Ano V – n° 25 – jul / ago / set / 2009
Participação de Crianças e Jovens Um direito que promove a transformação pessoal e social Heve Otero de Sosa, pesquisadora social em direitos da infância e da adolescência, analisa a Participação e os Códigos de Convivência.
índice Editorial .................................... 2
Em Foco .................................... 4
Parcerias ................................... 7
Entrevista ................................. 3
Acontece .................................. 6
Expressão e Arte .................... 8
EDITORIAL O jeito Marista de participar de projetos, programas e Políticas Públicas é pautado pelo viés humano-cristão que tem Jesus Cristo como fonte e modelo de relacionamento com as pessoas independentemente do seu credo, raça ou condição financeira. Mas este relacionamento pretende ser harmonioso na busca de objetivos comuns para a transformação da realidade em que vivemos. Como Maria, desenvolvemos atitudes de escuta, diálogo e serviço respeitando as características do interlocutor, seja ele criança, jovem, adulto, idoso, homem ou mulher, ente público ou privado. Para alcançar nossos objetivos de educar para a construção da paz, pela justiça e com alegria, construímos códigos de convivência que nos facilitam preservar o diálogo, dando voz a todos que caminham conosco. Elegendo a participação de todos, procuramos afastar os modelos autoritários de nossa convivência, que muito pautaram a política deste nosso país e que, por vezes, buscam emergir abafando as vozes dos excluídos, que querem e merecem ser ouvidos num país que se identifica como sendo de todos. Ir. Luiz Adriano Ribeiro
INSTITUCIONAL Educadores e adolescentes Maristas trocam experiências sobre participação de crianças e jovens Crianças, adolescentes e jovens em espaços de participação foi o tema do XII Simpósio Socioeducativo Marista, que aconteceu em Curitiba no primeiro semestre de 2009. Mais de 100 participantes de 5 estados do Brasil, entre educandos, educadores e gestores de 24 Centros Sociais Maristas, além de representantes de outras instituições, refletiram sobre o tema. O evento contou com a troca de experiências, discussão de propostas, conhecimento de outras realidades e fortalecimento do trabalho desenvolvido em cada Centro Social. O Simpósio teve a contribuição da consultora Heve Otero de Sosa — pesquisadora social em direitos da infância e da adolescência e representante regional da Rede LatinoAmericana e Caribenha dos Direitos da Criança e do Adolescente – Redlamic. Grupos de trabalho foram organizados para a discussão de assuntos no cenário da participação de crianças e jovens. Cada grupo contribuiu para enriquecer a troca de relatos, tratados sob diferentes óticas, de acordo com a realidade de cada região. No último dia do evento, foram realizadas apresentações dos projetos relacionados ao tema, como por exemplo, a experiência na elaboração e implementação dos Códigos de Convivência nos Centros Sociais. A formação dos educadores maristas contou ainda com uma videoconferência realizada em maio deste ano com o tema Participação infantil: a construção do sujeito de direitos. Com a mediação de Gerardo Sauri — consultor da ONU sobre Violência a Crianças e Adolescentes na América Latina, diretor
E xpediente
Cidadania Marista é uma publicação da Província Marista Brasil Centro-Sul. Diretor: Ir. Jorge Gaio. Conselho Editorial: Bárbara Pimpão e Patrícia Costa. Textos: Alexandre Lourenço Cardoso — Revisão: Juliana Kuwano Buhrer Contribuição: Glaucia Quissi dos Santos, Ruth Alves Gomes, Marilusa Rossari, Em foco: Jimena Djauara N. C. Grignani — Fotos: João Gilberto Viana Borges e Kelen Azuma. Tiragem 23.465 exemplares — deas@marista.org.br —www.marista.org.br
executivo da Rede pelos Direitos da Infância no México e coordenador regional da Redlamic —, foram trabalhados os diferentes tipos de cidadania e a limitação das crianças ao exercício de seus direitos, originada principalmente pela vulnerabilidade econômica de seus pais e responsáveis. Sauri ressaltou, na videoconferência, que a participação de crianças permite a construção de uma identidade coletiva, o exercício participativo consolida o sentimento de pertencimento e o exercício de participação empodera. Já o I Encontro de Adolescentes do Fórum Nacional de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (FNDCA), realizado entre os dias 26 e 29 de maio, na Chácara Marista Manacá, em Samambaia (DF), foi direcionado aos adolescentes, mas também teve a participação de educadores, na condição de observadores. Participaram do Encontro jovens de 14 a 16 anos e educadores participantes de projetos desenvolvidos pelas entidades filiadas ao FNDCA. Ao todo, foram 100 participantes. A ABEC e a UCE, filiadas ao FNDCA, garantiram a participação de 3 adolescentes: do Centro Social Marista Mont Serrat, em Florianópolis; Centro Social Marista Ir. Acácio, em Londrina; e Colégio Paranaense, em Curitiba. A metodologia do Encontro contemplou a construção da participação nos espaços de origem e também a reflexão sobre outras formas de atuação. O espaço promovido pelo FNDCA proporcionou aos adolescentes pensar suas realidades e refletir livremente sobre seus direitos e suas violações. Cada educador teve um papel fundamental na construção do diálogo, iniciando e terminando sua contribuição adulta como facilitador do processo e não indutor.
Entrevista Participação e Códigos de Convivência 1. Atualmente, quais as formas de participação de crianças, adolescentes e jovens nos espaços educativos e sociais?
4. Quais são os maiores desafios enfrentados no estímulo ao protagonismo social por meio da participação?
As formas de participação em geral dependem dos contextos culturais nos quais as crianças e adolescentes estão inseridos. Elas se apresentam de forma variada, mas podemos afirmar que as culturas são muito adultocêntricas e, muitas delas, autoritárias, não permitindo a plena participação. Isso ainda é uma conquista a se alcançar.
Historicamente, crianças e adolescentes têm sido pouco escutados pelos adultos, então o primeiro passo é fazer com que sejam ouvidos. É necessário que a opinião deles seja considerada relevante e tenha peso na hora da tomada de decisões.
Dependendo da região, as escolas proporcionam diferentes níveis de estrutura para a participação, como conselhos e grêmios escolares. Por vezes, estas instâncias são mais formais e outras verdadeiramente espaços de participação e transformação. No espaço social, crianças e adolescentes em particular se unem em prol de uma tarefa ou de uma causa, como a reivindicação do direito de algum grupo em particular. Um exemplo é a Federacion de Estudiantes de Secundaria (Fenaes), no Paraguai, onde as crianças se reúnem para conseguir passagem escolar gratuita ou reduzida. Já no âmbito governamental, em alguns países como no Brasil e no Paraguai, é bastante positiva a existência de conselhos que representam os diversos segmentos da sociedade e assim incidem nas políticas públicas. 2. Como promover uma participação verdadeira, na qual as crianças e jovens tenham voz e participem das decisões? É importante trabalhar em distintos planos, como nas famílias, comunidades, espaços públicos e políticas públicas. Dessa maneira, a participação terá diferentes formas e desafios. É preciso conscientizar os adultos — pais, educadores e funcionários — sobre a relevância da participação e envolvêlos nas ações. Promover a verdadeira participação significa também não se conformar somente com o formal ou com o que chamamos de participação decorativa ou maquiada. É preciso chegar até os níveis de consulta mais completos junto às crianças e adolescentes. Mas para isto, é necessário considerar o contexto social, no qual se oferecem as oportunidades, e também estar atento às ameaças que precisam ser combatidas. Por isso, é essencial que haja o acompanhamento dos adultos, para não gerar desesperança nos jovens e promover o apoio adequado. 3. Qual a importância e como a família pode propiciar à criança suas primeiras experiências de participação? A família é o primeiro lugar em que se pode promover a participação. Um bebê de seis meses manifestará sua participação reagindo com sons e escolhas, que precisam ser respeitadas e orientadas. Conforme crescem, ele ou ela manifesta preferências e interesses que precisam ser considerados e não suprimidos pelos gostos dos adultos. Uma criança é uma pessoa completa, com todos os seus direitos, não importando a idade. Esses direitos serão adquiridos progressivamente até a sua autonomia completa. Em outro nível de participação, em geral, os direitos de exercêla estão associados à responsabilidade. Ao adquiri-los, devese assumir a responsabilidade pelas ações praticadas. Claro que ela dependerá das idades e das leis de cada país, mas é a família que vai ajudar na educação para uma participação responsável e o exercício dos direitos.
Os desafios são diversos e não muito diferentes dos outros grupos sociais para a participação social e protagonismo, mas sim quando vemos que em comparação com outros grupos, os adolescentes, as famílias em situação de vulnerabilidade social, os povos indígenas e as mulheres têm sido os menos ouvidos na história. Um desafio que surge em qualquer análise é o questionamento da relação adulto-criança. Essa relação é questionada desde o momento em que o autoritarismo e o domínio de um sobre o outro é confrontado, já no início da construção do protagonismo social. 5. Quais os caminhos para que os anseios das crianças e adolescentes sejam considerados nas políticas públicas? A incidência nas políticas públicas ou na opinião pública é muito importante. Nesta tarefa, os adolescentes precisam do acompanhamento dos adultos que trabalhem também pela consolidação dessas políticas públicas. Precisamos abrir os espaços à participação para que suas vozes possam ser escutadas e consideradas na hora da tomada de decisões. Por outro lado, isso implica também em muito trabalho com adultos, governo e sociedade civil para que cedam esses espaços; capacitem-se e se sensibilizem em como propiciar a participação. Tarefa complexa, pois trata-se de uma aprendizagem conjunta em um processo contínuo de vida. 6. Qual impacto a participação de crianças e jovens pode trazer para a transformação do cenário das infâncias e juventudes? A participação plena leva para outra ordem mundial, especialmente no âmbito das relações. Abrange a aceitação das diferenças e da diversidade. As transformações nos cenários são promissoras. Na voz das crianças e adolescentes, podemos encontrar outras formas de se relacionar, em particular, referente à violência e ao respeito pelos direitos humanos.
Currículo Heve Otero de Sosa – psicóloga pela Universidade Católica de Assunção, Paraguai; mestre em Psicologia pela Universidade de Boston, EUA. Investigadora social e psicoterapeuta em temas da Infância. Atualmente é diretora Executiva da Coordinadora por los Derechos de la Infancia y la Adolescencia (CDIA), uma rede composta por 25 Organizações Não-Governamentais.
Em Foco
Participação de crianças e adolescentes
Muitas vezes estas experiências de participação têm como referência as formas e estruturas políticas adultas, onde prevalece a visão do adulto na concepção do que seja a participação da criança e do adolescente. Uma vez que as crianças não têm as habilidades e destrezas suficientes para lidar com os espaços de participação, com as exigências necessárias para o debate político pautado pelos adultos, acabam excluídas do processo. Ou então, buscam nas suas representações os adolescentes que mais detêm a linguagem adulta, sob o risco de perder a originalidade do que ele realmente representa.
n a i cr e s a ç leso d a tes n e c As crianças e os adolescentes se formam nas relações com os outros, pela cultura da sociedade em que vivem e pela influência do mundo adulto ou de outras crianças. Estão imersos e interagem na vida social, econômica e política de suas comunidades. As crianças e os adolescentes não constituem uma comunidade isolada, mas fazem parte da população e de suas estruturas sociais. Por este motivo, eles podem e devem emitir suas opiniões sobre o que afeta ou não suas vidas. Com este enfoque, a Convenção Internacional dos Direitos da Criança e do Adolescente da Organização das Nações Unidades introduziu o conceito de sujeitos sociais de direitos às crianças e adolescentes. Esta condição garante a eles o direito à cidadania e à participação na democracia, contrapondo o termo “menor” até então utilizado para designá-los, e que expressava uma ideia de seres imaturos, imperfeitos, carentes e que necessitavam de repreensão. Durante a última década, a Participação Infantil avançou pouco, principalmente no Brasil, onde os esforços se dirigiram para a efetivação do Estatuto da Criança e do Adolescente. Este princípio garante o direito da criança e do adolescente opinar e que esta opinião seja considerada na formulação das Políticas Públicas ou em qualquer ação do Estado ou da sociedade, que tenha impacto direto ou indireto sobre suas vidas. Há uma grande necessidade de maior conhecimento teórico e prático das iniciativas efetivas na garantia deste direito, e que envolva não só aspectos do desenvolvimento da criança, mas também fortaleça sua participação política em todos os processos e espaços que afetam a sua vida e a de outras crianças e adolescentes.
Ainda hoje, encontramos a simulação, o uso decorativo de crianças e a manipulação da sua participação em eventos esporádicos ou pontuais, nos quais a sua voz se faz ouvida, porém, dificilmente é levada em conta na tomada de decisões, sendo muitas vezes descontextualizada ou apenas ilustrativa. Estas práticas contradizem a ideia de participação como um processo de construção, que deveria acontecer de forma sistematizada, por meio de vivências e discussões sobre sua realidade.
As metodologias desenvolvidas para a participação infantil devem envolver espaços lúdicos, contemplar diversas linguagens e proporcionar espaços onde os adultos aprendam a tomar decisões em conjunto com as crianças e adolescentes, evitando os mundos separados. É primordial o respeito às formas e linguagem, nas quais elas constroem o seu mundo e que suas vozes sejam escutadas e consideradas pelos adultos nas tomadas de decisões.
Ainda hoje, encontramos a simulação, o uso decorativo de crianças e a manipulação da sua participação em eventos esporádicos ou pontuais.
Nesta perspectiva, a Instituição Marista, por meio de seus serviços e programas, busca proporcionar espaços para que as crianças e os adolescentes — respeitando seus respectivos processos de desenvolvimento — representem suas ideias, reflitam seu coletivo e aprofundem as discussões sobre seus direitos, a fim de uma tomada de posição mais propositiva frente à realidade que nos cerca. Fica o desafio para que esta condição de sujeitos seja efetivada e seus direitos garantidos, principalmente no que se refere aos quatro princípios gerais da Convenção: o superior interesse da criança, sua sobrevivência e desenvolvimento; a não– discriminação e a participação; o pensamento enquanto grupo; a organização e produção de propostas de ações para que seus próprios direitos sejam garantidos, no âmbito educacional, legislativo e jurídico, assim como o que nos compete enquanto cidadãos, e é de responsabilidade da família, do Estado e da Sociedade.
Maringá (PR)
Originado de um projeto que promove a reflexão sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o Projeto Código de Convivência em Ação, desenvolvido no Centro Social Marista Ir. Beno, em Maringá (PR), estimula a responsabilidade e a participação de 400 crianças e adolescentes de 5 a 17 anos. Com início em 2007, o Código de Convivência em Ação busca estabelecer regras de convivência por meio de espaços de diálogo, da criação de um código de convivência e da integração entre educandos, educadores e famílias. A criação deste código contou com a parceria das outras oficinas do Centro Social e foi discutida, num primeiro momento, pelos representantes dos educandos e seus educadores. Cada item foi amplamente debatido para que todos entendessem seus direitos e deveres dentro do Centro Social. O segundo passo foi motivar os grupos formados pelos educandos para que disseminassem o código. Para isto, cada grupo, junto aos seus educadores, criou cartazes, faixas, esquetes e teatros de fantoches. O Centro Social teve seus espaços individuais e coletivos tomados pelos materiais de divulgação e orientação criados pelos grupos. Também foram realizadas apresentações às famílias, mostrando o processo de construção e a necessidade de colaboração de todos para se efetivar e vivenciar o exercício da participação. O Código de Convivência em Ação tem a participação ativa de educandos e educadores em todo o processo de
nome de Os Lamparinas, como uma referência ao personagem do desenho animado Robôs, que sonhava em melhorar o mundo. Assim que as críticas e sugestões dos educandos são depositadas na Caixinha de Escuta, o colegiado escolhe as que são prioritárias, encaminhando-as para uma equipe de trabalho, formada por educadores. Após uma análise, a equipe devolve as propostas para que sejam legitimadas ou rediscutidas pelos grupos. Cada membro do colegiado discute as devolutivas com seu grupo, estabelecendo prazos para as implantações. O projeto passou a englobar campanhas e eventos específicos como a abertura do Centro Social nos finais de semana. No primeiro mês de implantação da Caixinha de Escuta, mais de 600 bilhetes foram depositados, a maioria com sugestões. As reivindicações foram tanto coletivas como individuais. À medida que o projeto evoluía, as reivindicações adotaram uma postura mais estratégica, solicitando alterações na grade de atividades dos grupos e ampliação dos processos decisórios no Centro Social. No terceiro mês, a caixinha somou quase mil bilhetes. Reconhecida por parceiros e replicada em outras instituições, a Caixinha de Escuta possibilita o diálogo entre o permitido e o proibido; o consenso e o conflito, e exprime a possibilidade de um diálogo de igual para igual com crianças e adolescentes. O projeto, que atende 200 educandos do Serviço de Apoio Socioeducativo, ampliou a participação do colegiado e dos grupos nas ações do Centro Social e consolidou mais uma forma de se estimular o protagonismo social.
São José (SC)
O Centro Social Marista de São José (SC) promove as relações entre os educandos para a efetivação de um conjunto de normas de convivência para uso e benefício de todos, minimizando conflitos que afetam a aprendizagem.
desenvolvimento do projeto. O enriquecimento provocado pelas discussões quanto aos direitos e deveres das crianças e adolescentes contribui para despertar o senso de responsabilidade e mobilizar todos para o desafio e a conquista da construção coletiva destes códigos de convivência.
Dourados (MS)
Criado em maio de 2008, o Projeto Caixinha de Escuta — desenvolvido no Centro Social Marista de Dourados (MS) — já se consolidou como uma eficiente forma de participação e uma ferramenta de aproximação entre a proposta socioeducativa e os anseios dos educandos.
O Projeto Código de Convivência: Melhorando as Relações — que teve início em 2007 e foi desenvolvido com a parceria de educandos e educadores — possibilitou a reflexão sobre a participação de crianças e adolescentes dentro do espaço de aprendizagem. Como uma das condições primordiais para esta convivência em grupos está o estabelecimento de normas e regras, a partir da discussão e construção dos pontos fundamentais para a criação deste código. Jogos, brincadeiras e outras dinâmicas foram realizados com os educandos, com o objetivo de conscientizá-los da necessidade desse conjunto de normas de convivência. Divididos em atividades com regras e atividades sem regras, o grupo acabou percebendo que a ausência de um código de conduta faz com que os jogos sejam injustos e dificultem a tomada de decisões. Jogos com regras, por sua vez, estimulam a participação de todos, definem os direitos e deveres de cada um e estimulam o companheirismo, já que as decisões são tomadas em conjunto.
A iniciativa do projeto busca estimular a participação direta das crianças e adolescentes na gestão e prover subsídios para que eles avaliem o atendimento oferecido, mapeando propostas socioeducativas que aproximem o Centro Social da realidade infanto-juvenil.
A partir da construção coletiva do Código de Convivência, as relações passaram a ser mais harmoniosas, democráticas e prazerosas. O surgimento de um sentimento de pertença, a sensibilização dos educadores para a importância de uma linguagem em sintonia com a criança e o adolescente e a vivência do Ideal Marista romperam barreiras para que houvesse a participação efetiva dos educandos nos processos educativos.
As atividades tiveram início com a eleição de um colegiado, formado por representantes de vários grupos de educandos. Esse colegiado é responsável pela abertura da caixinha e análise das propostas, tendo a oportunidade de já se trabalhar a liderança e alguns processos participativos. O órgão recebeu o
Em 2008, foi confeccionado o material de divulgação do Código de Convivência. O fôlder contendo os princípios básicos de convivência foi distribuído para as famílias dos educandos. Esforços são realizados agora para a uma atualização contínua do código, que garanta seu uso e sua sustentabilidade.
Acontece
“A Maneira ética e solidária como essas normas são trabalhadas ultrapassa os muros do centro social, sendo vividas no ambiente familiar e em outros espaços.”
Curitiba (PR) Chapecó (SC) O Projeto Convivendo e Aprendendo: Construindo Relações — que resultou de uma formação conjunta entre educadores do Centro Social Marista de Chapecó (SC) e professores da Rede Pública — está construindo a autonomia e possibilitando o exercício da cidadania de 327 educandos ao oportunizar o autoconhecimento e a vivência de valores nas relações interpessoais e comunitárias. O projeto busca construir e significar normas coletivas de convivência, fixando princípios comuns para educandos, educadores, famílias e comunidade em geral nos espaços e atividades internas. A maneira ética e solidária como essas normas são trabalhadas ultrapassa os muros do Centro Social, sendo vividas no ambiente familiar e em outros espaços. A construção coletiva dos Códigos de Convivência do Centro Social despertou, por parte dos educandos, o interesse em compreender como são estabelecidas as normas e regras da sociedade em geral. Neste sentido, pode-se dizer que esta construção é o primeiro passo para que o Centro Social avance significativamente rumo a uma maior participação e envolvimento comunitário em questões fundamentais. As oficinas específicas, direcionadas a momentos de reflexão e construção coletiva, promovem atividades que privilegiam o diálogo e a escuta dos educandos. No cotidiano das crianças e adolescentes, palavras como justiça, cooperação, direitos e responsabilidades são recorrentes, reafirmando-os como articuladores e sujeitos na construção deste projeto. Instrumentos de avaliação e registros diários dos educadores mostram uma melhora significativa no relacionamento interpessoal e uma maior participação dos envolvidos nas atividades, bem como uma integração crescente com as famílias e a comunidade. Desenvolvido desde 2008, o Projeto Convivendo e Aprendendo: Construindo Relações contribui para a formação integral e para o favorecimento do protagonismo social, à medida que propicia a participação de crianças e jovens na construção de espaços mais justos e solidários.
Nas atividades realizadas no Serviço de Apoio Socioeducativo do Centro Social Champagnat — da mantenedora Associação Paranaense de Cultura (APC) —, eram frequentes as dúvidas dos educandos sobre Direitos Humanos e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Mais do que conhecê-los, os educandos questionavam sobre o que poderia ser feito para que esses direitos fossem respeitados. Para responder às dúvidas e motivá-los a desenvolver uma participação ativa, crítica e comprometida no Centro Social e na sociedade, foi desenvolvido o Projeto Juventude e Direitos Humanos. Uma das propostas é que cada adolescente reconheça e identifique seus direitos, assim como a responsabilidade de suas escolhas e as oportunidades futuras, contribuindo para tornarem-se cidadãos responsáveis e críticos. A expectativa é de que, a partir deste posicionamento, eles se sintam chamados a participar da construção de uma sociedade mais sustentável, justa e solidária. O projeto teve início com um período de sensibilização, que usou temas como Acolhida e Integração; Família; Amizade e Valores; e Comprometimento. Na primeira semana, Acordos de Convivência foram criados com a participação de todos no Centro Social. Após esta fase, os educandos participaram de atividades com o objetivo de esclarecer suas dúvidas e se posicionar diante de assuntos como violência contra a mulher, racismo, armas de fogo e ícones da paz. Este último assunto está alinhado ao Projeto Ideias para um mundo de paz, também desenvolvido no Centro Social. A pesquisa e a utilização de notícias, filmes e músicas que tratam de assuntos ligados ao tema do projeto foram fundamentais para enriquecer os debates e a criação de cartazes, murais, livros, jogos e paródias. Ao final, os educadores promoveram um momento de reflexão. Todas as atividades realizadas foram revistas e os materiais foram colocados em um “Grande Mural dos Direitos Humanos”, que servirá de estímulo para que eles respondam à questão que deu vida ao projeto: “O que posso fazer para ter meus direitos respeitados?” O Projeto Juventude e Direitos Humanos atende adolescentes de 15 a 17 anos e possibilita o fortalecimento de valores como o respeito ao outro, a escuta, a dedicação e a confiança.
Projeto Educacional O brincar como instrumento de participação das famílias Estreitar relações com a comunidade e reforçar laços de convivência entre os educandos e suas famílias está sendo possível no Centro Social Marista Ir. Justino, — em São Paulo, com o Projeto Construindo parcerias e ressignificando espaços: Oficina de Brinquedos. O projeto, que atende cerca de 150 crianças até 3 anos, aproveita o ambiente físico do Centro Social para a confecção e o uso de brinquedos. Ferramenta de desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo da criança, o brincar aproxima as famílias de suas crianças e viabiliza um espaço de diálogo com os educadores. A Oficina de Brinquedos também conscientiza cada família de sua participação no processo de desenvolvimento e educação infantil. O projeto convida os responsáveis dos educandos a fazer brincadeiras e confeccionar brinquedos e divide as atividades em dois períodos, de forma a viabilizar a presença dos adultos em períodos acessíveis a todos. Os brinquedos confeccionados são utilizados na organização das salas das crianças, despertando aos poucos o sentimento de pertença em cada um. Os trabalhos artesanais realizados pelas mães são utilizados nas oficinas do Serviço de Orientação Sociofamiliar e Socioeconomia Solidária, favorecendo a atuação dessas próprias mães como educadoras.
Aos educadores, o contato com os educandos e seus responsáveis possibilita a descoberta de histórias destes núcleos e, consequentemente, da comunidade como um todo. Este material riquíssimo já vem sendo usado como subsídio pedagógico em projetos interdisciplinares. Nesses projetos, a comunidade é protagonista na construção do conhecimento. A construção de parcerias e a ressignificação de espaços respeitam as identidades culturais das famílias, conquistam sua confiança no atendimento realizado pelo Centro Social e resultam em projetos temáticos relacionados ao universo cultural da comunidade.
Parcerias Centro Social Marista Ecológica e Grupo Lumen. Juntos pela palavra poética. No mês de setembro, a parceria entre a Rede Marista de Solidariedade e Grupo Lumen de Comunicação, ligado à PUCPR, possibilitou aos educandos do Centro Social Marista Ecológica, em Almirante Tamandaré (PR), um exercício de declamação poética com destaque regional, por meio da Lumen TV/Canal Futura. A emissora criou 12 interprogramas de um minuto cada, que já estão sendo veiculados em todos os períodos do dia, durante a programação normal. Em cada interprograma, um educando relata seu contato com a poesia e declama suas produções.
Há 12 anos, o Projeto Despertar da Poesia, desenvolvido no Centro Social, produz uma experiência de linguagem poética de maneira lúdica e estética, envolvendo 260 crianças e adolescentes do Ensino Fundamental. Os educandos aprendem os fundamentos sobre a história e os fundamentos da literatura para que possam começar a escrever suas próprias poesias. Todos os anos um poeta é homenageado. Nesta última versão, a poetisa que inspirou os educandos foi Helena Kolody. Uma seleção é feita para as declamações dessas poesias em sala de aula. Os poemas são pendurados em um varal de barbante para leitura geral, simulando as famosas literaturas de cordel do Nordeste. No Dia do Despertar da Poesia, evento onde os educandos declamam suas próprias poesias, dos colegas ou da poetisa homenageada, um corpo externo de jurados é formado para premiar com obras literárias as crianças e adolescentes. A produção do Interprograma Despertar da Poesia, produzido pelo Grupo Lumen e Rede Marista de Solidariedade, contribuirá para a divulgação da proposta socioeducativa marista, que vislumbra práticas educativas emancipadoras, na perspectiva de oportunizar às crianças, aos jovens e famílias o conhecimento e as experiências que geram dignidade e solidariedade.
Expressão e arte Relatos sobre o I Encontro de Adolescentes do Fórum Nacional de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (FNDCA). Acredito que, • A cada vez que vou a um encontro de adolescentes, mais me convenço de que nossos direitos estão garantidos somente no papel. Os relatos e as cartas de colegas de grupo mostram que eles também sentem o que sinto na minha realidade: a falta de oportunidades; • Ainda temos espaços que não podemos utilizar, principalmente os adolescentes de periferia, porque não temos dinheiro para bancar. O lazer é seletivo;
• A luta, como estamos discutindo, é grande, mas cabe a cada um de nós lutar pela garantia desses direitos; • O caminho é conhecer nossos direitos e responsabilidades e se envolver com grupos que estão lutando e interagindo dessa forma na busca de qualidade de vida para todos. Gabriele Cristina Cardoso Centro Social Marista Mont Serrat Florianópolis (SC)
• Escolas públicas garantem o acesso, mas não a qualidade de ensino. Os alunos revoltados e desestimulados desistem, aumentando o acesso de jovens às drogas e outros tipos de violência;
Minhas anotações... Tivemos uma palestra com o mediador Gerardo Sauri, onde ele falava da origem do preconceito em torno da criança e o adolescente; que o adulto só considerava pessoas capazes aquelas acima de 18 anos de idade. Depois tivemos uma atividade em grupo para refletir sobre frases preconceituosas que antigamente existiam para as crianças tais como: ”Criança calada já esta errada; Mulher de boca calada fica mais bonita” etc. À tardezinha, tivemos um passeio turístico por BrasíliaDF. Conhecemos a Câmara, Palácio do Planalto, O Quartel General Duque de Caxias entre outros lugares. Foi um belo dia. Hoje agradeço a Deus por este dia que foi muito tranquilo. Estou morrendo de sono. Boa noite.
O segundo dia de atividades foi um pouco pesado. Tivemos uma palestra com o tema participação da criança e do adolescente, que diz que nós adolescentes devemos participar de discussões sobre nossos direitos e nossos deveres. Sempre precisamos estar participando de tudo que nos interessa. À noite, nos reunimos e tivemos uma confraternização com uma fogueira, rodinha de pagode etc. Queria deixar aqui algo sobre os amigos que a gente faz neste encontro e suas varias expressões culturais tais como: sotaque, maneiras de ver as coisas ao seu redor, suas palavras diferentes. Isto é muito interessante, pois o “povo” ensina uns aos outros os seus costumes. Jhonatan Silva Carvalho Centro Social Marista Ir. Acácio Londrina (PR)