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Aluna de Odontologia denuncia descaso
15 Ano VII Abril/2007
Entre-Vistas
A luta diária dos universitários viajantes Comportamento
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Gileno Paiva: 27 anos de dedicação à Uesb Resgate
UESB Arco-íris preto e branco
Conhecida por suas animadas manifestações pelo mundo, a comunidade homossexual perde seu “colorido” característico em Conquista
Denúncia confirmada EXCLUSIVO
CIDADE Entre-Vistas
Sociedade
Resgate
Secretário de Cultura nega o fim da Miconquista
O massacre indígena na conquista da terra 3
Açao humana é a vilã da degradação ambiental 4
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Ano VII Abril/2007
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OPINIÃO Editora: Flávia Mota
Depende do ângulo
Notícias Oficina de
ARTIGO
Hoje o tempo voa, amor...
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uatro anos ou mais cursando uma faculdade podem mudar para sempre uma vida. Mas com o passar dos semestres, infelizmente, as expectativas de calouro não se concretizam e os sonhos vão se desmanchando na apática realidade acadêmica. Quem faz a universidade também são os estudantes e o que estão construindo? Como a carruagem da Cinderela, que num passe de mágica vira abóbora, à medida que o tempo vai passando, a atmosfera de desânimo toma conta dos estudantes e o encanto desaparece. Assistir às aulas passa a ser apenas uma necessidade, ao invés de um prazer. Planos e promessas de estudar muito e dedicar-se e aquela alegria do dia em que seu nome foi encontrado na lista dos aprovados transformamse em frustração. Essa desilusão, para muitos estudantes, começa quando percebem que a realidade não é aquela idealizada: a de uma faculdade que abra a cabeça e faça ver o mundo de outro jeito. Espera-se uma formação profissional perfeita com professores capacitados, infra-estrutura completa, companheirismo dos colegas e projetos prontos. Espera-se demais dos outros e como de costume, coloca-se a culpa dessa frustração em alguém: no
governo? na instituição? nos professores? Mas, ao refletir-se, percebe-se que o mais responsável, ou melhor, irresponsável, pode ser o próprio estudante. Pois, esquece que o papel principal, quem protagoniza é ele mesmo. Depois da faculdade a verdade é que nenhum estudante é mais o mesmo. Mas também é fato, que a faculdade não faz toda aquela diferença que se esperava. Deixou-se de aprender, de experimentar, de questionar, de agir. Muita coisa se perdeu no meio do caminho e dentre elas, algo que dificilmente será recuperado: o orgulho de ser estudante universitário. Por isso, “não adianta fugir, nem mentir pra si mesmo agora”, diz a música do cantor Lulu Santos. Estar numa universidade pública, infelizmente, ainda é privilégio de poucos. E não se ocupa uma cadeira na sala de aula por acaso. É uma oportunidade que deve ser aproveitada. Como diz Lulu, “vamos viver tudo que há para viver, vamos nos permitir”, e freqüentar a biblioteca, estudar os conteúdos, realizar os trabalhos propostos, debater com os professores, propor soluções. “Pois tudo passa, tudo sempre passará” e a Uesb precisa melhorar agora! por Amanda Moreira catmanda@hotmail.com
CRÔNICA
Superando limites por James Freire jamesfreiresouza@yahoo.com.br
Carta do leitor TVE Uesb Aprendi muito com a disciplina Oficina de Impresso, mas, em especial, uma lição: nunca entreviste sem gravador. Que sirva também a outras turmas: por confiar em uma colega de curso, fui chamado de mentiroso e antiético. Um lapso de memória, talvez outro motivo. Mas, pela ausência do gravador, não posso comprovar a fala de Eveline Mota, na matéria escrita por mim, na edição número 13 do Oficina de Notícias, sobre a TVE Uesb, onde ela trabalha atualmente. Mas tenho a consciência tranqüila. Os que me conhecem sabem que defendo a verdade e não atribuo opiniões a quem não as emitiu. No mais, coloco-me a disposição de Eveline, que em momento algum me procurou, e agradeço o espaço concedido pela atual equipe do Oficina de Notícias. Paulo Anderson, estudante de Jornalismo. A
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brincadeiras da turma. Perdeu a conta das vezes em que foi vítima das gozações em sala de aula. Contudo, nada disso abatia o garoto sonhador. Ele tinha um propósito maior do que cursar uma faculdade para ter um diploma pendurado na parede do seu quarto. Esse rapaz simples passou por cada etapa na Universidade com a determinação e a perseverança de um guerreiro. Transformou-se num vencedor. De alvo das gozações e chacotas, passou a ser o referencial dos colegas, líder de turma, consultor de matérias e um exemplo a ser seguido pelos novos estudantes. Ele fez a diferença, provou que era capaz de ultrapassar os seus limites. Foi além, inclusive, das expectativas de todos os que o acompanhavam em sua jornada. Deixou “o fim do mundo” para virar cidadão do mundo. Essa história é uma bela exceção de alguém que não se concentrou no tamanho das suas asas, mas na altura do vôo que queria alçar no horizonte. a
Este texto é dedicado ao ex-estudante do curso de Jornalismo da Uesb, Euclides Pindaí.
por Bianca Maia biancagbi@yahoo.com.br
por Flávia Mota flavinhamota@gmail.com
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vezes nem percebemos que o sol já apareceu e a armadura bloqueadora de emoções já podia ser despida. Por motivos diversos, ignoramos o incômodo do sentimento de distância. Talvez seja porque estejamos tão perto e ao mesmo tempo tão longe que nem percebemos a impossibilidade de sentirmos as pessoas. É difícil acreditar que as pessoas se acostumam a não dar bom dia, a não agradecer ou pedir desculpas acompanhadas de um sorriso. Não é questão de educação, de bom-humor, de caráter. O frio pode estar presente dentro de cada um de nós, impedindo um abraço como fonte de calor. Ou será que a temperatura reflete no temperamento? O que somos é diariamente moldado por nossas experiências, fatores externos que involuntariamente influenciam nosso interior. Numa realidade tão insegura, vivemos em busca de um refúgio, de proteção. É chegada a hora de admitirmos que devemos nos proteger não do calor, mas da falta dele. por Paula Ariádine paula_ariadine@yahoo.com.br
le era só mais um garoto cheio de sonhos e planos que chegava de uma cidadezinha do interior, lá “onde o vento faz a curva”, para ingressar na universidade. Como boa parte dos estudantes, levava uma vida difícil, cheia de privações e dificuldades e batalhava muito para se manter sozinho em um lugar estranho, por vezes hostil, longe de casa e dos amigos. Lembrava-se constantemente, com muito carinho, de todo o sacrifício que seus pais faziam para custear os seus estudos. Mas ele sabia exatamente o que queria. Era determinado. Sabia que não estava ali por acaso e aproveitar ao máximo todos os momentos tornou-se essencial. Cada congresso e seminário significavam um novo aprendizado. Não perdia nenhuma oportunidade oferecida pelo curso. Nas aulas, era o último a sair, ficava discutindo a matéria do dia. Nas viagens? Enquanto todos estavam se divertindo, tirando fotos e aproveitando a paisagem, o jovem procurava conhecer mais dos temas abordados na aula prática. Nada passava despercebido, sem um questionamento, ou uma resposta a uma dúvida. O seu jeitão intelectual rendeu muitos apelidos, tornando-o alvo mais freqüente das
rasil. Bahia. Verão. Sábado de janeiro. Não, não continue a imaginar uma praia em que biquínis e sungas desfilam de maneira tentadora à luz de um sol ofuscante. Bahia, sim, mas me refiro a Vitória da Conquista, uma das poucas cidades que fogem ao estereótipo baiano. Naquele sábado nublado, depois de uma noite inteira de garoa, tive de acordar cedo em pleno fim de semana para pegar um ônibus. Como todas as outras pessoas, eu também vestia casaco, botas, cachecol e luvas. O frio é uma das características referenciais da cidade. Contudo, notei que o ser humano internaliza aquilo que não deveria ser mais que um fator climático. Os casacos, além de nos aquecer, involuntariamente funcionam como proteção contra o contato físico. Contato que nos faz humanos e nos diferencia dos outros animais. Todos ali, de certa forma, procurávamos nos esconder, ocultar nosso mundo de sentimentos e pensamentos. A cada tentativa de proteção do frio, acabamos nos acostumando a tantos agasalhos. Muitas
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o próprio orçamento e fazem sacrifícios por alguns dias de festa, deixando um rastro de dívidas. Para terem acesso à balada, tomam empréstimos, vendem objetos pessoais ou trabalham em vários lugares diferentes para financiar a curtição. Outros chegam a cometer crimes para conseguirem um lugar em meio ao círculo social. Atos como roubo e prostituição não são difíceis de serem observados, principalmente em pequenas cidades ou lugares onde o turismo é considerável. Atitudes como essas extrapolam o limite da ética e da lei, além de causarem danos morais e físicos às outras pessoas e a quem os comete. O resultado deste delírio momentâneo é muita dor de cabeça por um longo tempo. Contudo, mesmo com o lado ruim, participar de um evento cultural pode ser muito bom, desde que se faça com responsabilidade. Divertir-se faz bem ao corpo e ao espírito, acaba com o estresse e o mau humor. Para aqueles que gostam, os eventos movimentam suas vidas trazendo felicidade, mesmo que momentânea. Pagar por isso pode não ser uma necessidade, mas serve de paliativo na vida de muitas pessoas. “Comprar” uma balada é totalmente aceitável, desde que a pessoa tenha dinheiro suficiente para isso. Tudo se torna muito divertido quando, no dia seguinte, não é preciso trabalhar como louco para saldar dívidas, nem acordar com ressaca moral por ter feito algo errado. Uma festa pode trazer satisfação quando a diversão não resulta em problemas.
A vida é uma festa! Ou não? ARTIGO
Oficina de
A Uesb é uma ilha? Gostei muito do artigo que vocês publicaram (Oficina de Notícias, nº 14), explicitaram a realidade da Uesb muito bem, foi uma matéria digna de jornais famosos no Brasil e no mundo. Parabéns. Delano de Oliveira, funcionário da Uesb/Itapetinga.
2 O crédito de fotos da editoria Reviravolta, da edição 14 do Oficina de Notícias, é de Iulo Almeida.
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Quando o frio vem de dentro CRÔNICA vida é uma festa que deve ser aproveitada ao máximo e, como toda brincadeira adulta, exige responsabilidade de quem faz parte dela. Mas até que ponto pode ir o esforço para fazer parte de uma folia? Vale a pena pagar por algumas horas, ou dias de diversão, em detrimento do resto do ano? Quais os limites desse prazer? Há quem diga que gastar com uma alegria passageira seja uma perda de tempo e dinheiro. Porém, isso não é condenável desde que não cause danos às necessidades básicas e fira os limites do respeito ao se pagar por uma festa. Contudo, essa atitude pode se tornar um ato inconseqüente quando interfere diretamente nas contas e nas condições de vida do folião ou quando transgride a lei e a ordem social, trazendo conseqüências para o resto do ano ou por toda a vida. Em épocas de festas como carnaval e micareta, a concorrência entre blocos movimenta o mercado da folia e, consequentemente, o folião que gosta de participar das festividades. A população se agita, a cidade fica empolvorosa, alegre e cheia de expectativa. Tudo gira em torno de um evento que não alcança uma semana. Nos lugares em que o mercado festeiro é forte, nota-se uma grande influência dessa atividade no cotidiano das pessoas. Algumas, levadas pelo entusiasmo, fazem o possível e o impossível para participar desse mundo de diversão. Entretanto, essa paixão pela folia, ou o desejo de não se sentir excluído, pode ir além de um simples momento de felicidade. Muitas pessoas não reconhecem o limite ao se pagar por essa diversão. Alguns chegam a comprometer por James Freire jamesfreiresouza@yahoo.com.br
Exclusão musical
Notícias
Editora: Bianca Maia
OPINIÃO
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ENTRE-VISTAS Editora: Zélia Sousa
Miconquista 2007: festa fechada, porém gratuita O Secretário Municipal de Cultura aposta em maior segurança e conforto para o folião na Micareta de Vitória da Conquista, que terá um novo formato
Quais os objetivos da manifestação dos estudantes de Odontologia? E por que a escolha do campus de Vitória da Conquista? Os objetivos em Conquista foram tentar participar da reunião (da Pró-Reitoria) de Graduação que aconteceu ontem (dia 22 de março) para tentar pressionar o processo de contratação de dois professores de Odontologia. E outra questão foi tentar marcar uma reunião com a PraRH (PróReitoria de Administração e Recursos Humanos) e a ProGrad (Pró-Reitoria de Graduação). Porque quando íamos à Prefeitura de Campus e no departamento, que é o setor responsável por essa questão de professores e funcionários, não tínhamos muitas respostas. Então, falamos: vamos buscar no foco. Onde é que a gente poderia ter essas respostas de imediato? Aqui. Também achamos interessante passar para todos os estudantes a situação real de Odontologia e também dos outros cursos de Jequié, que sofrem descaso com essa política de favorecimento que a gente vê em nossa universidade.
Stênia Marília Pereira é coordenadora de Formação Política do Centro Acadêmico de Odontologia na Uesb, campus de Jequié. A aluna do VI semestre é representante do Movimento que no dia 22 de março ocupou o Módulo de Medicina no campus de Vitória da Conquista. No dia seguinte, cerca de 50 estudantes de Odontologia, junto com alunos de outras graduações, se manifestaram na entrada da Uesb proibindo o acesso de veículos. Preocupada com as condições do curso e ciente que os demais também enfrentam dificuldades, a estudante diz que é necessária uma integração entre os discentes da Uesb. Em entrevista ao Oficina de Notícias, Stênia esclarece os principais problemas que atingem o seu curso.
Quanto aos outros cursos, qual foi o apoio recebido? Quando paralisamos na segunda-feira (dia 19 de março) fomos mal vistos. Houve um pouco de indiferença, mas conversamos bastante com todo mundo e por isso na quarta-feira tivemos uma paralisação geral. Vimos que os problemas são muito semelhantes. Odontologia quer professor, quer funcionário, quer estrutura física, mas temos que pensar na universidade de uma forma geral. Procuramos semelhantes necessidades entre os cursos e todo mundo abraçou a causa.
A situação do campus de Jequié em relação ao de Conquista é deplorável
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Além dos estudantes, quem mais apoiou o movimento? Os professores estão dando muita força. Há uma preocupação com a qualidade do profissional formado no curso. Existem professores em nossa grade muito qualificados, com mestrados, doutorados. O CA está todo envolvido nessa questão, porém não é só ele que está levando o movimento, mas também os alunos de todos os semestres. O CA e o Colegiado têm ajudado nessas organizações já que são as instâncias que representam os estudantes na universidade. É uma causa geral. Você acredita que existe um favorecimento do curso de Medicina em detrimento do de Odontologia? Eu diria que existem vários favorecimentos. A situação do campus de Jequié em relação ao de Conquista é deplorável: alunos de Pedagogia sem cadeiras, faltam laboratórios, estrutura, ou seja, não há uma instrumentalização. Para professores de Medicina foram liberadas 32 vagas, para Odontologia apenas uma. Isso reflete também em Jequié. Se contabilizar, o curso de Medicina foi bem favorecido nessa questão. Quando falamos de favorecimento, são essas questões, sobre o Módulo de Odontologia e de modo geral, sobre o campus de Jequié.
por Isaac Santos e Rafael Carvalho iscoelho@ig.com.br rafasomebody@hotmail.com
Quais as expectativas em relação ao próximo semestre? O prazo de construção do Módulo é de seis meses e vai entrar mais uma turma na clínica, então vão ser quatro turmas. Estamos esperando a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) liberar R$700 mil, que é a verba destinada à construção da segunda etapa do Módulo. Sem isso, o curso pára no próximo semestre. Estamos lutando para ter menos prejuízo, ou seja, para conseguirmos terminar este semestre. O próximo não se sabe nem quando vai começar. A situação é caótica. O que você acha sobre uma maior integração entre os campi da Uesb? Sentimos essa necessidade. Desde a reunião com o secretário de Educação, em que representantes dos três campi estavam presentes, vimos o quanto é importante estar conversando. Desde aquele momento nos preocupamos em estar planejando ações que visassem os três campi, porque é necessário. Hoje, (23 de março) é um dia muito especial para a gente porque Jequié e Conquista estão juntos num movimento em prol da universidade de forma geral. Queremos, sim, continuar as discussões. Queremos um movimento estudantil firme, uma base forte. Eu sei que essa integração vai ser complicada pela questão geográfica, mas temos muita vontade. Já que a Uesb são os três campi, então vamos encarar sem separações. Qual o contato que o Movimento teve com os estudantes de Itapetinga? Tivemos contato com o pessoal de Itapetinga na reunião com o Secretário de Educação, tratamos de questões com eles e vamos retomar as discussões. Achamos importante essa troca, essa ligação entre os três (campi), acho que se a luta for única, com certeza será mais forte. talvez o motivo seja cultural. Mas existe sim um pouco de comodismo. Costumamos nos manifestar quando acontece alguma coisa. Estamos traçando discussões para que isso seja permanente, para que não se espere uma situação caótica para tomarmos providências.
Stênia Marília, Marília, representante representante do do movimento movimento dos dos alunos alunos de de Odontologia Odontologia Stênia Fotos: Iulo Almeida
Já foi cogitado pela atual administração municipal deixar de realizar a Miconquista? Não há nenhuma discussão sobre o fim da Miconquista. Há quem diga por aí que ela está enfraquecendo, mas é preciso esclarecer que, na verdade, o que houve foram mudanças na festa ao longo dos anos. A partir de 1997, a Prefeitura começou a profissionalizar mais a estrutura da micareta, valorizando as bandas de Conquista. Os blocos também começaram a se profissionalizar, garantindo uma maior infra-estrutura para o seu folião e trazendo atrações de renome. Com isso, os blocos pequenos foram acabando, porque não era mais interessante para eles competir com quem traz grandes atrações. Assim, os foliões dos blocos extintos foram se incorporando aos blocos maiores. Nos últimos anos, os cachês cobrados pelas bandas subiram assustadoramente, e os empreendedores de blocos começaram a perceber que era um grande risco investir tão alto. O Bloco Tôa-Tôa, por exemplo, optou por fazer uma festa fechada, ao invés de desfilar na rua. No ano passado, tivemos apenas o Massicas como bloco oficial no circuito. Essas mudanças não são de responsabilidade do poder público. Não podemos obrigar ninguém a sair ou deixar de sair da festa. É uma opção dos blocos fazer festas fechadas, ao invés de colocar os foliões na rua, atrás do trio elétrico. Poucas cidades no Brasil mantêm esse formato de micareta com blocos na rua. A maioria optou por fazer as chamadas festas Indoor (fechadas). Respeitamos todos os blocos e entendemos que, quantos mais eventos privados houver numa cidade do porte como a nossa, melhor será. Mas, em momento algum, o Prefeito José Raimundo e sua equipe de governo condicionaram a existência da festa à lógica de um bloco ou de outro. Vamos continuar garantindo uma festa popular, para quem queira brincar na rua sem pagar ingresso. Há boatos de que os comerciantes pedem o fim da Miconquista. Existe de fato essa cobrança? Parte do comércio - e eu sei que ela não é a maioria realmente tem feito sugestões, mas não oficialmente. Não é uma premissa verdadeira considerar que a Miconquista estaria dando prejuízo ao comércio. Há, inclusive, uma maior movimentação nas lojas de confecções, de calçados, em restaurantes e hotéis no período da festa. Em relação ao feriado da micareta, estamos buscando um consenso com
Fotos: Zélia Sousa
Em 1989, acatando sugestão dos blocos carnavalescos, o então Prefeito Murilo Mármore criou a Micareta de Vitória da Conquista, que se tornou um dos mais importantes carnavais fora de época do Estado. Ao longo das 18 edições já realizadas, a festa passou por várias mudanças, e, nos últimos anos, surgiram especulações em torno do seu fim. Para esclarecer algumas questões sobre a Miconquista, que, neste ano, acontecerá de 20 a 22 de abril, entrevistamos o Secretário Municipal de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer, Gildelson Felício de Jesus, no cargo desde janeiro de 2005. Ele é licenciado em Matemática, especialista em Administração Pública e foi diretor do extinto Bloco Fascinação.
Secretário de de Cultura Cultura Gildelson Gildelson Felício Felício Secretário
Fotos: Iulo Almeida
os sindicatos dos comerciários, patronal e CDL, para chegarmos a um bom termo nessa questão. Quais são as novidades da Miconquista 2007? Desde setembro de 2006, abrimos uma discussão com todos os empreendedores de bloco, com o Prefeito e órgãos de segurança pública, para definição de um novo circuito. Optamos por mudar o conceito da festa, no sentido de dar uma concentração para o público, evitando aquela impressão de esvaziamento. Toda a folia será concentrada no Bosque da Paquera, que será o grande centro de efervescência da Miconquista. Teremos três palcos em destaque: o do rock, o do forró e o palco principal. A nossa micareta é uma festa multicultural, em termos de estilos musicais. Ao longo desses anos, fomos rompendo com essa idéia de uma festa só de música baiana. Neste ano, vamos dar mais qualidade à festa, que sempre foi de paz, porém garantiremos ainda mais a segurança dos foliões. O circuito será totalmente fechado. Ninguém vai poder entrar com armas, porque as pessoas só poderão ter acesso ao circuito se identificadas com detector de metais. A festa será toda fechada do ponto de vista do acesso, porém totalmente gratuita. Isso é o que eu acho que vai mudar o conceito e o formato da Miconquista. Se não há bloco oficial, não precisamos de um circuito com três quilômetros, o que diminuirá os custos com a festa. Um outro detalhe é que, como não teremos mais blocos oficiais, reduzimos a festa em um dia, ou seja, volta a ser como no passado: sexta, sábado e domingo.
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Não há nenhuma discussão sobre o fim da Miconquista
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Notamos que o movimento faz constantes comparações entre os cursos de Odontologia e Medicina alegando haver diferenças de tratamento da administração em relação a esses cursos. Quais os problemas do curso de Odontologia e por que essa comparação com o curso de Medicina? O curso de Odontologia, com três anos de existência, só tem hoje 12% do projeto (obras estruturais) construído. No Módulo, onde caberia um grupo de 40 alunos, já tem 78. A gente tem que se acotovelar por causa do espaço pequeno. Só tem uma sala de aula, e tudo é adaptado. Faltam quatro professores. Hoje, a clínica, pré-clínica e o laboratório estão em lugares que seriam da Administração e da Biblioteca. Como Odontologia é clínica, é preciso essa Clínica-Escola. Não temos funcionários para receber os pacientes na clínica, nem para esterilizar o material. Como é que a gente vai atender? Não tem condições de transporte. Não tem água encanada. No Módulo de Odontologia, o abastecimento é feito com carro pipa. Quanto à comparação em relação ao pessoal de Medicina, o motivo é que o curso foi implantado na mesma época, na mesma gestão, no mesmo momento político. Só que Odontologia estagnou e Medicina continuou. Viemos aqui para lutar pela nossa causa. Queremos saber por que Odontologia está nessa situação, já que foi implantado no mesmo momento político e também é da área de saúde. Viemos aqui para buscar apoio de todos também.
Em relação ao campus de Jequié, existe integração entre os estudantes? Às vezes, as pessoas colocam que o campus de Jequié, para manifestações, é meio apático. Há uma preocupação de integração, embora tenha um pouco mais de dificuldade,
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Notícias
Oficina de
E os trios elétricos, continuam? Temos blocos alternativos inscritos para a micareta, portanto, haverá trios elétricos, sim. Muitas vezes, só falamos dos blocos comerciais, que vendem abadás, mas existem vários blocos alternativos, que não têm interesse comercial, e a gente acaba cometendo o erro de não menciona-los. O que haverá é uma redução pelo menos na metade do número de trios. Como o circuito ficou
compacto, nossa idéia é contratar três ou quatro, que serão cedidos para blocos sem fins lucrativos. Todos os blocos vão sair da Praça da Escola Normal, e os trios vão ficar circulando apenas no perímetro triangular entre a Rua da Granja, a Avenida Brasil e Rua Siqueira Campos. O Governo do Estado vai investir na Miconquista? Antes do carnaval, estive, juntamente com o Prefeito José Raimundo, visitando o Secretário de Turismo Estadual. Entregamos-lhe os nossos projetos de eventos culturais e de lazer para o município. Cobramos que fosse observado que somos a segunda cidade mais importante do interior. É discriminatório apoiar a micareta de Feira de Santana, carnavais pequenos ou micaretas menores, e excluir Conquista, como vinha acontecendo. Portanto, esperamos receber algum apoio do Estado na Miconquista 2007, pelo menos para garantir algumas atrações que possam dar um maior poder de atratividade à festa. O novo formato da Miconquista - a festa particular dentro do Parque de Exposições, e a pública, no Bosque da Paquera - não criará uma situação de divisão social? Acredito que não, porque nossa preocupação é garantir uma festa de qualidade para o povo, e as pessoas vão entender isso. Enquanto poder público, não podemos entrar na lógica do mercado e da mídia. Não dá para pegar o dinheiro público e usá-lo para contratar uma banda, que tocará apenas por algumas horas, por R$ 100 mil. Isso é coisa para a iniciativa privada. Por mais que venhamos a ter dinheiro, precisamos destinar verbas para outras ações também. Sempre trouxemos artistas de qualidade, mas é a essa questão da mídia que temos que nos contrapor. Para quem quiser curtir a micareta, não vão faltar ritmos. Acredito que o novo formato da festa vai garantir a revitalização da Miconquista. Estamos preparados para que a festa aconteça com brilho, com muita qualidade e animação. Sem bloco oficial neste ano, a Miconquista perde do ponto de vista de algumas atrações nacionais de peso, mas ganha um novo formato, que, sem dúvida, terá qualidade superior ao dos outros anos. Agora é esperar que Conquista e região participem do evento. por Indiana Braga indibraga@yahoo.com.br
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As condições precárias do curso de Odontologia levam alunos a prever paralisação indeterminada das aulas
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“O curso pára no próximo semestre” Editor: Isaac Santos
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Professor Gileno Gileno Paiva Paiva Professor
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por Fernanda Castro e Natália Oliveira nandazzen@yahoo.com.br naticomunic@yahoo.com.br
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Bibliografia consultada: A Conquista do Sertão da Ressaca, povoamento e posse da terra no interior da Bahia, de Maria Aparecida Silva de Sousa e Ymboré, Kamakã, Pataxó - A presença indígena no Planalto da Conquista, organizado por Edinalva Padre Aguiar.
RESGATE
Fonte: Ymboré, Kamakã, Pataxó - A presença indígena no Planalto da Conquista, organizado por Edinalva Padre Aguiar.
Notícias
YMBORÉ - Fabricavam e utilizavam botoques. Acreditavam que a alma se perdia durante o sono. Sabiam tirar água de bromélias e taquara, andavam semi-nus. Só os homens usavam ornamentos com penas. PATAXÓ - Andavam nus, semi-nomandismo, usavam talos de bambus nos lábios e orelhas. Acreditavam na vingança dos mortos e nas fatalidades como ações dos espíritos que retornavam a terra. MONGÓIO - O casamento entre as aldeias era encarado como uma troca: a tribo que recebia a mulher doava outra mulher à aldeia que doou. Os chefes de família eram enterrados de cócoras e acendiam-se fogueiras nos túmulos. Para dormir, eles utilizavam peles de animais ou folhas.
Editor: Welder Dias
Índios do Planalto da Conquista
Para sempre na memória
O conflito entre índios e bandeirantes em Conquista é permeado de lendas. A Praça Tancredo Neves é uma das que permanecem no imaginário da população. Não é raro ouvir que lá é um grande cemitério, onde foram enterrados os índios após o Banquete da Morte. Para o estudioso da história, Ruy Medeiros, o fato não passa de um relato produzido por pessoas que não pesquisam seriamente. “A região da praça era próxima à antiga igreja que possuía um cemitério ao lado. Ali haviam diversas pessoas enterradas, não somente índios, mas pessoas das mais variadas origens”. Para o antropólogo José Luis Caetano, não existem estudos suficientes para que se possa falar sobre a questão da herança das tribos em Conquista. Para ele, não há um grupo indígena isolado que possa reivindicar uma identidade nesta região. “Por isso, a cultura indígena permanece oculta nesta sociedade.” A memória de um povo é construída a partir do respeito às culturas que formam a sua identidade. Em Vitória da Conquista esta afirmativa foi deturpada. Por conta disso, até hoje se reproduz a versão do “herói bandeirante”. A comunidade regional tem um conceito de sociedade pouco diversificado em que somente um grupo dominador foi responsável pela formação histórica da cidade. Será possível prosseguir sustentando essa versão?
De diretor de setor a técnico de manutenção, Gileno Paiva dedicou grande parte de sua vida à universidade e deixou como herança a TV Universitária
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Segundo o professor e advogado, Ruy Medeiros, por volta de 1752 houve um grande conflito entre Bandeirantes e Mongóio, que entrou para a história de Conquista. Os relatos indicam que, após perseguir um grupo de índios pelas matas durante todo o dia, os colonizadores, liderados pelo Capitão João Gonçalves, conseguiram alcançá-los e travaram uma luta difícil às 4 horas da manhã. A esta altura, os bandeirantes já estavam fisicamente cansados e as armas não funcionavam. Para animar o grupo, de acordo com registros históricos, o capitão fez uma promessa a Nossa Senhora das Vitórias. Se ganhassem o conflito, ergueriam uma igreja em homenagem à Santa. Após o juramento, os homens brancos partiram para o embate corpo a corpo. Munidos de facão, conseguiram vencer os índios, que não sabiam lutar com este tipo de arma. Por isso, alguns acabaram se rendendo, outros foram aprisionados ou fugiram. O local onde ocorreu este conflito está a 6 km da cidade de Conquista e, atualmente, abriga o povoado que carrega um nome nada significativo: Batalha. João Gonçalves, não entrou para a história como um descobridor de minas, sua pretensão, mas como um grande dizimador dos povos indígenas. Suas práticas violentas ganharam notoriedade e o levaram a ser requisitado para “missões” de grande dificuldade contra os ditos “selvagens”. Os próprios índios, em 1790, se dirigiram ao então Governador da Capitania, Fernando José de Portugal, para suplicar a remoção de João Gonçalves do Sertão da Ressaca. As tribos indígenas foram exterminadas não só pelo poderio bélico dos bandeirantes, mas também por terem tido o seu espaço natural reduzido. Os conquistadores, ao não encontrar ouro, passaram a utilizar as terras para criar gado, grandes pastos surgiram onde antes a mata era dominante. Os grupos indígenas, principalmente os nômades, dependiam da caça e da pesca. Sua existência estava ligada diretamente à natureza. Como sobreviver? Os Mongoió acreditavam que a resposta seria uma aliança com os colonos para derrotar seus inimigos, os Ymboré, e garantir o seu espaço. Mas, em 1806, após um período de “paz”, os Bandeirantes, que não tinham interesse em dividir a terra, convidaram os Mongoió para celebrar a suposta trégua. “Eles utilizaram uma prática comum, que já dera certo na África e em outros lugares do Brasil: o Banquete da Morte”, diz Ruy Medeiros. Na “festa”, os índios foram embriagados e atacados, sem poder reagir. Eles foram cercados e massacrados, inclusive mulheres e crianças. O povo Mongoió foi trucidado e sucumbiu.
que fosse, ele saía daqui para ir consertar a torre”, afirmou Aracely Paiva. Foi com muita persistência que Gileno sustentou essa idéia que hoje é uma realidade retizada. Porém, ele foi destituído do cargo de Diretor da TV e nomeado Diretor Técnico, logo após ter se afastado durante 45 dias para tratar da Síndrome de ELA, Esclerose Lateral Amiotrófica, doença que o vitimou. “Quando eu conversei com Gileno, logo após o seu afastamento, eu notava que ele estava tomado de um verdadeiro trauma, se sentindo um homem bastante injustiçado com a maneira como houve a substituição dele por outras pessoas”, relatou Ruy Medeiros. O reitor Abel Rebouças foi procurado para possíveis esclarecimentos sobre o episódio, mas não teve tempo em sua agenda para atender a reportagem do Oficina de Notícias. Foram 22 anos para que o objetivo maior de Gileno fosse alcançado, mas ele faleceu antes mesmo da TV completar um ano. “Uma perda para todos nós, familiares, amigos, professores, alunos e principalmente para a universidade. Gileno merece que a sua memória seja lembrada, possivelmente com a denominação de alguma sala do Surte. Acho que seria uma homenagem justa, no mínimo”, assegurou José Duarte. Boa parte da história da Uesb se confunde com a trajetória deste sonhador, que sempre lutou em busca de novas perspectivas e de reconhecimento para a universidade. Ele é um exemplo a ser seguido por todos. O professor Ruy traduz o sentimento de cada um que conviveu com Gileno: “Eu tinha uma admiração muito profunda pelo ser humano e pelo funcionário que foi Gileno Paiva. Ele era um homem de espírito público, era aquele servidor público que ia além do cumprimento de suas simples tarefas”.
“Mesmo com o imenso estrondo das armas, os temíveis Ymboré se escondiam atrás das árvores. Fornecendo flechas, as mulheres auxiliavam os homens que as disparavam, em grande quantidade, de tal forma que feriram três soldados. Os índios resistiram por horas até que foram expulsos, deixando 21 mortos e dez prisioneiros: oito crianças e uma mulher, que amamentava o filho”. Apesar de cinematográfico esse relato do Capitão João Gonçalves, citado pela historiadora Edinalva Padre Aguiar em seu artigo Os grupos indígenas do Sertão da Ressaca, é real e aconteceu na região de Vitória da Conquista. No antigo Sertão da Ressaca, foram registrados os mais violentos conflitos entre grupos indígenas e bandeirantes no final do século XVIII. O Sertão da Ressaca se situava em uma região estratégica, ligando Minas ao litoral da Bahia. Com o esgotamento do ouro, a busca por novas terras se tornou a melhor alternativa para superar a crise. Bandeirantes, como João Gonçalves da Costa, escravo liberto, e João da Silva Guimarães, viam na proximidade com a região de Rio de Contas a possibilidade de encontrar novas minas. Até a chegada dos bandeirantes, por volta de 1752, o Sertão da Ressaca pertencia a três grupos indígenas principais: os Ymboré/Botocudos, Kamakãs/Mongóio e Pataxó, pertencentes ao tronco Macro-Jê. Os índios eram conhecidos como “língua travada” por não se adaptarem a convivência com os brancos. Apesar de estarem no mesmo espaço geográfico, as tribos eram rivais. Os Ymboré e Pataxó eram nômades e tinham grande habilidade para a luta. Por causa disso, o conflito com os bandeirantes foi muito mais intenso e violento do que com o Grupo Mongóio. Estes eram sedentários e acabaram sendo mais facilmente dominados, auxiliando, inclusive, os bandeirantes na busca pelos Ymboré, seus inimigos. A história de Vitória da Conquista foi construída em cima de mitos, não possibilitando conhecer nenhuma outra visão que não seja a do vencedor, neste caso os bandeirantes. Os documentos históricos são poucos e elaborados pelos colonizadores. Poucos relatos, como o do príncipe alemão Maximiliano, que esteve no arraial da Conquista por volta de 1817, apresentam uma visão desvinculada dos interesses econômicos imperiais. Em seu livro Viagem ao Brasil, o príncipe revela características da fauna, flora e dos costumes e hábitos dos índios que habitavam a região. Apesar de escassas, as informações existentes deixam claro que a conquista do Sertão da Ressaca foi longa e difícil, por conta da resistência dos índios.
Batalha a
por Nayara Souza e Welder Dias gigi_1264@hotmail.com welder.ds@hotmail.com
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Gileno fez alguns cursos na área de técnico em rádio e, na equipe da Ditora, se dedicava muito à parte técnica, como na manutenção de equipamentos. Ele fazia questão de prestar tais serviços a fim de poupar recursos da universidade. Apenas em alguns casos, quando não havia material para conserto, os equipamentos eram mandados para fora da cidade. “Muitas vezes Gileno comprou equipamentos com dinheiro do próprio bolso”, afirmou o cinegrafista e amigo Alexandre Rocha. Em 1993, surge a Pró-Vídeo, Produtora Universitária de Vídeo da Uesb. Dessa forma, a Ditora passa a ter apenas a função de disponibilizar aos professores equipamentos audiovisuais necessários à melhor qualidade do ensino, tais como retro-projetores, vídeos-cassete, televisores, projetores de slides e, mais tarde, DVDs e computadores. A produção de vídeos educativos e documentais da instituição coube à PróVídeo. Nesse mesmo ano, Gileno se aposenta como professor e passa a trabalhar exclusivamente na Produtora.
Da Da esquerda esquerda para para aa direita: direita: índios índios Mongoió, Mongoió, em em tela tela de de Debret, Debret, Ymboré Ymboré ee Pataxó Pataxó em em gravuras gravuras de de Maximiliano Maximiliano
TV Universitária
Vitória da Conquista foi construída em cima do mito do vencedor. A herança dos seus primeiros habitantes, Mongoió, Ymboré e Pataxó, foi massacrada. A conseqüência disso é uma cultura segregadora
Foto: Arquivo da família
Opressão e mito na formação de uma cidade
A partir de 1985, após uma viagem de algumas semanas a São Paulo, uma paixão passou a dominar o coração do professor Gileno: um canal de TV para Uesb. Em 1986, com o apoio dos administradores da universidade Walquíria Albuquerque e Orlando Leite Júnior, o grupo composto por Gileno Paiva, Jorge Luiz Melquisedeque, Janid Ramos e José Duarte enviou um projeto ao Ministério das Comunicações, que na época tinha Antônio Carlos Magalhães como ministro, visando à criação da TV Universitária. O Ministério autorizou o projeto, porém ele foi engavetado na gestão do então reitor Carlos Botelho. Durante alguns anos, a universidade teve a concessão disponibilizada para apresentação de um Telejornal através do sinal da Embratel, o Tela Viva, que era exibido uma vez por semana e veiculado para todo o Brasil. Contudo, o projeto não deu certo, uma vez que o objetivo maior era de que houvesse uma programação em nível regional. A Uesb passou a apresentar um programa na TV Cabrália. Por problemas com a emissora e intervenções na universidade, após três anos, o programa teve de sair do ar. Começava aí mais uma etapa dessa luta: a criação da TV Universitária. Em 2004, é criado o Sistema Uesb de Rádio e Televisão Educativas (Surte), órgão responsável pela repetição do sinal de TV. Com o propósito de concretizar o projeto da TV Universitária, Gileno viajou por diversas cidades brasileiras, como Brasília e Uberlândia. Finalmente, em 2006, é implantada, com a parceria da TV Educativa (TVE), a TVE/Uesb. O sonho de Gileno havia se realizado. “Ele abandonou uma parte da vida dele, deixou um pouco a família de lado em função da TV”, afirmou Alexandre Rocha. Com a TV no ar, havia um problema de sinal na transmissão. A imagem por diversas vezes chuviscava e isso deixava Gileno insatisfeito, pois ele queria ver a imagem perfeita. “Ele deu a vida pela Uesb, a primeira coisa que ele fazia quando chegava em casa era ligar a televisão. Se a imagem estivesse ruim, podia ser a hora
Editora: Natália Oliveira
13 de fevereiro de 2007. A Uesb perde um dos seus mais antigos funcionários: o professor Gileno Novais Paiva. Foram 61 anos de vida, 27 deles dedicados à universidade. Inicialmente como professor, depois como produtor de vídeos. A persistência o levou a conseguir, junto com seus colegas de trabalho, aquilo que poucas universidades no Brasil têm: uma TV Universitária. Pioneiro no setor audiovisual em Vitória da Conquista, ele ingressou na instituição em 1980 para ministrar as disciplinas de Literatura Inglesa/Norteamericana e Língua Inglesa, no curso de Letras. Nessa época, a Uesb ainda era Faculdade de Formação de Professores de Vitória da Conquista (FFPVC) e estava instalada no prédio onde hoje funciona o Colégio Estadual Adélia Teixeira. Em 1983, Gileno Paiva foi convidado para implantar o Setor de Audiovisual na Uesb, apesar da universidade dispor de poucos equipamentos. A Diretoria Técnico-Operacional de Recursos Audiovisuais (Ditora) foi criada, começando a produção de vídeos na instituição. No início, passaram pela equipe, coordenada por Gileno, nomes como Valeriano Queiroz, Iolando Fagundes e Jorge Luiz Melquisedeque - participante mais ativo na procura por novos equipamentos e produção. Eles tinham o compromisso de filmar tudo que a Uesb produzia, desde os eventos realizados na instituição até as mais simples produções de caráter educativo. Com o passar dos anos, a Ditora evoluiu e muitas pessoas fizeram parte desse processo. Diversos trabalhos passaram a ser produzidos por Gileno e Melquisedeque, juntamente com o professor José Duarte, Sônia Mota, dentre outras. “Gileno foi responsável pela edificação do primeiro registro material aqui da Uesb. Era uma pessoa muito envolvida com a dinâmica da universidade e com o setor de Recursos Audiovisuais”, afirmou o professor do curso de Comunicação José Duarte. “Quase tudo que nós temos em matéria de mídia aqui na universidade decorre do trabalho de Gileno”, declarou o professor do curso de Direito Ruy Medeiros. Na época, ainda não havia ilha de edição na cidade e as filmagens muitas vezes eram feitas com câmeras emprestadas. Segundo a filha de Gileno, Aracely Paiva, seu pai se inspirava na famosa frase do cineasta Glauber Rocha: “bastava uma idéia na cabeça e uma câmera na mão”. Apesar das dificuldades da produção, alguns documentários foram premiados nacionalmente, o que deu mais impulso para o desenvolvimento do setor na Uesb. É o caso do documentário A Chacina do Sarampo, visto em diversas cidades brasileiras e até mesmo em Cuba. No início da década de 90, na administração de Pedro Gusmão, a Ditora ganhou uma ilha de edição Super VHS, possibilitando a edição de vídeos com melhor qualidade. Novos funcionários foram contratados, como o fotógrafo Sabiá e Esmon Primo, atual diretor do projeto Janela Indiscreta Cine Vídeo. Em 1992, chegaram os cinegrafistas e também editores Renato Correia e Alexandre Rocha. Estava mais próxima a criação de uma produtora de vídeo.
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RESGATE
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ESPAÇO ABERTO Editora: Andressa Cangussú
Como os problemas financeiros são freqüentes entre os estudantes, dificilmente se escolhe com quem (In) Segurança
Apatia no cenário gay de Conquista Falta atitude dos homossexuais para transformar pequenas iniciativas em um movimento organizado
O sol estava mais quente que de costume. A fome, que a cada minuto se intensificava, tornava-se uma inimiga íntima. Chegava a ser assustador. Além disso, um dilema o atormentava: gastar ou não o seu único passe? Mas e no dia seguinte, como ele iria para a universidade? No meio da sua angústia, a galope, veio a solução. Uma carroça surge ao longe e uma idéia invade seus pensamentos. Hoje a carona pouco convencional é contada aos risos pelo estudante do oitavo semestre de Agronomia, Renan Pina: “Peguei carona com mais cinco colegas numa carroça, que me deixou perto da minha casa. As pessoas sorriam ao nos ver. Nossos colegas ficaram semanas fazendo resenhas sobre o ocorrido”. Pedir carona não é uma prática nova na universidade, localizada a cerca 10 km do Centro de Vitória da Conquista. Com o reajuste de 21,3% na passagem de ônibus, em vigor desde 21 de janeiro de 2007, intensificaram-se os pedidos dos caroneiros neste primeiro semestre do ano. Esses estudantes são na maioria de outras cidades e vêm para Conquista cursar o nível superior. Longe da casa dos pais, procuram as repúblicas e os pensionatos, logo as despesas vão aumentando gradativamente e qualquer possibilidade de economia é válida. Segundo a estudante de Agronomia, Jaqueline Costa, é mais viável pegar carona do que gastar um passe. O estudante de Direito, Mauro Jorge Vieira, também concorda: “o mais importante é a contenção de despesas”. Os universitários têm um lugar específico para pedirem carona, localizado próximo ao Módulo dos Laboratórios. No local havia uma placa: “Seja amigo, dê carona ao estudante”, que foi colocada no primeiro semestre de 2006 a pedido dos graduandos, mas desapareceu. “Nós a parafusamos justamente para que ela não soltasse. Não fomos nós que tiramos, foi realmente um ato de vandalismo. Infelizmente, nem todos os estudantes lutam pelos mesmos ideais”, declarou a substituta do Prefeito de Campus Neide Aguiar Silva.
se pega carona. “Contanto que chegue à cidade, qualquer carona é válida, mas quando o cara abre o carro, observo mais ou menos a sua feição. Não é meio justo, mas é um critério relativamente de segurança”, declarou Mauro Jorge. Entretanto, algumas vezes, os universitários se irritam com a “insensibilidade” dos motoristas. “Eu fico chateado porque é uma questão de boa vontade, simplesmente. Todo mundo que passa por aqui, passa por onde vou ficar. Fico um pouco irritado”, disse o estudante de Direito, Caio Ricardo Pereira. Já a aluna de Agronomia, Silvia Azevedo, disse ficar “retada. Acho falta de consideração. Não custa nada, né? Ainda mais com o carro vazio”. Os motoristas se defendem explicando que caronas mal sucedidas os fazem pensar bastante antes de abrirem novamente a porta do carro para um estranho. “Uma vez dei carona pra uns três (rapazes) que estavam no ponto de ônibus, e os meliantes roubaram uma pasta que estava no carro”, conta o estudante de Direito, Vitor Amorim. Situações inusitadas sempre ocorrem, como conta o seu colega, Paulo Maurício, “Dei carona para uma pessoa que estava com um odor ardiloso, então tive que abrir a janela e pedir para ela abrir também. E o pior é ter que ouvir todos os dias a pessoa fétida falar: ‘e aí, já vamos?’”. Os estudantes consideram a carona um ato solidário, que todos deveriam aderir sem restrições à cor nem ao sexo. Jaqueline conta que, um motorista uma vez lhe confidenciou não gostar de dar carona a mulheres, por perceber o desconforto delas, quando ficam sozinhas, no carro com um homem. “Eu entendo o lado dos motoristas, mas eu acho que não há motivo deles negarem carona, porque aqui há pessoas que necessitam da carona. Não são pessoas que vão agir de má fé, mas eu entendo, eles têm certa razão”, afirmou Renan Pina. Para os motoristas não é tão fácil assim, afinal, confiar em um anônimo torna-se uma tarefa difícil, uma vez que o índice de violência só tem aumentado nesses últimos anos. “Na realidade quando afirmo que dou carona falo de uma carona seletiva, pois não dou carona a todas as pessoas que pedem. Geralmente, dou carona a colegas. Têm casos em que quando estou acompanhada de algum deles, eu venha a dar carona a um
por Adriana Brasil e Luara Vieira dricadelu@hotmail.com luarapvieira@yahoo.com.br
“Uma vez eu e uma amiga resolvemos dar carona a três estudantes. Cumprimentei-os e voltamos a conversar sobre assuntos do coração. Ela reclamava do namorado dela e eu do meu. ‘Meti o pau’ na criatura, soltei o verbo. No Centro os rapazes desceram. A grande surpresa dessa carona estava por vir. Meu namorado me ligou perguntando se eu falava mal dele para as pessoas. Claro que eu disse que não. Foi aí que ele me revelou que os três estudantes eram amigos dele. Fiquei uma fera com aqueles meninos, pois ganharam carona e ficaram ouvindo a conversa alheia. Que coisa feia!”. Anamaria Santos Maia “O cara falou que ia me levar até o Centro. Confiei nele, e aí quando chegou ao Inocoop, ele mudou de idéia de uma hora pra outra. Disse que não ia mais para o Centro. Tive que ir andando para casa porque não tinha passe nem dinheiro”. Renan Pina
Caronas curiosas desconhecido, pois me sinto mais confortável e segura”, argumentou a recém graduada em Direito, Anamaria Santos Maia. Já Paulo Maurício afirmou que só oferece carona aos estudantes que estiverem trajando o uniforme do curso. Esses critérios de segurança, adotado por alguns motoristas, são a maneira encontrada para ajudar quem pede carona, sem, no entanto, comprometer o seu bem-estar. Enquanto os motoristas não escolhem quem será ajudado, os estudantes, com olhares atentos, aguardam uma oportunidade para voltarem para casa. Uma espera longa e, muitas vezes, cansativa; uma rotina. Um cenário constante na universidade, palco de diferentes episódios na vida desses personagens. Essa é a vida do estudante que precisa de um outro alguém para chegar em casa.
A carona na Uesb rende histórias inusitadas entre caroneiros e motoristas e é uma das maneiras usadas pelos estudantes para redução dos gastos
Tem vaga aí? Fotos: Adriana Brasil
“Somos, logo existimos!” Essa frase foi a primeira coisa que me chamou a atenção assim que cheguei à festa Morgana Mix. A batida se ouvia de longe. E à medida que caminhava em direção ao local o som ficava mais e mais alto. O clima já podia ser sentido. Os transeuntes habituais deram lugar aos performistas, malabaristas, e drag-queens. A esta altura da noite a rua foi tomada por uma multidão de gays, simpatizantes e curiosos a fim de uma noite divertida e alto astral. Mesmo com toda a purpurina, não parava de pensar na frase que vi assim que cheguei. Aquela frase pulsava, gritava, pedia para ser ouvida - incomodava até. Era como se dissesse: nós existimos, estamos aqui e não queremos mais nos esconder. A quarta edição do Morgana Mix, uma festa direcionada ao público GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros), foi realizada no dia 12 de janeiro deste ano, no Espaço Massicas em Vitória da Conquista. A maioria dos homossexuais que participaram do evento expuseram seguramente sua orientação sexual e não tiveram medo “de sair do armário”. Mas até onde essa coragem é exposta em outras instâncias sociais? Em quais outros momentos o homossexual conquistense se articula para demonstrar sua força e representatividade? Ao que parece, a poética frase, “somos, logo existimos”, pintada em letras garrafais na entrada da festa, leva a uma indagação: Eles existem, sim! Mas será que lutam? Segundo o estudante de Jornalismo da Uesb, Leandro Lima: “As pessoas estão bem mais interessadas em participar de festas, do que lutar pela causa gay. Elas querem um projeto de lei, querem igualdade, mas pouca gente se mobiliza” O vereador do município de Vitória da Conquista Adão Albuquerque é enfático ao dizer que uma coisa é assumir sua orientação sexual, outra é assumir a bandeira do movimento do ponto de vista político-social. Para ele, não há movimento gay em Conquista, existem pequenas iniciativas, a maioria delas voltadas para a questão da diversão, mas nada para o debate nem para a formação política. “Já tentamos, por várias vezes, criando associações. Só para vocês terem idéia, em janeiro marcamos uma reunião aqui na Câmara de Vereadores e ninguém compareceu”, critica. a
Parada gay Há algum tempo se discute a realização de uma parada gay em Conquista. Entretanto, um evento dessa dimensão não pode ser realizado sem que antes haja uma ampla discussão com o público GLBT da cidade. Para um dos organizadores do Morgana Mix, Alexandre Damião, “as paradas já cumpriram seu papel de dar visibilidade à causa, mas hoje se transformaram em um carnaval fora de época”. Adão, por sua vez, ressalta que essa passeata pode acontecer um dia como fruto de um processo de amadurecimento político da cidade e dos homossexuais. “Se acontecesse hoje uma parada gay em Conquista,
quantos gays participariam? Poucos. As ruas certamente estariam lotadas, não de gays, mas de pessoas preconceituosas prontas para 'jogar pedras' e apontar o dedo”, completa o vereador. Evolução “Ao se transformar numa cidade universitária, Vitória da Conquista atraiu um público jovem que, com uma nova visão de mundo, tem alterado a cultura tradicionalista da cidade e contribuído para a superação de alguns preconceitos”, afirmou o estudante de direito da Uesb, Fábio Fernandes. Apesar da pouca articulação dos homossexuais em Conquista, alguns espaços de discussão têm sido criados. Sites, blogs, comunidades no Orkut e associações começam a despontar no cenário GLBT da cidade. O Pátria GLBT (patriaglbt.com.br) é um desses espaços. Com a intenção de quebrar o estereótipo de que todo site destinado ao público gay tem linguagem vulgar e é atalho para filmes pornográficos, Leandro pretende colocar no ar uma página que trate de educação, cultura, política, entretenimento e moda, direcionando esses temas ao público gay. “A sociedade tem evoluído e não teria hora melhor para o movimento GLBT evoluir junto. Uma cidade como Vitória da Conquista, com mais de 300 mil habitantes, não pode fazer de conta que todo mundo é branco, heterossexual e que quem domina são os homens”, declara ele.
Os organizadores do Morgana Mix também pretendem promover ações voltadas para conscientização política da comunidade. Além da esperadíssima festa, eles realizarão, pela segunda vez, uma feira cultural que oferecerá arte e serviços para cidade. Outra iniciativa direcionada ao público GLBT é a Acrópole (Associação Gay do Sudoeste da Bahia). A princípio criada com o objetivo de abranger toda a região Sudoeste, hoje passa por uma reformulação e pretende ser uma associação gay de Conquista, uma vez que as cidades circunvizinhas se organizaram em associações próprias. Um dos objetivos da Acrópole é tentar resgatar a dignidade de muitos homossexuais, principalmente aqueles de baixa renda, que não tiveram acesso a uma formação educacional nem a oportunidade de desenvolver seus talentos. Há ainda um projeto de lei, elaborado pelo vereador Adão, que pretende coibir qualquer forma de discriminação por orientação sexual. Preconceito Ainda que a sociedade tenha convivido de forma “aceitável” com as diferentes orientações sexuais, o preconceito e a discriminação estão longe de ser temas encerrados. A manifestação de afeto por pessoas do mesmo sexo em locais públicos é considerada por muitos, atentado ao pudor, quando na verdade, os homossexuais têm os mesmos direitos que os heterossexuais de demonstrar carinho ao companheiro. “Eu me sinto à vontade de estar com o meu o parceiro em qualquer lugar, seja lá onde for”, alfineta Adão. E ainda acrescenta: “Se você está em algum lugar e vê uma manifestação de carinho entre dois homens ou duas mulheres, isso só te incomoda quando esta questão é mal resolvida na sua cabeça”. Não são raros os casos em que os homossexuais sofrem agressões relacionadas à sua opção sexual. Fábio, o estudante de Direito, recorda que em um show, na cidade de Ilhéus, por pouco não foi atingido por uma pedra quando beijou outro rapaz. “Ninguém é obrigado a aceitar, mas todos devem respeitar”, enfatiza ele. Na verdade, as pessoas ainda têm certa dificuldade de perceber que as individualidades não significam necessidade de um choque. “Temos a oportunidade de fazer com que a situação se inverta. O fato de eu estar na Câmara de Vereadores é novidade para muita gente, mas para muitos tem sido uma boa novidade, porque as pessoas têm aprendido a conviver com o diferente, percebendo que o diferente não é desigual!”, finaliza Adão.
por Gracielly Bittencourt e Vitor Nascimento gracielly87@hotmail.com vitoruesb@yahoo.com.br Foto: Andressa Cangussú
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Notícias Oficina de
Editora: Laiana Meira
ESPAÇO ABERTO
6 Foto: Iulo Almeida
Vitória da Conquista e cidades circunvizinhas contarão com uma indústria produtora de remédios. Será implantada na cidade uma unidade da Bahiafarma, indústria farmacêutica que está sendo reativada após uma parceria entre Ministério da Saúde, governo municipal e agora Governo do Estado. As obras foram iniciadas no início do mês de fevereiro e têm um término previsto para dois anos. Segundo a Secretária Municipal de Saúde, Suzana Ribeiro, “os benefícios não serão apenas para a população de Conquista, mas para toda a região Sudoeste. Haverá geração de empregos diretos e indiretos”. Além disso, as prefeituras dessas cidades poderão comprar os medicamentos a preços menores. “Os benefícios serão visíveis no próprio sistema de saúde, com a garantia da aquisição de medicamentos básicos”, completou Suzana. A produção da Bahiafarma vai destinar-se exclusivamente à distribuição gratuita de remédios à população, de acordo com os critérios estabelecidos pelas Prefeituras interessadas no programa e suas respectivas Secretarias de Saúde. Os medicamentos a
serem produzidos serão os básicos, tais como: antitérmicos, analgésicos, antiinflamatórios, de controle da hipertensão, colesterol, diabetes etc. O projeto, que tramitou de 2003 a 2006, começou com o apoio do Ministério da Saúde ao município. Hoje, conta também com a parceria do Governo Estadual, num alinhamento político muito oportuno para sua concretização. Antes de conseguir mais esse apoio, o orçamento era de apenas R$ 4 milhões e agora está em torno de R$18 milhões. Para a construção, primeira etapa já em andamento, há a estimativa de contratação de 200 pessoas. Depois de instalada, o quadro será composto por algo entre 130 a 150 funcionários. Até o pleno funcionamento da indústria, os medicamentos serão submetidos a uma série de testes de fórmulas durante um período de seis meses. Esses testes são necessários para que haja um posterior registro na ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). por Diogo de Oliveira diogool10@yahoo.com.br
Oficina de
Bahiafarma é reativada em Vitória da Conquista
SOCIEDADE
por Caíque Santos caique@nucleouniversitario.com.br
Notícias
Fonte: Disep
Editora: Amanda Moreira
Responsáveis a O processo de construção das identidades e da cidadania se dá nos espaços da família, da escola e da comunidade. É necessário um compromisso solidário, um pacto entre sociedade e o Estado, pois ambos têm sua
Capes analisa projeto de doutorado
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Uesb é a última universidade a discutir cotas na Bahia
Roubo a transeuntes em 2006
Com 26 anos de história e 25 cursos de graduação, a Uesb tem apenas mestrados em Zootecnia, Agronomia, Engenharia de Alimentos, Química e nenhum doutorado. Em março, a universidade apresentou ao órgão competente do Ministério da Educação, a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), o projeto de doutorado em Zootecnia, um mestrado profissionalizante em Produção Agropecuária no Semiárido e outro em Memória e Linguagem. A divulgação do resultado ainda não tem data definida. A Capes é a responsável por avaliar e liberar a implantação dos projetos de pós-graduação enviados pelas universidades. Segundo a pró-reitora de Pesquisa e PósGraduação (PPG), Cristiane Leal, a aprovação da implantação de mestrados e doutorados está diretamente condicionada à qualificação de professores na área pleiteada. Isso significa que é necessário um mínimo de professores doutores, com produção científica, para que o órgão possa recomendar a pós-graduação solicitada. Hoje são 90 professores afastados para conclusão de doutorado e 137 doutores na universidade, no entanto, nem todos são produtivos. “Não basta ter o título de doutor. Tem que continuar trabalhando, investindo em si próprio, produzindo projetos, publicando resultados, porque se o doutor não publica projetos e resultados para a Capes, ele torna-se improdutivo. Ou seja, não conta para o corpo docente de mestrado ou doutorado”, explicou a pró-reitora. Para dar suporte ao programa de capacitação, a Uesb destina parte dos recursos à concessão de bolsas de mestrado e doutorado ao corpo docente. O programa exige do professor a conclusão da pós-graduação e a permanência na instituição pelo período correspondente ao afastamento para qualificação. São comuns os casos de professores que terminam doutorado ou mestrado e querem ir embora da universidade. Ou professores que não terminam a pós-graduação que foram liberados para cursar. Nessas situações, os docentes podem ser punidos legalmente e obrigados a devolver todos os recursos neles investidos. Capacitado, o professor pode se reunir e montar propostas de pós-graduação para a universidade. No entanto, há uma série de exigências da Capes para que os projetos sejam aceitos e, muitas vezes, eles são indeferidos. É o caso do Mestrado em Memória e Educação. O projeto “foi articulado, e incluímos doutores da casa, com produção acadêmica, e os que também não eram da área de Educação, mas que tinham projetos dentro da área do Museu Pedagógico. Para a Capes, é claro, só podem participar professores doutores. A resposta foi que, do ponto de vista do mérito, o projeto correspondia com o desejado. No entanto, tinha uma produção acadêmica relativamente pequena e também não possuía o corpo docente com formação na área de educação, que correspondesse ao percentual exigido, 75%”, explicou a doutora em Educação Lívia Diana Guimarães. A implantação de cursos de pós-graduação é essencial para a produção de conhecimento na universidade. Também há uma cobrança interna e externamente pelos interessados em ir além da graduação e sem condições de sair de Conquista ou região. “É importante a implantação de cursos de pós-graduação na universidade, porque você não vê sua formação limitada a graduação, você enxerga a possibilidade de uma pós sem precisar ir a outras localidades. Além do mais, cursos de pós-graduação aumentam os títulos da universidade. A universidade cresce e se qualifica”, diz o graduando de Geografia, Alex Dias.
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Por mais paradoxal que possa parecer, o fato é que o índice de furtos e roubos no bairro Pedrinhas além de ser inferior ao dos bairros de classe média e Centro da cidade, decresceu no último ano, segundo dados do Setor de Estatística do Distrito Integrado de Segurança Pública (Disep). Surge então uma questão, no mínimo, intrigante: o decréscimo no número de furtos e roubos nesses bairros seria devido a um certo respeito por parte dos marginais em relação aos vizinhos ou simplesmente os praticantes de delitos visam os bairros com mais “recursos”? Embora nenhum estudo sério sobre esse tema tenha sido produzido localmente, parece que as duas respostas são corretas. “Eu acho que talvez quem furta aqui nem seja desse bairro, seja de outros. Eles não furtam no bairro que moram até porque a própria comunidade [os] conhece”, diz a educadora Gerlany Silva. “A nossa escola tem poucos recursos, mas os poucos que tem poderiam ser levados por eles facilmente, no entanto, nós nunca fomos furtados. Até temos pais de alunos que cometem delitos, mas por terem uma convivência boa com a comunidade, com os funcionários da escola, eles têm esse respeito”, conclui.
Ilustração: James Freire
Mal o sol “acorda” e junto com ele, Dona Maria põe-se de pé para mais uma jornada de trabalho. Sempre com um sorriso largo, essa senhora de 38 anos começa seu dia com uma longa caminhada até o local de trabalho. “Não pego ônibus, vou a pé, porque não tenho dinheiro”, diz sorrindo a diarista. Cabe a ela e ao seu esposo, a tarefa de sustentar os quatro filhos. Moradora de um dos bairros considerados mais violentos da cidade, a protagonista, que de fictícia possui aqui apenas o nome, mora no bairro Pedrinhas na cidade de Vitória da Conquista. “As pessoas me perguntam: ‘você não acha ruim morar naquele bairro?’ E eu digo: ‘quem faz o bairro são os moradores’”. Assim como esta cidadã, são muitas as pessoas idôneas e trabalhadoras que habitam não apenas este, mas também outros bairros carentes. O psicólogo Valter Rodrigues, com formação em psicanálise expandida para o social, e em constante contato com os moradores do bairro Pedrinhas diz que “a maior parte dos moradores não é violenta”. Ele chama atenção para o fato de que, devido ao estigma que o bairro carrega, até mesmo a simples menção do local onde mora algumas vezes pode “manchar” um currículo de emprego. Não são poucas as pessoas, principalmente entre os jovens, que se envergonham de mencionar o bairro onde moram. O reflexo desse preconceito criado pela sociedade pode ser visto até mesmo no mercado imobiliário. Apesar de Vitória da Conquista ter um mercado de imóveis altamente inflacionado, é possível alugar uma casa de até dois quartos no bairro Pedrinhas a partir de R$ 40,00. Na opinião do delegado da Furtos e Roubos, Israel Aristides, a imprensa também tem sua parcela de culpa ao alimentar o preconceito contra os bairros periféricos. “Se a imprensa, como formadora de opinião mostra muita incidência criminal, acaba criando um apartheid. Bairro Pedrinhas, Patagônia, Cadija e tal. Se você começa massificar isso como foco de marginais, toda a sociedade vai ver isso com uma certa restrição”, alerta o delegado. O preconceito contra os bairros periféricos é uma cruel realidade que serve para aumentar o abismo social e contribuir para o quase aniquilamento da auto-estima e cidadania de seus moradores. “As pessoas daqui do Bairro têm a visão de que os de fora têm uma imagem ruim deles, de que os moradores têm só a visão de roubar, de matar e, na verdade, essa violência não é encontrada totalmente aqui no bairro” relata Gerlany Silva, vice-diretora de uma escola do bairro Pedrinhas. Até mesmo o tratamento dispensado pela classe média ao contratar, como mão-de-obra barata, os serviços de pessoas que moram em bairros “perigosos” é uma consequência dessa exclusão. “Tem faxineira na cidade que ganha R$ 70,00 por mês e quem emprega achabom. Isso é trabalho escravo”, ressalta Valter Rodrigues. “A classe média, as elites, têm medo dessas pessoas e ao mesmo tempo as desqualifica”, acrescenta.
última semana de maio, o seminário externo, em que serão convidados pesquisadores desta e de outras instituições para debater cotas”. O representante da sub-gerência de Assistência Estudantil (Sae), Aldo Clécio, confirma a discussão inflamada da reunião. “Dentro do segmento de cotas, existem os movimentos sociais que apóiam as cotas raciais, reserva de vagas vai para negros, e os que apóiam as cotas sociais, vagas para escola pública, independente de cor. A briga final acabou sendo pelo título do seminário. Eles não queriam que a gente colocasse o nome Seminário de Políticas Afirmativas e Inclusão Social. Tinha que ser um ou outro”. A professora do Departamento de História (DH) e também representante do Movimento Negro de Vitória da Conquista, Graziele Ferreira, lembra que já foi entregue um documento ao reitor no final do ano passado para que o assunto fosse levado à pauta no Conselho de Pesquisa e Extensão (Consepe). “Nós apresentamos o documento que pede 45% de reservas e caso esse contingente não seja preenchido, fica aberta a possibilidade dos negros de escolas privadas preencherem. Por isso que nós podemos dizer que é cota racial e isso está no documento". A professora também argumenta que o modelo de cotas sugerido pelo Movimento mescla os exemplos bem sucedidos da Uneb e da Ufba. “O documento entregue pelo Movimento Negro carece de maior aprofundamento nas justificativas”, avalia o professor do DFCH Reginaldo Silva. De acordo com ele, existem algumas contradições: “as propostas são absurdas, chegando a reforçar o preconceito e discriminações. Um debate sério e compromissado ainda está por ser feito na Uesb”. Para o professor do DFCH, Márcio Alves, as objeções existentes ao modelo de cotas são geradas por um misto de parcialidade e de interesses. “Como a universidade é um espaço de elite, de cabeças que pensam e vão gerenciar a ordem estabelecida, e como na sociedade brasileira nós não temos espaços de ponta para a população negra, há certa preocupação por parte dos setores dominantes”. Segundo o reitor da Uesb, Abel Rebouças, não há atrasos nas discussões sobre as cotas, e os trâmites oficiais estão em andamento. “A universidade ainda está discutindo o assunto. Se ocorrer uma aprovação, a gente inicia esse trabalho, provavelmente, já para o próximo vestibular”.
A discriminação é um dos tipos de violência mais graves que os moradores de bairros periféricos enfrentam
parcela de responsabilidade. Atividades que visem elevar a auto-estima dessas pessoas, não dependem de grandes investimentos e geram resultados inestimáveis. Estão em curso no bairro Pedrinhas, por exemplo, projetos sociais e culturais que contam com a participação de moradores e voluntários. Na escola Antônio Cavalcante, há cinco anos são desenvolvidas atividades como capoeira, pinturas em grafite e hip hop. As raízes do problema da violência são profundas e as ramificações se espalham num solo adubado pela omissão, indiferença e falta de informação. Esclarecer a classe média no intuito de minimizar o preconceito contra os moradores de bairros vitimados pela violência não custa recursos financeiros e tem um retorno muito eficaz. Não é preciso grandes teses, estudos ou estatísticas para se comprovar a eficácia da máxima dita por Dona Maria no início dessa reportagem: “quem faz o bairro são os moradores”, a fórmula é básica e pode ser aqui adaptada: quem faz a sociedade somos nós.
por Janine Andrade janine_andrade@hotmail.com
Bairro Pedrinhas é vítima do preconceito
por Anselmo Alves e Ian Kelmer anselmo_alvessantos@hotmail.com iankelmer@superig.com.br
Editora: Mirna Ledo
Enquanto as outras universidades públicas da Bahia - Ufba, Uesc, Uneb, Uefs - já implantaram o sistema de cotas, a Uesb ainda está discutindo a questão e sem um acordo entre os grupos envolvidos. A principal divergência é quanto ao modelo de cotas a ser implantado: reserva de vagas para afro-descendentes, defendida pelo Movimento Negro de Vitória da Conquista, ou para candidatos oriundos de escolas públicas, proposto pela União Municipal dos Estudantes Secundaristas (Umes) e alguns professores da instituição. Na última reunião, realizada no dia 28 de março para discutir o Seminário de Assistência Estudantil e Políticas Afirmativas, proposto pela Reitoria, decidiu-se por acatar a sugestão do Movimento Negro: separar as discussões em dois seminários diferentes, cotas e assistência estudantil. Segundo o professor João Diógenes do Departamento de Filosofia e Ciências Humanas (DFCH), na reunião “ficou estabelecido a realização na primeira semana de maio, dia 9, de um seminário interno para se ouvir os Departamentos, Colegiados, Adusb (Associação dos Docentes da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia), Sindicato dos Funcionários da Instituição (Afus) e outras entidades envolvidas, para saber qual a idéia que a universidade tem sobre as cotas. Após esse Seminário, irá ocorrer na
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Comprovada fraude no Vestibular 2005 Estudantes de Medicina da Uesb são afastados depois que teste grafotécnico confirma irregularidades no processo seletivo
Até o fim de abril, será votado na Câmara de Vereadores o Código Municipal de Meio Ambiente. Desenvolvido a partir de discussões com representantes de Organizações Não-Governamentais, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e Associação dos Trabalhadores Rurais, e o Ibama, o Código cria o Sistema Municipal do Meio Ambiente (Simma). A educação ambiental e a aplicação de multa para pessoas físicas e jurídicas que degradam o meio ambiente são alguns dos pontos mais importantes da lei. “As multas serão revertidas em recursos para o também novo Fundo Municipal de Meio Ambiente, e a partir de lá, esse dinheiro será investido em algum projeto ligado à proteção ambiental”, assegura o Secretário Municipal de Meio Ambiente, Ricardo Marques. Outra novidade que o Código traz é a municipalização do licenciamento ambiental obrigatório a todo empreendimento que gera impacto (indústrias, laticínios e padarias) -, agilizando a emissão do documento. Até novembro de 2006, quando a Secretaria Estadual de Meio Ambiente era a responsável por esse procedimento, as empresas podiam esperar por até um ano para obter resposta. “O melhor é que o controle ambiental fica com o município, a gente que define onde devem ser instalados determinados tipos de indústrias, de empreendimentos e de que modo esse empreendimento vai ser instalado”, afirma Marques. Para o vereador Adão Albuquerque (PV), o projeto representa um avanço muito importante para a questão. “O Código de Meio Ambiente municipalizado é mais específico, mais voltado para nossa realidade, para as nossas necessidades, sem deixar de levar em conta a questão mais ampla que é essa discussão ambiental”. Ele espera que a lei seja cumprida, através da fiscalização. “Eu, junto com o Partido Verde e as Secretarias Estadual e Municipal de Meio Ambiente, a elevação nos níveis de temperatura. “Já chegou ao mínimo de 5°C, todavia hoje raramente se observa a temperatura abaixo de 7°C”. Ele ainda lembra que, na situação que o planeta se encontra, é preciso ter cautela para resolver o problema ambiental. “É como se fosse uma pilha de livros e a gente tem que tirar um sem mexer no outro”, explica metaforicamente. a Código de Meio Ambiente
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por Cristiano Anunciação e Mirna Ledo cristianoanun@bol.com.br; mirnaledo@yahoo.com.br
Não é difícil encontrar moradores ou visitantes de Vitória da Conquista comentando sobre o pequeno número de árvores na cidade. Para a funcionária pública Paula Lacerda, faltam árvores em lugares estratégicos. “A Serra do Periperi, por exemplo, se fosse bem arborizada, a cidade não ficaria tão cheia de terra e pedras que são arrastadas de lá pela chuva. A população sofre com isso.” Quanto a isso, “não é que a cidade seja pouco arborizada, na verdade, ela é má arborizada no sentido de que não foi planejada para ter árvores nos passeios públicos”, afirma Ricardo. Ele ainda argumenta que esse é um trabalho que necessita de tempo para surtir efeito. “A questão da arborização não é uma coisa que se resolve de um dia para o outro. Para a árvore crescer, até um porte razoável, leva dois, três e até quatro anos”. O trabalho de arborização envolve também a educação ambiental. “Não é só chegar e plantar, temos que envolver a comunidade, fazer com que ela participe e saiba que tem importante papel nessa questão”, explicou o secretário. Caso esse envolvimento não aconteça, o resultado pode ser o mesmo do incidente da Frei Benjamim, onde algumas pessoas arrancaram a madeira dos cercados que protegiam as mudas plantadas pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente em 2006. Já na Avenida Olívia Flores, no Alto Maron e em algumas praças do Bairro Brasil a experiência foi bem sucedida. Apesar de Conquista ser uma cidade pouco industrializada e o número de carros ser relativamente pequeno se comparado ao das grandes cidades, ela também contribui para o desequilíbrio ambiental em todo o planeta. Qualquer poluição, por menor que seja, no âmbito local afeta o global, agride a atmosfera e torna-se um agente com potencial destruidor. Preservar o meio ambiente é, antes de tudo, uma atitude individual. Faça sua parte, respeite o meio ambiente. Arborização vamos fazer um amplo debate para discutir formas de implementar o que é lei, na prática”, garante. Fotos: Iulo Almeida
Francisco Alfredo Sampaio Cruz e Francisca Priscila Sampaio Cruz, alunos do curso de Medicina, foram expulsos em janeiro de 2007 acusados de fraudarem o Vestibular 2005.1 da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb). Investigações, realizadas por aproximadamente dois anos, confirmaram que as caligrafias dos irmãos, que vieram do Ceará, não eram as mesmas das pessoas que fizeram as provas. No âmbito da universidade, o caso foi encerrado, mas os estudantes recorreram à Justiça Civil para retornarem às aulas. As investigações do caso começaram após o recebimento de e-mail anônimo na semana de divulgação do resultado do Vestibular 2005. Depois da denúncia, o fato foi levado à Procuradoria Jurídica, que por sua vez criou uma comissão de sindicância, responsável pelas investigações iniciais e pela certificação de que o caso tinha relevância. Com teste grafotécnico, realizado por técnicos da Polícia Civil, em que se comparam as caligrafias, confirmou-se a validade do caso. Após concluída essa etapa, segundo o professor do curso de Agronomia Joel Queiroga, o procedimento usual é fazer um relatório para a Procuradoria. Em seguida, uma nova comissão é nomeada e abre-se um Processo Administrativo. A Comissão Administrativa deste caso foi formada pelos professores: Joel Queiroga, Ubirajara Cairo do curso de Biologia e Marilza Ferreira do Nascimento do curso de Direito. Ela presidiu o processo e não quis conceder entrevista. A oficialização desse procedimento foi publicada no Diário Oficial no dia 10 de junho de 2006. Os dois alunos acusados foram instruídos a procurar uma defesa. “Eu chamei os alunos e falei que eles constituíssem um advogado, eles tinham direito”, contou a coordenadora do curso de Medicina Edney Nascimento Matos. Segundo o professor Ubirajara, o próximo passo da Comissão foi ouvir as partes acusadas, além dos técnicos da Polícia responsáveis pelo teste de caligrafia. A defesa dos dois irmãos, que foram convocados na primeira lista do Vestibular 2005.1 - ele na 11ª colocação e ela na 30ª, alegou inocência. O advogado de defesa dos acusados Gutenberg Macedo Júnior confirmou que eles realizaram as provas, negando todas as acusações. "O princípio do Direito brasileiro é o da inocência. Quem prova a acusação é quem está acusando. A própria Uesb tem que provar a acusação e não os alunos provarem que são inocentes", afirmou. De fato, a universidade chegou a um parecer. No fim de 2006, o processo se encerrou com a confirmação da fraude e, como punição, os alunos tiveram de ser expulsos e o resultado foi publicado em janeiro deste ano no Diário Oficial. Os irmãos não foram encontrados para se pronunciarem. Segundo seu advogado, eles retornaram para o Ceará. Os acusados entraram com um processo na Justiça Civil. "A Uesb se utilizou de fraude para
conseguir as provas. Provas ilícitas não podem produzir efeito em qualquer processo, seja administrativo ou judicial", alega o advogado de defesa se referindo ao fato de que os alunos não sabiam da real finalidade do teste grafotécnico, feito com todos os estudantes da turma. Segundo alguns colegas de turma dos dois irmãos, ninguém foi obrigado a fazer teste. O exame grafotécnico foi realizado sob o pretexto de avaliar a modificação que a caligrafia de alunos de Medicina podem sofrer ao longo do curso.
Fotos: Welder Dias
Elevação da temperatura média global, longos períodos de seca, aumento considerável no nível dos oceanos, escassez de água potável e outros fenômenos que anunciam uma verdadeira catástrofe. Não é o fim do mundo! São conseqüências das mudanças climáticas provocadas pelas atividades humanas, de acordo com a primeira parte do relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês). Em Vitória da Conquista, os desmatamentos, as queimadas e a poluição do ar pelos automóveis são os principais instrumentos de degradação ambiental. As conseqüências desses atos afetam a vida da população na cidade e na zona rural. Para o analista ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) José Reinaldo de Jesus, o desmatamento sempre foi a forma mais intensa de violência ambiental na cidade. Nas décadas de 60 e 70, principalmente, durante o ciclo do café, houve uma grande pressão sobre as florestas nativas, as matas de cipó. Em meados da década de 80, essa cultura começou a ser abandonada. Desde então, o ciclo do eucalipto com fins energéticos, mais especificamente para a produção de carvão destinada às siderúrgicas de Minas Gerais, tornou-se a maior ameaça ao equilíbrio ambiental. Segundo o analista, a destruição da flora compromete também a fauna regional, pois com o habitat natural destruído, animais como a paca, o tatu e o veado catingueiro ficam desprotegidos e acabam morrendo. Além disso, existem caçadores que não respeitam nem os períodos de reprodução e amamentação dos animais. O Parque Municipal da Serra do Periperi também tem seu espaço ambiental ameaçado por ser fonte de minério para a construção civil na cidade, que tem crescido em níveis consideráveis nos últimos anos. Outro problema é a queima de combustível fóssil. “Conquista tem uma frota relativamente velha que não tem catalisadores para filtrar os gases poluentes. No caso dos carros mais novos, os catalisadores precisam ser substituídos, mas custam caro e a população prefere não investir nisso”, explica José Reinaldo. O coordenador da Estação Meteorológica da Uesb, professor Rosalve Marcelino, afirma que os efeitos mais perceptíveis na cidade são a redução da quantidade de chuva no período de novembro a março e
Lixo no Poço Escuro e erosão na Serra do Periperi são exemplos do descaso
Em Vitória da Conquista, a natureza paga pelas práticas irresponsáveis do homem
O preço do progresso
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Alunos de Medicina temem repercusão negativa
Vestibular mais rigoroso O recente caso de fraude no vestibular de Medicina da Uesb alertou os responsáveis pelo processo seletivo para a necessidade de mudanças na realização das provas. No Vestibular 2007, algumas modificações já foram implementadas. Foi solicitada dos candidatos a impressão da digital no cartão de autógrafo e a assinatura de um termo de responsabilidade pelo uso de aparelhos de comunicação. Como a fraude no ano de 2005 foi cometida através de falsidade ideológica, o uso da digital impediria que tal fato pudesse acontecer. Segundo a atual coordenadora da Comissão Permanente do Vestibular (Copeve) Alana Muniz Freitas, “a gente recebe a impressão dele (o estudante) durante o processo do vestibular e recolhe outra digital durante a matrícula. A empresa vai comparar se o candidato é aquele mesmo que fez as provas ou não”.
Conflito de opiniões Com o termo de responsabilidade, solicitado pela
"Não eram alunos excelentes, eram alunos médios", comentou Edney, que foi professora dos dois irmãos. Ubirajara, que também lecionou na turma dos acusados, chegou a se surpreender com a notícia da fraude. "Eram bons alunos, interessados, participativos; daí a minha surpresa total", concluiu o professor. No entanto, quando se ouvem os ex-colegas, as opiniões já não são as mesmas. "Eles não eram muito responsáveis, faltavam às provas, os tutoriais e, o pior, fraudavam atestados médicos para isso. E quando faziam as provas, pescavam descaradamente mostrando quase que total falta de estudo dos assuntos", conta um ex-colega que não quis se identificar. Além disso, os alunos da turma acreditavam que a imagem do curso pudesse ser prejudicada. "Nós temíamos piadinhas do tipo 'quanto foi a sua vaga? '. Era a reputação tanto do curso como da universidade que estava em jogo", declarou o mesmo informante anônimo. Em contraponto, Edney pensa que esse episódio não traz prejuízos ao curso. "Pelo contrário. Quando você tem as denúncias, se investiga para saber as causas. Ninguém está protegendo ninguém", concluiu. Por outro lado, a defesa vê o processo como algo distorcido. “A forma como foi conduzido era só para justificar que existia um Processo Administrativo, mas a decisão já estava previamente dada pela Uesb. Ao meu entender, já estava fadado para punir os alunos antecipadamente”, argumentou o advogado. Embora haja muitas opiniões contrárias, o fato é que o assunto já foi concluído no âmbito acadêmico. Se os alunos ganharão a causa na Justiça Civil e voltarão à universidade, isso é algo que só a justiça irá determinar. por Débora Fernandes e Rafael Carvalho debora_barros@yahoo.com.br rafasomebody@hotmail.com comprometeram com uma eventual interferência de aparelhos de comunicação, principalmente celulares. “Nós não impedimos o uso, mas solicitamos que o aparelho fosse desligado e colocado embaixo da cadeira e se por acaso o aparelho tocasse, o aluno estaria automaticamente desclassificado”, declarou Paulo Sérgio Cavalcanti Costa, pró-reitor de Extensão, que trabalhou como fiscal no vestibular deste ano. Nas últimas provas realizadas, um dos candidatos se recusou a assinar o termo e então foi impedido de fazer as provas. “Era um direito dele de não assinar, mas também era um direito da universidade de não permitir que ele fizesse a prova”, contou Paulo Sérgio, que nos dias do Vestibular 2007 fiscalizou a sala do candidato. “Ele provocou certa agitação no local, deu até a impressão que tinha algo por trás”, completou. Mesmo com essas modificações, o processo seletivo não é completamente seguro. "A cada nova articulação que é feita para tentar se evitar, as pessoas se especializam para tentar burlar", concluiu Paulo Sérgio.
Procuradoria Jurídica da Uesb, os alunos se 7
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Na estrada por um sonho Editor: Iulo Almeida
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Viagens cansativas e desconfortáveis, poucas horas de descanso e estudo: essa é a rotina dos “estudantes-viajantes”
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coordenadora de uma escola num município vizinho a Vitória da Conquista. Para ela, esse estilo de vida não é sacrifício. Muitos, em busca da realização pessoal, anestesiam as dificuldades. “Eu até me esqueço como é a rotina. É nas férias que eu percebo a diferença quando saio do trabalho e vou pra casa”. Estudar pode ser um grande fardo para qualquer pessoa. Mas, para alcançar o sonho de ter um curso superior, todo esforço é mera condição. “É uma realização para mim, aquilo que sei fazer e faço por prazer. E não paro por aqui, quero a pós-graduação”, finaliza a esperançosa estudante de Pedagogia. É expressiva a quantidade de alunos nessa situação, cada um com suas particularidades, mas o anseio pelo diploma ainda é maior do que qualquer empecilho.
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Interdição da Serra do Marçal
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Com sorte e compreensão do patrão, dá para sair um pouco mais cedo do trabalho. Lanche rápido, banho também, e já se escuta a buzina da van na porta de casa. O risco e a presença dos quase desconhecidos companheiros marcam o ritual diário de alunos que, em busca do diploma de nível superior, enfrentam as estradas. "Conhecimento é a única coisa que não podem nos roubar”, afirma a estudante de Engenharia Florestal Cátia do Carmo, do campus de Vitória da Conquista. Ela enfrenta três horas de viagem por dia - tempo gasto no traslado até à Uesb e de volta a Poções, cidade em que reside. O motivo, segundo a aluna, é a companhia da família, impossível se morasse em Conquista. “Quis ir e vir por causa da convivência com os meus pais”. A preferência em morar em suas cidades de origem também está relacionada ao conforto das suas próprias casas. "Eu optei por isso devido à comodidade de não ter preocupações com despesas e outras coisas", diz a graduanda de Administração Raquel Alves. Ainda que encontrem as mesmas pessoas e viajem com elas durante tanto tempo, são raras as vezes em que, dentro dos veículos, nascem amizades. De acordo com aluno de Administração Marco Aurélio, todos conversam, mas não é um vínculo forte. “Quando alguém sai da van, perdemos todo o contato”, completa.
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custo foi cortada e, conseqüentemente, aumentou a mensalidade que os passageiros pagavam pelo serviço. As despesas ficaram ainda maiores depois que passou a morar em Conquista. "Não sai mais barato morar aqui, essa é a única desvantagem", afirma Raquel. "Mas o tempo para estudar é outra coisa. Você chega em casa, dá tempo de você estudar até tarde (da noite), fazer trabalho. Dá até para você conseguir um estágio. Seu tempo não fica tão comprometido". O estudante de Física Wenderson Lima concorda com o fato do tempo de estudo ser limitado. Ele chegava em casa por volta das 21 horas, depois de uma viagem cansativa até Itapetinga, onde morava antes de se mudar para Conquista. Um dos problemas - quando tem horário vago na faculdade - é que os passageiros precisam esperar para pegar a condução. Marco Aurélio conta que a maior dificuldade dos “estudantes-viajantes” de Brumado é o monopólio de uma família do município no mercado de transporte. “Nós ficamos na dependência total deles, o preço que eles quiserem, da forma que eles quiserem e nos dias que eles se dispõem a vir”, relata. Para conseguir ir às aulas aos sábados, os universitários têm de decidir entre viajar por uma empresa de viação rodoviária privada ou dormir em hotéis de Conquista. Sair do local de origem não foi a única solução encontrada por alguns alunos. O graduando de Administração Lucas Brito mora em Itambé e, por causa da interdição do Marçal, tem que pegar um atalho pela BR-116 para chegar à Universidade. O aluno se viu obrigado a cursar poucas matérias neste semestre por causa do novo trajeto. Além de aumentar cerca de 100km ao percurso de costume, seus dias de aula passaram de cinco para apenas dois.
por Evandro Pacheco e Mirna Bianca evandropacheco@yahoo.com.br mirnabianca_comunic@yahoo.com.br
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Os grupos sociais se estruturam pouco a pouco e da mesma forma acontece com as tribos musicais, em que os componentes se identificam por motivações coletivas. “A importância da tribo é a construção dos laços sociais, que permitem ao indivíduo se constituir numa relação de parceria, de composição de forças”, afirma o psicólogo Valter Rodrigues. “Conquista é uma cidade de tribos, é perceptível como as pessoas se vestem, se comportam, estão presas nesses grupos”, destaca a baixista das bandas Shiva Root's e Servos de Sião, Indira Cuncino, 20, integrante do movimento reggae. Mesmo com toda a importância dessa tribo, os seguidores ainda mantêm a linha mais alternativa, não buscam atingir um público maior, a não ser
Fotos: Paula Ariádine
Minha Tribo
Foto: Iulo Almeida
eletrônica... Na realidade, são esses ritmos que caracterizam a música conquistense. A cidade já passou por períodos diferentes em que determinados estilos estavam em evidência, cada um deixou sua marca em forma de tribos musicais. Lá entre as décadas de 60 e 70, havia uma efervescência na produção cultural em todo o país, e Vitória da Conquista não estava de fora. Desde o teatro até as artes plásticas, alcançando também a música. Nas escolas e nos clubes da cidade, os festivais incentivavam a nascente produção, baseada na música de raiz. Posteriormente, em meados dos anos 80, o Festival de Inverno da Bahia começou a revelar nomes conquistenses que depois se consagraram nacionalmente, como Evandro Correia e Rozemberg Oliveira. Já no fim da década, em 1989, o carnaval foi para a rua em cima dos trios elétricos ao som do axé music, não apagando a forte tendência regional do forró. Algum tempo depois a cena alternativa se revelou, primeiro o pesado rock and roll, depois a influência reggae e, hoje, a batida da música eletrônica é a responsável pela nova tribo desse cenário. Essa mistura está localizada em um ponto estratégico. “É um anel viário, daqui você vai para o Brasil inteiro”, explica o músico Carlos Moreno, mas “Conquista exporta mais que importa, tem produção própria”, conclui. Pelo fato da cidade ser passagem tanto para o Nordeste quanto para o Sul do país, artistas trazem a sua bagagem musical e deixam influência para novas tendências. Os jovens, como ativa força social, são os primeiros a sofrer com essas mudanças, como esclarece a antropóloga Eliane Nogueira. “A juventude tem a cara do seu tempo, se ela vive em uma sociedade de crise ou de desejos reprimidos, a postura será desse tempo, dessa realidade”, argumenta.
aqueles que realmente se identificam com o reggae. “Às vezes a gente não quer que outras pessoas participem, é aquela coisa de misturar... É visível que a gente tem algumas barreiras. É a pessoa no seu mundo e a gente no nosso”, completa. Paralelo ao reggae, o rock vem com altos e baixos desde o início dos anos 90, fazendo música de forma independente, seja por diversão ou rebeldia. “A tribo do rock e do reggae são muito ligadas porque são excluídas, isoladas da massa”, compara a estudante e roqueira, Núbia Cardoso, 23. Por estar distante da capital, a cidade acaba não sofrendo muita influência do axé, dando maior visibilidade ao cenário alternativo, tanto que já foi considerada a cidade baiana mais rock and roll. Os festivais estudantis foram os seus primeiros palcos. A partir daí o estilo alcançou maior público. A tribo recém formada começou a ampliar produções, como o Agosto de Rock, Fest Rock e A Conquista do Rock, eleito o segundo melhor evento de rock do interior da Bahia no ano de 2005. Hoje, embora um movimento mais tímido, há bandas como Princípio Ativo, Ardefeto e Cama de Jornal que conservam a sua identidade. Os roqueiros vão além do vestir preto e usar tênis All Star. “O movimento do rock não é só um movimento musical, há toda uma ideologia de fugir dos padrões”, ressalta Núbia, “os meninos do punk rock, por exemplo, prezam coisas como o total respeito à natureza”. Alguns estereótipos são equivocados, como a atribuição de atos de vandalismo. “O som pode ser agressivo em alguns momentos, mas não há violência”, justifica o integrante da banda Princípio Ativo, Vitor Quadros. Em outro extremo, está um estilo que também é mal visto. “A gente sofre preconceito, e muito”, confessa o viciado em pagode Jorge Luiz, 19. O ritmo é discriminado por suas letras de apelo sexual e seu caráter dançante, mas isso não incomoda a quem se diz pagodeiro. “Pagode não tem letra, roqueiro senta pra discutir rock, a gente não. A gente se junta pra ir pro show, pra rachar o táxi”, explica Jorge. Em Conquista, o pagode não tem tanta força quanto em outras cidades baianas, como Feira de Santana, mas ainda assim o seu público sobrevive em meio às outras tribos. Quem curte o ritmo é notado pelas roupas ou gírias usadas, provenientes das bandas e músicas em destaque. Atualmente, um novo estilo ganha popularidade no estado através dos aficcionados por música eletrônica. O grupo incorpora termos em inglês à fala, roupas modernas e cabelos com cortes chamativos e, cada vez mais, organizam eventos com destaque para o som dos Dj´s. “Agora a bola da vez é a e-music (música eletrônica). Todo mundo quer ir a uma rave (festa de longa duração comandada por música eletrônica), quer aprender malabares, quer se vestir como pós-clubber (vertente que segue o futurismo dos anos 90)”, opina Marco Melo, responsável pelo site VocêVê. Mesmo com maior visibilidade, a nova tendência não ocupou o espaço das antigas tribos, mas enriqueceu a diversidade musical da cidade. As tribos têm importante papel para as relações sociais e contribui para a formação de seus participantes, como sustenta o professor Valter, “o indivíduo sozinho não pode nada, ele só pode junto com o outro”. Cada uma delas é uma forma diferente de ver e viver o mundo, de ser e de se comportar dentro de um mesmo lugar, um “caldeirão” de ritmos e estilos, que é Vitória da Conquista.
aUma parte da rodovia BA-263, que liga Vitória da Conquista a Ilhéus, foi interditada no dia 9 de fevereiro deste ano. O trecho da Serra do Marçal apresentava más condições de conservação e pouca segurança, e já havia sido interditado anteriormente em 2004, para a construção de um muro de contenção. Segundo o engenheiro do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea) Leandro Fonseca, em entrevista concedida ao programa Resenha Geral da rádio Brasil FM, a liberação da estrada para veículos pequenos ocorrerá no mês de maio. De acordo com o site do Departamento de Infra-estrutura de Transportes da Bahia (Derba), o Governo do Estado recupera um trecho de 6 km para proporcionar um tráfego mais seguro. O Derba informa, também, diversos desvios que os usuários da rodovia podem utilizar enquanto a obra não é concluída. Mais informações no site www.derba.ba.gov.br/noticiaserradomarcal.htm
Os ritmos e os estilos compõem a cara de uma cidade essencialmente musical, colocando Conquista é a cidade do rock? Não seria do em um só lugar maneiras reggae? Outros afirmam ser do axé. Ou do pagode? diferentes de ser Ou quem sabe do punk? Forró! Talvez da música
por Flávia Fucci e Társis Pinchemel flaviafucci@yahoo.com.br, tarsis.pinchemel@gmail.com
Unidos pela música
Lucas trabalha em Itambé pela manhã e, quando chega da faculdade à noite, ainda consegue tempo para estudar. "Tenho de me virar nesse horário, ou então nos finais de semana". Essa é a rotina de estudo destes universitários. “Estudar só mesmo na madrugada. Normalmente, vou dormir às 2h30”, conta a aluna de Pedagogia Esdrineia Alves. Ela ainda trabalha como
Editor: Ailton Fernandes
Raquel, de Itapetinga, acabou desistindo dessas viagens quando a Serra do Marçal, que liga Conquista à sua cidade, foi interditada. Esse foi só o último dos problemas enfrentados. "Pneu já furou, teve dia que o carro quebrou, já perdi duas provas, e para fazer essas provas foi duro", lembra. Segundo ela, os professores são tolerantes com os estudantes que moram em outras cidades, embora, vez ou outra, tenha algum tipo de conflito. "Essa professora queria que eu desse um atestado comprovando que o carro quebrou, não teve como. Eu dei um atestado médico, mas falei para ela que o principal motivo de eu não ter feito a prova não foi esse". O transporte - uma Van - utilizado pela estudante contava com o auxílio da Prefeitura Municipal de Itapetinga, que pagava o combustível. Essa ajuda de
Notícias
Oficina de
COMPORTAMENTO
Nos dias 13, 14 e 15 de abril será realizada, no Centro Cultura Camilo de Jesus Lima, a Audição do Grupo Caçuá de Teatro. O evento vai selecionar novos atores para fazer parte da sua equipe. Para se inscrever o candidato deverá ser maior de 15 anos, comprovar escolaridade, pagar uma taxa R$2,00 mais 1 kg de alimento, ter disciplina suficiente para fazer parte do grupo, ter
Grupo Caçuá seleciona atores
tempo para as aulas, assim como para as outras demais atividades (atuações, viagens, cursos, etc) e vontade de participar da equipe. De acordo com as informações do professor de teatro Marcelo Benigno Amorim e Silva, o processo de seleção será dividido em três etapas. Durante esse período, os inscritos terão aulas do repertório do grupo, exercício de corpo, voz, improvisação, debates, danças, entrevistas e apresentação. Nesta última etapa, o candidato poderá escolher um entre os nove monólogos sugeridos pelo grupo.
Notícias Oficina de
Encontro Regional de Computação na Uesb Com a proposta de apresentar inovações, a 7ª Edição da Escola Regional de Computação Bahia - Alagoas - Sergipe acontecerá em Vitória da Conquista
por Alan Fernandes alangfernandes@hotmail.com
A última audição ocorreu em 2004 e contou com a participação de 200 candidatos, sendo grande a expectativa de público e inscritos para esta nova edição comemorativa dos 10 anos de nascimento do grupo. Deve-se ressaltar que todo o valor arrecadado com as inscrições e alimentos recebidos serão doados pelos próprios atores vencedores às instituições de caridade de Vitória da Conquista. por Péricles Pereira pericles.luis@bol.com.br
Ivete Sangalo é um dos destaques da festa fechada
9 Até o dia 17 desse mês, a Sonora Brasil apresenta a exposição “A História do Violão” na Casa Memorial Dr. Régis Pacheco. O espaço estará aberto à visitação de 10h ás 20h, com entrada franca.
A História do Violão De 03 a 06 de maio será realizado em Vitória da Conquista o Primeiro Aniversário da igreja do Avivamento, no Templo da Adoração, às 19h, atrás do Disep, Bairro Jurema. Qualquer informação pelo e-mail: pr.jairbruno@gmailcom
Em breve De 20 a 23 de abril acontecerá o 1º Aniversário da Igreja Missionária Dimensão. O evento será realizado na Avenida Alagoas 476/A, Bairro Brasil. Mais informações pelo e-mail: prsantosolievria@gmailcom.
Religião Foto: Divulgação
Foto: Masterfile
De 20 a 22 de abril, Vitória da Conquista vira animação e folia com o carnaval fora de época. Este ano serão duas festas distintas: uma pública concentrada no Bosque do Paquera, Miconquista, e uma particular, dentro do Parque de Exposição, o Massicas Indoor. De acordo com informações do Secretário de Cultura, Gidelson Felício, “o circuito da Miconquista será totalmente fechado no Bosque, e terá a instalação de detectores de metais, a fim de garantir mais segurança e conforto aos foliões”. O acesso será gratuito para todas as idades. Em sua décima nona edição, a Micareta de Vitória da Conquista, diferente das outras edições, será realizada em apenas três dias de folia, antes eram quatro. A Miconquista ocorrerá sem a presença dos principais blocos oficias, Massicas e Tôa Tôa. Serão mantidos os três palcos tradicionais: do Forró, o Point Poprock e o palco principal, onde se apresentarão as bandas de axé. A concentração dos trios elétricos e blocos ficará na praça da escola Normal, de onde seguirão pela Rua da Granja, Avenida Brasil e Rua Siqueira Campos. Estão confirmados as presenças dos blocos: Qual é?, Tôpirado, Amigos do Bracim, Fofopegô, Baby Chic, Juventude Cidadã, Abre alas (terceira idade) e Galera Vip do Orkut. A Secretaria de Cultura caracteriza a Miconquista como uma festa eclética. Isso porque valoriza e abre espaço para as bandas locais e há um investimento Municipal em espaços
Será realizada na Uesb, entre os dias 16 e 20 de abril, a 7ª edição da Erbase (Escola Regional de Computação Bahia Alagoas - Sergipe). O evento, promovido pela Sociedade Brasileira de Computação (SBC), reunirá estudantes, professores e profissionais da área de computação dos três estados. A cada ano a escola é coordenada por uma instituição diferente. Em 2007, a Erbase terá como universidade realizadora, a Uesb e contará com o apoio da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), da Faculdade Independente do Nordeste (Fainor) e do Centro Federal de Educação Tecnológica de Vitória da Conquista (Cefet/VC). O objetivo do encontro é trazer para comunidade de informática regional, conhecimentos a respeito de novas pesquisas e tecnologias da área, que não fazem parte dos cursos de graduação. “Os laboratórios e os mini-cursos são na maioria voltados para temas da computação que a gente não consegue abordar no curso de graduação. A computação evolui muito rapidamente e o nosso currículo não consegue contemplar todo esse desenvolvimento em tempo real”, afirmou a coordenadora do curso de Ciência da Computação da Uesb, Maísa Soares. O professor do curso, responsável pela disciplina Arquitetura de
Computadores, Marco Dantas, considera a Erbase como o maior e mais esperado evento regional de computação do Nordeste. Os encontros visam divulgar localmente novas idéias, debater e promover a atualização profissional no contexto da Computação para os participantes da regional. O evento abrange várias áreas de interesse com 11 palestras, 9 mini-cursos, 8 laboratórios e 2 painéis. Profissionais e professores dos estados participantes serão ministrantes das atividades, além de outros de São Paulo e Paraná. Haverá ainda três eventos paralelos: o Workshop de Trabalhos de Iniciação Científica e Graduação, o Workshop de Educação em Informática e o Workshop de Inclusão Digital. As inscrições foram realizadas até o dia 10 de abril, com valores entre R$16 e R$75, variando entre estudantes, professores e profissionais e também de acordo com a data. Para alojar os participantes que virão de outros estados foram disponibilizadas cinco salas de aula do CAP/Uesb (Centro de Aperfeiçoamento Profissional) e uma sala do Módulo de Medicina, com capacidade total para 90 pessoas. por Bruno Pereira brunoepg1@hotmail.com
Com circuito reduzido, Miconquista continua no Bosque
ABU, espaço cristão na universidade
Foto: Welder Dias
alternativos para os apreciadores de outros estilos musicais. A outra festa, o Massicas Indoor, será no Parque de Exposição. De acordo com organizador e proprietário do Massicas, Alexandre “Massinha” da Rocha, será montada uma estrutura de camarotes com Posto Médico, Posto Policial, Praça de Alimentação, e pórtico de entrada principal. As pessoas com necessidades especiais terão acesso específico ao Massicas Indoor, com uma equipe de prontidão para acompanhá-los. Quanto às famílias, poderão participar com seus filhos no Espaço Massiquinhas nas tardes de domingo. Entre as atrações, estão confirmadas a de Ivete Sangalo, Chiclete com Banana, Banda Eva, Psirico, Parangolé, e outros. Durante o evento o lixo produzido será separado, os materiais recicláveis como latinhas e embalagens plásticas terão como destino, em forma de doação, o projeto Recicla Conquista. De acordo com Massinha, desde 2001 uma parte da renda com os eventos do Massicas tem como finalidade entidades filantrópicas ou associações religiosas que prestam serviços à comunidade conquistense.
Mudanças visam profissionalizar um dos maiores eventos da cidade
Micareta de cara nova em Conquista
Notícias
Sábado, dia 21 de abril às 20h, estará se apresentando no Bloco do Arrocha a banda Tesão 100 Limite. Já no domingo, dia 22, no mesmo horário, é a vez da banda Saliva Doce. A camisa para os dois dias de festa será vendida a um preço de R$ 20,00. Mais informações pelo telefone: (77) 30833047.
Bloco do Arrocha No dia 18 de abril, quarta-feira, ás 19h, será realizada uma apresentação sobre Gestão Empresarial de uma Corretora de Seguros. O evento acontecerá no Hotel Livramento Palace, localizado na Rua Expedicionários, 701, Bairro Recreio, e terá como palestrante: Wagner Attina Xavier, pós-graduado em Docência Superior com especialização em Seguros pela fundação Getúlio Vargas/RJ e pela Escola de Seguros. O palestrante é professor da Escola Nacional de Seguros/RJ, da Universidade Veiga de Almeida (UVA/RJ), da Universidade Cândido Mendes (UCAM/RJ) e da Universidade Estácio de Sá/RJ. O evento é gratuito. Mais informações pelo e-mail: nucleoba@funenseg.org.br.
Escola de Seguros Editor: Péricles Luís
Oficina de
ACONTECE
Para compartilhar idéias, convicções e até questões relacionadas à espiritualidade, estudantes costumam buscar espaços alternativos na universidade. É o caso da Aliança Bíblica Universitária (ABU) da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, campus de Vitória da Conquista, que realiza às quartas e sextas-feiras encontros de estudo bíblico e confraternização. Segundo o estudante do curso de Ciência da Computação da Uesb Dárcio Rocha, o objetivo principal do grupo é “compartilhar com toda comunidade universitária, as coisas maravilhosas, as bênçãos sem medida, o gozo e a alegria que nos dá a leitura da Bíblia”. A ABU realiza uma série de atividades abertas à comunidade universitária. A principal delas são as reuniões, realizadas nos três turnos, com a participação de cerca de 30 pessoas semanalmente. Também são promovidos eventos de confraternização com música e teatro, bem como circuitos de exibição de filmes. O grupo também está presente no campus da Uesb em Jequié, na Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC) e na Faculdade Juvêncio Terra e já se prepara para implantação de núcleos na Faculdade Independente do Nordeste (Fainor) e na Ufba/Campus de Vitória da Conquista. A idéia da formação da Aliança foi trazida ao Brasil por estudantes americanos para a Universidade de São Paulo, em
ACONTECE Editora: Cássia Dias
Projeto Janela de Cinema Itinerante O Programa Janela Indiscreta CineVídeo Uesb promoverá entre os meses de abril e setembro, a segunda edição do projeto Janela de Cinema Itinerante. O projeto deve ir a 10 cidades do sudoeste da Bahia promovendo exibições de filmes brasileiros em espaços públicos das cidades e uma oficina sobre Cinema e Educação para professores e agentes culturais.
Eleição do DCE No dia 25 de abril serão realizadas na Uesb as eleições para o Diretório Central dos Estudantes - DCE para mandato de um ano. Duas chapas, “DCE em movimento” e “Mudança”, estão concorrendo. As urnas estarão nos módulos de aula, nos três turnos e todos os alunos dos cursos de graduação podem votar munidos da carteira de identidade. O resultado da eleição será divulgado no mesmo dia.
Palestra Políticas Públicas e Meio Ambiente No dia 24 de abril, no Auditório II do Módulo de aulas “Luizão”, será realizada a palestra Políticas Públicas e Meio Ambiente. A conferência será ministrada pelo professor Cláudio de Oliveira Carvalho, do curso de Administração. As inscrições são gratuitas e podem ser efetuadas no Departamento de Ciências Sociais Aplicadas (DCSA).
“O Mendigo ou o Cão Morto”
1957, e está presente na Uesb desde 1994. “Nós cremos em Deus, nós cremos em Cristo, por isso que participamos das reuniões. Não alimentamos apenas a nossa intelectualidade, mas alimentamos também a nossa parte espiritual. Porque nós precisamos de Deus, nós carecemos”, são as motivações do estudante de Agronomia Irlândio Santos, para participar do grupo. “A ABU é aberta para toda e qualquer pessoa que faça parte da universidade, que estude, seja funcionário, seja o que for”, acrescenta. Além de compartilhar experiências e estudar a Bíblia, a ABU pretende também, segundo a estudante do curso de Jornalismo Taísa Moura Rodrigues, partilhar da palavra de Deus com as outras pessoas. “Assim como têm outras experiências de vida que as pessoas acham legais e partilham e dividem, essa aqui é a nossa festa, a nossa confraternização. É a nossa comunhão, e a gente se sente bem fazendo isso”, defende. As reuniões acontecem toda quarta-feira, às 10h50 e 16h30, no pátio do Módulo I e às 20h40 na entrada do Teatro Glauber Rocha. Nas sextas o encontro é às 10h50, também no pátio do Módulo I.
Por CássiaDias cassiad16@yahoo.com.br
No dia 26 de abril, no Teatro Glauber Rocha será encenada a peça teatral “O Mendigo ou o Cão Morto”, de autoria de Bertold Brecht, pelo Grupo Av a n t e É p o c a - Te a t r o . A apresentação, que começa às 18 horas, marca a abertura das atividades do curso de teatro da Uesb. A entrada é gratuita.
Projetos de Extensão a
Em 2007, serão realizados 145 projetos de extensão da Uesb. A lista dos aprovados no edital de extensão da Pró-reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da Uesb foi divulgada no dia 30 de março. Entre projetos, programas e cursos foram aprovadas 98 propostas com financiamento e mais 47 sem financiamento. As áreas variam entre cultura, comunicação, trabalho, tecnologia, saúde, direitos humanos, meio ambiente e educação. 9
REVIRAVOLTA Editora: Ana Oliveira
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Fotos do projeto de pesquisa “Tradições étnicas entre os pataxós no Monte Pascoal”
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Editores-Chefes: Ana Oliveira e Alberto Marlon Secretários de Redação: Rafael Carvalho e Ailton Fernandes Diretor de Arte: Fabio Botelho Ombudsman (colaborador): José Duarte* Diagramação: Ailton Fernandes e Evandro Pacheco Capa Uesb: Iulo Almeida e Laiana Meira Capa Cidade: Ailton Fernandes e Andressa Cangussú g
Tiragem: 2.000 exemplares Impressão/Fotolito: Poligráfica g
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*O texto Ombudsman é de total responsabilidade do seu autor. g
O jornal é produzido pelos alunos do IV Semestre da disciplina Oficina de Impresso II do curso de Comunicação Social/Jornalismo
Foto: Welder Dias
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB Departamento de Filosofia e Ciências Humanas - DFCH Colegiado do Curso de Comunicação Estrada do Bem-Querer, km 4 - Cx. Postal 95. (77) 3424 8600 - www.uesb.br CEP.: 45.083.900 - Vitória da Conquista - BA Professor Responsável: Carmen Carvalho
Em p l en E o s sa s é h c ist u l ó o r Ap ia d a r a t i r do c o ez p n te oito c e u aC
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ualquer jornal é fruto do trabalho de equipe, em que cada membro tem um papel fundamental. No Oficina de Notícias não é diferente. Juntos, em meio a erros e acertos, encontros e desencontros, sintetizamos a identidade da turma. Longe da corrida pelo lucro e com mais tempo que os jornais diários, buscamos fazer um jornalismo mais comprometido com a sociedade. Como na edição anterior, o veículo se divide em dois focos: a Uesb e a cidade de Vitória da Conquista. Do ponto de vista da universidade, a indignação com a caótica situação do curso de Odontologia é explicitada na editoria Entre-Vistas. Em Espaço Aberto e Comportamento, narramos as aventuras de universitários que não desistem de seus sonhos. A possível implantação do sistema de cotas, a falta de mestrados e doutorados e a fraude no Vestibular 2005.1 são as polêmicas da editoria Sociedade. Gileno Paiva, um exemplo de dedicação pela Uesb, é lembrado em Resgate. Apontamos nossas lentes para a cidade e, retornando ao século XVIII, contamos a história da conquista do Sertão da Ressaca - marco da fundação do município - na editoria Resgate. Em Entre-Vistas, o Secretário de Cultura, Gildelson Felício, esclarece as principais mudanças na Miconquista 2007. Em sintonia com a realidade conquistense, a editoria Comportamento nos leva a um passeio pelas tribos e tendências musicais na cidade, enquanto que a Espaço Aberto nos traz um pouco do mundo GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transexuais). Meio ambiente e o preconceito que recai sobre as periferias são temas analisados em Sociedade. Inovamos ao convidar o professor José Duarte, fundador do curso de Jornalismo da Uesb, para nos prestigiar com sua análise como Ombudsman. Acreditamos que suas sugestões e críticas contribuirão para o nosso aprimoramento profissional. Apesar da incômoda sensação de que os projetos são bem mais perfeitos que as realizações, fechamos a 15ª edição do Oficina de Notícias com a satisfação de quem recebe o melhor salário que a prática pode dar: o aprendizado.
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muitos nativos da região
Gravuras feitas por Maximiliano, príncipe de Wied, entre 1815 e 1817 (Cedidas pelo Museu Regional)
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CONTATO ELETRÔNICO: oficinadenoticiasuesb@yahoo.com.br Versão na Internet: www.uesb.br/jornallaboratorio
*Adaptação do poema “A Vitória da Conquista” de autoria de Ademário Ferreira (Babá)
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Outra vez foram convidados
10 José Duarte (Professor do curso de Jornalismo da Uesb) zecapile_2000@yahoo.com.br
ncontraram espaço no Oficina de Notícias, em sua décima quarta edição, desde “causos” pitorescos envolvendo personagens do submundo da pobreza ou da loucura, escolhidos para superar a condição de objetos de escárnio e se tornarem sujeitos de seu agir, como reportagens ousadas, que buscaram e conseguiram dar conta do caos político que se instalou na cidade com o entra-e-sai de prefeito, de registrar o movimento social na luta pela residência estudantil, da delicada situação de dirigentes universitários afetados pela troca de comando no governo do estado. Coberturas factuais de acontecimentos que interferem no cotidiano acadêmico, como as licitações da cantina e do restaurante universitário, a inauguração do telejornalismo da TVE Uesb e a aprovação do novo calendário mereceram os devidos registros. Outra vertente optou por retratar a cidade no período natalino e o aquecimento das vendas do comércio neste período, mesclando obviedades com características singulares verificadas no Natal da Cidade. A dificuldade de adaptação de estudantes vindos de outras cidades e a constituição de repúblicas recebeu uma abordagem etnográfica, com a imersão do repórter neste cotidiano. A questão ecológica foi lembrada nas matas e nascentes do Poço Escuro. Os temas das entrevistas foram pertinentes, assim como a escolha dos entrevistados, mas professoras deveriam ser entrevistadas num próximo número, para equilibrar a balança dos gêneros. Um jornal com boas “estórias” para contar atrai a atenção de quem inicia a leitura e deve levar o leitor até o final. Considerei os textos, em sua maioria, bem escritos, leves, gostosos de ler. Um sabor de jornal mensal, com um tempero bem equilibrado. Claro que pequenos deslizes ocorrem nos textos informativos e mesmo nas reportagens, mas uma boa revisão, não apenas ortográfica, pode dar conta. Parece-me que o ponto mais frágil encontra-se na parte declaradamente opinativa, nas retrancas Artigo e Crônica. Para se fazer um artigo precisa-se de um lastro de informações, cultura, vivência e capacidade de análise, dificilmente encontrados em alunos em processo de formação, pois buscam dar conta de interpretar um acontecimento do mundo real. Já a crônica é menos compromissada com a tal “realidade”, mas em contrapartida exige mais talento literário, mais intimidade com as palavras. Outro problema, já sabido, refere-se à qualidade das fotografias, mas isto é uma carência do curso, não desta edição. As charges, incorporadas como elemento comunicativo, cumprem seu papel, mas carecem de amadurecimento estilístico para superar uma mensagem óbvia. O formato, apesar de um tanto estranho aos padrões do tablóide tradicional, mostrou-se funcional para abrigar as matérias; a diagramação, se não foi ousada, também não comprometeu a organização visual das páginas e acabou conseguindo unir as duas correntes de abordagens temáticas, a que privilegiava a universidade e a que expunha a vida da cidade. Que venha o número15 e suas novidades!
Notícias
Editor: Fabio Botelho
Oficina de
REVIRAVOLTA
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