o VINHO NA
HISTÓRIA E PA TRIMÓNIO
da cidade do Funchal
Funchal nos sécul os XV III e XIX e ra se m dúvida a cidade do vinho. Ele signifi cava quase tud o para os funchalens es e proj ectava um a nova rea lidade pautada pela plena afirm ação da vinha no es paço rural , das loj as de vinh o no rec into urbano, todos co ntribuindo para o se u embelezam ento. A riqu eza resultante d o vinh o fez com qu e a cidade ganhasse em m o num e ntalidad e e beleza. Os grandes propri etãrios de vinh as aform osea ram as casas de residéncia , d ando-lh es as imponentes torres e apostando no aconchego e riqueza dos aposentos. Os mercadores, nom eadam ente os ingl eses, transformaram as vivendas d e sobrado em lojas e escritórios d e convivio e as casas solarengas e quintas adaptaram-nas ao novo gosto e ex igências d e conforto. O turismo e o vinho estão indissociave lm ente ligados aos ingl eses . Foram eles os principais m entores, interv eni e ntes e usufrutuãrios. No vinho traçaram o m ercado colonial e. por isso m esmo de finiram a partir do século XVII , um processo d e vinificação adeq uado ao se u paladar e às co ntingê ncias da rota e destino. Para o turismo a presença é por d emais evid ente . Foram e les os prim eiros turistas na ilha e também os prin cipais promotores dos hotéis. d esde finais do sêculo XIX. O Reid 's hote l é o se u embl ema dourado. O cosmopolitismo britãni co era um fa cto que coroava todo
um processo histórico de forte impacto desta com unidade. Algumas das páginas mais significativas da História da ilha escreveram-se pelas suas mãos e impulso. Note-se que os ingl eses foram os últimos (há quem diga que teriam sido os primeiros, baseando-se na fatidica aventura de Machim) a serem envolvidos pelo fascinio da ilha. Primeiro. foram os portugueses a desbravar as clareiras e a abrir os caminhos para a presença europeia_ Depois, surgiram os italianos, franceses e nam engos a fruir as suas riqu ezas_ E só mais tarde vieram os ingl eses, atraidos pelo aroma da céle bre malvasia. A sua fama , proclamada na obra de Shakespeare , foi o mote para a imposição ao paladar apurado da aristocracia britãnica, que se deliciava até ao afogamento nos tonéis cheios deste vinho. Na verdade, ela encantou a aristocracia e coroa inglesas, animando os serões dos súbditos de Sua Majestade, dentro e fora da grande ilha . A malvasia foi o mote para que o inglés viesse à descoberta das infindáveis qualidades terapéuticas da ilha . a raridade das suas espécies botãnicas e, por fim , o deleite das infindáve is belezas do interior da ilha, que passou a ser devassado a pé, a cavalo ou de rede. São inúmeros os testemunhos desta realidade, ca ptados na pena de alguns registos ou no traço de alguns
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eX imias aguarelistas e gravadores. Aqui os ingl eses tivera m o m érito d e desco brir duas inigualáve is marcas que d efin e m este rincão: o vinho e as be lezas paisagisticas. E, como tal, foram os seus prim eiros e principais fruidores. Durante muito te mpo a ilha foi para eles apenas sinónimo disso. De pois, co m a pl ena afirm ação da hegemonia britãnica no Atlãntico e Indico, a Made ira foi um pilar importante do vasto império: ela foi base imprescindíve l para o corso marítimo (a (orma usual d e re presália nos m ares) e porto obrigatório para o abastecimento dos porões das e mbarcações de malvasia , tão procurada nas ta be rnas londrinas como nas m esses das hostes britãnicas além-Atlãntico. Os sécu los XVIII e XIX foram momentos de ev ide nte aposta na va lorização da arqu itectura e arte madeirenses. Apagados os mom e ntos difíceis que se sucederam ã açue uforia careira dos séculos XV e XVI. de novo a ilha estava envolta num novo mome nto de fulgor económi co criado pelo vinho. A grande aposta na cultura da vinha e a valori zação do vinho no mercado consumidor colonial conduziram in ev itave lm e nte a uma desusada riqu eza que foi usada em benefício próprio por todos os interve ni en tes. Os grandes proprietários aformosearam as casas de residéncia . Os m ercadores, nom eadame nte os ingl eses, tran sformaram as modestas casas da cidade em lojas, no rés do chão, e escritórios e espaços de convívio, no sobrado. As casas solarengas e quintas adaptaram-nas ao seu gosto e exigências de co nforto. O espaço interior foi valorizado . A casa tornou-se no principal centro de co nvívio conJ
duzindo à transfo rm açào dos es paços inte riores co m as amplas sa las ou sa lões de músi ca, palcos de inúmeras festas e sara us dan ça ntes. Isabe ll a d e França e m meados do sécu lo XIX d escreve- nos um d estes bail es e m qu e participou na casa do cõnsu l inglês. É um entre muitos os teste munhos deste lu xo e ex uberància da soc iedad e oitoce nti sta, gerados pela riqu eza do v inh o. O espectácu lo é m a is ev idente no ce rimonial d e recepçào que no bail e propriamente dito. As fil e iras de ca rros d e bois e palanquins transportam as senhoras ve rgadas p e los su mptu osos vestidos. As tais "sa ias de ba lào" qu e deram tít ul o ao ro m ance de Ricardo Jardim qu e te m como pano de fundo o utro amb ie nte m do quotidiano da época. Os tectos das amp las sa las para os sa ra us dançantes o u para recepçào aos convivas são cobertos d e estuques profusamente trabalh ados e muitas vezes pintados. Em muitos dos edifícios da é poca sào ev id e ntes esta moda trazida pe los ingleses para a ilh a. As decorações a lu sivas às da Gréc ia e Pompeia c riadas por Robe rto e James Adam sào a principal ev idênc ia disso e ti ve ram na casa de cap itão Eusêb io Ge rardo d e Freitas Barreto, hoje sede da Marconi na ilh a a sua m a is perfeita exp ressào nos tectos do salão d E; música. A Made ira havia abraçado o universo britànico. Os artefactos ingleses invadiram o mercado madeirense e atribuiram os m e ios m ais adequados para a afirmação do conforto d iário. A isso juntou-se o gosto pe lo clássico. A tosca e utilitá ri a mobilia, muitas vezes feita de madeira que do Brasil transportava o açúcar para a ilha deu lugar a outra estili zada. As cade iras e sofás Ch ippendale e Hepplewhite deram o toque de classe e criou o ambiente para os sa raus dançantes ou ao c há das ci nco. Os muse us da Quinta das Cru zes e Frederico de Freitas são hoje os depositários de alguns dos ex emplares mais signifi cativos desta rea li dade que resistiram ao uso secular. 4
A Histó ri a d e muitos dos préd ios qu e se ani cham nas ru as vizinhas do ca brestante e da alfând ega sâo o alvo prefe rencia l dos me r cad o res estrange iros qu e chegam ao Fun chal, no decurso do século XVIII , atrai dos pe lo com é rcio do vinh o . Muitas das peque nas casas t é rreas fo ra m d e m o lid as para d ar luga r âs so bradas se rvid as de amplas caves para as pipas, so brad os de ha bitaçâ o e escritó ri os . Um a impo ne nte fac hada o rn ada de cantari as e ferragens, um a to rre avista-navios d ava o to m caracte risti co d a arquitectura do vinh o na ilha. As ac tu ais insta la çóes d o Tri b un al de Contas, â Rua d e Joâo Es m e ra ldo, surge m hoj e um espaço com uma relevante protagon ism o, que o fili a na prese nça de J oâo Esm eraldo na ru a de seu no m e. Sa bem os que este m ercad o r fl am e ngo fez ergu e r em fi nais do séc ulo XV d efronte do im po ne nte palâc io umas casas térreas para .Q seu serviço . Foi aqui q ue Eusé bio d a Silva Barreto fez constru ir o utras de sobrad o, o nde se instalo u após o casam e nto a 2 7 de Maio de 1686. A 23 de Março de 17 I 8 ele vergava so bre os efeitos da doe nça e ve lhi ce. 5
Morreu . deixando um vasto patrim ó nio que foi dividido pe los herd e iros. A Nico lau Geraldo de Freitas Barreto co ube o imóve l da Rua do Esm era ldo o nde fez pintar na capela o se u brasão de armas. que recebeu da coroa e m 173 1. Em 1794 as referidas casas passaram para as m ãos de Lamar Hill Bisset & Coo Esta transacção marcou o inicio de uma nova fase de vid a da rua. O com ércio do v inh o estava no auge e qu ase todos os edificios d ela estavam rese rvados a a rm azém de vinh os. A lgumas das principais casas com erciais de Súbd ilos ingleses tinham ai ou nas proximidades as instalaç óes . A atracção estra nge ira por esta rua surgiu e m 1704 co m Benjam im Heming l que alugou os ve lh os aposentos de João Esm e raldo a Agosti n ho Dornelas e Vasconcelos. Em 1727 foi a vez de John Bissett. seguid o do Dr. Richard Hill. que em 1739 montou escritório no número 39 . A estes juntaram-se em 1802 a firma Newton Gordon . Murdoch & Co qu e arrematou em praça pública um prédio da Miseri córdia por I 150$000rs. Depois t ivemos Gordon Duff & Coo que comprou O im ó ve l d e José do Egipto da Costa. foreiro da Santa Clara. por 3626$700rs. Em data qu e desconh ecemos Gordon Duff & Co adquiriu o préd io q ue fora de Nicol au Geraldo ã firma am eri cana . Hil Bisset & Co e ampliou com os granéis fron l e iriços do lado do Beco do Assucar. d e Nuno d e Freitas Lomelin o . Ambos foram vendidos e m 18 5 9. po r 3 8 00$000rs a James Adam Gordon Duff. fi cando o ed ificio que o co nfro ntava a norte na posse da viúva. O acto de ve nd a teve lugar no número doze . perte nce nte ã propri edade da viúva do proprietário do imóvel transaccionado. onde . enlão. vivia Diogo Bean . Pelo m e nos d esde 1855 usufruia de todos os aposentos. o nd e residia e tinha o escritó rio e. parte deles. subalugados a dive rsos inquilinos. Na 6
posse de James Ad a m Gordon Duff o edifício conhece u um mome nto de fulgor e por isso te r-se-ão sucedido algumas a lte rações no es paço interior, sendo d esta época a construção da sala de música e os estuques p intados_ De novo as difi culdad es começaram a surgir aos seus inquilinos_ Para isso co ntribuiu a contracção do m e rcado do vinho desde os inicios do século dezo ito e as crises de produção motivadas pe lo o idio ( 1852 ) e filox era ( 1872 ), que quase d eram o golpe de finados a este produto. E com isso a maior parte dos ingleses fez as malas e rumou a outras paragens. As ca sas, até então apinhadas d e pipas d e m alvasia, quase parec iam fantasmas. Deste modo Elisa Je nnet Duff, viúva de James Adam Gordon Duff, optou em 1875 pe la venda dos aposentos ã 50c iedade Cooperativa de Consumo e Créd ito do Funchal 5ARL, re prese ntada por personalidad es ilustres da cidade: José Leite Monte iro, Manu el José Vieira e Augusto Mourão Pitta . O im óvel foi mais tarde, ce rtamente em 19 16, vendido a José Figue ira Júnior por quarenta contos. Termina aqui a fase de ampliação e engrandecime nto, iniciando-se a de prolongada decadênc ia. A cidad e de hoje é ainda testemunho disso. Basta ape nas percorrer as Ruas da Carre ira , Netos , Pretas , Mouraria , Me rcês, Nova de 5. Pedro, 8
Conce ição, Aran has, Fe rreiros, João Gago e não serã difícil ao transeunte o reencontro com os prédios de fachadas rendilhadas em cantaria negra, rasgados por inúmeras jane las servidas de varandas em ferro forjado. Aos que té m franqueado as portas é possíve l redescobrir os tectos de estuque pintado. A muítos destes imponentes palãcíos junta-se um ele m e nto arquitectónico típíco da ilha, isto é, a torre avista-navios, considerada um ex-libris de muitos dos ed ifícios da época que persistem na malha urbana da cidade. A torre av ista-navios preenche para a época uma dupla função. Como mirante lançado sobre a baía permite saber-se da chegada e partida dos navios, daí o nome. É também um local de convív io diãrio na casa. É o homónimo da casa de prazeres das quintas madeirenses. Esta evidéncia persiste e m algu ns prédios da rua do Bispo, Rua João Esmeraldo e na sede do IVM ã rua Ci nco de Outubro. Dos d iversos imóveis que a riqueza do vinh o fez erguer alg uns são merecedores da nossa atenção: O Palãcio de S. P.edro, hoje Museu Municipal. mas que se ergueu para residéncia do Conde de Carva lhal; os paços do Concelho do Fu nchal. conhecido também como Palãcio Torre Bela. A estes juntam-se os armazéns e escritórios pas empresas de co m ércio de vinho, de que existem vestígios na Rua dos Ferreiros e dos Netos. Em todos estes últimos é evidente a mesma distribuição do espaço. Uma fachada imponente que dá entrada para um grande pátio coberto ou não de latada que serve de logradouro co mum ãs diversas arrecadaçóes : as lojas de fermentação e enve lh ecime nto do vinho, a ofícina de tanoaria , a estufa. O bom gosto com que alguns so uberam combinar e o cuidado que lhes atribuíam não passaram despercebidos ao o lh ar atento de Henry Vizetelly que na casa de Blandy Brothers leva-o a afírmar q ue estava perante um "ve rdadeiro museu de vinho " Os actuais paços do conce lho estão insta lados num imóvel de 1758 ergu ido pelo morgado Francisco António da Cã mara Le m e . A sua aqu isição pela cãmara remonta a 1883, depois d e um pe ríodo de fulgor ligado 9
ao comércio do vin ho, uma vez que pertenceu à firma Robert Blacbun & Ca e ao cônsul britânico George Stodard. Junto da igreja de 5 . Pedro situa-se um dos m ais imponentes palâcios da cidade erguido em finais do século XV III pela famil ia dos Carvalhais. Depois de vârios usos no decurso do sécu lo XIX acabou em 192 1 por ser adquirido pela câm ara do Funchal. Aí instalou-se em 1929 o museu municipal e em 1933 d eu-se guarida ao acervo doc um entai d a regiâo recolhi do no entâo Arqu ivo Distrital qu e havia sido criado em 193 1. A anglicizaçâo do Fun chal só foi possível pela importânc ia que assumíu para os súbditos de Sua Majestade o com ércio da presença da com unidad e britânica foi e ainda é importante. O rum o de finido para o vinho é de les que cedo se tornaram nos principais apreciadores e be neficiârios das riqu ezas que propiciou . A importânCia desta comunidade nâo foi suficiente para abater alguns estigmas . As suas vive ncias
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As quintas são uma criação madeirense, mas foram os ingleses que , a partir do século XVII. as transformaram em locais de aprazível convívio. Os vastos espaços que contornam a habitação foram revestidos de jardins colo niais, transformados em vive iros de p lantas e nores exóticas. Foram vã rias funçóes. Primeiro casas de habitação dos seus construtores. De pois, hotéis e pousadas para acolhe re m os inúmeros britãnicos em busca de cu ra para a tisiça pu lmo nar ou de passagem para as colónias. São inúmeras as quintas que polvilham os arredores do Funchal. nom eadam e nte e m Sa nta Luzia e Monte, e por isso merecedoras da nossa atenção e ansiado Pela nossa visita. Mu itas das quintas madeirenses mudaram de m ãos no decurso do século XVIII. Os ingleses, e nriquecidos com o comércio do vinho, fazem investimentos fundiãrios na ilh a, com especial destaque para as quintas e serrados de vin has. Alguns adq uire m as habitações já ex iste ntes e transformam-nas em amplas quintas ajardinadas ã moda da época. Outros do espaço arável ou de pascilgo fazem e rguer imponentes casas. Estão neste último caso a Quinta do Vale Paraiso na Camacha de John Halloway, a Quinta do Jard im da Serra, Calaça e do Santo da Serra de Henry Veitch , a Quinta do
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Monte de Jam es David Gordon , as Quintas do Belo Monte e Monte Palace d e Charl es Murray. Das de mais adquiridas por ingleses podemos sa lie ntar: a Quinta do Til de James Gordon d esde 1745 e que passou à Familia Miles em 1933 ; a Quinta da Ac hada que Foi desde inícíos do século XIX perte nça da Famíli a PenFeld e que em 1881 flcou na posse da Famíli a Hinton; a Quinta do Palheiro do 10 Conde de Carvalhal que Foi adquirida e m 1885 por J. B. Blandy. De entre todas as quintas sobressaem as actuais Quinta Vigia e Quinta do Palh eiro; e nquanto a primeira se integrava num conjunto de quintas geminadas sobranceiras ao mar (Angústias, Vigia, Pavào e Bianchi)te ndo sido a principal morada de acolhime nto da aristocracia europeia(Rainha Ad e laide de Inglaterra ( 1847-1848), Duque Le uchte nberg ( 1849-1850). Imperatri z do Brasil , D. Am élia ( 1852), a última , Fora do Funchal. Foi construida pelo primeiro Conde d e Carvalhal que também planeou e os seus extensos e variados arvoredos. Esta é considerada a mais extensa da Peninsula Ibérica com 324 ha. O se u recinto serviu d e palco para as grandes recepçõ es aos ilustres visitantes que nesses longínquos anos da centúria oitocentistã demandavam a ilha. Destes destacam-se: em 1817 da Imperatriz Leopoldina do Brasil. e m 1858 do inFante D. Luis e em 190 I do rei D. Carlos e Rainha D. Am élia. O teste munho e a ambiéncia d estes espaços estào lavrados na numerosa literatura inglesa d e viage ns. Alguns desses britànicos que tive ram oportunidade de pri-
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var nessas quintas não se ca nsam de exa ltar o am biente paradisiaco que ai foram e ncontra r. J á e m 1778 Maria Riddel não hesita em afirmar que " a maioria dos negocia ntes tem pequenas casas de ca mpo nas e ncostas. rod eadas de jardins e vinhedos o que confere um e fe ito muito aprazive l ã paisagem ." . A arte re ligiosa dos seclllos XVIII e XIX e tambem testemunha e conseq uencia da riqu eza gerada pela economia viti-vi nicola. Os templos ex isten tes ganham nova vida e riqu eza e a de por-se as co nte mpo rãneas ex igencias do c ulto os novos seguem uma nova geom etria e gramática decorativa. O vinho tem ex pressão plástica partic ular no cade irado da Se do Func hal do seculo XVI o nde são visiveis os borrache iros e os bebedores de vin ho . evid ências que testemunham já a importãncia d a cultura nesta epoca. Os cachos e parras fazem parte da gramática decorativa do barroco . Os motivos de talha dourada são ev identes na Igreja do Colegio. Os Jesll itas chegara m ã ilh a e m 1570 m as só em final da ce ntúria com eça ram a ,;
madeirense adqu irisse uma posição dominante no m ercado atlã ntico. fazendo aumentar a riqu eza dos ingleses. os principais com erciantes e consumidores. Esta oferta de vinho era assim sim bólica, o m esmo sucedendo com a renitência do imperador em fazer de le o antidoto para as agruras do exílio. Diz a trad ição q ue o tonel com O precioso rubinêctar regressou ã ilha, reclamado pelo doador. O vinho regressado ã ilha desmultiplicou-se . em 1840. em centenas de garrafas, que fizeram as delicias de in úmeros ingleses. Churchill, de visita ã ilha em 1950, foi um dos feli zes contemplados. A co nj untura politica e nvolvente ao governo imperial de Napoleão Bonaparte repe rcutiu-se de forma ev idente no espaço atlântico, provocando uma alteraçâo no movime nto com e rcial. O mútuo bloqu eio continenta l entre a França e a Inglaterra lançaram as bases para um a nova era na economia atlântica. Os trad ic ionais circu itos com erciais que se in iciavam e finalizavam nos portos europeus, desapa receram , por algum tempo. pois o cordâo um b ilical q ue os mantinha fo i cortado. Neste contexto é evidente a va lorização das ilh as que passaram a dispor de um m ercado aberto para os se us produtos, como o vinh o , até aqui alvo da concorrência do europeu. A COI]juntura em ergente das guerras napoleónicas propiciou o momento mais alto da economia viti-v inicola, enquanto a derrota de Wate rloo ( 18 15) foi o p re lúdio d e uma próx ima fata lidade para o vinho e a ilh a. A Madeira dispõe d e uma notâvel colecçâo de gravuras, maioritariame nte do sécu lo do sécu lo XIX e d e mâo inglesa. Elas fazem parte de registos de viage m ou de tratados cientificos. Tudo isto porque ;ii Madeira se apresentava neste momento como um e ixo fundamenta l para a navegação e contactos entre a Inglaterra e as colón ias na América e no índico. Também a ilha se havia transformado numa estânc ia de turismo terapêutico que acolhia doentes d e tisica d e dive rsas provenié ncias, com forte incidência nos súbditos de Sua Majestade. Aristocratas. cientistas e aventure iros chegaram â ilha â procura do clima am eno como forma de alivio e cura das doenças. A Mad eira e ntrou rapidam e nte no uni verso d a ciê nc ia europeia dos sécu los XV III e XIX. Daqui resultou JS
dois tipos d e literatura com publicos e incidências temáticas distintas. Os textos turisticos. guias e m e m ó ri as de viagem , apelavam ao leitor para a viagem de sonho á redescoberta d este recanto do para iso que se demarca dos demais pela be leza in comparáve l da paisagem . variedad e de fiores e plantas. Já os tratados cientificos apostaram na divulgação deste reca nto através daquilo que o identifica . Hoje a riqu eza p ic tórica da ilha é devedora desta situação, existindo va liosas colecçóes separad as ou em livro. No primeiro grupo e nquadra-se a maioria e riqu eza da colecção de grav uras inglesas . Destas podemos destacar as d e Andrew Picken ( 1840), Rev. James Bulwer ( 1927), P. H. Springett ( 1843), J. Selleny, Susan V. Harcourt ( 1851 ), Frank Dillon ( 1856). R. Innes, Joahn F. Eckersberg. Os tem as são comuns a todos os intervenientes. O Func hal aprese nta-se através da sua baia e o deslumbramento do casario da e ncosta tudo e m várias perspectivas ou nos pormenores mais caracteristicos de sua arquitectura - A Sé. Os Conventos de Sta. Clara e S. Francisco. O interior da ilha mantém a m esma insistê ncia nas loca lidades qu e mais chamavam ã atenç_á o do visitante e se encontravam no traçado das rotas de visita: Cabo Girão, Curral das Freiras. Encumeada, Boave ntura. Rabaçal. A visão do pintor é ate nte e em alguns casos parece-se com um registo fotográfi co. As perspectivas aproximam-se da realidade e o quadro e nche-se com dados de observação directa. A vegetação é rainh a logo seguida das quedas de água. Em quase todos o ho m em é uma presença obrigatória a sua pose é d e contemplação. de êxtase face as belezas que o rodeiam , e raram e nte de total integração no conjunto. Mesmo assim esta presença, a pé ou ca valo. é secundária e anicha-se quase sempre no canto esquecido ' Atrav és de algumas estampas e gravuras é possivel d escortinar a presença d e algum as espécies arbóreas. Aqu elas que assumem valor alim entar- como a vinha e a bananeiraassumem algum d estaque, seguindo-se o dragoeiro . Todavia toda a tenção está d esviada para a natureza se lvagem que se afirma com o o c umulo da be leza. Os retratos do quadro natural made ire nse não são tão variados nos temas, mas sim nos motivos 19
e pormenores que e nquadram e dão harmonia ao conj unto. A grande atenção estã nas encostas onde o casa ri o se entrelaça ou não com o arvoredo. O cé u . a lu z. não pertencem ao universo destes artistas. pois aqu ilo que mais clama pela sua atenção é as encostas e o litoral abruptos. onde se an icham aS quedas de água. o homem. o casario e o variado arvoredo . este último quase que parece ausente das encostas e vistas próximas ã cidade do Funchal. Aqui as encostas apresentam-se esca lvadas. Os efeitos da acção do homem são notórios. Só quando se penetra no interior. em Encumeada. Curral das Freiras. Boaventura e S. Vicente se redescobre a exuberã ncia da noresta. Aliás. é este o motivo fundamental que domina o pincel do artista. O sul está cheio de motivos e dominado sempre pela presença do homem e dos registos da sua acção como o casa ri o. pontes . etc. No grupo de textos cientificos a atenção reparte-se entre a nora. destacando-se a variedade de nores. e as formações geológicas. Estas últimas surgem com grande evidé ncia em Edward Bowdich ( 1825). No decurso dos séculos XVIII e XIX o quotidiano do vinho é retratado pela pena de diversos pintores e desenhadores e urope us. nomeadam ente ingleses. que tiveram oport unidade de passar pela ilha . Parte significativa delas serviu para ilustrar livros sobre a ilha ou com capítulos a ela dedicados. Ainda no livro de He nry Vizetelly temos o m ais evide nte retrato desta realidade. Estamos perante uma gravura-reportagem que se detém de forma clara nos mais importantes armazéns de vinho da primeira metade do século XIX. Os principais motivos são os lagares. os borracheiros. e as balseiras. Os dois últimos elementos são os mais abundantes em toda esta iconografia visível hoje no Museu Frederico de Freitas no Funchal.