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Do Éden à Arca de Noé Alberto Vieira

COMO REFERENCIAR ESTE TEXTO: Vieira, Alberto (1996), Do Éden à Arca de Noé, Funchal, CEHA-Biblioteca Digital, disponível em: http://www.madeira-edu.pt/Portals/31/CEHA/bdigital/avieira/1999-AVIEIRA-eden.pdf, data da visita: //

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ALBERTO VIEIRA

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ALBERTO VIEIRA

TÍTULO Do Éden à Arca de Noé. O Madeirense e o Quadro Natural lU Edição

Colecção Documentos 8

AUTOR Alberto Vieira EDIÇÃO CENTRO DE ESTUDOS DE HISTÓRIA DO ATLÂNTICO SECRETARIA REGIONAL DO TURISMO E CULTURA Rua dos Ferreiros, 165 9000-FullchaI- MADEIRA Telef.: (35191)229635 Fax.: (35191)230341 Email: ceha@nesos.net //URL: http://www.nesos.net http://www.ceha-madeira.netl TIRAGEM: 1000 exemplares CAPA:

W. Combe, 1821, Colecção Museu Frederico de Freitas IMPRESSÃO: O LIBERAL, Empresas de Artes Gráficas, Lda. Deposito Legal: 136068/99 ISBN: 972-8263-12-0

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NoÉ

INDICE GERAL

11 23

A

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DA MADEIRA

ECONOMIA DA MADEIRA E A

DO

37

Cientistas

47

O MADEIRENSE E A DEFESA DO MEIO NATURAL

NATURAL

na Madeira séculos XVI- XX

55 56 OLHARES CRUZADOS 73

I XVIII-XIX

ESTAMPAS E DESENHOS DA MADEIRA

2.DOCUMENTOS E ESTUDOS

83 2.1. TESTEMUNHOS

87

Francisco

90

Novo das Madeiras para

98

522-1591J

Ilha da

116 Alvará Sua Manda dar os Meios Modos de Estabelecer o Povo e Conservar o Domínio da Ilha do Porto 1 119 da nrr'> "",nrw Antonio Raiz Velozo de 122 1792


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125 Bernardino José Pera da Camara [1816] 129 Paulo Dias de Almeida [1817] 133 Projecto sobre o Restabelecimento dos Arvoredos e sua Competente Economia na Madeira( 1822) 137 Correio da Madeira (1849) 139 lsabella de França [1853-1854] 149 Manuel Braz Sequeira [1913] 160 J. Henriques Camacho [1919] 172 Regime Pastoril Ilha da Madeira 175 Fernando Augusto da Silva: O Revestimento Florestal do Arquipélago da Madeira[ 1946] 216 Eduardo de Campos Andrada [19541 230 Eduardo de Campos Andrada: memorandum [1955] 2.2. A LITERATURA E O MEIO NATURAL: PROSA 235 Introdução 237 Bibliografia COLECTÂNEA DE TEXTOS LITERÁRIOS 241 242 243 243 245 246 247 251 253 258 262 264 271 273 274 275 280 284 291 298

6

Francisco Travassos Valdez [1825-1892] Raimundo António Bulhão Pato [1829-1912] António da Costa de Sousa Macedo [1824-1892J Acúrcio Garcia Ramos [1834-7] Joaquim Guilherme Gomes Coelho (Júlio Dinis)[1839-1871] Manuel Teixeira Gomes (1860-1941] Raul Germano Brandão [1867- 1931] Virginia Castro e Almeida [1874-1946J Marquez de Jacome Correia [1882/1937] José Maria Ferreira de Castro [1898-1974] António Assis Esperança [1892-1975] Fernando Augusto da Silva [1863-1949] Hugo Rocha [1906-?] Luis Teixeira [1904-1978] Henrique GaIvão [1895-1970] Edmundo Tavares [1892-1983] 1. Vieira Natividade [1899-1968] Eduardo Nunes [1910-1957] Maria Lamas [1893-1983] Horácio Bento de Gouveia [1901-1983]


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2.3. A LiTERATURA E O MEIO NATURAL: POESIA 305 DE POEMAS 309 Manuel Thomas [I 311 Troito de Vasconcelos da 311 Francisco Manuel 312 Manuel Gomes 313 João Fortunato de Oliveira [1 314 João da Câmara Leme Homem de Vasconcelos

Câmara

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315 Carlos Olavo

316 318

ele Freitas [1858 Nunes. [1860-1 Pereira [1875-1

318

319 319 320 320 321 321 322 322 323 323 324 324 325

326 327 327 329 330

Maria António Pimenta de Correia de Correia de Gouveia Pe Eduardo Clemente Nunes Pereira [1 João Vieira da Luz 1 Julia ele e Sousa [I Carlos Maria ele Oliveira [ 898-] Edmundo Albelio de BeHencourt Armando Santos Fernando Acácio de Gouveia Leandro de Sousa Gertrudes Marceliana Alberto Secundino Teixeira Manuel dos Santos Ana Bela A. Pita da Silva

DAS

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[1829-


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A ECO-HISTÓRIA E A HISTÓRIA DA MADEIRA

A H istoriogra fia tem propiciado nos últimos anos uma gra nde abertura na temática e na forma de abordagem dos diversos aspectos da História. A História do Ambiente ou Eco História ganhou um grande destaque, nomeadamente na H istoriogra fia norte-americana. Na verdade, foi aí que o novo domínio encontrou

maior nÚmero de adeptos e especialistas. Na Europa, depois de alguns pioneiros estudos de F. Braude l e Emanuel Le Roy Ladurie, só nos últimos anos parece ter retornado o interesse pelo estudo da evolução do quadro natural e da inter-acção com o Homem. Aqui. para além da Inglaterra assinalamos a Finlândia, Itália e Espanha '. A leitura de alguns dos títulos mais destacados desta bibliografia, como sejam os textos de A. Crosby' , Donald Worster', R. Nash', J. Donald Hughes' e R. A. Grove' , despertou em nós o entusiasmo pelo estudo da temática, ao mesmo tempo que nos

incutiram a curiosidade pela melhor elucidação das informações avulsas que encontramos em quase todos sobre o papel específico da Madeira. Foi na verdade a úLtima situação que nos levo u a definir um projecto de investigação em que se pretende aclarar e fundamentar as referências com uma abordagem exaustiva da inter-acçãô

do l11~d eircnse com o quad;o natur.a l. _ ". ~,!~ .. ~ A ii ha ficou como um marco da IIltervençao do homem no quadro f\I, " ,;\ ~a norestal desapareceu num áp ice por força da necessidade das culturas ' U-mentaram a dependência do mercado madeirense à Europa. A cana de~ na t.tt-I'IO Pt t

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Madeira a primeira experiência em larga escala e rapidamente são visíveis os efeitos do impacto ecológico. Por outro lado, a permanente vinculação da ilha ao mundo colonial britânico desde a segunda metade do século XVII fez com que a Madeira se tornasse numa das peças chaves da História da Ciência. Em pouco tempo a ilha transfonTIou-se num laboratório vivo que atraiu cientistas ingleses, franceses e alemães. Eis os motivos que dão suporte a um considerável número de questões sobre o devir histórico madeirense e que permitem usar as diversas fontes documentais na construção de uma diferente visão da História da ilha. Em certa medida é a oportunidade de dar voz ao quadro natural e através das suas múltiplas manifestações com evidências e testemunhos históricos tomá-lo inteligível. Mas isto não se resume apenas a uma História do Ambiente que se preocupe com a relação do Homem com o quadro natural que o envolve, nem tão pouco uma História da Ciência que se dedique liminarmente aos nomes dos cientistas e às suas descobertas. A envolvência da ilha leva-nos a atender aos dois aspectos em simultâneo e a procurar entender, não apenas o papel da ilha, mas fundamentalmente o que derivou deste protagonismo para o próprio arquipélago. A História do ambiente é sem dúvida uma criação do mundo científico e universitário americano e por isso teve aí desde a origem uma valorização inexcedível. A década de sessenta foi o momento ideal para o nascimento, contribuindo para isso alguns trabalhos então publicados que hoje são um marco do alerta para a situação em que o Homem estava intervindo e destruindo o meio natural. São dois os livros que se assumem como o despertar das consciências dos cidadãos e políticos para esta cruzada. Em 1962 Rachel Cm'son publicou "Silent Spring", considerado o verdadeiro alerta para os efeitos do "DDT" sobre a Natureza e ficou como o aviso às autoridades e motivo de reflexo de jovens de gerações de académicos. Seis anos depois se juntou o texto de Paul Ehrlich: The Population Bomb 7• Não obstante a Eco História ser simultânea com a afirmação do movimento ambientalista não pode nem deve ser confundida com a História do ambientalismd. O ambiente não foi apenas motivo de denuncia pública, mas também de reflexão filosófica e historiográfica. E é precisamente neste campo que ganhou forma o novo domínio historiográfico. Na década de setenta para além de se assistir às reedições de clássicos do século XIX, como Henry David Thoreau e Ralph Aldo Emerson 9 , é de salientar a publicação de novas reflexões. O ciclo inicia-se em 1935 com Paul Sears em Deserts on the Mm'ch e prossegue na década de cinquenta. Primeiro em 1957 com "Nature and the American" de Hans Hunt, que foi secundado com "Conservalion and the Gospel of Efficiency" de Samuel P. Hays(1959). Nos anos imediatos assiste-se a uma maior precisão temática: 1963: Man anel Nature in America de Arthur A. Ekirch Jr.; 1967: Wilelerness anel the American Minel de R. Nash; ln the House of Stone ou Light: A Human History oh the Granel Canyol1 de J. Donald Hughes; 1970: The Greening of America de Charles A. Reich; 1972. Columbian Exchange de A. Crosby; 1973: American Environmentalisl17 de Danai Worster lll • O movimento ganhou fortes raízes nos meios académicos II e, por iniciativa de R. Nash, na Universidade de Califórnia, Donald Worster na de Yale e Brandeis no Hawaii, a disciplina entrou nos currículos de ensino. Foi neste contexto que a

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História do ambiente a em 1976 da "American "Environmental Revicw"" como os mecanismos mais O reconhecimento derin vo de uma da [-I "Environmental cm 1990 por "Thc Journal Df American a semente que iria Ii"utilicar, na América crescia a consciência flltto dos alertas para da na a que a Escola dos Annales era a desembocava 110 mesmo rumo e na clara a valorizaAssim. um número dos AII/lalcs de 1974 dedica cspeum dos no continente europeu. mais evidentes do novo movimento da sociedade. Em 1970 tivemos da EPA Environmenta/ PI'OIeclion de ouro dos movimentos , Foi também a duvida levantada sobre historicidade do movimento que levou ao novo olhar o humano e a com o meio natural';, Os estudos históricos acabaram por provar que do meio ambiente não a seguné anterior ao da Guerra Mundial ",, Também ficou claro que a ideia de da 17 Descobriu-se o movimento ambientalista de finais do século ambientalista radical na IH, OS trinta anos que SI;: suct:dt:l'am fi década de setenta foram cruciais para a da Eco deste modo () ambientalismo deixou de ser LIma para se assumir como uma actividade orientada de acordo com os ditames da De acordo eom J. Donald

our their natural environemtal that enviroment and witll that results"", deals with the variolls

been !lave

que a oveI' time between . Poderá referenciar-se ainda onelt: enCO!1tht: past que é a História ser humano

l11ismo innuido en estas condiciones cómo reaccionó ante las alteraciones, A História Ambiente tem demonstrado nos últimos anos ullla tendência para a áreas lemáticas da História passaram fazer do seu faceta Assim aos temas Arte e Literatura O clima é considerado uma das evidências elo

das

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ecológicas. A História do clima é o meio de averiguar a forma de intervenção do homem no quadro natural e dos efeitos secundários. Depois do celebrado estudo de E. le Roy Ladurie'; sucederam-se trabalhos de grande impacto: Raymond Bradley e Philip D. Jones (l992), F. M. Chambers (1993), Richard H. Grove (1997), H. Lamb (1982, 1995) e T. M. L. Wigley (1981). O ramo da Arqueologia do meio ambiente começou após a II Guerra Mundial e ganhou notoriedade na década de setenta. De acordo com Jo11a11 Evans "Environmental Archaelogy is the study ofthe past environment ofman"26. Por outro lado E. J. Reitz27 destaca que "Environmental Archaeology is an ecletic field lhat encompasses the earth sciences, zoology and botany". Na verdade, são vários os factores determinantes do quadro natural que perduram nas várias camadas de sedimentação. Através da recolha de infonnações sobre animais, plantas e solo é possível reconstruir o ambiente do passado. É esta a função primordial da Arqueologia do Ambiente e que faz com que à mesma se liguem as Ciências da Terra, Arqueo-botanica, Zoo-arqueologia e a Geo-arqueologia" H• Os estudos sobre Zoo-arqueologia tiveram em Elizabeth Wing a líder nos EUA e América Latina]'}. A floresta é indissociável da História do Homem. Não obstante o Cristianismo assumir uma atitude hostil ela esteve sempre presente nos grandes momentos da História da Cristandade. É a nossa principal reserva de riqueza. Foi até meados do século XIX um meio indispensável à sobrevivência e comodidades humanas com o fornecimento de lenhas e madeiras. Em todos os tempos a riqueza de uma região dependeu da reserva que delimitava a fronteira do espaço agrícola e humanizado. A partir do século XVIII Rousseau transformou a ideia e a relação do Homem com o quadro natural, que passou a estar envolvido no quotidiano. Perante isto ao homem do século XIX a ideia de floresta era outra. Perdeu-se o medo, o instinto dominador e agora procurava-se nela a harmonia. É esta a lição de David Thoreau em "Waden".lll. Foi também então que o homem tomou consciência da acção devastadora sobre a floresta. O primeiro grito é de Marsh em "Man and nature" (1874). E reacções sucederam-se através de medidas de protecção da floresta. A primeira atitude neste sentido surgiu em 1669 com a ordenança francesa das i10restas de Colbert, depois tivemos o.fi'ee timbel' act (1873), a criação dos parques e reservas; Yosemite National Park em 1890 e, as associações privadas - Sierra Club (1892) - e publicas - Divisão de Florestas (1886)31. A devastação da floresta não se resumia apenas à perda irremediável do coberto arbóreo, pois provocava efeitos secundários destrutivos considerados catastróficos. A situação tornava-se mais evidente nas ilhas onde o hinterland era reduzido. A primeira imagem disto foi a ilha de Chipre, onde a construção naval e a exportação levaram a que perdesse o epíteto de ilha verde, dado pelos antigosJ~. A situação repete-se na Madeira, Canárias e na maioria das Antilhas. Um dos aspectos significativos da valorização da floresta como recurso foi a construção naval. A expansão europeia desde o século XV implicou uma revolução no sector. Os séculos XVII e XVIII de competência das potências europeias no domínio do mar e do Novo Mundo conduziram ao seu incremento. Até 1862, altma em que se atingiu a idade do ferro, a madeira era a matéria prima da construção navaP'. Os pOltugueses desde D. Dinis que avançaram com o célebre pinhal de Leiria. Todavia

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as conhecido

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surgem no século XVII, O caso a floresta socorre das este continente e o Canadá para

franceses'" Madeira assumiu um de mas a presença do homem dcsdc o século XV conduziu ao desana vertente sul. As da ilha íhma na revolude sobradados cm Lisboa e alimentaram a florescente se sentiram os efeitos deste abatc Deste modo a Madeira é considerada um da destrutiva do machado e serras de Tal como alirma S, uma caricatura do processo de Da leitura dos clássicos e da recente releva-se uma situque toca ele novo ao da Madeira, A Madeira nào se cionoll apenas nos anais da História universal como a área de na cultura do no Novo Mundo, Também a não se resumiu apenas ao cneontro e desencontro de que marcou o início de UIll processo de ou do ambiente'" O europeu carregou a fauna e nora eom valor que acabou por provocar nos novos eco-sistemas, Com isto o espaço do e natureza universalizaram-se, de da chamada hiota ULU"""LdLU

americana que se dedica da História sendo o alento para a nossa incursão lemática inovadora, Outro facto insistentemente referido é da ilha da O nome foi atributo para referenciar a abundância aspecto luxuriante do referida por Camões1': Passamos a ilha da ,vfcu/eira do mui/o arvoredo assirn se Das que povoamos mais célebre por

para abrir clareiras de cultura para fizeram-na desmerecer tal Madeira quase refere que atearam um incêndio entrar na Foram sete anos de acesa, diz a acredita versão por cm Cadamosto e outros autores da A ser verFraneisco Alcoforado dade teria reduzido a ilha a carvão, É apenas entendido em sentido


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orizar as proporções que o fogo assumiu no solo virgem. A situação expressa a realidade que pautou a expansão europeia mas que só nos últimos anos tem cativado a atenção do historiador. Tudo isto tem origem num produto devorador que conquistou o mercado e que pautou a evolução da economia atlântica a partir do século xv. O carrasco é o açúcar. A disponibilidade no mercado só foi possível com este processo de degradação do meio que viu nascer os canaviais. Isto conduziu-nos imediatamente a uma reflexão sobre a Agricultura e as relações com o ambiente. Tendo em conta as múltiplas funções da floresta os estudos realizados repartemse na História da Floresta em geraP", os múltiplos usos que vão desde o combustível 40 à construção naval 41 • A incessante procura conduziu o homem à busca de medidas de defesa que surgem em circunstâncias e conjunturas de crise deste inestimável recur50 42 •

O desenvolvimento da agricultura é considerado um dos factores fundamentais de intervenção do Homem no quadro natural. O processo de sedentarização humana e a consequente domesticação de animais e plantas implicaram a mais evidente expressão da mudança43 • Foi o conde de Buffon quem primeiro se deu conta deste impacto, sendo secundado por George Perkins Marsh em 1864 com "Man and Nature". O impacto da agricultura no quadro natural é um dos temas mais valorizados na Historiografia do Ambiente. Aqui, para além dos estudos que tratam de História da Agricultura, temos que evidenciar os que estabelecem uma relação do sector com a Ecologia44 e definem uma intervenção harmónica através de uma agricultura sustentada4S • Neste contexto é evidente o papel assumido pela cana de açúcar, cujos efeitos devastadores foram notórios nas áreas onde a cultura chegou46 • Josué de Castr041 traça-nos o retrato violento da expansão da cana de açúcar: "Ja afirmou alguém, com muita razão, que o cultivo da cana de açúcar se processa em regime de autofagia: a cana devorando tudo em torno de si, engolindo terras e mais terras, dissolvendo o húmus do solo, aniquilando as pequenas culturas indefesas e o próprio capital humano, do qual a sua cultura tira toda a vida. E é a pura verdade ... Donde a caracterização inconfundível das diferentes áreas geográficas açucareiras, com seu ciclo económico, com as fases de rápida ascensão, de esplendor transitório e de irremediável decadência. " Esta ideia é corroborada por Mário Lacerda de Melo"s: "Dificilmente se encontrarão formas de utilização dos recursos dos solos que se possam rivalizar com a agro industria canaveira quanto à capacidade de condicionar um tipo de sociedade e de economia, de modelar um tipo de paisagem e de estruturar um tipo de arranjo económico do espaço". A cana de açúcar poderá ser considerada a cultura agrícola mais importante da História da Humanidade, porque provocou o maior fenómeno de mobilidade humana, económica, comercial e ecológica. A sua afirmação agrícola é milenar e abrange vários quadrantes do planeta. A cana é de todas as plantas domesticadas pelo Homem a que acarretou maiores exigências. Ela quase que escraviza o homem, esgota o solo, devora a floresta e dessedenta os cursos de água. A exploração intensiva desde o século XV gerou grandes exigências em termos de mão-de-obra, sendo responsável pela maior fenómeno migratório à escala mundial que teve por palco o

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Atlântico: a escravatura de milhões de africanos. isto está também um COI1variado de culturais que vão desde literatura à musica e Foi o Oriente que descobriu tendo a árabes fizeram-no ao ocidcnte e foram os

arautos ela Mas foi nas ilhas U'""",,,au no Ocidentc: Cabo Verde e S. Tomé

carócter no o eteito dominador na economia c sociedade/associescravo, que começou 110 Mediterrâneo e se no Atlântico. cana, tal como afirmou Josué de CastroN , é realidade histórica dos últimos cinco em que assumiu um estatuto de assim o confirma. O que aconteceu na Madeira dos séculos XV c Caraíbas nào u idênticas atlântica era extensa. Mesmo assim os tiveram Gilberto Freires" afirma que "o canavial grosso de modo mais cru A cultura da cana .. , valorizou o canavial e tornou a mata". O processo é a cana derruba-se ou a l1oresta. para o (l\z para manter acesa chama dos ou construir as infra-estruturas. A cana tcm na lloresta o maior e Um apenas evidencia dimensão que assumiu o processo. Para Brasil cio século XVIII cada 15 de lenha toneladas'l. A continuada

devastadora

assim descrita por Warrcn DClln: "Durante lucros fáceis:

cada vez

de sucedàneos para centenas ele floresta. Nenhuma se observou durante esse meio muito quase desde o entoadas intermitcntes que, nos dias são contínuas e n·enéticas .. Em J 660 o de Salvador da Baía definiu um de medidas, que não foram sullcientes uma vez que em 1804 no Rccôncavo era evidente a t~llta de lenhas e madeirasse. O da l10rcsta dos tllzia aumentar os custos de fabrico cio

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o processo é similar nas regiões que antecederam o boom do açúcar americano. Senão vejamos. Em Motril a primeira metade do século XVI é definida por uma quebra da produção açucareira, atribuída à falta de lenhas que forçaram a tomada de medidas desde 1540 53 • A situação repete-se na Madeira e Canárias5\ o que provocou uma reacção dos proprietários de engenho, materializada nas medidas exaradas em ordens régias e posturas Municipais;;. As ilhas, pela limitação do espaço, foram as primeiras a ressentir-se da realidade. Sucedeu assim em ambos os lados do Atlântico. A única excepção está nas ilhas de S. Tomé e Príncipe. Nas Caraíbas a situação é igual à Madeira. A ilha de Santo Domingo, hoje Haiti e República Dominicana, a cultura da cana teve um apogeu curto de pouco mais de cinquenta anos, pois que em 1550 a notória escassez de lenha conduziu ao abandono de muitos engenhos desde 1570. Já na Jamaica, a promoção pelos ingleses da cultura, levou à busca de soluções. O trem jamaicano foi a solução mais eficaz. Com este sistema de fornalha o aproveitamento de lenha era evidente, pois apenas com uma só fogueira se conseguia manter as três fornalhas. Concomitantemente tivemos o recurso ao bagaço como combustível. Ambas as situações difundiram-se primeiro nas Antilhas inglesas a partir da década de oitenta do século XVII e só depois atingiram as demais áreas açucareiras 56 • A generalização do sistema aconteceu primeiro nas ilhas carentes de lenha e só depois chegou ao Brasil. A entrada definitiva da solução na industria açucareira do Brasil é em 1806, altura em que Manuel Ferreira da Câmara, na Baía, adaptou o engenho à nova situação. Mas na época a grande inovação era já a máquina a vapor, que começou a ser usada no Brasil a parlir de 1815. Entretanto a caldeira de vacuum, inventada em 1830 por Norbert Rillius de New Orleans, foi a técnica que revolucionou o fàbrico do açúcar e que mais contribuiu para a economia de combustível e por consequência a preservação da floresta. Não ficam por aqui os efeitos negativos da actividade agrícola no quadro natural. São vários os estudos que nos elucidam sobre o impacto resultante da domesticação de animais e plantas, processo que ocorre a partir de 800 A.C .. Daniel E. Vasey [1992] traça-nos o retrato e evidencia as transformações ocorridas a partir da segunda metade do século XIX com o recurso a adubos químicos, pesticidas e herbicidas. Foi, aliás, de acordo com este quadro que após II Grande Guerra surgiu o grito de Rachel Carson [1962] que face a uma Primavera de silêncio, sem o chilrrear dos pássaros, clama para que todos a entendam: "The history of !ife on earth has been a history of interaction between living hings and their surroundings.( ... ) The most alarming of ali man's assaults upon the environment is the contamination of air, earth, rivers, and sea with dangerous and even lethal materials"sl. Foi este grito ecológico contra os efeitos nefastos dos pesticidas que fez despertar a consciência de políticos, cientistas e despoletar a afirmação do movimento e das publicações científicas e historiográficas. Definidos os temas mais comuns da História do ambiente poderá questionar-se quais as fontes fundamentais para a sua concretização. Uma das fontes privilegiadas para estudo do impacto humano no quadro natural encontra-se na expressão plástica. A gravura e a pintura, como mera impressão de viagem ou forma de ilustração científica, assumem a função de fonte histórica. Foi nos EUA que esta fonte mereceu nos 18


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últimos anos a a americana do século XIX natural do continente numa onda de fundarevela um desusado apego ao do sentimento nacionaJ5". É o de Hudson River School. dominado e selva. A dos a ter a I RRO é considerado o momento do

está são outra forma de do relacionamento do homem com o meio natural. AI Paul (1991) afirma que através deles o homem comunica com a natureza. Duck Clifford I is man's idealized view of the warlel ... Gardens cannot be considered in detachment from the who made them""'. no mundo cristão está inevitavelmente à ideia de Paraíso e expressa-se formalmente através das Ilores e fontes "l. Esta comunhão do homem com a natureza não é apenas do mundo cristão. ideia de com o espaço de reflexão e de comunhão com a natureza (;stá mundo oriental desde a China ao Os influenciaram de forma decisiva os do mundo cristão"", 140-86 na China no do Na os estão documentados em Itália -mas foi o de Versailles (1 o mais famoso e alvo de XVII anuncia um novo de que tem como referência os de Oxford (1621), Chelsea (I (I Kew ( . Estamos o início dos actuais botânicos que se afirmam como de exóticas de todo o mundo. Os séculos XVI/XVIII foram momentos da nagem. Os tornam-se de livros sobre Oores e Dos vários dental tcmos o italiano e francês. O central. Já o francês é um espaço a até ao século XX altura em a inlluência do a . Em desde fins do século XVII chamado "Tudor Garden" em que a natural"'. Os quc também contactos com o mundo oriental pesaram nesta forma do influenciou madeirenses. Os elementos fundamentais dos são as e elementos cascatas, que se articulam de forma harmónica dc acordo com a sensibilidade cultural de cada e .O não é apenas e estilo mas também da e literatura. O culto elas árvores é evidente no século XVII. São elas que orientam a e lhe dão em avenidas em frentes elas casas J2 , O tal' lima que se celebra com pompa no dia dedicado já documentado desde o século XVllfl1 •

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A Europa partiu no século XV à procura do Éden, bíblico ou descrito na literatura clássica greco-romana14 • Foi este um dos motivos do empenho de Colombo e dos navegadores portugueses. O reencontro era encarado como uma conciliação com Deus, o apagar do pecado original de Adão e Eva. A imagem perseguiu quase todos os navegadores quinhentistas e não fogem à regra os que apartaram à Madeira. Tenha-se em conta que as duas primeiras crianças gémeas nascidas na ilha, filhas de Gonçalo Aires Ferreira tiveram nomes bíblicos de Adão e Eva?;. O encontro da ilha cra o retorno ao Éden que aos poucos se perdeu, tal como sucedera aos primogénitos Adão e Eva. A recuperação desta imagem acontecerá no século XVIII com a ilha a afirmar-se de novo como o paraíso agora redescoberto pelo viajante ou tísico ingleses, e recuperado e revelado ao cientista, seja ele inglês, alemão ou francês, através das recolhas ou da recriação com os jardins botânicos. A literatura anuncia uma nova expressão da relação do Homem com o quadro natural. A vaga romântica que, cedo se expandiu desde França, colocou o escritor e poeta próximos da Natureza. O romantismo é sinónimo de pastorialismo nos Estados Unidos que começou a partir do século XVII. O pastorialismo é a revolta pacifica contra a revolução industrial. Aqui a escrita surge na primeira pessoa numa descrição real, como se pode provar da leitura dos textos de 1. White, Th. Cole e George Marsh 16 • Dois livros demarcam o romantismo americano: Walden. Dr Life in the Woods(l854) de Henry David Thoreau e Moby-Dick (1851) de H. Melville. O último é, segundo Annie Dillard, "the best book ever written about nature"77. Thoreau é uma referência no panorama de "nature writing". A sua obra abriu uma nova era na valorização do mundo natural. Thoreau afirmava que "a writer is the scribe of ali nature"?" e tem como função fazer compreender a natureza. Ele foi, na verdade, o escritor mais popular da literatura romântica nos EUA e a sua obra influenciou os estudos de História NaturaF". É, por isso mesmo, considerado o santo patrono dos escritores sobre o ambiente americano"'. Se Thoreau merece o epíteto de patrono dos escritores da Natureza já John Muir (1813-1914) e John Burroughs (1837-1921) estão nas origens do movimento ecológico SI , que tem a plena afirmação após a segunda guerra mundial. Os reflexos da nova corrente estão também patentes no discurso literário H2 • Nos últimos anos editaram-se diversas colectâneas de textos recuperados numa perspectiva de História do Ambientesl, A Natureza é motivo de constante inspiração dos poetas. Mesmo Fernando Pessoa[ 1888-193 5] num dos heterónimos não perdeu a oportunidade de afirmar: "Além disso, fui o único poeta da natureza"H4. Na poesia americana a expressão mais evidente do romantismo é Wodsworth H5 • Em Portugal o romantismo legou-nos algumas paginas de ouro da literatura do século XIX. A produção literária e os estudos teóricos·" envolvem alguns dos nomes sonantes: que vão desde Júlio Dinis aAlmeida Garrett. É, aliás o primeiro que inaugura a escola naturalista com os Serões da Província( 1870y1. A relação do Homem com o quadro natural parte também da reflexão filosófica e dos rumos definidos pela História da Ciência a partir do século XVIII. O século XVIII é na verdade o de afirmação da ciência. Tudo isto é fruto de um triunvirato de cientistas que estão na origem de academias em Paris, Gottingen e Uppsala: George Louis Leclerc, Comte de Buffon (1701-88), Albrecht von Haller (1708-77), Carl von

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Do

À ARCA DE NoÊ

Linné

(1 A curiosidade do homem acerca da Natureza é do Ptolomeu em Alexandrina''', mas os rumos da actual descoberta delinearam-se a do século XVI. Os museus de História Natural c os

Francisco (I

Botanic Gardens at Kew ... served as a contrai centre which botanical information from of the to the colonial nated information ao rcferir-se ao Bristish Muscum (1881), o espaço é um Jardins botânicos e museus ele História Natural tiveram um da ciência e aos porque foram o contactos que a das descobertas tornava necessária a museus e as sociedades científicas desde o século XVI[ contribuíram para isolamento dos cientistas em Londres ( embrião colónias e difundiram-se em

1760 - American 1768 American 1805 - Charleston BOlanical

1846 Smithsonian Institution 1848 American Association for the Advancement of Science 1854 Société d' Accl imatation "",C'IP"\! of America 'l1

associadas a uma

a

edita desde 1665 "lhe

do outro lado do Atlântico tivemos desde 1818 o "American JOllrna1 af Scíence""".

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Do

ÉDEN À

ARCA

DE

NOE

A ECONOMIA DA MADEIRA

E A EVOLUÇÃO DO QUADRO NA~@Ã. t.tt-IIIO 1111 t."lIlJ1U!> IH Ntl~OItI'" Da .Io.I'1..l..... 'o(O

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Nos primeiros momentos de ocupação do solo madeirense. o vinho, O tri go. e. depois. O açucaro surgem como culturas aglutinadoras da peculiar vivência com ine\'itáve is implicações políticas e urbanísti cas. Os primeiros mate rializaram a necessária garantia das condições de subsistência e do ritual cri stão. enquanto o último encerrou a ambição e vo rac idade mercantil da nova burguesia europeia que fez da Madeira o principal pilar para afirmação na economia atlântica e mundial. O processo é irreversível s ucedendo-se uma Ca!adllpa de prodwos. com valor utilitário para a sociedade insu lar. ou C0111 capacidade adequada para activar as trocas com o mercado ex tern o. Se na primeira fase o domínio pertenceu à economia agrícola. no segundo. que se aprox ima da nossa vivência. reparte-se em serviços. indu strias artesanais (vimes e bordado) e produtos agrícolas. O cnquadrame rHo e afi rmação econó rnica nào é pacifico. sendo feito de embates permanentes entre a necessá ri a manutenção de subsistência e a animação comercial externa. Deste afrontamento resultou a afirmação dum produto que adquiriu maior pujança e numero de defensores nesta dinâmi ca. Foi nesta luta permanente de produtos de subsistência 1~1miliar. local e insular com os impostos de fora pela permanente so lici[açãu externa que. se alicerçolJ a economia da ilha até ao limiar do século XIX. Deste modo os produtos foram os pilares mai s destacados para a co ml'J-~n são da rc~lid~d,e s?cio-econom,ica madeirel,l se, ao longo dos quinhentos an~~f1~ ~os l11 C\ Ha v ei S na actualidade, Por ISSO proponho uma breve reflexl lmpon <i ncia no de vir e quotidi ano madeirense.

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UMA ECONOMIA DE EQUILIBRIO ENTRE A SUBSISTÊNCIA E O MERCADO. A tradição mediterrânio-atlântica, que define a realidade peninsular, repercute-se,

inevitavelmente na estrutura agrária do Novo Mundo e por consequência no impacto ecológico que acompanha a expansão atlântica. Da Europa saíram as sementes, utensílios e homens que lançaram as bases da nova vivência insular e atlântico, e aí se situavam as principais solicitações e orientações. A par disso o confronto com as novas realidades civilizacionais americanas e índicas contribuíram para o paulatino desencravamento planetário da ecologia e cardápio dos séculos XVI e XVII, com inevitáveis repercussões na economia e hábitos alimentares do europeu. A Europa contribuÍu com os cereais (centeio, cevada e trigo), as videiras e as socas de cana, enquanto da América e Índia apartaram ao velho continente o milho, a batata, o inhame, arroz e uma variada gama de árvores de flUtO. Neste contexto as ilhas atlânticas, pela posição charneira no relacionamento entre estes mundos, surgem como viveiros da aclimatação dos produtos às novas condições ecosistémicas dos espaços que os acolhem. A Madeira assumiu uma posição importante, afirmando-se no século XV como o viveiro experimental das culturas que a Europa pretendia implantar no Novo Mundo - os cereais, o pastel, a vinha e a cana de açúcar. A expansão europeia, que desde o século XV revolucionou o cardápio europeu, enriqueceu-se e aumentando a gama de produtos e condimentos. A tradição culinária europeia foi destronada pelo exotismo das novas sensações gustativas que acabaram por afeiçoar o paladar. Mas até que isso se generalizasse tornava-se necessário conduzir aos locais mais recônditos o cereal e o vinho. Assim, as embarcações que sulcavam o oceano levavam nos porões, para alem das manufacturas e bugigangas aliciadoras das populações autóctones, inúmeras pipas de vinho, peixe salgado e barris de farinha ou biscoito. Se o cereal poderá encontrar similar, como o milho e a mandioca, o mesmo não acontecia com o vinho que era desconhecido e incapaz de se adaptar às novas condições mesológicas oferecidas pela colónias europeias. Desta fonna o vinho foi conduzido da Europa ou das ilhas, onde se afirmou com esta finalidade aos mais recônditos espaços em que o europeu se fixou. Ele foi o inseparável companheiro cios mareantes, expedicionários, bandeirantes e colonizadores. Aos primeiros servia de antídoto ao escorbuto, aos segundos saciava a sede, enquanto aos últimos era a recordação ou devaneio hilariante da ten·a-mãe. O vinho era assim um dos principais traços de união das gentes europeias na gesta de expansão além-Atlântico. No imaginário e devir histórico madeirense paira sempre a visão tripartida da faina agrícola: o vinho e o cereal que a tradição impõe como necessários ao quotidiano espiritual e alimentar, o açúcar que se afirmou como provento excedentário capaz de atrair a atenção dos mercados europeus e de trazer a ilha as manufacturas que necessitava. Esta harmónica trifuncionalidade produtiva, porque definida pela extrema dependência as dinâmicas e directrizes europeias, esteve sujeita a diversos sobressaltos que contribuíram para a desmesurada desarticulação cio quotidiano e economia madeirenses. Assim, a concorrência do açúcar americano lançou o pânico na ilha e obrigou à necessária afirmação da cultura da vinha, levando o vinho a assumir a situação de moeda de troca em substituição cio açúcar. A precariedade da economia madeirense não deriva apenas da posição de

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mas também radica-se nas diminutas da ilha. O sempre das que são os molores da espa<;o insular. Toelos os autores coevos foram unânimes cm alirmar a ilha para satisfazer as diz-nos quc "a terra foi mostrando seus filttos e dando a fama deles no regno, e enofoi o motor de sucesso elo brecendo-se com moraelores ricos'"'' Esta inaudita povoamento da ilha: "crescendo e seus m;sim iam crescendo as e moradores com a fama de sua fertilidade. O processo de labuta insular expressa-se mais como humana e técelo que Se as eco-sistémicas favoreceram a e hábil tarefllo sementes, ao homem ficou reservada a mais Primeiro ergucu soca Icos as técnicas e as alfaias às condicionantes do novo espaço cultivado. O testemunho de tudo isto está os ladeados de considerados entre as do homem na do espaço. Os também um monumento ao ilha () encargo valorizar economicacolono que recebeu das mente as O investimento da de trabalho tem qlle mca e agem rural que se cidade fllzcnelo com que a ctaptrlss,em à medida do volume cios reditos acumulados com o e vinho e estava-lhes reservado o usufruto das comodidades e nas lides administrativas ou canas. Uma das das ilhas resulta do facto de estarmos espaços que condicionam c foram influenciados de humana. O processo económico no mercado mundial provoca intensiva que acaba inevitavelmente o natural e que do mercado exteeconómica fez-se de forma intensiva e de acordo com as com o natural c arrastando-o para a total dos "éculos XV testemunhos a revelar a cios solos devido ao surge em meados do século Xv. Cadamosto atirmava: "As suas 1",·"",,,1,, estú reduziterras costumavam dar a scss(;!nla por um, o quc do a trinta e porque se vão deteriorando dia a dia resullou ela do cereal para abastecer as ciclades do reino e praças aÜ·icanas. o cereal cedeu pouco dominaram do desl1o-

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quase total exaustão. Em 1689 John Ovington testemunha-o de fonna lapidar: "A fertilidade da ilha decaiu muito relativamente ao período das primeiras culturas. A cultura sem descanso dos terrenos tornou os fracos espaços em muitos lugares e de tal modo que os abandonam periodicamente, tendo de ficar de pousio três ou quatro anos. Depois desse tempo, se não crescer nenhuma giesta como sinal de fertilidade futura, abandonam-nos, como estéreis. A actual aridez de muitas das suas terras atribuem-na simploriamente ao aumento dos seus pecados"~<. A vinha e o vinho assumiram particular destaque na caracterização do processo histórico madeirense ao longo dos quase seiscentos anos de labuta. Desde os primórdios da ocupação da ilha até a actualidade o produto manteve a mesma vivacidade na vida agrícola e comercio da ilha. Dos mais produtos não houve capacidade suficiente para resistir à concorrência desenfreada de novos e potenciais mercados fornecedores de aquém e além-mar. Os cereais tiveram saque fácil nos Açores, Canárias, Europa e, depois na América, sofrendo, mais tarde, a concorrência do abundante fornecedor americano. Apenas, o vinho resistiu a concorrência do dos Açores, Canárías, Europa e Cabo da Boa Esperança, mantendo o tradicional grupo de apreciadores no velho e novo Mundo. Esta foi uma situação vantajosa para o quadro natural, uma vez que as exigências da cultura da vinha quanto à floresta era diminutas. AS DOMINANTES DA ECONOMIA AGRÍCOLA. No principio da ocupação da ilha as necessidades alimentares e ritual cristão comandaram a selecção das sementes que acompanharam os primeiros povoadores. O precioso cereal partilhou com os primeiros cavalos de cepas peninsulares o processo de transmigração vegetativa. A fertilidade do solo, resultante do estado virgem e das cinzas fertilizadoras das queimadas, fizeram elevar a produção a níveis inatingíveis, criando excedentes que supriram as necessidades de mercados carentes, como foi o caso de Lisboa e praças do norte de África. Até a década de setenta a Madeira finnou-se como o celeiro atlântico, perdendo-a, depois em favor dos Açores que emergem com uma posição dominante na política e economia fmmentária do Atlântico. Na Madeira inverteu-se a situação. A ilha passou de área excedentária a dependente em relação ao celeiro açoriano, canário e europeu. O estabelecimento de uma rota obrigatória de fornecimento de cereal açoriano à Madeira, criou as condições necessárias à afinnação da cultura da cana sacarina, produto tão insistentemente solicitado no mercado europeu. O empenho de todos no cultivo do novo produto conduziu à afinnação preferencial de uma nova vertente da economia atlântico-insular. A partir de então os interesses mercantis dominaram a dinâmiCa agrária madeirense. Na ilha as searas deram lugar aos canaviais, enquanto as vinhas se mantiveram de modo insistente uma posição de destaque. Se o cereal pouco contribuía para aumentar os reditos dos intervenientes o mesmo não se poderá dizer em relação ao açúcar e vinho que contribuíram para o enriquecimento das gentes da ilha. A própria coroa e senhorio fizeram depender grande parte das despesas ordinárias desta fonte de receita. A par disso o enobrecimento da vila, mais tarde, cidade do Funchal fez-se à custa destes dinheiros. O Funchal avançou para poente e adquiriu fama de novos e potenciais mercados, mas foi de vida efémera. Desde a terceira década do século XVI o açúcar madeirense foi destronado da posição

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Do cimeira

europeu,

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canário ou

e a solicimadeirenses contribuiu para que a cultura canaVIaIS em momentos de crise 110S mercados amerirremediavelmente condenada a a canalizar todas as nas fazendo-as assumir o espaço abandonado socas de cana. Os canaviais deram às latadas e os para se erguerem os e armazéns. Esta na estrutura tpr"""",Q na dinâmica económica da ilha. O definia apcnas um o onde decorria a O vinho necessita de dois espaços distintos. O onde as uvas davam saboroso e os armazéns da cidade ondc f'eI1l1enta e é aroma e Deste modo o da mais de dois séculos a vinha e vinho das actividadcs económicas da ilha dando ao meio O Funchal cresceu cm monumentalidade e as famílias económica. conflitos demarcada A das colónias e associada aos factores de conduziu ao do processo, sucederam-se as nas décadas de 50 e continente nos anos eu onde o madeirense fui substituir o escravo nas anos domínio social e alimentar. de relevo na culinária Novo Mundo que e a batata. par disso definiram-se reconversão c ensaios de novos com valor comercial oitocentista e no Guerra Mundial foi responsável por um acentuado processo dc do interior da ilha e arrastou muitas terras para o abandono. Foi o início de um necessário para as terras já de si intensiva das culturas de subsistência As o fácil aumento da manapogeu da indústria vinhateira tivemos a de Ul11110VO Na metade do século XVIII a ilha assumiu um outro gregos,

ainda que muito mais a desfrutar da ambiência parreservad8 aos deuses c escolhendo-as como rincão de

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breve ou prolongada. Diz-se até que a primeira viagem de núpcias, embora ocasional, foi protagonizada por um casal inglês. Mais uma vez estamos perante a lenda que ficou conhecida como de Machim. Na verdade, foi esta visão mítica, perpetuada nos relatos antigos ou reavivada nos testemunhos coevos, que motivou o desusado interesse do inglês pelas belezas aprazíveis da Madeira. A Europa oferecia ao aristocrata britânico demasiados motivos que concorriam coma o "grand tour" europeu. O ilhéu, autêntico cabouquelro e jardineiro do rincão, estava por demais embrenhado na árdua tarefa de erguer paredes e arrotear os paios, e por isso manteve-se alheio às delícias. Para ele a beleza agreste dos declives não passava de mais um entrave na luta contra a natureza. Enquanto o madeirense cavava e traçava os paios o inglês entretinha-se nos passeios a cavalo ou em rede pelos mais recônditos locais da ilha. A verdadeira descobetia da Madeira toi obra dos ingleses, mas ao português deve ser atribuído o mérito do descobrimento do caminho para cá chegar. AS ROTAS DE MIGRAÇÃO DE HOMENS, PLANTAS E MERCADORIAS. A valorização do Atlântico nos séculos XV e XVI conduziu a um intrincado traçado de rotas de navegação e comércio que ligavam o velho continente ao litoral atlântico. Esta multiplicidade de rotas resultou das complementaridades económicas e das formas de exploração adoptadas. Se é cedo que estes vectores geraram as referidas rotas, não é menos certo que as condições mesa lógicas do oceano, dominadas pelas correntes, ventos e tempestades, delinearam o rumo. As mais importantes e duradouras de todas as traçadas neste mar foram sem dúvida as da Índia e Índias que galvanizaram as atenções dos monarcas, da população europeia e insular, dos piratas e corsários. A par disso a Madeira surge, nos alvores do século XV, como a primeira experiência de ocupação em que se ensaiaram produtos, técnicas e estruturas institucionais. Tudo isto foi, depois, utilizado, em larga escala, noutras ilhas e no litoral africano e americano. O arquipélago foi, assim, o cenlro de divergência dos sustentáculos da nova sociedade e economia do mundo atlântico: primeiro os Açores, depois os demais arquipélagos e regiões costeiras onde os portugueses aportaram. A posição demarcada do Mediterrâneo Atlântico no comércio e navegação atlântica fez com que as coroas peninsulares investissem todas as tarefas de apoio, defesa e controle do trato comercial. As ilhas eram os bastiões avançados, suportes e símbolos da hegemonia peninsular no Atlântico. A disputa da riqueza em movimento no oceano sucede na área definida por elas, pois para aí incidiam piratas e corsários ingleses, franceses e holandeses, ávidos das riquezas em circulação nas rotas americanas e índicaso Uma das maiores preocupações das coroas peninsulares foi a defesa das embarcações que sulcavam o Atlântico, evitando o contacto com os corsários europeus e argelinos. A área definida pela Península Ibérica, Canárias e Açores era o foco principal de intervenção do corso europeu sobre os navios que transportavam açúcar ali pasteI ao velho continente. A afirmação da Madeira resulta em muito do facto de ter sido o início da presença pOltuguesa no Atlântico, e o primeiro e mais proveitoso resultado. Gaspar Frutuoso gg testemunha este papel de âncora atlântico quando afirma " ... que Deus põs no mar oceano ocidental para escala, refúgio, colheita e remédio dos navegantes ... ". Vários são os factores que se conjugaram para esta sihmção. A inexistência de população, em

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consonância com a extrema necessidade de da costa Madeira. Por

para das ao e crescimento económico da anos dos

no Atlântico!O". elas ilhas não se fica só séculos XV e as navegoceânicas nos séculos XVIII e levam-nas a assumir ulTIa para os De terras descobertas passaram a campos de e escalas da na rota de ida e regresso. no século XVIII desvendou-se uma nova as ilhas como campo de ensaio das técnicas de que comandam a ciêneXIJeCllC()eS científicas dos europeus. O encitêm nas ilhas um bom campo de O homem do século XVIll o medo ao mundo circundante c passou a olhálo com deste modo como dono da estava-lhe atribuída a os todo o afã científico que na centúria, A insaciável procura e descoberta da natureza circundante cativou mas foram os quem entre marcaram presença, sendo menor a de franceses e alemães!II!. as Canárias e a Macieira. Tudo isto é resultado da

a noutras paragens. ilhas foram ainda um meio revelador da incessante busca do conhecimento da como o British Linean e fazer recolhas. Os estudos

a este

passaram destacados

.lohn Forster. uma quase uma centena de cientista. Estámos historial que ainda não foi devidamente e que por um esluJames Cook escalou a Madeira por duas vezes ( e 1 numa de mas apenas com interesse científico. Os cienintrometeram-se no interior cla ilha à busca das raridades listas que o '"'/,I11,n" à comunidade cientí fica. botânicas para ou UV'0I-""" para a cura da tísica A tudo isto é de referenciar a

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de quarentena na passagem do calor tórrido das colónias para os dias frios e nebulosos da vetusta cidade de Londres. Esta função catapultou a ilha para uma evidente afirmação. O debate sobre as potencialidades terapêuticas da climatologia propiciou um numeroso gmpo de estudos e criou uma escala de estudiosos, dentro e fora da ilha. As filas intermináveis de aristocratas, escritores, cientistas desembarcaram no calhau e foram encosta fora à procura do ar benfazejo da ilha. Vem daqui muito do espólio que hoje está disponível na Casa Museu Frederico de Freitas. Casa Museu Barbeíto de Vasconcelos e Biblioteca Municipal. A Madeira recriou os mitos antigos e reservou-lhe um ambiente paradisíaco e calmo para o descanso, ou, como sucedeu no século dezoito, o laboratório ideal para os estudos científicos. De acordo com isso as ilhas tomaram-se no principal alvo de atenção de botânicos, ictiólogos, geólogos, o que levou Alfredo Herrera Piqué a considera-las "a escala científica do Atlântico". Foram os ingleses os primeiros a descobrir as infindáveis qualidades de clima e paisagem, e a divulga-Ias junto dos compatriotas. É esta quase esquecida dimensão da ilha como motivo despertador da ciência e cultura europeia desde o século XVIII que importa realçar. A Madeira partiu ele campo experimental dos descobrimentos para a afirmação, com a filosofia das luzes, como novo campo experimental de nova ciência que desabrocha, mercê da nova fuóção de escala das expedições científicas. Mais uma vez ficou demonstrado o activo protagonismo da Madeira no devir histórico ocidental.. Para os navegadores do século XV aquilo que mais os emocionou foi o denso arvoredo, já para os cientistas, escritores e demais visitantes da ilha a partir do século XVIll o que mais chamou à atenção é, sem duvida, o aspecto exótico dos jardins e quintas que povoaram a cidade. O Funchal transformou-se num verdadeiro jardim botânico. Na Europa os jardins botânicos começaram a surgir desde o século XVI. Em 1545 temos o de Pádua, seguindo-se o de Oxford em 1621. Em 1635 o de Paris preludia a arte de Versailles em J662. Em todos foi patente a intenção de fazer recuar o paraíso l "'. As ilhas não tinham necessidade disso pois já o eram naturalmente. Desde a segunda metade do século XVII que a atitude do homem perante aS plantas mudou. Em 1669 Robert Morison publicou Pra eludia Botanica, considerada como o principio do sistema de classificação das plantas, que tem em Carl Von Lil1né (Linnaeus) (1707-1778) o principal protagonista. Contemporâneo dele é o Comte de Buffoll que publica entre 1749 e 1804 a "}-Iistoire Naturelle, générale et pal'ticuliére" em 44 volumes. Os jardins botânicos do século XVIII deixaram de ser uma recriação do paraíso e passaram a espaços de investigação botânica. O Kew Gardens em 1759 é a expressão disso. Note-se que Hans Sloane (1660-1753), presidente do Royal College 01' Physicians, da Royal Society of London e fundador do British Museu111, esteve na Madeira no decurso das expedições que o levaram às Antilhas inglesasllll, A aclimatação das plantas com valor económico, medicinal ou ornamental assumiu cada vez mais impOltância. Aliás, o interesse medicinal prOVOCOll desde o século XVII o desusado empenho lll4 • Em 1757 o inglês Ricardo Carlos Smith funda no Funchal um destes jardins onde reuniu várias espécies com valor comercial. Já em 1797 Domingos Vandelli (1735-1816) e João Francisco ele Oliveira no estudo sobre a flora apresentaram no ano imediato um projecto para um viveiro de plantas, que foi

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NOÉ

Sociedade no estudo em 1792 do seu

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Botânica tornou-se muito les que

do "botanizers", isto é aquen1'f,~p'nl'l('"i"

das

como Smíthsonian e American Em Londres havia tivemos cm por iniciativa de G. 80586 ), foi criada em 1854 a Societé Nationale de Protection de la Nature el 'acc/imatation. Os franceses a da obra de Buffol1 Lumarckian toram os difusores da Tudo isto se directamente assinalando-se no caso fi'ancês o processo em curso na na "it may be said the whole Df colonization is vast deed of acclimatization"'IJ'J, Esta e mereceu o comentário de Michael Osborne 1"': 01' acclimatization societies anel its at indicates lhat acclimatization studics were ticd to the of scttlcr colonies". O ambiente científico europeu loi acolhido com cntusiasmo na Madeira, Em 1850 José Silvestre civil da de da Abril em 1852

J)

Funchal passou cm J853 o Padre Ernesto João em 1882 um Museu

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a

refere-se uma tentativa íhlstracla Pavão e que contava com o 1946 António c/e Sousa c/a Cámara recomendava a

de .1, de

da

ela

natureza" teve nas autoridades locais. Em 1952 do Bom Sucesso anele ficaram os da mas o do Jardim Botânico que aconteceu em 30 de Abril de 1960 por da Junta do Distrito Autónomo do Funchal. Isto é o corolário defesa secular das

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condições da ilha para a criação e a demonstração da importância científica revelada por destacados investigadores botânicos que aqui procederam a estudos lls • Em qualquer dos momentos assinalados as ilhas cumpriram o papel de ponte e meio de adaptação da flora colonial. Os jardins de aclimatação foram a moda do momento e entre nós tiveram por palco as amplas e quintas paradisíacas. O Marquez de Jácome Correia ll6 identifica as do Palheiro Ferreiro e Magnólia como jardins botânicos. Estas foram viveiros de plantas, hospital para acolher os doentes da tísica pulmonar e outros visitantes. O deslumbramento acompanhou o interesse científico c conviveu lado a lado com as inúmeras publicações do século XIX que o testemunham. Os jardins, através da harmonia do arvoredo frondoso e das garridas cores das Dores tiveram nos séculos XVll e XVIII um avanço evidente. Os bosques deixaram de ser espaços de maldição e as árvores entraram no quotidiano das classes altas, alinhando-se em filas para dar acesso à casa de moradia. Os jardins adquiriram a dimensão de paraíso bíblico. de espaço espiritual e a expressão do domínio do Homem sobre a Natureza l17 • Note-se que na Inglaterra do século XIX os jardins e as flores se tornam muito populares ll ". Esta ambiência chegou à ilha através dos mesmos súbditos de Sua Majestade. As ilhas exerceram um fascínio especial sobre todos os visitantes e parece que nunca perderam a imortal característica de jardins à beira do oceano. Deste modo poderemos afirmar, com propriedade, que foram as ilhas jardins e que os jardins continuam a ser o encanto dos que as procuram, sejam eles turistas ou cientistas. A História do Meio Ambiente e Ecológica veio fazer apelo de novo ao pioneirismo da Madeira, naquilo que o devir mostra a gesta europeia destruidora do meio envolvente. O processo de expansão europeia não se allrJ110u apenas pela novidade de descoberta de novos mundos, mas também pelos efeitos destrutivos da presença do europeu sobre a fauna e flora dos novos espaços. Tudo isto foi conseguido por exigências das leis do mercado de então que definiram uma estrutura ele mOllocultivo e exploração intensiva do solo, através ele culturas com elevado rendimento económico, como foi o caso da cana ele açúcar. Da leitura dos clássicos e da produção bibliográfica recente releva-se a situação particular que toca de novo ao arquipélago ela Madeira. A Madeira não se posiciona apenas nos anais da História Universal como a primeira área de ocupação atlântica, pioneira na cultura e divulgação do açúcar ao Novo Mundo, mas também como o primeiro exemplo dos efeitos nefastos de uma exploração intensiva ll '). A expansão europeia não se resume apenas ao encontro e desencontro de Culturas, mas também marca o início de um processo de transformação ou degradação do meio. O europeu carrega consigo a fauna e 110ra do seu convívio e com valor económico, que irão provocar profundas mudanças nos novos ecossistemas. Com isto aconteceu que o espaço vivido e natural se universalizou. Nos séculos XV e XVI foram as viagens de descobrimento, enquanto no século XVlII tivemos as de exploração e descoberta da natureza comandadas por ingleses e franceses. A consciência ecológica do homem hodierno serve de apelo a esta viragem regressiva à História da Humanidade. O presente actua assim com expressão mediática para a descobcrta desse passado que pode ter algum efeito pragmático nas actuais políticas de defesa do ambiente, para que se alcance o limiar do século XIX com mais e mel-

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hor ambiente,

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que os nossos

DE NOÉ

nos

o TURISMO E DESCOBERTA DA NATUREZA. A do século dezoito foi da Madeira como estância para o turismo clima na cura da tubercuco, mercê das então consideradas o que cativou a de novos forasteiros. A tísica ao do século dezanove o convívio com e aristocratas. Não obstante a causada cm torno das do sistema de cura a ilha permaneceu por muito como local de acolhimento de doentes, sendo considerada a e estância de cura e do velho continente. A presença, cada vez mais de infra-estruturas de e agentes, que serviram de intermediários tais espaços de acolhimenO tal como o to. Este último dava os passos. Como corolário disso estabeleceram-se as infra-estruturas hoteleiras e o turismo passou a ser lima actividade zada com uma relevante na economia ilha. Mais uma vez o foi coincidiu com a de euforia da Ciência nas Desde tinais do século XVII as científicas eram comuns e o Funchal foi um fundamental de do Funchal como ses, franceses e alemãs. A oceânicas e estância de turismo contribuiu para valorizar o os inúmeros estudos científicos ou de O Turismo caminhou lado novas actividades. A vinha nas latadas Esta harmonia marchou a favor da ilha e tornou a existência vúrias formas aetividade que a sobrevivência. A variedade foi a receita cerla para manter de por economia insular. Na década de define-se a o os do desenvolvimento insular". As actividades em torno da obra de vimes e bordados tiveram nos os metade da centúria foi marcada por na economia madeirense. Primeiro as guerras mundiais (1914-19 e 1 os e económicos marcaram este momento negro da vida madeirense. da economia da ilha e evidenciou a extrema A guerra evidenciou a do mercado externo. Os económicos arrastaram convulsões sociais que se misturaram com as tivemos em Fevereiro de 193 Revolta das a que se 1936 a Revolta do Leite. Para muitos madeirenses a para o USA, O Brasil continuava a ser () nosso EI Dourado. A funeionava cm todos os com válvula de escape para a miséria da sociedade. As medidas elo governo, com a Comissão de Hidraulicos c as iniciativas que promoveu atenuaram para famílias os efeitos ela crise. um de Comento de infra estruturas consideradas para o progresso da ilha. A reorA forte afluência de

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ganização do sistema de regadio, que através de novas levadas iria permitir um maior aproveitamento agrícola, o delinear de um plano viário, que possibilitou a aproximação das diversas localidades da ilha e um progresso harmonioso. No passado foram as condições do meio que fizeram da ilha um dos motivos principais de atracção turística. Hoje o turista é outro e por isso também as exigências são diferentes. Assim aos motivos ambientais aliam-se os culturais, passando os dois a andar de braço dado. É a simbiose do "grand tour" europeu com o turismo terapêutico insular. A ilha continua a fascinar cientistas e visitantes. O clima, o endemismo, as particularidades do processo histórico, a evidência na História do Atlântico fazem dela, ontem como hoje, um pólo chave para o conhecimento científico. Hoje a ilha é tema de debate nos diversos areópagos científicos e cada vez mais se sente o apelo da comunidade cientifica para o conhecimento e divulgação. Esta realidade vai ao encontro do que foi a História do arquipélago. Na verdade, o processo histórico da ilha, relevado quase sempre pelos aspectos económicos e sociais, esquece uma componente fundamental do nosso contributo: a inovação e divulgação tecnológica que transformou a rotina das tarefas económicas e revolucionou o quotidiano dos nossos avoengos. Mais do que isso, o madeirense, além de exímio inventor - na inevitável tarefa de encontrar solução para as questões e diticuldades do dia a dia -, foi também um eficaz divulgador da tecnologia. A Madeira foi a primeira terra revelada do novo mundo, escala para a navegação e expansão dos produtos europeus no mundo atlântico. Com o século XVIII a ilha transf0ll11a-Se em escala obrigatória das expedições cientiticas que fizeram saciar a curiosidade inata do Homem das Luzes. Este protagonismo evidente da Madeira condicionou a evolução do quadro natural e a relação do madeirense. No primeiro momento a ganância do lucro atirou os colonos para uma exploração intensiva do solo, procurando exaurir o máximo das suas riquezas. O desequilíbrio entre a permanente solicitação de um cada vez mais vasto mercado externo e as limitadas capacidades dos recursos naturais da ilha eram evidentes e atTastaram-na rapidamente para uma situação de rotura. Primeiro foi a crise da produção cerealífera aque se seguiu a da cana sacarina, todas elas em ultima estância resultado do esgotamento dos solos. Perante isto, num ápice a floresta deu lugar aos poios e as culturas que depois fizeram surgir o espectáculo desolador dos tenenos inférteis abandonados. A viragem ocorre a partir do século XVIII, servindo-se mais uma vez da íntima aliança da ilha aos ingleses. As embarcações deste reino trouxeram-nos as plantas exóticas para recobrir o solo e os visitantes ávidos de conhecê-Ias. Assim se avançou rapidamente para uma política de reflorestação que embelezou a cidade e arredores de espécies exóticas e povoou as escarpas escalvadas de pinheiros, eucaliptos e castan~ heiros. Também a curiosidade e espírito científico que marcou o mundo britânico desde o século XVIII teve os seus reflexos na ilha, provocando uma procura, descoberta e estudo do mundo vegetal e animal da ilha. Este espírito científico cativou também os madeirenses e levou-os a considerarem o quadro natural de forma diferente, fazendo frutiticar o actual espírito ecológico, que rapidamente se transformou numa moda do mundo actual.

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Do ÉDEN

À ARCA DE

NOE.

C IENTISTAS ESTRANGEIROS NA MADEIRA SÉCS. XVI-XX " " 1601: Jean Mocqul!tI1575-'!]. viajante frances. que deixou impressões da sua \ iagcm cm

ruyllge~ ('II A[i"ique. Occidema/('s{ 16 17)

Asie. IlIdes Orienral/!s el

16M7: Dr. Hans Sloanc] 1660 1753], médico c natural ista britânico 1696: Rc\'. John Ovington. cape lão Real c escri tor

britünico J 720:

John Atkins. médico na\al e escritor britâni-

co 1740: George Anson( 1697- 1762J, co rsúrio. navegador britânico. Autor do livro: VO.l'age ROlll1d lhe fl'o r/d (174M) 175 1: Dr. Thom. Ilcbcrdcn. cientista britânico 1755: J. de Bory. cien tista. c:\plorador c \!scri tor 1764: COlTIodoro John Byron. navegador c ex plorador britânico 1766: Samue l Watlis[ 1728 9S I. oficial de marinha.

cLen tista . Entre 1766 c 1768 fel viagem de circun-mi\r.:gaçào no I-IMS Dolphin Capita in Philip Cartcrctl?- 1796]. célebrr.: na\ r.:gador r.: cientista britânico que aeomp.1nhou a \ iagelp de John Byron em (1764----6)

1768: Ch. Gn.."cn. astrônomo brit.1.nico Sçtr.:ll1bro.13. Ancorou ao Funchal James Cookl I728-79]. CIll \ iagr.:1ll dr.: ci rcum-navegaçào a bordo do na\ io Endc.n our JOSl:ph l3anks. bot.lnico illglê~ Dr. Danid Solander. natural ista succo 1772: Segunda pasSilgclll de James Cookll728 79J pela Made ira. sendo a descriç.l0 da Viagcll1 da Autoria de Gcorge Forster em Voyage rowule fhe IVor/d ( 1797) Johann Rci nhold For~ t er e George Adam Forstr.:r. cientistas alemães, S"o pai e filho e iniciar.1Il1 as exploraçõcs botânicas na ilha . John Gr.:orgc. naturnil~ta bril1inico 1776: Fr.lI1cis ~·I ason. bot.lnico inglês Prof: Downc. botân ico inglês [785: J. F. Ga laup de la Ilerousc. ml\ cg:ldor c cientista francês Eng. Maneron. cicnti~ ta francês Lcpallte Dagete. a:..tronomo fran cês Pror. Lamanon. lisico fi aneE...:\(. ·' ~ Prof. Collignon. bot,illlCC : ;'" :.-..~ ..-'Prof. Monge. cientista [fa ne :-, ~

CEHA

'" t~ l 'n) IIt B'V D O':> ~~ HII~tMlll. MI ...

n.l.",r-co

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1789: Dr. 1. J. de Orquigny, médico c naturalista francês 1792: John l3arrow[ 1764 1848], administrador naval e aventureiro britânico Dr. Willian GOllrlay, médico, meteorologista, escritor britânico 1799: Pascoal de Avezac Mucaya, geógrafo francês Gabriel de Gorat, cientista Oscar Mure Carthy, cientista 1800: Turnbull, navegador britânico 1802: Robert Brow, botânico britânico LiclIt. Coloncl Roberts, oficial, escritor britânico .J. Adams, médico, escritor britânico 1805: Dr. F. Spilsbury, médico naval, escritor britânico 1809: Robert Brown[I773 1858], bot'lnico britânico 1815: Cristiano Leopoldo de Buch[1 774-1 853], geólogo, botânico, escritor alemão Chetien Smith, botânico norueguês 1816: Cap. J. K. Tuckey, cientista britânico 1817: Karl Friederich Philip von Martius[17941868], botânico germânico. Na obra Rcise in Bmsilien (1823) retere algumas espécies botânicas. João Baptista Emanuel Pohl[ 1782- [834], botânico e explorador austríaco publicou livro com referências à Madeira: Reise im Inncm von Brasilicn(l832) 1820: João Conrado de Hasselt[1797-1823], alemão, fez estudos de Ciencias naturais no arquipélago, deixando desenhos das Desertas, P. Santo c costa da Madeira. Henrique Kuhl[1797-1821], ornitólogo alemão, recolheu plantas na ilha como se vê do seu trabalho: Flora ode,. BOlanische Zeillll1g ( 1821 ) [821: Giuscppc Radcli, botânico italiano 1822: Dr. Tíarks, cientista britânico 1823: Prol: Karl Mayer, geólogo gernlUnico T. E. Bodwich, naturalista britânico 1824: Dr. Ch. Heinekcn, especialista pulmonar britânico 1825: Kirvan, naturalista, meteorologista H. Nelson Co[eridge, escritor britânico 1826: Dr. Renton, Médico, escritor britânico Rev. Thomas Lowe, sábio naturalista britâniCO

[827: Christian Frederic Holl [1794-1821], botânico germânico. Com vários estudos osbre a botânica da Madeira Rev. Jumes Bu[wer, desenhista britânico 1828: Philip Bakcr Webb [1793-1853], botânico

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1834: 1835: 1836: 1837: [838:

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1848:

britânico W. P. Canning, oficial marinha britânica M. Raymond Brucker, escritor francês Dr. 1. Manson, médico e escritor britânico Conle de Bedmar, geólogo dinamarquês Sir W. Jardin, aristocrata e ornitogista britânico Dr. Charles Lemann, botânico britânico J. D. Dane, geólogo britânico John Driver, escritor britânico Dr. Jú[io F. Lippold [1788-1852], botânico alemão, fez recolha de plantas para herbário Tenente Charlcs Wilkes [1798-[877], oJicial de Marinha norte americana e cientista Sir James Clarck Ross[1800 62], cientista e oficial da Marinha britânica Dr. James Macaulay, cientista e escritor britânico James Smith, geólogo britânico W. White Cooper, escritor britânico Zwinko Joksimowilsch, paleontologista polaco Dr. Carlos Guilherme Emílio Kampfer [1803-1848], cientista e escritor alemão Dr. George Carl Friederioch Tams [18131863], médico e escritor alemão Júlio Rodolfo Teodoro Voge! [1812-184[], botânico alemão, recolheu plantas para herb!írio em expedição ao Rio Níger. Cap. Vida[, oficial da Marinha e escritor britânico Andrew Pickell, artista britânico Duncan Maclarcll, escritor britânico Charles de Tryon Montalembertc, político c escritor Jeane Wallas Penfold, botânica bril!lnica Dr. Schmellel; escritor alemão Rev. John Mason Nea[e[1818-1866], i111ulIo!ogista c pastor britânico Guilherme Frederico JOI"ge BEHN, médico c naturalista alcmão Tito Omboni, escritor italiano John Osborne, escritor britânico T. Vermon Wallaston, naturalista britânico Rev. W. Harcourt, meteorologista britânico Eduardo Hildebrandt[ 1817-1868], pintor alemão. Registou alguns motivos da Madeira. Charles Mac Euen, meteorologista americano Frank Dillon, escritor e artista britânico A. Pew, escritor britânico F. Kcnworthy Brown, escritor britânico Dr George Peacock [1791-1858], teólogo e


Do

A ARCA

DE

fiou

Madeira Du~ de Leuchtcnherg, I'rincípe oficial da Marinha alemã Sebastião Fischer [1801Í- I il7 medico natuntlisla alemão. Fez algul1s eSludos sobre os crllstúceos da Madeira. Prol'. Joall1 Cris!. Albcrs, alemão White, EUlIard Vcmol1 d'!-larcourl, ornitologista escritor britdll ico Dr. Hecr II H09-1 X/O I, botânico paleontologu slli~o, lá estlldos sobre ii 1~IU!la e geologia ua i lha James Yale JOh115011, naturalista brilánko Eugcne E. G. Jones, escritor britânico .Iohn Dix. escritor Dr. escritor Ihll1cês D. Ramon MasJ"rrer y Arquinbnu, médko [1795-1857 j, l11t!di<:o c naturalista alemão. Publicou Mafacographia MOI/crensi.\' ( Carlos Jorge Frederico Hnrtung,

Guilhé!'me ReisL li K31l-ILJOii], geólugo ii de lnarmh05 de que publicou cm Augusto David Krohn( I fl03-1 il911, ale[l1i1o

1/;56. J. Zieglcr,geólugo británicn D. Archibald Colqulwl1l

N. I-Iaslop Mansnn, COl11od. Wdlcratorf Urhair,cicntista auslríaco Dr. Ferdinand Rill!!r Hochstdtcr, geólogo austríaco, publicou cm I I o livro Madeira Vortrag. Richard C Smith, hotnniw britânico George Bus", naturalista brílâniJo~o

Jacob Nocggcrnthl17XX- H77], cngcnhcim de minas alemão HCl'll1<1ll1l Sclwcht, escritor alemão

Joam ChrislOph

investigações

qlle publicaç<1o de três I' João António Sdunid! 823-1 bolfinico alemão I X52: Dr. Karl Millcrlllaicr, médico c I11ctcnmloalemão

Dr. J'ricdrich Martin Joseph. Wclwitsch[ I f{06-1872]. médico botlll1ieo austríaco. Pertence-lhe de criação de umujardim aclimatação de plantas para FundJaI Charles Lyell, geólogo británÍ\;o Dr. George I-Iartung, geólogo alemiio

Maekt!nzic l.lIllxam, ..:;;critor britiínico Charles Bunbury, botânico c paleontologista

britünico I X54: Robert Antlrcw, cicntisla escritor brilÜnico T. S. Dyslcr. escritor britünico William Hadlit.:ld, escritor bl'itlll1ico lhmcês C,hnrks I'crrcymond, Jacob Me \chio!' Ziegler[ I /lO I-I HH31, earlógraltl suíço. Publicou em I K56 dois sobre Madeira. DI'. S.

médico nlemfio

Dr. S. Lund, I11dcorologistu britúnicn Hcrl11ann Schacht [I 14-1864], botünicll alemfío, publicou em 1859 um es!l1clo botdnico: 1/1/íler Tene!'i/é //Iii ili!'i'/' l'ege/a-

médico

bl'ÍlunÍco

de Mmkns[1

1-' ')04] zoólogo

alemão Ernesto Wichura[1 li 7-1 Rfi6]. boti\IlÍço alemllo cicntbta I-Iagçm, escritor alemão 1862. Dr. Lkbctl'llth, botúnico austríaco, rccúlIm marinhas LlIClwig Stol'eh, escritor alemão Carlos Ciuilherme Jorge de Fritsch[IlDH1906J, geólogo e paleontólogo li Iclllilo lVIuurído Stubcl[ I K35-1 lJ041, geólogo c explorador alcmão I X64: Dr. Robert l300g Watson. cienlÍsta britúnko .Ioscphillc de NCllville, csnitonl francesa Icn1l<1II0 Cnchiusll il3'?-1 geólogo alem1io E. Cosson, naturalisla Ihll1c~s DI'. Carlos Inácio Lcopold - 9161, botftnico all!I11UO J. Juratzka, dentista polaco Erncsl Hacckcl[ 1H34-1 ') !LJ], zoólogo c lilósoro

alcl1l~!l

N. Quintlls, escritor hritünico Cllp. NOrl1111l1, hotânico britllnieu Augusto Júlio Mildc[IIQ4- H71j, bOltlnko Ri~lll'do

especialista ":111 felOs

I ii29-1 H921,

alel1lão

Martcns Jorge Mlltias hotnn ico :demiío IS61i: H. MnjO!; geólogo e co

briulni-

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Dr. Richard Green; Doutor cm Medicina e Filosofia. alemão E. Cosson. cientista C. PII. Kerhallet. cientista li'ancês Augusto Krcmpelhuber[ 1813-1882]. botânico alemão 1870: Fred. du Cane Godlllann, botânico britânico Conte de Goimpy,escritor e cientista francês Dr. Michael Grabham, médico, escritor britânico. fixou-se 1871: Júlio Fernando de Hann[I839-1921].físico c metereólogo alemão 1872. Jacob Ricardo Senl1er[ 1841- I 887]. físico alemão Aloísio Pokorny[ 1826-1886], botânico alemão

1873: Filipe Guilherme Adolfo Bastian[l8261905]. expedicionista alemão Hermano HeIlrique Augusto Luís SOyHuX [1&52-]. botânico alemão 1874: Sir William TOI11[lson-Lord Kelvin. cientista britânico Pc. Ernest João Schmitz[ 1845 - 1922], ornitólogo alemão. Fundou em 1!lR2 o museu de História Natural no Seminário Diocesano do Funchal Carlos António Werner l-Iuesker[18491928], medico e ornitólogo alemão 1875: Paulo Langerhans [1847-188RJ, médico e zoólogo alemão. Publicou Hal1dbucllfil/' lv/a c/eira (I 885) 1877: Green, astrónomo britânico 187S: D. Ventura Callejon, escritor e diplomata espanhol 1879: H. Grey. escritor britânico Ricardo Fritze[ 1841-1900], botânico alemão, recolha plantas pam herlnírio Gaston Lemay, escritor Ji'uncês Dr. Paul Lagerhuns, cientista Príncipe. Alberto do Monaco, escritor e cientista oceanógrafo 18S0: Julius Goldschmidt,lllédico e escritor alemão Dcnnis Embleton, escritor britânico Dr. Spencer Wclls. médico e escritor britânico Gilhennc Jorge Ritter[ I 850-1926]. paisagista e litógralb alemão. Visitou a Madeira cm 1880-82, 1908 c 1909 1881: Dr. Jacoud. módico francês especialista pulmonar J. M. Rendell, escritor britânico 1882: Cap. Enrico Albcrtis, naturalista italiUllo E. Gardner, zoólogo e escritor C. Piazzi Sl1Iyth. meteorologista

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1883: 1!l84: 1885:

1886:

I H87:

1888:

I R90:

1891: 1892: 1893: 1894:

1895:

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1897:

Alice Baker, artista británica Helcne Taulor, escritora e pintora britânica Bertoldo Stcin[ 1847-1899]. botânico alemão Frederico Carlos João Scmitz[ 1850-1895], botânico alemão Alphonse Milne Edwards, cientista britânico José Schroter[l837-1894], bolftnico alemão Dr. Karl Líndmunn. botânico sueco Henrique Óscnr Lenz[ 1848-1925], geógrafo e explorador austríaco Prof. Robert Collet, cientista Ihlllcês Valdemar Hartwig[1851-19011. ornitólogo alemão com vários estudos sobre a Madeira Adalberto Geheeb[ 1842-1909]. briólogo alemão José Ernesto Stizenbcrgcr[ 1827-1895], bol!1nico alemão especializado em líquenes I. Tompson, escritor britânico L. Manchon, escritor francês A. Samler Erown, escritor britânico Dr. Charles Omnes, médico espccialista tj'ancês Dr. Eugénio Fernando Christmunn [18631894], médico alemuo. Publicou em 1889: Funchal w!lMadeiJ'llulldsein Clima Alexandre Fernundo Kocnig [I R58-1940], ornitólogo alemão Robert Collet, ictiologo Director do Museu de Cristiania Baron van Bencden, escritor belga Mm"quis dcgli Albizi, diplomata, escritor italiuno Albert Girard, naturalista. occanogl'llfil, francês Lotha!' Roedige!', estudioso dos miriápodcs da Madeiro C. A. Gordon, escritor britânico Lorde Walsinghclll. cientista ingês 1'. Murruy, botânico inglês Emilio Kraepelin[ I 856-1926]. botilnico e zoólogo alemão Fricdrich Wilhcllll Bosenberg [1841-1902]. zoólogo alemiio Oro Roberto Latzel [J &45-19\9], zoólogo uustdaco Augusto Henrique ForcJ[ 1848-1931] entomólogo suíço W. Hartwing, ornitologista austríaco l-ledor Leveillé, botânico n'ancl!s Ernesto João Otãll Hnrterl [1859-1933J, ornitólogo ulemilo Paulo Gerhllrd Teodoro Grosser [1864- 'I], minendogista alemão Dr. AIf1-cd Mede NOl'lnon, zoólogo briltinico


Do

À ARCA DE NOÉ

L. Cardol, escritor brilánico Albert Fauvel, elltomologista Edmond Fulgairolle, escritor lhmcês W. Grant, ornitologista britânico Cap. Adricn Gerlllchc, comandante, da expediçi10 belga à reg. Artica Danco, cientista belga Dr, Arto:;ki, meteorologista oceanógrafo Dr, Racsvitzc, zoólogo e botânico Dr, Joannes Allgust Bohm [1857-2938], palcorllólogo alemão Dr, Relam.! médico britânico V. Kulezynski. polaco A. W. 'Nalcr" dentista hri1Ünico 18." Rev. Thomas Hinks, nl1turalisln britnnico Dr. Douglas, médico c escritor britünico William Ilooker, cit:ntista britflllico Dr. rorcl, cientista lhll1cês R, Fowler, cientista c escrita britânico M. cientista c escritor prures, Ouillin,geólogo l1'ancês Albert GlInther, ictiólogo britânico Il)()(): l'riedrich. Nicolaus Joseph l30rnmllllcr [1862-1941\], botânico alemão. Procedeu li recolha de plantas para hcrbàrio Lorenzt:n X6::!-1942], naturalista Drcxel Biddle, escritor americano Tschusi de SCll1idhoflen 18471'124], ornitólogo Il)O I: Robert navegador britânico Viklor FerdinamL Schi IlÍler, botânico aleque dedicou ao estudo musgos Samuel Bmw, escritor lk v. Drygalski, cientista alemão explorador do Antúrtico Dr. Martim Vahl, dinlllllllrqllês britilniCalbcck, comandante do Antártico britânico, explorador do

Gustav MOllZ, escritor alemão 1907: Prof. Pe. Alphonsc Luisir S . .1., hotânico

suíço

190H:

1'109:

1910:

1911

1912:

cu alemão F. Nal1scl1, dentista nomeguês 'Norslcy, oficial da Marinha britfmica, """'''''",'nr pelo sul

Antártico Ewal Ricardo Hcnriquc Alberto RubsHlllen [ í:i57-1919], entomólogo alemão 1903: .Iean navegador c cientista Ihll1cês Frcdcdco Augusto Cluilhcnnc Cu!'l GAGEL [I H65-1927J, geólogo e paleontólogo pms-

botânico 1904: Dr. Júlio José, Sldncr[ H44-19 <1l1sldaco .James Brittcn, escritor britiinico Guilherme Teodoro Bccker[ I 192H], diptcrólogo alemii() Paul Manlcgazza, escritor italiano ItJ06: William MitlCIl, biologista Slenze1, alemão

João Jacob Ocyr de Schweppcllburg[ H1:i4ItJ63], ornitólogo alemilo Th. Bccher, naturalista Potlsan By, cientista hritânico Ellgelle Simun, cientista francês Mamício Leo Daniel ue Komorowicz [IRRl'?}~ geóiogo alemão W. 1-1, Koebel, escritor britânico H. N. DixUfl, bottlnico britânico artista, aguarelista Florcnçc do Anatale franee, escritor fhmcês Pc. Camil fllrrend S. cientista fhll1cês Carlos Zimmerl1lanll [1871-"",], botânico alemão Robclt Scott, explorador das regiões llntÍlrticas Cap. Amundscll, explorador regiões Hntárticas Pc. Longinos Novas S. J.; Liquenúlllgo espanhol Eugcnc Ackcnnulltl, desenhador britânico Gustavo Henrique Engler[ I I tJ30], bot{inico alemão Adol1o Bcrgt[ I H64-1941 j, geólogo alemão R. Kirkpatrik, naturalista do Museu de Londres Dr. Louis Gain, Naturalista tI'aneês Palllo Luis Finckh[ I H71-19301, geólogo alemão Dr, Hcrmllm Winter, cientista

1915: 1920: J 921:

1922: 1937:

Somervil!t:, cienLÍsta brit!inico Hermllno Leonllrdo Lindingcl'[ 187'11(65), zoólogo alemão Eugcnc Ackennnnn, cientista Dr, Johanncs Schmidl: Íctiólngo c biologista dinamarquês Dr, C. Ongel, geúlogo germânico Dr. Guida Paoli, I1topologista Director Observatório Liguria EI'IICSIO [loesser [-19R6"[, pintor e de 1949 c 1950 trabalhou na Direcção Geral de Serviços Florestais, apoiando projectos rcllorestação,


AL8ERTO VIEIRA

NOTAS I. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8.

9. 10. I j.

12. 13. 14. 15.

16.

17. 18. 19, 20.

21. 22. 23.

24, 25 26. 27. 28, 29. 30, 31. 32.

33.

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Sobre o Romantismo Português veja-se: Teótilo Braga, llislôl'ia Lisboa, \ 9&4(lEH.:-símile dI! I ggO); Augusto O Por/ugal, Lisboa., U/erafll/'a Portuguesa. Vb/, VI, Realis/J1o e 1093; Maria Ribeiro, ! li.l'trl/'ia Crítica 1994, Nall/re:

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li'II""":"//III<

Na/lII'e, lhe e.m/ie, al/d lhe Sciel/ce I!ll'l'l.'/1cil Colol/ialí,I'III, Bloominglol1, 994 L 'A/gerie Agricole, CIIII/fllercia/e, /lIdllsl/'idle, Paris, I K60, p,7

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110. lbidelll, p.176 III. Cl'. Eberhard Axel Wilhehn, "Visitantes de língua Alemã na Madeira(1815-1915)", in 1I'lenha, 6, 1990, pp.48-67. 112. "um Jardim de Aclimatação na ilha da Madeira", in Das Artes e da História da Mcu/eim, n I. 2, 1950, pp.15-16 113 César A. Pestana, A Mcu/eira Cultura e Paisagem, Funchal, 1985, p.65 114. "Um jardim botânico na Madeira", in Das Artcs e da lli.l'tória da Madeira, Vol, 2, n? 3, 1950,24-26. 115. CI' Boletim da JUllta Geral do Distrito Autónomo do FlI/lChal, Abril de 1960; Rui Vieira, "Sobre o 'Jardim Botânico' da Madeira", in AJlântico, 2, 1985, p)1.101-109. 116 A JIIm da Madeira, Coimbra, 1927, p.173, 178 117. Pcter.T. Bowlcr, FOllluna Hi.l'to/:v oj envi/'Ol1Incntal Science.\·. N. Y., 1993.,p.lll. 118. CI'. K. Thomas, ibidem, pp.207-209, 210-260 119. Madeira. Pearl CJ{ Atlontic, Lonclon, 1959 Veja-se Richard GROVE, Green/mperia/islI1, N YOl'k, 1995, pp. 5-29; idem, Ecology, clima/e aml empire, Cambridge, 1997, [l, 45; John PERLIN, Ajores/,;ollrney, N. York, 1989. 120. Lista elaborada com base nos seguintes estudos: "Algumas Figuras Ilustres Estrangeiras que Visitaram a Madeira", in Revi,tu Portuguesa, n 1. 72. 1953; A Lopes de Oliveira, "Cientistas e Tecnicistas Nacionais e Estrangeiros", in Arquipélago da Madeira Epopeia HUll1ana, Bmga, 1969; Fernando Augusto da Silva, Elucidário Madeirense. 3 vols, Funchal, 1984; Ebcrbard Axcl Wilhehn, Visital1le.\· e Escritos Germânicos da Madeira, 1815-1915, Funchal, 1997.

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ÉDEN À

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Do ÉDEN À ARCA DE NOÉ

Quereis água de rega para fertilizardes vossos campos, para cultivardes terrenos áridos, até hoje incultos? Quereis conservar e aumentar as fontes que existem e fazer aparecer outras novas? Quereis chuvas mais frequentes , mais igualmenie distribuidas? Quereis melhor. o clima? Quereis mais igualdade nas estações? Conserva i como objectos sagrados os arvoredos que existem; plantai, semeai, criai novos arvoredos." [CORREIO DA MADEIRA, N I. 32 , sabbado 8 de Setembro de 1849, p.l]

No inicio o denso arvoredo que deu nome à ilha. Mas a acção do homem contribuiu para a total transformação. Foi um esforço hercúleo por parte do colono tal como nos descreve de forma poética Vieira Natividade( 1947). Esta mudança é interpretada por Ferreira de Castro: "A ilha deixara de ser apenas bosq ue, para ser bosque, horta e jardim'" No século XIX o manto florestal da vertente sul da Madeira havi te. As encostas estavam totalmente escalvadas. A politica de protecç~~....,."" que se havia incrementado desde o século XV não teve efeito ou incapaz ....... ponder à cada vez mais incessante procura de lenhas e madeiras. Er~ ~os

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devastadores das aluviões de 1803 e 1815 no Funchal que fizeram com que as autoridades despertassem para um conjunto de medidas mais eficazes de reposição florestal. De acordo com o relator da aluvião de 1815 a "natureza [estava] cansada de ser libera!"2. Este quadro é percebido e testemunhado desde muito cedo pelos estrangeiros. Eles não se cansaram em considerar a ilha, fundamentalmente a área da cidade e o norte, como um jardim, um paraíso'. Mas esta opinião, habitualmente consignada nos guias de turismo, contraste com o testemunho atento dos botânicos que no decurso dos séculos XVIII e XIX a frequentaram. A primeira e abalizada opinião é de John Barrow em finais do século XVIII. Foi ele o primeiro a dar conta do desaparecimento de algumas espécies como é o caso do cedro 4 • Um dos tàctos que chama à atenção prende-se com a permanente azáfama de mulheres, jovens e idosas na colheita de lenhas para a venda na cidade5• Estes lenhadores sem escrúpulos, segundo lsabella de França, cortavam o seu e alheio sem qualquer critério: "encontram-se com frequência, naquelas imediações, homens e mulheres com carregamentos de troncos de pinho à cabeça; vêm vendê-los ao Funchal.. ."6. Já em finais do século XIX John A. Dix 7 descreve o processo de aquisição das lenhas e dificuldade da colheita: "Vivem nas montanhas, onde cortam a sua lenha, começando o seu trabalho logo ao amanhecer. Preparam a lenha, e trazem-nas à cabeça para a cidade, às vezes duma distância de 3, 5, 7 e 8 milhas e vendem-nos a 14 e 18 centimos (7 e 9 vinténs) quando acham quem lhos comprem"B. A visita à feira semanal da cidade leva-o a concluir que "a qualidade mostra a pouca abundância de lenha na Madeira "9, O Visconde do Porto da Cruz num estudo de 1950 dá conta do consumo de carvão como combustível no Funchal, apontando a necessidade anual de 720 toneladas. Se tivermos em conta que para cem toneladas são precisas 1000 toneladas de lenha é fácil de adivinhar o volume do desbaste necessário para abastecer a cidade. Ainda de acordo com o mesmo a destruição das matas madeirenses foi resultado:" I o fabrico clandestino de carvão; 2°. Os abastecimentos fora da lei, de material para as construções; 3°. A escassez de pastagens para gado."!O A par do usufruto da floresta como fonte de combustível é de assinalar o aproveitamento elas madeiras, consideradas a primeira riqueza dos povoadores, a fazer fé naquilo que referem Zurara, Valentim Fernandes e Gaspar Frutuoso. As madeiras de til, vinhático, aderno, barbuzano, cativaram a atenção de colonos e forasteiros. As serras de água que proliferaram por toda a ilha, com maior incidência da encosta norte, podem ser vistas como o símbolo da busca desenfreada de árvores para abate. É certo que a necessidade de lenhas como combustível para o dia à dia caseiro, para a indústria de panificação, fOljas e engenhos de açúcar levaram paulatinamente à diminuição das reservas florestais. Mas foi sem dúvida o desbaste para a agricl.ll~ tura que conduziu inevitavelmente ao processo destrutivo. A sentença estava dada: "< ln ali new countries covered with forests the setlers are apt to consider trees as their enemy. They wage an implacable warfare agians them, until the whole face the land becomes naked, the streams driedun, the summers made hotter, and the winters cold~ er, by opening the earth to the 8U11 anel winds. The succeedi11 generation labors as as industriously to produce shade as its predecessors did to destroyed it"!!' Perante esta Q

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passagem da ilha que é insistentemente evidenciada por todos os visitantes. O Sul escalvado contrasta com onde ainda a floresta . É evidente o de da flora Em 1792 J. Barrow refere a o Mason folhado e viné claro para todos os locais ou reparos. Em 817 Paulo Dias de Almeida acusa carem que encontra a ilha: ... as montanhas que não há muitos anos O Centro da ilha se os reduzidas a um isto em

lo que se nas para a abundânencosta norte. Em 1812 o madeirense N. C. Pitta chamava a cia de ou oriundas das Orientais e Ocidentais em tão variedade que o levaram a al1rmar que a Madeira é o Jardim cio Mundo l 'l • Os do Funchal são os locais de forasteiros e cientistas. 1888 o C. Stanforcl não hesita em comparar o Funchal "are remarkfor thea collectiol1s af trees anel shrubs ITom many cOllntries and able de onde many climes." Bulhão Pato "os ramos de nora que também foram diz-nos quc () clima e solo releva o do

",·r""'.CI·~ a Francisco. Tudo isto leva M. d'Avezac de todo o munc\o"IH. Este da Madeira como uma estància dc fazer à dIscordante tem C "Dizem auctores quc na Madeira viver e fhltilicar ao ar livre na mais familiar """1nm1'I'''1 e illuminaclas mcsmo as de todas as do mas isto não é exacto""".

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A riqueza e particularidades da flora madeirense fizeram com que a ilha se transforma-se num local de permanente investigação para os cientistas europeus. A ilha era um local ideal para herborizar e um verdadeiro laboratório: "La botanique l'entomologie la météorologie sont les occupations favorites des savants pendant leur séjour dans l'i1e; mais cette étude atant d'attrait et de charme qu'elle entraine souvent au . de lã du but."~' A ideia é corroborada por E. Taylor(1882) e A. Drexel Biddle( 1900). O último considerava a ilha "um paraíso para os naturalistas". E, na verdade foi isso que aconteceu, uma vez que desde muito cedo a atenção dos naturalistas fizeram da Madeira um dos recintos predilectos para herborizaI,22. Os Jardins Botânicos da Europa encheram-se de plantas e herbários da ilha. Tudo isto começou em 1687 com Hans Sloane e manteve-se até a actualidade. Se a atenção e preocupação do cientistas estava na descoberta e classificação das novas espécies, o empenho das autoridades incidia na preservação do parco manto florestal, tão necessário à sobrevivência humana e ao equilíbrio da economia. Deste modo, logo desde o século XV até ao presente, é interminável o conjunto de regulamentos, ordenações e posturas sobre o assunto. A legislação florestal madeirense é prolixa, sendo de destacar o regimento das Madeiras de ] 562, o mais antigo que se conhece pois faltam notícias sobre o de 1515, o regimento das matas e arvoredos de J 839, o plano de organização dos Serviços Florestais de 1886 e o Regimento do Serviço de Polícia Rural e Florestal de 1913. Estas regulamentações genéricas tiveram réplica nas posturas Municipais 2) e recomendações dos corregedores lavradas nas correições 24 completam o quadro das medidas protectoras do manto florestal. Daqui se conclui que não houve esquecimento e falta de regulamentação. As contingências de cada época ditaram, sem dúvida, a sua ineficácia. As medidas poderão resumir-se à preservação daquilo que existe através de medidas limitativas do abate de árvores e recuperação do coberto florestal com uma política de reflorestação das zonas ermas ou em abate. A salvaguarda da floresta passava não só pelo estabelecimento de medidas rigorosas que controlassem o seu abate, que deveria estar sujeito a licenças camarárias, mas também ao ataque em todas as frentes aos agentes devastadores, onde se inclutam o fogo e o gado solto. As queimadas, tão comuns desde o povoamento, foram um dos principais agentes devastadores e por isso insistentemente proibidas. O gado era obrigatoriamente acantonado a espaços circundados por um bardo. A floresta não era para os nossos avoengos um espaço de diversão mas sim algo fundamental para a economia da ilha, Vedar-lhe o acesso era impossível. Daí as medidas disciplinadoras do \.ISO de acordo com um processo económico harmonioso. Foi com um violento incêndio que os povoadores, segundo Cadamosto, "vaneram grande parte da dita madeira, fazendo terra de lavoura". As queimadas sucederam-se inlinitamente e levaram a coroa a estabelecer um travão, Outros incêndios violentos se sucederam. Os que ficaram para a História, fruto da acção humana, são de os 1807'·' e depois em 1910 e 1919 21'. Em 1593 documenta-se o fogo do céu que causou elevados danos na cidade e manto florestal. Muitos dos incêndios na floresta foram resultado da incúria ou malévola iniciativa dos carvoeiros. Eles são considerados em finais do século passado como os principais inimigos da floresta'?, Sobre eles recaia todas as culpas dos diversos incêndios que se ateavam com insistência nas serras da

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ilha. Paulo Perestrelo da Câmara é incisivo nas bárbaros carvoeiros as árvores mais robustas e úteis e todos que por dias e mezes consomem às vezes de

gurar a reflorestamento da ilha só assumiu uma dimensão na século XIX. A é de 1 flltura em que se recomendava o UC<'c.IHvU, Santa Cruz e Porto Santo~". O ela Francisco Moreira Matos. Em 1769 ele dava conta dos infractores de Santa Cruz das medidas que determinavam a de o que prova estar já em exc. Na Ponta de Sol em 1789 que este deveria ser de tornou-se extensiva toda a ilha através carta cir770]~. cm Santa Cruz sabemos que a medida nomeando a dois homens as escarpas montanhosas e as áreas de cultivo. Assim em 1791 recomendava-se aos lavradores das meias terras aeima são da extensão das terras, de menos duas e um limoeiro. Por outro lado as terras escalvadas e do interior cleveriam ser semcadas no era a que decurso do mês de Setembro de "alimenta bicho da seda e distraem não comum uvas")'. Note-se que só nos dois unos que antecederam a visita do em 7LJ5 a Ponta ele se 35.000 árvoresJ.J. Esta salutar medida diversas formas de I que cortasse uma árvore era outra no seu aliás testemunhada por W. Combe em 82'''. Estas medidas passaram no imediato para o articulado . Assim cm 1 e reclamava-se que que viviam da serra com a lenha c carvão deveriam em Janeiro seis úrvores na terra. exemJosé Silvestre como ( \846-185\) teve lima na disna defesa das florestas c de do coberto". Em 1849

de aos que mais (1849-1 aderiu a esta de

1771 com o 110

das áreas de razão disso eslava em que elas faziam "sombra à terra e attrahião a umidade da de que a mesma terra hé sumamente estéril">". Os resultados da são visíveis

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e testemunhados pelos estrangeiros. Em 1851 Robert White4<l destaca a expansão do pinheiro face à floresta indígena. Dois anos depois a lsabella de França41 se depara uma floresta de castanheiros, loureiros e pinheiros: "no cimo dos montes plantaram uma infinidade de pinheiros, a mais parte nas duas últimas décadas.". Já em 1854 E. Wateley destaca este trabalho e a presença de espécies da China, Austrália e Japão, nomeadamente no Jardim da Serra42 • Já no nosso século o Marquês de Jácome Correia destaca o esforço de plantio de árvores, de iniciativa pública e privada. Neste último caso tivemos o Visconde Cacongo e Luiz de Omelas e Vasconcelos. De acordo com o mesmo em 1823 foram distribuídas por toda a ilha vinte mil árvores de eucaliptos, acácias, carvalhos e pinheiros4). As décadas de quarenta e cinquenta foram tempos de reflorestação' 4 • Tal como referia a Junta Geral no relatório de 1864 " a necessidade da arborização nas serras da Madeira, não se demonstra, sente-se"45. Daqui resultou a necessidade da aposta seguindo-se o exemplo dos franceses (1860) e espanhóis(1863). Sucederam-se várias medidas para fazer desta política uma realidade na Madeira como foi o caso do alvará de 31 de Agosto de 1863 e o decreto de 21 de Setembro de 186746 • A aposta continuou no nosso século, tornando-se mais evidente a aposta com o avanço das encostas escalvadas fruto de desbastes ou dos incêndios que ocorreram. A aposta estava na arborização como testemunham os estudos de Manuel Braz Sequeira(1913) e João Henriques Camacho( 1920). A própria câmara do Funchal apostou forte nesta acção com o montado do Barreiro47 •

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CRONOLOGIA 1419-1420. Reconhecimento do arquipé lago e iníc io da ocupação 1461. O inrante D. Fernando cm respostas as reclamaçõcs dos madeirenses reve la pre-

oc upação pelo despovoamento noreslal. não obstante concede liberdade para o seu

corte. 1485. Primeira referencia ã falta de lenhas no

Funchal. proibindo-se a doação de novas terras a on e 1489. Medidas no sentido de proibir as queimadas para abrir frl!lltc s de arroteamento

1514. D. Manuel autoriza o transpone de tabuado c madei ra da jurisdição de Machico para o

Funchal. 15\ S. Primeiro regimen to das madeiras 1562. Agoslo.27. Reeil11cnto das madeiras. considerado por Alvaro Rodrigues de Azevedo

com o primeiro cód igo norcslal da Madeira. 1593. OUlubro.28. alvará Régio sobre o aproveitamento das madeiras 1596. Janeiro.26. alvará Régio sobre o aproveitamenlO das madeiras 1737. Junho.l. Postllra da câmara de Ponta de Sol cm que proíbe o corte dc madeiras sem

licença. 1770. DCl.embro.25. Carta circular detCnll;nando o plantio de arvon:s nas terras ba ld ias. 1771. MaioA. Portaria do Governador e Capitão General autorila o comércio de madeiras e lenhas da capi tania de Machico com o Porto Santo 1760. Dezembro. I ). Ordem do Corregedor Pedro António Faria. em observância ao alvará de 29 de Maio de 16JJ. para se plantarem amoreiras. 1783. Agosto.S. Carta ao juil. e o ficiai s da câmara de S. Vicente para se proccder ao lançamento de bardos na s serras. 1789. Novembro. 16. Correiç:lo cm Ponta de Sol: ordem para plantio de árvores si lvestres e de rruto nos terrenos baldios 1791. Maio 31. O Desembargado r D. António Rodrigues de Oliveira em Correição no Porto Santo. recomenda o plantio de pinhõcs. 1791. Novembro.22. Correiçâ em.: ~~~. Determina-se que os la\ . cVtrdas meias terras acima de"em plantar n i1~u

um, quana de castanheC'EHA ( t ..

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ALBERTO VIEIRA 1792. Outubro.18. Instruções respeitantes ao bem geral da Agricultura do Desembargador D. António Rodrigues de Oliveira à Câmara da Calheta. 1804. Outubro. IS. Circular do Governador Ascenso de Oliveira Freire recomendando às câmara dc Ponta de Sol, Calheta e S. Vicente a arborização e limpeza das ribeiras. 1834. Introdução da cultura da tamargucira no Porto Santo 1835. Janeiro.2. Edital da Câmara do Funchal ordenando a retirado dos porcos da serra, devido aos danos que causavam às raízes da rciteira 1836. Julho.12. Postura da Câmara do Funchal proibindo II venda ele lenha verde colhiela junto às fontes e nascentes. 1839. Projecto de Regimento elas Matas e Arvoredos da ilha da Madeira. 1841. Novembro 12. Lei que torna extensível às ilhas o alvará de 11 de Abril de 1815 1845. Agosto.25. Postura da câmara do Funchal: proibiçüo da entrada na cidade de lenha verde ou seca de vinhálico e loureiro 1849. Setembro.5. Cnrta do Governador civil, José Silvestre Ribeiro, para o Ministério do Reino pam que fosse criado no Funchal um jmdilll botânico. ISSO. Junho. 14. Carta do Governador civil, José

Silvestre Ribeiro, à Junta Geral recomendando a criação de um viveiro geral de plantas para toda a ilha 1850.Agosto.20. Proposta do Governador civil, José Silvestre Ribeiro, às câmaras Municipais, para atribuição de prémios aos proprietários que mais se distingam na arborização. 185 I.Março. 15. Postma da câmara de Machico: proibição de uso de lenha 110 fabrico de aguardente e fornos de cal. 1855. Doença dos Castanheiros 1886.Novembro.25. Decreto que aprova o Plano de Organização dos Serviços Florestais 1891.0utubro.29. Decreto de organização dos Serviços Agrícolas 1911. Março.11. Criação da Junta Agrícola da Madeira, que tinha como objectivo promover ao povoamento florestal das serras 19\3. Março.8. Decreto que aprova o regulamento para o serviço de policia rural e florestal da Madeira. 1913. Julho.23. Lei que regulamenta o serviço de concessão de licenças para pastagem de gado suíno e caprino na serra 1919. Junho.12. Extinção da Junta Agrfcola da Madeira 1958. A Câmara Municipal do Funchal compra o montado do Barreiro, 1982. Criação cio Parque Natural ela Madeira

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ALBERTO VIEIRA

NOTAS I 2 3 4 S 6

7 8 9 lO II 12

Cr. Colectânea de TêxtoS: prosa Cf. Colectânea de textos Cf. H. Coleridge(1826), D. Embleton(1880), C. Thol1las(1910), J. l-lutcheon(l92R), M. Grahum( 1942). A V<Jyage /0 Cochinchina il1 lhe years 1792 am/ 1793, London, 1806, p.IR. 1bidem. pp.II-12 .foZ/mal q/a Visit /0 Madeira .... Funchal, 1970, p.139 Um Inverno na Madeira, Calirornia, 1896, 1bidem,p.191. 1bidem, p.60 O Problema Flores/ai no Arquipélago da Madeira, 1950, ppo4-6 A Win/er in Madeira .... N. York, I !JSD, p.125 Ramhles il1 Madeira .... 1827, p.147; R. White, Madeira, 1859, p.69; W. Cooper, 71w Invalid:\' GlIide /0 Madeira, 1840, p.13

13 COH fj'ontc-sc texto nu selecçiio de prosa 14 Accoun/ o/lhe island o/Madeira, 1812, p.59. 15 Leavesji'OlJl a Madeira Gardel1, 1909, pp.27, 270 16 Cf. Colectânea de textos 17 Madeira .... 1885, p.225 18 Y:I. Wilde, Narra/ive (!/ a Voyage /0 Madeira, I MO, p.1 04 1<) Iles de I 'Aji-ique, I R48, p. 107 20 A propaga e o ananaz na Madeira, Sep. Brotéria, XXIII, fasc. II, 1927, pp.7li-80 21 P. Jaunier, I/il1éraire de Paris à Ma&re, 185'! 22 M Oraham, Madeira.... 1942, ppo4-6. 23 ARM, C. M. Santa Cruz, n" 291, novo caderno de posturas; Posturas do Concelho de Sal/ta A/IJ/lI, Funchal, 1837; ARM, Governo Civil, n".155, Pusturas( I 840); Po.I'lU/"aS da Câll1am Municipal da Cidade do Funchal, IS49 e I g95; Posturas da Câmara Municipal da Vil/a de Machico, 1856; ARM, e. M. Funchal, n".239, Registo de posturas( 18(,9- I885); Código de Po.I·/uras da Câmara Municipal c/o Concelho do Por/o Moniz, 1890. 24 ARM, C. M Machico, 11".5-6, livro de eorreições I76S-1 HO!!; ARM, e. M FUl1chal, n" 16H( 176K); ARM, c. M. Por/o Sal1/o, n".54( I780-1829); ARM, C. M. San/a Cruz, n".17 I(1808-1 H32). 25 Paulo Dias Alnwidu, ob.cil. 26 M. B. Sequeira( 19 IO); Visconde do Porto da Cruz (I l)6()).Cr. testemunho de Assis Esperança, in lll/.I'/ra~·ao, 1929, publ. Cabral do Nascimento, Lugares Selectos dos ou/ores Portugueses l/1Il' Escreveram sohre o Arquipélago da Madeira, Funchal, 1949, p.1 RS. 27 .I. Freitas Branco, Campol/eses da Madeira, Lisboa, 1987, pp.133-137; A. Marques da Silva, .. Preocupações Ecológicas do Estrela do Norte", in A/lân/iCIJ, I9( 1(89), 203-206. 28 Breve Noticia sohre (J !lha da Madeira, Lisboa, 184 I, 34-35. 29 ExclIrsllo na Madeira, 1891, p.H3. 3D ARM, C. M Iv!achico, n°.6, n. 5v", 7 de Abril de 1769. 31 ARM, C. M Ponta Sol, 11".220, 11. 6Hv"-69, 19 Novembro I?X9. 32 ARM, C. M. Machico, n".5, n. 16v", II de Muio de 177 J. 33 ARM, C. M. Machico, n".5, n.72, 22 de Novcmbro dc 179 I. 34 ARM. C. M Fa11la Sol, n".220, fl.80v", 29 de Agosto 1795. 35 ARM, C. M Machico, n".5, n.H3v", II de Dezembro 1792. 36 A /lis/O/:)/ o/Madeira, (1.23 37 Veja-se a compilação da doculllentação (! textos mais importantes de Fernando Augusto da Silva, MaI1lH~1 \3raz Sequeira, João Henriques Cumacho e Visconde do Porto da Cruz. 38 Uma Epoca Admillislraliva da Madeira e Por/o San/o, 3 vols, Funehal, 1850-1 H56. 39 cC Textos cm anexo 40 Madeira .... p.69. 41 .fo/lmal ola Visi//o Madeira .... ppo48-49, 63, 76, 13H-139. 42 A Visil/o Por/ligai and Madeira, 1864, p.30. 43 A ilha da Mm/eira ... , Coimbra, 1927, pp.155, 173 44 Manuel 13mz Sequeira, I'! 13, p.15 45 Rela/ário .... Funchal, I R64, p.30. 46 A. C. Hermlia, Observaçiies sohre a .I'it/lClçüo económica da ilha da Madeil'll, Lisbon, I RXR, p.2(,. 47 Abílio Barros e Sousa, Plano de Arhorizaçc7o do Mon/ado do Barreiro, Funchal, 1946.

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Do

ÉDEN À ARCA DE

NOE

OLHARES CRUZADOS

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AGUARELAS, ESTAMPAS E DESENHOS DA MADEIRA SÉCS. XVIII-XIX A fotografia é a memória estática do momento do "c1ick". enquanto a gravura regista tudo isso pelo olhar do desenhador ou pintor. No primeiro caso tudo depende da qualidade da objectiva. da pelicula e câmara fotográfica enquanto no segundo é o crivo do olhar do autor, os interesses, objectivos, formação e cultura que fazem saltar para a tela ou papel os ponnenores do quadro, a disposição e tamanho. É comum questionarse uma imagem - quem, quando e o quê - mas poucos se perguntam sobre o porquê destes ou daqueles motivos e quais os objectivos que os regeram. Tais interrogaçôes condu zem-nos a rumos muito seguros na investigação do tema.

As diversas leituras ecológicas da pintura e gravura valorizam a luz e a paisagem. Na última a atenção é votada à presença do arvoredo, dos lagos, montanhas e quedas de água. A presença da figura do homem nào é constante e varia da Europa para a América. Enquanto no velho continente esta presença é assídua e de escala bastante notória. já do outro lado do Atlântico é evidente a ausência e quando aparece é quase sempre em pose contemplativa'. Na década de sessenta do século XIX foi evidente o gosto pelas árvores milenares. que fizeram a fama de algumas localidades, correndo mundo em descrições e ilustrações' . Já no fim do século foi a atenção dada aos aspectos geológicos. Aqui, as rochas sào as protagonistas. Assim John Barrow [1792-1793] é atraído pela "Loo Rock of Funchar" . A última situação adequa-se às preocupaçôes da ciência. A Madeira apresenta lima rica informação. As gravuras

madeirel1~"'Sã ~ri'aion, ~ ri­

amenle do seculo do século XIX e de mão inglesa. Note-se que de cenlítnaSlu1j.eriores sào apenas registadas seis. A maioria situa-se no período curto de Poc~~~nta 1.-, .. uo Dt

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anos (1821-1858). As gravuras fazem parte de registos de viagem ou de tratados científicos. Tudo isto porque a Madeira apresenta-se neste momento como um eixo fundamental para a navegação e contactos entre a Inglaterra e as suas colónias na América e no Índico. Também a ilha se tranSf0l1110U rapidamente numa estância de turismo terapêutico que acolhe doentes de tísica de diversas proveniências. Aristocratas, cientistas e aventureiros acudiram à ilha à procura do seu clima ameno para alívio e cura das doenças. Neste intervalo procuram descobri-la nas suas paisagens, na riqueza e variedade da flora. A posição da Madeira justiJica esta desmesurada valorização inglesa que excede muitas vezes a das colónias das Caraíbas. A Madeira entrou rapidamente no universo da ciência europeia dos séculos XVIII e XIX. Ambas as centúrias foram momentos assinaláveis de descoberta do mundo através de um estudo sistemático da fauna e flora'. Daqui resultou dois tipos de literatura com públicos e iricidências temáticas distintas. Os textos turísticos, guias e memórias de viagem, apelam ao leitor para a viagem de sonho à redescoberta deste recanto do paraíso que se demarca dos demais pela beleza incomparável da paisagem, variedade de flores e plantas. Tenha-se em conta que algumas colecções foram feitas para deleite de alguns dos seus apreciadores, que f1guram em lista que as antecede. Assim sucede com os desenhos de James Bulwer (1827), Andrew Picken (1842), W. S. Pitt Springett (1843), Frank Dillon (1850), .r. Eckersberg (1853-1855)'. Já os tratados científicos apostaram na divulgação deste recanlo alravés daquilo que o identifica. As técnicas de classificação das espécies da HUlIla e nora têm aqui um espaço ideal de trabalho. Hoje a riqueza pictórica da ilha é devedora desta situação, existindo valiosas colecções separadas ou em livro. No primeiro grupo enquadra-se a maioria e riqueza da colecção de gravuras inglesas. De entre estas podemos destacar as de Andrew Picken (1840), Rev. James Bulwcr (1927), P. H. Springett( 1R43), J. Selleny, Susan V. Harcourt (1851), Frank Dillon (1856), R. Innes, Joahn F. Eckersberg. Os temas são comuns a todos os intervenientes. O Funchal apresenta-se através da baía e o deslumbramento do casario da encosta tudo em várias perspectivas ou nos pormenores mais característicos da arquitectura - A Sé, os conventos de Sta. Clara e S. Francisco O interior da ilha mantém a mesma insistência em algumas localidades que mais chamaram à atenção do visitante c se encontram no traçado nas rotas ele visita: Cabo Girão, Curral das Freiras, Encumeada, Boaventura, Rabaçal. O quadro natural tem em Rev. W. V. Harcourt (1851), John F. Eckersberg e Rev. James Bulwer (I R27) os seus mais fieis e atentos observadores. A visão é atente e em alguns casos parece-se com um registo fotogrú/ico. As perspectivas aproximam-se da realidade e o quadro enche-se com dados de observação directa. A vegetação é rainha logo seguida das quedas de água. Em quase todos o homem é uma presença obrigatória a sua pose é de eontemplação, de êxtasc face as belezas que o rodeiam, e raramente de total integração no conjunto. Mesmo assim esta presença, a pé ou cavalo, é secundária e anicha-se quase sempre no canto esquecido". Através de algumas estampas e gravuras é possível descortinar n presença de algumas espécies arbórcas. Aquclas que assumem valor alimentar, como a vinha e n bananeira, assumem algum destaque, seguindo-se o dragoeiro. Todavia toda a tenção está desviada para a natureza selvagem que se afirma como o cumulo da beleza).

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Os retratos do quadro natural madeirense não são tào vari ados nos temas, mas sim nos motivos e ponnenores que enquadram e dào harmonia ao conjunto. A grande atenção está nas encostas onde o casario se entrelaça ou nào com o arvoredo. O céu, a luz\ nào pertencem ao un iverso dos artistas, pois aquilo que mais clama pela atenção sào as encostas e o litoral abruptos. onde se anicham as quedas de água, o homem, o casari o e o variado arvoredo. este último quase que parece ausente das encostas e vis-

tas próximas à cidade do Funchal. Aqui as encostas apresentam-se esca lvadas. Os efeitos da acção do homem sào notóri os. Só quando se penetra no interior, em

Encumeada, Curral das Freiras, Boaventura e S. Vicente se redescobre a exuberância da floresta. Aliás, é este o motivo fundamenta l que domina o pincel do anista. O sul esta cheio de mot ivos e dominado sempre pela presença do homem e dos registos da sua acção como O casario , pontes, etc.

No grupo de textos cientificas a atenção repane-se enlre a flora, destacando-se a variedade de flores, e as fonnações geológicas. As últimas surgem com grande evidencia cm Edward Bowdich ( 1825).

BIBLIOGRAFIA Gnt"uras e eSlampas

Estampas, Aguarelas e Desenhos da Mad~ira Româmica. JlIlho~Deze l1l ~ro. ~)-:2 .~. ~asa Museu Frederico de Freitas (Orgamzação e tex toS Dr. Paul o de Fr

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Clode), Funchal. 1988. , ~ NASC IM ENTO. João Cabral do. Estampas Antigas da Madeira: Paisagem-coswmei!1rajec

CEHA13 (t"UO Dt

t~·UOO!lo

NII~oel .. CICI IIrt.l-4r

M


ALBERTO VI EIRA

edifícios-marinhas, Funchal, 1935.

Estampas Antigas com Assuntos Madeirenses,

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Arquivo

Histórico da

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LISTAGEM AGUARELAS. ESTAMPAS E nESEN I-IOS nA MAnEIRA

LIVROS I LlJSTRAnos ASTLEY. Gelleral Collee/iall oJ Va)'ages aliei Traveis. London. 1745-1747, Xilogra fi a a prelO:

lhe dragon lree. BOWDI CH. T. Edward. Excu/'siol1s in Madeira I1d Porto Somo Durillg lhe Alllllll/11 o/ /813. Wh ite (}I I his Third Voyage 10 /1{riccl . .London. 1925. Estampas sobre a Madeira : Franci scano, Vilões. Vi loas. Garapas, Canarios-Ruivo-TorrinhasSidrào. Cabo Girào c Jardim da Serra. Curral das Freiras. Serras da Madeira. segmentos geológicos. BOWLES. Wm Li sle. lhe Spiril of Discovery. A Descriplil'e UIU/ IIislor;c(.l/ Poem. London. 1804. Gravura de I. Neagle: the tomb of Anna d'Arfet in the island of Madeira.

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London, 1885.23 ilustrações alu;esr.\· 1+éstace, Nature, London, 1827. de 26 estampas a prelo: The Loo Rock; Funchal li"OlIl lhe 01' Santa Catharina; The Peak Fort; View among lhe Moinhos; The District of Funchal, fram the above the The Waterfal1; Ribeiro dos Socorridos; Descent the Curral; The Church ofNossa Senhora do Livramento Ribeira Brava; Calheta; Pico Ruivo, lhe Ton"inhas from the Paul da Serra; Encommiade 01' SI. 1'he Church of Ponta Pico Ruivo I'rom lhe ofSI. Jorge; Ribeiro de Ribeiro Santa Cruz; Machico, of Porto-Cruz, fram lhe Cliffs 1111 lhe Norlh Enst Side of Poin! Lorenzo; 1'he POl'lolla; Tlle town of Porto Santo; Interior 01' Parlo Santo, London, 1821. Gravuras COMBE, William to the Peasnnts ln usual Inhabitants af the lsland; Winc to 1'own when elear; Manner An accident upon the Road; Prior 01' Franciscun Donations for Pricst ln different Attlre; Lay Sisters his COllvenl; A Franciscun FalheI' lhe Grder 01' lhe Mounl Cm"mel; A NUl1 and heI' Attendant; A & her Scrvanl Church; Usual of Hal11l11ocks; Manner of among lhe Ladies aI ['linchai; Membcrs 01' the Scnate; Official Dress lhe Mcmbers th\: ('amem Senate on lhe Death 01' lhe anel Aecossion his Successm; An Omeer & Privale 01' lhe Garnison 01' Funchal; of Loo Fort. DILLON, Frank, Sckelche.\' iII IlIe Is/aI/L! Madeira, Londoll, 1850-1856. Robert Machim's FUllchal; View up lhe Santa Luzia River; lown ofFul1chal (froll1thc East); The Pontinha lhlln the West; Granel Curral; da fi"om the Ponte Novo - View !leal' Cama de For! Sr. Funchal Beach; Franciscane Convento, Funchal; Convento de Santa Clara, DIX, John . ('1), A Willler i/1 lv/adeira am{ LI SlIIIJI11(!/, il1 alUI Flo/,(!/Ice, de H. Vanostrancl: Ravine 0[' Funchal; Funchal from St, (lI' Colombus. ECKERSBERG, Johan E. A.I'sichten 1'0/1 derli/1sel Madeira, DusseldorC 1840. L.1'U~:I"'lil~ de Penha Funchal von OstCI11, Funchal von Wcslcrn, WasserJàll bci S. Vicente, Curral, das Thal von S. tlmI von S. Vicente, lhal von Bcm Ventura, Kabo Girão, Isabclln de, JOl'llal lili/a Visita à Madeira e (/ 1853-1854, Funchal, 1970 de 24 gravuras. tam bém el11 GRA BIIAM, Michael c" lhe Climale aml Re.l'oll/'ce.l' London, I R70. de T.A.K.: Funehal from lhe I'nlheiro Road, lhe Hammock, the bullock-car, fromlhc fountain. lIA RCOURT, Susan VCrtllon. Sckelches il1 Madeira Drawl7 & 011 8/01113, Londol1, 1R51 de 14 desenhos li cores e preto e branco: Funchal from the West-Funehul n'om lhe Easl; The Penha fmm the vista Faial, Port St

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VIEIRA

Thiago, funchal- Ribeira Brava; Near Santa-Cruz-On lhe Palhei~o ~{()ad; View (ln lhe road from Funchal to St. Annc's; View offunchal j)'om lhe Sea; hUII Mnrkct-Waslw/"women- Street in Funchal-Ribeiro de Santa Luzia; Quinta nt Santa Cruz; Vicw íll Funchal' View from Pico Arriero; View behind lhe Jesuits'College; View Ihllll IIH.' Deaner;; On the Ribeira St. João-View from St. Martinho; Machic~), ()llin.lll at Santa Cruz, View from Pico Arieiro. Gravuras: Group of peasants, englIsh bunal gnl\l1HI. Funchal fl'om lhe sea, oxen car, view of Funchal from Hollways cnltage HOCHSTETTER, Dr. Ferdinand von, Madeira ein Vórtag, Wit!J1, 1Hó L IX71. Lítogrnl1u til' ,"" Hotzel: Ausicht des Pico do Gato (as Tows) vom Encumiada alIa llUS gegu111 glld, Vila Davies. MICNER, Rev. Thomas, The Gal/el)1 of Nature, London, 18 ... Li logra lias n preto de.l. Dryton: Eslroza, Pass Madeira, descent ofthe Curral. Madeira. PENFOLO , Jane Wallas, Madeira, Fruits and Fer/1.I', London, 1845 Desenhado e (,;ollll'ido plll' Jane Wallas Penfold. The belladona lily, the custard apple, the banllnt1 {i'uil, lhe septrt.: isoplexis, Omiltrofalum arabicum, the castor oil plant, tbe gllllVll IhlÍt tmnnlll or lovl.' aple, the Eltriopian sichardia. PICKEN, Andrew, Madeira Ilu.I'trated, London, 1840-1842. Oito eslumpas: FUIlehalli'o1ll lhe East, Ravine ofSt. SJorge, Penha d'Ágllia, C~lmarn de Lobos, -História da lllm pelo sr, James Macaulay e general il1formation, Litografías a cor: Ruvina or CUll1nrn de Lobns. CUITal, the Curral Madeira, Quinta do Monte Funchal thl111 lhe huy, FUlll:lwl 11'<1111 Sllu Lázaro, Rabaçal. Aguarelas: Fajã do Mar, Nem the me, Ribeiro SO(';Ol'ridos, on lhe ll1ad to the Courals the Ribeiro Frio, on the Ravina 01' the cold river, Penha d' Águia, Belt!l vista, um vilão nas montanhas, Achada-Campanário PITTA, N. C., Accolln! ofthe is/and (i/Madeira, Lonclon, 1802. Litogrn lia de E, M it(,;hell: I)r~·~!o. of the country people in Madeira. ROUNDELL, Mrs Charles, A Visit to the Azore.l' 11'it" li ChaptL'1' 01/ MadL'iI'll, LOlldon, IKIN, .1 ilustrações de Madeira: Porto Santo: aproach to Madeirn, Cape Sln\ll1~r lcaving Madeira, View from Quinla Sarmento. S., W. S. P., Reco/leclions of !v[adeira, London, 1843. Gravuras: feriado na serra, llIoinho lia serra SCHACHT, Dr, Hermann, Madeira und Tel1er(j'e mit ihrer I't'ge/atio/l, Berlim, I !i5~1. Litografias: Funchal, gesehen von clen wage nach den Angustias, llaide, l<1'l\111~1' au!' Madeira, SMITH, Richard, Madeira alld ils A.I'.I'ocialiol1.1', Londllll, 18ú l)('?), Cinco x illlgravlIl'lls d\.' Swain: entrance to the island, ccntre 01' Funchal, Penha d' Águia, the Ellgle'S Rlld,. TI!l' Rabaçal, Blasting for A Levada 01' Watercoursc. SPRINGETT, W. S. Pitt, Recolfectiol1s of Madeira Dediea/ed lo At/r,l' Cit'o S/otldi1l'l, I.Ollllllll. J 843 Colecção de 15 estampas a cores e preto e branco: The Pro111essa or Wmv; Waitillg for Oaybreak 011 the Sena; Belfry attached to lhe chapei orNo S. do Iilia!. "Tlle Sigllnl"; Stranger's Grave; Mil! at the Serra; English ChapeI, Funchal; Interior ui' a "Vcndu" in the Sen'a o1'st. Antonio; The Lagar or Wine Press; Girl grinding com; Tlle PlIlul1l]l1illThe I-Iammock; The Xerola; A Portrait-Shepherds rccolling eaule hy lhe BllZio; R0111 li II Catholic Priest- A Nun 01' the Convent 01' Santa Clara; Madeira Peasal11 (; i1'1; Mndcira Peasant Boy., the xerola. VALDEZ, Francisco Travassos, Six yem:l' q/ li traveller,l' /!/'e in 1'1'/.',1'1<.'1'11 'UNca, 2 volumes, London, 1861. Gravura: Ponlal da Cruz. Isle ofMadeira. -Alhcu Ocidental. Notícias c considerações, Lisboa, 1864. Estampas de Mndeiru: Vista du Cidade do 1'Llllcllal, Palheiro (vista da casa tirada da Horta) na ilha de Macieira,

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V IZETE LLY. Henry. Pacls Aholll POrl anel Madeira , Wi/h Nolices of lhe Wil1es Villtaged AlVlIl1d USbOlllllld ihe wil1es ofTel1erife. London , 1880. 22 estampas sobre a Madeira.

Tema domi nalllc a vi nha c o vin ho. WI-IIT E. Robe rt. Madeira. ils Climare OIU/ Scenel)' COllloining Medical (md Gel/eral Injórmariol1 !o/"/illm!i(l\" anel Visitor.'!: a To"r of Ihelisland. elc.: and an Appel1dix. London. 1851. G ravuras a parti r de desenhos de John Botcherby: Penha d 'Aguia (cag lcs roc k) fr0111 lh e Lamacei ras. Pontinha and Bay af Funcha l from lhe west. village of Cama de Lobos and Cape Gi ram, Coasi vicw, From Heights above lhe foss il-bed. Rocks and Clifls near lhe rossi l-bed. Fun chal from above São Gonça lves. WOLLASTON. T. Vemon. /Il.\e('/(I Madeirem' ia. Beillg mI Accolll1l o/lhe InseCIS o/lhe Is/ancl~' of ,\fim /eira Grollp. London. 1894. Litografia .

COLECÇÕES DISPONí VE I S NO MUSEU FREDER ICO DE FRE ITAS (FUNCHAL)' BIGGE. F. E.. 1855 Aguarelas: Loo rock. Desen as orMade ira, liul e lourai GELLATLY. J. Cinco litografias: Costumes of Madeira - Melada Boy. Villão or Peasant. Villoa or Country-girl, Burroqueiro or Male teer, Woman spi nnin g. INNES.1. R. Cinco lit ografias: Madeira sledge. Madeira ha mmoc k. Palácio de S. Lourenço. Palanquim e vista do Funchal. Mach ico. Cliffs on lhe north east si de of poi nt Lourcnzo. the va ll ey of Porto da Cru z from Portell a, interior of Porto Sa nto. MAY ,W.. séc. XIX Aguarela s: sun sh in e on the rock (form be low the new road), sa lto do Cava lo, Curral dos Rome iros. A Cou nt ry men-bananas ROBLEY. Cap. J. H .. 1845 Desenho: Cheias de lima ribeira SELLENY. séc. XIX Litografia: Bucke ri ber den Ri beiro Secco, Curral dos fra ~d~d'!f'

CEHA ..D:at ~~:':~~

~'r~r~]JJ


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em Viena por L. T. Neuman. Lilogratlas: Catedralc in Funchal, Bucklibcr elen Ribeiro Secco (Ponte do Torreão na Ribeira de Santa Luzia) Curral elos Frnics, Funchal. THORMAN, C., séc. XIX Litografia: Prospect l11ellen Rio Frio 01' St. Annu, Rio Frio, Portrait of en Flores, WESTALL, R. Gravuras a cores e preto e brnnco - lhe Paúl da Serra, mOllnlnins nbove lhe river St. Vicente, view in the l110llntains betwcen Funchal anel Fllynl.

NOTAS

2 3 4

5 (]

7 g 9

RO

Barbara Novak, Nall/I'e (lml CIIIIIIl'e. Al/lel'lám LIII/dl'('l/I'" (///(ll'uil/lil/g', /825-/875. N. York, I ()lW, pp.35, 1H4-1 X9 HUTH. Hans, Nalll/'e and lhe AII/(,l'i('(/l1: Ih/'ee Cenlll/'ies {!/ ChulIgil/g !ll/iludcs, Ilerkeley, I ()57. p.I42 Barbara Stafford, Vóyag(' inlo SlIh.I·ll1Ilce: .11'1, Seiel/"e. Nall/re, aml lhe IfIl1slmlet! ]j'III'L'! ACC,'lIulU. 1760-1840. Cambridge, Mass.: MIT Press. el9H4, 68-72 Mary L. Pratt, Imperial Eyes. Tr(md Wriling al/(I 7hl/l,\'C/!/llIl'IIliol/, LOlldon, 1992.1')()5; STAFFORD, Barbara Maria, vÍJyage il110 SI/hslill/ce: AI'I. Sciel/ce, Nall/re, (///(1 lhe IfIl1sll'llled 7hll'('1 11"('011111, /760-1840, Cambridge, Mass.: MIT Press, c 19H4, pp. 5(,5-(;34. Estampas, Aguarelas e descnhos da Madeira Rom<intiell, FUllchal. Il!XX. Esta ideia vai ao encontro do que sucede na Europa. C'onlhll1lc-se llarhlll'll Novak. Nall/re IIml CI/IIIIl'e: Al11el'ico/1 Landl'cal'e !'ail1ling. lH25-/875, NelV Ylll'k: Oxlbrd lInivcrsily l'rcss, Il)lW1995. pp. 184-189. Conlhmtc-sc K. Thomas (19l\O), pp. 260. Conlhllllc-se B. Novak, ihidem, pp. 23 e 233. Angellll Miller, Th" HI/llli/'<, 1!f'lhe h)'l'. 1./Il1cll·mpt' Repre.ve/1/a/;ol1 anel AIIIl'rican Culll/ral Po/i/ic.\'. 1825-/875. Washington, I()l>3. Consich:l'Ulll-sc apenas as estampas soltas


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I '\TROULÇ,\O

I· e\idcmc o intl'rl'ssc pelo :lmbu:ntc nos te)(tos namui\os históril"Os e na docu· nlCntaç:lo que fa7 fl: a CStl' pnncipio. O primeiro tc~ 1O conhecido sohre os prmlordios da flr,tún:1 da \ladeira c a Rclaçi\o de Fmncisco I\kofomdo. Nele apresenta·se o relato da chegada dos 01\\ cgadOf"es ii ilha alm\ es das primell':ls impressões face ao que sc lhes depam diante dos olhos. Ao descmbarqul' em Machico l' sagração do e\pa~o succdcu a busca dos lesti1110S da realidade. Assim, logo após a missa Joi\o (jon~ilh es L.areo "mandou \ cr se ilparecem animal~ nu bicho~.l.;},\ iam aI e~" c cSlas eTIlm"lam m:msas por n~o lerem liSIO omes que a~ I 11~.~~' n\ fOTam "'descobrir a tcrrJ" e depilmm-se com água límpida c r.: 1~1WMeçhclo de fuodm. uma colónia de lobos marinhos e uma densa f intra cl jl~f lil('ram de nlear fogo paro abm darClms, Esta \ ISi\O fomplcta-~ com ~\O d~ Gaspar Frutuo,o (1522·1591) que nos d:i l'onla d3 pnmeimêla.~.m da Ilha que d("u micio ao transplante de animais c plantas [lI (l l' . ' "lIIlararn estes , ~ c;lplli\c\. gado e :ileS, anllnalS domes"e(\', c coelho\ . Aquilo que mais tarde continuam a irnpressionar!Af4Nnr'§b'~f\f~ldade de r


ALBERTO VIEIRA

floresta existente na ilha. Aliás, foi este o motivo que esteve na origem do seu nome. Pois como comenta o historiador das ilhas foi assim designada "por causa do muito, espesso e grande arvoredo que era coberta ... ". Mas também poderia ter sido nomeada de ilha das pedras: " é alta, com montes e rochedos mui fragosos, que por ser muito fragosa, dizem que seu nome próprio era, ou deverá ser, ilha das Pedras." Na descrição da ilha o cronista açoriano interessa-se pela acção humanizadora do homem, dando principal destaque às serranias que considera "muito ásperas", sendo o interior muito fragoso mas que mesmo assim dão l11uito proveito das suas madeiras de til, vinhático, ademo, folhado, barbuzano. À tlora indígena junta-se a transplantada do continente europeu e que apresenta interesse económico. É o caso das árvores de fruta, dos castanheiros e nogueiras. Da visão inicial dá-se o salto para a constatação da realidade no século XIX. Haviam passado quatro séculos e a fruição por' parte dos homem dos recursos do rincão levaram a uma total transformação do espectro da ilha. A verdadeira consciência da mudança só sucedeu quando se atingiu a situação [imite e sucederam-se as catástrofes. Neste caso é de salientar a aluvião de 1803, que pelos efeitos devastadores nas culturas e espaços U1'banos gerou ou tornou premente essa consciência pré-ecológica. Na época, para além da prolixa documentação oficiai, podemos assinalar o texto de Paulo Dias de Ahneida, um engenheiro militar que veio em comissão de serviço com o objectivo de atacar os males da aluvião. Na memória descritiva que fez em 1817 traça-nos de forma clarividente o panorama desolador da ilha. O dedo acusador é apontado à acção devastadora dos carvoeiros, principais responsáveis pela destruição geral dos arvoredos. A visão é a vários níveis dcsoladora. Primeiro, constata que "as montanhas que não há muitos anos vi cobertas de arvoredos, hoje as vejo reduzidas a um esqueleto". Até mesmo o "Centro da ilha se acha todo descobcrto de arvoredo, com apenas algumas árvores dispersas e isto em lugares onde os carvoeiros não têm chegado". Outro testemunho atento do meio natural surge em meados do século XIX pela pena de Isabella de França, uma jovem donzela inglesa casada Com UIll madeirense em viagem pela ilha. O seu olhar atento debruça-se sobre as diversas cspécies botânicas como ao variado mundo animal terrestre e marinho. Oferece-lhe particular interesse a Hora do Palheiro Ferreiro e Cam acha, locais onde a mão do homem contribuiu para recuperar a paisagem através elo plantio de pinheiros e espécies exóticas. Aqui o principal depredador não é o carvoeiro, mas o vendedor de lenha na cidade. Estes "saqueiam-nas sem rcmorsos" de modo que todas tiS árvores crescem apenas para que as roubem, quando lhes chega a vez". O ataque aos carvoeiros não ficou impunc pois em opúsculo de Manuel 8mz Sequeira (1913) resultante do panorama vivido no Verão de 1910 com um incêndio de grandes proporções nas serras, volta ele novo o dedo acusador. Os principais responsáveis pelo espectáculo desolador das florestas da i lha são os pastores de gado, os lenhadores e os carvoeiros. Confrontado com este se[vútico "vandalismo que se está cometendo nas serras desta i[ha" o autor clamava por medidas e uma campanha em pro[ da arborização. Na verdade, a grande preocupação nos inícios cio nosso século prendiam-se com 11 necessidade de preservar o pouco manto florestal existente e pugnar pela a recu-

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dos espaços ermos. A necessidade de

do

conduziu

à lei das de 23 de Julho de 1913. foram as vozes que clamando um reordenamento dos é o caso de José Maria Carvalho em 1942 ou de defendida por 1. Camacho (1919) e em por

Eduardo Andrade na década de O texto de Fernando da Silva I é revelador da forma como evoluiu o panorama florestal ao dos séculos e das insistentes medidas ordenadas autoridades. se prova quc uma valiosa natural se não for devidamente acautelada prontamente deixando efeitos nefastos sobre o meio. da ilha e A lenda do incêndio de Alfredo Vieira de Freitas remete-nos às coloca-nos perante o seu efeito a do está sempre assocíada de medidas reclamadas e relevam-se os tos que vão no sentido de estabelecer um natural e penar o novo das madeiras" devastador do homem. Em 562 o chamado procurou estabelecer um travão ao uso desmesurado da floresta. Todavia a situocorrcu no Porto onde para travar a marcha irreversível da se tomou medidas com o de de 1771 recomenda o zimbreiros e tis e nas telTas de cultura as amoreiras e nos montados de Na Madeira a maior das autoridades ocorreu em 1804 da aluvião. Na carta de 14 de Maio de 1804 estão bem expressas as razões do sucedido e a pouca dada à carta de 7 de Junho de 1800 que recomendava o de sementes nos cumes da ílha. Neste contexto é de a actividade da Junta de Melhoramentos de criada em 18 de Setembro de 182 . Tal como dizia em 1815 a natureza estava "cansada de ser liberal" e clamaria por outra atitude do ilhéu.

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FRANCISCO ALCOFORADO ISÉC. XVI

A Rela{'llo de Francisco Alcoforado. embora seja considerada por muitos apócri-

fá. é o mais amigo (exlO que relata a primeira imervençâo dos Po\'olulores europeus 110

arquipélago.

ao outro dia pia !nenham mamdou o capitão hum batel de que deu o carreguo a Ru) pael ljuc fosem a terra a \ela e lhe trQuxese lagua Recado do que vyem por nào 0.0

í:I\'[cr] outro lIuguar fo rão desembarcar na Rocha omde desembarcarão osjmgreses e fmão entre o ar\'oredo e o mar acharão lenha cortada e outro Rasto de jete farão asy ter ao toco do paso gral11de omde acharão a mesa e crusyfixo que os jmgreses del\arào c as sepulturas cõ as CrlIlCS. ha cabcçeyra de que Ficarão espamtados aimda que tudo linhào olluydo hao pilloto tornarão se lIoguo aos naujos com este Recado ao capll;;o Sabydo jSlo delremynou sair é lerra e levar com sygo dous padres que tra/la. saimdo cm terra deu graças a deos. mamdou bemzer aguoa e esparge lia pello ar. lei ao loco omde csta\"ào as sepu llturas mamdou dizer mysa na mesa com

Rcspomso sobre SlIas scpullturas C esta Foy a prymeyra mysa que se dise que foyem dia da \ ysytação de samta Ysabcl acabada a mysa mamdou v[ er] amlre o mar e o an oredo"oe paresyào allgums anymaes ou bichos e não vyrào cou s~~\~~~lIY­ tas 3\CS dI.! mu~tas maneyras e tam mamsas por nào lerem \ ys . . iQi I as lomauào ha mào tomou lenha c aguoa e tornou se aos naujos no I11CSI

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cõsclho plerla descobrvr a lerra prer]a baixo se hyrya nos naujo, r" n~ dlse

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lhe o pilloto que vya terra de ll1uyta penedia que asy a poderya aver no maar e av[ er] baixos e corremtes que lhe pareçya mylhor hirem v[ er] a costa nos bateys e deixar os nauyos aly pareseo este cõselho bem ao capitão ao outro dia pIa menham mamdou cõcertar os bateys de mamtymento e jete que lhe pareçeo ele meteo se no batel cio naujo e do outro cleu carreguo ha allvaro afolllso! e fomos corremdo pasada hUl11a pomta p[ er]a ha bal11da do poente vyl110S que ao pe de huma Rocha se fazia hUl11a pedra que emtra no maar e ao pe daquella Rocha sahiao della quoatro canos daguoa muyto fermosa ou ue o capitão de seio cle saber o tal hera aguoa tam fermosa ma111dou por ella e vyo que hera estremada de boã Frya e leue Emcomemdou lhe ho jfamte que lhe leuase certas vasylhas daguoa tomou claquy hU111a p[ er]a lhe leuar corremos maes abaixo sempre peguaclos com arvoredo achamos num vale hum Ribeyro que vem dar no mar aly mamdou sajr em terra os que la forão acharão outra fomte a par do mar estremada tomou aly outra vasylha p[ er]a levar ao Jfamte e chamou a esta a fomte do seyxo fomos mais abaixo demos num vale de fermoso arvoredo achamos ally hums cedros velhos derrybados elo tempo mamdou fazer deles huma cruz e chamou ally sal11ta cruz pasamos mais abaixo a huma pomta grosa em que achamos tamtos guarajaaos que nos cobryão os bateys c punham se sobre nosas cabeças e nos Remos porque nutnca vyrão jemte ou uem os com .isto muyto prazer e chamamos aly a pomta dos guarajaaos dally descobrymos outra pomta abaixo que seryão dally duas leguoas. e faziase amtre estas pomtas. huma fermosa escada de terra mais bramda e toda vynha beber na aguoa toda cuberla de muyto fcrmoso arvoredo e todo por cyma tam yguoall que parecya fcyto a mão sem av[er] arvores mais alllas humas que as outras senão os cedros que ja tinhamos exprememtado que omde estão sempre são mais ali tos que as outras arvores derredor fomos corremdo a costa p[crJa este vale demos é huam Rybeyra que botaua pedra ao mar é que podem desembarcar como é caez aly mamdou seu cryado g I ayres que sayse é terra e com çertos companheyros que emtrasem hum espaso pia terra a v[er] se auja allgumas alymaryas. ou bichos e não se afàstasem na corremte da aguoa p[er]a sab[er] tornar ao mar e aos bateys forão c tardarão la Ires oras. tornarão erramados rolyamdo cõ l11uyto prazer que não acharão cousa vyua senão aves! Fomos mais avamte achamos hum vale ll1uyto fer1110S0 todo de seyxos não avya nele arvoredo ncnhum e hera todo clIbcrto dellll11cho l11uyto fel'moso a que chamamos o 11ll11chal sahião deste vale ao mar tres Rybeyras l11uyto fel'mosas no cabo deste vale estão dous jlhem; fomo 110S nbryguar a eles por s[er] ja tarde tomamos em terra aguoa e lenha fizemos de cear cm hum dos j lheos de muytas aves que tomamos e tornamos a dormyr aos bateys no outro dia pasamos mais abaixo e chegllamdo ha pOlllta que vyramos o din damtes pos nel1a huma cruz e chamou ally a pôta da cruz. dobramdo esta põta demos é huma praya a quoall chamou a praya fermosa pasamdo abaixo amlre duns pomtas vymos emtrar no mar huma Rybeyra lllUyto poderosa pedirão lhe nllglll11s 1icemea p[er]n sajr em terra v[er] aquel1a Rybeyra e ele estaua no mal' nos bateys fhrão hUl11s dOlls mamçebos de llagllos p[er]a pasar a Rybcyra a vaao c a aguoa corrya tam poderosa que os lelloll ambos. bradou o eapytão do mar que ncorresem aqueles moços que ele trazia nos olhos acodirão lhe os de terra c tyrarão nos ambos vyuos e chamou aquelln Rybcyra dos acorridos pasamos maes abaixo elemos e hum!l Rocha dcllguada que emtra muyto no ma ar e el11tre aquel1a Rocha e outra fica hUIl1 braço de mar é Rel11amço metemonos


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ARCA DE NOÉ

achamos tamtos lobos

por o ferchamou da na emtrada de mayo mamdou que com sua molher molher samta e cõ seus q herão e quysesem tosem pau ar da e as que ouuese derredor 111a111dar os omeziados e comdenados que ouuese aLI levar nenhuns dos por de ou de leuou todos os que ouue e farão dele bem tratados e os mais do da mamdar

e aos naupor a terra sete anos em que destrohio c ferro e aço e se memtcs e cada verão mamdaua que semeauão menos colhião que tudo forteficaua muito de cada e tudo se claun asy nvya se seta e as Reses de e

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jlha por que o foguo tynha ja despejado luguar perajso e a Repartyr a terra com quem ha aproveytase mamdou fazer prestes certos bateys. que avyão de jr por maar e ele com allgums de cauallo e gemte de pe por terra hirem sempre ha vysta hUl1ls dos outros e por nao av[ erJ caminhos e fazer detemça em partyr as terms llmdavão pouco cada dia e cada dia hiamos dormir a cabo do mar e dos bateys. eheguamdo em hum alIto sobre camara de 1I0bos traçou ally omde se fizese hUl1la jgreja do espryto samto pasamos abaixo a humas serras muyto alltas. ally traçou outm jgreyjll ela vera cruz e estes alltos tomou pera seus Erdeyros. pasou abaixo ate ehegulll' a huma Rybeira muyto tllriosa a que chamou a Rybeira brauua aquy se l1leteo nos bateys p[crla v[er] ha terra do maar e cheguou ate hutna ponHa que se I'aaz abaixo que emtra no maar e na Rocha que esta sobre a pomta esta huma vea Redomda na Rocha com huns Rayos. poslhe nome pomta do so!. dahi tornou a desebarear omde altas deixara os bateys./ pasamdo huma Rybeyra que esta alem desta ponHa traçou huma Jgreyja em huma ladram/ do apostollo sal1ltyaguo e alem achamos ho U1'uOI'edo njmda muyto cerrado porque o FOgllO amdaua aimda em parte dele elecemos a humo Rybeira scmpre ao som daguoa viemos elar no mar omde achamos os bateys deyxnmos ally as bestas. e quem as leuase como pudese. e metel110110S nos bateys e fomos desembarcar a hum bom desembareadouro umtre huns penedos a que ele chamou o calheta. sobre esta calheta tomou huma lomba da gramele que lIoguo nomeou pem seu Iilho João gllz e ao 1I0mguo ela Rybeira p[er]a o poemte. tomou oulrn pi erl" sua Jilhn bl'yatiz glls E nesta outra Ilombada da mesma lilha é hum lugullr allto de bofí vysta do mar e da terra traçou por sua mão huma Jgreyja de nosa senhora da es(relln e dise que esta jgreyja avya de deyxar l11uyto emcol11emdada fi todos seus rylhos porque avya muyto tempo que desejava fUllldar hU11la jgl'eyja desta lluoeaçiio dahi pmwl110s abaixo ate a derradeira pomta sobre o mar de onde pareçe que não !la mais (erl'l'lI estamdo aquy lhe trouxerão os elous bateys hum peyxe que pareçyn parguo de mal'llvylhosa gramdcza c por amor deste peyxc ficou nome aquella pOl1lln do pargllo desta pomta vyra a terra p[erJa o norte ate outra pomta que ele dally pera lms tnl~~OU ha eapilnnyll de machico e pos nome a esta pomta de tl'ystão asi chal1laua e/c sempre trystfio e hem lhe muyto afeyçoado daqlly nos tornamos p[er]a () fUl11chal o mais do eaminho por maar por a terra ajmda s[er] muyto trabalhosa e começou tl por c obra a Edelicllçiio das jgreyjas e lIavl'Hmça da terra/ [Jean Fontvieille, "A lenda de Maehim- une déeouverte hihliographiqlle ii la Bibliotheque-Musée du Palais de Bmgance ti Vila Viçosa( Portugal )... ", in !leIas do Congresso Internacional de Hisl<Íria dos j)e,\'(,o/JI'ill/L'/Ilos, III, Lishoa, 19ú I, pp.197-23X] REGIMENTO NOVO DAS MADEIRAS PARA A ILHA DA MADEIRAI15621

Eu EI-rei faço saber a Vós Ouvidores Juízes Vereadores Procuradores c homens bons das Câmaras da Cidade do Funehal e Villa de Machico e das Oll(rtlS Vil/as das ditas Jurisdições na ilha ela Macieira, que el-rei D. Manuel meu Bisavl\ que Santa

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sendo informado do que aos povos da dita ilha se por falta das e que não olhando os moradores d'ella antes por seus contra o bem commum e seu da que tavam as ditas madeiras e lenhas em muito mais e muitos levavam para fora da dita pessoas, que as cortavam; proveu sobre as ditas cousas por seu que para isso madeiras se não cortassem, senão em esta Eu sou ora que no cortar das ditas madeiras ha temendo as pessoas, que as cortam as penas do dito se cortam devassomente, e por não haver quem as acclIse e que por esse samente, muito em do bem commum, dos moradores da dita l1'isso prover, conformando-me com o e contra Meu variedade dos ordenei que e com o. que mais pareceu necessário em deante se tenha a maneira e na defeza e d'ellas: Primeiramente Mando e a todas as pessoas de que em toda a dita ilha não cortem madeira para seus assucaraes, e nem para outra cousa aos Procuradores da ou cortar, aos quaes OtTíciaes que olhem muito e as necessidades que delas pessoas, que lhe as ditas las teem, e que lhe é necessário para seus assucares, e bem feitorias e uma só vez no anl10, sem lhes de suas casas, lhes darão as taes da tal ser dada outra, e Ih'a assim mais dentro d'UI11 anno derem lhe darão dos Santos que não cortem madeira mais da que lhe for necessária para seus assucares, e e uç,,,v,,,,,,, de sua casa conforme a que lhes for dada. E no Alvará da dita porque lhe foi que hade ser o dito anno, e de como por todos os ditos

os quaes serão com os ditos 2" E pessoa, que for achada cortando ou trazendo a dita ou ou que cortou ou trouxe se se provar que a cortou ou trouxe sem a dita mais da que lhe era necessária conforme as ditas se for mente e condemnado cm dois al1J10S de em que não caiba pena de e sendo de e nas mesmas penas annos para a e condemnado em cincoenta ou outras incorrerão as pessoas que as mandarem cortar, ou trazer por seus pessoas, ou seus escravos, alem das ditas pessoas, creados e escravos, haverem as ditas penas de e como dito é. 310 E sob as mesmas penas Defendo e Mando que nenhuma pessoa corte os pallSsou que estes paus servir para os dos


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assucares, e Defendo os ditos Officiaes, que não dêem licença alguma para se cmiarem os taes paus, antes logo nas licenças, que derem declarem porque os não hão-de cortar; sendo porem os taes paus necessários a algumas pessoas para seus engenhos, os poderão cortar com licença dos ditos Ofticiaes, que para tal necessidade lhes darão a tal licença informando-se primeiro se lhe são necessários e dando-lhes sobre isso juramento, e de outra maneira não. 4" Outrosim Mando aos ditos Officiaes, que não dêem as ditas licenças para se cortarem as ditas madeiras em parte que faça prejuízo ás aguas da dita ilha, nem as poderão dar para se cortarem a menos de cento e cincoenta passos em redor das Ribeiras e agllas, pelo muito prejuÍzo que d'isso lhes vem, e as pessoas que cortarem as ditas madeiras dentro dos ditos cento e cincoenta passos incorrerão nas mesmas penas, dos que as cortam sem licença, e para melhor guarda do sobredito: Mando aos ditos Officiaes, que logo nas licenças que derem, declarem Como não hão-de cortar as [aes madeiras, se não arredados cento e cincoenta passos das ditas aguas. 5" Outrosim Defendo e Mando, que pessoa alguma não ponha fogo na serra onde as ditas madeiras e lenhas estão, nem em parte d'onde se lhe possa atear, nem descasque as arvores que estiverem na dita ilha; porquanto pelas ditas maneiras se secca e destroe muita parte das ditas madeiras, e sendo pessoa alguma achada, ou sendo lhe provado que põz alguém fogo, que fez damno, e prejuÍzo nas ditas madeiras, ou que descascou algumas arvores, incorrem em pena de vinte cruzados, e um [\nl1O de degredo fora da dita ilha, e os que pozerem fogo, alem da dita pena haverão a que por minhas Ordenações é determinado, aos que põem fogos. 6" E querendo alguma pessoa cortar rama para mantimento de gados, ou para outra alguma coisa, cortará da rama de cima das arvores, e não cortará arvore alguma pelo pé, sob pena de incorrer nas mesmas penas, em que incorrem os que cortam as madeiras e lenhas, sem licença da Câmara, e querendo esmoutar alguma terra na dita ilha, será avisado que não a esmoute senão com machado, e não com outra alguma ferramenta, ou outro ferro, e será obrigado a aproveitar toda a lenha que tirar sem lhe p6r todo, e sendo-lhe provado, que não eSl11outou com machado, ou que não aproveitou toda a lenha que tirou, pagará vinte cruzados da cadea 7° E porque Eu sou informado, que na dita ilha ha muitas pessoas, que tratam em tabuados e madeiras, e por não serem arreigados cortam mais da que devem e deixam perder muita d'ella, sem a aproveitarem: I-lei por bem e Mando que as pessoas que assim cortarem, 110 fazer dos ditos tabuados, e madeiras, sejam casados e moradores na dita ilha, e abonados n'ella, e nenhuma outra pessoa que não for das ditas qualidades poderá tratar em tal negociação, e aos que forem taes, darão os ditos OfJ1ciacs licença para cortarem as madeiras que virem que lhes são necessárias, segundo o trato, e maneio que tem, os quaes fiança darão segura aos ditos Officiaes ;porque se obriguem a aproveitar toda a madeira, que costarem, pelas licenças que lhes forem dadas que aproveitarão o pau todo até ao cabo, sem deixarem cousa alguma c!'elle, posto que o tabuado fique curto, sob pena de cincoenta cruzados de cadea; a qual nança outrosim darão e que os tabuados e madeiras que assim fizerem, se gastarão toclos na dita ilha, sem se levarem, nem mandarem fora d'ella, sob pena de cincoenta cruzados, as quaes penas se haverão pelas ditas fianças que se registarão nos Livros das Câmaras, quanClo as taes pessoas as derem. E alem da dita pena de cin-

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coenta em que assim incorrerão nas mais penas em que por este meu l""i~lUl"U incorrem as pessoas, que levam ou mandam levar ou lenhas fora da como adeante será declarado, 8°_ E assim os ditos tratantes, como dos ditos para serra ou para ou para a todo o dito pau, como dito é, e '''l';<LL1UllI,U nos onde os navios vão calTegar as madeiras e assim o toco do pau, como as ramas, sob a pena atraz declarada E porque muitas Vezes acontece irem à serra os e outras pessoas a cortar arvores para fazerem madeiras e e de as terem a cortar acharem ocas e não servirem para o que as haviam que estes taes abrie não Hei por bem e a as ditas arvores, que assim cortam, ou começam a cortar, assim o toco como a rama dentro do anno em que assim cortarem, ou começarem a cortar, e as levarão a do mar, onde os navios e barcos as vão carregar, na serra, e as pessoas que as ditas arvores para se não como acima 6 cortarem, ou comesarem a cortar, e as não incorrerão na pena de vinte cruzados da cadêa 10° E alem sobreditos haverem a dita pena cle vinte Hei por o anno em que assim cortaram, ali começaram a cortar os paus, e lenhas os ditos paus e e madeiras devolutas para as e onde oficiaes dos ditos terão cuidana emanclar ver, nos que mais conveniente lhes parecer se serra e outras terras, das ditas madeiras e as mandarão e além d'isso se informarão das pessoas, que as cortaram para contra penas em que por este assim cortarem, ou começarem a corMando aos ditos tar, sem as e Officiaes das que lhes ",,,,h,,,,,,,,,,t,, e com muito

escreverei todas as achadas das dos ditos ou saber á Câmara das Cidades e ir á serra com Officiaes não fizerem a tal e um anno de os ditos Ouvidores a os trondas arvores que se cortam se cortam delles outras, e a pouco se tornam a reformar ao menos nos ditos t1'Ol1para lenhas Hei por bem e que nenhuma pessoa

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cos, nem os acabe de cortar pelo pé sem ter licença para o poder fazer sob pena de incorrer nas penas e; que incorrem os que põem fogo, ou cortam madeiras e lenhas, sem licença dos Officiaes como atraz declarado )20_ E porquanto sou informado que muitas das madeiras, se cortam e levam para fora da dita ilha, Hei por bem e Mando que nenhuma pessoa de qualquer estado e condição que seja, leve, nem mande levar as ditas madeiras, e lenhas fora da dita ilha para parte alguma, nem os Mestres dos Navios as carreguem n'elles para levar para fora, como dito é, sob pena de qualquer pessoa, que as levar, ou mandar levar para fora da dita ilha, incorrer nas penas sobreditas, em que incorrem por esta minha Pr09;s'0, os que as cortam sem licença dos Officiaes das Câmaras, como dito é; e alem das penas incorrerão os Mestres dos taes Navios, em que assim forem levadas para fora, ou se embarcarem para isso, em perdimento dos ditos Navios, a metade para quem os accusar, e a outra metade para a Câmara das Capitanias em que carregarem 13"- E para melhor guarda do sobredito, Mando, que nenhum Navio parta dos Portos da dita ilha, sem primeiro o Mestre d'elle o fazer Saber aos Officiaes das Câmaras dos logares d'onde partirem, e haverem delles licença para fàzerem sua viagem; e Mando aos ditos Officiaes, que quando Ih'o assim fazerem saber; antes de lhe darem a tal licença, os mandes ser por um Offieial da Câmara, que para isso terem juramento, para ser se levam algumas das ditas madeiras, e lenhas para tora da ilha, e achando que as não. levam lhe passarão Alvará de licença para partirem, e partindo os ditos Navios sem as das licenças incorrerão nas sobreditas penas em que incorreriam se levassem as das madeiras, e lenhas para fora da dita ilha, e isto sc não entenderá em alguma lenha que os taes Navios levassem para gasto, e despeza dos mesmos Navios, e terso além d'isto os ditos Officiaes muito bom cuidado de vigiarem, e proverem de maneira que nos ditos Navios não se alguma das madeiras e lenhas. 14°-Outro sim, He; por bem e Mando que nenhuma pessoa faça Náos, ou Navios alguns na dita ilha, nem nella se renovem nem concertem na maneira seguintc Não se poderão as ditas Náos, e Navios renovar na dita ilha tirando lhes a liação velha, c pondo lhes outra peca e peca nem tirando-lhe o tabuado tirando tabua e pondo outra nem se lhes farão as cobertas, ou castellos, posto que o mais seja feito em outra parte, sómente vindo ter á dita ilha alguns Navios desbaratados ela viagem de maneira que não possam seguir a viagem para onde forem sem algum concerto, que seja necessário fazer-se-Ihe, pedirão licença aos Ofticiaes elas ditas Câmaras, os guues com o Loco-Tenente de Capitão das ditas Capitanias verão por si a necessidade que os ditos Navios te em de se repararem para a dita viagem, e lhes darão liccnça para se poderem reparar das cousas necessárias, os quaes terão n' isso muita considcração em como dão as taes licenças, não sendo porem para refazer os ditos Navios como dito é, nem para fazer as cabertas, ou castellos dos taes Navios; porque para as ditns cousas, não lhes poderão dar taes licenças, posto que lhes pedidas sejam, nem as pessoas a quem forem dadas poderão usar d'ellas, antes incorrerão nas mesmas penas d'este Capitulo como se sem licença o fizessem, o que assim Defendo e Mando sob pena do perdimento dos ditos Navios, que se na dita ilha fizerem ou reformarem ou a que fizerem cobertas, ou castellos. e de duzentos cruzados, e quatro annos cle degre-

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será e dois anll08 para alem e nas mesmas penas incorrerão as Officiaes das obras dos ditos Navios e e todas as outras pessoas, que nelles e os Officiaes que derem as taes contra fôrma d'este meu 15°- E somente na dita ilha fazer bateis de pescar, e de can'eto para seros quaes não seus donos vender para fóra sob pena ventia da dita de pessoa que os assim vender para fora da pagar cincoenta e ser dois annos para Africa, 16°_ Outro sim Defendo e que nenhuma pessoa compre lenha na dita ilha para tornar a sob pena de paçar da cada vinte e um anno de do para f6ra da ilha, 7° - E porque sou que na dita ilha ha muita terra em que se bem e e que até ora se não o que era mandas ditas arvores, havendo á muita necessidade que e á falta que haver madeiras ao diante, Hei bem e d'ellas ha na dita Mando aos Omciacs das Camaras da dita que mandem vir á Camara os Hereos das ditas terras, que teem testadas nas Ribeiras da dita e lhes mandem que cada anno certo número das dilas arvores, taxando-lhes o numero conforme a terra que cada um tiver e e de cada uma pessoa, que cada um anno o numero das ditas árvores. que lhes assim for até as ditas terras serem de todo e das ditas arvores, c de como lhes assim fôr e do numero das ditas arvores, que cada mmo hão-de se fará assento no Livro das ditos Ofticias e ditas pessoas, E Mamdo aos Ouvidores e Officiaes dos ditas que cada anilo tomem ditos assentos as pessoas a quem foi mandado as ditas arvores sc as as que eram o tal anno a E não em tudo o que lhes sssim fôr mandado vez trínta cruzados e terceira vêz que cm ludo não de pena serão dois annos fora e não o que lhes assim for mandado por cada arvore que menos das que lhes foi dos ditos trinta lerão cuidado e muita cruzados somente e os Officiaes das ditas as ditas arvores que assim forem c para a dita em mandar lhes as penas que lhes parecerem convenientes para que moradores da dita as não comam, nem se percam por outra antes se e para ao deante. 8° E para melhor das couzas conlidas n'estc Hei por bem e devassem em cada um al1110 no mez Mando que os Ouvidores das ditas de Janeiro de todos os casos acima declarados fazendo toda a que lhes

e agravo nos casos em que couber para Minha u pena de dinheiro ha pena de dos Meus Peitos e nos casos em que alem por da por este meu e nos casos em que não houver mais que pena de

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partes condemnadas quizerem appelIar receber-l hes hão sua appellação para a dita Fazenda, e sendo absolutas não appellarão por parte da Justiça, antes darão livramento as partes para escusar longas prisões, e gastos das partes, e os Officiaes das Camaras terão muito cuidado de requerer aos ditos Ouvidores, que tirem as ditas devassas, como dito e, e não as tirando os ditos Ouvidores posto que lhes não seja requerido no tempo atraz declarado, incorrerrão na pena de cincoenta cruzados, a metade para as obras e despesas dos Concelhos, e a outra metade para os Captivos, e dois annos de degredo para Africa. 19° E alem das ditas devassas geraes que assim Mando tirar cada anno, poderão os Meirinhos da serra, ou quaesquer outras pessoas do povo denunciar os casos d'este Regimento às Justiças da dita ilha, as quaes lhes receberão as taes denunciações dando-lhes juramento dos Santos Evangelhos se denunciam bem e verdadeiramente, e nomearão testemunhas, e as ditas Justiças tirar devassa pelos Autos das ditas denunciações e procederão contra os culpados conforme a este Regimento, e nos taes casos serão os ditos Meirinhos e denunciadores obrigados, a accusar as pessoas de que assim denunciaram e haverão a metade das penas em que forem condemnadas, que Hei por applicados para os ditos accusadores, e não accusando os taes denunciadores, como dito é, pagarão vinte cruzados para os Captivos, tanto que da accusação desistirem, e proceder-se-ha no caso por parte da Justiça, e sendo as taes accusações e denunciações feitas perante os Juizes das ditas Cidade e Villas, darão os ditos Juizes sentenças no caso como lhes parecer justiça e appellarão para os Ouvidores das ditas Jurisdições, e os Ouvidores para a minha Fazenda, 110 modo acima declarado; e Mando aos Meirinhos da serra, que sejam muito diligentes, na guarda das ditas madeiras e lenhas, porquanto o Hei assim por muito Meu Serviço, e proveito da dita ilha, os quaes Meirinhos correrão a dita serra, e achando pessoa alguma que corte as ditas madeiras, e lenhas contra forma d'este Regimento ou que commetta alguma das ditas cousas defezas, acérca de cortar, esmoutar, ou cortar a rama d'ellas; acoimalaha, e alem das ditas penas atraz declaradas, pagarão as taes pessoas quinhentos réis de coima pela primeira vez, e mil réis pela segunda e mais vezes, pela qual pena de coima serão os ditos Meirinhos cridos por seu Juramento sómente, e por elle se fará execução da dita coima nas pessoas que elle jurar que achou, e serão obrigados a vir assentar as ditas coimas dentro de dois dias depois de tal achado, e d'ahi por deante as não poderão mais assentar, nem se fará obra por ellas, pela condemnação da dita coima não serão escusas as taes pessoas das mais penas d'este Regimento sendo culpados em alguns dos casos n'elle contidos, sendo legitimamente provado que foram contra elles. 20° - E porque a guarda e conservação das ditas madeiras cumpre muito ao bem COmml1111 e Meu Serviço, e pode acontecer que Eu algumas vezes a instancia de algumas pessoas conceda provisões para na dita ílha se fazerem algumas Náos, ou Navios, e para se tirarem as ditas madeiras, e lenhas para fora d'ella, sem embargo d'este Regimento, Hei por bem e Mando, que sendo-vos apresentadas algumas Provisões minhas, para na dita ilha se tàzerem Náos, ou Navios, ou para se d'ella tirarem algumas madeiras, ou lenhas, as não cumpraes. nem façaes por ellas obra alguma sem embargo de de rogarem expressa e particularmente este Regimento ou de quaesquer outras clausulas que tenham; e posto que n 'ellas se de clare, que as con-

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cedi de meu moto

porque assim o Hei por Meu não se até M' o fazerdes e Me enviardes as ditas com o vosso parecer acerca do bem commllm da dita ilha e Meu que fazem as taes e tornardes sobre isso a haver do que Eu houver por que se n'isso 21 0 E por este vos Mando a todos em e a cada um que bem este Alvará e e o mandeis notificar a cada um em vossa e se saber que e trasladar nos Livros das Camaras de ellas para ser a todos ácêrca d'isso tenho a se fará este Meu Alvará e nas Camaras da dita e de do e e para d 'ahi por diante inteiramente como por Mim é Mandado. E por este Mando todos os e da dita de Meus Reinos c

mente

que por expressas e em todo e por todo ás ditas Camaras na maneira acima declarada: e Mando aos Otliciaes d'ellas que em todo o sobredito tenham como d'elles ditos Ouvidores e Juizes que deem a '''''~'-''''v<'U declaradas n'este que nos eadas a pessoa Hei por bem que a metade para quem accusar os e a outra metade para as das Cam aras e Concelhos onde as e lenhas forem e sendo por serem accusada será a metade das ditas penas para as ditas ea dos por outra metade para os Antonio d'Abreu o fez em aos vinte e sete dias do mez de mil e sessenta c dois.-Eu Duarte Dias o Jlz eserever.-Rainha.-O Conde.

menta do curso de

PJYI,:YP/'l!1pwn

Florestal no

nnnn/JI>I'{J(l'()

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GASPAR FRUTUOSO[1522-1591)

As Saudades da Terra podem ser consideradas o testemunho da situação da Madeira em./inais do século XVI, altura em que o padre açoriano as escreveu.

CAPÍTULO SÉTIMO COMO O CAPITÃO JOÃO GONÇALVES ZARCO DEIXANDO OS NAVIOS NO DESEMBARCADOURO FOI DESCOBRIR A COSTA DA ILHA ATÉ CÂMARA E LOBOS DONDE TOMOU SUAS ARMAS E VENDO A SAlDA O CABO DO GIRAO SE TORNOU A DORMIR AOS NAVIOS Recolhidos aos navios, teve conselho o capitão para descobrir a terra dali para baixo; e assentou-se per parecer do piloto, que deviam de deixar ali os navios e com os barcos descobrir a ilha, por lhe ver muita penedia, dizendo que assim podia ser ao longo da costa; o que parecendo bem ao capitão, logo ao outro dia se meteu nos batéis com os principais da frota, levando mantimentos e todo o necessário. O capitão ia no batel do navio com o piloto, e do outro deu cargo a Alvaro Afonso; e foram, assim, correndo a costa com brando mar, galherno (sic) tempo e manso vento, em calma a costa toda à beira da terra, e, passada uma ponta que fazia a terra para baixo, ao Ponente, viram ao pé de uma rocha que entrava no mar, sair dela quatro canos de água que a natureza ali fizera tão formosa, como se fora chafariz feito ú mão, onde, tendo o capitão desejo de saber que tal era aquela água, que tão clara parecia, mandou buscar dela e achou-a que era estremada, boa e fria e leve, e daqu i levou uma vasilha para o Infante, antre outras coisas que lhe encomendou. Correndo mais abaixo, sempre apegados com terra, acharam em um fresco vale e ameno prado um ribeiro de agua, que vinha sair ao mar com llluita frescura; ali fez sair alguns em terra, onde os que saíram acharam outra fonte, que saia debaixo de um grande e antigo e liso seixo, e era tão preciosa e fria, que mandou clela encher outra vasilha para levar ao Infante; e põs este porto nome (por causa do que nele achou), o porto do Seixo, como hoje se chama. Indo assim costeando a ilha ao longo do arvoredo, que, em partes, chegava ao mar, passando uma volta que faz a terra,. entraram em uma formosa angra, na praia da qual acharam um 10rl11oso e deleitoso vale, coberto de arvoredo por sua ordem composto, onde acharam em terra uns cepos velhos derribados do tempo, dos quais mandou o capitão fazer uma cruz, que logo fez arvorar em um alto de uma arvore, dando nome ao lugar Santa Cruz, anele se depois fundou uma nobre vila, a maior, mais rica e melhor povoação de toda a parte de Machico- e é tão nobre em seus moraclores, que, a não ser Machico cabeça daquela jurdição, por ser primeiro achada, ela fora cabeceira e a principal de toda aquela capitania, que tão bem assentada esta, onde tinha almndega e oficiais dela. Passados mais abaixo, em uma parte da terra saíram, por estar tudo cercado de altas rochas e arvoredo, é não viam mais que correntes, ribeiras, fontes e regatos, que,

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que a terra fazia grossa e alcantilada no mar, aves do mar, que sem nenhum medo se sobre suas e sobre os remos, que eles tomavam com a mão com que houveram muito prazer enzeram festa e, por esta causa, ficou o nome à do que está de Machico para o ou três desta descobriram outra que seria dali duas e fazia-se antre estas duas uma formosa e enseada de terra mais branda e ares tão por que feita à toda coberta de formoso sem haver arvore mais alta que outra, e, além de ser muito à beber toda na que a Natureza meter todo seu cabedal em arvoredo espaçoso iam entremetidos obra tão acabada. Antre tão altos que se divisavam por cima das outras que eles mui bem conheciam que deles atrás onde acharam muitos. Antes que este deleitoso foram correndo a costa, que de altas rochas era, sem acharem onde senão em uma ribeira que bota uma desembarcar como em

eis que assomavam com vinham falando com muito prazer que não achavam coisa ficou nome à ribeira de Aires. que ele lisos e seixos era sem haver senão muito funcho que cobria vale até o mar por bom espaço, saíam deste deleitoso vale ao mar três e frescas ainda que na C01110 de eram, muito formosas por não tão todas virem acabar no mar, saídas deste vale. muito fUl1cho que nele fundou uma vila ele seu nome, que neste é uma nobre e no cabo do estão dois onde se foram por ser já e tomou em tena e C0111 que fizeram de de muitas aves quc tomaram; disto foram dormir aos barpassaram mais abaixo. a uma que no dia ficou o nome mandou o nela uma cruz, donele fo1'Ponta foram dar em uma formosa modo acima viram entrar no mar uma e uns mancebos de para saírem em terra e ver a que espaçosa e ficando com os outros 110 os mandou fora barco de Alvaro teram passar a ribeira a vau e, como ela era soberba em suas e fúria ao mar, que na veia da agua caíram e a ribeira os

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reram sem falta perigo, se o capitão do mar não bradara ao batel de Alvaro Afonso, que em terra estava com a gente, onde eles foram, que corressem depressa aqueles mancebos, que a corrente da ribeira levava, às vozes do qual foram os mancebos acorridos e livres do perigo da agua, com que o capitão ficou contente, porque os trazia nos olhos; e daqui ficou o nome ã ribeira, que hoje, este dia, se chama Ribeira dos Acorridos, que peor pareceu àqueles mancebos de perto, do que lhe pareceu primeiro de longe. Daqui passaram mais abaixo até dar em uma rocha delgada, a maneira de ponta baixa, que entra muito no mar, e, entre esta rocha e outra, fica um braço de mar em remanso, onde a Natureza fez uma grande lapa, a modo de câmara de pedra e rocha viva; aqui se mcteram com os bateis, onde acharam tantos lobos marinhos, que era espanto, e não foi pequeno refresco e passatempo para a gente, porque mataram muitos cleles e tiveram na matança muito prazer e festa, pelo que deu nome a este remanso Câmara de Lobos, donde este capitão João Gonçalves tomou o apelido, por ser a derradeira parte que descobriu deste giro e caminho, que fez; e deste lugar tomou suas-armas, que el-rei lhe deu, tornando ao Regno, como adiante contarei. Deste lugar de Câmara de Lobos não passaram mais para baixo, assim porque lhc ficavam os navios longe, como porque daqui não puderam ver bem para baixo a costa com o muito arvoredo. Contudo, quando se saiam desta câmara e remanso, da ponta do mar viram uma rocha muito alta, logo ai apegado e arrebentar no mar em uma ponta que ela abaixo fazia, a qual lhe ficou por meta e tlm do seu descobrimento, e lhe deram nome o Cabo de Girão por ser daquela vez a derradeira parte e cabo do giro de seu caminho. Daqui tornaram outra vez dormir aquele dia ao ilhéu da noite passada, onde dormiram nos batéis a ele abrigados, e, ao outro dia seguinte, foram dormir aos navios e, chegando com muito prazer, acharam com muito maior os que neles ficaram, pe los verem tão contentes e satisfeitos da fertilidade, frescura e bOIlclndc, que lhe contavam do sitio da ilha e portos que deixavam descobertos, fazendo todos, juntamente, muita festa e dando muitas graças ao Senhor, pela grande mercê que lhes tinha feita. Partidos, pois, estes capitães de Lisboa, trouxe João Gonçalves sua mulher, Constància Rodrigues de Almeida (pessoa tão católíca, como virtuosa), e três filhos que dela tinha, João Gonçalves, Helena e Breatiz, meninos ele pouea idade. E deu licença el-rei a toda a pessoa que quisesse vir com ele para povoação elas ditas ilhas, assim a cio Porto Santo como da Madeira; mandou dar os homiziados e condenados, que houvesse pelas cadeias e Regno, dos quais João Gonçalves não quis levar nenhum dos culpados por causa da fé, ou treição, ou por ladrão; das outras culpas e homizios levou todos os que houve e foram clele bem tratados; e, da outra gente, que por sua vontade queriam buscar vicia e ventura, foram muitos, os mais deles do Algarve. Levaram estes capitães gado e aves, animais domésticos e coelhos para lançar na terra. Chegados ao Porto Santo, foram dar em um porto da banda de Leste, onde acharam uns frades da ordem de São Francisco, que escaparam de U111 naull"{lgío, de que todos pereceram, senão eles, que acharam quase mortos, por não terem que comer; donde deram nome a este porto, que se ora chama o porto dos Frades. Saídos todos em terra, pareceu bem a BartoloIllCU Palestrelo a disposição dela, por

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tirando cm terra a que nesta ilha do e em tanta que foi a maior praga que houve na terra, porque não deixavam criar erva verde na ilha que a não comessem, e com paus e às mãos os matavam sem os , e ainda em dia ha tantos, com a ilha que, dos muitos tem nome dos e é o melhor refresco da terra, onde vai e dia se faz que se matam sem os acabarem de destruir. ( ... )

CAPITULO NONO DA DA ILHA DO PORTO SANTO E DA ABUNDANCIA E MORADORES DELA ainda que não os dravão de Lisboa para a ilha da quero do da Víla ao Está em trinta e três graus de de três de e

eo

meio é da que da q ue está da banda do até a Fonte da que cai da banda do e quase toda é da mesma E demora esta ilha Nordeste Sudoeste com os e está de Lisboa cento e assim chamado por haver ali na rocha muita ao Nordeste da vem ter ao mar de banda do ainda que vcm

indo para o Ocidente mesma afastado da terra, Norte e que tem em cima campo, C01110 de dois moios de terra, onde ha muitos paus de e isso lhe chamam o ilhéu dos tem também e criam-se nele muitas cagarras e coelhos de diversas cores. Deste ilhéu dos

se na terra, porque de maré vazia fica em seco, e do são tudo rochas altas e ao do mar

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Do Penedo do S0l10 até ao ilhéu do Boqueirão, que será espaço pouco mais de légua e meia, que é a ponta derradeira do Poente da ilha, é tudo areia branca, sem ter nenhuma pedra, e é baia não muito curva, nem com grandes pontas ao mar, porque com qualquer tempo podem sair os navios do porto da Vila, que esta no meio desta baia e praia, que, pela razão do porto já dita, se chama a Vila do Porto Santo, a qual tem a freguesia do Salvador, sem haver outra em toda a ilha, e a ela vêm ouvir missa todos os moradores, ainda que tenham sua habitação em diversas partes dela. E, antes de chegar à Vila, todas aquelas terras até a mesma Vila eram povoadas de dragoeiros quando se achou a ilha; chama-se ali o Vale do Touro, por se criarem nela touros e muito gado desde o principio, quando o deitaram na terra: Nesta Vila do Porto Santo, quc esta, da parte do Sul, no l11eio da praia já dita, não estão as casas perto do mar por causa da areia, que as atupira logo, mas havení do mar às primeiras um tiro de besta. Terá a vila, pouco mais ou menos, quatrocentos fogos, afora outnls pessoas que 1110ram pelos montes. e, além ela igreja, que é n'eguesia da invocação do Salvador, que é boa, tem uma ermida de São Sebastião e outra de Santa Caterina. Esta situada em terra chã e, pelo meio da Vila, corre ao Nortc ao Sul uma ribeira, todo ano, de agua salgada, quase como a do mar, e, ainda que tal, regam com ela muitas hortas de couves e ela mais hortaliça, que é estremada 110 gosto, posto que seja regada com água que o não tem. E ao longo desta costa, ainda que seja de areia, ha muitas vinhas, que dão boas uvas; criam-se nclas muitos caraeóis brancos, em tanta maneira, que, em partes, cobrem tanto o cacho das uvas, que lhe não aparece bago. Têm estas vinhas, da banda do mar, por tapumes muilo baslos e altos espinheiros alvares, que se criam na arda, e, ainda que com o vento se atupalll dela, crescem muito, por onde é bom tapume, e nelcs se cmbarram muitos cocll1o's, de que toda a terra é l11uito povonda, e com I1sgotes e dardos os fisgam e matam nos espinheiros, onde também se criam muitas mélroas que fazem muito dano nas uvas e nus amoras, porque há ali muitas amoreiras e ligueiras, de diversas castas, eujo rruto, por a qualidnde da terra e por o deixarem bem madurccer, tcm bom gosto. Finalmente esta ilha do Porto Santo é mui sacJia, de bons e lh.!scos ares, ainda que é pequena, de três léguas c meia cIe comprido e uma e l110ia de largo, pouco mais ou menos (como já disse); e não tem águas, por ser seca e de pouco arvoredo, e o princípal (tirando os dragoeiros) é zimbro e urze. E el11 muitas partes destu ilha produziu a Natureza Illuitos dragoeiros, do tronco dos quais sc 1hz muitu louça, e muitos são tão grossos, quc se fabricam de um só pau barcos que hojll cm dia hú, que silo capazes de seis, sete homens, que vão pesem neles, e gamelas qllll levam um l11oio de trigo. Tira-se desta louça bom proveito, de que se paga dízima II el-rei, c se aprovcitlll1l muito do sangue do dragão, muito prezndo llas boticas; crinm estes dragociros lima fruta redonda que, madura, se Ü1Z muito amarela, e é mui doce, c no tempo que havia muitos dragoeiros engordavam os porcos com este fi'uto (que são como avelãs c, assim, se chamavam maçainhas); já agora hú poucos e vão HJllundo, pelo l1luito proveito que se fazia nas gamelas dcles, que são muito IllveH, como suo secas, e também nas rodelas. E, como já disse, pela maior parte ela ilha, espeeialmente para a banda das serras e terras de massapez, há muitos cardos pum comer, e soia a valer um saCll deles um vintém, alporcados e muito doces, e111 alguns postos da lerrn. 'l'em também esta ilha, 102


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dOlné:,tlc:as, muitas e e e ratos pequenos, dos que cá chamamos que quase em todas as terras vemos.

poupas, e sem haver

CAPITULO DECIMO VH',"-,,'-''''A DA ILHA DA PELA BANDA DO DA PONTA DE À ENTRADA DA CIDADE DO FUNCHAL

lVLn'..jj.JJU,,",

A ilha da Madeira que, como tenho lhe nome assim o felicíssimo João por causa do arvoredo de que era coberta e toda cheia de infinidade de é C0111 montes e rochedos mui que, por ser muito dizem que seu nome era, ou devera ser, ilha das tão afamada e com seus ilustres e cavaleirosos e tão e com generosos e celebrada com seu que Deus colheita e remédio dos

enobrecida e frescas ribeiras de doces e claras de soberbos e ricas e formosas ornada de ricos e custosos pomares de enfeitada com artificiosos e deleitosos de varias e curiosas crvas e um que, com seu cor e da graça a toda a redondeza do anel do Universo em como com as a Oriental aromática e a Ocidental dourade extremo a extremo, quase o mundo todo. A ainda que os da ilha de que esta na boca do mar lhe chamam do esta com muita mais na boca de todalas não somente desse anel homem é um mundo pequeno, se com verdade chamar que, por ser tal e parecer nele um único horto terreal tão em tão bom clima situada ou cridisse um que que, Deus descendera do a terra em que pusera seus santos ela. Está esta tão célebre ilha em altura de trinta e dois graus e dois do Polo Setentrional. Tem da de Leste o cabo de do cabo de que esta com o cabo de São tância de oitenta e C0111 esta ilha da Leste Tem de uma rica com que também fica toda feita do Oriente é a de São VU(I,vV'"''

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a qual ilha com o Porto Santo está Nordeste Sudoeste, da mesma maneira que está o Porto Santo com a Barra de Lisboa, ou com os Cachopos, e são doze léguas de teITa a telTa; e tem três ilhas, de que adiante direi, que se chamam as Desertas e estão Norte e Sul com a mesma ponta de São Lourenço três léguas de uma terra a outra. A Gran Canaria está com esta ilha da Madeira ao Sul e à quarta do Sueste e, ordinariamente, quase todas as ilhas de Canaria (como já disse acima) demoram desta ilha do Sul até o Sueste, pouco mais ou menos, e quem for por vinte e oito graus atravessará as ilhas Canárias todas; a Palma, que é uma delas e dista da cidade do Funchal setenta léguas, demora da mesma cidade ao Sul e quarta do Sudoeste, e, resguardando-se de irem ao Sudoeste, porque é derrota falsa, e errando a ilha, não a poderão tornar a tomar por causa dos ventos e aguagens que ventam naquelas partes. Tenerife esta Norte e Sul com o porto da ilha da Madeira outras setenta léguas. Da parte do Norte não tem a ilha da Madeira carregações, para que navios possam carregar, senão no verão, porque a terra não é para isso, nem tem portos, mas tem bons abrigos para navios, quando há tempo contrário da parte do Sul, por ser alta. Terá de comprido dezasseis léguas e meia e de largo quatro, pouco mais ou menos, ou, como outros querem, dezoito de comprido e perto de seis de largo; e principalmente dizem que tem esta largura, tomando a ilha pelo meio dela, para a parte de Loeste, que é a do Ponente, onde tem o basis rombo, mas para a parte de Leste vai aguçando até a ponta de São Lourenço e é mais estreita e delgada. Sua compridão é de Leste a Oeste, da parte de São Lourenço, que esta a Leste, até à ponta do largo, que está a Oeste, onde se acaba sua compridão. Tem uma grande baia da parte do Sul, que começa da Ponta de São Lourenço até à ponta do Pargo, que está uma légua antes de chegar à cidade, e terá de ponta a ponta cinco léguas; em toda esta costa se pode surgir, porque e bom surgidouro, de até vinte braças, a que se podem chegar os navios bem, sem temor dela. Alguns dizem que a ponta de São Lourenço está a Lés-nordeste, e que demora o Porto Santo dela doze léguas ao Nordeste. Partindo da ponta de São LOlJl'enço (que se chamou assim por ali o primeiro capitão, João Gonçalves Zargo, chamar por ele, acalmando-lhe o vento) pela banda do Sul para o Ocidente, uma légua da ponta está uma povoação de perto de quinze moradores, que se chama o Caniçal; são terras rasas e de pão. Do Caniçal até a vila de Machico há duas léguas, que são da terra muito alta, de rochas e picos e mato, e onde se emparelham com a vila, que é à boca de lima formosa e mui crescida ribeira, ao longo da qual a mesma vila esta situada; faz a terra uma grande enseada com has pontas, cuja boca terá um quarto de légua de largo, e da barra para dentro estão uns baixos no meio da enseada, sobre um dos quais (que de maré vazia descobre parte dele) está arvorada uma cruz por marca, com que se desviam os navios, para que, entrando no porto, não vão dar neles. Este porto de Machico, além da grande majestade que tem (como já tenho dito). é muito bom com todos os ventos por ser a terra de uma c outra parle muito alta. e, como começam os navios a entrar da barra para dentro, ficam como em um manso rio, salvo quando aboca por ela o Lés-sueste que, então, se é muito rijo, não podem sair para fora e convém amarrar-se bem, porque, se se desamarram, não têm remédio senão enxorar pela ribeira acima e enfiar-se com ela, como já aconteceu muitas vezes.

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tenho dito acima. Terá de muito bem ornada com ricos ornahá uma rica mais fresca de mais obra que a da ainda que mais pequena, em que levam o Santíssimo na que se faz dia de de Deus. Ainda que tem esta que é maior que esta foi a ainda agora tem o nome tronco e e ainda têm eles antre si que Machico é a gema da Tem esta vila acima e bom , mas o vinho dizem ser o que, por ser para poucas se carrega. Há também nesta vila muitas e muito bem tratadas e de ricas vozes, que é sinal da nobreza de seus porque em todas as casas e ricas ha esta dos que as servem. Para se regarem canas de nesta vila. e para o se tirou uma levada de agua de tão que do onde nasce, até à vila serão ou de na se mais de cem mil serras e e dizem que na obra dela se furaram dois não haver outro remédio. Rafael quase todos os "o\"""<H>;""Q começou a tirar esta agua, e que já não se usa. Saindo desta vila de Machico meia para a do está uma ribeira que se chama o POlio de com que moinho dos herdeiros de de ou de como outros que muito boa do caminho que vai ao genoes de costa desta banda do de que vou falando. Também há neste Porto do ribeira muitos vinhos de malvasias e vidonhos melhores que os de e muita outra fruta. Do Porto do Seixo a meia está outro de que é dos ""CLUUUll'U. e abaixo dele um moesteiro de fi'ades onde estão até com boas oficinas e U"'~HLU". de que homem rico e mui generoso é com quem esmolas de sua ""c",, .... u além das que deixaram seus para casa, que fizeram. Do mosteiro um ele besta está a nobre e vila de Santa a melhor de toda a situada em uma terra chã ao do mar, em que tem bom a sua baía ele um tiro de besta de onde varam os batéis. Tem esta vila como oitocentos e rica e uma ribeira de agua por meio ao 11a muitas redor da de malvasias e de vinhos melhores que os de e uvas e das mais frutas de peras e e amexeas, para a terra em muita abundância. Desta vila para o Ocidente um de chamada de Boaventura tos até seiscentos

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car, e há por ela acima muitos canaviais dele e também muitos vinhos. Andando mais adiante desta ribeira quase uma légua, está uma povoação de trinta vizinhos do mesmo termo de Santa Cruz, que se chama Gaula, que tem muitas vinhas de malvasias e muitos outros vidonhos. De Gaula um tiro de besta, indo para a cidade, está uma grande ribeira, muito funda, que se chama do Porto Novo, por o ter muito bom para carregar os vinhos, que há nela, de boas malvasias, que são as melhores da ilha, e de outros vidonhos, que em aquela ribeira se colhem cada ano mais de trezentas pipas de vinho; e tem casais por ela acima, e muita fruta e muita agua boa. Meia légua mais adiante está a fazenda de João Dornelas, do Caniço, homem fidalgo, casado com Dona Mécia, irmã de Dom Luís de Moura, estribciro-mor do Infante Dom Duarte e pai de Dom Cristóvão de Moura, muito privado do grande Rei Filipe e casado com uma filha de Vasqueanes Corte-Real, com a qual lhe fez el-rei mercê da capitania da ilha Terceira, por falecimento do capitão Manuel Corte-Real, de que não ficou herdeiro; a fazenda de João Dornelas é uma quintã com scu engenho de açúcar e vinhas, e foi casa muito abastada. Desta casa para o Ocidente um quinto de légua, pegado com o caminho, está a fazenda das Moças, filhas de um João de Teives (que assim se chamaram estas nobres fêmeas, ainda que velhas morreram, por permanecerem semprc, sem casar, na primeira limpeza, com muita honra e virtude e santo exemplo de vida), que é um engenho de açúcar, e boas e chãs terras de canas, e tem dentro, apegado eom umas grandes casarias, uma rica igreja. Daqui, adiante, quase meia légua estú uma aldeiH de duzentos fogm; com uma igreja da invocação do Espirita Santo, que se chama o Caniço, cm lima ribeira que corre do Norte para o Sul, acompanhada de muitas vinhas cle muitos vidonhos e de boas malvasias; ao mar deste lugar esta a ponta da Oliveira, onde se pruntou uma, por balisa da repartição das duas capitanias, que por esta ribeira se partem, ficando a de Machico ao Nascente e a do Funchal ao Ponente, e por ela dizem quc vai a demarcação da borda do mar do Sul até ã outra banda do Norte; porque deste ClIniço até () longo do mar haverá um quarto de légua, onde está o porto onde se carrega tudo o que há nesta parte, e chama-se Caniço de Baixo, a respeito do outro, que Caniço dc Cima é chamado. Do Caniço a um tiro de besta esta lima azenha, a par do caminho, que mói e0111 pouca agua, que traz para os moradores do mesmo ('aniço. E mais adiante uma légua. Uma egreja de Nossa Senhora das Neves, à vista do Funchal, sore umll ponta que se chama o Garajau, uma légua antes chegar ã cidade, na qual, ao longo do mar, estão alguns dragoeiros, que a fazem mais formosa. Primeiro que cheguem a esta igreja um tiro de besta, estão no cominho umas árvores altas, chamadas barbuzanos, em cuja sombra costumum descunsar os cuminhantes, onde se conta que, vindo, de noite, um clérigo de missa do Caniço sara () Funchal, debaixo das árvores achou um companheiro que lhe falou e, começando a caminhar ambos, emparelham com uma igreja que estú à borda do cuminho e tem uma cerca de muro derredor, cometeu () clérigo ao companheiro que JllHsem fazer oração, o qual lhe respondeu que já lá fora. Foi, contudo, () cl6rigo a lhzer a sua e, saindo da cerca, achou companheiro, que lhe pediu a loba e lha levou tis I;os(as, e, 106


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a caminhar por uma ladeira abaixo antre as vinhas até uma ribeira onde faz um remanso como ali o cometeu seca, que está no fim da que lutasse com sendo alta noite. Vendo o tal cometimento em tal e tais que vinha caindo do caminho e que não fazia a caso tendo ruim e tornaram a andar indo ainda ladeira abaixo até à rocha do mar, que é muito da o tornou a meter que lhe e ali lhe r!a"",,o.ann" benzer e arrenegar do vindo o por ser lutador este o porque este é seu costume, e que se deixou lutando ambos à veio , por o o achar muito vendo-se levar a a disse "Jesus me valha", e que a esta ira o demónio. Mas o que nr,mp·u·" disse se tem por mais verdadeiro. Meia de Nossa Senhora das Neves esta uma ribeira seca, que não corre senão no que se chama a Ribeira do onde dizem que aparece lima fantasma em de um vezes com formas as costas. Ha por esta ribeira acima muitas vinhas. E um de adiante dela está de um tiro de besta de outra, do que esta casas da cidade do chama-se ali o cabo do Calhau.

CAPITULO DECIMO EM SE VAI CONTINUANDO A DA MADEIRA PELA BANDA DA COSTA DO DESDE A PRAIA UMA DA CIDADE DO A PONTA DO É O FIM DA ILHA DA PARTE NORTE Indo da Praia Formosa para o Ocidente um que se chama dos altos e bravas serranias e é muito e toda esta canas de

que parece um dois de muito nobre fidal-

e de muita que toda a lenha que estão nela e em outros que tem Câmara de que está trazem por ela que ser oitenta mil CaJTegas de !:,L';;;UIUl<' cada ano, antes mais que menos. E tem esta ordem para trazer esta lenha: tendo-a cortada nos montes, a em das rochas da e cada senhorio da que a mandou cortar, tem sua marca em cada que, maior é toda lenha grossa, uma mossa, outros outros três ou quatro, e tanto que chove se como cem homens das indo-se aos ,,,,vU'''vC

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montes e serranias, onde têm suas rumas de lenha posta, e lançam-na à ribeira pelas rochas abaixo, que são muito altas; a agua, como é muita, traz aquela multidão de lenha e muitos daqueles homens trazem uns ganchos de ferro metidos em umas hastes de pau compridas, com os quais desembarcam e desembaraçam a lenha, que vem toda pela ribeira abaixo, e, se (como acontece muitas vezes) acerta de cair algum deles na ribeira, com aqueles ganchos apegam dele por onde se acerta, ainda que o firam, com que, ou morto ou vivo, o tiram fora da agua, e acontece algumas vezes morrerem alguns homens neste grande trabalho. Vindo com esta lenha pela ribeira abaixo com grande arruído e pressa, e comidas e bebidas, que para este efeito ajuntam e o trabalho requer, quando chegam junto dos engenhos, onde a ribeira espraia e faz maior largura, espalha-se a água, por ser a ribeira muito chã, e, ficando quase em seco, dali a tiram com os mesmos ganchos, e cada um dos senhorios, por sua marca, aparta a sua, pondo-a em rumas muito grandes para o tempo da açarrn do açúcar. Mas acontece algumas vezes, chovendo em demasia na serra, que enche a ribeira muito e leva muita cópia desta lenha ao mar, em que se perde grande parte do cuslo que têm feito. Perto da Jonte, onde nasce a agua desta ribeira dos Acorridos, se tirou a levada dela para moer o engenho de Luís de Noronha, e dizem que do lugar donde ã começaram de tirm' até onde vai ao engenho e regar os canaviais, ha bem quatro léguas, por se tirar de tão grande fundura da ribeira em voltas, quc, para chegar arriba, ã superficie da terra, para começar a caminhar, atravessando lombas, Ü1Zl.mdo grandes rodeios per cima, pela serra, por onde vai esta levada, tem de alto mais de seiscentas braças, da qual altura, que é muito íngreme, se tira fi agua em cales de pau, em voltas, até se pôr na terra feita; e scm f111ta custou chegar. O mcsmo que calhas. pô-la em tal lugar passante de vinte mil cruzados, afora o muito mais que fez de custo levada dali quatro léguas, alem, de muitas mortes de homcns, que trabalhavam nela em cestos amarrados com cordas, dependurados pela rocha, como qucm apanhu urze la, porque é tão alcantilada e íngreme a rocha em muitas pnrtcs, quc não se faziam, nem se podiam fazer de outra maneira estâncias parn assentar as cales sem passar por este perigo. Tem duzentos e oitenta lanços delas, por onde vai esta agua, que, postos enfiados um diante do outro, terão um quarto de légua dc eomprido. São de tavoado de madcira de til, que, pela maior parte, tem cada taVOl\ vinte palmos de comprido e dois e meio de largo; e, depois de assentadas cstas cales na rocha, rnzem o caminho por dentro delas os levadeiros, que continuamente têm cuidado de as remendar e consertar, alimpando-as também da sujidade c pedras que acontece cair nelas, e fazer outras coisas necessárias à levada, pelo que têm grossos soldos, por terem oficio de tão grande trabalho e tanto perigo. Nesta rocha está uma /llrna muito grande, que serve de casa para os levudeil'Os e para guardar nela munições necessárias de enxadas, alviões, barras, picõcs e marrões e outras ferramentas; e nela se metem cada ano dez, doze pipas de vinho para os que trabalham na levada e outras pessoas que a vão ajudar n rcformur, quando qucbrnm alguns lanços de cales. E é coisa monstruosa a quem vê isto com seus olhos a estranha e aventureira invenção, que se teve para se tirar dali esta água. Tem o senhor desta levada alvará clc el-rei para que os seus lcvadeiros e homens, que trabalham nela, possam tomar paru comer cabras e porcos, que hú muitos nuque108


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las serras, ainda que seus não sem por isso serem mas que os donos dos tais serão pagos do seu, sem crime Da mesma mais abaixo para o tirou António Correia outra levada para que estão sobre Câmara de também de muito regar as terras da custo, Indo da ribeira dos Acorridos para o Ocidente um esta uma do mar, que tem uma calheta pequena e uma que chamam Câmara de onde ou dormem ainda de que tomou nome o ""IJH'"'''' da achar nela João tenho contado, Tem esta aldeia como duzentos

°

e outro Duarte e muitas frutas de toda sorte, e muita Dois tiros de besta de Câmara de Lobos para o está um moesteiro da de São de frades em que estão continuamente ou oito muito abastado de ia a fruta e vinhos. que têm muita castanha e noz, e de Acima dele estão os pomares do toda sorte muito e vinhas e c uma que se ama o é de Nossa Senhora do Rosairo. de até trinta De Câmara de Lobos para o Ocidente ladeira acima tá uma lombada assim se chamam as lombas de terra que com a rocha do mar e é a mais alta toda a terra, chamada e, por outro nome, a Caldeira lima cova, que tem ali a terra, que é agora dos herdeiros de António homens mui e que dá muitas e boas canas de E parece que tomaram o nome os Caldeiras da se o não trouxeram do que nela há e muito honrada. De maneira que Câmara de senhor da levada da ribeira dos casarias de seus e sua com para que ouçam missa os que trabalham para que cumpram com o os e e o mesmo se ha-de entender de todas ou as mais das fazendas da que estão fora da cidade e ou porque todas para este efeito. boas terras de canas e de e mas vinhas poucas, por ser a terra ainda que ao do mar tem o mesmo Luís de Noronha uma pomar e vinhas de muito preço, e que dá cada ano de malvasias, E esta ribeira dos que parece que os há naquevlLl"UU", que dá também muitas canas e, em Noronha para o mesmo Ocidente meia a que chamam o tem a Santo, São terras de 11L<"HJl,"~", dados mais a criar que a cultivar ,"vu",,"C), isto se há-de entender que neste e em todos

"'''I,I''iuauu»,

109


ALBERTO VIEIRA

houve sempre, e há hoje em dia, gente honrada e fidalga e de altos pensamentos. Ao Ocidente, uma légua do Campanário, está a Ribeira Brava que por extremo tem este nome; é uma aldeia que terá como trezentos fogos, com uma igreja de São Bento e bom porto de calhau miúdo, que, pela chã da ribeira acima, tcm as casas, e muitas canas de açúcar, e dois engenhos, e pomares 111uito ricos de muitos pêras e peras, nozes e muita castanha, com que é a mais ü'esca aldeia que há na ilha, pelo que, e pelo merecer, por ter b0111 porto e ser 111uito viçosa, já muitas vezes tentaram os moradores de a fàzerem vila Tem também muitas vinhas, ainda que o vinho não é tão bom como é o do Funchal. A ribeira é tão furiosa, quando enche, que algumas vezes leva muitas casas e faz muito dano, por vir de grandes montcs c altas serras, e por ser desta maneira lhe vieram a chamar Brava. Neste lugar nasceram os Coelhos, cónegos da Sé do Funchal, estremados homens de ricas vozes; um deles, chamado Gaspar Coelho, 1'0 i mestrc da capela da Sé muitos anos sendo cónego, e Francisco Coelho, seu irmão mais moço, sendo cóncgo, foi também mestre da capela de el-rei na corte. Da Ribeira Brava meia légua está a ribeira da Tabua, com lima Ii'cgucsia dc quase trinta fogos; teve já dois engenhos e tem muitas vinhas e canas e frutas, mas o vinho é semelhante ao da Ribeira Brava, sua vizinha Desta ribeira ela Tabua são os Medeiros, gente nobre e honrada. Da Tabua pouco mais de meia légua esta a Lombada de João Esmcraldo, de nação genoês, que chega do mar à serra, de muitas canas de açúcar c tão grossa fazcnda, que já se aconteceu fazer João Esmeraldo vinte mil arrobas de sua lavl'U cada ano, e tinha como oitenta almas suas cativas antre mouros, mulatos c mulatas, ncgros, negras e canários. Foi esta a maior casa da ilha c tem grandcs casarias de aposento, e engenho, e casas de purgar, e igreja. E depois do falecimcnto dc João Esmcraldo, ficou tudo a seu filho Cristóvão Esmeraldo, que o mais do tcmpo andava na cidade do Funchal sobre uma mula muito formosa, com oito homcns dctrús de si, quatro de capa e quatro mancebos em corpo, /ilhos de homens honrados, muito bcm tratados, e trazia grande contenda com o Capitão do Funchal sobre quem seria provedor da Alfândega de el-rei, que é uma rica coisa cle renda de Sua Altcza e rieas casarias. Casou João Esmeralda na ilha com Ágada dc Abrcu, filha de João Fcrnandcs, senhor da Lombada cio Arco. Da Lombada de João Esmeraldo um quarto de légua estú a vila da Ponta do Sol, que se chama assim por ter uma ponta ao Ocidente da vila, quc tem () parcecr que já disse, aonde dá também o Sol primeiro que na vilu, quando nasce. 'rem csta vila como quinhentos fogos e boa igreja; é povoada dc gcnte nobre, por s!.!!' das mais antigas da ilha, mas os vinhos não são tão bons como são os do Funchal. Acima da Ponta cio Sol para o Norte da vila csta um I ugar, que se ehama os Calcanhos, que tem um engenho, e muitas H'utas, e ricas aglllls, c vinhas, e terra de lavoura de trigo e centeio, onde há uma honrada geração ele homens nobres, que se chamam os Escovares. Meia légua da vila da Ponta do Sol, ao longo do mar, está II j)'cgucsia da Madalena, de até trinta fogos; tem um engenho, que foi de um Manuel Dias, e bou Hlzencln cle boas terras de canas e muita água e fresca. !-la nesta J)·egll!.!sia lImu ermida de Nossa Senhora dos Anjos que, tirando ser pequena, é uma rica casa com um retábulo 110


Do

À ARCA DE NOÉ

pequeno e fresco e bem da está uma fresca debaixo de uns autre uns canaviais de de mui formosas canas. Da Madalena um de está a Lombada que foi de camareira-mor da Rainha. É muito grossa '-'u'ua, marido de Dona Joana de ,",");IvAJ,UV de e muitas terras de canas, e de casas e com seu Um desta Lombada de Fernandes está outra, que se ou Lombada do que foi de João irmão de e muitas terras de canas, fazenda também muito grossa, que tem "->J'J"'"'llCl.l" de casas e E adiante direi o que em estas duas Lombas aconteceu a um Antonio filho de Fernandes e de sua a camareira-mar da Rainha. Da Lombada do indo para o Ocidente até da de que foi conde o ilustre da haverá uma Está esta vila por ma ribeira que tem as rochas tão que acontece as vezes cairem da rocha e derrubar as casas dela. era ea da eo vindo da vila para o Nascente um e que é uma onde varam os arcos. Acima da terra dentro um de está o dos Cabrais e, está outro do doutor da vaw""", co, chamado mestre Gabriel. da Calheta está a fazenda e João E de uma se chamou assim por falar sendo ele de que é grossa ta:iéen{la de canas com seu este João casou duas i1lhas no Funchal muito são melhores fazendas da ilha. Teve muitos escravos, cinco dos e foram "LU.V"~""'"'' na vila da Castelhano obra de leia está outro engennobres e boa fazenda de canas e HU.•

e, abaixo do Jardim para o mar, está uma que se chama o com um que é e Pero do homem muito rico e possante, e boa fazenda de mas tem caminho por terra, por ser a rocha muito alta para descer abaixo. Do Jardim para o Ocidente até que é o fim da ilha da do Sul e também é de duzentos haverá duas de São Pedro. São terras lavradias de e centeio e e porcos; tem muitas frutas e E por acabo de dar conta da desta ilha o melhor que saber na verdade.


ALBERTO VrElRA

CAPITULO DÉCIMO OITAVO

DA DESCRIÇÃO DA ILHA DA MADEIRA PELA COSTA DA BANDA DO NORTE, TORNANDO A COMEÇAR DA PONTA DE SÃO LOURENÇO E ACABAR NA PONTA DO PARGO Tornando à ponta de São Lourenço, que está da parte do Oriente, e começando andar dela para o Ocidente da ilha pela costa da banda do Norte (que, como tenho dito, toda tem bom e seguro surgidouro e bom abrígo para os navios, quando os ventos ventam da outra parte, por ser a terra muito alta), da mesma ponta de São Lourenço para o Ocidente perto de duas léguas está. uma aldeia, que se chama o Porto da Cruz (pela razão que já tenho dito), que tem junto do mar um engenho que foi de Gaspar Dias; é grossa fazenda, com boas terras de canas e muitas águas. Haverá neste lugar trinta fogos espalhados, afora a gente da fazenda, c são os moradores todos criadores, porque os matos são em toda a ilha gerais a todos para criarem neles. Do Porto da Cruz a Nossa Senhora do Faial (por ali o haver grande) haverá lima légua. Terá esta freguesia como cem fogos; a igreja está. antre duas ribeiras muito altas das rochas; tem lTIuita fruta de espinho, de cidras e limões, pems c pêros e maçãs, e castanha e noz. Sendo a igreja de bom grandor, dizem que toda se armou de um grandíssimo pau de cedro, que se achou perto dela; pelo seu dia, que vem a oito de Setembro, se ajuntam de romagem de toda a ilha passante de oito mil almas, onde se vê uma rica feira de mantimentos de muita carne de porco e vaca, e chibarro, a qual é uma extremada carne de gostosa naquela ilha, ainda que em outras muitas terras e ilhas seja a pior de todas. Ali se ajuntam muitos cabritos e frutas, e outras Coisas de comer, para, comprarem os romeiros, que muitas vezes se deixam estar dois, três e mais dias em Nossa Senhora, descansando do trabalho do caminho, porque vêm de dez e doze léguas por terra mui fragosa; e juntos fazem muitas festas de comédias, danças e músicas de muitos instrumentos de violas, guitarras, fmutas, rabis e gaitas de fole; e pelas faldras das ribeiras, que têm grandes campos, no dia de Nossa Senhora e em seu oitavairo, se alojam os romeiros em diversos magotes, lhzcnelo grandes fogueiras antre aquelas serranias. Dizem que ali apareceu Nossa Senhora, onde tem a igreja. Tem esta freguesia dois engenhos ele açúcar, um de António Fernandes das Covas, que esta perto ele Nossa Senhora, e outro de Luis Daria. No fim das ribeiras (que ambas se vão ajuntar em uma), perto do mar, tem bom porto. Está nesta fi'cgucsia uma serra de água, que foi um grande e proveitoso engenho, em que dois ou três homens chegam por engenho um pau de vinte palmos de comprido e dois o três cle largo ã serra, e, por arte, um só homem, que é o serrador, com um só pé (como fáz o oleiro, quando faz a louça) leva o pau avante e a serra sempre vai cortando c, como chega ao cabo COI11 o fio, com o mesmo pé dá para trás, fazendo tornar o pau todo, c torna a serra a tomar outro fio; de maneira que quem vir esta obra julgarú por Jllui grande e necessária invenção a serra de água naquela ilha, onde não era possível serrarem-se tão grandes paus, como nela á, com serra de braços, nom tanta soma dc tavoado, como se faz para caixas de açúcar, que se fazem muitas, e para outras do

112


Do

À ARCA DE

mais montados de

Nor: soma. Tem esta

e muita fruta de toda com muHas aguas. Adiante de São uma e meia está a da Ponta chamada por ser ali um passo muito que se passa por riba de dois paus, que se atravessam de uma rocha a outra, e cm tanta altura fica o mar por que se a vista dos onde esta um porto, cm que desembarcam e embarcam com a modo de da de de até sessene e frutas de toda sorte, e e bom muitas aguas, onde tem duas serras de agua. Neste reside António de homem tão cavaleiro como ""lU1I,''''"U por sua pessoa, nobre e e sua tem dos que por isso lhe e, se tor necessário dar um mh,pnt"", homens da banda do Norte a seu para feito de guerra, lhe aconteceu, ou para e não sem razão, porque sua casa é e acolheita de todo '-'''C'''"'-''''' de caminhantes e finalsua fazenda toda desta mente, de necessitados. Assim nestas que em sua casa se outros muitos que e com ele socorre a quem tem recolhe de sua lavoura. É filho de Duarte Ribeiro e casado com Dona Ana que foi da Fazenda de Sua Alteza nesta ilha filha de Cristóvão da Madeira e na do Porto Santo. É tão que anda serras da ilha da sem corta com dlim porque as pernas lhe em seco, das e bem que tem tanta que, indo um dia por antre um mato a as mãos um ramo grosso e, por baixo de uma arvore, cavalo com as pernas alevantou do chão mais de um

com noz e de outra sorte, muitas está que é São Braz. Tem muitas terras de e tl'uta de toda sorte. de trinta que é

de duzentos e e muitas frutas

e

que tem

13


ALBERTO VIEIRA

muitas criações e lavoura de pão, e muitas águas. Está esta ü'eguesia, pela terra dentro, perto de meia légua na ponta de Tristão, que se chama assim por ele a descobrir primeiro, onde se partem as capitanias pela banda do Norte, porque por esta parte se estende mais a capitania de Machico que pela banda do Sul, onde começa na ponta da Oliveira, pela que ali mandou prantar o capitão João Gonçalves, como tenho dito, que está ao mar do lugar do Caniço ao Sueste, vindo dela a demarcação pelo meio da terra, que são grandes serranias do Nascente para o Poente, pela banda do Norte, até chegar a esta ponta de Tristão, que está ao Noroeste; sendo estas duas pontas, a da Oliveira, da banda do Sul, e a de Tristão, da parte do Norte, as balisas e extremos da repartição destas duas capitanias do Funchal e Machico,licando a ilha partida de Noroeste a Sueste, como estão estas pontas, e, tirando catorze léguas, da banda do Sul, que é o melhor de toda a ilha, e três da banda do Norte, dajurdição da capitania do Funchal, todo o mais da ilha fica da jurdição da capitania de Machico, Desta ponta de Tristão, que está ao Noroeste, da parte do Norte, vim a costa para o Sul, fàzendo a terra, ou a figura de pirâmide dela, sua basis, ou pé, e assento por espaço de três léguas, que, segundo alguns, ha dela c desta freguesia da Madalena, pela banda do Ocidente, até a ponta do Pargo, onele acabei a banda do Sul e acabo agora a descrição de toda a ilha pela costa dela, com que fica com ti ligura de pir3mide, que já disse, um lado da qual é da ponta de S. Lourenço, que está ao Oriente, até à ponta do Pargo, que está ao Ocidente, pela banda do Sul, e o outro laelo é da mesma ponta de S. Lourenço, do Nascente, até à ponta dc Tristão, que está ao Ocidente, pela banda do Norte; e a basis é desta ponta de Tristão nté n ponta do Pnrgo, que outros dizem ser duas léguas, com que fica com figura de pirâmide, mas, por nesta basis não ir a terra cortando direita, senão com algum rodeio curva c no meio larga e na ponta aguda, fica toda esta ilha da Madeira parecendo mais I<.llha de plátano que pirâmide. E, ainda que, como pirâmide se acha pintada em algumas cartas de marear, em outras tem figura de folha de álamo, porque, eOl11o esta úrvore, está prantada e alevantada no meio das aguas do grande mar Oceano Oeidentu I, em bOI11 clima, e regada com muitas e ü'escas ribeiras e, abundantemente, dó seus frutos mui perfeitos a seu tempo.

CAPITULO DÉCIMO NONO DA DESCRIÇÃO DA ILHA DA MADEIRA PELO MEIO DA TERRA ( ... )

Tomando a terra desta ilha pelo meio, da ponta de S. Lourenço, que esta ao Nascente, à, ponta do Pargo, que jaz ao Ocidente, toda é terra de grundes serranias e altos montes, alta em tanta maneira, que faz abrigo nos navios, que se ehegum a elu da banda do Norte, ventando muito do Sul, até dez léguas da terra. Toda esta ilha é fragosissima e povoada de alto e fresco arvoredo, que, por HeI' tal, se perdem alguns caminhantes nos caminhos, e aconteceujú alguns, perdidos, neles morrerem, E não, tão somente, há pelo meio c lombo da terra grnndes c alevalltndns serranias, mas também gl'Otas e altas funduras, cobcrtas de matos c gros:ws paus c 114


Do

À ARCA DE

NOÉ

de que, o serram, no cerne, é muito preto e cheira deste pau se faz muito taboado para caixas de e solhado de casas e e da lenha que se nos Também há outro pau verdele é a maior de que se fazem as caixas para o de casa, que que se chama são mas as feitas dele para o mar são muito mais m'p'7~"<l" Outros paus há de de que se faz muita madeira para para vinho e mas para o mel são melhores que para o não porque a da madeira o mas porque é muito e seco e não revê tanto o mel c vezes o dcita meio do pau, o como o que o faz pau aderno é tão que se fende ã cunha. Ha também muitos que crescem muito direitos e grossos, de que se faz a para as casas, e muitas vezes de um pau fazem três e quatro pernas de asnas, mas não é tão como o desta ilha de Sã.o é brando de cOItar, quase como o e dele se fazem os temões para servirem na lavoura. Há outro pau, muito de que se fazem os cabos de mas e faldras da serra, não é branco como é o desta ilha. Também há paus de da banda do muita que é mato como urzes, que dá flor de que nos fornos e dele se colhe a verga, que como de que se I11UI e para de mesa e afeIta de fazem os cestos tismos e outras por serem muito alvos e e se vendem para muitas porque se fazem muitas fora da ilha e do reino de às vezes, sobre um dez e doze e custosos, em uma peça e para se fazerem mais alvos do que a verga é os defumam com enxofre. de sua natureza, ainda que é muito Há também muita madeira de de que, maior fazem os tanchões para as por ser pau muito e durar muito no chão. E não faltam urzes, de que se faz o carvão para tantos montes e que afirTem finalmente esta ilha tantos matos e porque a maior dela da e e não ha terra rochas e que valem mais que outro tamanho ouro; c, não tem preço a quc tem todas as que esta ilha de si quer por natureza, quer com arte. É terra massapez mais que terra chama toda se rega com a abundância das HLI""'U"J. a estão humedecendo e formosa e faz em esta de S. a terra farta de agua, levarão um rego dela sem se sumir Tem muita de muitas couves mas não sempre vem a semente delas de cria muitas alfaces e afora os muitos maneiras de toda em tanto que de ervas pomares que tem de fruta de e ricos ao mar, deita esta ilha de si uma fradizem os mareantes que, mais de dez que parece cheirar a flor de Em e um confortativo e suave 115


ALBERTO VIEIRA

muitas partes desta ilha há muitas nogueiras e castanheiros, que dão muita noz e castanha, em tanta maneira, que vale o alqueire a três e quatro vinténs e se afirma que se colhe em toda ela de ambas estas fi:utas de noz e castanha, juntamente cada ano, passante de cem moios; também dá amêndoas, e de tudo carregam bem as árvores . . Há nesta ilha da Madeira muito sumagre, que serve para curtir couro, principalmente o cordavão, porque o faz muito brando e alvo; este sumagre se pranta em covas pequenas, como quem pranta rosas e vinha; tem a haste, como feito, e a rama semelhante ao mesmo feito; dá-se em terras altas e fracas; colhe-se cada ano, cortando-se rente com a terra para não secar a soca dele e poder tornar a arrebentar, por ser planta que dura muitos anos na terra. É novidade de muito proveito, porque multiplica tanto, que se enchem os campos dele como enchem as roseiras, e lavra a raiz por baixo da terra, e o que se dá na ilha é muito fino e, apanhada a rama, que é o dito sumagre. se deita ao Sol, seca, se mói em engenho de água, assim como se mói o pastel nesta ilha, e se faz cm pó, e, moído, o carregam para diversas partes em sacas e pipas. Criam-se também na ilha da Madeira alguns gaviães e açores, que parece que vêm ali com tormentas de alguma terra perto, que está por descobrir, bilhafres, francelhos, corujas, e há nela muitas perdizes, pavões, galipavos, galinhas de Guiné, e as outras domésticas, pombos trocazes, pretos e brancos, patas e adens, pombas bravas e mansas, muitos melros, canarios, pintassilgos (sic), toutinegras, lavandeiras, tentilhões, codornizes, rolas, poupas e coelhos, cagarras, afora gaivotas, estapagados e outras aves do mar. ( ... )

[Gaspar Frutuoso, Livro segundo das Saudades da Terra, Ponta Delgada, 1979, pp,45-49, 54-55. 56-58,632-63,99-107, 119-140.]

ALVARÁ PELO QUAL SUA MAGESTADE MANDA DAR OS MEIOS E MODOS DE ESTABELECER O POVO E CONSERVAR O DOMINIO DA ILHA DO PORTO SANTO[1770]

Eu EIRey faço saber .aos que este Alvará virem, que em Representações da Camara da ilha do Porto Santo, justificadas por exactas informações do Governador e Capitão General da ilha da Madeira, João António de Sá Pereira; e qualificadas por Consulta, que em treze de Julho proximo precedente subio do Conselho da Minha Real Fazenda, se verificou na Minha Presença que sendo a mesma ilha, e ilheos a ela adjacentes, administrados por hum Donatario, sem meio para conservar em paz, justiça e abundancia. E havendo-se os povos della precipitado na maior ociosidade, e inercia, por falta de quem nelles fomentasse e progredisse o trabalho, e a industria para se sustentarem, virem por cOllsequencia de tudo a serem expellidos pelos poderosos, e usurarios; seguindo-se de tudo o referido precipitar-se a mesma ilha em tal decadencia, e tão

116


Do

a

A ARCA

DE

NOÉ

que para o povo della não o da tem sido Provedoria da ilha da Madeira ocorresse que aft1ictos Reis Meus Predecessores e a Minha ao sustento

Vassallos. E porque este que soccorre as extremas necessidades presentes, não só não he bastante para precaver as mas antes as accrescenta, animando os vadios e com a esperança de serem como até o o a que se tem visto reduzidos: obviar em eommum beneficio que se tem feito tão da Minha Real de haver mandado compensar por um effeito do referidas causas: Hei por bem e mando que aos ditos Attendendo aos que tem feito nas terras a moradores na Cidade do <Olll"aLI\A.. ,al as mesmas com a de mesmas Famílias com o encargo de pagarem as melhores os e as de os sem que estas se possam alterar; e e alhiaveis entre os moradores da sobredita sem que se possam ou voluntaria ou a pessoa de fóra. Os moradores que sahirem da referida nella os referidos mas serão a vcndellos ou em naturaes ela que nella tenham o seu domicílio. E por hum effeito da Minha Real Piedade: Hei por bem todos os Dízimos e Direitos aos referidos moradores por de dez annos: Concedendo-lhe outro o e bestas contra suas nem flU""ClIH\J" seus moradores da sobredita tendo estes os llheos para dos ditos dez annos possam ser

Ir E porque me foi

que na mesma ilha do Porto Santo tem a mal de sorte que todos os sobreditos moradores deli a cuidam em alleF,v"vu'v,",mu para do e obviando os que tem causado ao de estes vadios: Sou servido declarallos por inhabeis para e honoríficos Procuradores do Conselho e mais inbabilitando os que não fizerem lavouras para os ditos cargos, c outros de Fazenda. II[

outro sim que Governador e General da ilha da que não fizeram mandando escolher entre os filhos dos referidos que parecerem mais no numero de seis para o Oficio de lYapatewo; outros tantos para o de dous para o de para o ele outros para o de dous para o de os fará entrc-

17


ALBERTO VIEIRA

gar a Mestres dos respectivos Omcios para que os ensinem, remettendo-os, depois aos parrentes nos mesmos officios á dita ilha para nella exercitarem as suas Artes. IV Prohibo que Mercador, Vendilhão, ou outro algum traficante possam fazer penho. ra em gados vacuns, cavallares ou l11iuelos, e em quaisquer instrumentos de lavouras, e serventia della por quaesquer dividas de fazendas fiadas ou dinheiros adeantados em interesse; nem tão pouco nos frutos da mesma lavoura, que necessários forem para as sementes das Terras e comedorias proporcionados aos que nellas trabalharem. V E attendcndo á necessidade de madeiras que ha naqllclla ilha: Sou servido conceder aos moradores dclla o Privilegio de que possam cxtrair da ilha da Madeira todas as que necessarias lhcs forem para as suas abegllarias, e concertos elas Suas casas pelos preços ordinarios, estabelecendo-se para elles humajusta tarifa que fique sempre enalteravel. VI

Ordeno, que todos os sobreditos Lavradores, sejam obrigados a plantar arvores nos testaclos das suas Terras jj'onteiras ao Mar, e ribeiros; COI11 tal declaração, que aquclles, que assim o não houverem executaclo no termo de trez annos, não poderão gozar dos reH:ridos Privilegios. VII

E ultimamente hei outro sim por bem ordenar, que o Capitão General da referida ilha da Madeira mancle logo separar e dividir pelo Corregedor da Comarca, eom assistencia & Sargento Mór de Infantaria com exercicio de Engenheiro Francisco de A leneoll1', as Terras, que hão dc pagar quinto, e oitavo, para /icarem sempre con· hecidas por taes, indo cllc Governador e Capitão General authorizar com a sua pre· sença 11 execuçi'ío de tudo o rcferido até deixar os moradores na paci lica posse de todas as sobreditas propriedades, e Privilegios; deixando-os na eerteza de que os restituirá eontra qualquer violencia, Oll infracção, que contra clles seja intentada por quaesquer pessoas cle qualquer estado, e condição quc sejam. E este sc eUl11pril'l1 tão inteiramente como nelle se contém, scm duvida ou embar· go algum. Pelo que: Mando ú Meza do Desembargo do Paço; ao Inspector do Meu El'úrio; ao Cardeal Regedor da Casa da Supplicação; Consclho de Minha Fazenda; Governador e Capitão General da ilha da Madeira; Ministros, Olliciais dc Justiça e mais pessoas dclla, a quem o conhecimcnto deste Alvarú pertencer, o cumpram, c guardem c l'hçam cumprir, e guardar tão inteiramente como nelle se eontém; e não ohstante quacsquer Regimentos, Leis, Fomes, Ordens, ou cstillos <.:ontrarios, que todas, e todos hci por derrogados para cste elfeito sómente,licanc!o aliús sempre cm SQU vigor; c valerá eomo Carta passada pela Chaneelaria, posto quc por ella não ha de p~,ssar, e o seu effeito haja de durar mais de hum e muitos annos, sem embargo das Ordenações em contrario; c se registará nos Livros ti que pcrtenQer, mandando-se () original para a Torrc do Tombo.

11 H


Do

Dado no e setenta.

ARCA DE NOÉ

de Nossa Senhora da

aos treze de

de mil setecentos

Martinho de Mello e Castro

REGIMENTO DA AGRICU LTURA

TITULO I

DA

DAS TERRAS

Todo o lavrador que tiver hum arado será de teITa ou mais

,",,,,,nu,,,,",",UU

TITULO VI PASTORES E EM TEMPO. OUE TRAGAM AGUILI-fADAS Todos os Lavradores tenhão seus "Q"'",,.,," os quaes lhes houver de passar e não lhes á custa do mesmos e os Pastores que os seus salerios e o danmo tiverem \.OdLJ"'dUU, outro sim deverão trazer para divisa sua, Gado. Titulo XIV

os não que do

SEMEAR HUM ANNO POR OUTRO

DAS TERRAS As terras de inferior

ficarão hum anuo por outro em para que se semeie de semente que lhe fôr mais e melhor deverão pasnos taes annos de e em semelhante cazo não "" ... o,~"" ser communs os taes aos Lavradores e senhorios das mesmas terras. "");CIIlL"""

TITULO XIX

DA

DAS ARVORES

o sobreditto ao mesmo das examinará se todos os Lavradores têm assim nas testadas fronteiras ao mar, como nas Ribeiras ou as arvores a que são no de três anuas, e assim nos 19


ALBERTO VIEIRA

o não tenhão feito. incorrerão na pena do tU 6. do Alvará Régio. TITULO XX DAS PLANTADAS NOS MONTADOS Nos montados das serras se deverão plantar Pinheiros, Zimbreiros, Castanheiros, Tis e toda mais arvores que se poderem produzir, para que tàçam sombra á ten'a e attrahião a umidade da gião de que a mesma teITa he sumamente esteril, como tambem para dellas tirarem madeiras e lhe de que os moradores tanto carecem e se imbaginarão de jiestas dos Nortes da Ilha da Madeira, a para a sua propria utilidade, como de seus gados, e todos os Lavradores á proporção das suas so serão obrigados no referido tempo de três annos, a povoar os dittos montados, das mencionadas forem conduzidas da ditta Ilha da Madeira e todo o que se eximir de tão providente utilidade. á delle o Inspector Gerah as fará conduzir e transplantar. TITULO XXI DO MODO DE VEDAREM AS ARÉAS PARA QUE ESTAS NÃO PREJUDIQUEM AS TERRAS CIRCUMVISINHAS E sendo huma grande parte e a melhor das terras que desde muitos annos até o presente se coberto d'areias com tão notavel damno que annualmente se experimenta e vai crescendo, cada mais a sobredita ruina e estrago: todos os lavradores da circunferencia das faldas do areal da terra sejam desde logo, e sem perda de tempo obrigados. para obstar hum mal tão publico e tão notaria plantar em cêrca do monte donde nascem as dittas arêas, trez, quatro, e mais ordens de espinhe o mais condensado que se possa, confonne o Inspector julgar bastante para vedarem a ocorrencia mesmas arêas; Outro sim, são obrigados a plantar nas ditas faldas outra ordem dos ditos espinheiros para que não acabem de sobrecahir as mesmas areias nas terras que lhe confrontào, no entanto que todos os Lavradores geralmente em beneficio do publico não podem cobrir como devem todo o areal de espinheiros; Todo aquelIe que se eximir de concorrer para o seu proprio beneficio incorrerá na pena do & 81 do Alvará Régio; como tambem incorrerão nas mesmas penas todos os Lavradores que geralmente devem plantar os Espinheiros, se se eximirem do que neste Titulo ordeno; E aquelle que cOliar aLI arminar qualquer dos dittos Espinheiros ou Pinheiros, como também sempre-noivas, troviscos, ou outras ervas que nascem nas arêas e impedem a dar correnteza; se fõr Lavrador não entrará mais em lavoura dalgum Senhorio. e quando o nào seja, pagará mil reis por cada vez de cadêa, e conforme o prejuizo que do ditto danno resultar. E igualmente quero que se entenda a mesma ordem e disposição a respeito de areal da Praia por ser tambem muita e quasi egual a qualidade de terras que se tem perdido; tudo debaixo das referidas penas e da eleição que o Inspector fizer do sitio da parte da Praia, em que se devem fazer as plantações das ditas arvores.

120


Do

À ARCA DE NOÉ

Defendo a todos os Lavradores o trazer seus 1110ntaarêaes da terra e Praia em as arvores e em não estiverem em termos de que os as não de outro modo ficará sendo o trabalho que nos dittos montados e arêaes empregarem. E todo que nestes incorrerá na pena estabeLecida no T. 6. deste outro sim que nas terras nem agora, nem em anelem por ser maior a utilidade que os moradores da sua e todo o que de modo o neste 1: incorrerá nas dittas penas, sem que lhe TrTULO XXV DAS PLANTADAS DAS AMOREIRAS E ESPINHEIROS EM CERCA DAS FAZENDAS Nos testados

ao mar, ribeiras ou ribeiros e do ditto sitio das Fontes se amoreiras por serem assim as terras para similhantes arvores, utilidade aos moradores desta e por meio da sua Fazendas os Lavradores serão doT ordeno que todas as penas e coimas conteúdas neste ",,,, . . n,,,,,, metade para as do Concelho e metade para o acusador. se tão inteiramente como nelle se ('",U?11" terras de

ao Commandante das e mais officiais dellas e da cultura elle ditto na Comarca desta Villa e mais conste. e sello das minhas armas, aos 13 dias do Dado no Porto mês de Junho de mil settencentos e seltenta e huma. a) João Antonio de Sá Pereira do José Anastacio da Costa Eduardo de

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ALBERTO VIEIRA

INSTRUÇÕES DE AGRICULTURA DO CORREGEDOR ANTONIO ROIZ VELOZO DE OLIVEIRA, 1792 Copia das instrucçoens de Agricultura, que o corregedor Antonio Roiz Velozo de Oliveira deo a Camara da Villa da Calheta para fàzerem parte dos provimentos da Correição que fez naquella villa no a11110 de 1792 Como seja da minha particular obrigação o promover a industria pública e procurar aos povos desta comarca todas as comodidades que elles com direito devem esperar de hum magistrado zeloso da observância das leys e amigo da humanidade; determinei fazer estas instrucçoens relativamente a agricultura para tàzerem parte dos provimentos da minha prezente correição nesta villa da Calheta; e para que os officiaes da cam ara (a cujo officio ordinario incumbe os mesmo deveres pelo que respeita aos povos sogeitos a sua particular jurisdicção) observem, e fação observar as dittas instrucções tão enteiramente como nellas se contem. E porque seria inutil estabelecer regras e formar planos, não havendo ao mesmo tempo quem tàça guardar e por em pratica huma e outra couza; já desde o anno passado fiz eleição do capitão António João Homem dei Rey, que com tanto acerto occupa neste concelho o cargo de juiz de orfaons, e o habilitei para que de commllm acordo com os officiaes da camara chegassem os competentcs jurados e inspectores particulares da Agricultura em todos os bairos, citios e lombos de cada huma das freguezias de que se compoem a mesma jurisdição e concelho; para que estes, cada hum na sua repartição observassem, e fizessem executar as ordens que lhe forem cometidas; dando II [44v ] de tudo parte ao referido juiz dos orfaons; o qual, na qualidade de directos geral, teria sobre elles a necessaria inspecção, sendo ao mesmo tempo obrigado a participar aos mencionados otllciaes da cam ara tudo o que fosse digno de rellexão e de providencia a respeito das operaçoens agrarias, da criação dos gados, dos damnos e formigueiros; para que interpondo a mesma camara toda a sua authoridade, zelo, e jurisdição, a acautelassem os males, punissem os crimes, e promovessem a industria e fortuna publica. Mostrou com efeito a experiencia que os meus c1ezejos se realisarão em grande parte; porque na prezente correição foi cabalmente informado que no inverno passado se plantarão mais arvores que em vinte annos atras; sendo proporcional a plantação das vinhas, assim como a cultura das searas e das scmiIhas; e por fim achei quasi acabada a guerra que os gados (por andarem a montão, e sem pastor) faz ião de continuo aos lavradores; e a estes conhecendo as grandes utilidades que para o futuro lhes ha de rezultar do seu proprio trabalho, e dos cuidados que tomei. Animado pois por tantas lizongeiras esperanças, passo a estabelecer as regras seguintes, que servirão de regimento ao director geral e seus subalternos debaixo da imediata inspecção da cam ara, aviso cuidado e vegilaneia fica pertencendo vigiar muito particularmente sobre a concervação da paz publica, sobre os abuzos que se podem introduzir nesta importante ll1ateria; assim como sobre a condenação dos lavradores omissos e negligentes, e finalmente sobre a arrecadação das penas em que forem multados. Primeiramente

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Do Das beiras dos desterrar-se todo o

A ARCA

DE

NOÊ

assim como deve pouco a pouco serve de porque não tendo o sem fruto lIZ0 mesmo silvado saem a infestar e devodevem-se formar outros de dos bardos de ou macieiras de toda a e nas umidas as

cidreiras. Estas arvores, não mais terra do que del11 as fazendas dos ventos; abundante e anl10almente sustentão os homens e os os porcos; e ultimamente fazem que os contentando-se com os fmetos que encontrão não entrem nas fazendas a furtar o que nellas faz a industria do lavrador honrado. que o contrario E todo tessendo as terras das suas tadas e para a 1l",ue''r<1U das sobredittas arvores, será multado na pena de dois mil reis para as obras do e para a pessoa que o accuzar, na forma decretada do reino 1] 26 Em2 baldios ou se devem enxertar: estas arvores muito contrario he bom que de tal porem não serão que o sol tenha livre entrada entre huma e outra; afim de que as terpara a e ainda o sendo posEstas sementeiras sem duvida hão de frutificar melhor do que '''I'''''''''''' fazem debaixo de arvoredos densos e que não servirião de couza se o excelente clima desta ilha não admittisse huma couza tão admiravel e tão rara. Ainda nos estios que forem ,,,'r)n,'u,c aonde o ar hé menos as quaes hão de para o futuro uvas que menos servião para ,rn~,·{j"'·lt,,· e sera este hum novo ramo de comercio muito util aos lavradores. em pattes secas, hé O melhor modo de se nos mezes de oitubro e Novembro das quaes se fazendo covas fácil entulharem-se: Em cada huma dellas se deve tirar a terra de sorte que não Estas covas ficando abertas deve huma de mato de o interior da terra para ate o mez de Janeiro recebe1l11l1uita agoa; e esta não se alimentar a árvore no do mas tambem faz o mato, o estrumando a mesma terra, faz que as arvores cressão de pressa c com maior a recompençar o trabalho do comtudo hé de muita impOI"tâlllcla que no I e anno de se deitem abaixo os fructos novos enxertos, pera que estes não tenhão o necessado para melhor e com mais abundância. Se os lavradores pençassem com a devida refexão nas muitas utilidades que lhes rezultar destas arvores, elles sem duvida tratarião da e cultura dellas

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ALBERTO VIEIRA

com maior cuidado. São pois as ditas utilidades c de que os //[46] mas lavradores devem ser informados, as seguintes: lIas castanheiros produzem frutos que servem para a sustentação dos homens, ou da forma que vulgarmente se uza das castanhas, ou reduzidas a pão da maneira qque se pratica a respeito das semilhas. 2 com as castanhas se engordão os porcos, e são estes os que tem a carne mais saboroza e melhor e da mesma se crião aves de toda a qualidade. 3 os cavallos e os bois, tendo castanhas escuzão a ração de milho e cevada que ordinariamente se lhes costuma dar. 4 Depois dos contemplados benefícios que rezultão dos frutos destas arvores, sempre dignas de estimação, seguem-se as conveniências que dellas mesmas procedem. As folhas emquanto verdes, servem de excelJente pasto aos gados de toda a qualidade, e depois de seccas estl'l\l11ão as terras e estas se fazem todos os anos mais fecundas: além disto no tempo da primavera e do estio, 1110dificão o calor do sol, e exaurindo os vapores da terra e do ar, fazem as chuvas mais frequentes; augmentando por esta forma as agoas nas fontes e as orvagem aos gados; concorrem para que as vinhas c todas as outras plantas que lhes Reão inferiores, não tenhão precizão de repetidas e continuadas regas. 5 Finalmente as ditas arvores COl1cervão as plantas c as searns, defendendo-as dos ventos e das tempestades; seguirão as terras empinadas, e com as suas raizes as coneervão e sustentão de iUl1na que estas jamais se precipitão e fazem qucbradas, o que se deve nesta ilha evitar por todas as lut'mas para a concervação do paiz. A estes benefícios tão importantes ainda acressem os outros que l'ezultão das lenhas para o uzo diário das cozinhas das estacas para as vinhas, e finalmente das madeiras da construção para as igrejas, para as cazas e quaesquel' outros cdifícios. E para que os lavradores que cultivão terras alheias se animem com maior facilidade a Jhzerem a plantação dos ditos castanheiros; serão estes aqui em diante avaluados, c pagos //[46v] aos mesmos lavradores a razão de cem reis cada hum, sendo bravio; e ele duzentos reis sendo enxertados. Pclo contrario; todo aquelle lavrador que tendo terras próprias para tl cultura ele que se trata; ou sejão do seu particular dominio; ou de senhorios, e não plantar ao menos cincoenta castanheiros cm cada hum anno, será multado na sobreditta penna de dois mil reis, com a applicação da já citada ordem do LO I título 6ô, 26. Em 3 lugar Nos cítios e lugares em que os ventos não fazem grancle imprcssão, e não furem muito secos, hé importante que se plantem laranjeiras e limoeiros de toda a qualidade; e da mesma forma limeiras e cidreiras. Nesses l11eSI11OS lugares abrigados importa muito que estas árvores sejão plantadas e dispostas entre arvoredo que concerve a tblha de inverno como o loureiro e vinhatigo: também as canas vieiras são muito úteis. Forma-se pois hum quadrado com as árvores rústicas, c com as competentes divizoens ele canas, e pelo meio se plantão e111 boa ordem aqucilas árvores que por mais delicadas não registem tanto aos ventos, c ii marezia ou salitre levantados pelos tempos do mar, ate quem recebem muita perda; sendo para advertir que as árvores de espinho, com especialidade as laranjeiras, produzem a sua nor 110 tempo do inverno; e por isso não pode esta concerval'se bem não mediando as cnutcllas que 124


Do

DE NOÉ

facilmente na Madeira fazer se hum comércio assim como do reino e das ilhas dos Bretanha e outras do nOIte e da O methodo mais fácil e mais estacas de

muito conciderável sendo

a ""C''''''''A

a que os rusticos chamão de

o que facilmente se fará tirando da estaca da cidreira hum sem molestar o nem a casca, e em delle outro de desta forma hé muito fácil acressentar se em pouco número das ao infinito. Outra fOllna há também quc cortar em de huma a e por lhe terra à ou em cestos, ou pano veloutra couza que a não deixe porque feita esta no as dittas no mesmo inverno muitas raízes no em que lhes falta a casca e formão excellentes árvores os mesmos ramos. Hé da mesma entre árvores rústicas não são que se fOllnão os melhores de fruto como maceeiras e Todas as árvores de fruto devem ser tratadas com muito cuidado para que não se tornem todas se devem antes que na Primavera a produzir que não são enchatadas nunca b0111 o lavrador ainda muito a sabor e dos ditos se industriozamente tirar das árvores elos méritos que ellas costmuão annoaJmente e além disto as mesmas árvores se concervarão por annos.

Governo

n"

tls.

BERNARDINO JOZE PERO DA CAMARA

A

DE 1815

Senhor. e consternada vai aos Pés do Throno de V.A.R. a Camara ela Cidade do Funchal da ilha da Pai dos seus

ella se

5","y",",Upara este Paiz do que a do ''''C'7Pll1t" ser liberal para com os seus habitantes

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ALBERTO VIEIRA

goza vão deste dom preciozo com que ella os felicitava, prodigalizando-lhes abundantes, e preciozas colheitas, quer agora reparar os excessos que fez em benefício delles à custa das lagrimas que tem feito verter aos dezamparados Lavradores, e a todos em geral, pelas escaças novidades que constantemente tem alcançado em paga de seus peniveis trabalhos. A memoravel catastrofe de 9 de Outubro de mil oito centos e tres foi hum infausto presagio de tudo quanto estava para nos acontecer. Foi então que a Liberal Mão de VA.R. acodio promptamente ás ruinas desta Cidade, fazendo que dos seus Reaes Cofres sahisse todo aquelle cabedal que fosse precizo para as reparar; e por outro qualquer motivo, q' VA.R. julgasse acertado exhallrir os mesmos Reaes Cofres, seria o seu maior prazer socorrer a disgraça, e a mizeria daquelles Vassallos, que VA.R. visse marcados com o Sêlo da mais cruel infelicidade. Desde aquelle terrivel anilo tem sempre corrido assás calamitozo para hum Povo que a maior parte delle he por extremo pobre, e que só o excessivo trabalho a que se sujeita, he que o faz ainda poder subsistir em huma Terra onde elle não pode cultivar se não pequenas porções della, por ser incompativel com a aspereza do local cultivar grandes terrenos. Cada lavrador apenas pode aqui cultivar 11 'um anno aquele espaço de terra, que noutro qualquer lavrador em differente paiz cultivaria em menos de hu anno; e ainda assim mesmo arrisca demaziadamente a sua vida luctando em huma parte com enormes rochedos, para delles sacar aquella pedra q' em outras partes vai suster as pequenas porções de terra que ainda nelle existem. Desde aquelle mesmo tempo até o prezente as il1ll11cnsas agoas o tem sempre delapidado, reduzindo-o a tão exteril situação, que só os braços de homcns costumados a hu penozo digo a hum tão penozo fabrico tem sido capazes de lhc dar algum remedia. Por outra parte as i111l110deradas estações, que irrcgulamente tem agitado huma atmosphera costumada ate então a influir suavemente sobre as ll1clindrozas produções deste mesmo Paiz, tem tirado ao pobre, e ao rico todas as esperanças ele poderem viver sem aquellas afl1ições que nascem da indigencia. tolhendo a todos o meio de poderem reparar com novas plantações o estrago que tcm havido em todas as vinhas, já occazionado pelas mesmas agoas, e já expessas, e estragadoras nevoas, e anebatados ventos, que em tempo não esperado sempre tem queimado, e destruido as suas tenras varas quando todos geralmente se congratulavão de tirar dellas com abundancia aquelle préciozo vinho que faz a baze fundamental de todo o COl11mercio desta ilha, e da subsistencia dos seus infelices habitantes. A carestia dos viveres ocazionada pelas tristes revoluções do Mundo, e muito principalmente pela guerra da America, tem sido nesta ilha tão excessivas. que muitas pessoas ela ultima classe perecerao victimas de hum a pura necessidade, e as outras de todas as classes tem arrostado hum montão de incommodos para se salvarem do naufragio que lhes preparava tâo hOlToroza tempestade, e ela insaciavel cubiça da corporação do Commercio desta ilha que a cada passo se está valendo dos meios que lhe orrerece a falta de generos nacionaes para as immolar a os seus sordidos interesses. As doenças epidemicas desde que as Tropas Bretanicas dezembarcarão neste terreno tcm mortiferamente graçaelo por toda a ilha acumulando a os seus habitantes malles sobre malles que talvez se não possão extinguir se não para as gerações futuras. Tudo isto, e a inda muito mais que deixamos em silencio para não parecer-nos importunos tcm appresentado aos olhos do Publico hum lastimozo quadro de que VA.R. talvez não

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Do

À ARCA DE

NOÉ

tenha a menor por termos sempre afastar das vistas de tão clemente Soberano mizerias de hum Povo que necessanamente havião de consternar a mas o mal se tem a de já não lhe po.uenrlOS dar remedia se não debaixo das sabias e Benevolo influxo de v.A.R. O maior he da Ponte do Torriào para sima de nas este anno se tinha huma pequena

Cidade: cabedal

se na sua huma chamada a Ponte de Páo do dos Ferreiros no mesmo momento em que as agoas correrão com mais abundancia: ficou porem hum pouco mas em soffrivel de se tranzitar por outra Ponte de que nesta mesma Ribeira existe chamada a Ponte da e devemos atribuir este sucesso a hum indulto da que não mais hum COl11l11ercio tão he difficultando-lhe os meios de se conduzir todos os generos, que se irnnnrt"",.., e, por serem esta e a da Rua dos Ferreiros mente construídas no meio desta mesma e em pouca distancia da Marinha, A llltima que he a de Nossa Senhora do por estarem inteiramente concluídas as suas muralhas não os dois IJ""~"'''''-'''' Ribeiros de que fizemos centro da na Nossa e o outro quaze nos confins della Senhora do Calháo: tanto hum como outro, por falta de muralhas que contivessem suas ago8s, fizerão O rompeo na Rua da alem da do Carmo para a inllundou toda e levou de sí immenso rochedo com que aterrada toda a Rua do Ribeirinho ate ao Beco da e por mesmo Beco se comonicoll ao do e por isso apezar de hum cano por onde dezembocarão as agoas para o calháo neste que he hum consideravel a sete tendo estas ruínas de desde a referida RlIa da até para sima de cento e oitenta Esta corrente por meio de huma Cidade q' em todas as de suas Cazas tem generos de muito por si mesma suscitar huma idéa do que soffi'erão os seus habitantes. Não foi a occazionada agoas do pequeno Ribeiro chamado ainda que a Cidade neste he por extremo por comprehendcr só trez ruas, e ordens de cazas, elle as innundou de tal que arrombando as das e entrando que estavão nada deixou em bom estado do que ellas continhão. A Rua de Santa que hc lemitada a Leste por huma elevada mas pequena Ponte de por onde costumão passar as agoas deste mesmo estas a dita e ent:anmesma rua ficou inundada de tal que tão bem SUblO o

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ALOERTO VIEIRA

depósito das agoas a mais de cinco pés de altura, fazendo a todos hum prejuizo incalculavel, e muito principalmente aos Tendeiros que disgraçadamente perderão todos os generos, que tinhão nas suas Tendas. Tal foi o rezultado da Alluvião de vinte e seis de Outubro proximo, relativamente a esta Cidade. Os Lavradores, Senhor, ainda se lamentão mais da sua sorte do que os próprios Cidadãos: elles virão copiozas, e disconhecidas agoas arrancar-lhes pelas raizes os idozos troncos, e precipitar das altas montanhas as eximias penedias, que envolvidas com as mesmas agoas arrazavão os valles, e fazião perder a maior parte da sua cultura: os gados que se acha vão dispersos em lugares mais eminentees, forão arrojados debaixo destas ruinas, e apezar da cautella q' todos tomárão na salvação de suas vidas, ficarão algumas pessoas perigozamente feridas, alem de dois rapazes que perecerão em hum cazal da Freguezia do Estreito de Câmara de Lobos, por ser incompativel com a violencia das quebradas poder-se-Ihes dar o menor socorro. Cada hum destes Lavradores julgando-se absolutamente disgraçado parece querer proferir imprecações contra a sua propria existencia, e abandonar hum Paiz que tão ingrato se tem mostrado ao industriozo, e penivel meio com que e\les tem procurado beneficia\lo, consagrando-lhe tantas fadigas, e exgotando com elle os ultimos restos das suas forças. E será possível, Senhor, que a malIes tão estrodozos que este Povo tem som'ido, se lhe ajunte tantos impostos, quaes são a Decima Urbana, a Decima Funeraria e Ciza, o Finto, e outro a mais impostos desta natureza, quando os Augustos Predecessores de VA.R. em ocaziões de menor estrago por calamidades publicas, e circunstancias menos urgentes, perdorão aquelles mesmos impostos que então havião como se mostra dos Documentos numero primeiro, e segundo? Ah! que se VA.R. prezenciasse a mizeria em que todos gemem neste Paiz; se visse o dezamparo em que se acha um Povo, q' tanto tem concorrido para prosperar as suas Finanças; se V.A.R. tivesse prezente os clamores do Publico que não cessa de lastimar a sua disgraça; então commovcndose dlle VA.R. pela sua lnacta e Paternal Beneficencia, não só o alliviaria deste pezado jugo, mas inda mesmo mandaria repartir avultadas somas dos seus Reaes Cofres em favor e soccorro de tantos infelices. Senhor: se VA.R. não quer ver inteiramente perdida, e abandonada hUl1la cultura, que tanto intreressa os seus Reaes Cofies, e que perdida ella está perdida a rameficação do Bem Publico, decahido inteiramente hum Commercio, que ainda a muito custo se conserva, e por consequencia quaze exticntas as Rendas da Admenistração, e Arrecadação da Real Fazenda deste Estado; se V.A.R. Quer ter toda a gloria de conservar huma Colonia, que tem fama em toda a parte do Mundo pela singularidade das suas produções; se não Quer ver finalmente esta tão importante porção dos seus fieis Vassalos luctar entre os horrores de uma horroroza fome, pela falta de meios de comprar os viveres, sirva-se VA.R. derrogar aquellas Leis que lhe impoem tão pezadas contribuições, para ao menos nesta parte suavizar tão enormes desgraças, e os grandes trabalhos que tem em dezentulhar taes rui nas, para reparo das quaes não tem feito prezentemente o menor dezembolço os abundantes Cofres de V.A.R., pois tendo disso chamado todas as Ordenanças a este diario trablaho, os mais pobres ajuclão com seus braços a salvar a Cidade de tão grande perigo, e os outros pagão o donativo de quinhentos reis todas as vezes que por seu turno são obrigados a esta defeza, digo obrigados á defeza deIla. Este Povo, Senhor, que a pezar de todos os sacriticios sem-

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Do

À ARCA DE NOÉ

pre tem feito com incansável trabalho huma tão e auxiliando por meio delta o Commercio e que para conservar sem mancha a do Nome he que tem succumbido inteiramente aos da este Povo atenuado por este sombra de seu soladora esperança humildemente hum n1'fwnntn hando o progresso de sua devendo de V.A.R. que os e tanto seculares como Eccleziasticos todos conferidos a os filhos e não que nem tem concorrido para a salvar de suas ruinas. Deos Goarde nunca a a V.A.R. muitos anos. Funchal em Camara seis de Dezembro de mil oitocentos e Jozé Nabucho Jaze Esmeraldo Antonio Jozê de Carvalho Pedro Teixeira de Vasconcellos Francisco Perestrello e Camara "" Antonio João da Silva Costa Francisco Xavier He se contém na referida "Pl'Il'p"pnt'Q Amorim == Francisco da que fiz Funchal 5 de Ju1ho de 1816. Bernardino Joze Pero da Bernardino Jaze Pero da Camaru 111

n"

PAULO DIAS DE ALMEIDA 1817 ",,,,'~n."'YrlI,V

DA ILHA DA MADEIRA

delas Toda a ilha da Madeira é cortada de imensas ribeiras e só caudalosas no rochedos descobertos. Todas as aparecem pequenas grosso e só se acabam as se tomando a que com as enchentes e vazantes das fonna de calhau. '1"''''''''<4,'''' de que enche uma levada dois do por lhes terem a maior cios arvoredos é A

esses restos das

se conservam ainda nesses este mal remediável. As

mais escabrosos cheias que sucessiva-

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ALBERTO VIEIRA

mente tem havido, têm a sua origem na destruição dos arvoredos e as montanhas que não há muitos anos vi cobeltas de arvoredos, hoje as vejo reduzidas a um esqueleto. O Paúl da Serra, único terreno reservado para os prados do público, se acha hoje sem matas. Tem chegado a tal ponto a negligência das Câmaras que, consentem não só que se cortem as giestas em t1or, mas até que se lhes larguem fogo. O Paúl é o receptáculo da maior parte das fontes, e das mais abundantes, bastante motivo para merecer a atenção das câmaras. Nos meses de Maio a Julho todos os anos os nevoeiros consomem uma grande parte das novidades, principalmente as uvas quando estão em t1or, formando um cordão em torno da ilha e ficando o centro descoberto. O centro da ilha se acha todo descoberto de arvoredo, com apenas algumas árvores dispersas, e isto em lugares onde os carvoeiros não têm chegado. Se tivessem posto em execução as Ordens e Cartas Régias relativas à conservação dos arvoredos, não teriam a cidade e as vilas sofrido os estragos do memorável aluvião de 1803. A experiência tem mostrado que a falta de arvoredos pelas margens das ribeiras e declives dos montes que sobre elas desaguam, é a causa da imensidade de rocha e terra que com as chuvas vem atulhando as mesmas ribeiras, cujo alveo, hoje está superior às ruas da cidade. A praia do Funchal, se tem alongado ao mar, desde 1803 até 1817, 150 palmos e em partes 250 e mais, com os entulhos que as ribeiras depositam. Em 30 de Outubro de 1815 pelas 5 horas da tarde, houve uma aluvião que levou quarenta casas e arruinou outras, inundando ruas, e se fosse à noite muita gente morreria afogada. A ribeira de S. Paulo chegou a trazer uma coluna de água e rochedos, que ocuparam a largura de 60 palmos e 30 de alto. Entre as pedras que ficaram no leito da ribeira, junto ao mar, havia uma de 20 palmos quadrados, e de 10 palmos muitas. Esta enchente durou uma hora. A maior parte dos caminhos são pelos altos dos lombos, atravessando ribeiras e ribeiros, muito mal delineados, e muitos em roehas precipitadas, outros em salões, onde as chuvas têm feito escavações de mais de 30 palmos de alto. ( ... )

Povoaçüu da Ribeira da Janela ( ... ) No Inverno com a ribeira cheia ficam sem comunicação com o Porto do Moniz, por não terem ponte. A serra desta povoação é linda e ainda conserva muito arvoredo antigo, apesar ela destruição que todos os dias fllzem os habitantes. É nesta serra onde há muitas e abundantes fontes, que se perdem, podendo ser aproveitadas em benefício da cultura. Na origem desta ribeira é onde estão as copiosas fontes do Rabaçal, que igualmente se podem aproveitar. Da paróquia do Porto do Moniz ii igreja da Ribeira da Janela, são três qmutos de légua e gasta-se uma hora.

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Do

À ARCA [)E NOÉ

e vila de Machico

É fundada em um pequeno cortado ao centro ribeira de Machico e dominada por altos montes. Pelo aluvião de 1803 foi a maior da vila casas se a maneira que os altares ficaram cobertos de de três arcos demolida e e deitou por terra a muralha que va a As casas que se não abateram ficaram e que estão ao Poente da são muito húmidas por causa dos inhames que conservam nos esta que só se com muita Tem uma boa onde por vezes têm fundeado corsários. O Forte do Desembarcadouro ou de São João a artilharia que tem está toda no e que está no centro da acha-se no mesmo estado. As a do Forte do peças são as balas que têm são de calibre de outras peças, e as tas em muito má As serras desta vila estão das Porém isto deve-se a Manuel Tela entusiasmo cultura o a comprar para assim escapar aos carvoeiros que destroiem as matas com os É nesta que o Veloso fez introduzir a batata e que se tem muito em toda a assim como introduziu a dos que se não tem continuado por falta de da Câmara da mesma o que deu causa a em bem pouco até as sementes. Os terrenos que foram cobertos de estão reduzidos a barindo a terra sucessivamente para o mar e em poucos

distrifo da Ribeira Brava

As

entre si são muito e por entre a com a Serra de é e só se passa bem no Vcrão a ribeira trás pouca Os caminhos em são muito mal estreitos e com Em muitas os cavaleiros só passam a e fica 110 Inverno incomunicável por muitos dias por onde se conservam matas de soberbos arvoredos e estas se tem destruído muito nova que se anda fazendo do alto da serra do Estreito de Câmara de Lobos para São Vicente. Se não derem boas a dos cortes de madeiras e em pouco consumirão estes restos de e secar-se-ão as muitas fontes que rochedos e estas se a benefício da cultura das ..."",,,,,,,", vizinhas.

3


ALBERTO VIEIRA

Sétimo distrito da Calheta ( ... )

A cultura das vinhas na Calheta é toda em precipícios formando sucalcos de pedra pelas encostas das lombadas e têm muitas partes abandonadas, por que a terra tcm ido com as cheias para o mar. O alto da serra se acha inculto, com os caminhos péssimos e perigosos. Os terrenos dos Prazeres, Maloeira e Raposeira são lindos, com muito pouco vinho, pois a grande parte da cultura ali é de verduras, legumes e batatas. É nestas freguesias que as mulheres trabalham mais que os homens. São elas que levam os gados ao pasto, que conduzem gado à serra, que fazem o corte das lenhas, e por isso são mais robustas e os homens muito acanhados ( ... ) A freguesia da Ponta do Pargo tem magníficos terrenos incultos pela falta de água que nem para os moinhos têm e são obrigados a levar o grão a moer ao Porto do Moniz. Têm planos extensos entre as povoações sem cultura. Abaixo da igreja paroquial de S. Pedro há uma grande porção de terra que podiam semear de pinheiros, para sustentar as terras que continuadamente vão para o mar, pois há partes em que já não. ( ... ) As Câmaras nesta parte têm sido muito descuidadas e não obrigam a cultivar às pessoas que o podem tàzer, concedem licenças a troco de 400 reis que esta custa, para cortarem o arvoredo que quizerem, com a condição a que seja distante da água, e isto não se observa porque os meirinhos da serra são sempre campónios pobres e dependentes dos cortadores. O mais que sucede é proceder-se à devassa, e nela geralmente ninguém é compreendido. Assim também fecham os olhos à proibição dos carvoeiros que continuadamente deitam fogo debandado na sen·a. Isto tem sucedido muitas vezes e são estes que tem destruído a maior parte dos arvoredos das serras. Fazem o carvão em covas feitas na terra, e como não há água nos sítios onde o fabricam, com muita íàcilidade se comunica o fogo pelas raízes das árvores, e com muita dificuldade se apaga, por serem enOlmes os rochedos, onde se não podem fazer as alertas. Tem sucedido arderem lombadas inteiras e chegado o fogo às casas, como sucedeu no Curral das Freiras no ano 1807, fogo que durou quinze dias. E a não ser os altos rochedos que dividiam as outras freguesias seria um continuado fogo e sem remédio. Também tal tem sucedido em consequência das roçadas que fazem na giesta para queimar e depois semear o trigo. É uma mania introduzida na ilha, que semeada a giesta e ocupada a terra por 5 ou 6 anos, largando-lhe fogo produz melhor pão. Em primeiro lugar não posso conceber que se ocupe celta porção de terra 6 anos, tirando a pouca substancia dela; em segundo lugar largando-lhe fogo e ressecando-a para semearem, de cuja sementeira apenas recolhem a semente. Enfraquecem a terra com o fogo e depois a abandonam. Eis aqui de onde procedem as quebradas, porque a ilha é toda cortada de ribeiras e ribeiros, muito próximos uns dos outros, fonnando altos lombos, e nas encostas deles é onde fazem as roçadas, que depois despresam tirada a primeira colheita.

°

132


Do

Á ARCA DE

NOÉ

As lombadas quase todas são formadas de uma mistura de uma tona que apenas tem I e 1/2 de ficando a solta e ao cai. é a que menos sofre o dano dos arvoredos.

na

Dias de Dias de Almeida e

JP~.(,I·"'VU'

solta e e que estas chuvas que o sol resseca poucos

da Ilha da Madeira", in Rui da Ilha da

PROJECTO SOBRE O RIsSTABELECIMENTO DOS ARVOREDOS E SUA COMPETENTE ECONOMIA NA MADEIRA

1.- A ruína das matas, que nestes últimos

tem

nossas mon-

he facto notorio. Eu não me demorarei em causas: todos altamente as """.,., ___ , Forão as indiscretas rotêas de e o incrivel desleixo de não remediar ao crescente consumo de As inda que

encostas sohre as margens das

nua rocha ~v,""'''~.

Oll

relva. Devem á cidade e por

nas ditas

todo o terreno ou embardada uma del1as: se cuidará em nenhuma como os larices. Nos intervallos e em todo o resto, hade-se entreter bastante a por hum anno o Funchal e suburbios. O mesmo he 5 annos, ás outras areas e em todas. anno, não se faltará a sementeira e effectuar as cercas no 4.- As encostas das ribeiras e

do authoridade. Eis em SUlllma todo meu modar-se a todos os '-'UI l'-"U I aPl'eS(mtaI seus devezas da Serra vão offerecer ao de dia em dia mais raros e

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ALBERTO VIEIRA

postadas, nos preparão, não só madeiras de todo porte, mas abrigo, avultadas balisas e fiel guia ao viandante, quando o graniso e caliginosa neblina lhe escondem todos os vestigios. Quantos miseraveis terião escapado á morte, se encontrassem semelhante auxilio. 6.- As devezas das ribeiras, com suas dependencias, além de bellas arvores fruetiferas, vão fornecer, quasi á porta do paisano rustico, os aprestos indispensaveis que elle hoje procura a grandes distancias, sobre seus hombros, entre precipicios. O entrelaçamento de tantas raizes, serve igualmente a sustentar terrenos declives, prevenindo quebradas, repreza de aguas, horriveis explosões. Por falta deste regimen, os dispendiosissimos encanamentos das ribeiras, como logo protestou seu habil Director o Brigadeiro Oudinot, serão por fim malogrados, e até nocivos. Que poyos ahi se encontrão para viveiros vegetaes de maior economia e desempenho! 7.- Tantos arvoredos, tantas tlorestas de toda a parte verdejando, se prestão amplamente aos adubos d'agricultura. Poderião então arranjar-se, em grande, as estrumeiras vegetaes, pratica da mais preciosa economia; mesquinha ate agora ou desusada por falta de materia. A facilidade de ajuntar herva e rama para os gados domesticos, poupar os braços da vinha, que hoje desatinadamente despimos; huma das evidentes causas de seu conhecido atrazamento. 8.- Os gados errantes e a mesma caça não lucrão menos: acharão a cada passo asilo e sustento. Mais os não veremos acoçados do inverno e da fome, descer aos cazaes, invadir nossas bemfeitorias. Só então será dado dispôr de huma boa legoa quadrada, em maninhos no termo da cidade; cessando de si mesmo a rapina geral, que nas presentes apertadas circunstancias he forçoso disfarçar para haver pão e vivenllos. 9.- O annual reziduo matas accumula as annuaes camadas de terra vegetal, que se irá progressivamente dilatando. Sem aggregado esponjoso é maiss hum embaraço á perigosa contlllencia das agllas tluviaes. Terao estas tempo de saturar as terras e calar por seus intersticios. Hão de mais abundar as levadas, hão de pullular fontes e regalias ao industrioso cultivador. 10.- Que direi de nossos gados merinos, já tão felizmcnte naturalisados em Palheiro de FelTeiro ? De suas lans, tão notaveis nas fabricas de Inglaterra? Quantas vantagens nos não promette esta abencoada raça oriunda de nossas visinhancas, tão accomodada á nossa topografia, e graduada variedade de climas! Para largamente a ffillltiplicannos e com ella os cazaes pela maior parte das serras, só resta converter mirradas chamecas, em agazalhadas hortas e viçosos prados espontaneos, effeito necessario do novo systema. 11.- Outro resultado inda mais ponderoso he que em nossa hypothese as marcesciveis massas vegetaes bastecendo as encostas das ribeiras, picos e lombadas, até aos altos da ilha, aprezentão mais força aetractiva á humiilade athmospherica ou a seus elementos. Os pesados nevoeiros occidentaes, que ha treze annos nos perseguem; ahi batidos, condensados, desfeitos em copiosos orvalhos, tem de perder sua qualidade corrosiva, antes de darem nas vinhas e pouco a pouco mais leves, velas-hemos ou dissipar-se ou coner á sen"a. Verdade he hoje de triste experiencia; ror-

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Do

ARCA DE NOÉ

fião as barras maritimus ? eH-as sobre as se estacionão e tudo consomem. a '-'O'''"Cl1i'', lsabel Barreiro erão vestidos de arvores e H",<ta,,,,"l

'-"""''''"', abi

D. nunca foi nem tão

das aguas nativas. 12,- O calor dos arvoredos os climas. Viremos talvez a fazer todos os altos ilha como ja fmão n'outros os Ferreiros do Juncal. Ainda ali nol-o attestão bem claros taes são os basaltos em cunhaes e differentes peças de dos seculos. Huma família existe na

mais mesmo espaço e de tanta dos nenhuma outra se 13,-He vão ri"",,,,,,.,.,,,·,,,,..

17- , affirmava não serem a causa de taes variedades em tão differentes latitudes Sem duvida a falta de nossa rural economia nos posvenerandas florestas.

reservatorio commum e manancial de Hum bom Governo as saherá poupar, a todos os terrenos, a todos as saberá destramente accommodar a todos os ramos de e o mais he que desembolso para tantas nem por isso nos assusta. Só as devezas da serra demandaríão em suas cercas que ainda muito se attendendo aos naturaes ,~""·,,,,I,,,,..,o HUJIl .... 1"01 , que melhor

14.--

com tudo a verdade em tão essencial A esse fim cuidei em orçar com a maior cautella as sobreditas cercas, assim como suas suas e indistinctamcnte todos os trabalhos respecque terao de ser pagos Fazenda tudo em seis mil cruzamil reis por al1no. Passados os para seu novo amanho. ",,";U"'U-",". como ha muito está resolvidos mencionados povos incultos de proe desde 50 mil reis ahi pagos annualmente ao dono da terra. Vendidas suas bemfeitorias valor de não menos de hum conto, vem a apumil reis. Abatidas do andará o disde 150 mil reis em cada hum dos dois annos. não ha dífticuldade em em cohibír o bando alfario que não deixarião seLls esperançosas mattas.

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ALBERTO VIEIRA

Cumpre por tanto, em vez de requintar penas na forma costumata, congraçar preliminarmente com os direitos da natureza, nossa ordinaria policia. Tudo está em soltar-nos da cruel alternativa de ou perecer á mingoa de combustiveis ou invadir os dominios alheios. Acabem para sempre tão barbaras collisões: he quanto pretendemos e quanto basta. 16.- Hum dos meios efficazes de tal conseguirmos seria vulgarisar o carvão mineral desde já, coisa facilima, se o soubermos conservar a baixo preço. Quanto a mim o grande passo decisivo, seria alivial-o dos 15 por cento que paga de entrada, direito hoje insignificante ao Erario, que huns annos por outros monta a... Eis o que eu proporia tão sómente por 6 annos. Entretanto ganhão-se milhares de braços: crescem nossas devezas de ordinario serviço e restaurão-se os arvoredos. O carvão de pedra vindo-nos a troco de vinho traria mais essa vantagem ao nosso commercio e industria. 17.- Huma providencia chama outra; diminuida assim a necessidade da lenha, he indispensavel acudir a tantos infelizes que vivem daquelle tracto. Cumpre dar-lhes outros meios honestos de subsistencia; estão tambem achados, em se facilitando a cultura da batata inglesa (sem ilha) inda mal propagada apezar de se dar bem em toda a ilha, porque nos vem mui barata de tora e não faz grande conta cultivaI-a. He hum dever de primeira ordem representar quanto merece ser protegido tão importante e tão desattendido ramo. Ao mesmo tempo que liberalmente se nos franqueasse a entrada ao carvão, deveria fechar-se de todo ás semilhas. Este alimentos grato aos ricos e pão quotidiano do pobre, reclama os mesmos auxilias em Portugal, tão sabiamente acordados aos cereaes. Os argumentos são obvios e identicos; he escuzado repeti l-os. Os nossos CaJTetoens passarião de boa vontade a cultura da semilha em tal caso mui lucrativa. A visinhança das estradas centraes sobre tudo, lhe deve ser indefectivelmente franqueada. 18.- Tenho em fim concluido, e só me resta desejar que não percamos tempo. Se todavia agrada a presente indicação, he bem desde já principiannos. Reduz-se a em preza toda a cinco pontos capitaes. 1°. Delinear, fechar, povoar cada anno huma das áreas designadas, conforme o artigo 3. 2° Reservar para arvores, arbustos e perpetuo balsume, as encostas das ribeiras e lombadas, nos tennos do art. 4.3. 0 Requerer se tirem os 15 por cento ao carvão mineral. 4° Fechar o porto a todas as semilhas de fóra. Approvado que seja: energica e effectivamente apoiado o nosso projecto, entendo que deve logo passar e quanto antes, a Camara ou a quem direito fôr, para seu devido cumprimento, dada todos os annos conta ao publico da respectiva despeza e progressos. Funchal, 22 de abril de 1822. (a.) José Maria da Fonseca, Inspector Geral d' Agricultura. [Arquivo Histórico Ultramarino, Madeira e Porto Santo, 111.6963, publ. Eduardo Castro e Almeida, Archivo da Marinha e Ultramar. Inventario. Madeira e Porto Santo II. 1820-1833, Coimbra, 1909, pp. 61-63]

136


Do

À

DE

NoÉ

COIUtEIO DA tum::; se pensa no

convencemos da esta pum fertel izarcles vossos campos, para cullivanles terrenos quc

mais arvoredos que machado e a foice. que tcem dedicado o seu excitai os outros, com van-

dos ventos, a nalurezo prosperar n'um c e com estes J1xar um malhodico a

mas também Intel'das scrrus '? Parece-nos quc nno. não é um que se c!'uma vez, ncm n'ul11 só mmo. l~ 1'1'0espel'm' que as UI'VOt'cs scmeadas ao estado de ser transabril' as telTas, e na maior não entra o arado, mas a cultlll'U se torna é l'azuJ' não hn meios e ainda que os houvesse lillta de

Por tanto que

li

COI1-

subsistir sem que sacril1car estes inutil-

mente. Dando-se tl este haver uma parece que

que cllc rcquer, concentrando137


ALBERTO VJEIRA

se n 'um só ponto as attribuições que se achão espalhadas entre as diversas authoridades. Só assim póde haver unifomlidade de plano, pernmnencia de execução, e coherencia de sistema. Os administradores devem ter ordenado e responsabilidade. As Camaras Municipaes já muito sobrecanegadas de trabalhos e despezas, compostas geralmente de pessoas occupadas com os seus negocios, e que pouca attenção pódem prestar ás cousas publicas, servindo além disso gratuitamente, não podem fazer proveitosamente parte d'umabem montada administração florestal. Mas por se não poder executar este systema em grande escala, como nós o concebemos, nem por isso se deve deixar de fazer tudo quanto é possível executar cm os alimentos de que se póde fazer uso. A cultura t10restal a que se tem prestado mais alguma attenção é a de pinheiros, porque é pouco despendiosa, e dentro em breves annos, começa a dar lucro ao cultivador. Com dous mil reis compra-se a semente, lavra-se, e semeia-se um alqueire de terra. Parece que sendo pequena a despeza, certos os lucros, e não muito demorada a expectativa de rendimento, devia estar aproveitada nesta cultura uma muito maior extensão de terra inutil, do que a que se tem cultivado. A regra d 'alguns economistas -Iaissez faire, laissez passer- é muitas vezes falsa. Muitas vezes é preciso constranger e obrigar a fazer cousas uteis. Quem tem terras aptas para cultura florestal, e que estão desaproveitadas e perdidas, deve cultivaI-as por si ou por colonos, arrendaI-as, at1oral-as, ou vendeI-as para esse fim. As terras devem ser cultivadas em proveito dos vivos, e não pernlanecer incultas para esteril ostentação. O corregedor Velloso para animar a cultura dos castanheiros fixou os preços pelos quaes elles devião ser pagos aos colonos, no caso de despejo; preços que ainda hoje regulão. Para animart mais esta cultura e a dos carvalhos, e outras arvores uteis seria conveniente estabelecer-se um preço vantajoso, que estimulasse os lavradores a plantalas. Os carvalhos, como se observa, prosperão perfeitamente nesta ilha, ainda a grandes alturas. No Palheiro Ferreiro, no Monte, ha arvores lindissimas. O carvalhoé uma arvore muito util. É abundante de folha, de que o gado come com avidez, ainda que se lhe deve dar com parcimonia. A casca serve para curtir coiros; a bolota é o melhor alimento para engordar porcos, e torna a carne muito saborosa. Mas ao mesmo tempo que se estabelecesse um preço vantajoso para animar o lavrador diligente, devia tomar-se uma precaução necessaria para evitar que os maliciosos tirassem dahi injusto proveito. Uma cousa é um pomar e outra cousa é um viveiro. Ha colonos que para augmentar o preço de suas bemfeitorias plantão os castanheiros a tão curta distancia uns dos outros, que nunca chegão a formar boas arvores, e ficão sempre acanhadissimos. Não se deveria pois pagar ao colono senão tantos pés quantos rasoavelmente podessem prosperar, considerando-se aos outros como inuteis, porque se devem arrancar. Ha muitas variedades de carvalhos desconhecidas nesta ilha, cuja introdução muito convinha promover. Admira que n'um paiz, em que ha centos d'annos se está

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Do

ARCA DE NOÉ

ainda se não tenha tractado de cultivar as arvores que dão a havendo tanto terreno inutil que se madeira par o officio de occupar com esta cultura É accordar deste letharTemos sido e somos desleixados e go, nossas terras, e melhorando todas as culturas uteis , fazendo por todos os meios ao nosso alcance que as nossas calvas serras se revistão cama. outra vez da sua verde e não tazem durante o verão urna Véde essas ribeiras que atravessão a e ainda Arborisai as serras, fareis correr agua com abundancia nas desta infectada na do verãode mias mas sufficiente para que se não forão as brisas e salutiferas do mar, que os dissmais a saude dos habitantes. d'utilidade leva annos, ha um curta D'ordil1ario homem tem pressa de gozar; e se a esperança cio gozo se não se apparece n 'um futuro remoto ou não começa a empreza, ou affrouxa

na

! IJU\'vl1,lU~

gozar, nossos filhos e morreremos com a de ter deixado um bem sobre a terra, em virtude do será a nossa memória. de não só para o preA authoridade tem o."r,1(':"(\ actual e preparar trabalhos para a germemoria será sempre não tivesse não existiria em o extenso donde tem e que dá lenha para o consummo de todos os moradores dos arredores. e de trabalsinceramente que se assente n'um incessante e resulte repovoarem-se as nossas serras. Oxalá que o não em como por mau fado acontece a todas as emprezas uteis. eminente ao o maior que faz-s um

DA

lVlfllJL;'l1LrL.

N 1. 32 , sabbado 8 de Setembro de 1

p.

ISABELLADE

O Sol subia entre nuvens de Ollro que tornavam as ondas num lllal' de e por todos os cômoros e de uma claridade ténue e ainda na sombra tomavam a pouco e pouco cor-de-rosa e branco. Esta gama varia-

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da parecia reflectir-se nas pedras como a luz através de um prisma, dotando-as de suavidade e brilho indiscritíveis; lentamente, enquanto o Sol avançava, os picos mais eminentes faziam-se doirados, e a luz amarela dispersava-se devagar sobre as serras. Surgiam agora os pinhais verde-negros, os soutos, os canaviais verde-claros. Ao mesmo tempo a claridade crescente revelava as fendas profundas dos barrancos espalhados por toda a ilha. Uma a uma as quintas, brancas vivendas de campo, emergiam dos seus esconderijos vegetais, tal se quisessem saudar o astro nascente. As vezes a névoa pardacenta ocultava parte dos milhares de montículos de que a ilha se compõe, mas depois dissipava-se, deixando-os exibirem-se na beleza da serrania, precipício atrás de precipício, espinhaço após espinhaço, ora coberta de florestas de castanheiros, loureiros, pinheiros e muitas outras árvores, ora com ermos e áridos cumes que ultrapassam as nuvens. Dentro da baía jaz a cidade do Funchal, de aspecto límpido vista do mar, com o seu casario alvo, jardins verdes repletos de loendros, heliotrópios, novelos azuis, cafeeiros de flor branca, e milhares de outras espécies, novas para um espectador inglês e de colorido tão brilhante que nem se pode descrever. Eis-nos aqui, finalmente! Nunca esquecerei as sensações desse dia. Voltei à cama por umas horas e depois levantei-me a fim de me vestir para o importante momento do desembarque no Funchal. Ia enfrentar estranhos, gente que eu jamais vira na minha vida; ia entrar noutra família, representar novo papel. Nada conhecia da língua, usos e preconceitos elas pessoas a quem só desejava agradar. Estava ansiosa de ser bem recebida, mas inteiramente ignorante de como devia apresentar-me numa terra em que tudo era novidade para mim, tal como se casasse novamente. Devo dizer, no entanto, que o mesmo bondoso sorriso que me tornara feliz desde 3 de Agosto de 1852 me fez arrostar com tudo isto, me dissuadiu dos receios e me colocou a salvo no meu país de adopção, tão contente como quando deixara a pátria. (... ) Também me admirei de que algumas nores, que me habituara a ver criadas cm estufa, com mil cuidados, aparecessem aqui; em estado selvagem, à beira da estrada ou pendentes dos muros de pedra. Havia gerânios, murtas, mimos, búlsamos, acúdas, e roseiras bravas, dobradas, mais intensas na COI' do quc as rosas silvestres de Inglaterra. A maior altura, surgiram madressilvas, e, depois de passarmos por enormes piteiras, vimos grande número de açucenas cor-de-rosa e raiadas de branco. Também os jarros crescem I ivrcmente e com abundância. Os tabaíbos crescem como erva. Por toda a parte, abaixo de certa altitude, espalham-se pelas rochas e terrenos não ocupados; a planta é feia, mas dá uma nor de belo tom alaranjado, e o f1'l1to npreciam-no bastante: não deixa de lembrar a groselha. Até hú pouco consentiam que se desenvolvessem onde a terra não prestava para mais nada, porém agora começam li cultivá-los para a criação da cochinilha. No Monte, e na mesma altitude ou próximo, em toda a ilha, há extensas plantações de castanheiros, cujo fruto, sendo abundante, constitui importante artigo de subsistência dos aldeãos, além de que li madeiru li valioso elemento da construção. No Norte da Ilha elll'Olélll1 11 vinha nos castanheiros, o que dá bonito aspecto, porque trepa de ramo em ramo. Infelizmente a doença atacou estas árvores e muitas delas morreram. No cimo dos montes plantaram lima infinidade de pinheiros, a maior parte nas duas últimas décadas, mns as espécies indigenas, que cobriam a ilha toda quando foi descoberta, são hojc escassas e limitam-se

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Do quase ao norte. Há variedades eXCelJto nas botânicas.

À ARCA DE

à

NoÉ desconhecidas na

Atravessámos a a subir por um caminho quase todo bem embora e aberto entre não o é tanto como o do porque tem e vinhedos. Se bem que muito bocados menos declivosos do que o outro e que entre os muros, em ao mar, noulros descobrem-se fundos de todo o vale do Funchal com a sua "'Á',""""'" moldura marítima e as montanhas e a cidade a meio. Conforme Palheiro do defunto Conde de Carvalhal onde outrora existia uma encosta nua, excepTalvez em idos tivesse a sua castanheiros agora é um extenso parque, cortado em todas as por ..,,,,a.,'a,,. entre alamedas e muitas de em que se salientam falecido conde. A desconhecidos nesta ilha até à sua com o parque, mas tem à fi"ente curiosas e com cascatas montes mais altos em resultado de obras que custaram muito dinheiro. Tive pena de mas como está ausente o moço conde e UUJo",vV",l. não há ordem de consentir visitas. Acima do o do campo muda inteiramente: a vinha por e é substituída por e soutos; a terra é com rochas cinzentas a ali. Cobrem as encostas-onde não medram árvores-ervas e musgo muito de flores fere-nos a vista brilha o Sol. chã por um pequeno percurso, e, ao cabo de mais dois numa dislância considerável. As torna-se

se não fosse a adiante desce mais

de uma viven-

na no entanto houve intervalo sufide

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roda da habitação, e também para visitar uma quinta vizinha, cujo proprietário conseguiu obter água para fins decorativos, fazendo represas da que corre da serra. Aí colocou uns barquinhos de meia jarda de comprimento, e até me constou que ocupa um antigo marinheiro na sua conservação. Numa parte da propriedade há uma azenha, e noutra uma cascata pequena; nesta há uns bonecos, com pesos nos pés, que se mantêm verticais na água, e é engraçado vê-los, uns pretos outros brancos, a subir e a descer no tanque, debaixo da cascata. Esta quinta foi construída muitos anos antes daquela a que viemos de visita e por isso as árvores são maiores. A abundância de água e de sombra torna-a numa deliciosa residência estival. Passámos um dia agradabilíssimo na casa do nosso tão hospitaleiro amigo, e voltámos à noite. bastante satisfeitos com a excursão. (

... )

Prosseguimos. Os gerânios, mimos, balsaminas e murtas continuavam floridos à nossa volta. Por fim deixámos essas veredas sombreadas e emergimos numa extensão de terra ern1a, com meia dúzia de pinheiros. Parte dela pertence ao meu marido, mas nada produz, embora outros proprietários tenham vastos pinhais nos terrenos contíguos. O caminho degenerava agora num simples trilho através da serra, e nós fomo-lo galgando até chegar à Encumeada, donde se avista o mar de um lado e outro da Ilha. Saímos da rede e seguimos a pé ao longo da crista, entre ervas, fetos e urze, admirando a braveza e majestade do panorama. Em volta de nós erguiam-se montes sobre montes, sem nos tirar no entanto a vista do mar, que era, como disse, dos dois lados. Para o sul a parte habitada do país terminava no baldio a que viéramos ter, ao passo que para o norte se descobria o vale da ribeira da Janela, de imensa profundidade, com as encostas cobertas de árvores que formavam uma contínua massa de folhagem, excepto nos pontos em que afloravam enormes rochas nuas. Na nascente desta ribeira ficam as tàmosas quedas de água que nós íamos ver. Aqui há cabras montesas, vacas e cavalos, que vivem em liberdade na serra, longe dos homens, em lugares que pareciam inatingíveis por qualquer animal desprovido de asas; contudo, andavam cabriolando ou pastando sossegadamente, como se o terreno fosse perfeitamente plano. Estes animais são propriedade de diversos donos, de quem ostentam a marca; quando é necessário, caçam-nos com cães ou abatem-nos a tiro. Como não possuímos o dom de nos equilibrarmos no ar, vimo-nos forçados a reocupar as redes e ir por outros desfiladeiros e sobre o tunel pelo qual deveríamos voltar. Ao a1cançam1os as proximidades do Paul da Serra, larga extensão de tena ondulada entre os picos das montanhas, desfrutámos o panorama do vale do Rabaçal e vimos a grande distância a casa que nos serviria de hotel para repousarmos e almoçarmos. Começámos a descer para o Rabaçal, numa sucessão de ziguezagues a formar o que chamam caminho, cortado entre uma floresta de loureiros e murtas e outras espécies sempre verdes, as quais crescem tão unidas que tudo aquilo parece um emaranhado de folhas. A descida é o mais assustadora possível: a rocha em que foi talhado o caminho é tão Íngreme, tanto em cima como em baixo, e esse caminho tão estreito, que ao passar a rede nas muitas voltas se diria que pende sobre o precipício, sem se ver uma nesga do chão: fica literalmente suspensa no abismo! Surpreende notar com que domínio e firmeza os homens a conduzem por estas alturas vertiginosas. O

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em falso sem remédio a dos da rochas até à ribeira que fica lá em baixo a umas centenas de por fim ao termo destas "voltas" terríveis e ''''f'U.'U''J~ de alívio. O caminho tornou-se e outra quase sobre a nossa última descia para a e enfeitava-se de variedade de musgo e l10res que nasciam das fendas abertas musgo cor de no meio de velozes e De vez em outros de vários e belos matizes: e todos os tons de e cinzento. Os fetos tinham também uma infinidade feitios e a uns de tblenormes, outros tão pequenos que mal se lhes espessas, outros leves como E o verde brilhante de todas estas da contrastava com os fios rocha. Em à beira do Da outra banda da ribeira levantavam-se também de todo o de fetos e musgos. aI tearem-se t10res por toda a de tões de verdura exuberante. Várias que aumentavam de tamanho e de dor com a manavam entre as cm estando estes lindos caudais de e

susque e mais de do cimo do rochedo e caindo "'"u".V"'~

uma centena de sobre o leito ribeira. A rocha é tão alta que, vista de ta no azul do céu como se fizesse

por um desse cedeu ao peso ele um rapaz que se aventurou ao resto da c ele escapou de ser devorado de febre nas lndias Ocidentais. É claro que não morreu poucos anos 143


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desejei repetir essa perigosa experiência e senti-me satisfeita por ficar seca deste lado da arcaria; meu marido é que foi por lá com um guarda-chuva, embora não achasse muito necessário arriscar aquele avanço. Tomámos água dessas fontes que, já se sabe, era fresquÍssima. ( ... )

Pelos animais que vi na serra, posso dizer alguma coisa sobre a fauna da ilha. De quadrúpedes, não existem mais nenhuns realmente selvagens além de coelhos e ratos; tàla-se de gatos bravos, mas suponho que descendem dos domésticos que foram abandonados no mato. Os cavalos, vacas, ovelhas, cabras e porcos, que andam por lá livremente, têm todos dono. como já observei. Os cavalos criados na ilha, quer nas montanhas quer em estrebarias, são na sua maioria pequenos e, em geral, fracos especímenes, embora alguns sejam bonitos e úteis; não maiores do que os Shetlands, mas com toda a simetria de um puro-sangue, muito fortes, de pernas rijas, e mansos. Muitos dos cavalos do Funchal vieram do estrangeiro. Há poucas mulas e burros: quase sempre insignificantes e utilizados somente para transporte de carga; não existem mais do que dois ou três exemplares de cada espécie capazes de serem montados. As vacas e bois são bonitos, pouco maiores do que os burros, todos da mesma cor, amarelo claro armivado, variando, mas de leve, no tom. Meigos, inteligentes, quase todos criados em telheiras e alimentados à mão, e pacíficos como parecem; mas os que andam à solta pelos montes são bastante ariscas; únicos animais de tiro na ilha, porque os cavalos se usam para sela, excepto quando algum cavalheiro estouvado estrangeiro, em regra decide exibir um cabriolé ou faetonte, na Estrada Nova, ou cá e lá nas poucas ruas planas, com todos os garotos da cidade a gritarem atrás. Já mencionei os trenós do Funchal, e as carroças, ambos puxados por bois ou vacas, que trazem feiteira das serras. Também puxam o arado, onde o terreno for suficientemente chão para o consentir. Para leite, têm aqui algumas vacas exóticas. As ovelhas parecem-me pequeníssimas, de cauda comprida e muitas delas malhadas. A lã é grosseira e a carne escura e rija. As que se guardam em barracões apresentam melhor aspecto, sendo às vezes cmzadas com raças estrangeiras. É hábito no Funchal pôr uma ovelha num estábulo, onde pode engordar com os desperdícios da comida dos cavalos. São sempre bons amigos e podem ver-se comendo ao mesmo tempo, um e outro com o focinho na manjedoira, a ovelha de pé nas patas traseiras. Se a deixarem, seguirá o cavalo para toda a parte. As cabras não são grandes, mas existem em larga escala; embora o povo prefira o leite de vaca, o daquelas não deixa de ser bastante utilizado. Os vilões têm o mau sestro de as ordenhar à beira do caminho, onde se embaraçam nas pernas dos cavalos, com risco de serem precipitadas. A pele de cabra usava-se no tempo do vinho para o transportar até às pipas, frequentemente a algumas milhas de distância, quando a estas não era fácil trazê-las ao local da vindima. A pele é voltada do avesso, cortam-lhe a cabeça e os pés, e as aberturas assim fon11adas ligam-nas com cordel. Ao distender-se, dá a impressão de estranho animal acéfalo. E que espectáculo singular o de uma fila de homens a descer pelos montes, com essas peles cheias aos ombros! Nem todos os cavalos serão capazes de conduzir um borracho, ou pele de cabra. Não é raro os camponeses venderem aos ignorantes carne de cabra por carneiro,

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mostrando um tufo de lã para o provar, o que conseguem com o exame da amostra. Os são bom e não se dos do mesmo tamanho. Os porcos são quase sempre Parece que ±àzem muito dano nos escavando as raízes das feteiras e às vezes destruindo as isso a Câmara que os não tem sido a sua senão pOllCO Deles se faz excelente carne ~'''b''--' Já me referi aos horríveis cães dos camponeses. São mas de pequenos e quase todos amarelos ou malhados. Constituem um nas correndo da porta das vivendas para ladrar e morder as pernas dos cavalos os transeuntes decentemente ou ao dos muros para ladrar também aos ouvidos dos que passam. Há ainda cães temíveis no de se diz: não têm ea é de uma feia cor de terem sido escaldados. Existem também cães uns animais !';Lua,,,,",,,, a que chamam ao <1H::ll,'lIUU-"<;; a mim e costumava vir ter estendendo-me a aos sempre que me encontrava. Os aos de toda a como parece. Há lima raça ''''''''-l'.I''L malhas. De aves existem muitas da Temos a pequena chamacla manta, ave capaz de arrebatar um cordeiro ou um cabrito. adulta mede cerca de três de a cor '-''''Ca._IlHU-''''''lIU'', mas nunca vi nenhuma de para a clescrever melhor. Vive cm entre os altos e raras vezes aparece nos habitados. de falcões pequenos, a que chamam Abunda em toda a Ilha um muito bonitos mas daninhos para as aves domésticas. Embora pouco numerosos, encontram-se mochos nas montanhas. Há em pequena codornizes. Em número razoável existem As vezes caçam-se e só arribam quando o está muito mau na Da costa de por vezes aves bastante que todavia nâo fazem Em bandos tem-se visto bravos e, de a temo tordo pos, um grou, com outras aves menos conhecidas. O melro rareia. Abundam os tentilhões e muitos mais bonitos do que na LUr,"'I.'-" ea da temea tem as mesmas cores da do ença de serem menos vistosas. Os são quase bandos. Os também andam em bandos. Os onde se e há canários que lembram verdelhões. mas não em excesso. Tenho visto o seu canto descrito como é A

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algo de sublime, nos relatos da ilha fcitos por londrinos quc não perceberam tratarse de um pássaro frequente na Inglaterra. Como noutra parte qualquer, vimos aqui andorinhas e gaivões, durante o Verão. As alvéloas, a que chamam cá lavadeiras, são abundantes e de mais de uma espécie. Há duas ou três cspécies de gaivotas. A plumagem é mais escura do que as do canal da Mancha. Quanto ás aves domésticas, temos as mesmas que em Inglaterra. Os perus, que cxistem em profusão, são grandes, e a t'i'eguesia da Cam acha é afamada na sua criação. No Palheiro do Ferreiro, em tempo do defunto Conde de Carvalhal, enxameavam pavões c pintadas; agora quase não se vêem em parte alguma. As pombas não são muito abundantes. Escasseiam os gansos, ao contrário dos patos. Existem imensas galinhas, toda 11 gente as tem, o que explica 11 porção de ovos em todas as mesas, a cada refcição, c de qualqucr mancira por quc possam scr comidos. A casta con'ente das gal inhas é de pcqueno porte, de cor preta e paladar não muito agradável; porém as de Xangai estão a substituí-Ias ràpidamente. Uma vez tivemos ao jantar uma galinha assada com sabor tão pronunciado a peixc que a recambiámos logo. Investigando o caso, apurámos que ela viera de Câmara de Lobos, onde as alimentam com os sobejos da praça. O povo tem um modo singular de impedir que as aves se extraviem: atam-lhes a perna a um sapato velho, quc elas arrastam atrás de si. Não é este o único uso que dão aos sapatos velhos, porque com eles também batem nas crianças. Também vi uma galinha amarrada ti um ferro de engomar e muitas vezes a um taco metido no chão. Nalguns lugares põem às galinhas lima espécie de calçado, para evitar que esgaravatem. De insectos não há muita variedade. Vêem-se borboletas, sem nada de notável; contudo as traças são mais numerosas, e aparecem semprc que se põe de parte um vestido de lã, durantc um mês ou dois. Escaravelhos poucos há, e muito pequenos, no campo; mas infestam as casas os de uma espécie preta, assim como os que os rapazes designam por Cavalos do Carro do Diabo, e baratas enormes, de três e quatro polegadas de comprimento. Há também centopeias, de cerca ele polcgada e meia: fcias, mas inofensivas. Criam abelhas no campo. As colmeias Ü1Zel1l-nas de um tronco ele árvore escavado cm forma cilíndrica, com um bocado de túbUH ao alto. O mel é muito forte e desagradávcl. São numerosas e incómodas as vcspas. Quanto a formigas, um verdadeiro Ilagelo. Nada lhcs escapa, a não scr rodeando de água. Outra praga constitui-a as moscas; tcmos de ornamentar -ou desligurar - todos os quartos com estranhas engenhocas dc papel cortado ele vúrios fcitios c pendmado, para as atrair, afastandoas das pessoas; mas mesmo assim continuam a importunar. Com frequência me incomodam passeando sobre as lentes dos óculos, quando estou a cscrever ou a ler. Os cavalos e bois li cam muitas vezes cobertos cicias e son'cm bastante com o seu ferrão. Na serra há uma espécie ele mosca pnrecicla com a dos bosques ingleses, a qual pica os cavalos c qU!lse os enlouquecc. Os mosquitos são poucos, mas consta-me que estão a tornar-se mais numerosos no Funchal desde que se cultivam os quintais elas casas. Há muitas aranhas e de vúrias formas; algumas cnormes c Iindamcnte marcadas. Considera-se venenosa só certa espécic, mas como isto não estú provado, o povo receia todas elas. Dizem que

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a tarantula existe cá e que os vilões afirmam que ela escreve o seu nome na teia! Talvez o porque nenhum deles sabe ler. Acrescentam ainda que as aranhas embora o ruído em me pareça dos Também têm uma crença curiosa acerca de certa que extrair o veneno da mordedura de não existem mais do que duas ou três dessas que são cotadas como tesouros inestimáveis. Em todos os campos abundam A noite o chilro é lfic:eSSal.lte e combinado com o coaxar das rãs de música mais barulhento do leste

tanta como os verdes amarelos ou castanhos. O corpo é quase transrlan~nte. não existiam na ainda novo, rãs e as tanto que são aos milhares onde quer que se encontre uma são muito destroem de outro lado permanecem inofensivas. O ninho fazem-no entre as dos muros, mais soalheira as ver ao solou correndo em quase sempre se lhes descobre fi e os olhos brildos buracos. Variam em de três a seis de CO!1lque semelham mãos. A cauda é extrematorna crescer, e muitas vezes, renasce não posso dizer porque não sei os nomes de várias inteiramente novas para mim. Há poucos tainhas e bastante pequena, e o congro. Dos não COIlexcelentes. O atum é feio e carne avermelhada e grossa. É um espeedo atum na regressar a casa com a já se tem visto bordão. A pesca do atum nã.o cou'e sem puxar um homem borda fora. O cheme é um belo do tamanho de um bacalhau e de sabor delicado, A abrótea a e é mais volumosa do que o bacalhau pequeno. de dezoito a vinte u,,,,,,,,,,.,a~ de O pargo é outro de

bonito chamado garoupa, em cima vermelho com círculos

como as

navio. nome não

é de um cor-ele-rosa forte no

elesmaiando

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depois para branco. Esqueci-me de muitos dos que vi e outros haverá que não cheguei a ver. Certo peixinho designado por chicharro, parecidíssimo com o nosso arenque, pesca-se em grande quantidade. assim como um asqueroso a que chamam gaiado. semelhante ao atum. mas não maior do que uma cavala grande. Estas duas espécies são raramente comidas por pessoas que não sejam pobres. Há um ser de aspecto extraordinário, o peixe-espada. mais ou menos como um congro achatado ou uma serpente de lata feita para um catavento. Dizem que é bom de comer. Existem algumas enguias de água doce, mas em lugares tão imundos que ninguém as aproveita. Quanto a mariscos encontram-se vários. As lagostas são pequenas. e do género chamado da rocha. sem garras. São copiosos os caranguejos, mas pequeninos. Há uma espécie, denominada cracas: lembram um molho de avelãs; apreciam-nas deveras. Vemos também lapas e caramujos. Dos que não são comestíveis. poucos há. se alguns. não falando do ouriço, que abunda nas rochas de oeste. ( ... )

Em poucos minutos alcançámos o ponto em que nos devíamos desviar para ir. por uma vereda estreita, ao pinhal do nosso destino. Essa vereda segue pelo cimo de um espinhaço, com precipicios de cada lado; a chuva tem-na corroído em muitos lugares e do solo saem grandes pedregulhos, com giestas infezadas aqui e ali. a crescer entre eles. Pois sobre essas pedras é que era necessário passar! O feitor não o da Calheta, mas o que mora no Monte havia ido connosco, à frente, de bordão ferrado, e esperava que o seguisse. O José vinha atrás, para me segurar se eu escorregasse. Nessa altura vertiginosa, com o calor do sol abrasante, e um despenhadeiro perpendicular a cada banda. perdi toda a faculdade de me conservar erecta e. vendo que não podia avançar nem recuar, pus as mãos e os joelhos no chão e rastejei pelas rochas, às vezes agarrando-me a um ramo de giesta salvadora, outras guiada pela mão do feitor, quando tinha a sorte de lhe tocar; de vez em quando olhava para trás -quando me atrevia - para ver onde estava o José e como é que ele se comportava. Por fim transpusemos esta perigosa passagem e chegámos ao pinhal, plantado num precipício que desce para a ribeira de João Gomes. Era dificil manter-me de pé, porque as árvores estão em terreno inclinadíssimo, e só agarrando-me ora a uma ora a outra consegui atravessar entre elas. Meu marido arranjou-me uma pinha, para trazer como troféu. e eu apanhei também rama espalhada dos pinheiros, que em português se chama "França". O chão está tão coberto desta folhagem que se tomava escorregadio, concorrendo para a escabrosidade do local. Não era possível evitar-se uma queda. Esta plantação de pinheiros ocupa grande extensão. Mas de que serve possui-la, a três mil pés acima do nível do mar, sem melhor caminho do que esse que descrevi? As árvores são abatidas e cortadas sem dó pelos vilões que residem perto e que podem manter-se e andar onde outros pés humanos o não conseguem. Saqueiamnas sem remorsos. Belas árvores em meio crescimento são escandalosamente cortadas para lenha, enquanto as enfezadas ou inferiores, que seria vantajoso remover, se conservam intactas; e embora haja milhares delas. todas crescem apenas para que as roubem, quando lhes chegar a vez. Encontram-se com frequência, naquelas Íme-

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Do

ARCA DE NOl~

homens e mulheres com carregamentos de troncos de vendê-los ao e nós sabemos muito bem que hú toda a serem as nossas árvores que eles conduzt:m ao mercado.

de

Jornal de ulIla Visita à lvladeira e a 1 pp: 104-1

MANUEL V H . •• L >\J

vêm

de

r'n;"lIl,am

1913

DO MEU ARGUMENTO

Ahi por dias do mez de ou um incendio nas serras d'esta

do corrente anilO, rebentou lados do Norte Oeste e do

SuL Tal

hOlTOrisou a todos CIC''''',LU'' d'elJe tiveram conheci· d'esta nossa terra, sahiram razões e alvitres quaes se dellcias as auctoridades constituídas contra os auctores da Com o titulo Vandalismo e com que vinha go que vinha no Brado d'Oeste" folha bisemanal quc se da e o 5111'. Clemente de Freitas da secretario d'adminconcelho. asim de que se possa avaliar o estimCom a devida ulo que em mim tal doutrina. E, considerando que, em todos os mezes do mais ou menos, ha sempre incendias nas serras d'esta ilha, e isto muitos a11110S, sei Ille se possa mente os auctores de tão condemnaveis proesas, resolvi me escrever odieo lima série ao deante o que Director do "Brado d'Oeste", inseriu no seu e que abre este meu modesto mas co UI-"""'-'UlU 26 de Dezembro de 1910.

VANDALISMO na realidade selvatico o vandalismo que se está commettendo nas Serras d'esta ilha! outr'ora conheceu os arvoredos da nossa fonnosissil11a do oceano e agora a pereorre vendo-a outro remendo para lhe occultar a medonha negra de não deixar de exclamar: Pobre e triste ilha! ! tu que com tanto todos visitavam as tuas mattas e, com tanta

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convidavas os forasteiros, maravilhados, a permanecerem durante dias sob os copadas arvoredos que te serviam de guarda-sol, tu que no meio de tanto assombro mereceste um chefe c varios guardas para te deJTenderem de inimigos Jlgadaes-os carvoeiros-o que fizeste para tão vil e traiçoeiramente te despojarern, lançando fogo as tuas queridas e ricas vestes? Acaso mereces o rancor ela vibora lendaria que acalentada no seio humano devorou as entranhas cI'aquelle que lhe restituiu a viela'?! Assim pnrecc, mas não deve ser. Onele estão pois os teus admiradores, amigos e estremos defl'ensores' '? Estarão entregues a vida airada e andarão a cantar o fado'?! Não! Estão, na verdade, no seu posto, mas inertes e impotentes. Ora isto não pôde nem deve continuar. Ha semanas que anda fogo, posto propositadamente, segundo dizem, para devastar as unicas reliquias de arvoredo, nas Serras dos Concelhos da Calheta, Porto do Moniz e S. Vicente, sem haver uma alma caridosa que concorra para a sua cxtincçuo. Este fogo foi lançado pela mão damninha do pastor. E' clle que querendo apoderar-se das Serras para pastorear livremente (1 seu gado, devasta tudo quanto ó util e aproveitnvel, e tudo sacrifica u beneficio do seu rebanho, tornando-se, por isso, um ineendiario temivel e perigoso. Um homem (i'estes nilo dcve ele existir 110 meio da sociedade. Fóra, portanto. com os algozes das nossas Ilorestas ! .Tá que sobre o pastor reeahe toda a suspeita e sobre elle pesam as mais gl'1lves aecusaçõcs, pedimos ao digno Regente Silvieola que volvendo, para esta repugnante c mesquinha selvageria, os seus olhos e attenção, se digne dur ordens rigorosas a todos os seus subordinados, ali11l de que estes, vigiando cautelosamente os incendiarios das llorestas, lhl!s possllm applicar com todo o rigor, dôn a quem doer e chegue a quem chegar, as penas da lei. Providencias !" Tal foi o nssul11pto que me fez sugerir ao espírito os artigos que seguem, dirigidos e publicados no citado jornal sob o titulo As nossas serras. Eil-os, pois: Presando-me de scr um dos seus numerosos assignantes, permilta-me a honra dc qUI!, com a minha obscurn pennll e H'lIca intelligencia, possa incorporar me no numero dos seus collaboradores, conlessandol11e desde jú o mais humilde de todos. Li com attcnçilo o artigo que V .. lb, publicar no scu periodieo sob o número 134, de sabbado 1() do corrente, com o titulo "Vandalismo". Tal artigo deve, a meu vêr, merecer II ullenção do digno chele d'este Districto, o Exmo Sr. Conselheiro Josó Ribeiro da Cunha e não menos II do sr. Regentl! Silvieola. A doutrina que V.. expandiu é lÜo aeeeitavel, que a importante ll)lhu d 'esta cillmle Diúrio de Noticias,.iú se mani lestou no meiill10 sentido. Eu, como mho amante d'estn nossa querida ilha dtl Madcira, dl.!l1tro das fracas forças que posso dispôr, e baseado na pratica de muitos anl10S, ouso levantar a minha voz publicamente u [lI VO!' do torrão quI.! nos viu naSCl.!r, apresentllndo lIrnllS considerações relativas aos terrenos incullos, isto é, dns nossas serras. No seu artigo a que mc reliro, queixa-se V... dos pastorcs e carvoeiros, c, realmcnte,

ISO


Do que

A ARCA DE NOÉ maior

dos incendios que desde muitíssimos de taes não encontram herva debaixo dos arvoredos para maior numero de tocos ou madeira acharem cuidarão mais d'elle do que o carvão c, este sem que faisca que facilmente possa ficar o carvoeiro dê por acontecer, que antes d'este incendio no local onde foi feito o hadas mattas das nossas Como acabar com estes males? se entidades a que me e as diversas camaras se unirem para acabarem com o tão rude isto é, solta e fabricar-se o carvão nas serras d' esta ilha. Um decreto que baixasse dos Poderes traria não pequena felicidade aos povos d'esta muitisshno mais aos futuros. Eu o d'um modo claro e desde o momento que o Govemo Central se amereíe de ilha a que tenho a felicidade de Felicidade! ",,,, "''''''" cI ima!

e pequenas mattas,

Sr, Redactor: o que

fazer carvão e a venda povo em não viverá? Provarei que viverá com maior abundancia em toda a extensão da 14 de setembro de 19 O.

o

É sem

um por isso que os não adeantam nem trabalho para sustentarem o seu e os seu balho teem certo o dinheiro a que d'esla cidade se maniSr. Redactor: Não desconhece V... que todos os festam contra o vandalismo de nossas serras, I-H';:;I".'"!lICIU a dizerem que as nossas se acham semilhantes aos escalvados da Guine! É um facto. se as entidades qlle me referi no supra citado numero, isto é, Sua EX,a o sr. Conselheiro José.Ribeiro da actual e I'U:;",C'.HI;; Florestal e as diversas Camaras para que votada uma lei antes ao Governo de S. ã solta e fabricar-se o carvão nas nossas sera liberdade de crear-se muitos annos para que os restos das mattas que ra8,- não serão ainda e então teremos todas as nossas serras não só como os escalvados da mas como as rochas da Ponta de S. E' fora de duvida que a local reclama assim como todos os

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habitantes d'esta ilha,-excepto os pastores e carvoeiros. Estes e aquelles, sem duvida alguma, vão gritar agarrando-se a alguns politicos para que não seja votada uma tal medida para o bem geral d'esta ilha. Creio que haverá politicas e mesmo auctoridades sem escrupulo que se unirão áquelles, e isto porque desgraçadamente a politica na nossa terra, pende mais para o mal do que para o bem d'ella. Creio ser um facto. Não tenho a vaidade de que os meus alvitres sejam respeitados por ninguem,sendo ceri0 que muito estimaria que qualquer assignando o seu nome, em fónna de critica ou discussão, os refutasse no todo ou em parte, -mas por uma forma leal e cavalheirosa a bem da nossa ilha. Passo potianto a demonstrar o que digo: Ninguem desconhece que os arvoredos concorrem para proteger as fontes e as aguas que correm no leito das ribeiras, ribeiros e levadas,-combatem os vendavaes, purificam o ar, trazendo-nos além d'essas vantagens as ilhas madeiras de til, vinhatico e outras, a lenha, a qual cortada no devido tempo e com regra, abundará em todas as freguezias d'esta ilha. Ninguem desconhece que em diversos e adequados lagares das nossas seITas se pódem fazer culturas de trigo e centeio e muitissimo mais de arvores de fructo de todas as qualidades, as quaes produziriam fructa em abundancia que chegaria para o consumo local e ainda para exportar. Ninguem desconhece que no centro da sen'a ou montanha, existe uma parochia, a qual é a do Curral das Freiras, onde abunda a vinha e todas as plantas talvez não a canna dôce) de que se cultiva. toda a ilha. Ninguem desconhece que na freguezia do Seixal, um montado chamado "Montado dos Pecegueiros", existem as mais saborosas fructas. Ninguém desconhece que se fosse prohibido andar o gado á solta e fazer-se o carvão, as nossas serras produziam herva em grandissima abundancia para todos aquelles que tratam de gado, a irem buscar para o sustento d'elle. Ninguem desconhece que tudo o que apontado fica, posto em pratica, redundará em abundancia para a agricultura, commercio e industria, principaes fontes da riqueza publica, e ainda para ir reparando as grandes devastações do fogo, até aqui. AIguem dirá: Mas, se effectivamente fosse prohibido crear-se gado na serra, não haveria abundancia de carne e pelles para o consumo publico,-assim como, em que iam empregar-se os homens habituados a fabricarem o carvão? ! É o que pretendo esclarecer. Prohibido que seja andar o gado á solta e fabricarse o carvão nas nossas Sen'as, não faltarão a carne e as pelles para o consumo publico, nem os homens que fabricam o carvão ficarão sem trabalho. Na primeira hypothese, é fóra de duvida que se creat'á muilo mais gado nos cUITaes e em pastos, sendo n'este caso vigia :10 por pastores, os quaes irão de manhã com elle, voltando á tarde para os numerosíssimos curraes que serão feitos, para o guardar em adequados pontos das respectivas freguezias. Como já disse 110 alludido artigo sob o numero 141, havera herva em abundancia para, tanto verde como sêcca, irem buscar afim de cada um sustentar o seu gado.

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Por esta fórnna creio que não haverá dificuldade em crear-se em toda a ilha aproximadamente o dobro do que actualmente se esta creando nos cunaes, parecendo-me que nunca faltará a carne para o consumo as para o se achar que ha falta sem govemo civil e camaras reduzido o sobre as tral para que que o Governo altenderá imediatamente de escassear para o Parece-me que isto não admittirá """tP'ot",~"" to na lei que fosse votada. Aos carvoeiros não faltará trabalho para ",,,,11<11"""" UlllllC1UJ. de arvores de taes como cm;taJ,1hf:írc)s o cultivo do das nossas devendo ainda notar-se que ou bemfeitorias suas. Sobre este não ha porque desde o momento em que dos constituídos baixasse tal o trabalho consideravelmente em toda a ilha. Sr. Redactor:

seu de vista do seu peço licenca ao illustre cidadão o sr. dr. Manuel Governador Civil d'este para declarar que, tanto eu, como muitissimos ou melhor todos os seus conterraneem S. Ex.O de que, não se em do Governo e bom não só para a arborisacão das nossas serras, mas ainda para o en!~raUCleClllnem:o da commercio e industría d'este go. se concentram No momento actual em que todas as forcas da para a boa da nossa e isto em todos os e vias levarmos ao afim de que votada uma lei á solta e fabricar-se o carvão nas nossas para Serras. Unir-nos todos!? É sem duvida "~taU<'"i;1u. O que Não são iJ"''''''U;' é que a lm,prlemm d'esta terra, assim como, no verã.o os incenpor meio do destruir o resto das mattas da nossa se para os CUl'lIU'V;:'. comece e levantou em coro unisono a

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desde já uma intensa propaganda a favor da arborisação obrigatoria elas nossas serras. O que é preciso e indispensavel, é que as camaras municipaes dos concelhos se reunam, afirn de estudarem qualquer cousa sobre este importante assumpto e dos seus estudos, fazerem um relataria afim de que seja apresentado ao digno chefe d'este districto. As diversas opiniões das cam aras uma vez no governo civil, e sob a presidencia do seu illustre e digno chefe, o sr. dr. Manuel Augusto Martins, deverão ser discutidas por um conselho de homens imparciaes e de reconhecido zelo material a bem da nossa ilha. Discutido tão importante assumpto, aproveitar-se-Im o que fOr melhor e então se deverá fazer a representação ao governo central, sendo assignado pelas camaras é referendada pelo chefe superior do districto, afim d'esta auctoridade a enviar ao seu destino para os devidos efeitos. Nos numeros 136, 141 e 144 deste periodico, tenho apresentado algumas razões demonstrando que será uma medida de grande alcance para a agricultura, commercio e industria d'este archipelago, se for votada a lei a que eu, como todo, ou a maior parte do povo madeirense, tanto aspiram Concidadãos: As nossas Serras não são as regiões incultas da nossa provincia de Moçambique onde se possa crear gado á solta! As nossas Serras, são proprias para tudo quanto tenho demonstrado nos numeras d'este periodico a que acima me retiro. Inergica e patrioticamente unidas as entidades que menciono, não prescindindo do cidadão regente florestal, e se os guardas campestres cumprirem rigorosamente o seu dever, não será preciso duas dezenas d'annos para que floresçam as nossas Serras não só com as actuaes arvores e arbustos que rapidamente cresceriam mas ainda com os nossos arvoredos. Haveriamos de presenciar e gosar esse panorama tão lindo para encanto e proveito de nacionaes e estrangeiros, o qual será o de arvores de toda a qualidade com os seus luxuriantes ramos com fructos. A feiteira, a giesta cresceriam e, tudo bem organisado, constituiria um grande augmenta de riquesa já em aguas como em tudo quanto tenho mencionado. Senas, sendo certo que sobre este ponto se tem trilhado uma vida sedenlaria. Como porém, as cousas recentemente mudaram, eu e muitissimos dos meus conterraneos, contamos que o govemo da Republica Portugueza fará repôr as cousas no seu antigo lagar, para o que as auctoridades constituidas n'este Districto não se descuidarão, se briosa e patrioticamente attender ao que fica exposto e ainda exporei. Os incendiarias das nossas serras, creio que não serão sómente o pastor e o carvoeiro. Terão havido ainda outros dos quaes vou occupar me e, para o poder dizer, citarei factos a meu vêr inefutaveis. Toda a gente sabe que ha o estilo em todas ou em quasi todas as freguezias d'esta ilha, de os proprietarios fazerem queimadas nas Serras ou em montados, e n'estes, a distancia de poucos kilometros da povoação. Tal uso é permittido, por isso que, as queimadas são sempre dentro das propriedades de cada individuo, e com o fim manifesto de n'ellas se fazerem sementeiras de trigo, centeio, cevada e legumes, o que realmente produz em grande abundancia,

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mas ainda o mercado. está muito porque com as sementes de e de que fica o telTeno em' poucos annos arborisaclo para dar novo n 'um anno num tClTeno, passam sendo certo que se se faz a ias para outros Sitios a tàzer novas culturas e é para os que possuem diverde terra para tal fim. de toda a duvida que todo o tem o direito de fazer no que lhe tudo comtanto que não os nem affenda as leis constituídas. Eis que me estou Vvl""l~"'" que fazer deviaperante a auctoridade administrativa seu concelho para, houvesse desleixo ou fosse mal acautelado o terreno a C;W;lUlal, se por ventura passase para outros terrenos, por todas as e dannos a que désse causa. Por esta fôrma haveria todo o cuidado para serem feitas as por isso que, não só feririam a terra nas extreimas dos seus terrenos, deixariam tambem arbustos tanto sompor teriam e ainda escolheriam os dias de vento. brios e sem Parece-me isto uma medida para o fim alludido. até d' esta forma'? por ventura, tel'-se-lla Creio absolutamente que não e como assim tem tenho como certo que as terão concOlTido tambem para os incendios nas nossas serras, indemnes de ! taes ou quaes que tambem haverá fumadores menos que, já em de recreio ou de necessidade nossas serras, e isto no estio e outomno, não terão o cuidado para fumarem-o que deveria ser nas occasiões de repouso, devendo apagar muito bem toda e não Só do ou mas ainda de quaesquer generos que íossem cosnas serras. para E quem sabe se uns e outros, terão tambem concorrido das mattas d'esta ilha? ser estudado por homens entendidos e de reconhecida um Decreto do e bem d'esta muito amada Pretendo n'este momento occupar-me do das nossas ao mas tão com li e rasoavelmente acceitaveis. TTII"fll1""",OP_ITlP que a do Governo que creou um tal cargo nr"rPI:Tp,' as florestas d'esta mas quem sabe se devido a influencias para anicharem afilhados? pouco me sabor. O que é certo e sabido é que os (>'H",,,~,,tr"',, são mal pagos. crendo não ser assim o seu vieram ~"I",p"'"'r",r" Não ha duvida que taes

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ipaes com novas despezas,-e embora sejam ordenados pequenos, os serviços a meu vêr tambem não serão grandes, por isso que as auctoridades superintendentes e nomeadamente as do regimen monarchico, ha pouco sepultado, pouco se importavam com esses trabalhos-devendo ainda notar-se que os guardas mal pagos pouco ou nenhum amor teriam pelo cumprimento de suas obrigacões ! Mas na hypothese de serem bem pagos, isto é, o duplo ou o triplo do que actualmente ganham das cam aras, não hesito em affínnar que o resultado seria sempre o mesmo, ou pouca diferença haveria do que presentemente se ve, isto é, as nossas mattas todos os annos a desapparecerem por meio do logo, machado, carvoeiro, etc. E porque? Porque desde o momento que haja liberdade de crear-se o gado à solta, fabricar-se o carvão e fazeremse queimadas, sem responsabilidade, nas serras d'esta ilha,-serão sempre os guardas campestres impotentes para conter a vontade dos nossos escrupulhosos agentes ou proprietarios do que acima menciono. Jà me dirigi as diversas camaras municipaes e ao digno chefe d' este Districto o EX.m cidadão Dr. Manuel Augusto Martins para que, depois de prévio e prudente estudo representassem ao Govemo da nossa nascente republica para que seja votado um decreto sobre a importante arborisação das senas d'esta ilha, sem o qual, em vez do actual número de guardas, poderá haver o duplo e triplo,-sendo o resultado sempre o mesmo, isto é, a continuação da devastação, de anno para anno das nossas florestas. E' um facto. Concidadãos: Não são só os elementos de que me tenho occupado que devastam as nossas mattas, é tambem o gado que constantemente comem os pequenos arbustos que vem nascendo e até a altura de 2 metros a roem para se alimentar, por isso que epochas ha no anno em que as seITas não criam herva para o mesmo se sustentar. E por esta fonDa, os guardas são impotentes para o desempenho das suas obrigaçoes quer o dizer, as arvores pouco ou nada auguentam d'anno para anno,já por este inconveniente, como por outras razões apresentadas A minha propaganda sobre a arborisacão obrigratoria das nossas serras, não obedece a encommenda de alguem e muito menos é feita com vistas de qualquer interesse particular, mas tão somente porque, no meu espirita alimento a chamma viva do amor pela terra que nos foi berço, isto é, o patriotismo. É fóra de duvida que pouco mais de meiado do seculo XIX até a liquidacão da monarchia em cinco de outubro ultimo, foram uns tempos d'uma politica rotativa em que os partidos 1110narchicos se batiam constantemente, protegendo cada um os seus serventuarios e ainda perseguindo os adversarios politicas. Ora como a fragilidade da nossa especie, é inseparavel do homem, este fica cego quando as paixôes politicas partielarias n'elle predominam, de modo que o seu ideal já não é o engrandecimento da sua Patria ou terra natal, mas sim satisfazer a sua ambição no mando e mesquinhas vinganças,-embora alguma cousa de util para o bem geral se presenceie. Foi justamente o itenerario dos nossos homens publicas. A minha propaganda sobre este assumpto, começou em 17 de setembro ultimo, isto e, nos ultimas dias da monarchia, e, com franqueza, eu já teria desistido dos meus

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NOÉ

arrasoados se não visse muita gente é, os homens f.1'-"L'W.V" os quaes, creio firmemente que hão pcrn.,,,p,rn que retomará o seu nr"nr;pI'"-n""l'·,, da nossa e muito amada Patria ! ser, é claro que não hei-de a ""'>N'''''' pl"(108:!WnÓ,u. f.1H.""Jl1V" occasião a nossa ilha vendo-se a chefe do Districto tem presas as suas arr"","n,'c mas de todas as auctoridades suas lidos os meus humildes ou que lhe

o

Como tenebrosa eu,,,,,,,,,,,., tenho fé que cousa será em homens investidos da auctoridade da nossa n.'-'f.1uuu",,,. Concidadãos e meus conten'aneos: Entre os diversos melhoramentos para o gramdleclm1cnt:o da nossa avultam tres, os quaes são: O saneamento da nossa estrada em tomo da ilha e enn de n 'ella passar um vehiculo com ou carga,-e a das nossas serras: sendo evidente que este melhoramento é o que menos cofres Publicas e o que indubitavelmente ha de trazer mais d'esta ilha e ao Estado. tenho dito. cumpre-me ainda dizer que se o Estado ainda baldios nas serras (I'esta ilha não que sei é que tv>lI,nll'",gpQ os possuem achando conveniente que as mesmas os o que deverao ser como Toda a sabe que as nossas serras são c011adas em diversas com \T""r'>fl"''' para n'ellas passarem peoes com ou sem cargas sendo certo que taes veredas são tortuosas acanhadas e muito mal feitas. Parece de toda a que as camaras dentro da arca do seu concelllgan'JO-·as, a expensas suas, ou chamadas "rodas de caminho", mandem fazer em boas estradas, mesmo que de 2 metros de para cereaes ou fructas etc. que no futuro as serras venham a não se harmonisam Devemos observar que as a favor sobre o da d'um Decreto que tudo Ouso chamar a n,...,.,PI,'{'\Q d'esta terra afim de auxiliar a IJ«/;",.IU" a favor da das minha humilde mas a meu seu'as d'esta ilha. chefe do Districto e Desnecessario seria chamar neste a attencão do entidades me tenho câmaras sõbre este assumpo por isso que já que se não tenho razão em tudo tenho ",,(·,·;'·,tr. e se os meus mais em evidencia se

A....""·-O .... -,.,....

em

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quaesquer horas vagas, apreciar o tim que tive e tenho em vista, estou certo de que pugnarão pelo ideal que defendo. Por minha parte confesso que nada posso, já por int1uencia como por talento, devendo quem me lêr avaliar unicamente a minha intenção a favor do bem geral d'esta ilha. Se, com effc~ito, as auctoridades dirigentes do Districto e Concelhos accordarem em trabalhar para estudarem a fÓlma de ser, pelo Governo da nossa Republica, votado um Decreto para o fim que tenho demonstrado, tenho como celio que hão de ser abençoadas não só pelos nossos contemporaneos, mas muito mais pelos da geração futura. RESUMINDO

10 Os guardas florestaes, nas nossas serras, são impotentes perante os lenheiros, carvoeiros e pastores. 2°Estes vandalos das t10restas não teem e nunca terão medo ou respeito aos guardas por isso que, considerando-se os senhores das serras, com as armas do seu offieio poderiam matar ou ferir quem se lhe oposesse aos seus damnos. 3° Taes guardas poderão ser aparentados, ou amigos com alguns dos ditos destruidores, sendo celio que aquelles fazem vista grossa sobre estes, afim de não criarem inimisades, traiçoes etc. 4° Todos os guardas não terão amor ás suas obrigações, porque, além de serem mal remunerados, e ainda que o fossem é massador e perigoso o seu offieio como se vem demonstrado. 50 Além dos damnadores apontados existen outros os quaes são os irracionaes que andam á solta nas seITas comendo os arbustos já ao nascer como depois de grandes. 6° A pratica demonstra cabalmente que de nada absolutamente teem servido os guardas tlorestaes por isso que os arvoredos em vez de aumentar tem diminui do. 7° Com quanto não se reconheça a utilidade dos supra ditos zeladores como se aponta no numero antecedente(6°) poderá conservar-se os actuaes guardas mas não augmentar o quadro com outros. 8" E clara e positivamente comprovada a carestia da lenha em toda a ilha e em especial na parte Sul da mesma não hesitando em dizer que é semilhante aos artigos de luxo. 9° Mesmo dentro da eidade do Funchal e em todas as villas do Districto encontrase pessoas das freguezias lUraes a vender carvão vassouras e queima de urze e principalmente estas são de arbustos novos que a felTamenta de gume afiado destro e por meio de taes vendedores. 100 Deverá acabar-se com o gado grosso e miudo das senas desta ilha e prohibir fazer carvão e a sua venda assim como prohibir a venda da queima e vassouras de urze; com tudo poderà pennittir-se a venda da queima e vassouras a quem provar ter cumprido o que se aponta no n. 13.0. 11 U Bom seria que o govemo fomecesse, as Camaras municipaes do Districto, arvores fructiferas afim de serem distribuidas pelos municipes e estes as plantarem nas serras, em logares adequados.

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Do

ARCA DE NOÉ

á de arvores de ü'ucta ou outras, á em todas as margens e denornínadamente nas serras, até 00 metros lineares de das mesmas aguas, se ahi poucas ou nenhumas existirem. 13° cortar arbustos ou arvore, de que 1J<'JI-"1'-'.'"'''' ou mesmo sem ser, e denominadamente nas serras d'esta menos um terço das que mas nas terras onde oliver se necessario for para o da mesma, ir até um pre as melhores e maiores arvores; e n'este caso. se se reconhecer que o é espesso, devendo o corte ser alternativamente e n 'um praso nunca inferior a cinco annos 14° Duas vezes por anno o de cada visitará minuciosamente as r""n".~h,,,, do estado em que encontrou as sera enviado um crescimento e se as faias tem upJllmldo ao Governo Central. 15. Para o cabal do numero antecedente ( o da auctoridade administrativa cabos de ou outras pessoas, afim de infonnar do dono dos VU'''5'''U'JO>

16" As

para outrem. 17° Tal tem10 sera

sem para o que apre18° Deveriam estabelecer-se sentarem melhores arvores fhictiferos ou outras, nas suas pn}pl'W(ladleS, nas serras onus

d 'esta ilha. 19° As multas aos intractores do que for ",,,,''''VI,,,t,, do

deverão ser desde , ficando esta ao arbitrio do multas serem para o denunciante e a outra metade para o cofre do a entidade que o Governo determinar. 200 Deverá o Oorestal ser local e em folhas soltas e estas distribuidas por todos os chefes de fmnilia do de que scientes do mesmo, recomendando lhes a auctoridade local

ou para

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ALBERTO VCElRA

J. HENRIQUES CAMACHO, 1919 ( ... )

Ahi por 1420, dividida a ilha pelos sesmeiros, começaram estes a delTUbar o arvoredo para cultivarem as plantas que tinham levado do continente. A principio residiam os sesmeiros com suas famílias nas teITas que lhes tinham sido distribuídas, agricultando-as os colonos livres e depois os escravos negros e moiros. A fertilidade do terreno e a riqueza das culturas, proporcionaram-lhes uma vida luxuosa e descuidada na cidade ou nas villas; fazendo-os abandonar as suas terras, cuja cultura entregaram aos colonos livres, dando-lhes estes metade dos produ ctos d' eHas. No tempo de D. Manuel principiaram a ser Vinculadas as terras, que constituíam as sesmarias. O empobrecimento dos colonos e dos morgados, fez com que estes, recorrendo aos negociantes estrangeiros para empréstimos sobre as futuras colheitas, proporcionassem aos mesmos o fazerem rápidas fortunas. Havendo na Madeira um denso arvorado que impedia a agricultura, um dos primeiros trabalhos dos seus habitantes foi naturalmente a derruba: Zargo mandou lançar fogo ao arvoredo e ao funcho que havia em grande quantidade no sitio onde depois foi o Funchal, para que desnudado assim o teITeno, o podesse mandar cultivar. Destruiu este fogo muita madeira, que veio mais tarde a fazer falta para os engenhos d'assucar. Dizem alguns chronistas, como Manuel Thomaz na Insulana, que o incêndio durou sete annos, tendo sido attingida toda a ilha; porem outros sustentam, que só o foi a parte Sul d'esta: este incêndio é-nos relatado, primeiro por João de Barros e depois por Fructuoso, como sendo parcial, o que parece mais verosímil: o Papa Paulo II no seu breve apostólico de 1459, em que confirma a redizima a João Gonçalves Zargo, refere-se também á existência do incêndio. D. Francisco Manuel de Mello foi o primeiro que contestou a existência d'elle, fazendo notar que se tivesse existido não haveria madeira para sustentar os 150 engenhos d'assucar que havia na ilha, poucos annos depois; e o próprio Frl.lctuoso diz ser grande o commercio de madeiras e matas as serras d'agua ali existentes. Tudo isto nos leva a crer que o incêndio se limitou a parte Sul da ilha que foi a primeira cultivada, e teria provavelmente este o processo porque os cultivadores se libertaram das florestas virgens, para poderem depois arrotear a ten·a. Durante os sete primeiros annos depois da descoberta seguiram este processo de arroteamento, e d'ahi veio provavelmente o dizer Manuel Thomaz que o Incêndio durou sete annas. Os immediatos trabalhos de lavoura fizeram desapparecer completamente os vestígios d'este incêndio, que nunca foram encontrados. O Regimento das Madeiras de 27 d'agosto de 1562, não é como muitos pensam uma confirmação do incêndio, mas apenas uma lei benéfica para a silvicultura da ilha, que nada tem com aquelle, segundo parece; pois só alude aos desbastes feitos nas serras para alimentar os engenhos d'assucar e para outros fins. A exploração das madeiras foi lima das primeiras industrias madeirenses: serravam-se as arvores em toros, e estes em taboas e outras pecas que se destinavam á construcção de casas, lagares, barcos, vasilhas, etc.; exportavam-se também para o Reino com destino a construcções navaes, para o que eram muito apreciadas; e espe-

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Do cialmente em caixas com assucar que então se tidade.

na Madeira em

quan-

CAPITULO II FLORESTAL

transcreverei na em stal que tem tido a Madeira e a Da e fastidiosa leitura d'este

,~,.p"r",""~ a nas montanhas e terrenos fracos que não capazes d'outra cultura; mandou vir do Continente e da América mais de maios de semente, que distribuiu por todos lembrando-lhes o § 26. tit. 66. do L. I das do os que não e não cuidassem das suas eram condemnados na pena mínima de 2$00 réis de e eram mandados semear as terras pessoas do povo, ficando para todos os dos que lhes era cortar arvore sem a por dos Officiaes da Câmara. A que se deu em 9 de outubro de 1 das ribeiras que atravessam a cídade do Funchal troncos d'arvores e arrastados no seu que causou sérios tantes da cidade"deu ao aceliado "Plano de obras e necessanas para o reparo das ruínas causadas na ii ha alluvião de 9 de outubro de 1803"; obras sabiamente esclarecido aulhor que, attribu indo as torrentes ,","JUbIL.""",,, aconselhou que sem se as ribeiras e se cobrissem de arvoredo todos os altos e vertentes da todo e trabalho seria absolutamente estériL Sem com que este ilIustre demonstrou a necessidade que havia de fazeHe a das serras, nada se não obstante tercm as medidas que propoz sido e ordenadas por Carta de 14 de maio de 1 COI1tin1uarldo a sem que a auctoridade ao caso a mais

pequena Em 24 de outubro de 1824 nova enchente se deu

foi então que se fizeram os

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muros que hoje marginam as ribeiras dentro do Funchal. Depois não tomou a cidade a ser inundada, porque as aguas vão, assim canalisadas, desembocar directamente no mar; mas as enxurradas continuam a fazer sentir os seus effeitos nos campos, onde, de vez em quando, ha casaes que desapparecem levados pela tOITente, e quebradas que desabando sepultam nos seus escombros, tàzendas e gados. Desgraças estas que, além de outras, bem facilmente se poderiam evitar, se se fizesse a arborisacão das serras; a qual tão benéfica seria além d'isso para a agricultura, diminuindo os nevoeiros, a que chamam"barras", e que em certos pontos da ilha são bastante prejudiciaes ás Vinhas, aos cereaes e aos pomares; augmentando as chuvas e portanto a abundância d'agua cuja posse tão cubiçada é sempre! Mas nada se fez; e tudo continuou na costumada inércia, que tanto caracterisa a administração publica na Madeira desde sempre. Appareceram em 1820 as primeiras determinações municipaes, iniciadas sob o nome "prevenções" pelo Dr. Corregedor de S. Vicente, que em correição mandou plantar arvores na serra de S. Jorge cuja arborisação estava muito decadente; recommendando se fizessem as visitas á serra como estava determinado. Em 1822 determinou mais que se não creassem porcos na serra, e fosse a Câmara com as pessoas boas da teITa demarcar o bardo do Concelho, acima do qual ninguém podia esmoitar nem cortar arvoredo. Em 1825, afim de se determinarem os telTenos destinados a pasto, insistiu na demarcação do bardo, determinando que ninguém cortasse arvores ou plantas arbustivas a menos de cento e cincoenta passos das levadas e miradouros, e que ninguém deitasse fogo na serra sob pena de incorrer nas penas do regimento. Em 1838 uma postura, já impressa, confirmava as detel111inações das anteriores, multando as pessoas que sendo avisadas para demarcarem o bardo não comparecessem: prohibia que se utilisassem as arvores que apparecessem na seITa cortadas sem licença da Câmara; que os cães passassem para além do bardo, excepto os das pessoas com licença para caçar; que alguém apanhasse piteira para cima d'esta linha antes de IS de setembro; a destruição do bardo; a creação de porcos na sen'a, podendo a Câmara dispor dos que ahi fossem encontrados; a colheita de baga de louro antes do dia 30 de setembro; e detenninava que fosse marcado todo o gado que estivesse na serra, registando-se os differentes signaes e sendo a verba proveniente d'estes registos destinada ao pagamento dos guardas campestres. Em 1839 fez-se o Projecto do Regimento de Mattas e Arvoredos da ilha da Madeira, baseado no Regimento de 1562 e na Carta Regia de 1804; nas suas disposições, prohibe que se faça na seiTa a queima das lenhas para carvão, determinando que esta se pratique no povoado. Seguem-se-lhe as posturas da Câmara Municipal de Ponta do Sol de 1839, em que se prohibe o corte das ramas de vinhatico; a de 1840, multando os que cortassem lenhas verdes da borda do Paul da Sena para baixo; e a da do Funchal, em que se dá protecção aos arvoredos e prohibe a pastoreação de cabras e porcos na seITa. Devem ser d' esta época (1840) as posturas das Câmaras de Machico e Santa Cruz; que não teem data, mandadas compilar em 1853 pelo Governador Civil do Funchal João Si1verio de Amorim da Guerra Quaresma; referem-se à construcção do bardo do Concelho e consideram livres as mattas onde o povo costumava abastecer-se de lenha e matto, prohibindo o corte das arvores silvestres e arbustos existentes nas cristas dos montes ou sobranceiras ás estradas; das que estejam a menos de 150 passos de qual-

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Do

ARCA DE NOÉ

quer nascente; dos "U'_"IV", paus brancos e vinhaticos. ll'esta altura a lei de 12 de novembro de 1841, que torna extensão às no que lhe Ibr o alvará de 11 de abril de 1815. Pela da Câmara de Câmara de Lobos de 1841, multava-se e aPlJrell1el'ld lenheiros e carvoeiros que não inscrevessem na sua de ou bolota de quaesquer ILI"~H","U da arborisacão das serras. 1841 as determinando a d'um as terras cultivadas de semilha na Câmara dos que andam a monte; e mandando arborisar as margens das levadas e a cultura nos leitos ribeiras sem previa auctorisacão da Câmara. a da Ponta do Sol em que se determi1 para que se não destrua na que se não corte matto no Paul da Serra até ao fim r",f1pl1,t"r'ijll do arvoredo devorado por um incêndio em e a da as arvores dos Em a da Câmara de S. Vicente a rama dc vinhatieo para em I uma da de Sant' Anna relatíva ao e e outra da do Funchal em que se mandava em praça o encontrado nos caminhos ou em e que não fosse da Câmara do reclamado no praso de 3 dias. No anno v",_,,,,~,,,v no Concelho de toda e fosse para o cultivo da tura da Câmara da Calheta os lavradores que réis por cada de terra e nomeava uns indivíduos com o nome de mo",,,,,'ti'l"PQ de para os a cargo de quem estava a nas serras; n'uma da do a entrada de madeiras no Concelho sem que o corte tivesse sido Conselho de embora auctorisado Câmara do Concelho onde se effectuasse o corte, isto para que a madeira não ser em 1847 a mesma Câmara reformava bardo do ,"-,V""\.111'U, dando-lhe uma nova UH""I,"V Em 1848 a entrada nos pa\'florestaes sem o c\ocumenqlle Câmara d'este concelho detel'de ferramenta para d'oncle sahiu. N'este mesmo anno, acerca da existência do na serra e determiem que os cercados deviam ser em Câmara de uma nava as intitulada para os dmnnos nas serras e considerava caca commul11 que se encontrasse solto de 1 de dava as suas HlQII'''I"'I'I''''Q acerca das a que deviam satisfazer os cercados na serra,

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samente O corte, venda ou uso de madeiras denominadas de contas, (vinhatico, loureiro, til, pau-branco, aderno, teixo, cedro, folhado, barbusano, faia, urze). Na Ponta do Sol, em 1832 obrigam-se os donos ou colonos das terras não amuradas e não cultivadas de vinha, que confinem com os caminhos do Concelho, a plantarem arvores ao longo d'estes de 30 em 30 palmos. Estas posturas que se fizeram em todos os Concelhos da ilha e das quaes apenas mencionei um ou outro artigo que me pareceu mais interessante, visavam a impedir que continuasse a devastação dos arvoredos nas serras que estavam dentro dos limites dos mesmos Concelhos. Pena é que o seu cumprimento tenha sido tão ephemero como o das leis anteriores. Vem confirmar esta triste verdade a acta da sessão do Conselho Districtal de 26 de junho de 1849, que julgo interessante transcrever, para que se avalie a pouca comprehensão que tinham, não só o poso mas até as pessoas mais importantes da ilha, do beneficio enorme que lhes adviria da arborização das seITas, que elles contrariavam como se vê pelo seguinte: "Estando quasi cxtinctas as mattas d'esta ilha e não sendo possível pôr termo a esta calamidade, nem por meio das leis, nem pelos esforços empregados pelas auctoridades superiores, porque pessoas das principaes dos Concelhos são os infractores de todas as providencias protectoras das matas ensinando e generalisando os meios de se commetterem essas infracções; e sendo necessário pôr termo a tão grande mal, que tem já devastado quasi todas as serras d'esta ilha, seccando fontes, despindo as montanhas, com prejuízo da cultura, das vias de communicação e das povoações apenas por utilidade dos infractores que pouco lucram em comparação dos prejuízos que acarretam; acordaram e deliberaram os do Concelho o seguinte (fundados no Regimento de 1562): 1. Enquanto se não restabelecerem as mattas da ilha não se concederão licenças para corte nas serras. 2. É prohibido passar madeira d'um Concelho para outro. Exceptua-se a que estiver já cortada com licença, mas que deve passar só dentro d'um mez, depois da publicação d'este acordam pela imprensa". A devastação continuou, dando este facto origem a uma circular de 12 de setembro de 1862 em que o Secretario Geral António Lopes Barbosa d'Albuquerque fez saber ás Câmaras Municipaes da ilha, que o Conselho Districtal resolvera pôr novamente em vigor as disposições tomadas em 26 de junho de 1849. N'uma circular de 27 de março de 1865, o Governador Civil Jacintho A. Perdigão, determina que antes de se effectuarem as vistorias que precedem a concessão de licenças para corte d'arvores, as Câmaras Municipaes tornem publicas por editaes com antecedência de 20 dias estas pretenções e o dia em que se effectuara a vistoria; convidando os interessados a reclamarem no prazo de 8 dias. Estas reclamações seriam julgadas pelo Concelho do Districto. Pelo Decreto de 25 de novembro de 1886, foí approvado o Plano da Organização dos Serviços Florestaes, pelo qual as mattas e os terrenos arborisaveis que deviam ser reduzidos à cultura florestal no Districto do Funchal, ficaram comprehendídos na cirCUl1scripção florestal do Sul; não tendo, não obstante, a Direcção das Mattas effectuado ali quaesquer trabalhos, nem tido interferência alguma. A Organização dos Serviços Agrícolas, approvada por Decreto de 29 de outubro de 1891, divide os Serviços Florestaes em dois grupos: 1. Ordenamento e exploração das mattas do Estado. 2. Revestimento das montanhas, terrenos incultos e fixação das

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Do

À ARCA

NOÉ

dunas A ilha da Madeira como terreno montanhoso ficou comprehendida n' este ultimo grupo. Por Portaria de 3 de de 1897

existentes e a onde confinam com a serra, a fim de "'1'1'"'''''''' da Portaria de 23 de marco de esteve na Madeira cm missão de estudo o Ex..mo Sr. Júlio Mário que estabeleceu o que de ainda lá existe: foram estabelecidos dois um no Poiso e outro nos Prazeres, destinados a abastecer os differentes Concelhos da dadas semear e de estaca arvores e arbustos nos mais falta de recursos das Câmaras e ainda por outras causas, não se deu a estas benéficas '-U"II'U~''''U Pela dos de 24 de dezembro de 1901 das serras do Continente c í1has

da o quc dividiu u ilha em dois cantões da Madeira. de de

e creou um corpo de Pela dos 1913 foi a Madeira todas as mattas existentes no Districlo. com sede no Funchal e tendo sob o de concessão de para A lei de 23 de de 1 considera caça commum todo U~',"",,'01'" de suíno c encontrado na serra sem Por Decreto de 28 de maio 1914 foi "",.",,,,,,,,,, modificando o anterior com o de rural e florestal do arc111flel!lgo Geral da fim de o hannonisar com a nova (Wllr""1~~i~"''' 1918 dissolveu a Junta e a por uma c0l11111issão cargo para a Junta Geral do Districto do Funchal. Em vista do estado em que se encontra o arvoredo na reconhece-se que só os Florestacs dos meios necessários para levar a ert!::ito o revestimento florestal da que é tanto para

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CAPITULO JJ[ REVESTIMENTO FLORESTAL

A região montanhosa está comprehendida nas 3." e 4." zonas culturaes; sendo aquella a-que mais nos interessa sob o ponto de vista tlorestal, visto n'ella se encontrarem as especies indigenas que podem ser exploradas como prodl1ctoras de madeira; assim como em grande parte as aclimadas, apezar de Richard Lowe as incluir exclusivamente nas 1.0 e 2 O zonas da sua classificação. D'aquellas zonas, apenas uma pequena parte esta povoada de especies tlorestaes, predominando o pinheiro bravo. As essencias indigenas prodl1ctoras de preciosas madeiras: o vinhatico, o til, e ainda o aderno, o I'olhado, o loureiro e outras, que outr'ora cobriam a ilha quasi por completo, como relerem os velhos chronistas, e cuja conservação foi cuidadosamente attelldida por uma extensa legislação que nunca foi devidamente cumprida, estão hoje reduzidas a proporções minimas. D'ellas existem apenas actualmente alguns pequenos povoamentos dispersos, dos quaes os mais importantes são os da Serra de Boa Ventura, da Ponta Delgada, do Alto da Ribeira de S. Vicente, da Serra do Pôrto do Moniz, da parte norte da Ribeira de Machico, e o existente na margem direita da Ribeira da .Ianella nas proximidades do caminho do FanaI. A devastacão a que teem estado ha muitos allllOS expostas as mattas da Madeira tem reduzido a este c1eploravel estado s soberbas t10restas primitivas. Quem atravessou alguma vez os pcssimos caminhos do interior da ilha, teve occasião de ver estos de arvores seculares reduzidas a carvão e outras cortadas para d'ellas se fazerem grosseiros utensílios domésticos e madeira, como alguidares, elC. ! (-louve em tempo grande COnsumo d 'estas macieiras, não para obras de marcenaria, mas lambem em construcções; assim: o til era emprcgado em tabuado. cm caixas para assucar, soalhos, madres e combustive! para engenhos; do vinhatico faziam-se caixas para roupa e mais mobilia; () mlerno usava-se no fi:lbrico de pipas para o melaço e para o vinho; o folhaclo Il1ziam-se armações para casas; do azevinho, cabos para l11achados; do barbusuno, tallchôes pam <JS latadas; das urzes J'abrienva-se carvão para os ferreiros e para os LISOS dOlllestieos. Hoje, apezar de quasi nulla a exploracão 'estas essencias, ainda se Jhzel11 d'e1las algumas obras de marcenaria no Funchal. O vinhatico e o til são as especies indigenas verdadeirnente importantes; comquanto haja outras pequenas arvores, C0l110 o moeano, o azevinho, etc., que tambem são empregadas na ll1ercenaria, para li mnnurnetura dos embutidos tão caracteristicos da industria madeirense. Das especies aclimadas que se encontram nas 20 e 30 zonas, é o prinheiro bravo (Pinus pillllster, Sol), a essencia que constitue principalmente os povoamentos que cobrem a região 11 oresta I da ill1n; havendo ainda a considerar o carvalho (Quercus Robur, L.), () castanheiro (Castanea sativa, Mil!.), a robinia (Robinia pseuclo-acacia, L.), as ncncias (Aeaiu Melanoxylon, R. Br., A. retinoides, Schlecht, A lophan'a, MilI, A. dealbata, Lk.), o cucalypto (EuealypLus globulus, abill) e () pinheiro das Canarias (Pinus canariensls, Ch. Smith). O pinheiro, que vive na racha cOI11]1rehenclida entre 550 e I :(JOO l11etros d'altitude, é cultivado na Macieira da formll seguinte: depois de queimado o ll1atto, semeia-se o pcnisco e o centeio, lendo H terrn sido ou não cavada anteriormente; no anno seguinte

lC16


Do

À ARCA DE

cultiva-se ainda o seguem-se os desbastes e as e finalmente o corte que é razo, aos 5 ali 20 annos. O é que ordinariamente semeia o novo sendo o fomecido com o direito de cultivar centeio durante um ou dois abatido. Os desbastes e do são pagos da varas para tutores e latadas, Pl1'II11',p<Yf.lfln na Madeira como combustivel nas Dos de

America para o mesmD todavia em muitos casos attendendo á V<UH"~""'lll O castanheiro segue-se em soutos em toda a

ctm"".,,,,,,,,,.pm os castanheiros de muitas sendo para notar que nos ultimas annos teem rebentado as e troncos considerados sêccos que tinham ficado de Esta madeira é muito para estacas de "corredores vinha" ali chamam as etc.; e ainda mais o era antes da que a teem substituido em usos. por isso que constitue o aliO frueto d'esta arvore tem umá do interior da durante mento exclusivo dos habitantes de varias muitos mezes. por toda a ilha de mistura com as outras preonde tem sotft'jdo nos ultimos annos devThusen. em obras de marceuvc>c,.<..mu",

teem-se feito ensaios com bom resultado: daA. da A. da Este ultimo tem-se descllaltitudes consider-

aveis Tendo o actual revestimento florestal da é tambem o pouco que ha sobre as na mesma, que como é com n","I''''orP''~ naturaes, mas apenas Na Madeira não existem as estão "'' '1)<1.1.,,,,,",,,, turadas com outras, e assim são

dizer

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Encontram-se em maior quantidade na Ponta de S. Lourenço, nas bciras do Paúl da SeITa, em algumas escarpas maritimas e nas alturas da Camacha. Os creadores vêemse em difficuldades para sustentar os seus gados em consequencia d'esta dispersão das plantas forraginosas, vendo-se obrigados a lançar mão de outras plantas menos alimenticias, em prejuizo manifesto da nutrição e desenvolvimento do gado. CAPITULO IV MEDIDAS A ADOPTAR PARA O PROGRESSO FLORESTAL DA ILHA Pelo exposto se vê o estado a que se acham rcduzidas as mattas da Madeira e quanto se torna indispensavel cuidar d'ellas; visto que o seu desenvolvimento constituirá certamente uma grande riqueza nacional. Para isso ha primeiro que tudo a desenvolver a policia florestal, que é sempre a base de todo e qualquer trabalho util de arborisacão, porque é o obstaculo mais efficaz a oppõr á devastação das plantações novas e dos povoamentos, praticada, muitas vezes até por mero espirito de destruição filho da sua immensa ignorancia e maldade, pelos habitantes das nossas povoações serranas. A policia furai e florestal n'aquela ilha, regulamentada por Decreto de 8 de marco de 1913, é constituida, sob a direccão do regente tlorestal da 16." zona, por 3 chefes de guardas, 5 guardas a cavallo e 25 a pé; alêm d'estes, fazem parte do mesmo corpo de policia os guardas florestaes e campestres ao serviço da Junta Geral do Districto e das Camaras Municipais. Para os effeitos de policia, está a ilha dividida em 2 cantões, cujos limites terrestres são: as ribeiras dos Soccorridos e do Porco; o prímeiro é constituido pelos terrenos de Leste e o segundo pelos de Oeste. Existem 20 casas de guarda, assim distribuidas pela ilha: no Concelho do Funchal, a da Ribeira das CalIes e a da Barreira; no de Camara de Lobos, a da Eira do Sen'ado e a do Jardim da Serra; no da Ribeira Brava, a da Rocha Negra (SeITa d'Agua); no da Ponta do Sol, a do Arrebentão, no da Calheta, a do Pinheiro de Fóra e a da Fonte do Bispo; no do Porto do Moniz, a do Cabeço da Pedra, a do Pico da Fuma e a do Pico da Pedreira; no de S. Vicente, a do Curral dos Burros, a do Lombo do Cinzeiro e a do Pico do Meio Dia; no de San1' Anna, a do Ribeiro Frio, a do Assumadouro e a das Queimadas; no de Machico, a do Ribeiro da Ponte e a dos Lamaceiros; e 110 de Santa Cruz, a da Meia Sell·a. Cada um dos guardas tem em media uns 30 Kilómetros quadrados de tel1'eno sujeitos à sua vígilancia: area evidentemente demasiado grande para poder ser devidamente tiscalizada; tanto mais que, sendo o terreno muito accídentado e coberto, torna-se mais difficil essa fiscalização. Pelo regulamento devem estar distribuídos cavallos aos chefes e a cinco guardas; estas montadas concorrem para melhorar o serviço de fiscalização, mas haveria toda a conveniencia na sua substituição por garranos oriundos da Madeira, eminentemente proprios para percorrerem os invios caminhos da ilha. Está actualmente a cargo do mesmo pessoal, além da policia florestal, a rural; o que ainda augmenta mais a difficuldade de desempenhar bem o serviço e está em desharmania com a maneira como se procede no continente. Convem pois que o serviço de policia rural seja desempenhado pela Guarda Nacional Republicana, que já existe na Madeira. A policia florestal deve passar a estar unicamente subordinada á Direcção Geral dos

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porque a Junta Geral do Districto do det)ende, sendo fonnada por elementos eleitos e por não tem as para exercer uma administrativa conveniente. a devem começar os trabalhos de Estabelecida que o fim de se assegurar a estabilidade dos terrenos das serras das encostas da ea das bacias de bem como as obras necessarias para que se regularisem as ribeiras da todas modificando-se as climatereomo subterraneo. e íàzendo na área e sementeiras nas partes bardos do Concelho. N'esta área devem ser submettidas ao florestal nos termos dos Decretos de 24 de dezembro de 1901 e de 24 de dezembro de a quaesquer outras mesmo todas as deva ser conservada com o fim de evíou que sirvam de e a e nascentes. Em nr(''''''''",,''_0<> ao arrolamento dos terrenos a que acima me refiro e ao levantamento das ,·pc,,, .. ,,tl1,fQ cartas flOl'estaes. Ultimados estes ~M"l('('" deverão os mesmos terrenos imediatamente ser submetflorestal ou de sendo devidamente vertidos ao ífieados na occasião os titulas e outros Os trabalhos o

actualmente da Ameriea do Norte. Para effectuar convirá empregarem-se de as essencias abaixo o Vinhatico e A estas essencias conveem os terrenos frescos e humidos dos fundos valles da onde encontram o abrigo dos ventos dominantes. e que me parecem as terrenos que lhes forem mais essencias valor das suas ainda muito consideravel valor dos seus

menta das

para o revestimento da

e fomentado este para que se forme uma espessa

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manta viva que retenha as aguas das chuvas; construidas sebes vivas e pequenas barragens para a regularisacão dos cursos d'agua, impedindo-se assim que se fonuem as enchurradas, cuja acção devastadora se tem feito já bem duramente sentir na Madeira; restar-nos-ha empregar os meios necessarios para se evitarem os estragos produzidos nas plantações novas, especialmente pelo gado caprino, promovendo a substituição d'este pelo vaccum. Para sustentar este gado é necessario crear pastagens para as quaes são muito convenientes as palies altas da ilha, como o extenso planalto do Paul da Serra, locaes eminentemente proprios para esse Fim pela altitude elevada e exposição aos ventos humidos do Oceano. Como é sabido, pastagem não é como se diz vulgarmente toda a superficie que se cobre de hervas que o gado approveita; é preciso que este revestimento se conserve durante todo o anno para que constitua uma pastagem natural. As que seccam de verão por não terem condições proprias para se manterem n'essa quadra do anno, chamamse hervagens; embora o alimento que estas fornecem seja de inferior qualidades teem elIas impoliancia pelas suas grandes extensões e pOlianto pela grande quantidade de forragens que produzem. Toda a região da ilha comprehendida entre as altitudes de 700 a 1.500 metros deve possuir agua em quantidade sufficiente para permittir a existencia de boas pastagens; visto que, segundo a opinião do EX.m Sr. engenheiro-silvicultor A. Mendes d' Almeida, são para isso bastantes pouco mais de 1.000 milli1l1etros no continente de Portugal, e a Madeira, se é certo estar mais a Sul, tambem ha todas as razões para suppôr que pode contar com 1.200 a 2.000 1l1illi1l1etros de chuva, senão com mais. Pena é que não haja observatorio meteorologico n'aquella zona para que sobre observações rigorosas se podessem assentar estas conclusões. O Planalto do Paul da Serra está em excellentes condições para n'elle se fazerem explendidas pastagens capazes de sustentar milhares de cabeças de gado; visto que tem uma superficie de 3.000 a 4.000 hectares, hoje quasi completamente escalvada onde apenas existem grandes moitas de feiteira aproveitada para fazer camas aos animaes; esta n'uma altitude elevada, com nevoeiros constantes; e é cortada em todas as direcções por numerosos pequenos cursos d'agua. A seguir vem o Santo da Serra, o segundo planalto da ilha, onde existem além das partes que estão cultivadas e arborisadas, extensas planicies nas melhores condições parauma próspera producção pascigosa. Existem ainda muitos tractos de terreno dispersos pelas encostas que poderiam ser vantajosamente aproveitados para a cultura das plantas forraginosas, expontaneas ou aclimadas. Entre estas ha um grande numero que tendo muito valor pascigoso como: o Anthoxanthum odoratum, a Festuca ovina, a Poa pratensis, etc., que crescem em abundancia n'um ou n'outro ponto da ilha. Pelas excellentes condições climatericas da Madeira torna-se extremamente facil a propagação e disseminação das especies forraginosas que hoje ali vivem limitadamente; desde que a sua cultura seja methodicamente feita e bem dirigida. Para que se melhorem as pastagens l1aturaes é necessario o estabelecimento do regimen pastoril, pois só o Estado pode, analogamente ao que faz no florestal, levar a effeito essa grande obra de protecção ás pastagens; pela arborisação cios declives rapidos e do solo que não se presta ao enrelvamento; pelos indispensaveís trabalhos de

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a cultura cisas tam bem as mesmas tivar e a diffundir a

de ensaio se contransferindo-as successivamente servirão lambem para a e melque se modificam de para

mais um habito do que uma H""Ui",U'U, pouco interesse dão cabra não succede o mesmo, lucros que, com uma resultantes da venda da carne, das crias e das porem vacca que causa muito menos e é de muito maior do não deixar de ser um beneficio para o sobretudo como a dos estão lavrador. A industria da madeira e outras derivadas do bastante desenvolvidas na não sendo por isso difficil convencer os serranos das enormes que d'ellas lhes e que de certo bem a falta com todas as As cabras dos que lhes são 1l"'vW'v~, com tanto quc passem ao

10 Convém que passem todos da Madeira a ficar. para ,",p,,,,,,'"'' Florestaes. 2° É necessário o estabelecimento de observatórios ficlente e convenientemente distribuídos em differentes 3° É de necessidade o promover-se o revestimento florestal das altas dentro ela 30 e 40 zonas, as essências indíe das encostas da genas e as acclimadas de maior utilidade. 4° É muito dar-se desde já exacto de DI'()tel~c1iio dos arvoredos e á

da ilha para

conveniência naturaes. 919. Camacho. Notas para o estudo da """"'nnn

I'PrWl1m·J'7n."nn

ao concelho I

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REGIME PASTORIL - ILHA DA MADElRAr19421

Na ilha da Madeira, tirando as espécies pecuárias consideradas sedentárias da zona agrícola e umas centenas de cabeças da espécie bovina apascentadas nos planaltos durante os meses mais quente, o gado restante ou seja o que vive permanentemente à solta nas seITas não tem nenhuma ligação aceitável com a agricultura. E as excepções que existem não são de monta, pois são pouco numerosos os casos de recriação. Este gado solto vai vivendo numa situação de facto, perseguido por todos os que têm terrenos cultivados e os seus proprietários, designados na ilha como pastores, são os primeiros a declarar que a importância do rendimento das suas rezes é diminuta, incerta, nula ou mesmo em muitos casos negativa, reinando nessa exploração uma verdadeira desordem, cuja expressão psicológica e causa primária é o facto de o pastor não acompanhar constantemente o gado, como sucede no milenário regime pastoriJ do Continente. Os "vigias" ou "espias" que ali o guardam, e só durante o dia a tal se dedicam, são nomeados entre todos os componentes de cada comunidade de pastores. Todos os dias se revezam e o encargo vai assim correndo do primeiro ao último dos interessados no compascuo. Acontece porém que nenhum desses pastores pode encarar a tarefa da vigilância como ofício, resultando daí esquecerem ou não cumprirem à risca a missão de que a comunidade os encarrega temporariamente. De resto esse trabalho limita-se quase só à contagem do gado e suas crias, bem difícil de ser feita com rigor uma vez que o aumento se encontra disperso e só é "arrumado" pela altura da tosquia, isto é, uma ou duas vezes no ano. E se o vigia tem quatro ou cinco miseráveis ovelhas, que essa deve ser a média por proprietário, que estímulo poderá ter na execução de um trabalho, na manhã seguinte transmitido a outrém, e pelo qual não recebe directamente paga alguma. Para muitos dos pastores a posse do gado da serra não passa mesmo de um capricho ou regalo, revestindo muitas vezes o aspecto desportivo. E esse gosto tão natural como antigo no homem ilude a todos por completo a noção da economia da pequena empresa, à qual se não dedicam nem podem dedicar individualmente por falta de capital e sobretudo por falta de recursos pascigosos suficientes. Na verdade, o valor das pastagens da Madeira diminui a olhos vistos e o gado chega a atingir por vezes um estado de magreza e desalinho que o torna repelente. E quantos desmandos e prejuízos se podem apontar neste sistema de exploração! Desleixo, viciação de sinais, massacres feitos pelos cães, enfim, o roubo é também frequente e as muitas questões que vão surgindo são resolvidas pela violência, ou ni.l "venda"-designação local da pequena loja de comércio misto ou no "arrume" anual por ocasião da tosquia. As desordens entre pastores são muito frequentes nessas reuniões. Segundo o arrolamento feito em Março de 1940 pela Junta Nacional dos Lactícinios, o número de cabeças de gado bovino em pasto livre nas serras era de 485. Mas esta contagem foi feita na primavera e por consequência a quantidade de

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bovino durante o verão continua a ser desconhecida. O que se passa no Paúl da Serra é frizante da falta de ordenamento neste ramo de do numa ovina que andará por 6500 Os feitos porco bravo também concorrem para estes zos mesmo nos onde é mais eficaz a da sena aparece por toda a dentro ou fora do terreno arborizado. apesar de ser muito considerado caça é nos baldios de Santa na Serra das do Poiso e também no Homem em Achada do Paúl da Serra. As ervagens são por ele destruídas e muitas das crias de ovelha são por ele devoradas sem defesa Outro tanto não sucede com a que dele se defende com O porco da serra tudo o que e também a feiteíra-Pteridium não deixa viver porque a arranca e lhe come o rizoma e a raiz. Em conclusão: entre o que mais sofre é a a que mais valor tem e mais assistência merece Reduzir o suíno a um mínimo de reserva a ri"t","".,;" vedadas de terreno, estabulado em o do aumento ovino. Este trabalho será aCOl11bovino. ficará a cargo de cada um dos """Clnl,',p-t~", I ano a contar do começo da erá estar concluída no prazo "",.,!!> '" P 111 1-" de De futuro o o núcleo O suíno caJJtLllraa eomo foi dito a trabalhos restante ficará sendo de melhoramento. A do do ovino e bovino nas serras da Florestais com a assistência sanitária da Intendência de ficará a cargo dos Pecuária do distrito e de acordo com a Junta Nacional dos Lacticínios da Madeira. De um modo usar-se-à o sistema de por auxiliados por cães ensinados da raça da Serra da Estrela. será feito no futuro em arborizadas. do reunir-se-ão em Sindieatos. Os Sindicatos serão zados tendo como base os de assistência mútua. Os seus estatutos só ser mediante parecer favorável dos Florestais. Como o de rebanhos de futuro constituirá uma novidade na ilha e para que o trabalho bem orientado de serão enviados do continente e nomeados Os serão pagos Sindicatos de As suas "U'H\~<l\,V'," futuras serão feitas mediante o parecer favorável dos Florestais. manadío será inventariado e numerado com brincos ou com marca a As crias serão numeradas e re~nsltaa

à nascença.

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Os extravios tornar-se-ão assim impossíveis. Com o auxílio dos cães dos rebanhos, os célebres massacres de ovelhas registados até agora e feitos por animais daquela espécie, deixarão de ser possíveis. Os locais de apascentamento serão indicados pelos Serviços Florestais. Só mediante autorização expressa dos proprietários dos terrenos, poderão neles ser apascentados os rebanhos. Construir-se-ão os abrigos suficientes para que o gado ovino aí passe o tempo invernoso. Anexa ao abrigo ficará a habitação do pastor. Os abrigos situados em terrenos particulares serão propriedade do dono do terreno, que terá faculdade de os alTendar ao sindicato de pastores interessado. Os que se construirem nos terrenos das Corporações administrativas pertencerão ao Estado. Quando ao proprietário do terreno fôr impossível construir o abrigo necessário, o Estado construi-lo-à no telTeno público mais próximo ou no que fôr para esse fim expropriado. Ilha do Porto Santo A reorganização do regime pastoril no Porto Santo tem como base a resolução do difícil problema da produção de fonagens num clima quente e seco. Prevê-se neste plano a criação de pastagens arborizadas e a construção de abrigos, bebedouros e silos. Os trabalhos de reorganização do regime pastoril serão feitos de acôrdo com a Intendência de Pecuária e Junta Nacional dos Lacticínios. Nos terrenos florestais só será permitido o apascentamento do gado bovino e ovino. O apascentamento de gado caprino nesta ilha e ilhéus será proibido. Todo o gado que for apascentado nos telTenos florestais será guardado permanentemente pelos pastores nomeados mediante parecer favorável dos Serviços Florestais. Tal como na Madeira, os locais de apascentamento serão indicados pelos Serviços Florestais [José Maria Carvalho, Plano Complementar do Plano de POvoamento Florestal 1942, pp.66-69, 73-76, in Eduardo de Campos Andrada, Repovoamento Florestal no Arquipélago da Madeira(1952-1975), Lisboa, 1990, pp.125-129]

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NOÉ

FERNANDO AUGUSTO DA

I-ARVOREDOS E

1946

PLUVIAIS

A notável feracidade do

essencialmente humana. Bastará recordar que cerca de setenta e cinco por cento dos seus habitantes vivem aos labores incessante cultivo das que é por vezes muito árduo de devido ao inverosímil acidentado e dos terrenos, como todos sabem. mhp"l,r\"" das necessidades ocorrentes assim o que Era se e merecessem o mais desvelado cuidado todos os clement08 que contribuíssem para o desenvolvimento dessa 1111,"-"1,'" industria e entre das levadas e a os se destacavam em imediata cuidadosa dos densos arvoredos mas com um certo "as arvores são as mães das mados "caminhos vizinhais" Oll de entre os diversos sítios encontram neles elementos de defezas os leitos e os muros realizado por um distinto tloreque uma síntese das medidas u para o revestimento tlorestal da Madeira: "O estabelecimento de um cuidadosamente tendo como base o de toda a a escolha de essências do meio e cuidadosa por todos os de viveiros e de zonas de nr"tp('p"" das essências de hidráulica florestal c o são elementos que os técnicos deverão ter em vista ao elaborar o da ilha da Madeira" No decurso deste embora a todos estes

II-W,IfA

FLORESTAL

Uma constante """''''y"v local e as seguras que a nos da sua tão acidentada c COI11 vários mostram que a alem de ser uma ele a~I.Jl.A)I", como fica dito no de um telTitório de

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embora sem prejuízo da vantajosa cultura de outras espécies vegetais ou plantações agrícolas que as particulares condições climatéricas notavelmente favorecem. Não será descabido recordar que também nas zonas confinantes do litoral se encontrava uma basta vegetação arbórea, o que ao presente não seria permitido fazer se, em virtude da indispensável aplicação desses terrenos ao cultivo de outros géneros agrícolas, mais proveitosos e mais necessários aos interesses dos habitantes. Na limitada área de 500 quilómetros quadrados tem esta ilha grandes elevações montanhosas, atingindo algumas delas altitudes de 1750 a 1860 metros, que a par de outras condições mesologicas consentem a formação de densos arvoredos, como já existiram e de que ainda restam alguns raros mas autênticos vestígios. Os terrenos aráveis não excedem a altitude de 700 a 800 metros e não ocupam uma superficie muito superior a 300 quilómetros quadrados, havendo uma extensão relativamente grande para a conservação das espécies florestais. Em altitudes superiores ás que ficam indicadas não é compensadora a cultura das terras, o que aconselha o seu aproveitamento para o plantio dessas espécies arbóreas e para o exercício da industria pecuária. Essas e outras valiosas características abonam justifkadamente o juízo que fica exposto e que, alias, se acha de todo confirmado pelas observações realizadas por alguns técnicos da mais autorizada competência. Dessas tão favoráveis e apreciadas condições, da posição geográfica da ilha e ainda de outros requisitos naturais privativos deste meio resultam a justificada fama de clima privilegiado de que universalmente gosa, não somente para a quadra fria e chuvosa do Inverno, mas também para as estações quentes e temperadas do estio e da primavera, segundo a situação e a altitude dos lugares escolhidos para esse fim. Os capítulos subsequentes justificam também o conceito que deixamos esboçado acerca dos particulares aspectos, que a superficie madeirense apresenta como região própria para a formação e conservação de uma larga e intensa vegetação florestal.

III ORIGEM DO NOME "MADEIRA" O nome de Madeira, que os descobridores ou os mais antigos povoadores deram a esta ilha, anda indissoluvelmente ligado á existência do opulento arvoredo, que em toda a extensão a cobria desde a orla do Oceano até os píncaros das mais elevadas eminências. Foi uma bem apropriada e característica designação, que sempre per~ durou através do tempo e que natural e espontaneamente teria. acudido aos que pela primeira vez defrontaram com essa tão vasta, intensa e rica vegetação florestal. Factos subsequentes e ponderosas circunstancias de feição local, vieram robustecer e confil1l1ar a escolha desse nome. como abaixo se verá, havendo os velhos cronistas e escritores, os navegadores e viajantes e ainda os documentos oficiais conferido um cunho de verdadeira autcnticidade a essa feliz quali ficação, por meio dos seus numerosos escritos e narrativas, alguns dos quais são contemporâneas da primitiva época da colonização madeirense. Entre todos, vem de molde recordar o assaz conhecido verso de Camões-Que do muito arvoredo assi se chame-(V-5), que, seguindo a esteira dos outros escritores,

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dar uma mais este tão nome. No entretanto, a frase do nosso maior começa a ter um formal desmentido. Estamos a transitar da mais concreta realidade para os domínios duma pura lenda ... O nome de que os séculos aram e que a fama tornou do seu belecendo-se um na verdade deveria Não se tomem à conta duma descabida e as quc ai ficam. As nossas florestas estão sendo vítimas do mais desentl'eado vandalismo. Parece que do mal armado de todos Os elementos de transformar as encostas das nossas montanhas na aridez calcinante do deserto. E' certo que a exuberante ferLilidade do solo e as mais favoráveis obstado a uma mas essa imiclímatéricas te em nente calamidade vai tomando tão assustadoras que, dentro dum futuro muito o mal causado se tornará absolutamente irremediável E' por isso que um clamor uníssono sc levanta e se faz intensamente "VIJn,,,,,,v de todos os um vento de mal contida O doutor Frutuoso com os valiosos elementos que lhe forneceram as antígas crónicas e os documentos coevos do informa-nos: " ... a c espesso arvoredo de que era cobetia ... ". chamaram da Madeira por causa do Infere-se desta narrativa que foram os que à ilha desconhecida a que deram o nome de Madeira. Em outro diz o mesmo Frutuoso: "O infante vendo as mostras e ouvindo a que da ilha eles lhe lhe paz nome, que agora tem, de ilha da Madeira... . por certo, entense limitou confirmar o nome com que os der-se que o infante D. tivos denominaram a terra que tinham descoberto. E ainda em outra passagem das Saudades se allrma que foi o que a esta ilha chamou Madeira: "a que o dito descobridor João nome da Madeira". E ainda mais terminantemente o diz em outro " .. lhc paz o nome assi o felicíssimo dela João por causa do muito cspesso e arvoredo de que era coberta, e ser toda chcia de intínidade dc madeira". Em um livro manuscrito da Câmara Eclesiástica do com a que não resistimos ao bis", como ali se encontra. "Havia muita madeira na ilha que se serrava com de agua, es, mastros, traveLas, que se levavam para muitas muita e a outra se banda do Sul não era tanta, porque se !los de assucar, que todos estavam desta banda: mas havia da numero de de agua sempre a serrar, e erão as arvores tão grossas e tão crescidas. Como se inferir do "til que se achou no Funchal o era tão grosso, com os lhe não a o tronco: e fazia que dez homens tanta copa que cobria onde é a Caclea Vclha de uma ribeira á outra ás quacs e entrar por uma só boca 110 mar. Desta havia ambas se ião e mui altos que se e

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Ao contrario do que sucedeu com outras ilhas e terras descobertas, nunca foram esta ilha e arquipélago conhecidos por outro nome além daquele que primitivamente tiveram. E' certo que o Dr. Gaspar Frutuoso afirma a que por ser assim mui fragosa dizem que seu nome era a devia ser ilha das Pedra", mas desta maneira enfática de dizer do historiador das ilhas se concluiu que ele não quisera asseverar ter tido esta ilha aquele nome. E além desta passageira referencia de Frutuoso, que não chega a ser uma afirmação, não se conhece em quaisquer outros escritos antigos ou modernos aquela denominação para designar a ilha ou arquipélago da Madeira. O ilustre escritor Pinheiro Chagas, em uma das suas ü'equentes digressões á "margem da histórias escreveu estas curiosas palavras: "Era esse nome que mais natl\l'almente lhe ocorreria? Quando o termo madeira designa especialmente os troncos de arvores já derrubados e preparados para usos próprios, não era estranho que fosse esse nome que servisse imediatamente a Gonçalves Zarco para designar a ilha, em vez de ilha do Arvoredo, ilha das Flores, ilha das Matas'?" Como acima ficou dito,o testemunho até agora irrecusável cios cronistas, dos documentos da época e da tradição corroboram plenamente o uso do antigo nome, sempre mantido no decorrer dos séculos e sempre adoptado por todos, embora possa, por uma caprichosa excepção, ser posto em duvida pela fantasia de um distinto literato Em corroboração do que fica exposto. não deixam de despertar especial interesse os depoimentos de alguns navegadores e escritores do século XV, que vamos rapidamente citar, embora já o tenhamos feito com maior largueza em outro lugar dos nossos trabalhos de historia madeirense. O celebre navegador veneziano Luís Cadamosto visitou duas vezes a Madeira por meados do século XV, sendo a narração das suas viagens impressa no ano de J507, a qual oferece a notável particularidade de ter sido a obra mais antiga publicada em língua estrangeira acerca desta ilha dc que ha conhecimento. Diz esse ilustre navegante que por ocasião da "descoberta não tinha palmo de terra que não fosse cheia de arvores grandíssimas, sendo necessário aos primeiros que a quiscl'Ul11 habitar por-lhe fogo, o qual lavrou grande espaço de tempo ... e assim desapareceu em grande parte o dito bosque ... ". O conhecido navegador português Diogo Gomes, nas "Relações do Descobrimento da Guiné e das ilhas cios Açores, Macieira e Cabo Verde", por ele transmitidas a Martinho da Bohemia e traduzida em língua portuguesa 1'01' Gabriel Pereira ("Bolet. da Soe. Geogr. de Lisboa" n. 5, ano de 1898) làz idênticas afirmações, que aproximadamente se referem ao terceiro quartel do século XV. Uma informação sobremaneira curiosa é a dt! outro navegador italiano Romeu Aditti de' Peraso, que deixou na narrativa escrita em 1567 estas palavras: .... a ilha não é habitada senão à beira-mal', pois que na montanha por causa da espessura das arvo['t!s que ali ha el11111ui grande abundância e altlssimas de maneira que, dizem, por causa delas sc anda duas ou três léguas sem jamais ver () sol. " Os nossos ilustres cronistas Gomes Eanes de Azurura, contemporâneo da descoberta, na sua obra "Descobrimento e Conquista da Guiné", .João cle BaL'I'OS e Damião de Gois, pouco posteriores á época desse sucesso, na "As ia" (Decada f) e na "Crónica cio Príncipe Dom João", ratificam esses depoimentos eom a autoridade dos

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Du

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seus nomes c muitos outros escritores teem sem as in/ilrdas crónicas. Se a natureza foi de uma notável na abundância de tão vastos e dt:nnào se tornou também avara na variedade das florestais com cobria todo o solo madeirense. Pode com verdade afírmar-se qUI: da a da Bastará recordar que é um facto a existência de bastas e extensas matas de vinhaticos, freixos, urzes. barbusanos e ainda outras cies arbóreas de que só resta ... uma saudosa memória, como mente diremos. Em vista do que tantas vezes se tem dito e que de no\'o deixamos sumariamente ou surpresa que a estia ilha se houvesse dado o que os séculos vão e que a tàma tornou universal. Com o inaudito vandalismo dos homens vai-se tomando menos e menos '''''CIOr''''L ado o LISO desse nome. estabelecendo-se um contraste entre o seu \crdadeiro que ele deveria na realidade ",,,a""J"~ que aí ficam, mas nào é para ensinamento de muitos e bem assim para as IOrm,lço'es, que estamos acerca deste assunto.

Iv: O

DOS ARVOREDOS

o incêndio dos bastos que onimadamente cobriam a ~m'f'rf;r.ip desta é um conhecido e velho tema, que inúmeras vezes tem sido versado por diversos escritores nacionais e Desde os que pura e negam a veracidade do sucesso até que lhe fixam uma não faltam narrativas e comentários de sabor vário. d"':n,,rt.~lif'l" estranheza de um facto tão

e ainda outros de menor que cm muitos livros e Jornais. nrl,m"lrr,,, colonizadores tentaram o inicio do povoamento. rccondo clima e a exuberante fertilidade do solo, mas se das penosas dificuldades que, vencer para o fim do seu audacioso Com dois obstácutalvez então se defrontaram em vacilante inverosímil acidentado dos terrenos e a vastíssima c luxuriante Vell!:etaç~lO A dos arvoredos e a das aguas de a par do antanho directo das constituíram os "l';lll"".Jl"~, dando-se assim começo a uma activa a que sempre andava adstrito o correlativo de diversos núcleos de habitantes. cróni"';;~,uu,uu as e Nas

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cas, deixamos uma noticia acerca deste notável acontecimento da primitiva colonização, da qual vamos transcrever alguns trechos, que teem a mais próxima afinidade com o assunto de que nos vimos ocupando e que importa arquivar nestas paginas. . O incêndio das matas no tempo de Zargo, o primeiro donatário do Funchal, é um acontecimento a que particularmente se referem João de Barros, Frutuoso, António Cordeiro. Manuel Tomás e outros autores, e que também foi perpetuado pela tradição. Refere Ferdinand Denis que um antigo viajante francês conheceu um velho marinheiro a quem uma testemunha ocular contara o incêndio da ilha da Madeira, e segundo o erudito anotador das Saudades da Terra, no Arquivo da Torre do Tombo, Livro das Ilhas. folhas 84, está a publica forma de um breve apostólico do Pontífice Paulo II, com data de 1469, em que manifestamente se alude ao mesmo incêndio. Gaspar Frutuoso, o historiador das ilhas; dá conta, nos termos seguintes, do incêndio no sertão da Madeira: "Daqui acordou o capitam (João Gonçalves Zarco), vendo que se não podia com o trabalho dos homens desfazer tanto, arvoredo que estava nesta ilha desde o principio do mundo ou da feitura della, e para o consumir, e se lavrarem as terras, e aproveitar-se dellas era necessário pôr-lhe o fogo; e como quer que, com o muito arvoredo e pela muita antiguidade, estava delle derribado pelo chão, e delle seco em pee, apegou o fogo de maneira neste valle do Funchal, que era tão bravo que, quando ventava de sobre a terra, não se podia sofrer a chama e quentura delle, e muitas vezes se acolhia a gente aos ilhéus e aos navios até o tempo se mudar; e, por ser o valle muito espesso assi de muito fLlncho, como de arvoredo, atiou-se de maneira o fogo, que andou sete annos apegado pelas arvores, e troncos, e raízes debaixo do chão, que se não podia apagar, e fez grande destruição na madeira assí no Funchal, como em o mais da ilha ao longo do mar na costa da banda do sul, onde se determinou roçar e aproveitar." D. Francisco Manuel de Melo, referindo-se ao incêndio da Madeira, diz na Epanaphora III o seguinte: "He força que duvide do incêndio que (Barros) afirma durou sete anos por toda a ilha. Ao que, parece, implicão os bosques, que sempre nella pennanecerão, dos quaes ha tantos annos, se cortão madeiras, para fabrica de assucares: de que dizem chegou a haver na lha, cento e cinquenta ingenhos; que mal poderião continuamente sustentarse, depois de hum incêndio tão universal, & menos produzirse depois delle: mas fique sempre salvo o credito de tal Autor." Os argumentos de Melo teem um certo valor para mostrar que o incêndio da Madeira nem durou sete anos. nem se estendeu a todos os pontos da ilha, havendo ainda a acrescentar que se ele tivesse sido geral, como pretendem alguns escritores, não poderia Cadamosto, que também se refere ao sinistro, dizer em 1450 que o nosso país produzia madeiras muito apreciadas, entre as quais sobressaíam o cedro e o teixo. E' ainda de advertir que para o fogo durar sete anos consecutivos em matas constituídas especialmente por essências folhosas, seria preciso que durante esse longo espaço de tempo não caíssem na ilha nenhuns desses violentos aguaceiros que, ainda hoje, apesar das chuvas serem muitos menos abundantes do que outrora, inundam os vales do interior e dão origem a torrentes que se despenham em catadupas do alto das serranias". Não padece duvida que muitas matas do vale do Funchal e de outros pontos da

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costa sul da ilha foram destruídas João

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mandado

por

ate-

Funchal", o que sete anos andou vivo no bravio criado avia tantas centenas de anos." Diz o Dr. Alvaro de Azevedo que tendo sido a sul da ilha cisamente a cultivada c habitada do não só que ahi fossem pouco a pouco rateados os terrenos por meio de incêndio das matas sistema que ainda por falta de por outras rasões e por necessidade momento, se emprcga nas sertões também que a estes se fosse recorrendo nos septe ""'''''>l1''~C anos, sem que disso poucos se achassem O sul da ilha da Madeira foi e e é a zona do fora para que o trabalho do homem ahi da devasE limitado o incêndio a uma da ilha somente, os em contrario a Mel10 mesmo duvida não tanto do quanto de que este fosse tão universal". Reduzido o sinistro ás que lhe atribui o Dr. não ha motivo para que deixemos de aceitá-lo como verdade tanto mais que, como diz o p",~nt(w ele se acha autenticado clara alusão do Breve que é foi um erro, não resta mandar aos arvorea mas desse erro não resultou felizmente o comdas matas. como já atrás se viu. duvidar-se que narrativas da (ii: incêndio de acentuada que a estranheza e a anormalidade do e até certo inteiramente se É, indubitável e constitui uma verdade histórica a existência desse não deixou de como uma necessidade que as circunstancias ocorrentes aconselhavam. O incêndio aumentou a feraciclareiras para o amanho das melhor escolha dos dade do a dos pequenos a mais esperançosa os trabalhos da que iam ser iniciados. No decorrer do e todos muitos incêndios tcem ocorrido nas nossas tão avultados como o que se deu no mês de nos fornece uma desenvolvida noticia.

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v. EXPLORAÇÃO DE MADEIRAS Não tendo o célebre e primitivo incêndio revestido a intensidade e atingido a extensão que alguns escritores lhe pretenceram assinalar, sabe-se que uma parte considerável da ilha ficou ainda coberta com uma densa vegetação florestal. cuja conservação se deveria. ter cuidadosamente mantido através do tempo ou cujo imperioso desbaste se procuraria fazer de modo a evitar a sua grande devastação. A construção das primeiras habitações e ainda a das mais antigas capelas era feita com a matéria prima fomecida pelas matas, o que perdurou por largo tempo sendo também estas que fomeciam o indispensável combustível para os usos domésticos dos incipientes colonizadores. Não se fez esperar muito tempo que um largo e pouco criterioso emprego das madeiras supervenientes desse incêndio se iniciasse activamente e sem demora tomasse as proporções do mais condenável vandalismo. Da superabundância das madeiras, da sua quantidade, da sua procura no continente português e ainda no estrangeiro surgiu a ideia de uma larga exportação e do seu correlativo tráfego comercial, criando-se desde logo uma importante Fonte de receita, em um meio tão acanhado, como ainda era então a Madeira. Uma nova indústria, embora de feição bastante elementar, teve de criar-se: a da preparação das madeiras para o embarque. Era preciso abater as arvores, selTalas e apropria-Ias ao fim a que particularmente se destinavam. Vieram então as chamadas "serras de agua", que se multiplicaram por diversos pontos da nossa ilha. A paroquia da Serra de Agua e os sítios que ainda hoje conservam esse nome nas freguesias de Machico, Calheta, Santana, Faia], Boaventura, Seixal e ainda, porventura, em outros lugares, lembram sem esforço esses rudimentares "engenhos" destinados á serração das madeiras pela acção da força hidráulica e que eram montados nas margens das caudalosas correntes. E sobremaneira curioso este trecho do doutor Gaspar Frutuoso: " ... havia tanta quantidade de madeira, tão formosa e rija, que levavam para muitas partes copia de tábuas, traves, mastros, que tudo se serrava com engenhos ou serras de agua que neste tempo ... começara a fazer com ela navios de gávea e castelo de avante, porque dantes não os havia no reino". Para este assunto, oferecem particular interesse os seguintes períodos, que textualmente transcrevemos da 3a edição da Historia de Portugal de Pinheiro Chagas (11-252): "Azurara, tratando das vantagens que resultaram dos descobrimentos devidos á iniciativa do infante D. Henrique menciona "as grandes alturas das casas que se, vão ao céo e fazem com a madeira daquelas partes. Ao que, o visconde de Santarém acrescenta esta nota: Esta interessante particularidade indica a madeira transpoliada a POliugal das ilhas novamente descobertas pelo infante D. Henrique, principalmente da ilha da Madeira, fora em tanta quantidade, que a sua abundância fizera mudar o sistema de construção dos prédios urbanos, augmentando os andares, elevando assim as casas, substituindo-o por esta sorte ao romano e árabe, que até então provavelmente se usara". Várias referências temos encontrado à exportação de madeiras que desta ilha se

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Do

ARCA DE NoÉ

fazia destinadas a extraída

em que se encontram estas "Item m apraz que serras de agoa que fezerem de cada huma hum marca de em cada hum. ano ou seu certo valor de duas taboas cada semana.. " Não deixa de oferecer interesse ao nosso assunto a narrativa do navegador veneziano Luiz acima que visitou a Madeira no ano de 1450 ou pouco dizendo que nesta ilha havia" de serrar, onde continuamente se trabalham obras de e bofetes de muitas de que se e outros Desses bofetes os mais estimados são duas prove todo o castas: os

matéria de agosto do referido ano: " .. somente na dita ilha fazer bateis de pescar e de carreto para serventia da dita os seus donos vender para fora dela sob pena de pagarem cincoenta dois anos para a de que nos vimos UvU,J,""'",V, ' .... 0'1-' ...,""""." a este assunto no interessante "Serras de nas ilhas da Madeira e POlio Santo", da autoria do di~tinto madeirense Dr. Jordão de de 30 de Ju I '''; em que se faz e entre elas se cita a carta na ribeira de ::.ào Bartolomeu tinha de agua a Nuno de Sousa de uma "serra de da Calheta e Estreito da Calheta. que delimita as a Madeira se repovoou da voracidade do não levou anos a cobrir-se de uma extensa. e abundante se usou e das madeiras de que dos Embora não se de 15 de Janeiro de 15 sabe-se no entretanto que ele foi com o tím de acudir ao em vista dos excessos e abusos que ao tempo já se cometie eficazes as regras e tal am. E foram então muito citado das Madeiras", de 27 de de 1 que transcrito a 463-47 verdadeiramente notável no seu das "Saudades da Terra", e que apesar de contar de existência contém que ainda na actualidade

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VI-OS INIMIGOS DOS AR VOREDOS COJ11ofícou acima sumariamente exposto, teria o prIl11ltlVO incêndio obedecido aos mais imperiosos motivos que as circunstancias da ocasião aconselhavam. afim de iniciar-se um rápido e eficaz povoamento, que não permitia delongas e deveria amoldar-se ás ardentes aspirações dos primitivos colonizadores. Após esse incêndio, vieram a falta de previsão dos males futuros, as convenientes comodidades do momento, a ausência de uma acertada orientação e porventura o desejo imoderado do lucro, como teria sido o do comercio das madeiras, causas essas que foram sempre e sempre alargando a área da acção devastadora, que esse temeroso fogo havia iniciado. Embora de menor vulto e de efeitos menos prejudiciais, vieram subsequentes e não raros incêndios, sucederam outros audaciosos destruidores das matas virgens e surgiram ainda os novos assoladores dos maciços arbóreos em plena formação, que sob o pretexto do exercício das industrias pecuária, do fabrico do carvão, corte de madeiras para construção, colheita de material para adubos e torragens etc, teem sido inimigos ferozes e por vezes inconscientes das ricas e abundantes t1orcstas, que emolduravam as nossas elevações montanhosas. Os pastores-E' um erro grave supor que a criação do gado bovino, caprino e porcino fomenta uma apreciável industria e de cuja supressão poderia de qualquer modo ressentir-se a economia do distrito, como adiante teremos ocasião de mostrar. Ninguém ignora que o gado causa uma grande destruição nas plantas ainda novas e em pleno desenvolvimento, embora a pujança luxuriante da nossa vegetação vença em boa parte o ataque das fortes mandíbulas desses ruminantes. O que, porém não pode vencer a opulência nativa dos nossos arvoredos é a acção daninha e criminosa do pastor. Os rebanhos não encontram meio favorável para as suas pastugens em terrenos cobertos de densa arborização, tendo necessidade dum solo em que predominem as lorragens e plantas de pequeno porte, indispensáveis á alimentação que lhes é mais apropriada. O pastor prepara logo esse desejado pascilgo numa clareira mais ou menos vasta, que as chamas lhe oferecem sem dificuldade. Os grandes incêndios nas nossas matas teem ordinariamente essa origem. Os zagais não trepidam um momento em converter uma t10resta de belas e corpulentas arvores, que levaram séculos a formar-se, numa superl1cie deserta e calcinada pelo fogo devorador, aJim de que em breve se transforme em campo de tàrta pastagem, destinada a fornecer alimento a limas parcas dezenas de cabras e ovelhas. Como é sabido e vem a propósito dizer-se, os gados, na sua generalidade, pastam livremente sem guardas OLl pastores e acham-se expostos a todas as intempéries, não existindo currais ou abrigos adequados que os resguardem elas rigorosas invernias, sendo sempre muito considerável o numero ele animais, que por esse motivo sucumbe todos os anos. Esta ponderosa circunstancia seria suficiente para justifícarse, em quaisquer país, uma absoluta proibição ela livre pastagem do gado em serras desarborizadas. Os Carvoeiros- Tem surgido a ideia da conveniente preparação elo carvão mineral

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como combustível destinado aos usos mas se é facilmente viável essa e do seu emprego, classes menos favoreem virtude do seu elevado custo. O que se sabe com inteira certcza é que o carvão tàbricado na Madeira também não é de módico preço e constitui um factor altamente arbórea das nossas serras. São tão manifestos os resultantes do fabrico do inúmeras e belas arvores que para obter-se esse ainda sempre iminente de atiar-se um violento que desnecessário se torna aduzir um vezes tem mentos para eondenar de semelhante para esse cláusulas de segurança, que porventura evitar inteiramente os resultar do seu fabrico. O decreto de 23 de Julho 1913. que se ocupa da transcrestabelece uma valiosa acerca do fabrico do ever: o fabrico do Art 8-A da data da pc"u ll'~"~~"U da carvão de lenha na ilha Madeira. a não ser dos arvoredos ou por indivíduos eles devidamente autorizados e dentro das suas "r{Wl1·,p/i A este tem sido. dada uma latitudinária e à sombra dele não faltou a colonizadores não se eonos benefícios que a abundância 110C01110 excelente

cios graves abusos que então se cometiam. Tomando iludindo-se habilmente a até se ás leis que esse O mal continuou e ainda se constróem para não existem as conhecidas "Serras de pequenas machado não deixa de trabalhar activamente e com dos de que nos últimos anos teem CL<J,;" ........ " , Por ocasião da ultima guerra, em vista da falta de carvão para a de esses abastecimentos de lenhas c Tn:mf'H"'L~ colhidas nas nossas serras, não sendo raro entrc esses rorneci· mentos com "traves" e de florestais de valor e que com dificuldade ser encontradas. Havia então e ainda existem den· sas matas de que deveriam ser a esse fim.

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ALI3ERTO VIEIRA

Foi talvez ainda maior a destruição, causada nas nossas reduzidas matas no período decorrido de 1914 a 1916, especialmente pelos "agentes" de vapores costeiros, que nos diversos pOlias e destinados a alimentar as caldeiras dessas embarcações, foram milhares de arvores arrancadas às serras e em que algumas espécies florestais, já muito raras, desapareceram inteiramente. De todos os inimigos das florestas madeirenses não é o "negociante de madeiras" o menos prejudicial ao bem comum, contando muitas vezes com a especial protecção de qualificadas entidades, que gravitam em torno das estações oficiais. Um jornal do Funchal, no seu número de IOde Maio de 1945 fornece-nos esta curiosa informação: No Montado do Pereiro os guardas florestais teem surpreendido, nestes últimos tempos, centenas de indivíduos que se embrenham nas nossas serras. a rolar e a abater tudo quanto se encontra a vegetar, e o descasque de arvores para as oficinas de curtimentos de peles é o maior negócio a que se podem entregar os ladrões" das senas, deixando nuas as arvores de renome florestal, só com a mira no interesse".

V1IJ-OS "REGIMENTOS" DAS MADEIRAS

A opulenta riqueza florestal da Madeira não foi de todo destruída, mas apenas bastante atenuada pelo celebre e primitivo incêndio, sendo principalmente a acção imprevidente e vandálica dos seus habitantes, que através do tempo a vem reduzido a bem lamentáveis, e quasi mesquinhas proporções. Muitas razões persuadem que sem demora se tivessem adoptado medidas repressivas para impedir e castigar os abusos cometidos, mas não se conhecem a natureza dessas primeiras providencias, a época precisa da sua promulgação e as penalidades impostas aos delinquentes. O mais antigo diploma legislativo de que há seguro conhecimento é o alvará régio de 7 de Maio de l493, que embora se ocupe particularmellte de várias concessões acerca de fontes e nascentes, encerra estas curiosas palavras referentes ao nosso assunto, que impOlia transcrever: ... os freixos e cedros, que para nós reservamos a não lIsarão nem cOliarão ... a não ser para algumas igreja ou casa de câmara ou a quem dermos ... licença por carta nossa". E a propósito diremos que ha meio século ou pouco mais existiam ainda em vários pontos da ilha muitos maciços dos nosso cedro indígena, a tão apreciada e odorífera madeira bastante empregada na marcenaria madeirense, Não sabemos se hoje, ao menos como simples e saudosa amostra do passado, se encontram ainda alguns exemplares em qualquer afastado recanto das matas do interior. O ilustre comentador das Saudades da Terra faz menção de um antigo diploma, datado de 14 de Janeiro de 1515 e destinado a proteger as florestas da ilha, declarando que não conseguiu obter copia desse documento. Transcreve, porém, integralmente o conhecido "Regimento das Madeiras" de 27 de Agosto de 1562 que informa achar-se registado a foI. 128-133 do Tomo Segundo do Arquivo da Câmara Municipal do Funchal. (Vid. Saud, 463-471). Faz preceder essa transcrição das seguintes palavras: "E diploma importante á his-

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Do

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NOÉ

de não se conhecerem todas as sabe-se que nele se ordenava a Janeiro de 15 5, a que acima se e castanheiros nas terras mais o corte de arvores sem das cam aras, não Do"aerlOO nos em que houvesse fontes das

não se possam aceitar em toda a sua contidas Ilesse somos no entretanto o seu incontestável valor reconhecer a sua; alta do critério com que foi versada a ""U"'U", rerJOrtallldo-il()S que dele fomlava o escritor e distinto ficou dito. desse mas não deixar de aludir a um OLl outro passagem. E assim indicaremos: a) não se fazer cortes de madeiras sem elas cmnaras, devendo essas ser referendadas multado e quem excedesse os limites das concessões feitas seria na serra; u,",.<,,,'c,,,,,v para a sendo também os que pusessem ,-nv>un,uv de cortar ramos de arvores para do arcac()es para a de navios e ainda de pequenas serem pv,vlf-tnrin de a menos de "cincoenta e) que os cortes de madeiras se distancia das nascentes e de certas arvores e espet) os cialmente de Parece que eram ainda mais draconianos os estabelecidos por este do que as anterior de 151 dando-nos assim a conhecer o crescimento dos abusos cometidos e de os coibir por Os

são dois documentos notáveis sob sua extensão não UUlICI"'"

"'"'I'" ,"'''.1, que LO

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integralmente transcrever, neste lugar, mas do qual deveria tàzer-se uma publicação especial, acompanhando cada uma das suas disposições legais dos indispensáveis comentários acomodados ás circunstancias actuais da vigente legislação florestal. Os alvarás régios de 28 de Outubro de 1593 e 26 de Janeiro de 1596 ratificam e em alguns pontos ampliam as disposições contidas nos "Regimentos das Madeiras", devendo supor-se, com bom fundamento, que a frequente promulgação destas leis coercitivas seria determinada pelos também frequentes abusos que então se cometiam. No "Índice Geral do Registo da Antiga Provedoria da Real Fazenda (a) encontram-se mencionadas outras detenninações legais referentes a esta matéria, sendo a mais antiga a de 2 de Janeiro de 1610, que é o alvará régio de Filipe Il, que estabelecendo acertadas providencias com o fim de coibir os actos de vandalismo praticados nos arvoredos e comina penas severa aos transgressores das respectivas leis vigentes. No citado "Índice" acha-se exarado esta interessante informação: "O Conselho da Fazenda (do Funchal) não só mand remeter as devassas que se tiraram na força da Provisão do Senhor Rei Dom João IV de 12 de Janeiro de 1641 para se acautelarem os inconvenientes resultantes dos cortes das madeiras, mas também determina que se povoe a serra de arvores, guardando-se o Regulamento e a lei do Senhor Rei Dom Manuel e executando-se as penas decretadas contra os transgressores e finalmente que se pergunte nas residências do juiz de Fora e do COlTegedor por este descuido. Este alvará régio de D. João V visava especialmente a lima mais, rigorosa observância de muitas determinações legais que tinham decaído em quase inteiro desuso. Em 1790 exerceu o Dr. António Rodrigues de Oliveira o cargo de corregedor, que acumulou com o lugar de inspector da agricultura, tendo deixado na secretaria da Câmara da Calheta umas instruções sobre diversos serviços agrícolas, considerados de grande proveito e redigida com o mais atinado critério, em que se estabeleceu algumas regras acerca do repovoamento florestal, merecendo ainda hoje serem lidas e consultadas. Entre os relevantes serviços prestaçlos pelo engenheiro Reinaldo Oudinot, ao dirigir os trabalhos de reparação dos estragos causados pela grande aluvião de 1803, importa destacar a redacção de umas Instruções... dirigidas aos proprietários e agricultores, que aconselham a adopção de importantes medidas referentes á conservação dos arvoredos e que o alvará régio de [J de Maio de 1804 e ainda outros tornaram obrigatório o seu cumprimento. No antigo arquivo da Câmara Municipal do Funchal acham-se registados muitos diplomas dos séculos XVII e XVIII, referentes a este importante assunto, acautelando eficazmente a conservação dos atvoredos, adoptando acertadas providencias para o seu desenvolvimento e impondo severos castigos aos transgressores. A estas determinações legais nos homens ainda de referir, quando particularmente nos ocuparmos de algumas das medidas de caracter pratico, que então se adoptaram para esse fim. Além dos documentos mencionados, é curioso verificar-se que em varias determinações legais, estranhas a esta matéria, se encontram algumas interessantes e proveitosas referencias aos assuntos florestais.

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Do Tem afinidade com tivamente aos diversos medidas na

À ARCA DE

assunto deste

NOÉ o que adiante diremos rela" e de modo par titular ás

IX-DIPLOMA LEGISLATIVO E POSTURAS MUN1CIPAIS As diversas que ficam sumariamente mencionadas e ainda as que teremos de citar no decurso deste a produm que e todos os e desenvolvimento dos nossos arvoredos de uma mais eficaz e mais cobro ás arbique tão Essas decretadas em muito distanciadas entre nunca tiveram um caracter de relativa estabilidade e antes acomodavam às circunstancias a que se tàlta de das medidas a Obedeceram certamente, na maioria e zelosa mas talvez se empregavam. "~'JlCl'yv'", camarárias dos difer~ ...".,., •• _,_"v nas suas "Posturas , de que ha vagas noticias por vezes, entre elas as mais COIlLlaI.HI,.u,,"', que não raro colidiam com as que das Camaras não se acham e interesse fizeram ae:>at:)an~c Através do

que deveriam dos terrenos

á sua "prh""",,.,,, ao estado e aos

as suas "Posturas" em conformidade

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com as disposições do novo decreto; 6. criar uma repartição central com largas atribuições para a direcção de todos os serviços, como já foi deliberado pela Junta Geral, na sua sessão de 29 de Setembro de 1930.

X-TERRENOS "BALDIOS" Teem conservado esta designação os terrenos, não sujeitos a exploração agrícola e que em geral ficam situados em uma altitude superior a oitocentos ou novecentos metros. pertencem a particulares, ás Camaras Municipais e ao Estado, não se achando bem delimitadas as fronteiras dos diversos proprietários. Os "baldios" eram em outros tempos e ainda o são em boa palie, separados das terras cultivadas por meio de sebes ou tapumes, feitos de estacas e ramos de arvores, que teem o nome de bardos, principalmente destinados a impedir que os gados assaltem as culturas agrícolas. Não estando demarcados com precisão os limites desses terrenos, fácil é de conjecturar os abusos que se tenham dado, as audaciosas pretensões que de quando em quando apareçam e as fi'audes empregadas para a sua ilícita e definitiva posse, por palie de indivíduos destituídos das mais escrupulosas e rectas intenções Uma grande pmie desses "baldios" eram considerados como "logradouros comuns", em que os cultivadores das terras, mediante certas condições e sob a fiscalização da repmiição competente, procediam á colheita de fOlTagens, de matéria para adubos e para combustível, constituindo para eles uma apreciável regalia de que não podiam dispensar na labuta da sua activa e modesta existência. Se admitirmos o progressivo cerceamento destes antigos e tradicionais privilégios com a alienação a particulares desses terrenos "baldios", que eram pertença do estado ou dos municípios, veremos seriamente ameaçada a legítima prosperidade, a apreciada economia doméstica e o relativo bem-estar de milhares de indivíduos de uma simples mediania de haveres, em favor de um número restrito de pessoas abonadas mas pouco escrupulosas ... Não ha muito que numa repartição do estado de um concelho rural foram vendidos em hasta pública, por uns módicos centos de escudos, com o fundamento em uns hipotéticos direitos de propriedade, uns terrenos "baldios", de que o público usufruía, por direito consuetudinario, tendo a Câmara Municipal infOlmado de que esses terrenos não eram "logradouros comuns" e havendo a referida repartição realizado essa venda e arrecadado a respectiva contribuição pertencente á fazenda pública. Desnecessário se torna encarecer a imperiosa e inadiável necessidade de proceder-se, com a mais rigorosa exactidão que possível for, á delimitação desses terrenos, quer sejam do estado, quer das camaras ou de particulares, conforme estão exigindo a conservação dos restantes arvoredos, a rigorosa fiscalização a exercer pelo corpo de guardas florestais, a orientação a adoptar pela repmiição central e ainda a manutenção tradicional de inúmeros cultivadores de terras, como acima fica referido. De longe em longe e em diversas épocas tem surgido a ideia do aproveitamento desse "baldios" com destino especial ao cultivo das produções agrícolas, que pre-

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sentem ente encontraria defensores na assustadora que se verifica na Madeira. tornar-se ou mesmo aconselhável uma semelhante medida. que em caso a inteira das terras, que deveriam continuar na posse seeular e tradicional do estado ou das eamaras municíestabelecendo-se as cláusulas de que fossem mais convenientes ao bem comum e sem notável dos actuais usufrutuários. No entretanto, bom é recordar a que como notamos, que esses em virtude da altitude em que sc encontram, do clima que ali se faz sentir numa do ano e da excessiva ITc:quencl dos fenómenos

moradia dos cultivadores. Em mais acentuadas os mesmos fenómenos no conhecido "Paul da Serra", do

e também á permanente se observam

E' certo que os alvarás de 3 de Julho de 1766 20 de Julho de 1810 e 18 de Setembro de 1811 facultavam a de vários terrenos desses guarnn'''''IP1'''''1(\Q e a pouca dilimostram que essas e vieram tornar mais caótide 18 de Setembro de 1811,

o mais que conhecia madeirense: onde a existência das floristas é

e IlCOI1-

necessária debaixo do de para o terreno, porque os das interessam á sociedade e não unicamente de um indivíduo no interesse fi se ele entende de conveniência Oll

tum.

"A

florestal não encontra além disso

de

nas 191


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mãos dos particulares cuja necessidade imediata de gozo não se concilia de forma alguma com o tempo que exigem os produtos lenhosos, para adquirirem qualidades vendáveis. "Na Madeira é urgente submeter a um regimen especial a zona arborisavel, e a ideia que apresentamos é tanto mais plausível, quando que, sendo certo ser esta faxa propriedade de municípios que não tiram dela rendimento algum, ou de particulares pouco firmes na sua posse, e colocados nas mesmas condições das Camaras, a sua execução se torna muito mais fácil." O recente decreto de 27 de Maio de 1946 veio facultar a cessão, mediante certas clausulas, de telTenos "baldios", em favor de "casais" menos providos de haveres e também em favor de uma mais útil e apropriada expansão populacional Cumpre que se mantenha a doutrina exposta nos anteriores capítulos deste estudo com respeito à conservação, aplicação e propriedade desses terrenos harmonizandoa com as disposições agora decretadas A nova lei acerca de Baldios (26-Maio-46) na sua Base XXX estatui o seguinte: "Nos terrenos baldios, cuja divisão não seja de aconselhar, a Junta de Colonização interna estabelecerá o regime de logradouro comum, destinando-se à cultma ou apascentação de gado no interesse dos moradores mais necessitados" As duvidas que possam surgir na conciliação dos preceitos estabelecidos na citada lei com as paIticulares necessidades do arquipélago, seriam suficientemente esclarecidas na promulgação dos indispensáveis decretos a que varias vezes nos temos referido. Embora se deva dar inteiro cumprimento as leis gerais do país, é no entretanto sabido que em todos os tempos e para diversas localidades se tem atendido a imperiosas circunstancias de caracter regional, tendo os legisladores olhado com solicitude para a satisfação dessas impreteríveis necessidades.

XI-"O PAUL DA SERRA" As suas condições oro gráficas, a natureza do solo, a sua relativa extensão, a altitude em que se acha situada e as tão apreciadas vantagens que oferece aos povos dos concelhos da Ponta do Sol, Calheta, Porto do Moniz e S. Vicente exigem uma particular referencia ao conhecido lugar do "Paul da Serra". embora nos limitemos a repetir o que está dito em outras publicações e que também já deixamos exposto com algum desenvolvimento nos trabalhos da nossa autoria Elucidário Madeirense e Dicionário Corografico do Arquipélago da Madeira. E a única área de território que na acidentadissima superficie da Madeira pode merecer o nome de "planalto", apesar do acentuado relevo que apresenta em quase toda a sua extensão. Demora a uma altura média de 1500 metros acima do nível do mar e tem aproxi~ madamente seis quilómetros de comprimentos e três na sua maior largura, computando-se a sua supert1cie em cerca de 16 quilómetros quadrados. E' logradouro comum e muito aproveitado pelos habitantes das freguesias circunvizinhas para a apanha de lenhas destinadas a combustível e especialmente de ervas e matos, para a engorda dos gados e como matéria prima para os adubos de curral. Serve de pasta-

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gens a muitos rebanhos de em com este mas delas transitam carros de e 4 da Casa

que ali se estabeleceu esteve durante Junta Geral do por intel111édio da sua """'~"I''''';n

a altitude em que se acha desencadeiam e o suficientemente o ali realizadas. Somente com às foro que levaria muitos anos a

duma estrada que atravestendo como extremos a do Porto do Moniz e medindo desta estrada seriam: o da Ellcumeada ao sítio do Lombo do numa extensão de 4200 metros, outro, deste ao Pico da num percurso de 8300 metros, um terceiro do Pico da Urze até aos Lamaceiras do com o de 23 ros, e o último dos Lamaceiras ao de mar, medindo 3000 metros. Esta estrada foi iniciada no ano de 19 extremos, mas poucos dela ficaram construídos. Obedecia ao que então se discutiu no seio da Junta de um artificial na pequena enseada do Porto para esse fim 3 estudos de caracter técnico. Dar-se-ia a do Funchal e do Porto facilitando o dos ventos do sul não fazer nu baía do Funchal. Esse como outros, não pussou de umu pura fantasia dessa não saudosa nem adm inistrativa. O que fica talvez desmesuradamente destina-se de modo muito ,,'''"'''.1«1 demonstrar que o do "Paul da Serra" e em não ter um para a al'.""'UlC'~ e menos ainda para a de pequenos ser única e exclusivamente destinados aos fins que ficam varias vezes indicados nestas a moderada colheita de materiais para adubos e

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a fiscalizada permissão para uma limitada industria pe<.:uária; e sobretudo a activa plantação de espécies florestais e a cuidada conservação das existentes, tudo em conformidade com as instruções emanadas da repartição competente, que para isso deve formular os indispensáveis regulamentos e subordina-los à aprovação das estacões superiores. Tem particular afinidade com o nosso assunto algumas disposições do alvará régio de 18 de Setembro de 181 J, que penuitiu à concessão de terrenos baldios e onde se encontra o seguinte: "Exceptuo somente por agora o sitio chamado Paul da Serra que compreende 7 léguas de comprido e 3 de largo, porque posto seja insusceptível de fácil cultura não convém que se reparta enquanto houver baldios a dividir nas outras partes, por ser o dito Paulo logradouro comum da maior pare dos concelhos e de muitas freguesias da ilha ... " O assunto deste capitulo obriga a uma referencia ao importante relatório do regente florestal da Madeira António Schiapa de Azevedo, que também encarece a reconhecida importância desse planalto e sustenta a opinião de que ele deve ser exclusivamente aplicado a unia larga arborização, a prados e forragens, e à industria pecuária, não se aludindo à exploração de culturas agrícolas e menos ainda à formação ou permanência de núcleos de população, Como "logradouro comum", a que acima aludimos, encontram-se nesse relatório os períodos que em seguida transcrevemos que exprimem a verdadeira doutrina acerca do assunto: Ao Paul da Serra apesar de algumas das camaras municipais dos concelhos citados (Ponta do Sol, Calheta, Porto do Moniz e S. Vicente) quererem considera-lo terreno concelhio ou municipal, é na verdade peliença da Nação. não só porque aquelas corporações não possuem nos seus tombos o mais insignificante documento sobre o assunto ou o mais leve indicio que lhes dê direito àquela vastíssima propriedade, más e principalmente porque já em 1803,1804 ou 1805 a Coroa fanuara bem os seus direitos na calia regia que El-rei D. João VI, então Príncipe Regente do Reino, publicado no Boletim Oficial daquela época, e na qual o referido monarca concedia aos povos da ilha da Madeira que em logradouro comum ali pastassem seus gados mas sem abdicar seus direitos e bem ao contrario reservando a referida planície para domínio da Coroa, Alem do Paul da Sen'a, é minha convicção que o FanaI pertence também a Fazenda Nacional e assim o afinna o ilustre sivicultor Júlio Maria Viana no seu relatório sobre serviços florestais desta ilha, publicado no ano de 1897, serviços que superiormente dirigiu até o ano de 1902." Ocupando-nos, embora sucintamente, deste planalto, é natural que se faça uma ligeira referencia a alguns dos seus principais sítios e de modo especial daqueles que são mais frequentados e onde se encontram casas de abrigo, as quais prestam relevantes serviços aos viandantes e aos que teem necessidade de percorrer àquela inóspita e desabrigada região. Na extremidade norte da elevada planície fica o sitio dos Estanquinhos, a uma altitude de 1500 metros, que tem uma casa de abrigo e nas suas imediações uma nascente de boa água potável. O lugar da Bica da Cana, situada nessa vasta planura e distanciado cerca de 10 quilómetros da estancia Rabaçal, tornou-se muito conheci-

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do que a Junta ali a varias melhoramentos com a de um campo . o inicio de revestimento florestal e o de varias culturas também conhecido nome de Meio Paul é sitio muito que em outro tempo teve uma pcquena "casa de . ficando situado no "chão" central do No alto da serra da Ribeira Brava c li cntestar com o PauL com uma pequena "casa de a que se chama o Lombo do Mouro e por ali deve passar a estrada destina a Encumiada de S. Vicente com o Porto do Moniz. através de toda a extensão do Paul da Serra. O sitio do encontra-se a pequena distancia das suas margens, e é bastante transitado Destes e ainda doutros sítios Serra se ocupa com mais o "Dicionário da Madeira" da autoria do Padre Fernando da Silva.

XIl "O MONTA.DO DO BARREIRO" Fica situado nas serras da vizinha do ;vfonte e estende a sua vasta área desde o ribeiro do Pisão até o que é muito abundante em e nele nascem caudais que alimentam as levadas do Santa Luzia e Hortas. Teem ali sua as conhecidas nascentes dos Tomos destinadas ao abastecimento da cidade. Era em parte da Câmara do tendo-se suscitado varias e entre dos que foram dirimidas em ais e que terminaram no ano de 193 L ficando na posse das abundantes aguas dos Tornos. Sobre esta matéria os '"A do Montado do Barreiro" por Pedro de Gois Pita e da Montado do Barreiro Câmara do FunchaL:' por Juvenal

No ano de 1917 começou a Câmara do Funchal a melhorar consideravelmente as de novos terrenos para o da desse "montado" com a sua eficaz aos mananciais ali existentes, de muitas arvores, aumento do e uma mais activa O Dr. Fernando Tolentino da Costa eo Silvestre a esse assunto o mais n""~""lrr,c" afirmar-se que os madeirenses e ainda os valor e os que presta o chamaesse valor e esses fornecem nrprln~~ linfa de que se desconhecem a

veniente

realizando do montado e a sua conutilidade Destina-se o

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primeiro, além dos aprecIaveis benefícios que sempre prestam os arvoredos, a aumentar o volume dos mananciais existentes, e o segundo a proporcionar ao público um sitio de distracção e de passatempo. longe dos infectos centros citadinos, em que a pureza do ambiente, a amenidade do lugar e o livre contacto com a natureza sejam apreciados por aqueles que de outra fonna o não possam fazer, como em diversas terras se encontra e cuja falta se nota entre nós. E' de inteira justiça pôr em relevo que esses notáveis melhoramentos obedecem ao Plano elaborado pelo engenheiro-agronomo Abilio de Barros e Sousa, que tem sido considerado como um valioso estudo e que muito abona os créditos de profissional distinto, de que merecidamente gosa o seu autor. A ilustre vereação, que tão zelosa e deligentemente tem dado execução a esse grande empreendimento e prossegue na sua inteira conclusão, é merecedora do maior aplauso por parte de todos os munícipes e particularmente pelos moradores da cidade do Funchal.

XIIl-A ARBORIZAÇÃO DO PORTO SANTO Diz-nos o doutor Gaspar Frutuoso, referindo-se á época do encontro do Porto Santo, que esta ilha era "entam coberta de dragoeiros e de zimbros e outras arvores até ao mar". Essas duas especies arboreas desapareceram ha muito da superfície da ilha vizinha, apesar das almas do município conservaram no seu escudo um "dragoeiro", como autentico testemunho da superabundante existência dessa arvore. Da natureza das outras espécies florestais, que ali seriam encontradas e que o vandalismo dos habitantes teria feito desaparecer, não ha noticia seglll'a, sabendo se no entretanto que não é exagerada a informação de Frutuoso, possuindo primitivamente uma apreciada vegetação, que com inteira certeza não logrou uma dilatada duração. Não temos conhecimento das medidas, que através do tempo se houvesse adoptado para uma tentativa de proveitosa rearborização, a não ser os apreciados trabalhos realizados pelo regente-silvícola António Schiapa de Azevedo pelos anos de 1900, encontrando-se no Pico do Castelo uma vegetação florestal relativamente importante que ainda do mar e a grande distancia causa a admiração do observador, em contraste com a aridez das outras eminências. Ao tratar-se da plantação do "vidoeiro" na ilha do Porto Santo, escreveu o ilustre botânico Carlos Azevedo de Menezes um notável artigo, que foi bastante apreciado e que encena elementos muito interessantes acerca do revestimento florestal daquela ilha. Vamos transcrever os períodos que teem mais intima afinidade com o nosso assunto. "O Porto Santo, no entender dos técnicos, deve ser arborizado com essências da região mediterrânea e nunca Com espécies da Europa média ou boreal, as quais teem exigências climatéricas a que o pais não pode satisfazer, já pela SUA posição geográfica, á pela pequena altitude dos seus montes, "Mesmo no tocante ás essências madeirenses, parece-nos que ha selecções a fazer, pois não é crível que se adaptem aos terrenos extremamente secos e pouco elevados do POlia Santo celias espécies que só prospera entre nós nos vales e ravinas do inte-

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011 então nos pontos elevados ais da nossa ilha.

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húmidos das encostas meridionais e setentrion-

para o revestimento do Porto que ali foram a que teem estado virá em que hão por não encontrarem nos telTenos e na atmosfera as lI1"1I,wr'r\,"<l

e morrer necessárias á sua existência. A falta de chuvas e o calor intenso com médias hibernais pouco dão o cunho climatérico da vizinha em monte e só cultivar-se com vanque se encontram na zona inferior da como o e não o que só começa aparecer com uma acima de 400 ou 500 metros e que carece de humidade para desenvolver-se. "Ora se o do P0I1o ainda o é mais o ional no alto

por ISSO que as dos de

.v.u"''''....,,,. caduca não são muito

climas Do que se carece na vizinha ilha é de arvores sempre como são em regra afim de tanto o solo contra a e as da das fontes. Com seu revestimento constituído por pouco melhoraria a das terras, visto deixar de ser muito restrita a inl1ucncia desse revestimento num de médias pouco de que estamos falando".

FLORESTAIS em o direito de era todos os Cpy·""·',",,, exercído por intermédio dos seus rerlre,:;erltal e outros se encontram referencias nas ores. Com a dos nos nr·Il1('Il,.n~ e não raro se suscitaram graves conflitos de entre essas ciosas dos seus c os tradicionais que se achavam discricionariamente investidos os chefes das lemos uma prova em mas das mais , das ainda restam LImas vagas e noticias Temos a ele que os "Baldios" das Camaras foram uma concessão tácita favorecida circunstancias de v,-"""""u, não existindo um que a tivesse autorizado. O decrescimento do dos 197


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as faculdades e privilegies que os "forais" e outras leis outorgaram aos municípios conduziram estes á posse incontestada de vastos tenenos, cujas delimitações ainda hoje não são bem conhecidas. Ignora-se a época Precisa em que as vereações municipais entraram na posse desses terrenos e na activa e directa administração deles e bem assim se desconhecem os anos e os termos em que foram organizadas as primeiras disposições camarárias ou "posturas" municipais reguladoras deste assunto. E' sabido que os capitães-donatarios, as vereações municipais e os governadores e capitaes-generais, durante o predomínio do poder absoluto, e os governadores civis. administradores do concelho, camaras e juntas gerais no período do constitucionalismo tiveram todos uma acção administrativa mais ou menos latitudinaria nos diversos serviços respeitantes á conservação e desenvolvimento das florestas nas serras da Madeira, mas as diversas determinações legais não assinalavam os limites e as faculdades da interferência dessas entidades, resultando vários conflitos de jurisdição, como acima ficou dito, e uma irreal e por vezes caótica orientação na execução e na pratica de muitas prescrições contidas nessas mesmas leis. Não foram importantes ou não ha delas conhecimento, as medidas adoptadas para favorecer a conservação das matas no período a que nos vemos referindo, a não ser a promulgação de algumas leis de caracter mais especulativo do que pratico, sem se obterem os resultados desejados. Faremos agora rápida menção cle alguns serviços florestais realizados desde o primeiro quartel do século XIX, que merecem registo especial neste lugar. Em circular de 15 de Outubro de J 804 recomendou o governador Ascenso de Oliveira Freire ás camaras da Ponta do Sol, Calheta e S. Vicente que cuidassem da arborização concelhia e da limpeza das ribeiras. Este governador cuidou também da arborização do concelho do Funchal e da maneira de se criarem os gados sem prejuízo das plantações. Em 3 de Maio de 1812, leu-se em sessão da Câmara Municipal do Funchal uma comunicação do inspector da agricultura na Ribeira Brava de haverem sido plantadas no seu distrito 9:233 arvores, incluindo 4:795 amoreiras. Em 9 de Novembro de 1814 mandou o governo interino da Macieira realizar sementeiras de pinheiros e o mesmo fez a Câmara Municipal do Funchal em 14 do mesmo mês e ano, utilizando para esse fim uns terrenos nas freguesias de Santo António e S. Martinho. Por 1821 criaram-se novos maciços de pinheiros, sendo o pinheiro manso a espécie que nessa época era mais procurada para as plantações, e em J 840 mandou o governo satisfazer uma requisição de vinte moios ele penisco, feita no ano anterior pela Câmara Municipal do Funchal. Foi durante o período em que o benemérito Conselheiro José Silvestre Ribeiro governou a Madeira (t846-1852), que a cultura do pinheiro bravo tomou aqui grande incremento. A correspondência relativa á rearborização das serras, trocada entre José Silvestre e as Camaras Municipais e administradores do concelho de toda a ilha, merece ser lida por todos aqueles que quiserem formar uma ideia exacta e clara do zelo e superior competência com que esse funcionário soube tratar um assunto, que tanto se prenclia com a prosperidade do país confiado á sua aclministração, corno

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se ver nos volumes da obra Uma De I í:l52 em diante só há a assinalar em matéria de ~ .. r\n1·i'7",';;n numero de arvores mandado executar não há muitos anos do nas margens levadas matas de para dentro do c a remessa que fez a dos I1m"estais para a ilha do POlto Santo de essências exóticas e das estão ali muito 1921

Pelos anos de 1900 e por iniciativa do civil e distinto madeirense Dr. .José António de foi a Junta Geral do distrito autorizada a estabelecer um corpo de inteiramente ao fim da sua nomeado de 1901 que estabeleceu a "Autonomia do a cargo da Junta C0111"1"',","''<'''' das florestas. de Maio de 1912 foi criada a Junta entre ao ruraL.". Os decretos de 8 de a doutrina dos decretos de 1911 e 1912, em necessidade de acudir se ao revestimento arbóreo decreto de 12 de Junho ele á

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Em deliberações subsequentes e especialmente nos anos de 1913 e 1944 voltou a Junta Geral a ocupar-se com o maior interesse do revestimento florestal de que resultaram apreciáveis benefícios para esse importante serviço. Merece especial referencia o valioso relatório elaborado pelo engenheiro silvicultor José Maria de Carvalho. No "Plano Quadrienal da Administração do Distrito" a realizar pela Junta Geral do Funchal, no período próximo futuro de 1946 a 1949 vem indicados estes serviços: Fazer a regulamentação dos cortes de arvores, desbastes e fabrico de carvão" e "11Fazer o povoamento florestal dos terrenos da Junta e de alguns terrenos baldios" Nos artigos "Região Agrícola (Nona) e "Regimen Florestais da 2.0 edição do Elucid Mad., encontram-se varias informações respeitantes a esta matéria. Nos capítulos precedentes, ficaram sumariamente indicadas as importes e frequentes medidas legislativas que se adoptaram através de quatro séculos, destinadas a proteger e a propagar as espécies florestais das nossas elevadas serranias: Vimos que as providencias promulgadas e os diligentes esforços empregados não corresponderam ás intenções dos legisladores e dos Governantes, em virtude da falta de uma rigorosa observância dos privilégios estabelecidos e da impunidade havida para com os audaciosos infractores. Em breve resenha deixamos também esboçados os motivos que justificam a promulgação de novas leis com as salutares prescrições que acerca do assunto as devem caracterizar, impondo-se para esse fim a absoluta e insofismável necessidade da criação de uma repartição central, que saiba, queira e possa dar o mais inteiro cumprimento e a mais, completa execução a todas essas determinações legais. sem excluir os necessários meios coercitivos e as severas penalidades que a eles andam sempre estreitamente ligados. Embora já esteja dito e repetido, de novo convém insistir na afirmativa de que não hasta a promulgação de novas leis, com o seu aparatoso cortejo de "instruções" e "regulamentos", tornando-se também imperiosa a necessidade de confiar a direcção dos serviços florestais a urna repartição especial, que, além dos indispensáveis requisitos de zelo e de probidade, que devem distinguir o exercício das funções públicas, possua o conjunto de todos os conhecimentos de caracter teórico e mais ainda de feição essencialmente pratica para o cabal desempenho desses importantes e especializados serviços. Não vá julgar-se que este alvitre, ha muito sustentado por nós nas colunas da imprensa diária, carece de autorizado e solido fundamento, pois que ele se acha defendido e preconizado por distintos engenheiros-silvicultores em vários relatórios e documentos oficiais Como muitas vezes tem acontecido na execução de certos melhoramentos, é de conjecturar que se levantem entre outros, estes argumentos de fraca e apenas aparente persuasão, mas que para muitos serão alegações de cerrada e indestrutível dialéctica: l.-A avultada despesa que importa a criação de uma nova repartição publica, a sua instalação e os encargos resultantes do seu grande movimento burocrático; 2.0-Não se tornar a benéfica acção de efeitos muito imediatos, tendo de aguardarse U111 ti.!turo mais ou menos largo para se reconhecer todos os proveitosos resultados dos serviços prestados;

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dos que te em directa ou indirectamente interesses dos á inteira dos chamados "inimigos dos arvoredos", e ainda outros não mencionar agora. estas linhas escreve, tendo-se assuntos, sempre momentosos para a Madeira, ha muito a crença inabalável de que Florestal é um mais assinalados da nossa terra e a todas as industrias e fontes de nr("""iPrl"i constituindo um grato que tenham condever a mais rendida nU"'''''''I''>'''' a todos desse melhoramento. Madeira Dr. Alvaro Favila Vieira abriu __.... ,.._...... em defesa da e do desenvolvimento das florestas da com um brilhante discurso no seio da l'Pl'l1'p"",nt" nacional e com as mais aturadas "",,,,,,. . ,,,,,, das Dela resultaram estados ordenados governo central e varias mcdidas Geral do Distrito. tToBse·glll esses estados e foram do continuou no fervoroso e novamente se ocupou com o costumado brilho e reconhecida momentoso assunto. em uma das da assembleia nacional no mês de ver em breve coroados os seus

XVI- VIVEIROS

Nos

ou em

arbóreas destinadas ao revestimento florestal das nossas ás essências de caracter e como mais deste estudo. Em varias tentativas se fizse dirá no bem e que no entretanto, uma media que se destinava e o seu runalcance para o tim tão favor dos nossos danamento constituiria um brado arvoredos. o ilustre e do Pereira Por Coutinho estabeleceu no Funchal um pequeno , que á morte. 'Ocorrida em não dar um desenvolvimento. Em um documento oficial de 9 de de 1799 diz-se que os terrenos destinados á das v~l''''''''''' setentrionais estavam situadas na do Monte e que as ""I,'''''''''' meridionais seriam cultivadas nos sítios que parecessem mais

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enquanto não se lhes destinasse terreno próprio". No ano de 1823, a dar se credito a uma informação oficial, distribuiu esse viveiro "para cima de vinte mil arvores" para diversas pontos da Madeira e Porto Santo, o que julgamos destituído de fundamento, havendo esse campo experimental sido extinto em 1828. Deste "viveiro" se encontra uma desenvolvida noticia no terceiro volume do Elucidário Madeirense. Oferece particular interesse ao que fica tratado neste capitulo a informação colhida em um jornal do Funchal e que temos por fidedigna. Já no capitulo Montado do Barreiro, nos referimos ao importante serviço de rearborisação que a Câmara do Funchal está ali realizando mas não queremos deixar de aludir ao "Viveiro" que a mesma Câmara mantém no sitio dos Saltos freguesia de Santa Luzia, destinado a fornecer as espécies arbóreas para aquele revestimento florestal. São muitos milhares de plantas e de variadas espécies, cujas sementeiras, tratamento, conservação e transplantação obedecem ao mais atilado critério. Tem a mais próxima afinidade com este assunto os textos, que em seguida transcrevemos, publicados em o "Eco do Funchal" de 29 ele Novembro ele 1945 e a que já acima fizemos referencia. "A distribuição das essências florestais está feita segundo as necessidades emergentes. Há o pinheiro, a criptoméria, o eucalipto. o carvalho para aduela, o azevinho, a nogueira americana, e o castanheiro, plantados aos milhares em extensas áreas. Há os tis, os vinhaticos, o pau branco, o barbusano, a faia, o seiceiro, as acácias e estão a seguir para esses montados, mais de 70.000 plantas de várias espécies, devidamente acondicionaclas no Viveiro do Reservatório da Câmara, ao caminho dos Saltos, onde se fazem as sementeiras. A industria de tanoaria com os massiços de carvalhos que se hão-de formar no Barreiro e no Pisão, lucrará com essas plantações; a indústria de marcenaria. com as madeiras de castanho e outras que já começam a faltar e a encarecer o seu valor, terá garantido o exercício do trabalho; os construtores encontrarão toda a espécie ele madeira para uso na edificação das habitações, desde o pinho da terra, até às mais raras madeiras para soalhos, molduras, "parques", e a exportação vai descobrir nesses montados matéria prima para a confecção das caixas de embalagens. A indústria resineira terá nessas florestas urna fonte de produtos exploráveis, e com as cascas de certas arvores encontraremos solução para as faltas que já se vão notando no amanho elas curtimentas, sem falarmos nas lenhas, cuja deficiência se vai tornanclo um pesadelo paras as elonas de Casas"

XVIl SELECÇÃO DAS ESPÉCIES FLORESTAIS

Tem sielo objecto ele estuelo e de discussão a escolha das espécies tlorestais preferida na rearborisação das nossas elevações montanhosas. Escasseiam-nos os conhecimentos de caracter técnico para emitir um autorizado parecer acerca desta matéria, mas as varias leituras que fizemos e as consultas a que procedemos, levam-nos u aceitar, sem talvez cometer um erro da maior gravidade, a opinião cio abalizado botânico madeirense Carlos Azevedo de Menezes, expressa em muitos dos seus escritos e corroborada por alguns distintos engenheiros silvicultores.

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estudo e apenas com uma atenta reflexão ocorre sem deveriam ser

que ainda se encontram nos montados do interior. que é a f10ra que deve fornecer as ""~I""""'"'' 1-'''_'-'1,''''' para o das serras, Preferir para o referido povoamento as exóticas ás como infelizmente tem sido é não só de florestais com que natureza dotou dum melhoramento utilidade não lenhosos estranhos a esta que tanto no seu desenvolvimenlo como na Há nada menos que trinta e tantas arvores e arbustos ao revestimento dos mais terrenos e altitudes da ilha. mesmo não fosse para nós um dever conservar as essências que nos restam, bastaria a circunstancia de todas elas ofereceram um maior grau dc ao solo e clima desta ilha para lhes dar o nos revestimentos a executar". "Não pomos em duvida que florestais de outras paragens susceptíveis de aclimar-se na montanhosa da Madeira e em nos vales do o que não vemos é a necessidade de recorrer tão somente a essas P~"'P(,lP~ para reconstituir as nossas razões de para a e desenvolvimento da vegetaç:ao "O é uma essência que connas vertentes da meridional e sctentridevemos ficar ao menos por lenhosas na "1"1',,.,,.,'7.,.-"' .... que não dar bom resultado. nos trabalhos cio revestimento floreconvenientemente não concorrerá somente para restituir ás será também o meio eficaz nossas montanhas a verdura e o frescor doutras de obstar ao tem a sua área ele das Atlântico" . •

"H',"".U,"IIHU~, diz o citado

XVIII-AS PRINCIPAIS das uma breve notícia acerca de que cobriram as nossas serras, e para isso N,·"'r,.,,",o os estudos do já tantas vezes citado botânico Carlos de do Elucidário no Arvores e Arbustos da lV«IU""U" e ainda em outros trabalhos da sua autoria. O Cedro-afamado e odorífero cedro da ilha é o pequena arvore de 4-7 metros com as flores

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has lineares ou linear-lanceoladas, terçadas, com 2 riscas brancas na pagina superior, e as gálbulas subglabosas e de ordinário amarelas. Este cedro cultivado nas quintas do Monte, Camacha e Santo da Serra, mas quasi extinto nas serras da Madeira, produz uma madeira aromática e leve muito apreciada pelos marceneiros. O tecto da Sé Catedral tài construído com essa madeira, e a ser certo o que diz Manuel Tomás na Insulana, serviu ela também para edificar a primeira casa sobradada que houve no Funchal. Esta espécie produz madeira clara, aromática e muito resistente. bastante apreciada na marcenaria, afirmando-se que tem qualidades insecticidas. Til-É uma laureacea de seis a vinte metros com as folhas coriáceas. ovadas. lanceoladas ou oblongas, peludas nas axilas dos nertros, com as folhas coriáceas. ovadas, lanceoladas ou oblongas, peludas nas axilas das nervuras da pagina inferior; flores pequenas, de ordinário hermafroditas, reunidas em paniculas; baga cingida parcialmente por uma cúpula formada pela base acrescente do perianto. Encontra-se nas florestas do interior e do norte da Madeira, e produz madeira com cerne e borne bem delimitados, este branco, aquele negro. Recentemente cortada, esta madeira tem um cheiro fOlie e bastante desagradúvel, que só desaparece completamente passados anos. A Madeira do til é de excelente qualidade e muito usada para moveis e diferentes outras obras. O "til branco", dos marceneiros, provem das arvores novas ou do albumo das arvores antigas. Vinhatico-Apreciada arvore de 19 a 25 metros sempre verde; folhas coriáceas, oblongas, ou oblongo-lanceoladas, adelgaçadas em ambas as extremidades, quasi agudas na ponta, publescente-sedosas em quanto novas; glabras depois de adultas, dum verde claro ou avermelhadas; paniculas axilares mais curtas do que as Jàlhas; pedúnculos comprimidos; flores dum branco esverdinhado; bagas ovóides, negras. Florestas e margens das ribeiras; frequente. Cultivado nas quintas. Agosto-novembro. Madeira duma linda cor avermelhada e uma das melhores da ilha. É muito usada para moveis e diferentes outras obrns, oferecendo semelhanças sensíveis com a do mogno (Sovictenia), se bem que lhe seja um pouco inferior, em qualidade. Como é muito procurada e a pagam por bom preço, é avultadissimo () número dos vinhaticos que todos os anos são abatidos nas serras, o que pode trazer a rápida extinção desta espécie, por tantos motivos preciosa e já hoje rara em pontos onele outrora era abundante. A casca do vinhatico é usada para curtumes. Urze molar-Esta espécie, embora quasi sempre arbustiva, pode atingir R a 10 metros de alto, e conhecemos outrora alguns indivíduos cujos troncos mediam I a 9 metros de circunferência. A madeira desta espécie é rija, compacta e dum castanho escuro mas fende com facilidade, sendo por isso pouco usada na marcenaria. Nos campos empregam-na às vezes para gamelas, colheres, etc. Os caules não muitos grossos, dão excelentes bordões e paus de rede. A urze dml1sia é quasi sempre arbustiva, e só nalguns casos chega a atingir 4 e 5 metros de alto, apresentando então um pequeno tronco com 20 a 30 centímetros de diametro. Os seus ramos, além dos usos indicados, servem para o preparo de vassouras. Loureiro-Vem assim descrita esta espécie 110 "Elucid. Mad.": Arvores da 111l11ília das Lauraceas, de 6 a 20 metros, com as folhas persistentes e aromáticas, as umbelas reunidas em fascículos axilares, de ordinário mais curtas que os pecíolos. e as bagas

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raras vezes amarelas. Produz madeira inferior à das outras e suas folhas são usadas como adubo nas cozinhas. extraía-se outrora um óleo que servia na dos campos e que preparava cozendo as e dentro dum saco de pano, em pequenos de madeira. Como o óleo é mais leve de que o resto sendo tirado facilmente do em que se fazia ,aC''-l'''l,~v'',

a O loureiro encontra-se na e terceira zonas da nesta ultima é uma arvore de pequenas dimensões. Existiu outrora no Porto onde se sendo porem cultivado agora Arvores e Arbustos Madeirenses Barbuzano-Está descrita no referido termos:- Pertence família, "laureacea" e encontrA-se onde descc até às do mar, Pode vinte metros de alto e tem folhas coriáceas e às vezes pequenas, cm mais cm1as que as falhas. As que se observam a miolo na das tolhas desta arvore, constituem uma cecidea do Ereneum. madeira do barbuzano é muito pouco utilizado em razão de ser extremamente Na ilha do Porto Santo dão o nome de barbuzano ao Marmulano conhecida na Madeira de mam1ulano, As suas folhas a miúdo uma ceci dia por um quc foi descrito distinto da Silva Tavares no vo!. II da"Broteria".

hu

oom

folhas

reunidas em raGimos e frutos nas serras de S. da extinta na ilha. Produz madeira de bom

etc., mas está

um pouco a cor de rosa, muito

é usado para de a Madeira de 5 a 7 metros e da ilha. Tem folhas h"''''P'l1tI'~ nos e nas nervuras da res brancas em cachos formando Os troncos novos e os rebentões desta arvore dão excelentes "bordões" ou "hastes" muito usados e da madeira fazem-se etc. 'ra.goielrO~jl'eltel1ce à família das extinto na Madeira e de que Porto Santo não existe um tendo sido ali muito comum. Tem caules a " , O " ' O ' M •.,

Câmara IV!'''''''''',""" no seu brazão de armas.

Faia-A

do flores dioicas c ü'utos vermelhos e l1egros, reunidos em pequenos grupos em boa c os seus caulcs virtude da aderência das flores femininas. A faia

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são utilizados para estacas em muitos pontos da costa norte. A sua casca é taninosa, a sua madeira é de cor baça, puxando ás vezes a rosado, e os seus frutos, aparentemente polispermicos e granulosos, teem sabor agradável quando bem maduros. Sanguínho-E uma arvore madeirense de quatro a oito metros de altura, pertencente á família das "Rhaminaceas", com folhas curvadas ou ovado-oblongas, serradas, providas ordinariamente de 2 a 4 pequenas glândulas ou saliências na parte inferior da pagina superior. Tem flores pequenas, dum amarelo esverdinhado, dispostas em cachos curtos, axilares, e encontra-se na serra do Seixal e entre os Lamaceiras e o Ribeiro Frio. Produz madeira clara e homogénea, empregada outrora em embutidos, mas hoje desconhecida da grande maioria dos marceneiros, por ser muito rara. Seixo-Abundou em outro tempo, mas acha-se hoje quasi extinta esta arvore das florestas da Madeira, sendo hoje quasi desconhecido. Atinge 2 a 12 metros, sendo de madeira amarelada e é susceptível de bom polido, com largo uso na marcenaria em outro tempo".

XIX- PASTAGENS

Em muitos lugares do "Elucidário Madeirense" e nomeadamente nos artigos "Arborisação", "Gados", "Industria Pecuária", "Pecuaria", "Prados" e "Pastagens" nos ocupámos com alguma largues a das diversas espécies de gados existentes nas serras e baldios desta ilha, e de modo partÍCular no capitulo VI ("Inimigos dos Arvoredos") deste ligeiro estudo nos referimos aos consideraveis estragos que esses gados causam aos nossos arvoredos, tornando-se indispensável unia mais activa e eficaz vigilância por parte da guarda florestal e sobretudo uma severa aplicação das penalidades que a lei estabelece contra os transgressores. Em rápidas palavras, salientamos a inaudita devastação que os incêndios provocados para a "criação" de pascigos apropriados, originam em vários pontos com gravissimos prejuizos nas arvores e nos matos, nas forragens e nas nascentes e ainda em algumas culturas de propriedade particular. E conveniente reproduzir os seguintes trechos, publicados ha vinte anos, que conservam a mais flagrante e opOltuna actualidade. O gado suino, não menos prejudicial que o caprino, somente se encontrava até à altitude de 1400 a 1500 metros, causando sempre os maiores estragos, mas hoje (1926) estende-se até aos cumes dos mais altos montes. A conhecida Lapa da Cadela, pitoresco abrigo dos turistas e dos pastores, acha-se transformada em um imundo curral, com grande repulsão dos que por ali tramitam, devendo ser apenas reservado para os visitantes que procuram aquelas paragens. Em frente deste abrigo existia um denso e majestoso maciço de urzes secula-res, muito admirado por nacionais e estrangeiros, que o machado fez ha muito desaparecer (1921) As leis promulgadas para a "repressão desses abusos, tanto as mais antigas como as da época relativamente recente, tem sido impotentes para uma completa exterminação do mal, o que determinou a publicação do decreto de 23 de Julho de 1913, que ficou conhecido pelo nome de das pastagens.

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Do

À ARCA DE

NOÉ

Nela se a) centes aos donos desses c) dos mesmos rf''''i·p._',n~ lm!)eOtnclo que o possa sair dessas áreas; os baldios do estado ou das câmaras que forem destinados a

serão também inteiram en-te sómente

ser exercido por meio de

a

á caça e á embo-ra encerrando !-,U''''"IJ''"" e satisfazendo as necessidades do momento em que foram atlng1em inteiramente o fim a necessidade de os modificar e actualidade os trechos que tranReconhece-se

que esses

seus telTenos em ZO-l1a8 turas.

ha poucos mêses em um do Funchal: que ha lavradores nos campos que de utilizar os altas com receio de verem totalmente destruídas as suas cul-

está ainda para matar! estão sendo desses animais lrc:qllel11:erriente se haverem dado batidas ao desde da autoridade administrativa da mesma forma as serras do enfim todas as serras da Madeira. m0l111cnte o

com um foram matando a tiro o nocivo à ve:get:aç:áo, de culturas. E esse

influindo muito nisto as inl"i>''l1onr-ri "O numero de ovelhas aumenta ou os cães danados e os ladrões. "Os rebanhos vivem ali por falta de e muitas morrem para os homens. Se o verão decorrer seco, as ovelhas no inverno se este que em uma só ha Os cães são autênticos

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Al.Ill·Xro VIEIRA

noite consegue matar 50 lanígeros. Quando apareeem, os pastores organizam batidas até que os exterminam. Todos os unos apareeem eães eom esta doença, e felizmente dão-lhes para matar só ovelhas. "Os amigos do alheio, exercem a sua actividade no Paul da Serra de duas formas: uma é subtraindo fraudulentamente o gado, principalmelltç durante a noite e a outra é abrindo as cancelas para que o gado saia, apanham-no logo, alegando que estava a fazer-lhe prcjuÍzo nas clIltunls". "Não se torna nunca excessiva a insistência do que neste eapitulo se diz acerca dos grandes e frequentes estragos causados pelos gados, el11 virtude da falta da indispensável vedação nos terrenos em que eles pasciam livrellwnte, Apesar do que li tal respeito tão expressa e energicamente se dispõe nos decretos de 23 de Julho de 1913 e 22 ele Outubro de 1916, apesar das "batidas", 11 tiro de espillgllnla, feitas em legitima perseguição desses gados errantes e sem li lH!cessúria vigilüncia, apesar das muitas impostas aos donos desscs animais e aos seus respectivos guias ou pastores c ainda apesar da eriação de novos postos florestais e acrescentlllllento do scu pessoal, não é raro que lIS glebas laboriosamente agricultadus, que as incipientes culturas de vegetação arbórea, que algulls pequenos prados e lugares com proveitosas 'forrngens sejam invadidos, por vezes em multidão pelos vorazes lanígeros, caprideos e suínos das nossas serras". Interessantes e valiosas seriam umas notas pormenorizadas acerca do número das diferentes espécies cios gados existentes, que abrungessem diversas époeas e que parti<.:ulnrmenlc se rcJerissem II eadu um dos onze cOllcelhos do nosso distrito. Estú ainda por organizar Ul11ll estatísticll dessa natll\'eza e por isso nos limitaremos á inserção de alguns dados avulsos, colhidos principalmente nos rellltórim; do antigo agrónomo Edunrdo Dias Grande e veterinúrio Jouo '!'ierno l.! cuja inldra veracidade já roi contestada. Foram dois distintos e zelosos fUllcionúrios, qUl.! talvez não possuíssem então os elellll,)n[os indispensúveis pal'l\ a cxeeução de li\)] trabalho baseado nos mais Sl.!gul'Os meios de investigação. Ecluardo Grande, COlHO agrónomo do distrito e no Sl.!lI importunte relatllrio I'eferente ao uno de I ~63. dú-nos esta inlhrmução do gado então existente: bovino 2533H eabeças, ovino 44186, e eupril10 HI ~4(), sem fazcr lllel1çuo da espécil.! porcina. No relatório do veterinúrio João Tierno publicado em 1897, elleontram-se, com l\ designação ele gado recenseado, l.!stl.!S dndos l.!statíslicm;; No ano de 1852 exislium l)()894 cabeças de gtldo ov ino. H173<) de gado caprino c 18 de gado porcino; em IBM respectivaml.!llte 4418(1, X1840 l.! IlJ535: el11 1873 esse número era ele IHMO, IH040 c 22430; e em I H93 foi computado em I H3604, 16517 c 34530.

Respeitante ao uno dl.! 1803, segundo o relatórioucil11u citado, fixa-se em 44186 o numero ele lanígeros enUlo existente em todo o arquipélago, entrando nesse quuntitativo 32000 no cOllcelho do Funchal, o que nuo julgul110s proporcional aos dos Ou[ros concelhos. No notllvel Rdutório do engenheiro-silvicultor José Augusto Fragoso, apresentndo Ú 3u\1ta GemI no uno de 1929, lê-se que "são cerca dl: 80()()() eubeças de gado suíno, ovino c caprino l.!m ]1l.!rl'cilo estado selvagem." que SI.! acham disseminadas nas diversas pastagens da ilha.

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"Os donos dos no Paul da são em número de dessiminados a maioria modestos não sair cheios de aos costumes dos seus receando mau ano, no facto de se aumentar a área do e incorrendo em castigo da divina se esse aumenlo da área for para o lado do sol Em I

as Camaras administradoras do Paul da Serra ao

do

n. 1 do art.o 45 do Cad. Administ. fIzeram um comum, no istrar todo o a com se entendem os e 1 tesoureiro. "A tem o dividido em três zonas, a de Centro e tendo que destacando cada b,'TUpO 2 homens para cada uma, um grupo de 16 do comum, havendo assim todos os 6 homens a os rebando Paul da Serra. e salário aos e recontaxas camarárias e outras diversas que no fim do ano '-'""u,",,,,,, de contadas na ocasião do aITumo para a donos a sua conforme o número de a

tem encontrado escolhos por toda a

em 1942 havia 5447

1.

e

7125

de lã

Com a carestia. dos todos os fabricaram no campo cobertores para as suas camas, com lã dos seus ovinos e todos eles e famílias usam camisolas também de e de idêntico fabrico. grassou a os cordeiros substituíram o porco em todas as casas nas localidades onde houve As que 'ficam textualmente transcrítas que muitas consideram baseadas cm dados de caracter oficial dizem ao Paul da SeITa e referem-se somente ao fomecia os Passados poucos dias o "Eco do Funchal" existentes em todas as serras da que e Madeira: que em todas as serras da "Nós de fonte certa, que todo o assim classificadas: 55000 o número de 95000 25000 cabras e 15000 Embora referentes a diversas oferecem entre si uma os dados que ficam exarados acerca do numero das C::it}CC;lCl> existentes no nosso estando indicada a iniciativa de ullla nVt'Stlgaç:ao, que para a orll;an:iza\;ão

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seguro, pormenorizado e proveitoso trabalho de estatística. Relaciona-se proximamente com as considerações expostas acerca das "Pastagens" o que deixamos dito no "Elucidário Madeirense" acerca dos gados que pastam nas seITanias, quando motivos poderosos aconselharem o exercício de uma moderada industria pecuária. Somente ha poucos anos é que a industria pecuária e os cuidados a dispensar aos gados que pastam livremente nas serras começaram a estimular as atenções das estações oficiais e a despertar no publico um certo interesse por este assunto. Deve-se esse movimento inicial aos valiosos estudos realizados pela Intendência de Pecuária deste distrito, que acerca de tão momentoso assunto, elaborou um vasto e substancioso relatório, indicando os meios mais adequados a adoptar no nosso meio, atlm de se alcançarem os resultados mais proveitosos para a indústria agrícola da nossa terra. A selecção e aperfeiçoamento das raças, a criação e tratamento dos gados, a sua instalação higiénica. e assistência veterinária, as forragens, a produção do leite, a protecção mutuária e ainda muitos outros interessantes aspectos desta utilíssima matéria são tratados nesse relatório com grande clareza, com o indispensável desenvolvimento e com a mais notável proficiência, que sobremaneira honra o distinto fil11cionário que o concebeu e redigiu. Muito seria para desejar que se tlzesse uma edição popular desse valioso documento, destinada a ser espalhada pelos nossos campos e aldeias. Ao referir-nos, embora rapidamente a este assunto, seria cometer uma flagrante e imperdoável injustiça não fazer menção dos excelentes trabalhos insertos em alguns nÍlmeros do "Boletim de Informação e Publicidade", publicado pela junta Nacional dos Lacticínios da Madeira e dirigido pelo distinto engenheiro Luís Pedro Baptista, trabalhos que particularmente interessam ás relações da agricultura com a pecuária através da importante industria dos lacticínios.

XX-PRADOS FORRAGENS

Têm próxima afinidade com o serviço pecuário das Pastagens, versado no capítulo anterior, as considerações que acerca dos "Prados e Forragens" vamos resumida e parcialmente extratar dum estudo do ilustre botânico Carlos Azevedo de Menezes. Embora não Pertilemos a opinião dos que sustentam que a indústria pecuária dos gados lanígero, caprino e suíno constitui um apreciável elemento de prosperidade na vida económica da Madeira, não queremos deixar de referir-nos a este assunto, .que poderão oferecer qualquer interesse ou simples curiosidade a alguns dos raros leitores destc opúsculo. Os terrenos ervosos da Madeira entram quasi totalmente na categoria de prados naturais, existindo apenas alguns de caracter artificial na Quinta cio Palheiro e em mais duas ou três localidades. Nos prados naturais, relativamente ao nosso meio, ha a considerar os da região inferior, média e do interior da ilha. O grande aproveitamento dos terrenos para as culturas faz com que os prados da zona inferior ocupe somente certas encostas a\can-

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tiladas litoral e vários outros pontos, que embora menos sua natureza, distancia dos falta de agua outras mam ser utilizados na de ervas. Na sul da dominante em toda a orla marítima é a "trevina". as conhecidas nomes de "",'au,"v, grama, e ainda outras. "Os da inferior estendem-se até a altitude de 200 metros na costa do sul e de 150 metros na do norte, sem muito sensíveis na sua Nesta ultima certas escarpas do inclinados acharem-se cultivados todos de cana etc. Muitas das que aparecem na na do apenas a adicionar à lista das que são mais comuns nos desta ultima Os da média ocupam as margens das ravinas que sua não se prestam a e varias e outros terrenos não invadidos ainda culturas. Estendem-se até 750 aLi 800 metros, e sâo muitas vezes limitados ou cortados matas de formam masconsideráveis que sobem até altitudes a 1.000 metros. O mais conhecido na Madeira muito e os seus ramos novos dão uma boa convenientemente por causa dos que os revestem. de 700 ou 800 metros, começam os e do os o alto das serras, as ravinas centrais não arl30rizadas e ainda uma das vertentes meridional e setentrional da ilha. secos das montana Aira praecox, a estas que nos terrenos menos altos das vertentes aparecem associadas a muitas outras da indicadas nos e nas ravinas do interior barba de carga, e diferentes mais e que só vivem tiOS sítios húmidos ou ou destes assombreados. Nas ravinas da Ribeira da Metade e da Boa existe uma de folinfelizmente muito rara, que é c011siderada como das melhores da Madeira. Esta que é a Festuca albide e é da foi cultivada com bom resultado n'um terreno dos suburbios do Funchal. Na da

as aguas de Na e na zona canstantemente visitada as ervas conservam-se verdes por mais o que é de ainda mesmo para os Crlaté meados ou tlns de adores de ''''"11''',"'''''0 do litoral que lá sobem fi às

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cia. Em geral, o chamado pastor é um pequeno agricultor ou trabalhador rural. E é curioso notar-se que em algumas freguesias, ao termo "pastor" anda ligado o significado de mandrião e pouco amigo do trabalho Como já ficou exposto no Cap. VI, o pastor é um inimigo dos arvoredos na preparação dos pascigos apropriados para a alimentação do gado, recorrendo algumas vezes ao incêndio, que não raramente toma proporções assustadoras. Este motivo por si só bastaria para a completa eliminação da industria pecuária. Não deixaremos de notar a responsabilidade que a essa devastação se acham ligados alguns proprietários e até funcionários públicos que, por intermédio de uns pobres pastores, manteem também em livre pastagem as suas dezenas de porcos, cabras e ovelhas, em diversos montados da ilha. Uma das mais imperiosas razões que aconselham a extinção da industria pecuária, como tantas vezes se tem dito e vem consignado em relatórios oficiais, é a absoluta fEdta de abrigos ou currais adequados para a recolha dos animais especialmente na época das grandes invernias, que com frequência se desencadeiam nas serranias do interior. Disse um distinto engenheiro-silvicultor que os gados na Madeira pastam "em estado selvagem", devido á pouca assistência dos pastores e á ausência completa de redis convenientes, não sendo para estranhar que seja tão considerável o número de animais, que por essas causas morrem todos os anos. E sobrevindo, como de longe em longe acontece, uma dessas invernias com aspectos de aluvião, alguns milhares de animais terão de desaparecer das nossas terras de pastagem. No Plano Quadrienal dos trabalhos a cmpreender pela junta Geral do Distrito no período de 1946 a 1949 vem apontada a construção de redis, o que representa um beneficio prestado á indústria pecuária do arquipélago. Pelos motivos que ficam sumariamente expostos, compartilhamos da opinião elc muitos proprietários de terras e especialmente de alguns distintos silvicultores que não acarretaria graves prejuízos e seria até vantajosa a extinção da industria pecuária da nossa ilha. Deveria para isso proceder-se a um conveniente estuda do assunto, restringindo-se gradualmente o exercício dessa industria e estabelecendo o prazo máximo de duas dezenas de anos para sua completa extinção.

XXIJ A FLORA MADEIRENSE Abrimos este ligeiro estudo, mostrando que a Madeira era uma região de natureza essencialmente florestal, embora o vandalismo dos homens procure desmentir esse tão acertado juízo, que a história atesta e a cxperiência plenamente confirma. Queremos terminar, aduzindo alguns elementos de caracter cientifico, que a botânica oferece, para provar que, além dessa acentuada feição arborescente, guarda também todas as condições próprias de 110ra de aspecto universal, com uma rica e larga representação das mais variadas espécies do reino vegetal, espalhadas por muitas partes do nosso planeta. Vamos para isso recorrer aos homens de ciência, que se ocuparam deste assunto e de modo especial a Richard Lowe, Eduardo Dias Grande e Carlos Azevedo de Menezes.

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vezes distancias consideráveis, As dos S.

de que são para o sustento dos os estão

que nascem turas, nos "Nos tenenos das serras. situados acima dos bardos ou minadas quc ficaram no solo e a 1V""'!;"" senão o único alimento do causam indivíduos novos das varias arbóreas e arbustivas que crescem nas ,"r,""'''" e muito conveniente seria antes no sentido evita-los tanto "O Paul da Serra é

""'''''''"'''''''' desabitado e inculto em razão da sua altitude e da ano coberto de nevoeiros densos. Mesmo no muito pouco salvo nas das Seixal e Ribeira da no norte, e da Ponta do ,"",,,,",,,,,,Arco da Calheta e Sena cle setentrional e ainda do FanaI A feiteira uma labie da levada do Pico da ada conhecida nome de alecrim da serra, silo as únicas verdadeiramente abundantes em toda "Dos 30000 hectares de terrenos incultos que existem na Madeira que 10000 ervas de boa ou má para sustento animais. Se esta vasta fosse devidamente isto é se procurasse melhorar as suas muito lucraria com isso a industria que carece para desenvolver-se de recursos dos que os que a ilha agora oferece.

XXI-A INDUSTRIA do exercício da industria a sob já nas nossas serras, mas não reconhecendo a sua os alvitres que convinha defeitos de que ela enferma e alJlml<Ul no caso de ser como o tem sido até à um erro supor-se que essa industria tenha reflexo favorável na economia do quer esta considerada de modo individual. O seu não afectada a nem diminuiria os parcos interesses dos que a ela se ,,,,,,,,,,"',,,,,, O "oficio" de não constitui uma e são poucos os que a ela se dedicam e fazem do seu uso um meio seguro de manter a existên-

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Aos forasteiros de uma mediana cultura intelectual que nos visitam, fere logo a sua atenção os belos trechos da antiga e opulenta vegetação t10restal que ainda restam e de modo particular a variedade e abundância das espécies botânicas, sobretudo dispersas em varias quintas e jardins desta ilha. Encontram-se em familiar e agradável companhia, respirando o mesmo ar e iluminadas pelo mesmo sol, diz-nos um desses homens de ciência, plantas de quasi todos os países do mundo, sem serem precisos abrigadouros ou estufas para a grande maioria delas-circunstancias que dá logo a ideia da excelência do clima e da bondade do céo, que a cobre e protege. Representa um trecho, reunido da 110ra de latitudes muito diversas, deparando-se ao lado das espécies arbóreas de porte altivo e majestoso dos países intertropicais com as plantas humildes e rasteiras das regiões setentrionais. Nesta ilha, como nos países montanhosos e em que se observam variadas condições do clima, são bastante diferentes as zonas de vegetações, que Lowve profundamente estudou e que em geral teem sido adoptadas por todos. Apesar dessas características diferenças, mantém o cultivo de outras plantas em zonas, que se distanciam entre si, pelas desigualdade das altitudes em que se encontram. "A Flora norestal da Madeira, diz Dias Grande, é muito rica e variada. A situação privilegiada desta ilha e a conformação das suas montanhas permitem que se encontrem aqui todas as Traduções de temperatura, e sem gozar daqueles extremos de calor e humidade, que produzem as luxuosas ostentações dos trópicos, é todavia rápido o desenvolvimento da vegetação e grande a diversidade das arvores sempre verdes. Por vezes mandou o Senhor D. João VI para esta ilha sementes de varias arvores tanto da Índia como do Brasil. Em 30 de Dezembro de 180 I vieram com grande recomendação sementes de teca e de diversas plantas. Mais tarde, em 29 de Outubro de 1800, vieram sementes das plantas da América constantes da seguinte curiosa relação ... (cerca de duas dezenas de espécies) ... A solicitude com que se repetiam estas remessas introduzia rapidamente na ilha as riquezas norestais de quasi todos os pontos do globo, e a ter a sua propagação e cultura merccido mais cuidado, seria ela hoje (1865) uma das suas mais importantes produções e de muita singularidade o ver cm tão limitada superf1cie a numerosa colecção de quasi todos os vegetais arbóreos do globo". São de um distinto regente 110restal e agrícola estas palavras: "".A primeira impressão ocorre-nos logo dominadora. A paisagem madeirense traduz-se nas massas vegetais que serpenteiam nas suas encostas e vales, que emolduram aqueles pontos brancos que são as casitas espalhadas nas t11ldas dos montes. A ilha dos Amores guarda ainda no seu seio as frondes arbóreas que serviram de ccnário à \lpoteose do nosso Épico e esse aspecto é sobre todos os outros aquele que no nosso espirito mais se arreiga, mais vulto adquire e mais domina a nossa sensibilidade." Em duas dezenas de páginas do "Dicionário Corográfíco do Arquipélago da Madeira", da nossa autoria, deixamos textualmente transcritas as palavras com que muitos homens notáveis em vários sectores da actividade humana traduziram as suas impressões ao deüontar-se com o maravilhoso cenário da nossa paradisíaca paisagem e em que de modo especial se referem à rica e variada vegetação Madeirense, tendo expressões de especial apreço e de enternecida admiração pela diversidade,

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NOE e Madeira" e da pena de Carlos

Ulí.";;l<t"U

da Madeira 265 muscincas e 916 "",C"UI<''', fica o grupo ou divisão das e o das vasculares com 45. No grupo das que consideramos endémicas e 55 que são comuns ao da Madeira e a outros de ilhas do o quc a dizer que 641 159 se não encon"~" .. ,,,,~~ repentre arvores, grupos, que são os mais são 1 da Madeira e 11 da Madeira e Canárias e 9 ou "',)<-1-,'-', por 22 4 das se não enconuma delas no vizinho de

Marrocos"

.XXIII "SOBRE OS

FLORESTAiS"

em na "Sociedade de José Mateus

ao dos tendo Sua Ex.a o Ministro da "''''JHUlL por seu ",.. Dezembro do concordado com as directrizes fixadas deve ser ,.",j·", ..,'nhe-Q

'pUVHU

o

florestais

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mentares indiquem como fim dominante a obter, a função de protecção do solo ou do regime hidrológico: b)-a máxima produção lenhosa, por intermédio duma silvicultura intensiva, em toda a restante supert1cie a arborizar: c)-a reserva dos valores ameaçados de destruição, de natureza geológica, botânica, zoológica, ou antropológica que existem no Arquipélago, incluindo as Desertas e Selvagens; d)-a correcção de lorrentes e a consolidaçã.o dos solos desagregáveis e ainda a criação de um serviço de socorros contra quebradas e desmoronamentos" Os trechos que ficam transcritos fornecem o plano cios trabalhos mais importantes a realizar acerca do revestimento florestal da Madeira. elaborado pela Direcção Geral dos Serviços Florestais, em virtude do despacho do Ministro da Economia de 4 de Dezembro de 1944, sendo de presumir que em breve se inicie a execução desse grande melhoramento, que é sem contestação um dos mais notáveis C0111 que (1 arquipélago madeirense tem sido contemplado nos últimos anos. [Fernando Augusto da Silva, O Revestimento Florestal do Arquipélago da Madeira, Funchal, 1946, parcialmente publicado in Eduardo de Campos Andrada, Repovoamento/lorestalno arquipélago da Madeira(l952-1975), Lisboa, 1990, pp.133-152]

EDUARDO DE CAMPOS ANDRADA [1954)

INTRODUCÃO

No prosseguimento da vasta obra de Povoamento Florestal que o Estado vem realizando no Continente foi publicado em 22 de Fevereiro de 1951 o Decreto-Lei n. 38: 178 mandando pôr em execução o Plano de arborização dos Baldios da ilha ela Madeira, a par da protecção dos arvoredos existentes, autóctones ou exóticos, e criando para esse efeito a Circunscrição Florestal do Funchal. Não obstante o interesse posto pela Direcção-Geral elos Serviços Florestais c Aquícolas na execução desta nova e delicada tarefa que assim lhe era cometida, só em fins de Abril de 1952 foi possível destacar o pessoal técnico necessário à concretização da referida lei. Desde então por várias vezes temos sido solicitados a proferir quaisquer palavras que visem o esclarecimento da opinião pública sobre o plano de trabalhos que os Serviços Florestais projectam executar no Arquipélago da Madeira, suas directrizes, objectividade, meios de execução e dificuldades a vencer. A esse incitamento temo-nos furtado até agora por reconhecermos quanto é melindroso abordar-se assuntos desta natureza antes que o conhecimento do meio, estudos criteriosos e os resultados das primeiras experiências permitam estabelecer com pormenor a orientação a seguir.

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ARCA DE 1'\0[,

ESPECIAL DO REVESTIlvfENTO FLORESTAL DA ILHA DA MADEIRA SOB O ASPECTO DO INTERESSE AGRO-CLIAiATICO E

É bem conhecida a utilidade da tra a económico essencial à vida de

como meio dc defesa condo clima e como factor

Desta mesma utilidade se têm Qrl<f>rf'ph"rl" há muito os na Ilha da como prova, transcrevem-se as sagens de uma que a do Funchal Rainha D. Maria II: "Senhora: Os rrr"nm'"

chuvas para o oceano; e os UCll:ClI\):> e das raízes que os sustentavao, inverno <UH",a\~aU ésta Cidade e todas as dos extensos males c que ellas ocasionão. u",,"''''''Uu.u'~, que todos os annos cresce, constitue a Câmara de sempre ao Ilustrado Governo de Vossa que tendão a os effeitos da dos elevados montes da Ilha da Madeira. O remédio mais efficaz e mais útil é o restabelecimento do ~T'\lnrF'rln """'1-''''0 vertentes". "Nenhuma Terra carece mais d'este socorro do que a Ilha da Madeira. Em nenhuma outra será elle mais ao Estado" "Deus a Vossa Funchal em aos 3 de Janeiro de 1852. Presidente: António Vereadores: João José d'Ornellas João de Freitas Corrêa da João da Silva João Lido de António João da Silva Bettencourt Favilla." na Madeira o t10restal assume dizerpor variadas razões. por o arvoredo natural desta ilha constituir um quase UnlCO no só nas Canárias existem uns arremedos desta laurisilva madeirense em que o o Pau a Faia '."'''''''''''''. o Teixo e o Perado são as mais nobres Pois tendo como certo

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que um dos mais graves erros que o homem pode cometer é provocar a extinção de uma qualquer espécie dos seres vivos com que a Natureza o dotou, compreende-se imediatamente que se tomem todos os cuidados para evitar que isso aconteça com este raro tipo de vegetação de que a Providência nos fez fiéis depositários. Não temos, de facto, o direito de deixar desbaratar essa dádiva da Natureza que constitui, aliás, um dos principais valores e encantos desta Ilha de tão reconhecida e rara beleza. Se reflectill1l0S depois sobre as condições topográficas, agrológicas e climáticas que caracterizam a ilha da Madeira, somos forçosamente levados a concluir que o revestimento florestal é também sob este aspecto elemento que muito importa considerar. Com efeito, o extraordinário relevo do terreno, profundamente retalhado por essas ribeiras colossais, de tão esmagadora imponência, como são principalmente a de Machico, a do Faial, a de S. Jorge, a do Porco, a de S. Vicente, a do Seixal, a da Janela, a da Madalena, a da Ponta do Sol, a Ribeira Brava, a dos Socorridos, a de St.a Luzia e a de João Gomes, logo nos indica a formidável erosão a que está sujeita esta Ilha. Para fazer-se uma ideia do que é esse fenómeno erosivo basta fixar a atenção no volume dos materiais catTejados por essas torrentes ou reparar na extensa orla acastanhada que o mar apresenta na sua foz, durante a época das chuvas: que milhares de toneladas de terras e calhaus não serão assim levados, ano a ano, para o marl ... É, pois, necessário, para defesa do solo, que se mantenha arborizada a parte cimeira das serras e que se estabeleçam nos terrenos das encostas susceptíveis de agricultar-se cuidados especiais contra a erosão, mormente armando o terreno em sucalcos-"poios" e "mantas", segundo a terminologia madeirense-, constituindo valas de captação das águas-as célebres levadas com que o vilão põe à prova uma rara intuição a que a necessidade o obrigou-e estabelecendo sebes vivas ou faixas de vegetação natural que, orientadas segundo as curvas de nível, se oponham ao arrastamento da terra pela água das chuvas. Do mesmo passo assim se promoverá a conveniente utilização dessas águas que, uma vez disciplinadas, serão a maior riqueza da terra, o seu próprio sanguel Sem elas, em muitos casos, o agricultor madeirense ver-se-ia a braços com a miséria e seria impossível o progresso que nesta ilha se vai acentuando desde que as grandiosas obras dos Aproveitamentos Hidráulicos começaram a produzir os seus magníficos efeitos. Impõe-se por conseguinte não deixar enfraquecer as nascentes de água, essas fontes de que resultam tantos beneficias, e toda a gente conhece a notável influência que a arborização exerce nesse sentido: não tanto como elemento de atracção das chuvas, mas sobretudo como meio de intercepção dos nevoeiros promove a condensação da humanidade atmosférica, ao mesmo tempo que reduz as perdas por evaporação superficial, aumenta o poder de embebição do terreno e regulariza os mananciais de água no subsolo. Também sob o ponto de vista económico, propriamente dito, a floresta desempenha ainda e desempenhará por largos séculos importantíssima função nesta terra abençoada. Com tão densa população, a maior parte dos seus habitantes vê-se obrigada a autênticos prodígios de vontade e sacrifício para conseguir uma pequena

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de terreno que lhe dê o de cada dia: nessa árdua o vilão achar-se-ia a maior parte das vezes em deveras cdtica se não tivesse onde ir buscar lenha para o esteios ou tutores para as vinhas e rama e "feheira" para sustento e cama do etc. não deixar diminuir a de abastecimento de todos esses essenciais à vida deste laborioso povo, embora ele tenha também de e moderacão na forma E se se de estarmos numa ilha onde de um momento para outro ver-nos reduzidos exclusivamente aos recursos Impelrat'lva se toma a necessidade de evitar-se o do para que numa tal possa ela bastar-se a si em vista de que valeram e o que sofrmundiais os arvoredos da Madeira! llU'JM'""U e afonnoseavida suas que esse mesmo arvoredo ainda mais virá e suavizar. Ter-se-á assim uma ideia da que, sob os mais variados assume o revestimento florestal e melhor se a razão determinante da que o Govemo da vai estabelecendo e que a deliconcretizar.

E MELHORAMENTO FLORESTAL DA ILHA DA MADEIRA

DO

Relacionada com a referência atrás feita sobre o interesse científico das >Vi"""'<-""" florestais da a medida que se é a Reservas florestais que assegurem a para a dos núcleos mais deste único da flora lenhosa. civilizados se preocupam em dia com estabelecer um conde Reservas naturais e de Reservas florestais que a sobrevivência dos de VCIi!;ClaçalO Reservas

rPI",rPl:pnbt,v"

da Terra. Precisamente o ano foi-nos a U"",-,'",<-u.v das Reservas t10restais estabelecidas na ilha da Madeira com vista à SlJa num mapa de todD o mundo. Infelizmente não temos esse estudo ainda resto é fácil concluí-lo se nos preocuparmos com fazer baseado em reconhecimentos florísticos e outras "UIJ"'JLU'vlv

ç~IJ'<;;\"'U'"

a tomar para cada caso. em propor a de cinco Reservas florestais:

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a primeira nas alturas do Fanai; a segunda abrangendo a área baldia entre o Ribeiro de João Delgado ou Cova do Charrão e a Ribeira do Inverno, incluindo presumivelmente o Montado dos Pessegueiros se o Estado se interessar pela sua aquisição, como reduto interessantíssimo que é da vegetação autóctone da ilha; a terceira, na parte cimeira dos baldios do Concelho de São Vicente, desde a Bica da Cana à Encumeada e Pico do FelTeiro; a quarta, nos baldios do concelho de Machico, englobando o Lombo Matiinho e o Lombo Comprido, na parte que fica acima da Levada da Serra do Faial; a quinta, nos baldios do mesmo Concelho, na Serra das Funduras, incluindo parte do Larano, para reconstituição da sua vegetação primitiva pois ainda aí se encontram representadas algumas espécies que são já raras. Outras áreas poderão igualmente vir a ser consideradas para o mesmo efeito, à medida que vá podendo fazer-se um reconhecimento mais completo de toda a ilha. Estarão também nesse caso parte dos Montados da Junta Geral, designadamente os do Galhano, Rabaçal e da ilha, mas ai o caso tem menos acuidade pois esses estão de sua natureza acautelados e será então preferível aguardar a oportunidade de podermos, com a sua submissão ao regime florestal, estudar o plano de trabalhos a que deverão ficar sujeitos, de acordo com a Junta Geral do Distrito. Desta forma se constituirá um grupo de Reservas florestais e de Matas submetidas ao regime florestal que será garantia da conservação de alguns dos principais e mais representativos núcleos da vegetação lenhosa da ilha da Madeira. . Mas, se do ponto de vista científico e até turístico ou paisagístico, isto seria já muito interessante, do ponto de vista de defesa do solo contra a erosão e do melhor aproveitamento dos recursos hídricos e até do ponto de vista económico, há que ir muito mais além, defendendo a arborização ainda existente, quer nos terrenos baldios ou 110S particulares e promovendo a arborização das serras que se encontram desarborizadas sempre que isso seja tecnicamente possível e se imponha para bem da grei. Com esse objectivo, graças à feliz iniciativa de ilustres deputados pela Madeira, foi publicado o já referido Decreto-Lei n. 38: 178, de 22 de Fevereiro de 1951, que condiciona e regulamenta o corte das árvores nas propriedades privadas e manda pôr em execução o Plano complementar para repovoamento florestal dos baldios do Arquipélago da Madeira, trabalho este da autoria do Engenheiro Silvicultor José Maria de Carvalho e em que mais tarde interveio também o Engenheiro Silvicultor José Alves. Quanto ao povoamento dos baldios, há que proceder primeiramente à respectiva submissão ao regime florestal e fazer depois os projectos de arborização para serem submetidos à aprovação do Conselho Técnico Florestal e Aquícola e por 11m à aprovação em Conselho de Ministros. Está-se já tratando da submissão ao regime florestal dos baldios de Santa Cruz e Machico que virão a constituir o Perímetro Florestal do Poiso. Seguir-se-ão a seu tempo outros baldios igualmente desarborizados e onde se impõe também constituírem-se arvoredos que defendam o terreno, beneficiem as nascentes e se transformem por fim em utilidade e riqueza. Não obstante a importância destes objectivos, serão também tomadas em consideração algumas das utilizações que os povos vêm fazendo desses baldios, como seja a colheita de lenhas secas e varas, a apanha de matos e feiteira e até, embora isso seja

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e vacum, reduzi-

1·""""1-:"'11 de

os baldios de Santa

modo serão "''',U'''Ud;:', lenhas secas, etc, Esses trabalhos de conhece da aUU}./lld\-

em que se atenderá apenas à menta da f.I"'''''')'';''' lJaIU"'-'~. casas para a trabalhos e exercer à da ora a Lei apresente

para conveniente Do mesmo outras servidões dos povos, tais como '''11''-111'''' tendo por base o que se as conclusões a que o reconhecimento do terreno Deste modo há-de haver zonas em nr{)tpl~{'~'"

e marcenaria, outras ainda de ou embelezaassim

!lPf)mn""",,r

melhor os

com que o caso se anlt'eSlente. a decisão de ser ou não autorizado o corte. Florestal do Funchal está subdividida em duas a Florestal do Funchal e a Florestal da Ribeira Brava a metade leste da Madeira com a Ilha do Porto Santo, e a metade oeste da Madeira. Em cada uma destas Florestais superintende um por um regente florestaL dos Arvoredos e Florestais por sua vez zonas ficar cargo de um mestre florestal que oriente e florestais colocados nos Postos que se incluem no a UI.- cua.\rau seu âmbito. Além de seis mestres do auxiliar da C'nlm-r,nrt" 28 que este-número é manifeslamente insutio aturado de e de fiscalizaciente para manter com que há que manter outros tantos florestais", de e que com estes cooperem nesse e noutros Estes esclarecimentos não têm interesse de nem sequer constituem inotoda esta é a mesma que estabelecida com o aumento de 1'\.'-')'."U""',," da Junta Geral do Lfl,'UJ.tU,

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pessoal técnico e de quatro mestres florestais de 20 classe. Aliás, vem a propósito mencionar, como justo preito de homenagem que só agora se torna oportuna, que também noutras pmticularidades da organização do Serviço a Circunscrição Florestal do Funchal se baseou na orientação que estava sendo seguida criteriosamente pela Estação Agrária da Madeira. Interessará referir agora, para dar uma ideia do volume da exploração florestal nas propriedades privadas, alguns dados extraídos do mapa estatístico do movimento de cortes de arvoredo em propriedades particulares, no ano transacto. Assim, quanto aos pedidos de corte expressos em números de árvores, deram entrada na Circunscrição, em 1953, nada menos que 1.115, correspondendo-lhe um total de 15.616 árvores, tendo sido autorizados, total ou parcialmente 919, afectando 13.686 árvores (87,6%), e recusados 196, abrangendo 1.930 árvores (12,4%). Mas os pedidos de corte podem ser também expressos em superfície, e assim foram apresentados no mesmo ano 512 pedidos de corte abrangendo 1.780 ha, dos quais foram atendidos 451, referentes a uma área total de 1.665 ha (93,5%), e recusados 61, correspondendo-lhe a área total de 115 ha (6,5%). Estes números provam de qualquer modo não ter justo fundamento alguns comentários por vezes feitos ao exagerado rigor com que os Serviços Florestais vêm obstando ao corte de arvoredos em propriedades pmticulares. Não se tem compreendido, ou não se tem querido compreender, por exemplo, porque razões contrariamos geralmente um corte de louros, faias e urzes, quando o proprietário se propõe cultivar, em substituição desse arvoredo que pouco interesse lhe dá, pinheiros, eucaliptos ou acácias. E a razão é clara: já atrás se focou o papel que o arvoredo exerce na captação da humidade atmosférica, pela intercepção dos nevoeiros, dando origem às chamadas precipitações ocultas ou horizontais; pois essa influência, aqui posta tanto à prova, é sobretudo importante quando o arvoredo exerce coberto permanente, com toda a exuberância das suas condições naturais. De facto reconhece-se, modemamente, ser muito mais vantajoso, sob o ponto de vista de defesa dos recursos hídricos, manter intactos, no seu lugar de eleição, esses maciços florestais espontâneos, do que deixá-los desbaratar e, como compensação, pretender levar a arborização, quase sempre com base em espécies exóticas, a zonas mais pobres e desprotegidas onde algum arvoredo que se vá constituindo, onerosamente, nunca poderá exercer influência que se compare à da nOl'esta natural. O maior entrave tem sido feito, portanto, ao corte das espécies indígenas, sobretudo quando as árvores não apresentam ainda sinais de decrepitude sendo ainda de notar que as autorizações de corte correspondem muitas vezes a parte dos rebentos de touças cuja vitalidade fica assegurada pela conservação de outros rebentos. Assim, por exemplo, dos 45 pedidos feitos para cOIte de tis, englobando 332 árvores, foram atendidos 26, ou sejam mais de metade, mas abrangendo apenas 54 tis, isto é, 14,9% do total que fora solicitado para corte. E, quanto às outras espécies: de 16 pedidos englobando 50 vinháticos foram atendidos 11, abrangendo 24 (47,8%); um pedido para corte de 2 Paus brancos, foi autorizado (100%); de 15 pedidos englobando 60 louros, foram atendidos 8 abrangendo 28 (46,6%); de 11 pedidos englobando 51 faias (das Ilhas), foram atendidos 9, abrangendo 19 (37,3%); um pedido para corte de 50 folhadeiros foi autorizado (100%); de 7 pedidos englobando 15 seixos, foram aten-

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11,

Também foram feitos para de lenhas secas num total de 151 lendo sido autorizados 8, num tolal de 127 toneladas (81 Foram além disso recebidos 808 de corte de acácias com menos de 20 anos de uma área avaliada em 282 e para corte a Lei a apenas à do terreno no prazo de dois anos. E por último concederam-se 28 para fabrico de carvão de lIveira e e para de chuvas que decorre tendo sido recusados 3

e esclarecimentos sabido como é que atender às necessidades de cada não tem onde ir buscar madeira ou lenha de que necessita para os seus caseiros se lhe não for facultado utilizar-se das árvores que na sua promas, o valor dessas o que 110 terreno e o seu estado de é que influem fundamentalmente para que o seu cOJie ou não autorizado. Desta forma se vai e moderando a tendo em vista evitar que por da florestal na posse dos

JII-ASSlSTENCIA

AOS PAR TlCULARES ser meramente iJH.. "l~m"""l"''''' em estupara orientar a que assegurem o êxito dos investidos. que sirvam de base a uma ori-

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entação segura da actividade particular, exercida esta em circunstâncias as mais COIllplexas e incipientes, não se fazem do pé para a mão, pois no campo da silvicultura os elementos em experimentação têm quase sempre maior longevidade que o próprio homem. O trabalho basilar a fazer será o levantamento do cadastro florestal do Arquipélago da Madeira, isto é, o reconhecimento das condições em que se encontram as diversas essências florestais indígenas ou exóticas, seja quanto ao seu âmbito, estado de vegetação e desenvolvimento, ou quanto ao interesse e valor económico que produzem. Sabendo-se, por exemplo, que algumas espécies exóticas, como o castanheiro, o carvalho e a nogueira, devem ser os elementos com que melhor poderemos contar para garantir o abastecimento das madeiras necessárias ao consumo intemo, é preciso tratar de reconhecer quais as regiões mais favoráveis à cultura dessas espécies florestais, para que se cuide de aí a intensificar, banindo a cultura de outras essências que, embora de mais rápido crescimento, estejam menos aconselhadas até por serem esgotantes da fertilidade dos solos, e passarem a ter um carácter de praga invasora, como principalmente acontece com eucaliptos e acácias. E de igual modo se impedirá o cultivo daquelas mesmas espécies produtoras de boas madeiras nas regiões que não ofereçam condições de meio f~1Voráveis, de modo a evitar que por ignorância ou capricho se constituam arvoredos sem futuro, mais susceptíveis ao ataque de doenças e parasitas que aí encontrarão campo fértil para a sua expansão com grande prejuízo para a sanidade dos arvoredos em geral. Em última análise consistirá esse trabalho em elaborar uma carta I10restal da ilha da Madeira, na qual se indicarão as manchas mais favoráveis à cultura das diversas essências, tendo em consideração o clima, a natureza do terreno, a altitude, a exposição e outros mais factores que sejam ele atender. A seu tempo passarão a ser fornecidas aos proprietários, a preço módico, as sementes e plantas de que necessitarem para a arborização de terrenos, de acordo com as indicações da carta florestal, para o que já vem despontando no viveiro florestal do Santo da Serra apreciável quantidade de árvores, designadamente castanheiros. Depois há que orientar os particulares na melhor forma de conduzir a exploração Horestal, quer no que respeita aos cortes finais, quer quanto às práticas culturaisdesramas e desbastes. É flagrante o caso dos pinhais que na ilha da Madeira, com excepção ela região do Porto Moniz e Ponta do Pargo, são geralmente explorados entre os dez e vinte anos de idade, para produção de lenhas de inferior qualidade. Se ao contrário, como a técnica aconselha, se fossem fazendo desbastes sucessivos nesses pinhais, acompanhados das convenientes limpezas das ramiticações inferiores, poder-se-ia obter alguns anos mais tarde material lenhoso de muito maior valia, essencialmente madeira para embalagem de que há tão grandc necessidade: basta dizer que S a 6 mil toneladas de madeira de pinho verde têm sido utilizadas nestes últimos anos para embalagem de frutas e produtos hortícolas, e já daqui se infere o granele interesse económico que o problema reveste. A questão estará em ver qual a maneira de conciliar o maior interesse económico

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dos casos pequenos que se vêcm assim tão cedo para _r--------suas marcas economias, Há 11 comliderur que se rosse aumentado o termo da para os vinte e cinco ou trinta anos obter dessUIll rendimento acessório a que, conduzida os que a Lei não afecta a da madeira e consubstancia nova fonte de receita com na economia nacional. Uma dus razões que nos tGm sido referidas por de não cios

ao esta razão feitos para a

a no entanto com ela muito

dos castanheiros é benellciar a dos

na Madeira e com mercado Florestais neste

de

vem também desenvolvendo no do essa assislên-

que

e~pel'l\lnos

possa ser

obter a

ao corte das melhores essências da dos a que tem estado

COMA li

cultura ou a dos arvoredos que é do e dos

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o fOl!o é a maior calamidade que pode atingir a vegetação: desde as árvores mais frondos;s até à humilde erva que cresce à sua sombra, desde o humus à fauna microbiana que é li vida do solo. tudo se perde ou aniquila na voragem das chamas! E aquilo que a malvadez, a ignorância ou a imprevidência assim fez destruir em poucas horas. levará depois anos. muitos anos. a refazer-se. Grande calamidade é, de facto, esta dos incêndios! No entanto. todos os anos, em dias de lestada sobretudo, irrompem os fogos em V~lriOS pontos da ilha, destruindo as alterosas labaredas núcleos importantes de vegetação. Quer esses fogos sejam ateados no intuito de preparar novos pastos ou com mira em colher-se depois as lenhas queimadas, ou ainda para limpeza de terreno ou por simples descuido, é preciso acabar de vez com eles. Os Serviços Florestais hão-de naturalmente tomar para isso todas as possíveis providências, principalmente fazendo redobrar a vigilância nos períodos e locais de maior perigo, dotando os Postos florestais com rede telefónica privativa para imediato alamle e melhor conjugação de esforços. promovendo enfim a aplicação de severíssimas penas aos infractores. Todavia o problema só poderá ter cabal solução quando toda a gente, principalmente a que vive nos campos, se dispuser a tomar as indispensáveis precauções para evitar os incêndios nas serras. De contrário está-se sempre mais ali menos sujeito a que surja aqui ou além um fogo e então, com o espantoso acidentado da ilha, por muito que se esforcem os guardas tlorestais, por mais decidida que seja a colaboração do povo que eles consigam apenar ou a das próprias corporações de bombeiros e militares, é sempre difícil evitar que cheguem a haver avantajados prejuÍzos. Trabalho insano e inglório que esse é. impõe-se divulgar entre o povo um verdadeiro temor do fogo, elemento destmidor dos mais terríveis. A questão do gado posto a pastar livremente nas sen·as é outro problema gravíssimo para a arborização e o principal responsável pelo desnudamento progressivo das serras da ilha da Madeira. Felizmente este problema vai a caminho de resolver-se com a retirada do gado suíno e caprino, conforme disposições tomadas pelos Serviços Florestais de acordo com todas as entidades oficiais do Distrito, e em cumprimento da Lei da Pastagem, de 1913. De facto, se há gado ruim é a cabra: de uma voracidade extraordinária, alcançando os pontos mais inverosímeis das serranias, ela destroça toda e qualquer espécie de vegetação que encontra; o til ou o pinheiro, a urze ou a uveira, a giesta ou o tojo, a silva ou a feiteira ... tudo lhe serve! No entanto, extremamente gulosa, tem especial predilecção pelas folhagens mais tenras e, mal descobre a pequena árvore que vem a despontar entre as urzes, logo a traça num ápice. O povo por sua vez completa a acção destruidora da cabra, pela grande quantidade de sementes que ingere e também pelo que lavra no terreno em procura de raízes, principalmente a da feiteira. Não vamos ao ponto de afirmar que uma vez retirado este gado das serras fique desde logo assegurado por processo natural o seu conveniente revestimento florestal. Muito haverá ainda a fazer-se para que possa concretizar-se de forma mais conve226


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niente e em de satisfatório essa mas é fora de dúvida que, sem se acabar com a livre aPllsc'entaç~io nas serras, nunca se ao e vacum, serão delimitadas as zonas dos condicionando-se apenas o número de baldios que ficarão reservadas para que ser admitido em cada de acordo com as suas possibilidades de e o conveniente ordenamento das Todavia u,"",,,,',-,,al-::;t:-i:l compensar a melhoria da para o que se pensa em introduzir mais conpara os fazer o melhoramento das pa:stal~enls, em bases racionais. este triunvirato dos da floresta o vilão que se dedica, sem lei nem roque, ao fabrico de colheres c vassouras. Os que essa das serras é também muito conàs vezes não tanto mas sobretudo falta de consciência com que os incêndios que provocam, irreflectida da onde ela é mais acessível e onde por vezes mais necessária seria a sua para defesa do terreno, \.,UIILUUU, que, uma vez submetidos os baldios ao nnnF','g" também ser por um lado com a concessão de condicionem o fabrico de colheres e de vassouras sob a estimulando o revestimento de vastas tram absolutamente e que assegurar o fabrico de revestidas ao menos de carvão necessário ao consumo da assim o arvoredo de maior valia que por vezes é sacrificado a esses fins secundários. Numa os Florestais sempre, com a melhor boa vonaceitável para com a encontrar uma e às mais comuns necessidades dos povos. Já assim o fizemos concedendo deliberadamente ao povo das do Seixal e Ribeira da Janela áreas para obter a feiteira necessária para a sua esmoitadas onde lhes é agora tura e em locais muito mais acessíveis do que os da serra onde iam furtivamente cortar ou incendiar as urzes para tornar viável o desenvolvimento da feiteira. Claro está que o vilão em o pastor, estará ainda um tanto desconfiado e incrédulo das que lhe apregoamos com esta Mas à medida que possamos ir tendo mais contacto com o povo e que este vá sentindo que se lhe não nega a da de mato ou de erva, desde qtle isso feito com o método e ele observar que lhe dá mais ter umas poucas ovelhas nos melhorados do Estado do que trazer à mistura com cabras e porcos, a livremente serras; notar brota mais das nascentes e que há já árvores onde só havia que a vida se lhe mais risonha e então ele há-de reconhecer a razão e a

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Serviços do Estado nos seus usos e costumes. Noutra ordem de ideias focaremos agora rapidamente o interesse que, sob o ponto dI.! vista turístico e recreativo, poderão desempenhar os trabalhos a realizar pelos Sen iças Florestais. De tacto basta supor. por exemplo, o que poderá vir a ser um dia o Perímetro Florestal da Serra do Posio. quando já revestido de arvoredo de folhagem variegada e far-se-á ideia de como poderào realçar-se os quadros de surpreendente beleza que desfruta o transeunte que. descendo do Poiso para o Santo da Serra, possa com comodidade seuuir esse triànuulo turístico de primeira plana, a dois passos do Funchal, apreciaml~ as vistas sob-erbas que vào desde os estranhos recortes cimeiros da ilha até li Ponta de S. Lourenço. Ou imagine-se que. à semelhança do que têm feito no Continente, vão também aqui os Serviços Florestais e Aquicolas promover o povoamento piscicola das principais Ribeiras e logo se adivinha o interesse que despertará ao turista a ideia de dar um passeio até ao Ribeiro Frio e aí passar umas horas entretido na pesca desportiva da tmta ou da carpa. Enfim, estes são aspectos sem dúvida secundários da actuação dos Serviços Florestais. mas que não deixarão no entanto de despertar algum interesse à população da Madeira.

1':0 CISO PARTICULAR DO PORTO SANTO Deixámos para o tim algumas referências à ilha do Porto Santo, mas isto não signitica que lhe dediquemos menos interesse. Poder-se-á até dizer que a última será a primeira, pois é no Porto Santo que os Serviços Florestais vão iniciar os seus trabalhos de arborização. Com efeito. não podendo ficar indiferentes em tàce de tão impressionante escassez do revestimento do solo e da intensidade dos fenómenos erosivos que se constatam no Porto Santo. juntámos o nosso grito de alarme ao de tantos outros que se têm esforçado por minorar esses graves inconvenientes. E de tàcto, em nenhuma outra parte deste Arquipélago será tão urgentemente necessária a intervenção dos Serviços Florestais, no sentido de se constituírem arvoredos que defendam o solo da erosão e venham a melhorar as condições de vida dos habitantes da ilha. Disto mesmo logo se apercebeu a Direcção-Geral dos Serviços Florestais e Aquicolas que mandou executar o projecto de correcção torrencial e de defesa do solo nas encostas do Pico do Castelo. Este projecto, concluído em Junho de 1953, foi posteriormente aprovado pelo Conselho Técnico Florestal e Aquícola e depois ainda em Conselho de Ministros, devendo entrar em execução logo que seja ultimada a aquisição dos telTenos particulares em que se realizarão os trabalhos. Outra qualquer solução não se tornava exequível, pois era impraticável levar a um regime de comparticipação com o Estado os proprietários dessas pequenas parcelas de terreno, muitos deles ausentes da ilha e com as propriedades entregues nas mãos de caseiros. Além disso, na maior parte, não dispõem de meios ou não têm interesse


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em realizar essa obra assaz que só ao cabo de muitos anos de nnl'tl'otif'~ representar valor materiaL ter presente que se torna do ten'eno em pequenos com muros de para dar à terra maior de embedas assim da erosão. E seria o que se em trabalhos desta natureza se ainda por cima os dissessem que do arvoredo que se fosse constituindo só ao fim de vários anos e C0111 muita lhe seria colher Só com a tomada de mente de harmonia com o seu fraco os trabalhos de defesa e revestimento do conta dessa obra de do terreno e de de arvorede que resultarão para os habitantes de Porto Santo beneficias tanto maiores mais vasta for a sua extensão. por no ora estar verba de 1.650 contos para a dita dos trabalhos a embora por um O a 20 anos, não deixará de ter cetio interesse de ordem económico-social. Mas não se trata apenas de uma maneira de dar trabalho: trata-se de modificar as e as de vida do Porto

Santo. coisa para reduzir as dificuldades por que passa essa que muitas vezes tem de recorrer à "rasteira", aos cardos e à bosta de vaca para acender o lume: queremos que se vão cavando cada vez mais fundo esses sulcos que as têm aberto no solo arraslando para o mar o melhor da terra; queremos ainda contribuir para o maior desenvolvimento e embelezamento desta ilha que só sua e sol um orgaconvenientemente o hoteleiras

Com este rumo eaminho. A é e não será para os nossos dias ver o seu termo. Mas o é começar; com e a boa vonlade de coisa háde resultar a bem da Madeira. de Andrada de 1954. 7 de

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ulação, Principalmente no Porto Santo, onde chegava a ser necessário o Govell1o conceder subsídios para alimentação em anos de maior crise, vai-se já notando no comércio o bcnefício resultante do emprego, quer pelos Serviços Florestais, quer pela Junta Geral do Distrito Autónomo, de toda a mão de obra disponível; mas também para a ilha da Madeira, caracterizada por uma elevadíssima densidade populacional, de mais de 300 habitantes por km2, são de grande interesse todas as realizações que concorram para a fixação das gentes que se veem forçadas a emigrar numa proporção de 5000 pessoas por anos segundo os dados obtidos dos últimos annos Daqui se infere que os referidos trabalhos, até pela sua complexidade, devem ser realizados com vagar e grande ponderação, Nada que se compare a "empinheirar" as serras de lés a lés, para a rápida produção de um material lenhoso que seria fácil de criar, mas cujo interesse económico-social seria duvidoso, de tão generalizada que já está na Madeira a cultura do pinheiro bravo, A isso se opõe, de resto, a própria natureza da nora espontânea, Não há na Madeira um palmo de terreno, por mais Ü"agoso, que possa desperdiçarse, Tudo terá que ser aproveitado da melhor forma, objectivamente, O problema estará em constituir, sob o ponto de vista técnico, económico e turístico, os arvoredos que melhor se individualizem com as condições ecológicas locais e de modo a assegurar, quanto possível, a coexistência da pastorícia, a colheita de matos e ervagens e a produção de madeiras de qualidade com que possam satisfazer-se as indústrias da marcenaria, dos embutidos, da tanoaria e da própria construção civil, defendendo-se assim ao mesmo tempo os mais raros e belos arvoredos naturais, Uma série de medidas havia previamente a tomar e esse tem sido o principal trabalho da Circunscrição Florestal do Funchal, desde há três anos: A regularização do aproveitamento de lenhas e matos, agora limitado a dois dias na semana; a proibição de cabras e porcos em livre apascentação nas serras; a delimitação das zonas de pastagem com bardos, para que o gado ovino e vacum não invada as úreas a arborizar inicialmente; a discussão dos próprios limites dos baldiostare/'a esta que nos tolheu o passo por mais de um ano, de confusa que era a situação; a construção de casas de guarda e de ovis com casa anexa para abrigo de pastol"eS por forma a permitir ordenar e fiscalizar a apascentação de gados e outras mais usufruições que o povo faz das serras; o melhoramento de caminhos, de modo a facilitar o acesso aos locais das construções e para benefício também das populações circunvizinhas; a instalação de viveiros nm'estais donde se espera poder retirar-se para os locais de plantação, na próxima época das chuvas, algumas centenas de milhar de árvores das mais variadas espécies; o estudo da rede divisional dos perímetros florestais, por forma a assegurar desde já as vias de comunicação consideradas mais necessárias aos trabalhos de arborização, como também à defesa contra fogos e à futura exploração dos arvoredos; a organização do sistema de vigilância e ataque aos I'ogos nos perímetros florestais e na propriedade particular; e alguns pequenos :nsaios efectuados quanto à adaptação de diversas essências florestais e ao melhoranento das pastagens, tudo isto representa, a par dos trabalhos de hidráulica florestal e ele arborização realizados na ilha do Porto Santo, alguma coisa já feita pelos Serviços Florestais no Arquipélago da Madeira, nos três allOS decorridos após a instalação da Circunscrição Florestal do Funchal.

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EDUARDO DE CAMPOS ANDRADA

arqIUl]:)él,lgO da Madeira constitui sem dúvida uma das do País onde a do "Plano de Povoamento Florestal", lei n. 1971, de 15 de Junho de se torna mais transcendente. Na Ilha o revestimento florestal assume é o fulcro em que, no futuro como no ;J''',~a'"v, a"\' .... ",a1'-"" os factores da economia do Distrito. baseia-se na floresta o do solo e da lime a que o madeirense se devotou até aos limites do com o de quem luta socorre-se da floresta a densíssima combustível para obter não só as madeiras e o e ramagens para para os tutores ou varas para fins '''-I-'a;.:,';,u" ou para vassouras; o fabrico de colheres de pau, a indústria de embutidos e o fabrico de carvão são outras tantas actividades que buscam na floresta a matéria é ainda a floresta necessária para das zonas de que lhes é ,"''''''''!;,''"'"' que, sem se vão exaurindo devido ao acidentado do teneno e ao deficiente constitui também a floresta um "h<;:'\"UI.av

sob o recorte das de sombras senas, de tão fortes tonalidades e bmscos npl1f1('.,.,,~ Por este enunciado se avalia o a dentro do dos baldios da ilha da n. 1971 que estabeleceu o Plano de Povoamento Florestal. que entre todos os referidos havemos que nos de ordem social. A mral vezes até severamente sobretudo às serras; mas ela luta também com necessidades fundamentais que não ser Todo o trabalho dos Florestais ter em a,,~f,,"".U educacional e coordenador das necessidades do povo, do que o IJu.JlalJll<OlUI,j material: não interessa tanto, na a económica da onza!;âO de uns milhares de hectares de mas sim levar o povo a cuidar da sua subsistência sem arruinar os bens incalculáveis que a Natureza à sua disDOIHC210 de forma tão Cal)m~llCisa. florestal a resolver nestas ilhas é, do de UIO..... ' ,J Ul"",,",<tV '"''''!lI''''' rloTes:tals, não ",,,,riP,..,,,,,., terras e a Por outro não deve esquecer-se o alcance social que re[)re:seI1lta, "'h''''''"I'DCU dos trabalhos a cargo destes como fixador da

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Mas, para que os trabalhos possam prosseguir com o devido incremento e oportunidade, de forma a alcançar-se o ambicionado êxito, torna-sc indispensável, por um lado, a aprovação do Governo às justificadas providências que lhe vão sendo solicitadas e, por outro lado, a continuidade do decidido apoio que nos tem sido dado pelo Governo do Distrito c demais autoridades locais. Assim como se impõe também, da parte de todos, a devida compreensão das medidas que se vão tomando para proveito futuro da população deste Arquipélago. Funchal, Maio de 1955 [Memorandum do eng" Eduardo Campos Andrada, chefe da Circunscrição Florestal do Funchal., in Eduardo de Campos Anc\rada, Repo\'oamento Florestal I/(} Arquipélago da Madei/'{/(l1J52-1975), Lisboa, (lJlJO, pp. 167-16~J

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Do EDEN À ARCA DE NOÉ

A LITERATURA E O ME IO NATl

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ALBERTO VIEIRA

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Do ÉDEN À ARCA DE NOÉ

INTRODUÇÃO

A literatura é um testemunho confidencial da relação do homem com o meio cm olvcnte. que se revela no dia a dia ou numa primeira descoberta do visitante.

Compilados alguns dos últimos testemunhos conclui-se que a visão que o visitante tem da Madeira obedece a estereótipos, dando a ideia de estar-se perante um produto que se vende aos visitantes. Os locais de referência e deslumbramento são quase sempre os mesmos, isto é. Pico Ruivo. Rabaçal. Caldeirão Verde ( ... ) O êxtase e estupefacção perante a realidade que se depara assume expressões e descrições repetiti\ as. quase que decalcadas umas das outras. Para muitos a ilha é uma lenda que aqui se reforça com novos testemunhos. É a lenda com título de FIO!' do Oceano. que tem expressão tanto em Francisco Travassos

Valdez como Júlio Dinis. Outros há, no entanto. que se detém com o deslumbramento daquilo que se revela diante dos olhos. É o quadro que se segue nos testemunhos de Julião Quintinha. Hugo Rocha e Henrique Gaivão. Para quase todos a prolixa presença de flores nos espaços ajardinados da cidade e das quintas ou na hannonia de

paisagem são testemunhos da beleza incomparável da ilha. Deste modo António da Costa Macedo definia com um Jardim da Flores. A presença

s..tlO!)::!w

ao

deslumbramento de João Ameai com os jardins. enquanto M. . . . v. lOOTiC?: se detém no da Quinta Vigia. É na verdade no espaço definido pelas qui, < ~~ns­ cs que mais se expressa essa exaltação da ilha. São de visitacbEHÃ do B'U"~ 1I 11~0It1 .. I)Q /llfI..l",r>(o

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Palheiro Ferreiro e Jardim da Serra. A quinta madeirense, segundo Luís Teixeira define-se pela exoticidade do espaço. A imagem bíblica do Éden está presente na maioria dos escritos numa manifestação explítita ou implícita. Beltrão Pato define aquilo que vê como um espectáculo paradisíaco e compara os vales da ilha que o acolhe aos do paraíso. E, Edmundo Tavares atrever-se mesmo a definir a ilha como um "rincão de magia e sonho, verdadeiro Éden o paraíso Terrestre", destacando o contraste entre o quadro natural e os jardins da cidade, definidos por uma variedade de flores. Esta é a ideia dominante em todos ou quase todos os testemunhos que compilamos. Mas a primeira visão poderá ser complementada com outras reveladoras de outras preocupações, nomeadamente a de entender como aqui se delineou a relação do homem com o meio. A fOlte presença do homem neste cenário é assim motivo de atenção para a maioria dos que escrevem sobre a ilha. Ao deslumbramento da paisagem, agreste, florida, segue-se a exaltação da presença humana. Quem melhor entendeu a realidade foi 1. Vieira Natividade. Para ele aquilo que conta na ilha que veio encontrar em pleno século XX foi a acção do homem. Aliás, a "A Madeira é obra de ciclopes", sendo o próprio vilão na sua fisionomia a "personificação da paisagem". Ele "não venceu a rocha apenas com a picareta e a força dos seus músculos, senão com a férrea têmpera e a sua indómita coragem". Para ele a ilha não é o Éden, mas sim "a epopeia do trabalho, a glorificação da sua labuta heróica", por isso, estamos perante um "campo de luta do homem contra as forças hostis da natureza". Esta opção foi definida desde o início da ocupação pois Zarco e Tristão lançaram um olhar cobiçoso "para os troncos dos arvoredos preciosos e para o solo fecundo em que a floresta vicijava". O trabalho secular expresso nos paios, nas produções agrícolas e no casnrio que emoldura as ravinas da ilha, é aquilo que se fica ela primeira impressão da retína que se sobrepõe à visão do paraíso. Este labor do ilhéu para humanizar o meio adverso é também testemunhado por Raul Brandão, Edmundo Tavares e Maria Lamas. Para além desta repetitiva viagem da ilha pode-se constatar o interesse por outras realidades, por vezes reveladoras de preocupações ambientalistas. Bulhão Pato, após o deslumbramento da Quinta do Palheiro Ferreiro, detém-nos nos "bosques, em que os ramos de flora europeia abraçam e beijam as árvores dos trópicos ... " Aqui a bondosa floresta não é uma realidade anónima. Ferreira de Castro vai mais longe nas suas observações. Primeiro tendo em conta a imagem do empenho que devastou a ilha 110S inícios de ocupação conclui feliz que o mesmo não chegou ao recôndito Rabaçal. No Poiso fica preso da imagem do "seu despovoado, animal e vegetal" que contrasta com o vale de loureiros da encosta de S. Vicente. Mesmo assim a acção do homem não é condenada pois ela foi capaz de transformá-la: "A ilha deixara de ser bosque para ser bosque, horta e jardim". Já no volume que o Marquês de Jácome Correia dedicou à madeira as preocupações são distintas dos demais que acabamos de referir. Não é o espectáculo visual de natureza que o atrai mas a forma como tudo isto aconteceu. Primeiro é a forma de formação da ilha e a descrição do seu solo, a que se juntam as espécies autóctones da flora local. Em contraste com a realidade evidência a acção do homem no repovoamento florestal da ilha com eucaliptos, pinheiros, acácias, carvalhos e pinheiros, que

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invadiram a nomeadamente vertente sul a do século XIX. Do testemunho de escrita madeirense retivemos apenas Eduardo Nunes e Horácio Bento de Gouveia. o olhar da natureza se através da e escrita dos para o éa vivência rural que o leva do ruralismo da ancestral do homem ao meio que envolve e

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de, lvfadeira-

Funchal,1981-1984

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ARCA

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Noé

FRANCISCO TRAVASSOS VALDEZ 1\825-\8921

SÃO tantas as maravilhas que encerra em si a Made ira que cm verdade quem a vê acrl!dilará por momentos que os jardi ns de Armida e os Campos Elisios da fábula

de\ criam ser como esta formosa ilha. chamada por excelência a Flor do Oceano. Julgar-se-ia mesmo que aque las maravilhas não são uma realidade. mas sim um

sonho

Oll

ficção de poetas!

( ... )

- Do Jardim da Serra seg uimos para diante e fomos admirar o maravilhoso quadro do Curral das Freiras, na proximidade da propriedade do referido cônsul. É um síti o tào interessante da ilha que qu ase se mpre é o primeiro que os viajantes costumam visita r c aonde têm luga r repelidos e agradáveis piqueniques, um dos recreios mu ito cm voga na Madeira, como quase tudo o que são usos e costumes ingleses, por ca usa do grande número de pessoas desta nação que frequentam a ilha e nela residem, principalmente os que procuram remédio contra a tísica naquele belo c saudável clima. nta ào há pena ou pincel que descreva a impressão que o vi ·aJti~;,· quando ao chegar ao cimo dum caminho construido a 800 met ros ~tit~ co mais ou menos, - se lhe apresenta de repente o vale do C urral das ~esenro lando-se- Ihe aos pés como um quadro fantásti co.

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24 \


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Suspende-lhe os passos um estremecimento involuntário, e, cheio de surpresa e terror, vê-se à borda de um medonho precipício de extraordinária profundidade; parece que as rochas basálticas se abriram, se fenderam por meio dalguma Cormidável explosão vulcânica, que provavelmente teve lugar em remotíssimas eras, e que despedaçando as camadas fundamentais originaram aquele vaso pasmoso, que a acção poderosa das torrentes, que desde séculos e séculos se despenham por aqueles serras abaixo, tem ido alargando cada vez mais ! [Francisco Travassos VaI dez, 4Mca Ocidental, cap. r. (1864 )in Cabral do Nascimento, Lugares Selectos de Autores Portugueses que Escreveram sobre o Arquipélago da Madeira, Funchal, 1959, pp 25,28-30]

RAIMUNDO ANTÓNIO BULI-IÃO PATO 11829-19121 Eram duas da tarde. Não havia uma nuvem no céu. Espectáculo paradisíaco! País privilegiado, não tem no mundo torrão, que lhe dê de rosto! As grandes eminências - o cabo Girão, promontório mais alto da Europa; o Campanário. nu montanha; a Senhora do Monte, sobre a cidade; e as fi'echas dos pieos, cravando-se no azul denso de um céu, que é já africano! Levadas e saltos de água, precipitando-se em catadupa; brocados pelas aluviões e rotos, os montes! BosCjues, em que os ramos ela /lora europeia abraçam e beijam as úrvores dos trópicos, embaladas pelas brisas do mar! Rosas agrestes, festonando os valados; lírios nos íl11pérvios; violetas bravas, mais aromáticas que as de Parma, nos brejos viçosos! Auras mansas e rescendentes, suspirando com a morbidez dos amantes ... Terra para os idílios ele Mosca, e para as trágicas fantasias ele l~squilo e Shakespeare. ( ... )

N os recessos daquelas serras, entre brenhas de verdura, as fontes frias fervem, e derivam por veias, a eujas margens noritas modestas abrem na força do clia e, noite cerrada, fecham, para esconder o aroma com que hão-de saudar 11 madrugada, entreabrindo os imaculados turíbulos! Ali não revoul11 as aves; mas das alturas, cantando, lá lhes anunciam, como em paga às primícias cio seu perfume, os primeiros lampejas cio Sol! Lábios de mulher, que nestes memorosos vales trocarem um beijo, devem sentir os primeiros el1úvios do Paraíso terreal! Com as flores rivalizam os frutos. O ananás, a anona, creme finíssimo, fabricado ao ar livre, por mãos ignotas; a bananeira reserva, rojando os cachos, c até o tabaibo, na sebe viva, eriçado de espinhos, abrindo o seio hostil e bravio, é ti'uto delicioso! Pâmpanos nas encostas, e sobre fraguedos alcantilados, dão o rucimo, eujo sumo, nos sumptuosos banquetes, atila a inteligência e alegra o coração! [Bulhão Pato, Memórias, ed. 19Xó, vol. II. pp.126-127]

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DA COSTA DE SOUSA

não conhece a ilha da ainda que ali não nunca ! Cemitério de onde tuclo fala de amor e tudo é formoso. Já um talento definiu do trazida mã.os dos para o meio a ilha: "Uma

para além

Se las flores delatassem os eladas Se fizessem 11<";'''''''' tristezas humanas ! (

se

das

... )

Castilho o

Autores

l~n'··1"rm.'>""

CARCIA RAMOS

Em volta desta baia. é que está edificada tilda de montanhas e, cm a do allll11::tda do seu risonha sua casaria brilhante entremeada elas árvores sempre verdes das suas praças c além da imerecida em que é Mas o que são os encantos dos seus arredores. Do inteaos montes que demoram por detrás dela c se goza formosura dos panoramas que os olhos relanceiam para lado que se voltem. Um desses panoramas é o que se desfruta do da da Senhora do Monte. A encosta dum monte que se eleva 11 649 metros acima do nível do mar, encosta por árvores e ele diversas e climas e 243


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águas dalguns riachos que correm em plácido curso, está povoada de pequenas casas a alvejar por entre os claros daquelas abóbadas e arcarias de vegetais" e em uma clareira, dominando a paisagem variadamente pitoresca, eleva-se a igreja da Senhora do Monte a mostrar de longe aos navegantes as brancas cúpulas das suas torres, depois, estendem-se diante do templo, em dilatado horizonte, vales amenos, bosques frondosos, sen'anias alcantiladas, vários acidentes naturais do terreno, e, como complemento do formosíssimo quadro que naturais e estrangeiros apreciam e contemplam, negras rochas de basalto defendendo a ilha das vagas do Atlântico, Espectáculo sublime! O Palheiro do Ferreiro, rica quinta no gosto inglês, com bela casa, tanques, lagoa, montado de veados, e ferregiais, pertence ao Conde de Carvalhal; a Camacha, que é, como o Monte, um continuado jardim somente interrompido por elegantes casas de· campo; e Santo António da Serra, com os seus deliciosos pontos de vista e com a sua lagoa no cimo da montanha, enchendo a cratera dum vulcão extinto, são bonitos arredores da cidade que os visitantes percorrem com entusiasmo. A quinze quilómetros para o noroeste do Funchal, à frente das duas mais importantes e produtivas freguesias rurais, Câmara de Lobos e Estreito, fica o Jardim da Serra, círculo quase completo de montes; arborizados, somente interrompido por uma abertura para o mar, limitada mas graciosa, onde está fundada, em assento eminente e em meio dos ondeados terrenos cultivados do vale, a abra para o lado do n011e o famigerado sítio do Rabaçal, vasto semicírculo de montanhas vestidas de verdura, donde brotam claras e sussurrantes águas que constituem uma solitária e encantadora cascata, cuja descrição é superior à energia da palavra e ao vigor do pincel mais hábil. Essas águas, que iam perder-se no mar ao nOJ1e da serra que do oriente ao ocidente divide toda a ilha por uma alta encurneada, encanadas e reunidas em uma levada, foram aproveitadas, fazendo-as atravessar ao sul da mesma serra por meio duma galeria subterrânea de 430 metros de extensão, a fim de irem levar a fertilidade a longos tratos de terrenos incultos e improdutivos. Em meio, porém, destes bosques frondosos formados de árvores seculares que encobrem com as suas copas o sol e o horizonte, em meio deste ambiente risonho onde rebentam fontes que serpeiam por entre pedras e verduras e que nos dão em cada represa um espelho e em cada trago a saúde, como é consolador ver o trabalho inteligente do homem realizar uma obra que não só vivifica a agricultura mas que acredita o povo que a empreendeu e não menos o governo que a custeou ! O espectador fica absorto em meio deste concerto da natureza e da arte e, ao despedir-se desse quadro magnífico, lança sobre ele um volver de olhos corno quem lamenta que. seja aquela a vez derradeira duma tão arrebatadora contemplação! [Acúrcio Garcia Ramos, Ilha da Madeira[l879J, in Cabral do Nascimento, Lugares Selectos de Autores Portugueses que Escreveram sobre o Arquipélago da Madeira, Funchal, 1959, pp.43-49]

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Do

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NOÉ

mostrar-lhe a Madeira através das recebe

a lbrmosa ilha da Madeira'? Levantando-se da espuma do mar como a crescia para nós a abrindo o seu seio benéfico e que nela só as suas derradeiras esperanças, um desses suaves prazeres como o que nos o encontro dum rosto e dum sorriso de ~ Formava um consolador ...",·"",.",,,'r.,,ra da ilha

contraste com a tremenda severidade do mar a amena

Para que a Madeira nos para que nos como lima verdadeira

a ao peso dos seus 110S mesmos pomares onde se enfeitam de l10res os !-'v,"uv,..,"v. As rosas, as as madressilvas t10rescem entretecendo os seus cachos roxos tudo tem um ar de festa e A dos ricos e dos f1 ores sorri cm

Mas não é só a natureza que tão afável e acariciadora se mostra aos enlermos que se

conso-

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lad9ras lhes vêm de origem diversa. E geral a simpatia que os doentes inspiram à gente da Madeira. Se os doces afectos de família, se os carinhos duma esposa, duma mãe ou duma filha se podem substituir no mundo, é aqui a tena para tentar a experiência. Sentis que vos rodeia uma atmosfera de simpatia. Pessoas que nunca vos falaram, que não conheceis, seguem passo a passo, com sincero interesse, os progressos das nossas melhoras ou as alternativas do vosso padecimento. Com o olhar que a experiência tem amestrado, estudam-vos no semblante as probabilidades de bom ou mau êxito na luta pertinaz da natureza contra o influxo fatal que vos subjuga. E esse prognóstico é quase sempre infalível. [Joaquim Guilhennc Gomes Coelho(Júlio Dinis), Inéditos e Esparsos, 1910,1. II, in Cabral do Nascimento, Lugares Selectos de Autores Portugueses que Escreveram sobre o Arquipélago da Madeira, Funchal, 1959, pp. 55, 58-60]

MANUEL TEIXEIRA GOMES [1860-1941] A primeira impressão da ilha da Madeira -tenebrosa e farta - é flagrante desacato a esses modelos respeitáveis e vem tributar-nos, a despeito de tudo, a estesia que honramos. Mas como chega depressa a reconciliação e como esmaece a aparente hostilidade suavizada em trechos surpreendentes, infinitamente diversos e de engenhoso arranjo! Pois haverá no mundo paisagem mais aliciadora do que esta que eu desfruto, agora mesmo, do jardim embalsamado e silencioso- da Quinta Vigia? Tudo é imobilidade e sossego no panorama em gris que a minha vista abrange: mar de calmaria, adamascado, com a sua orla bordada de barcos em relevo - cascos de seda tt'ouxa e mastreações de retrós - à luz igual, branca, branda, que o alto céu leitoso coa do Sol que se não vê; as verduras maciças da serra aliviando-se da espessura em verduras mais tenras, ao contraste dos casais caiados, e ao longe, sombrejando o horizonte, uns arremedos de Capri, ilhas perdidas cujas corcovas montam por sobre a última linha do mar. Os jardins aéreos da Quinta Vigia são refúgio inviolável a quem busca isolamento durante o dia, e o predilecto lugar de reunião, durante a noite, para quem não prescinde de diversões mundanas - com paradas à roleta. Paraíso com sol e Inferno com lua, sentenciará talvez o moralista vivaz e importuno. Eu não moralizo, amigo bem sabe; eu venho aqui de dia, quando fico no Funchal a descansar dos meus continuados passeios pela serra. Dentro da cidade não há sítio mais adequado a retiros intelectuais e, decerto, merecem preferência a quaisquer outras as horas de calor, contanto que se aviste e oiça o mar, para, sossegado o corpo, abrir ensanchas à imaginação e senti-la então largar pano, pouco a pouco, buscando rumo e hesitar na den'ota até que, ao leve sopro do mais fortuito indício, se faça de vela direito a remotas, desconhecidas, almejadas

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À ARCA DE NOl~

Do

( .. observadas até não escapam à humilurge notar-lhe que divisei aspectos de mIIJU<I,U'-' na minha recente ao Curral Grande ali Curral das Freiras, encerra no círculo das suas muralhas de grande muitas centenas de metros, um vastíssimo e de tintas tlmdidas a em culturas variadas e Tal é a Surà monstruosa de rochas bravias a e colorido somente se que não sopeamos a fantasia e, para ali trasladamos que ali mesmo se congregaram os exércitos de titãs para antes de acometer o céu, o Prestava-se a luz li visão exaltada na do ar que acendia as cOres como cristal das alturus onele me assomei. Tudo ali era nenhum relevo as úrvores de outra mais das suas manchas e movimento tlmclo matizado onde a do isode natureza enclaustrada SOibrepUla a outra. CC/Nas SI.>f11 JVloral

IVl"l?l?l!m

in Cabral do

que Escreveram sobre o

I

RAUL (am.MANO

1

11867- 19311

começa a erguer-se diante de mim lima coisa azulada e indistinta com lima nuvem cinzenta cm cima. O sol que bate nos altos ilumina o cone dum monte e de entre as névoas sobre a extremidade dum as l1odoHidacles disformes ela terra e C0111

os cortes cheio de convulsões I.) dilacerou e desmembrou o dl.)ixando das que ainda sangram, E nos bocados dI.) que acaso caíram e alastraram à meia dúzin de cnsinlms que têm por pano de fundo a massa espessa Indo de lr{\s, Seis horas: tudo avança e se verdes de culturas ClIllles de para o norte cle solenes qlle escondem a terra. cada vez mais violenta e mais negra, Mete 247


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medo. ~al Se distinguem as florestas nos altos enevoados, e os vales profundos por onde a agua no Inverno deve cair em torrentes. O navio segue encostado à falésia, que deste lado da ilha não tem fundo, mostrando-nos a Madeira cortada por um machado que a abriu de lés a lés, atirando com a outra parte para o fundo do mar. 12 um bronze severo e trágico, que contrasta com a entrada do Funchal e a outra costa da ilha. Vali olhando para as povoações - Jardim do Mar, Paul do Mar, agarradas às muralhas, onde só distingo escorrências de zinavre. Só o homem) só o homem é que se atreve a cultivar socalcos abertos a fogo na perpendicularidade da falésia! (Vamos tão perto de terra que ouço os galos cantar. Madalena do Mar, esmagada entre dois morros, que se reflectem em negro no veludo da água, Ponta do Sol e Cabo Girão, que a noite torna mais espesso e maior... Todo este panorama, na cinza do crepúsculo, recortado em negro num céu cor de chumbo, transformado pelas nuvens que baixam ainda mais, e desdobrando-se em sucessivos recOltes sobre a tinta parada das águas, assume proporções extraordinárias. Já mal distingo a terra até à ponta desmedida da Cruz, por trás da qual nos espera o porto de abrigo. A cada momento que passa, mais alto e mais escuro se me afigura o paredão que nos intercepta o mundo. Só há uma vaga claridade para o lado do mar; o resto é negrume alcantilado e monstruoso colaborando com a espessura da névoa e o indistinto da noite. Uma luzinha se acende na imensa solidão e na mancha cada vez mais opaca. É o homem, subvertido, duas vezes isolado entre a montanha e o mar. É uma alma. E essa pequenina luz humilde chega a ser para mim extraordinária de grandeza: é uma estrela que me faz cismar. 14 de Agosto

De manhã acordo em terra. Abro a janela e entra-me pela janela dentro o cheiro a trufa. Corro tudo no primeiro momento - as vielas animadas, as ruazinhas calçadas de seixos ensebados, onde deslizam carros de bois sem rodas, pintados de amarelo, com toldos frescos e cortinas de ramagem apartadas ao meio. Olho para as casas brancas e amarelas, de beirais caiados de vermelho e gelosias pintadas de verde, que dão ao Funchal um carácter familiar e íntimo. Tudo me surpreende: o calor, a luz forte, o jardim com fetos e um grande jacarandá de flores roxas, arbustos penetrados de satisfação, que na imobilidade e no silêncio vão desfolhando sobre a terra e deixando um charco rubro em roda. Uma gota de água cai ali para o fundo sobre outra água imobilizada. O ar é um perfume gordo. Sento-me sob os grandes plátanos que nos recebem ao desembarcar do porto - mancha impenetrável e deliciosa. Subo: um largo irregular e depois a igreja, grande cofre de sândalo com doirados e incrustações em madre-pérola. Lá dentro cheira a incenso e a madeira preciosa; cá fora, por cima dos telhados, descobre-se sempre a carcaça denegrida da serra. Vou ao mercado - o mercado atrai-me: pequenino, com duas ou três árvores e uma fonte, todo ele transborda de fruta como um cesto cheio - cachos de bananas amarelas, alcofas de vindima a deitar fora, com damascos, figos pretos sumarentos e entreabertos, a destilar sumo. Toda ii thlta aqui é deliciosa e a banana deixa na boca um perfume persistente para o resto da vida. Ao som da fonte de mármore que reluz em fios com uma Leda no alto agarrada ao seu voluptuoso cisne, isto forma um quadrinho todo em

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Do

ARCA DE

NOÉ

manchas

com sol às mãos-cheias por cima. A de colocar-se a as uvas as o vermelho dos "",,,u."". as araras e as aves exóticas pell0llra(laS nos troncos, e sob os de macacos de S. Tomé e o falatório cantado do povo da branco na e botas de cano alto que preparam os homens tisnados e secos. as de cabelo curto, vestidas de cortadas mesmo que a agora fabrica e para todo o mundo. A vista falha e o cheiro entontece. É meter [) fundos para dar as sombras estonteante orvalhado sombra é luminosa e Com ela das amarelo dos o vennelhão intenso das ",qCLU;,U'rosário. E se um cesto sai da sombra para a ardem e extraordinárias. E a refrescar o misturada com sol que por entre as árvores. Mas para ver a cidade e os subúrbios em sobe-se ao Pico de Barcelos. À medida que me afasto do centro, vão casinhas isoladas entre folhas das ainda em botão roxo ou onde amadurecido. Lá do alto descobre-se enfim o e do outro na Ponta de Santa que termina dum lado no Pico do com o fundo de serra ondulado. Os vales e as linhas dos enxurros sobre um leito de em e azuporque o céu forra-se de nuvens que envolvem montes. é ou os dias puros porque o céu da Madeira anda quase sempre correndo a fumaceira barreira imensa que toma todo horizonte do lado da ten'a e desce até ao mar em rampa retalhada de culturas e de casinhas que se vão à cidade branca e sensual. Tudo que se avista. à foi dividido em de cana muito de rama, donde tufos de numa tece e deslumbra. São de de campos e que nos o recolhimento e o silêncio. À a serra estende-se até Câmara dos Lobos. Só que me - os olhos em azul- é que os riscos violetas das encostas, as vivendas lá no alto entre vinhas e pomares, os na rocha e aberta ao meio por um violento e romântico. O carácter desta bem o procuro ... Atrai-nos por todos os sentidos e só tem um amoleeer-nos e .. os dos onde tudo se conserva alinhado e correcto, e as casmhas rusque são o meu enlevo. Passo e um banco. vezes basta um mu~o caíado com meia dúzia de vasos e flores - para ter uma de encanto que nao encontro Falta uma de alma de certos recantos por.",... "'_~_'~ que, COI11 dois e um sopro de erva, nos

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comunicam uma impressão deliciosa de repouso e saudade. Faltam-me as manhãs enevoadas e pálidas, os dias loiros e desconsolados com algumas sardas. Esta paisagem não se contenta com duas ou três árvores, o ar fino e pouco azul derretido: é exigente e pesada. É materialista e devassa. Ao mesmo tempo é bela. As palavras pouco exprimem nestes casos: o principal na Madeira é a luz que cria e tanto amadurece o panorama como os frutos, porque a única imagem que encontro para este conjunto é a dum fruto maduro que tomou pouco a pouco, com os vagares de quem não tem mais que fazer, as cores do Sol, as da manhã e do poente, e que chegou a um estado perfeito que delicia e perfuma ao mesmo tempo. A ten'a emerge da tinta azul com os tons quentes do ananás, que é o morango dos trópicos - paraíso sem frio nem calor, a que se ajunta ainda o sabor dos vinhos bebidos aos golos e cuja transparência se avalia através do vidro erguendo-o para a luz. A luz! dar a luz, seria tudo, mas só um pintor encontra este doirado- azul diluído que envolve toda a paisagem deitada a nossos pés como as mulheres que oferecem os seios duros com impudor e inocência ao mesmo tempo. As próprias árvores que irrompem de todos os lados - estranha vegetação tropical misturada com todas as outras: ciprestes, cactos, plantas envemizadas, entre grupos de pinheiros mansos e grandes seres imóveis e fortes, estendendo a ramaria sobre as ruas, são de carne. Aprendi na escola aquela santa história dos três reinos da Natureza - mas aqui as árvores, vigorosas e duma verdura gorda, peltencem sem dúvida nenhuma ao reino animal.

15 de Agosto Todas as noites não pude pregar olho. Duas, três horas sem dormir. Na rua passam guitarras e rodam automóveis com mulheres. A noite é uma volúpia e o ar deste clima tropical uma carícia logo que desaparece o Sol. De manhã bato para a sena. O Funchal para o Sul a costa é quase sempre cortada a prumo: Santa Cruz, e lá no alto o Senhor da Serra; uma fenda enorme por onde entra o mar - Machico, e logo o Caniçal à beira de água e o relevo caprichoso da Ponta de S. Lourenço. Para lá cio cabo começa a costa norte, a parte mais selvática, mais verde e talvez a mais bela desta ilha tão variada e decorativa. Ao fim da tarde os 1110rros formidáveis, vistos de bordo, sucedem-se num cenário espesso, que se desenrola em manchas escuras, com um resto de fuligem de sol pegada àquela imensidade, que nessa hora ainda parece mais vasta. A Madeira é um maciço de serras cortadas a pique na costa oeste, descendo até ao mar na costa norte e mais cultivado nos vales e gargantas inundados pelas águas. O interior da ilha é montanha em osso com excepção do Paul da Serra. A parte onde só fazem as culturas ricas, a mais agasalhada e onde não cai neve, a que eles chamam folheto, é o Sul, que produz a cana no litoral e a vinha nas encostas. No Curral das Freiras - cordilheira central - curioso vale de erupção, ravina enorme apertada entre vertentes alcanti Iadas, com profundidades que metem medo e que vão até oitocentos metros, deparam-se povoaçõezinhas perdidas, o Livramento. a Fajã Escura, o Curral, etc. Este sítio revolvido e dilacerado explica talvez a formação da ilha, onde se encontram mais vestígios de crateras, com indícios de erupções relati250


Do

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vamellte recentes, nos charcos do POlio Desfilam ainda diante de mim as 6''''bU'''C'~ e uma encosta }'''HC<W..''.'~ vertentes num rasgo a dos a ribeira que escorre no Canário - aldeiazinhas tão isoladas no alto de morros o Pico da barrancos formando o leito de torrentes - terrenos onde deve andar o diabo em dias de vento. outra vez a se modifica: os montes castelos alTuinados e ferozes da Idade Média. - loureiros e o til nos fundos onde encharca a humidade. e surpresa, contrastes, cenários de seITa e mar, como no alto do >J"""'Jv0 são pequenos para se encherem atmosfera o sítio triste entre negra, c cheirando a da Câmara dos à beira de retalhos com molhos de lenha secando à das donde eSCOlTe a c lá para o fundo o com um tremendo ao lado que faz sombra e favor: há sítios destes no Curral onde o sol só entra durante cinco ou seis horas por dia."

As Ilhas

lO cd.

DE CASTRO E ,....,J... Jl.Jc• ..,,... referindo-se às Desertas: "Um grupo de Efectivamente sem Não existem habitantes nas nem nem nem arvoredo. rocha não A el2~etiacílo é rara e magra, o solo é quase todo constituído terra arável. E as cabras e os coelhos bravos que lá crescem se lutam com sérios para Mas para mim as Desertas são um mundo. e variável tatnh"'m Têm uma uma alma como as almas humanas. as maIs assombrosas '"' YU'""'y,"''''~' -Ao ",,.,,,,H,,,t,, os meus olhos admiram os seus

afiados das suas das suas torres e das suas ameias de de sonho que a luz transforma e onde o homem não tocou. . _ As vezes são opacas; entristecem lá no meio do oceano como se tIVessem UVi>"<U,,",HW e se tornasscm de Outras vezes desatam a radiosas de luz e de

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Passam do azul escuro e turvo para o rosado macio da carne, como um barómetro de cobalto. Falam de todas as tristezas e de todas as alegrias; são expressivas como gestos de tribunos, como rostos de actores; são impressionantes como vozes inspiradas de sibilas e de iluminados. C... )

Ah, minhas lindas Desertas, que eu agora mesmo estou vendo, irisadas, poisadas sobre o mar com a ligeireza de nuvens transparentes e efémeras! Que belas histórias elas me contam e como povoam a minha solidão! - As vezes, à hora do poente, nos dias em que o Sol mergulha no mar deixando no horizonte um brasido e o céu em volta semeado de nuvens resplandecentes, afigura-se-me que a luz ao despedir-se abraça e beija as Desertas e lhes confia, até à madrugada seguinte, o depósito sagrado das cores. - E então, enquanto o horizonte se vai a pouco e pouco apagando e que as sombras da noite principiam já a surgir do lado do nascente, eu vejo as Desertas imóveis e concentradas como três relicários. Tornam-se côncavas, translúcidas; transformam em cristal as suas rochas opacas; irradiam uma claridade sobrenatural como a taça milagrosa do Santo Oral. Contem no seio, fundidos, os amarelos pálidos, opulentos ou alaranjados dos topázios, o vermelho luminoso e rico dos rubis, o carmesim das granadas, o intenso e divino azul das safiras, o verde das esmeraldas límpido e profundo. Assemelham-se a três virgens cristãs ajoelhadas defronte do altar onde tivessem comungado e onde se -conservassem extáticas, transfiguradas pela intensa ilusão de possuírem em si um Deus de infinita bondade e de suprema beleza. Mas o poente empalidece a mais e mais; a noite avança lá do nascente ... E nas Desertas as cores amortecem lânguidas, descoradas, a morrer de saudades. Os rubis perdem o seu fulgor, as esmeraldas transfonnam-se em opalas, as safiras em turquesas, os topázios em ametistas doloridas, magoa. Depois, na ilhota maior, as rochas altas e agudas desenham recortes vagos de catedrais goticas; e as cores prisioneiras, que momentos antes brilhavam como um tesouro pagão, cintilam agora amortecidos e misticos vitrais iluminados interiormente por círios lacrimosos e lâmpadas de azeite brujuleantes em volta de sacrários. E eu evoco as lendas cristãs glorificadas na Idade Média, lembro-me dos milagres, dos mmtírios, dos prodígios; revejo as multidões de Belini em volta de Santa Úrsula, a Santa Catarina de Luini levada ao Céu pelos - três anjos, o S. Jorge de Carpaccio combatendo o dragão, todas essas coisas encantadoras e radiosas criadas pela fé e enobrecidas pela arte. Os últimos reflexos do Sol vão desaparecer no poente ... Em torno das Desertas, de toda a orquestração das cores triunfàntes fica apenas o verde puro que não se funde, que envolve as ilhas moribundas numa auréola suave antes de ser absorvido pela sombra. E a noite desce; e a lua surge no seu quarto crescente, como a lâmina duma foice, polida e fria, mostrando-me as Desertas negras boiando lá ao longe no mar.;. Então o rumo das minhas ideias muda mais uma vez: penso nas focas de olhos de veludo que se abrigam nas misteriosas grutas daqueles blocos de basalto, gemendo e lamentando-se como almas penadas. As focas ... E aí vai a minha imaginação ...

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Do

É

ARCA DE NOÉ

de e eu o Sultão que sem fastio e sem cansaço, durante mil e uma

escutou as

in Cabral do que Escreveram sobre o 1 pp. 123-

DE JACOME CORREIA

o

IWlllllnfJ,"JHI

do solo do clima

em automóvel ou em carro costa sul da ele que ilha é um immenso rochedo fendido por todos a terra aravel apparece alli aonde o colono no socaI· em leito assente sobre d' essas que são de de mineraes arrefecidos apoz uma combustão vulcões que reduziram os 760 killometros ilha da Madeira a massas incandescentes. N'esse arrefecimento constituíram-se os C0111 o decOl'rer dos que se encontram em expessas camadas de rochas e que servem aos habitantes de material industrial constructor, como: d'escoreas mais ou menos e barreiras de que se acamam stratificados aos veios. de ravina ou n 'um corte de barranco e olhandoLIlC:íUll'-'<I da U<lIIUtlUC do solo a que é o formado decom-

constihlem um solo

solo e que são fra-

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cos, se attendermos á extracção que tàzem n' elles as culturas continuadas e que não deixam germens para uma transmutação, como nos bannanaes ou nas florestas que vão guardando o producto da queda d'esses germens que assim engorduram o terreno sob a protecção das proprias plantas; nem que tão pouco concorram para a fixação do ten'ena solto como se dá egualmente com a arborisação que cobre e protege a terra: excluindo esses elementos naturaes do terreno, só os estrumes ou adubos organicos, misturados com as regas das aguas das levadas, trazem a fertilidade á agricultura da Madeira. E não será erro afirmar que os primeiros povoadores que assentaram na vastissima fajã do Funchal, estudaram n'ella os processos de fertilisar a terra e transformar a ilha n'um paiz habitavel e prospero ás commodidades da vida civilisada. A ilha, segundo os chronistas, foi encontrada coberta d'arvoredo, e esse arvoredo, que no litoral era constituido por arvores de madeiras tenras e improprias para obra, como as dracenas, foi incendiado. Essas cinzas do bosque queimado, que serviu de clareira para o levantamenlo das primeiras habitações, foram os primeiros fertilisantes de que se serviram os colonos para os primeiros ensaios agricolas que fizeram na ilha; e as aguas das ribeiras de Santa Luzia e de João Gomes forneceram os hydratos e a humidade ao solo secco e areiento. Ainda em vida de D. João I, isto é, antes de 1431, onze annos apenas apoz a descoberta, a agua das ribeiras, ás suas nascenças, era de tão reconhecida importancia para a agricultura, que foi pelas auctoridades regulada por diplomas especiaes, que tiveram por fim exclui l-a da propriedade particular, tornada um bem comIt1UIl1, utilisavel pela collectividade com tanto mais direito quantos fossem os serviços por ella prestados á sociedade, submettida a principios juridicos discernidos pela magistratura, em caso de litígio. ( ... )

A Encumeada e a Costa Sul. Nas cercanias da Encumeada a Madeira offerece o aspecto pouco mais ou menos do estado em que se achava quando os navegadores a surprehenderam na sua virgindade e no seu isolamento. Subindo a encosta que vae da Serra d'Agua á Encumeada na estrada da Ribeira Brava para S. Vicente, desfralda-se aos pés do viajante um d'esses macissos densos de verdura em que a f10ra é constituída por especies autocthonas, tão antigas como a descobelia em 1418. Por entre um tapete verde glauco de folhados, de loureiros, de paus brancos e de tis, d'urzes arboreas que estendem os seus troncos contorcidos por cima da estrada, de 7 e 8 metros d'altura, nascem as uveiras, cujos pedunculos e folhas tenras d'ul11 ruivo avinhado coloram a extensa encosta que desce ela serra ao mar, gretada ininterruptamente por grotas, desfiladeiros, gargantas, ravinas, lombos, riscando o solo que, aonde é escalvado 110 corte abrupto d'alguma rocha ou no cabeço de qualquer monte, mancha de preto elos basaltos ou do vermelho acobreado elo oxido de ferro elos barros, o panorama triste e solitario d'aquellas regiões situadas a mil metros el'altituele, batidas pelas nevoas em farrapos que de quando em quando cobrem-nas por completo, juntando-se em massa conedia, açoitada pelo vento, esbranquiçando o ambiente frio e cortante. N'aquella magnificencia de linhas e profusão de contornos em que os caprichos

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da natureza accentuaram a sua mais o nada se avista de vida animal ou se de mais do que a nova estrada para onde vae descer o automóveL e que é das poucas estradas que na Madeira não são onduladas a calcetadas a seixos c usadas por carrinhos e corças a deslisantes para de gente ou de cargas. Do cortado no terreno para a passagem estrada e que assenta no cimo entre o dos Ferreiros a leste e Redondo 11 oeste, avistam-se umas nesgas dos dois mares que banham a ilha a sul e a norte e por entre as garganta da cavadissima ravina em que a comarca de S. Vicente se apega vertentes, lá muito fhndo e muito invisível do alto da serra, mesmo na foz da ribeira que atravessa a viII a, para da ci\"ile apenas e mal. no extremo da fundo da a agua da ribeira de S. Vicente, uma de que parece um rochedo e que de tàcto é. no cimo do foi collocada uma cruz da fé e aberta uma cavidade para o Jado da terra em que foí armado o altar no do corpo do recinto. fechado por lima "".'lo,,,,, de caiada em branco. simulando os dois tectos de UV'''''Ull,Q.

Já no caminho da Ribeira Brava por durante a se toma conhecimento com essas d'edades remotas e antediluvianas em que a rocha era para eamaras e fundos utilisada para tabernas e mesmo casas de moradia nas margens da estrada. Para este lado a casaria das aldeias é que se vão á vista os varios da estrada tornando grotas, sempre o curso da Ribeira Brava. escavada na vertente oeste do mais e estreito valle de toda esta encantadora ilha: e além da existencia humana que se manifesta nas casinholas cobertas de construídas de e rebocadas e caiadas a côn:s vivas; não são raros os gmpos de trabalhadores do campo que descem da serra com os seus molhos de tolhado para os nos ou de camponezes que desviadas roçam o matto para n'elle semearem cevada e trevo ou outras e comidas, por Ioda a extensão da ilha na este-oeste A Encumeada de:sca:nçam secularmente tantas d'essas bellezas naturaes ",uUUla~,<lV os touristes que a vizitam, no n.<-Il""I."I, OU'"'''''''-, no Arieiro. nos em Santo António da etc. É mesmo d'essa dorso da que descem como os lombos e os em convexas e salientes que se intercalam com as reentrantes ou eoncavas, n'uma sinuosidade infinita e tão variada nas formas como constante e permanente no movimento. lado do norte das vertentes da cadeia montanhosa, lado do sul. as rectas; o terreno é sempre em declive e corta-o urna no fundo da corre ás vezes a ou barra-o um comUm um barranco. A terra é por tal fanua acci255


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dentada que mal cabe n'ella um espaço para concentrar uma povoação, e as aldeias, com raras excepções, são edificadas ao longo de ruas, e joeiram-se, offerecendo então essa curiosidade da dissymetria caprichosa que dispoz as conveniências dos habitantes e dos proprietários da localidade, em collocação desataviada, ao redor de um cabeço, pelo fundo de um valle, no calço de um comoro, nos degraus d'um d'esses numerosos socalcos que amphitheatram, de vinhedos e pequenas culturas caseiras, essa monumental escadaria rochosa que é a Madeira do calhau á serra. ( ... ) Duas habitações proprias á muda dos serviços de locomoção - duas bem providas tabernas com um outro edificio desoccupado que serviu a moinho d'agua - constituem essa posta da Choupana, dividida pelo caminho do Meio, marginado a nascente por mattas do Visconde de Cacongo e a poente pela Ravina que no inverno engrossa com as suas aguas as da Ribeira de João Gomes. Os retoques do pincel espontaneos da natureza que outr'ora matisaram este local, foram substitui dos pelas decorações dos artistas da industria: a ravina reveste-se de densas copas d'acacías floridas, acima das quaes sobem as ti li granas dos ramos de frondosos carvalhos, que mancham do luzimento doirado das suas folhas, ainda lá em baixo, o espesso guarnecimento da profunda cova. incensos guarnecem as partes altas das suas bordas, onde dois chalezinhos de verão se encan'apitam em comoras sobre o espigão que forma uma das grandes paredes do Curral. O sitio é isolado mas o solo offerece qualquer coisa de acommodador, de convidativo, sentindo-se a mão da Junta Agricola semeando e dispersando exemplares escolhidos dos seus jardins experimentaes, que agora mostram ridentes e decorados os outr'ora ermos e vetustos terrenos, entregues e abandonados ás transmutações da sua limitada flora. As mattas extensas e espessas d'eucalyptos e pinheiros do Visconde de Cacongo marginam a leste a estrada do Meio e a levada da Serra, cujas aguas veem do sopé do Pico da Sena na vertente norte, passam pelos Lamaceiros, ladeiam a encosta leste da cordilheira do Santo da Serra e veem a 3 quartos d'altura na aba sul da cordilheira, atravessando a Cam acha, quasi juntarem-se ás levadas que banham o Funchal. São 40 killometros de calhas de boa alvenaria, das quaes se retira agua para extensas culturas de trigo, de vinha e de canna d'assLlcar nos terrenos cultivados pela encosta situados abaixo do aqueducto. A matta é extensa e percorre-se bem meia hora de caminho sob as sombras do arvoredo aramatisado a eft1uvios d'eucalypto e de pinho, pisando-se a terra hum ida, até á encosta do Pico do Infante dominando as ravinas. D'ahi ve-se o Funchal lá muito no fundo, como anichado n'uma enorme concavidade abobadada, aberta ao alto, aguardando os seus cimos a archivolta recortada na Serra. A nevoa cobre-o, pairando por cima, n'uma immobilidade protectora, propria da primavera, tão tenue e diaphana como gazes tatues dos paramentos festivos proprios da estação; atravez, a casaria em esmalte destaca-se em massa confusa, como mosaico bysantino, desenhando a cidade, e n'esse fundo de abside invertida, guarnecida de verde, uma mysteriosa estrella ao acaso scintila as reverberaçoes dos raios solares, que incidem sobre uma claraboia d'edificio ou galeria envidraçada d 'atelier, luminosos como chamas de magnesio queimando de fogo branco a cidade em todas as direcções.

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Do

AARCA

DI:

No"

Atravessada a matta e contornado o Pico do Iníànte Cl1i~[!a-Se de

dos viscondes d'esse título. ( ... )

por Valle Paraizo á

A IJICl_U"lUa

entre o caminho do

que desce da Camaeha para o de abundantes tractos de matta. esta

e de terras que se estendiam para Santa Anna começaram no do seculo as culturas dos para assim como na Camacha e para os lados de Valle Paraizo e '-lJlULllUaua, para onde se estendiam os tenenos que Luiz d'Ornellas e Vasconcellos acabou de cobrir de arvoredo n 'uma extensão de cerca de 22 maios de

( ..

N'um relataria por eUe ao Ministerio Marinha em IOde de 1823 se diz que 20 mil arvores tinham sahido dos viveiros do Monte para varias pontos da ilha da Madeira e do POlia o que dá uma ideia da influencia que tiveram os viveiros na 11m'estal e ílorida d'esta encantadora ilha; e que mesmo em serra se verificam não só nos nos carvalhos e nos que cobrcm os mattos e revestem as como nas fuchsias que crescem sobre os muros e sobre as nos arroxados ou avermelhados que se vêem em nas violetas que se intermedeiam com os e que nascem nos campos, As mattas estendidas n 'essa facha da aba do sul da cordilheira e que do monte correm até á Camacha e sohem até ao Santo da são bem um documento movimento florestal dos do seculo tão como o Palheiro. situado que acolheu uma variedade de tas, entre as quaes que se desenvolvem mal nos do FunchaL como as os rbododendros os as carochas ou as os Iilazes. dois lados e para detraz do lUIIU(:'UIJ11, estáo de veredas cobertas de rosas e correm ao e nos em bordadura fOlmando nos modellos d'aves ou balaustres: para dentro os canteiros extremos

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dos d'arvores, arbustos e plantas herbaceas cobrem-se de flores que desabrocham exhalando subtis e delicados perfumes que aromatisam o ambiente; para traz dos ultimos alegretes floridos e da arborisação, que é rala, começa a matta, por entre a qual desce a grata do Inferno, onde os fetos arboreos e negros se ellevam a 12 e 15 metros d'altura sob a copada de carvalhos, castanheiros e outras arvores a porte elevado n'um ambiente humido e a ingreme declive; emfim, na parte mais alta da quinta crescem as gramineas, e os carneiros aos bandos pastam á solta. Sem ter entrado nos edificios nem nas dependencias, nem tampouco ter visto as cavallariças ou a grania, que constituem as outras curiosidades da Quinta do Palheiro, vi o sufficiente para avaliar da fecundidade da flora de jardim acima de 600 metros, que no Jardim da Serra, acima do Estreito de Camara de Lobos, hoje pouco se avalia da influencia que teve na horticultura da Madeira. Situado a 750 metros, a mais de 120 acima da altitude do Palheiro, o Jardim da Serra estende-se ao longo da vertente leste do espigão que avança pela ravina do Vigario e divide a Ribeira d'este nome da do Jardim, que é sua af'fluente e que lhe passa á cancella em corrente assaz nutrida para conter a frescura no valle. [Marquez de Jacome Correia, A !lha da Madeira- impressões e Notas Archeologicas. Rumes, Artisticas e Sociaes, Escriptas de Janeiro a Maio de 1925, Coimbra, 1927, pp.77, 119-122, 165-167, 172, 175-176]

JOSÉ MARIA FERREIRA DE CASTRO [1898-19741 Reunidos em grupo, indicou-lhes o mar, de um lado ate outro da ilha. Estavam no ponto mais elevado que a estrada atingia. Dali se escortinava o oceano, ao norte e ao sul, dali os olhos podiam medir a largura da Madeira. Para o sul, a vista baixava, entre a sobel'bia deslumbrante das montanhas, até as costas da Ribeira Brava; para o norte, ia, entre urzes e loureiros, salvando seITas e abismos, alcançar o Atlântico, além da capelinha de San Vicente. E ali pelio, mesmo no flanco da estrada, nascia, a querer prolongar a montanha, novo mamilo que as águias gostariam de ter para ninho. Seguia-se-lhe logo outra proeminência, grave, pesada, estranha e tão caprichosa na forma que, mais do que obra natural, saída de primária convulsão, dir-se-ia majestoso templo assírio. E a cordilheira continuava ainda, continuava sempre, a partir-se, ao longe, em ciclópica fantasia. Álvaro propôs: - Se querem, podemos almoçar aqui. Mr. Crawley consultou o relógio: - São dez e meia. Para mim é cedo ... - Bem; então, almoçaremos lá em baixo, antes, de chegarmos a San Vicente. Na descida, as lombas e desfiladeiros já não ostentavam apenas árvores dispersas, cómoda outra banda. Agora, urzes e louros formavam mata cerrada, cobriam as encostas, vestiam as barreiras da estrada e murmuravam por toda a parte. Centenárias, as urzes haviam adquirido corpulência Ide árvores, de grossos c retor-

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cidos troncos, ramos vinham passava. E, por entre serra acima e serra as suas folhas dum verde vivo e mui lustroso. Mais M.me Lacretelle ao

quase os loureiros

a face de quem ao sol

rr"(><l'''~'1n

cortada de sombras e elarique conduzia descesse mais rectificando Juízos apenas apesar da sua Assim.

O carro que casal e Alvaro distanciara-se. A mata era cada vez mais bela: a cada nova curva, a cada clareira loureiros horas por outras de à brisa que passara há mllitos séculos a 11l,nnl1PIC

o corpo ele M.me Lacretelle deslizou novamente, até encontrar resistência no de Juvenal. E esteve colada a inclinou o busto para a frente e ordenou: - Pare ai. Juvenal os olhos. Mas ludibriando o sentido do momento, acrescentava: Vamos um bocadinho a Estou de tanto vir sentada", E para o , com o mesmo tom autoritário de pouco antes: - Vá andando espere-nos em baixo. Desceram. Ele estava com da voz de M.me Lacretelle. Uma solidariedade com "chauffeur" nascia de Ela ficara paraao seu e olhava em derredor. lindo isto é! Não lhe - Os gregos não teriam tantos louros ... - disse com um sorriso frio (" .) A cordilheira ia de um a outro extremo da ilha. Nascia na S. ora em curvas ele lombo de ora em """VI,"""", até a Ponta do

aberta de passagem, de obstáculos para os olhos. O seu deleite era montes, monstruosas, enfiando serra com serra, que quererem o céu e ravinas onele regougavam torrentes, nas noites de

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irregular e variada, perspectiva além de perspectiva, ia esparramar-se na Ponta do Pargo, na Madalena, no Porto Moniz, contornando do Sul para o Norte, sempre abrupta e sempre grandiosa. A Madeira era a cordilheira. Posta no centro da ilha e a todo o seu comprimento, dir-se-ia que se derretera pelas bandas, escorregando lentamente, para um lado e outro, a massa ainda informe. Hesitando no rolar de pesadelo, mais mole aqui do que acolá, quedara-se, umas vezes, em proeminências, abrira-se, outras, em sulcos profundos; e, na preguiça da descida, deixara por toda a parte encostas de arbitrária expressão e acidentes de singular fantasia. Logo, para cobrir mazelas que lhe ficaram do nascimento, se vestira de tão denso arvoredo que, mesmo com o sol a pino, não havia palmo de terra desprotegido de sombra. Fora assim que a viram, sugerindo todos os mistérios, os descobridores; e mais de um mareante que, tendo como roteiro bíblicas páginas, andava em busca do paraíso termal, julgara tê-lo encontrado ali. Tanta opulência vegetal, murmurando, na solidão atlântica, árias de estremecer e ocultando, nos seus abismos, quem sabia se bichos temíveis ou homens mais ferozes ainda do que os bichos, levantou nos primeiros trilhadores cautelas e perplexidades. Dizia mesmo a tradição oral, por vários cronistas dada como segura, que, por essas ou outras razões, fora um dia lançado fogo à ilha de verde fisionomia. Rabiando de ponta a ponta, as chamas teriam formado ígnea apoteose, bem digna, pela grandeza, da imensidade oceânica onde sc ref1ectia. Mas tivesse tido o destruidor fácil propagação ou hOllvesse caminhado devagarinho, revelando a sua marcha apenas com um risco de llU1l0 a elevar-se da mata, a ilha ticara em tições, esbranquiçados, uns, pela cinza, e outros enegrecidos. Adubaram, então, a terra, destruídos, para sempre, todos os réptcis e demais alimárias que causam dano e susto nas outras partcs do Mundo. E posta assim ao léu, sem regaços de mistério, sem recantos ensombrados, negra e nua, negra e nua, a Madeira mostrava toda a sua grande carcaça, tão árida e desolada como se fosse de novo um formidável vómito de lava, acabado de arrefecer. Mas, com o tempo, raízes mergulhadas mais fundo ou sementes perdidas onele as labaredas não chegaram, deram em pôr à superfície folhitas tenras, delicadas; e, se havia humidade, fora só crescer e multiplicar, vestindo a toda a pressa o que o fogo desnudara. Rocha ele onde brotava água teve logo em derredor, e onde quer que a vivificadora passasse, bosques de encantamento e de frescura inigualável. Nunca mais, porém, a cordilheira, nem quanto dela descia até o mar, se cobrira de todo. Neste c naquele anfracto, nos cimos e na terra ribeirinha, ficaram largas cicatrizes; umas, estéreis, outras, propicias a ser amanhadas pelos colonos recém-chegados. E cômoros arriba ou nas achadas, longe ou perto do oceano, o homem fora disseminando a agricultura e elevando o seu abrigo. A ilba dcixara de ser apenas bosque, para ser bosque, horta e jardim. Já não era A só mancha verde, ancorada 110 Atlântico e tendo a coroarlhc os píncaros grande auréola de bruma. Era, agora, imenso painel de muitas e variaelas cores. No Poiso, porém, a terra continuava sáfara, como se tivessem passado há pouco tempo ainda as labaredas já lendárias. Nem mata a substituir a que teria existido, nem couve, roseira ou vinha metida a dentc de enxada. O seu despovoado, animal e vegctal, só podia ser aprazível a quem necessitasse dessa forte solidão em que o homcm,

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nos seus constantes ou se transforma a em centro do Mundo ou finda por criar o vício das sem resposta. ( ) Fora uma cena muito Holdsworth não a notara sequer e, com um sentimento - Para onde vai csta - Para os campos Juvenal. E cortada por essas cordas matas sussurrantes, furando as cios uu"'.,~.u boa ros e para ir canaVIaIS e e pomares da terra que nem por estar beira do occano tinha menos sede. Nas que se contavam por centenas, residia toda economia da de fora os bordados. cantavam há muitos séculos dia e abismos.

...

em toda a fortunas

de Câmara de

nificência e a E não era das mais belas superavam ainda toda a

os tilados beleza. A

escorregar; outras, certa, tão constante se mostrava na do que

luzindo ao

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conduzindo para longe, pequenas cataratas de música vigorosa ou fontes de terno cicio. Ao mesmo tempo, a populaçào vegetal ostentava urna vida opulenta e fantástica. Era como se o incêndio tradicional nào houvesse chegado até ali ou as cinzas das árvores que morreram tivessem servido de húmus à vegetação futura. Exceptuando a de Santa Luzia e uma ou outra vizinheira de povoados, as levadas alimentavam, no seu trajecto, bosques de bíblicas sugestões. Ele próprio, na das Queimadas, sobre a pontezita do Arrochete, tivera, um dia, a sensação de que ia ali surgir, nu, peludo, amaçacado, o homem edénico. A sen'a recolhia-se, em aguda e alta vertente, oferecendo de cada lado um tumetàclo quadril. De cima, ao longo duma rocha, a água escorregava, luzidia e cantante. Acompanhava-a na descida, a um lado e outro, densa multidão de arbustos, musgos, fetos, azevinhos, de frutos que lembravam contas vermelhas, urzes de todas as idades, loureiros esgrouviados, frondes por toda a parte. Emaranhavam-se em ramos de extraordinárias expressões, folhitas que eram rendas vegetais, conjunto que matava o indivíduo para dar uma visão de totalidade maravilhosa. E sempre, sempre, na frescura dominante, a catavina da água, musicando o silêncio de t10resta virgem. Menos recatados e mais teatrais eram o Caldeirão Verde e o Rabaçal, onde se sentia, imperativamente, a necessidade de um ser inverosímil, de uma mulher enigmática e de eterna juventude, para quem a água executasse, nas imensas solidões, a sua inténnina melodia. As árvores, os recantos sombrios, as clareiras, discretas como uma alcova, o que se via e o que se imaginava e a água, sempre a água em melopeia, sugeriam um amor extra-humano, a vida feita só de amor - sem outra preocupação, sem outro objectivo, sem outra realidade! [Ferreira de Castro, Eternidade, Lisboa, 1977, 130 edição, pp. 65-66, 147-149, 196-197]

ANTÓNIO ASSIS ESPERANÇA [1892-1975) Para o atravessarmos, acendemos archotes de urze ressequida, porque tudo aqui é simples e primitivo. Iniciamos a marcha como penduradas na abóbada, ou cabeleira verde das pedras, os fetos e avencas das humidades sombrias: aqui e além a cair :em gotas, pingue-que-pingue, como se toda aquela terra fosse espremida por mãos crispadas, as paredes ressumam água. Faço a primeira centena de passos, e o ponto luminoso, que é a outra entrada do túnel, permanece minúscula, marcando a grande distância a percorrer. O círculo vermelho do clarão do archote mal chega para nos indicar por onde corre a levada. Guardo silencio porque tudo me é conhecido Surge - o primeiro percalço. A meio caminho, extingue-se a -luz que nos guiava. O vento, que assobia neste corredor abobadado, fizera que a chama depressa consumisse a urze seca. O caminho toma-se doloroso, inquietante. Gracejamos uns com os outros, mas a escuridão é completa e separa-nos. Nós e o negmme da noite daquelas paragens; nós

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ea

dc que vai abrir-se um abismo a nossos que torna-se lama a as arestas das de monstros; tacteando o murozito da friorentos percorrem-nos o corpo, como sc os nossos dedos tocassem em cadáveres. e imediatamente receamos a nossa voz; tentamos soam <;;"'_<U"UH""'.'''~, tlll1ebres. Como farol em noite de trevas, a nossa esperança é o oritlcio branco do fundo do os passos, mas ele nega-se a abrir-se o mais que como em caminhada fim. Um minuto que passa é ali cntcrnidades. É então que se apossa de nós o de COlTer, de e para bem le Mas como nos sonhos de ansiamos voar e nos sentimos prcsos, de molhado. As pasru"""a-"c; a de que atravesso um para me a certeza de habitar um mundo diametralmente em que vivera. A meu tanto viver monstros, ou como haver tesouros escondidos. É estamos encontrar o sabor inédito que vem é sorrir e cantar. arriscada. A Desembocamos num terreiro aberto na falda dum monte acima das nuvens, tão imo do céu o nevoeiro espesso, que como toalha muito alva de !lU-tu""u. sonhámos brincar. horas da manhã as veremos, oceano que muito lá ao dos de a f.""~"i"'''''''' construíram-se castelos de rochas que o oceano embala com das suas ondas. agora é tão estreita que não consente duas pessoas a par. A vereda que por mãos dum São vales A terra As cabras da assustadas à nossa passagem, escolhem os carreiros por onde descer. Há encostas negras, e outras com o verde elas urzes centenárias. do contraste. da serra às matas, e o Meia dúzia de anos antes, os lavrara por todo o interior da ilha. ( )

...

. o incêndio ...

e tão infantis como entarameladas são a mão uma curva e é semesse mesmo aceno lhe servirá para -Foi em

e eu estava só. Vi o homem e

o

que saltava de árvore

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em árvore que nem gato bravo. Três dias durou: três dias. Eu preparei tudo! preparei tudo. Eu só ! Havia água, e foi só encher os baldes; I Um risinho seco, sarcástico, contra o fogo, como a castigar-lhe o ol1mipotencia, e os mesmos gestos: um erguer do braço, e a mão ossuda, enorme, a esboçar uma curva leve ... - O fogo vinha daqui, e eu va de lhe deitar água; vinha dalém, e já eu lá estava de plantão. Nunca me apanhou de mãos a abanaI: Olhe, meu senhor, que tudo isto eram chamas à roda, e eu vá de deitar-lhes água para cima. Que eu cá, sou rijo! A voz tem sempre o mesmo tom plangente. Recordação única, por espectáculo único, sorri. Bebe para lllolhar os lábios. -Que eu salvei isto. Eu só ! Ao segundo dia, já dum lado estava tudo apagado, veio cá cima um cunhado meu para me dizer que a minha irmã morria com chorar. E queria - levar-me de gancho! queria que eu abalasse pela levada fora e abandonasse esta casal - E foi'? - Qual?1 Eu queria lá saber da minha irmã I Quando isto ... quando "a tasca" ardesse, ficava menos um homem no mundo, foi o que respondi ao meu cunhado. E cá fiquei I eu sól Eu a brincar com o fogo, e o fogo a ralhar comigo. Mas venci eu I Que eu cá sou rijo. Eu podia lá abalar I E então isto'? Se cu abalasse, ardia tudo! Não queriam mais nada, não? Fito-o. A narração engrandece-o. Ganhou maior estatura; o dever emprestou-lhe ao rosto um luaceiro de heroicidade. Desaparecem o falar e a timidez dos gestos. Ante mim, está um Homem, e sem desmerecer daqueles que acreditam haver, para eles, uma missão na terra, e não vacilam em sacrifícios, antes os procuram, conscientes, em proceder por forma diferente das maiorias. [António Assis Esperança, "Um Homem", in Ilustraçeio. Lisboa 1929, in Cabral do Nascimento, Lugares Selectos de autores portugueses que escreveram sobre o arqlllJJélago da Madeira, Funchal, 1959, pp. 177-180, 184-186]

FERNANDO AUGUSTO DA SILVA 11934/ Madeira (Paisagem). São inumeráveis as composições em prosa e verso, tanto cm vemáculo como cm línguas estrangeiras, que cantam e enaltecem as conhecidas e já proverbiais belezas da Madeira, em que admiravelmente se salientam o maravilhoso acidentado das suas altas montanhas, o aprumo inverosímil das suas ravinas e desfiladeiros, a profundidade dos seus vales, o relevo caprichoso do seu solo, as diferentes tonalidades e matizes das suas ricas culturas agrícolas, a variedade e fragrância das suas flores, a eterna primavera do seu clima, os famosos vinhos, ü'utos e bordados, os típicos e interessantes costumcs regionais, a patriarcal hospitalidade dos habitantes, etc., etc. Nem palidamente tentaremos descrever, embora muito de relance, todo esse conjunto de maravilhas com que a omnipotência divina dotou este privilegiado torrão em que nascemos e vivemos, mas vamos transcrever alguns trechos de autorizados escritores, que ponham em saliente e brilhante relevo a

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deste modo nossa manifesta insuficiência e a nossa Sem obediência a ou catliterária dos autores, faremos essas foram passando à a que 'VC'''Pr!P1rYl O ilustre o seu livro Illes uma da donde destacamos estas: Nada conhecemos de belo e vista a distancia da coberta de um de toda a se elevam rochedos 0'<>11t"0,,,,0 escarpas formidáveis de nos o fazem enormes que formam e as baias abertas à as rochas basalticas revestem a forma e de velhos castelos em as camadas de lava descem livremente até o mar em que marcam com toda a a das torrentes que inundaram a e que parece haverem sido detidas em seu curso para atestar homens de a violência dos nomenos de que a ilha foi sede em remotas. Uma eterna verdura cobre seus cumes, altitudes que os sábios só teem constatado em muito poucas do da de todas as desde o morango até à que das até ás l11urtas, os feos e os loureiros que lhe revestem os mais elevados. Assim como os navios de toda as nacionalidades e provenientes de todas as do mundo tocam na escala da assim a da de todos os e o seu clima favorece todas as mais clara dos nossos climas e os que rochas ou ao das arvores, recahem tremulando ao sabor dos ventos como cabeleiras verdes. Uma cadeia de que não é outra coisa mais que o núcleo corre-a em todo o seu e lhe determina a Elia menos elevada nas duas extremidades que na que licito é usar esta para um cavado que estão reunidos os forma o centro do na norte desta alta o do Cidrão e o do culminantes da Madeira: o Areeiro", desnuma das suas belas e ilustre O que tanto assombre e fala deste modo: - Não conhecemos sitio no tem talvez deixado a "''''~'''''''''' como a ilha da Madeira. O

mar azul e sem dos e deleita os olhos exactamente tuários novos e no 111omento em que mesmo que houvéssemos desembarcado n'uma ilha

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escalvada, já isso teria sido julgado uma inapreciável delicia." O distinto comandante da gata austríaca Novara, Wuelstorf-Urbair, numa descrição de viagem, que o nosso grande escritor e estilista Latino Coelho se dignou traduzir em língua portuguesa, lêem-se estas palavras: - " É extraordinariamente deliciosa e magnifica a primeira impressão que a vista do Funchal causa ao viajante com a perspectiva dos seus jardins e das suas 110res e com a opulenta vegetação, que engrinalda e coroa os montes, que se elevam desde a margem. Não ha ali, é verdade, a selvática majestade, nem as formas colossais da vegetação, que é própria dos paizes dos trópicos. Sentem-se ali antes as feições de uma ilha da Itália meridional do que as magnificência de uma paisagem do equador. Desenrola-se, porém, ao aspecto do observador, um tão grato painel, onde a vida da natureza aparece em tão rica variedade e formosura, que a mais creadora phantasia nada pode conceber de mais amorável e encantador. As mais formosas plantas das zonas temperadas e subtropicais deleitam aqui os olhos em seu pleno desenvolvimento, ao passo que aparecem também alguns dos mais bellos representantes da flora dos trópicos no esplendor luxuriante d' esta maravilhosa vegetação, que um naturalista da Allemanha comparou ha pouco tempo aos fabulados hortos pensis de Semiramis. " "Nenhum lagar nos pareceu mais apropriado, diz o celebre naturalista Humboldt, para dissipar a melancholia, e para restaurar a paz ao espirita perturbado, do que Teneriffe ou Madeira. Se a bella descrição da ilha Pheacia feita por Homero, em que os frutos sucedem aos fructos. e as flores ás flores, numa variedade rica e sem fim, pode ser aplicável a alguma ilha modema, é seguramente à Madeira." O primeiro governador civil do Funchal Luiz Mousinho da Silva Albuquerque, literato e ilustre homem de ciência, deixou exaradas estas palavras, numa memória que escreveu acerca do arquipélago madeirense: -" ... se a mão devastadora e imprevidente do homem não tivesse despojado a quasi totalidade dos montes e das encostas da sua antiga verdura sem a substituir por novas plantaçõe.s, a ilha da Madeira fora sem dúvida um dos países mais formosos e mais agradáveis do Universo. Quando deixadas as sinuosidades dos vales e as bordas das torrentes, se sobe aos cumes e ás palies elevadas das montanhas, a ilha da Madeira apresenta a cada passo vistas extensas e variadas cuja descrição excede as forças da eloquência e da poesia, e das quais nem o lápis do paisagista nem o pincel do pintor podem da mais que uma mui imperfeita ideia ... " llustre escritor D. António da costa, no seu livro "O Herói do brigue Mondego" escreveu:" ... um talento feminino definiu ai ilha: uma porção do paraíso trazida pelas mãos dos anjos para o meio daquelas águas. É em verdade um paraíso ... Tudo ali respira a imensidade. Os olhos descobrem horizontes sem termo; a verdura apresenta variações novas que enfeitiçam a vista ... as flores ... transformam a povoação num jardim, cuja atmosfera balsâmica se respira já do mar e que fez supor aos primeiros descobridores um encanto das negras matas, ao mesmo tempo medonhas e feiticeiras, para atrair os aventureiros, a temperatura dulcíssima converte as quatro estações - num Abril permanente... " O grande romancista Júlio Diniz, que passou alguns meses no Funchal, diz-nos o seguinte: Quando a formosa ilha da Madeira, levantando-se da espuma do mar como a

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Do crescia para nós a nal aos desconfortados que nela só tíamos todos o

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abrindo o seu seio benéfico e materesperanças, sendesses suaves prazeres como o que nos o encontro de um rosto e de um sorríso

rp""",,,'rI""'C

as suas

Formava um consolador contraste com a tremenda severidade do mar a amena da ilha a marcha do vapor fez-nos dobrar o cabo de S. que ele forma com o grupo das de como se de repente se tivessem vencido muitos graus de latitude. a face a brisa e da com prazer o hálito acalentador e salutífero desta fada marítima; achavamos-nos sob o seu encantamento, reconhecíamos enfim a Madeira! A costa do sul la em revista com as suas rochas as suas fonnidáveis as casas e as iluminadas por um sol de outono, que doirava as extensas jJ'0I1""'rL1":> cana, saudaram-nos por sua. A do emudecera-nos. De um lado o mar, do outro as serras, e >II,","""'" a cidade como a adornlecida entre os que a Para que a Madeira nos para que nos apareça formosa como a descreva o como uma verdadeira flor do Oceano, é necessário sair do subír as ladeiras que e então a vista formosíssimos vales que vão descobrindo o seio fecundissimo aos nossos olhos maravilhados. e variedade de \l""~"t"f',,n entre as diferentes cambiantes da mesma cor de verde doirado da cana de dos de todos os climas. A carvalhos da a de

o

dos roixos com as flores mais humilde tem um

entreteccndo os seus cachos tudo tem um ar de festa e A dos ricos e

mais nos elevamos mais do De um lado vemos aos nossos o mar liso como um limitado ao gLUpO das Desertas do outro as altas selTanias que rompem as nuvens e cimos tantas vezes a ofuscante alvura das neves. E nos abertos em fundas sulcados em ribeiras torrentes do vida encobrindo que

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se agrupa em torno de um campanário. Então sim; então a atmosfera embriaga, o peito aspira com voluptuosidade esse ar balsâmico, espirito libelia-se de todas as apreensões que nos gelavam os son'isos nos lábios e goza-se despreocupado do mais surpreendente espectáculo que pode imaginar-se." São do grande escritor e psicólogo italiano Mantegaza as linhas que vão ler-se: " ... 0 primeiro aparecer do paraíso da Madeira melhor se diria ser uma cena do inferno dantesco. Massas gigantescas de basaltos negros, negros e rochas rugosas com os pés no mar, laceradas, contorcidas em um arbusto, sem uma única casa, e com as ondas espumantes a romperem-se fragorosas a seus pés. Aqui e ali, perto ela costa, ilhotas, negras, também, sem arvores, sem 110res, corroídas pelas ondas despedaçadas e tresgastadas, quási ruínas dum mundo minado pelo fogo. Chegamos á Ponta de São Lourenço; deixámos à esquerda as três ilhas que no próprio nome encerram a sua triste história: Desertas; poucos momentos depois alcançámos um promontório de basalto, maior que os outros o Cabo Garajão. Aquele cabo assinala os limites do Paraíso. Passado o Cabo Garajão um perfume de jardim tlorido veio ao nosso encontro com as brisas da terra, e aquela terra era um encanto, um sorriso de jardins e casas de campo, ele campos verdejantes e de bosques encantadores; era uma grinalda composta de todas as 110res, um desses quadros de todas as cores que alegram o coração do homem e lhe arrancam profundo mas sereno suspiro. Pouco momentos depois estávamos diante do Funchal capital da ilha, que parece estar branda e carinhosamente disposta entre campos de cana de açúcar e de inhames, e entre hortos cheios das nossas arvores da Europa, e bosquesinhos fant<1stieos de bananeiras de folhas gigantescas e aveludadas; em volta, abre-se um grande anfiteatro de montes altíssimos, verdadeiras rochas de gigantes; por último, a completar o quadro, dois oceanos, talvez demasiado grandes para aquele ninho de amores: o oceano do mar e o oceano do céu; e naquela ocasião não se saberia dizer qual dos dois se vizinhava mais ao azul ultramarino ou ao da safira. Passei três vezes diante da Madeira, e sempre a vi irromper do peito dos viajantes mais vulgares um grito da alma que dizia: porque não tenho eu uma casita neste paraíso ?" Nos "Portos Marítimos de Portugal e ilhas Adjacentes", diz-nos o ilustre engenheiro e literato Adolfo Loureiro: - " ... é uma das regiões da terra da mais extraordinária acidentação orografia, da mais rara e fascinante beleza, das mais benéficas e salutares condições climatéricas, e da maior fama e celebridade. Nela se reúne a mais agradável doçura das campinas ela Itália, a mais agreste e rústica majestade dos despenhadeiros e das serras dos Alpes e Perineos e a mais luxuriante opulenta vegetação das regiões equatoriais. Sem rival na terra, jamais se apaga, ela mente de quem uma vez pôde apreciar os seus encantos, a recordação daquele verdadeiro paraíso terreal." O brilhante escritor Raul Brandão deixou um fórmoso livro intitulado As ilhas Desconhecidas e dele vamos destacar estes trechos: - " ... Fundeamos a Madeira abrenos os braços, com a ponta cio Garajau num extremo e a ponta da Cruz no outro extremo. Adivinho as casas, que por ora são fantasmas e clescem lá cio alto até à praia.

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o t0111 cinzento domina o azul e o e na minha frente o anfiteatro verde dos montes ergue-se como um altar até ao céu. É uma serra CJlLlPLLlU;'" e verde que se oferece c vereie. Ao meio um colinas monte por trás a montanha enorme e escalvada. vão terminar no farol e no forte sobre um destacado e corroído. a embeber-me no Fico todo o dia a da que passa do cinzento que em 4ue o mar se torna diáfano e os a todos os momentos, até ao 11m da montes Com lima nuvem em cinm. sumir-se a terra, que no escuro cheira cada vez mais a ü'uta e me está roxo, é uma mancha enorme e e ainda iluminado. A medida que o vapor se a arfa C0l110 um montanha que me atrai parece mais negra e maior: M. Teixeira da deixou à no seu conhecido livro de "Cartas sem moral nenhuma", donde transcrevemos linhas: - " ... Poís haverá no mundo mais aliciadora do que esta CJue eu deslhlto do embalsamado e silencioso da Tudo é mobilidade e socego no panorama em que a mar de eolU a sua orla bordada de barminha vista frouxa e de retrós- à luz cos em relevo Cascos de o alto céu leitoso coa do sol que se não as verduras da serra <H"COV-"" da espessura em verduras mais tenras, ao contraste dos casais """'''''Vu, e o horizonte uns arremedos de covas montam por sobre a última linha cio mar.. ," Do distinto' médico e escritor Sr. João seguem, extraídas elo excelente livro a sua agem é vida toda ela por centenas de casas pequeque pmeccm marinhar encostas e febre cle touriste. teirnosos numa que tllZC\11 lembrar. os decantados panoramas da como síntese de tOI11 o que quer que de vago c confortável das telas de exalar de si com o das /lares que a revestem, um aroma tão saudável e tão inebriante tendo vida e relevo aos relevos que sacodc o dos desanimas mais da vida.. ," um dos mais ilustres escritores e Olava linhas: - " ... a ilha encantada era toda lima luminoso ela manhã ... está cheia de rumores e de ressoam parece-me que abrirem-se as nuvens 11108tra11tesouros que vão chover sobre mim ... Ainda quem vez atravessa o Atlântico cm busca da tem a de baver não lima do por uma convulsão telúriea ou levantada do fundo mar por uma. mas um Oll melhor autentico e esse de delicias que todos os fundadores de

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homens ainda na ingenuidade e na pureza do brotar da vida. A chegada à Madeira é a revelação do Fardés hebraico e caldaico, do Pamir dos indús, do Hara Berezaiti dos iranianos, do Beheschet dos persas, do Walhala dos escandinavos. Gonçalves Zarco e Trintão Teixeira, por menos poetas que fossem teriam, em 1419, o mesmo deslumbramento que fere os viajantes de hoje, poetas ou não, quando o mar lhes depara aquela verdura inesperada, aquele remanso de águas azuis, aquele casario branco, aqueles recortes caprichosos de angras, aqueles vultos de montes altos, tudo sorrindo e fulgindo à luz de um sol, que beija sem morder, dentro de um ar de veludo que entra pelos pulmões em caricias e afagos ... A tantos lugares lembrados para sede do horto sagrado, teatro do primeiro drama amoroso, berço do primeiro beijo, é justo acrescentar a Madeira ... Tudo concon'e para dar à ilha um distintivo edénico. Nem calor nem frio ... nunca ali se acendeu um fogareiro para aquecer corpo humano, nunca ali uma garganta escaldada de sede deixou de contentar-se com a frescura natural das aguas das levadas ... Dizem os geólogos que a Madeira foi antigamente um foco de medonhas erupções ... mas só existe uma recordação vulcânica: a excelência dos vinhos capitosas, filhos da terra adubada de lava ... Não foi sem razão que os naturalistas deram ao arquipélago da Madeira e ao das Canárias o doce nome de Macaronesia, que quer dizer - arquipélago dos Bem-aventurados. São do distinto poeta Bulhão Pato, que passou alguns meses na Madeira em companhia do Conde do Carvalhal, os trechos que se seguem: - " ... Que privilegiado pais. Tanta e tanta vez o tenho avistado e é sempre como imprevisto para mim o aspecto dos seus vales, picos, montanhas, córregos, vertentes. Os cedros já se não precipitam desde o viso dos montes como em outras eras, mas pelos atalhos, caminhos de pé - posto, de entre massiços de verdura recaiem as povoações rurais, as casalitas, as vivendas senhoris ... No Funchal... abria-se o maravilhoso - o prodigioso - anfiteatro à luz do sol branda mente coada por nuvens ténues e dos algares fundos daquelas sen'anias erguia-se, de onde em onde, a neblina, desaparecendo aqui e surgindo além sobre os visas, o que parecia dar aos cimos das montanhas a ondulação das grandes vagas ... Para descrever as escarpas em escalões, as penedias medonhas, que se nos afiguram a desabar por momentos nos abismos do oceano, ao fajãs verdejantes, a larguidês mórbida dos vales beijados pela flor da onda... seria preciso reunir de Moscho a Eschilo e Shakespeare ... Espectáculo paradisíaco ! Pais privilegiado, não tem no mundo totTão, que lhe dê de costa. As grandes eminências - o Cabo Girão, promontório mais alto da Europa; o Campanário na montanha; a Senhora do Monte sobre a cidade, e as frechas dos picos cravandose no azul denso dum céu, que já é africano. Levadas e saltos de água, precipitandose em catadupa, brocados pelas aluviões e rotos os montes! Bosque, em que os ramos da flora europeia abraçam e beijam as arvores dos trópicos, embaladas pelas brisas do mar! Rosas agrestes festivando os valados, láros nos impérvios, violetas bravas mais aromáticas que as de Parma nos brejos viçosos! ... Tem muito de beleza e de verdade estas palavras transcritas do livro "Meio-Dia" da autoria de Manuel Carreiro: - " ... Transcorridos dias, com lentidão de clepsidra, dois monótonos dias fechados entre mar e céu, duma só cor, ou então indigentes de cores, quando lobrigamos a Madeira alcandorada no Atlântico, senhora linda de ricas

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roupagens, com sorriso que tem todo mistério dum sorriso nos que caminhamos para um sonho feito de aromas do de oiro e com a alma em festa e trazendo nos olhos de deslumbramento, A característica da é a sua falta de calma Cuma que tem um pouco de dantesca, E por ser ela dá à minha sensibilidade forte olhos dois escravos para a servirem em em As calmas não são menos mas nem todas as sensibilidades estão Correm o risco da monotonia para que não U".'YU""" não a banharam de lirismo. avassaladora da Madeira é toda ela voluntariosa, Tem que invisíveis que se estendem e nos nos a pasmar de e com um pouco de pavor," muitos outros autorizados testemunhos acerca das belezas da em virtude da demasiada extensão já trechos que ficam transcritos, E para encerrar este lembraremos referindo-se à diz que ela se a escritor e filosofo lhe chamou oitava marque o celebre sábio e naturalista afirma que se descrita por Homero à realidade seria a que lhe deu o nome, que universalmente se de flor do Oceano 110 seu belo poema Ocean Flower; que Bacon escreveu uma pequena intitulada Atlantis nas belezas desta e que finalmente muitos a denominam Ramalhete Paraíso terreal, Primavera Verdadeiro etc., etc. [ Fernando

da

HUGO

JL.... U'"'---JLJL,C>.,

ELOGIO DA MADEIRA Desta vez o itinerário não foi mais extenso o Funchal eis o roteiro

o o visita à ilha da dos

fi Madeira deslumbrou-me o deslumbramento intensificou-se, E então, de duas serranas deu-me azo a fartar os olhos da não, Nunca os nunca os fartarei. mais

terceira vez. Na volta dos

da

vez, a

agem da ilha, A

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vejo a Madeira, mais desejo sinto de a ver. Na verdade, quem uma vez olhou a ilha maravilhosa não pode resignar-se a não mais a olhar. Mágico filtro dá ela a beber, por certo, a quem por ela passa, seja para lá parar, seja para seguir viagem ... Assim comigo. Quando pude ver a ilha da Madeira, para além do Funchal, do Pico dos Barcelos, do Terreiro da Luta, convenci-me de que ali e também nos Açores estavam as paisagens mais belas do mundo português. Pelo menos do mundo português, já vasto, que eu conhecia. Vista do mar, a ilha esplende e encanta. Ninguém, a não ser que seja cego, poderá alhear-se à contemplação embevecida. Desde a Ponta de S. Lourenço à Ponta do Pargo, passando pela Ponta do Garajau, pelo Cabo Girão, por todo esse admirável recorte da extensa costa meridional, abundam os motivos de beleza. A beira mar assentam as povoações principais; o Funchal, cuja paisagem só é comparável, talvez, à paisagem da Cidade do Cabo; Camara de Lobos, Ribeira Brava, Ponta do Sol, Calheta, tantas outras.; mais pequenas- mais escondidas nas anfractuosidades do litoral, nas enseadas que ornamentam a costa, pontos mais claros entre o verde escuro das ribas e o azul escuro das águas. Pelas encostas, disseminados como reses tresmalhadas dum grande rebanho, povoados sem conta mosqueando de graciosa claridade o sombrio verdor da orografia madeirense, tão acidentada e tão impressionante. No hinterland, porém, o termómetro do deslumbramento atinge o supremo grau. Vá-se para a esquerda, vá-se para a direita, as maravilhas sucedem-se, amontoam-se, assombrando quem procura, em vão, estabelecer confrontos, medir grandiosidades, determinar a superioridade desta ou daquela. As estradas que saem do Funchal põem à prova, aos primeiros quilómetros, a resistencia da sensibilidade cio contemplador. Ora o mar, ora a serra, ora a riba arroteada, ora a ribeira vulcânica, de expressão dantesca, - de tudo, com profusão, se patenteia aos olhos atónitos de quem vai. Santa Cruz, Machico, a Camacha, mais junto ao mar; o Santo da Serra, a Portela, S. Roque do Faial, Santana, mais junto da montanha. Não posso escolher, e não posso dizer que esta paisagem emociona mais do que aquela, nada me permite proclamar a soberania deste ou daquele aspecto. Evidentemente, posso sentir certa preferência por um conjunto ou por um pormenor que se projecta com mais intensidade na tela ampla das minhas recordações, sempre vivas e sempre saudosas. Evocarei, por exemplo, com particular emoção, o deslumbramento da visita ao Santo da Serra, ao belvedere dos Lamaceiros, com a Penha de Águia e o Porto da Cruz a ilustrarem grande parte do Norte da ilha, a destacarem-se no fundo mm'avilhosamente azul cio oceano e da atmosfera. E lembrarei, convencido de que nào poderei lembrar paisagens mais assombrosas - direi mesmo: mais fonnidaveis - esse imenso quadro mágico de S. Roque do Faial e de Santana, a povoação mais pitoresca e a vila mais extraordinária de aspecto que até hoje vi, para evocar, apenas de relance, parte do Leste e do Norte dessa ilha que perfuma e embeleza o Atlantico e torna mais suave a rota longínqua da Africa e da América do Sul. A ilha da Madeira! Sempre que a evoco, é como se Deus fizesse passar ante os meus olhos um filme maravilhoso que, para o ver bem, preciso de semicerrar as pálpebras Eis porque não tento, sequer, esboçar uma descrição do que já vi. Eis porque prefiro evocar, isto é: dar livre curso à emoção constante das recordações.

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Selectos de AlIIores

A ARCA DE

Primavera nas 1936, in Cabral do Nascimento, que E.\'cre\·eram sohre o da .\fadeira. Funchal. 1959, pp.

rf>rJuulI,""P

TEIXEIRA Não se com certeza, o que são as no continente sofrem um conceito errado por motivo de idêntica a de terreno de às com maior acerto. se deve antes. chamar herdade ou fazenda, Poís as tàmosas da Madeira são parques, e lindissimos deslumbrantes de cor e maravilhosos de variedade, No centro UC!ll><atCl de tom claro com interiores confortáveis de luxo e de bom gosto c. por flores cobrindo canteiros e acolhedoras arcadas ou se na solubra dos ao canto dos extensos relvados. Canta melancolicamente entre os troncos das faias e os dos o melro triste e. dos l"'lHl',U, vê-se o mar mordido nas de bareos que para todos os destínos no mistério azul dos horizontes em volta. da Boa Vista conheci Mrs, G. Nunca vi mais absoluto domínio de ternura de mulher do que Mrs. G. se entrega aos cuidados e zelos das suas flores. Ela não as apenas. Educa-as. Dir-se-ia que as domestica. e a pureza das de cores tão vibrantes e estranhas. Vai mais enlevada e enternecida, os seus PY'''ITl'''''rp~ U",~UIU'" manchadas de bronze e prata, como folhas de escudos de come as suas avencas miudinhas e delicadas como os bordados da British vivendo sem contacto com a terra, sensacionalmente alimentadas só com ar e com da visita as estufas no relvado a ouvir a música dos vilões ",'mp'nfln , violas de arame e ferrinhos as melodias desconhecidas e belas que PYnr,~,,<,iI{l sentimental deste povo, concentrado e ansioso de Vi das meninas vestidas com o e decorativo da la~IU.LUj" de clássica da bóina e as altas botas de coiro o em estridências à frente do gmpo dos tocadores. Em volta era tudo um sorriso de Deus, na timidez dum eco. o sino da Sé e, de vez em cortando a os vapores. no de <1"'''1''11'-'0 das sirenas. Um ambiente romântico puro, quase inverosímil de tonalidade e de envolvia as coisas e as pessoas. As nuvens brincavam na _~I""~""~:~~:?'''~_V'' em indolencia de Viam-se enormes verde de cenário em louvor da a viver a hora triunfal do Pensei então que neste clima da entre a terra e sensual e o céu azul e nascer- no ar- as flores mais lindas e inéditas para a nossa visão. Basta apenas que, de meses em meses, as cepas e as par-

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reiras em toldo empalidecem, perdendo harmonia neste conjunto quase irreal de verdura fresca, o murmúrio embalador das levadas continue o prodígio de renovação fazendo crescer, por baixo das folhas inúteis, desenvolvendo-se e trepando, os arabescos dos feijoeiros, a rama baixinha das batatas doces, a cabeleira curta da relva para aproveitamento. E dos altos montes e dos vales profundos do interior escorre sempre. a seiva que é o humor nutritivo deste paraíso, canção maternal a modelar, em ternura, a beleza e o encanto da "minha" ilha autêntico país de namorados. [Luís Teixeira, "Minha Ilha da Madeira", Diário de Notícias de Lisboa, 1938, in Cabral do Nascimento, Lugares Selectos de Autores Portugueses que Escreveram sobre o Arquipélago da Madeira, Funchal, 1959, pp.228-23I ]

HENRIQUE CARLOS DA MATA GALVÃO (1941)

-Que maravilha! O navio cortava então as aguas limpas, por vezes quase acetinadas. A ilha, de todo esclarecida, mostrava-se já, desde a linha nítida das cumeadas, vigorosamente desenhada no céu, até às penumbras dos vales, como uma fotografia ainda húmida, acabada de revelar. Como se a terra estivesse coberta por um tapete fantástico, ressaltavam cores duma variedade infinita? abertas para um sol puríssimo que escorria doidamente por todas as quebradas, com alegria comunicativa. Dir-se-ia que toda a ilha estava em festa. Adivinhavam-se flores e as próprias casas muito brancas, com os seus telhados vermelhos, pareciam pétalas dispersas a esmo sobre o tapete verde. Não se define bem esta impressão instantânea de alegria que a Madeira nos dá. É uma alegria, por assim dizer, feita de todas as alegrias: a alegria interior do êxtase e a alegria movimentada da festa; a alegria do buli cio e certas alegrias que se gozam em contemplação. Assim, de longe, não se adivinha nela a terra dos trabalhos e canseiras, onde uma população excessiva suga o sangue do corpo para colher no solo o pão de cada dia. Antes parece uma estância prodigiosa de turismo, em que a natureza e o homem, de mãos dadas, não deixaram lomba de monte ou carreiro de vale sem beleza e sem conforto. Pela encosta, mal esta se liberta dos precipícios altaneiros que se erguem a prumo sobre o mar, trepam centenas, milhares de casitas alegres, num milagre de povoamento, de luz e de cor. No alto, em regiões do céu, copas de árvores muito juntas, frisadas, vão descer. Sente-se cá de longe, da amurada, o prodígio que deve ser esta paisagem vista de cada curva do terreno, do alto de cada outeiro, do mirante de cada monte. Depois, em águas mais transparentes, num ponto que todas as casas da ilha parecem demandar, surge o Funchal, doce presépio desta romagem dos Oceanos, uma grande cidade europeia em ar de jardim, um grande bordado multicor, garrido, movi-

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Do mentado e Tantas vezes tenho

E ainda por prazer,

1"«'""""''''-'

À ARCA DE

NoÉ

nestes caminhos e sempre me comovi como na vez

não "rI""',"",-",," que havendo em tanta tantos que vão à Madeira e tão poucos

que a

voI. 1, 1941, ln

EDMUNDO TAVARES

E LAPINHAS A Ilha da

indiscutível maravilha ela natureza sua incrível extraordinário da sua graça dos seus costumes, e 1,.."n'""lI''''' das suas flores e dos seus frutos é um imenso rincão e de ou Paraíso Terrestre que encanta, e entontece o visitante. esta linda terra, fica-se tomado de e inteiramente. Os horizontes SUl'-

e tornam-no numa por toda a Os em uníssono um coro tri-

ImpOí~m·-se

pormenores característicos e de carácter e pv"rpoci'i De relevo muito de claro-escuro a ilha da Madeira desdobra-se em infinitos em matizes efeitos de número ilimitado. a realidade da cota de nível em que nos que nos causam que se vislumbram em mas sim os contrastes que caracterizam fi rudeza verificada na escala de entre o cimo das É o contraste teatral da c a alvura azulada do mar, a amarelas dos

unfal de

e assombram. para

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ALBERTO VIEIRA

Aqui há desordem, acaso, paisagem de cataclismo. Um trecho idílico, um recanto virgilíano desdobra-se ao lado de um colossal monstro de lava petrificada. O gérmen da criação está ao pé da morte, a fina penugem verde de uma vegetação exuberante cobre a CaI'cassa das serras desventradas, as plantas revestem as encostas, a vida fez brotar a água, nascer as florinhas, criar as giestas e crescer os pinheiros. Mas o drama lá está bem patente num cenário expressivo de luta de elementos, em que sobressaem o belo, o gigantesco e horrível. Nesta privilegiada terra, todos os motivos interessam, todos os recantos são típicos, todos os aspectos são curiosos, todos os trechos são quadros, e todos os quadros são maravilhas. Feliz conjunto de terra e mar, a ilha da Madeira é uma terra de contrastes violentos, pois reune em pouco espaço os mais assombrosos, e encantadores motivos naturais que se podem imaginar. A serra e o mar acham-se juntos, metem-se um pelo outro, colaboram na mesma obra de beleza trágica, dando consequentemente lugar a uma variedade incrível de pontos de vista e de cenários naturais. A serra é forte, brava, angulosa, maciça, cheia de mamelões, de precipícios, de ravinas e de covões. As suas cores fundem-se em tonalidades e cambiantes irreais, e parecem a distância um embutido de esmaltes, de madrepérolas, e de pedrarias preciosas. O mar é ameno, tépido, transparente, ao pé; azul profundo, ao longe, e envolve graciosamente esta paisagem alpestre e grandiosa, com vários colares de espuma branca. As povoações parecem presépios atulhados de casinhas brancas e de cores, recortados de caminhos íngremes e ruas enladeiradas, ornados de ingénuas igrejas, de torres altivas, de pontes ousadas, e de graciosos e singelos terreiros e miradouros; as fazendas são frescas, fecundas e paradisíacas; os pomares, ricos e perfumados; os hortedos, fartos viveiros de mimos e especialidades. Em parte alguma há jardins tão interessantes como na Madeira. A fragrância das flores mais variadas e raras, os maciços espessos e emaranhados dos arbustos e arvoredos, as sombras frescas e arroxeadas, as chapadas de sol de oiro e alaranjado, as ruelas calcetadas de seixo à moda local, os larguitos e pracetas de terra vermelha, o colorido extraordinariamente intenso e variegado, e a exuberância pasmosa de tudo, estonteiam e levam ao sonho e ao lazer. Os parques e bosques frondosos ostentam as mais lindas e irreais tonalidades nas suas folhagens, possuem retiros ensombreados, encantadores mirantes de poesia sobre o mar, socalcos e esplanadas sobre os terrenos mais baixos, fresquidão, água, nascentes abundantes, fontes naturais, e aromas embriagantes. O clima, indiscutivelmente um dos melhores do mundo, completa o formidável conjunto de encantos deste paraíso. O ar leve, muito puro, doseado dos mais finos elementos para a saúde, enche amplamente os pulmões, espalha um bem estar indefinível no corpo, e uma paz perfeita na alma. Na serra há odores imponderáveis. Há malmequeres de várias cores, flores silvestres perfumadas, ar vivificante de campo sadio, e um vago cheiro a cera e a mel. No mar, o marulhar das ondas junto das rochas e dos calhaus, levanta a maresia, torna o ar afrodisíaco, um tudo-nada espevitante, tempera-o com o iodo, e torna-o

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Df)

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!I\!Jl

de , uma inestimável A yerdadeiro retiro de encanto e um sonho e uma vista a distância e do mar, quer observada de perto. em pormenor. í1ha. a Madeira aspectos de inexaualouer ponto da se sucedem e numa transmut.1 estonteante e ul1lca. On)l2'lratla da ilha é tal que. cada ponto domina sempre parte dos lerritórios que lhe ficam mais e é dominado por outros. que por seu turno lhe ficam mais altos. De vêem-se sempre rochas, socalcos, fazendas. dos ribeiros matas ou casario aconche(!3do ao fundo dos \ales. ou como fortalezas prestes a eaírem. outras outras casas, outros socalcos de outras muralhas, outras matas e outras terras que lhes ficam em Descortinam-se extensos panoramas for a em que se olhe. Observam-se escarpas descamadas de encostas que ficam acima de nós. e que ameaçam desabar sobre as nossas ou sobre os telhados das casas que habitamos. De lado se vê o mar, de se vêem as serras. cada casa, cada cada telhado. torre. rua, caminho ou eSU"d.ua, é sempre um miradouro voltado para a terra e para o mar, e sempre um observatório debrucado sobre os domínios dos vizinhos. sobre os telhados das nutras sobre outras ruas, outros caminhos e outras estradas. é na Madeira. um mirante que tudo vê em redor, e que tambem Cada casa é uma ao mesmo tempo úrada para os horizontes marítimos e para os horizontes serranos. Cada é uma da donde se vê a passagem. a ea dos barcos. Cada "",..,.",,,,,,,. uma colunata que marca como adorno, nas vistas da paisagem. Cada tàzenum que nos chama de Cada um menta os panoramas. Para lado que se vêem-se sempre casas mais baixas do que o nível em que nos encontramos. Vêem-se sempre casas mais inacessíveis. Vêem-se sempre parques a nossos lá no lá no estradas montes, telhados sobre telhados, chaminés cr,.""ino"c casas de prazer, tap1ass:óls menorizados e _ vertentes matizadas e renques de tabaibeiras campos de bananeiras e de cana de e um mar de e um céu a ilha da Madeira é tambem um dos recantos poré maior, e consequentemente um dos pontos em que os terrenos são mais mercê da . ca, graças aos recortes bizarros do seu litoral, aos inúmeros e férteis vales. e às


ALBERTO VIEIRA

dades, em mil quadros de uma grandeza esmagadora e impressionante. E, em êxtase e recolhimento, admirai a grandiosidade da natureza, a imensidade das senas, a vastidão do mar, e a força e eternidade da matéria e do espírito divino do mundo. Deitai pelas estradas fora em direcção às serranias interiores. Subi pelas ladeiras Íngremes até ao Monte, ao Terreiro da Luta, ao Poiso, e descei em seguida à região ravinosa do Ribeiro Frio, onde uma vegetação exuberante, fmias sombras, e uma fresquidão de mistério vos esperam, para vos encantarem, seduzirem, e embalarem em sonhos vergilianos. Deixai depois a pousada local com os turistas abancados às mesas. Esquecei os olores dos manjares regionais, o tilintar dos copos e talheres, o vozear alegre, e as risadas femininas. E ide até aos Balcões. Trilhai o carreiro macio, fofo de relva, ladeado de água, e guarnecido de hortênsias, que vos conduz a esse lugar famoso, pois um espectáculo deslumbrante espera-vos, - um destes espectáculos que só a natureza pode proporcionar, e em que os protagonistas são as serras, os rios, o céu, o mar e as nuvens. O panorama é de grandeza e proporções excepcionais. Diante de vós, sob o piso do balcão proeminente em que tendes os pés, rasga-se uma ravina de profundidade inconcebível, em cujo leito contorcido, pejado de pedras e cavado de socalcos e cachoeiras, corre um ribeiro frio, bravo e caudaloso. Grandes linhas angulosas, rochedos nus, portelas e desfiladeiros, tudo parece instável, desaprumado, prestes a desabar no abismo e a perder-se no fundo vago e distante da ravina. Uns farrapos de nuvens ténues e soltas toldam parte das selTas fronteiras. o que torna o espectáculo, ainda mais inesperado, estupendo e belo. No fundo, as formas são imprecisas. Mal se lobrigam as rugosidades do terreno, as largas superficies negras dos rochedos de basalto, e as chapadas de tufa vermelha e vulcânica que f0I111am a base desgastada das enormes penhas que nos assombram e esmagam. Caminhos perigosos descem em zigue-zagues, em degraus e rampas vertiginosas até ao plano inferior, para depois novamente se embrenharem em lrajectos idênticos, esfalfantes, e escorregadios, e sumirem-se no labirinto serrano que se avista na frente. Divisam-se alguns pormenores isolados, tais como penedos fazendas, bosques dispersos, e fundos cinzentos do zimbros e loureiros. A alguns centenares de metros mais acima, estão as nuvens. movediças e lentas, tal como se fossem cortinas de fumo branco, impelidas por brisa suave. Neste nível tudo é nevoento, arrepiante de desconforto e frio. Mas mais alto ainda, em cota superior a esta facha de penumbra e humidade, a romper as nuvens, eis os píncaros acúleos da cordilheira, as agulhas intangíveis dos rochedos, e as fragas espantosas das cUl.Uiadas, a sobressaírem vitoriosamente, tal como torreões de castelos gigantes ou muralhas de fortalezas imaginarias que palrassem nas regiões etéreas. Então, perante um quadro de tais proporções, diante dos cumes das serranias a espreitarem a alturas prodigiosas e por sobre as nuvens, em face da nitidez dura dos contornos, da luminosidade extraordinária do céu límpido, e da irradiação do sol quente, belo e glorioso que enche todo o espaço de reflexos de oiro, o espectador

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Do

A ARCA DE

infindáveis e criadoras encostas em que se desdobra o território vulcânico. rugoso e acidentado da os sinais de vida vislumbram-se por toda a parte, numa extraordinária variedade de de Existem desta terra. Desde a beira-mar até aos cumes que constituem a cordilheira que se desenvolve no sentido Estedefine em duas vertentes, a fisionomia e estrutural da a vertente Sul e a vertente as sucedem-se numa admirável, ostentando-se maiores ou menores, mais ou menos belas e camponesas ou as suas anicham-se em recôncavos

",,,,1"1'''.11', não sendo visíveis senão de muito perto. Outras soalheiras das encostas, vendo-se acterísticas a destacarem-se por entre os de casas e arvoredos. "111"")o;,1.I1\,'U,II-"" à em vales ou encostas que descem até recentes, situadas na base de ribas altíssimas. o homem habita desde a orla extremamente mais inacessíveis situados nas altas serravista e de parecem Como "',"mrolp",pnfn desta abundâncía extraordinária de vive por toda a vas que aparecem, para em caminhos são verdadeiros

PAISAGENS DE

OS

llftL'--V

DO RIBEIRO FRIO

Conheceis o Ribeiro Frio e os seus balcões de maravilha? Conheceis este admirável situado a meio da Ilha? onde há l5u,,,~,o,,,,,,,,aJ da Vinde até ao FunchaL Vinde até às terras mais sentido nacional e mais do que em número de terras do Continente. Vinde até à '"'I',H;''''''' terra onde há mil da Ç;A~";Ut:'a.v racial e civilizadora dos Vinde até estas paragens admiráveis do descendem directamente dos mareantes e do Escola de Vinde até à terra onde nas tábuas de eXl;lressô,es, que vos lembrarão as e os decididos e bravos homens do Infante. em mil curiosiW-iS"'''''" terra que se desentranha

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esmagado, inquieto e confundido, sente-se frágil, tem a sensação de se achar deslocado cm meio de uma paisagem de titãs, rende glória ao Criador, e confessa-se pequeno, mísero e efémero. [Edmundo Tavares, Terra Atlân/ica- Impresscies da Madeiru, Lisboa, 1949, pp.21-28, 79-83]

J. VIEIRA NATlVIDADE[t954\ Que génese laboriosa, a desta ilha de llorestas e de bruma! Nada que lembre o mitológico nascimento de Afrodite quando emergiu docemente do seio das águas, coberta por alvo manto de espuma que lhe oculta a virginal nudez. A Madeira é obra de ciclopes, do desencadear brutal ele forças enraivecidas e insubmissas, produto de tremendas convulsões submarinas, do pavoroso conl1ito cio rógo com a água. Remontam a longínquas idades geológicas as grandes convulsões geocinétieas que fazem erguer das profundidades abissais uma enorme montanha, sobre cujos planaltos uma outra montanha se levantou, erguendo seus altos picos cinco mil metros acima dos fundos submarinos. E durante milhares de milénios esta pobre ilha perdida no mar é joguete dessas forças brutais que a modelam e transformum. A custa de levantamentos e de erupções vulcânicas cresce e consolida-se o dorso montanhoso: é o primeiro e informe esboço do corpo da ilha, trabalho gigantesco depois do qual se acalma a fúria criadora. Mas o fogo não se extinguiu no ventre da montanha e irrompe mais tarde em focos vulcânicos periféricos. De novo estremece e se agita a montanha múrtir, novas torrentes de lava incandescente se despenham no oceano que referve raivoso em eachões, sob colunas alterosas de vapor, C0l110 se o próprio Vulcano, na sua gigantesca fúria, te111pcrnsse o corpo candente da ilha na imensa celha do l11ar. Misteriosamente findaram um dia, como misteriosamente haviam começado, as convulsões submarinas e a actividade vulcânica; extingue-se, pouco a pouco, o fogo interno, e a ilha transforma-se num corpo frio e incrte, enorme e torturado esqueleto rochoso, manchado de escórias e de cinzas, eontra o qual as ondas raivosamente embatem. Triunfara a obra ciclópica do fogo; porém, esse rochedo é um corpo estranho na imensa supel'ftcie líquida, uma mácula, um estorvo ao livre arlhl' das ondas. E chcgou então a vez de a água tentar destruir o que o fógo construíra. Desabam com frngor as falésias corroídas na base pela abrasão; chuvas diluviantls formam torrentes de brutal violência e, como gigantesca garra, a erosão abre vales c desnladeiros, provoca temerosos desabamentos, morde, dilacera, mutila a montanha e arrasta vitoriosamente para o mar os despojos da luta titllnica. Piedosamente, a vida vegetal surgiu um dia a revestir aquela nudez, a opor uma barreira viva fi catastrófica destruição. De soréclios vindos de longe brota o líqucn que fabrica as primeiras partículas de solo vegetal; colaboram com a planta os agentes meleóricos na decomposição da rocha; trazem as aves e as correntes oceflnieas, C111 p)edosa romagem, as primeiras sementes. Pouco a pouco, um manto ténue de verdura esconde as chagas da ilha clesnuda. E durante milhões de anos a evolução

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Dfl

:\RI

:\.I!

até que a floresta se c e durante milhan:, de milénios Um dia em que a barca da aventura acometeu negrume que a e a acha incendiária ::.inistramente para destruir em breve espaço de tempo a floresta que levara milénios sem tim ii c,mstituir-se. Em boa verdade, a ilha da ~ladeira deixou de ser a ilha tlorestas no dia e Tristào o e olhar para os troncos e para o solo fecundo em que a floresta na fisionomia da l\ladeira. fícou sempre a sua dolorosa e talvez por isso a \Iadeira agreste e selvosa. a l\ladeira da bruma e dos e alcantilados cerros, austera e triste, a Madeira qUI! eu melhor sinto e comprel.!ndo porque só aí entrever quanto trabalho e quanto quanto houve que e quantas houve que suportar o homem, para domar os elementos insubmissos. para tomar a ilha I.! para que brotassem da rocha frutos e as flores. a

.) Esta é a Madeira estática,

dana que se

a ilha munsorridentemente ._" ..... __ . Não é para admirar. por isso. que da a o ambiente edénico apenas dêem ao turista uma nnnre·,:<'l"

mica da ilha. Ora a Madeira é melhor do que tudo isto: é a do UaIJ,.u.tlU, humano. Tão presente está por toda a 'U'~~.uu",u da sua labuta o rude das suas mãos calosas e que a por assim se embebeu dessa presença e se humanizou. Por que não admitir que a Madeira tenha uma alma e tenha um ? Um em que se fundiram os de todos que durante cinco séculos por amor dela uma alma em que se fundiram as almas e de de escravos e de homens livres de todos de meio ou com o a sua coragem, a sua escreveram a mais bela de que se um PO\'o. A Madeira que nos comove e nos deslumbra é a Madeira heróica, campo de luta do homem contra as hostis da Natureza: e para a seminuas, não a Ilha do fim para o do sul para tume, mas do para o fim. Antes do diamante a matéria bruta que consentiu tal e debrucemo-nos sobre o titã que realizou tal .) tudo é negro, brumoso e triste. Contra as """"'!L'''''''', como anete, teimosamente e raivosamente arremetem as e a orla branca da sua espuma mais faz avultar o sinistro negrume da mole rochosa. Nas cwneadas das a bruma se descerra. entre,'êemse as manchas sombrias da floresta arvoredos folhas amarelecem ao desmaiar do Outono, ou tombam " .. ,,,n"f1"~ ventanias do Inverno. Dos <ln,?rc:,,,,,,,

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ALBERTO VIEIRA

água em torrentes tumultuosas, como que fugida ao contacto grosseiro e agressivo dos rochedos e ansiosa por regressar ao mar natal. Rochas e água, o etemo conflito do estático com o dinâmico que tragicamente se reflecte na orogratia da ilha, A água paciente, ágil, perversa, desgasta e cOlTói o esqueleto rochoso, hirto, impassível, severo, Como há milhares de séculos atrás, a água móvel parece empenhada em aniquilar a montanha inerte. É a abrasão a corroer as falésias e a provocar os grandes desabamentos; é ainda a própria água do mar que, sob a forma de nuvem, vai condensar-se nas cumeadas das serranias para correr, depois, tumultuosa e devastadora pelas ribeiras. Na costa nOlie, dir-se-ia que se renovam a nossos olhos todos os atormentados passos da longa história da ilha, O milagre dos madeirenses foi harmonizar esses elementos hostis, tarefa ciclópica que data de há quinhentos anos, e que hoje prossegue com a mesma coragem e o mesmo ardor. A orografia insular, até na própria vertente sul a mais favorável aos cultivos agrícolas, claramente mostra que, depois de destruída a nO!'esta natural, só era possível conservar ou recuperar o solo pela construção de muros de suporte que prendessem as terras, e de praticar o regadio dominando a água que corria torrencialmente pelas ribeiras, ou brotava, inútil, nas cumeadas das serranias. Para tanto, havia que lutar com a rocha e que vencer as torrentes. E o homem, o pigmeu, atacou a montanha. Durante séculos não cessou o trabalho rude da picareta e da alavanca, e à custa de vidas, de suor e de sangue talharam-se na rocha as gigantescas escadarias, sem que o alcantilado das escarpas, a fundura dos despenhadeiros ou a vertigem dos abismos detivessem os passos do titã. Monumento este único no mundo, porque jamais em parte alguma, com tão grande amplitude, tanto esforço humano foi empregado na conquista da terra. E o madeirense venceu a água o que era tOlTente perigosa e rebelde, força agressiva e destruidora, sujeitou-se à vontade do homem. E a água corre agora docemente pelas levadas; o estrépito das torrentes transformou-se em brando murmúrio, em terna melopeia de inofensivo e remansoso regato; e a água impulsiva que desgastava a rocha e sulcava a ilha de profundos vales fecundou a terra e permitiu o milagre da vegetação luxuriante e os prodígios da sua agricultura. Pouco a pouco, aqui e ali, as flores surgiram neste cenário grandioso, timidamente se entreabriram, e por fim triunfalmente desabrocharam a coroar, como uma bênção, a obra portentosa dos obscuros heróis. ( ... ) E o vilão ataca e tritura a rocha para a transformar em solo agrícola; geme sob o peso de enormes pedras para construir um socalco; marinha pelas falésias para conquistar um palmo de terra, mesquinha gleba, pouco maior por vezes do que um ninho de águias alcandorado no pendor de uma fl'aga, Antes de ser agricuI tor, é cabouqueiro e arquitecto. Labuta de sol a sol e transforma o seu horto, a sua cOUl'ela, num jardim. Onde a água corre, o agricultor heróico e operoso faz milagres; a levada empurra-o e ele empurra a levada. Novos poios se sobrepõem a outros poios, e assim esse trabalhador humilde, além de transportar sobre os ombros o peso da sua cruz, constrói nos degraus da montanha o seu próprio calvário. É a Madeira sobrepovoada que luta. Este vilão madeirense, de torso hercúleo, máscara rude e austera, personificação da

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Do

À ARCA DE

NOÉ

de o homem que cinzela e amansa torrentes, é uma estranha. Não se deixou vencer do clima deita antessala dos que riP'1nPrl"Q", sonhadores e o horror ao o vilão é um que teve a coragem de que todos nós trazemos na alma e no a dos desencantos e dos fracassos da vida. A luta com a Natureza rebelde fOlialeceu-lhe o ânimo suportou durante séculos infortúnios e fomes e sem que se alterasse a sua bondade Não venceu a rocha apenas com a ea dos seus senão com a fénea a sua indómita coragem. Dit'-se-ia que uma e ampara o amor da sua que nele em tem renúncias arrosta e misérias para realizar o mais ardente sonho da sua vida: regressar à a peso de oiro lima e e fazê-lo frutificar amorosamente com os seus desvelos e o seu suor, os seus cuidados e as suas canseiras. É a da Madeira que assim acrescenta a

1110S

esta

com suas mãos nPlrpocr;r", amorosamente Primavera. não basta Para e para amar a admirarmos a ilha deslumbramento deste mundo de

Vieira

Madeira- a DDOD,r::ta

o al.,IJUl"U'Jl

pp.14-17,28-

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ALBERTO VIEIRA

EDUARDO NUNES [1956) ORGULHO-ME DE SER MADEIRENSE- até pelas nossas flores, pêlos nossos jardins, pelo colorido das nossas quintas. Não sei quem teria dito que as flores eram sinfonias completas da natureza. E eu tenho, sim! orgulho das flores da Madeira. Mais lindas? Mais raras? Outra variedade, outros perfumes, outros matizes, outros fulgores ... Do clima? do sol? das brisas? do húmus. ? Diferentes-apenas. Abundam de tal modo e em tão ampla escala, e são tão variegadas, que completam a roda do ano, sempre com assombrosa profusão. Temos de tudo-penso- da mais humilde violeta à mais preciosa orquídea. E temos rosas que começam em Janeiro, fazem o percurso dos doze meses, assistem à passagem do ano - à famosíssima Noite de S. Silvestre- e na primeira manhã do Ano Bom lá estão para nova rota ao calendário. Se aquela irmã Susana de Júlio Dantas vivesse na minha ilha, não teria sido vítima do seu próprio juramento, porque, aqui, ao contrário do seu jardim, encontraria Rosas de todo o ano. Na minha ilha, as flores são um produto local: a orquídea oriunda do Brasil, sujeita ou não à estufa, tem outras tonalidades, outros aveludados, outro colorido -é menos impessoal e mais digna. Os processos técnicos-ou químicos de muitas regiões, são aqui resultante natural do meio, sem as exigências constantes, ou permanentes, dos mais afamados centros florícolas. Aqui, o meio faz o produto, sem adulterá-lo na sua identidade de conjunto. E se os perfumes são outros é porque é outro o ambiente da fecundidade e do desenvolvimento. A giesta (essa flor cor de mau gosto) de entre os pinheirais, agrega a si um pouco da seiva dos pinheiros. O junquilho nascido nos "camalhões" dos" regos" ou à beira das paredes, é de um odor muito mais intenso do que os que nascem nos canteiros, entre roseirais. Por outro lado, as flores transitórias, ou estacionais, possuem outro" aplomb", outro "chiquismo", outro "it" ... remotos vestígios da elegância fidalga da Descoberta, e a mesma inflexibilidade dc pundonor... A nossa situação climática, este nivelamento de frio e de calor, uma quase pennanente estabilidade de temperatura (um banho de mar em Dezembro ou Janeiro, mais delicioso do que de Julho a Setembro), tudo concorre para uma ambiência de afagos e de protecções, benéfica aos homens e às coisas. Malherbe, o grande lírico francês, não conheceu as rosas da Madeira, porque na segunda metade do século XV só eram conhecidos além fronteiras os nossos vinhos. Se assim não fora, elas não se dest1orariam na manhã seguinte ... As nossas flores são eternas, porque estão em permanente renovação. Aqui, na minha ilha, aquele embaixador britânico não teda necessidade de conservar o cravo na água, ao regressar do "Baile dos Diplomatas" .... porque teria muitos outros ao amanhecer. Tudo, na Madeira, floresce com singular exuberância. Há riquíssimos e vastos jardins, sujeitos a cuidados e trabalhos naturais, mas nada é infecundo, seja em que local for: nos ten'enos agrícolas, num vaso, num vasilha, num alegrete, nos pontos mais áridos ou entre as "mestras" das levadas, não lá uma só flor, de soca ou semeadura, que não germine, que não cresça e que se não debruce na haste ou não se espreguice ao sol. A terra é fértil e os ares anulam os elementos perniciosos.

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Com as rosas da Madeira. bem dar-se o dolorida~. os momentos mais ditosos da nossa vida ou maÍs pungentes de tristeza c de saudade. Elas são oriundas de .lj paragC!h e constituem a mais que vimos. com a maiur mas. que eu ouso perguntar agora. numa se não teria sido na ivladeira. nestes -que Vénus amente anterior a estufas pouco possuem de artiticial. l.jUê "Jornada a um mundo de beleza eterna" ratificar a conclusão a ljue as detestam-se mutuamente. As nossas tlores têm encantado o mundo- e ficam já a quatro homs de e a sete de Caíram sobre D. Carlos c D. Amélia: sobre a \cncrand;t e do Presidente dI! Senhora da Fátima. e ruas. e ;;alões. e e de e de mirantes e [~ uma vez foram tão abundantes que levaram um ministro a esta pergunta: !\Ias ha\erá ainda mais flores na Madeira? No momento em que escrevo, os nossos e os nossos campos são um encanto sem duma soberba e A poucos metros dos meus as ameixieiras têm coisa de irreaL sem o menor espaço de ramo nu, UUl<..... <lU das t1ores-flocos de neve que parecem imateriais. E hí para dianh:, !>all!>OIlUV serras, cortando encostas e ficam as em esmeradas ren,.n... r,~,.tl'l" de sumaúma a que o sol empresta mtilâncias de sim. Coelho Neto trocaria o seu "Jardim das Oliveiras". por

nr"",,,,,,,<: de

de cores, de sons ... com

TI"''''','''''' desabrida. Fialho. por esta altura,

a sua "Sinfonia da Primavera"-Eu bem na sinto! Eu bem na sinto!... E como ele. reparo e as borboletas viuem de contente. Vou a Axcl no que os melros dizem de Munthe o seu Livro de San para ínuos ouvir nos nos o que diz a melrada em desatino. e ver o que são estas brisas odoresta música coral das e das t1ores. das aves e das borboletas-estas aleluias que os cantam no bico dos Vasco da Gama teria hesitado entre flores e frutas de conserva ao passar levar que mostrasse ao novo da eram nas "''IV,",,''''''' de Durante todo o ano se verificam porque as nores são a O turista encanta-se com elas: ontem. o de Kent enlevado com um cravo maculado de branco e roxo; (ao abrir do Ano Winston Churchill que. ao sair da Madeira. teve de c,,~m>'''\T seus devaneios no melhor dos seus sorrisos, l-das mãos duma senhora. ontem ou se Camões ver as acreditaria terem sido elas que deram cor ii aurora... das flores da minha ilha, que Rinder ensinou Bernard Shaw a


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dançar; que Anna Neagle-a magistral intérprete de "Rainha Victória"-depois de reconhecer, contrariando-me, que "até no Paraíso havia jornalistas", me confidenciou: Um encanto, a maravilha mais linda que tenho visto! E foi nos jardins do Paço Episcopal que o Dr. Lopes de Melo-o grande orador sagrado companheiro do Padre Cruz - teve esta frase formal: Conheço um pouco do mundo, mas nada conheço que possa comparar-se a tudo isso; estou cheio de belezas e de perfumes ! E, agora mesmo, o Dr. António Florillo, meu camarada italiano no jornalismo, vem de escrever: Não me recordo de ter visto noutro lugar a abundância de flores que existe na Madeira. Depois de um hino aos nossos panoramas e aos nossos privilégios naturais, acrescenta: Na Madeira, tudo parece saído de um mundo de outros tempos. Há um sussurro brando, diáfano, cadenciado, a diluir-se, a extinguir-se ... São as flores que conversam com as abelhas, com as borboletas, com as outras flores. São as vozes delas, enigmáticas, dolentes, na perturbação tangida dos sinos de Carlos Dickens Um borbulhar de sons imperceptíveis, que os últimos laivos do poente colorem e enfeitiçam. São as flores quese preparam para o repouso, para o silêncio bibIico da noite-para a festa dos aromas, Há uma madressilva que já impregnou o ar com um cheiro que abala as narinas, de tão inebriante-e já atraíu uma borboleta nocturna, única confidente dos seus secretos anseios. Vão entrar na volupia do escuro, na fantasmagoria do negro, na ausência da corpara, amanha logo ao romper da alva, acordarem, cheiinhas de sereno, com o chilreio orquestral da passarada novamente em alarido. Que será o seu sonho no vácuo da noite? Uma jarra de Sévres de senhor feudal? Um colo de Vénus? Um altar de Deus? Não! Antes a haste, a prisão à vida, à Natureza-quiçá o melhor sonho das t10res e dos homens. Nos canteiros da Madeira, há, sim, daquelas figurinhas de Tanagra, de que nos fala Vieira Natividade. Aqui, não é preciso organizar -se um certame Internacional, porque todas estão em permanente certame durante todo o ano. Aliás, digam-no os passarinhos, que na Madeira abundam em volumosissímas vagas, sem que viessem dos trigais da Argentina ou da América. As t10res da "Pérola do Atlântico" são do seu cartaz histórico, do seu nome no mundo. Raríssimo é o estrangeiro que as não leva para bordo, quando em trânsito; que as não tem no seu "appartement" do hotel; aLi que as não pede para o navio ou para o avião, quando embarca. De resto, as flores da Madeira são outras cores da cidade e dos campos numa só Flor do Oceano. ORGULHO-ME DE SER MADEIRENSE- por tudo que disseram de nós, antigos e modemos ... -São torrentes de aleluias, que põem o meu orgulho a pular, a saltar pelos páramos da nossa grandeza - esta árvore com cinco séculos e meio de existência, ridente ao sol e ao tempo, sempre verde e sempre tenra, que emerge do ventre do Atlântico para maior glória da Pátria e melhor enlevo dos homens. Caudais de encantamento de que são arautos os "estranhos" (os de fora); todos dirão o que eu - se o soubesse ... -não diria por suspeição. Vou pôr, portanto, o meu orgulho naqueles que se orgulharam de vir até nós. Mas, de todas as peças que rebusquei para formar este coro de privilégios com que se dignifica e engrinalda a minha ilha, dispensarei largas referências, e só de passagem - sem qualquer ordem cronológica, repita-se - citarei nomes doutros séculos, que se dispersam na vasta bibliografia do arquipélago. Darei

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das n08-

auge do seu UU~ULV. quem melhor se dador da filosofia

" ciosa as nossas belezas disse nada conhecer de mais belo e romancista e "o homem mais de tanto assombro e que Olavo seus ultimas anos, chamou à Madeira o toda a ilha era uma no banho luminoso corria para dar-lhe um distintivo que Roberto e também transformou a sua lira em doces melodias que medico do mais bonita que e Para para o meu trabalho e para esta ilha de que me Vénus ama; a terra dos Amores", a que se lhe precursor que tem cantado e enaltecido as maravilhas da Pérola do para que não posso tudo que se me vão valer afirnem as dos que não trazem a naftalina dos historiadores. na cimeira deste livro meu de ser eu como os latinos:. "Sursum corda !" são cantar-se hosanas à minha ilha da Madeira! com um "santo da casa" -o que foi João serve de 1110te aos que lhe seguem:-... temos que quere que de vago e das telas de Wateau ... e dá vida e retevo aos relevos da vida.Bulhão que por andou "a aos vinte e aos de ricas roupagens, e acressessenta e cinco anos, chama a ilha uma Senhora ! País não tem no mundo torrão que the centa: dê de rosto. Júlio Diniz esteve o mais surpreendente que a vista formosissimos vales que vão o seio fecundissimo aos olhos marauilhados. Emudecido com a que escreveu "Os da Casa que o cercava, a tal Mourisca". como D. António da autor da "História do Marechal Aumhomem ministro da InstrLlcão-na Madeira tudo faltou de amor e Saldanha" e nosso

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tudo era formoso! Latino Coelho traduz de um navegante austríaco.: ... a vida da Natureza aparece em tão rica variedade e formosura, que a mais creadora fantasia nada pode conceber de mais amorável e encantador. Teixeira Gomes, que foi nosso Presidente da República, e escritor de renome, teve esta interrogação Pois haverá no mundo paisagem mais aliciadora do que esta que eu disfruto? E Brito Cam acho (escrevendo talvez, com a pena ao contrário ... ), tem esta frase: Sinto o deslumbramento dum panorama sem rival, o encanto duma bela que os mais delicados, os mais impressionantes e amaráveis paisagistas em todos os tempos houvessem feito em colaboração. António José de Almeida-outro Chefe de Estado, declarou: A Madeira é um retalho do Paraíso colocado neste ponto do globo; é obra da Natureza, obra de Deus! O Presidente Carmona escreveu: Saio da Madeira maravilhado. Nunca poderei esquecer a magnificencia da paisagem e as qualidades primorosas do seu povo. Logo à chegada, no cais, ao atravessar o tapete de pétalas garridas, teve esta exclamação: Isto não é uma terra; é um sonho! Com a vista a "falhar-lhe e a perturbar-se, o cheiro a entontecê-lo", Raul Brandão, enlevado, escreve: Tudo isto vai do cinzento ao doirado, do doirado ao azul indigo e a montanha a escorrer azul e verde ... Agora, o romancista de "Miss Século XX", Sousa Costa: Os meus olhos fixam-se, sem pestanejar, recolhidos na contemplação do inesperado espectáculo - tão formoso, louvado Deus! que folheando os mil canhenhos da memoria não encontro outro a que o compare. Percorre a ilha, magestosamente bela, e conclue: Enquanto os nossos "parvenus" diluem a sua insignificância nas terras estrangeiras, as pessoas estrangeiras de bom gosto vem alegrar os olhos e retemperar os nervos nesta maravilhosa estância de Portugal. Remonto um pouco a outras gerações e oiço o inegualável anotador da Guerra Peninsular, Adolfo Loureiro: Sem rival na terra, jamais se apagou da mente de quem uma vez poude apreciar os seus encantos, a recordaçdo daquele verdadeiro paraiso terreal. Travassos Valdez exige reivindicta para seu pai, o conde de Bonfim: foi quem primeiro denominou a Madeira de Flor do Oceano, estas marauilhas que não são uma realidade mas um sonho de ficção de poetas, arrebatador, como se contemplassemos uma região fabulosa. Paulo Mantegazza, que três vezes passou aqui, diz ter ouvido dos viajantes que todos desejariam ter uma casinha neste paraiso. O notável romancista italiano escreveu no Funchal. Uma pagina de Amor-Um dia na Madeira. Von Blomberg, que aqui esteve a bordo do iate do chanceler do Reich, disse aos jornalistas: Prefiro ver do que falar; quando os olhos se extasiam de beleza, a voz sufoca-se, e tartamudeia ... E ltalo Balbo, Marechal do Ar da Itália, confessa a sua surpresa: Nem sei bem onde caí... No Paraíso? No Olimpo? Seja como for, estou numa ilha que me perturba, por demasiada singularidade de encantos. Depois ... as " estrelas. da Cinelândia: Bety Balfour, ali, na Quinta dos Cedros, zangada por haver-lhe desvendado o incógnito: Devo confessar que estou num lugar

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não define. Lindo? Belo? .. Um Ullíco! Dolores dei Rio Cedric seu resiste: Estou de encantamentos. E olho que muitas terras Jean eom Wina Winfried e uma numerosa, desembarca de bordo do onde Pierre Chena[ filmava "Les ammotinées de l'Elseneur".Vinham apeem terra", mas "amotinaram-se" a tal com os encantos que se lhe que ficaram para o dia O francês nos varandins do Reid's Hotel": isto de uma beleza acima do l1ata caminho da Marahon-sábio catedratico e fundador da olhava o Funchal da do seu camarote e, sem de ordem comentava: Soberbo! É um uma tela única... por Deus! ele matas, de ondina encerrada numa câmara de núvens- escreve Oliveira Martins. Gaivão escalou a Madeira diversas vezes IUIIW\J"-;:' para o Ao fim de uma Tudo conservava um ar a interior do ea movimentada da festa. Também Júlio o notara: Tudo tem um ar de festa e de maestro de "Os Cossacos do Don":esta beleza ilha onde a é um altar. acrescentou: A Madeira encantounos, para sempre, para para encanto dos posso dizer-lhe que nada há melhor no mundo. Sim! Tudo que se diz deve a uma verdade insofismável. con~ cardar que tanto louvor e tanta mística de encantamento não são mcras formas meros arroubos de e de estilistas. agora Vieira Natividade: Na a Natureza abusou em demasia do sublime e o homem excede o homem. Não há nada que não deslumbrador. O autor de tantíssimos trabalhos científicos também se enamora da também se extasia por a de concluir que seria um contra-senso cantar-se o fado na onde o ambiente só admite hinos triunfais e cânticos heroicos. Ferreira de Castro-o mais famoso romancista da actualidaele- embrenha-se de tal modo na minha onde passou uma que nela coloca toda do romance "Eternidade" e a ela torna cheia de encantos em. l11Ut1velhas Camilo tem , o entrecho de "O Santo da Montanha" no e Arnaldo Gama desenvolve na Madeira "A Caldeira de Pero Botelho". deixa descendentes. E o para ca Teófilo llUtlfl'.HU.lU'''Uv escreve ainda. noutro Julio Diniz, Se os doces afecJ.<UHUU<, se os carinhos duma esposa, duma mãe ou duma filha subé a terra para tentar a

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E Henrique GaIvão diz tambem. A hospitalidade dos madeirenses é a expressão dum sentimento e a força dum hábito. São duma amabilidade fidalga, que não precisa dobrar a coluna vertebral para se nos meter no coração. Simpaticos e dignos, na medida exacta em que se honram os que oferecem e os que recebem. Vou rematar todo este coro de hosanas a minha ilha com dois poetas-um que por ca andou em busca de saude; outro, que por aqui se perdeu doido de beleza. António Nobre, depois de procurar alívio por terras de Espanha, da Suissa, da França, da América ... e por recomendáveis regiões de Portugal, viveu dezoito meses na Madeira. Porque só podia cantar os seus sofrimentos, não poude cantar a ilha nas suas maravilhas. Mais fraterno, mais íntimo, mais aconchegado ao povo- a sua criada Catarina, ao velho da rede, Aquela Riquinha que era a "flor mais bela do jardim desta ilha" e que Fora outrora, talvez, filha de Cristo, Se Cristo houvesse tido alguma filha, e aquelas outras raparigas de quem disse: Fica-se doido, vendo-se a primeira, Doido se fíca se se vem as mais, o grande mártir do "Só" não meditou sobre a paisagem, porque a sua meditação era angustiosamente subjectiva. Sede de imensa luz como a dos pára-raios, segundo gravou no tronco duma nespereira hirta e antiga. Encantado com a nossa hospitalidade, no meio da "fina flor" que então com ele se reunia para ouvi-lo dizer versos de Antero, não esqueceu, depois, a sua gratidão, que sintetisou nestas palavras: As senhoras do Funchal tem sido amabilissimas para comigo: manda-me "beeftee ", " custard", vinho velho, geleia, etc .. Nós, por nossa vez, não o esquecemos-e ali esta, no Largo que tem o seu nome, o seu busto de sorriso triste e sofredor. Mas ... toda a medalha tem anverso e reverso. Veja-se agora este contraste. Outro poeta, que por aqui andou pulando de contente, doido de alegria, no desvario da beleza, como um fauno a incendiar o bosque com estrofes danlescas e mágicas -esse irrequieto, esse traquina poeta dos intinitos que é Miguel Trigueiros. Socorro! Que isto e belo demais! Calcurreando ruas e montes por esta ilha do outro mundo, por este corpo de paisagens impossíveis, tem este frenesi. Apre! Que ser feliz dói a valer! E espemeia, e barafusta, porque a beleza entrou-lhe na medula e anda a comicharlhe o sangue, e vá de interrogar a própria ilha: De que estranhas miragens nasces tu? Inconformado, nesta alucinação de encantos sucessivos, tenta uma compreensão: Isto aqui não é a Natureza! É outro Espaço, é outro mundo, é outro Sonho! E a ideia tolda-se-Ihe no espirito, toma ascensões siderais: Olá, bom Deus, não há que duvidar: Cristalizou aqui o Teu olhar! Por fim, exausto de sublimidades, cansado do Belo, conclue: Não se comparam formas com milagres! E ao pé deste milagre, é tudo pequenino! Na feitura deste capítulo fui o primeiro a não saber urdir as il11agens e a não conseguir frases de concordancia que se ajustassem ao seu relevo com algum relevo, também. Piquei-me diante delas atónito, Fiquei-me diante delas atónito, sem discernir as de maior elevação, e acabei por pensar que esta minha ilha da Madeira deixara de ser minha, por se me mostrar na posse embevecida dos outros. Ao cabo, logrei encantar-me com os encantos estran-

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até a de perante as estrofes dos poetas, direito de E vá de sentir "'''<l'''''', essas mesmas que só se matam começam a nascer. Stefan diria: tem lal tamanho esta Beleza que eu, diante como um covarde! E eu, se fosse poeta, ou pouco morrer; o que é é que isso não suceda antes de conhecer-se a Madeira.

me

de Ser

IVICIW'lrt'I1.\'P

MARJALAMAS floresta revestia densamente as montanhas e suas raízes no calhau da beira-mar. Assim ilha a que o dito por causa do espesso e coberta". a o autor e confirmam-no os cronistas da das Saudades da Terra. não domar as alterosas ondas de verdura que se lhe caminhos e ao cultivo do de ter vencido as que, durante sete anos, ardeu em vcgeque, vinte anos para o Reino. mandando construir com elas os n .. i',"II'iI',," e castelo de avante e introduzindo urbanas usado até então. assim como no sistema de estão os dessas matas exuberantes que o não a visões nos oferecem as serranias para alem das montanhas que enfrentam o Como será a ilha que se não avista do mar

A fama do

eo caminho preparam-nos para Mas quem espera beleza de cartaz turístico. e O ao comum dos panoramas afamados: llem vastidões sitios românticos onde ficar, quem lá paragens, Há uma estrada que vem da Calheta e que dizem da Junta Geral. Mas tenta-me o noutro flanco da ate subindo lado de antes de se abrir a tanto vilões como excursionistas - e não considerar-se aventura de somenos uma excursão ao 291


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Rabaçal, no tempo em que o meio de transporte em tais caminhos era a rede e se tornava inevitável pernoitar num tosco abrigo em plena serrania. Actualmente, esse primitivo itinerário é seguido apenas pelos camponeses, mas oferece maior interesse a quem quiser tàzer ideia do que seja um furado" madeirense e, sobretudo, a quem desejar conhecer todos os caminhos dos homens. Lombo do Doutor, um pouco acima da Calheta Aqui vivem o Alhinho e a senhora Maria, que me acompanharão no velho percurso, espantados de que optasse por ele, tal como o conhecem, ermo e fatigante, mesmo para quem lhe está afeito, quanto mais para quem vem da cidade. A habitação deste casal de vilões remediados, já com filhos casados e emigrados na Venezuela, é das melhores do sítio: dois pisos, paredes caiadas e coberta de telha. Interiormente, um característico desconforto, apesar do gosto da mulher, generalizado em toda a ilha, em alindar com bordados e rendas o seu bragal, por modestíssimo que seja. Não se trata duma excepção: para o camponês madeirense a preocupação absorvente é que o milho não falte e a terra não descanse - tudo o mais será como for. Os utensílios da lavoura, mais o pote da graxa" (assim chamam, na região, à banha de porco com que temperam a sopa de verduras e o milho) mais um molho de cebolas, o lampião e o moinho caseiro, um banco desmantelado, cestos de feijão, pi lhas de batata doce e de semilha, ainda muitos outros objectos, variadíssimos - tudo se amontoa, em desordem, na casa de entrada, atravancando a pequena divisão, térrea e escura. O reboco e a cal não passaram do lado de fora. A comunicação com o primeiro andar tàz-se por uma abertura no tecto, até onde se sobe por uma escada rudimentar, sem corrimão. Lá em cima, no quarto, a cama de ferro tem almofadões brancos, bordados, e no pequeno lavatório há uma toalha cuidadosamente dobrada tudo assim hospitaleiramente preparado em minha honra. Também as janelas ostentam o luxo de cortinas de croché. Nas paredes, oleografias baratas, com assuntos religiosos. Sobre a cómoda, um Menino Jesus e uma jarra com flores de papel. Este é, mais ou menos, o interior típico duma moradia rural considerada média na escala de categorias que os próprios camponeses estabelecem entre Si. A família come na cozinha - uma construção à parte, acanhada, escurecida pelo fumo, mal provida e sem alinho. Mas não foi lá que almoçamos. Para a nossa refeição a mesa foi posta cá fora, sob a latada: toalha desencardida e manjares que a terra dá. Como sobremesa saboreei as bêberas fresquinhas e apetitosas, colhidas de manhã numa figueira da fazenda e servidas em gamelinha airosa. É mais de meio dia. O tempo entrovisca-se ... Mas isso é corrente e não assusta ninguém. Voltamos costas ao mar e partimos, finalmente, a caminho do Rabaçal. A ladeira é íngreme. No alto, a vereda que seguimos deixa de ser caminho entre pinhais, para flanquear penedias, sobranceiras a abismos, sem guarda nem qualquer ponto de apoio. Só contamos com o bordão, no caso de vertigem ou de um pé resvalar. Vou tentando regular o meu passo pelo dos meus companheiros, sem o conseguir. Têm eles que moderar o andamento, para que eu não fique, sàzinha, para trás. O homem tàla ... Discorre sobre o seu viver arrastado, num tom insatisfeito mas sem lamúria. Pelo contrário, tem na voz e 110 olhar uma expressão de argúcia e uma vivacidade comunicativa que não condizem com a máscara vincada e o seu todo de homem idoso e gasto.

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Se teve a veleidade de macular o cenário l"'ll':C;~tlJ~U sinal da sua passagem, não dei por em mole de nurna No regresso, para encurtar o itinerário dos de nos fora indicado Manuel: subir um monte, à outra encosta. Lá confonne foi que o terreno era e valeram-nos troncos e arbustos a que deitávamos a mão. O nestas subidas e descidas acrobáticas, não fez neste passo brilhante Ganhamos meia mas estivemos na de descer. bom mau muito mais do que convinha ... Manhã mais intensa na sua brevidade que semanas e até anos de viver Há uma de avidez no meu do pormenores de luz e até o que A natureza, exuberante de e tem nesta hora calma inviolado. Mas toda a sua e

com pena, E a ea maior nos meus passos, no meu olhar e na minha se um sopro de vida renovada ateasse a minha chama interior e desque, sem eu estavam em ainda intactas, a E a certeza de que o destino do Homem se consciência da ll1!;1I1'Ui:llJI; faz circular mais ardentemente o sangue nas minhas

~l"'''I",rlp·''''_IY''~· descubro uma

atfmç:aC),

C01110

veias,

VERDE a Santana, as veredas que fazem-nos pensar que estacom altas sebes de buxo e "novelosa

O encantamento começa


mo,; num parque mara\ilhoso. F1uréS e mais tlorés por toda a parte! Ouve-se li voz da água. ora l:'11l surdina. Cll1l10 UIll murmúrio. quanto da vai Sl:'rl:'na por entre musgos é letos. ora mais barulh.::nta, quando \.::m descéndo íngr.::me ladeira ou cai de alto, fazendu rodar urna azenha. E tem-se lima sensaçilo suave, rcpllusante. As montanhas lá estão ao timdo, com o seu dorso caprichoso e dominador. São as mesnws que durante li travessia da ilha, do Sul para o ;-";orte -duas horas de automóvel. pdo menos - me encheram de pasmo. ~!as Santana espraia-se com desafogo até tI costa e. daqude lado. nenhum gigante se ergue a esconder o mar. O mar... Quando. passada a Penha de ;\guia. a estrada recomeçou a suhir e ele surgiu de nmo. os mells olhos deslumbraram-se com a visão longinqua da ilha de Porto Santo - uma silhueta azulada. quase irreal. erguida na claridade do horizonte sem timo Momento de euforia! Como é bom viver! Na luz do dia glorioso. o mar refulgia. o recorte dos picos no céu purissimo deixou de ser agressivo. os verdes que matizam a terra realça\'am em tonalidades que nenhuma paleta pode reproduzir. Ao fazer o reconhecimento da terra. no litoral e no interior. o capitão Zarco "mandou entrar gente por entre o arvoredo e pda ribeira acima. o que eles fizeram sem acharem coisa viva. senão aves de diversas maneiras. que tomavam às mãos porque não eram acostumadas a ver genteaCassim diz a tradição oral e escreveu Gaspar Frutuoso em Saudades da Terra. O mesmo testemunham, entre outros, Diogo Gomes e Luís de Cadamosto. em crónicas e narrati\as de viagens datadas do século Xv. Cita Cadamosto em especial "pavões selváticos e. entre eles. alguns brancos". assim como grande quantidade de pombos. Tantas eram as aves de vtírias espécies que os primeiros povoadores da Madeira. à falta doutra carne. delas se alimentavam eom abundância. Aqui tindou a confiante liberdade dos alados habitantes das matas da ilha; aqui principiaram eles a saber que coisa era o homem e a temer toda a fonna estranha que se lhes aproximava. Os pombos foram os mais perseguidos e sacrificados, pelo seu maior tamanho e pelo saborosíssimo manjar que constituíam. Era rudimentar o sistema de caçar os pombos, e foi infalível enquanto as vítimas se não aperceberam dos seus efeitos: com um laço habilidosamente preparado e suspenso da extremidade duma \"ara iininha ou duma cana, prendia-se o animal pelo pescoço. puxando-o depois ràpidamente para o chão; como ele se não assustava ao ver o traiçoeiro engenho. tomava-se tàcílimo levar a bom termo o ardil. A devastação foi enorme. quase total. enquanto não vieram do reino outras aves e animais domésticos, além de diversas espécies de gado. para se reproduzirem aqui e abastecerem o arquipélago. Entre as aves que o Intànte enviou "para lançar na terra a vinha o faisão, que se adaptou perfeitamente às florestas virgens da ilha, onde viveu em liberdade e se reproduziu enquanto ali o deixaram tranquilo. Tão numerosos se tomaram que, no princípio do século XVII. ainda a caça aos tàisões. bem como aos pavões, era livre na Madeira Depois. uns e outros foram escasseando, em consequência das frequentes montarias, que tanto apraziam à nobreza. Quanto aos faisões. eram também dizimados por uma terrível caçadora - a manta. a maior ave da tàuna madeirense. que continua a ser inimiga mortal dos coelhos, perdizes, codornizes e de todos os pássaros que a sua voracidade cobice. Aves aristocratas, o pavão e o faisão evocam,

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e coutadas e arte de montear, apesar de várias tentativas para repovoar de não se ainda resultado

em directas dos que os encontraram. confiantes: defendem-se astuciosamente de quem invade os seus sítios habitados. O negro da serras vive na solidão das montanhas e faz ninho nos reeôncavos naturais de onde é tão difícil arriscado Mas desce aos os frios mais Ali o persegue o porque a sua carne continua a ser tão como outrora ... Não contente negro da serra, denuncia o se afastem e não voltem lá menos. A brava"Cassim chama o povo ao da rocha vive exclusivamente nos quer do quer do interior. Por toda a ilha há bravas". que deram nome a numerosos sítios. Por "A'~lUIJ'V os Pombais de Porto do Moniz. O bastante raro encontra-se nas mais montanhosas do mas nidifica nas árvores. O seu voo é sempre alto e tão desconfiado se mostra que se torna dificílimo Os têm direito a esta por haverem muito antes dos senhores da ilha - sem falar agora na chacina que ameaçou exterminarem benefício dos Mas tudo isto vem a do bisbis que não a saber se devia ou não confiar cm mim ... O ilhéu que me contesta a minha nas matas madeirenses. Pelo ele afirma que há muitos e que, se os não tenho é talvez por me absorver na da Como é, conhece a os campos e serranias da sua até aos menos acessíveis recessos. E não se cansa de louvar a variedade e encanto das aves que este pequeno mundo insular. Não é apenas o bisbis - na realidade éo que a conviver sem o único ilha que lhe é reservas com éa com o seu canto vibrante e variado: é o papinha o rouxinol da Madeira - a cantar ao desafio COm outros innãos que lhe respondem de em trinados maviosos que enchem de o alvorecer e no entardecer todo é o melro de cores dia com os seus assobios onde quer que uma árvore lhe e continua ainda a cantar por detrás das o maís à duma barraca ou em balcão em canário madeirense que tem tiuna em terras

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grande quantidade; é a lavandeira, saltitante, airosa e utilíssima caçadora de insectos; é o correcaminho, com a sua lenda bíblica, amante de terras áridas e acompanhante fiel dos que por ali passam; é também o pardal, indesejável onde houver sementeiras e searas, sempre glutão, mau camarada e granizador - e mais e mais ... Não são unicamente as espécies e sub-espécies indígenas, são também outras, trazidas pelos povoadores, e ainda as "visitantes regulares ou acidentais, pois que passam aqui muitas aves de arribação, na sua viagem para outros continentes. ENGENHOS E SERRAS DE ÁGUA - O aproveitamento da força motriz das ribeiras para serrar a madeira de que a ilha era riquíssima, em quantidade, qualidade e variedades, foi uma das primeiras iniciativas dos colonizadores. Só assim conseguiram desenvolver o aproveitamento e exportação de tão valiosa mercadoria que o solo fertilíssimo lhes oferecia. "Serras de água" se chamavam esses engenhos construídos nas margens das mais caudalosas ribeiras, em vários pontos da ilha Eram dum grande primitivismo, mas ainda assim utilissimos e de grande rendimento. O Infante D. Henrique, na carta de doação da "minha ilha da Madeira" a João Gonçalves Zarco, datada de 1 de Novembro de 1450, claramente especifica o direito que lhe concede de reservar para si, não só "todos os moinhos de pão que houver na parte da dita ilha de que lhe dou o encargo", de maneira que mais ninguém ali pudesse fazer moinho senão ele ou quem lhe aprouvera, como acrescenta: Outrossim me apraz que haja (ele, João Gonçalves) de todas as guerras de água que aí fizerem de cada uma um marco de prata em cada ano ou o seu certo valor ou duas tábuas cada semana das que costumarem serrar nas serras, segundo pagam todas as outras coisas o que serrar a dita serra e isto haja também o dito João de qualquer engenho que se aí fizer, tirando viveiros de serrarias e outros metais". Não tardaram a multiplicar-se as "serras de água", em todo o território da capitania doada a Gonçalves Zarco. O mesmo sucedeu na capitania que coube a Tristão Teixeira e que abrangia a parte oriental da ilha. Não se encontra na sua carta de doação qualquer referência a serras de água, mas Gaspar Frutuoso diz, em Saudades da Terra. que havia nas freguesias do Seixal, Boaventura, Santana, Faial e Machico, todas pertencentes a essa capitania, sítios com aquele nome. Grande vantagem traziam estes engenhos, pois o seu funcionamento era simples e requeria pouco pessoal: o serrador, que o punha em movimento com um pé, e os seus ajudantes, que lhe iam chegando os troncos para serrar. Dali saiam as tábuas para as caixas onde se exportava o açúcar, em quantidade sempre crescente, além de todas as outras, de diversas grossuras e tamanhos, destinadas ao fabrico de móveis e construção de casas e embarcações, na ilha e fora dela. A "serra de água" de maior fama e uma das mais antigas, poisjá existia em 1440C antes da doação da capitania a Gonçalves Zarco ficava no interior da ilha, na freguesia da Ribeira Brava. Tal importância assumiu, que deu o nome a uma nova freguesia, criada em 1676. Outras são mencionadas em documentos antigos, sobretudo as do Norte, que era onde mais havia. Estes engenhos movidos a água não se destinavam exclusivamente a serração de madeiras. Muitos eram utilizados para fabricar açúcar. Uma carta de mercê, clatada

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de menciona uma "serra de a "um cen'ado de canaviais", na Ribeira de Santa cerca do Funchal. O trabalho das "serras de por escravos. Ao falar da destes em S. Frutuoso alude a um prode Ponta que comprou umas "boas casas sobre a da , como os da ilha da fazer um de "serra de seu que era o mestre do dito escravos.

AZENHAS

Outros foram montados nas margens das desde Donatários da as azenhas. Nelas se tar processo de duas ia O sistema era o mesmo do Reino e ainda rurais mais atrasadas. e os de as azenhas davam Tal como as "serras de ,.",c",,,,'" aos que tinham o direito da sua exclusiva cobrando determinada moenda. Muitos camponeses eximiam-se a esse encargo moendo os cereais num pequeno moinho manuaL Esse trabalho estava e está a cargo da ilha. das ainda em várias "serras de e azenhas deram às margens das ribeiras um ambiente de actividade humana que se ia medida que o progredia das madeiras e da terra, se ia desenvolvensítios que essa activique só dade existia. Então a vida animava-se de novas conheciam a das montanhas e, a e os da Muitas vezes os e as enxurradas destruíamCcol11o ainda todo o trabalho do homem e o homem. Mas tudo recomeçava, tentemente, mal a tormenta passava e o renovo nas seivas e no humano. Foi das margens das ribeiras que embora limitadas aos CP1'r,,,',,,, das cereais. o

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ALBERTO VIEIRA

HORÁCIO BENTO DE GOUVEIA [1966 E 1970] Ruralismo O Mundo começou assim Na ausência do homem, o mundo não era mundo. Sem haver quem percepcionasse esta criação de mar e terra, nem o espaço nem o tempo teriam existência. A vida em plano inferior, sem atitude pensante, ignorava o mundo. E o vazio, o nada, seria uma realidade que, afinal, não era. Não a observavam os olhos conscientes. E um mundo inútil rodava no espaço, no silêncio da noite e do dia, à espera da aparição humana e ela surge. O mundo começa. Devia de ser assim. A imagem de tarde de Inverno nos confins da freguesia revelava o cenário fisico do mundo quando principiou a ser E o tempo entra de marcar no contingente e no perecível o determinismo de tudo que está a ele sujeito. Mas o homem ergue, irresoluto, a face, em tomo. Devia de ser assim. Lutavam com ele os elementos. Assombrado, esgazeava os olhos em volta, mas não meditava porque a natureza era sobranceira à sua pequenez e o deprimia. Quando começou de pensar no destino da vida, tinham volvido anos sobre anos. Na riba penugenta de ervinhas maceradas do chicote do vento, amontoavam-se pedras. E, lá em baixo, ao fundo, o mar rebramia acometendo as rochas. E a urrada das ondas espedaçando-se era sensação pertinaz dentro do ouvido. O mato de bardo resguardava as cercas das vinhas, e os tufões, ululantes, vergavam o tapume de urze. Um cheiro adstringente a maresia penetrava em todo o corpo. Agora, vindo do largo, da superficie aborregada e movediça das águas, uma cortina de névoa desfaz-se em chuva e, outra, compacta sobe a montanha Nem vivalma Este carreiro que não chegou a ser aberto no alto da riba é Pouco batido pelo caminhante. Mas conhece-se. Fica entre a cabelugem da erva amarelida sinuoso, quase sumido, vestígio remanescente de passadas humanas, que de longe em longe houvessem trilhado a beiça escalavrada da penedia. O ambiente esporeia a reflexão. Começou o mundo, que teve um principio ao haver existência, talo do homem ao estalTecer-se com o espectáculo que deparou, da montanha e da árvore, da chuva e do vento. Ali o vejo, naquela fazendo la os pés descalços metidos na terra a enxada a levantar-se e a baixar-se, os regos a encheremse de água. Arregaçadas as mangas da.camisa, a chuva a escorrer pelo rosto encorreado, tisnado e curtido da intempérie das estações, retrata-se nele o tipo físico da raça meditelTânea, produto de uma educação de carácter espartano, primitivesca; é bem o homem que arremete com a natureza, sentindo-lhe o peso, com todo seu gravame. Cérebro com a centelha da razão, a ideia fixa do utilitário dorme com ele, mas de um utilitário avesso a pretensões que não sejam as concernentes ao seu mundo familiar. Regresso à vida que coça. Deixo-me imergir na simpleza rústica de um tempo que já foi. O espírito retrocede. O mundo está ali figurativo, na imagem do homem a cavar a terra absorvido na esperança da semente que há-de germinar e produzir colheita pingue.

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Do

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lhe outra ideia metafisica que não a de Deus! Nunca ouvia com certeza, das obras de de Santo para As de que vivem seus sentidos e a vida não teria o do que se vai desdobrando em sobre sào do alvorecer do mundo porque sem elas o mundo nunca fora E no semblante se reflecte o que Jeová assim falou ao com o suor de teu rosto, até que tomes

o homem que ali cadaverosos de lima que há-de ressuscitar o vento norte for mais macio. Para trás ficaram os confins da os confins do mundo. o mar não se calou. Sente-se uma zoada que vem de um em que não havia Este caminho do está metido entre muros de rocha arrumada a esmo, o a dos colonos de Afonso de Sanha teria dado a forma que permanece ainda nas curvas as de altura de e para além da em outro, quase se tocam, de convizinhas. metro numa Enconchou-se a do sítio. Enferrolhou-se na feliz de que o vai corroendo as vidas. Dentro de casa ouve-se, lá o redemoinho da ventania tudo que tem caule e ramos. Não se agora, que a noite é o céu a a na forma e na cor. constantes clarões facheiam o noite a envolver o mar. O deus romano é apenas dos homens de há dois mil anos. A da aldeola de si de encafurnada no seu Deus é necessárias porque riosa.

mas de causa miste-

"fJ',,,.... uu'''", na revolta do scrto, acha-se em vias de banca de til de três indústria não a a - S6 a chuva é como a que caiu 110 mesma maneira. A é que envelhece. Há um da Razão que é

"""'I",,"V novo. Sentado na que nada permanece, que a a razão do progresso que mata a pequena tudo

raciOCÍnio que se vai

O da ao que se


ALBERTO VIEIRA

Parou de chover. Continua a azinhaga deserta. Cerrou-se a noite. A zoeira intermitente do mar no desespero inútil de tragar a telTa, funde-se o zunido do vento forte desfrançando os pinheirais densos dos declives da montanha, a empinar-se em aba de chapéu. Assim começou o mundo com a imagem provinda da emoção geográfica e humana vivida nos confins da freguesia. Funchal, Março de 1966

A árvore e o Homem. Os plátanos do açougue Sempre teve o homem familiaridade com a árvore. Ser que produz alimento e sombra; ser utilitário desde que foi simples percepção para defesa da própria vida, o homem despojou-a dos ramos e esqualiejou o tronco para de ele fabricar tábuas e com aquelas construir seu tugúrio pobretana. Mas seria em primeiro lugar o interesse material que acorrentou o homem à árvore possível.. Porém, pode conjecturar-se outrossim, que não, se reflectirmos no factor religião. A qual nasceu quando os olhos se abriram para o exterior. O mistério desvendado do aparente criou o espanto no inexplicável que envolvia esse mesmo aparente. e a árvore, na pujança de seu todo, na fascinação do tronco, ramos, folhas, flores e frutos revelou-se o símbolo da força criadora, o princípio donde provém toda a existência. E o culto da árvore veio, como todo o conhecimento, de fora para dentro. A árvore é a vida, torna-se a árvore da vida. Prova da noite dos tempos o culto da árvore sagrada. Já entre os habitantes de Creta, as jovens e as mulheres idosas ofereciam à divindade flores e frutos. Essa deusa encontrava-se em santuário campestre; no meio das árvores, adornada de flores na cabeça e segurando flores nas mãos. Este primitivismo pagão, cingido de mistério, continha sua essência poética. Projectava o homem nos seres sem vida humana o seu psíquico, a sua vida interior. e tudo se humanizava. Não existe o ser incomunicável, isolado, mas uma unidade no contraste das formas e das substâncias. Das árvores que eram homenageadas, o plátano ocupava uma situação de privilégio. Prestava-se-lhe o tributo correspondente à sua espécie. Depois os J1éis consagravam à deusa Réa. E as plantas jamais deixaram de associar-se às divindades através do tempo. Isto no politeísmo e no monoteismo. e da arvore excedeu o pecado do homem. O plátano foi uma árvore sagrada. Anda a ela associado o nome de Platão. Foi quando o filósofo, no regresso da sua jornada à ilha ela Sicí 1ia, comprou uma casa comjardim nas cercanias de Atenas. A curta distância da residência havia um campo, que pertencera a Academos, herói da Ática. Ali se organizou um ginásio e se construiu um santuário. O discípulo de Sócrates dava então as suas lições à sombra dos plátanos que fechavam o recinto. E esta árvore de tradição religiosa e impregnada da voz do filósofo, que profusamente se esparrama por terras mediterrâneas. E até na ilha, que é nosso habitat, o plátano viceja por toda a parte: na cidade, nas vilas e nas üeguesias. O dia da árvore comemorou-se neste Dezembro. Não foi embalde que no meu

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Do

ARCA DE

NoÉ

da Ponta Na se retrataram os velhos do do sua vetustez, tais como aparece que uma cercadura deverá defender o tronco dos maus tratos da ausente de sentimento estético e de afecto árvore que, enche de sombra o nos dias candentes de Verão. Partilham do aldeia os velhos do açougue. Esta nota devia ficar exarada no livro que ainda não existe mas que um dia será realidade na biblioteca do "o livro de memórias das belezas naturais do Concelho"

por ano, para que se Setembro de 1970 Bento de

Crónicas do

s.

16-19,28-

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Do ÉDEN À ARCA DE No!'

POESIA

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Do ÉDEN A ARCA DE NOE

INTRODUÇÃO

A poesia é um dos momentos de exaltação da ilha como espaço paradisiaco. Isto acontece de diversas formas mas o poeta rende -se quase sempre a alguns estereótipos. De entre os mai s comuns podemos referenciar as flores, silvestres ou dos

jardins. as montanhas e

Os

recantos paradisíacos da ilha que se transformam rapida-

mente em atracçào turística: o Pico Ruivo, o Rabaçal.

Em muitos dos poetas a identificação com a ilha acontece de forma espontânea ou forçada. como é o caso de Leandro de Sousa. Para muitos a verdadeira imagem da ilha é a da in fanc ia, onde a inocência da idade se confunde com a paisagem. Esta deverá ser uma impressão de saudade dos que partiram e que regressam à ilha em

sonho. É assim em Edmundo Bettencourt. A sa udade, impregnada da total identificação com a ilha e exaltação extrema das belezas. domina os versos dos que partiram e que cantam e exaltam a ilha para malar saudades. Comungam deste ideal Femando

A. Gouveia. Armando Santos, João Vieira de Luz. A partida e a mágoa de perder o encanto. recanto do paraíso, é o mote de João da Câmara Leme. As memórias e as vivências retêm-se por vezes em pequenos qua~r.5t~~eio nat-

ural: Um pinheiro envolto em lenda (Eduardo Pereira) a murtei d~iãl"(.Pe. Jacinto da Co nceição Nunes), o eucalipto que desafia o céu (Baptist ' to~or agr<:ste (A na Bela Pita de Silva). -:i'?A pre sença do homem é também notada. É o ilhéu que desa fia ~lf!n,~ant.tt-,.o IIIt t~·l1l11lb:>t "II~GC!I" Da AfI.l"'-(O

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do as levadas (A. Figueira Gomes) ou humanizando-a (Manuel Thomas e Silvério Pereira). O secular processo de humanização do quadro natural não é considerado uma intromissão, antes pelo contrário define-se como uma forma harmoniosa de inter- acção. A iniciativa humana parece enlevar este recanto do paraíso. Manuel Thomas define o Funchal como uma criação do primeiro europeu, uma obra singular da natureza. Para forasteiro, como Bulhão Pato, é também esta aliança do ilhéu com o quadro natural que faz exaltar a beleza da ilha. O paraíso redescobre-se, não nas zonas recônditas de floresta mas adentro das quintas, onde o verde do denso arvoredo se confunde com o colorido das flores. É uma atitude dominadora do homem com pose a condizer na varanda frontal da casa que domina todo o conjunto. O que mais se evidencia nas trovas e rimas da poesia do nosso século é a vivência do quadro natural da ilha através de imagens de infância. O poeta raramente evoca aquilo que vê e o envolve no momento da escrita e, quando o faz, refugia-se em quadros particulares. Tão pouco a atenção presente e vivencial se enquadra naquilo que desafia a harmonia e a beleza deste quadro. A ilha continuará a ser a imagem do Éden, mesmo com as encostas despidas de arvoredo, ou face ao desafio da visão infernal do fogo devorador. A imagem, ainda que só em sonho, é isso, o Paraíso. Todo o mais pertence ao real mas destas vivêndiscurso poético da ilha. cias não se constrói

°

°

°

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ÉDEN À ARCA DE

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COLECTÂNEA DE POEMAS 307


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Do

ARCA DE NOÉ

MANUEL THOMAS

A ribeira corrente, & espaçosa Illustrará de sorte este Terreno, fará ser a a mais famoza, E todo seu districto scmpre ameno, De Tristão vontade ColblCOZi:l, Seu porto há de estimar por mais sereno, &

a ","enrl,f'7"

altura Brava será nas Rochas, Astros luminosos, Brava nas Plantas, de alta fermozura, formaõ de\eitozos, & pura, '''I!lCllllU~ curiosos, Pois por ser esta, em huma, & outra fonte Parnaso hé della, Monte (

E vendo na enseada E esta, mayor que as outras enseadss, num sitio forte

.... )

Alem destas gr81l1dezas Terá quanto à vida hé De carnes, cassa, & Melhor Pomana a ovante, Com livre Baccho, cobrará ventura, por da flava Ceres abundante A sé!' do Funchal se o hé de Italia Rica. em huma Ponta que sc estende mais inchados, Cõ'os Mares de Darás; em rocha, & vista Hum Sol com claros rayos retratados, O Porto que dous montes altos fende, E & assa sér chamados, Pella Ponta em que Phrebo cstá cifrado Será Ponta. do Sol chamado.

consultarás sobre o intento Da terra, que ser deve cultivada, dar seu augmento, Hé bem que com tenha entrada, Mandarús ao ornamento, foi Deos Criada Com que medo

do

Onde huma nobre Villa edificada Se verá, tam segura em fortaleza, de Marte será Caza chamada Torre forte que Bellóna sítio da Lombada, E, por sua abundancia na Mais que por ser do Sol de se chama, Ambas lerám no mundo nome, &

esta lombada venturoza

Irás à huma Ribeira caudaloza, na terra terá engaste, Imla que hú na corrente furiosa, Ver sua Grám plIl'cza a vista baste Pem Posto q ue por correr Brava Ribeira li ser chamada

Se escolheres scus sitias Pera honrar teus IlIustres lJesçe'l1dl,;nt es 1

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ALBERTO VIEIRA

Tambem em esta, villa aquelle espanto De virtudes, altivas Perigrinas Liaõ Henriques, nasçera; que tanto Com ser humanas, as sara divinas; Confiado Liaõ, Ministro sancto Que ouro será do Céo nas riquas minas, E de lesus na sancta Companhia Militará pera mayor valia.

Mas najurisdiçám entam famoza De Machico gloriosa por grandezas, Averà outra VilIa Populoza, Que exçederá de muitas, as riquczas, Em ediffiçios altos gloriosa, E de valor tam claro nas nobreza~, Que nelIa o Troculento, & grám Mavorte Terá contra os de Agar ditosa sorte

Mas já cortando de Amphitrite os Máres O Porto deixarás, do que a Phaetonte Déu por honras a sy particulares O calTO, que abrazou Pyrois, & JEthonte, E pastando com glorias singulares, Hum Arco largo, de hum subido monte, Verás hum Porto, aonde por regalo A maô farás calheta pera entralo.

Suas frescas Ribeiras, de agoas claras, Farám fertis, séus Campos deleitosos, Verdes séus valIes, suas vistas raras, PelIos montes, & prados espaçosos, Responderlhe hám as terras nada advaras, Com os Ihlctos, oppimos, & fermozos, No Campo acrescentando ValIe, & Serra Salubridade o Ar á fresca Terra.

Este nome darás a huma fennoza Villa, fazendo ally que se edifique Que em gente nobre, rica, & generoza, Com grandezas farei que multiplique; De quém a esperança mais ditoza, Hé bem que a tuas glorias hoje applique, Pois hám de dár com Nome de Exçellençia Nome mais alto á tua Descendencia.

Mas porque deIla vejas a exçellençia Em que com meu tàvor irá cresçando, Mostrarte quero a tua desçenclençia, Que lhe esta mil grandezas prometendo, De outros verás tambem a preminençia Que por Feitos a irám ennobresçcndo E de todos aquella imJ110rtal gloria Que ás Musas pede lama, & doçe hi~toria.

Quando nos Ji'uctos tanto a Terra augmente, Serám novos lugares conhesçidos Effeitos da riqueza, que em a gente Altos Templos íàrá, sér erigidos; O daquella Ditoza Penitente, Que deixando de Cl1l'isto os pés, ungidos, Teve na obra, Singular lustiça Despertando de Judas a cobiça

De séu trabalho a gloria meresçida Alegra a'o Zargo em ser lhe assi mostrad[j, Considerando a pena padesçicla Sér com tam justo premio bem pagada, Que por Palma da luta conhesçida, E por Louro da guerra atrás passada, Bem hé que goze em séu descobrimento Gloria antevista, em Iam feliçe augmento.

Em o lugar da Magdalena digo Que este com gloria se vera iIlustrado, E pello nome da que tem consigo Com fáma em partes varias divulgado, Terá este Terreno por amigo O Céo benigno em séu favor, & agràdo, E mostrarà nos fructos com riqueza, Quanto seu sitio. por tais glorias preza.

Bem hé que goze novas alegrias Em o augmento da Terra de~cuberta, E que trás do trabalho em tantos dias, Veja a gloria que tinha por inçerta, Avantejaclo em estas propreçias A graça de seu premio terá certa, Que quém primeiro no trabalho há sido, No premio a'os mais hé bem, ser preferido.

(Y)

(Manuel Thomas, lnsulana, Antuérpia, 1(35)

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NOÉ

TROILO DE VASCONCELOS DA CUNHA

o Primeiro Homem Na estátua imóvel vida, A vital do soberano alento, Ao barro forma humana transferida Teve o corpo insensível movimento; o racional, por luz nalma infuída De quem lhe dera o ser conhecimento, Pois o eterno que ao Mundo Claramente entendeu que o ser lhe dera. Saíu Adão formado sem defeito, Da natureza assombro portentoso, N as exteriores 1,,"'IV\r(\I'~

Como se o bruto instinto fora aviso, Lhe tri butaram discreta. A cada o nome a brutal propensão nunca indiscreta Guiou aos pastos, às nativas fontes, Aos grutas, vales, selvas, montes. Adão, como entendido. de enlevado Na alta da eterna essência, Da e no movimento e estado Se tranportou, por alta De suave Morfeu arrebatado, Infuso por divina Se rendeu ao

Gesto severo, Tanta era fi que a fereza cios brutos o temia. Todos foram b\lscá-lo ao Paraíso, Jardim que céu na terra se

FRANCISCO MANUEL

Machico

DE

Ilha da Madeira

n'alda de dois ;n",.PI1I1P' rochedos levantão fiOS ceus fronte Existe de Maxim a Vila idosa Povoada de escassos arvoredos.

Madeira, de mm!a o cimo Sóbria a teu seio amamentando as Co'o o vítreo suco da imortal Parreira

Pelo meio, alisando alvos Desce extensa Ribeira Porém tão crespa estação chuvosa, aos lncolas infunde espanto medos,

Se acaso é criveI que ainda apreço Entre o prazer das brincadoras taças,

As margens

em hora atenuada luz do sol sereno morada.

que em ti viu a luz

Recolhe a minha

rasteira.

M: donativo escasso, ell bem "'''" ,",P'f'''' Mas ° que preço. Lhe avulta a estima, lhe Deixa que a roda o meu Destino

deixei da Palria F: vim ser infeliz. noutros terrenos

Em cessando estes males, que

Talvez então mais altos dons te renda

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ALBERTO VIEIRA

MANUEL GOMES PAIS(GOMES PAIS)?-1890

Flor do Oceano (A. Joaquim Pestana)

Pérola encantada! Ilha formosa! Raínha destes céus e destes mares! Ingrata para os teus!. .. mãe carinhosa Dos louros filhos das nações polares ... Que, deixando um país nubloso ... escuro Buscando veem paragens mais amenas, Até que em teu seio generoso e puro Encontrem lenitivo às suas penas! Hospitaleira mãe do viajante, O qual, dum a outro polo o mar sulcando, Aqui te encontra ... qual bondosa amante, P'ra o desejado esposo caminhando! Estância venturosa! pátria amada De ilustrados varões, cuja memória Será eternamente respeitada Por quem ler, sem paixão a tua história. Tiveste outrora a glória que inebria... Eras pod'rosa e bela! eras contente! Hoje? uns longes, uns vivos dalegria Mostrando o teu sofrer intenuinente! Como todas as mães, filhos ingratos Abriga teu seio de mimosa fada! Que, sem pudor te olvidam, te dão tratos, Como se foras mãe desnaturada! Que em lutas pueris passando a vida Ou na orgia, no jogo e lupanares Dissipam a fortuna já esvaida Privando de calor os próprios lares! Mas vendo-se a final do abismo à beira E o horizonte da vida a escurecer, Da sua desventura a história inteira A estranhas regiões vão esconder!

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Lá, nessas tristes e crueis paragens, Ingrata e dura terra arroteando, Junto cotos escravos e selvagens, Vão os erros passados lamentando! Se má estrela persegue e acompanha O miserando e pobre aventureiro, Não há p 'ra o desditoso terra estranha, É sua pátria adoptiva o mundo inteiro! ... Mas trocar pela campa a estância pura, Deixar, dos seus, afectos e carinhos ... E ir a uma plaga inóspita e dura Chorar saudades do patemo ninho ...

É excessa ambição! é desatino, Expor-se da fortuna, aos vis azares! ... Mas o argonauta após o velocino Morrer não teme ... vai sulcando os mares! Ícaro na prisão co'a vida incerta As asas exp'rimenta... e presunçoso Do negro labirinto se liberta, E noutro vai cair, mais desastroso. Talo desventurado a quem a sorte Por toda a parte perseguindo vai; Ancioso almeja a fortuna ... ou a morte Até que descrido. no abismo cai! Nobre Flor do Oceano! essa beleza ... Os teus atractivos ... teus encantos Ofcrceu-tos a sábia natureza Digna doutros louvores, doutros cantos.

[Luis Marino, Musa lnsular(poetas da Madeira), 1959, pp.75-76)


Do

À ARCA DE

NOÉ

FORTUNATO DE OLIVEIRA

Salvé! Salvé! alteroso, Sulvê! monte de núvens c'roado,

Fresca rama te cerca De urze adusta que all'onta o tufão, Deste Como apraz vistas Ver os raios do sol deslumhrante, Ao as doirar! Branca núvem, fraco de prata, Ver libm'-se na do monte; E Oceano, que um cil'clo retrata Vir a terra no horizonte

o enfermo com teu ar alentas, E rhe acalentas uma O'homcns incla os erros Contam os cerras d'cscalvado Mas teus e teus donosos Dizem radiosos quanto o solo é rico! Por onde outrora se ostentavam matas,

O'estranhos climas,

distantes,

Contas bastantes no teu seio filhas, ti florecem belas: além dos mares,

Sobranceiro às selvas e Sobranceiro às cristas Aos

os vestidas,

Como alma se sente abrasada, Como se ergue altivo pensar, co'

ti

vista enlevada,

ribeiras, eolinas, e mar! Madeira! terra encanto! lindo munto, que verdor, que aromas! De n'escas que saudosas fontes! altivos montes! que Madeira! ó terra de suave clima, com céu anima

Volvil-e agora neste aH!ll' Eis-me atrevido Aceita, ó as derradeiras flores, Quantos amores o teu solo

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ALBERTO VIEIRA

JOÃO DA CÂMARA LEME HOMEM DE VASCONCELOS (JOÃO DA CÂMARA LEME)[1829-1902]

Adeus à Pátria ... adeus!. .. Terrível amargo adeus é este ... Eu palio. Força é deixar-te, Pátria minha idolatrada. Eu vali por outra trocar-te, TelTa doutras invejada; Mas, se partir resolvi, Tornar-me digno de ti Só quero, mãe adorada. Se deixo o clima saudoso Que possues tão criador; O teu ar delicioso, Perfumado, animador; O teu céu de azul escuro. Tão lindo sempre, o mais puro Que deu ao mundo o Senhor: O sol vivo e radiante Que te desperta e dá vida; A clara lua brilhante, Raro em núvens envolvida Bem como as brancas estrelas, Que lá fulguram tão belas Em distância desmedida: Os montes teus magestosos, Altivos, alevantados, Por frescos vales viçosos Uns dos outros separados, Par'cendo medonhos mares Que a tormenta ergueu aos ares E foram petrificados;

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As tuas belas campinas. Verdejantes, esmaltadas; As aguas tão cristalinas De tuas fontes nevadas: Tudo quanto a natureza Te ofertou com mais beleza Do que as terras mais prendadas: E, oh céus! como dizê-lo! Um anjo arrebatador, Que é o meu pensar, meu anelo, Que me enlouquece de amor; Anjo que em tudo diviso, O sol deste paraíso Que é do atlântico a flor; Se tudo deixo e me ausento, Se estranhas terras procuro, Não só buscar eu intento Porvir mais certo e seguro; Nutro no peito outra esp'rança; E' maior a confiança Que ora tenho no futuro. A voz que pede riqueza Mal a ouve um coração, Onde alto brada a pureza De filial gratidão; Se à pátria ser proveitoso Eu poder, serei ditoso; É essa a minha ambição.


Do

À ARCA DE NOÉ

Tão puro, ardente Possa-o eu Possa sem corar de Aos lares volver! Se for neles Como é sempre um filho É o meu prazer.

Mas antes que eu deixe Teu doce regaço, não me recuses Um estreito E tu, que Ó meus cantos, Recebe um adeus, Meus e meus prantos

Terra onde nasci E que me geraste; que na infância me embalaste: Formoso Aonde cm lU')'.U·~U'}~

Eu parto.

é "'''.''"'''.-'''. Pátria minha idolatrada. Eu VOlt por outra trocar-te, Terra de outras Mas se

ora Me mostraste encantos,

Só quero, mãe adorada.

E assim me Em maga ilusão, Escravo tornando O meu coração:

CARLOS OLAVO CORREIA AZEVEDO

A Francisco Vieira Cantas a natureza toda Cantas o

Ao

a cena

Em ti nasce mais uma Se a núvem densa o Sol escurece E a abóbada d'anil triste se toma,

calmo e sereno, Amas do mar, A onda mansinha de terno vagar, Amas da o murmúrio ameno, mago Nele ouves um canto Tu cantas da aurora fausto raiar, Do s o l a d a selva o verdor E o canto das aves cedo trinar É ti, concerto d'amor. em noite Se a lua No manto do céu a luz a No teu intimo também ela brilha se vai descobrir! E lá a

É novo estra que ti se tece E mais um verso tua arena adorna. Se a noite chorosa oculta as safiras E astro de prata resta escondido, O de ninbus que alto miras, Tu o retratas em canto dorido. poeta, a tua sentida, a melodia, Do teu pensamento, É ideal de tamanha fantasia.

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ALBERTO VIEIRA

BULHÃO PATO (1870)

Que amphiteatro, ó Deus! que paraizo! Pomares entre as hortas regadias; Chapadas, que saudam, num sorriso, Os abismos dà mar! Mattas sombrias, Valles, outeiros, picos ... Catadupas Rebentando das broncas penedias!

No pequeno cerrado, defendido, Pelos cactos e silva lanceolada, De tempo immemorial tem conseguido O colono, agarrado sempre à enxada, Tomar modelo o seu torrão nativo De fruta e de hortaliça aprimorada!

Uma vivenda além meio escondida, Nas sebes festonadas de roseiras! Os dentes d'uma escarpa denegrida Cravando-se nas nuvens sobranceiras; O cercial a brotar dos vãos das rochas; A cana pelas margens das ribeiras!

O tomateiro e a ervilha trepadeira No coração do inverno! Sasonado O cacho na recurva bananeira; No alegrete o ananáz, e já corado, Sorrindo à branca irmã, à flor das nupcias, O pomo na viçosa laranjeira!

Angras, baías, cabos, promontórios, Fajãs virentes, fumas pavorozas, Agulhas nos pllantásticos zimbórios, Penedos nus de formas monstruosas; No cimo da montanha a neve eterna, E sempre, aos pés, as vagas rumorosas!

Não se imagina o effeito produzido Pela névoa naquellas paizagens! Como através, ás vezes, d'um tecido Tenuissimo, apparecem-nos imagens Indisíveis, translucidas, phantasticas, E num momento apagam-se as miragens!

Saltos d'água, caindo em catarata; Rotos por dcntro agigantados montes; Sobre os abysmos das caudais de prata Os arcos naturaes formando pontes; O sol rompendo a cupula das nuvens, E abrindo encantadores horisontes!

Aqui suspensa uma árvore nos ares, O pico d'uma rocha! - Além um lago, Que, súbito, no meio dos pomares, Se formou por encanto! Ora, no vago, Um casal, transformado numa villa, E uns pinheiros em torres seculares!

Que mystérios, que paz, que liberdade, Nos hortos e vergéis, nas fontes frias Dos umbrosos subúrbios da cidade! Que saudosas e gratas melodias Se alternam entre os pássaros das selvas E as torrentes d'aquellas serranias!

Ao cHmponez esbelto, alto e robustoCamponês, que 'inda agora, em nossos dias, Apelidam vi/cio - surge-lhe o busto Na eminência daquelas penedias, Por entre o raro véu, como se fora Inda mais colossal de que um GoHas!

Atalaias de Deus, as ermidinhas, No viso dos outeiros! Nas quebradas Os casais, resaindo dentre as vinhas; Nos vales as ribeiras remansadas ... Que vida a respirar-se no ar diaphallo! Que pais para as almas namoradas!

Quando a névoa é mais densa, o alvo lençol Forma abaixo dos visos das montanhas Como um mar; e, batido pelo sol, Reproduz as figuras mais extranhasMonstros e arcanjos, templos e castellos, Vulcões e chama, e tintas elo arrebol!

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Do Voam cisnes co'as pennas innmadas, oceano aéreo, e a vista Se vae finnar nas scenas encantadas, Um sopro as varre, e clista Das serras convertidas, Essas visões, em nuvens esmaltadas! São montes, onde flor rebenta! Em tudo COITe a vida exuberante! Tem lume a vaga ao estoirar violenta! Tem sangue fi rosa; e espera, Por um do sol fi violeta!. .. num coração amante! se ( .. )

Ao parque Carvalhal, alvor da mocidade. Como eu Referve o Nas sombras e na grata amenidade fresco alta montanha domina os subúrbios cidade.

À ARCA DE NOÉ

o convite do conde. O forasteiro É velho nessa casa. Entremos. mais fino cavalheiro do gesto atãvel Tem o conele no rosto pn~ze:nte:iro A condessa Matilde a graça viva; A a máxima ~'~5"'''~'''' O corpo airoso de Senhora, mas sem sombras Raro de feminis encantos, Mimoso como a folha sensitiva!

É um dia Na lauta mesa, a secular Graciosas tlores da maior H'escura Ornando a fruta, sazonada e Da e Novo-Mundo. Em Cereial e Tinta da mais pura.

ruas pn'",pr!J'"rlo," Onde as renques de hortenses m'1111(Wn"", Resaem em cambiantes <lL'.H"""", Das tblhas e Que alta e li"ondifera, De flores rescendentes e nevadas! que no inverno aos milhares! Inverno? Não direi outono eterno. Das vertentes, dos montes, dos Em borbotões, a das levadas '''''I-',all'''' sempre as hortas e os pomares,

Vi'S"''''''U'', eomo o sol na mirara.

di/funde brandamente declivio das cl1,lpaeJas, Onde a cidade vae agora. Prateia o mar, Treme nas copas Dá nítido o Bate sobre os casaes do rlf"""!1n".,~ a cruz solitaria do convento, E o cemiteríll, que lhe tlca ao Indo! nnl~rf""lr\Q na paz da natureza! Os homens, cegos de tiJrar, Deixam 110 campo, cota vileza, Os eram bontem seus irmãos no amo!", E ó noite, triste os tUl1lulos, Como o sol n'alvorada ti 110r!

[Bulhlín Paln, Pm/lli1a - poema

XVI caI/lOs, Lisboa,

IH70, Canto VII; PI1.245-2S0, cnnlo VIlI, 264-26Hl

3[


ALBERTO VIEIRA

Luís ANTÓNIO GONÇALVES DE FREITAS [1858-19041

No Rabaçal (Ilha da Madeira) Deslumbras. como o brilho resplendente Dum fantástico céu; Da natureza altiva e imponente levantas-nos o véu. Jorra do coração dos teus rochedos, A água, em mil borbotões; Desenrolas uns mágicos segredos De ignotas regiões. Ao ver-te, colhe a alma, em mudo anseio, Deliciosos pomos; Tu vens, como um gigante, sem receio, Mostrar o que nós somos.

Junto a ti, nós sentimos germinar Forças, que nos transportam Ao fundo, onde, entre júbilo sem par, Mágoas crueis abortam. A prata, que refulge em tuas águas. Puras como cristal, Irradia também nas nossas mágoas Uns brilhos sem igual. Ao ver tantas belezas, mergulhamos Num êxtase profundo; Num sublime cismar tudo olvidamos, Esquecemos o mundo. [Luis Marina, Musa InslIlar(poelas da Madeira), 1959, pp.2IO-2!!]

PE JACINTO DA CONCEIÇÃO NUNES. [1860-19541

A murteira do meu quintal Minha murteira verde, meu enlevo N as tardes sonolentas do verão, As tuas nores brancas são um mimo Dos mais apreciáveis da Estação! Tão alvas como a neve da montanha, Tão puras como os anjos do Senhor. Essas 1l0rinhas simples, inocentes, Clamam p'ra vós enternecido amor! Minha murteira, encanto dos meus olhos, Que estás sempre a mirar a sevadilha Que perfuma o quintal de Cunha Rosa, De lodos o mais belo e que mais brilha.

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Minha murteira c sevadilha linda, Deus vos conserve o viço e a frescura, p'ra darem aos meus olhos já cançados Uma réstea de cor e de ventlll'a! Então eu bemdirei o Infinito Que em cada flor nos deu uma delícia E os males suavisa d'esta vida, Dando a cada amargura uma carícia!

[Luis Marina, Musa InslIla/'(poetas da Madeira), 1959, p.263]


Do

À ARCA DE

MARIA

NoÉ

REGO PEREIRA Enamorada

cidade de enamorada, Num varandim Ela olha o mar. E as ondas. uma por uma, branca espuma

cidade bendita! E que uma paz infinita Te possa sempre embalar, enamorada Ouvindo o canto do mar.

Num murmúrio sussurrante. E ela, sempre anelante, Cheia de mimo, adormece À sombra do arvoredo, em murmura uma prece.

PIMENTA DE A Cordilheira Central e Pico R1Iivo das Montes e serras lutaram altura, Na ânsia de de formosura p'ra de beleza-ser ela-a Pícaros, serras, outeiros, Postados nas presos às Das lombas fizeram soberbas Para elevar e cavar desi1Iadeiros!

e Ancho da vitória e da valentia!

Da crista, formaram a coluna vertebral! De cada monte ou serrania:-uma costela, De cada espaçco costal:-um vale ou

da Serra e Faial! Dos lombos:E, erguera;n a formosa Desele o Pico Ruivo à Ribeira da Janela! O Pico Ruivo forma-lhe ti alta Cravada nos seguram nos Acalentando-o, .. - dos vales a melhor peça, ____,_._,. ____ ele canta.... místicas melodias exaltanelo-lhto

serras tClI1naram uma cordilheira p'ra sua defcsa de Levante ao Poente. E, nessa luta de tal ,fremente, Constituíram o da Madeira!

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ALBERTO VIEIRA

AUGUSTO CORREIA DE GOUVEIA(A. CORREIA DE GOUVEIA)[1880] Aniversário (Na aldeia) Onde vais, oh rouxinol, Manhãsinha, pressuroso? Onde vais, oh triste rôla Com teu canto vagaroso?

Onde vais, oh leiteirinha Prazenteira, jovial Onde vais, oh borboleta, Correndo pelo trigal?

Onde vais, oh mariposa Saltitando p'los rosais? Onde vais, oh passarinho Com teus temos madrizais ?

Onde vais oh noiva linda, Bo chefioha de Sores Oode ides, todas alegres, Raparigas, meus amores, , ,?

Onde vais, oh pomba mansa, Com pressa cortando os ares? Onde vais, melro saudoso, Que assim deixas os pomares?

-hinos todos jubilosos Saudar os anos da Estela: Dar-lhe os nossos parabens, E pedir ao Céu por ela,

Onde vais, pastor alegre, Que abandonas o rebanho? Onde vais, oh cachopinha, Depressa, com tanto empenho?

Fajã da Ovelha, 20 de Agosto de 1912, [Luis Marina, Musa Insular(poetas da Madeira), 1959, pp, 319-320]

PE. EDUARDO CLEMENTE NUNES PEREIRA- [1887-J Lenda de um Pinheiro Eu bem me lembro. Vi-o .. , Já velho, esguio, A balançar-se na montanha! Caía a tarde, Desdobrava A noite num manto de estamanha !

Ouvio cantar Esta canção: Guardai, pastores, a lousa, Guardai, pastores, a terra, Aonde o corpo repousa De uma pastora da serra ! ...

E toda a gente que passava Nos torcícolos do caminho, Esse pinheiro-avô saudava, Alto e magrinho!., ... Ali,Coh ! santa devoção! Em outros tempos, que lá-vão ... Diz o bom povo do lugar: Lá reza ainda a tradição

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[Luis Marina, Musa Insular(poetas da Madeira), 1959, p.373]


Do

À ARCA DE

NOÉ

VIEIRA DA LUZ 1896 Madeira ... *lardim de Flores" Tantas saudades eu matei ao Ao meu lonão natal por Deus tomasse a ver e de trinta anos ausência.

o meu solo outra vez com reverência. Idólatra até me tornei, Ver um cantinho do Céu Divinal, Comovido com Saudei a bela cidade do Funchal o mar e a vêm embalando Com amor terno, no seu litoral. Marino, Musa

IJIrJWITJfWTfI.'

da .Madeira), 1959,

E

o Rouxinol Não canta, o nosso rouxinol? De um bando preguntava, Numa doida que encantava, Em hora em que dormia há muito o sol. A eira da lisura dum Do à Servia de descansando, esperava o arebol. E o infeliz em tão muda sangue o coração, oculta com um véu, levanta a voz, Cantando brando a sua alroz, O sacrifício belo oferece ao céu. Marina, Musa

da A1adeira), 1959,

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ALBERTO VIEIRA

CARLOS MARIA DE OLIVEIRA 1898

Primavera

o firmamento azulado,

A Primavera é chegada, Com seu manto de verdura, Anda alegre a passarada, A chilrear na espessura.

Cobre a terra em seu verdor, E o coração namorado, Fmhala RonhaR cI'amor

Mas vive em noite fechada, Quem não gosa da ventura.

Mas quem anda angustiado, Não tem no peito calor.

Passa um regato cantando, Pela formosa deveza, Docemente murmurando Um louvor à Natureza.

Florescem lindas, viçosas, As rosas nos roseirais; E as andorinhas formosas, Voltam ledas p'ra os beirais.

Mas pobre, de quem chorando, Vive imerso na tristeza!

Mas muitas almas saudosas Choram quem não volta mais! [Luis Marina, Musa lnsular(poelas da Madeira), 1959, pp. 454-455]

EDMUNDO ALBERTO DE BETTENCOURT[ 1899-]

Paisagem verdadeira

o verde tenro e vivo, de folhagem, Presépio dos meus sonhos, em menino, Pôs-me de luto a par com meu (lestino, Cego-me a vê-lo imagem de miragem ... Quando, iludido, o busco na ramagem, Já com seus tons mais brandos não atino; E nesta escuridão, só me ilumino Vendo-o compor-me interior paisagem: Paisagem de ouro verde, que de mim Sai alongada em foco para a ten'a A procurar vencer-lhe a cerração, E aonde num crepúsculo sem fim Tonta, a esperançã, esvoaçando, erra Sobre torres de encanto e de traição. [Luis Marino, Musa lnsular(poelas da Madeira), 1959, p.464]

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Do

À ARCA DE

NOÉ

ARMANDO SANTOS

Oh! Madeira dos meus sonhosC Madeira terra de encantos, Onde vegetam as flores Nascidas d'almas dos Santos.

Rosas rubras rosas, Lírios brancos, açucenas, Vós curais as nossas dores, Aliviais nossas penas

Oh ! t10res da minha terraC Oh! flores belas da Madeira, Com odor das nossas flores, Não as há na terra inteira.

Violetas tão humildes, Cultivadas A esta terra trazidas Nas asas dos Seratlns!

também há flores vegetam como Mas com o belo das suas cores Nesta terra não as há.

Mas tais flores tão lindas Que eu estou a cantar, Não se encontram nas A terra não dar.

FERNANDO

DE GOUVEIA

Oh Madeira, Teu encanto é serras são um mimo, O leu não tem par,

Funchal, cidade-encanto, Teus encantos não têm fim. Na Madeira és um E no mundo és um

Madeira, ilha de sonho, De beleza sem rival, E's a terra mais bonita Deus deu

Os teus montes altaneiros

São llores, urzes, verduras, pura, cristal ina, Montanhas, encostas, vales, ['s LImEI obra divina,

Madeira, ilha de encantos, dos filhos teus, lermos nascido a Deus. damos

323


ALBERTO VIEIRA

LEANDRO DE SOUSA

* Pérola do Atlântico" À belissima !lha que melai berço. Baloiçando no Atlântico Que lhe murmura aos pés, num cântico, A nossa humildade; Adorada pelo mundo, Como uma divindade; Amada pelo Sol que a disputa ao mar E tira ao resto do universo o calor para dar. AEla, Tão bela, Sob um céu tão azul, nobre e altaneira, Ergue-se a linda Ilha da Madeira.

Ao constituí-la ao Criador Fez dela um primor, Dando-lhe beleza sem igual, Que são orgulho de Portugal! E como o Criador Se desvanece com o seu amor, Sem rival, Eu, da minha maneira, Sinto orgulho igual CPorque nasci na Madeira! [Luis Marino, Musa lnsular(poelas da Mm/eira), 19S9, p.SSO]

GERTRUDES MARCELIANA RODRIGUES CÂMARA (GERMA)1910

FlOD'AGUA

Goteja um fio d'água cristalina No soluçar suave de uma fonte ... Correndo, sem descanso, o verde monte E refrescando os lábios da p'regrina. Na paisagem sombria há solidão: Ao fundo, a luz, o mar. as brancas velas ... E num silêncio enno de oração Passam vultos de tímidas donzelas. Passam vultos

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A água chora e há terna magia Percorrendo valados, noite e dia, No carpir triste de uma dor pungente! Quem sabe? .. Talvez seja a voz de alguém Que chorando, baixinho, vem do Além, Perdida a vaguear por entre a gente!

[Luis Marino, Musa fl1su/cu'ÚJoelas da Mlldeira), 1959, p.561]


Do

À ARCA DE

NOÉ

ALBERTO FIGUEIRA ,-,,,-,,,,,.oe,,,, BALADA DAS LEVADAS

em Santana

mansas das levadas

Verão de I

que em vindo o inverno inundam casas vinhedos e leims

Levadas da minha aldeia de monte em monte, enchei de seiva esses vales. cantai fonte.

Na santa paz da montanha, só se sente o seu cantar, scmpre semprc novo, num eterno caminhar.

Solitário viandante que esta levada cantante é uma fiel

voz suave encerra doce e CCantais promessas do céu ou chorais males do mundo

Tudo seria mais triste na da serra, se a vossa voz não se ouvisse como a voz da terra.

À vossa beira se musgos e flores: Cvelhos loureiros murmuram loucas histórias de

cantar; Candam ensinando às flores como deve falar.

As urzes esvaneCCl'a1ll e os carvalhos ja dobraram ao peso de fartos as nllnca pararam.

A serra já se não lembra das gerações que passaram, a vida vai e renova-se nunca pararam . .. , e as

n1l0 sois como

325


ALBERTO VIEIRA

SECUNDINO TEIXEIRA (DINO)1926 MADEIRA

Minha Terra, eu não te canto pelas tuas belezas, nem pelas tuas flores, nem por esse verde impossível dos teus montes, nem pelo canto cristalino das tuas fontes, nem pelo azul puríssimo do céu e do mar eu te respeito só. Venero sim. os meus antepassados que num sonho de há quinhentos anos, lograram criar-te sem esforço sobrehumano e desbravar o mato, quebrar a pedra, domar o mar, os ventos e a adversidade. Gastar o sangue, os anos e a vontade, a construir poios, a aproveitar a terra, até onde os pisos altaneiros as nuvens apunhalam e a desafiar as bocarras eiolópicas e as gargantas da montanha; dominar a torrente de fI'água em frágua, para com as suas lágrimas, o seu suor e essa água, pudesse existir hoje este rincão florido, esta pérola verdadeira, MADEIRA! [Luis Marina, Musa lnsular(poeta.l' da Madeira), 1959, p.630]

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Do

À ARCA DE

NOÉ

MANUEL Talvez fosse por Deus, autor da Natureza, esta Ilha da Madeira ser da nação portuguesa.

Mais tarde arr'ependt:raITI-s:e, da terra uv.u,cç'ua. a madeira mais fina. até então encontrada, estava toda em carvão ... uma imensa derrocadal

Por dois nobres portugueses foi descoberta a Madeira: um-João Goncalves Zarco outro-Tristão Teixeira.

Ficou-lhe o nome-Madeira cio seu florestal, d'Oceano, e também de

Tremendo os descobridores massa florestal não houvesse animais bravos causar mal, na ilha por sete anos mas não consta ser encontrado

Versos, Funchal, 1994,

BAPTISTA DOS SANTOS

A MINHA CASA DA AZENHA A minba casa da Azenha Rescende a resina c t10res E sendo tâo Nela cabem meus amores ... Pobrinha, humilde, campestre, Não tem luxo nem brazão, Mas é rica de virtude E nobre dc

Contra o chão, Só por revelares que eu estava velho, Em tua franca e expressão! ~"''''''"''r"'~V, tu, que em tantos anos, Todos os dias, Reflectiste os meus de!senlganos E traduziste as minhas

em redor Tem E lindas amendoeiras: loureiro

tu com lealdade, Foste tu quem, unicamente, Me falou verdade?!

Do o mar -Esteira das Descobertas!E a torre da ermida E as nossas ilhas Desertas.

O' meu saudoso, meu fiel Vítima inocente Da minha altivez, Releva a diabrura deste velho Perdoa a minha insensatez!

"A'~f""UC'\,UUU,

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ALBERTO VIEIRA

MUSA RÚSTICA Neste balcão de acácias onde estou Sorvendo o ar agreste- o ar sadio Oico uma voz que diz "avô-avô" E duma ave o trilo "pio-pio". São maviosos gorgeios, Eco de brandos anseios Que a minha alma gozou E que ninguem mais ouviu: "Avô-avô-avô"y "Pio-pio", spio-pio" ... Como feliz me sinto entre as acácias Da minha pobre "herdade", Nove mil metros longe dos "acácias" Da buliçosa cidade!

ELOGIO DO EUCALIPTO

Tem esta humilde canção Alevantado fito: Proclamar a virtude E a nobreza Do Eucalipto. Ornamental, oloroso, Que é orgulho da Natureza, Pelo seu porte altivo, majestoso. Balsâmico real, excelente, Antisséptico superior, Ele é a saúde da gente Que vive em seu redor E tem a sorte de respirar E absorver O per fumado ar Desta árvore gigantesca. Que se ergue os braços para o Céu, E não pára de crescer! Do abençoado Eucalipto Suas folhas medicinais Curam as afecções pulmonares Os estados catarrais E tanto mal impertinente De que sofre e morre muita gente ...

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Árvore bendita, colossal, Corre em suasgrossas veias, No alto da encosta Abundantemente A seiva das terras de Portugal Que ela absorve, a toda a hor, Avidamente! Proclamando sua virtude A tua alegre e doce companhi E nobreza - Eu saúdo e venero o Eucali~ Benfazejo, sádio, altaneiro, Que é sombra e saúde E riqueza Da minha Casa campestre, Durante o ano inteiro.

Vivenda da Azenha, Caniço, ~ [Baptista dos Santos, Ml//'I1ní Funchal, 1961,


Do

À ARCA DE NOÉ

ANA BELAA. PITA DA SILVA

ILHA DA MADEIRA

fLOR SILVESTRE Olha

Com mãos fortes desbravaste em rocha dura com mãos tartes semeaste videiras c bravura.

silvestre entre

ribeiras saltitnntes que bailam

imortal

és a Madeira sonho realidade.

Madeira.

daninha rochedo agreste

perto olha-a bem vê a cor

linda Madeira és verdade.

quc tcm

Bela

Pita

329


ALBERTO VIEIRA

ILUSTRAÇÕES'

CAPA: W. Combe, 1821, Colecção Museu Frederico de Freitas Página. 8: 9:

11: 23: 25: 37: 47: 49: 55: 71: 73: 76: 75: 80: 81 : 83: 87: 233: 235: 239: 241: 303: 305: 307:

Andrew Picken, 1840, Colecção Museu Frederico de Freitas A. Picken, 1842, Colecção Museu Frederico de Freitas Mrs Benett, 1809, Colecção Museu Frederico de Freitas James Bulwer, 1827, Colecção Museu Frederico de Freitas L H. Robley, 1845(?), Colecção Museu Frederico de Freitas James Bulwer, 1827 , Colecção Museu Frederico de Freitas Susan V. Harcourt, 1851, Colecção Museu Frederico de Freitas W. S. Pitt Springett, Colecção Museu Frederico de Freitas James Bulwer, 1827, Colecção Museu Frederico de Freitas W. Combe, 1821, Colecção Museu Frederico de Freitas A. Picken, 1840, Colecção Museu Frederico de Freitas James Bulwer, 1827, Colecção Museu Frederico de Freitas 4.256b James Bulwer, 1827, Colecção Museu Frederico de Freitas 4.257b James Bulwer, 1827, Colecção Museu Frederico de Freitas W. Combe, 1821, Colecção Museu Frederico de Freitas John Drayron, 1846, Colecção Museu Frederico de Freitas A. Picken, 1840, Colecção Museu Frederico de Freitas V. Tomam, Séc. XIX, Colecção Museu Frederico de Freitas James Bulwer, 1827, Colecção Museu Frederico de Freitas Susan Vernon Harcourt, 1851, Colecção Museu Frederico de Freitas James Bulwer, 1827, Colecção Museu Frederico de Freitas Richard Westall, 1812, Colecção Museu Frederico de Freitas James Bulwer, 1827, Colecção Museu Frederico de Freitas James Bulwer, 1827, Colecção Museu Frederico de Freitas

I. Para uma informação mais completa veja-se neste volume o capítulo: Aguarelas, Estampas e Desenhos da Madeira. Sécs. XVIII- XIX. Aproveita-se o ensejo para agradecer à Dr" Ana Magarida a disponibilidade elesta informação.

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