Kaonashi (sem rosto)

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SEM ROSTO Caos, Dinheiro, Ganância, Egoísmo, Dinheiro, EU QUERO, DINHEIRO, DROGA DE DINHEIRO!

Alan M. Bayerl


SEM ROSTO

Alan M. Bayerl


Copyright C 2016 Alan M. Bayerl ISBN : 978-85-916355-1-1 Volume 1


SUMÁRIO Cap. 1: O Começo Cap. 2: Evolução de Annie Cap. 3: Taxista Cap. 4: Luke Reage Cap. 5: Um padre gentil


Livro 1

O COMEÇO

O mundo é estranho, as pessoas são todas anormais, não existe amor, não existe perdão e muito menos amizade. Ninguém mais olha nos olhos das pessoas. Está tudo reto, tudo em um único sentido, o mundo se transformou por completo, a sociedade que era talvez justa, virou absolutamente o oposto, a humanidade caminhou para um lugar onde só existe arrogância e ganância pelo dinheiro. O dinheiro é o único Deus, tudo se compra, coisas se adquire, dinheiro é tudo, mais do que tudo. As vezes fico me perguntando o porquê disso? Por que as pessoas valorizam tanto esse ser sem valor? O que há de errado na humanidade de hoje em dia, as coisas são corridas na velocidade da luz, computadores, celulares, coisas e mais coisas, lixo de todas as espécies. Será mesmo que isso é realmente importante, é importante para você? Pois não é importante para mim. Estamos em um mundo completamente caótico, a sociedade não é mais a mesma, o mundo mudou drasticamente. O ano é de dois mil sessenta e um, um planeta destruído pelo dinheiro e pela falta d’água. A sociedade se subdivide em dois grandes blocos, por um lado estão os mais ricos, bilionários, que dizem ser donos do mundo, e por outro, estão os pobres, mendigos, que não tem nada, nem casa, nem uma simples vida digna para viver. Em dois mil e vinte o mundo começou a ter a falta de água, os poderosos não mediram esforços para tentar conter isso e obviamente, houve os primeiros confrontos pela água. É louco ver a humanidade se matando por dinheiro, mas o que podemos fazer agora? não fizeram nada para ao menos tentar proteger esse bem valioso. Dois mil trinta e três ocorreu o que era de se esperar, a terceira guerra mundial por causa da água, ninguém nunca tinha vista aquilo, bombas atômicas destruíram boa parte do planeta que ficou deserto, enormes tanques de guerra, militares robôs, cobras rastejantes espiãs entre outras horríveis coisas que nem é bom citar aqui. O mundo inteiro em guerra, o caos estava generalizado, em alguns anos o mundo ficou um imenso vazio, sem alma e sem coração, completamente destruído. Somente sangue e um enorme deserto, as poucas pessoas que sobreviveram não sabiam para onde ir, não tinham ninguém para confiar a não ser nelas mesmas.


Era de se esperar de quem iria ficar com as poucas águas que ainda restavam, eram os que ainda tinham o maior poder e a maior economia e esses eram poucos, não passavam de oito pessoas, essas pessoas são as mais ricas do planeta, eles juntaram forças e se uniram para beneficiar somente a eles e aos seus aliados, que também eram poucos. Em dois mil e cinquenta, começaram a construir a Monocity, que é uma enorme cidade revestida por uma espécie de bolha gigantesca, protegendo os habitantes contra os raios do sol, do calor que faz e pela qualquer tentativa de invazão. Agora pense, o mundo está caótico, a terceira guerra acabou com todos os sonhos de um dia a humanidade teve, virou um inferno, as pessoas estavam se alinhando, os ricos por um lado e os pobres de outro, estes estavam sem saber o que fazer e vivendo naquele inferno de quase sessenta graus celsius e não havia para onde correr. Existem somente sete comunidades de pessoas tentando sobreviver ao redor do mundo, além dos ricos, as pessoas estavam se organizando entre essas sete comunidades fora da cidade, na terra quente e seca, ajudando umas as outras, doando o pouco que tinham, recebendo o pouco que restava, praticamente viviam de doações de outras comunidades. Eles plantavam e plantam alimentos que conseguem e fazem as trocas de mercadorias com outras comunidades que não tem o alimento que a comunidade possui, com isso sobrevivem. A terra era quente e seca durante o dia, chovia durante a tarde, com fortes tempestades devido ao calor. A noite era congelante, um enorme deserto em que lutavam para viver a cada dia. Praticamente todas as comunidades raspavam os cabelos para não precisar lavá-los, eram raras as comunidades que ainda possuíam cabelos entre suas famílias, uma delas estava eu Drake, que na época estava com apenas cinco anos de idade. Morávamos em um local até bom, por vista de outros ao redor do mundo, minha família pertence a comunidade mais próxima da grande cidade, era uma comunidade que todos tinham cabelos, era um luxo morar ali, as vezes recebíamos migalhas dos militares que ficavam no portão principal e as vezes até água pelo esgoto.

Era noite, por volta de umas nove, milhares de pessoas em frente ao portão, era imenso, todo trancado, eu calculava que estavam quinze policiais fortemente armados preparados para qualquer suspeita e atirar sem piedade.


Mas no lado de fora estava aquela multidão enlouquecida com foices, pedaços de paus, bandeiras, facões e gritavam por liberdade, lutavam para tentar quebrar a diferença que existia com os próprios humanos, queriam entrar na cidade, viver melhor, ter saúde, sair daquele inferno que era a terra e que eles próprios fizeram. Mas era impossível, quanto mais forçavam mais se retraiam. Lá eu estava com meus pais, vestia uma bermuda, chinelo velho que sempre me fazia calo em um dos dedos, uma camiseta branca mas que não era totalmente branca e cabelo bagunçado. Minha mãe que se chamava Lúcia, estava me segurando no colo, aflita. Cabelos compridos, roupas velhas, rasgadas pelos dias e dias que estava usando, seu rosto refletia o que sentia, medo de que alguém iria fazer alguma covardia conosco, a frente estava meu pai, com uma foice, gritava feito louco, era um cara de uns trinta e poucos anos, cabelos pretos, uma leve barba e corpo razoávelmente forte. De repente tiros de dentro dos portões ecoavam por perto, me vi aterrorizado com aquilo, todos começaram a correr desesperadamente para qualquer lugar. Do nada um estalo, minha mãe grita e me assusta. Nós desabamos no chão... Eu simplesmente apaguei.

Já era de manhã quando eu acordei, meio zonzo, deve ter sido pelo impacto da queda, o meu quarto era um lugar bem simples, com uma cama de solteiro, ao lado uma escrivaninha antiga com portas sobre ela, ao lado de uma estante com alguns livros velhos e ao seu lado minha tia sentada numa cadeira, cabeça baixa e chorando. Não sabia o motivo, mas já tinha percebido que poderia ser pela noite anterior. - Tia, o que aconteceu? - perguntei preocupado. -Graças a Deus, você acordou. Levantou-se e veio até a mim com os olhos vermelhos e rosto inchado, pelo tanto que chorou. -Espera um pouco vou chamar seu pai, ta?! - deu-me um beijo na testa e foi andando até a porta. -João, vem aqui, o Drake. Ele acordou, vem logo. Logo chega meu pai e me dá um abraço de urso bem demorado, com o coração batendo forte, ele senta ao meu lado na cama. -Está tudo bem garotão, sentindo alguma coisa?


-Só meio zonzo, não sei o porquê - respondi, coçando o olho. - Vem, tente se levantar, cuidado… vamos lá - segurando pelo meu braço e me levando até a varanda. Ao sair percebi que a casa estava cheia de pessoas, aquela casa minúscula, de apenas quatro cômodos, com paredes de pau a pique e teto de telhas velhas com boas goteiras, mau cabiam uma multidão de dezenas de pessoas. Fazia tanto calor ... Mas naquele momento era um calor insuportável, devia ser por que estava nervoso, coração em disparada, sabia que alguma coisa estava acontecendo e era tanta gente ali que fiquei até perdido no meio daquela minúscula casa, alguns eram meus tios e tias, outros conhecidos e vizinhos. Alguns sentados, outros de pé, se abraçando e chorando. No quintal se aproximava um carro pequeno, branco e de baú, era raro ter qualquer tipo de automóvel ou coisa parecida no lado de fora da grande cidade, somente em ocasiões sérias e essa era com certeza uma ocasião séria, eu sentia isso. Me virei sem entender absolutamente nada para o meu pai, que me olhou com tristeza nos olhos. Meus tios foram até o carro, retiraram de dentro um caixão, me escondi atrás de meu pai e já sabia que era uma coisa muito ruim, meu pai me pegou no colo, colocaram em uma mesa bem ao centro, as pessoas rodeavam para ver o corpo de alguém, que eu sabia muito bem quem era, me virei para meu pai – -Pai, quem é essa pessoa que está ali? - apontando o dedo diretamente para o caixão. - ah filho é ... - ele me disse com voz de choro. - filho é, não sei como dizer, mas... - Fala pai, é alguém que eu conheço? - Você conhece muito bem essa pessoa meu filho. - Então quem é? - Ah meu filho, quem está naquele caixão é sua mãe... eu não pude fazer nada, me desculpa.

E do nada o mundo desaba, nada valeria mais, meu corpo não se mexia, o olhar congelou, um vazio tomava conta daquela situação mais nada valia naquela hora.


Não dava para acreditar, um choque inesperado. Meu pai me levou até o caixão, sabia que nunca a veria mais e isso se cumpriu. Não consegui ver o rosto dela, ficou tudo branco, embaçado, fiquei meio tonto na hora e só lembrava dos carinhos dela, e da noite anterior, não via em nenhum momento o rosto dela, dali para cá, não lembro de mais nada a respeito dela, nem fotos eu tinha e nem a expressão de seu rosto.

- Nossa que estranho isso, você se lembra mesmo de nada não? -Ai, ai né Nick, se ele acabou de dizer. -Tá, mais só queria saber Annie. -Não, me lembro de nada do que aconteceu, depois disso, meu pai conseguiu um emprego aqui na cidade, na época o governo queria pessoas para trabalhar com coisas pesadas. Operários, construção civil, essas coisas, mas, somente podiam as pessoas que ainda possuíam cabelos e eram razoavelmente boas de saúde. Existiam poucas comunidades deste tipo no mundo e nós éramos uma delas, viemos para cá e conseguimos moradia, meu pai emprego e eu fui estudar. -Muito louco, cada um com sua história, não é? - É isso aí, bora dar um role lá no Under? -Bora Luke, tem uma banda nova lá, dizem que eles gravam CD’S, estou afim de alguns novos.

Agora eu estou com dezessete anos, odeio meu pai, não consigo tirar da cabeça aquela cena que meu pai fez quando eu tinha onze anos de idade, não dá mesmo. Agora a cidade se tornou meu lar, não preciso frequentar a escola, se aprende tudo em casa com professores na internet e tudo mais, tudo passou a ser online, a vida melhorou por um lado e piorou por outro. As pessoas estão cada vez mais em seus mundos, nem olhão para os lados, estão loucas pelo dinheiro nosso de cada dia nos dai hoje, enquanto lá fora está a maioria da população mundial morrendo de fome e vivendo na miséria. Eu dedico boa parte do meu dia gerenciando o maior tráfico da cidade, não é o que você está pensando. É o tráfico de comida e água. Com a entrada minha e de meu pai para a cidade eu quis ajudar a minha família que ficou no imenso calor, faltava quase todo dia


água e comida na mesa de milhões de pessoas e eu precisava fazer algo para melhorar a minha própria família e as pessoas ao redor do mundo. Criei aos doze anos o maior tráfico de comida e água do mundo, mandando para fora da cidade milhões de quilos de comida e milhares de litros de água todos os dias. Nada foi fácil criar, tive essa ideia e pensei logo no esgoto que dava para o lado de fora. Consegui encontrar uma saída que fica debaixo do viaduto três na quinta quadra ao portão principal. Lá dentro que é chamado de Under, organizo todo o tráfico onde armazenamos todo o material e que distribuo com a ajuda de meus amigos.

Conheci eles por acaso, a Annie foi a primeira que a encontrei, andava pelas ruas sem saber para onde ir, seus pais morreram em um acidente de carro, ela não dava bem com os familiares, vivia na casa de um tio por uns dias, outros ficava com a avó e todos os dias brigava com alguém, resolveu cai no mundo sem destino aos doze anos. Aos treze eu a conheci e juntos fortalecemos a ideia do tráfico, ela fica responsável pelo gerenciamento do Under e vigilância interna. Quanto ao Luke, passou sua infância se mudando de um lado para o outro, seus pais eram divorciados e sua mãe alcóolica, sempre ia tarde aos bares procurando por ela para arrastar - lá para casa, dar banho e colocar para dormir, sempre foi muito responsável, não teve aquela infância de todo garoto tem, mas fazer o que, não é? Enfim, aos quinze anos me conheceu e mudou de vez para o Under, onde toma conta de todo o controle do lado de fora da cidade e tem os contatos com os líderes de todas as comunidades. Nikky teve uma infância ótima, teve o que toda uma criança sonha, todos os brinquedos e tudo o que sonhasse. Mas perdeu seus pais aos treze anos e sua vida desde então virou ao avesso, como era filho único ficou sozinho, passou a administrar a empresa de seu pai de transportes com ajuda de seus parentes mais próximos, com isso nos ajuda a ficarmos ligados com tudo o que acontece dentro da cidade e nos ajuda pegando as mercadorias com os carros da empresa. Lá Dentro do Under é um outro mundo, as pessoas fogem de seus ambientes de guerra pelo dinheiro, da ambição e da miséria, é um verdadeiro paraíso de quinto mundo, aqui pode-se ouvi tudo o que bem entender, as pessoas não ligam com o que você fala, com o que você ouve, ou o que faz da vida.


Estão ali somente para se divertir e ajudar a população mais pobre, e eu tenho orgulho de ter criado esse ambiente onde posso ajudar minha família que é a coisa mais importante para mim. Nem todos pensam dessa maneira, eu sei, se pensassem, o mundo não estaria assim, a sociedade está completamente obcecada por querer sempre mais, onde isso vai parar? Não sei, e nem quero saber, prefiro estar aqui, pelo menos sei que estou fazendo algo útil.

Chegando ao Under ficamos na vigia para que ninguém nos visse ali rastejando por entre o concreto, até por que era proibido e estavam a procura de quem estivesse traficando comida dentro da cidade. Luke, eu e Nikky vigiamos primeiro enquanto Annie rastejava para entrar, depois foram Nikky, Luke e por final eu, que fecharia a passagem por dentro, era uma camuflagem de pedra, que na verdade foi feito de um material mais duro, tipo um papelão. Dentro está lotado. A banda Suicide está no palco, são três pessoas, com um visual bastante excêntrico fazendo sua passagem de som, ao lado tem um bar, algumas mesas e cadeiras vazias, no outro algumas pessoas trocando cd’s e conversando, no centro e na frente do palco, bastante gente esperando o show começar e por fim lá nos fundos tem o depósito imenso do tráfico que dava duas quadras da Monocity. Estamos perto do palco a espera deles pararem. -E ai, bom o som de vocês - Luke disse. -Opa valeu cara, estamos começando, ensaiamos bastante e estamos aqui para mostrar o som, também é o único lugar né - Pulser que é o baterista disse levantando-se do banco. - Bem legal mesmo cara, vocês tem cd’s? ouvimos falar que vocês vendem, tem uma galera fazendo um som no lado de fora, não é? - Annie foi logo se empolgando, só por que o cara tem um cabelo legal, saco ... - Lógico, temos sim. Na verdade eu mesmo que gravo e repasso para a venda, ajudo as bandas nas vendas também – Pulser descendo do palco e indo em direção para uma mochila que está repleta de cd´s. Mal da para escolher, é tanto, um melhor do que o outro, Annie pegou dois, Luke escolheu, escolheu e só ficou com um, eu e o Nikky escolhemos os mesmos cinco. Todas são bandas de fora da cidade, suas letras refletem o que eles próprios sentiam, ódio pela ganancia e lutavam para ter um lugar bom para se viver, esse é o som do mundo.


-Esses são bons, essas bandas estão fazendo história, espero que eles possam tocar aqui algum dia, seria bom. - Disse Emy que é a baixista e vocalista da banda. -Boa ideia, seria muito bom mesmo, até que não seria mal tocar no centro da cidade, heim? - Luke dizendo sorrindo. - Vai sonhando que um dia chegamos lá - Taylor o guitarrista dizendo com tom de ironia. De repente senti um leve toque no meu ombro, virei e me deparei com dois caras grandes, tinha os seus um metro e noventa de altura, morenos e carecas, vestiam terno preto dos pés a cabeça. - E ai Drake, precisamos ter uma palavrinha com você, é sobre o tráfico. Me despedir do pessoal da banda e seguir com eles até uma mesa, todos nós líderes do tráfico sentamos em lados opostos, esperamos que saíssem um pouco as pessoas de perto. - Cara é o seguinte, precisamos de comida, a distribuição está do jeito que você achou melhor, os vigias e a população está bem agradecida pelo aumento que estamos oferecendo, mas, agora está acabando e precisamos repor o estoque aqui na comunidade do lado da cidade. Esse estoque é de um mês, mas já estamos sentindo falta, e há uma falta a mais de água, o que você tem a nos oferecer? - disse abrindo uma agenda preta que continha as informações do tráfico. - Cara, agora está um pouco complicado, já saiu na mídia, estão investigando sobre os roubos, desses dias, foi um dos maiores, você está ligado, não é? mas é lógico que dá para oferecer, tranquilo isso temos reserva aqui dentro também. - Tem o Mercado Velho, na zona leste, parou de funcionar a uma semana, mas tem muita mercadoria lá ainda, seria uma boa - Nikky disse. - Bom isso, vamos fazer isso hoje a noite então – disse eu já confirmando. - Vamos pela madrugada, não há quase nenhum vigia aqui na zona sul, só na passagem para a zona leste, mas isso não tem problema se tivermos um carro, não é Nikky? - Luke disse olhando e sorrindo para ele. - Eu consigo, mas só posso pegar depois das onze, quando não tem nenhum movimento na empresa, temos que voltar até as quatro da manhã no máximo, se não estamos mortos. - Fechado então - Eu conclui.


A noite demora para chegar. Os dias são longos e quentes, a noite é fria. Muitos não aguentam na terra, crianças principalmente, precisam de remédios, médicos, de tudo. Construímos hospitais, postos, mercados, farmácias, tudo com a ajuda dos próprios moradores que colocaram a mão na massa e fizeram eles mesmos, foi difícil, não tivemos apoio da Monocity, mas fizemos.

Chegou onze da noite, estávamos esperando próximo ao Under, todos com blusas de frio preta, calça jeans e tênis, devíamos passar por despercebido e sermos rápidos, afinal de conta, vamos roubar. Quarenta minutos depois Nikky chega com o carro de baú grande, todos entram, dois na frente e três atrás, seguimos para a zona leste, estamos planejando os ajustes finais, só falta comunicar com os vigias no Under para escoar a mercadoria. Criamos um comunicador que ligava para todos os agentes do mundo, para trocas de informações e tudo mais, pois os convencionais são rastreados pelo governo, caso tivéssemos, estaríamos podres debaixo da terra neste instante. Era de se esperar os guardas que estão na passagem da zona sul para a leste, era tudo cercado, ninguém poderia sair de uma zona para outra sem os guardas soubessem para onde iriam e mostrar os documentos necessários depois das vinte e duas horas. -Onde os senhores vão a essa hora da noite? - um dos dois guardas perguntaram abrindo a porta do caminhão. - Vamos até a zona leste fazer uma descarga, é a última- Nikky disse sério entregando os documentos e a nota fiscal falsa. -Tranquilo, trabalhar até esse horário é tenso.- o outro guarda disse conferindo e repassando os documentos para Nikky. -Pois é, mas fazer o que? Trabalho é trabalho - Nikky disse fechando a porta e seguímos viajem. Os guardas sempre ficam perguntando essas coisas, mas nunca prende ou vasculham a carga, é impressionante isso. Chegando ao local, paramos o carro no cruzamento das ruas décima quinta com a João. Luke, Annie e um dos caras morenos desceram e foram em direção opostas das ruas para ficar de vigia, continuamos em direção da rua direita, a da João, no final está o mercado velho.


O lugar era um pouco escuro, sem muita vista, com casas baixas bem urbanizadas, parece que não existe ninguém por aqui, tudo num silêncio perturbador, isso deveria ser mais ou menos uma e vinte da manhã, dá para se explicar o motivo. Estacionamos bem ao lado do mercado, esperamos um pouco para sair, nessas horas sempre pode ter alguém de butuca louco por uma fofoca quentinha no dia seguinte. Eu sai do caminhão e fui em direção ao mercado que era pequeno e com uma vista aconchegante, todo feito por madeira de primeira, com teto de telhas e portas de vidro que está fechado com cadeado e uma corrente grossa. Tirei da mochila duas chaves forcei as duas contra o cadeado e quebrei, abri a porta e esperei os outros três chegarem, entramos com capuz cobrindo os rostos e pinchamos todas as três câmeras que tinha. Nikky foi para o carro estacionar de ré contra a porta, facilitando assim a nossa entrada com a mercadoria. Em poucos minutos já havia sacos cheios de comida e garrafas de água mineral, colocamos tudo no carro e seguímos viajem. Nós sabíamos que isso era um crime, mas o pior crime era deixar pessoas morrendo no sol de quase sessenta graus no lado de fora, sem comida e sem água. Desta vez passamos sem problemas pelos guardas que estavam no terceiro sono sentados nos bancos de madeira. Chegamos e começamos a esvaziar o carro, todos estão trabalhando no Under, nessas noites comunicamos a todos para ficar de prontidão para que nada saia do controle. Enfim sentamos exaustos, sem forças nem para levantar o dedo. -Drake, aqui está, você merece - o cara moreno estendendo uma bolada de dinheiro para mim. - Para que isso? Eu não quero isso, está maluco? - não sabia o por que daquilo. Era o meu trabalho, todos trabalham duro para que nada falte para as comunidades, é injusto pegar toda essa bolada de Monos só para mim. -Só achei que você merecia isso - Ficando sem jeito e colocando o dinheiro de volta ao bolso. - Quero é nada, além da minha cama, mas foi bom hoje, não é? - Demais. Amanhã vejo o que fala o jornal e irei dar uma olhada no mercado para ver se alguém vai dizer algo - Dizendo Nikky já bocejando.


Que noite, eu ainda tenho que chegar em casa e enfrentar a fera. Já era quatro da manhã, saímos do Under e fomos finalmente para casa. Abro a porta, o abaju está aceso. É um apartamento pequeno, com uma sala, cozinha, banheiro e dois quartos. Na sala um sofá de três lugares, uma mesa de centro, uma TV de cinquenta e duas polegadas na parede. Abaixo um raque marrom sobre um tapete branco longo que dava até a cozinha que era emendado com a sala. Meu pai tinha seus quarenta e cinco anos de idade, usando óculos, sempre de terno e gravata, ele gerenciava uma das maiores empresas da cidade, que ele assumiu após a morte do dono, que nos deu uma segunda chance para mudar nossas vidas trouxendo nós para a cidade. Está deitado no sofá lendo um jornal, a sala está bem escura e não tem como alguém estar lendo, mas é claro, a bronca será séria. -Chegou tarde, heim? - ele dizendo colocando o jornal sobre a mesa de centro. - Estava dando um role com o pessoal, nem vi a hora, tem alguma coisa para comer? - perguntei logo abrindo a geladeira. - Já leu o jornal esses dias? Estão investigando. Há um boato sobre tráfico de comida e água, é cada coisa, não é? Até tráfico disso tem - meu pai pegando novamente o jornal e rindo. Olhei para ele sério e voltei a procurar alguma coisa na geladeira que por sinal está repleta de porcarias. - Pelo menos tem alguém fazendo algo para melhorar o povo lá do outro lado dessa prisão, não é? Ele me olhou sério também. Se levantou e caminhou devagar até a mim. - Posso apostar com quem for que sei quem é esse ladrãozinho de comida. - E você tem certeza ou confirma isso? - Tenho certeza quem é essa pessoa. - Qual é cara? Se liga. Deixamos uma família lá fora, a nossa própria família, como você pode fazer isso? Não sente falta? Seus irmãos estão lá, sua própria mãe, naquele inferno escaldante de sessenta graus celsius e você não faz nada eu alterei a voz.


- Cala a boca seu pivete, eu trouxe você para cá, só podia trazer você, não se lembra? Eu salvei você, e vem com esse papinho para cima de mim agora? - ele se aproximou de mim alterando também a voz. - Há, legal isso cara, em quando nós estamos aqui, toda a sua família está lá passando fome e você fazendo nada. - Cala a boca seu ... Ele vindo para cima de mim e empurrando contra a janela. Agarrei na janela e coloquei a mão sobre o peito dele quase caindo de uma altura de vinte e dois andares. -Vai lá cara, mata seu filho como você matou o cara que deu isso tudo para nós, se lembra? Daquele cara que ofereceu a nós emprego e moradia aqui dentro, depois que minha mãe morreu, e a troco de que?a merda do dinheiro e da quadrilha que estava tendo aqui na cidade. Completei os onze anos e na noite do meu aniversário você o matou por causa desse lixo, você esqueceu disso? Ele parou por um instante, me largou, voltou para trás com a mão na cabeça, sentou no braço do sofá e com as mãos no rosto disse. - não .. não, eu não sou um assassino, ele caiu, eu tentei agarra-lo antes que caísse, mas não consegui! - sei não, tenho lá minhas dúvidas, eu odeio você cara, odeio tudo, não tem lógico para o que você fez, você é um monstro, não tem nada nesse coração sujo e podre, se é que você tem isso - falei saindo para meu quarto, fechando a porta com força.

É difícil as vezes, tenho que me esquivar de muitas coisas, do meu pai principalmente, não sei o real motivo que ele fez aquilo a seis anos atrás, não o reconheço como meu pai, e nem sei o que ele é mais. Os dias vem e vão e eu estou na mesma, estudo, ando de skate, vou para o Under, gerencio o tráfico de comida e água e a noite brigo com meu pai, os dias são os mesmos, não sei mais o que fazer, não sei se devo melhorar o tráfico, se devo lutar mais para ter meus familiares junto comigo, sei lá.

E a manhã chega como se nunca fosse chegar, saio de casa bem cedo para não ver meu pai, dou umas voltas pela zona sul e encontro com os amigos numa pista de skate, curtindo o amanhecer do sol e andando de skate.


Todo aquele vai e vem me deixa bem, eu me esqueço dos problemas sociais, os meus problemas com meu pai, o de saber que devo dar uma vida melhor para milhões de pessoas lá fora, mas é bom ficar assim nesse vai e vem. Estamos sozinhos aqui, não é bem assim, está quieto demais, nesse horário é comum ver as pessoas andando para pegar metrôs, trens, ônibus e tudo mais, mas hoje está diferente. Tudo parado, só o vento artificial que passava por entre os cabelos. Do nada vejo vultos, sombras pelo sol aparecem. Barulho de mais de doze rodinhas no chão ecoou pela pista, eram dois caras e uma garota, vestiam roupas grossas, correntes. Um tem o cabelo até o pé e com um roupão, uma caveira e mangas compridas que nem as mãos conseguem ver. E o outro com sombra nos olhos, cabelo bagunçado, vestia calça com suspensório e uma camisa preta. A garota estava com bermuda jeans, blusa colado no corpo e cabelo também bagunçado. Não os conhecia, até por que conheço praticamente todos daquela cidade, todos que vão para Under eu conheço, e eles tinham a aparência de quem frequenta o Under. Seriam novos na cidade, mas como? Os três estão dando giros por nós, eles param, nos olham e riam sarcasticamente - E ai Drake tudo bom? - o de roupão disse. - Quem são vocês? – eu disse já ficando preocupado com a situação. - ninguém cara, relaxa ai irmão - o cara de sombras nos olhos disse se aproximando de mim. - O que vocês querem com agente? – Nikky veio aproximando dele e parou na minha frente. -Não queremos nada, apenas o nosso role de sempre aqui – disse o de sombra encarando Nikky. - Beleza então - eu disse pegando o skate e subindo até a rampa. Desci na rampa, todos ficaram me olhando e fizeram o mesmo, descidas vai manobras vem.


O cara que estava com sombra nos olhos olhava com cada vez mais ódio de mim. Descia e propositalmente encostava em mim, todos pararam e ficaram observando. Do nada ele encosta ombro a ombro e me empurra com força, cai de tudo no chão. Levantei e fui contra ele e joguei-o no chão sem piedade. - Qual é cara? Se liga! – Luke e Nikky me seguraram pelo braço, o cara parou na minha frente e sorriu e apontou o dedo para mim. - Você é um otário cara. É o seguinte, tua hora vai chegar e a do teu pai também, agora se prepara, tenho uns acertos com você, se ligou? – ele abraçando a garota e os três vão indo embora calmamente. Fiquei sem reação e sem explicação, quem seriam eles? Não podem ser novos na cidade é impossível, de onde eles surgiram? Somente perguntas e nenhuma resposta. Fui para casa pensando no que o cara me dissera, não sei bem, alguma coisa vem por aí, quando coloco uma coisa na cabeça é difícil de tirar. Cheguei cedo hoje, meu pai nem está. Pego algo para tomar na geladeira, deito no sofá, me sinto pesado com tudo isso acontecendo. O tráfico, meu pai e agora esse cara. Ligo a TV, nada de bom como de costume nesse horário, apenas o telejornal de todas as manhas e as notícias ruins. Bem, é diferente ver uma notícia que quem está no meio é você e o pior, saber que você pode ser preso a qualquer momento por uma quadrilha de corruptos. Não adianta você fazer o bem, tem sempre aquele que vem e te derruba, acho que foi sempre assim. Fui fechando os olhos, parece que tem uma tonelada em cima de mim, um trem passando por cima, caio no sono. Meus sonhos são estranhos as vezes, sonho com minha mãe, mas não consigo ver o rosto dela. Quando era criança, era tudo lindo, do nada, aquela imensa tempestade se alastra pelo céu, pessoas correndo por entre as montanhas de areia com foices,


facões, machados gigantes destruindo as comunidades, matando pessoas e minha mãe na minha frente... Acordo quase no meio do dia assustado e suando frio, vou até o banheiro, escovo os dentes e olho pela janela, mas um dia normal como sempre e só foi um pesadelo e infelizmente não foi sonho aqueles três pela manhã. Na cozinha não tinha nada de louça, nem um copo fora do lugar, meu pai não passou a noite aqui, se bem que já é meio dia, só pode estar no trabalho. No quarto dele está tudo em ordem, deve ter ido pro trabalho depois da nossa discursão ou sei lá onde. O celular do Under toca. - E ai Drake onde você está? - era a Annie. - Estou em casa ainda. falei sem muito entusiasmo. - A galera está aqui na pista ainda, cola aqui também. - Beleza então, já vou. Estava bem quente como é de costume, eles estavam fazendo um lanche, me ofereceram mas recusei. Sentei no chão ao lado de Nikky, estávamos embaixo da sombra de uma árvore. Eu estava voado em meus pensamentos, completamente desligado de tudo. O celular toca novamente. - Alô? - E ai Drake, beleza cara? - Uma voz rouca na linha disse. - Quem é? - Qual é cara, já esqueceu de mim? Não acredito! - A voz disse com uma leve risada. - Não sei, o que você quer comigo? - Já fiquei com uma certa preocupação. - Eu descobri tudo cara, quero tudo o que me pertence - A voz ficou séria. - Tudo o que? não estou entendo qual é a sua. - Quero meu dinheiro, esqueceu que seu pai roubou a quadrilha e ficou com todo o dinheiro? - Eu congelei na hora.


Era um dos oitos chefes da cidade e um dos donos da quadrilha, que tinha ligações com sequestros, tráfico de pessoas do lado de fora e meu pai gerenciava todo o dinheiro que entrava e saia nas mãos deles. - E o que você quer? Fala logo- Alterei a voz. - Quero todo o dinheiro que seu pai nos roubou até amanhã as onze da noite, se não seu paizinho já era - disse rindo e colocou meu pai no telefone. - Drake não faça isso, foge pra fora da cidade, você sabe como fazer isso .. cortaram a voz do meu pai e ouvi batidas e gemidos do outro lado da linha. - O que você fez com ele? - Seu velho. Nada, vai para casa agora que lá estará onde me encontrar, entregue o dinheiro e recupere seu pai, a essa altura todos da quadrilha devem saber e estão loucos pelo dinheiro e querem pegar de qualquer maneira você e o dinheiro, você deve estar ligado, não é? A ligação caiu.

EVOLUÇÃO DE ANNIE Fico completamente desorientado, todos olharam para mim sem entender o que tinha acabado de conversar e eu nem saberia por onde começar a falar.


- O que foi cara, aconteceu alguma coisa, para você ficar desse jeito? – Luke disse me ajudando a se levantar. -Está estranho, você está bem? – Nikky dizendo preocupado. -Preciso ir embora, agora. Vocês vão comigo? Preciso ver uma coisa. - peguei o skate e fomos para casa. Não sei o que está por vir, será verdade o que me dissera pelo telefone? Talvez pudesse ser trote, espero que sim. A casa está toda revirada e desorganizada, o vidro da TV despedaçado no chão, o sofá está rasgado no canto, a mesa de centro quebrada e pisoteada, a cozinha toda suja com comida espalhada por todos os cantos, no meu quarto as roupas estão jogadas, objetos quebrados, as gavetas reviradas, a janela aberta, mas é impossível alguém se jogar dali tão alto. - Deve ter sido algum ladrão - Annie olhando apavorada e já tentando ajeitar um pouco a sala. - Nossa cara seu pai vai te matar. - Nikky se abaixou e começou a recolher pedaços do sofá que está no tapete. - Não, não precisa nada disso. - Como assim não? Não pode deixar assim cara, temos que chamar alguém, sei lá. Nikky dizendo. - Eu sei quem foi que fez isso! – Eu disse olhando pela janela. - Como assim sabe? - Luke chegando perto de mim e me olhando com cara de assustado. - Quem fez isso foi um dos oito chefes da quadrilha - disse eu sentando exausto no sofá rasgado, que rasgara mais um pouco quando sentei. - Como assim um dos oito da quadrilha? O que eles querem com você? - Luke fechando a geladeira com uma bebida já na mão. -Eles descobriram que meu pai matou quem administrava todo o dinheiro da quadrilha - Eu disse olhando para o teto com um ar pesado. - Mas como assim descobriram?- Annie já não entendia mais nada. - E para que eles vieram aqui? O que estavam procurando?- Nikky preocupado. - Um dos oito chefes da quadrilha, estão procurando algum bilhete ou alguma senha de banco, cartão, eles querem a grana que meu pai roubou deles, meu pai gerenciava todo o dinheiro da quadrilha, mas recentemente roubou tudo deles, o motivo eu ainda não sei, agora eles estão loucos, querem a todo custo, grampearam aquela ligação que atendi agora a pouco e saíram daqui não faz nem cinco minutos, eu acho - disse eu me levantando e tentando procurar o suposto bilhete. - Então, temos que sair daqui o mais rápido possível - Annie disse com uma cara de assustada e olhando pela porta que dava para o corredor dos apartamentos. - Calma, precisamos achar o bilhete, ir nos bancos pegar todo o dinheiro, os cartões, se chegarmos até a esse cara e entregarmos o dinheiro ele irá devolver


meu pai, mas se não conseguirmos vão matar meu pai e vir atrás de nós, para pegar o dinheiro e sabe lá o que fazerem conosco - Eu disse vasculhando toda a sala. Parti para o quarto do meu pai para tentar achar o tal bilhete e os outros três continuaram a procurar pela sala e pelo meu quarto ao lado. Encontrei um bilhete amassado na gaveta embaixo de dois livros antigos na escrivania, está escrito em letras rápidas e garranchadas. “ Rua Tolentino Bom Fim, galpão dois, zona norte. Leve os MS$ 500 milhões de Monos que seu pai me deve,as senhas bancárias tudo, leve tudo numa mala que está encima do guarda roupas. Não deixe que ninguém o pegue, se não, nunca mais verá seu pai. Boa Sorte idiota! Ass: Desconhecido" Respirei fundo, fui até o guarda roupas peguei a pequena mala toda preta, com alças para pegar de mão e outra para o braço, está vazia. Annie chega e me olha séria. - O que foi, achou alguma coisa? - O bilhete. Querem os quinhentos milhões de Monos, temos que sair daqui o mais rápido possível. Eu dizendo, pegando alguns cartões e as senhas que estão num bloquinho de papel amarelo na última gaveta a esquerda do guarda roupas. Saímos em disparada pelo corredor. Entramos no elevador e ficamos loucamente contando os números luminosos do monitor, saímos quase correndo do prédio, todos pareciam estarem olhando de rabo de olho para nós. Até pouco tempo atrás nunca tínhamos percebido que as pessoas olhavam atravessado assim, só saber que estamos sendo caçados, dá uma agonia tremenda e tremedeiras nas pernas. Na calçada Nikky ergueu o braço e parou um taxi. Seguimos para um dos dois bancos que está o dinheiro, a sorte que é perto de onde moro há cinco quadras de distância. Estou completamente perdido, é muito diferente do que roubar comida e espalhar para o mundo todo, agora estamos sendo perseguido e nem sei para onde ir direito. Antes era agente que vigiava o coelho, mas agora é o coelho que vigia nós raposas. - Vem logo - Nikky puxando a Annie que está pagando o taxista que logo saiu correndo. - Vamos lá. Annie vem comigo, Luke você espera aqui fora e Nikky fica na porta, caso acontecer alguma coisa com alguém, gritem! Entrei com a Annie, lá dentro está abarrotado de gente e mais uma vez a


sensação de estarmos sendo perseguidos aumenta. Pegamos a senha do caixa e aguardamos a nossa vez, Annie não para de olhar para os lados, precisei cutucá-la isso é muito agoniante. -Ai, para com isso. - Não fica olhando assim. - Tá, eu heim. - Minha vez espere aqui - Eu peguei a mala e fui em direção ao caixa. Uma atendente que parece não ter dormido uns três dias perguntou. - O que deseja? -Quero fazer uma retirada grande nessa conta aqui - mostrei em um papel o número da conta. Ela me olhou séria - Está bem, só aguarda uns minutos - indo até uma porta que dá para o cofre eu calculei. Levei um susto quando Annie chegou perto de mim assustada. - Acho que tem uns caras ali fora e Luke e Nikky sumiram. - É o que? Você está louca? -E eu brinco com você Drake? Se enxerga - ela foi para fora. A moça veio em instantes e olhando para mim novamente séria. - quanto que é a quantinha? - 355 milhões de Monos. - Digita a senha nessa máquina, por favor. Digitei a senha super trêmulo, acho que ela percebeu isso. -Posso pegar a mala? -Claro -Só um Momento - Ela retornou para atrás. Não sabia o que fazer, eles podiam estar com problemas lá fora, mas tinha que pegar o dinheiro. Alguns minutos depois a moça chegou me entregando a mala com todo o dinheiro, abri não deu para conferi tudo, fui para fora encontrar os outros que estão conversando perto da porta. - E ai deu tudo certo? – Luke dizendo preocupado. - Deu tudo certo sim, e por que a Annie estava tão preocupada? - Não é nada, só não tinha visto os dois aqui fora, só isso. - Me deu o maior susto. - Então. Agora o que vamos fazer daqui pra frente? – Nikky me dizendo ao mesmo tempo ansioso e com medo da situação que está por vir. - Temos que ir a mais um banco e depois seguir para a zona norte. Já tenho uns cartões e algumas senhas na mala, então só resta pegar o restante do dinheiro que está no banco ao lado da prefeitura da cidade - disse já descendo as escadas do banco e caminhando. - Vai ser difícil. Na prefeitura tem um dos oito caras - Annie disse. - Temos que ser rápidos, vamos fazer a mesma coisa, mas vamos dividir o dinheiro caso dê errado, dois ficam no lado de fora e dois entram e pegam o dinheiro - Luke disse parando na nossa frente.


Fomos até num bar pequeno e seguimos os quatros para o banheiro, na divisão que dá pro banheiro feminino para o masculino separamos o dinheiro, uma parte ficou com Luke e a outra comigo, saímos disfarçadamente e seguimos para o banco que ficava na frente da rua. Eu e a Annie entramos, banco bem mais lotado do que o primeiro, pegamos a senha e aguardamos. Dois seguranças que não tiram os olhos da gente e as vezes cochichavam entre eles. Fortes, morenos e usam roupas pretas com uma arma na cintura a mostra, do tipo que não gostavam muito de pessoas, deu para notar que a Annie ficou nervosa e suando frio, não é nada normal isso. Chegou a minha vez, fui para o caixa peguei toda a grana e saímos, os caras continuaram a nos olhar. Quase correndo e olhando para trás, indo para a rua. Eu não faço a menor ideia para onde ir neste momento. - E agora cara? O que vamos fazer? - Nikky olhando para todos os lados. - Vamos até a estação, de lá pegamos um ônibus até a estação da zona leste, é a melhor maneira - Luke disse nos conduzindo. O clima está começando a ficar pesado e as pessoas, cada vez mais nos olham de rabo de olho. Andamos por quase um quilômetro e meio até chegar na estação principal da zona sul, milhares de pessoas indo para os quatro cantos da cidade, e nós aqui correndo o risco de morte. A bilheteria está um pouco vazia, decidimos comprar logo as passagens e aguardar o ônibus das cinco que não faltava muito para chegar. Pessoas começam a se tumultuarem, um vai e vem dos infernos. Luke pediu para que não nos afastassem e ficarmos juntos, um olhando para lados opostos esperando por qualquer coisa ruim que acontecesse nessa hora. Pouco tempo um tiroteio e uma multidão se empurrando feito loucos, gritando para entrar no ônibus que acabara de chegar, crianças aos berros, algumas mulheres foram atropeladas, literalmente. Gritos de homens pedindo calma não resolveu em nada. Nós sem saber o que fazer direito e com os 500 milhões de Monos, nos recuamos para trás e nos protegemos. Segurei forte a mala e escondi frente a frente com Luke e Annie. Nikky está tentando observar se vem alguma coisa de trás. Alguém puxou a mala no lado com força e soltou do meu braço. Olhei para o lado assustado. Um cara com cerca de um metro e noventa de altura, careca, camisa colada


tentando mostrar que é forte e não disfarçando sua barriga, pegou a mala e apontou uma arma para mim e disse: - Então você é o Drake, “o cara”. - O que você quer de nós? - De vocês, só essa mala e mais nada! Ele olhou para os três capangas dele que estão bem atrás e disse. - E ai rapazes o que acham que podemos fazer com essas quatro crianças? - Cara deixa eles aí, vamos embora, vamos nos ferrar depois, você sabe. Um dos capangas disse olhando para a multidão que corria para os lados tentando se proteger. - Ah mais que saco heim, logo agora que estou começando a achar divertido a ideia de quebrar a cara desses moleques imbecis. De repende a Annie vira para ele. - Você é ... É você mesmo - disse ela trêmula. - Sou quem garota? - Desgraçado! – correu para cima dele, o socando. Ele sem reação colocou a arma para cima e com o golpe da Annie no estômago fez com que disparasse a arma em direção ao teto e soltar a mala para o chão. As pessoas ficaram apavoradas e começaram a gritar de longe e sumiram para fora da estação em segundos, ninguém além de nós está aqui mais. Os três capangas conseguiram segurar Luke e Nikky, eu consegui correr em direção a mala e pegá-la. Os dois desabaram no chão, Annie com lágrimas nos olhos, continua a socar o cara. - Para Annie! - Eu gritei para que ela parasse de bater. - Foi ele Drake, ele que mandou matar meus pais naquele acidente - Disse se levantando. - É o que? – o cara disse ainda no chão. - Mandou matar meus pais, só por que eles queriam sair da sua empresa, você recusou, dizendo que haviam roubado aquele dinheiro. A quantia eu não sei direito, mas acho que era uns dez mil Monos e quem roubou foi seu próprio sócio. -Eu não mandei matar ninguém, você está ficando louca garota. - Como não? E quem mandou matar então? Uma alma foi? Annie está muito nervosa. Enquanto eles estavam discutindo, afastei com a mala em direção a uma escada que dá para o andar de cima, calculei que era a parte da administração da rodoviária. Por azar um dos capangas gritou. - Pega ele! - todos olham eu subindo aflito na escada.


Consegui chegar num corredor que dá para uma porta no fundo, tentei abrir, mas sem sucesso, afastei um pouco os dois capangas já estavam no corredor. Abri a porta com um ponta pé. Lá dentro é uma sala grande com alguns computadores antigos e coisas de limpeza, nada de administração. Uma janela foi minha salvação, no lado de fora dá para ver a frente da rodoviária. Abri e consegui me esconder numa quebrada que existia por fora da parede e permaneci ali por uns instantes, tentando não fazer muito barulho, afinal de contas tem pessoas a oito metros abaixo de mim e por sorte um pé de árvore que me ajuda a não ser reconhecido através de sua sombra. Ouvi alguma coisa de um dos dois capangas, que logo em seguida fecharam a porta com força. Ao lado da sala do lado de fora vi um muro alto que vai até a frente da rodoviária e o pé de árvore que dá para a entrada da rodoviária. Me arrastei até no muro, pulei para o chão através do pé de árvore, entrei na rodoviária novamente como se nada tivesse acontecido e as pessoas falando nervosamente sobre o que está acontecendo lá dentro. Na sala de bilheteria mais pessoas se juntam como podem e nenhum sinal de policial ou algo do tipo. Não existia esse tipo de segurança, somente na guerra pela água e nas rebeliões que teve há uns dezenove anos atrás. Começo a andar mais depressa e ouvi mais trocas de tiro e me apavorei. Corri em direção ao tiro já pensando no pior e me deparei com Luke e Nikky segurando Annie com a arma em punho, no chão o corpo do cara de um metro e noventa, morto e um de seus capangas, também caído, mas somente feridos. O outro capanga surpreso com aquilo correu e sumiu por onde os ônibus chegam na rodoviária. - Annie? Você está bem? - Disse eu entrando na frente dela e pegando a arma de sua mão. - Agora estou, eu acho que estou. Ela está completamente aflita, nervosa com lágrimas escorrendo em seu rosto, mas com uma expressão vazia, sem sentido. Olhamos um ônibus que se aproxima. - Temos que sair daqui agora! - Nikky olhando para trás e puxando Annie pelo braço. Peguei a mala e escondi a arma dentro. Conseguimos entrar no ônibus e seguimos para a zona oeste da cidade.


No ônibus algumas pessoas conversando sobre o que poderia estar acontecendo, aquelas pessoas não viram, a sorte que somente entraram no ônibus foram nós. Eu sentei com a Annie numa poltrona quase no meio do ônibus, Luke e Nikky na frente de nós. - Está tudo bem? - perguntei a Annie. - Acho que sim. - Você tem certeza que foi aquele cara? -Tenho sim, eu vi ele dizendo quando fui no dia anterior na empresa dele com minha mãe, ele estava dizendo que ia matar quem tinha roubado ele. - E como você soube que ele mandou matar? - Algum tempo depois que meus pais morreram, fui saber que o acidente e a morte foi mandado por aquele cara que queria se vingar por meus pais terem roubarem ele, mas não foram eles. Anos depois um dos sócios acabou roubando a empresa deu um golpe tomando o cargo mais alto na empresa e assim disse toda a verdade. Com isso a quadrilha ajudou o cara que eu matei e fizeram com que ele prestasse serviços até se recuperar e voltar com uma outra empresa e tomar conta de uma das oito maiores grandes empresas da cidade. - Nossa. Entendi agora, mas me diz, por que você fez aquilo? - Não sei, veio na minha cabeça aquela coisa estranha, uma sensação de ódio, queria me vingar pelo que ele fez com meus pais, acabei estragando tudo, me desculpa, não queria que acabasse assim. - Está tudo bem agora, já passou - Eu abracei ela, que começou a chorar baixinho no meu peito. As coisas estão começando a ficar sérias e fora do lugar. Primeiro com o sequestro do meu pai e agora a Annie matando esse cara, pode ser loucura isso tudo, posso estar sonhado ou sei lá, mas temos que seguir em frente e entregar o maldito dinheiro até as onze, se não, nem sei o que pode acontecer conosco.


TAXISTA Estação Zona Oeste, a terceira maior estação da cidade. É mais ou menos umas seis da tarde e o horário de pico deixa as pessoas mais estressadas e agitadas do que o normal. Saímos do ônibus e fomos para uma lanchonete bem pequena da estação, pedimos um salgado e refrigerante para cada um de nós. - Cara e agora? Podemos ser assaltados a qualquer momento! Disse Luke já devorando seu pastel de carne. - Não podemos vacilar de ficar aqui, a arma está com você Drake? Nikky dizendo baixinho, tentando fazer com que Annie não ouvisse. - Está aqui na mala, mas fique quieto. Annie está bem diferente, quieta demais, ela não é assim, é bem humorada e fala bastante. Aquilo na rodoviária mexeu muito com ela, talvez toda essa pressão a deixasse assim. Acabamos de comer, já passa das seis e meia e as pessoas apressadas indo e


vindo desembarcando e embarcando nos ônibus. Sinceramente, nunca tinha percebido, o tanto que as pessoas nem se olham nesse mundo corrido, louco e tecnologicamente avançado. Na cidade não existem muitos automóveis devido a lei que incentiva o transporte público, barateando bastante as passagem e um serviço excepcional, aliás é o melhor serviço de transporte público de todos os tempos, praticamente todos usam o transporte. Até por que economizava bem, apesar de todos serem ricos, milionários, bilionários, era uma típica cidade de qualquer um gostaria de estar e viver pelo resto da vida, até agora. Não vejo a hora de entregar esse maldito dinheiro e recuperar meu pai acabando de vez com esse peso que carrego comigo. Sabe, aquela sensação de agonia, de você estar prestes a levar um susto ou perder alguém que goste? É a mesma sensação, mas de um jeito muito pior, não sei explicar direito, jamais sentira isso em toda a minha vida, é uma tortura. Eu paguei o lanche de todos, afinal só quem tinha dinheiro ali era eu. Procuramos novamente a bilheteria por entre os enormes corredores, que estão cheios, dificultando a nossa visão ampla da estação. Andamos um pouco pela estação com o coração na mão. - Ali a bilheteria. Nikky avista bem no centro da estação, que fica ao lado dos banheiros, um enorme corredor que dá para plataforma de acesso aos ônibus. Chegamos e pedimos quatro passagens para o metrô na zona central da cidade. Nossa intenção é: Pegar o metrô e chegar na zona norte o mais rápido possível. - Não temos mais passagens por enquanto. Disse a moça que vende as passagens. - Ahn? como assim não tem mais passagens? – Protestou Luke - Precisamos ir até a central, você não está entendo, a coisa é muito séria moça! - Sinto muito senhores, o sistema travou e bloqueou todas as passagens, estamos tentando concertar este problema, pode ser que leve minutos, ou até mesmo horas, não temos previsão, sinto muito pelo constrangimento, caso quiserem comprar pela internet podem ficar à vontade em tentar... Todos na fila falam, chingam e ameaçam denunciar aos oito grandes. - Que droga, agora ferrou tudo! – disse Annie encostando na parede ao lado da bilheteria. - Temos que ir a pé agora? Não dá para acreditar. Nikky começou a andar de um lado para o outro. Nos sentamos em dois bancos bem no centro da estação, Annie, Luke e Nikky


sentaram enquanto eu me agachei com a mala no chão. - Calma gente, vamos resolver isso – Disse eu entusiasta demais. - Sei não, temos quinhentos milhões de Monos dentro desta mala cara - Nikky abaixando olhando para minha cara e alterando sua voz – Estamos correndo risco de vida, se é que você se importa com a gente. Encarei, ele não pode estar me provocando logo nesta situação. - Só raciocina Drake, a Annie matou aquele cara, por essa droga de dinheiro e agora nós estamos aqui sem nenhuma saída, prestes a sermos mortos nessa droga de estação. - Você quer saber minha opinião quanto a isso? Dane - se, estou nem ai cara, eu odeio meu pai, eu nem sei o por que estou fazendo isso, ele é ganancioso, quer tudo do bom e do melhor, enquanto minha família está lá sofrendo, naquele calor infernal, você acha mesmo que eu queria estar nessa merda? Ah vai se danar. – Cuspi nos pés dele e sai. Andei até o banheiro. Entro e vejo dois homens não muito magros com óculos escuros, não sei para que, pois já são quase sete da noite, não é necessário óculos escuros em um horário desses, você concorda comigo, não é? Abri a torneira e me olhei no espelho. - Que início de noite - pensei. Estou colocando todo mundo em risco por causa do meu pai, aquele velho, nem sei o por que estou fazendo isso. Ele não merece ser salvo pelo que fez com minha família e pelo cara que nos ajudou. Eu devia matá-lo, estou cada vez com mais ódio dele, se bem que ele é meu pai eu sei, mas é complicado isso. Que droga o que estou dizendo? A mala está lá fora, meus amigos estão lá, preciso fazer alguma coisa, sair dessa, mudar essa situação, vai ficar bem mais puxado daqui para frente, mas eu preciso agir. Respirei fundo, lavei o rosto, peguei o papel toalha e enxuguei. Minha expressão de preocupado, todos podem notar de longe. Saio quando mais um cara entra, acabei me esbarrando, mas nem olhei para trás. - Onde você estava? – Luke perguntou com a mala em seus braços. - No banheiro pensando em alguma coisa – disse eu sentando no banco. - Vamos então? – Nikky perguntou. - Para onde? - Pegar um taxi é a nossa única opção agora – Nikky falando para Luke. Saímos daquele lugar barulhento e cheio de gente e seguindo para a avenida.


A cidade é bem iluminada e dá para ver a chuva que faz por cima da cápsula de proteção. Uma atmosfera negra, um ar pesado e assustador cobre nós. Estamos na beira de uma avenida bem iluminada, com alguns arranha céus, um viaduto, alguns carros passando e nada de taxi para nos tirar daqui. Annie sempre fica ao meu lado, não sei por que, mas temos uma ligação forte, sinto que tenho uma obrigação em ter que proteger ela, de cuidar. É, pode ser que esteja gostando dela, nem sei, afinal tirei ela das ruas praticamente, e a levei para o Under. Naquele dia que vi ela, embaixo daquele viaduto, toda suja com apenas um lençou amarelo pela poeira dos automóveis, me senti na obrigação de fazer ela bem, de arrumar um jeito de deixar ela bem, e colocá-la em algum lugar. Mas já Luke e Nikky é bem diferente, são irmãos que eu nunca tive, junto com a Annie, foi tão engraçado quando parei para pensar, eles estavam ali de frente para mim, me ajudando com essa ideia maluca de poder ajudar as pessoas em volta do mundo, a melhorar seus lares, a pôr a comida todos os dias na mesa de bilhões de pessoas, a ver o mundo agradecendo, foi e é muito gratificante. Mas agora sentimos que estamos numa fria, não é normal, saímos loucamente para sermos talvez mortos e sabe lá mais o que, por causa de uma mala repleta de dinheiro, eu particularmente não acho nenhuma satisfação em fazer isso. Eu só espero que quando isso acabar, nós voltaremos a ser realmente amigos e não tenhamos mais medo de absolutamente nada. Um carro veio estacionando vagarosamente, nenhuma sinalização de táxi no teto do automóvel, somente um adesivo na lateral direita dizendo “taxi” e mais nada, o que é muito estranho. Luke se abaixou e o vidro desceu, mostrando um homem que aparentava ter no mínimo quarenta anos, barbudo, com uma camisa xadrez de frio e uma calça. - Estão esperando alguém, ou um taxi? – disse o homem barbudo. - Sim, deu pane no sistema e não tem mais passagens. – Disse Luke com meio receio do suposto barbudo taxista. - Entrem ai, sou taxista a dezesseis anos, conheço bem esse “sistema” que dizem ter a estação, toda semana é assim, não se preocupam, entrem, vamos. Nos entreolhamos, Nikky fez um gesto para entrarmos, por sinal era a nossa única esperança. Entreguei a mala para Luke que sentou com Annie e Nikky atrás e eu fui na


frente com o taxista. - E ai, onde vocês estão indo nessa noite estranha? Já repararam que está vazando uma goteira lá em cima da cápsula? – disse ele olhando para o lado de fora do vidro da porta. - Não chegamos a reparar isso não - Eu me inclinei para frente e vi um pouco de água caindo de cima da capsula para dentro da cidade. Parece ser um problema sério. - Isso não é nada, um dos oito grandes podem resolver isso amanhã rapidinho. – O cara me olhou friamente. - Queremos ir para a estação central do metrô – Annie cortou na hora a conversa. - Sim, vamos então. Alguns quilômetros a mais e eu já me sentia agoniado com o cara olhando para a Annie segurando a mala, a quatro quilômetros da estação do metrô eu fiz o que não era para ter sido feito. - Qual é a sua cara? Por que está olhando tanto para trás? – Disse eu bem irritado. - Como assim, qual é a minha? só estou achando estranho aquele carro vindo logo atrás da gente, está na nossa cola desde a rodoviária, não repararam? Olhamos para trás, um carro preto, desses bem modernos. - Olha só, vou cortar para essa rua – Disse o taxista apontando para uma rua a nossa direita. Cortamos para a rua e meu coração parece que vai saltar pela boca, estou preocupado com essa mala no colo da Annie. - Está vendo? Estamos sendo perseguidos. O que vocês tem nessa mala? Droga ou dinheiro? não quero morrer por causa de vocês. O motorista começa a suar. - Falta muito para a estação do metrô? – Disse Nikky com a mão na porta. - Agora tem uns dois quilômetros e meio, por que? - Vire nessa rua, agora! - Eu apontei o dedo para a rua a nossa esquerda e gritando para o taxista. O homem ficou trêmulo e branco, tive a impressão que ia explodir uma bomba dentro do carro. Entramos em um beco bem escuro, mas deu para ver a saída no outro lado.


- Corre ele está se aproximando – Luke encostou na porta a direita e com os olhos vidrados para o carro de trás a uma distância de apenas dois metros de nós. - Pisa no freio, agora, vai! – eu disse colocando a mão sobre o painel e dizendo a quinze centímetros do rosto suado e branco do taxista. Ele freiou e fomos com tudo para frente, a mala que estava no colo da Annie, quebrou o zíper como o impacto e atirou os maços de dinheiro por todo o canto do veículo. Batemos no carro que ficou saindo fumaça de seu motor. O motorista do nosso carro acelerou drasticamente e em instantes estávamos na rodovia indo em direção á estação metroviária. - Então eles estão atrás da merda desse dinheiro e vocês me colocam nisso? Não dá para acreditar, eu tenho problema do coração sabia? - Me poupe, vamos pagar depois. - Sei ... Recolhemos todo o dinheiro que ficou espalhado pelo carro. Cada nota daquelas poderia nos matar a qualquer momento, e quase nos matou agora, foi por pouco. Chegamos a estação do metrô central. O motorista nos cobrou o dobro do preço que eu achei até justo e saiu cantando pneus. Encostamos um pouco num muro baixinho que ligava a parede da estação com a calçada da rua, que está numa sujeira só. - Ufa, vocês estão bem? – disse eu sentando pesadamente. - Acho que sim, cara que noite é essa...– disse Nikky para mim, depois da nossa “discussão” na estação de ônibus na zona oeste. - Será que foi embora aquele carro ou está por ai, procurando agente? - Sei lá, temos que entrar e pegar o metrô, vamos! – Disse Luke para a Annie. O metrô realmente está sujo. Descemos as escadas e não tem ninguém em plena as oito e quarenta da noite, nesse horário chove de pessoas, bem até a uns dias atrás, mas agora nada, nem


um cachorro resta neste imenso lugar. - Cara, isso não está me cheirando muito bem – Disse Annie me entregando a mala. - Vamos pular a catraca e ir mais para frente, talvez não é nada demais Nikky disse já pulando a mesma. Alguns passos há mais e chegamos onde é o local de embarque dos passageiros. O lugar está completamente vazio e sujo, digo, tudo quebrado, revirado, coisas no chão, malas de viajem parecida com a nossa jogadas com objetos pessoais, algumas passagens rasgadas no chão, uma das bilheterias fechada, resolvemos ir lá dentro, para ver se tinha alguém. A porta está emperrada, Luke deu um ponta pé que acabou quebrando aquela coisa esfarelada comida pelos cupins que se chama porta. Dentro está mais desordem do que no lado de fora, duas mesas estão no chão quebradas, os computadores ainda saem faíscas, parecendo que quem fizera aquilo tinha saído não havia muito tempo. Papeladas no chão, blocos de bilhetes de passagens, tudo rasgado. Olhei para todos e fiquei sem o que dizer. - Que ótimo, ficamos sem metrô, eita noite perfeita. Annie assoprando seu cabelo comprido até o pescoço, um pouco raspado atrás e preto. - Calma gente, não é o fim do mundo. Vamos lá fora ver se tem alguém. – Disse Nikky coçando sua careca. - Espera, vocês acham mesmo que não tem ninguém aqui? – disse eu. - Você está vendo que não tem ninguém cara, como é que pode ter? alguma coisa, ou uma manada de elefantes passaram aqui e fizeram essa baderna toda, vamos ver outra maneira de chegar a zona norte. O telefone toca neste momento, mas não era o telefone que é vendido dentro da cidade, que todos os oito poderosos grampeiam todo mundo. É o telefone do Under, que por sinal não fazia ideia de quem poderia ser. - Alô? - Disse eu - Fala cara, sou eu o Pulser. - Fala ai. - eu fiquei surpreso. - Mano, tivemos uma ideia muito louca, estamos aqui na zona leste da cidade, cara você não vai acreditar. - O que você fez? - Vamos começar o nosso show aqui na Praça Da Leste, a maior praça daqui da região, você sabe, não é?! - Como é que é? Vocês estão loucos, se os oito grandes baterem ai, vocês estão mortos. - Esquenta não cara, ha ha. Tem uma galera aqui, que colocam para correr. Ai


bem que vocês poderiam vir aqui, heim? - Mas agora? - É cara, temos altas ideias para o tráfico, uma melhor do que a outra e que vão ajudar vocês nessa, se liga, vem aqui agora, curte o nosso som e depois nós sentamos, a galera está esperando vocês. - Cara, não sei, acho que não vai dar, estamos meio enrolado aqui. Estou com o Luke, Annie e o Nikky, talvez damos uma passada ai, depois. - Beleza então cara, e, ó, vem mesmo, heim, maior doideira, ha ha, Valeu!

Desliguei e sentei num resto de uma cadeira atrás de mim. É uma boa ideia nós irmos para esse show na zona leste, até por que ganharíamos mais tempo e pensaríamos em talvez uma estratégica para chegar mais rápidos ao esconderijo do sequestrador, até mesmo levar mais pessoas para que pudéssemos pegar esses sequestradores e recuperar meu pai, uma espécie de segurança a mais para nós. Sim, é uma ótimo ideia, mas como vamos chegar lá sem metrô? - O que foi Drake? Não diga que aconteceu mais uma coisa. Luke disse com um olhar de desesperado. - Não, nada disso, pelo contrário. - Como assim o contrário, então é coisa boa, conta logo – Nikky empolgado. - Era o Pulser, estão fazendo um som em plena praça principal da zona leste da cidade, e nos chamou para irmos para lá. Querem nos dizer algo para ajudar o tráfico, não antecipou nada, mas tem muita gente lá – Disse eu me levantando e pegando a mala que deixei no chão. - Cara, até que enfim uma notícia ótima, vamos para lá então – Annie se entusiasmou. - Podemos bolar algum plano ou algo do tipo e pedir ajuda de mais gente para irmos a zona norte, sei lá. – Luke deu a ideia do que eu acabara de pensar. - Eu tinha pensado nisso, mas é perigoso demais, mas não é má ideia, vamos tentar ver se tem mais algum metrô, talvez consigamos sair daqui agora – Disse eu já indo para fora daquela minúscula sala. Muito estranho ver todo o metrô sem ninguém, a sensação de medo aumenta. Já não podia sequer imaginar o que poderia vir daqui para frente, além do medo, a insegurança de ter uma arma dentro da mala me preocupa. Recuei enquanto os outros avançam a frente. - O que foi Drake, por que parou? – Disse Annie com aqueles beiços vermelho intenso e aquele Piercing que refletia a luz de cima. - Temos que pegar essa mala – Disse eu já pegando uma mala que parecia um


pouco com a que estou carregando. - Para que essa mala, cara temos que ir agora. – Nikky perto dos trilhos do metrô. - Pensa, se enchermos essa mala de qualquer coisa, podemos disfarçar e entregar a mala errada, caso alguém tente nos roubar outra vez. Disse eu enchendo a mala falsa com papeis de bilhetes rasgados, agendas e cadernos que também ajuda. - Seria uma boa mesmo, vamos tentar, pode dar certo. – Disse Luke me ajudando a colocar as coisas dentro da mala. - Gente, tem vindo um metrô ali, correm! – Nikky nos alertando. Até que enfim nossa salvação, agora vamos poder sair desse lugar estranho e ir para o show da Suicide e bolar o nosso plano. O Metrô vinha chegando e parando aos poucos, percebemos que também não havia ninguém dentro, está absolutamente vazio. Que sensação estranha que sinto, um arrepio intenso na minha coluna espinhal. Aquilo de longe era normal nessa noite barulhenta e agitada As coisas estão começando a esquentar novamente, isso não é nada bom, nada bom mesmo. O metrô parou e a porta se abriu, não sabemos se entramos ou permanecíamos parado em frente a porta. Todos se entreolharam meio confuso, quando algo lá na frente começou a bater e a gemer, era mais para gritos intensos, mas está longe demais para saber se era de homem ou mulher. O tal barulho começou a chegar mais perto, Annie se recuou, Luke parou ao lado de mim e Nikky entrou dentro do trem e olhou perplexo para o que eu não fazia a mínima ideia do que seria. - Vamos, temos que fazer algo agora – Disse Annie olhando para mim. - Espera Nikky, não se aproxime mais – Eu gritei. Nikky me olhou com medo e pavor no olhar. - Vocês ... Correm agora!! Algo quebrou o vidro do vagão do trem, um vuto me atingiu no ombro esquerdo. Não vi muito bem o que era. Cai com tudo no chão e a coisa começou a me balançar feito um louco, era tudo preto, não dava para ver. - Ei, aqui ó, vem pra cá, sua merda! – Parece Luke gritando para a tal coisa que me pegou de mal jeito e me jogou para trás. Bati com as costas em um dos bancos do vagão do trem. Nikky me segurou e me colocou sentado, fiquei meio zonzo, levei a mão na cabeça, firmei a vista para a tal coisa que está segurando Luke pelo pescoço enquanto o levantara.


É algo, não sei se é homem, mulher ou algum bicho de quase um metro e oitenta de altura, deve ser bem mais alto, pois era um pouco corcunda. Usa uma roupa que o cobria dos pés à cabeça, não consigo ver bem seu rosto, mas parece que usa uma máscara branca, não possuía nada em suas mãos, apenas fica sacudindo Luke com força enquanto Annie gritava e ameaça ir para cima dele. Nikky grita para a coisa parar, de dentro do vagão. - Filho de uma mãe! – Berrei, me levantei com sede de pegar aquilo que fazia mal ao meu amigo. Peguei a mala falsa que eu deixara cair na hora da minha queda. - Ei, seu merda! Aqui está o que você quer, não é? Ele parou bruscamente e deixando Luke cair com a cabeça no chão, fazendo ele ficar desacordado. - Não é isso que você quer? a porcaria da mala completamente lotada com os quinhentos milhões de Monos? Está aqui, pega essa merda e dá no pé daqui o coisa idiota! Não dá ainda para ver o que está por de trás daquela coisa. A máscara é toda branca, com um sinal que passa pelo olho até perto da boca que está cortada na máscara, realmente é bem grande e bem gordo por sinal. Joguei a mala há uns vinte metros para frente dele, que saiu em disparada. - Annie o Luke está bem? – Eu perguntei olhando para o tal coisa. - Acho que está, eu não tenho certeza - Só ouvi a voz de Annie ao longe. - leve ele para dentro do trem, vai! – disse eu olhando para Luke. Nossa, Luke está com a testa sangrando. Annie e Nikky estão carregando ele para dentro do vagão. A tal coisa me olhou sério, não sabia que está rindo, ou realmente sério, e de repente ele disse se aproximando lentamente. - Até que enfim eu consegui te encontrar Drake. - Já está com a mala. Agora some daqui. - Não acho vantagem nenhuma sair daqui só com esse dinheiro, você não acha também? - O que você quer então, já que não está satisfeito? - Vejamos – Ele começou a andar de um lado para o outro. – Estou pensando em sua cabeça, para mostrar para os outros o que eu posso fazer. Do que eu sou capaz. Isso me deixaria bem melhor não acha? Além da grana, teria um lugar de ouro na quadrilha. - Filho da mãe, eu não vou deixar você fazer nada – Disse eu andando para frente na direção dele. Estou começando a ficar com raiva dessa coisa enorme que nos atrapalha. - Ai ai cara, você acha mesmo que você me atinge? - Ele começou a rir


- Deixe a gente em paz, já tem a porcaria da mala, então some daqui seu merda. Isso o fez ficar com raiva e partiu para cima de mim, consegui correr para o lado, mas não adiantou, ele me pegou pelo braço e me deu um soco, fui parar no chão a uns três metros de distância. - Drake!! – Annie gritou desesperada. - Cala a sua boca garota. O cara me olhou de cima e retirou sua máscara. Não dá para acreditar que era ele, não podia ser a pessoa que nos ajudou a dar casa e emprego para meu pai. Esse cara na minha frente, ele está morto, não quero acreditar. Dei uma gargalhada nervosa. - Não pode ser você. - Você me conhece então, claro, sou um dos oito grandes, não tem como as pessoas não me conhecerem, agora você vai morrer seu merda. Me levantei rapidamente e fixei meu olhar nele. - Você é o cara, é ele, quer dizer você. - Do que está falando garoto? - Você nos ajudou a vir pra dentro da cidade quando eu tinha cinco anos e minha mãe tinha morrido, você precisava de pessoas para trabalho pesado e meu pai aceitou, já que éramos uma das principais gangues que possuía cabelos. - Nossa, que menino esperto – Disse ele sorrindo. - Mas você não é para estar vivo. - Como não? Não estou na sua frente? - Não, não – Eu estava perplexo – você está morto, meu pai te matou na minha frente no seu prédio quando eu tinha onze anos de idade, eu vi tudo. O cara paralisou olhando para mim. - É o que que você está falando? Eu estou morto? Só pode estar brincando comigo. - Não é brincadeira, eu vi, meu pai te derrubando da janela do prédio, eu estava lá naquela noite. - Ah, já entendi, não era eu, era meu irmão, irmão gêmeo. - Ahn? – Eu fiquei sem entender. - Meu irmão era quem gerenciava toda a quadrilha e ficava com a grana. Controlava tudo o que saia e o que entrava, foi ele que morreu e não eu. - Ah, irmão gêmeo – Disse eu sem reação. - Escuta aqui cara, se você tiver me enrolando .. - Enrolando com o que? Você já tem a porcaria da mala, então por que não dá um fora daqui e deixa a gente em paz? - Seu.. – Ele vindo para cima de mim. Ele veio para cima de mim e me deu um soco perto do nariz que fez ir para trás


com tudo. Consegui me equilibrar e permanecer em pé, por pouco. Passei a mão no nariz e vi que está saindo sangue. De boa, estou esgotado disso. - Vai para o inferno! – Eu gritei para ele. Virei para ele e fui em sua direção dando um soco que ele se esquivou com o braço esquerdo, com o direito me acertou no estômago, eu simplesmente cai no chão. - Se toca garoto, vocês não passam de uma merda, vocês acham mesmo que eu não sei do seu “tráficozinho”, nesse tal de Under? - Como é que é? – Eu olhei para ele furioso. - É isso ai, eu sei de tudo, foi você quem criou e seus amiguinhos te ajudam com essa palhaçada toda. - Deixa isso quieto. - Deixa isso quieto? – ele disse me dando vários ponta pés na barriga – Cara eu vou te quebrar todo, vou te levar comigo e contar tudo, depois você está ferrado, não tem mais volta. - Para com isso – Nikky veio para cima dele com um pedaço de ferro, não vi direito. Deu vários golpe na cabeça dele enquanto tentava se proteger, mas sem sucesso. Consegui me levantar e ir para o vagão, Annie está acordando Luke. - Vamos fugir daqui, me ajuda. – Eu dizendo para Annie. - Tá mais como Drake? - Vai lá para a cabine e tenta ligar o automático do trem, vai dar pra sair daqui, obviamente o trem está desligado, vai! Vi Nikky apanhando do cara, não podia estar acontecendo aquilo na minha frente, saber que tudo aquilo estava acontecendo por causa do meu pai, estava com tanta, mais tanta raiva dele que nem quero mais entregar essa merda de mala, que por sinal está bem escondida. Luke acordou e eu disse para ele ajudar a Annie, ele não entendeu o que está acontecendo mas foi para a frente do trem onde a Annie está. - Ei, seu merda, olha aqui, desgraçado! - Eu gritei para o cara. Ele me olhou e Nikky no chão gemendo de tanto apanhar. - Estou aqui, vem me pegar seu lixo. Ele vem com violência não tem nada em mãos, mas pensei na arma, posso acabar com isso na hora, mas não era certo fazer. Só tive tempo de desviar e ele quase caiu no meio fio. Consigo ir até Nikky e levantar ele, quando me virei o cara vinha com tudo para cima da gente. - Nikky levanta de pé, vai! Nikky com reação quase imedianta, levantou. Nós dois colocamos nossos pés no ar, em questão de milésimos de segundos vimos o cara caindo no chão batendo a cabeça de mal jeito.


Corremos para o vagão, fiquei procurando onde poderia estar a mala. Está num banco a frente, Nikky tenta fechar a porta, mas nem sabe que não ia funcionar. Abri a mala e peguei a arma. - Drake para com isso - Nikky disse me olhando. O cara se levantou. - Vai lá ajudar a Annie – Disse eu olhando a arma e ajeitando na mão - Cara para com isso, já chega o que aconteceu na outra vez. - Já cansei dessa merda cara, eu sei o que aconteceu e não quero que essa merda se repita, então vai pra lá, por favor. - Você está ficando maluco cara, sai dessa. A discurção me deixou louco e não vi o cara se aproximando da gente, que me empurrou com força, fazendo com que eu batesse as costas na poltrona do vagão, quase deixando a arma cair de minha mão. Nikky reagiu e foi para cima dele e conseguiu atingi-lo. Me levantei rapidamente e apontei a arma para o cara. - Sai daqui seu merda, agora. - Espera ai, não faz isso – Ele me olhou com pavor. - Cala a sua boca, sai daqui, pega essa droga de mala e some, anda – Ajeitei a arma em punho. - Cara eu tenho filho, ele está me esperando em casa, só me deixa eu ir, não quero nada - O cara se levantando e olhando para a mala. - Então dá um fora daqui - Espera ai, você tem a mala, então você me deu a errado, que merda. - Deixa ela, eu disse para você ir agora – Me aproximando mais dele. Ao meu lado Nikky se aproximou da mala que estava atrás de nós, pegou e colocou em seu braço. - Vamos, circulando, sai daqui – Eu tomando conta da situação que agora está começando a dar um resultado bom. De repente ouvimos o barulho do trem que Annie e Luke acabara de ligar. Até que enfim as coisas estão melhorando, podemos sair daqui e acabar com tudo, a mala continua protegida, só falta o cara sair do vagão para seguirmos viajem. Dei um tiro em direção a porta que atingiu o chão do lado de fora do trem, o cara levou um susto e começou a andar devagar para fora. - “Próxima estação: Zona Leste” – Ouvimos a voz da Annie na caixa de som do vagão. - Vamos! Vai saindo agora seu merda. - Falei sorrindo falso para o cara que acabou saindo sem nenhuma reação. As portas foram fechadas e o trem começou a andar, fiquei com a arma em punho até o trem desaparecer na escuridão. Conseguimos sair mais uma vez da morte, talvez nós estamos com sorte demais, íamos morrer se não tentarmos fazer alguma coisa ali na hora. Fomos para a cabine onde está Luke sentado numa cadeira pequena e Annie


ao seu lado. - E ai deu tudo certo? – Nikky perguntou. - Até que enfim deu tudo certo, deu lá atrás também, não é?!, nós vimos pelas câmeras – Annie apontando para três câmeras que estão encima no lado direito daquela minúscula cabine. - Deu sim, ainda bem que assustamos ele - Disse eu mostrando a arma. - Agora temos que tomar cuidado com isso, não quero morrer tão cedo – Disse Luke se virando para trás. - Cara controla isso aí, você está louco? – Nikky com cara de assustado. - Relaxa, o trem está em modo automático - Ah ta, agora vamos pra zona leste, estou louco pra sair desse metrô. – Eu disse saindo da cabine colocando a arma na mala.


LUKE REAGE A noite estava completamente louca, estávamos a bordo de um trem sem saber direito conduzir, todos nós estamos meio perturbados com os acontecimentos, loucos para acordar logo desse pesadelo horrível e viver nossas vidas reais. Mas não dá para acordar, não é nenhum pesadelo ou sonho, é real e temos que sair dessa custe o que custar e nem sabemos se realmente iremos sair. Chegamos na estação da zona leste, por volta de nove e vinte. Tem bastante gente, as portas abrem e saímos. Saímos do metrô olhando para todos os lados, estamos mais calmos e ligados com tudo e com todos, qualquer olhada estranha para nós é motivo de alerta. Eu percebo que não estou mais com medo e os outros também passam essa mesma sensação, estamos seguros, não é a arma que nos deixa assim, mas é algo maior, algo que estamos fazendo o certo e não somos obrigados a sentir medo, por que quem deviria sentir-se com medo e retraído são os grandes. A essa altura concerteza o seqüestrador e meu pai, estão sabendo que Annie tinha matado aquele cara na estação da rodoviária da zona sul, talvez até já saibam que colocamos para correr o de lá do metrô. Estamos indo bem sim, agora falta pouco e tudo vai dar certo, temos que ter pensamento positivo, até por que, a vida do meu pai está em risco e a dos meus amigos também, nada pode dar errado, vamos manter a positividade sempre. Caminhamos alguns quarteirões em direção a praça, o caminho está deserto demais, nenhum indivíduo passa, nenhum carro ou outro tipo de transporte. Chegamos a tal praça, uma praça grande, bem arborizada e bem iluminada. Pessoas demais para o nosso gosto. Todos aqui presentes fazem parte do Under. Alguns do Under são de dentro da cidade e outros de fora que iam para esclarecer as ideias e colocarem o papo em dia e logicamente não poderiam sequer colocar os pés dentro da Monocity. O ar agressivo e frio toma conta do lugar, as pessoas conversando, se olhando, rindo, cochichando, isso me deixa meio tonto, atordoado. Não é por nada, mas pela noite, o clima disso é fora da nossa realidade que estamos passando. Como se estivéssemos acordando de um pesadelo, caído em si que estamos realmente nessa praça e que todos aqui são nossos amigos e que vieram para esclarecer as ideias, pensar em coisas boas, ouvi um som e voltar para seus lares, enfrentando o dia a dia na manhã seguinte. Esse lugar é bom, nos sentimos a vontade, sem peso nenhum nas costas. Mas olhando essa mala pesada que estou carregando, percebo que nada disso é pesadelo, sonho, ou coisa parecida, é real e podemos aqui mesmo estarmos sendo observado por alguém, só esperando um vacilo nosso para colocar a mão em toda essa grana. - E ai galera, bem na hora, heim? – Pulser nos cumprimentou na frente do palco. - E ai, tudo bom? pois é cara, tivemos um probleminha, mas já está tudo certo.


– Disse eu escondendo a mala atrás de mim. - Mas e ai gente, que horas que é o show? – Annie no lado de Luke empolgada. - Daqui a pouco, o pessoal está lá acabando de ajeitar as coisas. – Disse Pulser apontando para os companheiros, que estão encima do palco acabando de montar a bateria. - Legal, podemos tocar também depois? – Nikky adorou a ideia. - Podem, eu acho, se quiserem podem ir lá agora. - Vamos lá Luke? – Nikky disse puxando Luke pelo braço. - E ai Drake, como está o tráfico? – Disse Pulser com uma voz mais séria. - Cara, está nos conformes. Na verdade está a mesma coisa, tudo funcionando bem. - Tenho umas ideias em mente e quero passar para vocês, acho que vão gostar. - Lógico cara, mas Drake, temos que fazer aquela coisa antes lembra? – Annie me cutucou. - Ahn? Que coisa? - Aquela que te falei no metrô, já esqueceu é? - Ah, aquela coisa. Cara ali atrás tem alguma mesa ou algo do tipo? Temos que anotar umas coisas – Eu disse para Pulser, que ficou boiando na conversa. - Claro, tem um banco, se bem que não é uma mesa, mas serve para alguma coisa. Nós temos que organizar as coisas, a chance de pensar em algum plano é agora, chamar alguém para nos ajudar, arquitetar um esquema para chegarmos mais rápidos e direto onde está meu pai. Ajeitamos o lugar que é mais uma imundice, algumas latas pelo chão, sacos, garrafas de bebidas e várias outras coisas que nem é bom citar. Viramos um banquinho que mal dá para sentar, colocamos a mala no chão bem do nosso lado. Annie conseguiu um pedaço de papel e uma caneta que estava encima de uma caixa de som no palco. - Cara ainda dá tempo para entregar a mala é até amanhã as onze da noite, vai dar tempo – Annie disse me acalmando. - Eu sei, mas não dá simplesmente ir para casa e ficar lá esperando. Os oitos grandes estão atrás de nós, só estou preocupado depois de tudo isso acabar. - O que é que tem depois? Vamos estar muito bem depois, vamos poder voltar a nossa vida normal. - Você acha mesmo? Eles sabem que somos nós que estamos roubando a comida, irão nos pegar e sabe lá o que fazer conosco, acho que tenho uma ideia em mente. - E qual é a sua ideia? Matar todo mundo, é? Até por que essa é a única opção que nos resta. - Não é isso. Ah esquece Annie, nem sei. - Calma vamos resolver, vamos ficar aqui e esperar até amanhã, bem cedo pegamos um ônibus que vai até o centro e de lá um metrô que dá até a norte,


depois vamos apé e acabamos logo com isso. - Você acha que é fácil assim, não é? já basta o que aconteceu hoje. Não quero ariscar mais. - Então o que você quer Drake? - Vamos hoje, assim até de manhã bem cedo já estamos lá e acabamos com isso. Luke e Nikky chegam de repente e levamos um susto. Nos chamaram para ir para frente que o show iria começar.

A parte da frente do palco não dá para passar nem uma agulha, ficamos mais na lateral esquerda do palco, esperando o show. Por um milésimo de segundo tive a sensação de estarmos sendo vigiados a distância, isso fez com que eu ficasse nervoso e aflito, Nikky me cutucou pedindo se está tudo bem comigo, disse que sim, mas ele deu para notar que não tinha nada certo e começou a observar bem a área. - Cara, relaxa, não tem ninguém aqui. - A essa altura a cidade inteira já está sabendo desse show, os oito grandes iram mandar um pessoal para cá, para ver o que está acontecendo. – Disse Luke se aproximando mais da gente. - Acho melhor agente ir embora daqui, ou se esconder em um canto. – Disse Annie observando também aflita. - Vamos ver o que dá, talvez até acabamos com mais algum –Eu disse olhando fixamente para o palco. O show começa, o pessoal começou a pirar. Annie fica inquieta demais, agarrou no braço de Luke e começou a roer a unha, Nikky já fica mais calmo e se juntou com três pessoas bem a frente ao palco. A Sucide está fazendo o que jamais esta cidade viu, fazer um som em plena praça para todos verem e com músicas de protestos contra a própria cidade, isso é total absurdo, mas vale realmente a pena, saber que criei esse Under, mas que isso não importa, pois cada um aqui está fazendo a sua parte e principalmente fazendo história, talvez um dia teremos uma cidade mais justa, um mundo mais justo e bom para todos, mas que neste momento só poderemos ficar na observação, a noite não é uma das melhores, não para gente. Peguei o celular para ver a hora, passa das nove e dez. Annie fica mais solta, porém observando, Luke faz o mesmo. Já o Nikky agitando lá na frente, bem, eu estou com a mala junto com o Luke.

De repente as pessoas que estão no fundo começam a se manifestar, a gritar, parecem que estão empolgadas, correndo para todos os lados. Mas não os via direito pelas cabeças na frente, mas as pessoas não estão fazendo isso por que querem, estão correndo de algo, atropelando quem está na


frente e saindo de qualquer coisa que ali permanece. Cutuquei Luke que olhou fixo para o pessoal sem entender direito o que era. A multidão cada vez mais grita e dessespera, Annie puxou a mala e colocou em seu braço. - Vamos sair daqui agora – Disse ela tomando uma atitude. Eu gritei ao Nikky mas ele não ouviu direito e acenou para mim. Tiros ecoam ao fundo, o lugar se torna um inferno, as pessoas correndo para todos os lados, sem nenhuma direção. Nós quatro, se juntamos e ficamos bem ao lado do palco esperando o pior acontecer. - Gente vem comigo, agora – Emy, a vocalista da Suicide, nos gritou no fundo, Corremos com eles para trás do palco. A banda pegou somente uma guitarra e o baixo velho e nós fomos para fora da praça, na rua centenas de pessoas correm, ouvimos vários tiros e Pulser nos conduzira para uma rua atrás de um mercado bem escuro. Todos ficam em silêncio por alguns instantes, trocas de tiros ecoam na rua ao longe sem nenhum controle, gritos das pessoas, a correria aumenta cada vez mais. -Temos que sair daqui, não dá para ficar desse jeito - Disse Emy abaixada bem atrás de mim. Estamos em sete, algumas pessoas conseguiam escapar e passando em nossa frente, mas nem nos via. - A nossa única saída e passar nesse inferno é sair daqui. - Disse Taylor me olhando. - Mas passar nesse tiroteio? É morte, sem dúvidas. - É a nossa única saída, daqui a pouco eles iram nos descobrir - Disse Nikky. - E pegar essa mala não vai ser legal, deve ser um dos oito. - Annie dizendo roendo as unhas que por sinal já nem existe mais. Ela não tinha essa mania. - Vamos! - Disse Pulser pegando na mão de Annie e a puxando forçando ela a correr pela rua. Seguimos ele, a rua está completamente destruída, latas de lixo jogadas, vidros de janelas e de portas quebradas, pessoas loucas, gritando e pedindo ajuda de Deus, o caos toma conta da situação. Pulser parou e encostou no muro e abaixamos perto de uma lata de lixo tentando nos proteger, mas que na verdade não protege nada. Vimos pessoas a frente com armas em punho, algumas atirando para todos os lados. - Agora vai ser difícil passar nesses caras, olha a altura - Nikky apontando para um cara alto e gordo socando uma pessoa que bate contra um vidro de uma loja e desaba no chão desacordado. " Calma gente, estamos aqui só para pegar quatro pessoas com uma mala


preta em mãos" Ouvimos alguém dizendo encima do palco, nos microfones. - Agora ferrou - Luke disse se levantando - Abaixa seu idiota - Annie ficou furiosa - Não está vendo a situação? quer piorar mais ainda? - Gente o que vocês tem ai dentro dessa mala? - Taylor apontando - Quinhentos milhões de Monos - Eu esgotado disso. - Vocês estão malucos? roubaram de quem? - Taylor não aguentou - vamos ser todos mortos, estou até vendo meu enterro. - Para de drama cara - Falei para ele. Agora a situação fica completamente perdida. Eu não poderia simplesmente pegar a arma na mala e atirar naqueles caras, tem muitas pessoas. Falar a verdade nem sabia o que irá acontecer e o que fazer. Do nada vi um vulto do Luke que passou para minha frente. - Drake me dá a mala. - Para que cara? não vai estragar tudo! - Eu sei o que estou fazendo, confia em mim ao menos uma vez! Ele me olhou tão sério, que vi seus olhos negros atrás desse óculos escuros redondo. Percebi que ele sabia realmente o que fazer. Dei a mala para ele que pediu para seguí-lo. Fomos caminhando vagarosamente pelo muro, percebemos que quem está no palco nada mais é do que o quinto homem mais poderoso da cidade, sendo chutado e levando socos das pessoas que se revoltaram contra ele e contra tudo o que ele tinha causado para todos. Conseguimos chegar perto do palco bem ao lado da rua e somente algumas pessoas que estão lutando contra três caras que eu calculei que são os capangas do quinto bilionário. Pulser e Taylor foram para baixo do palco. Annie, Nikky eu e Luke avançando cada vez mais até os três capangas. Um deles nos viu e atirou. Luke em questão de segundo virou para o lado e correu para o palco com a mala em mãos. Nós três conseguimos por sorte ficar atrás do muro no limite entre a rua e a praça, mas que não era assim tão alto. Ouvimos um ruído horrível nos alto falantes e a voz de Luke ecoou. "- Eu estou com a porcaria da mala aqui repleta da grana, mas estou com uma arma, quem vier pegar essa merda que venha sem rosnar"


Todos olham para ele, que está com a mala no braço e arma em punho. Pulser e Taylor foram para baixo do palco, Pulser olhou para nós e acenou para que permanecemos no mesmo lugar, sem se mexer. - Calma, calma, eu só quero a mala e sair daqui, somente isso. O quinta bilionário, que deve ter seus cinquenta e poucos anos disse se aproximando na lateral direita do palco. - E quem garante isso? - Luke apontou a arma para ele. - Eu garanto, só quero isso e mais nada, não quero causar mais problemas, olha todo esse estrago. - Sei, sei... seu idiota foi você quem causou tudo isso, se liga. Enquanto isso, vi Pulser e Taylor arrancando uma tábua do palco, fazendo assim uma passagem para ver o Luke por cima. Os três capangas estão com as armas apontadas na direção de Luke, era três contra um, isso não tem saída.

A noite começou a pesar. Meus olhos começam a coçando, me sinto exausto e o corpo, super dolorido. Logo ali, nessa hora tão importante, nesse instante percebi que estou completamente perdido e confuso.

- Então manda seus capangas abaixarem as armas e colocarem no chão a uns cinco metros de distância - Disse Luke apontando para eles. - Caramba, mais que merda, andem, fazem o que ele está dizendo. Os três colocaram as armas no chão e ficaram afastados, para trás - Vamos, me dê a mala. Disse o homem de um metro e sessenta, meio gordinho e o quinto mais rico.

Luke olhou para o chão, virou - se para o cara, e foi simples, atirou sem perdão.

O quinto bilionário caiu no chão com as mãos em seu ombro esquerdo. Annie saiu do lado de Emy passou pela minha frente e foi em direção as armas que os três capangas deixaram espalhadas pelo chão. Conseguiu pegar uma e jogar outra para mim, enquanto os dois dos três caras foram socorrer o bilionário. Atirou acertando a perna de um dos três que correu para tentar pegar a arma que sobrara.


Eu consegui atirar contra ele, acertando bem na coxa. o terceiro capanga permaneceu com seu chefe.

Atrás de nós, Luke descia do palco e vinha em nossa direção com Pulser e Taylor - Vamos deixar eles aqui morrendo? - Disse Emy inconformada - Por que não? eles quase nos mataram! - Disse Annie com raiva - Não. Vamos ligar para o hospital para trazerem uma ambulância. - Disse eu enquanto todos me olharam como se eu fosse um alienígena e não soubesse do que estava fazendo - Vem alguém aqui para me ajudar a colocar o cara encima do palco, vamos! Todos ajudaram Luke a colocá-lo encima do palco, está sangrando muito, afinal de contas recebeu um tiro, não é? Temos que sair daqui, pois em poucos minutos uma ambulância virá e não podíamos esperar o pior vir.

UM PADRE GENTIL APARECE Estamos aqui mais uma vez, completamente sem saber para onde ir. Correndo pelas ruas sem direção, somente tentando fugir. Não podemos continuar com a suicide, iram nos ajudar muito, eu sei, mas é


arriscado demais para eles, e a responsabilidade é minha levar a mala até o sequestrador. Eu sei que não vão gostar ... - Mas cara, vamos poder ajudar vocês! - Pulser realmente queria nos ajudar. - Não. Não queremos arriscar vocês. - Por favor, já está difícil isso, não vamos complicar mais, não é? - disse Annie séria. - Está certo, gente vamos, não é nossa responsa, vamos acabar atrapalhando. Heim, boa sorte para vocês, tomem cuidado, por favor. Emy já puxando-os para trás. Eles voltaram para o Under para se esconder de tudo e de todos, mas sabia que Pulser já está pensando em algo, talvez só era maluquice minha, mas sei lá, não custa pensar. Bom, agora precisamos seguir. Há um bom caminho pela frente. Paramos numa rua deserta, somente prédios e uma pequena neblina. Tenho uma sensação louca, nunca tinha visto qualquer tipo de espécie de neblina na cidade, cocei o olho para ver se era minha visão que talvez estaria embaçada, mas infelizmente não era. - Gente, isso é estranho - disse Luke encostando em um muro alto e cinza. - O que foi Nick? - Eu perguntei. - Olha aquilo!! Olhamos diretamente para um clarão na rua, uma coisa se mexe na neblina, vem em nosso direção. A tal coisa está andando torto puxando a perna e baba bastante, era muito nojento, cada vez que chega mais perto, mais o ar cheira a podre. -Gente o que é isso? - Annie perguntou colocando a mão no nariz. -Aquilo parece ser um cachorro, mas podre, catingando e com certeza esqueceu de morrer- Realmente Luke tinha razão. Um enorme cachorro aproxima de nós todo sujo, tem alguns pedaços de sua própria carne penduradas pelo corpo, aquele mal cheiro embrulhava nosso estômago, horrível, parece ser um zumbi cachorro ou pode chamar o que você quiser. -Gente o que vamos fazer? que coisa mais nojenta.- disse Annie se escondendo atrás de Nick. -Vamos ficar quietos, talvez ele não nos veja. - eu falei com nenhuma empolgação. O bicho começa a rosnar e soltar uma baba escura quase um sangue vivo, uma coisa de outro mundo. Nós começamos a andar para trás, a encostar em um muro alto e todo sujo daquela cidade enorme, vazia e fria, sem contar dessa neblina super esquisita que pairava.


O bicho aproxima cada vez mais, Annie já fica em pânico, eu mal sabia o que fazer. Enfim reagimos, Luke gritou e foi para cima do bicho, que atacou seu braço e fez um corte não muito fundo. Tive que ir contra a fera e consegui socar nas costas que o fez desabar no chão, mesmo assim não parou de rosnar e a latir. Um latido cansado ao mesmo tempo parece com algum animal que pede socorro para gente. Não entendo muito o por que essa coisa atacando, mas é melhor nos defender do que esperar o pior acontecer. -parem! não machuquem o cachorro por favor. Ouvimos uma voz bem ao longe, uma voz de um idoso, quase pedindo clemencia. - parem! não é por que ele quer, é o Deus, vocês não vão entender! Nós não entendemos mesmo nada, nem sequer conseguimos ver quem era a pessoa. O cão continua a atacar mais intensamente. -Vai Drake faz alguma coisa! -Annie grita, enquanto o cachorro rasgou a camisa de Luke, que grita pedindo ajuda. Consegui pegar uma pedra da calçada e arremessar com tudo encima do cão, fazendo com que largasse Luke e caísse novamente no chão. -Parem, não fazem isso, por amor ao Kaonashi! Um cara surgiu por entre a neblina cinzenta. -Quem é você? - Nick olhou assustado para ele. -Não sou ninguém! só não quero que acabem com esse pobre cão, não viram que acabou de ser ofertado ao nosso Deus? - De quem você está falando? Está ficando maluco é isso? - achei estranho demais. Agora já não entendia mais nada, tudo bem que dá até para tentar entender o por que de esse cão nos atacou, pode ter tido a impressão que nós estivéssemos intimidando ele, até concordo com isso, mas o que esse cara está falando? que "Deus" é esse? Kaonashi? que diabos é isso? Só sei que está estranho. -A quem o senhor está se referindo esse Deus? - Perguntei - Nosso senhor, aquele que nos fortalece e nos dá tudo o que nos foi pedido. Todos nós somos muito gratos a ele, foi ele que nos salvou do pior, que nos tirou da lama, vocês não conhecem? ah, faz me um favor. - Cara, de boa, não estamos entendendo o que você está nos dizendo, parece até que está falando outra língua, qual é, fala certo! - O caos está vindo, nosso Deus renasceu, o inferno já foi, iremos viver o milagre de uma vida medíocre e destinada a sofrer! O cara fala e se afasta de nós cada vez mais levando o cachorro. O que ele quis falar com aquilo? só pode ser praga que está jogando contra a gente, credo!


Algo está mudando, ou alguma coisa abriu meus olhos, não estamos mais na Monocity, a cidade não é da mesma intensidade do que era antes. As coisas mudaram, as pessoas desapareceram, ficou fria, sem valor e o céu perdeu sua cor. Em cada esquina algo podre permanece no ar, vemos alguns animais mortos pelo chão, alguns caminham lentamente, todos desconfigurados, rasgados, quebrados e mutilados. A noite permanece de pé quebrando nossos ossos, cada passada longa que damos é descobrir algo de novo que nunca sonhávamos em existir. Acostumados com a mesma rotina rápida e fora do lugar, assim era antes desse inferno começar, temos que nos fortalecer para não cair, desabar no chão? nem pensar, unir as forças para tudo mudar, era o nosso lema, estamos quase terminando, eu acho. Estamos caminhando rápido demais para não encontrar nada, nem uma única pessoa para saber para onde ir ou onde é que estamos pisando, literalmente não sabemos onde estamos, confuso demais para entender. Avistamos na frente uma pequena igreja antiga, parece ser do século dezessete ou sei lá qual, tipo daquelas da extinta França. - Cara, de boa, nunca vi uma dessas não por aqui, já vi uns destroços no lado de fora da cidade, mas aqui nunca. - Disse Luke. -Vamos entrar para ver como é dentro? nunca entrei em uma também - Annie falou empolgada. Por incrível que pareça a porta está encostada. -Alguém andou fazendo coisa errada aqui, só pode - Nicky se apavorou vendo o sangue jorrado nas paredes. Annie se segurou em mim. -Cara não é muito interessante ficarmos aqui. Vai que tem alguém aí e tal, entendeu? - perguntou Luke. - Calma gente, vamos sentar e descansar um pouco, acho que todos estão exausto, não é? - Eu disse tentando acalmá-los. Estamos muito nervosos, mas por um segundo aquela igreja me fez reverter isso, pelo menos eu me sentia bem ali, era como acabasse tudo e estivéssemos acordado de um pesadelo. Mas sabia que não era assim, logo que vi no rosto a preocupação de Annie, Luke e Nick, que se sentam no banco dessa minúscula igreja. A noite continuava louca, não via os animais, mas o céu não era o mesmo, aquelas montanhas nunca existiu ali, aqueles clarões no céu avisava que uma


tempestade forte vinha do lado de fora da cidade, não nos importava muito, pois aqui dentro só chove quando os líderes quisessem e precisassem. Aos poucos ouvimos alguns ruídos, uns barulhos estranhos. Todos se entreolharam, quase fazendo xixi literalmente nas calças. Por falar em xixi, não faço isso desde que briguei com o Nick lá na estação e justo agora dá está vontade? sacanagem, só resta rezar para passar à vontade. Annie se escondeu atrás de Nicky que se mantem firme sem tremer, como de costume nessas ocasiões. Nesse momento, fui perceber, todos aqui estão mais fortes, cada vez mais preparados para o que der e vier, mas será que eu mudei? e se mudei, o que foi para melhor? perguntas sem respostas. O som se torna cada vez mais forte, mais agudo e mais vivo, um som de pesados passos largos, cansativos e apressados. Os nossos rostos começam a suar, se derreter, como se fossemos morrer a qualquer momento de um enorme susto. Mas veio a surpresa de que ninguém esperava e talvez a nossa salvação, um padre gentil e sorrindo aparece!


SEM ROSTO

Obrigado por Ler esse livro. a continuação será em breve. para maiores informações acompanhe o autor nas redes sociais:

@Alanmaronib

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