Um esbo莽o da Hist贸ria | Agosto de 2013
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editorial
expediente Jornalistas responsáveis (textos) Bruna Vieira Guimarães – MTB 32.441 Paulo Rogério de Arruda – MTB 36.577 Fotos Marcelo Souza; Arquivo Público do Município de Caraguatatuba “Arino Sant’Ana de Barros; Arquivos Pessoais dos entrevistados, de Bruna Vieira, da Igreja Matriz, da Prefeitura Municipal e da Diocese de Caraguatatuba Arte Gráfica Paulo Henrique Ferraz Colaboraram na Pesquisa Marcelo Souza, Jessyca Biazini, Pamela Borges e Evelyn Graziele Entrevistados Adriana Vieira de Moura Lopes Ferreira Brás Custódio Ercília Maria Carlota Briti Gabriela Custódio dos Santos Inês Leite dos Santos João Oliveira (Jotta) José Matias dos Reis Junior (Zezinho) Maria Clébia Ivo Maziero Maria Josefina Leirião Bellato Maria Tereza Miranda da Silva Nanette Suckow de Oliveira Osiris Nepomuceno Sant’Ana Filho Rosalva Oliva de Almeida Garcia Revisão dos Textos Pe. Marcos Vinícius Rosa, Inês Leite dos Santos e Maria Josefina Leirião Bellato Tiragem 3.000 exemplares (Gráfica Mogiana) Agosto de 2013 Paróquia Matriz Santo Antônio Diocese de Caraguatatuba Pároco - Padre Marco Vinícius Rosa e-mail: pe.mvrosa@gmail.com Vigário - Padre Luiz Ernesto Santos e-mail: luizernestocaragua@yahoo.com.br Praça Cândido Motta, 35, Centro, Caraguatatuba/SP. Tel.: (12) 3881-1422 e 3882-1611 www.paroquiamatrizsantoantonio.com.br Horário de funcionamento da Secretaria Segunda a Sexta - das 8h às 18h Sábado - das 8h às 12h Horário de Missas Segunda às 19h30 De terça a Sábado às 7h15 e 19h30 Domingo às 8h, 18h e 20h A revista “Santo Antônio de Caraguatatuba Um esboço da História” é uma produção da
Tel.: (12) 3882-5264 - www.gentecom.com.br E-mail: jornalismo@gentecom.com.br
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Festejar a história de Santo Antônio em Caraguatatuba
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estilo de vida e o modo de ser do Santo de Pádua refletem muito o espírito presente em nossa comunidade nos dias de hoje. Atuante, era assim que o nosso padroeiro imprimiu sua marca em favor dos pobres. Suas pregações revelam o Cristo humano, aquele que denuncia o sofrimento e a miséria do próximo, na cobrança pela justiça. Com esse espírito atuante foi que a comunidade Matriz Santo Antônio se edificou em Caraguatatuba, sempre pronta a atender o irmão necessitado, seja nas celebrações da Santa Missa ou nas pastorais, no qual a igreja leva auxílio espiritual aos doentes da alma e do corpo, como também doa bens materiais àqueles que vivem em condições precárias. Se hoje sabemos desses acontecimentos é porque nossos antecessores registraram a história da Paróquia Santo Antônio nos livros tombos. Nesses livros temos a certeza de que a nossa comunidade foi formada por homens e mulheres de fé, que na sua humildade doavam parte do seu tempo para ajudar na construção de um mundo mais igualitário. Pretendemos com a revista “Santo Antônio de Caraguatatuba: Um esboço da História”, aliar passado e presente, e mostrar a importância de registrar o desempenho dos devotos na ação cotidiana da Igreja e na comunidade local. Sabemos que o grande volume de acontecimentos vivenciados pela comunidade é grande. E não foi nossa pretensão esgotá-los nesta edição da revista. A revista resgatou relatos de vida do nosso povo e, principalmente, contou que a Igreja Católica sempre esteve preocupada em trazer mais dignidade para os menos favorecidos. Nas reportagens vemos que os milagres por intercessão de Santo Antônio, se concretizam diariamente em nossas vidas, basta estarmos atentos. Se você tem fotos e histórias para contar sobre a Paróquia Matriz Santo Antônio, entre em contato (msantoantonio@superig.com.br ou 12 - 3882.1611) e ajude a registrar os acontecimentos importantes da nossa vida em comunidade.
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Os passos de Antônio
A igreja chega à Caraguatatuba
Marcelo Souza
Arquivo Público Municipal
Reprodução/conventosaofrancisco.com.br
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Arquivo Público do Município
índice
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Treze Horas de Silêncio e Devoção 4 5 11 14 19 22 25 26
Igreja Missionária A origem da fé Igreja atuante Evangelização Reformas da Matriz A Igreja e a Comunidade A Relíquia O Padroeiro
39 Um Caso de Amor e Fé O Apostolado da Oração A Matriz no centenário Nasce o Hospital A Festa de Santo Antônio Na Trilha da Fé Caminhando pela História Criação da Diocese Os padres da Matriz
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Um esboço da História | Agosto de 2013
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INÍCIO DE CONVERSA Antes de revelar os primórdios da igreja católica no mundo, no Brasil e em Caraguá, queremos que você leitor saiba que a “Igreja” que falamos é missionária, viva, ativa e transformadora. E para introduzir as reportagens desta revista, rememoramos alguns trechos do livro “Paróquia Missionária à Luz do Documento de Aparecida”, do padre José Carlos Pereira (2012).
IGREJA MISSIONÁRIA A comunidade é o corpo místico de Cristo. Quando afirmamos isso, remetemos ao trabalho que, juntamente com o clero, é realizado pelos leigos. O livro do padre José Carlos Pereira diz exatamente isto: “Jesus não criou paróquias, instituições, estruturas e nem fez aliança com o poder político. Apenas constituiu uma comunidade que partilhava a fé e o pão”. A palavra “paróquia” pouco aparece no documento principal da Igreja Católica, a Constituição Dogmática Lumen Gentium. “A doutrina conciliar não está interessada em instituições. Ao contrário, para indicar a Igreja visível, foi usada a palavra “comunidade”. A comunidade é feita de pessoas e de relações. As pessoas tem coração, as estruturas não têm. A missão é, principalmente, uma questão de coração. Por isso, é impensável que uma paróquia se torne missionária. Somente uma comunidade cristã pode se tornar missionária”. Se pensarmos na Igreja como uma estrutura, isso pode significar o fim da missão: uma coisa estática, burocrática, sem alma nenhuma, que cumpre apenas com suas obrigações. Se imaginarmos a Igreja como mistério, corpo místico, sacramento universal de salvação, povo de Deus a caminho, comunidade viva, serviçal e aberta a todos, então é possível de falar de “paróquia missionária”. O Documento de Aparecida (2007) mostra que somos uma célula viva e que “a missão nasce do amor e não da autoridade: a missão é caridade, relações fraternas e verdadeiras, simétricas e dialógicas, estendidas a todos, sem excluir ninguém”. Nesse sentido, a perspectiva da “paróquia missionária” representa um caminho de renovação para a comunidade eclesial, no sentido de sermos missionários e realizarmos o que o próprio Cristo nos ensinou. Esta comunidade atuante é o que encontramos na Paróquia Matriz de Santo Antônio de Caraguatatuba. Boa leitura.
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a Origem da fé
"O VERBO": A BASE DO CRISTIANISMO
Pedro e Paulo propagadores da verdade ao mundo
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debruçar sobre a pobreza espiritual e material do homem. Porém, como está descrito na Bíblia e no Catecismo da Igreja Católica, todos os momentos decisivos de sua missão estiveram pautados na oração atuante, que age, realiza. A PROPAGAÇÃO DOS ENSINAMENTOS DE CRISTO POR MEIO DAS PREGAÇÕES E AÇÕES DOS APÓSTOLOS PEDRO E PAULO LEVOU A EXPANSÃO DO CRISTIANISMO POR TODA ÁSIA E EUROPA E CUMPRIU A ORDEM DE JESUS CRISTO: “IDE A TODO MUNDO E PREGAI O EVANGELHO A TODA CRIATURA” (Mc 16, 15)
PEDRO E PAULO Após a morte de Jesus Cristo, no ano 33, iniciou-se em Jerusalém a perseguição contra os cristãos. No comando da caçada estava Saulo, natural de Tarso, região da Cilícia da Ásia Menor. Doutor da Lei estudou na Escola de Gamaliel, fato que mais tarde o ajudou a se livrar de muitas prisões por ser considerado cidadão romano. Homem de decisão firme e muito inteligente era implacável contra os cristãos e via Pedro e os demais apóstolos escolhidos por Cristo como seus maiores inimigos, pois não se intimidavam em anunciar as boas novas do reino. “Vinde a mim e vos farei pescadores de homens”. Com essas palavras, conforme relatam os evangelhos de Mateus (4, 19) e Marcos (1, 17), Jesus chamou o rude e quase analfabeto pescador Simão Pedro, que juntamente com seu
Reprodução/Ecclesia.com.br
o princípio era “O Verbo” (Jo 1,1). O prólogo do Evangelho de João é direto: Jesus é a luz que ilumina o homem. O evangelista ainda relata que as pessoas não O compreenderam, porém os que tiveram esse privilégio conheceram a Verdade. Muitos são os estudos teológicos sobre a constituição da Igreja Católica Apostólica Romana, entretanto nesses escritos as figuras dos apóstolos Simão Pedro e Paulo são de fundamental importância na disseminação da doutrina cristã. Neles a Igreja promove as primeiras questões sociais dando continuidade ao maior mandamento: “Amarás teu Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo” (Mt 22,39). Antes de sua morte, Jesus deixou vários exemplos do propósito de seus ensinamentos ao se
Pilares da Igreja: Pedro e Paulo a difusão das palavras e das ações que levam a Cristo Um esboço da História | Agosto de 2013
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irmão André, pescava no mar da Galileia. A esse pescador ignorante, mas de caráter firme, Jesus confiou à constituição da sua igreja. “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16,18). Apesar das classes sociais distintas ambos tinham muitas semelhanças, a personalidade forte, a teimosia, a impaciência, a esperança no Cristo. Tudo isso aproximava Pedro e Paulo.
Reprodução/ Pintura de Rafael - Victoria and Albert Museum (1515)
DE PENTECOSTES A DAMASCO Mesmo perseguidos, os apóstolos buscavam meios de propagar os ensinamentos. Abatidos e desorientados não sabiam como anunciar o Cristo para as pessoas que estavam em Jerusalém, uma vez que a maioria delas vinha de outras regiões. Mas um evento mudaria esse cenário e os encorajaria. Segundo consta na Bíblia, no Atos dos Apóstolos, chegado o dia de Pentecostes, eles se reuniram no cenáculo e começaram a orar, quando um forte vento entrou no local e apareceu sobre a cabeça dos doze uma espécie de língua de fogo. Ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar e a compre-
ender outras línguas. Pedro saiu da casa com os demais apóstolos anunciaram as palavras de Jesus, todas as pessoas entenderam e se converteram. Estudiosos da teologia apontam que a partir de Pentecostes os apóstolos assumiram plenamente a missão de disseminar o cristianismo. Prova disso, são os milagres que eles também realizaram. A cura do coxo de nascença na porta Formosa do templo, descrito nos Atos dos Apóstolos, mostra o destemor de Pedro perante a sociedade. “Não tenho ouro, nem prata, mas o que tenho te dou, em nome de Jesus Cristo Nazareno levanta-te e anda!”. Muitas conversões ocorreram neste período, à ação dos apóstolos irritava sacerdotes, chefes do templo e saduceus, que em repressão os prendiam. “Saulo assolava a igreja, entrando pelas casas e, arrastando homens e mulheres, os entregava à prisão” (At 8,3), até conseguir seu intuito a morte de um deles; Estevão. A sede de Saulo de Tarso em prender todos que professavam a doutrina
Jesus elege Pedro como detentor das chaves do céu
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do Cristo o fez seguir para Damasco. No caminho, como relata os Atos dos Apóstolos, uma forte luz o fez cair do cavalo, ficou cego por três dias e só voltou a enxergar quando Ananias, ordenado por Jesus, foi batizá-lo no Espírito Santo. APÓS SUA CONVERSÃO SAULO PASSOU A PROCLAMAR JESUS CRISTO A TODOS OS JUDEUS QUE, AMEDRONTADOS, NÃO ENTENDIAM COMO AQUELE HOMEM QUE HÁ POUCO TEMPO OS PERSEGUIA, AGORA SEM TEMOR DE RETALIAÇÕES PREGAVA COM TAMANHA EFUSÃO. AO RETORNAR À JERUSALÉM, FOI POR BARNABÉ QUE SAULO CHEGOU ATÉ A IGREJA DE JERUSALÉM, ONDE SE ENCONTROU COM TIAGO, O JUSTO, E PERMANECEU CERCA DE QUINZE DIAS COM PEDRO, CONFORME CONTA NA CARTA AOS GÁLATAS
Reprodução/ Pintura de Rafael - Victoria and Albert Museum (1515)
Paulo prega em Atenas após se converter e passar a proclamar o Evangelho
EXPANSÃO DO CRISTIANISMO A Igreja de Jerusalém, sob o comando de Tiago, o Justo, seu primeiro bispo, via inicialmente o cristianismo como uma reforma religiosa para o “povo eleito”, no caso os judeus. Pelas leis era proibido ter contato ou pregar para os pagãos e os gentios, pois esses eram considerados impuros. Para que Pedro, considerado primeiro papa, pudesse pregar o evangelho nas cidades vizinhas, incumbiu Tiago de ficar a frente da Igreja local. Em uma de suas viagens Pedro teve uma visão e foi conduzido a Cesareia, na casa do Centurião Cornélio. “Vós sabeis que é proibido a um judeu aproximar-se dum estrangeiro ou ir à sua casa. Todavia, Deus me mostrou que nenhum homem deve ser considerado profano ou impuro” (At 10,28). Ao retornar a Jerusalém os fieis circuncidados repreenderam Pedro que lhes explicou o ocorrido, no final concordaram
que Deus também concedia aos pagãos o arrependimento. Ao saber que os dispersos durante a perseguição que culminou com a morte de Estevão haviam chegado à Fenícia, Chipre e Antioquia, Tiago encaminhou Barnabé para esses lugares que se alegrou ao ver que o Evangelho havia chegado aos judeus. No retorno foi direto para Tarso a procura de Saulo e juntos retornaram para a Igreja de Antioquia. Não se sabe ao certo qual o momento em que Saulo adota o nome de Paulo. Na Bíblia o primeiro registro aparece durante a conversão do procônsul, título de poderio dado aos emissários do imperador, da ilha de Pafos, Sérgio Paulo. A partir dessa primeira viagem, Paulo batizava a judeus e gentios que estivessem dispostos a adotar o cristianismo, indistintamente. Durante 16 anos, Paulo realizou quatro grandes viagens e fundou igrejas na Síria, na Ásia, na Grécia e em Roma. Escreveu quatorze epistolas que enviava para as comunidades. Enfrentou a Tiago quando introduziu
gentios no templo e brigou com Pedro sobre a questão da circuncisão para os não judeus. Preso pelos romanos, Paulo viveu sobre prisão domiciliar e recebia em sua casa vários romanos que aderiram ao cristianismo. Quando saiu a sentença de morte, o apóstolo, por ser considerado cidadão romano, recorreu a César, mas foi decapitado por volta do ano 64. No mesmo período Pedro também foi preso e crucificado de cabeça para baixo, pois dizia não ser digno de morrer como Jesus Cristo. Àquela altura o número de cristãos já havia ultrapassado todas as fronteiras. O Evangelho de Jesus Cristo tinha muitos seguidores, entre judeus, gentios, pagãos convertidos e romanos. A Igreja despolitizou-se para ampliar seu diálogo com as culturas e conquistar o mundo. É isto que veremos nas próximas reportagens.
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os passos de antônio
REFLEXÕES FRANCISCANAS
Antônio seguiu os exemplos de seu pai espiritual Francisco, se dedicou a pobreza e desenvolveu por meio dela seu pensamento social
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a primeira temporada do seriado “Tapas & Beijos”, exibido pela Rede Globo, a personagem Sueli tinha um estreito relacionamento com Santo Antônio. Para conseguir um marido a moça deixou a imagem do santo de cabeça para baixo dentro de um copo com água. Segundo a tradição popular o santo tem fama de casamenteiro, além de ser considerado um poderoso intercessor. O que muitos devotos não sabem é que Santo Antônio é um dos doutores da Igreja Católica e seus textos refletem o princípio da ordem franciscana com foco nos pensamentos sociais. Foi ele, com a permissão de São Francisco, que ensinou teologia aos franciscanos no começo da Ordem. A Ordem dos Frades Menores foi criada por São Francisco de Assis, na Itália em 1209. Após receber um chamado de Deus, o jovem rico Francisco, largou todos os bens e a família. Na sua vida religiosa viveu e pregou a pobreza, a castidade e a obediência. Segundo o estudioso dos pensamentos antonianos, José Antônio de Souza, professor titular aposentado da Universidade Federal de Goiás, essa foi a oportunidade para que Antônio pudesse se inteirar da realidade social e religiosa dos lugares que passava. No livro “O pensamento social de Santo Antônio”, o professor diz que o santo por meio de seus sermões falava com facilidade a todos; dos mais simples aos mais intelectualizados.
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Antônio recebeu autorização de São Francisco para ensinar Teologia aos franciscanos
FERNANDO MARTINS DE BULHÕES, ESSE ERA O VERDADEIRO NOME DE SANTO ANTÔNIO. ANTES DE INGRESSAR NA ORDEM DOS FRADES MENORES, O JOVEM PORTUGUÊS NASCIDO EM 15 DE AGOSTO DE 1190, ESTUDOU COM OS CÔNEGOS REGULARES AGOSTINIANOS NA CIDADE NATAL, E EM COIMBRA, NA CANÔNICA, JUNTO À IGREJA DE SANTA CRUZ, ONDE FOI ORDENADO SACERDOTE, PROVAVELMENTE EM 1218. DOIS ANOS MAIS TARDE, TORNOU-SE FRADE MENOR, OCASIÃO EM QUE MUDOU O SEU NOME DE BATISMO PELO QUAL SE TORNOU CONHECIDO
A FORMAÇÃO Nas duas primeiras congregações Frei Antônio recebeu sua formação cultural, intelectual, moral e religiosa. Aprendizados que o permitiram desenvolver seu trabalho com primor junto aos frades menores. No livro “Vida e Milagres de Santo Antônio de Lisboa”, publicado em 1830, o monge Fortunato de S. Boaventura mostra que esses estudos juntamente com o trabalho na Ordem Menor permitiram a ele compreender melhor a Igreja e o Cristianismo. Para o professor Souza, tal fato possibilitou examinar a composição individual e comunitária dessa Igreja, sua organização, direção e finalidade para poder saber como arrebanhar a comunidade marginalizada.
Reprodução/fratersantoantoniodelisboa.blogspot.com.br
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OS POBRES Com a morte de São Francisco em 3 de outubro 1226, a Ordem Menor não vivia um momento tranquilo. Pressionados pelo papa Gregório IV, que estava decidido a implantar as reformas pedidas no IV Concílio de Latrão e queria o apoio dos franciscanos. A divisão da ordem era evidente: um número considerável de frades menores, conhecedores da teologia e com tino administrativo, acreditavam que o grupo deveria servir melhor a Cristo, estando do lado do Papa e de seus projetos. Outro grupo defendia viver na Regra estabelecida no Testamento de Francisco, a qual mantinha o carisma e as ideias iniciais; a vivência simples, na pobreza e humildade propagando os valores do evangelho.
OS SERMÕES E O PENSAMENTO SOCIAL Na idade Média poucos teólogos haviam pensado sobre a sociedade por dois motivos: de um lado a Igreja Cristã Ocidental entendia que somente os batizados estavam a serviço da Igreja de Roma e, também, pelo modelo do regime feudal. Antônio saiu em missão passando por vários lugares até chegar a Pádua, na Itália. No decorrer de suas viagens, estudiosos apontam que o frade tenha iniciado seus Sermões Dominicais, também chamados em latim de Opus evangeliorum. Os textos elaborados por ele são as pregações dos evangelhos lidos aos domingos, porém de maneira bem esmiuçada. Certa vez o papa
Muitos dos milagres de Antônio foram realizados ainda em vida Um esboço da História | Agosto de 2013
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Alexandre IV, tocado pelo modo como Antônio explicava à Palavra de Deus, pediu que o mesmo redigisse sobre a vida dos Santos. Parte do seu modo de pensar o mundo pode ser lida nos 77 sermões publicados em sua obra; Sermões Dominicais e Festivos. Esses sermões foram pesquisados e atestados primeiramente pela equipe de Antônio Maria Locatelli, e posteriormente foi aperfeiçoado e publicado em três volumes. Segundo o professor José Antônio de Souza, ao estudar os sermões escritos por Santo Antônio é possível conhecer as características da espiritualidade antoniana, que seriam: 1) a
devoção intensa à Trindade, em especial, a Segunda Pessoa da mesma, Jesus Cristo, Deus e Homem verdadeiro; 2) a devoção a Maria imaculada, medianeira da salvação; 3) a devoção aos santos; 4) a frequência regular aos sacramentos da Penitência e à Eucaristia; 5) a guarda, pelos fiéis em geral, dos domingos e dias santificados e as orações devocionais particulares e aos clérigos, ainda, o canto ou a recitação do Ofício divino, a oração pública, oficial da Igreja. 6) a observância do Decálogo, dos Mandamentos da Igreja e, em especial, do mais importante de todos, o do Amor fraterno, que se concretiza mediante as Obras de Misericórdia.
Em busca de um novo modo de vida, Antônio deixou os agostinianos e ingressou na Ordem dos Frades Menores
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A e s p i r i tu a l i d a d e a n to n i a n a re v e l a s e u p e n s a m e n t o s o c i a l e o d e s e j o d e S a n to A n t ô n i o d a c o n v e r s ã o d o p e c a d o r , p ro ce s so q u e s ó é p o s s í ve l s e o c r i s t ã o o b e d e ce r a o s m a n d a m e n t o s e re s p e i t a r o s s a c ra m e n t o s .
igreja atuante
CONSTRUTORES DA SOCIEDADE
A partir da Revolução Industrial a Igreja buscou meios para reavaliar o contexto social e entender a “relação capital e trabalho”
Com a Revolução Industrial e o surgimento das máquinas a vapor, a Igreja lançou novo olhar para as questões dos mais carentes
A
lém de propagar os valores cristãos na sociedade, a Igreja Católica se viu desempenhando outro papel; o de ir ao encontro dos mais pobres; e explorados pelos detentores do capital. De Pedro até Francisco nos dias atuais, todos os papas buscaram solucionar os problemas sociais sob a luz do Evangelho. No entanto, foi o papa Leão XIII, que em 1878, agiu de forma concreta para que a desigualdade fosse diminuída por meios de documentos que compõe a Doutrina Social da Igreja, conjunto de textos elaborados e declarações feitas pelos Papas, que busca
A DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA SEMPRE ESTEVE BASEADA EM PRINCÍPIOS E VALORES QUE EVIDENCIAM A PREOCUPAÇÃO COM O BEM ESTAR E DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA estabelecer princípios a respeito da organização social e política. O pensamento social da Igreja se abriu para essa urgência durante as décadas de 1700, quando assistiu a duas grandes revoluções: a revolução Francesa e o surgimento das máquinas a vapor. Esses dois fenômenos se tornaram mais latentes a partir de 1800, quando ocorre o progresso técnico industrial e o homem ultra-
passa os limites da natureza com as máquinas e a ciência. Os reflexos dessas mudanças são logo percebidos com o trabalho exploratório dos operários e a concentração da riqueza na mão de poucos. No decorrer da história vários papas lançaram olhares sobre as questões sociais, dentre estes, cinco tiveram papel de destaque: Leão XIII, Pio XI, João XXIII, Paulo VI e João Paulo II. O papa Leão XIII ao perceber as necessidades desse novo tempo publicou a encíclica Rerum Novarum, que trata das condições dos operários. Estudiosos consideram que o documento consiste na abertura da Igreja Católica a assuntos ligados ao novo modelo social, não Um esboço da História | Agosto de 2013
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CONCÍLIO VATICANO II Em 1958, o cardeal Ângelo Roncalli é eleito papa e passa a adotar o nome de João XXIII. Durante os quase cinco anos de seu papado, a Igreja Católica deu grandes avanços no que compreende a Doutrina Social. Apesar do curto pontificado é considerado um dos papas mais populares sendo a ele conferido o título de o “Papa Bom”. João XXIII saiu do Vaticano e se debruçou sobre as questões pastorais da Igreja indo ao encontro dos pobres, dos doentes e dos detentos. Além disso, seu bom relacionamento com os lideres das outras religiões cristãs era favorável a prática do ecumenismo. Via a
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fatiza o papel dos empregadores em não mirar-se somente no lucro e que os empregados possam ter um salário justo afim de que haja igualdade. Desse pensamento parte o conteúdo de outros princípios: bem comum, subsidiariedade e solidariedade. O princípio do bem comum representa a responsabilidade de todos para que o homem atinja a perfeição, independente da questão Reprodução/amadosfranciscanos.com.br
necessidade da igreja se renovar e buscar novas formas de explicar a doutrina católica para o mundo moderno, pensamento que culminou na convocação do Concílio Vaticano II, em 1962. Segundo João XXIII, conforme a bula papal Humanae salutis, o intuito do Concílio Vaticano II era discutir a ação da Igreja nos tempos atuais e “promover o incremento da fé católica e uma saudável renovação dos costumes do povo cristão, e adaptar a disciplina eclesiástica às condições do nosso tempo”. Para o escritor George Weigel, no livro “A verdade sobre o catolicismo”, o “Papa Bom” “imaginava o Concílio como um novo Pentecostes»[...]; uma grande experiência espiritual que reconstituiria a Igreja Católica” não apenas como instituição, mas “como um movimento evangélico dinâmico [...]; e uma conversa aberta entre os bispos de todo o mundo sobre como renovar o Catolicismo como estilo de vida inevitável e vital”.
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DEVE HAVER UM EQUILÍBRIO ENTRE O PÚBLICO E O PRIVADO E A RESPONSABILIDADE DO CIDADÃO NA INTEGRAÇÃO DA VIDA SOCIAL No decorrer do processo, João XXIII faleceu, e seu sucessor Paulo VI foi quem deu continuidade às reuniões do Concílio. Com a presença das autoridades da Igreja e teólogos, o Concílio Vaticano II ocorreu no decorrer de quatro anos, 1962 a 1965, trouxe reflexões importantes para Doutrina Social da Igreja. Suas decisões estão expressas nos documentos que foram debatidos profundamente e do qual saíram: 4 constituições, 9 decretos e 3 declarações. Como resultado desse processo, a Igreja se voltou mais para as questões pastorais nas quais estão intimamente ligadas aos processos sociais que visa a dignidade do homem. PRINCÍPIOS E VALORES O Catecismo da Igreja Católica parte de uma ação mais contundente, trata da responsabilidade do Estado em conduzir a aplicação dos direitos humanos no setor econômico, en-
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somente a questão salarial objeto de problemas, mas a estrutura deficitária nos serviços ligados a área da saúde e educação. Para a Igreja o homem seria o autor, o centro e o fim de toda a vida econômica e social, conforme explica o professor Felipe Aquino no artigo: “Você sabe o que é a Doutrina Social da Igreja?”. Leão XIII entendia que as soluções para se eliminar as diferenças estava numa ação combinada entre Igreja, Estado, empregadores e empregados. “É necessário, com medidas prontas e eficazes, vir em auxílio dos homens das classes inferiores, atendendo a que eles estão, pela maior parte, numa situação de infortúnio e de miséria imerecida”, pregava o papa. Em 1931, o papa Pio XI escreve a encíclica Quadragesimo Anno. A carta trata da restauração e aperfeiçoamento da ordem social a luz do Evangelho e reintera o que foi publicado há 40 anos na Rerum Novarum. No texto há também uma resposta a Grande Repressão de 1929, momento em que milhares de operários ficaram desempregados devido à crise econômica que assolou vários países. Nesse contexto Pio XI critica a economia a partir do livre comércio que só objetiva o lucro. ”À avidez do lucro seguiu-se a desenfreada ambição de predomínio; toda a economia se tornou horrendamente dura, cruel, atroz”. Tanto para Leão XIII e Pio XI a regulamentação racional do mercado e das iniciativas econômicas, devem buscar princípios e valores que almejem o bem comum.
1- Papa Pio XI e o Quadragesimo Ano; 2- Papa Leão XIII e o Rerum Novarum; 3- Papa João XXIII inicia o Concílio Vaticano II; 4- Papa Paulo VI implanta o pensamento social na Igreja; 5- Papa João Paulo II e o amor aos pobres
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bem de todos e de cada um, porque todos nós somos verdadeiramente responsáveis por todo”. Para o professor Felipe Aquino, da Canção Nova, a Igreja nunca se omitiu dos problemas que atingiram a sociedade desde a Revolução Industrial, ao contrário sempre apresentou propostas sólidas para diminuir a miséria e exploração econômica. E assim faz até os dias atuais. Reprodução/ madreigrejaemfotos.blogspot.com.br
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Rei Socialisi sintetiza a essência do princípio da solidariedade. Segundo ele com a globalização cresce a possibilidade de relacionamento entre os homens. “A solidariedade, portanto, não é um sentimento de compaixão vaga ou de enternecimento superficial pelos males sofridos por tantas pessoas, próximas ou distantes, pelo contrário, é a determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum; ou seja, pelo 3
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econômica. Na encíclica Mater et Magistra, João XXIII exalta que o bem comum seja acessível a todos de maneira igualitária. Já o princípio da subsidiariedade tem suas raízes na carta de Pio XI, e objetiva o respeito a liberdade e proteção dos corpos sociais, como família, grupo, associações, entre outras agregações que partem do povo. O papa João Paulo II, na encíclica Solicitudo
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evangelização
NOVOS HORIZONTES
A Igreja Católica chega ao Brasil e transforma a realidade social dos pobres
A Reprodução/obra de Victor Meirelles (1860)
Igreja Católica cumpriu um papel importante na constituição e formação das novas civilizações do ocidente. No Brasil uma das primeiras ações realizadas pelos portugueses, ao aportarem aqui, foi à missa celebrada por Frei Henrique Soares de Coimbra, em 1500, no sul da Bahia. Ao “descobrirem” as terras brasileiras, os portugueses, que tinham estreita relação com a Igreja, trouxeram por volta de 1549, os primeiros jesuítas que colaboraram na formação das vilas e cidades. Nesse período o grande número de índios que habitavam todo o continente brasileiro, foi evangelizado por jesuítas, franciscanos e carmelitas. As contribuições da Igreja Católica na
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formação do povo brasileiro são percebidas em diversas áreas do saber. Na arte, por exemplo, favoreceu o desenvolvimento do trabalho do artista plástico Aleijadinho. Para garantir a disciplina social começou a realizar trabalhos administrativos e ajudou na preservação de hospitais e Santas Casas, em contrapartida tinham o aval do Estado para a construção de novas igrejas. Com a nomeação do Marquês de Pombal para administrar as coisas do Império, houve o afastamento da Igreja das ações do Estado. Nesse período os Jesuítas sofreram perseguição por parte do administrador da coroa. Do Descobrimento à Proclamação da Independência, na história do Brasil, a Igreja Católica sempre buscou melhorias para os mais pobres. Frei Caneca foi um desses símbolos
pela democracia no país. O franciscano foi fuzilado por reivindicar a instalação de uma nação ancorada numa constituição que fosse fruto de um pacto feito entre o cidadão e o país, conforme aponta Kelly Cristina Azevedo de Lima, no artigo “Frei Caneca: Entre a liberdade dos antigos e a igualdade dos modernos”. Segundo a articulista, ele “Enfatizou sempre os deveres e os direitos deste cidadão, ressaltando a profunda necessidade de serem esses últimos garantidos por lei”. Na República, apesar do Brasil se proclamar um país laico, os padres católicos sempre atuaram em defesa da sociedade. AÇÃO CATÓLICA BRASILEIRA A Ação Católica era “uma organização de leigos participando do apostolado hierárquico da Igreja fora de qualquer filiação política, com a finalidade de estabelecer o reino Universal de Jesus Cristo”, segundo aponta o estudioso Ralph Della. O papa Pio XI procura concretizá-la efetivamente em 1935, tanto no Brasil como na Itália. Aqui no país, o cardeal Sebastião Leme da Silveira Cintra foi o responsável pela sua implantação e contou com a participação de intelectuais católicos, dos quais muitos faziam parte do Integralismo, doutrina política conservadora. No Brasil o movimento se intensificou na capital de São Paulo,
Primeira missa celebrada por Frei Henrique Soares aqui no Brasil, no sul da Bahia
Reprodução/obra de Antonio Parreiras (1918)
O julgamento de Frei Caneca pelo Tribunal Militar convocado por D. Pedro I
quanto no interior, em cidades como São Carlos, Taubaté, Jundiaí, Cruzeiro, Lorena, São José dos Campos, Piquete e Jacareí. O sul do país também desenvolveu núcleo em Santa Maria, Passo Fundo e Bagé. Os trabalhos da Ação Católica contavam com cinco organizações destinadas aos jovens; JAC (Juventude Agrária Católica), JEC (Juventude Estudantil Católica), JIC (Juventude Independente Católica), JOC (Juventude Operária Católica) e JUC (Juventude Universitária Católica). O envolvimento estudantil promovido pelas organizações tinha em sua pauta as chamadas reformas de base, entre elas a reforma agrária. O movimento contribuiu para a criação de um partido político desvinculado da Igreja com antigos integrantes do JUC. CNBB Em 1952 é criada a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Dois anos depois, chega ao país, Dom Armando Lombardi, emissário do papa Pio XII
que possibilitou o desenvolvimento dos trabalhos da entidade, cujo foco estava atrelado aos programas sociais do meio estudantil, operário e camponês. O Brasil desse período vivia uma estagnação social. A desigualdade crescia e a CNBB começou a interferir nessa realidade, por meio de suas publicações. Era 1o de abril de 1964, quando o regime Ditatorial foi implantado no país. A população teve seus direitos civis cassados e muitos dos integrantes dos movimentos católicos foram perseguidos ou levados à prisão. Nesse período, alguns representantes entre eles os arcebispo Dom Hélder Câmara, no Recife e Dom Paulo Evaristo Arns, em São Paulo se mobilizaram ativamente em defesa dos Direitos Humanos e denunciaram as torturas. A Igreja também exerceu, nesse contexto, função de organizadora social. A Ditadura contribuiu na formação de grupos acadêmicos bastante críticos ao regime, no entanto foi a Igreja o lugar encontrado para dialogar sobre o cotidiano. Essas reuniões deram iní-
cio as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), que influenciadas pela Teologia da Libertação, se tornou movimento de resistência popular. Com o enfraquecimento da Ditadura a Igreja teve papel fundamental no período de transição para o regime civil. Segundo Thomaz Bruneau, no livro que discute o papel da Igreja nesta transição, aponta que ela foi ferrenha com o governo para que se elaborasse uma nova Carta Constituinte. ARNS E CÂMARA O Regime Militar no Brasil foi amplamente enfrentado por Dom Hélder Câmara que desenvolveu um trabalho com foco nos problemas sociais. O arcebispo de Recife foi perseguido e seu nome vetado de circular nos meios de comunicação. Conforme o registro do Centro Nacional de Fé e Política (CEFEP) o regime autoritário brasileiro transformou o representante da igreja em ‘persona non grata’. Para amedrontá-lo as forças de repressão chegaram a metralhar sua residência
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Reprodução/teologiadalibertacao.blogspot.com
Reprodução/arquidiocesedecampogrande.com.br
duas vezes e por fim sofreu um duro golpe com a morte de seu colaborador, padre Henrique Pereira Neto. Durante esse período ajudou na escolha dos temas das Campanhas de Fraternidade que apresentavam as questões sociais para a sociedade. Em São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns desenvolvia seu trabalho junto aos moradores das periferias da capital. Dedicou-se aos trabalhadores e a formação das Comunidades Eclesiais de Base, movimento inclusivo ligado a Igreja Católica que teve no Concilio Vaticano II sua propagação, defendia os mais pobres e promovia os Direitos Humanos. Juntamente com Dom Hélder Câmara, enfrentou a Ditadura notabilizou-se na luta pelo fim das torturas e restabelecimento da democracia no país, junto com o rabino Henry Sobel, abrindo uma ponte entre o judaísmo e igreja católica em solo paulista. Dom Arns mobilizou-se juntamente com o pastor Jaime Wright num projeto que evitou o desaparecimento dos documentos durante o processo de redemocratização do país. O material copiado do Superior Tribunal Militar foi microfilmado e enviado para o exterior afim de que não fosse apreendido ou desaparecesse.
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Dom Hélder Câmara denunciou as mazelas em que o povo brasileiro vivia
HOJE
N a d é ca d a d e 1 9 9 0 , a C N B B lançou três ações sociais da I g re j a : S e m a n a s S o c i a i s B ra s i l e i ra q u e v i s a m o e n fre n ta m e n to d a s q u e st õ e s s o c i a i s ; o m ov i m e n to G r i to d o s E x c l u í d o s q u e d e n u n c i a a s u b o rd i n a ç ã o d a n a ç ã o a o ca p i ta l e st ra n ge i ro ; e a Ca m pa n h a d o J u b i l e u 2 0 0 0 q u e co n to u co m u m p l e b i s c i to n o q u a l m a i s d e s e i s m i l h õ e s d e p e s s oa s d i s s e ra m n ã o a o m o d e l o d e s u b m i s s ã o a o Fu n d o M o n e t á r i o I n te r nacional (FMI). H o j e a I g re j a a p re n d e u co m o s e a rti cu l a r m e l h o r e fa z co m q u e a s a ç õ e s d a s pa sto ra i s s o c i a i s e d e m a i s d i m e n s õ e s p ro m ova m a d i g n i d a d e d a p e s s oa h u m a n a . Dom Paulo Evaristo Arns lutou contra a Ditadura no país
a igreja EM caraguá
NASCE A VILA SANTO ANTÔNIO... A Capela que deu origem a Igreja Matriz foi erguida no século XVII, mas o primeiro registro oficial data de 1835
Capela Santo Antônio na década de 1920
vejo uma abertura muito grande da igreja católica com os novos movimentos, mas muita tradição se perdeu”, considera. Desde a sua criação, a Igreja Matriz teve participação direta na construção e história da cidade, seja no abrigo do primeiro cemitério municipal; na construção da Casa de Saúde Stella Maris, Asilo Vila Vicentina, Fórum, Asilo Santo Antônio (hoje Pró+Vida) e como ‘mãe’ de muitas capelas e paróquias. No livro tombo da Matriz de 1962 consta que as capelas supervisionadas eram a de Santa Cruz, no bairro Massaguaçu; São João Batista, no Pau D´Alho; São Benedito, no Queixo D´Anta; Nossa Senhora Aparecida, na Fazenda Vieira; São Pedro, no Camburu e Nossa Senhora das Necessidades, no Poiares. Também nesta época, o livro tombo revelou um censo religioso dos alunos do Grupo Escolar local, sendo 809 meninos e meninas católicos, 87 protestantes e 47 espíritas (em 1963). Nas escolas rurais eram 391 católicos, 50 protestantes e 24 espíritas.
CRIAÇÃO DA VILA E A CRIAÇÃO DA MATRIZ Segundo antigos documentos, entre os anos de 1664 e 1665 se formou a primeira Vila nesta Caraguatatuba. Por volta de 1693, uma epidemia, provavelmente de varíola, dizimou parte de seus moradores. Fugindo da doença, o restante da população abandonou a região. Passado algum tempo, um novo povoado surgiu na então conhecida “Paragem Caraguatatuba”, tornando-se Freguesia em 1847. Hoje conhecemos as freguesias como distritos e, naquela época, Caraguatatuba foi freguesia da Vila de São Sebastião. Dez anos depois elevou-se à categoria de Vila de Arquivo Público do Município
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ertencente à Comarca de São Sebastião, a Vila de Santo Antônio de Caraguatatuba consistia numa praça, com duas ruas e um beco, com algumas centenas de habitantes. No livro organizado por Jurandyr Ferraz de Campos (2000), consta o censo de 1929, no qual a cidade tinha 2.917 moradores e 22 imóveis, entre públicos, comerciais e residenciais e mais a Capela de Santo Antônio, como bem demonstra a foto abaixo. Documentos pertencentes à Igreja revelam que a Matriz de Santo Antônio pertenceu à Arquidiocese de São Paulo, Diocese de Taubaté, Diocese de Santos e, desde 1999, integra a Diocese de Caraguatatuba. Terezinha Miranda recorda que até a década de 1930 muitos freis de São Sebastião tomaram conta da Matriz, até a chegada do frei Pacífico Wagner em 1946. Já José Matias considera a igreja o quintal de sua casa. Na infância, ele lembra de ter assistido missas rezadas com o padre de costas e em latim. “Com certeza, hoje
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Fotos: Arquivo Público do Município
A Vila de Santo Antônio de Caraguatatuba consistia numa praça com duas ruas, um beco, casas simples, a Capela e o cemitério atrás
Santo Antônio de Caraguatatuba. Como todas as vilas brasileiras do século XIX, Caraguatatuba passou à município com o surgimento da República e, por suas belezas naturais e sob a proteção de Santo Antônio, foi reconhecida como Estância Balneária em 1947. A CAPELA MOR JÁ ESTAVA PRONTA E, EM NOVEMBRO DE 1858 JÁ HAVIAM SIDO CONSTRUÍDOS 33 PALMOS DE PAREDE LATERAL ATÉ A ALTURA DE 12 PALMOS, COM TRÊS JANELAS E A PORTA QUE DÁ PARA O CORO, 44 PALMOS DE FRENTE, NA ALTURA DE QUATRO PALMOS E TAMBÉM 32 PALMOS, COM ALTURA DE 12 PALMOS NA TORRE, CONFORME OFÍCIO DE, DA CÂMARA MUNICIPAL À ASSEMBLEIA PROVINCIAL A devoção do povo caraguatatubense a Santo Antônio vem de longa data. A Capela de Santo Antônio foi erigida no século XVII. O primeiro registro da Igreja remonta a um inventário de 1835, presente na obra organizada por Jurandyr Ferraz de Campos (2000), que descreve os bens existentes dentro da igreja, entre eles uma imagem de Santo Antônio, com seu menino; uma imagem do Senhor Crucificado; castiçal, toalhas de altar, missal etc. Em 12 de junho de 1840, o Pe. Manoel Pereira de Castro solicitou ao bispo de São Paulo Dom Manuel Joaquim Gonçalvez de Andrade e obteve a provisão da autoridade religiosa para o “reconhecimento” da Capela. Tratava-se, apenas, de uma formalidade preliminar, pois a capela já existia.
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A primeira visita pastoral registrada no livro do tombo foi feita pelo bispo Dom Antonio Joaquim de Melo que escreveu: “Fazemos saber que no dia 20 de outubro de 1853, visitamos pessoalmente a Igreja Matriz Santo Antônio de Caraguatatuba, em presença do Reverendíssimo Pároco Pe. Manoel Antônio da Silva e o povo da mesma. Tudo achamos com muita po-
Moças e rapazes em frente à Matriz
breza. Determinei portanto que fosse nomeado todos os anos um Festeiro para o Padroeiro”. Na parte litúrgica, Dom Antonio Joaquim de Melo destacou a orientação dada aos adultos, catequese para as crianças e missa cantada na Festa do Padroeiro. Em 1857, o corpo da igreja em construção, começou a receber auxílio das autoridades, tendo o Pe. Manuel Antônio da Silva como o vigário da igreja. Ofício da Câmara de 1860 confirma que todas as paredes da igreja estavam concluídas e prontas para receber madeiramento de telhado. Três anos depois, devido a novos esforços do povo, a igreja foi coberta. Nos anos de 1866 e 1867, a Vila de Santo Antônio, com auxílio da Câmara, na sessão ordinária de 05 de dezembro de
1867, restaurou o velho telhado da Capela Mor. O vigário Pe. Manoel Esteves de Porciúncula, em 1870 registrou no livro do tombo, o número de óbitos, casamentos e batizados de brancos e escravos. O Pe. João Vicente Cabral nomeou uma comissão de obras, que em janeiro de 1872, apresentou orçamento de um conto de reis para assoalho e forro da Capela Mor e Sacristia; dois contos de reis para o forro do corpo da igreja e assoalho; reboco e caiação; um conto e quinhentos reis para o frontispício (fachada principal); quatro contos de reis para a torre. Os pedidos às autoridades eram via Câmara Municipal para a Assembleia Provincial de São Paulo. O povo ajudava com dinheiro e material. Na Lei do Orçamento de 1875 foi aprovado o repasse de dois contos de reis em favor da Matriz para reparos e paramentos. Concluída a obra na Matriz passou-se a cuidar de suas alfaias (roupas, utensílios e enfeites). Em 1877, falava-se de novo em reforma do telhado, frontispício e assoalho. E nem se passava ainda uma década, o templo estava sem condições, devendo o vigário celebrar missa numa casa particular. Eis o que diz o requerimento do Pe. João Vicente Cabral, em 1886, no livro tombo, endereçado ao bispo Dom Lino Deodato Rodrigues Carvalho: “Achando-se a respectiva Matriz inteiramente arruinada e imprestável, precisando de reconstrução e não de uma nova, não tem o pároco onde celebrar o Santo Sacrifício da Missa e exercer outros atos paroquiais e atos religiosos, em cuja falta muito sofre o povo, convindo por isso remediar tais inconvenientes”. Mais adiante, a história da Matriz revelaria que foram frequentes as reformas e benfeitorias feitas em seu prédio (como leremos na próxima reportagem).
reformas da matriz
RIQUEZA DA ARQUITETURA COLONIAL Os traços coloniais podem ser verificados na porta da Matriz, janelas, telhados e beirais simples, inseridos de forma harmônica no cenário local Nanette Suckow de Oliveira lembra que, quando criança, na década de 1930, a praça da Matriz era só areia. “Na frente da igreja passava um riacho. Era a única igreja e por isso toda minha família a frequentava. Depois teve o cemitério atrás da Matriz que deu lugar a casa paroquial. Os vitrais não eram altos e cada família doou um vitral nos idos de 1945. A primeira imagem de Santo Antônio era pequena e ficava no altar. Tinha a pia batismal de prata, com tampa e tudo. Ficava
na entrada da igreja (onde hoje fica o pessoal do dízimo) e depois foi encaminhada para a catedral. Tem o mezanino em cima da porta de entrada onde o pai do Osíris Santana tocava órgão e cantava ladainha”, relembra. Osíris Nepomuceno Sant’Ana Filho confirma que seu pai foi organista da Matriz e que outra reforma importante aconteceu na década de 1990, dobrando o tamanho da igreja. Arquivo Público do Município
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Igreja de Santo Antônio tem estilo colonial como as construções arquitetônicas feitas no Brasil entre 1500 (Descobrimento) a 1882 (Independência). Com a chegada de frei Pacífico Wagner em 1946, a Matriz iniciou dois anos depois, a sua primeira grande reforma. Terezinha Miranda, esposa do falecido Quincas (Joaquim Pereira da Silva), revela que o marido foi motorista do frei Pacífico. “O Quincas buscou o altar da igreja no Liceu em São Paulo (instituição de ensino salesiana). Esperou ficar pronto para trazer. Antes (em 1939), na época do padre Américo, era uma igreja pequena, uma portinha simples, tinha os pilares grandes e quem chegava atrasado à missa acabava ficando atrás”, relata Terezinha. Em 1949 a igreja recebeu a cúpula do sino e a parte lateral, descaracterizando a arquitetura original e, por isto, o prédio não pode ser tombado posteriormente. O projeto da reforma dos 819,554m² da Matriz foi atribuído ao engenheiro Eduardo da Costa Júnior. “Mudou a estrutura da igreja. A fachada foi alterada e os padres que vieram depois mantiveram assim. Foi preciso aumentar a igreja, pois era muito pequena. Lembro que tinha altares de Nossa Senhora e do Sagrado Coração de Jesus, mas depois tiraram e só deixaram Santo Antônio”, confirma Terezinha que ainda hoje integra o Apostolado da Oração na igreja.
Na reforma de 1948, a Matriz recebeu a cúpula do sino e a parte lateral Um esboço da História | Agosto de 2013
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Preciosas artes no interior da Matriz
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A riqueza da Igreja Matriz não se limita a arquitetura externa. A parte interior é dotada de imagens sacras, vitrais coloridos (ver páginas 44 a 46), painéis de azulejos pintados que retratam episódios da vida de Santo Antônio, quadros da via sacra, imagens de santo, o nicho central composto por altar de madeira e a Imagem de Santo Antônio com 1,15 m de altura, cerca de 200 anos, e de origem provavelmente portuguesa. O inventário da Matriz de 1943, traz registros de outros altares nos corredores laterais, entre eles: Imaculada Conceição, Sagrado Coração de Jesus, São Benedito, Nossa Senhora Aparecida e Santa Terezinha, além de dois livros tombos, um iniciado em 1853 e o outro em 1938; um livro de casamento, quatro de batizados; bandeiras da cruzada infantil, de marianos, do Brasil e papal; quatorze quadros da via sacra etc. João Oliveira, o Jotta, 74 anos, revela que em 1997 foi encomendada a atual mesa e as cadeiras que estão no altar da Matriz. Os ‘pés’ da mesa do altar retratam 12 peixes que simbolizam os 12 apóstolos, além da uva (vinho) e o pão, remetendo ao corpo e sangue de Cristo. “Certo dia, conversando com um amigo revelei que os fiéis da Matriz queriam uma nova mesa de altar, digna de estar na ‘casa do pai’. Este meu amigo conhecia o escultor Luiz que morava em Passa Quatro/MG. Fomos até lá, mas o Luiz nem deu bola pra nós. Desanimei. Quando estávamos retornando, o escultor disse para comprarmos umas madeiras que ele iria estudar o que fazer. Depois de umas semanas voltamos lá e a mesa estava linda. Luiz fez até a cesta de pães de Santo Antônio no centro da mesa do altar. Um dom de Deus. E o escultor ainda contou que tinha começado a fazer uma cadeira para o papa João Paulo II que viria ao Brasil. A cadeira estava inacabada. Pedi para ele terminar que colocaríamos no altar da Matriz. Outra obra prima”, relata.
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Fotos: Marcelo Souza
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Imagem de Santo Antônio Altura: 1,15 cm Cintura 1,08 cm Pé: 15 cm Cabeça: 42 cm Pescoço: 23 cm Peso: 31 kg Braço: 40 cm Punho: 14 cm Costas Cumprimento: 33 cm / largura: 40 cm
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1. Detalhe da mesa do altar com figuras de peixes, uva e pão; 2. João Oliveira, o Jotta, encomendou a mesa do altar do escultor mineiro Luiz; 3. Altar principal com a imagem de
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Santo Antônio; 4. Santo Antônio lava pratos, 5. Santo Antônio entrega pães aos carentes; 6. Santo Antônio prega para os peixes; 7. Santo Antônio encontra São Francisco;
Imagem do Menino Jesus Altura: 31 cm Cintura: 20 cm Cabeça: 23 cm Pescoço: 18 cm Peso: 100 gr Costa Cumprimento: 12 cm/ largura: 11 cm Braço: 12 cm Punho: 07 cm Pé: 04 cm
No destaque, reforma mais recente da Matriz. À direita, as várias fachadas na história da Igreja de Santo Antônio
Década de 1950
Final da década de 1980
Fachada atual (2013)
Fotos: Arquivo Público do Município
Final da década de 1920
REGISTROS NOS LIVROS TOMBOS Foram realizadas várias ampliações e reformas na Matriz, sendo as principais: 1940: frei Menando Kamps aumenta a sacristia e faz um quarto para o padre. 1943: o telhado da Matriz estava em condições de perigo. Feito reboco das paredes esburacadas com ajuda de soldados e militares que passavam a páscoa aqui. 1945: colocados vitrais trazidos de São José dos Campos, iluminação nos altares e nova porta na sacristia. 1946: obra do telhado feita por meio de leilões e rifas. A Festa de Santo Antônio e a Festa do Coração de Jesus arrecadaram verbas em prol da reforma. 1947: começou a reforma da fachada. 1948: foi iniciada a construção de um pequeno salão para reuniões das imaculadas, catecismos e solenidades cívicas. Torre e escadaria reformadas. 1950: para garantir o terreno da entrada ao lado esquerdo, fez-se um muro e um galpão. Substituída a escada da entrada por degraus mais amplos. 1951: construída uma casa paroquial no terreno atrás da Matriz, onde era o antigo cemitério e começou a construção de um jardim de infância. 1955: inaugurado o serviço de alto falante por ocasião da passagem do ano e da hora santa. Instalado amplificador. 1956: no dia de finados foi inaugurado o novo cemitério municipal, no Indaiá, num lugar mais
amplo e bem murado. O centro do Cemitério ganhou a Cruz Grande que vivia ao relento atrás da velha Matriz. 1961: foi comprada a primeira casa paroquial (patrimônio); em 1963 foi adquirida a segunda casa; em 1965, aquisição da terceira casa, e em 1967, da quarta casa. Reforma do jardim de infância, fórum provisório e compra de veículo novo na gestão do padre José Almeida dos Santos. 1987: criado o Conselho Administrativo e de Obras para a construção de nova igreja. As obras foram iniciadas com a reforma e ampliação do salão de festas. Para a Festa de Santo Antônio, a imagem recebeu pintura feita pela paroquiana Carmem de Assis. 1988: no dia 20, aniversário de Caraguatatuba, teve missa solene e entrega da pintura da igreja. Inicia a reforma elétrica e quase todo material foi fruto de doação. 1989: reforma do serviço de som da Igreja, por meio de verbas arrecadadas de paroquianos e turistas. 1990: aprovado o projeto de reforma e ampliação da Matriz. Inicia o trabalho de terraplenagem com a presença de máquinas da SUDELPA (Superintendência do Desenvolvimento do Litoral Paulista) e caminhões particulares, após derrubada das garagens, secretaria e árvores ao redor da casa. 1991: instalado o forro da igreja, os alicerces da secretaria e rebocos na parede. Imagem de Nossa Senhora das Graças com três metros foi colocada na Matriz.
2001: novo piso, no qual cada paroquiano assumiu 01 metro. Foi feito um quadro mural com 1000 números vendidos e simbolizando as doações. O bingo do carro na Festa de Santo Antônio arrecadou verbas para a troca do piso. Mudança na colocação dos vitrais. 2002: construção de quatro novas salas para serem usadas pelas pastorais. 2005: salão paroquial passou por reforma, troca do forro, piso, construção de um palco, troca das janelas para outras de alumínio. Inaugurado o Espaço Cultural com Cristoteca. 2007: obra da troca do telhado da Matriz, reforma do relógio, restauração da torre. Foram refeitas a rede elétrica, melhora na qualidade do som e na potência dos microfones. Troca do Sacrário. 2008: colocados 18 exaustores no teto da Matriz. Obras do salão do bingo, pilares e vigas. Troca dos murais da entrada do átrio e instaladas molduras e fundo de alumínio. 2009: troca de piso, revestimentos, serviço de gás, colocação de balcões de ardósia e portas de ferro vazadas na cozinha da igreja. Serviço de manutenção e pintura do nicho do altar de Santo Antônio. Reforma das calhas, porta principal, fachada e rampa onde ficava a pia batismal para facilitar a locomoção das pessoas deficientes, em ocasião da Festa de Santo Antônio. 2010: Apresentação do projeto de ampliação da parte social da igreja. 2011 e 2012: Execução do projeto de ampliação da parte social com a construção de banheiros, salas, secretaria e segundo pavimento. Um esboço da História | Agosto de 2013
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a igreja e a comunidade
A FUNÇÃO DA IGREJA NA FORMAÇÃO DO HOMEM Administrar, orientar, organizar, educar são algumas de suas atribuições
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om toda certeza alguém já ouviu a seguinte expressão: “É uma típica cidade do interior, com uma igreja no centro da praça, um coreto e os moradores”. Não estranhe se isso lhe for familiar, pois está relacionado com a função desempenhada pela Igreja Católica desde o tempo medieval. Com a expansão da fé nos países da América do Sul a realidade de abrigar uma capela foi inserida no cotidiano das vilas que se formavam no século XVI. Portugal era um país católico e sua religião foi trazida ao Brasil durante a colonização. Segundo a tradição portuguesa, para um povoado se tornar vila deveria ter uma cadeia, uma câmara, um pelourinho e uma capela dedicada ao padroeiro para a proteção do povoado. E assim aconteceu em Caraguatatuba. A Vila se formou no entorno da Capela Santo Antônio que, além das atribuições religiosas e espirituais, desempenhou funções de caráter civil e administrativo, que hoje são de competência do Estado. A ação estendia-se aos setores assistencial, pedagógico, econômico, político e cultural. Em 1770, como retratado no livro “Santo Antônio de Caraguatatuba”, o capitão geral
da Capitania de São Paulo, Luiz Antônio de Souza Botelho Mourão, ordenou ao sargento Joaquim da Silva Coelho, responsável pela Vila de São Sebastião, que concedesse condições para ressurgir o povoado de Santo Antônio de Caraguatatuba: “Desde logo o lugar para Casa da Câmara, cadeia e mais edifícios públicos, visto que já tem a Igreja da invocação de Santo Antônio, para a qual fará ajustar um capelão que, depois, quando se formar vila da dita povoação, sirva de pároco dela; para o que lhe concedo os poderes necessários, em ordem a efetuar, sem dúvida alguma, o referido; e de tudo o que obter neste particular me dará parte para lhe ordenar o mais que julgar conveniente”. Apenas no final do século XVIII, com poucas casas, moradores distantes e vivendas na área rural, a Igreja que pertencia ao Estado, passou a “administrar” a vida das pessoas que moravam aqui, cumprindo atribuições de Cartório. Assim sendo, os primeiros registros de nascimentos, casamentos e obituários foram expedidos pela Igreja. Coube também a Matriz organizar e administrar o primeiro cemitério da cidade, que ficava atrás da Igreja até 1948, quando foi transferido para a região da Chácara das
Marrequinhas. Este segundo cemitério só foi desativado anos depois com a inauguração do cemitério municipal no Indaiá. No período do Império a Matriz serviu como Câmara de Vereadores até a primeira sede em 1857 ficar pronta. Registros no livro tombo dão conta de que as reuniões dos vereadores ocorriam no prédio da Igreja, bem como eles destinavam ajuda para a reforma que ocorria na Paróquia. Já nos idos dos anos 60, há registros de que o Fórum de Caraguá funcionou no Salão que ficava ao lado da Matriz. Na área da saúde, a Igreja também foi atuante em Caraguatatuba. O pároco da Matriz, padre Américo Virgílio Endrizi doou no final dos anos 40, o terreno onde hoje está a Casa de Saúde Stella Maris. Os fiéis da Paróquia também arrecadaram verbas para o início da construção, repassando o que tinham as irmãs Pequenas Missionárias de Maria Imaculada, que administravam o Hospital. EDUCAÇÃO E AUXÍLIO Outra contribuição importante da Igreja Católica para a comunidade local foi
Fotos: Arquivo Pessoal/Clébia Maziero
Ação Social desenvolvida pela Paróquia Santo Antônio auxiliou famílias carentes na década de 1990
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na Educação, pois eram poucas escolas. A maioria dos alunos (pobres) dividia o tempo entre os estudos e a ajuda aos pais para complementar a renda da família. Por isto, muitos precisavam do reforço escolar oferecido na Paróquia Santo Antônio. Maria Tereza Miranda da Silva lembra que antigamente não tinham tantas professoras e a igreja selecionava voluntárias interessadas em ensinar. “Minha mãe Maria Borges Miranda, foi uma das mulheres que ajudou muitas crianças a compreender as primeiras letras. As aulas eram na Igreja”, conta. Outra professora leiga foi Maria Conceição Pacheco (Mariquinha) que atuou no Massaguaçu. Nas décadas de 1950 e 1960, existiu o Roupeiro de Santo Antônio formado por senhoras que faziam costura o ano todo e doavam as roupas no Dia do Padroeiro. A costura tinha como presidente, Ciloca Santos Garrido e as costureiras eram a Haydée, Noêmia Machado, Antoninha de Oliveira, Maria Conceição Pacheco e outras auxiliares que se ocupavam das visitas nas casas e asilos para poderem fazer os pacotes de acordo com o número de necessitados. Gabriela Custódio dos Santos relata que sua sogra, Ana Monteiro, participava da Costura de Santo Antônio com dona Jandira Vasques e outras senhoras, toda terça-feira. “Elas faziam roupas e o povo
sabia que seriam distribuídas no Dia de Santo Antônio”, revela. Um caso interessante contato por Nanette Suckow de Oliveira foi que um dia, saindo do Roupeiro pela porta lateral da Igreja, ouviram o choro de um recém-nascido. Olharam e viram ao lado do confessionário um embrulho. Era um bebê abandonado. Como o esposo da dona Noêmia vinha buscá-la de carro, acabaram levando o bebê para a Delegacia. Depois souberam que a criança fora adotada por um casal. Da esquerda p/ direita: Ivone Mendes do Amaral, Cleide Novoline Porto, Clébia Maziero e Ligia Nacarate se preparam O livro tombo de 1962 para levar as cestas básicas em frente a sala da Ação Social registra que houve Jardim de Infância na Paróquia, e que as atividades foram interrompidas sidade. Houve também capacitação para com a saída da irmã responsável que professores ministrarem o Ensino Religioso pertencia a Congregação das Pequenas nas escolas. Missionária de Maria Imaculada. Mais tarEm 1972 foi inaugurado o “Centro Sode, a professora Presciliana Leite de Cas- cial Nossa Senhora do Cenáculo”, que tilho voltou a desenvolver a atividade em funcionou como semi-internato. As irmãs caráter particular. Mais recentemente foi Maria Angélica e Maria José, responfeito na Matriz um cursinho preparatório sáveis pelo trabalho filantrópico e capara vestibulandos terem acesso a univer- ritativo, ensinavam atividades manuais,
Clébia Maziero, padre José Brahmakulam e irmã Lúcia preparam as sacolas de alimentos entregues aos assistidos pela Ação Social da Igreja
culinária e religião as jovens de 08 a 17 anos que eram preparadas para a vida familiar e social. Com o encerramento do Centro Social, o trabalho passou a ser realizado por pastorais. As missões redentoristas foram trazidas em 1980 para Caraguá pelo padre André Afonso Maria Butti. Eles faziam evangelização. Foi este mesmo padre que fundou o dízimo, por meio de uma comissão responsável por elaborar os bilhetes, entregar nas casas e recolher mensalmente. ZELO Recentemente a Igreja passou a cuidar da formação do homem. Na Matriz Santo Antônio os trabalhos estimulam a dignidade Um esboço da História | Agosto de 2013
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Fotos: Marcelo Souza
Clébia Maziero veio morar em Caraguá nos anos 60. Desde então adotou a Santo Antônio como sua Paróquia (foto abaixo). Ao lado, nos livros tombos constam os registros mais importantes da Paróquia Santo Antônio.
das pessoas e daqueles que estão à margem da sociedade, como faz o grupo da Ação Social, entre os anos de 1995 a 1998. As atividades realizadas pela Ação Social até hoje são lembradas pela população. Sob a orientação do padre João Chungath, o grupo coordenado por Maria Clébia Ivo Maziero teve início com 12 mulheres que integravam o Clube da Mulher. Clébia se recorda que juntamente com outros movimentos da Igreja, entre eles os Vicentinos, realizavam cadastramento, faziam visita às famílias, davam encaminhamentos, distribuam alimentos, entre outros “recursos para promoção humana dos assistidos como indicação de emprego, cursos, remédios e demais ações sociais”. As mulheres se reuniam na igreja para costurar e organizar as ações em favor dos mais carentes. “Fazíamos roupas e bordados o ano inteiro. Juntávamos isto, mais os cobertores e mantas para distribuir aos caren-
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tes no Dia de Santo Antônio”, confirma. Segundo registros, no Natal de 1996 a Ação Social organizou uma festa para 150 crianças carentes que receberam presentes e doces. O dinheiro para o evento foi arrecadado nos bazares da pechincha e bingos. Doações em dinheiro também eram recebidas e o excedente entregue “a equipe de Santo Antônio que utilizada a verba para comprar alimentos e melhorar as cestas básicas”, conta Clébia. Hoje as ações desenvolvidas pelas Pastorais contribuem para a construção de uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária. Exemplos disso são os trabalhos da Pastoral da Sobriedade que ajuda e orienta dependentes químicos e familiares. A Pastoral da Saúde sensibiliza as pessoas a respeito do sofrimento do outro, promove dignidade ao enfermo, por meio de um trabalho humano, ético e cristão. Na Pastoral do Idoso o serviço desenvol-
vido não é diferente. Ao promover a integração dessas pessoas por meio de eventos, passeios e atividades diversas, estimula a velhice ativa e sua interação com as outras gerações, valorizando a história de vida, as experiências e a espiritualidade do idoso. Outro trabalho que demonstra a dedicação e preocupação para com os pobres é o feito pelos Vicentinos, que por muitos anos ficou sob os cuidados de Olímpio José de Oliveira. Mensalmente eles arrecadam alimentos e roupas para doar as famílias assistidas (menos favorecidas) de Caraguá. FÉ E POLÍTICA A conscientização política também está presente no trabalho da Pastoral da Campanha da Fraternidade, que propaga um tema anual com o intuito de conscientizar a população sobre questões importantes que refletem a preocupação da igreja. Além disso, no ano de 2004, a Pastoral Fé e Política, organizou um debate com os três candidatos ao Executivo Municipal. O evento ocorreu no salão paroquial e teve a presença de 250 pessoas, entre lideranças, padres, convidados e imprensa. Na Praça da Matriz, mais de duas mil pessoas acompanharam o debate pelo telão. Dois anos antes, os fiéis juntamente com os catequizandos do Crisma receberam a cartilha “Voto não tem preço... tem consequências”, que trazia orientações de como escolher com responsabilidade seu candidato, contudo sem ser político ou partidário. O material fui objeto de leitura e discussão entre os crismandos. Nas eleições, o trabalho desenvolvido demonstrou um amadurecimento das pessoas em relação à escolha dos candidatos. A MATRIZ HOJE A Paróquia Santo Antônio é hoje administrada pelo pároco, padre Marcos Vinícius
Rosa, com o auxílio do vigário, padre Luiz Ernesto Santos, que junto aos fiéis, colhem frutos no campo espiritual e social com os trabalhos das pastorais, movimentos e grupos. Para melhor funcionalidade, o padre Marcos dividiu seus serviços em três núcleos a qual denomina Pastoral de Conjunto: Litúrgico, Catequético e Social/Pastoral. No núcleo Litúrgico, estão os integrantes do Dízimo, Coroinhas e Cerimoniários, Ministros e Liturgia. O núcleo Catequético compõe a Pastoral da Infância e Adolescência Missionária, Crisma, Juventude, Catequese, Catequese com adultos (RICA), Apostolado da Oração, Renovação Carismática Católica (RCC) e a Escola de Teologia. Já as ações do núcleo Social/Pastoral, são integradas pela Acolhida, Campanha da Fraternidade, Comunicação, Pastoral da Criança, Eventos, Idoso, Vicentinos e Encontro de Casais com Cristo (ECC), Legião de Maria, Familiar, Saúde, Sobriedade e Mãe Peregrina. Além de orientar as pastorais, a Matriz é responsável pela manutenção espiritual e estrutural das comunidades Divina Providência (Rio do Ouro), que abriga moradores de rua; Capela Nossa Senhora das Graças (Rio do Ouro); Capela São Francisco de Assis (Ponte Seca); Capela São Vicente de Paulo (Asilo Vila Vicentina - Centro), Capela Nossa Senhora do Rosário (Hospital Stella Maris) e Asilo Pró+Vida. As decisões do que fazer, tanto na Matriz como nas comunidades, são tomadas por integrantes do Conselho Pastoral Paroquial (CPP), responsáveis pela gestão da Paróquia, que se reúnem uma vez por mês para debater as providências ao bom andamento da vida pastoral. NOVOS TEMPOS A história revela que a Igreja sempre amparou o povo nos mais diferentes aspectos. O ministro da eucaristia, Brás Custódio, opina que: “A Matriz sempre foi à mãe que deu assistência espiritual e financeira as outras paróquias da cidade. Poucos conhecem este papel. Nossa igreja não teve apenas a missão de cuidar da religiosidade do povo, mas se debruçou nas questões sociais. O trabalho feito no século XVII, na então Capela de Santo Antônio, hoje é colhido diariamente para que homens se mantenham na fé de Jesus Cristo”.
A Relíquia Em 1959, a Igreja Matriz Santo Antônio recebeu um grande presente: a Relíquia que pertencia a Basílica de Santo Antônio de Pádua, na Itália, contendo os ossos de Santo Antônio, as cinzas de São Francisco e outras riquezas. Abaixo, o documento da entrega da Relíquia à Igreja de Caraguatatuba, traduzido pelos nossos paroquianos.
“PRIMUS PRINCIPI” Pela Graça de Deus e da Sé Apostólica Arcebispo Tyanense Delegado Pontifício para Basílica de Santo Antônio em Pádua Fazemos saber aos que virem estas nossas letras e damos fé a todos e a cada pessoa em particular que, para maior glória de Deus Onipotente e veneração de seus Santos, reconhecemos as Relíquias abaixo descritas, extraídas autenticamente a saber: 1. Do Véu da Bem-Aventurada Maria Virgem. 2. Do Manto de São José, Esposo da Bem-Aventurada Maria Virgem. 3. Das Cinzas do Pai São Francisco, Confessor. 4. Dos Ossos de Santo Antônio de Pádua, Confessor e Doutor da Igreja. 5. Da Indumentária de Santa Izabel, da Hungria, viúva, da Ordem III de São Francisco.
Divulgação/Matriz
6. Dos Ossos de São Luiz, Rei da França, Confessor, da Ordem III de São Francisco.
Estas relíquias colocamos reverentemente em tecas metálicas douradas, em uma custódia de madeira de forma redonda, reunidas e ligadas com uma linha de cor vermelha, e seladas com nosso sinete, impresso em cera rubra hispânica com faculdade para ser expostas a veneração em qualquer Igreja, capela ou Oratório Público. Estas letras testemunhais marcadas pelo nosso sinete, assinada por Nossa Mão e pela mão do muito Reverendo Padre Provincial da Basílica Santo Antônio em Pádua, da Ordem dos Frades menores Conventuais, com Nossa especial autoridade e nosso sinete assinado, mandamos ser publicadas. Dado em Pádua, na residência Nossa no Convento Santo Antônio. Dia 30 de Novembro de 1959. Giorgio Montico, Min. Provincial. Amedeo Sanvidotto SS.RR Custódio. Um esboço da História | Agosto de 2013
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O PADROEIRO
FÉ EM SANTO ANTÔNIO
Os mais distintos pedidos feitos pelos caraguatatubenses são atendidos. A devoção pelo padroeiro remonta a formação da cidade
“A
s pessoas de Caraguatatuba sempre foram muito devotas”. As palavras de Maria Tereza Miranda da Silva, conhecida como Terezinha do Quincas, exprime o sentimento latente e impregnado em todos os entrevistados dessa reportagem: a fé em Santo Antônio. E m Ca ra g u a ta tuba , a d evoçã o teve i n í ci o n a co n stituiçã o d a V ila . O p r i m e i ro a m a n ifesta r con f ia n ça n o S a n to d e P á d u a foi o fun d a d or de Ca ra gu a ta tu ba , M a n uel d e Fa r i a D o r i a , a o l evan ta r nesta s terras u m a p e qu e n a ca pela . A f é n o s an to fo i t ra z i d a de Portug a l pelos fran ci s ca n o s e s e es pa lhou d evid o ao s s e u s i n ú m e ro s m ila g res. O pesquisador Jurandyr Ferraz de Campos, no livro “Santo Antônio de Caraguatatuba”, relata que mesmo após a epidemia que
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dizimou os moradores da vila, a devoção pelo santo foi mantida. O fato foi confirmado no livro tombo, que relata que o padre Luiz Pacheco Coelho ajudou a manter viva a fé das pessoas em Santo Antônio. No século XVIII, as atividades na vila já haviam voltado e a vida religiosa retomava seu curso. Hoje a relação da população de Caraguá continua estreita com o padroeiro, graças aos pedidos alcançados. VIDAS Osíris Nepomuceno Sant’Ana Filho tem sua história de vida entrelaçada com a da Matriz, onde foi batizado, fez primeira comunhão e crisma. Ele lembra com saudade do período em que seu pai era organista da igreja. “Em maio, mês de Maria, ele tocava na igreja. Chamava o frei Jorge Kneipp, que morava em São Sebastião, para tocar com
ele nas festas especiais”. Terezinha conta que a Igreja de Santo Antônio teve papel muito importante na vida de sua família. O relacionamento, segundo ela começou quando seu esposo Quincas veio morar em Caraguatatuba e conheceu frei Pacífico Wagner, pois faziam as refeições na Pensão da Ana Fachini: “A Igreja foi tudo na minha vida, conheci meu marido, fiz primeira comunhão, casei, batizei meus filhos e completei bodas de prata, tudo na Santo Antônio”. “Você pode ter tudo na vida, mas se não tiver Deus, não se tem nada”, com os olhos marejados de lágrimas, Brás Custódio conta que hoje está mais próximo da igreja. O paroquiano relembra dos momentos difíceis que a cidade enfrentou como a Catástrofe de 1967. Para ele, se não fosse o auxílio do Santo, a cidade não teria se reerguido.
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Brás lembra que se Santo Antônio foi quem ajudou a reconstruir a cidade após a Catástrofe de 1967
próprio casamento. “Com 14 anos, brinquei com Santo Antônio que precisava ‘achar’ uma pessoa. Foi na quermesse daquele ano que conheci meu futuro marido. Ficamos casados 15 anos. Até hoje minhas irmãs lembram do pedido que fiz a Santo Antônio”, relatou. Outro pedido feito ao santo foi contado por Terezinha que durante o período de férias recebeu a cunhada em sua casa. A cunhada tirou do dedo um anel de brilhantes de casamento e colocou em cima de uma prateleira. O filho caçula jogou o anel num monte de areia e ninguém encontrava. “Ela parou e orou para Santo Antônio prometendo que subiria o Morro se encontrasse o anel. Em seguida a joia apareceu”, relata. Já Rosalva Oliva de Almeida Garcia, irmã de Terezinha, lembra que sua família estava para se mudar de Caraguatatuba, pois o marido havia sido transferido para Lins, na região de Ribeirão Preto. “Nós não queríamos mudar de cidade. Meu marido entrou na Igreja e rezou para Santo Antônio e Santa Edwiges. Sua devoção o manteve aqui”. A devota Nanette Suckow de Oliveira, hoje com 82 anos, lembra que pediu ajuda de Santo Antônio no nascimento do Aldo Nardi. “A Dulce, esposa do Orestes Nardi, tinha chamado a parteira Benedita Mendes para auxiliar no nascimento do Aldo. O bebê colocou só o pezinho para fora e não queria nascer. Chamaram o Jorge Nunes, que tinha carro na cidade, colocaram a Dulce no carro e levaram para São José dos Campos. Eu estava na casa da minha vó Raimunda Gomes de Lima e ela participava do Apostolado da Oração. Minha vó junto com senhoras do Apostolado como Maria Borges, Aura Britis, Esmeralda Ferreira e outras, pediram para Santo Antônio fazer tudo dar certo. Depois recebemos a notícia de que o bebê tinha nascido e estava tudo bem”. Nanette relata um segundo fato, este ocorrido com sua família que morava no Massaguaçu. Segundo ela, quando seu irmão Olavo tinha um ano e meio, a mãe viu que um cabrito ti-
Fotos: Bruna Vieira
OS MILAGRES Santo Antônio é conhecido por inúmeros milagres, entre eles: a pregação para os peixes em Rimini (Itália); o coração do avarento encontrado dentro do cofre; a mula em adoração ao Santíssimo Sacramento; o recém-nascido que fala em favor da mãe inocente; o pé decepado que o santo une novamente à perna; a menina que recebe o bilhete e ganha moedas de acordo com o peso do papel, depois de recorrer ao santo para conseguir ajuda e não precisar se prostituir, e tantos outros. Con fi a n te s , o s f iéis d e Ca ra g u atatu ba a l ca n ç a m g ra ça s q ua n do reco r re m a S a n to An tôn io. Na m ai o r i a d a s ve z e s os ped id os sã o referen te s a p ro b l ema s d o cotidi an o co m o qu e st ões f in a n ceira s , enco nt ra r o b j e to s d esa pa recid os e cura d e d o e n ç a s . Um desses casos é a conversão do senhor Antônio Nardi como está relatado no livro tombo em 1956. Segundo consta, antes de seu falecimento, ele estava muito doente e sofria assédio de seus familiares espíritas que faziam com que seu estado de saúde piorasse. Um pedido da filha ao Santo fez com que toda sua família se convertesse ao catolicismo. Antes de sua morte, Antônio comungou duas vezes. Anos atrás Cléa Liberato atribuiu uma cirurgia bem sucedida, a sua fé no santo, assim como o
Terezinha do Quincas pediu intersessão do Santo para encontrar um anel de brilhante
Rosalva rezou para que seu marido não fosse transferido de cidade devido ao trabalho
Nanette orou para Santo Antônio cuidar de Dulce Nardi que teve complicações no parto do filho Aldo
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SA NT O AN T ÔN I O S E M P R E EST EV E PR E S E NT E NA V I D A D O S C A R AG UATAT U BEN SES. G R A ND E É O N ÚMERO D E P E S S OAS QU E D OA M B OA PA R T E D E SEU T E M PO, E POR QU E N ÃO D E S UAS VI D AS, PA R A P ROPAG A R A F É N O SA NT O . CA D A D EVO T O T E M UM A H I ST ÓR I A PA R A CO M PAR T I L H A R . R EL AT O S T R ANS FO R MA D O R ES Q UE CO NT R I BU ÍR A M PAR A O CR ESC I MEN T O E O D E S E NVO LV I MEN T O D A VI D A R E LI G I O SA D A CIDADE
nha pisado na perna dele quando engatinhava. Na hora a mãe pegou ele no colo, deu mamá e passou. Uns dez dias depois meu irmão não parava de chorar por causa do machucado. Até que minha mãe nos trouxe para a casa da vó Raimunda, no Centro da cidade e levou meu irmão para o farmacêutico, Sr Geraldo, ver. Ele mandou ficar 72 horas fazendo compressa em cima do machucado com angu de fubá. “Eu era a filha mais velha e lembro de tudo. Minha mãe e minha vó se revezaram o tempo todo na compressa. Até que pegaram um lençol e levaram de novo para o Sr Geraldo. Ele fez um corte bem pequeno e o lençol voltou todo sujo. Depois de uma semana, o machucado do meu irmão tinha seca-
do, isto porque todos rezaram para Santo Antônio”. Milagroso, Santo Antônio continua a ouvir os diversos pedidos e age junto a Cristo para que todos sejam atendidos por meio da seguinte oração: “Se milagres desejais, contra os males e o demônio, recorrei a Santo Antônio e não falhareis jamais. Pela sua intercessão, foge o erro, a peste e a morte; quem é fraco fica forte, mesmo o enfermo fica são. Rompem-se as mais vis prisões, recupera-se o perdido, cede o mar embravecido, no maior dos furacões. Penas mil e humanos ais se moderam, se retiram: isto digam os que viram, os paduanos e outros mais”.
CAUSO DE SANTO ANTÔNIO E SÃO BENEDITO EM CARAGUÁ
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Aí tio Bento falou assim: Puxa vida, quem trouxe esse Santo aqui, ali não entrava nem grilo, ali era só serrado. Aí foram roçá o capão prá prantá a cana e acharam aquele Santo, Nossa Senhora que lindo Santo, era um santo grande, parecia um rapaz. Aí trouxeram prá igreja e lavaram, isso foi no tempo da Dona Presciliana de Castilho que trabalhô aqui, que tomava conta da igreja. Ela lavô o Santo Antônio, tratô bem tratadinho e pois cheiro, bem cheirozinho, botô lá no artar, aquele Santo era uma maravilha, era um Santo milagroso. E daí, quando foi um dia, chegaram na porta da igreja, rastinho de areia, o artar de Santo Antônio tava cheio de areia e a sandalinha cheio de areia. Então o povo falava: Tá vendo esse Santo, tá andando na rua, esse Santo é vivo, arguma coisa vai acontecê nessa cidade, arguma coisa vai acontecê. Quando foi um dia, foram roçá lá prá baxo, na rua Perna de Pau, lá tinha um poço d’água chamado banheira. Acharam São Benedito, outro Santo jogado na beira da banheira, também cheio de limo. Trouxeram ele, lavaram, botaram lá na igreja, ficaram os dois Santo lá.
Uma noite, São Benedito ia passear, outra noite Santo Antônio ia passear e aquilo era alegria prá todo mundo, era festa. Mas quando foi uma vez, veio aí um padre alemão, gordo, ele tinha uma mula, levava a mula na igreja, entrava com a mula e botava água benta na mula, muntava e saia na coitada, ele benzia a mula. Quando contaram prá ele que Santo Antônio tava saindo da igreja, passeando, sabe o que ele feiz? Pois Divulgação
L
eopoldo Ferreira Louzada, nascido em 07 de maio de 1904, em Caraguatatuba, relatou ao Arquivo Público do Município: “Quando eu era pequeno que tinha uns dez anos, o meu pai me contou esse causo verdadeiro, porque meu pai era um homem verdadeiro, com a graça de Deus. Santo Antônio e São Benedito, de primeiro andavam na Rua de Caraguatatuba, eles saiam do Artar deles e passeavam na rua. Mas sabe qual foi Santo Antônio? Santo foi achado ali perto da fábrica de tijolo, ali prá lá da Vila Vicentina. Tinha um capão de pinheiro, e meu tio, tio do meu pai, que também chamava de tio, foi roçá aquele capão de pinho prá prantá cana de açúcar e roçando que fosse, achou lá um Santo, achou Santo Antônio, Perto, tinha um pocinho de água e um pé de ciosa, aquela cheirosa.
fogo, botô os dois prá queimá, queimô os dois Santo. Quando o Santo tava quimando, ele ficô loco na rua, virava cambota que nem um toro bravo. Meu pai me contô quando eu tinha dez anos, não esqueci disso até hoje. Esse padre alemão, sumiram com ele daqui porquê ele ficô loco, perderam dois Santo, queimô, o povo ficô tudo triste”.
mulheres de fé
O Apostolado da Oração a doença não mais permitia. “Entreguei então a nossa presidente Haydée a documentação e passei meu cargo”, como consta no diário. Cabe lembrar que foi ela quem criou a diretora de escola aposentada, Ercília Maria Carlota Briti. Nanette Suckow de Oliveira, 82 anos, relata que as reuniões acontecem toda primeira sexta-feira do mês com missa. “Na época, vó Mariquinha fazia as atas, pois era secretária. Eu fui tesoureira por muitos anos. [As doações] eram (sic) moedinhas que colocávamos na ata”, e complementa: “O uniforme usado na época era um vestido preto e hoje foi substituído por camiseta branca”. Ela conta que somente as casadas podiam ingressar, pois participar do Apostolado da Oração caracterizava respeito. “Casei-me no dia 8 de setembro 1948 e já no dia 12 ingressei no grupo”, afirma Nanete. As zeladoras que cuidavam dos altares da igreja eram a Ana Fachini (altar principal de Santo Antônio), Maria Borges, Aura Britis, Mariquinha Maciel, Raimunda Gomes Lima, Esmeralda Ferreira, Maria Julia, além de outras que colaboraram como Maria Aparecida (Ziza). Elas ajudavam na limpeza da igreja, levavam as toalhas para lavar em casa e colocavam flores nos altares. O trabalho realizado por estas mulheres suscitou várias outras atividades dentro da Igreja, sempre com base na oração.
Trecho do diário de Maria Conceição Pacheco que ingressou no Apostolado em 1947 Imagens: Arquivo Pessoal/Ercília Carlota
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relacionamento entre homem e Deus é um dos pontos mais marcantes nas funções da Igreja. A espiritualidade aproxima o cristão do sagrado. O Apostolado da Oração, movimento de leigos que propaga a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, chegou ao Brasil pelas mãos do padre Bento Schembi, em 1867, na cidade de Recife/PE. Em 1871 se expandiu devido ao trabalho do padre Bartolomeu Taddei, da cidade paulista de Itu. Em 1913, o movimento já reunia mais de três milhões de devotas em aproximadamente 1400 cidades de todo país. O movimento completou 100 anos de Brasil, em 2012. Em Caraguatatuba, a primeira reunião das mulheres devotas do Sagrado Coração de Jesus aconteceu no dia 19 de julho de 1910, na Matriz Santo Antônio. As mulheres se reuniam-se me oração e pediam intercessão pela comunidade e pela Igreja. Ás páginas do diário de Maria Conceição Pacheco, falecida em 2007, revelam a importância do trabalho do Apostolado da Oração para suas integrantes. Muitas seguiam os passos das mães, como relatado no diário: “Entrei para o Apostolado a pedido do frei Pacífico que falou para eu ficar no lugar de minha mãe [Hercília Alves de Oliveira] como zeladora, devido ao seu falecimento em 30/08/1947”. Nos 52 anos que atuou fervorosamente, Maria Conceição exerceu diversas funções, só abdicando do cargo quando
Acima, diploma de Zeladora do Apostolado de Oração de Hercília Alves de Oliveira. Abaixo, Hercília (no centro da foto) com as filhas Mariquinha (Maria Conceição Pacheco - à direita) e Maria Aparecida de Oliveira Moreira (à esquerda)
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100 anos de caraguá
A MATRIZ NO CENTENÁRIO
Arquivo Público do Município
O bispo Dom Idílio José Soares, da Diocese de Santos, também participou das festividades de 1957 Dom Idílio José Soares chegou à cidade na tarde do dia 27 de abril e a noite participou da sessão solene na Câmara Municipal. Na manhã do dia 28 de abril, o bispo diocesano celebrou missa.
Religiosos da Diocese de Santos, 1a fila, da esquerda p/ direita: bispo Idílio José Soares, prefeito Altamir Tibiriçá Pimenta, monsenhor Sampaio, padre Joaquim Clementino Leite, padre Nivaldo V. dos Santos 2a fila: monsenhor João Leite, Sr. Benedito Vicente dos Santos, monsenhor Benedito Vicente dos Santos Junior e monsenhor Francisco Lino, chanceler do bispado.
Reprodução da Revista Fagulhas/1957
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M
issa campal com o bispo diocesano, iluminação festiva da cidade e da fachada da Igreja Matriz Santo Antônio, 1o Campeonato Municipal de Futebol, espetáculo pirotécnico na praia, baile de gala, cinema ao ar livre nos bairros, demonstrações de televisão em praça pública, inauguração da Rádio Oceânica e distribuição da “Revista Fagulhas”. Tudo isto integrou o Programa do Aniversário de 100 anos de Caraguatatuba, completados no dia 20 de abril de 1957. O vigário da Matriz Santo Antônio, padre Joaquim Clementino Leite, celebrou uma missa campal com a presença de todas as associações religiosas da Paróquia às 9 horas da manhã do dia 21 de abril. O livro tombo da Matriz mostra o que estava acontecendo na Igreja naquele mês de abril: “Várias obras primas e de assistência social vem sendo atacadas pelo zeloso pároco de Caraguatatuba [padre Joaquim], destacando-se no momento a ampliação da atual Matriz que irá ficar com o dobro do espaço”.
REVISTA FAGULHAS O “Programa das Comemorações da Semana do Centenário de Caraguatatuba, de 20 a 28 de abril de 1957”, foi publicado na íntegra na Revista Fagulhas, de Taubaté, que lançou uma edição histórica do Centenário de Caraguá, a qual foi possível relembrar estes fatos. Neste Programa consta que no dia 20 de abril teve hasteamento de bandeiras pelo prefeito Altamir Tibiriçá Pimenta e outras autoridades, bateria de 100 tiros na praia, retreta (apresentações culturais) no Coreto da Praça, iluminação em ruas da cidade e na fachada da Igreja. No dia 21, além da missa campal com o pároco, teve “imponente espetáculo pirotécnico na praia” e baile de gala no Praia Hotel em homenagem aos visitantes sob os acordes do Jazz Municipal. O Luiz Caramurú Nogueira realizou demonstrações de televisão em praça pública. No dia 28, foi inaugurado o monumento ao engenheiro João Fonseca, na Praça Caputera, futura Praça 1o Centenário, e espetáculo de gala na sucursal do Clube das Américas, na Ponta da Praia, onde foi exigido traje a rigor nas cores branco, azul marinho ou preto. Também teve “Marche au Flameaux” patrocinada pelos professores do Ginásio Estadual local e a Congada se apresentou nos dias 21, 27 e 28. Nestes dias, foi inaugurada a Rádio Oceânica. Tudo isto demonstra que, há 60 anos, Caraguá já é uma cidade ativa em eventos.
Arquivo Público do Município
nasce o hospital
O Stella Maris foi inaugurado oficialmente no dia 24 de maio de 1952
DOAÇÃO A FAVOR DA SAÚDE DO POVO
Reprodução Revista Fagulhas
As irmãs do Instituto Pequenas Missionárias de Maria Imaculada, que sob a direção de Madre Maria do Sagrado Coração (centro da 2a fila), administravam a Casa de Saúde Stella Maris de Caraguatatuba.
A
té hoje Terezinha Miranda lembra que em 1947, junto com Ilídia Britis, Elza Caetano, Alarda Aparecida Costa, Cidinha Moura e outras amigas da Paróquia Santo Antônio, encenaram uma peça de teatro e arrecadaram 800 mil réis para o alicerce do Hospital Stella Maris. A peça era sobre a vida de Santa Margarida Maria de Alacoque, uma santa italiana que viu o Sagrado Coração de Jesus. “Interpretei a Santa Margarida, a Cidinha Moura encenou o demônio. Lembro que a irmã São Francisco de Sales trabalhou muito para a construção do Hospital. Fizemos pedágio para arrecadar dinheiro”, confirma Terezinha. Gabriela Custódio dos Santos, nascida em Caraguá, hoje com 78 anos, também lembra que as irmãs da Casa de Saúde ensinavam a fazer artesanato e vendiam para ajudar na Igreja. “A irmã São Francisco ia nas escolas ensinar a rezar e falar de Deus. A gente gostava muito”, revela. Além das verbas arrecadadas pelas jovens, outra pessoa importantíssima na criação do primeiro hospital de Caraguá, foi o padre Américo Virgílio Endrizi, que com a herança que recebeu de sua família estrangeira, comprou o terreno para a construção da Casa de Saúde e doou para as irmãs Pequenas Missionárias de Maria Imaculada. A Revista Fagulhas, publicada em 1957, relembrou que: “Nasceu esta obra do coração nobre e humilde de um desprendido sacerdote, o padre Américo Virgílio Endrizi
que, não buscando senão riquezas imorredouras, desfez-se de todos os seus lares em doações várias ao Instituto das Pequenas Missionárias que foi então dado um grande terreno na estrada Caputera. Nele foi iniciada a construção da Santa Casa local, pois a grande lacuna de Caraguatatuba e cidades circunvizinhas era a completa ausência de assistência hospitalar”. O texto da Revista continua: “No dia 24 de maio de 1952 era inaugurada uma grande parte da Santa Casa que, embora incompleta, já abrigava muitos enfermos. Após três anos, no mesmo dia 24 de maio, a mercê de Deus e graças à generosidade dos caiçaras e amigos do litoral, inaugurou-se um novo Pavilhão. Nestes anos tem a Santa Casa local desenvolvido grande trabalho de assistência aos enfermos pobres”. Arquivo Público do Município
O lançamento da pedra fundamental da construção da Casa de Saúde Stella Maris ocorreu no dia 10 de julho de 1949
Casa de Saúde na Catástrofe de 1967
Estes relatos e registros mostram a importância da Matriz de Santo Antônio na construção e nos primeiros anos de funcionamento do Hospital. As irmãs missionárias, além de desempenharem papel relevante nos cuidados com os enfermos, foram ativas nos trabalhos da Paróquia. Um esboço da História | Agosto de 2013
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COMEMORAÇÃO
FESTEJANDO NOSSO PADROEIRO Caraguatatuba é uma das raras cidades brasileiras a aprovar, em 2003, lei municipal que dedica o mês de Junho a Santo Antônio
A Fotos: Pascom/Matriz Santo Antônio
Imagens da 160a Festa de Santo Antônio em 2013
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Festa do Padroeiro se consolidou como uma das mais prestigiadas e tradicionais da região e este ano completou 160 anos. A Programação conta com trezena, casamento comunitário, bingo, procissão, benção de pães, caminhada até o Morro onde acontece a missa campal no dia 13 de junho, e de onde o piloto José Mário salta de asa delta, tendo em suas mãos a imagem do santo que abençoa a cidade. No passado e no presente, a festa do padroeiro sempre foi regada de muita fé, devoção, fraternidade e alegria. Antes, a festa se resumia a quermesse divertida com barraquinhas de comidas típicas e leilões feitos com as prendas arrecadadas pelos casais festeiros. “Na voz do leiloeiro Dito Germano, um caiçara rústico, os prêmios ganhavam vida. O povo dividia bezerro, garrafa de vinho, frango...”, relembra João Oliveira, o Jotta (com dois tt mesmo), 74 anos. Os antigos leilões deram lugar à ação entre amigos que sorteia carros zero quilômetros, motos e outros prêmios bons. A população comparece não só para o bingo, mas para se deliciar com o bolinho caipira, doces, guloseimas e beber vinho quente. A renda é revertida em benfeitorias da Paróquia e para os trabalhos das pastorais.
É costume durante a festa, os fiéis fazerem a campanha do quilo, arrecadando mais de 2.000 quilos de alimentos não perecíveis distribuídos para pessoas pobres. As senhoras se revezam “horas a fio” nas tardes que enrolam o tradicional bolinho caipira, sob a direção de dona Jane, escondem o cansaço com o sorriso no rosto. “Tudo é feito para que a festa seja um sucesso”, revela Maria de Lourdes Buono V. Guimarães. Todas as pastorais colaboram, trabalhando no bingo, na venda de cartelas, na cozinha e no balcão. Outro momento esperado da Festa do Padroeiro é a hora de cortar o “Bolo de Santo Antônio”, confeccionado por Inês, Jane e Equipe de Eventos, que fazem cerca de 3.000 pedaços de bolo. Sob ‘benção’ no dia 13 de Junho, o bolo é vendido a preço simbólico. A Paróquia também já fez “Bolo dos Namorados”, reforçando a crença do povo no “santo casamenteiro”, este, entregue no dia 12 de junho. PEREGRINAÇÃO DA IMAGEM E TREZENA LITÚRGICA Em 1997, a Peregrinação da Imagem de Santo Antônio nas comunidades pertencentes à Paróquia, aconteceu nos festejos que antecederam a Trezena Litúrgica. A imagem
PARA OS NAMORADOS, CARAGUÁ DE SANTO ANTÔNIO SE APRESENTA COMO LUGAR PARA CONVIVER E CONSOLIDAR UMA PAIXÃO; PARA OS NOIVOS, É O LUGAR PARA PEDIR BENÇÕES AO CASAMENTO “PRESTES A ACONTECER”; AOS RECÉM-CASADOS, É O LUGAR IDEAL PARA A LUA DE MEL; PARA OS CASADOS, É UM LUGAR PARA ESTIMULAR O CONVÍVIO E PROPICIAR PAZ E REFLEXÃO. PARA QUEM QUER UM NAMORADO, É O LUGAR IDEAL PARA PEDIR A SANTO ANTÔNIO saiu da Matriz, percorreu cada dia uma comunidade, acompanhada de oração, fogos e devotos. As missas da Trezena da Litúrgica, até a década de 1980, eram, cada dia, da responsabilidade de um segmento da sociedade como famílias tradicionais, comerciantes, escolas, entidades beneficentes e pastorais. Hoje, há sorteio de uma pequena imagem de Santo Antônio, aos fiéis presentes em cada um dos treze dias de oração. CASAMENTO COMUNITÁRIO E OUTROS REGISTROS Terezinha Miranda lembra que nos anos 40, com o frei Pacífico Wagner, a Festa do Padroeiro se estendia até o chafariz da Praça. “Na época dos padres João, Caetano e André começaram os bingos. O padre Jacob fez grandes quermesses e incentivou o retorno da distribuição do bolo de Santo Antônio depois da missa das oito da manhã, no Dia do Padroeiro”, confirma. “Nas festas de Santo Antônio as barraquinhas eram montadas na praça onde hoje tem a fonte luminosa e contávamos com a colaboração dos paroquianos e comerciantes. Quem preparava a festa eram os Festeiros. Quando eu e meu marido, Joaquim Pereira da Silva fomos festeiros, os preparativos começaram três meses antes e arrecadamos prendas como ventiladores, fogões e geladeiras. Terminada a festa, o padre já sorteava os festeiros do próximo ano”, revela Terezinha Miranda e continua: “A barraca mais famosa da festa era do coelho comandada por Paulo Mendes. Todos se divertiam por-
que era um monte de buracos e tinha que adivinhar onde o coelho ia entrar. A barraca da pesca também era bem famosa. Nas apresentações culturais sempre tinha Congada, Folia de Reis e levantamento do mastro”, lembra. Gabriela Custódio dos Santos lembra que tinha leilão, barraquinha de doce, de brinquedo, correio elegante e barraca do beijo. Os responsáveis pelo bingo eram o Henrique Gomes e o Hildebrando Leite dos Santos. Brás Custódio explica que as festas do padroeiro duravam poucos dias. “Hoje as festas são mais divulgadas e longas. Teve um ano que foram 23 dias de festa”. Já Zezinho, o José Matias, lembra que fez muito bolinho caipira com a receita de Ana Fachini, que inclusive hospedava muitos padres em sua pensão. “As festas de Santo Antônio sempre foram alegres”. O livro tombo da Matriz revela que em maio de 1984, na Festa do Padroeiro foi realizada uma quermesse no pátio da
Arquivo Pessoal/Clébia Maziero
Acima, notícia do 1 o Casamento Comunitário realizado na Matriz em 1998 e, ao lado, os três casais que se uniram sob as bênçãos do padre João Chungath
Um esboço da História | Agosto de 2013
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igreja, de 04 a 12 de junho. Anos depois, a Festa de 1993 foi marcada pela simplicidade e colaboração, segundo um dos organizadores, Antônio Francisco de Moura: “A Festa do Santo Antônio, apesar da chuva, teve participação cheia, alegre e de comunhão, materialmente um resultado acima das expectativas”. Em 1998 foi realizado o primeiro casamento comunitário (unindo três casais, entre eles Néia e Guilherme), até então fato inédito na Festa de Santo Antônio. No ano de 2000, o casamento comunitário destinou-se a casais de todo o município e não somente da Paróquia. A Festa do Padroeiro teve oito equipes e aconteceu no salão da Igreja (e não na Praça de Eventos). Em 2003, o casamento comunitário rendeu Moção de Congratulações na Câmara de Caraguá ao pároco vigente, Pe. Jacob Puthenkandam, devido “a sensibilidade e criatividade de tornar possível às pessoas mais simples, a realização do sonho de casar”.
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Nos últimos dez anos, a festa do Padroeiro de Caraguá foi incrementada com concursos de trovas, apresentações teatrais, edição do livreto “Lendas de Santo Antônio” que apresentou histórias populares sobre o santo em sua “vida” na região, seminário com historiadores, procissão marítima que reviveu o costume dos fiéis virem de longe para participar da Festa do Padroeiro. SEMANA SANTA E FESTAS RELIGIOSAS A Paróquia de Santo Antônio, por ser a primeira da cidade, sempre realizou festas do Sagrado Coração de Jesus, de Santa Cruz e de outros santos, além das procissões. Seus paroquianos participam, por exemplo, da Encenação da Paixão de Cristo, iniciada em 2006, durante a Semana Santa, na Praça de Eventos, envolvendo 150 atores. A Procissão de Corpus Christi, tem o
Cristo Eucarístico “levado” pelas ruas centrais, abrindo caminho para, dias depois, passar a imagem do padroeiro. “Meu pai Benedito de Moura trazia a areia para fazer os tapetes na Semana Santa. Eu estudava no Thomaz Ribeiro de Lima e valia nota ajudar logo cedo a fazer os tapetes. São 25 anos de ‘confecção’ de tapetes de rua. É gratificante”, revela Adriana de Moura, 40 anos. Outra personagem fiel da Semana Santa em Caraguá é “Verônica”, mulher que enxugou o rosto de Jesus no caminho do calvário. Há 44 anos, Ercília Maria Carlota Briti interpreta Verônica: “Comecei a cantar na procissão em 1969, quando o vigário era o monsenhor Airan. Parei uns anos quando casei, mas depois voltei. Há 30 anos canto nas missas de domingo de manhã na Matriz. Também fui ‘filha de Maria’. Éramos um grupo de moças nos anos 60 e participávamos das procissões, missas e eventos religiosos, todas uniformizadas”, rememora. Marcelo Souza
Fotos: Prefeitura Municipal de Caraguatatuba
Fiéis se deliciam na barraca de doces (acima) e se divertem no bingo (abaixo) na Festa
O MELHOR PROGRAMA DE JUNHO É CURTIR O MÊS DE SANTO ANTÔNIO DE CARAGUATATUBA. UMA DAS FESTAS MAIS BONITAS E ANIMADAS DA REGIÃO. TEM ATRAÇÃO PARA TODA A FAMÍLIA COM BARRACAS DE COMIDAS TÍPICAS, BINGO COM SORTEIO DE CARRO 0 KM, PROCISSÃO, CASAMENTO COMUNITÁRIO, CAMINHADA E MISSA CAMPAL NO MORRO COM VISTA PANORÂMICA DA CIDADE
Fotos: Arquivo Público do Município
Procissão de Corpus Christi
Tapetes feitos nos anos 70 e 80 enfeitavam as ruas próximas a Matriz, para a Procissão na Semana Santa Um esboço da História | Agosto de 2013
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matriz na catástrofe
TREZE HORAS DE SILÊNCIO E DEVOÇÃO
Fotos: Arquivo Público do Município
J á se passaram 46 anos e os moradores mais antigos ainda lembram do dia 18 de março de 1967
C Matriz nos anos 60
Família de Caraguá vai ao Santuário de Aparecida pagar promessa por ter sobrevivido a Catástrofe
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araguatatuba foi arrasada por uma Tromba D’Água que provocou centenas de mortes em 1967. A Serra do Mar avançou sobre os bairros Rio do Ouro, Centro, Jaraguazinho, Poiares, Caputera, Ponte Seca, Estrela D’Alva, Indaiá e outros, despejando toneladas de lama e vegetação. O Rio Santo Antônio teve suas bordas alargadas de 40 metros para 200 (fotos à direita e abaixo). Foram treze longas horas de silêncio e isolamento, até que o radioamador Thomaz Camanis Filho conseguiu comunicação com a cidade de Santos. A partir daí, o estado, o país e o mundo se comoveram. Muitos alimentos, roupas, medicamentos e ‘gente nova’ chegaram à cidade. A dor deu lugar ao esforço de muitos fiéis que ajudaram a reconstruir a cidade. Neste período, o pároco José Almeida dos Santos abriu as portas da Igreja Matriz Santo Antônio, acolheu os desabrigados, doou alimentos, roupas e ofereceu conforto espiritual. Terezinha Miranda confirma que na Catástrofe o volume de água e lama no Rio Santo Antônio era tão grande que podia ser visto da porta de sua casa. “Eu coloquei mais de 100 pessoas na minha casa e lembro que a Matriz ajudou bastante. A água não entrou na Igreja, mas
aqui se tornou um ponto de apoio aos desabrigados”, confirma. Brás Custódio morava na Rua Engenheiro João Fonseca e teve que deixar a sua casa para se deslocar a parte mais alta da cidade, abrigando-se com a esposa Elza Gomes Custódio e a filha Isabel Cristina, de seis meses, na escola Adaly Coelho Passos, onde hoje fica o Museu. Segundo ele chovia há dias e se a ponte não tivesse rompido a tragédia teria sido maior. “A mão de Deus fez com que a ponte do Rio Santo Antônio fosse carregada pela lama, sobrando só o prédio do Hospital (vide foto na página 38). Todos foram solidários. Passamos a noite na escola e voltamos para casa no outro dia. Umas
O Rio Santo Antônio teve suas bordas alargadas de 40 metros para 200. Ainda na foto vê-se a Casa de Saúde Stella Maris à esquerda
200 pessoas permaneceram no Adaly e na sede social do Esporte Clube XV de Novembro”, relata Brás. Três dias depois da Tromba D’Água, Brás ajudou a resgatar pessoas ilhadas no Jaraguazinho. “Tinha um menino de um ano que trouxemos no braço. Ele cresceu e ainda mora na cidade. Com fé
e ajuda dos fiéis, a cidade foi reconstruída. Abaixo de Deus, só Santo Antônio. Aqui em Caraguá, tudo gira em torno do Santo Antônio. O nome da cidade já foi e deveria permanecer Santo Antônio de Caraguatatuba. Foi graças a ele que conseguimos nos reerguer”, confirma. Zezinho, como é conhecido José Matias dos Reis Junior, também lembra que a Igreja Matriz acolheu muita gente na tragédia, inclusive pessoas de outras religiões. “Minha casa era a única que tinha telefone e ficava perto do atual Supermercado Silva, no Sumaré. Pouco antes da Serra desabar, Mariazinha tinha ido para a casa telefonar. Foi muito rápido, quando saímos na porta de casa, vimos o morro caindo e o barro descendo. Ao ver aquela tragédia pensei comigo: o mundo está acabando. Vou encontrar meu pai (falecido) no céu. E fiz uma oração. Como minha casa era mais alta e não tinha alagado, minha família
pode acolher alguns idosos”, confirma. A atual tesoureira da Matriz, Inês Leite dos Santos conta que na Catástrofe, ela morava no Centro, perto da Igreja e sua casa ficou 1 metro e 10 centímetros embaixo d’água. “Quando meu pai Hildebrando Leite dos Santos viu que a água ia entrar em casa, levou o que conseguiu para o segundo andar. A minha cunhada Sandra morava na parte de cima da casa e tinha dado a luz ao Daniel. Foi preciso chamar o bombeiro para resgatar meu sobrinho que foi colocado dentro de uma cesta”, relembra. Já Gabriela Custódio dos Santos estava grávida de seis meses em março de 1967. “Fiquei dentro de casa, mas a lama entrou no quintal. Meu marido Luiz José ajudou a socorrer as pessoas. Ele viu as madeiras descendo a Serra, o que depois fez com que a ponte do Rio Santo Antônio arrebentasse”.
Ponte provisória no Rio Santo Antônio Um esboço da História | Agosto de 2013
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O SENTIMENTO DE TRISTEZA PROFUNDA SE UNIU COM A VONTADE DE VIVER DOS SOBREVIVENTES. CHEGARAM ALIMENTOS, CAIXAS DE REMÉDIOS, GALÕES DE ÁGUA, ROUPAS, CALÇADOS E TUDO O QUE OS FLAGELADOS PRECISAVAM
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Fotos: Arquivo Público do Município
RELEMBRANDO A HISTÓRIA Durante as semanas que antecederam o dia 18 de março de 1967, choveu na cidade o correspondente a três meses. Era sábado de aleluia. O céu escureceu mais cedo do que o normal. Por volta das quatro da tarde, o dia virou noite. Um estrondo forte foi ouvido e sentido pelos moradores. Era a primeira barreira na Serra do Mar que desmoronava. Não deu tempo de quase nada. A chuva de granizo tinha encharcado o solo da vegetação sem raízes profundas. Uma “avalanche” de árvores caídas, troncos enormes, lamaçal e muita água “rolou serra abaixo”, dizimando grande parte da cidade. A ponte do Rio Santo Antônio, próxima ao Hospital Stella Maris, acumulou os troncos e, por isso, a lama com água começou a se desviar invadindo bairros, até que a força das águas rompeu a ponte, abrindo caminho para o lamaçal chegar ao mar. A população que sobreviveu, passou sede, fome e frio nos primeiros dias após o episódio. A rodovia de acesso estava tomada pela lama e formaram-se bolsões de veículos na Serra, entre uma barreira e outra. O número oficial de mortos foi 197, mas nunca se saberá ao certo quantas pessoas perderam suas vidas com a tromba d’água. Muitos corpos foram arrastados para o mar, outros soterrados sem deixar pistas. Cerca de 3.000 pessoas ficaram desabrigadas e 400 casas desapareceram. Calcula-se a queda de 30 mil árvores e 5.000 troncos. Foi necessária a ajuda da Marinha, Exército e do Governo do Estado de São Paulo para a cidade tornar a crescer.
Por milagre, o Hospital Stella Maris não foi levado na Catástrofe
O espírito de solidariedade invadiu a cidade
turismo
UM CASO DE AMOR E FÉ A estreita relação de Caraguá com seu padroeiro
É Fotos: Marcelo Souza
evidente a vocação de Caraguá para o turismo. Uma cidade presenteada pela natureza, com profundas raízes capazes de propiciar condições para o amor, a união e a melhoria de vida de todos que a visitam. Semelhanças da história da cidade com a vida de Santo Antônio são tidas como dom pela população. No Brasil, mais de 200 cidades têm Santo Antônio como padroeiro. Caraguá
se diferencia das demais cidades por causa de sua vocação turística cultural e religiosa, sustentada por autênticas edificações, como a Igreja Matriz e outros atrativos naturais como o Morro, o Rio e o Mês de Junho dedicado a Santo Antônio. Esta relação de cumplicidade pode ser conferida na história de vida de Nanette Suckow de Oliveira, 82 anos, que veio morar em Caraguá ainda criança. Na Igreja ela se casou em 1948 com Melquíades
de Oliveira, hoje com 92 anos. “A Matriz Santo Antônio sempre foi o principal ponto turístico da cidade. Tenho amor por esta igreja. Desde a década de 1940 participo de trabalhos sociais e do Apostolado da Oração. Faria tudo de novo”, revela Nanette. A confirmação de que a Matriz realmente é um dos principais pontos turísticos da cidade está registrada no livro tombo de dezembro de 1987, que confirma a presença de grande número de turistas visitando a Igreja, o que alterou sua rotina. PRIMEIRA CAPELA - MARCO ZERO A primeira capela dedicada a Santo Antônio não foi a Matriz, mas teria existido nas margens do Rio Santo Antônio, em frente ao atual Teatro Mário Covas. EDIFICAÇÃO HISTÓRICA - MATRIZ Registros confirmam que a atual Igreja Matriz Santo Antônio, na Praça Cândido Mota, data do século XVII. O prédio atual tem no seu interior quatro painéis de azulejos pintados que retratam episódios da vida de Santo Antônio e encantam os turistas que a visitam. Saindo da igreja, a menor rua da cidade também recebeu o nome do santo. MORRO SANTO ANTÔNIO Com 373 metros de altitude, o Morro Santo Antônio propicia a vista panorâmica mais linda de Caraguá. De lá, avista-se o Centro com seus novos prédios, toda a baía da Praia do Camaroeiro colorida pelos artesanais barcos de pesca, a Praia Martim de Sá Fachada atual da Igreja Matriz, um dos principais pontos turísticos da cidade. Foto menor: devoção do povo Um esboço da História | Agosto de 2013
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Bruna Vieira
Vista panorâmica do Morro Santo Antônio
Zé Mário/ High Fly Brasil
ESTÁTUA ANTIGA Durante décadas, procissões foram realizadas saindo da Igreja Matriz com destino ao Morro. Nelas, os fiéis carregavam nas mãos uma imagem do Santo. Já no Morro foi erguida uma estátua de Santo Antônio no final dos anos 50, com cerca de 1,40 m de altura sem contar a base (foto ao lado). A imagem era bastante visitada por peregrinos que vinham cumprir promessas e participavam da procissão durante a Festa do Padroeiro. José Matias dos Reis Junior, o Zezinho, fica admirando o Morro da porta de sua casa. “A construção da primeira imagem veio para trazer alegria e mostrar a devoção do povo”. Esta primeira estátua acabou danificada e foi retirada na década de 90 com a promessa de ser substituída por uma nova imagem projetada por artistas plásticos. Foi realizado um concurso promovido pela Prefeitura que deu vitória a Mieko Ukeseki, mas
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o resultado não foi respeitado, pois o Morro ganhou outra estátua recentemente. ESTÁTUA ATUAL A atual estátua de Santo Antônio tem 16 metros, sendo iluminada a noite, com projeção para ser vista por 80% da cidade. Inaugurada em 2008, a estátua foi feita pelo escultor Irineu Migliorini. Mas até hoje os fiéis pedem uma estátua que tenha como modelo a réplica de 200 anos que se encontra no altar da Igreja Matriz.
JUNHO EM CARAGUÁ TEM A PROTEÇÃO DE SANTO ANTÔNIO. PODE TRAZER AS ALIANÇAS, QUE AS BÊNÇÃOS ESTÃO GARANTIDAS
Fotos: Arquivo Público do Município
e o imenso verde da Fazenda Serramar. Pilotos de voo livre utilizam as duas rampas do Morro para saltar de asa-delta e paraglider. A estrada de acesso foi pavimentada em 2008, com concreto simples nos 2,5 Km de extensão, recebeu bancos, lixeiras, drenagem, colocação de guias, sarjetas e galeria de águas pluviais. A caminhada até o topo do Morro leva cerca de 40 minutos. Quem vai de carro gasta apenas 15 minutos.
Antiga estátua de Santo Antônio no Morro foi erguida no final dos anos 50, sendo bastante visitada por peregrinos que vinham cumprir promessas. Acima, grupo de jovens dos anos 70 faz foto na estátua
Fotos: Bruna Vieira
Peregrinação no Morro Santo Antônio por ocasião da missa campal no Dia do Padroeiro, 13 de junho
RIO SANTO ANTÔNIO Outro atrativo natural é o Rio Santo Antônio que corta trechos centrais da cidade. A orla do Rio foi reurbanizada e atrai pescadores amadores nos pequenos píeres. O trecho final passa em frente ao Teatro Mário Covas, onde teria existido a primeira capela dedicada ao Santo. Em 2003, tendo o Pe. Jacob Puthenkandam como pároco, ocorreu a Procissão Marítima de Santo Antônio que cobriu o mar com embarcações, saindo da Praia do Massaguaçu até o Camaroeiro. Grande número de pessoas acompanhou em escunas e barcos de pesca. Já em terra, a imagem do Santo foi transportada em carreata até a Matriz.
“A imagem de Santo Antônio, por si só suscita a curiosidade. Num único domingo mais de 300 turistas visitam o local. A pavimentação facilitou o acesso e aumentou o número de praticantes de voo livre”, relatou na época da inauguração da atual estátua, Karla Passos de Moraes. O trecho final do Rio Santo Antônio passa em frente ao Teatro Mário Covas, onde teria existido a primeira capela dedicada ao Santo Um esboço da História | Agosto de 2013
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na trilha da fé
OS CAMINHOS DO PADROEIRO
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m 2004, o poder público com apoio da iniciativa privada discutiu a criação do “Caminho de Santo Antônio de Caraguatatuba”. Tratava-se de um percurso de caminhada por diversos bairros da cidade, passando por locais turísticos e históricos relacionados a Santo Antônio. Mas, o Caminho não foi viabilizado.
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O fato é que estes pontos turísticos continuam sendo visitados pelos turistas. E, a intenção desta revista foi mostrar, por meio do mapa ilustrativo abaixo, a vocação da cidade para o turismo cultural e religioso. COMO SERIA O CAMINHO Os trechos do percurso seriam fei-
tos em dois dias de caminhada, com aproximadamente 25 Km por dia, passando por diversos tipo de solo: areia da praia, rochas costeiras, trilhas na Mata Atlântica, estradas rurais, paralelepípedos, bloquetes e asfalto. O percurso não tinha ponto de partida nem de chegada. Englobava uma área que vai da foz do Rio Juqueriquerê, na região sul até a Capela da
Santíssima Trindade, no Massaguaçu, região norte. O trecho principal
da peregrinação passava pelo local onde existiu a Primeira Capela e receberia uma réplica. Seguia-se pelo Rio Santo Antônio que ganharia uma estátua do santo conversando com os peixes, referindo-se ao milagre da multiplica-
ção dos peixes. Passaria pela Praia do Indaiá até a Catedral do Divino Espírito Santo, prosseguia ao Morro de Santo Antônio com a estátua e terminaria na Igreja Matriz. Os id ealizadores do projeto se in s pira ra m em Caminho s como o d e S a n tiago de Co mpostela na Espa n ha , e no Brasil, entre tantos, há
o Caminho da Fé, co m 3 5 0 q u i l ô m e t ro s e n t re Á g u a s d a P ra t a e A pa re c i d a d o N o r te ( S P ) . M a i s re ce n te m e n te o G ov e r n o d o e s t a d o d e S ã o Pa u l o c r i o u o C a m i n h o Pa s s o s d e J e s u í t a s - A n c h i e t a , q u e s a i d e Pe r u í b e , pa s s a p o r C a ra g u á e c h e g a e m U b a t u b a ( S P ) , p e rc o r re n d o 3 6 0 q u i l ô m e t ro s .
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CAMINHANDO
PELA HISTÓRIA 1
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1. Frei Pacífico Wagner (ao centro), com os religiosos padre Daniel (esquerda) e Umberto Peroni (direita). 2 e 3. Em 1945 os caraguatatubenses saíram em procissão até a praça da Bandeira, passando pela Rua Altino Arantes, para participar de uma missa campal, com registrou do fotógrafo Euzébio. 4. Anúncio com o Programa da Festa de Santo Antônio e São Benedito de 1950, tendo embaixo, o visto de frei Pacífico Wagner. 5. Meninos de 8 a 10 anos participaram da Cruzada Eucarística, da Paróquia Santo Antônio, no final dos anos 1940. Na foto do arquivo de Nanette Suckow v~ê-se Jair Bitar, Ernesto Nardi, Nivaldo Nascimento Garrido, Antônio Carlos Pascoa-
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lim, Antônio Melquíades de Oliveira, entre outros. 6. Recém casados posam para a foto, tendo aos fundos a Matriz com fachada dos anos 30. 7. A foto da lateral da Igreja Matriz Santo Antônio mostra
Os doze vitrais que ornamentam a Igreja Matriz Santo Antônio foram instalados em 1945 e mudaram de lugar na reforma dos anos 90. Dois vitrais não têm desenhos e os demais retratam trechos da vida do padroeiro, sendo doados pelas famílias de Antônio Corrêa; Joaquim Evilásio Amaral; Altamir Tibiriçá Pimenta; Hildebrando Leite dos Santos; João Garcia, Família Garrida e Família Oliveira. Posteriormente os vitrais se deterioram e se perdeu o nome das outras famílias que fizeram a doação.
No destaque, a Matriz de Santo Antônio, em 1938, tendo nos fundos o cemitério da cidade 7
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a casa paroquial que ficava no fundo da igreja e o espaço onde até 1948 funcionou o primeiro cemitério da cidade. 8. Nos anos 40, frei Pacífico Wagner juntamente com uma comitiva de fiéis fizeram romaria à Aparecida.
Estão na foto Mariquinha Maciel, Benedita Cruz, Terezinha Miranda, entre outros. 9. Nos anos 50 alunos da quinta série da professora Adaly Coelho Passos receberam a Primeira Eucarística.
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10. A foto de 1938 doada por Hirtes Fernandes ao Arquivo Público do Município, mostra a devoção dos caraguatatubenses ao padroeiro. A pequena igreja não comportava tantos devotos tendo muitos que participar da missa do lado de fora. 11. Frei Pacífico Wagner participa de uma festa em sua homenagem na Fazenda Poiares, oferecida por Eduardo
Correa da Costa Junior. Na foto vemos o sacerdote ladeado pelo prefeito Altamir Tibiriça Pimenta, Joaquim Evilásio Amaral e suas respectivas esposas. 12. Sacrário com painel de azulejos pintados retratam a última ceia de Jesus Cristo com os Apóstolos. 13. Brás Custódio (à esquerda na foto) e Marcos Roberto relatam que a cruz localizada no altar central foi feita com
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2008 destroços da Catástrofe de 1967 (madeira horizontal). Já Jotta revela que a madeira vertical da cruz foi retirada do telhado original da Matriz na gra nde reforma nos anos 90. 14. Padre ladeado por coroinhas momentos antes de iniciar a procissão de Corpus Christi nos anos 70. 15. Fachada da Matriz após a reforma de 1949 16. Azulejo na fachada da Igreja retrata Santo Antònio com o menino Jesus.
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2013 17. Relógio da torre da Matriz. 18. No ano de 1998, as integrantes da Ação Social realizaram uma pequena homenagem ao padre João Chungath que deixava a Paróquia. 19. Na despedida do padre Nino (o centro) estavam Rosa, Clébia, Cleide e Neide (da esquerda p/ direita0. 20. Comemoração festiva tendo o padre Nino Carta (à esquerda), padre Marcos Vinícius Rosa (no centro) e o
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primeiro bispo de Caraguatatuba, Dom Frei Fernando Mason (à esquerda). 21, 22 e 23. A primeira edição do casamento comunitário ocorreu em 1998. Dez anos depois, outros casais se unem perante a Igreja. Em 2013, novamente foi celebrado a cerimônia coletiva no Dia de Santo Antônio. 24. O marco da Reforma de 1948 pode ser visto na fachada lateral da Matriz. Obra teve como responsável o engenheiro arquiteto Eduardo Corrêa da Costa Júnior. 25. Sino da Igreja Matriz de Caraguatatuba. Um esboço da História | Agosto de 2013
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Fotos: Arquivo Diocese de Caraguatatuba
criação da diocese
A CONCRETIZAÇÃO DE UM SONHO A Igreja Matriz participou ativamente do processo de criação da Diocese de Caraguatatuba devido ao envolvimento de seus fieis e párocos
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o início dos anos 90, inúmeros eventos foram realizados pela Matriz Santo Antônio. Uma pequena parte da verba arrecadada teve como destino a Diocese de Santos, na época responsável pela Paróquia Santo Antônio, sendo o restante revertido para a obra de construção de uma catedral. A obra foi idealizada pelos padres Miguel Rosseto, Luiz Carlos Passos e uma comissão de aproximadamente dez pessoas da Matriz. “Para tornar este sonho real, começamos a realizar bingos e rifas, durante os finais de semana. Todo o dinheiro arrecadado foi investido na construção da lgreja do Divino”, relembra Maria Josefina Lei-
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rião Bellato, 74 anos, secretária do CAEP (Conselho Administrativo e Econômico Paroquial). Maria Josefina conta que o livro do CAEP, por algum tempo, a tesouraria da Igreja Santo Antônio e do Divino Espírito Santo, foram vinculadas. O livro mostra o quanto à Matriz trabalhou para a construção da Igreja do Divino, que com a criação da Diocese, se tornou catedral. “Além das rifas e bingos, conseguimos arrecadar dinheiro em coletas, batizados, casamentos, aluguéis. Nós também contamos com a colaboração da Diocese de Pinerolo, na Itália”. O padre Miguel Rosseto, V igário Episcopal, acompanhou e trabalhou muito ao longo de seis anos (1989
a 1994) no processo da criação da Diocese. Em abril de 1994, ele deixou a comunidade do Litoral Norte e seu sucessor, padre Nino Carta, continuou os trabalhos de construção da Catedral, desvinculando a tesouraria das duas igrejas. Em 1996, Dom José Castanho, bispo auxiliar de Santos, veio para Caraguatatuba com o propósito de criar a Diocese, o que de fato ocorreu três anos depois. Ainda como mantenedora, a Igreja Matriz ofereceu sua pia batismal para a futura catedral. O ANÚNCIO DE CRIAÇÃO DA DIOCESE No dia 3 de março de 1999, às 12 horas, em Roma, na Itália, o Papa João Paulo II, anunciou a criação da Diocese de Caraguatatuba, mudando a história da Igreja Católica na região. Em 1 o de maio do mesmo ano, cerca de sete mil pessoas estiveram reunidas no Centro Esportivo Municipal Ubaldo G o n ç a l ve s para recebe r a Relíquia de Santo Antônio (foto ao lado), participar da cerimônia de Instalação da Diocese de Caraguatatuba e ordenação de seu primeiro bispo, Dom Frei Fernando Mason. So b sua o rientação a s pa r ó quias do Litoral N o rte c re s ce ra m em consciência e trabalho , o qu e permitiu ampliar o núme ro d e pa ró quias, que passou de 07 pa ra 1 7 , assim co mo o número de pa d re s no serviço às co munidad e s , qu e em 2013 soma 32 sacerdo te s .
Diocese de Piracicaba
Imposição das Mãos do bispo da Diocese de Santos, Dom David Picão, na ordenação de Frei Fernando Mason, primeiro bispo da Diocese de Caraguatatuba.
“SEMPRE QUE SE CRESCE E AMADURECE, SURGEM NOVAS RESPONSABILIDADES E ESTAS, ANTES DE TRAZER PESO, TRAZEM ALEGRIA. EIS O PORQUÊ DA FESTA QUE O ANÚNCIO E SUA REALIZAÇÃO TROUXERAM. SOMOS FELIZES POR RECEBER A INCUMBÊNCIA DO EMPENHO, E DA LUTA QUE ESTE EMPENHO TRAZ, DE TORNAR PRESENTE ENTRE NÓS, DE MANEIRA AINDA MAIS EFICAZ, A ATUAÇÃO DO BOM PASTOR, NOSSO SENHOR JESUS CRISTO”
N OVOS PASTORE S Em 2 5 de maio de 2005 a com un id a d e do Litoral N o rte recebeu a n otícia da transferência de Dom Fernando Maso n para a D io ces e d e Piracicaba. N o perío do em q ue ficou sem a presença de um b is po, chamado Sé Vacante, a Dioces e fo i administrada pelo Pe. V ilson Dias de O liveira. Em 2 6 de julho de 2006 , a Santa S é n omeou o segundo bispo da Dioces e de Caraguatatuba, D o m An tôn io Carlos A ltieri, que to m ou posse no dia 05 de novembro d o mesmo ano . N este tempo, assum iu a função de bispo assessor res pon sável pelo Seto r Juventude d o Esta do de São Paulo (Regional S ul1) . Dom A ltieri, salesiano, deu vida e es pa ço para o s jovens fortalecen d o o Seto r de Juventude, ord en ou 18 sacerdo tes. O rganizou os d iverso s Co nselho s Co nsultivos -Ad ministrativo, Eco nômico e Pa stora l- , fo i animado r de missõ es e in vesti u na formação de leigo s e leig a s. Em julho 2012, A ltieri foi no mea d o Arcebispo de Passo Fundo / RS , m a s antes de encerrar seus tra ba lhos em Caraguatatuba recebeu em 1 0 de ago sto, a visita inéd ita d o N úncio Apostólico D om Giova n n i D ´A niello , representa n te d o papa Benedito XV I, por oca siã o da inauguração das novas in sta la ções da C úria D iocesana loca liza da na R ua Santos D umont, n . 10 0 , na região central. Dom A ntô nio CarloA ltieri se
Da esquerda para a direita: Dom Fernando Mason, Dom Antônio Carlos Altieri e o atual bispo da Diocese de Caraguatatuba, Dom José Carlos Chacorowski
despediu da D iocese no d i a 7 d e setembro de 2012, des d e e n t ã o passou a ser administra d a pe l o padre Ino cêncio Xavier. Em junho de 2013, o Pa pa Fra n cisco nomeou D om Jo s é Ca r l o s Chacorowski co mo o terce i ro bi s po da D iocese de Carag u a ta tu ba . A cerimônia de po sse a co n tece no dia 17 de ago sto, na Ca ted ra l D ivino Espírito Santo. Jo s é Ca r lo s o cupava o cargo de a u x i l i a r da A rquidio cese de São L u í s d o Maranhão e, durante se u m i n i st é rio pasto ral, atuou na form a ç ã o d a D iocese de Palmas (PR ), e steve n o Co ngo, na Á frica, para ati v i d a d e s missionárias e na equipe d a pa s toral ro doviária. També m a tu ou co mo pároco na D io cese d e Pa ranaguá (PR ) e fo i direto r d a s F i lhas da Caridade da Prov í n c i a d a A mazônia. A DIOCE SE HOJE Co m p o sta p o r 1 7 Pa r ó q u i a s d i st r i b u í d a s n a s q u a t ro c i d a d e s d o L i to ra l N o rte , a D i o ce s e d e Ca ra g u a ta tu ba a tu a l m e n te é fo r m a d a p e l a Ca ted ra l d o D i v i n o E s p í r i to S a n to ( I n d a i á ) , N o s s a S e n h o ra d a G l ó r i a ( Tra ve s s ã o ) , S ã o J o ã o Ba ti sta ( Po i a re s ) , S ã o J o s é ( M o r ro d o A l g o d ã o ) , M a t r i z d e S a n t o A n t ô n i o ( C e n t ro ) , S a n t a Te re z i n h a ( M a r t i m d e S á ) e N o s s a S e n h o ra d a V i s i t a ç ã o ( M a s saguaçu), n a c i d a d e de Cara g u a t a t u b a . E m I l h a b e l a te m a M a t r i z N o s s a S e n h o ra D ’ A j u d a ( C e n t ro ) . N o m u n i c í p i o d e S ã o S e -
Um esboço da História | Agosto de 2013
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Fotos: Arquivo Pessoal/Clébia Maziero
Livros e Documentos consultados na produção desta revista histórica Livros CAMPOS, Jurandyr Ferraz de (Org.). Santo Antônio de Caraguatatuba: memórias e tradições de um povo. Caraguatatuba/SP: Fundacc, 2000. Comunidade de comunidades: uma nova paróquia. Estudos da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) n.104. São Paulo: Paulus, 2013. PEREIRA, Pe. José Carlos. Paróquia Missionária à Luz do Documento de Aparecida: Procedimentos Fundamentais. Brasília: Edições CNBB, 2012.
Fachada da Catedral do Divino Espírito Santo, no Indaiá, em 1999 (destaque), ao lado o seu interior nos anos 2000 e, abaixo, em 2013
Arquivo Diocese de Caraguatatuba
SOUZA, José Antonio de Camargo R. O pensamento social de Santo Antonio. Porto Alegre/RS: EDIPUCRS, 2001. WOODS JR. Thomas E. Como a igreja católica construiu a civilização ocidental. São Paulo: Quadrante, 2008. AQUINO, Felipe. Uma história que não é contada. Lorena/SP: Cléofas, 2008. CELAM. Documento de Aparecida. Texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. São Paulo/Brasília: Paulus/ Paulinas/CNBB, 2007. Períodicos e Documentos A Voz do Litoral – Jornal, Edições de 1954, 1955 e 1957
POR SER A PRIMEIRA IGREJA DE CARAGUATATUBA A MATRIZ DE SANTO ANTÔNIO AUXILIOU NA FORMAÇÃO DE NOVAS PARÓQUIAS COMO A SÃO JOÃO BATISTA E A IGREJA DIVINO ESPÍRITO SANTO, ESTA ÚLTIMA SE TORNOU CATEDRAL COM A CRIAÇÃO DA DIOCESE
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b a s t i ã o , fa z e m pa r te d a D i o ce s e à s pa r ó q u i a s S ã o J o s é d e S ã o S e b a s t i ã o ( To p o l â n d i a ) , N o s s a S e n h o ra d o A m pa ro ( S ã o Fra n c i s c o ) , S ã o S e b a s t i ã o ( C e n t ro ) e S a g ra d o C o ra ç ã o d e J e s u s ( B o i ç u ca n g a ) . E m U ba tu ba , i n te g ra m a D i o ce s e a s pa r ó q u i a s I m a c u l a d a C o n ce i ç ã o ( Pe re q u ê A ç u ) , N o s s a S e n h o ra d e F á t i m a ( I p i ra n g u i n h a ) , N o s s a S e n h o ra d a s D o re s ( I t a g u á ) , E x a l t a ç ã o d a S a n t a C r u z ( C e n t ro ) e N o s s a S e n h o ra d a s G ra ç a s ( M a ra n d u b a ) , o n d e s e p re te n de construir um Santuário dedicado a Santa.
Arquivo da Diocese de Caraguatatuba Arquivo Pessoal dos Entrevistados Arquivo Público de Caraguatatuba Livros tombos da Igreja Matriz de Santo Antônio - 1853 a 2013 De Praia em Praia - Boletim, Edição 41, Ano 4, Maio de 1999 Revista Fagulhas - Abril de 1957 Documento Concílio Vaticano II
CRONOLOGIA
OS PADRES DA MATRIZ
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