Boletim
Agrofloresta
Boletim informativo do Projeto Agrofloresta Nº1 / 2013 Nova esperança no Três Conquistas
Foto: Vinicius Borba
O ano de 2013 foi de avanços para o Núcleo Rural Três Conquistas, Paranoá (DF). Com o patrocínio assinado entre a Associação dos Trabalhadores Rurais de Três Conquistas e a Petrobras, uma nova luz de apoio e estrutura para o assentamento surgiu. Desde 1997 muitos moradores não conseguem avançar na agricultura pelas más condições de
solo. Num processo de fortalecimento local, o patrocínio prevê atividades de edu-
Agricultura ou agroecologia?
cação ambiental, aquisição de adubos para produção agroecológica, ferramentas e a realização de trechos de Siste-
mas Agroflorestais (SAF). Conheça mais sobre esta iniciativa pelo Boletim Agrofloresta.
Foto: Vinicius Borba
CONHEÇA AS AÇÕES AGROFLORESTA É DO PROJETO CAMINHO DE VIDA SAUDÁVEL O trabalho coletivo é uma Agroflorestamento tem das estratégias organiza- sido uma das mais aplicadas implantação do proje- das técnicas de inclusão to Agrofloresta no Núcleo para soberania alimentar Rural Três Conquistas no mundo (Leia mais pg. 2) (Leia mais pg. 4) HISTÓRIA RECONTA- CONHEÇA PARCEIROS Entenda as diferenças entre agricultura con- DA: QUANDO TUDO E LIDERANÇAS DO PROJETO vencional e as práticas de agroecologia apli- COMEÇOU Conheça a história em Conheça como o projeto cadas pelo Projeto Agrofloresta. Num mundo linha do tempo sobre a foi criado e os parceiros onde a produção agrícola é marcada pelo uso chegada dos assentados que ajudam a colaborar de agrotóxicos, a alternativa para um novo jei- ao Três Conquistas até o para essa realização junto to de produzir está no Cerrado. Entenda me- início das ações do Projeto ao Programa Patrobrás Ambiental lhor as técnicas para essa forma de produção. Agrofloresta (Leia mais pg. 2) (Leia mais pg. 6 e 7) (Leia mais pg. 4 )
Realização:
Patrocínio:
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Projeto Agrofloresta: iniciativa sustentável O Núcleo Rural Três Conquistas está localizado no município de Paranoá (DF), na DF 130, km 21. A área de 1.200 hectares dividida em mais de 60 propriedades foi anteriormente ocupada pela monocultura do eucalipto que após sucessivos cultivos, empobreceu o solo, resultando em baixa produção agrícola nessa área, nos anos sequentes. Ao longo dos anos, as famílias produziam basicamente para o seu sustento e esporadicamente comercializavam o excedente em feiras e mercados locais. Mas, hoje, suas esperanças foram renovadas por um novo sistema de produção agrícola, que envolve a sustentabilidade, a melhoria da qualidade de vida e a segurança alimentar. Este é o Projeto Agrofloresta! O projeto prevê o reflorestamento de uma parcela das chácaras do Núcleo Rural de Três Conquistas, por meio da implantação de Agroflorestas ou Sistemas Agroflorestais (SAFs). Com a participação de 28 famílias, apenas nesse primeiro ano serão 100 mil m2 reflorestados. O Projeto patrocinado pela Petrobras, através do Programa Petrobras Ambiental garantiu insumos, equipamentos, sementes e mudas para o plantio aos agricultores, com a contrapartida do trabalho destes para reflorestar suas propriedades. Desde o início de outubro, os agricultores e agricultoras têm participado de oficinas de capacitação e visitas técnicas como pré-requisito para receberem os benefícios do projeto. Todo o conhecimento construído coletivamente nesse período foi colocado em prática com a implantação da agrofloresta modelo na sede da Associação de Trabalhadores Rurais de Três Conquistas (ASTRAC). Para comemorar essa primeira etapa, no próximo dia 21 as famílias participantes receberão os certificados de conclusão do curso básico de implantação de agrofloresta previsto no projeto.
História recontada 1997
10/2011
Idealização e pré-elaboração do Criação do Núcleo Rural Projeto Agrofloresta por Três ex-assentadas, Ceiça, Kelly Três Conquistas Cristina Martins e Karen Virgínia Ferreira com aprovação dos associados da ASTRAC
2010
Implantação do 1° SAF: A assentada Maria da Conceição Nascimento (Ceiça) realizou a primeira experiência de SAF no assentamento
12/2013 UnB aprova pesquisa sobre o impacto educacional: será realizada pela mestranda Karen Virgínia Ferreira, umas das idealizadoras 04/2013 e ex-assentada Aprovação do Projeto Agrofloresta
10 à 12/2013
Liberação do recurso finaceiro, capacitação das famílias e Implantação do SAF Projeto inscrito no Edital Comunitário na sede da ASTRAC e outras chácaras dos assentamento PETROBRAS AMBIENTAL 10/2012
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Foto: Thâmara Figueiredo
Foto: Thâmara Figueiredo
Mural
Benonis Marques Teixeira junto com a
mãe estão finalizando a implantação da agrofloresta em uma área de 4.900 m2. Agricultores dedicados, eles destacaram a importância da fase de captação para compreender a dinâmica central desse modo de produzir para aplicar na propriedade. O agricultor mencionou o melhor aproveitamento da terra como um dos principais benefícios da agrofloresta. Ao mesmo tempo em que está sendo realizada a arborização da área com espécies madeireiras e outras de ciclo curto, a mesma área pode ser aproveitada para o plantio de espécies rasteiras ou arbustivas, gramíneas, cereais e hortaliças, produzindo alimento, complementando a renda e melhorando a qualidade do solo pelo maior aporte de matéria orgânica a partir da reciclagem dos restos de cultura “Tem as árvores, mas aproveita a roça”.
Edmilson Ribeiro Santos (41), junto com a mulher e o filho, toca uma
Foto: Acervo Projeto Agrofloresta
propriedade de 2 ha, onde desenvolvem criação de peixe, de frango, produção de hortaliças e uma área onde já consorcia café, banana, mandioca e várias frutíferas. Com o Projeto Agrofloresta, o Edmilson ampliou essa experiência para mais 1.225 m2, em fase de implantação. O cultivo de espécies que servirão como adubo foi a grande novidade aprendida por Edmilson, muito importante para promover a melhoria das qualidades do solo em sistemas de produção em base agroecológica. “Aprendi sobre os adubos verdes e sobre o manejo dessas plantas para adubar o solo”. O agricultor, que já comercializa seus produtos junto ao Programa de Aquisição de Alimento - PAA, está satisfeito com o complemento de renda que agrofloresta promoverá.
Edson da Silva, 22 anos, é estudante do curso Superior de Tecnologia em
Agroecologia. Ele é um dos colaboradores que atua diretamente com os assentados na implantação do projeto, além de estar também implementando SAF na propriedade de sua família, no Capão da Onça, comunidade adjacente ao Três Conquistas. “Estar aplicando os conhecimentos que trago da faculdade é muito importante para meu desenvolvimento, além de devolver para o lugar de onde venho essa experiência”, afirmou.
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Sobre Agrofloresta
Foto: Acervo Projeto Agrofloresta
Sistema de produção de alimentos em harmonia com o ambiente onde se conservam os recursos naturais e se produz alimento saudável
A Agrofloresta ou Sistema Agroflorestal (SAF) reúne vantagens econômicas e ambientais pela utilização sustentável dos recursos naturais aliada a uma menor dependência de insumos externos, resultando em maior segurança alimentar e econômica, tanto para os agricultores, como para os consumidores. No SAF procura-se imitar o funcionamento da natureza, que através da sucessão natural aumenta a vida e melhora a qualidade dos solos. Nesse sentido a agrofloresta pode ser considerada uma “floresta de alimentos”. Da mesma forma que na sucessão natural, onde as plantas ocorrem juntas e não isoladas, e requerem outras plantas para o ótimo desenvolvimento, na agrofloresta as plantas cultivadas são introduzidas em consórcios, de forma a preencher todos os espaços. Com o tempo, as plantas que duram menos morrem e aquelas que vivem mais continuam. Se formos organizar as plantas em grupos sucessionais, podemos chamar de pioneiras aquelas que são as primeiras a se estabelecerem e com ciclo mais curto. No caso da agrofloresta são as espécies agrícolas como milho, feijão, abóbora, batata doce, etc.
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As espécies de ciclo médio a longo são as plantas secundárias, representadas no SAF’s, pelas plantas que vão continuar o sistema quando as de ciclo curto forem colhidas, como por exemplo, a mandioca, o abacaxi, o mamão juntamente com várias outras árvores que poderão produzir frutos, lenha e madeira, mais tarde. Quem já praticou agricultura convencional e passa a fazer agrofloresta percebe que ao invés de haver competição entre as plantas, há na verdade cooperação, observando que uma planta não atrapalha a outra, elas vivem juntas. Desse modo, esse sistema de produção permite colheitas desde o primeiro ano de implantação, incrementando a renda familiar, promovendo maior segurança alimentar, além da sustentabilidade ambiental, o incremento na fertilidade do solo, sendo, portanto uma excelente opção para a agricultura familiar no Brasil. Porque plantar árvores As árvores exercem muitas funções. Elas fornecem madeira, mourão de cerca, cabo de ferramentas, frutos, remédios, alimento para os animais, sombra para as pessoas e para as criações, material para artesanato, etc. Além disso, quanto mais a terra estiver coberta com florestas, mais a água da chuva terá a capacidade de infiltrar, alimentando o lençol freático e protegendo a terra, evitando erosão. É pensando na proteção da água, do solo, e de todos os seres vivos que a legislação brasileira exige a recuperação e manutenção das matas nas áreas de proteção permanente (APP) e reserva legal. As APPs dizem respeito ao entorno das nascentes, lagos e represas, córregos e rios, topos de morro e encostas muito inclinadas. A Reserva Legal é uma área protegida por lei, localizada no interior da propriedade, cuja vegetação nativa não pode ser derrubada totalmente, mas pode ser usada para fins produtivos, como para a produção de frutas, criação de abelhas, artesanato, turismo e manejo seletivo de madeira, porém não podem ser usada para a agricultura ou pecuária que impeçam a regeneração da floresta. A legislação atual permite que se faça agricultura na Reserva Legal e na APP de pequena propriedade ou posse rural, mas tem que seguir regras específicas. Por isso, é bom se informar melhor com os técnicos do assentamento ou com órgãos ambientais.
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O Senhor José Neris de Almeida (Zezinho), 56 anos, é assentado mora
com a esposa e cinco filhos no assentamento rural Três Conquistas desde 1997, em área de pouco mais de 14 ha. Homem de muita sensibilidade, Sr. Zezinho, guardava o desejo de arborizar a sua propriedade, com plantas nativas do Cerrado e outras espécies. Em uma área de 5.000 m2, foi plantado em novembro e dezembro o milho, feijão, abóbora, melancia, ipê, aroeira, angico, imburuna, barriguda, abacaxi, entre outras. Sr. Zezinho está muito feliz com o projeto. “Recebemos ferramentas, adubos orgânicos e as sementes e mudas”, possibilitaram o plantio antes da chuva e agora com a chegada da chuva estão desenvolvendo muito bem. Ele está satisfeito com a variedade de plantas que está cultivando que irá melhorar a alimentação da sua família e a renda, com a venda do excedente. Além disso, Seu Zezinho está feliz em poder realizar o sonho de arborizar o seu sítio “Sempre quis reflorestar aqui, mas não tinha dinheiro para comprar as mudas, agora não vou cortar as árvores não, elas vão ficar na área para embelezar a roça”.
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Foto: Vinicius Borba
Patrocínio da Petrobras traz nova esperança para o Três Conquistas
O Projeto Um núcleo rural na região do Paranoá renovou suas esperanças por um novo sistema de produção agrícola envolvendo sustentabilidade, geração de renda e segurança alimentar. É o projeto Agrofloresta, que prevê o reflorestamento de uma parcela das chácaras do Núcleo Rural de Três Conquistas, totalizando cerca de 100 mil m² só neste primeiro ano de implantação do projeto que já está atendendo 28 famílias das 25 previstas. O assentamento existe há 16 anos mas ainda hoje tem dificuldades para cultivar alimentos em terras de solo muito pobre. O Projeto patrocinado pela Petrobras, através do Programa Petrobras Ambiental garantiu insumos, equipamentos e sementes para o plantio, e a paixão de duas ex-assentadas que saíram do local em busca de educação e hoje multiplicam a experiência entre os pares. No próximo dia 21 eles devem receber os certificados de conclusão do curso básico de implantação de agrofloresta previsto no projeto. Os Sistemas Agroflorestais são técnicas de implantação de plantios de árvores madeireiras de espécies nativas associadas a hortaliças e plantas frutíferas, sem a utilização de agrotóxicos, baseado na prática de compostagem. Como consequência, o agricultor tem alimentos para consumo, e pode obter renda com a venda de excedentes. Além disso, promove a recuperação de solos degradados com a manutenção de reserva legal. A reserva legal é prevista no Código Florestal, sendo fator que muitas vezes impede empréstimos bancários e até regularização fundiária, como no caso do Três Conquistas. Desde o início de outubro, 28 famílias do assentamento tem recebido formação técnica, aulas sobre agroecologia e técnicas de implantação de SAF, para receberem os benefícios do projeto com patrocínio da Petrobras. A aragem e preparação do solo contam com apoio de trator e caminhão da Associação dos Trabalhadores Rurais de Três Conquistas, cedidos pela Secretaria de Agricultura. Os trabalhos são realizados pelos moradores, como contrapartida pelos benefícios recebidos. Onde tudo começou? Idos de 1997. Os movimentos de luta pela reforma agrária participavam de mais de 160 situações
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de conflito por ocupação de terras no Brasil. No DF, Maria da Conceição Nascimento (Ceiça) participava pelo Movimento Sem terra (MST) da ocupação das fazendas Sarandi e Grotão. Finalmente conseguiu ser assentada com a família vinda do nordeste no Núcleo Rural Três Conquistas, na DF 130, km 22, Paranoá (DF). As terras desapropriadas para o assentamento eram de produção de monocultura de eucalipto. Por anos mantendo essa única atividade, o terreno ficou com péssimos índices de produtividade. E foi essa terra que recebeu os assentados daquela época. Ali foi assentada também a família de Kelly Cristina Martins, outra importante multiplicadora do projeto. Kelly, após se formar no ensino médio e se graduar posteriormente na Universidade de Brasília colaborou para a construção do projeto aprovado pela Petrobrás, que foi elaborado a partir da ideia de Ceiça, que realizou por iniciativa própria com apoio do CNPQ em 2010 a primeira experiência de implantação dos Sistemas Agroflorestais (SAF) no Três Conquistas, para verificar a viabilidade de implantação de SAF naquele solo degradado. Com a esperiência de pesquisa, Ceiça procurou Kelly e a irmã, Karen Virgínia Ferreira, para escrever o projeto, que foi aprovado e entrou em vigor em outubro deste ano.
Foto: Acervo Projeto Agrofloresta
Foto: Acervo Projeto Agrofloresta
Outro importante elemento dessa realização tem sido o atual presidente da Associação dos Trabalhadores Rurais de Três Conquistas (Astrac), Gilberto Ribeiro dos Santos. Para Gilberto, a produção baseada em princípios saudáveis pode trazer nova visão dos trabalhadores sobre a vida no campo. “Produzir protegendo o meio ambiente e tendo alimento limpo para comer traz com certeza mais prazer para nossa vida na roça”, afirmou Gilberto. “Queremos construir a autônomia do agricultor no processo de ensino e aprendizagem. Queremos que o agricultor tenha consciência que ele é o maior responsável pelo próprio crescimento e que se torne um sujeito ecológico, por meio da educação libertadora”, explicou Ceiça Nascimento, Coordenadora de implementação do Projeto Agrofloresta.
Gilberto, Ceiça (chapéu), Kelly e a pequena Emilia
Apoio da Secretaria de Agricultura No evento de abertura do projeto, esteve presente o secretário de Agricultura, Lúcio Valadão. A Secretaria apoia a Agrofloresta concedendo um trator e uma caminhão para realização dos transportes e demais atividades das famílias. Para ele, a iniciativa dos próprios moradores é ponto chave para o sucesso da ação. “Tenho certeza que este projeto vai à diante graças à efetiva participação dos moradores. A análise para apoio a projetos como esse patrocício da Petrobras é sempre bem rigorosa”, ressaltou. “O projeto pode representar um grande salto de qualidade para a comunidade e torná-la economicamente viável e ambientalmente sustentável. O Distrito Federal, com o atual governo, volta a ter uma forte política para o meio rural, especialmente de consolidação dos assentamentos da reforma agrária”, disse o presidente da Emater, Marcelo Piccin.
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Agenda e eventos Expediente Projeto Agrofloresta Núcleo Rural Três Conquistas DF 130, km 21 - Paranoá - DF www.projetoagrofloresta.org.br projeto.agrofloresta@gmail.com
Coordenação Kelly Cristina Ferreira Maria da Conceição Nascimento
Telefones: (61) 8493-0995 / 9182-6450 9395-4456 / 8443-6120/ 9617-3291
Redação e projeto gráfico Letícia Campos Thâmara Figueiredo Vinicius Borba
Não jogue este impresso em vias públicas. Preverse o meio ambiente.
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Parceria: Realização: Patrocínio
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