/editorial
Seja bem-vindo À R E V I S TA M I S S ÃO S A LVATO R I A N A ! Em versão especial online, esta edição apresenta a Vocação Salvatoriana em suas etapas de formação, com testemunhos que abordam o que é a vocação e experiências dessa vivência. Também aborda a vocação de Pe. Jordan, apresentando, em três movimentos, a vida de nosso fundador. No caderno ‘Missões’, conheça o trabalho realizado na zona leste de São Paulo e, no caderno ‘Conheça uma Comunidade’, confira a história da Sede Provincial.
/sumário /3 Palavra do Provincial /4 Pe. Jordan /7 Educação /11 Juventude /13 Principal /16 Social /17 Comunicação /18 Espiritualidade /19 Missões /20 Comunidades /22 Salvatorianos /23 Infantil
/expediente
Saiba mais sobre o conceito “juventudes”, termo apresentado no artigo Projeto de Vida e Juventude, da Dra Sara Almeida. Confira o artigo Conversa sobre o suicídio, da Ir. Maria Cleonice dos Santos, que faz uma relação com o panorama atual da pandemia do coronavírus. No caderno ‘Espiritualidade’, leia sobre a Bem-aventurada Maria dos Apóstolos. E, no caderno ‘Educação’, confira o artigo A missão do pai na educação dos filhos. Veja, ainda, o testemunho de Pe. Nelson, em seus 40 anos de vida religiosa e, ainda, conheça os membros à frente da nova Equipe de Comunicação da Província. Desejamos uma ótima leitura!
Provincial: Pe. Francisco Sydney Macêdo Gonçalves, SDS Editor: Pe. Carlos Jobed Malaquias Saraiva, SDS As matérias não assinadas são de responsabilidade do editor
SUGESTÃO DE CONTÉUDO redação@agenciaarcanjo.com.br www.agenciaarcanjo.com.br facebook.com/agenciaarcanjo 47 3227-6640
EDIÇÃO Aline F S Oliveira DIAGRAMAÇÃO Giovana Melo REVISÃO Luísa Borges
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/palavra do provincial
Querido Leitor, Na edição passada comentava que, a partir deste número, partilharia especificamente quatro textos bíblicos que inspiraram Pe. Francisco Jordan em sua grande e nobre missão de fundar, o que chamamos hoje, de Família Salvatoriana. Apresentarei, brevemente, o caminho que ele fez para chegar aos textos bíblicos. Nós, salvatorianos, temos algo muito precioso, que é uma coleção de quatro pequenos cadernos que, depois de unificados, passaram a se chamar Diário Espiritual do Pe. Francisco Jordan. Nestes cadernos, ele escrevia aquilo que era fruto das suas orações. Podemos dizer que contém suas inquietações, propósitos e revelam, também a profundidade de sua relação com Deus. Na realidade, não era intenção do Pe. Francisco Jordan que esse material fosse publicado, porque se tratava de algo muito pessoal. Devido à importância desses textos e, para conhecermos melhor o nosso fundador, foi traduzido este belo material para várias línguas. Pe. Francisco Jordan era conhecido pelos seus dons para línguas estrangeiras, por isso, escreveu o seu diário em 14 idiomas. Os seus escritos têm ajudado outras pessoas a fazerem a experiência com Deus. Pe. Francisco Jordan começa a escrever o seu diário quando estava com 27 anos e iniciava o curso de Filologia e Teologia na Universidade de Fraiburgo, Alemanha. Ele inicia escrevendo o lema de Santo Inácio de Loyola, fundador dos padres Jesuítas, “Para a maior glória de Deus” e acrescenta ao pensamento de Santo Inácio, algo que será muito caro para toda a sua vida “e para a salvação das almas”. Esta foi sempre a grande preocupação do Pe. Francisco Jordan: a salvação das almas. Encontramos, em muitas partes do seu diário espiritual, o desejo e sonho de que a humanidade possa conhecer, no sentido de fazer a experiência concreta com Jesus Cristo, o nosso Divino Salvador. Em 1878, Pe. Francisco Jordan vai encontrando uma série de dificuldades e, é justamente nesses momentos, que ele sente ainda mais a presença de Deus. Chega a escrever em seu Diário Espiritual: “Aconselha-te diariamente, em horário apropriado, com o bom Deus! Pede-lhe que te ilumine, a fim de que realizes a sua santíssima vontade, e para que ele seja conhecido e amado por todos” (DE I 59,5). Podemos dizer que, essa partilha apresentada pelo Pe. Francisco Jordan, já vai dando indícios que Deus o chamava para algo muito especial. Encontramos aqui, uma palavra que se tornará frequente no seu Diário: justamente a palavra “Todos”. Ele não quer que ninguém fique de fora e que a salvação trazida por Jesus possa chegar a todos os confins do mundo. Encontramos, ainda no de 1878, uma citação do Pe. Francisco Jordan a qual consideramos central para entendermos o carisma salvatoriano: “A vida eterna é esta: que eles te conheçam a ti, o Deus único e verdadeiro e aquele que enviaste Jesus Cristo” (Jo 17,3). E, é com esta citação bíblica, que iremos iniciar a reflexão na próxima edição da nossa revista. Pe. Francisco Sydney de Macêdo Gonçalves, sds Diretor Provincial
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/Pe. Jordan
Viver a vida como missão A CAMINHADA VOCACIONAL DE FRANCISCO JORDAN Pe. Milton Zonta, sds
Creio que muitos conheçam este pequeno poema de Cora Coralina: “O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher.” Para mim, este poema é a melhor ilustração do que foi a trajetória vocacional apostólica de Francisco Jordan, nosso Pai Espiritual e fundador da Família Salvatoriana. Igual a todos os seres humanos, Francisco Jordan construiu sua vida, delineou seu apostolado, cresceu em santidade, passo a passo, lentamente... “como a luz da manhã que caminha e cresce em direção à plenitude do dia” (DE I 54). Pois, de fato, a resposta da vocação de cada um de nós, não termina com a juventude, mas é algo que precisa ser buscado ao longo de toda nossa existência. Desde esta perspectiva, gostaria de abordar resumidamente o itinerário vocacional vivido por Francisco Jordan, até se tornar um apóstolo que abraçou o mundo. A grande originalidade da sua história vocacional não se manifesta tão somente na sua obra exterior, isto é, a fundação de sua obra apostólica. Mas, fundamentalmente, em seu “mundo interior”, revelando que é ali, no segredo da alma, onde acontece o mais importante e decisivo passo para o futuro de cada pessoa. Atrevo-me, portanto, indicar aqui três movimentos que tiveram impacto decisivo na caminhada vocacional de nosso fundador e são fonte de inspiração para quem busca viver com profundidade sua missão hoje.
PRIMEIRO MOVIMENTO: DA LEITURA DO TEXTO À LEITURA DE SI MESMO. Entre as inúmeras mediações pelas quais Deus irrompe na vida de Francisco Jordan, sem dúvida alguma, foi a leitura da história dos santos(as) de fundamental significado. Conhecer a vida de pessoas exemplares foi, para ele, a primeira porta de acesso ao mistério de Deus, que chama todos a uma vida nova, de comunhão e de serviço. A vida de alguns santos e personagens da Igreja primitiva o impressionou tanto, que leu repetidas vezes, por exemplo, a história de São Vicente de Paulo, Santo
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Inácio, Santa Catarina, São Gregório e tantos outros. Lentamente, Francisco Jordan foi se afeiçoando aos diversos modos como Deus chama e, ao mesmo tempo, admirando-se sobre como essas pessoas foram capazes de superar incontáveis resistências, medos e debilidades para viver a vida como missão. Junto a isto, durante seus estudos de teologia, aprendeu através da leitura orante a meditar com mais profundidade a vocação e missão de personagens bíblicos como, por exemplo, Abraão, Elias, João Batista, Paulo e tantos outros. “Contempla tudo à luz da fé – escreveu ele em seu caderno – Todo o teu pensar, falar e agir seja motivado neste sentido!” (DE I 136).
/Pe. Jordan Como se pode observar, este foi o primeiro movimento na vida que o jovem fundador experimenta em seu interior. Uma passagem do “texto escrito” ao “texto da vida”. Ou, como ele mesmo deixa transparecer, foi a passagem da “leitura do texto” à “leitura de si mesmo”: “Fala Senhor, teu pobre servo escuta! (...) Faz de mim o que quiseres! Senhor, aconteça o que e como tu quiseres. Fala, Senhor! Senhor, fala!” (DE I 146). Nesta e em outras semelhantes anotações, faz notar o seu desejo de construir a vida sobre as pegadas dos santos e santas de Deus. Com a ajuda de religiosos, ele iniciou uma leitura atenta e centrada da ação de Deus em sua vida, algo que lhe preenchia de sentido e de entusiasmo para executála. “Ó Jesus, tu dás o querer e o realizar. Vê, eu confio tudo a Ti. Faze com que tudo aconteça para a tua glória. Amém!” (DE I 119). O que ele pretendia então, nada mais era que, colocar-se em caminho e identificar-se sempre mais com as palavras e os gestos de Jesus, a exemplo dos santos.
apostólica para a qual se sentia chamado. Assim anotou em seu caderno: “executa a obra planejada para a glória de Deus e a salvação das almas” (DE I 130). Como as águas de um riacho, que se deixam conduzir em direção às profundidades do grande oceano, Francisco Jordan respondeu com humildade e decisão à voz do Espírito de Deus. A generosidade de seu coração se expande sempre mais e sua vocação apostólica se abre a uma dimensão universal.
SEGUNDO MOVIMENTO: DAS ÁGUAS DO RIACHO À PROFUNDIDADE DO MAR. Posteriormente, o caminho interior de Francisco Jordan alcança um outro patamar de buscas e respostas, diferente de antes. Ele não somente sente-se chamado a ser um presbítero, mas também de contribuir com algo grande para responder aos desafios da missão evangelizadora da Igreja de seu tempo. Ainda como estudante, participou da efervescência das mudanças e movimentos eclesiais que buscavam respostas a uma vida de fé mais profunda e comprometida. Nesse tempo, nasceu nele o chamado a iniciar “uma Sociedade Católica de clérigos e operários na vinha do Senhor, entre todos os povos” (DE I 124). No fundo do seu coração, o que ele meditava, acolhia, rezava e buscava, era estar seguro de que provinha mesmo de Deus, aquele chamado de ir mar adentro. Naquele tempo, Francisco Jordan foi enviado a Roma para aprofundar seus conhecimentos de teologia e de idiomas orientais. Mais que uma mudança geográfica, este foi um tempo de discernimento interior, até sentirse confirmado em dar um passo mais exigente e profundo: lançar-se rumo à aventura de fundar uma obra
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“As grandes obras florescem à sombra da cruz!”
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/Pe. Jordan a caridade de Cristo inspira…” (Regras 1886). Entendo, portanto, que com a maturidade e a experiência de enviar os primeiros missionários(as) a evangelizar nas periferias do mundo, Francisco Jordan foi ratificando sua vocação de vincular, formar, envolver outros povos e culturas em seu movimento apostólico. Sentia-se chamado a “somar forças” com pessoas de diferentes estados de vida, mas que este movimento estivesse fundamentado em uma espiritualidade de cooperação, de abertura e inclusão criativa. Neste sentido, o espírito de universalidade de Francisco Jordan se revela como um dom de Deus e um importante critério em nosso modo de participar da missão apostólica da Igreja, como sacramento de salvação: “Procurem conhecer as boas qualidades de cada povo. Esforcem-se para despertar em vocês o interesse por todos os povos. E vocês encontrarão muita coisa boa em povos que, antes, vocês encaravam com preconceitos... Em toda parte, pensem sempre, estes são meus irmãos (...), não importando a nação a que pertençam, ou como quer que se chamem” (Alocuções,1899). TERCEIRO MOVIMENTO: DA P E R S P E C T I VA DA P E R I F E R I A À VISÃO UNIVERSAL. Depois de transferir-se à cidade de Roma e, posteriormente, em sua breve estadia na Terra Santa, o que sucede na vida de Francisco Jordan é muito mais que um simples se deslocar de um lugar a outro. O contato com pessoas de diferentes continentes, de distintas religiões e outras culturas, fez abrir diante de seus olhos uma outra dimensão importante. Ele se torna mais consciente que sua obra apostólica precisa tomar em conta a vida, a experiência, a mentalidade e o contexto cultural das pessoas e dos lugares. Trata-se, pois, de uma passagem não tão evidente como as anteriores, mas creio sim que, neste período, Francisco Jordan compreende que os meios de fazer apostolado não podem ser predeterminados. Ou seja, torna-se para ele um critério decisivo que os meios de evangelizar precisam ser continuamente discernidos à luz da caridade de Cristo em cada situação e lugar. Por isso, recomendou como uma regra fundamental: “sirvam-se, atenta e sabiamente no Senhor, do exemplo, da palavra e dos escritos, de todos os modos e meios que
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CONCLUINDO... Que bonita é a existência de uma pessoa que compreende que Deus a está chamando continuamente! O caminho vocacional de Francisco Jordan nos faz entender que nossa missão se aprofunda nas diferentes etapas da vida. A história vocacional do fundador, nos convida a viver atentos aos acontecimentos, obedientes à ação do Espírito de Deus na cotidianidade e na alegria de servir. As grandes obras são feitas juntamente com Deus, apoiados por sua graça e benevolência. Sozinhos, não faríamos nada além de coisas medíocres e destinadas a não durar. Temos um potencial maravilhoso se nos dispomos a escutar a voz de Deus, através de um caminho de crescimento, de abertura e de profundidade. Toda vocação é um chamado “pessoal” ao extraordinário. O maior inimigo, nesse caso, é precisamente a mediocridade, fazer coisas sem entusiasmo, sem nenhum sentido evangélico. Por isso tudo, a caminhada vocacional de Francisco Jordan nos inspira, nos explica e nos faz ver toda a beleza de uma vida elevada, sublime e preciosa aos olhos de Deus.
/Educação
Missão do pai na educação dos filhos Evandro Grioles, Diretor Pedagógico Colégio Divino Salvador – Jundiaí/SP
Estávamos no início do ano de 1989, tinha acabado de nascer nossa segunda filha, a Cecília, enquanto Marília acabara de completar 4 anos. Eu e minha esposa Maristela, muito preocupados em formá-las segundo os nossos valores e, já sentindo as dificuldades que essa tarefa demanda, procuramos o Pe. Renato para que nos dirigisse uma palavra ou, nos indicasse alguma literatura, enfim, alguma fórmula para que fôssemos bem-sucedidos na tarefa de educar nossas filhas. Ele, sacerdote experiente e muito querido de todos aqui em nossa paróquia, nos olhou com aquele olhar fraternal, fez uma pausa e nos disse: “Amem-se”. E, nada mais acrescentou. Foi engraçada nossa reação, minha e de minha esposa. Trocamos um olhar de surpresa e sentimos que a resposta estava naquelas poucas palavras, mesmo que sem condições de exprimi-las com explicações ou mais palavras. Hoje, após 36 anos de casamento, onze gestações e quatro filhos - além das já mencionadas, temos a alegria de ter conosco a Julia e o André; os demais, acreditamos que os veremos quando Deus assim nos permitir -, também recebemos a graça de duas netas, a Olivia e a Malu. Eu sei, são muitas mulheres! Quando nos solicitaram para escrever sobre a importância do pai na educação de seus filhos, essa passagem rapidamente surgiu na memória, pelo significado e importância que teve, e ainda tem em nossas vidas. Sou educador desde 1980, licenciado em biologia e pedagogo, exerci o magistério em sala de aula por trinta anos, somamos a isso, oito anos na coordenação pedagógica e, mais dois, na direção do Colégio Divino Salvador em Jundiaí. Essa trajetória deveria dar condições tranquilas para responder tal indagação: qual a missão
do pai na educação dos filhos, porém, pelas experiencias brevemente descritas, creio que o caminho não passa somente pelo intelecto, ou seja, não passa unicamente por informações adquiridas em um “curso preparatório para pais” ou, simplesmente pela leitura dos bons livros que capacitados psicólogos e sacerdotes escreveram sobre o assunto. Hoje, para responder tal indagação, creio que temos que levar em conta toda a trajetória de nossa relação com a vida. Nossa vida e a de nossos filhos. Nossa experiencia abre essa resposta para além do que se entende por educação formal, nos atrevemos a convidá-los a buscar uma resposta a partir das inúmeras experiencias de casados, pais e a de uma cuidadosa e permanente formação religiosa. Inicialmente, eu diria que nós homens/pais, começamos a educar nossos filhos bem antes de tê-los, quando nos enamoramos de nossa futura esposa, um namoro cultivado nos valores da amizade, do respeito, da honestidade, da temperança e do autocontrole. É lógico que temos nossos impulsos e que não podem ser simplesmente negados, principalmente os impulsos sexuais, aprender a partilhar o enfrentamento dessas necessidades durante o namoro com respeito e com o olhar no futuro, trará ao homem experiências por demais significativas que, ao serem partilhadas no futuro com os filhos e filhas, os ajudará a serem livres, fortes e saudáveis emocionalmente.
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/Educação
Com essa experiencia de namoro, podemos entrar no matrimônio somando aprendizagens, construindo juntos nossa relação, atentos à história que Deus nos proporciona. Logo de início, em nossa vida de casados, nos depararemos, de imediato, com um embate entre “nossos planos” e a “vontade de Deus”. Como conduziremos o controle da natalidade, afinal de contas, está implícito em um matrimonio cristão, os filhos. Quantos? Quando? Quais fatores determinarão essas decisões? Quem tem maior peso nelas? O homem? A mulher? Ambos? Percebe quanta aprendizagem, quanto discernimento será necessário para tais decisões? A educação dos filhos, mesmo que ainda não tenham nascido, passará por aí. Quando então vierem, sentirão os reflexos desses momentos, dessa história partilhada, das opções que livremente fizermos, de nossa experiência com a história que Deus nos reserva. Enfim, os filhos. Eu, pai. Que papel tenho nesta história? Quantos vezes já ouvimos que o pai é a “cabeça” do casal, é a estabilidade do lar, a segurança da família? “Se a cabeça não funciona, o corpo padece”. São frases com significados construtivos do papel do pai na família, contudo, deve-se ter o cuidado de excluir o viés da dominação autoritária, que alguns ainda insistem em manter, e que prejudica a relação do casal e dos demais integrantes da família. Entendo que ao pai, não é dado o luxo de viver para si e, somente quem tem muita liberdade e confiança em Deus pode viver tal experiência, como Cristo: “Pai, se queres afasta de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua”. Um pai, ciente de sua missão, não descuida de sua própria aprendizagem, participando e sendo educados permanentemente em 8
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nossa comunidade religiosa, seja na paróquia ou nos movimentos, participando dos sacramentos e das datas litúrgicas. Desta forma, estamos educando nossos filhos. Eles nos observam. O matrimônio assumido é um sacramento de serviço ao outro: à esposa, aos filhos, à vida. É uma entrega cotidiana ao que a vida nos reserva, o “Pão nosso de cada dia”, ter a experiência de enfrentar as dificuldades de todas as ordens com esperança e, apoiados na providência, nos dá experiências que, partilhadas, nos ajudam a cumprir nossa missão paterna, a de preparar nossos filhos e filhas para enfrentarem o mundo. E, aqui, nos deparamos com outra dúvida: quais valores apresentaremos a eles? Quais valores defenderemos? Precisamos ter muito cuidado e atenção, uma vez que somente falar de valores não surte um efeito tão significativo como viver esses valores. Nossos filhos são os expectadores desses comportamentos. Prego a paz, os valores cristãos, mas em minhas postagens destilo ataques violentos aos que pensam diferente. Prego a honestidade e justiça, mas minha declaração de imposto de renda é testemunha das manobras ilícitas que faço. Frequento a eucaristia semanalmente, mas em casa tenho um comportamento distante, ausente e até indiferente com todos. Adaptando o que nos lembra São Francisco: “educar o tempo todo se necessário com palavras”. Quem já teve contato com a “Carta a Diogneto”, que descreve como viviam os cristãos dos primeiros séculos, sabe a complexidade da missão que temos de estarmos no mundo, porém, não sermos do mundo. Nossos filhos deverão saber. Abaixo, reproduzo dois parágrafos:
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“Os cristãos não se distinguem dos demais homens, nem pela terra, nem pela língua, nem pelos costumes. Nem, em parte alguma, habitam cidades peculiares, nem usam alguma língua distinta, nem vivem uma vida de natureza singular. Nem uma doutrina desta natureza deve a sua descoberta à invenção ou conjectura de homens de espírito irrequieto, nem defendem, como alguns, uma doutrina humana. Habitando cidades Gregas e Bárbaras, conforme coube em sorte a cada um, e seguindo os usos e costumes das regiões, no vestuário, no regime alimentar e no resto da vida, revelam unanimemente uma maravilhosa e paradoxal constituição no seu regime de vida políticosocial. Habitam pátrias próprias, mas como peregrinos: participam de tudo, como cidadãos, e tudo sofrem como estrangeiros. Toda a terra estrangeira é para eles uma pátria e toda a pátria uma terra estrangeira. Casam como todos e geram filhos, mas não abandonam à violência os recém-nascidos. Servem-se da mesma mesa, mas não do mesmo leito. Encontram-se na carne, mas não vivem segundo a carne. Moram na terra e são regidos pelo céu. Obedecem às leis estabelecidas e superam as leis com as próprias vidas. Amam todos e por todos são perseguidos. Não são reconhecidos, mas são condenados à morte; são condenados à morte e ganham a vida. São pobres, mas enriquecem muita gente; de tudo carecem, mas em tudo
abundam. São desonrados, e nas desonras são glorificados; injuriados, são também justificados. Insultados, bendizem; ultrajados, prestam as devidas honras. Fazendo o bem, são punidos como maus; fustigados, alegram-se, como se recebessem a vida. São hostilizados pelos Judeus como estrangeiros; são perseguidos pelos Gregos, e os que os odeiam não sabem dizer a causa do ódio. Numa palavra, o que a alma é no corpo, isso são os cristãos no mundo. A alma está em todos os membros do corpo e os cristãos em todas as cidades do mundo. A alma habita no corpo, não é, contudo, do corpo; também os cristãos, se habitam no mundo, não são do mundo. A alma invisível vela no corpo visível; também os cristãos sabem que estão neste mundo, mas a sua religião permanece invisível. A carne odeia a alma, e, apesar de não a ter ofendido em nada, faz-lhe guerra, só porque se lhe opõe a que se entregue aos prazeres; da mesma forma, o mundo odeia os cristãos que não lhe fazem nenhum mal, porque se opõem aos seus prazeres. A alma ama a carne, que a odeia, e os seus membros; também os cristãos amam os que os odeiam. A alma está encerrada no corpo, é, todavia, ela que sustém o corpo; também os cristãos se encontram retidos no mundo como em cárcere, mas são eles que sustêm o mundo. A alma imortal habita numa tenda mortal; também os cristãos habitam em tendas mortais, esperando a
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/Educação
incorrupção nos céus. Provada pela fome e pela sede, a alma vai-se melhorando; também os cristãos, fustigados dia-a-dia, mais se vão multiplicando. Deus pô-los numa tal situação, que lhes não é permitido evadir-se.” Da Carta a Diogneto- 120 d.C (aprox..) Maravilhosa, não? Entende o que queremos dizer quando afirmamos que a missão do pai é preparar nossos filhos e filhas para o mundo? Esses são, acredito, os valores a serem perseguidos. Primeiramente vividos por nós, pais, e, para isso, não podemos nos descuidar de nossa caminhada, de nossa aprendizagem, para podermos expressar com nossas vidas as mesmas palavras de Jó sobre a ação de Deus em sua história: “ Antes eu te
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conhecia só por ouvir falar, mas agora eu te vejo com os meus próprios olhos” . Um filho ou filha enxergará a presença de Deus por intermédio de seus pais. Do pai que soube educá-los para viver o grande mandamento: “o amor a Deus de todo o coração de toda a alma e de todo o entendimento e ao próximo como a si mesmo”. Que sabedoria! Educar exercitando o amor, a Deus e ao próximo. Um pai zeloso com sua formação e, que procura amar sua esposa na dimensão que Cristo nos amou, cumpre sua missão de educar seus filhos. Sua bênção, Pe. Renato!
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/juventude
Projeto de Vida e Juventude Sara Guerra Carvalho de Almeida Psicóloga (CRP 11/07126) Doutora em psicologia E-mail: psicologasaraguerra@gmail.com
As discussões sobre as juventudes têm assumido diferentes significados, de acordo com o contexto histórico, social, econômico e cultural vigente. O sentido mais encontrado é aquele que a define como uma fase de transição à vida adulta, um momento de preparação para um “devir”. A condição de transitoriedade instiga a reflexão sobre ações no presente, alertando a um exercício de cidadania, com todos os deveres e direitos implicados na participação social. Embora analisar o significado da palavra juventude possa ser um tema instigante, não se pretende aprofundar essa discussão neste momento. Porém, se considera importante salientar que, mesmo incluindo sujeitos de uma mesma faixa etária, a juventude possui características diferenciadas, de acordo com o contexto no qual os jovens estão inseridos. Por essa razão, a literatura atual tem utilizado a palavra juventude no plural. O uso da expressão “juventudes” representa o reconhecimento da necessidade de, ao se tratar de jovens, levar em conta que esse segmento constitui identidades e singularidades de acordo com a realidade de cada um. O plural de referência à juventude é o reconhecimento do peso específico de jovens que se distinguem e se identificam em suas muitas dimensões, tais como de gênero, cor da pele, classe, local de moradia, cotidiano e projetos de futuro. Na tentativa de construir uma prática capaz de oportunizar ao jovem se perceber como agente de transformação, este artigo focará no projeto de vida. Articulado com a identidade, o projeto de vida está associado a uma possibilidade de futuro, implicando um movimento processual. Falar de projeto e de juventudes, é falar de possibilidades de vir a ser, de identidades futuras possíveis. Cada jovem tem o seu projeto de vida e é impossível traçar comparativos. Nesse planejamento, deve-se unificar o autoconhecimento, a história de vida e as relações sociais. Diante dessa reflexão, trago alguns questionamentos: como estão meus projetos de vida? O que já consegui construir até agora? Que caminhos pretendo seguir? Junto a esses questionamentos, pode surgir o sentimento de frustração. Os jovens estão permeados por cobranças de escolha profissional, de inserção no mercado de trabalho, etc. Essas cobranças por estabilidade e perfeição podem causar adoecimentos psíquicos, conflitos familiares e, até mesmo, estigmas sociais. Para isso, é importante refletir que os projetos de vida podem ser reformulados e que, devido às mudanças biopsicossociais e espirituais, é possível reestabelecer um processo de busca por novos planos. Não conseguir executar um plano, não significa fracasso ou fraqueza, mas a possibilidade de rever os objetivos naquele momento.
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/educação
Assim, deixo aqui algumas dicas para reflexões individuais e grupais sobre projetos de vida. 1) Analise o cenário. Importante saber quais caminhos percorrerá; 2) Defina seus objetivos. É claro que é preciso ter os pés no chão, um passo de cada vez, conheça seus limites e seu potencial; 3) Defina o prazo e um tempo para cada objetivo. Para que não haja falta de motivação, uma saída é dividir o plano principal em conquistas menores; 4) Acompanhe seu plano e ouse ir além. Com o passar do tempo, é normal fazer ajustes de rota que correspondam à realidade atual. Nossa vida pessoal está repleta de imprevistos; 5) Busque o autoconhecimento neste processo, descobrindo seus limites, fortalezas e fragilidades; 6) Fortaleça a sua rede de apoio. Quem são as pessoas que você pode contar? Elas são primordiais neste momento; 7) Busque um psicólogo. São profissionais qualificados e com técnicas para lidar com emoções, história de vida, frustrações e sofrimentos psíquicos que, muitas vezes, impossibilitam a execução de projetos de vida.
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Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena acreditar no sonho que se tem, ou que os seus planos nunca vão dar certo, ou que você nunca vai ser alguém...”
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(Renato Russo)
E TA PA S D E FO R M A Ç ÃO D E U M S A LVATO R I A N O EM SEU CAMINHO VOCACIONAL
O CAMINHO VOCACIONAL
O C A M I N H O S A LVATO R I A N O
Quando pensamos em “caminho vocacional” somos chamados a um “olhar para dentro” de nós mesmos e a perceber as motivações que nos fazem dar passos e trilhar um caminho de sentidos à nossa existência. Por isso, torna-se um olhar no campo da espiritualidade, ou seja, um caminho espiritual diante do mistério de Deus que cria, chama, envolve e capacita todo ser humano que se abre à experiência do chamado. Somente existe caminho vocacional para quem tem fé, acredita no mistério divino e se confia nas mãos de Deus, que tem planos insondáveis e desconhecidos. Somente a fé favorece o amadurecimento necessário para uma resposta adequada. E, quando uma vocação é fruto da fé, nenhum caminho, por mais difícil que seja, será impossível trilhar. Pe. Francisco Jordan, ao falar sobre a Formação dos Salvatorianos e a confiança em Deus, nos diz: “Se quisermos realizar grandes coisas, precisamos também ter uma grande confiança. A miséria humana é tão grande que, sem a graça de Deus, nada podemos fazer. Se estivermos desvinculados do auxílio do alto, com pouca ou sem nenhuma confiança, que criaturas infelizes seremos, então, nós que nem sequer somos capazes de pronunciar o nome de ’Jesus’, sem a sua graça, e muito menos realizar grandes obras para a sua glória!” (Alocuções 13,1 em 15/06/1894).
A vida salvatoriana oferece um caminho de discernimento espiritual e experiências que envolvem os vários aspectos da vida. Todo jovem que deseja “olhar para dentro” de si mesmo diante da opção de ser salvatoriano, será confrontado nas dimensões humana, de vida em grupo, intelectual, missionária e, assim, poderá fazer suas escolhas com liberdade e amor. As etapas da Formação Salvatoriana são:
ACO M PA N H A M E N TO VO C AC I O N A L O caminho na vida salvatoriana inicia com o Acompanhamento Vocacional. É um tempo de despertar a vontade de dedicar a sua vida à Igreja, de desejar ser sacerdote, religioso ou religiosa. É momento de buscar conhecer o dia a dia de quem já faz este caminho há mais tempo, de conviver em uma comunidade ou seminário e, acima de tudo, de ouvir atentamente o chamado de Deus. No Acompanhamento Vocacional, é fundamental ser orientado por um Salvatoriano ou Salvatoriana que lhe dê suporte, clareie suas dúvidas, além de ser um apoio espiritual. Para isso, temos os encontros vocacionais, as visitas e convivências com outros salvatorianos, que ajudam o vocacionado a fazer sua opção livre e consciente. www.vocacoessalvatorianas.com.br vocacoessalvatorianas@gmail.com
A S P I R A N TA D O
JUNIORADO
Com um bom discernimento, a experiência vocacional continua na etapa do Aspirantado ou Propedêutico Salvatoriano, que é a oportunidade de se viver em grupo com outros jovens, dividir os sonhos, aprofundar a interação comunitária, desenvolver a maturidade e o equilíbrio afetivo e emocional, bem como a capacidade intelectual para seguir bem às outras etapas.
A etapa do Juniorado inicia com a Primeira Profissão Religiosa, momento da vida em que o jovem assume com amor os Votos de Pobreza, Castidade e Obediência. Sua opção já está mais consistente e é capaz de viver os votos de modo temporário, mas em vista de uma opção definitiva, madura e estável, de acordo com o Carisma, Espiritualidade e a Missão Salvatoriana. Durante o Juniorado, o formando realiza seus estudos acadêmicos de Teologia, seu período de Estágio em alguma obra salvatoriana e se prepara para os Votos Definitivos.
Instituto São José (ISJ) Av. Padre Jordan, 785 Várzea Paulista – SP Instituto Padre Pancrácio (IPP) Machel – Chókwè – Gaza – Moçambique
Instituto Doze Apóstolos (IDA) Rua Fachini, 33 - São Paulo – SP
P O S T U L A N TA D O
I R M ÃO S A LVATO R I A N O
A etapa do Postulantado normalmente coincide com o curso acadêmico de Filosofia, sendo um tempo de maior aprofundamento vocacional e verificação das dimensões da vida humana e cristã. Os estudos filosóficos ajudam a fundamentar as experiências pessoais, a vivência comunitária e a presença pastoral junto ao povo.
A vocação de ser Irmão Salvatoriano é viver a Vida Consagrada, sem assumir os Ministérios de Diácono e Padre. O Irmão dedica a sua vida à Missão Salvatoriana e pode se especializar em alguma área específica, para colaborar nos diversos trabalhos e lugares onde Deus e a Igreja enviar.
Instituto Padre Jordan (IPJ) Rua Jovino Dissenha, 06 São José dos Pinhais – PR Instituto São Paulo Apóstolo (ISPA) Rua Divino Salvador, 40 Boane – Maputo – Moçambique
D I ACO N ATO E S AC E R D Ó C I O É somente a partir de uma Vida Consagrada Salvatoriana assumida de forma livre, responsável e definitiva, que se avança para os Ministérios Ordenados, ou seja, aqueles que, além de Religiosos Salvatorianos, também desejam ser Presbíteros, se preparam para as Ordenações Diaconal e Sacerdotal na Igreja.
NOVICIADO O Noviciado é um tempo especial no caminho formativo, pois, em profundo recolhimento e oração, favorece a experiência de Deus e da Vida Consagrada na Igreja e o aprofundamento da Vida Salvatoriana. É uma experiência rica, também, por ser internacional, reunindo em uma mesma casa, os formandos de diferentes países, línguas e culturas. Noviciado Internacional – América Vila Jordán – Manizales - Colômbia Noviciado Internacional – África Lubumbashi – República Democrática do Congo
FORMAÇÃO PERMANENTE A formação de um Salvatoriano nunca termina. Após estas fases iniciais, todos são convidados a buscar constantemente sua renovação para melhor servir a Igreja e a Sociedade do Divino Salvador. Pe. Cesar Barros, sds Coordenador da Formação Inicial
O que é vocação para você? A vocação à vida consagrada e presbiteral nasce de uma profunda experiência do amor de Deus em nossa vida. O Padre Francisco Maria da Cruz Jordan, fundador da Sociedade do Divino Salvador, deixa em seus escritos que devemos mergulhar no oceano do amor de Deus. Quando fazemos a experiência do amor Deus, descobrimos que poderemos servir mais no seu Reino. Nossa vocação como Cristão toma novos caminhos além-fronteiras. A vocação que assumimos na Igreja não deve estar restrita a uma pequena porção, mas vai além do que imaginamos, porque o oceano é imenso e, nessa imensidão, encontramos o sentido para nossa vocação e missão. Mas, para que isto aconteça, é preciso discernimento do que eu quero assumir como vocação na comunidade dos discípulos do Senhor. Dar um mergulho no oceano do amor de Deus é se permitir, para conhecer e amar o Senhor e sua missão. Assim, poderemos dar sentido à nossa vocação e missão como salvatorianos para anunciar o Divino Salvador. Pe. José Renário dos Santos Silva, sds
“Um dia escutei teu chamado...”. Vocação para mim, significa, um chamado. Que, com o passar do tempo, foi clareando e se tornando uma realidade. Foi no ambiente familiar e comunitário que ocorreu esse processo de construção e discernimento. Vocação, então, como chamado, é a intenção de Deus para comigo, a vontade divina, que implica num encontro, um diálogo com Ele e a resposta que livremente darei a esse chamado. Sendo então, a vocação, expressão da vontade e do amor por uma causa. Quando tem Deus no coração, daí nossa vida tem sentido, você se sente realizado, se compromete e se entrega de corpo e alma. Como Leigo Salvatoriano, nossa vocação/ missão é tornar Jesus, o Salvador, conhecido e amado por todos, participando da missão da Igreja, vivendo o batismo, por meio do testemunho de vida e de ação. Uma vocação não intimista, mas voltada para as realidades em que vivemos e à libertação de tudo aquilo que constitui uma ameaça à vida plena. Francisco José Petry – Coordenador Nacional da ADS
O Senhor nos convida, a cada um, de forma particular a uma grande missão, seja como sacerdotes, religiosos ou leigos. E, o prazer em aceitar esse convite para servir a Deus e sentir Nele a sua plenitude de vida, nos mostra que estamos conduzindo na direção correta a nossa existência. Ao me questionar sobre o que é vocação, me vêm à mente duas palavras: dom e serviço. Vocação é dom, pois é presente de Deus, concedido a cada um, desde toda a eternidade, antes mesmo da criação do mundo. Pensar nisso me causa grande amor, pois vejo manifestado em nossas vidas, o grande amor que o Pai tem por todos nós. Vocação também é serviço, pois Deus nos permite servi-Lo da melhor maneira, para a nossa santificação pessoal. Responder ao chamado de Deus com solicitude, é a melhor e única forma de nos santificarmos e às pessoas que temos ao redor. Que possamos sempre rezar e apoiar em todos os aspectos as vocações que são presentes de Deus para a Igreja. Iraê Cavalcanti - Leiga Salvatoriana
Toda vocação é um chamado e, neste chamado, há alguns elementos que precisam ser observados, tais como: o chamado é pessoal - a opção é pessoal, e a realização é pessoal. E, é na concretização destes elementos, que a vocação se torna uma realidade em nossa vida. Sabemos que a nossa primeira vocação é o chamado à vida. Aí, não falamos em ‘termos vocação’ mas, sim, em ‘sermos vocação’ para a realização de um projeto. Deus determina o nosso ser e, nós, determinamos o modo de viver, nossa vocação, isto é, o nosso chamado. Por isso, nossa vocação acontece no diálogo de duas liberdades: a de Deus, que chama, e a nossa, que responde. Descobrir o projeto de Deus em nossa vida é a maneira de vivermos plenamente. É sempre assim, na vocação resplandece o amor gratuito de Deus e a mais alta liberdade do ser humano. É Deus que nos chama porque ama, e respondemos porque amamos. A liberdade, portanto, é essencial à vocação, uma liberdade que, na resposta positiva, se qualifica como adesão pessoal profunda, como doação de amor, ou melhor, de reentrega ao doador que é Deus. E, cada vocação específica - sacerdotal, religiosa, matrimonial e laical – tem formas próprias de participar da missão evangelizadora da Igreja. Ir. Claudinei Soares, sds
/social
Conversa sobre suicídio Por Ir. Maria Cleonice dos Santos
É importante saber que o suicídio tem ganhado uma atenção especial por parte da sociedade brasileira. A Associação Brasileira de Psiquiatria e Comissão de Estudos e Prevenção de Suicídio, apresentam a seguinte definição: “O suicídio pode ser definido como um ato deliberado executado pelo próprio ambivalente, usando um meio que ele acredita ser letal. Também fazem parte do indivíduo, cuja intenção seja a morte, de forma consciente e intencional, mesmo que habitualmente chamamos de comportamento suicida: os pensamentos, os planos e a tentativa de suicídio” (ABP, 2014, p.9). Considerado uma emergência em saúde pública, o suicídio, atualmente, está relacionado à pandemia de Covid-19 (Coronavírus Disease 2019). Devido à longa permanência no isolamento e as medidas restritivas, que ocasionaram efeitos na economia do país e a falta de perspectiva associada ao desemprego, torna-se urgente prever um aumento do risco de suicídio durante a pandemia, para adotar medidas preventivas. A atenção se volta para 800.000 pessoas que se suicidam todos os anos no mundo, segundo dados da OMS, sendo uma boa parcela relacionada, de forma não linear, com o desemprego e dificuldades financeiras.
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E, a preocupação com o suicídio e Covid-19 é, justamente, a correlação entre o número de empregos perdidos e a iminência de dificuldades financeiras em função da pandemia. Conforme a OMS (Organização Mundial de Saúde), além dos fatores sócio-demográficos e culturais, o número de pessoas com sofrimento psíquico durante a pandemia deve aumentar, além de intensificar os transtornos psíquicos já existentes. Os fatores de risco se relacionam com eventos, características negativas e sensação de desamparo social. Intensificam-se problemas físicos, emocionais e relacionais, que se manifestam em forma de doenças psicossomáticas e transtornos psiquiátricos (depressão, ansiedade e angústia). Uma estratégia de prevenção ao suicídio é capacitar a comunidade para identificar indivíduos em situação de risco, e pessoas capacitadas a escutar e solidárias para com o sofrimento do outro. E, se houver iminência de perigo, levar a pessoas para atendimento psiquiátrico e psicoterápico, promover uma relação de segurança para o indivíduo com ideação suicida, deixando-o perceber que não está só e nem desamparado, isso pode salvá-lo.
R E V I S TA M I S S Ã O S A LVAT O R I A N A
/comunicação
Nova Equipe de Comunicação da Província Pe. Carlos Jobed Malaquias Saraiva, sds Coordenador da Equipe de Comunicação
Caros leitores(as), a comunicação é, na vida humana, uma das suas principais dimensões. Somos seres relacionais e a relação é mediada pela linguagem: oral, escrita, gestual etc. Falar de linguagem é falar de comunicação. Os tempos modernos nos trouxeram, com o avanço das tecnologias da informação, novos e grandes desafios de adequação à realidade, principalmente com o aumento dos meios e das plataformas digitais, neste período da pandemia da Covid-19. Desse modo, para melhor atender as demandas de nosso público, estamos, cada vez mais, buscando melhorar nosso trabalho. Nosso intuito é tornar presente para o mundo de hoje o desejo de Pe. Francisco Maria da Cruz Jordan, que convocou a
todos os membros da Família Salvatoriana a usar de todos os modos e meios para o anúncio da Palavra e do Projeto de Jesus Cristo, o Divino Salvador. A Equipe de Comunicação Salvatoriana, constituída para cuidar de nossas plataformas de comunicação, integrada à Comissão do Apostolado Salvatoriano, está atualmente assim constituída: Pe. Carlos Jobed M. Saraiva (coordenador), Pe. Itamar Roque de Moura, juniorista Cláudio da Silva Serralheiro e a Sra. Aurelice Parra Sales. Que estejamos sempre imbuídos de um ardor missionário, abertos à ação do Espírito Santo, para comunicarmos o valor da vida, do Evangelho de Jesus e, assim, envolvermos outros nesta missão!
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/espiritualidade
A missão encanta o coração da jovem Thereza von Wullenweber Ir. Jeane Lacerda, sds
“
Q U A N D O O U ÇO FA L A R E M MISSÕES SINTO EM MIM UM G R A N D E I M P U L S O, TA N TO A M O R , TA N TA A N S I E DA D E Q U E S Ó E N TÃO E X P E R I M E N TO E M M I M ”.
A missão é uma marca fortemente impressa na vida de M.M. dos Apóstolos. Desde a adolescência, a pequena Thereza sente em seu coração um forte impulso missionário. De onde lhe vem esse impulso, essa alegria que ela não pode conter? Theresa não sabe explicá-lo bem, só sabe sentir. É um sentimento que a inebria, provocando uma intensa alegria em seu coração, uma forte sensação de bem estar. Como explicar isso? Somente através de seus poemas ela consegue fazê-lo. “Tudo o que tem a ver com missão sempre me atrai de uma maneira especial” (Crônica , abril de 1882). De quem teria ela herdado essa atração pela missão? É verdade que Theresa nasceu no seio de uma família profundamente cristã; seu pai era um católico fervoroso, sua mãe, muito piedosa, dedicava-se às obras de caridade e era dotada de qualidades raras. No seio de uma família tão piedosa, amante da oração e da piedade cristã, Theresa também não poderia ser, senão, agraciada com os mais preciosos dotes cristãos. E assim foi. Juntamente com sua mãe e uma de suas irmãs, Theresa participou de um retiro espiritual sobre missões populares, num convento franciscano, que a deixou profundamente marcada e desejosa de buscar somente a Deus. A partir de então, sentiu crescer cada vez mais em si, o chamado para a vida religiosa. Convencida deste chamado, procurou, por várias vezes, o ingresso. Para isso, contou com o apoio de seus pais, de sacerdotes e da orientação de superioras de congregações religiosas, com as quais esteve em contato e que a acolheram, ajudando-a a discernir o chamado de Deus para servi-lo.
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Mas Theresa não encontrou a congregação religiosa que lhe respondesse àquilo que seu coração pedia: servir a Deus na missão. Essa resposta, finalmente lhe veio, bem mais tarde, através de “O Missionário”, publicado pela Sociedade Apostólica Instrutiva, que tinha por finalidade, difundir e defender a fé católica por todos os meios e modos, em casa e nas missões. Eis aí a resposta àquilo que Theresa tanto procurara. Imediatamente ela entrou em contato com o Padre Bernard Luthen, responsável pela Sociedade naquela região onde morava e pediu para ingressar na Sociedade Apostólica Instrutiva. Muito feliz por ter encontrado Theresa e por seu desejo de ingressar na SAI, Pe. Bernard Luthen a encaminhou ao fundador, Padre Francisco Jordan. Os desígnios de Deus nos conduzem pelos caminhos que Ele preparou para nós. Foi assim com M. Maria dos Apóstolos. Tendo procurado incansavelmente, como ela mesma disse:” Eu procurei e procurei...” Theresa não encontrou aquilo que seu coração buscava. Mas, no momento oportuno, o Senhor a colocou diante do que já havia preparado para ela. E então, cheia de alegria, ela se entregou àquela missão! Que todas(os) nós, Salvatorianas(os), cheias(os) de zelo pela nossa missão, saibamos acolher os desígnios de Deus, dedicando-nos a esta missão de corpo e alma, por todos os modos e meios que o Espírito de Deus nos inspirar, amém!
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/missões Paróquia São João Batista Experiência na Zona Leste de São Paulo Pe. Jovanês Vitoriano, sds Pároco
Os religiosos Salvatorianos assumiram a Paróquia São João Batista, no Jardim Colonial, na região de São Mateus, zona leste de São Paulo, em julho de 2017. Inicialmente, com os seminaristas do quarto ano de teologia residindo na casa paroquial e, as missas, sendo celebradas pelos padres do Instituto Padre Jordan (Teologia). O pároco, Padre Jovanês Vitoriano, sds, teve sua posse no dia 3 de setembro com a presença do bispo auxiliar Dom Luiz Carlos, o provincial Pe. Alvaro Macagna, outros padres e os fiéis. A paróquia fica localizada na Arquidiocese de São Paulo - Região Episcopal Belém - Setor São Mateus, periferia de São Paulo. Ela é composta de 5 comunidades, incluindo a matriz, localizada em 6 bairros populares, com algumas áreas de favela, um centro comercial e uma grande área onde estão localizadas várias empresas. Esta paróquia tem 52 anos e, anteriormente, abrangia um vasto território, onde foram criadas novas paróquias. Ao longo do tempo, algumas congregações e padres diocesanos assumiram o trabalho pastoral nesta área, marcada por uma forte experiência de CEBs, principalmente pelas lutas sociais em prol de melhores condições de vida para a população. Até hoje, funciona a Ação Comunitária Paroquial Pe. Emir Rigon, fundada nesta paróquia, tendo alguns núcleos ocupando os espaços do centro de pastoral da matriz e das comunidades. Os Salvatorianos assumiram este trabalho na periferia de São Paulo, tendo como uma das propostas, ser um campo de pastoral para atuação dos seminaristas de teologia que realizariam suas atividades nos finais de semana. Aqui,
também seria o espaço para o desenvolvimento do carisma e a espiritualidade salvatoriana, a partir da inspiração de nosso fundador Padre Jordan, onde as pessoas pudessem conhecer, amar e servir o Salvador. Diante de toda a realidade existente, inicialmente buscouse fomentar uma rede de comunidades com o objetivo de superar os individualismos existentes, dando um sentido de unidade paroquial, no qual pudesse ser criada a consciência de um só povo e um só rebanho. Foi realizada uma assembleia paroquial em vista do sínodo arquidiocesano e, como meta, foi pedido formação permanente e o resgate da participação da juventude, pois a paróquia notadamente tem uma população idosa. Foi resgatada, portanto, a iniciação cristã através da catequese em todas as etapas, diversos encontros para a juventude e ações pastorais, que pudessem criar um rosto paroquial. O objetivo também era trazer o povo de volta para a igreja, que não tinha identificação com uma ação pastoral efetiva. O desafio presente está em formar novas lideranças e atender esta imensa área populosa, pois temos poucos padres para o serviço pastoral, principalmente na realidade urbana de São Paulo, marcada pela indiferença religiosa, o mundo do trabalho e o grande problema de mobilidade urbana, que inviabilizam a participação de muitos na vida de Igreja. Estamos confiantes e, aos poucos, acreditamos que a realidade irá mudar com os anos. Que o Divino Salvador nos abençoe!
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/comunidades O Provincialado Os Salvatorianos vieram ao Brasil sob as bênçãos do Pe. Francisco Maria da Cruz Jordan, para trazer a Boa-Nova do Divino Salvador e tornáLo conhecido, admirado e acolhido. Assim, chegaram os primeiros padres, a partir do insistente convite de Dom Francisco do Rego Maia, feito várias vezes ao Padre Jordan. Vieram com o Dom Francisco, dois padres, um italiano e um alemão, partindo no dia 10 de outubro de 1896 rumo ao Brasil, Rio de Janeiro, Brasil e se estabelecendo em Quatis-RJ. Em abril de 1897, chegaram mais um padre e um irmão, e em outono daquele mesmo ano, veio mais um padre. Todo início vem acompanhado também por dificuldades, e estas não foram poucas. Mesmo assim, o Pe. Jordan envia mais três sacerdotes, em 1899. Somente em 1902, foi possível fundar uma Casa ou Comunidade Religiosa no Rio de Janeiro e, de lá para cá, a obra se desenvolveu (Cfr. livro “Pe. Jordan e suas Fundações” escrito por Pe. Pancrácio Pfeiffer, 1930, tradução de Pe. Paulo de Sá Gurgel, páginas 212 a 214 - março de 1996). Antes, porém, os Salvatorianos aqui no Brasil dependiam do Generalado em nível de recursos humanos, financeiros e coordenação em geral. Passados 39 anos dos Salvatorianos no Brasil, contando com a primeira vinda em 1896, chegou o tempo de ser criada a Província Salvatoriana Brasileira. Este fato deuse em 19 de junho de 1935, na cidade do Rio de Janeiro, bairro de Piedade. Criada a Província Salvatoriana do Brasil, exige-se, como de costume, uma equipe nomeada ou eleita para coordenar todos os trabalhos apostólicos e administrativos, promoção vocacional e coordenação dos seminários, paróquias, escolas e os próprios membros da província. Essa equipe é composta pelo SuperiorProvincial ou Provincial e seus conselheiros, chamado também de “Provincialado”. O Superior-Provincial e seu conselho também formam uma comunidade religiosa, dependendo das circunstâncias, por isso, muitas vezes é denominada de comunidade provincial.
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Inicialmente a sede dos Salvatorianos no Brasil ficou sendo no bairro de Piedade, Rio de Janeiro-RJ, na Rua Berquó, 33. Atualmente, existe a Comunidade no endereço Rua Divino Salvador, 12. A Província, quando da sua ereção em 1935, já possuía uma grande área geográfica, abrangendo o Rio de Janeiro (Rio de Janeiro (Piedade) e Vassouras)), São Paulo (Jundiaí, São Paulo (Indianópolis)), Santa Catarina (Videira) e Ceará (Fortaleza (Parangaba)). O primeiro Provincialado era composto da seguinte forma: Pe. Vicente Hirschle (primeiro SuperiorProvincial) e conselheiros. A Sede do Provincialado permaneceu no Rio de Janeiro até o ano de 1946 e, a partir do início de 1947, passou para Jundiaí, no Bairro de Vila Arens, por dois anos, até o final de 1948, conforme consta em crônicas da época. Ainda neste quinto triênio (1947-1949), cujo SuperiorProvincial era o Pe. Miguel Dür, a sede do Provincialado passa de Jundiaí para Indianópolis, São Paulo, juntamente com o Seminário Maior. Consta em ata de 13 de dezembro de 1948, o desejo do SuperiorGeral de que o Provincialado se instalasse no seminário Salvatoriano no Bairro de Indianópolis, São Paulo, SP. O desejo do Superior-Geral se realizou em 03 de fevereiro de 1949. Durante o sétimo triênio (1953-1955), a sede do Provincialado passou de Indianópolis, São PauloSP, novamente para Jundiaí, no Bairro de Vila Arens, a partir de agosto de 1953 (Aviso 5/1953), em caráter provisório, sendo o Superior-Provincial o Pe. Adalberto de Paula Nunes. Concluído o sétimo triênio e eleito o novo Superior-Provincial, o Pe. Aloísio Filthaut para o oitavo triênio (1956-1958), a Sede do Provincialado que estava provisoriamente em Jundiaí, se transfere novamente Indianópolis, São Paulo-SP.
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/comunidades
Pe. Kiliano Mitnacht foi eleito Superior-Provincial para nono triênio (1959-1961) e, na primeira reunião do Conselho Provincial, a sede do Provincialado passa de Indianópolis, São Paulo-SP, para Campinas-SP, na Rua Ferreira Penteado, 1414 (ata agosto/1959). Pe. Kiliano Mitnacht é reeleito SuperiorProvincial para o décimo triênio (1962-1964) e, a Sede do Provincialado, a partir de 07 de outubro de 1962, festa de Nossa Senhora do Rosário, é transferida de Campinas-SP, para Vila Mariana, São Paulo, na Rua Gregório Serrão, 157, (aviso 5/1962) até outubro de 1965 quando, desta vez, volta para Indianópolis, São Paulo, SP, novamente (noticiário 3/1965). Após idas e vindas, a Sede do Provincialado permaneceu estável até 1973, quando se transferiu do antigo prédio de Indianópolis, São Paulo, SP, para a Avenida Sabiá, 699, Apto. 142, continuando no mesmo bairro. Eram quatro apartamentos no décimo quarto andar, sendo um para a Sede Provincial, outro para a Comunidade Salvatoriana de Moema, outro para o uso da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de MoemaFAMO e, o quarto apartamento, era para a Paróquia Nossa Senhora Aparecida de Moema. O antigo prédio onde formou muitos escolásticos, noviços e, por várias vezes, foi a Sede do Provincialado, passou a ser Faculdade de Filosofia e Letras de Moema-FAMO , posteriormente, o Colégio Moema-COLMO. Hoje, todas essas atividades estão encerradas e o imóvel deu lugar a quatro torres residenciais.
iniciando com o noviciado e alguns seminaristas da teologia. O número de vocações era crescente e houve a necessidade de se construir um prédio amplo com vasta área de esportes para acolher a demanda de formandos. Assim aconteceu em 1981, quando com a construção pronta, o IPJ da Vila Mariana foi transferido para este edifício. Passaram-se muitos anos, e algumas reformas foram realizadas para adaptações aos novos tempos e novas modalidades de formação inicial salvatoriana. Os seminaristas passaram a residir em outras localidades menores e próximas às faculdades de filosofia ou de teologia. No vigésimo quarto triênio (2005-2007), Pe. Minton Zonta, eleito Superior-Provincial e o seu Conselho fizeram grandes reformas em algumas das nossas casas. Este atual prédio sofreu uma grande reforma para ser adaptado para o Centro de Apostolado Salvatoriano-CAS. O projeto não obteve o resultado esperado e, com isso, mudou a finalidade de uso, passando a ser uma Casa de Encontros e Retiros. Houve períodos com muita demanda e, outros, com pouca demanda para esta finalidade. Assim sendo, hoje o Provincialado está situado neste espaço bem apropriado, sofrendo pouquíssimas reformas. O auditório é amplo para as nossas reuniões das Comissões Provinciais. Uma parte da área construída foi adaptada para abrigar todo acervo bibliográfico e documentário da nossa província até os dias atuais. No segundo pavimento está a nossa área administrativa, tanto da tesouraria como da secretaria, atendendo, assim, a todas as nossas comunidades nos mais diversos segmentos administrativos, contábeis, jurídicos, canônicos e pastorais.
A história não é estática, ela é dinâmica. E, após 15 anos, em dezembro de 1988, a Sede Provincial passa da Av. Sabiá, 699, bairro de Indianópolis, para a Rua Fachini, 33, Vila Fachini, quando o Pe. Sérgio Raimundo Binotto foi eleito SuperiorProvincial para o décimo nono triênio (aliás, quadriênio, pois este mandato foi o único por quatro anos) (1988-1992). Passaram-se 25 anos de estabilidade da Sede Provincial, período mais longo da história, quando, na eleição do vigésimo sétimo triênio (out/2013-out/2016), sendo eleito SuperiorProvincial o Pe. Álvaro Macagnan e seu Conselho, houve por bem transferir a Sede do Provincialado da Rua Fachini, 33, Vila Fachini, para Av. Lino de Almeida Pires, 130, Vila Guarani, São Paulo-SP.
É muito importante destacar que aqui é a Sede da Província, onde também há uma comunidade salvatoriana. Também é uma casa de encontros dos nossos confrades, que os acolhe da melhor forma possível.
A atual Sede do Provincialado é um prédio cuja construção data de 1981. O prédio foi construído para abrigar o Instituto Padre Jordan-IPJ, fundado em 1973, na Vila Mariana, São Paulo,
O atual Provincialado eleito é o vigésimo nono triênio (out/2019-out/2022), cujo provincial é o Pe. Francisco Sydney de Macêdo Gonçalves.
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/salvatorianos
Testemunho Pe. Nelson Barbieri, sds
Tenho 68 anos de idade, 40 anos de vida religiosa, 32 anos de sacerdócio. Destes, 25 anos foram dedicados à formação em nossos seminários e institutos salvatorianos (seminário menor, filosofia e noviciado). E, é sobre esta experiência de ser mestre de noviços, que gostaria de dar meu testemunho. Quando recebi a notícia de que fui indicado pelo Generalado e Provinciais para ser mestre de noviços, na Casa Internacional de Noviciado em Manizales, Colômbia, passei mais de um ano com muitas interrogações: como ser mestre de noviços em uma outra província, em um outro país, com cultura diferente? Como entender e poder acompanhar o jovem vocacionado de hoje? Por que não escolheram outro nome? E, agora que aceitei, que vou fazer? etc. Uma das coisas que coloquei na minha cabeça foi a de que não me preocuparia tanto com “o que devo fazer” como mestre, mas, principalmente, com a minha maneira de ser e de atuar junto aos noviços. Descobri que conduzir um noviciado não é possuir um segredo e, muito menos, existe uma fórmula mágica. Cada noviço é uma pessoa que responde a um convite. O convite (vocação) é uma ação do Espírito Santo. E, cada pessoa, se autêntica, responde de uma maneira pessoal e única. O noviciado é este tempo de treinamento coletivo, um tempo de profundo encontro com Deus, de uma experiência mais intensa da vida comunitária, de um apaixonar-se pelo carisma, missão e espiritualidade salvatoriana, de encarnar os valores do Evangelho e de ter Jesus como opção fundamental para suas vidas. Por isso, o essencial não é uma casa, um mestre, mas sim, um ambiente, uma vivência, a experiência de um primeiro amor, de assumir um compromisso que será pelo resto da vida. Por se tratar de um noviciado internacional, os jovens noviços vêm de diferentes países, com sua cultura, estilo de Igreja, formação própria, idade, maturidade humana, etc. Toda esta diversidade gera, muitas vezes conflitos, que devem ser trabalhados como grupo e, ao mesmo tempo, é uma riqueza que nos revela a importância da universalidade do nosso carisma. Cada noviço é diferente um do outro. Alguns chegam com uma longa jornada de formação inicial,
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outros fazem sua primeira experiência de encontro com Deus, e a nível de vida comunitária aqui no noviciado. Minha tarefa é ajudar o noviço a dar passos, discernir seu caminho, fazer a opção de maneira muito consciente do ser religioso e ajudá-lo a fazer uma verdadeira experiência de Deus. Alguém dizia: “Seja testemunha, não apenas Mestre.” Tento levar minha experiência de vida aos formandos, com muita humildade e humanidade. Descobri que os noviços detestam alguém que não lhes passe segurança, que seja autoritário, que não tenha coerência de vida. Eles querem ver seu formador humano, próximo, amigo, transparente. Eles querem se sentir acolhidos, amados por nós e pertencentes à Família Salvatoriana. O verdadeiro Mestre é o Espírito. O mestre de noviços é quem acompanha o itinerário do noviço, porque também se deixa guiar pelo Espírito. A vocação é de Deus. Ele suscita o chamado. Ele escolhe. O que Deus suscita deve encontrar, em nossa casa e em nossas vidas, uma ressonância disso. Procuro ajudar os noviços a responderem com fidelidade ao chamado de seguirem a Jesus Salvador e que tenham em mente, que consagramos nossas vidas em vista da missão, que é amar a Deus e aos irmãos, em uma atitude de serviço, doação e entrega. Que encarnem em seus corações o carisma, missão e espiritualidade salvatoriana, juntamente com os valores do Evangelho e, assim, possam ser verdadeiros anunciadores de Jesus, único Salvador do mundo. Que eles não se deixem levar por títulos, poder, dinheiro, sucesso, prestígio, fama, etc, pois tudo isto foge da verdadeira missão do consagrado. Este já é o quinto ano desta aventura e, confesso que esta experiência me ajudou muito como pessoa e como religioso salvatoriano, e sinto que pude colaborar e contribuir com a Sociedade do Divino Salvador, na formação dos futuros salvatorianos. Sou imensamente grato a Deus por tudo isto!
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/infantil
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