Floriano Peixoto: O consolidador da República no Brasil 1 Bruna Vieira Guimarães2 Jornalista e mestranda na Universidade Metodista de São Paulo (UMESP)
Resumo Este artigo científico descreve a história do segundo presidente do Brasil, Floriano Peixoto, enfocando o tipo de propaganda política que ele utilizou para chegar à presidência em 23 de novembro de 1.891. Versa sobre as atitudes íntegras e concisas de Floriano, o que fez ele ser conhecido como o ‘Marechal de Ferro’, ‘Major’, ‘Consolidador da República’, ‘A Esfinge’ e ‘O Homem Enigma’.
Floriano Peixoto: O consolidador da República no Brasil Num momento histórico de tribulações para consolidar o sistema de governo recém instaurado, o primeiro presidente do Brasil, Marechal Deodoro da Fonseca renuncia ao cargo e o seu vice, eleito separadamente, Floriano Peixoto, assume o maior posto da República. Sem ao menos utilizar as metodologias do marketing do século XX, Floriano, coronel do Exército brasileiro, conseguiu consolidar o Estado federal republicano não mais Estado unitário imperial, mantendo postura íntegra, concisa e enigmática. Suas excelentes atuações em batalhas e guerras serviram como pré-requisito ao cargo de presidente do país. Inclusive uma de suas vitórias em revoltas populares ocasionou a mudança do nome da cidade paraense ‘Desterro’ para ‘Florianópolis’, hoje a capital de Santa Catarina. Floriano foi eleito para a vice-presidência, sem as estratégias carismáticas desenvolvidas pêlos atuais homens públicos. Ele enfrentou de maneira coerente e com hostilidade a oposição que surgiu em seu governo. Uma de suas ações mais conservadoras foi a determinação do fechamento do Jornal do Brasil por 1 ano e 45 dias. Porém, Floriano, o marido, pai, homem sereno de poucas palavras mantinha o equilíbrio emocional do ser público. Mesmo tendo nascido em família humilde, porém criado por um tio coronel, ele conseguiu consolidar a república no Brasil com ações definitivas, fortes e sendo conservador, inclusive sua esposa era sua prima. 1
Artigo apresentado no 3º REDE ALCAR - Encontro da Rede Alfredo de Carvalho, de 14 a 16 de abril de 2005, em Novo Hamburgo - RS. Publicado In: QUEIROZ, Adolpho (org.) Propaganda, história e modernidade. GT de Publicidade e Propaganda da Rede Alfredo de Carvalho. Piracicaba: Degaspari, 2005. 2 A autora é mestranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social (POSCOM) na Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), orientada pelo Dr. Adolpho Queiroz.
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Jornais e documentos da época, hoje conservados em museus e bibliotecas públicas, revelam importantes fatos da vida política de Floriano. O jornalismo feito pelo dirigente do Partido Republicano, Quintino Bocaiúva, para a discussão doutrinária e persuasão metódica com informações educativas e instrutivas, ocasionado na Proclamação da República, foi de estrema importância para a vida política do segundo presidente do Brasil. “O particular torna-se abstrato quando é isolado de seu contexto, isolado do todo do qual faz parte. O global torna-se abstrato quando não passa de um todo separado de suas partes. O pensamento do complexo planetário nos remete a todo instante da parte ao todo e do todo à parte”. A frase de Pascal3 aplica-se aqui literalmente. Sendo, portanto todas as coisas causadas e causantes, ajudadas e ajudantes, mediatas e imediatas, e mantendo-se todas por um vínculo natural e insensível que liga as mais afastadas e as mais diferentes, considero impossível conhecer as partes sem conhecer o todo, como também conhecer o todo sem conhecer as partes.4
Na perspectiva de entender o significado da atuação política de Floriano Peixoto, o momento histórico mostra traços da época, caracterizando a fase, a situação. Os fatos, fenômenos, episódios e processos no tempo e no espaço são fundamentais para uma significação consistente. O maior interesse é conhecer como Floriano Peixoto fez sua campanha política para eleger-se vice-presidente do Brasil, procurando enfocar a maneira, os modos e os meios utilizados na época, o que hoje é conhecido como marketing político. Para tanto, será estudado não somente a vida militar dele, mas como um político astuto que soube usar todos os poderes, influências, veículos de comunicação da época e de modo singular de ser, criou uma marca registrada. Nelson Werneck Sodré5 valoriza sobremaneira o papel histórico de Floriano Peixoto no contexto da época. Ao compará-lo, como militar e político, a alguns generais contemporâneos, Sodré refere-se a ele como uma personalidade eminente e sugere uma
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Blaise Pascal(1623 – 1662), descobriu sozinho que a soma dos ângulos de um triângulo é igual a dois ângulos retos. Inventou a primeira máquina de calcular. Por essa razão, foi dado o seu nome a uma linguagem informática: ”linguagem Pascal”. 4 Edgar Morin, pensador interdisciplinar, sociólogo, filósofo e escritor, é diretor emérito de pesquisa do CNRS (O Centro Nacional de Pesquisa Científica da França) e autor, entre outras obras célebres, dos quatro volumes do Método. 5 A obra de Nelson Werneck Sodré (1911 – 1999), um dos grandes historiadores brasileiros contemporâneos, se estende por mais de meia centena de títulos, publicados no Brasil e no exterior. Suas pesquisas do passado nacional e seu pensamento, de interlocução marxista, são indispensáveis para a compreensão do país, ao longo de sua evolução e nas opções recentes do século XX, tanto pela contribuição historiográfica quanto por sua atuação no Exército e no magistério. Em 1964, foi preso e teve seus direitos políticos cassados pela ditadura militar de 1964.
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concordância com o conceito de ‘florianismo’ definido por Suely Robles6 como: “a suspeição desconfiada para com o estrangeiro e a extrema susceptibilidade aos arranhões que o brio nacional pudesse sofrer”. O ‘florianismo’, tal como descreve Robles, foi um exemplo de um efêmero projeto de esquerda, até sugestivo de extrapolação, mas, de outra ordem, já que representava com intransigência o nacionalismo. Seu significado sugeria um viés de industrialização e a sustentabilidade do ideário patriótico, como também de valores democráticos. Destaque de como Floriano Peixoto conduziu sua chegada ao poder, repleta de turbulências e cisões, principalmente no interior das forças armadas. A habilidade e o poder de convencimento são os pontos fundamentais da vida política de Floriano, sem esquecer a influencia das ações de propaganda política desenvolvidas nos planos da publicidade eleitoral, da propaganda ideológica, da construção da imagem pública dele e dos seus reflexos nos contextos internacionais, nacionais, regionais e locais. No primeiro anos de mandato de Floriano como presidente, ele enfrentou crise econômica-financeira e crise de disciplina e respeito a ordem legal. Os veículos de comunicação na época demonstram a influência do partido de Floriano, assim como as interfaces das ações conjuntas dos meios de comunicação, destacando os impactos promovidos por eles juntos á sociedade e valorizando os elementos éticos que permeiam este campo de atividade. Peixoto se elegeu senador de Alagoas por nove anos, antes de ser eleito vice-presidente, chegou a permanecer meses no Senado o que lhe proporcionou discussões do projeto da Constituição. Através dos documentos conservados nos museus, sobretudo na Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro, a memória e a trajetória da eleição presidencial de Floriano Peixoto recuperada revela o impacto da campanha eleitoral desenvolvida no período republicano, contudo, observando outros fenômenos de comunicação eleitoral, partidário e ideológico que possam ter surgido.
Biografia de Floriano Peixoto O marechal Floriano Peixoto, filho do agricultor Manuel Vieira de Araújo Peixoto e Dona Ana Joaquina de Albuquerque nasceu em Alagoas, na Vila de Ipioca, engenho do Riacho Grande, a 30 de abril de 1.839.
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Suely Robles Reis de Queiroz – Os radicais da República.
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Criado desde o nascimento pelo coronel Vieira Peixoto, seu tio e padrinho herdou-lhe a probidade, a rigidez de caráter, o patriotismo sadio, o destemor da morte, o valor, a tenacidade e a bravura que o fizeram passar à história com o apelido glorioso de “marechal de ferro”. Iniciou os seus estudos de primeiras letras com o padre Afonso Calheiros de Mello, revelando grande desenvolvimento intelectual. Freqüentou a seguir o Colégio Espírito Santo, em Maceió, onde concluiu o curso primário. Aos 16 anos de idade embarcou para o Rio de Janeiro, matriculando-se no Colégio S. Pedro de Alcântara, e, concluídos os preparatórios, em 1.861 passou para a Escola Militar. Galgou sucessivamente os postos de cabo, segundo-sargento e segundo-tenente de artilharia a pé, tornando-se muito querido de seus colegas. Em 30 de dezembro de 1863 foi promovido a primeiro-tenente, sendo transferido para o corpo de artífices da Corte a 23 de dezembro do ano seguinte. Em 3 de fevereiro de 1.872, quando no comando do 3º Batalhão de Artilharia a Pé, com sede no Amazonas, Floriano obtém uma licença de quatro meses e seguiu, no dia 10 de abril, para Alagoas, onde, a 11 de maio se casou com a prima Josina Vieira Peixoto, nascida em 1.858, filha de José Vieira de Araújo Peixoto e de sua mulher Thereza Goufino Rosa, tios e pais adotivos de Floriano. A cerimônia realizou-se na casa grande do engenho de Itamaracá, Termo de Muricy, Comarca de Imperatriz, sendo oficiante o Padre José Roberto da Silva, Vigário da localidade. Dessa união nasceram oito filhos: Ana, em Alagoas, no dia 1º de abril de 1.874; José, em Alagoas, no dia 4 de janeiro de 1.876; Floriano, em Pernambuco, no dia 29 de novembro de 1.880; Maria Thereza, em Alagoas, no dia 27 de dezembro de 1.881; José das Neves, em Mato Grosso, no dia 4 de agosto de 1.885; Maria Amália, em Alagoas, no dia 5 de setembro de 1.887; Maria Josina, em Minas Gerais, no dia 14 de abril de 1.891, e Maria Anunciada, no Rio de Janeiro, no dia 3 de junho de 1.893. Por Decreto de 3 de janeiro de 1.883, Floriano Peixoto foi promovido a Brigadeiro, passando a pertencer ao Corpo do Estado Maior General, e por diploma de 5 de setembro desse mesmo ano, nomeado Comandante das Armas da Província do Amazonas. A sua voz firme, calma e pausada já na Escola Militar inspirava respeito, confiança e coragem, sendo sobejamente conhecidas a sua bravura e astúcia. Todas essas passagens foram transcritas do livro de Contu, Cesare Etal. Biografias de homens célebres, uma coleção de obras raras.
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Elogiado várias vezes pelo marechal Luís Alves de Lima e Silva 7, pelo valor, entusiasmo, dedicação, inteligência, zelo e honradez no cumprimento de seus deveres, a 26 de outubro de 1.868, Floriano foi por ele desligado do 25º Corpo de Voluntários, a fim de assumir o comando do 44º de Voluntários, em cujo seio imperava a maior indisciplina. Há, na vida militar deste homem extraordinário, um exemplo impressionante da sua personalidade que não pode ser esquecido. No auge da luta contra o Paraguai, um batalhão de voluntários deu triste prova de covardia, ao ter de defrontar o inimigo. Irritado com o fato, o Duque de Caxias resolveu castigar os poltrões e dar-lhes ao mesmo tempo uma lição de coragem. Para a consecução deste propósito, ninguém lhe pareceu mais bem talhado que Floriano, oficial de bravura, intrepidez e firmeza comprovadas. Em 1.882, exerceu o cargo de delegado especial nos exames de preparatórios realizados em sua terra natal, onde indivíduos quase analfabetos conseguiam atestados de habilitação à matrícula nos cursos superiores. A sua ação moralizadora pronta se fez sentir, com a reprovação quase em massa dos candidatos. Filiado ao Partido Liberal e francamente abolicionista, freqüentou assiduamente os clubes libertadores da Recife, trabalhando com fervor em benefício dos escravos. Recebeu, por este motivo, o diploma de sócio honorário do Clube do Ceará Livre, com sede na capital pernambucana. De Pernambuco, por carta imperial de 9 de agosto de 1.884, Floriano passou a exercer os cargos de presidente e comandante de armas da província de Mato Grosso, revelando-se administrador experimentado, enérgico, imparcial e honesto. Favoreceu abertamente a libertação dos escravos; dominou os índios bororos, que punham em constantes sobressaltos as populações; organizou importante serviço de catequese dos silvícolas; elevou consideravelmente as rendas da província, criando o imposto sobre a erva-mate exportada pela fronteira com o Paraguai, riqueza nativa cuja existência no sul do Mato Grosso foi sempre ignorada pelos seus administradores. Floriano solicitou exoneração e foi para Alagoas. Apaixonado pela lavoura, a ele dedicou todo o seu cuidado, enquanto o governo houve por bem deixá-lo em seu berço natal. Muito embora afastado da Corte, o ousado militar acompanhava o evoluir da propaganda republicana no país, mostrando-se disposto a participar dos acontecimentos, ao lado dos seus companheiros de farda.
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Comandante-chefe das forças em operações.
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Floriano Peixoto foi um dos heróis da Guerra do Paraguai, além de articulador e um dos expoentes da Proclamação. Foi também um restaurador da ordem democrática, do Federalismo e da República. Alguns autores o consideram ‘ditador’, ‘tirano’ e ‘sanguinário’. Outros consideram-no salvador da Pátria, ameaçada de desintegração pelo movimento contra-revolucionário, anárquico e retrógrado, o qual reunia monarquistas, revanchistas, a classe política que apoiara a dissolução do Congresso, a Armada Imperial, Guarda Nacional, barões e ‘coronéis’ e o povo desgovernado. É de ressaltar a tendência separatista, reacionária, manifestada notadamente por constituintes do Sul que buscavam conferir soberania aos Estados-Membros. Alguns parlamentares desejavam conceder-lhes a liberdade de estabelecer uma religião oficial, o poder de cunhar sua própria moeda. Só faltou, considera Agenor de Roure 8, “uma emenda à Constituição, permitindo a livre escolha da linguagem ou do idioma oficial”. Por fim, tensa e traumática foi à passagem do Estado Unitário Imperial para o Estado Federal Republicano, inaugurado com a Proclamação em 1.889. Nesse acontecimento que foi o de maior importância histórica da pátria brasileira, o poder passou do campo para a cidade, numa revolução das classes urbanas provocando violenta reação contra a derrocada da monarquia, contra o Federalismo e a República, que levou o país à guerra civil. Então foi necessária a intervenção federal visando a preservação da unidade nacional federativa. Não só defesa da República e do Federalismo, mas uma ação essencial à sobrevivência da Pátria à União dos Estados, foi à intervenção federal no governo do Marechal Floriano Peixoto. É importante ressaltar a atenção dada às articulações em torno dos candidatos a vice em nossa história política porque nossa República começou praticamente com um vice na Presidência: depois da renúncia de Deodoro, subiu Floriano Peixoto. Um vice. Floriano Peixoto fez um governo nacionalista, austero e centralizador; enfrentou implacavelmente seus inimigos, demitiu (contra a lei) os governadores que tinham apoiado Deodoro; venceu a queda-de-braço contra a Marinha, na segunda Revolta da Armada. No Sul, deu apoio a Júlio de Castilhos. Tornou-se o Marechal de Ferro. Queria a reeleição (que era constitucional), mas, ainda assim, se recusou a dar um golpe – articulado por seus aliados jacobinos – contra a posse do civil Prudente de Morais. 8
Agenor Lafayette de Roure (28/02/1870 – 18/03/1935), formado em Odontologia pela Universidade do Brasil nunca exerceu a profissão dedicando-se logo ao Jornalismo. No período de 1.919 a 1.922 ocupou o cargo de Chefe da Casa Civil da Presidência da República sendo a 6 de novembro de 1.922 nomeado Ministro do Tribunal de Contas e seu Presidente em 1.931-34. Com a vitória da Revolução de 1.930 foi nomeado Ministro da Fazenda.
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Fundamentação teórica A palavra República deriva do latim e significa ‘coisa pública’. Ao longo da história a interpretação e o sentido da ‘República’ se modificaram. O conceito é utilizado pela primeira vez na história antiga de Roma, a partir de 509 a.C. quando da organização de uma nova forma de governo, preocupada principalmente em retirar o poder das mãos de um único homem. Acabava a Monarquia e iniciava-se uma forma de governo onde o poder é dividido e, naquele momento, controlado por um organismo coletivo, o Senado. No entanto o Senado romano administrava a ‘coisa pública’, porém o público, o povo, não tinha direitos políticos. No século XVIII a idéia de República se modificou mais uma vez, a partir dos filósofos iluministas quando, ainda com pouca expressão, surgiu o Sufrágio Universal – um homem, um voto. Desde a formação do regime republicano, o número de eleitores foi muito pequeno. O primeiro período da história republicana brasileira, conhecido como República Velha ou Primeira República (1.889 – 1.930) foi caracterizado pela instituição do voto universal, adotado em na segunda Constituição (1.891), porém somente colocado em prática três anos depois. O segundo presidente do Brasil, Marechal Floriano Peixoto, assumiu como desdobramento constitucional da renúncia de Deodoro da Fonseca em novembro de 1.891. Para se manter no poder Floriano utilizou-se da força, tanto política quanto armada, completando o mandato para o qual havia sido escolhido como vice de Deodoro, em 1.894. Com o desenrolar da revolução republicana de 15 de novembro de 1.889, Floriano preferiu comungar com os seus companheiros de armas a servir de amparo a ambições políticas que se sucediam e que, abusando do precário estado de saúde do imperador, imergiam a nação em um abismo. Embora Floriano não tomasse parte ativa no movimento, a sua nobre atitude, não atacando o imperador, garantiu o êxito da revolução. Desta atitude elevada e patriótica sempre se aproveitaram os seus inimigos e detratores, para chamá-lo de oportunista e traidor, a ele que mil motivos tivera para se insurgir contra os detentores do poder. Proclamada a República e constituído o governo provisório, no mesmo dia 15 de novembro Floriano Peixoto foi efetivado pelo marechal Deodoro da Fonseca no cargo de Ajudante General do Exército, prestando nesse posto assinalados serviços ao novo regime. Removeu dificuldades inevitáveis, com que não contavam os novos detentores do poder, e interferiu nas acertadas promoções de janeiro de 1.890. 7
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Ministro da Guerra por decreto de 19 de abril de 1.890, a 29 do mesmo mês foi-lhe concedida a Grã Cruz da Ordem de São Bento de Aviz, em atenção aos serviços militares, sendo nomeado primeiro vice-presidente da República. Discordando da atuação governamental de Deodoro, a 22 de janeiro de 1.891 exonerou-se da pasta que ocupava, no que foi acompanhado pelos companheiros de ministério, dedicando-se às funções de membro do Congresso Constituinte, na qualidade de senador por Alagoas. Aprovada e promulgada a Constituição, a 25 de fevereiro de 1.891 foi eleito vicepresidente da República, com funções de presidente do Senado e substituto eventual do Chefe da Nação. Empossado na presidência da República, Deodoro logo entrou em luta com o Congresso, acabando por dissolvê-lo a 3 de novembro daquele ano. Este golpe de Estado revolucionou a Armada, que se declarou contra o presidente. A anarquia estava preste a desencadear-se no país, quando Deodoro, a 23 de novembro de 1.891, tomando uma atitude digna do seu patriotismo, resignou a presidência nas mãos de Floriano que, apesar de probo e moderado, teve de recorrer a medidas extremas, para consolidar o regime instituído a 15 de novembro de 1.889. Foi uma longa caminhada com inúmeros atalhos inevitáveis. Tem um ditado que diz: “Se você conhece o inimigo e a si mesmo, sua vitória não será posta em dúvida; se você conhece o Céu e a Terra, pode torná-la completa”. Floriano parecia vivenciar todos os acontecimentos importantes da época; sendo sempre chamado a intervir de alguma maneira, mesmo longe do fato. Seu ciclo de informações era considerado perfeito e com uma organização impecável. Ele sabia onde pisava e para onde queria seguir, além de conhecer todos ao seu redor. Joseph M. Luyten e Ronald A. Kuntz, no livro Marketing Político – A eficiência a serviço do candidato, fala o seguinte sobre a importância da comunicação: O sucesso de qualquer empreendimento se alicerça na qualidade das informações e nesta qualidade é que reside seu conceito de utilidade. A insuficiência ou má qualidade (falsidade) de uma informação pode determinar o vencedor numa guerra ou o fracasso de uma campanha; uma informação veiculada por um concorrente sob a forma de boato causa estragos, às vezes, irreparáveis, na imagem de uma empresa, produto ou candidato. Utilizando-se da lógica, informações necessárias são aquelas que dão respostas a duas classes de perguntas. As primeiras são aquelas que, respondidas, possibilitam ao candidato a elaboração das estratégias gerais e do plano global de sua campanha. As perguntas de segunda instância são aquelas cujas respostas permitem a elaboração das estratégias específicas de ação, segundo as características regionais e segmentos sociais, e a aferição dos resultados destas estratégias e de sua penetração, fornecendo dados constantes para as reformulações que se façam necessárias no decorrer da campanha.
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Floriano reformou e desterrou oficiais e civis; depôs os governadores dos Estados que o hostilizavam; venceu as forças da Armada, comandadas pelos valorosos oficiais Custódio José de Melo9 e Saldanha da Gama10; sufocou as revoltas das fortalezas de Santa Cruz e Lage; deu fim à luta civil no Rio Grande do Sul; restabeleceu a ordem em todo o país. A 10 de abril de 1892 – quando estourou a primeira revolta contra o seu governo – desembarcou, ele, vindo da Piedade, na estação Central. Estava à paisana. Um grupo de manifestantes gritava defronte do Quartel-General. Entre eles achava-se o coronel Mena Barreto. Floriano parou. Atravessou a praça a passos lentos. E, fazendo emudecer a arruaça com essa atitude inesperada, ali mesmo, sozinho, com o seu jaleco de subúrbio e imóveis as linhas da face, deu voz de prisão ao oficial exaltado. Em seguida, entre alas de um povo respeitoso, silenciosamente, entrou no Palácio Itamarati.11
Sua trajetória, até chegar à presidência da República, não foi fácil. Em 3 de dezembro de 1.870, surge na capital do Império o Manifesto Republicano, publicado no jornal A República e redigido pela brilhante e conceituada pena de Quintino Bocaiuva12, já aclamado o príncipe do jornalismo, e que obteve enorme repercussão em todo o país. Fundava-se assim o Partido Republicano Brasileiro, cuja direção coube a Saldanha Marinho13 até 1.888, ocasião em que foi aclamado para a sua chefia Quintino Bocaiuva, o polemista da República. “Se José do Patrocínio14 foi o polemista lutador da Abolição, a propaganda da República teve seu órgão jornalístico em Quintino Bocaiúva”, afirma Azevedo Amaral.15
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Custódio José de Melo nasceu em Salvador (BA) em 9 de junho de 1840. Sua carreira militar começou como guarda-marinha em 1856, na Guerra do Paraguai comandou o cruzador Barroso. Foi deputado na Constituinte de 1890-91. Liderou a primeira Revolta da Armada em 3 de novembro de 1.891 contra a dissolução do Congresso por Deodoro da Fonseca. Este último mantinha constantes conflitos com o legislativo, bem como sofrendo a oposição da oligarquia cafeeira. Resolveu então fechar o Congresso e prender seus principais líderes. A reação acabou provocando sua renúncia. Custódio de Melo foi também ministro da Marinha de Floriano Peixoto, no período de 23 de novembro de 1.891 a 29 de abril de 1.893. 10
Luís Filipe Saldanha da Gama, almirante brasileiro nascido em Campos (RJ) em 7 de abril de 1846. Realizou seus estudos no Colégio Pedro II e na Escola Naval. Foi guarda-marinha em 1863 sob o comando do almirante Tamandaré, participou da campanha Cisplatina. Serviu durante quatro anos na esquadra brasileira durante a Guerra do Paraguai onde foi promovido a tenente e depois à capitão. 11
Trecho do livro, Floriano Peixoto – O Consolidador da República. Silva, Cyro. Quintino Bocaiúva começou como tipógrafo, passando depois a revisor, fazendo o curso de Direito em São Paulo, onde fundou, com Ferreira Viana, a Honra, iniciando a propaganda republicana que jamais abandonaria. Crítico e teatrólogo, a atividade de jornalista absorveu-o depois integralmente.Ministro das Relações Exteriores no Governo Provisório, governador do Estado do Rio de Janeiro, senador, Quintino Bocaiúva foi a figura mais eminente da imprensa brasileira em sua época. 13 Joaquim Saldanha Marinho, pernambucano. Formado pela Faculdade de Direito de Olinda. Iniciou sua vida pública no Ceará. Deputado pela Província do Rio de Janeiro, de 1.861 a 1.866 e pelo Amazonas, de 1.878 a 1.881. Na República, foi Senador de 1.890 a 1.895. Após a inversão política de 1.868, com a subida de Itaboraí, declarou-se republicano, sendo o mais graduado chefe do republicanismo histórico. Faleceu em 1.895. 14 Orador e jornalista, nasceu em Campos Rio de Janeiro, no dia 9 de outubro de 1.853 e faleceu no dia 29 de janeiro do ano de 1.905 no Rio de Janeiro. Com a idade de 13 anos mudou-se para o Rio de Janeiro, onde 12
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José Marques de Melo16, em artigo do caderno da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares de Comunicação – INTERCOM, tendo como título: BRASIL: IMPRENSA E CAPITALISMO DEPENDENTE, escreve o seguinte: É aí que a imprensa passa a ter uma função social explícita, atuando como canal da expressão das facções da classe dominante que disputam o poder político. E assume o duplo papel de arma de combate aos adversários políticos e de instrumento de pressão junto ao Estado para a obtenção de privilégios. Essa tendência persiste até o fim do século XIX, e de algum modo se projeta adiante. Tecnicamente, trata-se de uma imprensa artesanal. Estruturalmente, caracteriza-se por ser episódica. Proliferam os pasquins e se sucedem os jornais de opinião. São veículos criados e mantidos em função de movimentos políticos, oscilando de acordo com as flutuações dos seus proprietários no controle do aparelho burocrático do Estado. Em síntese, são jornais sem lastro duradouro, que recorrem até mesmo à captação de anúncios, sem deles dependerem exclusivamente, e que buscam subsídios governamentais, mas cujo objetivo maior é a participação política, a intervenção decidida na luta pelo poder. As transformações políticas e econômicas que se operam no final do século, e cujos indicadores mais significativos são a libertação dos escravos e a substituição da monarquia pelo regime republicano, trazem novas configurações à sociedade brasileira.
Em 28 de setembro de 1.885, a extinção da escravatura ganhava terreno com a lei que declarava libertos os escravos sexagenários. Floriano nunca se mostrou indiferente à questão do fim da escravidão, tendo mesmo se manifestado em certa ocasião, como “um abolicionista de alma”, na expressão de Salm de Miranda, dizendo em carta ao General Xavier da Câmara: “Não sei o que se passa em mim quando vejo um escravo que passa, ao peso do seu inenarrável tormento, mostrando a todos uma cabeça alvejada pelo desconforto e pelo tempo...”. O Clube Ceará Livre17, em vista dos relevantes serviços prestados à causa abolicionista pelo Brigadeiro Floriano Peixoto resolveu conferir-lhe o título de Sócio
arranjou serviço na Santa Casa de Misericórdia. Matriculou-se na Faculdade de Medicina e fez o curso de farmácia. Ao receber o seu diploma arranjou serviço na Gazeta de Notícia. Em 1.881 tomou dinheiro emprestado do seu sogro que era capitão, e com o dinheiro comprou o jornal “Gazeta da Tarde”, começando nele a batalha do abolicionismo, incendiado pelos pensamentos porque batalhava. Efetuou confabulação pública que favoreceu a fuga dos escravos, constituiu centros abolicionistas em algumas localidades do Brasil. Recebeu os frutos do seu trabalho e desprendimento no dia 13 de maio de 1.888, Ao ser confirmada a Lei Áurea, era o epílogo de grande batalha contra a escravidão no Brasil; batalha esta da qual Patrocínio foi um dos grandes guerreiros. Veio a República, e Patrocínio continuou nas suas atividades sociais nas páginas do jornal “A Cidade do Rio”, que havia criado. Batalhou pela aplicação de um programa generoso e franco, imputado de um movimento contra o Marechal FIoriano Peixoto. No ano de 1.892, foi deportado para Cacuí no Amazonas. Já no final de sua vida, passou a querer uma atividade diferente das passadas; a navegação aérea. Construiu um balão “O Santa Cruz”, esse empreendimento todavia não conseguiu vingar; compôs ainda três livros: “Mata Coqueiro”, “Os Retirantes” e o “Pedro Espanhol”, um contra a pena de morte, os outros dois falam de problemas sociais. Seu nome completo: José Carlos do Patrocínio 15
O Estado Autoritário e a Realidade Nacional.
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Honorário. Recebeu homenagem em Mato Grosso, quando ali deixava as funções de Presidente da Província, após quase doze meses de administração próspera. Havia abolicionistas em todos os recantos do país e no meio militar era crescido o seu número. Como homem e como militar, Floriano Peixoto acalentava os sentimentos da Pátria que eram também os de seu coração. Ao receber em Alagoas a notícia da abolição da escravatura, Floriano dirigiu-se à capital do Estado, a fim de participar da alegria que envolveu a população e assistir aos festejos comemorativos. Floriano Peixoto, como um bom visionário, sente o momento propício para se fazer presente mais do que nunca, mostrando que sua participação foi fundamental para o sucesso da causa abolicionista. No livro, Teorias da Comunicação de Massa, de Melvin L. DeFleur e Sandra BallRokeach; capítulo de A Propaganda e a Necessidade de Gemeinschaft aborda o seguinte: Tornou-se essencial mobilizar sentimentos e lealdades, instalar nos cidadãos ódio e medo contra o inimigo, manter elevado seu moral diante das privações e captar-lhes energias em uma efetiva contribuição para sua nação. O meio para alcançar estas metas urgentes foi à propaganda. Mensagens de propaganda cuidadosamente projetadas mergulharam a nação em noticiários... Planejadores da política de alto nível decidiram que o que se achava em jogo era tão grandioso e os fins tão importantes que isso justificava quase quaisquer meios. Os cidadãos tinham de odiar o inimigo, amar sua pátria, e devotar-se ao máximo ao esforço de guerra. Não se podia depender de que o fizessem por conta própria. Os veículos de comunicação de massa disponíveis então se tornaram as principais ferramentas para persuadi-los a agir assim.
O texto anterior nos remete ao contexto da época, fazendo uma comparação com a trajetória política de Floriano Peixoto e suas articulações para estar sempre no domínio das ações, controlando as pessoas e movendo-se sempre na direção correta. Feita a abolição da escravatura, a propaganda republicana tomou um impulso extraordinário. Os grandes agitadores republicanos foram Lopes Trovão, fervoroso orador de comícios, e Silva Jardim, cuja palavra eufórica empolgava o povo nas ruas. A atividade desses dois contrastava com a sobriedade de atitudes e a elegante serenidade de Quintino Bocaiuva, cujos métodos de propaganda se desenvolviam com caráter inteiramente pacífico e moderado, educando e instruindo, persuadindo e convencendo. Assim, enquanto o Partido Republicano superiormente dirigido por Quintino Bocaiuva usava as armas da discussão doutrinária e da persuasão metódica, Lopes Trovão e Silva Jardim agitavam o povo em comícios que muitas vezes eram dissolvidos, em meio de 16
Doutor em Comunicação pela Universidade de São Paulo. Dirige atualmente o Centro de Pós-Graduação do Instituto Metodista de Ensino Superior, em São Bernardo do Campo. 17 O nome desse clube era sem dúvida uma homenagem tributada à gloriosa Província do Ceará, que teve destacada atuação na epopéia da libertação da escravatura.
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conflitos sangrentos, pela polícia ou pela célebre ‘guarda-negra’, cuja missão consistia em perturbar as manifestações públicas dos republicanos e coagir os novos adeptos. Embora contrário aos métodos de propaganda utilizados por Silva Jardim e Lopes Trovão, Quintino foi também vítima de violências e arbitrariedades praticadas pela guardanegra, mesmo em recintos fechados. Silva Jardim e Lopes Trovão foram deliberadamente postos a margem pela liderança moderada republicana. Na verdade, eles pretendiam colocar o povo nas ruas para derrubar o imperador. Mas os moderados, liderados por Quintino Bocaiuva e Benjamin Constant, preferiram o caminho do golpe militar, evitando o levante popular, e entraram em entendimentos com as principais lideranças do exército. Silva Jardim não conseguiu sequer ser eleito para a Assembléia Constituinte Republicana em 1.891, uma eleição que foi estritamente controlada pelos novos donos do poder. Era a concretização do temor de Silva Jardim, de uma ‘monarquia sem Imperador’. A questão militar, incidentes disciplinares do governo Imperial, envolvendo oficiais do alto escalão e o Ministério da Guerra, foram transformados em uma questão política devido à ação hábil dos republicanos, principalmente de Júlio de Castilhos18, que percebera com lucidez a magnitude do tema e vislumbrara todas as conseqüências que dele poderiam advir em benefício da causa republicana. Durante o período em que se desenvolveu a fase aguda da questão militar, Floriano, já no posto de Brigadeiro, esteve com a sua atenção dedicada exclusivamente ao desempenho de importantes missões que lhe foram confiadas pelo Governo Imperial, tais como Comandante das Armas da Província do Amazonas, em 5 de setembro de 1.883; Comandante das Armas da Província de Pernambuco, em 9 de fevereiro de 1.884 e Comandante das Armas e Presidente da Província de Mato Grosso, em 9 de agosto de 1.884. Diz um de seus biógrafos que: “Durante as três grandes crises que agitaram a alma nacional, fazendo recrudescer o sentimento republicano, abalando e fazendo ruir o edifício da monarquia, não se encontra o nome de Floriano em cartaz”. Todavia, a despeito de não ter o seu nome em evidência nesse agitado período, Floriano não se mostrava indiferente aos problemas que envolviam as classes armadas, tendo mesmo manifestado certa vez a sua opinião a respeito da questão militar em carta que enviou ao seu amigo general Neiva, datada de 10 de julho de 1.887, dizendo: “Vi a solução da questão da classe, excedeu sem dúvida à expectativa de todos”. 18
Júlio de Castilhos, presidente da Província Gaúcha, autoritário e centralizador, perseguia seus opositores políticos, os ‘federalistas’.
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A República vinha de longe e bravamente trabalhada, e se a revolução estava nas ruas é porque ela dominava as consciências. Cada concessão liberal da monarquia era um passo acelerado para a República. A abolição, libertando socialmente a raça negra, levou a República, que libertou politicamente a raça branca. Não havia resistir a esse movimento e apenas duas atitudes se deparavam a quantos dispunham de prestígio na ocasião: ou pôr-se à frente dele como pioneiro ou não o defender como reatores. E o Marechal de Ferro, que teria sido aclamado, se no momento fosse confraternizar com os republicanos, limitou-se a um retraimento patriótico, deixando assim de provocar uma luta cruenta em resistência inútil. O sangue, que foi então poupado aos brasileiros e as vidas que deixaram de ser sacrificadas são obra exclusiva desse retraimento, tão mal compreendido e tão injustamente comentado por aqueles mesmos, cuja vida ele salvara e cujo sangue ele poupara! Efetivado no cargo de Ajudante-General do Exército, a 29 de novembro de 1.889, Floriano faz publicar na Ordem do Dia a seguinte proclamação: “Ao Exército da República Federal do Estados Unidos do Brasil”. Deodoro promove Floriano Peixoto ao posto de Tenente-General. Logo depois é nomeado para o cargo de 1º Vice-Presidente do Governo Provisório. Dentre os principais atos baixados pelo Governo Provisório o mais importante foi sem dúvida o da convocação da Assembléia Constituinte Republicana, consubstanciado no Decreto Nº 78-B, de 21 de dezembro de 1.889, e nas eleições realizadas em 15 de setembro do ano seguinte, Floriano é eleito Senador pelo Estado de Alagoas por nove anos. Por Decreto de 14 de fevereiro de 1.891, Floriano é nomeado membro do Conselho Superior Militar, transformado mais tarde (1.893) em Supremo Tribunal Militar. Deixando o Ministério a 20 de janeiro, Floriano reassume a sua cadeira de Senador no Congresso Nacional Constituinte no dia 26, quando era iniciada a segunda discussão do projeto da Constituição. A luta que se abrira no seio do Gabinete de Deodoro já agora repercutia nos Estados, trazendo intranqüilidade e insegurança, quase anarquia geral. No dia 25 de fevereiro, reunido o Congresso na sua 61º sessão, procede-se a eleição presidencial para o quatriênio 1891-1894, com os seguintes resultados: Para Presidente da República - Deodoro da Fonseca, 129 votos; Prudente de Moraes, 97 votos; Floriano Peixoto, 3 votos; Joaquim Saldanha Marinho, 2 votos; José Higino Duarte Pereira, 1 voto, e duas cédulas em branco. Para Vice-Presidente - Floriano Peixoto, 153 votos; Eduardo Wandenkolk, 57 votos; Prudente de Moraes, 12 votos; Coronel Piragibe, 5 votos; José de Almeida Barreto, 4 votos e Custódio de Mello, 1 voto.
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No dia seguinte, 26, ambos os eleitos tomam posse perante o Congresso, sob a presidência de Prudente de Moraes, dos cargos para os quais haviam sido sufragados no dia anterior. Quem lidava, de perto, com Floriano via um pouco de onde vinham as situações indefinidas em que às vezes esteve: vinham, sobretudo, de que ele sabia calar-se nos momentos mais decisivos. Iam, expunham-lhe as coisas, ele ouvia e não dizia nada. O interlocutor aplicava a regra, tantas vezes falsa: quem cala, consente. Muitas vezes ele calava sem consentir. Em face da grande crise que o país mergulhava e devido principalmente à crescente hostilidade de que era alvo no Congresso, Deodoro a 3 de novembro, ante a Nação estarrecida, dissolve o Congresso e procurando justificar o violento ato de força que acabara de desferir contra a Constituição Federal lança um manifesto ao povo dando as razões do seu procedimento. Era o golpe de Estado! O País entra em convulsão. Alguns membros do Legislativo, tendo à frente Prudente de Moraes, lançam, no dia imediato, solene protesto contra a atitude impatriótica do Generalíssimo e, outros mais inconformados, preparam a reação armada, com a participação de Floriano, chefe reconhecido, embora não confessado, do movimento de rebeldia. Deodoro em revide determina pessoalmente a prisão de vários de seus opositores. Naquela época, o Brasil importava quase todos os produtos manufaturados que necessitava e consumia. Duas grandes crises perturbaram a administração de Floriano Peixoto, a crise econômico-financeira e a crise de disciplina e respeito à ordem legal. A primeira não pôde ser vencida, a despeito da operosidade dos dois grandes nomes nacionais que ocuparam nesse período o Ministério da Fazenda: Rodrigues Alves e Serzedêllo Correa. A segunda crise, porém, foi debelada pela ação pronta, energética e corajosa do Marechal de Ferro. Floriano Peixoto sempre se valeu de homens cultos, de bem e probos para seus auxiliares, alguns intelectuais e outros com extensa folha de bons serviços prestados à Pátria. Floriano se esforçou para a concretização da mudança da Capital Federal para o planalto central ainda em sua gestão. O criador de Brasília, Juscelino Kubitschek, em sua obra A Marcha do Amanhecer, presta justa homenagem ao pioneiro, consignando: “O Marechal Floriano afirmou, quando Presidente do Brasil há quase setenta anos, que, se os trabalhos da Comissão demarcadora se concluíssem durante o seu governo, transferiria a Capital para o planalto, ainda que a instalasse, de início, em barracas”.
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Bibliografia CADERNOS INTERCOM - Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares de Comunicação. Ano I, nº 3, agosto de 1982. COLEÇÃO Grandes Personagens da Nossa História. Ed.39. São Paulo: Abril Cultural. 1970. LUYTEN, Joseph M.; KUNTZ Ronald A. Marketing Político: A eficiência a serviço do candidato. São Paulo: Global Ed., 1982. SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil. 3ª.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1983. McNELLY, Mark. Sun Tzu e a Arte da Guerra Moderna. São Paulo: Record, 2003. QUEIROZ, Suely Robles Reis. Os Radicais da República - Jacobinismo: ideologia e ação. São Paulo: Brasiliense, 1996. SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 21ª Ed. São Paulo: Cortez, 2000. DE FLEUR, Melvin L.; BALL-ROKEACH, Sandra. Teorias da Comunicação de Massa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 1993. CONTU, Cesare Etal. Biografias de homens célebres. Obra rara. SILVA, Ciro. Floriano Peixoto - Consolidador da República. Sites http://www.arquivonacional.gov.br/memoria http://www.republicaonline.org.br
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