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JOテグ HIGINO FERRAZ Copiadores de Cartas (1898-1937)

Go v e r n o R eg io n al d a M a d eira


JOÃO HIGINO FERRAZ Copiadores de Cartas (1898-1937)

COORDENAÇÃO, PREFÁCIO E NOTAS ALBERTO VIEIRA

LEITURA, TRANSCRIÇÃO E NOTAS FILIPE DOS SANTOS

Gov erno Regional da Madeir a 5


TÍTULO

JOÃO HIGINO FERRAZ. COPIADORES DE CARTAS (1898-1937)

1ª Edição

Dezembro de 2005

AUTOR

©ALBERTO VIEIRA FILIPE dos SANTOS

EDIÇÃO

CENTRO DE ESTUDOS DE HISTÓRIA DO ATLÂNTICO RUA DOS FERREIROS, 165, 9004-520 FUNCHAL TELEF. 291-229635/FAX: 291-223002 Email: ceha@avieira.net. Webpage: http://www.ceha-madeira.net

TIRAGEM

2000 exemplares

IMPRESSÃO DEPÓSITO LEGAL ISBN

6

972-8263-39-2


ÍNDICE GERAL

INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................9 O AÇÚCAR E A TECNOLOGIA NO ESPAÇO ATLÂNTICO.................................................................11 DAS ORIGENS À MADEIRA ...................................................................................................................11 A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E O AÇÚCAR.......................................................................................13 A QUESTÃO HINTON ..............................................................................................................................17 O HINTON E A INDÚSTRIA DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL ................................................................28 A IMPORTÂNCIA DO ACERVO DOCUMENTAL DE JOÃO HIGINO FERRAZ ................................33 JOÃO HIGINO FERRAZ [1863-1946] ......................................................................................................39 NOTAS AUTO-BIOGRÁFICAS DE JOÃO HIGINO FERRAZ...............................................................41 CONCLUSÃO.............................................................................................................................................44 A DOCUMENTAÇÃO ..............................................................................................................................45 NORMAS DE TRANSCRIÇÃO ................................................................................................................46

COPIADORES DE CARTAS DE JOÃO HIGINO FERRAZ (1898-1937).........................................51 COPIADOR DE CARTAS [1898-1905].....................................................................................................53 COPIADOR DE CARTAS [1905-1913] ...................................................................................................115 [COPIADOR DE CARTAS. 1917-1919]..................................................................................................173 [COPIADOR DE CARTAS. 1919-1920]..................................................................................................205 [COPIADOR DE CARTAS. 1920-1923]..................................................................................................223 [COPIADOR DE CARTAS. 1924-1926]..................................................................................................267 [COPIADOR DE CARTAS. 1927-1929]..................................................................................................301 [COPIADOR DE CARTAS. 1929-1930]..................................................................................................333 [COPIADOR DE CARTAS. 1930-1937]..................................................................................................361 CARTAS AVULSAS ................................................................................................................................395 ÍNDICE ANALÍTICO DE EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS .........................................................413

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F贸lio 1 - [Copiador de Cartas. 1919-1920]

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INTRODUÇÃO

A publicação do presente volume enquadra-se na política definida pelo CEHA de divulgar e salvaguardar o que de mais significativo temos no nosso património histórico documental, com relevo para as investigações históricas presentes. A aposta na temática açucareira levou-nos a descobrir um espólio privado muito precioso no entendimento da História do Açúcar no século XX na Madeira. Graças ao trabalho meticuloso de João Higino Ferraz hoje é possível saber parte da realidade açucareira da primeira metade do século XX. O conjunto documental assume desusado interesse por ser até ao momento o único conhecido no panorama açucareiro mundial. Daí resultou o empenho na publicação do acervo, composto de cartas e livros de notas. A leitura desta informação, pelo facto de assumir um carácter privado, tem o condão de nos revelar realidades que por vezes a documentação oficial ou os jornais não nos permitem ver nem tão pouco induzir. A partir dela sabemos quais as actuações nos bastidores da política local e nacional no sentido de fazer vingar ou perpetuar certos interesses preferenciais. Por outro lado podemos ainda mergulhar no dia à dia do engenho acompanhando as dificuldades da maquinaria, as análises laboratoriais, em suma a preocupação sempre presente de fazer com que do produto laborado se pudesse retirar o maior rendimento. Neste campo a preocupação com a inovação tecnológica é uma constante. A descoberta deste precioso espólio só se tornou possível graças ao empenho dos familiares de João Higino Ferraz, nomeadamente Francisco Clode Ferraz, que souberam guardar as recordações de um ente querido. Por isso, à família o nosso maior agradecimento pela disponibilidade dos originais e pelas possibilidades abertas quanto à sua divulgação e publicação em livro. Esta será sem dúvida uma das mais justas homenagens que se poderá prestar a um madeirense, que dedicou toda a sua vida a lutar por conseguir que a sua terra estivesse no seio das inovações tecnológicas, que permitiam um maior aproveitamento dos parcos recursos que a ilha é capaz de fornecer. A nossa esperança é a de que, ao mesmo tempo, a publicação dos escritos seja uma forma de reconhecimento por parte da sociedade do labor, craveira intelectual e científica de João Higino Ferraz, cujo nome se mantem esquecido e deverá ser merecedor da homenagem e permanente lembrança por parte de todos nós. A presente publicação enquadra-se dentro de uma das linhas de investigação prioritárias do CEHA, apoiada por outras iniciativas como a criação da Associação Internacional de História e Civilização do Açúcar em 2002 e o projecto Atlântica: o Açúcar e a Cultura nas ilhas Atlânticas [2003-2005], uma iniciativa no âmbito do projecto INTERREG IIIB, da União Europeia, realizado em cooperação com diversas entidades das Canárias.

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PĂĄgina de rosto de PrĂŠcis de Chimie Industrielle, de A. Payen (Paris, Librairie de L. Hachette, 1867), onde se vĂŞ a assinatura de J. H. Ferraz

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O AÇÚCAR E A TECNOLOGIA NO ESPAÇO ATLÂNTICO A cana-de-açúcar é de todas as plantas domesticadas pelo Homem aquela que teve mais implicações na História da Humanidade. Até hoje são evidentes as transformações operadas na agricultura, técnica, química e siderurgia, por força da cultura da cana sacarina, beterraba e da produção de açúcar, mel, aguardente, álcool e rum. O percurso multissecular, desde a descoberta remota na Papua (Nova Guiné) há 12.000 anos, evidência esta realidade. A chegada ao Atlântico, no século XV, provocou o maior fenómeno migratório, que foi a escravatura de milhões de africanos, e teve repercussões evidentes na cultura literária, musical e lúdica. Foi também no Atlântico que a cultura atingiu a plena afirmação económica, assumindo uma posição dominante no sistema de trocas. O açúcar é, entre todos os produtos que acompanharam a expansão europeia, o que moldou, com maior relevo, a mundividência quotidiana das novas sociedades e economias que, em muitos casos, se afirmaram como resultado dele. A cana sacarina, pelas especificidades do cultivo, especialização e morosidade do processo de transformação em açúcar, implicou uma vivência particular, assente num específico complexo sócio-cultural da vida e convivência humana. A rota do açúcar, na transmigração do Mediterrâneo para o Atlântico, tem na Madeira a principal escala. Foi na ilha que a planta se adaptou ao novo ecossistema e deu mostras da elevada qualidade e rendibilidade. Deste modo a quem quer que seja que se abalance a uma descoberta dos canaviais e do açúcar, na mais vetusta origem no século XV, tem obrigatoriamente que passar pela ilha. Foi aqui que se definiram os primeiros contornos desta realidade, que teve plena afirmação nas Antilhas e Brasil. A cana-de-açúcar iniciou a expansão atlântica na Madeira. A segunda metade do século XIX foi um dos momentos mais significativos da plena afirmação do açúcar no mercado mundial. A vulgarização do produto fez multiplicar o consumo e obrigou ao aumento da produção e consequente alargamento das áreas produtoras. Para isso foi necessário adequar o processo tecnológico às exigências do mercado, surgindo significativas inovações. A Madeira, que nos séculos XV e XVI havia contribuído para uma revolução no processo de fabrico do açúcar, volta a estar de novo na linha da frente das inovações industriais. Algumas inovações significativas do processo da moenda e fabrico do açúcar ou aguardente tiveram a ilha como palco, por força do engenho e arte de alguns técnicos açucareiros, como foi o caso de João Higino Ferraz. Por força do seu empenho a ilha e de forma especial o engenho em que trabalhava serviram de campo de ensaio para a experimentação das novas técnicas usadas na produção de açúcar a partir da beterraba.

DAS ORIGENS À MADEIRA O Açúcar pode muito bem ser considerado uma conquista do mundo islâmico e budista1, tal como o pão e o vinho o são do cristianismo. O factor religioso foi fundamental na afirmação e divulgação do produto, daqui resultará a cada vez maior afirmação a partir dos primeiros séculos da nossa era. A cana sacarina (saccharum officinarum) terá sido domesticada há cerca de 12.000 anos na Papua (Nova Guiné). Entre 1500 AC e 500 DC a cultura espalhou-se pela Polinésia e Melanésia, mas foi na Índia que adquiriu maior importância, expandindo-se entre o século I e VI DC. Foi aí que os europeus tomaram contacto com 1

Sucheta Mazumbar, Sugar and Society in China, Londres, 1998, pp.21-27; Christian Daniels, “Agro-Industries: Sugarcane Technology”, in Joseph Needham, Science & Civilisation in China, vol. VI, part. III, Nova Iorque, 1996, pp. 61-62, 278, 192.

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o produto e cultura, começando o comércio e depois com o transplante da cultura para os vales dos rios Tigre e Eufrates. Aqui, os árabes tiveram conhecimento da cultura e levaram-na consigo para o Egipto, Chipre, Sicília, Marrocos e Valência. Foi no culminar da expansão árabe no Ocidente que a Madeira serviu de trampolim da cultura para o Atlântico, situação que foi o início da fase mais importante da História do açúcar. O açúcar é, entre todos os produtos a que no Ocidente se atribuiu valor comercial, o que foi alvo de maiores inovações no seu fabrico. Note-se que no caso do fabrico do vinho a tecnologia pouco ou nada mudou desde o tempo dos Romanos. Várias condicionantes favoreceram a necessidade de permanente actualização, situação que se tornou mais clara no século XVIII com a concorrência da beterraba. Mesmo assim ainda hoje persistem em alguns recantos do Mundo, na China, Índia ou Brasil, onde a tecnologia da revolução industrial ainda não entrou. O fabrico do açúcar está limitado pela situação e ciclo vegetativo da planta. A cana sacarina tem um período útil de vida em que a percentagem de sacarose era mais elevada. A cana estava pronta para ser colhida e a partir daqui um dia que passasse era uma perda para o produto. Acresce que a cana depois de cortada tem pouco mais de 48 horas para ser moída e cozida, pois caso contrário começa a perder sacarose e inicia o processo de fermentação. Daqui resulta a necessidade de acelerar o processo de fabrico do açúcar através de constantes inovações tecnológicas que cobrem o processo de corte, esmagamento e cozedura. A isto junta-se o aumento da mão-de-obra, que se faz à custa de escravos africanos. A cana-de-açúcar não está na origem da escravidão africana mas no processo de afirmação a partir da Madeira. Enquanto a cultura se fazia em pequenas parcelas a maior parte das questões não se colocavam, mas quando se avançou para uma produção em larga escala houve necessidade de encontrar soluções capazes de debelar a situação. A viragem aconteceu a partir de meados do século XV na Madeira e deverá ter implicado mudanças radicais na tecnologia usada e na afirmação da escravatura dos indígenas das Canárias e dos negros da Costa da Guiné. É por isso que se assinala a partir da Madeira importantes inovações tecnológicas no sistema de moenda da cana com a generalização do sistema de cilindros. A história tecnológica evidencia que a expansão europeia condicionou a divulgação de técnicas e permitiu a invenção de novas que contribuíram para revolucionar a economia mundial. Os homens que circularam no espaço atlântico foram portadores de uma cultura tecnológica que divulgaram nos quatro cantos e adaptaram às condições dos espaços de povoamento agrícola. Aos madeirenses foi atribuída uma missão especial nos primórdios do processo. Na Madeira, um dos aspectos mais evidentes da revolução tecnológica iniciada no século XV prende-se com a capacidade do europeu em adaptar as técnicas de transformação conhecidas a circunstâncias e exigências de culturas e produtos tão exigentes como a cana e o açúcar. O tributo foi evidente. Ao vinho foi-se buscar a prensa, ao azeite e aos cereais a mó de pedra. Por outro lado estamos perante uma permuta constante de processos tecnológicos e formas de aproveitamento das diversas fontes de energia. A tracção animal, a força motriz do vento e da água foram usadas em simultâneo com os cereais e cana sacarina. Por vezes a mesma estrutura assume uma dupla função. Sucedeu assim na Madeira, com o engenho da Ribeira Brava, hoje Museu Etnográfico, onde a estrutura de aproveitamento da força motriz da água servia um engenho de cana e um moinho de cereais2. Até ao século XVIII torna-se difícil atribuir a paternidade das inovações que acontecem no fabrico do açúcar. Estamos perante inventores anónimos que apenas se comprazem pelos benefícios económicos da sua capacidade inventiva. Mas, a partir de então tudo parece ter mudado. O espírito nacionalista e independentista favoreceram a paternidade dos inventos. Os Estados Unidos da América foram o principal promotor desta política e valorização da capacidade inventiva. As patentes sucedem-se em catadupa e os autores são heróis recebidos triunfalmente pela imprensa. O inventor sai do anonimato e afirma-se como um herói na imprensa, como alimenta também o ego através de memórias descritivas dos inventos3. É nos Estados Unidos da América que encontramos o maior número de patentes, mas foi na Inglaterra e em França que surgiram as grandes fábricas de 2 Jorge Valdemar Guerra, “O Hospício Franciscano e a Capela de S. José da Ribeira Brava”, in Islenha, nº.19, 1996, 61-94. 3 STEWART, J., A Description of a Machine or Invention to Grind Sugar-canes by the power of a fire Engine, Kingston, 1768; Basset, Nicholas, 1824- Guide pratique du fabricant de sucre: contenant l’étude théorique et technique des sucres de toute provenance, la saccharimétrie chimique et optique, la description et l’étude culturale des plantes saccharifères, les procédés usuels et manufacturiers de l’industrie sucrière et les moyens d’améliorer les diverses parties de la fabrication, avec de nombreuses figures intercalées dans le texte, Paris: E. Lacroix, 1861. Bessemer, Henry, Sir, 1813-1898. Sir Henry Bessemer, F.R.S. An autobiography. With a concluding chapter. London, Offices of “Engineering,” 1905. Bessemer, Henry, Sir, 1813-1898. On a new system of manufacturing sugar from the cane: and its advantages as compared with the method generally used in the West Indies: also, some remarks on the best mode of insuring its general and simultaneous introduction into the British colonies, London: Printed by W. Tyler, [1852?] BURGH. Nicholas Procter, A Treatise on Sugar Machinery: including the process of producing sugar from the cane, refining moist and loaf sugar, etc., E. & F. N. Spon: London, 1863. Bühler, Friedrich Adolf, 1869- Filters and filter presses for the separation of liquids and solids, from the German of F. A. Bühler, with additional matter relating to the theory of filtration and filtration in sugar factories and refineries, by John Joseph Eastick. London, N. Rodger, 1914. Tromp, Lucas Andreas, 1892- Machinery and equipment of the sugar cane factory; a textbook on machinery for the cane sugar industry, London, Eng., N. Rodger, 1936.

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indústria pesada, especializadas em equipamentos e na montagem dos engenhos de açúcar4. As exposições universais da segunda metade da centúria oitocentista foram momentos privilegiados de exibição destes inventos. As mudanças ocorridas a partir de finais do século XVIII, com a plena afirmação da máquina a vapor, conduziram a uma transformação radical do complexo açucareiro que assume a dimensão espacial de uma fábrica, onde todas as operações se executam em série. A revolução industrial legou-nos a fábrica, fez aparecer o laboratório, uma peça chave no fabrico do açúcar, e obrigou a uma especialização dos técnicos envolvidos. O mestre de engenho dá lugar ao engenheiro químico. Paulatinamente o processo de transformação da cana sacarina em açúcar retirou espaço à presença de mão-de-obra escrava, fazendo-a substituir por emigrantes europeus, indianos e chineses. No inventário industrial da Madeira de 1907 é assinalado apenas um químico na fábrica do Torreão, com o salário mais elevado de todos os técnicos. Mesmo superior aos engenheiros e cozedores, mantendo as demais 43 fábricas uma estrutura funcional da época pré-industrial5.

A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E O AÇÚCAR Até ao advento do açúcar de beterraba em princípios do século XIX a tecnologia de moenda e fabrico do açúcar não sofreu muitas modificações. Ao nível da moagem da cana houve necessidade de compatibilizar as estruturas com a expansão da área e o volume de cana moída, avançando-se assim dos ancestrais sistemas para a adaptação dos cilindros. Entre os séculos XV e XVII as inovações mais significativas ocorrem aqui. Os cilindros passam a dominar todos os sistemas, de tracção animal, humana, vento e água, destronando o pilão, o almofariz e a mó. Do simples mecanismo de cilindros duplos horizontais, evoluise para os verticais, que no século XVII passam a ser três, o que permite uma maior capacidade de moenda e aproveitamento do suco da cana. Com os dois cilindros poder-se-á aproveitar apenas 20% do suco da cana, enquanto com três até 35%. As técnicas experimentadas na moenda vão no sentido de um maior aproveitamento do suco disponível no bagaço da cana. A situação de Cuba na década de setenta do século XIX pode ser elucidativa da realidade6. Uma maior capacidade na moenda implica maior disponibilidade de garapa a ser processada para se poder dispor do melado ou do açúcar. Uma situação empurra a outra conduzindo a soluções cada vez mais avançadas. As dificuldades com a obtenção de lenhas ou os elevados custos do transporte até ao local do engenho conduzem a soluções que paulatinamente vão sendo adoptadas por todos. Primeiro reaproveita-se o bagaço da cana e depois através de um mecanismo de fornalha única conseguese alimentar as cinco caldeiras de cozimento. O sistema ficou conhecido por trem jamaicano, por, segundo alguns, ter tido aí origem, mas na verdade temos informação do seu uso, não tão apurado na Madeira e Canárias, no século XVI. Em 1530 Giulio Landi descreve o sistema de fabrico de açúcar com cinco caldeiras agrupadas. Jamaica esteve na frente das inovações da tecnologia açucareira a partir da segunda metade do século XVIII. São os ingleses que dão o passo definitivo para a mudança radical através da introdução da máquina a vapor. O primeiro engenho horizontal de tipo moderno foi desenhado em 1754 por John Smeaton na Jamaica, recebendo a partir de 1770 o impulso da máquina a vapor. A nova tecnologia, que se aperfeiçoou com o andar dos tempos, poderá acoplar até 18 cilindros em sistema de tambor, tornando mais rápida e útil a moenda. Com cinco cilindros o aproveitamento do suco pode ir até 90%, enquanto que com os tambores de 18 cilindros quase se atinge a exaustão com 98%. Por outro lado nos engenhos tradicionais a média de moenda por 24 horas não ultrapassava as 125 toneladas, enquanto que com o novo sistema a vapor começa por atingir mais de três mil toneladas de cana. Outro factor significativo da safra prendia-se com a velocidade a que o processo da moenda da cana deveria ocorrer, mais uma vez no sentido de se retirar o maior rendimento da cana através da sacarose. A cana tem um momento ideal para ser moída e depois de cortada os prazos para a moenda são curtos, caso queira evitar-se a fermentação, que é sinónimo de perda de sacarose7. Nos avanços tecnológicos tem-se em conta esta corrida contra o tempo, criando-se mecanismos capazes de moer cana com maior rapidez8. Até aos inícios do século XIX o processo poderia durar de 50 a 60 dias, mas as aportações tecnológicas, conduziram a que 4 5 6 7 8

Compagnie de Fives-Lille pour constructions Mécaniques et enterprises. Matériel de Sucrerie, Paris, 1878; John A. Heitmann, The Modernization of the Louisiana Sugar Industry. 1830-1910, Baton Rouge, 1987, p.143. Victorino José dos Santos, “Relatório dos Serviços da Secção Technicos de Industria no Funchal no anno de 1907”, in Boletim do Trabalho Industrial, nº.24, 1909, p.19. João José Carneiro da Silva, Estudos Agrícolas, Rio de Janeiro, 1872, p.94. Cf. J. de Laguarrique de Survilliers, Manuel de Sucrerie de Cannes, Paris, 1932, p. 29. Cf. Nilo Cairo, O Livro da Canna de Assucar, Curitiba, 1924, pp. 85-86, 109; A. Bernard, “A Evolução das Moendas de Canas”, in Brasil Açucareiro, XXXVIII, 2, 1951, pp. 73, 76.

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o mesmo se passasse a fazer em apenas um mês em 1830 e apenas em 16 horas em 1860, através do novo sistema de centrifugação. As primeiras mudanças ocorrem ao nível do processo de clarificação. Em 1805 Guillon, refinador do açúcar em New Orleans preconiza o uso do carvão para purga do xarope, em 1812 Edward Charles Howard constrói a primeira caldeira de vacuum, conhecida como “howard saccharine evaporator”, que veio revolucionar o sistema de fabrico do açúcar. Três anos depois surge em Inglaterra o sistema de filtros de Taylor. O evaporador de múltiplo efeito foi inventado em 1830 por Norbert Rillius [1806-1894] de New Orleans, sendo usado nos primeiros engenhos desde 18349. Deste modo torna-se mais fácil a retirada de cerca de 85% de água que existe no suco da cana e um maior aproveitamento do açúcar. As novidades na clarificação e cristalização ocorrem num segundo momento. Assim, em 1844 o alemão Schottler aplicou pela primeira vez a força centrífuga na separação do melaço do açúcar branco, mas foi Soyrig quem construiu em 1849 a primeira máquina de centrifugação, que abriu o caminho para o fabrico do primeiro açúcar granulado, em 1859. Este sistema vinha sendo utilizado desde 1843 na indústria têxtil. Os equipamentos contribuíram para acelerar o processo de purga do açúcar permitindo que se passasse do moroso processo de quase dois meses para apenas 16 horas e hoje em apenas alguns segundos. A segunda metade do século XIX foi o momento da aposta definitiva na engenharia açucareira, contribuindo para importantes inovações10. O mercado ocidental foi inundado de açúcar de cana e beterraba. O desenvolvimento da indústria de construção de equipamentos para o fabrico de açúcar, seja de cana ou de beterraba, aconteceu em países onde esta assumia uma posição significativa na economia. Deste modo a França e a Inglaterra assumiram a posição pioneira no desenvolvimento da tecnologia açúcareira. Os franceses detinham importantes colónias açucareiras nas Antilhas, enquanto os alemães apostavam forte em Java. Os ingleses surgem por força das colonias nas Antilhas e Índia e os Estados Unidos da América com New Orleans e, depois o Havai. Cuba foi um dos espaços açucareiros onde mais se inovou em termos tecnológicos. As primeiras décadas do século XIX foram de plena afirmação da ilha, que se transformou em modelo para a indústria açucareira. Em França tudo começou com o químico Charles Derosne (1779-1846) que montou em 1812 uma fábrica de construção de aparelhos de destilação continua. Nesta empresa passou a trabalhar em 1824 J. F. Cail na qualidade de operário de carvão, que 9

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Otto Kratz, The Robert Diffusion Process aplied to sugar-cane in Louisiana in the Years 1873 and 1874. A Report to the President and Directors of the Julius Robert Diffusion Process Co, Nova Orleans, 1975; The Louisiana Planter and Sugar Manufacture, XIII, Nov. 24, 1894; George Mead, “Negro Scientist of slavery Days”, in Negro History Bulletin, Abril 1957, pp.159-163. C. Stammer, Traité complet théorique et Practique de la Fabrication du Sucre, guide du fabricant, Paris, 1876; James Stewart, Steam engineering on sugar plantations, steamships, and Locomotive engines, Nova York, 1867; IDEM, A Description of a Machine or Invention to Work Mills, by the Power of a fire-engine, but Particulary useful and Profitable in grinding Sugar-canes, Londres, 1767; Baeta Neves, Luiz M., Technologia da fabricação do assucar de canna,. Patrocinado pela Associação de usineiros de S. Paulo. S. Paulo [Emp. graph. da “Revista dos tribunaes”], 1937. BURGH, Nicholas Procter, A Treatise on Sugar Machinery: including the process of producing sugar from the cane, refining moist and loaf sugar, etc., E. & F. N. Spon: London, 1863.—The Manufacture of Sugar, and the machinery employed for colonial and home purposes. Read before the Society of Arts ... April 4th, 1866.Trubner & Co.: London, [1866.] Bühler, Friedrich Adolf, 1869- Filters and filter presses for the separation of liquids and solids, from the German of F. A. Bühler, with additional matter relating to the theory of filtration and filtration in sugar factories and refineries, by John Joseph Eastick. London, N. Rodger, 1914; Burgh, N. P. (Nicholas Procter) A treatise on sugar machinery: including ... producing sugar from the cane, refining ... sugar ... with rules for the proportions and estimates. London, E. & F.N. Spon, 1863. El catálogo azucarero. Nueva York, El Mundo Azucarero.1949; DERR, Noel, classic papers of a sugar cane technologist / compiled by John Howard Payne. Amsterdam; New York: Elsevier; New York, N.Y.: Distributors for the U.S. and Canada, Elsevier Science Pub. Co., 1983; Dejonghe, Gaston. Technologie sucriere. -2. ed. completement refondue et considerablement augmentee. - [s.l.]: Lambersart-Lille, 1910 ; Gama, Rui. Engenho e tecnologia, Sao Paulo: Duas Cidades, 1983; Guimarães, Benicio Domingues. Locomotivas a vapor nas atividades industriais no Brasil, Petropolis, RJ: [s.n.], 1996; HUGOT. Emile. Ingenieur des Arts et Manufactures. Elsevier Publishing Co.: Amsterdam, 1960. Handbook of cane sugar engineering / by E. Hugot; translated and revised, with the collaboration of the author, by G.H. Jenkins. - Amsterdam: Elsevier, 1960- 1904-Handbook of cane sugar engineering, Rev. by the author, with the collaboration of the translator, and translated by G. H. Jenkins. 2d completely rev. ed. Sucrerie de cannes. English Amsterdam, New York, Elsevier Pub. Co., 1972. —Sucrerie de cannes. English Handbook of cane sugar engineering / E. Hugot; revised by the author, with the collaboration of the translator, and translated by G.H. Jenkins. Amsterdam; New York: Elsevier; New York, NY: Distributors for the United States and Canada, Elsevier Science Pub. Co., 1986. —La sucrerie de cannes; manuel de l’ingénieur, Dunod, 1950. Jenkins, G.H. Introduction to cane sugar technology, New York: Elsevier London:Amsterdam, 1966. Jenkins, G.H. Introduction to cane sugar technology New York: Elsevier, London: Amsterdam: 1966; López Ferrer, F. A. Manual práctico de maquinaria y aparatos en los ingenios de azúcar de caña. Habana, Cultural, 1949; Maier, Emile Adolph, 1897- A story of sugar cane machinery. New Orleans, Sugar Journal [1952]; Maxwell, Francis. Modern milling of sugar cane, London: Norman Rodger, 1932. 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em 4 de Março de 1836 passa à condição de associado. A sociedade Derosne et Cail11 manteve-se até 1850, altura em que passou a chamar-se J. F. Cail et Cie, que em 1861 passou a cooperar com a nova Cie Fives-Lille, especializada no fabrico de equipamentos para fábricas de açúcar e caminhos-de-ferro12. Os equipamentos, saídos da empresa Cail, chegaram às colónias holandesas, espanholas, inglesas e francesas, México, Rússia, Áustria, Holanda, Bélgica e Egipto. À indústria francesa juntaram-se outros complexos industriais na Europa: Inglaterra (Glasgow, Birmingham, Nottingham, London, Manchester, Derby), Holanda (Breda, Roterdão, Schiedam, Ultrecht, Delft, Hengelo, Amsterdam), Estados Unidos da América (Oil City, Ohio, Denver, New Jersey), Alemanha (Magdeburgo, Zweibruecken, Halle, Dusseldorf, Sangerhausen, Ratingen, Halle), 11

Avis de M. Richemond ingénieur - arbitre - rapporteur sur les divers chefs de contestation existant entre MM. Grieninger et Bachoux et MM. Cail et Cie extrait textuellement du rapport de M. l’arbitre, 31 octobre 1867, Paris, impr. de Renou et Maulde: 1869; Cail et Cie: Mesures proposées au Gouvernement pour changer la situation de nos colonies des Antilles, Paris 1860; Cail, F. et C.Derosne: Examen des divers procédés de fabrication de sucre et motifs déterminant de la préférence à accorder aux appareils dans le vide à double effet pour l’application aux colonies. 1843; Cail, F. et C. Derosne: Note sur les avantages à retirer de l’introduction des sucres bruts à un droit modéré, uniforme quelle que soit leur nuance, 1842; Cail, J. F., une réussite exceptionnelle Poitiers, Le Picton: 1984; Cail, J.F. et C. Derosne: De la fabrication des sucres aux colonies et des nouveaux appareils propres à méliorer cette fabrication.1843; Cail, J.F. et C.Derosne: Mémoire sur les usines centrales à la Guadeloupe,1843; Cail, Jean-François, Description de l’appareil d’évaporation à triple effet propre à toutes les grandes évaporations de liquides salins et autres, spécialement utilisable dans les fabriques et raffineries de sucre... (Par J.-F. Cail et Cie.) Paris, impr. de Guiraudet et Jouaust: 1852; -Exploitation agricole des plants appartenant à M. J.-F. Cail. Mémoire pour concourir à la prime d’honneur du département de la Charente en 1868, Paris, librairie agricole de la Maison rustique: (1867); — (Circulaire adressée aux fabricants de sucre par A. Périer, L. Possoz et J.-F. Cail et Cie au sujet de leurs procédés d’épuration du jus de betterave.) Paris, impr. de J. Bonaventure: 1868; -A S. E. M. le ministre de l’Agriculture et du Commerce, Paris. (Lettre de J.-F. Cail et Cie, au sujet du décret du 10 janvier 1870, relativement à l’importation jusque dans les usines des matières destinées aux travaux pour l’étranger.) (Paris,), impr. de Haristéguy: (1870) Tribunal civil de la Seine... Pour la société anonyme des anciens établissements Cail contre les liquidateurs de la Société Cail et Cie. (29 Février 1884.), Paris, imp. de Chaix: 1884; -Notice sur les machines et appareils des établissements Derosne et Cail... figurant à l’exposition universelle de 1865, Paris, imp. de Guiraudet et Jouaust: 1855; Chaussenot, B., Notice sur le calorifère à air chaud, inventé par B. Chaussenot... construit exclusivement par Ch. Derosne et Cail,... (Paris,), impr. de L. Bouchard-Huzard: (1841); Cheilus, L., Discours prononcé par M. L. Cheilus au banquet offert par lui, le 6 janvier 1856, aux gérants et chefs des différents services des établissements Derosne et Cail, Paris, Impr. de Rival: (s. d.,); Conclusions pour la Société anonyme des anciens établissements Cail contre la société de la sucrerie de Pithiviers-le-vieil, Paris, imp. de Chaix: 1893; Debonne, Michel: Jean-François Cail à Grenelle (1844 – 1871) et Histoire de la société Cail. Bulletin de la Société historique et archéologique du XVe arrondissement de Paris, n° 13 et 14, 1999; Derosne, Charles, Tableaux divers sur la densité des jus et des sirops, la quantité de sucre pur contenue dans les solutions sucrées... Extrait de la publication sur la Fabrication du sucre, par MM. Ch. Derosne et Cail,... Paris, impr. de Ve Bouchard-Huzard: (s. d.); -Tableau comparatif de divers brevets fondés sur la condensation par évaporation, montrant les emprunts faits par le brevet Reybaud, du 2 novembre 1833, à ceux antérieurement délivrés. [Signé: Ch. Derosne et Cail. 12 avril 1847.] (Paris,), impr. de Ducessois: (1847.); - Notice sur la machine à vapeur à rotule inventée par M. Ch. Faivre... construite... par MM. Ch. Derosne et Cail... impr. de L. Bouchard-Huzard, Paris, 1839, -De la Fabrication du sucre aux colonies, et des nouveaux appareils propres à améliorer cette fabrication, par MM. Ch. Derosne et Cail,... 2e partie, 2e section. 2e édition... avec un appendice sur la fabrication des sucres de sirops, sur la comparaison des divers systèmes d’appareils qui peuvent être proposés aux colonies, Paris, impr. de Vve Bouchard-Huzard: 1844; Dolabaratz: Rapport à M. Cail et Cie sur sa mission à l’île de la Réunion, octobre 1873; Du Rieux, P. Notice historique sur les filtres-presses, réponse à MM. A. Périer, L. Possoz, J.-F. Cail et Cie adressée à MM. les fabricants de sucre par P. Du Rieux et Cie... Lille, impr. de Mme Bayard: 1866; Dureau, Jean-Baptiste, Jean-François, Cail, sa vie et ses travaux, Paris, Gauthier-Villars: 1872; Dureau: J.F.,Cail, sa vie et ses travaux, Paris, Gauthier Villars, 1872; Etablissements Derosne et Cail... Notice sur les objets admis à l’exposition universelle de 1878, Paris, imp. de A. Chaix: 1878; Fabrication du sucre. Epuration et décoloration des jus sucrés par carbonation multiple. Précédés Périer, Possoz, Cail et Cie. Instance en contre-façon contre MM. Maumené et Théry, Paris, impr. J. Bonaventure: 1867; Griéninger, Note pour MM. Bachoux et Griéninger [fabricants de sucre à Francières (Oise)] contre MM. Cail et Compagnie [constructeurs-mécaniciens à Paris]... Paris, impr. Dubuisson, [1867]. La Mécanique pratique. Guide du mécanicien. Procédés de travail. Explication méthodique de tout ce qui se voit et se fait en mécanique, par Eugène Dejonc, ancien chef d’atelier de l’Ecole des arts et des mines, contremaître des Maisons Cail, Bréguet, etc. Revue et corrigée par M. C. Codron, ingénieur, professeur à l’Institut industriel du Nord, lauréat de l’Académie des sciences. 6e édition augmentée, par René Champly, ingénieur-mécanicien. Orléans, impr. H. Tessier, Paris, libr. Desforges, 29, quai des Grands-Augustins: 1924; La Vérité biographique. J.-F. Cail, . (Signé: Louis Clot.) Paris, Impr. de Moquet: (1857); Lantrac, E., Notice sur la vie et les travaux de M. Félix Moreaux, ancien ingénieur en chef de la Société en participation J.-F. Cail et Cie et compagnie de Fives-Lille... : par M. E. Lantrac,... Impr. de Chaix, Paris, 1890; Mémoire pour M. Degrand, contre MM. Ch. Derosne et Cail [qui n’avaient pas respecté dans leurs ventes à l’étranger les clauses du contrat conclu après un procès en contrefaçon de 1834, pour leur laisser fabriquer un condensateur destiné aux sucreries, dont il était l’inventeur, Paris, E. P. E. : [1983]; Note pour MM. Bachoux et Griéninger [fabricants de sucre à Francières (Oise)] contre MM. Cail et Compagnie [constructeurs-mécaniciens à Paris]. Demande en payement de 83, 446 fr. 20 c. à titre de dommages-intérêts pour retard dans la livraison et le montage d’appareils destinés à la fabrication du sucre. [Suivi de:] Conclusions pour MM. Bachoux et Griéninger contre MM. Cail et Compagnie, Paris, impr. Dubuisson : [1867]; Note pour MM. J.-F. Cail et Cie contre M. Allier [, relative à l’enlèvement du matériel de l’ancienne distillerie de betteraves de PetitBourg, aux frais de constructions de la nouvelle et aux appointements et notes de frais du directeur, jugés excessifs], S. l., S. n.: 1855; Notice sur la Briche, propriété de M.J.F.Cail à l’occasion de l’exposition universelle de 1867; Librairie agricole de la Maison Rustique, 1867; Payen, Anselme, Société d’encouragement pour l’industrie nationale.... Rapport fait par M. Payen... sur l’appareil de MM. Rolhfs et Seyrig pour l’égouttage et le clairçage des sucres... construit dans l’établissement de MM. Derosne et Cail. Paris, impr. de Vve Bouchard-Huzard: (1851); Possoz, Louis, Participation Périer, Possoz et J.-F. Cail et Cie. Procédés brevetés pour l’épuration des jus de betterave, Paris, impr. de Jouaust et fils: 1863; Proust, Raymond: Le célèbre constructeur mécanicien J.F.Cail, Imprimerie Romain, Chef-Boutonne.1990; Proust, Raymond, [Un]constructeur mécanicien, Jean-François Cail (1804-1871) ChefBoutonne, Chassebray-Moncontié: 1955 12 . Compagnie de Fives-Lille pour constructions Mécaniques et Entreprises. Matériel du sucrerie, Paris, 1878, Reedição Granada, 1999; Vincens, E. Compagnie générale d’électro-chimie.... Rapport du commissaire vérificateur des apports, sur les apports faits à la Société par la Compagnie de FivesLille pour constructions mécaniques et entreprises. [Signé: E. Vincens.]; —Rapport du commissaire vérificateur des apports, sur les apports faits à la Société par la Compagnie de Fives-Lille pour constructions mécaniques et entreprises. [Signé: E. Vincens.] (Paris,), impr. de Chaix: 1898; Godefroy, H.C. Notice explicative sur les tableaux photographiques représentant les usines de Fives-Lille, Paris, impr. de Vves Renou, Maulde et Cock: 1876.

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Bélgica (Bruxelas, Tirlemont). A Inglaterra foi desde meados do século XVII um dos mais importantes centros de refinação de açúcar na Europa. As refinarias proliferam nas cidades de Bristol, Essex, Greenock, Lancaster, Liverpool e Southampton13. Isto justifica o desenvolvimento tecnológico. Aqui, merece destaque a iniciativa de Mirless Watson14. A abertura às inovações tecnológicas, como forma de tornar concorrencial o produto, acarreta algumas consequências para a indústria ao nível nacional. Os investimentos são vultuosos e, por isso mesmo só se tornam possíveis mediante incentivos do Estado. A inovação e recuperação da capacidade concorrencial só se tornaram possível à custa da concentração. Tanto em Cuba como no Brasil a década de oitenta foi marcada pelos grandes engenhos centrais15. A concorrência do açúcar é cada vez mais evidente obrigando as autoridades nacionais a intervir no sentido da defesa das suas culturas e indústrias. A política proteccionista iniciada pelos Estados Unidos da América alastrou a todo o mundo açucareiro16. Se o século XIX foi o momento da aposta na tecnologia, a centúria seguinte será marcada pela política açucareira. Ao nível internacional reúne-se uma convenção em Bruxelas, em 1902 e 1929, no sentido de limitar o apoio financeiro do estado e medidas de defesa e proteccionistas dos diversos estados produtores de cana e açúcar. Entretanto em 1937 a Sugar Organization procura estabilizar o mercado através do estabelecimento de cotas que acabaram em 1977. Desde a década de setenta persiste o enfrentamento entre o comércio livre e a política proteccionista dos estados.

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Harry Hinton, Photographia Museu Vicentes

A QUESTÃO HINTON Na segunda metade do século XIX, a crise da produção do vinho fez com que a cultura da cana sacarina se apresentasse como a resposta adequada à perda de importância da vinha, assumindo o papel de “cultura rica” na agricultura madeirense. A intervenção deu lugar ao chamado “proteccionismo sacarino” que desembocou naquilo que ficou depois conhecido como a “questão Hinton”. A conturbada situação política de finais do século XIX e princípios do século XX favoreceu o debate político em torno da questão sacarina que o Estado Novo apaziguou. As condições do mercado mundial obrigavam à intervenção das autoridades, pois caso contrário a produção madeirense estava condenada, com inevitável prejuízo para os agricultores. As dificuldades económicas tornavam a iniciativa do Estado cada vez mais útil e necessária, caso se pretende-se atalhar a constante tendência à emigração do mundo rural. A produção mundial de açúcar, a partir da segunda metade do século XIX, passou a estar sob um controlo apertado das autoridades e grupos económicos. O consumo, que se generalizou a todos os grupos sociais nesta época, não foi suficiente para atender à elevada oferta do produto. A tecnologia permitiu um melhor aproveitamento da sacarose disponível na cana, ao mesmo tempo que a área de cultivo se alargou a novos espaços, contando ainda com a concorrência feroz da beterraba europeia. Em finais da centúria os preços do açúcar desceram a níveis nunca atingidos. Para isso terá contribuído a política de subsídios à cultura e produção de açúcar de beterraba por alguns países europeus, como a França e Alemanha. As diversas convenções internacionais nunca conseguiram frenar a feroz e desigual concorrência do mercado do açúcar. Atente-se que a conferência de Bruxelas de 1901-02 ao conseguir estabelecer a supressão dos subsídios à produção foi uma medida importante para a retoma dos preços. Portugal não ficou alheio à política proteccionista dos governos, sendo a economia dos séculos XIX e XX alimentada por fortes medidas de protecção e favorecimento face à concorrência estrangeira. Ficou célebre a política de proteccionismo cerealífero a partir de 1889. O regime, implantado em 1926, tinha bem entranhado a cultura do proteccionismo. Os inícios do segundo momento da cultura açucareira na ilha foram acompanhados de medidas favorecedoras. Assim, em

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1855 e 1858 oneram-se os direitos de importação de mel, melado e melaço, enquanto em 1870, 1876, 1881 e 1886 se favorecia a entrada do açúcar madeirense no continente e Açores através da redução ou isenção dos direitos de entrada. Atendendo às dificuldades criadas com a crise da lavoura açucareira, provocada pelo ataque do fungo conyothurium melasporum, o Governo interveio no sentido da preservação. A aposta era fazer da cultura da cana-de-açúcar um elemento revitalizador da agricultura madeirense. Em 1888 avançou-se decisivamente na protecção e replantação de novas variedades, resistentes às doenças e mais produtivas, criando-se uma estação experimental dedicada ao estudo da cultura. Tivemos outro decreto em 1895, conhecido como “regímen saccharino da Madeira”, que regulamentou o processo de laboração da cana e o fabrico de aguardente. Assim, as fábricas matriculadas obrigavam-se à aquisição de toda a cana produzida de acordo com o preço estabelecido. Em compensação tinham redução de 50% nos direitos de importação do melaço para fabrico de álcool usado na fortificação dos vinhos. Seguiram-se ao longo dos tempos outros decretos: 1903, 1904, 1909, 191117. Em 1903, novo decreto revela as dificuldades do cultivo da cana e os custos elevados que acarreta para justificar o aumento dos preços mínimos. A compra de toda a cana é conseguida mediante compensações do Estado. As fábricas matriculadas estavam obrigadas a comprar todos os saldos da aguardente manifestados até 31 de Dezembro, de forma a evitar a concorrência com o álcool feito de melaço importado. Acontece que as fábricas de açúcar e álcool deixaram de comprar os saldos aos fabricantes de aguardente, dando uma compensação de 100 réis ao galão, o que acabou por criar uma situação insustentável. O decreto de 11 de Março de 1911 pretendeu estabelecer um travão no consumo excessivo de aguardente, que se havia transformado num prejuízo para a saúde pública,abrindo a porta para uma solução drástica, estabelecida pelo decreto de 1919. A aposta estava na reconversão dos canaviais pela vinha de castas europeias e no controlo da produção e consumo de aguardente. Neste caso seria determinante a medida delimitadora da produção anual para 20.000 litros ano e o encerramento em 1930 de todas as fábricas de aguardente que não tivessem sede nos concelhos da costa Norte. Mas o decreto de 14 de Abril de 1924 aumenta o limite da produção de aguardente para 500.000 litros. O que obrigou à emenda de 1927, com o encerramento de todas as fábricas de aguardente do sul, ficando a Junta Geral com o encargo de venda da aguardente. O Dr. Oliveira Salazar, no preâmbulo do decreto de 1928 define de forma clara os efeitos do anterior decreto, responsável pelo monopólio da compra de toda a cana do Sul, do fabrico de açúcar, do álcool para vinhos ou desdobramento, da importação de melaço e açúcar em bruto das províncias ultramarinas, concluindo que “a agricultura, toda a economia da Madeira, a própria administração pública ficariam mais do que nunca na dependência das fábricas de açúcar e de álcool.”18. Em face disto surgiram diversos decretos no sentido de diminuir o consumo de álcool, proteger a cultura, punir os abusos e defender intransigentemente os interesses públicos. O novo regime sacarino assentava nos seguintes aspectos: 1.Um regime fiscal que ia ao encontro da defesa da saúde pública e dos interesses da economia local. Assim a importação de açúcar está sujeita ao pagamento de direitos, ao mesmo tempo que se proíbe a entrada de bebidas alcoólicas. 2. A cultura da cana ficava limitada à satisfação das necessidades da ilha em açúcar, aguardente, álcool e mel, mantendo-se o preço fixo e a obrigatoriedade da compra pelas fábricas. 3. As fábricas de açúcar e álcool ficam limitadas ao concelho do Funchal e todo o produto laborado deverá ser da produção regional. O álcool com 40º cartier era vendido na totalidade à alfândega, que depois procedia à revenda. 4. O fabrico de aguardente, desde 1938, em regime de concentração, em três fábricas, seria entregue à Delegação da Junta Nacional do Vinho da Madeira para ser comercializado. O regime de protecção com preços tabelados de compra da cana deixou de existir a partir de 1920. A medida, não obstante garantir ao agricultor o escoamento da totalidade da produção, criava uma situação de subordinação ao engenho do Torreão. Antes de 1895 o lavrador tinha liberdade de mandar moer por sua conta a cana e fabricar açúcar que depois vendia, mas com as medidas proteccionistas passou a estar obrigado à venda da produção às fábricas matriculadas. Os resultados da política começaram no imediato a fazer-se sentir com o incremento da área de cana. A ilha, que em 1886 deixara de exportar açúcar passando mesmo a importá-lo, entrou no novo século satisfazendo as suas necessidades de açúcar e álcool e criando um excedente para exportação. Em 1907 saia o primeiro açúcar da ilha para o continente, usufruindo de privilégios fiscais. Acontece que dos engenhos existentes na ilha apenas se matricularam as fábricas de W. Hinton & Sons e de José Júlio de 17 18

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Diplomas Principaes que interessam ao Regímen Saccharino da Madeira, S.l., sd.; A questão Saccharina da Madeira, Lisboa, 1910; Ramos Taborda, “Regime Sacarino da Madeira”, in Diário de Notícias, 4 de Outubro de 1962. Ramos Taborda, “Regime Sacarino da Madeira”, in Diário de Notícias, 4 de Outubro de 1962.


Lemos. Isto iria dar azo a acesa polémica, quando em 1903 surgiu novo decreto que apenas as favoreceu. No ano imediato novo decreto consolida a situação, estabelecendo um contrato inalterável até 1919, o que permitiu algumas inovações tecnológicas. Entretanto em 1915 uma representação de cerca de 4000 proprietários e agricultores reclamava a favor da conservação do regímen sacarino. Isto justificava-se pela situação em que se encontrava a ilha: “A viticultura não pode readquirir a sua antiga prosperidade, pela decadencia dos preços dos vinhos, cuja exportação crescia pouquíssimo antes da guerra. A generalização das árvores de fructo ricas levaria longos annos e é praticamente impossível por falta de capitaes e de outros elementos e circumstancias que seriam essenciaes a uma transformação cultural dessa natureza. As plantações saccharinas, que representam grandes capitalisações e teem um alto valor, devem continuar necessariamente garantidas com as condições actuaes de existência”.19 Em 1927 outro grupo de 3.535 proprietários, agricultores e consumidores reclamavam a preservação do decreto nº.14.168, considerado medida salutar face aos anteriores diplomas de 1911 e 1919 que estabeleciam medidas restritivas ao fabrico de aguardente.20 Procurava-se travar o consumo exagerado de aguardente na Madeira, que por isso havia recebido o epíteto de ilha da aguardente. Durante a República e no Estado Novo a cultura da cana manteve-se lado a lado com a da vinha como uma preocupação permanente. Em 1935, numa carta que o Dr. Oliveira Salazar escreveu ao Presidente da Junta Geral, o Dr. João Abel de Freitas, é evidente a insistência na defesa da cultura. “O regime a executar deve ser o decretado em maio do ano findo. Foram feitas

Festa do fim da safra. Photographia Museu Vicentes

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Diplomas Principaes que interessam ao Regímen Saccharino da Madeira, S.l., sd, p. 316. Regime Sacarino da Madeira, Lisboa, 1928.

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muitas reclamações que examinei com cuidado; apenas duas me pareceram susceptíveis de deferimento e não ainda assim como era pedido: 1) como a Alfândega não poude fazer as comunicações a que a lei se referia sôbre a graduação da cana em certos locais, tenho trabalhado num decreto a publicar imediatamente em que se prorroga por mais um ano o regime transitório estabelecido para 34-35 no citado decreto; 2) no mesmo decreto se permite a renovação ou substituição dos canaviais até 60% dos pés substituídos e da área ocupada. Estão no relatório do decreto do ano findo as razões porque se não permite a substituição integral. Se o consumo do açúcar não aumentar temos de baixar de 15% a 20% a produção de cana, e ainda é preciso que esta seja tam rica como é êste ano, por causa da escassês das chuvas; 3) Os pedidos ou pretenções ou calculos dos industriais de aguardente não podem ser tomados em consideração. É preciso convencê-los desta verdade: fabricam um artigo que se não vende. Não é caso para qualquer indemnização por parte do Estado, nem para se consentir outra vez o envenenamento dessa gente, como era de antes”.21 Passados cinco anos o então Governador Civil José Nosolini evidencia, mais uma vez, o carácter artificial da economia açucareira. ”Esta produção foi-se mantendo, por um lado, mercê da exportação de assucar madeirense para o continente; por outro lado mercê do desvio de fabrico de assucar para o de aguardente.” Deste modo a política do Governo de controlo da produção de cana estava certa, uma vez que ”a cana sacarina a não ser em cultura muito restricta é perniciosa (…) Mas cana de assucar, vinhos, bordados serão por muito tempo intransponíveis montanhas de dificuldades para a acção governativa.”22

Engenho do Hinton. 2002

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1935. Maio. 23: resposta do Dr. Oliveira Salazar. in VIEIRA, Alberto (coordenação), A AUTONOMIA: História e documentos, Funchal, CEHA, 2001 (DVD). 1939. Novembro. 21: Carta do Governador Civil do distrito Autónomo do Funchal, José Nosolini Pinto Osório S. Leão, ao Ministro do Interior, in VIEIRA, Alberto (coordenação), A AUTONOMIA: História e documentos, Funchal, CEHA, 2001 (DVD).


Henry Manoury (engenheiro químico), León Naudet (engenheiro químico) e João Higino Ferraz (director técnico do Torreão) e o chefe de bateria. 1907. Arquivo particular de J. H. Ferraz Dentro do contexto da política proteccionista merece lugar de relevo o debate em torno da “questão Hinton”, que animou o meio político entre finais do século XIX e princípios do seguinte. Foi sem dúvida o problema que mais apaixonou a opinião pública, nas vésperas e durante a República. Publicaram-se inúmeros folhetos, os jornais encheram-se de opiniões contra e a favor23. O momento mais importante foi a polémica que em 1910 se ateou no Parlamento. Cesário Nunes24 documenta a situação de forma lapidar: “Em Portugal nenhuma questão económica atingiu tão alta preponderância e trouxe então grandes embaraços legislativos às entidades governativas como o problema sacarino da Madeira. “ Tudo começou em 23 de Março de 1879 com a inauguração da Companhia Fabril do Açúcar Madeirense. Era uma fábrica de destilação de aguardente e de fabrico de açúcar sita à Ribeira de S. João. Demarcou-se das demais com o recurso a tecnologia francesa, usufruindo dos inventos patenteados em 1875 pelo Visconde de Canavial. O cónego Feliciano João Teixeira25, sócio do empreendimento no discurso de inauguração afirma ser este um “grandioso monumento, que abre uma época verdadeiramente nova e grande na História da indústria fabril madeirense”. Isto foi apenas o princípio de um conflito industrial, onde imperou a lei do mais forte. Tal como o afirmava em 1879, no momento do encerramento, José Marciliano da Silveira26 “ a 23 24 25 26

A leitura dos jornais da época assim o evidencia. Veja-se por exemplo Francisco Canais Rocha, “Perfeito de Carvalho contra o monopólio Hinton”, in História, nº.144, 1991, pp.49-61; Emanuel Janes, in História do açúcar. Rotas e Mercados, Funchal, 2002, pp. 565-598. Politica sacarina, Funchal, 1940. Discurso pronunciado pelo conego Feliciano João Teixeira Presidente da Assembleia Geral da Cª Fabril de Assucar Madeirense no dia da inauguração do estabelecimento, 23 de Março de 1873, Funchal, 1873. A companhia fabril de assucar madeirense os seus credores o Athleta e o sr. Dr. João da Câmara Leme, Funchal, 1879.

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fábrica de são João foi cimentada com o veneno da maldade; era o seu fim dar cabo de todas as que existiam...”. A polémica ateou-se com o plágio por parte da família Hinton, da invenção do Visconde Canavial27, que havia patenteado em 1870 um invento que consistia em lançar água sobre o bagaço, o que propiciava um maior aproveitamento do suco da cana. Constava da patente o uso exclusivo pela fábrica de S. João, mas o engenho do Hinton cedo se apressou a copiar o sistema. Com isso o lesado moveu em 1884 uma acção civil contra o contrafactor. A família Hinton ficou para a História como a autora da inovação28, que como sabemos foi comum em vários espaços açucareiros. Em 1902 a fábrica Hinton experimentou um novo sistema para o fabrico de açúcar por intervenção de León Naudet, que ficou conhecido como sistema Hinton-Naudet, que consistia em submeter o bagaço a uma circulação forçada num aparelho de difusão, conseguindo-se um ganho de mais 17% e a maior pureza da guarapa, evitando as defecadoras29. Esta intervenção pioneira é sublinhada por inúmera bibliografia da especialidade30. O engenheiro León Naudet esteve no Torreão nos dias 21 e 22 de Junho de 1907 combinando com João Higino Ferraz a instalação do sistema de difusão, o triple-effet e a caldeira “freitag”. Todavia, a montagem do novo maquinismo começou apenas em meados de Setembro, após a conclusão da safra. Até 1909 o técnico do Hinton manteve correspondência assídua no sentido de esclarecer pormenores sobre a instalação dos diversos mecanismos. Na sequência disto João Higino Ferraz deslocouse a Paris para novo encontro com Naudet e visita a fábricas de açúcar de beterraba31. A viragem da centúria implicou com a situação sacarina da ilha. A conjuntura económica mundial pôs em causa as condições de privilégio conseguidas com a entrada do melaço, por força do aumento do preço e das diferenças cambiais da moeda. A “lei que tantos benefícios trouxe á Madeira”32, aguardava por renovação. A fábrica Hinton, para poder afirmar-se vai montar uma estratégia de aliciamento de políticos e uma campanha para limpar a imagem junto do público, através de textos e entrevistas publicados nos principais jornais do Funchal, como o Diário de Noticias, Diário da Madeira e Diário do Comércio. Paulatinamente estabelece-se uma teia de interesses que integra políticos locais e continentais, funcionários alfandegários e mesmo o próprio Governador Civil. Nesta estratégia a função de João Higino Ferraz foi fundamental, como a de Harry Hinton, em permanente rodopio entre o Funchal e Lisboa. A família Hinton conseguiu singrar na indústria açucareira a muito custo. A conjuntura política conturbada condicionou a capacidade de persuasão. A visita de El Rei D. Carlos à ilha em 1901 poderá ter sido um momento crucial33. As medidas, que favoreciam a entrada de melaço, estabelecidas pela lei de 1895, associadas ao decreto de 1903, determinavam a forma de matrícula das fábricas e as portas à concentração do sector. As condições eram de tal modo lesivas que só duas - Hinton e José Júlio Lemos - o conseguiram fazer. As cerca de meia centena de fábricas que existiam na ilha ficaram numa situação periclitante. O decreto de 1897 estabelecia normas de tal modo rígidas sobre a forma de construção de alambiques e fábricas de destilação e rectificação do álcool que apenas alguns podiam cumprir34. Em 1901 João Higino Ferraz lança o primeiro grito de alerta de crise para o sector em carta ao Visconde de Idanha. Aí dáse conta da perda dos privilégios e contrapartidas da importação do melaço da lei de 1895 e, por consequência a impossibilidade de manter os preços da cana pagos ao agricultor. A solução estava na diminuição do imposto de importação do melaço:”…tenho a certeza que a coadjuvação do meu bom amigo nos será muito util, e o seu nome não será esquecido n’este bocadinho da Patria.”35 Noutra carta de 8 de Outubro seguem novos artigos para a imprensa e importantes recomendações no sentido da defesa intransigente do decreto ora publicado: “...exerça toda a vigilancia para não apparecer cousa alguma contra as providencias em qualquer jornal, se for precisa qualquer despeza para isso é faze-la.(…) O decreto deve deixar bem toda a gente, mas no caso de haver alguem que por inveja ou qualquer outro motivo queira levantar difficuldades na imprensa ou fora della, combine com o Romano a melhor maneira practica, directa ou indirecta, de os calar até a minha chegada”36. 27 28 29 30 31 32 33

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Uma acção civil contra o sr. W. Hinton fabricante de assucar e aguardente na cidade do Funchal (ilha da Madeira)..., Funchal, 1884. W. Koebel, Madeira. Old and New, Londres, 1909, p.129; Eduardo Pereira, Ilhas de Zargo, vol. I (Funchal, 1989), pp.541-542. Eduardo Pereira, Ilhas de Zargo, vol. I (Funchal, 1989), pp. 541-542. Cf. International Sugar Journal, 1905; H. C. Prinsen Guerligs, Cane Sugar and its Manufacture, Londres, 1909, pp. 115, 117. João Higino Ferraz, Copiador de Cartas [1905-1913], fls. 53, 65-78. João Higino Ferraz, Copiador de Cartas [1898-1905], fls.44, 5 de Fevereiro de 1901. A chamada “questão Hinton” foi motivo de acesa polémica na sua época, de que resultou a publicação de inúmeros folhetos. Veja-se António Aragão de FREITAS, Madeira-investigação bibliográfica, Funchal, 1984, pp. 229-233; F. A. SILVA, “Hinton, questão”, in Elucidario Madeirense, vol. II, pp. 117118. Aqui apenas damos conta dos textos mais recentes: Miguel RODRIGUES, “A questão Hinton”, in História e Crítica, nº6, 1980, pp.15-27; Francisco Canais ROCHA, “Perfeito de Carvalho contra o monopólio Hinton”, in História, nº144, 1991, pp.49-61. Boletim Official da Administração Geral das Alfândegas e Contribuições Indirectas do ano de 1897, nº.15, Lisboa 1897, pp. 396-399. João Higino Ferraz, Copiador de cartas [1898-1905], fls. 44-48, 5 de Fevereiro. Arquivo Particular de João Higino Ferraz, carta avulsa, 8 de Outubro de 1903, de Harry Hinton.


Pessoal técnico da fábrica do Torreão em 24 Junho 1908. Arquivo particular de J.H. Ferraz Passados dois anos a casa Hinton apostava numa campanha na imprensa local, servindo-se do Diário de Noticias e Jornal do Comércio.37 Harry Hinton, em carta de 18 de Setembro, anunciou a publicação do novo decreto e recomendou a J. Higino Ferraz os textos e o telegrama ao Presidente do Concelho, que enviou também aos jornais38. Na carta é evidente uma certa familiaridade com o Ministro da Fazenda e a possibilidade de ter sido necessário mover algumas influências. A parte final da carta é compremetedora: “Falla com o Lemos e diga-lhe que é conveniente não abaixar por hora o preço do alcool, sem que 39 eu lá chegue. Tem havido despezas grandes com o decreto, e tenho certos compromissos em que elle tambem tem de entrar. No intervalo publicou-se a 18 de 3 Julho de 1903 a lei sobre o fabrico dos açúcares açorianos e teme-se maiores prejuízos, pelo que “é bom enquanto está ahi [Lisboa] ver bem essa lei não nos vá prejudicar.”40 A campanha na imprensa havia dado fruto, mas nada estava ainda garantido e outro percalço com a vistoria das autoridades à fábrica, implicava todo o cuidado, “porque mudando o governo a lei que regula pode-nos ser bastante prejudicial quanto ao pagamento da contribuição industrial.”41 Por outro lado temia-se a matrícula de novas fábricas. A situação estava tensa entre os vários industriais42. A lei de 24 de Novembro de 1904 dava a machadada final ao estabelecer a referida matrícula por 15 anos. Entretanto, caiu a monarquia e sucedeu a República, que parecia querer fazer ouvidos moucos às regalias conquistadas no anterior regime. Mas rapidamente tudo se recompôs. As dificuldades do comércio do vinho repercutiam-se no sector com a diminuição do consumo de álcool, a principal contrapartida das fábricas matriculadas. Em Outubro de 1905 Batalha Reis visitou a fábrica Hinton e teceu os melhores elogios ao álcool aí produzido, mas insistiu na necessidade de introdução dos vinhos de Portugal, o que não agradou aos planos dos anfitriões.43 37 38

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João Higino Ferraz, Copiador de cartas [1898-1905], fls. 203-204, 29 de Agosto e 5 de Outubro. O texto intitulado “Providências Governativas” para ser publicado no Diário de Notícias, o “Novo regimen economico” para o Diário do Comércio e “Noticia importante” para o Diário Popular. Aí dava indicações sobre a forma de publicação: “O telegrama deve ser publicado em grosso e vivo normando no logar marcado a tinta vermelha em cada artigo”. Juntam-se ainda mais artigos para O Popular, O Commercio. João Higino Ferraz, documento avulso, de 18 de Setembro de 1903. João Higino Ferraz, Copiador de cartas [1898-1905], fls. 97, 24 de Julho de 1903. João Higino Ferraz, Copiador de cartas [1898-1905], fls. 104, 5 Setembro de 1903. João Higino Ferraz, Copiador de cartas [1898-1905], fls.110, 118, 9 de Outubro e 16 de Novembro de 1903. João Higino Ferraz, Copiador de cartas [1898-1905], fls. 190-193, 9 e 16 de Outubro de 1905.

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A primeira década da centúria foi fundamental para a consolidação do engenho do Torreão. Entre 1898 e 1907 tivemos investimentos avultados na modernização do engenho do Torreão que obrigaram uma investida junto do poder central no sentido de garantir as regalias para poder-se rentabilizar o investimento44. Em Janeiro de 1907 Harry Hinton estava em Lisboa a jogar a última cartada: “ ou João Franco attende ao seu pedido justo e que interessa bastante e a toda a Madeira agricula, ou não attende, e nesse caso não posso prever quais as consequências desastrosas de sua maneira de ver.”45

A questão Hinton e a imprensa humorística. A República não terá sido muito favorável aos objectivos da família Hinton. O ambiente parece que era de tensão, pois segundo J. Higino Ferraz: “o senhor Hinton disse-me que em nada pode influir em Lisboa junto do governo sobre questões d’assucar, porque o nome Hinton é sempre visto com maus olhos.”46. Todavia, pelos decretos de 1911 e 1913 conseguiu-se segurar o monopólio do fabrico do açúcar e regalias na importação de açúcar das colónias. Em 1914 reclamava uma indemnização ao Estado pelo facto de ter sido aumentado o açúcar bonificado das colónias que entravam no continente. A resposta veio por parte dos competidores47. Em 1917 parece que os ânimos haviam serenado e tudo estava bem encaminhado, apostando-se numa nova fábrica. A demanda de álcool prenunciava um período de prosperidade48. A prorrogação do contrato nas mesmas condições era de toda a 44

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Não sabemos o valor do investimento, mas pela estimativa de Naudet para a Fabrica de Lemos em 1909 podemos ficar com uma ideia. A renovação desta unidade industrial custaria 101.850 francos, o equivalente a 20.370$000 reis. [Idem, Livro de notas sobre fabricação de’assucar e alcool, e tabellas de calculos de João Higino Ferraz, p. 182]. Idem, Copiador de cartas [1905-1913], fl.34. Idem, Ibidem, fl.126, 6 de Setembro de 1911. A Nova Questão Hinton. Resposta das Empresas Açucareiras da África Portugueza ao folheto da firma W. Hinton & Sons, Lisboa, 1915. João Higino Ferraz, [Copiador de cartas. 1917-1919], 4 e 6 de Julho de 1918.


conveniência. Apenas os distúrbios políticos poderiam fazer perigar a situação de privilégio49. Estava-se em período de revisão da lei e referia-se até a possibilidade de vinda ao Funchal do Ministro da Agricultura, situação considerada má para o Hinton, pois como refere J. H. Ferraz: ”Não tenho confiança alguma nestes nossos amigos de cá, e temos como sabe, fartura de inimigos.”50. A 31 de Dezembro de 1918 acabava a situação de favorecimento estabelecida por quinze anos. Entretanto só a 9 de Abril do ano seguinte o Governo interveio, tornando livre a “faculdade de laboração da cana sacarina com destino à produção de açúcar”. O decreto de 2 de Maio define uma nova realidade. Assim, para além da liberalização da produção de açúcar e da isenção de direitos alfandegários de maquinaria para novos ou reforma dos engenhos existentes, estabeleceu-se uma nova política agrícola promovendo-se a substituição dos canaviais pela vinha. A situação não fez perigar a posição hegemónica da Casa Hinton que se mantinha confortavelmente como o único produtor de açúcar. Com o Estado Novo as medidas resultantes dos decretos nº. 14.168, 15.429, 15.831, 16.083 e 16.084 (1928), embora restritivas dos antigos privilégios, favoreceram o Hinton quando impediram a instalação de novas fábricas e determinam o fecho de algumas em funcionamento. O ano de 1928 foi fulcral para a afirmação da estratégia hegemónica. Desde 1927 que se mediam forças entre os chamados “aguardenteiros” e a casa Hinton51. Harry Hinton em Lisboa recomenda nova campanha na imprensa, valorizando as iniciativas modernizadoras empreendidas pelo engenho52. A entrevista de João Higino Ferraz ao Diário da Madeira de Reis Gomes enquadra-se na estratégia. Tal como refere o entrevistado em carta a H. Hinton53 “o meu principal fim foi provar que somente Torreão pode moer toda a cana mesmo no maximo em 3 mezes. (…) Falei sobre as modificações importantes na fabrica do Torreão, mas sem dizer que era para augmentar a capacidade, mas somente para abreviar o trabalho e produzir melhor. Se falassemos em augmento de capacidade, os nossos inimigos teriam um pé para dizer que o Torreão não estava habilitado a fazer a Laboração do maximo o que so agora é que queria estar n’essas condições, o que não é verdade segundo, verá pela entrevista.”

Engenho do Hinton. Photographia Museu Vicentes 49 50 51 52 53

João Higino Ferraz, [Copiador de cartas. 1917-1919], 26 de Maio de 1917. João Higino Ferraz, [Copiador de cartas. 1917-1919], fl.62-68, 4 e 6 de Junho de 1918. João Higino Ferraz, [Copiador de cartas. 1927-1929], 11 de Outubro de 1927. Arquivo Particular de João Higino Ferraz, carta avulsa de Harry Hinton, de 12 de Outubro de 1927. João Higino Ferraz, [Copiador de cartas. 1927-1929], 26 de Outubro de 1927

25 Engenho do Hinton. Photographia Museu Vicentes


Entretanto o Governador Civil mantem-se atento à disputa, ouvindo os interesses dos “aguardenteiros”, procurando reunir apoios, como o de Manuel Pestana Reis, no sentido de apresentar uma proposta de mudança da lei54. A isto juntava-se a campanha de Henrique Figueira da Silva55. Os adeptos da causa Hinton vão diminuindo, mantendo-se apenas António Pinto Correia56. Apenas o decreto 14.168 trouxe algum alívio, pois que tudo “ficará…mais seguro”57, mas continuava ainda a ser considerada como a “maldita nova lei saccarina”.58 Harry Hinton, em 1929 sente-se cansando e aborrecido com todas as contrariedades que lhe acarretam o engenho, fruto do enfrentamento constante com interesses adversos na ilha dos demais industriais e as mudanças da conjuntura politica. A intenção parecia ser a venda da fábrica, mas certamente a pressão do amigo João Higino Ferraz contribuiu para mudar de opinião. A carta que escreveu a Georges Lefebvre, em França, é bastante expresiva: “il est riche et peut repouser…Et moi…”59 Quirino de Jesus [1865-1935], que em momentos anteriores fora um poderoso aliado na estratégia do Hinton surge em finais da década de vinte como um traidor “que não tem outro fim senão vingar-se do Senhor Hinton”60. Algo se passara que nos escapa, pois em principios do século havia sido um aliado destacado61. O causídico defendera os interesses da empresa, mas rapidamente mudou de opinião, como se constata da correspondência de João Higino Ferraz e do que nos diz o Padre Fernando Augusto da Silva: “De acérrimo e entusiático defensor do regime sacarino, como advogado e publicista, do regime sacarino, tornou-se a breve trecho, com igual ardor e convicção, um inimigo declarado do mesmo regime.”62 Em 1969, a família Hinton informou o governo da intenção de encerrar a fábrica, acabando com o fabrico de álcool e açúcar que não eram rentáveis. Perante isto o governo, através da Direcção-Geral das Alfândegas comprometeu-se a compensar as perdas. O relatório sobre a situação em 1972 aponta o facto de a indústria se encontrar num beco sem saída, pois a “substituição não pode justificar-se dada a ausência de uma rentabilidade previsível no fabrico do açúcar.”63 E conclui-se: “É excepcionalmente raro, que nos anos 70 uma fábrica de açúcar com uma capacidade de produção inferior a 20.000 toneladas anuais, tenha possibilidade de ser razoavelmente rentável e muitos poucos investidores de novos projectos de fábrica considerarão hoje em dia o estabelecimento de fábricas com uma capacidade inferior Quirino de Jesus [1865-1935] a 50.000 toneladas.”64 Photographia Museu Vicentes 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64

João Higino Ferraz, [Copiador de cartas. 1927-1929], 7 e 9 de Novembro de 1927. João Higino Ferraz, [Copiador de cartas. 1927-1929], 27 de Março, 11 de Abril de 1928. João Higino Ferraz, [Copiador de cartas. 1927-1929], 2 de Dezembro de 1927. João Higino Ferraz, [Copiador de cartas. 1927-1929], 11 de Abril de 1928. João Higino Ferraz, [Copiador de cartas. 1927-1929], 17 de Dezembro de 1928. João Higino Ferraz, [Copiador de cartas. 1927-1929], 10 de Julho de 1929. João Higino Ferraz, [Copiador de cartas. 1927-1929], 11 de Outubro, 2 de Dezembro de 1927. João Higino Ferraz, Copiador de cartas [1898-1905], fls. 44-48, 120, 174, 5 de Fevereiro, 23 de Novembro de 1901, 26 de Junho de 1905 Elucidário Madeirense, vol. II (1965), p.181. Cf. Estudos de Quirino de Jesus: A Questão Hinton, Lisboa, 1915, A Nova Questão Hinton, Lisboa, 1915. Relatório sobre as Industrias de Açúcar e Álcool da Madeira, Lisboa, 1972, p. 86. Ibidem, p. 87

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Fรกbrica de S. Filipe. Photographia Museu Vicentes

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Frota de albions para transporte da cana ao engenho do Hinton. Photographia Museu Vicentes

O HINTON E A INDÚSTRIA DO AÇÚCAR E DO ALCOOL

O engenho do Hinton, consolidada a posição dominadora do mercado local, manteve-se como a referência da cultura da cana-de-açúcar até que em 1985 agonizou em definitivo o império do açúcar do Hinton. Para alguns tudo foi construído com pés de barro, sustentado por favores políticos, mantendo-se a hegemonia à custa da exploração dos lavradores de cana65. Durante todo o século XX a fábrica Hinton foi uma referência da cidade e da vida de quase todos os agricultores madeirenses que apostaram na cultura da cana como meio para angariar uns magros tostões. A posição de favorecimento que mereceu, desde a Monarquia ao Estado Novo, alimentou inimizades, debates na imprensa e a reprovação de alguns sectores da sociedade. A família Hinton estabeleceu uma estratégia de domínio da indústria açucareira e do álcool, através de uma aposta permanente na inovação tecnológica capaz de esmagar todos os concorrentes, cujos engenhos a pouco a pouco foram sendo adquiridos e desmantelados. O século XX foi o momento da plena afirmação. Em 1898 montaram-se dois difusores, seguindose o centrifugador e as turbinas em 1901, para no ano seguinte se montarem quatro difusores. Em 1904 e 1905 apostou-se no

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28

A questão não é consensual ao nível historiográfico. Veja-se Miguel Rodrigues, “A Questão Hinton”, in História e Crítica, 6 (1980), pp.15-27; Benedita Câmara, “A concentração Industrial do Sector do Açúcar Madeirense. 1900-1918”, in História e Tecnologia do açúcar, Funchal, 2000, pp. 419-422.


sistema Naudet. Para os anos de 1906 e 1907 mudou-se o aparelho de triple effet, a caldeira de vácuo e o melaxeur. De acordo com dados de 1907 o engenho moía cerca de 1/3 da cana da ilha, ficando a restante para os restantes 47 engenhos. Na altura empregava 230 trabalhadores tendo ao serviço 10 geradores a vapor Babcook & Wilcox, tendo a maior potência em uso na ilha. Apenas o de José Júlio de Lemos se podia aproximar, mas a longa distância66. A capacidade de laboração da fábrica aumentou nos anos seguintes fruto dos favores estabelecidos. Tivemos novas montagens de equipamentos em 1910. Passados sete anos um incêndio obrigou a novo equipamento de destilação, que em 1924 necessitava ser aumentado para corresponder à demanda do produto. Harry Hinton, não satisfeito com o aumento da unidade industrial, actuou no sentido da neutralização das demais através da compra ou arrendamento. Primeiro adquiriu a antiga fábrica de Severiano Ferraz na Ponte Nova e de outras adquiriu os mecanismos mais importantes. No caso da de José Júlio de Lemos estabeleceu um contrato de arrendamento de 25 contos anuais, que perdurou até 1919. A necessidade de afirmação levou-o a apostar na renovação tecnológica do engenho do Torreão, sob a superintendência de João Higino Ferraz. As reformas iniciaram-se em Dezembro de 1900 com a montagem de cilindros, peças centrífugas e filtros mecânicos de Manoury67. Para os anos imediatos reservou-se a montagem das turbinas Weston68, dos difusores69, da caldeira de vapor70. A sociedade que estabeleceu em 1905 com W. R. Bardsley deve ter favorecido a arrancada definitiva para a hegemonia tecnológica. O aperfeiçoamento tecnológico favoreceu a posição concorrencial da fábrica em relação às demais. Os percalços, como a explosão de uma caldeira em 1928, não travaram o avanço. Em 1929, estando já em pleno funcionamento o sistema HintonNaudet, a diferença era abismal. Assim, enquanto a Companhia Nova só podia laborar 100 toneladas de cana em 24 horas a fábrica do torreão atingia as 500 toneladas, para conseguir-se em 1920 as 608 toneladas. As medidas de 1939, que conduziram ao encerramento de 48 fábricas de aguardente em toda a ilha, favoreceram a tendência monopolística da safra da cana sacarina. Alguns dados da laboração do engenho revelam a dominação a partir de 1907. PRODUÇÃO E MOENDA DA CANA NA MADEIRA (em toneladas) Ano.......Fábrica Torreão........Total 1903 ................7.570 1904 ................7.153 ...........30.000 1905 ................8.169 ...........43.418 1906 ..............13.450 ...........36.000 1907 ..............21.855 ...........36.000 1908 ..............24.168 ...........30.000 1909 ..............32.582 1910 ..............35.633 ...........75.000 1911 ..............39.970 1912 ..............48.359 ...........71.266 1913 ..............50.860 ...........68.999 1914 ..............54.520 ...........69.065 1915 ..............57.000 ...........67.464 1916 ..............51.500 1917 ..............35.300 1918 ..............26.400

66 67 68 69 70

Victorino José dos Santos, “Relatorio dos Serviços da Secção Technicos de Industria no Funchal no anno de 1907”, in Boletim do Trabalho Industrial, nº. 24, 1909. João Higino Ferraz, Copiador de Cartas [1898-1905], fl.40, 29 de Dezembro. Ibidem, fl.77, 7 de Dezembro de 1901. Ibidem, fl.85, 14 de Setembro de 1902. Ibidem, fl.127, 25 Julho de 1904.

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Ao mesmo tempo o fabrico de açúcar foi em crescendo de qualidade, como o evidencia insistentemente João Higino Ferraz. Os dados resultantes dos primeiros anos do século XX são comprovativos: PRODUÇÃO EM AÇÚCAR (em quilogramas) Tipo de açúcar 1900 1901 1902 1903 Açúcar 1º jet 4938 5631 6770 6630 2º jet 1852 1497 413 960 3º jet 326 504 Açúcar de melaço Álcool 1373 1375 2472 2640 Petit jus 1539 1539 317 Açúcar de melaço 10.028 10.546 9.972 10.230 Fonte: João Higino Ferraz, Copiador de Cartas [1898-1905], fl.107.

Incêndio no engenho do Hinton.1917

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Em 25 de Novembro de 1917 um curto-circuito nos fios da luz eléctrica esteve na origem da destruição do sistema de destilação, o que obrigou ao uso de outros destiladores até que em Outubro do ano seguinte estivesse operacional71. Mas isto não fez perigar a tendência monopolística do engenho do Torreão, como se poderá verificar pela laboração do Sul em 1929: Engenho Torreão S. Filipe Companhia Nova Total

Moenda de cana Produção de açúcar em toneladas em toneladas 20.000 1.900 7.500 578 1.000 28.500 2.478

Produção de álcool em hectolitros 300.000 93.000 74.000 487.000

A questão Hinton é uma constante desde finais do século XIX e não passa ignorada mesmo pelos estrangeiros. Já em 1882 J. Rendell72 refere que o engenho era o mais importante. Em 1894 C. Gordon é peremptório: “…the great bulk of the sugar industry of the island is in the hands of one english firm”73. Já W. Koebel, em 1909, não hesita em afirmar que a industria açucareira está dependente do monopólio da firma Hinton74. Em 1927 o Marquês de Jácome Correia testemunha o facto de a fábrica do Torreão ter “a fama de ser uma fábrica modelar”, pelos seus “complexos mecanismos, a organização fabril e a importância da produção”.75 Também o Padre Fernando Augusto da Silva não se poupa em elogios à acção empreendedora da família que criou “a fabrica mais aperfeiçoada do mundo”.76 A alma do complexo industrial açucareiro da família Hinton, a partir de 1898, era João Higino Ferraz, que assumiu as funções de gerente do engenho, sendo um dos colaboradores directos de Harry Hinton. A sintonia e empenho de ambos fizeram com que a ilha apresentasse entre finais da centúria oitocentista e inícios da seguinte uma posição destacada no sector, atraindo as atenções a nível mundial. João Higino Ferraz afirma-se como o perfeito conhecedor da realidade científica do engenho. Opina sobre agronomia, como sobre mecânica e química. E mantém-se sempre actualizado sobre as inovações e experiências na Europa, nomeadamente em França. Da lista de contactos e conhecimentos fazem parte personalidades destacadas do mundo da química e mecânica, com estudos publicados. Assim, para além dos contactos assíduos com Naudet, refere-nos com assiduidade os estudos de Maxime Buisson, M. E. Barbet, M. Saillard, F. Dobler, M. D. Sidersky, Luiz de Castilho, M. H. Bochet, M. Effort, M. Gaulet O Hinton acolhe especialistas de todo o mundo, na condição de visitantes, ou como contratados para a execução dos trabalhos especializados. O engenheiro Charles Henry Marsden foi um deles e sabemos que aí trabalhou entre 1902 e 1937, altura em que saiu doente para Londres onde faleceu no ano imediato. A presença está documentada pelo menos entre 1918, 1929 e 1931. Temos também o engenheiro químico agrícola Maxime Buisson, que em 1902 trabalhava no laboratório77. Para o fabrico de açúcar contratava-se os afamados “cuiseurs” em França de forma a seguir-se à risca as orientações de Naudet.78 M. Frederique, que já havia trabalhado na Martinica, “sabe bem do seu officio é muito cuidadoso no seu trabalho; é sóbrio e delicado”79, o que contribuiu para uma safra excepcional. Noutras ocasiões o serviço foi um desastre, como sucedeu em 1930, quando Marinho de Nóbrega era o químico oficial do engenho80. Para os anos vinte e quarenta do século XX a voz pública de reprovação ao favorecimento, dito monopólio, teve expressão frequente no jornal humorístico RE-NHAU-NHAU. A figura de Harry Hinton e apaniguados é o alvo do intrépido desenhista, que pretende dar voz ao “Zé Povo”81.

71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81

Vasco F. Campos e Alberto Malho, O Bombeiro Madeirense e a sua História, Funchal, 1963, pp. 65-66; Cf. João Higino Ferraz, [Copiador de Cartas 1917-1919], fl. 26, 2 de Outubro de 1917. Concise Handbook of the Island of Madeira, Londres, 1882, p. 33. The flower of the Ocean, Londres, 1894, p. 92 Madeira. Old and New, Londres, 1909, p. 128 A Ilha da Madeira, Coimbra, 1927, p. 98 Elucidário Madeirense, vol. II, Funchal, 1965, p.117 João Higino Ferraz, Copiador de Ccartas [1898-1905], fls.89-90, 22 de Setembro de 1902. João Higino Ferraz, Copiador de Cartas [1898-1905], fl.137, 22 de Agosto de 1904. João Higino Ferraz, Copiador de Cartas [1898-1905], fl.145, 29 de Agosto de 1904. João Higino Ferraz, [Copiador de Cartas. 1929-1930], 10 de Junho de 1930. Emanuel Janes, “A Casa Hinton, o Açúcar e o RE-NHAU-NHAU (1929-1977)”, in História do Açúcar. Rotas e Mercados, Funchal, 2002, pp. 565-598

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Livros de Notas. Arquivo Particular de J. H. Ferraz

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A IMPORTÂNCIA DO ACERVO DOCUMENTAL DE JOÃO HIGINO FERRAZ

O arquivo do engenho do Hinton, por força das circunstâncias atrás descritas, é fundamental para o conhecimento da história contemporânea da agricultura madeirense. Todavia a forma conturbada como sucedeu o processo de desmantelamento da estrutura para a construção de um jardim público conduziu a que toda esta memória desaparecesse. Felizmente tivemos a possibilidade de encontrar alguns testemunhos avulsos no arquivo particular de João Higino Ferraz (1863-1946), que aí trabalhou como técnico desde finais do século XIX e acompanhou o processo de montagem do engenho do Torreão82. A documentação disponível, copiadores de cartas, livros de notas e apontamentos, são um dado raro na História da Técnica e da Indústria. Não se conhecem casos idênticos de livros de apontamentos em que o técnico documenta, quase minuto a minuto, o que sucede na fábrica, desde os percalços do quotidiano às questões técnicas e laboratoriais. E, se tivermos em conta que a mesma documentação abrange um período nevrálgico da História de Indústria Açucareira, marcada por permanentes inovações no domínio da metalomecânica e química, teremos definida a importância deste tipo de espólio, que mais se valoriza pelo facto de ser o único até hoje divulgado e conhecido. Tenha-se em conta que através destes documentos sabemos quase tudo o que se fazia na fábrica em termos de mudanças de equipamento: EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS DO ENGENHO DO HINTON 1898 Montagem de dois novos difusores e sistema de corte de cana para a safra do ano seguinte 1900 Aparelhos de difusão de que João Higino Ferraz tinha os direitos Filtros Manoury 1901 Centrifugas e Turbinas Weston 1902 Montagem de 4 difusores 1905 Valdeira vapor Babcock 1906 Mudança do aparelho de triple-effet Novo processo de destilação directa da cana 1907 Instalação da cadeira de vácuo e melaxeurs Turbinas Weston e engenho Harvey & Cº 1910 Alterações no equipamento no sentido de aumentar a capacidade de produção para 500 toneladas 1911 Aparelhos Kestner para açúcar areado e filtros seits. 1917 Montagem de novo aparelho de destilação, perdido num incêndio. 1929 Sistema Hinton-Naudet modificado 1939 Montagem de aparelho de quadruple effet por H. Marsden 82

Graças à disponibilidade da família tivemos acesso ao seu arquivo pessoal, onde fomos encontrar vários copiadores de cartas (são nove livros) sobre a actividade no engenho, que compreende os anos de 1898 a 1937. Todavia trabalhou no engenho entre 1898 e 1946.

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O conjunto de 9 livros referentes às cartas abarca um período crucial da vida do engenho do Hinton [1898-1937], marcado por profundas alterações na estrutura industrial, por força das inovações que iam acontecendo. A partir deste acervo de cartas é possível saber tudo isso, mas também induzir algo mais sobre o funcionamento desta estrutura. Ao mesmo tempo ficamos a saber que João Higino Ferraz era em Portugal uma autoridade na matéria, prestando informações a todos os que pretendessem montar uma infra-estrutura semelhante. Assim, em 1928 acompanhou a montagem do engenho Cassequel em Lobito, onde a família Hinton tinha interesses, e esteve em Junho de 1930 em Ponta Delgada nos Açores a ensinar a fermentar melaço na Fábrica de Santa Clara de açúcar de beterraba. Harry Hinton surge em quase toda a documentação como um interveniente activo no processo, conhecedor das inovações tecnológicas e preocupado com o funcionamento diário do engenho, nomeadamente com a sua rentabilidade. E, certamente que J. H. Ferraz não o ludibriava no sentido de que de uma forma quase diária informava de tudo o que se passava. A proximidade do Funchal aos grandes centros de decisão e de inovação tecnológica da produção de açúcar a partir de beterraba, na França e Alemanha, associados aos contactos de H. Hinton e ao seu espírito empreendedor fizeram com que a Madeira estivesse na primeira linha da utilização da nova tecnologia. Em 1911 documentam-se diversas experiências com equipamento. Além disso funcionava como espaço de adaptação da tecnologia de fabrico de açúcar a partir da beterraba para a cana sacarina. Daí as diversas deslocações de J. H. Ferraz a França [1904, 1909] e os permanentes contactos com alguns estudiosos e fábricas. Tenha-se em conta que o mesmo era sócio de l’Association des Chimistes em França, sendo por isso leitor assíduo do seu Bulletin83. Por outro lado alguns inventores, Naudet (em 1904), e engenheiros de diversas unidades na América (Brasil e Tucuman), Austrália e África do Sul estavam em contacto com a realidade madeirense ou faziam deslocações para estudar o caso do engenho madeirense. A erudição de J. H. Ferraz era vasta, dominando toda a informação que surgia sobre aspectos relacionados com o processo industrial e químico do fabrico do açúcar. Para além da leitura do Bulletin de l’Association des Chimistes, temos referências à leitura do Journal des Fabricants de Sucre, podemos documentar na sua biblioteca a existência de diversos livros da especialidade, muitos deles referenciados nos livros de notas ou cartas. Aliás, é insistente, nas cartas que manda a Harry Hinton no estrangeiro, o pedido de publicações recentes. Do conjunto das publicações disponíveis ainda hoje no acervo bibliográfico podemos salientar as seguintes: 1. BASSET, N., Guide du Planteur de Cannes. Traité Théorique et Pratique de la Culture de la Canne a Sucre, Paris, Challamel et C, Éditeurs, 1889. 2. IDEM, Guide Pratique du Fabricant de Sucre, Paris, Librairie Scientifique Industrielle et Agricole, 1861. 3. IDEM, Guide Théorique et Pratique du Fabricant d` Alccols et du Distillateur, Première Partie – Alcoolisation, Paris, Librairie Scientifique, Industrielle et Agricole, 1868. 4. BEAUDET, L., PELLET, H., Traité de la Fabrication du Sucre de Betterave et de Canne, tomo I, Paris, J. Fritsch Éditeur, 1894. 5. BOULLANGER, E., Encyclopédie Agricole. Matérie de Brasserie I, Paris, Librairie J. – B. Baillière et Fils, 1921. 6. BUCHELER, Le D.r M., Manuel De Distillerie. Guide Pratique pour l`Alcoolisation Des Grains, Des Pommes de Terre et Des Matières Sucrées, Paris, Librairie Polytechnique, Ch. Béranger Éditeur, 1899. 7. IDEM, LÉGIER, Émile, Traité de la Fabrication de L` Alcool, Tome I e II, Paris, Librairie Scientifique et Industrielle, 1899. 8. Bulletin de l’Association des Chimistes de Sucrerie et de Disttillerie de France et des Colonies, Tome XVIII, 1900-1901, Paris, siège Social 156, Boulevard Magenta 156 9. Bulletin de l’Association des Chimistes de Sucrerie et de Disttillerie de France et des Colonies,Tome XXIX, 1911-1912, Paris, Siège Social 156, Boulevard Magenta 156. 10. CHAPTAL, Citoyen, L`Art de Faire, Gouverner et Perfectionner Les Vins, s.d. 11. COLSON, Léon, Culture et Industrie de la Canne a Sucre aux Iles Hawai et a la Réunion, Paris, Augustin Challamel, Éditeur, 1905. 12. DEJONGHE, Gaston, Traite Complet théorique et Pratique de la Fabrication de l` Alcool et des levures, Tome III, Lille, Typographique et Lithographique le Bigot Frères, 1903.

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Nas cartas e livros de notas são referenciados os volumes de 1903, 1906-7, 1915-16, 1917-18, 1923-24, 1932, de que encontramos ainda hoje alguns volumes no espólio da sua biblioteca.


Literatura técnica e científica. Espólio de João Higinio Ferraz 13. DEJONGHE, Gaston, Traite Complet théorique et Pratique de la Fabrication de l` Alcool et des levures, Tome II, Lille, Typographique et Lithographique le Bigot Frères, 1901. 14. DUBRUNFAUT, M., Traité Complet de L` Art de la Distillation, Tome second, Paris, Bachelier, Libraire, 1824. 15. DUJARDIN, J., Notice sur les Instruments de Prècision appliqués a l` genologie, cinquième édition, Paris, Chez les Auteurs. 16. EVANS, W., The Sugar-Planter`s Manual Being a Treatise on the Art of Obtaining Sugar From the Sugar-Cane, London, Longman, Brown, Green, And Longmans, 1847. 17. GEERLIGS, H C. Prinsen, Tratado de la Fabricación del Azúcar de Caña y su Comprobación Química, Amsterdam, J. H. De Bussy, 1910. 18. GROBERT, J. de, LABBÉ, G., MANOURY, H., VRESE, O. de, Traité de la Fabrication du Sucre de Betteraves et de Cannes, Tome Second, Paris, Self-Édition Technique, 1913. 19. GUYOT, Jules, Culture de La Vigne et Vinification, Paris, 1910. 20. HORSIN-DÉON, Paul, Traité Théorique et Pratique de la Fabrication du Sucre de Betterave, Premier Volume, Paris, E. Bernard et Cie, Imprimeurs-Editeurs, 1900. 21. HORSIN-DÉON, Paul, Traité Théorique et Pratique de la Fabrication du Sucre de Betterave, Deuxième Volume, Paris, E. Bernard et Cie, Imprimeurs-Editeurs, 1900. 22. JACQUEMIN, Georges, Production Rationnelle et Conservation des Vins, Nancy, A Malzéville, 1909. 23. JULIEN, C. E., LORENTZ, E., Manuels - Roret. Nouveau manuel Complet du Filateur ou Description des Méthodes Anciennes et Nouvelles Employées pour la conversion en fils des cinq matières organiques, filamenteuses et textiles, Paris, La Librairie Encyclopédique de Roret, 1843. 24. Le Génie Industriel, Janvier 1869, n.º 217, T. XXXVII, Janvier 1870, n.º 229, T. XXXIX. 25. MAERCKER, Max Doct., Traité de la Fabrication de L` Alcool, Tome I e II, Lille, Imprimerie L. Danel, 1889. 26. MALVEZIN, Frantz, Bordeaux. Histoire de la Vigne et du Vin en Aquitaine, Bordeaux, Imprimerie Gabriel Delmas, 1919. 27. NORMAND, L. Séb. le, L`Art Du Distillateur Des Eaux-de-Vie et Des Espirits, Tomo II; Paris, Chez Chaignieau Ainé, imprimeur-libraire, 1817.

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28. PARMENTIER, M., L`Art de Faire les Eaux-De-Vie, d`après la Doctrine de M. Chaptal. Suivi de L`Art de faire Vinaigres simples et composés, Paris, Libraire de la Faculté de Médicine et des Hospices, 1819. 29. PAYEN, A., Précis de Chimie Industrielle, Paris, Librairie de L. Hachette, 1867. 30. PÉCLET, E., Traité de la Chaleur Considérée dans ses applications, troisième edition, Paris, Librairie de Victor Masson, MDCCLX. 31. ROBINET, Edouard, Manuel Général Des Vins Champagnes Vins Mousseux, sixième édition, Paris, Librairie Bernard Tignol, [s.d.]. 32. ROUX, J. Paul, La Fabrication de L` Alcool. Production du Rhum, Paris, G. Masson Éditeur, 1884. 33. STAMMER, Charles, Traité Complet Théorique et Pratique de la Fabrication du Sucre, Guide du Fabricant, s.d. 34. Tables de corrections alcoométriques ou de richesse en alcool par dixiémes de decré, Paris, s.d. 35. The Sugar Cane, n.º 66, 107 e 131. 36. Traitements des Vins Nouveaux. Opérations d`Automne et d`Hiver, Troisième partie, deuxiéme volume 37. URBAN, Karel, Anomalies Dans la Fabrication du Sucre, Paris, édite par «La Betterave et les Industries agricoles»,1933. 38. VIOLLETTE, M. Charles, Dosage du sucre. Au moyen des liqueurs titrées, Paris, Gauthier-Villars, 1868. 39. WEINMANN, J., Manuel du Travail des Vins Mousseux description des procédés techniques et pratiques usités en champagne, quatrième édition, Paris, Charles Amat Libraire-Éditeur, [s.d.]. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS NOS COPIADORES DE CARTAS. PÁGINA 56 56 236 244 256 256 256 331 341 341 370 378 383 386 388

PUBLICAÇÃO jornal “La Biére” 1º anno nº 10, ou “L’alcool et le sucre” 2º anno nº 5 tratado de M. Fernbach livre traitant la fabrication de la Biére moderne et pratique livres de Boullanger (Brasserie); deux volumes de Boullanger (Brasserie) le Bulletin de l’Association des Chimistes L’Oenophile (sur les vins) l’Oenophile Journal des Fabricantes de Sucre Nº 28 de 13 Julho Jornal des Fabricants de Sucre artigos do Jornal des fabricantes de Sucre de Setembro, que tem uns artigos sobre Java Bulletin de l’Association des Chimistes de Junho proximo passado International Sugar Journal de Junho 1931 pag 294 Prinsen Geerligs84 no seu tratado de fabricação do assucar de cana (1910) a pag. 106 Prinsen Geerligs85 no seu tratado sobre assucar de cana (1910) pag. 106 e seguintes e pag. 119 Ver tratado de Geerligs pag 119) (tradução Espanhola)

84. GEERLIGS, H C. Prinsen, Tratado de la Fabricación del Azúcar de Caña y su Comprobación Química, Amsterdam, J. H. De Bussy, 1910. 85 Ibidem.

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João Higino Ferraz. Arquivo particular da Família de J. H. Ferraz

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JOÃO HIGINO FERRAZ [1863-1946]

É filho de João Higino Ferraz e neto de Severiano Alberto Ferraz, o primeiro a construir um engenho a vapor na ilha da Madeira, no ano de 1856. Nasceu no Funchal a 1863. Foi na fábrica do tio que travou contacto com o mundo do açúcar. A fábrica da família da Ponte Nova terá sido estabelecida entre 1848 e 1856. À morte do promotor, por “cólera morbus” em 1856, os descendentes—João Higino Ferraz (pai), Severiano Alberto Ferraz e Ricardo Júlio Ferraz— criaram a sociedade Ferraz Irmãos. Foi aí que em 1881, o jovem de 18 anos, iniciou a actividade como gerente com o tio Severiano, até 1886, altura em que foram forçados a vender a fábrica em praça pública. Liquidada a fábrica esteve dois anos sem emprego até que em 1888 arrendou em sociedade com o tio, João César de Carvalho, a fábrica de destilação da Ponte Deão, de Severiano Cristóvão de Sousa. No ano imediato entrou para a do Torreão da firma William Hinton & Sons como técnico de fabrico de açúcar e álcool, assumindo a gerência industrial e técnica. Num manuscrito da mão do próprio diz que em 1900 assinou contrato com a fábrica do amigo Harry Hinton que o vinculou até à morte em 1946. Todavia, e de acordo com o primeiro copiador de cartas, sabemos que desde 18 de Outubro de 189886 estava ao serviço da firma, como se pode confirmar da carta ao amigo e patrão Harry Hinton solicitando a presença no engenho em construção para poder decidir sobre a forma de disposição das máquinas. No sentido de dar continuidade ao processo de modernização da fábrica do Torreão esteve de visita aos complexos industriais franceses que laboravam a beterraba para o fabrico de açúcar. A visita foi proveitosa, reflectindo-se nas modernizações do sistema do engenho do Hinton. Certamente que esta experiência foi importante para a saída que fez em 1930 a Ponta Delgada (S. Miguel) para dar alguns ensinamentos sobre o processo de fabrico de açúcar, nomeadamente a fermentação do melaço. Em Julho de 1927 embarcou para Lobito com Charles Henry Marsden (1872-1938), um engenheiro natural de Essex responsável pela modernização do engenho da casa Hinton, para aí montar uma estrutura mais moderna no engenho Cassequel, propriedade da casa Hinton. Aí permaneceu 103 dias, regressando ao Funchal a 13 de Dezembro de 1928. O diário da saída, compilado numa agenda, documenta o processo de montagem da fábrica e as dificuldades de adaptação das peças ao conjunto da estrutura. Em 1945 lamentava-se: “sou pois técnico em Fabricas assucar e alcool, desde 1884 a 1945 = 61 anos. Não tenho direito a ter o titulo de Tecnico de Fabrica assucar e álcool? Oficialmente em Portugal. (…) Desejava pois obter o titulo Oficial [sic] de tecnico de Fabricas açucar e alcool ou como Tecnico pratico de Fabricas assucar e alcool”. Mas, acabou morrendo sem que fosse reconhecido o gigantesco trabalho como técnico, a principal alma da permanente actualização tecnológica e química da Fábrica do Hinton, que foi na época uma das mais avançadas tecnologicamente. A ideia está presente também no testemunho do próprio: N’estes longos anos (60), assisti a variados systemas de fabrico, desde quasi o inicilo[sic] de maneiras antigas no fabrico do açúcar de cana, destilação, etc. etc, acumpanhando sempre os progressos n’estas industrias até hoje, principalmente desde 1900 a 1944, na fábrica do Torrão[sic], onde posemos em trabalho 86

João Higino Ferraz, Copiador de Cartas [1898-1905], fol.1.

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consecutivamente os systemas os mais aprefeissoados e mais modernos no fabrico de açucar e álcool, devido principalmente ao meu caro Amigo Harry Hinton, como chefe inteligente e progressivo, não poupando energias e capitaes para qualquer transformação a ser operada na sua Fabrica, ou fossem as ideias minhas ou delle proprio: Tem elle um intuito de progresso bem orientado, que é raro em muitos industriaes. É isso de que me orgulho, por têr sido o coadjutor companheiro de um Industrial d’esta natureza.” Da correspondência com Harry Hinton transparece uma perfeita sintonia entre os dois que favoreceu o processo de permanente actualização tecnológica e química. Ambos partilhavam a mesma paixão pela indústria e afirmação do engenho do Torreão. João Higino Ferraz não receia em manifestar por diversas vezes a amizade que o prende ao patrão. Em 191787 confessa que “Harry Hinton é um dos meus melhores amigos”. Passados dez anos confessa que a viagem a África sucede apenas “para ser agradável ao senhor Hinton a quem devo amizade e reconhecimento.”88 João Higino Ferraz era o superintendente, mas acima de tudo um cientista que procura aperfeiçoar os conhecimentos de Química e Tecnologia, através do confronto da literatura estrangeira e da sua capacidade inventiva89. Mantém-se actualizado através da leitura das publicações, fundamentalmente francesas. Nos estudos manifesta-se um cientista arguto que não detem a atenção apenas na cana sacarina, pois estuda e opina sobre o uso de outros produtos no fabrico de açúcar e álcool, como é o caso da batata e aguardente. Se confrontarmos a literatura científica do momento mais significativo de finais do século XIX até à segunda Guerra Mundial, verificamos que a informação é permanentemente actualizada e pauta-se por padrões de qualidade, dispondo de informações sobre os métodos mais avançados, como dos estudos dos engenheiros químicos e industriais que marcaram o processo tecnológico do momento. Aliás, mantem contacto com inúmeras associações científicas europeias, como era o caso de Association des Chimistes de Sucrerie et de Distillerie. Na correspondência surgem assiduamente nomes de cientistas europeus como Barbet, Naudet. É dele o invento de um aparelho de difusão, que em 19 de Novembro de 1898 cedeu os direitos à firma William Hinton & Sons. Naquilo que resta da sua biblioteca fomos encontrar um conjunto valioso de tratados de química e tecnologia relacionados com o açúcar. Foram feitas várias experiências e adaptações dos sistemas tecnológicos importados, tudo sob a sua orientação. Em 90 1929 , em carta ao amigo Avelino Cabral em Lobito, refere: Como tenho tido tempo estou em estudos e experiências com o fermento Possehl’s no laboratório, e tenho obtido cousas bastante curiosas nas culturas feitas.”Ainda em carta ao mesmo refere a utilidade das inovações e experiências: “para que a parte comercial de uma indústria dê o resultado, é necessário ver também a parte industrial ou technica.”91 Apenas em 1922 temos informação de quanto auferia João Higino Ferraz pelos serviços prestados à fabrica Hinton. De acordo com memorial que enviou a Harry Hinton o ordenado como gerente técnico foi o seguinte: 1909-1912: 4.500$00 ano 1914-1919: 6.440$00 1920-1921: 22.400$00 Para o novo contrato a celebrar reclamava 63 libras mensais, sendo o câmbio realizado mensalmente, ficando “com pulso livre para fazer e derigir as minhas pequenas industrias fora de açucar, alcool e aguardente, não prejudicando por estes meus trabalhos a direcção technica da Fabrica de açucar e alcool do Torreão…”92 João Higino Ferraz fica para a História como um dos principais obreiros da modernização do engenho do Hinton ocorrida na primeira metade do século. Enquanto esteve à frente dos destinos da fábrica, de 1898 a 1946, foi imparável na sua adequação aos novos processos e inventos que iam sendo divulgados, não se coibindo mesmo de fazer algumas experiências com o equipamento e os produtos químicos.

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João Higino Ferraz, [Copiador de Cartas. 1917-1919], fl.76, 19 de Junho de 1918. João Higino Ferraz, [Copiador de Cartas. 1927-1929], 14 de Maio de 1927. Em 1899 em carta a Harry Hinton solicita as publicações journal la Bière, nº.10 e L’Alcool et le Sucre, nº.5, afirmando: “estes jornaes tratão de um processo de preparação de fermentos puros pelo systema de M. Fernbach e que eu desejava obter ou então o tratado desde mesmo autor, o que era muito melhor.” João Higino Ferraz, [Copiador de Cartas.1929-1930], 20 de Setembro de 1929. João Higino Ferraz, [Copiador de Cartas. 1929-1930], 8 de Fevereiro de 1930. Idem, [Copiador de Cartas. 1920-1923], memorial de 30 de Dezembro de 1922.


João Higino Ferraz. Arquivo da família de J. H. Ferraz

NOTAS AUTOBIOGRÁFICAS DE JOÃO HIGINO FERRAZ 93

[1] Descendentes <de> Severiano Alberto de Ferraz Tenho n’um livro antigo (1848), notas escritas por meu avô, sobre destillação de vinhos para aguardente e refinação assucar Meu avô morreu de Cólera em 1856, isto é, 8 anos depois das notas (1848). Parece que foi no Intervalo de 8 anos, que se formou a Firma “Ferraz Irmãos”, e a montagem da Fabrica de assucar da Ponte Nova. Como a Firma Ferraz Irmãos, foi liquidada em 1886, teve pois a Firma Ferraz Irmãos a duração de 1848 a 1886, isto é, 38 anos de existencia (?), a 40 anos (??). 93

1 folha, papel, 27,2 cm x 21,4 cm, em razoável estado de conservação, dobrada em jeito de caderno, tendo assim 4 páginas. 3 destas páginas têm nelas inscritas informes autobiográficos. No que diz respeito à última página, estamos perante cálculos matemáticos vários e algumas palavras descontextualizadas, tudo disposto de forma desordenada, pelo que a transcrição de tal informação é desnecessária. A numeração é nossa.

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João Higino Ferraz Junior, vim de Lisboa (dos meus estudos) com 18 anos de edade, em 1881, para a Fabrica Ferraz Irmãos Com a liquidação da Firma Ferraz Irmãos em 1886, estive 2 anos sem emprego algum, mas em 1888, devido ao meu (nosso) amigo Joaquim de Sousa, arrendei a fabrica de destilação do pae de Joaquim de Sousa, o velho amigo de <meu> Pai Cristão de Sousa na Ponte do Deão, até 1899 = // [2] 11 anos no Deão, no Fabrico de aguardente de cana e alcool de melaço importado das Weste Indias, (Demerá[sic] e Trindade) pela firma Francisco Rodrigues & C.ª (Pedro) Em 1899, liquidei com o arrendamento que tinha, de Sociadade com meu tio (materno) João Cezar de Carvalho, porque por pedido e instado pela Firma William Hinton & Sons (Fabrica do Torreão) passei a ser gerente tecnico da Fabrica de assucar e alcool, junto com o meu querido e velho amigo Harry Hinton, chefe da firma, que devia ter 44 anos e eu 37 anos. Entrei no serviço da Fabrica do Torreão em 1899, e definitivamente, pelo contrato feito em 1900, com[sic] gerente tecnico. Tenho pois 45 anos como tecnico da Fabrica do Torrão[sic], com 81 anos Sou pois fabricante de assucar aguardente e alcool á 60 anos!!! // [3] A Firma antiga da Fabrica da Ponte Nova dos Ferrazes, era constituida pelos filhos de Severiano Alberto de Freitas Ferraz e de minha avô paterna Leonor, e são: João Hygino Ferraz Severiano Alberto Ferraz Dr. Ricardo Julio Ferraz, engenheiro de Pontes e Calçadas da escola de França. 1º Guarda Livros, João Fradeço Bello (irmão de minha avô materna) 2º guarda Livros, João Cezar de Carvalho (irmão de minha mae Sofia de Carvalho Ferraz) Meu avôu [sic] materno – Tenenente [sic] Coronel de artilharia Carvalho Minha avô materna – Carolina Fradeço de Carvalho. (1944) 94

[1] Notas sobre os descendentes de Meu Avóu[sic] Severiano Alberto Ferraz, desde 1848 até 1944, depois de feitos os meus 81 anos de vida (96 anos totaes). 1º Tenho um livro antigo de notas de meu Avou Severiano Ferraz (1848), sobre a sua industria de destilação de vinhos da Madeira, xaropes d’uva (arrobo) e refinação de açucar de cana bruto, antes da existencia da Fabrica de açucar de cana da Ponte Nova (Funchal) da firma “Ferraz Irmãos”, já não existente. Meu Avou morreu do Colera Morbos em 1856, deixando filhos do 2º casamento com D. Leonor. 2º Temos que, de 1856 e 1848 vão 8 anos, e assim parece que a Fabrica de açucar da Ponta Nova foi establecida n’este entervalo dos 8 anos. Quando? É isso que não tenho notas exactas. No intervalo dos 8 anos (1848 e 1856), e talvez depois ou antes da morte de Meu Avou, Meu Pae e tios fizeram a Sociadade “Ferraz Irmaos”, e principiaram a fundação da Fabrica de açucar. Os Socios da Firma erão: Meu Pae – João Hygino Ferraz Tio – Severiano Alberto Ferraz “ – Ricardo Julio Ferraz, Dr. em Pontes e Calçadas da França, onde tirou o seu corsso de Engenharia. Meu tio Dr. Ricardo J. Ferraz perdeu o seu braço esquerdo no moinho de cana da Fabrica, no 2º ano do seu inicio de Laboração, e saio para Lisboa e ahi se estableceu, e uns anos depois (?) foi para São Miguel, Açores, como Engenheiro da Doca de Ponta Delgada, onde casou com D. Catarina Ivens. Voltou novamente para Lisboa, como Engenheiro da Comp.ª das Aguas, e foi eleito Deputado pela Madeira. Foi n’esta ocasião que a firma // [1v] Ferraz Irmãos estableceu negocio de vinho em Lisboa, sobre a direção do Socio da firma, Dr. Ricardo J. Ferraz. 3º A firma Ferraz Irmãos, depois da morte de meu tio Severiano Ferraz, teve que liquidar sendo vendida a Fabrica da Ponte Nova ao capitalista de Demerára Manica, que na praça de venda, foi o que ofereceu valor meior.

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2 folhas, papel, 32 cm x 22 cm, em bom estado de conservação. Os retros das folhas estão numerados. Este manuscrito, mais extenso e lógico, congrega e desenvolve as informações veiculadas no documento anterior.


Nota: Na ocasião da praça, o meu antigo amigo H. Mails, propos-me fazer uma Sociedade entre eu e elle para a sua compra, sendo elle o socio Capitalista. Não ficamos, porque Manica oferecu[sic] mais (!). A duração da Firma Ferraz Irmãos, devia ser pouco mais ou menos de 1850? até 1886 = 36 anos de Existencia, a 40 anos no maximo (?). 4º Principiou os meus trabalho [sic] na Fabrica de açucar e alcool da Ponte Nova em 1881, tendo eu 18 anos, quando voltei de Lisboa por ordem de meu tio Severiano, ultimo subrevivente da Firma Ferraz Irmãos, depois ou ainda, dos meus estudos em Lisboa. Estive pois eu, e meu tio Severiano, desde 1882 a 1886 (4 anos) com[sic] gerentes da firma Ferraz Irmãos. 5º Com a liquidação da Fabrica da Ponte Nova, estive 2 anos sem emprego, mas em 1888, devido ao nosso saudoso amigo Joaquim de Sousa, consegui arrendar a fabrica de destilação da Ponte do Deão, de cana de açucar para fabrico de aguardente, pertencente ao velho amigo de meu pai e tio Severiano, Cristovão de Sousa, Pai de Joaquim de Sousa, até 1899 (11 anos). // [2] 6º Principia agora em 1899, a minha nova vida em fabricas de açucar e alcool!.., depois da pratica n’este genero de Industria de 17 anos, isto é, de 1882 a 1899. Entrada para a Fabrica do Torreão da firma William Hinton & Sons 7º Em 1899, liquidei com o arrendamento da Fabrica da Ponte do Deão, que tinha como meu socio meu tio materno João Cezar de Carvalho, antigo Guarda Livros da firma Ferraz Irmãos, por instancias do meu sempre amigo o Senhor Harry Hinton, chefe gerente de William Hinton & Sons, para vir para a sua Fabrica do Torreão como tecnico do fabrico de açucar e alcool da dita fabrica, em vista de se vêr sosinho na gerencia Industrial tecnica e comercial. Asseitei a oferta da proposta finalmente, e por generosidade de Harry Hinton, têr-se obrigado a dár uma mezada a meu tio João Carvalho (meu socio no Deão) emquanto vivo fosse. Entrei pois como gerente tecnico na fabrica do Torrão, em 1899, e defenitivamente em 1900 por contrato establecido, sem tempo determinado. Tinha eu em 1899 a edade de 36 anos, e o meu amigo e chefe Harry Hinton 43 anos. 8º Tenho pois estado sempre como Tecnico na Fabrica do Torreão, desde 1900 a 1944 = 44 anos, tendo actualmente 81 anos de edade!! Sou pois fabricante de açucar e alcool á 60 anos!? 25/11/944 [Ass:] João Higino Ferraz Nasci em 1863 // [2v] Nota: N’estes longos anos (60), assisti a variados systemas de fabrico, desde quasi o inicilo[sic] de maneiras antigas no fabrico do açuar[sic] de cana, destilação etc. etc., acompanhando sempre os progressos n’estas Industrias até hoje, principalmente desde 1900 a 1944, na Fabrica do Torrão[sic], onde posemos em trabalho consecutivamente os systemas os mais aprefeissoados e mais modernos no fabrico de açucar e alcool, devido principalmente ao meu caro Amigo Harry Hinton, como chefe inteligente e progressivo, não poupando energias e capitaes para qualquer transformação a ser operada na sua Fabrica, ou fossem as edeias minhas ou d’elle proprio: Tem elle um instinto de progresso bem orientado, que é raro em muitos Industriaes. É isso de que me orgulho, por têr sido o cudjutor[sic] companheiro de um Industrial d’esta natureza. [Ass:] João Higino Ferraz Casei a 6 de Junho de 1891, tendo os seguintes filhos: Mathilde (já falecida) Maria Elisa (doente!) Maria Sofia (casada com Tenente[?] Coronel Santos Pereira95) João (casado com Dolly Claude) Maria Amelia (solteira). 96

João Higino Ferraz Júnior Nasci a 12 outubro de 1863 Filho de João Higino Ferraz, fundador da Firma <Ferraz Irmãos> Tomei conta como tecnico Fabrica Ferraz Irmãos em 1884, com 21 ano [sic] “ “ como tecnico Fabrica William Hinton & Sons em 1900, com 36 anos De 1900 a 1945 = 45 anos na Fabrica Hinton – 1945, tenho 81 anos

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Eduardo António dos Santos Pereira. 1 folha, papel, 27,1 cm x 21,1 cm, razoável estado de conservação. A informação que transcrevemos está apenas no retro da folha. No verso temos mormente cálculos matemáticos diversos, dispostos de modo caótico.

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Sou pois tecnico em Fabricas assucar e alcool, desde 1884 a 1945 = 61 anos. Não tenho direito a têr o titulo de Tecnico de Fabrica assucar e alcool? Oficialmente em Portugal. Os Socios da Firma – Ferraz Irmãos, eram: João Higino Ferraz Severiano Aberto[sic] Ferraz (Tecnico) Dr. Ricardo Julio Ferraz (Enginheiro civil) <de> Pontes e Calçadas (Dr. Ricardo Julio Ferraz Estudos em França) da França) [sic] Firma William Hinton & Sons (Fabrica assucar e alcool do Torrão[sic]) Desejava pois obter o titulo Ofical[sic] de Tecnico de Fabricas açucar e alcool. ou como Tecnico pratico de Fabricas assucar e alcool

CONCLUSÃO

A Madeira marcou um passo decisivo na História da cana-de-açúcar entre os séculos XV e XX. Todavia, ao contrário do que sucede com o vinho, a cultura não se manteve como uma constante da História da ilha, notando-se um hiato no século XVIII. O vinho que a partir de meados do século XVI havia retirado espaço à cana sacarina estava agora, em meados da centúria oitocentista, a ser dominado pelo retorno dos canaviais. A cultura expandiu-se a Norte e a Sul, tornando-se num dos factores mais importantes de animação da agricultura e da indústria. Em qualquer dos momentos a Madeira esteve na linha da frente das inovações tecnológicas. Nos séculos XV e XVI acresce a função de distribuição da cultura e técnica em todo o espaço atlântico. Para finais do século XIX e princípios do seguinte ficaria reservado papel pioneiro no ensaio de algumas técnicas e sistemas de fabrico de açúcar e aguardente que revolucionaram todo o processo industrial. Para isso foi importante a acção de João Higino Ferraz, que na qualidade de gerente técnico do engenho do Torreão, conseguiu manter contactos estreitos com os ensaios feitos em França, de que o sistema de Naudet é exemplo. Foi na ilha que se ensaiaram de novo alguns processos tecnológicos e químicos, que depois adquiriram um papel de relevo no processo de industrialização do fabrico de açúcar e aguardente. Daqui resulta a necessidade e importância da publicação do acervo documental que se segue.

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A DOCUMENTAÇÃO

O corpo documental que agora sai do prelo provém do arquivo privado pessoal de João Higino Ferraz – director técnico da Fábrica do Torreão, da firma William Hinton & Sons – e pode ser seccionado em três partes fundamentais: uma primeira constituída por nove Copiadores de Cartas; uma segunda por vários volumes a que damos o nome de Livros de Notas; e, por fim, documentação avulsa. Esta organização do arquivo pessoal de J. Higino Ferraz é, de certa forma, artificial, dado que foi feita por nós e não pelo autor. De facto, se quisermos, é já uma elaboração arquivística que decorre da análise do conteúdo e da tipologia dos vários documentos que compõem tal espólio. A primeira parte, composta por nove livros onde Higino Ferraz conservou, em cópia, muita da correspondência por si remetida, e não só, cobre o período de 1898 até 1937, com um hiato temporal existente de finais de 1913 a inícios de 1917, e outro, possivelmente, de Janeiro a Outubro de 1919. Julgamos que estas lacunas deveriam estar contempladas em dois volumes autónomos (temos uma leve certeza para o primeiro período, mas o mesmo já não podemos garantir relativamente ao segundo); contudo, se existiram, não chegaram esses livros até nós. A designação de Copiador de Cartas foi por nós tomada, pois os dois primeiros livros, que cobrem o período de 1898-1913, evidenciavam este título na capa – não aposto por João Higino Ferraz, mas como denominação da finalidade dos volumes. Entendemos por bem atribuir a mesma designação a todos os livros97, seguida da referência aos lapsos de tempo que abarcam. Cumpre ainda acrescentar que nem toda a correspondência remetida por João Higino Ferraz está presente nestes livros e que nem toda a documentação neles inserida é composta por epístolas. Ver-se-á que algumas cartas enviadas, sobretudo dactilografadas, delas guardou o autor cópia sob a forma avulsa, estando as mesmas – aquelas a que tivemos acesso – transcritas no final do presente volume. Fizemos preceder cada carta transcrita por uma informação sumária concernente à data, destinatário e local, quando possível, para que existisse uma mais rápida percepção por parte do leitor. Ao longo da transcrição demo-nos conta de que alguma informação exarada nos Copiadores não era, com efeito, composta por epistolografia, mas sim por relatórios, cálculos, estimativas de produção, lucros e despesas, etc.. Antepusemos a cada um dos informes deste teor a menção à sua data, destinatário, se conhecido fosse, e uma breve caracterização. Uma segunda secção deste espólio documental transcrito é constituída por anotações e apontamentos vários – inscritos em livros autónomos –, versando nomeadamente sobre produtos, processos, aparelhos e técnicas industriais de produção e transformação de açúcar, álcool e aguardente; quase todos estes volumes têm título atribuído por João Higino Ferraz, que é respeitado e aceite por nós. Ainda que algo artificial, a denominação por nós dada a este conjunto, Livros de Notas, advém dos próprios títulos atribuídos pelo autor. 97

Um copiador é, entre outras coisas, um «Livro em que se copiam cartas ou outros documentos» (FARIA, Maria Isabel, PERICÃO, Maria da Graça – Dicionário de Livro, s.l., Guimarães Editores, s.d.), designação que vai perfeitamente de encontro às características dos livros transcritos. Considerando assim que os Copiadores de Cartas envergam títulos que, em parte apenas ou na sua totalidade, foram por nós atribuídos, os mesmos são por isso inscritos entre parêntesis rectos: [ ]. Algo idêntico acontece, diga-se desde já, com dois Livros de Notas. O modo pelo qual Higino Ferraz procedia à cópia da informação era simples e banal: entre a folha epistolar a remeter e o fólio do Copiador era inserida uma folha de papel químico que permitia o decalque das palavras grafadas. Por vezes esse decalque era feito, por razões várias, de forma deficiente, e daí que muitas palavras tenham sido de difícil – se não impossível – leitura. Aparte os dois primeiros livros, os restantes copiadores incluíam já a folha epistolar, que era depois destacada pelo autor.

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A última secção, enfim, é constituída por documentação avulsa, e abarca: documentos epistolares, saídos do punho de Higino Ferraz (particularmente cópias de cartas) ou tendo-o como destinatário (sendo seus autores, por exemplo, Harry Hinton, Marinho de Nóbrega, Antoine Germain, etc.); documentos referentes a aparelhos, processos e técnicas de fabrico e transformação de açúcar, álcool e aguardente (à imagem da informação exarada nos Livros de Notas); anotações manuscritas que João Higino Ferraz lançou nos forros da capa ou folhas de guarda de alguns livros ou manuais por si usados, que versavam sobre a cultura e produção de cana sacarina e seus derivados98; e, ainda, apontamentos auto-biográficos. Dividimos esta documentação em duas subsecções: a primeira, composta pelos mencionados apontamentos auto-biográficos (já transcritos acima) e pelos documentos epistolares avulsos (que achamos bem, como já foi referido, transcrever no final deste volume); a segunda, constituída pelas restantes fontes, que veiculam notas e experiências respeitantes à produção de derivados de cana sacarina e que serão editadas em livro separado. Poderá ficar o leitor com a ideia errada de que estas fontes, no seu conjunto, documentam apenas a função profissional de João Higino Ferraz enquanto industrial do açúcar, da empresa William Hinton & Sons. Com efeito, esta documentação, por esse facto, reveste-se de especial interesse para a História da Madeira da 1ª metade do século XX, em especial relativamente à história da indústria açúcareira, nas suas vertentes económica, social e técnica, mas também nos seus meandros e implicações políticas. Contudo, não esqueçamos que estamos na presença de um arquivo particular – certa correspondência, por exemplo, contém, também, informações que ilustram aspectos vários da vida pessoal e familiar de Ferraz, bem como alusões a condições de vida geral e particular, relações de amizade, concepções políticas, sociais e económicas, entre outras realidades. A sequência documental dada por nós às fontes transcritas é de cariz cronológico. No que diz respeito a certa documentação avulsa, sempre que não pudemos saber ou estabelecer, de forma segura, a sua data, relegámo-la para o fim da sua subsecção. Refira-se que no espólio de Ferraz existem outros Livros de Notas e documentação avulsa que respeitam especialmente a vinhos, pelo que a sua transcrição e edição fica remetida para um volume separado. A existência dessas fontes deve-se ao facto de Higino Feraz, a título particular, se ter dedicado a empreendimentos relacionados com produção, transformação e comercialização de vinhos. Acresce que alguns informes relativos a vinho (experiências, cálculos e demais anotações), estão também presentes nos Copiadores de Cartas. Ocupam, no entanto, essas informações um espaço residual no conjunto da documentação agora transcrita. Levar a cabo a transcrição dos 9 Copiadores de Cartas encontrados no arquivo pessoal de João Higino Ferraz, em posse da sua família, é uma tarefa que comporta algumas dificuldades. Considerando que uma porção significativa da informação transmitida nestes livros evidencia uma linguagem específica e eminentemente técnica; atendendo que a documentação cobre um período temporal relativamente recente, livrando-nos de certos problemas inerentes à transcrição de fontes de séculos anteriores, mas suscitando, porém, outros de diferente teor; observando, enfim, que ao procedermos a esta transcrição, tivemos de estabelecer de alguma forma um compromisso entre a informação registada nos vários volumes – a sua linguagem e, por vezes, configuração – e as ferramentas facilitadas pelo programa informático usado nesta tarefa (o Microsoft Word), escolhemos seguir as seguintes normas99: NORMAS DE TRANSCRIÇÃO: – Respeito integral pela grafia e pontuação do original, com as seguintes alterações: – Desdobramento, de um modo geral, de abreviaturas e siglas, sem a indicação dos segmentos desdobrados, consoante a forma desenvolvida da palavra encontrada na fonte (na ocorrência de variantes, optar-se-á por aquela mais vezes presente nos originais). Devido à especificidade da documentação transcrita, temos de considerar, a este respeito, os seguintes matizes e pormenorizações: – procedemos ao desenvolvimento de algumas siglas, apesar de serem, possivelmente, conhecidas, e comummente usadas na escrita de cartas100; elas são: 98

Apesar de estas informações não caberem, em termos técnicos, na categoria de documentação avulsa, a sua especificidade obriga a que só nesta secção as possamos incluir. 99 Devemos enunciar, ainda que sumariamente e em nota de rodapé, algumas dificuldades sentidas na transcrição da documentação. Algumas, decorrentes da grafia de João Higino Ferraz, são: casual incapacidade, ou grande dificuldade, em diferenciar o «s» do «z», e o «i» do «e», assim como as muitas abreviaturas e siglas de índole pessoal usadas. O facto, também, de tomarmos contacto com outros escribas levava a uma aprendizagem de novas grafias, que apresentavam os seus próprios “caprichos”. Outra dificuldade é, por vezes, a disposição caótica, ou muito complexa, de muita informação de teor mais técnico ou industrial (vide Livros de Notas). 100 Lembremos que as novas tecnologias têm, de forma inexorável, relegado a epistolografia para segundo plano, pelo que algumas das siglas e abreviaturas poderão não ser do conhecimento de muitos potenciais leitores da documentação, especialmente os mais jovens.

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- p. p.: “proximo passado” ou “proximo presente”; “proche passé” - p. f.: “proximo futuro” - p. m. m.: “pouco mais ou menos” - S. E. O.: “Salvo Erro ou Omissão” – são desdobradas também todas as abreviaturas e siglas referentes a unidades de medida, entendidas aqui num sentido lato: - B, Be: “Baumé” - c.c.: “centimetro cubico” ou “centimètre cubique” - C ou cent. ou centi.: “Centigrados” - Cart., Carti: “Cartier” - cent.: “centimetro” - frig., frigos: “frigories” - gram., gr. ou grm.: “grama” - H, HL, hect.: “hectolitro” ou “hectolitre” - hectos: “hectolitros” ou “hectolitres” - H. P.: “Horse Power” - k, kilog.: “kilograma” - l, lit.: “litro” - m: “metro” - m/m, mm, m/gr.: “miligrama” - m2, m3: “metro quadrado”; “metro cubico” - s: “sacos”, “sacas” - ton: “tonelada” ou “tonne” – desdobramos siglas e abreviaturas de teor técnico, que se referem, mormente, a processos, aparelhos e matérias industriais: - agte: “aguardente” - applho: “apparelho” - ass: : “assucar” - clarifi.: “clarificado” - Coeffte: “Coefficiente” - D.: “Densidade ou Densité” - diff.: “diffusor” ou “diffusão” - F. P.: “Filtro-Presse” - F. F.: “Filtro Filippe” - Lab.: “Laboração” - M. C.: “Melasse Cuite” ou “Masse Cuite” - M. S.: “Materia Secca”, “Materias Seccas” - P. E.: “Petits eaux” - pol., pola., polar: : “polarisação” - retifi.: “retificação” - sacc: : “saccharose” - saccha: : “saccharose” - T. E.: “Triple-Effet” - T. G.: “Tanque Grande” - turb., turbi.: “turbinado” - V. C. M.: “Vinho Canteiro Madeira” – desenvolvemos, por uma maior inteligibilidade dos textos transcritos, muitos outros sinais convencionais usados por João Higino Ferraz: - ad. V., ad. val.: “ad. Valorem” - Alf.ga: “Alfandega”

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- Amº: Amigo - Attº: “Attencioso” - c/ e c/a: “conta” - C. de L.: “Camara de Lobos” - C. F.: “Caminhos Ferro” - ct., crt.: “courant” - D.: “Diario” - D. M.: “Diario da Madeira” - D. N.: “Diario de Noticias” - E.U.: “Estados Unidos” - F: “Fabrica” - frs: “francos” ou “francs” - h: “hora” ou “horas” - indeter.das: “indeterminadas” - M., Mr, Mr.: “Monsieur” - M.m: “Madame” - M.M., Messrs.: “Messieurs” - m/: “meu”, “minha” - n/: “nosso”, “nossa” - n/c: “nossa conta” - m/c: “minha conta”, “mon compte” - Ob.do: “Obrigado” - R.: “Rua” - rend.to: “rendimento” - RS, rs: “Reis” ou “reis” - s/: “sobre”, “seu” ou “sua” - S. A., S.de A.: “Sociedade Agricula” - S. F.: “São Filipe” - Snr: “Senhor” - sub.me: “subscrevo-me” - T, Temp., Tempa: “Temperatura” - trata.to: “tratamento” - Vor: “Venerador” - Wm: “William” – mantivemos apenas algumas abreviaturas sobejamente conhecidas e utilizadas actualmente: Ex.mo (Excelentíssimo), Ill.mo (Ilustríssimo), V.a Ex.a, (Vossa Excelência) L.da (Limitada), C.ª ou Comp.ª (Companhia), Succ.or e Succs (Sucessor e Sucessores) V.ª S.ª (Vossa Senhoria), Dig.mo e Dig.ma (Digníssimo e Digníssima), S.to e S.ta; acrescente-se que uniformizámos todas estas abreviaturas, pois, por vezes, víamo-nos perante algumas variações das mesmas. – não desenvolvemos dois grafemas, de cariz comercial e abundantemente usados nestas fontes, que são alvo aqui de cabal elucidação: - cif ou c.i.f.: siglas de cost, insurance, freight, isto é, custo, seguro e frete; - fob.: siglas de free on board, ou seja, designação de cláusula de um contrato de compra e venda que determina que as despesas do vendedor vão, somente, até à entrega da mercadoria no navio. – não desdobramos N. B., “Note Bem”; assim como P. S., “Post-Scriptum”, ou P. E., que julgamos ser “PostEscriptum” (corruptela do anterior) ou “Pós-Escrito” – Procedemos à manutenção, na medida do possível, de algumas disposições gráficas do original, assim como parágrafos, tabelas, arrolamentos, com a excepção, por motivos que se prendem com a exequibilidade da edição das mesmas fontes, das mudanças de linha e de folha. Não considerámos pertinente nem viável assinalar a mudança de linha; já a de fólio é indicada com a colocação de // seguida do número de fólio entre [ ] (exceptuando, apenas, quando um fólio encontra-se

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em branco). – Tendo em conta que Higino Ferraz usa, mas raramente, a cor vermelha nos Copiadores de Cartas – para lançar comentários ou anotações nas cópias da correspondência que guardava nestes volumes –, escolhemos transcrever em itálico todos os vocábulos escritos com tinta ou lápis desta mesma cor. – Transcrevemos, desenvolvendo algumas siglas e abreviaturas e levando a cabo uma certa modernização, os numerais grafados, por exemplo, assim: 1gr.40, 34k12, 12l34, 2º,5, etc., desta forma: 1,40 gramas, 34,12 “kilogramas”, 12,34 litros, 2,5º, etc.. – Adicionamos [sic] quando a verificação de erros ortográficos, de sintaxe ou morfologia, ou em caso de repetição de uma mesma palavra. Colocado o [sic] logo a seguir a uma palavra, referir-se-á a um erro nesse mesmo vocábulo (casos, sobretudo, de ortografia); quando após um espaço em branco, referir-se-á a erro constituído por vários vocábulos (repetição, faltas de concordância no género ou em número, frases truncadas, omissão de palavras, etc). Refira-se que, nomeadamente na informação referente a processos industriais, e ainda na correspondência lavrada em francês (língua que Higino Ferraz manifestamente não domina, como o próprio reconhece), vêmo-nos perante erros de concordância de género e número em muitas frases, pelo que apenas assinalaremos os mais visíveis – de certa forma, também, isentando o transcritor de possíveis suspeitas de transcrição apressada. – Acrescentamos sinais de pontuação, inseridos entre [ ], quando considerámos que o autor os omitiu involuntariamente. – Acresentamos [Ass:] antes de qualquer assinatura ou rubrica de João Higino Ferraz. – Colocamos entre < > todos os vocábulos que surgem entrelinhados nos textos originais. – Modernizamos o uso do hífen nos verbos, no caso da sua omissão. – Adicionamos [?] a propósito de dúvidas em relação à leitura de uma palavra (colocado imediatamente a seguir à mesma) ou de um conjunto de palavras ou expressões (após espaço em branco), e, raramente, aquando a existência de uma palavra ou expressão cuja leitura não oferece dúvida, mas cujo sentido ou significado é por nós desconhecido. – Acrescentamos [...] quando a leitura se revelou impossível .– Anexamos notas de rodapé, nomeadamente nas seguintes situações: - veiculação de informações acerca dos livros transcritos e documentação avulsa: numeração, medidas, estado de conservação, e outras informações; - impossibilidade (ou extrema dificuldade) em reproduzir no corpo de texto algumas das informações transmitidas nas fontes documentais: anotações colocadas sobre a mancha manuscrita de alguns fólios; sinais de visto «V», etc. - elucidação da presença de outras caligrafias que não a de João Higino Ferraz; - esclarecimento de espaços deliberadamente deixados pelo autor; - menção a fólios em branco, cartas inutilizadas e truncadas; - fornecimento, quando possível, do nome completo dos indivíduos que Higino Ferraz nomeia, a mais das vezes, através de um só nome, o próprio ou o apelido, ou ainda por meio de siglas. Tal procedimento, pela sua constância, poderá parecer pueril ou desnecessário, mas é decerto útil para situar e identificar certas pessoas num corpo documental que poderá ser de mera consulta. De igual forma, acrescente-se, são providenciadas ocasionalmente informações biográficas sobre alguns desses indivíduos. Note-se ainda que damos conta, em nota de rodapé, da designação completa de outras empresas e unidades de produção industrial101 a que se referia abreviadamente o autor, bem como de anotações concernentes a aparelhos, produtos e processos industriais, e publicações científicas e técnicas.

101 João Higino Ferraz dá-nos informações de valor acerca de outras fábricas que existiam na Madeira (a Companhia Nova, de José Júlio de Lemos, Sucessores; a fábrica de São Filipe de Henrique Figueira da Silva, entre outras) e, ainda, sobre unidades de produção do continente português, da África colonial (merecendo especial destaque uma nova fábrica implantada pela Sociedade Agrícola do Cassequel, Angola, onde Higino Ferraz tem acção directa), e de outros espaços geográficos.

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F贸lio 20. Copiador de Cartas [1898-1905]

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Copiadores de Cartas e Livros de Notas. Arquivo Particular de J. H. Ferraz

COPIADORES DE CARTAS DE JOÃO HIGINO FERRAZ (1898-1937)

Título do livro

Datas limites

Nº de fólios

Copiador de Cartas [1898-1905] Copiador de Cartas [1905-1913] [Copiador de Cartas.1917-1919] [Copiador de Cartas.1919-1920] [Copiador de Cartas.1920-1923] [Copiador de Cartas.1924-1926] [Copiador de Cartas.1927-1929] [Copiador de Cartas.1929-1930] [Copiador de Cartas.1930-1937]

1898-1905 1905-1913 1917-1919 1919-1920 1920-1923 1924-1926 1927-1929 1929-1930 1930-1937

200 fls. 169 fls. 100 fls. 50 fls. 149 fls. 95 fls. 100 fls. 100 fls. 117 fls.

Observações (fólios com desenhos) 6, 86 65, 76, 130 35 11

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Copiador de Cartas [1898-1905]

DESCRIÇÃO: O período temporal abarcado pelo copiador foi por nós acrescentado à designação que já tinha de origem. Estamos na presença de um livro, em papel, 26,8 cm x 21,5 cm, que se encontra em razoável estado de conservação. Os fólios deste volume estão numerados com caracteres de imprensa. Nalguns fólios do volume a leitura de muitos vocábulos revelou-se impossível, devido a um mau decalque.

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[DATA: 18 de Outubro de 1898 DESTINATÁRIO: Harry C. Hinton] [1] Amigo e Senhor H. C. Hinton Como desejava tratar defenitivamente consigo o negocio da diffusão, e ao mesmo tempo mostrar-lhe a desposição que tensiono dar ás machinas, pedia-lhe para me mandar dizer a que horas poderá fazer a fineza de cá vir para eu estar presente. Pedia-lhe ao mesmo tempo para trazer comsigo a escritura que o meu amigo deseja fazer comigo. 18/10/98. Seu Amigo Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 20 de Outubro de 1898 DESTINATÁRIO: Manuel Cardoso & Dargent; LOCAL: Lisboa] [2] 102Madeira 20 Outubro de 1898 Ill. Senhores Manuel Cardoso & Dargent, Lisboa Ill.mos e Senhores Desejava-mos nos enviassem pela Barca “Felizberta” a sahir até ao fim deste mez, as 4 vigas de ferro em I para a montagem dos diffusores, cujo comprimento exacto devem ter 7,600 metros. Junto encontrarão V. S.as a direcção do consignatario desse navio, ao qual se dirigirão dizendo, que no Funchal será pago o frete. Quanto ao corta-cannaz já tenho encommenda feita; por isso agradeço-lhes o encomodo que teem tido em procurar informações d’esse genero de machina. Pedimos a V. S.as que na primeira carta que nos escreverem nos mandem dizer em que altura está a construcção do apparelho. E, sem outro assumpto, somos com estima e consideração De V. S.as Amigos Attenciosos Muito Obrigados. [Ass:] João Higino Ferraz & C.ª // mos

[DATA: 20 de Outubro de 1898 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [3] Madeira 20 outubro 1898 Amigo e Senhor Henrique Hinton Envio-lhe o contracto com as modificações convenientes, marcadas a lapis encarnado com os numeros[?] 1 – 2 – 3, que são as seguintes: 1º – n’esse caso, constará d’uma relação assignada pelas duas partes contractantes de todos os aparelhos que fazem parte 102 “Madeira” e “de 189” estão grafados a lápis. A caligrafia desta carta, à excepção da assinatura, não é de João Higino Ferraz. 103 O fólio 4 não contém qualquer informação, foi inutilizado com vários traços na diagonal e horizontal e dobrado.

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d’esse contracto. 2º – d’entro do conselho do Funchal, não exsedendo o custo de instalação alem de oito contos e quinhentos mil reis, e o que exseda d’essa importancia será por conta dos 1os Outorgantes, determinando-se n’esse caso n’uma relação assignada pelas duas partes, os aparelhos ou qualquer outro objecto que exseda os oito contos e quinhentos mil reis, e que ficariam pertencendo unicamente aos 1.os Outorgantes 3º - Neste logar deve ter um “ponto” e não uma virgula, como tem. // [4]103 [5] No caso de lhe convir mandar-m’a para eu pôr a limpo o contracto em duplicado. Faço-lhe notar que se deve desde já establecer o sitio em que se tem de montar a fabrica, porque como diz o contracto deve estar prompta a funccionar na proxima colheita de 1899, e o tempo vai passando sem nada se fazer definitivamente, e não é minha a culpa d’essas demoras. Sem assumpto para mais Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Hygino Ferraz // [DATA: 10 de Novembro de 1898 DESTINATÁRIO: Cardoso, Dargent & C.ª; LOCAL: Lisboa] [6] 104Madeira, 10 de Novembro de 1898 Ill. Senhores Cardoso, Dargent, & C.ª Lisboa Amigos e Senhores Em resposta á sua ultima carta com data de 2 do corrente, temos a dizer-lhes o seguinte Concordamos com a indemnisação de Reis 61.500 pelo prejuizos do ferro e trabalho o qual lhe será pago depois de concluida[?] a obra. Conforme o seu pedido mandamos-lhes as medidas que nos pedem para o vigamento de ferro em I cuja repetição em desenho lhes enviamos depois de substituidas as lettras. Satisfaz-nos bastante saber o estado de adiantamento em que estava o trabalho, e V.as S.as nos avisarão quando esteja proxima a sua conclusão para tratarmos de ver se poderemos conseguir embarcar os apparelhos em navio de vella por ser mais barato o frete. E, sem assumpto mais a communicar Somos em estima e consideração, a V.as S.as Attenciosos Veneradores Muito Obrigados [Ass:] João Higino Ferraz & C.ª mos

Comprimento total das vigas (4) 9.300 metros // 104 Esta carta não foi escrita por Higino Ferraz, à excepção da assinatura, de «Comprimento total das vigas (4) 9.300 metros» e do desenho nela incluso.

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[DATA: 19 de Novembro de 1898 DESTINATÁRIO: Cardoso, Dargent & C.ª; LOCAL: Lisboa] [7] 105Madeira, 19 de Novembro de 1898 Ill.mos Senhores Cardoso, Dargent & C.ª Lisboa Amigos e Senhores Participamos a V. S.as que temos cedido á firma Senhor William Hinton & Sons, desta Praça, cujo gerente é o Ex.mo Senhor Harry C. Hinton, portador desta carta, [...] que tinhamos nos apparelhos em construcção nessa Casa e que d’ora avante V. S.as se entenderão com o mesmo Ex.mo Senhor Harry C. Hinton em todos os negocios concernentes aos mesmos apparelhos. Outro sim participamos tambem a V. S.as que esta casa[?] [...] com a firma João Higino Ferraz & C.ª, por[?] ser devolvida[?], [...] os trabalhos d’aquella casa e socio della João Higino Ferraz desde o 1º de Janeiro do proximo [...] anno. Esperando que tomem nota desta nossa resolução, Subscrevemo-nos com estima e consideração De V. S.as Attenciosos Veneradores Amigos Muito Obrigados [Ass:] João Hygino Ferraz & C.ª // [DATA: 14 de Junho de 1899 DESTINATÁRIO: Francisco Roiz & C.ª] [8v] Ex.mos Senhores Francisco Roiz & C.ª 14 de Junho 9 Amigos e Senhores Acabamos de enviar telegramma aos Senhores Booker Bros. & C.ª para carregarem o saldo do melaço (149 cascos), que a “Felizberta” não poude trazer, no “Novo Machado 2º” em viagem para Demerára. Fica entendido que o preço do frete é o mesmo que o da “Felizberta” 2.750 reis. Seu Amigo Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 14 de Junho de 1899 DESTINATÁRIO: Manuel Gregório Pestana; LOCAL: Porto Santo] [9v] 14 de Junho 99 Ill.mo Senhor Manuel Gregorio Pestana, Porto Santo O senhor Henrique Hinton sahio para Londres no dia 30 do corrente, por isso lhe não pode responder á sua carta, e por isso o Ex.mo Senhor William Hinton me encarregou de lhe responder á sua carta, com data de 11 do corrente. Recebemos todos os apparelhos que d’aqui forão para a montagem da torre do Aermotor menos as travetas, que como V.ª Ex.ª diz na sua carta se encarrega de as vender ahi, por isso lhe envio a conta em separado como deseja. Quanto á conta do apparelho deve V.ª Ex.ª ao receber esta tel-a já na sua mão, visto o senhor Henrique ter já enviado. Vai por este barco a calha de madeira para a condução da agua da bomba para o tanque, e o azeitador. Quanto ao frete, até a hora de fechar esta carta não voltou cá o barqueiro por isso nada lhe posso dizer. No caso de se lhe pagar aqui o frete mando-lhe dizer em bilhete separado, e no caso de nada lhe mandar dizer, é porque não foi pago. De V.ª Ex.ª Attencioso Venerador Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 15 de Junho de 1899 DESTINATÁRIO: João Bernardino Gomes] [10] Ex.mo Senhor João B. Gomes 15 Junho de 1899 Amigo e Senhor Enviei-lhe hontem a bomba como me pedio e estamos tratando de arranjar o absorvo para a dita; e como na segunda feira passada lhe disse, nada sei do negocio havido entre o Amigo e senhor Henrique Hinton, porque elle naturalmente esqueceu-lhe de me dizer ou a outro empregado da Casa, contudo ficará o negocio para ultimar até elle voltar da sua viagem. Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //

105 Esta carta não foi escrita por Higino Ferraz, à excepção da assinatura, de «Comprimento total das vigas (4) 9.300 metros» e do desenho nela incluso.

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[DATA: 17 de Junho de 1899 DESTINATÁRIO: Harry Hinton; LOCAL: Londres] [11v] Funchal 17 Junho 1899 Amigo e Senhor Henrique Senti bastante não me ter despedido de si no dia da sua partida. Nada de anormal se tem dado depois da sua sahida d’aqui. Recebeu-se tellegramma do Booker Bros. & C.ª de Demerára participando ter embarcado pela “Felizberta” 251 cascos de melaço, ficando um saldo de 149 cascos, e como está em viagem para Demerára o Yate “Novo Machado 2º” por conta de Francisco Roiz & C.ª, combinei com seu pae, para eu tratar com elles sobre o embarque d’esse saldo no “Machado 2º”, como fiz, pelo preço do frete de 2750 reis como o da “Felizberta”, e enviamos tellegramma os Senhores Booker Bros. avisando-os de que devião embarcar no “Machado” o saldo do melaço. Fez-se o seguro do carregamento da Barca como me recommendou e vamos segurar o saldo, logo que se receba tellegrama da sua sahida de Demerára. Quanto ao destillador deve estar pronto, e montado em toda a semana proxima, e por isso logo que chegue o melaço da Trindade vou principiar a fermentação para que não falte alcool á venda. O senhor Blandy106 já levou os 2000 gallões d’alcool, e deve ter ficado satisfeito com a qualidade; este ultimo que lhe foi estava magnifico, sem cheiro algum e marcou 47 1/2 minutos, (alcool neutro). Desejava saber o negocio que fez com o João Bernardino Gomes sobre a bomba do senhor Krohn, visto elle, Gomes ter levado a bomba e um chupa-sangue e me ter dito que a comprou ao senhor Krohn. Fez-se-lhe os consertos necessarios, e escrevi-lhe dizendo-lhe que quanto ao negocio da bomba nada sabia // [12] e por isso quando o senhor Henrique voltasse de Londres se ultimaria esse negocio. Na terça-feira proxima deve-se cecar o assucar mascavo 1º da diffusão e vou fermentar esse melaço em separado como ficou combinado, e mandar-lhe-ei dizer qual o rendimento em alcool. O senhor Henrique vai fazer o favor de ver se pode dar com o jornal “La Biére” 1º anno nº 10, ou “L’alcool et le sucre” 2º anno nº 5, em alguma das livrarias de Londres; estes jornaes tratam de um processo de preparação de fermentos puros pelo systema de M. Fernbach, e que eu desejava obter ou então o tratado d’este mesmo autor, o que era muito melhor. Sem assumpto para mais, subscrevo-me com toda a consideração Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 23 de Junho de 1899 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [13v] 23 Junho 1899 Amigo e Senhor Henrique Recebeu-se no domingo 18 o melaço de Hamburgo, que não vinha em muita boa ordem visto ter aparecido alguns cascos em mau estado com mostras de ter derramado; por isso, pedio-se vistorio[sic] o que se fez dando em resultado serem nomiados [...] que forão o Pedro Roiz e o comandante de um vapor carvoeiro que estava no porto. No seu depoimento disserão elles que, parecendo que a carga tinha sido embarcada em boa ordem, a causa dos derrames tinha sido devida ao terem collocado sobre as barricas grande quantidade de carga e que deu causa a que o arcos [sic] sahissem dos seus logares deixando por isso sahir o melaço; Calcularão o prejuizo em 15%. Pezado o melaço na Alfandega deu uma quebra de seis mil e tantos kilogramas (não lhe posso dizer ao certo porque não tenho presemte a nota, seu pae é que a tem e naturalmente manda-lh’a). Consegui que o melaço derramado dentro dos barcos do cabrestante, que tinhão alguma agua, (porque o melaço ficou do domingo para a segunda feira nos barcos), não pagasse direitos, o qual pezado na fabrica deu o pezo liquido de 4184 kilogramas tendo muito pouca agua, por isso calculo em 3000 a 3200 kilos de melaço liquido, mas não posso calcular ao certo senão depois da destillação. Como o melaço da Trindade não tivesse ainda vindo e como havia muito pouco alcool em deposito, pedi auctorisação a seu pae para despachar umas 50 barricas, o que elle concordou e tratei logo de por em fermentação, quando no dia 21 houve parte que o navio da Trindade estava á vista; mas como havia de ter alguma demora na descarga // [14] e analyse do melaço para então se poder despachar, não me parece que tivesse feito mal em despachar as 50 barricas [.] Não lhe posso mandar dizer n’esta 106 John Burden Blandy.

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carta o resultado da minha analyse do melaço de Betterraba nem do da Trindade porque não tive ainda occasião de a fazer. Seccou-se o assucar mascavo 1º da experiencia das diffuzores que deu 14 sacas de 75 kilogramas, e 4048 kilogramas de melaço que já está em fermentação. O Alambique ficou hoje montado. Vou dar um balanço ao alcool para precisar novamente qual é a quebra da retificação. Os senhores Cossart’s levaram ante-hontem os 2500 gallões d’alcool, e hoje o senhor Carlos Cossart107 vei[sic] procurar-me trazendo uma mostra de vinho mostrando percipitado branco, dizendo-me que os homens quando estavão trazendo o alcool dos cascos, um dos canecos tinha um resto de vinho, e logo que lhe deitarão o alcool em 40º torvou o vinho, veio-me perguntar a que seria devido isso, se o alcool levava algum acido que desse esse resultado; eu respondi-lhe que o alcool nada levava e se o vinho mostrou esse percipitado é porque o alcool em 40º coagula a albuminia e outras materias que o vinho contem e que as percipita, e pedi-lhe que esperimentasse com outro qualquer alcool que lhe devia dar o mesmo resultado assim fez com alcool dos Açores, e deu-lhe o mesmo percipitado. // [15] Torno a lembrar-lhe a cevada germinada ou pale-malte; como lhe tinha dito que era necessario mandar vir uns 500 kilogramas e não veyo na correspondencia nenhuma encommenda d’esse genero, talvez o senhor Henrique se tivesse esquecido de a fazer. Desejava que o senhor soubesse que substancia é que lhe dão o nome de malto-peptone e que Barbet recommenda se empregue na preparação dos fermentos puros e qual o seu preço para ver se há vantagens em empregal-a; se podesse obter uns 5 a 10 kilos e me enviasse estimava muito, para fazer uma experiencia. A temperatura atmospherica vai subindo muito e a preparação dos fermentos é um pouco difficil não sendo feitas a 20 a 25º o maximo de temperatura, talvez me veja na necessidade de empregar um pouco de gelo nos fermentos. Por nada mais ter a dizer-lhe n’esta occasião Subscrevo-me com toda a consideração Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 1 de Julho de 1899 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [16] Funchal 1 Julho 1899 Amigo e Senhor Henrique Recebi por mão do senhor seu pai a sua carta o que muito lhe agradeço. Junto vinha uma carta para o Manuel que lhe foi entregue. Qunto ao seguro provisorio dos 400 cascos ficou sem effeito, e o novo seguro foi feito só sobre o melaço que a Barca carregou. Como lhe disse na outra carta recebeu-se o melaço da Trindade, que vinha em boa ordem. O frete foi pago a 3000 reis como tinha recommendado. Analysei os melaços, de betarraba de 4 barricas que mostrou 50% de saccarose: O da Trindade mostrou – saccarose: 50% Amostra egual assucar total 69 á da Alfandega Glucose 19 % A analyse feita na Trindade segundo o certificado mostrou saccarose.............49,8% Glucose ...............17% Como vê o melaço é de boa qualidade. O melaço de betterraba faz uma differença para mais, da primeira remessa de 3%. Destilou-se o melaço da esperiencia dos diffusores (4048 kilogramas), que rendeu 331 gallões de alcool em 40º. Os derrames do Melaço de betterraba deu 218 1/2 gallões em 40º que ao rendimento de 7,4 gallões por 100 kilogramas representa 2950 kilogramas, de melaço liquido. De 1 a 12 de Julho esta em reclamação a contribuição industrial; naturalmente é necessario reclamar novamente, visto não ter vindo ainda de Lisboa o accordão do tribunal. Seu pae mandou-me ao Dr. N. Jardim108 fallar-lhe sobre isso, e elle aconsilhou

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107 Charles John Cossart. 108 Nuno Ferreira Jardim.

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a pedir por tellegramma ao Costa Campos uma certidão do dito accordão para ser junto ao requerimento, o que se fez, e no caso de não vir a tempo a certidão vou apresentar a sua reclamação, no caso das colletas não estarem regulares. Já se despachou 100 barricas de melaço de beterraba e metteu-se hoje a despacho o melaço da Trindade para principiar o trabalho d’elle na segunda feira 3 de Julho. // [17] Sem assumpto para mais desejo-lhe que gose bastante na sua viagem a Noruega e pesca do salmão. Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz. Junto á Carta com data de 1 de Julho 1899 Resultado do melaço da Trindade pelo “Oliveira Mendes” Factura de 150 ponchins – 17335 gallões Alfandega PB – 95474 kilogramas Tara 10% 9547 85927 kilogramas a 5 kilogramas – 17185 gallões Quebra 150 gallões 3/7/99 [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 7 de Julho de 1899 DESTINATÁRIO: Charles Hinton CARACTERIZAÇÃO: Notas sobre produção de aguardente, alcool, aguardente de bagaço] [18] Notas para o Ill.mo Senhor Carlos Hinton Rendimento medio da canna em aguardente tratada pela diffusão no anno 1899. Rendimento por 30 kilogramas de canna 5,74 quartilhos d’aguardente em 28º Cartier Está incluido n’este rendimento os primeiros Lotes que deram em rendimento muito baixo (3,5 a 4 quartilhos). Resultado da 1ª remeça de melaço de beterraba vindo de Hamburg: 400 barricas com o pezo liquido de 99.133 kilogramas de melaço rendeu em alcool de 40º (retificado, quebra de 5%) 7295 gallões Percentagem em saccarose 47% Glucose – 0 A ultima moenda de canna para assucar foi de 173.233 kilos de canna ou 5774 almudes que rendeu em aguardente de bagaço 847 gallões em 28º Neste 1º semestre a quebra da retificação, contando tanto a aguardente em rama como alcool retificada a 100º centigrados a 15º temperatura, foi de 2%! Já estamos usando na apuração da aguardente em rama para a retificação, o permanganato. Os 6 depositos teem dado para esse trabalho. A pureza do alcool (exame feito pelo processo Barbet) era de 15 a 20 minutos, emquanto que hoje pelo novo systema dá uma decoloração de 43 a 48 minutos considerado alcool neutro. 7/7/99 [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 8 de Julho de 1899 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [19] Funchal 8 Julho 1899 Amigo e Senhor Henrique Pouco tenho que lhe dizer depois da minha ultima com data de 1 do corrente. O melaço de beterraba não está á data d’esta, todo destillado, falta ainda duas cubas, mas pela aguardente que já está tirada e pelas cubas que faltão destillar vejo que o rendimento deve ser melhor que o da outra remessa. Quanto a melaço da Trindade é de magnifica qualidade, fermenta muito regularmente e a paragem é de 1/4 Baumé, a fermentação é muito pura com 2,7 gramas d’acidos por litro. Tenho tido o maximo cuidado que a fermentação se fassa pura em vista da temperatura athmospherica ser alta. Do rendimento lhe darei conta na semana proxima, mas já lhe posso prophetisar um bom rendimento. O custo d’este melaço com factura e despezas até ao armazem alfandegado é de 225 reis por galão ou 5 kilogramas. Ficamos ao Lemos109 com 40 cascos de melaço da Trindade ao preço de 220 reis por cada 5 kilos (pezo da fabrica). Segundo 109 José Júlio de Lemos (1855-1914). Industrial e proprietário, sendo o dono e director da fábrica de destilação de alcool, conhecida como Companhia Nova.

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a factura e despezas que elle apresentou o melaço fica-lhe custando a 235 reis, mas seu pae recommendou-me que lhe fizesse o preço mais baixo possivel, e em vista de elle receber a/v.[?] uma lettra S/[?] Londres a 90 d/v.[?] de 150 libras, e por se esperar muito melaço na occasião e tambem por ser o melaço de qualidade um pouco inferior ao nosso 28% saccarose 38% glucose não lhe podia fazer melhor offerta. // [20] Sem assumpto para mais subscrevo-me com toda a consideração. Seu Amigo Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz [DATA: 11 de Julho de 1899 DESTINATÁRIO: E. Bernard & C.ª] 11/7 1899 Messieurs E. Bernard & C.ie Je vous pris de m’envoyer par la prochain Poste l’ouvrage en brochure in-8º de 20 pages et planche de Monsieur Georges Jacquemin110 – Les Levures pures de vin en distillerie. Ci-joint un mandat-poste de 1,50 francs prix, de votre Catalogue de 1895. [Ass:] João Higino Ferraz. Gérant de la Destillerie. Funchal. Madeira // [DATA: 13 de Julho de 1899 DESTINATÁRIO: Henrique de Meneses Borges] [21] Ill.mo Senhor Henrique de Menezes Borges 13 Julho 1899 Amigo e Senhor Borges Esqueceu-me de lhe dizer que o alcool é pago á vista, porque é essa a ordem que o senhor William Hinton deu; quando o senhor Henrique vier poderá o Amigo entender-se com ele sobre qualquer ajuste que passa a prazo. Vai a declaração de que o alcool é para tratamento de vinho, que o Amigo me remetterá assignada. Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA:15 de Julho de 1899 DESTINATÁRIO: Augusto B. C. de Sampaio] [22] Ill.mo Augusto B. C. de Sampaio 15 Julho 1899 Amigo Sampaio Fallei ao senhor William Hinton sobre o melaço e elle encarrega-me de te dizer que não pode ficar na occasião com esse melaço visto <ter> encomendado grande quantidade d’elle de Demerára, Cuba e Trindade e não poder fazer n’esta occasião offerta alguma. Teu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 15 de Julho de 1899 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [23] 15-7-1899 Amigo e Senhor Henrique Tenho o prazer de confirmar o que lhe disse na outra carta com relação ao melaço da Trindade: O rendimento foi superior ao meu calculo devido á bôa fermentação desde o seu principio até ao fim; o grau de paragem foi de 1/4 Baumé em todas as cubas, e a acidez regular entre 2,5 a 2,7 gramas por litro, o que no verão é rarissimo, e o rendimento em alcool de 40º Cartier foi de 10,8 gallões por 100 kilogramas de melaço (com quebra de 5% no alcool). Deve ser despachado hoje o resto do melaço da Trindade (30 cascos) e fica n’esse caso o armazem prompto a receber o 110 Foi colaborador de L. Pasteur e director do Instituto Científico La Claire. Tem diversos estudos sobre as leveduras e o fabrico da cidra: Emploi rationnel des levures pures sélectionnées pour l’amélioration des boissons alcooliques (vin, cidre etc.), 1894 (Nancy, Imprimerie Nancéienne), Étude des perfectionnements apportés dans la culture et l’emploi des levures. 1893; (Nancy, Imprimerie Nancéienne), La préparation moderne de l’hydromel et des vins de fruits par Georges Jacquemin (ancien collaborateur de L. Pasteur) et Henri Alliot + 4 collaborateurs. Ch. Amat éditeur à Paris. 1906.

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melaço de Cuba. Em vista da grande procura de alcool, não tenho tido occasião de ter em deposito mais de 500 a 1000 gallões, e ainda muita temos para entregar. Depois de destillar todo o melaço da Trindade vou destilar o que se comprou ao Lemos111. Quanto ao melaço de beterraba parece-me que o senhor Hinton112 deve-lhe ter mandado a nota do rendimento, que eu lhe dei que foi 7,8 gallões d’alcool em 40º por 100 kilogramas de melaço. Agora com relação ao resultado da vistoria é que não estou nada satisfeito, visto o carregador querer livrar a Companhia dos vapores da responsabilidade dos derrames, dizendo que os derrames forão nos barcos devido a estarem um dia ao sol, e por isso a temperatura elevada ter feito com que o melaço expandice nas barricas e desse causa aos derrames; ora isto não é verdade, segundo vou expor com mais dados: O pezo bruto do melaço segundo a factura de Hamburgo // [24] é de [...] Tara.......................... 6.796 Liquido ....................49.508 O melaço pezado na Alfandega deu Pezo bruto................50.001 kilogramas Tara.......................... 6.796 “ Liquido ....................43.205 “ Contou-se todo o melaço e agua salgada que havia nos barcos não havendo prejuizo algum, e cuja agua e melaço pezou liquido 4184 kilogramas (conforme já lhe disse em outra carta) que fermentado e destillado produzio em alcool quantidade correspondente a 2450 kilos de melaço: Ora o pezo liquido de Hamburgo foi: 49.508 kilogramas Pezo da Alfandega .................43.205 Quebra .....................................6.303 Melaço junto dos barcos.............................. 2.950 Derrames a bordo do vapor ...................................3.353 kilogramas Este é que é o prejuizo real causado aos Senhores e que a Companhia não pode nem deve recusar a pagar visto a razão dos derrames ser a carga que as barricas tinhão sobre si, e que deu causa a este prejuizo. Logo que venha o melaço de Cuba vou tratar de fermentar para ver o rendimento, para por elle os senhores verem o que têem a fazer com as futuras encomendas. Sem assumpto para mais subscrevo-me com toda a consideração. Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 25 de Julho de 1899 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [25] 25/7 1899 Amigo e Senhor Henrique Depois da minha ultima carta pouco mais tenho a dizer-lhe. A Barca Felizberta chegou com o melaço de Demerára do qual pouco lhe posso dizer porque ainda se esta procedendo á descarga; mas o que lhe posso dizer de agradavel é que elle é de magnifica qualidade, amarello claro, com residuos de assucar; mostrou 44% de saccarose, e na amostra da Alfandega mostrou 45,2% saccarose. O certificado dava 45% saccarose. Quanto ao navio de Cuba não temos notícias até esta hora. Foi attendida a reclamação da contribuição Industrial com relação ao anno de 1898, em vista do accordão do Tribunal, devendo pagar por isso pela taxa meior que ainda não está determinada. Os Senhores devem ter o direito de receber o que pagarão a mais nos annos de 97 e 98, e por isso o Senhor Hinton113 já me autorizou a tratar com o Dr. N. Jardim114 sobre esse 111 112 113 114

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José Júlio de Lemos. William Hinton. William Hinton. Nuno Ferreira Jardim.


assumpto, o que vou fazer por estes dias. Sem assumpto para mais subscrevo-me com toda a consideração Seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 30 de Julho de 1899 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [26] 30 Julho 1899 Amigo e Senhor Henrique O resultado do melaço da Trindade pelo “Oliveira Mendes” foi o seguinte: 150 cascos factorados com 17335 gallões a 5 kilogramas 86695 kilogramas Pezos liquidos: Na Alfandega = 85.926 kilogramas Na Fabrica = 80.151 kilogramas Resultado do Melaço de Demerára pela Felizberta: 270 cascos facturados com 27575 gallões a 6 kilogramas = 165.090 kilogramas Pezo liquido da Alfandega = 182.426 kilogramas Dito do melaço comprado ao Francisco Roiz & C.ª 30 cascos com 2994 gallões a 6 kilogramas = 17.964 kilogramas Pezo liquido Alfandega = 20.074 kilogramas O rendimento dos 40 cascos comprados ao Lemos115 foi de 10,2 gallões por d’alcool em 40º por 100 kilogramas de melaço: Como vê o rendimento foi bom. Ao Lemos segundo elle me disse o rendimento foi de 8,5 gallões em 40º: Faço-lhe notar que eu não lhe disse o rendimento que aqui tinha dado, sô lhe pedi que me dissesse o rendimento para eu combinar com o de cá Estou desejando de ver o rendimento do melaço de Demerára que me parece deve ser bom devido á boa qualidade do melaço e á boa fermentação que fez. Na proxima malla talvez lhe possa dar o rendimento d’elle. O navio de Cuba foi arribado a São Miguel com o capitão doente. O Pedro Roiz tellegraphou emmediatamente prevenindo que o navio tivesse o menos demora possivel n’esse porto, e dessem logo tellegramma da sua sahida. // [27] Temos trabalhado aos domingos com o retificador, isto é não tem parado um momento. Quanto ao destillador não tem havido necessidade de trabalhar tambem ao domingo visto haver aguardente em rama suficiente que o retificador não dá vencimento. Vou na proxima semana desfazer o resto do melaço de Hamburgo porque qualquer dia temos ahi nova carga e não há outro armazem para o pôr. Sem assumpto para mais subscrevo-me com estima Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 6 de Agosto de 1899 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [28] 6 agosto 1899 Amigo e Senhor Henrique O rendimento do melaço de Demerára foi de 10,3 gallões d’alcool em 40º por 100 kilogramas de melaço (quebra de 5 %): Não foi tão bom como eu esperava, devido talvez a que a temperatura athmospherica influiçe n’esta qualidade de melaço cuja fermentação era muito forte e rapida aquecendo muito, e como é grande o desprendimento do gaz acido carbonico levava consigo algum alcool formado, ainda que a acidez era pouca, 2,2 a 2,3 gramas por litro e paragem de 3/4º e 12º, em quanto que o da Trindade a fermentação era menos tumoltuosa[?] e mais demorada aquecendo pouco e paragem de 1/4, e por isso pouca evaporação d’alcool. Contudo o rendimento não foi muito mau mas esperava uns 11 gallões por 100 kilogramas: Se fosse feita com a temperatura mais fresca talvez desse. O Navio de Cuba já sahio de Ponta Delgada (São Miguel) mas o capitão ficou lá devido á sua doença; estamos á espera d’elle a todo o momento. Já se tratou para que o navio não trazendo carta perfeitamente limpa descarregue debaixo de quarentena. Este navio tambem tem dado muito que fazer á Guarda Fiscal porque desconfião que traz um grande contrabando de tabaco 115 José Júlio de Lemos.

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e sedas!!... Sem assumto para mais desejo-lhe uma boa viagem para a Madeira. Já me esquecia dizer-lhe que o Visconde de Val Paraiso pede-me para lhe dizer que não se esqueça das casinhas Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 6 de Agosto de 1899 DESTINATÁRIO: Charles Hinton] [29] 6 Agosto 1899 Ill. Senhor Carlos Envio-lhe como é seu desejo a nota de comparação dos rendimentos dos diversos melaços comprados ultimamente: 1ª remessa de melaço de Beterraba com 47% de saccarose – custo por kilograma 62 reis rendeu 7,5 gallões d’alcool em 40º por 100 kilogramas de melaço (quebra do alcool feita a 5%) 2ª remessa de melaço de Beterraba com 50% de saccarose – custo por kilograma 60 reis – Rendeu a 7,8 gallões d’alcool em 40º por 100 kilogramas de melaço (quebra de 5%). Melaço da Trindade comprado ao Lemos116 a 220 reis por 5 kilogramas – rendeu 10,2 gallões d’alcool em 40º por 100 kilogramas de melaço Ultimo melaço vindo da Trindade pelo “Oliveira Mendes” que sahio a 225 reis por cada 5 kilogramas rendeu a 10,5 gallões d’alcool em 40º por 100 kilogramas Melaço de Demerára pela “Felizberta” rendeu a 10,3 gallões d’alcool em 40º (quebra de 5%) As percentagens de assucar achadas forão as seguintes: Melaço da Trindade Lemos – saccarose: 28% Glucose 38,6 Melaço da Trindade Hinton saccarose: 50% Glucose: 19,4% Melaço de Demerára – Hinton saccarose: 45% Glucose: 22,6 [Ass:] João Higino Ferraz // mo

[DATA: 10 de Agosto de 1899 DESTINATÁRIO: António da Silva Manique] [30] Ill.mo Senhor Antonio da Silva Manique 10 Agosto 1899 Amigo e Senhor Os Senhores William Hinton & Sons podem ceder-lhe uma pipa de alcool em 40º a prompto pagamento ao preço de 1150 reis por gallão. Quanto ao casco não podemos fornecer por o não termos em condições para isso. De V.ª S.ª Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 14 de Março de 1900 DESTINATÁRIO: Cardoso, Dargent & C.ª; LOCAL: Lisboa] [31v] 14 março 1900 Ill.mos Senhores Cardoso, Dargent & C.ª Lisboa Vejo-me na rigorosa obrigação de lhe escrever juntando os meus protestos aus[sic] dos Ill.mos Senhores William Hinton & Sons, com relação á construcção dos apparelhos de diffusão visto ter sido eu o que primeiro tratei com V.as Ex.as a construcção do dito aparelho e que depois o cedi aos ditos Senhores Hinton & Sons acceitando V.as Ex.as esta cedencia. Contudo visto ser eu o gerente da fabrica de Destilação da dita firma, cumpre-me informal-os do estado em que se achão as torneiras com femia de ferro de quatro vias e macho de latão com abertura em anglo recto: As torneiras estão em estado lastimoso de derrame tanto para o lado de dentro como para fora, e não havia meio de as vedar, dando em resultado que na laboração do anno passado 116 José Júlio de Lemos.

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tivemos graves prejuizos. Se V.as Ex.as se tivessem cingido ao que tratamos em Lisboa quando ahi estive, na forma da construcção das torneiras que eram de ferro fundido tanto o macho como a femia e fechadas na parte inferior, com bucim na parte supperior, nada d’isto se teria dado. Vemo-nos na obrigação de as transformar completamente para evitar mais prejuizos. Para maior certeza do que acabo de lhe referir seria bom V.as Ex.as encarregassem o seu agente na Madeira a vir verificar de visu, o que acabo de lhes referir. Sou de V.as Ex.as Attencioso Venerador [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 3 de Novembro de 1900 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [32] 3 novembro 900 Amigo e Senhor Henrique Aviamos o lote Nº 29, melaço da Fabrica que deu o rendimento de 6 7/10 gallões d’alcool a 100º a 15º temperatura por 100 kilogramas de melaço. Este melaço foi desfeito como sabe em 9º a 10º Baumé com uma acidez inecial de 3 gramas por litro e final com a media de 4 gramas; grau de paragem 2 3/4º Baumé. O lote Nº 22 tambem melaço da fabrica deu por 100 kilogramas de melaço 6 8/10 gallões a 100º a 15 temperatura. O rendimento medio dos melaços da Fabrica do anno de 1899 foi de 6 5/10 gallões a 100º a 15 temperatura. Quanto ao melaço da Refinação de Lisboa estamos principiando a destilal’o. Este melaço desfiz tambem em 9º a 10º Baumé com uma acidez inecial de 1,6 gramas por litro; O grau de paragem foi de 3/4º Baumé com uma acidez final de 2,7 gramas por litro. Tenho esperanças que o rendimento em alcool seja de 9 gallões por 100 kilogramas em 100º a 15 temperatura como lhe tinha dito. A experiencia feita em 1899 com este melaço deu 8 8/10 gallões a 100º a 15 temperatura. A fermentação é muito boa, e a destillação faz-se bem dando um alcool rasoavel, não mostra o cheiro caracteristico ao melaço (petrolio). Já se desfizeram 140 barricas d’elle. Por emquanto vai tudo bem. Do que houver lhe darei conta na proxima carta. Seu Amigo Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 9 de Novembro de 1900 DESTINATÁRIO: Dr. João Albino Roiz de Sousa] [33] 9 Novembro 900 Amigo e Senhor Dr. João A. R. de Sousa Como o Ex.mo Senhor Carlos Hinton não lhe pode escrever n’esta occasião, pedio-me para o fazer, sobre o assumpto da Fabrica de Sant’Ana: Estivemos com o Senhor Governador Civil no mesmo dia em que recebemos a sua carta, demos-lhe todas as explicações que sabiamos sobre o assumpto, fazendo-lhe ver os graves prejuizos que pode causar á agricultura e á industria a prohibição da fabricação em aguardente do sorgo e canna do milho. Dissemos que a fabrica tinha pedido auctorisação para laborar estas materias primas em alambiques continuos, e que lhe tinha sido passada a respectiva licença; não sei se isto se passou assim, isto é, se o amigo tem em seu poder a auctorisação para laborar n’estas condições. Elle prometteu-nos tratar n’esse mesmo dia d’este negocio, mandando chamar o Comissario do alcooes [sic] para saber o que havia de verdade e que nos daria a resposta no dia seguinte. Hoje fui eu la saber o que se poderia fazer, e o Senhor Governador Civil disse-me o seguinte: Que no caso da Fabrica estar habilitada a destillar o sorgo e canna do milho em alambiques continuos, não havia duvida nenhuma que estavão d’entro da lei, visto lhe ser dada a licença podendo laborar sem receio, mas no caso de não estar a licença passada n’essa conformidade, poderia contudo laborar até que elle fizesse ver ao ministro os inconvenientes que isso traz, e conseguir que por uma portaria, essas duas materias primas, sorgo e canna do milho, gozem do mesmo privilegio que a canna de assucar. Elle pede para lhe mandar a licença para elle ver em que condicções foi passada, e espero que o Amigo me enviará o mais breve possivel. // [34] Agora uns conselhos que lhe vou dar á parte; não fassa alarde politico d’esta concessão que isso nos pode prejudicar: Não tenha aguardente de sorgo e canna do milho em deposito na Fabrica, remova-a o mais depressa possivel para logar seguro, e a que se for destillando pondu-a[sic] com dôno. Esperando a sua resposta o seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //

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[DATA: 10 de Novembro de 1900 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [35] 10 Novembro 900 Amigo e Senhor Henrique Hinton Acabamos o lote Nº 30, melaço da Refinação de Lisboa. – O rendimento foi de 8,6 gallões d’alcool a 100º a 15 temperatura por 100 kilogramas de melaço. – O grau de paragem foi na media de 5/4 Baumé, a acidez inecial 1,7 a 1,6 gramas e a final 3 gramas na media Este melaço foi o que se tirou a amostra na Alfandega que tinha: 40% saccarose 59,5% assucar total 19,5% glucose O melaço d’esta mesma proveniencia que veio em abril do anno passado deu 8,6 gallões em 40º com 5% quebra: tinha 52% saccarose. Como vê o rendimento não chegou ao que eu esperava mas isto devido a que o grau de paragem que eu calculava ser de 1/2 Baumé foi de 5/4º, o que dá uma differença no rendimento: Ainda assim o lucro não é mau em comparação com o que se está tirando dos outros melaços. O melaço da Fabrica deve ficar todo desfeito na semana proxima. Segundo o que calculei com o Joãozinho do que está por desfazer, nos filtros e tanques, vejo que vai dar muito mais melaço na porporção da canna moida, pela do anno passado; calculo em 440 cascos em quanto que o anno passado deu 354 cascos. Senhor Henrique no caso de hir a Paris pedia-lhe o obsequio de me comprar um candieiro “Denayrouse” de incandescencia pelo alcool da força de 20 vellas (bougies). Desejava ter um d’estes candieiros que me dizem dar uma luz magnifica. Sem assumpto para mais subscrevo-me com toda a consideração. Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 15 de Novembro de 1900 DESTINATÁRIO: Pedro Rodrigues] [36] 15 Novembro 900 Amigo e Senhor Pedro Rodrigues Fallei com O Ex.mo Senhor Carlos Hinton sobre o melaço que a firma Rodrigues & Abreu tinha comprado em Demerára (200 cascos) a 25 cents[?] o gallão. O melaço posto no porto do Funchal fica por um preço bastante elevado, mas em vista da escassez e preço elevado em todos os mercados, disse-me que pode ficar com o dito melaço desde o momento que seja do de melhor qualidade, com 65% d’assucar total pelo menos, egual ao que lhe compramos em Julho do anno passado vindo pela “Felizberta” (30 cascos). Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 8 de Dezembro de 1900 DESTINATÁRIO: Cardoso, Dargent & C.ª; LOCAL: Lisboa] [37] 8 Dezembro 1900 Ill.mos Senhores Cardoso, Dargent & C.ª,Lisboa Amigos e Senhores Em resposta á sua attensiosa carta com data de 18 de novembro do corrente, tenho a dizer-lhes que senti bastante a forma pouco delicada como foi tratado. Como V.as Ex.as devem ver da correspondencia da firma João Higino Ferraz & C.ª com V.as Ex.as, em carta com data de 19 de novembro de 1898 cedemos aos Ill.mos Senhores William Hinton & Sons todos os direitos nos apparelhos de diffusão, o que V.as Ex.as asseitaram, não tendo por isso eu, João Higino Ferraz & C.ª, nada que ver com questões suscitadas entre V.as Ex.as e os Ill.mos Senhores William Hinton & Sons. Quanto ao que V.as Ex.as esperam do meu bom caracter que empregue junto dos Ill.mos Senhores William Hinton & Sons os meus bons officios, tenho a dizer-lhes que os socios d’esta firma têm a capacidade moral sufficiente para derigirem os seus negocios, não necessitando dos meus conselhos nem de outro qualquer. // [38] Como o Ex.mo Senhor Henrique Hinton não esta presentemente na Madeira, e como foi elle que tem tratado todo este

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assumpto com V.as Ex.as, seu irmão o Ex.mo Senhor Carlos Hinton aguarda a sua chegada para responder-lhes defenitivamente. E sem assumpto para mais Seu Attencioso Venerador [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 18 de Dezembro de 1900 DESTINATÁRIO: João Albino Roiz de Sousa] [39] 18 Dezembro 1900 Amigo e Senhor João Albino Rois de Sousa Na impossibilidade do Ex.mo Senhor Carlos Hinton lhe poder responder a sua carta por isso que elle partiu hontem para Londres, fasso-o eu, dizendo que recebemos o seu telegramma d’hontem participando que tinha tido selada a aguardente existente na Fabrica. Sinto bastante que isso se tivesse dado, mas o meu Amigo deve ter a minha carta com data de 9 de novembro em que lhe dizia não tivesse em deposito na Fabrica aguardente, e se tivesse tomado o meu concelho não lhe teria sucedido isso. Nesse mesmo dia foi ao Governador Civil participar-lhe o sucedido e elle respondeu-me com evasivas, e sô depois de eu lhe fallar um pouco mais energico lembrando-lhe o que elle tinha prometido, é que elle se dignou dizer-me que em Lisboa havia de tratar d’este assumpto. Não trata de nada, as eleições estão passadas e já não necessita nem dos Senhores nem de nós. O Ex.mo Senhor Henrique Hinton deve estar aqui amanhã 19 e elle lhe escreverá. Recebemos um bilhete postal seu e que ficamos ciente do seu contiudo. Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 29 de Dezembro de 1900 DESTINATÁRIO: Charles Hinton] [40] 29 Dezembro 1900 Ill. Amigo e Senhor Carlos Na semana passada não lhe escrevi porque pouco teria que lhe dizer. O engenho veio no dia 22, e sô uma pequena parte dos apparelhos do Manoury (filtros mechanicos)117 é que vierão. Vai fazer algum transtorno esta demora, visto que o resto dos apparelhos sô estarão aqui no sabado proximo, o que faz uns 15 dias de atrazo. O Manoury queixa-se do carregador (por[?] Best) que em logar de escolher o porto de Havre escolheu o outro <porto Dresde> cuja companhia de caminho de ferro é uma sô, que faz muitas estações, o que fêz com que parte das Machinas ficassem pelo caminho confundidas com outras cargas: Mas se elle Manoury via que pelo Havre a condução era mais rapida e não estava sujeita a este contratempo, por que não o aconcelhou?!... Emfim agora não há remedio e logo que ellas chegem vamos tratar da montagem d’ellas, e tenho esperanças que em 15 dias se ponha tudo prompto. O Mestre João já anda a contas com o engenho, até agora tem dado tudo certo, está montando hoje os cylindros. Acabei o lote de Melaço de Lisboa que rendeu 8,37 gallões d’alcool a 100º a 15 temperatura: deu menos 0,23 gallões por 100 kilogramas melaço que o 1º lote. Esta differença no rendimento deve ter sido devida a que o melaço que ficou para este lote é o tal que // [41] tinha umas barricas de melaço muito delgado e que mostrou pouca saccarose (16%). Quanto ao melaço de Beterraba deu 8 gallões a 100º, a 15 temperatura por 100 kilogramas melaço, o que é um bom rendimento. Os tubos de cobre sempre vieram no sabado, vamos dar principio ás buquilhas como o senhor Carlos tinha recommendado. Juntamente com o engenho veio tambem as peças das centrifugas O Manoury escreveu sobre a mostra de assucar do Natal que o senhor Carlos lhe enviou, e diz elle que aquella qualidade é devido á má fabricação e que o de câ não sahirá assim. Sem assumpto para mais subscrevo-me com toda a concideração Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Ferraz mo

117 Cf. GROBERT, J. de, LABBÉ, G., MANOURY, H., VRESE, O. de, Traité de la Fabrication du Sucre de Betteraves et de Cannes, Tome Second, Paris, Self-Édition Technique, 1913.

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[DATA: 15 de Janeiro de 1901 DESTINATÁRIO: Charles Hinton] [42] 15 Janeiro 1901 Ex.mo Amigo e Senhor Carlos Até que emfim chegarão as machinas no dia 12 do corrente, ficando tudo na Fabrica no dia 14. Temos tirado tudo dos caixões, e parece não faltar absolutamente nada, vem tudo em boa ordem a não ser uns quadros dos filtros presses que trouxerão uns descanços partidos mas que se vão concertar; Já se principiou a montagem dos apparelhos; felizmente as machinas não teem feito grande falta viste se estar trabalhando nas buquilhas dos canos de cobre e ter feito a montagem dos filtros mechanicos. O engenho de espremer já está todo montado, menos o elevador do mato para queimar que ainda não está no seu logar. A mim é que as cousas não tem corrido nada bem. Os fermentos não tem querido desenvolver bem de maneira que já tenho feito 3 fermentos e perdido dois, este ultimo é que esta desenvolvendo bem mas foi feito nos apparelhos antigos. Não sei se devido ao acetato de cobre que se formou dentro dos apparelhos emquanto esteve parado nestes dias de festa, que não me parece que seja de outra cousa em vista do gosto prenonciado a cobre que tem a bebida, que mata o fermento não o deixando desenvolver. Tive o cuidado de lavar a vapor todos os apparelhos mas mesmo assim não foi sufficiente. Como tenho o fermento feito nos apparelhos antigos, vou principiar a desfazer o melaço e pode ser que então desapareça todo118 // [43]119 [DATA: 5 de Fevereiro de 1901 DESTINATÁRIO: Visconde de Idanha] [44] 5 Fevereiro 1901 Ill. Amigo e Senhor Visconde de Idanha Que este novo anno lhe traga todas as prosperidades por si desejadas é o que de coração lhe deseja este seu Amigo. É chegada a occasião de o massar com o meu pedido que quando ahi estive lhe fiz, e espero que a sua preciosa cooperação e influencia muito poderá fazer. Como sabe não tenho hoje Fabrica minha, mas os meus interesses estão de tal forma ligados com a industria do fabrico do assucar e alcool, e alem d’isso como pequeno propriatario que sou e por ver que é de grande interesse para a agricultura da Madeira, me interessa bastante esta questão. Passamos ao assumpto: O decreto de 30 de Dezembro de 1895 procurou conciliar os interesses de um dos dois principaes ramos da agricultura dos Destricto [sic], a canna saccarina com a industria do fabrico do assucar e alcool e ainda com outro ramo egualmente importante, a vinha e com a industria d’ella derivada a exportação de vinho; // [45] Este decreto foi o resultado de reuniões de commições, tanto de fabricantes como de propriatarios, e sendo tambem approvado por unanimidade pela Grande Comissão da Madeira, que tinha por fim zelar os interesses da agricultura, com o fim de salvar a cultura da canna saccarina d’esta Ilha, cultura que hoje é calculada entre 400 a 500 contos de reis. O Decreto obriga os Fabricantes d’assucar e aguardente que se matricularem á compra de toda a canna de assucar pelos preços minimos de 400 a 450 reis por 30 kilogramas marcados cada anno pela Delegação do Mercado Central de Productos Agriculas. O meio então pelo qual se conseguio <a> conciliação dos Industriaes e propriatarios foi o abaixamento do imposto sobre o melaço estranjeiro, destinado, exclusivamente, ao fabrico do alcool para tempero de vinhos, e d’ahi resultaram decididas vantagens, que por um lado, garantiram todos aquelles interesses e pelo outro asseguraram ao estado maiores rendimentos Alfandegarios, porque sendo o anterior direito prohibitivo, ou quasi prohibitivo, pouca ou nenhuma receita arrecadava o Estado d’essa proveniencia. Variaram, porem, as circunstancias economicas // [46] que serviram de base á referida lei, e d’ahi a exposição e pedido dos Fabricantes e importadores de melaço. As vantagens da importação do melaço commeçaram a diminuir em 1897 e hoje desapareceram por completo, em vista da subida enorme que tem havido no preço dos melaços nos mercados estranjeiros e da differença nos cambios. Os preços dos melaços no anno de 1896, confrontados com os preços actuaes são uma demonstração clara d’essa variação: Em 1896 o custo do melaço na Trindade era de 4 a 6 cents e hoje está a 14 cents; os de Demerára em 1896 era de 8 a 10 cents, hoje custa 20 a 25 cents; O cambio que em 1895 estava a 5,500 reis, está hoje a 6500 reis; O custo do carvão mineral que era de 7000 reis por tonelada está hoje a 11000 reis. mo

118 Como se constata, esta carta encontra-se truncada. 119 Este fólio encontra-se em branco.

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Não é esta differença de preços um facto occasional, como não é tambem occasional a variante dos cambios e combustivel, de modo que d’essas duas causas resulta um desequilibrio impossivel de sustentar sem a ruina certa dos importadores, impossibilitando-os portanto de continuarem a garantir aos agricultores os preços minimos da canna de assucar. Nem pode dizer-se que aquelle augmento de preço da materia prima de alcool deve corresponder um // [47] augmento de preço do producto fabricado, porque lhe obsta o preço das aguardentes de cereaes e batata dos Açores em concorrencia com a do melaço, e ainda porque esse augmento de preço, quando possivel, se por um lado continuava a garantir a cultura da canna, pelo outro prejudicaria a cultura da vinha e a industria d’ella derivada. Nestas circunstancias é de clara intuição que o remedio aos males que de um tal desequilibrio resultam não pode ser outro senão uma modificação no imposto de importação do melaço correspondente á alta dos preços e cambios, ficando o Governo auctorisado a diminuil’o segundo as condições do custo d’esta materia prima. O Depotado pelo circulo do Funchal, Dr. Quirino Avelino de Jesus, toma esta questão a peito visto reconhecer que é de grande vantagem para o seu Destricto a continuação da lei com as modificações pedidas, que são de toda a justiça; os fabricantes d’assucar e aguardente matriculados não se podem obrigar a garantir preços tão elevados pela canna, que algumas vezes lhe deixa prejuizos, sem que tenham onde ir boscar lucros, que a canna lh’os não deu. // [48] Foi o Governo Regenerador que em 1895 fez esta lei que tantos beneficios trouxe á Madeira e que por isso tão sympatico se tornou, e é de grande vantagem que seja elle que novamente venha renovar esta lei. O Amigo como bom político deve ver isso perfeitamente. Sem assumpto para mais, tenho a certeza que a coadjuvação do meu bom Amigo nos será muito util, e o seu nome não será esquecido n’este bocadinho da Patria. Subscrevo-me com toda a concideração: Seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Hygino Ferraz // [DATA: 19 de Março de 1901 DESTINATÁRIO: Júlio A. Ferraz] [49]19 Março 1901 Meu Caro Julio Deves ter recebido a minha carta em que te dava resposta aos questionarios que me apresentaste sobre fabrico de assucar. Sô depois de te ter escrito é que fallei sobre o assumpto ao meu Amigo Ex.mo Senhor Henrique Hinton socio Gerente da firma William Hinton & Sons, o qual me pede para te escrever fazendo a proposta de venda dos apparelhos que presentemente estão em laboração na nossa Fabrica, devido a que tendo de augmentar a producção ou consumo da canna diaria, em volta d’estas novas castas de canna chegarem ao seu estado de maturação muito mais cedo que as antigas castas, e tambem por exigencia dos lavradores vimo-nos obrigados a fazer a laboração em 3 mezes o que fazemos agora em 4 mezes. Nesta circunstancia ou temos que augmentar e modificar os apparelhos que temos, ou mandar vir outros maiores. Os apparelhos estão a funcionar regularmente o que garantimos, para uma produção em 24 horas de 180.000 kilogramas de canna. Os apparelhos consta de um engenho a vapor, um aparelho completo triple effet e sua bomba d’ar para a evaporação da garapa no vacuo, uma caldeira de vacuo com sua bomba. Estes apparelhos são da casa constructora da Societé Anonyme de Construction Mecaniques de Saint-Quentin (Aisne). Alem estes aparelhos podemos tambem fornecer outros, taes como, caldeiras de vapor, defecadores e centrifugas. Todos estes apparelhos // [50] estão em laboração de forma que, podes vir ou mandar verificar por pessoa competente, por isso que laboramos até os fins de mais. Vendemos estes apparelhos com 50% de abatimento do custo d’um apparelho congênere completamente novo. Como devemos ter a nova montagem prompta para a laboração de 1902 desejamos a resposta defenitiva de compra ou não compra até o fim da presente laboração. Parece-me que esta offerta é de grande vantagem para a Companhia, porque sendo os apparelhos todos mais ou menos modernos e em bom estado de conservação podem obter uma boa Fabrica por metade do custo dos apparelhos completamente novos. Desejava me desses o mais breve possival resposta a esta minha carta para nosso governo. Sem assumpto para mais faz os meus respeitosos cumprimentos á prima D. Belmira e Maria Theresa. Recebe um abraço do teu primo e Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz //

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[DATA: 12 de Agosto de 1901 DESTINATÁRIO: H. Manoury; LOCAL: Paris] [51v] 12 Aout 1901 Moncieur H. Manoury, Paris Monsieur Je tiens á vous remercier [...] de votre carte d’introduction auprés de Monsieur A. Hoffman, le Directeur des los Establecimentos Agricolas y Azucareros de Don Pedro d’Alcantara, Marbella. Cette carte m’a procuré un accueil plein d’attentions, les plus aimables et dont je suis extremement reconnaissant. Il est de mon devoi de dire autant de Monsieur l’Engenieur de la même usine, de tous les rensegnements [...] j’avais [...] Je vous prie, Monsieur, d’agréer avec mes remerciements reitérés l’assurance de mes sentiments bien distinguis, [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 13 de Agosto de 1901 DESTINATÁRIO: João Albino Roiz de Sousa; LOCAL: Santana] [52v] 13 agosto 1901 Ex.mo Amigo e Senhor João Albino Rois de Sousa Sant’Anna Recebemos a sua carta com data de 11 do corrente e juntamente uma carta do Cruz Vieira dirigida a si. Naturalmente o Amigo ignora que o Senhor Henrique Hinton sahio hontem[?] para Londres e por isso não lhe pode responder de proprio punho. Fallei ao Cruz Vieira sobre o assumpto e elle mostrou-me o telegramma que tinha recebido de si em que mandavam incluir o sorgo no Artigo 58 Nº 3 do decreto de 14 de Junho ultimo. Quanto á astea do milho nada sei. Quanto á destillação do sorgo é minha opinião que desde o momento em que foi autorisado a incluir no Nº3 do decreto fica considerado como canna e não como materia prima de outra classificação, mas elle entende assim, e como o Amigo elle é teimoso na sua maneira de ver e não vejo necessidade de levantar uma questão, visto o Amigo dizer que o sorgo este anno não val a pena laborar acho melhor não fazer nada visto a licença não fallar em sorgo. Quanto á astea do milho é que vai ser mais dificil de resolver visto ter que pedir novamente auctorisação para isso; não fallei ao Governador Civil sobre isso porque não lhe foi ainda apresentado, // [53v] mas o Sobral ja me prometeu que me apresentaria, e mesmo fallaria sobre esse assumpto de forma que nada lhe posso dizer por emquanto. Vou mandar as pipas[?] [...] receber a aguardente e já dei ordem[?] na agencia para que logo que aqui chegue a pipa que o amigo ahi tem m’a remmeteram Sem assumpto para mais sobscrevo-me Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: ? DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [54] [...] de 30 cascos com melaços de 3en [...] de 1901 que me deu o seguinte resultado: [...] : 38,4% – assucar total 53,19% – [...] 15,48%. Comparando esta analyse com a [...] destillado do anno 1900 que foi de: saccarose 20% assucar [...] 52,14[?]% – glucose 40,1%, vê [...] neste anno (1901) foi muito [...] que os assucares [...] menor quantidade [...] da glucose de 1900 [...] que nas produzem [...] na fermentação [...] do melaço[?] da Fabrica e logo que obtenha [...] pequeno [...] 16 a 18 sacas por dia [...] quanto que o anno passado sô se tirou 8 a 10 sacas no mesmo tempo. Bombas [...] “America” estão trabalhando bem, e o despendio de vapor é pouco Bomba “Worthington” – Já tirei as medidas: pela nota que eu vi na sua carta, vejo que sô lhe tinha mandado o deametro e comprimento dos cylindros [...] em quanto que agora vão as medidas completas dos pistons da agua. Triple-effet – os desenhos com todos os [...] vão neste vapor. Principiou-se a tirar as [...] das [...] dos tubos que estão sendo [...] visto estarem detrioradas. [...] de Sant’Anna – João Albino Rois de Sousa escreveu-me[?] queixando-se [...] poblicada [...] destillação [...]//[55]mente não vem e que era de grande necessidade fallar ao Governador Civil sobre esse assumpto, por isso que no telegramma enviado por elle ao Governo pedia que fossem [...] as suas materias primas. Fallei ao Sobral sobre esse assumpto e elle disse-me que fallaria ao Ribeiro [...] e me apresentaria.

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Segundo o Bulletin mesmo[?] poblicado em São Miguel por Jacintho Botelho Arruda, e que lhe vai ser enviado, deve vêr que os assucares da Madeira são muito mal tratados por [...], clasificando-os como maus. Segundo vejo pelas analyses por [...], a percentagem em assucar cristalisavel é muito inferior à que tenho examinado aqui, e a soma das substancias estranhas como glucose, agua, cinzas etc. com o assucar crystalisado é superior ao pezo tomado por elle como [...] que é 100. Mesmo sem [...] destillação[?] vou enviar ao Luiz[?] S. [...] a analyse dos assucares idos[?] para São Miguel, para provar que as analyses feitas por esse Arruda não estão certas e são cavillosas. Depois o Senhor Henrique dirá o que se deve fazer para remediar isto, que pode ter grande influencia futura na venda dos assucares nas Ilhas. Bomba ou compressor d’ar Weston[?] [...] e do apparelho Barbet – O que deve[?] fazer a esta bomba. Envial’a [...] Paris ao Barbet para conserto, ou ver se se pode [...] remedio aqui mesmo visto termos um pestão e mollas[?] novas. Como sabe a que está em trabalho é[?] da Fabrica de assucar e não convinha trabalhar[?] [...] com ella para a não estragar. Fabrica da Ponte Nova: [...] Jardim[?] ainda não deu a resposta da questão[?] da agua Sem assumpto para mais Subscrevo-me Seu Amigo Muito Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 24 de Agosto de 1901 DESTINATÁRIO: ?] [56] 24 Agosto 1901 [...] acidez foi [...] passado foi de [...] Com relação ás [...] que vão á Fabrica da Ponte Nova o Dr. Nuno Jardim, diz que os [...] a essa agua, isto é, os que teem [...] mas que tambem a Fabrica tem em posse [?], e que [...] questão que pode não ser[?] favoravel[?] á Casa. Como o [...] Pereira quer [...] agua [...] a questão no caso de [...] colocada abaixo dos outros acceita-se[?]? Achava melhor acabar com a seccagem do assucar [...] centrifugas [...]120 // [DATA: 7 de Setembro de 1901 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [57] 7 Setembro 1901 Amigo e Senhor Henrique Agradeçendo a sua carta com data de [...], vou confirmar-lhe o rendimento do melaço da Fabrica n’este segundo lote feito com 82.400 kilogramas de melaço que rendeu a 6,88 gallões a 100º – O grau de paragem foi o mesmo do outro lote 2º Baumé, e a acidez tambem a mesma, 3 a 3,2 gramas por litro: este melaço mostrou na media 40% de saccarose e 10% de glucose. Ora fazendo o calculo de que 100 kilogramas de saccarose dá 60 litros d’alcool a 100º, este melaço transformou-se em alcool unicamente 41,6% da saccarose ficando por transformar 13,9% da glucose infermenticivel. A fermentação tinha um amargo bem pronunciado. Quanto ao rendimento do M2 estou certo que este mês não lhe poderei mandar a nota do rendimento como me pedio, visto termos por secar[?] ainda muitos pontos que o Joãozinho calcula não terminar senão no proximo mez de outubro. Temos desfeito até hoje 234 ponches de melaço da Fabrica, e estou quasi certo que nos deve dar uns 400 cascos pouco mais ou menos. Confirmo o que lhe disse[?] na ultima carta com relação á bomba de vacu da caldeira Ingleza, que temos espaço suficiente para a montar. Na sua carta diz que remetteu incluso a planta da Bomba – Worthington121,122, mas não a recebemos. Como até o dia 4 do corrente não tevessemos recebido ainda a planta da transformação do Triple-effet pedi ao senhor Chassereau para telegraphar á casa constructora para as enviar o mais breve possivel: O tempo // [58] vai passando e é necessario principiar quanto antes com o Triple-effet que vai dar muito trabalho. Já recebemos o melaço de Demerára (8 cascos) que foi[?] despachado em ato sucessivo: O melaço vem em boa ordem e é de boa qualidade (amarello claro). Não analysei ainda; mas estou certo pela sua aparencia ser de boa qualidade. Acabo agora mesmo de fallar com o Sothero e Silva e ficou combinado de na segunda feira proxima (9) tratarmos da escritura da compra do foro da fabrica. O sogro d’elle, o Eduardo, tinha apresentado dificuldades, porque dizia elle que o senhor Henrique tinha comprado o predio de forma que tinha mais a pagar, mas como eu lhe fizesse ver que não havia isso sempre se 120 Esta carta parece estar truncada. 121 Produzidas por Worthington Pump and Machinery Corporation, que desde 1899 apostou no fabrico de bombas. 122 Fábrica especializada em construção de bombas, material de centrifugação, com unidades fabris em Newark e Londres. Começou por se chamar James Simpson & Co.

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resolvera a venda pela avaliação. Sem assumpto para mais subscrevo-me com toda a comsideração Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA:13 de Setembro de 1901 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [59] 13 Setembro 1901 Amigo e Senhor Henrique Agradeço a sua carta da data de 4 do corrente. Com respeito ás [?] centrifugas “Weston” que pede a minha opinião, o que unicamente lhe posso dizer, é que as centrifugas em si são de muito bom systema[?], visto eu ter visto em Hespanha n’uma das fabricas que visitei uma que [?] teria de 4 centrifugas para a laboração de 100.000 kilogramas de canna em 24[?] horas, e o engenheiro da dita fabrica as ter gabado muito, pelo trabalho que produzem e serem de muita duração[?]. O movimento era produzido por uma [...] machina de vapor. Quanto [...] a agua (torbinas) para produzir o movimento directo das centrifugas acho muito bem enginhado, mas tem uns [...] que lhe vou espôr e que o Henrique bem deve comprehender. Temos que para produzir o movimento d’essas centrifugas, dois motores; um que é uma bomba duplex, que deve trabalhar com [...] perção de vapor entre 50 a 60 litros[?] que como sabe é defícil [...] com as auctuaes caldeiras que temos[?]. Outro motor que é a turbina que produz o movimento directo da centrifugas [sic]. Um desarranjo que se vê na bomba duplex occasionou uma paragem completa da secagem do assucar. Um desarranjo na turbina, fica inutilisavel uma centrifuga, e como elles propôem as centifugas (que acho [...] mas com uma sô [...]// [60] A minha opinião é que as centrifugas “Weston” são magnificas desde o momento que o movimento seja produzido por uma unico [sic] motor a vapor. Quanto á economia de vapor já fazemos [...] substituindo as [...] das auctuaes centrifugas por um unico motôr. O vapor [...] motor não é perdido por não [...] é aproveitado na evaporação da garapa. Temos secado até hoje [...] de M2 que produziram 464 ponches[?] e temos para secar 3 ponches[?]: O melaço desfeito até hoje dá [?] 300 ponches. Principiou-se hoje nos ponches[?] grandes. Temos em [...] 520,[?] gallões d’alcool. [...] a aguentar isto de forma a [...] falta d’alcool; para a proxima semana vou continuar a restillar que pode [...] uns 35[?] [...]. O que não val é que o [...] do alcool bruto. O Enginheiro está tirando as medidas para o cano [...] do vapor como o senhor Henrique pedio ao Chassereau, mas já lhe pedi para não lhe mandar sem me mostrar. Com franqueza lhe digo[?], não tenho por emquanto grande confiança nos trabalhos do Engenheiro, a [...] com muito pouca pratica[?]. Acabo de receber (13 – ás [...]) o seu telegramma dizendo aceite[?] [...] conto. Nada lhe quiz escrever [...] carta, com relação as [...] dos foros sem receber o seu telegramma, o que vou [...] fazer. Como na outra carta disse, o Sothero e Silva ficou de vir na segunda feira para assinarmos[?] a escriptura, mas como [...] ver a antiga escriptura do terreno afurado, para [...] as confrontações foi necessario // [61] que elle dêsse a nota em que [...] se poderia encontrar isso: assim se fez e demos com essas escripturas cujas notas[?] lhe envio juntas. Como [...] elle ficou conhecendo o terreno que occupa o foro[?], e calculou que os bens de raiz, isto é, as construcções existentes sobre esse terrenos, [...] 9 alqueires, tinham algum valor, e que não podia fazer a escriptura sem consultar o avô e o sogro. Sô hontem (12) é que veio com a proposta de que fazia a escriptura dando o senhor Henrique um conto de reis sem mais despeza alguma. De forma que nada quiz decidir sem sua auctorisação de forma [?] mais [...] era o telegramma. O terreno foi [...] dando-lhe um valor de 100$ reis por alqueire, o que se vê que os 9 alqueires val 900$ reis ora comprando o Senhor Henrique por 1.000$ reis parece-me que não compra caro. O Sothero sô deu por o valor estipulado na escriptura depois de ter feito a promessa de venda, de forma que não poude faltar com a palavra dada. A medição total do terreno da fabrica é de 17 alqueires e 292 metros quadrados. Quando o Senhor Henrique vier havemos[?] de conversar sobre o outro foro que por emquanto não convem fallar nisso. Li os artigos do jornal republicano O Norte, do antigo Deputado republicano Eduardo Abreu, sobre a nova lei das Adegas sociaes e sobre o alcool, artigos de critica muito bem escriptos mas que pouco // [62] peso teem sobre o Governo por vir de onde vem; elle considera a Madeira e os Açores prejudicados com essa Lei. Essa lei é a de 14 de Julho ultimo que o Senhor Henrique já conhece. Não pode acignar hoje a escriptura por faltar um decomento da conservatoria, que na segunda feira se vai obter. Sem assumpto para mais subscrevo-me Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //

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[DATA: 21 de Setembro 1901 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [63] 21 setembro 1901 Amigo e Senhor Henrique Recebi a sua carta com data de 12 do corrente o que muito agradeço. Está terminado o negocio do foro do Conde da Calçada, a escriptura foi registrada na Conservatoria. Quanto ao outro foro, pertence ao Conde de Rezende, que vive mesmo em Lisboa; foi-lhe dado em duação de forma que elle não pode vender sem que faça passar esse dote para outro prédio qualquer que possuia, com auctorisação do Juiz, e como o Senhor Henrique tenciona hir a Lisboa era uma boa occasião de fallar com elle a esse respeito. Com relação a eleições, farei o que me diz na sua carta, mas não vejo probabilidades de ver resolvida a questão do melaço antes das eleições. Acho-lhe rasão em não se metter em nada abertamente, para não voltar contra si os do partido Progressista. Recebemos os planos dos apparelhos a construir, acho que não falta nada pelo contracto feito conforme as cartas e devis apresentado pela casa constructora com data de 29 de maio do corrente. Pela carta (copia) que o Chassereau escreve á casa constructora verá o Senhor Henrique as respostas que lhe dou. Os poços grandes tem rendido muito menos assucar que os outros, mas não é devido a não estar toda a crystalisação formada, por isso que fiz uma analyse do melaço tirado d’este assucar que sô mostrou 38,4% assucar emquanto que nos outros mostrou 39 e 40%. // [64] O assucar d’estes poços é de boa qualidade: cousa curiosa, tem um crystal relativamente grosso e solto. O melaço é que vai dar mais do que calculava, por isso que temos desfeito até hoje 421 cascos, e com o que temos para secar não deve dar menos de 500 a 520 cascos. O rendimento do melaço por 100 kilogramas d[sic] canna não deve talvez ser inferior ao do anno passado. Lembro ao Senhor Henrique que, como vai mandar a bomba de vacu para a caldeira ingleza, seria talvez bom enviar para Londres a velha dizendo que hia a concerto, para evitar de pagar os direitos da nova. Já demos principio ao trabalho a fazer no Triple-effet conforme a planta. O enginheiro está tirando as medidas do tubo geral do vapor; eu disse-lhe que seria com tambem um ramo de 5 polgadas para trazer o vapor para as centrifugas, caldeiras de vaco e bombas, alambiques, serra e tenda, mas este tubo sô deve vir até á caldeira de vapor franceza que fica ao pê do alambique; se o Senhor Henrique acha isso conveniente, fazer então a incommenda. Este tubo evita 3 que ao presente estão montados. Sem assumpto para mais subscrevo-me com toda a Concideração Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 28 de Setembro de 1901 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [65] 28 setembro 1901 Amigo e Senhor Henrique Recebi a sua carta com data de 18 do corrente o que muito agradeço. Fico ciente do que me diz com relação a eleições. O J. Ribeiro da Cunha tornou-me a fallar sobre o assumpto, mas como eu lhe disse as suas instrucções, parece-me não ter ficado muito satisfeito, e pedio-me a sua direcção; julgava que era para lhe escrever mas depois sube que foi para lhe telegraphar; não sei se sempre lhe teria mandado o telegramma, o que sei é que nunca mais me fallou no assumpto. Esta naturalmente é a ultima carta que lhe escrevo visto ter <assim[?]> que partir para Paris proximo mez. Com relação ao assucar M2 nada lhe posso dizer com verdadeira certeza, porque não acabamos de secal’o senão na proxima semana. Mas como o Senhor Henrique tem grande desejo de saber o rendimento comparativo do assucar do anno passado e d’este anno, naturalmente para dizer ao Manoury123 posso mandar-lhe o rendimento aproximado do M2 e melaço. Na nota junta verá o termo de comparação dos dois annos. Como o melaço tem dado em alguns lotes mais algum rendimento que o anno passado pode-se calcular o melaço dar na porporção da canna moida o mesmo que o anno passado // [66] como vê pela nota junta o rendimento em assucar real está em comparação com as analyses da garapa, o que quer dizer que a fabricação foi bôa. Deveria dar talvez menos melaço mas com os cosimentos de 2º e 3º jet em grande quantidade, caramelisou muito assucar 123 H. Manoury é engenheiro de açúcar, tendo sido Presidente de l’Association des Chimistes de Sucrerie et de Distillerie. Cf. FRITSCH, J. (Jean), b. 1858, ed. Traité de la fabrication du sucre de betteraves et de cannes, par J. de Grobert ... G. Labbé ... H. Manoury ... [et] O. de Vreese ... Ouvrage publie par les soins de J. Fritsch ... Paris, J. Fritsch, 1913.

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crystalisavel que foi perdido para a fabricação. No anno proximo tenho esperança que com um bom mestre cusidor d’assucar deve o rendimento do 1º jet ser muito meior. Sem assumpto para mais espero a sua chegada á Madeira no proximo outubro Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [67] Rendimento comparativo da canna d’assucar 1900 e 1901 – Aproximadamente – Em 1900 Em 1901 Assucar 1º jet – 4, 938% kilogramas 1º jet – 5, 631 kilogramas Dito 2º jet – 1,852% 2º jet – 1.497 Dito 3º jet – 0,326% 3º jet – 0,494 Melaço – 3,374% melaço – 3,344 Total assucar 1900 – 7,116% kilogramas – assucar 1901 7,622 kilogramas A media da percentagem em assucar crystalisavel do melaço de 1901 é de 39% nos 3,344 kilogramas são 1,304 assucar total extrahido = 8,926 Pelas analyses da garapa deu uma media em assucar = 8,941 kilogramas Nestas analyses fiz a quebra de 0,5% O calculo feito em Reis dá uma differença a mais no anno de 1901 de Reis 13.892.000 [Ass:] Ferraz 28/9/901 // [DATA: 17 de Outubro de 1901 DESTINATÁRIO: João Albino Roiz de Sousa] [68] 17 outubro 1901 Amigo e Senhor João A. Rois de Sousa Recebemos o seu bilhete postal no dia 16 do corrente. Já tinha dado as ordens para lhe enviarem a pipa e o quarto pedido, e o Barros disse-me que já tinha enviado a dita cascadura como do bilhete da Agencia Nº 67 mas torno a lhe enviar mais uma pipa e um quarto como do bilhete Nº 21. Na agencia dizem que sô podem ir quando o tempo estiver bom. Quanto ao arame farpado não recebemos por emquanto nada Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 19 de Outubro de 1901 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [69] 19 outubro 1901 Amigo e Senhor Henrique Recebi suas cartas com data de 9 de setembro e 10 do corrente o que muito lhe agradeço. Não lhe respondi á sua carta[?] de 29 outubro, visto não[?] ter nada de importante a [...] por julgar que voltasse em breve [...]. Recebi junto com a carta de 29 setembro a copia da sua carta ao José Leite124[?] [...]. Fiz tudo como me mandou[?] [...] dado; ele não [...] visto eu lhe ter dito e [...] testemunhas[?] que fazia que nas condições e [?] atribuições podem fazer em favor da [...] governamental, mas tudo de forma a não prejudicar os interesses do Hinton. Pouco ou nada fiz, mas não[?] parece ter ficado satisfeito com esta minha declaração. Vejo o que me diz com relação ás centrifugas Weston, e fico bem contente por ellas darem[?] o resultado esperado. A economia tanto em vapor como pessoal[?] é bastante grande. Quando [...] chegou, e me pedia para lhe [...] um [...] para experimentar as centrifugas, já não havia senão uma pequena quantidade de masse-cuite, mesmo assim mandei separar 42 taxas que deitei n’um pequeno tanque para poder lavar o poço. Como [...] copia da [...] Sociéte [...] // [70] relação á torneira do vapor que dá introdução aos retours na 1er caisse do tripleeffet. Mandam dizer que como achou insoficiente a entrada de vapor antiga [...] propoêem mais uma cuja torneira (value) terá 150 124 José Leite Monteiro?

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milimetros, por conseguinte ficamos com duas entradas de vapor (retours) na 1er caisse: Mas pergunto eu, honde vamos boscar vapor exausto (retours) para essas duas torneiras? Elles naturalmente calculam que temos vapor a mais, mas como o Senhor Henrique sabe temos para 1902 menos as centrifugas, e alem d’isso os rechaufeurs da diffusão vão roubar bastante vapor ao retours, de forma que para a evaporação da garapa no triple-effet vamos ser obrigados naturalmente a empregar vapor directo, e que para[?] isso se poderá, parece-me, evitar de habrir novo furo na 1er caisse para lhe pôr outra torneira de 150 milimetros, quando a entrada na 1er caisse da antiga torneira tem 170 milimetros podendo-se ahi colocar a de 150 milimetros. Dou-lhe todas estas explicações porque como o Senhor Henrique vai a Paris outra vez, poderá fazer ver tudo isto de viva vôz[?]. Na carta do Chassereuau vejo o que diz com respeito[?] ao cosedor em movimento e Melaxeurs ouverts. Os planos de St. Quentin estão certos, para a montagem. Quanto á forma de colocação vamos fazer de forma a ficarem o mais seguros possivel. Como Mestre João Florencio pode despensar do armazem da rua, (visto uma nova forma de colocação das vigas) 3 a 4 vigas, podem ellas servir para os apparelhos. // [71] Como pede na sua carta de 10 do corrente para lhe mandar a nota das materias chimicas necessarias para a laboração de 1902 aqui vão: Enxofare não é necessario vir por isso que temos 20 barricas e sô se gastaram 8. O que é necessario vir é o seguinte: Baryte cristalisado – 25 barricas (8500 kilogramas) Alkali puro a 58% – 10 barricas (2500 kilogramas) Serviettes en jute qualité superieur para os filtros-presses – 300 2 jogos de nodellas de caoutchouc para os filtros-presses Poches filtrantes para os filtros Philippe temos 129 novos e 132 usados sendo 50% em mau estado, acho que se deverá mandar vir uns 50%. Este calculo das materias chimicas está feito para uma laboração de 360.000 almudes de garapa, levando em conta o augmento da difusão para o proximo anno que calculo em 1/3 a mais na garapa. Junto com a sua carta de 10 do corrente encontro um Devis de Gallois Succ.or dos apparelhos de laboratorio, e o que está marcado com uma cruz encarnada é o que temos. Seria bom vir une râpe Pellet ou outra para reduzir a polpa fina a canna ou bagaço para analyse d’estas materias. Junto com esta, encontra o Senhor Henrique uma nota em separado do rendimento real da canna n’este anno, e prontamente o calculo feito em assucar contido no melaço e no bagaço reduzido a alcool calculando que 100 kilogramas d’assucar crystalisavel produz 60 litros d’alcool puro a 15 temperatura. Os 8413 kilogramas é a glucose contida no melaço e que foi fermenticivel. O melaço na media tinha 55% assucar total. // [72] Faço-lhe ver tambem que no devis de St. Quentin elles não mantem[?] a torneira que fecha o vacu da Caldeira Franceza quando se trabalha com o Melaxeur fermé essa é uma torneira importante que deve vir sem falta. Tambem não fornecem os tubos de união entre a caldeira [...] franceza e a columna [...] e os do mesmo [?] [...] melaxeur fermé. Estes tubos são dificeis [?] de conseguil’os [...] cobre [...] que teem [...] lhe para [...] isso nos planos. Como temos que empregar vapor directo no triple-effet tambem seria[?] bom ter uma [...] Riltot[?] com clapet[?] (valvula) Dulac125, para conservar a perção sempre constante e por conseguinte a temperatura na 1er caisse do triple-effet. Como já tivesse terminado a fermentação do melaço da Fabrica fermentei o melaço de Demerára despachado em ato sucessivo o qual terminei hoje[?] a fermentação e já despachei [...] de Demerára na rua da Dificuldade[?] Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [73] Rendimento real da canna do anno 1901 Assucar 1er jet por 100 kilogramas canna Dito 2er “ “ “ “ “ Dito 3er “ assucar em 3,369 kilogramas melaço a 39% assucar – Total

kilogramas 5,631 1,497 0,504 1,323 8,955

125 Válvula inventada por Germaine Dulac, escritora e militante feminista, e o americano Lee de Forest.

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A extracção em assucar de 10.882.155 kilogramas de canna d’este anno foi, segundo o seguinte calculo: assucar 1er jet – ..................612.944 kilogramas “ 2er jet – .................162.905 “ “ 3er jet –.....................54.854 “ assucar crystalisavel no melaço reduzido a alcool .........143.978 kilogramas Glucose do melaço transformado em alcool e reduzido a assucar cristalizavel .......................................8.413 “ assucar extrahido do bagaço pela “ lavigação e transformado em alcool............................ 134.580 1.117.674 kilogramas Extracção por 100 kilogramas canna 10, 27 kilogramas de assucar 11/10/901 [Ass:] Ferraz // [DATA: 26 de Outubro de 1901 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [74] 26 outubro 1901 Amigo e Senhor Henrique O Senhor Chassereau leu-me a carta em que pedia todos os esclarecimentos com relação á futura montagem das turbinas e corta cannas. Vamos fazer o possivel de lhe enviar com a meior clareza as medidas pedidas, e vou passar a fazer-lhe as considerações com relação a esses trabalhos: Centrifugas: – As centrifugas estão collocadas na posição que deseja, o que ficam é um pouco mais afastadas da bomba de vacu para evitar os respingos d’agua que essa bomba sempre deita, e ficaram mais desafugadas. Elevador do assucar: – A forma como deseja que fosse montado esse elevador segundo o seu croquis, tem sêus inconvenientes; o assucar elevado não pode, um dia que queira despresar o antigo armazem, cahir d’entro do novo, alem d’isso pela inclinação que deve ter vai cahir a muito mais de meio armazem velho. Tem tambem o grande inconveniente de á sahida das centrifugas passar por baixo dos sulfitadores da garapa que n’um caso de derrame vai estragar o assucar contido no conductor; temos tambem de deslocar o deposito que recebe a garapa dos filtros mechanicos. No meu entender se se pudesse fazer o elevador como vai marcado na planta a tinta verde evitava todos esses inconvenientes: Era um elevador com baldes até á altura maxima do armazem e d’ahi seguir em linha reta por meio de um conductor com parafuso sem fim até sahir no andar superior, tanto do velho como do novo [...] // [75] Corta cannas: – O Petty é que está encarregado de lhe dar todos os esclarecimentos a esse respeito, mas vou dizer-lhe mesmo assim o que entendo, sobre esse assumpto; parece-me que a melhor collocação a dár ás poules que transmitem o movimento ao eixo que por sua vez o transmite ao corta cannas é nas letras A machina franceza, e B machina ingleza; estas poulés devem ser em duas meias, e as respectivas grossuras dos eixos são: A 9” e B 6 1/4”. O comprimento do eixo será de 30’ 3” d’esde o centro da poulé A ao centro da poulé B. D’esta forma não se embaraçará em cousa alguma, porque sendo collocadas no pinhão como elles propoêem complica-se com as rodas de engrenagem da machina franceza e na machina ingleza tem pouca altura. Verá isso bem pelas plantas. Pouco mais terei que lhe dizer porque á vista das plantas que o Petty e João Florencio estão tirando vesse bem tudo o que se deseja. Descripção das plantas: A eixo e colocação da poulé machina franceza. Medida exacta. B eixo e colocação da poulé machina ingleza. Medida exacta. C porta de commonicação da machina ingleza para os engenhos e onde deveria ser colucado o eixo de transmissão. Na planta do João Florencio o que está rescado a tinta encarnada é o elevador proposto por si e o teto e andares do novo armazem da rua. Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //

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[DATA: 30 de Novembro de 1901 DESTINATÁRIO: H. Manoury; LOCAL: Paris] [76] 12630 Novembre 1 Monsieur H. Manoury 34 Rue Faitbont, Paris. Monsieur, J’ai reçu ces jours á, une notification pour le paiement de 24 Francs, le montant de ma cotisation (1901-1902) à L’“Association des Chimistes de Sucrerie et de Distillerie”. Je l’ai renvoyé, du que je vous avais, prié, en date du 5 courant, de payer cette somme et debiter Messieurs William Hinton & Sons. Veuillez agreér, Monsieur, mes bien sinceres salutations. [Ass:] João Higino Ferraz. // [DATA: 7 de Dezembro de 1901 DESTINATÁRIO: Fortunato Rocha d’Almeida] [77] 7 Dezembro 1901 Meu Caro Amigo e Senhor Fortunato Rocha d’Almeida Agradecendo-lhe a sua estimada carta de 1 de outubro do corrente anno, e os seus amaveis desejos da minha saude e de todos os meus, retribuo-lhes egualmente do coração, desejando-lhe umas felizes Festas e um prospero anno futuro. Fiquei bastante contrariado por não poder estar consigo algum tempo na sua passagem por aqui, mas n’essa occasião, epoca da laboração da Fabrica d’assucar, estou tão preso que dificilmente posso abandonar o serviço. Era meu dever retribuir-lhe as amabilidades que o meu caro amigo teve para commigo quando estive em Paris, mas não perdi as esperanças de tornal’o a abraçar ahi mesmo, e talvez no anno proximo. Recebi das mãos do senhor Alfredo A. Camacho a amostra do tecido metalico para turbinas (centrifugas), o qual acho de magnifica qualidade. Vamos montar umas novas Turbinas “Weston”, que ainda não recebemos, e no caso de vermos que o tecido apresentado pelo meu caro amigo é // [78] conveniente para ellas não temos duvida em lhe fazermos uma encommenda. Agradecendo-lhe mais uma vez, fico ás suas ordens e desponha d’este seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 20 de Junho de 1902 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [79] 20 Junho 902 Amigo e Senhor Henrique Acabei no dia 19 de destillar o resto da garapa que rendeu o seguinte: Canna – 10305 almudes (30 kilogramas) Rendeu em alcool puro a 100º a 15 temperatura 5104,8 gallões Esta alcool [sic] se fosse reduzido a 28º cartier devia produzir 7163 gallões, o que dava por cada 30 kilogramas de canna 0,695 gallões O Francisco F. Corrêa ficou com toda a aguardente destillada no Alemão, mas como o Senhor Henrique sô me tinha dado ordem de lhe entregar 200 gallões pouco mais ou menos, o resto ficou guardado na Fabrica em pipas d’elle depois de competentemente medido e visto o grau, ficando as quebras e baixa de grau por conta d’elle mesmo, so tendo nós de entregarmos as pipas com aguardente quando o Senhor Henrique ordenar. O Lemos127 fica com 500 gallões da alcool de canna que está nos depositos á rasão de 1150 reis por gallão em 40º. Elle queria a 1100 reis mas eu disse-lhe que de forma nenhuma lhe podia dar. D’esta forma o producto liquido d’esta aguardente em Reis são 6.234.200 Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //

126 Esta carta, à excepção da assinatura, não saiu do punho de Higino Ferraz. 127 José Júlio de Lemos.

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[DATA: 8 de Junho de 1902 DESTINATÁRIO: A. Hoffman] [80] 8 Juin 902 Monsieur A. Hoffmann Cher Monsieur J’ai bien reçu votre honorée du 9 Fevrier, et je vous demande mille pardons de ne pas l’avoir repondu plutôt. Voici pourquoi: La maladie dans la canne existante dans cette Isle, dont nous avions des soupcons au commencement de l’année, est aujourd’hui un fait accompli, de sorte que nous sommes obliges de faire de nouvelles plantations, et comme les plantes de canne Yuba, que nous possedons, sont á peine suffisantes pour nos besognes, nous regrettons beaucoup ne pouvoir vous les Envoyer. Monsieur Manoury vous a deja parler de ceci, probablement, parce que on m’a dit qu’il proposait d’aller vous voir. Toujour à vous, je vous prie d’agréez, chez Monsieur, l’assurance de mes sentiments les plus distinguis Gerente de la Fabrica de Assucar de Messieurs William Hinton & Sons – Madeira – [Ass:] João Hygino Ferraz // [DATA: 26 de Julho de 1902 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [81v] 26 Julho 1902 Amigo e Senhor Henrique Já turbinamos dois poços que deu 114 sacas com assucar: 3er jet amarello mas muito solto e de bôa aparencia. Se todo elle dêr n’esta propurção é para tirarmos de todos os pontos de mascavo umas 400 sacas (75 kilogramas cada). O melaço é que desceu muito da percentagem em assucar o que é natural: Fiz uma analyse de 50 ponches que me deu o seguinte: Saccarose – 33,15% Glucose – 12,8% Clerget – 20,6% Emquanto que o melaço que se levou á destillação durante a laboração era na media Buisson128 Saccarose – 38,16% Glucose – 12,24% Clerget – 39,25% Como vê pelo methodo Clerget é que se vê a differença grande que faz em virtudo[sic] das materias melassiginosas que contem os melaços dos 3er jets. Quanto ao rendimento do melaço em alcool nada lhe posso dizer por emquanto. Apareceu um dos taes malditos lotes d’assucar branco que no interior das sacas era escuro, de forma que houveram reclamações do Costa e dos Linos, tivemos que lhe dar um outro lote que felizmente era bom, mas com a condição de ficar com o primeiro a ver se o vão emporrando pouco a pouco. Não tive outro remedio senão // [82] fazer isto, em vista de haver na Alfandega umas 84 sacas d’assucar da Trindade que veio para esperiencia [...] offerecendo 3550 [...] vendo [...] as encomendas. Eu não tenho [...] nada bem [...] tinha-lhe dito [...] as Caldas [...] necessidade de [...] verão [...] muito [...] inutilisado[?] para [...] não [...] Sem assumpto para mais Subscrevo-me seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 14 de Setembro de 1902 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [83] 14 setembro 902 Amigo e Senhor Henrique Aqui cheguei no dia 8 do corrente como lhe tinha promettido. Venho melhor flizmente[sic] dos meus padecimentos de reomatismo. Tomei conhecimento a bordo do vapor Loanda com o engenheiro Poças Leitão que vai substituir o Neves Ferreira, que morreu aqui na Madeira, como director da Comp.ª do Cazengo, onde querem montar uma fabrica de assucar de canna em substituição das de aguardente. Conversando com elle sobre assumptos de fabricação, do que elle pouco percebe, lembrei-me de lhe fallar no melaço d’Africa; sobre o qual á duvidas se se deve pagar metade dos direitos da Pauta (30 reis) ou metade dos direitos establecidos para as Fabricas matriculadas (15 reis). 128 Maxim Buisson.

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Elle é da mesma opinião que eu, que pode ser despachado pelas fabricas matriculadas pagando metade dos direitos establecidos para garantia dos fabricantes matriculados, isto é, 15 reis por kilograma. Offereceu-se emediatamente para interceder n’essa questão, visto a grande vantagem que pode advir para a industria do assucar na Africa, por isso que podem contar com este mercado para o seu melaço, e mesmo na Madeira escreveu ao Ministro da Marinha recommendando-lhe o assumpto o que é de grande valor. Como temos na Alfandega um casco de melaço de proveniencia d’Africa combinei com o Sobral e fiz o despacho do dito casco, que como sabe elles querem que pague os 30 reis, mas // [84] levamos recuso d’isso, e essa questão levantada com a interferencia do Ministro da Marinha talvez seja de mais facil solucção para nôs. Seria bom o Senhor Henrique escrever ao Costa Campos para que logo que lá chegue esse recurso lhe fazer dar o andamento devido chamando a attenção dos ministros da Marinha e Fazenda. Já combinei com o senhor Chassereau para escrever ao Costa Campos recommendando-lhe isso, porque tenho receio a sua carta chegue um pouco tarde, e por isso haver demora na solucção do negocio. Fiz o calculo do rendimento da canna d’assucar do correntre anno que dá o seguinte: Por 100 kilogramas canna Assucar 1º jet ..........................................6,770 kilogramas Dito 2º jet................................................0,413 Assucar no melaço reduzido a alcool contando a 60 % de rendimento .............2,472 Assucar no petit jus e borras de defecação reduzido a alcool .................. 0,317 Assucar total extrahido .......................... 9,972 Este calculo dá quasi certo pelo calculo do rendimento feito pelo Buisson no resumo geral da fabricação. O que acho exageradissimo é a percentagem d’assucar contida no melaço, e que me parece que com uma boa turbinagem o rendimento do 1º jet deve ser muito meior, evitando que 100 kilogramas de canna dê 5,329 kilogramas de melaço! No anno de 1901 a producção de melaço foi de 3,369 kilogramas, mas como este anno se extrahiu pela diffusão mais 27% em assucar o melaço devia ser de 4,278 kilogramas, (trabalhando mal). // [85] Fiz a analyse do melaço d’Africa que foi despachado no dia 12, que me deu o seguinte: Analyse qualitativa: Aparencia – claro-transparente Gosto – Doce franco Densidade Baumé – 40 1/2 º Pureza – 54,3 Analyse quantitativa: Densidade ———- 5,75 Temperatura ——- 25º Polarisação – 22,7º = 40,6% assucar cristalisavel Glucose – 2,4 centimetros cubicos = 24,12% Clerget – 7,6 = 43,36% assucar cristalisavel tudo[?] – 25 Como vê o melaço é <de> magnifica qualidade, e pela pureza pode ser comparado ao nosso egoût pauvre de 1º jet que na media foi de 50. Se todo o melaço d’Africa fosse como este seria muito bom, mas duvido, parece-me mais ser este melaço producto de fabricação pelo sisthema antigo com as formas de secagem do assucar. Diffusores: – Vamos principiar ámanhã na desmontagem d’elles, e espero ou por carta ou por telegramma se sempre se vão montar mais 2 ou mais 4 diffusores [.] Com relação a altiar os diffusores temos duas cousas: A edeia do Mestre João Florencio de fazer correr directamente as aguas dos esgotos dos diffusores no cano do vinhão dá em resultado termos que altiar os 2,90 metros o que dá uma altura descomonal. A minha edeia era levantal’os a ficar na altura do tabuleiro dos cylindros do engenho, conservando as mesmas alturas dos fundos diffusores // [86] ao fundo do poço hoje existente, o que nos faz levantar os deffusores somente 1,30 metros: Por baixo do taboleiro que recebe o bagaço colocava-se um deposito de ferro que receberia as aguas, as quaes seriam absorvidas pela bomba centrifuga que não tem serviço e as deitaria no cano do vinhão; para melhor clareza faço-lhe o desenho:

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D’estas duas edeias o Senhor Henrique dirá qual a que acha mais conveniente e para evitar demoras seria bom telegraphar uma palavra que indicasse qual a que deseja, por ex: Florencio – queria diz[sic] que se devia fazer o que o Mestre João propõe, e Ferraz, que seria a minha edeia. Na proposta de João Florencio não vejo inconveniente por isso que temos que levantar o tanque da agua na mesma proporção dos diffusores; a única cousa que tenho duvidas é a bomba centrifuga ter que sofrer um resistencia [sic] de 2,90 metros a mais, e fazer má circulação. Naturalmente vou principiar a fermentação no dia 23 do corrente; logo que aqui cheguei começou o alcool a ter melhor sahida devido a ser a época das vindimas. // [87] 15 setembro 902 O rendimento do melaço de Barbados conforme o Lote Nº 18 foi de 9,5 gallões a 100º por 100 kilogramas melaço, que é um bom rendimento. O filtro-presse que foi para casa do Senhor Krohn fiz-lhe o preço de 150$000 reis. Aquele filtro novo andou costando perto de 300$000 reis. Uma cousa que lhe queria fazer notar na montagem dos diffusores e que me hia esquecendo era a passagem das cannas para o engenho de espremer: Pela edeia do Mestre João Florencio os homens podem passar por baixo do taboleiro do bagaço dos diffusores por isso que fica com bastante altura, emquanto que com a minha edeia temos que arranjar passagem por denttro do armazem velho. Sem assumpto para mais subscrevo-me Seu Attencioso Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //

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[DATA: 15 de Setembro de 1902 DESTINATÁRIO: Maxim Buisson; LOCAL: Gonesse, França] [88] 15 septembre 902 Monsieur M. Buisson Gonesse Cher Monsieur Je vous remercie de votre amable lettre du 14 aôut, que j’ai trouvé à mon retour de Lisbonne. En ce qui concerne le devis des produits chimiques etc. necessaires pour notre laboratoire je ne puis pas vous donner aucune decision avant le retour de Monsieur Hinton129, qui se trouve absent. Vous parlez du froid à Gonesse, et bien, nous sommes grilles? – Il y a peu de jours que le thermometre prés des bureaux de Blandy enregistrait 110º Fahrenheit, à l’ombre!! Je vous remercie de lá formule d’engrais pour la canne. Monsieur Bianchi ainsi que Monsieur Chassereau se rappellent a votre bon souvenir, et je vous prie, chez Monsieur, de agrier mes plus sincères salutations, [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 20 de Setembro de 1902 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [89] 20 setembro 902 Amigo e Senhor Henrique Recebi a sua carta com data de 8, o que muito lhe agradeço. N’ella vejo as suas edeias sobre a montagem dos diffusores; é pena não a tivesse recebido mais cedo, porque já ficava defenitivamente sabendo o que devia fazer, e teria evitado as perguntas da minha ultima carta. Sempre vou principiar na segunda feira proxima 22 a desfazer melaço; sô temos 4500 gallões, e alcool bruto não temos nenhum e tem havido procura. Recebi uma carta do Buisson e juntamente um Devis para apparelhos de laboratorio e productos chimicos; respondi-lhe dizendo que o Senhor Henrique não estava na Madeira de forma que não podia resolver. Falla-me tambem em adubos chimicos para a canna, e sobre esse assumpto logo que o Senhor Henrique venha talvez alguma cousa tenhamos a fazer. Não tendo nada mais a partecipar-lhe subscrevo-me Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 22 de Setembro de 1902 DESTINATÁRIO: Redactor ?] [90] 22 setembro 902 Amigo e Senhor Redactor Como uma parte de Imprensa do Funchal se tem occupado na publicação de uns bem elaborados artigos de fundo sobre a cultura da canna de assucar na Madeira, suggeriu-me a idéa de fazer conhecido dos Senhores Lavradores e propriatarios d’esta especie de cultura os conselhos dados pelo Engenheiro-Chimico-Agricula Monsieur Maxim Buisson, que no corrente anno teve a seu cargo o laboratorio da Fabrica d’assucar dos Senhores William Hinton & Sons. Conforme as suas analyses, e pelos conselhos de Monsieur Georges Ville, a composição do adubo chimico para a canna de assucar deve ser o seguinte: Superphosphato de cal – 60 gramas Nitrato de potassa – 20 gramas Para um metro quadrado Sulfato de cal (gesso) – 40 gramas É esta a composição que nos ditos artigos vejo tambem aconselhados por Monsieur Georges Ville. O que lhe falta acrescentar é a forma de os empregar o que tem grande importancia como se vai ver: A mestura d’estas tres substancias chimicas devem ser feitas no momento de empregar, e não devem ser de forma alguma compradas já mesturadas; o superphosphato de cal decompõe o nitrato de potassa sendo a mestura feita muito tempo antes do emprego nas terras, ficando sem effeito a sua acção sobre a planta. A occasião melhor para o // [91] empregar é sempre no dia seguinte ao da rega e nunca antes, porque sendo estas substancias chimicas muito soluveis a grande quantidade d’agua de rega

}

129 Harry Hinton.

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as prefundaria demasiadamente alem das raizes da planta, e pouca acção faria n’ellas. Um dos grandes males para a nossa cultura de canna d’assucar é o mau habito que há em esfolhar a canna quando as suas folhas não estão desagregadas da haste, porque sendo a respiração da planta feita pelas folhas, assim como a formação do assucar, a canna deixa de se desenvolver bem e a proporção do assucar diminui sensivelmente. São estes os conselhos dados por Monsieur Buisson os quaes a meu ver devem ser seguidos pelos propriatarios que desejarem conservar as suas culturas de canna e apresentar ao mercado productos com boa percentagem de assucar. Pela publicação d’estas despretensiosas linhas muito grato lhe ficará o seu Attencioso Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 27 Junho 1903 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [92] 27 Junho 903 Amigo e Senhor Henrique Assucar: Sempre vieram 850 sacas d’assucar (de 100 kilogramas) que se esperavam; vi as amostras, é assucar claro, e o seu custo com direitos segundo o Costa é de 3750 reis por 15 kilogramas, o Camacho diz que lhe sai a 3850 reis e o Passos, que é assucar para 3800 reis; veja que variedade de preços, emfim o Costa deseja que o preço do nosso assucar desça, o Passos que se conserve e o Camacho não diz que sim, nem que não, cada um pucha a brasa á sua sardinha. Conforme o que se combinou sô descerei no caso de força maior por falta de venda. Recebemos 2 amostras d’assucar de Hamburgo cuja nalyse[sic] do typo ivens que é o mais barato e um pouco amarelado, mas não muito, em cristaes grandes e soltos é a seguinte: Polarisação (assucar cristalisavel)......99,100 Incristalisavel .......................................0,265 Cinsas ...................................................0,145 Agua .....................................................0,200 Indeterminadas.................................. 0,290 100,000 Rendimento ao queficiente de 5 e 2 com 1 1/2 % de quebra, é de: 95,545% Pelo preço d’elle Reis[?] 23,15 por 100 kilogramas vejo que o de Africa faz mais conta para refinar. Pela carta da Companhia dos Assucares de Mosambique vê-se que todo o assucar paga imposto de fabrico de 15º por kilograma. Alambique: – Já esta trabalhando o Alambique Alemão que foi consertado, com as borras do Senhor Blandy130, está funccionando bem. Recebemos uma caixa com fermento puro abituado ao fluorhydrico que nos enviou o Barbet; diz elle na sua carta que o novo fornecedor d’este fermento deseja fazer uma experiencia com fermento enviado em liquido fluoré, porque diz elle // [93] que tem duvida que o fermento no liquido fluoré não estando em actividade de fermentação não seja duradora a sua conservação anticeptica (o que não me parece) e que nos vai enviar 2 dozes n’essas condições para fazermos as esperiencia [sic] e mandarmos lhe dizer o resultado. Alcool: Sô tenho em deposito como alcool de 1ª 3000 gallões mas tenho Escencias e Etheres para rectificar o que deve dar uns 2000 gallões pouco mais ou menos. Os Senhores Blandy não me mandaram por emquanto dizer quando necessitavam de alcool de 2ª, mas no proximo mês de Julho vou fazer-lhe a pergunta: Naturalmente vai ser necessario principiar com a fermentação em meados de Julho porque não desejava que houvesse falta d’este artigo nas proximas vindimas. Sem assumpto para mais, desejo a continuação da sua saude Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 6 de Julho de 1903 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [94] 6 Julho 903 Amigo e Senhor Henrique Assucar – Na ultima carta dizia-lhe ter vindo 850 sacas com assucar e os preços porque elles diziam poderiam vender; hoje mais bem informado posso-lhe dizer que os preços porque estão vendendo esse assucar é de 3750 reis e 3800 reis por 15 130 John Burden Blandy.

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kilogramas, isto é, pelo custo. Para o nosso assucar as vendas estão quasi paradas principalmente para o assucar B1; do B2 pouco há, umas 50 sacas pouco mais ou menos. O Costa não está satisfeito por não termos baixado os preços, porque teem feito poucas vendas. Se não baixei a mais tempo, foi devido a uma carta da firma Emile Nolug[?] & C.ª de Hamburg, de que o Carlos131 lhe vai enviar copia, em que diz os assucares terem tendencia para subir em vista do Governo retirar o premio de expropriação. O Costa prevenio-me que hia mandar vir 200 sacas d’assucar sendo 100 egual á marca B1 e 100 da B2 e por tal preço que de forma alguma poderiamos competir segundo o que elle me mostrou. Devido a isto tudo vi-me obrigado a descer os preços dos assucares a 100º por 15 kilogramas para os typos B1 e B2 e a 50 reis por 15 kilogramas para o mascavo, para evitar novas remessas que nos podem prejudicar bastante tanto no assucar existente como no futuro assucar que se possa refinar e que tenho esperanças se fará. Acabo agora de vir da Alfandega e sube terem vindo mais 200 sacas. O Costa enviou-me n’esta occasião a amostra d’esse assucar que é do typo B2. Não sei por emquanto a quem veio, mas isso é o menos, a questão é que continua a importação o que é necessario evitar. Acaba de chegar da Alfandega o Barros que me trouxe nova amostra do assucar e que diz vir ao Eduardo O. de Freitas, e diz-me elle que se esperam mais 250 sacas de Hamburgo no vapor que está a chegar. // [DATA: 20 de Julho de 1903 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [95] 20 Julho 903 Amigo e Senhor Henrique Devia ter recebido telegramma meu no dia 11 do corrente em que lhe transmittia o telegramma do Costa Campos do mesmo dia, mais ou menos nos mesmos termos como pode ver pela copia que lhe enviamos a semana passada, somente lhe acrescentei questão melaço para precisar bem qual o fim para que o Campos tinha telegraphado. Como no telegramma enviado pelo Campos confirmava a sua carta vi-me na necessidade de a habrir para saber o seu contiudo, pelo que lhe pesso desculpa, mas não lhe poderia responder sem saber a questão de que se tratava. Espero que o Senhor Henrique terá partido para Lisboa, porque a questão é de momento, e se n’esta occasião se não resolve mais tarde será peôr. Já principiei a fermentação do melaço da Fabrica. Como sabe pedimos ao Barbet que nos enviasse um fermento abituado ao fluorure e que elle nos enviou levoure pure do seu novo fornecedor, de forma que calculei ser esta nova levura abituada ao fluorure, porque nenhuma indicação nos mandou junta, mas qual a minha surpresa quando vou cultivar o fermento em liquido fluoretado e elle não desenvolveu! Vi logo que a levadura não era o que se tinha pedido; sô uma semana depois é que recebemos uma carta do Barbet em que nos prevenia de que o fermento enviado não era fluoretado a qual chegou já tarde. // [96] Vi-me obrigado a fazer novo fermento com levadura Alemã, a qual já está em fermentação e com bom desenvolvimento. Respondi ao Barbet fazendo-lhe sentir a sua falta de informações: Na minha opinião esta despesa feita com a levadura enviada e que se perdeu deve ir a debito da conta d’elle. Com relação ás vendas d’assucar lá vão seguindo morosamente, devido a nos ter faltado o assucar B2 Ainda estive a ver se poderia encontrar algum lote que podesse servir para B2 mas nada vi que se apresentasse era tudo muito mais claro. Com relação a chuvas estamos muito mal, a agua é quasi nenhuma mesmo para o alambique e trabalhamos com deficuldade, e não vejo probabilidades de se poder arranjar o 1/4 d’agua da levada dos moinhos, porque ella é bem pouca. Naturalmente sô para outubro ou Novembro estaremos em condições de refinar assucar. Chegou no dia 18 a Felizberta com o carregamento de melaço, que veio em magnificas condições, enxuto e com bom peso: a sua analyse é a seguinte: Densidade 6,44 66 em 20 Temperatura 25,6 Polarisação 22,7 = 40,67% assucar cristalisavel Glucose – 23,15%

}

131 Carlos Fernandes.

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Clerget – assucar real = 1,99[?]% Materias Seccas 88,45 Pureza 47,4 Ao Lemos132 sempre lhe chegou o navio <da Trindade> com o melaço, cuja analyse é a seguinte: Densidade [...]5 5,59 em [...] Temperatura [...] Polarisação = 34,04[?]% assucar cristalisavel Glucose – [...]6% Clerget assucar real [?] = 34,42[?] % Materias Seccas. 75,15 Pureza 4[...]1 Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //

}

[DATA: 24 de Julho de 1903 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [97] 24 Julho 903 Amigo e Senhor Henrique Recebemos o seu telegramma em que participava que partia para Paris e depois Lisboa e que lhe enviasse a papelada referente, já se vê ao melaço. Assim fazemos, e tudo quanto vejo que lhe pode ser util para sua urientação[sic] no negocio lhe envio, requerimentos, petições (copias) facturas etc. e se mais não lhe envio é por que não encontro. A correspondencia sobre o assumpto melaço, a que eu pude encontrar de vantagem envio-lhe copias. O que desejo de coração é que seja muito feliz nos seus negocios conseguindo os seus fins. Vejo no Diario do Governo Nº 156 de 18 de Julho 1903 – 1ª pagina a lei sobre o fabrico dos assucares Açorianos. É bom em quanto está ahi ver bem essa lei não nos vá prejudicar. Já a li e entendo que a Madeira devia salvaguardar e estar protegida contra as entradas dos assucares Açorianos. Parece-me ser para elles um negocio de China… Com relação a agua para o condensador vou lembrar-lhe que se poderia talvez trabalhar, visto ser os pontos do assucar rapidos, de serem espaçados e n’esse caso talvez fosse possivel conseguir arranjar uma pequena quantidade d’agua que se juntasse á que temos: Na occasião dos pontos poderia-se parar com o desfazimento do melaço e os alambiques trabalhassem com a agua do poço. Estou tratando de montar canalisação, que fica barata, para aproveitar a agua da levadinha das Hortas, elevando-a // [98] aos alambiques por meio de bomba. D’esta forma toda a agua da Ribeira poderia servir para o condensador. A levada das Hortas nada perde porque todas as aguas depois do servisso lá lhe irá ter. Recebemos uma amostra de assucar de Demerára cristalisado escuro do qual não mandam o preço, mas que pelos preços correntes de lá vejo que é de $1.81 por 100 libras com 96º d’assucar. Vou analysal’o: Pelo preço, se é effectivamente a $1.81 parece fazer conta; é um assucar que talvez com uma lavagem nas turbinas fique branco, e os egoûts serviram então para refinar. As refinarias da America para esta qualidade de assucar assim procedem. As fermentações vão magnificas, e temos já 1000 gallões para entregar aos Senhores Blandy amanhã 25 como do contracto. Já está em fermentação a esperiencia dos 12 cascos de Demerára que vieram ultimamente do qual lhe mandei a analyse. Recebemos mais 6 amostras de assucar de Londres proprias para refinaria e seu preços, que não comprehendo nem o Carlos133; elle envia-lhe a carta. Sem assumpto para mais desejo-lhe todas as felecidades. Seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //

132 José Júlio de Lemos. 133 Carlos Fernandes.

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[DATA: 24 de Julho de 1903 DESTINATÁRIO: Roberto de Campos] [99] 24 Julho 903 Ex.mo Senhor Roberto de Campos Amigo e Senhor Recebi suas estimadas cartas de 17 e 19 de Julho que muito lhe agradeço e do qual fico sciente. Enviamos a V.ª Ex.ª a correspondencia do Ex.mo Senhor Henrique Hinton que fará o favor de lhe entregar, porque não tenho a certeza se elle tomará a Avenida Palace. Ao receber esta já elle talvez esteja em Lisboa visto nos ter telegraphado dizendo que partia para Paris e depois Lisboa. Sempre ás ordens de V.ª Ex.ª Seu Attencioso Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 1 de Agosto de 1903 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [100] 1 Agosto 903 Amigo e Senhor Henrique Recebi o seu telegramma em que me pedia novamente a papelada e as instruções sobre melaço, mas quando o recebi já tinha enviado o primeiro telegramma em que lhe dizia a data da lei de 1895 e o numaro do Diario do Governo em que vinha publicado, por julgar isso conveniente para lhe não dar trabalho de procurar. Quanto ás instrucções como não havia nada d’isso publicado não lhe mandei da primeira vez, mas como m’as pedisse no seu telegramma pedi na Alfandega essas instrucções provisorias as quaes lhe mandei copia. Recebi a sua carta de Paris. Quanto ás cartas do Quirino134 não pude encontrar copias d’ellas, somente lhe mandei as de Roberto que tratam do assumpto muito desenvolvidamente. Recebi tambem a sua carta (de lei) de Lisboa; fiquei espantado!... se conseguir tudo isso posso-lhe dar os parabens. O melaço a um reis por kilograma!? não será engano na occasião de escrever? Todo o mais é de primeira ordem, assim o possa conseguir. Pede-me que lhe diga se acho mais alguma cousa que se possa acrescentar? Que lhe posso eu dizer mais. Torno a lembrar-lhe a questão dos assucares dos Açores: ahi é que pode haver qualquer cousa de mau: por ex: os residos da fabricação que elles vão reduzir a alcool, não podera, sahir por um preço tal que nos possa prejudicar? Sabe perfeitamente que na França e na Alemanha elles produ-//[101]zem assucar de beterraba, que mesmo pagando os direitos nos fazem concorrencia! o que fará pagando as Fabricas dos Açores somente 50% d’esses direitos. Com relação aos artigos 4º e 5º que sô poderam trabalhar com melaço as fabricas que presentemente o teem feito, acho isso da meior justiça. Já tirei o resultado do melaço de Demerára, em (?) alcool, o qual deu 9,8 gallões a 100º a 15 temperatura por 100 kilogramas sem esterelisação pelo vapor, o que me faz parecer que com essa esterelisação deve dar os 10 gallões. A acidez foi mais do que eu desejava, devido a não o ter esterelisado a vapor mas comente pelos antisepticos. Já entreguei ao Senhor Blandy135 2000 gallões d’alcool B e estou agora tratando de preparar alcool de 1ª. Parece-me que com o melaço da Fabrica em ser e o que se vai tirar do assucar 2º jet e com o alcool existente, teremos alcool soficiente para este tempo das vindimas não havendo necessidade de despachar melaço estranjeiro. Estão a chegar mais umas 1000 sacas de assucar de Hamburgo para diversos Sô temos em deposito umas 1010 sacas d’assucar B1 Sem assumpto para mais subscrevo-me Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //

134 Quirino Avelino de Jesus. 135 John Burden Blandy.

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[DATA: 29 de Agosto de 1903 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [102] 29 Agosto 903 Amigo e Senhor Henrique Estive doente uns 12 dias com uma angina e um amiaço de congestão plumonar, mas do que felizmente já estou bom, somente um pouco fraco. Quando recebemos a sua carta pedindo para que os jornaes d’aqui fallassem alguma cousa sobre a questão de canna estava eu ainda de cama, mas dois dias depois levantei-me e foi tratar primeiro que nada d’isso. Fallei ao Barão do Jardim do Mar136 pedindo-lhe em seu nome para deixar que no Diario de Noticias se disesse alguma cousa sobre o assumpto o que elle me prontificou emediatamente pondo-me o Cyriaco137 á minha desposição para o que fosse necessario: Fiz umas notas sobre que deveria ser tratado o assumpto e elle fez sobre esses pontos um artigo de fundo que ficou bom. O Dr. Romano vai dizer qualquer cousa no Popular mas só poderá aparecer no dia 1 de setembro [.] Os artigos do Diario de Nuticias foram publicados no dia 28 e 29 Agosto, não poude de forma alguma ser mais cedo. Fallei com o filho do Dr. Manuel J. Vieira pedindo-lhe para que não fizesse questão pulitica d’isto e que dicesse qualquer cousa a nosso favor. Tambem fallei com o Victorino dos Santos para influir de forma a que o Diario do Commercio ou não dicesse nada ou se alguma cousa dicesse que fosse a nosso favor. Como sabe o Dr. Julio Paulo é contra // [103] isto, e como elle é que manda segundo dizem no Diario do Commercio tive medo não viesse alguma cousa que nos prejudicasse. Como vê está tudo prevenido até mesmo o Corrêio da Tarde. Disse ao Carlos138 para lhe mandar os Diarios em que vem os artigos publicados. O Melaço da Fabrica já esta aviado e tudo lavado sô falta destillar o resto da bebida [?] para então fazer o calculo real do rendimento em melaço da laboração 1903. O assucar de 2º jet deu 0,960[?] por 100 kilogramas canna. Por emquanto não há nada de anormal aqui. Sem [...] // [DATA: 5 de Setembro 1903 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [104] 5 setembro 903 Amigo e Senhor Henrique Muito costou ao Romano escrever o artigo sobre o assumpto melaço… mas emfim sempre o fez. O Diario do Commercio transcreveu o artigo do “Secolo”. O Diario de Noticias vai continuar com os artigos mas o Cyriaco139 disse-me que tem tanto que fazer na Repartição que sô lhe fica uns bocados ás nuites para escrever, e que este assumpto requer muito cuidado na maneira de o escrever. Pelo seu teleramma[sic] vejo que não pode partir d’ahi senão a 17 o que me faz crêr que tem tido suas dificuldades na resolução do negocio. Os artigos publicados pelos jornaes tem sido bem recebido por todos, o que é uma grande cousa. Está terminada a destillação do melaço da Fabrica. O calculo do rendimento para 1903 é o seguinte: Extracção do assucar da canna por 100 kilogramas 1º jet ....................................................6.63 kilogramas 2º jet ....................................................0.96 Assucar total no melaço pela producção em alcool contando o rendimento a 60 litros alcool puro por 100 kilogramas assucar....................... 2.64 Assucar total extrahido .....................10.23 Melaço por 100 kilogramas canna 6,040 kilogramas!!! Em 1902 136 137 138 139

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Tristão Vaz Teixeira de Bettencourt e Câmara, Barão do Jardim do Mar. Ciríaco de Brito Nóbrega. Carlos Fernandes. Ciríaco de Brito Nóbrega.


1º jet .................................................6.770 2º jet ..................................................0.413 Assucar total no melaço (contando a 60% <rendimento>) ...................................................2.472 Assucar no petit jus reduzido a alcool..........................0.317 Assucar total extrahido .....................9.972 Melaço por 100 kilogramas canna ..............................5,329 kilogramas!!! // [105] A producção exagerada em melaço no corrente anno (6,040 kilogramas) não pode ser devido a outra cosa senão á doença na canna. Contudo o systema de diffusão adotada este anno deu em resultado um augmento de rendimento em assucar 2º jet. O rendimento do melaço em alcool foi melhor este anno devido á pureza das fermentações mesmo sendo o melaço mais pobre em assucar cristalisavel. Deu-se um pequeno incidente entre a Comp. do Caminho de Ferro do Monte e nôs, devido a uma local publicada no “Direito”, em que eu tratei de desfazer a má impressão produzida no publico. Fiz com que o director da Companhia publicasse um desmentido, o que elle fez de boa vontade. A causa foi o exame feito ás caldeiras da locomotivas em que o nosso Engenheiro foi perito por parte da Companhia. Quando voltar lhe explicarei melhor. Um assumpto importante: Tivemos aqui antes de hontem uma vesturia á Fabrica, (assim como tem havido em todas as outras) composta do Trigo, Cyrilo dos Santos (empregado da Fazenda), e um outro empregado da Fazenda, do Continente, que não conheço: Esta vesturia teve por fim principal a medição dos apparelhos de destillação para vêr a sua capacidade de producção, que segundo me disse o Trigo o Governo mandou fazer, porque não se conformão com a capacidade das Caldeiras nos apparelhos continuos. Este assumpto deve ser seguido com cuidado porque modando o Governo a lei que o regula pode-nos ser bastante prejudicial quanto ao pagamento da contribuição industrial. Fiz bem ver ao Trigo que a capacidade de destillação deve ser contada sô a parte onde se produz a distillação do vinho e não a columna de retificação, e que o melhor calculo deve ser o diametro da columna e não a sua capacidade total. Sem assumpto para mais Subscrevo-me seu respeitoso Amigo [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 11 de Setembro 1903 CARACTERIZAÇÃO: Notas acerca de rendimentos e calculos de extração de açúcar, 1900-1903] [106] 11 stembro[sic] 903 Nota da media do rendimento em alcool do melaço da Fabrica dos annos 1902 e 1903 Anno 1902 – Percentagem media em assucar cristalisavel do melaço 41% Rendimento por 100 kilogramas melaço = 7.5 gallões a 100º Anno 1903 – Percentagem media em assucar cristalisavel do melaço 36.7% Rendimento por 100 kilogramas melaço = 7.1 gallões a 100º [Ass:] Ferraz // [107] Calculo da extracção total em assucar, da canna dos seguintes annos Annos 1900 1901 1902 1903 Assucar 1º jet 4.938 kilogramas 5.631 kilogramas 6.770 6.630 Por 100 kilogramas canna Assucar 2º jet 1.852 1.497 0.413 0.960 “ Assucar 3º jet 0.326 0.504 “ Assucar no melaço 1.375 2.472 2.640 “ pelo rendimento em alcool 1.373 8.489 9.007 9.655 10.230 Assucar no bagaço ou petit-jus 1.539 1.539 0.317 ______ Pelo rendimento em alcool Assucar total 10.028 10.546 9.972 10.230 Melaço por 100 kilogramas canna 3.374 kilogramas 3.369 kilogramas 5.329 kilogramas 6.040 kilogramas Nos annos de 1902 e 1903 empregou-se a diffusão do bagaço. [Ass:] Ferraz //

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[DATA: 3 de Outubro de 1903 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [108] 3 outubro 903 Amigo e Senhor Henrique Hinton Como temos hoje um vapor para Lisboa aproveito a occasião para lhe escrever. Fico com bastante cuidado com relação á questão melaço, por até hoje nada ter recebido que elucide essa questão. Estou desejando que isso se resolva porque os envejosos já principiam a mormurar um pouco contra, por exemplo o Major Rego que um dia d’estes na Associação Commercial, segundo me disse o Pedro Rodrigues, fallava com o Visconde Geraes de Lima dizia que era uma pouca vergonha essa lei e que imfelizmente não havia ningem que reclamasse contra isso: Como vê se uns e outros principião a mormurar podemos ser prejudicados por haver qualquer representação contra; quanto mais depressa resolver isso, melhor. Quando na ultima carta lhe dizia que tinha pouco alcool e que me via na necessidade de principiar a fermentação dizia-lhe que o faria, mas devagar não fazendo senão pequenos despachos, porque bem comprehendia a necessidade de esperar a baixa dos direitos. Quando recebi o seu telegramma em que dizia não despachasse fiquei sem saber o que deveria fazer, porque estava compromettido com os Senhores Blandy com 200 gallões d’alcool bruto para 8 e 12 do corrente // [109] e como não tinha nenhum é que me vi na necessidade de trabalhar no melaço muito mais cedo. Do[?] alcool de 1ª sô tenho 630 gallões e do de canna 2500 gallões. O Senhores [sic] Krohn levaram 2000 gallões quasi a seguir e foi isso que me fez em grande desfalque no alcool. Tenho encommendas de alcool de 1ª e 2ª a satisfazer até 20 do corrente e muita gente se tem visto obrigada a levar alcool de canna para tratamento do vinho por não haver de 1ª qualidade. Desejando que a resolução dos seus negocios sejam breves e favoraveis Subscrevo-me Seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 9 de Outubro de 1903 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [110] 9 outubro 903 Amigo e Senhor Henrique Até que em fim recebemos o telegramma seu participando a publicação do novo decreto, e 3 dias depois os Diarios de Governo em que vinha publicado esse Decreto. Tudo quanto me tinha recommendado na sua carta foi executado á risca, e felizmente não apareceu em nenhum jornal nenhuma nota descordente, todos á uma, elogiaram o Decreto, e que bastante custou principalmente o Diario do Commercio e o Correio da Tarde. Para o primeiro devo isso ao Victorino dos Santos e o segundo ao Romano: Como deve comprehender esta unidade de edêas fez boa impressão no publico: ainda assim alguns quiseram protestar mas bem pouco. O major Rego estava um pouco mal impressionado mas taes cousas lhe disse e fiz ver que elle por fim mudou de edêas; até já queria representar contra. O Francisco João de Vasconcelos era o pêor, mas como não tivesse quem o acompanhase na sua propaganda abandonou a praça, elle deve estar em Lisboa presentemente; previnno disso para se acautelar. Da leitura do Decreto vejo que não está como tinhamos feito, é verdade que o nosso decreto era um Decreto Regulamento, estou desejando de ver o Re-//[111]gulamento para fazer uma edêa clara de tudo. O que não gostei nada foi de ver que não havia o praso de 15 annos. E com relação ás fabricas matriculadas? Previno-o de que algumas fabricas que não estão presentemente matriculadas o vão fazer para proximo anno para terem o direito de destillar melaço. O Leça já falla em montar uma nova fabrica de destillação para esse fim. Como vê é de toda a necessidade evitar isso. Não percebi a sua carta de 5 em que dizia, tinha medo o ministro não desse emediata execução ao Decreto; pois posso dizerlhe que aqui está elle em execução tanto que já despachei 168 cascos da Trindade pelo Ynadva[?] que era o mais antigo, pagando os 6 reis de direitos…! E como não tenho alcool nenhum vejo-me obrigado a trabalhar a toda a força. Tenho as seguintes encommendas Blandy – 2000 gallões alcool B Drury – 1000 “ “ “ Deversos 600 “ “ A 140 O senhor Blandy já levou 1000 gallões pagando o preço estabelecido e espera até ao fim do mês para receber os outros 140 John Burden Blandy.

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1000 com a competente baixa. O senhor Drury leva agora 500 gallões nas mesmas condições e espera pelos outros 500 até o fim do mês. Despachei primeiro este melaço que sô contem 34% de saccarose com 25% de Glucose e puresa 43,4, carregado em muita cal e por isso não muito proprio // [112] para extrahir assucar. Tenho por isso melaço até a sua vinda, que segundo me diz é a 17 do corrente. Quanto ao nosso assucar sô temos 200 sacas B1. Seria bom no caso de poder ser principiar na refinação, porque agua deve haver d’aqui até lá; já principiou as chuvas e estamos com o inverno á porta. O assucar tem subido de preço no estrangeiro devido como sabe aos governos Ingles e Alemão não darem premio de exportação. Dos negocios da Casa corre tudo regularmente. Seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz P.S. O Pedro Henriques disse-me que tinha encommendado 700 cascos de melaço de Demerára, para virem em dois lotes, o primeiro em Dezembro e 2º em fevereiro proximo e pede para o Senhor Henrique lhe dizer se necessita mais algum, ou da Trindade ou Antigua. // [DATA: 9 de Outubro de 1903 DESTINATÁRIO: Manuel de Faria] [113] Ill.mo Senhor Manuel de Faria 9 outubro 903 Amigo e Senhor Como temos hoje ou amanhã um vapor para Lisboa, pedia-lhe para me mandar a sua proposta, como tinha ficado combinado entre nôs, para eu a enviar ao Senhor Henrique Hinton para Lisboa. Seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Hygino Ferraz // [DATA: 15 de Outubro de 1903 DESTINATÁRIO: Harry Hinton; LOCAL: Lisboa] [114] 15 outubro 903 Amigo e Senhor Henrique Depois de se receber aqui o Diario do Governo em que vinha publicado o Decreto, muitas cousas se tem passado que mais ou menos vem prejudicar a questão. No dia seguinte á recepção do Diario do Governo, veio publicado em todos os jornaes d’aqui o decreto, sem que elles fizessem considerações nenhumas sobre o assumpto. O Decreto foi naturalmente estudado, e dois dias depois era convocada a Camara Municipal em reonião estraordinaria com o fim de representar ao Governo sobre o artigo 5º porque julgam elles que as Camaras ficam prejudicadas no imposto das vendas sobre aguardente. Quiz fazer ver aos Camaristas que a maneira de pensar d’elle [sic] sobre esse artigo era erronia, mas não houve meios de os fazer chegar a um acordo, e parece-lhes que o artigo não estava bem claro, e que no caso de se suscistar[?] duvidas a Camara perdia uns 3 a 4 contos reis por anno: Representaram por isso como já deve ter visto. Depois d’isto principiou a chiadeira dos pequenos fabricantes de aguardente dos campos, dizendo que com o melaço a 6 reis podiam vender alcool de melaço por um preço mais baixo a qual era[?] mesturada com aguardente de canna [...] // [115] Por todas estas rasões não foi de forma alguma possivel e mesmo era contrapordecente a publicação dos artigos que me enviou para serem publicados nos jornais, visto que com essas publicações que sô diziam bem do Decreto poderia acirrar os animos: O Dr. Romano foi tambem d’essa oppinião para não se publicar nada por emquanto. Sô no Direito publiquei o artigo para elle, porque como sendo o orgão official do Governo, os elogios são bem cabidos. Vamos dando publicidade por doses dosimetescas; Amanhã vem o Diario do Comercio com o seu artigo de fundo, mas um pouco modificado ás circunstancias presentes. Tudo se fará com o devido juizo de forma a não prejudicar mais a questão. O Romano e Dr. Vieira141 são d’esta mesma opinião e nada tenho feito sem os consultar. Felizmente todos os jornaes teem ficado silensiosos mais ou menos, e sô o Corrêo do Padres [sic] é que queria principiar a bater o Decreto mas deitei-lhe a mão a tempo, e como são homens praticos, nada dizem por emquanto. A Associação Commercial, isto é, a Sua Ex.ª Direcção que são na tutalidade progressistas e que quer representar de forma 141 Manuel José Vieira.

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a modificar o regulamento como do telegramma que lhe enviei hoje. Um dos que mais barulhos fazia era o Pinto Corrêa142 e João B. Gomes. Tive uma larga conferencia com o Pinto Corrêa sobre esse assumpto e disse-me elle que não queria de forma alguma prejudical-o (ao Senhor Henrique) // [116] mas sim ajudal’o e proteger! n’esta questão, porque segundo elle, desde o momento que o alcool de melaço podesse prejudicar a aguardente de canna o decreto cahiria por terra e seria um prejuiso para si. Fiz-lhe ver os contras de tudo o que pediam que era; fixação do preço do assucar; fixação do preço do alcool e obrigasão da compra de aguardente de canna, mas estão de tal forma persuadidos que o que pedem é justo, que não há meios de os convencer do contrario. A representação deve hir no primeiro vapor por que assim lhe pedi e elles me prometteram, e acho que o Senhor Henrique não deve vir de Lisboa sem que tenha essa questão resolvida. Por aqui me vou aguentando com elles, é verdade que sou sô, mas felizmente elles attendem-me com toda a consideração. O Dr. Manuel J. Vieira é tambem da mesma opinião, que não deve vir de lá n’esta occasião. Os propriatario [sic] do Funchal estão todos mais ou menos satisfeitos com o decreto, mas o consumidor é que brama contra a subida dos direitos do assucar a 145 reis. Tenho querido fazer ver que essa subida sô serve para garantia do nosso assucar refinado, e que o assucar tem que descer infalivelmente. Como na outra carta lhe disse tenho despachado 160 cascos de melaço a 6 reis, mas o Sobral mandoume chamar para me prevenir que tinha recebido telegramma para não dar mais despachos n’essas condicções emquanto não receber [...] regulamento: Perguntei-lhe se teriamos de entrar novamente com os direitos que tinhamos pago // [117] a menos, mas disse-me elle que não tinha recebido ordem n’esse sentido: O Curcon (1º verificador) é de opinião que não temos que entrar com cousa alguma e que no caso de vir essa ordem que devemos levar recurso. Tenha paciencia da despesa que tem tido nos telegrammas, que lhe tenho enviado, mas acho conveniente o ir enformando do que se vai passando. Por emquanto não foi recebido aqui pelo Governador Civil nada com relação ás fabricas matriculadas, e o Dr. Jardim d’Oliveira143 cecretario Geral servindo de Governador Civil prometteu-me que me avisaria logo que recebesse. Elle publicou um artigo[?] ao Ministro das Obras Publicas no Diario do Commercio com relação ao Decreto, como deve ter visto. Nada mais lhe posso dizer sobre este assumpto, e do que houver lhe darei conta por telegramma ou por carta. E os negocios da Casa nada de anormal se tem dado; vai tudo regularmente. Seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 16 de Novembro de 1903 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [118] 16 Novembro 903 Amigo e Senhor Henrique Sempre foi enviado o telegramma aos Ministros como desejava. O telegramma foi no theor que tinha pedido ao Dr. José Leite144 mas foi elle que telegraphou em nome da Comissão Destrictal como delegada da Gunta[sic] Geral. Por enquanto elles não receberam resposta, mas pedi a Arthur Monteiro para me prevenir logo que assim aconteça. Até á hora que escrevo, nada de novidade com relação ao decreto e regulamento. Tenho feito pequenos despachos de 8 cascos de cada vez até vêr, mas não posso deixar de ir sempre despachando por que o alcool é quasi nenhum, e como me recommendou que não queria que faltasse o alcool para os Senhores Blandy não há outro remedio senão despachar sempre. Temos nova reclamações [sic] com relação á contribuição industrial, e tambem com relação aos sellos dos Alambiques de aguardente de canna que a lei não obriga a pagar sello nem nenhum dos outros fabricantes paga. Quanto á capacidade dos alambiques tambem me pareçe que vamos ter questão. O Dr. Nuno Jardim já tomou conta da questão e tenho lhe dado todos os esclarecimentos necessarios. // [119] Fiz a analyse do melaço d’Africa que o João de F. Martins tinha enviado que mostrou o seguinte: Polarisação —————————— 38,15% saccarose; Glucose ———————————— 30,47% Clerget ————————————- 38,31% assucar real Pureza 46.9 Em vista de este resultado que é um pouco melhor que o do melaço de Demerára, com relação ao assucar total fiz a seguinte offerta: 142 Manuel José Pinto Correia. 143 António Jardim de Oliveira. 144 José Leite Monteiro?

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3000 reis por 100 kilogramas, casco incluido, no porto do Funchal, pagamento a 90 dias. Este melaço deve produzir 9,2 a 9,5 gallões d’alcool por 100 kilogramas. Na carta disse-lhe que desejava saber qual a quantidade que nos podiam fornecer, e que no caso de nos poder arranjar melaço com menos percentagem de glucose o preço seria um pouco melhor. Fiz-lhe bem notar que esse preço sô tinha valor até 15 de Dezembro proximo e quando o melaço continha a percentagem de assucar e glucose acima dito; ou o seu correspondente em saccarose. Sem mais que lhe diga, subscrevo-me Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz P.S.. Como ficou combinado telegraphei ao Dr. Romano dizendo o testo do telegramma do José Leite, dizendo-lhe ao mesmo tempo que o Senhor tinha partido para Londres e que escrevia. [Ass:] Ferraz // [DATA: 23 de Novembro 1903 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [120] 23 Novembro 903 Amigo e Senhor Henrique Até hoje nada de regulamento nem ao menos o Quirino145 nos escreveu sobre o assumpto. No dia 20 escrevi-lhe fazendo-lhe ver os transtornos que a demora na publicação de regulamento nos está fazendo, e pedindo-lhe que actuue[sic] o mais possivel essa questão. Estou verdadeiramente furioso contra o Senhor Meny Abudarham: acabo de encontral-o agora e disse-lhe que o decreto nem regulamento ainda não tinham sido resolvidos e que em vista da falta de alcool com que estamos e que pode ser prejudicial para elles, (negociantes de vinhos) achava bom que elles representassem pedindo para se resolver esta questão mais rapidamente. E sabe o que elle me respondeu, muito a serio?.. Que sim… que effectivamente se devia representar contra, porque os propriatarios já sabem que este decreto de nada lhes serve e que para elles a baixa do alcool é tão pequena que é melhor nada, e pedir então ao governo que deixe entrar o alcool estranjeiro com baixa no direitos [sic] para tratamento dos seu [sic] vinhos. Isto são palavras testuaes d’elle… Nem sequer lhe dei resposta, e // [121] retirei-me convencido que elle é um grandessissimo Burro. Estou fazendo pequenos despachos de melaço mas mesmo assim estou sem alcool. Digo-lhe que este trabalho assim é difficil de deregir porque temos procura d’alcool e não podemos forneçer. O Leacock ainda hoje mandava boscar alcool de 1ª mas disse-lhe que sô para o proximo mês lhe poderia arranjar, como tenho que fornecer ao Senhor Blandy146 os 1000 gallões para o fim d’este mês não posso por emquanto pensar em fazer alcool de 1ª. Os Senhores Krhon levaram 500 gallões de forma que fiquei sem nada. Quando será que termina todas estas deficuldades?... Nada mais por emquanto lhe posso dizer de importante. Estimando as suas felicidades subscrevo-me Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 30 de Novembro de 1903 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [122] 30 Novembro 903 Amigo e Senhor Henrique É de meu dever primeiro que tudo dár-lhe os meus respeitosos parabens pelo seu novo estado. Até esta data nada se tem recebido com relação a regulamento, nem ao menos Dr. Quirino147 tem escrito sobre esse assumpto, nem a nôs nem ao Dr. Romano: Estou ansioso por saber o que terá havido. Vejo contudo que esta demora na publicação do regulamento é porque alguma cousa terá havido de deficuldades. Tenho continuado a fazer despachos de melaço para poder satisfazer as encommendas de alcool que temos e que continuamos a ter, e estou com receio que se estas demoras continuarem vamos-nos ver em deficuldades em ter alcool suficiente para os mezes de janeiro e fevereiro que é quando os vinhos saiêm das estufas, porque como o Senhor Henrique quer dar ponto a todo o melaço, sô um mês depois pelo menos é que podemos turbinal-os, o que nos vai causar demoras na preparação do 145 Quirino Avelino de Jesus. 146 John Burden Blandy. 147 Quirino Avelino de Jesus.

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alcool. Estou fazendo uma cousa sem sua auctorisação mas que me parece ser de alguma jantagem[sic]: Como este melaço que estamos despachando (de Demerára) tem grande quantidade de assucar no fundo dos ponches, que é deficil de derreter, estou mandando desfundal-os e tirar-lhe todo o assucar precipitado que regula entre 65 a 75 kilogramas por ponche, e estou guardando-o // [123] em tanques de ferro, para no caso de vir o regulamento já esse assucar pode servir para derreter e dar ponto. Fiz uma analyse de esse assucar que mostrou 71,7% de saccarose, que como vê é uma boa percentagem e que é pena reduzil’o a alcool. Pelo calculo seguinte se pode ver qual o resultado em alcool e assucar 100 kilogramas d’esta massa com 71,7% assucar dá 43 litros d’alcool a 100º a 300 reis por litro 12.900 100 kilogramas da dita com 71,7 kilogramas assucar a 200 reis 14.340 Differença a mais no assucar 1.440 reis Por esta mala mais nada lhe posso dizer de importante; o Carlos148 vai enviar-lhe umas cartas que recebemos para dar a devida resposta. Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 16 de Julho 904 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [124v] 16 julho 904 Amigo e Senhor Henrique Como ficou combinado fiz o cosimento do melaço de Barbados no melaxeur com um pé de cuite de assucar da Fabrica M que deu os resultados seguintes: A cristalisação fez-se bem na caldeira ingleza com o xarope do assucar M sulfitado e filtrado, mas deu-se um contratempo, que foi a bomba de vaco ter parado, quando o cosimento estava prompto em virtude de o governo da machina ter fechado o vapor; com esta atrapalhação João Martins esqueceu-se de fechar a agua da columna do[?] Melaxeur o que deu o resultado de encher essa columna e passar alguma para o melaxeur sem se dar por isso, quando elle passou para o melaxeur o pé de cuite, desfez um pouco o grão já formado, de forma que foi necessario passal-o novamente á caldeira ingleza para formar novamente mais grão, mas não ficou tão grosso como da primeira vez. Em todo o caso isto é um contratempo que para o trabalho seguinte não acontecerá e o resultado será melhor do que presentemente deu, que em todo o caso não é mau, visto o assucar empregado no pé de cuite ser um assucar pouco vendavel e que com o tempo se vai deteriorando sussesivemente. Alem disso os egoûts produzidos dão assucar de 2º jet como se vê pelas analyses seguintes: Analyse do assucar da Fabrica M: Saccarose – 90,9% Glucose – 1,64% Analyse da Melasse Cuite melaxée do pé de cuite e Melaço de Barbados: Saccarose – 71,13% Glucose – 12,05% Pureza – 76,5 // [125v] Analyse dos egoûts riche e pauvre de turbinagem Saccarose – 50,53% Glucose – 15,25% Pureza – 65 Analyse do assucar produzido d’esta massa cosida turbinada conforme a amostra que lhe envio junta: Saccarose – 97,5% Glucose – 0,410% As materias primas empregadas foram assucar M da Fabrica 36 sacas com 2700 kilogramas para o pé de cuite. Melaço de Barbados – 10,547 kilogramas Assucar produzido na turbinagem 3750 kilogramas. 148 Carlos Fernandes.

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Considerando que o assucar de Demerára ou Barbados importados dá um rendimento de 90% com uma percentagem em assucar de 97,2% e 0,15 de glucose o nosso assucar M da Fabrica não deve produzir mais de 83,5% d’assucar vendavel, temos por conseguinte: assucar refundido 2700 kilogramas a 83,5% = 2.254 kilogramas O assucar produzido 3.750 kilogramas Produzido pelo melaço 1.496 kilogramas O que dá um rendimento de 77 kilogramas d’assucar por ponche, ficando os egouts para cosimento de 2º jet, e o nosso assucar M, transformado em assucar vendavel. São estas as considerações que lhe posso fazer, e que me parece haver vantagem em continuar o trabalho d’esta forma. Temos ainda 600 sacas d’assucar M que dão para 16 pés de cuite representando o trabalho de 330 ponches de melaço de Barbados. Espero que me mande dizer o que devo fazer, se continuar com os cosimentos em 2º jet(?), ou fazer como acima digo // [126v] Com relação ás cartas para Lisboa sobre o assumpto de matriculas está tudo feito como desejava. O Justino149 escreveu ao José Ribeiro uma boa carta com boas considerações e que acho deve produzir algum effeito, se elle mostrar ao Ministro, a carta está bem feita e as considerações apresentadas são de grande valor. Elle tambem escreveu ao Abecassis mas não me mostrou a carta. Quanto ao memoreal para o J. R.150 apresentar ao Ministro foi escrito á mão, como manda a praxe, os outros á machina. Tive um aborrecimento com a letra do Pestana Santos151 que não foi paga no Banco no dia do vencimento e foi protestada o que nos obrigou a pagal’as como é da praxe. Elle veio aqui commigo varias vezes para reformar a letra mas não consenti e a questão segue o seu caminho legal. É um grande intrujão o tal senhor, andava a ver a forma de me embrulhar com propostas mas a nada dei ouvidos porque não quero responsabilidades. Se o Senhor cá estivesse poderia fazer o que muito bem entendesse. Logo que a agua estava em estado de funcionar lhe mandarei dizer: Lembrei-me que seria melhor chamar o levadeiro da Camara e offerecer-lhe alguma cousa para o termos á nossa mão. Sem assumpto para mais Subscrevo-me Seu Amigo [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 25 de Julho de 1904 DESTINATARIO: Harry Hinton] [127] 25 Julho 904 Amigo e Senhor Henrique Envio-lhe a nota do rendimento em alcool de um lote de melaço do assucar de 2º jet do melaço de Barbados que deu 8,53% d’alcool a 100º a 15º temperatura. Fazendo o calculo do rendimento pela analyse do melaço em saccarose e glucose e descontando os infermenticiveis deveria dar 9 gallões a 100. A differença de rendimento não pode ser devido senão á evaporação do alcool durante a fermentação activa. O calor agora é bastante grande as aguas são poucas e mornas; se não fosse a falta de alcool teria parado com as fermentações n’esta época. Recebemos o novo fermento puro da Dinamarka que já está em trabalho. É muito corisa[sic] a forma de expedição; o fermento é secco entre duas folhas de filtro de papel, eram duas e em tão pequena quantidade que me vi obrigado a improvisar um apparelho de cultura no laboratorio para desenvolvel’o primeiro e depois ser empregado. É habitudo[sic] ao acido fluorydrico de forma que me foi facilimo o desenvolvimento, e o fermento é bastante puro e activo. Não lhe posso por emquanto dizer qual o resultado, mas parece-me que deve ser bom. Recebemos a caldeira de vapor, e naturalmente o engenheiro deve // [128] escrever-lhe a esse respeito. O cambio tem descido bastante ainda que n’estes ultimos dias houve uma pequena subida. Isto pode influir sobre a venda do assucar no caso de importarem algum. Não seria mau o Senhor enviar um telegramma dizendo desça no caso de eu lhe enviar um em que lhe diga desçe. Sô lhe mandarei este telegramma no caso de eu vêr que a descida do cambio continua. Sem assumpto para mais subscrevo-me Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //

149 António Justino. 150 José Ribeiro. 151 João Pestana Santos.

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[DATA: 1 de Agosto de 1904 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [129] 1 Agosto 904 Amigo e Senhor Henrique Envio-lhe junto com esta uma nota do rendimento total do primeiro cosimento do melaxeur com melaço de Barbados e refonte d’assucar para ver o bom resultado obtido com esta forma de trabalho. O cosimento de 2º jet foi bom de turbinar e como vê o seu rendimento foi magnifico. Quanto ao cosimento de 2º jet da Melasse Cuite melaxée com melaço de Barbados e assucar da Fabrica tambem tem assucar bastante e não deve render menos do que o outro. Está um calor insoportavel, e as aguas são poucas e mornas de forma que me vejo na necessidade de trabalhar devagar, mas mesmo assim a temperatura das fermentações são altas bastante prejudicando o rendimento. Nada posso fazer para evitar este inconveniente. O arranjo da agua da Camara deve ficar concluido esta semana segundo me diz Marsden152, e logo que eu tenha feito a esperiencia se funciona bem mando-lhe telegramma como ficou combindo, para vir o Cosedor. Temos em assucar do melaço de Barbados 2º jet 1000 sacas feitas e como estamos seccando o poço grande e faltão 2 pequenos para seccar cal-//[130]culo dár mais umas 400 sacas. Do assucar estrangeiro temos 100 sacas na Alfandega para despachar; que quantidade de assucar o senhor Henrique deseja refinar? Era necessario eu saber isso para ver o que devo fazer. Como temos pouco Baryte e vai ser necessario mandar vir mais para o anno proximo, será bom o senhor Henrique fallar ao Naudet153, sobre o novo processo do tratamento das garapas e xaropes pelo aluminate de Baryte que em sucrerie de beterraba tem dado muito bom resultado percipitando as matiers grasse. Já teem feito esperiencias nas fabricas de assucar de canna mas por emquanto não estão poblicados os seus resultados. Por emquanto nada mais tenho a dizer-lhe de importante. Seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 8 de Agosto de 1904 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [131] 8 agosto 904 Amigo e Senhor Henrique Recebi e agradeço-lhe a sua carta de 30 de Julho e passo a responder: Quanto á agua ficou hoje pronpta e vou experimentar. Talvez quando receber esta carta já tenha antes d’isso o telegramma avisando-o de que pode vir o cosedor, como ficou combinado. Já fallei ao levadeiro da Camara e elle está ao corrente de tudo. Vou principiar amanhã ou depois nos cosimentos no melaxeur com o nosso assucar M e melaço de Barbados, e vejo que não posso dar pontos de 2º jet dos egoûts do melaxeur porque tenho pouco melaço e os pontos do melaço de Barbados estão a acabar. Sempre acho melhor fazer este trabalho assim por isso que se refina o assucar M e se tira algum assucar do melaço, do que reduzir a alcool directamente o melaço sem lhe tirar assucar algum. Vou fazer a separação dos egoûts-riches para entrar novamente em trabalho. Quanto ao arranjo no triple effet, está conforme o que se tinha combinado, mas por emquanto nada se tem feito porque os mestres não tem tido vagar. Já puz á venda o assucar de Barbados e retirei o nosso M, acho bem entendi-// [132]do assim. Envio-lhe a planta e orçamentos do arranjo na caldeira de vaco. Pedi ao engenheiro que me tirasse uma planta do fundo da caldeira com todas as medidas, que remetto. Na planta está marcado a tinta encarnada a medidas [sic] necessarias. Não tenho passado nada bem do meu reomatismo, e com o calor que está tem me posto n’um estado de fraqueza pouco agradavel: Quando o Senhor Henrique voltar não tenho remedio senão ir ás aguas, a ver se me refaço. É bem aborrecido este meu estado. Acabamos de experimentar as bombas centrifugas com a agua dos moinhos (Camara) que trabalharam perfeitamente; vou mandar telegramma prevenindo. O que temos em alcool é o seguinte: 152 Charles Henri Marsden (1872-1938), engenheiro natural de Essex que veio para a Madeira em 1902 e esteve ao serviço de Hinton até 1937, como engenheiro chefe do engenho. Foi o responsável por todo o processo de modernização da maquinaria do engenho. Em 24 de Agosto de 1921 registou a patente de um sistema para maior aproveitamento do esmagamento da cana. 153 León Naudet.

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alcool de 2ª — 2650 gallões Dito de 1ª — 2300 “ Dito para restillar — 4800 “ Como vê o alcool de 2ª é pouco mas como temos bastante de 1ª temos alcool para os vinhos novos. O Leacock desejou 3000 gallões de 2ª que já lhe foi entregue 1500. Sem assumpto para mais subscrevo-me Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 13 de Agosto de 1904 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [133] 13 agosto 904 Amigo e Senhor Henrique Recebi a sua carta de Goteborg com data de 3 d’agosto, e passo a responder por partes. Quanto ao preço do nosso assucar não tem havido necessidade de descer visto o cambio se conservar. Sinto bastante os desgostos e aborrecimentos que tem tido com o Harvey sobre a patente: Acho corioso que um homem que não metteu prego nem estopa n’esta questão queira sô elle figurar como inventor do processo; já deve considerar-se feliz por o terem escolhido como único representante em Inglaterra. Quanto á nova forma de trabalho para que as garapas sejam filtradas duas vezes, uma a frio, e a outra depois da defecação, tenho uma edeia do Naudet154 me ter fallado n’isso mas muito por alto, de forma que seria bom elle me enviar uma nota descriptiva do processo para eu poder estudal’o melhor. Não tenho tido occasião de fallar com o Pedro Pires sobre o baptismo da aguardente de canna; elle esteve no Norte e qualquer d’estes dias vou mandar lhe dizer para vir fallar commigo. Quanto aos de Camara de Lobos já lhe tenho sedido algum alcool // [134] mas segundo elles me teem dito é para os vinhos novos, porque teem medo não haja falta para as vindimas; Está bem claro que não acredito muito n’isso, mas como o preço da aguardente de canna se tem conservado não acho inconveniente em lhe ir sedendo algum, por isso que o Lemos155 assim o faz, e se nós não o vendermos, elle venderá. Rheomatismo, na minha pessôa vai assim, assim, e o indereço da botica em Londres para o remedio do Senhor J. Blandy156 é – M. Jozeau 49. Hiosmarket. O nome do remedio é Specifique Béjean. Com relação ao J. Carlos sobre a matricula da fabrica de Machico nem o Arthur sabe, e mesmo que elle a pedisse não lhe seria dada em vista das ordens que tem; contudo pedi-lhe para escrever para Machico ao Administrador de lá sabendo se há alguma cousa o que elle fez, e alem d’isso lembrando-lhe que não deve acceitar matricula alguma. O que me pareçe é que elle quer é auctorisação para uma licença de nova fabrica, mas isso mesmo o Arthur diz que não pode ser em vista da lei que prohibe montagens de novas fabricas. No dia em que lhe enviei o telegramma sobre a vinda do cuiseur, enviei um tambem [135] ao Naudet dizendo-lhe, envie o cuiseur, porque lembrei-me que, como o senhor Henrique está longe, elle mais facilmente o pode enviar. Commecei hontem com os cosimentos no melaxeur com pé de cuite com assucar M nosso. A qualidade do assucar turbinado hoje é quasi egual á amostra que lhe enviei, isto é, claro mas fino, mas o rendimento na centrifuga é bom. Quando se principiar com a refinação do assucar lembrei-me de tirar um pé de cuite com o assucar refundido feito pelo cuiseur, em grão mais grosso, e passal’o ao melaxeur, e alimentar depois com melaço de Barbados; deve dar um cristal meior e muito mais claro. Este tralho[sic] assim não prejudica, o que tem de mau é que, como sô temos 2 melaxurs abertos e empregando um n’este trabalho, atrasa um pouco a refinação, e quanto menos tempo cá estiver o cuiseur melhor. Emfim veremos o que se pode fazer de melhor. A agua da Camara está funcionando perfeitamente, de forma que toda a agua absorvida é enviada novamente ao seu destino, sem haver prejuizo algum para a Camara. O Jordão tem tido os seus dáres e tomáres com o Ferreira, cambado sogro do Ignacio, por causa da agua da fazenda, que segundo o Jordão me diz elle trata de se [136] aproveitar d’ella para seu servisso o que deu causa a uma seria questão entre o Ferreira e um moço da Fazenda, que levantou auto contra o Ferreira por lhe ter batido. Indaguei esta questão d’agua com o Domingos S.ta Clara de Menezes, e elle disse-me que aquillo era uma verdadeira roubalheira que o Ferreira estava fazendo. O Jordão veio-me participar que não continuava a tomar conta da fazenda. Acabo de fallar com o Arthur que me diz não haver nada de novo sobre matriculas em Machico. Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // 154 León Naudet. 155 José Júlio de Lemos. 156 John Burden Blandy.

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[DATA: 22 de Agosto de 1904 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [137] 22 agosto 904 Amigo e Senhor Henrique Recebi e agradeço a sua carta de 9 agosto, em que me diz ter recebido o telegramma com relação ao cuiseur. Fiquei descontente por emaginar que o Senhor quizesse fallar com o cuiseur antes da sua partida para aqui, mas como ficasse combinado que logo que a agua ficasse prompta o cuiseur viria emediatamente por isso telegraphei ao Naudet157 pedindo-lhe enviasse o homem; alem d’isso n’uma das suas carta dizia-me que o cuiseur estava á espera da ordem de partida. O homem chegou aqui no dia 17, no Normen[?], mas sô posso principiar hoje (segunda feira) em vista de a bomba de ar não estar prompta antes; e era necessaria para a sulfitação dos egoûts. A semana passada fiz alguns cosimentos no melaxeur com pé de cuite de assucar M e os egouts são para destillar. O cuiseur pareçe ser entendido na materia, é já um homem de seus 50 annos e tem melhor aperencia que o Micheau. Já combinei com elle a forma de fazer a refonte que será desfeito em 25º Baumé aquecida e passado aos filtros mechanicos. Os egouts // [138] serão sulfitados, tendo-lhe junto solucção de baryte com uma legeira reacção alcalina, e a sulfitação será levada até á reação ligeiramente acida. Vou esperimentar fazer os cosimentos na Francesa sô com a refonte do assucar e as egoûts serão épuisée no melaxeur, tendo passado para elle um pé de cuite de refonte da Francesa. O cuiseur diz que se se empregasse o carvão animal o assucar seria muito melhor mas nem temos filtros nem carvão em estado de servir, e para empregar o carvão em pô seria necessario passar o charope a um filtro presse, que o temos, mas não está em condicções de trabalhar por não termos nem panos nem a bomba montada. Em fim tenho esperanças de que fazendo um cosimento na Franceza com a refonte pura esse assucar deve dar bem branco; e os egoûts sendo sulfitados, e no melaxeur com pê de cuite puro tambem deve dar assucar bom. Quanto ao que me falla com relação a se tirar um ramo da agua aos moinhos para os alambiques, nem é bom pensar n’isso, porque a agua que a bomba centrifuga absorve é a indispensavel para a columna barometrica. // [139] Com relação ao rendimento do melaço de Barbados em assucar foi o seguinte: Melaço empregado no cosimento de 2º jet até 6 de agosto = 420.639 kilogramas assucar 2º jet produzido = 120.504 kilogramas Melaço épuisée para destillar 239.274 kilogramas Ainda nos resta d’este carregamento 24,645 kilogramas que é o que se tem feito no melaxeur com pé de cuite M. O assucar de 2º jet de Barbados tem-se conservado bem até agora, e não vejo signal de fermentação. Sempre lhe quero dizer que o melaço que temos são 300 cascos e 600 em viagem e o da Antiqua, mas não me pareçe que este melaço dê para todo o anno, e é pena reduzir este melaço de Barbados a alcool quando elle dá melhor em assucar. Para alcool o de Demerára seria melhor, e se tivessemos melaço suficiente poder-se-hia reduzir a cosimentos de 2º jet o melaço de Barbados, para ser turbinado no mez de Janeiro a miados de fevereiro, e o assucar servir para refonte na garapa em logar de se importar assucar como se fez este anno. O Antonio Justino mostrou-me uma carta de Lisbôa em que lhe dão todas as esperanças que a questão das matriculas seram resolvidas como deseja, mas foi necessario // [140] instigar a pessôa que trata d’esta questão (que é um homem pratico) com uma promessa de gratificação, para a qual elle veio combinar commigo se se poderia prometter isso, o que eu rosolvi bem sem sua auctorisação para evitar delongas, mas com a condição que sô receberia no caso em que a questão nos viesse favoravel e depois de publicada no Diario do Governo. Já tenho o memorial prompto para entregar ao Frederico Martins que deve partir para Lisboa até o fim do mês. Com relação ao J. Carlos nada há de novo, naturalmente foi mal entendido do Senhor João Blandy158. Tenho tido uns pequenos aborrecimentos por causa da agua dos moinhos porque o levadeiro emagina que a agua não lhe vai lá toda, mas vou sanar todas as deficuldades dando-lhe a gratificação adiantada, para pôr o homem de bons umores. Para o outro correio lhe darei conta do resultado da refinação. Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //

157 León Naudet. 158 John Burden Blandy.

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[DATA: 22 de Agosto de 1904 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [141] 22 Agosto 904 Senhor Henrique Já hia fechar a minha carta quando o João me diz que, já duas pessoas se queixão que a agua dos moinhos vai morna para as poços onde tem morto patos e peixes. Acho um pouco exagerado, mas <são> sempre reclamações que não fazem bem. No sabado esteve aqui o Veriador do peloro da agua que é o João d’Araujo, com o levadeiro e foi-lhe mostrar como entrava e sahia agua da Fabrica, e elle por seus proprios olhos viu que a agua sahia limpa, somente um pouco quente e com um leve cheiro a assucar, mas essa quantidade de agua quente é mesturada na levada com mais do dobro de agua fria que corre directamente da levada dos moinhos, de forma que o Araujo foi convençido que as reclamações do levadeiro não teem grande rasão de ser. Sempre é mau principiar estas pequenas reclamações e estou com medo isto não vá a mais: Muito desejava que o Senhor estivesse agora aqui para avaliar por si mesmo as // [142] deficuldades em que me vejo. Da levada das Hortas tambem fervem as reclamações. Nada queria senão que viesse uma boa chuva mas infelizmente o calor cada vez é meior. Emfim do que houver lhe darei parte. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 29 de Agosto de 1904 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [143] 29 agosto 904 Amigo e Senhor Henrique Principiei como na minha ultima carta lhe disse com a refinação do assucar. Pela ultima malla enviei-lhe uma amostra do assucar retirado do 1º cosimento que foi torbinado fora de tempo por não termos egoûts para o melaxeur e o grão não estava muito bom por ser o primeiro e o cosedor não estar bem sciente do trabalho da caldeira. Estes pontos que se tem dado depois d’esse 1º estão magnificos tanto em grão como na qualidade como pode ver pela amostra que lhe envio por este mesmo correio. O assucar tanto da Franceza como do melaxeur com egoûts pauvre, são perfeitamente eguaes tanto que tenho feito lotes de todos elles mesturados. Os egoûts levam baryte na quantidade suficiente e são muito bem sulfitados de forma que o assucar sai perfeito. Temos feito até hoje 32.636 kilogramas d’assucar refinado todo elle egual á amostra presente, e como vê mesmo sem carvão animal pode-se fazer bem branco. Tenho escolhido o assucar mais ordinario para refinar e tenho deixado o BB que está bom que passará a B2 e o refinado a BB. Vou subir o preço do assucar com 100 reis por 15 kilogramas melhorando contudo os lotes, de forma que podemos perfeitamente competir com os assucares de Hamburgo. // [144] O Costa aprova esta minha edêa que diz, elle, é a melhor a tomar. Amanhã vou experimentar mesturar metade do assucar da Fabrica com metade do assucar de Barbados de 2º jet para ver se o assucar refinado é bom: Tenho esperanças que assim seja, e n’esse caso vou refinar uma parte d’elle. Não podemos fazer mais de dois cosimentos por dia em vista de termos sô dois melaxeures, e a turbinagem nos levar 5 dias em cada cosimento. O dois [sic] cosimentos, 1 na Franceza e outro no melaxeur duram 6 horas pouco mais ou menos. O assucar vendido desde 1 de Fevereiro a 3 de Julho do corrente anno foi de: BB —————— 2052 sacas 2 B —————— 2238 sacas M —————— 330 sacas Com vê pela nota acima temos que refinar em BB 2100 sacas ficando o assucar BB e algum do B2 da Fabrica bom, para B2. Analyse da massa cosida da Franceza: assucar ..................................86,66% Pureza ...................................95,1 Coefficiente glucosico............0,15 Rendimento medio da massa cosida em assucar turbinado é de 70%. Analyse da massa cosida do melaxeur assucar ..................................83,24% Pureza ...................................92,1 Coefficiente glucosico............0,38

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Como não temos por emquanto melaço epoisée não lhe posso mandar a analyse. Os egoûts riches entrão na refundição do assucar. // [145] Duas palavras sobre o cosedor: O homem sabe bem do seu officio é muito cuidadoso no seu trabalho; é sobrio e delicado. Diz elle que já trabalhou em Fabricas d’assucar de canna em Martinica e que conhece a forma de cozer xarope de canna. Ficou ademiradissimo que houvesse um cosedor que deixa-sse[sic] chegar o cosimento de forma a formar sobre as cerpentinas de vapor os cascos que lhe mostrei. Diz elle que a caldeira Franceza é boa mas necessita muito cuidado, e que naturalmente ou havia descuido ou cristalisava com vacuo muito baixo, o que em assucar de canna se não pode fazer. Pergunteilhe se elle poderia vir aqui nos mezes de Fevereiro a Junho fazer a laboração, disse-me que sim, e acho que, mesmo que custe 100 francos por mez val muito mais que o Michou. Em fim o Senhor Henrique decedirá o que achar de melhor. Naturalmente se o Senhor estiver aqui no dia 21 setembro ainda o cuiseur cá estará. Com relação ao que me diz sobre o melaço da Felizberta da maneira que o chimico ensinou ao Wilkinson de fazer descer o assucar não me agrada muito, porque não me parece que haja outro meio senão o acido, e isso é um // [146] grande mal para a fabrica de assucar; emfim veremos pela analyse qual a acidez d’esse melaço. A Esperança está a chegar de um momento para o outro, com um carregamento de 380 cascos segundo me disse o Pedro Rois, e no caso de o melaço ser bom vou ficar com 150 cascos. Com relação á agua dos Moinhos cá vamos trabalhando ainda que de tempos a tempos apareçem pequenas reclamações, que tenho remediado. Por emquanto não recebi o remedio que o Senhor Henrique fez o favor de me comprar; virá na outra malla? Sem assumpto de meior importancia a dizer-lhe vou terminar; até á outra malla. Seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz P.S. Uma cousa que me esquecia de lhe dizer era que, o cuiseur disse-me que o Naudet159 lhe havia dito que o trabalho da refinação seria de 2 1/2 a 3 mezes, e elle ficou muito desconsolado quando eu lhe disse ser sô necessario 1 1/2 mez. O que elle deseja é então estar em França em Outubro para a fabricação da beterraba. [Ass:] Ferraz // [DATA: 5 de Setembro de 1904 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [147] 5 septembro 904 Amigo e Senhor Henrique Na minha ultima carta dizia-lhe que hia subir o preço do assucar em 100 reis por 15 kilogramas; já tinha combinado com o Costa e estavam as cousas açentes quando infelizmente veio a rosolução para a Alfandega do recursso que alguns importadores tinham levado para a Direcção Geral sobre se os assucares importados dos Paizes Baixos que [...] o tratado entre Portugal e esse paiz, os assucares não devem pagar o imposto de producção nem addecionaes e pelo typo 20, vei[sic] favoravel aos importadores, veio transtornar todos os nossos planos. Contudo tenho conservado os mesmos preços e os mesmos typos de assucar não expondo ainda á venda o assucar refinado sem ver em que param as modas. Tenho continuado a refundir o assucar de 2º jet de Barbados com o nosso assucar o que tem dado bom resultado com relação á qualidade. O xarope d’estes dois assucares leva baryte até á reação legeiramente alcalina e depois são sulfitados até á reação legeiramente acida não havendo perda de pureza n’esse trabalho, e o assucar é bom, já se vê não tão branco como o do assucar da Fabrica sô de per si, mas ainda assim um assucar muito melhor que o nosso BB. Dizia o senhor na carta ao Carlos160 que desejava que se trabalhasse de dia e de nuite; não é isso muito facil: Tenho-me visto na necessidade de trabalhar da meia nuite para // [148] a manhã, por causa da agua dos moinhos, que algumas pessôas se queixam que vai quente para as regas e como de nuite poucos regão, tenho feito assim. Com relação ao assucar M da Fabrica diz o senhor Henrique que, no caso que a pureza d’elle tenha descido que se refine? Mas não é possivel com aquella quantidade d’assucar fazer assucar branco sem um trato especial de clarificação e carvão animal. Esse assucar tinha-o reservado para os pés de cuite para o melaço de Barbados no melaxeur Efectivamente o assucar tem baixado a pureza por isso que em 22 de Julho mostrava: assucar – 90,0% glucose – 1,64% Emquanto que hoje tem: 159 León Naudet. 160 Carlos Fernandes.

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assucar – 89,6% glucose – 1,92% Não me parece que haja vantagem em mesturar este assucar com B2 da Fabrica para refinação porque nem um nem outro dará branco. Temos feito até hoje 20 cosimentos na Franceza e no Melaxeur e sô agora é que tenho egoût pauvre para cosimento de 2º jet; uns 400 litros, com a seguinte analyse: assucar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48,38% Glucose. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17,54% Pureza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61,7 Coefficiente Glucosico. . . . . . . 36,2 Este melaço está claro mas um pouco [...] de forma que deve ser reduzido a 2º jet. A analyse do assucar refinado levando metade do de Barbados mostrou assucar – 99,2% glucose – 0,12% // [149] Temos feito até hoje (em 20 cosimentos) aproximadamente 846 sacas d’assucar refinado de 100 kilogramas cada uma. O rendimento da Melasse Cuite tem sido de 72% em assucar turbinado, o que é um bom rendimento. No tempo da laboração com xarope de canna o rendimento era de 58% Quanto ao que o Senhor Henrique diz na carta do Carlos que ficou descontente por ter vindo o cosedor sem ter fallado com elle, não tive culpa alguma, por isso que, não me tinha prevenido d’isso. Fiz um calculo da despeza de combustivel e pessoal n’esta questão de refinação que me deu o resultado de 50 reis por 15 kilogramas d’assucar refinado. Neste calculo está incluido, já se vê, o cosedor. Quanto á quebra da refinação não lhe posso dár o resultado, porque nada se pode ver sem fazer uma liquidação de todo o xarope e egouts em trabalho. Se acha isso de grande necessidade pode-se fazer, mas não me parece que a quebra seja mais de 2% não incluindo o xarope em que vai imbevido os sacos dos filtros que é para aguardente. Alcool: Temos em deposito da qualidade B 4000 gallões, e da 1ª qualidade em deposito e por restillar temos uns 7500 a 8000 gallões aproximadamente. O senhor Cossart161 já está inteirado e diz que por estes primeiros mezes não quer mais // [150] Com o que não estou nada satisfeito é com o rendimento do melaço. Terminei um lote que apenas me deu 8,1 gallões d’alcool puro a 100º e as fermentações são boas em vista da differença da acidez entre a normal e a final, os apparelhos de destillação estão trabalhando bem; não vejo a causa do pouco rendimento senão nas temperaturas elevadas da fermentação que evaporão algum alcool. Tenho trabalhado devagar por isso mesmo, mas o alcool felizmente tem chegado para as encomendas Vou principiar hoje a gastar o melaço de Barbados para aguardente sem extrahir assucar por isso que o outro aviou. Quanto ao Pedro Pires não é possivel elle mesturar por emquanto alcool na aguardente de canna porque segundo elle diz tem ainda 7000 gallões d’aguardente e não vende quasi nada por querer aguentar o preço como o Senhor Henrique lhe recommendou. Quanto ao resultado da Fabricação diz elle que espera apresentar alguns lucros. Na carta ao Carlos o senhor Henrique diz para eu esperimentar sulfitar o melaço de Barbados? Mas n’esta occasião estamos tratando da refinação do assucar e não temos em trabalho nenhum melaço de Barbados… Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 12 de Setembro de 1904 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [151] 12 setembro 904 Amigo e Senhor Henrique Sempre subi o preço do assucar em 100 reis por 15 kilogramas, expondo á venda o assucar refinado: Temos 4 qualidade [sic] d’assucar BBR que é o mais branco .a 3900 reis por 5 sacas BB refinado .....................a 3800 reis “ B2 não refinado ................a 3600 reis “ NB....................................a 3500 reis “ 161 Charles John Cossart.

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Segundo as cutações do assucar que o Costa tem o assucar subio, de forma que o assucar do Paizes [sic] Baixos, deve ter subido na proporção e n’este caso poderemos competir com eles, principalmente na qualidade. Recebi no dia 10 uma carta do Quirino162 em que me pede para lhe telegraphar se o assucar dos Paizes Baixos já se pode despachar nas condições em que Direcção Geral das Alfandegas deu o seu parecer de ser isento do impacto de producção, telegraphei-lhe isento como elle pedia. Alem d’isso pedia-me tambem para acrescentar ao telegramma se a fiscalisação continuava, e se continua lhe telegraphar sempre, o que fiz. Isto naturalmente é devido a alguma carta sua ao Quirino? Vou escrever-lhe pelo primeiro vapor retificando os telegrammas. Junto a esta encontrará o calculo do rendimento como na sua ultima carta desejava. Tive que fazer uma liquidação completa do trabalho por isso que os ultimos cosimentos já não corrião tambem como os outros. Como vê temos 2 cosimentos não turbinados, que por serem deficeis de turbinar // [152] me vi na necessidade de os tirar dos melaxeurs e deital’os nos tanques de ferro para serem torbinados mais adiante, de forma a não atrapalhar o trabalho. Principiei de novo. O cosimento de 2º jet dos egoût da refinação não é grande cousa e deve naturalmente dar pouco assucar. O melaço é gresse em grau elevado. Como vê a quebra foi de 2% como eu tinha previsto na minha ultima carta. Desejava saber se no caso de se ter refinado todo o assucar necessario quer que mande o cuiseur embora ou se quer que o deixe ficar até o Senhor Henrique vir fazendo elle os pés de cuite para o melaço de Barbados com João Martins, trabalhando de dia e de nuite. No caso de querer que elle fique telegraphe Fique: e no caso de não querer, deve telegraphar Retire. Pedialhe resposta breve. Junto a esta encontrará tambem uma traducção de uma carta em espanhol de Porto Rico que o cuiseur Monsieur[?] Frederique fez favor de traduzir (elle entende o espanhol) Essa carta é interessante para o Naudet163 visto ser o Manoury que tirou patente em Porto Rico do processo de diffusão do Bagaço. Não respondi á carta: espero por si. Esta será naturalmente a minha ultima carta. Tive que suspender novamente o fornecimento de alcool para Camara de Loubos em vista de reclamações que tem aparecido sendo uma do Tenente Coronel // [153] Rego que se queixa que os de Camara de Lobos vendem aguardente de canna nesta epoca a menos de 1000 reis. Neste caso preveni-os de que lhe não poderia fornecer alcool em quantidades elevadas sem que o Senhor Henrique volte e dezedirá[sic] o que se deve fazer. O Antonio Justino diz que tem ainda em aguardente de canna pura uns 15.000 gallões e em São Martinho ainda há alguma mas pouca. Eu com receio de alguma representação feita pelo Rego achei mais prodente suspender por emquanto o fornecimento de alcool em quantidades superiores ás necessarias para o tratamento dos vinhos de Camara de Lobos. Não desejo tomar a responsabilidade de tal cousa. Sem assumpto de maior importancia espero a sua volta no dia 28 e subscrevo-me seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz P.S. Acaba de estar aqui o Antonio Justino mostrando-me uma carta de Lisboa do Abecassis em que diz estar tratando da Questão das matriculas com todo o empenho e pede-me para lhe dizer isto. [Ass:] Ferraz // [DATA: 13 de Setembro de 1904 DESTINATÁRIO: Quirino Avelino de Jesus164; LOCAL: Lisboa] [154] 13 setembro 904 Meu Caro Amigo e Senhor Quirino A. de Jesus Recebi a sua carta com data de 6 do corrente em que me pedia esclarecimento sobre o despacho do assucar da Holanda, e devido a isso lhe telegraphei como o seu desejo a palavra isento, por isso que tinha vindo ao Director da Alfandega a decisão do despacho d’esse assucar isento do imposto de producção de 15 reis e tanto que um negociante que tinha aqui assucar d’essa procedencia o despachou já n’essa conformidade. Na ultima carta ao Senhor Henrique Hinton tinha-o previnido d’isso, e naturalmente elle devia ter-lhe escrito sobre o assumpto como diz na sua carta esta questão é de grande importancia para elle, por isso que esse assucar caso continue a ser despachado n’essas condições vem transtornar completamente todas as nossas esperanças, e os nossos lucros seram reduzidos n’uma importancia avoltada; já em si a fabricação do assucar da canna bem poucas vantagens offereçe, e com esta diminuição ficará reduzida a 0. 162 Quirino Avelino de Jesus. 163 León Naudet. 164 Quirino Avelino de Jesus (1865-1935), advogado madeirense, com múltipla intervenção no jornalismo, politica. Foi advogado da casa Hinton e sobre o tema publicou alguns estudos: JESUS, Quirino de, A Questão Saccharina da Madeira, Lisboa, Typografia A Editora, 1910, IDEM, A Nova Questão Hinton, Lisboa, 1915.

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Com relação á fiscalisação continua da mesma forma, por isso lhe telegraphei sempre, como do seu desejo. Não posso comprehender como depois de termos assignado um termo de responsabilidade e em que o regulamento diz se deve retirar a fiscali-//[155]sação, ella continue da mesma forma, obrigando-nos a uma despeza avultada… Com franqueza não vejo a vantagem d’essa fiscalisação, porque aqui entre nôs, os guardas nada fiscalisão Sempre ás suas ordens, crêa-me seu sempre sincero Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 22 de Maio de 1905 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [156] 22 maio 905 Amigo e Senhor Henrique Não lhe tenho escripto porque como o Bardsley o tem feito e naturalmente falla-lhe de tudo quanto se passa e eu pouco mais teria a dizer-lhe por isso o não fiz até agora. Mas como agora lhe tenho alguma cousa interessante a dizer-lhe passo a narrarlhe: Terminamos com a secagem do M da Fabrica que rendeu 31,730 kilogramas assucar. Quanto ao melaço só lhe posso dar uma conta aproximada por isso que ainda não está todo pezado. Terminamos hoje com as [...] melaço de Demerára que deu 32 cosimentos. Já torbinei uma pequena quantidade sô para ver a qualidade do assucar; Dá um assucar amarello muito claro contendo 93% assucar puro (da amostra que fiz). Não posso principiar a turbinal-o ainda porque estão ainda quentes e alem d’isso tenho muito melaço em ponches do da Fabrica que me dá até ao fim do mez. Sô no principio do mês que vem principearei a torbinal’o: A Barca deve estar por aqui a meados de Junho de forma que tenho tempo bastante. As fermentações vão bem. O novo fermento puro do Instituto de Berlim Raça Nº 11 é magnifico. // [157] É talvez o melhor que temos tido; principiei a usal’o no dia 19, sendo muito facil abitual’o ao fluorydrico, empregando logo no principio doses elevadas d’este anticeptico, o que com os outros fermentos é impossivel. Como vê é perfeitamente o que eu esperava. Falta-me ver os resultados praticos da fermentação, sua acidez, e rendimentos em alcool. Com relação a agua temos trabalhado com a dos moinhos, por isso que, como tinha a sua auctorisação offereci ao levadeiro 10.000 reis mensais para que deixe vir uma pequena quantidade d’agua de forma a não fazer falta á levada, e assim continuará quando vier o melaço de Barbados, que vamos fazel’o em 2º jet. Melaço da Fabrica (aproximadamente) pezo liquido ............................................467000 kilogramas Temos rendimento da canna por ..................100 kilogramas assucar 1º jet..............................................7,360 kilogramas assucar 2º jet..............................................0,411 melaço .......................................................6,060 Este melaço pode-se contar ter 49,8% assucar total calculado em saccarose, e o assucar de 2º jet tem 92% assucar de forma que calculando em assucar puro temos: assucar 1º jet .............................................7,139 kilogramas assucar 2º jet .............................................0,378 (aproximado) assucar no melaço .......... 3,017 assucar total produzido...........................10,534 O assucar entrado em fabricação por 100 kilogramas de canna foi 11,01 kilogramas, temos a perda indeterminada de 0,476 kilogramas, com os 0,51 kilogramas no bagaço ou petit jus faz a perda total de 0,986 kilogramas Sem assumpto para mais subscrevo-me Seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz [DATA: 30 de Maio de 1905 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [158] 30 maio 905 Amigo e Senhor Henrique O telegramma que lhe enviamos hontem e rectificamos hoje, teve sô por fim prevenil’o contra qualquer surpreza, que por parte d’esta gente d’aqui lhe podessem preparar; um homem prevenido, val por quatro. Passo-lhe a expôr as razões que nos levaram a telegraphar-lhe: Estando eu no Jardim Municipal no Domingo 28, o Antonio Justino chamou-me de parte e perguntou-me se o Senhor Henrique tinha escripto, e se as suas cousas corrião bem ou se haviam algumas deficuldades? Respondi-lhe que o senhor tinha

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escripto mas que estava confiado nos bons resultados dos seus desejos. Disse-me então elle que, estando n’um grupo no mesmo Jardim, em que se achavam reunidos o Luiz Pereira, Pedro Lomelino, Carlos Carvalho, Octaviano e elle, principiou a conversa sobre menopolios, em que veio a lume a questão de melaços e assucar e matriculas dizendo o Luiz Pereira e Carlos Carvalho que esta questão de alcooes de melaços era uma verdadeira pouca vergonha, que não podia continuar assim, ou Leça se podia matricular ou então a matricula devia ser livre para todos (asneira), e que o Hinton estava muito confiado na sua força mas que de um momento para outro a perderia completamente, que em poucos dias se veria o resultado: Foi n’esta altura da conversação que o L. Pereira fallando ao ouvido do C. Carvalho lhe disse qualquer cousa que o Justino não poude perceber, // [159] mas que o Luiz Pereira perguntou então ao Carvalho em vôs um pouco alta… mas isso é official? É sim, lhe respondeu o Carvalho; foi isto que fez má impressão no Justino. Depois passaram a fallar na importação do trigo e direitos alfandegarios, até que a questão chegou á diminuição dos rendimentos da alfandega devido á grande importação de melaço que paga um pequeno direito, e quasi nenhuma importação d’assucar, o que dava causa ao rendimento da Alfandega ser no anno passado muito menor, e este anno ainda seria peôr; que em Julho (anno economico) hiam tirar as estatisticas, e provariam se era ou não verdade. Foi tudo isto que deu causa ao nosso telegramma prevenindo-o para evitar surprezas e pol’o de sobreaviso. Se elles teem qualquer esperança não sei… O que sei é que se não podem conseguir a matricula do Leça, d’alguma forma se vingaram! E esta questão de rendimentos da alfandega é importante. O Director da Alfandega diz que nada recebeu de official. O que será então essa cousa official? Será pelo Governo Civil? Vou ver se posso indagar e lhe direi. Esperando as suas felicidades Subscrevo-me Seu Amigo respeitoso [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 1 de Junho de 1905 DESTINATÁRIO: Sousa Lara; LOCAL: Benguela, Angola] [160] 1 Junho 905 Ill.mo Ex.mo Senhor Sousa Lára Bengella Amigo e Senhor. Recebi a sua estimada carta datada de 24 de abril, o que muito lhe agradeço. Sinto bastante não estarmos de acordo com relação á minha hida ahi, mas crêa que ficarei sempre grato pelas suas amaveis referencias. Com relação ao homem que V.ª Ex.ª me pede tenho arranjado um em bôas condições, mas o preço não o pude fazer por menos de 30$000 reis mensaes, passagens pagas de 3ª classe hida e volta, commedorias, alojamento e medico. É um homem forte, sabendo bem o trabalho de cannas de assucar como aqui se usa, e parece-me bom rapaz. Pode ser que V.ª Ex.ª se dê bem com elle e ahi ficará. O homem pede um decomento do seu contracto o qual eu lhe passarei referindo-me á sua carta, o qual V.ª Ex.ª retificará á chegada d’elle ahi. Quanto á passagem não há meio da agencia aqui (Blandy) levar o homem e depois receber a importancia, de forma que vou adiantar o dinheiro necessario e depois me avisará em tempo competente. No caso de não querer assim avise em tempo competente. Assucar: – Com respeito ao fornecimento de 200 a 250 toneladas d’assucar de que lhe fallei, gosamos aqui das mesmas garantias dos bonos de 50% como em Lisboa. Faço notar // [161] a V.ª Ex.ª que o assucar que necessitamos é o assucar bruto de 1ª qualidade do qual nos enviará uma amostra logo que o tenham. Seria favor derigir-se directamente á firma William Hinton & Sons – Madeira Melaços: – Sobre melaços pode ser que possa tambem fazer negocio, mas esse melaço deve ser de 1ª qualidade com uma percentagem em assucar entre 50 a 53% crystalisavel. Seria favor nos enviasse amostra quando o tiverem. Esse melaço poderia V.ª Ex.ª mandar do de 1er jet, isto é, antes de ter tirado o assucar mascavado. Incluso envio a V.ª Ex.ª como coriosidade, os resultados obtidos na nossa fabrica com o processo de diffusão do bagaço, Systema “Naudet”, e pelos quaes pode fazer uma comparação com os seus. Tem contudo a verificar qual a percentagem da canna em assucar, ou da garapa (sumo) e qual a extração pelo moinhos [sic]. Por estes dados pode ver se lhe convem ou não montar uma diffusão, por isso que com este processo evita as baterias de defecadores, eliminadores, filtros presses etc, porque toda a garapa da canna sahida dos diffusores vai directamente ao Triple effet sem outro trabalho. Isto representa uma grande economia de combostivel, trabalho e perdas em assucar Aguardente: – Quanto a esta parte da fabricação teria V.ª Ex.ª naturalmente muito a modificar. Posso-lhe dar os resultados // [162] que obtenho aqui na Fabrica com canna tratada pela diffusão e com fermentações puras! Por cada 100 kilogramas de canna com 12% em assucar obtenho 6,75 litros d’alcool a 100º a 15 temperatura = 9,32 litros de aguardente em 27 1/2 cartier. Sem diffusão, com uma extração de 67,5% de sumo da canna obtenho por cada 100 kilogramas de canna 5,75 litros d’alcool

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a 100º = 7,88 litros de aguardente em 27 1/2 cartier. Esperando continuar a receber a sua valiosa amisade aqui fico ás suas ordens e subscrevo-me seu amigo certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 2 Junho de 1905 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [163] 2 Junho 905 Amigo e Senhor Henrique Como addecionamento á minha carta de 30 de maio vou contar-lhe o que se tem passado com relação a esta questão do Decreto e matricula do Leça. Como na outra carta lhe disse os homens continuam a mexer-se para conseguir a matricula do Leça, ou no caso de o não poder fazer já pensão em outra cousa segundo o que o Justino165 tem podido apurar. Principiam com a fiscalisação dos vinhos nas estufas como em tempo pensaram, e já o Diario de Noticias dá essa novidade, e querem depois conseguir do governo a prohibição da entrada de melaço para fabrico de alcool! Reduzindo a canna a alcool para tratamento de vinho, dizem elles que evitará a fabricação de vinhos falsificados, por não terem alcool barato, e alem d’isso o vinho tratado com alcool de canna seria mais vantajouso por ser um producto da terra, e como não havia alcool de melaço barato a mestura com aguardente de canna não se faria, tendo n’esse caso melhor sahida a dita aguardente e por preço mais elevado. Esta era e é a maneira de pensar do Tenente Coronel Telles166 e outros, mas que para o Leça de nada servia. O Telles vai no “São Miguel” para Lisboa e é muito provavel que levante lá essa questão, como já aqui prometteu que o faria. // [164] É bom estar de prevenção contra elle. Acabamos de saber que o Leça fez novo requerimento para matricula e que deve estar nas mãos do Governador Civil substituto Pedro Lomelino. É esta naturalmente a questão official, isto é, enviam para Lesboa o requerimento do Leça para conseguirem o deferimento d’elle. Isto é com certeza manobrado pelo Capitão[?] Pereira em Lesboa Vou principiar a seccar os cosimentos do melaço de Demerára no dia 5 mas os cosimentos estão ainda quentes vou ver qual será rendimento em assucar Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 8 de Junho de 1905 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [165] 8 junho 905 Amigo e Senhor Henrique A amostra que lhe mando é o assucar B2 que tensiono fazer com o assucar bruto da Fabrica BT. Esta pequena experiencia foi feita com o melaço de Demerára 2º jet que não pode ser aproveitado novamente para 2º jet por isso que já está muito epuissé e contem grande quantidade de glucose: Logo que chegue o melaço de Barbados vou então fazer essa qualidade d’assucar pela seguinte forma: desfaço o melaço de Barbados em 30º Baumé aquecendo-o um pouco; deito-o no melaxeur até á altura do veio e depois vou juntando o assucar BT em pequena porporção, até fazer uma massa cristalisada propria a hir ás turbinas. Os egoûts d’esta massa são então cosidos em 2º jet. Desta forma a quebra é quasi nula e o assucar B2 deve sahir bom como a amostra que lhe envio. Melaço de Demerára: – Os cosimentos de 2º jet do melaço de Demerára tem dado bom resultado e o rendimento em assucar deve ser pouco mais ou menos de 120 a 125 kilogramas d’assucar M amarello claro por cada ponche de melaço. As analyses medias dos melaços foram o seguinte: Esperança – saccarose – 42,07% glucose – 23,66% Felizberta – saccarose – 37,94% glucose – 24,82% // [166] Fermento puro Alemão: – Os resultados d’este fermento continuam a ser bons, conservendo-se o fermento sempre em bom estado, sem bacterias, e com uma força fermentativa bem desenvolvida. A acides antes de empregar este este [sic] fermento era na media de 2,6 gramas por litro – a glucose infermentecivel media de 1 kilograma de reductores por 100 litros de vinho – a porporção e mau gosto (alcool) para o alcool bruto era de 31,5% – o rendimento por hectolitro era de 1,166 gallões d’alcool puro. Com o fermento novo temos: 165 António Justino. 166 Norberto Jaime Teles?

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acidez media por litro. – 2,2 gramas Reductores infermenteciveis 0,748 kilogramas Proporção do mau gosto do alcool puro 24,7% Rendimento por hectolitro – 1,215 gallões alcool a 100º Como vê estes resultados são animadores, e ainda mesmo que o fermento é caro tem grandes vantagens. Deve terminar na semana proxima a destillação do melaço da Fabrica e vou principiar com o melaço de Demerára 2º jet. Depois lhe darei o rendimento total do melaço da Fabrica e n’esse caso conta geral do rendimento da Fabrica d’assucar Desejando a suas [sic] felicidades subscrevo-me seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 10 de Junho de 1905 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [167] 10 Junho 1905 Amigo e Senhor Henrique M. Bardsley acaba de me dar a traducção em portuguez para a requesição de patente do processo de Diffuzão “NaudetHinton”, mas com franqueza não percebo bem essa descripção, por isso que ella não está em relação com a planta que enviou, em vista da descripção ser a do processo usado em 1903 e a planta ser do novo processo de 1905. Alem d’isso vejo que se emprega um esquentador para a garapa sulfitada contida nos depositos de medida da dita garapa, e onde se junta a cal necessaria, fazendo circular essa garapa alcalinisada, entre o dito esquentador e o deposito de medida, ate chegar á temperatura de defecação, e sô depois d’isto é que é introduzida no diffusor carregado de bagaço fresco para fazer a meichagem. Pergunto eu: Como se faz a circulação d’essa garapa entre os depositos de medida e o dito esquentador? Naturalmente com uma bomba centrifuga? Mas a planta não mostra nem o esquentador nem a bomba centrifuga! O que eu desejava saber era <se> quer tirar a patente pelo processo usado em 1903 egual ao que tirou em Inglaterra, ou quer tirar a patente pelo novo processo usado em 1905? Alem d’isso desejava tambem saber se quer juntar mais essa modificação de esquentar a garapa antes de entrar no diffusor para n’esse caso juntar a planta mais esse esquentador e respectiva bomba // [168] de circulação. Sem estas explicações nada farei, porque se a descripção não for conforme á planta a patente pode ficar nula, e eu desejo fazer as cousas de forma a ficar seguro. Na minha opinião achava melhor tirar a patente pelo processo usado actualmente (1905) juntando-lhe, no caso de querer, o novo esquentador da garapa normal e bomba de circulação para esse trabalho, o que não me parece má lembrança[?]. Em fim o Senhor Henrique dirá o que quer. Esperando a sua resposta subscrevo-me seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 17 de Junho 1905 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [169] 17 Junho 905 Amigo e Senhor Henrique Acabei a distillação do melaço da Fabrica, envio-lhe a nota do rendimento geral em quadro, onde juntamente verá os rendimentos dos annos transactos, para poder fazer um termo de comparação entre elles. Onde a differença é bastante sensivel é nos annos 1904 e 1905 em que n’este ultimo anno se retirou mais 0,841 kilogramas d’assucar vendavel do que em 1904, e no assucar total o excesso de rendimento foi meior em 1905 de 0,359 kilogramas por 100 kilogramas canna. Ora esta differença bastante sensivel tem ainda em seu favor ser a canna em 1904 de melhor qualidade tanto em assucar como em glucose. A quantidade melaço foi menor em 1905 e muito melhor épuisée, como pode ver pela analyse media do melaço. Como o calculo do assucar no melaço é feito pelo rendimento real em alcool, contando que 100 kilogramas de saccarose dá 60 litros d’alcool está perfeitamente certo. No caso do proximo anno termos mais dois melaxeurs em que fação o épuissement completo dos egoûts sem ser necessario fazer 2º jet, o rendimento ainda deve ser meior e a despeza de fabricação muito menor, e o melaço ficará em melhores condicções para fermentação. A differença a mais no rendimento de 0,354 kilogramas % dá para a canna fabricada em assucar 27.651 kilogramas d’assucar vendavel que ao preço de 220 reis por kilo faz 6.083$220! Ainda temos a acrescentar que, se os 0,841 kilogramas d’assucar vendavel retirado // [170] passa-se ao melaço daria uma differença de 36 reis por 100 kilogramas de canna o que para a canna trabalhada faz o total de 2.772$882 reis por conseguinte differença a mais em 1905 Reis 8.856$102.

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Estou principiando a fermentação do melaço 2º jet de Demerára e já temos a meior parte dos cosimentos turbinados. Fiz um lote do assucar da fabrica de 2º jet com o de Demerára para melhorar a qualidade. Logo que chegue a Barca vou fazer B2 com o assucar B da terra. Sem assumpto para mais subscrevo-me seu amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz Em 1905 Producção de melaço da Fabrica – 452.801 kilogramas que produzio em alcool a 100º = 32926 gallões. Rendimento por 100 kilogramas 7,27 gallões a 100º Em 1904 Melaço —————————- 480.392 kilogramas rendimento em alcool a 100º = 34300 gallões Rendimento por 100 kilogramas – 7,13 gallões a 100º Em 1904 o assucar total no melaço calculado em saccarose era de – 48,05% Em 1905 é de – 45,03% Temos por isso em 1905 um rendimento em alcool do melaço por 100 kilogramas superior com menor quantidade de d’assucar[sic] total. [Ass:] Ferraz // [DATA: 17 de Junho de 1905 DESTINATÁRIO. H. Manoury; LOCAL: Paris] [171] 17 Junho 905 Monsieur H. Manoury Ingénieur-Conseil Paris Meu caro senhor Como tenho deficuldades em escrever em francez, escrevo-lhe na minha lingua que espero comprehenderá por isso que sabe o hespanhol. Agradeço-lhe a sua amavel carta de 7 de fevereiro, e peço-lhe desculpa de não ter respondido mais sedo, mas estive á espera de finalisar a fabricação do assucar e destillação do melaço para lhe enviar os nossos rendimentos, que sei deve estimar. Junto a esta encontrará um quadro muito corioso dos rendimentos de diversos annos d’esde o primeiro anno que tomei conta da direcção da Fabrica até ao presente. Por esse quadro pode vêr os progressos que temos feito depois da sua feliz estada aqui, que para mim foi Monsieur Manoury o ineciador d’esses melhoramentos, e lhe serei sempre grato pelas suas attenções. Em 1905 deve reparar que tivemos um rendimento excepcional, devido em grande parte ao bom cuiseur que tivemos; por outro lado o trabalho da sulfitação continua Quarez é de primeira ordem, dando-nos uma sulfitação regular de 1 grama por litro. Não sulfitamos os xaropes, e todo o assucar retirado do epuissement dos egoûts fiz em assucar bruto para depois final’o. (Refinar). Tivemos sempre rendimentos de 71% da masse cuite, onde nos outros annos sô obtinhamos 62 a 65%. O que não estou ainda perfeitamente satisfeito é com o epuissement ao bagasso que este anno foi de 0,51, mas como vamos montar no // [172] proximo anno um Defibrador estou esperançado que teremos um épuissement 0,35 no maximo. Pelas esperiencias que fizemos no bagaço mal dividido vê-se que a causa é unicamente á má devisão do bagaço. Esperando continuar a receber a sua apresiavel amisade desejo as vossa [sic] felicidades e subscrevo-me Seu Amigo respeitoso [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 17 de Junho de 1905 DESTINATÁRIO: Bochet] [173] 17 Juin

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Mon cher Monsieur Bochet Je n’ai pas encor eu le plaisir de recevoir une lettre de vous, mas j’espére bien que cela ne soit pas pour maladie. Je vous envoie la note généralle du rendement, como je vous ai promis; cette note vous montrerá le dernier resultat de 1905 qui má donné beaucoup de satisfaction aussi bien qu’á Monsieur Hinton167. L’année proxain j’espere bien avec le montage du defibreur, et avec deux malaxeur de plus pour l’epuissement des egouts, 167 Harry Hinton.

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le resultat será encore mieux. Je n’ai pas encore reçu de la maison Egrôt & Grangé le plan de la columne inclinée á circulation libre “inobstruable”. Ils nous ont ecrit disant qu’ils attendent notre visite, afin que vous leur donnez quelques explication qu’ils ont besoin. Esperant recevoir de vos nouvelles et vous désirant un rétablessement complet veuilles agréer chez Monsieur Bochet mes plus sinceres salutations. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 26 de Junho de 1905 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [174] 26 Junho 905 Amigo e Senhor Henrique Principiei logo que chegou a Barca com o melaço de Barbados nos cosimentos de 2º jet. O melaço veio em boas condições tanto com relação ao estado do carregamento como na sua percentagem em assucar. Fiz uma analyse antes de descarregar o melaço que mostra n’uma media de 6 ponches 54,3% Já fiz uma analyse de uma media[?] de 65 ponches (5 cosimentos) que mostrou: saccarose – 53,75% glucose – 10,83% Pureza – 73,5 Coefficiente glucosico 20 Analyse de um cosimento de 2º jet: saccarose – 66,12% glucose – 13,78% Pureza – 73 Coefficiente glucosico 20,8 Os cosimentos ficão magnificos, completamente cheios de assucar Estou aproveitando todo espaço desponível, isto é, estou deitando primeiro nos tanques de ferro para depois deitar nos poços: Conto em que em tudo isto possa levar uns 600 ponches. O melaço de Demerára fica terminada a seccagem esta semana e talvez para o principio de Julho possa commeçar no de Barbados. Estou fazendo umas analyse [sic] de 15 ponches cada um depersi[sic] para lhe mandar, para servir de norma na questão que tem com a outra casa que lhe forneçeu o melaço de Barbados em más condicções. Recebemos uma carta do Quirino168 em que nos faz varias considerações e conselhos sobre o que se possa dar com relação aos invijosos e os desilodidos; estamos de prevenção // [175] contra elles, e qualquer cousa que apareça vamos fazer deligencia de destruhir. Como sabe o A. Justino169 não tem comprado mais aguardente de canna por isso, segundo elle diz, tem os depositos cheios e uma grande porção de pipas tambem: Mas aparece agora o Albino170 do Faial a reclamar que não pode vender a sua aguardente de canna em vista do Justino ter promettido a todos os negociantes d’aguardente que lhe venderia por um preço mais baixo do que o Albino pede. O homem estava um pouco exaltado e já queria representar em termos que nos poderiam prejudicar mas consegui que nada fassa, e combinei com o Justino de elle lhe comprar alguma, assim como a outro qualquer que apareça. Desta forma pomos os homens do nosso lado para qualquer iventualidade futura. Achei melhor o Justino figorar sô na compra da aguardente, dizendo aos homens que tinha conseguido que <elle> comprasse mais alguma aguardente. O que me está dando mais cuidado é a aguardente de vinho de Lisboa, porque no caso de ella aqui poder entrar sem dereitos, os negociantes d’aguardente têem um meio de fazer a mestura com essa qualidade de aguardente e aguardente de canna trazendo-nos graves prejuizos tanto a nos como ás fabricas não matriculadas. No caso de isto // [176] acontecer achava melhor fazer uma representação contra essa entrada, e é para isso que desejo ter do nosso lado todas as fabricas pequenas. O Quirino não diz bem quando julga que a aguardente de Portugal não nos pode prejudicar, porque o mal não vem da aguardente para tratamento dos vinhos, n’essa podemos nos competir; o que não podemos evitar é a mestura com a aguardente de canna; por isso que pomos todas as peias para isso com o alcool de melaço, o que não acontecerá com a aguardente de vinho de Portugal. Emfim veremos o que vai socceder de futuro para prevenirmos. 168 Quirino Avelino de Jesus. 169 António Justino. 170 João Albino Roiz de Sousa.

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Por emquanto nada teem feito os adversarios; ou ainda teem alguma esperança ou então estão manhosos, para nos fazer a surpresa de alguma maldade. Com a crise do vinho este anno, visto os negociantes não quererem comprar, é minha opinião e tambem do Dr. Romano, o Senhor Henrique fazer de benemerito comprando algum do Norte para reduzir a aguardente. Isto evita que os outros a fação ficando a casa bem vista. O prejuizo não poderá ser talvez muito grande por isso que compramos o vinho barato, porque a não ser assim, os vinhateiros nem mesmo barato têem quem lhe compre. // [DATA: 1 de Julho de 1905 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [177] 1 Julho 905 Amigo e Senhor Henrique Envio-lhe junto a esta um conpte rendeur da fabricação 1905 como do seu desejo. Já no corrêo passado lhe tinha enviado o quadro dos rendimentos que espero terá recebido. Melaço de Demerára: O resultado final do rendimento em assucar d’este melaço foi 33,300 kilogramas em 181733 kilogramas de melaço o que dá 18,3 kilogramas de assucar por 100 kilogramas melaço Numa das minhas ultimas cartas dizia-lhe que contava um rendimento de 20 kilogramas assucar por %, mas devido á qualidade do melaço da Felizberta ser um pouco inferior não deu o que eu esperava. A analyse media do assucar retirado d’este melaço polarisou 90,6% e glucose 3%. Melaço de Barbados: Continuamos com os cosimentos d’este melaço que tem sido sempre bom. Tenho feito varias analyses em que algumas tem mostrado mais de 55% assucar mas na Alfandega pela analyse que fizeram encontraram menos de 55% e a analyse que eu fiz d’esta mesma amostra tirada pela Alfandega mostrou 55,9%!! Esta amostra foi de um ponche; já disse ao Bino[?] que não acho conveniente tirar a amostra de um sô ponche. Vou principiar na proxima semana a fazer o B2 com o assucar BT como lhe tinha dito. Não tenciono aquecer muito o melaço mas simplesmente o suficiente para tornar a massa fluida e lavar o crystaes [sic]. Do resultado final d’este trabalho lhe darei a nota depois de tudo feito. Junto encontrará uma nota de 15 analyses de 15 ponches do melaço de // [178] Barbados. Decreto: Por emquanto nada transpira a este respeito, somente o Agronomo do Destricto veio aqui commigo para colher algumas informações sobre os resultados praticos do Decreto por isso que o Mercado Central de Productos Agriculas enviou uma nota á Delegação aqui do mercado Central pedindo isso. Elle tem consultado varias entidades sobre o assumpto, tanto agricultores como negociantes de vinhos, dizendo-me elle que uns estão satisfeitos e outros não principalmente os fabricantes de vinhos e alguns propriatarios nossos inemigos. Eu fiz-lhe ver os resultados que para a cultura da canna são bons e quanto a esta crise dos vinhos nada tem com relação ao Decreto visto ser uma questão anormal; que nos baixamos o preço do alcool a 10% e que isso é uma vantagem para os vinicultores. Dizia-me elle que alguem lhe sugerio a edeia de reduzir a aguardente de canna dos vinhos e sô importar o melaço suficiente para suprir a falta do alcool para esse fim. Fiz-lhe ver que isso era uma contradição ao que os negociantes de vinhos querião, se elles querem alcool barato, não é essa a forma de lhe fornecer, por isso que a aguardente de canna pelo preço actual transformada em alcool retificado ficaria costando 1300 reis em quanto que nos estamos // [179] fornecendo alcool de melaço a 1000 reis. Elle ficou admirado d’essa differença e tomou as suas notas. Fallei a Dr. Romano sobre este assumpto e elle pedio-me para ver se o Agronomo fallava com elle, porque sendo elle um dos representantes da meior casa aqui, poderia-lhe dizer com toda a franqueza o que pensava. Vou ver se consigo que o homem falle com elle. Fiz ver ao agronomo que houvisse somente os negociantes de vinho e algumas pessôas que não estão de má vontade, e contra nos, mas sim propriatarios importantes, e que sô desejava que elle dicesse somente a verdade dos factos. Isto é importante, segundo o meu modo de ver, porque se o relatorio que elle fizer sô disser cousas desfavoraveis ao Decreto não será isso muito bom. Vou fazer toda a deligencia para conseguir que seja feito a nosso favor, o que é mau é o homem ser pouco abrodavel. Acabo de conseguir que o Agronomo vá fallar hoje com o Dr. Romano. Segundo elle me disse o Cacongo171 não foi muito favoravel e o Dr. Manuel J. Vieira fallou-lhe de uma forma vaga mas que é favoravel ao Decreto. Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 8 de Julho de 1905

171 João Rodrigues Leitão, 1.º Visconde de Cacongo?

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DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [180] 8 Julho 905 Amigo e Senhor Henrique Na minha ultima carta dizia-lhe que hia principiar a fazer o B2 com o BT. Fiz effectivamente um melaxeur como lhe tinha dito, mas não pude contenuar para não atrapalhar os cosimentos de 2º jet de Barbados, que é necessario terminar os ponches que temos no logar das cannas, por causa do melaço de Cuba: Na proxima semana continuarei então de vez. Os resultados obtidos foram os seguintes: Desfiz o melaço a 35º Baumé e aquecio a 50º Centigrados, deitei no melaxeur e foi-lhe depois juntando o assucar pouco a pouco até ficar no estado de uma massa crystalisada propria a ser turbinada. Deixei esta massa até o dia seguinte trabalhando sempre o mechidor a ver se indurecia, mas no dia seguinte estava da mesma forma como o tinha deixado, o que se vê que se pode turbinar no mesmo dia sem desvantagem. Vou dar-lhe as analyses que fiz d’este trabalho: Analyse do assucar BT a tratar: Saccarose .......................94,3% Glucose ............................5,8% Analyse do melaço de Barbados desfeito a 35º Baumé para o melaxeur: Densidade a 20º ...................................5,15 assucar % ...........................................51,18 Glucose 5 ...........................................10,34 Pureza ..................................................74,5 Coefficiente Glucosico .....................19,9 // [81] Analyse dos egoûts de turbinagem do assucar BT em B2 Egoût pauvre Egoût riche Densidade a 20º ...................................5,47 ............................4,7 assucar % ...........................................54,65 ...........................51,96 Glucose ..............................................10,15 .............................6,57 Pureza ..................................................74,2..............................81,7 Coefficiente Glucosico .........................18,5..............................12,6 Analyse do assucar BT transformado em B2 Saccarose ............................................. 98,9% Glucose ................................................ traços Assucar BT <a> apurar —- 52 sacas 100 kilogramas ———— 5185 kilogramas 2 1 Assucar B produzido —- 54 /2 75 kilogramas ———————-4080 kilogramas Como vê o resultado no rendimento fez uma differença de 20%, mas como pode ver pelas analyses dos egoûts e a analyse do assucar turbinado essa quebra é facil de ver o caminho que tomou. Quando fizer o trabalho seguido vou separar egoût riche e pauvre, cosendo o egoût riche separado, porque com a pureza que elle tem de 81,7 deve dar assucar quasi banco[sic] mas um pouco fino, mas que é vendavel para poncha. Melaço de Demerára – Ainda não terminei a fermentação d’este melaço e tenho ainda para a semana proxima. Melaço de Barbados – Sô principiarei a turbinar o assucar d’este melaço quando terminar o melaço de Demerára. Fiz outra analyse media de 75 ponches que mostrou: saccarose – 54,65% Glucose – 11,13% Com relação ás questões do Decreto á novidades a dar-lhe mas o Bardsley[?] disse-me que lhe explicaria tudo na sua carta. Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 10 de Julho de 1902 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [182] 10 julho 902 Amigo e Senhor Henrique Vou fazer-lhe uma proposta que me parece é bem asseitavel; O assucar de 2º jet de Barbados está dando um assucar quasi branco como pode ver pela amostra que lhe envio junta: A minha proposição é a seguinte:

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Parar com os cosimentos de 2º jet de Barbados que são 274 cascos da Felizberta e 375 cascos que vem na escuna Esperança e gordar este melaço para quando se fizer a refinação do assucar no fim do anno. Este melaço poderia servir para alimentar o melaxeur com um pé de cuite feito com assucar puro, o que estou certo dará um assucar B2 de muito boa qualidade, sendo d’esta forma o trabalho muito mais facil e economico do que fazer 2º jet, evitando por isso de refinal’o o que dá uma quebra sensivel. Quanto a melaço temos bastante para o fabrico do alcool até ao fim do anno e quanto a assucar este 2º jet de Barbados não é vendavel n’esse estado. Se achar isto conveniente pode // [183] enviar um telegramma dizendo sim ou não conforme a sua maneira de ver. A mim acho isto de grande vantagem. Já turbinei dois cosimentos de 2º jet de Barbados que rendeu em assucar bruto 4200 kilogramas e cada cosimento leva aproximdamente 13 cascos cada um, o que faz 26 cascos para esta quantidade de assucar rendimento por casco 160 kilogramas assucar. Esta proposta que lhe fasso de esperar o melaço até o fim do anno, está contudo sujeita ás analyses que eu fassa ao melaço de tempos a tempos porque no caso de eu ver que o melaço tem qualquer alteração reduzo-o emediatamente a 2º jet. Esperando a sua resposta Subscrevo-me seu Amigo [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 2 de Agosto 1905 DESTINATÁRIO: Sousa Lara & C.ª; LOCAL: Lisboa] [184] 2 Agosto 905 Ill.mos Ex.mos Senhores Sousa Lara & C.ª Lisboa O portador d’esta é João Fernandes, que contractei para hir a Benguella como capataz, com auctorisação do Ex.mo Senhor Sousa Lara, como de suas cartas datadas de 14 de Fevereiro e 24 de abril do corrente anno, e confirmado e acceite em seu telegramma de 14 de Julho ultimo, dizendo – Acceito condições embarcando rapido agosto Lisboa – Sousa Lara, o qual tem em seu poder o contracto provisorio passado por mim e nas condições establecidas e acceites pelo mesmo Senhor Sousa Lara. Previno a V.ª Ex.ª que addiantei a passagem do dito homem até Lisboa no vapor “San Miguel” na importancia de 5050 reis, a qual importancia V.ª Ex.ª me enviaram logo que desejem a João Higino Ferraz – Fabrica de William Hinton & Sons – Funchal. Sempre às ordens de V.ª Ex.ª o seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 10 de Agosto de 1905 DESTINATÁRIO: Sousa Lara; LOCAL: Benguela, Angola] [185] 10 agosto 905 Ill.mo Senhor Sousa Lara Benguella Amigo e Senhor É bastante penalisado e desgostoso que lhe escrevo esta pequena carta. Quando recebi o seu telegramma de 14 Julho, dizendo “Acceito condições embarcando rapido agosto Lisboa” tratei de chamar o homem e prevenil’o de que V.ª Ex.ª acceitava as condições propostas, e que estivesse prompto a seguir nos primeiros dias de agosto no “San Miguel” para Lisboa, e que de lá naturalmente arranjariam as cousas de forma a envial’o para Benguella em melhores condições de passagem. Qual não foi a minha surpresa quando no vapor d’Africa do dia 9 vejo entrar o nosso homem na Fabrica, dizendo-me que não o tinham enviado para Benguella mas sim para a Madeira, e dando-me n’essa occasião uma carta aberta deregida de sua casa em Lisbôa, cuja copia lhe envio junta, carta que bastante me magou e me exaltou. Esse seu socio ou gerente calcula naturalmente estar tratando com qualquer engajador pandorga sem sentimentos nem dignidade? De V.ª Ex.ª não tenho recebido senão delicadezas e amabilidades e sinto bastante que os de Lisboa não procedessem da mesma forma. Nenhuma rasão tem o que expôs na sua carta, por isso que // [186] aqui na Madeira não é exigido passaporte aos individos que seguem para a Africa Portugueza e se em Lisboa o é, não o sabia eu, e mesmo que assim fosse nada mais facil do que afiançar o homem até que ahi lhe chegasse a sua certidão de edade ou baptismo ou outro qualquer decomento que fosse necessario. Alem d’isso pela leitura da carta verá V.ª Ex.ª que os seus empregados não primão por inteligentes, quando querem que o homem tivesse embarcado em Julho ou seguisse directamente d’aqui para Benguella, tudo isto fora das ordens expressas de V.ª Ex.ª.

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Como sabe não lhe presto serviços mas unicamente por sympatia com V.ª Ex.ª lhe tenho feito este pequeno favor sem esperar retribuição alguma, e não como dizem ou paressem dizer na sua carta de Lisboa, tratando-me como se eu fosse um seu empregado ou correspondente com commissões. Alem d’isso atiram-me á cara com as despezas que o homem fez em Lisboa! Que tenho eu com isso? O que eu tenho é com as que fiz aqui, isto é, 5050 reis de passagem até Lisboa, Reis 6000 de indemenisação exigida pelo homem pelos dias perdidos, que espero, ainda que pouco seja, me será satisfeito pela casa de V.ª Ex.ª. Sempre ás ordens de V.ª Ex.ª Seu Attencioso Venerador [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 2 de Outubro de 1905 DESTINATÁRIO: Batalha Reis] [187] 2 outubro 905 Ill.mo Ex.mo Senhor Batalha Reis Amigo e Senhor Envio-lhe como lhe prometti as amostras dos nossos Alcooes, que os classifico da seguinte forma: Alcool A – Este de 1ª qualidade é alcool de 97 1/2 %, tratado por modo especial e repassado ao reteficador continuo com extracção d’etheres e olios escenciaes, dando n’esse caso, como vê, um alcool neutro, que é empregado pela casas [sic] de vinhos, para vinhos já em estado adiantado de tratamento. Alcool B – É este de 2ª qualidade com 97%, isto é, alcool extrahido por meio da destillação-retificação directa continua dos vinhos de melaço, com extracção d’etheres e olios escenciaes, produzindo um alcool quasi neutro de boa qualidade e que é o mais empregado nos vinhos de fabricação nova na entrada ou sahida de estufas. Alcool bruto de 83% aproximadamente extrahido do vinho de melaço sem extracção d’etheres nem de olios escenciaes, em apparelho de destillação continua. Duas amostras dos Etheres e olios escenciaes extrahidos da destillação-retificação continua do vinho de melaço. Sempre ás ordens de V.ª Ex.ª Seu Attencioso Venerador e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 28 de Setembro de 1905 DESTINATÁRIO: Sousa Lara & C.ª; LOCAL: Lisboa] [188] 28 setembro 905 Lisboa Ill. Senhor Sousa Lara & C.ª Amigos e Senhores Accuso a recepção de um val do corrêo da importancia de Reis 11.050: importancia esta que V.ª Ex.ª me deviam, e que muito lhe agradeço. De V.a S.ª Attencioso Venerador e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // mo

[DATA: 9 de Outubro de 1905 DESTINATÁRIO: Luís A. da Silva Carvalho] [189] 9 outubro 905 Ill.mo Senhor Luiz A. da Silva Carvalho Meu Caro Amigo Recebemos de uma outra casa preços para o tanque nas condições da casa Cardoso, Dargent & C.ª, cujo preço fazem por 496$000. Previno o meu amigo d’isso para ver se é possivel elles fazerem alguma differença no seu preço de forma a que a encommenda lhe seja feita. A nossa casa é um bom freguez e que elles não devem perder, porque tenho quasi a certeza de que vamos mandar construir os dois grandes tanques que o amigo sabe. Como temos grande necessidade do tanque seria melhor elles telegrapharem dizendo o seu ultimo preço, e nôs lhe responderemos tambem em telegramma. Faço-lhe notar que desejamos o tanque com chapas grandes, de forma a ter o menor numero de costuras possivel. Sem mais, sou seu Amigo certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //

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[DATA: 9 de Outubro de 1905 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [190] 9 outubro 905 Amigo e Senhor Henrique Fiz o cosimento na Franceza com o melaço de Barbados como se tinha combinado, porem infelizmente não deu o resultado desejado, por isso que o grão ficou fino e alem d’isso dificil de turbinar. Principiei com a refinação do assucar de Barbados (100 sacas) e com o assucar de Africa dando o resultado que conforme a amostra que lhe mando poderá ver. Os cosimentos vão bem, não havendo perda de [...]. No segundo dia de trabalho da refinação, uma das cerpentinas de vapor da caldeira de vacuo rebentou uma junta, que felizmente se poude arranjar sem muito trabalho, levando sô 1/2 dia para isso. [...] agora tudo corrente. Parece-me porem que esta junta já estava derramando alguma cousa antes de principiar a refinação, e que foi devido a isso que o cosimento do melaço de Barbados não deu o resultado desejado. Já temos assucar BBR sufficiente para dois mezes, e vou fazer o BB. O B2 quero ver se o faço com pé de cuite de assucar de 2º jet de Barbados no melaxeur e Melaço de Barbados. Felizmente tem havido bastante e temos agua // [191] sufficiente para o condençador. No trabalho da refinação não estou empregando a sulfitação dos xaropes, simplesmente disfaço o assucar em 30º quente, e filtro-o, dando um xarope claro. Analyse da masse cuite: Assucar .........................- 87,15 Glucose ............................- 1,21 Pureza ..............................- 94,8 Coefficiente Glucosico 1,38 Analyse do assucar Barbados: -Saccarose..............96,1 -Glucose ................0,94 Africa: -Saccarose ............96,9 -Glucose ................0,93 Estou fazendo a analyse dos egoûts pauvre e riche, mas nada lhe posso dizer por esta mala. Batalha Reis172: – Aqui esteve vesitando a fabrica, e ficou bem impresionado com o que viu e lhe expliquei. As edeias d’elle com relação ao alcool de melaço para o tratamento dos vinhos, não eram das melhores, mas logo que viu a qualidade do alcool que exponhamos á venda, modou completamente, e comprehende agora que o alcool de melaço sendo neutro como é, é magnifico para o tratamento dos vinhos. Mandei-lhe segundos[sic] os seus desejos, fazendo-me empenho n’isso, as amostras do alcool seguintes: Alcool neutro de 1ª qualidade: Alcool de 2ª qualidade: Alcool bruto de melaço: Etheres e Escencias. Fiz-lhe por carta a explicação das amostras e qual o alcool que vendia-// [192] mos, explicando-lhe bem que o alcool bruto, etheres e olios escenciaes não eram vendidos en nature. Com relação ao preço do alcool diz elle que, não vê rasão para queixas dos preparadores de vinho, por isso que o preço que nôs lhe vendemos (250 reis por litro) é inferior ao que os do Continente pagam por alcool mau de batatas. Elle prometteu-me fazer ainda uma visita á Fabrica. Tenho conversado muito com elle, e mostra-se meu amigo, tratandome já por tu. É um homem franco e leal e estou certo que nada dirá contra nôs: Alem d’isso a missão d’elle é simplesmente vinhos e não outra cousa. Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //

172 Jaime Batalha Reis (1848-1935) diplomata, engenheiro, professor e pensador com estudos publicados sobre o vinho e álcool.

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[DATA: 16 de Outubro de 1905 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [193] 16 outubro 905 Amigo e Senhor Henrique Como lhe disse na outra carta, temos principiado com a refinação do assucar é[sic] já temos feito até hoje 67.000 kilogramas d’assucar BBR e BB o qual deve dar para 2 mezes, isto é, até meados de Dezembro. Estou principiando hoje a fazer o B2 com o pé de cuite com assucar d’Africa, e não com o de Barbados 2º jet como lhe tinha dito, em vista da qualidade do assucar não se prestar a um crystal bem desenvolvido, para depois ser alimentado com o melaço de Barbados. Quiz tentar fazer a refinação do assucar 2º jet de Barbados, mas tive que parar, em vista da má qualidade do xarope, e mesmo do cosimento tanto da F como do M. Este assucar tem que ser tratado por uma forma diferente como em tempos lhe disse, isto é, clarificação e carvão animal, 1ª filtração nos filtros presses e 2ª filtração nos filtros mechanicos; depois de assim tratado deve dar bom. Para bem ver estes resultados mando-lhe as analyses seguintes: Xarope do assucar d’Africa: Saccarose ................................55,19% Pureza ...........................................96,4 Glucose ......................................0,52% Coefficiente ...................................0,94 Xarope do assucar 2º jet de Barbados: Saccarose..................................51,42% Pureza ...............................................92 Glucose ......................................0,98% Coefficiente .....................................1,9 Melasse Cuite do Melaxeur do assucar 2º jet de Barbados Saccarose....................................83,5% Pureza ..............................................90 Glucose ......................................3,85% Coefficiente..................................4,6 // [194] Melasse Cuite do Melaxeur em 1º jet (assucar Africa) Saccarose..................................83,44% Pureza ...........................................91,6 Glucose .....................................3,21% Coefficiente ..................................3,86 Melasse Cuite do M em 2º jet (isto é, egoût de 2ª) Saccarose ................................83,86% Pureza ...........................................90,3 Glucose .....................................3,30% Coefficiente ..................................3,93 Egoût pauvre do M da primeira vez Saccarose ................................60,38% Pureza ..............................................81 Glucose .....................................5,51% Coefficiente ....................................9,1 Egoût pauvre do M da segunda vez Saccarose ................................60,92% Pureza ...........................................78,4 Glucose .....................................5,79% Coefficiente ....................................9,5

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Egoût pauvre do M da terceira vez Saccarose ..................................56,8% Pureza ...........................................75,5 Glucose .....................................8,98% Coefficiente ..................................15,8 Este foi feito em 2º jet na caldeira Ingleza. Envio-lhe tambem o rendimento em alcool do melaço de 2º jet de Barbados Lote Nº 9: Analyse do melaço: Saccarose ................................38,52% Glucose ...................................14,83% Infermenticiveis no vinho do melaço por 100 kilogramas de melaço ................3,64 kilogramas Rendimento provavel – .................8,07 gallões a 100 Rendimento real ...........................8,2 gallões a 100!! Isto sô pode ser devido ao calculo do melaço pela capacidade dos poços. Tinha-me esquecido dizer-lhe que o rendimento da Melasse Cuite da F em BB tem dado na media 82 kilogramas d’assucar por hectolitro de Melasse Cuite Todos os egoût riches tem entrado na refundição do assucar e são n’esse caso feltrados novamente. Batalha Reis: – O Antonio Justino tinha-me pedido para eu fallar ao Batalha Reis a ver se elle fazia uma visita aos seus armazens, e mesmo eu tinha interesse em que o Justino fallasse com elle // [195] sobre alcool de melaço, houvindo a opinião d’elle a esse respeito: Elle efectivamente lá esteve d’esde as 3 da tarde ás 6 1/2. Segundo me disse o Justino elle acha o alcool de melaço de magnifica qualidade, mas… não comprehende a rasão por que não importamos aqui a aguardente de vinho de Portugal por ser um alcool mais assimilavel ao vinho? O Justino disse lhe que já tinha importado em tempos esse alcool mas que não lhe deu resultado vantajouso, ficando o vinho com um gosto mau. É sobre este ponto que eu chamo a sua attenção. É de toda a necessidade que o homem não falle no seu relatorio em aguardente de vinho de Portugal, como bem deve comprehender. O Batalha Reis já fez hontem (15) uma conferencia na Associação Commercial a que assisti, sobre fabricas de vinhos de pasto e vinhos espomosos, e segundo elle me disse vai fazer outra no domingo proximo (22). Elle não sabe ao certo quando partirá para Lisbôa, mas em todo o caso conta partir entre 25 a 27 do corrente. Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 23 de Outubro de 1905 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [196] 23 outubro 905 Amigo e Senhor Henrique Conforme a minha carta de 16 do corrente, principiei com a fabricação d’assucar B2 com o pé de cuite d’assucar d’Africa e assucar de Demerára, que tem dado bom resultado, completando os cosimintos[sic] tanto na Franceza como no Melaxeur com o melaço de Barbados da “Felizberta”. O resultado do assucar B2 tem dado uma qualidade d’assucar mais claro que estavamos vendendo, mas não é possivel tiral’o amarello em vista da qualidade do melaço não dar assucar senão branco: Emfim melhoramos os nossos typos d’assucar que não me paresse que seja mau. Ainda quiz ver se poderia deixal’o um pouco mais amarello mas deu em resultado que no fundo da centrifuga ficava melaço o que prejudicava o assucar nem dando por isso assucar amarello. Os rendimentos por cosimento tem sido o seguinte: F – pé de cuite 28 Hectolitros, rende – 25 caros M – pé de cuite 32 Hectolitros – rende 30 a 31 caros Na refinação sô com assucar o rendimento medio era de na F de 31 a 32 carros com 60 Hectolitros de Melasse Cuite Os egoûts pauvres tanto da F com[sic] do M tenho mandado para a destilleria em vista da sua analyse: Saccarose ..................................48,2% Pureza ...........................................60,2 Glucose .....................................17,5%

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Coefficiente glucosico ..................36,4 Segundo o meu modo de ver estes // [197] Egoûts não valia a pena cosel’os novamente em 2º jet, porque pouco rendimento dariam e a despeza para cosel’os e turbinal’os seria grande. Alem d’isso temos ainda de transformar todo o melaço de Barbados vindo na “Esperança” em 2º jet visto a analyse da pureza d’este melaço ter descido 1º em um mez, e como o melaço da Felizberta vem a dar para a fabricação do B2 gastando todo o assucar de Demerára, vejo que não posso fazer outra cousa. Temos feito até hoje em B2 com o pé de cuite d’assucar e o melaço de Barbados 45.300 kilogramas, tendo gasto já 97 cascos de melaço da Felizberta restando ainda 94 que dará para esta semana. Ora transformando o resto do melaço de Barbados em 2º jet (375 cascos) ficamos contando com o assucar 2º jet de Barbados já turbinado e com o que esta por turbinar, com aproximadamente 1900 sacas d’assucar para refinar em Dezembro. Os cosimentos tem dado sempre bons resultados na turbinagem, a não ser dois que foram maus de turbinar: Ao principio julguei que teria sido descuido de João Martins, mas viu-se depois que uma das <juntas da> cerpentinas [sic] de vapor da Caldeira Franceza tenha rebentado (a Nº 4) e naturalmente a causa foi essa. Isulei essa serpentina. Logo que se termine a refinação vou desmachar todas as cerpentinas da caldeira e fazel’as de novo, para o que já combinei com o Marsden para mandar vir juntas proprias para isso. É mau se no tempo da laboração nos acontecesse este desarranjo e é necessario evitar tanto quanto possivel. // [198] Alcool – Como temos em deposito 8780 gallões d’alcool B e 3500 gallões do alcool A, tenho-me visto na necessidade de trabalhar sô de dia, e parece-me que me vejo obrigado a parar com as fermentações, se não tivermos sahidas avultadas. É a primeira vez que tal me aconteceu n’esta êpoca do anno, haver um deposito em alcool tão grande . Estou trabalhando sô com o “Alemão” para 1ª qualidade. Senhor Henrique, tenho um empenho a fazer-lhe, pedido de meu conhado o Capitão Julio Corrêa Acciauoli de Menezes, que é o seguinte: Meu conhado está no Porto fazendo serviço na guarda Municipal do Porto, e como está perto de sahir Major, desejava ser collucado em Lisboa em um qualquer regimento ou commissão, porque como o filho d’elle no anno proximo tem que entrar na Escola Polytechnica para seguir o seu curso melitar, e sendo elle pobre e de mais carregado de familia, vê-se em serias dificuldades para continuar a educação do pequeno. Diz elle que o pedido é facil não tendo deficuldades, desde o momento que Sua Magestade assim o queira. // [199] Pode crer que alem de ser um favor que lhe faz, é uma obra de caridade, porque eu sei as deficuldades em que elle vive, pecuniariamente. Por este favor muito grato lhe ficaremos e subscrevo-me seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 27 de Outubro de 1905 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [200] 27 outubro 905 Amigo e Senhor Henrique Acaba de estar aqui commigo o Power que me conta o seguinte, e que acho conveniente participar-lhe, ainda que pouca fé tenha na verdade do facto: Disse-me elle que hindo a sua casa um agricultor importante receber a importancia de vinhos lhe dissera o seguinte: Que a Madeira Wine Comp. Lim. segundo o Gonsalves lhe disse, vai comprar no proximo anno 5000 pipas de vinho, e que esse vinho seria Exportado, logo depois de fermentado e limpo, mas sem alcool, para Hamburgo, para ahi ser então tratado em armazens especiaes, sobe a vegilancia de um delegado permanente do Governo Portuguez, com o alcool barato e assucar barato e que d’esta forma fariam uma concorrencia ás outras casas que não poderiam competir com elles. Ora, se por acaso o Gonsalves pensasse em fazer isso, estou muito certo que não o dizia a ningem, e alem d’isso o Governo não permitiria isso em vista de prejudical’o e ás outras Casas Exportadoras. Seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz

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Copiador de Cartas [1905-1913]

DESCRIÇÃO: O período temporal abarcado por este copiador foi por nós acrescentado à designação que já tinha de origem. Estamos na presença de livro, papel, as suas medidas são 28,4 cm x 22 cm, e encontra-se em razoável estado de conservação. Os fólios deste volume estão numerados com caracteres de imprensa. Os fólios 170 até 199 (último) encontram-se em branco.

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[DATA: 28 de Outubro de 1905 DESTINATÁRIO: Sousa Lara; LOCAL: Benguela, Angola] [1] 28 outubro 905 Ex.mo Sr. Sousa Lara Benguella Amigo e Senhor Recebi a sua attensiosa carta de 27 de setembro, e agradeço-lhe do coração a sua delicadesa de proceder, mas crêa que nunca me passou pela mente duvidar do seu cavalheirismo. Estou bastante penalisado com o qui-pro-quo que se deu com relação ao telegramma, mas como lhe vou expôr verá que não tive culpa alguma: diz V.a Ex.a n’essa sua carta, que a sua de 23 de Julho ficou sem resposta? Mas eu não recebi, infelizmente, tal carta! Se a tivesse recebido responderia emeditamente, e talvez não se tivesse dado o lamentavel engano que se deu. As suas cartas recebidas foram: a primeira a 14 de fevereiro e respondida a 8 de março; Carta de 24 de Abril, em que me pedia contratasse um homem, e respondida de 1 de Junho, dando-lhe conta que tinha contratado um homem e as condições por elle pedidas; Seu telegramma de 14 de Julho. Por conseguinte recebendo eu o telegramma de V.a Ex.a com data de 14 Julho e tendo escripto a 1 de Junho por Lisboa não poderia pensar outra cousa senão que o telegramma se referia ao homem e não a mim, visto o meu Amigo não ter acceite // [2] a minha proposta, como da sua carta de 24 abril, e não ter eu recebido outra que me podesse elucidar melhor. Contudo era-me impossivel sahir da Madeira na occasião em que desejava que eu fosse, visto o Senhor Hinton173 não estar na Madeira e eu não poder abandonar a Fabrica. Tenho uma vida muito preza porque a Fabrica trabalha todo o anno com a fabricação do alcool de melaço e refinação d’assucar. Sinto bastante tudo isto, mas bem vê que não tive culpa alguma. Agradeço a V.a Ex.a o me ter fallado na pequena importancia que me devia e que já me foi paga, mas pode crêr que nunca lhe falaria em tal, se não fosse a casa de V.a Ex.a em Lisbôa me ter dito, lhe era devedor da importancia das despezas que o homem fez em Lisboa e sua passagem até aqui. Aqui fico, Senhor Sousa Lara sempre ás suas ordens, e pode crêr na estima e consideração d’este Seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 3 de Novembro de 1905 DESTINATÁRIO: Blandy Brothers & C.ª; LOCAL: Rua de São Francisco, Funchal] [3] Ex.mos Senhores Blandy Brothers & C.ª 3 Novembro 905 São Francisco Amigo e Senhores [sic] Recebemos os 27 cascos com vinho que V.as Ex.as desejam sejam destilladas. Conforme a sua carta vejo que V.as Ex.as dizem o vinho conter 18 a 19% d’alcool, mas procedendo eu á analyse do dito vinho sô encontrei 17,5% d’alcool a 15º temperatura. Alem disso dizem que o vinho é muito acido e necessita ser neutralisado: analysei a acidez e vejo que contem 3,2 gramas por litro que não acho muito para um vinho de uva. De V.as Ex.as[Ass:] João Higino Ferraz // 173 Harry Hinton.

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[DATA: 3 de Novembro de 1905 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [4] 3 Novembro 905 Amigo e Senhor Henrique Terminamos a refinação do assucar que deu um total de 2158 sacas a 75 kilogramas de todas as qualidades. O melaço de Barbados empregado junto com esta refinação foi 175 cascos da “Felizberta” e 25 da “Esperança”. Deram-se 6 cosimentos de 2º jet dos egoûts não épusée, que não podem ser turbinados senão no fim do corrente mez, por isso não lhe posso mandar o resultado geral da refinação. Os egoûts pauvres enviados directamente á Destillaria fez um total de 69.489 kilogramas com a percentagem em assucar seguintes: Saccarose ..........................................................46,58 % Pureza .....................................................................61,6 Glucose ............................................................16,54 % Coefficiente glucosico ............................................35,5 O assucar refinado BBR e BB polarisou 99,4% assucar puro, e B2 feito com o melaço de Barbados e pé de cuite polarisou 99,2% assucar puro, cuja differença de polarisação é bem pequena, não estando em relação com a differença de preço de venda. Principiei esta semana com a turbinagem do 2º jet de Barbados da Felizberta que tinhamos em ser, sendo bom de seccar, e principiei tambem com os cosimentos de 2º jet do melaço de Barbados da Esperança para serem turbinados em Dezembro. A analyse dos 25 cascos de melaço de Barbados da Esperança entrado na refinação mostrou o seguinte: Saccarose .........................................................48,73 % Pureza .....................................................................64,8 Glucose ............................................................15,23 % Coefficiente glucosico ...........................................31,4 O rendimento d’este melaço vai ser muito inferior ao da Felizberta. Terminei um lote de melaço de Cuba para destillação que rendeu 7,5 gallões d’alcool a 100º. // [5] Estou trabalhando dia e nuite na turbinagem do 2º jet de Barbados, para me dar espaço para os cosimentos 2º jet da Esperança Depois de terminado este melaço vou modar o mexidor para o logar que se tinha combinado, afim de estar em ordem para Dezembro. Os melaxeurs novos que devem vir em Dezembro sô poderam ser colucados no seu logar em Janeiro do proximo anno, depois de terminada a refinação, ou então logo que se termine a seccagem de todo 2º jet que estiverem nos poços, que devem estar concluidos em meados de Dezembro. Sem assumpto para mais subscrevo-me seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 7 de Novembro de 1905 DESTINATÁRIO: Blandy Brothers & C.ª; LOCAL: Rua de São Francisco, Funchal] [6] Ex.mos Senhor Blandy Brothers & C.ª 7 Novembro 905 Rua de São Francisco Amigo e Senhor Procedi á medição do seu vinho que deu 13.543 litros que é egual a 3564 gallões de 3,785 litros: De V.ª Ex.ª Attencioso Venerador [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 16 de Novembro de 1905 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [7] 16 Novembro 905 Amigo e Senhor Henrique Terminamos a secagem dos cosimentos de 2º jet do melaço de Barbados da Felizberta que produzio 111.646 kilogramas assucar rendendo n’esse caso 156 kilogramas assucar a 92% por cada ponche de melaço. Os cosimentos de 2º jet de Barbados da Esperança ficam terminados amanhã A 27 do corrente vou principiar a turbinagem d’estas Melasses Cuites e calculo que em 16 ou 18 de Dezembro deve estár

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tudo acabado. Achava melhor que, o Bochet174 e o Cosedor estivessem aqui entre 10 a 15 de Dezembro para se dar princípio á refinação d’este assucar O assucar tem sahido bem e tenho receio que falte assucar B2 que é o que se tem vendido mais. O assucar tem descido bastante no estranjeiro e já fizeram uma encommenda de 200 sacas para a Alemanha para diversos: Naturalmente é do tipo BBR. Terminei a destillação do melaço épuisée da refinação que rendeu 10 gallões d’alcool 100º por 100 kilogramas melaço. Fiz uma paragem nas fermentações não sô por ter muito alcool como tambem para limpeza nos apparelhos Temos em deposito hoje: 6500 gallões do B 6434 “ do A Alem d’isso tenho os tanques da apuração do alcool A todos cheios, que representa aproximadamente 2500 gallões. O Carlos Carvalho pede-me para lhe lembrar o seu pedido. Sem assumpto para mais subscrevo-me: Seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 17 de Novembro de 1905 DESTINATÁRIO: Secretário Geral da Associação dos Químicos?] [8] 17 Novembre 905 Monsieur le Secrétaire Général Je vous prie de me faire inscrire dans la nouvelle liste des Membres de l’Association, qui dont paraitre en dezembre, avec ma vrai profession: Hygino Ferraz – João = Directeur de la Sucrerie et Distillerie de Messieurs William Hinton & Sons á Funchal Ile Madére. En meme temp, je vous remerci boucoup votre indication sour l’ouvrage de la Panification. Veuillez, mon cher collegue, agéer l’expression de mes devouements les plus sinceres [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 22 de Maio de 1906 DESTINATÁRIO: Sousa Lara; LOCAL: Benguela, Angola] [9] 22 maio 1906 Benguella Ill.mo Amigo e Senhor Sousa Lara Recebi o seu estimado favor de 23 de Abril proximo passado, a que passo a responder. Agradeço ao Meu Amigo o lembrarse sempre de mim, o que me dá muita honra e prazer em receber novas suas. Nada tem de que me pedir desculpa, e crêa-me sempre seu Amigo respeitoso. Eu avalio perfeitamente quanto o meu Amigo deve estar occopado com os seus trabalhos, e vejo bem os desgostos por que tem passado. Pela sua carta vejo o fracasso que teve na sua primeira experiencia de fabricação de assucar. Foi verdadeiramente uma calamidade industrial! Que pessoal technico é esse que contractou para a sua fabrica? Foi verdadeiramente ludibriado por quem os incolcou. Não haverá engano nas cifras que me enviou? 80.000 litros de garapa a 8,5 Baumé produzio somente 2200 kilogramas de assucar de 1er jet, e 2000 kilogramas de melaço? E que qualidade de assucar, Santo Deus! Pelos meus calculos, sendo a sua extracção nos moinhos de 50 litros de garapa por 100 kilogramas de canna, vejo que os 80000 litros representa 160.000 kilogramas de canna. Ora como a sua canna de 8,5º Baumé na garapa deve representar 13% centimetro cubico em assucar, pelo menos, os 80000 litros contem n’esse caso 10400 kilogramas d’assucar puro. O seu rendimento contando mesmo assim uma má fabricação deveria-lhe ter dado os 80000 litros de garapa a 8,5 Baumé: Assucar de 1er jet .....................................................5.700 kilogramas Dito de 2er jet ...........................................................1.600 kilogramas Dito de 3er jet ..............................................................500 kilogramas Melaço a 40 % assucar 3400 kilogramas =..............1.360 kilogramas Total em assucar extrahivel ......................................9.160 kilogramas Ora como nos 80000 litros de garapa contem 10400 kilogramas d’assucar (puro) e como apenas retirou 2200 kilogramas d’assucar de 1er jet e 2000 kilogramas de melaço que contenham // [10] no maximo 55% d’assucar, faz um total de 3300 174 Henri Bochet.

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kilogramas d’assucar: Pergunto eu; o que lhe fizeram aos restantes 5860 kilogramas d’assucar?!! A sua perda total foi n’esse caso: calculando a canna conter 85 litros de garapa por % kilogramas de canna cuja garapa contenha 13% centimetro cubico em assucar será assucar na canna % 11,05 kilogramas. Representando os 80000 litros de garapa 160000 kilogramas de canna a 11,05 kilogramas d’assucar % = 17680 kilogramas e como apenas extrahio 3300 kilogramas d’assucar: Perda total = 14380 kilogramas!! Como o meu Amigo vê (se não houve engano nas suas cifras) o prejuizo foi enorme. Com uma boa Direcção e empregando a diffusão do bagaço, a sua perda seria insignificante em vista d’estes dados. Terminamos no dia 19 do corrente a nossa fabricação, laborando 15000 toneladas de canna em 3 mezes. O nosso rendimento pela diffusão com canna de 9,4 Baumé foi de 8,550 d’assucar de 1er jet (eguais ás amostras que lhe envio) por 100 kilogramas de canna. Quanto ao 2em jet e melaço nada lhe posso dizer, visto não termos concluido esta parte da fabricação. Comparando a nossa fabricação com a sua, será: Fabrica Hinton = 8,550 kilogramas assucar % canna Fabrica do Donde Grande 1,375 dito Quanto á canna Yuba que me pede para lhe enviar, nada se pode fazer agora, visto ter terminado a colheita, e a meu vêr sô em Março do anno proximo quando a canna atingir o seu estado completo de maturação é que será bom enviar, podendo-lhe então arranjar a quantidade que quiser. Depois de bem informado do custo do empaque e frete lhe direi. Termino esta esperando que a sua nova fabricação seja mais vantajosa e considere-me sempre seu amigo certo [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 31 de Maio de 1906 DESTINATÁRIO: João da Câmara Pestana] [11] 31 maio 1906 Meu Caro Primo e Amigo J. Camara Pestana Recebi o seu estimado favor de 26 de maio corrente, ao qual passo a responder. O seu pedido chegou um pouco tarde na parte em que se refere á garapa de canna de assucar, visto a nossa fabricação ter terminado no dia 19 do corrente, e n’esse caso sô no proximo anno lh’a poderei enviar, no caso de querer. Contudo envio-lhe desde já por este mesmo corrêo amostras seguintes: 1ª Amostra d’assucar Typo BB, 1er jet extrahido do xarope virgem da garapa da canna, pelo processo de diffusão do bagaço e defecação na bateria (Processo Hinton-Naudet). 2ª Amostra d’assucar Typo B2, extrahido dos égoûts da Massa cosida de 1er jet, em cristalisação lenta, em caldeira de vacuo com mexidor. 3ª Amostra d’assucar 2em jet extrahido dos melaços da Massa cosida do typo B2. 4ª Amostra do melaço exausto d’assucar cristalisavel, isto é, melaço improprio para nova cristalisação, e que se emprega na destillação. 5ª Amostra do alcool puro extrahido d’esse melaço por destillação e rectificação directa dos vinhos de melaço. 6ª Amostra do bagaço da canna de assucar diffusado, empregado como combustivel. 7ª Amostra da aguardente de canna da Fabricação Madeirense do anno 1905. Na nossa Fabrica não produzimos aguardente de canna. Sempre ás suas ordens para o que lhe poder ser util e crea-me seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 12 de Julho de 1906 CARACTERIZAÇÃO: Considerações acerca do aparelho de evaporação Triple-Effet.] [12] 12 Julho 906 Apparelho de evaporação Triple-effet No corrente anno de 1906 o apparelho de evaporação triple-effet trabalhou utilisando no seu trabalho todo o vapor exausto desponivel, depois de tirado o necessario para a diffusão, e muitas vezes se empregou vapor directo para complemento do vapor necessario para o trabalho regular do Triple: Ora, se um apparelho evapora n’um dado tempo uma quantidade dada de agua, e se por um meio qualquer se poude augmentar essa evaporação, necessariamente a quantidade de calorias absorvidas para formar essa evaporação será meior, e n’esse caso teremos de introduzir na primeira caixa do triple tambem meior quantidade de vapor.

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Se no anno proximo 1907, empregarmos menos dois engenhos de espremer, o vapor exausto diminuirá necessariamente na proporção do trabalho. N’este caso o apparelho Triple effet terá para seu servisso muito menos vapor exausto visto a differença dos dois engenhos, e alem d’isso a diffusão absorverá meior quantidade de vapor para o seu trabalho mais rapido. Depois de tudo isto parece-me ser necessario os Patent Film Evaporator em todas as caixas do triple, e sem perigo de formação demasiada de vapor nas primeiras caixas como prevê Naudet175. É tambem minha opinião que se deve empregar as bombas de circula-//[13]ção nas 2ª e 3ª caixa para obrigar o liquido a evaporar a passar mais de uma vez na mesma caixa, e n’esse caso tirarmos xaropes mais densos. Na 1ª (2) não é necessario bomba de circulação, por isso que empregamos uma bomba de alimentação, e o liquido pode passar uma sô vez em vista da superfice de evaporação ser grande. É esta a minha opinião conforme a pratica que tenho do apparelho [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 6 de Agosto de 1906 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [14] 6 agosto 906 Ill. Ex. Senhor Henrique Hinton Amigo e Senhor Conforme as suas ordens cheguei aqui no dia 3 do corrente na mesma viagem do San Miguel em que tinha hido, em vista de um telegramma, Volte vapor San Miguel urgente. Fiquei como pode calcular, bastante apoquentado por não saber a rasão de tal urgencia: Quando d’aqui sahi tinha deixado tudo na devida ordem, verdade é que já tinha aparecido o tal parasita no assucar, mas como era somente em algum B2 e não em todo, não podia prever que a propagação fosse tão grande. Recebi do Senhor Bardsley as suas instrucções com relação á maneira de proceder com o assucar B2, isto é, deitar melaxeur fermé melaço de Barbados em assucar suficientes até formar um pé de cuite com a consistencia de Masse Cuite, aqueci’o no vacuo, e conforme a concentração for augmentando juntar-lhe melaço até ao complemento do cosimento. Principiei hoje com esse trabalho mas nada posso dizer por emquanto, se este processo der o resultado desejado, a economia será grande. O meu receio é que durante a concentração do melaço, como o cristal do assucar está bastante grande, o assucar contido no melaço em logar de nutrir o grão, forme novo grão fino e que seja dificil de turbinar, e n’esse caso não se poderá empregar; na minha fraca opinião, não dando este processo resultado, o melhor será refinar o B2 atacado pelo parasita, passando pés de cuite ao melaxeur no vacuo e alimental’o com melaço de Barbados na falta de egoûts da refinação. // [15] Pela analyses [sic] que tenho feito aos assucares, o que contem meior quantidade de parasitas é o B2 que está fermentado (?), o BB tem muito pouco e o BT não lhe encontro nada. O que me pareçe é que o parasita foi desenvolvido no B2 e que depois se tem propagado. Procedo á analyse do Melaço de Barbados pela Esperança que mostrou o seguinte: 1ª amostra de 25 cascos: Polarisação directa ...............................................51,42 Reductores ............................................................15,23 Pureza apparente ..................................................69,52 Coefficiente Glucosico apparente .........................29,60 2ª amostra tirada do tanque grande que contem aproximadamente 200 cascos: Polarisação directa ...............................................51,42 Saccarose Clerget .................................................52,29 Reductores ............................................................14,83 Pureza real ............................................................70,40 Coefficiente real ...................................................28,30 Quanto á minha saude é que estou bastante acabrunhado, vejo-me no mesmo estado, não podendo quasi andar com a perna bastante inchada, e não me vejo com forças nem coragem para continuar n’este servisso em quanto não estiver completamente corado. Crêa que sinto bastante em dizer-lhe isto, mas no estado em que estou não lhe posso prestar bons servissos como desejava nem para mim o futuro me parece risonho. Subscrevo-me seu Attencioso e Venerador Amigo Muito Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // mo

mo

175 León Naudet.

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[DATA: 13 de Agosto de 1906 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [16] 13 agosto 906 Ill.mo Senhor Henrique Hinton Amigo e Senhor Agradeço-lhe a sua carta de 3 do corrente. Procedi conforme as suas ordens com relação ao assucar B2 como lhe dizia na minha ultima, mas o resultado não foi bom, quanto á limpeza do bicho, porque ainda que morto mas lá ficou no assucar da mesma forma, de maneira que ficava novamente pourco. Tive que parar com esta forma de trabalho. O que estou fazendo é refinal’o, isto é, derretido, clarificado com sangue e filtrado no filtros [sic] mechanicos. Depois de formado o grão na caldeira F passa-se o pé de cuite ao melaxeur no vacuo, mas em pouca quantidade o qual é alimentado, 1º com parte dos egoûts pauvres da F e 2º com melaço de Barbados. A caldeira F no fim do cosimento é alimentada com todos os egoûts riches e uma grande parte dos egoûts pauvres da F. D’esta forma o M (melaxeur) é alimentado na sua meior parte com melaço de Barbados. O Melaço de Barbados não fica épuissée mas como vê pela analyse, a pureza nos cosimentos de 2º jet baixou o que quer dizer que algum assucar se tirou. Não fasso a repassagem dos egoûts do M por isso que temos melaço de Barbados bastante, e não val a pena épousser esses egoûts, para mais adiante ter que fazer o melaço de Barbados em 2 jet. D’esta forma o rendimento é melhor. Junto encontrará o resultado das // [17] analyses da refinação assim como a analyse completa do melaço de Barbados tirado do total do tanque grande. Analysando bem verá que o trabalho vai regularmente. Nos cosimentos de 2º jet, no 1º, á[sic] huma differença de puresa, mas esse cosimento foi o feito com os egoûts do Melaço de Barbados e assucar no melaxeur e que não deu resultado como atraz explico, mas cujo épuissement era bom; os dois seguintes são do processo actual. O assucar sai perfeitamente limpo, mas receio que fazendo grande quantidade e guardando no armazem, ainda que sejão bem desinfectados, mas como não são perfeitamente isulados, lhe transmitta novamente o bicho, e n’esse caso acho melhor sô refinar o assucar suficiente para dois mezes e armasenal’o livre de todo o prigo. Estou tambem fazendo fermentações para poder aproveitar algumas lavagens que hajam, (que bem poucas são). Sem assumpto para mais subscrevo-me de V.a Ex.a Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //

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84.13 75.26 75.26 53.57 59.13 60.20

92.65 92.80 92.50 89.22[?] 90.05[?] 90.70[?]

[Ass:] João Higino Ferraz //

51.60 54.65 55.28 49.90 85.74 87.36

73.85 54.85 52.40[?] 54.10 90.15 92.00[?]

Melaço Barbados (media) Xarope de refonte Dito dito Dito dito Melasse Cuite da F (virgem) Dito dito com egoûts riche Dito dito com egoûts riche e pauvre Melasse Cuite da M com melaço Barbados Dito Dito Melasse Cuite de 2º jet (egoûts do M) Dito Dito Dito Dito

assucar %

Brin apparente

Productos analysados

[18] 13 agosto 906. Analyse referentes [sic] á refinação

21.43 25.16 13.67

10.92 10.52

3.80

14.83 0.77 4.13 1.34 1.75 1.90

60.02 65.30 66.36

81.09 81.36

90.80

69.87 99.60 94.65 92.23 95.10 94.95

Reductores Pureza apparente

71.52

Pureza real

40.00 42.55 31.00

14.50 13.97

4.51

29.71[?] 1.41 2.04 2.70 2.04 1.95

Coefficiente Glucosico assucar 28.07

52.82

Coefficiente Clerget Glucosico real

4050 kilogramas 4300 kilogramas

4995 kilogramas

4553 kilogramas 5070 kilogramas

Rendimento d’estes cosimentos

Kilogramas assucar turbinado


[DATA: 20 de Agosto de 1906 CARACTERIZAÇÃO: Considerações acerca da refinação de vários tipos de açúcar e análises de cozimentos.] [19] 20 agosto 906 Trabalho da refinação do assucar B2 até hoje: Temos refinado até sabado <18> 89.253 kilogramas d’assucar. Melaço de Barbados entrado n’esta refinação até sabado 18 é de 81.321 kilogramas O assucar turbinado até hoje em BB e B2 é de 70.150 kilogramas estando por turbinar, nos melaxeurs 2 cosimentos Temos feito até hoje 3 cosimentos de 2º jet com os egoûts do Melaxeur. Temos alem d’isso xarope em todos os tanques e os egoûts de 2 cosimentos. Os dois ultimos cosimentos do Melaxeur foram um pouco dificeis de burbinar[sic], isto devido em parte aos egoûts, por isso que tenho mettido algum melaço de Barbados na Franceza no fim do cosimento, mas parece-me que a principal causa é João Martins formar grão muito grande, de forma que na passagem ao Melaxeur o grão está de tal forma grosso que a nutrição é deficil formando n’esse caso farinha Já lhe disse para formar mais grão e mais fino de forma que na passagem o grão esteja n’uma grossura tal que seja facil de nutrir. Os outros cosimentos teem sido bons Analyses dos cosimentos: de 14 a 20 agosto 2º jet 1 2 3 Saccarose ..............................................................62.71 ............58.77 ............56.26 Glucose ................................................................18.64 ............22.26 .............20.68 Pureza ...................................................................68.48 ............64.44 .............63.32 Coefficiente Glucosico..........................................29.77 ............37.87 .............36.76 Analyse de um dos cosimentos da Franceza onde foi introduzido egoût riche egoût pauvre da F e melaço de Barbados: // [20] Saccarose ......................................................74,36 Glucose ................................................................14,47 Pureza ...................................................................77,33 Coefficiente Glucosico ........................................19,45 Analyse dos egoût pauvre do cosimento acima: Saccarose ..............................................................51,60 Glucose ................................................................23,15 Pureza ...................................................................58,93 Coefficiente Glucosico ........................................44,86 Empregando o Melaço de Barbados na F sou obrigado a fazer uma liquidação dos egouts pauvres da F de 3 em 3 dias em cosimentos de 2º jet. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 25 de Agosto de 1906 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [21] 25 agosto 906 Ill.mo Senhor Henrique Hinton Amigo e Senhor Recebi a sua muito amavel e estimada carta de 15 do corrente, e crêa que apercio do coração a sua boa vontade em me ser agradavel, e desejar o meu restablecimento. Já era minha intenção de no caso de não melhorar por meios outros que não a operação, me sujeitaria a ella fosse qual fosse o resultado final, para me ver livre de uma molestia que tanto me pode prejudicar no meu futuro e aos meus. Agradeço-lhe do coração a sua muito apreciada offerta de me pagar as despezas que eu fizesse, mas pesso-lhe muito respeitosamente para não acceitar tal offerta. Já muito reconhecido lhe fico em me pagar os meus ordenados durante a minha cura, que serviram para o sustento da minha familia; Sô lhe pesso que me adiante a importancia necessaria para as despezas que vou fazer, e no caso de ficar de tal forma inutilisado para o serviço que não possa continuar, a importancia que tenho na casa dará perfeitamente para saldar as minhas contas. Aproveito o seu conselho de hir a Paris fazer a operação, mas acho conveniente partir d’aqui nos fins de stembro[sic], para poder fazel’o no tempo fresco, porque no tempo do calor é pêor a cura. Alem d’isso desejava passar em Lisboa e consultar

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novamente o Dr. Rosenblatt que há dois annos me aconselhou a operação e ver o que elle me diz a tal respeito, e depois seguir de Lisboa para Paris // [22] via maritima. O que desejava era ter em Paris pessoa com quem tratasse para a escolha do especialista e casa de saude onde ficasse: Nesse caso pedia-lhe para me recommendar a um cavalheiro das suas relações em Paris, e que me servisse de conselheiro. Não posso contar com Monsieur Naudet176, por isso que anda sempre em viagens. Antes de partir desejava deixar a fermentação em marcha regular para fazermos mais uns 10 mil gallões d’alcool, que é o que eu calculo ser necessario até fins do anno porque ainda temos uns 25 mil gallões em stock. Quanto á refinação do B2 fica terminada esta semana e na proxima malla lhe darei aproximadamente os resultados. Vou deixar tambem as notas dos productos necessarios para a proxima laboração de 1907 para fazerem as encomendas a tempo: Vou calcular para o trabalho de 15000 toneladas de canna, não acha? Como vou a Paris posso, depois de curado, fazer os estudos com Monsieur Pellet sobre a eliminação da glucose dos melaços pela fermentação, no caso, como espero, venha a nova lei sobre a canna. Sem assumpto para mais, subscrevo-me seu Attencioso Venerador Muito Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 1 de Setembro de 1906 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [23] 1 setembro 906 Ill.mo Senhor Henrique Hinton Amigo e Senhor Junto encontrará a nota da refinação, com o calculo aproximado do rendimento provavel do 2º jet, pela medição que fiz da Melasse Cuite dos poços, e pelas analyses da mesma. Tambem encontrará a copia da opinião do Dr. Machado177 com relação á minha doença, e pela qual verá que elle não é de opinião, que fassa a operação: Alem d’isso consultei tambem o Dr. Sequeira178 que tambem não acha conveniente a operação, e o Dr. Scotte179 pela mesma forma. O Dr. Machado chegou a dizer-me que se fosse sua a perna não consentiria que lhe fizessem operação alguma. Depois de tudo isto, e dito por medicos distinctos como o são estes trez, não desejo de forma alguma sujeitarme a uma operação para ficar inutilisado de todo. Tenho-me sujeitado a um tratamento indicado, e o caso é que tenho sentido alguns alivios, andando um pouco melhor. O Machado aconselha-me de tomar os banhos de lama sulfurosos da Caldas da Rainha, e para lá vou nos meados d’este mês. // [24] Não desejo massal’o mais com os meus males, e agradeço-lhe mais uma vez a sua boa vontade em me ver completamente curado, mas vamos ainda esperar mais uns tempos a ver o resultado da cura. Vou principiar a fermentação logo que chegue o fermento puro para deixar tudo corrente antes de partir. Como o fermento se conserva puro durante um mês, é suficiente para fazermos os 10 mil gallões d’alcool necessarios. Sem assumpto para mais Subscrevo-me Seu Amigo Attencioso Venerador Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 31 de Agosto de 1906 CARACTERIZAÇÃO: Apontamentos sobre refinação de açúcar] [25] 31 agosto 906 Contas da refinação do assucar B2 entrando o melaço de Barbados Assucar para refinação ............................................................140.926 kilogramas Melaço de Barbados................................................................109.406 kilogramas Assucar puro no assucar refundido .........................................137.887 kilogramas Dito dito Clerget no Melaço.............................................. 57.788 Assucar puro total entrado refinação ......................................195.675 Glucose no assucar refundido ................................................... 1.334 kilogramas Dito no Melaço Barbados..........................................................16.225 Glucose total entrada refinação.................................................17.559 Productos: 176 177 178 179

León Naudet. Vicente Cândido Machado? Álvaro de Sequeira? John Guedes Scott.

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Assucar turbinado ..................................................................128.798 kilogramas Melasse Cuite 2º jet 653.4 hectolitros a 150 kilogramas cada hectolitro = 98010 kilogramas com a media 60.21% assucar Clerget =.................................. 59.011 Assucar transformado em glucose = ....................................... 2.918 190.727 Quebra no assucar total entrado é de 2,5% Glucose total na Melasse Cuite 2º jet 20.631 kilogramas Temos alem d’isto 5 ponches com espumas do melaço de Barbados para distillação, a quebras [sic] n’este caso não será superior a 2% do assucar puro total entrado. Considerandos sobre a refinação: O rendimento liquido do assucar refundido ao coefficiente de 4 e 2 e 1 1/2% de quebra é de 92,6% será 130.497 kilogramas Diferença a menos em refinado........................ 1.699 Mais assucar turbinado .....................................128.798 130.497 Fizeram-se 16 cosimentos completos de 2º jet que deveriam produzir aproximadamente (na proporção do melaço de Barbados de 1905) 30000 kilogramas d’assucar M Ora, pela medição do melaço de Barbados dá 188 ponches de 580 kilogramas cada será 30000 = 159 kilogramas por ponche. 188 Como o melhor melaço de Barbados tem produzido na media (melaço com // [26] 53,5% assucar) 150 kilogramas de assucar M, vê-se que os cosimentos acima estão bem na sua proporção dando o assucar calculado, mas como o melaço trabalhado sô contem 51.6% assucar e alem d’isso meior proporção em glucose o rendimento será talvez de 140 kilogramas por ponche. O excesso de rendimento pertence ao assucar refinado. Alem d’isto, o melaço de Barbados de 1905 deu 53 1/2 cosimentos de 2º jet com 388.000 kilogramas, o melaço gasto na refinação deve dar na mesma proporção 15 cosimentos de 2º jet. Por tudo isto se vê que o calculo do melaço gasto na refinação está aproximadamente certo, e que se o rendimento em assucar der pelo calculo acima, tudo foi bem determinado e os resultados concordes. Pelas analyses dos cosimentos de 2º jet da refinação a pureza media d’estes cosimentos é de 64, e como no melaço de Barbados de 1905 a pureza media foi de 73, o rendimento em assucar na proporção da pureza dará 131 kilogramas assucar por ponche para o melaço de 1906 em relação a 150 kilogramas no de 1905. Pelo calculo da pureza nunca pode dar serto, mas ainda assim é aproximado. Media das analyses do assucar refundido: Cristalisavel ........................................................97.720 Glucose ................................................................0.946 Agua .....................................................................0.532 Cinzas ...................................................................0.392 Indeterminados organicos - .............................. 0.410 100.000 [Ass:] João Higino Ferraz // Análise media do assucar refinado: Saccarose.............................................................99.700 Glucose .................................................................0.240 [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 3 de Setembro de 1906 CARACTERIZAÇÃO: Considerações sobre o trabalho dos melaxeurs] [27] 3 setembro 906 Proponho-lhe a modificação dos dois melaxeurs abertos (novos) em dois melaxeurs fechados trabalhando no vacuo e vapor nos fundos (jaqueta) durante o épuissement e completo enchimento do melaxeur, e depois agua na mesma jaqueta para o

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arrefecimento da Melasse Cuite – Vantagens – 1º Evitar a montagem de mais um melaxeur no vacuo, sendo esta modificação facil e mais barata. 2º Melhor épuissement dos égoûts por isso que trabalhando no vacuo a uma temperatura douçe o exaustamento do assucar dos égoûts durante 17 a 20 horas faz-se mais lentamente, sendo muito mais racional, e n’esse caso os egoûts pauvres melhor épuissée. 3º No caso de se resolver a nova lei sobre a exportação do assucar teremos facilidade no trabalho dos melaços importados para a extracção do assucar fazendo cuites d’amorçe, como da sua proposta para a refinação do assucar, isto é, deitar melaço e assucar BT no melaxeur até á consistencia de Melasse Cuite aquecel’a e juntar-lhe melaço durante a sua concentração até o completo enchimento. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 5 de Setembro de 1906 DESTINATÁRIO: Relatório sobre a Fabricação ou Laboração de 1906] [28] 5 setembro 906 Resultado Geral da Fabricação de 1906 Canna trabalhada 11888161 kilogramas Assucar na canna 12.08 kilogramas % = ........... 1.436.090 Assucar entrado em fabricação pelo jus de diffusão ........................................... 1.351.780 Perda na diffusão ................................................ 84.310 Será por % de canna ................................................... 0,71 Assucar turbinado 1er jet –............1014060 kilogramas Dito 2er jet –................23790 Será em assucar puro ...........................................1010987 Melaço produzido ..................................................546.064 kilogramas (aproximado) Será % canna .............................................................4.593 kilogramas Assucar Clerget real no melaço ............................188.337 Perda em saccarose % canna..................................... 1.282 kilogramas Transformação de saccarose em glucose % de canna 0,227 kilogramas = 0,215 kilogramas de saccarose Será perda real em saccarose por % ........................................................ 1.067 kilogramas Nota. O calculo do melaço é aproximativo visto ser feito pela medida dos poços descontando as espumas que tem á superfice, e como a quantidade de melaço em stock é de 217108 kilogramas pode-se perfeitamente haver erro de calculo, que sô depois de destillado se verificará. [Ass:] João Higino Ferraz Junto encontrará um desenho de triple com o apparelho proposto de augmentar a evaporação, tal qual como a minha proposta feita há tempos e verificado por Monsieur Naudet180. [Ass:] Ferraz // [DATA: 30 de Dezembro de 1906 DESTINATÁRIO: Sousa Lara; LOCAL: Benguela, Angola] [29] 30 Dezembro 906 Amigo e Senhor Sousa Lara Benguella Recebi a sua estimada carta com data de 23 outubro do corrente por mão do Senhor Isais[sic] Vidal, e juntamente uma amostra do seu melaço de 1er jet. Peço-lhe mil desculpas de não lhe ter respondido a mais tempo, mas como tivemos de receber de Lisboa resposta a umas perguntas que fizemos sobre se poderiamos importar da Africa melaços com mais de 55% em assucar cristallisavel, por isso o não fiz mais cedo. A resposta da Direcção Geral das Alfandegas foi que não podemos de forma alguma importar melaços, seja qual for a sua procedencia, com mais de 55%. Ora visto o seu melaço, (que eu chamarei xarope puro) contem 66% em assucar cristallisavel 180 León Naudet.

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é-nos inteiramente impossivel fazermos negocio. A analyse da amostra deu-me o seguinte: Saccarose ..............................................................66 % Glucose ................................................................8.51 “ Pureza ...................................................................78.18 Com melaços d’estes tirava eu aqui ainda bastante assucar de 1er jet, e não posso emaginar como considera este producto melaço, quando elle é ainda tão puro que se pode comparar // [30] com a nossa Masse cuite de 1er jet com relação á pureza? Acho muito mais conveniente ao meu amigo recosel’o novamente e retirar ainda a meior parte do assucar cristallisavel. O melaço que nos importamos contem no maximo 52% em assucar cristallisavel e 9 a 10% de Glucose. Quanto ás cannas Yuba podem ser embarcadas no mês de Janeiro umas 2 toneladas. O custo será naturalmente a 520 a 530 reis por cada 30 kilogramas canna escolhida. Mas como o Senhor Vidal disse que viria aqui para se tratar d’isso, aguardo a sua chegada. Como isto não são cousas sô suas mas sim da Companhia pedia ao meu Amigo para me mandar um credito suficiente para a compra e despezas de empaque e embarque. Desejando-lhe um futuro anno feliz, crêa-me sempre seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 2 de Janeiro de 1907 CARACTERIZAÇÃO: Apreciação e interpretação, por Higino Ferraz, da Lei de 24 de Setembro de 1903, relativa ao fabrico e exportação de açúcar] [31] A minha opinião sobre a interpretação da Lei de 24 de Setembro 1903 com relação ao fabrico do assucar de melaço importado e á exportação do assucar de canna da Madeira para o continente do reino: No artigo 5º é permittido o fabrico do assucar de melaço importado livre de todo e qualquer imposto. No artigo 6º permitte a exportação do assucar de canna da Madeira para o Continente do reino livre de direitos. O § unico diz, que da quantidade do assucar de canna da Madeira e com relação á sua entrada livre de direitos no reino, será deduzida a quantidade de assucar de melaço importado que for entregue ao consummo no Archipelago, sem dizer se essa deducção é feita na Alfandega de destino ou se é deduzida pela fiscalisação da fabrica, determinando que sô seja exportado livre de direitos o assucar de canna da Madeira depois d’essa deducção (o que me parece mais coherente). Se quizermos interpretar a Lei de forma a que, do assucar de canna da Madeira quando exportado para o Continente seja deduzido o assucar // [32] do melaço, na Alfandega destinataria, é o mesmo que dizer que o assucar de melaço pagará os direitos como estranjeiro, quando pelo excesso de producção do assucar de canna da Madeira, nos virmos obrigados a exportal’o para o Continente, parecendo n’esse caso que a Lei limita a producção do assucar de canna, quando o espirito do legislador é exactamente o contrario, foi lemitar a producção do assucar do melaço para que seja consumido unicamente na Madeira ou no archipelago e em quantidade não superior a 50% do assucar da canna, e serem essas as compensações que a Lei dá ao fabricante matriculado para o pagamento elevado do preço da canna e da aguardente da mesma. Quanto mais comprar de canna e aguardente, meior deve ser a compensação, o que se não dá interpretando d’outra maneira. O artigo 7º Diz que, quando a quantidade de assucar importado para refinar e o assucar de canna da Madeira fôr em quantidade egual ao do assucar do melaço importado que fôr entregue ao consummo no archipelago, e quando exportado, pagará nas Alfandegas destinatarias como se fosse estrangeiro. // [33] Este artigo 7º vem aclarar perfeitamente o § único, isto é, logo que se fabrique assucar de melaço em quantidade egual ao extrahido da canna ou refinado, não pode haver deducção possivel, e por isso todo o assucar exportado pagará como estrangeiro nas Alfandegas destinatarias. Porque é que no § único se não disse tambem, será deduzido do assucar de canna, na Alfandega destinataria, o assucar de melaço? Parece que foi para determinar que essa deducção fosse feita pela fiscalisação, avisando a Alfandega destinataria, e quando a quantidade do assucar de canna e melaço sejam em quantidade egual, todo elle pagará como estrangeiro. É isto o que me pareçe a melhor interpretação á Lei, visto ella ser feita para proteger a agricultura, dando compensações ás fabricas matriculadas pela obrigação da compra de canna e aguardente, desenvolvendo a agricultura, e nunca limitando-a, e não é quando essa agricultura chegou ao seu auge e que as fabricas são obrigadas a comprar maior quantidade de canna e aguardente, que se lhe deve diminuir ou cortar por completo essas compensações. Funchal 2 Janeiro 1907 [Ass:] João Higino Ferraz //

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[DATA: 17 de Janeiro de 1907 DESTINATÁRIO: Júlio A. Ferraz] [34] 17 Janeiro 907 Meu caro primo e Amigo Julio A. Ferraz Acabo de receber o teu estimado favor de 10 do corrente o que muito estimei por saber nuticias tuas. Effectivamente estive em Lisboa mas por poucos dias e foi procorar-te a tua casa mas infelizmente não estavas, e como tinha pouco tempo de demora em Lesboa por isso te não foi ver a Cascais. Venho de mostrar a tua carta ao Henrique Hinton, e elle pede-me para te participar que parte por esta mesma mala para Lisbôa, e que se vai hospedar no Avenida Palace, e desejaria muito fallar contigo se lhe fizesses a amabilidade de o procurares lá. Elle parte para tratar d’esta questão do assucar, e vai jogar a ultima cartada; ou João Franco attende ao seu pedido justo e que interessa bastante a toda a Madeira agricula, ou não attende, e n’esse caso não posso prever quaes as consequencias desastrosas da sua maneira de ver. O Hinton te explicará de viva vôz todo o negocio, que é d’elle e de todos nos Madeirenses. Se elle sô attende aos invejosos e aos mal intensionados um dia virá em que se arrependa. // [35] Conheces perfeitamente as circustancias em que a Madeira esta com relação à Agricultura por que isto já é de tempos bem remotos, quando meu tio Ricardo181 era depotado, e presentemente ainda é peôr, de forma que toda a proteção do Governo é necessaria para conservar o nosso regimen agricula. Em fim, meu caro Julio, o Hinton te explicará tudo muito melhor, e podes crêr se elle trata dos seus interesses, tem tambem em mira os interesses da agrecultura; é um homem leal e reto, e quando com elle fallares o conhecerás melhor. Farás os meus comprimentos á prima D. Belmira e Maria Theresa e aqui fico sempre às tuas ordens, nos meus fracos prestimos. Teu primo e Amigo certo [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 21 de Janeiro de 1907 DESTINATÁRIO: Isaías Vidal] [36] 21 janeiro 907 Ex.mo Senhor Isaias Vidal Acabo de receber a sua carta com data de 18 do corrente a que passo a responder. Escrevi ao Senhor Sousa Lara com data de 30 Dezembro proximo passado sobre a amostra do melaço que me enviou e com relação á canna Yuba. Effectivamente é agora a occasião de se enviar as cannas, para o que estou muito prompto a fazer, mas como disse ao Senhor Sousa Lara, esperava a vinda de V.a Ex.a aqui (porque segundo me disse viria cá) para se tratar d’isso, e ao mesmo tempo desejava me enviassem um credito suficiente para essas despezas de compra e embarque, visto isto não ser propriamente d’elle mas sim da Comp.ª do Donbe Grande. O custo da canna seria aproximadamente de 500 a 550 reis por 30 kilogramas mas fallando com um propriatario que a tem muito boa. Disse-me elle que em vista de ser para embarque tinha de ser canna escolhida e n’esse caso o preço seria meior, naturalmente 600 reis por 30 kilogramas. O frete para Benguela é de 13$000 reis por metro cubico e mais 10%. Não posso bem calcular quantos metros cubicos seram as 2 toneladas de canna visto ellas terem que hir com palha e tudo. Seria melhor V.a Ex.a manda[sic] ordem á casa Blandy Brothers & C.ª para // [37] o frete e credito suficiente para o resto das despesas que eu lhe enviarei depois a conta detalhada. Sempre ás suas ordens subscrevo-me seu Attencioso Venerador [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 26 de Janeiro de 1907 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [38] 26 Janeiro 907 Amigo e senhor Henrique Tem esta por fim dar-lhe parte que procedi a novas analyses de canna continuando a mostrar sempre a mesma diferença para mais em comparação a egual epoca de 1906. 181 Ricardo Júlio Ferraz.

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Tem esta tambem por fim dar-lhe uma edêa que poderá asseitar se achar conveniente: Naturalmente João Franco continuará a julgar esta questão como um syndicato, como elle já o disse. O Senhor pode-lhe varrer toda essa edêa com um rasgo de generosidade (que elle naturalmente não acceitará), e dizer-lhe-há: Pois bem, visto V.a Ex.a estar com duvidas sobre a seriadade do meu pedido, ponho á desposição de V.a Ex.a a minha Fabrica para que o Governo a fassa laborar por sua conta, e sô exigo para mim o juro do meu capital. Isto que não terá consequencias mas, pode ser que para um homem como João Franco lhe toque no coração. Subscrevo-me seu Amigo certo [Ass:] João Higino Ferraz // [39]182 [DATA: 30 de Janeiro de 1907 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [40] 30 Janeiro 907 Amigo e Senhor Henrique Acaba de estar aqui comigo o Pedro Pires, e conversando com elle sobre estes assumptos do decreto, elle disse-me que um bom empenho para João Franco, por ser um amigo velho de João Franco, e não ser politico era o Capitão de Engenharia Francisco Luis Pereira de Sousa, nosso patricio e que uma recomendação d’elle era de bastante peso para o J. F.183. Se achar conveniente isso, tem uma pessoa da intimidade do Pereira de Sousa que é o Tenente Coronel Alexandre José Sarsfild que o pode apresentar. Alem d’isso o Sarsfild é conhado do Pedro Pires, mas se por acaso não conhece o Sarsfild o Frederico Martins pode-o apresentar. Achava bom que o Sousa se intereçasse n’esta questão porque é um bom empenho para o João Franco. O Capitão Sousa é meu amigo de pequeno. Sem mais sou seu Amigo Certo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 4 de Fevereiro de 1907 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [41] 4 Fevereiro 907 Amigo e Senhor Henrique Temos nova questão na Alfandega por causa do baryte. O Feliciano de Brito considera que é sulfato de baryte e não carbonato como effectivamente é, isto é, baryte caustica hydratada. Tenho feito a deligencia de o convençer que é carbonato e não sulfato hindo á Alfandega com um livro de Chimica e mostrando-lhe as reacções mas não houve meio de convençer. O que acho melhor é levar novamente recurso como já fizemos em 1901 e que ganhamos, mas como não tenho confiança na persisão das analyses d’ahi que podem dizer hoje uma cousa e amanhã outra, achei melhor enviar-lhe por este corrêo uma amostra de 1/2 kilograma de baryte, e com elle o Senhor Henrique se derigir á Direcção Geral das Alfandegas ou ao laboratorio da mesma, e depois da resposta dada por elles se ver o despacho que se deve dár. O despacho aqui fica demorado até vir essa resposta, para não pagarmos uma multa superior a 200$ reis no caso de nos vir contraria. Desejava a resposta breve e por telegramma. Seu Amigo certo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 4 de Fevereiro de 1907 DESTINATÁRIO: Sousa Lara & C.ª; LOCAL: Lisboa] [42] 4 Fevereiro 7 Ill.mos Senhores Sousa Lara & C.ª Lisboa Amigos e Senhores Acabo de receber o estimado favor de V.as Ex.as com data de 31 proximo passado a que passo a responder. Na carta de V.as Ex.as vejo que o seu empregado disse que eu calculava em 70$000 reis o custo frete e despesas da canna Yuba o que não é perfeitamente o que lhe mandei dizer na minha carta de 21 do proximo passado como elle pode verificar. Hoje porem mais bem informado mando-lhe a nota das despezas aproximadas que podem fazer essa remessa: Custo da canna 2000 kilogramas a 20 reis por kilograma ....................................................40.000 Impaque em caixas de 9 pés, bem acondicionadas unica forma de lá chegarem 182 O fólio 39 encontra-se sem qualquer informação. 183 João Franco.

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em boas condicções seram 6 caixas 1,5 metros cubicos cada uma a 5550 reis ............................33.300 Carretes aproximados para a condução das caixas ..........................................................................3.500 Frete até ao vapor aproximadamente ...............................................................................................5.000 Frete do “Zaire” 13$000 reis por metro cubico e mais 10% sendo o total da medição 9 metros cubicos seram .................................................................................128.700 Total ...................................210.500 Como vêem é o triplo da importancia que V.as Ex.as me enviam e como não posso tomar a responsabilidade de enviar isto sem espressa ordem e credito suficiente. Ficarei sempre ás ordens do Senhor Sousa Lara Sou de V.as Ex.as Attencioso Venerador [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 13 de Fevereiro de 1907 DESTINATÁRIO: Sousa Lara & C.ª; LOCAL: Lisboa] [43] 13 Fevereiro 7 Ill.mos Senhores Sousa Lara & C.ª Lisboa Amigos e Senhores Tenho em meu poder as suas cartas de 6 do corrente e copia da de 31 de Janeiro proximo passado e juntamente um cheque de 70$000 reis do Banco de Portugal sobre a sua agencia aqui, e que fica em minha carteira. Participo-lhe tambem que tenho em meu poder uma carta do Senhor Sousa Lara datada de 22 janeiro da Dombe Grande, na qual me pede novamente com instancia a remessa de 2000 kilogramas de canna “Yuba”, e dissera que me enviará uma ordem telegraphica da importancia de 100$000 reis para essas despezas. Hoje recebi uma carta da Companhia Commercial de Angola remettendo-me um saque do Banco Nacional Ultramarino da importancia de Reis 100$000 a 8 d/v. sol. Nº 12474 sobre[?] os Senhores Francisco Rodrigues & C.ª d’esta, o qual ficará em minha carteira. Esta carta tem a data de 23 de janeiro proximo passado Segundo a minha ultima carta de 4 do corrente viram V.as Ex.as que eu calculo aproximadamente as despesas da remessa da canna em Reis 210$500, isto, é, embarcando em boas condições de empaque afim de chegarem ao seu destino bem acondicionadas. Mas como V.as Ex.as desejam que as ditas cannas sejam empacadas em fardos, a despeza diminuirá, somente não poderei garantir que cheguem ao seu destino em bom estado. // [44] Temos já feito por varias vezes exportação de canna para outros Paizes, mas sempre tem sido em caixas de forma a proteger os olhos das cannas, porque são estes os necessarios para a sua propagação. O Senhor Sousa Lara pede-me para lhe enviar as cannas no proximo vapor, afim de lá chegarem ate 5 de março para aproveitar a estação propria de plantar. Como sô temos vapor no dia 9 de março proximo desejava V.as Ex.as me avisassem a tempo se sempre as devo remetter. Fico ás suas ordens e subscrevo-me com estima e consideração De V.as Ex.as Amigo Attencioso Obrigado [Ass:] João Hygino Ferraz // [DATA: 28 de Fevereiro de 1907 DESTINATÁRIO: Sousa Lara & C.ª; LOCAL: Lisboa] [45] 28 Fevereiro 1907 Ill.mos Senhores Sousa Lara & C.ª Lisboa Amigos e Senhores Tenho em meu poder as suas cartas de 19 do corrente e copia da de 16 do mesmo. Recebi hontem telegramma de V.as Ex.as ao qual respondi no mesmo dia (27). Como viram pelo meu telegramma envio os 2000 kilogramas de canna ao Senhor Sousa Lara nas condicções expressas por V.as Ex.as na sua carta de 19 do corrente. Se envio as canas é porque os agentes da Empresa Nacional reconsideraram no preço do frete, depois de eu lhe ter escripto pedindo-lhe para me dizerem por escripto qual o preço do frete mandando-lhe juntamente a sua carta de 19 do corrente; o resultado foi não me escreverem mas mandaram um empregado superior da agencia, dizendo-me que tinha sido engano do empregado que me tinha dado a informação e que o frete era simplesmente 9000 reis por 1000 kilogramas e mais 10%!! Ora vejam os meus amigos a differença e isto não foi devido senão ao ter-lhes mostrado a sua carta. Desta forma a importancia será mais que sufficiente para a compra de 2000 kilogramas de // [46] canna e suas despezas.

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Junto encontraram o seu cheque sobre a agencia aqui do Banco de Portugal do valor de 70$000 reis, como do seu desejo. Ficará em meu poder a importancia de 100$000 reis enviados pelo Senhor Sousa Lara, e no final da remessa lhe enviarei conta detalhada. V.as Ex.as me desculparam qualquer falta, por duas razões – 1ª porque os meus afazeres não me permittem ser muito exacto na pontualidade em lhe escrever e a 2ª como sou technico e não commerciante, muitas vezes poderei sem querer não seguir á risca as praxes commerciaes. Seu com toda a estima De V.as Ex.as Attencioso Venerador Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA:1 de Março de 1907 DESTINATÁRIO: Comp.ª Comercial de Angola; LOCAL: Angola] [47] 1 março 907 Ill. Ex. Senhores Comp.ª Commercial de Angola Amigos e Senhores Recebi a carta de V.as Ex.as com data de 23 janeiro proximo passado e juntamente um saque do valor de Reis 100$000 sobre o agente os Senhores Francisco Rodrigues & C.ª, do Banco Nacional Ultramarino, aqui no Funchal, o qual já recebi, para a compra e despesas de 2000 kilogramas de canna Yuba por conta do Senhor Sousa Lara. Junto encontraram o conhecimento do dito carregamento que segue no vapor “Lusitania”, para ser descarregado no Lobito. Peço a V.as Ex.as para lhe enviarem o mais breve possivel essas cannas ao Senhor Sousa Lara, a quem escrevo por esta mesma mala, para não dar tempo a que se estragem com uma demora muito longa. Os fardos teram a marca C. C. A – Lobito 14 volumes Com toda a consideração me subscrevo De V.as Ex.as Attencioso Venerador Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // mos

mos

[DATA:1 de Março de 1907 DESTINATÁRIO: Sousa Lara; LOCAL: Benguela, Angola] [48] 1 março 907 Amigo e Senhor Sousa Lara Tenho em meu poder a sua carta de 22 janeiro proximo passado Recebi da Comp.ª Commercial de Angola uma carta com data de 23 Janeiro proximo passado acompanhada de um saque do Banco Nacional Ultramarino a minha factura[?] do valor de 100$000 reis para a compra e despezas da remessa de 2000 kilogramas de canna “Yuba” como do seu pedido, e que são embarcadas por este mesmo vapor “Lusitania” que passa aqui a 3 do corrente para descarga no Lobito consignada a Comp.ª Commercial de Angola, da qual receberá as ditas cannas. A conta das despeza [sic] totais das 2 toneladas de canna aproximadamente, não lhe enviarei por esta mala por isso que não terei tempo naturalmente de as recolher a tempo. Estou fazendo toda a deligencia de as enviar o mais bem acondicionadas possivel, mas seram enfardadas, para lhe evitar meiores despezas. As cannas já teriam podido seguir no outro vapor, mas a agencia aqui da Empresa Nacional exigiam-me o frete pago por tonelada metrica e não por tonelada pezo. Mas devido a uma carta que me enviou a sua Casa de Lisboa fazendo referencia a essa exigencia, reconside-//[49]raram (o que fizeram muito bem) e fazem-me o preço do frete a 9000 reis por 1000 kilogramas e mais 10%, em quanto que o preço que elles me pediam antes era de 13$000 reis por metro cubico e mais 10%!! Como bem pode ver, para zelar os seus interesses não podia enviar as cannas em comdições tão onerosas. O meu amigo desculpará a minha falta em lhe escrever a tempo, mas com[sic] muito bem sabe é n’esta épôca que tenho mais que fazer, e se me podesse fazer em dois não seria demais. Mesmo esta escrevo-lhe á pressa Estou sempre às suas ordens, e considere-me Seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // N.B. A carga vai com a marca C.C.A. – Lobito e são 14 volumes O pezo liquido das cannas 1950 kilogramas O peso bruto 1990 kilogramas [Ass:] Ferraz //

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[DATA: 8 de Março de 1907 DESTINATÁRIO: Sousa Lara & C.ª; LOCAL: Lisboa] [50] 8 março 907 Ill.mos Senhores Sousa Lara & C.ª Amigos e Senhores Junto encontraram a Conta das despezas e decomentos referentes á remessa da canna Yuba enviada ao Senhor Sousa Lara de Benguella. Por este corrêo devem receber o saldo da importancia enviada pelo Senhor Sousa Lara no valor de Reis 100$000, cujo saldo a seu favor é de Reis 22$555 Desejava V.as Ex.as me enviassem recibo d’essa importancia. Sempre as suas ordens subscrevo-me de V.as Ex.as Attencioso Venerador e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA:8 de Março de 1907 DESTINATÁRIO: Sousa Lara; LOCAL: Benguela, Angola] [51] 8 março 907 Amigo e Senhor Sousa Lara Envio-lhe junta a Conta da despeza que fez a sua canna “Yuba” que lhe enviei pelo Lusitania, copia da que envio á sua casa em Lisboa, á qual lhe remetto o saldo que restou dos 100$000 reis que me mandou. Todos os decomentos ficam n’esse caso em poder dos Senhores Sousa Lara & C.ª de Lisboa Estimo que a canna chegasse em bom estado. Seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [52] 8 março 1907 Conta de despezas com a remessa da canna “Yuba” enviada ao Senhor Sousa Lara pelo “Lusitania” para Lobito Reis Custo da canna: 1950 kilogramas a 20 reis ......................... 39$000 Frete ao “Luzitania”, 9000 reis por 1000 kilogramas e mais 10%, conhecimentos e sellos....................................... 19$970 Um telegramma á firma Sousa Lara & C.ª........................... $835 Corda, barbante e verga de ferro .......................................... $470 Despeza de empaque, um homem 2 dias............................... 1$200 47 metros de linhagem.......................................................... 9$400 Carrete até ao Cabrestante de 14 volumes............................ 1$500 Frete do Cabrestante até o “Luzitania”................................. 3$300 Despacho da Alfandega ........................................................ 1$480 Portes de cartas ..................................................................... $125 Transferencia do saldo (val do corrêo)................................. $165 Total...................................................................................... 77$445 Salvo Erro ou Omissão [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 22 de Julho de 1907 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [53] 22 julho 907 Amigo e Senhor Henrique As suas felicidades é o que primeiro lhe desejo. Monsieur Naudet184 aqui esteve na Fabrica hontem e hoje, e verificamos com elle todos os planos da diffusão, que a meu vêr está perfeitamente deliniado e em boa ordem, sem nos embarassar em nada com relação á sua montagem. Combinei com elle todos detalhes de montagem da diffusão, triple, e Freitag (cuite), e elle aprovou tudo conforme tinhamos combinado. Se alguma deficuldade se dêr na montagem ou alguma duvida que tenhamos sobre o assumpto elle pedio-me para 184 León Naudet.

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lhe escrever emediatamente. Mas como por emquanto, e isto durante talvez dois mezes, sô preparamos o terreno para a montagem, na minha vinda de Lisboa, se principiará na montagem dos apparelhos que venham chegando. Logo que terminou a laboração principiei com a desmontagem dos apparelhos que despensamos, e com o desaterramento para a montagem da diffusão. Moemos a canna para alcool aproveitando todos os Petit eaux e hoje principiei na destillação da dita. O grau de paragem foi 0º Beaumé, com uma acidez inecial de 1,3 e final de 1,8 gramas por litro, o que é o melhor possivel. // [54] Quanto ao rendimento final da fabricação é como se segue: Calculo aproximado: (aprovado por Monsieur Naudet); Assucar na Canna – 12.500 kilogramas Assucar 1er jet produzido ....................................8.695 kilogramas % Dito 2e jet a retirar ...............................................0.040 Assucar no melaço e Petit eaux ............................3.037 Perda no bagaço ...................................................0.200 Perdas indeterminadas ....................................... 0.528 assucar % canna ..................................................12.500 O assucar dos Petit eaux enviado á destillaria, fazendo o calculo pelo rendimento em alcool, foi de 0,42 kilogramas por % canna. A quantidade de alcool retirado dos petit eaux total, foi de 13030 gallões a 100º a 15 temperatura. O calculo final ou rendimento rial sô poderá ser feito depois de turbinado o 2º jet, no qual principiamos hoje a trabalhar. Por emquanto mais nada tenho a lhe dizer de importante Monsieur Naudet disse-me para lhe dar uma nota do mais que seja necessario em apparelhos para a instalação, mas eu disselhe que seria melhor ver isso depois da minha volta de Lisboa, porque mesmo é necessario combinar consigo antes de tudo. Seu Amigo certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA:16 de Setembro de 1907 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [55] 16 setembro 907 Amigo e Senhor Henrique Aqui cheguei no dia 14 ás 3 horas da tarde pelo vapor Insulano como já sabe. Encontrei já bastante trabalho feito; a caldeira de vacuo já estava no seu logar e os melaxeurs. Vamos principiar na montagem do triple. O que eu desejo primeiro que tudo é ter os apparelhos nos seus competentes logares e despostos regularmente, e depois principiaremos na ligação dos tubos pela sua ordem, e desejava ver se é possivel que, quando chegasse o Baerlein termos o triple e caldeira de vacuo montados definitivamente para podermos ver melhor o que é necessario de canalisação que elle tenha que fazer. Quanto á diffusão é que naturalmente não está nada feito na sua chegada, visto não termos recebido o material. Acabo de combinar com o Marsden para transferirmos a viagem do Baerlein por mais 15 dias de forma que, quando elle cá chegasse já tivessemos o triple e caldeira de vacuo montados, porque de nada servia elle aqui chegar e nada poder ver do que tem a fazer de tubos para o triple e caldeira de vacuo: Não lhe parece isto muito mais conveniente? Verdade é que para o melaxeur fermé se perde // [56] um tempo precioso mas logo que elle chegue pode principiar pelo melaxeur e enviar para Lisboa as suas ordens de forma a darem principio aos trabalhos do dito. Quanto á diffusão o que o Baerlein tem a fazer será de pouca importancia, e depois lhe enviaremos as medidas para os tubos. Com relação ao material que já chegou acho-o em rasoaveis condicções de conservação visto ser material de segunda mão o que sinto é, ter o Naudet185 dito que qualquer peça que estivesse em mau estado seria concertada em França, e vejo que temos uns concertos a fazer aqui, ainda que de pouca monta, mas tudo isto é tempo que se perde. Sem assumpto para mais subscrevo-me Seu amigo Attencioso e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //

185 León Naudet.

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[DATA:3 de Outubro de 1907 DESTINATÁRIO: Dr. Julio Mendes] [57] 3 outubro 907 Ill.mo Senhor Dr. Julio Mendes Amigo e Senhor Como ficou combinado entre nôs, vou dar-lhe parte do resultado do meu tratamento pelo receitoario de V.a Ex.a. Principiei a usar o tratamento pela homocopathia no dia 18 setembro do corrente, tomando uma globulo [sic] de cada vidro (3) de duas em duas horas, e calculo ter remedio ainda para 4 ou 5 dias: Verdade é que sô tenho tomado nas 12 horas diarias. Os resultados que tenho tirado são bons, visto ter menos dores na perna quando ando. Contudo quero fazer notar a V.a Ex.a que, tendo usado o tratamento por fricções mercuriaes em Vozella, não sei por emquanto a que atribuir as progressiveis melhoras: Será devido ao tratamento mercurial? Será ao tratamento homocopathico? V.a Ex.a melhor poderá avaliar. O que posso bem contastar[sic] é que, no anno passado usando o tratamento mercurial as melhoras não se assentuarão tanto como este anno: será por ser o 2º anno de tratamento? Peço V.a Ex.a se não escandelisará com estas minhas observações, porque sô tem por fim elucidar bem V.a Ex.a. Passo a responder-lhe ao questeonario que V.a Ex.a me fez por escripto para lhe responder: Volte // [58] Volume do membro: Antes de dar principio ao tratamento o diametro da perna era 305 milimetros hoje é de 305 milimetros. Dores: Muito menos, é somente quando ando, e posso sustentar umas marcha [sic] mais longa. As dores são localisadas somente nas parte [sic] intumescidas do ôsso extendendo-se depois de um certo tempo de marcha sobre os musculos superiores do pé. Febre: – Nenhuma Dores de cabeça – idêm Potencia funccional: Quase normal Inflamação dos tecidos: Muito menos ainda mesmo forçando o andamento. Peço a V.a Ex.a para me prescrever o seguimento do tratamento e enviar-me os medicamentos necessarios acompanhados da respectiva conta, e a forma de os usar. Seu com toda a consideração de V.a Ex.a Attencioso Venerador Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz. Director technico da Fabrica de assucar e destillação de William Hinton & Sons. Funchal Ilha da Madeira // [DATA: 17 de Outubro de 1907 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [59] 17 outubro 907 Amigo e Senhor Henrique Recebi a sua carta com data de 12 do corrente, que muito lhe agradeço. Lendo a sua carta parece-me ver que o Senhor Henrique não comprehendeu bem o que eu disse sobre a rehentrada das aguas na bateria: Eu comprehendo perfeitamente que a edêa do Naudet186 é boa d’esde o momento que toda a agua seja devidamente alcalinisada, e é exactamente isso o que o Naudet diz. A minha deficuldade era simplesmente, o tempo, mas vamos vêr se poderemos montar de forma a fazer esse trabalho. Verá pela copia da carta que envio ao Naudet, que lhe fasso a incommenda de duas bombas centrifugas proprias a fazer a introducção directa das aguas na bateria de diffusão. Pela a terugem das aguas dos engenhos aos tanques de alcalinisação, temos uma que nos servio este anno, e vamos mandar vir uma um pouco meior para as aguas do moulin de repression. Aguas amoniacaes: – Quanto á bomba de aguas amoniacaes podemos despensar: já temos auctorisação das Obras Publicas para podermos deitar as aguas condensadas do triple na Ribeira de Santa Luzia, e n’esse caso vou montar o systema marais para a extracção das aguas do triple, que é um trabalho muito mais regular. Rechauffeurs: Temos os suficientes para a bateria de diffusão, mas como sabe temos que aquecer as aguas da bateria pela 2ª caixa do triple, e necessitamos n’esse caso de dois rechauffeurs para ellas: telegraphamos hoje ao Naudet a ver se elle nos compra dois de occasion e no caso de não haver, o Baerlein // [60] vamos fazer dois de capacidade egual aos que cá temos, e sobre os quaes elle já tirou os desenhos e medidas. Diz elle que nos pode entregar em janeiro proximo o que da tempo bastante 186 León Naudet.

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para montal’os. Filtros Fillippe: como verá pela carta do Naudet faço-lhe a encommenda de pano proprio para os filtros, que tanto faz que venhão com os filtros ou não, porque sempre teremos que pagar os direitos. O Barros disse-me que não era possivel fazel’os passar sem pagar direitos visto ser tão grande quantidade. Selenifuge: Estou preparando o Echantilon da agua para enviar e todas as indicações por elles pedidos. O Engenheiro é que me disse que isso não servia para nada. Já principiei com as fermentações do melaço. Ainda temos alcool bastante, mas é necessario despejar o poço que fica sobre as caldeiras para abaixar[?] a parede. O triple já está quase montado e estou á espera dos tubos de cobre para concluir as ligações. O trabalho vai correndo regular e rapido: a diffusão logo que chegue vamos principiar na sua montagem, porque os assentamentos das columnas estão quasi promptos. É esta parte da montagem (Diffusor) que nos levará mais tempo, mas com a ajuda de Deus tudo se fará. Parabéns pela conclusão final do informe do T.S.[?] Sem mais sou com toda a consideração Seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 16 de Maio de 1908 DESTINATÁRIO: António?] [61] 16 maio 908 Meu Caro Antonio Recebi a tua carta registada com data de 9 do corrente, hontem ás 4 horas da tarde, e sô hoje te respondo porque quis ler com attenção tudo quanto dizias, e mesmo porque não haverá vapor para Lisboa senão amanhã. Dou-te os meus parabens pelo bem feito relatorio, que apenas o li uma vez, mas fez-me muito boa imperção. Pela leitura d’elle, vejo as boas condicções em que está a propriadade para se fazer d’ella um modelo: Mas pergunto eu; teram elles coragem para gastar o dinheiro necessario para a pôr n’esse estado? Quanto a mim vou principiar nos meus considerandos, em vista das respostas aos quisitos, que não sendo tão completos como esperava, ainda assim alguma cousa se pode fazer. O que estou é admirado com a fraqueza em assucar da canna, ainda que a sua pureza (86º) é muito boa, mas não contendo a canna mais de 10,5% em assucar não posso comprehender como elles tiram por hectolitro 4500 a 5000 kilogramas d’assucar de 1er jet. Ora calculando uma produção media de 70 toneladas de canna por hectare, e contendo esta canna 10,5% em assucar será por hectar 7350 kilogramas assucar total: Com uma extracção sô de 1er jet, e com o fabrico não aperfeiçoado, como podem elles tirar 5000 kilogramas?! É uma extracção de quasi 70%, o que não é possivel. Empregando a diffusão e apparelhos e processos aperfeiçoados o maximo que se poderia tirar em assucar total seria uns 80%, que daria por hectare 5880 kilogramas // [62] Não farei um relatorio como tu porque não tenho os dados suficientes para isso, serão apenas considerandos. Meu caro Antonio, não estou disposto a dar conselhos sem ter a certeza de que alguma cousa posso fazer com elles; trabalhar de graça é que não estou por isso, e tu comprehendes perfeitamente. Conto ir a Lisboa em Julho, e por conseguinte em Agosto depois, da minha vinda das aguas, lá estarei contigo e o Conde. O teu relatorio hirá commigo e junto os meus considerandos que os farei copiar á machina; mas se por acaso necessitares d’elle eu t’o mandarei, e mesmo se por uma infelicidade qualquer não poder hir a Lisboa tambem os mandarei. Quanto ao que me dizes com relação ao motor a Gaz pobre para uma Fabrica de assucar nem é bom pensar n’isso, e depois te direi porque. Meu Caro Antonio, aqui fico sempre ao teu dispor, e recebe um abraço do teu verdadeiro Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 20 de Julho de 1908 DESTINATÁRIO: Bardsley] [63] 20 julho

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Meu Caro Amigo e Senhor Bardsley Devia á mais tempo lhe ter escripto, mas que lhe havia de dizer? Naturalmente o mesmo que o Senhor Henrique lhe tem

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dito, e como nada havia de novidade technica por isso me tenho abstido de escrever. Mas agora como vou partir para Lisboa no dia 27 do corrente, e como sei que deve estar aqui nos meados de Agosto, vou partecipar-lhe como daxei as cousas que estão a meu cargo. Alcool: Está tudo completamente cheio, isto é, temos aproximadamente 41000 gallões d’alcool, parte retificado e parte por retificar. No caso do meu amigo ver que o alcool retificado que temos em stock não dê para as encommendas é simplesmente dár as suas ordens ao João das Luzes para elle retificar ou de 1ª ou de 2ª: Elle sabe bem o que tem a fazer. Melaço: Terminei as fermentações logo que findou a laboração, e ficou-nos aproximadamente uns 600.000 kilogramas de melaço. Hirá para Lisboa? Por emquanto nada sei com relação a este negocio, mas parece-me que nada está rosolvido. O que eu vejo é que em outubro tenho de principiar novamente as fermentações; mas com que melaço? Com o nosso ou com Importado? É por isso que é de grande vantagem resolver o mais breve possivel este negocio. Cosimentos de 2º jet: Tenho já feitos uns 12 cosimentos dos égoûts não epuissée, mas como não tenho espaço onde deite mais tive que parar. Calculo ter outros tantos para dar, mas é necessario turbinar primeiro estes, para depois // [64] poder continuar com o trabalho. João Martins fica encarregado de lhe participar logo que os cosimentos estajam frios, para se proceder á turbinagem. Calculo que até ao fim de agosto elles estajam bons. Trabalhos mechanicos: Já dei principio ás modificações que temos a fazer para a proxima Laboração, isto na parte que me diz respeito, quanto á outra parte ficará naturalmente para quando o Engenheiro chegar. O que eu já disse ao Senhor Henrique e torno a repetir, é que temos grande vantagem em montar um forno “Huillard” para a seccagem do bagaço visto não fazermos a venda d’elle. O gasto de combustivel este anno foi bastante elevado, quasi 70 kilogramas por tonelada de canna, quando deveria ser somente de 55 a 60 kilogramas, e estou certo que podemos chegar a este resultado logo que se possa queimar o bagaço com 30 a 35% d’agua em logar de 55% como foi a media de este anno. Rendimento da canna: O rendimento da canna este anno foi na media de 8,312 kilogramas % em 1er jet, mas a media do assucar na garapa foi de 15,38% assucar em quanto que em 1907 foi de 16,22%. Pelos meus calculos o rendimento foi tão bom ou talvez melhor do que o anno passado. Aproveito a occasião para lhe agradecer o emprestimo do seu cavallinho, que muito me tem servido, visto me estár doendo um pouco a perna. O Marouto percisa é um pouco de ensino, porque está muito mal-criado. Quanto aos seu estado phisico é bom, está bem tratado e limpo. Sem assumpto para mais receba um abraço do seu Amigo certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz P. E.[sic] Os meus respeitosos cumprimentos a sua Ex.a Esposa e que faço votos pelas suas melhoras. // [DATA: 21 de Setembro de 1908 DESTINATÁRIO: León Naudet] [65] 21 setembro 908 Meu Caro Senhor Naudet Conforme o que combinamos, escrevo-lhe em Portuguez, o que me desculpará. Não estou bem certo se o Senhor Henrique Hinton já lhe teria pedido as dimenções e o do compensador fechado para a bateria de diffusão; se o não fez pedia-lhe para m’o enviar o mais breve possivel. Quanto ás torneiras-valvulas que vamos montar este anno para a agua pura vão ser feitas em Lisboa para evitarmos os direitos que são muito ellevados. A forma como vou montal’as é como o Schma abaixo:

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Quanto ao vosso novo systema de “Reglage de la baterie á Vitesse Uniforme” já está montado e espero receber a vossa aprovação; O Schema é o seguinte:

Há um assumpto bastante importante e sobre o qual eu desejo o vosso conselho: Como sabe com a nossa // [66] montagem actual, o épuissement dos égoûts é difficil de fazer, por varias razões, que vós conheceis perfeitamente; Eu proporia ao Senhor Hinton a modificação conforme o Schema junto. Contudo ainda que o Senhor Hinton não possa acceitar, por razões economicas, esta completa modificação eu desejava modifical’a em parte, isto é, todos os égoûts ricos dos malaxeurs hentrarem juntamente com o vesou na sulfitação e na bateria de diffusão: É sobre este ponto que eu desejo ouvir o nosso conselho. D’esta forma já o épuissement dos égoûts teria muito a ganhar. Como o Senhor Hinton vai a Paris o meu amigo poderá conferenciar com elle a esse respeito Estou sempre ás suas ordens O seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 23 de Setembro de 1908 DESTINATÁRIO: León Naudet] [67] 23 setembro 1908 Meu Caro e Senhor Naudet Depois de vos ter escripto a minha carta com data de 21 do corrente, pensei ainda sobre o importante assumpto da sulfitação e filtração dos égoûts pauvres de 1er, e é minha opinião que, para evitarmos uma montagem custosa e complicada, poderiamos empregar a Hydrosulfitation dos ditos égoûts, evitando n’esse caso o apparelho de sulfitação continuo de “Quarez” e a montagem de bomba e mais acessorios. Para o emprego do Hydrosulfito bastaria naturalmente o melaxeur que temos, onde fazemos a refundição do assucar quando refinamos, e simplesmente teriamos de adquerir os filtros de area. Esta forma de trabalho faria uma economia de 50% aproximadamente na montagem do processo, e talvez com melhores vantagens, não lhe pareçe? Espero a sua judiciosa opinião Seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 14 de Outubro de 1908 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [68] 14 outubro 908 Ill. Amigo e Senhor Henrique Como escrevi a Monsieur Naudet187 sobre o assumpto que lhe vou espôr, consultando-o, e pedindo-lhe que quando o Senhor Henrique fosse a Paris lhe fallasse sobre isso, vou tambem dizer-lhe a minha maneira de vêr com relação ao trabalho das masses mo

187 León Naudet.

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cuites de forma a obter um melaço perfeitamente épuissé, e alem d’isso o entrar na sulfitação da garapa os egoûts riches e n’esse caso na bateria de diffusão. Pela forma como se tem operado até hoje, os pés de cuite para os malaxeurs no vacuo eram sempre feitos com a masse cuite virgem, e os égoûts pauvres de 1ª, isto é, os égoûts da masse cuite virgem, entravam nos malaxeurs no vacuo para nutrir os cristaes do pé de cuite. D’esta forma é mais dificil o épuissement dos égoûts como bem se comprehende. Alem d’isso estes égoûts são impuros, e para que o trabalho d’elles seja bom necessitão uma apuração e filtração mechanica. Os egoûts riches ainda que mais puros não o são contudo completamente, e o meu fim é fazel’os apurar; é facilima essa apuração, fazendo-os correr no sulfitador da garapa juntamente com essa, e como a dita garapa leva cal e baryte e é filtrada sobre o bagaço, os égoûts invariavelmente tem que sofrer a mesma operação que a garapa e o resultado será magnifico. Simplesmente na soutiragem do jus teremos que tirar de cada diffusor mais 1 ou 2 Hectolitros de jus correspondente aos égouts entrados. A modificação proposta seria (como se vê pelo Schma junto) a // [69] hydrosulfitação dos égoûts pauvres de 1ª e a filtração em filtros de area: Os egoûts assim apurados seriam cosidos em grão na caldeira de vacuo pequena e serviria esse cosimento para formar o pé de cuite para os malaxeurs no vacuo. O excedente dos égoûts apurados hiriam alimentar o malaxeur de 75 Hectolitros, e os égoûts pauvres d’este, alimentavam o malaxeur de 100 Hectolitros; os égoûts pauvres do malaxeur de 100 Hectolitros seria melaço perfeitamente épuissée, e estou certo que em menor quantidade por 100 de canna. Por esta forma de proceder estou certo teríamos assucares mais brancos e puros e evitava-se as reclamações dos refinadores de Lisboa e Porto sobre os nossos assucares, que dizem elles os xaropes feitos com alguns d’esses assucares são dificeis de filtrar; é a única desvantagem que elles encontram. A única despeza a fazer seria a aquisição de dois filtros a sable de construcção moderna. Ora esta despeza, estou bem certo, seria altamente compensada com as vantagens do processo. Para a dissolução dos égoûts e hydrosulfitação temos o malaxeur redondo que servia para a refonte do assucar quando refinavamos e que está montado. A hydrosulfitação pode ser feita de duas formas: 1º Empregando o acido sulfuroso liquido e juntando-lhe o pô de estanho o qual desprenderia o hydrogenio formando o hydrosulfito. 2º Empregando hydrosulfitos cristalisados taes como o Blankite ou outro, o que seria mais facil que o 1º. Como vê o processo é facil e pouco despendioso e as vantagens são grandes. Sem mais sou seu Attencioso Venerador e Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 9 de Dezembro de 1908 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [70] 9 Dezembro 908 A proposito da Carta de Naudet de 17 do corrente: Primeiro terei de lhe fazer lembrar que a minha edêa da filtração dos égoûts de 1ª, isto é, os égoûts da Masse Cuite virgem, sendo previamente tratados pela hydrosulfitação, era em filtros de area systema Reinecken. Naudet propõe um filtro de seu systema onde emprega a mestura de area com massa de papel, isto é, Filtre á pate[sic] de papier systeme E. Perrin modificado. Que posso eu dizer sobre este assumpto? Fazer-lhe lembrar simplesmente que já em 1907 fizemos uma experiencia com xarope, com o filtro do Cossart que trabalha com amianto, que é pouco mais ou menos como pasta de papel e que não houve meio de filtrar. Empregando a arêa ou carvão animal a filtração será melhor? Nada posso dizer sobre isso. O que me parece, no caso do Senhor Hinton querer fazer a esperiencia d’esse systema de filtro, era empregal’o na filtração dos xaropes do Triple, mas sempre montar a filtração sobre area pelos filtros Reinecken que quasi tenho a certeza de dar o resultado desejado, segundo as esperiencias que fiz no laboratorio com um pequeno filtro que mandei fazer. Acho de tal importancia o tratamento dos égoûts de 1ª, que não desejava perder um anno em esperiencias. Alem d’isso, como sabe, os filtros mechanicos que temos, trabalhando // [71] diariamente 300 a 320 toneladas de canna apenas dão para a filtração do jus de diffusão, ficando o xarope por filtrar, e n’uma Fabrica de assucar, as filtrações repetidas nunca são de mais. Sendo como eu digo podem-se fazer as esperiencias que se quiserem sem prejudicar o trabalho corrente da Fabricação [Ass:] João Higino Ferraz // 188

188 León Naudet.

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[DATA: 28 de Junho de 1909 DESTINATÁRIO: León Naudet] [72] 28 Juin 909 Mon Cher Monsieur Naudet Excusez moi se je n’ai pas pu répondre de suite á votre lettre (á Monsieur Hinton189) traitant de la nouvelle marche pour la batterie, mais vous savez combien il este quelquefois difficile en fabrication de faire ce que l’on desire. Comme vous, je crois que la façon de faire da reconstitution avec le jus de diffusion nous donnerá un meilleur épuisement, tant en conservant une marche au moins aussi rapide. La seule raison qui m’a empeché jusqu’alors de faire l’essai c’est l’insuffisance des réchauffeurs. J’ai decidé avec Monsieur Hinton qu’on y consercrera[?] les derniers jours de la fabrication, en ce moment c’est impossible, il entre tous les jours 300 a 400 tonnes de cannes trés mûres qu’il faut ecraser au plus vite. De plus les mecaniciens sont trés occupés et demandent plus de temps pour faire le changement des tuyauteries. J’espere pouvoir vous annoncer un succes, que dans ce cas nous rendrais de tres grands services surtout á cause la nouvelle convention à passer avec Monsieur Lemos190. Je profite de cette même occation pour vous dire que nous en sommes des essais de filtration. Pour les filtres cylindriques, leur construction a ete longue, enfin deux sont installés dans le bac carré pris du triple-effet. Il y a quelques jours nous en avons essayé un. La filtration à duré environ 40 minutes mais le liquide à passé louche, le travail du filtre ne s’est pas amelioré avec l’accroissement du temps de marche. Je suppose qu’il aura été mal mis en place ou deplacé légerement et que du sirop nom filtre este venu gâter le resultat obtenu. Nous aller recommencer cette semaine. Quant aux filtres, à cadre ce sont les plus en retard, l’ouvrier chargé de faire les cadres est trés souvertt derange // [73] de son travail pour les reparations delicates et urgentes, neammoins plusieure sont faits et je vais essayer d’abord le remplissage par en haut comme nous l’avons convenu ensenble si l’operation reussir bien j’essaierais de filtrer. Comme je nous le dis plus haut je compte beaucoup sur la derniere semain pour tous ces essais, car alors nous n’aurons plus la crainte de laisser les cannes s’alterer, comme celá se produir actuellement au moendre arrêt avec le magasin plain de cannes. Il faut que vous nous accordiez encore une semaine ou deux de repit avant que je puisse vous donner des renseignement detailles sur ces interessants questions. Votre ami bien devoué [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 5 de Julho de 1909 CARACTERIZAÇÃO: Considerações acerca da coluna barométrica, má formação de vacuo, etc., cujo destinatário será, porventura, León Naudet] [74] 5 Juillet 909 Colonne barométrique – Vide A mon opinion les seules difficultés existantes pour obtenir um bon vide de 28 pouces sont parfaitement determinées, si la colonne barometrique et la pompe sèche travaillent d’une façon normale c.a.d. si la partie où se fait la condensation des vapeurs et les chicanes sont en bon état de fonctionnemant. Ceci posé, mon avis est que la seule cause de la mauvaise formation du vide est due aux raisons suivantes. 1º) Le volume d’eau nécessaire a la condensation des vapeurs produites par le triple-effet, les cuites, est trés grand, parce que le réfrigérant ne refroidi plus l’eau qu’à 30º, il est alors nécessaire, d’avoir un plus grand volume d’eau que lorsqu’on travaille avec l’eau du torrent et du vac qui peut avoir au maximum 17º. Il est nécessaire que le volume d’eau à 30º soit presque double de celui nécessaire avec de l’eau a 17º. 2º) Le condenseur ayant une surface déterminée pour de l’eau á 17º et cette eau occupant un volume bien défini, les chicanes divisent bien l’eau, ansi les vapeurs produits par les divers appareils et qui sont appelées au condenseur par le vide produit par la pompe sèche, rencontrant l’eau finement devisée, se condensent facilement et maintiennent bien le vide produit. 3º) Mais quand nous avons une eau refroidie seulement a 30º, le volume d’eau pour produire la même condensation étant plus grand, comme nous l’avons dit plus haut, l’eau cesse d’être bien divisée (condition indispensable d’un bon condenseur) par les chicanes et passe en masse, parce que l’espace où se fait la division de l’eau est trop petit. Il en resulte que les vapeurs non condensées immédiatement s’acoumulent dans la partir inferieure du condenseur et empèchent la formation du vide et par 189 Harry Hinton. 190 José Júlio de Lemos.

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cela même de la colonne barométrique. C’est pour cette raison que dans certains // [75] cas, le vide descend d’abord a 24º, se alors l’equilibre entre l’eau et le vide vient a cesser brusquement les vapeurs traversent le courant d’eau, se condensent et le vide monte a 26 et 27, et comme il se reforme de suite une nouvelle accumulation de vapeurs le vide baisse de nouveau a 25. Ceci se voit bien par la température de l’eau de la colonne [.] Souvent le vide étant à 26-27 l’eau est à 55º-56º, d’autres fois le vide est à 24º-25º et l’eau à 40º 45º le contraire devrait se produire. Avons la mise en marche du refrigérant, quand on avait assez d’eau d’etait necessaire pour avoire une bonne condensation de toutes les vapeurs de mettre toute l’eau possible tant du torrent que du bac et ces deux eaux représentaient certainement un grand volume d’eau à 17º. Quel volume será necessaire avec de l’eau á 30º? A mon avis la seule maniere d’éviter tout cela será le montage d’une nouvelle colonne ou l’agradissement de celle existante et l’augmentation du refrigerant établé cette anné en le portant à une capacité d’au moins 50 litres par seconde. Le refrigerant actuel est de 35 litres par seconde.[Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 12 de Julho de 1909 DESTINATÁRIO: León Naudet] [76] 12 Juillet 909 Mon Cher Monsieur Naudet J’ai bien reçu vous lettres de 2 et 4 de juillet. Batterie de diffusion: – L’essai de la nouvelle marche a été fait à deux reprises différantes. Pour les maneuvres il n’y a pas en difficultes. Mais il s’est produit une chose que rien ne pouvait faire soufconur[?]. Le compensateur pendant la réconstitution avec le jus se vide[?] plus vite que la batterie ne le remplir de sorte qu’a la fin on manque de jus[?]. Le tuyau d’espiration (comme le montre se Croquis)

dans le compensateur est [...] environ 40 centimètres du fond, le liquide arrivant ce niveau la pompe [...] prend plus. Si cette aspiration était au fond ou presque au fond, le meichage serait terminé avant que le conpensateur soit vide et comme a ce moment tout le jus riste au compensateur, son remplissage se fait tres rapidement. Il este malhaireusement impossible oú changer cette tuyauterie actuellement. Une outre chose c’est que tout le jus arrivant par le bas toute la bagasse est en suspension, le tassement du diffuseur devient presque impossible et d’autant qu’il sorte para la porte du dessus un grand volume de vapeur qui empeche les hommes de bourrer, tellement cette vapeur sort avec rapidite. Il faudra donc renoncer à tasser et faire plus de diffuseurs. A part ces deux inconvenients la batterie marche bien et je crois qu’il en sera de même ave[sic] un peu plus de vesou comme ou ferá l’annce prochaine a couts de Monsieur Lemos191, et d’autant plus que la batterie marchant en deux sous batteries conjuguées, l’une a l’outre soutire toujours au compensateur. 191 José Júlio de Lemos.

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Pendant le peu de temps qu’on lá essayée // [77] j’ai remarqué que la défécation paraissait mieux faite sous cependant que la marche de la baterie soit ralentie. Filtres cylindriques: L’essai à été recommencé en prenant bien toutes les precautions. Le filtre a été chargé en arrosant le sable, de façon a le tasser convenablement, le liquide dand le vac a èté maintenu à 5 centigrades en dessous du niveau superieur du sable. Toutes les precautions ont èté faites pour que le joint dans le fond du vac ne perde pas. Au dèbut le filtre à donné á plain toujour un sirop assez beau mais nom limpide. La filtration s’est ameliorie au pur et a mesure que le debit déminuait mais ou n’est pas arrivé aux belles filtrations brilhantes obtennes au laboratoire. La durée du filtre a été de 33’ [.] Le sirop etait á 20º Baumé bien réchauffe mais fortement glucose comme tous ces derniers jours 10 a 11 de coefficient glucosique. Filtres à cadres – Aussitot la fabrique arretée je vais essayer le remplissage des cadres em bois avec lá pompe, jusqu’ici celoi m’a été impossible. Agréer mon cher Monsieur Naudet, mes bien sincères salutations [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 25 de Setembro de 1909 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [78] 25 Setembro 909 Ex.mo Amigo e Senhor Henrique Primeiro desculpará o meu silencio em não lhe ter escripto a mais tempo mas como desejava em uma sô carta dár-lhe a saber tudo quanto lhe interessa e para o não encomodar sempre com cartas, sô agora o fasso uns dias depois da minha chegada aqui, para lhe dar a saber o que está resolvido nas modificações a fazer na Fabrica para a proxima colheita. Conforme os seus desejos e do Naudet192 foi a Paris, e com ele tive conferencias sôbre a forma de trabalho e montagem dos apparelhos. Concordamos entre nôs sobre a forma mais racional e technica de o fazer concordando eu com elle e elle commigo sobre diversas divergencias e formas de ver de nôs dois, em fim a viagem a Paris não foi perdida e estou certo que valeu bem a pena fazel’a. Tenho para com Madame e Monsieur Naudet e Lefebvre193 uma divida de gratidão pela forma cavalheirosa como foi tratado, não se poupando em canseiras para me serem agradaveis, mostando-me em Paris o que há de melhor, e pelo que a minha gratidão será heterna. Como vi pelas suas cartas que faltavão encommendar alguns apparelhos taes como; – 3 filtros “Fillippe” – 1 rechaufeur para o Kestner194 que Naudet concordou commigo ser necessario para o trabalho regular do apparelho, e um pequeno ballão á sahida do Kestner para a destribuição do vapor de prelevement aos diversos evaporadores. O Kestner trabalhará a 1 kilograma a 1,200 kilogramas mas para que o aquecimento seja regular fiz encommendar uma valvula reguladora de vapor directo que poder-sehá regular à perção desejada para que o homem // [79] encarregado da evaporação não tenha descuidos que poderiam ser bastante prejudiciaes; alem d’isso o Kestner terá uma valvula de segurança para o caso de mau funcionamento do regulador, evitando d’esta forma todo o perigo de explosão por escesso de vapor. O que porem me esqueceu, visto não ter á vista o meu sechema, foi a valvula reguladora de sahida da garapa evaporada no Kestner, mas vou escrever ao Naudet por este mesmo corrêo e fazer-lhe ver a necessidade d’ella, porque como o apparelho trabalha em perção, a sahida do liquido evaporado deve ser regulada automaticamente não sei mesmo se o apparelho vem com esse regulador, em todo o caso vou lembrar ao Naudet. A 4ª caixa do triple trabalhará como eu proponha, mas com o vapor de 2ª caixa, e o xarope da 2ª caixa entrará regulado na 3ª e 4ª, e a sahida do xarope da 3ª e 4ª será feito pela mesma bomba; comprehendi bem a forma da montagem, e a necessidade d’ella dos dois primeiros rechaufeurs onde se deve fazer circular o vesou que será aquecido com o vapor da 2ª caixa, e concordo plenamente com elle sobre esta modificação. Emfim, tudo ficou bem regulado e se ainda algumas duvidas tiver combinamos em lhe escrever emediatamente. Infelizmente não foi possivel ver fabricas de assucar de beterraba a trabalhar visto a colheita este anno estar retardada devido ás chuvas extratemporaes o que vai dar causa ao pouco rendimento em assucar em toda a Europa, porque foi geral. Isto para nós deve ser vantajoso porque naturalmente não haverá stock de assucar para proximo anno, e isto fará subir o preço, do que podemos tirar vantagens das nossas vendas em Lisboa e Porto; é de toda a conveniencia trabalhar o maximo possivel. // 192 León Naudet. 193 Georges Lefebvre. 194 Desenvolvido por Paul Kestner (1864-1936), que fundou a companhia Geo Kestner que ainda hoje desenvolve tecnologia no campo da evaporação e cristalização do açúcar.

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[80] Visitei contudo uma fabrica de Monsieur Eclancher em Saint-Leu-d’Esserent cuja fabrica regula pouco mais ou menos pela nossa (300 a 350 toneladas), e cousa curiosa, a sua montagem está de tal forma acomolada de apparelhos e em tal desposição que a nossa é-lhe superior em boa desposição. O que me ferio a attenção foi a forma de transmissão de movimento feito por um sô motor de 150 cavallos que é a perfeição. Do resto apenas vi de novo o systema de compreção do vapor do jus pelo processo Puache e Ruillon que é muito corioso, mas que sô serve para fabricas que teem pouco vapor exausto. Vi tambem uma nova montagem de um malaxeur no vacuo para os cuites de 2er jet mas que trabalhará este anno pela primeira vêz. Monsieur Eclancher foi amavel bastante e offereceu-se para me commonicar os resultados obtidos com esse malaxeur. De qualquer malaxeur orisontal fechado se pode adoptar o processo, com a modificação requerida. Esta fabrica emprega o processo de deffusão Naudet e carbonatação continua; tem tres caldeiras de vacuo. A alimentação do triple é feita por bombas centrifugas assim como a extração das aguas amoniacaes, e xaropes, mas com motor eletrico. Quando aqui cheguei combinei com o engenheiro a montagem do motor das bombas, e parece-me conveniente montar para a alimentação do Kestner e triple bombas centrifugas “Schabaver” como em tempos lhe fallei, porque a bomba que temos não dá para o trabalho proposto. Vou escrever ao Naudet sobre isto. // [81] Como o Naudet me desse os planos para o novo condensador barometrico e ballão receptor dos vapores dos cuites e triple, daxei ao Dargent195 em Lisboa para os fazer quanto antes, deixando contudo o ballão de ser colucadas as entradas do vapor sem primeiro combinar com o engenheiro a melhor colucação a dár-lhe para evitar muito trabalho de tubagem. Tambem ficou combinado o acrescentamento do compensador, e já mandei descravar o tampo superior para tomar as medidas exactas e lhes mandar para elles fazerem a vírola para ser cravada aqui. Os malaxeurs e cuite chegaram em boa ordem, assim como as 8 valvulas para a diffusão e vou principiar na modificação da bateria de diffusão em duas como Naudet propoz. Tudo quanto se tem passado em Lisboa commigo e o Senhor Bardsley elle deve-lhe ter participado por isso nada lhe digo. O que achei atrasado quando aqui cheguei foi o alargamento da casa para a montagem dos malaxeurs e nova caldeira de Vacuo, e já disse ao Mestre João Florencio que é necessario dar o meior desenvolvimento possivel a este trabalho. O que me está embaraçando bastante é as modificações que temos que fazer nos cuites e ao mesmo tempo a fabricação do assucar do melaço exotico!! Mas veremos a melhor forma de o fazer. Quanto ao rendimento total da fabricação do corrente anno não lhe posso mandar ainda porque não tenho tempo desponivel para fazer esse calculo. Considere-me sempre seu Amigo dedicado e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 27 Setembro de 1909 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [82] 27 Setembro 909 Senhor Henrique Depois de lhe ter escripto a primeira carta é que pude ver qual a quantidade de alcool que tinhamos em stock, e vejo que é pouco e não dará até vermos o melaço exotico, alem d’isso é necessario ter algum para desdobramento com aguardente de canna que somente pode ser feito com alcool de melaço da canna da Madeira; devido a isso vou principiar as fermentações, mas antes que as fassa foi hoje fallar ao Director da Alfandega, para elle me dizer se o posso fazer mesmo que recebessemos o melaço exotico. Elle ficou de me responder hoje mesmo. Contudo, o alcool fabricado do melaço da Madeira será separado do alcool do melaço exotico, e como temos dois tanques vou deitar o da Madeira no tanque mais pequeno (7500 gallões) e o exotico no grande (22000 gallões), foi isto que combinei com o Senhor Bardsley. Fallei com o Jose de Sousa e elle disse-me que estava alimentando uma vaca com o molasscuite[sic] e que comia perfeitamente sem lhe notar diferença para peor tanto no seu estado geral e producção de leite. Seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //

195 Cardoso, Dargent & C.ª.

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[DATA: 2 de Outubro de 1909 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [83] 2 outubro 1909 Ex.mo Amigo e Senhor Henrique Hinton Algumas dificuldades tive com o Director da Alfandega para poder armazenar o melaço importado no tanque de ferro, como tinha ficado combinado. Elle dizia-me que o Senhor Hinton tinha pedido para armazenar no tanque de ferro o melaço da Fabrica e não o exotico, e eu vi perfeitamente ser equivoco d’elle, por isso que ficou combinado entre nôs que seria o melaço exotico, e os ponches que se despejassem serviriam para encher de melaço da Fabrica. O Director considerava o tanque como armazem alfandegado fora da Fabrica para o melaço da Terra, mas não o podia considerar nas mesmas condições para o exotico. Em fim depois de lhe fazer vêr que mesmo para a fiscalisação, seria melhor armazenar o exotico no tanque, porque nos ficaria os ponches vazios para retirarmos todo o melaço da Fabrica, elle concordou por fim, mas com a condição de eu não principiar o fabrico do assucar do melaço exotico sem ser retirado todo o melaço da Terra ou para armazem alfandegado para exportação ou destillado. É isso por conseguinte o que vou fazer. Para o fazer porem em ordem a garantir os seus interesses envio-lhe junto a situação presente dos negocios do alcool tal qual as encontrei, o que lhe passo a explicar: Quando foi dar o meu Balanço do alcool em stock vi-me somente com 2500 gallões d’alcool! Apanhei um susto, como bem pode compreender. // [84] Tratei emediatamente de principiar as fermentações do melaço da Terra. Compreendi perfeitamente a situação terrivel em que ficariamos colucados se nos faltasse o alcool para fornecer os vinicultores, e ao Lemos196 tambem por não o ter: O resultado seria elles reclamarem ao Governo que não havendo alcool de melaço para o tempero dos vinhos auctorisassem a importação do alcool vinico do continente, isto pela certa; Em que condicções ficariamos?!! Nem quero pensar n’isso. Devido a isso estou a toda a pressa a fermentar e já hoje estou principiando a destillar, devido ao Lemos me ter emprestado fermento emquanto o meu não está em condições. D’esta forma não me faltará alcool nem ao Lemos, e alem d’isso como tinha uns 2000 gallões d’alcool bruto que era para mesturar com aguardente de canna (que foi minha salvação) podemos conservar um pequeno stock e alem d’isso fornecer o Lemos quando elle necessitar, como já tenho feito. Vamos porem á nossa situação como lhe exponho no meu memorial junto: Como vê por elle sô podemos contar com uns 61400 gallões d’alcool de melaço exotico aproximadamente, e consideramos que não temos alcool nenhum; ora devemos ter um stock de alcool de melaço da Terra para desdobramentos que seram gordados no armazem Nº 2 [.] O armazem Nº 1 (tanque grande) será para o alcool de melaço exotico. Fallei com o Lemos para me dizer que quantidade de melaço necessita (exotico), e elle calculou em 200 toneladas // [85]197 que representa aproximadamente uns 1700 gallões. Devemos fazer para vender n’este mez e fornecer o Lemos uns 10000 gallões d’alcool de melaço da terra, quer dizer, tenho que fabricar antes de principiar o fabrico do assucar do melaço uns 18500 gallões o que nos levará uns 246600 kilos de melaço. Como vê o Balanço do melaço é aproximadamente de 413 toneladas. Ora retirando d’esses 413 toneladas as 247 toneladas para alcool ficamos livres para exportar umas 166 toneladas de melaço, mas como temos de fornecer o Lemos com 200 toneladas de melaço exotico vejo que não podemos exportar mais melaço alem do que está fora da Fábrica que são aproximadamente 107 toneladas. Há porem uma solucção vantajosa para nos, que sera importarmos mais umas 200 toneladas de melaço de Demerara para estarem aqui o mais tardar até principios de Janeiro de 1910, isto já se vê sô para alcool, o que nos daria um lucro rasoavel. Deixo isto por conseguinte á sua consideração. O Jacintho enganou-se no calculo que lhe deu do melaço existente, elle lhe dará a explicação do caso. Acabo de fazer a analyse da 1ª amostra tirada pela Alfandega; deu-me exactamente 55%!! Estou tirando uma amostra regular de todo o melaço aqui na Fábrica para depois fazer a analyse total. Depois de transformar em alcool o melaço necessario conforme expliquei vou retirar o resto para armazem alfandegado, esperando a sua resolução. Seu Amigo certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // 196 José Júlio de Lemos. 197 Esta página apresenta algumas palavras com certos retoques nos seus contornos, dado que não ficaram gravadas de forma inteligível no fólio do copiador de cartas.

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[DATA: 4 de Outubro de 1909 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [86] 4 outubro 909 Ex.mo Senhor Henrique Hinton Como a primeira amostra do melaço tirado pela Alfandega fosse sô de um ponche e mostrasse 55% consegui do Director (com alguma deficuldade) sem lhe dizer a rasão exacta, mas sim que o mais regular seria tirar de diversos ponches, elle inutilisou essa amostra e tirou outra de cerca de 50 ponches cuja analyse me deu 55,36% de saccarose, mais do que a amostra de um sô casco; Quiz fazer pelo melhor e como vê ainda mostrou mais, o que me está apoquentando bastante. Da analyse feita aqui na Alfandega não me assusta, o que tenho receio é da analyse feita em Lisboa. A amostra geral tirada aqui na Fabrica deu 55% exactos. O que vejo é que os carregadores não tomaram bastante cuidado, a fim de comprarem melaço com menos de 55%, e o resultado é este. O Derector não acceita a amostra tirada aqui na Fabrica pela fiscalisação e vai mandar analyser[sic] a que tirou na alfandega (de 50 ponches) e é naturalmente essa que vai para Lisboa. Qual será o resultado de tudo isto? não posso prever, e o melhor será esperar os resultados das analyes[sic]. O carregamento veio em boa ordem a não ser um ponche que chegou aqui vasio que segundo diz o Capitão foi na occasião de carregar que rebentou. Aqui no calhau tambem rebentou um ponche d’entro do barco, mas foi aproveitado. Não o mesturei com o outro por que tinha agua. Vou principiar a tirar as 200 toneladas de melaço da terra para armazem alfandegado, para exportação. Seu Amigo [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 5 de Outubro de 1909 DESTINATÁRIO: Bardsley] [87] 5 outubro 909 Amigo e Senhor Bardsley Pela copia da carta do Senhor Hinton198 devia ter apanhado um susto, e olhe que eu o não tive menos, mas felizmente (ou infelizmente) não ha rasão para isso; O caso foi o seguinte: Mandei fazer por Avelino199, como o fazia sempre, a solucção de melaço como eu lhe tinha ensinado, mas o Gaulet este anno modificou a forma, e como eu não o sabia nem Avelino me prevenio, fiz o calculo, pela forma como era abituado a fazel’o, o que deu causa a mostrar mais assucar do que realmente tinha. Quando dei por isso já tinha a copia da carta do Senhor Henrique para si, mas fiz a competente retificação na carta d’elle de forma que está corrente. O melaço contem somente: Na amostra da Alfandega 50,7% saccarose Na amostra geral da Fabrica 49,99% “ Um assumpto que devia ser tratado ahi emquanto o meu Amigo ahi está, era fazer um requerimento do Lemos200, (pareceme que o Luiz tem procuração do Lemos) pedindo auctorisação para destillar melaço exotico depois de extrahido aqui o assucar e sedido por nôs a elle Lemos. O Director da alfandega disse-me que não podia auctorisar essa transferencia sem ordem das estações competentes, mas que informaria favoravelmente [.] Era bom fazer isso já. Outra cosa é que o mesmo Director não pode auctorisar a passagem da garapa na proxima colheita, da fabrica de Lemos201 para a nossa sem tambem receber as competentes auctorisações. Tambem se deve fazer d’esde já o requerimento n’esse sentido antes de se fazer a montagem da bomba e canalisação. Tudo isto deve ser feito emquanto o meu Amigo está ahi: não será melhor? // [88] Acabei hontem o alcool, mas felizmente não há receio de falta por isso que já principiei com as fermentações, como vio pela copia da carta ao Senhor Henrique. Espero que o meu Amigo pela sua parte considere sobre o meu memorial que já lhe enviei sobre assumpto melaços da terra, a vêr o que devemos fazer. Vou retirar da Fabrica umas 200 toneladas de melaço que ficará em armazem Alfandegado até defenitiva resolução, ou para exportação ou para destillação. O resto do melaço vou destillal’o pela forma como já disse. Pedia-lhe tambem para procurar o Dargent202 e fazer com que elle desse o maximo expediente ás nossas encomendas. Tenho aqui á vista o typo 20 da escalla Hollandesa, e vejo que o crystal é muito fino, e não é egual ao assucar que elles 198 199 200 201 202

Harry Hinton. Avelino Cabral. José Júlio de Lemos. Fabrica de destilação de álcool, chamada Companhia Nova, da firma José Júlio de Lemos, Sucessores, de José Júlio de Lemos. Cardoso, Dargent & C.ª.

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importam como abaixo do typo 20; continuo a ter a mesma opinião, que no despacho do assucar se deve considerar tanto a côr como o typo cristal. O ministro nada tem feito, naturalmente; para nôs isso era de grande importancia. Com relação ás vendas de aguardente de canna, vejo que os compradores nem mesmo a 800 reis querem comprar porque teem muita. Por uma carta que o Jacintho me deu vejo que nos livros a nossa aguardente de canna depois da mestura com alcool está em 690 reis. A que preço minimo se deve vender? A meu vêr, mesmo a 780 reis era bom vender para liquidar e evitar mais quebras. Pode-se ainda juntar-lhe mais algum alcool que nos dará mais lucro. Diga-me o que devo fazer. Seu Amigo certo [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 5 de Outubro de 1909 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [89] 5 outubro 909 Ex. Amigo e Senhor Henrique Á minha ultima carta tenho umas retificações a fazer com relação á analyse do melaço de Barbados, que á ultima hora lhe fiz. Efectivamente a analyse não estava certa devido á transformação que o Gaulet fez na formula das solucções e que Avelino203 não me prevenio nem eu podia prever, visto ter ensinado em tempos a Avelino como queria que elle as fizesse. Em todo o caso vejo que as analyse [sic] de Gaulet estão certas porque elle fazia o calculo não pela tabua de Buisson mas sim por uma que elle tinha no seu livro de calculos de Pellet. Faço esta retificação para livrar a responsabilidade de Gaulet. A analyse do melaço é n’esse caso a seguinte: Amostra geral do tanque: Saccarose ..........................................................49,99% Pureza apparente ..................................................68,52 Reductores ........................................................14,12% Coefficiente glucosico ...........................................28,2 Amostra da Alfandega: Saccarose ..........................................................50,71% Pureza apparente ..................................................69,44 Reductores ........................................................13,78% Coefficiente glucosico ...........................................27,1 O rendimento geral da Fabricação de 1909 em assucar turbinado foi o seguinte: Assucar de 1er jet % canna .................................. 8,730 kilogramas Dito de 2er jet “........................................ 0,102 Assucar no melaço e petits eaux ....................... 2,836 Assucar total extrahido .......................................11,668 Melaço % de canna ..............................................6,040 kilogramas Assucar na canna ................................................12,445 Assucar extrahido................................................11,668 Perda fabricação.................................................. 0,777 [Ass:] João Higino Ferraz // mo

[DATA: 9 de Outubro de 1909 DESTINATÁRIO: Bardsley] [90] 9 outubro 909 Meu Caro Amigo e Senhor Bardsley Em meu poder a sua carta de 7 do corrente. Comprehendo bem o seu espanto com relação ao melaço de Barbados, mas espero que tenha já recebido a minha ultima em que lhe dava a explicação do caso. Quanto ao alcool continuamos a vender o que se vai fabricando de forma que no fim do dia ficamos quasi sem alcool á espera do dia seguinte! Felizmente até hoje não tenho dito a ninguem que não há alcool. Para a semana vou ter meior 203 Avelino Cabral.

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quantidade, e espero que esta procura seja somente até sabado 16, e depois vou ver bem o que me resta de melaço para deixar um stock minimo de 7500 gallões que é quanto leva o tanque pequeno, como combinamos. Contudo sempre vou tirar algum melaço para armazem alfandegado, porque desejo principiar a fabricar o melaço de Barbados em Novembro, para não prejudicar as nossas montagens d’apparelhos. Agora o que me apoquenta é a falta d’agua. Hoje (sabado) e amanhã não temos agua dos Moinhos, da rebeira não vem nada e o poço apenas dá para trabalhar com destillador. Vi-me na necessidade de mandar boscar hoje agua em ponches para amaçar a cal!! Esta falta de agua é o Diabo. Quanto ao Lemos204, nada se pode fazer; elle tem melaço bastante até novembro, como já lhe disse. Não comprehendo os recios[sic] do Ministro // [91] a mim parece-me que a poblicação do decreto pode no futuro era vantajosa para o Governo porque lhe vai diminuir a quantidade de assucar a exportar para Lisboa e Porto; não lhe parece? Calculo o seu aborrecimento com tanta demora. Tem havido dificuldade em vender aguardente de canna, mesmo que seja barata, devido a haver nos negociantes d’ella muita em armazens e elles dizem que sô poderam recebel’a em Janeiro. O Pedro Pires mandei-o chamar para fazer com que elle venda mais barato (com mestura de alcool) para liquidar bastante. Um abraço do seu Amigo certo [Ass:] João Higino Ferraz P.E.[sic] O Sampaio pede-me a nota dos productos chimicos para adubos, mas vejo que temos por emquanto bastante e que de esta data em diante pouco ou nenhum se vende. Acho desnecessario empatar capital n’isso. [Ass:] Ferraz // [DATA: 18 de Outubro de 1909 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [92] 18 outubro 909 Ex.mo Amigo e Senhor Henrique Agradeço-lhe a sua carta de 8 do corrente. Vejo por ella que o Senhor Henrique me diz que conta que tivesse feito a encomenda do condensador e ballão, mas já na minha primeira carta lhe participava que essa encomenda a tinha feito quando cheguei de Paris, e o Dargent205 por carta retifica as encomendas prontificando-se a entregal’as em dezembro proximo. Estamos tratando do plano de montagem do Ballão Central e comonicações entre os evaporadores que deve seguir para Lisboa na proxima semana a fim do Dargent fazer tudo o que necessario for para ser facil a montagem aqui. Quanto ao alcool de melaço exotico é minha opinião que sô o devemos entregar com gia[sic], porque foi isso que sempre se disse e a lei é clara n’esse sentido, mas Carlos206 já fez essa pergunta para Lisboa. Vejo que depois das grandes vendas que fizemos d’alcool, e para garantir o stock dos 7500 gallões d’alcool de melaço da terra para desdobramento, não posso retirar para exportação senão 140 toneladas de melaço. Logo que tenha fermentado todo o melaço da terra e que estaja transformado em alcool vou requerer á Alfandega uma vesturia á Fabrica para provar que não tenho melaço algum, e requerer depois para a laboração do melaço exotico em assucar e alcool. Isto porem conto não será feito antes da primeira semana de Novembro. // [93] Hoje apenas tenho um stock de 3000 gallões d’alcool. Continuo a pensar na filtração do xarope entre a 2ª a 3ª caixa do triple, e por esta mesma malla envio a Monsieur Naudet207 um schema para ser sujeito á aprovação d’elle. Envio-lhe junto um schema egual ao que mandei ao Naudet, e por elle o Senhor Henrique poderá vêr a minha edêa. Quanto á montagem não é deficil nem despendiosa porque temos todas as bombas necessarias para isso, é simplesmente questão de tubagem. Parece-me que d’esta forma teremos muito menos incrustação na 3ª e 4ª caixa do triple e com a grande vantagem do xarope sahir mais puro, e poder a bomba do triple (xarope) deitar directamente no deposito do xarope dos cuites. Não há mais gasto de vapor, porque as bombas ficam sendo as mesmas. O xarope sahido da 2ª caixa não terá mais de 20º Beaumé o que será facil de filtrar. Vou esperar a vêr o que Monsieur Naudet diz a este respeito. Pela forma como desejo fazer a montagem, pode ou não o xarope ser filtrado, e por conseguinte trabalhar conforme os nossos desejos. Como Carlos me consultasse sobre a offerta de mais 200 cascos de melaço de Demerara é minha opinião que devemos acceitar porque o melaço encomendado não dá para o alcool que necessitamos até março do proximo anno, como no meu relatorio provejo. 204 205 206 207

José Júlio de Lemos. Cardoso, Dargent & C.ª. Carlos Fernandes. León Naudet.

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Esteve aqui no sabado 16 o Admenistrador do Conselho e o Dr. Carlos Leite, para nos prevenir que é necessario requerer licença para a montagem dos novos apparelhos na Fabrica de assucar, que segundo elles dizem a lei nos obriga a isso visto o Alvará antigo dár a auctorisação para a montagem de // [94] uma fabrica de capacidade determinada, e hoje termos augmentado consideravelmente a sua capacidade. Disse-me o Admenistrador que é necessario tirar uma espece de Sechema dos apparelhos novos para juntar á participação. Eu disse-lhe que já em 1907 tinhamos feito isso para a Repartição de Fazenda. Ficou de Carlos hir na terça feira para elles darem a forma de fazer essa participação. Ainda há outra cousa, que o Dr. Carlos Leite como Delegado de Saude exige, que é fazermos um cano de forma que todas as aguas da Fabrica quentes ou frias vão ao cano do vinhão. Essa questão ficou para quando o Senhor Henrique voltar. Como é um trabalho despendioso disse-lhes que nada podia fazer sem o Senhor cá estar. Disseram elles que isto é para evitar reclamações a que elles têem que dar providencias. Estes nossos derigentes querem agora comprir a Lei á risca porque assim o exige o Diario de Noticias! Sem mais subscrevo-me seu Amigo Attencioso e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 20 de Outubro de 1909 DESTINATÁRIO: Bardsley] [95] 20 outubro 909 Meu Caro Amigo e Senhor Bardsley Recebi a sua carta de 13 do corrente o que lhe agradeço. Quanto ao requerimento do Lemos208 concordo perfeitamente no que me diz. Mas com relação ao Lemos receber alcool de melaço exotico em logar de melaço, isso ficará para quando o meu Amigo voltar ou o Senhor Henrique, porque é uma questão melindrosa, e como já na minha carta lhe disse, o Lemos tem melaço da terra suficiente até fins de novembro. Vamos porem aos seus e meus calculos: Melaço da terra: – Vejo pelos seus calculos que o meu Amigo calcula com um stock de 600 toneladas de melaço, e eu na minha nota apenas lhe mostrei 413 toneladas. Naturalmente contou com o melaço existente no armazem do Lemos, que elle ja tomou de sua conta, e com umas 105 toneladas fora da Fabrica e que seguir para Lisboa. Eu apenas contei no meu calculo com o melaço existente dentro do recinto da Fabrica e que são as taes 413 toneladas; sô isto já faz uma sensivel diferença. O que eu estou tratando é de fazer o stock de alcool que não excederá naturalmente os 8500 gallões para desdobramento que é a capacidade dos reservatorios que tenho no armazem Nº 2: Onde vai por isso o meu Amigo boscar os 20000 gallões para desdobramento que calcula até março? No meu calculo contava a venda de 10000 gallões por mez e o seu calculo é de 8000 gallões. Para exportação apenas terei (que está já armazenado) 150 toneladas, o restante tenho que transformar em alcool que será 263 toneladas (segundo a minha nota), pouco mais ou menos que daram 21000 gallões. Ora como temos vendido até hoje n’este mez 6000 gallões restaram aproximadamente 15000 gallões que tirando os 8500 para desdobramento restará para vender até principiar o melaço exotico 65000 gallões (talvez!) Melaço exotico: – Diz o meu amigo, e muito bem, que o alcool d’este melaço é sô para vinhos e calcula que em 5 mezes se vendão 40000 gallões e o Lemos 17000 o que faz um total de 57000 gallões. Na minha nota dei-lhe o rendimento // [96] do melaço em alcool importado e por importar em 61400 gallões; ora descontando os 57000 que se vendão até março e o Lemos, resta 4400 gallões; Muito bem; mas o meu amigo não calcula quanto se deve vender para vinhos nos mezes de abril – maio – junho e talvez agosto. Ora calculando a 8000 gallões por mez serão nestes 5 mezes outros 40000 gallões. Onde vamos boscar este alcool? Ao melaço da terra por isso que não o temos exotico, e no tempo da laboração, pode ter a certeza, a fiscalisação não deixará transformar melaço exotico em alcool mesmo que pobre. Dado isto é meu parecer que pelo menos devemos importar umas 200 toneladas de melaço de Demarara e que ainda assim não dará para as encommendas. Espero que considerará bem sobre este ponto e concordará commigo. N’uma carta que escrevi ao Senhor Henrique aconcelhei-lhe a compra das 200 toneladas de Demerara devido a estas considerações e se não lhe disse meior quantidade é porque até fins de fevereiro não posso fazer mais, e devemos quando principiarmos a laboração da canna não ter melaço exotico nenhum mesmo que pobre porque assim o vai exigir a fiscalisação. O que é bom é que essas questões em Lisboa se resolvão quando não todos estes calculos são falsos. Sobre a aguardente de canna é que não sei como liquidar porque há muita, e como já lhe disse elles sô podem receber em 208 José Júlio de Lemos.

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Janeiro proximo; a questão de preço já eu tinha pensado em lh’a dar a 780 reis como me diz na sua carta. Sem mais que lhe posso dizer subscrevo-me Seu Amigo certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 25 de Outubro de 1909 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [97] 25 outubro 909 Ex.mo Amigo e Senhor Henrique Depois da minha ultima carta recebi uma do Senhor Bardsley, dizendo-me que não pode ver a necessidade de importar mais melaço exotico visto o que temos e o que vamos receber dará até a laboração da canna. Eu fiz-lhe as minhas considerações que o Senhor Henrique verá na copia da carta que lhe envio junta. A mim parece-me que elle está enganado nos seus calculos, porque olhando bem para o meu relatorio que em tempo lhe enviei vê-se bem o que necessitamos. Devemos pensar que durante o tempo da laboração da canna a fiscalisação não auctorisa o fabrico de alcool com melaço exotico mesmo que ceja melaço exausto, isto é, depois de lhe extrahir o assucar. N’este caso, se não tivermos alcool de melaço exotico suficiente em stock temos necessidade de vender para vinhos o alcool de melaço da terra, que segundo me diz o Senhor Bardsley se não deve vender para vinhos mas sô para desdobramento. Hoje tenho já um stock de .....................................6000 gallões Para restillar aproximadamente ............................3200 gallões Em cubas a destillar ............................................ 2800 “ Total .....................................................................12000 “ O melaço que me resta é no poço da serragem que poderá conter uns 34700 kilogramas de melaço que poderá dar em alcool 2770 gallões, o que fará um total de 14770 gallões; ora retirando para desdobramento 8500 gallões (que é o que pode levar os tanques do Armazem Nº 2) restará para vender para vinhos, em quanto não temos alcool de melaço exotico, 6270 gallões. Não posso principiar a fabricação do assucar do melaço de Barbados antes // [98] de fazer a modança dos tanques dos egouts, que estão no provimento dos cuites, para os seus respectivos logares, e isso estará prompto no fim da 1ª semana de Novembro. D’esta forma não prejudicará a montagem da nova caldeira de vacuo nem dos novos malaxeurs, porque ao mesmo tempo que fazemos assucar fazemos as montagens. Pena é que o melaço que resta a vir não tenha já sahido de Barbados porque receio que a demora nos venda embaraçar os nossos trabalhos. Estão já armazenados e alfandegados 150 toneladas de melaço da terra, ou para exportação ou para destillação conforme determinar. Tudos[sic] estes calculos porem seram falsos no caso de não ser publicada a nova Lei! O Engenheiro diz-me que o Senhor Henrique deseja saber se a garapa vinda do Lemos209 é acida ou alcalina; segundo o que combinamos á tempos, e de acordo com Naudet210, a garapa seria sulfitada no Lemos e alcalinisada depois tambem de forma que a garapa virá para a Fabrica do Torreão legeiramente alcalina. Sobre este ponto tenho uma cousa a lhe dizer. Recebi a semana passada os Comptes rendus do Congrés de Londres em que Monsieur Aulard211 faz as suas communicações sobre a sulfitação em geral e em especial da sulficarbonatation de Weisberg. Lendo com attenção essa communicação vejo que a sulficarbonatação pode ser empregada com vantagem na canna, segundo o autor, isto é, a garapa é alcalinisada antes de sulfitar e depois é que vai ao sulfitador Quarez. Desta forma, diz elle, as garapas sahiram mais puras, e conservaram a pureza durante a fabricação, tornando-se menos melaçaginosas. // [99] Ora se na pratica em canna dêr o mesmo resultado que dá na beterraba, é isso, crêo eu, de grande vantagem para nôs. Acabo de escrever a Monsieur Naudet sobre isso a vêr o que elle pensa a esse respeito. A montagem é facilima e nada despendiosa, é simplesmente fazer com que a garapa dos engenhos vão a um tanque de dois compartimentos onde será alcanilisada, e correrá depois directamente para o sulfitador. Neste processo sô tenho um receio, é que com esta forma de proceder há mais precipitado (o que indica meior apuração), e poderá n’esse caso impedir um pouco a circulação da bateria de deffusão. Dar-se-há isso? Monsieur Naudet nos dirá, estudando bem a questão. Sube hontem que já tinham vindo os planos para a montagem da fabrica do Leacock, isto disse-me o João M. Henriques que 209 José Júlio de Lemos. 210 León Naudet. 211. Estudioso do tema com vários estudos publicados: Etude comparée des différents procédés de raffinage I. -Le raffinage en raffinerie. II. -Le raffinage en sucrerie ... Paris, A. Davy, 1901.

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lhe dissera pessoa que o sabe de boa fonte, mas deseja que se não divulgue. Diz que é uma fabrica Enorme! Enormes bestas são elles em fazerem tanta asneira: desculpe este desabafo. Como temos no armazem aguardente de canna sem mestura d’alcool vou principiar hoje a fazer o mais que poder de mestura. O que é deficil é vender por emquanto aguardente de canna, mas espero que em Novembro se principiará a vender melhor, e com este desdobramento com alcool fica-nos sahindo muito mais barato. No fim d’esta semana deve-me ficar todo o melaço fermentado. Vejo que este lote me vai dar um bom rendimento (talvez 8%) devido ao processo da resinose. A analyse do nosso melaço em Lisboa (melaço de Barbados) mostrou 50% assucar e glucose 26% !! não me parece… Sem mais subscrevo-me Seu Amigo certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 30 de Outubro de 1909 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [100] 30 outubro 909 Ex.mo Amigo e Senhor Henrique Terminei hontem o melaço da Fabrica, isto é, está todo em fermentação, ficando a Fabrica limpa de melaço. O Director da Alfandega diz que se deve requerer a vesturia quando todo o alcool estaja feito e separado, e isso conto estará feito em toda a semana proxima. O resultado final do melaço mando-lhe em nota separada, e por ella vê-se que há uma diferença para menos de 11541 kilogramas devido ao meu calculo ser feito sobre a medida dos tanques e ás vezes com melaço quente. Mesmo assim a diferença não é muito grande. Mando-lhe tambem a nota do melaço vendido ao Lemos212 e quanto lhe pode dar em alcool, isto como coriosidade. Os malaxeurs já estão no plano onde vão ser montados, e na proxima semana ficará os tanques dos égoûts no seu respectivo logar, podendo então dar principio ao fabrico do assucar do melaço de Barbados. Monsieur Naudet213 já enviou o acido sulfuroso liquido (15 obus), e os filtros Reinecken de area já estão montados nos res do chão do triple antigo, como se tinha combinado. Hoje tenho um stock de 7500 gallões d’alcool de melaço da terra. Quanto ao rendimento d’este Lote de fermentação sô lh’o posso mandar na proxima semana. Ficou armazenado e alfandegado para exportação 150 toneladas de melaço da terra. Sem mais subscrevo-me Seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 3 de Novembro de 1909 DESTINATÁRIO: Bardsley] [101] 3 novembro 909 Ex.mo Amigo e Senhor Bardsley Acabo de receber a sua carta de 29 proximo passado o que lhe agradeço. Melaço indigena: temos em armazem alfandegado 150 toneladas para exportação que poderá ser entregue á C.ia União Fabril quando o meu amigo determinar. Todo o outro melaço indigena foi transformado em alcool para desdobramento (8500 gallões) e o restante talvez uns 6000 gallões que temos vendido e nos resta algum para vender até que tenhamos alcool de melaço exotico que calculo só podemos ter de 15 do corrente em diante. Como vê não temos melaço indegena algum até á nova colheita. Tenho feito um grande desdobramento d’alcool com a nossa aguardente de canna em sock[sic]. Melaço exotico: Acho muito judiciosa a sua opinião de não importar senão melaço para assucar: Mas onde vamos nos boscal’o actualmente, melaço proprio para assucar? O melaço de Demerara poder-se-ha retirar algum assucar mas com pouca vantagem industrial. Não vejo por isso outra cousa senão importar melaço para alcool de que temos necessidade, mas simplesmente este anno, e no proximo anno arranjar as cousas de forma a termos melaço suficiente para assucar e depois alcool. Este anno já podemos tirar um bom resultado do melaço transformado em alcool. Vou dár principio á fabricação do melaço exotico em assucar e alcool na proxima semana. Dr. Quirino214: O milho rende conforme a sua percentagem em fecula, mas na media pode dar 36 litros d’alcool em 40º por 212 José Júlio de Lemos. 213 León Naudet. 214 Quirino Avelino de Jesus?

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100 kilogramas de milho. // [102]215 [103] A cevada crua pode dar uns 30 a 32 litros d’alcool, e a cevada em Malte, que é isso naturalmente que elle deseja saber, deve dar uns 33 litros d’alcool. Mas na fabricação do milho em alcool a proporção da cevada em malte é somente de 15% no maximo. C.ia União Fabril: Quanto ao que me diz com relação ao mau acceitamento dos consumidores da turtou com melaço, são hestorias d’esses nossos amigos: O molasscuite que fiz e que o Sousa Carreiro empregou na alimentação de uma vaca de leite deu magnifico resultado, e a vaca comeu perfeitamente, e como sabe o molassecuite contem 75% de melaço. Uma junta de bois aqui da casa foi tambem alimentada com o mesmo molassecuite, e os bois comeram bem e estão de perfeita saude. O que me parece é que a União Fabril não pode continuar com esse negocio de mesturar um producto caro com outro que vendem muito mais baratos, e por isso querem a todo o pano rescindir o contracto. Vejo quando me diz da nossa questão ahi, e prevejo um mau resultado se o Governo se não aguenta. Elles podem intertel’o com promessas até á ultima hora, e cahindo, são outros intrujões com quem tem de tratar, quer dizer, que ficará ahi eternamente! Sem mais sou seu Amigo certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 8 de Novembro de 1909 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [104] 8 Novembro 909 Ex.mo Amigo e Senhor Henrique Acabei a fermentação do melaço e a sua destillação, e até 5ª feira conto ficar terminada a retificação de todo o alcool do melaço indigena. O melaço empregado n’este lote (Nº 5) foi 251635 kilogramas, que rendeu 20844 gallões d’alcool a 100º, o que fez um rendimento de 8,28 gallões d’alcool por 100 kilogramas melaço. Para desdobramentos tenho reservado no armazem Nº2, 8500 gallões d’alcool, e vou ter aproximadamente uns 3000 gallões para hir vendendo até ter alcool de melaço exotico que conto será na proxima semana. Na aguardente de canna que não tinha levado alcool e em algum que vi poder levar mais, fiz o desdobramento de 1815 gallões d’alcool e equival a 2417 gallões d’aguardente em 28º Cartier. Queria dár principio ao fabrico do assucar do melaço de Barbados, mas a canalisação dos tanques dos égoûts e outras pequenas cousas a fezer não ficaram concluidas a semana passada, por isso sô na 5ª feira poderei dár principio a essa fabricação. Vou principiar a fabricação de alcool de melaço exotico, com o melaço de Demerara que tinhamos já despachado à 2 annos, para não ser obrigado a vender o alcool do melaço indigena que tenho reservado para desdobramento. Recebi uma carta de Monsieur Naudet216 aprovando a filtração entre a 2ª e as 3ª + 4ª caixa como do meu schema que lhe enviei, mas elle deseja saber com que filtros eu contava para essa filtração. Escrevi-lhe no mesmo dia dizendo-lhe a superficie de filtração que temos // [105] incluindo os 3 novos filtros e pedi-lhe para fazer os seus calculos e no caso de ser necessario mais algum filtro de o mandar junto com os que devem vir em Dezembro. Segundo os meus calculos fazendo nôs 450 toneladas de canna em 24 horas necessitamos de 180 metros quadrados de filtros Philippe para o jus evaporado no Kestner, e para os xaropes da 2ª caixa a 18º Baumé 60 a 65 metros quadrados visto que cada metro quadrado filtra aproximadamente 30 hectolitros de xarope de canna em 18º Baumé e teremos naturalmente 1772 hectolitros d’esse xarope em 24 horas. Ora como temos um total de 222 metros quadrados de filtração, e retirando os 180 metros quadrados para o jus de Kestner, resta-nos somente 42 metros quadrados, será n’esse caso perciso vir mais dois filtros pequenos de 14 poches filtrantes, que nos dará um total de 17 metros quadrados para o xarope da 2ª caixa. Os 65 metros quadrados a mais será para a occasião da limpeza dos filtros. Vou mandar-lhe (Monsieur Naudet) estes meus calculos e espero que elle se não escandelisará por isso. Fiscalisação da Alfandega: Sobre este ponto tenho cousa importante a lhe dizer e espero a sua cuidadosa attenção: Conforme as instrucções que o Director da Alfandega deu ao fiscal Sirne vejo que elles querem tomar nota de todo o alcool produzido pelo melaço exotico, diz o Director que é para comprimento do Decreto em que diz que sô pode ser empregado para tempero de vinhos, e vão montar uma escripturação no posto fiscal da Fabrica para esse fim. Dado isto, sabendo elles o assucar extrahido do melaço e o alcool produzido pelo melaço exausto ficaram ipso-facto, sabendo os lucros havidos com esta transacção!! Diz 215 O fólio 102 encontra-se inutilizado com 5 traços diagonais a vermelho. Contém o mesmo texto que o fólio 103, mas os contornos das letras estão menos definidos, o que comprova que a carta foi escrita e decalcada sobre ambos os fólios. 216 León Naudet.

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o Director que isto é simplesmente para a fiscalisação do alcool, mas é minha convicção que são ordens especiaes de Lisboa, porque o Manoel dos Santos nunca ficou convencido dos rendimentos que o Senhor Henrique lhe deu em tempos, e por esta forma fica elle // [106] ao corrente de tudo quanto deseja saber. Ora isto como bem comprehende e[sic] muito mau, e era bom ver se havia meio de evitar a fiscalisação feita d’esta forma. Eu aqui nada posso fazer, a não ser comprir as ordens obrigadas pela fiscalisação, para não trazer embaraços aos nossos trabalhos de fabricação de assucar e alcool de melaço exotico. São cousas que devem ser tratadas em Lisboa, mas talvez melhor depois da publicação do novo regulamento, para não embaraçar estes trabalhos. Temos tempo de sobra porque elles sô poderam saber as cousas ao certo depois de terminar o fabrico do melaço exotico em assucar e alcool e isto sô será para Fevereiro proximo. Quando estive em Paris Monsieur Naudet disse-me que era muito conveniente para os interesses da firma Hinton que todas as encommendas dos productos necessarios para a fabricação do proximo anno fossem feitas n’este mez, porque poderia obter preços muito mais baixos do que sendo feito de afogadilho, isto é á ultima hora. Espero pois que me aucturisará pelo proximo corrêo a fazer essas encommendas. O pano para os filtros Philippe já encomendei ao Naudet, vindo uma parte em sacos feitos com os filtros, e o resto em peças. Subscrevo-me seu attencioso amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz [DATA: 15 de Novembro de 1909 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [107] 15 novembro 909 Ex. Amigo e Senhor Henrique Principiei a fabricação do assucar com o melaço de Barbados no dia 11 do corrente. O melaço é sulfitado e filtrado, deixando contudo nos filtros pouca borra: João Martins tem achado dificuldade na cristalisação, e isso é claro, porque nem elle é um cosedor á altura das circunstancias, nem o melaço é muito proprio para cristalisação directa em caldeira de vacuo. Para que a nutrição do grão se fassa melhor tenho desfeito o melaço a 30º Baumé do maximo. Junto envio-lhe uma amostra do assucar que se principiou a turbinar hoje, que como verá está um pouco sujo devido a ser os 1os cosimentos, mas o que acho pêor é a cristalisação fina que não é muito propria para assucar typo B2. Vou fazer uma esperiencia de mesturar umas 6 ou 7 sacas d’este mesmo assucar nos malaxeurs refrigerantes na occasião de cahir um cosimento, a vêr se com esta amorçage o assucar fica mais cristalisado. Acabo de fazer a analyse dos égoûts pauvres que mostra o seguinte: Materia Secca .......................................................83,50 Saccarose directa ..............................................48,38% Pureza apparente ..................................................57,94 Glucose .............................................................18,09% Coefficiente glucosico ...........................................37,3 Estes égoûts como vê estão bastante ricos e continham grande quantidade de assucar em farinha, isto é, assucar que passou no tamis das turbinas. Se estes égoûts fossem cosidos ainda em 2º jet davam ainda bastante assucar, e seria esta a verdadeira forma de lhe extrahir meior quantidade de assucar, mas na occasião presente que não temos alcool para vinhos não posso pensar em fazer tal, e além d’isso para nos dar tempo a que de todo o melaço se extrahia assucar // [108] antes de principiar a laboração da canna, sô fazendo como fasso agora se pode chegar a esse resultado. Bastante estimaria que o Senhor Henrique estivesse agora aqui, para de si proprio vêr as cousas como se passam. Tenho hoje em alcool de melaço indigena para vinhos somente 3000 litros e a fermentação do melaço exotico ainda não está em condições de destillar, e naturalmente sô na quarta feira proxima poderei principiar a destillar e quanto á retificação no fim da semana. Como vê estou outra vêz com dificuldades com a falta de alcool, porque não desejava tocar nos 8500 gallões que tenho reservado para os desdobramentos. Chegou hoje o vapor com o melaço de Demerara (495 cascos) cuja analyse é a seguinte: Materia Secca .......................................................92,15 Saccarose directa ..............................................40,13% mo

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Pureza apparente ..................................................43,54 Glucose .............................................................28,95% Coefficiente glucosico ...........................................72,1 Como vê é um bello typo de melaço para destillação. Vejo-me porem na necessidade de o deitar no tanque mesturado com o melaço de Barbados, porque não temos armazens em conducções de o guardar. Seria essa a minha vontade, porque não desejava tornar o melaço de Barbados pêor do que é, mas como fazel’o? Tudo isto são contrariadades que me aborreçem por não as poder resolver como desejava. Bom seria que no proximo anno, continuando a importação de melaço para assucar, tudo se fizesse em ordem de tirar bons resultados industriaes, porque isto de atamancar o trabalho é mau para si, e para mim porque me põe em grandes deficuldades. Tenho um assumpto a dizer-lhe que me pareçe ser de interesse que o Senhor saiba. Como o Sampaio é amigo intimo de um suisso que tem casa de bordados, // [109] e como esse Suisso é intenço amigo de um outro Suisso que está empregado no Leacock, pedi ao Sampaio para vêr se seria possivel elle obter do seu amigo algumas informações com relação á nova fabrica do Leacock, mas isto com toda a diplomacia: O Sampaio desenvolveu-se bem d’esta incombencia e sube n’este caso o seguinte: O Leacock já não pensa em fabricar aguardente para manifestar no fim do anno, mas sim fazer alcool de canna em 40º para os negociantes de vinho. Diz que a sua edêa não é tirar lucros, mas somente vender o alcool depois de tiradas as despezas de fabrica. Era este o meu recêo, e já lhe digo porque. Quaes seram os systemas de extração do sumo da canna? Quaes os processos de fermentação? Quaes as condições de compra da canna? Se eles pensarem como eu o faria, daria o seguinte resultado: Extracção com imbibição no maximo, isto é 80% do sumo de canna. Processos modernos de fermentação e destillação obtendo 60 litros d’alcool por 100 kilogramas assucar fermentado. Compra da canna na épôca em que ella está mais rica e por preço inferior ao que nos compramos, o que seria facil, crêo eu. Estas tres condições dá o resultado de elle poder vender o alcool retificado em 40º no maximo de 950 reis por gallão. Ora quem importava alcool Alemão ao preço de 1400 reis sô com o fim de prejudical’o, muito mais facilmente compra a 950 reis com o mesmo fim. Vamos principiar esta semana na montagem da nova caldeira de vacuo. Seu Amigo certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 22 de Novembro de 1909 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [110] 22 Novembro 909 Ex.mo Amigo e Senhor Henrique Esta é escrita á pressa, porque como estive doente 3 dias com uma inflamação na cara nada pude fazer devido ás dores que tinha, e hoje foi para fazer todas as analyses de 3 dias, por isso a minha carta é curta: Assucar de melaço: A única forma de se poder tirar algum assucar do melaço é fazendo um pé de cuite com o mesmo assucar feito em xarope e depois nutrir o grão formado com melaço, sulfitado e filtrado, isto como 1º pé de cuite para um malaxeur de 250 hectolitros depois faz-se um cosimento sô de melaço ao filet fraco e deita-se sobre o primeiro cuite, deixando mexer durante 2 dias. Esta formula dá um assucar egual á amostra que lhe envio, e os égoûts ficão bem épuissée como vê pelas analyse [sic] que lhe envio junto. Cosimento directo do melaço para formar assucar não há meios de fazer o épuissement dos égoûts, e ficariamos eternamente a fazer cuites. Pelas analyse [sic] verá bem o que se passa agora. Melaço de Demerara: – Quanto a este maldito, não vejo forma de se poder extrahir assucar a não ser em cosimentos de 2º jet ao filet, mas não podemos pensar em fazer isso a todo o melaço, porque ver-nos-hiamos em março proximo ainda com melaço para coser e Melasse Cuite para turbinar, o que nos prejudicaria bastante. Já tinha principiado a deitar melaço de Demerara no tanque grande junto com o de Barbados mas mandei suspender quando vi os // [111] resultados do 1º cuite feito com esta mestura.

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Dado isto é minha opinião que devemos recusar parte do melaço de Demerara por não ser proprio para extrahir assucar e sô comprar o que for necessario para alcool. Carlos217 no seu telegramma assim lhe dizia e ficamos á espera da sua resposta, porque a correspondencia trocada entre nós e Demerara esta clara, e como o melaço não contem a percentagem em assucar [...] tudo[?] por elles podemos perfeitamente recusar esse melaço. Não convem de forma alguma ter melaço para alcool a mais do que as necessidades requerem naturalmente. O que nos vai aconteçer naturalmente é não termos assucar para o consumo até março, mas de todos os males o menor, fazemos importar o assucar bruto necessario para ser refinado. Junto vai tambem a analyse da amostra tirada pela Alfandega [...] isto é, amostra official e é esta a que nos servirá para a contestação porque todas as outras particularmente nossas não fazem fé em juizo. Contudo amanhã vou fazer a analyse do resto dos ponches que ainda não foram analysados. Recebi carta do Naudet218 aprovando tudo quanto lhe tenho proposto. Sem mais sou seu Amigo Attencioso e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz P. E.[sic] As fermentações do melaço magnificas [sic]. // [DATA: 10 de Janeiro de 1910 DESTINATÁRIO: Paul Henôt; LOCAL: Brasil] [112] 10 janeiro 910 Meu Caro Amigo e Senhor Paul Henôt Primeiro que tudo tenho que lhe agradecer os seus votos para que o novo anno me seja propicio, e desejo-lhe a si tambem, como a todos os que lhe são caros, tantas felicidade quantas o meu Amigo possa desejar n’este novo anno. Já estou crêo eu em bastante falta para consigo, mas desculpará, por que bem deve comprehender que os meus afazeres e cuidados me prohibem muitas vezes de fazer o que eu desejo. Temos este anno novas transformações na nossa Fabrica e bastante importantes, porque em vista do augmento de producção de canna na Madeira, vimo-nos obrigados a augmentar a sua capacidade de trabalho por 24 horas de forma a podermos fazer o minimo de 500 toneladas de canna em 24 horas. Veja o meu Amigo que transformação não seram essas, para que de uma Fabrica de 330 toneladas se passe a fazer 500 toneladas! As transformações mais importantes são as seguintes: Um novo moinho para o bagaço exausto da diffusão: A bateria de 12 diffusores passa a ser em duas sou-batteries de 6 diffusores cada uma trabalhando alternadamente: Montagem de um Kestner como preevaporador que fornecerá todo o vapor a 1 kilograma de perção para os cuites e rechaufeures da diffusão: Juntar ao nosso triple mais uma caixa que trabalhará junta com a 3ª fazendo uma superfice de // [113] evaporação de 175 metros quadrados: (as duas) Montagem de mais um cuite de 125 Hectolitros. Montagem de mais 3 malaxeurs abertos. Montagem de mais 2 centrifugas Watson. Tenho alem d’isso mais umas modificações na forma de trabalho das garapas e xaropes, mas que nada lhe digo sem primeiro vêr os resultados praticos d’ellas. Como porem os nossos moinhos da canna não podem fazer senão 450 toneladas no maximo, a Fabrica Lemos219, que o amigo conhece, vai ser transformada em Raperie (?) enviando-nos elle a garapa de 90 toneladas por 24 horas, á nossa Fabrica por meio de bomba, sendo a garapa sulfitada e alcalinisada no Lemos. Como vê as transformações são bastante importantes e bem pode calcular os cuidados que tudo isto nos dá. E como vão todos esses negocios de assucar ahi pelo Brasil? Espero que bem, para sua satisfação. Receba o meu Amigo um apertado abraço do que é seu verdadeiro Amigo certo [Ass:] João Higino Ferraz //

217 Carlos Fernandes. 218 León Naudet. 219 Fabrica de destilação de álcool, chamada Companhia Nova, da firma José Júlio de Lemos, Sucessores, de José Júlio de Lemos.

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[DATA: 6 de Março de 1910 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [114] 6 março 910 Ex.mo Amigo e Senhor Henrique Não sei se lhe deva desde já dár os meus sinceros parabens pelos resultados da sua justa questão; em todo o caso vejo que pelo telegramma enviado que tem todas as esperanças que a resolução seja a seu favor, Deus o primitta. Quanto á parte do telegramma em que diz que devemos principiar no fim d’esta semana, o Senhor Bardsley disse-me para eu lhe dar a minha opinião a este respeito o que vou fazer: Poderemos principiar esta primeira moenda, isto é, uns 5 dias, trabalhando pelo systema antigo, quer dizer, sem o Kestner, porque este aparelho não pode estar definitivamente concluido antes de uns 10 dias pelo menos, e como a semana Santa é na proxima semana temos tempo suficiente para concluir a montagem d’elle como deve ser. Muito se tem feito de Janeiro até hoje e isto por um trop-de-forçe, e Deus primitta que tudo estaja em ordem. É porem de toda a conveniencia antes de principiar com a canna trabalhar um dia a agua de forma a limpar bem todos os apparelhos para evitar o produzir assucar dos dois primeiros cuites de má qualidade. Para trabalhar pelo systema antigo temos quasi tudo em ordem a não ser as centrifugas, mas como sô uns 3 dias depois de principiar é que vamos ter Melasse Cuite em estado de turbinar, não deve talvez prejudicar o seguimento do trabalho. A Caldeira de vacuo nova tambem não está concluida e mesmo no caso acima não necessitamos d’ella. A Freitag pode trabalhar a vapor exausto e directo como no anno passado, e o pequeno Cuite (100 Hectolitros) fará os pés de cuite como ordinariamente. A montagem das bombas centrifugas // [115] tanto a do Kestner como a do Triple estão montadas, e a filtração mechanica, a sua montagem está feita de forma que se pode trabalhar da forma que se quizer. A diffusão está terminada. A bomba dos petits eaux tambem fica concluida em dois ou trez dias: Quanto a esta parte eu disse ao Engenheiro que sô necessitamos uma bomba porque vou reonir os petit eaux aos eau do mulin de repression. Acho até muito conveniente o trabalhar os primeiros 5 dias pelo systema antigo porque durante esse tempo posso habitoar o pessoal da diffusão a trabalhar em duas baterias conjugadas, trabalho perfeitamente novo para elles e que me vai tomar muito tempo. Depois de esta parte do trabalho estár corrente posso então dedicar-me ao trabalho do Kestner, novo para mim e para todo o pessoal, e como as modificações no triple para a filtração entre as caixas tambem me deve prender bastante a attenção, poderei perfeitamente applicar-me a esta parte do trabalho. D’esta forma podemos arranjar assucar para consumo de duas semanas e principiar definitivamente depois da semana Santa. É isto a minha opinião sobre o nosso trabalho. Vejo que os cosedores não chegaram a tempo para o principio d’esta primeira moenda, mas vamos-nos remediar com João Martins e Francisco. Quanto ao Chimico farei o possivel de o substituir por uns dias porque tenho Avelino220 que já faz muito. Que a sua boa Estrella o continue a guiar na sua campanha Seu Amigo certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 21 de Abril 1910 DESTINATÁRIO: Freitas?; LOCAL: Lisboa?] [116] 21 abril 910 Meu Caro amigo e Senhor Freitas Pedia ao meu amigo o favor de fazer publicar o annuncio junto no jornal mais lido de Lisboa, Seculo ou Diario de Noticias, durante trez dias e em logar visivel. Faço isto com auctorisação do Senhor Hinton221, e espero que o meu amigo fará este favor avisando-me do importe do annuncio. Seu Amigo certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //

220 Avelino Cabral. 221 Harry Hinton.

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[DATA: 7 de Outubro de 1910 DESTINATÁRIO: Harry Hinton; LOCAL: Lisboa?] [117] 7 outubro 910 Ex.mo Amigo e Senhor Henrique Já deve estar ao facto dos graves acontecimentos d’este desepaçado[?] Portugal, e talvez melhor do que nos aqui que por enquanto[?] pouco sabemos de positivo. Que resultará de toda esta calamidade?! E da nossa[?] infeliz nesta[?]? O futuro o dirá, [...] corra pelo melhor. Vou passar-lhe a espor o resultado da esperiencia da turbina Hignette que fiz quando aqui cheguei juntamente com Marsden e dár-lhe conta das minhas impressões [...] e o que no meu fraco intender vejo n’este assumpto. Esperiencia feita em 5 do corrente. Esperiencia da turbina Hignette com petits eaux guardados d’esde a ultima laboração, isto é, 3 mezes, cuja agua apresentava pouco mais ou menos o mesmo aspecto dos petits eaux normaes, mas que naturalmente devido ao [...] guarda[?] deve ter modado a sua composição chimica e natureza phisica, tendo um odor a putrido fraco. A esperiencia com aguas n’este estado deve naturalmente diminuir ou modar o effeito da precipitação dando a esperiencia n’estas condicções resultados um pouco desfavoraveis, mas que com petits eaux frescos alcalinisados e com o sulfato de ammonio a percipitação deve ser mais rapida e o resul-//222 [DATA: 29 de Maio de 1910 DESTINATÁRIO: León Naudet] [118] 29 mai

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Mon cher Monsieur Naudet J’ai bien reçue votre honorée de 17 courant et j’ai pris connaissance de celles que vous avez adressé á Messieurs Dubail et Sachs auxquelles je repond également Aluminate de soude: – Je vais en faire l’experience cette semaine en me conformant á vos indications. Condenseur-radiateur: – Ce condenseur ne donne pas les resultats attendues pour l’unique raison que la perte de charge este considerable aissu que vous l’avez bien prevu. Le vide a 28 pouces dans la colonne barometrique et l’eau sortant a 30º de temperature, de vide du triple effet et des cuites est à 22 pouces, la vapeur condensée par heur de 2500 a 3000 kilogrammes au maxime. Dans ces conditions il est impossible de travailler dans le triple effet et la cuites. Monsieur Marsden a eu l’edée de soutirer un partie de la vapeur du ballon central et de l’envyer directement á la colonne barometrique par le nouvelle valvule du croquis. On a alors obtenu un vide de 27 pouces á la colonne barometrique et l’eau de condensation a 40º temperature et 24 a 25 pouces de vide au triple effet et a la cuite: Mais ceci n’est etablè que provisoirement pendant qu’on etudie le fonctionnement de l’apparail. Je crois que pour tirer un meilleur partir du condusseur et obtenir le rendement maximum, nous deverons placer un turbo-compresseur entre le ballon et le condenseur pour donner á la vapeur da rapidité de circulation nécessaire dans le condenseur raiateur. Ci joint un croquis de mon projet que vous permettra de mieux suivre mon edée et de me dire ce que vous en penses. D’autre part, j’ai constate que les eaux condensés ne sortent pas librement // [119] [...]223 celá este dû au faible diametre et de 3 pouces, et Marsden qui au début n’etait pas de mon opinion partage maintenant ma maniere de voir á ce sujet mais il n’est pas partison de l’adjonction d’un turbo-compresseur qui selon lui ne produira aucun effet. Cuite au filet: – Dans le but de faire l’experience au cours de cette année du passge[sic] des cuites au filet dans les filtres presses, nous avon[sic] decidé avec Monsieur Hinton224 de faire venir une prompe à masse cuite de capacité suffisante pour notre travail mais nous vaudrions autant que possible une prompe d’occasion. Cette pompe devant être commendée par courroi, veuillez nous doit[?] quelle force en chevaux vapeur cette pompe nécessitera. Cela dit voici ce que j’ai l’intention de faire: Apres la fabrication le fera cuire au filet les égoûts restant (égoûts à recuire) et les enverrai dans les [...]225 citernes ou ils resteront pendant 2 mois. Au bout de ce temps je les ferai passer dans une malaxeur avec de la melasse diluée puis aux filtres presses. Les tourteaux obtenús seront envoyes à leurs tour dans une malaxeur avec des égoûts plus pures de façon á faire une 222 Como se vê, esta carta encontra-se truncada e alguns vocábulos presentes neste fólio 117 estão (tendo em consideração o conjunto da informação deste copiador) inusitadamente ilegíveis. 223 Uma linha cortada na cabeça do fólio. 224 Harry Hinton. 225 Uma linha cortada na cabeça do fólio.

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masse cuite facil a turbiner. Les égoûts pauvres de cette burbinge seront recuits á nouveau et les égoûts riches pour diluer les tourteaux. Monsieur Hinton et moi desiron avoir votre opinion sur ce projet. Je vous prie d’acheter la pompe à masse cuite – d’occasion si possible – le plus tôt que vous pouvez et de nous l’envoyer dans le plus bref délé. Bien Cordealment á Vous [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 2 de Junho de 1911 DESTINATÁRIO: José Torquato de Freitas; LOCAL: Praia, Ilha de São Tiago, Cabo Verde] [120] Cabo Verde, São Theago – Praia 2 Junho 1911 Meu presado Amigo e Senhor <José Torquato de>226 Freitas Recebi a sua carta de 16 de maio ultimo o que muito lhe agradeco[sic]. Mostrei-a ao Senhor Hinton227 que me disse lhe hia escrever sobre o nosso assumpto, mas não sei se sempre o fará. Quanto a mim continuo a pensar no caso e estou resolvido, se o Senhor Hinton se não decidir a nada, a fazer todo o possivel para que a nossa empresa siga o caminho desejado aproveitando o entosiasmo que Naudet228 tem. Já tenho feito os meus calculos que em tempo competente lhe enviarei. O que eu quero é ver as Constituintes em bom caminho a ver se os Deputados por ahi tratam da questão, sem isso nada se deve fazer acho eu. Quanto ao que apareceu no “Seculo” nada sei mas naturalmente não foi Naudet. Sem tempo para mais subscrevo-me Seu Amigo Attencioso e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 26 de Junho de 1911 DESTINATÁRIO: León Naudet] [121] 26 juin 1911 Mon cher Monsieur Naudet J’ai bien reçu en son temps votres honorées de 6 et 15 courant, j’ai un peu defféré ma reponse pour pouvoir vous entretenir en même temps des differentes questions à l’étude. 1º Condenseur-Radiateur – On je me suis mal expliqué dans ma précédent lettre ou vous m’avez mal compris. Je n’ai jamais songé á introduire de la vapeur dans le Condenseur mais seulement á forcere mecaniquement le passage plus rapide des vapeurs du ballon dans le Condenseur par exemple à l’aide d’un compresseur rotatif ou d’un natilateur à haute pression genre Sautter Harlé ou outre et commandé exerieurement par courroie ou dynamo. C’est sur la possiblité ou nom sous les resultats á attendre d’une semblable application que je vous demande á nouveau votre avis. Travail à l’aluminate – Aissi que vous le verez par les essais effectués au laboratoir, le travail á l’aluminate n’a pas donné de resultats probants. Sulfitation alcaline: – J’ai repris la sulfitation alcaline quelques jours seulement apris l’avoir suspender á titre comparatif. // [122] Pompe à Melasse Cuite – Je vous confirme notre telegramme du 24 ou 25 (?) disant «Achetez» et je compte donc que cette pompe nous parviendra dans la plus bref délai. Mon intention est de me conformer à vos indication et de commencer la cuite des égoûts aussitôt la fabrication terminée. Avec mes remercisments, vouille agrées Cher Monsieur, l’expression de mes meilleurs Sentiments [Ass:] João Higino Ferraz// [DATA: 26 de Junho de 1911 DESTINATÁRIO: José Torquato de Freitas; LOCAL: Praia, Ilha de São Tiago, Cabo Verde] [123] 26 junho 1911 Ex.mo Amigo e Senhor José Torquato de Freitas Tenho em meu poder os seus estimados favores de 6 e 14 do corrente, assim como a copia da representação feita ao Governo e o roteiro do archipelago de Cabo Verde o que muito lhe agradeço. 226 As palavras «Cabo Verde», «São Theago – Praia» e «José Torquato de» foram grafadas com letras maiores que o habitual e, pela sua disposição, foram com toda a probabilidade acrescentadas após a escrita da carta. 227 Harry Hinton. 228 León Naudet.

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Gostei da representação que esta muito bem feita e explicativa. Junto envio-lhe as bases para o establecimento de uma Companhia Assucareira conforme o meu modo de vêr. Estas bases poderão servir para que os Depotados por ahi possão tratar qualquer cousa nas Constituintes em beneficio d’essa Ilha. Sei perfeitamente que fazendo o governo qualquer cousa será posto em concurso, mas isso pouco cuidado me dá, porque o meu Amigo sabe perfeitamente que usando todos os aperfeicoamentos[sic] como temos aqui na Fabrica posso eu ou o Senhor Hinton229 concorrer com vantagem, e mesmo acho que para segurança das obrigações do Governo isso seria muito mais vantajoso. O que vejo é que nada se pode fazer sem que o Governo decida essa questão, porque ninguem se abalançará a uma tal empresa sem garantias seguras. // [124] Acabo de fallar com o Senhor Hinton que me diz lhe vai escrever, mas a opinião d’elle é a mesma que a minha «nada poderi[sic] fazer para a formação da Companhia sem que o Governo apresente qualquer base sobre esse assumpto» são estas as pallavras testuaes d’elle. Por tudo isto o meu Amigo verá qual o caminho que tem a seguir e todas as pessoas interessadas ahi. Fico pois esperando os resultados de tudo isto e espero que qualquer resolução a tomar deve ser breve porque perde-se <tempo> é[sic] o tempo é dinheiro. O Senhor Hinton vio as bases feitas por mim e aprovou por completo, tanto que mandou tirar mais copias para guardal’as. Sem mais outro assumpto Sou com estima e Consideração seu Amigo Attencioso e Obrigado [Ass:] João Hygino Ferraz // [DATA: 26 de Agosto de 1911 CARACTERIZAÇÃO: Descrição e considerações acerca de uma experiência com o aparelho Filtro-Presse, e tecidos filtrantes aplicados] [125] 26 agosto 1911 Experiencia com o filtro-presse, depois de concertada a bomba, funccionando elle bem: Fiz a esperiencia novamente da filtração da Melasse Cuite nos filtros-presse com panos, sendo a Melasse Cuite diluida com égoûts pauvres e filtrada á temperatura de 40º Centigrados. O melaço não passava nos panos, como da 1ª experiencia, ainda mesmo com a maxima perção da bomba que calculo fosse (depois do filtro presse cheio) de 3 1/2 a 4 kilogramas de perção. As juntas do filtro, devido á alta perção, deixavam passar Melasse Cuite, mas os panos, como já disse, não passava o melaço. N’essa mesma occasião fiz a esperiencia do pequeno filtro com tecido (egual á amostra junta) sahindo o melaço bem, mas o filtro, por ser pequeno, sofria toda a perção da bomba não podendo resistir a tão alta perção, sahindo a Melasse Cuite pela porta superior, e alem d’isso como toda a Melasse Cuite mandada pela bomba (mesmo andando o mais devagar possivel) era somente aplicada ao pequeno filtro, não dava vasante ao melaço, não formando n’esse caso tourteau. Como porem nas esperiencias feitas com este pequeno filtro com a perção d’ar comprimido a 1 1/2 kilogramas e com cargas intermitentes o tourteau se formava bem, vejo que naturalmente o único filtro apropriado a esta filtração de Melasse Cuite será o filtro com tecido, sendo construido especialmente para esse fim. É minha opinião que na construção do filtro, substituindo a chapa transfurada se deve empregar entre as reinhuras dos quadros e o tecido filtrante um outro tecido muito mais aberto mas suficientemente resistente para sofrer a perção do tecido filtrante[?] sobre as reinhuras dos quadros, conforme o sechma junto. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 6 de Setembro de 1911 DESTINATÁRIO: José Torquato de Freitas; LOCAL: Praia, Ilha de São Tiago, Cabo Verde] [126] 6 setembro 1911 Ex.mo Amigo e Senhor José Torquato de Freitas Em meu poder as suas presadas cartas de 30 de Julho e 10 agosto ultimos acompanhando as representações e projecto de lei. Li tudo com a maxima attenção e ponderação, e é minha opinião que o Governo não acceitará a lei como está proposta (6000 toneladas por anno) em vista do que está decretado para a Africa Ocidental e Oriental que apenas dá 6000 toneladas com 50% dos direitos para cada uma. O Senhor Hinton230 seguio para Londres no mez passado e elle continua a dizer que nada se pode fazer sem que o Governo decida qualquer cousa. O advogado d’elle Dr. Quirino231, é de opinião que sendo por concurso a 229 Harry Hinton. 230 Harry Hinton. 231 Quirino Avelino de Jesus.

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questão é dificil tanto para Hinton como para si, visto sendo o concurso livre outro qualquer pode concorrer e o meu Amigo fica prejudicado; disse-me elle que essa questão deveria tomar outro caminho. O Senhor Hinton disse-me que em nada pode influir em Lisboa junto do Governo sobre questões d’assucar, porque o nome Hinton é sempre visto com maus olhos… e é a pura verdade! Esteve aqui no mez de agosto de passagem para Lisboa um dos agronomos da Missão agronomica que desejou ver a Fabrica, e por elle sube que interveio nos dados que o meu Amigo me enviou em tempos. Por elle sube tambem que toda a deficuldade é de transportes, e foi sempre esse o meu receio n’esta empreza. A opinião d’elle é que é // [127] economicamente impossivel ligar todos os centros productores de canna a uma unica Fabrica Central. É isso uma das meiores dificuldades para a realisação d’uma empreza em condições vantajosas, porque desde o momento que se tenha que montar mais de uma fabrica, o capital absorvido por ellas pode tomar taes proporções que é de inevitavel ruina. Foi isto sempre o meu receio, e é por isso que eu lhe dizia que sô estudando bem os meios de condução da canna uma empresa deve então tomar o encargo de tal conseção. Crêa o meu Amigo que sinto bastante os encomodos que tem tido, mas é necessario ter presistencia, e operar com todo o cuidado n’um negocio d’este quilhate porque o Capital é grande e dificil de conseguir d’esde o momento que não haja garantias seguras. Esperemos a vêr o que o Governo faz, mas vejo estas questões do Governo republicano tão complicadas devido ao pouco juizo politico de nós Portuguezes que não sei em que tudo isto irá parar. Fico sempre ao seu dispor para tudo o que o meu Amigo achar que lhe posso ser util. Seu Amigo certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [128]232 [DATA: 15 de Setembro de 1911 CARACTERIZAÇÃO: Calculos e considerações relativas a evaporação e destilação de vinhão] [129] 15 setembro 1911 Calculo para a evaporação do vinhão com o fim da producção de productos fertilisantes: Vinhão de uma fermentação cuja densidade inecial foi de 6º Beaumé: Analyse: Brix ..........................4º Densidade ................1014 Beaumé ....................2,1 Temperatura .............24 Acidez litro ..............1,8 gramas em SO4 H2 Para reduzir este vinhão a um xarope de 35º Beaumé ou 65 Brix, quanto evapora d’agua? Temos x = (65 – 4) 100 = 93,84 litros d’agua a evaporar por cada 100 litros de vinhão. 65 O nosso destillador Paulmann destilla em 24 horas o maximo de 500 Hectolitros o que se pode calcular esta mesma quantidade em vinhão. Qual deve ser a capacidade de evaporação em um duble effet trabalhando com perção para este trabalho? A meu vêr, cada metro quadrado de surface de chauffe em um duble effet com perção deve evaporar em 24 horas 7 Hectolitros, teremos pois de ter 72 metros quadrados de surface de chauffe repartidos pela seguinte forma: 1ª caixa ———28 metros quadrados Trabalhando a 1 1/2 kilogramas 2ª caixa ———44 metros quadrados “ a 1 kilograma Temos estas duas caixas antigas e uma outra de 53 metros quadrados [Ass:] João Higino Ferraz // [130] 15 Setembro 1911 Considerações particulares: 1ª Com o xarope a 35º Beaumé indo ao forno “Porion” a sua propria combustão dá as calorias necessarias á sua carbonisação ao estado de carvão puroso. 2ª A fermentação com o grau inecial de 6º Beaumé pode ser levado ao maximo (com melaço de canna) a 8º Beaumé que dará um vinhão um pouco mais consentrado. 3ª O trabalho do destillador pode ser feito pelo vapor da 2ª caixa do duble effet, tendo n’este caso de metter vapor directo somente na 1ª caixa. 232 O fólio 128 contém o mesmo texto escrito que o fólio seguinte, mas naquele as palavras estão menos definidas, e os seus contornos mais esbatidos.

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4ª É bom consultar Monsieur J. Kavan, ingenieur-chimiste de Prague que tem um aperfeiçoamento no forno antigo de “Porion”. Desposição aproximada dos evaporadores: Schema:

[Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 9 de Outubro de 1911 DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre] [131] 9 octobre 1911 Mon Cher Monsieur Lefebvre J’ai reçu á Funchal votre aimable lettre du 6 dernier pour la raison que cet année il m’a été impossible de sortir de Madére, du au travail du restant de la fabrication et du raffinage du sucre d’Afrique que nous deverons commencer á la fin de ce mois-ci. C’a m’a giné asses parce-que je desirais faire mon voyage comme j’avais projéte, et voir le mise en route de la fabrique d’Espagne tandis que vous y étiez. J’ai eu cet année beaucoup de chagrin avec la fabrication du au mauvais rendement en turbiné, dans la cause est du, à mon manier de voir, à l’etat de la canne pour l’excés d’engrais azotés et de le proprieter ou agriculteur de ne pas employer la chaux dans les terrains comme Marcus avait recommendé, donnent çá de resultat de formation de gomes que prejudiciaient la crystalisation invertant en partie le sucre par les diastases y contenues. Je desirais bien causer avec Monsieur Naudet sur ce subjet mais il m’a a été entierement impossible sortir de Madére. Faites mes compliments a Madame et á son gentil fille Pour vous un embrassement de votre Ami devue [Ass:] João Higino Ferraz //

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[DATA: 28 de Dezembro de 1911 DESTINATÁRIO: Valentim Pires Leiró; LOCAL: Lisboa] [132] 28 Dezembro 1911 Ill.mo Senhor Ventim Pires Leiro, Lisboa Em meu poder a sua estimada carta de 18 do corrente assim como os Devis das tres casas constructoras. Pelo estudo rapido que fiz dos diversos devis apresentados vejo que o trabalho em todos elles sendo simples é contudo imperfeito para o fabrico e dando perdas em assucar bastante elevadas no bagaço enviado ás caldeiras de vapor. Não posso vêr como elles calculão o rendimento de 8,5% em turbinado visto naturalmente não saberem qual a percentagem de assucar na canna e mesmo o meu Amigo não poder dár essas indicações por não ter feito analyses que sirvão de comparação. Vejo porem que com o defibreur e dupla perção seca como propõe a Casa Cail233, que a meu vêr é a mais rasuavel e melhor deliniada, a não ser na sua proposta de perção hydraulica nos cylindros que sendo muito bom é contudo muito caro, elles não podem obter mais de 78 a 79% d’extração. É parece-me de toda a conveniencia extrahir o mais possivel em assucar turbinado para que o rendimento por Hectare de terreno seja elevado até onde o meu Amigo pelos seus calculos veja pode tirar vantagens, por isso lhe dou os diferentes rendimentos que pode tirar pelos diversos systemas de moagem da canna, calculando para isso, na canna 13% em assucar: Com um defibreur e dupla perção seca = 78% extração ou 64% em assucar puro turbinado, isto é, 8,32 kilogramas assucar % kilos cana // [133] Com defibreur e dupla perção com uma imbibição de 15% = 88% extração ou 80% em assucar puro turbinado, isto é, 10,40 kilogramas assucar % canna. Com defibreur e triple preção com duas imbibições de 25% = 93% extração ou 84,5% em assucar turbinado, isto é, 10,98 kilogramas assucar % canna. Quanto aos preços dos apparelhos vejo grandes diferenças, mas isso é em grande parte devido aos intermediarios, que sendo uma desvantagem é contudo para si muito mais facil de establecer contratos por isso que o meu Amigo não conhece a fundo a materia e necessita pessoa que lh’as indique e com quem trate de viva vôs. Como vejo que tem na sua antiga fabrica um moinho de trez cylindros poderá applical’os a formar uma triple perção como propõe a casa “Squier” mas com imbibição, comprando um defibreur e dois moinhos de 3 cylindros cada um, caso o seu moinho tenha a capacidade e resistencia para as 250 toneladas de canna em 24 horas. A seguir lhe dou a minha fraca opinião como eu montaria a fabrica, mas isto sô nos pontos principaes, porque nos pequenos detalhes de montagem devem ser estudados pela fabrica constructora tendo sempre em vista a economia de combustivel para evitar o ter de queimar carvão ou lenha para a formação do vapor necessario ao fabrico. Trabalho aplicado: 1º Conductor de cannas conforme os devis apresentados. 2º Um defibreur Krajewski. 3º Dupla ou tripla perção, com simples ou dupla imbibição. 4º Trez chauleurs de 20 Hectolitros cada um com movimento mexidor. 5º Sulfitação alcalina em 3 caldeiras sulfitadoras intermitentes de 35 Hectolitros cada uma, servidas por um forno de SO2 (acido sulfuroso) // [134] Não aconcelho o Quarez continuo que é dificil de controlar e demanda um cuidado especial do chimico para evitar a sursulfitação que produz grande quantidade de SO2 livre que no trabalho subsequente se transforma facilmente em acido sulfurico que invertendo o assucar diminui o rendimento em turbinado tornando além d’isso o trabalho da cristalisação dificil. 6º Defecação continua em circulação rapida em 4 rechauffeurs de 30 metros quadrados de surface de chauffe de 8 circulações, sendo 3 em trabalho e um em limpeza, até á temperatura de 95-96º centigrados. Este systema de defecação é facil de conduzir, sendo necessario para isso uma bomba centrifuga Sechabaver Nº 3 para a circulação rapida. Estes rechauffers são aquecidos pelo vapor perdido das machinas, sustentados a uma perção minima de 0,500 kilogramas = 110º temperatura centigrados. 7º Uma bateria de filtros-presses com levagem para a filtração total do jus defecado. Por esta forma de defecação (contra o que diz a casa “Sequier”) e filtração total do jus defecado que dá um jus mais puro e mais claro, evita-se as baterias de defecadores, decantadores, eleminadores e deposito de borras, dando um trabalho mais perfeito, livre do contacto do ar, com duas filtrações dando um jus mais brilhante, e faz uma certa economia de combustivel. É necessario porem que a casa constructora estude bem a forma de montagem e a superfice filtrante em filtros-presses necessarios ao trabalho requerido. 233 Empresa do Norte de França especializada no fabrico de tecnologia açucareira.

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8º Ébuillanteur para o jus claro dos filtros-presses até á temperatura de 105-108º centigrados em uma serie de 2 rechauffeurs eguaes aos da defecação mas aquecidos a vapor directo detendue a 2 kilogramas = 132º centigrados temperatura. Este ébuillanteur substitui os eleminadores com muito melhor resultado por ser feito livre do contacto do ar e serem continuos. Estes rechauffeurs são tambem servidos por uma Sechabaver Nº 3. // [135] 9º Uma bateria de filtros mechanicos ou á tissu ou de area. Empregando os filtros á tissu aconselho os Filippe com toiles proprias ao jus de canna. Sendo de area aconselho os de Raimbert com tanque de levagem independente. Empregando os filtros mechanicos á tissu necessita dois filtros-presses para as borras d’elles retiradas. 10º Um triple-effet com 320 ou 350 metros quadrados de superfice de evaporação para as 250 toneladas de canna em 24 horas, conforme montar a dupla ou triple perção com imbibição, trabalhando de forma a produzir um xarope a 30-32º Beaumé Faço-lhe bem notar que o triple tenha a superfice de evaporação acima dita, porque todos os constructores têem sempre por norma dár pouca capacidade aos evaporadores e a pratica não dá mais de 22 litros na media em agua evaporada com jus de 1058 de densidade por metro quadrado e por hora para um triple em que se quer obter xaropes a 30-32º Beaumé. 11º Dois Cuites, sendo um de 100 Hectolitros para pé-de-cuite em comonicação com outro de 150 Hectolitros; n’este cuite faz-se a reentrada dos égoûts de 1ª até 20 a 30% dos égoûts disponiveis. N’estas condições os cuites estão quasi sempre em trabalho, visto que, logo que seja passado o pé-de-cuite de 100 Hectolitros ao de 150 Hectolitros, principia-se novamente na formação de outro pé-de-cuite no de 100 e assim sucessivamente. 12º Tres malaxeurs-refroidisseurs de 170 Hectolitros cada um para os cuites de 1er jet. 13º 8 malaxeurs abertos comonicantes de 100 Hectolitros cada um para a malaxagem continua do 2º jet que será feito na pequena caldeira existente na fabrica. // [136] 14º Um ballão central (relantisseur), que recebe os vapores do jus do triple e cuites, em comonicação com uma columna barometrica central e bomba de vacuo seca. Este ballão é de grande vantagem porque evita as perdas por entrenement. 15º 4 turbinas (centrifugas) systema Watson com motor a agua para o 1er jet com o seu malaxeur-transportador de Melasse Cuite que recebe directamente a Melasse Cuite dos malaxeurs-refroidesseurs de 1er jet. 16º 2 turbinas do mesmo autor independentes das de 1er jet mas trabalhando com a mesma bomba de perção hydraulica, em comonicação edentica com os malaxeurs continuos de 2º jet. O assucar produzido por esta turbinagem não é lavado nem leva vapor porque será refundido (derretido) no jus ou xarope para entrar novamente no cuite de 1er jet. N’estas condições tira-se somente um typo de assucar bruto ou levado e melaço perfeitamente épuissée. 17º Um malaxeur redondo de 25 Hectolitros com serpentina de vapor para a refundição do assucar de 2º jet no jus ou xarope. Todo o mais são detalhes a estudar pela fabrica constructora. Sou com toda a consideração de V.a Ex.a Attencioso Venerador [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 15 de Janeiro de 1912 DESTINATÁRIO: J. Colin] [137] 15 janvier 2 Monsieur J.Colin J’ai l’honneur de vous confirmer ma lettre du 8 courant. Je vien de recevoir votre estimée du 8 Decembre dernier et inclus votre Catalogue et prix que je vous remercie beaucoup. Comme referance á má personne je vous donne Messieurs les Ingenieurs de la Société des Brevets Naudet 3, rue de Chantilly – Paris (9º) Je vá etudier la question des pressoirs et je crois que vous commenderaits un appareil Nº 1 sous socle dans le prochain mois de mai, de manier à étre ici au fin de Juillet. Veuillez agreer, Monsieur, l’expression de mes sentiments les plus distinguis [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 16 de Janeiro de 1912 DESTINATÁRIO: Valentim Pires Leiró; LOCAL: Lisboa] [138] 16 janeiro 1912 Lisboa Ill.mo Amigo e Senhor Valentim Pires Leiro Confirmo a minha ultima com data de 28 proximo passado Em meu poder a sua estimada carta de 6 do corrente acompanhando a sua circular pela qual vejo que ao meu amigo ficou

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a cargo os negocios da casa Diogo & C.ª e faço votos pela felicidade dos seus negocios. Junto tambem recebi o Devis da Casa “La Chimia Industria” de Bruxellas, mas posso garantir que esta casa nada tem com a casa Cail de Paris. Devis[?] – Pelo exame feito ao devis vejo que elles lhe propôem uma diffusão directa da canna, que me parece que ao meu amigo não lhe convem, ainda que o rendimento em assucar é melhor, visto perder o bagaço como combustivel o que é importante para si nas condições em que tem a sua industria. Se eu visse que a diffusão lhe seria vantajosa, aconselharia uma diffusão do bagaço pelo processo Hinton-Naudet, como temos aqui montada, mas pela pratica que tenho d’esse processo, elle sô convem a uma fabrica que fassa pelo menos 300 toneladas de canna em 24 horas em trabalho continuo, e que tenha um pessoal de direcção habilitado e um control chimico regular. Continuo pois nas mesmas edêas da minha carta de 28 proximo passado e a ellas mais nada posso acrescentar, e se // [139] o meu amigo tomar os meus conselhos estou certo lhe dará os resultados vantajosos. Quanto á parte da sua carta em que me propõe eu ser o intermediario na verificação do fabrico e emprego do material na Fabrica constructora em que fizer a encomenda, tenho a dizer-lhe que isso me é dificil ainda que com vantagens para mim, porque como o meu amigo muito sabe tenho a meu cargo a direção technica da Fabrica Hinton á qual estão ligados os meus interesses e que não posso de forma alguma abandonar por muitos motivos tanto economicos como pessoaes. Contudo, como nos fins do anno corrente, talvez em outubro, eu vá a Paris tratar de negocios da Casa Hinton e meus, poderia no caso de concordancia entre nôs, e caso os trabalhos de construção do material estar em bom andamento ou perto de conclusão, vesitar os Fabricantes e verificar se o material e processos estão conformes ás suas indicações. N’esse caso o meu Amigo me arebritariaria[sic] uma commição que remunerasse os meus trabalhos de verificação de material. Motores elletricos: – Quanto a esta parte acho uma belissima edêa a sua de aproveitar a sua queda d’agua para os fins que deseja, mas não para o trabalho dos moinhos de canna o que é quasi impossivel e nada pratico pela força que demanda esta parte do trabalho que lhe absorveria quasi por completo toda a força // [140] elletrica desponivel; alem d’isso o meu amigo necessita vapor para as suas evaporações da garapa ou jus, e que não tendo vapor exausto se verá obrigado a empregar vapor directo, não tendo por isso vantagem alguma. Vejo porem que poderá empregar a força elletrica no seguinte: Luz para a Fabrica e dependencias, todas as bombas serão centrifugas movidas a elletricidade, as turbinas Watson com motor elletrico, malaxagem isto é, movimento dos malaxeurs por motor elletrico, etc. Para isso deve o meu Amigo enviar á casa constructora o volume medio da agua do seu açude assim como a altura de queda d’elle, para elles poderem calcular qual a força hydraulica desponivel para as turbinas a applicar a um dinamo. N’um caso d’estes é muito conveniente a montagem ser feita sobre a direção de um elletricista competente. Faço-lhe porem desde já a prevenção de que a installação para todos os fins que deseja caso a força motris agua seja suficiente, lhe vai custar bastante caso, ainda que lhe traga grandes vantagens futuras. Sem mais, sou com toda a consideração, de V.a Ex.a Attencioso Venerador Obrigado [Ass:] João Hygino Ferraz // [DATA: 17 de Fevereiro de 1912 DESTINATÁRIO: Valentim Pires Leiró; LOCAL: Lisboa] [141] Funchal 17 Fevereiro 1912 Ill.mo Ex.mo Senhor Valentim Pires Leiro, Lisboa Amigo e Senhor Em resposta ao seu estimado favor com data de 28 Janeiro ultimo, cumpre-me dizer que acceitando V.a Ex.a a minha cooperação na verificação dos apparelhos a construir em França, verificação que será feita na propria Casa Constructora no mez de outubro proximo, acceito esse encargo arbitrando-me 1% (um por cento) de commição sobre o total da factura da encommenda ou devis, para uma simples verificação, conforme o contracto que fizer, o qual me será enviado copia para verificar quaes os apparelhos encommendados e suas capacidades e indicações geraes. Se, alem d’essa simples verificação, eu tiver de dár qualquer indicação á Fabrica Constructora ou a V.a Ex.a para a montagem de systemas de fabrico e formas de trabalho a adoptar, a minha commição será de 2% (dois por cento) sobre o valor total da factura, e n’esse caso ficará a meu cargo indicar por carta ou schemas a V.a Ex.a ou // [142] á casa constructora todas as indicações pedidas. Ficará porem intendido que nada tenho com os defeitos de montagem dos apparelhos na sua fabrica de Novo Redondo, para o que V.a Ex.a obrigaram a casa constructora a bem fazer. Parece-me porem, que esses 1% a mais para o segundo caso, deveria ser pago em parte pela Casa Constructora, diminuindo V.a Ex.a do preço da factura, porque eu nada quero ter de contractos com essas casas, simplesmente com V.a Ex.a. A minha commição ser-me-há paga depois da verificação dos apparelhos em França e á minha chegada a Lisboa. Sempre ás suas ordens subscrevo-me Seu Attencioso Venerador e Amigo [Ass:] João Hygino Ferraz //

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[DATA: 13 de Dezembro de 1912 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [143] 13 Dezembro 2 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Acabo de receber uma carta de Naudet234 com data de 6 do corrente acompanhada com os planos dos apparelhos encomendados e o Sechema e planos para o trabalho da Melasse Cuite 2º jet nos filtros. Vejo, pela nota enviada das encomendas feitas por si que não está incluido o pequeno malaxeur para a diluição do tourtou com o jus o que é indispensavel porque o não temos e para o mandar construir em Lisboa não sei se elles o farão a tempo. Como porem o Senhor Hinton está em Lisboa poderá fallar ao Dargent235sobre isso. O malaxeur deve ser de 20 Hectolitros uteis com seu mexidor mandado por poles fixa e volante e com uma pequena serpentina de vapor para a conservação de uma temperatura regular: Fazendo ahi a encomenda não fallarei em nada ao Naudet. Uma outra parte da carta é com relação ao sulfitador Lacouteur que elle diz o Senhor Hinton não lhe ter feito a encomenda e que elle da sua parte não poderia fazer sem sua auctorisação; Como lhe disse em Londres parece-me que o Quarez que temos não dará para a sulfitação do jus total alcalinisado conforme as indicações de P.G.[?] e foi devido a isso que eu em Paris disse ao Naudet ser necessario um Lacouteur, e elle mesmo na sua carta diz, “il sera un peu faible c’est indiscutible, mais j’ai l’esperance qu’il fera, à peu prês, le service que vous lui demanderez.” Diz elle tambem que não haverá tempo para mandar construir um, e devido a isso combinei com Monsieur Marsden de se fazer uma modificação no injector de Quarez existente // [144] e substituir a bomba que lhe pertence por uma outra meior de forma a fazer mais appele de gaz e sulfitar mais rapidamente; n’este caso teremos somente de adquirir uma bomba de meior força para o sulfitador Quarez. Na ultima semana escrevi ao Naudet propondo-lhe o seguinte: Tirar dos decantadores de jus defecado 1/3 parte do liquido claro (parte superior) por torneiras e tubo separado, indo este jus perfeitamente decantado directamente ao Triple, e o resto, isto é, 2/3 composto de claros e borras, indo a parte clara (ainda que alguma cousa turva) aos filtros mechanicos e as borras á diffusão como combinamos. N’estas condições os filtros mechanicos terão muito menos trabalho e darão um jus brilhante, tendo isso grandes vantagens diversas que depois lhe direi. Tenho porem receio que Naudet o não queira fazer sem sua auctorisação, visto que as torneiras e tubo geral de ligação devem vir previstas nos apparelhos (decantadores) encomendados: Seria bom o Senhor Hinton lhe escrever auctorisando isso. A refinação do assucar d’Africa deve ficar concluida a 20 ou 21 do corrente. O alcool já vai sobrando das encomendas mas ainda não temos stock quasi nenhum O tanque do melaço deve andar meio pouco mais ou menos Sem mais que lhe diga subscrevo-me Seu Amigo certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 16 de Dezembro de 1912 DESTINATÁRIO: León Naudet] [145] 16 Dezembro 2 Meu Caro Monsieur Naudet Recebi a sua estimada carta acompanhando os planos dos apparelhos encomendados o que muito agradeço. O Senhor Hinton236 enviou-me uma carta sua derigida a elle com data de 2 do corrente em que traz a enomeração dos apparelhos que elle fez a encomenda, e pede-me para eu verificar se tudo está em ordem: Devido a isso tenho a dizer-lhe que não vejo na lista dos apparelhos o pequeno malaxeur para a diluição do tourteau de Melasse Cuite com jus da fabrica o que é indispensavel. Como bem se deve lembrar eu pedi em Paris que tudo viesse completo visto que na Madeira teriamos dificuldade em fazer construir, e o mesmo disse ao Senhor Hinton; vejo porem que elle não fez incluir esse pequeno malaxeur. Sobre este assumpto acabo de escrever para Lisboa ao Senhor Hinton dizendo-lhe isto mesmo, de forma a que elle o fassa construir em Lisboa a tempo de ser montado para o principio da laboração. Pedi a capacidade de 20 Hectolitros e com serpentina de vapor; está bem assim? Quanto ao que me diz na sua carta de 6 do corrente com relação ao sulfitador fico siente, mas parece-me mais conveniente fazer uma pequena modificação no Quarez existente de forma a lhe dar mais capacidade de trabalho para nos evitar dificuldades futuras. A modificação será augmentar um pouco a secção do injector e montar uma outra bomba de meior força a fim de fazer 234 León Naudet. 235 Cardoso, Dargent & C.ª. 236 Harry Hinton.

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mais appelle de gas sulfuroso e fazer a sulfitação mais rapida. Combinei isso com o engenheiro e elle diz-me ser facil de fazer. Na minha ultima carta propuz a sulfitação da garapa bruta pelo Quarez, mas como elle vai ser empregado na // [146] sulfitação do jus total poderemos fazer a esperiencia com acido sulfuroso liquido. Quanto á parte da minha carta com relação á não filtração de 1/3 do jus de decantação, escrevi ao Senhor Hinton e estou certo que elle aprovará, por isso que a despeza é minima e deve dár o resultado previsto. Pedia-lhe pois fizesse incluir na encomenda dos decantadores as 7 valvulas ou robinettes à tiroir colucadas a 2/3 da altura com seu tubo de ligação entre ellas. Sobre qualquer ponto que eu tenha duvidas lhe escreverei e agradeço-lhe a sua solecitude, mas peço-lhe que me diga com toda a franqueza se comprehende bem as minhas carta em portuguez porque no caso contrario eu farei escrever em francez por Carlos237; mas confesso que assim será mais facil para mim. Sempre a vossa desposição para tudo em que lhe possa ser util, e espero com muito prazer a sua visita e de Madame Naudet no proximo anno. Crêa-me seu Amigo sincero [Ass:] João Higino Ferraz Os meus respeitosos comprimentos a Madame Naudet e faço votos que o proximo anno seja para os dois tão feliz como para mim proprio desejo. [Ass:] Ferraz // [DATA: 4 de Janeiro de 1913 DESTINATÁRIO: René Le Grand de Mercey; LOCAL: Chateau de Mercey, França] [147] 4 janvier 3 Mon cher Ami et Monsieur René Le Grand de Mercey,Chateau de Mercey Monsieur Comme nous avons combiné je vous fais la commande d’un “Moussogène” perfectioné, sterilisant la bouteuille et la remplissant, comme vous m’avez conseillé, de façon qui se peut avoir, dis le commencement, le meilleur resultat possible avec cette nouvelle industrie ici à Madère. J’espere donc que vous pouvez m’envoyer la commande avec toutes les bonnes conditions d’emballage etc. et bonne qualitée du materiel. Je vous demande d’avoir beaucoup de soin avec l’emballage à acuse des transportes de chemin de fer, bateau etc. et d’écrire sur les caisses le mot “Fragil”. Ci-joint je vous envoi Copie du materiel necessaire comme le devis d’installation que vous m’avez donné dans votre bureau. Pour le transport du materiel necessaire je ne sais pas si c’est mieux et moins dispendieux de l’envoyer par chemin de ferpetite velocitée-voie d’Hespagne jusqu’à Lisbonne, où la Maison Hinton & Sons à un bureau et dont l’adresse este “66, Rue da Magdalena – Lisbôa”. Je vous pris d’ecrire à cette maison leur prévenant de l’expédition du materiel et d’envoyer touts les decoments. J’ecrivais aussi a cette maison pour qu’elle m’envoie le materiel par un bateau portugais jusq’a Madére. Si vous trouvez que c’est mieux d’envoyer par voir maritime, d’Anvers-Madère, veuillez bien faire ca, mas je vous // [148] previens que c’est seulement à Anvers qu’il y a des bateaux que portent des marchandises por Madère. Les bateaux partant du Havre, Boulogne et Cherbourg ne recoivent pas de marchandizes pour cette ille. Je vous prie de voir si c’est plus bon marche par Anvers, mas je trouve que c’est plus sûr voie de Lisbonne. J’espère aussi que vous aurez la boutée de m’enseigner dans les moindres détails de mode de fabrication rationelle du vin mousseaux et la preparation du liqueur de champagne fine et demi fine. Comme je desire aussi faire l’experiense de la fabrication du Cidre mousseux je vous prie de bien vouloir m’envoyer toutes les indication necessaires pour bien réussir dans cette fabrication. Dans le cas de bons resultats je ferai une nouvelle commande d’un autre appareil que vous m’indiquerez aprés. Je vous envoye ci-inclus un Cheque de 5000 francs, pour payement du montant du devis, emballage et transporte jusq’á Lisbonne, et le solde, q’il y a aucun, veuillez bien de placer au crédit de mon compte, ou de m’envoyer facture de déboursement. Veuillez aussi m’envoyer 600 à 700 bouchons-moitiée pour bouteuilles de litre, et moitiée pour bouteuilles de 1/2 litre, et du fil pour museler approprié à la machine que vous m’envoyez. Ceci servirá d’echantillon pour les futures commandes. Je vous envoie l’analyse sommaire de mes vins faits. Je profite cette occasions pour vous remercier de toutes votres amabilitées et je vous souhait une novelle année très heureux et à toute votre famille. // [149] Veuillez agrier, mon cher Monsieur de Mercey, mes trés sinceres salutations. [Ass:] João Higino Ferraz 237 Carlos Fernandes.

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Directeur technique de la fabrique de sucre et alcool de William Hinton & Sons Note: Les fûts doivent venir demontés, les duelles marqueés pour que je puisse les monter ici. // [DATA: 20 de Janeiro de 1913 DESTINATÁRIO: René Le Grand de Mercey; LOCAL: Chateau de Mercey, França] [150] Monsieur René Le Grand de Mercy 20 Janvier 13 Mon cher Monsieur de Mercy Je vien de savoir qu’il y a une Comp.ª de vapeurs Servizio Italo-Spagnnolo, donc l’agent à Marseille est M. Ph. Perella & C.ie da Luca, qui portent des marchandises directment pour Madére, je vous previens Je vous pris de voir si c’est plus bon qui pour Lisbonne. Votre ami devuée [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 22 de Janeiro de 1913 DESTINATÁRIO: René Le Grand de Mercey; LOCAL: Chateau de Mercey, França] [151] 22 janvier 3 Monsieur le Baron René le Grand de Mercey Mon cher Monsieur Je vien de recevoir de Monsieur Meran Frères une lettres et inclus la notice du nouveau filtre Malliè, que je vous pris de commender un de 16 tubes au prix de 850 francs, étamé. Au même tamps je vous accuse reception de votre lettre du 15 du corrent que je remercier boucoup. Comme dans le devis le filtre Mallié est de 750 francs il y a une difference de 100 francs en plus; le total du devis será donc de 4638,50 francs. Mon credit est de 5000 francs, restera un solde de 361,50 francs. Donnerá pour le restant? Je vous pris de m’envoyer note. Je vous pris de recevoir, mon cher Monsieur mes bien sincères salutation [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 17 de Fevereiro de 1913 DESTINATÁRIO: Simon Frères; LOCAL: Cherbourg, França] 17 Fevrier 13

[152] Monsieurs Simon Frères Cherbourg

Monsieurs J’ai bien recue votre lettre du 1er du corrent aussi comme votres Catalogues et Guide Pratique que je vous remercie bien pour votre promptitude de reponse a ma demand. Je vá etudier bien la question et dans le prochain courrier je vá vous envoyer mon maniere de voir que je mette à votre competent apreciation. Veuillez agrèer, Monsieurs, mes bien sincères salutations [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 27 de Fevereiro de 1913 DESTINATÁRIO: Simon Frères; LOCAL: Cherbourg, França] [153] Funchal 27 Fevrier 1913 Monsieurs Simon Frères Cherbourg Comme je vous avai dit dans ma dernier lettre je desir faire la fabrication du Cidre á Madère dans le Contrée du Santo da Serra á 800 metres d’altitude on nous avons le meilleurs pommes. Le que nous avont ici c’est la dificulté de transporte. Je possede dans cette localité un vieux batimant que je desir utiliser pour la montage de la fabrique, donc le plan et coup je vous remi ci joint. Pour commencer je ferai seulement 2000 kilogrammes de pommes par 10 heurs, mais si je soutire de bon resultât je augmenteré la fabrication, et pour cella il faut conter les appareils de 1er montage facilment augmentables, et je propose le suivent que se mette á votre competent appreciation: 1º Lavage des pommes avec une soluction de formol a 4% à son arrivee á la fabrique: 2en Broyage des pommes et á suivre mettre sur le marc obtenue, dans le macerateur, le bio-sulfite en quantitée determinée.

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3en Pressurage imediate de cet marc dans le pressoir á traveill ininterrompu. // [154] 4em Remiage du marc dans le broyeur: 5en Maceration de 12 heurs avec le jus obtenue de 2en maceration: 6em Pressurage de cet marc, et le jus obtenue melanger au jus normal des pommes; cet jus melangé constitui la cidre marchante: 7en Remiage du marc dans le broyeur: 8en Maceration de 12 á 24 heurs avec l’eau jusqu’a 20 a 25 litres pour 100 kilogramas de pommes: 9en Pressurage du marc, et le jus obtenue mettre sur le marc de 1er maceration: 10en Les 2 prémieres jus, c.a.d., jus normal et jus de 1er maceration melangé, mettre dans une cuve en bois de capacitée sufficent pour le travaille de 10 heurs (20 Hectolitres), on se mette cet jus en condiction de bonne fermentation, joindre toutes les matieres necessaires à la production d’une bonne cidre, et faire une premier debourbag. 11en Soutier de cette cuve et mettre en cuves en bois de 50 Hectolitres (6) on se doivre proceder à la fermentation. 12en Joindre dans les cuves les ferments pures habitué au SO2 et mettre sur le bonde le purificateur d’air Noël. 13º La cidre aprés 1er fermentation dans les cuves en bois será passée aux citernes en ciment, pour completer lá 2em fermentation. Le reste du travaille je suive votres indications du Guide Pratique. Pour le desin vous voyée qu’il y a un mure C que je peu soutiraire et mettre en D (rouge). Comme cá nous avont plus d’espace pour les appareils, et l’espace // [155]238 [156] pour la fermentation será sufficent pour 6 cuves e 50 Hectolitres. Je croi que serait la meilleur forme de faire. Je vous demand les plans de montage complete et les prix des appareils suivants: Nouveau laveur de pommes travailant au moteur, Nº MI de 25 Hectolitres prix du catalogue ......................................................................................................................525 francs Nouveau broyeur Nº PEV 14 sur pieds fonte debitant 25 a 35 Hectolitres à l’heure .............320 francs Pressoir à pommes a travail ininterrompu à vis, à quatre colonnes, fonctionnant a bras, à doubles maies en bois, serie C2 – page 87 de votre Cataloge, et jeu complet de toiles et claies en bois ......................................................2262 francs Moteur “Autonomic” Nº C4 complete, fonctionnant á essence de petrole ...........................1210 francs Une pompe en cuivre à transmission (Memoire) ...................................................................................... 4317 francs J’espere qui vous me donnerai une remise sur les prix de votre Cataloge et aussi un escompte pour paiement en un cheque à la commande. En attendant le plaisir de vous lire en plus breve delai: Veuillez agréer, Monsieurs, mes bien sinceres amitie [Ass:] João Higino Ferraz Directeur Thechnique. Maison Hinton & Sons. Madère – Funchal // [DATA: 17 de Março de 1913 DESTINATÁRIO: René Le Grand de Mercey; LOCAL: Chateau de Mercey, França] [157] 17 mars 3 Monsieur Baron René de Grand de Mercey Chateau de Mercey Cher Monsieur En má possection votre lettre du 11 dernier, qui sem avis à temp, vous deverai attendre le filtre de 16 bubes[sic]. Comme je commence la campagne de la sucrerie dans le 1er avril et je n’est pas le temps desponible aprés le commencement, je vous demande de voir ci c’est possible de m’envoyer les appareiles avant le fin du mois, de manier que je puisse faire mes esperiences avant lá Campagne. En attendant le plaisir de vous lire, Veuillez agréer, Monsieur, l’assurance de mes bons souvenirs [Ass:] João Higino Ferraz //

238 O fólio 155 foi retirado do copiador de cartas, provavelmente por não conter qualquer escrito, ou por apresentar, como já tivemos exemplo atrás, o mesmo texto decalcado que o fólio 154.

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[DATA: 7 de Abril de 1913 DESTINATÁRIO: Simon Frères; LOCAL: Cherbourg, França] [158] 7 Avril 3 Monsieurs Simon Frères Cherbourg Bien reçu votre lettre en date du 28 Mars ecoulé – je vous dirais que je n’ais pas encore les plans annoncée par votre lettre du 28 dernier. J’ai bien fait la lecture de vos devis; seulement je constate que le prix net de 1200 francs en plus pour l’appareil a serrage mechanique “Air-vapor” est un peu elévée – Je prendrais bien l’appareil entier si vous consentée á baisser un peu ce prix net de 1200 francs. Pour le reste de l’installation je me charge moi même de faire ici le necessaire. Maintenant pour la date de la commande comme les batiments devant recevoir ce materiel n’est pas encore achevé, je vous prie de bien vouloir me dire si votre prix será encore le meme en juin prochene. Veuillez agréer, Monsieurs, mes bien sincères salutations [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 14 de Abril de 1913 DESTINATÁRIO: Simon Frères; LOCAL: Cherbourg, França] [159] Funchal 14 avril 1913 Monsieurs Simon Frères Cherbourg Je vien de recevoir vos plans, que je vous remercie bien, et je suis trez content de voir que toute la montage se peût faire dans le batiment existante. Comme changement je ferai seulement un nouvelle batiment au coté gauche pour les cuves de 1er fermentation, et entre les appareils et le mur á Gauche du vieux batiment j’ai l’espace suffisant pour monter deux cuves en ciment de 40 Hectolitres chacun pour la Maceration. J’espere la reponsé à ma lettres du 7 corrent que j’espere vous acepterez ma proposition de faire la commande en Juin prochain. Veuillez agrèer, Monsieurs, mes bien sinceres amitie [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 29 de Abril de 1913 DESTINATÁRIO: Simon Frères; LOCAL: Cherbourg, França] [160] Funchal 29 avril 1913 Monsieurs Simon Frères Cherbourg En ma possession votre lettre du 14 corrent. J’accepte les conditions proposée dans vos lettres de 14 corrent et 28 mars éculé pour le forniture des appareils suivants: 1 Laveur de Pommes au moteur avec poulies fixe et folle Nº MI de 25 hectolitres à l’heure. 1 Broyeur de Pommes au moteur avec poulies fixe et folle Nº PEV 14 de 25 a 30 hectolitres à l’heure. 1 Presse à travail ininterrompu á vis á 4 colonnes, á double maie, fonctionnant á bras ou serrage mecanique. 1 Jeu de claies dubles et toiles pour cette Presse. 1 Appareil de serrage mécanique “Air-Vapor” avec son compresseur, poli fixe et folle et la tuyauterie le raliant à la Presse. 1 Moteur “L’Autonomo” complet, en ordre de marche, avec ses reservoirs à eau, á essence, á huile, muni de tous ses perfectionnements brevetes, allumage par magneto, socle, etc... 1 Pompe à piston, aspirente et foulante á duble effet munie de poulies fixe et folle, cylindre et siege des clapets en cuivre, glissier cylindrique, bielle en bronze, etc... Nº ABI de 2000 letres à l’heure, avec son clapet de retenue. // [161] Je vous pris de me donner les dimensions des poulies pour chaque appareil que je doive mettre dans l’axe generale de transmission en admetant l’installation realisée conformiment vós dessins. Pour le payement du pris à net net [sic] de 5500 francs de tout ce materiel descripte, livré à vós usines, proposé dans votre lettre 14 corrant, je vous envoi ci joint un cheque sur Paris endossée à votre faveur. Tout de materiel será livrée fin juin en quai du Havre, pour partir dans un des vapeurs qui fait le transporte de marchandises entre Havre et Funchal (Madère). Seulement je vous prie de faire le necessaire pour l’embarquement au Havre du dit materiel et vous prie egalement de me faire l’envoi contre remboursement.

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En attendent le plaisir de vous lire; Veuillez agréer, Monsieurs, mes salutations empresses [Ass:] João Hygino Ferraz // [DATA: 6 de Maio de 1913 DESTINATÁRIO: Simon Frères; LOCAL: Cherbourg, França] [162] 6 Mai 3 Monsieurs Simon Frères Cherbourg Je confirme ma derniere lettre du 29 eculée en que je vous fait la commande des appareils pour ma cidrerie et au même temp un cheque de 5500 francs du montant toutal, qui j’espere vous deverais avoir recue. Cette lettre serve à vous faire une nouvelle commende d’appareils por M. J. A. J. Pereira: Une nouveau Fouloir-Egrappoir – à un cylindre-marchant a bras, avec lames à biseau – Serie E du votre petit Cataloge Genèral Nº R6 – 1912-1913 Nº EI pour travail à l´heure de 1500 à 3000 kilogrammes de raisins-prix 300 francs. Un nouveau pressoir á vin, muni de claies et toiles-vis en acier – Modele lègere-Serie TL Nº TL000 – prix 195 francs. Cette appareils doive venir eu même temp que les mienes. Je vous pris de me faire les mémes conditions que vous fait pour mes appareils, c.a.d. remise sur le prix de votre Catalogue et aussi un es-compete pour le paiement en un cheque à la commande. Ci joint un cheque S/.[?] Paris endossée à votre faveur de 500 francs. L’agent des vapeurs Allemands qui prendre des marchandises pour Madère c’est M. Nairon, Schwenn & C.ie Havere. Veuillez agreer, Monsieurs, mes salutations empresses [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 2 de Junho de 1913 DESTINATÁRIO: Simon Frères; LOCAL: Cherbourg, França] 2 juin

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[163] Monsieurs Simon Frères Cherbourg

Monsieurs J’ai bien recu votre lettre du 17 écoulé, et je m’empresse à repondre. Je prend bien note de touts ci qui vous me dites sur l’emballage du materiel, et je vous enverris les 500 francs, mais avant je desir savoir ci, les competences[?] des vapeurs acceptent payé ici, où s’il faut payé d’avance les frais, pour ne pas envoyer l’argent deux fois. En attendent votre reponse dans le plus brêve delais. Veuillez agrèer, Monsieurs, mes bien sincères salutations [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 16 de Junho de 1913 DESTINATÁRIO: Simon Frères; LOCAL: Cherbourg, França] [164] Madeira 16 juin 1913 Monsieurs Simon Frère Cherbourg Monsieurs En ma possession votres lettres du 16 de mai et du 31 dernier que je m’empresse à respondre. Je vois que la Maison Vairon, Schwen & C.ie armateurs en Havre vous preveni que le frêt et les frais de transporte, sont payables d’avance, et que votre prix d’emballage est de francs 450 et que reste à solder la somme aproximative de francs 1181. Pour couvrir ce debit je vous envoi ci-joins un cheque S/.[?] Paris de la dite somme de 1181 francs comme vous me le demandes. Je vous pris de m’envoyer separement le prix de l’emballage, frêt et frais appartenent à mon ami Monsieur Jasmins Pereira de son fouloir et pressoir. J’espere que tout viendrá en bonnes conditions et que tout será embarquée á temp pour arriver ici au mois de Juillet prochain. Il faut ne pas oblier la declaration de charge, pour eviter des enuncis[?] á la Duane. Veuillez agréer, Monsieurs, mes bien sinceres salutation [Ass:] João Higino Ferraz //

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[DATA: 16 de Junho de 1913 DESTINATÁRIO: René Le Grand de Mercey; LOCAL: Chateau de Mercey, França] [165] Funchal 16 Juin 1913 Monsieur Baron René le Grand de Mercey, Château de Mercey Monthellet Monsieur Je viens seulement cette semaine de recevoir votre lettre du 22 avril dernier aussi que la facture générale et des renseignements pour le montage des appareils, la preparation du vin, etc. La raison, je crois, pourquoi je n’ais pas recue en temp votre lettre est du a ce que vous avais mis dans l’enveloppe le nom José au lieu de João, et la poste la retenue tout ce temps. Ci-joint un cheque de francs 34,15 de la solde de mon compte. Je profite de cette occasion pour vous remercier encore une foi vos offres de me donner tous les autres renseignements que je puisse avoir bessoin. Veuillez agrêer, Monsieur, l’assurance de mes bien bons souvenirs. [Ass:] João Higino Ferraz Je vien de recevoir la notice de la Maison de Lisbonne me disant que le materiel est arrivé. // [DATA: 28 de Julho de 1913 DESTINATÁRIO: Simon Frères; LOCAL: Cherbourg, França] [167] 239Funchal 28 Juillet 1913 Monsieurs Simon Frères Cherbourg En má possession vôs lettres du 25 juin et 15 juillet acompanhé des plans FM 7 et bleus GM1 – GM2 – GM3. Je n’ai pas reçu ancore les instructions Nº 51 especial au service et á l’entretien “d’Air vapor” ni l’instructions Nº 74 relatives au moteur “Autonome”. L’espere bien que tout le materiel será pret á partir du Havre, parce-que les batiments sont presque terminé. En attendent votre remise du materiel: Veuillez agrèer, Monsieurs, mes bien sinceres salutations [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 1 de Agosto de 1913 DESTINATÁRIO: Simon Frères; LOCAL: Cherbourg, França] [167] Funchal 1 Août 1913 Monsieurs Simon Frères Cherbourg En má possession vôs lettres du 25 Juin et 15 Juillet dernieres acompanhé des plans FM 7 et bleus GM1 – GM2 – GM3. Je n’ai pas reçu ancore les instructions Nº 51 especial au service et á l’entretien “d’Air vapor” ni l’instructions Nº 74 relatives au moteur “Autonome”. Le materiel est arrivé avant hier. Le vien de recevoir votre lettre du 22 juillet acompanhé de touts les decoments relatives á l’expedition du materiel. En attendent votre facture special pour le Touloir et pressoir de mon ami Monsieur Pereira, pour povoir regulariser mes comptes avec lui. Veuillez agrèer, Monsieurs, mes bien sinceres salutations [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 30 de Junho de 1913 DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre; LOCAL: Ozoir-la-Ferrière, França] [168] Funchal 30 juillet 1913 Monsieur Georges Lefebvre Ozoir-la-Ferrière Mon Cher Ami Je vous pris de m’acheter le suivant; pour mon compte particulier: Á. Monsieur Paul Noël Fils – 9, rue d’Odessa Paris – 20 litres de Bonificateur Noël Nº 3 (Etiquette rouge) Prix aproximatif 50 francs. A Monsieur G. Jacquemin – à Malzeville (Meurth-et-Moselle) France – 30 Kilogrammes de Bio-sulfite Jacquemin, et son 239 Esta carta foi declarada sem efeito pela expressão «sem effeito», grafada com letras maiores que o usual e na diagonal, sobre o texto da mesma. Ao ler-se a carta seguinte, do fólio 167, constata-se que esta encerra informação semelhante à anterior do fólio 166, mas mais actualizada, actualização esta concernente à recepção de material ou aparelhos industriais. Daí a ocorrência de ter sido declarada obsoleta a carta de 28 de Julho de 1913.

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Traité, la Cidrerie Moderne Prix aproximatif bio-sulfite 42 francs Cidrerie Moderne 6,50 Á Monsieur Humblot – Bar-sur-Aube (Aube) 45 kilogrammes de Tonnal concentré duble D Prix aproximatif ——————- 62 francs Ces marchandises je vous pris de m’envoyer le plus vite possible en P.V. de manier à etre ici à la fin de la premiere quinzaine de septembre prochene, emballage en caisse á chien pour exportation, et de me faire tout le necessaire. Comme je ne peu pas savoir les prix du transporte et defenses d’emballage, je vous envoi un cheque de 200 francs, et ci ca n’ait pas sufficent me faire parvenu à temp. Veuillez agrèer, Mon cher ami, mes bien sinceres salutations [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 12 de Novembro de 1913 DESTINATÁRIO: Francisco Figueira Ferraz & C.ª L.da; LOCAL: Funchal] [169] Funchal 12 novembro 1913 Ill.mos Senhores F. F. Ferraz240 & C.ª L.da, N’esta Amigos e Senhores Recebi a sua carta com data de 10 corrente sobre o assumpto Garrafas, que em tempos lhe tinha pedido me soubesse os preços das do typo Champagne pequenas (0,4 litros) e das do typo d’aguas gazosas pequenas (0,35 litros), e por ella vejo que a Comp. das Fabricas de Garrafas m’as fornecem pelos preços de: typo champagne pequenas 5000 reis cada 100 “ aguas gasozas “ 3300 “ “ “ Há porem um pequeno equivoco ou da parte dos Meus Amigos ou da Fabrica. Quando fiz a minha proposta desejava 3000 garrafas do typo champagne de 0,4 litros e 5000 “ do typo aguas gasosas de 0,35 As primeiras para serem entregues até fins do corrente, e as segundas até fins de Março do proximo anno. Acceito a offerta das 3000 garrafas typo champagne de 0,4 litros com a condição de serem entregues no Porto do Funchal, ficando a meu cargo a descarga no porto e imposto municipal. Quanto ás 2as sô poderei dar uma decisão definitiva nos fins de Dezembro proximo. Peço-lhes pois que consigão da Comp.ª esta minha pequena exigencia, como é paixe[sic] na importação estranjeira d’este producto, e espero que me sejão entregues no prazo establecido. De V.as Ex.as Attencioso Venerador e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz

240 Francisco Figueira Ferraz.

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[Copiador de Cartas. 1917-1919]

DESCRIÇÃO: O título deste copiador foi atribuído por nós. Estamos na presença de livro, papel, 27 cm x 21,5 cm, em bom estado de conservação. Os fólios deste livro estão numerados com caracteres de imprensa.

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[DATA: 26 de Maio de 1917 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [1] Funchal 26 maio 1917 Ex. Amigo e Senhor Hinton Depois da minha ultima carta em que lhe fallei do Triple se ter incrustado um pouco, tenho estado a ver se descubro a causa, e hoje estou perfeitamente convencido de que os homens não deitaram regularmente a solução de baryte como eu tinha determinado, porque fazendo o calculo pelos mexidores de baryte feitos vejo que apenas se gastou na proporção de 300 gramas por tonelada canna, quando deveria ser de 360 gramas. Devido a isso já despedi um d’elles, e se os outros não seguiram o mesmo caminho é porque tenho falta de pessoal, e não ha remedio senão atural’os. As cousas porém estão agora remediadas de forma a não se repetir o caso, e elles já percebem que eu facilmente sei a forma como fazem o trabalho. O apparelho depois de limpo a soda e acido, mostrou a 1ª e 2ª perfeitamente limpas, e somente a 3ª e 4ª tinham mais incrustação do que da outra vez. Actualmente sô com o trabalho do Torreão, o xarope sai a 36º Baumé, e o apparelho tem que trabalhar devagar // [2] para não parar de todo. O resto do fabrico corre regularmente, mas a canna sempre fraca. Adubo de tourteau: Tenho encontrado algumas dificuldades no fabrico, por diversas sausas[sic]: 1º a Cal do forno Pereira & Farinha (o único que trabalha actualmente) nem sempre vem bem cosida, de forma que a desidratação não se faz bem, dando grande quantidade de caroço (borra não atacada) e assim o rendimento é menor e não posso fazer na quantidade que desejava. 2º O pessoal trabalha de má vontade devido ao pô que levanta pela[?] cal hydratada que lhe faz mal aos olhos. Vi-me obrigado a dar-lhes mais alguma cousa, mas mesmo assim é uma dificuldade. 3º O aparelho ainda que fazendo menos mal o trabalho, não é perfeito para fazer o máximo (9000 kilogramas em 24 horas), mas isso, e todo o resto é remediavel para o proximo anno, no caso de lhe convir continuar. Tenho sedido algum adubo para esperiencias, de forma a que Leacock não possa reclamar. Segundo Carlos241 e Velosa, deveremos terminar a Laboração entre 11 a 15 de Junho proximo, e assim a quantidade de canna trabalhada será menor do que em 1916. Sô tenho enxofre até 2 a 3 de junho, e se não vier mais vou-me vêr na necessidade de usar o processo Naudet. // [3] Qual será a diferença que fará? Confesso-lhe que tenho grande coriosidade de vêr se o emprego do Aluminato de baryta no jus de diffusão faz alguma diferença n’este processo..., porque no caso de me vêr forçado a metter a garapa na bateria de diffusão, vou empregar uma forma diferente da adoptada por Naudet, e os saes de cal formados e as albuminas de bagaço devem ser perfeitamente percipitadas pelo aluminato de baryta, e desejo vêr qual o resultado das purezas do jus de diffusão e xarope, em relação aos tempos antigos de diffusão. Do que houver lhe darei parte. Era corioso se as purezas se conservavam!.. Faço votos para que esses desturbios em Lisboa lhe não tragam dificuldades aos seus negocios. Quando será que essa gente tem juizo? Projectos da nova Fabrica (?!), não lhe digo nada porque naturalmente Carlos lhe contará o que há. Quanto a mim, não tem importancia alguma, no caso que consiga a perrogação do contracto, nas mesmas bases em que está este. Sem mais subscrevo-me Seu Attencioso Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // mo

241 Carlos Fernandes.

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[DATA: 11 de Junho de 1917 DESTINATÁRIO: Bardsley] [4] Funchal 11 junho 1917 Meu Ex.mo Amigo e Senhor Bardsley Como temos ámanhã vapor para Lisboa (Maria), aproveito para lhe responder, em parte, á sua Carta. Terminamos a Laboração no dia 10, fazendo (Torreão e Lemos242) 35.396 toneladas canna, sendo 60 toneladas somente em alcool. Quanto ao rendimento medio da Laboração, não lhe posso por emquanto dizer nada ao certo, porque estamos terminando a turbinagem do Farim, que deve dár ainda uns 8 a 10 dias, mas calculo que o rendimento seja de 9,8 kilogramas em turbinado % canna, e isto com canna com 12,5% assucar no maximo e uma pureza de 85º. Como bem vê, com canna d’esta natureza, é o maximo que praticamente se pode obter. Fiquei satisfeitissimo com o trabalho de evaporação no Triple-effet devido ao aluminato de baryta; tivemos dias seguidos (quando tinhamos cannas suficientes) a fazer uma media de 600 e algumas vezes 620 toneladas canna por 24 horas! N’unca julguei que o apparelho podesse fazer tal quantidade, e ainda mais com xaropes a 33-34º Baumé. Com o trabalho somente do Torreão fizemos dias seguidos 520 a 530 toneladas por 24 horas. É bom porém notar que a canna no corrente anno tinha muito menos fibra (bagaço), e assim os moinhos podiam fazer muito mais, e isso vê-se bem pela carga dos diffusores que, em 1916 era de 1340 kilogramas canna, e no corrente anno deve dár uma media de 1550 kilogramas canna. // [5] Como bem vê este producto (aluminato de baryta), é indispensavel para a colheita seguinte, e deverião desde já fazer a encomenda a Lefebvre243, e eu calculo que para uma Laboração de 1918, que seja no maximo 40.000 toneladas canna (?), serão necessarios umas 13 a 14 toneladas de aluminato de baryta. Para os outros productos tambem achava conveniente d’esde já hir fazendo encomendas, porque bem vê as dificuldades nos transportes, e mesmo na obtenção d’esses productos. Ficou-nos uns stocks bastante grandes de alguns productos, visto termos calculado para 50.000 toneladas canna. Os stocks e o que necessitamos para 1918 são os seguintes, calculando uma Laboração de 40.000 toneladas canna: Kieselguhr. (Diatomite) Stock 32 toneladas. Devem vir para 1918 = 12 toneladas Phosphato de Cal ————“ 27 “ “ “ = 9 toneladas Enxofre não ficou stock, deu para a Laboração “ = 17 1/2 toneladas Nóta: Esta quantidade de enxofre inclui o que já temos encomendado e pago, crêo eu, e tambem o sulfito de soda que deve corresponder a 5.500 kilogramas enxofre. Deduzidas estas duas quantidades, o restante será para encomendar. Cal de Inglaterra (Veio alguma pelo San Miguel?) = 48 toneladas Formol temos para as fermentações de 1917. Para 1918 – 4.000 litros Soda caustica temos suficiente para 1918 Pano para filtros-presses e Filippe a mesma quantidade de 1917. Estão são pois as encomendas que eu vejo serem mais necessarias fazer desde já, para nos evitar embaraços futuros. // [6] Farim: – Não conte com mais exportação d’este assucar, porque tem que ficar para o consumo aqui. Agradeço-lhe os seus parabens nos meus fracos prestimos na Laboração terminada. Cal Phosphatada: diz muito bem que é interessantissimo este assumpto se o meu amigo visse o estado da minha propriadade no Soccorro, que em 1916 empregoi[sic] este producto, e este anno estou empregando tambem, ficaria admirado da força com que a canna vem rebentando e a sua côr verde escura. Disse ao seu caseiro para empregar tambem na sua propriadade do Ribeiro Secco, e elle assim o está fazendo, e para o anno verá o resultado. Quanto á quantidade feita no corrente anno é muito pequena, umas 50 toneladas no maximo, mas isto devido ás causas que fiz mensão na carta do Senhor Hinton244, isto é, cal pessima, e o pessoal se recosar ao trabalho; mas no proximo anno, tendo uma instalação competente e boa cal, poder-se-ha fazer pelo menos umas 800 a 850 toneladas de adubo alcalino do tourteau, e isto com um lucro liquido minimo de 14:000$00!! Alcool: O stock do alcool hoje é de 14.000 litros. O que Comp.ª Nova tem em melaço, isto aproximado, é de 100.000 kilogramas melaço que dará uns 29.000 litros alcool. Em fermentação 6000 litros alcool. Temos um stock no Torreão (no tanque grande) 520 toneladas, que dará em alcool 150.000 litros. Os malaxeurs de 2º jet podem dár aproximado 120.000 kilogramas melaço = 35.000 litros alcool. 242 Fabrica de destilação de álcool, denominada Companhia Nova, da firma José Júlio de Lemos, Sucessores. 243 Georges Lefebvre. 244 Harry Hinton.

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Total do alcool até 30 março 1918 será aproximados 234.000 litros alcool. // [7] Temos pois ainda 9 1/2 mezes, o que dá 24.600 litros por mez. Qual será o consumo no corrente anno? Não é facil de prevêr, devido á doença na vinha, que no sul vai tudo quasi perdido, e tambem depende das exportações de vinho. Mas crêo que vindo os 1.500 Hectolitros que estão comprados nos Açores dará aproximados para as necessidades. Segundo a Lei, é os vinicultores que devem pedir a importação d’alcool, no caso de falta d’alcool na Madeira, com uma auctorisação do Mercado Central de productos Agriculas; mas essa importação sendo feita pelo vinicultores [sic], não poderão elles obtel’o nos Acores? É bom pois estudar bem isso, porque Bensaude deve ter alcool bastante do seu melaço para vender. Já estou montando os grandes tanques na Comp.ª Nova, de forma que temos reservatorios suficientes para o nosso alcool e mais os 1500 Hectolitros dos Açores, no caso de virem. Mas os 6000 Hectolitros não aconselho a comprar. Sem mais por emquanto que lhe posso dizer de interessante Subscrevo-me Seu Amigo certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz P. E.[sic] Como é de toda a justiça, pedia ao Meu Amigo e ao Senhor Hinton parar darém ordem a Jacintho, para que a canna da Comp.ª Nova entrasse na minha conta para o fim da minha compensação de 4 reis por 30 kilogramas canna, como tenho na canna entrada no Torreão [Ass:] Ferraz // [DATA: 23 de Junho de 1917 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [8] Funchal 23 Junho 1917 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Depois da minha ultima carta de 11 do corrente terminamos a turbinagem do resto do assucar e assucar farim, e assim pelos calculos enviados por Monsieur Laalberg pode ver qual o resultado final da Laboração de 1917. Sobre este ponto porém tenho umas observações a fazer, segundo o meu modo de ver pelos meus calculos praticos. 1º O assucar na canna parece-me estarem um pouco baixos e segundo eu calculo, vejo que deve ser 12,53%. 2º O calculo do assucar Colonial afinado deve ser calculado a 90% em turbinado (Laalberg calcula pelas purezas theoricas), porque adoptando o systema do corrente anno, tenho quase a certeza que o rendimento não pode ser inferior a 90%. 3º O rendimento da Comp.ª Nova, em vista da quantidade de assucar deixado no bagaço ser superior ao Torreão, e tendo além d’isso na 1ª situação o jus de imbibição para alcool, o rendimento eu calculo em 2,650 kilogramas assucar turbinado % canna, e 3,705 kilogramas melaço. Em vista do exposto, calculo o seguinte: Assucar turbinado real (pezo do armazem).......................3.758.190 kilogramas Assucar Colonial afinado 348.128 kilogramas a 90% em turbinado ..........................313.315 kilogramas 3.445.375 kilogramas Assucar Comp.ª Nova em turbinado ..........................315.765 kilogramas Restará para o Torreão .......................3.129.610 kilogramas // [9] Vê-se assim que o rendimento no Torreão foi de 9,858 kilogramas assucar turbinado % canna. O melaço total produzido foi de .......................1.566.158 kilogramas Melaço da canna da Comp.ª Nova....................... 135.254 kilogramas 1.430.904 kilogramas Melaço de assucar Colonial afinado ....................... 32.811 kilogramas Restará para a canna Torreão .......................1.398.093 kilogramas O que dá 4,404 kilogramas % canna Torreão Nota: Devo fazer notar que Laalberg calcula o assucar no melaço somente o assucar Clerget, emquanto que eu calculo o Clerget e mais a glucose subtrahida a glucose da canna, e assim o assucar (saccarose) total no melaço será no minimo 50%. Establecendo pois as cousas como acima teremos: Torreão 31.745.801 kilogramas canna, rendeu em turbinado 3.129.610 kilogramas assucar melaço 1.398.093 kilogramas Comp.ª Nova 3.650.299 kilogramas canna, rendeu em turbinado 315.765 kilogramas assucar Em melaço 135.254 kilogramas Em alcool retificado do jus imbibição 16.471 litros alcool Do assucar Colonial 348.128 kilogramas bruto, rendeu em turbinado 313.315 kilogramas assucar

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Em melaço 32.811 kilogramas Se calcularmos isto % de canna é em assucar puro, isto é, assucar a 100 polarisação dará para Torreão e Comp.ª Nova o seguinte: // [10] Torreão: Rendimento % canna. Em turbinado9,743 kilogramas assucar puro a 100º Melaço 4,404 kilogramas a 50% assucar................... 0,202 no bagaço....................................... 0,402 Perdas nas borras....................................... 0,198 Indeterminadas ............................... 000 ?! assucar % canna.............................12,545 ?

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Comp.ª Nova

Em turbinado ..................................8,560 assucar puro a 100º no melaço 3,705 kilogramas a 50% .................1,852 Do alcool jus imbibição...................0,751 no bagaço.........................................0,795 Perdas nas borras.........................................0,210 Indeterminadas .............................. 0,362 Assucar na canna ...........................12,530 % Comp.ª Nova apresenta pois perdas indeterminadas, mas os calculos das perdas são feitas segundo as analyses de João Marinho de Nobrega, e o calculo do assucar é feito pelo jus defecado enviado ao Torreão. O que se vê porém da Laboração é que os resultados forão os melhores possiveis em vista da qualidade da canna no corrente anno, e vejo que o aluminato de baryta é que fez dár em grande parte este bom resultado, não somente no rendimento, mas tambem no custo menor das despezas de fabricação em carvão e pessoal. O gasto de combustivel foi para toda a Laboração de 2.000 toneladas carvão, e eu calculo que o bagaço da Comp.ª Nova dá perfeitamente para o trabalho da moagem da canna, defecação e envio da garapa ao Torreão. // [11] Na minha ultima carta davalhe as notas dos productos chimicos para 1918, e que eu vejo necessidade de encomendar desde já, para evitar complicações futuras. Quanto aos panos para filtros, somente necessitamos os panos para os filtros-presses na mesma quantidade de 1917. Para os Filippes, não é necessario pano porque temos suficiente, mas falta uns 500 metros de corda especial para elles que deve ser encomendada. Cal veio pelo San Miguel 17 toneladas, devem pois vir mais 31 toneladas. Quanto á amostra do enxofre enviado não lhe podemos dizer nada por emquanto, porque estamos fazendo a analyse d’elle. Junto encontrará um memorial do Dr. Juvenal sobre a patente que tiramos em tempos, e que o Theago d’Aguiar, filho de João Carlos, está usando na sua fabrica d’aguardente em Machico de sociadade com Umberto dos Passos Freitas, e que segundo Luis Vogado de Bettencourt, e elle menino Aguiar confessa, é o processo patentiado. Luis Vogado quer por força demandal’o porque diz elle necessita dinheiro... Pedro pouco se importa com isso, mas da sua parte não sei o que quererá fazer. Eu como sabe, entrei como Pilhatos no Credo, e sô farei o que o Senhor Hinton determinar. O que se deve fazer pois? Conforme a sua maneira de pensar faremos agir as cousas, pouco me importando o Luis Vogado, porque esse aconselha bem, mas não entra com despezas... porque não tem dinheiro para isso. Esperamos pois a sua resposta.// [12] Comp.ª Nova continua a fazer alcool, mas a respeito de stock não há meio de o têr, porque tudo quanto tem feito vai sahindo regularmente. Até ao final da Laboração no Torreão, Comp.ª Nova tem levado umas 885 toneladas de melaço, e está agora levando do stock do tanque grande que calculo em 660 toneladas melaço. Os trez grandes tanques da aguardente que estava no armazem da rua do Carmo em sociadade com Antonio Justino, já estão montados na Comp.ª Nova, mas apenas arranjei dois, ficando o 3º para depois se for necessario montal’o defenitivamente. Estamos tratando de pôr o predio (armazem) do Pacheco em condições para entregar a Antonio Justino, porque elle ainda lá tem um tanque que lhe pertence. Continuamos a pagar arrendado junto com Antonio Justino? Ou, visto ser elle sô que o occupa será elle a pagar somente? Quanto ao resto do melaço, vou levar as fermentações até aviar completamente todo o melaço, e assim teremos a quantidade d’alcool maxima a poder vender, e será mais facil provar que o alcool não dá para os vinhos até abril de 1918. Sem mais por emquanto que lhe possa dizer de interessante, Subscrevo-me Seu attencioso Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz

{

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P.E.[sic] Temos em juntas hydraulicas

14 nova 13 usadas Temos 16 diffusores. Deseja encomendar mais algumas juntas Em 1917 usaram-se 3 juntas.245 //

[DATA: 6 de Julho de 1917 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [13] Funchal 6 Julho 1917 Ex. Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua estimada carta de 23 proximo passado o que muito lhe agradeço, e tambem os seus parabens pelo fim da Laboração sem incidente de meior. Calculo o seu aborrecimento por não poder vir no corrente anno pelo menos assistir ao principio da Laboração, mas espero que no proximo anno poderá estar aqui o tempo suficiente para vêr o fabrico actual que é bastante interessante, principalmente para si. Na minha carta escripta ao Senhor Bardsley onde lhe fallava das encomendas de pano para filtros, dizia-lhe para encomendar a mesma quantidade de 1916, mas vejo que chegou agora o pano que não veio a tempo, e assim não há necessidade de fazer a encomenda pedida porque temos suficiente para 1918. O que nos vai faltar é a corda para os sacos dos filtros Filippe como já lhe disse (500 metros). O enxofre cuja amostra mandou, convem perfeitamente para a sulfitação da garapa, e pode assim fechar contracto. Sem mais por emquanto que lhe interesse, subscrevo-me seu Attencioso Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // mo

[DATA: 12 de Julho de 1917 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [14] Funchal 12 Julho 1917 Ex. Amigo e Senhor Hinton Espero que esta o encontre de perfeita saude e livre de embaraços financeiros e outros. Por cá, parece-me, corre tudo regularmente, a não ser Comp.ª Nova – N’este ponto tenho a dizer-lhe que as fermentações e rendimentos do melaço não estão nas condições que eu desejava devido á alta temperatura atmospherica, ainda que o fermento e fermentações conservam-se puras, mas como durante a fermentação activa ella chega a 27º centigrados, há sempre uma evaporação d’alcool, e muito principalmente na casa de fermentação da Comp.ª Nova que não está em condições regulares para este fim. Como muito bem sabe, n’esta quadra do verão, parava sempre as fermentações no Torreão, e ainda assim com temperaturas que não subiam a mais de 35º. Actualmente porém é-me dificil fazer uma paragem em vista da falta d’alcool e não termos stock suficiente (5000 litros), e é sobre este ponto que eu desejava consultal’o, e me dizer o que devo fazer. Vou expor-lhe a questão: Ficamos hoje com um stock de 440.000 kilogramas melaço; // [15] e que trabalhando até o fim de Julho pode ficar uns 320.000 kilogramas que dará em alcool aproximados 29.000 litros alcool. Temos aproximadamente 10.000 litros de etheres e escencias a retificar, será um total de 98.000 litros a 100º, para os mezes de novembro a abril de 1918. Como muito bem vê este alcool não pode dár de forma alguma para o consume de vinhos e assim vai haver necessidade de importar o dos Açores (?) se isso for possivel. Como porém para se poder fazer essa importação é necessario que não exista na Madeira alcool ou materia prima para elle, é sobre este ponto que tem que decidir: 1º É possivel, nas condições actuaes, importar alcool dos Açores? 2º Sendo possivel essa importação, convem terminar o melaço existente, ainda que com uma baixa de rendimento de 1 litro % melaço? 3º Ha facilidade de importar dos Açores os 1500 hectolitros d’alcool em 7 mezes? 4º Não sendo possivel essa importação, não lhe parece mais conveninente fazer uma paragem nas fermentações até novembro, por isso que em qualquer dos casos o alcool não dará para as necessidades do consumo? Com este questionario, depois de vêr bem o que lhe convem, pode o Senhor Hinton me telegraphar, “Continue fermentações” ou “Não continue fermentações”, e assim ficarei em condições de agir, tirando de sobre mim uma mo

245 Todo o P.E.[sic] é escrito a lápis.

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responsabilidade que não desejava tomar. // [16] Fabrica do Salto Cavallo – P. Pires – Como o Engenheiro já lhe devia ter dito, vamos tirar de São Lazaro os engenhos e Caldeiras la existentes, para nos vermos livres daquella maldita renda de 1.200$00 por anno. É sobre este ponto que desejava dár-lhe a minha fraca opinião, sobre o destino a dár a esses apparelhos. Pedro Pires, tem estado a uns annos a esta parte sem trabalhar com a sua fabrica, deixando aos outros o campo livre no fabrico de aguardente de canna, e isso com prejuizo para nós porque nos tiram a canna, e no futuro ainda peor será; além d’isso agora uma das fabricas de São Martinho foi adequirida por José Fernandes de Azevedo e outro e querem transferil’a para o Sitio da Ajuda, sitio da melhor canna de São Martinho. Era pois minha opinião montar no Salto Cavallo os engenhos de São Lazaro e uma das caldeiras de vapor, por isso que os engenhos de Pires já estão muito estragados e não trabalhão em condições; Montar a diffusão do bagaço que elle já la tem, fazendo assim uma extração maxima, e podendo n’este caso competir nos preços da aguardente com as outras fabricas mesmo que o lucro seja pequeno e não deixal’os fazer preços altos ás cannas seja de que sitio fôr. Para complemento d’isto, de forma a facilitar-lhe a sua maneira de vêr, a agua necessária aos refrigerantes pode ser agua do mar tomada por meio de bomba eletrica. Columna de destillação (unica) posso arranjar-lhe // [17] que tenho aqui no Torreão, e que a posso despensar (columna do apparelho Barbet antigo, que fiz aqui), fazendo-lhe as modificações necessarias. Esta columna unica dár-lhe-há para o fabrico total porque é uma columna da capacidade da que está em Almeirim. No caso de achar que esta minha edea tem alguma cousa de aproveitavel, e que lhe pode convir isto assim establecido, era conveniente dizer desde já, por isso que no proximo mez de agosto vamos dar principio á desmontagem dos apparelhos de São Lazaro, e assim poderia hir directamente para o Salto Cavallo. Esperamos pois a sua resolução. Sem mais que lhe possa dizer, subscrevo-me seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 30 de Julho de 1917 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [18] Funchal 30 de Julho 1917 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua carta de 9 do corrente e que muito lhe agradeço e tudo quanto n’ella diz, mas não fiz mais que o meu dever com relação á Laboração do corrente anno, e nada pois me tem que agradecer, eu é que lhe fico muito obrigado pelas ordens dadas a Jacintho com relação á canna da Comp.ª Nova. Quanto ao sulfito de soda, logo que elle chegou eu tratei de vêr o estado dos barris e mandei-os acuotelar, fazendo rebater bem todos os cascos, e os que vinhão con derrames fiz deitar o liquido em garrafões. Eu bem sabia que os sulfitos perdem a sua titulagem em SO2 quando exposto ao ár e assim tratei de prevenir isso a tempo, e estão em um armazem fresco, e onde é facil verificar de tempos a tempos. A cal que tem vindo tambem tenho tido o cuidado de a conservar em condições para 1918. Alcool: Na minha carta de 18 fallava-lhe sobre as fermentações da Comp.ª Nova, mas vejo que a não receberá a tempo de responder, e assim conferenciando com Carlos246 e Jacintho, combinamos continuar o fabrico até // [19] terminar todo o melaço e isso por varias rasões, sendo a principal a falta d’alcool nos mezes de setembro e outubro, para evitar reclamações, tendo nós a materia prima para elle. Quando porém terminar alcool e materia prima, que se governem os vinicultores como poderem. O que me vi obrigado foi a fazer vêr a Carlos e Jacintho, que em vista do preço do carvão (40$00 por tonelada), era mais conveniente fazer a destillação-retificação continua do vinho de melaço no Barbet da Comp.ª Nova, por isso que não tinhamos necessidade presentemente de trabalhar muito depressa, e assim poupar 700 gramas de carvão por litro d’alcool fabricado. Technicamente não o devia fazer, por isso que assim o rendimento é inferior a 1 1/2 litros d’alcool (pelo menos) em 100 kilos melaço, mas comercialmente não é assim: Verdade é que, se estivessemos trabalhando no Torreão o gasto seria de 1,700 kilogramas carvão por litro alcool fabricado, ainda que com um rendimento superior a 1 1/2 a 2 litros d’alcool. Segundo os meus calculos emquanto o carvão estiver até o preço de 25 a 26$00 por tonelada é sempre mais conveniente fazer a destillação-retificação directa do vinho de melaço na Comp.ª Nova. No Torreão não podemos fazer isso porque a destillação é separada da retificação, ainda que o nosso alcool é superior em qualidade ao tirado na Comp.ª Nova, mas actualmente o negociante de vinhos não prestam attenção a isso, querem alcool! // [20] O rendimento da Comp.ª Nova em 1917, em 11 lotes, em que se empregaram 1.090.848 kilogramas de melaço da Laboração, fazendo a destillação no nosso apparelho, e a retificação na apparelho d’elles, foi de 313.379 litros alcool retificado a 100º a 15º temperatura, o que dá um rendimento de 28,7 litros alcool % melaço, isto é, rendimento egual ao que tiravamos no Torreão. Vamos agora vêr qual será o rendimento em 246 Carlos Fernandes.

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1917 com a destillação-retificação directa do vinho de melaço. Do que houver lhe mandarei notas. Como a mala está a fechar, e nada mais por emquanto tenho a dizer-lhe, subscrevo-me seu Amigo Certo e Attencioso [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 31 de Julho de 1917 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [21] Funchal 31 Julho 1917 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Depois de lhe ter escripto a minha ultima de 30 corrente, Marinho247 avisou-me que no alcool retificado pelas notas que me envia directamente havia um engano de 15.887 litros que elle tinha lançado a mais nas folhas enviadas!.. Assim o rendimento que em alcool bruto a 100º a 15º temperatura tinha sido de 299.300 litros, rendeu pela retificação 298000 litros e não 313.379 litros como lhe tinha dito na minha ultima carta. Vê-se pois que o rendimento % melaço foi 27,3 litros alcool retificado a 100º Desculpe este engano, mas a culpa não foi sô minha. Vejo-me obrigado a fazer verificações mais a miudo para evitar estes enganos de futuro, que me aborrecem bastante. Eu deveria ter visto (como vi) que o rendimento em retificado era mais que em alcool bruto, mas fazendo notar isso a Marinho elle dizia-me que lhe parecia que o contador do destillador não trabalhava sempre bem porque tambem lhe dava essas differenças Seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 1 Outubro de 1917 DESTINATÁRIO: Irmão de João Higino Ferraz] [22] Funchal 1 outubro 1917 Meu Caro irmão Há muito tempo que não te escrevo, tenho sabido de ti pela tia Maria José e pelos Postaes que tens enviado a Mathilde, e vejo que passas bem ainda que com muitos trabalhos na tua clinica. Vou pedir-te um favor que não sei se terás tempo para isso, mas como não tenho em Lisboa outra pessoa de confiança a quem me dou a [?] passo-o a ti para veres se é possivel conseguires o que desejo. Passo pois a te expor a questão: 248 Como deves saber, o Governo tenciona dár, creio eu, previlegio a toda a pessoa que queira introduzir em Portugal novas industrias não usadas no Continente da Republica e seus dominios. E em vista d’isto eu tenho tido a edeia; depois [...] no Continente no anno passado de destillar a uva d’ahi na producção de xaropes concentrados no consumo ou exportação, industria que, acho[?] eu, não foi ainda usada em Portugal, mas que no estranjeiro e principalmente nos Estados Unidos (California) se fáz em grande quantidade. Esta nova industria traz ou deve trazer a Portugal // [23] uma grande vantagem, por isso que se exportará o vinho ou mosto concentrado o que é muito diferente do que exportar o vinho normal. Compreendes pois as vantagens d’esta industria. Isto porém deve ser segredo, porque outro, dáda esta edeia, poderia se adiântar no pedido, mesmo sem saber a forma de proceder, mas em Portugal como sabes, há sempre especuladores em tudo, e há muita má fé... O que necessito saber ao certo é o seguinte: 1º Tem efectivamente o Governo tenção de dár essas concessões a novas industrias? 2º Quais as condições em que as dá? 3º Já em Portugal se usa esse processo de concentração de mostos ou vinhos de uva industrialmente e em grande escala? 4º No caso previsto no Nº 1 e 2, essa industria é livre de qualquer imposto de fabrico ou outro, e por que tempo dão essas conceções? 5º O que se deve fazer para requerer esse privilegio, e se podes, com procuração minha, fazer esse requerimento em meu nome? 6º Em vista do estado de guerra, em que os apparelhos a importar são dificeis de adquirir e são carissimos, em vista de serem 247 Marinho de Nóbrega. 248 Sobre a mancha manuscrita que compõe este parágrafo, escreveu Higino Ferraz, na diagonal, em letras maiores que o habitual, o seguinte: «Val 75$000 reis 5$000 – foi que Milheilha[?] emprestou [Ass:] João».

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de cobre, essa conseção // [24] tem valor para depois da guerra e normalisação dos mercados? Pedia-te pois para indagares tudo isto e me responderes aos meus quesitos ou mais algum que interesse o caso. O nosso Amigo Gonsalves seria muito bom para te ajudar n’isso, e como me parece ser um homem honesto e reto, talvez não haja inconveniente n’isso; tu decidiraes. Temos tambem em Lisboa um primo, que é o João da Camara Pestana, director Geral da Agricultura, e esse tambem te poderia dár qualquer informação, mas seria bom não lhe dár todos os esclarecimentos do assumpto. Deves te admirar de eu, sendo empregado do Hinton249, e estando em boa situação, estar a tratar d’estas cousas, mas como já á quasi um anno lhe escrevi n’este sentido e elle nunca me respondeu a isso, e ainda como está a terminar o decreto (em fins de 1919) que regula estas cousas de fabrico de assucar na Madeira e do Hinton, não sei o que será o meu futuro, desejo estar prevenido para o que dêr e vier... [25] Desde já te agradeço o que poderes fazer, e pesso-te um abraço para os nossos amigos Gonsalves. Um abraço de todos nos e de teu irmão muito Amigo [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 2 de Outubro de 1917 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [26] Funchal 2 outubro 1917 Ex. Amigo e Senhor Hinton Desejava enviar-lhe as notas do rendimento do melaço na Comp.ª Nova, mas como sô hoje terminamos a retificação de todos os maus gostos, não tenho ainda tudo em ordem afim de lhe dár um calculo exacto. Esta minha carta tem por fim prevenil’o de que, querendo despachar o pano para os filtros-presses, não o foi possivel fazel’o, porque a amostra typo dos Blanquettes que existia na Alfandega, estraviou-se: Em vista d’isto era necessario fallar ao Curson e dizer-lhe que havendo na Alfandega do Funchal uma amostra typo de Blanquettes, e essa amostra tendo-se perdido (segundo declara o director da Alfandega), é necessario que venha oficialmente um novo typo, e junto enviamos umas amostras do pano que importamos, uma egual ao typo que existia na Alfandega, pelo comandante do “Neptuno” e tambem em encomenda Postal. Segundo o conselho do Feliciano, vamos fazer aqui na Alfandega do Funchal as competentes declarações para pagar os direitos como Blanquettes, e assim se poder despachar: Este artigo paga 210 reis por Kilograma. // [27] Um outro assumpto que eu desejava saber o que devo fazer: Estou na montagem dos apparelhos de destillação no Torreão, apparelhos completamente arranjados de novo, devido ao incendio, mas todas as provettas (violetas) dos retificadores estão estragadas algumas, e os vidros ou redomas não existem; os thermometros estragaram-se todos, de forma que para concluir a montagem a ficar numa destillaria como nova, era necessario mandar vir do Barbet essa pequena encomenda, e assim caso queira fazer isso deve-me prevenir para eu escrever a Lefebvre250 e elle fazer o necessario junto da casa Barbet. Sem mais que lhe possa dizer subscrevo-me seu Attencioso Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // mo

[DATA: 17 de Outubro de 1917 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [28] Funchal 17 outubro 1917 Ex. Amigo e Senhor Hinton Envio-lhe o rasultado da destillação na Comp.ª Nova em 1917. O Inventario Nº 1 foi destillado canna, jus imbibição e borras de defecação, com um rendimento calculado de 20.883 litros alcool a 100º a 15º Melaço da refinação lavagem 57.756 kilogramas em melaço, com um rendimento calculado de 18.783 litros alcool a 100º a 15º Total do alcool bruto d’este inventario = 39.666 litros a 100º a 15º Rendeu em alcool retificado 38.543,6 “ “ “ Quebra da retificação 1.122,4 “ “ “ ou seja 2,8 % Melaço da Laboração de 1917, espumas e lavagens: Em melaço total destillado 1.505.631 Kilogramas mo

249 Firma William Hinton & Sons, de Harry Hinton. 250 Georges Lefebvre.

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Rendeu em alcool bruto 411.880 litros a 100º a 15º Nota: Está incluido n’este alcool 430 litros aguardente fraca (salvado do incendio) = 142,7 litros alcool a 100º a 15º temperatura Temos pois alcool produzido pelo melaço = 411.737,3 litros a 100º a 15º Este alcool produzio em retificado 410.275,7 litros a 100º a 15 Deu pois quebra de retificação 1.605,2 litros Nota: Esta quebra de retificação é sobre 299.300 litros d’alcool bruto da destillação separada no apparelho do Torreão, montado na Comp.ª Nova = 0,53% // [29] Todo o restante foi destillado no apparelho da Comp.ª Nova por destillação-retificação directa do vinho de melaço. O total do melaço enviado á Comp.ª Nova foi de 1.514.373 kilogramas, restando pois um stock para 1918 (para dár principio aos fermentos) de 8,742 kilogramas. Sem mais por emquanto que lhe possa dizer Subscrevo-me Seu Amigo attencioso [Ass:] João Higino Ferraz P. E.[sic] No raporte enviado por Laalberg dos resultados da Laboração de 1917, dava um producto em melaço total produzido de 1.566.158 kilogramas, emquanto que pezado este melaço do tanque grande, e o enviado durante a Laboração deu 1.514.373 kilogramas, dando pois uma diferença do calculo do melaço do tanque grande de 51.785 kilogramas. Esta diferença no calculo foi devido a ter elle calculado a densidade do melaço em 1450 e não em 1400 como eu tenho sempre calculado. Temos pois que o resultado pode ser: Melaço realmente produzido = 1.514.373 kilogramas Deduzido o do assucar refundido = 38.394 kilogramas Restará para a canna 1.475.979 kilogramas = 4,164 kilogramas % [Ass:] Ferraz // [DATA: 20 de Outubro de 1917 DESTINATÁRIO: Francisco Meira] [30] Funchal 20 outubro 1917 Meu Caro Amigo e Senhor Meira Junto envio-lhe os meus considerandos sobre a proibição do fabrico d’aguardente de canna em 1918, como á dias lhe tinha dito para escrever ao Senhor Hinton251. Essa proibição será para as localidades onde as fabricas matriculadas podem hir boscar a canna. Calculando pois na media o imposto para a Junta Agricula ser de 130.000$00, representa esta importancia (a 150 por litro) 270.000 litros d’aguardente, ou seja 240.000 gallões de 3,6 litros, que ao rendimento medio de 0,6 <gallões> por 30 kilogramas canna dá 400000 almudes (de 30 kilogramas canna) ou seja 12.000 toneladas canna. Calculando as despezas de fiscalisação da Junta Agricula em 50.000$00 (?), ficar-lhe-ha liquido 20.000$00 Estes 80.000$00 seram pagos pelas fabricas matriculadas, dando o Governo como compensação auctorisação para augmentar o preço do alcool para tratamento de vinhos em mais 140 por litro alcool ficando pois o preço do alcool a 400 litros e não 260 como pela lei. A canna transformada (12.000 toneladas) em assucar e alcool dará, assucar 1100 toneladas, alcool 130.000 litros, além da canna que as fabricas matriculadas poderiam // [31] comprar sem essa prohibição. N’estas condições devemos têr um lucro minimo de 120.000$00, segundo os meus calculos. Quaes as deficuldades para a obtenção d’isto? As unicas que vejo é a opusição e os prejuizos para as fabricas d’aguardente, e dos negociantes d’aguardente. O Governo e a Junta nada perdem; e as subsistencias teem mais 1100 toneladas assucar em Lisbôa, e os fabricantes de vinhos de exportação mais 130.000 litros alcool. Se os exportadores tiverem que adquirir esses 130.000 litros alcool, não o poderam obter a menos de 700 reis por litro a 100º a 15º, o que os obriga a pagar mais do preço actual 57.000$00, se poderem obtel’o. Calculando porém que toda a canna dê 426000 litros alcool, elles pagaram mais do preço actual 62000$00; fica-lhe pois contra elles somente 11:000$00, mas com a vantagem bastante grande de terem alcool, e poderem exportar vinho. São estas as conciderações mais palpaveis que sobre isto vejo. Seu Amigo Certo [Ass:] João Higino Ferraz // 251 Harry Hinton.

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[DATA: 12 de Novembro de 1917 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [32] Funchal 12 Novembro 1917 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua carta de 21 proximo passado que muito lhe agradeço. Fabricas de aguardente: É minha opinião que Porto da Cruz deve entrar na exclusão, porque mesmo que a canna uma vez ou outra não venha em muito boas condições sempre dará algum assucar e principalmente dár-nos-há melaço. O transporte pode ser feito em barcos e apanhando a canna em condições de não ter em grande quantidade, para o caso de metter mar mau. Todas as outras freguezias pode vir a canna para o Funchal a não ser o que verdadeiramente se chama o Norte, e essas são bem poucas as que ha. Quanto ao preço do alcool, para tratamento de vinhos, é minha opinião e acho mesmo que sem isso esta transação não traz resultado, deve ser augmentado em 140 reis por litro, isto é, alcool a 400 reis por litro. Em vista do preço elevado do combustivel, salarios etc., já actualmente o fabrico do alcool dá prejuizos e graves, o que fará com o carvão a 65$00 ou mais! Como sabe a Comição de Subsistencias não deixa elevar o preço do assucar, e o nosso lucro actualmente está no de exportação, o que não se dava antigamente. É necessario pois tirar na Madeira lucro no fabrico d’assucar, e isso sô pode ser no alcool. // [33] Os negociantes de vinho teem margem suficiente para pagar mais 140 reis por litro alcool, e mesmo ficaram muito melhor, porque teram alcool para tratamento de vinho, o que não acontecerá se isto se não fizer, e ver-se-hão na contingencia de diminuir a sua exportação, com graves prejuizos para elles e para a agricultura. Não devemos ser nos somente a pagar as diferenças, porque estou certo que a Junta Agricula não pode despensar os seus rendimentos, porque está em más condições financeiras, e assim não acho justo que sejamos nós que tenha de pagar ou o propriatario o rendimento do imposto da aguardente. Fora d’isto não acho outra solução possivel. Sei bem que isto será naturalmente dificil de obter mas não impossivel em vista das condições em que está isto tudo devido á guerra e o fabrico d’aguardente não é um producto indispensavel, pelo contrario, é bem despensavel. O alcool tem somente por fim garantir a exportação de um producto agricula, que sem elle não há meio de o fazer sahir. O que lhe posso garantir é que no proximo anno se isto não se fáz, a nossa laboração não passará de 30.000 toneladas!. Não devemos pensar em pagar preços de canna muito superiores aos da tabella, para fazer concorrencia ás fabricas de aguardente, por que esse desideractum pode-nos trazer graves prejuizos, no caso de terminar a guerra, e as importações d’assucar da Africa se possa fazer em melhores condições. // [34] Apparelhos da destillaria. Quando lhe disse para mandár vir de França os apparelhos que o incendio estragou por completo, não me referi ás violettas em latão, mas somente ás redomas em vidro e thermometros, e isto é indespensavel principalmente os thermometros, que sem elles não há meio de regular os apparelhos Barbet. São tudo cousas de facil exportação de França que Lefebvre252 pode fazer na Casa Barbet. Em vista d’isto dou-lhe a Lista do que é necessario em separado, para no caso de querer enviar a Lefebvre. Sem mais por emquanto que lhe possa dizer subscrevo-me seu Attencioso Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: ? CARACTERIZAÇÃO: Considerações sobre maquinaria industrial Barbet para a destilaria] [35] Appareils et verrerie pour la destillerie (appareils Barbet). Appareil de retification continue Nº 5 Bouteille à debit visible (complete), pour le refrigerant tubulaire de la columne de retification. A été completement detrui. 2 thermometres a cadrant pour cette columne de 0º a 110º, tige droite. Touts les globes en verre et verrerie pour les éprouvettes de l’alcool Pasteurisé, ethers, etc, etc. (Voir les Plans de la Maison Barbet). Tout la verrerie consumant á l’appareil décanteur-laveur des huilles amyliques[?]. Columne de Destillation – retification directe continue Nº 3 (Turné[?] en 1897 par la Maison Crepelle-Fontaine, Constructeur) Appareils Barbet 2 thermometres a cadrant de 0º a 110º tige curte

252 Georges Lefebvre.

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Tout les Globes en verre et verrerie pour les éprouvettes de l’alcool Pasteurisé, ethers, etc. Etc (Voir les Plans de la Maison Barbet). Appareit[sic] á levure pure de Barbet. 1 Thermometre à cadrant à tige curte droite de 150 millimètres de 0º a 110º 2 “ “ “ “ “ “ “ 3 Purification d’air Noël pour fermentation (grand modelle), pour cuves de levure pure de 20 hectolitres. (Maison NoëlParis) // [DATA: 24 de Novembro de 1917 DESTINATÁRIO: Bardsley] [36] Funchal 24 Novembro 1917 Ex.mo Amigo e Senhor Bardsley Há muito tempo que não lhe escrevo nem tenho sabido do meu caro amigo, mas desculpará esta falta, porque quando escrevo ao Senhor Hinton253 para si é tambem. Esta tem por fim dizer-lhe que recebemos o aluminato de baryta, e que devido a que no conhecimento vinho denominado Aluminato de baryta, que é um producto chimico que pagava 13% ad valorem, e que se viesse somente baryta, como na factura paga 100 reis por tonelada. Felizmente Barros conseguio (não mostrando o conhecimento) que pagasse 110 reis por tonelada, o que se se desse o contrario, pagariamos uns direitos elevadissimos em vista do valor declarado. É bom pois sempre antes de fazer os conhecimentos, vêr na Pauta das Alfandegas quaes os direitos que temos a pagar e fazer por o melhor. 253 Harry Hinton.

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Desejando a continuação da sua saude e felicidades, subscrevo-me Seu Amigo Attencioso e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz// [DATA: 17 Janeiro de 1918 DESTINATÁRIO: Francisco Meira] [37] Funchal 17 Janeiro 1918 Meu Caro Amigo e Senhor Meira Depois da reonião feita hoje na Associação Commercial, e segundo os alvitres apresentados, posso tirar as conclusões seguintes: 1ª Condição: Esta que não foi apresentada na reonião por conveniencias partculares, é a melhor... Prohibição de fabrico d’aguardente de canna onde as fabricas matriculadas possam hir boscar canna. Garantia da quantidade de alcool necessario para tratamento dos vinhos, sendo feito o preço de 400 reis por litro alcool puro, isto é, mais 140 reis por litro do preço actual da Lei. Esta augmento de preço do alcool de 140 reis por litro será para a Junta Agricula. 2ª Condição, mediamente boa As fabricas aguardente de canna fazem somente metade da Laboração de 1917. O alcool de melaço faltando para o consumo, será feito directamente da canna pelas fabricas matriculadas, pagando os vinicultores por este alcool 500 reis por litro em 40º Cartiere. O alcool do melaço ficará no preço antigo (260 reis litro a 100º), 1000 kilogramas canna deve render na media 71 litros alcool. // [38] 3ª Condição, a peor (apresentada por Antonio Justino): Arrendamento de 3 ou 4 fabricas pelos vinicultores para a produção de aguardente sem pagamento de imposto de fabrico, que será retificada pelas fabricas matriculadas. Estas fabricas não poderam porém fazer aguardente para consumo, e seram sujeitas a uma fiscalisação. Esta ultima condição não nos traz vantagem alguma, e parece-me que mesmo aos vinicultores não traz vantagem, por isso que o alcool retificado em 40º sahir-lhe-ha a 550 reis por litro, depois de tiradas todas as despesas de fabrico, arrendamentos de fabricas, fiscalisações e carretos. Cada 1000 kilogramas canna dár-lhe-ha 59 litros alcool em 40º retificado. O preço minimo de retificação deve ser de 150 reis por litro alcool em 40º. São estas pois as considerações que posso fazer sobre o assumpto, assim lhe exponho conforme o seu pedido. Seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 26 de Janeiro de 1918 CARACTERIZAÇÃO: Conjecturas acerca da futura Laboração de 1918] [39] Funchal 26 Janeiro 1918 Calculos para o trabalho de 1918 Como a canna em 1918, pelas analyses já feitas, mostra ser mais rica do que a de 1917, eu calculo um minimo de 13% assucar na canna com uma pureza de 87º. Pela diffusão com extração de 96% Rendimento em turbinado será 10,300 kilogramas assucar % canna Pela imbibição simples como na Comp.ª Nova cuja extração é de 93% o rendimento em turbinado será 9,834 kilogramas assucar % Vê-se pois que com a imbibição perdemos 0,466 kilogramas assucar turbinado % canna. Deveremos notar que com a imbibição o gasto em vapor não deve ser inferior a <menos> 30% ou talvez mais, e assim poderemos com uma determinada quantidade de carvão e lenha moer mais 30 ou 35% do que pela diffusão. Como o carvão e lenha que temos poderá dár para 25.000 toneladas canna (pela diffusão), e calculando mais 35% (pela imbibição) poderemos trabalhar com este mesmo carvão e lenha aproximado 34.000 toneladas canna... [Ass:] João Higino Ferraz //

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[DATA: 9 de Março de 1918 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [40] Funchal 9 março 1918 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Duas palavras sobre Laboração de 1918 (em principio): Fizemos a esperiencia da imbibição do bagaço como na Comp.ª Nova, e os seus resultados pode vêr no Raport junto de Laalberg, e como vê não são nada animadores, para o fim que tinhamos em vista, economia de carvão sem perda superior á Comp.ª Nova. Foi uma esperiencia de 4 dias, findos os quaes declarei a Carlos254 e Marsden que em vista da perda em assucar no bagaço, e não sendo a economia em combustivel pelo menos de 40% (o que nem sequer se aproxima), não tomava a responsabilidade do resultado industrial. Diz Marsden que o carvão que temos tem um valor combostivel 20% inferior ao carvão normal; mas essa diferença tanto se dará no trabalho pela diffusão do bagaço como pela imbibição. Dará o carvão e lenha para a Laboração de 1918? Pelos calculos vesse que deve dár, calculando um maximo de 40.000 toneladas canna, a que talvez não se possa chegar. Estou pois trabalhando actualmente pela diffusão do bagaço como em 1917. // [41] Sulfito de soda: Estou empregando este producto chimico na sulfitação, e para não o empregar isuladamente, estou fazendo meia sulfitação pelo enxofre, que tenho ainda, e meia pelo sulfito de soda: Os resultados na sulfitação parecem ser eguaes á sulfitação pelo gaz de enxofre, mas os tourteaux dos filtros-presses recentem-se um pouco, não sendo tão duros, e a qualidade do jus, na sua cor, levemente mais escuros, devido á soda do sulfito. O producto assucar turbinado tambem não é tão perfeito na sua cor como o de 1917. Nada mais, por emquanto, lhe posso dizer sobre a Laboração por isso que temos somente 5 dias d’ella. Marliere255 não veio no “San Miguel” como esperava, de forma que estou fazendo os cuites com Francisco e Manoel, e o trabalho corre normalmente e sem dificuldades. Sem mais por emquanto que lhe possa dizer da minha parte, subscrevo-me Seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 9 de Março de 1918 DESTINATÁRIO: ?] [42] Funchal 9 março 1918 Meu Ex. Amigo Cá estamos no principio da nossa Laboração, e d’ella pouca cousa lhe posso dizer por emquanto: A canna ainda está muito fraca em assucar, e ainda mais devido a termos de receber canna de sitios que não devia ser ainda cortada, mas os nossos amigos Lavradores, em vista dos preços que os aguardenteiros estão offerecendo, estão renitentes, e sem rasão, em não quererem apanhar a canna: Malditos diabos dos aguardenteiros!... Se d’ahi não vem restrinção no fabrico da aguardente, os malditos levam-nos a melhor canna. Que fim levou Marliere256? Não veio ou não vem de França? Estou fazendo os Cuites com Francisco e Manoel, e felizmente vão muito bem no seu trabalho. Enxofre: Que venha o mais breve possivel, metade por veleiro e metade pelo “San Miguel”, mas é sempre bom ter em vista que o veleiro pode ser tropediado pelos Boches, e assim teremos que reforçar a remeça pelo San Miguel, dando-se esse caso. Tenho a destillaria completamente montada, faltando somente a minha encomenda de thermometros etc, // [43] feita ao Senhor Hinton257 em 12 de Novembro de 1917. Se os Senhores querem têr a sua destillaria em condições de trabalhar em 1919, têem que fazer essa encomenda quanto antes. Sem mais subscrevo-me Seu Amigo Certo [Ass:] João Higino Ferraz // mo

254 255 256 257

Carlos Fernandes. Joseph Marliere. Joseph Marliere. Harry Hinton.

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[DATA: 22 de Março de 1918 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [44] Funchal 22 março 1918 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Depois da minha ultima carta de 9 corrente já temos mais uns 13 dias de Laboração, e por isso mais alguma cousa lhe posso dizer sobre o assumpto, ainda que sobre rendimento sô na paragem da Semana Santa se fará uma situação com o trabalho pela diffusão, subtraindo a situação pela imbibição que deu um baixo rendimento: A situação geral, isto é, diaria, incluindo todo o trabalho d’esde o principio com a imbibição, deve-nos dár aproximados 9,3% de rendimento em turbinado com canna de 12,2% assucar e purezas de 84º media. Sulfitação pelo sulfito de soda: Á dez dias que terminou o enxofre que tinha do stock, e por isso estou a fazer este trabalho somente pelo sulfito: Os resultados na filtração não são nada bons, e vejo-me na necessidade de meter 2 a 3 hectolitros de garapa defecada na bateria de diffusão porque os filtros não dão para todo o trabalho, e poder formar algum tourteaux ainda que bastante molle. Quanto ao resultado d’este producto no rendimento em assucar, vejo que sendo a soda melassigenica deve fazer baixar um pouco o rendimento em turbinado, e vejo bem isto porque a media de melaço por filtro-presse da Melasse Cuite de 2ª que em // [45] 1917 foi de 5800 kilogramas, temos actualmente 5940 kilogramas melaço por filtro, isto é, mais 140 kilogramas do que em 1917. Triple-effet: O trabalho d’este apparelho de evaporação ainda é melhor do que em 1917 em vista da modificação que fiz na parte da percipitação pelo aluminato de baryta, e além d’isso essa modificação traz o resultado da filtração mechanica ser sempre regular e os filtros darem jus sempre ou quasi sempre brilhantes. O apparelho trabalha ainda tambem como no principio da Laboração, dando xaropes a 33-34º Baumé, não sendo necessario lhe dár todo o vapor exausto. Isto deve dár causa a uma economia de combustivel, por isso que os cuites teem menos que evaporar. Petits eaux: Como já lhe disse, no corrente anno não fasso a turbinagem dos pés dos Petits Eaux para economia de combustivel, mas simplesmente a decantação, tendo uma perda em Petits Eaux (pelo despejo ou desprezo d’estes pés) de 9% em liquidações. Em 1917 com as liquidações perdia-se 5%. Calculo pois que a perda em assucar seja de 0,050% canna mais de que em 1917, mas a bomba d’agua das centrifugas gasta aproximadamente 4 toneladas carvão por 24 horas. Temos pois ainda assim uma economia. O resto do trabalho corre regularmente, e estou bastante satisfeito com o trabalho dos cuiseurs (Francisco e Manoel) que me tem apresentado sempre bons cuites, de turbinagem facil e bom rendimento em turbina e grão muito regular. O trabalho nos filtros-presse da Melasse Cuite de 1ª e 2ª serie, vão bem. // [46] Comp.ª Nova: Como já tenho melaço suficiente na Comp.ª Nova, vou dár principio ás fermentações depois da Semana Santa, para o que já tenho fermento em boas condições. Sempre poderei contar com formol para a fermentação? Somente tenho sulfito de soda para 10 a 12 dias depois da Semana Santa de forma que é necessario vir o enxofre a tempo para não me vêr na necessidade de meter toda a garapa na bateria de diffusão, e têr que produzir assucar bruto e tirar talvez menos rendimento. Sem mais por emquanto Subscrevo-me Seu Attencioso Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 30 de Março de 1918 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [47] 258Funchal 30 março 1918 Ex. Amigo e Senhor Hinton Tenho em meu poder a sua carta de 24 corrente que muito lhe agradeço. Situação de 11 a 25 corrente: Vendo esta deve achar um rendimento baixo (9,221), mas deve notar que nas perdas indeterminadas aparece 0,728% (?!): Fiz notar isso a Laalberg, mas diz elle que calculou pelas purezas das Melasses Cuites de 2º e 3º jet e égoûts restantes, mas eu acho o calculo baixo, e mesmo as perdas indeterminadas, como elle diz na nota abaixo, serem devidas ás borras dos filtros-presses, isso não é assim, porque perdas inderminadas[sic] são aquellas que não poderam ser encontradas, e essas das borras está determinada em 0,256 o que é superior a 1917 a 0,058% canna. Vejo pois que em perdas indeterminadas não se deve calcular senão um maximo de 0,328% canna, restando pois 0,400 que a 80% em turbinado dará mo

258 A carta que ocupa este e o fólio seguinte foi declarada, pelo autor, como sendo «Sem effeito»; esta expressão foi grafada a vermelho, por duas vezes, com letras proeminentes e na diagonal, sobre o texto dos dois fólios.

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0,320; isto fará com que o rendimento não turbinado seja de 9,541% canna, o que concorda com as situações diarias. Perdas durante a Laboração posso-lhe garantir não as houve, nem por derrames nem por // [48] outra cousa qualquer, a não ser pequenas cousas que sempre se dão em fabrico de assucar. Enxofre: Obrigado pela remessa, e como tenho ainda sulfito de soda para uns 10 a 12 dias, vou continuar a sulfitação empregando um pouco d’este sulfito e terminando a sulfitação pelo gaz do enxofre, como fiz no principio, e assim tem melhores tourteaux e não tem necessidade de levar garapa á bateria de diffusão. Canna: Infelizmente temos tido quase sempre má canna devido aos propriatarios que as teem boa não querem vendel’as esperando sempre melhor preço dos aguardenteiros, e se isso ahi se não resolve o mais breve possivel com relação á diminuição de fabrico d’aguardente, a situação alonga-se muito com nosso prejuizo. Os malditos aguardenteiros sô compram a bôa canna deixando a peôr; isto é o mais irracional possivel, porque para aguardente deveria ser aquellas que a sua pureza ou grau fosse mais baixo, e para assucar a melhor, isto é o mesmo que se pratica em toda a parte onde se fabrica aguardente e assucar, e onde os Governos attendem ás condições da industria. Sem mais subscrevo-me Seu Attencioso Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz// [DATA: 4 de Abril de 1918 DESTINATÁRIO: Bardsley] [49] Funchal 4 abril 1918 Ex.mo Amigo e Senhor Bardsley Como sei que o Senhor Hinton259 não se encontra actualmente em Lisboa escrevo-lhe a si, e pesso-lhe que lhe transmita o que achar de interessante na minha carta. Acuso a recepção da sua ultima carta que muito lhe agradeço (carta H. Hinton). Situação 2ª: Por ella verá que o rendimento em turbinado foi superior á 1ª situação. Devo porém fazer-lhe notar que as perdas indeterminadas acusadas de 0,451% canna acho muito elevadas, e fazendo vêr isso a Laalberg disse-me elle que o sucre dans l’usine tinha sido calculado pelas purezas e por isso apresentava essa perda (?!). Não vejo porém rasão para isso porque perdas indeterminadas são todas aquellas que não foram encontradas pelas analyses, e como elle diz na nota abaixo que essas perdas são devidas ás borras dos filtros-presses (?), mas vejo sucre dans le boues 0,262% canna, emquanto que em 1917 foi de 0,198, isto é, em 1918 são superiores em 0,064% canna. Ora, calculando as perdas indeterminadas como na 1ª situação de 1918 de 0,275%, ficar-nos-há 0,176 que calculando <para> este // [50] assucar um rendimento de 80% em turbinado dará 0,140, o que elevaria o rendimento em turbinado d’esta situação a 9,592 kilogramas %. Em melaço deve dár 4 kilogramas por % canna. Enxofre: Recebemos as 4 toneladas que muito agradeço, e me vai habilitar a continuar a produzir assucar de boa qualidade. O que porém me aborrece bastante é que este enxofre não é egual á amostra que nos enviaram em 1917 e que pela analyse mostrou ser de boa qualidade, emquanto que este agora é pessimo, isto é, não fáz bem a combustão e o rendimento em SO2 é inferior ao normal. Em vista d’esta má qualidade de enxofre vejo-me na necessidade de meter alguma garapa na bateria de diffusão, o que eu contava não fazer, e os tourteaux continuam a ser maus. Coisas Portuguezas!..., apresentam bôas amostras, e fornecem mau producto... e o peor carissimo... Mas emfim antes este mesmo mau do que nenhum. Envio-lhe duas amostras de enxofre; Nº 1 é a amostra de 1917; Nº 2 é o que recebemos (4 toneladas), e pela propria vista se vê bem a diferença dos dois. Canna: Infelizmente temos tido quasi sempre má canna devido aos propriatarios que as tem bôa não querem vender esperando sempre melhor preço dos aguarden-//[51]teiros, e se isso ahi se não resolve o mais breve possivel com relação á diminuição de fabrico de aguardente, a situação alonga-se muito com nosso prejuizo. Os malditos aguardenteiros sô compram a bôa canna deixando-nos a peôr; isto é o mais irracional possivel, porque para aguardente deveria ser aquella que a sua pureza ou grau fosse mais baixo, e para assucar a melhor; é isto o que se pratica em toda a parte onde se fabrica assucar e aguardente, e onde os Governos attendem ás condições da industria. Sem mais subscrevo-me Seu Amigo Certo [Ass:] João Higino Ferraz //

259 Harry Hinton.

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[DATA: 18 de Maio de 1918 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [52] Funchal 18 maio 1918 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Terminamos a 5ª situação e vejo pelos calculos de Laalberg que as perdas indeterminadas são excessivamente grandes, muito mais que o normal. Já na situação transacta tive minhas duvidas sobre os indeterminados, mas como não eram excessivos julguei serem devidas ás analyses. Contudo n’esse tempo verifiquei junto com elles todas as partes da Fabrica e nada encontramos que podesse dár causa a perdas aperciaveis. Esta porém dá-me uma tal perda que não pude deixar sem vêr bem qual a causa de semelhante prejuizo. Pedi pois a Laalberg para fazer um raporte sobre esse ponto o qual lhe deve ser enviado. Contudo da minha parte vou dizer-lhe o que me sugere sobre o assumpto: Como eu fasso sempre os calculos do assucar no melaço pelo assucar total (saccarose e glucose) fermentavel, dá-me para o melaço 50% assucar total, e assim estableço os calculos da seguinte forma: O assucar no jus de diffusão enviado á Comp.ª Nova para alcool foi de 0,788 kilogramas % canna, e o seu rendimento em alcool corresponde ao assucar enviado. // [53] Calculo de rendimento % canna Assucar turbinado real e por calculo .........................................................9,018 % Assucar no jus de diffusão emviado á Comp.ª Nova em turbinado...........0,639 “ ? 3,546 kilogramas melaço obtido a 50% assucar total ...............................1,773 “ 0,300 melaço que o jus enviado á Comp.ª Nova deveria dár....................0,149 “ 3,846 Total No bagaço a queimar..............................0,536 Perdas Nas borras dos Filtros-Presses ...............0,195 Indeterminadas (?)..................................0,712 1,443 Assucar na canna 13,022 Vê-se pois que as perdas indeterminadas reais foi de 0,712 % canna emquanto que as medias das situações 2ª, 3ª e 4ª (feita nas mesmas condições) foi de 0,200% aproximados, havendo pois um excedente de perda de 0,512 assucar % canna. D’onde provem essa perda? Segundo Laalberg, e é tambem a minha opinião, a perda é entre canna e vesou pelo seus [sic] calculos feitos nas mesmas condições do anno de 1917 e das situações transactas. Vejo pois, depois de tudo bem verificado, que entre os engenhos e os sulfitadores (medidores) não houve nem pode haver perda aperciavel de vesou por isso que o trajecto da garapa dos engenhos aos sulfitadores é feito au grand air. A diferença está pois no pezo da canna. // [54] Varias razões praticas há para isso segundo verifiquei eu mesmo. As balanças estão certas segundo eu vi e Marsden. Tirando uma nota da canna do Funchal recebida no Torreão e Comp.ª Nova (Notas do escriptorio do Torreão) em um total de 15.248.053 kilogramas canna em 182.853 molhos, dá a media por molho de 83,300 kilogramas. A canna entrada na Comp.ª Nova (Funchal e Costas) no total de 1.825.695 kilogramas em 23.170 molhos dá uma media de 78,700 kilogramas por molho. Comp.ª Nova porém recebeu pouca canna da Costa, e assim pode-se calcular por segurança que para a canna do Funchal deve dár na balança da Comp.ª Nova 80 kilos por molho. Vê-se pois que no Torreão a pezagem deu mais por molho de cannas pelo menos 3 kilogramas ou seja 3,7% a mais do pezo. Porque? Na 4ª situação, em que o trabalho da bateria de diffusão foi egual ao da 5ª situação (trabalho em uma sô bateria) e os resultados foram normaes, a carga por diffusor foi de 1438 kilogramas canna, dando 26,33 litros de jus diffusão % canna. Na 5ª situação com o mesmo trabalho e canna quasi edentica, a carga por diffusor foi de 1480 kilogramas dando (com a mesma soutiragem) 23,97 litros jus % canna: Deveria dár proporcionalmente á quantidade de canna 27 litros %. // [55] Por isto se vê aqui na 5ª situação deu mais por diffusor 42 kilogramas canna, que em 2424 diffusores feitos dá um total de 101.808 kilogramas canna a 13% assucar = 13.235 kilogramas assucar a menos, que deve corresponder aproximadamente ás perdas encontradas.

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Por todas estas considerações feitas bem pode vêr que houve extravio de pezo de canna, da qual preveni Carlos260, e estamos a vêr d’onde vem o gato... São cousas que não podem nem devem acontecer mais, e que eu desejo livrar a minha responsabilidade na parte technica do fabrico. O maximo cuidado tenho tido em todo o fabrico de forma a evitar o mais possivel perdas indeterminadas elevadas. Crêa-me seu Amigo Attencioso e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 24 de Maio de 1918 DESTINATÁRIO: António Perry da Câmara] [56] Funchal 24 maio 1918 Meu caro Antonio P. da Camara O nosso Amigo José Gomes Ribeiro procurou-me para me falar sobre cousas de Vinho, segundo a tua indicação, e o que eu lhe disse sobre o assumpto elle deve ter-te dito: Contudo da minha parte vou dizer-te o que há sobre isso. Em 1916 estive em Lisboa como sabes, para tratar cousa do Hinton261 com relação a vinhos e aguardentes de vinho, e n’essa occasião tive tempo de vêr quaes os resultados que esses negocios poderiam dár se fossem bem administrados e bem derigidos na sua parte technica, empregando processos novos de fabrico de vinhos, aguardentes etc., como se usa em França, Espanha, Italia e mesmo na Alemanha, e assim poder-se competir com esses mercados. Além disso vi tambem que as nossas colonias Africanas ou Inglezas são uns bellos mercados para uns typos de vinhos especiaes licorosos que em Portugal, infelizmente, não são feitos em condições para resistir aos climas tropicaes. Com os dados que pude obter de visou e por informações particulares estudei a questão, e propuz por carta ao Hinton, depois da minha chegada do Funchal, para se // [57] establecer em Portugal por conta da Casa Hinton esses negocios, e eu, depois de terminado o fabrico do assucar aqui, poderia hir para Lisboa e tomar conta da parte technica do fabrico. Essa minha carta porém nunca teve resposta, o que me penalisou bastante, e falando ao Meira262 sobre isso, elle disse-me que o Hinton estava na disposição de liquidar tudo quanto se relacionasse com Vinhos!. Em vista d’isto nunca mais toquei no assumpto, e tratei de estudar a questão sô para mim e com um pequeno capital que tenho, vêr se conseguia establecer em ponto pequeno a industria em questão, fazendo com Hinton uma concordata para eu lhe prestar os meus serviços durante o tempo da Laboração da canna, e terminada ella, ficar livre por minha conta. No mez passado porém o Ribeiro veio-me fallar sobre esse assumpto (vinhos) e eu disse-lhe isto mesmo, e dizendo-lhe tambem que, caso o Hinton não tornasse a falar no assumpto, não teria duvida alguma a me juntar a voces para establecer esse negocio em meior escala porque tenho nos meus Amigos Perry e Ribeiro a massima confiança na sua onestidade e boa camaradagem. Tudo depende porém da terminação d’esta maldita guerra, para se poder obter alguns apparelhos em França que são indispensaveis para o caso. Fica pois, meu caro Perry, isto establecido; se o Hinton não me falar no assumpto, eu tratarei de conseguir // [58] d’elle que me deixe livre pelo menos durante uns 8 mezes do anno, ou para establecer com os meus Amigos os ditos negocios, ou caso voces não quererém por qualquer rasões [sic], farei eu sosinho. Pesso-te porém o maximo sigilio sobre isto, e conta sempre com o teu velho e verdadeiro Amigo [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 25 de Maio de 1918 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [59] Funchal 25 maio 1918 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Em resposta ao seu telegrama de hontem vou dizer-lhe o rendimento da canna em alcool e tambem do jus de diffusão que estou enviando á Comp.ª Nova para alcool o qual corresponde a canna: Em tres lotes de fermentação de canna directa na Comp.ª Nova com uma Extração de 90% do assuar[sic] da canna, o rendimento medio dos tres lotes foi de 66,8 litros alcool a 100º a 15º temperatura por tonelada canna n’uma quantidade total de 472.769 kilogramas canna. 260 Carlos Fernandes. 261 Harry Hinton. 262 Francisco Meira.

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As despezas de fabrico actuaes pode-se calcular em 150 reis por litro alcool a 100º = 10$00 por tonelada canna. Estableci pois o preço de alcool de canna a 600 reis litro a 100º. Dá pois aproximadamente um lucro de 200 reis por litro alcool 100º ou seja 13$30 por tonelada canna. O rendimento em alcool do jus de diffusão enviado á Comp.ª Nova tem dado um rendimento medio de 58 litros alcool a 100º a 15º temperatura por 100 kilogramas assucar contidos no jus, o que corresponde aproximado ao rendimento acima da canna. // [60] Aproveito esta occasião para lhe dizer a minha opinião com relação ao fabrico do alcool em 1919 e qual o preço por que se deve establecer o alcool futuro em vista das deficuldades de guerra e custo de combostivel etc. O preço do alcool para 1919 não deve ser inferior a 500 reis por litro a 100º a 15º temperatura tanto o de canna como o de melaço. Para 1919 não devemos fazer nada menos do que 550.000 a 560.000 litros alcool que seram para tratar os vinhos da colheita de 1918 e talvez não dê suficiente. O alcool que fazemos no corrente anno (1918) é para tratar vinhos das colheitas de 19161917 e pouco poderá restar. Establecendo isto assim, é minha opinião o seguinte: 1º Torreão fará a destillação em 1919 durante a Laboração da Canna aproveitando assim uma grande parte do vapor exausto perdido, em vista do bom trabalho actual do Triple-effet, empregando para alcool o jus de diffusão (parte), melaço e lavagens. 2º Comp.ª Nova fará alcool de todo o jus de imbibição de 100 toneladas canna por 24 horas, de uma pequena parte do jus de diffusão do Torreão e de melaço para complemento da densidade de fermentação. Os resultados provaveis aproximados d’esta maneira de proceder devem ser os seguintes: // [61] 100 toneladas canna na Comp.ª Nova dará do jus de imbibição (a 1 litro alcool% canna) 1000 litros alcool a 100º. Comp.ª Nova produz por 24 horas 2500 litros alcool a 100º Para o melaço e jus de diffusão 1500 litros restantes. Torreão pode destillar 450 Hectolitros de vinho por 24 horas feitos com jus de diffusão, melaço e lavagens, produzindo aproximados 3000 litros alcool a 100º por 24 horas. O jus de diffusão total enviado a Comp.ª Nova e gasto no Torreão calculo em 50% do jus total. O total do alcool produzido nas duas fabricas por 24 horas durante a Laboração da canna será de 5500 litros. Para isto é indispensavel limitar o fabrico d’aguardente de canna a um maximo de 700.000 litros em 1919. Calculando o trabalho do Torreão e Comp.ª Nova em 35000 toneladas canna dará: Alcool de melaço 350.000 litros “ de canna 200.000 “ Total 550.000 “ Crea-me Seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 4 a 6 de Junho de 1918 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [62] Funchal 4 a 6 junho 1918 Ex. Amigo e Senhor Hinton Respondo á suas [sic] ultimas cartas, á minha e á de Carlos263: Perdas indeterminadas: com relação a isto, o que pude apurar e que vejo sêr naturalmente a causa é a perda no pezo da canna, que por uma esperiencia que fiz em uns poucos de molhos me deu 3% de quebra em 2 dias. Como deve saber, actualmente recebemos cannas durante dois dias, para depois se dár principio ao trabalho, para não termos de estár a fazer paragens repetidas (a canna entrada por dia, não dá para o trabalho), que nos dá um prejuizo em combustivel. Foi pois exactamente na 5ª situação que isto se deu com mais frequencia, o que naturalmente fêz diminuir o volume da garapa, em vista de seccar um pouco as pontas das cannas que pouco assucar contem. Esta quebra de 3% dá aproximado para as perdas indeterminadas encontradas a mais do normal. Pode ficar descansado quanto aos esquentadores, porque são verificados (as aguas condensadas) duas vezes ao dia: Como já lhe disse na minha ultima carta, a perda foi entre canna e sulfitadores, onde não há esquentador algum. Os pratos (fundos) dos engenhos não tem furo algum. A perda pois, sô posso atribuir á diminuição do pezo na canna. O ser a canna mais bem pezada no corrente anno, não pode influir n’isto. // mo

263 Carlos Fernandes.

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[63] Alcool de canna: Quando vimos que no corrente anno, o alcool do melaço não dava nem para tratar os vinhos de 1916 e 1917 prevenimos d’isso todos os negociantes de vinhos, e elles aflitissimos pediram para fazermos alcool de canna, custasse elle quanto custasse, por isso que não tendo alcool perdiam por completo os vinhos por falta de tratamento e além d’isso não poderiam exportar vinhos o que acarreteria um grave prejuizo. Foi devido a isso que eu disse que se poderia fabricar alcool de canna ou jus (que é o mesmo que canna) mas pagando elles 700 reis por litro alcool a 100º a 15º temperatura que eu calculei dár um lucro superior ao fabrico em assucar e os meus calculos estão certos. Quanto a todo o alcool (melaço e canna) ser vendido a 600 reis por litros, dei a minha opinião (a Carlos e Meira264) que isto sô devia ser feito com a maxima garantia de não se dár futuras complicações com o Governo por quebra de contracto da Lei. Estableceram pois que, todo o comprador d’alcool que necessitasse de receber mais alcool do que lhe poderia caber no rateio do alcool de melaço, isto é, 1/5, escreveriam uma carta pedindo para comprarmos canna por conta d’elles e fazer o alcool e establecer o preço por que sahisse o alcool, e assim, parece-me, que se tem feito. Eu da minha parte nada tenho com vendas d’alcool, porque Carlos e Meira se quizeram encarregar d’isso, e o que sei é o que elles me dizem. Tenho porém por varias vezes feito vêr a Carlos e Meira que devem têr o maximo cuidado n’isso. // [64] Para prova de que não me enganei nos calculos do alcool de canna, vou dár-lhe os rendimentos em alcool até 31 de maio. 7 lotes de fermentação (Comp.ª Nova) deu o seguinte: Melaço total 373.207 kilogramas rendeu 103.903 litros alcool a 100º = 27,8 litros % Canna 472.769 kilogramas rendeu 31.790 litros alcool a 100º = 67,2 litros tonelada canna 7868 Hectolitros de jus diffusão com 62800 kilogramas assucar rendeu 36.977 litros alcool o que dá 58,7 litros % assucar metido em fermentação (theorico 60%) O rendimento do assucar da canna directa em alcool, que continha 13% assucar e com a extração da Comp.ª Nova de 90%, deu 57,5 litros alcool % assucar metido em fermentação. Como vê o jus diffusão deu mais rendimento % assucar do que a canna, mas isso é devido á glucose do jus de diffusão que é superior ao da canna directa. Assim vejo que os calculos estão certos. Quanto aos resultados financeiros: Em assucar e melaço: Em alcool: Custo tonelada canna ...................17.000 Custo tonelada canna........17$000 Fabrico do alcool ..............10$080 Fabrico ......................................... 8.300 Custo total ....................................25.300 Custo total 27$080 Productos: 9,800 kilogramas assucar 67,2 litros alcool a 700 reis turbinado a 350 reis....................................= 34$300 por litro = 47$040 3,500 kilogramas melaço a 27,8 litros % a 260º....................= 253 Productos totaes .. 34$553 Como vê, mesmo a 600 reis por litro alcool, o lucro feito a canna em alcool é superior ao lucro do assucar. // [65] Nova Lei Sacarina: Este ponto é o mais complicado e mais dificil de dár uma opinião, e isso confesso, não estou em condições de lhas poder dár por varias razões, sendo a principal a falta de competencia da minha parte. Outros haverá que lhe possam dár melhores. Contudo pesso-lhe para lhe dizer o que, com toda a franqueza, eu vejo n’este assumpto. Segundo o que Carlos me leu da sua carta, vejo que o Governo está na desposição de fazer o fabrico do assucar livre, para todas as fabricas de aguardente que queiram transformar em fabricas de assucar (?!!). Mas, pergunto eu, qual é a base para determinar a capacidade das fabricas? É a capacidade de destillação ou a capacidade de moendas? Se é a de destillação, uma fabrica das meiores, apenas poderá moer 25.000 kilogramas canna por 24 horas aproveitando os bagaços ou para aguardente ou para assucar; isto já se vê, não augmentando a capacidade actual. Somente um asno fará a transformação de uma d’estas fabricas em fabrica de assucar com aparelhos de bonecas!! Se é pela capacidade de moenda, sô vejo duas fabricas em condições de serem transformadas (á antiga!) que são a do Conde da Calçada, no Arco da Calheta, e a do Almeida, na Ponta do Sol. As outras pouco mais podem fazer de 30.000 kilogramas canna por 24 horas. Das duas uma, ou Governo consente a junção de varias fabricas em uma sô (em cada freguezia), ou então ponha essa edêa 264 Francisco Meira.

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de parte que não é pratica. // [66] Para William Hinton & Sons, a junção de fabricas seria uma calamidade, ainda que essa calamidade seria tambem para os outros, e teriamos tantas fabricas quantas fossem as freguesias, porque dinheiro não faltaria, o que faltaria era juizo, e isso, como sabe, é o que ha de menos aqui. Esse projecto, que é o mesmo que aplicaram em Africa, não tem cabimento para a Madeira, e isso sô pode germinar em uma cabeça sem conhecimentos do que é a industria assucareira... para não dizer outra cousa. O que eu vejo no meio de tudo isto é que, o mais pratico e o que mesmo os aguardenteiros acceitariam bem, seria o limite de fabrico de aguardente ao minimo; que o imposto cobrado fosse para expropriação de fabricas de aguardente, dando o Governo ás fabricas matriculadas actualmente, uma prerrugação do pazo[sic] da actual Lei (modificada, se assim o quiserem), até á completa expropriação das fabricas. Depois... seria o que fosse... Fôra d’isto não vejo solução que agrade a todos. O que é indispensavel, como já lhe disse na minha ultima carta, é que emquanto durar este estado de guerra, que o preço do alcool para vinhos seja elevado ao minimo de 500 reis por litro a 100º, para podermos fabricar o suficiente para o tratamento dos vinhos da Madeira de exportação. // [67] Quanto ao que diz de eu vêr junto com Victorino dos Santos qual a capacidade das Fabricas, é minha opinião não dár por emquanto a conhecer a ninguem os projectos de nova Lei. Victorino ainda que muito boa pessoa, trata primeiro dos seus interesses, e eu sei que o filho mais velho d’elle tem namoro (naturalmente para casamento) com a filha unica do José F. Azevedo, sociatario da selebre fabrica em a estrada Monumental em São Martinho, e que naturalmente deve querer proteger o pae da sua futura (?) nora. São dois que estão com ella ferrada para montar fabrica de assucar: Um é o José F. Azevedo em São Martinho, e o outro é o Henrique Figueira da Silva265 (banqueiro) que tem actualmente a Fabrica do Conde da Calçada no Arco da Calheta: Esse já me disse que tem na America planos para uma fabrica de 150 toneladas canna por 24 horas, e que lhe custará uns 150:000$00 escudos.!! É d’esse que eu tenho mais receio por ser homem de dinheiro. Quanto ao Azevedo: esse é homem quasi rebentado... Se o Governo presistir na sua edeia de transformação de fabricas de aguardente em fabricas de assucar, e que, para ser agradavel á firma Hinton, sô primita as capacidades actuaes, ou pela destillação ou pelas moendas, vai dár causa a reclamações, e nunca se chegará a fazer cousa alguma, e mesmo as reclamações teram por base actualmente as dificuldades da guerra. // [68] Sube pelo Sr. Capello, que o ministro da Agricultura escreveu ao presidente da Junta Agricula, dizendo-lhe que hiria brevemente á Madeira estudar estas questões de assucar e aguardentes, e era conveniente que elle viesse já d’ahi meio orientado sobre o assumpto. Não tenho confiança alguma n’estes nossos amigos de cá, e temos, como sabe, fartura de inimigos. Pense bem n’isto e verá que o que convem melhor, tanto para os seus interesses como para o interesse dos outros, é a prorogação da Lei actual até á expropriação completa ou parcial das fabricas de aguardente. Quanto ao fabrico de melado nas fabricas de aguardente, o primeiro desparate foi consentir esse fabrico estando as fabricas ainda a destillar, e como Fiscaes e chefes fiscaes estão feitos com alguns dos fabricantes d’aguardente, a destillação continuará até ao fim em algumas d’ellas porque o melado é um pretexto... Não posso comprehender que nos regulamentos da fiscalisação se consinta que uma materia prima que transformada de uma forma (aguardente) paga imposto, e da outra (melado) é livre d’esse imposto, possa ser laborada ao mesmo tempo!! Agora o mal está feito, e não val a pena remedial’o. Sem mais subscrevo-me Seu Attencioso Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 9 de Junho de 1918 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [69] Funchal 9 Junho 1918 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton A 6ª situação deu-se exactamente o contrario do que a 5ª, isto é, quasi não há perdas indeterminadas, e contudo a Fabrica marchou nas mesmas condições tanto n’uma como noutra sem se ter tocado em nada dos apparelhos, a não ser a limpeza habitual. Laalberg garante que os seus calculos estão certos, mas tambem não posso admitir que haja entre vesou e sucre mais assucar do que entrou em fabricação. Quanto ao melaço não pode haver engano porque quasi todo o melaço d’esta situação foi pezado e enviado á Comp.ª Nova: 265 Henrique Figueira da Silva (1868-1946). Comerciante e banqueiro, era proprietário de um banco e do engenho de S. Filipe (1919), sito na actual praça da Autonomia.

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Se temos mais melaço do que na 5ª situação é porque a meior parte da canna foi recebida já um pouco estragada porque era canna que estava cortada para as fabricas de aguardente, e vê-se bem isso pela pureza da garapa, que se fosse fresca deveria ter dado 88º de pureza. Perda na fabricação durante a 5ª situação, como já lhe disse, posso garantir que não houve a não ser as perdas osuaes de fabrico,e para prova d’isso pedi a Marsden para declarar isso, porque elle tanto como // [70] eu temos sempre o maximo cuidado em tudo, e a Fabrica como está montada não ha tubos de garapa ou jus que não estejam bem á vista. Para segurança, e com receio de qualquer maldade no corrente anno, fiz tapar com uma junta o tubo de descarga da soda e acido do Triple, ainda mesmo que tem uma torneira fechada a cadeado, e sô habria quando se limpava o Triple, e isso somente se fêz duas vezes durante a Laboração. Temos uma cousa a notar novamente na 6ª situação que é a carga por diffusor que baixou, e o jus de diffusão de haugmentou [sic]: O ter haugmentado o jus de diffusão, pode ser em parte devido á canna ser mais rica. Fico pois sem compreender o que se passou na 5ª situação, e confesso que fico em duvidas sobre isto tudo, e compreendo muito bem os seus receios sobre a honradez do pessoal das balanças. O que é um facto é que esta situação não mostra perdas, e isto deu-se logo a seguir a eu ter mandado separar as cannas pezadas na balança da Carne Azeda, dizendo que era para analyse da garapa, e á nuite foram novamente pezadas na balança de baixo. Daria isto causa a que elles desconfiassem de qualquer verificação de pezo? É muito possivel. Custa-me bastante a criminar seja quem fôr, não tenho uma certeza de crime, mas os factos que // [71] se dão, somos obrigados a nos precaver! Da minha parte, tudo quanto pude fazer para verificar se poderia vêr de onde vinha o mal, fiz, e nada mais vejo infelizmente porder[sic] fazer. Alcool de canna: O ultimo lote de canna na Comp.ª Nova deu 75 litros alcool a 100º por tonelada canna, que é um bom rendimento. Corre por aqui que a Firma Hinton, conseguio do Governo mais 30 annos (!!!) do regimen, e augmento do imposto da aguardente a 400 reis por litro. Se isto não é verdade, eu não vejo senão mais uma tratantada do Alexandrim dos Santos e do Pestana Junior, porque foi d’elles que partio a novidade, e mostram uma carta do Advogado dos Aguardenteiros em Lisboa: Ora isto sô tem por fim (se não é verdade) levantar os aguardenteiros e propriatarios contra tudo o que seja de Hinton, e creia que conseguem o seu fim. Sem mais, crea-me seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 18 de Junho de 1918 CARACTERIZAÇÃO: Notas sobre produção de alcool, no ano de 1918] [72] Funchal 18 Junho 1918 Rendimento total em alcool de 9 lotes de fermentações diversas:Abril a Junho 1918 Melaços 444.927 kilogramas ao rendimento de 28 litros % .......................= 124.532 litros alcool a 100º Canna 625.368 “ “ de 70 litros por tonelada .......= 43.778 “ “ “ Jus diffusão 946.965 litros contendo 76.827 kilogramas “ “ assucar ao rendimento de 58 litros alcool % assucar fermentado................= 44.540 “ Total do alcool dos 9 inventarios ................................................................. 212.850 “ “ “ O rendimento da canna, contendo ella 13% assucar e com a extração pela imbibição de 90%, deu um rendimento de 59 litros alcool % assucar fermentado. Melaço actualmente em ser: No tanque grande do Torreão ..............................................454.560 kilogramas Em ponches do Torreão ..........................................................15.605 “ Na Comp.ª Nova em ser e em fermentação ...........................64.043 “ Melaço provavel dos cuites de 1ª e 2ª serie ...........................30.000 “ Lavagens em melaço dos cuites e malaxeurs (?) ................. 5.000 “ Total provavel em melaço ....................................................569.208 “ que ao rendimento de 28 litros % kilogramas melaço dará 159.000 litros alcool a 100º provavel. Comp.ª Nova tem em canna e em fermentação 428.500 kilogramas, canna que ao rendimento de 70 litros por tonelada canna (?) dará 29.990 litros alcool. Teremos talvez ainda que receber na Comp.ª Nova uns 1000 molhos de canna, que a 80 kilogramas por molho dará 80.000 kilogramas ao rendimento de // [73] 70 litros por tonelada dará 5600 litros alcool.

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Resumindo teremos: Alcool fabricado até 12 de junho ........................................212.850 litros a 100º a 15º “ do melaço em sêr e em fermentação ......................159.000 “ “ “ “ de canna “ “ “.................................. 29.990 “ “ “ “ “ provavel a receber................................. 5.600 “ “ “ Alcool de 1918.....................................................................413.440 “ “ “ É este o alcool com que se pode contar em 1918. Deve-se pois vender a 600 reis por litro alcool a 100º pelo menos 124.000 litros alcool, que corresponde á canna e jus de diffusão feito em alcool, para não dár prejuizo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 19 de Junho de 1918 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [74] Funchal 19 junho 1918 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Recebi no dia 9 do corrente um telegrama do Sousa Lara pedindo-me para contractar aqui um cuiseur dos nossos para hir para Angola em Julho ou Agosto, e que voltaria em principios de Fevereiro do proximo anno. Vou porém dizer-lhe o que fiz para que o Senhor Hinton fique prevenido, no caso de elles (Sousa Lara & C.ª) o hirem procurar sobre este assumpto: Telegraphei no dia seguinte dizendo “Impossivel contractar cuiseur”, quando hontem recebo uma carta registada da casa Sousa Lara & C.ª renovando o pedido e dizendo que o que querem é um dos nossos operarios cuiseurs portuguez, o que eu ja tinha percebido pelo telegrama. Vou pois responder o seguinte: Que não posso fazer o que elles pedem, porque isso nos pode prejudicar no proximo anno, em vista das dificuldades da guerra, ou pode o homem não estar a tempo do nosso trabalho aqui em março proximo futuro, ou mesmo voltar doente e fraco e não poder tomar o seu trabalho, o que nos acarretaria uma serie de dificuldades por não termos outro que o substituia. Assim ficará a cousa arromada, e eu nada d’isto disse aos homens para que // [75] elles não fiquem descontentes. Marliere266 sabe d’isto e poder-lhe-ha dizer tudo de viva vós. Pode pois deixar sobre mim essa questão, porque como estou longe e respondo por carta estou mais livre de seringações. Cêa-me[sic] seu Amigo certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz P. E.[sic] Tinha ja entregue a Carlos267 uma nota dos rendimentos em alcool dos melaços, canna e jus, e o que eu calculo podermos contar no corrente anno, e elle deve-lhe enviar. [Ass:] Ferraz // [DATA: 19 de Junho de 1918 DESTINATÁRIO: Sousa Lara & C.ª L.da; LOCAL: Lisboa] [76] Funchal 19 junho 1918 Ex.mos Senhores Sousa Lara & C.ª L.da Lisboa Ex.mos Senhores Recebi a sua estimada carta de 13 do corrente a que passo a responder. Honra-me bastante a prova de estima do meu Ex.mo Amigo Senhor Sousa Lara, a quem eu desejaria prestar o serviço pedido de lhe arranjar um cuiseur dos nossos (madeirense) para a sua fabrica do Dombe Grande, como muito bem compreendi do seu telegrama. Tenho porém, e isso me penalisa bastante, de olhar aos interesses da Casa Hinton de quem sou director technico, e cujo Chefe da Casa, o Senhor Harry Hinton, é um dos meus melhores amigos e assim passo-lhe a expor as rasões do meu telegrama dizendo “Impossivel contratar cuiseur”: Poderia contratar um dos homens, que não sendo um cuiseur como deveria ser, contudo poderia alguma cousa fazer mais ou menos bem, porque, como muito bem com-// [77]preendem, estes artifices praticos, quando não teêm direcção competente, muitas vezes se veem em dificuldades. Ha porém uma outra causa, e essa é a principal, que é a seguinte; um homem não habituado ao clima tropical e n’um trabalho pezado como é o de cuiseur, pode adoeçer ou enfraqueçer, e eu teria no proximo anno menos um cuiseur (tenho somente dois 266 Joseph Marliere. 267 Carlos Fernandes.

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habilitados), e como com estas dificuldades de guerra já este anno o nosso chefe cuiseur Francez nos chegou com um mez de atraso, não teria quem o substituisse e calculem as dificuldades em que me veria n’um caso d’estes. Não desejo pois tomar semelhante responsabilidade que traria á Fabrica Hinton graves prejuizos. Estou porém sempre ao despor do meu Ex.mo Amigo e Senhor Sousa Lara, em tudo que lhe possa ser util, mas sempre de forma a não prejudicar a casa de quém sou empregado e que estimo como fosse minha propria. Recebi o vale do correio, o que era despensavel, mas que muito agradeço. Cream-me sempre Seu Attencioso Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 20 de Junho de 1918 DESTINATÁRIO: Francisco Meira] [78] Funchal 20 junho 1918 Meu Caro Amigo e Senhor Meira Aqui verá a minha maneira de vêr com relação á nova Lei saccarina, isto já se vê em linhas geraes: 1º Limitação de fabrico de aguardente de canna ao maximo 600.000 litros em 27º Cartiere nas Fabricas do Sul. 2º Rateio feito pelas Fabricas de aguardente do sul da Ilha, da quantidade de aguardente a produzir, pelas suas capacidades de destillação actuaes, sendo o imposto pago á sahida das Fabricas em ato emediato por guia passada pelo fiscal e paga na Recebedoria do Conselho. Assim evitar-se-ha uma fiscalisação despendiosa, como é a ctual[sic] sendo necessario somente um fiscal em cada Fabrica, e com penas pezadas no caso de extravio de aguardente sem pagamento de imposto. Os contadores existentes continuão como reverificação de produção, que será feita pelos Chefes fiscaes de cada Conselho, ou outra entidade qualquer. 3º Augmento do Imposto de produção a 200 reis por litro aguardente em 27º Cartiere, não havendo conseção para fracos sejam de que natureza forém. 4º O Imposto cobrado em cada anno, tiradas as despezas de fiscalisação etc., será no todo ou em parte, para expropriação de Fabricas de aguardente do Sul da Ilha, // [79] a principiar sempre pelas mais modernamente montadas. 5º Quando expropriadas n’um anno uma ou mais Fabricas, a quantidade de aguardente que cabia no rateio, será diminuida da produção total, isto é, a aguardente produzida por essas Fabricas expropriadas não pode ser ratiada pelas outras restantes do Sul. Assim de anno para anno hirá diminuindo a produção de Aguardente. 6º As Fabricas existentes actualmente no Norte da Ilha podem fabricar a aguardente das cannas que á data da nova Lei os terrenos já plantados possam produzir, pagando o Imposto de 200 reis por litro em 27º Cartiere, feita a fiscalisação como nas Fabricas do Sul da Ilha. Quando porém no 2º ou 3º anno se veja que a produção em aguardente do Norte é meior do que no 1º ou 2º anno, o Imposto será elevado a 500 reis por litro nas Fabricas do Norte, ou então, no excedente á produção normal do 1º ou 2º anno, pagará esse excedente 700 reis por litro aguardente. Isto é para evitar novas replantações de canna no Norte, que se faria em grande escalla, visto a falta de aguardente no mercado que se daria, pela diminuição das do Sul. 7º Prerrugação da Lei actual para as Fabricas de assucar matriculadas, até completa expropriação das Fabricas de aguardente do Sul da Ilha. 8º Augmento do preço do alcool para tratamento de vinhos tanto de canna como de melaço resido da fabricação // [80] nas fabricas matriculadas a 500 reis por litro alcool a 100º a 15º temperatura, isto pelo menos emquanto durar estas dificuldades de guerra, ou até final da Lei, o que seria melhor. Isto tem por fim poder-se produzir alcool suficiente para o tratamento dos vinhos da Madeira para exportação, o que somente o melaço residuo da fabricação do assucar não é suficiente. Sem esta providencia a vinicultura será bastante prejudicada, o que é bastante atendivel. Poderá haver mais alguma cousa a juntar a isto, mas o meu Amigo e o Senhor Hinton poderam vêr melhor. Seu Amigo Certo [Ass:] João Higino Ferraz //

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[DATA: 28 de Junho de 1918 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [81] Funchal 28 junho 1918 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Terminamos o Lote de canna e melaço com o rendimento seguinte: Inventario Nº 10: Melaço 54.747 kilogramas rendeu 15.329 litros alcool a 100º = 28 litros % melaço Canna 448.654 “ “ 32.457 “ “ “ = 72,34 litros tonelada canna Como vê o rendimento da canna continua a ser bom... Teremos talvez ainda uns 1000 a 1200 molhos de canna para alcool, e que creio será o resto que teremos que receber. Respondi hoje ao seu telegrama sobre o destillador de Almeirin, dizendo, não se pode garantir o alcool neutro nem livre dos aromas do vinho. Como sabe esse apparelho apenas pode tirar (como o fiz quando estive ahi) alcool a 95º centigrados, mas não pode ser considerado neutro nem livre dos aromas dos vinhos, visto este apparelho não têr extração dos etheres nem das escencias; o alcool produzido, ainda que em grau elevado, contem quasi todos os etheres e escencias provenientes do vinho, mais ou menos conforme a qualidade do vinho destillado. Contudo este alcool a 95º é muito mais puro do que o produzido nas caldeiras (Alambiques) ordinarias d’ahi. Seu Attencioso Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 4 de Julho de 1918 DESTINATÁRIO: Relação dos produtos químicos existentes e dos necessários para a Laboração de 1919] [82] Nota dos productos chimicos para 1919. Existencias em 3 Julho 1918 Kieselgouhr ...............................................28.000 kilogramas aproximado Phosphato de Cal ......................................20.500 “ “ Aluminato de baryta .................................. 8.100 “ “ Enxofre ......................................................17.800 “ “ Calculando para 1919 umas 40.000 toneladas canna (?), será necessario: Kieselgouhr = 42.000 kilogramas – temos 28.000 kilogramas .......= Falta 20.000 kilogramas Phosphato de Cal = 40.000 – “ 20.500 ..........................= “ 19.500 Aluminato 14.500 – “ 8.100 ..........................= “ 6.700 Enxofre temos o suficiente para 1919 Soda caustica temos suficiente 4 Julho 1918 [Ass:] João Higino Ferraz // [83]268 [DATA: 17 de Julho de 1916 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [84] Funchal 17 Julho 1916[sic]269 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua estimada carta de 4 do corrente, e vejo por ella que o maldito Prodencio sempre quer fazer o que sempre disse, isto é, apossar-se do apparelho de destillação, e era por isso que eu sempre lhe pedi para fechar o contracto com elle. Tenho porém edeia de lhe ter dado ahi a lista dos apparelhos que devem estar junto com as contas das despezas feitas enviadas pelo empregado o Sebastião. Deve pois juntar essas contas com a dita Lista porque tudo isso junto é prova concludente da má fé do dito Prodencio. Crea-me seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //

268 O fólio 83 não existe. 269 Incompreensivelmente, esta carta e a seguinte são datadas, por Higino Ferraz, como sendo do ano de 1916. Poderá ser gralha, mas optamos, como tem sido nossa prática, por respeitar integralmente os grafemas e algarismos de Higino Ferraz, acrescentando o necessário [sic].

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[DATA: 17 de Julho de 1916 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [85] Funchal 17 julho 1916[sic] Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Como vê envio-lhe uma carta separada, que no caso de ser necessario, pode-lhe servir em juizo para provar que o apparelho é unicamente seu e montado conforme o contrato feito, e junto tambem a Lista dos apparelhos montados (em duplicado por copia) assignada por mim. Esse mariola sempre quer fazer o que dizia em Almeirin «que o apparelho nunca mais sahia da sua casa» e a razão era não assignar o contrato e assim provar que tinha adquirido por qualquer forma que elle tem em vista provar. Não vejo porém que elle possa fazer nada com relação a isso, porque testemunhas não faltaram, e é necessario que elle apresente qualquer decomento de adquirição do apparelho. Deve existir no Escriptorio as contas dos mestres, serralheiro de Almeirin e Caldeireiro de Santarem, contas que eu mandava passar sempre em nome de William Hinton & Sons, e que o Sebastião Manoel mandava para o escriptorio em Lisboa. Tudo isso junto prova que a montagem foi por nossa conta. // [86] Aguardente de canna: Segundo a carta que o Senhor Hinton escreveu a Carlos270, vejo que o Senhor se enganou nos calculos de rendimento em aguardente dando-lhe 4 quartilhos por almude emquanto que Carlos lhe tinha dito 7 quartilhos. Para evitar que de futuro se dê enganos d’esses que lhe podem ser prejudiciaes, vou dizer-lhe como deve fazer os calculos. Hoje enviamos-lhe um telegrama dizendo eu que o rendimento medio que eu calculo para a canna é de 9 litros aguardente em 27º Cartiere por 100 kilogramas canna, o que dá 7 1/2 quartilhos por 30 kilogramas canna (almude). Carlos tinha-lhe dito 7 quartilhos mas esse rendimento é baixo, e não se pode contar a media de todas as fabricas em menos 1 7 /2 quartilhos por almude de 30 kilogramas canna, em aguardente em 27º Cartiere. Para os calculos. Cada gallão é igual a 10 quartilhos (medida antiga). Cada gallão equival a 3,6 litros – Um quartilho equivale pois a 0,36 litros O rendimento de 9 litros % canna é com bagaço e tudo. Se por exemplo uma fabrica pagou de imposto 6:000$00 escudos como cada litro paga de imposto 150, temos que devidir 6:000$000 = 40.000 litros d’aguardente que pagou imposto. 150 Quanto representará isto em canna contando que cada 100 kilos canna dá 9 litros aguardente em 27 Cartiere? x = 40.000 = 4444 x 100 = 444.400 kilogramas canna. 9 Crea-me seu Amigo certo [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 20 de Julho de 1918 DESTINATÁRIO: José Gomes Ribeiro, António Perry da Câmara] [87] Funchal 20 Julho 1918 Meus Caros Ribeiro e Perry Esta vai para os dois porque os interessa a ambos. Pela carta do Ribeiro vejo que voces já teem dado alguns passos sobre o nosso negocio futuro, mas muito mais há que fazer em vista da importancia do caso, e como voces ahi podem vêr isso tudo muito melhor do que eu, é conveniente eu expor qual a minha edea, na generalidade, para estudarem bem a questão e calcularem as forças com que podemos contar. Quanto ao Hinton271 vejo que não pensa mais em vinhos, o que me falta é a conseção d’elle para me deixar livre depois da Laboração da canna, e é isso que não tenho ainda resposta do Meira272, o qual se encarregou de fallar (apalpar) o Hinton sobre isso. Como voces comprehendem, não me convem deixar assim uma situação que é boa, por em quanto, para mim, porque não tenho outros recursos para viver. Tudo o que fassa porém somente pode ser feito depois de terminada esta maldita guerra, porque a minha fraca opinião, é que antes d’isso, ninguem pode fazer calculos sobre negocios sem vêr para onde pende a balança e o que será o futuro da Europa 270 Carlos Fernandes. 271 Harry Hinton. 272 Francisco Meira.

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ou fora d’ella. Isto de calcular cousas aereas é sempre muito perigoso, e não se pode vêr no futuro o mesmo que se vê agora. // [88] Exposto isto vou dizer da minha justiça. O meu fim é fazer a industrialização do vinho ou por outra do mosto da uva, comprando não o vinho feito, mas sim o mosto da uva, que facilmente se pode conservar nas adegas dos Lavradores tambem ou melhor do que o vinho, tendo elles a grande vantagem de não se preocuparem com os cuidados que actualmente teem com os vinhos feitos, que muitas vezes se perdem por acetificação. Pela compra do mosto teem elles a sua venda garantida em boas condições. Para nós, comprado que seja o mosto em condições a establecer e fabricado nas adegas do Labrador conforme a nossa indicação ou seja em tintos ou brancos e sobre nossa fiscalisação, hiremos retirando o mosto conforme as nossas necessidades o exigirem. Por conseguinte esta forma de negociar em nada altera os costumes establecidos nos negocios de vinhos dos Lavradores-vinhateiros, a não ser no producto vendido, que, em logar de ser vinho é mosto. Para nós Industriaes, o que faremos? Transformar esse mosto em um producto de boa qualidade em condições verdadeiramente sentificas, e fazer d’elle o que melhor nos convier e conforme o mercado pedir, ou seja em vinhos de pasto de consumo directo, vinhos de exportação mais ou menos alcoolicos, xaropes d’uva concentrados para tratamento de vinhos do Porto ou outros ou para exportação se assim convier ou // [89] outros quaesquer typos que se queira obter. Tudo isto será feito na Fabrica industrial com o nosso mosto comprado, na occasião que se quizer e na quantidade que se quizer conforme o mercado o pedir, e assim poderemos aproveitar as occasiões em que os outros negociantes de vinhos teem dificuldades de apresentar productos que nós os faremos facilmente. Esta questão de xaropes d’uva, vejo um bom negocio de exportação, porque com este producto exportado para Franca[sic] ou outro qualquer pais, servir-lhe-há para o fabrico de vinhos licorosos de que elles teem grande falta, e o nosso Pais está em condições muito melhores do que Hespanha para isso, devido á nossa qualidade de uva, e em Hespanha e Argelia já fazem esse xarope em grande quantidade. Porém, para uma industria d’esta natureza não se fazer em pequena escala, porque teremos que adquirir apparelhos apropriados ao fim, e esses apparelhos, que o seu custo é relativamente elevado e de[sic] podem deteriorar, é necessario fazer todos os annos uma amortisação pelo menos de 10% do capital da instalação que nos leva uma boa verba, e em ponto pequeno os lucros podem ser absorvidos por ella. É puis minha oppinião que nada se poderá fazer com vantagem com menos de 4000 pipas de mosto por anno. Não se assustem voces porém com esta quantidade, porque de 4000 pode-se fazer 1000 de cada quali//[90]dade de vinhos ou xarope, mais ou menos d’um ou d’outro. A dificuldade, a meu vêr, está na instalação da adega que requer um capital relativamente grande para as nossas forças, e era por isso que sempre pensei em alugar um Armazem de vinhos já montado com os devidos toneis, e assim a instalação nos sahiria mais facil. Na Quinta que Perry tem, nada tem de instalações proprias ao fim, isto é, está nua... Quanto nos poderá custar, mesmo depois da guerra, uma montagem completa de uma Fabrica n’estas condições? Nada posso dizer, nem voces mesmo o podem saber ahi! O que unicamente eu posso dizer aproximadamente é o que é indispensavel para o fabrico de 4000 pipas de mosto em 8 mezes de trabalho seguido. 3 poços em cimento armado para o mosto a receber dos Lavradores, da capacidade de 100 metros cubicos cada um. 12 cubas de fermentação de 5000 litros cada uma. 40 toneis de 20 pipas cada um (descanço do vinho feito) 12 “ de 10 “ “ “ (collagem ou clarificação). 25 “ de 40 “ “ “ (Depositos de vinho feito para sahida) 300 cascos de 500 litros cada (para transportes do mosto) Os apparelhos compoe-se de um dessulfitador, um concentrador, uma caldeira de vapor de 50 cavallos, bombas etc. para trabalho de 10.000 litros de mosto de uva por 24 horas, filtros mechanicos e filtros-prensas. Esta mesma instalação pode fazer 5000 pipas em 10 mezes. // [91] Quanto ás garantias de lucros, o que eu posso dizer é que, o nosso fabrico comprando o mosto ao preço do vinho feito, dando o Lavrador, como é praixe actualmente, 10% mais em mosto do que elles entregam em vinho, e depois de tiradas todas as despezas de fabrico, nos ficará o vinho ao mesmo preço do que a qualquer negociante comprador de vinhos feitos, com a vantagem para nós de termos um producto de muito melhor qualidade e mais egienico, e em condições oeorganoleticas melhores, e muito melhor conservação, mesmo para exportação. Para porém poder calcular quaes os lucros minimos provaveis seria bom eu saber o seguinte:

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1º Preço medio por que foi comprado o vinho, por exemplo, em Almeirin (boa localidade de vinhos ricos em alcool) por pipa de 445 litros (medida de Almeirin). 2º Qual o frete em Caminhos Ferro até Lisboa 3º Qual o preço <minimo> por groço do vinho de pasto nos armazens de Lisboa fora de Portas. 4º Qual o preço medio minimo por groço do vinho tratado, isto é, vinho com mais de 12% alcool até 17% Amostras de todos estes vinhos, pelo menos um litro de cada, e as condições de venda e mais informações que voces possam obter, e mesmo no tempo normal, isto é antes da guerra, em que condições eram feitos os negocios e preços aproximados. Tudo quanto voces poderem obter de notas é-me conveniente, fazendo sempre referencias ás capacidades de vendas, para os meus calculos. // [92] Para os xaropes, como isso é um producto novo em Portugal, sô depois de feito se pode fazer reclames, mas posso desde já dizer que, para os vinhos a fazer ricos em alcool, o emprego do xarope no mosto tem muito mais vantagem do que a alcoolisação pela aguardente de vinhos, sendo uma alcoolisação natural e não tornando os vinhos aguados, como acontece com a aguardente. Estou mesmo certo que, uma vezes [sic] feita a esperiencia da alcoolisação pelo xarope, este producto vai ter grande sahida para o Porto ou outras localidades onde se fabrica vinhos generosos. Por emquanto nada mais posso dizer sobre o assumpto, mas espero que o Ribeiro na sua volta de Lisboa me traga todas essas notas e as competentes amostras. Até á vista pois, e um abraço para os dois do seu Amigo verdadeiro [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 27 de Julho de 1918 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [93] Funchal 27 Julho 1918 Ex. Amigo e Senhor Hinton Tinha pedido ao amigo Meira273 para lhe falar sobre o fabrico de alcool no Torreão no proximo anno (1919), somente durante a laboração da canna, porque assim teremos varias vantagens, conforme a minha carta de 25 maio ultimo. Se assim se fizer, desejava saber isso o mais breve possivel para se poder requerer a transferencia do nosso destillador, que está montado na Comp.ª Nova, para o Torreão, e isso somente pode ser feito por requerimento que tem que hir a informar á repartição ahi em Lisboa, e como tudo isto leva seu tempo, por isso lhe pesso com urgencia a sua resolução. Por este correio vai como encomenda Postal uma amostra sendo, uma saca com que se fabricou aqui este anno os panos para os filtros presses da Melasse Cuite, e um dos panos arranjados com essas sacas. Era necessario para o proximo anno uns 1600 a 1700 panos. No caso de se poder obter pano egual a esse com 1,15 metros de Largura seram necessarios 4500 metros. Não havendo pano então é bom comprar 5000 sacos eguaes á amostra. Subscrevo-me Seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // mo

[DATA: 13 de Agosto de 1918 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [94] Funchal 13 Agosto 1918 Ex. Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua estima de 27 ultimo o que muito lhe agradeço. Vejo por ella que o Prodencio já assignou o contracto, e quanto á lista dos apparelhos já lhe enviei pela outra mala. Estamos a terminar o melaço e o tanque grande deve ficar lavado amanhã. Não lhe posso porém dizer por esta qual o resultado exacto do rendimento, mas vejo que deve ser bom, isto é egual ao de 1917. Ja tenho a destillaria quasi completa, mas falta-me os apparelhos de vidro que se encommendou ao Lefebvre274. Sabe alguma cousa d’isso? Elle escreveu-me a dois mezes dizendo que os hia enviar para Lisboa. Parabens pela boa venda da Vilha Preira & Cascadura Crea-me sempre seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // mo

273 Francisco Meira. 274 Georges Lefebvre.

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[DATA: 28 de Agosto de 1918 DESTINATÁRIO: Governador Civil do Funchal] [95] 28/8/918 Ill.mo Ex.mo Senhor Governador Civil do Funchal Envio a V.ª Ex.ª as notas que me pedio para o rendimento em alcool dos vinhos segundo a sua graduação ou força alcoolica, e com estas notas pode V.ª Ex.ª fazer os seus calculos para os preços do vinho e a como lhe ficaria a aguardente ou alcool produzido, tendo porém de dizer que a despeza de fabrico actual sem lucro algum é de 150 reis por litro alcool em 40º Cartiere. Calculos sobre 100 litros vinho fermentado. Com 9% alcool, 100 litros vinho dá 11,2 litros alcool em 30º Cartiere = 9,14 litros em 40º “ 10% “ “ 12,5 “ “ “ = 10,20 “ “ 11% “ “ 13,8 “ “ “ = 11,26 “ “ 12% “ “ 15,1 “ “ “ = 12,32 “ “ 13% “ “ 16,3 “ “ “ = 13,30 “ O apparelho de destillação-retificação da Comp.ª Nova, somente pode tirar o alcool em 40º Cartiere, e nunca menos d’este grau. Quanto á aguardente de canna, é vendida ao gallão de 3,6 litros com a graduação de 27 Cartiere no maximo. Ora, 3,6 litros em 27º Cartiere = 2,67 litros em 50º Cartiere ou 2,18 litros em 40º Cartiere De V.ª Ex.ª Attencioso Venerador [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 31 de Agosto de 1918 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [96] Funchal 31 agosto 1918 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Recebi por mão de Carlos275 duas amostras de tecido, uma branca de tecido tapado que não serve para os filtros-presses da Melasse Cuite, a outra amostra está mais ou menos nas condições, e pena é não haja um pouco mais tapada, mas não havendo outra esse pode servir. Envio-lhe a amostra que mandou. Tenho porém uma cousa a lhe fazer vêr. Esse pano, creo eu, deve custar bastante caro em vista de tudo o que é tecidos terem subido de preços enormemente e assim talvez conviesse modar o systema de trabalho das Melasses Cuites de 1ª e 2ª serie, em um grão um pouco meior afim de poder ser turbinado nas duas turbinas do tourteaux em logar de passar a Melasse Cuite aos filtros-presses. Naturalmente o epuissement dos melaços não seria tão perfeito como com a filtração, mas no caso de conseguir que na futura lei saccarina o preço do alcool seja pelo menos de 50 centimos o litro e como temos sempre falta d’alcool o resultado é melhor. Recebi uma carta de Lefebvre276 em que me diz que parte dos apparelhos para a destillaria já seguiram para Bourdeaux a 5 de Junho proximo passado, mas que estiveram 3 mezes na gare d’Aus-//[97]terlitz (Paris) sem poder seguir por falta de material de Caminhos Ferro e que foi enderessado para Bourdeaux ao agente da firma William Hinton & Sons – Mesquita. O resto da encomenda deve ter tambem ja seguido. A carta de Lefebvre é de 2 agosto. Elle pede-me para o prevenir que sobre o Aluminato de baryte não se deve demorar a fazer a encomenda (6100 kilogramas) desde já, porque elle conta que levará pelo menos 6 mezes (!!) a aqui chegar. As notas sobre os rendimentos do melaço somente lhe posso enviar pelo “San Miguel”. Sem mais que possa dizer subscrevo-me seu Attencioso Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 4 de Setembro de 1918 CARACTERIZAÇÃO: Informação sobre a produção de alcool no ano de 1918] [98] Contas do rendimento em alcool em 1918 Canna 1.154.471 kilogramas rendeu 23126,8 litros alcool a 100º = 72 litros tonelada canna Jus diffusão 946.965 litros com 76.827 kilos assucar rendeu 44.540 litros alcool a 100º e que dá um rendimento de 58 litros alcool % assucar. Melaço = 1.015.147 kilogramas rendeu 287.703,2 litros alcool a 100º Rendimento % melaço 28,34 litros alcool a 100º 275 Carlos Fernandes. 276 Georges Lefebvre.

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Notas: Pelo melaço calculado (Laalberg) deu 1.032.734 kilogramas, o que se vê que fez uma diferença para menos de 17.587 kilogramas Esta diferença é do tanque grande que foi por Calculo Ficará pois melaço % canna trabalhada = 3,866 kilogramas, em logar de 3,933 kilogramas pelo calculo de Laalberg. Funchal 4 Setembro de 1918 [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 8 de Janeiro de 1919 DESTINATÁRIO: Vouga & Carvalho] [99] Funchal 8 Janeiro 1919 Meus presados Amigos Vouga & Carvalho Porto Recebi a sua estimada carta de 19 Dezembro ultimo a que passo a responder, mas primeiro desejo-lhes a sua saude e de todos os seus, e faço votos para que este novo anno lhes seja prospero tanto em saude como em macas[sic]. Depois d’isto passo pois a responder aos seus quesitos com relação á sua nova industria de refinação de açucar areado (?), mas tenho primeiro que dizer-lhes que a minha fraca competencia n’este assumpto, porque não sendo refinador d’esse typo de açucar (areado), somente theoricamente lhes poderei dár algumas edeias sobre isso e o que eu faria no caso de me vêr nas suas circunstancias, e ellas ahi vão: 1ª Uma industria d’esse genero, mesmo em pequena escala, deve ser sempre feita em boas condições de trabalho e economia e assim todo o trabalho deve ser o mais possivel mechanico, para se poder competir com os colegas refinadores. 2º Não se deve olhar a grandes economias de montagem em apparelhos aprefeiçoados, porque esses trazem sempre um producto mais perfeito, trabalho mais // [100] facil e economico em pessoal e combustivel, e mais quando estes dois ultimos estam actualmente bastante caros. 3º A montar um fabrica [sic] de refinação n’estas condições, devemos instalal’a de forma a que querendo augmentar a producção se fassa sem transformar a fabrica. Dados estes 3 principaes pontos, vou dizer-lhes o que me offereçe a theoria para a forma a seguir no trabalho: Para uma refinaria d’açucar é sempre conveniente um trabalho continuo por isso que temos xaropes feitos que, ou teem de ser trabalhados emediatamente para não se estragarem, que sendo um trabalho de 8 a 10 horas teremos que fazer liquidações diarias repetidas que são muito desvantajosas e daram prejuizos graves, ou em trabalho continuo ou quasi que evitará essas perdas varias. Em vista d’isto acho que os meus Amigos devem calcular de forma que o trabalho seja de 18 horas no minimo, ou melhor de 24 horas e somente parar por completo e liquidar quando o seu stock de açucar seja suficiente ás suas necessidades. Establecendo isto assim, e fazendo no minimo de 18 horas 10 toneladas d’açucar, poderam fazer nas 24 horas 14 toneladas. Para uma refinaria d’esta capacidade, e como com xarope a 30º Baumé a quente cada //277

277 Esta carta encontra-se truncada. A sua continuação poderá estar noutro copiador que contem a epistolografia remetida por Higino Ferraz de Janeiro a Outubro de 1919, a que não tivemos acesso; ou então, o restante da informação desta carta de 8-1-1919 foi considerado desprezível para merecer a sua inscrição, e, além disso, Higino Ferraz não terá expedido quaisquer cartas dignas de memória (da sua, claro), nos primeiros 10 meses do ano de 1919 – hipótese esta que achamos menos plausível.

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[Copiador de Cartas. 1919-1920]

DESCRIÇÃO: À imagem dos anteriores copiadores de cartas, o título deste é por nós atribuído. É um livro, em papel, 27 cm x 22 cm, e encontra-se em bom estado de conservação. Os fólios deste copiador estão numerados com caracteres tipográficos.

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[DATA: 14 de Outubro de 1919 DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre] [1] Funchal 14 outubro 1919 Meu Caro Amigo e Senhor Lefebvre Recebi de Lisboa, por isso que já estava na Madeira, o seu telegrama dizendo; «Molhant ecrit envoyer ferments sans parler conditions speciales, Vasseux repond que appareil actuellement Madère convient si resiste cinc kilos pression et florure employé sur levaine, confirme aussi conditions annuelles; priere voir comptabilité pour cheque demandé», e ao mesmo tempo a sua estimada carta de 25 setembro ultimo. Vou passar pois a responder por partes, tanto ao telegrama como á carta: Levure Molhant: Em vista de Vasseux acceitar condições e ser o florure empregado simplesmente no mosto fermento, confirmámos por carta de Hinton278 este affaire para podermos usar já no melaço de Cuba que vou fermentar em Novembro, com a condição que a levure Vasseux e o florure estejam aqui no Funchal até de Novembro proximo, e no caso de isso não poder ser, ficará este affaire para a proxima campagne // [2] de 1920, isto é, estar na Madeira a levure e o florure até fins de Fevereiro proximo futuro. No primeiro caso não é necessario enviar a levure Molhant por isso que temos a de Vasseux; no segundo caso é melhor enviar a levure Molhant (2 a 3 tubos) para estar aqui até 15 Novembro, caso seja possivel, para com ella fazer a fermentação do melaço de Cuba. Appareil de peptonisação: O nosso appareil não posso garantir que resista a 5 kilos perção (a agua?), mas posso garantir uma perção de vapor de 2 kilos, que era o trabalho normal d’elle. Em todo o caso farei o possivel de vêr se elle resiste a 5 kilos perção timbre de esperiencia a agua. Comptabilité: Pelo seu telegrama vejo que não tinha ainda recebido a nossa carta e cheque de Lisboa de 24 Novembro de 30.000 francos, sendo 12.000 conforme o seu pedido, e 18000 por conta das encomendas feitas (phosphato, refrigerante e Denis), conforme verá da carta da firma Hinton, mas espero que já deve ter em sua mão. Respostas á carta: Molhant: Já dito o que deve fazer, sendo possivel estar aqui até 15 Novembro proximo, porque do contrario empregarei a minha levure que tenho // [3] em actividade, quando não chegue tambem a levure Vasseux e florure. Materiel d’usine: O refrigerant Guillebaud deve estár aqui até fins de Fevereiro proximo futuro no maximo. Malaxeur Denis: Deve ser um malaxeur á travail descontinue de 5 metres de longue, e estar aqui tambem até fins de Fevereiro. Produits chimiques: Encomendados, como da carta da firma Hinton, 5000 kilos de Phosphato bi-calcique. Não necessitamos o bisulfito, visto ou empregarmos a Levure Vasseux ou Molhant que não são habituadas a este anticeptico, e mesmo o meu fermento o não ser tambem. Affaires personnelles: Quanto á instalação da Vinharia em Lisboa, á minha sahida de lá, deixei tudo em bom andamento, e tenho todas as esperanças de fazer o que desejo, ou seja em uma grande companhia em organisação, ou seja eu pessoalmente com um ou dois socios, e assim será uma pequena Vinharia de 50 hectolitros mosto por 24 horas. Contudo nada posso dizer por emquanto, sem estar tudo organisado em Lisboa. // [4] Desejaria porém, se Barbet fosse bastante amavel para comigo, dois (2) devis separados, um para uma Vinharia de 100 hectolitros em 24 horas com um dessulfitador para esta quantidade e um evaporador-concentrador para xaropes d’uva de 50 hectolitros mosto 24 horas, com todos os apparelhos necessarios, menos o gerador de vapor; outro devis de uma vinharia de 50 hectolitros nas mesmas condições, com um evaporador para esta capacidade. Pedia-lhe pois para falar a Barbet da minha parte 278 Harry Hinton.

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e fazer-lhe esse pedido, mas em boas condições de preço de material. Assim ficaria habilitado a resolver de prompto qualquer encomenda futura. Quanto aos outros pontos da Carta, como não tem ainda todos os dados, esperarei sua nova carta para decidir. Affaire Broderies: Este negocio já está em andamento, e esperam em poucos mezes enviar amostras (échantillons) dos bordados da Madeira, para Madames darem andamento aos seus negocios particulares: Há grande intosiasmo n’esse assumpto das senhoras associadas aqui para isso; ellas escreveram a seu tempo a Madame Lefebvre. // [5] Quanto á viagem de Paris para Lisboa, foi um pouco complicada, por isso que perdi o rapido de Madride, mas emfim sempre cá cheguei. Os meus respeitosos comprimentos e bons souvenires a todos os seus, e para vós, meu amigo um aperto de mão do seu amigo [Ass:] João Higino Ferraz P. E.[sic] Se falar com o Candido Henriques dê-lhe muitos e muitos comprimentos do seu amigo Ferraz, e que cá o espero em Novembro, se as Madmoiselles deixarem a Cambuse livre. // [DATA: 14 de Outubro de 1919 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [6] Funchal 14 outubro 1919 Meu Ex. Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua carta e telegrama de Lefebvre279 de 4 corrente o que muito lhe agradeço e passo a responder. Parti de Lisboa mais cedo como sabe, por não têr nada que fazer ahi, como já lhe disse na minha ultima carta. Effectivamente diz muito bem que Jacintho perdeu a cabeça, e peor ainda, está com a mania da perceguição!... Quanto á parte que me toca já disse a Jacintho o que tinha a lhe dizer, e elle mostrou-se bastante comovido (até ás lagrimas), queixandose que o Senhor Hinton o queria indispor comigo!.. Em fim, acho melhor arrumar essas questões que tanto podem prejudicar a si como a elle, e acho melhor, como diz na sua carta, que elle nada diga dos negocios da casa Hinton, e para isso passar um pano sobre tudo e terminar com questões, e isto mesmo disse eu ao Carlos. É isto // [7] que eu tenho que dizer a Jacintho, quando elle esteja mais calmo, e fazer-lhe vêr que elle ainda pode necessitar dos favores da Casa Hinton e que não deve prejudical’a, porque além de ser prejudicial aos dois, é uma indignidade que não é propria de homens que se prezãm. E assim espero que o meu amigo veja as cousas por o mesmo lado que eu as vejo. Da minha parte estou satisfeito com... as lagrimas... e não quero saber o que elle poderia têr dito a meu respeito; assim é melhor para si ou firma Hinton. Quanto ao que me diz sobre o meu amigo Francisco João de Vasconcellos não calcula quanto fico satisfeito por vêr que elle pode entrar no nosso negocio de vinhos e xaropes d’uva. Francisco João é um velho amigo meu por quem tenho uma verdadeira estima porque conheço o seu caracter de homem de bem, trabalhador e inteligente. Temos porêm um que... Francisco João, como sabe, não pode ver o Meira (não sei porque), e isso pode prejudicar um pouco a nossa questão. Era pois de grande conveniencia conseguir a boa páz entre os dois, mas isso sô pode ser feito por si, como amigo intimo das duas partes. Quanto ao fabrico de vinhos typo Porto ou // [8] Madeira eu me entenderei mais tarde com Francisco João, porque elle attende-me muito bem em tudo o que eu lhe digo. Sobre Lefebvre já telegraphamos e vamos escrever, mas vejo pela data do telegrama e da carta que elle me escreve, não poderia têr recebido a nossa carta de Lisboa e cheque de 30.000 francos a tempo de responder. A esta data deve estar de posse de tudo. Quanto á fabrica Pires280 vou continuar com os maçames para as caldeiras de vapor com auctorisação do Director da Alfandega, e foi muito conveniente o seu telegrama chamando o Pedro a Lisboa, porque assim será tudo resolvido mais brevemente e a licença necessaria para continuarmos a montagem dos apparelhos a fim de estar prompta a trabalhar no anno proximo futuro com o maximo da capacidade. Era isto que elle deveria têr feito, como eu lhe dizia, isto é, ter hido a Lisboa em agosto. Por nada mais por emquanto que lhe possa dizer, termino, desejando-lhe todas as felicidades de que é digno, e crea-me Seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // mo

279 Georges Lefebvre. 280 Fábrica do Salto Cavalo, de Pedro Pires.

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[DATA: 27 de Outubro de 1919 DESTINATÁRIO: Vasseux CARACTERIZAÇÃO: Procedimentos a adoptar no trabalho com o aparelho industrial Barbet] [9] Pour Monsieur Vasseux Marche à adopter suivant Schma si joint. Comme bassin de depart, je vais employer l’appareil Barbet E, et une fois la levure encemence et la fermentation en route on passerai la moitie de l’appareil á une des cuves mères F ou F1 et de la a les cuves mères G G1 en suivant les indications du methode de fermentation indique para Monsieur Vasseux. De les grands cuves mères G et G1 ou retiraira les pieds de cuves par H, H5, en raison que les cuves F F1 sont tres petites pour pied de cuve direct, à la condition de changer la cuve mère G ou G1 tous les 2 jours. Dans cette condition lá, les ferments speciaux de Monsieur Vasseux vont ètre conservés dans l’appareil Barbet au lieu d’étre dans les bassins proposée. Touts les moût de levure seront esterilisee a 100º dans mon ancienne appareil A, B, C et D et en travail contenue, pour 281 l’alimentation des cuves mères E, F G ou G1 será alimentee par moût de levure sans esterilisation. On pour faire comme ça? J’espere bien que oui. Commes vous voyez on emploit 30% du moût levure comme pied de cuves á 1050 densité et le moût general á fermenter á 110 densité que donnera un total de 1095 densité. Le fluorure será employé sur ces 30% du moût levure. [Ass:] João Higino Ferraz. 27/10/1919 // [DATA: 28 de Outubro de 1919 DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre] [10] Funchal 28 octobre 1919 Mon cher ami Monsieur Lefebvre Suivant votre desir je vá vous ecrire en francais, mais que francais... mon Dieux!.. Je vous demand pardon de mes erreures. Será naturellement des petits lettres pour dire moin de sotises... Hinton: Le depart précipité de Monsieur Hinton282 n’a rien de grave, et je vous remercie bien votres suins. Affaire Vasseux: Je vien de recevoir la petit caisset avec la levure Vasseux. Aujourdui votre telegramme en disant que Molhant ne peu pas envoyer levure et que Vasseux dite que son levure se peu employer sin fluorure. Ci joint je vous envoyer une lettre e cshma de notre installation pour la production de levure pur, pour donner à Monsieur Vasseux et voir si il concorde avec lá marche que se vá suivre, suivant toujour ses indications. Je vá commencer la fermentation avec ma levure ordinaire, et j’employé la levure Vasseux seulement q’ende arrive le fluorure. Refrigerant Guillebaud: Nous avons envoyées un telegrame en dizent ((refrigerant san rues)) parce que desir monter fixe et non vulant. // [11] Malaxeur Denis, repondu longueur de 5 metres. Barbet: Vous faite bien de dire á Monsieur Barbet que je ne peut pas faire emediatement la commende sans faire etablier premiere foi les affaires commercieau et tout vá en bon chemin. J’espere bien que Monsieur Barbet m’envoyerai les devis comme je vous demandé dans ma derniere lettre, c.a.d., un Devis pour une Vinerie de 100 hectolitres 24 heures avec un evaporateur de 50 hectolitres pour xirop de raisin, et un outre Devis pour une Vinerie de 50 hectolitres avec evaporateur de même capacité, touts complete, mais sans conter la chaudiere á vapeur. Affaire Pharmaceutique: Je fait voir à mon ami que l’Essoreuse lui ne donnerá le resulta desirant, par-ce que l’extráe melangé au sucre vá sortir naturallement par la force centrifuge et le produit será mal dosée. En vu de cá il suspende la command et vá etudiaire la question. Affaire broderie: Comme je vous dite dans ma derniere lettre, en peu de temps será envoyees les exantilons. En vous demandant pardon de mon mauvaise francés, je vou pris de transmettre á Madames mons meilleurs respects et a votre gendre. Par vous mon meilleur devouement de votre Ami devoue [Ass:] João Higino Ferraz //

281 Espaço em branco deixado por Higino Ferraz. 282 Harry Hinton.

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[DATA: 1 de Novembro de 1919 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [12] Funchal 1 Novembro 1919 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua carta de 26 proximo passado, o que muito lhe agradeço e vou responder: Francisco João: Estimo bastante, como amigo de F. J.283, que essa má vontade entre M284 e elle se liquide em bem, o que espero. Vinharia: Vejo o que me diz com relação ao negocio dos vinhos, e essa aquesição da Casa Vieira Gomes é importante, não somente pelo nome d’ella já muito conhecido, como tambem pelas instalações que já tem e que sei serem importantes; Sei mais que essa casa trabalha em vinhos pelos systemas mais modernos, e que emprega nas suas fermentações fermentos puros do vinho de Bourdeaux, e é isso principalmente que lhe tem dado o renome do seu vinho. A região de Collares é a melhor para os typos de vinho de meza, mas isso não impede que se vá comprar mostos a outras localidades, e com a Vinharia montada em boas condições, se possa obter vinho quasi edentico ao Collares, tanto brancos como tintos. O preço vejo que foi bastante alto, mas comprehendo que para comprar uma marca e adegas actualmente é dificil adquirir a preço baixo, quando os vinhos estão dando tanto dinheiro! Tenho porém sempre em mente a instalação no Cartaxo do José Doarte Lima, de que não se deve desfazer. // [13] Agradeço-lhe mais uma vez a boa vontade que tem em me ser agradavel, e pode crer que isso não é deitado a um poço, e a minha parte no trabalho para o bom caminho que esta nova empresa vai têr, será feito por mim com todo o entosiasmo e boa vontade, e que o grupo se não arrependerá de me incluir n’elle. Não sou, nem d’isso fasso alarme, uma capacidade, mas tenho vontade de trabalhar principalmente n’este assumpto em que estou muito empenhado. Fabrica do Salto Cavallo: Pedro285 foi para Lisboa e elle lhe dirá de viva vóz o que temos feito e vamos fazer. Assucar da Beira: Tudo está em ordem para a recepção do assucar e refinação, e logo que elle chegue dár-se-há principio á refinação, e tudo o que me diz sobre este assumpto será feito conforme o seu desejo. Quanto ao bicho já muito meu conhecido, vou vêr se este assucar contem, mas ainda assim que nada seja, vou têr o maximo cuidado nas desinfecções. Quanto ás cerpentinas de vapor das caldeiras de vacuo já estão todas esperimentadas e estão boas, e os restantes apparelhos tambem. Quanto á exportação do assucar diz-me Carlos286 que não vê possibilidade de o fazer na quantidade que deseja devido ao consumo excessivo aqui, o que é pena, porque esses preços que me diz se podem obter em França são os melhores possivel, e não vejo que o Governo possa impedir essa exportação, a não ser que mubilise o assucar!! // [14] Quanto ao systema da refinação, o Senhor Bardsley antes de sahir disse-me que era melhor não derreter todo o assucar para transformal’o em xarope, mas sim laval’o somente, como em tempos já fiz, o que dá naturalmente menos quebras e despesas, mas o assucar não ficará tão bom. Quer que proceda assim como elle diz? No caso de querer mande um telegrama “Lave assucar”, e no caso contrario diga “Refine assucar”, assim ficarei sabendo como devo proceder. Fermentações: Já dei principio aos fermentos, mas primeiro vou principiar com o meu fermento que tenho em actividade, para limpar bem os apparelhos, e depois darei principio com o fermento Vasseax por isso que vou têr o fluorure entre 6 a 8 Novembro pelo vapor do Cabo, e já tenho duas caixas com ampolas de fermento Vasseaux; assim dará melhor resultado e verei melhor o effeito do fermento novo. Seitz: Não vejo possibilidade de trabalhar no anno proximo com os filtros “Seitz”, porque o tamis fino da parte filtrante está em grande parte estragado e é necessario renoval’o. Além d’isso as torneiras de macho estão terriveis em derrame, e ficou establecido que Seitz as modaria por torneiras de gaveta de latão, como do contracto. Carta[sic] cannas: Não ha maneira de dár com o corta cannas! No Salto Cavallo não está, e mesmo sei que para lá não foi; na Fabrica não o vejo, mas em tempos vi-o no armazem do ferro. Teriam-no quebrado para socata? Como hoje e amanhã é dia Santo, João não está para // [15] lhe perguntar por elle, e se até segunda feira o vapor “San Miguel” não tiver vindo lhe direi o que há. Custa-me a crer que tivessem partido para socata um apparelho que custou tão caro e que poderia servir ainda. Como nada tive com essas cousas de socata, não lhe posso garantir se foi ou não partido. N’essa occasião estava em no Estranjeiro ou em Lisboa. Sem mais por emquanto que lhe possa dizer subscrevo-me seu Amigo Attencioso e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz 283 284 285 286

Francisco João de Vasconcelos. Francisco Meira. Pedro Pires. Carlos Fernandes.

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P. E.[sic] Esqueceu-me dizer-lhe que terminamos todo o alcool no Torreão no dia 31 outubro, dando o total do alcool até esta data no Torreão o calculo e resultado seguinte: De maio a outubro 1919 Alcool bruto produzido pelos inventarios = 315.335 litros a 100º Alcool total vendido até 31 outubro ..................................................................= 315.710 litros a 100º a 15 temperatura Escencias e etheres restantes............................................................................... 8.115 “ “ “ Cargas dos dois retificadores .............................................................................. 2.000 “ “ “ 325.825 “ “ “ “ “ “ Menos alcool produzido da retificação do Mau gosto da Comp.ª Nova............ 22.682 Alcool Torreão..................................................................................................... 303.143 “ “ “ Quebra de retificação e venda = 4% do alcool bruto. // [DATA: 3 de Novembro de 1919 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [16] Funchal 3/11/919 Ex.mo Senhor Hinton Ainda sobre os filtros Seitz tenho a dizer-lhe o seguinte: Como naturalmente vai liquidar a sua conta com a casa Aleman Seitz é conveniente eu lhe dizer o que penso a respeito d’esta instalação: Como elles nos garantiram o trabalho dos filtros, cuja montagem foi feita em 1914, trabalhando parte d’esse anno, e de 1915 com o Theorite Nº 2 fornecido por elles, tivemos parados em 1916 por falta do Theorite, dando novamente principio em 1917 com um preparado de Amianto Francez que não deu bom resultado. Nos annos de 1914 e 1915 com o Theorite Nº 2, o resultado da filtração foi boa, dando um jus brilhante. Como vê os filtros trabalharam somente 3 annos incompletos, e n’um tempo tão curto o tecido fino dos filtros estragou-se quasi por completo. Ora, isto não estava previsto no contracto, mas uma machina d’este genero deve pelo menos garantir um trabalho de 10 annos sem concerto de meior, para dár tempo á Amortisação, e isso não se deu assim por isso que sô trabalhou 3 annos! Terá a firma William Hinton & Sons direito a que Seits indemenise esse prejuizo, que é importante? Parece-me bem que sim, visto elles saberem qual o producto a filtrar. // [17] Fabrica de H. Figueira287: Esta fabrica, segundo as indicações que tenho podido obter, está nas condições que lhe vou espor. Tem dois moinho [sic] de 48”, um de 4 roulos (?) systema antigo, e outro de 3 roulos (moderno), e que deve dár um trabalho de 200 toneladas canna por 24 horas. Qual será a extração? Depende isto se fazem ou não imbibição entre os dois engenhos: vamos supor (o que é mais provavel) que elles fazem essa imbibição e no maximo de 20%; posso-lhe garantir que querendo trabalhar as 200 toneladas a sua extração não será superior a 85% do assucar contido na canna, teem pois pelo menos uma perda media de 3 kilogramas assucar % canna somente no bagaço, não contando as perdas indeterminadas. Poderiam elles reavêr parte d’esse assucar, fazendo uma extração para alcool, mas para isso não teêm moinho, sô se montassem o da Calheta, mas isso era haugmentar a capacidade da Fabrica. Torreão, a sua extração é de 96 a 96 1/2 %, e Comp.ª Nova de 92%. Maximo de trabalho nas duas 620 toneladas canna. Triple-effet não sei a sua capacidade, mas calculo que deveria a fabrica nas Canarias, por ser antiga, não calcularem senão a garapa normal para a evaporação, e aqui, fazendo a imbibição, o apparelho evaporador não dará para as 200 toneladas canna em 24 horas. Filtração: Tem dois filtros-presses para as borras da defecação ordinaria, e um grande filtro Taylor, egual ao que o Senhor tinha antigamente quando eu entrei na Casa. // [18] Sulfitação: Tem um Quarez para a sulfitação da garapa. Cuites: Tem uma unica caldeira de vacuo, para os cosimentos de 1º, 2º e 3º jet (?!); a sua capacidade não sei, mas creo que deve ser calculada para a capacidade de 200 toneladas canna sem imbibição. Malaxeurs não tem, e a Melasse Cuite cai em pequenos carros onde é arrefecida para depois hir ás centrifugas. Centrifugas 3 para a seccagem da 1ª, 2ª e 3ª qualidade de assucar Como muito bem vê esta fabrica nunca poderá n’um trabalho regular fazer mais de 150 toneladas canna em 24 horas com imbibição, e ainda mesmo isso com dificuldades e pouco resultado, devido ao nosso typo de canna Yuba, que como sabe é dificil de defecar bem. O triple dou-lhe 3 a 4 dias de trabalho maximo, e os restantes 4 dias um trabalho minimo; limpezas do triple 287 Henrique Figueira da Silva.

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todos os 7 ou 8 dias (!). Destillaria: Tem um apparelho de destillação continua typo Paulmann em duas columnas como o nosso; podendo tirar alcool no maximo de 90º Centigrados mas não retificado. Para esta parte do fabrico, tem elle o retificador que empregou este anno na Calheta, mas que não tira alcool a mais de 38º Cartiere, como muito bem sabe. É isto que lhe posso dizer por emquanto. Corta cannas: Foi quebrado para socata. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 7 de Novembro de 1919 DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre] [19] Funchal 7/11/919 Mon Cher ami Monsieur Lefebvre Le Directeur du Lycée du Funchal m’a demandé pour vous ecrire vous demandant les appareils et produit chimiques pour le Laboratoir de l‘ecole Centraille suivant la list-ci-joint. Um cheque de 2.500 francs pour le payement du materielle, transport jusqu’aux Funchal e votre commission. Si les 2.550 francs ne donne pas pour tout, il fau dire avant de envoyer, par-ce que aprés c’est deficit de avoir de l’argent... du Guvernement... Il fau envoyer le plus tôt possible avant le fin de l’année. Monsieurs José Julio de Lemos Succeceurs desir deux thermometres a cadran pour l’appareil Barbet suivant le petit dessin ci joint de 10º a 110º centigrados. Vous pouvai demandes ci á Barbet. Ces 2 thermometres peu venir pour Marliere288 en Fevriere prochenne. Vous Ami devue [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 8 de Novembro de 1919 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [20] Funchal 8/11/919 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Envio-lhe as notas do alcool produzido na Comp.ª Nova em 1919 até 31 outubro, segundo os dados de Marinho de Nobrega289: Inventario: Stock do alcool em 31 Dezembro de 1918 = 12.848,42 litros a 100º Produção do alcool em 1919 até 31 outubro —— 294.092,57 litros a 100º Calculos: Alcool vendido até 7 Novembro 1919 de 1ª qualidade ...............= 269.007,84 litros a 100º “ “ Etheres para queimar................................................7.798 “ Escencias e etheres enviados ao Torreão a retificar ..........................22.682 “ Escencias ...........................................................1.292 “ Stocks “ Etheres .......................................................... 1.452 302.231,84 “ Menos o stock de 1918 .................... 12.848,42 “ Alcool de 1919................................ 289.382,42 “ Quebra total = 1,6% A caldeira de vacuo do Henrique Figeira é da capacidade de 100 Hectolitros, por isso que produz 50 sacos d’açucar de 100 kilogramas = 5000 kilogramas açucar! [Ass:] João Higino Ferraz //

{

[DATA: 21 de Novembro de 1919 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [21] Funchal 21 Novembro 919 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Como naturalmente deve estár desejoso de saber qual o rendimento do 2º carregamento de Melaço de Cuba, vou dizer-lhe 288 Joseph Marliere. 289 João Marinho de Nóbrega [1879-1954], industrial e jornalista. Foi químico-analista do engenho do Hinton, sendo à data da sua morte director do laboratório.

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aproximado o que conto obter, visto no Torreão não têr ainda terminado o Lote, mas já vejo qual será o rendimento aproximado. Analyse do melaço feita por mim: Saccharos[sic] directa ..........................................32,25 % “ Clerget ..............................................37,29 “ Glucose ................................................................14,50 Este melaço contem em grande quantidade o Leuconostoc mesenterioides, isto é, aquelle fermento que se produz na garapa em forma de cuscus, como muito bem conhece: Em vista d’isto, este melaço forma na fermentação mais acidez que o normal. Além d’isso a quantidade de glucose infermenticivel é meior que no 1º carregamento o que calculo em 5% (em saccarose); teremos pois: Açucar total em saccharose 51,06 % Infermenticiveis 5, % Saccharose fermentavel 46,06%, que ao ren-//[22]dimento de 60 litros alcool a 100º % saccarose fermentavel deve dár um rendimento de 27,6 litros alcool a 100º % melaço. É este o rendimento que um pequeno Lote da Comp.ª Nova deu, e eu calculo que no Torreão dará o mesmo em alcool bruto. Faço-lhe notar que este rendimento foi obtido com o meu fermento conservado e não com o de Vasseux, por isso que para este ainda não veio o fluorure de soda, e tenho em actividade para um novo Lote o fermento Vasseux mas sem fluorure, e assim poderei vêr a diferença de rendimento. O que desejava era receber quanto antes o fluorure, e já telegrafei a Lefebvre290 dizendolhe que não tinha recebido a fluorure até esta data. Quando tenha o fluorure vou fazer novo lote, e verificar por comparação os resultados obtidos. Como sabe, o 1º carregamento tinha em saccarose tatal[sic] 48,17% Infermenticivel 4,5% Saccarose fermentavel 43,67% que ao rendimento de 60 litros alcool % saccarose = 26,2 litros alcool a 100º % melaço, e foi este aproximado o rendimento que deu no Torreão e Comp.ª Nova. O custo na Fabrica do 1º carregamento é de 85$00 por tonelada “ “ do 2º “ “ 92$00 “ Em resposta á sua carta de 12 do corrente, pouco tenho que dizer, mas com relação ao Açucar Colonial, se elle tiver bicho, o que não crêo, a simples lavagem não o // [23] matará, porque a lavagem é feita com égoûts quentes, mas não chega a temperatura da Melasse Cuite a tal que o possa matar. Para isto, no caso de têr bicho, vou armazenar em armazem separado o assucar lavado do assucar que tenho de refinar em BB. Productos de Laboração: Tudo encomendado, menos a cal, que deve ser para 1920 umas 40 toneladas pouco mais ou menos. Os panos para os filtros-presses é que estão cotados a um preço dos diabos, e vou mandar uma amostra a Lefebvre para elle mandar as cotações, mas já se vê que para 1921, porque para este proximo anno não poderá vir a tempo. Quanto aos meus projectos de Vinharia, agradeço-lhe o que me diz, mas estou bem desejoso de fazer qualquer cousa de onde possa tirar lucros, porque esta vida está de tal forma cara que não posso continuar assim n’este estado de despezas, sem ter de onde me venha lucros. Sem mais, crêa-me seu attencioso Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 13 de Dezembro de 1919 DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre] [24] Funchal 13/12/919 Mon Cher Ami Monsieur Lefebvre J’ai bien reçu vós deux lettres de 15 et 20 de Novembre derniere, que je vou remerci bien. A ce moment je vien de recevoir votre derniere de 4 corrent. D[sic] cette forme lá je peu repondre aux trois lettres. Je vous remerci votre participation de changement d’adresse, et je fait votes que votre nouvelle maison á Taverny vos dê felicidades: C’eté bien malhereux que le fluorure n’arrive pas á temps de faire les experiences que je desire, avec le melasse de Cuba, par-ce-que avec la levure Vasseux sem fluorure le resultat est a.p.p. le même q’avec ma levure, seulement je constacte que lá fermentation est plus rapide. Lors’que je peu faire des esses avec le fluorure, je fairait un raporte que je vous envoyerait por montran a Monsieur Vasseux. La levure en gelatine vienne tres mal acondicionait, par-ce-que avec la chaleur la gelatine e 290 Georges Lefebvre.

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liquifiée et sali l’uate. Je ne sais pas se cette levure se conserve bien comme cá j’usq’a prochenne Campang (?). En tout cas, Monsieur Vasseux doive envoyer en Fevriere <[…]> prochene un nouvelle levure pure pour la Campagne. Affaire Lycee – Je vous remerci votres renseignement que je va transmettre a Proffeseur de Chimica. Nous avont reçue la lettre ci joint de Georges Bosset, mais comme je sui plaine de touts les Monsieurs qui font de produit // [25] pour decoloration des produit de sucrerie, je desir avant de faire quelque essai faire les questions suivants: Le prix est telment elevée (775 francs % kilogrammes) q’il faut employer un tres petits quantité: Quel est la quantité maxima par hectolitre de xiropes? On peu decoloraire les égoûts au leu do xirope? Par les échantillon que je vous envoi vous vaira que notre sucre de 1ar jet est blanc, c.a.d., sucre de xirops vierge. Notre sucre avec les rentrée des égoûts dans la cuite (Nº 2) c’est pauvre, et est du cette coleure aus égoûts a cause de la glucose. Ce nous pouvent employer cette produit dans les égoûts il faut filtraire aprés? Quel quantité se doive a peu prés employer? Vous pouveux voir ce Monsieur et demandes les renseignemet et vous em[?] plus competent que moi. Affaire Barbet: Je partira por Lisbonne en Janviere prochene par le “San Miguel”, afin de finir mes affaires de Vinerie et j’espere bien recevoir les devis de Barbet avant mon departe pour Lisbonne Affaire Borderies: Je vous previne que ce n’est pas Monsieur Belmonte que và faire cettes Affaires mais des Demoiselles & C.ª que vous ecrire á Madame Lefebvre sur cá et les echantillon vont etre envoyér ce méme mois (15 ou 16). Mes respects a Madames, et pour vous mes meilleurs amitié [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 23 de Dezembro de 1919 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [26] Funchal 23 Dezembro 1919 Ill. Amigo e Senhor Hinton Envio-lhe junto as notas do rendimento do melaço de Cuba (2º carregamento) que terminou a destillação a 22 do corrente, tanto no Torreão como na Comp.ª Nova. A ultima analyse feita por mim deu-me o seguinte: Saccharose directa ...........................32,25% melaço “ Clerget .........................37,29% “ = saccarose 51,06% Glucose ............................................14,50% “ Infermenticiveis % melaço 5,06 – açucar fermentavel 46% Melaço muito carregado de Leuconostoc Mesenterioide. Melaço recebido e medido no Tanque Grande = 1.025.024 kilogramas Foi destillado em 45 dias Destillado no Torreão = 630.816 kilogramas Rendimento = 178.250 litros alcool bruto a 100º “ “ = 110.138 “ “ “ “ “ Comp.ª Nova = 394.208 Totaes = 1.025.024 “ “ = 228.388 “ “ “ “ Rendimento do Torreão = 28,26 litros alcool a 100º % melaço “ Comp.ª Nova = 27,93 “ “ “ “ Medio das duas fabricas = 28,13 litros alcool bruto a 100º % melaço. Nota: Uma parte d’este melaço foi fermentado pelo fermento Vasseux mas sem emprego do anticeptico fluorure por não ter vindo a tempo. // [27] Refinação do açucar Colonial Açucar bruto importado = 531.581 kilogramas com 97,3 polarisação = 517.228 kilogramas puro. Produzio: Em açucar B refinado e lavado = 448.677 kilogramas com 99,4 polarisação ....................= 445.985 kilogramas puro Em açucar B2 turbinado = 11.440 kilogramas com 96,5 polarisação..................................= 11.038 kilogramas puro Égoûts = 56.890 kilogramas a 35,3% saccarose Clerget ...................................................= 20.082 kilogramas puro Lavagens filtros presses, etc. deu alcool 3066 litros a 60 litros % saccarose ....................= 5.110 kilogramas puro 482.215 Perda em saccharose = 35.013 kilogramas Rendimento em turbinado 88,3% do açucar puro. Nota: O açucar bruto não continha o acarus saccharum (bicho). mo

}

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Glucoses: Glucose no açucar B “ “ B “ nos égoûts

= 1095 kilogramas = 71 = 11850

}

= Total encontrado ——- .......................13.016 kilogramas Glucose no açucar bruto ........................ 3.827 “ Saccarose transformada em glucose ...... 9.189 “

correspondente 8730 kilogramas saccharose pura. Perdas indeterminadas em saccarose = 5,08% do açucar puro bruto. Os égoûts a destillar devem produzir aproximados 17.408 litros alcool a 100º Desejando-lhe um novo anno muito feliz e a sua Ex.ma esposa, subscrevo-me seu Amigo attencioso e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 29 de Dezembro de 1919 DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre] [28] Funchal 29/12/919 Mon cher ami Monsieur Lefebvre J’ai bien reçu votre lettre du 10 corrent aussi bien que le devis de Monsieur Barbet et le catalogue de la Maison Granger, ce que je vous remercie bien. Affaire Barbet: Le fabuleux devis de Monsieur Barbet ce n’est pas bien ce que j’ai demande; ce que j’ai demandé c’est un devis d’un dessulfitador de 100 hectolitres en 24 heures et il m’a envoyé un pour un dessulfiteur de 100 hectolitres en 8 heurs (!) de travail, c.a.d. le triple de ce que je demande. L’evaporateur est calcule de la même forme, c.a.d. il est faux, parce que je desire un de 50 hectolitres par 24 heures. Le reste du materiel je n’en ai pas besoin, parce que je vais monter ça dans une cave, et je ne vais pas traiter le raison directment, mais si acheter le moût de raisin, que je desire conserver dans les caves des Vigneron sen fermenter par moyen de l’SO2 liquide (anhydride sulfureux), c.a.d. le seule produit légal, que je puis employer. Aprés Aix, ou dix mois je vais chercher ce moût sulfite ches les Vignobles et je dessulfite dans ma Vinerie. Avec ce moût dessulfité je ferais du sirop de raisin ou du vin a ma volonté. C’est çá mon affaire de Vinerie et ca le meme que ja vous ai dit // [29] aussi bien qu’a Monsieur Barbet, et je ne comprend pas porquoi il m’a envoyé ce fabuleux Devis. Ma question est de savoir si la dessulfitation enleve presque tout l’SO2 introduit dans les moûts pour sa conservation, san donner de mauvaise goût au moûts. C’a será possible? S’il est possible, l’appareil Barbet en céramique qui travaille dans le vide á une temperature basse de 70º (temperature de esterilisation), ne doit pas donner le goût de brulé. Quel est l’appareil de Monsieur Grangér? Ne sera-t-il pas la même chose que l’appareil Barbet? Si l’appareil Barbet ne donne pas de resultat, celui de Granger ne marchera pas non plus. Quant a l’evaporation qu’est-ce que je vais faire? Evaporer un moût de raisin ordinaire, aprés dessulfitation, dans le vide à basse temperature, dans un appareil en cuivre avec un vide maximum et une evaporation trés rapide. Pour cá je ne vois pas de difficultés si je obtiens un petit appareil specialment construit pour cá. Qu’est-ce que va faire Monsieur Granger? Naturellement la même chose que Barbet. Comme vous voyez aprés ma voyage á Paris je ne suis plus avancé que quand j’etait á Madère!! et ça me mets en embaras sans savoir ce que je dois faire. Je partirai pour Lesbonne le six Janvier prochain mais comme vous pouvez bien le comprendre je ne puis pas me fixer sur une base pour mes affaires futures. Mon dernier mot est de savoir si les appareils de dessulfitation et evaporation de Barbet ou Granger donne le resul-//[30]tat que je desire et au même temps si les prix est abordable pour une premiére experience, parce que si aprés je vois que le procédé de dessulfitation et evaporation donne de bons resultats, je peus acheter das le future des appareils plus grands. C’est cá le conseil que Monsieur Barbet m’a donné, et non son fabuleux devis!! Ce qu’il ma envoye c’est ma ruine... et de mes amis...!! Affaire Vasseux: Je vien de recevoir un outre petits caisse avec levure en gelatine bien acondictionné. Le resultat du procédé je vous dirai apres les esperiences avec le fluorure. Affaires pharmacien: c’est meux finir avec cá parc-que il dit que c’est trez cher touts les appareils. Affaire Lycee: Je domné au Directeur votre liste de produits, et il demande si les 2500 francs ne donne pas pour tout vous pouvai depenser encore plus 1000 francs qui sont auctorisée par le Conseille. Je desire a mes Amis Madame et Monsieur Lefebvre assi que [?] Madame e Monsieur Bisson une nouvelle anné plaine de felicidades. Votre Ami devué [Ass:] João Higino Ferraz //

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[DATA: 26 de Fevereiro de 1920 DESTINATÁRIO: Ramiro de Magalhães] [31] Funchal 26 Fevereiro 1920 Ill.mo Ex.mo Senhor Ramiro de Magalhães Porto Meu Ex.mo Amigo e Senhor Mais uma vez obrigado pelas suas amabilidades e de sua Ex.ma Esposa para comigo, a quem pesso fassa os meus respeitosos comprimentos. Junto envio-lhe o ultimo Catalogo que recebi de Barbet sobre apparelhos de destillação, como do pedido feito pelo nosso amigo Senhor Julio Tornel. Barbet tem modificado um pouco os seus apparelhos, mas não tenho o catalogo ultimo d’elle nem mesmo por elle se poderá vêr qualquer cousa que elucide sobre a obtenção de qualquer apparelho, a não ser quem conheça um pouco as theorias de Barbet sobre destillação e retificação. Se eu conseguir, como desejo, trabalhar ahi no Continente n’este anno ou no proximo sobre fabrico de vinhos e outros que bastante me interessa e talvez ao meu Ex.mo Amigo, poderei com a minha fraca competencia sobre destillação e retificação dárlhe qualquer indicação que lhe // [32] pode ser util, e mesmo construir ahi um apparelho fundado nas mesmas theorias. Temos em Portugal bons operarios, o que lhe falta é direcção technica. Aqui fico pois a sua desposição e esperando a sua visita á nossa Ilha e crea-me Seu Attencioso Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 4 de Março de 1920 DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre] [33] Funchal 4 mars 1920 Mon cher Ami Monsieur Lefebvre Je suis actuellement à Funchal, après avoir fait route sur le vapeur “San Miguel” du 20 derniere. Je suis en possession de touts vos lettres et les Devis de Barbet, Vidal et Prache & Bouillon, celui-ci avec un Schma de l’appareil evaporateur de son systeme. Ce que regard aux deux premiere Devis j’ai déja dit dans mes dernieres lettres ce que je pense sur le sujet. Quant à Prache & Bouillon j’ai bien fait attention sur ce qu’ils disent au sujet de l’evaporation directe du moût de raisin aprés avoir été filtré, sitot la récolte du raisin sans antiseptine priable, mais je ne suis pas d’acorde avec cette façon de procéder pour plusieurs raisons: 1º Le raisin est exceptionnellement d’une fermentation active sitot aprés la recolte et beaucoup plus aprés avoir été transformé en moût, et comme çá seulement en procédant a la sterilisation du raisin sur les champs ou vignolle sitot aprés da recolte, et encore aux presses au moment de l’extration du moût, on pouvra arriver a la montage complete. 2º La façon que nous comptions adopter dans la fabri-//[34]cation ne permets pas de traiter les moûts en vins ou xirops au moment de la récolte, mais si pendant l’année et en occasion qui mieux nous conviendra, et on faire des vins ou sirops selons les besoins. Les moûts doit être conservé dans les caves viticoles des proprietaires jusqu’au moment de les traiter, etant sulfité a la dose necessaire de SO2. Tous les viticulteurs ont ses caves pour la conservations des vins, et au lieu de conserver les vins conservent les moûts muté ao SO2. 3º Les appareils Prache & Buillon etant parfaits pour l’evaporation, cependant ne travaillent pas sur un vide suffisant pour ne pas carameliser le moûts (?) de raisin que est trés sensible. D’ailleurs, comme je vois, son prix est excessif en regard ceux outres. Je viens de recevoir des catalogues de Kestner et je vais que ses appareils, que je conait bien, doivent convenir parfaitement pour l’evaporation du moûts de raisin de sulfite, et sont ceux les appareils que Barbet adopte selon ce qu’il même nous a dit. Pourquoi ne pas demander a Kestner le Devis et prix d’un appareil pour evaporer en double ou simple-effet dans le vide 50 hectolitres de moûts de raisin par 12 heures de travail? Inclus je vous envois un petit pamflet et notice sur le Deshydrateur Kestner travaillent sous le vide [.] Ce systeme ci ou en autre doit être l’ideal je vous prie done de bien vouloir ecrire a Kestner sur cá, touts les [...] // [35] Cette demande de plus donc, sera la derniere, et comme ça je serais apte a repondre à mes amis de Lisbonne sur ce point avec tout les connaissances approximatives du travail á adopter. Affaire Lucée: Ils ont reçu les appareils et produits chimiques, mais je vois dapris la note que vous m’avez envoyé qui vous

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n’avez pas chargé votre commission de 5% (?) comme vous auries du faire (!). Comme il y a un solde de 600 francs ils vous prie de leur envoyer quelques outres appareils que leur puisse être utiles, quand même son montant aille jusqu’a 1000 francs, en prelevant, bien entendu, votre commission, parce qu’ils paieront le solde a la maison Hinton. Je vous en remercie de toutes les peines que vous avez eu avec toutes ces affaires, mas j’espere que une fois quelque chose de faite sur la “Vinerie” a Lisbonne vous serez compensé de tous vos travaux parce que celle-ci etant une Compagnie il n’y a pas raison de faire tou ça pour rien... En faisant les meilleurs voeux pour la bonne sante de Madame votre fille, je vous prie de bien vouloir presenter les bons compléments à toute votre famille et croire a l’assurance de mon amitié Votre ami bien devue [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 25 de Julho de 1920 DESTINATÁRIO: Irmãos de João Higino Ferraz] [36] Funchal 25 Julho 1920 Meus Caros irmãos Recebi a carta de Leonor, e por ella vejo que todos estão de saude. Cá por casa mais ou menos como da ultima vez que escrevi, isto é, mais ou menos bem. Vejo o que desejam com relação á herança da tia, e junto encontraram as contas detalhadas de tudo, faltando somente umas breves explicações que passo a dár. Todas as contas foram verificadas por José Pinto (como procurador). Desenvolvimento da verba de 1.271$28 das contas: Pago á criada, saldo em divida .................................................................................................5$40 Onorarios do Dr. José Joaquim de Freitas ..............................................................................12$00 Cellos e despezas de habertura testamento ............................................................................11$50 Saldo do Funeral da tia ...........................................................................................................13$50 Contribuição de registo por titulo honoroso.......................................................................1.085$13 Gratificação a Carlos Muniz (arranjos da contribuição) .........................................................30$00 Levantado á conta de Leonor para despezas de empacamanto da mobilia ....................... 113$75 1.271$28 Conta de Leonor do embarque da Mobilia: Carretos da mobilia para a Fabrica ...........................................................................................1$30 Madeira, pregos etc. para as grades .......................................................................................28$60 Frete da mobilia (como[sic] excesso de bagagem) ................................................................65$00 Dado a Maria de Luz (dinheiro restante) ...............................................................................14$10 Carpinteiro e ajudante no empacamento ..................................................................................4$75 Dinheiro adiantado por mim Embarque da mobilia .....................................................4$45 Carretos para o calhau ............................................... 2$15 120$35 O resto da mobilia etc. não levantado por nos dois foi vendida // [37] por 450$00. Importancias recebidas (saldo de rendas), e pagas por mim conforme livro apresentado a José Pinto: Dinheiro recebido, de rendas de casas, canna vinha etc. .....................................................142$00 “ encontrado em casa da tia depois do falecimento ....................................................113$05 “ saldo ultimo da renda vitalicia .................................................................................. 10$00 Total ......................................................................................................................................265$05 Paguei com esta importancia acima: Á Conta do Funeral ..............................................................................................................100$00 Diversas despezas, contribuições e gratificações .................................................................101$55 Saldo de rendas (conforme a conta) ..................................................................................... 63$50 265$05 Comforme os teus desejos (Leonor), mas não perfeitamente como dizes, vou enviar-te em dinheiro o saldo de escudos fortes 1.949$96, e vou dár a Beatriz a importancia de 14$00 = total 1.963$96. Fica-te pois depositado na Casa Hinton a importancia justa de 3:000$00, cujo livro te envio.

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Vou enviar tambem a doação de Maria da Luz de 100$00 fortes. Importancia total a enviar = 2.049$96 fortes. Se alguma cousa houver a pagar depois d’isto, eu adiantarei e será pago com os juros a vencer. Fica pois liquidados as nossas contas até esta data, e se necessitares de mais dinheiro tens que enviar o livro da Casa Hinton para ser regularisado. Saudades a todos, e um abraço para todos do teu irmão [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 22 de Julho de 1920 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [38] Funchal 22 Julho 1920 Ill.mo Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua de 20 corrente acompanhada de uma amostra de Kieselguhr291 espanhol, que vejo ser de muito boa qualidade, e limpo de areia. Quanto á comparação do preço entre este e o ultimo importado de Londres da Casa Crispin, é o seguinte: Kieselguhr de Inglaterra por tonelada £ 14-10-0 (saco incluido) Fretes e despesas (commisão etc) – “– £ 12-15-0 Custo no Funchal por tonelada = £ 27-5-0 a 23$00 = 626$75 Kieselguhr Espanhol 360 pezetas tonelada a 1$00 = 360$00 Frete e despesas até o Funchal ? E Poderá melhor calcular as despesas ahi, porque não tenho dados. É bom notar que os fretes de Caminhos Ferro d’esde a fronteira portuguesa e fretes do vapor até o Funchal é pago em escudos. Junto envio-lhe uma amostra, como me pede, do Kieselguhr que importamos de Inglaterra, cuja qualidade é inferior ao Espanhol e contem muito sable (aréa), sendo a sua densidade muito meior. Um bom Kieselguhr deve pesar 200 gramas por litro. Seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 23 de Julho de 1920 DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre] [39] Funchal 23 Juillet 1920 Mon cher ami Monsieur Lefebvre Plusieurs lettres á vous repondre dont je me trouve enquete[?] vers nous, ce que j’attends vous m’excuserez, mais comme vous devez bien comprendre mes affaires de la Campagne et la difficulté toujour de vous ecrire en français, comme vous le desire, m’oblige a ne pas vous repondre séparement á toute vous lettes[sic]. Je vais, donc, vous repondre en celle-ci. Merci, encore une fois, pour les Devis Kestner, que j’ai bien reçu, ausi que vos explications sur ce sujet. On ce qui concerne la Campagne tout c’est passé regulierment, même avec la canne de basse pureté. Monsieur Marliere292 vous aura dit de vive voix quelque chose que vous interessant sur le sujet, surtout le decolorant Bosset aussi bien que l’Aluminate de baryte. Ferments Vasseux: Ce que concerne á cette affaire vous pourrez bien voir d’aprés le rapport le resultat du travail du ferment Vasseux traité par le Fluorure de soude, et je tiens à vous résaudre ce ceci doit ou pas être presenté á Monsieur Vasseux. Cependant, je vois que je ne peux pas mettre de cóté la reception du ferment Vasseux en ampoules, parce que ici, n’argent pas un Laboration adapté pour les cultures // [40] pures, il me serait difficile habituer ma levure au fluorure et la conserver pure jusq’a lá pan[sic] de l’habituation. Ce que serait une avantage ce serait obtenir un prix du Fluorure de soude dans les meilleurs conditions, même que le montant á payer par an pour la livraison de la levure soit la même, ou moins s’il serait possible. Je constaite d’aprés les resultats obtenus que le procédé est bon mais que l’original est de Effront, ayant à peine Monsieur Vasseux a sa part le ferment pure (lequel je ne connais pas l’origine) habitué au Fluorure de soude. J’ai encore quelques Ampoules de ferment Vasseux que je dois, peut-être, m’en servir pour la fermentation de la melasse de beterrave que nous avont intention d’importer (2000 tonnes), et comme nous sommes en cours de negociations. Cependant je ne sais pas si[?] cette levure se developpera bien car elle a déja quelques mois de vie en empoules. On verra le resultat. J’ai 291 Kieselguhr, isto é, diatomito [Sin.: kieselguhr; terra de diatomáceas; vasa de diatomáceas], uma rocha sedimentar silicosa, muito fina, constituída por restos microscópicos de carapaças de diatomáceas [algas unicelulares, microscópicas]. É usado na química industrial como filtro para clarificar o açúcar. 292 Joseph Marliere.

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encore prés de 300 kilogrammes de fluorure de soude que sera suffisant pour cette quantité de melasse á importer, en employant a la proportion de 10 grammes par hectolitre de moût-ferment. Les futures livraisons de Ferments doivent être toujours en Ampoules, et pas en tubes de gelatine, que n’arrive pas en bonnes conditions. Affaire particuliers: Quant á mes projets de Vinharia (Vignerie) sont, pour le moment, stationnaires pour deux // [41] principelles raisons: 1er Les prix des vins en Portugal sont inabordables (400 francs hectolitre!) et encore la situation commercial et operaire sont de telle forme qui será impossible de faire quelque chose de bon. 2º J’ai fait un nouveau contracte de trois ans (jusque 1922) avec la Maison Hinton, ce que m’oblige a une nouvelle prison pendant ce temps ci. Cependant je tiens toujours l’espoir que, une fois passé ces trois ans, les affaires en Portugal (et dans tout le Monde.!?) changeront pour des meilheures conditions et je verrai, alors, ce que me conviendra faire. Je vous remercie une fois de plus tout ce que pour moi vous avez fait sur ces sujets de Vignerie et croyez serai toujours reconnaissant pour toute votre bonne volonté de m’être utile. Mes respectueux compliments á Madame Lefebvre et a Madame et Monsieur Bisson. Para o meu Amigo Lefebvre, um abraço do seu verdadeiro Amigo [Ass:] João Higino Ferraz P. S. Je viens de recevoir votre lettre du 7 Juillet dont je vous repondes ici. [Ass:] Ferraz // [DATA: ? CARACTERIZAÇÃO: Relatório sobre o fermento e fermentação Vasseux] [42] Raport sur la levure et fermentation Vasseux Composition moyenne du melasse de canne: Brix ..................................90,99 Sucre directe ................40,04% “ Clerget ...............41,55% Glucose ........................16,10% Infermenticibles .............3,53% Ce melasse n’a pas eté bien épuissée en vu du prix elevée de l’alcool. Rendement en alcool rectifiée (vendu) % melasse: 31,3 litres alcool a 100º á 15 temperature. Fermentation. Active et pure Levure conservant bien pure jus’qu’a le fin (3 mois), en employer toujour 12 grammes de fluorure de soude par hectolitre mût ferment. Analyse moyenne du vin de melasse Fermentation inecial – .........................10º Baumé. Densite final..........................................2,6º “ Acidité inecial.......................................1,2 grammes par litre em SO4H2 “ final .........................................1,8 grammes “ “ Infermenticibles % vin .........................0,760 Alcool ...................................................6,96 Kilogrames de melasse par hectolitre = 21,525 kilogramas [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 29 de Julho de 1920 CARACTERIZAÇÃO: Relação dos produtos químicos necessários para a Laboração de 1921, assim como os países de origem] [43] Productos chimicos para 1921 calculados sobre 25.000 toneladas canna deduzidos os stocks existentes Kieselguhr – 19.000 kilogramas (Inglana[sic] ou Hespanha?) Nota Nº 1 Phosphato bicalcique 16.000 kilogramas ( “ ou França?) Nota Nº 2 Enxofre en cannons 9.300 kilogramas – França Aluminato de baryte 4.200 kilogramas “

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Soda caustica 2.000 “ Inglaterra Fluorure de soda 450 “ França (Fermentações). Nota Nº 1 – Se o Kieselguhr de Espanha, o seu custo é menor do que o de Inglaterra, convem vir, por isso que é de muito melhor qualidade. Nota Nº 2 – Segundo as analyses feitas por Monsieur Marliere293 o phosphato de cal Inglez contem 32% d’acido phosphorico, emquanto que o de França (Lefebvre294) contem 40% acido phosphorico. Convem pois o phosphato bicalcique Francez, em preço egual, por ser mais rico em acido phosphorico que é a materia activa. Funchal 29 Julho 1920 [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 30 de Setembro de 1920 DESTINATÁRIO: Carlos Fernandes] [44] Funchal 30/9/920 Meu Caro Carlos Recebi as tuas duas cartas, uma de 25 outra de 27 corrente, a que passo a responder. Viagem boa de Lisboa para aqui, e chegamos bem, muito obrigado. Melaço – Enviei o telegrama seguinte hoje, depois de combinar com o Senhor Bardsley «impossivel prescindir ponches porque precisamos descarregar vapor caso venha». A rasão compreendes bem: Não sei se sempre vem o melaço de Inglaterra (?), e no caso de vir, como fazer a descarga com menos 200 ponches? Temos poucos ponches, porque de Machico não podem emprestar. Esse negocio de melaço d’Africa seria bom, mesmo que o melaço contenha somente 40º de polarisação, isto é, melaço egual ao nosso d’aqui, e o preço era vantajoso. Quanto á garantia de polarisação de 50º isso era um ouvo por um real... O que me parece melhor era o Senhor Hinton295 dizer de Londres o que tem feito com relação a melaço, e se pode garantir a vinda d’elle, telegrafando // [45] sabido isso, isto é, se vem ou não, podemos establecer o seguinte: Vem melaço Inglaterra – impossivel agora despensar ponches. Temos somente 500 ponches desponiveis. Não vem melaço Inglaterra – podemos envir[sic] os 200 ponches para a Africa. Nossos sô temos 240 ponches. No caso porém de vir o melaço de Inglaterra em todo o mez de outubro, podemos fazer essa esperiencia dos 200 cascos d’Africa enviando os ponches em Dezembro proximo, por isso que temos um saldo de 500 toneladas a importar, vindo de Inglaterra somente 1500 toneladas, e isto até fim de Fevereiro do anno proximo. Ora, 200 ponches deve regular umas 110 toneladas de melaço, e assim poderiamos importar ainda 4 vezes essas quantidades. A diferença no preço do melaço por cada grau a mais ou a menos na polarisação directa, deve ser de £ 0.6.0. por tonelada e por grau polarisação. Sendo assim, se o melaço tiver somente 40º de polarisação (que calculo não tenha mais), o seu preço seria de £ 10.0.0. por tonelada cif. Funchal. Assucar: Para a importação d’assucar d’Africa, deves contar que cada tonelada assucar bruto fáz uma despesa de refinação de 40$00 escudos, e assim ser-te-ha facil fazer os calculos, sabendo que cada 100 kilogramas assucar bruto rende 88 kilogramas de refinado e 10 kilogramas melaço (3 litros alcool). Um abraço do teu Amigo, que deseja te divirtas muito em Madrid. Saudades a Henrique296 e todos Teu Amigo certo [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 1 de Outubro de 1920 DESTINATÁRIO: Joseph Marliere] [46] Funchal 1 octobre 1920 Mon Cher Marlière J’ai bien reçu á Lisbonne votre lettre du 26 juillet et je vous en reponds de Funchal, on je suis arrivée á 26 passée. J’ai appris avec plaisir, selon votre lettre, que vous avez en une bonne traverssée et que vous avez trouvé votre petite famille en bonne santé. Par ce même courier j’ecris á Lefebvre297. Je lui ai procuré le maximum de commandes, parce que en trouve bien des 293 294 295 296 297

Joseph Marliere. Georges Lefebvre. Harry Hinton. Henrique Tristão Bettencourt Câmara? Georges Lefebvre.

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difficultées avec les choses á Londres; Monsieur Hinton298 c’est aperçu des avantages des prix Français sur les Anglais. En ce qui concerne aux cuiseurs je suis á vous dire que vous deves nous en procurer un pour la prochaine Campagne. Francisco, pauvre homme, est perdu, on peut bien le dire, car il est attaqué d’une tuberculeuse!, et alors nous ne pouvons rien compter sur lui. Manoel a fait un contract avec la maison Hinton. Quant au nouveau cuiseur a venir doit être un homme de travaille et pas un Monsieur, parce que les choses ici avec le personnel sont // [47] bien difficiles. Tous les amis vous font ses compliments. Pour vous, Madame Marliere et fille, mes meilleurs sentiments. Votre Ami devué [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 4 de Outubro de 1920 DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre] [48] Funchal 4/10/920 Mon cher ami Monsieur Lefebvre Bien reçu, a Lisbonne, vós lettres du 27 Juillet et 10 août derniers ce que je vous en remercie et reponds. Merci bien de vos felicitations pour mon nouveaux contracte avec le Maison Hinton, mais du á la crise que nous eprouvons avec la cherté de la vie, je suis presque dans les mêmes conditions d’auparavant, mais je vois aussi l’impossiblité de faire actuellement quelque chose de avantageux personellement. Kestner: D’aprés la copie de la lettre que je vous invois, écrite á Kestner, vous verrez bien la vérité pure et simple de cet état de choses á Portugal, mais je tiens toujours l’espoir a la prochain avenir en faire qualque chose, même a l’age que j’ai, mais avec bonne volonté de travailler pour mes fils, si la santé et le bonheur m’aideront Campagne 1921: D’aprés les lettres dictées par moi à Lisbonne vous devez bien voir que je tiens à vous, mon cher ami, toute ma considerations sans néammours nuire la Maison Hinton, vous procurant le maximum de commandes qui sont beaucoup plus avantageuses que celles faites en Angleterre. // [49] Aujourd’hui même nous vous avons telegrapheé demandant les prix de feuille de cuivre, et tubes du même mètal, pour la construction d’un appareil de destillation, pour livraison immediate (du cuivre), parce que de Londres ces articles ne nous pourrons pas être livrés que dans six mois et j’en ai besoins, au plus tard, jusqu’á la fin du mois d’Octobre prochenne. Sitot une reponse favorable nous vous ferons la commande par lettre ou peut-être par telegramme. Aluminate de baryte: L’aluminate envoyés en Deçembre 1919 (Donc pour la campagne de 1920) a été envoyé dans de bonne conditions, mais pas l’autre comme je vous ai dejá fait savoir. Affaire Vasseux: Si nous recevrons la melasse á importer pour la fabrication de l’Alcool, le fluorure de soude commendé ne será pas suffisant pour cette melasse-ci aussi bien que pour la Campagne de 1921, et alors je serais obligé, a son temps, de faire une nouvelle commande. Qu’est-ce qu’a dit Vasseux sur les resultats que je lui ai envoyé? J’attendais un peu plus de rendement mais, du aux hautes temperatures de Madère, les temperatures de fermentations ont été exessives et la formations d’acidité était, du a cá, plus que normals et // [50] ainsi je crois devoir employer le fluorure dans le moût général, quoique en moindre e quantité, pour garantir la pureté des fermentations. La livraison de la levure Vasseux doit toujours être par moyen d’ampoûles, parce que celle en gélatine n’arrive pas dans de bonne conditions du, peut-être, á l’état peu concentré de la gélatine ou á sa qualité, qu’avec les hautes temperatures pendant le transporte de France jusque ici c’est liquéfie, se gâtant. La culture dans de la gelatine se conserve plus long temps que dans des ampoûles, se le moyen de culture est bien fait. Affaire Lycée: Je vais procéder á la liquidation des comptes selon votre lettre du 10 août. Affare personelles: Arrêt momentene jusqu’un changement de situations général, mais j’attends que si vous voyez quelque chose de nouveaux sur le sujet vin que vous croyez m’interesser je vous serais trés obligé se vous me en ferez savoir ou enverrez qualques notes. Je vous prie que quand vous viendres à Paris me procurer quelques traités pratiques sur la fabrication de la Biére et me les envoyer par colis postal. Avec nos meilleures amitiées à toute votre charmant famille, et pour vous, de votre ami devoué [Ass:] João Higino Ferraz

298 Harry Hinton

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[Copiador de Cartas. 1920-1923]

DESCRIÇÃO: O título deste copiador foi atribuído por nós. Estamos na presença de livro, papel, as suas medidas são 26 cm x 20,5 cm, e encontra-se em bom estado de conservação. A numeração dos fólios foi por nós acrescentada a lápis.

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[DATA: 5 de Outubro de 1920 DESTINATÁRIO: Harry Hinton; LOCAL: Inglaterra] [1] Funchal 5/10/920 Ill.mo Amigo e Senhor Hinton Á minha chegada á Madeira encontrei a sua carta de 23 ultimo, em que dizia para escrever a Marliere299 sobre o cuiseur, o que fiz já, dezendo-lhe para arranjar um cuiseur, homem de trabalho e não um Monsieur, para não nos trazer dificuldades com Manoel e os outros. Melaço: Recebemos o seu telegrama de 4 corrente dizendo têr offerta de 1000 toneladas de melaço de refinação d’assucar de canna com garantia minima de 50% assucar total (saccharose e glucose) entregue em outubro (corrente) em barricas, ao preço de £ 19 (tendo £ 2 mais, isto é, £ 17), garantia de seguro contra derrames, cif. Funchal. Acceitamos a offerta dizendo entendermos as barricas incluidas no preço. Sugerimos para o caso de têr menos de 50% assucar total, uma deferença de £ 0.7.0. por tonelada e por cada 1% a menos dos 50, este simplesmente para nos garantir o minimo do assucar e podermos calcular o seu rendimento em alcool. Contudo isto era para sua resolução, e nunca // [2] para crear dificuldade á transação, que deve ser feita, custe o que custar, afim de termos o melaço no prazo concedido pelo governo. Carlos Fernandes telegrafou-me um d’estes dias offerecendo melaço d’Africa do Orey, como esperiencia, uns 200 ponches ao preço de £ 13 tonelada cif. Funchal no vapor d’elles (enviando nós os ponches e um tanoeiro), garantia de 50º polarisação directa. Por cada grau mais ou menos, indiquei (segundo o pedido de C. F.300) £ 0.6.0 por tonelada e grau, tanto para mais como para menos. Como porém não sabiamos se sempre viria o melaço de Inglaterra em vapor ou barcaça, não podiamos despensar os 200 ponches, por isso que somente tinhamos 500 cascos despuniveis, e assim ficariamos somente com 300 que seriam insuficientes para uma descarga rapita[sic]. Como porém, com essa sua nova offerta, o melaço virá em barricas, logo que receba o seu telegrama de confirmação de compra, vou telegrafar a C. F. dizendo-lhe que pode contar com os ponches (200), porque este melaço d’Africa tem um preço bastante vantajoso, e como calculo o melaço não conter mais de 42º polarisação, ficaria a £ 10.12.0 por tonelada cif. Funchal, e o alcool ficaria de 1$200 reis por litro. // [3] Lembro-lhe tambem que na Factura do Melaço ao preço de £ 19.0.0 por tonelada deve incluir o custo da barrica a £ 0.12.0 cada uma, ou mais se assim intender, para que o preço do alcool seja mais elevado e podermos obter melhor conseção no preço do alcool feito pelas entidades officiaes. Vendo esse melaço em barricas, ficar-nos-ha uma grande quantidade d’ellas que podem servir no futuro para enviar á Africa para a vinda de novo melaço, e assim até aos fins de Fevereiro talvez podessemos importar as 2000 toneladas totaes auctorisadas pelo Governo, o que seria de grande vantagem para nós. Espero pois que fechará o contracto com o melaço que será uma grande cousa e um bom negocio tanto presente como futuro. Malte: Espero que não se esqueça da vinda do malte-pale, porque tenho muito interesse em fazer esperiencias, e mesmo para que o melaço a fermentar dê melhor rendimento, devido a essas materias nutritivas (milho e malte). Vão ser importadas grandes quantidades de milho, e assim podemos obter facilmente milho, mesmo que o seu preço seja de 400 reis por kilo. // [4] Lembro-lhe tambem a compra de um pequeno moinho para moêr a cal, egual ao que existe no saniamento, mas para um trabalho maximo de 5000 kilogramas em 12 horas. Não podemos contar no anno proximo com o emprestimo do da Camara Municipal, e se temos que fazer adubos com os tourteaux, esse moinho é indespensavel. Carvão: O que me está dando mais cuidado é o Carvão para a Laboração, visto as greves ahi em Inglaterra. Marsden escrevelhe n’esse sentido. Logo que receba o seu telegramma da confirmação de compra do melaço em barricas, vou telegrafar a C. F. não sô garantindo os 200 ponches para o melaço d’Africa, como tambem uma garantia de podermos enviar pelo menos <de> umas 3000 barricas (?) para o mesmo fim no prazo a indicar, porque as barricas ficaram despejadas logo á sua chegada. Sem mais que lhe possa dizer (da minha parte) desejo-lhe as suas felicidades Seu Amigo Attencioso e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // 299 Joseph Marliere. 300 Carlos Fernandes.

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[DATA: 5 de Outubro de 1920 DESTINATÁRIO: Carlos Fernandes] [5] Funchal 5/10/920 Meu Caro Carlos Depois da minha ultima carta de 30 proximo passado recebemos um telegramma do Senhor Hinton301 fazendo offerta de 1000 toneladas melaço de refinação em barricas cif. Funchal, garantia de 50% assucar total, entregue no corrente mez, ao preço de £ 19.0.0. (já se vê tem £ 2.0.0. a mais) por tonelada. Acceitamos a offerta, contando que as barricas estão incluidas no preço. Temos pois que, se esse melaço vier, como espero, podemos despor dos 200 ponches para o melaço d’Africa, e ainda mais umas 3000 barricas, que não sei qual a capacidade, mas calculo que seja de 200 kilogramas melaço cada uma, e assim as 1000 toneladas seria 5000 barricas. Como porém algumas podem vir em más condições podes contar somente com 3000 barricas (vindo o melaço). Logo que receba telegrama de confirmação de compra vou telegrafar-te, dizendo poderes contar com os 2000 ponches e mais 300 barricas. Ora, 200 ponche serão ...........................................110 toneladas “ 3000 barricas a 200 kilogramas ....................600 Total ................................................................710 “ melaço Teu Amigo Certo [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 14 de Outubro de 1920 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [6] Funchal 14/10/920 Ex. Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua carta de 6 do corrente que muito lhe agradeço e respondo. Melaço: Somente agora compreendo que o Melaço vem da America, porque pelo telegramma não elucidava bem. Vejo que teve de pagar mais £ 0,16.0 por tonelada, mas ainda assim foi bom negocio em vista das dificuldades em arranjar outro. N’uma carta que lhe escrevi, e que já deve têr em mão, dizia-lhe para na factura a apresentar aqui, e que naturalmente deve ser confeccionada por Crispin, deveria ser metido o preço dos barris no minimo de £ 0.12.0 cada um, o que daria para os 4 barris (uma tonelada) £ 3.4.0, para assim fazer subir o preço do alcool a fixar. V. dos Santos302 porem diz que, para este melaço a importar, a comição não tem que fixar preços de alcool, porque a Lei apenas diz que o preço do alcool a fixar é no produzido da canna saccarina da Madeira e seus residuos e eu tambem me parece que sim. Contudo o acordo será entre nós e os vinicultores // [7] e será naturalmente a Associação Comercial e elles que devem resolver esse preço. Temos tambem a attender que na Lei não falla em alcool de melaço importado, e assim o seu fabrico, desde o momento que o Governo autorisou a importação sem fixação do preço do alcool, o preço é livremente estabelecido por nós. Em todo o caso é sempre bom ter as cousas de forma a que, se tivermos de apresentar facturas venhão de forma que possamos subir o preço do alcool a 2$800 por litro. Eu estableço as cousas n’estas condições: Custo do alcool do Melaço de 50% assucar total: Por tonelada melaço £ 19.16.0 por tonelada a 23$00 por £ ? ..............................= 455$40 4 barricas a £ 0.12.0 cada uma............................................= 55$20 Direitos de 6 milhavos por kilograma.................................= 6$00 “ £ a 50% sobre ..........................................................= 3$00 Descarga das 4 barricas.......................................................= 3$50 Trabalho de pezagem etc.....................................................= 3$00 Fabrico de 400 reis litro alcool sobre 250 litros .................= 100$00 Custo de 250 litro alcool em 40º.........................................= 626$10 Custo por litro .................................................................... = 2$50 Para ser vendido a 2$80 por litro deixará um lucro de 300 reis por litro ou 75$00 por tonelada melaço, que representará 12% do capital, que actualmente não é demasiado. mo

301 Harry Hinton. 302 Vitorino José dos Santos.

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Para nós, o resultado real será assim: // [8] Por tonelada melaço £ 17.16.0 ao cambio actual 23$00 ......................................= 409$40 Direitos ...............................................................................= 9$00 Descarga e carretos etc. ......................................................= 6$00 Fabrico actual de 350 por litro alcool sobre 256 litros (como abaixo explico)...............................= 89$00 Custo de 256 litros................................................................. 513$40 Custo por litro 2$00 pouco mais ou menos Para o calculo provavel do rendimento estableço o seguinte e no minimo: Melaço de refinação com 50% assucar total, e calculando este melaço conter rafinose infermenticivel deve ficar aproximado 3% de infermenticiveis, restando pois 47% assucar fermentavel, que ao redimento minimo de 58 litros alcool % saccarose fermentavel dará pouco mais ou menos 27 litros alcool %. Calculando porem uma quebra minima de 5% do melaço não garantido pelo seguro, a tonelada melaço dará 950 kilogramas, que ao rendimento acima será os 256 litros alcool no minimo por tonelada. O fabrico está calculado a 350 por litro devido ao custo actual dos salarios, carvão e acido. Deve pois o alcool ser fixado em um minimo de 2$80 por litro para o geral e 2$60 especial ficando-nos uma media de 2$700 que nos dará um lucro nas 1000 toneladas de = 179:200$00 Parece-me porém que se poderá render para o geral a 3$00 por litro, e assim dár-nos-há um lucro medio de 203:400$00 nas 1000 toneladas. // [9] Quanto á pezagem do melaço, estou combinando com Barros e Pinheiro, a vêr a melhor forma de o fazer, ou ser o melaço medido e calculado como faziamos com o que vinha em vapor tanque, porque assim pode-se mais facilmente dár uma quebra meior, e a despesa de pesagem ficará eleminada, porque actualmente deve custar cara e são 4000 barricas a pesar, ou então pesar somente umas tantas barricas (das mais vasias) e calcular assim o total. O que deve porém é aparecer sempre a tara das barricas por causa do seguro. Vamos fazer pois pelo melhor dos seus interesses. Quanto ao fermento estou á espera de uma dose que mandei vir de Vasseux, e que Lefebvre303 me diz já ter embarcado. Contudo não vindo o novo fermento a tempo, tenho aqui ainda umas ampolas que as farei desenvolver quando receba o seu telegrama, 15 dias depois, porque antes de 30 dias o navio não pode estar aqui (depois do telegrama de sahida). Sô tenho 3 cascos de melaço aqui, e não me convem adiantar demasiadamente o principiar o fermento O primeiro lote que fizer, mandar-lhe-hei o rendimento como deseja. // [10] Apparelho de Moer Cal: Depois de lhe ter escripto a minha ultima carta de 5 corrente, fiz com Marsden uma esperiencia no Desintegrador que cá temos, isto é, o apparelho que em tempos se mandou vir para reduzir o assucar a po, que com a cal cosida deu perfeitamente o resultado de reduzir a cal ao estado desejado, e assim não é necessario vir o moinho como lhe tinha falado. A Lefebvre já fiz a encomenda do malaxeur (de occasião) preparador de Melasse Cuite para reduzir o tourteaux a pequenos pedaços e ser assim mais facil o ataque da cal ao tourteaux. Forno Kher para coser cal sem fornalha: Vi o orçamento do forno que acho custo muito elevado, e mesmo montado com tantos aperfeiçoamentos que para a pequena quantidade de cal a coser não vejo grande necessidade, taes como o elevador hydraulico etc. O que nos necessitamos é um Kher de 10 metros cubicos de capacidade <util>, e que poderá coser 800 a 900 kilogramas de pedra por 24 horas e por metro cubico, o que dará aproximados 4000 kilogramas de cal cosida por 24 horas, que é mais que suficiente para as nossas necessidades, de defecação e desidratação do tourteaux. // [11] O forno deve têr, calculo eu, as seguintes dimenções <medidas exteriores > para uma capacidade total de 13 metros cubicos (10 metros cubicos uteis): Com 4 columnas fundidas de suporte A de 2,30 metros para suster o forno. Deve vir tambem uns 10 vidros de nuca para os regardes de 100 milimetros de diametro. Os tejolos refratarios de boa qualidade, devem já vir com a forma a se poder montar sem os cortar, e isso sera facil, calculando pelo diametro, qual a forma d’elles e a sua quantidade (calculo tejolos de 150 milimetros de comprido). O diametro interior, contando com os tejolos, deve ter aproximadamente 1,70 metros na base mais larga <B>, e 1,20 metros na parte superior <C>, com 0,50 metros de entrada <D> da pedra e coke, e 0,50 metros na sahida da cal cosida E. O forno como a casa Petit, Wicart, Cousin – France proponha, não nos custaria menos, montado aqui, de 50.000$00!! o que 303 Georges Lefebvre.

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me parece exagerado para o nosso caso. Alem d’isso pedem 6 mezes para a construcção, e assim não poderiamos têr o forno montado para 1921. Mesmo que a construção se fassa como diz na sua carta, é bom calcular o tempo que temos para a montagem, e vêr se convem vir a pedra // [12] de cal e coke para 1921, isto é, 450 toneladas de pedra de cal e 45 toneladas de coke, calculo para 25.000 toneladas canna. Ainda o Melaço: Vejo pela carta do Senhor Bardsley que está tratando da compra de mais 1000 toneladas de melaço, mas faço-lhe notar que esse melaço deve estar aqui o mais tardar até 25 a 27 – Fevereiro do anno proximo, segundo a auctorisação da importação consedida pelo Governo. Se vier ou conseguir mais essas 1000 toneladas, fica prejudicado o que C. Fernandes304 está tratando com o Orey, e seria bom telegrafar-lhe sustendo essas negociatas d’Africa por este anno Envio-lhe uma pequena carta de Carlos recebida agora. Para o proximo anno teremos barricas suficientes para mandar para a Africa, cujo transporte para elles seria muito mais comodo que ponches. A questão do augmento do preço do assucar tem dado sarilho, e naturalmente o Senhor Bardsley escreve-lhe sobre o assumpto. O tempo está explendido para a canna, tem chuvido regularmente bem e sem vento, e a canna apresenta uma bela aparencia. Antes assim. Sem mais por emquanto subscrevo-me Seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 15 de Outubro de 1920 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [13] Funchal 15/10/920 Ill.mo Amigo e Senhor Hinton Acabo de falar com Victorino dos Santos e vejo que ao presente elle pensa de uma forma diferente com relação á fixação do preço do alcool, isto é, que o alcool tem que ser fixado pela comição, em vista a essa fixação sêr para a vinicultura segundo a letra da Lei. Para nós é isso muito melhor porque ficará um preço official que não pode admitir reclamações Quanto ao calculo a apresentar á Comição para a fixação do preço do alcool, tenho uma diferença entre os meus e Belmonte, mas isso vamos fazer pelo melhor dos seus interesses. Elle calculou o cambio a 24$00 que é o que esta hoje, em quanto que eu calculei 23$00 que estava na occasião. Quanto ao calculo rial para vêr o resultado para nós, elle mete o carvão ao preço provavel de 1921, emquanto que eu fasso pelo preço do actual que temos em stock. Belmonte não calcula a perda de 5%, o que eu fasso para garantia. O que vejo ser indespensavel é meter o custo dos barris a $ 0.12.0 cada, como lhe digo na minha ultima carta. Seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // 304 Carlos Fernandes.

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[DATA: 23 de Outubro de 1920 DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre] [14] Funchal 23/10/920 Mon Cher Ami Monsieur Lefebvre J’ai bien reçu votre lettre de 6 courant ce que je vous en remerci et reponds. Aluminate de baryte: Nous vous envoyons deux échantillons, le Nº 1 de 1918 celle dont nous avons réclamé contre sa mauvaise qualité. Nº 2 de 1919 de qualité normal. Anterieurement á celli-ci nous n’avons aucune. Quant au nouveau aluminate de baryte a livrer, je procederai en rapport á votre lettre, c’est a dire, je le laisserai en dissolution á chaud pendant un delai plus long. J’ai une installation suffisante pour çá. Quant á Vasseux parfaitement d’accord, et vous pouvez nous envoyer 500 kilogrammes de Fluorure. Broyeur de Masse Cuite; pour les ecumes (tourteaux dures) des filtres presses: Je vois tou ce que vous me dites sur la difficultée d’en obtenir en occasion, mais ca se peut que vous pouvez encore en trouver un dans ces conditions. Comme nous n’en avons besoin qu’au mois // [15] d’avril il arriverait bien a temps vers le fin de mars du procheine année. Je vous rappele que l’appareil ne soit ni trop petit ni trop grand, une grandeur moyenne, pour traiter 10.000 kilogrammes de tourteaux par 24 heures. Nos meilleurs respects pour non[sic] Ami Lefebvre et toute sa famille. Je vous prie, mon cher Ami, de croire á l’assurance de ma meilleur amitie. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 25 de Outubro de 1920 DESTINATÁRIO: Carlos Fernandes; LOCAL: Lisboa] [16] Funchal 25/10/920 Meu caro Carlos Duas palavras para responder a tua de 15 corrente. Melaço: Vejo pela carta que escreveste ao Senhor Hinton305 que tens comprado umas 40 toneladas melaço do Orey, que para esperiencia já serve de alguma cousa. Para o futuro, como vamos ter barricas de 200 ou 250 kilogramas de melaço, talvez umas 3 a 4000, essas barricas são magnificas para Africa por serem de facil transporte em caminho de ferro e de mais facil manobra. Por emquanto não recebemos telegrama de sahida do navio com o melaço da America. Açucar: O que há sobre preços de açucar em Lisboa? O Diario de Noticias publicou telegrama d’ahi em que diz que o açucar está sendo vendido a 600 reis por kilograma?! É todo o açucar ou é somente o de baixa qualidade? Esse telegramma fêz aqui um pessimo effeito, principalmente agora que subimos o nosso 100 reis em kilograma. Esse correspondente do Diario de Noticias é um grande amigo nosso, se o telegrama é verdadeiro. Se foi forgado aqui, estes amigos do Diario de Noticias são umas bellas prendas. [17] O que será o futuro anno Saccarino na Madeira? Digo-te com franqueza que estou com meus receios quanto ao preço do açucar, e ainda assim o que nos vale por emquanto é o cambio alto. No estranjeiro há muito açucar em stock, e as dificuldades é somente de transportes, mas se conseguem obter transporte é uma inundação. Quanto ao açucar d’Africa a vir no fim do Anno ou principios do novo, é bom vêr bem como se faz esse negocio, de forma a não nos dar prejuizos. Em 1921 comprando a canna a 2$000 reis por 30 kilogramas?, sai-nos o assucar a 850 reis por kilograma, e teremos de vender pelo menos a 1$300 por kilo, e o alcool a 2$500 por litro, em vista do custo do carvão, pessoal e productos chimicos. Transporte de productos chimicos de França. Lefebvre306 escreve-me para eu lhe dizer como deve fazer o embarque para a Madeira, e que vapores convem melhor mandar. Diz-me que os T.M.E.[?] tem agencia em Paris e dizem que carregão directamente para a Madeira, mas confesso que não tenho confiança alguma n’esses amigos. Escreve-lhe d’ahi dizendo a forma de vir sem baldiação, se isso é possivel. Pelo Crispin talvez não convenha // [18] por isso que as encomendas não foram feitas a elles e devem estar furiosos. Vê por ahi a melhor forma de o fazer e escreve a Lefebvre sobre esse assumpto porque assim ficou combinado. Um abraço a Henrique307 e Lage e todos os outros amigos do escriptorio Para ti um abraço de teu Amigo Certo [Ass:] João Higino Ferraz // 305 Harry Hinton. 306 Georges Lefebvre. 307 Henrique Tristão Bettencourt Câmara?

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[DATA: 27 de Outubro de 1920 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [19] Funchal 27/10/920 Ill.mo Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua carta de 19 do corrente, o que muito lhe agradeço. Estimo bastante que tenha tido sempre boa saude e que se divirta na Escocia. Vejo o que me diz sobre o melaço, e logo que tenha noticias da sahida do navio dos Estados Unidos, vou calcular o tempo de viagem de 25 dias para dar principio ao fermento de forma a que á chegada do melaço tenha tudo prompto a principiar as fermentações no Torreão e Comp.ª Nova. Já recebi de Lefebvre308 duas doses de fermento Vasseux fresco, de forma que os fermentos vão assim mais rapidos. Vou porem fazer-lhe um raporte aproximado do trabalho a effectuar em 1920 a 1921 para seu governo futuro. Principiando pelo melaço a vir, que deve estar aqui até 27 Novembro: 1000 toneladas. Principiando regularmente as fermentações em 1 Dezembro, tenho 23 dias de trabalho n’esse mez (24 a 27 feriados) de 1920. Trabalho nas duas fabricas em 23 dias = 520 toneladas Melaço. // [20] Producto aproximado em alcool até 31 Dezembro 133.000 litros [.] Restará pois 480 toneladas melaço para 1921, que a 23 toneladas por dia nas duas fabricas, são 21 dias do mês de Janeiro 1921. Producto em alcool de 1 a 21 Janeiro 123.000 litros. Ficará pois as primeiras 1000 toneladas melaço destillado até 21 Janeiro. As novas 1000 toneladas a vir (2º carregamento?) devem estar aqui no Funchal a 19 Janeiro proximo, para não parar com as fermentações. Essas 1000 toneladas serão fermentadas e destilladas em 50 dias nas duas fabricas. Temos pois, 10 dias do mez de Janeiro 28 “ “ Fevereiro 17 “ “ Março Teremos talvez todo este alcool (520 a 530 mil litros) vendido ate 15 abril. Em Abril principia a Laboração, que calculo produzir como em 1920, uns 300.000 litros alcool Devemos calcular para 1921 uns 600.000 litros alcool, e como temos da Laboração 300.000 litros do melaço importado em 1921 270.000 “ Total para 1921 570.000 “ Vejo pois que em 1921 so poderemos importar melaço (obtendo nova liçença) nos fins do anno de 1921. Seu Amigo Attencioso Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 3 de Novembro de 1920 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [21] Funchal 3 Novembro 1920 Ill.mo Amigo e senhor Hinton Recebi a sua carta de 26 proximo passado que muito lhe agradeço e respondo. Melaço: Até hoje ainda não recebemos telegrama da sahida no navio dos Estados Unidos. Quanto aos calculos do preço do alcool, já tinha tambem dito a Belmonte que nada se podia bem calcular sem vir o melaço. Quanto ao futuro melaço a vir (950 toneladas) deve ver a minha carta ultima de 27 proximo passado o que digo com relação a sua estada aqui. Aguardente de canna: O preço que actualmente estão vendendo é de 12$00 por gallão de 3,6 litros em 26º Cartier, mas os compradores estão froxos, e sei que já têem vendido alguma a 10$50, e estou a vêr que nunca obterão o preço desejado de 15$00, porque como muito bem sabe o alcool de melaço ao preço de mesmo 3$00 por litro em 40º Cartier, sai a aguardente em 26º a 7$75 por gallão em 26º, isto é, o desdubramento inevitavel, e que aqui entre nôs, nos convem bastante, primeiro para não fazer // [22] subir o preço da canna; segundo para termos sahida a todo o alcool de melaço a importar, que sem isso haveria 308 Georges Lefebvre.

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dificuldade no consumo sô para vinhos. Forno de Cal: Vejo o que me diz sobre isso, e espero que virá a tempo de montar-mos para a futura laboração, no caso de vir as chapas da camisa já cravadas. Quanto ao local que deseja ser montado (no armazem das cannas), fica bem na esquina Norte do armazem sem prejudicar a arrumação de cannas nem o trabalho das gruettes eletricas da canna. A altura d’esde o chão até á parte superior (chão) tem 8 metros e até ao teto tem 11 metros, de forma que fica espaço bastante em altura para o forno. Quanto aos pilhares de pedra e cal não tenho confiança <ou [...]> n’elles, mas vendo com Marsden a forma mais facil de fazer, encontramos os eixos antigos do engenhos [sic] que de nada servem, e que, dão umas columnas de primeira ordem e com altura mais que suficiente. Fica pois esta parte arrumada. Barros levou um tratado meu sobre assucar ao Feliciano para lhes mostrar um forne de cal e elle disse que pagava como machina industrial. // [23] Laboração de 1921: Qual será o preço do açucar em 1921? Isto dá-me que pensar, porque vejo os preços mundiaes descerem e não sei onde isso irá parar. Para nós o que nos val é o cambio alto. Mas continuará assim em todo o proximo anno? O que fará o Governo com relação ao imprestimo que querem fazer em £? O que eu vejo é que, senão damos em 1921 os 2$00 por 30 kilogramas canna, o lavrador pode arrancar as cannas, devido ás dificuldades cada vêz meiores no cultivo, e melhor renumerado em outras culturas. Calculemos porém que em 1921 compramos a canna a 2$00 por 30 kilogramas = 66$666 por tonelada, que vendemos o açucar no minimo por groço a 1$26 por kilograma, mas que teremos, n’esse caso, de vender o alcool de melaço e jus diffusão a 2$60 por litro em 40º, e calculando o rendimento de 1920, e o preço do fabrico (devido ao carvão e pessoal) em 24$73 por tonelada canna qual será o resultado? Por tonelada canna Custo da tonelada canna ...................................66$666 Fabrico (em 1921) .............................................24$730 Lucro como em 1920 (?) ................................ 60$000 Custo total .......................................................151$396 Nota: Este lucro bruto de 60$00 por tonelada canna é calculo meio[?] em 1920, mas não tirando senão despezas de fabricação. // [24] Venda dos productos: 89,400 kilogramas assucar turbinado a 1$26 por kilograma ............112$644 15,5 litros alcool melaço e jus a 2$60 por litros .............................. 40$300 Venda productos.................................................................................152$944 Como vê, se o assucar não descer a preço que sejamos obrigados a acompanhar, teremos um lucro egual a 1920, mas será indespensavel conservar o preço do alcool no minimo de 2$60 por litro, que é mais facil. Assim podemos competir com as fabricas de aguardente no preço da canna, e dar a H. Figueira309 uma pequena lição, que lhe servirá para o futuro. Sem mais por emquanto, subscrevo-me seu Attencioso Amigo [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 6 de Novembro de 1920 DESTINATÁRIO: Carlos Fernandes] [25] Funchal 6/11/920 Meu Caro Carlos Recebi a tua carta de 3 do corrente que muito te agradeço, e respondo Quanto a augmentar capacidades de fabricas de aguardente continua ainda a febre, mas verás pela ultima reonião da Junta Geral que apareceu uma proposta (naturalmente instigado pelo V.M.[?]) em que pede o maximo de 500.000 litros para sempre, augmento do imposto, e não poderem augmentar as capacidades, ou por outra, o rateio feito pela base de 1920. Isto seria bom se se comprisse as Leis como se deve; mas já sabes como as coisas se fazem!! O preço da aguardente é que não tem subido de 12$000 por gallão, e o tal preço de 15$000 foi um ar que lhe deu… O melaço a vir é que tem feito isto e será ainda mais se Deus quiser… Melaço d’Africa: Nada que dizes na tua carta, mas o Bardsley mostrou-me a carta commercial em que dizes não teres feito nada com o melaço, e mandas a analyse d’elle. // [26] É sobre este ponto que não percebo nada… O melaço pela analyse (do 309 Henrique Figueira da Silva.

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Lapierre?) mostra ter:

Saccharose – 33,25 Glucose 9,40 o que dá em saccarose total de 61,18%, cujo rendimento em alcool seria de 33 litros % melaço!! o que é um bom rendimento. O que eu não percebo é a polarisação directa de 16,8!! o que quer isso dizer? A polarisação é sempre a percentagem em saccharose, e assim a polarisação deveria ser pelo menos 30 a 31, se a saccarose analysada é Clerget. Como o contracto, segundo dizias em uma tua carta, era o melaço ter pelo menos 50 de polarisação directa, esse melaço comprado n’essas condições sahiria aqui quase de graça!! Desejava ter aqui esse melaço para uma analyse, e eu vêr pessoalmente o que elle é. Da analyse feita ahi, não percebo nada. Um abraço do teu Amigo certo [Ass:] João Higino Ferraz P. E.[sic] Saudades a Henrique310 e aos amigos d’ahi. [Ass:] Ferraz // [DATA: 18 de Novembro de 1920 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [27] Funchal 18/11/920 Ill.mo Amigo e Senhor Hinton Tem esta principalmente dár-lhe os meus sentidos pezames pelo falecimento de sua irmã. Melaço: Já recebemos o telegrama da partida do navio no dia 3 do corrente, e calculando 20 dias de viagem, vejo que deve estar aqui a 23 ou 25 do corrente. Em vista d’isto, dei principio ao fermento no dia 15 e já está hoje em bom andamento no Laboratorio, e espero que a 26 possa dar principio ás fermentações do melaço, caso elle venha até 25, porque no caso contrario tenho que conservar esse fermento até o melaço vir, e como tenho somente 3 ponches com melaço da Laboração, tenho que têr muito cuidado n’isso para não perder o fermento. O novo carregamento já vem tambem em viagem, segundo me diz o Senhor Bardesly, e assim deve estar aqui em principio de Dezembro, e como teremos ainda grande quantidade de melaço do primeiro carregamento no tanque grande (500 toneladas), o tanque para receber o novo carregamento ficará com aproximados 1400 toneladas de melaço. Verificando com Marsden o tanque viu-se que pode perfeitamente levar melaço até á 4ª chapa, o que dá exatamente // [28] as 1400 toneladas de melaço. Não tenho pois duvida sobre isso. O primeiro carregamento, Comp.ª Nova receberá 40%, isto é, umas 400 toneladas para deitar nos poços que tem, e guardar em barricas (as melhores) no armazem cimentado onde estão os grandes tanques de aguardente. Do 2º carregamento, pouco poderá receber. Como este melaço deve conter alguma rafinose que é de dificil fermentação, não tendo um liquido nutritivo azotado, vou fazer a saccharificação do milho, com os apparelhos que já tenho montados. Segundo me diz o Senhor Bardesly, H. F.311 quêr obter o seu rateio no melaço a vir, mas isso não me parece que possa ser, a não sêr que elle importe melaço e estar aqui até fins de Fevereiro proximo, requerendo antes a parte que lhe pode caber como rateio. Parece-me porem que elle não cai em fazer essa asneira, porque assim ficaria prejudicado no futuro rateio da canna. A minha opinião é deixal’o a vontade, porque depois elle verá em que condições fica. Sem mais subscrevo-me Seu Attencioso Amigo [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 23 de Novembro de 1920 DESTINATÁRIO: Harry Hinton; LOCAL: Londres, Inglaterra] [29] Funchal 23/11/920 Ill.mo Amigo e Senhor Hinton Recebi hoje mesmo a sua carta de 18 corrente a que respondo. Tinha escripto uma a 18, mas Francisquinho mandou-ma para Lisboa, mas pode ser que Carlos312 lh’a envie de lá para Londres. Apenas lhe dizia que o fermento já estava em actividade no Laboratorio; que tinhamos recebido o telegrama da sahida do 2º carregamento, que deve estar aqui na 1ª quinzena de Dezembro, e que assim todo o melaço poderia ficar no tanque grande que se pode encher ate á 4ª chapa que corresponde a 1400 toneladas melaço como bem diz na sua de 18, quando chegar o 2º carregamento. Já o 1º deve estar uma parte do melaço destillado, e assim o tanque grande comporta todo o melaço sem perigo para o tanque que está em boas condições. Comp.ª Nova receberá 40% do 1º carregamento e do 2º, caso tenha espaço pode receber mais algum, e assim poupa-se em carretos do Torreão para Comp.ª nova. 310 Henrique Tristão Bettencourt Câmara? 311 Henrique Figueira da Silva. 312 Carlos Fernandes.

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Já tenho hoje o fermento em bom andamento e amanhã (24) vai para a pipa do fermento puro, e assim a 26 ou 27 tenho o fermento prompto. // [30] Quanto á percentagem em assucar total 64%, segundo a analyse feita, naturalmente pela Fabrica vendedora, fico á espera do melaço para verificar se essa analyse é verdadeira, porque confesso, acho um pouco elevada a percentagem para um melaço de refinação, a não ser que a refinaria trabalhe muito mal… O melaço das nossas refinações aqui na Fabrica, nunca mostraram mais de 55% assucar total em saccharose e glucose. Se porém esse melaço importado tiver os 64% dito por elles, o seu rendimento minimo será de 36 litros alcool a 100º por 100 kilogramas melaço. Com 50% assucar total rendimento será 28 litros no maximo. Isso seria um magnifico negocio, mas continuo a duvidar de semelhante percentagem de 64%. Quanto aos obus do acido sulfuroso (SO2) que ahi estão, acho melhor ou entregal’os ou vendel’os, porque devem dár muito dinheiro actualmente. Esse acido sulfuroso não se emprega agora nas fermentações por isso que empregamos o fluorure de soda do processo Vasseux. Quanto á turbina de Gee, não posso comprehender como elle para a lavagem das borras e seccl’as[sic], isso são segredos da engenharia, que quando se // [31] fizer as esperiencias se verá o resultado. Parece-me porém que elle gosta muito de vesitar a Madeira. Quanto ao forno da cal é bom o Senhor Hinton vêr bem se podemos ter o forno montado para a proxima Laboração, porque no caso contrario teremos que importar umas 50 toneladas de cal cosida como fazemos todos os annos. Não trabalhando o forno na proxima laboração acho melhor não vir a pedra de cal nem o Coke. O forno porém pode se dár desde já principio á montagem, para servir em 1922, e assim ter bastante tempo para a montagem e deixar seccar bem as juntas dos tejolos. Como segundo me dizem, deve partir para Lesboa a 12 ou 13 de Dezembro este será a ultima para Londres. Sem mais subscrevo-me seu Attencioso Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 27 de Novembro de 1920 DESTINATÁRIO: Carlos Fernandes; LOCAL: Lisboa] [32] Funchal 27/11/920 Meu Caro Carlos Segundo uma carta de Lefebvre313, o cobre encomendado deveria ter chegado a Lisboa a tempo de vir no “San Miguel”: Já estará ahi em Lisboa? Se já estava deveria ter vindo, no caso contrario deve vir pelo primeiro transporte sem falta alguma. Escrevi ao Senhor Hinton para Londres, mas estou a vêr que a carta não o vai encontrar, e como elle me pede umas notas sobre o melaço ce[sic] vir, vou dizer aqui para lhe mostrares esta. O melaço pela analyse enviada, contem 62,75% em saccarose total, e não como elles dizem 64%, e assim um melaço n’estas condições deve produzir 35 litros alcool a 100º por 100 kilogramas melaço, se a analyse é real. Teu Amigo Certo [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 4 de Dezembro de 1920 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [33] Funchal 4/12/920 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Respondi ás suas cartas para Londres, mas naturalmente lhe enviarão de lá para Lisboa. Melaço: O carregamento chegou em magnificas condições, e espero que se dêr quebra (para nós) será bem pouca. Alem d’isso a tonelada é de 1015 kilogramas e assim dará talvez os 1000 kilos = tonelada metrica. Quanto ao peso da Alfandega, não se lhe pode dár grande quebra, visto todos saberem que o melaço vem em boas condições, e isso mesmo foi verificado pelo Director da Alfandega Feliciano de Brito que esteve aqui verificando a mercaduria e o estado d’ella. Contudo vai-se fazer pelo melhor. Procedi á analyse de uma boa media de melaço que me deu o seguinte: Saccharose directa ..............................................................................35,84% “ Clerget ...........................................................................38,47% Glucose (assucar invertido) ................................................................27,50% Saccarose e glucose (assucar total em saccarose ...............................64,59% 313 Georges Lefebvre.

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A analyse feita na America dá em saccarose tottal .........................= 62,85% Vê pois que a minha analyse deu mais 1,74% assucar, e vejo que está certa, por isso que todas as percentagens estão propor//[34]cionaes com relação á analyse da America. Não posso porém percisar bem qual o rendimento d’este melaço sem vêr qual a percentagem de infermenticiveis que contem o melaço, e isso só posso vêr depois da fermentação terminada. Como sabe, este melaço é de refinação e contem pois rafinose que em parte é infermenticivel. Calculando porém nas peores condições, isto é, que contenha 4,59% de infermenticiveis, restará em assucar fermenticivel 60% que calculando um minimo de 58 litros alcool % saccarose, dará 34,8 litros alcool por 100 kilogramas melaço. Pode porem dár 35 a 36 litros, mas é melhor calcular pelo minimo, do que têr uma decepção. Como vê o rendimento é bom e dár-nos-há este primeiro carregamento aproximados 300.000 litros alcool. Se o segundo carregamento nos dêr 280.000 litros, ficaremos com um total de 520.000 litros a vender. Preço do alcool: É minha opinião que o preço do alcool não deve ser superior a 3$30 por litro, e isto por varias rasões, sendo a principal o desdobramento que é necessario que se dê largas a que se possa fazer, porque no caso contrario não podemos vender todo este alcool e mais o da Laboração de 1921, que não deve ser inferior a 270.000 a 300.000 litros e teremos assim em alcool total a vender 880.000 litros!! Uma outra rasão tambem atendivel, é que // [35] o preço do alcool do melaço da canna de 1921 não deve ser inferior ao preço establecido para o melaço importado, isto é, 3$30 por litro, por isso que vamos têr muito alcool do melaço importado quando se fassa o nosso da canna. Teremos ainda que nos garantir contra a possivel baixa do assucar, e assim tendo o alcool por um preço mais elevado, podemos pagar a canna melhor sem têr que subir muito o preço do assucar, como já na minha ultima carta lhe fazia estas considerações. Isto mesmo tenho exposto ao Senhor Bardesly e Belmonte, e aqui deixo exposto, para que no futuro não tenha responsabilidades pessoaes. Dei hoje principio ás fermentações, mas vejo-me na necessidade de empregar o milho como materia nutritiva para os fermentos, como já lhe disse, por isso que este melaço sendo muito puro não tem materias azotadas suficientes para a alimentação d’elles. Não fiz porém nada sem primeiro fallar ao Pinheiro sobre o emprego do milho, e elle auctorisa por vêr que é indispensavel. Por este lado pois não há duvidas. Fabrica de H. Figueira314: Chegou-lhe mais uma fabrica que comprou nas Canarias… isto é, mais ferro velho. Vou porém dizer-lhe o que pude apurar // [36] com relação á montagem e suas edeias, ou por outro, do technico espanhol, e os meus calculos. Para 1921, ficará a fabrica com 3 moinhos sguidos[sic] para a imbibição entre os moinhos, que poderá fazer uma extração aproximada de 90%. Comp.ª Nova tem uma extração de 92% nas mesmas condições de estalação[sic]. Nos temos 96%. O novo triple que lhe veio (de 45 metros quadrados superfice de evaporação cada caixa), apenas monta uma das caixas junto ao antigo triple formando um quadruplo effeito que ficará com 180 metros quadrados de superfice de evaporação, (Nos temos no nosso triple 510 metros quadrados). Tem mais uma caldeira de vacuo de 100 Hectolitros ficando pois com duas de 100 Hectolitros cada. Novos clarificadores, filtros-prensas etc. Nas melhores condições esta Fabrica poderá fazer por 24 horas 150 toneladas canna. Calculando a canna com 12,5% assucar e com a extração de 90%, tira da canna 11,250 kilogramas assucar que com um rendimento em turbinado de 75% (nós tiramos 78%) em turbinado = 8,400 kilogramas assucar vendavel e 3,500 kilogramas de melaço. Pode assim pois vêr as condições do seu competidor. Sem mais por emquanto que lhe possa dizer subscrevo-me Seu Attencioso Amigo [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 6 de Dezembro de 1920 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [37] Funchal 6/12/920 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Acabamos hoje de receber no Torreão as 1800 barricas de melaço (60%), e segue agora para a Comp.ª Nova o resto do carregamento 1200 barricas (40%). Até agora tem sido sempre encontrado as barricas em boas condições, isto é, sem derramos, e espero que vá sempre assim 314 Henrique Figueira da Silva.

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até ao fim. Esta descarga foi rapida trabalhando somente das 7 <manhã> as 5 da tarde, e o transporte por automoveis camions é um serviço esplendido. Comp.ª Nova principia hoje as fermentações. Quanto á fermentação aqui no Torreão vai correndo regularmente, e a fermentação é bastante activa d’esde que principiei a empregar o milho saccharificado. Tenho que fazer dois cosimentos por dia para os fermentos, que corresponde a 400 kilogramas milho por 24 horas. Por uma analyse que fiz do milho (branco) vejo que contem 67% amidon, que ao rendimento de 57% amidon, dará em alcool 38 litros % milho. O custo total por tonelada milho, incluindo o fabrico, é de 833$00. Dá pois um lucro razoavel este processo. Seu Attencioso Amigo [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 12 de Dezembro de 1920 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [38] Funchal 12/12/920 Ill. Amigo e Senhor Hinton Na minha ultima carta dizia-lhe que a fermentação era bastante activa, o que effectivamente assim parece ao principio, mas este maldito tem uma fermentação complementar longa; e vi-me na necessidade de baixar a densidade da fermentação, que a estava fazendo a 10º Baumé para 9º Baumé e empregar acido no mosto geral porque o melaço é ligeiramente alcalino. Se não empregasse a saccharificação do milho, como meio nutritivo, isso seria do diabo, porque teria deficuldades em fermentar este melaço. Vejo que elle contem 5% de infermenticiveis que naturalmente é a rafinose ou malabiose. Contudo o rendimento deve ser bom, isto é, não baixará de 34,8 a 35%. Quanto ao rendimento do milho, como meio nutritivo, é de 33 litros alcool % milho. Emprego na proporção de 25 kilogramas milho por tonelada melaço, e é o minimo que se deve empregar para um melaço n’estas condições. Comp.ª Nova é que ainda não principiou // [39] a fermentação regular, porque os fermentos que lhe tenho enviado, teem-se perdido, devido aos sulfatos de cobre: hoje porém já o fermento principia a dar alguma cousa e com hoje já são 20 ponches de fermento que lhe envio!! Não calcula quanto estou aborrecido com isto, não pelo rendimento que vejo ser bom, mas pelo tempo que levará a fermentar e destillar estes dois carregamentos. Calculo que teremos melaço a fermentar até 30 de Março proximo, e assim, quando dêrmos principio á Laboração, ainda vamos ter alcool d’elle para vender. O segundo carregamento que vamos receber, vejo pelas analyses enviadas que é um pouco mais pobre em assucar, e calculando da mesma forma que o primeiro, vejo que dará um rendimento de 30%, e assim o rendimento medio dos dois carregamentos não se deve calcular mais de 32%, e é sobre essa base que se deve establecer o preço do alcool. Na minha carta de 4 corrente, dizia-lhe que deveriamos ter d’esde Dezembro 1920 á 31 Dezembro 1921, aproximados 880.000 litros alcool (incluindo o da Laboração), mas vejo que empregando o milho devemos ter pelo menos 900.000 litros alcool, por isso que o 2º carregamento é um pouco meior que o 1º. // [40] Barricas: Sobre este assumpto, devo prevenil’o que não deve vendel’as em Lisboa, porque estou a vêr que H. Figueira315 quêr vêr se obtem barricas d’essas para enviar para Africa (ao Orey) para lhe vir melaço, e isso de modo algum convem. O Pinheiro desejava obter essas barricas para negociar e ganhar assim alguma cosa, e conviria muito ajudal’o, mas de forma alguma para serem vendidas em Lisboa. Para os Açores poderá ser, e eu vou falar-lhe com toda a franqueza, e dizer-lhe que não desejamos vender pau para apanhar com elle! Eu mesmo sou de opinião agora, depois cousas que sube, que seria melhor metter n’um envelope uns 200$00 ou 300$00 escudos e enviar ao Pinheiro, e não vender barrica alguma. Por uma experiencia que fiz cada barrica tem: Peso de madeira 23,500 kilogramas “ do arco de ferro 5 kilogramas Teremos pois: Valor da madeira como combustivel equival a 6 kilogramas carvão a 250 por kilograma ................= 1$50 5 kilogramas arco de ferro a 1$50 por kilograma .......= 7$50 Valor da barrica.............................................................. 9$00 Por conseguinte, fornalha com a madeira, com arco vendido, reservando uns 2000 barricas para futura importação melaço Africa. Seu Amigo Certo [Ass:] João Higino Ferraz // mo

315 Henrique Figueira da Silva.

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[DATA: 27 de Junho de 1921 DESTINATÁRIO: Antoine Germain; LOCAL: Málaga, Espanha] [41] Madère 27/6/921 Monsieur Antoine Germain, Ingénieur Civil, Malága, Espagne Monsieur et Cher Collegue Jai bien reçu vos lettres en bon temps, seulement le temp ma beaucoup manqué pour pouvoir y repondre plus tot. Suivant les demande que vous me faites, je peu vous dire que nous employons ici le procedé Fribourg pour la filtration total des jus et que nous employons le Kieselguhre et le phosphate bi calcique 50% de chaque aprés sulfitation et neutralisation de ces jus par la chaux. Le Kieselguhre et le phosphate se met à la dose suivant la pureté des jus, plus il sont pur; moin il en-faut, ceci-est un point ou chaque usine doit chercher. Ces jus sont ensuite chauffé a 95º et passée aux filtres-presses. Pour donner a la Sociedad Asucarera Larios tous les renseignements sur place, et indiquer les changements necessaires dans leurs usines, pour qu’ils puisse travailler sans difficultées, je leurs demand mes voyages aller et retenu[?] de Lesbonne a Malága hotels et un montant de 5000 pezetas (cinq mille). // [42] Je peux y aller au mois d’Aout prochain en restant la dix à quinze jours. Se la maison Larios accepte mes conditions quelle veuille bien me le confirmer par lettre à Lisbonne, 6, Largo do Corpo Santo conta[?] William Hinton & Sons Croyez, cher Monsieur et Collegue, a l’assurence de ma consideration trés distingue [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 30 de Junho de 1921 DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre] [43] Madère 30/6/921 Mon Cher Ami Monsieur Lefebvre Jai 6 lettres a vous repondre? Parbleu!... Ce n’est pas beaucoups, mais un respectable nº!... Ce pendant il ya une chose en ma faveur, ce que la plus grande partie des lettres, sont repondu par moi dans les lettres officielles de la maison Hinton. Je repond seulement a votre derniere reçue. Ferment Vasseux: Je vous remercie l’envoi du ferment mais il est arrivé trop tard. Les fermentations etaient terminées. Je ne peux pas comprendre comment ce Monsieur a peu envoyer une levine aussi mauvaise que me fait perdre la tête! Pendant 3 jours je travail pour faire l’ensemencement et ensuite je ne vois pas de fermentations, et du regardant au Micruscope je ne vois autre chose que des microbes. En cassant 3 ampoules et en regardant au microscope je constate que la levure est morte et qu’il y a une grand quantite de microbes actiffs. Ce n’est pas de la levure pure, ce sont des jueds de cuves, comme jai dit a Marliere316// [44] qui a du vous ecrire a ce sujet. Heureusement que jai au Laboratoire de la levure active pour la destillerie d’eau-de-vie, et je profite de ca pour acclimatêr au fluorure, en obtenant de tres bons resultats. Je ne sais si Monsieur Vasseux est encore obligée de nous envoyer de la levure cette année, sont contract devaut étre expire. Je ne mettrais en route la destillerie qu’au mois de septembre prochaine; si son contrat n’est pas terminée il fera son derniér envoi pour la fin d’Août. Je vais voir c[sic] qu’il reste de fluorure et se ce produit me manque je vous en ferais la command. Merci pour le payement de la cotisation comme menbre de l’Association des Chimistes. Il y a une partie de votre lettre que me fait reallement plaisir, cet qui Monsieur et Madame Lefebvre se propose de venir á Madere en 1922, mais ce ne sont encore qui des projets, qu’il faudra realiser. Votre voyage deverá etre fait au mois de Mai de cette façon pourrir voir la marche normal de notre usine, et la saison ici est la meilleure. Pour notre João il va tres bien, et commence a sappliquer dans la Chimie sucrére sous les auspices de notre ami Monsieur Marliere // [45] bon professeur... en touts les points... Mes meilleurs et respecteuses Amitees a Madame Lefebvre sans oublier Monsieur et Madame Bisson. Pour vous, mon cher ami, une bonne poignee de main. De votre Ami Devue [Ass:] João Higino Ferraz P. E.[sic] N’oubliez pas de m’envoyer mon livre traitant la fabrication de la Biére moderne et pratique. [Ass:] Ferraz //

316 Joseph Marliere.

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[DATA: 1 de Setembro de 1921 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [46] Braga 1/9/921 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua carta de 24 ultimo acompanhando a carta (copia) de Ricard e a sua resposta, que acho bem. Contudo, quando chegar a Lisboa, que deve ser entre 12 a 13 do corrente, vai-me permitir que eu pessoalmente (como director tecnhico) diga a Ricard qual o nosso fim no emprego do Ginal, que não é para facilitar a filtração porque essa a fasso perfeitamente pelo processo que usamos, mas sim para conseguir um jus bem alcalino (0,40 gramas CaO por litro), e que feltre bem com esta alcalinidade, e poder-se depois da filtração em Filtros-Presses fazer uma sulfitação profunda do jus afim de obter um xarope puro e claro (amarello), como das nossas esperiencias de laboratorio. Vou tambem responder officialmente (já o fiz pessoalmente) a Lefebvre317 e Marliere318 á minha chegada a Lisboa. Vejo o que me diz com relação ao França Doria, e já Tristão319 me tinha escripto sobre isso. Esse typo é um verdadeiro vigairista, e parece impossivel que um melitar da sua graduação fizesse semelhante papel! Por isto se vê como vai em Portugal!.. tudo perdido Senhor Hinton! // [47] Ném já no exercito e patentes elevadas á dignidade! Mas vamos a tratar o homem como elle o merece. O que eu desde já vejo é que elle nada fará, e o seu único fim é obter uns contitos de reis, e venham elles seja de que forma fôr… As razões por que eu acho que elle nada fará são as seguinte: 1º Na Lei de 1901 auctorisa a destillação de vinho feita pelos viticultores, e essa lei está em vigor? Se assim é, somente é auctorisado a cada viticultor pessoalmente, e n’esse caso não pode um viticulcor[sic] qualquer comprar vinhos para destillar e negociar. Se o destillar como seu, arrisca-se a pagar no anno seguinte a contribuição perdial correspondente aos productos que confessa seus, o que na Repartição de Fasenda não está coletado. Quanto aos outros viticultores destillarem em seu proprio nome, isso é um pouco mais dificil, porque estou certo somente o faram recebendo pelo vinho um preço renomerador[sic] 2º Esse apparelho de destillação portatil, que eu sei ser de Egrôt, apenas tirar[sic] aguardente a 25 a 27º Cartiere bruto; é um apparelho de facil transporte para as estradas do continente; mas para a Madeira como? Além d’isso a Lei deve dizer que essa aguardente é simplesmente applicada ao tempero do mesmo vinho do propriatario e nunca para venda com a bebida em taberna porque assim deve pagar o imposto. // [48] 3º Mas calculando mesmo que elle possa destillar, e vender a aguardente a seu bello prazer: A como lhe ficará a aguardente, ou por outra o alcool em 40º Cartiere, para concorrencia com o nosso alcool de melaço? Tenho a empreção que no corrente anno o preço do vinho não será inferior a 12$00 por barril e isso por varias razões. Calculando pois uma media no vinho de 10% alcool, o rendimento de 10 barris de vinho (450 litros) deve ser de 45,6 litros alcool em 40º Cartiere. Tirando as despesas de fabrico, deve-lhe ficar o alcool em 40º a 3$00 por litro. Se o vinho fôr comprado a 10$00 por barril ficar-lhe-há o alcool em 40º a 2$50. Como vê a concorrencia não mete medo!... 4º Para produzir os 200.000 litros alcool da sua ameaça, elle necessita destillar 4390 pipas de vinho, isto é, lá vai o vinho todo da Madeira!!... Como elle diz que comprando o vinho a 8$00 ganhava cem contos, vendendo alcool a 3$00 (?), isso deve ser contos de fada, porque a aguardente ou alcool em 40º lhe deve ficar a 2$11 por litro; E em 100.000 litros que elle venda em concorrencia que não será superior a 2$50, apenas poderia ganhar 39:000$00. Quanto tempo lhe levaria a destillação de 2.200 pipas vinho? // [49] Naturalmente mais de 6 mezes, tempo mais que suficiente para termos o alcool de 1922 por um preço inferior a 2$00 por litro. Por tudo isto, Senhor Hinton, não vejo razões para recear o nosso vigairista coronel. Ainda não recebi carta de Carlos320 participando a sua chegada a Lisboa, e não sei pois se sempre veio ou não. Conto seguir para ahi no dia 20 pelo “San Miguel”, se não houver qualquer cousa que não o possa fazer. Sem mais por emquanto, crêa-me Seu Attencioso Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //

317 318 319 320

Georges Lefebvre. Joseph Marliere. Henrique Tristão Bettencourt Câmara. Carlos Fernandes.

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[DATA: 10 de Setembro de 1921 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [50] Lisboa 10/9/921 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Como me diz Henrique321 o Senhor Hinton deve partir da Madeira para Lisboa a 19 do corrente, e eu devo partir no “San Miguel” de 20, não nos encontraremos, e assim deixo-lhe esta carta, acompanhando a copia da carta que escrevi a Ricard sobre o emprego do “Ginal” conforme combinei comsigo na minha ultima de 1 do corrente. Tem porém esta tambem por fim dizer-lhe o que a mim me parece melhor fazer em 1922 com relação á nossa futura exportação de açucar para aqui (Lisboa): Como vejo sempre as mesmas dificuldades na colocação do nosso açucar cristallisado, mesmo que bastante branco, em Lisboa ou provincias devido em grande parte ao habito dos consumidores sô gostarem do assucar refinado-areado com aquelle gosto especial carateristico, seria talvez mais vantajoso exportal’o d’ahi já refinado-areado, obtendo-se assim não somente uma facilidade de venda directa ás casas de atacados sem passar pelas refinarias e assim tambem um // [51] preço mais elevado, que não seria menos de 100 a 150 reis por kilograma, com a grande vantagem que este typo d’assucar nos daria 10% mais no pezo depois de refinado, devido á humidade que elle contem, que é o que se dá aqui nas refinarias. Este assucar refinado poderiamos produzil’o durante a Laboração da canna em uma pequena instalação feita a proposito, empregando talvez um apparelho Kestner á descendage, e um mexidor-areador especial que Kestner, creio eu, já tem montado no Brasil para este mesmo typo d’assucar areado. Para o fabrico d’este typo de assucar poderiamos empregar o nosso B2 da Fraitag Grande, e assim em logar de o refundir no xarope, como fizemos no corrente anno, seria esse assucar feito em xarope, clarificado, filtrado sobre carvão animal e refinado em areado, dando assim um bom assucar branco para exportação e talvez mesmo algum se possa vender ahi por um preço superior. Para a instalação d’essa pequena refinaria, se no Torreão não tivermos espaço para ella poderia ser montada na Comp.ª Nova porque lá tem espaço mais que suficiente e não é necessario o emprego de bombas de vacuo. Temos além disso que, se com o emprego do “Ginal” obtivermos xaropes como das nossas experiencias de Laboratorio, isto é, um xarope // [52] amarello-claro livre das gomas coloidaes, pode-se obter assim perfeitamente um açucar integral, como da amostra que fizemos no Laboratorio em areado amarello-claro, e que pode ser vendido aqui como de 2ª qualidade ou mesmo na Madeira. Como sabe este typo de assucar integral, a canna ou jus de canna não dará melaço, sendo todo o jus ou xarope transformado em assucar o que é uma grande vantagem. Se por exemplo a refinaria fosse montada na Comp.ª Nova, poderiamos enviar-lhe o xarope a 32º a 33º Baumé do nosso triple, e ali ser então areado na mesma pequena instalação de refinaria. A produção do assucar areado branco ou amarello seria alternado conforme as conveniencias. Teremos muito meior vantagem em montar isto na Comp.ª Nova, não somente devido ao espaço, mas principalmente porque durante a Laboração ou fora d’ella, o gasto de combustivel é menor ali. Para a produção do assucar integral, o rendimento da canna medio deve sêr, pelos meus calculos de 13,5 a 14% em assucar integral com 85 a 86% saccharose. Uma outra vantagem, e que não é pequena, é que assim ficariamos em condições melhores do que São Filippe (H. F.322), na concorrencia. // [53] Já vejo porém que o Senhor Hinton vai têr a sua repognancia em fazer isto, por causa do Hornung323 que assim ficaria em concorrencia com elle no fabrico do assucar areado..; mas que é umas 1000 toneladas assucar que se possa exportar por anno, para um consumo de Portugal 40.000 toneladas?!! Não vejo pois razões para que Hornung seja prejudicado, e além d’isso o Senhor Hinton tem primeiro de olhar aos seus proprios interesses e deixar os outros um pouco de parte, que é afinal o que elles fazem… Pena tenho não poder têr consigo uma conversa larga sobre este assumpto e de viva vóz, porque este assumpto é importante e talvez de grande vantagem, e assim poderiamos descutil’o melhor, e estudal’o a fundo. Sem mais que lhe possa dizer de interessante, crea-me seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz //

321 Henrique Tristão Bettencourt Câmara? 322 Henrique Figueira da Silva. 323 Cf. FREITAS, Luiz Alberto de, A Lei Hornung. Em defeza da Madeira e de Hinton, Lisboa, 1915

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[DATA: 13 de Setembro de 1921 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [54] Lisboa 13/9/921 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Como dei na minha mala de viagem com uma das amostras (a mais amarella) do assucar intergal[sic] que fizemos no Laboratorio, com o jus tratado pelo Ginal aqui a deixo para que possa bem vêr o resultado provavel do fabrico d’este typo d’assucar, no caso de qualquer cousa se fazer sobre isso, e que se possa obter apparelhos apropriados ao fim. Esta amostra truxia[sic] eu com este mesmo fim, isto é, comparar com o assucar areado de ca e consultar pessoas intendidas no assumpto, o que todas dizem ser muito melhor do que elles fabricam actualmente de 2ª qualidade. Este typo de assucar foi feito com o jus da Laboração quando se estava fazendo as esperiencias ao Ginal, que como sabe não foram feitas nas melhores condições, emquanto que a que tenho ahi no Funchal é mais branco mas foi feito com o jus tratado no Laboratorio pelo Ginal. Em todo o caso pode-se contar que, se o Ginal dêr o resultado, obtem-se um assucar mais claro do que essa amostra. Seu Amigo Certo [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 25 de Setembro de 1921 DESTINATÁRIO: Vilela de Barros; LOCAL: Cintra] [55] Funchal 25 Setembro 1921 Ill.mo Ex.mo Senhor Vilela de Barros, Dig.mo veriador da Camara de Cintra Ex.mo Amigo e Senhor Não tendo tempo de lhe escrever de Lisboa a V.ª Ex.ª agradecendo a manifestação da Dig.ma Camara de Cintra, de que V.ª Ex.ª é digno veriador, feita a meu saudoso irmão Dr. José Alberto Ferraz, dando o nome da nova rua de Queluz á sua memoria, manifestação a que me acho gratissimo e eternamente reconhecido, venho fazel’o aqui da minha terra natal, e pesso a V.ª Ex.ª seja meu interprete n’estas minhas palavras junto da Dig.ma Camara. Pena tenho que na reportagem do Jornal O Seculo de 19-9-921 fosse feita de forma que me collocou perante a Camara de Cintra como tendo proferido palavras que nunca as preferiria[sic] e longe estava o meu pensamento. Não posso accusar ningem de culpas n’esse desgraçado fim de meu pobre irmão, e não é verdade que elle fosse abandonado de todos // [56] e morresse tambem abandonado n’um catre de hospital: Fiz tudo quanto pude e comigo varios amigos pessoaes meus e amigos d’elle para o ter em reposo no Sanatorio do Lumiar, e entre esses amigos está incluido V.ª Ex.ª, e Ex.mos Senhores Sá Piedade e o meu particular amigo Nogueira Gonsalves. A todos pois o meu eterno agradecimento. De V.as Ex.as Attencioso Venerador e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 26 de Setembro de 1921 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [57] Funchal 26/9/921 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Cheguei, como sabe, no “San Miguel” de 20 do corrente, e aqui encontrei cartas suas, que segundo Avelino324 me disse, o Senhor Hinton deseja eu lhe diga alguma cosa sobre esses assumptos, o que passo a fazer. Destillaria Hornung: Pela sua carta a Hornung vejo que pouco tenho a dizer sobre o assumpto a não ser a parte referente ás cubas de fermentação: As cubas baixas e largas apenas devem ser usadas com fermentação de materias pastosas, como cereaes, porque com solução de melaços, em que o desprendimento do acido carbónico é facil, não vejo vantagem em têr cubas n’estas condições, porque o espaço tomado por ellas é muito meior e devem custar muito mais caras, não trazendo vantagem na diminuição da temperatura da fermentação. Quanto ás cubas serem fechadas hermeticamente, vejo toda a vantagem, principalmente n’um clima quente como a Africa, tendo-se contudo o cuidado que o acido carbonico que pode levar consigo algum alcool (mesmo com temperaturas de fermentação maxima de 35º), seja lavado em apparelho especial afim de se reter o alcool. // [58] Estas cubas devem têr um systema de refrigeração exterior para evitar as altas temperatura [sic] de fermentação, que não somente podem matar os 324 Avelino Cabral.

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fermentos, mas evita a evaporação do alcool em grande quantidade. Está bem quando diz que o rendimento é superior em 5% em cubas fechadas. Processo “Ginal”: Como vio pela copia da carta que escrevi a Ricard, friso bem qual o nosso fim empregando o seu novo producto purificante (Ginal), mas desejo tambem fazer vêr ao Senhor Hinton qual o custo comparativo dos dois processos, o nosso actual e pelo Ginal. Estes calculos que lhe vou fazer é pelos preços dos productos chimicos no Funchal (Torreão) em 1921. Pelo processo actual usado: Por 25.000 toneladas canna n’uma Laboração (?): Enxofre 750 gramas tonelada canna = 19.000 kilos a 1$305 = 24:749$000 Kieselgouhr 1,400 kilogramas tonelada canna = 35.000 kilos a 418 = 14:630$000 Phosphato Cal 1,300 kilogramas tonelada canna = 32.500 kilos a 855 = 27:787$500 Cal ingleza 1,250 kilogramas tonelada canna = 33.000 kilos a 410 = 13:530$000 Aluminato baryta 400 gramas tonelada canna = 10.000 kilos a 2$605 = 26:050$000 Custo total em 25.000 toneladas canna 106:792$500 Custo productos chimicos tonelada canna = 4$272 reis Pelo processo ao “Ginal” para a mesma quantidade de canna (25.000 toneladas), empregando as doses de 1921 nas esperiencias e conforme Ri-//[59]card aconselha para esperiencia futura, mas não fazendo a sulfitação do jus bruto a frio, mas somente a sulfitação do jus defecado e filtrado: “Ginal” Enxofre 700 gramas tonelada canna = 17.500 Kilos a 1$305 reis = 22:837$500 reis Kieselgouhr 150 gramas tonelada canna = 4.000 kilos a 418 = 1:672$000 reis Cal ingleza 1,665 kilogramas tonelada canna = 42.000 kilos a 410 = 17:220$000 reis Ginal 200 gramas Hectolitro jus (?) = 50.000 kilos a 2$020 = 101:000$000 reis Custo total em 25.000 toneladas canna 142:729$500 reis Custo productos chimicos tonelada canna = 5$710 reis Pode vêr pois (por estes meus calculos aproximados) que o custo pelo Ginal é superior em 1$438 reis por tonelada canna (Salvo Erro ou Omissão), ou seja aproximados 14 reis por Kilograma assucar produzido. Assim temos que, para que o processo ao “Ginal” tenha vantagens para nós, é indispensavel que o rendimento seja superior ao nosso actual: que o assucar turbinado seja mais branco que o actual na media: que o tourteau obtido dos filtres-presses sirva para alimentação de gado: Que se possa obter o assucar intergal para venda directa ao consumo. Sem mais que lhe possa dizer por emquanto subscrevo-me seu Amigo certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 26 de Setembro de 1921 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [60] Funchal 26/9/921 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Depois de lhe escrever a ultima carta e de a têr fechado é que recebi a sua de 22 corrente, e assim fasso outra respondendo ao que me falta dizer. Questão Doria: Parece-me que por agora essa vigarice do Doria está liquidada, visto o preço dos vinhos estarem entre 12$000 a 18$000 por barril e alguns mais elevados, mas é sempre bom que isso fique liquidado, isto é, não auctorisação de destillação de vinhos senão conforme diz a Lei de J. N.[?], porque de futuro é uma arma que fica na mão dos viticultores para fazer preços de vinhos, e como sabe vai prejudicar os vinicultores nossos compradores d’alcool. Quanto ás fabricas de aguardente esses amigos seria uma lição para elles não elevarem o preço da canna e fazerem mais do que o rateio. Segundo me parece a Alfandega não pode auctorisar a destillação sem uma ordem especial do menisterio das finanças, porque a Alfandega nada tem com o menistro da Agricultura e não pode fazer nada contra o espirito da Lei que é bem clara nesse sentido. // [61] Assucar integral: Como o Senhor Hinton diz que vai a França acho conveniente, como diz, hir a Lille falar ao Kestner sobre os apparelhos necessarios para a produção do assucar areado, tanto do xarope directo da canna (assucar integral), como para a produção do assucar areado feito, do nosso B2 da Freitag grande. A questão está em calcular a capacidade d’esses apparelhos e quais os apparelhos necessarios. Não seria suficiente uma capacidade de 1500 toneladas assucar areado em 2 mezes de trabalho? Os apparelhos necessarios para esse fim deve Kestner saber o que são, e pena tenho de não estar lá consigo para se combinar

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em conferencia essa questão, para que não venhão apparelhos que não sejam necessarios ou faltem outros que possão ser uteis. Emfim elles podem mandar para aqui um orçamento e um pequeno schma da instalação para eu estudar e lhe dizer o que acho sobre ella. Filtros Seitz: Effectivamente o representante da casa Seitz falou comigo, mas eu disse-lhe que somente o Senhor Hinton poderia decidir essa questão. Varias vezes me convidou para hir almoçar com elle ao Avenida Palace e com o Sampaio (!!), veja lá que bisca… mas eu fugi sempre a isso, porque estava a vêr o que elle queriam [sic]. Effectivamente elle falou nos filtros de xarope, porque eu lhe disse que, se alguma cousa // [62] fizessem com os filtros desejava empregal’os na filtração do xarope em logar do jus, porque como sabe o xarope ainda que muito bem filtrado o jus, apresenta sempre grande quantidade de percipitados que torna os cuites grasses e sujão o assucar. Foi então que elle me propôz a installação de filtros para isso, mas não val a pena fazer mais despezas por emquanto na fabrica. Quanto ao pagamento do saldo em marcos em ouro, conviria, se fizesse o cambio da epoca da 1ª encomenda quando vieram os filtros, que devia ser um cambio baixo mas isso depois do concerto completo dos filtros por conta d’elles e modança total das torneiras. Hornung: Na minha primeira carta digo-lhe o que sobre o assumpto me sugerio. Quanto á minha hida a Moçambique não vejo que seja necessario hir lá no tempo da Laboração da canna, por isso que a destillação ou montagem da destillaria não deve conincidir[sic] com a Laboração, acho eu. Emfim eu acho que essa edeia não vai avante, isto é, a minha hida lá, e pena tenho porque bastante ganharia com isso monetariamente. Seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 30 de Setembro de 1921 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [63] Funchal 30-9-921 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Não sei esta carta onde o vai encontrar, mas ainda assim pode esta servir para decidir os pontos que lhe vou expor. Productos chimicos: Recebi uma carta particular de Lefebvre325 em que me pede para que a firma lhe diga d’esde já o que deve elle comprar de productos chimicos para o futuro anno, porque assim poderá obter talvez em melhores condições do que comprando de afugadilho. Em vista d’isto vou escrever officialmente a Lefebvre dizendo qual os productos chimicos que elle deve contratar, cuja carta vai primeiro a sua mão, e no caso de concordar o Senhor Hinton lh’a pode enviar directamente. Quanto ao Kieselgouhr que é um producto mais facil de obter, não sei se o quêr de Hespanha como o do anno de 1921. Pano para os filtros-presses da garapa: Vão ser necessarios uns 3500 metros de 1,10 metros de largo egual á amostra que lhe envio. Filtros-presses de Melasse Cuite: Sobre este pano tenho a dizer-lhe que verifiquei as amostras de Crispin e vejo que a que convem é o Nº 4, cujo custo em Rotherdam (fob) é de 0,32 florins por metro, e fazendo o calculo do custo // [64] e despezes[sic] até o Funchal, dá aproximado o seguinte: Custo de 2,40 metros por pano de filtro a 0,32 florins (a 3$30 ?) ................................= 2$53,5 Direitos sobre 1,100 kilogramas de panno a 210 reis kilograma...................................= 0$23 50% sobre taxa (direito ouro) ...............= 0$11,5 Imposto Camara 50 reis Kilo ......= 0$05,5 Frete, etc (?) .........= 0$03,5 Custo total do pano ......... 2$97 São necessarios 1000 panos a 2,40 metros = 2400 metros de 1,15 metros de largo. Panos feitos de sacos: Sendo estes panos feitos de sacos, como se tem feito até agora, o custo de cada pano será aproximado: Custo de 3 sacos (comprados) a 500 reis (?)................................= 1$50 Despeza de costureiras ................................................................= 0$31 Custo de pano ............ 1$81 Tudo depende porém de se obter uns 3000 sacos necessarios para fazer os 1000 panos, o que estou tratando de conseguir, no caso do Senhor Hinton concordar com isto que lhe digo. Não vejo grande necessidade de resolver isto desde já, porque para este typo de pano deve haver sempre no Mercado. Faço-lhe notar que a amostra de pano do Filtro-Presse da garapa não é egual 325 Georges Lefebvre.

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ao que veio em 1921, mas sim o de 1920, que é de melhor qualidade. Os panos de 1921 estragavam-se muito mais rapidamente. Destillaria: Não posso por emquanto dár principio ás fermentações, por não ter espaço suficiente para alcool, mas desejava vêr se ainda este // [65] anno destillava algum, ainda pouco que fosse. Para poder destillar todo o melaço antes da Laboração de 1922, teremos de vender uns 200.000 litros até fins de Fevereiro no Torreão, ficando porém os tanques do Torreão novamente cheios d’alcool, isto é, com 116.000 litros alcool, stock restante em fins Fevereiro. Comp.ª Nova tem um stock (em 29-9) de 136.400 litros. Calculando pois que todo o melaço extistente[sic] seja destillado, terem[sic] que, do anno saccharino de 1921-1922, vender 452.000 litros alcool. Que se fassa em 1922 uma Laboração de 25.000 toneladas canna, dará em alcool aproximados 300.000 litros alcool (Torreão e Comp.ª Nova). Faço-lhe todos este calculos para que o Senhor Hinton possa vêr qual a sua situação presente e futura até Fevereiro de 1923. Sem mais que lhe possa dizer crea-me seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 30 de Setembro de 1921 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [66] Funchal 30/9/921 Ex.mo Senhor Hinton Como complemento dos productos chimicos que não estão na lista enviada a Lefebvre326, e que devem vir, são os seguintes: Kieselgouhr (Diatomite) ........................22.000 kilogramas Soda caustica ...............................................800 “ Blankite .......................................................100 “ Formol (Formol de hydum[?] a 40%) .........650 litros Fiz a encomenda a Lefebvre do pequeno filtro-presse de Laboratorio que custa 2000 francos, completo com chassi e pequena bomba á mão. Se fizer a encomenda do Kieselgouhr, faço-lhe notar que a sua densidade deve ser de 200 gramas por litro e o mais fino possivel. Seu Amigo [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 6 de Outubro de 1921 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [67] Funchal 6-10-921 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Recebemos da Casa Crispin preços <(?)> do Kieselgouhr (Diatomite) proprio para fabricas de açucar de canna e ao mesmo tempo uma amostra do Hespanhol moido muito fino, mas cuja densidade é de 450 gramas por litro o que não convem, por isso, como já lhe disse na minha ultima carta, a densidade deve ser no maximo de 200 a 220 gramas por litro. Crispin enviou-nos duas amostras preparadas para se poder vêr ao microscopio, uma da casa The Diatomite C.ª L.da de Manchester, e a outra de um Diatomite Hespanhol (não da amostra acima). Verifiquei ao microscopio e vejo que o primeiro é superior porque as suas particulas são irregulares e isso é de grande conveniencia para a boa filtração. Parece-me pois ser mais conveniente fazer a encomenda da Casa “The Diatomite C.ª L.da” e não Hespanhol que não se presta tanto á boa filtração e é mais denso. Seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 19 de Outubro de 1921 DESTINATÁRIO: Director Geral dos Estabelecimentos Ladreyt; LOCAL: Clichy, França] [68] Funchal 19/10/921 Monsieur Directeur General, Etablissement Ladreyt Clichy – France Monsieur Je suis en possession de votre lettre du 31 Août proche passé que j’ai reçu avec un grand delai du a mon absence de Madère ou je suis retorné ao commencement du mois de Septembre proche passé Je remercie bien à Monsieur Planchon en se rappelant de notre ancienne connaissance á Lille, introduit par mon ami, déjà 326 Georges Lefebvre.

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décédé, Monsieur Leon Pellet Je vous suis trés reconnaissant pour la maniere dout vous vous proposez me fournir touts les renseignement sur concentration du vin (moûts), industrie que j’ai en effet idée d’etablir em Portugal, industrie que je n’ai pas encore pur etablir dû aux mauvaises condition de notre Chang[?] que sitot amelioré je m’y lancerai sans hesitar. Comme renseignement pour mes projects je vous prie l’envoi d’un devis d’installation pour un // [69] désulfiteur special en ceramique por 50 hectolitres de moût de raisin, sulfité a 2 grammes SO2 par litre ou 10 heures de travail, travaillant dans le vide, et avec tous ses accéssoires. Un évaporateur pour le moût désulfité travaillant dans le vide, pouvant évaporer les 50 hectolitres de moût de 1070 Densité, par 10 heures de travail, pour produire des xiropes de raisin a 37º Beaumé, et avec tous ses accessoires Une pompe á vide (sèche[?]) pour le service du désulfiteur et evaporateur par colonne barometrique centrale. En attendant vos bonnes nouvelles sur les questions de petite apparail d’esperiance que je viens de vous presenter, veuillez agréer, Monsieur, mes salutations les plus distinguées. [Ass:] João Higino Ferraz [DATA: 21 de Outubro de 1921 DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre] [70] Funchal 21/10/921 Monsieur G. Lefebvre Mon cher Ami Je suis en possession de vos lettres du 13 Dezembre (?!) et du 11 octobre courant, ce que je vous en remercie bien. Lettre du 13 Septembre[sic]: Filtre Rambert repondu par lettre officielle. Products Chimiques, j’ai envoye à Senhor Hinton une lettre qui est adressée et le [...] commande des produits chimiques nécessaires pournotre prochain Campagne de 1922, afin qu’il puisse la verifier et vous adresser de nouveau. Lettre du 11 octobre: Filtre[?] [...] le Laboratoir et densimetres. Livre sur Brasserie je regrette que vous n’ayez pas pur obtenir [...] pratique, [...] fabrication de la [...] dout je suis trés interessé. Metal [...] cette affaire [...] mais peut-être on pourra obtenir un produit pour paintre interieurment les cuves de fermentation [...] que ce produit ne soit pas attaqueille[?] par les [...] par // [71] le rapiner quand on sterelisé les caves. En ce que concerne aux soupapes (rolinettes) dont les dessins vous nous avez envoyé, je n’en ai pas bassin. Affaire particulier: Comme vous le verrez je continue avec mes projects de concentration du moût de raisin (Vinerie) et méme a l’etat actual du change je ne dois pas prolonger plus longtemps ce project-ci qui pourra me rapporter, a l’avenir, de grandes avantages. Á titre d’une petite idée de ce que pourrai faire je desirais bien que mon Ami Monsieur Lefebvre puisse vous renseigner en France combien[?] offreront-on pour une Mistelle faite avec le moût de raisin concentré contenant: Alcool .......................15% Sucre de raisin ..........580 grammes par litre fut inclus, dans un port que lorsque Français se les offres me seront avantagenses, vous pouvez etre sur qu’on prochain 1922 je commencerai la fabrication de ce produit, et commenderai le plus tôt possible les apparails dont vous avez connaissance. Cette affaire pourra vous être avantageux car je vous tient intermediaire a tout que sera vendu en France. Je desirai bien avoir de vos nouvelles le plus tôt que possible sur ce sujet. Avec mes meilleurs respects a votre famille; a vous mon[?] ami, ma toute meilleur amitié. [Ass:] João Higino Ferraz [DATA: 31 de Outubro de 1921 DESTINATÁRIO: Director Geral dos Estabelecimentos Ladreyt; LOCAL: Clichy, França] [72] Funchal 31/10/921 Anciens Etablissements Ladreyt Clichy Monsieur le Directeur Général Comme complément à ma derniere lettre du 10 courant, je viens vous demander encore de suivant. J’ai vu dans l’entête de votre papier á lettre que vous vous chargez de la montage de Brasseries, et comme quand je metterai en execution l’industrie pour la production des siropes de raisin j’aurai grand interêt d’etablier conjointement une petite Brasserie, industrie que pour la production de la bonne biére n’existe pas à Madère, je vous prie de bien vouloir n’envoyer un Devis pour l’installation complete d’une Brasserie, travaillant à vapeur et mechaniquement, pour un travail journalier de 10

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heures de 800 a 1000 litres de biére faite. Je désirais donc un Devis complet comprenant la machine frigorifique pour le refroidissement des canes de garde, dont la capacité doite être de 400 mètres cubiques à +5º temperature. // [73] Cette Brasserie doit être presque complétement mechanique, à cause du prix actuel de main d’oeuvre, et etudièe de façon a produire une bonne bière a 5% alcool faite avec du malte ou d’une melange de malte et de l’orge cru, comprenant aussi touts les appareils nécessaires á cette industrie, sauf le generateur à vapeur. Une petite pompe à air comprimee et ses accessories pour la filtration de l’air, pour les divers travaux de la Brasserie a remplacer le CO2 le guide doit y être compris. En vous remerciant d’avance et au plaisir de vous lire, veuillez agrèer, Monsieur le Directeur Général, mes salutations les plus empressées Directeur technique de la sucrerie Hinton Madère [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 15 de Novembro de 1921 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [74] Funchal 15/11/921 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Dei principio ás fermentações no dia 13 do corrente, por isso que tenho espaço para alcool para um mez de trabalho pouco mais ou menos Conforme os seus desejos, telegrafei para Lisboa prevenindo o Tornelli (da casa Ramiro de Magalhães) de que daria principio as destillações entre 15 a 20 Novembro, afim de que elle querendo possa vir no “San Miguel”. Fiz isto no principio do mez. Fiquei espantado quando Carlos327 me disse para eu lhe mandar as notas dos productos necessarios para a Laboração de 1922, quando eu o já tinha feito em minhas cartas de 30 setembro proximo passado, e juntamente uma para Lefebvre328 para o Senhor lhe enviar depois de verificar o seu conteudo. Carlos enviou-lhe novamente as notas, por isso o não fasso agora. Junto encontrará uma carta que Marinho329 me enviou sobre enxofre de Lisboa, mas eu disse-lhe que já tinha feito a encomenda, e por isso não sabia se se poderia aproveitar a offerta, ainda que mais barata. Elle pede que me envie novamente a carta ou a Carlos Sem mais, sou seu Amigo Certo [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 16 de Novembro de 1921 DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre] [75] Funchal 16/11/921 Monsieur G. Lefebvre Ingenieur Mon Cher Ami Ayant oblié le jour du courrier pour l’Anglaterre, je suis en train de repondre à vos lettres du 26 écoulé et du 2 et 8 courant, (parce que la lettre doive étre longue), que suiveront voie Lisbonne. Merci pour les livres de Boullanger (Brasserie) reçu. Votre ami devue [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 17 de Novembro de 1921 DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre; LOCAL: Taverny, França] [76] Funchal 17/11/921 Monsieur G. Lefebvre, Ingenieur, Taverny Mon Cher Ami J’ai honneur de répondre à nos lettres du 26 octobre et du 2 et 8 courant. Affares Hinton: Nous avons envoyé de nouveau a Monsieur Hinton330 la copie de la lettre officielle, car nous craignons qu’il ne l’a pas reçu, et comme il veux bien la verifier avant de vous envoyer (?!), se l’ai fait comme ça, et naturellement il doit deja en être en possession ce que fait que dans peu de temps vous l’aurez en main (se ce n’est que vous c’est déja). Affaires particulieres: Merci bien pour les deux volumes de Boullanger (Brasserie), que c’est exactement ce que je désirais, 327 328 329 330

Carlos Fernandes. Georges Lefebvre. Marinho de Nóbrega. Harry Hinton.

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et je vois bien, que c’est un bon traité sur brasserie malgré que je ne l’ai pas encore tous lu. Mistelles: J’ai bien noté tou-ce que vous me dite sur ce sujet, et en ce que concerne la // [77] mistelle Algerienne, au titre de 5% alcool et 180 à 200 grammes, de sucre reducteur par litre (sucre de raisin), cá ne peut pas être autre chose que du moût brut de raisin alcoolisé à 5%, tandis que lá mistelle pour moi proposée provient du sirop de raisin á 35º Baumé alcoolisé á 15% alcool, et comme le sirop iniciel doit avoir au moins 750 grammes de sucre de raisin par litre c’est trés facile à comprendre que la mistelle a 15% alcool doit contenir par calcule 600 grammes de sucre de raisin. Cependant comme garantie j’ai dit 580 grammes par litre. Pour vous envoyer une échantillon fraiche de ce produit futur il serait nécessaire que j’eusse actuelment do moût de raisin, mais la récolte du raisin est terminée et je ne peux pas vous faire cette échantillon fraiche: Heureusement j’ai un peu de sirop de raisin concentré, parfaitment conservé depuis 1920, et sur le quel je vais faire environ deux litres de mistelles, une à 15% alcool et une autre à 17%. Examinant la loi qui rége l’exportation du vin, le vin Madère, n’importe que soit sa qualité ou type, ne peut pas étre exporté a moins de 17% alcool, et pour en exporter á 15% il me faudrent obtenir un permis special, ce que c’est toujours difficile. Vous pouvez donc dire aux négociants que la mistelle d’exportation doit contenir 17% alcool // [78] et 580 grammes sucre de raisin par litre. En ce qui concerne le prix minimun sur quoi on pourrait actuellement vendre cette mistelle, prenant en compte le prix élévé du vin de Madère, prix du fûte, fretes etc., je calcule que cela ne pourra pas être moins de 900 francs par Hectolitre (fût compris) livré dans un part quelconque Francés, mais ce prix-ci pourra subir des hausses ou baisses selons les circonstances du marché du vin, coût du fût, frais de voyage etc. Ce que, mon cher ami, vous pouvez garantir c’est que dans le cas d’une fabrication de ce produit il sera fait loyalement, et le sucre y contenu celui du raison lui-même et la mistelle contiendra toutes les propriétées du vin Madère original sans aucune addition d’antiseptiques ni d’autres produits, c’est-à-dire, un sirop que une fois dilué et alcoolisé pourra parfaitement presenter les caracteristiques du type Madère. Croyez, mon cher ami á toute ma bien sincere estime [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 1 de Dezembro de 1921 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [79] Funchal 1/12/921 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Como já lhe tinha dito nas minhas passadas cartas, sempre dei principio ás fermentações no dia 15 de Novembro proximo passado, e até hoje tenho fermentado aproximados 165 toneladas de melaço. Como conto trabalhar com as fermentações até 20 do corrente, deve fazer mais 205 toneladas de melaço, e assim trabalharei um total de 370 toneladas. Como no tanque grande existia umas 794 toneladas melaço, deve restar para 1922 aproximados 424 toneladas melaço. Para que todo o melaço seja fermentado antes de dár principio á Laboração de 1922, teremos de principiar novamente as fermentações a 15 Fevereiro proximo para ficar terminado em fins de março, e assim fazemos o rateio do alcool que nos coube. O rendimento até hoje tem sido aproximado de 30%. Como não sei se o Senhor Hinton volta para a Madeira antes do Natal, desde já lhe desejo e aos seus umas Festas felizes. Seu Attencioso Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 2 de Dezembro de 1921 DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre] [80] Funchal 2/12/921 Monsieur G. Lefebvre Mercie bien pour votre derniere lettre, por laquelle j’ai appris que vous avez deja recu la commande pour notre campagne de 1922. Mistelles: Par ce même courrier et sous colis postal, je vous envoie deux échantillons de mistelles, une à 17% alcool et une autre à 15%. Sur ce produit je dois vous remarque que le moût de raisin, d’ou provient ce sirop a été mûte avec le bisulfite de soude en 1919, dû a ne pas avoir à l’occasion du Matabisulfite de potasse ou autre, et pour cela son goût n’est pas dans le fond neutre, dû à la soude, comme en doit être le sirop de raisin préparé normalement, en quoi le moût est mûte au SO2 pur, restant donc un

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goût neutre ou le goût du vin Madère, selon la façon de sa fabrication. J’ai fait l’analyse de la mistelle comme vous de verrez bien aux étiquettes. Je vous present aussi, a titre de éclarricissement qualques considerations sur ce qu’on pourra faire // [81] avec ce type de produit: 1er Je peu exporter le sirop pur en nature sans être alcoolisé, se notre Douane du Funchal le permets. Ce sirop pourra servir aux fabricants d’aperitives ou pourront eux-mêmes employer la mistelle d’une autre façon. 2em Une forme plus interessante pour l’utilité de la mistelle en France sera y fabriquer le vin Madère, car la mistelle peut être considerée un vin concentré. Peut-être je pourrai fabriquer la mistelle de façon a lui en donner le joût originelle et le bouquet du vin Madère, que une fois traitée en France, doit revenir à un prix bien mieux marché que le vin exporte d’ici dèja prepare: a) Pour 100 litres de mistelle á 17% alcool et a 600 grammes de sucre de raisin par litre additionner 200 litres d’eau. Ca donnera un moût a 1,077 Densité a 5,6% alcool et 190 grammes de sucre de raisin par litre. b) Ce moût fermenté avec une levure pure choisie alcoolisatrice ou radioactive jusque sa presque complete transformation du sucre en alcool, donnera un vin à 16% alcool. c) Ce vin ainsi obtenu traité soigneusement aux collages, etc., será en suite alcoolisé a 17%, et il y faudra addictioner de la mistelle à 17% alcool dans la proportion de 8% du vin. Après filtrage donnera un vin (vrai // [82] Madère) à 18% alcool et 5% sucre de raisin c’est-à-dire, le type du vin de Madère exporté d’ici. Aux condition ci-dessus à cheque 450 litres de mistelle (pipe) à 17% alcool et 600 grammes sucre raisin par litre ou pourra additioner 900 litres d’eau 17,3 litres alcool à 95º et 108 litres de mistelle à 17% alcool, ce qui donnera en vin preparé 1400 litres. Par ces calcules ils peuvent bien s’apercevoir de la grande avantage qui auront en faisant l’acquisition de ce produit en concurrence au vin de Madère qui est exporté d’ici. Je desir á mon Ami et sa famille un nouvelle anne trés prospere Toujour votre Ami devue [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 9 de Dezembro de 1921 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [83] Funchal 9/12/921 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Depois da minha ultima de 1 do corrente, e como Carlos331 está doente (como deve saber) tenho andado com Marinho332 tratando com Victorino dos Santos sobre as suas respostas a dar com relação ao rateio de 1921, casos que Carlos lhe deve têr escripto, e n’esse caso me dispensará de repetir. Temos porém um facto que me tem feito grande e má imperção, e que é o seguinte: Carlos disse a Marinho que soube (não sei como) que a Commição de Venicultura pensava ou tinha pedido para 1922 um rateio de 500.000 litros!? Ora isto é um grande desparate e que nos pode trazer graves dificuldades, como lhe vou expôr: As nossas vendas d’alcool em 1921 (Torreão e Comp.ª Nova) devem ser aproximadas as seguintes. Vendido no Torreão ..........................................350.000 litros “ Comp.ª Velha .................................. 100.000 “ Total provavel vendido em 1921 ..................... 450.000 “ Devemos têr aproximados em 31 Dezembro de 1921 o stock seguinte em alcool: Torreão =...........................................................137.000 litros Comp.ª Velha = ................................................ 100.000 “ Stock total em 31/12/921................................. 237.000 “ // [84] Do melaço restante em 31/12/921 (424 toneladas), deve produzir em alcool aproximados .................127.000 litros Teremos pois que do melaço de 1921, ainda teremos para vender em 1922 = 364.000 litros alcool Como as medidas de venda (Torreão e Comp.ª Nova) em 1921 foi de 37.500 litros por mez, calculando as mesmas vendas em 1922, o alcool acima (364.000 litros) dará aproximado para 10 mezes, isto é, até fins de outubro de 1922. Como vê o rateiro de 1921 (500.000 litros) somente terminamos as suas vendas em outubro de 1922!! Calculemos porém que a Laboração de 1922 seja egual á de 1921, dará em melaço 331 Carlos Fernandes. 332 Marinho de Nóbrega.

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954 toneladas que deve corresponder a .......277.000 litros alcool. Alcool que falta para 1922 de Novembro e Dezembro ............................75.000 litros alcool Restará para 1923 .........................................202.000 litros alcool Calculando sempre as mesmas vendas mensais de 37.500 litros, os 202.000 litros dará para 5 meses aproximados, isto é, até mais de 1923. Não vejo pois necessidade de que pessão os 500.000 litros para 1922, mas vejo que no maximo devia ser 350.000 litros. Sem mais, sou seu Amigo Certo [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 13 de Dezembro de 1921 DESTINATÁRIO: Carlos Fernandes] [85] Funchal 13/12/921 Meu Caro Carlos Estimo as tuas melhoras, e que voltes breve. Quanto ás respostas á carta do Senhor Hinton que Marsden me traduzio, com relação á Natalite feita do milho (?) importado, é-me dificil dár uns calculos que possam servir de base para qualquer cousa futura. Para a produção do alcool de milho vejo que deve ser uma nova instalação que actualmente deve ficar muito cara e quanto á destillaria para a produção do Ether, isso pouca importancia terá. Se fosse alcool de melaço seria muito mais facil por isso que já estavamos quasi montados para isso. Em todo o caso vou dár-te alguns esclarecimentos que poderam servir de base: A composição da Natalite é a seguinte: Alcool a 95º ..................................................54,3% em peso Ether .................................................................45% “ Ammoniaco ....................................................0,5% “ Arsénico ..........................................................0,2% “ Para produzir porém 100 d’ether são necessarios 121 alcool a 95º. // [86] Por estes dados vê-se que, para obter 100 Kilos de Natalite temos que empregar: 54,3 kilogramas alcool a 95º = ................................... 66,4 litros alcool a 95º 45 kilogramas ether (Densidade 0,722)= .................... 75,4 “ “ “ Total do alcool para 100 kilogramas Natalite ............. 141,8 “ “ “ Ora, 100 kilogramas Natalite (Densidade 0,780) = 120,8 litros de Natalite, e assim para produzir 100 litros de Natalite necessita-se 117,356 litros alcool a 95º. Qual o custo d’este producto? Isto é que é a parte mais dificil. O custo da gazolina actualmente sai na garage a 1$75 por litro (qualidade media). O custo actual do milho no Funchal, não sei quanto poderá ser, mas calculemos o seguinte: Custo da tonelada milho no Funchal...............................= 400$00 Despeza de fabrico do alcool a 400 reis litro .................= 140$00 “ produção ether ................................................= 4$25 Imposto de 10 reis litro alcool (segundo a Lei) .....................3$50 Amortisação e juros (nova instalação) .............................. 12$25 Custo de 350 litros alcool a 95º ........................................ 560$00 Custo por litro ................................................................= 1$600 Custo (sem lucro) da Natalite ........................................= 1$880 Para transformar os calculos, é somente modar o custo da materia prima (milho ou melaço). Teu Amigo Certo [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 19 de Dezembro de 1921 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [87] Funchal 19/12/921 Ex. Amigo e Senhor Hinton Em resposta á sua carta de 11 do corrente, e com relação ao assucar areado, não vejo grande vantagem em fazer a refinação mo

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manoal e principalmente com gente do Continente; conviria a industria montada mechanicamente; mas como bem diz, estas cousas em Portugal (etc…) não estão em bôas condições, e além d’isso, qual será o nosso futuro em fabricas de assucar? Confesso-lhe que vejo isto muito mau, e bom seria que o Senhor Hinton viesse para a Madeira já em Janeiro e vêr bem a situação. Eu sei, por esperiencia propria, que quando andamos em viagem, vemos as cousas por melhor aspecto do que estando aqui, mas como eu aqui estou, vejo e estudo melhor a situação. Quanto á resposta á Carta de Carlos333 com relação á Natalite, eu tinha-lhe enviado uma carta com as notas, e segundo elle me diz agora, a envio tal qual ao Senhor Hinton. Quanto ao orçamento do Barbet para a producção do ether sulfurico, deve ser de pouca importancia, o principal é o custo da materia-prima. Crea-me seu amigo certo [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 18 de Janeiro de 1922 DESTINATÁRIO: Joseph Laalberg] [88] Funchal 18/1/922 Monsieur J. Laalberg Mon cher Ami J’ai en main votre aimable lettre datée de Londres le 9 Décembre écoulé, ce que vous en remercie. Pour la nouvelle annee, je vienes para ma lettre vous presenter aussi qu’a Madame Laalberg més meilleurs voeux et souhaits de bonheur. Je regrette beaucoup, croyez le moi, les contrarietées qui vous ont apporté la grande crise saccharine de Cuba dont j’ai appris par les Journaux sucriers. Vraiment cá a été un grand coup qui a frappé l’industrie de ce pays-la et que malheureusement vous a atteint. Vous croi bien que cette crise mettra bien longtamps a se redresser. Á Madère, malheureusement on a aussi souffert la derniere Campagne, car le sucre a aussi subit une forte baisse par l’importation du sucre du Brèsil. D’aprés ce qui je vois la crise sucriere a êté un peu mondial. En ce qui concerne la vie elle est prop chère chez nous, car le change jour à jour s’eleve. // [89] Voyez que la livre sterling qui en temps normal faisant 5 escudos, est aujourd’hui á 55 escudos!! Pour cela nous pouvez bien juger pour quel prix nous vivons à Madère! Notre pays donc a êté un des plus affectées par la guerre. Je veux bien vous envoyer les canne (yuba) que vous me demandez pour Monsieur le professeur de l’Université Polytechnique à Delft, mais je veux bien savoir le poids de cannes a livrer et aussi si vous les voulez antières ou coupées a moitée, se ça doit être amballé en caisse, etc. Veuillez donc me prevenir sur ce sujet afin que je puisse faire la livraison au prochain mois d’Avril. C’a reviendra un peu cher, car les frais, comme vous devez bien le savoir, sont trés élevés. En vous remerciant de vos compliments pour moi et ma famille, veuillez accepter de nous tous aussi que Madame Laalberg, nos meilleurs compliments, et pour vous mes meilleurs amities [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 18 de Janeiro de 1922 DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre] [90] Funchal 18/1/922 Monsieur Georges Lefebvre Mon Cher Ami Bien reçu et je vous remercie les diverses lettres du 14 Dezembre écoulé et de 3 et 5 Janvier courrant. Merci bien de vos bons compliments de nouvelle année, et je vous souhaité égalment, aussi bien qu’a votre charment famille, une heureuse nouvelle année de 1922. Je désire bien qu’a la recipation de celle-ci vous soyez dèjà complétement gueri de votre bronchite. Lettre du 3 Janvier: – Bien noté ce que vous me dites sur les filtres Raimbert, et je suis bien d’accord, puisque tout est selon mes désirs. Filtre Laboratoire: – Je ferai comme vous indiquez, plaçant dans le filtre la plaque avec votre nom, ne voyant aucune inconvenient pour la Maison Hinton. 333 Carlos Fernandes.

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Produit pour les Cuvres: – Je vais faire les essais de ce produit (Silexore), selon les instructions, et du resultât obtenue je vous dirai de ma justice, mais l’essai sera long // [91] car pour bien constater le resultat, c. à. d., si le produit est attaquable par les acides des fermentations des melasses. Comptablité: – J’ai rappelé a Don Carlos de l’envoie de l’argent et il m’a dit que ça sait fait. Affaires Personelles: – Merci bien l’interêt que vous avez pris pour mes futurs projects et j’attends l’arrivée de Monsieur Hinton pour les resoudre définitivement. Veuillez bien remarquer, encore un fois, que les échantillons de mistelles que je vous est livré, ce n’est pas, quant au goût et odeur, ce que dans le futur en será le produit car comme ja vous ai dèjá dit, le moût d’on provient cette mistelle a été traité à la mûtage par le bisulfite de soude, quand dans le futur il en será par le SO2 pur. Mes meilleurs compliments pour votre petite famille, et pour vous, mon particulier ami, l’assurance de ma meilleure amitiée. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 18 de Janeiro de 1922 DESTINATÁRIO: Joseph Marliere; LOCAL: Abscon, França] [92] Funchal 18/1/922 Monsieur Joseph Marliere Abscon Mon Cher Marliere Merci de votre bien aimable lettre du 31 Décembre derniere aussi bien de vos bons voeux de nouvelle année pour moi et ma famille, ce que je vous en retribue et souheit autant. J’ai lu la lettre que vous aves écrit á la Maison Hinton aussi bien que celle de votre ami, et je suis bien d’accord avec-ce que vous avez fait quant au cuiseur. J’espere bien que ce sera un garçon corageuse et connaissant son affaire. Bien d’accord sur votre départ pour Madère et je vous attends donc avec plaisir par le “San Miguel” du 22 Mars prochain. Entendu que vous verrez Monsieur Ricard à Melle au sujet des essais Ginal avant de partir pour Madère. Le filtre et produits pour le Laboratoire sont en route et nous espérons les recevoir dans peu de temps. // [93] Plus rien à vous dire pour le moment, veuillez accepter et votre petite famille mes meilleurs compliments [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 28 de Janeiro de 1922 DESTINATÁRIO: Henrique Tristão Bettencourt Câmara] [94] Funchal 28/1/922 Meu caro Henrique Esta é meia official Carlos334 pede-me para te escrever sobre as questões de patentes, o que vou fazer: Como deves saber, a firma William Hinton & Sons teve em tempos uma questão em juizo por causa da patente Canavial, que lhe costou rios de dinheiro…, não quer pois repetir a dose… É devido a isso que quando aparece qualquer patente sobre processos que nôs usamos reclamamos sempre, porque não sabendo bem o testo das patentes, visto os requerentes de patentes terem sempre ou quasi sempre em vista abranger tudo que tem relação com o seu novo processo, isto já se vê com as melhores intenções…, ficará pois archivado as nossas reclamações que de futuro nos pode servir contra qualquer reclamação d’esses nossos amigos. Fica pois intendido de hoje para o futuro, e não acho necessidade de ficar em duvidas, como dizes na tua carta de 23 do corrente, // [95] se devem ou não recorrer. Recorre-se se é necessario, não se recorre se não é necessario. Isso é com o advogado. Não temos nunca em vista prejudicar qualquer entidade, que deseja requerer uma patente nova, que é um trabalho perfeitamente seu e que representa o seu trabalho, mas não queremos de forma alguma que nos venham de futuro exigir o que não é de direito. Não se dá porém o mesmo com a patente de introdução de nova industria de desnaturação do alcool, porque essa é uma vigarice. Ficamos pois intendidos sobre este assumpto. Teu primo e Amigo [Ass:] João Higino Ferraz // 334 Carlos Fernandes.

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[DATA: 28 de Janeiro de 1922 DESTINATÁRIO: Henrique Augusto Vieira de Castro] [96] Funchal 28/1/922 Ex.mo Senhor Henrique A. Vieira de Castro Meu caro Amigo Ficou combinado na nossa ultima entrevista que eu te escrevesse apresentando as minhas propostas sobre o provavel contacto futuro entre mim e a Comp.ª Vinicula da Madeira, de que és dignissimo sociatario. Vejo-me porém em dificuldades sobre que base se poderá establecer qualquer acordo entre nós, visto não conhecer qual o valor do negocio actual feito por essa companhia. Quanto a futuros desenvolvimentos de negocios de vinhos ou outros productos viniculas que eu tenho em vista, parece-me que devem ser de futuro largo, mas como em todos os productos novos temos primeiro que tudo acredital’os, o seu desenvolvimento cresce pouco a pouco. Qual deve ser pois a percentagem de lucros que me deve caber, ficando eu com a gerencia // [97] technica da industria? É sobre este ponto que eu espero da tua velha e boa amisade me aconselhes, tendo sempre em vista que farei os meus meiores esforços para que os negocios se desenvolvem o mais possivel, com a coadjuvação de todos os meus amigos da Comp.ª Vinicula da Madeira. Segundo me disseste, actualmente a divisão de lucros é a seguinte: Vieira de Castro ......................................................60% F. F. Ferraz335 & C.ª .................................................40% Ficará bem para mim e para os meus amigos a seguinte percentagem? Comp.ª Vinicula actual .......................................... 80% João Higino Ferraz ................................................ 20% Espero me diraes da tua justiça e conselho de amigo, e cre-me teu verdadeiro Amigo certo [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 29 de Março de 1922 DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre] [98] Funchal 29/3/922 Mon cher Ami Monsieur Lefebvre J’ai bien reçu vos amables lettres du 20 et 24 Janviere aussi bien que celle du 22 Fevriere, dont je vous en remercie infiniment et vous prie bien vouloir n’excuser le long délai a en repondré. Bien surpris, voilá que les colis contenant les échantillons de mistelles m’ont été renvoyer, aprés avoir fait une voyage d’environ trois mois!! D’apres une inscription que j’ai bien vu sur les colis sont arrivés a une des pastes en France, mais comme la rentrée des mistelles y est defendue voilá pourquoi ils m’ont étè renvoyes. C’a sera alors Marlière qui en retournant ches lui vous les remettra. Marliere336 vous ecrie a cause des Pompeias que ne sont pas arrivée. Plus rien pour le moment, veuillez accepter mon cher ami et votre petite famille, mes meilleurs amitiées et l’assurance de mon meilleur devouement. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 2 de Maio de 1922 CARACTERIZAÇÃO: Declaração, por parte dos proprietários das maiores fabricas de açúcar e alcool da Madeira, de intenção de compra de cana de açúcar aos lavradores que a queiram vender] [99] Fabricas de açucar matriculadas. Declaração Os abaixo assignados propriatarios das fabricas de açucar e alcool do Conselho do Funchal, declaram que continuamos a têr as nossas fabricas habertas d’esde o dia 31 de março do corrente ano, conforme determina a Lei saccharina de ……………[sic], e que não tendo até hoje o Governo da Republica dado solução alguma ás petições justas dos Agricultores e fabricantes de açucar, e devido tambem á nota officiosa do Ex.mo Senhor Governador Civil da Madeira, em que declara o Governo não alterar a Lei saccharina, os abaixo assignados convidão os agricultores cultivadores de cana de açucar, que se queiram sujeitar aos preços da cana establecidos conforme as notas appresentadas por nôs fabricantes matriculados ao Governo Central e no Funchal 335 Francisco Figueira Ferraz. 336 Joseph Marliere.

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ao Ex.mo Senhor Governador Civil, establecendo esses preços conformes aos preços do açucar vendido nas nossas fabricas, sem tomarmos qualquer compromisso além do acima dito, a virem dar os seus nomes e quantidade de cana que nos queiram vender, afim de podermos dár defenitivamente inicio á Laboração do corrente ano, para interesse dos agricultores e fabricantes. Declaramos mais que pagamos á vista os // [100] preços da Lei, conforme determina a mesma Lei, ficando para ulterior resolução o preço defenitivo da cana. Funchal 2 de maio 1922 William Hinton & Sons, Henrique F. da Silva, José Julio de Lemos Socc.res. Dado ao Senhor Belmonte em 30/4/922 [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: ? CARACTERIZAÇÃO: Descrição de um frigorífico próprio para uma cave com determinada capacidade de armazenamento de vinho, tendo em contas as temperaturas normais, e as condições necessárias para a construção da cave] [101] Conditions d’un frigorifique pour une cave de 600 mètres cubiques de capacite brute. Capacité de la Cave 20 mètres x 10 mètres x 3 mètres = 600 mètres cubiques Conditions de refroidissement: Pour conserver une temperature de +10º Centigrades dans la cave, jour et nuit. Madère Temperature moyenne atmospherique en été = 23º Centigrades “ “ “ en hiver = 17º “ “ “ de l’eau en été = 20º “ “ “ ” en hiver = 16º “ Les conditions de construction de la Cave pour vins a traiter, calculant la Cave pleine pouvant contenir 1000 Hectolitres de vins a 12% alcool, logée en fûtailles en bois, construite en maçonnerie chaux et ciment, sour sol, avec la voûte du toit cimentée. Je désire donc savoir: 1º Coût de la machine complete et ses details. 2º Coût de la tuyauterie à monter dans la cave pour la circulation du liquide incongelable. 3º Quantité d’eau necéssaire pour le condenseur calculant un eau a 23º temperature. 4º Force en H. P. (horse power) necèssaire, avec un moteur à gas-pauvre, vapeur ou electricité. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 2 de Junho de 1922 DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre] [102] Funchal 2/6/922 Mon cher Ami Monsieur Lefebvre Je repond un peu tardivement a vos lettres du 6 et 12 avril. Je peux dire que reellement, je nais pas eu le temp pour vous repondre plus tot étant assez ennuyé avec la crise que existée, entre la maison et le Gouvernement. Actuellement la question est presque resolue et nous commençons a travailler lundi prochaine 5 juin. Daprés votre lettre du 6 avril et comme me la dite Marliere337 peut ètre y a t’il eu oubli de la part de l’emballeur de chez Gallois pour les placons d’essences et les verres, mais comme par la suite nous nous sommes aperçu qu’il manquait egalement l’étoppe a broder pour les demoiselles, nous concluons que reellement il y a eu vol pendant le voyage en Espagne. En ce que concerne les echantillons de mistelles qui m’ont èté retourné par la Douane Française. Marliere vous les portera en retournant. En même temps le peux vous dire aussi que je viens de recevoir les 2 placons de Pompeia que vous avez eu l’obligeance de bien vouloir me renvoyer en remplacement des outres volés et ceci sans difficultes. Je ne sais vraiment pas, mon cher Lefebvre comment vous remercier de l’amabilite que vous avez toujours pour moi. // [103] Enfin jaurais encore a user de votre bouté en vous envoyant avec ma lettre un devis pour une petite installation a faire a Madère et vous demande si possible avoir des devis de France, de Belgique et Allemagne (?!!) pour cette petite installations ceci pour obtenir le plus d’avantage possible. Dans l’attente toujours de vos bonnes nouvelles Veuilles mon veil ami presenter de ma part a Madame Lefebvre, Monsieur et Madame Bisson et leur petite enfant mes meilleurs amitiés, et pour vous, mon cher ami Lefebvre une cordiale poignee de main. 337 Joseph Marliere.

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Votre Ami devouée [Ass:] João Higino Ferraz P. S. Marliere me charge de vous remettre et a tôus ses bons souvenirs [Ass:] Ferraz // [DATA: 4 de Junho de 1922 DESTINATÁRIO: Matos Braamcamp – Sociedade Promotora de Comércio e Indústrias Agrícolas L.da; LOCAL: Lisboa] [104] Funchal 4/6/922 Sociedade promotora de Comercio e Industrias Agricolas L.da (Frio) Rua do Ferrogial de Baixo, 33, 3º Lisboa Ex.mo Senhor Engenheiro Matos Braamcamp Amigo e Senhor Desejando establecer na Madeira uma Cave frigorifica para tratamento de vinhos de pasto, desejava saber os seus orçamentos aproximados para uma instalação nas condições seguintes, para uma machina completa e tubagem de circolação de liquido incongelavel para a cave, que terá a capacidade bruta de 20 metros x 10 metros x 3 metros = 600 metros cubicos. Esta cave deve comportar um minimo de 1000 Hectolitros vinho com 12% alcool em cascos de madeira. A temperatura atmosferica media na Madeira é de: No verão ——————- 23º Centigrados No inverno ————— 20º “ Temperatura media da agua no verão ——- 22º Centigrados No inverno — 17 “ Como tenho falta d’agua, terei de empregar a mesma agua refrigerada por torre de arrefecimento, o que n’esse caso se deve calcular uma // [105] temperatura media de 25º a 26º centigrados. Como este orçamento me servirá, por emquanto, para bases de calculos de custo de instalação e despendio, desejava um orçamento aproximado. Quanto ao motor para a machina frigorifica deveria ser talvez um motor a olio crú por ser mais economico. Esperando a sua resposta a estes meus quesitos pessoaes, crea-me seu Attencioso Venerador e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz. Director technico da Fabrica de açucar e alcool de William Hinton & Sons. Funchal – Madeira // [DATA: 14 de Junho de 1922 DESTINATÁRIO: George Müller, Maschinenfabrik; LOCAL: Magdeborg, Alemanha] [106] Funchal 14/6/922 mo Ex. Senhor George Müller, Maschinenfabrik, Magdeborg-Welh Allemagne Amigos e Senhores Desejando establecer na Madeira uma Cave frigorifica para tratamento de vinhos de 12% alcool, desejava me enviasse o seu orçamento completo e aproximado para uma machina frigorifica nas seguintes condições: 1º Cave de 3 metros x 20 metros x 10 metros = 600 metros cubicos capacidade bruta; 2º Refrigeração da cave a 10º Centigrados maximo até um minimo de 8º por circulação em tubos de liquido incongelavel. 3º Envasilhamento do vinho em toneis de madeira de 25 a 30 Hectolitros, com uma capacidade total de vinho a tratar de 1000 Hectolitros. 4º Temperatura media atmosferica na Madeira: No Verão ..............23 a 25º Centigrados No Inverno ..........18 a 20º “ Temperatura da agua (para o condensador) No Verão ..............22º a 24º Centigrados No Inverno ..........16 a 17º “ // [107] Como porém tenho falta d’agua, serei obrigado a refrigerar a agua em torre especial; e n’esse caso convem calcular a agua a uma temperatura media de 26º centigrados. 5º Deve calcular o motor para a machina frigorifica, um a olio crú, por ser mais economico com despendio. Desejava os detalhes da machina, e qual o producto de uso para a congelação assim como o gasto em agua de condensação. Todos estes detalhes no seu orçamento servir-me-há por emquanto para calcular o custo provavel d’esta instalação. Esperando a sua resposta a estes meus quesitos pessoaes, seu seu [sic] Attencioso Venerador e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz. Director technico da Fabrica de açucar e alcool de William Hinton & Sons.Funchal Ilha da Madeira //

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[DATA: 20 de Setembro de 1922 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [108] Funchal 20/9/922 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Recebemos a notas [sic] do contracto do assucar bruto de 80º polarisação e vejo que o seu custo é um pouco menos que os calculos que ahi tem feitos por mim: Como o preço do assucar tende a subir (se a situação cambial não melhorar), o lucro na refinação, com o preço actual de venda a 1$80 por kilograma, deve dár aproximado 127$00 por tonelada, calculando o Cambio da £ a 95$00. Pena é que elle assucar sô possa estar aqui em fins de outubro. Encomendei a Lefebvre338 500 kilogramas de Charbon decolorant, de forma a estar aqui a 22 outubro. Quanto a enxofre temos 5.400 kilogramas que é mais que suficiente. Columne barometrique: Vi os planos do condensador e agrada-me a sua construcção, por ser em ferro fundido, que é muito mais duravel. Quanto á instalação para a refinação do assucar bruto a vir, deve ficar tudo concluido até ao fim d’este mez. Malaxeurs de Melasse Cuite: Lefebvre envia os planos para dois malaxeurs, conforme o seu desejo, mas custa cada um 1$000 francos cada = 20.000 francos, que ao cambio actual deve andar por 31.000$00 e com fretes despezas despacho etc., não deve andar muito longe de 36 a 37.000$00. Como vê é um capital importante que nas condições da Laboração da proxima colheita, que deve ser pequena, não sei se val a pena fazer este despeza. Disse a Carlos339 para lhe enviar essas notas para decidir. // [109] Alcool: Vejo que temos actualmente em stock o seguinte: Torreão ......................76.177 litros Comp.ª Nova .............145.716 “ (incluindo 70.000 litros nossos) Com as vendas medias no Torreão, de Janeiro até hoje, dá 27.000 litros por mês, e calculando a mesma media, teremos alcool somente até Novembro proximo. Vou pois dár principio ás fermentações do melaço a 15 ou 20 de outubro proximo, afim de termos sempre alcool em stock para as exigencias do mercado. Temos um stock de melaço de 550 toneladas, mas naturalmente não podemos destillar tudo no corrente ano. Sendo o stock do Torreão e Comp.ª Nova de 221.893 litros alcool, “ e dando as 500 toneladas melaço existente 165.000 Total do alcool até a proxima Laboração 386.893 “ Deve pois este alcool dár perfeitamente para as necessidades do consumo, e não se poderá mesmo vender tudo. Devemos tambem contar que a refinação nos vai dár melaço para alcool. Aconselhei Carlos para vender somente o B2 que temos, a vêr se podemos têr o BB para quando tenhamos o assucar B2 da refinação, e assim poder elevar os preços dos assucares ao maximo possivel. Nada mais tendo a dizer-lhe, por isso que Carlos lhe deve dizer tudo quanto mais lhe enteressa, estemarei que continue de perfeita saude, e crea-me seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 20 de Setembro de 1922 DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre] [110] Funchal 20/9/922 Monsieur Georges Lefebvre Mon cher ami En mà possession vos lettres du 9 e 10 dernier e 7 corrent que je vous remercie bien, aussi le catalogue des frigorifiques Suisse et ses reussignements. J’ai arrivée aujourdui même de Santo da Serra ou se fait mes reposo de mes travailles de fabrication, et je parte aujourdui même de maniere que je vous ecri vite et mal... Malaxeurs: Je dit a Carlos pour confirmer la commande. Monsieur Hinton340 est a Londres attuellement Refrigerant: En vú do prix e du change, je ne desire prendre la responsablite de la command definitive san consulter le fabricant d’eau-de-vie que actuellement est en Lisbonne, mais lorsque je recoine la reponse, je vous ecriverait et envoyerent l’argent. 338 Georges Lefebvre. 339 Carlos Fernandes. 340 Harry Hinton.

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Croyez je vous prie de la bonne amitié, pour vous e votre famille Bien cordialment [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 8 de Novembro de 1922 DESTINATÁRIO: Director Geral dos Estabelecimentos Ladreyt; LOCAL: Clichy, Seine, França] [111] Funchal 8/11/922 Monsieur Le Directeur Général des Etablissement Ladreyt, Clichy (Seine) France Monsieur J’ai l’honneur d’accuser la reception de votre honorée du 17 écoulé, et vous en remercie. Je vous dirai que je suis toujours interessé sur la disulfitation et concentration des moûts de raisin; mais la hausse enorme du change portuguez ne me permet pas, pour le moment, mettre de suite en execution mon project. Je vous remercie bien de touts vos services et vous prie d’agréer, cher Monsieur, mes plus sinceres salutations Le directeur technique chêz Mr. Hinton & Sons [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 8 de Novembro de 1922 DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre] [112] Funchal 8/11/922 Mon Cher Ami Monsieur Lefebvre J’ai reçu votre bien estimée du 11 octobre dernier, et vous en remercie infiniment. Noir animal: Bien d’accord avec vous au sujet du long délai pour l’obtention du noir impalpable. Comme je vous est déjá fait dire par lettre officielle de la maison Hinton, le noir Nº 4 nous convient à merveille, car je l’ai fait reduire par moyen de notre Broyeur de sucre mechanique, et j’ai peut obtenir un produit que va trés bien dans la fabrication. Entendu que toute commende probable a faire sur ce genre de produit sera le Nº 4 a livrez, car j’ai peut constater que ce-ci nous revient mieux marché. Malaxeurs: Je crois bien que vous devez déjá avoir en mains la lettre officielle de la Maison Hinton vous confirmant la commande. Produits chimiques: Comme vous le savez, c’est toujours Monsieur Hinton341 que decide ces commands (?!) et sur ce j’attends son retour d’Angleterre, que sera dans peu de jours. Je vous remercie bien du bulletin sur la “Marlinitte” et je vous souhaite de tout mon coeur une bonne réussite dans vos affaires et de Marliere342. // [113] Je vous dirai que Marliere est allé un peu loin en disant dans son bulletin que ce procédé venait d’être applique avec succés dans la sucrerie Hinton. Or, comme vous devez le savoir, nous n’avons pas fait que d’experiences et ceux-ci avec de trés bon resultats, mais nous n’avons pas essayé pendant une campanhe entiere. Je vous dit ce-ci car on nous a déjà ecrit (fabricant englez) en demandant des resultats industriels, lettre que doive étre repondu par Monsieur Henrique Hinton. Bien des compliments pour vous, Madame Lefebvre et toute petite famille, et receves mon cher ami, l’assurance de mes meilleures amitiès. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 30 de Dezembro de 1922 DESTINATÁRIO: William Hinton & Sons; LOCAL: Funchal CARACTERIZAÇÃO: Memorial escrito por Higino Ferraz à firma onde trabalha, dando conta da descida gradual, ao longo dos anos, dos seus proventos enquanto director técnico do Torreão, pedindo, assim, um ordenado fixo. Este documento é um rascunho ou primeira versão do que se segue, nos fólios 116 e 117.] [114] Memorial aos Ex.mos Senhores William Hinton & Sons Funchal Em vista do estado financeiro de Portugal e do custo sempre progressivo do custo da vida, vejo-me na necessidade (muito contra a minha vontade) de lhe mostrar a minha situação passada e presente, depois de 22 anos de serviços na sua casa como jerente technico das indústrias de açucar e alcool. 1º No passado: Media dos meus proventos, tais como, ordenado, percentagens sobre cana e alcool nos primeiros 9 anos do 341 Harry Hinton. 342 Joseph Marliere.

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meu contracto de 1900 a 1909, foi de aproximados 3.724$240 reis. O cambio medio da £ n’estes 9 anos era de 4$900 reis. Dá pois uma media de £ 760 por ano. 2º No passado e presente: O augmento progressivo do custo da vida, deu-me em resultado os levantamentos abaixo ditos, que se não fosse a sua generosidade de me contrabalançar os debitos com as gratificações dadas, e pelo qual lhe estou gratissimo, qual seria a minha situação? De 1909 a 1913 levantei a media de 4:500$00 1914 a 1919 “ “ de 6:440$00 1920 a 1921 “ “ de 22:400$00 Quanto será em 1922? E nos anos seguintes, quanto será? Em vista d’estas incertezas tanto para a Firma como para mim, vou exopor[sic] o que aos dois melhor deve // [115] convir, com justiça e lealdade. Não vendo outra forma mais justa (para a Casa Hinton) que equiparar os meus honorarios singindo-me aos primeiros 9 anos do meu primeiro contracto, e somente me refiro aos 1os anos do contracto, porque se fizesse a media dos anos seguintes até 1921, daria isso em resultado muito meior importancia, em vista do augmento de produção de cana e alcool, e augmento de ordenado e percentagens pelos novos contractos. Em vista do exposto, para garantia da minha vida futura e da sua Casa, apenas pesso um ordenado fixo de £ 63 por mez, pago em escudos, feito o calculo á £ ao cambio medio do mez, ou £ 800 por ano ao cambio medio do ano, sem direito a percentagens nem juros, mas com pulso livre para fazer as minhas pequenas industrias fora de açucar, alcool e aguardente de cana, não prejudicando por estes meus trabalhos a direcção technica da Fabrica de açucar e alcool do Torreão. Este contracto, sendo feito, não poderá hir além de um ano, podendo ser renovado ou modificado de comum acordo. Funchal 30 Dezembro 1922 [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 30 de Dezembro de 1922 DESTINATÁRIO: William Hinton & Sons; LOCAL: Funchal CARACTERIZAÇÃO: Memorial escrito por Higino Ferraz à firma onde trabalha, dando conta da descida gradual, ao longo dos anos, dos seus proventos enquanto director técnico do Torreão, pedindo, assim, um ordenado fixo.] [116] Memorial aos Ex.mos Senhores William Hinton & Sons Funchal. Entregue ao Senhor Hinton343 Em vista de terminar em 31 do corrente mês o meu contracto feito em Janeiro de 1922, por 3 annos, a terminar na data acima, cumpre-me participar a V.as Ex.as e expôr-lhes as razões d’este meu respeitoso memorial que espero lhe merecerá a sua attenção e justiça do meu pedido: Visto o estado financeiro de Portugal e do custo sempre progressivo da vida, vejo-me na necessidade (muito contra a minha vontada[sic]) de lhe mostrar a minha situação, comparando a passada com a presente, depois de 22 anos de serviços na sua casa como gerente technico das indústrias de açucar e alcool. Muitas mais considerações lhes poderia fazer, mas as abaixo ditas são suficientes para que a justiça da petição seja attendida: 1º No passado: Media dos meus proventos, tais como, ordenado, percentagens sobre canna e alcool nos primeiros 9 annos do meu contracto feito em 1900 a 1909, foi de aproximados 3.724$240 reis. O cambio medio da £ (media) d’estes 9 anos era de 4$900 reis. Dá pois a media dos Reis ao cambio da £ de 4$900 = 760 por anno. 2º No presente: O augmento progressivo do custo da vida, deu-me em resultado os levantamentos medios por anno abaixo ditos, que se não fosse a sua generosidade de me contrabalançar os debitos com as gratificações dadas, e pelo qual lhe estou gratissimo, qual seria a minha situação actual? Os levantamentos medios por anno em que incluio o de 1921 que foi muito meior do que o de 1920, dá contudo // [117] as medias seguintes por anno: De 1909 a 1913 levantei a media de ...........4:500$00 por anno. De 1914 a 1919 “ “ de...........6:440$00 “ De 1920 a 1921 “ “ de.........22:400$00 “ !! Qual será em 1922? E nos anos seguintes, quanto será? É dificil de prever, mas vejo que não poderá melhorar muito. Em vista d’estas incertezas, vou expôr o que me parece melhor garantir os interesses tanto meus como da Casa de V.as Ex.as, 343 Esta expressão, «Entregue ao Senhor Hinton», foi muito provavelmente acrescentada posteriormente, está grafada a vermelho e com letras maiores que as do restante escrito.

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com justiça e lealdade. Não vendo outra forma mais justa (para a Casa Hinton) que equiparar os meus honorarios singindo-me aos primeiros 9 anos do meu primeiro contracto, e somente me refiro aos 1os anos do contracto, porque se fizesse a media dos anos seguintes até 1921, daria isso em resultado meior importancia, em vista do augmento de produção de cana e alcool, e augmento de ordenado e percentagens pelos novos contractos. Em vista do exposto, para garantia da minha vida futura, e isso não somente se reflete em mim como na sua Casa, apenas pesso um ordenado fixo de £ 63 (sessenta e tres) por mez, pago em escudos, feito o calculo á £ ao cambio medio d’esse mez, ou £ 800 por ano ao cambio medio do ano, sem direito a percentagens nem juros, mas com pulso livre para fazer e derigir as minhas pequenas industrias fora de açucar, alcool e aguardente, não prejudicando por estes meus trabalhos a direcção technica da Fabrica de açucar e alcool do Torreão pertencente a V.as Ex.as. // [118] Este contracto, sendo feito, não hirá além de um ano, podendo ser renovado ou modificado de comum acordo. Funchal 30 Dezembro 1922 [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 17 de Janeiro de 1923 DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre] [119] Funchal le 17 Janvier 1923 Mon cher ami Monsieur Lefebvre J’ai bien reçu votre aimable lettre du 23 Décembre dernier et je vous en remercie. Malaxeurs: L’argent pour ceux-ci vous a été versé Decembre dernier et j’espére bien que vous l’avez dèjá en mains. J’ai lu dans le Bulletin de l’Association des Chimistes que existe un journal ou bibliograhie[sic] L’Oenophile (sur les vins) et je vous prie de bien vouloir me prendre un abonnement de la publication cidessous. Si possible je voudrais bien avoir cette publication a partir du mois de juillet 1922. Cette abonnement fait en mon nome. Plus rien a vous dire pour le moment je vous souhaite et à toute votre famille une nouvelle annee bien heureuse Bien des compliments pour votre famille et mes meilleures amitiées pour vous Votre Ami devue [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 17 de Abril de 1923 DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre] [120] Funchal 17 avril 1923 Mon cher ami Monsieur Lefebvre Je vous demande pardon de ne pas vous ecrire dejá a longue temp, mais je suis tellement occupé du future de ma vie que je n’est pas la tête en condition de penser en outre chause. Je vous remercie bien votre derniere du 4 avril et inclus le cheque de 186 francs montant du decompte de la vente de 2 tonnes de Marlinitte de notre bon ami Marliere344. Je suis tres contant de voir qu’il na pas s’ollre de moi. Je fait votes pour que continue toujour des commendes. J’ai commencé ma construction de la Vinerie, et j’espere étre monté (en magasin) à la fin de celle anne, pour commencer aprés les montages des appareils necessaires petit à petit suivant mes recurses financieres. N’obliée pas l’Oenophile que je vous demandé dans ma lettre du 17 janvier. Je vous remercie d’avance votre charmant offert de Pompeia mes meilleurs devouements pour vous et votre petit famille Votre Ami devue [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 9 de Junho de 1923 DESTINATÁRIO: “A Edificadora” do Bom Jesus L.da] [121] Funchal 9 Junho 1923 Ex. Senhores “A Edificadora” do Bom Jesus L. Amigos e Senhores Em resposta á sua proposta de construção das paredes em blocos de cimento do seu fabrico, com data de 4 do corrente, acceito as condições n’ella expostas, em todos os seus pontos, o que confirmo pela presente. Com a maior concideração e estima subscrevo-me Attencioso Venerador e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // mos

344 Joseph Marliere.

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da


[DATA: 28 de Julho de 1923 DESTINATÁRIO: Harry Hinton; LOCAL: Lisboa] [122] Funchal 28/7/923 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Como tenho vapor amanhã, e como naturalmente ainda esta o vai encontrar em Lisboa, ecrevo-lhe[sic] á preça umas linhas que lhe deve interessar. Dei principio á lavagem do assucar bruto no dia 24/7, mas não foi possivel fazer passar a Melasse Cuite no filtro-presse devido á bomba não pegar na massa, em grande parte devido ás imporezas que contem, pedaços de pau, maçarocas de milho etc. etc., de forma que me vi na necessidade de passar as centrifugas. O assucar lavado turbinado polarisou 89,5, que fica bom para a refinação. Vou principiar a refinação de parte do assucar (metade aproximado) na quinta feira proxima, de forma a termos assucar B2 mais cedo, e alcool tambem mais cedo. O resto será lavado depois d’esta primeira refinação, isto é, será refinado em duas étapes. A despeza de lavagem é que é grande, mas não há outro remedio. A bomba de vacuo é que infelizmente não deu o vacuo necessario, nunca passou de 21 polegadas, e é necessario pelo menos 23 a 24 polegadas. Não ha outro remedio senão trabalhar com a grande. Sei que vão importar umas 300 toneladas assucar do Brazil para diversos, e o Costa confirmou que era // [123] verdade, mas não sabia a quantidade. O que eu vejo é que, no caso de não obter a conseção de importação de melaço, e não havendo no mercado de Londres assucar de 85-86º polarisação, convinha importar assucar bruto de 96º polarisação que esse vejo que há, e digo-lhe isto pelas rasões seguintes conforme os calculos que seguem. Assucar de 81,2º polarisação a £ 19.5.0. tonelada Cif Funchal. Calculo com o cambio de 116$00 £ Custo tonelada assucar Cif Funchal ...........................................2:233$00 Descarga e carretos ..........................................................................15$00 Dereitos, impostos etc. ...................................................................189$00 Despesas refinação assucar (actualmente)......................................138$00 Despesas fabrico alcool .............................................................. 145$00 2:720$00 Receita:≤ 430 kilogramas assucar B2 a 4$20.......................=1:806$00 207 litros alcool a 5$25........................................=1:086$75......2:892$75 172$75 Commição de venda assucar 3%...............................=54$18 Imposto 2% transação ...............................................=58$00 .........112$18 Lucro liquido...........60$57 Importação assucar bruto de 96º polarisação ao preço em Liverpool de £ 24.15.0 (com commição Crispim), mais frete e deposito £ 2 tonelada até o Funchal. (Este typo d’assucar deve haver no mercado). Calculando o mesmo cambio do acima com um rendimento em turbinado BB e B2 de 840 kilogramas refinado, e 55 litros alcool por tonelada bruto. // [124] Custo tonelada assucar Cif Funchal ..................................3:103$00 Descarga e carretos ..........................................................................15$00 Dereitos, impostos etc. ...................................................................189$00 Despesas de refinação assucar directa ...........................................100$00 Despesas fabrico alcool ............................................................... 40$00 3:447$00 Receita: 840 kilogramas assucar BB e B2 a 4$20 ...........= 3:528$00 55 litros alcool a 5$25 ..........................................= 288$75......3:816$75 369$75 Commição de venda assucar 3% ...........................= 105$84 Imposto transação 2% .............................................= 80$00.........185$84 Lucro liquido.........183$91

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Como vê este typo d’assucar sendo o preço acima dito, como das cartas de Crispim, fáz mais conta refinar do que o de 8081º polarisação, em vista da despeza de refinação. O que dá é pouco alcool, mas assim podemos ter assucar para o consumo, evitando que os outros o importem, e isto somente emquanto não há no mercado assucar de 85-86º polarisação que é o que nos convem. Mesmo que se possa obter a importação de melaço, que não se sabe quando poderá estar aqui, convinha importar desde já umas 300 a 400 toneladas assucar de 96º polarisação para garantir o mercado de assucar e alcool. Seu Amigo Certo [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 4 de Agosto de 1923 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [125] Funchal 4/8/923 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Principiei na refinação da 1ª parte do assucar lavado no dia 2 do corrente; temos hoje 3 cuites de B2, cujo lote vou fazer ámanhã (Domingo) para se dár principio á venda na 2ª feira (6). Como temos um resto de assucar BB da Laboração, eu aconselhei Belmonte a vender este B2 da refinação ao preço actual, e subir no BB. Assim teremos dois typos de assucar á venda, mas isto naturalmente vai ser por pouco tempo, visto a grande procura d’assucar, e se não vem outro até meados d’este mês, vai-nos faltar assucar na Fabrica. Dei tambem principio á fermentação do melaço que vou tirando da refinação, mas como a quantidade é pouca, vai devagar, para hir aproveitando as lavagens dos filtros ou outras. Devido ao tempo que demora a lavagem do assucar bruto e a despeza em pessoal, vou fazer a esperiencia de reduzir todo o assucar bruto a um xarope a 37 a 38º Baumé e depois cristalisal’o o melhor possivel, para ser então turbinado em bruto para refinar. Mesmo que não haja economia de combostivel n’este trabalho, deve haver economia de tempo e pessoal, porque para lavar a 2ª parte do assucar (metade mais ou menos) leva uns 9 dias, emquanto que fazendo como eu vou fazer levará o maximo de 5 a 6 dias. O cosimento que fiz com // [126] os égoûts da lavagem da 1ª parte, tinha uma puresa de 69,6, cristalisou rasoavelmente bem, foi facil de turbinar, e o rendimento em turbinado bom, sendo os melaços enviados directamente á Destillaria: Tendo pois um xarope feito somente do assucar bruto que deve dár (pela esperiencia feita no Laboratorio) 83,7 de puresa, melhor deve cristalisar. Vou fazer isto logo que termine a 1ª parte da refinação. Espero que tenha conseguido tudo quanto deseja, e que a sua volta seja breve, que é bom signal. Seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: ? DESTINATÁRIO: Resposta a um telegrama, incluindo considerações sobre rendimento em açúcar e alcool, despesas de refinação, destilação, direitos, impostos, despesas na Alfândega] [127] Resposta ao telegrama de 4/8/923. Assucar de 82 polarisação Rendimento em turbinado B2 = 525 Kilogramas de 99,5º polarisação “ em alcool em 40 Cartiere = 162 litros Despezas de refinação (com lavagem do assucar bruto), pelas notas tiradas do escriptorio (Belmonte) – 180$00 tonelada bruto. Despesa de destillação a 750 reis litro (Belmonte) = 121$50 Despeza total por tonelada assucar bruto = 301$50 Assucar de 96º polarisação Rendimento em turbinado BB e B2 = 840 Kilogramas de 99,6º polarisação “ em alcool em 40º Cartiere = 55 litros Despezas de refinação directa = 120$00 por tonelada bruto “ de destillação a 750 = 41$25 Despeza total por tonelada assucar de 96º polarisação 161$25 Os direitos, impostos, despezas alfandega, etc, é de 189 reis por Kilograma, e descarga e carretos 15 reis Kilo, o que dá um total, que se deve calcular em 210 reis por Kilograma assucar bruto despachado, tanto do 82º como do de 96º polarisação. [Ass:] Ferraz //

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[DATA: 8 de Agosto de 1923 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [128] Funchal 8/8/923 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua carta de 4 corrente que muito lhe agradeço. Esperava receber hontem ou hoje o seu telegrama dizendo que tudo estava arranjado e nada… Teremos nova encrenca? Eu estou principiando na destillação do melaço da refinação mas estou deixando o alcool separado, e d’isso avisei o Saregento Goes. Pode haver qualquer duvida, e assim fica certo o alcool produzido da refinação. Eu calculo as dificuldades que deve têr tido com isso tudo ahi, mas não comprehendo as dificuldades que elle poeém á destillação dos melaços da refinação, por isso que esses melaços pagaram um direito de 120 reis por Kilo, emquanto que o melaço da pauta paga 60 reis, isto é, pagamos o dobro dos direitos!!.. Quanto ás amostras do assucar está bem, e a minha opinião conforme o telegrama que lhe enviamos hontem é que seja importado o de 96º polarisação emquanto não temos de 85-86º polarisação. Este assucar (de 96º) com preço actual e fazendo o cambio de 120$00, deixa um lucro liquido de 550$00 por tonelada, vendendo o refinado a 4$20 por kilograma. Vejo pelas suas cartas e telegramas, que não recebeu ainda uma carta minha de 28 proximo passado em que lhe dava o rendimento do assucar de 96º, e já n’essa carta lhe aconselhave[sic] a importar esse typo d’assucar. // [129] Todo o assucar das amostra que me envian[sic], vejo que são abaixo do typo 19, mas o Nº 1 esse acho que não convirá importar porque deve ser caro. Uma amostra enviada por Crispin, recebida aqui a 2 do corrente é de 96º, e o seu preço é de 22/6 cif Funchal. É este que convem e que deveria mandar vir emediatamente umas 400 toneladas como aconselhava em telegrama, antes de receber a carta a que respondo. Se importarmos já as 400 toneladas e vendendo o assucar a 4$20 teremos assim um lucro de 200 contos de uma acentada. Já fiz assucar refinado da 1ª parte (metade aproximado), não contando os egoûts que restaram para a 2ª parte, 61.400 Kilogramas assucar B2 bem vendavel. Estou principiando na 2ª parte, como lhe expliquei na minha ultima carta, e espero que tudo fique refinado até meados do corrente pouco mais ou menos Se n’este mez viesse as 400 toneladas de 96º é que convinha muito, porque não há assucar no mercado. O tal barato que dizem vir, parece-me que dá asneira, pode ser que aconteça o mesmo que áquele sujeito dos Açores. Em logar de dizer mascavinho disse mascavo… Esta é escripta á preça porque a mala está a fechar. Desculpe o mal escripto Rendimento assucar 96º polarisação assucar turbinado 840 kilogramas alcool 55 litros Seu Amigo Certo [Ass:] Ferraz // [DATA: 3 de Outubro de 1923 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [130] Funchal 3/10/923 Ex. Amigo e Senhor Hinton Vou escrever-lhe com alguma dificuldade, devido a uma inflamação nos olhos que me tem aborrecido bastante, e por isso serei um pouco laconico para não forçar a vesta. Rendimento do assucar de 93,6º polarisação. A refinação d’este assucar deu em turbinado de 99,6 polarisação, 713 kilogramas por tonelada bruto, e em alcool, ainda que não terminada a destillação, calculo aproximado 104,5 litros alcool em 40º por tonelada bruto. Com estes rendimentos e feito o Cambio a 112$00 por £, deve deixar um lucro de 70$00 por tonelada, ou seja 21:400$00 para o carregamento de 306 toneladas bruto. Offerta assucar bruto de 79º polarisação (telegrama). Este assucar bruto de 79º a £ 19 tonelada cif é carissimo, e somente faria conta no caso do preço <de venda> do assucar poder ser feito a 4$00, como me parece deve ser o assucar importado actualmente (branco) devido á alta dos mercados, e além d’isso vender o alcool a 7$00 por litro em logar de 5$25, e assim o lucro seria de 125$00 por tonelada bruto. Este assucar deve dár um rendimento maximo de: Em turbinado – 300 kilogramas Em alcool – 250 litros em 40º mo

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Para a venda do alcool a 7$00 por litro, era somente necessario importar as 1000 toneladas assucar, e termos[sic] alcool // [131] mais que suficiente para a conclusão do rateio e vender para desdobramento a meior parte d’elle a 7$50 ou 8$00 por litro. Se tivermos de vender algum ao preço local de 5$25 seria pouco, e o preço maximo daria para compensar essa perda. Isto é caso para pensar e resolver, porque vejo que teremos deficuldade de obter assucar bruto a preço baixo, para poder vender o alcool a 5$25 por litro!? Como as 1000 toneladas assucar bruto de 79º polarisação daria 250.000 litros alcool, isto é, mais 100.000 litros do que para o rateio, esses 100.000 litros faz-se de forma a não aparecer na conta da Alfandega. O Freitas offereceu-me assucar Java de 84º polarisação a £ 23 tonelada cif., mas este preço espera uma offerta nossa. Este assucar porém, como o seu rendimento é de 550 kilogramas refinado e 145 litros alcool, e vendendo o assucar a 4$00 por kilograma e o alcool ao preço legal não podemos offerecer mais de £ 20 por tonelada cif Funchal, o que creio elles não acceitem. Depois de tudo isto que lhe exponho acho que o melhor seria comprar as 1000 toneladas de 79º polarisação, no caso de se vender o refinado a 4$00, e o alcool nas condições que lhe exponho acima. Vinhos: Compramos 50 pipas mosto, e fizemos um total de 109 pipas de vinho que deve dar a media de 12% alcool, emquanto que o vinho d’uvas ordinariamente dá 10% alcool. Este vinho deve ficar bom e nenguem dirá que tem mestura de assucar; O seu // [132] custo maximo deve ser de 1$50 por litro a 12º emquanto que o vinho d’uvas puro sai a 2$50 por litro a 10º. É minha opinião pois vender este vinho logo depois de claro, isto é, sem tratamento algum, e teremos assim um lucro calculado de 47:000$00. Este lucro vendendo a 2$50 por litro, é fazendo o preço dos 6165 kilogramas assucar empregado a 4$00 por kilo. As 109 pipas = 53222 litros de mosto total, deve dár 47.000 litros de vinho claro a 12º. Ás 6 horas da tarde Acabamos de receber telegrama de Crispin, em vista d’um telegrama enviado hontem por nós, em que diz que o preço do Java branco actualmente é de 29/10 cif., e para dezembro proximo a 27/10 cif.. Como assucar a 29/10 actual, sai despachado a 3$80, Belmonte sobe o nosso que temos ainda a este preço (3$80), isto é, mais 300 reis por kilo. Elle deve-lhe escrever sobre isso. Na conta que lhe fiz atraz do assucar de 79º, vendendo a 4$00 o refinado, daria um lucro de 125$00 com o alcool a 7$00, vejo que com o preço de 3$80 (assucar) o lucro será somente de 65$00 por tonelada mas ainda assim convem fazer a transação da 1000 [sic] toneladas de 79º polarisação a £ 19 cif. e o mais breve possivel, para nos livrarmos da baixa de Dezembro. Crea-me Seu Amigo Certo [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 17 de Outubro de 1923 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [133] Funchal 17/10/923 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua carta de 10 do corrente, que muito lhe agradeço, e ao mesmo tempo o seus [sic] votos pelas minhas melhorias dos olhos, que por emquanto não estão ainda na normal. Em quanto estive no Santo uns 8 dias em descanço lá hia hindo, mas quando vim para o Funchal, não sei se devido ao calor ou o que é, torna outra vêz a me encomodar, então o Sol é o diabo. Mas isto ha-de passar se Deus quiser. A retificação do alcool dos residuos do assucar de 93,6º polarisação deve ficar terminado amanhã, mas sgundo[sic] os meus calculos eu vejo que devemos ter um lucro nas 306 toneladas de 50:000$00 pouco mais ou menos, devido á media de venda do assucar calcular em 3$60 por Kilograma. Assucar de 80º polarisação, segundo telegrama de Crispin: Este assucar é que sai carissimo, porque segundo as notas que me deu Belmonte, sai Cif Funchal £ 19.19.4. e como este assucar de 80º não nos dá mais de 330 kilogramas assucar e 235 litros alcool por tonelada bruto, e calculando a media actual do preço do assucar de venda a 3$75 por Kilo, e o alcool a 5$25 por litro, dá-nos em prejuizo de 415$00 por tonelada bruto!! Isto é o diabo porque lá nos vai o lucro do assucar de 93,6! Para nos livrarmos d’este prejuiso sô desdobrando // [134] uma grande parte d’elle para venda como aguardente de cana, como em tempos lhe disse, mas actualmente as circunstancias são outras, isto é, teremos de fazer o desdobramento d’entro do rateio. Belmonte vai-lhe escrever sobre o assumpto, de forma que é escosado eu repetir o mesmo. Assucar bruto de 84º polarisação dos Açores: Quando estava no Santo da Serra, Belmonte dizendo que tinha estado de passagem para Lisboa o Senhor Nicolau de Sousa Lima, offerecendo novamente 120 toneladas assucar de 84º ao preço de £ 19

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cif. Funchal. Segundo vejo o homem vê-se em deficuldades em se vêr livre d’esse assucar; e o que eu previa, isto é, que em Lisboa as refinarias nada podiam fazer com elle, e assim aconselhei uma offerta de £ 17.10.0 como em tempos lhe fizemos, ou no maximo £ 18. por tonelada Cif Funchal, garantia de 84º polarisação. Foi telegrama para Lisboa a Tristão345, mas por emquanto não temos resposta, mas não me admira nada que o homem acceite para se vêr livre da espiga do assucar [.] Este ao preço de £ 18. deve dár algum lucro. Entreguei a carta do Belmonte sobre o assucar, do Pitta da Ponta de Sol. Elle deu o expediente necessario. Sem mais por emquanto que lhe possa dizer, espero que consiga alguma cousa sobre assucar que nos dê lucro, são esses os meus votos. // [135] Alcool de São Filippe: Pela ultima nota que me enviou o Pinheiro, até o dia 10 do corrente, H. F.346 tem feito 40.000 litros, isto é, d’esde 20 setembro a 10 de outubro fêz 20.350 litros alcool, ou seja 1000 litros por dia. Como combinamos, quando chegar aos 45.000 litros vou vêr o Pinheiro e fazer os calculos, para provar que não está certo o rendimento pelo melaço que foi cubicado, mas seria conveniente o Senhor Hinton escrever novamente ao Pinheiro sobre esse assumpto. Segundo me disse o manhoso do Nunes Vieira347 elle deve produzir 100.000 litros?!! Não sei o milhagre como vai ser feito! Crea-me Seu Amigo Certo [Ass:] João Higino Ferraz P. E.[sic] Vi o Jornal de Lisboa em que trás a descripção da Fabrica do Torreão e o seu retrato. Confesso-lhe que não me agradou nada esse exagero. Aquillo não é a descripção de uma fabrica de assucar… é mais O Inferno de Dante. Nunca leu? pois é aquillo mesmo. Na parte em que falla do alcoolismo na Madeira, esta certo, foi notas que eu dei. [Ass:] Ferraz // [DATA: 23 de Outubro de 1923 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [136] Funchal 23 octubro 1923 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Recebi hoje a sua carta de 16 do corrente que muito lhe agradeço, e junto a carta de Henrique348 sobre a questão do melaço. Vou pois dizer-lhe o que temos feito e qual a minha opinião: O que Henrique diz na sua carta está perfeitamente de acordo com a minha maneira de vêr, desde que o Governo auctorisiou a destillação do melaço residuo do assucar importado. Quando sabemos que Bensaude desejava vender o melaço, fiz vêr a Belmonte, que, talvez devido a que em 1920 não tinhamos importado todo o melaço das 2000 toneladas auctorisadas, podessemos importar agora o restante para a sua conclusão, mas embarramos com o artigo que diz, que seria importado até fevereiro 1920. Em vista d’isto, eu e Belmonte fomos ao Pinheiro (Alfandega) vêr se era possivel importar melaço ao abrigo da auctorisação para a destillação dos residuos do assucar importado: Elle esteve a vêr toda a Lei, e no fim disse-nos que não havia duvida que nós podiamos importar melaço para destillar, mas somente para concluirmos o nosso rateio e da Comp.ª Nova (123.000 litros). Os direitos a pagar seria os da Lei que nos rege (ultima lei saccarina), isto é, $06 (60 reis) por kilograma pago em escudos, e mais 10 reis para as Camaras (nova contribuição camararia), e isto acrescen-//[137]tado com as despezas Alfandega etc. etc, chegaria a $08 (80 reis) por kilograma. Tudo isto porém seria feito sem consulta previa ás estações superiores, e somente depois do melaço despachado, a Alfandega do Funchal participaria para Lisboa esse despacho, e fazendo as considerações necessaria [sic] sobre que se fundaram para auctorisar o despacho d’elle (melaço). Pode-se dár qualquer duvida em Lisboa sobre isso, mas enquanto se troca correspondencias etc., tinhamos tempos de destillar e vender todo o alcool produzido; isto já se vê, no caso somente de duvidas, que segundo Pinheiro não lhe parece que haja. Para mim, a única oposição seria de H. Figueira349, que está sempre em opusição a nós. Esse amigo porém deve têr o maximo cuidado com a sua vida de destillador, porque lhe pode custar caro se apresentar mais alcool fabricado do que o melaço que elle tinha em stock pode produzir… A 18/10 já tinha 45.000 litros fabricados, e actualmente já deve andar por 50.000 litros. Ora o melaço em stock que o Pinheiro avaliou em 190.000 kilogramas (incluindo as lavagens como melaço), calculando um rendimento maximo de 29% (?!!) = 55.000 litros alcool em 40º que elle não tira, mas que calculamos assim. Ora, como me parece que quando elle requereu á Alfandega a vesturia no melaço existente, elle já tinha 345 346 347 348 349

Henrique Tristão Bettencourt Câmara. Henrique Figueira da Silva. António Luís Nunes Vieira? Henrique Tristão Bettencourt Câmara. Henrique Figueira da Silva.

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fabricado 6200 litros (?), faltava-lhe para concluir o rateio de 1923 – 23.800 litros alcool aproximados. Besta-lhe[sic] pois alcool dos 3 ultimos annos apenas 31.200 litros = 10.400 litros por anno. H. F.350 seguio logo para Lisboa para que? É isso que me dá que pensar // [138] e lhe vou dizer as minhas impressões: 1º Não tenho confiança alguma no Pinheiro!! 2º H. F. teria sido avisado dos nossos projectos? e por quem. Nem eu, nem Belmonte, dissemos absolutamente nada d’isto a ningem, somente Belmonte disse ao Senhor Jorge (que é de segredo). Isto já se vê, são supusições minhas, porque pode ser que H. F. fosse a Lisboa por outra qualquer razão, mas é bom estar sempre de alcatreia com esse amigo… Quando se falla a Pinheiro sobre qualquer assumpto que nos interessa, parec[sic] que o homem está de boa fé, mas para mim, não sei se devido á esperiencia da vida, considero Penheiro como um Victorino S.351 Nº 2… isto é, joga com pau de dois bicos; Deus é bom… mas o diabo não é mau de todo!... Por conseguinte, Senhor Hinton, cautela e caldo de galinha, nunca fêz mal a doente… Dito isto, para meu desafogo, passamos á questão do melaço: Segundo telegrama de Henrique, Bensaude já não quer vender o melaço, espera que o Governo lhe auctorise o despacho d’elle, pagando 60 reis por kilo. Consegue ou não, não sei, mas na duvida pomos esse melaço de parte. Consultei novamente Pinheiro a saber se podiamos importar de Inglaterra, e elle disse-me que podiamos. Em vista d’isto fiz os meus calculos a vêr qual o preço a que nos sahia o alcool no maximo, importando de Inglaterra, Belgica ou Hollanda. // [139] Consideremos um melaço de Beterraba nas seguintes condições: Melaço com 48% saccarose rende 26 litros alcool % “ “ 50% “ “ 27 “ “ Consideremos porém um melaço de 48% polarisação ao preço maximo de £ 8. por tonelada cif. Funchal: Cambio calculado a 115$00: Por tonelada Melaço cif. Funchal: Custo tonelada a £ 8 ao cambio 115$00 .................................920$00 Despezas de descarga ................................................................10$00 Carretos etc. ...............................................................................10$00 Direitos, impostos etc. (80 reis kilo) .........................................80$00 Despeza de fabrico alcool 800 reis litro .............................. 208$00 Custo de 260 litros alcool....1:228$00 Custo por litro = 4$72 Vendendo o alcool a 5$25, dá lucro tonelada melaço..............137$80 Se o melaço fôr de 50º polarisação (rendimento 27%) dá .......193$30 Por estes dados pode o Senhor Hinton fazer os seus calculos, tendo em consideração que o preço de £ 8. por tonelada Cif. é o maximo. Podemos importar 500 toneladas melaço de beterraba (sendo possivel, com certificado de urigem como de cana). Talvez possa obter na Belgica ou Hollanda, encascado em barris de olio crú, que não é prejudicial, e assim as 500 toneladas seria 2500 barris de 200 kilogramas a importar de uma sô vez, ou por partes, isto é, em duas vezes. Quanto ao assucar comprado (130 toneladas) não faz diferença, porque arranjamos as cousas para // [140] aparecer somente o alcool de rateiro, ainda mesmo que fosse mais. O preço do assucar bruto actualmente é que não está em condições para lucros. Entreguei a carta de Henrique a Belmonte, para a guardar. Rendimento do assucar bruto de 93,6º polarisação terminado: 360 toneladas Em assucar B claro .....................................................................30.900 kilogramas “ “ B2 “ ...................................................................171.900 kilogramas “ “ em bruto para refinar ...............................................12.450 kilogramas Acrescimos dos lotes ................................................................. 3.075 kilogramas Total em assucar .....218.325 kilogramas Alcool retificado em 40º Cartiere – 30.692 litros (Rendimento 37 litros % melaço) Quebra de refinação 5,5% Actualmente faltanos para concluir o rateio de 1923: 350 Henrique Figueira da Silva. 351 Vitorino José dos Santos.

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Torreão ............................................. 68.000 litros Comp.ª Nova .................................... 54.900 “ Total ..................................................122.900 “ Sem mais que lhe possa dizer por emquanto, creia-me seu Attencioso Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 7 de Outubro de 1923 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [141] Funchal 7/10/923 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Recebi as suas duas cartas, uma de 23 ultimo, e outra de 30 ultimo que recebi hontem, o que muito lhe agradeço. Estimo bastante que os ares das montenhas lhe tenhão feito rejuvenescer, para poder aturar esta triste vida actual… Não lhe escrevi pela ultima mala, por nada têr que lhe dizer, e mesmo esperava as suas resoluções sobre o melaço. Vejo o que me diz sobre este assumpto, e regosijume por vêr que achou bem tudo quanto lhe disse, o que têm encomenda quasi feita do melaço de beterraba. Por emquanto porém não recebemos o telegrama dizendo que o negocio estava concluido, mas espero que não haja dificuldades n’isso. Quanto á importação das 500 toneladas vindo de uma sô vez é muito melhor. O Pinheiro partio para a Alemanha no fim do mez passado, de forma que tive que me intender com o Director da Alfandega, a quem o Pinheiro tinha explicado, e elle director está perfeitamente de acordo em tudo, e aconselhou a importação total de todo o melaço, e foi devido a isso que lhe telegraphamos para vir as 500 toneladas. Na minha ultima carta dizia-lhe para vir 250 toneladas de cada vêz por julgar que teria dificuldade em arranjar transporte para as 500 de uma sô vêz, mas se pode vir as 500 de uma vez, tanto melhor. // [142] Quanto ao melaço ser de beterraba, diz o Director que a Lei não fala senão em melaço, sem dizer a procedencia, mas como vem no conhecimento melaço sem dizer de que, ficará assim mais livre de dificuldades futuras. Quanto ao preço que diz poder custar cif Madeira de £ 5.10.0 é de um bom preço, tendo 48% saccarose, sahindo o alcool a 3$75 por litro (calculando um cambio de 120$00), dando assim um lucro de 390$00 por tonelada melaço, e não quinhentos e tantos escudos por tonelada, como diz na sua carta, pelas seguintes rasões: Custo cif Funchal £5.10.0. cambio de 120$00 = 660$00 Despesas de descarga e carretos 22$00 Direitos etc (Alfandega) 80$00 Despesas fabrico alcool a 800 reis litro 208$00 Custo de 260 litros alcool 970$00 260 litros alcool em 40º Cartiere a 5$25 ——————1:365$00 Lucro 395$00 Ainda assim dará as 500 toneladas um lucro de 195 contos, que é muito melhor que o prejuizo que estamos tendo com o assucar bruto de 80º polarisação, e seria dificil fazer o rateio assim. Sobre assucar para refinar, eu achava conveniente continuar a importação, mas do assucar Brazil centrifugal polarisação de 96º [sic], como das amostras que nos enviou Crispin no mez passado, isto é, assucar bruto de 1er jet. Poderiamos assim importar em Novembro e Dezembro umas 800 toneladas que nos daria em assucar refinado BB e B2 656.000 kilogramas alcool somente 48.000 litros Tudo depende de poder obter este assucar bruto cif Funchal a £ 21.15.0 por tonelada no maximo. Isto daria-nos um // [143] lucro de 80 contos, vendendo o assucar a 3$50 media BB e B2. Como porém este assucar daria mais 48.000 litros alcool do que é necessario para concluir o rateio do Torreão e Comp.ª Nova, pode-se na Comp.ª Nova subtrair ao contador do alcool essa quantidade (passando aos tanques para desdobramento), isto é, fazer o inverso que fáz o H. F.352, atrazar o relogio em quanto que elle adianta… Se aprova esta minha edeia, e se consegue, como espero, a compra de melaço, posso enviar á Comp.ª Nova umas <250 a> 300 toneladas do melaço a importar, dizendo que o melaço é de pouco rendimento, e será necessario essa quantidade para concluir os 54.000 litros que falta á Comp.ª Nova, ficando para nós as restantes 200 a 250 toneladas e mais o alcool dos residuos da refinação das 800 toneladas assucar (48.000 litros). Comp.ª Nova tem poços que pode receber 230 toneladas melaço, e o restante ficará em barricas no largo das canas, nas barricas em bom estado. 352 Henrique Figueira da Silva.

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Esses 48.000 litros que se tira para os grandes tanques de armazem junto á Comp.ª Nova, sendo para desdobramento deve dár um lucro minimo de 200 contos (contracto com Francisco João). Isto despende porém um grande capital, mas como o lucro assim não será inferior a 470 contos (melaço, assucar e desdobramento), val a pena fazer um sacrificio, e como o Senhor Hinton diz na sua carta, que as montanhas lhe tem feito um bem immenso e sente-se prompto para tudo…, espero que prove essa energia… Desculpe estas minhas… asneiras… // [144] Fabrica de São Filippe: Estes amigos teém feito até 25/10 62.528 litros alcool!?, e até hoje não tem mais notas na Alfandega. Ora, calculando que nas melhores das hyptses[sic], o melaço que elles pediram o varejo seja tudo melaço ao rendimento maximo de 29%, as 184 toneladas melaço e lavagens daria 53.360 litros. Como elles porém tinham já feitos 6200 litros alcool, teêm a mais pouco mais ou menos 3000 litros, e isto ainda não fica por aqui, porque vejo que ainda tem melaço para destillar, segundo me disse o francez (Monteur). Como porem não posso fazer para aquelle contador… Deixar o homem (H. F.) hir para diante, porque depois… do coiro lhe sahirá as correias… caso o Senhor Hinton assim queira… Como Pinheiro[?] não está, nada lhe posso dizer, mas em conversa particular com o Director da Alfandega, foi-lhe dizendo tudo, e assim não pode ingnorar o que fazem os seus guardas fiscais. Faço-lhe notar, que este desparate do H. F. ou do seu conselheiro N. V.353, é uma arma que fica na sua mão que lhe pode ser muito util. Por mim nada posso fazer, e mesmo acho melhor deixar o homem se espetar cada vêz mais. Junto envio-lhe as analyses do assucar bruto importado. Principiei logo com a refinação, e no fim d’esta semana vou dár principio á fermentação do melaço, porque já tenho os fermentos em condições. Sem mais, por hoje, creia-me seu amigo certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 17 de Novembro de 1923 DESTINATÁRIO: Harry Hinton; LOCAL: Lisboa] [145] Funchal 17/11/923 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Como está actualmente em Lisboa, é occasião boa para tratar um assumpto bem importante para si, e que eu vou expôr: O que eu lhe disse á tempos sobre a importação do vinho do Continente, isto é, que tinha receios que importadores importassem vinhos alcoolisados, esta-se dando agora e em escalla grande. Já foi apreendido 10 cascos de vinho abafado, isto é, mosto de uva alcoolisado a 18º alcool, mas essa apreensão foi devida ao Luiz Pereira da Alfandega, porque o vinho era para passar em estiva sem fiscalisação. Como vê isto é importantissimo para nós, visto o vinho já conter alcool (18º) e além d’isso conter todo o assucar da uva, o que nos fáz perder a venda futura do alcool e do assucar para o tempero do vinho feito no typo Madeira. Temos porém que Luis Pereira me diz que na Alfandega não têem dados para poderem considerar qual a graduação do vinho de Pasto. Para mim, vinho de Pasto não deve conter mais de 12º alcool, porque é o que a fermentação natural do vinho d’uvas pode dár na media, e assim era bom que da Direcção Geral das Alfandegas, viesse ordens para a Alfandega do Funchal dizendo que para // [146] o fim do despacho de Vinho de Pasto, seria considerado todo o vinho que contenha no maximo 12º alcool. Todo o outro vinho seria negado o despacho quando em cascos, mas somente poder ser importado engarrafado. Conseguido isto, esta lebre fica corrida. Temos porém outra tambem importante, mas essa mete pulitica!?; É o seguinte; Eu sei que a Fabrica de São Paulo está destillando vinho do continente (dizendo que é borra de vinho) e que vende a 35$00 por gallão em (?) naturalmente 30º Cartiere = 9$75 por litro em 30º, que corresponde a 12$00 por litro em 40º Cartiere. O vinho é posto no Funchal a 800 reis por litro, de forma que estes amigo [sic] devem ganhar pelo menos 250$00 por pipa de 500 litros de vinho destillado. Este alcool em 40º é caro, como vê, mas eu vou provar-lhe que ainda assim fáz conta ao negociante de vinhos adquirir esse alcool para o tratamento do mesmo vinho do continente que não tem direito ao alcool vendido pelas fabricas matriculadas: Supunhamos 500 litros de vinho do Continente que deve ser alcoolisado com 50 litros alcool vinico da mesma procedencia a 12$00 por litro: 500 litros de vinho do Continente a 800 reis 400$00 50 litros alcool vínico a 12$00 em 40º 600$00 Custo do vinho 1:000$00 Consideremos um vinho d’uvas da Madeira a 2$00 por litro, alcoolisado com alcool em 40º do nosso fabrico a 5$25. 353 António Luís Nunes Vieira?

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500 litros de vinho da Madeira a 2$00 1:000$00 55 litros alcool de melaço a 5$25 288$75 Custo do vinho 1:288$75 // [147] Como vê os fabricantes de vinho Madeira feito com vinho do Continente, convem-lhe muito mais este negocio do que comprar vinho Madeira da media de 10º alcool a 2$00 por litro (80$00 barril) claro, ganhando assim por pipa de vinho feito 288$00!! Como bem vê, estas duas questões, importação de vinhos alcoolisados e assucarados e destillação do vinho, é importantissimo para nós e também para a Viticultura da Madeira. Quando eu digo que a segunda é politica, deve compreender, que sendo a fabrica de São Paulo amigos do V. M.[?] que actualmente é que dá cartas em vista de estár no poder gente sua, essa parte vai-lhe ser dificil de resolver sem pisar os amigos… Mas isso intende com a Viticultura e que elles tem que attender, não lhe parece? Vindo ordem da Direcção Geral das Alfandegas para a Alfandega do Funchal, deve dizer que de todos os cascos importados deve ser tirada uma amostra para analyse da força alcoolica, para evitar que o despachante somente tire das que lhe convem ou ao importador. Melaço: Tenho pena que não conseguisse melaço para vir antes de Janeiro, mas comprehendo as deficuldades que deveria têr n’isso, principalmente no transporte d’elle. Quanto ao despacho do melaço não há duvida, toda a questão está na sua destillação, porque somente podemos destillar d’entro do rateio parece-me que para concluirmos // [148] o nosso rateio e da Comp.ª Nova, pode ser feito d’entro do anno saccarino, isto é, até 31 março 1924; Não é assim? Assucar importado: Já terminei a refinação do assucar que feito por forma diferente do que tinha feito ao outro assucar, deu um rendimento em turbinado meior, dando 448 kilogramas por tonelada, emquanto que o outro de 80,5º polarisação deu somente 339 kilogramas por tonelada. O rendimento em alcool deve porém ser um pouco menos, mas isso não lhe posso dizer por emquanto ao justo. Vejo porém pelo peso do melaço dár, pelo rendimento theorico, 205 litros alcool por tonelada. A quebra de refinação foi de 5%. Por os meus calculos devemos têr d’este melaço, incluindo o alcool do milho empregado, 28.000 litros alcool em 40º. Fabrica de São Filippe: Não tenho tido mais notas d’alcool, e diz-me o Barros que a Alfandega diz que não tem trabalhado. Não sei pois se já acabou o melaço, ou se é nova esperteza ou medo. Tem pois até 25/10 – 62.528 litros. Sem mais que lhe possa dizer, subscrevo-me Seu Amigo attencioso e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 20 de Novembro de 1923 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [149] Funchal 20/11/923 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Acabo agora mesmo de vêr a sua carta ao Belmonte, em que me pede a minha opinião sobre o rateio futuro de São Filippe. H. F.354 obteve em Lisboa do Ministro uma portaria ou não sei que, em que lhe fica o direito do rateio futuro do alcool pela canna trabalhada no corrente anno, e para o futuro será feito sempre n’esta conformidade, isto é, pela canna moida no anno transacto?! Quem lhe arranjou isto não sei, mas estou a vêr quem seja… Ora isto é um desparate sem nome, porque a ser feito assim, quaes são os dados para saber a quantidade de canna trabalhada? Como sabe, elle nunca deu ao V. S.355 a nota da canna que elle lhe pedio (e que nos damos), e V. S. participou isso para Lisboa á repartição competente. Como pode elle pois pedir que o rateio seja feito para 1924 pela canna comprada em 1923? A unica forma de calcular seria pelo assucar produzido, cuja nota existe na Alfandega, mas ainda assim isso não seria justo, visto H. F. estár a reclamar do seu pequeno rateio, e naturalmente pedindo o augmento d’elle na occasião presente ou antes, conviria-lhe, como lhe conveio, moêr o maximo ainda que com bastante prejuizo, para têr o direito maximo do rateio, emquanto que Torreão e Comp.ª Nova, não estando n’essas condições, não lhe convinha abalançar-se a prejuizos comprando canna a preços elevados, nem mesmo //356

354 Henrique Figueira da Silva. 355 Vitorino José dos Santos. 356 Esta carta encontra-se truncada. Porventura o restante da informação desta carta de 20-11-1923 foi considerado desprezível para merecer a sua inscrição.

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[Copiador de Cartas. 1924-1926]

DESCRIÇÃO: O título deste copiador foi atribuído por nós, e a numeração dos vários fólios acrescentada a lápis. Estamos na presença de livro, papel, 26,8 cm x 21 cm, em bom estado de conservação.

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[DATA: 6 de Fevereiro de 1924 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [1] Funchal 6 Fevereiro 1924 Ex. Amigo e Senhor Hinton Acabo agora mesmo de vêr a sua carta a Belmente, e tenho esperanças que a justiça lhe seja feita n’esta occasião. Quanto á paragem da destillação por ordem da Direção da fiscalisação da Alfandega, vou estoriar-lhe o que se passou: No dia 29 Janeiro do corrente veio á Fabrica do Torreão e C.ª Nova o Pinheiro com o telegrama da Direção Geral mandando parár a destillação do melaço de Cuba que tinhamos auctorisação para destillar até á conclusão do nosso rateio (Torreão e C.ª Nova), isto é, vender somente o saldo do rateio. Como o Pinheiro não quiz tomar a responsabilidade da não destillação do melaço em fermentação, que se perderia não sendo destillado, e isso representaria (como fiz vêr ao Pinheiro) um prejuizo não inferior a 200 contos, elle consentio a destillação d’elle, mas a paragem por completo das fermentações, o que assim se fêz acatando as ordens da Alfandega. A 4 Fevereiro corrente veio novamente ordem para continuar a destillação, e assim tratei de preparar novos fermentos, e somente hoje estou principiando nas fermentações no Torreão e C.ª Nova. Esta paragem porem fêz um atrazo de 15 dias até que se tenha novamente alcool retificado para venda, e isto, como bem compreende, apresenta um prejuizo, não somente para nós como para os vinicultores que teem os seus vinhos a tratar e que se // [2] perdem não sendo alcoolisados á sahida das estufas. Estes 15 dias de paragem nas suas fabricas apresenta um atraso nas entregas d’alcool de 100.000 litros, que é aproximado a conclusão do rateio, ou seja uma imobilisação de 600 contos que poderíamos liquidar até ao fim do corrente mez. Com esta paragem ficou-nos por destillar, do carregamento do melaço de Cuba, aproximadamente umas 700 toneladas de melaço, que para poder concluir antes de terminar o anno saccharino, terei que destillar as duas fabricas, Torreão e C.ª Nova, o que já participei ao Marinho de Nobrega, que terá que receber ainda umas 200 toneladas, e como lhe restava na occasião da paragem 127 toneladas, terá assim para destillar 327 toneladas de melaço. Torreão fará as 500 toneladas restantes. Vi tambem a nota que vai apresentar das quantidades de cana comprada, tanto da nossa fabrica, como da C.ª Nova e São Filipe, assim como a capacidade de moenda das trez fabricas. Sebre[sic] este ponto da capacidade de moenda, acho que não está bem assim explicito, mas deve ser a capacidade de trabalho. Como muito bem sabe, a capacidade de moenda da fabrica de São Filipe, é muito superior á capacidade de trabalho da fabrica de açucar e destillaria, por isso que os moinhos não têem uma relação exacta á capacidade real dos apparelhos para o fabrico do açucar, e assim dár-se-hia uma injustiça grave para Torreão e C.ª Nova n’um rateio feito pelas capa-//[3]cidade [sic] de moenda, no caso de H. F.357 reclamar essa verificação. A capacidade de uma fabrica de açucar é sempre verificada no conjunto, isto é, o que ella pode produzir ralmente[sic] em açucar. Torreão que tem uma capacidade de produção em açucar de 52 toneladas açucar em 24 horas, que representa aproximadamente 600 toneladas cana, tem porém somente uma capacidade de moenda de 500 toneladas cana, sendo esse escedente de 100 toneladas fornecido pela C.ª Nova por contracto entre as duas fabricas. É isto um ponto importante que ponho á sua consideração, antes de apresentar a nota junta, no caso de o fazer. A procura d’alcool continua a ser enorme, e Belmonte vê-se em dificuldades para servir a todos n’um rateio justo. Vejo pois a maxima conveniencia conseguir o rateio suplementar de 200.000 litros, pelo menos, para que os negocios de vinhos e exportações não sejam prejudicados com graves prejuizos para a Madeira. Deus primita que não haja mais dificuldades no fabrico do alcool, e que tudo seja resolvido com justiça para todos. Creia-me seu Amigo Certo [Ass:] João Higino Ferraz // mo

357 Henrique Figueira da Silva.

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[DATA: 14 de Março de 1924 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [4] Funchal 14/3/924 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Terminei na C.ª Nova a destillação do melaço que lhe coube, sendo 236 toneladas que recebeu directamente do vapor e 163,9 toneladas que lhe enviei pelo tubo, dando um total de 399,9 toneladas melaço destillado. O rendimento total foi de 94.598 litros alcool a 100º = 98.666 litros em 40º Cartiere. Pelos meus calculos dá o seguinte para os rateios: Conclusão do rateio de 1923 55.000 litros em 40º Rateio suplementar de 1923 (130.000 litros) 29.954 “ “ 84.954 Resta-lhe pois para mais 70.000 litros novo rateio 13.712 98.666 Como no rateio novo de 70.000 litros lhe cabe 16.000 litros, falta-lhe pois 2388 litros. Torreão Terminei hoje todo o melaço existente que nos restou, aproximadamente destillado umas 700 toneladas no total. Quanto ao rendimento real não lhe posso dizer por emquanto nada certo, visto a destillação e retificação somente terminar aproximadamente a 25 do corrente. Calculando porém pelo rendimento do 1º Lote, deveria dar 182.900 litros em 40º Cartiere Por estes calculos dá o seguinte para os rateios: Conclusão do rateio de 1923 41.650 litros em 40º Rateio suplementar de 1923 (130.000 litros) 92.095 “ “ 133.745 “ “ Resta-nos pois para mais 70.000 litros novo rateio 49.155 “ “ 182.900 “ “ No rateio dos 70.000 litros cabe-nos 49.600 litros, faltando pois somente 445 litros. // [5] Como muito bem vê, são sempre os 200.000 litros que pedimos. Calculos provaveis: O rendimento total em alcool do melaço de Cuba = 281.566 litros em 40º “ “ A deduzir alcool do mosto nutritivo (milho) = 7.950 Proveniente de 1.104.450 kilogramas melaço de Cuba = 273.616 “ “ Rendimento % melaço (provavel) = 24,7 litros alcool em 40º Nota: O rendimento da C.ª Nova foi inferior ao nosso em 1,2 litros alcool em 40º % melaço. Sem mais sobre este assumpto que lhe possa dizer subscrevo-me Seu Amigo certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 30 de Julho de 1924 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [6] Funchal 30/7/924 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Pouco terei que lhe dizer até ao presente, mas esse pouco algum valor tem. A destillação continua regularmente, e o apparelho de destillação novo ligado ao retificador está dando muito bom resultado sahindo o alcool bom. O trabalho diario é quasi o mesmo do que com a columna separada, isto é, 600 a 610 Hectolitros de vinho por 24 horas = 3800 a 3900 litros alcool. A capacidade de cubas de fermentação é que não é suficiente para um trabalho continuo. Quanto ás fermentações é que me vejo em dificuldades devido ás altas temperaturas de fermentação que chegam ao maximo de 38,5º Centigrados!!, e o mosto é feito na temperatura normal da agua (25º-26º). Estas altas temperaturas prejudicão os fermentos, e de mais o maldito fluorure de soda sô chegou no dia 25, quando Lefebvre358 á mais de 3 mezes o enviou para Anveres. Desde o dia 15 que estou a empregar o fluorure somente nos fermentos mãe das pequenas cubas, e a cuba grande de fermento mãe não levava fluorure, porque tinha receio não me faltasse de todo, e isso era o diabo para a conservação do fermento. Devido 358 Georges Lefebvre.

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a tudo isto tive uma infecção nas fermentações que me prejudicou umas 5 cubas, dando // [7] um rendimento mais baixo que o normal. Vi-me obrigado a fazer novo fermento que está em boas condições e já o estou empregando, e como tinha fluorure suficiente agora, espero que tudo corra bem. Quanto ás temperaturas elevadas é que nada posso fazer. C.ª Nova termina hoje de receber o melaço pelo tubo, e deve receber um total aproximado de 260 toneladas Vou dár principio ao fabrico do xarope invertido, mas antes quero vêr qual a quantidade que os fabricantes de vinho desejam, para não fazer de mais. Já fallei ao Vieira de Castro359 e elle deve-me dár as resposta [sic] amanhã, assim como o F. F. Ferraz360. O Blandy361 tambem quêr? Não sei se o Senhor Hinton falou n’isso. Vou preparar tambem para os nossos vinhos, porque pelas esperiencias que tenho feito no Laboratorio, o vinho deve ficar explendido, e sendo mesturado o fermentado com mosto de uvas ainda melhor ficará. Quanto ao V. de Castro, quando lhe foi falar no xarope, elle habrio-se commigo dizendo-me que, “em vista de todos comerem, eu tambem tenho direito a ter o alcool um pouco mais barato, não achas justo?” Como vê o homem é que falou no assumpto que eu e Senhor Hinton tinhamos combinado propor-lhe, mas que eu não o fiz, mas agora é elle que pode... Se o Senhor Hinton acha que se lhe deve fazer a differença que combinamos (10$50 por litros) é bom prevenir o Belmonte d’isso. Sem mais que lhe diga, subscrevo-me Seu Attencioso Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 13 de Agosto de 1924 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [8] Funchal 13 agosto 1924 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua carta de 6 do corrente que muito lhe agradeço. Quanto ao que me diz com relação á fermentação do melaço já eu tinha pensado em parar as fermentações devido as altas temperaturas atmosphericas e das aguas: Mas como fezer, se o alcool esta tendo sahida regular, e hoje apenas tenho um stock de 24.000 litros?! Não deve de forma alguma faltar alcool n’esta occasião, e principalmente com as vindimas á porta ainda que se tire menos lucro n’este melaço do que se calculou. Calcule o Senhor Hinton que tenho tido fermentações com temperaturas maximas de 39º!!, isto principalmente quando se trabalha com agua do poço (por não haver outra), cuja temperatura normal tem chegado a 27º, isto é, temperatura inecial de fermentação de 27º!! Não me queixo das fermentações que são bastante activas mas quando a temperatura chega a mais de 35º o fermento recente-se e a evaporação do alcool é grande. A prova esta na cuba nº 10 fechada cuja agua de barbotagem do CO2, com temperaturas maximas de 35º, era de 5% alcool na agua, emquanto que agora com temperatura de 38 1/2 a 39º tem 8% alcool, isto é, uma evaporação superior de 60%!. Quando isto se dá na cuba fechada, calcule o que não é nas cubas habertas... Quando se entra na sala da fermentação reconhe-se-se[sic] isso mesmo pelo seu cheiro caracteristico a alcool evaporado junto com o CO2. // [9] Para ver se evito um pouco essa alta temperatura de fermentação estou fermentando a 9º Baumé, ainda que menos economico em combustivel na destillação. Com mosto de fermentação a 10,6º Baumé, como estava fermentando, tinha vinho com 7,2 a 7,4 % alcool, emquanto que fermentando a 9º Baumé não terei vinho com mais de 6,2 % alcool no vinho. Na propria destillação, os condensadores teem que ser lavados de 3 em 3 dias, devido ao lodo que se forma nos tubos, que evita a condensação e refrigeração regular. Devo têr ainda para fermentar umas 290 toneladas de melaço. C.ª Nova terminou hontem a destillação de todo o melaço, mas o rendimento foi muito baixo. Segundo as notas de Marinho362, o rendimento foi de 24%!! Quanto ao nosso rendimento, vejo que a media deve andar por 25,5%. É uma grande diferença para o calculo que eu tinha feito de 27%, mas como fazer nas condições em que estamos trabalhando? Vou têr melaço para fermentar até aproximado 5 a 6 de setembro, e a destillação até 10 a 12. O assucar para refinar deve estar aqui a 21 do corrente, e logo que chegue vou principiar a refinação. O mau é não sahir assucar, e isto em grande parte devido á falta de escudos, e creditos. Vejo que o assucar branco desce nos mercados, mas o typo de 96º polarisação não desce na mesma proporção. Teremos a mesma cousa de 1923? // [10] Mostrei a sua carta ao Belmonte sobre o Vieira de Castro363, e a baixa será somente nos 15000 litros encomendados. 359 360 361 362 363

Henrique Augusto Vieira de Castro. Francisco Figueira Ferraz. John Ernest Blandy. Marinho de Nóbrega. Henrique Augusto Vieira de Castro.

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Segundo vejo o vinho no corrente anno não vai chegar a 150$00 por barril, e mesmo é bom que seja menos, por causa da cana no futuro anno 1925. Se o lavrador tinha compradores, como elles calculavam para o vinho a 200$00, o que não exigiam pela cana no proximo anno?! Os unicos que teem levado xarope d’assucar é a C.ª Vinicula e F. F. Ferraz364, de forma que vou parar com o fabrico. O preço do vinho tambem influi n’isto, mas para nôs tem vantagem, e ja fiz o suficiente para 100 pipas de vinho como fizemos o anno passado. Sem assumpto para mais, Subscrevo-me Seu Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 20 de Agosto de 1924 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [11] Funchal 20 Agosto 1924 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Depois da minha ultima de 13 do corrente, já fiz outro lote de melaço, cujo rendimento já foi um pouco melhor devido á modança de fermento novo, dando 26,5%. Com a fermentação a 9º Baumé ainda não tenho lote feito mas a temperatura maxima de fermentação ainda assim chegou a 37º, o que é ainda elevada. Felizmente a temperatura atmosferica está um pouco mais baixa, e isso deve influir na fermentação. Desprezei novamente o fermento (de 15 dias!!) e tenho outro novo bem activo que hoje fica em trabalho. Não ha remedio senão proceder assim para vêr se tiramos o maximo de rendimento possivel. Não calcula como me tem aborrecido isto... H. F.365 queixa-se do mesmo, isto é, que as fermentações lhe ficão a 3,5º a 4º Baumé, e que assim o rendimento deve ser muito baixo (e assim o creio), e vinha-me pedir, não elle pessoalmente, mas sim o João Rodrigues, para eu lhe ensinar a forma de fermentar e fazer o fermento, mas a isso respondi-lhe que, quando eu tratei do acordo do Senhor Hinton com H. F., uma das minhas condições foi servir de entermediario na parte commercial mas quanto ás partes technicas, cada um se governava, e como eu era empregado do Senhor Hinton e // [12] não de H. F., não queria perder a sua amisade (Hinton), nem os seus interesses, e se as cousas ainda não estavam como eu desejava, isto é, um acordo completo, a culpa era de H. F., pelas suas exigencias de rateio, etc. etc, isto é, cantei-lhe a musica toda ao empregado delle. Disse-lhe tambem que tudo isso que elle quer se poderia fazer quando o acordo fosse completo, porque estava certo que fosse possivel industrialmente, mas primeiro era necessario H. F. não ser exigente em demasia. Quando á tempos falei com H. F., elle disse-me que o Senhor Hinton não lhe queria dár os 150.000 litros de rateio na base de 500.000 litros, e que assim se via na dura necessidade de continuar com as reclamações. Quanto a esta parte pouco disse ao H. F., mas o que lhe disse foi que era bom elle não exigir de mais. Quando o João Reis esteve hontem comigo, como já lhe disse, pude-me habrir mais, e disse que, se H. F. visse bem os seus interesses, e se o Senhor Hinton concordasse com 130.000 litros na base de 500.000 litros, elle deveria acceitar sem repontar. Eu estou certo que n’estas condições elle ficava bem, visto em tempos elle dizer ao V. S.366 que se conseguisse 140.000, o gratificava, não lhe parece isto assim? O que eu vejo, é que elle não está fazendo grandes reclamações, visto o Senhor Hinton dizer ao Mauro, que em outubro trataria d’isso; naturalmente espera o resultado final em outubro!... // [13] Refinação: Vou dár principio á refinação do assucar d’Africa, que deve chegar amanhã, na proxima semana, e vejo pelas cotações que o assucar de 96º se conserva firme no preço mas que assucar branco subio um pouco, o que é de vantagem para nós. Se isto continuar assim, pode ser que nos salvemos do prejuizo do assucar da Laboração, e que teremos mesmo algum lucro a mais. Conforme as suas ordens a Belmonte vamos descer o preço do assucar 300 reis por kilo, e eu tambem sou d’essa opinião, para evitar novas importações dos atacadistas e outros. H. F. tambem concorda, assim como com a noticia no Diario da Madeira sobre a importação mensal, e esta baixa, quando importamos assi[sic] para refinar, fáz amargos de bouca aos importadores. Eu disse a Belmonte que na noticia deveria-se falar nas duas fabricas matriculadas, Torreão e São Filipe, e o H. F. está d’acordo: D’esta forma matamos dois coelhos, isto é, evitamos as importações e metemos H. F. na baralha..., porque já não pode reclamar contra a importação de assucar, ou destillação dos residuos, como fez em tempo!... Xarope d’assucar: – Já fiz a quantidade que tinha encomenda e para nós, e hoje o Luiz Portugal pede-me 1000 kilogramas para esperiencia, que vou ceder do nosso. Isto para o futuro pode ser negocio. Sem mais que lhe diga, sou seu Amigo certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // 364 Francisco Figueira Ferraz. 365 Henrique Figueira da Silva. 366 Vitorino José dos Santos.

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[DATA: 27 de Agosto de 1924 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [14] Funchal 27 agosto 1924 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua de 20 do corrente, e vejo que está desanimado com o rendimento do melaço, mas não vejo grande rasão para isso pelas seguintes rasões: Effectivamente o rendimento é baixo e o lucro n’este carregamento não será o que tinhamos calculado, mas ainda assim o lucro é razoavel, devido ao preço do alcool. N’esta estação do verão os rendimentos são sempre mais baixos devido ás temperaturas elevadas e <por> não termos uma instalação de refrigeração das cubas. Vejo o que me diz sobre este ponto de refrigeração, mas as cerpentinas que temos são as bixas antigas dos clarificadores (2) de 4”, pezadissimas e deficeis de montar, e mesmo que agora se quizesse fazer essa montagem (que seria deficil), quando estivesse prompta, já não teriamos melaço algum. A sahida do alcool tem sido grande e o stock que temos é pouco (8.000 litros pouco mais ou menos hoje 27) no Torreão, e as encomendas d’alcool, segundo me disse Belmonte, leva-nos todo o alcool até fins de Setembro. N’estas condições seria de grande vantagem e mesmo necessario, que além do melaço d’Africa que devemos receber até fins de Setembro ou meados de Outubro, importar umas 200 toneladas de melaço em barricas, pelo menos, sendo possivel obter, e cujo melaço podesse estar aqui até fins de Setembro proximo. Pela medição do Tanque Grande vejo que temos ainda para fermentar 138 toneladas de melaço, isto é, para 9 a 10 dias de fermentação, que dará aproximado uns // [15] 36.000 litros alcool. Quando principiamos o melaço, da West Indias, faltava-nos para concluir o rateio de 1924 – 242.655 litros alcool: Temos feito até 27/8 do melaço etc ..........145.816 litros Do melaço restante .....................................36.000 “ Nas cubas para destillação........................ 11.300 “ Total do alcool provavel ...........................193.116 “ Para concluir o rateio ................................242.655 “ Faltará para rateio Torreão..........................49.539 “ Borras de Vinho de 1924? ......................... 2.850 “ Total que devemos fazer .............................52.389 “ Ora, para fazer este alcool (53.000 litros) necessitamos de 230 toneladas de melaço d’Africa, e isto somente para o Torreão. C.ª Nova deve-lhe faltar para concluir o rateio de 1924 aproximadamente 33.000 litros alcool, que deve corresponder a melaço d’Africa a 145 toneladas. Teremos assim para Torreão e C.ª Nova 375 a 380 toneladas melaço para conclusão do rateio de 1924. Como todo este melaço deve produzir 86.000 litros alcool será para o consumo de outubro e novembro se as sahidas forem como até agora. Teremos ainda 3 mezes antes da Laboração de 1925 ou seja aproximados 130.000 litros alcool, ou seja um rateio suplementar de 200.000 litros para as trez fabricas, ou 600 toneladas melaço pouco mais ou menos Como vê, se podesse obter agora, pelo menos, 200 toneladas de melaço em barricas, não seria demasiado, mesmo que se importe o melaço d’Africa. // [16] Xarope d’assucar: O preço calculado na media de 5$00 por kilo assucar B2 deu o seguinte resultado: assucar B2 empregado 18750 kilogramas a 5$00 ......=93:750$00 2 1/2 toneladas carvão a 350$00 .......................................=875$00 Pessoal etc. no maximo ............................................... =1:875$00 38 kilogramas acido citrico a 35$00 ........................... 1:330$00 Custo total ......................................................................97:830$00 Produzio em xarope a 38º Baumé vendavel 25.017 kilogramas a 4$50 por kilograma – 112:576$50 Deu lavagens dos filtros, tanques etc., o correspondente a 132 litros alcool em 40º a 10$00 =.................1:320$00 Resumindo teremos: Venda xarope.............112:576$50 Total productos ............113:896$50 Custo acima ...................97:830$00 Lucro bruto....................16:066$50 Fermentações: As temperaturas teem baixado um pouco, porque o tempo está mais fresco, e Deus primita que continue

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assim até terminarmos todo o melaço. Tenho agora temperaturas maximas de fermentação e 36 1/2º, quando d’antes chegavam a 39º, e isto tambem em parte a estar fermentando a 9º Baumé em logar de 10,5º Baumé. Quanto a H. F.367, em outubro o Senhor Hinton deve vêr se arranja com elle uma concordata definitiva. Paiva Loreno na Agricultura?! Isso era um tal desparate, que eu não creio que se fassa... Creia-me seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 3 de Setembro de 1924 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [17] Funchal 3 Setembro 1924 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua ultima de 28 próximo passado que muito lhe agradeço. H. F.368 ainda não foi para Lisboa, mas disse-me á dias que contava lá estar em outubro proximo, mas não me disse quando sahia d’aqui. Quanto á refinação ainda estou em trabalho, de forma que nada lhe posso dizer por esta o seu resultado final. O que me vi obrigado foi a fazer a meior parte em assucar BB bem branco, por causa da competencia com os assucares estranjeiro [sic] que existe na Madeira, e deve assim ficar uma porção de assucar dos égoûts para fazer a refinação, e com esta pequena quantidade de assucar bruto importado (130 toneladas) é deficil concluir a refinação de todo assucar, ficando pois este assucar dos égoûts para refinar quando venha outra remessa. Quanto aos égoûts que restarem, que devem ficar ainda bastante ricos, vou calcular e vêr se convem reduzil’os a alcool em logar de os guardar, porque havendo falta d’alcool, como há, talvez convenha mais fazer em alcool do que em assucar. Do resultado dos calculos lhe darei parte na proxima mala. Estimo bastante que os ares d’ahi lhe tenham dado o vigor necessario para continuar nas lutas da vida, e assim eu podesse dizer o mesmo, mas // [18] acho-me bastante abatido moral e phisicamente. Esta vida actual fatiga bastante principalmente para a minha edade, que já não sou um rapaz...; felizmente a saude não me tem faltado, e Deus primita que assim continue. Os nossos amigos aguardenteiros perderam a cabeça, e querem todos augmentar as capacidades de destillação, substituindo os pequenos alambiques por outros grandes Ora isto é que não está certo, porque os grandes apparelhos não tem a capacidade de destillação relativa a apparelhos pequenos, como sempre tenho dito ao V. S.369. É necessario por coubro a isto, reduzindo as horas de trabalho nas fabricas que tenhão augmentado ou transformado pequenos apparelhos em grandes. A edeia nova d’elles (aguardenteiros) é não fazer mais do que as horas regulamentares, para assim se verem livres das exigencias dos empregados da fiscalisação!!... mas augmentar as capacidades o que dá no mesmo e melhor para elles. Tudo isto porém sô pode ser resolvido em Lisboa no Menisterio da Agricultura, e as ordens devem vir de lá, porque V. S. não fará mais do que tem feito até agora, isto é, deixar augmentar as capacidades, que, segundo elle, não é prohibido por lei (!?) Em Lisboa deveria o Senhor Hinton e H. F. tratar d’isto a serio. Sem mais subscrevo-me Seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 10 de Setembro de 1924 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [19] Funchal 10 Setembro 1924 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Obrigado pela sua carta de 4 do corrente, a que passo a responder por partes. Quanto ao fluorure já lhe tinha dito n’uma das minhas cartas que a demora da sua vinda não foi por nossa causa nem de Lefebvre370. Como sabe este producto é francez, e para vir com certeficado de urigem Belga teve que ser remetido para lá e lá ser enviado, e a cusa[sic] das demoras n’esta remeça foi naturalmente devido a isso. Não se vai dár mais este caso, porque já fiz nova encomenda, que deve estar a chegar, e farei sempre com bastante tempo de antecedencia; para não se repetir novamente o mesmo. Quanto ao pouco rendimento da C.ª Nova, isso não foi somente devido á falta do fluorure, como diz Marinho371, mas sim 367 368 369 370 371

Henrique Figueira da Silva. Henrique Figueira da Silva. Vitorino José dos Santos. Georges Lefebvre. Marinho de Nóbrega.

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devido ás cubas de fermentação que estavam n’um estado lastimoso. Estão sendo todas concertadas com cimento novo, e calcule que no tirar o cimento velho encontra-se entre as chapas de ferro e o cimento vinho de melaço ou garapa poudre!! Com cubas n’este estado cheias de microbios, como queria que desse bom rendimento? Alem d’isso as altas temperaturas no corrente verão influiram tambem. Antigamente fermentava-se, como sabe, sem fluorure, e o rendimento entre Torreão e C.ª Nova fazia apenas uma deferença de 0,5% a menos, e n’este melaço foi de 2,6%!! Passo a dar-lhe o rendimento aproximado do melaço // [20] que calculo deve estar tudo terminado esta semana: Melaço das West Indias: Alcool fabricado até hoje (10/9) ....................................198.701 litros em 40º n’uma cuba em destillação .................................................1.300 “ “ Etheres e escencias a retificar provavel ......................... 4.000 “ “ Total em alcool ...............................................................204.001 “ “ A deduzir: Melaço restante da Laboração Melasse Cuite etc. ...........................................7374 litros Rendimento do milho empregado ...................4672 13.546 “ “ Borras de vinho .............................................1500 Proveniente do melaço West Indias 190.455 litros em 40º Melaço destillado no Torreão = 713.824 kilogramas Rendimento % melaço 26,6 litros alcool em 40º Deixei em melaço, para futuros fermentos, 6660 kilogramas Verificação pelo melaço importado: Destillado no Torreão ......................................713.824 kilogramas Melaço restante “ .........................................6.660 “ Destillado na C.ª Nova ....................................273.578 “ Para São Filipe .................................................219.366 “ Total justo pelo importado.............................1.213.428 “ O rendimento do Torreão e C.ª Nova deve ser aproximadamente de 25,8 litros alcool Como vê, para o rendimento que eu calculei para Torreão de 27 litros %, deu apenas uma diferença a menos de 0,4%. Para as duas fabricas, o rendimento foi de menos 1,2 litros % do meu calculo. // [21] Refinação do assucar de Hornung Assucar bruto a refinar – 129.900 kilogramas de 96º polarisação Productos: 66.750 kilogramas assucar BB turbinado (pezo das turbinas) 22.800 “ assucar B2 ordinaria para refinar novamente 89.550 “ assucar total retirado Restou em égoûts ricos de 59% assucar total = 37869 kilogramas calculado pela medida Vou destillar estes égoûts, não sô devido á falta d’alcool, como tambem ter receio de os poder conservar em bom estado até vir novo assucar, cujos égoûts devem produzir aproximadamente 12.495 litros alcool em 40º Pelos meus calculos, este assucar, incluindo o alcool dos égoûts, e tirando as quebras da refinação e despezas da refinação dos 22.800 kilogramas assucar B2, deve dár um lucro bruto de 30:000$00, fazendo o preço do assucar a 4$20 por kilo, e o alcool a 11$00 por litro. Fêz bem ao comprar as 100 toneladas de melaço do Natal, por isso que da Africa apenas vem 100 toneladas, e o preço é vantajoso devido a ser incluido as barricas de ferro, que nos ficará para o melaço d’Africa. Se elle tiver 50% assucar total, é sempre melhor que o d’Africa que somente contem 47,5%, dando assim mais 1,4% alcool. Não sei se H. F.372 quer mais melaço d’este (do Natal), se elle não quiser, tanto melhor. // [22] Quanto ao xarope d’assucar, por emquanto, poucas vendas temos tido a mais, mas não admira, por isso que elles teem receio de não dár em vinhos o que eu calculo, mas quando tenhão feito as esperiencias e verem o resultado, devemos vender bastante para fabrico de vinhos e para sucragem (calda) dos vinhos da Madeira. O preço actual (4$50 por Kilo xarope) é um pouco alto, devido ao preço do assucar que baixou, mas por emquanto acho 372 Henrique Figueira da Silva.

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melhor conservar este preço. Quanto a H. F. vou vêr se elle me diz em que tempo estará em Lisboa, e vêr se consigo que elle lá esteja na 1ª quinzena de Novembro. Na proxima Mala lhe direi o que há. Creia-me seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 17 de Setembro de 1924 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [23] Funchal 17/9/1924 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua carta de 10 do corrente, que muito lhe agradeço, e passo a responder. Falei com o H. F.373 e elle disse-me que sahia para Lisboa, em outubro proximo e que se demoraria em Lisboa até miados de Novembro, e assim está bem como o Senhor Hinton deseja. Quanto á refinação do assucar d’Africa deve ter em sua mão a minha ultima de 10 do corrente, em que lhe dava o rendimento em assucar e o provavel em alcool. Quanto ao assucar refinado produzido, deve acrescentar mais 2850 kilogramas assucar acrescimo dos lotes feitos, isto é, pezo real do armazem [.] Quanto ao alcool dos égoûts sô posso dár-lhe o que na minha de 10 do corrente lhe calculei, porque está fermentando ainda. Vejo porém que o rendimento em assucar BB e B2 foi de 71,13% do assucar bruto, mas ficando os égoûts bastante ricos. Reduzi estes égoûts a alcool como já lhe disse. Quanto ao novo rateio suplementar, desculpe que descorde da sua oppinião; acho muito cerdo[sic] para pedir novo rateio, por isso que temos alcool ainda para entregar do rateio de 1924, o que é aproximado, para Torreão e C.ª Nova, de 70.000 litros. Como vê sô la para Novembro é que devemos pedir isso. // [24] Quanto ás demoras que sempre tem havido para se obter um rateio suplementar, era na meior parte dos casos por causa da não concordancia entre o senhor Hinton e H. F. em vista do rateio que elle exigia, mas feito que seja o acordo definitivo (se isso for possivel) termina todas as deficuldades e consegue-se mais facilmente. Além d’isso é necessario que os vinicultores sintão a falta do alcool a valer, para elles então se mexerem. Agora, e desde já, vejo difficuldades. Quanto ao que deseja que eu fassa uma espece de relatorio sobre as fabricas de aguardente para enviar a Tristão (Henrique)374, vou fazer isso o melhor que poder, a bem esclarecer o assumpto. Quanto ao melaço do Natal falei ao H. F., e disse-lhe que o Senhor Hinton tinha encomendado do Natal umas 100 toneladas de melaço para esperiencia, que o melaço era mais ou menos egual ao das West Indias, mas que o seu custo tinha sido mais elevado, e assim não sabia se elle queria algum d’elle, porque como vinha o melaço d’Africa muito mais barato, talvez lhe conviesse esse melhor. Elle disse-me que hia vêr isso e que me dizia depois. Como elle é muito desconfiado, naturalmente quer vêr o melaço..., porque tem medo que se importe cousa fina... e por isso não lhe queremos dár?! É necessaria têr paciencia com este amigo... // [25] Um outro assumpto tambem importante: Henrique Tristão escreveu ao Belmonte sobre o rateio que elles querem fazer do alcool sobre a capacidade dos apparelhos de destillação, e pede que eu lhe diga qual será o resultado d’isso. Escrevi-lhe a carta cuja copia lhe envio, e assim o Senhor Hinton verá o que eu lhe disse. Se for acceitavel elle pode mostrar ao nosso advogado em Lisboa. O que eu digo é sempre o mesmo que lhe tenho dito a si, a V. S.375 e B.M.[?], assim como o tenho dito a H. F. Sobre este assumpto falei hontem como H. F., e disse-lhe o seguinte: Como sabes, meu caro Henrique, tenho-te dito cousas e dado conselhos, que não os tens acceite, mas que estou certo tem dado o mau resultado para ti previsto por mim; vejo agora que continua as tuas reclamações sobre o rateio do alcool, e que queres pela capacidade dos destilladores; ora, meu amigo, estaes fazendo o jogo da C.ª Nova, em teu prejuizo e do Hinton, e talvez mais o teu, porque Hinton tem o seu direito de arrendamento da C.ª Nova que não o larga, e fará uma questão judicial que pode levar annos a resolver, e o direito do alcool da C.ª Nova é sempre para elle, emquanto não fôr resolvido judicialmente o contrario. Pensa bem n’isto que val a pena... Elle ficou pensativo, e apenas me disse, que o N. P. e L. [?] dizem que é uma questão facil de resolver e que em breve a fabrica lhe passará ás mãos. Tudo isto são cousas que se resolvem ahi em Lisboa entre o Senhor Hinton e H. F. 373 Henrique Figueira da Silva. 374 Henrique Tristão Bettencourt Câmara. 375 Vitorino José dos Santos.

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Nas licenças dos Alambiques feitas todos os annos, // [26] vejo que na columna em que se tem de declarar a quantidade de alcool que nos propomos Laborar tem somente 3300 litros alcool, mas as duas columnas de destillação podem fazer 6400 litros, isto é, quasi o dobro do que sempre, desde á muitos annos, temos declarado, mas isso não quer dizer que actualmente nos propomos a fazer muito mais. Vou escrever a Henrique sobre este ponto, que eu acho importante, porque elles, nossos amigos, podem pegar n’isso e fazer cavallo de batalha, dizendo que é a nossa declaração. Não lhe parece isso assim? Nas licenças que vamos pedir, diz o Victorino Acciuoly, é que não podemos fazer novas modanças porque não viriam aprovadas; É um caso bicudo! Já recebi mais 50 kilogramas de acido citrico para o fabrico do xarope d’assucar invertido, e essa quantidade vou gastar agora quasi toda, porque tenho encomendas de xarope. Achava conveniente vir mais 50 kilogramas ou mesmo 100 kilogramas, porque estou a vêr que a cousa pega, e podem fazer encomendas e eu não as poder satisfazer. Se concorda, pedia-lhe para enviar mais 50 ou 100 kilogramas acido citrico. Sem mais que lhe tenha a dizer, subscrevo-me Seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 24 de Setembro de 1924 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [27] Funchal 24/9/1924 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua de 16 do corrente, que muito lhe agradeço e passo a responder. C.ª Nova: O rendimento da C.ª Nova, segundo Marinho376, do melaço West Indias, de 23,8 litros % em alcool a 40º Cartiere. Quanto ás cubas, logo depois da Laboração da cana Marinho me tinha dito que estavam um pouco estragadas e que necessitava conserto, mas devido a têr vindo o melaço e haver necessidade de alcool elle não mandou fazer o concerto necessario. Agora logo que terminou o melaço é que eu lhe disse ser occasião de as concertar, e foi n’essa occasião que se vio melhor o mau estado d’ellas quando se tirou o cimento velho. D’este melaço que vem agora não vou dár nenhum á C.ª Nova, por isso que estando as cubas frescas com o cimento novo (que leva pelo menos um mez a seccar bem), não convem estragar o trabalho feito porque custa muito caro. Quanto á refinação do assucar Hornung, na minha ultima dava-lhe o rendimento real em assucar. Quanto ao alcool dos égoûts somente amanhã 25 vou dár principio á destillação do vinhos dos égoûts. A fermentação parecia que nunca terminava!... Os égoûts são muito // [28] ricos e dificeis de fazer uma fermentação rapida. O seu rendimento em alcool deve andar pelo que já lhe disse. Vou dár principio amanhã ao fermento para o melaço do Natal, afim de quando elle chegue poder principiar com as fermentações. O nosso stock (Torreão) hoje é de apenas 1000 litros alcool (!!), e dando os egoûts da refinação e resto do melaço das West Indias uns 14.000 litros alcool é o alcool com que podemos contar até principiar a destillação do melaço do Natal. Quanto a H. F.377 na minha ultima carta eu lhe dizia o que havia: veremos o que elle decide. Quanto á estada de H. F. em Lisboa em Novembro proximo, já lhe disse na minha ultima que elle lá estará até meados do mez de Novembro Envio-lhe uma copia do memorial sobre fabricas de aguardente como me pedio, e que vou enviar ao Henrique Tristão378 outra egual. Victorino dos Santos está furioso... é um homem tambem deficil de comprehender, e eu confesso, nem sei o que elle quer... Elle diz tanta cousa e tão desencontradas opiniões, que confesso não percebo nada!... O que eu vejo claro é que elle com as suas exigencias, justas ou não // [29] justa [sic], pode embrolhar tudo isto, e acho de grande conveniencia que quando se fassa o pedido para o rateio suplementar o Senhor Hinton já cá estivesse. Dou-lhe este conselho que me parece bom. Um d’estes dias tive com elle uma pequena altercação (mas ficou tudo em bem) por elle me dizer que o Senhor Hinton tinha toda a vantagem de não comprar cana, para poder fazer alcool de melaço importado!!!. Foi necessario eu lhe dár a minha palavra d’honrra, de que o alcool feito directamente da cana nos dava mais lucro do que o alcool do melaço importado, o que é verdade. Disse-me tambem que estando nós a vendermos o alcool quasi todo para desdobramentos e não para vinhos, como é que queriamos para o futuro um novo rateio suplementar?! Isto tambem me fêz perder a cabeça, visto eu saber que elle e os seus socios (?) o querem desdobrar!! Ou o homem perdeu a cabeça, ou então não percebo nada... Contra Belmonte e Velosa, isso 376 Marinho de Nóbrega. 377 Henrique Figueira da Silva. 378 Henrique Tristão Bettencourt Câmara.

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então diz o diabo!... É por tudo isto que eu lhe aconselho a estár aqui na occasião do pedido do novo rateio suplementar. Disseram-me hontem, não sei se como balão de ensaio se com verdade, que querem pedir ao Governo a entrada do alcool do Continente, por haver falta d’alcool na Madeira, (naturalmente para desdorar[sic]?!). Creia-me seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 1 de Outubro de 1924 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [30] Funchal 1/10/1924 Ex. Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua carta de 23 do ultimo que muito lhe agradeço. Vejo que o Senhor Hinton tem desejo que eu estaja em Lisboa na occasião do lá estar, isto é, em Novembro proximo, e como do seu desejo telegrafei hoje para o Crispin “Yes”. Eu pouco poderei fazer, mas junto consigo podemos combinar qualquer cousa ou mesmo dár indicações que lhe podem ser vantajosas, e assim tambem me parece que a edeia não é de toda má. Como H. F.379 se dá bem comigo, ainda que me chama manhoso, contudo posso deitar agua na fervura... Partirei d’aqui no fim d’este mez afim de poder estar em Lisboa em fins do corrente ou principio de Novembro, se não mandar o contrario. Quanto ao trabalho aqui das fermentações, como vou deixar tudo em ordem; Avelino380 seguirá as minhas indicações. Vou sahir sem dizer nada a ninguem. Terminei a destillação dos égoûts da refinação, e vejo que a quantidade d’alcool em 40º foi de 15.485 litros, e não 12.495 litros como tinha calculado e dito na minha carta de 10 do ultimo; assim o lucro bruto não será de 30 contos mas sim aproximados 50 contos. Esta diferença é devido ao calculo da quantidade dos égoûts, que vejo não correspondeu ao real. O rendimento // [31] % égoûts foi de 35,54 litros alcool em 40º, e assim está certo. Os égoûts em logar do meu proximo calculo de 37.869 kilogramas deve ser 43.565 kilogramas Melaço do Natal: Este melaço não veio, o que nos vai fazer algum transtorno, por isso que sô podemos contar têr hoje um stock de 8.500 litros alcool. Já tinha o fermento em condições de principiar com as fermentações, amanhã mesmo, e assim tenho que o conservar até á Quinta-feira proxima. Deus queira que elle venha. Como temos ainda tempo bastante até ao fim d’este mez, no caso de se lembrar de alguma cousa que eu possa levar d’aqui, taes como notas etc., era bom me dizer, contudo vou levar o que me possa habilitar a responder a qualquer pergunta em Lisboa feita por esses typos d’ahi. O Cambio é que está a descer brutalmente, e tenho receios do preço do alcool no novo rateio suplementar. Calculo que nos falte (Torreão) aproximados uns 20.000 litros para concluir o rateio de 1924, e C.ª Nova 33.000 litros, será um total de 53.000 litros. Vindo as 100 toneladas do Natal, e H. F.381 se não levar algum, devemos ter para Torreão 26 a 27000 litros, isto é, com o melaço do Natal, Torreão completa o rateio de 1924. Creia-me seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // mo

[DATA: 18 de Outubro de 1924 DESTINATÁRIO: Henrique Tristão Bettencourt da Câmara] [32] Funchal 18/10/1924 Meu Caro Henrique Depois de te escrever a ultima carta á preça, refleti sobre o assumpto e vejo o seguinte: 1º Poderia-se fazer extraviar ahi a licença pedia[sic], e assim pedirmos a nova com a columna a mais como indicavas pelo teu telegrama. Isto porém é perigoso, no caso de não dar o resultado que contamos, isto é, fazerem aqui questão por ter um destillador a mais. Para isso é conveniente conservar as licenças antigas na tua mão, para o caso de qualquer increnca retirares as novas (se poderem hir) e apresentar as primeiras. Compreendes bem qual a minha edeia, não é verdade? 2º Como eu creio que H. F.382 deve fazer o mesmo (?), é minha opinião ser franco com elle, quando ahi eu estiver e o Senhor Hinton, e dizer-lhe que nas condições em que estamos (nós e H. F.) ficamos projedicados[sic] pela C.ª Nova, ainda que o Senhor 379 380 381 382

Henrique Figueira da Silva. Avelino Cabral. Henrique Figueira da Silva. Henrique Figueira da Silva.

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Hinton tem o arrendamento da Fabrica pelo tempo que a Justiça quezer (?), mas como o Senhor Hinton quer um acordo com H. F. em todos os pontos, e ningem pode prever o futuro, é conveniente para os dois, que as cousas se fassam com regularidade desde já. Deveremos esperar pois para o principio de Novem-//[33]bro, quando os 3 ahi estiverem. Isto que eu te digo com relação a H. F. fica entre nós até que o Senhor Hinton concorde n’este ponto. As liçenças podem ser apresentadas até fins de Novembro, de forma que temos tempo para resolver isso tudo ahi. Contudo farás o que intenderes, porque isto são edeias minhas, e como tens ahi o Advogado da Casa elle melhor te poderá aconselhar. Felizmente o Loreno está prezo (?) e Deus o conserve n’essa situação pelo menos até Dezembro... H. F. deve seguir para Lisboa a 21 ou 22 do corrente, e eu a 31 pelo “Sierra Cordoba”, se Deus assim quizer: Mandarei telegrama. Um abraço de teu primo e amigo, e até á vista. Teu [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 22 de Outubro de 1924 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [34] Funchal 22 outubro 1924 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Na quarta feira passada não lhe escrevi pelas seguintes rasões: Tinha hido ao Santo no sabado vêr a familia e voltei na quarta feira ás 3 1/2 horas da tarde, mas ao chegar tive um aborrecimento particular e fiquei com a cabeça de tal forma que não estava em condições de lhe escrever além d’isso pouco tinha que lhe dizer, desculpe pois a falta. Melaço do Natal: Depois da recepção do melaço medi o tanque grande para verificar se a medida calculada pelo pezo me dava certo, encontrando porém menos pezo do que a factura, mas tambem vi que para uma pequena quantidade a medida não corresponde exactamente. Pela medida feita nos tanques da destillaria vejo que o pezo está certo e deu mesmo mais, isto é, o melaço deu 102.470 kilogramas, quando as 100 toneladas inglezas seria 101.600 kilogramas. Terminei hoje a destellação d’este melaço dando-lhe um rendimento de aproximado 28,5 litros % em 40º Cartiere, o que é um bom rendimento. Apparelho de destillação: Pela copia da carta que enviei a Henrique Tristão383 deve o Senhor Hinton compreender a vantagem da montagem da nova columna, para augmentar a capacidade de destillação, e como // [35] Henrique tem em Lisboa as cousas arranjadas para apresentar o novo pedido de liçença, dizendo que as primeiras de[sic] extraviaram, se a cousa passar sem deficuldades, o que espero, ficamos com uma capacidade de 6800 litros alcool total a 96º, em logar de 3300 litros pelas licenças antigas. C.ª Nova tem 2400 litros, e H. F.384...? É isso que não sei ainda, por isso que H. F. ainda não fêz o pedido de licença. Mesmo que elle augmente n’unca pode hir além de 3000 litros, e assim caber-lhe-ha 24,6% do rateio. Em Lisboa veremos isso melhor, mas C.ª Nova não pode têr semelhante rateio, porque assim, sendo feito pelo alcool declarado nas licenças, ficaria: Torreão ––– 55,6% = 6.800 litros São Filipe –– 24,6% = 3.000 “ C.ª Nova –– 19,8% = 2.400 “ Devo sahir d’aqui a 31 do corrente, e estarei em Lisboa a 2 de novembro, isto é, quasi no mesmo dia que o Senhor. Melaço d’Africa: Este diabo é que ainda não chegou, e já tinha os fermentos promptos, e tenho medo não me falte melaço para continuar a aguentar os fermentos; Em fim vou fazer o melhor que puder. Todo o melaço vai ser destillado no Torreão, porque, como Belmonte falou com o Pinheiro, o alcool das Farmacias, borras de vinho e alcool para vinhos surdos não fazem parte do rateio, e assim ainda teremos muito alcool a fezer para concluir o rateio. É muito melhor assim por causa do preço. Creia-me seu Amigo Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 31 de Dezembro de 1924 DESTINATÁRIO: Estabelecimentos Herold, L.da; LOCAL: Lisboa] [36] Funchal 31 Dezembro 1924 Ill.mos Senhores Establecimentos Herold, L.da Lisboa Em meu poder a sua estimada Carta de 23 do corrente acompanhada de um prospecto da Casa “Gesellschaft Faer Lende’s Eismasckinen” que muito agradeço, e da qual V.ª Ex.ª são representantes. Vou no proximo anno adquirir uma Machina frigorifica para umas instalações para tratamento de vinhos, e assim estou tratando de conseguir orçamentos a vêr o que melhor me convem, e como V.as Ex.as oferecem me dar todas as indicações para o 383 Henrique Tristão Bettencourt Câmara. 384 Henrique Figueira da Silva.

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dito fim, e isso já se vê sem compromiço, vou-lhe indicar o typo de machina que desejo. 1º Um compressor a ammoniaco da capacidade de 6000 e 7000 frigories-hora. 2º Caixa geradora de gelo ou congelação de salmoura com 12 latas de congelação para produção de gelo. Esta caixa deve ser provida de uma pequena bomba centrifuga para a circulação da salmoura incongelavel não somente na caixa como para outros arrefecimentos. 3º Considerar a agua de condensação a 25º Centigrados temperatura Força em Horse Power? (indicar) De V.as Ex.as – Muito Attencioso e Venerador [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 7 de Janeiro de 1925 DESTINATÁRIO: Gesche & Schnitzer] [37] Funchal 7 Janeiro 1925 Ex. Senhores Gesche & Schnitzer Amigos e Senhores Desejava saber preços de frigorificos da Alemanha, isto já se vê sem compromisso, nas seguintes condições: Uma machina frigorifica completa para 6000 frigories hora “ “ “ “ 7000 “ “ Compressor a Ammoniaco. Caixa geradora de gelo ou refrigeração do saumeur ou brine. Esta caixa deve ser provida de uma pequena bomba centrifuga para circulação do saumeure incongelavel não somente na caixa como para outros arrefecimentos. Qual a força necessaria em Horse Power para cada um dos compressores indicados acima, e outros dados elucidativos Esperando a sua resposta Subscrevo-me seu Attencioso Amigo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // mos

[DATA: 13 de Janeiro de 1925 DESTINATÁRIO: Frederico Soares ?] [38] Funchal 13 Janeiro 1925 Meu Caro Amigo Frederico 2[sic] Soares Conforme combinamos, envio-lhe a nota dos apparelhos que eu desejava obter, isto já se vê sem compromisso. A deficuldade porém está nos direitos pagos na Alfandega, que sendo de urigem franceza paga o triplo, sô se elles podem exportar de um porto da Belgica e como de urigem Belga. Quanto ao filtro “Gasquet”, tenho catalogos de F. Malvezim para um typo mais ou menos egual e da mesma capacidade, que fáz uma diferença a menos do Gasquet de aproximado 1.800 francos, e n’estas condições não val a pena falar n’elles. Pasteurisateur: Para este apparelho desejava um orçamento para um Pasteurisateur de G. Pepin Fils Ainé-Bordeaux, que possa pasteurisar 1000 a 1200 litros de vinho por hora, que será alimentado por pressão natural, typo do Catalogo que me enviou. Espero pois, como me prometeu, pedir este orçamento a Casa A. Quintanilha & C.ª de Paris. Sou seu Amigo Certo e Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 20 Janeiro de 1925 DESTINATÁRIO: Estabelecimentos Herold, L.da; LOCAL: Lisboa] [39] Funchal 20 Janeiro 1925 Ill.mos Senhores Establecimentos Herold, L.da Lisboa Amigos e Senhores Acuso a recepção da sua estimada carta de 14 corrente assim como Impressos com dois catalos[sic] elustrados. Agradeço a promptidão da sua resposta ao meu pedido, e com ellas ja posso fazer um edeia aproximada do custo do frigorifero que desejo montar no futuro proximo, isto é, para depois de Junho do corrente anno, porque antes d’isso não tenho tempo para tratar de outros assumptos que não seja a industria de açucar da Casa Hinton. Vejo porém nos Catalogos que a força em Calorias das machinas é de entre 5000 a 10000 frigories hora, e assim terei que adquirir um de 10.000 frigories porque a de 5000 frigories é pequena para os fins que desejo.

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O que eu pretendo é um “Renania” de 10.000 frigories hora ou um edentico da “Linde”. O meu principal fim é ter a salmoura incongelavel para a fezer circular em cubas. O fabrico do gelo é secundario. A instalação porém da refrigeração das cubas desejo eu fazel’as // [40] aqui mesmo na nossa fabrica, e sobre a minha direção, nos nossos atelieres de construção, e assim apenas necessito o que no Catalogo da Maschinenfabrik Surth esta indicado a paginas 15 (Renania de 10.000 frigories), isto é, um compressor, condensador, bomba centrifuga de circulação da salmoura e caixa de produção de gelo. Como tenho um motor a petrolio bruto de 8-10 Horse Power e como com agua na media de 25º Centigrados temperatura, vejo que este motor deve dár para o compressor de 10000 frigories. O Devis que me enviaram para um frigorifero de 10000 frigories hora com vaporisador “Zet” cujo preço aproximado é de £ 140.0.0 Cif Tejo, deve naturalmente ser o mesmo que cif. Funchal? Pedindo pois a V.as Ex.as uma demora da minha final resolução para Junho proximo, subscrevo-me com a maior consideração De V.as Ex.as Muito Attencioso e Venerador [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 13 de Março de 1925 DESTINATÁRIO: Estabelecimentos Herold, L.da; LOCAL: Lisboa] [41] Funchal 13/3/925 Ill. Senhores Establecimentos Herold, L. Lisboa Amigos e Senhores Acuso a recepção do seu memorandum de 17 ultimo assim como da sua carta e devis de 26 Janeiro ultimo, o que muito lhe agradeço. Não respondi mais cedo á sua de 26 Janeiro ultimo, por isso que na minha de 20 Janeiro lhe dizia que tomaria nota das suas ofertas mas somente em Junho ou Julho me poderia decidir em qualquer encomenda a fazer Vejo porém com surpresa que entre o preço provavel da machina frigorifera da sua Carta de 14 Janeiro de 10.000 frigories hora era de £ 140, e pela sua de 26 do mesmo mez o preço esta cotado em £ 214, isto é, mais £ 74 para a mesma machina e ainda sujeito á confirmação da fabrica. Achei isto extraordinario e por isso vejo que o material d’este genero na Alemanha sobe tão rapidamente. Tenho preços de outra procedencia muito mais rasoaveis Crea-me de V.as Ex.as Attencioso Venerador [Ass:] João Higino Ferraz // mos

da

[DATA: 3 de Julho de 1925 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [42] Madeira 3 de Julho 1925 Meu Ex. Amigo e Senhor Harry Hinton Com relação á sua estimada carta com data de hoje, estou perfeitamente de acordo em todos os seus pontos, por isso que concorda com a minha petição feita em carta em 30 de Dezembro de 1922. Quanto á importancia de duzentos mil escudos (200:000$00) que me faz o grande favor de me emprestar, pelo que lhe fico muito grato, tambem estou de acordo na forma de liquidação como propõe na sua mesma carta, e dar-lhe-hei a garantia que deseja. Agradecendo-lhe mais uma vez de todo o coração a sua boa vontade de me ser agradavel, creia-me sempre seu Amigo verdadeiro [Ass:] João Higino Ferraz // mo

[DATA: 15 de Setembro de 1925 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [43] Funchal 15 Setembro 1925 Ex.mo Amigo e Senhor H. Hinton Recebi uma carta do Avelino385 e junto algumas analyses feitas por elle no Cassequel, cuja carta tem a data de 19 agosto. Vejo que Avelino lhe escreve tambem por isso que recebemos uma carta registada para si, e que lhe vai ser enviada, e naturalmente deve-lhe tambem enviar as notas das analyses. Em todo o caso vou fazer em separado a esta um resumo das analyses mais interessantes e os calculos provaveis, ainda que somente com o raporte geral, que Avelino deve trazer, se poderá com mais firmeza e segurança vêr melhor os resultados reaes que poderemos obter na nova fabrica. A carta do Avelino é longa 385 Avelino Cabral.

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e diz varias cousas interessantes, mas por agora somente lhe apresentarei, com dados á vista, o resultado que poderemos obter de futuro. O vapor com o assucar e o melaço deve chegar amanhã, de forma que nada lhe posso dizer, o que vejo pela carta do Avelino é que o assucar (mal cristalisado e turbinado) apenas // [44] deve conter 95,5 polarisação (10 analyses de Avelino), e o melaço tem em media 46,3% saccharose directa mais glucose. Elle não poude fazer o Clerget por falta de material de laboratorio. O melaço, segundo Avelino, é todo da presente colheita. Segundo as suas ordens telegraficas, Belmonte disse-me que tinhamos de receber o melaço, o que é pena, visto termos ainda um stock elevado d’alcool, e pelos meus calculos somente necessitavamos melaço em Novembro proximo. Como não há necessidade de o fermentar já, vou conserval’o no tanque grande até Novembro, que é quando principia a fermentação para aproveitar as temperaturas baixas. Quanto ao assucar bruto, como temos ainda assucar da Laboração, somente refinarei quando venha o novo Carregamento, para assim ficar mais economico na despeza. Os poços de cimento armado para a fermentação estão em andamento e talvez na proxima semana se principie a encher os moldes. Contudo não os vou empregar sem que o cimento estaja bem seco, e vêr se lhe dá a camada de parafina. O cozedor e saccharificador (do Milho) já estamos montando. // [45] O apparelho de retificação deve ficar concluido em breve, e o trabalho de raparação vão bem feitos. Pouco mais tenho que lhe dizer, e se mais alguma cousa houver lhe direi em outra carta. Creia-me Seu Amigo Muito Obrigado [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: ? CARACTERIZAÇÃO: Notícia dos resultados da fabrica de açúcar da Sociedade Agrícola do Cassequel, a partir de informações fornecidas por Avelino Cabral, e estimativas feitas por Higino Ferraz da produção de açúcar numa nova fábrica a ser implantada pela mesma Sociedade] [46] Resultados do Cassequel, segundo os dados enviados por Avelino386. Extração media 85,5% do assucar da cana. Cana com 13,8 % assucar. Imbibição de 7,5% Pureza media da garapa normal 86º Analyses de cana Yuba – 13,8% assucar Fibra 14,57% Bourbon – 14% assucar Fibra 11,27% Cana colhida: (mesma soqueira) Não queimada fresca. Analyse garapa: Queimada: Brix —————— 17,94 17,24 assucar % centimetros cubicos 17,25 16,28 Pureza 89,35 88,05 Coefficiente glucosico 1,15 1,45 Vê-se que tem a cana queimada uma perda de 1,3 de pureza, com perda em assucar de 0,97%, o que deve dár % cana 0,77 assucar transformado (?!!) queimado. Em 1000 toneladas cana será 7700 kilogramas assucar!! Quanto á cana limpa na fabrica, calculou Avelino uma perda (palha e sabugos) de 7,48% no pezo. // [47] Cassequel, segundo notas de Avelino: Colheita actual – 3 semanas: Extração media 85,5% – Imbibição 7,5% Rendimentos: Em turbinado de 95,5 polarisação (?) 9,3 % =.............8,881 assucar puro 3 kilogramas melaço a 50% assucar Clerget (?) ........ 1,500 “ “ 386 Avelino Cabral.

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Por meu calculo

Perda no bagaço ás caldeiras .................2,001 “ “ “ nas borras .....................................0,357 “ “ “ Indeterminadas ......................... 1,061 “ “ 13,800 Meu calculo para a nova fabrica Cana Yuba com a mesma percentagem acima: Defibreur, 4 engenhos e imbibição minima 20% Extração calculada de 95% Assucar extraido = 13,8 x 95 = 13,11 %, que turbinado em bruto = % de 96º polarisação, 100 deve dar um rendimento de 85% em turbinado = 11,14 assucar% de 96º de polarisação. Calculo % cana: Em turbinado de 96º polarisação 11,14 = 10,695 % assucar puro Perda no bagaço = 0,960 % “ “ nas borras = 0,200 % “ Perdas Indeterminadas maximo 0,400 % “ 3,630 kilogramas de melaço a 50% assucar Clerget 1,815 % “ 13,800 Salvo Erro ou Omissão. [Ass:] João Higino Ferraz //

{

[DATA: 23 de Setembro de 1925 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [48] Funchal 23/9/925 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Recebemos o melaço da Ganda (Cassequel) que depois de estar no tanque grande mostrou o pezo (pela medida) de 144.400 kilogramas emquanto que a factura (tirando o melaço pezado para H. Figueira387) dá 142.109 kilogramas dando pois um acrescimo para nós de 2291 kilogramas O melaço tem uma alta densidade (1410), tendo aproximado 52,3 % assucar total. Calculando os infermenticiveis, este melaço pode dár um rendimento de 26,8 litros alcool em 40º %. Quanto ao assucar não fiz a analyse ainda mas vejo que a sua côr em logar de ser amarelada é de pardo claro. Não se tirou amostras visto não ser necessario determinar a polarisação para o seu pagamento (será assim como diz o Costa388?). Se acha necessario tirar as amostras desde já mande-me dizer. Creia-me seu Amigo Certo e obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 1 de Outubro de 1925 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [49] Funchal 1 outubro 1925 Ex. Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua carta de 21 do próximo passado o que muito lhe agradeço e a que passo a responder. Dou-lhe os parabens por se vêr livre de Vichy, mas estou certo que será sempre melhor do que o Funchal? Tem razão em dizer que nunca vio orçamentos de fabricas de assucar com tantas diferenças de preços, mas isto hoje é tudo assim. O que eu vejo é que o orçamento da Casa Mirrlees389 é a mais vantajosa e é uma boa casa, e é por ella que vou fazer os calculos conforme a minha fraca inteligencia me dita. Pelas notas dadas por Costa390 ha umas deficiencias que lhe farei notar no meus [sic] calculos, e uma d’ellas é as vias ferrias para transporte de canna que para uma fabrica de 1000 toneladas cana em 24 horas não pode ser feito por pequenos Decovelles mo

387 Henrique Figueira da Silva. 388 António Costa. 389 Cf. Mirrlees Watson Co., Sugar machinery [ca. 1907]. A Casa Mirrlees Blacstones foi fundada em 1840 em Glasgow pelos irmãos Peter, William e Andrew McOnie, com a designação de P & W McOnie, para se dedicar à construção de maquinaria para o fabrico de açúcar. Com a entrada em 1848 de Mr J.B. Mirrlees passou a designar-se de McOnie and Mirrlees. 390 António Costa.

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e wagonettes. Outra é elle calcular que no 1º anno se pode cultivar 1000 hectares de terreno o que acho um pouco forte, não lhe parece? Quanto á capacidade dos apparelhos da nova fabrica, vendo bem os meus calculos, devem corresponder aos de Mirrlees, a não ser o Tuadruple-effet[sic] que é de menor capacidade de evaporação, mas isso é devido a que elle // [50] construi o apparelho com tubos de 25 millimetros que faz grampage e por conseguinte mais evaporação, emquanto que eu calculei tubos de 50 millimetros como os de Harvey. Mas como isto são cousas de mechanica technica ficará para depois. Quanto á transformação do orçamento tal qual elle está para fazer a nova forma de tratamento das garapas, calculo que os preços devem ser aproximados os mesmos, visto termos que tirar uns para substituir por outros, que não fará grandes diferenças de preços. Depois veremos isso. Xarope d’assucar: O xarope tem sido analysado e está perfeitamente invertido, por isso que, em logar de fazer a ebulição de 2 horas, fasso de 2 1/2 horas: É o mais que posso fazer. O peor é que calculei vender bastante xarope para vinhos (novos) mas com a baixa de preço do mosto (25$00 a 30$00) não fáz a conta; é pena... Nunca vi tanto disparate... está tudo louco, principalmente os exportadores. Sem mais que lhe possa dizer, visto Belmonte lhe escrever tambem mais detalhadamente, subscrevo-me seu Amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: ? DESTINATÁRIO: Harry Hinton CARACTERIZAÇÃO: Estimativa dos custos da implantação de uma nova fabrica de produção de açúcar, a expensas da Sociedade Agrícola do Cassequel, em Angola, assim como cálculos hipotéticos acerca de produção de cana de açúcar, custos de mão-de-obra, outras despesas, lucros nos primeiros anos de laboração, etc.] [51] Calculos sobre a nova fabrica de assucar no Loge Valor da propriadade do Costa391 no Loge calculada em 4000 hectares ............................................£ 10.000 Predios e machinas existentes ........................£ 5.000 Total valor entrado Costa.................................£ 15.000 Novas instalações: Pelo orçamento de Mirrlees: 50% do valor de £ 22907 para reiles, locomotivas wagões [sic] de capacidade para 1000 toneladas em 24 horas ..... £ 12.000 Apparelhos de lavoura completos ..............................“ 6.000 2 lanchões de rio de 100 toneladas ............................“ 3.000 1 rebocador “pequeno........................................... “ 500 Construção do assude no rio ..................................... “ 1.700 Fabrica de assucar para 1000 toneladas cana em 24 horas completa [sic] .......................................“ 93.210 Predio em ferro completo para Fabricas ................... “ 9.823 Transporte material, montagens etc.? .........................“ 20.000 Predio habitação pessoal branco e hospital etc.? ..............................................................“ 5.000 Total provavel .....................£ 151.233 Valores entrados por Costa........£ 15.000 Total montado .....................£ 166.233 Em 3 annos devemos ter cultivado de cana aproximado uns 2000 hectares, que ao rendimento calculado por Costa em 70 toneladas por hectare dará 140.000 toneladas cana, que divididas pelos 3 annos dá aproximado 47.000 toneladas cana no 1º anno, // [52] 94000 toneladas no 2º anno e 140.000 toneladas no 3º anno. No 1º anno cultivamos 700 hectares, e nos annos seguintes pouco mais ou menos o mesmo até prefazer os 2000 hectares Calculos para o 1º anno de fabrico 391 António Costa.

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700 trabalhadores pretos em 13 mezes (?) 12 empregados brancos a £ 300 Empregados technicos, medico etc Productos chimicos etc. Laboração Despezas totaes (?)

£ 11.000 £ 3.600 £ 2.500 £ 1.000 £ 18.100

Productos: 47000 toneladas cana a 11% rendimento em assucar de 96º polarisação = 5170 toneladas assucar a £ 10 (?) por tonelada £ 51700 3,600 kilogramas melaço % = 1692 toneladas a £ 2 £ 3384 Total productos £ 55084 Resultados do 1º anno de Laboração: Despezas calculadas acima £ 18.100 Juro do capital calculado para uma industria assucareira a 10% £ 16.624 Amortisação capital total a 10% £ 16.624 Total £ 51.348 Productos totaes 1º anno £ 55.084 Diferença ou lucro £ 3.736 // [53] No 3º anno, o lucro calculado deduzindo as amortisações de 10% dos primeiros 3 annos, ficará um capital para o 4º anno de £ 116.361, o seguinte: 2000 trabalhadores pretos em 13 mezes £ 31.200 Empregados brancos £ 3.600 “ technicos etc. £ 2.500 Productos chimicos etc £ 3.000 £ 40.300 Productos: 140.000 toneladas cana a 11% rendimento em <assucar> de 96º polarisação = 5170 toneladas assucar a £ 10 ......................................................... 154.700 3,600 kilogramas melaço % = 5040 toneladas a £ 2 .........................£ 10.080 Total productos ...................................................................................£ 164.080 Despezas calculadas em..................£ 40.300 Juro capital inecial de £ 166.233 a 10% .............................................£ 16.624 Amortisação capital reduzido .........£ 11.636 £ 68.560 Total productos.....£ 164.080 Diferença ou lucro no 3º anno ....£ 95.520 Teremos assim que no fim do 3º anno de laboração pode a C.ª assucareira dár um devidendo de 57 a 60% do capital inecial, devido aos lucros do 1º e 2º anno. Não está incluido n’estes calculos o que a // [54] propriadade do Loge pode produzir além da cana de assucar, taes como, a principal, a creação de gado para exportação em carnes congeladas para Portugal ou outros Payses, o que é importante. Isto que aqui lhe digo pode não estar certo, mas emfim poderá servir para sua orientação. Acabo agora mesmo de receber uma outra carta sua (vinda de Lisboa) com data de 24 ultimo. Como diz na sua ultima carta que deseja que eu vá ahi a Londres para me avistar consigo, pedia-lhe para me telegraphar com uns dias de antecedencia da minha partida para eu poder preparar as minhas cousas a tempo, porque confesso, nem fato tenho em condições para sahir d’aqui. Achava bem o Marsden tambem hir. Não deveria tambem sahir sem que Avelino392 venha, para elle poder tomar conta da fabrica no caso de ser necessario refinar assucar ou fazer alcool. Esperando as suas ordens Crea-me seu amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz // 392 Avelino Cabral.

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[DATA: 28 de Outubro de 1925 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [55] Funchal 28/10/925 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua carta de 15 do corrente que muito lhe agradeço. Vejo que pensa em montar por emquanto uma fabrica para 600 toneladas canna em 24 horas e acho bem assim porque a de 1000 toneladas será muito mais caro, além de outras dificuldades nos primeiros annos, e mesmo talvez lhe fosse dificil conseguir o dinheiro para tão larga industria em vista das condições dos mercados d’assucar. Devem-lhe ter enviado o primeiro rascunho que fiz para uma fabrica de 700 toneladas maximo. Esses desenhos somente mostra aproximadamente a montagem principal, isto é, os pontos fundamentais dos processos de fabrico e o resto será com a fabrica construtora. Refinação do assucar d’Africa: Já terminei a refinação, ficando-me os egouts ricos para reentrar na nova refinação das 400 toneladas a chegar em Novembro proximo. O assucar mostrou-me 95,6 polarisação. Refinei junto com este assucar o assucar bruto que restou da Laboração e que não foi transformado em xarope invertido, na quantidade de 53551 kilogramas assucar com 96,2º polarisação. Já temos espaço para poder destillar o melaço // [56] d’Africa, o que farei em Novembro proximo. As cubas de cimento estão quasi concluidas, mas não farei por emquanto uso d’ellas sem estarem bem seccas, e depois de levar a parafina. O apparelho de cozer o milho e o saccharificador de cobre tambem estão montados e promptos a trabalhar. Falta concluir a canalisação e a montagem do refrigerante novo de Guillebeaud, que até ao fim do corrente devem estar todos montados. O stock d’alcool no Torreão é de 38.658 litros alcool. Tenho pois espaço para poder fabricar 82.000 litros. O melaço d’Africa e égoûts refinação podem dár 64500 litros Fiz mais um pouco de xarope para vinhos e assim fico com os 5 poços de cimento cheios. Deve dár para uns tempos. Espero que seja feliz na constituição da Companhia, porque vejo pela carta que escreveu ao Belmonte ja tem realisados £ 80.000 que é importante. O que deve é têr o maximo cuidado na aquesição da fabrica afim de poder tirar o maximo de resultado industrial. Seria bom a fabrica ser montada de forma que possa ser augmentada a capacidade sem grandes transformações. Crea-me seu Amigo Certo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 3 de Novembro de 1925 CARACTERIZAÇÃO: Respostas a um questionário sobre questões de produção industrial de derivados de cana-de-açúcar, porventura a propósito de empreendimentos a levar a cabo em África] [57] 3 Novembro 1925 Respostas ao questionarios do Senhor Hinton393 ao Engenheiro: 1ª Litros de garapa clarificada por tonelada cana? R. 1050 litros com o jus de diffusão (jus diffusão 240 litros por tonelada) 2ª Temperatura da Garapa? R. Temperatura da garapa sahindo dos rechauffeurs 89º a 90º Centigrados 3ª Quantidade de garapa clarificada bruta que filtra por metro quadrado hora dos Filtros-Presses? R. 22 a 25 litros por metro quadrado hora. 4ª Perção nos Filtros-Presses? R. 1ª perção com a bomba centrifuga – 0,600 kilogramas 2ª “ com a bomba dupla – 3,500 a 4 kilogramas 5ª Media do assucar na garapa clarificada? R. 11,8 a 12% assucar com pureza media 84º 6º Pezo de borra por tonelada cana? R. Em tourteaux duro 20 a 22 kilogramas 7º Litros de xarope a 30º Baumé a filtrar por tonelada cana? 265 litros xarope 8º Percentagem assucar no xarope? R. 46,7 a 47% assucar Temperatura de filtração 90º a 95º centigrados. [Ass:] Ferraz // 393 Harry Hinton.

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[DATA: 5 de Novembro de 1925 CARACTERIZAÇÃO: Notícia da produção de açúcar e alcool em África (Sociedade Agrícola do Cassequel?) e da Laboração de 1925, esta, muito provavelmente, da firma William Hinton & Sons] [58] Resultado da refinação do assucar Africa e Laboração Assucar Africa 144.903 kilogramas de 95,6º polarisação = 138.527 kilogramas assucar a 100º Laboração 1925 53.551 “ de 96,2 polarisação = 51.516 kilogramas assucar a 100º 198.454 “ 190.043 kilogramas assucar a 100º Productos: Em turbinado BBR refinado – 125.685 kilogramas a 99,7 polarisação = 125.308 kilogramas a 100 Egouts a reentrar na nova refinação com 28.728 “ “ Lavagem assucar á Destilação com 30.204 “ 184.240 “ “ Quebra refinado 3,05% ----------------------5.803 190.043 Rendimento calculado: Para o assucar da Laboração 1925: Em turbinado BBR = 44.720 kilogramas a 99,6º polarisação Em alcool 2.945 litros Para o assucar d’Africa: Em turbinado BBR = 99.357 kilogramas a 99,6 polarisação Em alcool = 20.105 litros Salvo Erro ou Omissão. 5/11/925. [Ass:] Ferraz // [DATA: 10 de Novembro de 1925 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [59] Funchal 10/11/925 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Como H. F.394 um d’estes dias me disse que lhe hia faltar alcool e hia ser necessario importar mais melaço, vou fazer-lhe o calculo aproximado do que elle poderia ter feito, e do que temos e podemos fazer para o rateio de 1925: Diz elle que tem pouco alcool e que já terminou a destillação de toda a materia prima. Torreão – Cabe-lhe rateio 1925 = ..............................591.761 litros Até 17 julho 1925 temos feito aproximado =.............238.000 litros Melaço d’Africa vindo a 18/9/925 – dará = .................39.150 “ Do assucar bruto d’Africa a 18/9/925 e Laboração dará = ..................................................... 23.050 “ 300.200 “ Das 400 toneladas assucar a vir n’este mez, Torreão 330 toneladas =..................................... 39.000 “ A fazer provavel até 31/12/925...................................339.200 “ Faltará para concluir o rateio de 1925 aproximado....252.561 litros Que em Janeiro venha mais 400 toneladas assucar bruto cabe a Torreão 300 toneladas que dará ............. 39.000 “ Faltará ainda aproximado............................................213.561 “ Este alcool corresponde a 800 toneladas melaço, ou a 1560 toneladas assucar bruto d’Africa, o que é excessivo para o consumo em refinado (1090 toneladas). Segue o calculo provavel para S. Filipe: // [60] S. Filipe – rateio 1925 = ....................................206.431 litros ? Provavel na Laboração de 1925 .............................100.000 litros 394 Henrique Figueira da Silva.

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Melaço d’Africa 1ª remessa de 18/9/925 .....................13.000 “ Dos égoûts do assucar d’Africa (51 toneladas) de 18/9/925 .............................................. 11.740 “ Fez até Novembro ......................................................124.740 “ Da 2ª remessa assucar (400 toneladas) cabe-lhe 100 toneladas ...............................24.000 “ Recebeu melaço do Sousa Lara 2000 kilogramas..... 540 “ Feito provavel e a fazer até 31/12/925 ......................149.280 “ Falta-lhe assim para concluir o rateio de 1925 aproximadamente 57150 litros alcool. Que em Janeiro 1926 venha mais 400 toneladas assucar d’Africa, cabe-lhe 100 toneladas que lhe dará aproximado = 24.000 litros Faltar-lhe-ha ainda aproximado = 33.150 “ que deve corresponder a 123 toneladas melaço, ou a 140 toneladas assucar d’Africa. Para as duas fabricas: Para concluzão dos rateios de 1925 teremos: Torreão necessita = 800 toneladas melaço ou 1560 toneladas assucar S. Filipe “ = 123 toneladas melaço, ou 140 toneladas assucar 923 “ “ ou 1700 “ “ Por estes calculos vê-se que Torreão necessita mais que S. Filipe de 300 toneladas de melaço, ou 1010 toneladas assucar, recebendo S. Filipe na proporção de 25% das importações. Em assucar bruto é excessiva a importação de mais 1560 toneladas (1090 a 1100 toneladas em refinado). Devemos-nos cingir // [61] á importação de melaço, ainda que se possa importar algum assucar além do meu calculo de Janeiro 1926. H. F. recebeu do Sousa Lara umas barricas de ferro com melaço de Angola do qual elle me mandou uma amostra para eu analysar e que fiz e que me deu o seguinte: Saccharose directa – 32,61% “ Clerget – 35,80 “ Glucose – 20,68 “ Saccarose total – 55,44 “ Pureza 40,71 “ Rendimento provavel em alcool em 40º Cartiere = 28,5 litros % Vejo pois que este melaço é superior ao melaço da Sociedade Agricula da Ganda, mas Sousa Lara não mandou ainda o preço do melaço como H. F. lhe pedio. Vou principiar esta semana na fermentação do melaço d’Africa e dos égoûts da refinação, para o qual já tenho fermento em actividade, a vêr se termino tudo até 15 Dezembro proximo. Eleições: Uma derrota completa!! Belmonte lhe contará. Sem mais que lhe possa dizer subscrevo-me seu Attencioso Amigo Certo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 1 de Dezembro de 1925 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [62] Funchal 1 Dezembro 1925 Ex. Amigo e Senhor Hinton Avelino395 cá chegou muito bem desposto e deu-me o seu relatorio sobre o que vio, observou e analysou. É um trabalho conscensiosamente feito e com bastantes dados explicativos do que é a industria de assucar na Africa portuguesa, e assim foime facil avaliar todas as cousas consernentes ao fim que se deseja. Em vista d’isto vou dizer-lhe o que me offerece sobre o assumpto e os pontos de meior importancia. Primeiro devo-lhe fazer notar que as facilidades que o Costa396 apresenta em todas as cousas é um processo exagerado, e é bom assim estar sempre de sobreaviso. Segundo o relatorio de Avelino e o que elle me diz de viva voz, o ponto principal é a parte agricula, por isso que a mo

395 Avelino Cabral. 396 António Costa.

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propriadade do Loge não tem nada feito n’este sentido. Os arrotiamentos dos terrenos demandão um trabalho insano. Alujamento para o pessoal de campo é indespensavel, tanto para os empregados europeus como para os pretos. Segundo o gerente do Lobito é quasi impossivel no 1º anno fazer a plantação de 1000 hectares de cana, e diz elle que se poder conseguir 600 a 700 hectares é ja um esforço bastante grande, não somente para o arroteamento e aplanação dos terrenos como para se poder obter cana em condições de replantar. // [63] Eu mais ou menos já previa isso, e foi n’estas condições que calculei no 1º anno poder trabalhar com 700 hectares somente. Isso de 1000 hectares no 1º anno é um exagero do Costa!... Aos calculos que lhe fiz e enviei em 1 outubro do corrente quanto ao rendimento provavel da nova fabrica, pouca diferença fáz, depois de analysado o relatorio de Avelino. Pelas medias das analyses de Avelino vejo o seguinte resultado: Saccharose na cana – 13,5 % medias Ligneux (bagaço) – 15 % “ Pureza media na garapa 89º Coefficiente sumo na cana pode-se calcular 79 litros % cana. Por estes dados medios posso establecer o seguinte calculo de rendimento minimo para uma fabrica racionalmente montada em boas condições de trabalho industrial e technico, tendo engenhos com defibreur e 4 moendas, imbibição de 20%, podendo fazer uma extração minima de 95% do assucar da cana. Com assucar bruto de 96º polarisação o rendimento em turbinado não deve ser inferior a 87% do assucar extrahido, e assim cana com 13,5% assucar com extração de 95%, dará 12,825 assucar extrahido, a 87% em turbinado bruto de 96º polarisação = 11,157 assucar de 96º polarisação = 10,710 a 100º Establecido isto assim vamos vêr qual o resultado geral % cana. // [64] Calculo geral % cana Rendimento em turbinado de 96º polarisação 11,157 assucar = 10,710 assucar a 100º Perdas no bagaço = 0,675 “ “ Perdas nas borras Filtros-Presses = 0,200 “ “ Perdas indeterminadas = 0,365 “ “ “ “ 3,160 kilogramas melaço a 49% assucar total = 1,550 13,500 Segundo as notas de Avelino, o rendimento de uma semana no Cassequel, foi o seguinte: Calculo % cana Em turbinado branco e escuro 9,500 á media 96,5º polarisação = 9,167 assucar 100º Perdas no bagaço = 1,850 “ Perdas nas borras Filtros-Presses 0,150 “ 2,440 kilogramas melaço a 52% assucar total = 1,270 “ Perdas indeterminadas = 1,063 “ 13,500 A extração foi pois de 86,3 % do assucar da cana. O rendimento em turbinado foi de 81,5 % do assucar extrahido Dei principio á refinação do assucar vindo ultimamente (400 toneladas) e á destillação do melaço d’Africa e égoûts refinação. Sem mais que lhe possa dizer, sou seu Attencioso Amigo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 28 de Dezembro de 1925 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [65] Funchal 28/12/925 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Primeiro que tudo desejo-lhe uma boa saude assim como a sua Ex.ma Esposa e que tivessem umas Festas felizes, e que o novo anno 1926 lhe seja propero[sic]. Recebi a sua carta de 12 do corrente e o Scheme, copia o meu mal alinhavado, mas estes muito chique. Esta tudo nas mesmas

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condições, o que me agrada bastante por vêr que aprovaram os meus calculos e desposição de fabrico. Somente tem a diferença de ter 4 condensadores barometricos em logar de um central com ballão tambem central. Vêjo o que me diz sobre as casas constructoreas Mirrlees e Flectcher, e isso de ellas entrarem com algum capital e darem prasos seria uma bella cousa. Em França algumas casas constructores de aparelhos fazem isso mas é somente para fabricas que sejam montadas no proprio pays. Se conseguir que essas em Inglaterra fassam o mesmo para uma fabrica montada na Africa portuguesa, pode ter a certeza que meteu uma lança em Africa... Pode ser, por isso que o capital é quasi todo inglez. Calculo o frio que o meu amigo tem tido ahi, porque pelos radiogramas que se recebe aqui, a neve em Londres é de quasi 1 /2 metro!!... Será assim? Para quem está habituado ao clima da Madeira isso deve ser o diabo. // [66] A refinação do assucar (ultimo) d’Africa foi feita por refinação directa do assucar bruto, isto é, sem lavagem previa do assucar visto o Belmonte me dizer que o assucar não daria para o consumo tirando pouco assucar refinado e mais alcool. O assucar porem não ficou tão branco como com a lavagem previa, isto é, ficou muito ligeiramente amarellado; é um typo como o BB antigo. O resultado foi o seguinte, calculando por tonelada bruto: Polarisação do assucar bruto 96º Rendimento Em turbinado BB, por tonelada bruto = 805 kilogramas Em alcool (calculo provavel) “ = 68 litros Feito o calculo em escudos dá Custo da tonelada assucar bruto na Fabrica 1:460$00 Despezas de refinação e alcool 248$00 1:708$00 805 kilogramas assucar BB a 2$30 = 1:851$50 68 litros alcool a 9$00 = 612$00 2:463$50 Lucro bruto 755$50 por tonelada O assucar da refinação anterior com 95,6º polarisação deu: Em turbinado BBR por tonelada bruto = 685,700 kilogramas Em alcool = 138,5 kilogramas Feito o calculo em escudos nas mesmas condições: Custo da tonelada assucar na Fabrica – 1:460$00 Despezas de refinação e alcool 340$00 1:800$00 (com lavagem previa do assucar bruto) segue // [67] 68,700 kilogramas assucar BBR a 2$3 ..........1:577$11 138,5 litros alcool a 9$00 ......................................1:246$50 2:823$61 Custo total ..............................................................1:800$00 Lucro bruto..............................................................1:023$61 Como vê o assucar com lavagem previa dá mais lucro do que o outro, em vista da quantidade de alcool produzido, que é o doubro, e do seu preço (9$00). Em todo o caso, mesmo refinando directamente, o resultado é bom, mas a qualidade do assucar é que não é tão bom como o feito com o assucar lavado previamente. Vejo-me pois na necessidade da nova remessa a vir, fazer em todo elle a lavagem do assucar antes de o refinar, para se poder bem competir com os assucares brancos importados, e como não temos uma grande quantidade d’alcool em Stock, convem fazer mais alcool dos égoûts da refinação. Terminei todo o melaço e égoûts existentes no dia 23/12 e estamos destillando, o que deve ficar tudo terminado a 10 Janeiro 1926 pouco mais ou menos 28/12 O stock d’alcool no Torreão é de............44.502 litros Provavel a produzir aproximado............36.000 “ 80.502 “ Da refinação do assucar d’Africa a vir em Janeiro?............41.500 “ Alcool provavel que podemos contar..........122.002 “

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Isto até á Laboração de 1926? // [68] Como vê teremos alcool no Torreão e C.ª Nova (?), continuando as vendas normais até á Laboração 1926: 1925-1926 –Torreão alcool ................................122.000 litros C.ª Nova alcool .....................................................77.000 “ Para venda, De Janeiro a maio 1926 ..................199.000 “ Em 5 mezes de venda dá pouco mais ou menos 40.000 litros por mez?! Não me parece que com o preço do alcool a 9$00 se possa vender 40.000 litros por mez, não lhe parece? H. F.397 é que está sempre a falar-me em melaço antes da Laboração, mas vejo que elle proporcionalmente ao alcool que lhe cabe no rateio, tem vendido mais do que nôs, e tenha paciencia, porque tambem nos cabe vender na mesma proporção do rateio. Não lhe posso mandar o resultado do melaço d’Africa sem concluir a destillação e retificação de todo o alcool, e isso somente em Janeiro estará concluido. Sem mais que lhe possa dizer, espero que os seus negocios lhe corrão o melhor possivel e que a sua volta seja breve. Seu Amigo certo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 30 de Dezembro de 1925 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [69] Funchal 30/12/925 Meu caro Amigo e Senhor Hinton Depois da minha ultima de 28 do corrente, Marsden mostrou-me os orçamentos da Casa Mirrlees e as modificações por elles propostas. Vou porém dizer-lhe as rasões porque não concordo com algumas das modificações apresentadas, pelo schma, a que me faço referencia: 1º Sulfitação: Os tanques de sulfitação de 50 hectolitros tem que ser montados com mexidor mechanico, tendo chapas interiores de contra corrente, isto é, chapas cravadas no interior dos tanques para cortar o movimento jiratorio produzido pelo mexidor. Estes tanques tem que ser fechados, tendo uma porta superior de limpeza e chaminé de sahida dos gases SO2 não absorvidos, isto é, montagem como o schma mas com chaminé de tiragem para fora do teto da fabrica. Não sendo assim, a absorpção do SO2 não se fará bem, e haverá grande perda de gaz sulfuroso (SO2) e sulfitação longa. No sechma marquei dois pequenos tanques, um de 10 Hectolitros que é para o Leite de cal já preparado em outro apparelho que não mostra o desenho. A medição do leite de cal a introduzir em cada sulfitador, será como no Torreão com umas pequenas vasilhas de chapa de ferro que possa comportar uns 30 litros cada uma (4). O pequeno tanque do Sechma de 1 hectolitro é para a dissolução com ar comprimido, do Phosphato e Kieselgouhr a deitar em cada sulfitador, tendo, já se vê uma torneira de passagem para cada tanque. // [70] Isto, como bem vê, são pequenos detalhes que eu não podia mostrar no sechma, mas que a casa constructora tinha que prever. O grande tanque de 140 hectolitros tem tambem de ser provido com mexidor, para têr sempre em suspenção o phosphato e Kieselgouhr adecionado á garapa nos sulfitadores antes de ser defecado nos rechauffeurs. As garapas sahidas d’este tanque devem passar n’um strainer antes de hir á bomba centrifuga, isto é, tudo tal qual esta no sechma. 2º Defecação por rechauffeurs: Esta parte sendo montada como o sechma, está certo; com as modificações apresentadas por Mirrlees não convem de forma alguma, a não ser os rechaufferes horizontaes a grande circulação que são bons, mas com a condição de ter o numero indicado (5) para se poder fazer as limpezas diarias de dois rechauffeurs. Eu comprehendo qual seja a maneira de vêr d’elles, porque nas instalações normaes, as garapas são aquecidas a uma temperatura mais ou menos elevada nos rechauffeurs, fazendo-se a defecação á temperatura de 95º a 98º centigrados nos clarificadores, emquanto que nós teremos que levar a essa temperatura de 95º a 98º nos proprios rechauffeurs que são n’este caso Rechauffeurs-defecadores. Como vê são sempre pequenos detalhes que temos que atender para o bom resultado da filtração total em Filtros-Presses; sem elles são ha meio de filtrar bem para formar tourteuaus como no Torreão. // [71] 3º Filtração nos Filtros-Presses: Conforme o Sechma mostro uma bomba dupla, e Mirrlees propõe uma bomba centrifuga por bombas conjugadas para alta perção. De forma alguma serve esta modificação, cujas más causas lhe passo a expor: As garapas depois de defecadas não devem de forma alguma serem emolcionadas, e pela bomba centrifuga essa emoloção vai ao maximo, tornando as materias percipitadas granulozas em um estado tal que não passará no filtro, e não poderá formar tourteau. Pela bomba dupla não se produz esse resultado, o que o Senhor Hinton muito bem sabe. Esta parte é 397 Henrique Figueira da Silva.

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importantissima para o bom resultado da filtração. Evaporação: Proponha um Qudrople-effet de 1000 metros quadrados surface de chauffe pelas razões seguintes: Calculemos um maximo de 700 toneladas cana em 24 horas; Com a imbibição de 20% cada 100 kilogramas cana dará apriximado[sic] 90 litros de jus total (garapa e imbibição), dando pois em 700 toneladas cana 6300 hectolitros de jus total bruto, ou 6200 hectolitros de jus defecado e filtrado. Estes 6200 hectolitros de jus, sendo a media de 8 1/2 º Baumé = 1.060 densidade, para produzir theoricamente xarope a 30º Baumé = 1,258 densidade, dará 1440 hectolitros de xarope a 30º Baumé. Teremos pois agua evaporada theoricamente 4760 hectolitros = 20000 litros agua evaporada por hora, fazendo pois o Quadruple-effet uma evaporação de 20 litros agua por metro quadrado hora. Para um Quadruple parece-me que é o maximo que se pode obter. O Triple-effet do Torreão dá 25 litros por metro quadrado hora. // [72] É indespensavel o rechauffeur do jus antes da 1ª caixa do Quadruple, porque o jus terá baixado a sua temperatura durante a feltração, e como a 1ª caixa trabalhará com pequena perção afim de dár vapor aos rechauffeurs-defecadores etc. é indespensavel que a alimentação do jus feito n’ella estaja a uma temperatura muito proxima da temperatura de ebulição da 1ª caixa. Esta 1ª caixa trabalhará como um preevaporador. Cuites: A modificação proposta por Mirrlees da diminuição da capacidade dos cuites, é minha opinião que são excessivamente baixas pelas rasões seguintes: 1440 hectolitros theoricos de xarope a 30º Baumé deve dár aproximadamente 676 hectolitros de Melasse Cuite 1er jet. Calculamos um cuite de 230 Hectolitros em 12 horas, para a cristalisação-evaporação, serragem, despejo e limpeza. Teremos pois que os dois cuites de 250 hectolitros capacidade total, faram em 24 horas 920 hectolitros theorico de Melasse Cuite. Teremos porém de levar em linha de conta que estes cuites de 1º jet se deve fazer aproximado um reentrada [sic] dos égoûts de 1ª e alguns egoûts ricos, na proporção de 20% dos égoûts, com o fim de principiar um épuissement antes dos cuites de 2em e 3em jet. Não vejo pois que estes cuites de 250 hectolitros (2) sejão demaziado grandes, e pode ficar algum augmen-[sic] de capacidade se no futuro se quizer augmentar o trabalho dos moinhos, sem modificar os cuites. Malaxeurs: A modificação para pequenos malaxeus[sic], não vejo // [73] grandes vantagens, por isso que uma Melasse Cuite bem serrada, como convem para o rendimento em turbinado, deve ser descarregada de um sô jacto e por portas de despejo bastante grandes e n’um sô malaxeur-refroidisseur, e nunca dividil’a em pequenos malaxeurs que obrigará a fechar a caldeira e têr o perigo da Melasse Cuite indorecer a tal ponto que pode ficar d’entro da caldeira. Pelo sechma proposto, os pés de cuite para os cuites de 2en jet são tirados dos cuites de 1er jet, e os pés de cuite para os cuites de 3en jet são tirados do cuite de 2en jet. Assim o épuissement será gradual, e os egouts de 3en jet será melaço épuissée. As capacidades indicadas não me parecem excessivas. Não vejo no Devis de Mirrlées o mexidor-de-refonte do assucar 3en jet de 50 hectolitros, que no Sechma está marcado Melting tank 3rd sugars, que é indespensavel. Esta refonte do assucar de 3en jet será feita com jus filtrado e entra no cuite de 1er jet com o xarope. O assucar turbinado de 3en jet será nas centrifugas ligeiramente lavado a agua e vapor, afim de dár um assucar de melhor qualidade para a refonte. Os egoûts ricos d’esta lavagem podem reentrar ou no cuite de 1er jet ou no de 2en jet. É isto o que a primeira vista me parece deve ser feito, com a pratica que tenho do nosso Torreão e para o fim de produzir assucar de competencia em Lisboa Sem mais subscrevo-me seu attencioso amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 2 de Janeiro de 1926 DESTINATÁRIO: Alexandre José Sarsfield?; LOCAL: Porto] [74] Funchal 2/1/926 Ex. Amigo e Senhor Sarsfiel Primeiro desejo ao meu Amigo e Ex.ma esposa e filhos que este novo anno 1926 lhes seja prospero em todas as fazes da vida. Recebi a sua estimada carta de 18 Dezembro ultimo, o que muito lhe agradeço reconhecido por vêr que o meu Amigo se interessa pela minha nova industria de vinhos. Vou necessitar efectivamente garrafas tanto do tipo champagne como das ordinarias para vinhos de mesa branco e tinto, e seria para mim de muito meior vantagem adquiril’as em Portugal (garrafas do tipo champagne) do que importal’as do mo

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estranjeiro. Visto o meu Amigo querer ser amavel com a minha pessoa apresentando-me ou pondo-me em contacto com a sua C.ª Vidreira, terei n’isso o maximo prazer e vantagem, e pedia-lhe ao mesmo tempo para que me enviasse duas amostras, uma das garrafas grandes tipo champagne e uma de 1/2 garrafa do mesmo tipo. Quanto ás garrafas para o vinho de meza pretas e brancas (para o vinho tinto e vinho branco) não necessito amostra, mas desejava que fossem do tipo usado no vinho Borjacas[?] do Continente, parece-me que 6 a 6 1/2 decilitros. Outra cousa importante: Como sabe o capital imobilisado em garrafas é bastante grande n’este genero de industria, e assim seria para mim de grande // [75] vantagem um prazo de pagamento nas remessas, para me habilitar a desenvolver o negocio. Principio agora, e mesmo que tenha a boa vontade e proteção do meu Amigo e patrão o Senhor Hinton398, não quero de forma alguma abosar da sua bondade e tudo o que possa fazer para o não incomodar com pedidos de credito, é esse o meu fim. Outra cousa que espero da sua amabilidade; Sei que no Porto ha tipografias que fazem rolutos[sic] para garrafas de champagne e de meza com bonitas apresentações, e isso é importante, e tambem o que se chama na industria Champagne o colarinho da garrafa; desejaria pois da sua bondade, visto não ter no Porto outro conhecimento, indagar qual a tipografia que produz esses rotulos, e pedir para me enviarem amostras de varios tipos para eu escolher, e os seus preços, que depois eu diria quais os dizeres a pôr nos rolutos[sic]. Esperando receber a sua resposta, ou das casas a quem me recomendar, subscrevo-me Seu Attencioso Amigo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz Conta[?] William Hinton & Sons. Funchal // [DATA: 5 de Fevereiro de 1926 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [76] Funchal 5/2/926 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Esperava a sua vinda para a Madeira no Mala Real e vejo, pelo seu telegrama que não pode vir ainda. Calculo quanto deve já estar farto de tantos encomodos, mas que quer, a vida é isto e temos que a levar com paciencia. Espero porém que em breve tudo esteja resolvido a seu contento. Estou a terminar a refinação do ultimo assucar da Africa, mas d’esta vêz tive que fazer a lavagem do assucar não somente pela sua qualidade que era inferior ao anterior, como tambem porque o consumidor deseja assucar o mais branco possivel!... Isto na Madeira é tudo assim miseria, mas querem tudo do melhor. A polarisação do assucar vindo ultimamente foi 95,3º, emquanto que o anterior foi de 96,6º polarisação. Estou tratando dos fermentos para fermentar e destillar os egoûts da refinação de forma a que chegando a Laboração esteja tudo em alcool e não exista stock de melaço, isto é, tudo limpo. Esperando a sua volta breve, desejo-lhe felicidades. Seu Attencioso Amigo Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 5 de Março de 1926 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [77] Funchal 5/3/926 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Como recebemos um telegrama de Lisboa dizendo que sô vem a 15 do corrente, vou dizer-lhe o que se tem passado em parte, porque Belmonte lhe dirá o resto. Esteve aqui hoje comigo o França da Casa Ferraz pedindo-me notas para uma representação ao Ministro contra o novo decreto, a qual representação ainda em borrão e escripta á machina achei boa e em nada prejudica, antes pelo contrario. Elle não me quiz dar a copia, porque sendo elle o secretario da comição dos negociantes de vinhos, e isso era em parte segredo reservado d’elles não queria compromissos. Pareceu-me porém que elle estava bem desposto e trabalhava lealmente. Em resumo vou dizer-lhe os dados que elle me deu para os calculos e ao mesmo tempo o que eu fiz sobre o assumpto. Com relação á destillação dos vinhos baixos, elle apresenta vinho com 9º alcool, e o seu preço no armazem do vinicultor a 120$00 por hectolitro. N’esta base o rendimento por 100 litros vinho é de 9,2 litros alcool em 40º Cartiere. O preço de fabrico para lucro ao destillador foi feito a 1$30 por litro alcool em 40º produzido. N’esta conformidade o custo do alcool vinico saia 14$34 por litro. Esta bem. // 398 Harry Hinton.

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[78] Na representação elles calculão o rateio como em 1925 de 850.000 litros, e como eu lhe disse que dos residuos da cana (melaço), as fabricas matriculadas poderiam na media retirar 150.000 litros alcool (não contando o alcool directo da cana), chegamos á conclusão que faltaria 700.000 litros alcool, que destillado de vinho seria necessario queimar 76.087 hectolitros de vinho!! Ou seja 15218 pipas de 500 litros, isto é, a colheita total da Ilha!! Representão pois contra a prohibição da entrada do melaço das colonias, visto ser indespensavel ao fabrico do alcool para o tratamento dos vinhos Madeira, representando isso uma entrada de ouro pela exportação em vinhos. Isto são pontos principaes que mais nos interessa e o resto acho tudo bem claro e bem feito. O artigo do Diario da Madeira é que lhe habrio os olhos... valha-nos Deus! A diferença entre os calculos do artigo do Diario da Madeira está no vinho calculado com 9º por elle, e 8º por mim. Elle pede ao França para enviarem essa representação emquanto o Senhor Hinton está em Lisboa e elle prometeu-me enviarma segunda feira 8, mas Belmonte vai falar ao Portugal dos Santos para vêr se podem enviar amanhã. É bom estar de acordo com estes amigos e tel’os do nosso lado, porque podemos obter mais facilmente o que desejamos. // [79] Xarope assucar para Blandy e Madeira L.da: O gerente dos vinhos falou com o Belmente dizendo que hia necessitar 100 sacos de assucar para calda e como Belmonte não tem assucar suficiente para consumo, disse-lhe porque não levava xarope assucar? Elle disse que não estava habitudo[sic] (?) a gastar esse xarope nem sabia como deveria empregar (parbleaux!!); mandei-lhe uma amostra e escrevi-lhe dando todas as indicações para o emprego do xarope, e devido a isso fizeram uma encomenda de 15.000 kilogramas... graças a Deus!... Como tenho aproximado 35.000 kilogramas estou habilitado a fornecer. Estou continuando a destillação e retificação dos égoûts da refinação, que deve ficar concluido a miado da semana proxima, isto é, antes de principiar a Laboração de 1926. O stock hoje de alcool é 26.000 litros. Aparece agora novo papelucho ao publico sobre preços cana etc. (politiquice já se vê), chamando propriatarios a se reonirem, para hirem ao nosso amigo Governador. Belmente lhe enviará essa bella obra politica. Sem mais, subscrevo-me Seu Amigo Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 2 de Julho de 1926 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [80] Funchal 2 Julho 1926 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Estimo que a viagem ao Cabo lhe tenha feito bem á saude e que tivesse uma boa viagem, assim como a sua Ex.ma Esposa. Por emquanto pouco lhe posso dizer com relação aos trabalhos da fabrica porque nada estou fazendo senão o xarope assucar invertido que tem tido boa sahida, e já estou gastando do assucar branco da Laboração, e para lhe dar o tal gosto e côr suigêneris que elles desejão, estou juntando ao xarope antes da inverção, melaço da Laboração, uns 10 canecos por mexidor de refonte. Assim fica aproximado ao xarope feito do assucar bruto. Em alcool no Torreão e C.ª Nova devemos ter aproximado 110.000 litros, e assim vejo que dará pouco, mais ou menos para 2 1/2 a 3 mezes de venda. Henrique Figueira399 teve um grande desgosto, devido a lhe terem deitado uma bomba de dynamite em casa em que lhe fêz grandes estragos porque a bomba era de respeito. Quem o fêz não está ainda descoberto. Elle teve uma grande manifestação do comercio, como protesto do atentado. Eu tambem lá foi. Ningem ficou ferido, mas o // [81] Henrique Figueira confessou-me que nos 1os dias (2) a reação produzida pelo desastre não lhe fêz grande imperção, mas que agora sente-se mal desposto e nervoso. O peor é que uma das filhas, que é doente, não está nada bem e teve que hir á cama. Crea-me seu Amigo Certo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 1 de Setembro de 1926 DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre] [82] Funchal 1/9/926 Monsieur Georges Lefebvre Ingenieur Mon Cher ami En premier lieu, je deser la guerison de Madame Bisson, que j’espere será guerie em pout de temp. En maine votre lettres du 19 et 28 Juillet derniere et du 10 et 23 Aout, que je vous remercie bien. 399 Henrique Figueira da Silva.

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Je voi par votre derniere du 23 aout, que les produits pour mes vins est partie par le vapeur “Formose” que doive arriver au Funchal á 3 du corrant. Thermometres: les pieces ont encore arrivai cassée une fois de plus!!... Il veau mieux ne pas pauser à envoyer de nouvelles thermometres. Suivant je vai l’emballage á eté bien fait et comme cá ne doive par se casser, mais... peut etre que les ouvrieres ou dejá mis cassée dans la boite?... En tout cá c’est fini cette affaire. Avelino400 est encore en Afrique, et comme vous voyez, le france... C’est de moi!!... Je vous demande pardon de mou mauvaise frances. // [83] En esperant la guerison complete de Madame Bisson, je lui envoi et á son Mari, mes compliment, et aussi á Madame Lefebvre. Pour vous, mon cher ami, a l’assurance de mon meilleur deveument et amitie sincere. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 15 de Setembro de 1926 DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre] [84] Funchal 15/9/926 Monsieur Georges Lefebvre Ingenieur Mon cher ami Mes condulances par le décéde de votre mére Madame Gustave Lefebvre, et aussi a votre famille. En ma possession votre lettre du 30 derniere, acompanhé des decuments sur les produits chimiques. Tous á arrivez bien et en bonnes condicion. J’espere que vous m’envoyez la facture des produits parce que dans la doane il y a des produits que payez a/v.[?]; je retirai les produits, mais je suis obligee de lessair une somme sur le valeur maxime. J’espere que Madame Bisson será guerie en pout de temps Mes compliments a Madame Lefebvre e Bisson et son mari. Une bonne poignée de mains de votre ami devue. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 21 de Outubro de 1926 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [85] Funchal 21 outubro 1926 Ex. Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua carta de 13 do corrente que muito lhe agradeço. Vejo o que me diz sobre as refinaria [sic] Mechanicas mas isso foi sempre assim, porque o assucar areado em grão muito fino, somente se pode obter pelos processos antigos, em taxas e com trabalho manoal, porque é d’ahi que vem o termo areado. Com o trabalho mechanico, e seja porque systema fôr, o assucar tem que sahir em grão fino mas nunca como pelo systema antigo. O melaço da Ganda não foi despachado ainda, e quanto ao resultado em alcool, o Senhor Hinton sabe que ficou combinado não destillar no corrente anno, devido a termos ainda do melaço de Java, que calculo termos ainda para fermentar (a 21/10) umas 496 toneladas melaço no tanque grande, cujo melaço levará quasi até ao fim do anno. Este melaço deve produzir aproximado 138.000 litros alcool. Temos pois alcool para 1926. Sem mais creia-me seu Amigo Sincero e dedicado. [Ass:] João Higino Ferraz // mo

[DATA: 21 de Outubro de 1926 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [86] Funchal 21/10/926 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Principiei hoje na refinação do assucar do Perú, para produzir um assucar cristalisado ligeiramente amarello para vinhos conforme os seus desejos. Este assucar lavado não dava o resultado para que podesse servir para caldas, como os vinicultores desejam, de forma que a unica forma é fazer um xarope (sem lavagem previa) e ser depois cristalisado em grão um pouco meior que o normal. Não lhe posso mandar amostra porque estamos hoje no primeiro cuite. 400 Avelino Cabral.

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Como o xarope está sendo sulfitado e filtrado, deve dár um assucar magnifico para caldas. Do restante assucar (de refinação) vou fazer xarope invertido claro, porque não temos nenhum á muito tempo. Seu Amigo Certo. [Ass:] Ferraz // [DATA: 27 de Outubro de 1926 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [87] Funchal 27 outubro 1926 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Depois da minha ultima carta de 21/10 terminei a refinação (?) do assucar bruto do Perú: Resultados: 76913 kilogramas assucar bruto com 95º polarisação e 1,11% glucose Deu um turbinado para vinhos (cristaes grandes) – 46.200 kilogramas turbinado para xarope assucar invertido 11.500 “ que deve produzir aproximado 15.310 kilogramas xarope a 37º Baumé. Egoûts ricos restantes para a refinação seguinte = 14.330 kilogramas com 62,08% assucar total = 889 1/6 kilogramas assucar Em alcool: Lavagens dos filtros, malaxeurs etc. calculados a 1.400 densidade = 4626 kilogramas égoûts = Rendimento em alcool 1594 litros. Temos melaços no Tanque Grande a 27/10 = 423.740 kilogramas O melaço da Ganda não está ainda despachado. Temos pois melaço no Tanque Grande até Dezembro proximo e teremos alcool para o corrente anno. Crea-me seu Amigo Certo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 17 de Novembro de 1926 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [88] Funchal 17/11/926 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua de 4 do corrente que muito lhe agradeço. Duas palavras para lhe dizer sobre o assucar importado do Cassequel pelo vapor “Cassequel” vindo a 14 corrente. Assucar branco: Muito melhor fabricado que a amostra que Avelino401 trouxe o anno passado Assucar bruto de 95º polarisação: É este assucar que eu acho uma grande diferença para melhor. Estou lavando o assucar para refinar, porque está carregado de melaço, mas na turbinagem do assucar bruto lavado, é tão facil que não é necessario empregar agua nas centrifugas, e com uma pequena quantidade de vapor fica quasi branco!!... Naturalmente não fica assim em condições de venda ao consumo, porque actualmente querem o assucar bem branco, mas na refinação deve dár um assucar explendido e de facil refinação, e o seu rendimento em turbinado deve ser superior. Depois lhe direi o resultado. Melaços e alcool: As vendas tem diminuido e não se pode calcular mais de 35 a 40.000 litros por mez. Temos pois alcool, depois de terminado o melaço do Tanque Grande, para 2 ou 3 meses. Crea-me seu Amigo Certo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 24 de Novembro de 1926 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [89] Funchal 24/11/926 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Fiz a polarisação do assucar bruto da C.ª Agricula da Ganda que mostrou 95,2º, emquanto que o assucar vindo em Janeiro passado (1926) mostrou a media de 95,95º polarisação. Isto não quer dizer que o assucar vindo em Janeiro proximo presente seja de melhor fabrico do que o vindo agora (14/11), mas a razão da pureza mais baixa do presente assucar é que lhe deixaram muitos egoûts para lhe poder dár o typo bruto que elles desejão. Contudo o assucar vindo agora é muito mais puro como lhe disse na minha ultima carta, e o produto em refinado é melhor, 401 Avelino Cabral.

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sendo o xarope de mais facil filtração, e dando um assucar refinado mais branco e mais brilhante. A refinação deve ficar terminada esta semana. Quanto ao assucar do Brazil que deve chegar, não se vai refinar por emquanto, porque como diz na sua carta, não deseja refinar emquanto o carvão estiver caro; estou a vêr que somente em Janeiro ou Fevereiro o carvão possa descer um pouco. O melaço do Tanque Grande deve ficar terminado a 30 do corrente, mas vou ter necessidade de destillar um pouco dos égoûts da refinação. Depois lhe direi. Tudo corre bem e sem novidade. Chegou hoje (23) o assucar do Brazil (500 toneladas); o typo é bom e um pouco mais claro que o de Africa, mas fazendo agora mesmo uma analyse provisoria, encontro somente 94,3 polarisação, isto é, mais fraco que o de Africa. A analyse defenitiva posso fazel’a, mas é necessario um lote // [90] regular de pelo menos 10 sacos. Se acha necessario fazer pode telegrafar logo que receba esta. Como não sei as condições de compra, por isso lhe fasso esta observação. Levanta-se novamente a questão de importação de vinhos do Continente, porque o Governo promolgou uma lei autorisando essa exportação em barril de 100 litros (!!), dizem elles para evitar o alcoolismo pelo consumo da aguardente de cana, e obrigar o consumidor a beber vinhos fracos (?) do Continente. Augmentão o imposto da aguardente para 2$00 por litro. Mas de que serve isso? Isto é, a aguardente pagará 9$00 por gallão, que augmentando ao custo da aguardente, que seja 15$00, ficará em 24 a 25$00 gallão. Como sabe a aguardente ja esteve a 50$00 por gallão e o consumo não diminuio. Toda a questão é a importação de vinhos do Continente para o fabrico do Madeira, e como sabe cada pipa de 600 litros vinhos a 12º alcool contem assim 72 litros alcool que deixamos de vender. Eu sei bem que na Madeira se faz vinho de assucar, agua e alcool, mas pelo menos esse assucar e alcool é nosso, emquanto que importando do Continente umas 5000 pipas, deixaremos de vender 360.000 litros alcool! Isto é importante. Nota: Acabei de saber pela correspondencia de Crispin que o assucar do Brazil tem contrato especial e que é necessario tirar amostras officiaes. Fica pois sem effeito o que lhe digo acima. Da amostra que se fizer farei a analyse defenitiva. Seu Attencioso Amigo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 1 de Dezembro de 1926 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [91] Funchal 1/12/926 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua carta de 25 proximo passado o que muito lhe agradeço. Escrevo-lhe esta a preça porque os Senhores do Correio fecham hoje a mala a 1 hora da tarde, e são agora 11 horas manhã. Destillaria do Torreão: O melaço do tanque grande deve ficar terminado e lavado esta semana, e assim a destillação e retificação do alcool estará terminada entes[sic] de 25 do corrente. Amostra do assucar: Não lhe posso enviar a amostra por este vapor porque não dá tempo. Rendimento do assucar Cassequel: 1650 sacas com 147.898 kilogramas assucar bruto de 95,2º polarisação Deu em turbinado BBR (pezo centrifugas).........................................96.450 kilos assucar Assucar de 2ª para refinar ou xarope assucar ....................................18.900 “ Egouts restantes (para nova refinação) 24.379 kilogramas com “ 63,21 assucar total; calculo em turbinado em turbinado futuro ........ 4.930 120.280 “ A deduzir assucar égoûts anteriores em turbinado ............................ 2.668 “ “ Assucar turbinado pertencente Cassequel .........................................117.612 Alcool dos égoûts (por calculo): Egoûts destillados, rendimento = ................7.530 litros alcool em 40º Dos égoûts restantes “ =............... 5.854 “ “ “ 13.384 “ “ “ A deduzir alcool anterior égoûts ............... 3.534 “ “ “ “ “ Alcool pertencente Cassequel ................... 9.850 “ Quebra da refinação = 4,1% // [92] C.ª Agricula da Ganda: Vejo pela sua carta que a nova sociedade está formada e faço votos que este novo arranjo no

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Cassequel não lhe traga novos desgostos e cuidados, são estes os votos de um amigo sincero e leal. Não mandei ao Avelino402 as capacidades das cubas por isso que o Senhor Hinton me não disse, mas por uma carta que recbi[sic] de Avelino, vejo que o Senhor Hinton lhe enviou as notas que eu lhe tinha mandado. O que elle me disse é que estavão augmentando a capacidade das antigas (?) e fazendo novas cubas. Recomendei-lhe que não fizessem desparates na montagem para de futuro não ser mais dificil remediar. A destillaria deve trabalhar durante a Laboração da cana, para não ter que trabalhar no tempo do calor mais forte em Africa. Quer que mande ao Avelino a nota das Cubas? Melaço d’Africa: Não comprendo esses analystas da Alfandega de Lisboa! Então o melaço não tem glucose? Elle tem, pela analyse aqui, e que mandei para Lisboa, 15,23% com uma pureza Clerget 45º. Se fosse xarope deveria ter pelo menos 60º pureza. Isso é questão de apanhar multas! Seu Amigo Certo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 3 de Dezembro de 1926 DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola] [93] Funchal 3/12/926 Meu Caro Avelino Recebi uma carta do Senhor Hinton em que me diz que espera que eu tenha enviado as notas sobre a destillaria do Cassequel (?!!) Ora o Senhor Hinton nunca me disse para te enviar essas notas, mas sim para lhe dár a elle, o que fiz, e estou certo que são essas notas que elle te enviou. Porque rasão elle quer que eu te envie agora? Valha-me Nossa Senhora... Contudo como nada sei ao certo, sempre te vou enviar a capacidade em cubas de fermentação etc. A fermentação do melaço pode ser feita a 10º Baumé media, tendo uma refrigeração racional das cubas, e assim dará vinho com 6,5% alcool. Sendo o destillador de 3000 litros alcool bom a 95º = 2850 litros alcool a 100º. Corresponde pois a 440 hectolitros de vinho por 24 horas ou seja 450 hectolitros de mosto a fermentar. Calculando que para encher as cubas, fermentar e destillar leva 5 dias, será 450 x 5 = 2250 hectolitros de capacidade total em cubas de fermentação. Ao Senhor Hinton eu calculei fermentação a 8º Baumé o que dava em capacidade total em cubas de 2850 hectolitros. Calculei pois 10 cubas de 290 hectolitros cada uma, e será melhor fazer assim, no caso de não se poder fermentar a 10º Baumé. // [94] Teremos assim a seguinte capacidade: 10 Cubas de fermentação geral de 290 hectolitros capacidade. 2 cubas pequenas de 1º fermento mãe de 20 hectolitros. 2 “ de 2º fermento mãe de 150 hectolitros. É necessario notar que as duas primeiras cubas de 1º fermento mãe devem ficar clocadas superiormente ás cubas de 2º fermento mãe. As cubas de 2º fermento mãe um pouco mais, isto é, clocadas um pouco mais altas que as cubas de fermentação geral. Todas estas cubas devem ficar ligadas entre si, como temos no Torreão, e tendo cada cubas [sic] as respectivas torneiras de comonicação. Tubagem tudo em cobre. O resto dos apparelhos necessarios, o Senhor Hinton disse-me que se fará a encomenda mais adiante, mas o que eu desejo é que não me diga depois que espera que eu tenha mandado. A continuação da saude e felicidades é o que te deseja o teu Amigo velho. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 14 de Dezembro de 1926 DESTINATÁRIO: Harry Hinton; LOCAL: Lisboa?] [95] Funchal 14/12/926 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Em meu poder duas cartas suas, de 1 e 8 corrente a que vou responder. Escrevo a 14 e vejo que o Senhor Hinton sai de Londres para Lesboa a 16, e naturalmente so recebe esta em Lesboa (?). Vou dár a carta no Escriptorio e elles enviarão conforme as suas ordens. Vou mandar-lhe a amostra do assucar refinado do Cassequel n’um envelope de amostras. Será talvez suficiente. Quanto á bomba para os filtros presses deve ser effectivamente, como ja lhe tinha dito, uma bomba dupla como a nossa, 402 Avelino Cabral.

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porque uma bomba centrifuga fáz emuleção das borras da defecação e a feltração e tourteux não se fáz bem. Quanto á bomba para levar a garapa fria aos rechauffeurs essa pode ser centrifuga. No meu croquis mostra isso bem explicado. Quanto ao rendimento real do melaço de Java e Laboração não lhe posso mandar ainda porque estou retificando o resto do alcool, e somente para 22 ou 23 do corrente estará tudo retificado. Depois lhe enviarei. O alcool sempre bom, depois do tratamento do permanganato. Crea-me Seu Amigo sempre sincero. [Ass:] João Higino Ferraz

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[Copiador de Cartas. 1927-1929]

DESCRIÇÃO: O título deste copiador foi atribuído por nós, assim como a sua numeração, a lápis. Estamos na presença de livro, papel, cujas medidas são 27 cm x 21,5 cm, e encontra-se em bom estado de conservação.

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[DATA: 18 de Fevereiro de 1927 DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola] [1] Funchal 18/2/927 Meu caro Avelino Disse-te na minha ultima carta, que não te escrevia mais e esperava a tua volta, mas o Senhor Hinton403 deseja que esceva[sic] para te dár algumas explicações sobre novas montagens. Primeiro estimo que continuis a passar bem de saude. Como d’esde Janeiro do corrente anno a propriadade do Cassequel passa á nova Companhia, e desejando o Senhor Hinton que a laboração futura tenha um rendimento superior ao obtido da ultima colheita, sugeri ao Senhor Hinton a montagem do novo tenden de 4 engenhos para moer a canna fazendo uma imbibição regular, porque como actualmente no Cassequel o ponto fraco de fabrico é os engenhos e Filtros-Presses, podes assim trabalhar em boas condições de extração, trabalhando, já se vê, os novos engenhos a meia força, o que não é dificil. Toda a questão está em dár força á montagem dos engenhos afim de poderem trabalhar na nova colheita. Deves comprender que todas as canalisações de // [2] vapor directo e exausto são provisorias, porque a força mutris será tirada das caldeiras existentes. O Senhor Hinton desejava tambem, sendo possivel, montar os sulfitadores novos e os fornos para o SO2 assim como a bomba d’ar comprimido. Feito isto n’estas condições, a garapa sulfitada e alcalinisada ou não segue para a antiga fabrica para ser tratada como actualmente, isto é, defecada e decantada Vão agora 3 Filtros-Presses Dhen que tinhamos aqui para a filtração da Melasse Cuite de 2º jet, que são uns filtros magnificos para a filtração das borras de decantação, e estes 3 filtros dão mais que suficiente para o trabalho de 350 toneladas cana. Ficará assim a fabrica em condições de tirar um rendimento em assucar muito superior ao actual. Estes filtro-presses devem ser montados no logar dos antigos, pondo essa beleza de parte, e em condições da descarga das borras se fassa facilmente. Vai em pouco tempo um bomba [sic] nova. Quanto á montagem apenas necessitamos a canalisação da bomba nova aos filtros presses, e uma canalisação d’agua e vapor. O Engenheiro deve saber isso como se monta, pela planta. Mandei tirar dos pratos as chapas furadas que não são necessarias, e mesmo // [3] traria deficuldades porque taparia os furos facilmente. Ficará pois a montagem como temos aqui, mas somente para alta perção dada directamente pela bomba dupla. É bom notar que na montagem do tenden de 4 engenhos se deve fazer a montagem da imbibição etc., como dos planos que dei ao Senhor Hinton, para assim se fazer o maximo de extração. O Quadruple-effet que ahi tens não sei se dará para a evaporação dos jus de 350 toneladas, mas mesmo que apenas se fassa 300 toneladas, já é bom, e o rendimento será superior. Tens pois, resumindo, as seguintes montagens: 1º Filtros-Presses novos, inutilisando os antigos, e nova bomba 2º O tenden completo dos engenhos, com a imbibição racional, e canalisação de vapor directo, exausto etc, assim como canalisação do jus bruto á antiga fabrica, ou aos novos sulfitadores. 3º Sulfitadores (sendo possivel), fornos de SO2 bomba d’ár etc. e com canalisação, n’estas condições, do jus sulfitado aos defecadores actuais. Tudo o mais segue como actualmente. O Senhor Hinton deseja que eu vá com elle em Junho proximo para combinarmos as montagens da nova fabrica. Teu sempre amigo certo, e até a volta. [Ass:] João Higino Ferraz // 403 Harry Hinton.

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[DATA: 2 de Março de 1927 DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre] [4] Funchal 2 mars 1927 Mon cher ami Monsieur Lefebvre Je responde à vos deus lettres de 22 et 23 derniere. Dans la lettre de 22 je vous remercie bien vos votes pour la guerison de ma fille, et elle à començait à prendre la Lomine. Bien nerci[sic] pour tout. Afferes Hinton: Nous avont recu le reporte sur l’alcool symteptico. Bien merci. Lettre de 23/2: Le coupe bagasse Hollandez, les plans que vous envoyez c’est exactement de même que nous avons dans le Laboratoir et qui a ette envoyez en Afrique. Cellui de Lemos c’este le même type, seulement la Nº ette plus petite, mais s’il na pas comme le notre acheté le Nº 1597. Il faut envoyer à tout prix. Je và prevenir le boureaucis[?] pour vous envoyer 5000 francs et faire la commende. C’est la C.ª d’Afrique qui doive payer!. Je termine la lettre pour vous remerciere bien tous que vous avez faite. Compléments á tous Votre Ami devue. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 15 de Março de 1927 DESTINATÁRIO: António Casas; LOCAL: Setúbal] [5] Funchal 15 de março 1927 Ex.mo Senhor Antonio Casas Setubal Amigo e Senhor Como o meu Amigo J. M. Jardim se retirou para a America do Norte, e desejando obter mais 5000 (cinco mil) rolhas, qualidade 1037, calibre 20 x 12 1/2, eguaes as que V.ª Ex.ª me enviou a 27 abril proximo passado, fasso esta encomenda directamente, esperando que V.ª Ex.ª attenda este meu pedido pela mesmo forma e condições da anterior. Para o pagamento da importancia do custo das rolhas, frete e seguro, pedia a V.ª Ex.ª para derigir-se á nossa casa em Lisboa, William Hinton & Sons – Largo do Corpo Santo, 6, a quem vou prevenir o meu Amigo Henrique T. Bittencourt Camara, Gerente da nossa socursal em Lisboa, que a satisfará a dita importancia. Esperando breve a sua resposta, sou seu Amigo Muito Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz. Director tehcnico da Fabrica açucar e Alcool William Hinton & Sons. Funchal // [DATA: 15 de Março de 1927 DESTINATÁRIO: Henrique Tristão Bettencourt Câmara] [6] Funchal 15 Março 1927 Meu caro Henrique A tua saude e dos teus é o que eu mais desejo. Mathilde, pobre pequena, não está ainda melhor, e o Dr. Pimentel aconselhou hir para o Santo da Serra tomar os ares de altitude. Calcula n’este tempo e longe da minha vista, lá foram Maria Elesa (mãe) e ella para aquella solidão, e aqui ficou eu em cuidados e desgostos, como bem podes calcular. Á poucos dias porém a pobre pequena teve um paralezia [sic] na face esquerda e braço ficando com a boca um pouco ao lado e a mão sem poder fazer movimento. No Domingo foi lá vel’as encontrando-a com a boca um pouco melhor, mas a mão ainda sem poder mover com ella; não há nada que não venha aquella pobre filha?! Eu estou perfeitamente desconsolado e apoquentadissimo, calcula. O medico (Dr. Carlos Leite404) diz que não vai ser nada e que tudo voltará ao normal. Deus o primita... O Dr. Pimentel diz que as injeções que lhe estava fazendo de pouco servio, e vejo que por emquanto não sabem do que se trata. // [7] Bem pouca vontade tenho para o trabalho, mas que remedio, tenho que trabalhar e cada vêz mais, e ainda por cima de tudo isto, o Senhor Hinton405 deseja que eu já em Junho com elle á Africa!... [sic] Calcula com que vontade não hirei, deixando a pequena assim?! Em Abril de 1926, o nosso amigo J. M. Jardim mandou-se vir do seu correspondente 5000 rolhas para o meu vinho espomoso, mas como elle foi para a America, vou fazer, como já fiz de encomenda directamente ao fabricante a quem escrevo n’esta data. Como as rolhas são pagas á vista, pedia-te para fazeres esse pagamento e enviar a nota para mim e á casa Hinton no Funchal. A encomenda é a seguinte: 404 Carlos Leite Monteiro. 405 Harry Hinton.

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Antonio Casas – Setubal Rua Baluarte de Santo Amaro 5000 rolhas, qualidade 1037 – calibre 20 x 12 1/2 As de 1926 custaram a mesma quantidade.....1:250$00 Frete e seguro ................................................. 34$00 Funchal Total ..................................................1:284$00 Saudade a todos e um abraço do teu velho amigo e primo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 16 de Março de 1927 DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre] [8] Funchal 16 mars 1927 Mon cher Ami Monsieur Lefebvre Deux notes pour vous demander le suivant. Je desire pour le Laboratoir de la Destillerie 4 alcoometres Gay-Lussac des pezanteurs suivants: De 0º a 20º – (1) Controlées exactement, par nom trousse alcoometrique “ 60º a 80º – (1) de 80º a 100º – (2) Cette comande vá etre confirmé dans le prochene malle par la Maison Hinton. Doive venir en Coli postal avec tous les soins, de forme à arriver ici san casse. L’appareil ebuliometre Lalleron, un des thermometres à ette arrivé cassé. Il faut demander un de rechange. Le disque de Calcule ést faite seullemente pour voir la force alcoolique j’usqu’a 15º, et nous avons necessite j’usqu’a 25º. Je envoyés ces deux pieces en coli postal. J’ai bien reçu le petit verre avec le creme de mousse mais je ne sait pas coment employer: Il dit dose, pour un litre. A employer en suite à raison de 10 a 15 centimètres cubiques par Hectolitre de liquide. C’est en peut vague c’ette explication. S’il vous plais, demandé les explication. // [9] Je vous demande pardon de lá mauvaise forme de ecrir en francs, mais j’ai la tête perdu, parc que ma fille ne vá pas bien. Mes compliments á tous de votre ami devue. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 9 de Abril de 1927 DESTINATÁRIO: António Casas; LOCAL: Setúbal] [10] Funchal 9/4/927 Ex.mo Senhor Antonio Casas Setubal Amigo e Senhor Em meu poder a sua carta de 24 ultimo em que me previne que o preço das rolhas actualmente subio de preço, dando porem V.ª Ex.ª somente um augmento de 20% ou seja a 300$00, o milheiro. Estes augmentos de preços é, como bem deve comprender, é prejuizo somente para mim, visto eu não poder augmentar o preço do meu vinho espomoso, mas como necessito continuar com esta pequena industria que está em principio, pesso-lhe para me enviar a encomenda feita em 15 proximo passado Como lhe pedia na minha carta, as rolhas devem vir como a primeira remessa, com frete seguro etc., e o pagamento será feito em Lisboa na Casa Hinton depois da recepção aqui das rolhas Quanto ás rolhas de outras qualidades, logo que eu tenha necessidade lhe farei a encomenda, sendo os preços em egualdade de circonstancia ás outras casas De V.ª Ex.ª Amigo Muito Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 14 de Maio de 1927 DESTINATÁRIO: Henrique Tristão Bettencourt da Câmara] [11] Particolarissima406 Funchal 14/5/927 Meu caro Henrique 406 Esta palavra está grafada no canto superior esquerdo do fólio, sublinhada como se vê, e na diagonal, de forma a conferir-lhe destaque. É a primeira e única vez que uma menção deste género ocorre na correspondência de João Higino Ferraz.

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Recebi agora mesmo a tua longa carta a que vou responder. Em primeiro logar a sua saude e dos teus. Obrigado pelos teus bons votos das melhoras da pobre Mathilde. Vamos agora ao caso dos filtros que toma a meior parte da tua carta. Quanto te escrevi aquelle pequeno bilhete foi com franqueza de amigo velho, mas nunca com intenções de te offender no teu logar de derector da C.ª do Cassequel. Quanto aos outros cavalheiros não tenho a honra de conhecer, a não ser o nosso Costa407 que o conheço bem de gingeira... O que eu vi n’isso dos filtros foi a carta que o Senhor Hinton408 me mostrou; copia da carta de Lefebvre409 era um verdadeiro desparate, e não podia advinhar que esse Senhor Empregado tinha multiplicado por 5...!! e isso que o Senhor Hinton me mostrou era a copia (segundo elle) do orçamento de Lefebvre. Era n’isto que eu via a grande patifaria?!, ou patifaria sem nome?! Como quiseres... O que o meu caro Henrique pode ter a certeza, é que com esta maneira de dizer é e foi dito somente a ti, sem intenções offensivas // [12] para ti. O que eu te pesso, meu caro Henrique, é que não te fassas um Belmonte Nº 2... Já me deves conhecer á muito tempo para fazeres uma edeia dos meus sentimentos. Estes desabafos quanto a essas negociatas d’Africa, é o resultado do que se tem passado com o Loge, e Deus primita não continue no Cassequel. Crê, meu caro amigo, que depois do Loge fico sempre de pé atraz... O que queres, são rabugisses de velho... Termina por aqui este acidente, que farei todo o possivel não se repita outra vez; Eu nada tenho com esses negocios d’Africa, e se lá vou é para ser agradavel ao Senhor Hinton a quem devo amizade e reconhecimento, quanto aos outros que se lixem... Crê-me sempre um amigo verdadeiro, incapáz de offender um homem de bem como tu, e leal. Teu primo e Amigo velho [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 2 de Setembro de 1927 DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola] [13] Funchal 2/9/927 Meu caro Avelino Primeiro desejo a tua saude e fortuna e bem estar. Cheguei aqui pelo “San Miguel” a 24 proximo passado com uma viagem regular, e crê que nunca me pareceu tão curta, visto têr já feito viagens de 15 dias, esta de Lesboa para a Madeira 2 1/2 dias, nem a senti. Infelizmente chego aqui para têr o grande desgosto de encontrar a minha pobre Mathilde (filha) perdida para mim e para o mundo..! Podes calcular como deve estar o meu espirito e quanto sofro por vêr minha filha a padecer tanto. Sô visto se pode acreditar! Tenho nuites que nem eu nem minha mulher podemos dormir. A pobre filha, coitada, padece tanto... e agora por fim vem-lhe uma chaga nas costas por estar sempre deitada (9 mezes!!), era o que lhe faltava. Estava já no Funchal por indicações dos medicos, isto é, tem andado em bolandas, ella que mal se podia mecher... Desculpa-me o mal escrito e redegido, mas deves comprender o meu estado. Cheguei bem, de saude e gordo, mas em pouco tempo isto modará. // [14] O Senhor Hinton pede-me para te dizer que o melaço que deve vir, seja do corrente anno e com pouca agua, se não houver tambores para toda a quantidade, pode vir nos tanques quadrados, porque aqui se fará a descarga conforme se poder. O que elle deseja é que seja melaço de 1927 Peço-te, meu caro Avelino, faças os meus comprimentos ao Amigo Pegado e a sua Ex.ma Esposa e beijos para as pequenas, pessoas de quem recebi e tenho gravado na memoria as suas amaveis attenções para comigo. Para o nosso amigo Engenheiro (?) eletricista, um abraço particular, assim como ao Guerra e Lemos e todas as pessoas com quem ahi vivi esses poucos dias. Deus me dê saude e forças para lá poder voltar no proximo anno. Quando escreveres diz-me alguma cousa das novas instalações, e fáz os meus comprimentos ao engenheiro Morro (?) e companheiro. Vi tua mãe que a encontrei boa, e como combinamos, nada lhe disse da tua volta quando seria. Saude bastante e felicidades, te deseja este teu velho amigo enfeliz, e um abraço. [Ass:] João Higino Ferraz //

407 António Costa. 408 Harry Hinton. 409 Georges Lefebvre.

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[DATA: 11 de Outubro de 1927 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [15] Funchal 11/10/927 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Cheguei de Lisboa no dia 6 do corrente pelo vapor “Nyassa”. Henrique410 deve-lhe têr escripto o que se tem passado em Lisboa depois da sua sahida, assim como Belmente o que por cá se tem passando, e assim eu tudo quanto tenho a dizer-lhe sobre a questão na nova Lei pouco adiantará. Tenho porém a imperção de que as reclamaçãoes dos aguardenteiros, se por um lado nos pode prejudicar, caso venhão a modificar a Lei!?, para elles será porém muito peor, porque estou certo que o Governo a modificar terá sempre em vista a diminuição do fabrico da aguardente pela eliminação das fabricas do sul, e assim esses ediotas que deverião somente tratar dos seus interesses, veem baralhar tudo, por conselho do seu mentor o patife do Dr. Quirino411, que não tem outro fim senão vingarse do Senhor Hinton. O futuro mostrará aos ediotas dos aguardenteiros se isso será como eu digo ou não... Quando cheguei tive uma conferencia com o Senhor // [16] Marsden sobre a modificação do nosso Triple-effet como lhe tinha falado, e ficou acente que este anno se fizesse como eu proponha; empregando o Kestner, porque assim a despeza a fazer será muitissimo menor do que a montagem de uma nova caixa. Mesmo que a nova Lei fique tal qual está, nunca poderemos (Torreão) moer mais de 22.000 toneladas cana para assucar, que dará 60 dias uteis de Laboração. Estou dando principio aos fermentos, e conto que a 14 do corrente esteja já fermentado. A situação em alcool provavel será aproximado a seguinte: (Torreão): A 11/10 stock do alcool no Torreão ...............................19.620 litros Melaço restante da Laboração .......................................28.000 “ Melaço d’Africa despacho em Lisboa ...........................12.610 “ “ “ por despachar (C.ª Nova) ..................30.630 “ Egoûts da refinação das 300 toneladas assucar bruto de 96º polarisação a chegar – .................................... 25.500 “ Total em alcool provavel..............................................116.360 “ que será alcool até fim do anno 1927, mais stock da C.ª Nova. Quanto ao assucar de 92º polarisação que deve vir em Dezembro proximo, o alcool dos égoûts será para 1928. Como o engenheiro me disse que o Senhor Hinton queria fazer a montagem novamente dos Filtros-Presses para a Melasse Cuite de 3º jet, para fazer um épuissement mais completo dos // [17] melaços da Laboração, se assim o fizer, bastará dois FiltrosPresses Dhen de 100 metros quadrados, que dá suficientemente para Torreão, visto C.ª Nova não nos enviar garapa para assucar Em todo o caso sempre lhe vou dár um calculo aproximado dos resultados que se pode obter: Com um bom épuissement dos melaços, com a montagem que temos actualmente e fazendo tudo em assucar branco de 99,7º polarisação devemos no maximo têr 5 kilogramas melaço % cana, com rendimento em alcool de 30 litros % melaço = 1,5 litros alcool % cana. Com a montagem dos Filtros-Presses para a Melasse Cuite de 3en jet deve-se obter no maximo 4,5 kilogramas melaço % cana a 29 litros alcool % = 1,305 litro alcool % cana. Calculando um maximo para assucar em 24.000 toneladas cana, e 1000 toneladas cana estragada para a C.ª Nova, dará em alcool: Com a montagem actual dará 434.000 litros alcool “ “ dos Filtros-Presses dará 387.200 “ Como actual – Diferença a mais 56.800 “ Calculando que Torreão possa importar para refinar 1500 toneladas assucar bruto de 96º polarisação, os égoûts dará em alcool 127.500 litros alcool Total em alcool será: No 1º caso (montagem actual) = 561.500 litros alcool No 2º “ (com os Filtros-Presses) = 514.700 “ “ Diferença 46.800 “ “ // [18] Passando a nova Lei tal qual está, e calculando para 1928 um rateio de alcool para vinhos de 400.000 litros (?) e 295.000 410 Henrique Tristão Bettencourt Câmara. 411 Quirino Avelino de Jesus.

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litros para desdobramento pela Junta Geral [?], terá Torreão e Comp.ª Nova 75% = 522.000 litros alcool. Vê-se que com a montagem dos Filtros-Presses temos um device de 7.300 litros alcool que será prenchido com o rendimento do milho como mosto nutritivo. Não passando a Lei tal qual está (?), teremos as fabricas d’aguardente a trabalhar?, e assim teremos menos cana a moer: Qual será o contitativo? É isso que não posso calcular. Até hoje não temos noticias do vapor que deve trazer as 1as 400 toneladas assucar de 96º polarisação, mas deve estar amanhã ou depois. Vou tirar amostras pela alfandega e fazer a analyse d’elle, porque não tendo os 96º polarisação deve sufrer diferença no preço; não é assim? Quando sahi de Lisboa, Henrique ficou muito aborrecido por ficar sô e não têr ningem com quem possa combinar qualquer cousa que se dê sobre o novo regimen saccarino, mas eu deixei-lhe todas as notas para lhe ser mais facil decidir qualquer eventualidade. Crea-me seu attencioso amigo obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 14 de Outubro de 1927 DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola] [19] Funchal 14/10/927 Meu caro Avelino Recebi as tuas duas cartas e notas sobre o Cassequel o que muite te agradeço, e passo a dâr-te n’esta as minhas impreções sobre o assumpto. Esta é a carta industrial: Vejo com prazer que o rendimento este anno parece que vai ser melhor do que o de 1926, e isso para ti é uma grande vantagem, como technico da Fabrica, para o teu futuro. Fazendo as medias das 10 semanas vejo o seguinte: assucar % centimetros cubicos garapa normal (1º engenho)= 16,749 Pureza da garapa —— = 84,21 Beaumé do xarope 25,32º com 83,68 de pureza. Assucar no bagaço ás caldeira [sic] 4,816 % bagaço. Como não sei qual o assucar na cana por analyse directa, vou fazer o calculo pelo cueficiente sumo de 0,78, e assim dá-me x = 16,749 x 78 = 13,08 assucar % cana. 100 Calculando como em 1926, 32 kilogramas bagaço ás caldeiras % cana, contendo 4,816% assucar = 1,54 perda assucar no bagaço % cana. Extração será: 13,08 – 1,54 = 11,54 assucar extrahido ou 88,2% Pelas ultimas notas que me envias-te, o rendimento medio // [20] em assucar turbinado é de 8,65% (assucar B e C). Calculando 60% B e 40% C, dá media polarisação 96,72. Tem pois em turbinado puro (100º polarisação) = 8,366% cana. Assim teremos que o assucar turbinado puro por 100 do assucar extrahido é de 72,49% Torreão em 1927 teve um rendimento em turbinado puro % do assucar extrahido de 73% (tudo em assucar branco). Vejo pois por isto que se deve dár uma anomalia ou no fabrico ou nos calculos e é bom vêr e me dizer o que achas sobre este ponto. É verdade que a nossa pureza media da garapa normal foi de 87, e que isso influi bastante no rendimento em turbinado, mas a pureza do xarope foi de 84,3 com 5,37 de coefficiente glucosico, mas isto devido á sulfitação intensiva do xarope para produzir branco Calculemos pois por estes resultados % cana: Assucar turbinado puro ...............................8,366 % cana Perdas no bagaço .........................................1,540 “ “ nas borras .........................................0,200 “ No melaço e perdas indeterminadas ......... 2,974 “ Assucar % cana ..........................................13,080 % Qual a quantidade de melaço % cana? Calculemos 4 kilogramas % com 50% assucar total = 2 kilogramas assucar Perdas indeterminadas = 0,974 % cana. Será nas perdas indeterminadas que está o gato?

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A perdas [sic] indeterminadas do Torreão em 1927 foi 0,408% cana. // [21] Fazendo as medias de 15 agosto a 11 setembro, temos o seguinte: Garapa normal (1º engenho) assucar % centimetros cubicos .................17,83 Pureza .......................................................85,86 Pelo coefficiente 78, o assucar % cana = 13,907 Perdas no bagaço 5,02% (32 kilogramas) = 1,606% cana. Assucar extrahido 12,301 ou 88,45% do assucar da cana. Calculando 73% em turbinado puro % assucar extrahido, dá rendimento 8,979 em assucar puro % cana. Isto corresponde em turbinado real (B e C) 9,28 assucar %!! Vê, meu caro Avelino, como trabalhando cana no seu estado de maturação os resultados que se podem obter! Vi bem o resultado da analyse do ensaio de plantação de cana Yuba nas “Palmeirinhas” e fiquei espantado... Fazendo o calculo do assucar % cana, deu-me 15,256%!! Cana d’esta, na nova fabrica, é para dár um rendimento em turbinado (B e C) de 11,59%!!! Se toda ella fosse assim?! Vejo tambem que o quadruple-effet está trabalhando muito melhor do que em 1926, por isso que está tirando xarope na media de 25,3º Baumé [.] A pureza do melaço é que acho um pouco elevada (45,866 media), mas isso deve ser devido a estares tirando 40% em branco, não é assim? // [22] Vejo tambem que as instalações da nova fabrica vão antando[sic] bem. Contas que em Julho de 1928 já esteja tudo montado? Uma cousa que eu desejava saber, e te pedia para me mandares nota, é a capacidade dos decantadores da garapa decantada, isto é, os que ficão junto do Quadruple-effet, e dizeres tambem se n’um trabalho normal de 340 toneladas como devem estar fazendo (?), todos os decantadores estão em servico. (Manda a capacidade cada um). Pesso-te isto simplesmente para um caso de futuro não convir empregar o systema de filtração total do jus, por ser caro, qual deve ser a capacidade em decantadores necessarios para um trabalho maximo de 800 toneladas cana em 24 horas. Recomenda-me a todos os meus amigos ahi, e fáz os meus respeitosos comprimentos á esposa do nosso amigo Prezado. Como especial um abraço ao Prezado, Alves, Munro, Guerra e Lemos. Ao teu preparador do Laboratorio muitas recomendações, e que espero quando voltar ahi o encontrar ainda contigo. Um abraço do teu Amigo velho. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 19 de Outubro de 1927 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [23] Funchal 19/10/927 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Junto remeto-lhe a copia da carta que envio a Kestner sobre a refinaria de Lisboa, como o Senhor Costa412 me pedio. Envio também uma copia para o Senhor Costa em Lisboa. Seria de grande conveniencia que antes da sua partida para Lisboa ou Madeira o Senhor Hinton vesitasse a Casa Kestner em Lille, Rue de Toul, 7 France, para lhe dár mais algumas explicações sobre o assumpto, o que seria de grande conveniencia. Como o Senhor Costa deve hir a Londres, seria bom elle o acompanhasse n’essa visita. Dei principio á destillação do melaço, hoje 19. Temos um stock no Torreão somente de 13.953 litros alcool, mas ainda esta semana vou retificar. Principiei tambem no dia 17 na lavagem do assucar de 96º (?) do Buzi. Este assucar é muito bom e facil de lavar, e vou refinar logo que tenha lavado metade do assucar ou seja 150 toneladas. Sem mais que lhe diga subscrevo-me Seu Attencioso Amigo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 19 de Outubro de 1927 DESTINATÁRIO: António Costa] [24] Funchal 19/10/927 Ex.mo Amigo e Senhor Antonio Costa A sua saude e de sua Ex.ma Esposa é que primeiro desejo. Junto remeto-lhe a copia da carta que escrevi á Casa Kestner, Lille, rue de Toul, 7 França, sobre a modificação ou montagem 412 António Costa.

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de nova refinaria para o nosso açucar Colonial. Envio-lhe tambem junto umas notas sobre tratamento de carvão animal que prometi enviar ao Chimico de Santa Iria, e que o Senhor Costa fará o favor de lhe mandar. Mandei tambem ao Senhor Hinton413 a copia da carta a Kestner, e disse-lhe que, como o Senhor Costa deve hir a Londres (segundo ouvi d’uma conversa com elle), seria de grande conveniencia os dois hirem a Lille vesitar a Casa Kestner e daí mais algumas explicações sobre o assumpto, no caso de sempre quererem a modificação da refinaria de Sta. Iria, ou montagem de uma nova refinaria para o açucar do Cassequel Desejando as suas felicidades, Subscrevo-me Seu Amigo Certo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 26 de Outubro de 1927 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [25] Funchal 26/10/927 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Em meu poder as suas duas cartas de 12 do corrente a que passo a responder. 1ª carta: O tubo que conduzia a garapa da C.ª nova para o Torreão está ainda montado até á entrada para a C.ª Nova, sendo somente necessario ligar outra vez o tubo á C.ª Nova (que foi cortado pelo Nuno Porto) e experimental’o. Triple transformado em Quadruple: Já tinha escripto na minha de 11 do corrente o que combinamos, eu e Marsden sobre isto, e assim acho que fica bom e faz menos despezas. O Kestner não tem duvida alguma trabalhando n’estas condições e com garapas ou jus filtrados. Mesmo que Torreão tenha que moer a sua parte junto com C.ª Nova umas 500 toneladas cana por dia, e calculando para as duas fabricas no futuro 40.000 toneladas cana (?!) dará 80 dias laboração corrente, ficando ainda 10 dias (3 mezes laboração) para paragem obrigatorias [sic]: Não tenho pois duvidas sobre isto, assim venha cana para isso... Filtros-presses Melasse Cuite. Vejo que está tambem de acordo de encomendar somente 2 filtros, que é o suficiente, conforme lhe expliquei na minha de 11/10. // [26] Resposta á 2ª carta: Depois de lêr e pensar bem sobre ella, vi eu e Belmonte não convir falar em poder moer 700 toneladas de cana no Torreão e C.ª Nova, porque isso poderia de futuro nos obrigar a fazer uma laboração de dois meses. Eu não vi bem, talvez, a razão porque o Senhor Hinton quêr que se diga que podemos moer 700 toneladas em 24 horas, com as modificações que se estão a fazer, mas vejo que ou será para futuras reclamações ou para dizer que em relação a São Filipe estamos muito superiores em capacidade; será isto? Mostrei a sua carta ao Reis Gomes414 e combinamos uma entrevista, cujo jurnal lhe vão enviar, e eu vou dár-lhe as explicações porque assim fiz a entrevista. 1º O meu principal fim foi provar que somente Torreão pode moer toda a cana, mesmo no maximo, em 3 mezes. 2º Dividi os annos desde 1914 a 1927 em 3 etapes, afim de provar que a diminuição da cana e o augmento do fabrico da aguardente deu em resultado que a nossa fabrica foi diminuindo gradualmente o trabalho d’esde 90% a 40% da sua força maxima. Isto é importante para cousas futuras, não é assim? Não falo pois em quantidades trabalhadas por dia, mas apresento calculos que qualquer leigo pode fazer afim de dár aproximado o que o Senhor Hinton tem em vista... // [27] 3º Para o calculo das quantidades de cana fiz exactamente como das notas dadas a Victorino do Santos e das que o Senhor Hinton deu ao Alencastre; assim estamos certos e não dá duvidas. 4º Falei sobre as modificações importantes na Fabrica do Torreão sem dizer que era para augmentar a capacidade, mas somente para abreviar o trabalho e produzir melhor. Se falassemos em augmento de capacidade, os nossos inimigos teriam um pé para dizer que Torreão não estava habilitado a fazer a Laboração do maximo e que sô agora é que queria estar n’essas condições, o que não é verdade, segundo verá pela intervista. Lendo pois bem e analysando a entrevista verá que tudo deve estar bem combinado, para não dár casas[sic] justas a contruversias. Vi-me obrigado a falar de São Filipe, mas não podia deixar de dizer o que disse, para que H. F.415 não disse-se que queriamos tudo para nos; não acha conveniente? Marinho416 vai-lhe escrever sobre o Diario de Noticias. Já terminei o melaço da Laboração e do de Africa que estava depachado[sic] (em Lisboa), e estou principiando no que estava por despachar armazenado na C.ª Nova. 413 414 415 416

Harry Hinton. João dos Reis Gomes. Henrique Figueira da Silva. Marinho de Nóbrega.

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[28] Quanto ao assucar do Buzi, ja lavei metade e que estou refinando, e logo que termine a refinação d’este, vou lavar o resto e refinar. Principiamos a vender o assucar refinado amanhã 27 O rendimento do melaço em alcool tem sido bom, mas não lhe posso mandar ainda o resultado sem terminar o lote. Sem mais que lhe possa dizer, termino desejando boa saude e felicidades, presentes e futuras. Seu Attencioso Amigo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 31 de Outubro de 1927 DESTINATÁRIO: Harry Hinton; LOCAL: Londres?] [29] Funchal 31/10/927 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Esta já deve receber directamente em Londres, e assim passo a responder á sua de 21 do corrente. Eu tambem estou na esperança que o Governo não modificará nem deve o decreto na parte que nos diz respeito, mas estou a vêr que os aguardenteiros podem talvez obter meior indeninisação[sic]. Eu da minha parte já fiz os meus calculos, vamos a vêr o que sai das estações superiores. Eu sei que o Pestana Reis diz que o valor das fabricas é de 20.000 contos!!! Está louco o homem; se lhe calcularem 6000 contos estão com muita sorte!... Quanto á nova caixa para o Triple vou escrever ao Lefebvre417 como deseja e nas condições que diz, mas tenho duvida que se possa montar para a Laboração do anno proximo. Quando eu falei em 22.000 toneladas para o Torreão foi na base dos seus calculos de 30.000 toneladas cana no total do sul da Madeira. Não era assim o seu calculo? Em todo o caso vamos a um calculo mais certo e talvez não muito longe da verdade, assim pode o Senhor ajuizar melhor a situação em 1928. segue // [30] Em 1927 Torreão moeu para assucar .............................12.000 toneladas cana Que São Filipe tivesse moido (?).............................................5.000 “ “ As fabricas de aguardente fazendo 1.500.000 litros aguardente (?) corresponde em cana = .................................17.500 “ “ Total provavel em 1927 = .....................................................34.500 “ “ Que se calcule em 1928 mais ................................................ 500 “ “ Total provavel para 1928........................................................35.000 toneladas cana Teremos pois em 1928 o seguinte: Que São Filipe possa moer ................................................... 7.000 toneladas cana Cana da Costa estragada Comp.ª Nova....................................1.000 “ “ Resta para Torreão para assucar.............................................27.000 “ “ 35.000 “ “ Para poder moer regularmente as 27.000 toneladas cana no Torreão para assucar, calculando nas peores condições 400 toneladas por dia como faziamos antigamente com a instalação que tinhamos, dá uma moenda de 70 dias. 3 mezes são 90 dias, temos assim 20 dias para limpezas etc. Como vê somente a fabrica do Torreão, sem modificações, fáz em 3 mezes as 27.000 toneladas canas, não é assim? A dificuldade porém está em poder meter, nos 6 dias uteis da semana, 450 toneladas cana por dia. Eu sei bem que tudo isso se pode fazer, principalmente agora que há bastantes camiões particulares, mas é isto o ponto mais deficil. // [31] Fiz a analyse do assucar bruto do Buzi (ramas) que mostrou 95,7º polarisação e conforme as suas ordens não se fáz questão do 0,3º polarisação (que é tambem a minha opinião). O assucar é muito bom e bem cristalisado, e o rendimento em assucar lavado é muito superior ao do Cassequel. Já estou principiando a refinar a 2ª parte do assucar e tudo deve ficar terminado entre 7 a 8 de Novembro. Quanto ao que me diz do futuro desdobramento pode ser que os seus calculos déem certos, mas sempre é bom pensar que em 1928 fáz-se menos 1.000.000 de litros, e não me parece que haja em stock na Ilha esta quantidade de aguardente de cana. 1.000.000 de litros corresponde, com a aguardente a 35$00 por gallão, a 9.700 contos de aguardente!! Seria bom o Senhor Hinton encomendar o pano para os Filtros-presses, que não temos nenhum, e assim para a futura Laboração vamos necessitar 10.000 metros de pano egual á amostra que lhe mando, para panos dobrados, que dará 2000 panos 417 Georges Lefebvre.

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que não é demais. O pano deve têr 1,15 metros de largura, e deve ser egual á amostra. Termio[sic] hoje a lavagem do restante assucar de Buzi, e vou dár continuação á refinação que deve ficar terminada na data acima dita. O melaço d’Africa deve ficar terminado a 10 Novembro. Como amanhã é feriado tem esta carta de ser enviada hoje para o Escriptorio, e por isso termino. Seu Attencioso Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 7 de Novembro de 1927 DESTINATÁRIO: Henrique Tristão Bettencourt Câmara] [32] Funchal 7/11/927 Meu caro Henrique A tua saude e dos teus é o que desejo. A nossa ca por casa mais ou menos. Junto envio-te uma espece de memorial sobre a nota oficiosa de Sua Ex.ª Governador Civil (burro), e sobre a qual te vou dár algumas explicações: Quando apareceu essa selebre nota oficiosa, falei ao Belmonte e Reis Gomes418 para dár no Diario da Madeira uma esposta[sic] a ella, ou por uma intervista com Belmonte ou comigo, ou por um artigo da redação. Não se fez porém porque não foi da opinião tanto de Belmonte como do Reis Gomes levantar essa questão agora, visto não se saber o que diria o relatorio que elles vão enviar, e assim com as notas que te mando podes ahi mostrar na comição ou ao Lencastre o resultado de semelhante desparate e burridade. Contudo sempre te quero dizer o meu ponto de vista quanto á nota Oficiosa: Sube que o maldito do Pestana Reis, Governador etc. estavão na desposição de apresentar ao Governo a proposta de transformar as fabricas de aguardente, umas em fabricas de assucar e alcool, outras somente em fabricas d’alcool de cana para tratamento de vinhos. // [33] Não se fêz isso porém, porque o Capitão Varella419 e outros se opuseram a isso, e assim ficou determinado o fabrico livre de assucar, montandose fabricas transformadas das de aguardente em fabricas de assucar, e dos residuos fazerem alcool para tratamento de vinhos (?!!). O Varella depois de lhe dizerem que a transformação de todas as fabricas de aguardente em fabricas de assucar era um impossivel, respondeu que pouco se importava com isso, e que as que não estivessem em condições monetarias de o fazer que fechassem!... Estaes a vêr o resultado? O Pestana Reis foi aos arames e afastou-se do Governador, assim como os aguardenteiros restantes que estão furiosos com elle Governador. Esta edeia de transformar as fabricas de aguardente em fabricas d’alcool para tratamento de vinhos, é ja bastante antiga, como sabes. A transformação é facil, porque apenas requer a montagem de um pequeno retificador, e o resto corre como d’antes, isto é, transformar a cana em aguardente, e depois retificar essa aguardente para alcool em 40º Cartiere. O alcool é que não sei como ficará na sua pureza ??! Recomendações a todos, e um abraço de teu primo e amigo velho. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 9 de Novembro de 1927 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [34] Funchal 9/11/927 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Respondo á sua carta de 30 ultimo. Os filtros-presses para a Melasse Cuite são efectivamente com chapas foradas de ferro, e sem ellas a filtração da Melasse Cuite não se fáz bem. O que seria naturalmente muito melhor, era se essa chapas [sic] em logar de serem de ferro fossem de cobre furadas, mas isso faria o custo dos Filtros-Presses muito caros (?), mas tinha a grande vantagem de não se estragarem tão rapidamente como acontece ás chapas de ferros foradas, e serem assim mais facil de tiral’as todos os annos para limpeza. A filtração da Melasse Cuite deveria ser melhor e mais secca. Os furos das chapas de ferro ficão em parte tapados mesmo dentro do 1º anno de trabalho e não se podem limpar durante a laboração. Com as chapas de cobre, era facil a limpeza a acido mesmo durante a Laboração. É bom o Senhor Hinton vêr bem esses resultados, e vêr qual a diferença de preço com chapas de cobre e não de ferro. Recebi uma carta do Senhor Costa420 em que me diz que não pode hir a Londres devido aos seus muitos afaseres em Lisboa, e que o Cassequel já tem auctorisação para destillar os melaços. // [35] A refinação do assucar do Buzi que eu calculava ficar terminada a 10 do corrente, vai levar um pouco mais tempo, e talvez não ficará tudo turbinado senão no fim d’esta semana. 418 João dos Reis Gomes. 419 José Varela. 420 António Costa.

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Quanto ás fermentações está quasi terminado os melaços da Laboração (resto) e da Africa, estando já a fermentar os égoûts da refinação. A quantidade d’alcool retificado feito até hoje é de 56.000 litros. Quanto o que me diz dos Artigos do Diario da Madeira são effectivamente bons, mas os artigos publicados em Lisboa feitos pelo M. de Carvalho e assignados por Henrique421, o primeiro magistral, o segundo muito longo e cheio de elogios ao maldito Quirino422, mas estou a vêr que esses elogios podem ser considerados como toça[sic] por uns, mas tambem como elogiativos por outros!... Eu sei bem que Quirino não assigna nada que os outros publicão (Pestana Reis), e o M.C.[?] não tem um pé para o ferir directamente o Quirino. Além d’isso elle é um seu colega... mas não na patifaria. Eu calculo as deficuldades que Henrique tem tido mesmo assim, para elle escrever alguma cous[sic]. Como não é o M.C. que assigna mas sim Henrique em nome de William Hinton, podia chegar-lhe um pouco. Seu Amigo certo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 9 de Novembro de 1927 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [36] Funchal 9/11/927 Ex.mo Senhor Hinton Hia-me esquecendo fallar sobre a copia que lhe envio junto. Como deve saber pelo Belmonte, o Governador reonio uns amigos dos aguardenteiros (das Camara [sic] Municipes[sic]) para pedir ao Governo a revogação do Decreto, mas sube tambem que a primeira edeia era consegir do Governo o fabrico livre de assucar e alcool, e assim algumas fabricas antigas de aguardente se transformarem em fabricas de assucar ou alcool. Veio porém o Capitão Varella423 e modificou tudo dizendo que o fabrico de assucar deveria ser livre, mas as fabricas de aguardente deveriam-se transformar somente em fabricas de assucar, e as que não o podessem fazer, serem fechadas... Está a vêr a bomba!! Tudo isto são uma data de patetas, incapazes de pegar n’um papel e fazer calculos!! Contudo sempre foi mandando a Henrique o original da copia junta, e dei-lhe as explicações sobre o caso, se por acaso elle vir que isso pode ser algum valor. Seu Amigo Certo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 16 de Novembro de 1927 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [37] Funchal 16/11/927 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Vou responder ás suas cartas de 3 e 10 do corrente. Não recebemos ainda o preço da caixa tubular para a modificação do Triple, como pedi a Lefebvre424, mas talvez não tivesse tempo para a procurar de occasião. Logo que se receba o orçamento, mando telegrama como do seu desejo. Uma das razões porque se tem vendido pouco alcool é em parte devido a têr havido dificuldades a passar guias para alcool, visto haver duvidas sobre qual a entidade que passa-se as guias, mas isso agora parece-me que já está resolvido, e já principião a passar guias. Como falo sobre alcool, vou dizer-lhe o que podemos contar até 1928, aproximadamente: Calculo a 15/11/1927: Stock alcool no tanque grande Nº 1 .......................................69.720 litros “ “ “ pequeno Nº 2 ...................................1.990 “ Resto do vinho melaço com destillação dará retificação .......16.200 “ Stock da C.ª Nova a 14/11 .....................................................30.000 “ Escencias e etheres a retificar (?) ..........................................15.000 “ 421 Henrique Tristão Bettencourt Câmara. 422 Quirino Avelino de Jesus (1865-1935), advogado madeirense, com múltipla intervenção no jornalismo, política. Foi advogado da casa Hinton e sobre o tema publicou alguns estudos: JESUS, Quirino de, A Questão Saccharina da Madeira, Lisboa, Typografia A Editora, 1910; IDEM, A Nova Questão Hinton, Lisboa, 1915. 423 José Varela (1874-1937), medico do exército, politico e jornalista. Foi Governador Civil, Presidente da Junta Agrícola da Madeira e procurador à Junta Geral. A situação reporta-se ao período em que era governador civil. 424 Georges Lefebvre.

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Alcool provavel do assucar Buzi de 92º polarisação ........... 57.700 “ Total alcool provavel ............................................................190.610 “ Dará pois, vendendo pelo maximo, 38.000 litros por mez (?), para 5 mezes, isto é, até 15 abril 1928. // [38] Quanto aos panos para os Filtros-Presses vou dizer-lhe como calculei para os 10.000 metros, e sobre umas 30.000 toneladas cana no maximo, isto é, uns 80 dias de Laboração. É necessario notar que não temos panos nenhuns. Cada pano dobrado (duble pano egual á amostra que é o que dá melhor resultado) leva 5 metros de pano. Temos 7 Filtros-Presses em trabalho que leva 52 panos; carga completa para os 7 filtros = 364 panos. Calculei 4 ordens panos para cada filtro, visto que no fim da Laboração 50% dos panos estão inotilisados. Sendo assim seria um total de 1456 panos ou seja 7280 metros de pano. Restaria pois para os 10.000 metros 2720 metros = 544 panos. Como a meia Laboração teremos de parte estragados 25%, restaria 1500 panos que é 4 cargas para cada filtro até ao fim da Laboração. Querendo porém têr somente 3 cargas de panos para cada filtro, será necessario uns 6000 metros de pano (1200 panos). Os panos usados servem para mangas e para os filtros Fillippe da garapa, e assim não são completamente perdidos. Para os filtros mechanicos do xarope é pano felpudo e que deve vir uns 500 metros e 440 metros de corda especial para elles. // [39] Como o Senhor Hinton já encomendou 2000 metros pano para os Filtros-Presses, e querendo 3 ordens panos para cada filtro, terá que comprar mais 4000 metros. Faço-lhe porém notar que com 4 ordens de pano para cada filtro, ficamos mais garantidos, e os panos bons servem para o anno seguinte, e os usados estragados para os filtros Fillippe da garapa. Resumindo teremos: Para 4 cargas por filtros 10000 metros Para 3 “ “ 6000 metros dedusindo, já se vê, os 2000 metros já encomendados, será pois a comprar no 1º caso – 8000 metros 2º caso – 4000 metros Destillação dos melaços e égoûts refinação: A destillação e retificação dos melaços e égoûts da refinação Buzi de 96º polarisação deve ficar terminada para a semana proxima, e quando terminar lhe darei o resultado do rendimento, mas vejo d’esde já que o rendimento é bom. Deixei de reserva 11.100 kilogramas melaço d’Africa para os fermentos, quando venha o assucar do Buzi de 92º polarisação. Não vou agora retificar as escencias e etheres, para trabalhar com ellas durante a destillação dos égoûts do Buzi a vir em Dezembro, e assim refinando e destillando, fazer a esperiencia das novas grelhas (fornalhas) das caldeiras de vapor // [40] Refinação do assucar Buzi (de 90º) Terminamos a refinação e vou dár-lhe os rendimentos aproximados do assucar bruto, mas pelo pezo da balança das centrifugas, porque o ultimo lote esta-se ainda pezando, e somente depois d’isso lhe posso dár o real. assucar bruto refinado de 95,7º polarisação 298.922 kilogramas Rendimento aproximado: Assucar refinado branco para consumo 216.956 kilogramas Assucar do ultimo cuite para xarope assucar invertido está incluido acima. Assucar restante nos égoûts para nova refinação do Buzi de 92º polarisação. calculados em assucar turbinado branco 7.590 kilogramas Total em turbinado provavel 224.546 kilogramas Dá pois um rendimento provavel de 751 kilogramas assucar por tonelada bruto Em alcool dos égoûts dará 93 litros alcool “ “ A quebra de refinação foi de 3,2% do assucar a 100 polarisação Tenho para xarope assucar invertido 18.750 kilogramas do ultimo cuite e que está quasi branco, e dará um xarope assucar invertido 25.200 kilogramas xarope. Como alguns compradores de xarope assucar me teem falado dizendo se nôs podessemos preparar um xarope já avinhado, isto é, um xarope-vinico, elles poderião empregar directamente no vinho dando um // [41] melhor resultado no tratamento do vinho, e assim pensei o seguinte: Fiz esperiencia de laboratorio em 1/2 litro de xarope assucar invertido juntando-lhe a quente 40% do meu vinho dando assim um xarope-vinico com bom gosto a vinho e ficando a 29º Baumé. A quebra no volume foi de 4,2%, mas eu calculei 4,5% de quebra.

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Como se vende actualmente o xarope a 3$00 por kilograma, calculando o preço do xarope vinico a um valor de 5$00 por litro, fica o assucar empregado no xarope a 3$40 por kilograma. O preço do vinho calculei a 5$20 por litro. Desejava pois fazer um poço n’estas condições, mas para vender quando esteja completamente resolvido estas questões do novo decreto, para não dár causa a ditos dos nossos amigos. Como sabe tenho em vinho meu aproximado 67.000 litros vinho tratado a 19º alcool, que está bom, mas não ha meio de vender por emquanto, e assim com o vinho meu empregado no xarope, hia amortizando a minha conta na sua casa. Em todo o caso sempre vou fazer um poço n’estas condições para vêr melhor o resultado pratico, e é xarope de venda facil. O xarope feito por elles (exportadores) deve sahir mais ou menos ao preço de 5$00 por litro em 29º Baumé, e naturalmente não invertido. // [42] Tem-me esquecido dizer-lhe que o Vinagre do alambique tive que o despedir, sem sua auctorisação, porque foi malcriado comigo por fazer refleções sobre o épuissement da columna de destillação. Este pateta emaginava que sahindo a destillaria não trabalhava!! Já quando eu estava em Africa elle foi malcriado para com o Marinho425, e como sabe tambem com o Belmonte, e assim fica suspenso até o Senhor Hinton vir para a Madeira. Para o Alambique não o quero mais. Tem vindo comigo para me pedir desculpa, mas eu tenho-lhe dito que quando o Senhor Hinton vier que resolverá. Como é um homem antigo na casa, pode servir para a balança das canas. Sem mais que possa dizer subscrevo-me seu Attencioso Amigo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 22 de Novembro de 1927 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [43] Funchal 22/11/927 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Como terminei toda a refinação do assucar Buzi de 95,7º polarisação e do alcool (Lote Nº 4) vou dár-lhe os resultados. Refinação do Buzi Pezo liquido do assucar a refinar = 298.922 kilogramas a 95,7º = 286.068 kilogramas a 100º Productos: Em assucar turbinado branco de 99,8º polarisação= 198.987 kilogramas=.........198.589 kilogramas a 100º polarização Em assucar turbinado para xarope de 99,5º polarisação= 18.750 kilogramas =....18.656 “ “ Egoûts restantes para rentrar no assucar Buzi de 92º polarisação 38.143 kilos com 66,3% assucar.......................................................................= 25.300 “ “ Egoûts á destillaria 52.814 kilos com 62,45% assucar.....................................= 32.912 “ “ Assucar calculado nos cuites e malaxeurs não lavados, devido a se esperar o assucar de 92º polarisação ........................................................ 1.800 “ “ “ a 100º Total em assucar obtido..................................................................................... 277.257 Quebra de refinação = 3,08% do assucar puro a 100º Por toneladas assucar bruto foi pois: Em turbinado até hoje ..................728,460 kilogramas assucar vendavel a 99,7º polarisação Calculo dos égoûts a rentrar......... 24,540 “ “ “ Total em turbinado........................753,000 “ “ “ Deu em égoûts totaes 282 kilogramas com um rendimento medio de 35,52 litros alcool em 40º cartier % = 100 litros alcool em 40º. Nota: O assucar a rentrar no assucar Buzi a vir, de 92º polarisação, está calculado em turbinado (30% do assucar puro) e os égoûts restantes, depois d’essa turbinagem, para a destillaria, dando pois um total de 282 kilos égoûts por tonelada bruto. // [44] Destillação Inventario Nº 4 – 1927 109.320 kilogramas resto melaço Laboração 1927, rendeu .........................35.139 litros em 40º 50.439 “ melaço d’Africa despachado em Lisboa ....................13.082 “ “ 120.540 “ “ “ (que estava na C.ª Nova)....................31.778 “ “ 52.814 “ égoûts refinação assucar Buzi de 95,7º.............................19.279 “ “ Lavagem xarope assucar invertido.....................................................................130 “ “ Milho em mosto nutritivo ........................................................................... 1.923 “ “ Total do inventario .............................101.331 litros em 40º 425 Marinho de Nóbrega.

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Nota: Restou n’um tanque 11.000 kilogramas melaço Africa (que estava na C.ª Nova) para fermentação futura. Retifiquei todo o alcool restando somente para retificar de futuro: Escencias no tanque grande 9.840 litros em 40º Etheres no armazem 8.830 “ “ Total por retificar 18.670 “ “ Stock total do alcool a 22/11/927 = 79.708 litros em 40º Tem pois todas as notas tanto da refinação como do alcool produzido e a produzir. Envio-lhe separado um calculo do resultado comercial da refinação do assucar Buzi de 95,7º [.] Calculei o assucar a 2$80 por isso que vejo baixa no assucar estranjeiro, e teremos alvez[sic] de baixar o nosso (?) Crea-me Seu Amigo certo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 23 de Novembro de 1927 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [45] Funchal 23/11/927 Ex.mo Senhor Hinton Recebi do Dr. Capelo426 as ofertas juntas de phosphato bicalcique e Kieselgouhr que lhe envio, e assim poder apreciar e comparar os preços ahi, contudo sempre lhe vou dizer a minha maneira de vêr. Kieselgouhr: Este producto convem melhor vir de Londres, porque tendo a densidade de 217 gramas por litro é mais barato do que o da Alemanha. Phosphato de cal: N’este producto é que a differença de preço é grande, e o de Hamburgo garantem [sic] 28% d’acido phosphorico soluvel no citrato. Qual a percentagem do de Londres? Para a Laboração de 1928, calculando 30.000 toneladas cana para assucar (?) vamos necessitar (deduzindo os stocks existentes) o seguinte: Phosphato de cal 33.000 kilogramas Kieselgouhr ou Diatomite 30.000 “ Enxofre en canons (França 17.500 “ Cal virgem de 98 de pureza 40.000 “ Formol a 40º 800 litros Soda caustica 2.000 kilogramas [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 2 de Dezembro de 1927 DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola] [46] Funchal 2/12/927 Meu caro Avelino Sô agora te respondo á tua carta de 23 de outubro, mas desculparaes esta minha falta, não sô pelos afazeres depois da minha chegada de Lisboa, como pelo meu estado de espirito, depois da morte da minha querida Filha. Quanto ás cousas de Lisboa com relação aos aguardenteiros, parece-me que é cousa resolvida, e elles devem receber um pouco mais do que o decreto lhe marcava. Era isso que elles deveriam têr feito d’esde o principio, como eu disse em Lesboa ao Azevedo e Brito, mas entregaram-se nas mãos do Dr. Quirino427 e foi n’isso que se perderam. O maldito Quirino não quer senão vingar-se do Senhor Hinton e pouco se importava com elles aguardenteiros. Tem agora ao seu lado (o Quirino) o Antonio Pinto Correia que assigna tudo quanto o Quirino escreve, mas isso tem dado um sarilho dos diabos aqui com os directores do Banco da Madeira, e a questão actualmente está no pé de os directores do Banco o obrigarem a calarsse. Tenho pois todas as esperanças, para não dizer certeza, que tudo se resolverá a nosso favor. H. F.428 sempre o mesmo, não fáz // [47] nada mas vai pescando nas aguas turvas... Gostei de vêr as analyses da fabrica, e vejo que a cana continua a melhorar bastante, assim como o rendimento medio. São honrras para ti, meu caro Avelino, e estimo que contenue sempre assim. Quanto aos filtros presses que enviamos d’aqui, como deves saber, não eram novos, e o serviço que elles fazião com a 426 António Rodrigues Capelo? 427 Quirino Avelino de Jesus. 428 Henrique Figueira da Silva (1868-1946). Comerciante e banqueiro, era proprietário de um banco e do engenho de S. Filipe (1919) sito na actual Praça da Autonomia.

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Melasse Cuite deveria tel’os estragado um pouco, mas tambem o preço foi bem baixo. O peor é que o Senhor Hinton429 vendeu esses e tem agora que comprar outros 2 novos para o trabalho da Melasse Cuite de 2º jet, porque com as novas leis teremos que fazer um épuissement o mais completo do melaço, porque o alcool deve diminuir as vendas devido á nova Lei sobre vinhos, e não convem haver excesso d’alcool. Esses filtros presses devem ficar na Fabrica velha, porque é minha opinião têr sempre essa fabrica em estado de trabalho para um caso eventual. É bom pois o Engenheiro deixar na nova fabrica o logar para 3 Filtros-Presses novos, no caso de ser necessario montar. Quanto á Fabrica Nova, achas que ficará promta a funcionar em agosto? // [48] Naturalmente logo que termine aqui a Laboração, que este anno deve levar uns 3 meses, devido as fabricas de aguardente do sul não trabalharem, devo hir á Africa com o Senhor Hinton e o Marsden, para dár o inicio a Laboração na nova Fabrica, como ficou combinado. Pesso-te meu caro Avelino, para entregares ao nosso Amigo Pegado os bilhetes de visita que te envio junto. Os meus agradecimentos pela tua sentida carta pelo falecimento da minha querida Mathilde, e por ella vejo a estima que mostras por mim e que nunca se apagará da minha memoria. Um abraço para todos os amigos d’ahi, e para ti uma grande [sic] abraço do teu verdadeiro amigo dedicado. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 5 de Dezembro de 1927 DESTINATÁRIO: Harry Hinton; LOCAL: Lisboa] [49] Funchal 5/12/927 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Recebemos o assucar bruto da C.ª Colonial do Buzi, comprado pela base de 92º polarisação, mas feita a analyse media de todo o assucar apenas mostrou 91,1º polarisação (analyse feita por mim e Marinho430 que concordaram). Como esta diferença é de quasi 1% e como o Senhor Hinton está em Lisboa decidirá como entender. Vou tirar amostras pela Alfandega para o caso de reclamação. Contudo sempre lhe quero dizer o typo do assucar, que é bem cristalisado, sendo facil de lavar, mas está muito carregado de melaço. Com a polarisação de 91,1º eu calculo o rendimento seguinte: Em turbinado refinado 58% Em alcool em 40º Cartiere 16 litros % Por este calculo provavel, pode o Senhor Hinton vêr qual o seu resultado industrial. Fica terminada hoje a lavagem de 50% do assucar e vou principiar amanhã a refinação d’esta parte. Dei principio aos fermentos no Laboratorio hoje, para hir fermentando os égoûts d’este assucar. A refinação d’este assucar deve levar aproximado uns 37 dias, e assim somente ficará tudo refinado e os égoûts destillados em Janeiro proximo. Ainda não recebemos o devis da caixa do Triple. Crea-me seu Attencioso Amigo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 7 de Dezembro de 1927 DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre] [50] Funchal 7/12/927 Mon cher ami Monsieur Lefebvre Je vous remercie bien votre lettre du 29 derniere et votres paroles d’amities. Vous dite qui a presant vous éte chauffeur, moi aussi, mais en aprentissage. Moi encore abatu à má meilheur pour la perte de má filhe, má famme comme vous pouvais calculaire le reste de la famile a plus part [?] bien. Affaires Hinton: Monsieur Hinton doive arriver á Madère de 12 du corrant, et si vous pouvez envoyer les caracteristiques de la caisse du triple et son prix, il peut decider ici à Madère. Pour les joints des portes superieures des Rechauffeurs je vous donnerai dans le prochene corrai, exactment les mesures. Mes compliments a Madame Lefebvre, et croyez moi votre ami devoué. [Ass:] João Higino Ferraz // 429 Harry Hinton. 430 João Marinho de Nóbrega [1879-1954]. Industrial e jornalista, foi químico analista do laboratório do engenho do Hinton. Em 1954 encontrava-se na qualidade de director do laboratório do engenho.

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[DATA: 12 de Dezembro de 1927 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [51] Funchal 12/12/927 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua carta do dia 10 do corrente a que respondo. Na minha carta de 22 proximo passado dizia-lhe que tinha terminado o melaço, mas na minha de 16 proximo passado davalhe o calculo provavel do alcool até á Laboração, como pode vêr por ella. Em todo o caso envio-lhe agora novamente um calculo, para melhor elucidação: 378 toneladas assucar Buzia de 91º, dará alcool .................60.480 litros Restante dos égoûts do Buzi de 96º, dá...............................10.770 “ Alcool dos ettres e escencias restantes ............................... 18.000 “ Total a produzir....................................................................89.250 “ Stock alcool Torreão e C.ª Nova ....................................... 80.000 “ Total do alcool provavel ...................................................169.250 “ Calculando até a Laboração de 1928 em que se possa têr melaço, são 4 1/2 mezes, o que dá pouco mais ou menos 37000 litros alcool por mes. Será pouco? é dificil de calcular as sahidas, mas calculando um maximo de 50.000 litros de vendas por mez (?!), faltará 56.000 litros alcool, que corresponde a 220 toneladas de melaço d’Africa para Torreão, ou seja um total de 300 toneladas para Torreão e São Filipe. // [52] Não são os 56.000 litros alcool que podem influir, por isso que devemos têr <sempre> stocks d’alcool. Qual será o rateio do alcool em 1928? É este o ponto principal. Em todo o caso para não termos duvidas sobre a falta d’alcool, que seria mau que faltasse, era bom vir as 300 toneladas de melaço de Angola e para completar o carregamento, ou 100 toneladas de milho ou então assucar bruto do Cassequel por preço conveniente. Quanto ao H. F.431 vejo que fáz exigencias estupidas, segundo me têem dito, isto é, quer mais rateio porque, diz elle, lhe cresce melaços!?... Elle para o assucar que fabrica o seu rateio está certo, e o que elle terá de fazer, é fabricar menos melaços e mais assucar, a não ser que a sua fabrica seja de melaço e não de assucar!! O que eu vejo é que além de manha tem estupidez e má comprenção das cousas. Esperando a sua volta para a Madeira subscrevo-me seu Attencioso Amigo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 21 de Dezembro de 1927 DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola] [53] Funchal 21/12/927 Meu caro Avelino Recebi as tuas cartas e notas sobre o fabrico do assucar no Cassequel que muito te agradeço, e vejo assim que tudo corre bem. Agradeço-te tambem as notas sobre a capacidade dos decantadores da Fabrica antiga, e por ellas vejo que se no futuro querendo fazer a decantação (conforme os desejos do Costa432) em logar da filtração total do jus, teremos que montar 10 decantadores de 100 hectolitros cada um para o trabalho de 700 a 730 toneladas cana em 24 horas, calculando um maximo de 100 litros jus total % cana, devido á imbibição nacional que se tem que fazer para uma extração do minimo de 95% do assucar da cana. Eu calculei na Fabrica Antiga actualmente uma quantidade de jus total de 85 litros jus % cana; será assim? Se este calculo está certo, manda-me dizer, para eu poder modificar no caso de ser mais ou menos. No caso porém de no futuro quererem fazer a decantação por ser mais economico o fabrico, teem que ser montados filtros mechanicos para a filtração do jus decantado, assim como 2 ou 3 ebulidores de jus antes da filtração. Por esta forma (decantação) evita-se o emprego do Kieselgouhr e phosphato de cal, e a sulfitação // [54] é feita somente a 0,5 gramas SO2 por litro, como estais fazendo actualmente, havendo pois tambem uma economia de enxofre. A nova instalação, porém, para este trabalho é um pouco mais cara, devido aos decantadores, eleminadores etc. Para a produção porém de 70 a 75% em assucar branco, como estais fazendo actualmente, é indispensavel a filtração mechanica do jus decantado, e para isso 431 Henrique Figueira da Silva. 432 António Costa.

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calculo ser necessario uns 10 filtros Filippe de 30 quadros. Quanto custará toda esta machinaria? Todo o material actual da Nova Fabrica, serve, sem ser necessario grandes modificações. A questão é têr local junto dos sulfitadores-alcalinisadores para esta nova montagem, caso de futuro quiserem fazer. No proximo anno porém, a fabrica vai trabalhar pelo nosso systema (filtração total), depois veremos o que convem. Fabrica d’Alcool: Em carta separada pedes umas notas sobre o seguinte: Medição do destillador: Esta medição para ser certa, fáz-se encher as columnas com agua que é medida o volume d’ella empregado, até encher completamente as columna [sic] (destillação e retificador). Os esquentador [sic] e condensadores não é necessario medir, é somente as columnas. // [55] Para as cubas que são quadrangulares, já sabes como se fáz a medição (altura x largura x comprimentos). Para tanques redondos ou cylindros retos, o calculo é o seguinte: 3,1416 x pelo raio da circonferencia elevado ao quadrado x pela altura = metros cubicos. Quanto ás analyes[sic] do alcool, confesso-te que não as sei fazer e muito menos do desnaturado, e essas analyses compete, segundo a lei, ao analysta official. A analyse que sei fazer e[sic] pelo processo Barbet pelo permanganato de potassa, mas essa analyse é mais para determinar a pureza do alcool, e não analyse dos seus componentes. Parece-me porém que essa parte pouco te pode interessar. Envio-te junto um prospecto da casa Lavalle, que acho interessante, sobre os Carborantes a base de alcool, e isso pode serte util para descutir sobre a forma de desnaturação do alcool pela gasolina (Essence), ou pelo petrolio. Sem mais que te possa dizer, desejo que tenhas sempre perfeita saude e felicidades, e é isto que te deseja o teu velho amigo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 4 de Janeiro de 1928 DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre] [56] Funchal 4/1/928 Mon cher ami Monsieur Lefebvre Mes meilleurs voeux por 1928 pour vous et votre famille. Repondant á votre lettre du 5 Decembre derniere, je vous dite par la lettre officiel, que la caisse du Triple-effet n’arriverai pas á temps de monter cette année, et comme cá nous ne fairont pas la comende de suite. Moi et Monsieur Hinton433 nous demandont le suivant. Comme actuellement nous somes obligué de refinaire du sucre d’Afrique pour la comsumation de Madère, nous reste des égoûts á destillaire, mais avec ces égoûts nous avont des dificultée de fermentation, du a la longue fermentation do mout, même avec la levoure bien active et pure, que dure a.p.p. 8 a 9 jours de fermentation avec une densitée inecial de 7º Baumé. La dificultée est seulement la longuer de fermentation que traine longue temps. La levure que je employez est la même que je fait la fermentation du melasse de canne qui marche tres bien et est pure, et que je conserve au Laboratoir en soluction de sucre pure a 10%. // [57] Nous vous demande donc, de consultair un de vós ami especialistes en fermentation pour voir la forme de agir pour obtenir une fermentation rapide. Comme renseignment je vous donne la forme que je adopte dans le travaille: Refination du sucre: Pour avoir un sucre blanc refinée je sulfite le xirop le refonte. Les égoûts obtenues, a.p.p. épuissees, ont la composition suivant: Brix..............................79,48 Sucre Clerget...............44,14% Glucose........................20,61 “ Pureté Clerget..............52,26 Sucre total ...................63,71% Rendement obtenu 36,5 litres alcool a 100º % égoûts Pour la fermentation je fait le moût á 7º Baumé employant l’acide chlorydrique pour donner une acidité de 1,5 grammes en SO4H2 par litre, 15 grammes de Fluorure de soude par hectolitre mût. Pour donner de la nourriture á la levoure je employez le mût de maise saccharifie par l’acide chlorydrique en dose de 200 litres de mûts de maise par 60 hectolitres de moût d’égoûts. 433 Harry Hinton.

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La fermentation est faite par pied de cuve avec levure mère active, employant 30% de pied de cuve. // [58] Temperature de fermentation 32º: La fermentation termine a 28º!!! c.a.d. ne se chauffe pá?! Je vous pris donc de voir s’il y a un tour-demain pour eviter la fermentation longue avec lé égoûts de refination du sucre. Je vous pris donc de repondre en lettre officiel à la Maison Hinton Bien cordialement a vous et votre famille. Votre ami devoué. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 21 de Janeiro de 1928 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [59] Funchal 21/1/928 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Acaba agora o Belmonte de me dizer que o Senhor Hinton quêr que lhe diga o que se tem passado com as fermentações dos malditos égoûts que me tem posto a cabeça em agua..., e assim o vou fazer: Quando o Senhor Hinton d’aqui sahio sabe as dificuldades que tive com a fermentação dos égoûts muito ricos, isto é, que não fermentavam, e sabe tambem que ficou decidido refinar o restante assucar lavado e fazer um épuissement parcial d’esses égoûts de refinação, e assim o fiz, dando os égoûts a seguinte analyse: Saccharose Clerget 70,28 (assucar total) Pureza 67,59 Pois estes égoûts não querem fermentar, havendo pois a mesma dificuldade que as anteriores, cuja analyse media é a seguinte: Saccharose total 69,06 Pureza 70,9 Tenho porém a dizer-lhe que o fermento que conservo sempre na pipa está bastante activo e puro, e com um fermento d’estes tinha regorosa obrigação de dár um fermentação [sic] regular, se a materia prima a fermentar fosse fermentavel. Qual a // [60] rasão porque os égoûts da refinação não fermentão? É isso que me faz perder a cabeça. Tenho feito todas as analyses possiveis a vêr se dou com a causa d’isto, mas não vejo nada de anormal. Hontem fiz uma ultima esperiencia que foi a seguinte: Fiz um mosto nutritivo com milho e centeio saccharificado pelo Malte (do Milo[sic]), e os égoûts foram invertidos pelo acido chlorydrico, afim de têr uma inverção parcial da saccarose dos égoûts. Fiz um pé de Cuba (nas pequenas cubas de ferro dos apparelhos dos fermentos) e juntei-lhe o fermento bem activo da pipa. Pois de manhã quando cheguei á Fabrica... nada de fermentação na cuba pequena!! Já nos chegou o phosphato d’amoniaco e empreguei na dose maxima. Como vê tenho feito tudo quanto se pode fazer para conseguir poder fermentar os égoûts, mas confesso que nada mais posso fazer, a não ser que tenha melaço d’Africa ou lavagens de assucar bruto de 90º polarisação para dár um principio de fermentação activa e depois alimentar as cubas em fermentação com os égoûts de refinação. Foi devido a isso que lhe telegrafamos hontem para saber se sempre era possivel obter ou assucar de 90º ou melaço d’africa // [61] ahi em Lisboa, mas nunca melaço de refinação. Foi isso que combinamos antes da sua partida para ahi, e como não havia nuticias d’isso, por isso lhe telegrafei. De Lefebvre434 ainda não recebi resposta aos quesitos que lhe fiz, sobre a fermentação d’esses égoûts e estou a vêr que a opinião dos technicos competentes vão chegar quando o melaço d’Africa tenha vindo.. Haverá um fermento proprio para fermentar assucar ou égoûts ricos de refinação? Não sei nem n’unca vi nada sobre o assumpto. Vejo que H. F.435 também deve estár em dificuldades de fermentação com os seus égoûts, porque o Barbeito436 perguntou a Tristão437 se sempre vinha o melaço d’Africa e quando, e isto com insistencia. Quando passo á nuite na fabrica, e tenho sempre o cuidade de vêr se a casa da destillaria do H. F. está trabalhando, vejo sempre tudo ás escuras, o que prova não estão destellando, mas somente refinando de dia. Enquanto teve melaço da cana fermentava, mas agora é que deve ser a dificuldade. Os égoûts que me resta para fermentar é aproximado 62.865 kilogramas, que deveria dár uns 21.4000 litros alcool em 40º Por um calculo feito hontem e que dei a Belmonte, // [62] disse-lhe que não podia contar com mais de 40.000 litros (a 2%) incluindo a C.ª Nova e todo o alcool que tenho de B.V.[?] etc. Que de 20 a 31 se venda – 20000 litros, resta para Fevereiro outros 20.000 litros. 434 435 436 437

Georges Lefebvre. Henrique Figueira da Silva. César Augusto de Oliveira Barbeito (1865-1947). Foi o responsável pelo engenho do Largo do Pelourinho, propriedade de Henrique Figueira da Silva. Henrique Tristão Bettencourt Câmara.

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O que o Senhor Hinton pode têr a firme certeza, é que temos feito todo o possivel para não lhe dár desgostos nem prejuizos. Nada mais lhe posso dizer sobre este assumpto, a não ser que vou conservar até o dia 25/1 o fermento da pipa, mas depois se não houver nuticias d’ahi sobre a venda de assucar bruto de 90º polarisação ou melaço d’Africa de Lisboa, vejo obrigado a desprezar o fermento. Quanto aos egouts restantes ficão reservados para não dár mais prejuizos; bem basta o que está nas cubas Nº 1, 6 e 7 que mal fermentão! Crea-me sempre seu dedicado Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 1 de Fevereiro de 1928 DESTINATÁRIO: P. Eiffe; LOCAL: Hamburgo, Alemanha] [63] Funchal 1/2/928 Ex.mo Senhor P. Eiffe C/o[?] Eiffe & Birgfeld Hamburg Meu Ex.mo Amigo e primo Eiffe Recebi a sua estimada carta de 6 do proximo passado que muito lhe agradeço e vou responder. Envio-lhe pelo vapor “Arucas” duas caixas com vinho do typo A e B para amostras, e ao mesmo tempo todos os decomentos necessarios para as poder despachar ahi sem dificuldade. Essas duas caixas são simplesmente para amostra e por isso são gratis. Tomei nota do que me diz sobre a exportação em vinhos engarrafados, e acho-lhe razão nas suas considerações, porque o vinho n’estas condições sai muito mais caro do que em cascos, e assim estou na desposição de o exportar encascado em pipas de 418 litros ou 210 litros conforme fôr mais conveniente ao comprador. Os preços que lhe dou são garantidos emquanto os fretes para Hamburg se conservarem os que são actualmente. Para exportação em cascos de 210 litros pelos preços que lhe marco, é para exportação minima de dois. // [64] Preços do vinho Cif Hamburg: Para 418 litros: Custo do vinho encascado ...............................£ 22.5.5. Sua comição de 10% ..........................................£ 2.4.7. Despezas totaes até fob. Funchal .........................£ 1.0.0. Frete e despezas de sobre carga ...........................£ 2.2.0. Custo Cif Hamburg ..........................................£ 27.12.0. Para cascos de 210 litros (2) o seu custo é de £ 14 cif Hamburg, devido a não ser proporcional as despezas acima. Tenho em armazem aproximado 180 pipas, mas tendo o meu vinho boa sahida, continuo no fabrico, e posso conservar sempre quantidade egual aproximada. Esperando receber as suas ordens, subscrevo-me seu Amigo Attencioso e Muito Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 27 de Março de 1928 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [65] Funchal 27/3/928 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Como temos vapor hoje escevo-lhe[sic] para lhe participar que demos principio á Laboração dia 26 ás 5 1/2 horas da tarde, visto não termos cana suficiente para a nuite, se tivessemos principiado ao meio dia. A quantidade de cana entrada até a meia nuite, isto é, stock, era de 205 toneladas e terminei a cana hoje ás 10 1/2 horas manhã, fazendo 169 diffusores com carga de 1213 kilogramas cana por diffusor isto é, 10 1/2 diffusores por hora. Toda a fabrica está trabalhando bem sem acidente algum, pelo que estou bastante satisfeito. O 1º cuite vou refundil’o, porque está um pouco sujo devido aos apparelhos: A destillação vai bem, e o rendimento actual do melaço d’Africa é bom, segundo os meus calculos, e o melaço deve ficar todo fermentado entre 1 a 2 de Abril. Quanto a estas malditas questões do regimen saccharino, que já deve saber pelos telegramas enviados, e pela carta que Belmonte lhe está escrevendo, tomou um mau caracter devido, segundo minha opinião, ao Grande Malandro O Banqueiro Henrique Figueira da Silva. Crea-me Seu Amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz //

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[DATA: 30 de Março de 1928 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [66] Funchal 30/3/928 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Hoje de manhã (6 horas) tivemos uma acidente [sic] na Fabrica que poderia ser grave, mas depois de mais cerenado e verificada a situação, vejo que se pode perfeitamente trabalhar normalmente. O caso foi que a caldeira de vacuo Freitag grande estando ainda vazia, isto é, antes da passagem do pé de cuite para os [sic] melaço feito na caldeira pequena F, e tendo já 18” de vacuo, a parte superior da caldeira aplatessou (isto é xuxou) ficando a caldeira inotilisavel para este anno. Verificando a nossa situação com o desastre n’estas condições, vou-lhe expor qual a forma de remediar, talvez sem com isso têr que diminuir o nosso trabalho, e ja hoje dei principio a esse trabalho. Como sabe, o cuite Freitag grande apenas serve actualmente para os cosimentos de 2º jet para refundir, e esta caldeira, com o maximo de moenda (450 toneladas) apenas fáz um cosimento por dia de 24 horas da capacidade de 230 hectolitros de Melasse Cuite Como não podemos contar por este anno com essa caldeira, como se deve remediar esta falta? É isso que lhe vou expor. // [67] Cada 100 kilogramas cana deve dár na media 16 litros de Melasse Cuite de 1º e 2º jet, e podendo moêr no maximo 450 toneladas cana por 24 horas, dará 720 hectolitros de Melasse Cuite Em cuites de 1er jet feitos na C e na Freitag pequena, pode-se perfeitamente fazer 2 cuites por 24 horas em cada uma: 2 cuites C de 1er jet a 110 hectolitros = 220 hectolitros 2 “ Filtros-Presses 1º jet com rentradas = 240 “ er Total Melasse Cuite 1 jet = 460 “ Para os cosimentos dos égoûts em 2º jet temos o cuite F de 100 hectolitros e dois malaxeurs no vacuo um de 100 hectolitros e outro de 80 hectolitros. N’estes cuites pode-se tambem fazer dois cosimentos em 24 horas, que dará o seguinte resultado. Pé de cuite feito na F de 80 hectolitros, e passando aos malaxeurs no vacuo dará 43 hectolitros de Melasse Cuite para o malaxeur de 100 hectolitros, e 37 hectolitros de Melasse Cuite para o de 80 hectolitros. Completos os cosimentos nos malaxeurs no vacuo dará um total de 150 hectolitros de Melasse Cuite de 2º jet, que sendo dois em 24 horas, dará um total de 300 hectolitros Melasse Cuite 2º jet a turbinar em assucar para refundir. // [68] Desenvolvendo estes calculos, que melhor lhe explicarei aqui, quando voltar, dá-me o seguinte resultado: Melasse Cuite de 1º e 2º jet % cana 16 litros: 1º jet 60% = 9,6 litros Melasse Cuite com rendimento turbinado 80% = 7,6 kilogramas assucar = 3,2 “ 2º jet 40% = 6,4 litros Melasse Cuite com rendimento turbinado 50% Totais 16 litros litros Melasse Cuite com rendimento turbinado = 10,8 “ % Como 450 toneladas cana dá 720 hectolitros de Melasse Cuite, e como podemos fazer: 1er jet – 460 hectolitros 2º jet – 300 “ Total 760 “ Melasse Cuite Temos pois uma garantia de 40 hectolitros, que será para a Melasse Cuite de refonte o assucar de 2º jet. Pode ser que estes meus calculos não estejão muito certos, mas tambem é verdade que, nem se pode regularmente fazer 450 toneladas de cana por 24 horas, e nem o rendimento da cana em turbinado branco será de 10,8 kilogramas %. Em todo o caso vamos preparar os malaxeurs no vacuo (2) para este fim e em boas condições de trabalho, como antigamente se fazia, e cujo epuissement era bom Crea-me seu Attencioso Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 11 de Abril de 1928 DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola] [69] Funchal 11/4/928 Meu Caro Avelino Recebi varias cartas tuas acompanhando as notas das analyses, e desculparaes não ter respondido a ellas a seu tempo, mas não calculas quanto tenho andando aborrecido com estas malditas questões saccharinas, e deves comprender que isso me

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interessa tanto como ao Senhor Hinton438, ou talvez mais... Depois da perda de minha pobre filha estou de tal forma nervoso que tudo me isalta e me aborrece. Calcula que o malandro do Henrique Figueira, que tem tanto interesse na nova lei como nós, tem feito uma campanha nogenta contra o decreto!! Quando ahi fôr te contarei tudo o que se tem passado. Fui eu em grande parte que concorri para a união d’elle com o Senhor Hinton, mas hoje estou o mais arrependido d’isso como cabellos que ainda tenho na cabeça... Mas pode ser que um dia elle venha a me pagar os amargos de boca que tenho tido!! Grande estupor!.... As cousas porém vão correndo com o decreto 14168, e assim ficará o Senhor Hinton mais seguro. Passemos ao Cassequel: Fiz um resumo de todas as analyse [sic] e vejo que a cana entre Agosto e Dezembro estão nas melhores condições. // [70] Pena é que as terras não sejão adubadas com adubos chimicos competentes e cal (?), porque assim teriamos uma tonelagem por hectar muito maior e cana mais rica. No futuro talvez seja assim, pelas conversas que tenho tido com o Senhor Hinton. O resultado do fabrico este anno foi bom pelo que te dou os meus parabens, e não podias fazer melhor com uma fabrica nas condições d’essa. Com a nova fabrica deve-se fazer cousa de geito. Como vêz mando-te junto dois Sechmas, um da imbibição racional entre os moinhos que é importante seja como eu digo, e o outro, do schma da defecação e filtração total do jus. O Senhor Hinton deu-me a planta das montagens da canalisações [sic] de vapor exausto e jus, mas tem pontos como esses da imbibição e filtração do jus que não vejo bem claro, e assim com esses schmas podes junto com o Senhor Munro vêr se a montagem vai correta. Como deves comprender, estes dois pontos são importantes para o nosso Systema de filtração. Os desenhos não estão cousa fina mas serve, e como são para ti, que ja estais habituado aos meus desenhos, tudo vai bem // [71] Destillaria: Recebi a amostra do alcool o qual acho magnifico e com uma alta percentagem (96,3 a 15º temperatura!!!), e fico admirado como logo na primeira destillação conseguiste tirar um alcool tão puro; vejo com prazer que estais um verdadeiro destillador!!.. Segundo vejo as columnas estavão cheias de porcaria?! Mas isso d’entro das columnas sô feito de perposito... Quanto aos tanques de cimento para o alcool não presta, mas se tivessem sido cheios d’agua durante uns 15 dias, afim de unificar o cimento, talvez não vertessem, ou então dár-lhe uma camada de cera. Quando o senhor B. Correia chegou deu-me a nuticia da tua queda desastrosa na destillaria, e o menino nada disse.... Eu comprendo que não desejavas que tua mãe soubesse. Felizmente, segundo vejo, não foi cousa meior, visto estares sempre de perfeita saude... Contudo dou-te os parabens por teres tido a sorte de não ser cousa mais grave. O melaço que nos veio pelo “Benguella” foi o diabo no principio para o fermentar, e fez-me quebrar a cabeça a rasão d’isso. Depois vi que a causa era o melaço estar muito carregado de nitratos, mas logo que o fermento se habituou ao meio, a fermentação fez-se bem, e aqui entre nos, o rendimento foi de 28 litros alcool em 40º % melaço. // [72] Foi o melhor rendimento que tenho tirado com os melaços do Cassequel. A causa dos nitratos é com certeza devido a esse maldito poço do melaço, e era bem bom que acabassem com elle. Para a nova fabrica vamos ter tanques de ferro para o melaço. Productos chimicos para a Laboração do corrente anno já dei a nota ao Senhor Hinton, descontando, já se vê, os stocks existentes ahi. Elle ja escreveu para Lisboa sobre isso. Pano para os filtros presses e filtros Filippe tambem ja se fez a encomenda. Estou a ver a cara do Costa439 quando receber a carta do Senhor Hinton sobre isso!! Tenha porém paciencia, porque assim é necessario. Acabo de lêr a carta que envias-te ao Senhor Hinton (9 1/2 da nuite no Torreão) e que elle me deixou e tambem recebi a tua amavel carta, que muito te agradeço. Vejo pela carta do Senhor Hinton que estão concertando os tanques de cimento para o alcool. Esse conselho que deu o engenheiro da composição em cimento para revester os tanques deve ser bom. Quanto ás chapas de vidro, isso é um trabalho deficil e que sô fica bom com operarios habilitados á sua colocação, porque de contrario, caiem todos. // [73] Torno a aconselhar o revestimento com cera, mas para aplicar a cera, deve o cimento estar bem seco. O alcool não ataca a cera. Era bom esperimentar um dos tanques assim revestidos. Dei novamente principio á Laboração depois da semana Santa hoje ás 4 1/2 da tarde, e vou dár-te a noticia que na limpeza do triple-effet empreguei primeiro o acido chlorydrico e depois a soda caustica, e o resultado foi muito melhor, do que empregando primeiro a sode e depois o acido. O nosso rendimento antes da semana Santa foi o seguinte, e pelo qual fiquei satisfeito: 438 Harry Hinton. 439 António Costa.

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Trabalho de 2400 toneladas cana: Assucar % cana 12,79 com uma pureza 86,24 Rendimento medio: Assucar turbinado branco (melaço rico) – 4,544 kilogramas melaço com Perda no bagaço “ nas borras “ indeterminada

9,167 % 2,545 assucar 0,340 “ 0,183 “ 0,555 “ 12,790 “

Extração = 97,34 Rendimento em turbinado branco 73,63% do assucar extrahido. Como primeira moenda de Março foi bom. O melaço é que não estava épuissee, mas convem assim, porque o alcool dá mais resultado. // [74] Se em logar de assucar branco se fizesse bruto de 96º polarisação o rendimento seria no minimo de 10,845 assucar turbinado %. Se a fabrica nova está prompta a funcionar em fins de agosto (?), esta bem a tua maneira de pensar sobre a fabrica velha em trabalhar 20.000 toneladas e o restante da colheita na nova fabrica. Assim temos a colheita feita até Dezembro. Um filtro-presse grande dará para o trabalho na fabrica antiga? Não me parece, e assim achava melhor arranjar dois filtros presses dos antigos para ella. Quanto aos 9 Filtros-Presses montados na Nova fabrica deve dár para um trabalho maximo de 700 toneladas cana, porque os 10 Filtros-Presses é para um trabalho maximo de 750 toneladas. Pesso-te, meu Caro Avelino, que faças os meus comprimentos aos amigos ahi no Cassequel e os meus respeitos a Madame Pegado, e beijos para as pequenitas. Um abraço do teu velho Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 1 de Junho de 1928 DESTINATÁRIO: Henrique Tristão Bettencourt Câmara] [75] Funchal 1/6/928 Meu caro Henrique Primeiro tenho que te agradecer a tua amavel carta de 14 ultimo em que me agradeces o meu brinde no dia do casamento de Maria. Nada tens que agradecer, porque como sou sincero e amigo dos meus amigos, procedo sempre sem intenções reservadas. Sou-te devedor da tua amisade e das tuas hamabilidades para comigo e os meus, e isso é o bastante para ser grato. Um outro assumpto: Um dos dias do mez passado estando no escriptorio a falar com o Velosa sobre cousas de canas, Sua Ex.ª o Senhor Belmente pedio-me para subir ao escriptorio para me mostrar uma cousa... Subi, e o amavel e leal Cavalheiro, dar-me [sic] uma carta tua para eu lêr so[?]... e depois de lêr elle veio ao meu pé e perguntou-me. Então o que me diz sobre isso?... Respondi que não percebia: Então não vê a piada? Á filho... perdi a cabeça porque na carta dias[sic] que «e agora o Senhor Ferraz que vá des-//[76]tillando melaço! Ora, meu caro Henrique, eu não tenho interesse algum em destillar melaço importado, nem n’unca acoselhei o Senhor Hinton a conseguir essa importação, antes pelo contrario, dezia-lhe sempre que no corrente anno, mesmo que elle podesse conseguir que ficasse na Lei esse direito, não devia importar melaço a não ser uma pequena quantidade. Já vêz que é exactamente o contrario que esse amigo de Peniche te mandou dizer... O que o grande inteligente deveria têr feito, se é verdadeiramente teu amigo (?), era não me mostrar a tua carta. Emfim, cada um tem os sentimentos que Deus lhe deu e a edocação que recebeu... Disse elle que era uma brincadeira?! Seria tua, mas para elle teve um pé de me magoar, podes estar certo d’isso. Emfim este acidente fica terminado e não me digas nada sobre elle. Recomenda-me a todos os teus e recebe um abraço de teu sempre verdadeiro amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 14 de Junho de 1928 DESTINATÁRIO: Henrique Tristão Bettencourt Câmara] [77] Funchal 14/6/928 Meu caro Henrique Recebi a tua carta de 8 do corrente que te agradeço, e não falava mais no assumpto entre mim e Belmonte, se n’esta carta não me desses um conselho, que eu agradeço, mas que não devia ser inderessado a mim!

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Dizes no fim da carta que «entre nós todos deve haver a meior harmonia e o melhor entendimento para ajudarmos o Senhor Hinton440 na defeza dos seus interesses, que nossos são tambem» [.] Está certo e é verdade, mas isso mesmo deves dizer ao Belmonte e não a mim... Eu da minha parte tinha por elle (Belmonte) bastante consideração e amisade e nunca o ofendi em nada nem o tratei de desprestegiar junto do Senhor Hinton, antes pelo contrario. Elle para comigo é que não me trata algumas vezes com a consideração que eu mereço e tenho jus, não sô pela minha edade, mas pela posição que ocupo na Casa Hinton. Crê-me teu amigo Certo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 17 de Dezembro de 1928 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [78] Funchal 17 Dezembro 1928 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Como já deve saber, parti do Lobito no dia 29/11 pelo vapor “Nyassa”, chegando á Madeira a 13/12. Depois da minha ultima carta de 17/11, recomeçamos novamente o trabalho da Nova fabrica a 22/11 ás 8 horas da manhã, mas ás 12 horas da nuite o bronze (chumaceira) do 4º engenho que já tinha sido primeiro concertada, rebentou novamente, sendo necessario parár para a arranjar da mesma forma e condições como as outras dos outros engenhos, recomeçando novamente ás 5 horas da tarde de 23/11. A marcha dos engenhos fêz-se depois mais ou menos bem, mas não se poude dár a preção hydraulica superior a 50% do trabalho normal, e assim não pude fazer a imbibição a agua entre o 3º e 4º engenho como deveria ser feito para obter uma boa extração, devido a que o bagaço sahido do 4º engenho ás Caldeiras ficava de tal forma humido que as caldeiras de vapor baixavão a perção e não se podia moêr. Em vista d’isto, fêz-se somente uma imbibição minima e algumas vezes nenhuma! // [79] Com receio que novamente as chumaceiras dessem de si, porque confesso não tenho grande confiança no arranjo feito com os parafusos novos, não se poude dar mais pressão hydraulica superior a 50% da pressão normal e assim, como o nosso principal fim era moêr a cana e não parar novamente a fabrica, e que n’esse caso seria naturalmente para sô poder trabalhar em 1929, para evitar meiores prejuizos dos que já tem havido, e terminar a Colheita da cana sem têr que pôr em marcha mais uma vez a fabrica velha que não está em muito bôas condições de trabalho. Esta fabrica velha devido aos acidentes havidos na nova, foi posta duas vezes a trabalhar depois da paragem de 28/10. A extração n’estas condições era da media de 90%, isto é, 3,9 assucar % bagaço, emquanto que na fabrica velha a media é de 5,5 assucar % bagaço = 81% extração. O que lhe posso garantir é que, se os engenhos tivessem trabalhado bem, o resto da fabrica corria o fabrico quasi regularmente a não ser algum acidente que sempre se dá com uma fabrica completamente nova. Sulfitação da garapa: Depois de modificada a instalação da bomba d’ár a sulfitação fazia-se bem, tendo porém de trabalhar dois fornos e tendo sempre um prompto para quando se tinha de carregar um dos fornos, de forma que devemos contar que // [80] os 3 fornos é para o maximo de 500 toneladas cana por 24 horas, e assim para fazer no anno proximo 800 a 900 toneladas cana devemos ter mais dois fornos eguaes aos que temos aqui no Torreão, e cujo desenho e dimenções lhe envio junto, mas devem vir completamente, isto é, como purificador do gáz SO2 como temos aqui. N’estas condições ficamos perfeitamente garantidos para uma sulfitação de 900 toneladas cana e para a sulfitação do xarope. Filtros-presses: A filtração total da garapa fêz-se muitissimo bem; e parece-me que melhor do que no Torreão, o jus bastante brilhante, e cousa coriosa, o jus parecia-me mais claro que no Torreão, ainda que a garapa, devido á cana ou folha queimada, era muito negra, mas vejo que o carvão produzido pela queima da folha é um decolorante bastante activo e um producto que ajuda a filtração. É bastante corioso, não acha? Vê-se isso bem pela qualidade do assucar de 1º e 2º jet que é bastante branco. O tourteaux era duro mas negro como carvão..., emquanto que o do Torreão é amarello-escuro. Os rechauffeurs-defecadores trabalharão bem. Quadruple-effet: Este apparelho que está calculado para um trabalho maximo de 800 a 900 toneladas cana, e como apenas podemos môer // [81] (emquanto eu lá estive) 500 a 550 toneladas cana, trabalhava por etapes, e assim para poder moêr as 500 toneladas cana e o apparelho de evaporação trabalhar a quantidade de jus correspondente e de continuo, deve-se montar torneiras entre o alimentador automatico e a caixa seguinte afim de o regular á mão. Foi isso que recomendei para fazerem ainda este anno, e o Lemos prometeu-me fazer desde já. Aqui lhe explicarei as rasões do caso. 440 Harry Hinton.

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Cuites: Os cuites trabalhão magnificamente e somente com vapor exausto, fazendo-se um cuite nas caldeiras Grandes em 4 a 5 horas, com o xarope a 25º Baumé. Como porém o grão de assucar era muito fino, disse aos cosedores que fizessem o pé n’um dos cuites pequenos desponivel [sic], e que passassem completamente ao cuite grande e assim deu um bom grão.Os cuites de 1er jet alguns levarão rentrada d’égoûts, mas o assucar era sempre branco, como verá pelas amostras que o Senhor Costa441 levou para Lisboa e eu tenho aqui. Emquanto eu lá estive, e no ultimo dia (28), turbinou-se um cuite de 2º jet que deu branco!! O 3º jet não sei o que dará, mas estou a vêr que não dará assucar amarello como na fabrica velha. Prova isto tudo que o processo de filtra-//[82]ção total da garapa (com o sulfitação [sic] intensiva), pode-se obter na nova fabrica do Cassequel 80% em assucar branco de consumo e para refinaria, tendo-se somente 20% de assucar baixo. Faço-lhe notar que o xarope não foi sulfitado nem filtrado, devido a não poder trabalhar com a sulfitação do xarope. Turbinagem: A turbinagem do assucar fêz-se um pouco atabalhoadamente devido ás centrifugas, e aqui lhe direi melhor tudo o que se deu, mas enfim sempre se turbinou mais ou menos mal. Como a cacimba da agua não estava concluida, a lavagem do assucar teve que ser feita com a agua da vala (!!), cuja agua era bastante suja, mas veja que mesmo assim o assucar é branco; calcule se tivessemos agua limpa!... Seccador do assucar: Tive que modificar em parte este apparelho, como aqui lhe explicarei, e tivemos que montar uma caixa de madeira á sahida do ár do seccador, com 5 circolações, para reter o assucar fino que se perdia á sahida da ventuinha. Assim ficou trabalhando bem e o assucar sahia bem secco. Tivemos que dár o minimo de vapor no esquentador do seccador. // [83] Bomba de vacuo: Esta parte deu-me bastantes aborrecimentos, porque, sem eu saber ao principio quaes as causas, vinha agua á bomba (?!!), e pode crêr que isso me asustou bastante, porque tinha receios que lhe levasse o tampo do cylindro fora... Depois de verificar por muitas vezes as causas, descobri quaes ellas erão, e pude remediar em parte, mas depois da minha sahida do Cassequel o Senhor Costa recebeu um radio dezendo que tinha hido agua novamente á bomba de vacuo, mas estou a vêr que foi naturalmente por descuido do pessoal, porque eu deixei todas as instruções para evitar isso. Combinei com o Lemos montar um balão entre o tubo geral do vacuo e a bomba, e elle disse-me que hia fazer isso quanto antes. Deixei-lhe o desenho para a montagem d’esse ballão, que é facil de fazer. Elle disse-me que tinha na fabrica velha um ballão da capacidade de 500 litros e bastante resistente para sufrer a perção atmosferica (2 kilo [sic]). Assim é facil a modificação. Como vê, sendo modificadas as chumaceiras dos engenhos, e fazendo as alterações // [84] por mim indicadas (que aqui lhe direi melhor quaes são), pode a fabrica trabalhar no anno de 1929 nas melhores condições possiveis, porque os engenhos da cana são bem construidos, a não ser estas chumaceiras que as reprovo completamente, e a casa Mirrlees deve modificar á sua custa. (?). Costa[sic] Canas: Este appalhos[sic], segundo vejo, corta bem as canas mas devem as facas serem modadas todas as semanas, isto é, nos domingos na ocasião da paragem. Bagaço ás caldeiras: Com o bagaço em boas condições como tivemos, o bagaço dá perfeitamente para o vapor a produzir, crescendo ainda uma boa porção d’elle que tem sido reservado. Caldeiras de vapor: As raxas do fornos [sic] estão na mesma, isto é, não habrio mais, e o mestre pedio-me para dizer ao Senhor Hinton que fique descançado sobre este ponto. A tiragem da chaminé é explendida. Tivemos um pequeno acidente com as bombas de alimentação das caldeiras, que nos obrigou a parar umas 5 horas, devido a têr obstruido o tubo da agua as bombas por ter um ralo furado no fundo do tanque. Mandei tirar porque era um desparate crasso. // [85] É isto em linhas graes[sic] que por emquanto lhe posso dizer sobre o Cassequel, e na sua volta á Madeira, com o dossier que tenho, posso lhe dizer tudo muito melhor. Quando eu aqui cheguei já o Marinho442 tinha principiado com as fermentações do melaço, e como o Senhor Hinton por telegrama de 17/11 desejava têr em Janeiro algum melaço para a esperiencia do novo fermento alemão, assim vou guardar umas 200 toneladas de melaço para isso. Como este lote que estamos fermentando é somente melaço, é bom para quando se fassa essa esperiencia verificar qual o augmento de rendimento com o novo fermento e forma de trabalho. Depois dos aborrecimentos que tive em Africa venho para a Madeira têr novos aborrecimentos e muito meiores, com esta maldita nova lei saccarina: Seja tudo pelo Amor de Deus... como diz o Senhor Hinton!! Crea-me seu Attencioso Amigo Certo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz //

441 António Costa. 442 Marinho de Nóbrega.

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[DATA: 24 de Dezembro de 1928 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [86] Funchal 24/12/928 Ex.mo Senhor Hinton Desejo-lhe primeiro que tudo que o novo anno de 1929 lhe seja mais propicio do que o de 1928, assim como a sua Ex.ma Esposa. Depois da minha ultima carta de 17 do corrente, em que lhe falava quasi somente no Cassequel, tem esta por fim falar-lhe no Torreão. Tendo terminado hoje a fermentação do melaço da Laboração de 1928, restou no tanque Grande 250 toneladas de melaço para a esperiencia em Janeiro ou Fevereiro de 1929 do novo fermento alemão (?). Ficamos pois com melaço suficiente para a esperiencia, e como tenho o rendimento nosso até hoje d’este melaço, que calculo em 31 litros alcool em 40º Cartiere a 15º temperatura por 100 kilogramas melaço, poderemos vêr bem qual o augmento de rendimento que dará a nova forma de trabalho. Laboração de 1929: No caso de trabalhar em 1929 (?), vou dizer-lhe quaes os productos chimicos etc. que necessitamos, depois de deduzidos os stocks existentes: Pano para os Filtros presses = 500 metros de 1,15 metros largo Phosphato de Cal ——————— 15.500 kilogramas Kieselgouhr ou Deatomite 9.000 “ Calculo sobre Enxofre en cannons 10.000 “ 20.000 toneladas cana Cal virgem em pedra 20.000 “ ? Seu Attencioso Amigo Certo. [Ass:] João Higino Ferraz //

}

[DATA: 2 de Janeiro de 1929 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [87] Funchal 2/1/929 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Esteve aqui na fabrica o Jovenal Muniz, representante da Deutsche Importe Gesellschaff. Madeira L.ª, que me veio mostrar uma carta do Alemão sobre a nova fermentação do melaço, dizendo que o Senhor Hinton lhe tinha reservado 500 toneladas melaço para a esperiencia da nova fermentação. Eu disse-lhe porem que, quando cheguei da Africa já estava em fermentação parte d’esse melaço, e que assim apenas poderia contar com 250 toneladas melaço para a experiencia Tenho porém a dizer-lhe que o rendimento do inventario Nº 6 – 1928 feito somente com o melaço da Laboração de 1928 e que estava no tanque grande foi de 32,4 litros alcool a 100º a 15º temperatura % melaço, o que dá em alcool retificado em 40º Cartiere 33 litros alcool. Eu tinha dito na ultima carta que calculava em 31 litros % em reteficado em 40º Carte[sic] mas n’esse rendimento está incluido os jus de diffusão e jus de cana calculado em melaço, cujo calculo foi feito pelo assucar analysado. Pelo inventario Nº 10 é que se vê realmente qual o rendimento do melaço, e poder comparar. // [88] Junta hydraulicas [sic] para os diffusores não temos nenhuma em stock, devendo pois fazer-se a encomenda de 16 juntas hydraulicas a Lefebvre443. Falando ao Senhor Marsden sobre a montagem dos dois filtros-presses para a Melasse Cuite elle disse-me que dava tempo para quando o Senhor viesse para a Madeira. Esperando a sua volta. Creia-me Seu Attencioso Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz 130$000 // [DATA: 13 de Março de 1929 CARACTERIZAÇÃO: Relatório sobre a Laboração das fábricas da Sociedade Agrícola do Cassequel] [89] Funchal 13 março 1929 Campanha do Cassequel de 1928-1929. Terminada a 4 março 1929 Cana trabalhada ——— 75.000 toneladas, em 8 mezes de Laboração nas duas fabricas. Açucar obtido: Branco = 2495 toneladas (49,4%) “ (50,6%) Bruto = 2575 Total ————- 5070 “ 443 Georges Lefebvre.

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Rendimento em turbinado = 6,76% cana Fabrica Velha trabalhou: 32.500 toneladas em 100 dias “ Nova “ 42.500 “ em 100 dias Fabrica Velha até 14 Novembro produzio 2557 toneladas açucar “ Nova até 4 março (4 mezes) “ 2513 “ “ 5070 “ “ Rendimento em turbinado da Fabrica Nova = 5,913% cana Considerações sobre Fabrica Nova O trabalho na Fabrica Nova foi feito nos mezes de Dezembro (15), Janeiro e Fevereiro, e durante este tempo a colheita foi feita com muitas chuvas, que fêz não somente perder a cana um grande parte do seu açucar devido á vegetação da cana, como tambem a cana do corrente anno com a grande floração prematura em agosto deu casa[sic] a uma perda em açucar e pureza da cana, que se acentuou mais no fim da colheita. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: ? CARACTERIZAÇÃO: Cálculos de custos e lucros existentes numa hipotética produção de alcool (usando fermento Possehl’s), para exportação, pela Sociedade Agrícola do Cassequel] [90] Para exportação alcool (?) Calculos para o Cassequel, fazendo a fermentação pelo fermento Possehl’s, mas com um rendimento minimo de 60 litros alcool % saccarose no melaço, e com melaço futuro de 50% assucar total em saccarose Calculo % kilos melaço Valor do melaço calculado a 150 por kilo = 15$00 Despesas fabrico (processo Possehl’s) a 885 por litro = 26$50 Custo de 30 litros alcool a 96º 41$50 Custo por litro = 1$385 Lucro no alcool por litro $115 Custo ou valor do alcool 1$50 Cada gallão de 4,5 litros = 6$75, que ao Cambio de 100$00 por £ = £ 0.1.4 2/10 por gallão de 4,5 litros Calculo sobre 1.000.000 litros alcool a 96º correspondente a 3334 toneladas melaço a 50% assucar total: Despezas além do fabrico: Imposto de licença e fiscalisação (??) .......................................150:000$00 1.000.000 litros alcool = 1666 barricas de ferro de 620 litros, a 20$00 carretos do Cassequel ao Lobito (??) ...............................................33:320$00 Despezas de pôr a bordo (??) ...............................................2:680$00 Frete até Liverpool a £ 1 por barrica (???) .......................166:600$00 // Custo cif Liverpool ...............................352:600$00 [91] Preço do alcool calculado a 100º (alcool absoluto) em Inglaterra cif, dito pelo Chimico de Possehl’s, é de 2 sellings 5 ? penny por gallão de 4,5 litros, que corresponde a alcool a 96º a 2 sellings 4 4/10 por gallão 1.000.000 litros alcool a 96º = 222.220 gallões de 4,5 litros, ao preço cif Liverpool de 2 sellings 4 4/10 por gallão, dará um total de £ 26.296 a 100$00 = ....................................................................................2.629:600$00 Custo de 1.000.000 litros alcool a 1$50 = ...............1.500:000$00 Despezas até cif Liverpool = .......................................352:600$00 Amortisação valor barricas ? = ..................................166:600$00. . . . . . 2.019:200$00 Restará ainda ................... . . . . . . . 610:400$00 Sendo estes calculos assim feitos, e sendo os verdadeiros (??), ficará o valor das 3334 toneladas de melaço a 1.116:500$00, ou seja 334$00 por tonelada = £ 3.6.4. por tonelada melaço? Salvo Erro ou Omissão. [Ass:] João Higino Ferraz //

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[DATA: 26 de Março de 1929 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [92] Funchal 26/3/929 Ex.mo Senhor Hinton Terminamos no dia 25/3 a destillação do vinho do processo Possehl’s ás 7 horas da tarde, e mando-lhe em separado os resultados dos calculos feitos assim como uma comparação entre o mesmo melaço feito pelo fermento Torreão (melaço mais rico) e pello processo Possehl’s. Assim pode comparar bem os resultados, porque os calculos são feitos da mesma forma. Junto envio-lhe tambem o resultado que Cassequel pode obter pelo fermento Possehl’s. Vai a copia do contracto final feito com o Chimico de Possehl’s, e por elle verá tudo quanto se fêz. Foi um bom resultado em rendimento a mais, e o Chimico vai ensinar agora a forma de cultura do fermento para a sua conservação. Terminei tambem hontem (25) todo o melaço do Tanque Grande que deu um acrescimo, acho que devido ao assucar depositado no fundo do tamque. Deve ficar algumas cubas para destillar e retificar depois de 31 de março. Crea-me seu Attencioso Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 4 de Junho de 1929 DESTINATÁRIO: Henrique Tristão Bettencourt Câmara] [93] Funchal 4/6/929 Meu caro Henrique Recebi a tua carta de 30 de maio o que muito te agradeço. Vi que a Direção do Cassequel sempre fêz a encomenda o pano proprio para a filtração das garapas em boas condições para a boa filtração, e com isso fiquei satisfeito e tambem deve ficar o Senhor Hinton444. O Senhor Hinton e Avelino445 assim como o Engenheiro inglez devem chegar hoje ou amanhã ao Lobito; e Deus primita que tudo corra bem na Fabrica para que elle não tenha as mesmas dificuldades que eu tive o anno passado no inicio do trabalho, mas estou como tu, que o Senhor Hinton deve têr sempre deficuldades devido aos seus colegas não terem a pratica suficiente para uma Fabrica moderna trabalhando n’aquellas condições, e somente o tempo lhe mostrará quaes as vantagens do trabalho adoptado. O Senhor Hinton já esta aborrecido com tudo aquillo (aqui entre nós), e tem rasão... Quanto ao Torreão tudo corre mais ou menos bem, conforme os desejos do Senhor Hinton, isto é, prejuizos!! Mas isto não pode continuar // [94] assim, e é necesario que nas modificações a fazer na Lei (se se fizerem) seja excluida a fiscalisação no pezo da cana, isso é um ponto importante, e talvez o mais importante, quando não de nada serve todas as boas modificações a fazer, porque será um descalabro estas perdas forçadas. O que eu queria conseguir e já consegui, é provar que o rendimento de 9,2% em assucar no tempo do querido Quirino446, está certo, visto que com a Laboração do corrente anno apresenta-se um rendimento de 9,2% aproximado em assucar branco de consumo e bruto para refinação (como antigamente acontecia quando se exportava assucar para Lesboa), mas refinado que seja o assucar bruto, dará um rendimento de 8,7% aproximado e assim ficará tudo como nos sempre dissemos. O alcool naturalmente vai ser um pouco mais, mas para isso temos a faca e o queijo na mão para cortar por honde quezermos..., mas tambem podemos dizer que com processos modernos de fermentação obtemos actualmente um pouco mais de rendimento em alcool, mas tudo será feito de forma a mostrar prejuizo. // [95] Quanto a H. F.447 isso nem val a pena falar em semelhante ediota... Belmonte deve te dizer tudo o que se passou. O que H. F. pode ter a certeza é que tudos esses desparates somente servem para o intalar, e a nós nos ajudar... Elle disse-me em tempos que tinha a fabrica como um sport, mas isso é um trocadilho de palavras... A sua fabrica é um suporte do Banco, assim como a moagem de trigo e a Comp.ª Vinicola... assim é que está certo!. Quanto á minha hida a Lisboa, de M. Elisa e Maria Amelia, bem desejava isso, mas o peor são as maças. O Senhor Hinton não se explicou o anno passado!... Veremos o que posso fazer. Recomenda-me a todos os teus, e recebe um abraço do teu velho primo e Amigo Certo. [Ass:] João Higino Ferraz // 444 445 446 447

Harry Hinton. Avelino Cabral. Quirino Avelino de Jesus. Henrique Figueira da Silva.

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[DATA: 2 de Julho de 1929 DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola] [96] Funchal 2/7/929 Meu caro Avelino Cabral Em meu poder as tuas duas cartas de 7 e 16 proximo passado que muito te agradeço, e faço votos para que a tua saude seja sempre como até agora, e livre de desgostos, porque isso é o principal. Eu bem e os meus felizmente; e a minha filha mais nova, diz o Dr. Durão, o que ella tem é uma apendicite e que deve ser operada, já está pondo gelo afim de reduzir o apendice. Deus primita que ella fique boasinha, para desgosto já basta os que tenho. Vejo o que me dizez do Cassequel, e deu-se exactamente o que eu previa,... esperiencias e mais esperiencias por gente que pouco entende do assumpto, e vejo bem que os prejuizos foram grandes por diversas causas. Quanto ás novas montagens estou a vêr que este anno não podem montar o novo malaxeur que recebe a Melasse Cuite dos grandes e isso deve te trazer ainda este anno algumas dificuldades na turbinagem, e tambem a falta das turbinas novas. Quanto ao resto do material algum se pode montar mesmo trabalhando, porque deve ajudar o fabrico. // [97] Depois da minha carta que escrevi a Henrique448 sobre o pano dos filtros-presses, os directores canselaram a encomenda dos panos e fezeram a encomenda a Crispin do pano proprio. O Senhor Hinton mostrou-me as analyses de deversos talhões pelas quaes vi que a cana está ainda verde e impropria para o fabrico de assucar, e disse-me o Senhor Hinton que quasi toda a cana está em flôr?!... Isso é que é o diabo, porque com cana n’esse estado o seu crescimento e maturação [sic]. O que eu me parece, meu caro Avelino, é que essa floração da cana antes de principiar a maturação é devido a fraqueza do terreno em materias fertilisantes, e se isso continua assim, em poucos annos a cana do Cassequel pouco vale... Torreão: estou refinando o assucar bruto da Laboração (730 toneladas), ficando-me o alcool dos egouts d’essa refinação para destillar... Tem sido o diabo, porque o Senhor Hinton quer terminar tudo para apresentar as contas. O rendimento, ainda que com uma extração de 93% do assucar, foi de 9,208 assucar branco e bruto % cana, e o alcool depois de destillado os égoûts da refinação deve dár aproximado 1,6 litros %. Felicidades e um abraço do teu amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 10 Julho de 1929 DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre] [98] Funchal 10 juillet 1929 Mon Cher Ami Monsieur Lefebvre J’ai bien reçu votre emable lettre du 17 derniere, que je vous remercie infinement, pour voir, qui vous e votre famille est en bonne santé, et aussi pour voir qui vous été un ami toujour sincere et bonne. Mais... qui voúlez-vous, mon cher Lefebvre? Je sui telment tombé, á cause de cette triste vie, qui, arrivant a’lage de 65 années de voi mon future et de mes fils telment noire, à cause de ces affaires Hinton, et pour voir aussi que Hinton est obligé á vendre sá fabrique de sucre (se lhe pagarem rasoavelmente) pour repouser aussi et se voir livre de tous ces contrarietés sen fin... Il est encore forte, mais il faut bien voir qu’il est arrivé á l’age de 72 années, et que tous cettes contrarieté fatigue boucoup. Il est riche et peut reposer... Et moi... Voi l’a, mon cher ami, mon etá moral (estado moral), et vous doive voir qui meme le francz je ne sai ecrir... Em portuguez eu diria tudo melhor e o meu estado moral // [99] se um dia nos tornarmos a vêr em Paris novamente, eu vous direi, de viva vôz, tudo melhor. Falando o francez ainda a coisa vai, mas para escrever, é que está o diabo... Heureusement lá santé est bonne, e é isso que me val. Naturalmente vais perguntar... et vous affaires du Vin? Et je vous dirait, la crise est enorme dans cette industrie et n’a pas rien a faire. É necessario esperar melhor tempo... mas quando? Quanto ao saccharometre, je ne peut rien vous dire, il faut voir et esperaire le final de tous cettes affaires Hinton, até ao fin do anno. Pour vous et Madame Lefebvre, um abraço bastante cordial do vosso velho ami e sincero. [Ass:] João Higino Ferraz P. E.[sic] Avelino449 partio novamente para a Africa // 448 Henrique Tristão Bettencourt Câmara. 449 Avelino Cabral.

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[DATA: 2 de Agosto de 1929 DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola] [100] Funchal 2/8/929 Meu Caro Avelino A tua saude é o principal, que eu desejo. Eu bem de saude, e em casa a minha filha vai fazer a operação de apendicite na proxima semana, e logo que ella esteja em condições quero vêr se vou com ella a Lisboa dár um passeio, porque assim lhe prometi. Será em fins agosto. Li com attenção a carta que escreveste ao Senhor Hinton450 e dou-te os parabens pelo resultado obtido, ainda que a cana está pessima!! Vejo que obteste 78% em turbinado do assucar extrahido o que é muito bom. Aqui no Torreão tiramos, como sabes, 73% do assucar extrahido, em turbinado em branco. O que vejo com prazer é que estais desposto e com a gana toda... seu pandego... Levas os amigos de Peniche á gloria!!. Não calculas quanto fico satisfeito com isso, porque como sabes tenho parte na gloria. Tenho feito vêr ao Senhor Hinton que a parte agricultura tem que têr um cuidado especial, quando não a cana desaparece, e não é depois da despesa feita com essa fabrica deixar perder as colheitas. Deves ver o Journal des Fabricantes de Sucre <Nº 28 de 13 Julho> que trata um pouco do assumpto. Espero as tuas cartas, e recebe um abraço de teu Amigo velho. [Ass:] João Higino Ferraz

450 Harry Hinton.

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[Copiador de Cartas. 1929-1930]

DESCRIÇÃO: O título deste copiador é por nós atribuído. A numeração foi, também, por nós acrescentada, a lápis, visto que o livro não a possuía. Estamos na presença de um livro em papel, as suas medidas são 27 cm x 21,5 cm, e encontra-se em bom estado de conservação.

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[DATA: 20 de Agosto de 1929 DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola] [1] Funchal 20 de agosto 1929 Meu caro Avelino Recebi a tua carta de 9 do ultimo, que fiquei muito satisfeito, por vêr que ao presente estaes bem de saude de corpo e espirito... Antes assim, e pela tua carta (não oficial?), vejo bem tudo o que tens tido e sufrido, mas isso é passageiro e deves agora somente pensar na vida real. Quanto a mim lá vou indo de boa saude mas sempre ralado por diversas causas, como já sabes, e além d’isso (e é o principal) tenho a minha filha mais nova na casa de saude do Dr. Americo Durão para fazer uma operação de apendicite de que sofre a mais de um anno, mas por emquanto não a fêz porque tem um pouco de febre e não convem fazer emquanto ella existir. Como vês, depois de velho, não me falta cuidados nem desgostos, quando deveria descancar[sic] o corpo e o espirito, é que me vem tudo isto de uma vêz. O Senhor Hinton451 siguio a semana passada para Lisboa e depois para Londres, onde está ao presente. Foi a Lisboa para assistir á reonião da direção do Cassequel, e varias notas lhe dei // [2] (porque elle assim me pedio) para em coselho[sic] decidir várias cousas de interesse para o Cassequel, sendo a principal a modança de cana para replantar que elle quer enviar da Madeira. A cana actual do Cassequel, com essa floração excessiva, não me parece que estaja em condições para replantação. Além d’isso quer vêr se consegue um agronomo Competente e conhecedor da plantação de cana para hir ao Cassequel indicar o que convem fazer para que não somente obter mais rendimento por hectare, como tambem fazer uma adubação racional dos terrenos para obter cana mais rica. Aqui é que está a dificuldade, porque um bom agronomo conhecedor do assumpto custa caro, e estou a vêr que os Directores, não vendo bem os bons resultados futuros, não estejão desposto [sic] a fazer essa despeza, mas isso é lá com elles. O que já te disse e continuo a dizer, é que, senão tomam uma decisão inergica com relação á cultura da cana, em pouco tempo o Cassequel pouca cana terá em boas condições de fabrica e o rendimento por hectare hirá diminuindo gradualmente. É melhor têr menos hectares plantados, mas com melhor cana e mais rica. // [3] Vejo pela tua carta que estaes satisfeito com a parte industrial e que a Fabrica principia a entrar na boa ordem de fabrico, e com isso fico satisfeito, não somente por vêr que tudo quanto eu disse sobre isso está dando resultado, como tambem por ti, que é uma honra para a tua technica. Dizes bem que tudo quanto se fáz no Torreão pode-se tambem fazer no Cassequel com o mesmo resultado, pena é que a cana não te ajude, porque as purezas por emquanto estão muito baixas. No Torreão no corrente anno, com cana de 13,32 % assucar, tirei, com uma extração de 93,84 (por conveniencia...) um rendimento de 9,208 % cana, sendo 66,6% em branco de sonsumo[sic], e 33,4% em bruto para refinar (tambem por conveniencia...). A pureza da garapa normal foi da media de 86,95. A conveniencia... deves comprender por que foi? N’um trabalho de 23.590 toneladas cana, fiz pelo Systema Hinton-Naudet (modificado) 6775 toneladas cana, mas o assucar ficou sempre bom e bem branco, o que o Senhor Hinton se admirou, e o jus de deffusão (Hinton-Naudet) com uma pureza de 84,72!! Pelo exposto podes calcular qual seria o rendimento com a extração de 97%. // [4] Falas nos ralos dos tanques da garapa... então os ralos que foram com os engenhos já se estragarão?! Essa parte é importante porque a imbibição não sendo feita como estableci no projecto, a extração não se fáz bem e as garapas do 1º e 2º moinho não são o que deveriam sêr. As bombas centrifugas devem sempre trabalhar bem. Quanto ao Triple Effet (Quadruple) vejo que esta trabalhando bem, por isso que obtens xarope a 29,5º Baumé, o que fáz uma grande diferença quando principiou, a 18º e 15º Baumé!! As imbibições com os Meinecks com os jus é cousa que sempre disse não dava resultado. O meineck entre o 3º e 4º engenho para agua, talvez dê alguma cousa, mas o bagaço que passa n’elles sai tão apertado que tenho duvidas na boa imbibição. 451 Harry Hinton.

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Quanto aos rechauffeurs da garapa (defecadores) para os Filtros-Presses fizes-te bem em lhe tirar uma parte a circulação, porque o systema d’elles não é para o fim que temos em vista, isto é, defecação nos rechauffeurs mas com passagem facil para a filtração (1ª) a baixa preção. Assim a bomba de circulação deve trabalhar melhor. Como sabes, a nossa no Torreão é centrifuga e trabalha bem. // [5] Cuites: Então os cuiseurs não faziam o pé de cuite nas caldeiras pequenas como eu recomendei? Que grandes patetas!... Por isso o assucar era fino e inrregular, dando o farine!... e assim a turbinagem era dificil. Quanto ao melaxeur que foi incomendado para clocar debaixo do grandes [sic] malaxeurs, estou certo deve fazer uma grande diferença na alimentação das turbinas, e deves montar um tubo com torneira para clerce afim de pôr a Melasse Cuite em boas condições de turbinagem. Deves notar que com a cana que tens actualmente pobre em assucar e com uma moenda de 530 toneladas cana, não deve ser o mesmo do que com cana mais rica e moendo 700 toneladas?! Para os cuites de 1ª que não queiras fazer branco de consumo directo, as rentradas devem ser grandes, e assim terás nemos[sic] égoûts a coser em 2º e 3º jet e menos turbinagem d’esses assucares Faço-te notar que no Torreão no corrente anno tiramos 66,6% em branco de 99,8º polarisação, emquanto que ahi tiraste somente 62% verdade é que as purezas no Cassequel são baixas. É bom veres as rentradas ma-//[6]ximas que podes fazer. Repára no raporte que deixei ahi no Cassequel, sobre o trabalho dos cuites, que deve ser mais ou menos o trabalho a sguir[sic]. Se eu aqui no Torreão fazendo assucar branco de consumo (sem filtração do xarope) obtendo 66,6%, com o teu trabalho ahi no Cassequel, que apenas tiras um branco para consumo em pequena quantidade, deve te dár (quando as garapas tenhão uma pureza mais elevada) 70% e branco de consumo e refinação, e 30% somente em bruto de 2º e 3º jet. Tudo depende da organisação dos cuites. Faço-te tambem nortar[sic] que no Torreão no corrente anno as refundições do assucar de 2ª turbinado foi quasi nada, porque convinha deixar o assucar de 2ª e 3ª para refinar depois da Laboração. Os assucares de 2ª e 3º tirado em bruto, quando ligeiramente lavado, dava um assucar branco de 99º polarisação, e a media (não lavado) deu 98,5º polarisação do 2º e 3º jet; foi um trabalho explendido. Para o proximo anno de 1930 (se a fabrica trabalhar?) vou modar um pouco o trabalho dos cuites, porque tenho de fazer o épuissement // [7] completo do melaço e vou trabalhar com os Filtros-Presses da Melasse Cuite de 3º jet. Depois te direi qual a forma adoptada. Quanto á alimentação em cana da Fabrica Nova, que o P.[?] dizia podia alimentar até com 800 toneladas!! Isso é questão de pessoal e linhas ferrias, carros e locomotivas e nada mais. Quanto ao Manol[sic] (cuiseur), não contes com elle porque não quis hir, por não se achar em condições de saude, e tem rasão, porque elle é fraco, e tendo acabado a Laboração aqui não era conveniente para elle (e tambem para o Senhor Hinton) seguir para a Africa e continuar como cuiseur durante mesmo 3 ou 4 meses. Os cuiseurs d’ahi tem obrigação, com pratica que teem, fazer um bom trabalho com a tua direção. É questão de boa vontade. Bem dizes na tua carta, que desaprenderam!! Que tudo te courra bem até ao fim é o meu meior desejo, e quando necessites dos meus fracos prestimos é dizer. O melacinho é feito com 70% de melaço, mas o bagacinho deve estar bem seco. Saudades de João (filho) e para ti, do teu velho amigo um abraço de amisade. [Ass:] João Higino Ferraz O Marsden foi para Londres no mez passado retemperar a saude, e deve voltar em breve. // [DATA: 7 de Setembro de 1929 DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola] [8] Funchal 7/9/929 Meu caro Avelino Recebi a tua ultima de 10 agosto, a que respondo. Desejando-te primeiro uma boa saude, são os meus votos. Vejo pela tua carta que te vêz atrapalhado com os Cavalheiros brancos..., é o que eu dizia quando estive ahi, são peores que os pretos... e talvez mais estupidos, ou então são uns não te rales! Sube pela carta do Senhor Hinton452 o que sucedeu á bomba de vacuo, e o Senhor Hinton pedio-me para lhe fezer um desenho dos condensadores e as causas provaveis de hir agua á bomba de vacuo, e assim lhe fiz (para elle explicar ao engenheiro...). Como já disse o anno passado a todos, e parece-me que deixei uma nota sobre isso, a principal causa de hir agua á bomba é a falta d’agua na Cacimba, e naturalmente depois no tanque de reserva, e como continua a introdução d’agua nos condensadores, deve chegar o momento em que o tubo absorve alguma agua juntamente com ár: O que se dá? A agua e ár chegando ao condensador (primeiro ao condensador do Quadruple), forma um Cyclone tal d’entro do condensador // [9] que passa ao separador, e como o tubo de 3º (?) não é suficiente para a descarga d’essa agua, enche por completo o separador e inevitavelmente tem que hir á bomba de vacuo, e não há condensador algum automatico, que possa descarregar tal quantidade d’agua, e foi por isso que para evitar esses estoques 452 Harry Hinton.

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d’agua que eu aconselhava um grande ballão de vacuo e o tubo que vem dos condensadores. Eu deixei um Sechma ao Lemos e elle deve tel’o. Isto porém somente pode evitar, quando a agua seja em pequena quantidade, como se deu o anno passado, mas o principal é têr pessoa encarregada de verificar sempre se a cacimba tem agua, e ter o tanque com o maximo d’agua sempre a sahir por o trop-plein. Não havendo esse cuidado, um dia vai o tampo do cylindro do vacuo e pode matar alguem. É bom fazer economias, mas n’este caso, mais um ou dois homens, pode evitar um grave desastre. Quanto ao que diz o engenheiro ser devido á condensação de vapores no tubo de vacuo, pode-se dár, mas essa quantidade d’ague[sic] é pequena e não dará causa a isso, e se tivesse o ballão como // [10] recomendei, o condensador automatico daria sahida a toda essa agua e não hiria á bomba. Foi isso que expliquei ao Senhor Hinton e que elle deve têr dito ao engenheiro. Pede-lhe pois o Crockis que o Senhor Hinton lhe devia ter mandado e combina com elle o que se deve fazer para evitar de futuro têr de parar a fabrica completamente. Felizmente o que partio foi o pestão; mas se fosse o tampo? Vejo que a cana melhora, dando já um rendimento de 8,675%; o que seria se a cana estivesse toda em bom estado, mas com essa floração excessiva é o diabo! Bravo... xarope a 31º Baumé é explendido, e vejo que o Quadruple está trabalhando bem. Quanto ao assucar que dizes ter enviado por Lisboa, nada recebi. Estes amigos, de Peniche, não se importão nada comigo, e com elles está incluido o Caro Tristão453!! Quando se veém á broxa é que se lembram de mim. Nem ao menos se lembraram que foi á Africa e que alguma cousa fiz. Um abraço do teu Amigo velho. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 7 de Setembro de 1929 DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola] [11] Funchal 7/9/929 Meu Caro Avelino Recebi hoje a tua carta registada de 22 de Julho ultimo, isto é, a carta registada recebi um mez mais tarde do que a tua ultima de 10 agosto!! Esqueceu-me agradecer-te as tuas photografias, uma com o preto das salinas, e a ultima em motocicle, as quaes estimei vêr, porque te acho bom e bem desposto, e tanto melhor assim. Vejo pela tua carta de 22/7 que os amigos que ahi deixei ainda se lembram de mim (talvez melhor que o A. C.454), e assim pesso-te para lhe dár por mim um abraço a todos. Quanto a minha filha Maria Amelia continua na casa de saude e sempre com alguma febre, e o peor é que o medico desconfia que aquella febre não é devido á apendicite mas sim a qualquer cousa intestinal!... Quanto á operação não a pode fazer emquanto tiver febre. Á um mez que está na casa de saude. Vê tu, meu caro Avelino, a minha triste vida... Não tenho senão desgostos e aborrecimentos!! Agradeço-te do coração os teus bons votos e amisade pessoal Teu Amigo Certo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 10 de Setembro de 1929 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [12] Funchal 10/9/929 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Somente agora lhe escrevo sobre o resultado geral do alcool, porque estava á espera de têr occasião de hir ao director da Alfandega, como combinamos, quando tivesse a certeza de hir a Lisboa, e assim me despedir d’elle e oferecer os meus prestimos (?) e vêr então o que elle me dizia, não o tenho feito porque minha filha ainda não fez a operação nem sei quando a fará, e vejo que não terei necessidade de hir a Lisboa este anno. Temos porém que na semana passada o director da Alfandega pedio ao Belmonte que desejava saber qual era a composição de um melaço para destillaria em precentagem assucar, e assim aproveitei essa occasião para lhe levar a analyse media aproximada de um melaço em condições de um fabrico normal, o que fiz e elle agradeceu muito, mas a respeito de qualquer outra informação, nada... É um grande finorio! Como não nos convinha de forma alguma dizer qualquer cousa, despedi-me d’elle tambem sem nada 453 Henrique Tristão Bettencourt Câmara. 454 António Costa?

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dizer. Eu estou a vêr qual a // [13] rasão de elle querer saber a precentagem em assucar de um melaço normal á destillaria, e vejo que deve sêr por causa d’aquelle requerimento do H. F.455 sobre o melaço que elle tem em deposito e das rasões estupidas que elle apresentou, e que elle tem que informar para Lisboa. Dei-lhe pois a analyse media provavel de: Saccharose Clerget 38% kilograma Glucose .........................................15% “ Assucar total em saccarose 52,25% “ Densidade do melaço = 1430 Considerandos meus: Conta Alfandega do nosso melaço de 1929 (incluindo a refinação) é aproximado 878.454 litros melaço á destellaria = 1.256.189 kilogramas á densidade acima. Teremos pois que, sendo o rendimento total do melaço 340.040 litros alcool em 40º (notas da Alfandega), fazendo elle o calculo (Director), dará um rendimento de 38,7 litros alcool em 40º % litros melaço ou 27,07 litros alcool % kilos melaço. O rendimento % assucar fermentado, dará 51,8 litros alcool. Está pois bem assim. Se elle (Director) comparar o nosso rendimento pelo de H. F., deve vêr que H. F. teve um rendimento de 33,5 litros alcool em 40º % litros melaço. Crea-me seu Amigo certo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 20 de Setembro de 1929 DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola] [14] Funchal 20/9/929 Meu caro Avelino Recebi a sua ultima de 22/8 que muito te agradeço, e fico sempre satisfeito por vêr que estaes sempre na aprumada, isto é, saude e boa desposição. Quanto a mim de saude mas sempre com cuidados por minha filha, que ainda se conserva na casa de saude do Dr. Durão (á 45 dias!!) a vêr o resultado da febre... Como vêz desgostos e despezas não me falta, e o que eu ganho, quasi que não me dá... Não vou este anno a Lisboa. Lendo a tua carta, não tenho senão de te dár os parabens pelo bom resultado obtido no fabrico, principalmente a 7ª semana com um rendimento de 9,160 % em assucar branco 70% e amarello 30%!! Isso é um racorde... e com cana talvez de 11,5% assucar (?). Quanto ao de 3ª que dizes ter 94º polarisação acho isso magnifico. Quanto ao que me dizes de eu têr que mandár (?) dois homens praticos no trabalho dos Filtros-Presses para o proximo anno, isso é que vejo dificuldades, porque, como sabes, este pessoal d’aqui não vai para a Africa com boa vontade, e tambem sabes que o pagamento que lhe podem dár não os compensa. Além d’isso, isto é com o Senhor Hinton456. // [15] Tens pois, meu Avelino, de te haveres com esse pessoal d’ahi, que sendo mau ou estupido, tem o peor de serem desemportados e não se interessarem pelo trabalho. Quanto ás amostras do assucar ainda não recebi. Quanto ao épuissement do melaço acho-o muito bom. Chegando á cana de 9 mezes é que vais têr as tuas deficuldades de fabrico, e o rendimento deve ser baixo. Se já vais em 625 toneladas cana por dia, isso prova que tudo corre bem. O que eu não posso comprender é o que me disez do 4º engenho, (os engenhos chocam?) e acho a imbibição de 10% muito fraca. Isso naturalmente é devido ao Meineker, porque, como já te disse, não tenho confiança n’esses apparelhos para uma boa imbibição. Quanto ao Kieselgouhr de 300 gramas, isso é areia!.. Pelo rendimento geral de que me mandáste, vejo que a extração é de 93,2%, e o rendimento em turbinado de 79% do assucar extrahido, não é assim? A perda no bagaço deve andar por 0,750% cana (?). Se podesse levar a imbibição a 15% (com a cana actual), poderias chegar a uma extração de 94. // [16] Uma das cousas que deves fazer vêr ao gerente, é a replantação de cana, que nunca deve ser feita com cana florida, mas sim com boa cana slecionada[sic]. Vejo porém haver dificuldades em obter cana sem flôr, porque segundo me disse o Senhor 455 Henrique Figueira da Silva. 456 Harry Hinton.

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Hinton, toda elle [sic] está em flor! Se mandassemos cana boa da Madeira para as novas replantações, isso seria o edial, mas a cana somente estaria em boas condições em maio do anno proximo. Quanto ao que se passa por cá, nada sei por emquanto, porque as contas de despezas de fabricação a apresentar ao Governo, somente para Outubro é que seram apresentadas, mas, meu Caro Avelino, não vejo isto bem parado... O futuro é que dirá o que tudo isto vai ser. Como tenho tido tempo, estou em estudos e esperiencias com o fermento Possehl’s no Laboratorio, e tenho obtido cousas bastante coriosas nas culturas feitas. Por nada mais têr que te dizer, termino desejando sempre a tua saude e felicidades Um Abraço do teu Amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 1 de Outubro de 1929 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [17] Funchal 1/10/929 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua carta de 25 proximo passado a que respondo. Recebi de Avelino457 umas 4 amostras de acucar: Uma branco para consume em Africa cujo aspecto não acho mau, ainda que um pouco humido, e não sei (porque elle não me diz na sua carta) se foi secco no secador (?). Esse typo contudo acho um pouco melhor do que o produzido na Fabrica Velha Elle tambem me diz que o xarope não foi sulfitado, mas não diz a razão porque... Uma amostra branco (?) de exportação, e esse effectivamente está com aparencia sujo, mas os cuites são feitos com grandes rentradas égoûts pobres, e tambem não foi sulfitado o xarope. Se esse assucar de exportação é para consumo directo, não está bom, mas se é para refinaria acho-o em condições, por isso que com esse typo de assucar devem na refinaria produzir branco. É a refinaria que terá de o branquiar, filtrando o xarope no carvão animal. O que acho é o grão muito pequeno, mas tambem vejo que com a cana com tão baixa pureza não se pode obter bom assucar e // [18] ainda mais não sulfitando o xarope. Temos porém de têr em consideração que a sulfitação do xarope fáz uma certa inversão da saccharose e produz mais melaço, o que para o Cassequel não convem. Uma amostra do assucar B, isto é, de 2ª e 3º jet (Lote) que acho em condições para refinaria para produzir assucar refinado amarello. Este typo tem uma grande diferença para melhor do que o assucar do mesmo typo da Fabrica Velha. Diz Avelino que tem 94º polarisação. Quanto ao que me diz da cana, e segundo as analyses que Avelino me mandou, a cana tende a baixar a precentagem em assucar e pureza, e estou certo que é devido em parte á grande floração da cana. Não sou agronomo, mas pelo que tenho lido sobre o assumpto, toda a floração atrasa a cana no seu rendimento cultural e na sua riqueza em assucar e pureza. Além d’isso vê-se que as terras no Cassequel estão pobres em alguns dos seus elementos proprios á nutrição da cana, principalmente a potassa (OK2). O que eu disse a Avelino na minha ultima carta, // [19] é que não deviam empregar nas replantações a fezer a cana com flore, porque assim nunca se veriam livres d’ellas, e disse-lhe tambem a grande conveniencia de empregar nas novas replantações a fazer, cana da Madeira de boa qualidade (Yuba), mas que somente estará em condições de enviar em abril de 1930. Pelas notas que Avelino me tem mandado eu vejo que elle tem feito um bom trabalho, tendo obtido 70% em branco (mais ou menos branco) e 30% em 2º e 3º jet, com uma pureza no melaço de 38º. Com a má cana que tem trabalhado acho um bom trabalho, não lhe parece? Analyses de terras: Quanto a este ponto é-me um pouco dificil d’ar-lhe[sic] qualquer indicação ou o meu parecer, mas pareceme que tendo o Senhor Hinton de hir á Allemanha devia derigir-se ao Stickstoff-Syndikat Berlin N.W.7., que julgo ser os representantes da Industria Aleman do Nitrogenio tirado do ár atmospherico, que fabrição[sic] adubos chimicos com as composições adequadas as terras, e com as analyses feitas em Lisboa, // [20] elles poderiam dár-lhe os conselhos mais em armonia com as condições das terras, e com a sua explicação do que é o Cassequel e as suas terras e qualidade da cana, seria de grande vantagem para a Sociedade Agricula do Cassequel. Elles devem têr nos laboratorios chimicos-agronomos competentes para os conselhos a lhe dár. Em Lisboa são seus representantes a «Sociedade de Anilinas L.da» Travessa das Pedras Negras, 1 (Lisboa). O que eu vejo de mau é a diversidade de composição de terras (15!!), porque assim é mais dificil fazer um typo unico de adubo, mas como temos terrenos escessivamente alcalinos e outros pouco alcalinos, pode-se talvez com dois typos de adubos fazer um trabalho mais racional. 457 Avelino Cabral.

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O que eu vejo que é indespensavel fazer, é o seguinte 1º Novas plantações com cana boa da Madeira ou melhor de Java P.O.J. 2878. 2º Emprego de adubos chimicos apropriados aos typos de terra, visto no Cassequel não se poder empregar os estrumes, por não os haver em quantidade suficiente ás necessiadades. 3º Tempo das plantações 3 annos no maximo. // [21] 4º Em lugar de fazerem a queimagem da folha que fica no terreno, depois de colhida a cana, enterar essa folha na terra, porque a folha contem elementos proprios á vegetação, que sendo queimada perdem uma parte do seu valor. Na Madeira assim se fáz, e como sabe, não se emprega quasi nada de adubos chimicos, e a nossa cana (por emquanto) está boa e mais ou menos rica. Na Madeira, quando a folha não é enterrada, vai para adubo de corral, mas nunca é queimada. Estou á espera de nova carta de Avelino, e vêr quaes são os rendimentos presentes, mas estou a vêr que no fim devem trabalhar cana com 8 e 9 mezes de terra, o que deve dár pouco rendimento. Este anno é para normalisar a colheita. Belmonte escreve-lhe sobre assumptos interessantes e por isso não lhe repito aqui, como combinei com elle. Sem mais que lhe possa dizer de seu interesse, subscrevo-me seu Attencioso Amigo Certo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 5 de Outubro de 1929 DESTINATÁRIO: Harry Hinton; LOCAL: Lisboa CARACTERIZAÇÃO: Relação dos rendimentos comparativos das fabricas do Torreão (de Harry Hinton) e de São Filipe (de Henrique Figueira da Silva), em açúcar, alcool, melaço] [22] Pela Notas [sic] da Alfandega Rendimentos comparativos entre Torreão e São Filipe Torreão Em turbinado branco de 99,7º = 8,745 kilogramas % polarisação Alcool em 40º Cartiere = 1,443 litros % Melaço 3,733 litros correspondente = 5,225 kilogramas % Rendimento em alcool % litros melaço = 38,6 litros em 40º “ “ % kilos “ = 27,55 litros “ Melaço com 55% assucar =2,873 kilogramas assucar % cana

———— ———— 5,817 litros ———— ———— com 60%(?)

São Filipe 5,414 kilogramas % 2,045 litros % = 7,853 kilogramas % (?) 33,5 litros em 40º 24,8 litros “ = 4,711 kilogramas assucar % cana 85% do assucar da cana 10,837 50%

Extração 94% do assucar da cana ———— Assucar extrahido % cana = 11,985 ———— Rendimento em turbinado % assucar extrahido = 73 % ———— Calculos % cana: Em turbinado calculado a 100º polarisação = 8,720 ————5,400 assucar total no melaço = 2,873 ————4,711 Perdas totaes —————————————— = 1,157 ————2,639 assucar % cana = 12,750 ————12,750 Estes calculos são tirados das Notas da Alfandega pelos requerimentos feitos por Torreão e São Filipe [Ass:] Ferraz Enviado ao Senhor Hinton para Lisboa.458 5/10/929 // [DATA: 4 de Outubro de 1929 DESTINATÁRIO: Harry Hinton; LOCAL: Lisboa]

[23] Funchal 4/10/929 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Envio-lhe esta para Lisboa junto com umas Notas comparativas tiradas dos requerimentos feitos por nós e H. F.459, e são, 458 Esta informação foi grafada a lápis, na diagonal, no canto inferior direito do fólio. 459 Henrique Figueira da Silva.

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como vê, as exactas. As primeiras que lhe fiz á tempos não era a espreção da verdade porque as enformações que lhe deram sobre a fabrica de H. F. não eram certas (?!!). Esses calculos como pode verificar são notas da Alfandega. Junto remeto tambem um Jornal des Fabricants de Sucre que tem um artigo de fundo sobre Java que é bastante interessante para o Senhor Hinton mostrar no conselho da Sociedade Agricula do Cassequel. Vai marcado a lapis encarnado. Eu não sei se o Senhor Hinton vai primeiro a Lisboa ou á Madeira, em todo o caso isto que lhe mando serve-lhe melhor ahi. Crea-me Seu Attencioso Amigo Enviada para Lisboa460. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 14, 16 e 18 de Outubro de 1929 DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola] [24] Funchal 14/10/929 Meu caro Avelino Respondo ás tuas cartas de 4 ultimo e de 20 do mesmo mez (Setembro). Vejo que passas com saude e boa desposição, que é o principal, e faço votos para que contenues assim. Quanto a mim cá vou indo com esta triste vida, mas felizmente com saude. Minha filha contenua na casa de Saude mas sempre com 37º um pouco mais uns dias e um pouco menos outros. Deveria tomar uns benhos de sol, mas por infelicidade o tempo tem estado sempre coberto e pouco sol ou nenhum aperece, de forma que não tem feito a cura pelo sol como o Medico desejava. Passamos ao Cassequel: Recebi uma carta do Senhor Hinton461 em que me diz que em Lisboa não ficaram satisfeitos com o assucar branco porque estava sujo e humido?! Eu respondi-lhe que, se esse assucar era para consumo directo naturalmente não estava em condições, mas se era para a refinaria achava-o bom: É a refinaria que deve apurar o assucar e não a Fabrica em Africa. Quanto ao lote de 2ª e 3º jet disse-lhe que o achava bom e muito melhor que o da Fabrica Velha, além // [25] d’isso tambem lhe disse que elles devem vêr que estaes trabalhando cana de baixa pureza e sem sulfitação do xarope, e que o assucar de exportação branco tinha grandes rentradas d’égoûts. Tambem lhe disse que quanto mais sulfitação se fizer mais inverção haverá, e como resultado meior quantidade de melaço, o que me parece pouco resultado dá em alcool, não é verdade? No Torreão para fazer assucar branco para venda ao consumo local, sulfito o xarope a fundo, e somente dá branco a Melasse Cuite de 1er jet com xarope e egoûts ricos. Todos os outros assucares é, ou para refinar, ou para refundir e sulfitar novamente junto com o xarope de fabricação. Disse-lhe pois que achava o teu trabalho bem organisado, por isso que obtinhas em branco de consumo e refinação 71 a 72%, e com um rendimento em turbinado de 78 a 79% do assucar extraido: No Torreão, todo em branco, tiramos 72 a 73% em turbinado com cana de 86º de pureza na media % do assucar extrahido (97% extração) Fiquei espantado com a quantidade enorme de bagaço restante, segundo a photografia!! // [26] Passamos pois a tua ultima de 20/9: Pelas analyses que mandas-te vejo que na 10ª semana o rendimento em turbinado foi de 9,244% o que acho muito bom, tirando em branco uma percentagem de 77,6%, e com um rendimento em turbinado total de 79,68% do assucar extraido!! Pelos meus calculos, a cana da 10ª semana deve ser da media de 12,4% assucar e com uma pureza na garapa normal de 81,75. O que querem elles melhor do que isso?!! Com cana ordinaria não se fáz melhagres!! Tens razão no que dizes com relação ao P[?]..., o Senhor Hinton tambem vê isso bem, porque assim me disse na sua carta. Que se fieem n’elle que estão bem arranjados!! É um grande farçante... Estimo bastante que te dês bem com o novo gerente, porque é bom para ti... e para elle. É bom voçes verém uns artigos do Jornal des fabricantes de Sucre de Setembro, que tem uns artigos sobre Java. Mandei-os ao Senhor Hinton para elle mostrar em Lisboa no conselho de administração do Cassequel. Ahi podem elles vêr como se cultiva cana com naturalmente 15% assucar e rendimento por hectare de 120 toneladas cana. // [27] Os égoûts para entradas nos cuites, para ser o trabalho ser feito, devem ser bem aquecidos (não á ebulição) antes da entrada nos cuites, mas não vejo necessidade de os diluir com agua. O aquecimento a vapor directo já os dilui um pouco, e o principal fim do aquecimento e[sic] derreter todo o assucar farine que os egoûts contem, e que hindo ao cuite com o grão já formado, não fazem a nutrição do grão mas fim[sic] uma farinha de assucar que prejudica a turbinagem. A junção d’agua 460 Esta informação foi grafada a lápis, na diagonal, no canto inferior esquerdo do fólio. 461 Harry Hinton.

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sômente serve para gastar vapor e prelongar o cuite. Quanto á clerce para os malaxeurs é diluida a 35º Baumé e aquecida á temperatura da Melasse Cuite (50º a 60º). Seria bem juntar á clerce o formol (um litro em cada 30 hectolitros), para conservar a pureza da clerce. Faço isto no Torreão com muitos bons resultados. Juntando muita agua á clerce fáz derreter o assucar da Melasse Cuite e o fim do clerce é conservar a Melasse Cuite em condições de boa malaxagem, mas não tornal’as (a Melasse Cuite) muito liquida. 2º Eu comprendo muito bem que para elles o calculo de rendimento deve ser pelo assucar real produzido e não pelo assucar a 100º, porque isso é somente para nós, comprendes? Quanto á saccharose na cana elles deviam saber para // [28] comparar os rendimentos. A cana não é sempre egual todos os annos, como muito bem sabes, e assim elles podem vêr que a sua cultura tão pouco racional está muito longe do que deve sêr. É melhor têr menos terrenos cultivados de cana, mas os que teem serem cultivados convenientemente, e não fazer culturas cuja soca tenha (pelo maximo) 3 a 4 annos de colheita. 3º O que vão fazer ao melaço no caso do alcool não têr sahida? Isso é um ponto importante para o futuro. Eu parecia-me que se se fizesse o negocio de gado vacum, sendo tratado em establos, e alimentados com folha da cana e o maldito sabugo que tanto prejudica o babrico[sic] do assucar, e durante o anno com o melacinho e capin, não sô tiravam d’isso algum resultado, como tambem poderiam têr adubo de corral para a cana, empregando a folha de cana para a cama do gado. Com o adubo do Corral e adubos chimicos elles veriam o resultado da colheita... Para produzir 100.000 toneladas cana, bastariam têr 1000 hectares cultivados de cana. Em Java com a cultura racional tirão na media 12 toneladas assucar calculado em bruto por hectare. // [29] 4º Quanto ao engenheiro, o que elle quer é mostrar Sciencia... e como é inglez, talvez consiga o seu fim junto do Senhor Hinton... sabes bem isso. Mas na technica estou a vêr que não diz senão desparates e sem fundamento. 5º A rasão da má combustão do enxofre é quasi sempre devido a um excesso de tiragem, isto é, não completa combustão do enxofre, dando em resultado destillar, passando aos tubos onde se sublima. É melhor quando esteja montada a nova bomba d’ar (porque actualmente não dá) trabalhar com os fornos alemães e os antigos, sendo necessario, mas fazer a combustão completa do enxofre. Quanto aos tanques de sulfitação, devem para o proximo anno ser tanques de ferro fundido como temos no Torreão. O edial seria uma sulfitação continua, como em tempos pensei para o Torreão, com um apparelho de ferro fundido, e assim os actuaes sulfitadores seriam simplesmente alcalinisadores. Isso do esquentador foi porta apertada inregularmente, e a dilatação é que a partio. 5º Não deves achar extraordinario que o manometro da baixa pressão esteja a 0º, por isso que com uma boa filtração todo o jus // [30] mandado pela bomba passa primeiro nos filtros a baixa pressão a meior quantidade, e o excedente vai á bomba a alta pressão, e assim a pressão baixa, somente pode subir quando se fecha um filtro, ou a bomba de alta pressão não absorve o excedente. Com 7 filtros em marcha, filtrando bem em baixa pressão, nunca o manometro pode subir. No Torreão dá-se o mesmo. 6º A lavagem dos filtros (tourteaux) com agua seria o edial, se o tourteaux fosse de facil lavagem racional, porque os filtros Dhen estão montados para isso, mas falta-lhe a pressão d’agua que deve ser por bomba. A pressão da agua deve ser um pouco superior á pressão da bomba de alta pressão, para poder atravessar o tourteaus[sic] e laval’o com o minimo d’agua; assim concordo. Tenho porém duvidas de que tourteaux seja lavavel... No Torreão, como sabes, não há meio de lavar. Quanto ao que o engenheiro diz de deluir o jus!! isso é um grande desparate. O trabalho deve ser feito como está sendo, e a perda nas borras entre 7,8 a 4 % assucar nas borras, o que corresponde a 0,100 assucar a mais nas borras % cana, e que sendo diluida // [31] a garapa, somente poderá ser ou com agua da vala (?) ou com agua de condensação do Quadruple, que como sabes é acida, e assim o que fará é melaço, devido á inverção da saccarose. Nem mesmo o Quadruple pode dár para evaporar tanta agua. É melhor perder 100 do que perder 200... não te parece? 7º Isso de fazer um sô typo de assucar seria o edial, mas como o engenheiro diz, esse typo seria tão inferior que não seria acceite pela Sociadade do Cassequel... A lavagem do assucar fáz-se, mas tem que ser turbinado e lavado nas centrifugas. Fora d’isto não dá nada. O assucar lavado refundido, alcalinisado, sulfitado e filtrado, daria assim o tal typo unico e branco. É o que eu já disse... quer mostrar Siencia! Quanto ao augmento da calha da Melasse Cuite tambem não vejo grande necessidade: Isso não é um malaxeur, é simplesmente uma reserva de Melasse Cuite para as turbinas 8º Amostras do assucar – O Branco de consumo em Africa, bom. – O branco de exportação (sendo para refinaria) muito bom. – O lote de 2º e 3º jet para refinaria em amarello, tambem bom. O seccador do assucar não trabalha?? // [32] O que vão fazer a tanto bagaço restante? Estou espantado de sô trabalhar 3 caldeiras de vapor... e vejo que as machinas

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são bem economicas. Como vai o Max (?), com a sua eletricidade (bombas etc.)? Manda-me dizer como vai o seccador do assucar, trabalha bem? Pergunto isto, porque ja disse ao Marsden para vêr se montavamos o nosso do Torreão como esse do Cassequel. 16/10/929 Acabo de receber do Senhor Hinton a carta que lhe escreves-te de 4 do ultimo e que elle me enviou via Lisboa, mas d’elle nada recebi. Isto naturalmente é para eu vêr o que lhe dizes, e como é mais ou menos o mesmo que me dizes na tua ultima carta, nada tenho a acrescentar do que te digo n’esta. Vou-lhe responder para Lisboa. Como não tenho vapor senão para 24, não termino a carta ainda. 18/10 Recebi do Senhor Hinton a carta que lhe escreveu o Engenheiro Shannon, para eu lhe dár a minha opinião sobre o que elle propõe para voces fazerem ahi, e disse-lhe mais ou menos a mesma cousa que te digo n’esta carta, e elle que fassa como entender melhor. O engenheiro // [33] apresenta uns calculos, que me parece não estão certos, sobre a palha da cana que passa nos engenhos junto com a cana e que absorvem a garapa, e pelos calculos d’elle dá um prejuizo de 7700 kilogramas assucar por semana (?!!). Elle tem rasão em dizer que a folha da cana não sô prejudica a moenda como tambem dá perda em assucar, mas o calculo a meu vêr deve ser o seguinte: Calculando uma moenda diaria de 700 toneladas cana, e levando essa cana 5% de palha ou folha, será 35 toneladas de folha, e somente 665 toneladas de cana limpa. Elle calculou a perda na palha como se fosse bagaço ou fibra da cana, mas não é assim, porque a analyse é feita sobre o bagaço ou fibra. A folha absorve um pouco de jus mas não como o bagaço, e mesmo calculando como fibra, e como a tua ultima media dá 2,2% assucar no bagaço, as 35 toneladas palha dá uma perda de 770 kilogramas assucar por dia ou 5000 kilos por semana, e não 7700 kilogramas como elle diz. Mas isto não é assim, pelas rasões acima apontadas. Faço-te notar tambem que a perda em assucar no tourteaux dos FiltrosPresses não se pode calcular em turbinado senão 50% do assucar, devido ás imporezas. Teu Amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 18 de Outubro de 1929 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [34] Funchal 18/10/929 Ex. Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua ultima de 9 do corrente, a que respondo, sobre os assumptos que o Senhor Hinton deseja que eu dê a minha fraca opinião sobre a carta do engenheiro Shannon, isto é, sobre o assucar de 2º jet e filtros-presses. Aª Tipo unico assucar – Segundo comprendi da tradução da carta feita pelo Senhor Marsden, eu vejo que elle propõe fazer os cuites de 2º jet com os égoûts de 1ª, e feita que seja a Melasse Cuite cahir n’um malaxeur, onde se prepara a Melasse Cuite em condições de poder ser absorvida por meio do vacuo (?) pela caldeira de vacuo, e essa Melasse Cuite será assim considerada o pé de cuite d’essa caldeira, continuando o cuite com xarope e égoûts ricos. Qual será o resultado? 1º O pé de cuite feito com os égoûts de 2ª n’unca poderá dár no cuite geral assucar branco, como elle diz, por isso que o grão é formado com um producto um pouco impuro, e assim a nutrição do grão será feito sobre um cristal já de si um pouco amarelado, mesmo que a continuação do cuite seja feita com xarope // [35] normal sulfitado ou não. Isto não se pode considerar cuites methodicos, porque o Senhor Hinton comprende bem, a turbinagem da Melasse Cuite feita n’essas condições, e continuando a fazer cuites n’essas condições, vai augmentando progressivamente as imporezas nos égoûts, a não ser que se fassa a liquidação em assucar de 2ª para 3ª, e isso regularmente: Ou eu não comprendo bem qual a edeia d’elle, por isso que não está muito clara. Para fazer cuites methodicos, e foi isso que expliquei a Avelino462 o anno passado, e deixei mesmo um raporte no Cassequel, o trabalho deve ser o seguinte. a) Primeiro cuite virgem, isto é, feito somente com xarope normal de fabricação e no fim os égoûts ricos (lavagem das turbinas do branco). Dará assim assucar branco de consumo directo. b) Segundo cuite feito o pé de cuite com xarope e continuando com os égoûts pobres do primeiro cuite (a). Fiz vêr no meu raporte, que este pé de cuite deveria ser feito n’um dos cuites pequenos desponivel, e passal’o então ao cuite grande, para contenuar o cuite nos taxos de 200 hectolitros com xarope e no fim meter todos os égoûts do primeiro cuite (a). // [36] O assucar mo

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produzido por este cuite, deve dár (como deu) assucar branco de exportação para refinaria. Este cuite <pode ou> deve levar no fim os égoûts ricos da lavagem anterior d’este mesmo cuite (b). c) Terceiro cuite (caldeiras pequenas) feito o pé de cuite com xarope e talvez um pouco dos egouts ricos do cuite (b), rentrando todos os égoûts pobres do cuite (b) anterior. A turbinagem deve dár um bom assucar de 2º jet para refinaria, podendo ser ligeiramente lavado, sendo necessario. d) Quarto cuite feito o pé de cuite com Melasse Cuite de (c/) passado para elle (caldeira pequena) ou com xarope e egoûts ricos, afim de formar um pé de bom cristal, rentrando todos os égoûts pobres de cuite (c/) de 2º jet. Dará um assucar bruto de baixa pureza (3º jet), que como estava combinado na instalação, seria refundido com jus de cana, para ser rentrado no cuite (b) da caldeira grande. Os égoûts seria melaço épuissée. Pode esta refonte entrar parte no cuite (c). N’estas condições teremos, resumindo; 1º Cuite virgem <caldeira grande> que produz branco de consumo. 2º “ caldeira grande que produz branco de exportação para refinaria. 3º Cuite caldeira pequena, que produz assucar de 2ª para refinaria, que sulfitando xarope, deve dár quasi // [37] um assucar branco um pouco amarelado, sendo legeiramente lavado nas turbinas. 4º Cuite caldeira pequena, que produz pela turbinagem assucar bruto para refundir com jus de cana, que pode rentrar no cuite Nº 3 ou no Nº 2, conforme o assucar do typo que se queira obter. Teremos assim trez typos de assucar: Um branco de consumo derecto “ “ de exportação para refinaria “ Amarelado “ “ “ O engenheiro Shannon chama lavar o assucar ou <a Melasse Cuite> de 2ª no malaxeur antes de entrar no cuite como pé? Mas isto não é uma lavagem, mesmo que se lhe junte os egouts de 1ª, porque para uma verdadeira lavagem essa Melasse Cuite deveria ser turbinada e lavado o assucar nas turbinas, como se pratica aqui no Torreão quando se refina assucar bruto, da seguinte forma: Faz-se uma Melasse Cuite com o assucar bruto e égoûts, é depois turbinado e lavado nas centrifugas para poder ser depois refundido e produzir branco. Além d’isso, o Senhor Hinton sabe que em Lisboa querem typos conforme o Mercado exige, e um typo unico não é bem acceite por elles, e esse typo unico nunca pode ser branco. // [38] É isto, parece-me, o que se chama cuites methodicos, e que se pratica em fabricas de assucar de cana bem organisadas. Em Java onde elles estão produzindo 70% em branco e ás vezes mais, o assucar de 2º jet é refundido com jus, sulfitado e filtrado, rentrando nos cuites de 1er jet. O assucar de 3ª é vendido tal qual como bruto. Nas condições como devia estar establecido os cuites methodicos, os malaxeurs estão bem organisados, mas no que elle (Engenheiro) tem rasão é nos malaxeurs de 3º jet que não são suficientes para uma malaxagem mais longa como requer este typo de Melasse Cuite. Isso porém é facil de organisar com os malaxeurs da fabrica Velha. B: Lavagem do tourteaux dos Filtros-Presses: Esta parte acho que o Engenheiro não está vendo bem o trabalho proposto por elle. Será o edial lavar o tourteaux para se têr menos perda em assucar no tourteaux, que segundo as notas de Avelino regula entre 7,8% assucar no tourteaux, e que lavando (se fôr possivel) poderiamos têr somente 4% assucar no tourteaux, ou seja uma recooperação de 3,8%, que calculando para o Cassequel // [39] um maximo de 3 kilos tourteaux % cana, seria uma recooperação de 0,114 assucar % cana. Não podemos porém contar que esse assucar recooperado seja em assucar turbinado, por isso que essa lavagem traz imporezas, e assim não podemos contar com mais de 50% em turbinado, o que deria uma recuperação de 0,057 assucar turbinado % cana. Diz o Engenheiro que em Demerára fazem isso de diluir as borras de decantação antes de passar aos Filtros-Presses, mas elle deve tambem vêr que com a decantação apenas tem 30% da quantidade total da garapa em borras, e assim são somente sobre esses 30% que são diluidos, e que para o Cassequel com a filtração total da garapa em Filtros-Presses a diluição seria sobre 70% da garapa ou jus, o que é enorme a quantidade de agua para chegar a obter 4% assucar no tourteaux. Não lhe parece isto? Eu comprendo bem qual a edeia delle, segundo o sechma que enviou, mas é bom vêr que tendo em trabalho 7 FiltrosPresses, como me diz Avelino, tem em trabalho de baixa pressão somente um Filtro-Presse, e 6 Filtros-Presses em alta pressão, e assim a diluição sera feita na quasi tota-//[40]lidade do jus!! O Senhor Hinton sabe bem que os filtros Dehne estão montados para fazer a lavagem do tourteaux, e com uma lavagem racional, mas que não estão montados ainda para isso, porque a casa constructora não enviou uma bomba especial para isso, cuja bomba deve dár uma pressão um pouco superior á bomba grande

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Dehne para que a agua quente a 95º a 100º possa atravessar o tourteaux e laval’o racionalmente e com pouca agua. Com essa montagem concordo em absoluto porque seria o edial. Deve porém o Engenheiro têr em vista que não deve empregar as aguas condensadas do quadruple effet, porque são acidas, e isso daria o resultado de uma inverção do jus, produzindo melaço e não havendo pois lucro algum na recooperação do assucar das borras. Isto é um ponto importante não somente para a lavagem methodica racional do tourteaux nos Filtros-Presses, como para a diluição do jus como elle propõe, e muito mais para o caso d’elle, visto a grande quantidade de agua a juntar. A agua deve sir[sic] pura // [41] e bem quente (agua do vapor ou da Cacimba). A instalação para uma bomba pequena para a lavagem no Filtro-Presse é facil de montar e aproveitar uma das bombas duplas da fabrica velha. A canalisação está feita. Tem pois somente de montar a bomba e um tanque para agua com aquecimento com uma cerpentina. Uma bomba de 3” dá bem. Será o tourteaux lavavel? Só a esperiencia poderá provar. No Torreão não consigo lavar todos os filtros, mas a garapa da Madeira é talvez mais gomosa do que a do Cassequel (?). Na parte da carta em que elle fala da palha da cana, tem toda a razão, e isso fiz eu vêr ao Senhor Costa463, mas como sabe e[sic] de grande despendio a esfolhagem da cana Yuba no campo, a não ser que essa folha podesse ser empregada na alimentação do gado vacum, e isso seria o edial, porque não sô seria uma nova industria para o Cassequel, como tiravamos do fabrico tambem o maldito sabugo que prejudica tanto o fabrico do assucar, como com os melaços não fabricados em alcool // [42] se poderia produzir o melacinho para alimentação do gado, fôra da colheita da cana e tendo o gado estabulado teriamos adubos de corral para a cana. Mesmo que o gado não desse lucro muito visivel, somente o bom trabalho na fabrica compensava bem. Quanto aos calculos do engenheiro da perda na palha de cana que passa nos cylindros dos engenhos, é que me parece não estão bem certos, porque sendo calculado em 5% de palha que entra com a cana, teremos n’uma moenda de 700 toneladas cana, 35 toneladas de palha. Esta palha porém não é bagaço e assim não pode obsorver tanto jus que dê a perda egual ao bagaço ou fibra da cana, mas mesmo calculando como o bagaço, e como nas notas de Avelino a perda no bagaço é da media de 2,2% assucar no bagaço (real), daria nas 700 toneladas ou 35 toneladas palha uma perda de 770 kilogramas assucar que por semana será 5000 kilogramas assucar, que poderiamos recooperar não moendo a palha. Quanto ao resto elle tem muita rasão. Quanto á bomba do xarope o Senhor Marsden vai responder. Há porém um ponto importante para o Senhor Hinton // [43] que é do meu dever fazer-lhe notar e que lhe peço desculpa de lhe dizer. Eu vejo pelas cartas de Avelino que elle está um pouco descontente com a introdução do engenheiro Shannon na parte technica do fabrico, e isso é mau para o bom andamento de tudo aquillo. Seria de grande conveniencia se os dois se intendensem bem, e que qualquer cousa a modificar no Systema de fabrico, fosse sempre feito em combinação com os dois. Isto que lhe digo é simplesmente o que pude vêr pela carta de Avelino e não que elle me dissesse nada de positivo. Nada direi pois a Avelino sobre este ponto. Quanto aos fornos do enxofre já escrevi a Avelino sobre as causas de taparem os tubos. Tenho recebido regolarmente as analyses que Avelino me manda, assim como tudo quanto se vai passado. Se mais que lhe possas dizer, subscrevo-me seu Attencioso Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 27 de Dezembro de 1929 DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola] [44] Funchal 27 Dezembro 1929 Meu caro Avelino O meu meior deseja[sic] é que n’estes dias de Festa tenhas passado com socego e alguma alegria, ainda que longe dos teus, e eu comprendo isso muito bem, porque sei quanto deve costar passar estes dias de alegria longe dos que nos são caros; Mas que queres, meu Avelino, a vida é isto, e para ti tens pelo menos a satisfação de que os teus estão de saude e tu tambem. Lembrate que ha muitas pessoas que estando junto dos seus não teem o socego de espirito e satisfação que naturalmente tu deves ter. Que o novo anno de 1930 te seja e aos teus o mais prospero possivel, é o que te deseja este teu velho amigo. Como já deves a esta hora saber, estive em Lisboa com Belmonte por causa d’esta eterna questão saccharina, mas ainda que alguma cousa fizemos não ficou nada resolvido definitivamente porque as Festas estavão á porta e o ministro das finanças (como bom catolico) nada fará até ao fim do // [45] anno de 1929. Como lhe apresentamos as contas para provar que tivemos prejuizos elle ficou para as estudar e resolver. O Senhor Hinton464 foi pessoalmente entregar as contas, e foi muito bem recebido por elle, ficando o Senhor Hinton bastante 463 António Costa. 464 Harry Hinton.

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satisfeito, vamos vêr o que sahirá de tudo isto. Cassequel: Deves têr recebido uma carta minha escripta á ultima hora em Lisboa, em que te falava da hida do P.[?] á Africa, e n’ella fiz as considerações sobre o caso, e espero que tudo tenha corrido bem e sem mais aborrecimentos para ti, e podes crêr, meu Avelino, o que disse foi ditado pela amisade que te tenho e não pelo P.[?], como muito bem deves comprender. Tenho recebido sempre as tuas notas das analyses e productos em assucar o que muito te agradeço, mas como eu (e naturalmente o Senhor Hinton) desejamos responder ao Senhor Costa465 que está sempre dizendo que a fabrica Nova não trouxe vantagens para o Cassequel quanto ao excesso de rendimento em assucar (??) e ainda por cima com mais despezas de fabrico, eu desejava fazer uma espece de relatorio para enviar para Lisboa e // [46] assim provar que tivemos com o trabalho da Nova Fabrica em comparação com o trabalho da sua querida Fabrica Velha, um rendimento superior em assucar, e que melhor seria se em logar de fazer 80% em branco fizessemos 30 ou 35% (?) como se fazia na fabrica Velha. Para isso pedia-te, sendo possivel, que me enviasses o mais breve possivel as medias da fabrica Velha d’esde que para ahi foste tomar a direção technica, excluindo o anno de 1928 em que se trabalhou parte na Velha e parte na Nova. O que eu desejava era o seguinte: 1º assucar % cana (entrada na fabricação). 2º pureza media da garapa normal de fabricação (1º moinho). 3º Extração do assucar da cana pelos moinhos 4º Purezas do jus defecado, incluidos os jus dos filtros presses das borras de decantação. 5º Purezas dos xaropes obtidos no quadruple e sua densidade Baumé. 6º Rendimento em assucar turbinado, branco e bruto separadamente (calculado % cana), e a sua polarisação 7º Rendimento em melaço á destillaria, sua percentagem em assucar total (em saccarose) e pureza, calculados % cana. Além d’isto mais algumas notas que vejas // [47] ser-me util, taes como, perda em assucar nas borras dos Filtros-Presses etc. etc. Assim talvez possa responder ao C.466 e aos outros, e varrer a nossa testada. Uma cousa que me fez impressão n’uns relatorios que enviaram para Lisboa, foi uma parte no final em que mostrava umas analyses de canas de riqueza e pureza elevada (de 1929) das duas margens do rio Catumbela, e que ainda por cima diziam que no corrente anno (1929) foi a cana mais rica que Cassequel tem tido (??!!); foi isto o cavalo de batalha do Senhor Costa, e como eu não sabia nem o Senhor Hinton como isso era possivel visto as analyses da fabrica darem muito menos riqueza e pureza, eu disse que naturalmente essas analyses eram de canas dos talhões e nunca a media da cana entrada na Fabrica; será isto assim? O que eu achava de grande conveniencia não sô para ti como para boa elucidação dos directores, era nos relatorios a enviar para Lisboa haver o maximo cuidado no que dizem sobre cana e fabricas, e tudo isso antes de enviar deveria ser revisto por ti para verificar gafes como estas, que n’estes amigos d’aqui lhe fáz grande impressão, // [48] e que lhe acho em parte rasão, não é verdade? Junto com as Notas dos resultados da Fabrica velha, devem vir a notas [sic] medias nas mesmas condições atras da fabrica nova, relativas somente ao corrente anno de 1929, porque não se pode incluir o anno de 1928 que foi de mise en route em pessimas condições. Novo trabalho das Melasses Cuites proposta pelo Engenheiro: O Senhor Hinton mostrou-me o relatorio do Engenheiro (relatorio á Quirino de Jesus!!), e ficou encantando com a siencia d’elle em fabrico de assucar de cana (?). Quanto ao trabalho que elle propõe nas Melasses Cuites, não sendo de sua invenção como elle confessa, está mais ou menos certo, mas esse trabalho é para produzir somente assucar mais ou menos bruto de 97º a 98º polarisação em typo unico, e não branco como em Lisboa elles tem exigido, e que eu fiz vêr ao Senhor Costa não via vantagens de fazer uma percentagem em branco tão elevada, quando todo o assucar de exportação era para refinaria, e bastava simplesmente têr um assucar turbinado de 97º a 98º polarisação para se poder obter nas refinarias um assucar branco bom e secco. Para isto os cuites tem // [49] que ser feitos com grão meior do que o feito em 1929, e ligeiramente lavado nas turbinas. Quanto ao trabalho das Melasses Cuites, segundo percebi pelas explicações dadas, não é outra cousa senão um cuite feito por amorçage já muito conhecido. Para que dê bom resultado é indespensavel que o cuite de 2º jet feito com os égoûts de 1ª o seu grão seja regular, afim de que na continuação do cuite de 1ª feito com essa Melasse Cuite artificial não contenha farine que vai prejudicar todo o cuite de 1er jet, com grão de deversos tamanhos, dando um assucar irregular. Segundo percebi o trabalho é o seguinte: 1º Feito o cuite de 1º jet e turbinado, os égoûts são cosidos em 2º jet (feito o pé de cuite com xarope?), sendo depois turbinado mais ou menos lavado (?). 465 António Costa. 466 António Costa?

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2º O assucar obtido em bruto de 2º jet mais ou menos lavado, é feito em uma espece de Melasse Cuite artificial feita com xarope de fabricação (?) em um malaxeur especial (como temos no Torreão para a lavagem do assucar bruto, quando importavamos d’Afica[sic]). 3º Essa Melasse Cuite é depois absorvida n’um dos cuites grandes de 1er jet e formará assim o pé de cuite continuando-se depois o cuite com // [50] xarope de fabricação até complemento do cuite, não havendo pois rentradas d’égoûts, nem refonte de assucar de 2º jet. Será isto assim? Mas o que segue depois d’este trabalho? Naturalmente para poder fazer o épuissement do melaço tem os egoûts do 2º jet serem cosidos novamente em 3º jet, que turbinado deve dár um assucar de 85º a 90º polarisação. O que fazer a esse assucar que não sendo exportado tal qual (para o qual não vejo sahida nas refinarias), tem que ser refundido? Não vejo pois outra sahida senão a refundição d’esse assucar de 3en jet com jus dos Filtros-Presses afim de formar um xarope que deve ser entrado no cuite de 1er jet depois de entrada da Amorçe (Melasse Cuite arteficial) e antes de terminar o cuite. Será assim? Qual será o épuissement do melaço final? Com este trabalho, como digo é segundo comprendo, dará um typo unico de assucar bruto para refinaria de 97º a 98º polarisação de grão grande (?) que é o que mais convem, mas que seja um typo abaixo da escalla 20 holandeza para poder pagar os direitos minimos. Branco para consumo local, pode ser feito somente com xarope de fabricação sendo sulfitado e filtrado separadamente, como // [51] eu dizia no meu relatorio que ahi deixei. A economia será porém somente feita na não formação do pé de cuite das caldeiras grandes com xarope normal, e tendo a vantagem do cuite se fazer mais rapidamente. Quanto ao resto não temos economia de vapor, visto que os cuites de 2º e 3º jet teem que ser turbinados (?). O que vais ter é uma quantidade de Melasse Cuite de 1er jet muito meior, mas como dizes que as turbinas trabalhão bem, devem as de 1º jet dár para isso (?). Somente a esperiencia e pratica do trabalho n’esta forma de cuites, se poderá vêr bem os resultados; mas é indespensavel que os cosedores fassão bom trabalho de grenage e alimentação dos cuites, principalmente no cuite de 2º jet, que é o inecial. Sulfitadores: Esta parte é um bico-d’obra!!, e eu parece-me e ao Marsden, que somente com sulfitadores de ferro fundido podem ser mais doradores, mas isso é lá com o engenheiro. Repetindo-te que os meus desejos são que este novo anno te seja mais prospero do que está a findar, espero a tua carta em que me dês nuticias tuas. Teu Amigo certo e de sempre. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 29 de Janeiro de 1930 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [52] Funchal 29 Janeiro 1930 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Depois da sua sahida para Inglaterra e quando Belmonte voltou para ao escriptorio depois de melhor da sua doença, tive com elle uma conferencia sobre o fabrico de assucar e alcool no corrente anno, em que elle me disse que ainda este anno não convinha mostrar os rendimentos maximos mas sim augmentar um pouco somente, tanto em assucar como em alcool. Em vista d’isto eu fiz-lhe vêr que não havia necessidade de gastar productos chimicos para se fezer a filtração total da garapa, mas sim empregar o systema Hinton-Naudet (modificado) como fiz no fim da Laboração de 1929 quando faltou os productos chimicos e que deu o resultado para um rendimento branco de 9,2%. Tinha combinado com Belmonte telegrafar-lhe n’esse sentido, para evitar que o Senhor Hinton fizesse a encomenda de phosphato de cal e Kieselgouhr, mas depois pensando melhor concordamos em não telegrafar mas escrever para Lisboa explicando isto melhor, e que mesmo que a encomenda // [53] estivesse já feita, poderia ficar para 1931. Com o trabalho da filtração da garapa defecada sobre o bagaço (processo Hinton-Naudet), fazemos uma economia de pelo menos 8$00 por tonelada cana, o que em 25.000 toneladas daria 200 contos que podemos economisar. Trabalhando n’estas condições e não fazendo a extração maxima, podemos moer 450 toneladas cana em 24 horas. O que temos porém é de na esperiencia das 60 horas moêr o maximo (600 toneladas?) e assim n’essas 60 horas teremos de empregar a filtração total da garapa para se poder conseguir isso. Como temos porém um stock de 45000 kilos de phosphato de cal, dá essa quantidade para duas esperiencias de 60 horas

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(no caso de ser necessario). O que tem que sêr encomendado é somente umas 10 toneladas de Kieselgouhr para esse fim, porque não temos nenhum. Quanto a pano para os filtros-presses tambem não é necessario vir. O resto da nota que lhe dei deve vir tudo por ser necessario. Deixo isto pois para o Senhor Hinton resolver, no caso de não ter ainda feita a encomenda dos productos chimicos etc. Quando chegar aqui lhe explicarei tudo melhor. // [54] Um outro assunto é o seguinte: Á talvez uns 20 dias encontrei-me com o Jovenal Muniz representante da casa Possehl’s no Funchal, que estava muito atrapalhado porque a fabrica d’alcool dos Açores (Bensaude) não podia ainda este anno empregar o processo novo dos fermentos especiaes de Possehl’s, visto o chimico Stole estar ainda em viagem na Australia, e o chimico que está em Hespanha não poder sahir de lá por ter a destillaria em marcha em Hespanha, e como elles teem que principiar (nos Açores) o fabrico do melaço (1800 toneladas) quanto antes, vão empregar o systema antigo. Eu sem intenções e por graça, disse-lhe que eu iria lá pôr a funcionar a destillaria dando-me elles £ 50 e passagens e despezas pagas. Pois sabe o Senhor Hinton o que aconteceu? Esses amigos escreveram logo a Possehl’s dizendo isso, e elles (Possehl’[sic]) acceitaram emediatamente a minha proposta. Ora veja lá como as cousas se arranjam?! Quando me vieram participar isso cai das nuvens, e disse-lhe que quando tinha dito isso que foi sem intenções de lá hir mas sim por graça, e que mesmo não podia hir sem sua auctorisação ainda que por um mez, e que além d’isso não podia perder aqui os meus ordenados. // [55] Elles já queriam que eu seguisse no dia 10 de Fevereiro, mas eu disse-lhe que sem receber uma carta do Senhor Hinton auctorisando-me a isso não podia sahir. Pediram-me para lhe telegrafar, mas não o fiz, e disse-lhe que o Senhor Hinton me tinha respondido dizendo – Espere minha chegada Lisboa – e assim ficou a cousa arrumada. Acabamos de entregar hoje o alcool existente no Torreão, e principiou a sahir hoje tambem o alcool do armazem da C.ª Nova. Como vê o alcool tem sahido bem agora, e se continua assim, teremos alcool até á nova colheita? No Armazem da C.ª Nova temos 150.600 litros alcool, e se calcularmos como o sahido este mez até agora (60.000 litros aproximado), sô temos alcool para 2 1/2 mezes, isto é, até 15 abril. Antes assim. Recebi uma carta de Avelino467 que está muito satisfeito com o resultado do fabrico do Cassequel, e acho-lhe rasão, porque com cana de 11,5% assucar e pureza de 80º nas medias; fazendo 76% em branco, e com uma extração de 93,33% do assucar da cana; é um magnifico trabalho. Crea-me seu Amigo Certo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 8 de Fevereiro de 1930 DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola] [56] Funchal 8 Fevereiro 1930 Meu caro Avelino Recebi a tua carta de 7 Janeiro ultimo, acompanhado com umas amostras de assucar da C.ª dos assucares de Angola e do Cassequel para comparação da qualidade. Eu já tinha visto em Lesboa esse assucar que o C.468 me mostrou e eu disse-lhe o que entendia sobre isso, que é mais ou menos o que disseste para a sede da Sociedade do Cassequel. Esses amigos não percebem senão da parte comercial e isso mesmo me disse o C. nas seguintes palavras «voces são technicos industriaes e nos somos comerciantes e vemos as cousas comercialmente» e eu respondi-lhe «mas meu caro C., para que a parte comercial de uma industria dê o resultado, é necessario vêr tambem a parte industrial ou technica, se assim quizer.» Eu sei bem qual a espinha que elles tem na garganta... é a filtração total da garapa que lhes tráz uma despeza a mais de 5$40 por tonelada cana, mas elles devem vêr que quando se fêz o projecto da fabrica era para produzir pelo menos 80% em assucar branco, e somente assim se poderia obter. // [57] Como ainda não me mandas-te as notas dos resultados da fabrica Velha nos ultimos annos, como te pedi, e o Senhor Hinton469 me pedi-se para eu fazer um calculo como se o trabalho de 1929 fosse feito na fabrica velha com cana de 11,5% assucar e calculando uma extração de 81% do assucar, deu o resultado de na Fabrica Nova se tirar mais um kilo assucar pouco mais ou menos, por 100 kilos cana. Este excesso de rendimento é em parte devido á extração meior na fabrica Nova etc. É de 467 Avelino Cabral. 468 António Costa? 469 Harry Hinton.

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notar que na fabrica Nova tiramos 76% em branco, emquanto que na fabrica velha a media dos ultimos annos não deve ser superior de 35% em branco (?) por tonelada cana. Ora, uns 10 kilos assucar a mais na Fabrica Nova, com um preço minimo de 1$70 por kilo = 17$00 Despezas a mais na filtração = 5$40 diferença = 11$60 por tonelada cana. Se em 1930 tiverem 100.000 toneladas cana (?) devem têr (comercialmente falando) um lucro superior de 1.160 contos ou £11600. Não é assim para o Senhor C. Comerciante?? Dará o mesmo resultado pela decantação da garapa? Isso é lá com elles, e a esperiencia é que deve mostrar... // [58] Meu Caro Avelino, o que te dou os parabens é de teres obtido um tão bom resultado em 1929, e que em 1930 estou certo deve ser ainda melhor, se o increncas não determinarem o contrario. Tambem te felicito pelo que o Senhor Hinton conseguio para ti, os 25:000$00 de gratificação, que não é muito para o trabalho que tens, mas já ficas em melhores condições. A mim derão-me 20 contos pelos meus trabalhos... Quem pode bem apreciar o valor dos meus trabalhos és tu meu caro amigo!! Vejo o que me dizes sobre o P.[?] e fico bastante satisfeito por isso, podez crêr. Eu cá vou indo menos mal de saude de corpo, mas mal na algibeira... A minha filha vai melhorzinha mas ainda na casa de saude do Dr. Durão. Custa-me isso 50$00 por dia!! Mas vão-se os aneis e ficam os dedos... Recomendação de João (meu filho). Um abraço do teu velho Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 19 de Fevereiro de 1930 DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola] [59] Funchal 19 Fevereiro 1930 Meu Caro Avelino Recebi a tua ultima carta de 24 ultimo que muito te agradeço, e fico satisfeito por vêr a tua boa desposição de saude e espirito. Aqui na Madeira tem feito um frio como não temos á muitos annos. O Senhor Hinton470 disse-me que tinha contratado um chimico agronome para hir ahi estudar a cultura da cana e apresentar um relatorio e os conselhos necessarios para uma cultura racional, mas esse technico apenas estará ahi o tempo necessario para isso. Vai-se mandar d’aqui a cana para replantar ahi no Cassequel, e eu fêz[sic] vêr ao Senhor Hinton que se deve escolher cana o menos esfolhada possivel para que os olhos da cana sejão bem aproveitados. Quando ao que me dizes sobre a sulfitação que os technicos de Lisboa dizem que talvez fosse inregular, é um grande desparate porque na fabrica velha apenas sulfitava a 0,5 gramas por litro e elles nunca se queixaram da qualidade dos assucares?!! A sulfita-//[60]ção entre 0,8 e 0,7 é simplesmente feita com o fim de se obter uma boa filtração total nos FiltrosPresses e pouca influencia tem na qualidade do assucar. As causas principaes da má qualidade do assucar branco, são, a má cristalisação nos cuites, e a pureza baixa das garapas; o resto são estorias dos chimicos de Lisboa. O que eu vejo, segundo me disse o Senhor Hinton, é que no anno passado pagaram mais 400 contos de direitos pela importação em branco acima do typo 20 da escalla Holandeza!!! Ora isto é um grande desparate, porque não vejo necessidade de fazer em branco tanta quantidade de assucar para exportação para refinaria, e acho que com uma boa cristalisação nos cuites obtendo um assucar de cristal grande e sendo lavada ligeiramente mas sempre, de forma a ser o typo abaixo de 20, dá um bom assucar para refinar em branco. É a refinaria de Santa Iria que se deve pôr em condições de obter bom assucar. Como sabes obtenho aqui um bom assucar feito somente com égoûts que dão um typo muito superior a 20, mas sabes tambem // [61] que temos duas ou tres filtrações, isto é, 1ª nos Filtros-Presses, 2ª nos filtros mechanicos, 3ª no xarope. Segundo uma conserva[sic] com o Senhor Hinton eu vejo que elle agora, visto não se fazer no corrente anno tanto assucar branco, está na desposição de montar decantadores para 1931, e pedio-me um Sechema de montagem, o que eu lhe fiz, para elle levar para Lisboa (elle segue a 23). Segundo o meu modo de vêr o que é necessario são somente uns 5 a 6 decantadores de 160 hectolitros totaes, para um 470 Harry Hinton.

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trabalho maximo de 900 toneladas cana em 24 horas com uma extração de 95%. Todos os outros apparelhos servem, e é somente uma questão de canalisação. Estou certo que elle (Hinton) vai enviar para ahi o meu Sechma para tu e o engenheiro dizerem da sua justiça. Segundo me disse o Senhor Hinton vão vir os dois cuiseurs mais antigos para praticarem aqui no Torreão, mas quanto ao subrinho do C.471 não comprendo o que elle vem aqui fazer, porque pratica em Laboratorio deve elle ter ahi no Cassequel contigo, para fabrico de assucar; isto aqui é muito diferente // [62] da forma de trabalho d’ahi, não é assim? Tenho 40 annos de pratica em assucar e alcoos[sic] e estou sempre aprendendo..., e tu tens pelo menos 20 annos?... São calculos para o futuro do nosso C.!! é um grande pandego... O H. F.472 em vista da nova forma de determinar as capacidades das fabricas, mandou vir mais um duble-effe[sic], uma caldeira de vacuo e duas centrifugas. Ficará assim um pouco melhor, e deixará de ser uma Fabrica somente de melaço. Quanto ao resultado que dará, isso é lá com elle, mas estou a vêr que sai desparate. Vejo que cultivas (á falta de melhor) pretinhas de 15 annos, mas o peor é o cheirete... Seu maroto... Que tenhas sempre T.[?] para isso!! Um abraço do teu velho Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 28 de Fevereiro de 1930 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [63] Funchal 28/2/930 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Quanto ao pano não lhe posso ainda hoje dár-lhe qualquer indicação sobre os direitos, porque pedi ao Barros para falar ao Director da Alfandega para vêr qual é a opinião d’elle sobre este assumpto, mas como elle está muito aterefado com trabalho de fim de mez, disse ao Barros que esperasse mais uns dias. Mandei-lhe um pano dos Filtros-Presses e um do Filtros Filippe para elle vêr que é tecido industrial e o fim para que é. O Barros aconselha de hir para Lesboa uma ou duas peças de pano (dos Filtros-Presses) e meter ahi a despacho para vêr como é classificado, e aqui eu disse que era bom o Derector da Alfandega em nota enviada á Direção Geral dizendo a aplicação do pano. Envio-lhe junto umas notas que o Barros me deu. Quanto ao pano felpudo não val a pena ser despachado ahi em Lesboa. O que houver lhe direi depois. Vejo pelo telegrama enviado de Lisboa para o Deario da Madeira que o Governo restringio a importação de vinho engarrafado, a não // [64] ser que traga certificado de urigem (Colares ou outro), e isso para nós é de grande vantagem porque estavam importando vinho engarrafado em garrafas de litro aos milhares, cujo vinho vinha alcoolisado a 18 e 19% alcool e algum em vinho surdo, isto é, mosto com mestura d’alcool. Com essa importação tirava-nos a venda do alcool e de assucar [.] É verdade que auctorisão a importação de mais 5000 litros de vinho de pasto, mas como esse vinho é secco e deve conter o maximo de 11,3% alcool, ainda assim não nos prejudica tanto como o vinho alcoolisado a 18-19% e doce. Esse vinho engarrafado era para fazer vinho Madeira (??) e ja tinha o alcool e o assucar necessario!! Como sabe este anno e futuros teremos que produzir o maximo de assucar e o minimo de alcool, e estou a vêr que o assucar que produzirmos deve talvez exceder o consumo, o que não vai acontecer ao alcool que deve faltar (?). É necessario pois arranjar consumo para o assucar e sô vejo que esse excedente pode ser aplicado a vinhos. Crea-me seu Attencioso Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 7 de Março de 1930 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [65] Funchal 7/3/930 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Junto remeto-lhe um papel escripto á machina pelo proprio Director da Alfandega sobre os direitos que pagam os panos para os Filtros-Presses e duas amostras pequenas que o Barros pôde obter dos typos da Alfandega por onde se guião para a classificação. Não têem pois do typo que costumamos importar que é o da amostra grande. O Director da Alfandega aconselha que as peças de pano sejão metidas a despacho na Alfandega de Lisboa, e dizendo que é para fins Industriaes (pauta minima) e dizendo mesmo para o fim que é. Aqui na Alfandega do Funchal diz elle nada poder fazer por não existir no mostruario-typo essa qualidade de pano (?!). 471 António Costa. 472 Henrique Figueira da Silva.

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Quanto ao pano felpudo para os filtros mechanicos diz elle que não conseguimos nada, visto esse typo de pano poder ser aplicado a outros fins. É pois tudo quanto lhe posso dizer. // [66] Alcool do Torreão Analyse do alcool do Armazem grande da C.ª Nova (o que está sahindo actualmente) deu pelo processo Barbet uma decoloração em 24 minutos e 50 regundos[sic], isto é, alcool puro industrial. Não fiz analyse do tal alcool que o Marinho473 lhe mostrou por não o têr. O Docamps Chimico da Estação Agraria pedio-me uma amostra do nosso alcool para elle analysar pelo mesmo processo Barbet, e eu dei-lha do nosso alcool do Torreão da mesma amostra que eu fiz a analyse. Estou á espera da resposta. Ás 3 horas da tarde acaba de estar aqui comigo o Docamps para me dizer que a analyse que fêz lhe dá 1 1/2 minutos de decoloração (!!), e elle mesmo acaba de fazer a analyse do mesmo alcool aqui no nosso Laboratorio com o permanganato puro e agua Destillada da nossa e deu-lhe aproximado o mesmo resultado que me deu a mim. Ficou muito admirado e aborrecido porque diz elle que deve ser devido ao permanganato que emprega não ser puro e a agua destillada (das farmacias) conter qualquer materias organicas que percipita o permanganato, e assim acceita // [67] a minha analyse como certa, mas pedio-me um pouco do permanganato puro e 2 litros de agua destillada da nossa, para repetir no seu laboratorio a mesma analyse. Eu fiz-lhe vêr que essas analyses da pureza do alcool é muito importante, porque não desejamos correr o risco de ser considerado alcool improprio para consumo. Elle concordou e vai de futuro tomar o maximo cuidado n’essas analyses, empregando productos puros. Como temos suficiente permanganato puro no Laboratorio, ofereci-lhe ceder mais algum sendo necessario. Crea-me seu Attencioso Amigo Certo. [Ass:] João Higino Ferraz P. E.[sic] Já recebi fermento puro fresco de Possehl’s. // [DATA: 14 de Março de 1930 DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola] [68] Funchal 14 março 1930 Meu caro Avelino Recebi a tua carta de 21 ultimo que muito te agradeço, e faço votos que contenues sempre de saude e bem desposto. Eu cá vou indo bem de saude, e a minha filha continua na casa de saude e não esta peôr, isto é, tem sempre uns decimos de temperatura, mas a aparencia é boa. Partecipo-te que João pedio a noiva, a filha do Clod[sic], como já deves saber que tinha o seu namoro. Elle agora está empregado na direção technica da Camara Municipal, mas o ordenado é muito pouco (650$00 por mez), mas emfim é melhor aquillo que nada. Que Deus o ajude e lhe dê felicidades. Cassequel Estou bastante aborrecido por têr o Senhor Hinton474 a edeia de me mandar as amostras dos assucares da Cassequel que estão na refinaria de S.ta Iria e outras amostras de assucar de outras fabricas, assim como o assucar areado (refinado) da S.ta Iria e do // [69] Hornung, para eu fazer aqui no Torreão as analyses completas e mandar-lhe os resultados, porque diz elle não comprende a rasão que S.ta Iria para poder refinar o assucar do Cassequel tem que resturar[sic] com outros assucares de proveniencia diversas, isto é, assucares mais rijos (??). Parecia-me um desparate, mas fazendo as analyses vejo com surpreza que o assucar “C” exportação do Cassequel baixou muitissimo a sua pureza, e ahi está a rasão das dificuldades. Junto remeto-te as analyses e a carta que escrevi ao Senhor Hinton (copias), mas pesso-te que a guardes somente para ti e que nada digas a ninguem... é confidencial. Isto serve para teu governo no futuro, porque é o diabo produzir em branco de 99,2 a 99,6 polarisação, para poucos mezes depois baixar para 97º polarisação!!! A refinaria de S.ta Iria está pois produzindo um assucar muito ordinario (pela analyse) em relação ao refinado Hornung, mas a principal culpa é da refinaria que deveria corrigir os xaropes antes de os cristalisar. Nem Chimico teem para verificar o que eu fiz aqui, e // [70] eu parece-me que não sou chimico da refinaria de S.ta Iria, nem tão pouco o Marinho475. Quando á 3 annos estive com o C.476 em S.ta Iria vendo a refinaria, havia lá um analysta, mas vejo que o despensaram (?!!) 473 474 475 476

Marinho de Nóbrega. Harry Hinton. Marinho de Nóbrega. António Costa?

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Estes diabos são uns burros chapados, porque quem tem uma refinaria para o seu assucar do Cassequel, devem ter um analysta para poder regular o fabrico. Estou a vêr, meu caro Avelino, o que não vai ser por Lisboa entre o Senhor Hinton e C. & C.ª?!... quando receberem os resultados das analyses dos assucares. Eu fiz o que pude para livrar a tua responsabilidade, como podes vêr pela copia da carta ao Senhor Hinton, mas como ficas prevenido, farais melhor a tua defeza. Torno-te a repetir que é confidencial o que te mando, porque não sei se o Senhor Hinton gosta que te mande, e não seja elle o primeiro a te dizer. Vejo que é o Soares que vem para aqui para praticar como cuiseur: Não te parece que elle é um pouco burro para isso? // [71] Já estou farto do Cassequel, porque a minha vida é fazer tudo, para o Senhor Hinton apresentar como seu!... (confidencial), mas em parte tambem livra-me de responsabilidades. Se eu recebesse as £ 1000 por anno... assim estava certo, mas apenas me deram 20 contos (por muito favor) depois de eu lá estar 3 1/2 mezes e a estar sempre a trabalhar para a Sociadade Agricula do Cassequel.... O sobrinho do C. vem para cá, mas virá de carrinho, já estou velho para ensinar meninos... Elle devia aprender era ahi contigo. Pelas notas que me enviaste vejo o seguinte:........................% cana Media dos 3 annos da ........................Fabrica Velha ....................Fabrica Nova 1929 assucar % cana ..................................................................= 12,02 % ...............................11,528 % Extração .............................................................................= 88,15% ................................93,33 % Pureza garapa ....................................................................= 83,1 .....................................80,97 Turbinado a 100º polarisação ..............................................= 8,267 % ...............................9,562 % assucar no melaço ...............................................................= 1,576 ...................................1,736 Cre-me sempre teu amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 18 de Março de 1930 DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola] [72] Funchal 18/3/930 Meu Caro Avelino Recebi hontem (17) as tuas duas cartas de 25 e 28 Fevereiro ultimo, e vejo que estais de saude, que é o principal. Como deves ver pelas notas que te envio, já não chegou a tempo as tuas emendas, porque ja tinha enviado ao Senhor Hinton477 a 13 do corrente, mas como as mandei dá a cousa muito melhor, e assim deves tambem calcular, porque menos 20 gramas melaço na Laboração de 1929 na Fabrica nova pouco pode influir, e tudo quanto eu fizer é sempre de forma a não te comprometer... Deves conservar a nota que te mando em separado para poderes responder sobre qualquer pergunta. Faço-te notar no fim a comparação % cana entre a Fabrica velha e nova, e por ella veraes que as perdas não calculadas são meiores na Fabrica velha do que na nova. Além d’isto o rendimento em turbinado % do assucar extraido é meior na Fabrica nova do que na velha, e isso é importante para ti porque prova que o trabalho foi bem derigido: Ainda te posso fazer um calculo // [73] do que daria na Fabrica nova, se a cana trabalhada fosse egual á media dos 3 annos da fabrica velha, mas esse calculo não o mandei ao Senhor Hinton, porque já estou farto de dár notas para depois as virem contestar... Qual será o resultado em 1930 na Fabrica nova, com cana de 12,02% assucar, com uma extração de 94% do assucar (minimo) e pureza na garapa normal 83º, produzindo um typo unico d’assucar de 98º polarisação media?? Calcular o rendimento em turbinado de 80% do assucar extraido, dará em turbinado a 100º polarisação = 9,038 assucar a 100º polarisação % cana = 9,222% em assucar de 98º polarisação sendo: 10% branco de 99,6 polarisação consumo local 90% bruto de 97º polarisação exportação para a refinaria (bella refinaria!..) de S.ta Iria. Como vêz o resultado em 1930 nas condições acima ditas deve dár aproximado este resultado, trabalhando normalmente, e fazendo a refundição dos assucares de 2º e 3º jet. A continuação da tua saude, e um abraço do teu velho amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz //

477 Harry Hinton.

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[DATA: 25 de Março de 1930 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [74] Funchal 25 março 1930 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua carta e as amostras (2) do assucar areado de S.ta Iria (?) para analyse. Envio-lhe pois junto essas analyses, e ao mesmo tempo a repetição da analyse do “C” que enviei a 13 do corrente, por cujo resultado verá uma diferença a mais na analyse feita agora repetida. As razão [sic] d’essas diferença é a seguinte: Marinho478 que deveria têr lotado antes as amostras, não o fêz, e tirou o assucar da parte superior do vidro, mas fêz isto em todos os assucares. Esta repetição da analyse feita agora lotei eu bem o assucar antes de tirar para pezo. Este engano de Marinho veio-me porém provar que o assucar areado de S.ta Iria, em contacto com o ár se estraga um pouco devido naturalmente á sua acidez elevada, e de não sêr os xaropes da refinaria corrigidos convenientemente. Esta amostra do areado enviada agora deve // [75] ser de fabricação recente (?), por isso que difere muito da enviada a 7 do corrente. Um outro engano de Marinho feito nas analyses enviadas a 13 do corrente com relação á humidade, que por descuido no calculo da humidade que deveria ter multiplicado por 10, multiplicou por 5, por confusão do pezo normal do novo saccharometro que é de 20 gramas, e nas analyses dos refinados elle fêz o pezo de 10 gramas em vista do volume do assucar refinado não comportar na tassa. Tem pois que multiplicar por 2 a humidade enviada em todos os assucares areados, envidos[sic] a 13 do corrente. Quanto ao que me diz com relação ao inicio da Laboração ser feita a 25 abril, seria de grande conveniencia que o ministro desse despacho favoravel, porque assim teriamos uma Laboração quasi seguida, o que era muito conveniente. Crea-me seu Attencioso Amigo Certo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 21 de Maio de 1930 DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola] [76] Funchal 21/5/930 Meu Caro Avelino Tenho (parece-me) a responder as tuas longas cartas de 11 e 14 março e 17 e 19 abril, mas tem paciencia mas seram respondidas em forma de telegrama!.. porque o tempo e a paciencia são poucas. O que eu primeiro desejo é a tua saude que é o principal e pelas tuas cartas vejo que estais sempre fixe. Deus te conserve assim sempre são os meus votos. Cá temos o sobrinho do Costa479 no Laboratorio e o Soares nos cuites a praticar com o nosso Manoel. Quanto ao primeiro fez no principio algumas asneiras nas polarisações porque o nosso novo saccharimetro é um Galloi de pezo normal de 20 gramas mas a ultima palavra em saccharimetro industrial. Elle agora ja polarisa certo. Esta parte tem sido com Marinho480. Quanto ao segundo (Soares) tem tido uma boa aprendisagem nos cuites e estou certo vai prestar bons serviços ao Cassequel, se os outros cuiseurs quiserem tomar os conselhos que elle lhe dêr. Eu da minha parte tenho lhe dado todas as indicações theoricas do // [77] dos [sic] cosimentos e quaes as razões porque muitas vezes os custos se fazem mal. Tudo elle te contará. Além d’isso tambem tem visto bem o trabalho da filtração total da garapa, sulfitação etc. etc. O cuiseur Francez que o Senhor Hinton481 arranjou (sem me dizer primeiro) foi o Marcelle482, aquelle que era muito norvoso devido aos gases exfixiantes que apanhou na guerra; deves-te lembrar d’elle. Quando aqui esteve não era um cuiseur por ahi além... mas pode ser que se tenha feito e que sirva ahi para orientar os outros. Se dêr alguma cousa de geito (e o Soares pode vêr isso) pode ser o chefe cuiseur... veremos ou melhor tu veraes... Aqui chegou antes de hontem o chato do engenheiro, e deve partir amanhã para ahi. Quanto as minhas empressões sobre o homem como elle não fala nem o portugues nem o Francez pouco tenho falado com elle, mas por umas conferencias (uma ou duas) que tenho tido com elle e o Senhor Hinton, vejo que é um bello compendio de fabricante d’assucar: isto é, um theorico muito lido e relido nos tratados inglezes de fabrico de assucar. Não calculas quanto me tem costado a não lhe dizer que sou um technico de á 50 annos. 478 479 480 481 482

Marinho de Nóbrega. António Costa. Marinho de Nóbrega. Harry Hinton. Marcelle Soubet.

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Deus o leve em boa viagem, com as [...] // [78] Passo agora responder ás Cartas: A primeira cousa e lel’as novamente, que é um bico d’obra... Carta de 11 março: Quanto ao que me dizer[sic] do engenheiro sobre lotes de assucar, que elle aconselha mesturar as Melasses Cuites é piramidal!! O technico agronomo, como ja sabes, foi-se á maneta... pobre homem. Quanto ao typo do assucar a fazer este anno, os grandes homens de Lesboa querem novamente o maximo de branco... Segundo me disse o Senhor Hinton. Ficas pois livre das deficuldades de typo <20> abaixo, da escalla Hollandesa. Quanto a decantação para 1931 nada sei o que vão fazer, e isso é lá com elles. No meu plano está tudo muito claro e facil de montar. Depois falaremos n’isso caso se monte para 1931. O meu menino se raparar bem na minha carta deve ver que quando eu disse 160 hectolitros totaes não era na totalidade dos 5 ou 6 decantadores mas sim o total de cada um, e assim daria um total de decantação de 800 a 960 hectolitros; está intendido?. Quanto ao alcool, Novo projecto, tambem meu, do fabrico do alcool absoluto (99,5 a 99,7) que é a // [79] ultima palavra para o fabrico de alcool motor, e assim evitar o fabrico d’ethere sulfurico para o fabrico da Natalite que está posto de parte. O Senhor Hinton te dirá quando ahi fôr, e eu ainda tive tempo de lhe deitar a mão para não fazerem o desparate de montar um novo apparelho para ether sulfurico, que em Africa é dificil de conseguir um bom trabalho. Quanto a determinação da capacidade das fabricas no corrente anno, participo-te que podemos moer em 24 horas 616 toneladas cana e fazer tudo em assucar e produzir um melaço com 53,5% assucar total em Clerget. Quanto a H. F.483 ainda não fez a esperiencia porque acho que tem tido dificuldades em fazer o mesmo que nós mesmo com os seus novos aparelhos e um technico francez!! Tenha paciencia, são os oços do oficio. Quanto ao tal technico do Mirrles, manda-o ao diabo. Se elle nunca vio a filtração total da garapa, é porque este processo é de á 50 annos!... e nos empregamos aqui á 15. Carta de 14 março: Em parte respondido acima, e quanto á decantação, se se fizer, te direi depois de terminada a laboração aqui, e com mais tempo e paciencia. // [80] Carta de 17 abril: Quanto ás exigencias do engenheiro nada sei nem me interessa. O que eu vejo, segundo me dizem, é que leva como companheira da esposa uma prima, que segundo a opinião de quem a vio é um peçega... Cuidado Avelino!... Segundo me disse o Senhor Hinton sô quer principiar a Laboração ahi no principio de Julho. Filtração do xarope: Vejo que já tens montado o meu systema, mas lembro-te que antes da descarga deves fazer passar agua quente no filtro até á densidade de 15º Baumé e sô depois descarregas o filtro para a descarga passar no Filtro-Presse [.] Achava tambem conveniente montares um forno pequeno separado e junto dos tanques da sulfitação do xarope. É facil e fica independente da sulfitação da garapa. O tubo para o ár comprimido para elle pode vir do Ballão do ar comprimido (montagem como no Torreão). Montagem do Ballão para a agua antes da bomba de vacuo, correta como o meu plano. Quanto ao Cosedor (cuiseur) já respondi. Carda[sic] de 19 abril: Quanto a S.ta Iria, aquillo é um desastre... e ja isso disse ao Senhor Hinton mas não estou desposto a dár conselhos... // [81] Quanto ás analyses dos açucares refinados de S.ta Iria, mandaram novas amostras e estas estão melhores que as primeiras, isto é, mais bem trabalhadas. A principal causa da baixa de pureza nos assucares brancos do Cassequel foi devido á má cristalisação dos cuites, e foi isso mesmo que fiz ver ao Soares e elle concordou plenamente. Um cristal fino e irregular é mais sujeito a se estragar pelo humidade [sic] que absorve. Deve-se pois obter um cristal grande e regular, ainda que menos branco. Tens pois razão no que dizes e agradeço-te as analyses. Estou a vêr que o Senhor Hinton, se fôr á Africa, somente hirá em Junho proximo, e para o futuro veraes qual a razão d’isso. Parece-me que tenho tudo respondido, e o resto ficará para depois da Laboração do Torreão. Um abraço do teu velho Amigo e com desejos de continuação da saude e socego de espirito, e que Deus te ajude na nova Campanha Teu Amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz //

483 Henrique Figueira da Silva.

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[DATA: 7 de Junho de 1930 DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola] [82] Funchal 7 Junho 1930 Meu Caro Avelino Duas palavras para te agradecer a tua carta de 2 de maio ultimo, e dar-te noticias minha etc. etc. Vejo que a tua saude sempre na apromada... o que te felicito e faço votos que assim continue. Eu bem de saude, a não ser ao te escrever esta que estou rouquissimo d’uma constipação que apanhei da deffusão Hinton-Naudet... Felizmente que de 2ª feira em diante até ao fim da Laboração será o trabalho feito pela filtração total (parte Ferraz...). Cebo para o processo Hinton-Naudet!.. Segundo a tua carta e o que me disse o Senhor Hinton484, este anno no Cassequel é tudo em branco, e isso sô se pode obter pelo processo de filtração total como está actualmente. Quanto ao Marcelle485 (cuiseur) foi para casa porque não servia de nada, e além de ser um mau cuiseur era maluco!! Pobre homem e tenho pena d’elle, mas não dá nada para chefe cuiseur, nem mesmo para cuiseur rasoavel porque o experimentei aqui e nada fez de geito. Além d’isso ganhava mais do que valia, e trouxe complicações. // [83] O Soares é que está actualmente um bom cuiseur (descipolo do Manoel, estais a ver), e se os colegas d’elle quiserem aprender com elle, estou certo que teraes menos dificuldades com relação a cuites e trabalho dos Filtros-Presses da garapa etc etc... Elle te contará tudo assim como o Costa486. Quanto ao Costa (particularmente) deves ter o maximo cuidado nas analyses ao saccarimetro feitas por elle, porque se engana muitas vezes, segundo me diz Marinho487. Quanto ás modificações para o acido e soda para o Triple-Effet está bem, e é assim que deve ser. Calcula que este anno com o emprego do supercel Hyflo no jus de filtração (antes de filtrar), passo no Triple-Effet o acido e a soda e não é necessario raspar os tubos; ficão perfeitamente limpos, e é uma grande cousa. Para o Cassequel porém não tem cabimento. Quanto ao Engenheiro Shannam, apenas falei com elle uma ou duas vezes, e fiquei com a empressão que o homem não sympatisou nada comigo, e a rasão eu sei bem porque: Pode ser que o Senhor Hinton te diga alguma cousa sobre isso, e tu me transmitiraes, sim?[?] O Senhor Hinton tambem está um pouco dificil... // [84] e eu confesso-te que já estou velho e rabogento... Tambem são já 67 annos, meu amigo, e com 30 anno [sic] no Torreão!... Deveria ja estar rico e descançar... mas que queres? Este anno a Laboração deve ser de 27 a 28.000 toneladas cana, mas com cana pessima em percentagem assucar e pureza. O que está rica é em gomas... Para o proximo anno tanto eu como o Senhor Hinton não queremos mais diffusão Hinton-Naudet, ainda que mais barata!! Depois de terminar a Campanha, vou aos Açores (São Miguel) ensinar a forma de fermentação dos melaços pelo fermento Possehl’s por conta de Possehl’s, porque o Chimico Stol não pode lá hir. Vou a 10 de Julho proximo no San Miguel para a Destillaria de Santa Clara de Bensaude. Levo comigo minha molher e a pequena, e vão para casa de minha irmã (Leça). Develhe fazer bem a modança e a viagem. Um abraço do teu Amigo velho. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 10 de Junho de 1930 DESTINATÁRIO: António Costa] [85] Funchal 10 Junho 193[sic] Meu Ex.mo Amigo e Senhor Costa Duas cartas tenho a responder, uma de 23 abril ultimo e outra de 7 junho, e peço-lhe desculpa de ser tão atrasado nas respostas ás suas cartas, mas o trabalho e aborrecimentos que tenho tido nem cabeça tinha para nada. Na primeira carta em que participava a vinda de seu sobrinho, o Senhor Hinton sô me mandou entregar 4 a 5 dias depois de a têr recebido, naturalmente por esquecimento. A segunda recebi a tempo, e tenho a dizer-lhe que fiz por seu sobrinho, quanto a instruções necessarias sobre fabrico assucar de cana, o que pude fazer, mas como sabe o nosso fabrico aqui difere um pouco do usado no Cassequel por isso que temos a diffusão do bagaço. 484 485 486 487

Harry Hinton. Marcelle Soubet. António Costa. Marinho de Nóbrega.

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Na parte de analyses isso ficou a cargo do nosso Chimico Senhor Marinho de Nobrega, que fêz o possivel de o instruir em tudo e estou certo muito deveria ter ganho com isso. Quanto ao cuiseur Soares, esse levou umas boas lições de trabalho dos cuites, tanto da // [86] parte do nosso cuiseur chefe, que se prestou da melhor vontade em lhe dár as indicações necessarias para uma boa cristalisação e trabalho dos cuites, como eu da minha parte tambem lhe fiz vêr varias cousas que lhe deve ser util no Cassequel. Elle Soares fêz uns dois ou tres cosimentos completos, e verifiquei que está nas condições de dár aos outros cuiseurs do Cassequel os conselhos necessarios para que o trabalho corra melhor que no anno findo, caso elles queiram tomar os seus coselhos[sic]... Quanto ao Marcelle Soubet, isso foi um desastre; nem o homem era um cuiseur em condições, mas muito menos para chefe cuiseur. É um doente de quem se deve têr pena, por ser uma vitima da grande guerra!. Em fim, esse foi-se e bem a tempo de não trazer complicações meiores á C.ª do Cassequel. Da minha parte fiz o possivel de o resolver a desfazer o seu contracto. Para o Senhor Hinton foi isso muito bom, porque lhe traria em Africa desgostos graves. Agradecendo os seus bons votos de boa saude minha e dos meus, retribuio, assim como envio os meus respeitosos comprimentos a Sua Ex.ma Esposa Seu amigo certo [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 2 de Julho de 1930 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [87] Funchal 2/7/930 Ex. Amigo e Senhor Hinton Estimo primeiro que tudo que tivesse uma boa viagem e encontrasse o Cassequel em boas condições para o inicio da Laboração. Terminamos, como vê da Situação, no dia 24 de Junho ultimo sem novivade[sic] de importancia. Depois de liquidado os cuites, dei principio á refinação no dia 27 Junho, tendo em assucar bruto para refinar um total de 315.111 kilogramas assucar Até hoje tenho refundido para refinar 238.446 kilogramas assucar bruto, tendo cuites e égoûts para fazer o épuissement. Temos refinado (turbinado) até hoje de manhã 127.050 kilogramas assucar BB. Para terminar completamente a refinação e épuissement dos égoûts espero terminar a 7 Julho. Como não convem deixar os melaços da refinação, porque são mais ricos que os melaços da Laboração, vou destillar todo este melaço para que fique somente o melaço da Laboração no T. G. (tanque grande). O stock de melaço no tanque grande em 30 Junho era de 712.630 kilogramas melaço. Total do alcool feito até 30 junho, retificado = 194.340 litros Stock alcool a 30/6 = 98.224 litros // [88] Situação provavel do alcool a 30/6 Cuba Nº 10 em etheres e escencias em alcool a 100º...................= 28.500 litros Nos tanques da aguardente apurada para retificação ....................= 3.000 “ Em fermentação pouco mais ou menos ........................................= 18.000 “ Melaço no tanque destillaria, em alcool .......................................= 3.000 “ Em aguardente bruta para retificação calculo a 100º.................... 7.000 “ Total em alcool – .......................................................................... 59.500 Salvo Erro ou Omissão Se calcularmos todos estes dados, dará aproximado: Alcool feito até 30/6 ......................................................................194.300 litros Do Melaço em stock ......................................................................235.000 “ Situação provavel do alcool 30/6 – ............................................... 59.500 “ “ Alcool provavel da refinação.......................................................... 22.000 Total provavel .................................................................................510.800 “ ?? Não deve porém contar com mens[sic] do que lhe digo na folha de situação geral, ou seja 512.910 litros. mo

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Rateio do alcool: Esta é a parte tetrica... não para nôs, tenho a firme certeza, mas para o canalha do H. F.488 [.] O Senhor Hinton tem tanta sorte, que isto que se deu em S. Filipe, não veio senão ajudal’o nas suas pertenções. Hontem pedi ao Director da Alfandega para têr uma intervista com elle, o que elle acceitou logo, e levei-lhe as notas que lhe envio juntas. Não pode calcular como o homem ficou satesfeito, porque todos // [89] os calculos feitos por mim concordão perfeitamente com as notas enviadas por S. Filipe e pelas notas da alfandega. Como vê no meu calculo eu dei-lhe uma extração de 85% do assucar da cana, e pelas notas enviadas de S. Filipe e assignadas por elles dizem que a sua extração é de 84,7%!!... magnifico. Não calcula como fiquei satesfeito. Deilhe todas as explicações para elle poder fazer os calculos quando termine a turbinagem dos Melasses Cuites de 3º ou 4º jet, e vêr assim realmente qual a quantidade de melaço obtido. Fiz-lhe vêr tambem que S. Filipe fazendo assucar de 3ª e 4ª, deve ter esses assucares uma baixa polarisação, e devem ser analysados e calculados a 100º polarisação. Não pode o Senhor Hinton calcular como o director da Alfandega está, porque vio que foi embaçado, e isto para elle é o peor que lhe podem fazer. Quando entrei a primeira cousa que lhe disse foi o seguinte: “Eu pedi-lhe esta intervista por duas razões: a 1ª é que via o descalabro para a Casa Hinton se o rateio fosse feito n’estas condições; a 2ª foi por sympatia para com o meu Amigo porque vejo a falta de seriadade e nenhuma consideração para com o meu Amigo procedendo como vilhões e canalhas... // [90] Elle somente me respondeu «Deixe o Ferraz estar que não deitaram em saco roto...» Está o Senhor Hinton vendo o estado de espirito d’elle... Disse-lhe tambem que achava que no calculo para o rateio deveria entrar o assucar produzido no anno anterior, e elle director concordou com isso e parece-me que vai propor isso ao Ministro. Elle vai a Lisboa no dia 18 do corrente, segundo elle mesmo me disse, e o rateio definitivo somente será feito depois da vinda d’elle de Lisboa, e de S. Filipe têr terminado tudo. Está o Senhor Hinton a vêr para onde hirá o rateio, e eu disse ao Derector que pelos meus calculos o rateio do Torreão deveria ser de 470.000 litros (!!) Elle achou um pouco exagerado... mas tambem não disse mais nada. Vou escrever para Lisboa ao Tristão489 e dár-lhe estes mesmos calculos e dár-lhe todas as explicações necessarias, mas acho mais conveniente Tristão não apresentar reclamação senão depois de vêr o que o Director fará em Lisboa. Como tenho vapor para Lisboa amanhã (3) vou escrever hoje. Como Belmonte deve-lhe escrever dizer o resto que me falta dizer, pesso-lhe para terminar por aqui, e crea-me seu Attencioso Amigo Certo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 2 de Julho de 1930 DESTINATÁRIO: Henrique Tristão Bettencourt Câmara] [91] Funchal 2/7/930 Meu Caro Henrique Tristão A tua saude e dos teus é o que primeiro desejo. Como Tristão vai agora leva-te um abraço meu. Eu devo seguir para os Açores (São Miguel) no dia 10 do corrente para pôr em marcha na fabrica de destillação do Bensaude o novo fermento Possehl’s como estamos usando aqui no Torreão, mas vou por conta da Casa Possehl’s. Levo comigo minha mulher e Maria Amelia que vão para casa de Leonor Leça, e eu fico em Ponta Delgada. Como sei que Belmonte te escreve detalhadamente sobre tudo quanto se tem passado com relação ao rateio do alcool a establecer para 1930, pela selebre esperiencia das 60 horas, e como sei que lês com bastante atenção tudo o que elle te diz, apenas direi o que se passou entre mim e o director da Alfandega e das notas que lhe dei para governe d’elle, cujas notas te envio juntas, e vou dár todas as explicações possiveis sobre isso. Achava porém melhor nada fazer sem que o Director da Alfandega chegue a Lisboa // [92] porque elle deve partir d’aqui no dia 8 do corrente segundo elle mesmo me disse, e leva consigo todos os dados a apresentar ao Ministro, e fazendo qualquer cousa antes elle pode-se ofender, e é bom tel’o sempre ao nosso lado, como está actualmente. Contra H. F.490 está elle e bastante visto a canalhice que lhe fêz. Passemos pois as minhas notas ou calculos: Verificas primeiro a Nota Nº 2 que é de 1929 e que são reaes, e assim veraes que as perdas totaes em assucar são de 2,657% cana. Passando á Nota Nº 4, se o rendimento em turbinado fôr de 7,062 % cana (?), deveria São Filipe obter em melaço, pelo 488 Henrique Figueira da Silva. 489 Henrique Tristão Bettencourt Câmara. 490 Henrique Figueira da Silva.

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mesmo calculo da Nota Nº 2 o seguinte: 7,062 assucar branco (calculado o bruto) a 99,6 polarisação = 7,034 <assucar> a 100º Dará em melaço de 54% assucar = 5,307 kilogramas ou 3,685 litros = 2,866 assucar 100º Total assucar vizivel ——————— 9,900 assucar 100º Perdas totaes será ——————2,500 “ “ assucar % cana 12.400 Quando apresentei estes dados ao Director da Alfandega elle ficou espantado pelo resultado obtido nas 60 horas da esperiencia, e elle vio bem que os meus calculos estão mais ou menos aproximados do verdadeiro, porque elle vio que // [93] a extração declarada por São Filipe e assignada pelo gerente dava 84,7% extração, e eu calculei 85, o que é bem aproximado. Tudo depende porém do resultado final da turbinagem do assucar branco e bruto, e como São Filipe tem grande quantidade de cosimentos de 3ª e 4ª qualidade para turbinar, somente d’aqui a 20 ou 30 dias é que se pode fazer os calculos exactos e vêr qual o melaço real obtido, se concorda com os calculos feitos por mim. Elle director está furioso contra elles porque o embacarão[sic] indecentemente, emquanto que nós andamos com toda a lealdade e correção. Foi isto que elle me deu a entender, e disse-me que não tinhão deitando em saco roto... Estaes a vêr o que vai soceder a esses canalhas dos H. F. etc. Eu da minha parte declarei ao Director que contava para Torreão um rateio de 470.000 litros pouco mais ou menos, segundo os meus calculos e se elles fossem corretos em tudo. Veremos o que sai de tudo isto, mas estou a vêr que nos vai ser bem favoravel, se n’este pais ainda há gente seria. Um abraço do teu primo e amigo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 4 de Setembro de 1930 DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola] [94] Funchal 4/9/930 Meu Caro Avelino Cheguei da minha viagem aos Açores com boa saude e satisfeito com os resultados obtidos na fermentação do melaço de beterraba da Fabrica de S.ta Clara, tirando em alcool bruto a 100º, 62,34 litros % assucar no melaço (melaço com 50,5% saccarose) pelo fermento Possehl’s. Como vês o resultado foi muito bom e os Diretores da União ficarão muito satisfeitos, porque antes apenas tiravão 51,5 litros alcool a 100º % assucar (saccarose) no melaço, tanto que me gratificarão generosamente o que não esperava, visto ter hido por conta de Possehl’s. Foi recebido o melhor possivel, e tive como technico da Fabrica da Lagoa o Carlos Arruda (chimico) que deves talvez conhecer. Foi mais um amigo que arranjei. Vejo pelas tuas cartas que passas de perfeita saude e assim parece pela tua fotugrafia que me enviaste, e isso é o principal. Não sei bem ao certo quantas cartas tenho a responder-te, mas pelo menos devem ser... 3... (!?). Depois que cheguei tenho tido sempre bastante que // [95] fazer, porque o Senhor Hinton491, como sabes está me sempre a pedir notas e calculos, principalmente sobre o rateio das Fabricas, e como H. F.492 nos quer comer é necessario evitar essa grande pouca vergonha d’esse amigo... Não te posso responder agora a ellas porque tenho de seguir para Lisboa a miados d’este mez, e o Senhor Hinton segue amanhã para Inglaterra. O que te posso dizer é que o Senhor Hinton está mal impressionado com o trabalho do Quadruple do Cassequel pelas perdas em xarope por entrenemant, o que te confesso não percebo qual a causa, e segundo elle parece ser devido ao excesso de jus a evaporar (?!!). Tambem com relação á qualidade da cana está bastante desconsulado, e tem rasão. Meu Caro Avelino, a má qualidade da cana é o que deve preocopar a companhia do Cassequel, porque não obtendo no campo boa cana não é a Fabrica que o vai produzir. Todo o mais são cousas que se podem evitar e estou certo já o conseguiste // [96] Quanto ao assucar que o Senhor Hinton me mostrou, vejo que o fabrico vai bom e que a cristalisação é magnifica, principalmente o C*, e vejo que o Soares muito ganhou em vir ao Torreão. Na minha volta de Lisboa vou então vêr se te respondo ás cartas com vagar, mas d’esde já te previno que não vão ser tão 491 Harry Hinton. 492 Henrique Figueira da Silva.

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grandes como as tuas... Está intendido. Recebi tambem uma carta do sobrinho do Costa493, mas diz-lhe que lhe responderei depois da minha volta e mando-lhe lembranças minhas. Quando estive em Ponta Delgada vesitei um Cavelheiro que tem estufas de ananazes, e como das explicações sobre o cultivo elle me disse que os ananazes para dár bom fruto (grande) tinhão que florir, tive occasião de lhe perguntar se a floração de uma planta é signal de fraqueza (elle é um bom agronomo) e elle disse-me que sim, e falando-lhe na floração da cana do Cassequel, é opinião d’elle que essa floração é devido a fraqueza na soca da cana por excesso de produção. Foi isso sempre o que eu disse, mas que o Costa diz que não é... Outra cosa // [97] que eu sube tambem: Nos Açores teem por habito cemiar o tremoço, e depois de lhe tirarem a cemente é que enterrão o restante para servir de adubo azotado, porque diz o Agronomo que o azote está nas raizes da planta e não na folha verde, e quando eu estive ahi no 2º anno vi que no Cassequel plantavão o tremoço e quando a planta estava ainda verde e antes de dár semente, enterravão na terra, disse-me o Costa para aproveitar o azote da planta... Eu tenho edeia de têr dito ao Costa que achava isso pouco economico, visto ser necessario empregar nova cemente para cemiar. Vejo agora que tinha rasão no que dizia, e não vejo necessidade de perder semente que pode servir para nova cemiadura. Diz o Agronomo que o azote está nas raizes do pé do tremoço em umas pequenas burbulhas que fição[sic] nas raizes depois da colheita do tremoço, e o enterramento completo da planta verde de nada serve. Um abraço do teu velho Amigo certo, que te deseja felecidades e saúde. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 17 de Setembro de 1930 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [98] Funchal 17/9/930 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua carta de 11 do corrente, e vejo o que me diz com relação Director da Alfandega, que segundo diz Tristão494 volta para Lisboa no dia 18 do corrente. No dia 15 foi á Direção da Alfandega comprimentar o Director, que me recebeu com todas as amabilidades, mas que nada me disse sobre a sua sahida novamente para Lisboa. Eu é que lhe disse que seguia para Lisboa no Lima de 22 do corrente e ficava pois á sua desposição para qualquer cousa que elle necessitasse de mim. Agradeceu mas tambem não me disse nada; eu é que lhe disse que esperava que agora nos fosse feita justiça com relação ao rateio, e a resposta d’elle foi, “que ficasse o Senhor Hinton descançado que justiça lhe seria feita, e que a sua pena era não têr posto na Lei que quando o total do melaço obtido não correspondesse com o melaço da esperiencia das 60 horas, que a fabrica seria multada em 500 contos” [.] Será essa desposição aplicada para o futuro? Quanto a H. F.495 já veio de // [99] Lisboa, e São Filipe ainda está destillando, o que se vê que a quantidade de melaço vai ser aproximado dos meus calculos, e assim o rateio para S. Filipe vai baixar muito. É dificil tirar do Director qualquer cousa e temos que esperar que elle nos pregunte... Quanto ao alcool d’esde 31 Julho até hoje não tem sahido nada do Torreão, mas a rasão é para dár capacidade a S. Filipe para poder destillar todo o melaço, mas depois, estou certo, vamos têr grandes sahidas e São Filipe fica sem sahida alguma (?). Eu sigo para Lisboa no Lima de 22/23 e assim lá estarei quando o Senhor Hinton la chegar. Falei com o Docamps (analista da Estação Agraria) e entreguei-lhe o tal producto da caldeiras [sic] de vapor do Cassequel para elle dár a sua opinião. Quanto ao preço da Analise não lhe falei n’isso, mas como este Amigo nos pode ser util em qualquer ocasião não val a pena fazer questão de preço. O que elle me disse é que o technico de São Filipe (Francez) fêz asneira groça e foi despedido; para elle tudos[sic] erão burros, // [100] (e talvez tivesse rasão), mas onde elle deu mais bota foi nas fermentações. Como o Senhor Hinton vê continua H. F. com os seus antigos technicos (Espanhol & C.ª), e como gerente o seu genrro Dr. Leça. O Barbeito496 não foi lá mais, mas diz a todos que as relações entre elle e H. F. são cada vez melhores... Está o Senhor Hinton a vêr... o homem sabe cousas estupendas e tem assim H. F. pelo cabresto. Fico satisfeito em saber que o cobre actualmente está baixissimo, e assim o nosso novo apparelho de destillação fica muito barato. Quanto á destillação do stock do melaço, que pela medição que fiz a 25 agosto, mostra 622.300 kilogramas de melaço e nos deve dár aproximado 208.470 litros alcool retificado em 40º, não val a pena principiar as fermentações senão em Novembro proximo, e deve ficar terminado entre 20 a 21 Dezembro. Como temos em stock de etheres e escencias de 43.000 litros em retificado podemos principiar em 1 de Novembro a retificação d’este alcool: Stock actual em alcool pouco mais ou menos 90.000 litros Crea-se[sic] seu Attencioso amigo Certo. [Ass:] João Higino Ferraz 493 494 495 496

António Costa. Henrique Tristão Bettencourt Câmara. Henrique Figueira da Silva. César Augusto de Oliveira Barbeito.

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[Copiador de Cartas. 1930-1937]

DESCRIÇÃO: À imagem de anteriores copiadores de cartas, o título deste é dado por nós. Os seus fólios não são numerados, pelo que a numeração é por nós acrescentada, a lápis. É um livro, em papel, a última quarta parte do volume encontra-se em branco, as suas medidas são 27,1 cm x 21,5 cm, e está em bom estado de conservação. Muitas das palavras da última carta deste copiador não puderam ser lidas, em virtude de um deficiente decalque das mesmas, tornando-as ininteligíveis.

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[DATA: 31 de Outubro de 1930 DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola] [1] Funchal 31/10/930 Meu caro Avelino Cheguei de Lisboa no dia 26 do corrente deixando lá minha filha em casa de uma pessoa amiga que desejou ficar com ella, visto o Dr. Costa Nery ainda não ter chegado a Lisboa das suas ferias. Ao menos a pequena tem mais uns dias para estar em Lisboa e vêr tudo bem, que era afinal o grande desejo d’ella. Eu e minha mulher chegamos bem de saude, mas eu com as algibeiras vazias..., e não há remedio senão auguentar!... Espero que esta te encontre de boa saude como sempre, e que o teu moral já esteja mais em ordem. Tem paciencia, meu Avelino, mas a vida é isto, trabalhos e aborrecimentos, e as compensações ou veem tarde ou nunca vém, que é o que quasi sempre acontece. Passemos ao Cassequel: Tenho varias cartas tuas a responder, mas desculpa meu caro, que sô te responda á ultima de 3 do corrente e que recebi em Lisboa. Estive em Lisboa mas não vi nenhum dos // [2] nossos directores do Cassequel, a não ser o nosso amigo Tristão (Henrique)497 e como Henrique disse ao B.C.[?] e Pegado que eu estava em Lisboa, nenhum d’elles teve a Amabilidade de me enviar ao menos um cartão e comprimentos. (!) Eu porém fiz o mesmo, amor com amor se paga. Estou certo que se o Costa498 estivesse em Lisboa teria a amabilidade de me procurar. Eu sei bem que elles não morrem de amores por mim! A razão não sei porque, mas emfim, isso é lá com elles. Tudo o que te disse na ultima carta sobre o Cassequel é sô para ti, porque desde á muito tempo deixei de dár conselhos a não ser quando o Senhor Hinton499 me pergunta qualquer cousa e que me vejo obrigado a responder. Sobre a flôr da cana o que eu digo é o que qualquer pessoa com conhecimentos de causa me dizem, porque, como sabes, não sou agronomo, mas á cousas que saltão aos olhos, e isso que me dizes que cana plantada em terreno virgem tambem flora deves comprender que empregando na urigem cana florida e fraca não pode dár bons filhos. // [3] Henrique mostrou-me em Lisboa os rendimentos de 1930 até á 14ª semana, e vejo que a media de rendimento é de 7,08% em turbinado, e pelos calculos eu vejo que na media não dá cana com 11% assucar; será assim? Estou a vêr que até ao fim não te vai dár mais de 7,76% em turbinado, dando talvez um total de 8540 toneladas assucar na Campanha de 1930, se a colheita fôr de 110.000 toneladas cana. A principal causa é a pessima cana que actualmente o Cassequel tem, e se elles não tomão a serio essa questão da agricultura, em pouco tempo vai desaparecer a cana propria para assucar, e não é com uma pequena quantidade de cana P. O. J. que se pode replantar em pouco tempo os terrenos do Cassequel. Quadruple-effet: Vejo o que me dizes sobre esse ponto, e há uma parte da tua carta em que dizes: “Trabalhando todos os apparelhos a um nivel baixo o vacuo mantem-se estacionario e tudo corre bem (xarope entre 25º e 30º)”, que isso concorda com a minha opinião sobre a modificação do trabalho do // [4] Quadruple que eu dei ao Senhor Hinton e que me parece elle levou para Londres, isto é, o apparelho deve trabalhar como o Sechma que te envio junto, mas tem que sobrer[sic] essa modificação para 1931. Não é nada despendiosa, e estou certo que trabalhará bem e sem entrenements, e talvez evite hir a agua do condensador á bomba de vacuo. Automaticamente é que o apparelho nunca poderá trabalhar bem, é esta a minha fraca opinião, e esse sobresaltos [sic] no 497 Henrique Tristão Bettencourt da Câmara. 498 António Costa. 499 Harry Hinton.

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vacuo da 4ª caixa é que está dando causa aos entrenements de xarope e de agua do condensador á bomba de vacuo. Quanto ao Senhor Engenheiro deu raia?, e fezeste bem em o deixar trabalhar para elle vêr os defeitos do apparelho. Então o Soares não dá nada de si? São todos assim e bem comprendo o que me dizes na tua carta, porque tive inflizmente esperiencia d’isso ahi na fabrica. Fico satisfeito por saber que o trabalho da sulfitação vai bem, e isso para ti é um grande descanço. Fico esperando os resultados finaes da tua forma de limpeza do Quadruple. // [5] Falas em abandonar isso ahi? Tem paciencia e conserva-te o mais que poderes por ahi, porque isto por cá não vai nada bom, e sabes bem o desgosto que davas ao Senhor Hinton, porque é contigo que estou certo que elle pode contar. Eu vejo bem que o Senhor Hinton actualmente o que lhe está dando mais cuidado é o Cassequel, não somente pelo capital que lá tem, mas principalmente pelo seus [sic] amigos inglezes que elle meteu n’essa empreza, e tem rasão!.. Nada mais tendo a dizer-te, desejo que a tua saude continue como até aqui (segundo as tuas cartas), e que o moral e trabalhos vão melhorando são os votos do teu Amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 5 de Novembro de 1930 DESTINATÁRIO: Harry Hinton; LOCAL: Londres, Inglaterra] [6] Funchal 5 Novembro 1930 Ex. Amigo e Senhor Hinton Visto estar ainda em Londres e desejando talvez saber qual as [sic] quantidades de productos Chimicos etc. necessarios para a Laboração de 1931, envio-lhe a nota abaixo, calculado sobre 26000 toneladas cana e deduzidos os Stocks existentes. Productos necessarios para 1931: Phosphato de Cal (Londres)........................................33.100 kilogramas 500 Kieselgouhr Americano (“) .........................................29.800 “ Cal virgem (Lisboa)..............................................33.300 “ Enxofre en cannons (“) ..............................................15.600 “ Blankit (Lisboa ?) ........................................................... 150 “ Azul ultramarino (Lesboa ?) ..............................................15 “ 501 Lystonol – (França) ........................................................1400 “ 502 Super-cel Hyflo (Londres) .............................................3000 “ 503 Formol ( “ ) ............................................300 Litros 504 Soda caustica ( “ )............................................2500 kilogramas Pano para Filtros-Presses De 1,15 metros de largura..............................................3000 metros 505 De 1,06 “ .................................................. 660 “ 506 Seu Attencioso Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz // mo

[DATA: 5 de Novembro de 1930 DESTINATÁRIO: Carlos Arruda; LOCAL: São Miguel, Açores] [7] Funchal 5 Novembro 1930 Meu presado Amigo e Senhor Arruda Recebi em Lisboa (onde estava) a sua carta de 5 proximo passado a que passo a responder, e se não o fiz logo foi para lhe dár as notas que lhe envio junto e que são feitas na presente occasião, por isso que te enviei um lote de fermentação do nosso melaço de cana da Laboração de 1930. Primeiro que tudo estimarei que o meu amigo e sua Ex.ma Esposa estejão de perfeita saude e bem despostos e isso é o principal. Li com atenção a sua carta e as notas que me enviou do rendimento de melaço de cana (Cuba) em que o meu Amigo descreve as dificuldades com o trabalho do dito melaço, mas confeço que fiquei espantado com o rendimento % saccarose total de 55,55 500 501 502 503 504 505 506

João Higino Ferraz acrescentou neste local um sinal de «Visto», a lápis. João Higino Ferraz acrescentou aqui, a lápis, um sinal de «Visto». João Higino Ferraz acrescentou neste local, a lápis, um sinal de «Visto». João Higino Ferraz colocou aqui um sinal de «Visto», a lápis. João Higino Ferraz colocou aqui um sinal de «Visto», a lápis. João Higino Ferraz acrescentou neste local, a lápis, um sinal de «Visto». João Higino Ferraz acrescentou neste local um sinal, a lápis, de «Visto».

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litros alcool bruto a 100º, emquanto que o melaço de beterraba com boa fermentação até ao fim feito o calculo pela 1081 [sic] toneladas de melaço (?) // [8] apenas deu 53,64 litros alcool bruto a 100º % saccarose total no melaço!! É isso que não posso comprender e o que me fáz pensar que os meus calculos da esperiencia que fiz com o melaço de beterraba estão certos e que deve haver engano na quantidade de melaço entrado na Fabrica da Lagoa. Como se fez esse engano no calculo é que não posso vêr. Para prova que os calculos feitos por mim ahi sobre os mostos feitos e sua densidade estão certos e ainda com vantagem para elles envio-lhe o resultado do lote feito que terminou hontem (4 Novembro), cujas medições tanto de melaço gasto como dos hectolitros de mosto feito e sua densidade forão rigorosamente feitos e verificado no Laboratorio a sua densidade e val [?] a 20º temperatura. Densidade do melaço – 1,432 Melaço medido em dois tamques e calculado a pezo pela densidade = 194.515 kilogramas As diluições feitas forão as seguintes: Mosto-fermento = 2730 hectolitros á media de 9,4º Baumé Mosto geral = 4530 “ “ de 12,22º “ // [9] Fazendo o calculo pelo mosto feito empregando as densidades vistas pelo mesmo livro de Fabrico[?] como o fez ahi na Lagoa, deu-me o seguinte resultado que o meu Amigo pode verificar: Mosto-fermento = 2730 hectolitros a 9,4º Baumé (1,068 Densidade) = 112.972 litros melaço “ geral = 4530 hectolitros 12,22º (1,091 Densidade) = 95.423 litros “ 7260 hectolitros a 11,15º Baumé = 138.395 litros “ que calculado em pezo = 198.182 kilogramas melaço. Melaço nos fermentos restantes para Lote segundo 1.000 kilogramas melaço real calculado 197.182 kilogramas Melaço pela medição 194.515 “ A mais pelo calculo 2.667 kilogramas melaço, ou seja pouco mais ou menos 1,37 % a mais melaço por hectolitro mosto do que pela medida do melaço calculado em kilogramas. Assim dará por hectolitro mosto feito o seguinte: Pelo melaço real medido e calculado = 26,792 kilogramas “ “ calculado pelo mosto feito = 27,160 kilogramas Diferença a mais pelo mosto feito = 0,368 kilogramas Isto vai sem comentarios porque o meu amigo é competentissimo para avaliar isto tudo e vêr que tanto eu como o meu Amigo não nos enganámos nos calculos feitos ahi nas duas esperiencias. // [10] Para prova da lealdade dou-lhe mais os seguintes calculos feitos em 3 lotes de fermentação nas épocas abaixo e que não forão feitos com tanto rigor como o ultimo terminado agora: Julho de 1929: Pelo melaço medido = 410.405 kilogramas melaço Pelo calculo mosto feito = 409.766 kilogramas “ A mais pelo medido = 639 kilogramas “ “

Pelo melaço medido Pelo mosto feito Mais pelo medido

= 130.857 kilogramas melaço “ = 132.736 kilogramas = 1.879 kilogramas “

Junho de 1930:

Pelo melaço medido = 194.545 kilogramas melaço Pelo mosto feito = 196.091 kilogramas “ Mais pelo medido = 1.546 kilogramas “ Como vê, a não ser o primeiro, os dois ultimos deu mais melaço pelo calculo do mosto feito do que pelo melaço medido e calculado em kilogramas pela sua densidade. Em vista de tudo isto continuo a dizer que deve haver qualquer engano na quantidade de melaço de beterraba entrado na

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Fabrica da Lagoa. Os meus respeitosos cumprimentos a sua Ex.ma Esposa e um abraço do seu Amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 12 de Novembro de 1930 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [11] Funchal 12 Novembro 1930 Ex.mo Senhor Hinton Como o Belmonte lhe deve explicar na sua carta o que se tem passado com relação ao fabrico do alcool, por isso não lhe repito aqui a mesma cousa para não o maçar. Como tive de terminar as fermentações a a [sic] 9/11 apenas podemos fermentar 259.130 kilos melaço, ficando um stock no Tanque Grande de aproximado (medida verificada) de 360.156 kilogramas de melaço, que calculando em alcool retificado em 40º cartiere nos dará 118.800 litros para produzir em 1931 (Fevereiro e Março?). Estou pois acabando a destillação do melaço fermentado, e retificando todo o alcool prodizido[sic] pelo dito melaço e os etheres e escencias. Actualmente tenho os tanques do alcool retificado cheios, com stock de 121.000 litros Seu Attencioso Amigo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 19 de Novembro de 1930 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [12] Funchal 19-11-930 Ex. Amigo e Senhor Hinton Recebi as suas cartas de 12 do corrente que muito lhe agradeço. Quanto aos productos a encomendar em Lisboa para 1931 já dei a nota ao Senhor Jorge e elle deu o espediente necessario. Não vejo na sua carta o Kieselgouhr, mas como o Senhor Jorge me disse que já lhe tinha enviado uma copia da carta da America (Kieselgouhr Americano), naturalmente o Senhor Hinton fáz a encomenda ahi em Londres (?). Quanto ao engenheiro Acciaioli elle já não está como presidente da Junta, devido a imposições dos Impatas... (Vieiras & C.ª), mas simplesmente como Engenheiro da Camara, e como foi hontem aprovado o projecto da Ponte do Torreão (Nova ponte) que fica com 8 metros de largo, a base da ponte tem que ser roforçada, e assim vão fazer uma grande sapata no fundo da rebeira para garantir a solidão[sic] da Ponte. Seu Amigo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz // mo

[DATA: 19 de Novembro de 1930 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [13] Funchal 19-11-930 Ex.mo amigo e senhor Hinton Deve ficar terminado na proxima seixta feira 21 a retificação de todo o alcool, e calculo ficar um stock aproximado no Torreão de 113.000 litros (A alfandega levantou 45.190 litros para podermos terminar a retificação). Para Torreão: N’estas condições teremos em alcool feito = 113.000 litros Do melaço restante no Tanque Grande (1931) = 118.800 “ Alcool para fornecer á Alfandega = 231.800 “ Quanto ao rateio definitivo o Director já mandou para Lisboa, e assim em breve deve vir publicado esse rateio Seu Attencioso Amigo Certo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 25 de Novembro de 1930 CARACTERIZAÇÃO: Relatório acerca da produção de alcool na Laboração de 1930] [14] Resultado geral até 21/11/930 alcool Alcool retificado real obtido = 399.840 litros em 40º Cartiere Etheres e escencias restantes 1.023 “ a 100º Carga do retificador (retificador

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estava descarregado) 1.000 “ “ Total obtido = 401.863 litros alcool Calculando a cana moida para alcool pelo assucar contido na garapa e jus de 61.021 kilogramas assucar = 500 toneladas cana Rendimento por tonelada cana = 72,8 litros em 40º Cartiere Alcool das 500 toneladas cana = 36.400 litros Melaço destillado até 11/11/930 = 1.104.614 kilogramas Alcool obtido total = 401.863 litros Da cana directa = 36.400 litros alcool do melaço —— 365.463 litros Rendimento % melaço = 33 litros alcool ou 40º retificado Calculando que o restante melaço no Tanque Grande de 360 toneladas dê o mesmo rendimento de 33% = 118.800 litos[sic] Alcool total feito até 21/11 = 401.863 “ Total do alcool Laboração de 1930 = 520.663 “ Salvo Erro ou Omissão. 25/11/930. [Ass:] Ferraz // [DATA: 25 de Novembro de 1930 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [15] Funchal 25 Novembro 1930 Ex. Amigo e Senhor Hinton Terminamos a reteficação do alcool no dia 22 do corrente, restando somente em Etheres e escencias 1890 litros a 54º a 15º temperatura que corresponde a 1023 litros alcool a 100º. O stock do alcool a 22 do corrente é pois de 117.217 litros, mas como naturalmente deve dár alguma quebra devido á diferença de temperatura etc. não se pode calcular senão com 115.000 litros no maximo real. Junto remeto-lhe o resultado em alcool de 1930, fazendo o calculo do melaço restante no Tanque Grande dár o mesmo rendimento que o destillado até agora. Calculando pois n’estas condições fica-nos em alcool para fornecer á Alfandega 233.800 litros até 1931. Dará este alcool até 15 abril 1931? Já deve estar ao facto do desastre do Banco H. F.507, que pena foi que se desse tão abruptamente, mas que mais cerdo[sic] ou mais tarde se deverias[sic] dár!! Não desejo o mal dos outros, mas Deus quando castiga é cá n’este mundo... Crea-me seu Attencioso Amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz // mo

[DATA: 24 de Dezembro de 1930 DESTINATÁRIO: Carlos Arruda; LOCAL: São Miguel, Açores] [16] Funchal 24/12/930 Meu bom amigo e Senhor Arruda Não pode o meu caro Amigo calcular o desgosto que me deu ao lêr a sua ultima carta, e a forma como diz da sua situação junto da Companhia. Eu espero porém que o meu Amigo não me julgue de forma diferente do que no principio do nosso conhecimento quando ahi cheguei quanto ao meu caracter... Não morro de amores pelos alemães, e se acceitei a incombencia de hir ahi a São Miguel tratar da questão do fermento Possehl’s, não foi por elles mas sim pelos desejos que o Senhor Hinton508 tinha que a firma Bensaude adoptasse esse systema de fermentação, e se elle e eu com a meior confiança assim procedemos foi devido a que na nossa fabrica do Torreão os rendimentos foram e são sempre 10% mais do que tiravamos antes do emprego do fermento Possehl’s. // [17] Isto é o que tanto a União dos Fabricantes d’alcool dos Açores e o meu caro amigo devem têr bem em vista, porque se eu e o Senhor Hinton não tivessemos a verdadeira confiança nos resultados dos rendimentos em alcool do melaço, em caso 507 Henrique Figueira da Silva. 508 Harry Hinton.

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algum eu teria aceite tal encargo nem o Senhor Hinton aconselhado a casa Bensaude a empregar esse fermento. Para mim e o Senhor Hinton os Possehl’ e Stolles são entidades secundarias... Se a União um dia quiser renovar as esperiencias do fermento, deve obrigar o inventor Stolle a ficar ahi até final, porque, afinal de contas Stolle é o verdadeiro responsavel. Quanto á minha humilde pessoa estou certo que o Senhor Hinton não me falará mais em hir aos Açores para esse fim, mas se o caso se desse, eu pedia emediatamente a demição do meu logar na Fabrica do Torreão. Desculpe o meu Amigo esta minha maneira de escrever, mas não pode calcular o meu estado de espirito e estado nervoso em que estou depois de têr lido a sua carta. Todas a [sic] minhas sympatias são para si porque vejo que o meu Amigo é a vitima... Creia-me contudo sempre seu verdadeiro amigo e admirador do seu curação. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 4 de Fevereiro de 1931 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [18] Funchal 4 Fevereiro 1931 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Dei principio á retificação do alcool no dia 2 do corrente, tendo um stock em alcool de aproximado 35.000 litros. Assim não poderá faltar alcool para a Alfandega. As fermentações sempre bem activas e puras. Fêz-se as analyses de canas comparativas, cujas analyse [sic] o Marinho509 me disse que lhe hia enviar. Contudo dou-lhe um termo de comparação abaixo dos annos seguintes e pelas datas das analyse [sic], e a riqueza media das canas d’esses annos. Analyses 1928 – assucar % cana media 13,37% – março 15= 95,13 Pureza 1930 – “ “ “ 12,90% – abril 14= 91,60 “ 1931 ——————————— - – Fevereiro 2= 85,83 “ Comparando as datas das analyses parece-me que a cana de 1931 deve dár uma media entre os dois annos de 1928 e 1930, ou seja pouco mais ou menos de 13% assucar no corrente anno. Será assim? Seu attencioso amigo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 13 de Fevereiro de 1931 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [19] Funchal 13/2/931 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Junto remeto-lhe a carta com o orçamento acompanhando o pano da Casa G. Vernon para o seccador de assucar, e por ella vejo que para o corrente anno não se pode montar a tempo de se aproveitar na Laboração, e essa é tambem a opinião do Engenheiro. Além disso é necessario estudar bem as condições de montagem etc. etc. Temos retificado até hoje 40.980 litros alcool e temos um stock de 57.000 litros alcool Tenho um Lote de fermentação que sô termina a destillação no dia 15 do corrente, e por isso não lhe posso mandar o rendimento. Este lote é de 203 toneladas de melaço. Com o novo lote em fermentação, calculando pela medição do Tanque Grande feita hontem, devemos ter ainda 160 toneladas de melaço, destillando tudo. Crea-me seu Attencioso Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 19 de Fevereiro de 1931 DESTINATÁRIO: Harry Hinton; LOCAL: Lisboa?] [20] Funchal 19/2/931 Ex. Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua carta de 14 do corrente, que muito lhe agradeço. Se isso ahi está um inferno, por aqui não vai melhor... Sobre H. F.510 é boatos e mais boatos, mas o que eu sei é que elle está preparando a fabrica para moêr (?) trabalhando até ás mo

509 Marinho de Nóbrega. 510 Henrique Figueira da Silva.

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9 horas da nuite. Será para deixar a fabrica em condições antes de se safar? Não me admira nada! D’aquele typo tudo se espera... Graças a Deus que o director da Alfandega já auctorisou a destillar todo o melaço, e assim espero terminar as fermentações no princepio da proxima semana, e lavar o Tanque Grande para receber o melaço de 1931. Quanto ao que me diz sobre a limpeza dos apparelhos vou fazer o melhor possivel, mas sabe bem que o primeiro cosimento nunca é muito branco, mas é fácil de o refundir novamente. Quanto á liquidação foi melhor que não se désse! Crea-me seu attencioso amigo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 20 de Fevereiro de 1931 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [21] Funchal 20/2/931 Ex. Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua ultima de 16/2 e junto a carta e plano do seccador de assucar a que vamos responder na proxima semana como é do seu desejo. Alcool do Melaço: O 1º Lote de 203 toneladas de melaço deve dár um rendimento em alcool retificado aproximado de 65.700 litros em 40º Cartiere, o que corresponde a 32,3 litros alcool % melaço. O 2º lote em fermentação e destillação não lhe posso mandar ainda o rendimento sem têr terminado todo o melaço do Tanque Grande e lavado o tanque, mas pelo melaço já tirado até hoje de 131.850 kilogramas e o restante ainda por tirar que calculo em 40 toneladas, dará um total de aproximado 170 toneladas melaço para este 2º lote. Na sua carta dizia que se tinha 203 toneladas (?), mas na minha carta de 13 do corrente eu dizia-lhe 160 toneladas. Este 2º lote o melaço é mais fraco (restos do tanque) e assim calculo 32%, e dará pouco mais ou menos (170 toneladas) 54.400 litros alcool em 40º. Total em alcool dos dois lotes = 120.100 litros alcool Seu attencioso amigo. [Ass:] João Higino Ferraz // mo

[DATA: 25 de Fevereiro de 1931 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [22] Funchal 25/2/931 Ex. Amigo e Senhor Hinton Terminamos o melaço do tanque grande no dia 24 do corrente, ficando a fermentação terminada. O resto da destillação deve terminar na semana proxima, e por isso não lhe posso mandar agora o rendimento em alcool. A quantidade de melaço, stock de 1930, foi de 373.000 kilogramas, emquanto que nos calculos feitos em 31 Dezembro de 1930 mostrava pela medida do Tanque Grande 360.156 kilogramas, dando pois mais em melaço 12.844 kilogramas. Temos assim que o calculo do alcool provavel da minha carta de 20/2 (120.000 litros) deve andar aproximado. Quando terminar a reteficação total, que calculo a 5 a 6 março, mandar-lhe-hei os rendimentos reaes dos melaços. Crea-me Seu Attencioso Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz // mo

[DATA: 5 de Março de 1931 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [23] Funchal 5/3/931 Ex. Amigo e Senhor Hinton Terminamos hoje de manhã a retificação de todo o alcool do stock do melaço de 1930, e cujos resultados lhe envio em folha separada. O nosso stock d’alcool n’esta data é de 52970 litros O Director da Alfandega tem feito o rateio do alcool a entregar, o que tem dado, segundo me consta, um sarilho dos diabos. Carlos Fernandes, fallando com Marinho511, estava furioso contra o Director da Alfandega!! visto os Soocos[sic] terem pedido 40.000 litros!!! e elle não lhes dár... Para que diabo queriam elles 40.000 litros d’uma vêz?!! Não haverá aqui um desejo de importar alcool pelos negociantes de vinho (grandes) para cousas futuras? Crea-me seu Attencioso Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz // mo

511 Marinho de Nóbrega.

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[DATA: 6 de Março de 1931 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [24] Funchal 6/3/931 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Escrevo-lhe á preça para lhe dezer que o Director da Alfandega pedio-me para hir com elle para eu lhe dár a explicação seguinte. Com a modificação no calculo das 60 horas elle quer meter o assucar produzido, e perguntou-me se o assucar deve ser calculado a 100º polarisação. Eu disse-lhe que sim para evitar de futuro espertezas de São Filipe (com H. F.512, ou outros). Previno-o pois d’isto para seu governo. Diz Marinho513 que o Ministro indeferio a petição da Comp.ª Nova para principiar a 9/6. Seu attencioso Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 11 de Agosto de 1931 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [25] Funchal 11/8/931 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Pela carta que o Senhor Hinton escreveu ao Senhor Jorge perguntava se eu tinha hido ao Director da Alfandega; Estive lá dois dias depois da sua sahida da Madeira, e foi recebido por elle, e ofereci-lhe os meus prestimos em tudo que elle necessitasse, mas vi que elle nada fáz com relação á nossa questão, não sô porque isso está entregue ao Maçans[?] Fernandes, mas tambem porque o homem está muito aterifado[sic] com trabalhos Alfandegarios que lhe toma todo o tempo. Terminei a retificação, de todo o alcool fabricado na Laboração, a 9 do corrente, tendo-se produzido um total de 356.300 litros em 40º Etheres e escencias restantes = 349 “ “ Total da Laboração = 356.649 “ “ provenientes de 802.667 kilogramas cana, e 977.104 kilogramas melaço. Rendimento da cana = 56.606 litros em 40º “ do melaço = 300.043 litros “ O stock do melaço provavel, pela medição dos tanques feita a 27/7, deu 701.359 kilogramas melaço, que dará pouco mais ou menos 220.900 litros alcool (pelo fermento Possehl). // [26] Temos que notar que, do alcool fabricado durante a Laboração, 110.113 litros foi a fermentação feita pelos fermentos ordinarios de Cerveja, por não termos o Diamonphos I G, como já sabe. Antes de principiar a refinação tinha calculado o alcool do melaço e cana em 599.990 litros, mas aparece uma diferença a menos, que é devido ao assucar retirado em 3º jet (Filtros-Presses) que eu tinha calculado em melaço. O alcool da Laboração, incluindo o stock do melaço, deve ser aproximado = 577.549 litros. A aguardente de cana vou retifical’a na semana proxima, e pela aguardente recebida no Torreão vejo que deve produzir pouco mais ou menos 15.900 litros alcool retificado em 40º cartiere. Teremos assim para o rateio provisorio de 689.000 litros, pouco mais ou menos 593.449 litros alcool faltando pois para esse rateio provisorio (Torreão) = 95.551 litros. Deus queira porém que se possa vender o que fizemos!!. Estimo a continuação das suas melhoras, e subscrevo-me seu attencioso Amigo [Ass:] João Higino Ferraz // [27] P. E.[sic] Vi no Bulletin de l’Association des Chimistes de Junho proximo passado, e que recebi na semana passada, um rapporte de J. Zamaron514, chefe dos Laboratorios das “Sucreries «Ternynck» a Nogait-Sous-Coucy (Aisne), chimico bastante competente e muito conhecido, sobre um novo processo d’apuração dos jus de beterraba e cana, fazendo uma grande 512 Henrique Figueira da Silva. 513 Marinho de Nóbrega. 514 Jules Zamaron tem vários estudos sobre o fabrico do açúcar: Étude de l’influence possible des réducteurs sur la polarisation des jus de betteraves, par J. Zamaron... [Texte imprimé] (S. l. n. d.) Avec un résumé en anglais et en allemand. - Extrait du Bulletin de l’Association des chimistes, 56e année n º 78, juillet-août 1939; Importance de la filtration des jus, sirops et égouts en sucrerie. Filtration des sirops en sucrerie et raffinerie sur pâte à papier. Filtration des égouts. Par J. Zamaron [Texte imprimé] Extrait du Bulletin de l’Association des chimistes, 46e année, n º 10, octobre 1929; Le Non-sucre dans les jus obtenus par deux procédés d’épuration distincts, par J. Zamaron [Texte imprimé] (S. l. n. d.) Avec un résumé en anglais et en allemand. Extrait du Bulletin de l’Association des chimistes, 52e année, n º 7-8, juillet-août 1935; Nouvelle méthode de dosage rapide du sucre dans la betterave et la canne, par M. J. Zamaron [Texte imprimé] figure Avec un résumé en anglais et en allemand. - Extrait du Bulletin de l’Association des chimistes, 55e année, n º 6, juin 1938; Nouvelle méthode de dosage rapide du sucre dans la betterave et la canne, par M. J. Zamaron [Texte imprimé] (S. l. n. d.) Sans la mention d’extrait, la figure et les résumés en anglais et en allemand de l’exemplaire précédent.

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economia em productos chimicos. Este systema que é novissimo são esperiencias de Laboratorio, mas que o autor prevê bom resultado industrialmente empregado. Como sabe a nossa despeza somente em Phosphato de Cal e Kieselgouhr é de 6$60 por tonelada cana (7 francos), emquanto que com o novo processo elle calcula um maximo de 3,50 francos por tonelada beterraba. Escrevi-lhe pois a 4 do corrente, dando-lhe todas as explicações do nosso processo desde 1915 para que elle o possa apreciar e dizer se em cana elle garante os mesmos resultados do que em beterraba. Disse-lhe porém que a nossa despeza somente em Phosphato de cal e Kieselgouhr era de 5 a 6 francos por tonelada cana. Vamos vêr o que o homem responde. [Ass:] Ferraz // [DATA: 26 de Agosto de 1931 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [28] Funchal 26/8/931 Ex. Amigo e Senhor Hinton Terminei a retificação da aguardente de cana do Norte no sabado 22, dando o resultado: Pelo calculo do Torreão; Aguardente de cana recebida calculada em 27º Cartiere = 22.772,5 litros correspondente a alcool a 100º a 15º temperatura = 16.197 litros a 100º Produzio: Em retificado em 95,6º = 14.260 litros = .............. 13.632,5 litros a 100º Etheres e escencias restantes 3613 litros em 53,8º = ............. 1.943,7 “ Total em alcool = .............. 15.576,2 “ Quebra de retificação =.............. 620,8 “ Da aguardente cana = ............. 16.197 litros “ Fazendo a repassagem dos etheres e escencias restantes, quando se recomeçar o fabrico de alcool e haja stock suficiente de etheres e escencias para convir trabalhar com o repassador dos etheres e escencias, os 1943,7 litros acima a 100º, calculando uma quebra na rapassagem[sic] e retificação de 5%, deve produzir aproximado 1925 litros alcool retificado a 95,6º // [29] Com estes resultados o rendimento futuro da aguardente de cana será. Em retificado até 22/8/931 = 14.260 litros Dos etheres e escencias a retificar = 1.925 “ Total provavel em retificado 16.185 “ Faço-lhe notar que os etheres e escencias restantes não pude repassal’as n’esta occasião, porque a quantidade não dava para um trabalho de pelo menos 2 dias de repassagem (o repassador tira no minimo 2500 litros alcool limpo por 24 horas), e no final sempre teria de ficar alguns etheres e escencias. Por estes calculos, o resultado da aguardente de cana que recebemos, devem ser aproximados os seguintes: 22.772,5 litros aguardente em 27º Cartiere a 4$50 = ..............102:474$00 16.185 litros alcool retificado a 7$40 =...............119:769$00 Diferença a favor —- = .............. 17:295$00 Despezas de retificação? = ............. 4:295$00 Lucro na aguardente = ............. 13:000$00 Dará assim um lucro de $80 por litro alcool retificado, o que não é demais, e isto calculando o fabrico aproximado pelo real. // [30] O nosso triple já esta todo desmontado e retirado para a fazenda, e assim está em condições o local para o Engenheiro quando chegar principiar a clocação das vigas para a montagem do novo evaporador Quadruple-effet, que segundo me diz na sua carta, já está encomendado. Pode bem calcular a minha satisfação por saber que a sua doença tinha desaparecido completamente, porque, confesso-lhe, me estava dando bastante cuidado. O alcool agora parece que já vai tendo mais sahida, e meior seria se não fosse as dificuldades de dinheiro com que a praço[sic] se recente. O tanque do melaço esta prefeito, isto é, não derrama nada, e todos os dias é verificado com cuidado. O stock do alcool hoje é de 212.360 litros. mo

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Recebi uma carta de Avelino515 datada de 14 Julho, mas não me fala por emquanto nos rendimentos, mas somente do technico Agronomo em que elle me diz que é um homem bastante com-//[31]petente e que as modificações que tem feito nas plantações da cana ja se estão vendo os bons resultados. Quanto aos rendimentos que o Senhor Hinton me diz na sua carta de 6,7% e 6,5% não é para admirar, visto que são canas ainda fracas e mal tratadas na cultura, mas estou certo que nos futuros annos, adoptando os conselhos do technico, Cassequel deve têr um bom futuro industrial. Recebi uma carta de J. Zamaron, em resposta á minha, em que diz, que estando em viligiatura, deve voltar no fim do corrente mez e depois me dará todas as indicações sobre o seu novo processo de apuração do jus de cana. Veremos o que elle diz sobre o assumpto. Como agora nada há que fazer na destillaria, desejava hir uns dias ao Santo da Serra descançar, porque bem necessitado estou d’isso. Marinho516 está no Monte, mas pedi-lhe para vir por aqui todos os dias, no caso de ser necessario qualquer cousa. Pesso-lhe // [32] pois, ao Senhor Hinton, auctorisação para isso. Queria dezer isso ao Senhor Jorge, mas sube que não estava no Funchal. A Construção do novo destillador, que produz o minimo de 4000 litros alcool a 100º do vinho de melaço, custou aproximado tudo montado = 47:500$00. Um destillador como o nosso novo da casa Savalle (Urbain & C.ª) tambem para 4000 litros alcool a 100º por 24 horas, custava (catalogo de 1930) 95:000$00 aproximado, no Funchal. Custou pois o nosso a metade, e com a vantagem de ser de cobre mais groço. Sem mais que possa dizer, faço votos para a sua boa saude continue, e creia-me sempre seu Attencioso Amigo Certo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 11 de Setembro de 1931 DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola] [33] Funchal 11/9/931 Meu Caro Avelino Esta é para responder as tuas ultimas (?) de 18 Março!! e 14 Julho do corrente anno, isto é acusar a sua recepção, porque a resposta em forma será para depois da minha volta do Santo da Serra onde estou fazendo uma pequena viligiatura de reposo que bem necessitado estava pelos trabalhos da Laboração. Isto, meu amigo, são já 67 Janeiros e é necessario auguentar o cavername o melhor possivel para garantia da familia. Vejo que estais sempre de saude e bem desposto que é o principal. Eu bem mais ao menos e por casa tambem iden... Escrevo-te esta á preça porque quero voltar hoje para o Santo, com meu conhado Dr. Leça517 que veio dos Açores por uns 20 dias. Um abraço do teu amigo e até breve. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 1 de Outubro de 1931 DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola] [34] Funchal 1/10/931 Meu Caro Avelino Esta é continuação da minha ultima de 11 proximo passado, e assim vou responder-te por partes, mas primeiro que tudo desejo que a tua boa disposição de espirito e saude continue como até agora. Acabei a 30 de Novembro [sic] a minha veligiatura... no Santo da Serra! Não é Paris... mas emfim sempre é alguma cousa cá para o velho que já requere algum descanço. Com relação ao maldito Agrella que se intitula, meu primo?.. (vá de retro...) é caso que me aborreceu bastante por elle te têr entrado nas algibeiras. Grande patife... O que seria bom para o pobre pae, era elle ficar ahi enterrado! Olha que não se perdia nada. Felizmente que não o vi nem elle me veio vêr, porque não sei se teria paciencia bastante para atural’o. Foi melhor assim para mim e para elle, grande Canalha! Emfim é um mulato e esta tudo dito... // [35] Vamos ao que nos interessa. Pela tua carta, e seguindo tambem o que o Senhor Hinton518 me tem mostrado, vejo que os rendimentos são fracos, e não 515 516 517 518

Avelino Cabral. Marinho de Nóbrega. Carlos Bettencourt Leça (1870-1945), médico cirurgião, casado com Leonor Ferraz, filha de João Higino Ferraz. Harry Hinton.

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admira pela baixa da percentagem em assucar e baixa pureza, mas a ultima nota que o Senhor Hinton me mostrou, parece que o rendimento tende a augmentar. Como dizes na tua carta e com rasão, não se devem queixar da Fabrica mas sim da cultura, e estou certo que de futuro com uma cultura racionalmente feita os rendimentos do Cassequel devem augmentar bastante mas isso leva tempo e muito dinheiro. Pena é que não tivessem principiado á mais annos. Esta-se dando o que eu sempre previ d’esde quando vi o Cassequel. O Senhor Hinton mostrou-me o raporte do Pegado, que está bem feito mas que na meior parte é trabalho teu... pois não é verdade? Estive examinando tudo, e vejo pelos // [36] teus calculos que a extração media em 1930-1931 foi de 92,66%, e o assucar no bagaço 2,24% bagaço, e temos assim bagaço % cana = 33,8 kilogramas % cana: não é assim? É isto que me fez muita má impressão, e estou certo que é devido á grande quantidade de palha de cana que entra nos engenhos que não te deixa fazer maior extração, que deveria ser de pelo menos 95% O teu rendimento em turbinado % do assucar extraido foi de 76,45%, o que é muito bom, devido a ser produzido a meior parte em branco. O nosso rendimento no Torreão tudo em assucar branco e refinado foi em 1931 de 74,9% de assucar extraido. No fim vou dár-te os nossos resultados de 1931, onde veraes cousas muito coriosas. Continuo a dizer que deve haver grande vantagem em esfolhar melhor a cana, antes de hir para a fabrica, e a folha retirada e // [37] queimada sobre a terra já é um adubo que deve ser vantajoso na cultura. Na fabrica a unica vantagem é haver mais bagaço as[sic] caldeiras para a formação do vapor, mas para a extração é pessimo. Vejo o que me dizes sobre o trabalho da Fabrica na generalidade, e com isso fico por satisfeito por vêr que não me enganei no calculos [sic] quando da sua encomenda. Quanto aos defeitos não é minha a culpa. O Quadruple foi calculado para 100 toneladas cana, mas tambem te digo que se a cana fosse rica como eu calculava (uns 13% assucar) as caldeiras de vacuo etc. apenas foi calculado para 800 toneladas cana. Dou-te os parabens pelo bom trabalho dos fornos do SO2 e isso para ti é um grande alivio. O que é pena é não terem encomendado os sulfitadores de ferro fundido. Os nossos com quasi 3 annos de trabalho, estão perfeitos, apenas se estragando os mexidores. // [38] É uma boa medida a montagem da Destellaria junto da fabrica de assucar e principalmente para ti. O que convinha porém, ja que fazem essa despeza era montar as cubas de fermentação para um maximo de 15 a 20 toneladas de melaço por 24 horas. De futuro parece-me que se deve produzir no Cassequel o alcool absoluto como alcool carborante, como estão fazendo em toda a parte, com o melhor resultado. Vou-te dár agora o resultado da nossa Campanha de 1931. Primeiro tenho a dezer-te que n’este anno empreguei o Lystonol em toda a Laboração com os melhores resultados, e mesmo melhores do que eu esperava. É um anticeptico e antifermento de primeira ordem. Calcula que na diffusão evitei por completo a inverção da saccarose no bagaço, tendo o bagaço com cana edentica á de 1930, mostrou 2,122 assucar % bagaço, e em 1930 mostrou 1,38 assucar %. // [39] Isto prova que a saccarose se conservou intacta e sem fermentação alguma. Isto deu causa a deversas anomalias, como vais vêr e apreciar. Rendimento de 1931 depois da refinação: Assucar % cana (coefficiente 78) = 13,041 % sulfitação total da garapa e jus de deffusão assim como defecação. Pureza garapa normal = 85,97 Coefficiente glucosico – 2,61 Extração = 95,65 (principia aqui as anomalias) Temos pois assucar extraido = 12,474 Rendimento % cana: Em turbinado de 99,5 polarisação = 9,345 = 9,298 a 100º Melaço 5,705 com 55,66 assucar total = 3,175 “ Saccarose total obtida = 12,473 “ ?!! Perda no bagaço calculada = 0,567 “ “ nas borras Filtros-Presses = 0,200 “ Saccarose total pelo calculo = 13,240 “ 0,199 “ Temos pois Plus-sucre!! = 13,041 “

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Como vês, não aparece perdas indeterminadas, mas pelo contrario aparece o Plus-sucre!! Não achas isto muito corioso? Dou-te um doce se me explicares!! // [40] Para dizer que este resultado é do analysta, parece-me que não, porque Marinho519 é muito meticuloso nas analyses, e as de 1930 foi elle que as fêz. Nem eu nem o Senhor Hinton não podemos bem vêr as rasões d’isto, e a unica que vejo é a não inverção ou fermentação (que é assucar completamente perdido) da saccarose obtida da cana pelo emprego do Lystonol. Quanto a não perdas indeterminadas ainda acceito, por isso que estou perfeitamente convencido que a principal rezão é a fermentação nas garapas e jus, que é saccarose perfeitamente perdida, emquanto que as inverções da saccarose aparecem mais tarde no melaço. Mas o Plus-sucre? Isso sô pode sêr em parte devido ao calculo do assucar na cana pelo coefficiente 78, e outras razões nas analyses e calculos deversos. O que é inquestionavel é que o Lystonol tem um grande poder antifermento. Sem mais que te possa dizer, abraço-te do coração, desejando a continuação da saude e boa desposição. Teu amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 14 de Outubro de 1931 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [41] Funchal 14/10/931 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua carta de 2 do corrente a que passo a responder Pano de Filtros-Presses de S.ta Iria: Verifiquei o pano que me mandou e julgo ser um pano de sacos, porque é igual ao pano para sacos de assucar que importamos aqui de Lisboa. Não dovido que em S.ta Iria um filtro presse se conserve 2 e 3 dias em filtração sem limpeza, porque o typo de pano é menos consistente do que o nosso que usamos aqui, e deve trabalhar em pano simples (?), emquanto que no Torreão trabalha com pano dobrado e o nosso jus com todos os ingredientes que contem não se pode comparar com xarope de assucar quasi puro. Em todo o caso querendo o Senhor Hinton fazer uma esperiencia na proxima Laboração com o pano de Lisboa, cujo preço me diz ser de 5$00 por metro (de que largura?), emquanto que o ultimo que importamos de Inglaterra custa na Fabrica (Torreão) a 11$20 por metro com 1,15 metros de largo. A diferença de preço é enorme, e se o pano dêr bom resultado, seria uma grande economia. // [42] Não lhe posso porém dár uma opinião segura, sem que se fassa esperiencias praticas. O que é indespendavel é pedir os preços para pano de 1,15 metros de largo. Cada pano dobrado para os nossos Filtros-Presses leva 5 metros de pano, e cada Filtro-Presse são necessarios 50 panos dobrados, ou seja 250 metros por Filtro-Presse. É tambem bom vêr qual o resultado da filtração no Filtro-Presse de S.ta Iria com o pano que enviei feito com o nosso pano. Em S.ta Iria todo o xarope passa no Filtro-Presse? O que não me parece é que o xarope de S.ta Iria passando em pano tão haberto saia brilhante como devia sahir, para não hir meter imporezas nos filtros do carvão animal. Fermentações: Como somente no dia 10 do corrente tive a certeza da vinda do Diamonphosphato (que não tinhamos nenhum), dei principio ao fermento no Laboratorio n’esse mesmo dia, e assim de 15 a 16 do corrente deve-se dár principio ás fermentações, e principiar a destillação. O alcool no Torreão está quasi todo terminado, mas temos no armazem da Rua Direita 124000 litros, que dará para 2 mezes.// [43] Cassequel: Vejo o que me diz sobre os rendimentos das ultimas semanas de 9 e 9,1% assucar, o que se vê que a cana vai melhorando bastante, o que estimo muito. Recebi uma carta de Avelino520 em que me diz o mesmo, e ao mesmo tempo diz que a fabrica está trabalhando muitissimo bem, e que esta muito satisfeito com isso. Segundo elle, se a apanha da cana e fornecimento á fabrica podesse ser sempre regular em 1000 toneladas cana, a fabrica poderia fazer isso facilmente. Antes assim, porque fica provado que a parte industrial está no maximo de bom resultado, faltando somente metre au point a parte agricultura, mas espero que em mais dois annos já alguma cousa se veja de bom n’esse ponto. A questão está em não desanimar e gastar algum dinheiro na parte agricula. Alcool absoluto no Cassequel: Ainda não recebi o devis de Barbet para um apparelho de 6000 litros alcool por 24 horas, mas tenho aqui um de 3 de Junho (copia enviada de Lisboa) de Barbet para 5000 litros por 24 horas, e assim é facil de comparar 519 Marinho de Nóbrega. 520 Avelino Cabral.

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os preços. Para 5000 litros prix – 247.000 francos. // [44] Logo que tenha o orçamento para o apperelho de 6000 litros, dir-lhe-hei o que penso sobre o assumpto. Alcool das fabricas Matriculadas: Segundo umas notas que pude obter do chefe fiscal de São Filipe, que sahio no fim do mez passado de São Filipe, a quantidade de alcool em stock a 30/9 = 30.000 litros melaço em stock 120 toneladas pouco mais ou menos que a 30 litros % (?) dará = 36.000 litros Total alcool São Filipe 66.000 litros Torreão Stock alcool a 30/9 144.000 litros Alcool provavel stock melaço 220.000 “ Total alcool Torreão 364.000 “ Teremos assim nas duas fabricas a 30/9 = 430.000 litros, que a 70.000 litros por mez (?) dará para 6 mezes, isto é, até março de 1932. Sem mais que lhe possa dizer subscrevo-me Seu Attencioso Amigo Certo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 21 de Outubro de 1931 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [45] Funchal 21/10/931 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Dei principio á fermentação geral do melaço a 18/10, estando a fermentar muito bem. Devo principiar a destillar ámanhã 22/10. Já enviei para Lisboa o pano feito com o nosso pano do Torreão. Recebi a amostra do assucar branco da refinaria de S.ta Iria que acho muito bom. Falta vêr a polarisação e humidade a qual vou fazer ainda esta semana, e depois lhe enviarei o resultado. Devis Barbet: Veio hontem a carta e Devis do Barbet para um apparelho de destillação e produção de alcool absoluto pelo processo “Des Deux Sevres”, que é o mesmo que o primeiro de 3 de Junho, a não ser o seu preço. Para 5000 litros alcool absoluto = 247.000 francos Para 6000 litros “ “ 310.000 francos A diferença no preço para 1000 litros alcool a mais, é de 63.000 francos, o que acho um pouco exagerado. Faço-lhe tambem notar // [46] que não sei se no Devis de Barbet, segundo o pedido feito em Lisboa, se lhe fizerão notar que Barbet devia fazer os calculos dos condensadores para agua á media de 27º temperatura, e isso é importante, principalmente para a produção de alcool absoluto. O que seria de grande conveniencia, no caso de fazerem a encomenda a Barbet, enviarem os planos do apparelho completo, ou pelo menos um Schma do apparelho para melhor se vêr o seu systema de construção. Pelo Devis apresentado apenas se vê na generalidade as partes que compõe o apparelho, e assim vejo que tanto o de 5000 litros como o de 6000 litros são perfeitamente eguaes. Recebi uma carta de Avelino521 que continua satisfeito com o trabalho da fabrica. Fala-me no novo apparelho de destillação, e diz-me que desejava resolvido em breve esse assumpto, para no proximo anno já poder destillar e produzir alcool absoluto, porque assim o exige a comição. Sem mais subscrevo-me seu Attencioso amigo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 4 de Novembro de 1931 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [47] Funchal 4/11/931 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua ultima de 29 ultimo que muito lhe agradeço. Dou-lhe os meus sinceros parabens pela grande vitoria obtida na Eleições [sic] pelos conservadores. Pena é que as outras Nações (algumas) não tomem o exemplo da Inglaterra, onde se vê bem o espirito inteligente e patriotico. 521 Avelino Cabral.

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Veja o Senhor Hinton o que se está passando em Espanha! Pena é elles serem nossos visinhos, e é isso que me preocupa. Cassequel: Fêz o Senhor Hinton muito bem em prevenir para Lisboa sobre a temperatura media da agua a empregar no apparelho de destillação Barbet. Quanto á moenda das 100 toneladas cana por 24 horas é um trabalho magnifico, mas que não devem exceder por causa da extração. Torreão: Pede-me a minha opinião sobre o novo Quadruple; parece ser um bom apparelho, e agrada-me muito o systema de circulação nas caixas, que é muito // [48] melhor do que com tubo central, como o nosso antigo. Este novo Quadruple deve trabalhar muito bem com as caixas meias, para que a circulação se fassa bem, e foi por isso que disse ao Senhor Marsden para pedir os vidros de nivel até ao fundo das caixas. Quanto a Melasse Cuite de 4º jet (Filtros-Presses Melasse Cuite), já tinha combinado com o Engenheiro, para a Melasse Cuite preparada no malaxeur actual, que vai ser montado por baixo dos Filtros-Presses de Melasse Cuite, correr em um tubo largo de 7 a 8 polegadas, e com uma boa inclinação, ao malaxeur das duas centrifugas, e assim fica bem. Melaço: Até 31 outubro tenho gasto 180 toneladas de melaço, e assim todo o melaço do stock ficará terminado entre 15 a 16 Dezembro, ficando pois tudo destillado antes da Festa. O nosso stock alcool é de 157.000 litros pouco mais ou menos Já cá temos o Quadruple e centrifugas. Sem mais que lhe possa dizer subscrevo-me seu attencioso amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 4 de Novembro de 1931 CARACTERIZAÇÃO: Descrição dos custos hipotéticos da Laboração com o processo Zamaron, e comparação deste processo com o outro efectivamente usado no Torreão] [49] Processo Zamaron Como tinha pedido á tempos para a Alemanha os preços dos productos chimicos a empregar no processo Zamaron e os tenho agora, vou mostrar aproximadamente o gasto por tonelada cana singindo-me á pratica usada em beterraba (segundo Zamaron). Por tonelada cana (Zamaron) Alun[?] 2 kilos a 1$50 por kilo=..........3$00 Amonia liquida 1,100 kilogramas a 2$70 kilo =..........2$97 Baryte (1920) 500 gramas (?) a 2$50 “ =..........1$25 Emprego de somente 50% cal =.......... $61 Productos chimicos ————..........7$83 Havendo economia 50% enxofre=.......... $53 Despezas pelo processo Zamaron=..........7$30 Pelo processo nosso antigo: Kieselgouhr 1,530 kilogramas a 1$411 por kilo =........2$159 Phosphato de Cal 1,400 a 3$18 “ =........4$459 Cal (de 95%) – 2,200 a 1$554 “ =........1$212 Pelo nosso processo antigo – =..........7$83 Não vejo pois grande diferença no custo do fabrico, caso as quantidades acima sejão as reaes em cana, e tambem os preços. 4/11/931 [Ass:] Ferraz // [DATA: 11 de Novembro de 1931 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [50] Funchal 11/11/931 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Recebi de Lisboa o Sechma do apparelho Barbet para a produção de 6000 litros alcool absoluto por 24 horas, e vejo pelo exame do Sechma que o apparelho deve estar em condições para o trabalho requerido e parece ser um bom apparelho mas um pouco complicado, não somente na sua montagem (4 andares!!) como tambem para o mise-en-route como o seu afinamento, mas feito isto o seu trabalho segue normalmente tendo pessoal habituado. De Lisboa pedem para mandar para o Cassequel esse Sechma porque vai ser lá necessario (?), mas não acho por emquanto grande necessidade d’uso, porque desejava que o Senhor Hinton o visse antes de o mandar. Estou tirando uma copia do Sechma.

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Terminei um lote de 200 toneladas melaço que me deu um rendimento de 32 litros alcool retificado % melaço, com melaço de 53,8% saccarose total. É um bom rendimento, e o fermento conserva-se sempre puro e activo. Como o novo apparelho de destillação está tirando o alcool bruto entre 30º a 35º Cartiere e bem puro, fiz a esperiencia de não empregar o Permanganato na desodirificação[?] // [51] da aguardente a retificar, para evitar essa despeza, que me deu o seguinte resultado: Processo Barbet 1º Alcool retificado com tratamento pelo Permanganato 13 minutos 2º “ “ sem “ “ “ 15 “ Nota: A 1ª foi feita a analyse 3 dias depois. Quanto ao cheiro do alcool e seu paladar em qualquer dos dois estava bem limpo. Não temos pois vantagem, actualmente, em empregar o Permanganato (por ser um producto caro), a não ser no alcool rapassado[sic] dos etheres e escencias. Faz-se assim uma economia importante em Permanganato. Estamos destillando com o novo apparelho entre 480 a 500 hectolitros de vinho de melaço com 8% alcool e o epuissement da columna sempre a 0º: Grau maximo do alcool bruto 35º a 36º cartiere. Temos retificado até hoje 65.700 litros alcool do stock do melaço. Stock d’alcool (Torreão e armazem C.ª Nova) = 162.600 litros pouco mais ou menos Depois da repassagem dos Etheres e escencias da aguardente de cana, deu esta aguardente um total = 16.204 litros alcool em 40,2º Cartiere. Quebra de 4,35% Sem mais que lhe possa dizer, subscrevo-me seu attencioso amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 18 de Novembro de 1931 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [52] Funchal 18/11/931 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua ultima de 10 do corrente que muito agradeço. Na minha ultima de 11/11 já lhe disse a minha opinião sobre o apparelho Barbet para o Cassequel. Temos porém mais uma nova proposta da Sociedade do Cassquel[sic] para a modificação do apparelho Egrot existente no Cassequel para o transformar em apparelho de produção de alcool obsoluto (?!!). Não posso comprender a vantagem, porque este apparelho apenas produz 3000 litros alcool a 100º pela destillação retificação continua, quando elles afinal desejão um que produza 6000 litros?!! Temos pois aqui, ou não sei se o Senhor Jorge lhe enviou, toda essa papelada e junto o parecer de Administrador do Cassequel (?) o Senhor Engenheiro Noronha de Campos, cujo parecer é um ovo... (sem ser de Colombo!). Nada disse sobre o assumpto, porque é um processo (pela Glycerina) que não conheço nem tenho visto nada sobre elle. // [53] Fica pois para o Senhor Hinton responder. Processo Zamaron: Na minha ultima carta ja lhe falei sobre esse assumpto, e nada temos feito, esperando a sua volta aqui. Tem razão em dizer que Zamaron é um Francez, e pelo que ja lhe disse a 11/11, não fiquei com muito boa impressão sobre o homem... Melaço: Já temos fermentado até hoje 392 toneladas melaço, restando pois somente 310 toneladas pouco mais ou menos. Vou deixar um tanque com uns 12.000 kilogramas de melaço para 1932, para não termos dificuldades com os fermentos, como tivemos este anno, quando quisemos destillar cana Ainda não vi a lei sobre o assucar dos Açores, mas vou vêr isso em breve. A montagem do Quadruple vai em bom andamento, e o Marsden conta tel’o quasi montado antes da Festa. Sem mais que lhe possa dizer subscrevo-me seu Attencioso Amigo Certo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 25 de Novembro de 1931 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [54] Funchal 25/11/931 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua ultima de 17 do corrente que muito lhe agradeço. Conforme os seus desejos tirei uma copia do Sechma do apparelho de Barbet para o alcool absoluto, e vou mandar para o

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Cassequel o original. Vou escrever a Henrique522 dizendo que mandei para Avelino523. Ainda não vi o novo Decreto sobre o assucar dos Açores, porque me disserão no escriptorio que não tinha vindo. Quanto ao lucro de São Filipe deve ser mais ou menos os 700 contos mas naturalmente não está deduzido as despezas annuaes, reparações etc. etc, e como sabe isso é importante n’uma fabrica de assucar As fermentações continuão sempre bem, e o fermento purissimo. O destillador está fazendo na media 500 hectolitros vinho com 8,2% alcool tirando pois 4100 litros alcool a 100º jus 24 horas (graduação dos flegmas 84º (33 cartiere) a 15º temperatura) o que está dando para um trabalho continuo do retificador com tiragem de 4100 litros // [55] d’alcool retificado em 40,2º Cartiere, e sempre bastante puro e sem empregar o permanganato. Cassequel: Recebi uma longa carta de Avelino pela qual vejo elle esta muito satisfeito com o trabalho da fabrica. Diz que a cana chega agora á Fabrica com muito menos palha o que é importante. Fala-me tambem na extração, que diz elle ser dificil chegar a 95% em razão da percentagem de fibra na cana (18%) mas que tem na ultima semana 93,4%, estando a media a 92,16. O que eu vejo, e isso é importante, é que as perdas indeterminadas são de 0,293% cana que é bastante baixo. Media de moenda 927 toneladas, tirando alguns dias mais de 1000 toneladas. Tambem me diz que vão montar um aparelho para a produção de um desinfectante para substituir o Furmol, que é feito por meio de reação eletrica sobre o sal comum e agua, aconselhado pelo engenheiro Shannon, que vio a descrição no International Sugar Journal de Junho 1931 pag 294, mas vejo pela descrição que esse producto é mais ou menos o Milton Seu attencioso amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 12 de Dezembro de 1931 DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola] [56] Funchal 12 Dezembro 1931 Meu caro Avelino Tenho recebido cartas tuas a que tenho que responder, mas desculpa de não as reler outra vez, e vou responder-te conforme os pontos principais que me ficou de memoria. O que sempre te desejo é a tua saude e boa desposição, como vejo que continuas a têr e isso é o principal, o resto são lerias da vida... O Senhor Hinton524 chegou esta semana de Londres, e pede-me para te escrever e enviar-te o sechma do apparelho Barbet para a produção do alcool desidratado pelo processo “Des Destilleries de Deux Sevres (P. D. S.) que de Lisboa me enviarão, pedindo que logo que o visse enviar para o Cassequel, o que fasso enviando junto. Tudo o que me dizes nas tuas cartas, está bem, e quando te fasso vêr qualquer cousa que me parece anormal, é sô para nós dois. Vejo que vão montar um apparelho para // [57] produzir um desinfectante novo para substituir o Formol; Sabes porém o que é esse desinfectante? Segundo a descrição feita vejo que é o Milton, e como sabes já fizemos aqui no Torreão o emprego d’esse desinfectante, mas pelos resultados obtidos considero inferior como antifermento ao Formol. O que te posso garantir é que o unico antifermento, mais inergico que tenho empregado até hoje é o Lystonol com resultados maravilhosos como já te disse. Junto remeto-te uns projectos que nos enviarão sobre o Lystonol. Segundo uma carta que enviaste ao Marinho525 vejo que temos mouro na costa ou moura, salvo seja... Que sejas feliz... é o que desejo. Não te vou desejar Boas Festas, porque isso é o que ahi não ha, mas desejo-te que o Novo Anno 1932 seja bem prospero e melhor do que esta a findar. Um abraço do teu velho Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 19 de Abril de 1932 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [58] Funchal 19/4/932 Ex. Amigo e Senhor Hinton Como já deve ter visto, por não lhe ter enviado o telegrama, o Quadruple foi necessario raspar e assim somente pude principiar a moenda na segunda feira (18) de manhã, tendo um stock em cana de aproximado 400 toneladas. Já hoje tenho a mo

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Henrique Tristão Bettencourt Câmara. Avelino Cabral. Harry Hinton. Marinho de Nóbrega.

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cana normal em stock, por isso que estamos moendo no maximo (520 toneladas). Para a proxima limpeza (Domingo 24), vou proceder como em 1931, isto é, limpar sempre com o vacuo porque é muito mais rapido, e assim em 20 horas fasso todo o trabalho de limpeza do Quadruple. Situação 1ª – Envio-lhe justa, mas isto é um calculo aproximado por ser muito dificil fazer melhor. Em todo o caso, se dêr no real menos assucar turbinado dará mais em melaço. O que eu vejo é que o processo adoptado da alcalinisação do jus de diffusão está dando um magnifico resultado em todo o fabrico. A extração em 1932 é de mais 0,5% do que em 1931. // [59] Principiei hontem a turbinagem do assucar de tourteaux dos Filtros-Presses de Melasse Cuite, dando um bom resultado tanto na facilidade de turbinagem como no rendimento em assucar de 3ª bastante vendavel. Cada Filtro-Presse de Melasse Cuite deu 710 kilogramas assucar turbinado de 3ª, o que é mais do que tinha calculado em 1931, em 550 kilogramas. Sem mais que lhe possa dizer de importante, espero a sua vinda proxima. Seu Attencioso Amigo Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 22 de Abril de 1932 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [60] Funchal 22/4/932 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Como tenho amanhã o Lima para Lisboa, vou dizer-lhe alguma cousa sobre a fabrica. Temos moido regularmente sem paragens, a não ser de manhã para limpezas (1 hora pouco mais ou menos) a media de 354 diffusores nas 23 horas, que com carga de 1400 kilogramas dá 495.600 kilogramas cana. Isto corresponde pois por 24 horas a 517 toneladas. O stock de canas é sempre pequeno (maximo 100 toneladas), de forma que a cana moida é sempre fesca[sic] (na fabrica). A cana do Funchal vai augmentando um pouco a pureza, mas a da Costa oeste esta magnifica (quando fresca) tendo na media 88 de pureza. O assucar turbinado sempre bastante branco e boa aparencia de cristalisação. Principiei na segunda feira com a turbinagem do assucar de tourteaux dos Filtros-Presses de Melasse Cuite que está produzindo um bom typo para 3ª, mas a polarisação é somente de 93,5. O rendimento por Filtro-Presse de tourteaux que eu calculei em 560 kilogramas assucar em 1931, esta dando 710 kilogramas assucar turbinado por Filtro-Presse o que é um magnifico resultado. // [61] A turbinagem é facil e rapida, fazendo-se a turbinagem do tourteaux de 2 Filtros-Presses em 2 horas, e assim cada carga de 2 Filtros-Presses dá 1420 kilos assucar turbinado pouco mais ou menos. Esta-se dando o que eu previa em 1931, que era a melhora no typo do assucar do Cuite F que dá branco, e o C. tambem quasi branco. Vejo tambem que os cuites F e C. são em menor quantidade em vista da não entrada em 1932 do xarope de tourteaux. É de notar que mesmo com esta diminuição de Melasse Cuite a turbinar, as centrifugas não parão um instante, o que prova que o rendimento em assucar está sendo meior do que no anno passado. Este trabalho que adoptei da alcalinisação do jus de diffusão está dando muito bom resultado. Quanto ao Quadruple, já se vê, suja sempre, mas tendo as limpezas semanaes o resultado em todo o fabrico é melhor. Na 2ª feira vou principiar nas fermentações por isso que o fermento ja está hoje na pipa. Como temos um stock de 50.000 litros alcool, principiamos bem a tempo. Já tenho em melaço de 1932 pouco mais ou menos 109 toneladas melaço. Chegou hoje o Stolle, mas sô vem amanhã á Fabrica Sem mais que lhe possa dizer subscrevo-me Seu Attencioso Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 4 de Maio de 1932 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [62] Funchal 4 maio 1932 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Depois de receber a sua carta de 22 ultimo, era para lhe responder, mas como o Senhor Hinton vinha poucos dias depois por isso lhe não escrevi respondendo. Vejo porém que somente vem a 12 do corrente, e assim posso-lhe dizer alguma cousa sobre a fabrica. Em resposta á sua carta com relação á pureza baixa na garapa do dia 17 e 18 de abril, isso foi devido a um carregamento do Arco da Calheta do Dr. Egidio que recebemos estragada, ainda que a cana deveria ser boa. Calcula como fiquei furioso com isso, e disse ao Francisquinho para mandar chamar o Dr Egidio, amiaçando que mandaria suspender os cortes se continuasse a receber cana n’aquellas condições. O homem veio logo muito aflito, e depois de muitas e varias rasões que apresentou mas que eu refutei, veio-se a descubrir que era cana estagada[sic] para São Filipe que elle por engano tinha recebido!!? Depois d’este incidente a cana tem vindo sempre boa, mas logo que receba outra vêz em mais condições já os preveni (pelo Francisquinho)

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o que lhe vai acontecer // [63] Limpeza do Quadruple: A ultima limpeza feita com o vacuo deu muito melhor resultado, e fêz-se a limpeza total em 17 horas incluindo a raspagem que foi rapida, levando somente 3 1/2 horas, emquanto que a anterior tinha levada a raspagem 9 a 10 horas!! A 4ª caixa, depois da limpeza a acido e soda, estava quasi limpa, por isso levou somente 3 1/2 horas. Não temos moido mais de 503 toneladas cana por dia e nos ultimos 2 dias 480 toneladas. Como no dia 1 de maio não tinhamos cana suficiente para principiar o trabalho ás 2 horas da manhã, somente principiei ás 6 1/2 horas da manhã, e assim tive tempo de liquidar completamente toda a fabrica e fazer uma situação que lhe vai ser enviada. Essa situação, como vai vêr, apresenta um Plus-sucre maior do que em 1931, mas fazendo o calculo como deve ser será somente de 0,269 e não 0,326. Em 1931 tivemos Plus-sucre = 0,200, mas como sabe o nosso novo systema de fabrico no corrente anno (alcalinisação do jus diffusão) tem dado muito bom resultado e não admira que o Plus-sucre em 1932 seja de 0,269. O que é muito sintomatico é que com cana de 12,477 assucar % se tira um rendimento // [64] de 9,435 assucar turbinado, quando em 1931 com cana de 13% assucar se tirou somente 9,3% pouco mais ou menos. Isto tem varias rasões mas a principal a meu ver é o tratamento do jus diffusão pelo processo Tiatini, que em cana vejo dá tambem bom resultado. O rendimento em turbinado % do assucar extraido é de 78,4%, emquanto que em 1931 foi de 75%, e é isto por onde se vê o resultado. O melaço é que vai ser menos em 1932, mas isso até convem no corrente anno. O trabalho do 3º jet tirado do tourteaux assucar dos Filtros-Presses de Melasse Cuite sempre bom, dando actualmente um assucar de melhor typo com 97 polarisação. Varias cousas interessantes tenho a lhe mostrar, mas ficará para quando voltar, porque tenho todas essas notas no meu livrinho. Temos uma cousa importante, que é o seguinte: O gasto em enxofre em 1932 é de 560 gramas por tonelada cana, emquanto que em 1931 foi de 800 gramas. O gasto em cal em 1932 é de 1,410 kilogramas cal virgem, e em 1931 foi de 2 kilos.!! Veja pois por isto o resultado do fabrico, e temos este anno um assucar muito melhor do que em 1931. Como sô hontem é que veio o sulfito de soda, dei logo principio á esperiencia como tinha combinado consigo, mas os resultados reais // [65] somente posso bem vêr no fim da semana, e assim no caso de eu vêr que este tratamento pela soda Solvay e o sulfito de soda dão bom resultado, verei pelo tempo que leva a chegar os productos ao Funchal se val a pena fazer nova incomenda. Não lhe parece isto melhor? Os meus receios, como lhe disse á tempos, do tratamento dos jus dos Filtros-Presses pela soda Solvay que tinha receio empedisse a filtração nos filtros mechanicos, deu-se exactamente isso, de forma que estou empregando os dois productos simultaniamente no jus que vai ao Quadruple. Temos uma cousa importante n’este tratamento que é termos os xaropes alcalinos (pela soda), e as aguas condensadas do Quadruple estão ligeiramente alcalinas, e assim não atagará[sic] tanto os tubos e bombas da agua do condensador barometrico. Uma outra cousa importante: Suspendi a sulfitação do xarope, e assim tenho diferenças de pureza somente de 1,53º, emquanto que com a sulfitação do xarope n’uma media de 5 dias deu uma baixa de 5,37º de pureza. Assim ganhamos 3,84º de pureza no xarope sem fazer grande differença // [66] na qualidade do assucar turbinado, e vê-se isso pelas dificuldades de poder arranjar um B2 para venda, porque todo o assucar é branco mais ou menos. N’unca mais tive cuites dificeis de turbinar, e isso é o resultado em parte da não inversão do xarope. Destillaria: Dei principio ás fermentações no dia 25 abril, e á destillação a 29 abril, principiando a retificação do alcool a 1 do corrente. Como temos ainda um stock no armazem da Rua Direita de 35.000 litros, não nos vai faltar alcool para a Alfandega. As fermentações vão muito bom. O resto que terei de lhe dizer ficará para a sua volta de Lisboa. Crea-me seu Attencioso Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 4 de Agosto de 1932 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [67] Funchal 4/8/932 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Retifiquei a aguardente de cana entrada até 19 do passado mez, n’um total de 24.704 litros alcool a 100º Rendeu em alcool retificado = 22.840 litros a 96º Etheres e escencias restantes 1.820 litros a 100º

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Calculando o alcool retificado a 100º deu uma quebra de 4,8%, isto é, a mesma quebra que a aguardente de cana de 1931. Estamos recebendo a restante aguardente que nos deve caber, e se fôr quanta a que ja recebemos, deve-nos dár pouco mais ou menos 50.000 litros alcool retificado de aguardente cana. Não posso porém retificar agora esta ultima porque tive que desmontar o retificador Barbet para concerto e limpeza que á uns 5 annos não era reparado, e fiz bem n’isso porque um dos pratos da columna estava dessoldado e um capacete fora do seu logar. Como temos actualmente em stock 220.000 litros, deve este alcool dár até Dezembro proximo. // [68] N’estas condições pode-se principiar as fermentações do stock do melaço no dia 1 de outubro, e deve ficar tudo terminado a meados de Dezembro. Ficamos assim com alcool até á proxima Laboração. Recebi uma carta de Avelino526 em que me diz que as plantações no Cassequel pelo novo systema estão magnificas, e que fez umas analyses dos talhões que lhe deu uma media de 16,06 assucar % gramas e pureza de 85,43. Isto já é alguma cousa de bom, mas segundo elle a cana tem que ser adubada com adubos chimicos para dár um bom resultado. A despeza deve ser grande, mas a diferença de rendimento em assucar deve compensar bem essa despeza, e além d’isso conserva as cana [sic] em boas condições de rendimento por hectare. Ao contrario, com as culturas como estavão sendo feitas, em pouco tempo Cassequel não dava nada!! Sem nada mais que lhe possa dizer de importante, subscrevo-me seu Attencioso Amigo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 20 de Setembro de 1932 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [69] Funchal 20/9/932 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Junto remeto-lhe uma copia da carta de Zamaron sobre o emprego do “Gelzam” sec.[?] em fabricas de assucar de cana. Como naturalmente, dando bom resultado o emprego do “Gelzam” na nossa fabrica, deveria dár tambem no Cassequel, que adopta o mesmo systema do Torreão, talvez fosse conveniente fazer essa esperiencia no Cassequel no corrente anno e assim ja Avelino527 nos poderia dizer qualquer cousa antes de fazermos a nossa esperiencia no Torreão em 1933. Para o Cassequel o “Gelzam” deve ser empregado nos sulfitadores depois da alcalinisação e na dose, para 1ª esperiencia, de 80 gramas “Gelzam” por tonelada cana, não empregando pois nem o phosphato bicalcico nem o Kieselgouhr, e vêr então o resultado na filtração nos Filtros-Presses e a formação do tourteaux nos filtros. // [70] A esperiencia no Cassequel deve ser de uma semana ou seja 4500 toneladas cana pouco mais ou menos o que será 360 a 400 kilos de “Gelzam” seco. Não convem fazer uma esperiencia com menos quantidade de cana, para bem se poder determinar os resultados, não somente na filtração como tambem nas purezas dos jus e xaropes e rendimento em assucar turbinado e sua qualidade. No caso de Avelino vêr que a filtração nos Filtros-Presses não é tão perfeita como com o systema actual, pode empregar um pouco de Kieselgouhr (que elle determinará pelas esperiencias) e verificar o resultado na filtração. Isto é um trabalho facil sem necessidade de modar o systema adoptado actualmente. A questão principal é deixar de empregar o phosphato bicalcico que é carissimo, ainda que se tenha que empregar um pouco de Kieselgouhr. Será uma despeza de 9.000 a 10.000 francos, que dando resultado, será de futuro de grande vantagem economica. Crea-me sempre seu Amigo Certo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 23 de Novembro de 1932 DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola] [71] Funchal 23/11/932 Meu caro Avelino A tua saude e que já estejas bom da mão, é o que primeiro te desejo. Duas cartas tenho que te responder; uma de 2 e outra de 24 outubro. Vejo pela tua de 2 que o Cassecol[sic] já não tem a sahida que tinha antes e isso é o diabo por causa do stock de melaço, de 526 Avelino Cabral. 527 Avelino Cabral.

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que deves estar abarrotado?!! Particularmente sei que o grupo inglez esta feito com o C.[?], e assim vê-se que tambem com A. C.528 e B. C.[?]!.. O senhor Hinton529 é que está furioso e muito mal clocado n’esta conjectura!.. Vê lá em que deu todas estas cousas de que elle podia estar livre e tu na tua terra e no Torreão!! O que será o futuro de tudo isso ahi? Para teu socego (industrialmente falando) vejo que a fabrica vai bem, e isso é bem para ti. O rendimento de duas semanas de 10,4 e 10,65% é explendido, e isso somente se pode obter com cana de 13,5 a 14% assucar, não é assim. Carta de 24: É bom deitar contas á tua // [72] vida, como dizes na tua carta, mas isso tem que hir para diante, não há duvida, e elles todos necessitão de ti e sô de ti, porque do resto não falta por em toda a parte e mais ou menos bom... Com o rendimento medio á data de 24/10 de 9,23% já é bom trabalho e boa cana. O diabo a baixa no rendimento em cana no campo! Fermento Possehl’s: Se não principiar por emquanto com as fermentações do melaço aconselhava-te a fazeres a recultura do fermento em gelatina, porque o fermento nas condições que recebeste, pode estragar-se. Assim recultivando em boa condições [sic] acepticas e em gelatina conservas o fermento em estado puro mais tempo. Em resposta ás tuas perguntas em separado, aqui vão; Fermentação para a Africa: Mosto-fermento a 9,5º Baumé Mosto geral a 11 Baumé Empregando 35% de mosto-fermento com uma acidez em acido sulfurico de 2,7 gramas a 3 gramas por litro, conservas o fermento puro. O Phosphato de amoniaco ou o Diamonphos I G. na proporção de 35 gramas por 100 litros mosto fermento. 65% de mosto geral sem levar nada. // [73] Empregando as percentagem [sic] ditas, tiraes uma fermentação total a 10,5º Baumé, tendo o vinho pouco mais ou menos 8% alcool. Dou-te o conselho de o mosto-fermento (35%) ser metade em fermento activo, e metade em mosto-fermento na cuba para pé de cuba, juntando-lhe depois sobre esse pé o fermento activo. Principias depois a alimentação da cuba com o mosto geral quando o pé de cuba esteja em fermentação bem activa. O peor ahi é as temperatura [sic] da fermentação, que não devem hir além de 35º. Não deixes pois de ter a acidez indicada no mosto-fermento, empregando n’esse mosto-fermento 35 gramas % litros do Phosphato de amoniaco. É tudo quanto te posso dizer. O Senhor Hinton este anno não vai a Londres mas sim fazer uma linda viagem até ao Egipto etc. É o que elle fáz de melhor... Fica assim livre de chatices dos seus amigos inglezes (do Cassequel...). Um abraço do teu velho Amigo de sempre. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 18 de Janeiro de 1933 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [74] Funchal 18/1/933 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Primeiro que tudo a sua saude e de sua Esposa, e que o novo ano de 1933 lhes seja prospero. Como o Senhor Jorge me diz que lhe escrevendo agora ainda pode receber a minha carta, assim o faço, juntando-lhe um Schma que me parece o que nos convem melhor para o emprego do SO2 liquido, e que o Senhor Hinton pode consultar qualquer engenheiro competente. As varias propostas feitas são complicadas e despendiozas, e com esta instalação como proponho, apenas teremos de adquirir um sulfiteur-doseur, mas que deve ter aproximado uma capacidade de 3,5 litros e não 2 litros como propoeem, e as razões são as seguintes: 1º O jus que vai á sulfitação deve conter pouco mais ou menos 0,22 gramas CaO, e essa cal tem que ser neutralisada pelo SO2 (como em 1932), e assim para neutralisar os 0,22 gramas CaO são necessarios theoricamente 0,24 gramas SO2 por litro, o que nos 36 hectolitros de jus sera 865 gramas SO2 2º Para sulfitar, depois da neutralisação, o 0,5 gramas // [75] SO2 por litro, será necessario para os 36 hectolitros de jus 1,800 kilogramas SO2 liquido. Será pois um total por cada 36 hectolitros de jus de 2,665 kilogramas theoricos.? N’estas condições o sulfiteur-doseur será de 3,5 litros? É esta a pergunta que fasso, calculando a capacidade total do doseur. 3º Aplico entre o sulfiteur-doseur e os tanques de sulfitação uma caixa de ferro (que pode ser feita no Torreão) contendo no 528 António Costa? 529 Harry Hinton

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interior uma cerpentina de cobre onde passará o SO2 liquido sahido do doseur, aplicando-lhe vapor pelo exterior da cerpentina, e assim todo o SO2 será transformado em gáz sulfuroso e não formará gelo nos tubos devido as expansão [sic]. Parece-me que assim será melhor o efeito no jus, como com os gazes SO2 dos fornos. 4º Toda a instalação será a mesma actual tapando somente em D (separação dos fornos), porque em qualquer occasião podemos trabalhar com o enxofre nos fornos ligando a D, sem paragem sensivel. Não lhe parece? O que temos pois de adquirir é um sulfiteur-doseur somente, para se poder aplicar o SO2 liquido em obus de 100 kilogramas como já combinamos. Crea-me seu Attencioso Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 27 de Setembro de 1933 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [76] Funchal 27/9/933 Ex. Amigo e Senhor Hinton Por uma carta sua ao Senhor G. Welsh530 vejo que o Senhor Hinton não concorda com a filtração do xarope sobre o carvão animal para a dcoloração[sic] do dito xarope mas sim o emprego do Norite, e que deseja saber qual a quantidade de xarope do Quadruple e algumas refontes de assucar que se pode obter por dia, e assim vou-lhe dizer aproximadamente: Com um trabalho de 500 toneladas cana por 24 horas, e contando algumas refontes de assucar bruto, devemos calcular uns 1300 hectolitros de xarope por 24 horas, o que dá por hora 5400 a 5500 litros xarope. Como meu dever, vou porém dizer-lhe o que no meu fraco entender o possa ilucidar sobre este assumpto. Quando poucos dias antes da sua sahida eu lhe falei do emprego do carvão animal como decolorante do xarope, para evitar a sulfitação intensiva do dito xarope, que até agora tem sido a forma facil de se poder obter assucar // [77] branco de consumo directo, tinha unicamente em vista evitar a inversão da saccharose em glucose, o que é inevitavel com a sulfitação acida, desde o momento que a sulfitação pelo SO2 gazoso ou liquido passa além da neutralidade, e para se poder obter um assucar vendavel em competencia com os refinados brancos, teremos de ultrapassar muito a neutralidade e sulfitar um pouco acido em SO2, e n’este caso temos baixas grandes na pureza do xarope de 2 1/2 a 3º de pureza, dando em resultado a diminuição do rendimento em turbinado em aproximado 400 gramas assucar % cana e augmento na produção de melaço de 700 gramas % cana. Anteriormente a 1932, quando as sahidas de alcool erão grandes, não nos preocupava esse excesso de melaço, actualmente como se dá exactamente o contrário, teremos que estudar a forma de obter o minimo de melaço e o maximo de assucar turbinado. Segundo Prinsen Geerligs531 no seu tratado de fabricação do assucar de cana (1910) a pag. 106 diz: «No caso em que se deseje fabricar assucar branco em competencia com os assucares refinados, que devem ser de uma brancora extra, é necessario filtrar os xaropes de cana atraves do negro animal (car-//[78]vão animal), depois das purificações d’elle.». Como anteriormente a 1910, o processo mais conhecido era o carvão animal e talvez já o Norite (que é de fabricação Holandeza), elle Geerligs não aconselha, com toda a razão, a sulfitação intensiva dos xaropes, e isso naturalmente devido ás causas que aponto da inverção do xarope de cana já de si muito pouco alcalino ou mesmo neutro. Qual porém dos dois processos (carvão animal ou Norite) é o mais economico e menos complicado? É sobre este ponto que o assumpto tem que ser muito bem estodado antes de adoptar por um d’elles. Pelo carvão animal, calcula Geerligs, que para 100 kilos assucar obtido são necessarios 5 kilos de carvão animal. Calculando um trabalho diario de 500 toneladas cana de 13% assucar e com a extração de 97%, obtemos por dia 63.000 kilogramas assucar total. Necessitamos pois de 3150 kilogramas carvão animal por dia para a filtração do xarope. Este carvão depois de tratado e revivificado recopera o seu estado activo, perdendo porém 1/4 parte do seu valor decolorante, além das // [79] perdas na revivificação, tamisagem etc. Fazendo os calculos temos necessidade, para um trabalho anual de 33 a 35.000 toneladas cana, de aproximado 16.000 kilogramas carvão animal, os quaes no fim de 4 anos perdem o seu valor como decolorante, ou seja uma perda de 4000 kilogramas carvão por ano. A montagem necessaria para o emprego do carvão animal são, filtros de ferro (3) especiaes, cubas de cimento para a sua fermentação, lavador mechanico, forno de revivificação e peneiro para a tamisagem do carvão para lhe retirar o pô, cujo pô é mo

530 George Welsh [1895-1981], comerciante e industrial de origem britânica fixado na Madeira, foi sócio-gerente da firma William Hinton & Sons. 531. GEERLIGS, H C. Prinsen, Tratado de la Fabricación del Azúcar de Caña y su Comprobación Química, Amsterdam, J. H. De Bussy, 1910.

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um adubo rico em phosphatos. Os productos chimicos empregados na purificação do carvão, antes da revivificação, são o carbonato de soda (solvay soda) e o acido chlorydrico. Para o emprego do Norite teremos que montar diversos apparelhos de mestura, filtros-presses para a filtração do xarope com o Norite, filtros-presses etc. para a recooperação do Norite etc. O Norite, depois de empregado 6 a 7 vezes (?) perde o seu valor como decolorante, segundo tenho uma fraca edeia. A parte mais complicada e dificil do empre-//[80]go do Norite é o seu tratamento ou recooperação e temos que empregar a soda caustica e o acido chlorydrico. A quantidade de Norite necessario é que não tenho dados que lhe possa dar, mas como o Senhor Hinton vai tratar ahi esse assumpto, devem dár-lhe todas as indicações necessarias As sahidas do alcool continuão na mesma desgraça, mas como em principio de Novembro já deve haver espaço para alcool, vou principiar as fermentações do melaço que existe nos tanques da fabrica e malaxeurs para os deixar livres para as modificações a fazer. Recebi uma carta de Avelino532 em que me diz que o fabrico corre bem, e que no corrente ano calcula em 140.000 toneladas cana, mas que a cana é um pouco fraca devido ás inundações. Esta trabalhando 800 toneladas cana por dia, mas que na proxima semana (11 agosto) deve fazer 950 toneladas ou mais. Sem mais que lhe possa dizer de importante, subscrevo-me Seu Attencioso Amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 9 de Outubro de 1933 DESTINATÁRIO: Harry Hinton; LOCAL: Londres, Inglaterra] [81] Funchal 9 outubro 1933 Ex. Amigo e Senhor Hinton Depois de lhe ter escrito a minha ultima carta de 27 ultimo, foi para o Santo da Serra repousar um pouco, e recebi lá a 4 do corrente a sua carta de 27 ultimo, a qual não pude responder a seguir porque não me deu tempo para isso, mas faço-o agora dando-lhe a minha opinião sobre o assumpto do tratamento do xarope. O Senhor Gorge Welsh pedio-me notas sobre um questionario que o Senhor Hinton (ou Crispin) desejava saber, o que lhe dei, calculando a base, como pedia, de 550 toneladas cana por 24 horas. Na minha ultima de 27 Novembro já lhe dizia alguma cousa sobre o assumpto, mas isso não era uma opinião. Por esta porém vou dizer-lhe o que me parece sobre o assumpto, ainda que esta carta seja um pouco longa, mas para o fim em vista em que devemos empatar um capital importante, não é de mais as explicações e calculos para o elucidar bem sobre tudo o que posso vêr. // [82] Primeiro que tudo envio-lhe separado os rendimentos dos ultimos 4 anos (1930 a 1933) para assim o Senhor Hinton poder apreciar os resultados futuros. Este calculo provavel, como vê, tanto se pode dár com o emprego do carvão animal como com o Norite (Suchar) na decoloração do xarope do Quadruple ou refonte de assucar bruto. Qual dos dois processos o que melhor convém? Isso depende, como sabe, do custo da instalação e custo do carvão animal ou Norite. Quanto á Carbonatação da garapa e jus de diffusão, que sendo um bom processo, tem contudo grandes desvantagens para nós, porque a quantidade de cal necessaria para a Carbonatação será 10 vezes mais que actualmente e teriamos que montar um forno de coser cal e importar a pedra de cal do continente, e assim hia ser perdido todas as vantagens da Carbonatação e perderiamos 30 a 40% da glucose contida nos jus que para nós é um prejuizo, e estou certo que para produzir assucar branco teriamos de decolorar os xaropes ou pelo carvão animal ou pelo Suchar. O que porém eu lhe dou de // [83] conselho é não modar o nosso Systema de tratamento das garapas e jus de diffusão como temos usado d’esde 1915, isto é, filtração total do jus, empregando a sulfitação das garapas e jus a frio e empregando o Kieselgouhr e phosphato bicalcico, com alcalinisação ligeira. Todo o tratamento para a decoloração deve ser feito no xarope do Quadruple, não somente porque assim teremos xaropes em condições, e a quantidade a tratar será minima. Quanto ao que o Senhor Hinton me diz na sua carta de 27 ultimo que tem medo de cousas novas depois do fiasco do SO2, não é bem assim, porque como sabe o SO2 (e não CO2 como diz) foi uma esperiencia cujo resultado em beterraba dizem ser bom, mas que para nôs que temos de fazer a filtração total não deu resultado por dificuldade de filtração nos Filtros-Presses, pode porém dár bom resultado em fabricas de assucar de cana que empregão a decantação; não lhe parece isto? mo

532 Avelino Cabral.

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O que não posso vêr aqui é qual o custo das instalações tanto para o carvão animal como para o Norite, mas tenho quasi a // [84] certeza que as instalações para o Norite devem ser meiores: Somente o Senhor Hinton pode bem vêr isso ahi. Para o carvão animal já na minha carta de 27 ultimo lhe dizia alguma cousa, e alem d’isso posso-lhe dizer que os filtros para o carvão devem ser feitos em Lisboa e em boas condições, porque estes aparelhos é tudo o que há de mais simples, sendo somente necessario o forno de revivificação e o tamis, ou outros pequenos aparelhos. Para o Norite tudo tem que ser importado de Inglaterra. O peor de tudo isto é que não vejo possibilidades de termos os apparelhos montados a tempo de se empregar nos principios da Laboração de 1934, mas fazendo os meus calculos, poderiamos trabalhar em assucar bruto não sulfitando os xaropes, e depois da Laboração refinar esse assucar bruto empregando ou o carvão animal ou o Norite. Quanto ao assucar para consumo ou exportação emquanto não tivessemos a instalação completa, faziamos do assucar dos cuites de 1º jet empregando o Blankite, dando 20 toneladas assucar por dia. // [85] O que o Senhor Hinton deve vêr bem é que actualmente com as poucas vendas de alcool, teremos em 1934 de deitar fora 400 toneladas de melaço (?!), o que representa pelo menos 124.000 litros alcool, que calculando pelo valor do alcool (depois de tiradas as despezas de fabrico) em 7$00 por litro representa uma perda de 798:000$00 (!!). Como muito bem vê esta peda[sic] dá perfeitamente para as novas montagens e além d’isso para mais um tanque de melaço para 500 toneladas. De futuro tudo seria regularisado em dois anos, e somente teriamos alcool para as necessidades do consumo. Acaba de estár aqui comigo o Antonio Justino, que pedindo-lhe a sua opinião sobre a exportação de vinhos de futuro, está muito esperançado que isto vai melhorar um pouco, e tem esperanças nas exportações para os Estado [sic] Unidos. Contudo isso não é nada de positivo, e disse-me que quando o Senhor Hinton vier de Londres já alguma cousa lhe pode dizer. Isto já é bom para nôs para as vendas de alcool em 1934. Vou principiar as fermentações do melaço a 1 de Novembro, e pelo espaço que calculo têr para alcool, posso destilar umas 300 toneladas de melaço Seu Attencioso Amigo Certo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 10 de Outubro de 1933 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [86] Funchal 10/10/933 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Acabo de receber a sua ultima de 4-X-33, depois de já lhe ter escripto a que deve receber ao mesmo tempo que esta. Vou porém ver se posso responder á sua ultima conforme me pede. 1º Em 500 toneladas cana por 24 horas, devemos contar 1300 hectolitros de xarope, incluindo algumas refontes de assucar bruto que possa haver já na minha carta de 27/9 ultimo lhe dava este mesmo calculo, e calculava por hora uns 5400 a 5500 litros de xarope a passar no carvão animal. Parece-me pois que com 3 filtros de carvão animal da capacidade cada um de 3900 litros que deve comportar 2500 kilogramas carvão animal em grão (densidade do carvão animal em grão 700 gramas por litro), os 3 filtros cheios leva 7500 kilogramas carvão animal, estando dois em trabalho de filtração e um prompto a ser empregado. Ficará pois pouco mais ou menos 8500 kilogramas carvão em fermentação, lavagem a carbonato de soda e acido chlorydrico e revivificação no forno e tamisagem. Estes filtros da capacidade acima devem talvez // [87] ter 5 metros de altura e 1 metro de deametro, não contando a parte superior da tubagem. Pelos preços enviados por Crispin, o custo do carvão animal em grão, posto no Torreão deve andar por 2$50 por Kilo (?), o que calculando a importação anual de 4000 kilogramas devido á deterioração do carvão e quebras, será uma despeza anual de 10:000$00. A despeza em enxofre e Blankite para o xarope e cuites calculando em 25:000$00 para as 33.000 toneladas cana, isto já se vê aproximado. Calculando as despezas com pessoal, carbonato de soda, acido chlorydrico e carvão na revivificação (forno) etc. em 15:000$00 anuaes, vê-se que o emprego do carvão custa tanto como o enxofre e Blankite, com a grande vantagem de não baixar as purezas do xarope e termos um xarope puro que não somente nos dará um assucar turbinado bastante branco no 1º e 2º cuite como tambem nos cuites de 3ª e 4ª. 2º Quanto ao Schma de trabalho do fabrico do assucar que empregamos no Torreão, o Senhor Hinton verá na carta do Senhor G. Welsh533, como já lhe disse na primeira carta. // [88] 3º Espaço desponivel para a montagem dos filtros de carvão animal: Quanto a esta parte depende da altura que possa ter os filtros, altura acima do chão e espaço que a tubagem superior de entrada do xarope e sahida e lavagem do carvão no filtro 533 George Welsh.

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para lhe retirar os xaropes e aguas doces, mas calculo uma altura de 7 metros total, e 4 a 4 1/2 metros de largura no espaço para 3 filtros (?). O local onde actualmente está montado o Kestner deve ser suficiente. Esta parte porém não o deve preocupar muito, porque sempre se arranjará logar para a montagem dos filtros. Quanto ao forno etc. etc. podem ficar em um logar mais afastado que não tem inconveniente. O que é necessario é os planos da montagem dos filtros para então se poder vêr bem onde podem ser clocados com mais vantagem; Ou no local do condensador ou no logar do Kestner temos espaço suficiente para os filtros. Agradeço-lhe o seu interesse quanto ao systema de polarimetro de meu filho. Seu Attencioso Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 25 de Outubro de 1933 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [89] Funchal 25-10-933 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Recebi as suas cartas de 18 e 19 do corrente, acompanhados dos desenhos e orçamentos para a montagem da filtração no carvão animal do xarope do Quadruple etc. Na minha ultima carta dizia-lhe qual a quantidade de carvão animal em grão seria necessario para o nosso trabalho, isto é, 500 toneladas cana por 24 horas. Estes meus calculos são feitos segundo as bases dadas por Prinsen Geerligs534 no seu tratado sobre assucar de cana (1910) pag. 106 e seguintes e pag. 119, em que elle calcula 5 partes de carvão animal por 100 partes de assucar obtido, ou seja 5% do assucar obtido. Com cana na media de 13% assucar com extração de 97%, teriamos em 500 toneladas cana 63.000 kilogramas assucar extraido, que com um rendimento em turbinado de 78% daria 49.140 kilogramas assucar turbinado. Calculando como acima 5 kilogramas carvão animal % assucar produzido daria 2460 kilogramas de carvão a 2500 kilogramas por 24 horas. Foi com esta base que calculei os filtros para uma carga de 2500 kilogramas de carvão animal em grão // [90] descarregandose um filtro todas as 24 horas, ou seja 2500 kilogramas carvão a tratar por dia. Esta filtração está calculada em 3 filtros, sendo dois em filtração combinada e um filtro em lavagem e carregar novamente. Teriamos pois carvão animal em movimento: 2 filtros em filtração combinada.......................................5000 kilogramas 1 “ em lavagem no filtro e nova carga......................2500 “ 1 “ em lavagem a carbonato de soda e acido............2500 “ No forno de revivificação ................................................2500 “ “ Arrefecimento, tamisagem etc....................................... 2500 Total em carvão..............................................................15.000 “ Os 1000 kilogramas a mais (16.000 kilogramas) era para quebras totaes durante a Laboração ou seja 6 1/2% A despeza diaria calculei da seguinte forma: 2 homens na filtração (1 1/2 dia) para 24 horas .............................= 27$00 4 “ no trabalho da descarga e carga feitos ..........................= 54$00 2 “ no forno de revivificação .............................................= 27$00 Carbonato de soda e acido chlorydrico ?? ....................................= 62$00 500 kilogramas carvão de pedra no forno ? ..................................= 110$00 Despeza diaria ..................................................................................290$00 = $58 por tonelada cana (500 toneladas). Em 33.000 toneladas cana = .................................................................19:140$00 Despeza anual de carvão animal novo = 4000 kilogramas a 2$50 ................... 10:000$00 Total pouco mais ou menos.......................29:140$00 Economia em enxofre e Blankite por ano.......................25:000$00 Despeza a mais pelo carvão....................... 4:140$00 Estará assim certo? // [91] Vejo porém pelas plantas de Blake Barclay que os filtros propostos são da capacidade de 2 metros x 6,0 metros, o que dá uma capacidade total de 18500 litros, e que calculando um espaço para carvão animal 18000 litros, será em carvão animal 534 GEERLIGS, H C. Prinsen, Tratado de la Fabricación del Azúcar de Caña y su Comprobación Química, Amsterdam, J. H. De Bussy, 1910.

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por filtro 12500 kilogramas?!! Tem 4 filtros e calculando dois em trabalho de filtração combinada será uma carga de 25.000 kilogramas por 24 horas?? Sendo assim dará 50 kilogramas de carvão animal para cada 100 kilogramas assucar obtidos isto é, 10 vezes mais do que diz P. Geerligs?!! Este calculo é basiado sobre a base de cada litro de carvão animal pezar 700 gramas (0,7 kilogramas). Segundo Blake são necessarios 70 toneladas de carvão animal para a Laboração. Nada posso dizer sobre o custo da instalação senão que é razoavel, mas quanto á capacidade dos aparelhos e quantidade de carvão animal, sendo como elles dizem, é enorme. O que me parece melhor, Senhor Hinton, é escrever a Prinsen Geerligs fazendo-lhe as seguintes perguntas: 1º Quantidade de carvão animal em grão necessario para a filtração de 130.000 litros de xarope de cana a 30-31 Baumé por 24 horas, para a decoloração do dito xarope afim de produzir assucar branco extra. // [92] 2º Quantos filtros para o carvão animal são necessarios e sua capacidade, para este trabalho, sendo a instalação moderna com filtros fechados em serie. 3º Um Schma aproximado da montagem dos filtros, e todas a indicações [sic] necessarias para o trabalho da filtração, tratamento do carvão animal e sua revivificação. Naturalmente Prinsen Geerligs535 não lhe fará isto gratis, mas mesmo que custe algumas £, sempre é melhor do que se fiar no que dizem os constructores dos apperelhos que o que querem é vender material, e para elles é mais garantido calcularem maximos do que minimos. A instalação como propoeém não lhe vejo no Torreão espaço suficiente, e além d’isso deve ser montado de forma que possamos Laborar emquanto se monta os apparelhos. Digo-lhe com franqueza que acho a instalação proposta grande de mais para o nosso trabalho, e torno a aconselhar uma consulta a Geerligs, que é um Engenheiro-technico muitissimo competente e com longa pratica em fabricas de assucar de cana em todo o Mundo. Crea-me seu Attencioso Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 1 de Novembro de 1933 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [93] Funchal 1 Novembro 1933 Ex. Amigo e Senhor Hinton Não recebi carta sua sobre o assumpto de filtração sobre o carvão animal, e como este assumpto é de grande importancia sempre lhe quero dizer mais alguma cousa sobre elle. Como sabe o carvão animal deve sahir dos filtros bastante sujo com as imporezas do xarope e principalmente com muito Sulfato de cal, e assim esse carvão deve ser bem lavado, sendo depois por fim lavado 1º com carbonato de soda (soda Solvey) para transformar os sulfatos de cal em carbonato de cal, 2º com acido chlorydrico fraco afim de transformar o carbonato de cal em chloreto de cal insoluvel536. Somente depois de todas estas lavagens é que deve hir ao forno de revivificação e tamisagem. Não procedendo assim, no fim de um certo tempo o carvão animal ficará é[sic] estado que não poderá fazer a sua ação decolorante, e ficará sem valor para este fim. No projeto apresentado por Blak o carvão depois // [94] de retirado dos filtros, vai directamente ao forno de revivificação, sem ser previamente lavado, como digo: Ora isto parece-me que não está certo?! Lembre-se o Senhor Hinton da quantidade enorme de precipitado que se retirá da decantação do xarope que depois é passada ao pequeno filtro-presse junto das caldeiras de vauo[sic]? mo

535 H.C. Prinsen Geerligs historiador holandês, foi director de uma estação experimental em Java, fez diversas investigações sobre a temática açucareira, tendo publicado vários trabalhos: GEERLIGS, H. C. Prinsen, The World’s Cane Sugar Industry – Past and Present, Manchester, 1912; Sugar. Memoranda prepared for the Economic Committee, Geneva, Series of League of Nations Publications, 1929; Cane sugar and its manufacture London: N. Rodger, 1909,1924; The World’s Cane Sugar Industry – Past and Present, Manchester, Altrincham, Eng.: N. Rodger, 1912; Cane sugar production, 1912-1937: a supplement to the world’s Cane Sugar Industry, past and present (1912), London: Norman Rodger, 1938; Chemical control in cane sugar factories, Rev. and enl. ed. - London: N. Rodger, 1917; Methods of chemical control in cane sugar factories, Altrincham, Manchester: Norman Rodger, 1905; Practical white sugar manufacture, or, the manufacture of plantation white sugar directly from the sugar cane London: N. Rodger, 1915; Cf. Knight, Roger(1999) “Sugar, Technology, and Colonial Encounters: Refashioning the Industry in the Netherlands Indies”, 1800-1942. In The Journal of Historical Sociology 12 (3), 218-250. 536 O prefixo «in» desta palavra foi rasurado a lápis. Relativamente a este pormenor, veja-se o início da carta seguinte.

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Eu sei que antes de se mandar o xarope aos filtros de carvão animal, esse xarope será decantado como temos sempre feito, mas deve ser que no fundo dos tanques do xarope dos cuites fica sempre uma grande quantidade de precipitado, e esse com certeza vai aos filtros de carvão, sujando muito esse carvão. É por isso que eu desejava fazer a filtração do xarope em dois filtros conjugados, sendo sempre o primeiro que contem o carvão mais sujo e que é descarregado para lavagem. Desculpe fazer-lhe estas observações importantes, mas é indispensavel para o bom resultado do processo. Quanto á lavagem do carvão animal, temos na fabrica o lavador e dois filtros Raimbert de areia, que se pode perfeitamente adoptar a esse trabalho de lavagem do carvão, como já tenho o meu projecto feito. // [95] Um outro assumpto importante é montagem de um novo tanque para melaço, de pelo menos para 500 toneladas de melaço, isto é, metade do tanque que montamos (1000 toneladas). A razão principal d’isto é a seguinte: Temos actualmente um stock aproximado de 1260 toneladas melaço, isto é, tudo cheio, e além disso mais 78.000 litros alcool a 100º dos etheres e escencias por retificar. Stock do alcool a 31/10/1933 = 191.380 litros Tirando o alcool da Rua Direita = 150.923 litros Temos no Torreão á data acima 40.457 litros Que as sahidas em Novembro e Dezembro sejão (vai sahir o alcool da C.ª Nova) – 39.000 litros Torreão a 20/12/1933 ficara 1.457 litros Fica espaço no Torreão para 117.000 litros alcool, ou seja a destilação de 350 toneladas melaço até 20 Dezembro 1933. 1934 A 1/1/934 teremos em melaço 910 toneladas no Tanque Grande. Destilando até 31 março 1934 mais 300 toneladas melaço, quando principiarmos a Laboração de 1934 teremos um stock de 610 toneladas melaço de 1933, e assim somente teremos espaço para o melaço de 1934 para 500 toneladas. Creia-me seu attencioso amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 7 de Novembro de 1933 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [96] Funchal 7/11/933 Ex. Amigo e Senhor Hinton Depois de lhe ter enviado a minha ultima de 1/11, é que reparei ter feito uma gafe, na parte em que lhe digo com relação á lavagem do carvão animal pelo acido chlorydrico em que o emprego d’elle “transforma o carbonato de cal em chloreto de cal insoluvel”, e deve ser soluvel, ou seja sal marinho. Desculpe este meu engano. Um outro assumpto: Tenho estado a vêr as razões porque Blak calculou uns filtros de carvão tão grandes e a quantidade de carvão animal necessario de 70 toneladas. Vejo porém que a razão d’isso é porque estão calculando a filtração sobre o carvão animal tanto do jus total como do xarope, e para isso naturalmente seria necessario 25 kilos carvão por 100 kilos assucar obtido, o que dá nas 50 toneladas assucar 12.500 kilogramas carvão por 24 horas. Mas o que nós queremos é somente a filtração do xarope do quadruple que calculando, como P. Geerligs, 5 kilogramas carvão animal por 100 kilogramas assucar, dá 2500 kilogramas carvão por 24 horas. (Ver tratado de Geerligs pag 119) (tradução Espanhola) // [97] Fazendo a regra de proporção com relação entre 25 e 5%, vê-se o seguinte em carvão animal: x = 70x5 = 14 toneladas carvão animal necessario para a filtração somente do xarope. 25 70 = 70 toneladas de carvão (Blak) para 25% sobre o assucar 5 = 14 “ “ (Geerligs) “ 5% “ “ Eu calculei porém em 16 toneladas carvão animal para a filtração somente do xarope, mas querendo calcular algumas refontes de assucar do Cuite C. (3º jet), devemos calcular 22 toneladas carvão animal para a filtração diaria de 1300 hectolitros de xarope a 31º Baumé, o que dará por dia 3150 kilogramas carvão, o que dá pouco mais ou menos 40 litros de xarope a ser decolorado por cada kilograma carvão animal e por 24 horas. Será isto assim como digo? Sendo como digo, apenas necessitamos dos filtros da capacidade que ja indiquei?? Para a revivificação d’este carvão animal (3150 kilogramas) por dia talvez não seja necessario senão um forno em trabalho mo

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continuo para 5000 kilogramas carvão animal por 24 horas. Não vejo necessidade de montar uma instalação tão completa como diz Blak, porque a manutenção do // [98] carvão animal pode ser feito por homens, e assim o capital em material será menor. Se esta pequena instalação não ficar prompta para os principios da Laboração de 1934, podemos, como já lhe disse, principiar fazendo assucar branco do cuite H de 1º jet, e assucar bruto do restante, que será refinado pelo carvão animal depois da Laboração. O rendimento em refinado (pelo carvão animal) deve talvez ser de 90% do assucar bruto de 98º polarisação, e assim por cada tonelada assucar bruto dará pouco mais ou menos: 1000 kilogramas assucar de 98º = 980 kilogramas assucar a 100º 19,6 kilogramas “ “ Quebra maxima refinado 2% = 960,4 “ “ Rendimento em refinado 90% = 900 kilogramas a 99,7º polarisação = 897,3 “ “ Assucar total no melaço 63,1 “ “ que calculando melaço com 57% assucar total = 110,7 kilogramas melaço por tonelada assucar bruto a refinar? Rendimento em alcool retificado em 40º = 32,5 litros % melaço. Dei principio á fermentação do Stock do melaço no dia 1 Novembro, e já tenho os tanques e malaxeurs da Fabrica de assucar despejados, e estou principiando á desmontagem do cuite melaxeur fechado, para clocar no logar d’elle o cuite de 100 hectolitros, como lhe tinha dito. Crea-me seu attencioso amigo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 8 de Novembro de 1933 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [99] Funchal 8/11/933 Ex.mo amigo e Senhor Hinton Depois de lhe escrever a carta de 7/11, tenho a responder-lhe a um questionario que na carta do Senhor Jorge me pede. 1º a capacidade dos 2 poços que existem por baixo das bombas centrifugas do jus da sulfitação são de 580 hectolitros, que podem comportar umas 80 toneladas melaço. Estes 2 poços necessitão somente serem rebocados a cimento. Temos além d’isso mais dois poços por baixo dos malaxeurs da Melasse Cuite (caldeiras de vacuo) da capacidade total (2) de 200 hectolitros, que podem comportar pouco mais ou menos umas 20 toneladas melaço não ficando completamente cheios. Temos pois n’estes 4 poços capacidade para 100 toneladas melaço. 2º Para fazer um poço de cimento armado para 3000 hectolitros de capacidade total = 400 toneladas melaço, e construindo de forma a ter 3 metros de altura, sendo 2 metros abaixo do chão e 1 metro fora do chão, deve ter 10 metros de largo e 10 metros comprido, ou seja 10 x 10 x 3 = 300 metros cubicos. Um poço n’estas condições em cimento armado não deve custar menos de 30 contos (?). Quanto poderá custar um tanque de ferro para 350.000 litros que levará 500 toneladas de melaço? // [100] Quanto ao poço que o Senhor Hinton diz se ter feito na tenda para explorar agua, isso não foi no meu tempo (á 34 anos), e diz João que esse poço já foi enpotido[sic], não existindo nada. 3º Vou mandar a Henrique537 para Lisboa a nota que o Senhor Hinton deseja sobre a diferença no grau do alcool (0,3º) a mais que estamos dando á Alfandega a mais de 40º, mas é bom notar que agora nas condições de vendas fracas, pedindo a junção d’agua ao alcool para ficar conforme a Lei vai augmentar o volume e será menos alcool que vendemos. O prejuizo que temos actualmente na venda a 40,3º em logar de 40º, é de $030 por litro pouco mais ou menos. Em continuação da carta de 7/11 (3ª folha) em que lhe falo na refinação do assucar bruto depois da Laboração, vou ainda dizer-lhe alguma cousa sobre este assumpto, para o caso de não se poder montar os filtros do carvão animal para a Laboração de 1934. Calculando a cana com 13% assucar (extração de 97%) e com cana normal, retiramos em assucar da cana (pelo extração [sic]) 12,530 assucar. Fazendo este assucar em bruto para refinar, e não sulfitando os xaropes, devemos obter pelo calculo uns 83% em // [101] turbinado de 98º polarisação ou seja 10,400 kilogramas assucar turbinado % cana, fazendo na Laboração 1400 toneladas assucar branco do cuite virgem H para venda ao consumo e exportação até fins de Julho. Calculos % cana: 537 Henrique Tristão Bettencourt Câmara.

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10,400 kilogramas assucar branco bruto de 98º media = 10,192 a 100º Perdas: No bagaço e aguas diffusão = 0,470 “ Nas borras dos Filtros-Presses = 0,200 “ Indeterminadas (??) = 0,250 “ Assucar total no melaço = 1,888 “ Assucar % cana = 13,000 Calculando o melaço com 50% assucar total, os 1,888 kilogramas no melaço = 3,780 kilogramas melaço por 100 kilogramas cana durande[sic] a Laboração e não calculando o Plus-sucre. Em 34.000 toneladas cana em 1934 (?) obtemos na Laboração o seguinte (provavel): Em assucar turbinado branco e bruto = 3536 toneladas Em melaço (provavel) = 1285 toneladas melaço. Retirando as 1400 toneladas assucar branco feito na Laboração, resta em bruto para refinar pouco mais ou menos 2136 toneladas assucar bruto de 98º depois da Laboração. Calculando uma quebra de armazenagem de 3% (?) = 64 toneladas. Restará para refinar 2072 toneladas assucar, que ao rendimento de 90% dará em refinado de 99,6º = 1866,8 toneladas. // [102] Em melaço da refinação deve dár pouco mais ou menos x = 2072 x 110,7 = 229 toneladas melaço. Teremos assim por estes calculos provaveis das 34000 toneladas cana, o seguinte: Assucar branco na Laboração – 1400 toneladas Assucar refinado do bruto de 98º = 1866,8 “ 3266,8 “ Total assucar vendavel – – Em melaço na Laboração = 1285 toneladas de 50% assucar “ “ da Refinação = 229 “ de 57% “ Total em melaço = 1514 “ com 51,1% “ Estes melaços devem dár na media 29,5 litros alcool % melaço, dando pois 446.600 litros alcool. Teremos pois por tonelada cana: Em assucar vendavel – 96 kilogramas assucar Em alcool em 40º – 13,1 litros A despeza de refinação a $20 por kilo assucar refinado, será de pouco mais ou menos = 373:360$00 [.] Esta refinação pode ser feita em dois periodos, isto é, de Junho a Agosto a 1ª, e de Novembro a Dezembro a 2ª, calculando a refinação diaria de 26 toneladas assucar bruto. Crea-me seu attencioso amigo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 8 de Novembro de 1933 DESTINATÁRIO: Henrique Tristão Bettencourt Câmara] [103] Funchal 8/11/933 Meu caro Henrique Por uma carta do Senhor Hinton538 ao senhor G. Welsh539, elle pede que te mande um calculo do alcool com relação ao grau que na media do ano estamos entregando á Alfandega e o grau da Lei, ou seja 40º Cartiere a 15º temperatura A media do grau de entrega é de 40,3º Cartiere a 15º temperatura. Isto corresponde a termos que juntar por cada 100 litros alcool 0,4 litros agua, correspondendo pois os 100 litros a 40,3 a 100,4 litros em 40º. N’estas condições apenas perdemos 30 reis por litro alcool. Calculando por ano 500.000 litros alcool em 40,3º Cartiere a 15º temperatura, teriamos que juntar 2000 litros agua e daria 502.000 litros em 40º. O prejuizo pois sobre 500.000 litros = 15.000$00 Valerá a pena levantar esta questão, quando actualmente as vendas são dificeis? Parece-me que não, e acho que é isso que devez bem vêr. Recomendações aos teus, e um abraço de teu primo e amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz //

538 Harry Hinton. 539 George Welsh.

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[DATA: 8 de Janeiro de 1934 DESTINATÁRIO: Avelino Cabral; LOCAL: Cassequel, Angola] [104] Funchal 8/1/934 Meu Caro Avelino Já bastantes cartas tenho recebidas tuas a que não tenho respondido, o que fasso hoje (desculpa), mas primeiro vou desejarte que este novo ano de 1934 seja o mais prospero possivel e a todos os teus. Quando não escrevo não é por falta de Amisade, porque para ti sou sempre o mesmo, mas como somente me interessa a tua saude e bem estar, e como vejo pelas tuas cartas que tudo isto corre bem, o resto (Cassequel) pouco me interessa... Pelas ultimas analyses que mandar-te[sic] ao Senhor Hinton540 das novas Castas de canas e que aqui estamos cultivando, vejo que a cana é riquissima e pura, e Deus primita que aqui na Madeira se desse tambem como ahi. Como sabes, meu caro, o nosso Lavrador, na meior parte, pouco se interessa pela boa qualidade, mas muito pela quantidade de cana, e cana rica // [105] como essa, necessita um tratamento especial nos terrenos, quando não será sempre cana ou fraca ou então não resiste e vai-se!! Meu Caro Avelino, é minha opinião que emquanto a Cana Yuba resestir é sempre a qualidade que pode resistir e[sic] este pessimo tratamento que o Agricultor aplica aqui. Cana com mais de 14% assucar não ha meio de cultivar na Madeira, visto as terras estarem exgotadas de elementos fertilisantes, e o Lavrador não as corrigir convenientemente. Vejo o que me dizes dos rendimentos do Cassequel de 8,1% em assucar turbinado, o que é bem baixo, mas como ahi o que mais val é a quantidade de cana obtida; a colheita de 1933-1934 de 140.000 toneladas é uma boa colheita para o Cassequel, e assim esses amigos podem hir pouco a pouco arranjando a vidinha... O peor é quando não tenhão ahi um Avelino Cabral, e ahi é que está o buzil!.. Se o teu substituto for como o Competentissimo engenheiro que ahi está, vai tudo pelo Catumbela abaixo!? Cá te espero este ano na Laboração de 1934 Um abraço do teu velho Amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 26 de Setembro de 1934 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [106] Funchal 26 Setembro 1934 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Estou a terminar as minhas ferias (30/9) passadas no Santo da Serra, o que me tem recoperado bastante a saude. Não lhe tenho escripto por isso que Avelino541 tudo lhe tem dito do que se passa na Fabrica mas agora sempre lhe mando a nota do pano para os filtros-presses para 1935, calculado para uma moenda de 30.000 toneladas cana, descontado, já se vê, o pano existente. Para os Filtros-Presses da garapa de 1,15 metros largo – 2000 metros “ “ das descargas filtros Suchar542 de 1,05 metros – 1300 metros Que este pano seja egual ao de 1934. Desejando as notas dos produtos Chimicos para 1935, pedia-lhe me mande dizer. Seu attencioso amigo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 3 de Outubro de 1934 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [107] Funchal 3/10/934 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Segundo uma carta sua ao Belmente vejo que o Senhor Hinton não deseja construir mais tanques para melaço (no que fáz muito bem), mas sim montar tanques de alcool no armazem da Rua Direita; o que é tambem a minha opinião. Para os calculos do melaço que nos deve crescer da Laboração futura de 1935, mando-lhe nota em separado junto com esta, calculando uma venda media de 40.000 litros por mez (?). Dou-lhe tambem um calculo para o caso de S. Filipe não moêr em 1935 e que tenhamos de trabalhar toda a cana de 1935 540 Harry Hinton. 541 Avelino Cabral. 542 Filtros Suchar, inventados por Jacobs Suchar em 1822, sendo muito usados no café.

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(calculando São Filipe em 13.000 toneladas cana). Como vê pelas notas juntas teremos um excesso de melaço no fim da Laboração de 1935. Para não têr que desprezar o melaço // [108] a mais (o que seria por emquanto um desparate) acho bem a sua edeia de construir tanques para alcool a montar na Rua Direita. Para isso a minha edeia é a seguinte: Do mez de outubro em diante vamos dár sahida somente ao alcool da Rua Direita (150.000 litros) e assim nos fins de Janeiro devemos ter o armazem sem alcool. Fazer a encomenda desde já de um tanque grande da capacidade para 125.000 litros alcool a montar no proprio armazem em Fevereiro e março de 1935. Será um tanque de 6 metros de diametro por 4,50 metros de altura a montar no espaço onde se tirou o antigo tanque que temos no Torreão (tanque das escencias). Ficará assim espaço do lado sul do armazem para montar, no caso de necessidade, mais 6 tanques de 50.000 litros, tendo cada tanque 3,60 metros de diametro e 5 metros de altura, que podem entrar na porta do armazem que tem de largura 3,70 metros. Estes tanques serão construidos fora do armazem e metidos d’entro d’elle quando completamente concluidos. // [109] Nas condições expostas o Armazem da Rua Direita poderá levar em alcool o seguinte: 2 tanques existentes levão – 150.000 litros 1 tanque novo levará -----125.000 “ 6 tanques pequenos de 50.000 litros 300.000 “ Total alcool Rua Direita 575.000 litros Que seja 570.000 litros uteis.!! No Torreão temos espaço para armazenar em alcool retificado 115.000 litros. Teremos assim um total no Torreão e Rua Direita para 685.000 litros.?! Vamos pedir d’esde já ao Dargent543 o orçamento para o tanque grande (125.000 litros) e tambem para os 6 tanques (?) de 50.000 litros cada. O primeiro tanque grande deve ser d’esde já resolvido, afim de que elles deem principio á sua construção, e mais ou menos nos fins de Janeiro poder vir o pessoal para a sua montagem quando não exista alcool no armazem. Os outros tanques pequenos pode ser resolvido quando o Senhor Hinton vier de Londres. Seu Attencioso Amigo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 6 de Agosto de 1935 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [110] Funchal 6 agosto 1935 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Não lhe pude escrever pela ultima mala porque na 3ª feira adoeci e estive trez dias em casa por isso lhe não dei as notas finaes depois de terminada a destilação. A nossa situação actual é a seguinte: Stock em alcool retificado a 1 agosto 1935 = 540.316 litros 40º Em alcool intermediario diversos = 35.201 litros a 100º Total em alcool feito 575.517 litros Stock em melaço a 1 agosto 1935 = 2.011.000 kilogramas que calculando o rendimento do ultimo Inventario, de 31,26 litros alcool retificado em 40º, dará 628.600 litros alcool. De Setembro a Dezembro 1935, devemos despejar o tanque pequeno por baixo do elevador do bagaço, para a montagem dos aparelhos de extração de faulhas do bagaço, e este tanque contém 155.800 kilos melaço. Para a esperiencia Possehl’s em setembro conto despejar os tanques e melaxeur da Fabrica assucar // [111] e os bidões que contem melaço = 170.000[?] kilogramas melaço. Temos assim que destillar de setembro a Dezembro de 1935 um total de 325.800 kilogramas de melaço que deve dár em alcool pouco mais ou menos 101.845 litros alcool. De[sic] ficar assim a 1 de Janeiro de 1936 um stock de pouco mais ou menos 1.685.200 kilogramas melaço. Podemos destilar de janeiro a março de 1936 aproximado 715 toneladas de melaço, ficando um stock de melaço de 1935 de 970 toneladas. Teremos assim no principio da Laboração de 1936 espaço para 715 toneladas melaço, que calculando em 1936 uns 55 kilos 543 Cardoso, Dargent & C.ª?

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melaço por tonelada cana, corresponde a 13.000 toneladas cana. Devemos notar que em 1936 perdemos a capacidade do tanque por baixo do elevador do bagaço. É este, segundo vejo, a nossa situação a 31 de março 1936. As 970 toneladas de melaço do stock a 31 março, deve corresponder a 313.220 litros alcool. Crea-me seu sempre attencioso e amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 14 de Agosto de 1935 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [112] Funchal 14 agosto 1935 Ex.mo Amigo e Senhor Hinton Recebi a sua carta de 5 do corrente, e desejo a si e sua Ex.ma Esposa boa saude. Eu ainda não foi descançar um pouco ao Santo, devido á minha familia, mas desejava na segunda feira 19 seguir para lá. Quanto ao que me pede sobre os calculos da situação presente e futura, envio-lhe em folha separada, para melhor vêr qual a minha maneira de vêr, a nossa situação, que infelizmente acho um pouco complicada para a futura Laboração de 1936, como já lhe disse na minha ultima de 6 do corrente. Estes calculos que lhe envio vão mais desenvolvidos e mais certos como deseja. Tambem lhe envio em separado a situação geral da Companhia de 1935, mas antes do Senhor Hinton sahir eu dei-lhe n’um envelope esses calculos. Crea-me seu Attencioso amigo. [Ass:] João Higino Ferraz // [DATA: 24 de Junho de 1936 DESTINATÁRIO: Martins Faria] [113] Funchal 24 Junho 1936 Meu caro Sobrinho Martins Faria Recebi a tua carta de 26 proximo presente que muito agradeço, não somente pela boa vontade que tens mostrado na venda do meu Vinho Canteiro Madeira, como tambem pelos coselhos comerciaes que me dás n’ella e que para mim tem um grande valor, visto não ser verdadeiramente um comerciante mas somente fabricante. O que eu estimo, primeiro que tudo, é a tua saude e bem estar, assim como a todos de casa, a quem pesso darais saudades a todos, por não poder escrever agora. Como a carta é longa e tem diversas cousas a determinar, vou por partes responder. Vejo que temos encomendas para 12 caixas de duzia garrafas grandes typo champagne, e 18 caixas de 2 duzias de garrafas pequenas (1/2 garrafa) do mesmo typo. Em garrafas 1/2 champagne, tenho quasi o suficiente já engarrafado, mas das garrafas grandes tenho pouco engarrafado. O que não tenho é os rotulos conforme os desejos do clientes [sic] de São Miguel, mas vou tratar de os mandar // [114] fazer nas condições dos teus conselhos, com a condição porém que não posso modar o distico do typo do vinho, conforme a licença que tenho do Menisterio da Agricultura, isto é; será assim; conforme o que mando junto, modificando talvez a forma do rotulo e vou ver se na Madeira me podem fazer os rotulos mais vestosos e agradaveis. Como sô termino a Laboração da cana na Fabrica Hinton, entre 10 a 15 de Julho, somente depois d’isto poderei me dedicar ao assumpto vinho. Além d’isso o Hinton544 saio da Madeira (para Londres), e tudo está a meu cargo (fabrico) na direção da Fabrica, e não posso destrair o meu pensamento para outra cousa. Tenho pois quasi a certeza que em Julho proximo possa mandar as encomendas feitas até agora ou mesmo mais, se tiveres algumas. É pena não poder enviar já este mez, mas como quero que a exportação feita seja toda egual, é melhor me pôr em condições para isso. Quanto ao resto da carta, vou responder a tempo. Um abraço de teu Amigo certo. [Ass:] João Higino Ferraz //

544 Harry Hinton.

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[DATA: 25 de Junho de 1936 DESTINATÁRIO: Martins Faria?] [115] Funchal 25 Junho 1936 Meu caro Faria Isto dos vinhos vai por partes, como vez, em vista dos meus trabalhos da Fabrica Hinton... A forma de pagamento acho melhor, como dizes na tua carta, ser o meu caro Faria a receber directamente do cliente, enviando-lhe a nota de encomenda que eu renviarei devidamente selada e com recibo. Assim podes tirar a tua comição, que me parece já disse, ser de 5%. O valor em escudos das facturas é dinheiro forte não é assim? Foi com esta base que fiz os meus calculos. Quanto ao devolvimento das garrafas vasias e caixas posso recebel’as pelo seu custo com[sic] mensionei na nota que te enviei á tempo, quando foi o vinho, mas as despezas de fretes etc. devem ser por conta do comprador. Pesso-te uma explicação sobre estes assumptos Teu amigo certo. [Ass:] Ferraz // [DATA: 16 de Outubro de 1937 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [116] Funchal 16/8/937 Ex.mo Senhor Hinton Depois de ter lido os novos Decretos sacarinos sugerio-me umas considerações sobre esse assunto, as quaes lhe [...] o que em meu [...] situações futuras Isto, já se vê, são calculos provisorios, mas que podem servir mais ou menos de base para [...] em Lisboa fazer [...] sobre as colheitas futuras. Isto como compreende, não [...] modo [...] pensamento seu, mas [...] somente[?] ajudal’o nos [...] em questão, porque essa[?] [...]. Quanto ao [...] vai assim [...] os tratamentos. [...] como varias vezes, [...] // [117] eleminada para o fabrico de açucar, por isso que não podemos trabalhar. As notas que o Senhor Hinton pedio para enviar para Lisboa, já as enviei por[?] Henrique545, acresentando além das notas pedidas, algumas considerações minhas que em Lisboa lhe poderão ser uteis. Aproveito a ocasião para lhe agradecer do coração a gratificação de 1936[?] que teve a [...] minha conta [...] Crea-me sempre seu Attencioso Amigo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz.

545 Henrique Tristão Bettencourt Câmara.

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CARTAS AVULSAS

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[DATA: 5 de Junho de 1897 REMETENTE: Crevelles?] [1] La Madeleine-Lez-Lille, le 5 Juin 1897 Monsieur João Hygino Ferraz à Funchal Madeira Je viens de recevoir la traduction vous[?] honorée du 10 écoulé je m’empressé de vous informer que je puis vous fournir un appareil de rectification continu pour produire 7 hectolitres d’alcool compté à 100º par 24 heures et qui prounont ètre [...] l’appareil à 96º ce qui indique une grande pureté, et composé de: 1 épurateur et 1 rectificateur continu proprement dit composés de tronçons en cuivre rouge à plateaux, condenseur et réfrigérant à enveloppe en cuivre rouge avec planques tubulaires en bronze et tubes en cuivre rouge sans soudure pour la somme de francs 9.905, puis en mes usines, emballage 3% de ma facture. Ce puix s’applique à mon nouveaux dernier type d’appareil, c-à-d. le plus perfectionné. Cet appareil est construit entièreurent en cuivre, sauf les cercles et boulons qui réunissent à l’extérieur les diverses parties. Son poids est d’environ 1900 kilos dans lequel il y a environ 350 kilos defer. // [1v] Cet appareil prèsente comme vous le savez. Sans doute, de très grands avantages sur les appareils intermittents y compris celui de Savalle = Suppression des moyens goûts de tête et de queue, rendement de 91 à 93% d’alcool extra-fin en premier jet, grande économie de combustible, freinte d’environ 1%, fonctionnement régulier et automatique. Dans l’attente du plaisir de vous lire et tout à votre disposition pour tous les renseignements complèmentaires que vous fourniez désirer, je vous remets ci-joint un prospectus de cet appareil. Recevez, Monsieur, mes meilleurs Salutations [Ass:] Crevelles[?] 1 prospectus Retificador continuo para produzir 7 hectolitros em 24 horas a 100º Alcool retificado em 24 horas (alcoometro Cartier) 700 litros em 44º (alcool puro) é egual a: Força alcoolica que produz – 725,5 em 40 1/2 º ou 894 litros em 30º Produção em galois de 3,6 litros em 30º são 248. 546

[DATA: 18 de Setembro de 1903 REMETENTE: Harry Hinton] [1] Lisboa 18 de Setembro 1903548

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Meu caro Amigo. Segundo todas as probabilidades as novas providencias serão publicadas no “Diario do Governo” de 2ª feira 21 do corrente Partindo d’esse principio, mando-lhe já artigos para serem publicados, com um telegramma tambem incluso que se figura enviado de Lisbõa, em seguida á publicação dos decretos no Diario do Governo. O artigo intitulado “Providencias Governativas” é para o Diario de Noticias O artigo intitulado “Novo regimen economico” é para o Diario de Commercio O artigo intitulado “Noticia importante” é para o “Diario Popular”. Cada um d’esses artigos deve ser acompanhado de uma das 3 copias do telegramma que envio em triplicado. O telegramma deve ser publicado em grosso e vivo normando no logar marcado a tinta vermelha em cada artigo. 546 1 folha de papel, 27,1 cm x 21,8 cm, em razoável estado de conservação A folha tem na margem esquerda do seu retro, em caracteres de imprensa, a designação, endereço e o lato espectro de actividades da firma L.is Fontaine, além de outras informações. Aparte estes elementos, que optamos por não transcrever, os grafemas «La Madeleine-lez-Lille, le» e «189», na cabeça da página, estão inscritos em letras de tipografia que imitam a escrita manuscrita. Estamos na presença de uma folha oficial, timbrada, da firma acima nomeada. O redactor da carta é um certo Crevelles[?], segundo a rubrica no fim. Os últimos informes presentes no verso desta carta, escritos em português, foram redigidos por João Higino Ferraz. 547 Estamos na presença de 2 folhas (papel, em bom estado de conservação) dobradas em jeito de caderno. Cada folha tem assim 4 páginas (as suas medidas são 26,9 cm x 20,8 cm), mas apenas a primeira e a quarta páginas contêm informação. A segunda e a terceira páginas com informação estão numeradas. A restante numeração é por nós acrescentada. Esta carta saiu do punho de Harry Hinton. 548 Na cabeça da página temos, em jeito de acrescentamento à informação veiculada na carta, as seguintes palavras: «Vae egualmente um telegramma para ser expedido pelo J. Ribeiro [José Ribeiro] officialmente ao Presidente do conselho no dia em que forem publicados ahi os artigos. Vae ter com elle para esse fim. Mande entregar todas as cartas inclusas logo que recebe esta».

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A publicação de tudo isto deve ser feita na terça feira, caso sejam publicadas as providencias no Diario de Governo de 2ª feira. // [2] Para isso deve esperar na 2ª feira um telegramma meu com a seguinte palavra “Proceda” querendo isto dizer que deve promover immediatamente as publicações acima indicadas. Se se der a hypothese de haver necessidade de alguma alteração, eu indicarei para ser ahi feita, mas estou quasi certo que não havera alteração. Se eu não ordenar alteração, fica entendido que deve tudo ser publicado como acima fica dito. Se não receber o meu referido telegramma na 2ª feira é que as providencias ainda não appareceram n’isso dia [sic]. N’esse caso, espere pelo dia em que ellas sejam aqui publicadas, dia em que eu procederei como fica establecido para a hypothese de virem na 2ª feira, devendo ahi promover logo as publicaçoes, para aparecerem nos jornaes do dia seguinte, ficando tudo combinado como acima. Em tal caso ponha no telegramma que se figura ido de Lisbõa a dacta respectiva em vez da de 21 que la está. É evidente que emquanto não forem aqui publicadas as providencias nada ahi deve transpirar. Até lá todos esses papeis que agora mando, são segredos exceptuo para o Romano. No dia em que houver de promover as publicações deve ir á redação dos 3 jornaes para tratar d’isso. // [3] Recommende o maximo cuidado na revisão dos artigos e do telegramma, para não apparecer nenhum erro. Eu escrevo agora ao M. J. V.ª549 e ao Jardim do Mar550 e o Querino551 ao Romano, pedindo que façam publicar, cada um no respectivo jornal, Popular, Noticias e Commercio, o artigo e telegramma que o meu amigo apresentará na redacção n’um dos dias da proxima semana, e que n’esse sentido deixem já ordem na respectiva redacção. Combine com o Romano, (a quem deve ler já toda esta carta) a melhor maneira practica de proceder em tudo isto, e o modo de se ter uma bôa revisão em todos os artigos. Sendo necessario paga-se as publicações, mas estas devem ser feitas em artigos de fundo e como se fossem da redacção. O Romano que exerça toda a vigilancia para não apparecer cousa alguma contra as providencias em qualquer jornal, se for precisa qualquer despeza para isso, é fazel-a. Desejo que não se publique mais nada sobre o assumpto das providencias antes de eu chegar. Em chegando o Diario do Governo, com o qual irei eu, e então se publicarão novos artigos. Envio tambem inclusa uma // [4] minuta de telegramma, escripta em tinta encarnada, que é para ser expedido, no proprio dia da publicação dos 3 mencionados artigos nos jornaes do Funchal, para as tres seguintes redaçoes: Redacção do “Seculo” Lisboa Redacção do “Diario” “ “ Diario de Noticias – Lisboa Se, porem poder saber, quem é ahi o agente da agencia Havas, melhor é fazer que esse agente mande tal telegramma pela referida agencia para tudos os jornaes de Lisboa, embora o paguemos nos. N’esse caso não é preciso mandal-o, para os 3 jornaes indicados. Faça chegar immediatamente ás mãos do Romano a carta inclusa para elle. O decreto deve deixar bem toda a gente, mas no caso de haver alguem que por inveja ou qualquer outro motivo queira levantar difficuldades na imprensa ou fora d’ella, combine com o Romano a melhor maneira practica, directa ou indirecta, de os calar até a minha chegada. Peço que leia isto com muita attenção deixando esta carta nas mãos do Romano o tempo que fôr necessario para elle tambem se apoderá[sic] bem do assumpto. Teem de proceder ahi como eu mesmo houvesse de proceder, estando lá, em assumpto de tanta grandeza. Até o dia 29 no “Cyril”. Amigo obrigado. [Ass:] Harry C. Hinton [DATA: 8 de Outubro de 1903 REMETENTE: Harry Hinton] [1] Lisboa – 8 d’Outubro 1903 Amigo Ferraz. Ainda não posso partir hoje, como já sabe pelo telegramma que eu mandei. Estava todo prompto com as 552

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Manuel José Vieira [1836-1912], advogado e político, tendo sido presidente da câmara do Funchal e deputado. Tristão Vaz Teixeira de Bettencourt e Câmara, Barão do Jardim do Mar (-1903), proprietário do Diário de Notícias. Quirino Avelino de Jesus. Estamos na presença de 2 folhas (papel, em bom estado de conservação) dobradas em jeito de caderno. Cada folha tem assim 4 páginas (as suas medidas são 26,8 cm x 20,8 cm), mas apenas a primeira e a quarta páginas de cada folha contêm informação. O segundo caderno está numerado («2»). As páginas com informação foram numeradas por nós. Esta carta foi escrita por Harry Hinton.

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bagagens, mas depois de fallar com o J. Rº553 soube que o Francisco João554 deve chegar aqui amanhã e que é elle que pensa que o decreto vae prejudicar a sua fabrica, e por isso vou demorar-me para fallar com elle. Soube tambem que o major Rego está da mesma opinião. É um absurdo monumental, porque as fabricas ruraes estão muito mais garantidas com o decreto, que estavam com o decreto de 1895. Estou tratando do regulamento, o qual torna impossivel a venda de alcool, seja de melaço, seja importado, para misturar com aguardente de canna. Queira fallar com o Major Rego, e diga-lhe isto mesmo, e que nem o Governo nem eu queremos outra cousa. Esclarecidos os espiritos, hão de ver que todos os interesses da agricultura e das fabricas ruraes ficam perfeitamente garantidos. As compensaçoes para nos são d’outra natureza como se vê no decreto. Ainda mais, as fabricas <ruraes> estão em muito melhor posição porque o que as lesava era o alcool dos Açores. Com o // [2] de 1895, tinhamos forçosamente de fechar a nossa fabrica, laborando unicamente aguardente, o que seria então a ruina de todas as fabricas ruraes. O fabrico d’aguardente de cannita e hastes de milho, é contra nos, mas a direcção geral d’agricultura insistiu n’este ponto, a vista das reclamações agriculas. O decreto de 1895 ja tinha caducado. Só por permissão annual ainda se conseguia manter para todos o mesmo regimen. Era uma situação falsa que de um momento para o outro podia desaparecer. Eu consegui de novo um regimen solido que hade forçosamente deixar bem a todos por muito tempo. O regulamento considera como descaminho de direitos a venda d’alcool de melaço ou importado, que não seja para tempero de vinhos, emquanto se não demonstar[sic] adiante da delegação do Mercado Central, que não existe em fabrica nenhuma ou nos negociantes aguardente de canna. Em todo o caso n’uma semana la estarei, e prompto para demonstar[sic] por todos os meios, que o Rego não soffre perjuizo. Agora a respeito dos artigos a publicar, que juncto envio, peço que cumpre as seguintes instrucçoes. // [3] 1º Vão 4 artigos para serem publicados no “Noticias” um em cada dia, pela ordem da numeração que consta dos respectivos subscriptos. Tira uma de cada vez, para não alterar a ordem da publicação, o que seria muito inconveniente. Consta que o Barão555 está muito doente, mas entenda-se com o Romano e o Cyriaco556 e faça todo o que seja percisso para a publicação immediata em artigos de fundo, como se fosse da redacção. Talvez o Francisco João deixou algumas instrucções nas Noticias <contra estas publicações> mas vençam isso como fôr possivel. 2º Vae um artigo para o Commercio, outro para o Correio dos Padres, outro para o Direito. Não os confunda tambem. É para serem publicados immediatamente. Combine tambem todo isto com o Romano. 3º Caso haja difficuldades invinciveis da publicação no “Noticias” por causa do Francisco João, os 4 artigos respectivos poderão ser publicados no Direito. Mas espero muito que isto não acontece. 4º É conveniente tambem publicar em todos os referidos jornaes o decreto e o seu relatorio. 5º Vae tambem um artigo para o Popular e uma carta minha para o M. J. V.ª557. Faça favor de os entregar immediatamente e pessoalmente. // [4] 6º O ministro da fasenda deu-me a sua palavra de honra, que mandava n’este vapor um officio ao Sobral e outro ao Governandor civil como da copia inclusa na letra de Roberto de Campos. Falla com o Sobral immediatamente depois de aberta a mala, e pergunta si[sic] sempre foi o officio. No caso contrario telegrapha-me disendo-me isso, para eu providenciar. Procura tambem immediatamente (pessoalmente, ou se não tem relaçoes com elle, combina com o Romano) o Governador civil para saber se o <outro> officio sempre chegou. Communica-me tambem telegraphicamente se não chegou. 7º Guarda 12 exemplares de cada numero de cada jornal aonde venha qualquer artigo sobre o assumpto do decreto. D’estas 12 remetta 1 ao Querino558. Caixa Geral dos Depositos – Lisboa – pelo 1º vapor 8º Falla com o Lemos559 e diga-lhe que é conveniente não abaixar por hora o preço do alcool, sem que eu lá chegue. Tem havido despezas grandes com o decreto, e tenho certos compromissos em que elle tambem tem de entrar. É facil dizer que o stock d’alcool ainda pagou os direitos antigos. Até já Amigo sempre[?]. [Ass:] Harry C. Hinton

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José Ribeiro. Francisco João de Vasconcelos. Tristão Vaz Teixeira de Bettencourt e Câmara, Barão do Jardim do Mar. Ciríaco de Brito Nóbrega (1856-1928) jornalista, foi durante muitos anos o chefe de redacção do Diário de Noticias.. Manuel José Vieira. Quirino Avelino de Jesus. José Júlio de Lemos (1855-1914). Industrial e proprietário, sendo o dono e director da fábrica de destilação de alcool, conhecida como Companhia Nova.

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[DATA: 29 de Abril de 1907 REMETENTE: E. Milan? DESTINATÁRIO: León Naudet; LOCAL: Avenida Magenta, 146, Paris] [1] le 29 Avril 1907. Monsieur L. Naudet Ingénieur des Arts et Manufactures 146, Boulevard Magenta – PARIS Xe. Monsieur Naudet, Je suis en possession de votre lettre du 21 Avril que j’ai communiqué à Monsieur Hinton561 et à Monsieur Ferraz562, et c’est en collaboration avec ce dernier que je vous repond, pour vous donner tous les renseignements sur la façon dont nous rentrons les petites eaux à la batterie. Tout d’abord il n’y a pas de mélange des petites eaux avec l’eau pure. Supposons la batterie en marche normale, c’est-à-dire avec eau pure. Les petits eaux des 2 moulins de repression et les eaux coulant de la batterie sont prises et envoyées dans 3 bacs de 45 Heures chacun. Lorsque nous avons un bac pleine, nous mettons de la chaux pour rester bien alcalin, et nous augmentons ou diminuons la dose de chaux selon que les petits jus diminuent et augmentent d’alcalinité; pendant que le 2e bac d’emplit, le 1er bac reste en contact avec la chaux environ 1/4 à 1/2 heure. Lorsque le 3e bac commence à s’emplier, on fait avec le 2e bac ce qu’on a fait avec le premier pour la chaux, puis on ferme COMPLÉTEMENT à la batterie l’arrivée d’eau et on envoie dans le bac à eau en charge sur la diffusion le premier bac de petits jus et successivement le 2e le 3e le 1er etc. Mais il arrive un moment ou il ne nous reste plus assez de petits jus pour pouvoir suivre la diffusion. À ce moment nous arrêtons complétement la réintégration et nous remettons de // [2] l’eau pure dans le bac de la diffusion jusqu’à ce que nous ayons à nouveau les 1ers et 2e bacs à réintégration pleins. Toutes les 2 1/2 à 3 heures nous remettons donc de l’eau pure pendant 1/2 heure à 1 heure ce que nous donne les avanatges[sic] suivants: – 1.er De nettoyer le bac à eau et éviter les fermentations 2.e de pousser en tête les petits jus. Toutes les 8 heures alors que nos petits jus montent à une teneur en sucre de 1,50 nous faisons une liquidation a la distillerie de 2 bacs et pendant ce temps nous poussons à l’eau à la batterie jusqu’à ce que nous nous retrouvions avec nos deux premiers bacs à réintégration pleins ce que nous fait une liquidation de 6 bacs par 24 Heures. Depuis deux jours seulement nous faisons des liquidations de 2 bacs toutes les 8 heures. Nous avons déjà changé plusieurs fois la façon de faire ces liquidations: d’abord 1 bac toutes les 7 à 8 heures, puis 2 toutes les dix heures et celle à laquelle nous nous étions arretés etait 3 bacs toutes les douze heures, car c’est au moment ou les eaux sont riches que nous gagnons le plus, mais nous perdons aussi d’avantage dans la bagasse. Voila du reste les analyses de Vesou et de Jus de diffusion en faisant des liquidations de 3 bacs toutes les 12 heures. VESOU JUS DE DIFFUSION VESOU JUS DE DIFFUSION Pureté Coefficient Pureté Coefficient Pureté Coefficient Pureté Coefficient Glucosique Glucosique Glucosique Glucosique 80,7 3.4 82.0 3.5 82.1 3.2 83.9 3.0 81.6 3.1 82.3 2.8 82.4 2.8 83.5 2.9 82.9 3.0 84.2 2.7 // [3] Voila maintenant celles en faisant des liquidations de 2 bacs toutes les 8 heures. Pureté 81.5 80.4 80,4 VESOU Coefficient Glucosique 3.2 2.8 3,8 560

JUS DE DIFFUSION

Pureté Coefficient Glucosique

81.8

80.5

81,0

3.3

3.8

4,1

560 6 folhas, papel, 28 cm x 21,8 cm, razoavel estado de conservação. As vários folhas, à excepção da primeira, estão numeradas. Estamos na presença da cópia de uma carta dactilografada, assinada por alguém cuja assinatura torna impossível identificar de forma plena. Será, de qualquer forma, um dos vários químicos ou “cuiseurs” de nacionalidade estrangeira que tiveram a oportunidade de cooperar com Higino Ferraz no Torreão. Olhando para a configuração algo confusa da assinatura presente nesta carta e cruzando com informações provenientes do «Livro de notas sobre fabricação d’assucar e alcool, e tabellas de calculo de João Higino Ferraz», conjecturamos que seja o químico Milan, que trabalhou no Torreão no ano de 1907. 561 Harry Hinton. 562 Trata-se, obviamente, de João Higino Ferraz.

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Voila également comme nous comptions notre perte dans la bagasse avant l’appareil Zammaron. La bagasse du 2e moulin d’apres les analyses a 54 à 56% d’eau. et [sic] par l’extraction représente 25 à 26 Kilos % de cannes. Si dans les eaux du moulin nous avons en sucre 1,92 notre perte devenais : 1,92 x 56 x 26 = 0,279 100 100 Si dans les eaux du moulin nous avons en sucre 2,25 notre perte devenais : 2.25 x 56 x 26 = 0,327 100 100 Si dans les eaux du moulin nous avons en sucre 1.85 notre perte devenais : 1.85 x 56 x 26 = 0,269 100 100 Seule perte pour Monsieur Hinton puisque les petits jus font du Alcool et du tres bon alcool. Mais l’appareil Zammaron accuse davantage: // [4] 1er essai: Petits eaux du moulin: 2.25 soit donc % de cannes 0,327 Zammaron: Sucre % de bagasse 1.953 soit % de cannes à 74 Kilos d’extraction = 0,507 2e essai: Humidité de la bagasse 52 Kilos Extraction du moulin 76 Kilos petits eaux du moulin 1,856 soit % de cannes 1.856 x 52 x 24 = 0,231 100 100 Zammaaron[sic]: 1,887 soit % de cannes 0,452 3e essai: Petites eaux du moulin 2,114 soit % de cannes 2,114 x 52 x 24 = 0,268 100 x 100 Zammaron: 2,083 soit % de cannes 0,499 Avec la nouvelle marche c’est-à-dire, en liquidant deux bacs de 8 heures en 8 heures voici l’analyse de bagasse: Petits eaux du moulin: 1,347 soit 1,347 x 59 x 27 = 0,124 100 x 100 Zammaron: Sucre % de bagasse 1,627 soit 0,447 Humidité de la bagasse 59 Kilos. Extraction 72,5. Monsieur Ferraz me fait remarquer une chose qui me parait tres exacte, c’est que l’appareil Zammaron diffuse tout le sucre contenu dans l’écorce et qu’il est difficile à la batterie d’em faire autant, mais j’ai la conviction néanmoins que lorsque la défibreuse marchera, la batterie fera sur l’écorce ce que fait le Zammaron. Pour votre idée d’installer 2 bacs: un pour l’eau et l’autre pour les petits jus, Monsieur Hinton et Monsieur Ferraz trouvent votre idée tres bonne, mais se qu’ils craignent c’est de laisser couler par le trop plein des petits eaux trop faibles pour la distillerie, et de // [5] laisser couler à la rivière les petits eaux d’interposition; aussi ils vous diront que les petites eaux donnant du tres bon alcool qu’ils ne veulent pas en perdre une goutte. Quand à l’installation des deux pompes pour l’an prochain, supprimant les deux bacs, Monsieur Hinton fait votre idée sienne. Voila ou nous en sommes pour la réintégration et nous esperons en continuant les essais arriver à une bonne solution, du reste l’appareil Zammaron va nous rendre de tres grands services dans cette voie, et je vous dirai por tous les essais que nous avons déjà fait, une chose que vous m’avez dit aussi, c’est qu’il faut payer son apprentissage. Pour la quantité de mélasse: 8 Kilos ne vous effrayez pas autant car ils se decomposent ainsi: mélasse venant de fabrication 6,18 Kilos. Ecumes des bacs à sirops et à égouts, lavage des toiles des filtres et petites eaux calculés en melasse 1,82 Kilo soit donc au total 8 Kilos. Nous obtenons moins de mélasse de fabrication actuellement car nos cannes sont un peu plus riches. Entre parenthèses je vous signale un échantillon de cannes appartenant à Monsieur Hinton et ayant donné à l’analyse les resultats suivants: Densité 8,95 Sucre dans le vesou 21,565 Pureté 90,3 Coefficient Glucosique 0,81 Si nous avions de la canne comme cela nous aurions au minimum 16 de rendement.

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Voici également les analyses des 2 Sucres Polarisation Glucose Cendres Eau Indeterminés Sucre BB 99.60 0.058 0.072 0.011 0.259 Sucre B2 99.20 0.092 0.126 0.010 0.572 // [6] Vous me demandez de vous envoyer l’analyse de la bagasse avant la diffusion: voila la seule que j’ai déjà faite avec l’appareil Zammaron, car nous portons surtout notre attention sur le bagasse du 2e moulin de répression: Sucre % de bagasse 8,007 Kilos soit % de cannes à 73 Kilos d’extraction 2,16 Kilos. Nous avons fait un essai de vitesse à la batterie avec des cannes ordinaires sans cannes “Yuba”, nous sommes arrivés avec l’installation actuelle a presque 9 diffuseurs en 1 heure avec une extraction au moulin de: ne vous effrayez pas: 79,07 Kilos. Monsieur Ferraz se rappelle au bon souvenir de Madame Naudet et vous envoie ses amitiés. Recevez l’assurance de mes sentiments dévouées. [Ass:] E. Milan [?] [DATA: 19 de Junho de 1911 REMETENTE: Marinho de Nóbrega] [1] Madeira, 19 de Junho de 1911 Meu caro amigo O engenheiro disse-me ha dias que não podia mandar mais carvão para aqui e que eu fizesse <dele> a maxima economia. Sucede, porem, que a lenha que está entrando é verde e portanto, de dificil consumo o que obriga a gastar mais carvão. Para evitar que o carvão que aqui existe em pouco tempo desapareça achava // [1v] melhor que mandassem lenha seca afim de o resultado ser melhor. Peço-lhe, pois, a sua interferencia neste assumto. Seu amigo. [Ass:] Marinho 563

DATA: 27 de Maio de 1915 DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre] le 27 Mai 5 Mon cher ami. Monsieur Lefebvre. Il y a bien longtemps que je ne vous ecris pas et je vous prie de m’excuser, car vous devez bien comprendre qu’en cours de campagne je suis surchargé de travail, et sur ce mon mal-être d’esprit en pensant á notre troublante situation en Portugal, et les affaires de Madére qui ne marchent pas bien pour nous m’on fait publier de vous ecrire. En ce qui concerne le réfrigérant Guillebeaud pour ma petite et nouvelle industrie – lettre officielle de la maison Hinton – je mets de côte son acquisition dû au prix fort elevé, c. á. d., 4 fois plus cher qu’avant guerre!! Je vais monter une réfrigeration d’un autre systeme beaucoup meilleur marche et plus simple. Les trois pompes Guillebeaud type G n.º 0 je suis decidé á les acquerir dans les conditions exposés, mais avec polies fixe et folle et volant comme indiqué dans leur catalogue d’avant guerra, 1er partie: Pompes, page 11. Comme je ne peux pas vous envoyer par ce courrier le montant de 5000 francs je le ferai par le prochain en vous confirmant definitivement ma commande. Je vous felicite pour avoir terminé la guerre de tarifs entre la France et le Portugal, avec beaucoup plus d’avantage pour la France que pour notre pays. Bien des compliments pour votre famille et croyez toujours, mon cher ami, á l’assurance de mon meilleur dévouement. 564

563 Uma folha de papel, 26,9 cm x 20,6 cm, em bom estado de conservação, que tem na parte superior esquerda do retro, em letras de imprensa, a morada, telefone e principal actividade da firma José Julio de Lemos, Sucessores, detentora da Companhia Nova. (A informação é: «José Julio de Lemos, Sucessores, “Companhia Nova” Fabrica de Distilação d’Alcool Travessa da Malta 13 Telefone n.º 200 Funchal»). Além destes elementos, os grafemas «Madeira,» «de» e de «19» estão inscritos em caracteres de tipografia que imitam a escrita manuscrita. 564 1 folha, papel, 28 cm x 22,1 cm, em mau estado de conservação. Estamos na presença de uma cópia de carta, dactilografada (com excepção de «Monsieur Lefebvre», expressão grafada à mão por João Higino Ferraz), remetida a Georges Lefebvre. A menção ao ano não é clara, mas achamos ser 1915, por referências à 1ª Guerra Mundial (e suas funestas consequências, inclusivé em Portugal, no que diz respeito à carestia de vida); além disso, os contactos entre Lefebvre e Ferraz são constantes – como se vê nos Copiadores de Cartas – durante a segunda década do século XX.

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[DATA: 27 de Dezembro de 1920 DESTINATÁRIO: Antoine Germain; LOCAL: Málaga, Espanha] [1] Funchal 27 Decembre 1920 Monsieur Antoine Germain Sociedade Asucarera Larios Malaga Espana Monsieur et Cher Collégue En má possession votre lettre du 30 Novembre courant en ce que vous me demandé des renseignement sur le travail de la canne Yuba qui nous avons à Madère et qui vous avez transplantée à Malága, et qui je vois vous donne un très bon rendement cultural, mais qui dans la fabrication du sucre vous avez rencontré des difficultées de travail et filtration. Á Madère nous avons en les mêmes difficultées au comencement, quand nous travaillions seulement la canne Yuba, mais aprés mes recherches continuelles, nous <sommes arrivé>, depuis 1914, á faire un travail magnifique seulement avec <de> la canne Yuba, en faisant la filtration total du jus et en // [2] obtenant des tourteaux aux filtres-presses très durs. Se sucre obtenue est trés blanc, sec et de consumation direct, et actuellement nous marchons par le procedée sucre et melasse, en obtenant une pureté dans la Melasse de 40 a 43 (Clerget). Par mon neuveau procédé de marche, je termine avec la defecation et filtration sur le bagasse dans la batterie de diffusion du procédé Naudet, et même les defécateurs et décanteurs ordinaires sont suprimés; mon jus (vesou et jus diffusion du bagasse), après sulfitation et chaulage est passé, après defecation continue, directment aux filtres-presses, en obtenaut un filtrat brillant. Pour eviter <en grand partie> les incrustation du Triple, je fait un traitement special aux jus des filtres-presses, et ils sont nouvellement filtrée en filtres Mechaniques, et vá directment au Triple effet. <Je marche 15 a 20 jours sans netoyage.> Je sulfite á // [3] fond les sirops du Triple. Je fais des rentrées dans les cuites des égoûts pauvres, pour faire du roux à refondre. Notre vesou de canne a une pureté de 84 a 85, et <dans> le melange du vesou avec le jus de diffusion <(jus total á defequer)> nous avons 82 a 83 de pureté. Même avec la canne a 80 de pureté, je obtiens toujours une bonne filtration du jus defequée. Notre Usine fait 600 tonnelades de canne par 24 heures, avec la raperie J. J. Lemos566, qui nous envoitle vesou. Cette petite Usine est une distillerie que nous avons lué. Il a <aussi> une autre petite Usine qui fait sa premiere Campagne cette année, mais je ne sais pas comment elle travaille. Je vous ferait savoir qui c’est moi le directeur technique, accumulant tous les services de la Sucrerie et distillerie sur ma direction et le // [4] control du Laboratoir de l’Usine. Je serait à la desposition de la Sociedad Asucarera Larios après le mois de Juillet, si vous croyez que je pourrai être utile. Comme vous fait la référance de Monsieur Sousa Lara, il me connait très bien, et il vous pourra dire quelque chose sur notre Usine et má direction. Monsieur le Cônsul d’Espanha, Campanella, me connaît aussi, et est un <de mes> amis. Croyez, Cher Monsieur et Collegue, á l’assurance de má consideration très distingué. [Ass:] João Higino Ferraz P.E.[sic] Je vous envois, ci joint, une petite echantillon de notre sucre blanc cristalisée, de consumation directe. 565

DATA: 15 de Janeiro de 1921 DESTINATÁRIO: Antoine Germain; LOCAL: Málaga, Espanha] Funchal 15 Janvier 1921

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Monsieur Antoine Germain Sociedad Azucarera Larios Malaga Espana Monsieur et Cher Collégue Je vous confirme ma lettre de 27 Decembre proche passé568 Je vous envoi ci-joint la moyenne de trois anné de travail dans notre Sucrerie. Pour 1920 je ne peu pas vous envoyer, parce que nous avont fait de l’alcool du jus de diffusion. Notre Campagne comence en Avril et termine en Juillet a.p.p. 565 Estamos na presença de 1 folha (papel, em bom estado de conservação) dobrada em jeito de caderno. Tem assim 4 páginas, numeradas por nós, e as suas medidas são 32 cm x 21,7 cm. Esta carta foi escrita inteiramente a lápis e teve certamente, como se constata também pelos pequenos e múltiplos acrescentos e rasuras, a função de rascunho. 566 Firma José Júlio de Lemos, Sucessores. 567 1 folha, papel, 25,8 cm x 20,6 cm, bom estado de conservação. Esta carta foi escrita, na sua maioria, a lápis e será, muito provavelmente, o borrão de outra a remeter. 568 Na margem esquerda temos um sinal de «+», a tinta. Não encontramos correspondência para este sinal nesta carta. Poderá, porventura, querer remeter para a única informação grafada a tinta nesta carta, após a assinatura, e que, para maior clareza, repetimos aqui: «En má possession vos lettres du 7 et 8 Janvier et pour ecrit ce le seul que je peu vous dire.»

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Croyéz, Cher Monsieur et Collegue, á l’assurance de má consideration très distingue. [Ass:] João Higino Ferraz En má possession vos lettres du 7 et 8 Janvier et pour ecrit ce le seul que je peu vous dire. et [sic] voilá tou ce que je peux vous dire par lettre. [DATA: 22 de Fevereiro de 1921 REMETENTE: Antoine Germain; LOCAL; Málaga, Espanha] [1] Malaga 22 fevrier 1921 Monsieur João Hygino Ferraz Directeur Technique de la Sucrerie de William Hinton & Sons Madeira Monsieur et Cher Collégue. J’ai bien reçu votre honorée lettre du 15 Janvier, qui répondait aux deux miennes des 7 et 8 Janvier; et dans cella du 7 Janvier je vous accusois réception de la vôtre du 27 décembre. Je vous remercie infiniment de tous les renseignements que vous avez vien voulu m’envoyer J’ai tardé à vous répondre, car j’ai eté absent avez longtemps, ce qui m’a empeché de vous écrire. Je vois dans votre systême de fabrication que vous sulfitez le jus de diffusion mélangé avec le vésou du moulin. Ne croignez vous pas l’inversion, si la mélange des deux jus résulte trop chaud? Du notre jus de diffusion sort à 90 et 95º de temperature, et non ne le sulfiteur pur, // [1v] nous sulfitons seulement et uniquement le vesou, qui est froid. En mélange, pour le chaulage, le vesou sulfité, avec le jus de diffusion, mais en mettant le chaux avec le jus sulfité, et ensuite en introduirant le jus de diffusion. Puis aprés un brassage fait avec une injection d’air comprimé, on fait passer le tout dans des rechauffeurs tubulaires; le jus tombe ensuite dans des défecateurs, où l’on pousse jusqu’à l’ébullition, pour être sûr d’être à 100º, cequi n’est pas certain avec les rechauffeurs, si bonveier ne nuveille par bien le thalpotanimetre et n’la temperature buisse. Nous ne sulfitons pur la sirops, pour la même raison, la chaleur, et crainte d’inversion. Quel mut les produits chimiques que vous employez, et dans quelle proportion, et comment, de quelle maniere? Y-a-t-il indiscretion à vous le demander? Vous voyez que je vous parle trés franchement, et je vous prie de ma répondre aussi de la même manière. J’ai lu et étudié avec soin les données de fabrication de vos trois campagnes 1917-1918 et 1919. La densité de vos jus est bien plus élevée que chez nous, où nous ne passons jamais dans les bonnes année, de 7,5º à 7,8º (1075 et 1078); mais votre rendement est faible comparé avec notres. Levure 7,5 et 7,8 de densité nous retirons en 1º, 2º et 3º jet 11,50 à 11,80 % de sucre // [2] Avec 6,6 de densité nous avons en cette année un rendement de 9.20% en sucre Avec 6.9 l’an dernier, nous avons retire 10.21% de sucre. Notre canne avec un jus si dense, ne rendant pas plus de 9,88% de sucre, doit etre pauvre en jus. Elle doit contenir beaucoup de ligneux; et c’est cequi s’observe par le faible soutirage de jus que vous faite: A 60,61 litros % aux moulin à 19,87 Brix 21,83% à la diffusion à 10,33 “ C’est peu, et comme vous ne perdez que 0,93º dans la bagasse et les petites eaux de la diffusion, tout le reste du sucre se trouve dans le jus A. Quelle est la proportion de ligneux qu’a votre canne? Quand je dis nos cannes, j’entende celles qu’on cultive ici depuis longtemps, mais je ne parle pas de cannes Yuba, apportées ici, il ya quelques années seulement. Je vous serais trés obligé n’ous[?] voulez bien répondre aux differentes demandes de cette lettre, et je mis à votre disposition pour tout ce en quoi je puis vous être utile. En attendant le plaisir de vous lire bientot, je vous prie, cher Monsieur et Collégue, d’agréer l’expression sincére de mes très devoués sentiments. [Ass:] Antoine Germain 569

569 Duas folhas de papel, 26,9 cm x 20,8 cm, em bom estado de conservação. A segunda folha está numerada. A assinatura não identifica, numa primeira análise, de uma forma plena, o remetente, mas cruzando informações aqui presentes com outras provenientes das cartas de Higino Ferraz, exaradas nos seus Copiadores, achamos ser Antoine Germain, engenheiro em Málaga, da “Sociedad Asucarera Larios”.

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[DATA: 22 de Abril de 1921 REMETENTE: Antoine Germain; LOCAL; Málaga, Espanha] [1] Malaga 22 Avril 1921 Monsieur João Hygino Ferraz Directeur Technique de la Sucrerie de William Hinton & Sons Madeira Monsieur et Cher Collégue Je vous ai ecrit le 22 fevrier, répondant à votre lettre du 15 Janvier, et vous remercient de son contenu. Je n’ai pas eu de réponse, et je ne sais si ma lettre du 22 fevrier vous est parvenne Si la lettre est entre son maison, veuillez donc avoir l’obligeance de me dire n’ous[?] voulez et pouvez m’indiquer les produits chimiques que vous employez. Dans le cas négatif, quelles seraient vos conditions pour nous mettre au courant, en nous enviant tous les renseignements J’attends donc deux mots de vous dans un sens ou dans l’autre Je vous prie, cher Monsieur et Collegue, de agréer l’expression sincére de mes meilleurs sentiments. [Ass:] Antoine Germain 570

[DATA: 25 de Junho de 1921 DESTINATÁRIO: Ciríaco de Brito Nóbrega, Diário de Notícias] [1] Madeira, 25 Junho 1921

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Ex. Amigo e Senhor Redactor Principal do Diario de Noticias Ciriaco de Brito Nobrega Meu Caro Amigo Peço-lhe um cantinho do seu mui lido Diario, para em nome de quarto entidades do Além, e consultando o passado, reclamar contra a injustiça feita á sua memoria, com relação a fabricas de aguardente e açucar, pelo cavalheiro que no seu Diario de Noticias procede ao Inquerito sobre a Industria de bordados na Madeira, cujo nome e entidade não conheço, mas que vejo ser um novo, e por isso pouco conhecedor d’esse passado. // [2] Eu da minha parte protesto como parente d’esses Entes e mais ainda como Portuguez e patriota que me preso de ser. Vamos pois estoriar o passado: A primeira destillaria industrialmente bem montada na Madeira foi establecida em 1850, pouco mais ou menos, por meu Avô Severianno Alberto de Freitas Feraz. Quanto á primeira fabrica de açucar com moinhos a vapor, foi Elle tambem o iniciador em 1856, mas que infelizmente, devido a têr falecido n’esse mesmo anno do Colera Morbus, não poude pois dár início á sua nova industria, que para a época estava regularmente bem montada. Foram pois seus Filhos, João Hygino Ferraz, Severianno Alberto Ferrez[sic] e Engenheiro Dr. Ricardo Julio Ferraz que, constituindo-se em sociadade // [3] com[sic] firma Ferraz Irmão, se abalançaram a pôr em marcha a sua fabrica de açucar em 1857, primeira modernamente montada, e para infelicidade, foi ahi que o Dr. Ricardo J. Ferraz perdeu o seu braço esquerdo, sendo pois o primeiro Mutilhado do açucar. Foi somente dois annos depois, em 1859, que o Senhor William Hinton, Pae do meu Chefe e Amigo Senhor Harry Hinton, estableceu a sua actual fabrica de açucar e destillação, pelo mesmo Systema que a nossa, ainda que um pouco mais aperfeiçoada. Isto é que é a verdade dos factos; a primeira fabrica de açucar a vapor na Madeira, foi montada // [4] por Portuguezes, é o ponto principal. Pela publicação d’estas linhas, muito grato lhe ficará o seu Amigo certo e Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz mo

570 Uma folha de papel, 26,9 cm x 20,8 cm, em razoável estado de conservação. A assinatura não identifica, à primeira vista, de uma forma plena, o remetente, mas cruzando com informação proveniente das cartas de Higino Ferraz, exaradas nos seus Copiadores, achamos ser Antoine Germain, engenheiro da “Sociedad Asucarera Larios”, em Málaga. 571 Estamos na presença de 1 folha de papel, em bom estado de conservação, dobrada em modo de pequeno caderno, constituindo assim 4 páginas (as suas medidas são, pouco mais ou menos, 21,4 cm x 13,7 cm). A numeração das páginas foi por nós aposta. A folha, disposta na horizontal, tem no canto superior esquerdo do retro, em letras de imprensa, o telefone, designação e actividades, endereços de telégrafo, etc., da firma William Hinton & Sons («William Hinton & Sons, Madeira & Lisboa. Sugar Manufacturers, Distillers, Timber Importers, Sawyers, &c [;] Telegraphic Addresses, “Hinton, Funchal”. “Hintonius, Lisbon”. [;] Codes used, A.B.C. 4th & 5th Editions, A.I. Lieber’s & Ribeiro’s [;] Harry C. Hinton, W. R. Bardsley.»). Acrescente-se que os grafemas «Madeira,» e «191» estão inscritos em caracteres tipográficos que imitam a escrita manuscrita. Este manuscrito parece ser a cópia de uma carta remetida ao Diario de Noticias da Madeira.

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[DATA: 9 de Agosto de 1921 REMETENTE: Antoine Germain; LOCAL; Málaga, Espanha] [1] Malaga 9 août 1921 Monsieur João Hygino Ferraz C/a[?] William Hinton & Sons Largo do Corpo Santo 6 Lisboa Cher Monsieur et Collégue: Vous voudrez bien m’excuser de n’avoir pas encore répondre á votre honorée du 27 Juin dernier. J’ai été trés occupé tous ce temps, et je n’ai pas en un moment de loisir Nous avons fait divers essais avec la canne Yuba, et pris des renseignements, je dirai partout: on Mozambique, Natal, la Reúnion (etc) et tous nous confirment que c’est une canne qui ne convient pas à notre climat, qui n’est pas avez chaud, et cette canne ne necesit presque par, de lá le difficulté de travail. Nous en avons lainé, presque fin moi, dans les endroits de trés bonne exposition, et à cette époque le travail était déja bien plus facile; mais que faire avec ces cannes en fevrier et mars? Nous y renonçons donc completement, surtout // [1v] aprés avoir découvert deux varietés bien meilleurs que la Yuba, d’un bon rendement cultural, et enfermant 14% de sucre, c’est à dire premettant de retirer 11,50% de sucre en fabrique. Nous récolterons en mars prochain plus de 600 tonnes de ces deux especes, et nous les planterons toutes. En ma reportant aux données de fabrication que vous avez en bobligeance[sic] de m’adresser, vous avez retirée 9,88% de sucre d’une canne que ne contient que 12,61% de sucre; c’est un excellent rendement, mais c’est une canne pauvre <12,61%> de sucre, avec du Jus ayant 8,0º de densité et une pureté de 85. Cela tient à ceque la canne contient peu de Jus; du certe votre extraction le doit: 60,61 litres eaux moulin % de canne 21,83 la diffusion “ “ “ Il n’y a donc pour lieu de continue l’étude d’une canne qui disparait. Sour notre climat on cannes n’auvent par à plus de 10 à 11% de sucre, il est donc impossible de les soutenir. Madeira varietes sont trés résistentes à la gelée, cequi est un avantage ici, on les nuits laissent la temperature arriver: 0º, et même un peu plus bas. De toutes façons je vous remercie bien pour tous les renseignements que vous m’avez fournir, et je vous tiendrai au corrant, plus tard, quando nous travaillons ces deux nouvelles agreer, des resultats que vous obtiendron. Agriez, cher Monsieur et Collegue, l’expression sincére de mes meilleurs sentiments. [Ass:] Antoine Germain 572

[DATA: 20 de Novembro de 1923 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] [1] 2 20/11/923 [...] que o quisesse fazer, não o fêz por não poder advinhar as intenções de H. F.574. Em qualquer d’estes casos, não é justo o que fizeram, e acho que tem rasão que o rateio deve ser feito nas mesmas condições em que se fazia o rateio das fabricas de farinhas, isto é, com a sua capacidade reduzida. Mas temos ainda outra cousa. H. F. diz sempre que lhe ficou melaços de anno para anno, devido ao seu pequeno rateio, cujos melaços restantes o Governo auctorizou a destillação além do rateio que lhe coube. Para isto tem o Senhor Hinton uma resposta, como lhe disse já na minha carta de 7/10. A ultima nota que tenho da alfandega, depois da carta de 7/10, vejo que elle tem feito 64658 litros alcool, e assim já sobra do calculo que lhe fiz, 5130 litros, e ainda parece-me que não fica por aqui. Parei de lhe escrever agora mesmo, porque chegou aqui o João de Pires, e elle disse-me que São Filippe tem ainda melaço em fermentação, e que esteve parado por falta de acido, isto é, continua ainda, e estou vêr que vai chegar ao que N.V.575 diz, isto é 100.000 litros!! 573

572 Uma folha de papel, 26,7 cm x 20,7 cm, em bom estado de conservação. A assinatura não identifica, numa primeira análise, de uma forma plena, o remetente, mas cruzando informações desta correspondência avulsa e outras provenientes cartas de Higino Ferraz exaradas nos Copiadores, achamos ser Antoine Germain, engenheiro da “Sociedad Asucarera Larios”, em Málaga, Espanha. 573 2 folhas, papel, 26,6 cm x 21,7 cm, em bom estado de conservação. Não existe a primeira página desta cópia de carta que foi enviada a, com toda a probidade, Harry Hinton. João Higino Ferraz grafou a lápis, na cabeça das folhas, a numeração das mesmas e a data a que se referem. Devido à falta da primeira folha, optamos por numerar as 2ª e 3ª folhas como as nº 1 e nº 2, respectivamente. Poderíamos ter sido levados em erro e considerar estas folhas como fragmentos de duas e não de uma só carta, devido à data grafada na margem da cabeça da 2ª folha (segundo numeração de Ferraz) – 20 de Novembro de 1925. Não obstante, tendo em conta a matéria tratada nas duas folhas, constatamos ser erro grosseiro de Higino Ferraz, e será óbvio que se trata de uma só epístola, de 20 de Novembro de 1923. 574 Henrique Figueira da Silva. 575 António Luís Nunes Vieira?

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Envio-lhe separado as notas que recebi da Alfandega, para poder vêr melhor como o alcool é produzido em S. Filippe. Mesmo que chegue aos 100.000 litros (?), e como elle diz que é melaço de 3 annos, tirando o rateio de 30.000 litros, fica-lhe 70.000 litros que dividido pelos 3 annos dá 23.000 litros a mais por anno, ficando assim o rateio em 53.000 litros maximo que elle poderá realmente fazer. // [2] 3 20/11/925[sic] Notas do alcool produzido por São Filippe: 1ª nota – 20 setembro 1923 ————— 19.650 litros 2ª “ – 3 outubro “ ————— 28.681 “ Em 3 dias 9.031 litros 3ª “ – 10 “ “ ————— 40.000 “ Em 7 dias 11.319 “ 4ª “ – 18 “ “ ————— 45.000 “ Em 8 dias 5.000 “ 5ª “ – 15 “ “ ————— 62.528 “ Em 7 dias 17.528 “ Parou de destillar, não dando notas. 6ª “ – 17 Novembro 1923 ———— 64.658 litros Em 23 dias (?) 12.130 litros Temos porém que os vinicultores pedem-lhe alcool e elle diz que não tem. O que fez elle a esses 64000 litros alcool Vamos a vêr realmente quanto poderia produzir o melaço que foi cubicado pela Alfandega 120.000 kilogramas melaço rico a 30% maximo rendimento 36.000 litros alcool 75.000 “ de melaço e agua (lavagens) ao maximo de rendimento 25% (?) ———————————— 18.750 “ Total provavel 54.750 “ Tinha já feito antes do varejo ——— 6.200 “ Total maximo que deveria obter 60.950 “ Como o correio pode fechar para esta mala termino esta, e é tudo quanto lhe possa dizer Crea-me seu Amigo Attencioso Obrigado. [Ass:] João Higino Ferraz [DATA: 12 de Outubro de 1927 REMETENTE: Harry Hinton] Olympic Palace Hotel – Carlsbad 12 d’Outubro 1927

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Meu caro Ferraz, Queira procurar o Reis Gomes577 com o fim de elle arranjar uma noticia dizendo que a Fabrica do Torreão *578 está fazendo umas grandes transformações afim de poder, junto com a fabrica Lemos579, moer umas 700 toneladas de canna em 24 horas. Está aumentando o apparelho de evaporação pondo novas grelhas automaticas nas caldeiras de vapor, e encommendando mais filtres presses afim de poder acabar a colheita proxima em 3 mezes. Consta-me que o marido da Laura de Castro é agora editor do Diario de Noticias e se elle tambem podia dizer qualquer coisa nesse sentido seria muito bom. O R. G.580 deve saber a melhor maneira de arranjar isto. A noticia pode ser uma noticia simples ou então por meio de uma entrevista comsigo. Quando escreve manda sempre as cartas ao Crispin. Seu Amigo. [Ass:] Harry Hinton

576 1 folha, papel, 25,8 cm x 20,6 cm, em razoavel estado de conservação. Esta carta saiu do punho de Harry Hinton e foi escrita a lápis. 577 João dos Reis Gomes. 578 Este sinal remete para outro igual existente após o fim da carta, no pé da página, que acrescenta nova informação: «* visto o novo decreto». Os dois sinais foram ligados por intermédio de uma seta que percorre a margem esquerda do retro da folha. 579 Fabrica de destilação de alcool, denominada Companhia Nova, da firma José Julio de Lemos, Sucessores. 580 João dos Reis Gomes.

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[DATA: 12 de Outubro de 1927 REMETENTE: Harry Hinton] [1] Olympic Palace Hotel. Carlsbad – 12 Outubro 1927 Meu caro Ferraz, Espero que o assucar chegou bem e que a estas horas já esteja refinado. Parece que aqui estou no fim do mundo pois já é Quarta feira a noite e ainda não recebi a minha mala de lá, pois leva 3 dias de Londres até aqui. É de suppor que o decreto não seja revogado e por isso temos de pensar muito na colheita proxima. Está claro que a Fabrica Lemos582 vae moer para assucar e seria bom verificar se aquelle cano está em bom estado. E espero que você já combinou com o Marsden o que tem a fazer com o triple effet. A minha opinião é mais uma caixa como você propuz primeiramente. Francamente tenho medo do Kestner. Não podemos parar todas as semanas senão a colheita ira até Agosto que levantará um guerra [sic] infernal contra o decreto. Tambem acho que devemos epuissé o melaço nos malaxeurs como faziamos antes e sendo assim temos de montar uns filtros presses no logar d’aquelles que mandamos para o Cassequel. Talvez 2 serão sufficientes. Teremos tambem de concertar a torre d’agua e hoje mesmo vou escrever ao Marsden sobre // [2] este assumpto. Não podemos pensar em despezas e Deus me livre se os nossos inimigos possam dizer mais adeante que elles tinham razão. Peço que leia a carta inclusa e 583 fallar com o Reis Gomes. Estou desejando muito receber a minha mala d’ahi, mas com certeza só a terei depois d’amanhã. Seu amigo.[Ass:] Harry Hinton 581

[DATA: 17 de Novembro de 1928 DESTINATÁRIO: Harry Hinton] 584 [1] Copia Cassequel 17/11/928 Ex. Senhor Hinton É bastante aborrecido que lhe escrevo esta carta para lhe dizer que tivemos que parar com a Fabrica Nova duas vezes; uma no dia 8 e agora no dia 15. Da primeira vez apenas podemos moêr 3 ? dias, da segunda vêz nem sequer um dia! Todas estas paragens forão devidas aos engenhos, porque o resto da Fabrica trabalhava muito bem se tivessemos sempre garapa. Calcule que nos 3 ? dias apenas podemos moer 560 toneladas cana!! Quando ahi chegar lhe explicarei tudo melhor. D’esta ultima vêz o caso foi pêor, porque a rasão da paragem foi devido ás Chumaceiras do cylindro inferior de sahia[sic] <do 4º moinho> terem sahido do seu logar (?!). É uma Patente que elles podem mandár ao diabo de presente. Para poder arranjar estas chumaceiras, isto é, 16 <(nos 4 engenhos)>, leva pelo menos 6 dias, e assim sô podemos recomeçar a 24. O Senhor Costa585 está bastante aborrecido, e com razão, porque os prejuizos devem ser grandes. A fabrica Velha durante estas paragens foi posta em marcha já duas vezes, e felizmente que tinha bastante bagaço. // [1v] O pessoal já está habituado a todo o processo da sulfitação, alcalinisação etc, filtração nos Filtros-Presses etc. etc., de forma que sô falta que os engenhos fassão o trabalho regular. Da primeira vêz ainda se poude fazer 3 cosimentos de 1er jet, mas d’esta segunda vêz tivemos que enviar todo o jus filtrado nos Filtros-Presses á fabrica Velha, assim como a garapa defecada que restava nos rechauffeurs. Não pode calcular os aborrecimentos que tenho tido com tudo isto, e mais por vêr que se não fosse os engenhos da cana, tudo estava a correr bem. Temos ainda a turbinas [sic] da Melasse Cuite (centrifugas) que não estavão bem montadas ou então não é obra muito fina. Mas para esta parte o Lemos (serralheiro) diz que vai afinal’as e que devem ficar boas; Deus queira! Quando ahi chegar, como tenho todas as notas tomadas e são muitas e complicadas, lhe farei a explicação de tudo. Crea-me seu Attencioso Amigo. [Ass:] João Higino Ferraz mo

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2 folhas, papel, 25,8 cm x 20,6, cm razoavel estado de conservação. Esta carta saiu do punho de Harry Hinton e foi escrita a lápis. Fabrica de destilação de alcool, denominada Companhia Nova, da firma José Julio de Lemos, Sucessores. Depois dos vocábulos «carta inclusa e» temos, rasuradas, as seguintes palavras: «depois de a ler queira rasgal-a.». 1 folha avulsa, papel, 27 cm x 20,5 cm, em razoavel estado de conservação. Esta é, como constata o leitor, a cópia de uma carta enviada a Harry Hinton. António Costa.

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[DATA: 19 de Julho de 1912?, 1922? DESTINATÁRIO: ?; LOCAL: Cais de Javel, Paris, França] [1]le 19 Juillet 2 Monsieur le Directeur des Usines Citroën, Quai de Javel.Paris Monsieur, Dans le journal le “Exportateur Français” du 26 dernier j’ai pu voir une photo représentant une automobile á chenille de votre marque, la photo représentait la descente par la dite auto á chenille l’escalier du monument des Cirondins á Bordeaux. Comme l’île de Madére est trés accidentée et les moyens de transport faisant defaut, dans beaucoup d’entroits, pour cette cause je viens par la presente vous demander de bien vouloir m’accorder, si possible, la répresentation de votre marque ici á Madére, surtout pour l’auto á chenille. Vous serez bien aimable de bien vouloir m’envoyer les catalogues de vos voitures et vos conditions de représentation de votre marque pour Madére Si vous jugez m’accorder votre confiance je peux vous dire que je suis directeur technique de la sucrerie et distillerie de Messieurs William Hinton et Sons á Funchal, Ile de Madére // [2] En attendant le plaisir de vous lire, recevez, je vous prie, mes plus sincéres salutations empressées. P.S. Priére de vous adresser á, João Higino Ferraz Chez Messieurs William Hinton et Sons Funchal, Ile de Madére. 586

[DATA: 1 de Agosto de 1922? DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre] le 1.er Août

2 Mon cher et vieil ami Lefebvre. J’ai bien reçu vos lettres qui m’ont fait plaisir, ainssi que les colis postal de dragées que vous avez bien voulu nous offrir a l’occasion du petit Georges Bisson. Madame Ferraz, ma famille et moi nous vous en remercions de tout coeur, et nous formons des voeux pour la prosperité du petit Georges. Remettez également de notre part nos meilleurs remerciments a Monsieur et Madame Bisson. J’ai bien reçu également les deux devis qui vous m’avez envoyé. Je vois que c’est le devis Belge qui convient le mieux por le genre de travail que je desire faire. Cette maison, d’ailleurs, me parait connaître bien son affaire pour ces genres de constructions. Je doit vous dire également que lorsque j’aurait réunit et étudié ces documents, je ne pourrait en faire la commande que l’année prochaine. Sous peu je commence les travaux de ma cave, afin d’y placer le plûtot possible le matériel que je possede déjá á Santo da Serra et qui provient de ma cidrerie – presse, broyeur etc. Sitôt les travaux de massonerie treminés, je pourrai vous faire la commande du matériel qui me sera necéssaire pour ma vinerie. En attendant le plaisir de vous lire, recevez, mon cher Lefebvre, de votre vieil ami ses meilleurs amitiees. 587

[DATA: 4 de Outubro de 1922? DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre?] [1] le 4 Octobre 2 Mon cher ami, J’ai bien reçu votre aimable lettre du 10 de l’écoulé, ce que je vous en remercie bien. Refrigérant: – Sitôt que j’ai reçu votre télégramme je l’ai transmit au fabricant de eau-de-vie, mais malheureusement, dû á la hasse enorme du change (francs á 2$00!), son coût – 4.500 francs – représente en monnaie portugaise 9.000 Escudos (soit au 588

586 2 folhas avulsas, papel, 26,5 cm x 21,7 cm, segunda folha numerada, bom estado de conservação. Esta carta (ou melhor: cópia de carta) é dactilografada, salvo alguns sinais manuscritos (aspas, 1 vírgula, etc.). Desconhecemos o nome do destinatário e, visto que o ano está representado apenas pelo algarismo 2, não estamos certos da data completa. 587 1 folha, papel, 26,5 cm x 21,6 cm, bom estado de conservação. Esta cópia de carta é dactilografada. O ano, na data, pela forma como foi inscrito, apresentase incerto; achamos, de qualquer forma, que não se reporta a 1902, pois a correspondência exarada nos Copiadores de Cartas mostra que só mais tarde Higino Ferraz travou conhecimento com Georges Lefebvre. Podemos apontar para 1922, a título de fraca suposição, já que é por volta estes anos que a epistolografia remetida por João Higino Ferraz a Lefebvre, e exarada nos Copiadores de Cartas, é mais abundante. 588 2 folhas avulsas dactilografadas, papel, 26,6 cm x 21,7 cm, bom estado de conservação. As folhas estão numeradas na margem superior. Esta é cópia de uma carta remetida por Higino Ferraz; desconhecemos o ano de que é esta carta e o seu destinatário. Conjecturamos que seja de 1922, e que teria como destinatário Georges Lefebvre. Tal conjectura baseia-se na informação aqui presente e na ocorrência de contactos epistolares constantes entre João Higino Ferraz e Lefebvre durante o início da 3ª década do século XX.

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pair 45.000 francs!). Sur ce le fabricant en question n’a pas décidé l’acquisition de l’appareil, et cést resolu a attendre une meilleure chance dans la situation de change. Charbon Décolorant: – J’ai reçu les échantillons et celle qui nous convient c’est límpalpable No. 6, et Marliére589 aurait dû vous avoir renseigné sur ce sujet, como je lui ai bien prévenu. Les autres sorts servent á peine pour des filtres spéciaux. Malaxeurs: – Nous avons envoyé votre lettre á Monsieur Hinton590 qui vous repondra d’Angleterre ou il se trouve en ce moment. Kieselghur: – En ce qui concerne cette affaire je suis a vous dire que c’était Monsieur Hinton qui vous a fait la demandé d’échantillon // [2] car je me suis plaint de la mauvaise qualité di derniérement commandé d’Espagne, mais comme á la prochaine campagne nous allons employer un nouveau procédé de fabrication mettant de côté le Kieselghur aussi bien que le Phosphate bi-calcique, ce produit-lá ne sera donc pas employé dans nôtre campagne de 1923. Frigorifique: – Je vous remercie bien toutes les indications que vous m’avez fourni sur ces appareils, lesquells sont déjá bien suffisantes pour me renseigner. La situation actuelle au Portugal, la grande hausse du change et l’incertitude dans l’avenir me font bien troubler. Bien des compliments a votre petite famille et croyez, je vous prie, mon cher ami, a toute ma meilleure amitié. [DATA: 30 de Julho de ? DESTINATÁRIO: Georges Lefebvre; LOCAL: Rua do Midi, 32, Taverny, França] 591 [1] le 30 juillet […] Monsieur Georges Lefebvre 32, rue du Midi Taverny (S. et O.), FRANCE Mon cher ami G. Lefebvre, J’ai bien reçu votre poste carte et vous en remercie j’espére bien que les bons airs de <la> mer vous fortifient votre santé aussi bien que celle de votre famille. Désirant encore cette année fabriquer un peu de vin de la prochaine récolte, je désirais bien obtenir les suivants produits. Bio-sulfite “Gimel” – de l’institut Jacquemin de Malzéville, adresser á Messieurs Burmann et Cie., institut La Claire, á Morteau (Doubs), 20 litres. Dans les cas ou vous ne pourrez obtenir le Bio-sulfite en envoyez s. v. p. 10 kilogrammes de Métabisulfite de Potasse en crystaux. Acide Tartrique (produit oenologique) 6 kilogrammes Phosphate de ammoniaque 2 kilogrammes Tannin Oenologique 2 1/2 kilogrammes Vers le prochain mois d’Octobre j’aurai besoin d’un // [2] kilo de levure pur, de l’institut La Claire type ChampagneVerzenay, mais j’écrirai d’abord á G. Jacquemin (Institut) afin qui’il puisse m’indiquer le moyen le plus facile d’expédition, pour que la levure puisse arriver ici en bon état de conservation, et je ferai le réveillement au Laboratoire. Veuillez considerer comme affaire entendu entre nous que sur toutes les commandes que je vous adresserai vous chargerez votre comission, sous les mêmes conditions de la maison Hinton. Sauf autres instructions toutes les commandes á faire seront en mon nom personnel, facture adressée á la maison Hinton, qui vous confirmera ma commande par prochain courrier. N’oubliez pas l’origine Belge, car les droits de douane sur les merchandises françaises sont trés hauts. Je vous prie livraison de suite. Bien des compliments á toute votre famille et veuillez agréer mes plus distinguées salutations et une forte poignée de mains. [DATA: ? DESTINATÁRIO: ?] 592 [...] capacidade muito menor [?] que Torreão e Companhia Nova. A Companhia Nova então é por demais. Tanto Torreão como São Filippe, tem cada uma um retificador, que nas declarações dizem que é unicamente para a 589 Joseph Marliere. 590 Harry Hinton. 591 2 folhas, papel, 27,8 x 21,7, segunda folha numerada, em bom estado de conservação. Esta carta, ou melhor, cópia de carta, é dactilografada, à excepção de uma palavra manuscrita, que foi interlinhada. Não pudémos apurar o ano em que foi escrita, apenas o dia e mês são plenamente visíveis. 592 1 folha, papel, 27 cm x 21 cm, em muito mau estado de conservação. Estamos na presença de fragmento de uma cópia de uma carta. Não conseguimos deslindar, desta forma, a sua data ou destinatário. Mesmo assim, tendo em conta o tom algo informal («deves», »podes»), podemos, pelo menos, aventar que o seu destinatário não seria Harry Hinton, receptor habitual ou maioritário da correspondência de João Higino Ferraz.

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reteficação do alcool produzido nas columnas de destillação, e esses, n’esse caso, não entram para o rateio. Acho isto de grande importancia, no caso de elles, ou mesmo sómente a Companhia Nova, conseguirem o rateio pelas capacidades de distillação, sejam elas feitas da forma que forém. Fica pois bem intendido. No cado[sic] de H.F.593 requerer a montagem de uma nova columna, nós faremos o mesmo, e assim desejava ser prevenido a tempo para me por em condições da nova montagem. Mesmo que elle H.F. não tenha feito ainda o requerimento, pode fazel’o mais tarde, e é bom estar de prevenção. Se houver alguma cousa, deves telegrafar. Pelas capacidades sómente das columnas de destillação, calculo feito segundo a sua maneira de vêr errada, como podes verificar pelas licenças, daria o rateio o seguinte resultado actualmente: Torreão Comp. Nova São Filippe Capacidade destillação = 3199 litros – 2484 litros – 1175 litros 46,64% – 36,22% – 17,14[?]% Sendo assim, e continuando a Companhia Nova em nosso poder, ficaria H.F. […], e é isso que eu creio elle não deixará, e d’ahi vem o meu receio[?] da montagem de uma nova columna de distillação, porque o seu[?] retificador é para 2500 litros alcool em 24 horas.

593 Henrique Figueira da Silva.

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ÍNDICE ANALÍTICO DE EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS

Alambiques, 59, 73, 83, 84, 90, 96, 198, 274, 276, 315; Alemão, 82; continuos, 65 Alcalinisadores, 342 Alcoometros, 397; Alcoometres Gay-Lussac, 305 Apparelhos, 55, 56, 57, 68, 69, 73, 75, 119, 134, 136, 142, 143, 147, 148, 155, 161, 163, 164, 180, 181, 191, 193, 194, 198, 199, 200, 201, 203, 208, 210, 239, 280, 284, 290, 298, 320, 321, 350, 354, 363, 369, 385, 387; antigos, 68; Barbet, 71, 180, 184, 376, 377, 378; Barbet para a produção do alcool desidratado pelo processo “Des Destilleries de Deux Sevres (P. D. S.), 378; completo triple effet, 69; para a produção de um desinfectante para substituir o Furmol, 378; de extração de faulhas do bagaço, 392; de cozer o milho, 286; de cultura no laboratorio, 93; de destillação, 87, 99, 182, 183, 198, 215, 270, 274, 276, 279, 359; de destillação Barbet, 376; de destillação continua, 110; de destillação continua typo Paulmann em duas columnas, 211; de destillação e produção de alcool absoluto pelo processo “Des Deux Sevres”, 375; de destillação portatil, de Egrôt, 237, 377; de destillação-retificação da Comp.ª Nova, 202; de diffusão, 64, 66; de evaporação, 211, 407; de evaporação triple-effet, 120, 121, 127, 188; de ferro fundido, 342; de laboratorio, 75, 81; de lavoura, 284; de Moer Cal, 227; de retificação, 282; de sulfitação continuo de “Quarez”, 138; Kestner á descendage, 238; para produzir um desinfectante novo para substituir o Formol, 378; para ether sulfurico, 354; continuos, 87; da destillaria, 184; de laboratorio, 75, 81; do Manoury (filtros mechanicos), 67; de material de laboratorio, 282; de mestura, 384; de São Lazaro, 180; de vidro, 201; necessarios para a produção do assucar areado, 240-241; de saccharificação do milho, 232; para o fabrico do açucar, 216; Egrot, 377, de produção de alcool obsoluto, 377 Appareils, 140, 162, 165, 166, 167, 168, 169, 211, 216, 229, 244, 256; á levure pure de Barbet, 185; a serrage mechanique “Airvapor”, 168; Barbet, 184, 208, 209, 212, 215; de destillation, 221; de Monsieur Grangér, 215; de peptonisação, 207; de rectification continu, 397; de retification continue Nº 5, 184; de serrage mécanique “Air-Vapor”, 168; ebuliometre Lalleron, 305; en cuivre avec un vide maximum et une evaporation trés rapide, 215; evaporateur, 216; Zammaron, 401, 402; de dessulfitation et evaporation de Barbet ou Granger, 215; et verrerie pour la destillerie – appareils Barbet, 184; intermittents y compris celui de Savalle, 397; Prache & Buillon, 216; decanteur-laveur, 184 Baerlein, 134, 135 Balanças, 190, 195, 199, 314; das canas, 315 Ballão, 147, 326, 337, 354; entre o tubo geral do vacuo e a bomba, 326; Central, 147, 290; central (relantisseur), 162; de vacuo, 336; do ar comprimido, 354; pequeno á sahida do Kestner, 142; receptor dos vapores dos cuites e triple, 143 Ballon, 156, 157; central, 156 Barbet da Comp.ª Nova, 180 Baterias, 120, 135, 155; conjugadas diffusão, 155; de 12 diffusores, 154; de deffusão, 135, 137, 138, 139, 143, 149, 175, 188, 189, 190; de filtros mechanicos ou á tissu ou de area, 162; de filtros-presses com levagem para a filtração total do jus defecado, 161; de defecadores, decantadores, eliminadores, 161; de defecadores, eliminadores, filtros presses etc., 102 Batteries, 140, 142, 400, 401; de diffusion, 141; de diffusion du procédé Naudet, 403 Bombas; “Worthington”, 70; centrifugas, 79, 80, 96, 104, 280, 281, 286, 291, 299; centrifuga por bombas conjugadas para alta

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perção, 291; centrifuga Sechabaver Nº 3, 161; d’agua das centrifugas, 188; d’ár, 69, 342; d’ar comprimido, 303; de aguas amoniacaes, 135; de alimentação, 121, 326; de alta pressão, 342; de circulação, 104, 121, 335; duplas, 345; de meior força para o sulfitador Quarez, 164; de perção hydraulica, 162; de vaco, 92; de vacuo, 76; de vacu da caldeira Ingleza, 71; de vacu para a caldeira ingleza, 73; de vacuo seca, 162; do senhor Krohn, 58; do triple, 147; dos petits eaux, 155; dupla, 286, 291, 298, 303; duplex, 72; eletrica, 180; grande Dehne, 344-345; ou compressor d’ar Weston, 71; para os filtros presses, 298; centrifugas, 94, 135, 143, 155, 335, 389; centrifugas “Schabaver”, 143; centrifugas movidas a elletricidade, 163; de alimentação das caldeiras, 326 Brasserie, 243, 244, 245 Broyeur, 167, 409; de Masse Cuite, 229; de Pommes, 168; de sucre mechanique, 254; Nº PEV 14, 167 Cacimba, 326, 336, 345 Cadres, 140, 142 Caisse, 165, 171, 209, 215, 248, 317 Caixas, 130, 131, 210, 321, 393, 394; de ferro (que pode ser feita no Torreão) contendo no interior uma cerpentina de cobre, 382; do triple, 120, 121, 135, 142, 147, 317; geradora de gelo ou congelação de salmoura com pequena bomba centrifuga, 280; geradora de gelo ou refrigeração do saumeur ou brine com pequena bomba centrifuga, 280; tubular para a modificação do Triple, 313; do duble effet, 159; do Quadruple, 292, 325, 363, 376, 380; do triple, 120, 121, 135, 142, 147, 151, 154, 155, 234, 307, 311, 313, 317, 408 Caldeiras, 72, 87, 97, 136, 180, 198, 283, 292, 303, 308, 325, 326, 373; de vacuo, 69, 73, 94, 111, 134, 143, 149, 152, 153, 155, 210, 211, 212, 343, 350, 373, 387, 389; de vacuo com mexidor, 120; de vacuo Freitag grande, 322; de vacuo pequena, 139; de vacuo de 100 Hectolitros, 234; de vapor, 69, 93, 161, 180, 208, 314, 325, 326, 342, 359, 407; de vapor de 50 cavallos, 200; de vapor franceza, 73; franceza, 75, 98, 114, 122, 322; grandes, 326, 344, 347; ingleza, 71, 73, 92, 113; pequenas, 162, 322; das locomotivas, 87; sulfitadoras intermitentes de 35 Hectolitros, 161 Canalisações de vapor exausto e jus, 303 Candieiro “Denayrouse”, 66 Cano de forma que todas as aguas da Fabrica quentes ou frias vão ao cano do vinhão, 148 Centrifugas, 67, 69, 71, 72, 73, 75, 76, 77, 113, 155, 163, 188, 211, 257, 292, 296, 297, 299, 314, 326, 335, 342, 344, 350, 376; Watson, 154, 162; Weston, 72, 74 Cerpentinas / Serpentinas, 257, 292, 296, 299, 314, 326, 335; de vapor da Caldeira Franceza, 114; da caldeira, 114; de vapor, 98; de vapor das caldeiras de vacuo, 111, 210; que temos são as bixas antigas dos clarificadores (2) de 4”, 273 Chauleurs de 20 Hectolitros cada um com movimento mexidor, 161 Chumaceiras dos engenhos, 325, 326, 408 Chupa-sangue, 58 Cylindros, 67, 70, 79, 161, 319, 326, 336, 345, 408 Clarificadores, 234, 273, 291 Colonnes, 141, 167, 168; barometrique, 140, 141, 156; barometrique centrale, 243 Columnas, 75, 87, 136, 180, 211, 227, 231, 276, 278, 279, 319, 323, 377, 381, 411; de destillação; 180, 276, 315, 411; de destillação – columna do apparelho Barbet antigo, 180; de retificação, 87, 92; do Melaxeur, 92; separada, 270; barometrica, 96, 162 Columnes, 184; inclinée á circulation libre “inobstruable”, 106; barometrique, 253; de retification, 184, de destillationretification directe continue Nº 3, 184 Compensador, 143; compensateur, 141; fechado, 137 Compresseur, 168; rotatif, 157 Compressor, 281; a ammoniaco, 279, 280 Concentrador, 200 Condensador, 84, 147, 252, 253, 271, 281, 319, 336, 363, 375, 386; condenseur, 140, 156, 251, 397; automatico, 336, 337; barometrico, 143, 290, 380; central com ballão tambem central, 290; Condenseur-radiateur, 156, 157 Conductor, 76; de cannas, 161 Corta cannas, 55, 76, 210, 211 Courroie ou dynamo, 157 Cozedor e saccharificador (do Milho), 282 Cubas, 60, 61, 149, 200, 239, 240, 270, 271, 273, 275, 277, 281, 298, 319, 320, 321, 329, 356, 382; de cimento, 286, 383; de fermentação, 200, 239, 274, 298, 373; pequenas de ferro dos apparelhos dos fermentos, 320 Cuites, 140, 143, 147, 149, 154, 155, 156, 162, 195, 211, 292, 322, 326, 335, 341, 344, 347, 389; Freitag, 133; Freitag grande, 322; grandes, 347; melaxeur fechado, 389; pequeno (100 Hectolitros), 155

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Cuves, 167, 185; de fermentation, 168, 243; en ciment, 168; mères, 208, 209 Cuvres, 249 Cylindros, 67, 70, 326, 408; do engenho, 79, 161, 345; retos, 319; do vacuo, 336 Defecadores, 69, 102, 161, 303, 335; defécateurs, 403, 404 Decantadores, 161, 164, 165, 309, 318, 349, 354; décanteurs, 403 Diffusão Hinton-Naudet, 120, 163, 335, 355; Naudet e carbonatação continua, 143 Defibrador, 105; defibreur, 105, 161; Krajewski, 161 Défibreuse, 401 Deposito do xarope dos cuites, 147; de medida da garapa, 104 Desintegrador, 227 Dessulfitador, 200, 207, 215; désulfiteur, 243 Destillaria, 118, 134, 182, 184, 201, 211, 338, 373; Hornung, 239 Destillador, 58, 63, 147, 159, 181, 201, 276, 278, 293, 298, 319, 372, 378; de Almeirin, 198; Paulmann, 159 Diffusão, 55, 58, 60, 64, 66, 75, 79, 87, 102, 120, 121, 127, 133, 134, 135, 136, 137, 138, 139, 143, 154, 155, 164, 175, 186, 188, 189, 190, 373; do bagaço, 87, 100, 102, 120, 163, 180, 187, 355; do bagaço – processo Hinton-Naudet, 120, 163, 347, 355; directa da cana, 163 Diffusores, 55, 59, 79, 80, 81, 102, 104, 136, 139, 154, 176, 179, 190, 195, 321, 327, 379; diffuseurs, 141, 402 Dinamo, 163 Distillerie, 61, 119, 400, 401, 403, 409 Duble effet; 159, 168, 216, 350 Ébuillanteur, 162 Ebulidores de jus, 318 Eixos antigos dos engenhos, 231 Eliminadores, 102, 161, 162, 318 Elevadores; do assucar, 76; hydraulico, 227; do bagaço, 392, 393; do mato, 68 Engenhos, 67, 76, 79, 135, 149, 180, 190, 192, 211, 231, 283, 289, 303, 308, 325, 326, 335, 338, 343, 345, 373, 408; a vapor, 69; de espremer, 68, 80, 121; com defibreur e 4 moendas, 289; da cana, 326, 408; para moer a canna; 303 Entradas de vapor, 74, 75 Entretien “d’Air vapor”, 170 Épurateur, 397 Esquentadores, 104, 192, 319, 326, 342 Evaporadores; 142, 147, 160, 162, 207, 211; evaporateurs, 209, 215, 216, 243; Quadruple-effet, 371; -concentrador, 207 Fabricas; de destillação, 88, 193, 197; do Bensaude [Açores, São Miguel], 357; Nova [Cassequel], 317, 324, 328, 336, 346, 348, 349, 352, 408; para 600 toneladas canna, 286; de refinação; Velha [Cassequel], 317, 324, 325, 326, 328, 339, 341, 344, 345, 346, 348, 349, 352, 408 Filtros [filtres]; Laboratoire, 248; Malliè, 166; Rambert, 162, 243; à cadres, 142; cylindriques, 140, 142; Mechaniques, 403; “Gasquet”, 280; do Cossart, 139; Taylor, 211; Filippe, 136, 142, 162, 176, 178, 179, 314, 319, 323, 350; “Seitz”, 210; a sable, 139; de area, 138, 139, 162; de area systema Reinecken, 139, 150; de carvão, 388; de carvão animal, 338; de ferro especiaes, 383; Dehne, 344; fechados em série, 387; mechanicos, 67, 68, 76, 96, 112, 122, 139, 162, 164, 200, 314, 318, 349, 351, 380; mechanicos do xarope, 314; mecânicos (Manoury), 67; pequeno com tecido, 158; -presse pequeno de Laboratorio, 242; pequenos de 14 poches filtrantes, 151; -presses, 68, 75, 80, 96, 102, 112, 156, 158, 161, 162, 176, 180, 182, 187, 188, 189, 190, 201, 202, 207, 211, 213, 229, 236, 237, 240, 247, 286, 289, 291, 298, 303, 307, 311, 312, 313, 314, 316, 317, 322, 323, 324, 325, 327, 330, 335, 338, 343, 344, 345, 346, 347, 348, 349, 350, 354, 355, 364, 370, 373, 374, 376, 379, 380, 381, 384, 387, 390, 391, 403, 407, 408; Reinecken de area, 150; Reinecken, 139; Suchar, 391; -presse pequeno de Laboratorio, 242; -prensas, 200, 234; -presses da garapa, 241, 355, 391; -presses de Melasse Cuite, 241, 307, 310, 312, 336, 376, 379, 380; -Presses Dhen, 303, 307 Fornos, 325, 326, 345, 383, 386, 388; “Huillard”, 137; “Porion”, 159, 160; da cal, 231, 233, 384; de revivificação, 383, 385, 386, 387; de SO2, 161, 303, 373; Kher, 227, 228; pequeno, 354; alemães, 342; antigos, 342 Fouloir-Egrappoir, 169 Freitag, 22, 133, 155, 322; Grande, 238, 240, 322; pequena, 322 Gerador de vapor, 207; generateur à vapeur, 244 Ginal, 237, 238, 239, 240, 249 Gruettes eletricas da canna, 231 Injector, 164

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Jeu de claies dubles et toiles pour Presse, 168 Joint dans le fond du vac, 142 Juntas hydraulicas, 179, 327; para os diffusores, 327 Kestner, 142, 143, 151, 154, 155, 216, 221, 238, 307, 386, 408; como preevaporador, 154 Lavador, 388; mechanico, 383 Laveur de Pommes, 167, 168 Machinas, 55, 67, 68, 161, 280, 284, 342; de vapor, 72; frigorifica, 252, 279, 280 Manometro, 342 Meineker, 338 Malaxeurs, 92, 94, 95, 96, 97, 98, 99, 100, 103, 104, 105, 109, 111, 112, 113, 118, 124, 126, 134, 138, 139, 143, 149, 150, 153, 156, 163, 195, 211, 253, 254, 256, 292, 296, 315, 330, 335, 342, 343, 344, 376, 384, 389, 392, 408, 410; das duas centrifugas, 376; transportador, 162; refrigerantes, 152; -refroidisseurs, 111, 162, 292; redondo, 139, 162; de 100 Hectolitros, 139, 322; Denis, 207, 209; especial, 347; orisontal fechado, 143; pequenos, 292, pequeno para a diluição do tourtou com o jus, 164; no vacuo, 121, 122, 127, 139, 143, 322; pequeno para a diluição do tourteau de Melasse Cuite com jus da fabrica, 164; de Melasse Cuite, 162, 227, 253, 376, 389; continuos de 2º jet, 162; de 2º jet, 176; fechados, 126; abertos, 95, 126, 154, 162; ouverts, 75 Mexidores, 118, 120, 164, 291, 373; mechanico, 291; -areador, 238; -de-refonte, 292, 294; de baryte, 175 Moinhos, 83, 94, 96, 97, 98, 101, 102, 119, 147, 161, 176, 211, 227, 269, 292, 323, 335, 346, 408; de 3 roulos (moderno), 211; de 4 roulos (?) systema antigo, 211; de trez cylindros, 161; para moêr a cal, 225; para o bagaço exausto da diffusão, 154; de 3 cylindros cada um, 161; de 48”, 211; de canna, 42, 154, 163; seguidos para a imbibição entre os moinhos, 234; a vapor, 405 Moteurs, 167, 168; “Autonome”, 170; “Autonomic” Nº C4 complete, 167; “L’Autonomo”, 168; moteur à gas-pauvre, 251 Motores, 72, 162, 252, 281; a Gaz pobre, 136; das bombas, 143; de 150 cavallos, 143; elletricos, 143, 163; a vapor, 72; a agua, 162 Moulins, 401, 402, 404, 406; de repression, 135, 400, 155 Moussogène, 165 Natilateur à haute pression genre Sautter Harlé, 157 Pano de Filtros-Presses de S.ta Iria, 374 Panos para os filtros presses, 152, 176, 179, 182, 241, 311, 314, 323, 327, 348, 364, 391 Pasteurisateur, 280 Peneiro, 383 Pistons da agua, 70 Poches filtrantes, 75, 151 Poços, 73, 74, 78, 79, 84, 94, 97, 106, 113, 118, 125, 127, 136, 147, 210, 263, 271, 314, 315, 323, 389; da serragem, 149; em cimento armado, 200, 282, 286, 389 Pompes, 141, 142, 156, 157, 401; à masse cuite, 157; à Melasse Cuite, 157; à piston, 168; á vide, 243; en cuivre, 167; Guillebeaud type G n.º 0, 402; petite à air comprimee, 244; sèche, 140 Poulés, 76; machina franceza, 76; machina ingleza, 76 Pratos (fundos) dos engenhos, 192 Presse à travail, 168 Pressoirs, 162, 167, 169, 170; à pommes, 167; á vin, 169 Provettas (violetas) dos retificadores, 182 Quarez, 164, 165, 211; continuo, 161 Quadruple-effet, 234, 284, 292, 303, 310, 325, 335, 336, 337, 342, 345, 346, 358, 363, 371, 373, 376, 377, 378, 379, 380, 383, 384, 386, 388 Ralos dos tanques da garapa, 335 Râpe Pellet, 75 Rechauffeurs, 135, 140, 142, 161, 162, 286, 291, 292, 299, 317, 335, 404, 408; da diffusão, 75, 154; para o Kestner, 142; da garapa (defecadores), 335; de 30 metros quadrados de surface de chauffe de 8 circulações, 161; tubulaires, 404; defecadores, 291, 292, 325 Rectificateur, 397 Redomas em vidro, 182, 184 Refinarias, 84, 233, 238, 261, 309, 326, 339, 341, 342, 344, 346, 347, 349, 353; Mechanicas, 295; d’açucar, 203, 309, 352; de Santa Iria, 309, 349, 351, 352, 375

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Refrigerantes, 180, 207, 253; réfrigérants, 140, 141, 209, 253, 397, 409; Guillebeaud, 207, 209, 402; tubulaire de la columne de retification, 184; novo de Guillebeaud, 286 Regulador, 142 Repassador, 371 Reservatorios, 148, 177 Retificadores, 63, 182, 210, 211, 270, 312, 319, 366, 378, 410, 411; Barbet, 381; continuo, 397 Saccarimetro, 388 Saccharificador de cobre, 286 Saccharimetro Galloi, 353 Saccharometre, 330 Sacos dos filtros, 99, 152, 179, 241, 374 Seccador de assucar, 326, 342, 343, 368, 369 Selenifuge, 136 Separador, 336 Serra, 73 Sou-batteries de 6 diffusores, 154 Soutiragem do jus, 139 Strainer, 291 Sulfitadores, 149, 164, 190, 192, 291, 303, 342, 347, 381; da garapa, 76, 139; Lacouteur, 164; Quarez, 149, 164; (medidores), 190; de ferro fundido, 347, 373; -alcalinisadores, 319 Sulfiteur, 404; -doseur, 382, 383 Systema; de diffusão, 87; da refinação, 210; de “Reglage de la baterie á Vitesse Uniforme”, 138; compreção do vapor do jus pelo processo Puache e Ruillon, 143; de filtração total do jus, 309; de polarimetro, 386; de tratamento das garapas e jus de diffusão, 384; Hinton-Naudet (modificado), 335, 347; marais para a extração das aguas do triple, 135; de M. Fernbach, 58; Tamis, 385; das turbinas, 152; fino da parte filtrante, 210 Tampo do cylindro do vacuo, 326, 336 Tanques, 57, 66, 74, 110, 124, 143, 146, 147, 149, 150, 153, 242, 263, 273, 291, 315, 326, 335, 370, 377, 384, 389, 392, 393; de agua, 80, 345; de dois compartimentos onde será alcanilisada, 149; de reserva, 336; grandes, 110, 121, 122, 144, 153, 176, 177, 178, 183, 195, 201, 203, 214, 232, 245, 264, 273, 279, 282, 283, 291, 295, 296, 297, 313, 316, 327, 329, 356, 366, 367, 368, 388, 392; para agua com aquecimento com uma cerpentina, 345; pequeno por baixo do elevador do bagaço, 392; da aguardente, 232, 356; da destillaria, 279, 356; da sulfitação do xarope, 354; de alcalinisação, 135; de alcool, 119, 143, 366, 391, 392; de cimento, 323; de ferro, 92, 100, 106, 144, 323, 342, 389; de sulfitação, 291, 342, 382; do xarope, 388; dos egouts, 149, 150, 151; para melaço, 164, 371, 385, 388, 391; quadrados, 306; redondos, 319 Tecido filtrante, 158, 202, 211, 350 Tenda, 73, 389 Tenden completo dos engenhos, 303; de 4 engenhos, 303 Thermometros, 182, 184, 187; thermometres, 81, 184, 185, 212, 295, 305 Torneiras, 64, 74, 164, 195, 210, 241, 291, 325, 335; que fecha o vacu da Caldeira Franceza, 75; de comonicação entre cubas, 298; de ferro fundido, 65; de gaveta de latão, 210; -valvulas, 137; de vapor, 74 Torre; d’agua, 408; do Aermotor, 57 Touloir et pressoir, 170 Triple-effet, 69, 70, 71, 73, 74, 75, 94, 102, 121, 127, 133, 134, 135, 139, 140, 142, 143, 147, 154, 155, 156, 162, 164, 175, 176, 188, 192, 195, 211, 234, 238, 292, 307, 311, 313, 317, 319, 323, 335, 355, 371, 403, 408; antigo, 150; transformado em Quadruple, 310; com 320 ou 350 metros quadrados de superfice de evaporação, 162 Trop-plein, 336 Tubos, 70, 75, 134, 164, 165, 207, 252, 269, 270, 271, 284, 326, 335, 336, 342, 345, 355, 376, 380, 383; central, 376de descarga da soda e acido do Triple, 195; geral do vapor, 73; para o ár comprimido, 354; de cobre, 67, 136; de garapa ou jus, 195; que conduzia a garapa da C.ª Nova para o Torreão, 310; geral do vacuo, 326; de vacuo, 336 Turbinas, 72, 76, 84, 103, 152, 163, 188, 202, 275, 330, 335, 342, 343, 344, 346, 347; de Gee, 233; Hignette, 256; (centrifugas), 77; (centrifugas) systema “Watson”, 162; da Melasse Cuite (centrifugas), 408; Watson com motor elletrico, 163; “Weston”, 77 Turbo-compresseur, 156 Tuyau d’espiration, 141

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Tuyauteries, 140, 141, 168, 251 Valvulas, 165; de segurança, 142; du croquis, 156; Dulac, 75; reguladora de sahida da garapa evaporada no Kestner, 142; reguladora de vapor directo, 142; ou robinettes à tiroir, 165; para a diffusão, 143 Violettas em latão, 184

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