

mo entre pH 2 e 5, segundo Tan et al. (2003b), pode ser justificada

um aumento do tempo necessário para separação após o recobri-

pela adsorção competitiva entre os íons do selênio e os íons formato

mento das partículas de CoFe2O4 com TiO2. De modo similar, Fu et

– ácido fórmico é adicionado à solução por sua atuação como hole

al. (2005) já haviam constatado que o aumento da camada shell

scavenger –, sendo a adsorção deste último na superfície do dióxido

reduz a magnetização específica de partículas CoFe2O4@TiO2, apli-

de titânio favorecida com a elevação do pH 24. O ácido fórmico age

cadas à fotocatálise do corante vermelho Procion MX-5B 41. No pre-

como hole scavenger durante a fotocatálise do selênio, prevenindo

sente caso, porém, diferentemente do que foi observado por Fu e

a recombinação do par elétron/lacuna e facilitando a ocorrência da

colaboradores, a variação na concentração de TiO2 – variação no

fotorredução. A condição ótima, portanto, depende da adsorção si-

percentual de isopropóxido de titânio usado na síntese – não afetou

multânea de íons selenito como os íons formato em proporção ade-

significativamente a eficiência de remoção do Se(IV) (Figuras 11b,

quada, o que, no presente trabalho ocorre em pH em torno de 3,5.

11e, 13ª e 13b). Assim, seria possível sintetizar fotocatalisadores com

Com auxílio do planejamento experimental foi possível, então,

percentuais de isopropóxido de titânio menores que os utilizados

fazer um estudo completo dos efeitos dos três parâmetros (% de

presentemente (menores que 5%), melhorando-se as propriedades

Isop., T e pH). Os resultados da análise indicaram que não há in-

magnéticas sem grandes perdas para a atividade fotocatalítica.

teração entre os fatores estudados e que a melhor condição para

Os outros dois fatores estudados no planejamento experimental

fotorredução seria o uso de fotocatalisador CoFe2O4@TiO2 calcinado

(T e pH), por outro lado, se mostraram bastante significativos para

em temperaturas menores, valores de pH intermediários e sem gran-

remoção fotocatalítica do selênio. A temperatura de calcinação dos

de influência do % de Isop., dentro da faixa de valores estudada. O

fotocatalisadores afetou fortemente as propriedades e a atividade

melhor resultado obtido (remoção superior a 99%) ocorreu para T=

dos fotocatalisadores. Os resultados de DRX evidenciaram o aumen-

381°C, pH=2,61 e 17% de Isop. (Tabela – teste 3).

to da cristalinidade e do percentual de rutile das amostras com o aumento da temperatura. Esse tipo de resultado já era esperado,

Outubro a Dezembro de 2020

37


ARTIGO TÉCNICO

Conclusões/recomendações

in Herrington Lake, Kentucky. Ecotoxicol. Environ. Saf. v.150,

Foi possível sintetizar fotocatalisadores core-shell magnéticos (Co-

p.49–53, 2018.

Fe2O4@TiO2) e aplicá-los satisfatoriamente à fotorredução do Se(IV).

8. VINCETI, M. et al. Cancer incidence following long-term con-

Foram obtidos resultados bastante positivos para remoção do se-

sumption of drinking water with high inorganic selenium con-

lênio, com mais de 90% de remoção em 2 min de iluminação em

tent. Sci. Total Environ. v.635, p.390–396, 2018.

mais de um teste. Os testes fotocatalíticos em associação com a

9. VINCETI, M., BONVICINI, F., ROTHMAN, K. J., VESCOVI, L. &

caracterização dos fotocatalisadores e a metodologia de planeja-

WANG, F. The relation between amyotrophic lateral sclerosis

mento experimental permitiram obter informações importantes a

and inorganic selenium in drinking water: a population-based

respeitos dos efeitos da temperatura de calcinação, percentual de isopropóxido usado na síntese e do pH na fotorredução do Se(IV) empregando-se o catalisador CoFe2O4@TiO2. Além disso, ficou comprovada a viabilidade da recuperação mag-

case- control study. Environ. Heal. v.9, p.77, 2010. 10. VINCETI, M. et al. Long-term mortality patterns in a residential cohort exposed to inorganic selenium in drinking water. Environ. Res. v.150, p.348–356, 2016.

nética e do reuso dos fotocatalisadores sintetizados, o que, sem

11. INSTITUTE OF MEDICINE. Dietary Reference Intakes for Vitamin

dúvida, representa um ganho para o processo de fotocatálise do se-

C, Vitamin E, Selenium, and Carotenoids Panel on Dietary An-

lênio e, possivelmente, para fotocatálise de outros poluentes. Ainda

tioxidants and Related Compounds, Subcommittees on Upper

se fazem necessários alguns aprimoramentos até a aplicação práti-

Reference Levels of Nutrients and Interpretation and Uses of

ca desses fotocatalisadores, como a diminuição da camada de TiO2

DRIs, Standing Committee on the Scientif. The National Center

e o desenvolvimento de um sistema contínuo de separação dessas

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partículas magnéticas, mas as informações obtidas no presente tra-

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Outubro a Dezembro de 2020

39


ARTIGO TÉCNICO

Élida Pereira Matos Estagiária de engenharia Mecânica da Divisão de Planejamento, Gestão e Desenvolvimento operacional da Unidade de Produção de Água da Diretoria Metropolitana – Sabesp. Renato de Sousa Ávila Tecnólogo Mecânico em Processos de Produção Formado pela Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo - FATEC-SP (1997), Pós-Graduado em Gestão Pública pela Faculdade Instituto Nacional de Pós-Graduação São José dos Campos INPG (2014) Tecnólogo atuando na área da mecânica dos Fluidos, controle de perdas e modelagem hidráulica na unidade de negócio de Produção de Água da Sabesp. Kamel Zared Filho Engenheiro Civil e Doutor em Obras Hidráulicas, pela Escola Politécnica da USP. Engenheiro da Divisão de Planejamento, Gestão e Desenvolvimento operacional da Unidade de Produção de Água da Diretoria metropolitana – Sabesp.

Gestão dos riscos e eficiência das elevatórias de água do sistema adutor metropolitano de São Paulo Resumo

tor Metropolitano (SAM) contribuindo para a gestão

Este trabalho visa apresentar a segunda versão do es-

da operação quanto à priorização dos planos de ação

tudo do modelo de gestão e eficiência energética para

corretiva, preventiva, contingencial e de melhoria nes-

sistemas de bombeamento de água do Sistema Adu-

tas instalações, visando à manutenção da regularidade

tor metropolitano de São Paulo (SAM). Através da me-

no fornecimento de água potável aos reservatórios se-

todologia apresentada, é possível avaliar as condições

toriais com o menor custo energético possível.

André Luiz de Freitas

de uso das estações elevatórias de adução existentes

Especialização em Gestão Pública pelo Instituto Nacional de Pós-Graduação (2015), Engenharia Mecânica pela Universidade Braz Cubas (2001) e Técnico Mecânico com especialização em projetos formado pela Escola Técnica Federal de Santa Catarina (1994). Engenheiro atuando diretamente junto a Operação do Sistema Adutor Metropolitano da Sabesp a fim de promover, gerar e desenvolver a inovação dos processos de controle e gestão.

do SAM de modo a criar uma visão geral e uma ava-

2. Introdução

liação uniforme e padronizada para estas instalações,

A Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) abrange

sendo possível identificar oportunidades de melhorias

uma área de 8.051 km2 e abriga uma população de

nas estruturas existentes e também priorizar os inves-

aproximada de 20 milhões de habitantes, distribuída

timentos.

por 39 municípios. Destes municípios, 31 são atendi-

Thuanny Stychnicki Engenheira Civil formada pelo Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – IFSP (2019). Assistente de Engenharia atuando na área de saneamento básico na BBL Engenharia, Construção e Comércio Ltda.

Essa segunda versão permite o monitoramento das

dos pelos dez sistemas produtores que formam o Sis-

elevatórias através do comparativo com o estudo an-

tema Adutor Metropolitano, sendo que três possuem

terior, reforçando a necessidade de avaliação indivi-

serviços autônomos de distribuição, mas não contam

dual para todas as elevatórias classificadas nos piores

com produção própria de água potável ou são insufi-

índices e identificar todas as elevatórias que permitem

cientes para atender suas demandas em sua totalidade

aperfeiçoamento no processo operacional para redu-

e, portanto, compram água por atacado da Sabesp.

ção do consumo de energia elétrica.

O Sistema Adutor Metropolitano – SAM compre-

O trabalho apresenta também as principais altera-

ende um complexo de 11 estações de tratamento de

ções na metodologia e as primeiras ações que estão

água (ETAs), 1.250 km de adutoras, 154 centros de

sendo aplicadas para uma nova gestão de melhoria

reservação, 65 estações elevatórias e boosters de adu-

nas instalações de bombeamento e na operação das

ção.

elevatórias em horários de maiores consumos. PALAVRAS-CHAVE: Eficiência energética, Análises comparativas, Gestão de melhoria.

Este estudo buscou analisar todas as estações de bombeamento de Adução, não considerando as estações de bombeamento para zonas altas (ZA ou EEAT) nem as Estações de bombeamento para as Derivações,

1. Objetivo

pois são instalações do Processo de Distribuição de

Elaborar um diagnóstico situacional das estações de

Água.

bombeamento e boosters de adução do Sistema Adu-

40

Saneas


3. Conceitos

existentes no SAM:

Estação Elevatória de Água Tratada é o local destinado a abri-

• EEAT/Booster de Adução: localizadas na Adução, recalcam para

gar um sistema de um ou mais conjuntos motobombas. Essas estações são instalações dos sistemas de adução de água, com o objetivo de permitir o transporte da água de um reservatório para outro situado em elevação superior, o que não seria possível

um, ou mais reservatórios; • EEAT de Derivação: localizadas na Adução, recalcam para Setores (derivação); • EEAT de Distribuição (ZA): localizadas a jusante de um Reservatório, recalcam para um Setor de Zona Alta;

apenas pela ação da gravidade. Os “boosters” permitem um incremento da vazão transporta-

• Booster de Distribuição: localizadas na própria Rede, recalcam

da em uma adutora, através do aumento da pressão, nos pontos

para Setores deficitários de pressão, normalmente pontas de

onde estão localizados. Neste caso, seria possível o transporte de

Rede.

uma vazão menor apenas pela ação da gravidade. As estações elevatórias e “boosters” são instalações compostas por conjuntos motobombas, que são o acoplamento de motores elétricos a bombas hidráulicas.

Não serão alvos de diagnósticos, as EEAT’s de Derivação, de Distribuição, tampouco as Desativadas e aquelas Fora de Operação. Foram identificadas no SAM, 65 Estações de Bombeamento de

O motor transforma a energia elétrica obtida de uma fonte exter-

Adução que foram classificadas considerando- se o esquema hidráu-

na em energia mecânica, representada pela rotação de um eixo que

lico da instalação. Cada Estação é composta pelos conjuntos mo-

acopla o motor a uma bomba hidráulica. A bomba hidráulica trans-

tobomba que necessariamente recalcam para um mesmo destino.

forma a energia mecânica em energia de pressão, através do seu circuito interno composto por um rotor. As bombas hidráulicas são

Das 65 estações de bombeamento temos 14 boosteres e 51 estações elevatórias de água.

máquinas capazes de converter a energia mecânica oriunda de um motor elétrico, por exemplo, em energia cinética e de pressão do

4. Metodologia

fluido bombeado. A Figura 3.1 apresenta um desenho esquemático

Entre as principais alterações na concepção desse trabalho, está

de um sistema de adução de água por bombeamento.

na metodologia realizada para a extração e estruturação dos da-

No Processo Água, as Estações de Bombeamento estão classi-

dos. Realizou-se um estudo de análises das elevatórias no período

ficadas em Estações de Bombeamento de Água Bruta e de Água

de um ano, utilizando um novo sistema de bancos de informações

Tratada. Estas instalações são comumente chamadas de Estações

da Sabesp. Essa nova ferramenta possibilitou a automatização nos

Elevatórias de Água Bruta (EEAB) e Estações Elevatórias de Água

levantamentos de dados, tanto para o ano estudado, como tam-

Tratada (EEAT). Dentre as EEAT podemos citar os diversos tipos

bém para utilização nos próximos estudos das estações de bom-

Figura 3.1 - Desenho esquemático de um sistema de água por bombeamento

Outubro a Dezembro de 2020

41


ARTIGO TÉCNICO

beamento de adução. O período analisado corresponde ao ano de 2018.

Para realização do cálculo, utiliza-se a capacidade de bombeamento da EEAT, obtida através de modelagem hidráulica

As simulações de dados de modelagem do SAM, cenários para

do modelo do Sistema Adutor Metropolitano. Esta capacidade

obtenção de dados de desempenho do Sistema Adutor Metropo-

é a vazão obtida com todos os conjuntos motobomba da ins-

litano foram mantidos os mesmos valores obtidos da modelagem

talação ligados com exceção de um grupo, sendo este consi-

de 2016.

derado um grupo reserva. A vazão assim obtida é denominada

Das 65 EEAs pertencente à RMSP duas foram desconsideradas, visto que, estão desativadas.

vazão limite. Com base no histórico de vazões do período de análise do estu-

Os critérios de avaliações e análise situacional das 63 elevató-

do, obtêm-se a vazão média de bombeamento da instalação. Para

rias foram mantidos os mesmos da versão anterior, possibilitando

efeito de capacidade de bombeamento, é necessário observar a

fazer análises comparativas entre os anos estudados. Para as me-

vazão no dia de maior consumo (k1). Utilizando como referência o

todologias de classificação das elevatórias, foram considerados os

Plano Diretor de Abastecimento de Água da RMSP, observa-se que

seguintes indicadores:

este valor é de 1,15 para os setores de abastecimento. K1 igual a 1,15 é a média para a região metropolitana.

Grau de Relevância: Estabeleceu-se como critério para definição do grau de importância das EEATs sob o ponto de vista operacional “vazão média de recalque”, que representa, de forma indireta, a população atendida. Para essa classificação foram definidos 5 níveis de importância. São: • Grau alto: acima de 2300 L/s

Para efeito de cálculo do índice utilizou-se a vazão média multiplicada pelo K1, resultando na vazão média ajustada. Portanto, o Índice de Adequação da Elevatória é calculado pela equação 1: Adequação da Elevatória: Vazão média ajustada Vazão Limite

• Grau médio alto: entre 1600 L/s e 2300 L/s

equação (1)

• Grau médio: entre 650 e 1600 L/s

Onde:

• Grau médio baixo: entre 300 e 650 L/s

Vazão média ajustada é a média da vazão da elevatória multipli-

• Grau baixo: abaixo de 300 L/s

cada pelo valor da média K1 em l/s; Vazão Limite é a capacidade de bombeamento do setor restrin-

Taxa de ocupação:

gindo um conjunto motobomba em l/s.

Taxa de ocupação é a relação de horas de operação da EEAT pelo tempo total do período analisado. O número de horas de opera-

Se o resultado for menor ou igual a 1 a instalação está adequa-

ção da EEAT é obtido através da média do número de horas de

da, ou seja, é capaz de operar na vazão necessária e possui pelo

operação de cada conjunto motobomba da instalação, ou seja,

menos 1 conjunto motobomba reserva. Caso seja maior que 1,

para avaliar a ocupação anual de uma elevatória, soma-se o total

a instalação está inadequada, portanto, em alguns momentos a

de horas que cada motobomba esteve ligada e divide pela quanti-

EEAT opera sem grupo reserva.

dade total de motobombas existentes na elevatória, o valor obtido é divido pela quantidade total de horas do período analisado. Para essa classificação foram definidos 5 faixas de ocupação. São:

Possibilidade de redução de consumo de energia elétrica no horário de ponta:

• Alta ocupação: acima de 90%

Baseado na taxa de ocupação da EEATs e no índice de adequa-

• Média Alta ocupação: de 75% até 90%

ção, foi definido um terceiro índice que tem como objetivo indicar

• Média ocupação: de 50% a 75%

instalações em que há a possibilidade de redução do consumo

• Baixa ocupação: abaixo de 50 %

de energia em horário de ponta. O índice é calculado através da equação 2:

Índice de Adequação: O índice de adequação faz uma análise teórica da relação entre

Possibilidade de redução: Taxa de ocupação x Índice de adequa-

a capacidade de bombeamento da estação e a vazão média de

ção

bombeamento da mesma no período analisado.

42

Saneas

equação (2)


Através da aplicação dos filtros, são selecionadas as elevatórias

Para o caso de energia elétrica, o essencial é a medição do con-

que possuem sua taxa de ocupação baixa e seu índice de adequa-

sumo em cada conjunto motobomba, pois dessa forma é possí-

ção classificada como Adequada.

vel avaliar a eficiência energética de cada grupo de uma estação elevatória, ou pelo menos medição na entrada da EEAT, quando

Índice IWA:

a subestação de energia abastece outras áreas ou processos (ma-

As estações elevatórias e “boosters” são instalações compostas

nutenção, tratamento de água e etc.).

por conjuntos motobombas, que são o acoplamento de motores

Conforme a classificação estabelecida pelo indicador IWA as eficiências nas elevatórias de água são divididas em três faixas:

elétricos a bombas hidráulicas. O motor transforma a energia elétrica obtida de uma fonte ex-

• Bom – 68% a 100%.

terna em energia mecânica, representada pela rotação de um eixo

• Mediano – 50% a 68%

que acopla o motor a uma bomba hidráulica.

• Insatisfatório: até 50%.

A bomba hidráulica transforma a energia mecânica em energia de pressão, através do seu circuito interno composto por um rotor.

Para a análise, realizou-se, a consistência dos dados, com os

Nessas transformações ocorrem perdas de energia, sendo as prin-

seguintes passos:

cipais causas de perdas nos motores de indução:

1. Exclusão dos dados de vazão, pressão de recalque e sucção e Potência Hidráulica com valores negativos.

• Perdas no enrolamento e no cobre (efeito Joule);

2. Exclusão de dados quando todo o conjunto de bombas da es-

• Perdas no ferro (perdas Foucault); • Perdas mecânicas (atrito dos mancais, ventilação);

tação apresentavam status desligado. Os dados foram extraídos

• Perda de transmissão entre o motor e a bomba.

de 15 em 15 minutos no período de um ano, com a ferramenta Sampled Data.

Portanto, a eficiência é calculada através da relação da energia

3. Com base no número de dados excluídos e número de dados

elétrica consumida na instalação e a energia efetivamente trans-

totais, calcula-se o percentual de dados aproveitados mensais.

ferida para o fluído (água). Para cálculo do rendimento, utiliza-se

Com a relação de dados totais e dados úteis realizou-se um

a equação 3:

ajuste no consumo de energia hidráulica para cada mês do ano

η=

de 2018.

Energia transferida para o fluído Energia elétrica consumida

equação (3)

Para o cálculo da energia transferida para o fluído, utiliza-se a formula da Potência Hidráulica, sendo essa energia aproveitada

5. Resultados e análise comparativa As elevatórias foram analisadas com os métodos descritos anteriormente.

pelo líquido para seu escoamento fora da própria bomba. A potência Hidráulica pode ser definida em cv pela equação 4 como:

Esta classificação permite detectar as elevatórias que possuem

Potência Hidráulica = ɤ x Q x H 75

Elevatórias e a relação com o grau de relevância:

equação (4)

Q = Vazão (m3/s)

grande relevância, consideradas de grande porte, ou seja, recalcam vazões acima de 650L. A figura 4.1 demonstram o grau de relevância das EEATs

H = Altura Manométrica (m)

estudadas, separados em 6 níveis (baixo, médio baixo, mé-

ɤ = peso específico da água (10000 N/m3)

dio, médio alto, alto e sem dados). Com esse gráfico verifica-se que para o ano de 2018 aproximadamente 40% das

Portanto, para o cálculo da eficiência em EEATs são necessários

EEATs possuem níveis iguais ou acima do nível médio de rele-

medidores de:

vância (médio, médio alto e alto). Estes devem ser estudados

• Vazão;

prioritariamente, caso a caso, buscando assim oportunidades

• Pressão de sucção;

de melhoria.

• Pressão de Recalque; • Consumo de energia elétrica.

Na figura 4.2 percebe-se uma redução de aproximadamente 2% das estações classificadas acima do nível médio consequên-

Outubro a Dezembro de 2020

43


ARTIGO TÉCNICO

cia da mudança de operação de dois setores, um passou a ser abastecido pelo novo sistema São Lourenço deixando de operar a elevatória e outro reduziu sua operação deixando de abastecer a zona alta. Outra mudança significativa é ocorrência do aumento da faixa sem dados decorrentes da falta de medidores de vazão. Em comparativo mais de 70 % das estações elevatórias mantiveram suas classificações para o índice de relevância em relação à avaliação de 2016.

Figura 4.3: Distribuição das EEATs por Ocupação

Na figura 4.4, referente aos anos 2016/2018 verifica-se que não há estações com falta de dados. No ano 2016, 11% das EEAs não apresentaram dados para o índice de ocupação. Entre elas, 6% foram classificadas com ocupação baixa, 2% com ocupação média e 3% não foram consideradas para análises. É importante observar um aumento significativo das estações classificadas na faixa baixa, grande parte devido a 8% das EEAs que em 2016 não tiveram dados e, agora foram reclassificadas na Figura 4.1: Distribuição das EEATs por relevância.

faixa baixa em 2018. De todas as estações estudadas, cerca de 70% mantiveram os mesmos índices de ocupação em relação a 2016.

Figura 4.2: Comparativo das EEATs por relevância

Elevatórias e a relação com a taxa de ocupação:

Figura 4.4: Comparativo das EEATs por Ocupação

A retirada de dados de ocupação mensais possibilitou uma

A figura 4.3 mostra os estudos das mesmas estações elevatórias

análise mais detalhada das ocupações durante o período de

de água (EEAs) em relação à taxa de ocupação, definidos por bai-

2018. Com essa base, observou-se que entre as EEAs classifi-

xa, média, média alta e alta. Nesse gráfico, percebe se que a gran-

cadas em situação Baixa, uma delas não teve seu conjunto de

de maioria das EEAs trabalha em nível médio ou inferior. Porém,

bombas ligadas, outras não foram ligadas durante um período

3,2% dos casos apresentam alta taxa de ocupação e 3,2% apre-

de três a nove meses consecutivos. Dados como esses enfatizam

sentam média alta. As mesmas já estavam presentes na versão

a necessidade de controle e de revezamento ao ligar os conjun-

anterior, sendo mencionadas para futuros estudos para análises

tos de bombas.

de suas situações.

44

Saneas


Elevatórias, índice de relevância e a taxa de ocupação:

EEATs estão nas faixas adequadas e adequadas com ociosidade.

A figura 4.5 mostra a distribuição das elevatórias, de acordo com

Observa-se que 32 % das instalações necessitam de adequação,

a relação entre os índices de relevância e ocupação, onde para

pois operam sem conjunto reserva em alguns dias no decorrer do

cada faixa de classificação foram adotados números. Para as fai-

ano, ou seja, no índice inadequado. Essas elevatórias devem ser

xas de relevância (sem dados, baixa, média baixa, média, média

avaliadas separadamente, pois as mesmas em algum momento

alta e alta) foram adotados valores de 1 a 6, respectivamente, e

pode não atender a demanda. É importante salientar que os casos

para as faixas de ocupação (baixa, média, média alta e alta) foram

classificados como inadequado não foram verificados a existência

adotados os valores de 1 a 4, respectivamente. As combinações

de reserva fora da base na reserva estratégica.

dos índices são demonstradas no gráfico bolha de acordo a quantidade de elevatórias por combinação. A análise permite identificar as elevatórias simultaneamente pelos índices de relevância e ocupação. Observa- se que, das elevatórias que foram classificadas com índices de ocupação muito alta, apenas 2% possui alta relevância. Essa deve ser objeto de estudo prioritário para averiguação de sua situação, pois é uma instalação de grande porte que recalcam vazões acima de 1600l/s, comparada com os outros 5% das EEAs que também apresentaram ocupação elevada, mas possuem relevância baixa. Entre as combinações presentes na figura 4.5, percebe-se que as elevatórias classificadas com baixa ocupação possuem relevân-

Figura 4.6: Distribuição das EEATs por Adequação

cia entre baixa e média, sobressaindo-se a relevância baixa média com maior número de elevatórias com essa combinação.

Na figura 4.7, em relação aos levantamentos de dados dos anos 2016 e 2018, houve o aumento significativo de EEAs que não tiveram dados para análise. Isso se deve pela falta de medidores de vazões, impossibilitando o cálculo de índice de criticidade e, consequentemente, a classificação de suas faixas de adequação. Busca-se estudar a inserção desses medidores para obtenção das classificações dessas EEAs. Entre as 8% das elevatórias que não apresentaram dados, em 2016, 4% delas pertenciam à classificação adequada e adequada com ociosidade, 2% foram classificadas como inadequada e 2% mantiveram sem dados. Em comparativo aos dois anos estudados, aproximadamente 70% das estações permaneceram com as mesmas faixas de adequação em relação a 2016.

Figura 4.5: Relação entre Ocupação e Relevância das EEATs

Elevatórias e a relação com o índice de Adequação: A figura 4.6 apresenta a distribuição de 63 EEATs em relação ao índice de adequação, separados por faixas: adequada com ociosidade (abaixo de 0,75, ou seja, a capacidade de bombeamento com grupo reserva é bem superior ao dia de maior consumo, podendo ser operado com bastante folga), adequada (até 1), inadequada (acima de 1, ou seja, quando opera no dia de maior consumo, sem grupo reserva). Nesse gráfico, percebe-se que 57% das

Outubro a Dezembro de 2020

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ARTIGO TÉCNICO

Constatou-se que a falta de medidores de vazão impossibilitou as classificações de algumas elevatórias e principalmente a falta de medidores de pressão simultaneamente com os medidores de vazão dificultou a análises de eficiência energética. Com base neste contexto, está sendo desenvolvido um programa de medições para instalação dos medidores faltantes nas Estações de Bombeamento, em conjunto com as células de macromedições e automação. Em paralelo, está em vigor o processo de instalação de medidores de energia elétrica individualizada (bomba a bomba) que permitirá em breve obter os dados do consumo elétrico de cada motobomba. Figura 4.7: Comparativo das EEATs por Adequação

Através das instalações dos medidores, será possível analisar a eficiência energética de todas as elevatórias, possibilitando melho-

Elevatórias e possibilidade de redução:

res análises de suas condições e permitir a elaboração de planos

Após a aplicação dos filtros de 50% de ocupação e indicador de

de ações para melhorias na gestão de operação.

adequação menor que 1, percebe-se que 40% das EEATs tem o

Outra medida importante que está sendo discutida juntamente

indicador menor que 0,5, dessa forma, há o potencial de restrição

com a equipe de gestão de energia é a implantação de um plano

de operação dessas EEATs no horário de ponta.

de contingência do funcionamento das motobombas nos 40%

As instalações com índice menor que 0,5 devem ser priorizadas

das elevatórias com maiores potenciais para restrição operacio-

para estudos para operar com regras de restrição de uso no ho-

nal em horários de pontas mencionadas neste estudo, garantindo

rário de ponta.

uma redução nos custos de operação. Essas medidas busca um aperfeiçoamento nas instalações e me-

Eficiência energética nas elevatórias:

lhorias para a terceira versão desse estudo.

Das elevatórias avaliadas, 16% apresentam todos os medidores

A principal alteração na metodologia foi a mudança do banco

necessários para o cálculo da eficiência energética. Vale observar

de dados que possibilitou melhoria em relação à viabilidade dos

que nenhuma instalação possui medição individualizada (bomba

dados e na extração desses dados.

a bomba de energia elétrica). Dessa forma, o cálculo de eficiência

Buscou-se, nessa nova versão, aperfeiçoar o processo de aqui-

será global da EEAT, ou seja, de todos os grupos da EEA juntos,

sição de dados. Através da nova base de dados, foram desenvol-

pois não é possível saber o consumo de cada grupo ao longo do

vidas duas planilhas automatizadas para os índices de ocupação e

período de análise.

índice de eficiência que permitem extrair, expurgar dados incorre-

Avaliando os resultados obtidos, apenas 10% elevatórias foram

tos, realizar os devidos cálculos e classificar os setores de acordo

classificadas, conclui-se que 7% delas encontram na faixa superior

os indicadores. As planilhas têm o intuito de realizar um estudo

da classificação do IWA, ou seja, tem um rendimento considerado

anual para qualquer ano a partir de 2017, quando foi implantado

Bom, e 3% das estações foram classificadas na faixa Mediano.

o novo sistema, possibitando mais agilidade para os futuros pro-

Estas devem ser objetos de estudo para melhorar sua eficiência.

cessos de levantamento de dados.

Em análise comparativa do rendimento dos anos 2016/2018,

Como próximos passos, busca-se automatizar todo processo de

apenas duas estações foram possíveis os cálculos para os dois

levantamentos de dados para os outros indicadores e aprimorar

anos e as mesmas mantiveram sua classificação na faixa bom.

as automatizações existentes para ganho de tempo na elaboração desse estudo.

6. Análise dos resultados

Após as instalações dos medidores faltantes e principalmente os

Com os diagnósticos, foi possível observar que não ocorreram

medidores de energia, será possível analisar a eficiência da elevató-

muitas alterações nas situações das elevatórias, considerando que

ria de forma mais consistente e monitorar as curvas características

70 % mantiveram os mesmos níveis dos indicadores em relação

das motobombas. Assim, novas formas de avaliação das elevatórias

aos anos 2016 e 2018, considerando a ocorrência de algumas

poderão aprimorar as análises e acrescentar novos indicadores.

mudanças de operação durante esse período.

46

Saneas

Com o acompanhamento das curvas características das moto-


bombas, torna-se possível através da projeção dos dados, a identi-

A segunda versão buscou reclassificar as elevatórias de acordo os

ficação de problemas mecânicos nos conjuntos motobombas, pos-

indicadores, auxiliando nas principais medidas que deve ser toma-

sibilitando assim melhorias na área de manutenção das elevatórias.

das para aperfeiçoamento no processo de adução de água. Essas

Outro aspecto importante de melhoria da metodologia feita

medidas que já estão sendo tomadas ou proposta assegura melho-

neste trabalho é análise comparativa das elevatórias em relação ao

rias nos próximos estudos e otimização das estruturas existentes.

estudo anterior que permite através das classificações dos indica-

A abordagem desse estudo apontou os próximos passos para

dores, comparar a situação das EEATs ao longo do tempo e a partir

melhorias das instalações e na metodologia, pelos quais foram

da implementação das melhorias monitorar seus resultados. Desta

citadas melhorias no processamento de dados através da automa-

forma, para os próximos trabalhos, a manutenção das análises

tização, melhoria na metodologia através do monitoramento das

comparativas dos estudos antecedentes permitirá demonstrar as

elevatórias, as análises comparativas, a criação de novos indica-

principais mudanças causadas pela introdução dessas novas me-

dores e o desenvolvimento de novas metodologias para analises,

didas de melhoria que já estão sendo tomadas visando obter os

como as curvas das bombas, e por fim melhorias nas instalações

resultados para novos diagnósticos das elevatórias.

através das instalações dos medidores faltantes e identificação das

O estudo apontou as elevatórias que estão nas piores faixas

elevatórias que se encontram nas piores faixas dos indicadores

dos indicadores. As mesmas devem ser estudadas individualmente

para serem objetos de estudos específicos para compreensão do

para melhores análises de suas situações, buscando soluções para

seu grau de risco e elaboração de soluções.

melhor gestão operacional dos conjuntos motobombas.

8. Próximos passos 7. Conclusão

Resumidamente, como próximos passos tanto para melhoria das

A análise das elevatórias de água tratada do SAM se mostra essen-

instalações como na metodologia desse estudo, foram apontados

cial para uma boa gestão dos sistemas de bombeamento tendo

os principais pontos a serem desenvolvidos:

em vista a grande complexidade e porte desse.

• Criação de um aplicativo para monitoramento das curvas carac-

A metodologia aplicada através dos indicadores identifica as instalações com possibilidade de implantação de um plano de

terística das bombas, após as instalações dos medidores de energia, pressão e vazão;

melhoria baseada na eficiência energética focando na utilização

• Automatização de todas as planilhas de extração de dados;

dos recursos disponíveis de forma estratégica garantindo a sus-

• Melhorias nas elevatórias com os piores índices na classificação

tentabilidade, a economia e principalmente a melhoria constate no uso da energia. Este estudo sugere novos estudos individuais para elevatórias classificadas nos piores índices para compreensão melhor de sua situação visando outros aspectos que não foram considerados neste diag-

dos indicadores, através de estudos individuais de suas situações; • Programa de revezamento entre os conjuntos motobombas mediante a automatização do centro de operação; • Mudanças na operação, através da restrição do funcionamento das elevatórias em horários de ponta.

nóstico. Com avaliação mais especificas para cada uma, analisando as reais necessidades de melhoria e planejamento operacional. Conclui-se, que apesar de poucas mudanças equiparando os diagnósticos de 2016 e 2018, os resultados apresentados em 2018 constatam melhorias nos índices de taxa de ocupação e de adequação com redução nas faixas críticas para os dois indicadores devido a algumas mudanças na operação do SAM. Ambos diagnósticos propuseram medidas de proveito para as

9. Referências bibliográficas 1. Bentley Institute,Manual WaterCAD/GEMS V8i, Projeto e modelagem de redes de distribuição de água. 2. Relatório de Gestão Sabesp - MAGG 064 2017 Gestão dos riscos e Eficiência das elevatórias de água tratada 2017. 3. Relatório de Gestão Sabesp - MAGG 241 2019 Gestão dos riscos e Eficiência das elevatórias de água tratada – GEEAT 2019.

instalações que como estão sendo aplicadas possibilita redução

4. Caderno Temático4 – Ações de Assistência Técnica em Redução

dos custos de operação, aumento a eficiência energética das ins-

e Controle de Perdas de Água e Uso Eficiente de Energia Elétrica

talações e aperfeiçoamento das análises, como por exemplo, a

– Ministério do Desenvolvimento Regional 2018.

medição individualizada que implantada em algumas elevatórias, já é possível à realização da extração de dados de consumo bomba a bomba da estação. Outubro a Dezembro de 2020

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PONTO DE VIVÊNCIAS VISTA

Por Jéssica Marques

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Saneas

Encontro Técnico AESabesp: três décadas de evolução


T

rês décadas de evolução. É como se resumem os últimos 31 anos em que o engenheiro Gilberto Alves Martins tem participado ativamente do Encontro Técnico AESabesp. O profissional é membro da Comissão

Organizadora e tem claro na memória até os dias de hoje o sucesso da primeira edição. “A primeira participação no Encontro Técnico foi muito gratificante, por ter participado da Primeira Comissão Organizadora, tendo sido um dos idealizadores do evento, juntamente com 5 colegas de outras diretorias da Sabesp. Aquele grupo original definiu o nome do nosso evento para incentivar a promoção do efetivo “encontro profissional” entre os colegas associados”, contou. “Fiquei muito feliz com o sucesso inicial, porque já tivemos a presença de 288 participantes, os quais em diversos momentos revezavam-se no auditório da Cetesb, onde havia pouco mais de 200 assentos, o que demonstrava que este evento tinha tudo para crescer”, relembrou também.

A primeira participação no Encontro Técnico foi muito gratificante, por ter participado da Primeira Comissão Organizadora, tendo sido um dos idealizadores do evento, juntamente com 5 colegas de outras diretorias da Sabesp.

Gilberto foi também o responsável pela criação da primeira Fenasan – Feira Nacional de Saneamento e Meio Ambiente. Na época, o evento teve a participação de oito indústrias de produtos para saneamento, como produtos químicos, tubulações de diversos tipos de materiais, hidrômetros, válvulas e equipamentos. Nas últimas edições, por sua vez, foram cerca de 200 expositores. A contribuição do profissional ao longo dos anos foi diversa e essencial para esse crescimento. O engenheiro foi membro da organização, atuou como diretor técnico, diretor técnico cultural e coordenador geral dos encontros técnicos. No último ano, Gilberto participou de diversas atividades, além de novamente fazer parte da Comissão Organizadora. “Acredito que contribuí para a evolução do Encontro Técnico que, no encontro original, contava apenas com os colegas da própria associação e alguns participantes da Cetesb, acabou se transformando em um evento com fama internacional”, comemorou.

Outubro a Dezembro de 2020

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PONTO DE VIVÊNCIAS VISTA

Tecnologia e inovação A história das últimas três décadas foi marcada pelo avanço tecnológico na sociedade. Com os eventos não poderia ter sido diferente. O Encontro Técnico modernizou-se constantemente. Exemplo disso é que, em meio à pandemia de covid-19, a 31ª edição aconteceu online, unindo toda a experiência

Para essa edição, a equipe trabalhou

Acredito que contribuí para a evolução do Encontro Técnico que acabou se transformando em um evento com fama internacional.”

fortemente buscando todas as formas e tecnologias para que os eventos fossem realizados sem transtornos e promovessem o Saneamento em um momento tão delicado como o atual. Neste contexto, Gilberto também se sente feliz em ter participado. Como membro da Comissão Organizadora, o engenheiro ofe-

e inovação angariada nos últimos anos.

receu todo o apoio à equipe da AESabesp

“Pelo fato de ter participado de to-

para que os eventos fossem realizados de

das as edições, acredito que, como diretor secretário da associação,

forma proveitosa para todos os congressistas e demais participantes.

naquela época, apesar de o primeiro encontro ter sido realizado

“Tendo sido criado para a promoção e divulgação de novas tec-

com recursos humanos e materiais escassos, pude fazer com que

nologias e o intercâmbio entre associados, por isso chamado de En-

a sua organização tenha tido tanto sucesso que me motivou para

contro Técnico, atualmente tem a importância de promover a divul-

sempre ter estado à frente ou junto com colegas excepcionais que

gação e a discussão das tecnologias e metodologias empregadas no

fizeram com que o Encontro Técnico tenha chegado à excelência

saneamento, a nível internacional”, afirmou Gilberto, ressaltando a

como um grande Congresso do saneamento”, pontua Gilberto.

relevância da realização do evento.

50

Saneas




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