Ano 1 / NĂşmero 01 / R$ 14,90
fernando Chamarelli
As obras geomĂŠtricas inspiradas na cultura brasileira
headcutters
Entrevista com os reis do Blues catarinense
renato turnes
Um pouco da vida e obra do diretor e ator.
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EDitorial Temos orgulho e enorme satisfação em declarar que a Revista Catálise nasceu. A peça em suas mãos é resultado da junção não só de jornalistas, fotógrafos, redatores e designers, mas também dos artistas que fazem parte fundamental da essência vital da nossa revista. Artistas que estão dispostos, tanto quanto nós, de trazer o conteúdo tão sublime e única que Santa Catarina guarda e, infelizmente, não conhece. Tudo que você verá nas páginas seguintes tem sangue e alma catarinense, e temos orgulho de dizer que assim são. Como primeira capa trazemos Fernando Chamarelli que, apesar de não ser catarinense de nascença, faz de Florianópolis sua casa. Suas linhas, já famosas pela Europa e pelos Estados Unidos, nos trazem o espírito brasileiro em formas geométricas e com muitas cores da nossa terra. Destacamos também a entrevista, diretamente de Itajaí, com o blues group The Headcutters onde conversamos com Joe Marhofer, líder da banda. Trazemos, junto com eles, o ator e professor Renato Turnes, contando um pouco de seu trabalho. Ainda em meio acadêmico, a peça teatral de alunos da UDESC, Insólito, tem espaço em forma de resenha na nossa revista. Enfim, conheça, prestigie e aproveite o quanto quiser dos melhores artistas catarinenses com a gente. Equipe Catálise
Colaboradores Um enorme agradecimento, primeiro, aos artistas que se disponibilizaram para dar vida para essa revista. Entre eles Fernando Chamarelli, Thaís Putti, Pedro Corrêa, Fernando Goyret, Manuela Soares, Juliano Malinverni, Gustavo Reginato, Helena Braga, além, é claro, aos nossos tutores Genilda Araújo e Israel Braglia
expediente Alana Durgante
Lucas Fiorentin
Luiz Fernando Filho Acesse nosso site
www.revistacatalise.com.br
ÍNDICE Painel
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De Fora
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Promessa
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Entrevista
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Portfólio
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Capa
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Linha do
70
Tempo Perfil
80
Resenha
90
Arte e
96
56
Fernando Chamarelli
As obras geométricas de Fernando Chamarelli.
18
Lenine no Jurerê Jazz Festival
Sociedade Agenda
102
InBox
117
90
a vida absurda de insólito
Peça teatral da UDESC mostra o absurdo do dia-a-dia
8
Painel
Artes enviadas pelos fãs
Lenine
somimagemmovimento
26
Indisciplina
96
dança terapia
Banda inova em conceito e produz som único
A dança a favor da saúde do coração
102
agenda
117
inbox
70
juarez machado
42
pedro correa
A vida de Juarez Machado retrata em uma linha do tempo
80
Um pouco da vida e obra de Renato Turnes
Pedro Correa abre seu portfólio para a Catálise e mostra um pouco de seu trabalho
Tudo o que vai rolar em Santa Catarina
Mensagens enviadas pelos fãs
34
Renato turnes
headcutters
Entrevista com os reis do Blues catarinense
PAINEL
8
Mauricio Paiva - Ataque dos Automatos
9
AndrĂŠ Cardoso- Hellboy
PAINEL
10
Luana Marques - Moulin Rouge
Luana Marques - The Day The Saucers Came
11
Mat Leiras Xavier - Hemlock Portrait
PAINEL
Marcus Sussumu Togo- Clouds
12
13
Fernando Goyret- Vรกrias
PAINEL
Yoli Inรกcio - Buffalo
14
15
Lucas Bicalho - Veado
DE FORA
18
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MĂşsica Erudita Popular Brasileira
Lenine Orquestra Camerata chama artista recifence para dividir o palco em um show inĂŠdito
DE FORA
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mpb e música clássica em uma combinação à moda brasileira Um dos shows mais esperados do Jurerê Jazz Festival aconteceu do primeiro dia de Maio desse ano. Numa montagem inédita, Lenine subiu ao palco do CIC (Centro Integrado de Cultura) acompanhado da Camerata Florianópolis. Desde que o show foi anunciado, houve uma grande expectativa do público em relação ao espetáculo. A distribuição, que foi gratuita, dos ingressos foi realizada na bilheteria do teatro, se esgotando rapidamente. Lenine dividiu o palco com o grupo catarinense de música instrumental erudita, que, naquela ocasião, mergulharam no universo da música popular. O encontro entre estes dois universos e estas duas abordagens musicais diferentes teve a participação
de uma espécie de “mediador”, o pianista Luiz Gustavo Zago. Lenine, sendo um dos grandes nomes da cena musical contemporânea, foi o responsável pelos arranjos que foram executados nesse grande encontro. Após ter assinado algumas trilhas de filmes, parcerias com músicos como Silvio Mansani e o grupo MusaDiversa (que reúne alguns dos melhores instrumentistas de SC) e lançado os elogiados CD e DVD “Até Amanhã”, Zago está, atualmente, em tour com o show “De Jobim à Piazzolla”, em que interpreta temas de artistas como Jacob do Bandolin, Egberto Gismonti, dentre outros.
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Falando sobre o artísta convidado, Oswaldo Lenine Macedo Pimentel, cantautor, produtor musical e arranjador, nasceu no dia 2 de fevereiro de 1959. Recifence-carioca, brasileiro do mundo, traz em suas composições influências de manifestações culturais de seu pais e de inúmeros gêneros musicais, desconsiderando rótulos ou classificações. Com 30 anos de carreira, des discos lançados, dois projetos especiais e inúmeras participações em álbuns de outros artístas, lenine já teve suas canções gravadas por nomes como Elba Ramalho, Miltom Nascimento, Gilberto Gil, Ney Matogrosso, O Rappa, Zélia Duncan, entre tantos outros. Produziu CDs de Maria Rita, Chico César, Pedro Luís, e a Parede e do cantor e compositor cabo-verdiano Tcheka, além de trilhas sonoras para novelas, seriados, filmes, espetáculos de teatro e dança, como os do renomado Grupo Corpo. Lenine ganhou cinco prêmios Grammy Latino, 2 APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), nove Prêmios da Música Brasileira e já se apresentou em dezenas de países em suas rotineiras turnês internacionais, que também o levaram a alguns dos maiores festivais de música do mundo, como o de Roskilde
(Dinamarca), o Festival de Montreal (Canadá), entre outros. Filho de José Geraldo e Dayse Pimentel, Lenine (assim chamado por conta de uma homenagem do pai socialista ao líder soviético) demonstrou interesse pela música ainda criança. Na época, seu objeto de desejo, o violão da irmã mais velha, era tocado clandestinamente, quando conseguia roubar a chave do armário onde ficava guardado o instrumento. Entre a missa com a mãe católica e as audições de discos com o pai, aos oito anos Lenine adquire o direito de optar sobre a programação dos domingos. Escolhe a música, que ia do folclore russo e Tchaikovsky a Dorival Caymmi e Jackson do Pandeiro. Aos 17 anos, fã do rock’n roll – de Zeppelin a Zapa passando pelo The Police – e já impactado pela sonoridade do Clube da Esquina, ingressou na faculdade de Engenharia Química. Na época, começa a arranhar suas primeiras composições. Aos 20 anos, tranca o curso e vai morar no Rio de Janeiro, dividindo a casa e o sonho de viver de música com outros amigos e também compositores. O grupo passa a viver em Botafogo, na
chamada Casa 9, famosa por ter sido moradia de Luis Carlos Lacerda (Bigode), Jards Macalé e Sônia Braga. Depois, Lenine finalmente radicou-se na Urca, onde reside até hoje. No Rio, Lenine participa do festival MPB 81, promovido pela TV Globo. Em 1983, gravou com Lula Queiroga seu primeiro LP, Baque Solto (Polygram), a convite de Roberto Menescal. Neste período, também trabalha como violonista de Danilo Caymmi. Entre Baque Solto e seu segundo disco foram-se dez anos, período em que Lenine se estabelece como compositor e passa a fazer parte do movimento musical da cidade. Participa das rodas de samba do Cacique de Ramos, o primeiro espaço onde foi recebido de braços abertos no Rio, e compõe sambas para blocos cariocas como o “Simpatia é quase amor”, e em especial o “Suvaco de Cristo”. O mais importante disco de Lenine, segundo ele mesmo, foi lançado em 1993, em parceria com o percussionista Marcos Suzano. Produzido pelos dois e também por Denilson Campos, Olho de Peixe (Velas) os projetou para o mundo, com turnês pelos Estados Unidos, Europa e Ásia, em especial no Japão.
DE FORA
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Em 1997, Lenine lança seu primeiro álbum solo: O Dia em que Faremos Contato (BMG), produzido em parceria com Chico Neves e mixado no Real World Studio, o conceituado estúdio de Peter Gabriel, em Londres. O disco ganhou dois prêmio Sharp, nas categorias “Revelação” e “Melhor canção” com a “A Ponte”, de Lenine e Lula Queiroga. Em 1999, Lenine lança Na Pressão (BMG), que produziu com Tom Capone. A obra ganhou o prêmio APCA de “Melhor álbum de música popular”, figurou na lista de melhores discos em vários países e vendeu mais de 40 mil cópias somente na França. A carreira internacional ganha impulso com novas turnês na Europa, Japão e Canadá e em especial na França, onde Lenine passa a realizar turnês anuais de muito sucesso. No ano de 2000, assina a direção musical do espetáculo Cambaio, com compo-
sições de Chico Buarque e Edu Lobo. Em 2002, lança seu quinto disco,chamado Falange Canibal (BMG), novamente com Tom Capone produzindo o cd. O CD contou com participações do Living Colour, da cantora americana Ani Di Franco, Eumir Deodato, Steve Turre e da Velha Guarda da Mangueira. Falange Canibal recebeu o Grammy Latino na categoria “Pop Contemporâneo Brasileiro”. Em 2004, Lenine é convidado pelo projeto “Carte Blanche”, na Cité de La Musique, em Paris, do qual, até então, apenas um brasileiro havia participado. A proposta do “Carte Blanche” é dar ao artista “carta branca” para produzir o espetáculo que desejar. Para seu show, Lenine convidou a artista cubana Yusa e o percussionista argentino Ramiro Musotto. A apresentação deu origem ao CD e DVD Lenine Incité (Casa 9/BMG), que ganhou dois prêmios Grammy Latino – como “Melhor CD de
Música Contemporânea” e “Melhor Canção” com “Ninguém faz idéia”, de Lenine e Ivan Santos. O álbum recebeu também 4 Prêmios da Música Brasileira: “Melhor CD”, “Melhor Música”, “Melhor cantor” e “Melhor Cantor – Voto Popular”. Em 2006, lança Lenine Acústico MTV (Sony BMG), premiado com o Grammy Latino na categoria “Melhor CD Pop Contemporâneo”. Neste mesmo ano, é editada nos Estados Unidos a coletânea Lenine (Degrees Records). Em 2007 produz o CD Lonji, do cantor cabo-verdiano Tcheka, e cria a trilha sonora do espetáculo “Breu”, do Grupo Corpo. Em 2008, lança o CD e LP Labiata (Casa 9/Universal). O álbum foi lançado em 20 países, com mais uma turnê internacional em 2009, e a música “Martelo Bigorna” incluída na trilha sonora da novela Caminho das Índias (Rede Globo),
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foi premiada com o Grammy Latino na categoria “Melhor Canção Brasileira”. Neste mesmo ano é lançado no Festival do Rio o filme Continuação, do cineasta Rodrigo Pinto, que retrata todo o processo de criação e gravação do disco Labiata, inclusive a estreia do show no Olympia de Paris. Em fevereiro de 2011, Lenine é convidado para produzir e dirigir o show de abertura do carnaval do Recife. O espetáculo, roteirizado por Bráulio Tavares, ganha o título de “Sob o Mesmo Céu” e reúne um time de estrelas da música brasileira: Céu, Elba Ramalho, Fernanda Takai, Isaar, Karina Buhr, Mariana Aydar, Maria Gadú, Marina Lima, Nena Queiroga, Pitty, Roberta Sá e Zélia Duncan. Em outubro de 2011, Lenine lança Chão (Casa 9/ Universal), seu décimo disco de carreira, produzido por Bruno Giorgi, JR Tostoi e por ele mesmo. O novo
álbum – considerado pela crítica ousado e conceitual – é uma suíte de dez canções marcadas pelos sons de seu cotidiano, como o canto de um pássaro, o ruído de uma chaleira e barulho das cigarras no verão da Urca. Em março de 2012 inicia a turnê Chão, com direção de arte de Paulo Pederneiras, do Grupo Corpo, e que tem em cena apenas Lenine, Bruno Giorgi e JR.Tostoi. Usando o recurso da quadrifonia (o chamado surround), segundo Lenine, o show subverte o “ver-ouvir”, natural dos espetáculos de música, para o “ouvir-ver”. Nele o público é imerso numa espécie de experiência sensorial em que o som é o grande protagonista. Uma das turnês de maior sucesso da carreira de Lenine, Chão já passou por mais de 80 cidades no Brasil, além de França, Itália, Argentina, Chile e Uruguai. Chão segue na estrada até o final do ano de 2013.
Em 2013, o cantautor celebra seus 30 anos de carreira. Na pauta, homenagens, documentários e 30 projetos especiais, como o reencontro com Marcos Suzano no show Olho de Peixe (abril, no Rio de Janeiro), a turnê europeia The Bridge (maio, agosto e outubro), com a Martin Fondse Orchestra, um show especial celebrando o disco Baque Solto (setembro, em Recife), além da turnê Concertos Chão e dos shows Lenine Solo. Ainda em 2013, a música “Se não for Amor, eu Cegue” (Chão) integra a trilha sonora da novela “Saramandaia” (Rede Globo) e Lenine assina a trilha sonora do novo espetáculo do Grupo Corpo. Por: Lucas Fiorentin Fotografias: Divulgação
Ouça Lenine
PROMESSA
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Juliano Malinverni apresenta
INDISCIPLINA
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PROMESSA
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amizade na música e na vida Artista e educador, bacharel e licenciado em História e mestre em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina, também é licenciado pela Ordem dos Músicos do Brasil. Atua como professor de Música, Artes e História da Arte para mais de 400 alunos em escolas particulares. Ao lado de bandas como Stereo Tipos e Besouros da Praia, apresentou-se em casas noturnas, teatros, escolas, espaços públicos e eventos particulares, locais que vão de bares como John Bull, em Florianópolis, ao Sesc Santana, em São Paulo, com repertórios autorais e de covers. Em 2011, fundou a produtora de vídeos Carbono12, que conta com ampla gama de trabalhos com músicos locais, bem como artistas de outras vertentes. No mesmo ano, fundou o coletivo Indisciplina, que realiza vídeos, shows e trabalhos gráficos que fazem interagir artistas de cenas bastante diversas em Florianópolis.
Como músico ou videomaker, estabelece desde 2011 parcerias com numerosos nomes, dividindo o palco e/ou as lentes com cantores e instrumentistas como Jean Mafra, François Muleka, Renata Swoboda, Diogo Valente, Antonio Rossa, Marcelo Mudera, Demétrio Panarotto, Rodrigo Daca, Emannuel Costa, Wagner Effe, Gabriel Veppo, Gabriel Jacomel (SP), Felipe Melo, Juniores Rodrigues, Bernardo Galvão (SP), entre muitos outros. No mesmo período, colaborou com as bandas Samambaia Sound Club, Bloomy, Os Bacamartes (de Joinville), Brazil Papaya, Sum, Marcapágina, entre outras. Gravou também com músicos da Filarmônica Comercial, da Camerata Florianópolis, do SC Piano Trio, realizando colaborações tão diversificadas que vão do grupo gospel Laudate a rappers como Gabriel Fraj e Maka e o grupo de teatro Aldeia.
PROMESSA
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Objetiva transitar por diversas formas de expressão artística, criando pontes e fazendo ligações entre figuras de talento e interesse nas distintas - e às vezes distantes - cenas catarinenses. Eu tocava em uma banda chamada Stereo Tipos e, nessa aventura, meus caminhos cruzaram os de muitos músicos e amizades surgiram. Quando a banda parou de tocar (digo parou de tocar porque ela, oficialmente, nunca acabou) eu tinha um caminho livre à frente para experimentar novidades artísticas.
Paralelamente, fui me interessando e aprendendo sobre audiovisual, mas tinha noção de que não tinha tempo hábil na vida para ter uma banda atuante.
do que eu imaginei e eu resolvi nunca lançar o Disciplina, resolvi, ao invés disso, ampliar o conceito do Indisciplina.
Então resolvi gravar um EP solo. Ele se chamaria “Disciplina” e eu tocaria todos os instrumentos. Ele teria uma contraparte em vídeo que se chamaria “Indisciplina” onde as mesmas músicas seriam tocadas ao vivo no estúdio com vários convidados, que são essas pessoas cujos caminhos se cruzaram com os meus.
As coisas foram se misturando e muitas ideias foram surgindo, e o RH que eu estava reunindo para fazer o vídeo foi sendo aproveitado de outras maneiras. Acabamos experimentando um monte de coisas, reescrevendo partes das canções, gente participando de músicas que outros fariam, gravamos poesias musicadas, entrevistas, cenas de bastidores...
O lance é que as versões ao vivo ficaram bem mais legais
E o que fazer com tudo isso? Pensamos em fazer um doc, um
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programa, algo assim. Lançamos um monte de vídeos mas o quente mesmo eram as canções. O negócio ficou mais coletivo, teve uma resposta de público muito boa. Aí veio a proposta irrecusável de fazer um show. Acabamos fazendo, e nessa aventura mais gente foi entrando na história. Quando vi, tinha uma galera enorme envolvida. Aí juntei essa galera no estúdio e gravamos uma segunda sessão, de músicas novas. Nessa, inclusive, tinha até uma música que não era minha. Aí, veja você, apareceram outras oportunidades de show e eu encarei. Nunca tinha como colocar todo mundo no palco e os
ensaios eram infernalmente intermináveis, porque ensaiar 30 pessoas com agendas diferentes é pra acabar com a sanidade de qualquer um. Mas quando as oportunidades eram realmente boas, a gente encarava. O projeto Disciplina foi pras cucuias. O Indisciplina era muito mais legal! O capítulo mais recente da história acontece quando a Marcapágina, cujos caras curtiam muito nossa banda e me chamaram pra produzir o disco deles. Acabei virando co-autor de todas as faixas, toquei e cantei backings em todas também. Eles viraram meio que “banda de apoio” do Indisciplina. No show, conforme os convi-
dados vêm e vão, eles passam quase o tempo todo no palco, fazendo as bases pra rapeize. Aí, como os shows do Indisciplina são um inferno logístico, mas eu gosto e sinto falta de tocar em lugares menores e com mais frequência, eu tenho feito muitos shows com a Marcapágina. Vários cabeças do Indisciplina participam desses shows. Por: Alana Durgante Fotografias: Divulgação
site da banda
ENTREVISTA
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The Headcutters
Blues de ItajaĂ que contagia o mundo
35
ENTREVISTA
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Com shows contagiantes, muito carisma e performances empolgantes, a banda vem conquistando o público por onde tem passado. Tem como formação: Joe Marhofer na harmônica e vocal, Ricardo Maca na guitarra e vocal, Arthur “Catuto” Garcia no contra-baixo acústico e Leandro “Cavera” Barbeta na bateria. A banda já participou de vários festivais de Blues e também já produziu shows e dividiu o palco com várias feras do Blues Nacional e Internacional como: Phil Guy (irmão de Buddy Guy), Mud Morganfield (filho de Muddy Waters) Eddie C. Campbell, Kim Wilson, Billy Flinn, Gary Smith, Billy Branch, Wallace Coleman, Carlos Johnson, Joe Filisko & Eric Noden, Bob Stroger, James Wheeler, J.J. Jackson, Lynwood Slim, Mitch Kashmar, Igor Prado, Blues Etílicos, entre outros.
THE HEADCUTTERS de Itajaí – SC, é considerada uma das mais renomadas bandas da nova safra de Blues do Brasil. Com o timbre e a sonoridade dos anos 50 e 60, segue a linha das lendárias gravadoras de Blues de Chicago daquela época. Birth, feito em 2012, para a banda Overdose Motel.
A banda possui dois CD’s e um DVD lançados, todos eles gravados em equipamentos analógicos e valvulados sempre buscando os timbres e texturas sonoras dos anos 50 e 60. O primeiro CD lançado foi “Back to 50’s” (2009) gravado durante três madrugadas no Museu Histórico de Itajaí. O DVD “Sweet Home Blues” (2011) gravado em um ambiente em que a banda se reúne constantemente chamado o “Sótão do Blues”. Já o último trabalho que banda lançou foi o CD “Shake That Thing” (2013) que conta com a participação de alguns artistas como Igor Prado (BRA), Omar Coleman (EUA) e Richard “Rip Lee” Pryor (EUA) filho do lendário gaitista Snooky Pryor. Este álbum vem recebendo vários elogios de especialistas de Blues no mundo inteiro e foi eleito o #18 melhor disco de Blues lançado no mundo no ano de 2013 por críticos dos Estados Unidos. Com aproximadamente 14 anos de estrada a banda tem muito orgulho em representar este ritmo irresistível que influênciou e agrada várias gerações durante décadas no mundo inteiro.
37 [Catálise] Quando vocês começaram a tocar juntos? [Joe Marhofer] Nós somos todos amigos de infância e crescemos juntos no mesmo bairro. Começamos a tocar quando éramos adolescentes. [Catálise] Que tipo de música vocês tocavam quando começaram? [Joe Marhofer] Nós começamos com o clássico rock and roll, mas não demorou muito para migrarmos para o Blues. [Catálise] Como você começou a tocar harmonica e desenvolver seu estilo de cantar? [Joe Marhofer] Eu desenvolvi meu estilo praticamente sozinho. Tinha contato com alguns tocadores de harmonica e eles me ensinaram algumas coisas. O melhor momento foi quando Bene Jr. me ensinou o bloqueio com a língua. Isso mudou minha vida. Mas basicamente eu aprendi tudo sozinho. [Catálise] Então você teve que aprender só ouvindo? [Joe Marhofer] Exatamente, ouvindo e praticando muito. A coisa mais difícil no Blues é o canto. Eu ainda pego pesado com a harmonica e com o meu canto praticando todos os dias. Nós todos da banda praticamos muito. [Catálise] Sabendo que vocês cresceram juntos tocando suas músicas vocês devem ser como um pequeno clube. [Joe Marhofer] Sim, nos chamam de pequena gangue de Blues. Bem poucos amigos sequer sabiam alguma coisa sobre Blues. E continua desse jeito. [Catálise] Fale mais sobre essa pequena gangue de Blues. [Joe Marhofer] Bem, tinha o Ricardo Maca, nosso guitarrista e outro vocal. Ricardo é o melhor guitarrista brasileiro de Tradicional Blues. Ninguém consegue tocar como ele. Ele tem um estilo clássico e um timing perfeito. Ele canta com serenidade. Arthur “Catuto” Garcia, nosso baixista,
O nome vem como uma homenagem aos grandes ídolos do Blues, Muddy Waters, Little Walter e Jimmy Rogers que no começo dos anos 50 eram chamados The Headhunters o nome da banda THE HEADCUTTERS, vem como uma alusão a estes grandes mestres que são a grande fonte de inspiração da banda.
ENTREVISTA
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Tem algo muito forte e poderoso no american blues, que eu adotei para minha vida. Vivo e respiro isso. É uma música que comove o ouvinte, eu fico comovido quando ouço essa música.
escute a banda
39 é um grande devoto de Willie Dixon. Ele é um dos melhores baixistas do Brasil, grande fã de Big Crawford. Sua paixão pelo instrumento é fantástica. Nós também temos um exelente baterista, Leandro “Cavera” Barbetta, discípulo de Fred Bellow. [Catálise] Você lembra de alguma gravação que te levou para a vida da musica do Blues. [Joe Marhofer] Eu lembro dos primeiros dois CD’s que eu comprei. Um do Muddy Waters e o outro era Sonny Boy Willianson 2. Mudaram minha vida pra sempre. [Catálise] Você se lembra o que, nessas gravações, teve um profundo impacto em você? [Joe Marhofer] Foram as vozes.
Greenwich Pub, Butiquin Wollstein, Rock Bar, The Basement Pub, Bolshoi Pub e outros lugares. [Catálise] Vamos falar sobre o mais recente CD, Back to 50’s. Como foi com a escolha das músicas? [Joe Marhofer] As escolhas vieram naturalmente. Nós só escolhemos as músicas que tocávamos no momento. Nós também escolhemos um material com uma boa variedade de batidas. [Catálise] O CD acaba com uma original de vocês. [Joe Marhofer] A sim... A nossa versão, T-Bonin é nosso tributo
Elas eram tão extasiantes. Foi fantástico. Havia nelas alguma coisa inexplicável que mexeu comigo.
son, Joe Filisko & Eric Noden, J.J. Jackson, Lynwood Slim, Mitch Kashmar entre outros.
[Catálise] Quem foram os outros músicos do Blues que você começou a escutar que tiveram impacto no seu estilo de tocar? [Joe Marhofer] Os grandes mestres como Muddy Waters, claro, mas também ouvia Sonny Boys, Willie Dixon, How’lin Wolf, Little Water e Big Water Horton, Jimmy Rogers, John Brim e Elmore James. Nós também tivemos a oportunidade e o privilégio de tocar com vários músicos contemporâneos quando eles viajaram para o Brasil, artistas como Phil Guy, Eddie C. Campbell, Kim Wilson, Billy Flynn, Bob Stroger, Gary Smith, Billy Branch, Carlos John-
[Catálise] Há algum outro músico contemporâneo que te inspirou? [Joe Marhofer] Absolutamente! Rick Estrin, Junior Watson e Bharath Rajakumar vêm imediatamente à mente.
ao T-Bone Walker musico que nós tanto amamos.
[Catálise] Quais são os planos da banda para o futuro? [Joe Marhofer] Nós estamos começando a trabalhar em um álbum que inclúi algumas das nossas composições que deve sair ainda no final desse ano.
[Catálise] Onde as pessoas podem comprar o CD e o DVD de vocês? [Joe Marhofer] Eles estão disponíveis na nossa gravadora, a Chico Blues. As pessoas podem acessar nosso website e comprar on-line. [Catálise] O que vocês gostariam de fazer, musicalmente, que ainda não fizeram? [Joe Marhofer] Muitas coisas, mas tocar nos lugares onde o Blues nasceu está no topo da nossa lista. Nós nos sentimos presos no tempo, longe do nascedouro do Blues.
[Catálise] Você já tocou com muitos músicos. Deve haver pelo menos uma modesta cena de Blues na sua parte do país. [Joe Marhofer] Ela é bem modesta, mas existe o Missippi Delta Blues Festival em Caxias do Sul - SC. Parece que está a cada ano maior. Sempre participamos dele. Nós também tocamos em lugares como Mississippi Delta Blues Bar,
[Catálise] O que tem no American Blues que vocês acham cutem? [Joe Marhofer] Tem algo muito forte e poderosa que vêm dessa música que eu adotei para minha vida. Vivo e respiro isso. É uma música que comove o ouvinte, eu fico comovido quando ouço. Por: Luiz Fernando Filho Fotografias: Divulgação
PORTFÓLIO
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Pedro Correa De Tubarão para o mundo das ilustrações
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fernando
CHA MA RELLI
A arte surrealista de quem fez de Santa Catarina sua morada e inspiração
Caolho, feito em 2012, para a banda Overdose Motel.
PORTFĂ“LIO
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Birth, feito em 2012, para a banda Overdose Motel.
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Quando estava ainda na quarta fase do curso de Design Gráfico, Pedro Correa já estagiava nos principais escritórios de Florianópolis. Começou com um estágio de sete meses na Revista Catarina onde fazia diagramação e ilustrações. Depois disso foi para Dígitro, uma empresa de tecnologia onde trabalhava ilustrando Ícones e ilustrações para marketing interno. Ao sair de lá estagiou no grupo Media Effects, onde trabalhava com animação, web e ilustração. Depois de oito meses estagiando, foi contratado pela sua excelência e trabalhou por mais um ano sendo diretor de arte e ilustrador. Após sair da Media Effects, foi para o Cafundó Estúdio Criativo, onde ficou um ano e meio também sendo diretor de arte e ilustrador. Hoje trabalha em seu próprio escritório, o Clint Studio, como ilustrador.
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Cavalon, ilustração desenvolvida para a banda Cavalon, feito em 2012.
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PORTFÓLIO
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Cosmos, ilustração para a banda Motel Overdose, feito em 2012.
49 Em cada um desses lugares teve a oportunidade de trabalhar com áreas diferentes do design (diagramação, identidade visual, interfaces, impressos, animação), mas sempre utilizando a ilustração como ferramenta principal. Teve que aprender a utilizar softwares diferentes em cada uma dessas empresas, o que influenciou bastante seu trabalho, obrigando-o a ser versátil. “Um traço que é utilizado para ilustração em revista pode não ficar tão bom em uma animação”, diz ele. Suas principais influências quando ilustra são as histórias em quadrinhos, artes ligadas à música (pôsteres capas de disco), estampas de camisetas. O que mais gosta de ilustrar são caveiras e animais, principalmente, sem motivo aparente, animais marinhos. “Um dos trabalhos que mais gostei de fazer foi pra banda Motel Overdose, pois era bastante livre, tive liberdade total pra criar o que quisesse, respeitando o pedido da banda, de ser algo chocante e meio nojento”. Seu processo criativo, depois da conversa com o cliente, geralmente se inicia com buscas por referências, e logo após a magia acontece. “Quando lembro das coisas que já vi sobre o assunto já começo a juntar as ideias. É meio automático: se o cliente tem uma banda e me pede uma capa de disco, logo tento associar a música dele com algo que eu tenha visto sobre o assunto, algo que encaixe”. Depois disso há uma segunda busca por referências, porém mais refinada. O esboço aparece, com a junção das ideias que o projeto necessita, e, se aprovado, vai para finalização. Para Pedro, o que mais inspira em ser ilustrado é saber que cada trabalho é diferente do outro, o que lhe dá motivos para acreditar que nunca achará repetitivo seu trabalho. “É o que me deixa feliz por ter escolhido essa profissão”, diz ele, sorridente. O fato de ser uma profissão flexível, que pode muito bem ser autônoma podendo trabalhar apenas como freelancer assim como pode ser contratado por alguma empresa, o anima. Lhe dá certeza que sempre terá mercado para seus traços.
Fight Gym, 2013.
PORTFĂ“LIO
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Skull Canvas, poster produzido para seu estudio, Clint Studio, feito em 2012.
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Fragmento de pôster para a Ufsctock 2013, produzido pelo Clint Studio.
Os estúdios por onde passou foram essenciais para que Correa abrisse seu próprio estúdio. Sempre gostou dos lugares onde trabalhava, cresceu profissionalmente e fez amizades que duram até hoje além de aprender como o mercado funciona, mas, segundo ele, quando se trabalha para alguém é muito comum surgirem trabalhos que não sejam do seu agrado, seja pela natureza do trabalho ou pela postura do cliente, coisa que o incomodava muito quando não podia escolher com quem trabalhar. A ideia de abrir o próprio estúdio veio quando Pedro se deu conta de que para trabalhar com design gráfico não era preciso uma estrutura necessariamente grande. Então, se juntando a mais dois amigos que complementavam seu trabalho, formou o Clint Studio, onde desde o começo se tinha em mente com quem e o que gostariam de produzir, coisa que seria impossível se trabalhassem para alguém. Por: Lucas Fiorentin
Desde o começo nós tínhamos em mente com quem gostaríamos de trabalhar e o que gostaríamos de produzir, coisa que seria inviável se continuássemos a trabalhar para alguém.
PORTFÓLIO
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Liquid Dreans - Ilustração produzida para a música Liquid Dreams II, do álbum de estreia da banda Nebula Dogs, feito em 2014.
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Clint Studio PEDRO CORRÊA
CAPA
Barulho da Alma, feito em 2012.
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fernando
CHA MA RELLI
A arte surrealista de quem fez de Santa Catarina sua morada e inspiração
CAPA
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geometria nas mãos de quem sabe fazer Fernando Chamarelli é um artista plástico e ilustrador formado em design gráfico pela UNESP. Seus primeiros interesses artísticos começaram com HQs, caricaturas e retratos realistas. Mais tarde se envolveu com a arte de rua e tatuagem. Pode-se dizer que tudo na arte atraia sua atenção e ao fundir estas diferentes técnicas ele desenvolveu seu próprio estilo. Atualmente o artista reside em uma ilha no sul do Brasil, um país multicultural de contrastes. Este ambiente dinâmico, colorido e cheio de música inspira o seu trabalho. O universo de fantasias e sensações de Fernando é criado a partir de dez pilares: espiritualidade, misticismo, história, simbologia, mitologia, filosofia, astrologia, ocultismo, antropologia e geometria. As obras com cores vibrantes e uma infinidade de elementos retratam os exóticos seres que habitam a mente deste jovem artista. Suas pinturas são como mosaicos, onde as formas orgânicas e linhas harmônicas se entrelaçam para criar intrigantes personagens. Uma linguagem visual contemporânea que faz o observador viajar através do tempo e perceber grandes conexões entre o antigo e o moderno, oriente e ocidente, interior e exterior e especialmente entre o material e o espiritual. Além do Brasil, Chamarelli já participou de exposições coletivas e realizou exposições individuais em várias cidades dos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, México, Espanha, Alemanha, entre outros países.
Fragmento de Colheita de Polvos, feito em 2012.
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Energia Universal, feito em 2013.
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Quando terminava a faculdade de Design Gráfico na UNESP Fernando fez uma visita ao nordeste do Brasil. Ficou uma semana em Olinda e esse tempo o mudou. “Tive muito contato com pessoas talentosas. Havia arte, música e artesanato em cada esquina”, diz ele. Quando voltou para São Paulo, refletiu um pouco e a ideia de se jogar no mundo das artes já estava florescendo. Quando se formou, a semente já havia dado frutos em sua mente e precisava colocá-los para fora. Em suas próprias palavras: “Logo após me formar, comecei a rabiscar e percebi que estava fazendo algo diferente e que aquilo ficaria bom se usasse tinta sobre tela. Foi minha primeira experiência com tinta acrílica, porém tinha certeza que daria certo”.
A cultura brasileira é sua principal influência. “Nossas lendas, mitos, religiões, fauna, flora, festas. Há muito o que explorar e mostrar. A diversidade é enorme por aqui”. A intrigante arte pré-colombiana também é forte influência em deus trabalhos. Suas obras ainda contam com elementos celtas, egípcios, africanos, maoris, haidas, chineses, indianos e vários outros que variam de obra para obra. “Tudo está interligado em meu trabalho e meu universo é um mix de culturas”, diz Fernando.
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62 Seu processo criativo é fácil e fluente, pois muita coisa já existe na cabeça do artista. Utiliza de boa música, lápis de papel em branco para libertar as obras que estão em sua mente. Quando cria, gosta muito de ouvir ritmos do nordeste como mangue beat, maracatu, samba de coco ou algum som experimental. Já participou de projetos para marcas famosas dos quais Chamarelli gostou muito. Quando algum cliente o contata normalmente o artista fica livre para criar. “[O cliente] apenas diz o que quer e eu faço do meu jeito através do meu estilo”. Foi assim com seus últimos trabalhos, quando customizou um mouse para a Microsoft e uma garrafa para a Absolut Vodka. Fernando gosta do multisuporte que sua arte lhe proporciona. Seja ilustrando no computador depois de desenhar sobre o papel ou pintar uma tela, na madeira, na rua, na pele, em vinis. Seu próximo passo é partir para a escultura. Gostaria de fazer de tudo um pouco, mas por falta de tempo dá prioridade às pinturas. “Enquanto eu continuar fazendo arte, eu vou manter essa vontade de criar em diferentes suportes”. Diferente da maioria dos artistas, Chamarelli começou a desenhar tarde, somente na adolescência, porém, não demorou muito para confeccionar sua primeira máquina de tatuagem. Caseira, era feita com agulha de costura, tubo de caneta e motor de carrinho de brinquedo, da qual a montagem foi ensinada pelos amigos que tinha no bairro onde morava, na cidade de Penápolis.
Nossas lendas, mitos, religiões, fauna, flora, festas. Há muito o que explorar e mostrar. A diversidade é enorme por aqui Trabalho para Absolut, feito em 2012.
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Toy Pig, feito em 2011.
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Embarcação, feito em 2010.
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Com quatorze anos ele mesmo foi sua cobaia e logo depois seus amigos. “Na época, eu não tinha conhecimento sobre os riscos, só queria ter uma tattoo louca e me tornar tatuador profissional”, conta ele, rindo. Com o tempo, foi a convenções, comprou alguns bons materiais e até chegou a trabalhar em um estúdio por um curto período, pois a tatuagem sempre foi paralela porém muito influente em seu estilo. Segundo ele, aprendeu muito nesse mundo: “Acho que os contornos pretos e finos que hoje podem ser vistos em meus trabalhos vem desta época”. Depois que entrou na faculdade, sua relação com a técnica foi diminuindo e direcionou seu foco para as pinturas em tela e nas ruas, em outdoors. “Foi uma época bem divertida”. Fernando traduz seu trabalho, ainda que com certa dificuldade, como um mosaico multicultural. “Mas o ideal seria eu mostrar uma imagem para eles e deixar que viagem pelas formas orgânicas, permitindo que inventem novas histórias”. Sobre o traço geométrico que tem, ele diz que começou desenhando personagens de HQs, caricaturas, retratos realistas, mas durante alguns anos trabalhou como designer, onde usava muito o Adobe Illustrator. Utilizava muito de vetores, formas geométricas e cores chapadas, consequentemente parou de fazer sombras. A modelagem de seu estilo ocorreu de forma imperceptível para o artista. Hoje consegue fazer suas obras tanto no computador usando tablet como na tela usando acrílico. Felizmente, seus artistas preferidos ainda estão na ativa, pois são jovens e são muitos. Dos tradicionais, Fernando gosta muito das obras de Esher, Bosch, Dali e Magrite. Sempre gostou do movimento surrealista, porém admira artistas antigos, que usavam pedaços de ossos para tatuar, corantes naturais para fazer pinturas corporais e que criavam máscaras e grafismos incríveis.
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Inam,a, feito em 2013.
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Galeria de Fernando chamarelli
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Linha do Tempo com
Juarezmachado
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1941 Juarez Machado nasceu em 16 de março de 1941 na cidade de Joinville, onde também passou sua infância, na companhia de sua mãe Leonora, de seu irmão Edson e, com uma frequência menos constante, do pai, que era caixeiro viajante, e que alternava seus cuidados familiares com a busca do pão de cada dia. Incrustada ao Nordeste de Santa Catarina, parte de uma vasta planície, Joinville mais parecia uma aldeia europeia plantada no Sul do Brasil. Com população predominantemente de origem germânica, o alemão era tido como segunda língua, havia escolas com professores vindos do velho mundo e as casas, construídas metade em tijolo, outra metade em madeira de lei, com telhados agudos apontando para o céu, transportavam o visitante, mentalmente, para algum burgo europeu. Beneficiados pelo terreno plano, os moradores se utilizavam de bicicletas, quantas bicicletas, levando homens, mulheres e crianças, as quais se transformavam em transporte privativo.
1955 Aos 14 anos, trabalhou em uma oficina gráfica, no setor de produções de rótulos de remédios, embalagens e cartazes para laboratórios. Nesse processo de criação, entre pincéis, tintas e papéis, um profissional estava sendo formado.
1959 Como sua cidade natal era muito pequena, com características do velho mundo (grande parte da população era de origem alemã sendo, consequentemente, sua arquitetura semelhante a da germânica), Machado resolveu explorar outras cidades, indo assim para Curitiba aos 18 anos. Matriculou-se na Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Logo ao se formar, realizou sua primeira individual na Galeria Cocaco de Curitiba, dando início a sua carreira de contínuo sucesso.
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Já em 1964, recém saído da escola, realizou sua primeira individual na Galeria Cocaco de Curitiba, iniciando uma carreira de contínuo sucesso. O tema da exposição: bicicletas.
O mercado de arte tem suas regras, seus preconceitos, suas próprias razões e há um conceito firmado de que dificilmente um artista consegue decolar e ganhar projeção nacional sem passar primeiro pelo Rio de Janeiro ou por São Paulo. Não que estagiar nessas cidades seja uma garantia de sucesso, mas os recursos disponíveis e a caixa de repercussão formada por esses centros ajudam e muito, a alguém, mostrar seu talento e suas possibilidades. Foi assim que, em 1965, Juarez mudouse para o Rio, onde, com sua capacidade e versatilidade, abriu caminhos, conquistando espaço não só na pintura como em outras modalidades de comunicação. Durante sua vida, além de pintor, foi também escultor, desenhista, caricaturista, mímico, designer, cenógrafo, escritor, fotógrafo e ator. Não houve dispersão, mas antes uma conjugação de todos esses elementos num único propósito, já que a arte não se divide em compartimentos estanques: eles se comunicam entre si e se completam um ao outro.
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1961 E o reconhecimento começou a chegar, na forma de prêmios. Os primeiros já haviam sido concedidos em Curitiba, a partir de 1961 e destinavam-se a novos artistas.
1969 Depois, recebeu, em 1969, um prêmio internacional na 5ª Bienal de Arte (Itália)
1971 A partir de 1974, o Prêmio em Cenários em Televisão; o Prêmio Barriga Verde de Artes Plásticas de Santa Catarina; o Prêmio Nakamori (Japão) pelo melhor livro infantil, e outros tantos que seria cansativo enumerar.
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1978
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Pretendendo internacionalizar seu trabalho, em 1978 Juarez viajou a Nova York, Londres e, finalmente, foi a Paris, onde fixou residência e montou ateliê, o qual passou a funcionar sem prejuízo dos outros dois, já instalados no Rio de Janeiro e em Joinville. Como seu pai antes, ele tornou-se também um caixeiro-viajante, só que seu produto era a arte, brotada de um cérebro privilegiado, capaz de traduzir as emoções em cores e formas, as mais belas.
Sua cidade natal (Joinville), deu-lhe o título de Cidadão Honorário em 1982
Ampliando seus horizontes, foi conhecer o que se fazia em arte na Dinamarca, Itália, Chipre, Israel e Grécia. Expôs nos principais centros culturais da Europa e hoje tem seus quadros presentes nas mãos dos melhores colecionadores do mundo. Reclama apenas do conservadorismo dos museus, ainda refratários a artistas do Novo Mundo, caminhando a reboque dos acontecimentos e tornando muito modesta a presença de artistas sul-americanos.
1990 O presidente da República concede a Ordem do Mérito de Rio Branco.
Entre os sucessos de suas exposições, sua única reclamação é sobre o conservadorismo dos museus que, até hoje, não valorizam artistas do Novo Mundo provocando uma certa ausência de artistas da América do Sul. Em relação a sua vida pessoal, Machado é orgulhoso em afirmar seu forte apego à família. Seus filhos, influenciados pela profissão do pai, optaram por seguir áreas de comunicação como: produção de vídeos, cinema e TV e especialista em computação gráfica e desenhos animados.
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É metódico em sua rotina: acorda às seis horas da manhã para pintar; o centro de seu universo é o seu cavalete. O interessante é que Juarez se veste com roupas especiais para trabalhar, com muita elegância, coletes bem cortados, feitos por alfaiate, etc e tal. Nada daquelas nossas roupinhas de trabalho ou um avental branco. E diz que adora conversar com partes do seu corpo: conversa com seus pés, prometendo comprar-lhes uns sapatinhos que, já chegam à casa dos 100 pares... Hoje, seus quadros estão presentes nas mãos dos melhores colecionadores do mundo. Desfruta de confortável situação e já é um dos nomes de prestígio da arte brasileira no exterior. Pinta óleo sobre tela e aquarelas. E seus desenhos são feitos com lápis crayon e caneta.
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site do artista
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O Coração Delator : 10 anos, 2013
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Renato Turnes Renato Turnes, manezinho, só que não da ilha. Nascido no Estreito, parte continental de Florianópolis. É ator, diretor, produtor, cineasta. Já recebeu o prêmio Waldir Brasil e a medalha Francisco Dias Velho.
Renato Turnes, entre 1995 e 2000, cursa a Licenciatura em Educação Artística – Habilitação Artes Cênicas, na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Durante o curso forma o Grupo (E)xperiência Subterrânea, junto ao diretor André Carreira, e estreia, entre outros espetáculos: “A Destruição de Numância”, “Álbum Sistemático da Infância”, “Romeu e Julieta” e “Homem de Cristal”. Em 2001, em Belo Horizonte, Minas Gerais, atua e prepara o elenco de “Arturo, Uai”, de Orlando Besoyta Orube, na Cia. Arte Brasil, trabalho pelo qual é indicado ao prêmio de ator revelação do ano em Belo Horizonte. De volta a Florianópolis, em 2003, estreia “O Coração Delator”, de Edgar Allan Poe, espetáculo que dá início à “Trilogia Lugosi”, parceria com o encenador Jefferson Bittencourt, e atua em “...E Fosse Minha Carne”, de André Silveira, também sob a direção de Jefferson Bittencourt. Em 2005, estreia “Outsider”, segundo episódio da “Trilogia Lugosi”, sobre o conto de H.P. Lovecraft. Em 2008, dirige o espetáculo “Mi Muñequita”, texto de Gabriel Calderón, premiado pelo Edital
de Artes da Fundação de Cultura de Florianópolis Franklin Cascaes, criando a companhia teatral La Vaca, juntamente com Milena Moraes. Em 2010, estreia do espetáculo “O Fantástico Homem que Imita a Si Mesmo”, terceira parte da “Trilogia Lugosi”, e “Emoções Baratas”, espetáculo com Daniel Olivetto, em que assina a direção. No cinema, protagoniza “Veludo & Cacos-de-Vidro”, curtametragem de Marco Martins; é protagonístico de “Isto Não É Um Filme”, de Loli Menezes; atua em “Os Sapatos de Aristeu”, de René Guerra; roteiriza, dirige, fotografa e edita o vídeo “Norma”, selecionado para o Black&White Film Festival, no Porto, Portugal. Também está nos filmes “Doce de Coco”, de Penna Filho, “Elvis & Madona”, de Marcello Lafitte, “Se Eu Morresse Amanhã”, de Ricardo Weschenfelder, “A Mão do Macaco”, de Jefferson Bittencourt. Escreve, dirige e protagoniza “Ângelo, o Coveiro”, e é protagonista de “Beijos de Arame-Farpado”, curta-metragem de Marco Martins, e está em “Amores Raros”, longa de Tânia Lamarca. Em 2005 nasceu a Vinil Filmes, quando foi rodado Veludo &
Cacos-de-Vidro, curta do Marco Martins. Essa produção serviu pro encontro entre artistas diferentes mas que de alguma forma se identificavam e tinham vontade de construir uma história juntos. O filme foi uma espécie de incubadora e deu muito certo, foram 8 prêmios nacionais e inúmeras participações em festivais no Brasil e no exterior. Ali foi reunido Renato Turnes, Marco Martins, Loli Menezes, Gustavo “cachorro” Monteiro e o Lucas de Barros, e depois se juntaram Gláucia Grígolo e Jefferson Bittencourt. Era o núcleo de criação e produção que juntava gente de cinema, teatro e música. Deu incio a criação de projetos independentes, experimentações, aprendendo e exercitando sobre linguagem e produção, depois os projetos foram se profissionalizando cada vez mais. Tendo como inspiração o Cinema marginal Brasileiro para alguns projetos da Vinil, pode-se notar que é bem forte nas criações do Marco, por exemplo, que bebe bastante dessa fonte, mas nos outros é bem menos presente. Como são cinco criadores, tem uma grande diversidade de concepções e abordagens estéticas para os projetos.
PERFIL
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83 A cara da Vinil é um pouco essa cara diversa, inquieta. Mas basicamente tem atuado em três eixos: ficção, documentário e conteúdo independente para TV. Por outro lado, é produzido coisas diferentes como a video-instalação sobre a obra de Franklin Cascaes que será aberta em agosto em Florianópolis. A tendência é diversificar cada vez mais os campos de atuação da produtora e não ser propenso a uma unidade estética e conceitual no conjunto dos trabalhos. Ao contrário, querem surpreender ao público, e aos próprios integrantes, com linguagens sempre inusitadas.
Isso acabou se tornando a marca da Vinil Filmes. Mesmo as coisas são feitas para a TV têm se destacado pela ousadia da abordagem e pela diferença da linguagem. Sempre pesquisando e descobrindo novas formas o tempo todo. Ângelo, o Corveiro, foi destaque no último FAM, o personagem em 2005, como uma ideia de série. Renato foi escrevendo sequências curtas, em forma de esquetes, que contavam as desventuras de um coveiro do cemitério do Itacorubi. Nessa época Renato morava ali perto e todo dia passava pela frente
do cemitério e imaginava uma cena gótica e cômica diferente. Um dia resolveu juntar esses pequenos roteiros em um projeto de curta metragem e inscreveu no edital da Cinemateca Catarinense. O projeto foi contemplado em primeiro lugar no concurso e a vinil produziu. Lançamos numa semana e na outra o filme já ganhava 4 prêmios no FAM. Ângelo é uma mistura louca entre expressionismo alemão e comédia física. Tem ecos de Nosferatu e O Gabinete do Dr. Caligari, mas também tem muito do Ed Wood, Tim Burton,
Renato Turnes é Baldina, 2012
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Meu objetivo como diretor de filmes é alcançar um ponto com os atores, no qual a interpretação seja cinematográfica, mas não esse naturalismo chato que a gente vê por aí. Deve ser algo que mantenha a chama viva e pulsante do teatro, adaptada a um outro suporte.
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Mi muùequita, Peça dirigida por Renato Turnes, 2010
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José Mojica Martins (o Zé do Caixão) e Ivan Cardoso. Além de toda uma série de cômicos e Renato tem com reverência: Charles Chaplin, Buster Keaton, Jacques Tati e Jerry Lewis. O “terrir”, do cinema trash, fez parte da criação de muitos personagens e das estórias criadas por Renato. O “Terrir” foi uma expressão cunhada pelo Ivan Cardoso pra falar dos seus filmes – são comédias que se utilizam dos clichês do gênero horror. Ele inventou o termo mas não o estilo: sempre se fez graça com o terror. Quanto ao trash, uma coisa não tem necessariamente a ver com a outra. Aliás, trash é um termo um pouco obscuro pra Renato: pobreza da produção não significa pobreza de linguagem. Tem gente que diz que os filmes de José Mojica Martins são trash, Renato (e boa parte do mundo) vê ali cinema em estado bruto, profundidade estética e invenção a cada plano. Por outro lado as pessoas cansam de ver filme produzido com dinheiro e que é um lixo conceitual. Renato brinca com isso no Ângelo, mais como uma provocação. A escolha pelo cinema mudo ao invés dos diálogos foi para de que de alguma forma rever um cinema pré-diálogo, no qual o gesto era mais importante que a palavra. Ângelo não usa palavras, mas fala com seu corpo incrível e seus olhos exagerados. Foi interessante trabalhar isso com os outros atores do elenco. É uma espécie de volta aos primórdios da linguagem cinematográfica, quando as interpretações tinham ainda muito de teatral. Renato que chegaram a um bom termo nisso. Não é um trabalho arqueológico, trata-se de um filme de hoje, então tudo é relido e ressignificado. Mas de qualquer forma, Renato costuma dizer que Ângelo não é um filme mudo, mas um filme sem diálogos, pois o desenho de som ajuda a construir a graça de grande parte das ações.
Renato quando faz uma ficção, sua primeira e principal preocupação é com o trabalho dos atores, pra mim eles são o centro de tudo, a partir deles a ação acontece e se desenvolve. Isso vem claramente do teatro. Mas claro, por outro lado, teatro e cinema são linguagens distintas, com muitos pontos de contato mas com muitas diferenças também. Renato diz: “Meu objetivo como diretor de filmes é alcançar um ponto com os atores, no qual a interpretação seja cinematográfica, mas não esse naturalismo chato que a gente vê por aí. Deve ser algo que mantenha a chama viva e pulsante do teatro, adaptada a um outro suporte”. Tem também produzido documentários que tocam no universo do teatro. Com a Gláucia, dirigiu Sobre Atores e Palhaços, para a RBS, sobre seus encontros com o Circo-Teatro Biriba, e no momento estão entrando na pré-produção de um documentário maior, sobre os 40 anos dessa incrível companhia de teatro popular catarinense. A Vinil já tem alguns projetos para os próximos projetos: A video-instalção sobre Franklin Cascaes, em agosto. Beijos de Arame-Farpado, curta 35mm de Marco Martins que já estreamos em Lages, e breve em Floripa e no mundo todo. Circo-Teatro Biriba 40 anos, meu e da Gláucia, que foi rodado em setembro. Pra TV, acabau de mostrar a série Histórias de Cinema e pro ano que vem tem duas séries novas engatilhadas. E fora da vinil, Renato tem atuado em outros projetos pra cinema. No momento aguardo a estréia de Elvis & Madonna, longa de Marcello Laffitte que ele rodou no Rio e promete arrebentar.
Sobre Mi Muñequita, a peça que Renato dirige, o texto é uma adaptação do texto de Gabriel Calderón. Esse interesse pela obra do uruguaio veio a partir da Milena Moraes, que conseguiu os direitos e convidou Renato pra dirigir. Renato adorou a falta de decoro de Calderón e a linguagem híbrida, entre a tragédia e o teatro de variedades. A peça traz uma forte carga de humor negro, algo que também encontramos no Ângelo, o Coveiro, por exemplo. Todo esse facinio pelo sarcasmo é que essa prisão do politicamente correto irrita Renato. Acho que na arte podemos subverter esse jogo social hipócrita a que estamos submetidos no dia-a-dia. Aliás, acho que é nossa obrigação. Não acredito que o riso esteja separado de uma visão de mundo aguda e profunda. Tanto Mi Muñequita, vencedora do premio da Fundação Franklin Cascaes, quanto Ângelo, o Coveiro, que venceu o Edital Cinemateca, se beneficiaram de concursos públicos culturais. Para os próximos meses Renato continua com a Trilogia Lugosi, sob direção do Jefferson Bittencourt, e querem montar o terceiro trabalho dando sequência a série iniciada com o Coração Delator e Outsider, mas falta financiamento. Como diretor, Renato começou um projeto de solo do Daniel Olivetto, para breve. Por: Alana Durgante Fotografias: Divulgação
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ASSISTA RENATO TURNES
Apoiando sua arte
RESENHA
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Ins贸lito A vida absurda de
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da udesc para o mundo “Um casal banal, que mora numa casa banal, vivendo uma vida comum”. Insólito, é um espetáculo que ilustra de forma cômica e surpreendente, o absurdo da existência humana e o distanciamento e a frieza da comunicação entre as pessoas. Dividida em três atos cíclicos, a peça convida o espectador a se transportar e a invadir um universo inusitado e, paradoxalmente, muito próximo da realidade cotidiana do ser humano, chamado “Insólito”. As ações cotidianas diminuídas e expandidas vocalmente e corporalmente trazem ao espectador memórias ao se deparar com a própria ação dramatúrgica e física dos atores. A encenação, como um todo, provoca uma profunda identificação do espectador e extrai, de forma simples, o riso do público quando o mesmo percebe e absorve o absurdo das ações. Utilizando elementos cênicos simples, mas muito precisos, como a iluminação e o cenário, “Insólito” traduz a dramaturgia nos corpos dos atores, e não necessariamente em sua dramaturgia escrita. Com influências do dramaturgo romeno Eugéne Ionesco, o processo de criação da dramaturgia resultou de exercícios e jogos de improvisação estimulados pelo diretor e acadêmico Carlos Longo. Com uma pesquisa que reflete as nuances do Teatro do Absurdo, o processo está sempre em estágio de aprofundamento e, portanto, em constante mutação, sem, porém, perder a sua particularidade.
RESENHA
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A obra teve seu processo iniciado através de uma disciplina do curso de Teatro, no Centro de Artes (CEART) da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). A disciplina chamada Direção Teatral, tem como objetivo a concepção de uma peça ou cena teatral, onde o aluno deve assumir o papel de diretor. Fundado por três integrantes, o Grupo Insólito que mantém intenso contato desde 2013, é intermediado e produzido pelo Grupo N.A.F.T (Nós Amamos Fazer Teatro!) e desde a metade de 2013, leva seu trabalho à cidades de Santa Catarina, participando de festivais e da programação teatral catarinense. Por: Thaís Putti Fotografias: Gustavo Reginato
Apresentação no Teatro 1 da UDESC.
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Pรกgina do Grupo
ARTE E SOCIEDADE
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Antes da voz, o movimento.
Antes da fala, a danรงa.
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ARTE E SOCIEDADE
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aposentada se recupera de infarto no ritmo do samba Movimento é sinônimo de saúde. Tanto, que duas semanas depois de fazer uma cirurgia cardíaca, os médicos mandaram Ieda para a esteira. Ela começou bem devagar. O problema é que não passou disso. “O máximo que eu fazia eram 20 minutos”, conta a aposentada. Mas que tal associar a obrigação ao prazer? Uma pesquisa feita na Universidade do Estado de Santa Catarina mostra que a dança traz os mesmos benefícios de uma boa caminhada e até de uma corrida, com a vantagem de que os pacientes vão ainda mais longe. Dançando, Ieda faz uma hora de exercício físico sem perceber. Se fosse contar o tempo...: “Eu não fiz a prova mais, mas acho que aguentaria uma noite toda”, conta. A ideia de usar a batida do samba para promover saúde não surgiu por acaso. Ele anima os pés e embala o coração. Ieda, que começou uma reabilitação tímida caminhando, acelerou na dança está feliz da vida com os resultados. “Contribui não somente para estabilizar, mas no caso dela até pra reverter o processo, então houve uma regressão da doença. Ela não está sentindo mais nada, nem o cansaço que sentia, nem a dor que sentia no peito, e está precisando de menos remédio”, diz o médico. Todas estas questões, devidamente ponderadas, levantam dúvidas sobre se o aumento do diálogo entre os diferentes
setores produtivos desafia a capacidade de equalização das posturas dos órgãos dirigentes com relação às suas atribuições. Não obstante, a revolução dos costumes prepara-nos para enfrentar situações atípicas decorrentes dos procedimentos normalmente adotados. Percebemos, cada vez mais, que o desenvolvimento contínuo de distintas formas de atuação oferece uma interessante oportunidade para verificação do remanejamento dos quadros funcionais. Por outro lado, o surgimento do comércio virtual causa impacto indireto na reavaliação das condições financeiras e administrativas exigidas. Percebemos, cada vez mais, que a revolução dos costumes auxilia a preparação e a composição das diretrizes de desenvolvimento para o futuro. Todavia, o acompanhamento das preferências de consumo aponta para a melhoria das regras de conduta normativas. O que temos que ter sempre em mente é que o aumento do diálogo entre os diferentes setores produtivos maximiza as possibilidades por conta dos paradigmas corporativos. Resolvemos que tudo que foi gerado pela indústria moveleria do lero lero parou de funcionar, devido ao mal funcionamento do famigerado roteador. Por: Luiz Fernando Filho Fotografias: Divulgação
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AGENDA CULTURAL
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AGENDA CULTURAL SC IV Festival de Teatro Tecendo o Riso
Solo Werwolf Entrada: Gratuita Local: Sesc Prainha, Florianópolis 20/05 até 23/05 A ideia de solidão é relativa. Afinal, o estar junto não descarta a sensação de vazio. Como o inverso, estar sozinho não indica necessariamente isolamento. A relação de conflitos e percepções do corpo só ou acompanhado levou o bailarino Marcos Klann a criar metáforas da solidão. Mais informações: http://goo.gl/3kzv2o
Entrada: Gratuita Local: Teatro Maria Luiza de Matos, Concórdia 06/06 até 10/06 O Festival de Teatro “Tecendo O Riso” ocorrerá entre 06 e 11 de outubro, no Teatro Municipal Maria Luiza de Matos como ganhar dinheiro em casa e em outros espaços da cidade (lonas, ruas, praças, escolas, etc.). Serão apresentações em palco italiano ou de rua, no gênero comédia. Mais informações: http://goo.gl/jMbIyw
O Último Verão de Malinverni Filho Entrada: Gratuita Local: Fudação Cultural de Correia Pinto02/06 até 31/06 “O último verão de Malinverni Filho”- retrato sobre a história do artista. É mais uma fotografia que fará parte do álbum da família. A memória do artista plástico Malinverni Filho está esquecida na mente do povo lageano, na dos catarinenses e na desse imenso Brasil, que tem tantas riquezas, mas esquece a principal: sua própria cultura. Mais informações: http://goo.gl/T03l5j
Mostra encontro com cinema alemão Entrada: Gratuita Local: Sesc, Caçador 04/05 até 16/06 Exibição de filmes contemporâneos produzidos na Alemanha sobre aspectos da vida cotidiana no país, mas que refletem temas maiores da sociedade ocidental: a Segunda Guerra Mundial e a vida na Alemanha Oriental com a unificação do país. Mais informações: http://goo.gl/lp5dh5
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Théâtre du Soleil – a poética da fábrica de munições
Papel de Desenho Entrada: Gratuita Local: Uniasselvi/Assevim, Brusque 02/05 até 31/05 A exposição parte de uma pesquisa sobre os usos e desdobramentos do desenho, incluindo formas singulares de pensar o desenho, cruzamentos com outras linguagens, passando por experiências cotidianas e narrativas ficcionais, comentários, notas soltas e derivas, numa tentativa de apreensão e constante expansão da prática do desenho no processo de cada artista. Mais informações: http://goo.gl/Uk5wGw
Entrada: Gratuita Local: Sesc Joinville 19/05 até 23/05
Jurere Jazz Festival Entrada: Gratuita Local: Jurre Internacional, Florianópolis 24/04 até 04/05 Em sua quarta edição, o Jurerê Jazz Festival, que acontece em Florianópolis entre os dias 24 de abril e 4 de maio, terá representantes de 7 países: Israel, França, Bélgica, Estados Unidos, Colombia, Chile e Brasil. Serão 10 dias de música, oficinas e outras boas surpresas. Mais informações: http://goo.gl/dfMKR3
Tragtenberg comentará e fará intervenções durante as sessões de exibição dos registros em vídeo de alguns trabalhos da Cia., expondo e discutindo a trajetória de uma das referências mundiais do fazer teatral e que há 50 anos vem realizando um trabalho inovador, hoje mundialmente conhecido. Cada encontro será composto de duas partes: uma abordagem teórica através de uma palestra introdutória sobre o trabalho do Théâtre du Soleil e em seguida, a projeção de um espetáculo realizado pelo grupo em versão cinematográfica, permeada por debates sobre o tema diário. Mais informações: http://goo.gl/mquZqn
Jam blue Trio Entrada: Gratuita Local: Sesc, Lages 23/06 Um projeto bem bacana começa a ser colocado em prática neste sábado em Lages, na Serra Catarinense. Em parceria com o Sesc, a banda apresenta o “Música na calçada”. A proposta é levar música de qualidade gratuitamente à população onde ela estiver. O grupo tocará clássicos de mestres como B.B. King, Freddie King e Stevie Ray Vaughan, além de composições próprias. A apresentação começa às 10h30min, no calçadão da Praça João Costa, no Centro de Lages, e termina perto do meio-dia. Mais informações: http://goo.gl/SXlVab
AGENDA CULTURAL
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7º Múltipla Dança movimentará Florianópolis 6º Festival Nacional de Teatro em Chapecó Entrada: Gratuita Local: Diversos, Chapecó 19/05 até 24/05 Chapecó mais uma vez é palco do Festival Nacional de Teatro. A Administração Municipal, por meio da Secretaria de Cultura, realiza até o próximo dia 24 de maio a sexta edição do Festival. Na noite desta segunda-feira (19), no Teatro Municipal do Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo De Nes, aconteceu a abertura oficial com a presença de autoridades locais e dos representantes dos grupos teatrais que irão abrilhantar mais um Festival em Chapecó – uma referência no Brasil, quando o assuntos são as artes cênicas. Mais informações: http://goo.gl/NlUmCn
Entrada: Gratuita Local: Teatro Ademir Rosa (CIC), Florianópolis 20/05 até 24/05 O que ou quem te move? Por quais forças você é tomado? Múltipla Dança é um encontro forjado em função do desejo que, conforme o filósofo francês Gilles Deleuze (1925-1995) é em si mesmo “revolucionário”, pois quer sempre mais conexões e agenciamentos. A edição 2014 pretende sustentar a experimentação do “eu” que se constitui, antes de tudo, como desejo. Não se trata de exaltar modos de narcisismo e individualismo mas, ao contrário, de alimentar uma abertura às forças e multiplicidades que atravessam o corpo, aumentando sua potência de ser e agir. Mais informações: http://goo.gl/2hhtXM
16º O Sonora Brasil Entrada: Gratuita Local: Diversos, SC 17/05 até 01/06
18º Florianópolis Audiovisual Mercosul Entrada: Gratuita Local: Diversos, Florianópolis 23/05 até 30/05 O objetivo de fomentar a formação de público, difundir obras inéditas e viabilizar o debate de temas da plataforma audiovisual tem sido plenamente atingido. Mais do que isso, a cada ano aumenta a procura do público e a participação de cineastas, diretores e produtores do mercado audiovisual que atuam no Brasil e nos países do Mercosul. Mais informações: http://goo.gl/4bp30I
O Sonora Brasil desenvolve programações identificadas com a história da música no país. No biênio 2013/2014, o projeto chega a sua 16ª edição, com os temas “Tambores e Batuques” e “Edino Krieger e as Bienais de Música Brasileira Contemporânea”. Em 2013, o primeiro tema circulou pelos estados das regiões Centro-Oeste Norte e Nordeste, enquanto o segundo seguiu pelos estados das regiões Sul e Sudeste. Em 2014, procede-se a inversão para que os grupos concluam o circuito nacional. Mais informações: http://goo.gl/z0dAqx
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exposição Interferências – Scott Macleay Entrada: Gratuita Local: Espaço Lindolf Bell CIC, Florianópolis 29/04 até 30/06
Exposição Projeto Fine Art Entrada: Gratuita Local: Shopping Balneário, Balneário Camboú 23/05 até 30/05 Antes de ser uma foto, ela já era um movimento incrível. O Movimento Extremo de artistas e atletas com corpos incríveis e dispostos a superar seus limites.Isso é o que move a criação do casal de artistas Cleber Valerio e Jordane Marques. Venha suspender sua respiração diante da fotografia dos artistas que usam a luz para criar poesia sobre os corpos fotografados.
Compartilhar conhecimento e experiência é a principal característica do fotógrafo canadense Scott Macleay, que vive em Florianópolis e faz curadoria de duas exposições com aberturas em 29 de abril no Espaço Lindolf Bell, no Centro Integrado de Cultura (CIC), e no dia 30 na Helena Fretta Galeria de Art, reunindo três gerações. Macleay contempla nestas mostras a sua própria obra, ligando seu trabalho ao de seu professor, o fotógrafo, arquiteto e designer norteamericano Ted Scott e a de 20 artistas brasileiros e estrangeiros, que são seus alunos. Mais informações: http://goo.gl/5WdmT4
Arte na cidade Ilustração galeria de arte do sesc.
Moradias, Flores, Sonhos e Histórias de Pessoas. Entrada: Gratuita Local: Museu Histórico de Santa Catarina – Palácio Cruz e Sousa, Florianópolis 27/03 até 30/04 Nos 15 quadros em óleo sobre tela que fazem parte da mostra, a artista de Guabiruba (SC) cria condições para que as pessoas possam reconstruir, relembrar e refletir sobre a região do vale dos rios Itajaí Mirim e Açu. “Sentimentos, cultura, relações de poder e a vida que marcaram casas, igrejas, escolas e paisagens daquela região catarinense”, completa a artista.
Entrada: Gratuita Local: Sesc, Jaraguá do Sul 01/06 até 30/06 A curadoria do projeto será do artista Fábio Dudas, de Florianópolis, que selecionará quatro artistas. Os selecionados receberão cachê e poderão expor seus trabalhos já prontos. Também poderão apresentar um novo trabalho em uma atividade coletiva, aberta ao público, nas dependências do Sesc. A abertura da exposição será no início de maio. Mais informações: http://goo.gl/HikfJh
Mais informações: http://goo.gl/gnqSkk
Mais informações: http://goo.gl/1thD6Q
MAIS AGENDA
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Inbox A continuação da formação do acervo se deu, basicamente, por doações particulares e oficiais. A partir de 1985 foi criado um sistema de doações espontâneas por parte dos artistas que expunham no Museu. At untio. Illuptatur arum Isso lhe confere grande importância regional. Yuri Pereira
Como é um assunto complexo, importa retornar aos nomes exemplificativos daqueles que integram o universo das artes no estado. Rubens Oestroem é importante nome nas artes plásticas de Santa Catarina e faz parte da geração de artistas abstracionistas. A continuação da formação do acervo se deu, basicamente, por doações particulares e oficiais. Eu, basicamente, por doações particulares e oficiais. Isadora Brito
A partir de 1985 foi criado um sistema de doações espontâneas por parte dos artistas que expunham no Museu. Isso lhe confere grande importância. Juliana Silva
O cuidado em identificar pontos críticos no surgimento facilita a criação dos modos de operação convencionais. Shai Addad
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Durante todos esses anos o MASC andou por várias salas, insalubres e impróprias. Outra sede foi o prédio da antiga Alfândega, em Florianópolis. Uma ótima pratica para vocês seus lindos trajetória acidentada, que inclui o recolhimento do acervo a um depósito no Teatro Álvaro de Carvalho. Mariana Patricio
Basicamente, por doações particulares e oficiais. A partir de 1985 foi criado um sistema de doações espontâneas por parte dos artistas que expunham no Museu. Uma ótima pratica para vocês. Isso lhe confere grande importância regional. Eduardo Cardoso
A continuação da formação do acervo se deu, basicamente, por doações particulares e oficiais. A cientiunt unt experna temquam as peratiistiaUma ótima pratica para vocês seus lindos. Foi criado um sistema de doações espontâneas por parte dos artistas que expunham no Museu. Isso lhe confere grande importância regional. Annelise Oliveira
Lucas Bicalho - Cara Delevingne Portrait