Christian Tissier Shihan - Argentina 2009 (BR)

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Entrevista realizada em dezembro de 2009 com: Christian Tissier Shihan 7 dan Aikikai. Visita a América do Sul.

___________________________________________________________ Fonte: Associação Argentina de Aikido Conteúdo autorizado por Mario Lorenzo (Associação Argentina de Aikido) Créditos: Texto: Mario Lorenzo e Jorge Rojo Tradução para o português: Indyanara Galvão Fotos: Mario Lorenzo


Entrevista realizada em dezembro de 2009 com Christian Tissier Shihan 7 dan Aikikai. Visita a América do Sul. Shihan Christian Tissier, visitou a América do Sul em dezembro de 2009. Realizando seminários no Chile, Argentina e Uruguai. Mario Lorenzo da Aikikai Argentina, Cláudio Zotto e o presidente Jorge Rojo do Aikikai do Chile conversaram longamente com ele em Buenos Aires. Esta entrevista faz parte desta conversa. Sempre simpático e com uma boa vontade muito grande para falar de tudo relacionado à prática do aikido dando conceitos claros e precisos sobre as técnicas. Agradecemos a Jorge Rojo pela tradução simultânea. Mario Lorenzo, Christian Tissier e Jorge Rojo

Mario Lorenzo - Como você vê o desenvolvimento do aikido para os próximos anos? Para onde vai o aikido? Tissier Sensei – É difícil, em um período de 10 ou 20 anos, ouve uma mudança radical, pois é quase a mesma geração que está envelhecendo. Um tema interessante é se vamos ou não atrair os jovens para prática e de acordo com nossa capacidade de atrair esses jovens, como será o tipo de aikido que nós ensinaremos. Hoje temos um envelhecimento do aikido, talvez um aikido mais interessante, mas, envelhecido em idade. Quando eu comecei, encontrei algo de mágico no Oriente, mas na época só tinhas o judô, karate e aikido. Agora, existem muitas outras oportunidades para os jovens, do que quando eu comecei. Atualmente, temos o problema inverso com o judô. Os adultos que procuram o judô encontram muitas crianças. Precisamos de profissionais entre 18 e 30 anos. Caso contrário, a média de idade para participar dos Seminários nos próximos anos será de 40 a 45 anos, e isso vai determinar o tipo de aikido que estaremos realizando. Outra questão que será decisiva para o aikido é o que vai acontecer em dois grandes países como a China e a Índia, que quase não conhecem o aikido e são quase 2.000 milhões de pessoas. O que é que interessa a essas pessoas? A profissionais de kung fu shaolin na China, yoga na Índia e de outros exercícios, mas quantos se atraem por essas modalidades? Nós não temos idéia. Pode ser 100.000, 200.000 ou talvez nenhum, em 20 anos ninguém sabe o que vai acontecer. Na França, há 70.000 praticantes. Se a China atingir 300.000, Como essas pessoas vão determinar a política do Aikido? Atualmente, uma sala de aula regular tem um professor para 20 alunos, se há 1.000 Qual será o método de ensino?


Mario Lorenzo – Do ponto de vista técnico, você vê que o aikido tende para a velocidade, força física ou técnica? Tissier Sensei – é muito diversificado e essa diversidade é a força do aikido. Há pessoas que permanecem no aikido, apenas porque elas acham que é uma coisa muito física. Há pessoas no aikido que não poderiam estar em outro esporte. Há outros profissionais que já trabalharam bastante fisicamente e para eles, a prática física está incluída no aikido. Eu tenho quase 60 anos e fisicamente eu me sinto um atleta, não digo que exista um aikido desportivo, porém me sinto como uma pessoa que tivesse praticado esporte toda a sua vida. Estamos interessados em manter um aspecto da prática, que é baseada no trabalho físico. Estive recentemente em Amsterdã com o Doshu, temos a mesma idade, Ele fez uma demonstração de aikido muito longa, rápida e precisa, com todas as características de um atleta. Mario Lorenzo – Como podemos ver na America do Sul existem aquelas pessoas que colocam uma ênfase demasiada no ki em sua pratica. Como você vê isso em todo o mundo e o que pensa sobre o ”Não toque aikido” de Watanabe Sensei? Tissier Sensei – são duas coisas diferentes, sobre as pessoas que por um lado falam de ki e os outros, que fazem aikido como o mestre Watanabe. Ele desenvolveu algo que lhe interessava especialmente, não é uma obra de ki, mas sim de antecipação de sensações, de gostar ou não gostar, de funcionar ou não funcionar. Funciona quando você conhece o código, marcialmente não funciona. Eu trabalhei muito com Watanabe Sensei quando eu estava no Japão. Ele (Watanabe Sensei) era um praticante fisicamente forte, que queria desenvolver algo contrário a sua força. Agora, as pessoas que falam de ki, fazendo uma referência constante para o ki no mundo, por vezes, procuram justificar a sua falta de técnica. Porque ki todos nós temos, isso é ki (ou seja, um gesto para o ambiente), o problema do ki é a sua fluidez e como flui o ki? Quando não há nenhum bloqueio. Quando alguém está fazendo uma técnica e não tem controle sobre ela, você não poderá ter um corpo que esteja desbloqueado. O objetivo da técnica é justamente desbloquear as partes do corpo que poderão estar bloqueadas. Alguém que fez um trabalho (uma técnica) com os ombros tensos não teria fluxo real de ki. O ki se manifestada pela facilidade, domínio ou conhecimento para fazer algo. Mario Lorenzo - Como é o seu relacionamento com outros professores japoneses, você ainda é o professor ocidental mais importante que divulga o aikido em todo o mundo? Tissier Sensei – A relação que tenho com eles é geralmente muito boa. Eu sou realmente um produto da Aikikai, eu comecei jovem lá, trabalhei lá…. Eu acho que, de alguma forma, eles me consideram como alguém da casa, mas também um embaixador, um estrangeiro. Segundo conversas que tive com o anterior e o atual Doshu para eles eu sou um ocidental que conhece as regras, e as entende. De alguma forma eu também sou parte da exposição do Aikikai. Acho que é porque eu também mantive-me fiel aos ensinamentos que recebi. Embora o Aikido tenha o seu lado pessoal, e cada um se desenvolve a sua própria maneira, eu tenho o sentimento de pertença à mesma família.


A Geração mais influente do Aikikai e a minha geração. La se formaram professores como Yasuno, Yokota e Osawa, (que são um pouco mais jovens), Miyamoto, Shibata e Endo (que são um pouco mais velhos). Há uma outra geração que estava antes de mim como Tamura Sensei, Yamada Sensei e Tada Sensei, ainda tem uma geração mais jovem que eu não conheço pessoalmente. Mario Lorenzo – Em seus seminários você coloca ênfase em temas como “ponto”, “eixo”. Estes são conceitos que vêm de um desenvolvimento pessoal do seu aikido? E qual tem sido a influência de Yamaguchi Sensei na sua técnica? Tissier Sensei – Este método de ensino é estritamente pessoal, torna-se a análise que eu fiz do que tinha aprendido, em especial de Yamaguchi Sensei, que era um modelo de pureza. Nossa mente ocidental aprende as coisas de forma diferente do que o modelo japonês. O Japonês muitas vezes não sabem, como apresentar essas questões, e parece estranho. Há alguns que são bons pedagogicamente, mas seu método, não passa pela explicação falada, mesmo para uma análise do movimento e quando são perguntados porque fazem isso, a resposta é porque é assim, porque é tradição. O que eu acho maravilhoso é que Yamaguchi Sensei tinha respostas para todas as perguntas. Ele tinha uma discussão muito inteligente para cada tema (porque temos uma reflexão que não é inteligente), e que foi muito alta em matéria de aikido. Muitos desses pensamentos que eu tinha ouvido falar, mas não compreendia na época. Ainda hoje, assistindo a um vídeo, eu vejo coisas não via antes, eu não tinha olhos para ver. Simplesmente porque Yamaguchi Sensei estava muito a frente. Pessoas que assistiram suas aulas sabiam intuitivamente. Todos da atual geração (minha geração) foram fortemente influenciados por ele. Mario Lorenzo – Quais são suas lembranças e sensações como uke de Yamaguchi Sensei ? Tissier Sensei – Milhares de sentimentos que eu ainda tenho, quando eu assisto a um vídeo ou vejo alguém fazer uma projeção, eu sinto exatamente o que está acontecendo. Era muito típico a sua velocidade, força na ação, não era uma potência natural. Yamaguchi Sensei era uma pessoa de 65 kg, a partir do momento que começava a ação não se sentia a luta, tinha uma grande precisão e ao mesmo tempo, produzia uma série de desequilíbrios. Ele era uma pessoa a partir do momento em que tomava o controle do nosso centro seus movimentos eram fluidos e quando decidia pela ação era uma explosão, era algo que nos derrubava, nós éramos como um prédio implodindo, ruindo. Eu nunca tive uma sensação desagradável de ser puxado ou empurrado, era uma sensação agradável, mas muito clara, muito técnica. Também tenho lembranças de outros professores com quem aprendi, mas falando de sentimentos com eles sentia um pouco “de luta”, mais força do braço, mas tinha que me proteger, porque doía era mais forçado e porque me projetava. Bem, assim também se aprendia, mas não era o sentimento que tive com o Sensei Yamaguchi.


Mario Lorenzo – Alguma outra reflexão sobre o ensino do Aikido? Tissier Sensei – Você pode fazer uma analogia com alguém que faz música ou dança. Algumas pessoas são naturalmente dotadas para estas artes, mas em um determinado momento, se quiserem ser realmente boas, tem que aprender a arte da arte. Porque é um improviso, é uma reflexão. Por exemplo, uma bailarina profissional, não é quem decide o que vai fazer, é o trabalho que decide o que a bailarina deve fazer, e ela deve fazer de tudo, não apenas o que ela gosta. Ela aprendeu a arte e por trás dela a uma disciplina. Há pessoas que estão fisicamente preparadas para aikido, mas isso não é suficiente. Devemos aprender e depois temos que analisar e refletir a respeito. No aikido quando isso é feito surgem várias possibilidades: fazemos um gesto, é um gesto lógico ou parasita?, É um gesto exagerado ou puro?, É um movimento somente estético ou e um movimento vivo? Vivo em relação ao quando se considera a relação com a realidade do atacante, a desestabilização provocada pelo ataque, e assim por diante. Conheço muitas pessoas que praticam 20 ou 30 anos, mas que estão cansadas do seu aikido. Se formos capazes de recriar 2 ou 3 pormenores técnicos, a excitação e como começar de novo. Às vezes você tem que redirecionar ou voltar para orientar a prática novamente. Nosso papel como professor é para manter o entusiasmo das pessoas, incluindo o nosso próprio entusiasmo. Quando eles dizem no aikido “Ikkyo Issho” (ikkyo a vida toda), mas porque ikkyo?, Fazer o mesmo ikkyo por um longo tempo? O ikkyo tem que evoluir, ikkyo é um pretexto para uma evolução na compreensão e no sentimento, para não dizer “ikkyo e assim e nada tem de mudar.” Mario Lorenzo – Será que em seu nível de pesquisa, há uma questão técnica? Tissier Sensei – Existem dúvidas a esse respeito? Volto ao tema anterior para explicar. Quando nós praticamos, às vezes fazemos algo que nunca soubemos que nós éramos capazes de fazer e sabemos que esta nova forma é mais econômica, mais fácil. Portanto, se continuarmos a trabalhar um pouco mais, vamos criar algo um pouco diferente, mas não é você que acorda uma manhã e vai descobrir algo novo. A dúvida é o que nos permite avançar, a dúvida é específica do Budo, porque quanto mais progredimos em algo e especificamente em um sistema marcial, mais percebemos como somos fracos. Menos então temos vontade de enfrentarmos os outros e vamos fazê-lo somente se necessário. A dúvida é o que nos permite a preservação, só um tolo entrar em um bar para provocar uma briga. Qualquer um que tenha aprendido alguma coisa no campo das artes marciais só pode duvidar de sua fraqueza. Está consciente do que realmente é.


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