Yabás - Dez Mulheres

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UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA DCSO - Departamento de Comunicação Social FAAC - Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação Curso de Jornalismo

MEMORIAL DO PROJETO AUDIOVISUAL YABÁS – DEZ MULHERES

Orientador: Prof Dr. Denis Porto Renó

BAURU, 2016


AGNES SOFIA GUIMARÃES CRUZ

MEMORIAL DO PROJETO AUDIOVISUAL YABÁS – DEZ MULHERES

Memorial de Projeto Experimental apresentado em cumprimento parcial às exigências do Curso de Jornalismo da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, do Departamento de Comunicação Social, da UNESP – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social Jornalismo. Orientador do Projeto Experimental: Prof. Dr. (a): Denis Porto Renó

BAURU, 2016


Ă€ Beatriz Nascimento, que resiste dentro de todas as yabĂĄs.


AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço aos meus pais, por acreditarem no meu potencial e me ajudarem ao longo desses quatro anos, superando o obstáculo das saudades, dos problemas financeiros e das minhas próprias crises emocionais. Para o presente trabalho, tentei fazer conforme diz uma das minhas músicas preferidas: guardando o amor que aprendi vendo meus pais, que dedicaram os últimos vinte e três anos aos seus quatro filhos. Agradeço aos meus irmãos, Artemis Pâmela, Arquias Sófocles e Ariston Sócrates, pelo interesse em comum pelo cinema e todo amor e compreensão. À minha avó, Maria Benedita Souza Guimarães, que esteve onipresente em todas as mulheres que eu entrevistei: apesar de sua crença religiosa afastá-la dessas histórias, essas poderiam ter sido suas. A cor, o suor e a energia para viver e superar as vicissitudes que encontrei nas yabás que falaram para o presente projeto fluem na mesma intensidade no sangue da minha avó. Sou grata por ter uma avó postiça como a escritora Neiva Pavesi, que me conheceu aos 12 anos, acreditou nos meus sonhos de menina em ser escritora e até hoje é uma grande motivadora do meu trabalho. Agradeço ao meu orientador, Prof Dr. Denis Porto Renó, que acreditou no potencial do projeto. Em vários momentos, quase sucumbi às minhas inseguranças e ao medo de escolher como primeiro grande trabalho audiovisual justamente o meu trabalho de conclusão de curso, mas encontrei como apoio as aulas e o companheirismo de um dos professores mais dedicados que eu poderia ter tido. Agradeço a minha família postiça, composta por Thales Venâncio, Julia Santiago, Jana Adrielli e Marianna Ferreira, amigos, irmãos, companheiros dos momentos mais difíceis dos últimos catorze meses.Eu tenho muito orgulho de tudo que passamos juntos: das risadas, das lágrimas, das caixas empacotadas,


da força para superar a despedida da nossa primeira casa, da energia para recomeçar na nova casa, das nossas ressacas em família, e até mesmo das brigas...E que venham mais 12 meses juntos. Entre eles, sou especialmente grata a Marianna, que criou a identidade visual do projeto. Uma designer talentosa e uma amiga muito leal. Agradeço a Tania Rita Mendes de Camargo, pelos dois anos que moramos juntas e por esses quatro anos de amizade. Bauru me presenteou com dois irmãos queridos: o primeiro deles aguentou todas as minhas inseguranças típicas de alguém que terminou a adolescência começando uma graduação, a quilômetros de distância da família. Ele enxugou todas as minhas lágrimas e levantou a minha cabeça várias vezes. E por muito tempo, carreguei na mochila o livro que ele me deu de presente, pela dedicatória que me dizia para aproveitar a aventura de estudar na UNESP. Sem o meu tataratataraveterano e amigo Marcel Verrumo eu não teria voltado para Bauru no meu segundo ano. Eu nunca vou me esquecer daqueles dois dias da semana que davam sentido a semana inteira porque eram os dias em que

podia

vê-lo

chegar

para

as

aulas

do

seu

mestrado

mestrado...Coincidentemente, também foi a pessoa que me deu o resultado quando a minha vez de tentar a pós-graduação chegou, e está sempre ali para me dissuadir de desistir desses dois anos a mais que me aguardam em Bauru. Eu nunca vou me esquecer do dia em que, ao conversar sobre um trabalho de projeto de extensão, no auge de algum momento de stress e solidão, recebi o ombro amigo do Thales Valerani, o meu outro irmão que ganhei de presente nesses anos bauruenses. Sem que eu soubesse, havia começado uma amizade e, desde então, com exceção dos nossos brevíssimos momentos de crise, não houve um dia em que trocamos mensagens, desabafos, abraços ao final do dia. Não há palavras para descrever minha gratidão por saber que, perto das seis horas da tarde de todos os dias da semana, tenho com quem trocar ideias sobre o dia: é algo que ressignifica o


peso de qualquer cansaço em alguma brisa leve de felicidade por estar viva, e sou muito por feliz por saber que vamos começar a segunda parte dessa aventura bauruense juntos, no mestrado. À Profª Dra. Eliza Casadei, pela sua contribuição ao curso de jornalismo da UNESP e por ter sido a professora mais inspiradora que eu poderia ter tido. A Isabela Jordan, Heloisa Kennedy, Higor Boconcelo, João Pedro Ferreira, Jorge Sallani, Julia Bacelar e Marcos Cardinalli, amigos de projetos, de noites insanas e que me receberam de braços abertos quando passei a estudar à noite após metade da graduação. Ao Giovani Vieira, pela força em tudo, em vários momentos da universidade. Aos

meus

amigos

do

Repórter

do

Futuro,

que

são

tantos!

Principalmente, a Emanuelle Herrera. E ao Prof. Sérgio Gomes, criador desse projeto, principal acontecimento dos últimos três anos e que me manteve de cabeça erguida frente aos meus sonhos. Do mesmo projeto, serei eternamente grata ao saudoso Prof. Milton Bellintani, maior dor de 2015, que partiu cedo demais e que faz falta todos os dias. Também sou grata aos professores Pedro Ortiz, João Paulo Charleaux e Aldo Quiroga, jornalistas que mantém a filosofia do Repórter do Futuro em pé e cada vez mais fortalecida. A Cris Cavalcanti, secretária-executiva do Repórter do Futuro e que sempre zelou pelo nosso máximo aproveitamento nos cursos. À banda Aláfia, a cantora Yazalu e Preta-Rara, por terem autorizado o uso de suas canções na trilha sonora desse trabalho. E por fim, a todas as yabas que entrevistei: Alessandra Ribeiro, Bianca Lúcia, Dina Samy, Mãe Zete, Tainá Ferreira, Patrícia Alves, Raquel Trindade, Joelma Moura, Palmira Souza. Espero que, ao longo dessas páginas, eu consiga colocar em palavras toda o axé e aprendizado que ganhei dessas mulheres

e

que

microdocumentários.

também

tentei

passar

para

as

imagens

dos


“Meu choro não é nada além de Carnaval” Romulo Fróes e Alice Coutinho, A mulher do fim do mundo, na voz de Elza Soares.


RESUMO O trabalho de conclusão de curso consistiu na produção de uma série de microdocumentários em que fica evidente a relação das mulheres negras com valores afro-brasileiros. Com isso, há a exploração do tema da religião de matriz africana na região do Estado de São Paulo, e com isso investigar, a partir de uma busca pessoal, como esse elemento cultural está ligado a outros como ancestralidade, identidade e (re)africanização Palavras-chave: religião; yabas; mulheres negras; valores afro-brasileiros; maracatu; candomblé; capoeira; umbanda

ABSTRACT This final work was a product: a micro documentaries serie about BrazilianBlack Woman and AfroBrazilian values. This is about about afro-brazilian relreligiousness in the Paulista´s Mid-West region, in order to related them with elements of black indentity, as ancestry and e f (re) “africanization”. Key-words: religious; yabas; black women; AfroBrazilian values; maracatu; candomblé; capoeira; umbanda


SUMÁRIO 1 – INTRODUÇÃO 1.1. Apresentação..............................................................................p. 10 1.2. Objeto/tema ..........................................................................…p. 12 1.3 Objetivos .............................................................................…... p. 12 1.3.1 Objetivos Gerais .................................................................… p. 12 1.4 Justificativa ………………………………………………………… p. 13

2 – PRODUTO JORNALÍSTICO …………………………….. p. 15 2.1.Público-alvo...........................................................… ...............p.15 2.2. Projeto editorial.................................................…….………... .p. 15 2.3.Descrição Do Produto ………………………………….…….... p. 17 2.4. Fontes e Entrevistados ………………………………….………..p. 23 2.4.1 A Pesquisa …………………………………………….………….p. 23 2.4.2 As Yabás ………………………………………………..……….. p. 24 2.5 Custos do Projeto ………………………………………..………...p. 25 2.6 Equipamentos do projeto ……………………………….……….. p. 25 2.7 Atividades desenvolvidas………………………………..……….. p. 25 3 – O TRABALHO

3.1 A importância de explorar o conceito de identidade ……………... p. 27 3.2 Perfomance Versus Jornalismo …………………………… ……...p.32 3.3 Dificuldades encontradas .. ………………………………… ..…..p. 31 3.4 Considerações finais …………………………………………...……p.31 3.2 Perfomance Versus Jornalismo ………………………………...… p.32 3.4 Considerações finais ………………………………………………. p. 34


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ………………………………… p. 35 ANEXO

…………………………………………………………………...p.

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CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

1.1 Apresentação

A princípio, a proposta inicial doo projeto Yabas - 10 mulheres era a realização de uma série de quatro microdocumentários, com duração de doze minutos cada, sobre a relação entre a religião afro-brasileira com alguns traços da cultura afrodescendente na região de Bauru, no Centro-Oeste do Estado de São Paulo. A proposta era mostrar como os objetos de investigação de cada vídeo carregavam diversas nuances da religiosidade de matriz já mencionada, e como tais elementos representavam signos fundamentais para a constituição do que é considerado a identidade afro-brasileira, tais como a ancestralidade, a resistência ao racismo e o processo de (re) africanização em alguns casos de cultos religiosos. O material para os quatro microdocumentários seria proveniente de registros audiovisuais realizados para uma produção feita em conjunto com outro discente do curso de Comunicação Social, para a plataforma Arruaças, criada por ambos. Lá, o tema da religiosidade afro-brasileira seria explorado em quatro elementos: capoeira, maracatu, terreiros e mestres griôts (ou contadores de histórias). Os recursos audiovisuais dialogariam com textos, pictures stories e outras linguagens que, juntas, formam uma narrativa que entraria dentro da definição de Renó e Flores (2012, p.87) sobre jornalismo transmidiático: “(...) história contada a partir de diversas histórias (independentes), em meios distintos (e linguagens) que, em conjunto, oferecem uma nova história passível de comentários e circulação em redes sociais e em dispositivos móveis”.

No entanto, ao longo do processo os alunos sentiram a necessidade de abordar o tema da religião afro-descendente com questões que estivessem além do interesse pelo hiperlocal (ou seja, a forma como essas manifestações religiosas estavam presentes na cidade, no caso, Bauru). O projeto Arruaças segue em andamento, mas os alunos desenvolveram produtos que mantiveram a temática, mas com rumos muito distintos.

No caso do presente projeto, a ideia surgiu a partir da percepção de como as


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mulheres negras são as maiores vítimas da intolerância religiosa, observação tirada a partir de vivências pessoais, experiências com trabalhos jornalísticos anteriores e estatísticas de pesquisas recentes. O próprio dia de combate à Intolerância Religiosa surge a partir da dor de uma mulher negra: no dia 21 de janeiro a Iyalorixá baiana (mãe de Santo) Gildásia dos Santos faleceu vítima de um enfarto, ocasionado devido ao conteúdo de cunho religioso publicado em um dos jornais de maiores circulação do país, pertencente a uma Igreja evangélica. Ela era hipertensa e teve um ataque cardíaco após ver sua imagem utilizada sem autorização, em uma matéria do jornal evangélico Folha Universal, edição 39, sob o título “Macumbeiros Charlatães lesam o bolso e a vida dos clientes”. O texto não era menos ofensivo e agredia as tradições de matriz africana, das quais Gildásia era representante. (http://www.seppir.gov.br/portalantigo/noticias/ultimas_noticias/2013/01/21-de-janeiro-um-diacontra-o-racismo )

Dentro das religiões de matriz africana, as mães-de-santo possuem uma figura guardiã. A partir do seu colo, do seu suor e das suas memórias, a religião resiste, e a negritude consegue enfrentar as agruras do racismo. CANTUÁRIO (2009) reforça esse papel, ao observar, ao longo da História, a personificação dos principais processos da vida dentro da mulher em diversas sociedades e manifestações culturais:

A mulher tem sido a primeira a estabelecer o contato inicial dos seres humanos com a humanidade e a natureza. Por isso, a mãe é investida de um poder quase absoluto, tornando-se uma entidade poderosa capaz de proporcionar infinitos prazeres ao fornecer alimento, carinho, conforto; no entanto, a mãe pode também provocar rancor, trauma e inúmeras dores ao privar os filhos desses prazeres. Daí a idéia de a mãe ter poder de vida e de morte. (CANTUÁRIO, 2009, p. 138)

Com isso em mente, houve a motivação para que o encaminhamento dos vídeos fosse para a vida de dez mulheres negras, escolhidas a partir de sua relação com os valores

civilizatórios

afrodescendentes.

Utilizados

principalmente

por

projetos

educacionais originados a partir da lei 10. 639, tais noções sobre a sociedade africana,


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quando colocados no contexto dos seus descendentes da diáspora (deslocamento, a partir de fatores como a escravidão, do povo africano para diversas partes do mundo), convergem a religião, de certa forma, a um status cultural que norteia outros temas da cultura afro-brasileira. Logo, a partir do enfoque de gênero e como isso reforça a valorização da religião como propulsora da cultura afrodescendente, o projeto Yabás - Dez Mulheres começou a ser idealizado.

1.2. Objeto/tema O tema do presente projeto é a relação da mulher afro-brasileira com os dez valores civilizatórios afrodescendentes, trabalho a ser realizado partir de um olhar pessoal, visto que a jornalista, na condição de mulher negra que cresceu afastada das religiões de matriz africana (e que aqui representam o elo entre as demais manifestações culturais afro-brasileira), busca, por meio dos depoimentos das mulheres que conhece, um caminho de reaproximação com uma cultura que possa ajuda-la a compreender o seu lugar dentro da sociedade brasileira. Dessa forma, a busca por um reforço a uma identidade afro-brasileira pode ser usada como ferramenta de combate a várias situações do cotidiano.

1.3 Objetivos 1.3.1 Objetivos Gerais Conforme exposto anteriormente, o objetivo do trabalho é buscar, a partir do relato de dez mulheres negras, como os 10 valores civilizatórios afro-brasileiros estão presentes em suas vidas, relação a ser demonstrada em cinco vídeos de dez minutos.

1.3.2 Objetivos Específicos Os objetivos específicos do projeto são:

- Analisar como os dez temas dialogam entre si ao longo dos cinco vídeos;


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- Identificar o papel dos registros audiovisuais dentro da relação do objeto de estudo com a produção partilhada de conhecimento. - Apresentar a religião como uma manifestação cultural e de resgate à memória - Compreender de que forma o audiovisual se relaciona com a folkcomunicação e outros conceitos das teorias de comunicação para representar manifestações populares.

1.4 Justificativa

Segundo a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, o Disque Denúncia ou Disque 100 recebeu, entre 2011 e 2014, cerca de 213 relatos de casos de intolerância religiosa a cultos de matriz africana, entre as 504 denúncias recebidas no total, o que representa o maior tipo de violação a direitos humanos cometido no país. Enquanto isso, o Mapa da Violência da ONU mostra que houve um crescimento de 54% de feminicídios de mulheres negras entre 2002 e 2013, enquanto os casos de homicídios de mulheres brancas caíram 10%. Diante dessa realidade, os microdocumentários colocam a religião dentro de um patamar fundamental para a preservação da identidade da memória da mulher negra e afro-brasileira, como forma de combater estatísticas de intolerância e violência como as anteriormente mencionadas. Enquanto há o registro dessas histórias, há também o resgate da própria história da documentarista, que investiga como esse universo ajuda a compreender a própria identidade, fora do contexto católico em que cresceu. Há a contraposição do tema com dados importante sobre a situação da mulher negra na sociedade brasileira, como as estatísticas sobre a violência em torno delas. Benjamin (2010) ressalta a importância da apropriação da História por grupos minoritários de forma que, por meio da ressignificação do passado, haja o combate a processos de tirania e exclusão:


14 Articular historicamente o passado não significa conhecê-lo “como ele de fato foi”. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo. Cabe ao materialismo histórico fixar uma imagem do passado, como ela se apresenta, no momento do perigo, ao sujeito histórico, sem que ele tenha consciência disso. O perigo ameaça tanto a existência da tradição como os que a recebem. Para ambos, o perigo é o mesmo: entregar-se às classes dominantes, como seu instrumento. Em cada época, é preciso arrancar a tradição ao conformismo, que quer apoderar-se dela. Pois o Messias não vem apenas como salvador; ele vem também como o vencedor do Anticristo. O dom de despertar no passado as centelhas da esperança é privilégio exclusivo do historiador convencido de que também os mortos não estarão em segurança se o inimigo vencer. E esse inimigo não tem cessado de vencer. (BENJAMIM, 2010, p.150)

O presente trabalho visa contemplar a Lei 10.639/03, que estabelece diretrizes para a educação da cultura afro-brasileira nas escolas e universidades. Apesar dos desafios, nos últimos 13 anos surgiram iniciativas como o projeto A Cor da Cultura, de onde partiu a investigação do presente trabalho sobre o valores civilizatórios afrobrasileiros, e que realizado pela TV Futura em parceria com várias entidades: Petrobrás, Cidan - Centro de Informação e Documentação do Artista Negro, a TV Globo e a Seppir Secretaria especial de políticas de promoção da igualdade racial. A iniciativa realiza, desde 2004, a produção de amplo material pedagógico sobre a História e Cultura AfroBrasileira:

O projeto prevê uma série de ações culturais e educativas com foco na produção e veiculação de programas sobre o histórico de contribuição da população negra à sociedade brasileira. Esta produção, transformada em material didático, aplicado e distribuído às escolas públicas, deverá ampliar o conhecimento e a compreensão sobre a história dos afrodescendentes e histórica da África e, assim, contribuir para os objetivos previstos na Lei 10.639 – que trata especificamente sobre este assunto – venham a ser satisfeitos. (A Cor da Cultura – Marco Inicial)

Portanto, trabalham como esses motivaram a realização do projeto para contemplar a lei mencionada.


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CAPÍTULO 2 – PRODUTO JORNALÍSTICO

2.1 Público- alvo

O projeto Yabas - 10 mulheres tem como público-alvo principal a juventude brasileira, composta pela faixa etária de brasileiros entre 15 a 30 anos, em sua maioria estudantes do Ensino Médio e/ou universitários. O objetivo é que o produto, utilizado em contextos educacionais, atenda a proposta da lei 10639, que procura resgatar nas escolas o ensino da História Afro-brasileira. A proposta é que educadores possam utilizar o presente material para debater questões elencadas pela lei dentro da sala-de-aula, tais como “o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil” (Lei 10.639, Art. 1º, § 1o ) No entanto, é importante ressaltar que o material espera ser relevante para toda a sociedade civil brasileira, de forma a combater com números e histórias as diversas formas de opressão e violência que ainda acomete a população negra feminina, em especial aquela periférica e atrelada de maneira intensa a cultura afro-brasileira. 2. 2 Projeto editorial O projeto consiste em série de cinco microdocumentários, de dez minutos. Os vídeos foram filmados com um celular Iphone 5 e um celular da LG Premium. Ramos (2008) destaca que a intenção do autor de abordar um tema já é, por si só, uma característica de um documentário. A definição das entrevistas, as opções de enquadramento, entre outros recursos que dependem do olhar do realizador do projeto são exemplos de que o registro audiovisual por meio desse gênero não é uma cópia literal da realidade, e depende também da relação do espectador com o produto para que este tenha seu espaço dentro do gênero não-ficção legitimado:


16 Podemos dizer que a definição do documentário se sustenta sobre duas pernas, estilo e intenção, que estão em estreita interação ao serem lançados para a fruição espectatorial, que as percebe como próprias de um tipo narrativo que possui determinações particulares: aquelas que são características, em todas as dimensões, do peso e da consequência que damos aos enunciados que chamamos de asserções. (RAMOS, 2006, p. 27)

Optou-se por uma forma de narrativa que, segundo a definição de Nichols, está próxima a dos chamados documentários perfomativos, em que a subjetividade do ator aparece na produção por meio de sua própria persona, fazendo do documentarista um personagem. Segundo o autor, essa é uma tendência presente, sobretudo, dentro de uma subjetividade social composta, em sua maioria, pelos “sub-representados ou ma representados,

das

mulheres

ou

das

minorias

étnicas,

dos

gays

e

das

lésbicas”(NICHOLS, 2010, p. 172). Dessa forma, seria um caminho encontrado por tais grupos para a obtenção da visibilidades das suas pautas, antes ignoradas, e a correção de estereótipos difundidos pela mídia hegemônica:

Em vez disso, eles proclamam “nós falamos sobre nós para vocês” ou “nós falamos sobre nós para nós”. O documentário performático compartilha uma tendência reequilibradora e corretiva como a autoetnografia (a obra etnograficamente informada, realizada por membros das comunidades que são os temas tradicionais da etnografia ocidental, como as numerosas fitas gravadas pelo povo caiapó da bacia do rio Amazonas e pelos aborígenes da Austrália). No entanto, ele não contrapõe o erro ao fato, a informação errônea à informação; ele adota um modo de representação distinto, que sugere que conhecimento e compreensão exigem uma forma inteiramente diferente de envolvimento. (NICHOLS, 2011, p. 171)

No caso, a décima Yabá do projeto seria a própria autora.


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2.3 Descrição Do Produto

Link dos vídeos: https://www.youtube.com/channel/UCNYPmtxO43-X2ijjSePj8xw Link

da

página

no

Facebook:

https://www.facebook.com/Yab%C3%A1s-Dez-

mulheres-746677165469830/?fref=ts

Conforme

exposto,

o

produto

é

composto

por

uma

série

de

cinco

microdocumentários, com duração de 10 minutos. Os vídeos serão disponibilizados no YouTube e também contarão com uma página no Facebook, registros de making off no blog pessoal da autora e um e-book a ser disponibilizado na Amazon com um preço simbólico. Em todas essas plataformas, há a expansão das narrativas registradas nos cinco vídeos originais. Será entregue, juntamente com o presente relatório, um cd com o primeiro vídeo da série, e os demais já estão disponíveis no link acima. Com isso, esperase que a avaliação seja feita de acordo como o trabalho é desenvolvido para a internet e para dispositivos móveis, uma decisão que deve-se em parte à opção pelo uso de dispositivos móveis e pela proposta transmidiática do produto. Dessa forma, a intenção é que o trabalho possa ser visto como um projeto transmidiático visto que, embora não haja a necessidade dos outros produtos para a sua compreensão, tem a sua narrativa expandida por eles, dentro da convergência defendida por Renó e Ruiz (2013):

A circulação de conteúdos – por meio de sistemas de mídia, sistemas administrativos de mídias concorrentes e fronteiras nacionais – depende fortemente da participação ativa dos consumidores. Meu argumento aqui será contra a ideia de que a convergência deve ser compreendida principalmente como um processo tecnológico que une múltiplas funções dentro dos mesmos aparelhos. Em vez disso, a convergência representa uma transformação cultural, a medida que consumidores são incentivados a procurar novas informações e fazer conexões em meio a conteúdos de mídia dispersos. (RENÓ; RUIZ, 2013, p. 95)


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No entanto, Renó (2012) reconhece a importância da interação autor-público nas novas plataformas midiáticas, mas ele ressalta a preservação, nesses novos contextos, das características do documentário, como a montagem:

Com a necessidade de definirem-se caminhos interativos para o cinema, esse processo ganhou uma nova característica, que já existia desde seus primórdios. Nada foi reinventado ou alterado, mas reconsiderado, reinterpretado. Para Leone (2005, p.162), “não se trata de “reinventar” a montagem. Ela já foi consolidada por Griffith e Eisenstein. O resto é decorrência, isto é, variações associativas que permitem novas formas de contar e narrar”. (RENÓ, 2012, p.77)

O produto conta uma edição artística desenvolvida por Marianna Ferreira, estudante de Design Gráfico da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC) da UNESP e amiga pessoal da autora. O conceito da arte foi idealizado por ambas em conjunto, a partir das principais ideias que rodeiam os cinco vídeos. As duas mulheres, dispostas de modo assimético, utilizam turbantes suntuosos e brincos compridos que enfatizam a ideia de empoderamento e identidade com a cultura africana, o que também dá a ideia de reconhecimento da mulher negra brasileira às suas raízes. A arte está na abertura dos vídeos, e nas plataformas dos vídeos (Youtube e vimeo) dos produtos secundários (blog, facebook e instagram).

Qua nto às divis ões temá ticas dos vídeos, elas respeitam a pesquisa realizada pela autora em convergência com as falas das entrevistadas que indicavam como ocorriam as relações dos temas entre si. Os nomes de cada episódio são indicados apenas no final dos vídeos, sendo adiantados


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através de pistas dadas pela autora durante a apresentação dos mesmos. Os títulos, inclusive, são baseados na forma como cada experiência se materializou em palavras para o aprendizado da autora. Além disso, na introdução dos vídeos há o nome das mulheres(as Ybás, tradução em iorubá) que dão seu depoimento aos episódios em questão. Todos os títulos são em ioruba ou em outro dialeto africano (caso do vídeo Ubuntus, cuja palavra tem origem bantu), de forma a valorizar a contribuição desses idiomas para a Língua Portuguesa. Logo, os 10 temas são distribuídos da seguinte forma: a) Nome: Ifé. Valores: Circularidade e Religiosidade Ybás: Mãe Zete, Tainá Ferreira e Patrícia Alves. Descrição: Ifé significa carinho. Segundo o material do projeto A Cor da Cultura, o conceito de circularidade

tem uma profunda marca nas manifestações culturais afrobrasileiras, como a roda de samba, a roda de capoeira, as legendárias conversas ao redor da fogueira... No candomblé, os iniciados rodam/dançam durante alguns rituais ou festas. Com o círculo, o começo e o fim se imbricam, as hierarquias, em algumas dimensões, podem circular, ou mudar de lugar, a energia transita num círculo de poder e saber que não se fecha, nem se cristaliza, mas gira, circula, transfere-se... (A Cor da Cultura: Mapa de Valores Civilizatórios - Você conhece?)

Já a religiosidade reconhece tudo como sagrado:

Tudo é sagrado, é divino. Todos os elementos da natureza, todos os seres. Observemos: os orixás contemplam homens jovens e idosos, crianças, mulheres jovens, idosas, alegres, guerreiras, dengosas, brigonas, pessoas capazes do maior bem e do maior mal, portadoras de doenças, de necessidades especiais, encrenqueiras, homossexuais, bissexuais...


20 (A Cor da Cultura: Mapa de Valores Civilizatórios - Você conhece?)

No primeiro vídeo, há o acompanhamento das atividades de Mãe Zete, que representa o peso da mulher negra dentro das religiões afro-brasileira. A relação que a sua filha Tainá possui na religião é retratada por imagens e por um brevíssimo relato seu, o que dá força para que as cenas possam falar por si sobre como mãe e filha, conseguem manter em pé os valores envolvidos. E entre os registros sobre ambas, Patrícia Alves fala sobre a importância da religião e como montou seu terreiro matriarcal. b) Nome: Emi Valores: Ancestralidade e Memória Ybás: Raquel Trindade, Alessandra Ribeiro, Bianca Lúcia e Patrícia Alves. Descrição: Segundo o projeto A Cor da Cultura,

O passado, a História, a sabedoria, os olhos dos/das mais velhos(as) tomam uma enorme dimensão de saber-poder, de quem traz o legado, de quem foi e é testemunha da História e também sobrevivente, a dimensão ancestral carrega o ministério da vida, da transcendência. (A Cor da Cultura: Mapa de Valores Civilizatórios - Você conhece?)

A memória teria um caráter complementar a ancestralidade, mas que na sociedade brasileira ganha um caráter político, pois “o povo negro carrega uma memória da nossa História que está submersa, escondida pelo racismo, que precisa ser descortinada, desenterrada” (A Cor da Cultura, idem). Emi é o hálito de criação, segundo a crença ioruba sobre a origem do mundo. É a palavra que sintetiza como a candomblecista Patrícia Alves fala sobre a importância da religião para a compreensão das dores da população negra brasileira. Raquel Trindade construiu sua intelectualidade dentro das raízes populares de seu pai, o famoso poeta Solano Trindade, mas conta como a figura da mãe foi importante para a sua vida. Já


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Alessandra Ribeiro, de reconquistar a memória de seu avô, Dito Ribeiro, compreende sua existência como mulher negra e conduz uma sociedade matriarcal e passa isso a sua filha, Bianca Lúcia.

c) Vídeo: Ilá Valores: Musicalidade e Oralidade Ybás: Raquel Trindade, Joelma Moura e Patrícia Alves

A oralidade é uma ferramenta importante de memória.

A fala, a palavra dita ou silenciada, ouvida ou pronunciada – ou mesmo segregada – tem uma carga de poder muito grande. Pela/na oralidade os saberes, poderes, quereres não transmitidos, compartilhados, legitimados. Se a fala é valorizada, a escuta também é. (A Cor da Cultura: Mapa de Valores Civilizatórios - Você conhece)

Já a musicalidade sempre esteve presente na cultura brasileira, e vários gêneros musicais do país foram originados dos ritmos trazidos do outro lado do Atlântico. Ilá significa grito. Dessa forma, a intenção é demonstrar como as mulheres querem que suas histórias reverberem, com o máximo de alcance possível. Joelma é vocalista do grupo Balaio de Sinhá e possui um grupo de divulgação cultural afrobrasileira. Já Raquel, ao contar histórias ligadas ao seu pai e ao divulgar a cultura afro-brasileira em escolas e universidades, é uma ferramenta viva de resistência.

d) Vídeo: Ara Valores: Corporeidade e energia vital Yabás: Palmira Sousa, Patrícia Alves e Dina Samy.

No material pedagógico A Cor da Cultura, corpo é cultura:


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O corpo é vida, é aqui e agora, é potência, possibilidade. Com o corpo se afirma a vida, se vive a existência, individual e coletivamente. Ele traz uma história individual e coletiva, uma memória a ser preservada, inscrita e compartilhada. O corpo conta histórias. (A Cor da Cultura - Mapa de Valores Civilizatórios - Você conhece)

Corporeidade é, portanto, um conceito intimamente ligado ao conceito de energia vital, ou axé, em que tudo possui vitalidade: Todos os elementos se relacionam entre si e sofrem influência uns dos outros. Aqueles que conhecem o poder dessa energia vital já compreendiam, bem antes das pesquisas científicas de Lavoisier, que na “na natureza tudo se transforma”. (A Cor da Cultura – idem)

Ara significa corpo. No vídeo, Palmira Souza representa o que o corpo pode dizer sobre as tradições, o presente e o futuro da comunidade afro-brasileira. Candomblecista, ela é a pessoa que, dentro do seu grupo de maracatu, possui o contato com o sagrado, enfatizando ainda mais a força da mulher em conduzir a natureza a sua volta, conforme o candomblé e a umbanda reforçam por meio do culto a entidades guerreiras e progenitoras. Enquanto Patrícia Alves descobriu, pelo candomblé, a energia da mulher negra e brasileira, Dina Samy é de Guiné-Bissau e apesar do choque cultural por ser uma africana vivendo dentro de uma sociedade brasileira ainda estigmatizada pelo racismo, tem orgulho de sua trajetória e conta como se sente próxima da força das brasileiras. e) Vídeo: Ubuntus Valores: Comunitarismo, Territorialidade e Ludicidade Ybás: Alessandra Ribeiro, Bianca Lúcia, Joelma Moura, Mãe Zete e Tainá Ferreira


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Comunidade e Territorialidade são dois conceitos muito importantes e que dialogam entre si. Não há cultura negra sem coletividade, enquanto que Palavras ou expressões como relações de poder, deslocamento, espaço, espaço-corpo, redes de pertencimento, delimitação, rotas de fuga... Relações individuais, familiares e comunitárias, comunidades, posse da terra, identidade(s) nos convidam a pensar no sentido e significado que estas questões relacionadas à(s) histórias e cultura(s) afro-brasileira(s) e nos ancora a ideia de território/territorialidade como um valor civilizatório afro-brasileiro. (A Cor da Cultura - Mapa de Valores Civilizatórios - Você conhece?)

Pode-se dizer que Ubuntu é uma filosofia. Noção existente principalmente nos povos da África Subsaariana, a palavra tem seu significado diretamente na relação do indivíduo com sua comunidade. A partir desse conceito, o vídeo apresenta duas comunidades: o terreiro da Mãe Zete, que seja em Bauru, seja na Festa de Iemanjá, mantém sua essência. E a Comunidade Dito Ribeiro, de Alessandra Ribeiro, mantém no jongo a união dos campineiros dispostos a manter a tradição frente às transformações da cidade. E por fim, a ludicidade surge como um conceito complementar, presente pela dedicação da comunidade de Mãe Zete em organizar o primeiro bloco afro-religioso de Bauru e na Comunidade Dito Ribeiro pela prática do próprio jongo.

Imaginemos um povo arrancado brutalmente de sua terra, que atravessou o Atlântico em tumbeiros, escravizado, humilhado, mas que não perdeu a capacidade de sorrir, de brincar, de jogar, de dançar e, assim, conseguiu marcar a cultura de um país com este profundo desejo de viver e ser feliz. Isso resume a ludicidade, na perspectiva a favor da vida, da humanidade, da sobrevivência. A alegria frente ao real, ao concreto, ao aqui e agora da vida. (A Cor da Cultura – idem)


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2.4. Fontes e Entrevistados 2.4.1 A Pesquisa Para a elaboração dos pré-roteiros, a autora passou por um longo processo de imersão bibliográfica que durou por quase um ano. No entanto, foi um período que ocorreu de forma orgânica e sem uma preocupação totalmente atrelada ao projeto, visto que ele foi construído à medida que a autora se aproximava, naturalmente, das manifestações culturais que levaram à ideia do TCC. O projeto também só foi possível dados aos esforços da autora em abordar a temática por meio de trabalhos anteriores, seja em trabalhos universitários (como a elaboração de uma reportagem sobre o maracatu bauruense para uma disciplina de telejornalismo), seja como repórter do site de jornalismo hiperlocal – agora extinto – Participi, em que conheceu boa parte das entrevistadas, graças ao envolvimento delas com a sociedade bauruense, principal enfoque do site. Logo, meses após essas experiências, a autora já possuía nomes e encaminhamentos para cada uma das personagens. Além disso, a autora não se ateve apenas a buscar fontes e informações apenas para documentários. A elaboração de textos para o e-book e para trabalhos como freelancer em que a temática também apareceu, de certa forma, foram importantes para a posterior construção dos textos narrados pela autora ao longo dos vídeos, ao mesmo tempo em que fortaleceu o compromisso da autora com o projeto. Apesar da consulta a sociólogos, antropólogos e a leitura de autores clássicos sobre os temas abordados, houve a opção de não entrevistar fontes que não fossem as personagens dos vídeos. Dessa forma, há o compromisso de que tais mulheres exerçam com toda plenitude o papel de sujeito, e não de objeto, de suas histórias. Ao mesmo tempo, nessas escolhas há critérios pessoais da autora embasados de acordo com sua formação jornalística. Ressalta-se o momento em que, durante a última edição da Semana Estado de Jornalismo, durante uma palestra o repórter do jornal organizador do evento, Leonêncio Nossa, disse uma frase que surtiu grande impacto na formação da


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autora: “Meu trabalho possui números, mas não os coloco em excesso porque cada vez que uso um algorismo, retiro a fala de uma pessoa”. Logo, o compromisso em dar liberdade às suas personagens foi o principal motivo para que ficasse apenas na voz da autora as informações oficiais e dados que contextualizam o tema dentro de outros aspectos estruturais da sociedade brasileira.

2.4.2 As Yabás A maioria das personagens entrevistadas residem em Bauru. Raquel Trindade, Alessandra Ribeiro e Bianca Lúcia são de Embu das Artes e Campinas, respectivamente. Ambas cidades também estão localizadas em São Paulo, fora do eixo da capital e atendem, portanto, a proposta de um trabalho hiperlocal. a) Alessandra Ribeiro: Líder da comunidade Dito Ribeiro, foi à Universidade para defender a história do local. Foi a responsável para que a Fazenda Roseira, em Campinas, passasse a estar sob responsabilidade dos membros desse grupo. b) Bianca Lúcia: Aos 17 anos, é a filha única de Alessandra e foi a primeira mulher a tocar o tambor na Comunidade, fato que a conduz a uma espécie de liderança ao lado de sua mãe. c) Dina Samy: Proveniente de Guiné-Bissau, mora no Brasil há quase dez anos, na cidade de Bauru. d) Joelma Moura: Cantora e produtora cultural independente. e) Mãe Zete: mãe-de-santo, possui um terreiro híbrido de candomblé e umbanda. f) Palmira Souza: Dançarina do Maracatu Abayomi e candomblecista. g) Patrícia Alves: Educadora, candomblecista e entusiasta da cultura afrobrasileira. h) Raquel Trindade: Intelectual popular, dançarina, uma das personalidades mais importantes da cultura brasileira. i) Tainá Ferreira: Filha de Mãe Zete.

2.5 Custos do Projeto


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Passagens Bauru-Campinas: R$ 64, 34. Passagem Campinas-Praia Grande: R$ 61,72 Passagem Bauru – Praia Grande: R$ 116,35 Passagem Praia Grande – Bauru: R$ 116,35

2. 6. Equipamentos do projeto Tripé, Iphone 5 e um Celular LG Premium como segunda câmera.

2.7. Atividades desenvolvidas.

Para a elaboração do projeto, foram necessários os processos primordiais da produção jornalística: apuração, levantamento de fontes, entrevistas e edição. Conforme a ser exposto no próximo capítulo, houve muitas dificuldades para encontrar o tom autoral necessário para a obra, mantendo, ao mesmo tempo, o compromisso com os principais aprendizados obtidos ao longo dos últimos quatro anos no curso de Jornalismo. Possuir uma boa bagagem de referências de documentários que seguiam vertentes próximas ao proposto foram fundamentais para o êxito das filmagens e o aprendizado da autora.


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CAPÍTULO TRÊS – O TRABALHO 3.1 A importância de explorar o conceito de identidade Hall explora os inúmeros significados que o conceito de identidade tomou ao longo do tempo até a época do pós-modernismo, a partir de meados dos anos 60, quando novos jogos sociais começam a tomar as ruas e os espaços de discussão. O autor menciona Giddens e outros intelectuais que observam que, ao contrário das identidades moldadas em outros períodos da História, em que houve uma veneração a acontecimentos e personalidades anteriores,sendo sempre utilizadas como simulacros ou exemplos, agora eram identidades em constante mutação, que formulam e reformulam personas a partir do zeitgeist do seu tempo. Hall defende que, ao contrário dos Estados Modernos, a noção de identidade com uma nação ultrapassa fronteiras físicas:

As culturas nacionais são uma forma distintivamente moderna. A lealdade e a identificação que, numa era pré-moderna ou em sociedades mais tradicionais, eram dadas à tribo, ao povo, à religião e à região, foram transferidas,


28 gradualmente, nas sociedades ocidentais, à cultura nacional. As diferenças regionais e étnicas foram gradualmente sendo colocadas, de forma subordinada, sob aquilo que Gellner chama de "teto político" do estado-nação, que se tornou, assim, uma fonte poderosa de significados para as identidades culturais modernas. (HALL, Stuart, 1992, p. 49)

Essa ideia é presente, principalmente, quando se aborda o tema da diáspora africana. Gillroy (2002) defende a necessidade de, mais do que reconhecer a transnacionalidade da população negra mundial, é necessário utilizar os hibridismos e a revalorização de uma cultura ainda marginalizada frente ao eurocentrismo cultural:

Sob a ideia-chave da diáspora, nós poderemos então ver não a “raça”, e sim formas geo-políticas e geo-culturais de vida que são resultantes da interação entre sistemas comunicativos e contextos que elas não só incorporam, mas também modificam e transcendem. (GILLROY, 2002, p. 25)

Botão (2008), por sua vez, constrói o conceito de identidade a partir da relação entre elementos culturais de grupos que, aparentemente, são distintos, mas possuem imbricações de origem e sobrevivência em comum:

Neste sentido, pode-se dizer que o estudo da identidade é também o estudo da alteridade, da diferença e também da relação. É perante o outro que a identidade se afirma, é quando nos defrontamos com o diferente que tomamos consciência de quem somos, ou seja, da nossa própria identidade. (BOTÃO, 2008, p.2)

Toda manifestação popular pode provocar um efeito eficaz na comunicação. Festas, contos, causos, lendas são canais de comunicação utilizados por grupos


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marginalizados pelos principais processos comunicacionais do país que foram influenciados por avanços tecnológicos (internet, televisão digital), e por processos globais que trabalham com a valorização de elementos culturais do mass media em detrimento a signos regionais. Para Beltrão, esses signos são elementos de resistência, a reafirmação de um grupo social que está à margem daqueles processos, mas possui séculos de memória coletiva, e sentem a necessidade de dialogar ou informar as camadas que já estão inclusas nos principais processos do mass media:

No entanto, teimosa obstinadamente, o povo conserva a sua inteligência e, através dela, passam os episódios e fatos gerais que julgamos comuns e irresistíveis. Teimosa e obstinadamente, resiste ao imperialismo cultural, defende as características julgadas nacionais contra o nivelamento pela cultura internacional, dirigida e comum facilmente vitorioso nas classes altas e médias. Valendo-se de formas tradicionais e rudimentares de expressão, ao seu alcance já que são privados dos meios e veículos de maior extensão mas de manejo reservado às camadas privilegiadas oferecem uma resistência épica à arrancada cultural alienígena. (BELTRÃO, 2001, p. 50)

3.2 Perfomance Versus Jornalismo As discussões sobre a subjetividade do documentarista no processo de reproduzir uma realidade ou um acontecimento sempre estiveram presentes. Picianni (2013) ressalta que a própria natureza do documentário, mesmo quando assume uma postura mais objetiva, já é por si só uma recriação criada a partir de pontos de vista sobre o que seria a realidade: Se “representa” uma realidade, o documentário assume a ideia da impossibilidade de acessar esse real – o real nem mesmo existe, apenas sua interpretação – numa busca pela maior proximidade, mesmo sabendo da impossibilidade do grau zero de recriação em relação à narração desta realidade. Como bem proposto pela mimeses aristotélica, trata-se sempre de uma cópia da realidade. (Piccini, p. 237)


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Durante a elaboração do projeto, a autora sentiu-se próxima a uma situação discutida por Bernardet (2005) sobre os trabalhos dos diretores Kiko Goifman e Sandra Kogut em 33 (2002) e Passaporte Húngaro (2001), respectivamente. Ambos filmes partem de experiências pessoais de seus diretores para que sejam abordadas questões universais. Para o autor, experiências como essa demonstram a capacidade de documentários perfomativos em trabalharem o que denomina como “subjetividade dinâmica”:

São filmes extremamente ricos justamente por isso e que, nesse sentido, expressam uma subjetividade tal como muitos de nós a vivenciamos atualmente. Não mais uma objetividade como individualismo, mas uma subjetividade dinâmica, que não sabe em que medida é íntima ou em que medida é produto da sociedade(...)Portanto, esses dois filmes, além de serem interessantes para discutir os caminhos que levam o documentário, acredito que eles expressam também as contradições de uma subjetividade tal como nós a vivemos atualmente. (BERNARDET, 2005, p. 221)

Bairon

(2010)

investiga

as

possibilidades

do

processo

de

partilha

do

compartilhamento dentro da produção audiovisual e como isso altera o papel do comunicador durante o processo. Se o autor não é apenas mediador, mas também participa dos episódios vivenciados pelo seu objeto de estudo (no caso da reportagem hipermídia, a participação em rituais religiosos ou a vivência dentro de uma comunidade afro-brasileira), ele ainda realiza uma interlocução, dessa vez entre o interlocutor de uma comunidade, a sociedade e o(s) interlocutor(es) de uma pesquisa acadêmica, uma vez que o registro audiovisual passa a ser uma ferramenta importante de conhecimento antropológico sobre determinada comunidade. Aqui não há o pressuposto de estar representando uma comunidade estranha ao documentarista, que ao imergir dentro da comunidade, realiza um processo de auto-conhecimento e hibridização da própria identidade. Como exemplo o autor menciona a produção audiovisual sobre mestres griôts (líderes que preservam a cultura africana por meio da oralidade) e como ocorre a produção partilhada nesses contextos:


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O sujeito conceitual, em uma proposição da produção partilhada, configura-se, ao mesmo tempo, como objeto e sujeito da pesquisadiálogo. Nestas tramas conceituais, o lugar acadêmico institucional, visto como “origem” de um saber hegemônico, é posto como objeto de partilha horizontalmente em relação aos saberes do Mestre Griô, sugerindo, deste modo, possibilidades de trocas estético-conceituais com comunidades nas quais as formas da produção do conhecimento realmente acontecem. Ocorre disto a reconfiguração do sujeito pesquisador, para a função de interlocutor — também objeto da comunidade-sujeito — a exercitar a mediação e o alicerce comunicativo na produção do conhecimento. (BAIRON, 2015, p. 3)

3.3 Dificuldades encontradas Além do conflito entre subjetividade e jornalismo, o maior obstáculo para as filmagens foi conciliar a rotina da autora, estudante do último semestre, com a das entrevistadas, que trabalhavam e só tinham disponibilidade de horário durante o período noturno (o que coincidia com o horário de aula da autora) ou aos finais-de-semana. Também houve a questão da confiança: no caso de Raquel, a intermediação com o seu neto para marcar a entrevista foi fundamental, mas no caso de Alessandra Ribeiro (a entrevista mais distante, que demandava uma viagem para uma região fora do eixo da autora), foram necessárias várias ligações ao longo de dois meses, para que houvesse a empatia e a confiança necessária para a marcação da entrevista. O medo que sua religião fosse deturpada ou que assuntos relacionados a mulheres negras caíssem em estereótipos esteve presente em todas as entrevistadas, que antes da entrevista, demonstraram a preocupação com o assunto, sinal de que a distância entre a mídia e a cultura afro-brasileira está longe de estreitar-se.

3.4 Considerações finais


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O Projeto Yabás foi importante, principalmente, pelo processo de construção da autora como documentarista e pela sensação de que estava imersa dentro de uma busca de identidade. A aproximação com a cultura afro-brasileira suscitou questões que vão desde o processo de redescoberta sobre a própria negritude até a percepção de que, apesar dos avanços como a existência de uma lei como a Lei 10.639, ainda está sob o mito da democracia racial e, com isso, com uma violência racial cada vez mais preocupante. Como conclusão, é interessante deixar registrada a percepção da autora, em seu blog pessoal, sobre como resolveu, consigo mesmo, a resolução do conflito de estar diante de um trabalho com tamanha carga de subjetividade e querer, ao mesmo tempo, permanecer com o seu compromisso com o jornalismo:

Se meu trabalho não é militante porque tento manter meu compromisso com o jornalismo atento, eu faço questão de, ao me transformar em sujeito, também fazer com que as mulheres que aceitaram contar suas histórias também o sejam. Em momento algum, elas são minhas personagens. Mas não posso negar que elas me transformaram, ou melhor, me resgataram. (CRUZ, Agnes SOFIA, 2016, “Meu abayomi)

Portanto, autores como Hall e Gillroy encontram nos vídeos ecos de seu conceitos como construção de identidade e diáspora. E uma voz como Beatriz Nascimento, trinta anos depois de sua magnus opus cinematográfica, tem sua discussão sobre identidade pessoal e comunidade retomada com novas gerações de mulheres negras.


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ANEXOS 1. Roteiros 1.1 Vídeo 1: Ifé

Duração: 10´ Data: 27/12/2015

Vídeo

Áudio

Cena 1

Áudio 1 - OFF (50´´)

Imagem de Iemanjá negra e outros símbolos

A cidade da Praia Grande é marcada pelo seu forte catolicismo, mas muitos dos seus bairros possuem sua origem na Umbanda. A Vila Mirim recebe esse nome em homenagem ao Caboclo Mirim, entidade religiosa que teria se manifestado pela primeira vez no Rio de Janeiro, durante a década de 30 através do médium Benjamim Gonçalves Figueiredo, paide-santo de Féliz Nascente Pinto, personalidade religiosa que morou durante muitos anos na praia. Quatro décadas depois, a Festa de Iemanjá da Praia Grande é a mais importante do Estado de São Paulo, mas a estátua localizada na orla da praia da Vila Mirim é uma sereia europeia, distante da entidade negra, de seios fartos e guerreira dos cartões-postais de Salvador, uma das das cidades do país que mais veneram Yemanjá. áudio vinheta - Mulheres negras (40´´)


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Vinheta Yabás Sobe cortina, com nomes do episódio e das mulheres dele: Mãe Zete, Tainá Ferreira e Patrícia Alves

Cena 2 Mãe Zete aparece dançando, vestida de Pomba-Gira Cena 3 Imagens de Mãe Zete durante a festa

Áudio 2 - 30´´ Som de tambores e da festa de Exu-Pomba Gira

Áudio 3 - 50´´ OFF. Mãe Zete conta como se aproximou da religião

Áudio 4 - 40´´ Cena 4 Mãe Zete sentada, em conversa com a equipe.

OFF. Mãe Zete conta como começou o terreiro.

Áudio 5 - 15´´ OFF. Narradora apresenta Tainá.

Cena 5 Imagens de Tainá na festa de Iemanjá Cena 6 Imagens de Tainá na praia

Áudio 6 - 20´´ Durante os trabalhos, toda a família de Mãe Zete está envolvida no processo, inclusive Tainá Ferreira, uma de suas filhas que durante as festas assume um papel de destaque ao auxiliar a mãede-santo no seu relacionamento com a comunidade, com seus filhos-de-santos e com as próprias entidades. Na Festa de Iemanjá, Mãe Zete e Tainá eram a personificação dos valores de Iemanja, muito mais


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próximas da força da mitologia ioruba do que a estatua do meu bairro e que sempre me deixou confusa desde que aprendi sua relação com as religiões afro-brasileiras. Cena 7 Imagens de Mãe Zete na praia

Áudio 7 - 15´´ OFF. Mãe Zete explica importância de Iemanjá

Cena 8 Imagens de mulheres em terreiro

Áudio 8 - 30´´ OFF. Patrícia fala sobre a questão feminina da religião

Cena 9 Patrícia em entrevista

Áudio 9 - 30 ´´ Patrícia conta como entrou para o candomblé

Cena 10 Imagens de objetos religiosos Cena 11

Áudio 10 - 30´´ OFF. Patrícia conta sobre a questão das imagens na religião Áudio 11 - 20´´

Imagem de objetos religiosos

Som ambiente.

Cena 12

Áudio 12- 30´´

Imagens de pessoas homenageando Iemanjá

Cena 13 Mãe Zete apresenta o terreiro Cena 14

Som ambiente

Áudio 13 - 40´´ Som ambiente Áudio 14


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Terreiro entrega encargos para Iemanjá Cena 15 Imagens de terreiros

Som Ambiente

Áudio 15 - 40´´ Narradora

Cena 16 Imagens de Mãe Zete no terreiro

Áudio 16 - 20´´ Trilha sonora

Cena 17 Créditos Finais

Áudio de créditos finais - 40´´

2. Roteiro - Ancestralidade e Memória Tempo: 10´ Nome: Emi Vídeo

Áudio

Cena 1

Áudio 1 - OFF (45´)

Imagens da narradora arrumando um turbante, planos-detalhes

Vinheta Yabás

Sobe cortina, com nomes do episódio e das mulheres dele:: Raquel, Patrícia, Alessandra

Em muitas religiões africanas, o turbante é símbolo de proteção e respeito. Quando a peça chegou ao Brasil na cabeça dos negros escravizados, principalmente das mulheres, era possível saber a origem Quando aprendi as amarrações do turbante, eu sabia que estava lidando com uma peça que chegou ao Brasil nas cabeças , sendo usada ora como um adereço religioso, ora como uma peça que deveria esconder o cabelo das mulheres negras escravizadas. Séculos depois, o turbante virou uma ferramenta


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Cena 2 Sequência de imagens - Fotos do livro Mulheres Negras e coisas de Raquel Cena 3

áudio vinheta - Mulheres negras

(40´´)

Áudio 2 (1´30´´) Som ambiente (30´´) e explicações sobre ancestralidade e memória (1´´)

Imagens da Fazenda Roseira Áudio 3 (10´´) Cena 4 Som de passagem de cena (música Jongo) Alessandra Ribeiro em entrevista Áudio 4 (60´´) Áudio - Alessandra Fala sobre Dito Ribeiro Cena 5 Imagens de apresentação de jongo Áudio 5 (80´´) OFF - Alessandra falando sobre jongo

Cena 6 Imagens de Bianca Lúcia tocando tambor

Áudio 6 (20´´)

Som ambiente de apresentação de jongo

Cena 7 Imagens de Bianca tocando tambor Cena 8

Áudio 7 - OFF (20´´)

Bianca em entrevista

Bianca conta sobre como entrou na comunidade

Áudio 8 (40´´)

Cena 9 Patrícia em entrevista

Bianca fala sobre sua identidade


40 Áudio 9 (40´´)

Cena 10

Patrícia fala sobre a importância de conhecer a ancestralidade

Imagens do quadro A redenção de Cam

Áudio 10 (45´´) Narração em off sobre alguns preconceitos e estigmas que a valorização da memória procura apagar (embranquecimento, relacionar com Patrícia)

Cena 11 Áudio 11 (40´´)

Patrícia em entrevista Cena 12 Raquel mostra sua biblioteca

Cena 13 Raquel em entrevista

Patrícia fala sobre reconhecer-se negra

Áudio 12 (20´´)

Raquel fala sobre sua família Áudio 13 (45´´) Raquel fala sobre sua família

Cena 14 Imagens de Roseira

Áudio 14 (45´´) Trilha sonora - Mulher da costa

Cena 15 Cena de dançarinos mais velhos dançando jongo

Áudio 15 (40´´) Alessandra fala sobre a importância dos mais velhos no jongo

, Cena 16 Áudio 16 (10´´) Cena de dançarinos mais velhos


41 dançando jongo

Som ambiente da apresentação Áudio 17 (35´´)

Cena 17 OFF 1 - Alessandra fala sobre a importância das mulheres da sua família (15´´) Imagens dos quadros de Raquel

OFF 2 - Raquel fala sobre orgulho da família e de ser quem é (20´´)

Cena 18 Áudio 18 (25´´) Narradora digitando no computador Créditos finais Emi é o hálito de criação.

3. Roteiro - Oralidade e musicalidade 10´ Nome: Ilá

Cena 1

Áudio 1 - OFF (40´´)

Apresentação Sobe cortina, com nomes do episódio e das mulheres dele: Joelma, Mãe Zete, Raquel e Patrícia

Já dizia o historiador francês Jacque Le Goff: [...] “tornar-se senhores da memória e do esquecimento é uma das grandes preocupações das classes, dos grupos, dos indivíduos que dominaram e dominam as sociedades históricas. Os esquecimentos e os silêncios da história são reveladores destes mecanismos de manipulação da memória coletiva” Assim, não é exagero afirmar que a voz da mulher negra é a sua arma

Vinheta Yabás

áudio vinheta - Mulheres negras (40´´)

Cena 2

Áudio 2 (50´´)

Estúdio: Apresentação do Balaio de Sinhá

Som ambiente, banda discute sobre detalhes da apresentação


42 Cena 3

Áudio 3 - OFF (40´´)

Ensaio do Balaio de Sinhá

Joelma conta relação com canto e religião

Cena 4

Áudio 4 (40´´)

Estúdio, ensaio

Joelma canta no ensaio

Cena 5

Áudio 5 (40´´)

Imagens de Mãe Zete cantando

Som ambiente

Cena 6 Áudio 6 - OFF (15´´) Imagens de Mãe Zete no terreiro na praia

Cena 7 Raquel em entrevista

Mãe Zete fala sobre passar tradição boca-a-boca

Áudio 7 - OFF (45´´) Raquel fala sobre contação de histórias e passar tradição

Cena 8 Patrícia em entrevista

Cena 8 (30´´) Patrícia fala sobre a importância da oralidade

Cena 9 Áudio 9 - (45´´) Joelma em entrevista Joelma fala sobre aceitação da música como divulgação da religião Cena 10 Áudio 10 - (45´´) Imagens de cantoras negras Trilha sonora - Primeiro do ano Cena 11 Áudio 11 - OFF (30´´) Imagens de mulheres negras conversando

Na universidade, o encontro com as ideias apocalípticas do escritor Walter Benjamim, apesar de ter sido assustador, deram sentido a algumas percepções familiares. O autor lamentava como a escrita dos romances deixavam de lado a riqueza dos contadores de história. Segundo ele, isso representava uma perda Pelas histórias que ouvia da minha avó, construí A minha avó contava várias histórias

Cena 12 Áudio 12 (30´´) Raquel em entrevista Raquel fala sobre universidade Cena 13

Áudio 13 (20´´)

Joelma em estúdio

Som ambiente


43 Cena 14 Áudio 14 (30´´) Joelma no estúdio

OFF – Narração

Cena 15 Áudio 15 Créditos finais Créditos finais

Nome : Ubuntus

Duração: 10 ´ Cena 1

Áudio 1 - OFF (40´´)

Imagens de mulheres conversando

Pode-se dizer que Ubuntu é uma filosofia. Noção existente principalmente nos povos da África Subsaariana, a palavra tem seu significado diretamente na relação do indivíduo com sua comunidade. Ubuntu esteve muito presente na luta de Mandela contra o apartheid sul-africano. Durante a década de 40, ele se inspirou no conceito ao criar a liga da juventude do seu partido, a ANC. No manifesto redigido por ele, uma frase sintetiza o que move a palavra Ubuntu: "Ao contrário do homem branco, o africano quer o universo como um todo orgânico que tende à harmonia e no qual as partes individuais existem somente como aspectos da unidade universal"

Vinheta Yabás Nome das mulheres: Mãe Zete, Tainá, Joelma, Alessandra.

áudio vinheta - Mulheres negras (40´´) Trilha tambores para capítulo (15´´)

Cena 2 Imagens de Mãe Zete anunciando o bloco Pérola Negra Cena 3 Imagens do pessoal ensaiando Cena 4 Imagens das mulheres arrumando fantasia Cena 5 Imagens de Tainá treinando todos Cena 6 Imagens de Tainá treinando todos Cena 7 Imagens de terreiros

Áudio 2 - som ambiente (1´25´).

Áudio 3 - Joelma cantando o bloco (30´´)

Áudio 4 - OFF Mãe Zete explicando a criação do bloco (45´´) Áudio 5 - Explicação em off do impacto de ter o bloco em Bauru (30`´)

Áudio 6 - Som ambiente (30´´)


44 Cena 8 Imagens de jongo Cena 9 Imagens de jongo

Áudio 7 - OFF falando do terreiro como comunidade (40´´) Áudio 8 - Som ambiente (15´´)

Cena 10 Imagem de Alessandra Cena 11 Festa de Iemanjá Cena 12 Imagens de Mãe Zete e sua filha no terreiro da praia

Áudio 9 - Off Alessandra Ribeiro contando sobre a criação da comunidade (40´´) Áudio 10 - Alessandra contando sobre a criação da comunidade (40´´)

Áudio 11 - Som ambiente (1´´)


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