Revista Classe 02

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Revista da Associação dos Agentes Fiscais de Rendas do Estado de São Paulo

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Revista da Associação dos Agentes Fiscais de Rendas do Estado de São Paulo

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Edição 2 | Ano 1 | 2016

Revista

CRISE: COMO FAZER MAIS COM MENOS Em ano de ajuste fiscal, os brasileiros não podem perder a esperança: há uma luz no fim do túnel

Janeiro a março | 2016

CORRER FAZ BEM

CERVEJAS

ENTREVISTA

O esporte é um dos mais recomendados para o bemestar físico e mental

Você já experimentou as artesanais? Saiba mais sobre variedades dessa bebida

Dan Stulbach conta sua trajetória pessoal e profissional



TEMPOS BICUDOS

ESSES QUE VIVEMOS! EXPEDIENTE A Revista Classe é uma publicação trimestral da Associação dos Agentes Fiscais de Rendas do Estado de São Paulo (Afresp) dirigida e distribuída gratuitamente aos seus associados e familiares, parceiros e à comunidade de negócios. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores e a sua publicação não representa, necessariamente, a opinião da entidade e de sua diretoria.

Comunicação Editor-chefe: José Roberto Soares Lobato Conselho Editorial: Rodrigo Keidel Spada, José Roberto Soares Lobato, Vanessa Murayama, Milton Nakanishi, Antônio Sérgio Valente, Cássio Junqueira, Carlos Hage Chaim, Glauco Freitas Garcia Editora: Viviane Bulbow de Amorim Mendes (MTB 33.251 JP/SP) Jornalistas: Fabieli de Paula e Vanessa Zampronho Designers: Isabella Novaes e Thiago Gesteira Assistente de Comunicação: Thalita Azevedo Assistente de Redação: Giselle de Melo dos Santos Comercial/Publicidade: Wilson Fraga Alegretti Ilustrações: Mauricio Negro Periodicidade: trimestral Tiragem: 16.000 exemplares Redação: Av. Brig. Luís Antônio, 4843 - São Paulo - SP CEP 01401-002 - Telefones: (11) 3886-8837/ 8901 E-mail: comunicacao@afresp.org.br Impressão: Pigma Gráfica e Editora Ltda.

Diretoria Executiva Presidente: Rodrigo Keidel Spada 1º Vice-Presidente: Alexandre Lania Gonçalves 2º Vice-Presidente: Angela Manzoti Nahman Secretário Geral: Matheus Henrique Lopes P. Lima Secretário Adjunto: José Roberto Soares Lobato 1º Tesoureiro: Denis da Cruz Mângia Maciel 2º Tesoureiro: José Carlos Libano Conselho Deliberativo Presidente: Paulo Henrique Cruz Vice-Presidente: Luiz Carlos Benício 1º Secretário: Pedro de Oliveira Abrahão 2º Secretário: Leandro Radusweski Quintal Diretoria Designada Antônia Emília Pires Sacarrão (Previdência); Cezar José D’Avoglio (Engenharia); Mara Tomasseti (Aposentados); Milton Nakanishi (Esportes); Nelson Trombini Junior (Jurídico); Renato Pei An Chan (Projetos); Vanessa Kazue Murayama (Social). Fundafresp Coordenador: José Rosa Ouvidoria Francisco Lucindo Ramalho Netto Telefones: 0800-550679 ou (11) 3886-8843 E-mail:ouvidor@afresp.org.br

Difícil encontrar quem, nestes momentos de crise, não reclame dos apertos da economia, da inépcia dos governos, da desordem moral que domina a política e não mostre revolta diante das revelações dos desvãos onde negócios bem pouco republicanos buscam refúgio. Mas, como crise é também oportunidade, temos de buscar desvãos de outra espécie, onde as oportunidades se escondem. O espectro de oportunidades é amplo e pode oferecer formas de defender as economias feitas em épocas de bonança e indicar revisão de prioridades, propostas de uma vida mais saudável ou mudanças nos padrões de consumo, como apresentadas na matéria que fala sobre economia compartilhada. Nesse sentido, o segundo número da Revista Classe pode ser uma experiência rica em sugestões, a partir da matéria de capa, que trata diretamente do tema da crise, analisando suas características e oferecendo alternativas de um convívio menos doloroso, ou, quem sabe, mais prazeroso da crise. O hábito de beber cerveja, por exemplo, pode se tornar oportunidade para uma relação mais saudável, mais consciente e mais prazerosa com essa bebida milenar, e as variedades de cerveja artesanal podem ajudar nisso. Da mesma forma, correr pode ser, além de saudável, uma atividade prazerosa e, sobretudo, acessível, como mostram os depoimentos de quem pratica regularmente essa atividade. Nessas matérias, saúde, economia e prazer tornam-se perfeitamente compatíveis com a crise e podem mesmo beneficiar-se dela. Mas as oportunidades da crise não se restringem à esfera pessoal. A crise impõe a exigência de discutir problemas nacionais numa profundidade maior do que estamos dispostos durante os períodos de prosperidade. A consciência de que muita coisa deve ser mudada deve vir seguida de um novo “design institucional” – para usar as palavras do jurista Eurico de Santi – que apresente propostas de reformas institucionais tão profundas e criativas quanto a situação exige. É o caso do atual regime de tributação do Brasil e particularmente do ICMS, que foi tema do Seminário Internacional promovido em setembro último pela Afresp, pela Escola de Economia e de Direito da FGV e pelo Estadão. As palestras do Seminário foram resenhadas ou transcritas e são objeto do Caderno Especial nº 1, que a Revista Classe lança junto a esta edição. Os temas abordados no Seminário Internacional O ICMS e o futuro dos Estados se impõe por sua alta relevância, por sua atualidade e pela qualidade dos palestrantes. Com esse Caderno Especial, o público em geral terá a oportunidade de ter um contato com um tema relevante e quase sempre árido, mas que, no Seminário, foi tratado com profundidade e leveza. Por sua vez, os auditores fiscais de todo o Brasil terão a oportunidade de ampliar a reflexão sobre sua própria atividade profissional. Boa leitura!


palavra do leitor

Palavra do Leitor

Revista da Associação dos Agentes Fiscais de Rendas do Estado de São Paulo

Edição 1 | Ano 1 | 2015

O FISCAL DO FUTURO A tecnologia a serviço do fiscal no combate à sonegação

ROSA E AZUL Câncer de mama e próstata: quanto antes detectar, melhor

ENTREVISTA Cláudio Weber Abramo fala sobre a transparência nos governos

ÁGUA NOSSA DE CADA DIA Falta de chuvas, falta de planejamento, desperdício... De quem é a culpa pela crise hídrica?

Classe 2015 | Artigo | 02

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Também, como estou vendo na “palavra do leitor” alguns colegas dizendo o que gostariam de ver na revista. Eu gostaria de ver retratado um pouco da história da nossa carreira - como a categoria, apesar das adversidades, tem conseguido avançar, especialmente nos difíceis anos 90 quando, com muita luta, tivemos significativa melhoria salarial - penso que a revista, no formato em que está, pode ser um excelente disseminador da ideia de que sempre teremos dificuldades, mas também oportunidades de melhoria. Grande abraço e sucesso nessa empreitada!” Geraldo R. Bócoli “Gostaríamos de agradecer, em nome do presidente da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais, André Morisson, o envio da edição nº 1 da revista Classe. Parabéns pela publicação com excelente conteúdo”. Assessoria da APCF

10/09/2015 09:46:36

“Recebi a revista Classe. Despretensiosamente comecei a lê-la, acreditando ser mais uma publicação igual a muitas outras. Quando dei por mim, havia “devorado” todas as matérias. Excelentes! Uma melhor que a outra, e olha que as abordagens foram múltiplas. Fico feliz e parabenizo toda a equipe da Comunicação e a Diretoria da Afresp pela iniciativa. Sucesso!” Benedito de Godoy Moroni “Fiquei surpresa ao receber a referida revista. No momento difícil em que a classe passa - atraso de PR, Lei 1.059, subteto, PEC, PLO, enfim tudo que persegue a classe desde sempre e vem agora essa revista, tenham dó! Já não temos o jornal, para que essa revista? Está sobrando dinheiro e tempo porque não participam mais ativamente nos movimentos?” Maria Lizete Martins de Carvalho Prezada Maria Lizete, agradecemos sua manifestação e ressaltamos que a Revista Classe foi lançada com o propósito de ampliar e melhorar a comunicação da Associação, não só com seus associados mas também com seus familiares e o público em geral. É uma oportunidade de não apenas ouvir o que vem de fora, mas também de falar para quem está de fora. Essa condição, porém, não impedirá que assuntos de interesse da classe fiscal sejam tratados por meio de debates, artigos, matérias e entrevistas, sempre que pertinente. Isso significa uma ação que, certamente, não se confunde com outros “movimentos”, mas que é igualmente ativa, sem que isso signifique desperdício, uma vez que a revista nasceu com o propósito de gerar seus próprios recursos.

“Recebi recentemente a primeira edição da revista Classe. Confesso que não sou fã de publicações impressas, preferindo ler no formato eletrônico, porém ao folhear a revista encontrei artigos interessantes e resolvi ler...” Kaléu Delphino Agradecemos os elogios, críticas e sugestões Kaléu Delphino. Por questão de espaço, não foi possível publicarmos na edição impressa, na íntegra, os elogios e críticas pontuados por você no e-mail, porém nossos leitores poderão acessar o conteúdo completo em nosso site: www.revistaclasse.com. br, com lançamento previsto para fevereiro. Continue nos enviando suas observações, pois elas nos ajudam a melhorar a cada edição. Obrigado!

“A Revista Classe já nasceu grande. Parabéns a Associação dos Agentes Fiscais de Rendas pela iniciativa, em especial aos colegas idealizadores da mesma”. Sebastião Mendonça Ribeiro “Simplesmente genial”. Lazaro Menezes de Souza “Já estou curtindo”. Luiz Carlos Galli “Vou curtir esta página. Recebi o número 1 da revista Classe em casa, e vou colecionar para a posteridade. É uma publicação bem interessante”. Sergio Saes

“Caros idealizadores e responsáveis pela edição da revista Classe, parabenizo a todos pela iniciativa da criação dessa revista que já nasce com uma vocação para durar por muito tempo, dada a qualidade e a multiplicidade dos assuntos tratados. 04 | Palavra do Leitor | Classe 2016

“Boa surpresa. Amei a 1ª edição”. Neusa P. A. Vicentini


24 CAPA Como sair bem do ajuste fiscal

42

ENTREVISTA O talento e a versatilidade de Dan Stulbach

6 FISCAL

ÍNDICE 46 30

CERVEJAS ARTESANAIS Conheça mais os aromas e sabores desta bebida artesanal

CORRER FAZ BEM Prazer conquistado nas passadas do asfalto

9 TRIBUTÁRIO 10 EDUCAÇÃO FISCAL

38 SAÚDE

12 CONTRA X A FAVOR

39 RETRATO

14 QUESTÕES DA CLASSE

54 VITRINE

15 POLÍTICA

56 AGENDA

16 SEU DINHEIRO

58 CULTURA

20 TECNOLOGIA

60 CURTAS

23 COMPORTAMENTO

62 CRÔNICA Classe 2016 | Índice | 05


Fiscal

NARCOS TRIBUTÁRIO E DESAFIOS

Eurico Marcos D. de Santi é professor, Coordenador do NEF/FGV Direito SP, e Diretor do Centro de Cidadania Fiscal

DA TROPA DE ELITE DA AFRESP 1. DOPPING TRIBUTÁRIO: DROGA E SISTEMA DE PRIVILÉGIOS LEGAIS VICIAM O problema da cocaína é no consumo: a sensação de poder. O problema do sistema tributário brasileiro é no poder: a tributação do consumo (IPI, PIS/ COFINS, ICMS, ISS). No tributo e na droga, a oferta cria a procura. No começo, um FINSOCIAL de 0,5%, depois um IPMF de 0,25%, PIS/ COFINS, IPTU Progressivo, ICMS Importação/ PF, PIS/COFINS não cumulativo, substituição tributária; no fim, a recaída da CPMF que vicia. O barato da droga ilude a consciência: as alíquotas ocultas entorpecem o usuário. No morro, a guerra é das gangues. No sistema tributário, a guerra fiscal é da federação: (i) entre municípios (guerra fiscal ISS x ISS), (ii) entre municípios e estados (guerra fiscal ISS x ICMS), (iii) entre estados (guerra fiscal do ICMS), (iv) entre União e estados (incorporação da base do ICMS pela via PIS/COFINS) e (v) entre União e municípios (incorporação da base do ISS pela via do PIS/COFINS). A guerra das drogas destrói a alma. A guerra fiscal destrói o Estado. Do consumo, União, estados e municípios repartem a tributação e se matam. 2. RECRIAÇÃO DO SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 06 | Fiscal | Classe 2016

O debate da legalização das drogas inspira o desafio de recriar o sistema constitucional tributário. É preciso tirar o oxigênio da indústria do contencioso. A transparência da maré baixa revelará quem somos: um País pobre que tributa muito e continua pobre. O processo histórico de concretização do sistema tributário brasileiro não tem se mostrado adequado para realização dos valores supremos do Estado Democrático de Direito, anunciados na Constituição Federal de 1988. Além disso, o atual desenho tributário gera distorções que atingem, direta e indiretamente, valores protegidos por cláusulas pétreas: (i) a forma federativa de Estado; (ii) o voto direto, secreto, universal e periódico, (iii) a separação dos Poderes e (iv) os direitos e garantias individuais. A prática dos últimos 27 anos da vigência da CF88 mostra que o desenho do sistema tributário afeta, frontalmente, a forma federativa de Estado, pois é a falta de clareza na divisão das competências tributárias que fomenta a guerra fiscal. A guerra fiscal corrói a base do Estado de Direito quando induz desrespeito à cláusula federativa do art. 152, que proíbe “aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer diferença tributária entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão de sua procedência ou destino”, dispositivo previsto, sistematicamente, desde a primeira Constituição da República, em 1891.


O atual sistema tributário desvaloriza o voto, pois não oferece transparência dos tributos pagos pelo cidadão que são recolhidos pelas pessoas jurídicas e embutidos nos preços de bens e serviços consumidos pelas pessoas físicas. Em razão disso, o tema da carga tributária é debatido especialmente no universo das pessoas jurídicas (empresas), restando excluído o cidadão/eleitor do debate e da deliberação sobre os tributos que incidem, especialmente, no consumo, nas eleições das três esferas federativas.

loca em risco a concretização da garantia fundamental da legalidade: sem legalidade não há segurança jurídica nem direito. De outro, a falta de qualidade do sistema tributário atual implica deterioração progressiva das bases da arrecadação dos fiscos, colocando em risco investimento, financiamento e a manutenção dos direitos sociais e do sistema público de previdência. O colapso da arrecadação do financiamento do Estado induz colapso proporcional na realização do gasto público.

O atual design tributário desequilibra a separação de poderes, pois enseja a edição de extensa e complexa legislação nas três esferas, criando hipercomplexidade legislativa que retroalimenta e dificulta a atividade do Poder Legislativo. Além disso, a falta de paradigma legal nacional gera múltiplos conflitos interpretativos na aplicação do direito nos três níveis de administração tributária, situação que, na prática, delega e sobrecarrega o Poder Judiciário, que é convidado a se pronunciar sobre a interpretação final dos múltiplos fatos geradores e bases de cálculo vigentes no sistema tributário nacional. Nesse ambiente, as leis não cumprem seu papel de regular claramente os critérios de tributação. O Executivo não consegue aplicar, consolidar e regulamentar a lei de modo a oferecer segurança jurídica ao contribuinte. O Poder Judiciário já é caro e está sobrecarregado com a tarefa de tornar-se a voz da legalidade prática, acumulando as tarefas de julgar, efetivamente, legislar e cobrar as dívidas pela via do Executivo Fiscal.

3. DIRETRIZES PARA O NOVO PARADIGMA SOBRE A QUALIDADE DO SISTEMA TRIBUTÁRIO: SIMPLICIDADE, TRANSPARÊNCIA, NEUTRALIDADE E EQUIDADE O patamar de 34% do PIB da carga tributária é indicador objetivo do limite geral do sistema de arrecadação. É oportunidade para construir novo marco no debate da tributação no Brasil, orientado pelas diretrizes da simplicidade, da transparência, da neutralidade e da equidade.

O gráfico abaixo mostra o custo comparativo do Poder Judiciário.

Simplicidade indica facilidade e segurança jurídica para o contribuinte pagar seus tributos e cumprir seus deveres. Transparência para dar visibilidade à complexa relação entre direito, economia e política, de modo a identificar o verdadeiro titular do ônus da carga tributária e aprofundar o exercício da cidadania fiscal nas eleições. Neutralidade para que a tributação não atrapalhe o ambiente de negócios, incentivando a eficiente alocação do investimento e prevenindo a entropia do planejamento tributário.

Enfim, afeta direitos e garantias individuais em duas dimensões. De um lado, porque co-

Tais diretivas são guias mestras para orientar nosso horizonte de ação, rumo à construção

Espanha Argentina

0,12%

Despesa do Poder Judiciário como (%) percentual do Produto Interno Bruto, países selecionados

0,13%

Estados Unidos

0,14%

Inglaterra

0,14%

Itália Colômbia Chile Portugal Alemanha Venezuela Brasil

Fontes: CNJ 2014; European Commission for the Efficiency of Justice (CEPEJ) 2014, 32; Centro de Estudios de Justicia de las Americas (SEJA) 2007; Naticional Center for State Courts (NCSC) 2012; Supreme Court the United States (SCOTUS) 2012.

0,19% 0,21% 0,22% 0,26% 0,32% 0,34%

1,30%

Classe 2016 | Fiscal | 07


de um novo paradigma regulatório de sistema tributário nacional harmônico e coerente, alinhado com os “valores supremos”, os “princípios fundantes” e as “cláusulas pétreas” da Constituição Federal de 1988. Enfim, a equidade do sistema tributário (para além do sentido abstrato de “justiça”) indica que a tributação deve convergir para isonomia: de um lado, entre as pessoas físicas; de outro, entre as pessoas jurídicas. Afinal, simplicidade, transparência e neutralidade são instrumentos para realizarmos nosso processo civilizatório, rumo à igualdade que dignifica e justifica a própria noção de direito. 4. DESAFIOS DA TROPA DE ELITE DA AFRESP Na Colômbia, Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez, usa o realismo mágico para mostrar o irreal e estranho como algo cotidiano e comum. Conta a história da revelação dos misteriosos pergaminhos do Cigano Melquíades que relatam a dramática narrativa da família de José Arcadio Buendia e sua máquina do tempo. No Brasil, 50 anos de sistema tributário nacional também demanda realismo fantástico para revelar a situação absurda em que nos encontramos. A prática da tributação desintegrou a federação pelas guerras fiscais. Alienou o voto nas eleições, retirando da deliberação do cidadão o debate sobre financiamento do Estado, criando um sistema que cobra das pessoas jurídicas (empresas) porque é mais cômodo, no lugar de debater com a sociedade sobre tributação e qualidade de serviços públicos. Comprometeu o equilíbrio dos poderes através do abuso na edição de medidas provisórias e da complexidade legal (e ilegal/inconstitucional) que trava o Poder Judiciário. Enfim, coloca em risco o sistema de direitos e garantias, legalizando a desigualdade e legitimando o sigilo fiscal para ocultar privilégios oferecidos pelos benefícios fiscais que retroalimentam a lógica do financiamento de campanhas nas eleições municipais, estaduais e federais. A notícia sobre a medida provisória que foi comprada para beneficiar empresa, noticiada pela Folha de São Paulo¹ e pelo Estadão, mostra o paroxismo do sistema tributário, cuja lógica está em consumir a própria legalidade. A norma virou a droga que vicia o Poder Público e as Empresas. Financiar eleições não é ilegal. O problema está na contraprestação do finan-

ciamento das campanhas que corrompem o sistema tributário que deveria ser simples, transparente, neutro e isonômico. O problema não são as empresas: pessoas jurídicas são biombos artificiais. O problema não está nos julgadores ou agentes públicos. O problema está no sistema constitucionalizado. A inspiradora metáfora do seriado Narcos, reconstrói na Colômbia as mesmas patologias da falta de Estado, registradas no Rio de Janeiro em Tropa de Elite 1 e Tropa de Elite 2. A concepção artística do diretor José Padilha e a do ator Wagner Moura nos advertem para o inusitado realismo mágico que nasce nas sombras da ausência do Estado. Talvez, possamos nos apropriar do mesmo realismo fantástico para recriar o sistema tributário constitucional, reorganizado em torno da simplicidade, transparência, neutralidade e equidade. O agora é a hora da ação. O maior desafio da justiça na Administração Tributária é a difícil conexão entre tributação e democracia. A melhor estratégia está na mudança da mentalidade dos operadores do direito, no incremento de efetivo controle social e no exercício da cidadania fiscal. A tecnologia da informação permite hoje a criação de um novo federalismo cooperativo que já se iniciou com nosso pioneiro Sistema Público de Escrituração Digital - SPED, orgulho nacional, criado pelo esforço coordenado dos Estados no ENCAT (Encontro Nacional de Coordenadores e Administradores Tributários Estaduais). Além disso, é momento de repensar modelos do século passado que delegaram o dever de interpretar para o contribuinte, resgatando o lançamento de ofício turbinado pela tecnologia de informação, restituindo ao agente público a prerrogativa de se tornar portador da voz da legalidade para criar segurança jurídica, certeza do direito e ambiente de negócios. O amanhã chegou! É hora da Tropa de Elite da Afresp entrar em ação para assumir a liderança, na qualidade de representantes da sociedade civil experts em tributação. Precisamos de protagonistas qualificados para construir horizontes de futuro da Reforma da Qualidade do Sistema Tributário. Para construirmos juntos a mais moderna, inteligente e sofisticada administração tributária do mundo. Melhorar o Brasil? Sim. Nós podemos!

¹ http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/10/1688906-suposta-compra-de-mp-nao-deve-ser-investigada-por-cpi-diz-relatora.shtml

08 | Fiscal | Classe 2016


Tributário

BEABÁ DA TRAGÉDIA FISCAL O

debate sobre o tamanho do Estado é oportuno nesta quadra de profunda crise fiscal, que compromete o presente e o futuro da economia brasileira. Os defensores do Estado grande, que tudo pode, cegos por paixão ideológica, enaltecem os miraculosos “efeitos keynesianos” do gasto público sobre a economia e o bem-estar social, sem se preocupar com seu financiamento. Imaginam que possibilidade de extração fiscal sobre os ricos é infinita. É regra elementar de finanças públicas que o Governo não deve gastar mais do que arrecada. A desobediência a essa regra, tal como acontece nos condomínios, resulta em inevitável “chamada extra”. No caso do Governo, “síndico” do condomínio público, a “chamada extra” é feita na forma de emissão de títulos- que formam o estoque da dívida pública - cujos juros precisam ser honrados com mais impostos e/ou menos gastos logo à frente. O estoque da dívida pública nada mais é do que a soma dos déficits acumulados ao longo do tempo. O déficit é salutar quando decorre de despesas de investimento: é justo que gerações futuras, beneficiárias que serão dos bens públicos (estradas, portos, aeroportos, etc), suportem parte de seu custo. De outro lado, quando o desequilíbrio é explicado pela exacerbação das despesas correntes (pessoal, previdência, transferências de rendas, etc), a geração presente, que tem o bônus do serviços públicos, transfere maldosamente o ônus de seu financiamento para as gerações futuras. Simples assim. É imposição da aritmética elementar que pelo menos os juros da dívida pública devam ser honrados pela “poupança do governo”, o superávit primário (receitas menos despesas não financeiras). Sem isso, a relação dívida/PIB explode e o Governo tem de emitir novos títulos com juros cada vez maiores para captar poupança privada. Paga-se com cartão de crédito os juros do cheque especial. A dramática crise econômica brasileira decorre basicamente do desarranjo das contas públicas, resultado do tsunami de gastos correntes dos últimos quatro anos. O Estado brasileiro custa, hoje, 45% do PIB, que não cabem na carga tributária de 36%. O tamanho do buraco é assustador: 9,34% do PIB e essa é

Clovis Panzarini é economista e AFR aposentado. Foi coordenador da CAT de São Paulo

a medida da tragédia fiscal. No ano de 2010, as despesas com juros da dívida representaram 5,03% do PIB e o Governo conseguiu “poupar” 2,62% do PIB. O resultado, portanto, foi um déficit nominal - juros sem lastro na poupança do governo, que foram pagos com “papagaios” novos - de 2,45% do PIB. Nos últimos doze meses até setembro, o “superávit” primário foi de (-) 0,45 % do PIB – e sobe para quase (-) 2% se honradas as “pedaladas” enrustidas nos bancos oficiais no ano de 2014 - enquanto as despesas com juros subiram para 8,89% do PIB, resultando em déficit nominal de 9,34% do PIB! O estoque da dívida bruta alcançou R$2,7 trilhões e não para de crescer. Debate-se, hoje, as possíveis saídas dessa armadilha, resultado de amadorismo e irresponsabilidade eleitoreira. Os “desenvolvimentistas/voluntaristas” pregam aumento do gasto e do crédito ao consumidor e redução dos juros, imaginando que isso turbinará a demanda, o PIB e, assim, a arrecadação tributária. Essa bruxaria foi usada no ano eleitoral de 2014 e deu no que deu: queda no PIB e aumento da inflação. Imaginar que desequilíbrio estrutural (velocidade da despesa corrente maior do que a do PIB) possa ser corrigido com política anticíclica é de um simplismo comovente. A receita ortodoxa, que defende cortes de gastos e aumento da carga tributária para restabelecer a responsabilidade fiscal, não é mais simples. Nesse ambiente que os economistas chamam de dominância fiscal, a magnitude do buraco fiscal é tão fantástica que torna o processo inflacionário insensível à taxa de juros. De outro lado, há enorme rigidez no gasto, decorrente de direitos constitucionais, indexações da ordem de 50%, etc. A margem de discricionariedade do governo não vai além dos 10% do gasto total, aí incluídas as despesas de investimento, tão necessárias para a recuperação da infraestrutura. Os governos subnacionais não têm menos problemas. O paulista está contingenciando despesas de investimentos (inclusive a nossa PR) e propondo aumento de ICMS para alguns setores de atividade. A crise é séria e a ameaça de prevalência da “dominância política” dos feiticeiros desenvolvimentistas pode agravá-la. Classe 2016 | Tributário | 09


Educação Fiscal

Heleny Uccello Gama é ex-diretora da Escola Fazendária de São Paulo e AFR atuante na educação fiscal desde 1992

A PROPÓSITO DE EDUCAÇÃO FISCAL N

este momento crítico na economia do país, com a necessidade do ajuste fiscal e a urgência de complexas decisões entre o corte de gastos - essenciais, inclusive, e o nada desejado aumento de tributos, a educação fiscal é tema mais relevante do que nunca. A publicação recente do livro História da Educação Fiscal do Estado de São Paulo, que procura sistematizar informações acerca das campanhas de premiação realizadas e dos programas de Educação Tributária, Educação Fiscal para a Cidadania, Nota Fiscal Paulista, me estimula a retomar algumas das reflexões que nortearam a concepção dos programas de caráter educativo que, num enfoque mais analítico das iniciativas, não recomendava a realização de campanhas de premiação, ressaltando o trabalho com educadores e a transversalidade curricular do conteúdo. As conclusões da Administração Tributária que relatam que as campanhas até então promovidas não tiveram efeitos mensuráveis na arrecadação e indicam que interesses pessoais tendiam a prevalecer foram objeto de artigo que publiquei na Educação, Tributação e Cidadania (maio/1995). Por exemplo, na Gincana da Nota Fiscal (1992), mais de oitenta por cento dos documentos arrecadados foram cupons fiscais de supermercados, muitas vezes apanhados do chão. Durante mais de uma década, a extinta Diretoria de Planejamento da Administração Tributária e, mais tarde, a Fazesp se posicionaram de maneira efetiva contra a realização de iniciativas desse tipo. Quanto à campanha permanente em vigor desde 2007, faço minha a opinião de José Roberto Soares Lobato, Secretário Adjunto 10 | Educação Fiscal | Classe 2016


da Afresp, na primeira edição da revista Classe (p. 8), em sua abrangente análise das impropriedades do Programa da Nota Fiscal Paulista: o aumento de arrecadação observado não pode ser atribuído ao programa, já que sua criação foi concomitante com o aumento do uso da substituição tributária; as grandes redes predominantes no setor varejista não incluem entre suas estratégias de sonegação a de não emitir notas fiscais, existindo, portanto, pouco espaço para o fiscal-cidadão; quanto ao sonegador contumaz do varejo, o ganho marginal de arrecadação com o programa é praticamente zero e, assim sendo, os créditos concedidos anualmente constituem mera renúncia fiscal; no aspecto pedagógico, a lógica que leva o consumidor a pedir nota fiscal aqui é a mesma que o leva a não pedir nota fiscal em outras situações; por fim, devolver dinheiro de imposto é contraditório, imposto deve ser cobrado e, se o Estado pode suportar essa renúncia, seria o caso de diminuir a carga do tributo. O livro História da Educação Fiscal do Estado de São Paulo não faz menção ao trabalho cooperativo que a Fazesp desenvolveu com a Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas (CENP) da Secretaria da Educação, cujo histórico consta do artigo publicado pela Transparência Internacional, que selecionou nosso relato (meu e do Cássio Junqueira) e nosso país para figurar na revista Teaching Integrity to Youth - Examples from 11 countries (Alemanha, 2004). Talvez não seja exagero considerar essa publicação como uma das mais significativas do programa de educação fiscal no estado. Em que pesem as demais parcerias da Fazesp com entidades mencionadas no artigo, o Sinafresp – Sindicato dos Agentes Fiscais de Rendas do Estado de São Paulo, a Afresp – Associação dos Fiscais de Rendas do Estado de São Paulo, e o CRC – Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo, que apoiaram diversas ações de educação fiscal, a experiência de 20032004 em 518 escolas reforçou algo que já havia sido identificado no trabalho com 450 escolas estaduais em 1994 e com 22 estabelecimentos de ensino municipal da Capital em 2005-2007: a importância da participação dos educadores das secretarias de educação e da inserção desse conteúdo interdisciplinar no plano pedagógico da escola. Pelos relatos de professores de vários dos 518 estabelecimentos estaduais e por inúmeros trabalhos elaborados por seus alunos, obtivemos

indicadores de que, no período de 1996-2003, houve continuidade das ações, em muitos casos, quando a escola havia integrado em seu plano pedagógico a educação fiscal. A experiência de 2003-2004 ressaltou também a convicção de educadores e estudantes de que o aumento de consciência cívica que essas atividades proporcionam é fundamental para a construção de nossa nação brasileira democrática. Cabe enfatizar, então, um aspecto de especial relevância nas atividades realizadas com a Secretaria da Educação, tanto nesse período (2003-2004) como no anterior, 1992-1994: o esforço em capacitar professores para tratar sobre questões fiscais e de cidadania em todas as disciplinas curriculares. A coordenação dessa tarefa coube sempre a educadores (da CENP, em especial), com o apoio de participantes da Secretaria da Fazenda. No governo seguinte, infelizmente, interrompeu-se novamente a parceria com a Secretaria da Educação, porque esta, priorizando o atendimento à necessidade de ensinar português e matemática, suspendeu projetos especiais, entre eles, o de Educação Fiscal. Os educadores que participaram do Grupo de Trabalho Educação Tributária, mais tarde, Grupo Nacional de Educação Fiscal, defendiam acertadamente o tratamento transversal do tema, ou, passando a tratá-lo como “tema interdisciplinar”, que deveria perpassar toda a vida escolar e não ser objeto de disciplina curricular. Esse conteúdo passou a ser considerado “tema social contemporâneo”. A meu ver, a educação fiscal integra a educação geral e deve ser trabalhada com os alunos pelos professores, não havendo dúvida de que, do ponto de vista da formação, é inapropriado seu tratamento como disciplina curricular, já que as questões relativas a arrecadação e alocação de recursos públicos dizem respeito a todas as áreas de conteúdo. A educação fiscal é tema que deve perpassar todos os setores e todas as atividades da Escola Fazendária e, por isso, não deve estar concentrado num Centro. Não quero dizer que, com as múltiplas demandas do dia a dia, a tarefa seja fácil de realizar, mas que sua importância deve ser sempre considerada. A educação fiscal constitui um tema social contemporâneo. Em especial, no contexto de crise econômica e política em que o país se encontra, essa discussão assume importância de amplitude incomum, não somente no currículo ou na esfera escolar, mas na vida. Classe 2016 | Educação Fiscal | 11


Contra x A favor

SIMPLES Bernard Appy

é Diretor do Centro de Cidadania Fiscal. Foi Secretário Executivo e Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda. No Brasil é comum boas ideias darem péssimos resultados por conta da falta de uma avaliação adequada de custos e benefícios. Esse é, com certeza, o caso do Simples. Obviamente a proposta de criar um sistema simplificado e pouco oneroso de tributação de pequenos negócios parece atraente. Há razões para tanto: uma é o fato de que os pequenos negócios formais competem com a economia informal; outra é a necessidade de reduzir o custo das obrigações acessórias para os pequenos empreendimentos. O problema é que o sistema adotado no Brasil cria mais distorções do que gera benefícios. Por um lado, é um sistema que estimula a abertura de pequenos negócios, mas impede seu crescimento. Por outro lado, por conta do Simples (e também do regime de Lucro Presumido), pessoas de alta renda são muito pouco tributadas no país. Por fim, o Simples cria várias dificuldades para a gestão dos tributos sobre bens e serviços, a exemplo do ICMS. Um dos maiores problemas do Simples decorre de sua incidência se dar sobre a receita das empresas. Embora esta seja, de fato, uma forma simplificada de tributação, acaba gerando muitas distorções. Para entender este ponto, vamos considerar dois estabelecimentos comerciais com receita mensal de R$ 30 mil e que pagam R$ 2 mil de salários. O primeiro estabelecimento opera com uma margem de comercialização de 20% e o segundo com uma margem de comercialização de 50%. Como os dois estabelecimentos estão no Simples, ambos pagam o mesmo montante de imposto, no caso 5,47% de R$ 30 mil, o que equivale a R$ 1.641,00 por mês. Deduzido o custo dos insumos, os salários e o custo dos tributos, o lucro mensal do primeiro negócio é de R$ 2.199,00 e o do segundo negócio é de R$ 11.199,00, valor cinco vezes superior. Este é o grande problema do modelo do Simples. Ele trata igualmente situações que são absolutamente desiguais. Como o lucro distribuído pelas empresas do SIMPLES é isento na pessoa física, temos uma situação em que uma pessoa com renda pessoal de mais de R$ 11 mil é tributada da mesma forma que uma pessoa com renda de R$ 2,2 mil. Apenas a título de comparação, uma pessoa sujeita ao imposto de renda das pessoas físicas com renda mensal de R$ 11 mil recolhe, na fonte, R$ 2.155,00. 12 | Contra x A favor | Classe 2016

Esta distorção é agravada à medida que cresce o faturamento das empresas. Se considerarmos o mesmo exemplo acima, mas com faturamento mensal de R$ 300 mil (teto do Simples) e folha de salário de R$ 20 mil, o lucro do negócio com margem de comercialização de 20% seria de apenas R$ 3,5 mil – bem inferior ao de uma empresa tributada pelo regime normal (lucro real). Já o lucro do negócio com margem de 50% seria de R$ 93 mil, valor muito superior ao lucro de R$ 56 mil de uma empresa semelhante tributada pelo regime de lucro real. Supondo que a empresa tenha apenas um dono, o SIMPLES estaria beneficiando uma pessoa cuja renda pessoal supera R$ 90 mil/mês. O modelo do Simples não favorece negócios com baixa margem, mas cria fortes estímulos para que negócios com alta margem se constituam na forma de micro e pequenas empresas, e dificulta o crescimento desses negócios, pois a saída do Simples resultaria num aumento expressivo de sua tributação. Outro problema resultante do Simples é o incentivo para que as administrações tributárias estaduais adotem de forma generalizada (e irracional) o regime de substituição tributária, pois na ausência desse regime a perda de receita decorrente do Simples seria expressiva. A solução para estes problemas é clara. É preciso mudar a base de incidência do Simples do faturamento para o valor adicionado e acabar com a isenção do lucro distribuído. Para os negócios muito pequenos, pode-se adotar um regime diferenciado, como aliás fazem diversos países que possuem um imposto sobre o valor agregado (IVA). Mas nesses países o tratamento diferenciado aplica-se a empresas com receita entre US$ 50 mil e US$ 150 mil, valor muito inferior ao limite do Simples, que é de quase US$ 1 milhão. No momento em que escrevo este texto está em discussão no Congresso um projeto de lei que dobra o limite de receita anual para enquadramento no Simples, de R$ 3,6 milhões para R$ 7,2 milhões. Os interessados nesta elevação não são, é claro, os empresários de negócios com pequena margem, mas sim os empresários com alta renda pessoal, isenta na pessoa física, que temem um aumento relevante (e justo) de sua carga tributária.


NACIONAL Carlos Leony Fonseca da Cunha é advogado, foi coordenador técnico do PROMOCAT e Diretor da DI; atualmente é Secretário Especial da Micro e Pequena Empresa da Presidência da República. Algumas das conquistas mais revolucionárias da medicina moderna estão no campo da dor. Isso se deve ao conceito de que, antes da cura da própria doença, o paciente não deve sentir dor. Basta ela existir, independentemente de diagnóstico ou sensibilidade daquele que sofre, para justificar todos os meios e instrumentos para sua eliminação. Aqui no Brasil, esse mesmo princípio foi aplicado, e bem aplicado, se partirmos da visão praticamente unânime de que a complexidade do sistema tributário brasileiro é uma doença, cujos principais sintomas são o crescimento inadequado das empresas e fraqueza na competição com empresas de outros países – daí o tema da reforma tributária nunca sair de pauta. O Simples Nacional foi o remédio que, desde 2006, quando foi criado, protege as micro e pequenas empresas, mediante uma espécie de encapsulamento tributário, evitando pelo menos o alívio da dor para que permaneçam lutando contra a doença da complexidade do sistema tributário. Por outro lado, o Simples Nacional é um remédio em evolução. A política pública do tratamento favorecido e diferenciado às micro e pequenas empresas vem experimentando aperfeiçoamentos muito significativos, principalmente nos últimos dois anos. A rigor, com as alterações de agosto de 2014 - que praticamente universalizaram o acesso ao regime para todas as empresas em função apenas do faturamento, independentemente das suas atividades econômicas - e com as alterações que tramitam hoje no Congresso que estabelecem a incidência progressiva entre as faixas de faturamento, o chamado projeto “crescer sem medo”, constata-se que a doença já não incomoda tanto as micro e pequenas empresas. Óbvio que elas também precisam da reforma tributária. Ela poderia significar um aumento da possibilidade de enfrentar melhor o mercado externo. Mas sem dúvida as médias e grandes empresas precisam muito mais. Ainda faltam alguns aperfeiçoamentos para completar a criação de um regime jurídico-tributário que seja no mínimo justo com as micro e pequenas empresas – se não bastasse outros números, os principais demonstram a importância desse segmento na medida em que, apesar de gerar apenas 15% da receita tributária, emprega praticamente 60% da força de trabalho. É necessário enfrentar a questão da substituição tributária do ICMS, que anula parte do que o regime do Simples Nacional

oferece, e a questão da calibragem do tratamento favorecido e diferenciado em matéria trabalhista. Aliás, um tratamento diferenciado em matéria trabalhista nem pode mais ser considerado um tabu quando o assunto é micro e pequena empresa. Afinal, esse é outro número importante, mais de 60% dos trabalhadores das grandes empresas gostariam de ser patrão de si mesmos, ou seja, querem um empurrãozinho para empreender. E sabem que o custo da mão de obra para um micro empresário não é igual ao que é suportado pelas grandes empresas, em função da diferença significativa na escala de produção e vendas. Se esses dois temas, substituição tributária e tratamento favorecido na área trabalhista para o micro e pequeno empregador, embutem complexidade na discussão, afinal envolvem questões importantes ligadas à autonomia tributária dos estados e à história do trabalhismo, disposição não falta para enfrentá-los. Isso porque as últimas conquistas do Simples Nacional foram escancaradamente qualificadas. Na aprovação da Lei Complementar 147, unanimidade no Congresso, nenhum voto contrário. Na recente votação do PLC 125, na Câmara, apenas um voto contrário. Hoje o Congresso tem, na Frente Parlamentar Mista da Micro e Pequena Empresa, uma das mais atuantes bancadas temáticas já vistas na história republicana do Brasil. Por outro lado, a partir da criação da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, o governo deu foco para a consolidação da política pública do tratamento favorecido e diferenciado previsto no art. 179 da Constituição Federal. Em outras palavras, a causa da micro e pequena empresa é um exemplo perfeito de resultados positivos concretos a partir de um trabalho coordenado pelo Legislativo e o Executivo. Mais do que isso, os resultados positivos concretos nos avanços do regime do Simples Nacional demonstram que essa talvez seja a política pública mais sintonizada com o que a sociedade brasileira deseja. Em tempos de crise, nada melhor que apoiar os pequenos negócios como forma de oxigenar a economia e apostar na criatividade e agilidade como solução. Por fim, para dar um fechamento adequado à abordagem inicial, o país tem efetivamente várias reformas por fazer. Mas se os avanços no Simples Nacional forem considerados, pode-se dizer que 97% das empresas brasileiras, as micro e pequenas, já experimentam os resultados de uma silenciosa e eficaz reforma tributária. Classe 2016 | Contra x A favor | 13


Questões da Classe

A“ UNIÃO DE TODOS PELO BEM COMUM“ E

xpectativa é a palavra que acompanha processos eleitorais. Afinal, novos dirigentes têm o desafio de manter o bom momento da organização ou promover grandes mudanças para trazer os bons ventos de volta. “Há muito trabalho a se fazer. A concentração no trabalho construtivo vai depender da quantidade de incêndios e controvérsias domésticas que temos que cuidar”, disse o presidente eleito do Sinafresp Alfredo Maranca, cuja Chapa Atitude venceu as eleições para a diretoria, ocorridas em 12 de novembro. Para Maranca, são vários os desafios que os Agentes Fiscais de Rendas enfrentam atualmente. Ele cita o general estrategista chinês Sun Tzu, autor do livro A Arte da Guerra, para ilustrar o momento atual da carreira. “Assumimos o comando de um exército combalido, ferido, cansado, faminto e desesperançado. Estamos com uma classe dividida de forma cruel e desigual. A situação salarial é insustentável. A inflação galopante corrói nosso salário dia a dia, forçando os colegas a cortar em despesas pessoais e de sua família até as mais fundamentais para sobrevivência”. Além disso, para o presidente do Sinafresp, há barreiras que precisam ser superadas. “Nossos maiores obstáculos são as grandes inércias a vencer: maus relacionamentos e preconceitos que podem fazer com que o Fisco e o Estado caminhem sem a comunhão que se espera; imagens preconceituosas espalhadas pela sociedade e imprensa sobre o trabalho fiscal, muitas vezes baseadas em uma ilusória utopia de que pode haver um Estado Social sem tributos; hábitos arraigados e identificações da fiscalização com procedimentos que eram realizados com livros e notas em papel, apenas agora mimetizados com suas contrapartidas digitais”.

DOIS PONTOS DE VISTA “Duas posturas extremadas são prejudiciais à classe. A primeira é a entrega ao desespero revolucionário que faz nossa ação sindical ser pautada pela selvageria e cause revoltas desordenadas em lugar de uma sofisticada e cirúrgica ação militar. A segunda é o desespero apático que faz com que não se tente mudar nada, pois tudo sempre muda para pior e qualquer solução sempre teria de vir pronta de algum patrono protetor”, analisa Maranca. 14 | Questões da Classe | Classe 2016

Os desafios, obstáculos e ações da chapa Atitude, vencedora das eleições do Sinafresp, de acordo com o presidente Alfredo Maranca. Por Vanessa Zampronho

COMO A CRISE AFETA A CLASSE O país diminuiu bastante o seu ritmo de crescimento neste ano, com a crise econômica e política. Na fiscalização não é diferente. “A crise é terrível para a negociação, pois naturalmente coloca o governo em posição defensiva de cortar gastos. Quando todas as categorias pedem mais gastos de um Estado que precisa encontrar o que cortar, o conflito é um perigo constante”, disse Maranca. O presidente também avalia que esse período ruim pode ter seu lado bom. “Mas a crise pode nos beneficiar, se entender-se de uma vez que o Estado está dentro da economia. Na prática, o governo gasta e isso aquece a economia, sendo que a melhor forma de o governo gastar é alimentar os capilares da economia, permitindo que os funcionários tenham salários dignos e paguem suas despesas básicas, sempre consumidas em nosso próprio Estado”. Esse aquecimento via aumento dos gastos do governo e da arrecadação também atinge os AFRs. “Arrecadar mais significa a retomada de antigos planos de reestruturação, revisão de planos e métodos, repensar nossas funções para maximizar nossa eficiência. Não adianta fazer o que está sendo feito, pedir para os colegas trabalharem mais com a mesma estrutura ineficaz e perseguindo índices inefetivos como número de expedientes e pilhas de papel. Hoje nossos colegas trabalham pressionados muito além do humanamente possível, como se o tempo de trabalho AFR fosse o único recurso ilimitado da natureza”. Assim, a diretoria começa a gestão com bastante disposição para trabalhar pelos colegas. “Com isso, a nossa equipe, começando agora com enorme desejo de trabalhar pela classe, espera trazer nossa classe para um patamar melhor nesses três anos. Uma nova atitude frente aos problemas, com a união de todos pelo bem comum. Não nos falta, porém, fé e esperança, o que, em qualquer situação, mudam tudo. Transparência, profissionalismo e coesão mudam tudo, mas precisam vir juntas”, completa Maranca.


Política

DILMA É REGIDA PELA

LEI DE MURPHY M

ário Henrique Simonsen cultuava uma máxima: “Em teoria econômica, o que não é óbvio quase sempre é besteira.” Ao longo do seu primeiro mandato, sempre que esbarrou no óbvio, Dilma Rousseff desviou e passou adiante, sem desconfiar de que o óbvio era o óbvio. Pedalando na contramão, produziu besteiras em série. E chegou ao segundo mandato sem condições de exercer seu papel predileto. Não podia mais colocar a culpa nos outros. Passou a enxergar no espelho o reflexo da crise. O livro A Vingança da Tecnologia, de Edward Tenner (Editora Campus, 1997), ajuda a explicar como Dilma chegou à ruína. Entre as páginas 22 e 25, Tenner conta a experiência do major John Paul Stapp. Médico e biofísico, Stapp foi selecionado pela Força Aérea dos Estados Unidos como cobaia de testes para medir a resistência humana a grandes acelerações. Desafiou a velocidade pilotando um trenó com propulsão de foguete. Em 1949, Stapp bateu o recorde de aceleração. Mas não conseguiu celebrar o feito. Os acelerômetros do trenó-foguete não funcionaram. Entre intrigado e desolado, Stapp encomendou ao engenheiro que o ajudava, o capitão Edward Murphy Junior, diligências para identificar a falha. Descobriu-se que um técnico havia ligado os circuitos do veículo ao contrário. No relatório em que informou sobre o ocorrido, o capitão Murphy anotou: “Se há mais de uma forma de fazer um trabalho e uma dessas formas redundará em desastre, então alguém fará o trabalho dessa forma”. Em entrevista aos jornalistas, o major Stapp batizou de “Lei de Murphy” o diagnóstico do auxiliar. Resumiu-a assim: “Se alguma coisa pode dar errado, dará”. Aplicada ao método de gestão econômica de Dilma, a Lei de Murphy esclarece tudo. Madame tem uma tendência irrefreável a ligar os fios

Josias de Souza é jornalista, trabalhou na Folha de S.Paulo e hoje é colunista do UOL.

ao contrário. No primeiro reinado, fez isso com a política de combate à inflação, com os juros, com os gastos públicos, com os incentivos fiscais, com a política energética, com o diabo. Bem assimilados, os desastres podem se transformar em poderosos instrumentos de mudança. Certas coisas, ensinou o capitão Murphy, às vezes só podem dar certo se derem errado primeiro. A despeito da falha que o desconsolou em 1949, o major Stapp continuou testando, por mais cinco anos, a resistência do organismo humano à alta velocidade. No seu último teste, em dezembro de 1954, desacelerou de 1.011 quilômetros por hora para zero em 1,4 segundo. E deflagrou uma bem sucedida campanha para que os cintos de segurança se tornassem obrigatórios nos automóveis. A “Lei de Murphy”, anotou Edward Tenner, o autor de A Vingança da Tecnologia, “não é um princípio fatalista, mas um apelo para que todos se mantenham atentos”. O Brasil já havia penado horrores antes de chegar ao Plano Real e à Lei de Responsabilidade Fiscal. Lula só virou presidente depois de beijar a cruz e prometer respeitar o óbvio na sua célebre ‘Carta aos Brasileiros’. No início de 2015, Dilma parecia encarar o ano novo como uma folha de papel em branco. Revelou-se disposta a traçar novas coordenadas para a economia brasileira, reconciliando-se com o óbvio. Mas o ano chega ao fim com a sensação de que prevaleceu novamente a ‘Lei de Murphy’. Anotada na folha em branco, a previsão de superávit fiscal virou déficit. O desenho da inflação e do desemprego é uma curva ascendente. Dilma dobrou 2015, fez um aviãozinho e jogou o ano pela janela. Vem aí 2016. Se você é do tipo que economiza para os dias piores, pode começar a gastar. Os dias piores já chegaram. Classe 2016 | Política | 15


Seu Dinheiro

S

e você gosta de ouvir suas músicas favoritas pelo aplicativo Spotify, utiliza os serviços de transporte do Uber ou gosta de assistir a um filme em casa pelo Netflix, você faz parte de um mercado que, segundo a PricewaterhouseCoopers, movimentará cerca de US$ 335 bilhões até 2025. Nesse novo cenário que está sendo traçado pela economia compartilhada (também conhecida como colaborativa ou sharing economy), é possível que, em um futuro bem próximo, você desista de comprar um automóvel e se associe a uma empresa que divide o carro com outras pessoas, já que seu automóvel fica cerca de 22 horas por dia parado na garagem e é utilizado basicamente para ir e vir do trabalho. A economia compartilhada é construída em torno da partilha de recursos humanos, serviços e produtos. Participam pessoas, comunidades, empresas, organizações e associações, que estão em um sistema de compartilhamento, para que todos contribuam e se beneficiem. No coração desta economia, estão empresas e projetos que surgiram a partir de variações sobre o tema do compartilhamento pessoa para pessoa (peer-to-peer). Carros, alimentos, serviços, motos, moradia, informação, tecnologia, entre outros bens podem ser compartilhados. 16 | Seu Dinheiro | Classe 2016

MODELOS DE ECONOMIA

COMPARTILHADA Transporte

Compartilhe seu carro, pegue uma carona, alugue uma bike ou fale com o taxista. Apps: Uber, Fleety, 99Taxis e Bike Sampa

Espaço Você pode alugar um quarto ou dividir a casa e o espaço de trabalho. Apps: Alugue Temporada, Coworking Brasil, Couchsurfing Travel e Airbnb


CONSUMIR SEM

POSSUIR A economia compartilhada está mudando a vida das pessoas ao redor do mundo. Com este novo capítulo que está sendo escrito na história da sociedade, a experiência importa mais que a posse! Por Fabieli de Paula

Dinheiro Empreste dinheiro a outras pessoas ou financie um projeto. Apps: Lending Club, Catarse e Prosper

Serviços Contrate prestadores de serviços inovadores e sem intermediários. Apps: GetNinjas, Cabe na Mala, Smart entrega e 99Freelas

Comida Um morador oferece jantar/almoço na própria casa ou um grupo de pessoas promove a criação de hortas comunitárias na cidade. Apps: EatWith, Muda SP e Preto Café

Bens Compre, venda ou troque objetos e roupas. Apps: Toda Oferta, Enjoei, DescolaAi, Quintal de trocas, Etsy e Escambo

A esmola não é demais e o santo não precisa desconfiar. A facilidade de uso do smartphone e formas de pagamento on-line estão mudando o padrão de negócios, o relacionamento entre as pessoas e entre elas e seus bens. “A internet e a rede mundial de computadores abrem possibilidades inéditas para o avanço da cooperação humana. Daí vem a importância da economia colaborativa. Ela desfaz o mito segundo o qual esta cooperação só pode existir sobre a base da estrita defesa de interesses individuais. A Wikipédia é hoje um dos sites mais consultados da internet e é elaborada inteiramente sobre a base de um processo colaborativo e não remunerado”, explica o professor titular do Departamento de Economia da FEA e do Instituto de Relações Internacionais da USP, Ricardo Abramovay. Para a australiana, coautora do livro O que é meu é seu: como o consumo colaborativo vai mudar o nosso mundo, Rachel Botsman, a internet está removendo o intermediário, tanto que desde um designer de camisetas até um costureiro pode sobreviver vendendo direto a um consumidor, e o fenômeno do compartilhamento acontece graças à colaboração móvel. “Vivemos agora em uma era conectada, onde passamos a localizar qualquer um, a qualquer hora, em tempo real, por meio de um pequeno aparelho em nossas mãos”. Classe 2016 | Seu Dinheiro | 17


Segundo a pesquisadora alemã, Kirsten Brühl, a economia compartilhada promove uma cultura na qual a comunidade é o bem maior. Preocupações com saúde, felicidade, confiança, experiências, colaboração, compartilhamento e sustentabilidade são características notáveis. “Não importa se é para tornar a vida mais eficiente ou se é para encontrar as pessoas e fazer parte de uma comunidade. Essa nova tendência já está mudando o mundo e para que o resultado coletivo seja positivo cada indivíduo é muito importante”, diz.

CASE DE SUCESSO

Brühl afirma que a sociedade de consumo passa por mudanças. “Durante anos, acumular bens foi considerado importante, mas agora parte da sociedade não pensa mais assim. Aqui, em Berlim, várias pessoas querem deixar de ser apenas o eu para se tornarem o nós”. Especialistas defendem que o conceito de economia compartilhada gira em torno de algumas questões: aproveitar mais os bens e serviços e gerar menos impacto ambiental (aliado ao conceito de sustentabilidade). Para muitos deles, o tradicional sonho de enriquecimento financeiro está sendo suplantado pelo sonho de uma qualidade de vida sustentável. “Estamos acordando de uma ressaca enorme, de vazio e de desperdício, e daremos um salto para criar um sistema sustentável”, diz Botsman. O empreendedor e escritor, João Kepler Braga, esclarece que essa nova tendência econômica tem chamado a atenção do capitalismo mundial, que há séculos é feito da mesma forma e é focado na compra e venda. “Na economia compartilhada, podemos vender o mesmo produto diversas vezes sem que o comprador adquira a propriedade do bem. Aquela única transação dá lugar a muitas outras. No modelo tradicional, nós produzimos e vendemos.” Braga também fala sobre o impacto nas companhias. “É certeza de que muito precisa ser reinventado, basicamente é pensar por outras perspectivas e mudar ou acrescentar inovação em formas diferentes de fazer o mesmo”. Ele acrescenta que é preciso olhar para a essência do que esta transformação significa. “Ganham destaque premissas como autenticidade e sinceridade em querer ajudar seus clientes a consumir o que realmente precisam. Sai o único objetivo de lucro e entra o propósito de geração de receita para ajudar pessoas”, finaliza.

Há três anos, o prefeito de Seul, Park Won-soon, apostou em um projeto ambicioso para tornar a capital sul-coreana numa cidade que compartilha. Os resultados? Foram muito positivos. Aproximadamente 50 empresas de setores diferentes, como habitação, transporte e reciclagem aderiram ao projeto. Para tanto, o projeto anunciado no ano de 2012 propunha: promulgar políticas que incentivassem o surgimento de empresas de economia colaborativa e, assim, fazer melhor uso dos recursos existentes através do compartilhamento. Essa era a fórmula de Won-soon para resolver problemas decorrentes do consumo exacerbado na cidade. Segundo a empresa Creative Commons Coreia (CCKorea) – empresa que teve a concessão para administrar o projeto, a ideia de que a economia colaborativa pode prejudicar os interesses econômicos dos países tende a cair por terra com o tempo. “As empresas sociais também criam postos de trabalho e geram lucros”, afirma.

ACESSE O GUIA SÃO PAULO: CIDADE COLABORATIVA www.cidadecolaborativa.org/download Conheça mais de 100 projetos que estão movimentando a economia colaborativa paulistana.

18 | Seu Dinheiro | Classe 2016


CENÁRIO BRASILEIRO

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38.22

US$ 15 BILHÕES RECEITA ANUAL GLOBAL DO SETOR DE ECONOMIA COMPARTILHADA

US$ 335 BI

DE POTENCIAL COMO RECEITA GLOBAL EM

%

DOS USUÁRIOS BRASILEIROS QUE CURTEM PELO MENOS UMA PÁGINA DO FACEBOOK APOIAM PROJETOS DO GUIA CIDADE COMPARTILHADA

2025

BRASILEIROS JÁ OUVIU FALAR DE CON1 EM CADA 5 SUMO COLABORATIVO COMPARTILHADO

Reflexos da troca da posse pelo acesso começam a dar sinais positivos no Brasil. De acordo com a Market Analysis, um em cada cinco brasileiros já ouviu falar de consumo compartilhado/colaborativo. Esse percentual aumenta na proporção da renda e da escolaridade e chega a 42% na classe A.

lhões de usuários nas redes sociais. Os projetos foram reunidos no Guia São Paulo Cidade Colaborativa 2015 e organizados em 10 categorias: cultura (15), mobilidade (13), consumo (11), serviços (10), trabalho e coworking (10), educação (9), meio ambiente (8), alimentação (6), moradia (5) e ONGs e poder público (13).

O professor do Departamento de Economia da FEA-USP, Ricardo Abramovay, diz que o desafio brasileiro de compartilhamento passa pela superação de duas variáveis: a falta de senso de coletividade – que se reflete na baixa ocupação dos espaços urbanos e a violência. “O Brasil é um país extremamente burocrático e tem dificuldade de entender inovações”, acrescenta. Ainda assim, para ele, como para a maioria dos especialistas, a economia compartilhada veio para ficar no Brasil e no mundo.

Dos 100 projetos, os campeões de apoio na rede – entre curtidas e seguidores – são: Geekie (3 milhões), Enjoei.com (2,5 milhões), Uber (2,4 milhões), Airbnb (2 milhões) e Waze (1,3 milhão). Juntos, eles somam 11,2 milhões de manifestações positivas.

A economia do compartilhamento já reúne pelo menos 14,5 milhões de manifestações positivas de consumidores brasileiros nas redes sociais. Só em São Paulo, mais de 100 projetos com foco no compartilhamento já estão em atividade, como mostra a pesquisa feita pelo movimento Cidade Colaborativa (www.cidadecolaborativa.org). De acordo com os dados levantados por esse portal, essas iniciativas já foram vistas e curtidas por aproximadamente 15 mi-

Para mensurar a força nas redes sociais das ações listadas no guia, foram somados os números de seguidores e de likes de cada iniciativa. Comparado ao universo dos 38 milhões de brasileiros (usuários únicos) – que curtem pelo menos uma fanpage no Facebook (Social), o resultado é que os 100 projetos juntos representam 38,22% no universo dos brasileiros que curtem pelo menos uma página. “Os serviços baseados em colaboração têm espaço para crescer por meio das redes sociais. O crescimento desse setor, não apenas em São Paulo, mas em todo o mundo, está relacionado justamente à conectividade dos usuários dos serviços”, explica o coordenador do Cidade Colaborativa , Flávio Azevedo. Classe 2016 | Seu Dinheiro | 19


Tecnologia

GERAÇÃO TOUCH, EDUCAÇÃO E FAMÍLIA Por Viviane Bulbow

L

eila tem apenas dois anos e oito meses, mas já sabe ligar o tablet e escolher seu joguinho ou vídeo preferido. Ela não é a única! Estar conectado é completamente normal para as novas gerações e, na maioria das vezes, os pais nem percebem quando a tecnologia passou a fazer parte da vida da criança. A verdade é que não há um momento certo ou errado para que esse processo aconteça. Cada criança amadurece de uma forma e cada família tem seus pontos de vista e limites estabelecidos. “Existem alguns indicadores que nos ajudam a tomar uma decisão razoável sobre a idade certa para uso de smartphones, por exemplo. Geralmente, eles se baseiam em variáveis como responsabilidade, respeito e maturidade”, explica Tony Anscombe, da área de segurança da AVG Technologies, empresa que atua em segurança on-line. “Quando se dá um celular conectado a uma criança, todas as ações dela serão de responsabilidade dos pais e cabe a eles orientar e zelar por ela”, completa. A pequena Leila utiliza o tablet aproximadamente uma hora por dia durante a semana e um pouco mais nos fins de semana. “A primeira vez em que oferecemos a ela foi quando fomos a um restaurante 20 | Tecnologia | Classe 2016

e percebemos que estava inquieta. Em outra ocasião, fizemos um voo internacional, de 11 horas, e o tablet ajudou a distraí-la”, conta Debora Recife, AFR e mãe de Leila e de Augusto, de três meses. Os pontos positivos? Hoje, Leila já sabe entrar no YouTube e encontrar seus vídeos preferidos, muitos em inglês. “Ela canta muitas músicas em inglês, lógico que do seu jeito, mas acho que já está ajudando ela a se familiarizar com outra língua”, ressalta a mãe. Em 2014, a AVG realizou uma pesquisa com mais de 6 mil mães em 10 países, incluindo o Brasil, para traçar um panorama de como as crianças utilizam dispositivos tecnológicos e a Internet. A pesquisa revelou que, na faixa etária entre 3 e 5 anos, mais crianças são capazes de operar jogos de computador (66%) ou utilizar um smartphone (47%) do que de amarrar os próprios tênis (14%) ou nadar (23%). Ela também revelou que, no grupo analisado, 7% das crianças passam mais de 10 horas conectadas e 46% brincam em redes sociais focadas em crianças.


“Celulares e tablets são instrumentos do nosso cotidiano. É uma realidade, independentemente de opinião”, diz o professor aposentado de Novas Tecnologias da USP, José Manuel Moran. Formado em Filosofia e doutor em Comunicação, Moran é espanhol naturalizado brasileiro e defende a alteração no modelo de ensino. Trabalha com projetos de mudança na educação presencial e on-line, focados em metodologias ativas, valores, criatividade e tecnologias móveis. “Como educador, vejo como utilizar esse fenômeno a favor da aprendizagem”, diz. É importante que a criança desenvolva primeiramente a criatividade e o raciocínio para depois utilizar os meios eletrônicos livremente, sem se tornar dependente da tecnologia. Para o professor, tem que haver um equilíbrio e estabelecer limites, senão a criança tende a usar demais, o que pode comprometer o estudo e a própria convivência. “Crianças têm que fazer uma série de outras atividades, brincar e também comunicar-se. Tudo isso é muito importante”. Impor limites não é fácil. “Leila pede com muita frequência. Você tem que realmente oferecer outros tipos de brincadeiras para que ela não queira ficar no iPad o tempo todo. Viciar é muito fácil! Os pais têm que ter pulso firme e controlar”, enfatiza Debora.

“CELULARES E TABLETS SÃO INSTRUMENTOS DO NOSSO COTIDIANO. É UMA REALIDADE, INDEPENDENTEMENTE DE OPINIÃO” JOSÉ MANUEL MORAN A divergência sobre o momento certo para que uma criança ou adolescente seja inserido no mundo da comunicação moderna existe e é muito forte. Há quem acredite que as crianças, hoje, são reféns da tecnologia e que essas novas formas de comunicação estão isolando-as em mundos virtuais e, com isso, estão sendo formadas gerações narcisistas e despreparadas para o convívio social no mundo real. “Em tudo, há uma antecipação dos prazos que antes eram considerados desejáveis. Há uma precocidade, uma pressão social para acelerar que eles tenham a posse desses aparelhos”, explica Moran. Marcelly Namie Takahashi pediu um smartphone aos pais aos 13 anos. “Uso o dia todo. Converso com amigos, acesso algumas redes sociais, tiro fotos, assisto a vídeos no YouTube, séries, filmes, escuto música”, conta a jovem, hoje com 15 anos. “Não me imagino sem celular, conto com ele em grande parte das coisas que preciso fazer. Às vezes, até faço pesquisas para trabalhos escolares pelo celular”, completa. A necessidade de estar conectado e o imediatismo estão dominando a vida das pessoas. Ter que esperar para responder a uma mensagem, comentar uma foto, postar algo numa rede social ou

QUEDA NAS VENDAS O desempenho do mercado de Tablets ficou aquém do esperado em 2015, principalmente por conta da alta do dólar, que fez com que mais da metade das marcas que faziam negócios no mercado brasileiro deixassem o país. Outro fator decisivo foi a perda do interesse do consumidor por este tipo de dispositivo, já que os smartphones de tela grande se popularizaram e, consequentemente, ficaram mais baratos. De abril a junho de 2015, foram vendidos

1.271 MILHÃO 670 MIL

de tablets,

a menos do que no mesmo período do ano passado.

O volume representa

35%

de queda em comparação com o mesmo período de 2014 e de

29%

de queda quando comparado ao primeiro trimestre de 2015.

Foram vendidos

401 MIL 421 MIL 446 MIL

tablets em abril

em maio e em junho.

Com estes números, o mercado brasileiro representa

Fiscais não serão substituídos por máquinas inanimadas. do total de vendas no mundo e A parceria delestrimestre com os encerra o segundo de compu2015 na tadores será muito mais vantajosa do que senoimagina. posição ranking mundial.

3%

Por Vanessa Zampronho Em relação ao valor médio,

68%

dos produtos vendidos custam até R$ 500,00.

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ficar algumas horas sem WhatsApp pode ser uma tortura, especialmente para jovens e adultos. Para Moran, é preciso fazer uma autoanálise antes de ditar regras para crianças e adolescentes. “Sem dúvida, a educação começa em casa”, explica. “Também fomos pegos por esses aparelhos e ficamos encantados e dependentes deles. Há muitos pais que falam para as crianças usarem menos, mas eles próprios não largam o celular”. “Há momentos em que a convivência precisa ser ressaltada. Se não há espaço para a convivência interpessoal, tudo fica confuso, porque tudo parece prioritário e indispensável”, diz Moran. “Não há regra, certo ou errado. É importante estabelecer momentos em que o celular deve ser deixado de lado. E isso vale tanto para a criança, quanto para o jovem e o adulto. Não podemos nos esquecer da importância do convívio em família”, ressalta o professor. “Ele é muito útil para conversar com alguém que está longe, mas às vezes faz com que você se distancie de quem está perto”, confessa Marcelly. Sua amiga, Giovana Soncini Nunes, que também tem 15 anos e usa o celular desde os oito, completa: “Ele une muita gente que mora longe, porém afasta quem está perto, a pessoa fica ocupada demais usando que esquece de viver o que acontece fora dele”. Quando questionada sobre se acha que o uso excessivo do celular prejudica de alguma forma sua interação com as pessoas, Marcelly responde: “Sem dúvida”.

E NO ENSINO? Entre os educadores também não há um consenso sobre o uso das tecnologias no processo de ensino, mas impedir o uso dessas ferramentas por crianças e adolescente é utópico. “A educação te prepara para a vida e, hoje, esses recursos tecnológicos estão muito acessíveis. Na medida em que eles vão chegando ao nosso dia a dia a educação não pode fechar os olhos e fazer de conta que nada está acontecendo”, afirma. Moran explica que na educação a tecnologia ajuda a ampliar tudo aquilo que já era feito, só que de forma mais abrangente: as pesquisas podem ser realizadas em tempo real, os alunos podem compartilhar resultados, publicar e criar. “Educar não é só brincar, existem atividades que podem e devem ser direcionadas”. Com a tecnologia, a criança cria curiosidade para saber como pode ser autônoma e, desta forma, eles vão se antecipando. Não só na questão dos jogos, mas eles aprendem a resolver problemas comuns, a descobrir o que as coisas significam e vão alimentando a curiosidade. O problema é que muitas vezes a criança quer mais jogar do que aprender, e isso é normal. “A gente tem que criar nos jogos a ponte para dizer que uma coisa leva à outra. Nós temos que aproveitar esse impulso que as crianças têm para jogar para que eles estejam aprendendo junto”, finaliza o professor.

CUIDAR É PRECISO Estar conectado é legal, prático e atual, mas se cuidar é preciso. Mente e corpo sentem quando se utilizam excessivamente smartphones, tablets e até mesmo a televisão. Déficit de atenção, dificuldades de aprendizagem e impulsividade são alguns dos problemas que podem afetar aqueles que não se impõem limites. Além disso, o uso desenfreado favorece o aparecimento da obesidade, principalmente na infância, porque a criança passa a fazer menos atividades físicas, a privação do sono, Lesão por Esforço Repetitivo (LER), fadiga ocular, problemas de postura e o risco de dependência por tecnologia.

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Por causa de riscos como esses, em 2014, a Academia Americana de Pediatria e a Sociedade Canadense de Pediatria recomendaram limites para a exposição das crianças a todo tipo de mídia (televisão, games, internet, smartphones, entre outras). Para as entidades, o ideal é que apenas depois dos dois anos de idade as crianças comecem a ter contato com esses aparelhos e por tempo limitado. Até os 5 anos, as crianças só deveriam ficar no máximo 1 hora diante das telas. O tempo aumenta para 2 horas para crianças de 6 a 12 anos e para 3 horas a partir dos 13 anos. Fique atento!


Comportamento

O MARKETING DO BEM O

mundo corporativo tem uma nova moda: dizer que a empresa deve ter valores além do lucro. Almas sensíveis se encantam com essa ideia e chegam mesmo a falar em “capitalismo consciente”. Gente grande, que escreve em grandes jornais, chega mesmo a dizer que no século XXI empresas que não tiverem valores acima do lucro não terão lugar no mercado. Almas mais céticas e melancólicas tendem a duvidar desse “bem” todo que inunda certos eventos corporativos. Às vezes mesmo, ouvir alguém que não queira agradar quando fala nos emociona. Isso porque não querer agradar hoje em dia parece indicar um caminho mais verdadeiro, em meio ao circo que o mundo contemporâneo se transformou. Num mundo em que todos se dizem a favor do bem, existe algo de muito mau nos porões. Creio nessa ideia (de que outros valores além do lucro serão importantes no século XXI) mais ou menos. De certa forma, quem diz isso tem um pouco de razão, porque, no mundo das aparências como o nosso, o marketing do bem tem sim seu lugar. Essa questão sobre as aparências nos atormenta há muito tempo. O que é mais importante? Ser ou parecer ser? Alguns afirmam categoricamente que a mulher de Cesar deve parecer honesta antes de ser honesta. No mundo da imagem em que vivemos, isso é óbvio. Mas há limite. Pelo menos para quem junta duas ideias. Alguns problemas sim podem criar dramas para certas marcas. Basta alguém espalhar por aí que você apoia algum grupo que “faz vítimas sociais nalgum lugar” e você pode perder consumidores. Marcas que não jurem fidelidade a causas do tipo “transexuais” podem ser acusadas de preconceitos. Marcas que sujem nossos mares estarão em apuros.

Luiz Felipe Pondé é doutor em Filosofia pela USP e Universidade de Paris VIII, e colunista do jornal Folha de S.Paulo.

Mas, ao mesmo tempo, depende muito do mercado em que atuam. Bancos, por exemplo, que servem a todo mundo que importa no mundo (a saber, gente que tem algum dinheiro) são especialmente escravos do marketing do bem. Basta dar uma olhada na publicidade dos bancos para você ficar enjoado de tanta doçura. Mas, por outro lado, uma cadeia de Sex Shop está mais a salvo desse marketing do bem, porque quem entra numa loja dessa não está muito preocupado com nada além de um orgasmo. E quando o assunto é Sex Shop, todo mundo sabe que o consumidor é um malsucedido no ramo. Todavia, isso tudo depende de um único valor a priori: o lucro das empresas. Claro que, num mundo de sensibilidade determinada pelo marketing do bem, a aparência é essencial para a existência. A mentira por detrás dos bonzinhos e bonitinhos que afirmam que no século XXI não haverá lugar para empresas que não tiverem valores além do lucro é dizerem que o lucro deixará de ser o valor essencial na vida corporativa. Eu, pessoalmente, acho que o “bem” numa empresa é pagar salários em dia, oferecer um local de trabalho decente e um bom seguro saúde. Se uma empresa abrir mão do lucro, tudo cai por terra, não só o que eu acho o “bem” numa empresa (o que descrevi logo acima), como também o marketing do bem em si. A teoria do marketing do bem é mentirosa em si, porque, para ter lucro, uma empresa não pode se dar ao luxo de ter qualquer valor além da sua própria sustentabilidade, logo, muitas vezes, o “bem” ficará em segundo lugar, inclusive para poder pagar salários e seguros saúde. Assim sendo, desejo que em 2016 as empresas no Brasil não sejam boazinhas, mas sim tenham muito lucro.

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EM TEMPOS DE CRISE,

CRIE Que o ano é de ajuste fiscal, baixo crescimento econômico e pouco dinheiro, ninguém discute. Mas é possível sair bem dele Por Vanessa Zampronho

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D

esde o começo de 2015 crise é a palavra que mais ouvimos falar, e dois verbos, aumentar e diminuir, de significados opostos, tornaram-se o centro das atenções. Aumentaram os impostos, os juros, o desemprego, o número de lojas fechadas, o valor do dólar. Diminuíram o número de vagas de trabalho, a oferta de crédito por parte dos bancos, a intenção de compra das famílias, a confiança do consumidor... Esses efeitos são como sintomas de uma síndrome que se espera ser passageira: o ajuste fiscal. Desde quando começou a ser implantado, é o assunto que domina a pauta do noticiário, a busca do Google e as conversas em família. O que mais se fala é como e quando o governo vai sair do negativo nas contas públicas.

CONTAS NO VERMELHO E NO AZUL A conta receitas versus despesas é bastante semelhante quando comparada com a contabilidade das pessoas e do governo. Em ambos os casos, o resultado é considerado saudável quando o saldo é positivo, e com ele é possível tomar uma série de medidas, como investir, poupar, ou simplesmente fazer compras. Na vida das pessoas, a conta é feita diariamente: há uma quantia X que entra regularmente no bolso dos brasileiros, e várias são as despesas que devem caber nesse montante. Porém, quando tiramos a lupa das finanças particulares e a colocamos nos gastos públicos (em todos os níveis de governo), os números são maiores e a conta, mais complexa. Embora ainda a ideia seja manter tudo no azul, os representantes do Executivo precisam administrar o dinheiro que vem dos tributos para fazer as coisas funcionarem: escolas, hospitais e segurança, por exemplo, além de pagar os servidores públicos...e isso não é tão simples quanto parece. Em tempos de ajuste fiscal, quando o governo faz uma lista das receitas e despesas, e vê que o resultado vem acompanhado por um sinal negativo, as prioridades devem mudar – ainda mais se

levarmos em consideração que esse sinal negativo, tal como uma sombra, vem acompanhando as contas públicas há algum tempo.

ESTOQUE DE DÍVIDAS Esse é o termo utilizado para se referir à soma dos déficits (quando a despesa é maior que a receita) acumulados por vários anos. Via de regra, o governo não deveria gastar mais do que arrecada, para não ter de pagar juros sobre a dívida, assim como nós. Somente em um caso específico ou emergencial essa dívida se faz necessária. “Faz sentido o governo gastar mais do que arrecada quando o déficit decorre de despesas de investimentos: como as futuras gerações vão se beneficiar dos investimentos feitos hoje (estradas, portos, aeroportos, escolas, etc.) é justo que se transfira a elas parte desses custos do endividamento”, diz o economista da CP Consultores, Clóvis Panzarini. Infelizmente, não é o que acontece com o Brasil. Os gastos governamentais com o seu funcionamento já são superiores à arrecadação e não é de hoje. É o que se chama de despesas correntes, destinadas somente ao pagamento de funcionários e manutenção dos equipamentos. “Quando o déficit decorre de despesas correntes, as gerações presentes ficam com o bônus dos serviços públicos e transfere-se o ônus de seu custo, via dívida pública, para as gerações futuras pagarem”, explica Panzarini. Por conta disso, somente até agosto de 2015, o déficit do governo já representava 0,76% do PIB (Produto Interno Bruto, a soma de tudo que é produzido no país), de acordo com o Banco Central do Brasil. Juntem-se a isso os juros altos, e se tem um cenário pessimista. “O governo custa 45% do PIB e arrecada 36% do PIB. Essa é a medida da tragédia”, contabiliza Panzarini.

Da mesma forma que o cidadão comum lista as receitas e despesas e faz cortes para fazer o dinheiro sobrar até o fim do mês, o governo precisou colocar no papel aquilo que recebe e o que gasta – e precisou escolher quais gastos passariam pela tesoura.

NA PONTA DO LÁPIS 26 | Capa | Classe 2016

“Todo ajuste fiscal é doloroso, pois ou se cortam gastos (serviços públicos, investimentos) ou se aumentam impostos, ou ambas as coisas. Não há alternativa. A festa acabou e o garçom trouxe a conta”, explica Panzarini.

Essa “festa”, de acordo com o economista, aconteceu no período de incentivo ao consumo, quando alguns impostos (como o IPI) foram reduzidos. “O governo vendeu um modelo de crescimento via incentivo ao consumo, como se fosse possível crescer infinitamente sem os necessários investimentos. É como o afogado tentar se salvar puxando os próprios cabelos. Como resultado, o governo literalmente quebrou e agora está fazendo uma desesperada política recessiva para tentar manter a inflação sob controle”, conta.


O DIA SEGUINTE Os efeitos desse fim de festa são sentidos por boa parte da população e setores da economia. Para a indústria, a festa acabou bem antes. “A crise da indústria de transformação é muito anterior a este ano. A produção industrial brasileira vem caindo há oito trimestres consecutivos, sem nenhum sinal de melhora à frente”, explica o gerente do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depecon) da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Guilherme Caldo Moreira. As consequências disso são sentidas diretamente na quantidade de vagas de trabalho. De acordo com Moreira, somente na indústria de transformação, 274 mil vagas evaporaram desde o início da crise. Só em São Paulo, foram 138 mil. Isso impacta não somente a economia como um todo. “Uma pesquisa, realizada pelo departamento de competitividade da Fiesp, mostrou que a Indústria de transformação é responsável por 33% da arrecadação de tributos no Brasil. Dessa maneira, uma indústria fraca retarda a recuperação da economia e agrava os problemas fiscais”, complementa. Do lado do comércio e serviços, a situação não é diferente. “São dois os fatores que contribuem. Um deles é a queda forte nas vendas. O outro é a pressão do custo para a venda, como o aumento das tarifas públicas, impostos, juros, despesas financeiras e o câmbio”, explica o assessor econômico da Fecomercio-SP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), Vitor Augusto Meira França. Junte-se a isso uma inflação mais alta e temos como resultado o poder de compra reduzido. De acordo com o assessor, os setores do comércio e serviços que mais sentiram esse baque foram os de concessão de crédito por parte dos bancos, a venda de bens duráveis (como eletrodomésticos e eletrônicos), de móveis, vestuário, veículos e materiais de construção – estes últimos, em especial, são mais dependentes de crédito. Até os supermercados não estão vendendo tanto quanto antes.

LUZ NO FIM DO TÚNEL? Ainda é cedo para dizer algo. As previsões não são animadoras. Para o gerente de pesquisas da Fiesp, Guilherme Moreira, o cenário é desafiador para 2016. “O empresariado e o consumidor seguem pessimistas com relação a situação atual e futura, sinalizando continuidade da fraqueza da economia. O mecanismo é simples: sem recuperação da confiança do empresariado não há investimento e crescimento econômico”, diz. O assessor econômico da Fecomercio-SP, Vitor França, também é realista. “O comércio aposta em um 2016 difícil, se tudo se mantiver como está”. Mas nem tudo são espinhos. Moreira aponta um lado bom dessa história toda, especialmente com relação ao dólar valorizado. “Devemos levar em consideração que a desvalorização do real frente ao dólar pode trazer algum alívio para o setor produtivo, haja vista que eleva o preço dos produtos importados no mercado interno e traz algum ganho de competitividade no mercado externo”. Para Vitor França, da Fecomercio-SP, pode haver uma luz no fim do túnel. “O cenário econômico é muito dependente do cenário político, mas podemos reverter essa espiral de pessimismo. Se o país estabilizar sua dívida com relação ao PIB e o governo se articular para propor políticas mais consistentes, isso dará mais segurança aos empresários e deixará os consumidores mais confiantes”.

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CRISE COMO OPORTUNIDADE Já que os dias melhores ainda não vêm, o importante é lidar com essa nova realidade e tirar proveito dela, como bem sabem os chineses. Em mandarim, a palavra crise é formada por dois ideogramas, wei, que significa risco, e ji, que quer dizer oportunidade. Ou seja: encarar de uma maneira mais otimista o que geralmente se considera como um período difícil. “É aproveitar a oportunidade em um ambiente de risco. Ela se transforma em uma oportunidade boa”, explica a professora de mandarim Ying Huang, da escola Made in China. Essa lição oriental pode – e deve – ser aprendida por todos. Do lado dos governos federal, estaduais e municipais, é a oportunidade de identificar problemas de infraestrutura e carga tributária, por exemplo, e fazer as mudanças necessárias para que a crise seja a hora de uma grande reforma. Já para os cidadãos, as dificuldades podem servir para descobrir novos comportamentos, talentos e atitudes. Assim, em vez de olhar para a crise somente como algo negativo, há várias soluções para sair dela com vantagem – afinal, há vida depois dela. A seguir, listamos algumas opções de investimentos e comportamentos nesses tempos incertos.

DÓLAR Nos últimos meses, a moeda norte-americana se valorizou muito rapidamente em relação ao real, e o valor dela tem flutuado muito mais do que de costume. “A disparada do dólar se deve basicamente ao déficit da balança comercial e à fuga de capitais voláteis. As exportações do país tendem a cair porque ele não tem competitividade no mercado internacional - não foram feitos os investimentos necessários em infraestrutura nem as reformas estruturais, como a tributária. A fuga de dólares faz seu preço subir, o que, de um lado, pode ajudar as exportações em alguns setores, mas tem impactos indesejáveis sobre a inflação”, explica o economista Clóvis Panzarini. O impacto dessa turbulência toda é sentido em outros setores também. Para quem vai viajar para o exterior, por exemplo, é imediato. “A viagem vai, sim, sair mais cara. Por mais que as companhias aéreas estejam baixando seus preços em dólar para o Brasil, quando você faz a conta da viagem toda, sai muito mais caro. Isso requer um planejamento maior, comprar as passagens com antecedência, fazer uma poupança ou investimento para esse gasto. O maior erro é você voltar endividado”, adverte o professor de economia da FGV e colunista do jornal Folha de S.Paulo, Samy Dana. O diretor geral da Consultoria Financeira W1 Finance, Nélio Costa, explica como se proteger das flutuações do dólar para não ser surpreendido com um valor alto dessa moeda. “Se você tem uma viagem marcada para daqui a um ano para algum lugar onde se usa dólar, e se todo mês você comprar dólares, US$ 1.000, US$ 500, 28 | Capa | Classe 2016

por exemplo, você se protegeu. Você trabalha com o custo médio efetivo e, no final do jogo, vai ter dólar que você vai ter pago mais caro e mais barato na média. Não vai acontecer como com muitas pessoas, que são pegas desprevenidas”. Os produtos importados, em teoria, ficam naturalmente mais caros com o dólar alto. Mas há boas exceções nesse sentido. “Há muitos produtos importados que não tiveram o preço atualizado por conta da crise. Eles tendem a aumentar, principalmente na hora da reposição de estoque. Porém muitas revendedoras de carros importados, ou até de peças, não repassaram o custo do dólar, até porque se fizessem isso, o preço ficaria muito fora da competição, e perderiam o mercado”, continua o professor Samy Dana.

INVESTIMENTOS A escolha do investimento ideal depende muito do que se espera do retorno em termos de remuneração, pagamento de taxas de administração, o tempo de resgate e o risco que deseja assumir. Aliás, o conceito de risco é um dos primeiros que os investidores precisam ter para saber onde aplicar dinheiro. No mercado financeiro, quanto maior o retorno, maior o risco envolvido – e risco é a probabilidade de o investimento não dar o rendimento dentro do período esperado. Risco e retorno caminham juntos. É o que acontece, por exemplo, no mercado acionário, quando investidores compram ações de empresas e esperam que elas se valorizem para, depois, poder vendê-las. Esses preços variam muito, de acordo com o ambiente econômico e político do país em questão. Por isso é considerado um investimento de alto risco e, mesmo que no passado as ações de determinada empresa tenham tido uma boa valorização, isso não garante que o investidor terá a mesma rentabilidade no futuro. Por outro lado, há outros investimentos mais conservadores, que oferecem maior garantia de rentabilidade. Um dos mais tradicionais, com risco quase zero e conhecida por ser extremamente segura, a poupança hoje não está com uma boa reputação no quesito rentabilidade. A remuneração dela é inferior à de outros investimentos, como os de renda fixa, e está mais baixa do que a inflação. “Quem está com o dinheiro na poupança, nominalmente, ganhou dinheiro, mas não aumentou o valor. Vamos supor, com R$ 10 mil, há um ano, você viajava para a Disney. Hoje não paga nem a passagem”, explica o diretor da W1, Nélio Costa.


Enquanto reserva financeira, de liquidez (disponibilidade) de dinheiro imediata, ela pode ser uma opção, mas, se você procura um rendimento maior, há várias opções, como os investimentos em renda fixa, cuja procura aumentou muito ultimamente. Um deles é o CDI (Certificado de Depósito Interbancário), cuja taxa é a que os bancos cobram para emprestarem dinheiro entre si no fim do dia, com uma taxa muito semelhante à Selic, a taxa básica da economia, que hoje está em 14,25%. Por outro lado, a instituição financeira pode cobrar uma taxa de administração. Há também o CDB (Certificado de Depósito Bancário), usado pelos bancos para captar dinheiro das pessoas para emprestar para outras. Embora esse investimento não tenha o mesmo retorno do CDI, não há cobrança de taxa de administração – e a remuneração é maior do que a poupança. Em ambos os casos, no CDI e no CDB, há a incidência do imposto de renda, que é regressiva de acordo com o tempo no qual o dinheiro fica investido: quanto maior, menor a alíquota do imposto. Ou seja: se você precisar resgatar o dinheiro antes do prazo estabelecido, o imposto a pagar é maior. Além disso, a liquidez pode variar de acordo com o contrato assinado na instituição financeira. Diferentemente da poupança, o dinheiro pode levar um pouco mais de tempo para estar disponível na sua conta. Os títulos públicos também são uma opção e podem remunerar tanto quanto a Selic. “O mais adequado é buscar investimentos que superem a inflação. Basicamente os títulos públicos, como o Tesouro Selic, que paga justamente a taxa Selic, que está em 14,25% e uma taxa líquida de 12%, de 11% a 12%, depende do prazo, ao ano”, explica o professor Samy Dana. Existem outros títulos públicos com remunerações interessantes, como o Tesouro NTN-B, cujo percentual de rendimento é baseado na inflação medida pelo IPCA (medido pelo IBGE) mais uma taxa de 6%, e os títulos pré-fixados, como a LTN (Letra do Tesouro Nacional), que remunera um valor fixo determinado no momento da contratação. Nesses casos, tanto dos CDBs e CDIs quanto dos títulos públicos, a disponibilidade do dinheiro, geralmente, não é imediata, varia de acordo com o contrato estabelecido. Para descobrir o melhor investimento para seu perfil, converse com o seu gerente do banco ou visite o portal do Tesouro Direto na internet.

ABRIR SEU PRÓPRIO NEGÓCIO Em tempos difíceis, abrir um negócio acaba sendo uma ideia para se ter uma renda extra. Começar seu restaurante ou lanchonete, empresa de jardinagem, confeitaria, consultoria financeira, não importa: para o negócio ser bem-sucedido, o planejamento é fundamental – e é ele que faz a diferença entre o sucesso e o fracasso. “É o conhecimento do seu consumidor, do seu produto ou serviço. Isso tudo é o que vai se aproximar do sucesso nesse segmento”, explica o coordenador de pesquisas do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Marcelo Moreira. Ou seja: não existe um momento certo de se abrir uma empresa. “Todo momento vai depender de você observar, de você saber qual

o cenário em que está inserido”, diz Marcelo. Ele elenca os três pontos principais para ser bem-sucedido: o planejamento, que é ter informações prévias do mercado no qual você quer se inserir; a gestão, para gerenciar o fluxo de caixa; e o que Marcelo chama de “Q” do comportamento de empreendedor. “É colocar metas, estipular prazos e, de tempos em tempos, checar certas metas e se essas metas estipuladas por você estão sendo atendidas”. Segundo Marcelo, há dois perfis de empreendedores: os por necessidade, que começam um novo negócio porque não conseguem encontrar um novo trabalho, e os por oportunidade, que encontram um nicho de mercado e procuram atendê-lo. “Às vezes, é uma ideia criativa que nasce de forma tímida, ainda pequena, e que começa na vizinhança, como um teste. Ela pode ser expandida e realmente virar um negócio maior”. Porém é importante ter em mente que ter seu próprio negócio requer muita dedicação. “Trabalha-se muito mais do que se imagina. O empreendedor acaba se dedicando a coisas que antes não se dedicava, vai estar muito mais sozinho”, diz. Um exemplo disso é trabalhar nos fins de semana e feriados, especialmente no começo da empreitada. É quando se vê, na realidade, como o negócio se comporta, as dificuldades que ele apresenta e como se deve lidar com isso. De qualquer forma, para investir em títulos públicos, imóveis ou dólares, ou abrir aquela floricultura dos sonhos, o importante é observar o que acontece hoje em termos de mercado e saber aproveitar as oportunidades. Aliás, como vimos no ideograma chinês, oportunidade e risco são as palavras que juntas significam crise. Isso significa alguma coisa. É quando percebemos que, sim, há luz no fim do túnel quando vemos uma oportunidade de sair ileso desses tempos cheios de riscos, sem prejudicar ninguém. É a paciência oriental a nosso favor.

IMÓVEIS O mercado imobiliário vive uma situação contraditória. É vantajoso, hoje, adquirir uma casa ou apartamento para morar, e não como investimento. “Não que os imóveis caíram de preço, mas eles começaram a subir mais devagar que a inflação. Quem comprou imóvel lá atrás, hoje poderia comprar em uma condição melhor. Mas, se a pessoa vai comprar para ser um investimento, eu não recomendo. Há outras opções no mercado mais rentáveis”, aconselha o diretor da W1, Nélio Costa. Por outro lado, se você pretende ganhar dinheiro na venda de imóveis, o momento não é propício. “Não vai conseguir uma boa condição como há um ano. Não tem como prever se é melhor vender hoje ou no ano que vem. O mercado não está aquecido para investimento, e sim para déficit habitacional, de pessoas que precisam de um lugar para morar”, completa.

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Saúde e Bem-Estar

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O esporte mais d reduz o peso, emocrático da atualidade p além de comb ro ater a ansieda porciona uma vida mais sau Por Fabieli de de e até a dep Paula dável, ressão

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N

ão é novidade para ninguém que a prática regular de exercícios físicos traz inúmeros benefícios à saúde e melhora a qualidade de vida. Com a corrida não é diferente, ela é um dos exercícios mais recomendados para o bem-estar físico e mental, além de ser uma atividade completa que envolve praticamente todos os músculos do corpo. Na rua, no parque, na orla da praia, em trilhas no meio da natureza ou até mesmo na esteira da academia, a corrida proporciona ao praticante uma melhora da capacidade cardiorrespiratória, aumento da massa muscular e auxilia no combate à osteoporose e no controle do peso corporal, do colesterol, do estresse, da ansiedade e até da depressão. Este esporte, que está crescendo no gosto da população brasileira, oferece estímulo para o fim de hábitos nocivos, como o uso de álcool e cigarros, sem falar do up que dá na autoestima. Porém, para aproveitar os benefícios dessa prática, algumas ações são recomendadas: receber a aprovação para correr, por um cardiologista, e escolher uma assessoria esportiva ou profissional de Educação Física para auxiliar na programação dos treinos. Enquanto o acompanhamento de um cardiologista é necessário em intervalos de um ano, a orientação de um profissional de Educação Física deve ser frequente, principalmente para os iniciantes. “A corrida requer também treinos técnicos para a melhora da coordenação dos movimentos durante o exercício. A falta da coorde-

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nação é bastante comum e pode causar queda de desempenho e lesões. Sem a orientação do profissional, a atividade ficará, além de perigosa, com seus objetivos comprometidos e ainda gera uma probabilidade de lesão grave na coluna, quadril, joelhos e tornozelos, portanto o ideal é sempre é ter um treinador”, explica Dr. Milton Mizumoto, especialista em medicina esportiva, ortopedia, traumatologia e nutrologia. “Exames específicos também devem ser feitos após os testes clínicos, como o postural e de qualidade dos movimentos. Nesses exames, busca-se identificar disfunções posturais que possam causar lesões. As disfunções mais comuns são encurtamentos musculares, falta de estabilidade nos movimentos e ausência de força muscular”. Ele ressalta que é importante que o atleta sempre passe por um ortopedista com especialização em medicina esportiva. Com todos os resultados em mãos, deve-se planejar o início dos treinos. A procura do ritmo inicial perfeito é essencial para a prática saudável do exercício. Vale lembrar que cada pessoa tem um ritmo diferente e é muito importante respeitá-lo. Para quem está acima do peso, não pratica exercícios há muito tempo, fuma ou tem algum problema respiratório, o ideal é começar caminhando. A alimentação é outro fator relevante para se alcançar bons resultados na atividade. Seguir uma dieta balanceada e consumir os alimentos corretos antes dos treinos ou das provas colabora para melhor evolução da atividade. “No entanto, como cada organismo reage de um jeito, para saber quais alimentos são ‘corretos’, é necessário consultar um nutrólogo que irá avaliar o sistema metabólico do atleta”, diz. Dr. Mizumoto também citou outro fator que não pode passar despercebido para os praticantes de corrida: a escolha do tênis. “Para percursos mais curtos, voltados para velocidade, recomenda-se a utilização de tênis mais leves. Para corridas mais longas são recomendados tênis de maior resistência e suporte do solado mais firme”, conclui.


VOZ DA EXPERIÊNCIA O renomado Doutor Drauzio Varella, 72 anos, é um experiente corredor e maratonista. Para contar toda sua experiência como atleta, recentemente, escreveu o livro Correr – o exercício, a cidade e o desafio da maratona, publicado pela Companhia das Letras. “Nos primeiros treinos, experimentei o impacto do exercício aeróbico no condicionamento físico. Perdi dois ou três quilos que não me faziam falta, ganhei músculos nas pernas, fôlego para subir escadas e mais disposição para enfrentar as atividades diárias”, relata o corredor com mais de 20 anos de experiência. No entanto, em seu livro, Drauzio ressalta que o ganho mais surpreendente veio do lado psicológico. A sensação de paz que se instalava no fim das corridas deixava rastros pelo resto do dia. “Já no banho da manhã, quando eu pensava nos compromissos que me aguardavam, tinha certeza que seria capaz de cumpri-los. Consegui controlar melhor a ansiedade e agitação da vida atribulada que sempre levei, tornei-me mais confiante, disciplinado. Ganhei serenidade”.

PENSAMENTO POSITIVO E ! R P M E S

Segundo pesquisadores da Universidade de Linköping (Suécia) que analisaram um grupo de 278 atletas de elite e corredores amadores, pensar negativamente pode aumentar o número de lesões. Ao longo de um ano, eles testaram como o grupo lidava com o sentimento de “autoculpa” por falharem nos objetivos. Dos 71% que apresentaram algum tipo de problema físico, 97% deles tiveram lesões influenciadas por maus estímulos produzidos no cérebro.

Drauzio registra em seu livro como e por que decidiu espantar o sedentarismo; relata o desafio da primeira maratona; faz um panorama da história das corridas desde sua suposta origem na Grécia antiga; oferece informações médicas sobre a prática; uma leitura agradável e útil para corredores e futuros corredores. “Não me iludo, sei que a natureza é impiedosa e que a mais indesejável das criaturas passa os dias à espreita, mas, enquanto não bate à porta, tenho pressa para ir atrás dos sonhos que ainda não realizei e para correr pelas ruas enquanto as pernas resistirem”.

Dr. Drauzio Varella Fonte: divulgação

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PRAZER CONQUISTADO NAS PASSADAS DO

Parceiras Simone Povia (32 anos) e Walkiria Okuyama (29 anos)

ASFALTO

Não é à toa que dizem que a corrida é o esporte mais democrático. Nesse universo, há espaço para todos os gostos, idades, gêneros e preferências. Esse grande grupo é formado por vários tipos de pessoas, com objetivos e interesses dos mais variados. Para mostrar esta diversidade, conheça alguns atletas da classe que fazem parte do universo da corrida:

Veterano Eran Manuchakian (66 anos) Os motivos que fazem Eran calçar o tênis e sair para correr são os mais diversos: preservar a saúde, se manter em forma e, até mesmo, aliviar o estresse do dia a dia. O veterano da equipe de atletismo da Afresp corre há 15 anos e já participou de mais de 240 corridas. Eran treina corrida quatro vezes por semana e, em dois dias, faz musculação. “Participo de 15 corridas no ano, nas distâncias de 7 a 21 km”. O colega destaca que gosta de correr com a equipe de atletismo da Afresp e participa praticamente de todas as provas do calendário da associação. Muito tranquilo, garante que o que importa no final do treino ou de uma prova não é o recorde pessoal, mas sim a sensação de bem-estar e disposição para viver. “Não fico preocupado com o tempo de conclusão. Sempre corro dentro dos meus limites”.

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Uma estratégia para acabar com a preguiça pode ser a de correr acompanhado. A atividade física e a socialização andam juntas e são ótimos motivos para você treinar em dupla, em trio ou até em equipe. As AFRs Simone e Walkiria, além de serem colegas de trabalho, também são parceiras de corridas há um ano. A dupla treina três vezes por semana, com a assessoria esportiva Trilopez, que é parceira da Afresp de longa data, no campus da Universidade de São Paulo (USP). Inclusive esse treino é frequentado por outros colegas da classe que curtem corrida. Além dos treinos, elas intercalam dois dias com condicionamento físico na academia. “Esse ano fizemos provas de 10 km e, em 2016, pretendemos fazer uma meia maratona e, no futuro, quem sabe podemos até fazer uma inteira?!”, contam. As parceiras de corrida relatam que atingiram a meta bem antes do que imaginavam e, atualmente, correm 10 km em uma hora e isso graças à assessoria esportiva. Para elas, a corrida só trouxe benefícios. “Praticando este esporte democrático você aumenta o ciclo de amizades, melhora a disposição e, de quebra, emagrece”. Simone e Walkiria também fazem parte da comissão de corridas da Afresp e garantiram que 2016 será muito agitado, com treinões e novidades no calendário de corridas da Afresp (Veja nas páginas 36 e 37).


Madrugador

Movido à endorfina

Eli Claudino (61 anos)

Victor Fernandes (28 anos)

O sol ainda nem apareceu, e lá está Eli desbravando sozinho as ruas de uma cidade que ainda dorme. Enquanto a maioria descansa, ele se alonga para começar um novo treino. Preguiça e falta de tempo não existem no seu vocabulário. “Eu costumo dizer que fabrico meu tempo. Acordo às 3h e, às 4h20 da manhã, já estou correndo no asfalto”. Seus treinos acontecem de três a quatro vezes por semana. Eli não reclama de acordar cedo. “A corrida me dá disciplina e energia para encarar minhas obrigações no trabalho, e o dia rende muito mais depois do treino”. O AFR madrugador acrescenta que nesse horário de treino o clima costuma ser agradável, o ar está mais limpo, as ruas silenciosas, além da beleza estonteante do nascer do sol. Para Eli, correr significa muito mais do que uma medalha no final da prova, uma selfie depois de um treino ou uma simples atividade que vai garantir queimas de calorias. A corrida é um momento em que ele consegue refletir sobre a vida e se conectar consigo mesmo. “Durante os treinos, consigo pensar, é quase como uma meditação com os olhos abertos que oxigena melhor minha cabeça e me ajuda a tomar decisões e ter novas ideias”.

Saúde, persistência e superação: essas três palavras definem o AFR Victor como corredor. O atleta da família Afresp corre desde os 16 anos. No ano de 2010, deu uma pausa no esporte, no entanto, devido a uma aposta com um colega de trabalho, há mais de dois anos, resolveu voltar a treinar e não parou mais. Como não poderia ser diferente, para Victor, a corrida só trouxe benefícios. “Um hábito saudável puxa o outro. Melhorei a alimentação, pois de nada adiantaria treinar se continuasse comendo mal, como antes. Além disso, resolvi forçar um pouco mais e passei a praticar triathlon. Mas a mudança mais perceptível foi a física, no final das contas eu perdi 18 kg desde que voltei a correr”. Victor revela que a corrida faz parte do seu estilo de vida e não sabe mais viver sem ela. Ele treina praticamente todos os dias, exceto no domingo. “Há dias que treino duas vezes por dia. E mesmo morando em Taubaté, eu utilizo as planilhas de treino da Trilopez (assessoria que é parceira da Afresp)”. Acreditar em seu potencial e correr para mostrar que é capaz de superar seus limites são metas para Victor, que se prepara para correr sua primeira meia maratona em 2016.

A corrida foi um santo remédio para a vida de Eli. Essa paixão que começou aos 50 anos de idade só trouxe benefícios. “A corrida me proporciona ter uma saúde de menino, controlou minha ansiedade, me fez enxergar e valorizar as coisas belas do mundo e, de quebra, ainda emagreci.” Além de perder peso, Eli também eliminou gorduras localizadas com ajuda de uma nutricionista esportiva que fez sua reeducação alimentar. O corredor da equipe de atletismo da Afresp completou mais de 330 provas e se orgulha de ter feito uma maratona. Agora sua meta é realizar provas em outros estados e aprender cada vez mais com o mundo da corrida.

Classe 2016 | Saúde e Bem-Estar | 35


Acumulador de provas Haroldo Rosa (66 anos) São mais de 600 medalhas, que incluem 50 meias maratonas e quatro inteiras. Este acumulador de provas é o AFR Haroldo Rosa, que, desde menino, sempre foi apaixonado por esportes, mas que, oficialmente, começou a correr aos 52 anos. “Dos 45 aos 50 estava bem parado e ainda por cima era fumante. Até que um dia resolvi voltar para as corridas, parar de fumar e ainda perdi vários quilos”. Atualmente Rosa treina três vezes por semana bem cedo, geralmente antes das 5h da manhã e também faz parte dos aventureiros. “Gosto da corrida do asfalto, mas sou fã mesmo de uma boa corrida de montanha ou de trilhas”, diz. Com um bom condicionamento físico, o atleta, que corre todos os anos a meia maratona do Rio e a São Silvestre com a equipe de atletismo da Afresp, garante que não pretende parar. “A corrida não é confortável, mas faz bem para saúde da mente e do corpo, além de ser gratificante”. No entanto, lembrou que não é todo mundo que tem perfil de corredor, já que é preciso muita força de vontade e determinação para a prática deste esporte.

AFRESP E AMAFRESP AO SEU LADO! Você sabia que, desde 2005, a Afresp/Amafresp mantém parceria com a Assessoria Esportiva Trilopez? Associados titulares da Afresp, dependentes e agregados Amafresp podem contar gratuitamente com os serviços oferecidos pela assessoria, que vão desde acompanhamentos coletivos nos treinos durante a semana, suporte em provas e planilhas de treinos até descontos em lojas de artigos esportivos, entre outros serviços. O profissional em Educação Física, Diego Lopez, diretor da Trilopez, diz que atualmente 70 pessoas da família Afresp / Amafresp participam com frequência dos treinos antes ou após expediente de trabalho. Para aqueles que não podem treinar nesses dias e horários ou que moram fora de São Paulo (capital), são enviados treinos através de planilhas, sempre sob a orientação de profissionais. Para saber mais sobre esportes, inclusive de corridas, acesse o site da Associação (www.afresp.org.br). “Qualquer pessoa que tiver o mínimo de interesse pela prática de uma atividade física pode entrar na equipe e descobrir esse fantástico mundo do esporte. Todo associado pode participar, desde que tenha um aval médico afirmando que está apto para a realização das atividades”, conclui Lopez. Acesse o site da Trilopez (www.trilopez.com.br) e confira a tabela de treinos e horários.

FÁBRICA DE

FELICIDADE Quando suamos a camisa, nosso coração acelera e a temperatura corporal aumenta. Por causa de todo esse esforço e para aliviar a fadiga muscular, há um aumento na produção de endorfina, que é um neurotransmissor que transita entre um neurônio e outro, responsável pelas sensações de alegria e tranquilidade. 36 | Saúde e Bem-Estar | Classe 2015

CALENDÁRIO DE CORRIDAS AFRESP 2016 (4 e 8 km) 06/03 WRun Prova Feminina Marginal 03/04 ª Pinheiros ribuna de Santos 15/05 TSantos (10 km) Paulista Corrida de 1 1/06 Copa Montanha (9, 12 ou 19 km) Marginal Half JUN Mizuno Pinheiros Marathon (21 km) Athenas Marginal 17/07 Circuito 2ª etapa (8 e 16 km) Pinheiros


OS NÚMEROS DO ESPORTE NO BRASIL O Ministério do Esporte divulgou, em outubro, o Diagnóstico Nacional do Esporte (Disporte), mapeamento sobre hábitos esportivos dos brasileiros.

45,9%

Novidades para 2016 Composta pelos AFRs Carlos Tomita, Sérgio Asami, Simone Povia e Walkiria Okuyama, a Comissão de Atletismo da Afresp garante muitas novidades para os corredores da Associação em 2016. Aliás, as novidades já começaram no final de 2015 com o 1º Treinão Afresp de Corrida. O evento teve a participação de 50 associados e contou com a parceria com a Assessoria Trilopez e da Top Nutrição. Além das corridas de ruas, os atletas da Afresp poderão aventurar-se em corridas de obstáculos, em meio à mata. Aventureiros de plantão preparem-se! Novos treinões com palestras que tratam de qualidade de vida, saúde física e mental acontecerão no decorrer do ano. Lembre-se de que, além dessas provas, a Trilopez tem um calendário de corridas bem completo. A família Afresp pode usufruir de toda a estrutura que suas tendas oferecem. Participe!

É o número de pessoas que se disseram sedentárias

2,8% A corrida é o quinto esporte mais praticado pelos brasileiros. O futebol é o primeiro (60%)

8% A região Centro-Oeste é a mais interessada em corridas de rua, seguida do Norte (6,3%)

27/08 28/08 18/09 OUT/NOV 11/12 30/12

Run the Night - Corrida Revezamento (5, 10, 21 km) Disney Magic Run (3 e 10 km)

Ibirapuera

Maratona Revezamento Pão de Açúcar (42 km) T&F Run Series (5 e 10 km)

Ibirapuera

Shopping Bourbon Shopping Vila Lobos

50ª Corrida Sargento Gonzaguinha (5, 15 km) São Silvestre (15 km)

USP

Zona Norte

Avenida Paulista

Classe 2016 | Saúde e Bem-Estar | 37


Saúde

CORRER NA RUA:

Sergio Xavier é médico ortopedista e traumatologista, e campeão olímpico com a Seleção Brasileira Masculina de Voleibol, em 1992

EU POSSO? H

á muitos artigos e reportagens sobre a corrida na rua. Não por acaso, essa atividade esportiva tornou-se moda no mundo todo. Nossos parentes primitivos já corriam. Para eles, correr era uma questão de sobrevivência. Na década de 1980, um médico americano, Dr. Kenneth Cooper, inventou o teste de Cooper, onde, em um percurso de 12 minutos, podia-se medir a capacidade física de atletas amadores. Nessa época, estabeleceram-se os conceitos de saúde e bem-estar, onde uma vida equilibrada com dieta controlada e atividade física regular podiam prevenir uma série de eventos clínicos indesejáveis. Por que correr? Por várias razões: é um esporte barato, que exige apenas um bom par de tênis e roupas esportivas leves; pode ser praticado em qualquer lugar, sozinho ou com um grupo de amigos; não depende das condições do tempo, e assim por diante. Atividade física libera endorfina, substância que combate o stress, e dá a sensação de bem-estar; ajuda a controlar a pressão arterial, diminuindo a resistência periférica dos vasos e aumentando a circulação colateral do coração, e é essencial para o controle do peso.

Alongamentos são obrigatórios. Sempre se discutiu se devem ser feitos antes ou depois da atividade. Recomendo antes e depois. Antes, relaxam a tensão do trabalho ou do início de um dia cheio. Depois, ajudam na volta à calma e melhoram a metabolização do ácido lático depositado nos músculos. Há um livro chamado Alongue-se, de um autor americano treinador de equipes olímpicas, chamado Bob Anderson. Está à venda nas livrarias comuns e tem figuras de todos os alongamentos. É uma compra excelente para a família.

Sim, todos podem correr, e há várias maneiras de fazê-lo. A corrida pode ser curta e intensa, longa e lenta (jogging) ou intervalada.

Correr faz perder peso? Sim, assim como andar rápido. O importante é que observemos a frequência cardíaca de exercício. É a frequência cardíaca com a qual começamos a usar gorduras acumuladas em nosso corpo como combustível para o exercício. Ela pode ser calculada de maneira simples pela seguinte fórmula: 220 – idade do indivíduo. Essa é a frequência cardíaca máxima aproximada. 70% desse número lhe dará a frequência de exercício. Por exemplo: se o novo atleta tem 55 anos, o cálculo será: 220-55= 165. 70% de 165= 115: esta é a frequência aproximada que deve ser mantida durante a atividade física.

Para iniciar qualquer projeto de condicionamento, é obrigatória uma consulta clínica para exames de rotina: exames laboratoriais simples e, pelo menos, um eletrocardiograma de repouso.

Naturalmente, o cálculo científico mais preciso é feito por meio do teste ergométrico, mas a fórmula acima já ajuda no início do programa de treinos.

Um bom par de tênis é um investimento em prevenção a lesões. Como norma, o tênis deve ter um bom coxim de amortecedores, um contraforte (a parte do tênis que abraça o calcanhar) resistente e que fique firme, mas confortável aos pés. Já a roupa deve ser leve e confortável, e deve permitir a transpiração.

Bem, essas são algumas ideias ou conceitos iniciais. Espero que possam ajudá-los a começar a pensar em atividade física. Lembrem-se: andar, passear com o cachorro, dar uma volta no quarteirão, todas são atividades físicas úteis.

Porém tudo isso já foi escrito milhares de vezes. Meu objetivo ao escrever este texto é passar para vocês algumas noções ou dicas do que tenho vivenciado em minha clínica nos últimos 38 anos.

38 | Saúde Crônica| |Classe Classe2016 2015

O solo para o início de um treinamento deve ser mais regular e, de preferência, plano. Pode-se iniciar na esteira ergométrica, que tem velocidade constante e amortece o impacto das passadas. A praia também é um lugar excelente, porém aqui vão algumas dicas: procure correr na areia firme e, de preferência, perto do mar. Evite praias de tombo e, se for correr mais do que 2 km, use tênis.

Bons treinos!


Retrato

Pavão - Zanzibar, a Ilha Assombrada, de Rogério Andrade Barbosa. Ed. Cortez

A ILUSTRAÇÃO BRASILEIRA NA REVISTA CLASSE Em 2015, Mauricio Negro recebeu da Revista Classe um convite especial: criar ilustrações que identificassem com arte, clareza e simplicidade as áreas destinadas às colunas da revista. Essa missão foi cumprida com maestria. Mauricio será o responsável por todas as ilustrações presentes nas primeiras edições da Revista Classe. O objetivo da iniciativa é abrir espaço para que artistas como ele possam mostrar a qualidade de seus trabalhos e tornar nossa revista ainda melhor.

Classe 2016 | Retrato | 39


Peixes - Capa do Catálogo Educação Infantil. Editora Global

M

auricio Negro é ilustrador, escritor, designer gráfico e consultor editorial. Nasceu em São Paulo, em 1968. Passou parte da infância e juventude entre a Mata Atlântica e o litoral, vivências que deixaram marcas na sua vida e obra. Comunicólogo pela ESPM e em atividade no segmento editorial desde 1992, colaborou com muitas editoras, projetos e livros de escritores brasileiros e estrangeiros. Recebeu prêmios, menções e certificações. Participou de diversos eventos, encontros, palestras, exposições e catálogos na Alemanha, Argentina, Brasil, China, Colômbia, Coreia do Sul, Eslováquia, França, Itália, Japão, México, Rússia, Uruguai, Vietnã, entre outros países.
 Desde o retorno de Paris, onde morou por um período de estudo e pesquisa, tem produzido monotipias experimentais, pirogravuras e scratchboards. Utiliza pigmentos naturais, material alternativo ou reciclado, anilinas e elementos orgânicos nas suas obras. Sua abordagem visual flerta tanto com os registros ancestrais, tradicionais, circulares ou indígenas quanto com a produção afro-brasileira, imigrante, mestiça, bruta, “popular” ou espontânea. Muitas vezes carregada de referências à temática socioambiental, à sociedade multicultural e pluriétnica brasileira, sua arte busca fintar o etnocentrismo, ao manejar amuletos e patuás, arcos e berimbaus, muiraquitãs e balangandãs, morubixabas e muxarabis, sambas e sambaquis, zarabatanas e ziriguinduns, zumbis e zumbidores, mitos e matos. Motes sempre resignificados pelas novas tecnologias, poéticas e filtros contemporâneos.

Tatu - Sapatos trocados, de Cristino Wapichana. Editora Paulinas

Foi um dos ilustradores cuja produção serviu de mote para a pesquisadora Maria Isabel Frantz Ramos, na dissertação de Mestrado em Ilustração no Instituto Superior de Educação e Ciências em Lisboa-Portugal (Universidade de Évora, 2012), sob o título Influências das culturas popular e tradicional na ilustração brasileira contemporânea, cujo conteúdo aberto está disponível na web.

 É membro do conselho diretor da Sociedade dos Ilustradores do Brasil (SIB), do conselho editorial da marca Mestres (Letra e Ponto), da Associação dos Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil (AEILIJ), organizador do Catálogo Ilustradores SIB: literatura infantil e juvenil (SIB/2AB) e coordenador editorial da Coleção Muiraquitãs (Global Editora). Veja mais sobre Mauricio Negro em: blackbox.allyou.net Munduruku - Um dia na aldeia, de Daniel Munduruku. Editora Melhoramentos

40 | Retrato | Classe 2016


Ancestralidade Meu tataravô era africano, de Georgina Martins e Teresa Silva Telles. Ed. DCL Tambor - O menino coração de tambor, de Nilma Lino Gomes. Editora Mazza

Zanzibar - Zanzibar, a Ilha Assombrada, de Rogério Andrade Barbosa. Ed. Cortez

Angola - A Montanha da Água Lilás, de Pepetela. Editora FTD

Arara - O sonho de Borum, de Edson Krenak. Editora Autêntica

Mauricio também escreve, ilustra e projeta seus próprios livros. Por fora bela viola foi recém-lançado pela Edições SM. Pela Global Editora, também como autor-ilustrador, lançou seis livros: Jóty, o tamanduá (com Vãngri Kaingáng), A palavra do grande chefe (com Daniel Munduruku), Quem não gosta de fruta é xarope, Zum Zum Zum, Balaio de Gato e Mundo Cão. Em francês, pela Éditions Reflets d’Ailleurs, teve a oportunidade de publicar Jóty le tamanoir e o conto “Jurupari”, que integra a antologia Contes du Brésil, na Coleção Tan Tan, organizada por Pascale Fontaine.


Entrevista

Fonte: Helô Bortz

U

ma hora antes de iniciar mais uma apresentação da peça Morte acidental de um anarquista, um sucesso de público,

que esteve em cartaz por quase três meses no teatro Porto Seguro, em São Paulo, Dan Stulbach, em seu camarim, falou à Revista Classe sobre sua infância, família, carreira e novos projetos. Stulbach começou a carreira dedicando-se ao teatro e ao cinema, e ganhou fama com a participação em Mulheres Apaixonadas, novela da Rede Globo, em 2003. Ele também foi protagonista na minissérie Queridos Amigos, em 2008, e fez filmes como Mais Uma Vez Amor (2005), Tempos de Paz (2009) e A Suprema Felicidade (2010). No rádio, entrou na CBN em 2006 para trabalhar no programa Fim de Expediente. Também estrelou em 2015 como âncora do CQC da Band e assumiu o programa Bola da Vez da ESPN-Brasil. 42 | Entrevista | Classe 2016

Revista Classe: Quem é Dan Stulbach? Dan Stulbach: Eu sou um cara que sempre buscou a resposta mais verdadeira para essa pergunta e o teatro me ajudou muito nesse entendimento. Nietzsche falava: “Nenhum homem é um mistério, a não ser para si mesmo. Por exemplo, se você perguntar para tal pessoa o que ela acha de mim, ela irá falar algo com que não irei concordar 100%. A gente nunca se encaixa exatamente no que o outro fala da gente. Há teimosias a nosso respeito, impressões, ilusões. Mas eu tento chegar o tempo inteiro a algo mais verdadeiro e meu método é exercer coisas no meu trabalho e na minha vida que eu sinta que são absolutamente verdadeiras. Então, ter dado essa guinada na minha vida neste ano para fazer o CQC, para estar na


TALENTO E VERSATILIDADE AO PONTO Dan Stulbach em entrevista exclusiva à Revista Classe fala da sua trajetória profissional, do sucesso de seus atuais trabalhos e revela que um pouco de anarquia na vida não faz mal a ninguém Por Fabieli de Paula

ESPN e continuar na CBN e, principalmente, estar aqui no teatro. Essa é uma busca, de estar em um lugar em que quis estar, que me exige e que eu possa ser sincero. Então, a melhor resposta para a sua pergunta é o que eu faço. Eu sou o que eu faço. Sou o que as pessoas veem. Não é uma máscara ou uma embalagem de Marketing. Revista Classe: Fale da sua infância e da influência dos seus pais na sua vida. Dan Stulbach: Meus pais são poloneses. Tive uma infância e adolescência muito felizes. Meu pai trabalhava muito, até mesmo pelo efeito da imigração na nossa vida e na dele. Nós tivemos muita relação com a colônia polonesa, mas uma profunda relação com o Brasil. Foi tudo muito afetuoso, cercado

de folclore e histórias bonitas, festas de família. A família é muito pequena e unida. A gente nunca teve muita briga. Não havia espaço para isso. A família cabe em uma mesa, de verdade. Tudo muito ligado à família, a essas pessoas, e a amigos que eu tenho até hoje. Revista Classe: Conte sua trajetória da faculdade até a Escola de Arte Dramática (EAD) da USP. Dan Stulbach: Eu sempre falava que seria engenheiro, porque meu pai era engenheiro e eu era bom em matemática. Então, no último ano do colégio, comecei a fazer teatro, e daí bagunçou a minha cabeça. Comecei a questionar isso que você me perguntou: “Quem sou eu? O que quero?”. Acabei prestando Engenharia, também prestei Medicina e Administração. No final, deu tudo Classe 2016 | Entrevista |43


errado, porque eu passei nas três. Então, tive que escolher, e escolhi a ideia original, que era engenharia. Fiz durante um ano e vi que não tinha nada a ver comigo, me sentia absolutamente deslocado, até porque eu continuava a fazer teatro e vi que era o que realmente eu gostava de fazer. No final daquele ano, fui para os Estados Unidos, porque era uma ideia antiga estudar inglês e passar um tempo fora, e acabou que trabalhei lá, fui ver várias peças e conheci vários atores. Foi maravilhoso! Quando eu voltei, só tinha a atuação na cabeça, mas sabia que isso era uma profissão instável e que eu tinha que ter uma faculdade. No final daquele ano, prestei EAD e ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), entrei nas duas. Fazia ESPM de manhã e a EAD, à noite, mas larguei a Escola Dramática um ano depois, porque eu achava que tinha que trabalhar e já tinha um frisson grande de querer trabalhar e sair de casa. Foi o que aconteceu. Estreei profissionalmente seis meses depois que saí da Escola. Revista Classe: Você é ator, diretor, apresentador, diretor artístico e radialista. Qual destas profissões mais te realiza? Dan Stulbach: Essa é uma ótima pergunta. Acho que ator. Assim, o lugar onde mais me realizo, onde mais sinto que é o meu lugar é o teatro, o palco.

"ADORO TODO O RITUAL DE TEATRO E O CONTATO DIRETO COM PÚBLICO. TUDO ME ENVOLVE E EMOCIONA." Porém todas as coisas que você falou têm um valor. A rádio é um projeto que está completando dez anos, que fiz com dois amigos, o Luiz Gustavo Medina, o ‘Teco’, que conheci no colégio e me viu fazendo teatro, e o Zé Godoy, que me conheceu na ESPM. Dez anos e nós não imaginávamos que ia durar este tempo todo o que surgiu a partir da minha vontade de expressar opiniões. Já na ESPN, a minha aproximação com o futebol, de querer conhecer os caras desse esporte, poder entrevistá-los, fazer uma coisa diferente no meio que eu gosto muito. O outro projeto é o CQC, que esteve na televisão aberta em 2015, fazendo e dizendo coisas e mostrando matérias que ninguém mostrava. Fiz vários filmes também, uns onze. Os mais recentes foram: Suprema felicidade e Tempo de paz. Agora fui convidado para fazer um filme em 2016. Vamos ver se dará tudo certo. Em todos esses trabalhos, me realizo de algum jeito, mas o teatro é a arte, é a arte pura. 44 | Entrevista | Classe 2016

Revista Classe: Qual o desafio de ser protagonista de Morte acidental de um anarquista, o mais famoso texto de Dario Fo? Dan Stulbach: A experiência de fazer essa peça está sendo sensacional. Primeiro, porque é extremamente gratificante trabalhar com Henrique Stroeter. Já fizemos juntos uma peça de teatro, chamada 39 degraus, e não víamos a hora de realizar alguma coisa juntos de novo. Segundo, porque o Dario é muito inteligente, o texto é muito bem escrito, amarrado e ganhador do prêmio Nobel de Literatura em 1997. É como você recitar uma poesia do Drummond, do Fernando Pessoa, do Shakespeare. Há coisas que te engrandecem, e fazer esta peça me engrandece. E ser protagonista é uma responsabilidade maior, é claro, porque você tem que dar deixas para todos, não pode esquecer o texto, e eu tento ter um comportamento que o Tony Ramos, Paulo Autran, Luís Melo me ensinaram, pessoas que são protagonistas, que têm que dar o exemplo. Esse é um lugar que eu gosto de estar! Revista Classe: Quais são as lições que este personagem deixa para sua vida? Dan Stulbach: De que a vida é curta; de que um pouco de anarquia vale a pena, seja lá qual for, em que área for, e um pouco de ousadia sempre é bem-vinda; de que é bom questionar e não reproduzir coisas prontas; de que você é diferente de mim e que é importante exercer a nossa diferença; e de que somos cidadãos, hoje em dia, claro, em um país em completa ebulição. Acho que é importante que a gente tenha posições, dúvidas e que a gente troque as ideias uns com os outros. Esse personagem é o caos, absolutamente alegre, divertido e anárquico. Acho que a melhor lição dele para mim é essa: um pouco de anarquia na vida não faz mal a ninguém. Revista Classe: Como tem sido trabalhar com Henrique Stroeter? Dan Stulbach: Adoro esse cara. Acho que ele é um ótimo ator, uma pessoa maravilhosa, que eu confio. Assim tem sido com o Riba Carlovich também, que eu não conhecia, e o Fernandinho Sampaio, que é do circo. Cada um aqui trouxe a sua experiência para esse projeto. Há uma ideia aqui acontecendo, uma coisa que deu muito certo e que a gente quer dar continuidade, é algo muito verdadeiro. Há muita sintonia. Na vida dos atores, a gente se encontra em um projeto, se adora, mas, de repente, irá se ver daqui a 10 anos depois. A profissão de ator é assim, de projeto em


projeto. É bom estabelecer uma relação verdadeira e que você consiga dar continuidade a ela. Revista Classe: A peça teve a repercussão que a direção e elenco esperavam? Dan Stulbach: Foi maior do que esperávamos. Eu não tinha ideia, era o Napão (Henrique) que falava muito disso, porque ele conhece mais pessoas do que eu. Estávamos colocando aproximadamente 450 pessoas no teatro Porto Seguro, em uma quarta e quinta, no centro de São Paulo, em um teatro que tem vida recente. Isso foi

Revista Classe: Morte acidental de um anarquista continua em 2016? Dan Stulbach: Continua. Aqui em São Paulo, no teatro do MASP (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand), e a gente deve viajar, nos finais de semana, para as capitais. Essa é a nossa intenção. A gente já viajou, mas para mais perto, porque não havia a possibilidade de ter avião, mas agora estamos pensando no patrocínio de uma companhia aérea. Se isso acontecer, a gente vai viajar por aí. Revista Classe: Quais são os novos projetos para 2016?

uma conquista enorme. Recebemos críticas maravilhosas, todas elas positivas, e indicações para prêmios. A gente não imaginava isso. Temos sido recebidos de braços muito abertos por todos e isso é, realmente, mais do que imaginávamos.

Dan Stulbach: Um filme ....mas não posso falar muito, porque ainda não fechamos; dramaturgia na Band e talvez uma outra peça. Praticamente todos os trabalhos vão se manter com exceção do CQC.

Classe 2016 | Entrevista | 45


Gastronomia

HOJE É DIA DE

chopp!

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TALENTO E VERSATILIDADE CERVEJAS a s e n t r a i s A

Dan Stulbach em entrevista exclusiva à revista Classe fala da sua trajetória profissional, do sucesso de seus atuais trabalhos e revela que um pouco de anarquia na vida não faz mal a ninguém.

Por Fabieli de Paula

AROMAS E SABORES

Tour em cervejaria vira momento cultural no interior de São Paulo Por Thalita Azevedo

ClasseClasse 2016 | 2015 Gastronomia | Artigo || 02 47


Por que não produzir cerveja se é um produto que gostamos? Por que não viver disso?

E

sse foi o pensamento do jovem empresário André Luiz Madrini Afaz quando concluiu o curso de Engenharia de Alimentos na Universidade de São Paulo (USP), em Pirassununga. Recém-formado, André resolveu se aventurar com seu amigo e atual sócio, Leandro Pissinatti, e montar a sua cervejaria, a Hausen Bier. Uma verdadeira herança: de pai para filho. A produção ainda era difícil: sem produtos na prateleira e sem informações suficientes, era praticamente impossível fazer uma boa cerveja artesanal. “A paixão pela cerveja começou com o meu pai [Luiz André Afaz] ainda em 1987. Um dia, ele viu a divulgação de um curso ‘Faça a sua cerveja em casa’ e, na época, não havia internet, muitas informações e, principalmente, ninguém produzia cerveja em casa. Fizeram apenas 10 lotes, e o resultado? Ficaram ruins e acabaram parando”, conta André. A produção de cerveja começou quando estava no terceiro ano de faculdade, em 2006. André revela que, quando viu as panelas em casa, logo, pensou: “Quero aprender a fazer isso aí. (...) Como a cerveja é uma bebida de que gostamos e tomamos muito, fiz um dia e foi um caminho sem volta. Comecei a estudar, fazer cursos e vários experimentos em casa mesmo. Morava em uma república com cinco colegas e o pessoal gostava”, relembra o engenheiro. A Hausen surgiu no final de 2010 como um modelo de negócio diferente: vender chopp artesanal, com produtos de qualidade diferenciados pelo sabor e aroma. Localizada em Araras, a microcervejaria produz três tipos de chopp: pilsen (com baixa fermentação e com leve amargor de lúpulo); trigo (com alta fermentação, aroma típico de cravo e banana, além de refrescante e com amargor suave); e os escuros (também tem baixa fermentação, encorpado, torrado e não muito adocicado; o aroma é típico de maltes escuros: caramelo e café). André Afaz, o cervejeiro

48 | Gastronomia | Classe 2016

As cervejas, MAS COM QUAL PET Lá vão algumas sugestões:

QUEIJOS A cerveja pode ser o par ideal dos queijos: para harmonizar, é ideal que teor de lúpulo seja médio, de acordo com a intensidade de sabor da comida.

PILSEN – Queijo fresco; macios como brie e camembert DUNKEL – Queijos duros como cheddar e grana padano WEIZENBIER – Queijos de cabra, st. Poulin e Serra da Estrela e os duros como cheddar e grana padano

PORTER – Queijo defumado (provolone)

APERITIVOS Para alimentos com sabores delicados e mais oleosos, como os amendoins e as castanhas, é indicado que a cerveja seja mais adocicada:

LIGHT LAGER AMBER LAGER DARK LAGER BOCK STRONG ALE

HAMBÚRGER Para os sanduíches e hambúrgueres mais apimentados nada é melhor do que a INDIAN PALE. Mas outras opções, como a AMBER LAGER e PILSEN clássica, são perfeitas.


A BEBIDA QUE AJUDOU NO DESENVOLVIMENTO HUMANO EM VÁRIOS MOMENTOS DA HISTÓRIA

ETISCO?

A história da cerveja é de longa data. Tudo começou por volta do ano 9.000 a.C, quando os primeiros campos de cereais foram plantados na Ásia. Os sumérios e egípcios tinham forte relação com a bebida, feita de cevada e muitos grãos. Era azeda, ácida e defumada, por causa da secagem dos grãos em fogueiras. “A fermentação acontecia de forma mais rápida por causa das leveduras naturais”, diz a primeira sommelière do Brasil, Kathia Zanatta.

CHURRASCO As carnes de churrasco precisam de algo mais forte, como uma Porter e uma Brown Ale, que acompanhem a intensidade do sabor

PORTER, BROWN ALE, ABBEY DUBBEL – Carnes em geral DOUBLE IPA, AMBER LAGER

- Carnes menos gordurosas

e frangos

SOBREMESAS INDIA PALE ALE - Bolos simples, como de cenoura e laranja STRONG DARK BEER, BELGIAN STRONG ALE

Já na Idade Média, a produção de cerveja, que era exclusivamente caseira e de responsabilidade das mulheres, se intensificou em mosteiros, fator primordial para a evolução da cerveja. De lá para cá, os monges passaram a controlar os processos de fabricação, por isso, as cervejas se tornaram menos azedas e as qualidades sensoriais se tornaram dignas de notas. Foi no século IX que os monges passaram a utilizar lúpulo. Por ser um conservante natural, propiciar amargor, além de colaborar com o sabor, ele substituiu o gruit (mistura de ervas como alecrim, urze, aquileia e artemísia). Outra inovação foi o coque, método de secagem indireta do malte, que fez a cerveja ser mais clara. As lagers surgiram das cervejas armazenadas em locais com baixas temperaturas, apenas no século XVI. A revolução no paladar atraiu mais apreciadores e apaixonados pelo sabor: o amor pela qualidade ao invés da quantidade se tornou mais forte nos estilos.

– Sobremesas

com chocolate

FRUIT LAMBIC, STRONG ALE – Cheesecake e pudim

CERVEJA PELO MUNDO

Fonte: Acervo pessoal - Rodnei Yudi

Brasil

“Preste atenção no som ao abrir uma garrafa; observe a cor, o brilho e a retenção de espuma. Sinta o aroma e, então, coloque a cerveja na boca para sentir o sabor e o amargor. Ao abrir uma garrafa, é possível ver se está carbonatada. Por fim, o aftertaste, que é o sabor residual deixado na boca” - relata o AFR e sommelier Rodnei Yudi.

Loira, breja, gelada

França Bière

Itália Birra

Espanha Cerveza

Suécia ÖI.

Grécia

Zito

Inglaterra e Estados Unidos Beer

Alemanha Bier

República Tcheca Pivo

Classe 2016 | Gastronomia | 49


GANHAM ESPAÇO NAS GELADEIRAS

AFINAL, CERVEJA DÁ BARRIGA?

A cerveja artesanal ganha cada vez mais espaço na casa dos brasileiros que buscam experimentar uma cerveja com mais aroma e sabor. Atualmente, o Brasil é o 3º colocado no ranking de produção de cerveja, perdendo apenas para a China e Estados Unidos.

Talvez a palavra da ordem seja moderação. Na verdade, não é a cerveja em si que engorda como todo mundo pensa, mas sim o que comemos enquanto bebemos. “Aquela gordura abdominal acaba surgindo devido a uma combinação de fatores, como frituras e alimentos gordurosos”, comenta a nutricionista Tainá Sacilotto.

Segundo o relatório anual da Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil), o Brasil, em 2014, ficou em 27º lugar no ranking de consumo per capita com o consumo de 66,9 litros por pessoa. Com grande possibilidade de expansão, mesmo no cenário de crise, os fabricantes estão investindo na ampliação de parques produtivos e em inovação, o que representa um aumento de emprego, mais tributos e mais renda e, consequentemente, um grau maior de desenvolvimento sustentável nesse ramo. A cerveja começou a ser produzida no Brasil no final do século XIX e hoje já é considerada uma das maiores contribuições econômicas do país. No ano de 2014, a indústria da cerveja faturou R$ 70 bilhões de reais. Ainda produzida em pequena escala, essa deliciosa bebida artesanal garante uma melhor experiência gastronômica por causa das inúmeras possibilidades de harmonização com os diferentes tipos de pratos. Do doce ao amargo, é possível combinar as cervejas com pratos e seus contrastes. Com mais de 200 estilos de cervejas no mercado, as possibilidades são infinitas. A compatibilidade com os alimentos depende do tipo de malte, pois ele influencia na intensidade do sabor; na quantidade de lúpulo, que dá o sabor amargo à cerveja, e do teor alcoolico. “Do mesmo modo que existe um tipo de vinho para cada alimento, temos um tipo de cerveja também. A ideia é melhorar a experiência daquela refeição. Por via de regra, as comidas mais leves combinam com cervejas mais leves; comidas mais pesadas com cervejas mais fortes. Nesse sentido, uma mussarela combina bem com uma cerveja leve como a witbier. O fato da cerveja ser bem condimentada une bem o sabor suave do queijo e da hortelã. Por outro lado, um presunto Jamón tem um sabor mais forte e combina mais com uma bebida forte e mais alcoólica, como uma dubbel”, explica o fiscal e sommelier, Rodnei Yudi.

RANKING DE CONSUMO per capita 1º República Tcheca.....147,1 litros 2º Namíbia.....................108,9 litros 3º Áustria........................105,9 litros

50 | Gastronomia | Classe 2016

Cerveja deve ser consumida com moderação e de forma equilibrada. Estudos do médico francês Gérard Mégret mostram que a cerveja não engorda e quem a consome com moderação (até duas doses ao dia, conforme a Organização Mundial da Saúde - OMS), tende a beliscar menos entre as refeições e sente menos necessidade de ingerir doces. “A quantidade ideal de álcool para as mulheres é de até 7 doses (14g cada dose, o que representa 355 ml de cerveja ou chopp) por semana e, para os homens, está liberado até 14 doses por semana”, diz a nutricionista Vanessa Abreu. Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv), as cervejas são ricas em vitaminas, minerais, carboidratos e proteínas, além de benéficas à saúde se não forem consumidas em excesso. “Ouvimos falar que a cerveja aumenta a circunferência abdominal, mas um estudo romeno confirmou que não há relação entre circunferência abdominal e consumo moderado de cerveja. Na verdade, a cerveja é, sim, fonte de carboidratos, portanto, é convertida em energia no nosso organismo. O álcool apresenta um valor calórico elevado, mas, comparada com outras bebidas alcoólicas (vinho e destilados), a cerveja apresenta menor teor de álcool (3 a 8%)”, explica Vanessa. A relação da cerveja com a saúde tem sido discutida em 24 países.

4º Alemanha...................101,7 litros 26º Reino Unido...............67,4 litros 27º Brasil..........................66,9 litros 28º Nova Zelândia............64,1 litros


Anualmente são realizados encontros com mais de 100 especialistas em Medicina e Nutrição, na região de Bruxelas, na Bélgica. O médico Ramón Estruch, do Hospital Clínic, de Barcelona, ressalta os possíveis benefícios da cerveja, com ou sem álcool, na saúde cardiovascular, obesidade, nutrição e prevenção do envelhecimento celular. “O consumo moderado, juntamente a uma dieta saudável, ajuda a prevenir complicações cardiovasculares maiores como o infarto do miocárdio ou o acidente vascular cerebral”, afirma o médico. Além disso, a cerveja apresenta propriedades antioxidantes e compostos fenólicos, por causa dos cereais e lúpulo. O lúpulo, o tempero, é um dos principais ingredientes da bebida e possui ação anti-inflamatória e compostos sedativos que combatem o estresse e induzem ao sono.

Cerveja

Coração Cérebro Pesquisas dizem que o álcool tem propriedades anti-inflamatórias e/ou melhora a circulação no cérebro.

O consumo moderado de cerveja reduz o risco de doenças cardíacas em cerca de 25 a 45%, aumenta o bom colesterol e diminui a chance de derrames. Fonte: CervBrasil/2015

“Bebam diariamente um copo de cerveja e viverão mais” – essa é a dica do médico e professor, Manfred Walzl. Tudo bem! Beber cerveja faz bem à saúde, mas não vamos esquecer a moderação. A cerveja dá mais alegria de viver, faz sentir-se melhor e mais feliz. “Aviso que é um mundo sem volta”, brinca Rodnei Yudi.

BENEFÍCIOS DA

Pele e cabelo Quanto mais lúpulo tiver a cerveja, melhor ficará o cabelo por causa das proteínas que nutrem. As leveduras fazem bem quando misturadas com máscaras para hidratação, já que inibem bactérias que causam a acne.

Diabetes O consumo moderado de cerveja ajuda a prevenir o desenvolvimento de diabetes tipo 2.

Vitaminas B2: rejuvenescimento da pele, cabelo e unhas e atua como cicatrizante. B3 (Niacina): auxilia na queima de gordura. B5 (Ácido Pantotênico): sintetiza lipídios e o açúcar dos alimentos. B12: produz serotonina e dopamina, responsáveis pela sensação de bem-estar.

Malte e lúpulo previnem doenças cardiovasculares, câncer e diabetes.

Minerais, magnésio e potássio são essenciais na contração muscular, composição e manutenção da densidade óssea.

Rim Consumo moderado de cerveja ajuda a diminuir o risco de pedras nos rins em cerca de 40%.

Ossos Cerveja contém silicone, que aumenta a densidade dos ossos, ajudando a prevenir a osteoporose.

Ferro (Fe) Cervejas escuras contêm ferro, que ajuda a distribuir oxigênio através do sangue e auxilia no combate à anemia.

Classe 2016 | Gastronomia | 51


TEMPERATURAS E Copos

TEMPERATURAS MAIS ALTAS (15 E 24°C): ALE

BAIXA FERMENTAÇÃO OU CERVEJA FRIA (6 E 12° C): LAGER

Tumbler: com a boca maior do que a base, serve para cervejas que não formam tanto creme. O bocal largo favorece a volatilização do aroma.

Mug ou caneca: clássico em festas alemãs. Suporta grande quantidade de bebida, sem potencializar suas qualidades.

Era o único processo disponível até meados do século XIX

É a mais consumida no mundo

Pilsner: favorece a conservação da espuma e direciona o aroma do lúpulo para o nariz.

Pint: bocal mais largo, indicado para cervejas com intensidade aromática mediana.

MUG PILSNER

Cálice: usado tradicionalmente para cervejas trapistas. Tem um bocal mediano e é recomendado para rótulos com mais intensidade aromática.

TULIPA TUMBLER

Snifter: corpo mais arredondado e a boca estreita, retém o intenso buquê de rótulos encorpados e com aromas mais fortes. Stange: cilíndrico e reto, o formato proporciona uma boa espuma e preserva o aroma em uma área de percepção menor, o que é bom para cervejas delicadas. Tulipa: mais usado para cervejas com muita espuma, porque a curvatura do bocal dá espaço para sorver o líquido sem se sujar com o colarinho. Weizen: copo alto, com boca larga e mais estreito na base. Ideal para cervejas de trigo.

PARA QUE SERVE O colarinho?

Mantém a temperatura da cerveja e evita o contato com o ar. Todas as cervejas formam espuma, mas só algumas mantêm o colarinho, dependendo do estilo da cerveja.

CERVEJAS E OS SIGNIFICADOS •

Chopp: cerveja sem pasteurização (fresca).

Cerveja: é o resultado de uma infusão do malte com o lúpulo.

Delicada: cerveja delicada, harmônica e de qualidade superior.

Lúpulo: é o que dá ao buquê da cerveja o sabor amargo. Quanto mais amarga, maior a quantidade da planta.

Encorpada: relação harmoniosa entre levedura, lúpulo, malte e outros elementos utilizados na produção

Nobre: perfeita combinação de corpo, maturação e álcool.

de cerveja.

Pasteurização: método pelo qual os micro-organismos

Fugidio: cerveja sem consistência no sabor.

52 | Agenda | Classe 2015

são inativados através do calor.


ADVOGADO TRANSFORMA ESCRITÓRIO EM MINI FÁBRICA

Ribeirão Preto, interior de São Paulo, já foi conhecida como a Capital do Café. Após a crise, a cidade começou a se industrializar e, em 1910, surge a 1ª cervejaria, a Companhia Cervejaria Paulista. Batizada como a “Terra do Chopp”, Ribeirão está se transformando na capital da cerveja artesanal. Hoje, o mercado de cervejas artesanais desperta o paladar daqueles que apreciam uma boa cerveja e atrai novos interessados. A consultora, sommelière e criadora da página ‘Bier Society’ Bia Amorim comenta que a missão do Bier Society é promover a cultura cervejeira e fomentar o mercado. “O mercado está em ascensão e, mesmo com os preços mais elevados, as pessoas levam as cervejas artesanais para a sua cidade”, diz.

Sempre bebeu cerveja, mas nunca tinha se preocupado com as técnicas. Hoje, o advogado e cervejeiro caseiro Jorge do Val é conhecido por ter ganhado o 6º Concurso Estadual de Cervejeiro 2015, da Associação dos Cervejeiros Artesanais (Acerva Paulista), em parceria com a cervejaria Dádiva, de Várzea Paulista.

Paulo Gallo - Varal Diverso

RIBEIRÃO PRETO: DO CAFÉ PARA A "CAPITAL DO CHOPP”

Sabia que existe um roteiro em Ribeirão para conhecer as fábricas e bares de cervejas artesanais? Pois é, são nove horas de imersão no mundo das cervejas. Os turistas visitam seis fábricas locais: Colorado, Invicta, Lund, Walfänger, Weird Barrel e Pratinha, e degustam os principais rótulos, diretamente do tanque. “O tour cervejeiro acontece durante todo o ano. Neste roteiro, visitamos as cervejarias e a temática atrai turistas de várias partes do país e do exterior. Além do nosso principal público, os paulistanos, recebemos visitas de pessoas da capital e interior do Rio de Janeiro e de cidades como Brasília, Campinas, Goiânia, Dublin e Chicago”, conta a sommelière de cerveja e idealizadora do projeto, Carla Valentim. O primeiro Tour Cervejeiro aconteceu em junho de 2014 e contou com a participação de 14 mestres da cerveja. O potencial cervejeiro e gastronômico de Ribeirão Preto é o ingrediente principal do primeiro roteiro na terra do Chopp.

A receita campeã é conhecida como Bazooka, uma cerveja que representa o estilo Double IPA, com 8,7% de álcool, e selecionada entre as 77 participantes do concurso, que recebeu a inscrição de mais de 120 inscritas. “Entrei no concurso da Acerva para ter um feedback. Participei com pessoas muito boas. De início, a cerveja não tinha nome, mas depois demos o nome de Bazooka. É um produto que vai muito lúpulo e, por isso, mais alcoólica”, comenta Jorge. Para quem não sabe, a bazooka é um filtro de malha que atua engatado no fundo da panela, impedindo que os grãos de cevada saiam durante a recirculação do mosto. Um dos benefícios é economizar o uso de panelas, já que a panela de filtragem é a mesma que foi usada para a brassagem. Qual foi a emoção? “Tive a sensação de não merecer. Não imaginava que pudesse ganhar e não tinha pretensão de ter chegado até a final. O que me deixou mais feliz foi as pessoas gostarem da cerveja e foi muito legal a experiência de produzir em uma fábrica”, relembra. Iniciante nesse mundo, o advogado atualmente fabrica suas cervejas no escritório. “Quando comecei a fazer cerveja em casa, percebi que precisava controlar a fermentação. Quando precisei comprar uma geladeira, tive que arrumar um novo espaço. Arrumei um quartinho no escritório onde ficavam os processos antigos e, hoje, tenho uma panela de 50 litros”, conta. Jorge acredita que o principal desafio dos cervejeiros é fomentar a cultura. “É importante que todos os cervejeiros se reúnam para não acontecer a mesma coisa que aconteceu com a cachaça. Cada um produzia o seu e não tinha a troca. O mercado cervejeiro no Brasil é pouco explorado ainda. Nos Estados Unidos, o mercado corresponde a 10% em volume. O Brasil tem espaço para crescer se as pessoas se unirem”, afirma o cervejeiro. Encontre aqui: • Cervejaria Hausen Bier fica na rua Otavio Merlo, 715, em Araras. • Conheça mais sobre o Tour Cervejeiro, pelo site (http://www.tourcervejeiro.com.br/).

Classe 2016 | Gastronomia | 53


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EXPO

AGENDA TEATRO

A Arte e a Ciência - Nós entre os Extremos Entender alguns conceitos da ciência por meio da arte: essa é a ideia da exposição, em cartaz no Instituto Tomie Ohtake. São 35 obras de 16 artistas, que procuram mostrar como fotos, esculturas e filmes, por exemplo, tornam mais palpáveis alguns conceitos científicos. Quando: até 14 de fevereiro de 2016 Onde: Instituto Tomie Ohtake | Av. Brigadeiro Faria Lima, 201 (Entrada pela Rua dos Coropés, nº 88) | Pinheiros | São Paulo

Macbeth Dirigida pelo brasileiro radicado em Nova York, Ron Daniels, a história do general Macbeth, que volta vitorioso da guerra e ouve a profecia de que se tornará rei, vem com Thiago Lacerda no papel do general e Giulia Gam como a esposa Lady Macbeth. Quando: até 31 de janeiro de 2016 Onde: Sesc Vila Mariana | Rua Pelotas, 141 | Vila Mariana | São Paulo

Carne Vale – O imaginário carnavalesco na cultura brasileira Uma das mais tradicionais expressões culturais do Brasil, o carnaval ganhou uma exposição na Galeria Cultural do Sesi-SP. São mais de 170 itens que contam um pouco da sua história, como fotos, gravuras, filmes, marchinhas e figurinos. Quando: até 31 de janeiro de 2016 Onde: Galeria de Arte do SESI-SP | Centro Cultural Fiesp Ruth Cardoso | Av. Paulista, 1.313 (em frente à estação Trianon-Masp do Metrô) | Bela Vista| São Paulo

Arte na Moda: Coleção Masp Rhodia A indústria química Rhodia produzia, entre outras coisas, fios sintéticos para o setor de vestuário. Essa coleção é a única remanescente da década de 1960, quando a empresa promovia desfiles para mostrar suas novidades no mundo da moda. Quando: até 14 de fevereiro Onde: Masp (2º subsolo) | Av. Paulista, 1578 | Bela Vista | São Paulo

56 | Agenda | Classe 2016

Frida y Diego A peça mostra a conturbada e fascinante vida dos artistas mexicanos Frida Kahlo e Diego Rivera (interpretados por Leona Cavalli e José Rubens Chachá), no período entre 1929 e 1953, quando moraram no México, França e Estados Unidos. Quando: até 31 de janeiro Onde: Teatro Raul Cortez (Fecomercio-SP)| Rua Dr. Plínio Barreto, 285 | Bela Vista| São Paulo


Iron Maiden

MÚSICA

O vocalista Bruce Dickinson chega ao Brasil pilotando o Boeing 747-400 Jumbo da banda para fazer cinco shows no país e apresentar o novo trabalho do grupo, The Book of Souls, que estreou em primeiro lugar no Brasil. Quando e onde: 26 de março | Allianz Parque |Av. Francisco Matarazzo, 1705 | Água Branca| São Paulo Gênero: Heavy metal

Simply Red A banda inglesa traz a Big Love Tour ao Brasil e o novo álbum Big Love, o primeiro em oito anos. O trabalho vem com uma mescla de músicas inéditas e grandes sucessos – que também aparecem no único show em São Paulo. Quando e onde: 15 de março | Citibank Hall | Avenida das Nações Unidas, 17955 | Vila Almeida| São Paulo Gênero: Pop

Oswaldo Montenegro O cantor carioca, conhecido por hits que marcaram época como Lua e Flor, A Lista, Bandolins, Estrelas e Sem mandamentos, chega a São Paulo para estrear sua nova turnê nacional, Trilhas. Quando e onde: 20 de fevereiro | Tom Brasil | R. Bragança Paulista, 1281 | Santo Amaro| São Paulo Gênero: MPB

Mulheres à beira de um ataque de nervos A história de três mulheres com problemas amorosos sai das telas de cinema e vai para os palcos. O ator e diretor Miguel Falabella assina a adaptação do famoso filme de Pedro Almodóvar, que no Brasil ganhou uma versão musical. Quando: até 14 de fevereiro Onde: Teatro Procópio Ferreira | Rua Augusta, 2823 | Cerqueira César| São Paulo

Lionel Richie Um dos ícones da música pop mundial, Lionel Richie fará três shows no Brasil: Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo. O compositor e ex-integrante da banda The Commodores traz músicas de todas as fases de sua carreira. Quando e onde: 9 de março | Ginásio do Ibirapuera | Rua Manuel da Nóbrega, 1361 | Ibirapuera| São Paulo Gênero: Pop

Classe 2016 | Agenda | 57


de

Cultura

HERTA, MIA, ALCIDES, PESSOA Festas, compras, verão, férias! Em começo de ano, sempre a pergunta típica dos paulistanos: em que mês vai cair o Carnaval?

Pr

a

Clarisse Abujamra é atriz, diretora e tradutora de textos para teatro. Participou de diversas novelas, filmes e minisséries.

e, desde então, apesar de outrar fazer parte do exercício imprescindível de todo intérprete, passou a ter ainda mais importância.

Não pela festa propriamente dita, mas sim porque, cá para nós, o Brasil só recomeça de fato depois do Carnaval. Festa imbatível em beleza e criatividade... E já desmentimos há muito tempo que S.Paulo é o túmulo do Samba.

Outrar, entender, reagir, se enternecer, se colocar na pele do outro e por aí vai. Compreender os descalabros causados por fronteiras e a necessidade urgente de serem extintas do mapa e, ainda, a fome, os socorros necessários e nunca alcançados, o mundo, o vizinho, o outro.

Não será um ano fácil, assim dizem, assim pressentimos.

Sim, é preciso outrar.

O pensamento da escritora Herta Müller tem me perseguido como consequência desses dias tão absurdos que temos vivido e que têm provocado piadas e risadas, muitas vezes, descabidas. Confesso que, por nervoso, espanto, ou seja lá o que for, já me encontrei rindo, pateticamente, frente ao disparate das declarações de nossos, assim chamados, dirigentes, que se reproduzidos em um espetáculo jamais seriam críveis e, provavelmente, seriam vaiados. Quando o humor vem da falta de perspectiva, quando extrai sua perspicácia do desespero, desvanecem-se os limites entre diversão e humilhação. H.Müller. Pois é, todo cuidado é pouco. Rir sim, mas não mais de nós mesmos, quando somos o objeto na berlinda frente aos absurdos que temos sofrido como cidadãos, e quando reagimos apenas com espanto e reclamações. Outrar... É uma palavra que provoca. É sempre um desafio e, se não me engano, foi Mia Couto, escritor moçambicano, quem falou sobre o verdadeiro significado dessa palavra, com tal maestria, que foi um sinal de alerta para mim 58 | Cultura | Classe 2016

Fo t o : P r i s c i l a

Alcides Nogueira, autor da melhor qualidade, dramaturgo, homem de extrema sensibilidade, escreveu o texto da peça Gertrude Stein, Alice Toklas e Pablo Picasso, brilhantemente interpretada por Nicete Bruno, na pele de Gertrude Stein, influente intelectual e agitadora cultural, que morreu em 1946. Deixo aqui um fragmento: Estamos pobres politicamente, socialmente, sexualmente, artisticamente. E se as coisas continuarem como estão, ficaremos mais pobres ainda. Por favor, não parem, não desistam, porque, se nós esmorecermos, as pessoas piores que nós se aproveitarão disso... Pois que venha forte 2016! Saberemos do que rir, saberemos outrar, saberemos como não esmorecer.... Que venha fértil! Que nos provoque a sermos também fortes! Que nos provoque férteis pensamentos, gestos, intenções, decisões, amores, e não estaremos mais tão pobres! Que venha lavado em poesia porque como diz o poeta Fernando Pessoa: “À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.”


Classe 2015 | Artigo | 02


CURTAS RANKING HOLD' EM NA CAPITAL 2015 Durante o ano, mais de 70 AFRs participaram das 12 rodadas do Ranking Hold’em na Capital, na sede da Afresp. Na rodada de dezembro o campeão foi Walter Ruffo, o segundo colocado foi Thiago Barros e o terceiro, Jorge Keniti. Já na classificação geral do Ranking, o campeão foi Wagner Laras, o 2º colocado foi Nikilaudo Nogueira e o 3º, Thiago Barros.

FUNDAFRESP PREMIA PROJETOS Na reformulação do Fundafresp, além dos recursos que já são repassados mensalmente às entidades, o Fundo lançou um concurso que destinará até R$ 40 mil para eleger 21 entidades, uma para cada Sede Regional da Afresp, que apresentaram projetos de implantação ou melhoria de um trabalho de atendimento, a ampliação das suas instalações, compra de móveis ou equipamentos, e que sejam instituições que trabalhem com crianças, adolescentes ou idosos em situação de vulnerabilidade social. O processo de votação das entidades aconteceu entre 11 e 22 de janeiro.Veja os projetos premiados no site da Afresp: www.afresp.org.br.

4 TORNEIO ESTADUAL DE SINUCA o

Depois de oito horas de disputa, o associado Eduardo Makiuti venceu o 4º Torneio Estadual de Sinuca, que aconteceu no dia 24 de outubro no Snooker Bar Pompeia. Ele também levou o troféu de melhor tacada, por ter feito 21 pontos em uma só tacada. O segundo colocado foi Antonio Cordeiro.

FINAL DO XXI OPEN DE TÊNIS REÚNE ASSOCIADOS E FAMILIARES Associados e familiares se reuniram no Centro de Convivência de Guarulhos para a final do XXI Open e 2º Open Senior de Tênis, no dia 7 de novembro. José Adão foi o campeão do 2º Open Senior, e Marcelo Shimoto venceu o XXI Open de Tênis. Houve a entrega dos troféus aos três primeiros colocados de cada torneio, e um churrasco. 60 | Curtas | Classe 2016


AMAFRESP COBRE NOVOS PROCEDIMENTOS DA ANS De acordo com decisão da ANS, os planos de saúde devem assegurar a cobertura de 21 novos procedimentos a seus filiados a partir de janeiro de 2016. Entre as novidades estão: o implante de Monitor de Eventos (Looper), utilizado para diagnosticar perda da consciência por causas indeterminadas; implante de cardiodesfibrilador multissítio, que ajuda a prevenir morte súbita; implante de prótese auditiva ancorada no osso para o tratamento das deficiências auditivas; e a inclusão do Enzalutamida- medicamento oral para tratamento do câncer de próstata. Os filiados Amafresp não precisam se preocupar, porque esses procedimentos já fazem parte da cobertura do nosso plano de saúde.

HOMENAGENS A EX-DIRETORES REGIONAIS No dia 8 de outubro, o ex-diretor Regional de Piracicaba, Alberto Penno Junior, foi homenageado pelos colegas por seus seis anos de empenho à frente da Regional. Já no dia 5 de novembro, durante a Noite da Pizza, os colegas de Osasco homenagearam o ex-diretor Regional, Antonio Carlos de Oliveira Joaquim, pelo trabalho e dedicação à Regional.

EDUCAÇÃO FISCAL NA SEFAZ A Educação Fiscal foi o tema da 2ª edição de um curso realizado pela Fazesp em parceria com a Secretaria da Educação, na sede da Secretaria da Fazenda, entre os dias 7 e 9 de dezembro. Organizado pelo Grupo de Educação Fiscal do Estado de São Paulo (GefeSP), o curso forma educadores fiscais para disseminar o papel dos tributos na sociedade e economia, e também como os recursos são utilizados pelo Estado. Entre os palestrantes, participaram a coordenadora do GefeSP e membro da comissão do Fundafresp, Gabriela Maia Lubies de Souza, a professora livre-docente da PUC, Maria Garcia, e o filósofo e escritor Mário Sérgio Cortella, que falou sobre ética, indivíduo e sociedade. O presidente da Afresp, Rodrigo Spada, participou da cerimônia de abertura, e entregou um cheque de R$ 5 mil para o projeto Conscientizar para Preservar o Mundo, de Avaré (SP), que ficou em 2º lugar no Prêmio de Educação Fiscal, da Febrafite. Na ocasião, a AFR aposentada Deira Alizia Visentin Villen, que é secretária da Administração e Assistência Social de Avaré, representou a cidade e recebeu o prêmio. Esteve presente também ao curso o deputado estadual e AFR Orlando Bolçone.

VACINAÇÃO CONTRA A MENINGITE B Mais de 500 filiados Amafresp da capital e interior, de 2 meses a 5 anos completos, tomaram a primeira e segunda dose da vacina contra a meningite B, neste segundo semestre de 2015. Este importante evento de prevenção foi organizado pela a encarregada operacional de Prevenção da Amafresp, Ticiana Melosi e teve total apoio da diretoria e gerência do plano. O presidente da Afresp, Rodrigo Keidel Spada, prestigiou o evento e parabenizou o diretor da Amafresp, Alexandre Lania Gonçalves e toda a equipe da Amafresp. Segundo informações da diretoria da Amafresp, no ano de 2016, o nosso plano continuará com a filosofia de que a prevenção é o melhor caminho. Por isso, serão realizadas também campanhas efetivas no combate ao câncer de próstata, mama e colo de útero, entre outras ações de prevenção. Classe 2016 | Curtas | 61


Crônica

GESTOS QUE SE TORNAM ANACRÔNICOS H

á bairros em que você não percebe que vive em uma cidade gigantesca como São Paulo. Minha quadra em Pinheiros, em certos momentos, parece o interior, com seus usos e costumes, tanto pode ser uma vila deste estado, ou do Rio de Janeiro, ou do Rio Grande do Sul. É a poesia no cotidiano de uma metrópole. Há uma quitanda onde pagamos no final do mês, como se fazia antigamente, anotando em cadernetas. Há o sapateiro que ainda faz meia sola e consertos em geral. Conhecemos todos os motoristas do ponto pelos nomes. A padaria é ponto de encontros. De comum acordo, não se pode no domingo falar de pedaladas, lava jato, como sair da crise, reconstrução do país, seleção brasileira, coxinhas, delações, denúncias, corrupção, reforma ministerial. Daí o clima ameno e efusivo que se estabelece. Domingo de manhã, bem antes que cheguem as professoras universitárias aposentadas, setentonas, que têm mesa fixa na calçada e são chamadas as “meninas da padaria”, os balcões povoam com os taxistas que trabalharam à noite, atendendo baladeiros ou chamados de hotéis, boates. Todos falam alto, contam piadas, gargalham. Dia desses, eu lia meu jornal, quando a zorra se instalou pertinho de mim. A certa altura, reclamei com um taxista amigo. Na mesma hora, ele subiu na banqueta e gritou: “Silêncio, minha gente, que o escritor está lendo”. Todos se calaram. Fiquei numa saia justa, fingi que continuei lendo. Nas mesas da calçada se instalam os que trazem seus cachorros para o passeio matinal. Cada dia aumenta o número de bichos. Há desde aqueles pequeninos de latidos ardidos, até os maiores que olham em torno com desprezo, não há ninguém para enfrentá-los. Os clientes sofrem com o festival de latidos, cão cumprimentando cão, cão agredindo cão.

02 | Artigo 62 Crônica| Classe | Classe2015 2016

Ignácio de Loyola Brandão é jornalista e autor de 42 livros, e é colunista do jornal O Estado de São Paulo.

Ah, se eu pudesse gritar para eles: Silêncio, o escritor está lendo. Dois homens corpulentos sentam-se ao meu lado, pedem sanduíches de mortadela, pão na chapa, pão com requeijão, médias. Comem vorazmente. São investigadores de polícia do 14º DP. Comento: “Pelo visto, a noite foi brava”. E eles: “Que nada! Foi tranquila, três ocorrências mixas, duas de pés de chinelo pegos com trouxinhas de maconha”. Acentuei: “Quer dizer que foi uma noite boa?” Riram: “Esse boa dito assim pode ter vários significados.” Mais não foi dito. Filosofia amena de padaria num domingo. Estou saindo, chega Vera Leticia. Senhora de 60 anos – é o que ela diz – cabelos platinados, saia justa, segurando o celular. Quando ela se acomoda, a saia ergue, exibindo os joelhos e parte das coxas. Ela – imaginando que não percebi - observa que olhei as pernas, ainda rijas e sorri satisfeita. Pede pão na chapa, suco de laranja com mamão, um café. Olha o celular com insistência. Come, sempre consultando o fone. Vez ou outra sacode o aparelho, velho gesto que na juventude dela significava ver se o relógio estava funcionando. Ela termina, indago: “Não te ligaram?”. E ela, com um sorriso: “Nem vão ligar. Não tem quem me ligue. Este é um velho celular que achei na feira. Nunca funcionou. É só para não fazer feio, porque todo mundo tem telefone. Ah, como gostaria de postar umas fotos minha. Você é um homem interessante. Me dá seu número? Qualquer dia te bato um fio. ” E faz aquele velho gesto simbólico e hoje anacrônico de curvar os dedos indicador, anelar e médio, levando a mão junto ao rosto, como se estivesse chamando de um aparelho direto, aqueles que existiram por décadas. Vocês sabem o que é um telefone direto?




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