Caligrafia da rua

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Alan Martins Ferreira Lopes

Belo Horizonte|MG

UEMG


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Lopes, Alan Martins Ferreira Primeira edição do livro Caligrafia da rua por demanda da ED Design gráfico 5º Período como parte da obtenção de nota. Trabalho Orientado por: Daniela Martins e Ricardo Portilho em PRATICA PROJETUAL III . Design Editorial . 2016 Cláudio Santos em MATERIAIS E PROCESSOS DE PRODUÇÃO II . Produção Gráfica . 2016


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Maru, Goma, GG, Morrou e entre muitos outros injustiçados por esta falsa democracia, onde um patrimônio público é eleito somente pelos “engravatados”. Dedico este livro para aqueles que sabem como a rua funciona e enxerga o reflexo da sociedade e o que viramos.


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Manifesto: O pixo nosso de cada dia. A pixação normalmente escrita com X por nós pixadores não é apenas uma grafia estilizada de palavras nos espaços públicos da cidade, trata-se de um desenvolvimento expressivo realizado em sua maior parte por jovens das periferias, e funciona como a voz dos sem voz, o grito mudo dos invisíveis, brado pintado, corre existencial, identidade. Na pixação não há um consenso, muito menos liderança única. Na real são vários bandos, uma vasta vida louca solta pela cidade. Quem pixa defende com unhas, dentes e tinta preta a pratica e filosofia da pichação. O feitiço da pixação arrebata o sujeito pixador, pede dedicação desmesurada e risco de morte. Na pixação o que realmente importa é a dinâmica de criação dos riscos, não basta só pixar, temos que produzir excitação e adrenalina, transgredir para progredir, radicalizar, chocar. Exercer nossa liberdade de expressão, já que vivemos numa falsa democracia. O novo meio urbano reforça e valoriza desigualdade e separações e é portanto um espaço publico não-democrático e não moderno. Processos de discriminação combinam-se ao medo, criando novas formas de segregação, dentre as quais a construção de muros é a mais emblemática. O que pra uns é vandalismo, pra nos é (re)apropriação, o pixador é o artista urbano que vê a cidade como suporte. Estamos nos (re)apropriando de uma cidade que foi negada a nós. O pixo é a retomada da cidade por parte dos excluídos. Cada parede pixada é sinônimo de insatisfação social, se agrada ou desagrada já é outra questão, o importante mesmo é que incomode. A pixação pede mais do que passagem, pede permanência, como pedra lascada e não polida. Como um conceito, e não inconsequência pede solidez e clama por respeito, e se assim não for o pixo vai pegar. Nesse exato momento muitos pixadores estão nascendo, sina traçada, ainda sem saber se gente ou urbanoide. É circunstancial e sintomático por referencia cultural, por contingencia social, por razões antropológicas. Somos a tribo dos escribas underground, predominantes e crescentes na bolsa amniótica das periferias. Pra quem ainda não sabe anuncio aqui: Não a futuro, o pixo é a ausência do futuro, a enfermidade da vida, praga moderna, peste aerosol, câncer cancro cítrico. Vale o que esta escrito nas paredes, e nos não pretendemos parar.

Cripta Djan – Os + Fortes (SP) Brasil 2013.


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Our Daily Pixo Pixação usually written with X by us pixadores is not only a stylized spelling of words in public spaces of the city, it is an expressive development done mostly by youths from the suburbs, and serves as the voice of the voiceless, the silent cry of the invisible, painted cry, existential run, identity. In pixação there is no consensus, much less a single leadership. In real, it is several groups, a wide crazy life loose out there in the city. Those who pixa defend with teeth, nail and black ink the practice and philosophy of pixação. The spell of pixação snatch the subject pixador, asks disproportionate dedication and risk of death. In pixação what really matters is the dynamic creation of risks. Pixar is not enough, we must produce excitement and adrenaline, transgress to progress, radicalize, shock. Exercise our freedom of speech, since we live in a fake democracy. The new urban field values and reinforces inequality and separation, it is therefore a non-democratic and not modern public space. Discrimination processes get combined to fear, what creates new forms of segregation among which the construction of walls is the most emblematic. What for some is vandalism, to us is (re) appropriation, the pixador is the urban artist who sees the city as support. We are (re) appropriating a city that was denied to us. The pixo is the re capture of the city by the excluded. Each wall pixada is synonymous with social unrest if pleases or not is another matter, the important thing is that it bothers. Pixação orders more than passage, it asks to stay, as chipped and not polished stone. As a concept and not inconsistency asks solides and calls for respect, and if it won’t be like this pixo will spread further. Right now many pixadores are being born, traced fate, still not knowing if to become people or urbanoide. It is circumstantial and symptomatic for cultural reference for social contingency, for anthropological reasons. We are the tribe of the underground scribes prevalent and growing in the amniotic sac of the peripheries. For those who still do not know I announce it here: there is no future, pixo is the absence of the future, the disease of life, modern plague, pestilence aerosol, citrus canker cancer. What is worth is what is written on the walls, and we do not intend to stop.

Cripta Djan – Os + Fortes (SP) Brazil 2013


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“PRENDER PIXADOR É FÁCIL

Protesto de pixadores em BH. Foto: Lucas Buzatti.


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QUERO VER PRENDER O DONO DA SAMARCO”


8 Introdução

Introdução

A pichação é um fenômeno urbano mundial, que se tornou presença marcante na paisagem da cidade. O trabalho dá enfoque às tags (assinaturas estilizadas), que é a forma de pichação mais disseminada e presente. Surgidas no final da década de 1960 nos Estados Unidos, ligadas às disputas territoriais dos guetos e ao hip-hop, começou a tomar a sua característica formal na cidade de São Paulo e adjacências, principalmente no final da década de 1980. O tag reto (ou pixo reto) é uma solução gráfica e caligráfica que toma as construções como um grid, em uma disputa pelo visual da cidade. Seus autores partilham de um sentimento de identidade com a periferia da cidade, e usam as marcas nas paredes como uma comunicação fechada entre eles, medindo-se e afirmando-se dentro do grupo com ações ousadas (enfrentando perigos como a altura, a polícia, seguranças particulares e moradores enraivecidos com o vandalismo). Eles se apropriam de locais com grande fluxo, o que vai garantir visibilidade. Também procuram marcar paredes que não são pintadas frequentemente, garantindo a durabilidade. Pontes, viadutos, topo de edifícios, muros e fachadas: quase nada escapa. Pichadores são mais um grupo disputando a paisagem da cidade, mas que não são nem os proprietários e nem o poder público


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Abstract

Pichação (graffiti) is a worldwide urban phenomenon that has become a massive and ubiquitous presence in the urban landscape. The dissertation focuses on tags (author-style signatures), the most present form of pichação. It was originated in the United States on the late 1960s, as a part of ghuettos diputes and hip-hop, and it begun taking its formal shape in São Paulo Metropolitan Area in the late 1980s, roughly speaking. The straight tag (or pixo reto) is a graphical and calligraphic solution that uses buildings as a grid, in a visual struggle for the city. Its authors share a feeling of identity with the citys’ periferia (poor outskirts), and use the signs on the walls as an encoded communication between them, taking a stand within the group with bold actions (facing risks, such as heights, police enforcement, security agents and furious dwellers with the vandalism). They use places with great traffic flux, which ensures visibility. And they also mark walls not frequently painted, ensuring long-lasting tags. Bridges, highway ramps, top of buildings, walls, and facades: almost nothing escapes. Taggers are another group fighting for the city landscape, they are not owners nor government.


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Sumário

“Tem mais é que morrer esses merdas de pixadores, tinham que morrer todos.”

Aggio Lacerda 21/11/14

(1 de 454 comentários sobre a morte de um pixador)

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PIXO, SER OU NÃO SER Pixo | Grapixo | Graffiti

SURGIMENTO DO PIXO Origem | Referências | Formas

CALIGRAFIA DO PIXO Construção da letra | Marca | Motivo

PIXO Brasil | SP | BH

BRASIL

IMPORTÂNCIA DO REGISTRO Fotografia | Documentário | Editorial

REGISTREMOS Foi registrado | Não foi registrado

FONTES DERIVADAS DO PIXO NOMES POS DETRÁS DOS MUROS

GLOSSÁRIO & CONCLUSÃO

BIBLIOGRAFIA


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13 Pixo, ser ou não ser arte

PIXO A pichação é um fenômeno urbano mundial, que se tornou presença marcante na paisagem da cidade. O trabalho dá enfoque às tags (assinaturas estilizadas), que é a forma de pichação mais disseminada e presente. Surgidas no final da década de 1960 nos Estados Unidos, ligadas às disputas territoriais dos guetos e ao hip-hop, começou a tomar a sua característica formal na cidade de São Paulo e adjacências, principalmente no final da década de 1980. O tag reto (ou pixo reto) é uma solução gráfica e caligráfica que toma as construções como um grid, em uma disputa pelo visual da cidade. Seus autores partilham de um sentimento de identidade com a periferia da cidade, e usam as marcas nas paredes como uma comunicação fechada entre eles, medindo-se e afirmando-se dentro do grupo com ações ousadas (enfrentando perigos como a altura, a polícia, seguranças particulares e moradores enraivecidos com o vandalismo). Eles se apropriam de locais com grande fluxo, o que vai garantir visibilidade. Também procuram marcar paredes que não são pintadas frequentemente, garantindo a durabilidade. Pontes, viadutos, topo de edifícios, muros e fachadas: quase nada escapa. Pichadores são mais um grupo disputando a paisagem da cidade, mas que não são nem os proprietários e nem o poder público.


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GRAPIXO

Com o passar dos anos surgi através da Pichação um novo Estilo de arte urbana o GRAPIXO. A característica principal são as letras idênticas a pichações, que possuem contornos fortes e cores em um único tom, geralmente feitas em látex. Uma moda ou não, o Grapixo mostra um novo estilo que veio fazer história na arte de rua mundial. A diferenciação entre os dois termos é mais conceitual do que prática, uma vez que existem pichadores que fazem grafite e grafiteiros que fazem pichação. Uma coisa tem tudo a ver com a outra. Pichações são caligrafias urbanas, inventadas na capital São Paulo e que tem uma influência inicial com o movimento punk, o que é bastante confundido com as letras do grafite. Essas são as modalidades, que podem ser das mais diferentes técnicas, como Bomb, Piece, Wildstyle,


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Freestyle, Throw-up dentre muitas outras. “Qual a diferença entre grafite e pichação? Também não sei”, diz Jota. “Surgiu como uma coisa só. Quem que falou ‘agora vai ser separado, grafite é isso e pichação é isso’?. O que define se é grafite ou pichação?”, questiona ele. “A pichação tem tudo a ver com grafite. Os primeiros grafiteiros de São Paulo se envolveram com a pichação, que começou a se espalhar e criar uma caligrafia urbana própria”, pontua Sérgio. O grapixo seria a fusão entre o grafite e a pichação, uma forma híbrida que une pontos característicos das duas linguagens numa figura só. “É uma letra de pichação gorda, estilizada. Aí ele pode fazer ‘firula’, criar uma estética própria da letra, fazer escorrendo, coisas da linguagem própria do grafite”, ensina Sérgio. Para ele, o grapixo é uma coisa “muito original brasileira”. “Eu acho que é muito legal porque o movimento não ficou parado só na pichação. Aí você vê que os pichadores querem fazer grafite também e inventaram o grapixo”, conclui.


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Graffite

Criatividade , gerada pelo impulso de sentimentos e a necessidade de expressão, independentemente de ser ilegal ou não. O graffiti reflete multiculturalidade na produção de estilos diversificados, como observamos ao longo destas três ultimas décadas. A mídia , geralmente, privilegia um determinado estilo, massificando-o, fazendo crer que o mesmo é único ou imprescindível, o que não é verdade. Dentro de uma linguagem , grupos diferentes se expressam, carregando as próprias posturas. Se fosse para estabelecer uma suposta relação entre graffiti e musica, eu diria que ela esta para o hip-hop, rap, new wave, enquanto a pichação, para o punk, o trash, metal, não que quem curti punk, não possa fazer graffti e vise versa, só estou evidenciando que transitando entre grupos de linguagens diferentes encontramos posturas semelhantes. Mas dentro de cada postura dialogam visões diferentes entre si, carregando influencias . Estabelecer que o graffiti e pichação, são a mesma coisa, sancionando lei igual, desconsiderando o percurso de luta e reconhecimento do graffiti, é, no mínimo, não inteligente, arbitrário. É querer, como se fosse possível , apagar em um único ato a historia de sucessivos atos, que ao contracenar criam novos atos de uma outra historia. No entanto queria


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fazer a apologia de que graffiti e pichação , são posturas diferentes com resultados diferentes, o graffiti aceita dialogar, a pichação se resume mais as letras, porem utilizam-se do espaço urbano, e a própria origem, por isso as pessoas banalizam ambas atitudes artísticas, devido a duvida e a indistinção entre ambos, assim tornando-os artes inferiores. No entanto o graffiti tende a ser mais contracultural, ainda mais que hoje como disse sofremos influencias , e o que há e artes americanizadas, devemos utilizar de uma transformação e auto identificação, brasil-sociedade, de modo que a arte volte a ser cultura brasileira, e de maneira a todos que presenciarem se identifiquem, ainda mais o graffti que é uma arte corriqueira e que vem a fazer parte do cotidiano, devido a utilizar-se do espaço urbano. Temos de nos conscientizarmos uns aos outros, o mais pobre até o mais rico, abrindo nossa mente para propostas enriquecedoras a nossa cultura e ao nosso desenvolvimento enquanto termo mundial. Temos que ser nos mesmo com nossas características, culturas e origens , não nos deixaremos influenciar por idéias, determinantes e exploradores , quanto a nos mesmo. E de maneira que todo esse processo, relativamente e lento, o mesmo posso dizer em relação a todo o processo artístico, pois depende da intimidade alcançada entre o homem e o trabalho para que os resultados estéticos ( no caso da arte) sejam satisfatórios. Talvez , um dia o Brasil seja o meu Brasil brasileiro , e assim todo centro urbano , possa vir a ser uma grande galeria de arte (graffti) ao céu aberto , e o povo acabe por se conscientizar de que o graffiti não é mesmo vandalismo, e sim uma forma de expressão .


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Surgimento do pixo

Pessoas sempre usaram as paredes para escrever e desenhar. Há relatos e evidências dessa forma de usar as construções e moradias desde cavernas préhistóricas, passando por ruínas romanas, até chegar aos muros da cidade moderna. Dentre suas formas temos basicamente a escrita (grafada) e a pictórica (desenhada). Mesmo sendo as formas parecidas, suas funções e conteúdos diferem muito. Desde trechos de obras latinas clássicas nas ruínas romanas, passando por muralistas renomados no campo das artes plásticas, até protestos políticos e declarações de amor. Conteúdos e funções distintos, frutos de momentos históricos e necessidades da época. Expressão da literatura, estética visual e política (somente alguns exemplos dentre muitos outros). O fenômeno da pichação em forma de tags, porém, é recente. Pela primeira vez a cidade começou a ser sistematicamente alterada pela velha forma de escrita na parede, mas dessa vez com um objetivo diferente: obter a fama entre pares em uma disputa pela cidade. Disseminou-se por todo o mundo, partindo de duas cidades norte-americanas no final da década de 1960 (primeiro Philadelphia, e depois New York). Essa nova forma de escrita apresenta algumas particularidades: Não é uma assinatura pessoal, mas uma tag estilizada, que pode remeter tanto a um indivíduo quanto a um grupo (que pode ser grande o bastante para os membros nem se conhecerem pessoalmente). É urbana, e está por toda a cidade. O primeiro a fazer isso foi TAKI 183, morador da rua 183 (Harlem, gueto negro de New York). No início da década de 1970 ele foi all city, isto é, alastrou por toda a cidade. A grafia apresenta uma evolução dentro de suas próprias regras estéticoformais

As marcas começaram a aparecer pelo sistema de metrô, que dava a chance de espalha-las por toda a cidade, uma vez que uma boa parte do sistema da cidade de New York corre pela superfície. Vagões eram cobertos por completo com spray ou canetões de feltro, assim como o interior dos trens.

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Origem

O primeiro pichador a usar toda a cidade foi o dono de um canil, que na década de 1980 grafava CÃO FILA KM 26 por toda São Paulo. Sua intenção era meramente fazer propaganda do seu canil situado no km 26 da estrada do Alvarenga, mas a sua insistência e presença em toda a cidade acabou inspirando e antecipando todo o movimento da pichação. Ele é fartamente reconhecido pelos primeiros pichadores, muito embora sua motivação seja distinta do movimento das tags.

Brasil: primeiros traços No Brasil, a palavra grafite acabou sendo usada para denominar um tipo de intervenção geralmente não autorizada com uma maior preocupação estética, marcada por cores e por uso de técnicas como o stencil (forma vazada através da qual é usado o spray de tinta – RAMOS, 2008). O grafite passou a ser associado a um investimento estético maior (com estêncil, cores e formas pictóricas), enquanto o termo pichação passou a denominar formas de escrita (tags, geralmente monocromáticas, que eventualmente podem ter um investimento plástico-estético maior quando na forma de bombs). Essa divisão pichação/grafite é problemática, considerada inexistente por muitos praticantes. Também é fruto de um preconceito social, uma vez que uma das técnicas está associada à periferia da cidade, enquanto a segunda se concentrou na área central, realizada por pessoas de classe média. Alguns artistas plásticos traziam informações e técnicas de New York quando a cena de grafite dominava a cidade. Essas técnicas eram usadas dentro de um contexto de artes plásticas, e não necessariamente para fazer tags (FRANCO, 2009). A intenção por trás era a de tornar a cidade mais bonita e de se comunicar com o passante na rua, criando significações inusitadas que buscavam exprimir intenções estéticas. Muitos desses primeiros pichadores depois se enveredaram no ramo das artes plásticas. Rebatendo com certo atraso a cena de New York, grupos começaram a bombardear a cidade inteira com assinaturas. Aproximadamente em 1985 surgiu um certo estilo que define visualmente as intervenções até hoje: o pixo reto ou tag reto (CHASTANET, 2010). Até hoje o que se vê como intervenção hegemônica são essas tags, que persistem na cidade. Como são geralmente datadas, é possível observar inscrições de até 10 anos de idade, mas que certamente foram feitas por cima de outras, pois a cidade é como um palimpsesto gigante, em permanente escrita. Não há documentação sobre o quanto a cidade foi alterada por esse fenômeno, só alguns relatos baseados na sensação de que o seu pico ocorreu nos anos 1990, sendo que atualmente não seria tão prevalente.


Surgimento do pixo

Referencia

As noções de design gráfico são aprendidas na prática (espaçamento entre caracteres, ocupação proporcional do edifício, alinhamento, entre outras). Alguns designers de fontes fizeram o caminho inverso: das ruas para o formalismo da tipografia, criando algumas fontes como a Adrenalina e a Brazil Pixo Reto A forma mais comum de tag encontrada em São Paulo é o tag reto (ou pixo reto), também chamado de escrita árabe-gótica. Surgido nos anos 80, baseia-se em capas de disco de rock e punk (como Iron Maiden e Judas Priest). A grafia foi se alterando a partir de uma combinação desse tipo híbrido de maiúsculas Góticas com os letreiros comerciais, geralmente em fontes maiúsculas não serifadas (CHASTANET, 2010). A tag não deixa de ser uma forma de logotipo que concorre visualmente com outras formas de escrita, tais como a propaganda e os letreiros da cidade. Estima-se que em 1985 essa forma tenha se consolidado, de modo que é possível observar uma homogeneidade dentro das diversas soluções caligráficas dos grupos. Enquanto no resto do mundo se observa certa emulação do estilo de New York, a pichação de São Paulo tem um estilo próprio, que se tornou referência dentro do Brasil. Assim como é o caso do Rap, que apesar de mundializado tem que ser adaptado às circunstâncias locais por usar outro idioma, a escrita passa pelo mesmo processo. A adaptação se dá pelo vocabulário gráfico-estético existente no local, que é remixado em uma forma própria. O Pixo de hoje, apesar de ter mantido a origem estética inspirada no metal oitentista, não tem mais o traço de protesto que o originou nos anos 60. Atualmente está muito mais ligado a busca da adrenalina e reconhecimento dentro de um grupo do que qualquer outro motivo. Os lugares buscados pelos pixadores são de difícil acesso e quanto maior o nível de dificuldade, mais respeitado é o pixador.

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forma

Via de regra, a opção é por traços simples que possam ser feitos rapidamente com rolo de tinta ou spray. Essa economia de gestos aproxima a caligrafia das ruas da tradição caligráfica formal, e até de um suposto arquétipo que aproximaria todas as letras pela experiência prática. Os instrumentos devem ser pequenos e caber dentro de uma mochila, para conferir mais agilidade nos rolês (a velocidade diminui o risco das ações e alastra a tag por uma área maior). A execução é um misto de caligrafia com tipografia, pois a forma deve se manter independente do tamanho, instrumento ou suporte (tal como se espera de uma fonte). O spray é muito semelhante à caneta tinteiro: ambos são de fluxo contínuo de tinta. É fácil borrar (ou escorrer, no caso do spray). O pichador deve ter um traço firme e rápido, controlando o fluxo de tinta pela pressão no bico da lata. A forma da tag depende muito do gesto e da fluidez do movimento. O suporte define a quantidade de tinta a ser usada. Se for muito poroso, é necessário mais tinta, já que parte dela vai ser absorvida pela superfície. Se for liso, o traço tem que ser mais rápido, para evitar o escorrimento. O rolo de tinta e o canetão apresentam uma resposta mais homogênea e menos sensível ao gesto. O primeiro é rápido, e sua largura estreita as opções de grafia quando são feitas curvas, o que não significa que somente seja usado para traçar retas. O segundo é muito utilizado em nível de solo e no mobiliário urbano (lixeiras, pontos de ônibus). O giz de cera também pode ser visto, mas é uma forma inicial de aprendizado, de pouco impacto visual. O resultado deve ser parecido, mesmo que cada ferramenta de escrita apresente possibilidades e limitações diferentes. A legibilidade é secundária nessa forma de escrita, que geralmente só é entendida pelos que se interessam em decifra-la. Isso acaba criando uma evolução gráfica dentro de suas próprias regras, um sistema de comunicação fechado. A própria noção de legibilidade é também contestável, uma vez que as pessoas leem o que estão acostumadas (em termos de fontes e suportes). Seu valor muitas vezes reside no impacto visual, em como se escreve (e não tanto no que é escrito). Por ser mais gestual e plástica, também serve como demarcação entre os que dominam ou não o traço. Para aplicar as tags, além da prática do próprio alfabeto em termos de traço e uniformidade, é necessário também prever os resultados a partir do nível de mirada na rua, saber os melhores ângulos das construções e escalar as edificações. Isso foi bem ilustrado por François Chastanet, como veremos a seguir.


Surgimento do pixo

Ilustração do livro Pixação: São Paulo Signature mostrando como são feitas as tags. Na coluna da esquerda temos, primeiramente, as diferentes visadas que um passante tem para um edifício, desde o nível do solo até o topo (os pichadores assumem que o observador está no nível da rua). As figuras acima são as diferentes técnicas usadas para pintar o topo com spray ou rolo de tinta, escalando janelas ou se dependurando em parapeitos. Na coluna da direita temos as estratégias para pintar janelas e áreas altas, a escada humana usada no nível do solo para pintar mais alto, a alternância entre as letras quando dois pichadores trabalham juntos, e as linhas de grid imaginárias que eles utilizam (CHASTANET, 2010 p. 276).

O edifício como grid composicional, as letras e seu tamanho e espaçamento uniformes (figs. 11 a 14). Na fig. 15 vemos como a escrita dá origem ao spray e ao látex (que é aplicado com um rolo de tinta guardada em garrafas pet). Na fig. 16 vemos o spray e suas diferentes técnicas para resultar em um traço mais fino ou grosso (CHASTANET, 2010 p. 277).

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construção da letra A pichação pode parecer desordenada à primeira vista, mas é uma atividade que segue certa lógica, muito bem documentada pela antropologia urbana. Magnani (2005) e Pereira (2010) adotaram o método antropológico para descrever a atividade. Se a antropologia originalmente tratava de diferentes grupamentos humanos isolados geograficamente, a antropologia urbana busca o outro dentro de uma mesma cultura. Eles colocam a necessidade de romper a divisão outro-eu, adotando a fenomenologia de Maurice Merleau-Ponty como método. O objeto antropológico não é o corpo humano objetivo das ciências, pois esse seria somente físico e biológico, marcado pela separação sujeito-objeto. Segundo eles, busca-se um corpo com consciência, consciência essa que só pode existir quando confrontada diretamente com outra, sem a separação sujeito-objeto (subjetividade intersubjetiva). O observador acaba interferindo no observado, pois a dinâmica do grupo pede participação para o entendimento, e não somente uma observação passiva. Esse olhar de perto e de dentro implica em se colocar nas situações sem a prioris ou julgamentos, fazendo um levantamento etnográfico primário que se desdobra em uma antropologia urbana com alcance mais amplo, que vai sistematizar os levantamentos de campo (o que seria correspondente a grandes estruturas, de fora e de longe). O peneiramento etnográfico em nível individual leva a uma antropologia de grandes conceitos por padrões e recortes em planos intermediários. As tags são feitas principalmente por jovens do sexo masculino, residentes na periferia de grandes cidades (CEARÁ; DALGALARRONDO, 2008). Eles exercem essa atividade como forma de estabelecer uma identidade através da transgressão e pelo reconhecimento entre seus pares gerado pelo ato (a atividade é basicamente coletiva, embora existam alguns que façam tudo sozinhos, e ainda assim conseguem notoriedade ao alastrar pela cidade). O início da atividade se dá muitas vezes na escola, onde jovens montam grupos para espalhar suas marcas nas vizinhanças e rotas próximas. A atividade transgressiva gera reconhecimento dentro da escola e coloca o grupo em contato com pichadores de outras partes da cidade nos seus rolês. Por não ser um circuito fechado e ser baseado no reconhecimento gráfico mútuo, logo o grupo pode ingressar no circuito maior da pichação (onde é importante alastrar por toda cidade para ganhar notoriedade).


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Marca

Os pichadores se identificam por suas assinaturas e seu pertencimento aos grupos, mas são anônimos para aqueles que não fazem parte desse universo, o que é uma forma de escapar da repressão policial (BRITTO, 2007). A maioria abandona a prática após certo tempo, mostrando que essa é uma atividade típica de jovens testando os limites sociais do mundo adulto. Mesmo quando param, mantém a amizade e a sociabilidade frutos da atividade, assim como o reconhecimento por façanhas antigas, que permanecem na memória assim como as marcas da cidade (podendo virar uma pessoa cultuada, da escola antiga). O gosto pela vertigem e pela transgressão é típico da juventude, e se manifesta também por outros meios (toxicomania, gosto pela velocidade. COSTA, 2000). Este, porém, se caracteriza pela urgência em deixar sua marca e se individualizar em uma sociedade marcada pela sua reprodução industrial, fazendo ressurgir em pleno século XX uma técnica que se supunha superada: a caligrafia. Fruto de um gesto individual, a caligrafia vai contra o reproduzível mecanicamente. Liberta da exigência de legibilidade, assume a função de identidade visual entre os iniciados e de disputa visual pela cidade, ao lado de logotipos e letreiros diversos, fruto muitas vezes de uma paisagem tipográfica mundializada e homogênea (CHASTANET, 2007). Mesmo sendo as tags um fenômeno mundial, sua expressão vai ser particular de cada local e, in limite, de cada pichador.


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Vindos da periferia em sua maioria, os pichadores fazem marcas como uma comunicação própria. Com pouco acesso aos meios de expressão e de afirmação (tidos como normais) na cidade central, tomam a cidade como seu suporte, em ações basicamente noturnas e coletivas (COELHO, 2009). Eles formam sua identidade pelo reconhecimento dos seus pares e pelo sentimento de pertencimento à periferia da cidade (sempre representando o seu local particular, a sua quebrada). Vivendo nas periferias e experimentando uma forma de expressão na cidade eles obtêm um tipo de reconhecimento social e coletivo que não conseguem pelos meios sociais comuns (estudo, trabalho). Para Roberto DaMatta existem dois domínios bem distintos em termos de apropriação do meio vivido: a casa e a rua. O primeiro é pessoal, enquanto o segundo é impessoal. Entre a casa e a rua haveria uma terceira instância para Magnani: o pedaço. Esse é uma zona de transição que ainda guarda laços comunitários similares ao da casa, o lugar fora da casa onde ainda não impera a impessoalidade da rua, com suas próprias regras. Não é um espaço delimitado e preciso, mas um reconhecimento que parte dos usuários da cidade. Isso remete a uma sociabilidade mais típica da periferia, pois na cidade central essa transição é abrupta, mais semelhante ao que sugere Roberto DaMatta. O termo pedaço pode remeter tanto a um conceito quanto a uma gíria, o que mostra a importância do uso da linguagem pelos próprios moradores (que seria outra forma de apropriação e vivência mostrada por eles, e não conceituada de fora pelo pesquisador). As gírias da periferia tomaram a cidade toda partir da década de 1990, com a chegada do Rap paulistano ao mainstream musical (Racionais MCs, RZO, Thaíde e DJ Hum, entre outros). Esses termos tomaram o Brasil também, e logo muitos jovens estavam co-

motivo

meçaram a usar termos como manos, minas, truta, firmeza, nóis, entre outros. A gíria pedaço deu origem ao termo quebrada. Podem ser considerados sinônimos, mas é sempre bom notar que uma mudança nos termos também reflete uma mudança na sociabilidade. A quebrada é um conceito semelhante, que serve para designar tanto o seu pedaço quanto o de outros, e que parte da noção do arruamento irregular típico da periferia da cidade. As quebradas existem como um reconhecimento mútuo dos seus moradores, e também são locais de transição entre a casa e a rua, com suas regras próprias. Diferentemente do pedaço, também pode apresentar perigo para os que se aventuram nela em atividades transgressivas (por isso é importante conhecer ou ir acompanhado de um guia que more na quebrada). As tags seriam o que o pichador Cripta Djan chamou em uma entrevista de corre existencial. Esse termo é baseado na gíria usada para denominar uma ação rápida e urgente (corre), associado à necessidade de afirmação de identidade tão comum ao ser humano. Ele também relatou a preferência dos pichadores por locais deteriorados, onde a permanência da tag é maior. O ato, segundo ele, também seria uma afronta, uma forma de agressão, principalmente quando se dá em monumentos históricos (fruto de um estranhamento centro-periferia e sensação de exclusão da história e da cidade). Essa agressão é também uma revolta difusa contra um sistema visto por eles como elitista, racista e injusto (IVESON, 2012). A periferia é fruto da grande expansão urbana durante o processo de metropolização, baseada no tripé loteamento clandestino/casa própria/ autoconstrução (MAUTNER, 1999). Geralmente é uma área de renda mais baixa, onde há menos oportunidades de estudo e trabalho, além da infraestrutura e das construções serem mais precárias. A pichação, ao atravessar indistintamente o centro e a periferia, torna-se um elemento de ligação visual entre elas. Paisagens tão distintas têm em comum esse elemento visual.


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Há muito tempo que a pixação anda na boca do mundo brasileiro. Os próprios canais televisivos brasileiros relatam sobre as ações dos “criminosos” das ruas e dos telhados, que “destroem” as paredes desfolhadas dos prédios de São Paulo com os seus escritos. Comentário sobre um dos vídeos mais críticos do Youtube: “As paredes continuam a desempenhar a sua função, apenas estão marcadas. Porque é que isso é considerado crime?” Enegrecer ou cobrir com alcatrão é o significado da palavra brasileira “pixar” que deu origem ao termo dos sprayers cada vez mais rápidos e mais altos. Os prédios de São Paulo, que têm crescido como ervas daninhas nesta cidade de 20 milhões de habitantes, estão cheios destas marcas e a polícia praticamente de mãos atadas perante os mais de 30.000 pixadores da metrópole. A emissora de televisão alemã ZDF também deu aos pixadores cinco minutos de tempo de antena no jornal da noite em 2010, acompanhando alguns jovens durante as suas operações pela calada da noite sobre os telhados. O que mais distingue os pixadores da cena de graffitis consiste no facto de a procura constante de novos spots ser uma questão de honra, em especial quando se trata dos sítios mais perigosos. Pixar as marcas de outro pixador seria uma ofensa particular e certamente um bom motivo para se ser desrespeitado pelos pixadores em geral. Os pixadores regem-se por princípios muito diferentes, como o comprovaram no decorrer da 29.ª Bienal de São Paulo. Não se integram no conceito socialmente aceite da cena de streetart e seus ateliês. Para o evidenciar, invadiram - após aviso prévio - a Universidade de Belas Artes de São Paulo em 2008. Esta ação decorreu em protesto contra a instituição universitária mas também contra a Galeria Choque Cultural, contra os Murais de Graffiti Autorizados e contra a 28.ª Bienal de São Paulo. Cerca de 50 ativistas participaram nesta campanha contra a comercialização da Arte, ou melhor, e de acordo com a opinião da maioria dos pixadores, contra a “merda comercializada”. A ação que se seguiu e que teve como resultado a detenção da ativista Caroline Pivetta durante 53 dias gerou ainda mais polémica e protestos públicos, incluindo uma intervenção do ministro da Cultura, tendo sido a primeira vez que alguém no Brasil ficou detido durante tanto tempo por um delito desta natureza. No entanto, as opiniões dividem-se no Brasil e no mundo. Enquanto uns consideram estes atos como sendo arte, ação e protesto, outros vêm apenas os crimes cometidos pelos pixadores, maioritariamente provenientes das periferias. Particularmente interessante, pareceu-me o comentário de uma apresentadora do Jornal da Manhã da Rede Globo sobre dois pixadores que caíram de uma altura de 10 m quando fugiam da polícia. A apresentadora ficou aparentemente chocada pelo facto de não se tratar de dois jovens vândalos, mas sim de dois adultos (22 e 23 anos), acabando por os descrever como verdadeiros criminosos. Os pixadores têm perfeita noção da sua energia criminosa pelo seu caráter anti-institucional. No convite aos pixadores para o encontro “ATTACK PIXAÇÃO” lê-se:

VIVA A PIXAÇÃO, ARTE COMO CRIME, CRIME COMO ARTE Na 28.ª Bienal os pixadores ainda eram vistos como “atacantes“. Dois anos depois, a pixação passou a fazer parte do elenco na Bienal de São Paulo sob a forma de fotografias de prédios pixados. Berlim também já é palco de pixação, como seria de esperar na cidade que já foi a um dos pontos-chave da cena dos graffitis. em 15 de junho de 2012, os pixadores Djan Silva, líder do grupo de pixadores CRIPTA, Biscoito do grupo UNIÃO 22 e William do grupo OPERAÇÃO esteve em Berlim no Café Wendel na Schlesische Straße. Para além da exposição, foi mostrado o documentário “100 Comédia Brasil”, no qual se apresenta a cena da pixação em 5 capitais brasileiras.


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Quadrilha do pixo em BH. Foto: Sô Fotocoletivo


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SOMOS TODOS PIORES DE BELÔ Este texto vêm na esteira de outros textos e discussões puxados sobre o assunto recentemente através da internet. Trata-se de um texto sem autoria, criado a muitas mãos durante as últimas semanas. Sua reprodução é permitida e desejada

Enquadrados como…? No último dia 24 de Agosto, numa terça-feira, seis homens foram presos em Belo Horizonte acusados pelo crime de formação de quadrilha. Os seis são mais conhecidos por seus nomes de guerra: Lic, Lisk, Fama, Goma, Sadok e Ranex, e a “quadrilha” em questão ganhou popularidade na cidade como Os Piores de Belô. O crime praticado por eles, enquanto “quadrilha“, não é dos mais comuns nessa classificação: pixação. A prisão extraordinária de pixadores pelo crime de formação de quadrilha faz parte de uma história um pouco mais complexa, que começa pelo anúncio de uma Copa do Mundo no Brasil, passa por políticas públicas imediatistas e autoritárias, e não temos idéia de onde vai parar. Nesse caso específico, o episódio é protagonizado pelo “Movimento” Respeito por BH, que de movimento não tem nada, consiste em mais um programa do governo de Márcio Lacerda. Por iniciativa do pseudo-movimento, o Ministério Público e a Polícia Civil passaram a investigar os pixadores de Belo Horizonte através da internet e de buscas em suas residências (com a conhecida “gentileza” das forças policiais), onde apreenderam desnecessariamente computadores e outros itens dos acusados.

Por fim, como um ápice cinematográfico das chamadas operações BH Mais Limpa, buscaram mais uma vez os Piores de Belô em casa, de viatura, e os encaminharam para uma penitenciária onde aguardam julgamento por um crime que não lhes diz respeito. Aguardamos, juntos, a mais uma condenação pública da liberdade de expressão mineira. A invenção do criminoso e histórias similares São velhas conhecidas as figuras dos bodes expiatórios. Animais solitários, distinguidos e separados… crias do abandono. Outras vezes bruxos, feiticeiras, conspiradores, loucos – tipos estranhos premiados com o isolamento. Não há exagero. O fato de termos seis homens numa penitenciária acusados do crime de formação de quadrilha por terem pintado com tinta as paredes da cidade evidencia isto. Para os desinformados, vale lembrar: cotidianamente a pixação é tratada como contravenção, normalmen-


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te substituída, mediante transação penal, por penas alternativas. O tratamento jurídico normalmente dispensado a ela não chega nem perto daquele dado ao crime de formação de quadrilha. A conveniência de se tomar gato por lebre, neste caso, confirma ainda mais o quanto a “movimentação” Respeito por BH quer fazer de bodes expiatórios os Piores de Belô, em meio a toda uma trama de limpeza da cidade. Os Piores estão deixados como exemplo, são os punidos que servem como mostra pública de até onde pode chegar a retaliação a qualquer ato que fira os princípios de regimento oficial da cidade. Primeiro, deve-se alertar: essa operação contra os Piores (e contra a pixação em geral) é orientada por um conjunto de políticas e de modos de se relacionar com o espaço público que hoje já se revelam como tendência em BH e outras capitais mundiais. Especulação imobiliária, entrega do espaço público com benefícios ao capital privado, cerco fechado por parte da segurança pública, enrijecimento da repressão nas ruas, exclusão de informais e indigentes, monitoramento ultra-avançado de algumas regiões,

tudo isso somado às contendas das famílias tradicionais e dos grandes investidores. Um pacote que pretende consolidar projetos de higienização da cidade – seguir na seleção dos úteis e dos inúteis nesse palco. Ora, a pixação, insistentemente definida como vandalismo pela grande mídia e pelo senso comum, é o vandalismo que não inutiliza o objeto de sua ação, apenas interfere nele. É, além de tudo, cultura produzida e mantida em movimento pelos seus atores sem nenhum tipo de incentivo além da marginalidade. É manifestação própria da cidade, território de criatividade, geradora de questionamentos, formadora de tipos específicos de ator e de memória. Inevitável não fazer a menção histórica: a escrita na parede, de pedra ou de concreto, permeia nossa caminhada cultural do início mais remoto às manifestações artísticas contemporâneas – que o sistema de arte (e portanto o próprio sistema capitalista) celebra, abrindo champagnes em galerias – passando por toda uma tradição de resistência política e pela expressão espontânea de agentes de todos os tempos. Importante lembrar o caso do grupo que invadiu e pixou a Bienal de São Paulo, em 2008. Pois se hoje os pixadores paulistas tem credenciais para entrar na mais importante exposição de arte da América Latina, na ocasião de sua ação direta eles foram tratados com jeito semelhante ao dos Piores de Belô. Devido a queixa prestada pela Fundação Bienal à polícia paulista, a pixadora Carolina Pivetta, então com 22 anos, foi encarcerada, acusada de se


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associar a “milicianos” com fins de “destruir as dependências do prédio” da Bienal, segundo a denúncia do Ministério Público. Peraí. “Milicianos”? “Destruir as dependências do prédio”? Vê-se como os termos são, no mínimo, rasos. Tanto no caso dos pixadores paulistas quanto no dos belorizontinos não estamos lidando com criminosos deste calibre, e a interpretação dada aos fatos deturpa a dimensão da pixação. Milicianos, assim como formadores de quadrilha, não se unem para pintar paredes. Pintar paredes, por sua vez, não destrói coisa alguma, antes constrói significados, redes e subjetivações do espaço através da produção de imagens. Importante reforçar: é, antes de tudo, mais um modo de incidir politicamente na cidade. A crosta da cidade, território do pixo Fascismo velado à la mineira. A resposta do público diante das notícias da prisão dos Piores de Belô traz à tona a violência recalcada da tradicional família mineira. Pelas páginas de comentários nas redes da internet, por trás de um anonimato covarde, proliferam desejos de execução sumária, exclusão e tortura. “O pixador, esse grande filho da puta, tem que morrer!”, grita afoito o pai de família. A demonização deste ator/ativista controverso das metrópoles deveria nos fazer pensar. Na cidade, onde proliferam mazelas de todos os tipos, onde os desequilíbrios e carências se dão em instâncias essenciais da vida de milhões de seres humanos, é de se questionar a atenção dispensada a uma mazela visual. A pixação é simplesmente a letra escrita, exposta como ferida, mas contra ela se legitimam facilmente o ódio, a tortura e a manobra política. O território de atuação da pixação – a superfície da cidade – é uma superfície política. Quando o pixo age sobre esse espaço político se choca com o uso mercantil que é feito da cidade, expõe uma expressão do marginalizado onde normalmente só se faz esconder, maquiar e especular. A prisão dos Piores de

Belô é igualmente superficial. Não se trata de uma solução no sentido forte, mas um remendo, uma tentativa controversa de estancamento da ferida social por onde jorra tinta. Sem nos esquecermos de contextualizar este fato dentro de uma onda de intolerâncias que vem se mostrando nas ações da administração pública de BH. Nem segurança pública, nem poluição visual e nem mesmo a própria pixação (ou os problemas sociais que a estimulam) encontram na manobra do Ministério Público uma resposta adequada. O tratamento dado aos personagens da suposta “quadrilha” fede a artimanha de ditadura. SOLIDARIEDADE Por tudo isso, se faz necessário gritar LIBERDADE AOS PIORES DE BELÔ! Este grito deve ser levado a cabo por cada um que seja minimamente solidário com a liberdade de expressão e com a manutenção da vida na cidade. Da mesma forma devem ser lembrados os desalojados das Torres Gêmeas e os ameaçados das ocupações urbanas de BH, os impedidos de entrar nas praças públicas e todo aquele que morre de alguma maneira na mentira de um “centro vivo”. Somente por meio da solidariedade que se identifica com o seu igual e tece, a partir daí, uma rede horizontal de resistência podemos fazer a oposição necessária ao disparate que é a prisão dos Piores de Belô, bem como os processos de mercantilização e cercamento das cidades.

Manifesto De: Luther Blissett

LIBERDADE AOS PIORES! SOMOS TODOS PIORES DE BELÔ!


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Quadrilha do pixo em BH. Foto: Sô Fotocoletivo


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A importancia do registro

fotografia

Podemos considerar a fotografia como o meio mais perfeito para gravar e reproduzir manifestações culturais. A fotografia é a responsável pelo surgimento do cinema e da televisão. Outros dois grandes meios de comunicação importantíssimos para a sociedade. A fotografia é tão importante para a sociedade que fica quase impossível imaginarmos uma família ou um conglomerado de pessoas que não tenham sido fotografadas. Assim que a fotografia foi inventada principiou a mudar a história do mundo, proporcionando a todos um instrumento importante na busca da própria identidade. É através da fotografia que captamos um momento, um “flagra” do que acontece, momento este único, que jamais se repetirá. A foto nada mais é do que a testemunha ocular do fato é a existência contida na imagem comprovando o que realmente ocorreu naquele instante. Para o pixo nessa nova era, a fotografia se tornou fundamental conjunta as redes sociais, a divulgação por este meio facilitou muito nesses últimos anos e tem sido muito usado por eles, mas ainda sim, o anonimato continua presente, pois muitas vezes acontece da foto ser feita por uma terceira pessoa, e não pelo pixador em si.

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A importancia do registro

Documentário Documentário é um gênero de filmes para cinema ou TV em que a narrativa faz afirmações ou proposições sobre o mundo histórico, que expressam a intenção de seu realizador em retratar uma realidade, o que o diferencia radicalmente do cinema de ficção, ainda que essa realidade que ele procura captar seja feita a partir de uma interpretação parcial e subjetiva. O documentário modela e interpreta os fatos com propósitos educativos ou de entretenimento. Na pixação tem surgido muitos documentários bem elaborados com vários pontos de vista de quem está na rua, o anonimato já não é presente nesse registro, mas a independência é bem forte na criação desse tipo de documentário, como segue abaixo, alguns documentários de grande estrutura.

Pixo – Documentário Sobre Pichação e Pichadores, O impacto da pichação como fenômeno cultural na cidade de São Paulo e sua influência internacional como uma das principais correntes da Street Art. O filme participou da exposição Né dans la Rue (Nascido na Rua), da Fondation Cartier pour l’Art Contemporain, em Paris. O documentário mostra a realidade dos pichadores, acompanha algumas ações, os conflitos com a polícia e mostra um outro olhar sobre algumas intervenções já muito exploradas pela mídia. O filme não traz respostas, mas fornece argumentos para o debate: pichação é arte ou é crime?

Diretores: João Wainer, Roberto T. Oliveira Roteiro: João Wainer Fotografia: João Wainer Montagem: Carlos Milanez Música: Ice Blue , DJ CIA, Tejo Damsceno Produtor: Roberto T. Oliveira Produtora: Sindicato Paralelo Filmes Duração do Filme: 61 minutos


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A importancia do registro

Contra a Parede é um documentário que retrata o graffiti e a pichação em Campo Grande (MS), com seus respectivos idealizadores dialogando sobre ambas as cenas, suas diferenças e seu espaço criminalizado na sociedade.

Djan Ivson ou Cripta Djan, como é conhecido nas ruas e no mundo das artes, registra e documenta esses atos com frequência, com ajuda de seus amigos ele laçou DVDs “Marcas das Ruas” e tem registros de vídeos soltos denominados “100 comédia” postados abertamente em seu canal no YouTube.


A importancia do registro

editorial

O termo editorial tem três grandes usos ou significados. Enquanto adjectivo, o conceito refere-se àquilo que pertence ou que é relativo aos editores e/ou às edições. Um editorial, por outro lado, é um artigo jornalístico, assinado ou não, que apresenta uma análise e, de um modo geral, uma opinião sobre uma notícia de grande relevância. Trata-se de um comentário, geralmente publicado em destaque nas primeiras páginas de um jornal ou de uma revista, que reflecte a linha ideológica e a posição do editor ou da comunidade editorial relativamente ao assunto tratado. Por fim, embora mais raramente, também se chama editoriais (neste caso, enquanto nome feminino) às editoras, isto é, às empresas dedicadas à impressão e à distribuição de publicações. Esta actividade, durante bastantes anos, esteve vinculada à publicação de livros, revistas e jornais através de sistemas de imprensa, melhor dizendo em formato de papel. Porém, com o avanço das novas tecnologias, passou a haver editoriais disponibilizados em edição digital.

Fanzine

O termo fanzine consagrou-se como designação de um certo tipo de publicação relacionada às artes, cinema, música, quadrinhos, poesia, literatura, etc. Graças à popularização da informática e ao barateamento do custo de duplicação de um original (xerox, impressão digital e off-set), hoje os fanzines proliferam e se tornaram o veículo de comunicação alternativa ideal para aqueles que não tem acesso à grande imprensa Mas, o que significa este termo? Ele surgiu, na verdade, da contração das palavras inglesas fanatic (fã) e magazine (revista). Esse neologismo foi usado pela primeira vez em 1941 por Russ Chauvenet, para designar as publicações alternativas que surgiam então nos Estados Unidos, com textos de ficção científica e curiosidades. Tinham pequena tiragem, eram distribuídos pelo correio e circulavam de mão em mão. A fanzine revolving around “Pixaçao” and the “Cholo Writing”, two movements treating a cultural issue through typographical marks. Entitled “Pixo” this fanzine is both in English and Portuguese language.

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ZINE GOMA Zine resultado da oficina Protestos Gráficos, na galeria GTO. Os exemplares produzidos foram distribuidos no protesto em apoio à repressão aos pixadores da cidade Belo Horizonte e contra a prisão de João Marcelo, o Goma.


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Registremos

Por Gustavo Ferreria/ Sô Foto Coletivo junho 17, 2016

foi registrado

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A festa da Quadrilha do Pixo Na tarde do sábado dia 04 de junho, pixadores colaram na ocupação realizada na Funarte de Minas Gerais, localizada na região central de Belo Horizonte. O objetivo foi participar da Quadrilha do Pixo, um evento realizado para arrecadar grana, objetos e mantimentos para enviar aos companheiros da pixação que estão presos em Belo Horizonte: GG, Goma, Maru e Morrou. Além, é claro, para reunir a galera do pixo da capital mineira. O evento foi organizado coletivamente e a escolha do nome significa uma brincadeira, um trocadilho com a questão que enquadra os pixadores presos, formação de quadrilha, e as quadrilhas juninas, típicas desta época do ano. Felipe Soares, um dos organizadores e pesquisador do pixo, entende que, segundo o Código Penal, formação de quadrilha é quando há organização, hierarquia e divisão de tarefa. “Isso não existe em qualquer grupo de pixação que a gente conheça. Pesquiso há três anos na pós-graduação, convivo com os pixadores, e a gente percebe justamente o contrário. Existe uma horizontalidade no grupo, não há uma liderança. Por mais que haja respeito aos mais velhos, em momento algum, alguém fala para pixar lá, ou não pixar lá. Cada um faz o quer”, esclarece. Para abrir a programação da Quadrilha do

Pixo, foi exibido o documentário PixAção 2, no galpão 4 da Funarte MG. O sol daquele sábado se pôs, enquanto acontecia a roda de conversa sobre o filme, o que é o pixo, o porquê de estarmos ali na Funarte ocupada e o que era aquela luta. O microfone foi aberto para quem quisesse falar. Uma pixadora de Brasília que pediu pra não ser identificada afirmou que o lugar delas é na rua, e lembrou que “hoje em dia as mulheres estão mais nas ruas, com a lata na mão”. Outra pixadora chamada Luna recordou vezes, no rolê, o reconhecimento dos homens quando elas escalam os picos mais rápido que eles. Artista que, em protesto, pixou a


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parede na abertura da exposição sobre sua vida e obra na Bienal de São Paulo, João das Neves esteve presente na Quadrilha do Pixo. Na roda de conversa ele ressaltou que “esse espaço aqui é um espaço de vocês. Eu espero que essa ocupação seja perene e que vocês venham para diálogos fundamentais, pois compreendendo ao outro iremos construir uma sociedade mais justa e com mais justiça”. Seguindo a programação daquela noite de sábado, o DJ colocava o som nas caixas, e um dos organizadores frisou: “além de discutirmos e promovermos esse diálogo aqui, também viemos para curtir um som do pixo”, afirmou Croik. Acabando o debate, o evento se transferia para o espaço central do pátio da Funarte. Foram esticadas, no pátio da Funarte, duas faixas amarelas, que se destacavam no ambiente. Nelas, os pixadores puderam registrar suas tags e intervenções. Ninguém ali estava para jogar tinta nas paredes da Funarte. As faixas e cadernos foram suficientes para a classe do pixo apresentar-se à ocupação, permanecer e realizar o evento, que terminou com shows. Bebida gelada, catuaba ou cerveja, canjica e canjiquinha para matar a larica, eram vendidos em prol da arrecadação de dinheiro para os quatro pixadores que estão privados de liberdade. Também eram vendidos adesivos, com o dinheiro arrecadado voltado para o mesmo fim. Do início ao término da programação, qualquer pessoa podia deixar seu recado destinado ao GG, Goma, Maru ou Morrou, no Correio Elegante. Na próxima visita a eles, serão levadas todas mensagens e os bens de consumo arrecadados no evento. Para Felipe “as arrecadações contribuirão bastante com os pixadores injustamente presos. Eles poderão sentir um pouco da energia que rolou no evento, através das mensagens e cartas depositadas no correio elegante”, frisou. O evento contou com ampla participação de pessoas ligadas à cultura do pixo em Belo Horizonte e também pessoas que nunca haviam tido contato com a pixação, e que ali, tiveram oportunidade de conhecer melhor essa cultura.

Quadrilha do pixo em BH. Foto: Sô Fotocoletivo

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Entendendo o caso Durante o debate realizado na programação da Quadrilha do Pixo, várias vezes o assunto se voltava para a prisão dos quatro pixadores. O advogado Felipe Soares, responsável pela defesa jurídica deles, explica que o primeiro processo foi aberto em 2015. Nele, o GG foi condenado a 8 anos e 7 meses de detenção. Ele lembra que, na semana passada, completou um ano q GG está preso. “Vale ressaltar que a condenação foi pela pixação, que foi limpa com bucha e detergente em menos de 12 horas do acontecido, e por apologia ao crime”, afirmou Felipe. Já o segundo processo, que envolve a pixação realizada na Igrejinha da Pampulha, em março deste ano, foram presos o Goma e o Maru, acusados por pixar a igreja, considerada patrimônio histórico, e por apologia ao crime. Soares explica os procedimentos que foram realizados até acontecer a prisão dos dois. “O Maru pixou a igrejinha de domingo para segunda-feira. Na quarta-feira pela manhã, fui com ele voluntariamente na Polícia Civil para prestar depoimento, onde confessou a pixação e foi liberado. Uma semana depois o Ministério Público pediu a prisão preventiva dele, concedida pelo judiciário. Nós achamos completamente desnecessária a prisão preventiva, pois ela se justifica quando a pessoa pode esconder provas, ameaçar testemunhas ou fugir. Entendemos que tal prisão foi por interesse social. Uma semana depois da prisão do Maru, foram até a casa do Goma para prendê-lo. Sendo que, já tinham apreendido os objetos e materiais que ele comercializava em sua loja, a Real Grapixo.” A questão vai além da criminalização do pixo. O advogado, Felipe Soares, considera que há uma desproporção nas medidas impostas pelo poder judiciário e, principalmente, um rigor desmedido nas denúncias realizadas pelo Ministério Público Estadual. “O promotor costuma falar que BH é uma das capitais mais pixadas do Brasil. Isso a gente não consegue afirmar. Mas que em BH existe a maior repressão do Brasil à pixação, isso sim, é sem sombras de dúvidas”, afirmou Soares.


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Quadrilha do pixo em BH. Foto: SĂ´ Fotocoletivo

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Este livro ainda não acabou, e espere que nunca acabe, fica em suas mãos (leitor) o dever de continuar o registro, pois sem ele, não teremos histórias para contar daqui a muitos anos, existem diversas maneiras de registrar, independente se for com palavras ou imagens, REGISTRE! Mostre a sua quebrada, diga de onde você veio e quem você é, não importa se é com canetão ou spray, só não deixe toda essa nossa história passar em vão.

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Fontes derivadas do pixo

Taking inspiration from the cholo lettering on the streets of los angeles and from brazilian pixo reto and making an allusion to the verticalization of big cities and the overlapping modules in Brazilian slums, Banca is the typeface developed in the Cidade Escrita project.

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Fontes derivadas do pixo

Tendo como inspiração o cholo lettering presente nas ruas de Los Angeles, o picho reto do Brasil e fazendo uma alusão a verticalização das cidades e a sobreposição de módulos presentes nas favelas do Brasil, Banca é a família tipográfica desenvolvida no projeto A Cidade Escrita. família tipográfica criada por Rodrigo Grimer


Fontes derivadas do pixo

Graduado em Design Gráfico pela Universidade do Estado de Minas Gerais - (UEMG 2010), vive atualmente em Belo Horizonte - MG São Paulo - SP Buenos Aires. Tem interesse crescente por grids, ilustração, grafitti tags, toy art e tipografia. Gosta do processo, do analógico, do desafio de cada projeto, onde em muitos casos o conceito é mais importante que o próprio produto. Atua desde 2009 em alguns escritórios em que trabalhou contribuindo de maneira expressiva para o seu crescimento profissional. Fundação de Arte de Ouro Preto|FAOP (janeiro 2009 - maio 2009), trabalhou com o setor cultural, atuando na comunicação de eventos e identidade visual. Fundação Biominas (Junho 2009 - janeiro 2010), trabalhou com profissionais de diferentes formações, criando projetos de identidade visual e brandig. Já na Designlândia (marco 2010 - junho 2011), envolveu com áreas de seu maior interesse, e participou das diversas etapas que envolvem um projeto de design. Durante este tempo desenvolveu projetos editoriais, de identidade visual e ilustrações. trabalhou com clientes como: Ronaldo Fraga TRIP Linhas Aéreas Brasil Brahma Ambev Minas Trend Preview Blanc de Noir Casa de Olinda Head Sanofi-Aventis Top Down

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Djan Ivson

Cripta Djan Informações e imagens: Flickr de Cripta Djan

“EU VEJO O ‘PICHO’ COMO UM DIREITO A CIDADE NÉ? UM DIREITO QUE FOI NEGADO A TODOS DE UMA FORMA GERAL, PORQUE A POPULAÇÃO EM GERAL NÃO TEM PARTICIPAÇÃO NA CONSTRUÇÃO DA CIDADE, A CIDADE É IMPOSTA, ENTÃO ACHO QUE A PICHAÇÃO É A MELHOR RESPOSTA QUE EXISTE CONTRA ESSA SEGREGAÇÃO ESPACIAL”,

COMENTA O ARTISTA E ATIVISTA PAULISTA DJAN IVSON.

Com cerca de 20 anos de envolvimento com a arte de rua e, mais especificamente, a pichação, Djan se tornou uma referência no meio, não só pelo trabalho urbano, mas também por ter sido um dos expoentes em levar a arte de rua à veículos da grande mídia e até para circuitos como o cinema – Djan participou do documentário ‘Pixo’ de João Wainer, e mais recentemente do filme ‘Pixadores’ do Iraniano Amir Escandari. Seu trabalho inclusive levou o tema para meios que usualmente não são ligados à arte das ruas, como na 29ª bienal de SP, quando o artista foi convidado a participar após ter realizado uma ‘intervenção’ (Responsável por algumas controversas) em um espaço do evento na Bienal anterior. Djan participou também de um processo curatorial de arte de rua na cidade de Berlim (Que é citado no filme de Escandari). Na ocasião, um problema com as políticas de patrimônio do país quase criou problemas para o artista e seus companheiros Durante sua passagem por Londrina, como convidado da Semana de Arte (Quando também ocorreu exibição do filme ‘Pichadores’) Djan conversou com artistas e interessados durante evento na Usina Cultural. Cripta falou sobre um pouco de seu trabalho além de algumas questões sobre a importância da arte em espaços públicos e sobre a produção do filme. Como surgiu o conceito do filme ‘Pixadores’ ? O filme foi produzido por uma produtora da Finlândia, a ideia deles no começo não era fazer um filme sobre pichação. O diretor do filme (que é iraniano) veio aqui para o Brasil atrás de surfistas de trem né? Como alguns dos artistas participantes surfam em trens também, ele acabou chegando até a gente e falando que tinha interesse

em registrar pessoas ‘surfando’ e essas coisas. Aí, ele acabou conhecendo a gente, ficando bastante tempo com o nosso grupo e tendo uma ideia do contexto em que a gente vivia. Ele gostou muito da coisa toda e sugeriu que a gente fizesse um filme sobre as nossas vidas. Foi um desafio para nós, tanto pra eles, o pessoal nunca havia feito um documentário, apenas filmes fictícios.

Muito tempo de produção foi feita para o resultado final? As primeiras imagens foram feitas em 2010, houve outra bateria de imagens em 2012 e foi tudo finalizado em 2013. O filme também teve uma resistência aqui no Brasil, o lançamento foi em 2014, mas nenhum festival de cinema aceitou passar o filme por aqui (Acho que até devido á Copa do Mundo), isso mostra o retrato de um Brasil que nossas autoridades não querem mostrar, esse filme mostra muito a realidade das periferias de São Paulo, o pessoal prefere mostrar mais o lado das praias bonitas, como no Rio de Janeiro. O filme foca mais na periferia, no momen-


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to em que estamos pichando, e essas coisas… Para você Cripta, há muita diferença entre o trabalho da pichação feito no Brasil e fora? Na realidade, a pichação é uma manifestação brasileira, o que vem de fora do Brasil é grafite…. Porém, a pichação andou influenciando o grafite lá fora também. Você vê algumas influências em estilos de grafite lá fora. Berlim mesmo (Que aparece no filme) já tem um movimento de pichadores alemães que é baseado em pichações aqui do Brasil, mas que criou a própria identidade estética deles. Tive a oportunidade de ir até lá, pichar com eles…. Acho que depois de São Paulo, só lá mesmo que tem uma cena consistente. O que a gente vê é bastante intervenção na rua, mas o grafite ainda é referência mundial, acho que o ‘pichoo’ ainda vai se difundir em outros países, até espero que isso aconteça. Você teve por exemplo a cena de grafite americano, que começou em Nova York por exemplo, e que influenciou estilos em todo o mundo. Acho que isso pode acontecer com o ‘pichoo’ por exemplo. Vocês tiveram um problema durante a passagem pela Europa por supostamente terem se ‘Envolvido em atos de vandalismo’ (Como é relatado no filme), como foi essa história? Depois que a gente voltou , o que aconta foi passada para o Ministério da Cultura (MinC) – Que foi quem financiou nossa ida para lá. O Ministério entrou em contato com a gente e pediu nossa defesa, nós fizemos a mesma alegando que havíamos nos encaixado em um projeto curatorial – Segundo Cripta, havia sido uma proposta dos próprios curadores fazer uma demonstração ‘ao vivo’ do processo da pichação- Quando você faz uma demonstração prática, você está incluindo a trans-

gressão nisso, e isso ficou claro nos ‘autos’ do processo, e nós acabamos ganhando, a conta voltou para o instituto que organiza a bienal. Se tivéssemos perdido teríamos que ter devolvido todo o dinheiro da viagem. Nós contamos com um advogado muito competente que ajudou a gente de graça. (Segundo o artista, imbróglio todo demorou cerca de 2 meses). Como o filme mudou o trabalho ou a vida de vocês? Pra nossa vida não mudou nada… Mas, foi interessante ter o registro daquele período da nossa vida ser registrado, o ‘picho’ é um movimento de memória. O registro se tornou uma coisa muito importante para eternizar esse momento, ficamos felizes de ter um período da nossa vida registrado em um filme tão bem produzido. Teve algumas coisas interessantes, o diretor filmou muita coisa separada, com a vida de cada um e teve coisas da vida do pessoal que aparece que eu apenas havia visto no filme apesar de sermos amigos há anos. Os cinegrafistas viraram quase ‘fantasmas’ no meio da gente, pegaram vários detalhes da vida pessoal de cada um, de um jeito muito específico. O processo todo foi muito rico também. O filme já passou em mais de 30 países – Na Finlândia teve uma aceitação muito boa, ele entrou em circuito de cinema lá também. E passou em vários festivais de cinema na Europa, inclusive, a gente ganhou um prêmio na Polônia, foi até uma boa resposta para o curador da Bienal (Que era Polonês) onde tivemos o problema, e nossa surpresa foi a de, após passar em todos esses países da europa, entramos com ele em uma mostra de cinema em SP, onde ganhamos o prêmio. Em Berlim conhecemos vários artistas legais durante a parte filmada lá. Eles levaram a gente pra pichar um pedaço do muro de Berlim, aconteceu uma interação, uma troca muito positiva. Teve muita coisa filmada durante a produção que eu gostaria de ver, cerca de 90 horas foram gravas, mas, muita coisa ficou de fora. Vocês estiveram em uma intervenção ocorrida na 28ª bienal em SP, como foi isso? Na bienal de SP, foi a mesma proposta do evento de Berlim. Nós nos encaixamos em um projeto curatorial, mas, não éramos convidados oficias. O curador daquele ano veio a público na época informando que haveria (Durante a bienal) um andar vazio aberto para intervenções urbanas. Então a gente pensou ‘Se ta aberto, estamos convidados para pixar’,

“O reconhecimento existencial do ‘pixo’ no campo da arte, é importante. Até porque o ‘pixo’ é um movimento muito mal compreendido e, se a gente não levar essa discussão para o campo da arte é mais difícil”, comenta Cripta Djan


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e mesmo assim eles reprimiram a gente, prenderam uma menina que estava com a gente (Por 50 dias), mas, a gente conseguiu reverter a situação. Em breve haverá um documentário que contará sobre essas ocupações…. Desde a de 2008, que foi a invasão até 2010, que foi quando voltamos como convidados oficiais da mostra. A gente entrou neste circuito justamente para testar os limites dele sabe? E essa coisa de levar a pichação para outros ambientes? É importante isso para a função? O reconhecimento existencial do ‘pichoo’ no campo da arte, é importante. Até porque, pixação é um movimento muito mal compreendido e, se a gente não levar essa discussão para o campo da arte (Mas sem buscar a mesma como pedestal) é mais difícil, o que nós reivindicamos foi esse reconhecimento por parte do circuito, já que muitos envolvidos se dizem prezar ‘pela arte’, como eles podem negligenciar a existência do picho? A gente não buscou isso para ser aceito, mas para ser entendido…. Porque o setor das artes reconhece o ‘picho’ mundialmente né? A gente participou das bienais em SP, depois da ‘ocupação’ fomos até convidados a participar de outra. Tivemos um relativo reconhecimento na rua, mas a pichação continua marginalizado, continua sendo crime… Como você vê a importância disso que os pichadores fazem, para a questão do espaço urbano? Eu vejo o ‘picho’ como um direito a cidade né? Um direito que foi negado a todos de uma forma geral, porque a população em geral não tem participação na construção da cidade, a cidade é imposta, então acho que a pichação é a melhor resposta que existe contra essa segregação espacial…. Até costumo falar, para que serve um muro? É como se ele fosse criado para ser pichado mesmo, eu vejo o ‘picho’ como um uso público da cidade, como um uso que é negado para a gente. Ele funciona como uma retomada simbólica da cidade, porque, a cidade e o centro não é um espaço que foi construído para a gente. De certa forma a gente ocupa né? Quando a gente pega um prédio na Av. Paulista ele acaba se tornando nosso, dentro da nossa linguagem, é uma espécie de inversão de valores que a gente acaba promovendo no espaço público, acho saudável a pichação para a cidade.


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Entrevista Publicado Em 22/05/16 - 03h00 O tempo magazine LUCAS BUZATTI

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Pixo, arte e resistência política Como começou seu envolvimento com a questão da pichação? Eu já tinha um percurso longo com o grafite na cidade. Um dia fui acompanhar uma pessoa que ia fotografar grafites, e ela me contou que o prefeito queria fazer uma delegacia só para pichação, o que aconteceu na época da prisão dos “Piores de Belô”. Eu nem gostava de pichação. Mas cheguei no viaduto Santa Tereza e vi que muitos grafites estavam “atropelados” por pichações. Me coloquei a pensar: Será que esses meninos têm algo a dizer? Será que estão sentindo essa perseguição? Minha trajetória acabou me levando a mergulhar na pichação, tentando entendê-la. Será que, como a escrita literária, aquela escrita também causa transformações no sujeito que a produz? A pergunta que nunca se cala: pixo é arte? Eu sempre fico pensando porque a gente tem que definir como arte para poder entender, sabe? Talvez não possa afirmar que seja arte

pelo ponto de vista acadêmico, das belas artes. Mas se eu penso que o pixo é escrita, poética e política, se eu entendo que ele constrói autores, de alguma forma, ele se mostra como arte. Não há como fugir disso. Foi considerado pela Bienal de Berlim, pela Bienal de São Paulo. O cara inventa uma grafia, um nome, uma linguagem, um simbolismo, uma educação patrimonial. O que é isso se não arte? Por que há tanta dificuldade em entender o pixo como elemento da cultura urbana? Talvez seja a mesma dificuldade de entender que o rap e o funk são cultura. Muito pelo fato de ser uma estética própria, periférica, jovem, livre, que se apropria das coisas a partir de um princípio mui-


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Psicóloga, mestra e doutora em letras, Ludmilla Zago é das mais importantes vozes do debate sobre pichação e cultura de rua na atualidade. Coordena pesquisa sobre justiça urbana e convivência na Faculdade de Direito da UFMG e dirige a ONG Borda Convivência, Cidade e Pesquisa, que desenvolve projetos como o Real da Rua. O Magazine conversou com Zago sobre pichação, arte urbana e justiça seletiva.

to peculiar, que não vem do lucro, que não compactua com a televisão. É difícil as pessoas entenderem como legítimo, como respeitável, algo que elas têm dificuldade de entender, que não conhecem, que não se dirige a elas. Além de tudo, tem a transgressão, numa sociedade que é cada vez mais extremada. Se é ilegal e eu não entendo, então quero que desapareça. Não temos uma cultura de convivência na cidade entre os diferentes. Ao contrário do pixo, o grafite conseguiu status de arte e foi para galerias mais cedo. Por quê? Primeiro, é importante lembrar que a pichação, em menor escala, também já estabeleceu diálogos com espaços de arte. Principalmente em cidades como Berlim e Nova York. Sobre o grafite, acho que tem a ver com a beleza, com a possibilidade do entendimento. E porque voltamos ao tempo da criminalização da escrita. O grafite tem raiz comum com a pichação, e as pessoas insistem em não entender isso, talvez pelo grafite ser mais confortável para o olhar. A possibilidade de ver o grafite como algo bonito, que inclusive pode “curar”

a cidade do pixo, talvez faça com que ele seja tão capitalizado pelo poder público atualmente, que age como se quisesse acolher o grafite. O grafite topa o diálogo de receber lugares para acontecer e ser feito, como no projeto Telas Urbanas. A pichação não tem disso. A atividade parte dela mesma. Recentemente, assistimos à prisão do Goma, um dos pichadores mais conhecidos da cidade, que gerou protestos e muita indignação. Há, de fato, uma perseguição ao pixo em Belo Horizonte? Claro. Eu acho que Belo Horizonte chegou no ponto máximo de abuso de poder, de uma interpretação que não considera essas pessoas, essas culturas. É um desconhecimento e um exagero muito grande esse investimento contra pessoas que, para o poder público, destroem o patrimônio. Mas é a Justiça quem está destruindo a vida dessas pessoas, porque rabiscaram paredes. Não dá para entender o por quê de tanta marginalização para uma coisa que se apaga, muitas vezes, no mesmo dia. Percebo que BH é pouco afeita à liberdade, à juventude, à ocupação do espaço público com alegria. E prova disso é essa mobilização contra a arte urbana, esse desejo punitivista de prender pichadores como exemplo. Que foi o que aconteceu com o Goma, na sua análise? Exatamente. O Goma é um comunicador, um artista da rua, com um alcance muito grande na cidade, com diálogo com vários setores. O curioso é que ele não pichou a Igrejinha da Pampulha, mas mesmo assim foi envolvido e preso. É porque nesse contexto da cultura de rua tudo é criminalizado. A amizade, a estética, a simbologia. Se o Marú (autor da pichação na igreja São Francisco de Assis, preso em maio deste ano) não tivesse pichado a Igrejinha, eles talvez tivessem dado outro jeitinho para prender o Goma. O chamaram para que ele entregasse o Marú, ele não quis falar nada e, então, retiraram sua fala


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e seu trabalho (dias antes da prisão de Goma, a polícia apreendeu todos os materiais de sua loja, Real Grapixo, que vendia latas de spray e camisetas que faziam alusão à pichação), e o enquadram por apologia. Então, tudo que tem a ver com pichação é criminalizado. Até a ética do pichador. Parece que estamos falando da máfia italiana, mas o assunto são rabiscos na parede. A pichação na Igrejinha da Pampulha motivou muitos debates sobre arte urbana e patrimônio público, inclusive um último com a sua participação, no Café Controverso, que aconteceu ontem. Como você vê essa seara? É preciso falar do uso do patrimônio, do direito da cidade, do que existe na cultura de rua que o ordenamento da cidade não consegue aplacar. Temos que pensar na desproporcionalidade das penas, numa cidade que cuida mais do patrimônio do que das pessoas. Em tese, porque a gente já viu diversas situações em que a prefeitura agrediu o patrimônio e não foi julgada. Afinal, o que é público? Como falamos dessa designação quando ela vem de

cima para baixo? O Marú, por exemplo, afirma que não sabia o que era patrimônio, quem era Portinari. Isso mostra a necessidade de uma educação patrimonial, de envolver no debate, por exemplo, o pichador, que é uma figura que se envolve muito com a cidade. Ainda que seja patrimônio, é justo deixar alguém preso por oito anos, como existem casos na cidade, por conta de uma manifestação estética? E preciso pensar, também, qual o patrimônio que o pixo configura para ele mesmo. Na sua opinião, o que leva uma pessoa a pichar? Uma vez vi num seminário um pichador dizendo que, quando alguém dissesse porque se picha, a pichação iria acabar. É aquela ideia de que falar demais da arte acaba com a arte. Mas eu poderia dizer que a pichação é fruto da vida urbana periférica brasileira. Já vi menino falando que começou a pichar porque não tinha o que fazer no bairro, ou para ficar conhecido e ter ibope, e depois entendeu a função política do que ele fazia, que se configura como protesto. Mas é difícil definir. O que faz um menino continuar pichando depois de ser tão injustiçado? Talvez a própria injustiça seja o motor. Mas tem também a coisa vibrante da juventude, que escapa dos ordenamentos. E, como diz a música, “eu acredito é na rapaziada”. Acredito na cultura de rua. Não consigo parar de querer que a pichação seja melhor debatida nessa cidade, onde tantas vidas têm sido destruídas pela injustiça.


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“pixo é escrita, poética e política, se eu entendo que ele constrói autores, de alguma forma, ele se mostra como arte.”




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Glossário Bafo – iniciante, inexperiente, sem credibilidade. Baguio – coisa, acontecimento. Bancar – pagar; “bancar a lata” significa pagar/patrocinar a lata de spray. Colar – marcar presença, comparecer. Corró – tipo de cela ou xadrez existente em delegacias de polícia, destinada à detenção temporária em razão de prisão em flagrante delito ou cumprimento de determinação judicial. Embaçado – complicado, difícil, imprevisível. Espirrado – expulso. Explodir – pixar intensamente. Pixação – ao grafar o termo com “x” e não com “ch” subentende-se falarmos da pixação feita pelo pixadores paulistanos. Pixo – grafismo confeccionado com letras de pixação tendo o meio urbano (muros, fachadas, etc) como suporte, normalmente

executado com spray ou rolo de espuma. O pixo normalmente é um logotipo de um pixador ou de uma gangue escrito com estilo de letra conhecido como tag reto. Picadilha – escondido, discreto, disfarçado Point – local de encontro dos pixadores. Quebrada – bairro onde o pixador reside ou frequenta constantemente. Rolê – deslocamento dos pixadores pela cidade. Rodar – ser pego pela polícia. Trampo – trabalho. Três em pé – quando um pixador usa o ombro do outro como apoio para ficar em pé e pixar o mais alto possível, criando uma espécie de pirâmide humana. Treta – briga, conflito. União ou Grife – união de gangues de pixadores. Zé povinho – Pessoa que se preocupa com a vida alheia.

conclusão

Este livro serviu para sintetizar esse movimento que é considerado muito grande nas metrópoles/ruas, um movimento que a maioria das pessoas viram a cara e não reconhece como tal, um movimento que já virou identidade para as ruas de nossas cidades, mas muitas pessoas já absorveu isto e nem consegue mais enxergar tais informações em sua frente. Ciente que aqui consegui mostrar a importância que tomou isto e de onde surgiu, e como as gerações lidam com este argumento, este livro é um pequeno fragmento de tudo, um livro que não vai ter um fim tão cedo, podemos dizer que ainda vamos ter muitas histórias para contar nesse movimento. Direcionado para um editorial, o livro argumenta sobre a importância de registrar, como a pixação é livre, e qualquer pessoa tem poder de se expressar com ela, o registro é fundamental para ganhar mais voz esse poder. Acredito que tenha contribuído para os pixadores e para pessoas leigas, que tentam compreender esse movimento abertamente, pois enquanto tiver motivos, terá manchas.


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REFERENCIA:

LUCAS BUZATTI. Pixo, arte e resistência política. O tempo magazine. 22 Maio 2016. Disponível em:<http://www.otempo.com.br/divers%C3%A3o/magazine/pixo-arte-e-resist%C3%AAncia-pol%C3%ADtica-1.1303916>. Acesso em: 21 Junho 2016. PEDRO FILARDO. Pichação (pixo). Vitruvius. 16 Dezembro 2015. Disponível em:<http://www.vitruvius.com. br/revistas/read/arquitextos/16.187/5881>. Acesso em: 21 Junho 2016. EDITORA. Zine Goma. Editora. 16 Maio 2016. Disponível em:<https://issuu.com/editoraeditora/docs/zine_ goma>. Acesso em: 21 Junho 2016. CRIPTA DJAN. Manifesto. Cripta Djan. 2013. Disponível em:<http://www.criptadjan.com/>. Acesso em: 21 Junho 2016. BRUNO LEONEL. Arte da transgressão - Entrevista com artista Cripta Djan. Rubrosom. 7 Abril 2016. Disponível em:<http://www.rubrosom.com.br/entrevista-cripta-djan-londrina/>. Acesso em: 21 Junho 2016. ERNANI BARALDI. Grapixo. Fotógrafo Urbano. 3 Setembro 2009. Disponível em:<https://fotografourbano. wordpress.com/2009/08/03/grapixo/>. Acesso em: 21 Junho 2016. FILARDO, P. R. A pichação (tags) em São Paulo: dinâmicas dos agentes e do espaço. Dissertação de Mestrado. 28 Abril 2015. Disponível em:<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16137/tde-07032016152052/pt-br.php>. Acesso em: 21 Junho 2016. LUISA LOES. O cinza é imposto nos novos paredões da Antônio Carlos. Labcon. 3 Dezembro 2012. Disponível em:<https://www.ufmg.br/cedecom/labcon/formato/materias/cale-se-ou-a-imposicao-do-cinza-nos-paredoes-da-antonio-carlos/>. Acesso em: 21 Junho 2016. GARROCHO, L. C. Pixo: Política pública ou criminalização?. Olho de corvo. 1 Outubro 2010. Disponível em:<http://olhodecorvo.redezero.org/pixo-politica-publica-ou-criminalizacao/>. Acesso em: 21 Junho 2016. LUTHER BLISSETT. Somos tod@s Piores de Belô. Praça Livre BH. Disponível em:<https://pracalivrebh.wordpress.com/2010/09/30/somos-tods-piores-de-belo/#more-1344>. Acesso em: 21 Junho 2016. IURI SALLES E HENRIQUE SANATNA. Cripta Djan: “Pixo é a retomada da cidade por parte dos excluídos”. Vaidapé. 24 Setembro 2015. Disponível em:<http://vaidape.com.br/2015/09/cripta-djan-pixo-e-a-retomada-da-cidade-por-parte-dos-excluidos/>. Acesso em: 21 Junho 2016. LUCAS BUZATTI. A prisão do Goma foi um golpe duro na cultura do pixo em BH. Vice. 11 Maio 2016. Disponível em:<https://www.vice.com/pt_br/read/a-prisao-do-goma-foi-um-golpe-duro-na-cultura-do-pixo-em-bh>. Acesso em: 21 Junho 2016. SAY WHAT. Pixo Fanzine. Say What Studio. 22 Julho 2011. Disponível em:<http://www.saywhat-studio. com/>. Acesso em: 21 Junho 2016.

Este livro é somente um trabalho de editorial acadêmico, onde todas as informações expostas não são de meu domínio, como fotos e textos.


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Colofon Alan Martins Ferreira Lopes Família tipográfica: Century Gothic Essipe Formato : 19x29cm Papel : Couchê 145g Acabamento : Costura e cola Capa : Alumínio inox com dobradiça tamanho capa : 22x30cm


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