Revista Ambiente Energia 04

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REVISTA

BNDES, nos últimos 12 anos, aprovou R$ 30,2 bilhões para renováveis pag. 5

Edição 01 - Ano 03 - Nº 04 - setembro/novembro - 2015 - R$ 15,90 - www.ambienteenergia.com.br

Meio Ambiente, Sustentabilidade e Inovação

Solar fotovoltaica:

estudo aponta os caminhos para destravar expansão da fonte pag. 9

Plano com nova roupagem

Crise de talentos

Negócios a favor dos ventos

Plano do governo mira foco para expansão de renováveis, que vão representar quase a metade da capacidade instalada nos próximos anos. pag. 8

Pesquisa da KPMG revela que setores de energia e recursos naturais vivem crise de talentos. Saída é planejar gestão de pessoas no longo prazo. pag. 6

Geração eólica segue rota de crescimento. Abeeólica projeta potência superior a 16,2 mil instalados até 2019, contra os atuais 7 mil MW. Pag 10

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REVISTA

EXPEDIENTE Revista Ambiente Energia Meio Ambiente, Sustentabilidade e Inovação Edição : Edição 01 - Ano 03 - Nº 04 - set./nov. - 2015 www.ambienteenergia.com.br Diretor Executivo: - Fabbio Vemgiz Lobo Redação: - Júlio Santos Programação Visual: - Alan Barros Normalização: - Fernanda Fonseca – CRB 7 5665 Gráfica: - Ideograf

EDITORIAL Apesar de parecer um plano com roupagem nova, o Programa de Investimento em Energia Elétrica (PIEE) tem como grande virtude orientar a expansão da matriz energética para os próximos anos. E o bom sinal vem com a maior presença das energias renováveis – eólica, biomassa e solar, que vão representar quase a metade da futura capacidade instalada. O plano traz este bom direcionamento, mas é importante não esquecer que ainda é preciso fazer muita lição de casa para chegar lá. Um exemplo é o que mostra um estudo feito pelo Senado Federal, apontando as barreiras a serem superadas para a entrada em larga escala da energia solar fotovoltaica no país.

Tiragem: 4.000 exemplares

São barreiras como falta de financiamento, ou de melhores condições; tributação; preço da energia; regulação etc. Aliás, todos comuns à geração eólica e a biomassa. Então, além de um bom planejamento, as renováveis precisam de muito trabalho ainda para terem um crescimento sustentado. Boa leitura!

* A Revista Ambiente Energia não se responsabiliza pelas opiniões emitidas pelos autores dos artigos publicados.

Fabbio Vemgiz Lobo Diretor Executivo do Grupo Ambiente Energia

Publicidade +55 21 3872 0355 comercial@ambienteenergia.com.br Atendimento ao leitor: sac@ambienteenergia.com.br

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SUMÁRIO

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AE NEGÓCIOS

Mais prazo para financiar eficiência energética

FINANCIAMENTO

INVESTIMENTO

Programa lançado pelo governo, com investimento de R$ 186 bilhões, tem virtude de direcionar foco para expansão da matriz

ENERGIA SOLAR / CAPA

Estudo do Senado mostra que para virar realidade solar fotovoltaica precisa remover uma série de barreiras

BNDES aprova R$ 30,2 bilhões para mais de 400 projetos de energia renovável

GESTÃO DE TALENTOS

Empresas dos setores de energia e recursos naturais passam por crise de talentos, aponta estudo da KPMG com altos-executivos de RH

NEGÓCIOS

GE fecha acordo para equipar parque eólico no Nordeste com turbinas de nova plataforma de 2 MW, que faz sua estreia no país

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GERAÇÃO EÓLICA

Com 7 mil MW instalados, eólica segue rota de crescimento. Projeção da Abeeólica é superar a marca de 16,2 mil MW até 2019

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AE NEGÓCIOS Eficiência com melhores condições

Cadastramento recorde

Além de assumir um nome novo, o Proesco do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está com melhores condições de financiamento. Agora chamada de BNDES Eficiência Energética, a linha flexibilizou o prazo de pagamento de acordo com o perfil de cada projeto ou conjunto de investimentos. Antes, o prazo estava limitado a 72 meses.

O segundo leilão de energia de reserva (LER), marcado para o dia 31 de novembro, cadastrou 1.379 projetos, que somam 38.917 MW de capacidade instalada. Foram registrados 730 projetos de geração eólica, com 17.964 MW, e 649 empreendimentos de energia solar fotovoltaica, com 20.953 MW.

Outra mudança foi no valor mínimo para as operações, que agora ficou em R$ 5 milhões, contra os R$ 20 milhões anteriores. Para atingir o valor mínimo, o cliente poderá agrupar investimentos em locais distintos na mesma operação. Agora, a linha está disponível para todas as empresas, além das Escos, para projetos de repotenciação de usinas; redes inteligentes; edificações - com foco em ar condicionado, iluminação e geração distribuída; e processos produtivos.

Brasil bem no ranking LEED O Brasil chegou à quarta posição no ranking dos países do US Green Building Council (USGBC) em termos de metragem quadrada construída e números de projetos certificados LEED. Com 24,5 milhões de m² de espaços LEED certificados e registrados, o país só fica atrás de China, Índia e Canadá. Por aqui, são 991 projetos registrados, contra 4,8 mil do Canadá; 2 mil da China; e 1,8 mil da Índia. Entre os quatro países, a exceção do Canadá, os demais compõem o Bric. O USGBC registra, por dia, 172 mil m² de espaços certificados com a ferramenta LEED. O levantamento não inclui, oficialmente, os Estados Unidos, maior mercado green do mundo, com 727,3 milhões de m² e 54 mil projetos.

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“Esse leilão bateu recorde de projetos inscritos, o que mostra o interesse crescente dos investidores por energias renováveis”, observou Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Entre os estados, a Bahia ficou na frente, com 435 empreendimentos das duas fontes, num total de 12 mil MW. Em segundo, veio o Rio Grande do Norte, com 281 projetos, que somam 7.648 MW.

Hidrelétricas com alta disponibilidade Apesar da crise hídrica que já vem desde outubro de 2012, nem todos os geradores tiveram um baixo desempenho. No ano passado, as usinas da CPFL Energia atingiram 97% de disponibilidade, contra a média nacional de 92,1%, de acordo com dados da Associação Brasileira das Empresas Geradoras de Energia Elétrica (Abrage).

A geradora obteve disponibilidade de 97,6% para as usinas com capacidade de 30 MW e 59,9 MW. Neste grupo, a média nacional ficou em 92,9%. No caso dos empreendimentos com 60 MW e 199,9 MW, a disponibilidade chegou a 96%, ante média de 90,2%. Entre os projetos com turbinas de 200 MW a 499,9 MW, o resultado da CPFL Energia foi de 97% e a média do setor, 91%. A CPFL Energia tem 3.119 mil MW instalados, dos quais 2 mil de usinas de grande porte.


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CRÉDITO

Financiamento para fontes alternativas em alta

Recursos do BNDES para eólicas, biomassa e PCHs atingem R$ 30,2 bilhões, entre 2003 e 2015, para instalação de projetos que somam 11.360 MW O volume de financiamento aprovado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o setor de geração de energia elétrica atingiu a marca de R$ 108,3 bilhões nos últimos 12 anos, para um investimento total estimado em R$ 181 bilhões. Os recursos se destinam a 514 projetos que somam capacidade instalada de 51.548 MW. Embora o segmento de hidrelétricas lidere as estatísticas, o volume de recursos para as fontes alternativas está em rota de evolução. Entre 2003 e até agora em 2015, o BNDES liberou para eólicas, biomassa e pequenas centrais hidrelétricas o valor de R$ 30,2 bilhões, num investimento total de R$ 49,6 bilhões para a implantação de 11.360 MW. Na lista de fontes alternativas, a geração eólica está em primeiro lugar, com R$ 18,7 bilhões em 273 projetos (7.031 MW) e volume total de investimento de R$ 32,3 bilhões. Entre 2011 e 2014, o volume de financiamento aprovado para a construção de novos parques eólicos saltou de R$ 3 bilhões para R$ 4,7 bilhões. O financiamento para as PCHs aparece em segundo lugar, com R$ 7,9 bilhões para 125 projetos (2.370 MW) que somam investimentos de R$ 12,5 bilhões. O segmento, no entanto,

Divulgação Alstom

registrou queda de R$ R$ 826,7 milhões, em 2011, para apenas R$ 30,6 milhões, no ano passado. Com financiamento de R$ 3,6 bilhões em 46 projetos (1.959 MW), a biomassa fica em terceiro. O investimento nos empreendimentos soma R$ 4,8 bilhões. Em 2013 e 2014, o segmento não teve financiamento para nenhum projeto. Este ano, até agora, as aprovações somam R$ 186,5 milhões. No período, as hidrelétricas totalizam financiamento de R$ 64,3 bilhões em 52 empreendimentos (33.609 MW), para investimentos totais de R$ 106,1 bilhões. Assim como as PCHs, o volume de recursos para usinas de maior porte vêm caindo: em 2012, foram R$ 27 bilhões. No ano passado, apenas R$ 450 milhões, num sinal claro de perda de espaço desta fonte na matriz.

Eficiência energética Se nas fontes alternativas o volume de recursos aumentou nos últimos anos puxado pela expansão das eólicas, na área de eficiência energética os números também têm sinal de alta. De 2006 até 2014, as aprovações de projetos somaram R$ 503,6 milhões em 25 projetos, com investimentos que chegam a R$ 759,7 milhões. O volume de financiamento em projetos de racionalização no uso de energia, incluído na linha Proesco - programa para a área de eficiência energética - passou de R$ 2,4 milhões, em 2007, para R$ 326,8 milhões, no ano passado, em uma fase de crescimento que vem desde 2010.

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GESTÃO DE PESSOAS

Crise de talentos

Estudo da KPMG mostra que apenas 15% das companhias dos setores de energia e recursos naturais, no mundo inteiro, recorrem a profissionais internos para a assumir cargos críticos Além de olhar para fora para acompanhar os concorrentes num mercado cada vez mais competitivo, as empresas precisam fazer uma lição de casa crucial para seus negócios: planejar a gestão de pessoas de forma estratégica e com uma visão de longo prazo. Uma pesquisa da KPMG revela que apenas 15% das companhias dos setores de energia e recursos naturais, no mundo inteiro, desenvolvem ou recorrem a profissionais internos para assumir cargos de maior relevância. O estudo deixa uma clara mensagem para as empresas: os dois setores enfrentam uma grande crise de talentos para assumir cargos críticos. Na prática, os setores de energia e de recursos naturais vivem ciclos de bonança, quando ocorre uma guerra de talentos devido à expansão dos negócios, e de crises, quando desmobilizam a força de trabalho. “Na baixa, as empresas se desmobilizam. Quando acontece a alta, precisam ir ao mercado em busca de profissionais, gerando uma guerra de talentos. Isso gera um custo alto para todos”, observa Patrícia Molino, sócia da KPMG da área de People and Change, numa referência ao que constatou o estudo “Quando uma crise encontra outrra: focando em talentos no longo prazo” (do inglês, When one crisis meets another: focusing on talent for the long term).

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Uma das recomendações do estudo, que entrevistou cerca de 2.500 alto-executivos dos setores de recursos humanos, gestão de talentos e da indústria de energia e recursos naturais, é que o item gestão de pessoas ganhe espaço na estratégia das empresas. “Estes segmentos, atualmente, estão à mercê de momentos de abundância de talentos, quando o que deveria ser feito pelas empresas é a identificação da necessidade de profissionais qualificados em longo prazo. Um dos principais desafios para que isso aconteça é colocar a gestão de talentos como prioridade na pauta dos líderes”, analisa Patrícia. Gargalos na gestão de pessoas

A influência do governo, política de conteúdo local, ruptura tecnológica e a falta de um planejamento estratégico de longo prazo nas empresas são apontados pelo estudo como os principais gargalos a serem superados. Como solução, a pesquisa aponta cinco estratégias de gestão de talentos que as empresas podem adotar

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para mitigar este cenário de crise. A relação inclui definir um planejamento estratégico para a força de trabalho; tirar maior proveito possível das análises de dados; gerenciar os profissionais terceirizados de maneira eficiente; proteger o conhecimento; e repensar a proposição de valor aos empregados. Além do planejamento de longo prazo, faltam em muitas empresas iniciativas para atrair e reter esses novos talentos, revelou o estudo. A pesquisa apontou ainda que as companhias precisam de uma abordagem proativa e de uma proposta de valor para os funcionários mais jovens. Programas que ofereçam bolsas de estudo, estágios e incentivos não monetários podem ser uma boa saída para retenção desses profissionais. Leia mais sobre a pesquisa em: http://www.kpmg.com/ Global/en/IssuesAndInsights/ ArticlesPublications/Documents/ when-one-crisis-meets-anotherfocusing-talent-long-term-v2.pdf


GERAÇÃO EÓLICA

Nova plataforma de aerogeradores

GE fecha acordo com Casa dos Ventos para equipar parque eólico no Nordeste com 156 turbinas de nova plataforma de 2 MW. Fabricante amplia produção em 30% operação comercial em abril de 2017, vai combinar o uso de 74 turbinas do modelo 2.3.107 e 82 do modelo 2.3-116.

Jean-Claude Robert, da GE: trabalho para aumentar produção em 30%

O parque eólico Ventos do Araripe III, que a Casa dos Ventos está construindo no Nordeste, contará com a nova plataforma de turbinas inteligentes e modulares da GE de 2 MW. Com 360 MW de capacidade instalada, a usina terá um total de 156 turbinas. As duas empresas anunciaram o acordo, que também inclui um contrato de dez anos para operações e manutenção, no mês de agosto. Esta e a primeira vez que a fabricante que várias unidades da recém-lançada plataforma será adotada no país. O empreendimento da Casa dos Ventos, previsto para entrar em

“A nova plataforma de 2 MW usa a mesma machine head para turbinas de 2.3-107 e 2.3-116, e estamos ansiosos para ver estas turbinas estrearem no Brasil em um projeto eólico de grande porte como este”, comentou Anne McEntee, presidente e CEO do negócio de energia renovável da GE. O parque Ventos do Araripe III, localizado no Piauí e em Pernambuco, é um dos cinco empreendimentos que a Casa dos Ventos vai implantar entre 2015 e 2017 no Nordeste, num total de 1.097 MW. “A energia eólica tem um enorme potencial nesta região e está se tornando um fator importante para ajudar o Brasil a expandir de forma eficiente o seu fornecimento de energia com tecnologia renovável”, destaca Virna Araripe, diretora da Casa dos Ventos, que desenvolveu cerca de 30% de todos os empreendimentos eólicos em

construção ou em operação no país. Mais capacidade de produção Enquanto comemora a instalação em série dessa nova plataforma por aqui, a GE trabalha para aumentar sua capacidade de produção de aerogeradores. O desenvolvimento da cadeia de fornecedores permitirá que a empresa produza 500 máquinas, por ano, na fábrica de aerogeradores, em Campinas (SP). Segundo a empresa, a capacidade anterior da unidade fabril era de 400 máquinas/ano. Com este aumento de 30% na sua capacidade de produção, a fabricante, por exemplo, terá como adicionar anualmente mais de um GW ao grid, o que representa metade da capacidade eólica contratada nos leilões de energia realizados em 2014 (2,2 GW). “Apostamos no desenvolvimento da energia eólica desde antes do primeiro leilão de energia eólica no Brasil e continuaremos a acreditar na importância desta fonte para a maior estabilidade do sistema energético do Brasil”, comenta Jean-Claude Robert, líder de da divisão de Energias Renováveis da GE para América Latina.

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EXPANSÃO DA MATRIZ

Plano com nova roupagem

Programa lançado pelo governo, com investimento previsto de R$ 186 bilhões, tem virtude de definir foco para o setor elétrico nos próximos anos. Renováveis ganham força Depois de anunciar o desligamento das termelétricas e indicar um plano para reduzir as elevadas tarifas, o governo anunciou o Programa de Investimento em Energia Elétrica (PIEE), que prevê investimentos de R$ 186 bilhões. Do total, R$ 116 bilhões serão destinados à contratação, por meio de leilões, de obras de geração e R$ 70 bilhões em linhas de transmissão.

foco do governo para os próximos anos. “É um plano necessário para servir de guia para o mercado de fornecedores, empreendedores e gestores do setor”, avalia JeanPaul Prates, diretor do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne).

O plano do governo prevê um acréscimo entre 25 mil e 31,5 mil MW de capacidade instalada nos próximos anos, com investimento de R$ 42 bilhões até 2018 e R$ 74 bilhões depois desta data. Quase a metade da potência prevista ficará por conta da expansão das fontes renováveis - eólica, biomassa e solar -, entre 10 mil MW e 14 mil MW.

No caso da geração eólica, o plano projeta entre 4 mil MW e 6 mil MW a mais de capacidade instalada. A expansão prevista para solar fica entre 3,5 mil MW e 4,5 mil MW, enquanto o avanço das usinas à biomassa é de 2,5 mil MW a 3 mil MW. As térmicas à combustíveis fósseis terão aumento de 3 mil MW a 5 mil MW. As hidrelétricas terão o domínio, com o acréscimo de 11 mil MW, além de 1 mil MW a 1,5 mil MW de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs).

Embora o mercado tenha se manifestado favorável ao plano, na prática, não há novidade. Na verdade, o documento procura atualizar e direcionar o que será o

Com baixo volume de encomendas desde a edição, em 2012, da Medida Provisória 579, os fabricantes vêem no plano a

Sinal para a indústria

oportunidade de retomar o ritmo dos negócios. No primeiro semestre deste ano, a área de GTD da Associação Brasileira da Indústria Eletroeletrônica (Abinee) registrou retração de 12%. “Esta sinalização do governo é positiva e os investimentos podem representar verdadeiras alavancas para que o país possa superar o atual momento de dificuldades”, comenta Humberto Barbato, presidente da Abinee, que destaca o foco do PIEE no desenvolvimento das energias renováveis. Se deu um bom sinal para a expansão, o plano sequer faz menção ao combate ao desperdício de energia, que, de acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco), atinge a marca de 52 mil GWh. O valor equivale a uma economia de 17 mil MW. A expectativa da Abesco é que a eficiência energética seja levada em conta numa segunda etapa do programa.

O plano em números

Investimento total: - R$ 186 bilhões Geração: - R$ 116 bilhões Capacidade: - Entre 25 mil e 31,5 mil MW Transmissão: - R$ 70 bilhões Extensão: - 36.700 quilômetros

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ENERGIA SOLAR

Solar: hora de remover as barreiras

Estudo do Senado aponta os entraves que precisam ser removidos para garantir o desenvolvimento da energia fotovoltaica nos próximos anos Com um invejável nível de irradiação na maior parte do seu território, o país tem tudo para dar um salto no uso da geração solar fotovoltaica nos próximos anos. As projeções, pelo menos, não deixam dúvidas sobre o potencial. O Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) estima para 2023 uma capacidade instalada de 3,5 mil MWp (548 MW médios), contra os 19 MWp outorgados hoje. Os números do plano elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) animam mais ainda quando projetam para daqui a oito anos que o país terá 140 mil consumidores residenciais e 21 mil comerciais usando a geração fotovoltaica, na evolução da mini e microgeração. Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), em março deste ano, existiam apenas 500 projetos desta fonte enquadrados nas regras da Resolução 482, num total de 5.445 kW instalados. Embora as oportunidades sejam inúmeras em função do aumento de escala e queda do custo desta tecnologia, ainda existem muitas barreiras institucionais e tributárias para o desenvolvimento da fonte solar por aqui, como aponta o estudo “Energia solar no Brasil: dos incentivos aos desafios”, elaborado por Rutelly Marques da Silva, analista do Núcleo de Estudos e Pesquisas da Consultoria Legislativa do Senado.

Foco da regulação

forma equilibrada.

De acordo com a análise, a regulação deve focar sobre quatro pontos principais: corrigir falhas de mercado, imperfeições e distorções, nos aspectos econômico e social; produzir resultado líquido positivo; optar pela alternativa que maximize o ganho da sociedade; e ter fundamento jurídico robusto a fim de evitar incertezas e custos à sociedade provenientes de questionamentos judiciais. “A estabilidade regulatória e a redução das incertezas no setor elétrico contribuirão para que os investidores decidam por alocar recursos na fonte solar, de forma centralizada ou distribuída”, aponta Rutelly, para quem o país não precisará criar um arcabouço legal específico para estimular o desenvolvimento dessa fonte energética. O autor defende ainda que o incremento da geração solar aconteça junto com a valorização de outras energias alternativas e de

Além do financiamento para garantir uso em maior escala da mini e microgeração solar fotovoltaica, uma grande barreira envolve a incidência de ICMS para a energia injetada na rede. Rutelly aponta três caminhos para o equacionamento deste item: que cada estado aprove uma lei estadual; que eles, por meio do Confaz, aprovem uma regra única; ou que a União altere a Lei Complementar nº 87, de 13 de setembro de 1996. O autor do estudo propõe também uma série de mudanças legislativas para estimular o desenvolvimento da geração solar. Uma das propostas é usar o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para a compra de equipamentos de energia solar para geração distribuída. Veja a íntegra do estudo em: http://bit.ly/sbrh

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GERAÇÃO EÓLICA

Negócios a favor dos ventos

País já tem 281 usinas eólicas em operação, com 7 mil MW instalados, sendo a maior parte na região Nordeste. Abeeólica projeta para 2019 base instalada de 16,2 mil MW Com um acréscimo médio anual de capacidade instalada da ordem de 2,5 mil MW, a geração eólica abriu, nos últimos anos, terreno para uma expansão em larga escala. Até 2019, a projeção da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica) é chegar à marca de 16,2 mil MW instalados, contra os 9,6 mil previstos para este ano. No ano passado, a base instalada fechou com 5,9 mil MW, com investimentos de US$ 6,19 bilhões.

o Nordeste ao possibilitar um encadeamento produtivo com a atração de empresas fabricantes de equipamentos, como de aerogeradores, pás, nacelles e torres”, observa Luziene Dantas de Macedo, economista e professora

“As eólicas, não por decisão de governo, mas por mera coincidência, entraram no tempo certo. O caminho está livre para que o seu crescimento seja ainda maior”, comenta Elbia Silva Gannoum, presidente da Abeeólica, que contabiliza, atualmente, 281 usinas eólicas instaladas no país, com potência total de 7 mil MW e capacidade de construção de 10,7 mil MW. A maior parte dos parques em operação hoje, de acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), está no Nordeste, região na qual os estados têm se mobilizado para definir políticas públicas para atração de novos investimentos. Com destaques para o Rio Grande do Norte, Bahia e Ceará, a região tem 195 usinas em operação, além de outras 96 em construção e outras 306 com as obras não iniciadas. “Os parques eólicos vêm ganhando importância para

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do Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), autora de tese de doutorado sobre a geração eólica no Nordeste. Este encadeamento produtivo não acontece no Rio Grande do Norte (o foco principal do trabalho), apesar de o estado ter hoje, segundo a Aneel, 80 usinas eólicas instaladas, num total de 2.216 MW, 23 em construção (624 MW) e 72 com obras não iniciadas (2.434 MW). Para Luziene, o estado concentra poucos elos da cadeia produtiva. Para a economista, a principal razão para isso, é que os fabricantes de equipamentos se concentram nos estados vizinhos, que oferecem uma boa escala de produção por conta da infraestrutura já montada, como os portos de Suape (PE) e de Pecém (CE), e uma sincronia com várias indústrias de outros segmentos. Sem contar que outros estados têm oferecido incentivos financeiros, fiscais, ajuda no licenciamento ambiental e infraestrutura. A força do Nordeste para a geração eólica no país não deixa dúvidas. Entre 2009 e junho de 2014, lembra a professora, a região participou dos 11 leilões realizados pelo governo. Nos certames, foram contratados 406 empreendimentos, que somaram potência total de 10.491 MW, número que representa 85,3% da capacidade eólica contratada.


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